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de pele (émaia.,..

lão cinZa COilltell-11


e por ano. O
MILHARBS DB VIISTtOIOS

Um dossiê levemente ID!iladeN.W


pendurado com um alfinete no
saquinho minúsculo de pano
matéria não identificávell Prllllltl•
conjunto uma carta de UDl~JJIMIII
à Sociedade Real de Me~diet::iml.•
sincera e virtuosa, de "14t'w•JIIIIlll
ses golfadas de grãos.
prova disso.
Abrir ou miO
.Abrir com p•;;au,c~c
MILHARES DE VESTIGIOS

dade" em meio a sistemas de


ria pode tentar siee~rfifi.iiiüiar.iiilts":Bii~:;;;;
as cartas de baralho são ao mesmo tellllp(~llitrll
Tudo, porque surpreendem e desafiam e seiJ!IltiM
porque são meros vestígios brutos qw!.teQtl
a eles mesmos, caso se atenha só a eles.
rimeiro momento não se sabe como
, s.1 que em um P . .d h .
JtJI. Longe da P
recisão dos registros
_ e OJe, eles ofe- O que quer dizer exatamente: dispor de inúmeras
re<.-em apenaS O es
boço de um
. . hchamento
_ . e de um con- fontes, e como conseguir tirar do esquecimento existên-
trole a.mda nos seus prirnordws. Sao listas extensas e cias que jamais foram lembradas, nem mesmo em vida (a
L-aDSatÍ\'ilS, geralmente redigidas por um mesmo escri- não ser eventualmente para serem punidas ou admoes-
\ãO, as vezes interrompidas não se sabe por que e jamais tadas)~ ~e a his~ória é r~ssurreição intacta go passado, a
retomadas, apesar de um título promissor indicando tarefa e tmpo~sr:el; p~re11.1. esse ag_lo~rado persisten;
uma vasta cronologia que nunca será obedecida Esses parece uma supüca. Dtante dela, talvez ~e esteji RQ.Sõii-
problemas de continuidade do arquivo judiciário não nho como o indivíduo diante da multidãoi S9J.iubo ~ yp1
üo fáceis de resolver, e as listas servem mais à história pouco fascinado. Porque se pressente ao mesmo tempo
quantitativa do que à das mentalidade~..<:onta-se que a força do conteúdo e a impossibilidade de decifrá-lo, a
um dia, para escapar do tédio, uma frequentadora assí- ífusão de restítuí-lo.
diL1 chs salas de arquivos colocou em cada dedo um anel A tensão se organiza- em geral de modo conftituoso-
ou uma aliança, com o único objetivo de ver o brilho da entre a paixão de recolhê-lo ~
Juz toqu.mto IIW mãos passavam e repassavam indefi- gralmente à leitw:aL.de ÍQ~ CQID se.n lado espetam'ar e
nidameote ao Jonao de altas á · _ com seu conteúdo ilimitado, e a razã~~ exige ge ele
dalt :' P gmas, para nao perder 0
IUCO ~que, em última análise, raramente é ~a habilmente questionado para a guirir sentido. É en-
. , apear uc opaco. tre paixão e razão que se decide escrever a história a par-
8lqllivo é ahuadante em . tir dele. Ambos lado a lado, sem que um jamais supere
. . . . . tlltooacpte personagens, míl.ls que o outro ou o sufoque, e sem jamais se confundirem ou se
.........._IM ........comance.Esse aglomera- justaporem, mas imbricando seu caminho até que Dioa
.~r....&....... - ............. • •
...._.. . . . . . . . ,~a!JOanorumatonão
~.._~ ~ ; :•teulnom~, ~efor~a
O arqwvo unpoe
coloque mais a questão de ter de distingui-los.
Consideremos por ora que o arquivo encontra-se-10-
bre a mesa da biblioteca, depositado pelo funaoaáritme
estado em que foi recolhido e classificado, e poibdlte...,.
ponfvel para ser manipulado por mioS
JUit4..lo. Base é de longe o caso maisÍNCllU•D,~-·-·;
atomaçlo avança a passos lentos 111a~~ID•Cil•~·~·~;~~~i,~~Í
fltmaauseritosdosiculoPJD, 81
~-~e ••iaill•-~l.lll!
conviver
_ c de
. provar . a diferença· Pode-se 0 uvtr
·
a voz da
razao, repetir. para SI mesmo que é perfeitament
. . · 1
e posstve
conhecer . Dtderot
. sem pmats
. sentir necessidade d ··
ecopta-
lo; porem,
. dtante
. do arquivo manuscrito ha' uma ê ·
urg neta,
a de mtroduztr-se pelo gesto na torrente inconstante de
frases, ~a sequência irregular de perguntas e respostas, na
anarqma de palavras. Introduzir-se, mas também se deixar
levar, entre familiaridade e expatriação.
O sabor do arquivo passa por esse gesto artesão, lento
e pouco rentável, em que se copiam textos, pedaço por
pedaço, sem transformar sua forma, sua ortografia, ou
mesmo sua pontuaç;ut'Sem pensar muito nisso. E pen-
sando o tempo todo. Como se a mão, ao fazê-lo, permitis-
se ao espírito ser simultaneamente cúmplice e estranho
ao tempo e a essas mulheres e homens que vão se reve-
lando. Como se a mão, ao reproduzir à sua maneira o for-
mato de sílabas e de palavras de outrora, conservando a
sintaxe daquele século, penetrasse no tempo com mais
audácia do que por meio de notas refletidas, em que a
inteligência teria selecionado previamente o que lhe pa-
recesse indispensável, deixando de lado o excedente do
arquivo. Esse gesto de aproximação se impôs a tal pon-
to em que não se distingue mais do resto do trabalho.
O arquivo copiado à mão em uma página em branco é
um fragmento de tempo capturado; só mais tarde sepa-
ram-se os temas, formulam-se interpretações. Isso toma
muito tempo e às vezes faz mal ao ombro, provocando es-
tiramento no pescoço; mas ajuda a descobrir o sentido.
'-A PC' R ',\ DI ENTRr\ ,lA

l10~ta a última passagem, uma baforada


'J'
de ca 1or d'IZ tudo·
ele acaba de entrar na sala de leitura. ·

O lugar nún;ero 1 é de .longe o, melhor de toda a salai perto da


janela alta, e ber:' Llum~nado: ~esquerda, nenhum vizinho, pois
o corredor de etrculaçao conv1da ao espaço, principalmente a
deixar o cotovelo flutuar tranquilamente. Uma vez instalado
descobre-se uma bela vista para a sala e para a estreita sacad~
de madeira com uma balaustrada que se projeta sobre ela a
meia altura. Toda manhã, às 10 horas, há pelo menos dois que
já decidiram que o lugar será seu. Assim, engendra-se perma-
nentemente uma pequena guerra, muda, invisíve~ mas obstina-
da. Para vencê-la, basta chegarprimeiro ao corredor de entrada,
e não se desviar por nenhum movimento que permita ao outro,
num instante de distração, passar àfrente. Ninguém pode con-
ceber que se trata de fato de um combate impiedoso, e que um
bom lugar na sala de arquivos é um dos bens mais preciosos
que existem. Para obter esse benéfico lugar sem dificulàade e
sem aparentar que está em luta, épreciso começar de bem cedo.
Não se demorar demais no café da manhã, comprar o jonud
11m parar para ler as manchetes, descer do rnetn), o olhar aten-
8, fettwoso de reconhecer o intruso, seguir sem apressar opas-
•1111Hporta. Se, por azar, ele sair do mesmo wzgio do melr4
~.-•~~m~ ·e sequer cumprimentá-lo ou sorrirptn.,_
"·~--~.~~ma~~
--~~-·~--~~.-~~-~:
PE I~l'l 'R::=u::: 1: PRESE:--lÇAS

Privilegiar o arquivo judiciário supõe uma escolha e de-


termina um itinerário; não é muito natural trabalhar só
a partir dele e introduzi-lo no debate histórico toman-
do-o como principal interlocutor. Por que esconder
isso? Há, evidentemente, algo de um pouco trivial em
se obstinar anos a fio buscando uma quantidade sempre
maior de informações concretas sobre a vida de pesso-
as de um século passado, no mesmo momento em que
se organizam de forma cada v~ mais elaborada novas
IIWleiras de pensar a história. Mas não se pode esquecer
Of111U1to o arquivo judiciário permitiu entradas em ce-
a..,etaculares.
A c;Jml. Atenta
••ts
•kellemia contra
coletivos
vontade
delibe-
Com
I'ERC! 'R~~~.; E I'Rf:SLNÇAS

Evidentemente,. pode-se considerar a possibilidade


de trabalhar o arqmvo
. .

em suas informações pallLIIe
seguras,
· o que e m;us comum As listas de pn·s· ·
1oneuos,
os registros de condenados às galés constituem uma •
pulação à parte, que pode servir de base a uma pes:~
sa. É plenamente legítimo e relevar~te deter-se por muito
tempo em uma categoria particular de delinquentes -la-
drões ou assassinos, contrabar~distas ou infanticidas _
dado que essa investigação informa tanto ~ ~
les quanto da sociedade que os conde~ ~ e a
marginalidade dizem muito sobre a norma e som. ;cJt
poder político, e cada tipo de delito reflete um ~
da sociedade., . -
Contud6,""'essa mar~eira de ler os documenbiJ. Je1l
de informações

~M~
I ERll R·~'" L FRI:::,I'NÇ\~

s • .
Preso, l!uma ocorrenCia que . marca os dest.mos smgula-
.
rcs. Assim, mesmo que o d1scurso feito se1·a confuso, mis-
.
turando. a _verdade com a mentira
. ' 0 ódio com a astuc1a,
..
a subm1ssao
.. com
, o desafio, 1sso
. não 0 com promete em
sua .verdade . Talvez o arqu1vo não diga a verdade, mas
~!e d~z da verdade1. tal ,co.mo o entendia Michel Foucault,
1sto e, dessa ma.ne1ra umca que ele tem de expor 0 Falar
do outro, prem1do entre relações de poder e ele mesmo,
rela?ões às quai~ ~le se submete, mas ~e também COJ)-
cretlza ao verbahza-las. O que vê aí, nessas palavras espar-
sas, são elementos 'da realidade que, por sua aparição em
um determinado momento histórico, eroduzem sentido.
,L_sobre sua aparição que é preciso trabalhar, é nisso que
se deve ~ptar decifrá-lo./
Por trás das palavras expostas nos autos, pode-se ler
a maneira como cada um procura se posicionar diante de
um p . coercivo como cada um articula sua própria
vida, com êxito ou não, em confronto com a do grupo
social e em relação às autoridades. Para isso, apropria-se,
de forma bem-sucedida ou não, do vocabulário dominan-
éculo XVIII, a mulher está .surpreen-
~ Jo . ela trabalha, se desloca e participa seus estados, mas também em seus gestos prestes a se
.w..-cr- rr:::~ natural do conjunto das atividades
l'lll
realiz.uem. Graças a ele, a mulher não é um objeto à par-
~-Jaeacoisamaisfácil do mundo~ pois os te, cujos hábitos e costumes se aãorana eXlbi~
dDCX., OS~.,,
as feiras e as margens do
___ .J_
J Sena es- ser imerso de forma específica na vida social e polítir,j da
penD""""'""k ocupados por ela. Gera mente mi- época. Imersa no mundo masculino, dando sua contribui-
como 0 homem, ela vem do campo, sozinha ou ção a cada dia.J
IC'DIIIf••luda,eprocurastestahelecertomando conta da Ele permle superar uma das falhas que marcaram um
c-..re- bainoL pouco o início d:,;:história das mulheres", já que é preciso
,.._, eaa.bar uma moradia, assim como um chamá-la assim~ua presença obrigatória nas pesquisas e
1nt ta; ee •1 uncompanha em suas peregrinações. nos trabalhos parecia mais um dado adicional do que uma
jejf e o auabo de uma banca, uma carroça
.....
investigação sobre sua maneira de interagir com o mundo
....•-•..U.decadlorro já üo o bastante para à sua volta .
r' j ~~-~--eiiOidepoimentos; assim, ela Por mais que descrevessem as mulheres, que dedicas-
sem a elas um capítulo à parte em toda tese bem infor-
tlllt f ' :f •I ...._
. . . . . . . . . . .,.. . de uma sociabilidade
quanto de solida-
daro e fe-
mada, não se explicava nada e dava-se a entender que, de
todo modo, a história se passava em outro lugar e de ou-
~l!fi!N~---~~~~~~~411e-. •reprodução" tra maneira. As mulheres eram estudadas, sabia-se de sua
existência, descreviam-se seus trabalhos, suas taxas de re-
~em ~us gestos produção, suas doenças e seus infortúnios, mas elas nunca
~---·tpllcff'O arquivo, inseridas num acontecimento uer que foss~
IIIIIM-, ao qual ela se uivo tal como existe, o as isola, o con .
pela po.
e os bens
llillolllfo•••-tempo.
apenna.
debulhado
vieram
PERCum;o6 E PRBSBNc;1U
peRCURSOS E PRESENÇAS
ensar o mominável.
, d O . conflito é um lugar d e nascimen-
.
P
to' e o que a d vem ep01s dele . raramente tem a ver com 0
que :;e passava
. antes dele.
. Ainda
, que mínimo 0 u ·1rnsono,
· •.
c mesmo ntual, o confl1to e uma fiss ura que traça"
.. . " d .. outros
lugares e cna novos esta os . Ao historiado r cabe nao -
apenas relatá-lo, como também instituí-lo como motor de
sua reflexão, fo nte d e seu p róprio relato.
Por momentos, o arquivo miniaturiz/o objeto histó-
rico: se ele d á a m edida e a amplitude dos grandes movi-
mentos sociais (como as greves, as agitações, os fenômenos
d e mendicância ou de criminalidad e), ele isola como faria
um microscópio o exercício de paixões pessoais.,:Nas pala-
vras retidas pelos documentos, a vingança, a gesticulação,
o ódio e o ciúme fazem sua aparição, figuram na drama-
turgia do real da mesma maneira que o amor e a aflição.
Isso obriga a não omitir essa parte de sombra, esse gosto da
destruição e da morte que habitam o homem; isso obriga
a não deixar de lado essa "insaciável sociabilidade do ser"
em que o interesse de uns pela submissão de outros, a astú-
cia e a mentira se atracam impiedo~amente com esse gosto
por mais liberdade e concórdia: "A tragédia humana ins-
creve-se no desacordo fundamental dos seres com sua pró-
pria cam screver a história é passar um atestado desse
desacor "'4, Entre calúnia e pe:aão' divagam~ pãlaVí'D;
através devidas sem importância, ouve-se a parte inaudfvel-
por vezes ignóbU - do humano, ao mesmo tempo em
le 1111preende a insistente melodia de felicidades tentladllilk
e de dignidades conquistadas.
O sabor do arquivo se enraíza nesses encontros
lllhuetu desfalecidas ou sublimes. Obscura oeaca-1
O ,..OR DO ARQUIVO

Ela Acaba de Chegar

B.la acaba de chegari pedem-lhe uma cartarinha qut ela


-.Dizem-lhe então para dar meia volm, ali a oun
··~tJIIJ9JliZeT uma autorização para o dia. Lá, pedtm ,.,..
~~-JII*'q. r.n..tn~i"hn que desta vez ela tem. De
illllllllfAI morna ao local de onde wio, ••~•
, ser-lhe entregue por um bibliotecário de b!u.
~(Oithtcesopode cherumaficha bra~1ca. Ela não sabe onde Qpando vão colocar sobre o assoalho um carpete que ab-
~vê da que as indtquc.
s.A dltZJJ se ela
- '...l"r(enao na . d
Observa em silên-
, . sorva silwciosamente os passos? Mesmo de cor feia e de qua-
estJW asr·- 1
cestinha de crtança e p asttco verde, na lrdade média, ele certamente alivraria todo mundo.
Avista-as em uma d
ao. ·ra sala onut
__ .J lhepediram pela segun a 11ezI uma carteiri- Sem parai) ele brinca com seu anel da mão esquerda. 0
.
pnmt'. . para lá, rnl'ua uma, retoma ao seu ugalí ftra urna tinido regular do ouro em contato com a unha agasta os den-
luL v;nue-se o ,
n "11 enchê-la em duas vias. Presume que e necessário tes e se torna tão exasperante que o ronco dos automóveis na
~patí preficha em algum lugar, e no mesmo passo parte avenida chega a ser reconfortante.
dtpos•tar essa h d . d . . Pior ainda, a agitação dessa jovem há um mês; sempre
em direção à cestin a e cnança a pnmetra sala.
novamente , d
N- é ui· agora épreciso ir até, uma pequena mesa, at ras a sentada no mesmo lugar, ela folheia a toda velocidade a obra
;st~ um homem, também de blusa cinza. Ele recebe de um filósofo em quinze volumes. Não tem o cuidado nem
SUilficha, maspergunta também sobre o cartão de plástico rosa.
de ir mais devagar nem de acelerar, cada página virada fere
0 ouvido, tira o fôlegoj no entanto, ela está longe de terminar
Com ISSO elil sente um pouco de dificuldade de encontrar sua
a leitura da obra...
ma~~, mas logo avist1J opldstico rosa deixado sobre seus papéis.
Hoje ele está resfriado, esse vizinho de cabelos cinzas, per-
&ltwl-jidul bratrca em duas vias e plástico rosa para o
dido em manuscritos enigmáticos onde procura sem dúvida
,_,. tltCIIB lfllelltt tl4 em troca um cartão azul vivo corn
a pedra filosofai. Já é pelo menos a ~~cima ~ez q~e elefu~ga,
1 , _ . . . . . , f111 11,.., Ela morna ao seu lugarj senta-se
lentamente, conscienciosamente. Alras, ele e murto consCien-
116a,_..._,_«<ÍM,saherse, para sairj será preciso cioso, conhecido por isso assim como pela gentileza: ~ quase
.............. ,.,. .já percorrido ou se o déda- certo que ele não vai parar de fungar. Põe-se a esprertar an-
........... MIÚ••mmo da ida. Um breve arrepio siosamente suas duas mãos: se uma delas pelo menos esco~­
::::::~:~::~·1..aoaqui na verdade para regasse no bolso para exumar um lenço, a vida se tornana
mais leve.
A menos, é claro, que opresidente de sala tivesse um aces-
.
so súbito de suas intermmávers . tosses SI·&·l1 antes que rasgam o
. lialr
ar e o deixam de muito mau humor, levando-o até a 1m~ dos
IGm a luz elétrica, acusada de ameaçar a boa conservaflW
...,.usaitos. A sala é escura. . . violen6J
O lillncio de uma sala de arquivos é multo marstwti'IIHI•
Nflflllrueralgazarra de pátio de escola; sobre um
*. .
• IIIIM'*'-1 tgrqa, de corta, isola impiedOSQIJitllflmrra-.
terrJM
WDI!* o que os toma ao mesmo r...nrt,..-Nnlcllllal

...
1111*'_.wnadetansiedade.
ELA ACAHA DE CHEGAR

ag8nico, enquanto nhotos, não têm escolha para descansar do "J.


sinal de medita- . . l -Jorço. O
so éfeito sem pensar, rnsensrve mente 0 olho se detém
rosto desconhecido, incrusta-se em uma maçã de em
em um cacho desfeito. A insistência de um olharuvm•!t'nr,.......
llllfacc•s (f.~hJ-:zdc,s. e o Jaz levantar a cabeça, os olhos se cruzam pr~tundat~"mmtelli
atlM'IUe da guerra razão, mas sem desviar muito rápido. Voltar-se de
--...s:e.. aliás, que urna resposta, fixar o olhar é um desafio.
lh111Jrri~:nintermi- Nas salas de arquivos, os cochichos enrugam a
e até gen- cie do sil~ncio, os olhos se perdem e a história se
GDflhecimento e a incerteza misturados se ordenam
~;:t(ál/lli'za!rao exigente onde a cor das~ a
~~H'DUÍ11'ÍStc:u e o cheiro dos manuscritos servem de
mundo sempre iniciático. AJém do IIIIIIIIUUik•
sempre ubuesco, encontra-se o "'4JÃ1''.
OS GESTOS DA COLETA

...
"D espojar"

0 contato com o arquivo começa por operações sim-


ples, entre outras o encargo manual do material. 0 des-
pojamento - term~ b~stante evocado r- obriga a muitos
gestos, e a operaçao mte~ect~al decidida inicialmente,
por mais compl~xa qu~ ~e) a, nao.pode de modo nenhum
evitá-los. Eles sao famthares e stmples, depuram 0 pen-
samento, aplainam o espírito de sofisticação e aguçam a
curiosidade. Realizam-se sem pressa, obrigatoriamente
sem pressa; não será demais dizer a que ponto ojraba-
lho em arquivos é lento1 e o quanto essa lentidão das
mãos e do espírito pode ser criativa. Antes mesmo de ser
criativa, ela é inelutável: ~~il_!las não acabam nunca de
ser consultadas, umas após as o~tras; meS!llO limitadas
ept quantidade por sondagens preparadas pr:viame~te
e calculadas com precisão, eles exig_em do lettor mwta
eaciênda. .
P~ leitura; em silêncio, o manuscn~o é
percorrido pelos olhos através de numerosos obstacu-
los. Pode-se tropeçar no defeito material do documen-
to: os cantos corroídos e as bordas danificadas pelo
°
- ....... engolem as palavras; o que está escn·t na mar-
tllll81)41!tores e tenentes da polícia costumam fazer
•;o•~ no documento que receb em
de um observa..
•nlll comissário) geralmente fica Uegível, uma
deixa o sentido em suspenso; às
liiliii\Bá·,e de baixo do documento so_tlreiai!J!
~Jt.-puBatrain, isto quando nao
-l~ foram enviados por
: nos .Ar-
anônimas por vingança,
.
de calúnias aud .
. . ac1osas e ácidas
q ue tentam denegnr o VlZmho, ou então a mulh
. c• il
alvo ao mesmo t empo m~s 1ac e mais adequando.
er
critas com uma pena claud1cante em papel ordinário,
servam, apesar do tempo, a pressa, o ódio e a matl>lb(ladl
assim como uma improvável ortografia fonética.
quase todos ficaram marcados pelo estigma de sua
nos muros: na ponta dos dedos, percebe-se a rua:osú:ll
do grão da pedra que ficou preso na cola de outrora,
grosseira e farinhenta. Lembrança digital do arQIIiVcil l
Há manuscritos perfeitamente conservados e
mas de leitura difícil. Em geral, a escrita de ~-.jl
apresenta as mesmas dificuldades de • •
as do final do século XVI ou do infào do
._,bnWêlrn obstáculos imprev:isiveis. Foi
caso dito criminal' reteft kmiiiiDII!IIIJ
fiat~ISalllte por seu conteódo, ele4111Q!IIfi
.,_.,""'""'uma situação de esbQil._.WI
esaito, é eJDsimel-~-·
IDIHimllOS.~tm
arnente, .fica surdo e mudo. Desde essa sentido, som após som, como se fosse um .
e~uitane
· a partJtur
de 1.. -g em que sua \'I'da vira
. de cabeça si cal, como se o som oferece às palavras
. . . d
.a mu-
seu senttdo O
b
tt Je OO\-tm ro '' . .
bnxo. 1horin responde por esc~1tod aos mterrogató- ritmo e smcopa o, os cortes não acontece ·
4 1. - - m nos lugares
J~ b'spos e médicos, depois e ter tomado co- adequad os, as 1gaçoes sao transcritas Nad
uc- ,wzes, I - . . a se assemelha
nheomento, por escrito, das pergun.tas colocadas. a nada, a nao ser arhculando, a boca livra a . d
. , . . escnta e sua
caso e importante, pois Thonn revela seu segredo: opaCidade: e preciso rezar a cada d 1a 2 g um .
0 , . a missa para
tOJlht ordenado que assassinasse o rei, e, como prova as almas do purgatono, nunca .conheci vosso apego ate. o
dnu ordem monstruosa, ei-lo surdo e mudo. O caso dura presente, rogo-lhes que me delXem entre pessoas de meu
vmtunos, Jhorintica preso na Bastilha durante todo esse conhecimento.
tempo, até que a loucura o possui completamente. É uma Mais adiante, uma longa confissão escrita de Thorin
bistóru muitO longa, com desdobramentos ricos de inte- obriga ao mesmo exercício:
ralt para aqueles que se interessam pela noção de ordem
~~~~coletiva de uma socie-
0S GESTOS DA COLETA

Jogos de Aproximação e de Oposição


d~avalos ferido
~ por umh"
golpe de espada. Fica-se saben-
d
do que Paul Lerevre, l dcoe etro l e praça, viu "um cabriolé
oill um cavalo atre a o no qua estava um senhor que ele
c
fi.cous abendo se tratar do d. marquês
d de Sade e seu domés-
. , . e que ele parou para elXar escer seu cliente, que
0
tlCO I
. dia 0 cab no . l'e d e cont"muar seu r.,....,.;_
.........uuL.1o. Seguiu-se
iJJlPebriga; 0 marquês de Sade, ele próprio desembarca-
uroad
do, e sfere "golpes al" de espada nos cavalos e uma ponta no
tre de um cav o .
ven 0 caso se revolve amigavelmente: o marquês de Sade-
é exatamente dele que se trata - paga 24 libras pelo
do cavalo ferido" e o tempo de cura. Abai-
·"'·•·wa~i!BIJue,~ç•·aa•·"'judiciária está aposta a assinatura do marquês.
que servirá o
datada, sus-
rebelde. p prazer de encontrar subitamente_Sade eJlVis,.
PJace des Victoires, entre um cochell'O e seu
voodeum
"
. Jeàestaal" melhor o que .a prion não é per- 'ltima não basta, pelo menos é 0 1 c·
~DID u so o 1ertil ,
~'-•_..... Ase pode retrucar que a Impregnação não 1 rtir do qual se pode fundar 0 pen . necessario a
~entífico, que a própri~ palavra é ~e _uma P·- jta-sc s1mp
l101
. 1csmente a .Isso: estarsarnento.
b . A armad'lh
a sorvido pel
1 a
.
bem ingênua, e que nesse JOg~ quase mtantij voa ponto de nem saber mais como i t . o arqui-
;::::omtroduzir facilmente na pesg_msa erros de in- ~ . n erroga-lo
rA qualquer proJeto que se obedece t b Ih.
. - . , o ra a o em ar-
~ É evidente. Mas. a vontade e r~spon?er com quivos 1mpoe necessanamente opera•õe<d .
_.metáfora, sabendo que 1sso torna o caso ma1s grave: - d d - -~ <=-- e..,lt:.!_agem, de
separaçao e ocumentos. Aquestao é sab ·. --
er o que tnar e
oarqurvopatrce uma floresta sem clareiras; permanecen- Q nu e abandonar. Acontece às vezes que em - d
"~ . . ., , razao e suas
do neJe muito tempo, os olhos se acostumam com a pe- hipóteses, o h1stonador Ja tenha escolhido 0 que iria cole-
.-.ln, eJea entreveem a orla. tar e separar; se~ _dúvida, i~so lhe retira disponibilidade,
ou seja, essa aptJdao a granJear o que não lhe parece ime-
diatamente necessário e que, mais tarde- nunca se sabe_
Armadilhas e Tentações poderia se revelar indispensável.
~orno decidir entre o essencial e o inútil, o necessá-
...,,..~te, quase sem se dar conta; a pre- riO e o supérfluo, o texto significativo e um outro que se
..... , . laJIIÍ'D pode adquirir uma dimensão tal julgará repetitiv~? Não há bom método para dizer a ver-
...... '-• á, aio se percebe nem as armadilhas dade, nem regras estritas a seguir quando se hesita sobre a
. , .. . . . .l.IÍICOique se corre ao não lhe impor ~a de um documento. O procedimento se assemelha
na verdade ao do andarilho'0 , buscando no arquivo o que
·~-~--~para ler a totalidade dos
••i•_.
IM.IIIIIaa
ZVW; ao invés de desen-
está escondido como vestígio positivo de um ser ou de um
acontecimento, estando atento simultaneamente ao que
'IDDhde de consultá-lo, foge, ao que se subtrai e se fazJ ao que se perc~~e c~m~ >
,.... . . -objetivo definido. l\II,Riiiia. Presença-de arquiva e ausência dele s a =
!'!l'"l!ll,.,..
beleza dos textos e ôr em dúvida portanto em ordem. Por esse c _0
ll•lilllllll ordinárias. O é
pouco trilhado preciso desconfiar de uma identifica~
••••ftda e de comu-
- - . Há tanta
1

.·~··- ,.. I•[L;PQ~stvet com os personagens) as situaçõ~s. a.u.as


e os textos ooem em
fe- de ser e de pensamento qu ~
esse modo insenslve1, mas
~-~o~hilÇ.sato~n-l·andJgoJ.urud~~e..ser atraído apenas por
reforçar suas hipóteses de trabalho dea•:uUill!
. . . • trate desse estranho acaso
-::::::;~ 1111tca e que, milagrosamente,
e.,.iiilllltlll••~~~:;. e profundo do historia-
••:iii·~~~~~~ de se identificar com
• chegar até o não rec0 •

i-====:::aceçoes:
- ou de contradi-
da hipótese inicial que
III•MifiiNãiCZI' solidamente. Essa
Miilla..olllir•-o escolhido é, em cer-
lilllllilllllll e frequentemente in-

••••IMIX
. .• • • • a pratica. Inevitável,

•t•ia que possa dizer


6uam orientadas,
•l• ..... xo.ou do con-
. . . . . .L Confortável,
• • • que seja, traz
H • de espelhos
. .láae a curio-
•••estritos
ea
SlJ()R DO ARQUIVO

swtenta. O romancista faz obra de ....,as a uma narrativa capaz de restituí-lo com ..
ce, "· . o SUJeito da
••Ml•* ~~~
1
'1Ustórico• e os personagens saí- hi tória, em uma soc1edade que lhe emprestou al
muita coisa. Pode-se de
s
frases. Se ele deve "ganhar VI'da'" não é em uma fábula,
p avras e
mas
Dão, homens e mulheres do em uma escrita que torna pe_rceptiveis as condições de sua
pll'8 o leitor a conivência e um ?e
irrUpção e,trabalha a obscund~de _seus dias 0 mais pró-
•&zer história~ Eviden- ximO poss1vel do que o produ~1.u. U~co e autônomo (ape-
se revela indispen- sar dos efeitos do poder), o pns10ne1To da Bastilha, fugitivo
assando pelo arquivo, é um ser de razão, colocado em dis-
~so, que a história deve usar como interlocutor.
Por mais que se denunciem as armadilhas do arquivo e
as tentações que ele encerra, não se deve ter ilusões. Paixão
or arquivos não evita as emboscadas. Seria falta de mo-
~éstia se considerar ao abrigo deles por tê-los descoberto.
. i iisputas em retalhos expostas ali
1
(hlk\'llJ,l. t1 ue•11 cia1 mesmo sem avaliar plenamente o exato d
t f 'l' rn l , ·tletindo ao mesmo tempo o desafio
~ J i;unrntt:, rt: ,. , _ ~,1vras Suas frases também são "acont . P0 er das
' .:n ' Compreende-se que e Impossivel, ou pa._.. .. , . eclmentos" or
t."na humana. d d , las estão la para persuadu, e porque é im , P que
'' . · ·es nesses magmas e enuncias de e . d. , poss1ve] esqu
"' ·tabelecer ~en d . . er esse aspecto m Ispensavel das relaçõe . e-
• 't es t'dianidade banal. O u se eixa Isso de e enas o conteu, d o d eIas exi b e um mundo s sociais
. · Não
exala uma co I 1 .
-1ue . . . por outra coisa, por exemp o, a história ap ) orgJn!zado (ou
J , e e mtere~sa de smantelado , como seu enunciado está la' p d
ara espertar
J,J
rroced1mentO J·udioal ou dos grandes processos em a convicção e obter o assentimento daqueles
_ que ouvem
e que julgam. ~essa relaçao estreita entre a palavra dita e
" d ,.da forma; ou então se aprende a captar essas
roa e e\1 d' ' .
- de ,.•1Ja • intensas e contra 1tonas,
. 1
vw entas e
e.xpIosoes , . a vontade d~ cnar o v~r~ssímil instaura 0 ac~imento.
empre complexas, para delas tirar o maximo d e sentido.
Porém, nos m~errogator~os, cada resposta, apesar de gra-
ças à personalidade do mterrogado, oferece não somen-
Sobre o .t'1coniecimmto em f fistória te os esclarecimentos esperados, mas todo um horizonte
que é preciso querer captar. Pois as palavras são portadoras
Essa insistência em trabalhar sobre o minúsculo, o sin-
do presente, elementos de reconhecimento e de dist~o
gular e o quase imperceptível merece um esclarecimento
do tempo do qual vieram. Quando se pergunta, por exem-
sobre os problemas encontrados e, antes de tudo, sobre a
plo, a um vendedor ambulante suspeito de roubo em que
noção de acontecimento em história.
ano nasceu e ele responde: "não sabe o ano, mas fará dezes-
As palavras ditas, os curtos relatos registrados pelos
sete anos no dia da Saint-Charles'~ seria uma lástima que se
escrivães e os embriões de explicações balbuciadas são
anotasse despreocupadamente na ficha: "dezessete anos';
acontecimentos. Nesses discursos truncados, sustentados
junto da rubrica idade, pois faltaria tudo o que mergulha
apesar do medo, da vergonha ou da mentira, há um acon-
tecunento, porque, mesmo em rudimentos, essa linguagem essa informação em um universo ao mesmo tempo pessoal
e coletivo. Esse tipo de respostas não ocorre excepc~onal­
carrega tentativas de. .coerência pretendidas por aquela ou
o~quele ~ue proferiu essas respostas1 tentativas que criam o mente faz parte do lote cotidiano de informações t1radas
b, di
o~Contecunento· nelas d
I
. de arquivo, o que determina o valor delas e tam em a -
' ( ,.....se ~
emarcam Identidades sociais ex-
Pnnundo-se por
dos ou
0 ... · d
......., preasas e representação de si e ?culdade de interpretá-las. Do ~esm~ ~od?'. qu~~o s~
de~~~se formas de sociabilidade e maneiras
tnterroga um homem sobre sua s1tuaçao ta1mhar, P ~
tando-lhe se tem mulher e filhos e eIe respo nde·· "não'fre VI-
~ Pois ele ~o, o tolerável e o insupor-
.,,. ilio~ respo~de ao comissário, com uma
, e seus filhos são faleci'dos ", percebe-.se que dessa ase
uvo
. d a (mas os exemp 1 pc-
...,• ...., ou nao, exprime-se forçosamente escapa todo um universo. Ou am · d dos zes-
·-wt::..::.que~ dele mesmo, de sua famí-
Maia do que isso, ele procura ter in-
d enam
· ser alinhados indefim.damente )' esserapaz. . c e me
. -
sete anos com 21 irmãos e 1rmas que na
-o sabe mais o no
'dentificar
1
d 0 lllnào
· mais velho e que tampouco consegue
rincadeira, a chamam de gorda
de b . I . Ique ela n· .
muitas vezes me US1ve não respo d ao e gorda
,uJC , n eae h '
"~ ue esse não c seu nome"'• ssa c acota1
P o~ · o

Essa "maneira de falar"• totalment , o


.
tecimento porque e uma linguagem e anodma . o
cna
aco n em atos
de comportamentos que testemunh , '.um resu-
rno . - am praticas re
I res de mteraçao entre pessoas. Aqui em po gu-
a·stingue-se um mo do de se comunicar ' entucas. palavras
do ,
dI . . . 1
1
re In IV!duos
do mesmo melO socia ' em que aos hábitos gozadores de
designar o_ outro se acreosce~tam estratégias costumeiras de
implicância, formas de Irorua sobre a aparência física e ain-
sistência de todos de responder a isso apegando-se ao seu
patrônimo corr~to, único capaz de nomeá-lo de verdade. A
linguagem exprlfne, com desembaraço ou mau jeito, con-
vicção ou temor, a complexidade das relações sociais e as
maneiras de fazer boa figura, aquela imposta pelas estrutu-
rações sociais e políticas da cidade.
Acontecimento porque remete (mais ou menos desa-
jeitadamente) a formas de comunicação corriq,ueiras, nas
quais a linguagem corresponde também a. culturas f sabe-
res inteiramente particulares e pessoais. "Não sabe nem ler
nem escrever, que foi pouco à escola porque diziam que
aprenderia mais quando fosse maior e que atualmente vi-
aba um professor para lhe ensinar"; "que sabe apenas sua
lllll'ca•; "como se escreve seu nome? disse que não sabe, por-
-.a~ift sabe escrever sabe ler apenas em letra de fonna e
iii'IIUilca fez outra c~isa a não ser uma cruz nos papéis que
••lfaJrn assinar": eis algumas respostas entre outras~
IIJIItpf4eenodeJrn formas especificas de saber que na
. 'l·iso "IJcg.tr" essas frases porque I
pil: . I e as perm·
·j ·1 dor capl.lr momentos ou tenso· Item ao his-
t ol • . · es extre .
rior de uma mesma soctcdade. mas no Inte-
Inútil procurar no arquivo o que pod .
. . enarecon l
·ontrários, p01s o acontecimento histór· , CI Iar os
l . . Ico esta tamb ,
eclosão de smgulandades tão contraditá . emna
. · . , nas quanto s t'
,as vezes mtempesttvas. A hlstoria não e' I u ISe
•· o re ato equilib
do da resultante de movimentos opostos m ra-
d , as se encarrega
das asperezas o real percebidas por lógicas d'
1spares em
choque umas com as outras.

Fragm en tos de Ética


Aqui os conflitos são majoritários. Pequenos ou grandes,
de ordem privada ou ameaçadores à tranquilidade públi-
ca, eles jamais seguem os meandros de perfeitas narrati-
vas lineares, mas geralmente são arrancados do mutismo
prudente dos protagonistas. Apesar de tudo, eles relatam;
importunados e provocados por uma polícia ansiosa por
saber, por obter confissões e encontrar culpados.
Reconstituir os fatos a posteriori nunca é fácil, visto
que a maioria dos dossiês oferece in fine uma versão que
geralmente é a da ordem pública e das autoridades poli-
ciais. As perguntas feitas têm a evidência de certezas po-
liciais: antes de tudo, o policial procura nomear culpa~os,
fOUco lhe importa que o caso seja totalmente esclarectdo.
ocorra por exemp1o, uma nxa · em um mercado ou
lll!llll•ltt~!WLo contra soldados, a polícia entra e_m cena e
1

't d' 'da quanto às suas intençoes. Logo


mw a uvl ue acredita ;'
• • líderes e aos cabeças-duras q. bulOSOS
cil0 S nos me1os ne
_ .• •lU • opera sem va ela isiO
• • •••,.. Seja como for, pensa '
I AI.AS l \l"i AilAS

nstitui seu próprio agenciamento


co · 1 com aquilo
ricamente e socta mente é colocad . que his-
to . d . o a sua d' .
Assim qucstJOna os, os mterrogatório tspostção.
~ . . b 1 s e os testem nh
nçam luz so re os ugares onde 0 ind'tvt'duo travu los
1a
ões pacíficas ou tumultuadas com outro are a-
ç l'b d sgrupossoci .
reservando suas 1 er ades e defendend0 ats,
P h· · · suas autono-
mias. As vezes, uma tstona da pessoa vem abalar
tezas adquiridas sobre o conjunto dos fenômenosasdi~r­

-o
. . . . . . . . ~é uma ferramenta inútil, tos
. . . . . . . . . . . 0 . . . pelo estranho não tem maior coletivos; :o mesmo tempo, .el.a só pode ser examinada
ent interaçao com grupos soctats,
. . . . . .,.. 1 ' olhar sobre os documen-
. . . ...,.. ..,( illlll, a análise 6na da raridade a
Talvez se p.ressinta que a atenção ao singular requer
a atenção ao aJUStamento de cada um ao outro e sorve
• • • • • • hlbitual e do excepcio-
• • -1 F I 1 capaz de integrar as suas forças além até da disponibilidade do material de ar-
111!~'11·· tpta a restituir suas ru-
quivo para lhes permitir figurar. Ela se enraíza na vontade
de ler hoje como ontem a infinidade de desvios que cada
um constrói em relação à norma, n complexidade dos
caminhos traçados no interior dela, para inventar e não
se subiQeter, para se unir e se opor. Há nisso, sem dúvida,
uma visão do mundo, uma ontologia do atual, a inquieta
;;.ltl&\iidaLde em jamais imobilizar nada. Como se a fala de
pus:un como a de outrora abrigasse nela a esperança
IIIDPN veicular uma possibilidade qualquer.

Sentido e VemcidaJ.
- es porque sabe que podem cont
nt..• -~ de ...c crhtalizar em uma forrna
f,lzo · . . - rapar-lhe 0 t
h l'1>. l . a nrimctra 11usao a combater é a d u ras. As-
hJptltettcas pa~~am diantl' do:- olho~, se es- sln,, ' r h' ' . a narrativ d
· da verdade. A tstona, de fato é u a efiniti-
J. d luz mado. ante de .-.e imobilizarem vJ • . ' ma maneir d
~ ~tl" e . , não funda um dtscurso de verdade a e fazer
lrname nto ·
o menor mo,'lmento toma-as que . controlável
r ponto; ela enuncta uma narrativa qu , ponto
fazendo com que dela~ na:-çam outras 0 po . • . . , e reune a for
~\"el • d . .. ·io de uma eXIgencta ctenttfica e uma ar mu-
Jo vqw,·o tem a força e o ef~mt.>ro c~~as Imagens Iaç• . , . gumentação
.Ylllllft.ll~as uma a uma pelo turbtlhao do caleidoscópio ual se introduzem cntenos de veracidade d .n~
q . h' . e e p1austb1.
t sa},1do· não ha. enodo um,·oco para as co~sas l1·dade. O poeta cna, o 1stonador argument aereeilioR
_ 1
pass-ado e 0 arquno contem em_ SI ess_a lição. Frag1I os sistemas de r~laçao do passado por representações da
brança ele pos 1btlita ao h1stonador Isolar objetos comunid~de soCial que estuda, e ao mesmo tempo por seu
e trsta b. ·o lustonador que reflete sobre um tema próprio s1stema de valores e de normas. O objeto da his-
coostrwr a lustona de que necessita e fazer isso tória é, sem dúvida nenhuma, a consciência de uma época
a. outras disaplina " J3 que nenhum documento e de um meio, assim como é necessariamente construção
emapr sentido dele mesmo: "'Nenhum documen- plausível e verossímil de continuidades e de descontinui-
podt diz.rr nws do que aquilo que pensava seu dades do p assado, a p artir de exigências cientificas. O his-
. tória como um processo de reint
.1 I11!> d d erpreta -
n. m uma ·realidade" trivial e flagran- "do passa o ten o como parâm t Çao Penna.
nentc 'd d e ro urna .
re-.e rosto. e :.ofnmento~, emoções e c ,uas necess1 a esi outra cais , soctedade
.1tuaI • c a e subve t
, p.trl .:ontrola-lo ; ~eu conhecirn~nto é . do passado para 1avorecer ideologi .r er os fa-
p.u-a tentar des.crever dep01:. a ~rquitetura tO!> · . as pernicio
entos em que e necessario dizer Há
'-""'_._es do passado. !\o fundo, o arqm,·o ~empre
mon1 . , . . · ver ades"sas.
" d
( .
. rdadc) mcontestaveis, Isto é forma . . e nao
.l \ e , s Inteiras de r
m.mga aquele ou aque1a que re~valaria com
'" Jade no estudo de formulaçõe:. abstratas e )·d de que de nada serve esconder ou sub
t a , . , . verter. Há mo
ea-
ntos em que a h1stona deve demonstrar ·
sobre. Ele e dos lugares a partir do qual podem me " , . erros, recorrer
~as construções simbohcas e intelectuais do
a provas,,para que a memo~Ia n~o s;ja assassinada"•!. "A
D.D-.Itv e uma matriz que não formula "a" verdade, e\i- hl.stória e uma lacuna perpetua •... J mas na·o e, sempre
.iellttm~.nte mas que produz tento no reconhecimen- 1·ndispensável .se agarrar a essa velharia1 'o real', ao que se
t ~"14
na e.xpatnação elementos necessários sobre os passou autentlcar:nen ~.
dar um discurso de ,·eridíção distante da men- "N ão se deve Jamais enfraquecer a inmi\idade do que
nws nem menos real que outras fontes1 ele su- ocorreu, a incisividade do acontecimento" - dizia recen-
datmc>S de homens e mulhere com ge ticulações temente Paul Ricreur durante uma jornada de encontro
_.Pft~:iftlltae 50mbrus cruzando poderes com múlti- com historiad ores'5 - 1 sobretudo quando ele ainda pro-
di-.CUI1506. A emagenaa de 'Idas se entrechocando duz horror e traumatismos. H ouve no passado aconteci-
dilpolitmK de poder estabelecidos conduz uma mentos abjetos cuja narrativa é necessária e que, por isso
..,...,n história que busa estar a altura dessa irrupção mesmo, impõem um estatuto específico à sua narração,
pao. ou~ que lev.a em conta esses retalhos de particularmente quando ainda vivem na "memória cultu-
alldlda a;hid,u, que desvenda estrategias individuais ral': Auschwitz, dizia ele, é um "acontecimento fundador
,.. doi aao ditD6 e dos silencios1 coloca-os negativo" que é obrigatório manter na condição do me-
1
, ....
I ••
'"'*
· H m1hM.
IIIDI intehgjbdidade pr.ópria morável, e cujo enunciado não pode em hipótese n_e~~-
.
ma ser deformado. Evidentemente, "a re1aJcão da h1stona
._ . d
com o real não se faz à manetra e uma ran f..
t soarência mas
'

p . La Oecou~erte, ,gS•.
11- P. Vidal-Naquet, Les assassins de la mimOJrc, ms. dou 198•.
Centre G. Pomp• •
14- P. Vidal-Naquet, "Lettre", Michel de Certeau,
pp. 71·?1. . das essas pala1Ta5 pro·
IA Ri que sao e1ta
• com a autorização pessoal de P. co:ur É des en :,aen•-es
L.... .. - É I d s Hautes tu
--au no dia 11 de junho de 1988 na co e e_ d J trabalho'Emtor·
.__._,_ a 1orna a e
~em uma intervenção oral durante um
. F Hartog.
Paul Ricceur", organizada por R. Charuer e .
n.'\0 somente reuniu os fatos c as cif
, . - ras, como t b.
nropos t.un.1 ultct prctaçao convinccnt d d am em
r .
acontccunentos a partir desse recx e o . . 1ar dos
esenr 0
ame Indispe .. I
Trata-se da obra de jcan-Clémcnt Ma t' ( · nsave.
.
la I•rancc, Lc'Scu 'l
I ' 1987) . O autor dcmonr In La Vcndé t
t ee
. . . i . . - s ra a que ponto
as pnn11ctas t a msurretçao vcndcana trau ·.
. . . . matizaram 0 go-
verno rcvoluc10nano que v1u nesse levant .
.. . . e a negaçao de
todos os seus esforços. A partir desse choqu . .
.. _ . . c, uma unp1e.
dosa reprcssao veJO consolidar uma região que - . h
nao tm a
na época nenhuma consciência de seu poder. Toda a com-
preensão do a~tor _vem mostrar, com apoio de arquivos,
que os fatos nao sao nada se não forem reinseridos nas
representações que se tem delesJ repre.s..en.taÇ.ões ~e os
tealimentam em Se&1Jida.ou.,queLao co~~n:rere­
quzir sua progressão e sua acuidade. A guerra ia
ocorreu no cerne de um processo em espiral de impacto
dos fatos sobre as consciências: se o governo revoludo·
nário não tivesse visto nesses acontecimentos tamanha
carga simbólica, a engrenagem da guerra àvil certamenm
não teria sido tão violentaJt\ nessa obra um belo equi
librio entre a abordagem €'o que se passou e o sentido a
dar a esses acontecimentos que se alastraram em .......,.,_"'.:
_,li6cando os outros incessantem.en~
bem: com raras dac::\111111
)e tato. trata-se de refletir ~obre e~se es- deixando de lado uma opinião popular'l ..
do Condon.:ct, a da parcela do povo mai q~e_é, segun-
queo ser coloca entre ele c elt' me~mo, ele , V 'd d d s estuptda e .
miscrávc1. acUI a e o raciocínio po 1 fu mats
:l.lli,.JUltn. ele e a imagem de sua~ condutas. . b 'd , pu ar ndado e
t wto SlDlples, ,;sto que o arqmvo judiciário
um pressuposto: su mett a a pressão da . m
necesstdade e d
~te, aumentada~ lupa, a ~aneira como trabalho, as camadas populares não têm ne .. ~
.d d ma posstbth-
ll!(lllllft"'YIIItrs e elites estão convenados da Impossibilida- dade nem a oportum a e de se preocupar .
_ . . com as cotsas
powo de participar da coisa pública e de ser suJeito que não estao diretamente
. . hgadas às suas necesst·dades
t.aona. Porém, um maciço de arquiYos de polícia vem físicas ou matena1s.
seu coomído às certezas há muito tempo adquiridas A essa filosofia infalível, o arquivo de tenente-geral
~vacuidade do ponto de vista popular. Como de polícia, forma e conteúdo confundidos, oferece talvez
tmmtr-geraJ de Paris' , que contêm os relatórios um duplo desmentido. A própria constituição do arquivo
~e dos inspetores de pohcia' chamados revela a dimensão das preocupações monárquicas com 0
•15'*- *"polia staik. ruído das falas de seu povo, e o encontro semanal do te-
~.-f~ que o povo não tenha nem ponto de nente-geral de polícia com o rei é uma prova disso; é, aliás,
tllla-.,..,., maupen.as
crenças e superstições, mas
, ....... _.polícia inteira construída em tomo da
para fornecer o máximo de informações à pessoa do rei
que o tenente compôs com a ajuda de toda uma coorte
e4 ~ ............ e dos ruídos da cidade, da ob- de "moscas"'4 e de acólitos tantos registros consignando
WiilifliJ .... ecbn='JJaoue fazem o chão tremer~
r 1 J ~ • as c-;nversas da multidão, captadas aqui e ali, em praças
• f , *"!'IMD,~nasupressão do popular, e cruzamentos. É claro que não se deve confundir: estar
__!•·•••••.-...._ alado na utopia de cap- à espreita do burburinho popular não significa reconhe-
o a onda...ir.IT.gular cer o povo como interlocutor, mas não se pode afirmar a
~!llllii IIIIÍII~ pnlltia aão é assunto do povo,
..
. . . . . . . . . . OWmlo debate que se ins- •
:1.3. Sobre . .. pu'bl'tca no secu
o tema da opmtao · 1o X\'lll •ver os trabalhos de K. •. Ba·
-~---~~~- ''111t ele ~~~~~a opinião pública " bl' l'A •
ker, Politique et opinion pu tquc sous nc1cn c.,. • R luime" AnnaltsESC,JW.-
. .
~~~~-.....I;;;A;~~·-.ao. esduecidos 11
1
.
fev. 1987; R. Chartier "Culture populatrc ct cu ure
lt politique sous l Ancten
. tJModtm PolrtiCal Culturt, vo
L
Régime", French Revolution .md the Creatron ° M "Le
. B Press 1987; S. w,
I, Política/ Culturt of the Ancien Regrmt, ergamon .' bli à la 6n
. . d' · · t l'opinton pu que
tribunal de la nation: les mém01res JU tctatres e ui: 'L'opinion pu·
de I'Ancien Régime" Annalts ESC, jan.-fev. 1987; M. Ozo ' ·) c-...1
' . aergamon Press, 1987, ·.>r...
blique~ Politiul Culturt of tht Ancien Regime, LesiUIIII._
•Niiuance de l'opinion publique", no p~lo (CoUoque 0 tawa.
tluuvoir, 1986). Uda dl11imuJadol 111
... MoKa (~]:nome dado aoa observadorea de po
•·'Hdlo e notlocail públícol.

., 101 ~
encarregados de recolher sem descans nh
cursos e as propnas profecias dos convulsionári os'.Mas
, . oosso dis-
também todos aqueles que, nas praças e c <>r'.
transcrevem o que se propaga sobre 0 caso. ~
brevemente os fatos: em 1728, Fleury, ministro do
ça uma ofensiva pesada contra os jansenistas, e---
tos eclesiásticos são interditados a partir de •••
1730
período, acontecimentos muito singulares occ>m:!D
recinto do cemitério da igreja Saint-Ménard.
um diácono, jansenista, de nome Phis, ínteir.unt~ntl
•-=~a~~a atenção ex-
sagrado à ascese e à pobreza, morando em uma
aio se quer lhe
do Faubourg Saint-Marcel, em pleno bairro
ãoéoquese 1727, ele morre, tendo persistido em seus
contra a Constituição e contra Roma.
por seus fiéis, sua morte ocasiona vúiu
•.m.•
inicialmente muito disaetas. As Del10111,.a4
tear sobre seu túmulo e se rec:albat'llttl
lilliÍIII. . . . ()OI'6ssão · a morte
iíiill.... o-s.
• • • e aflica5 severa e
- · · - de relato mvenfi-
O .Hl]Uivo nasce da d d
esor em. Ca ta a
ML'I1dlgos, ladrões, pesso . d b . P Cidade em flagrante dehto.
. . as e alxa condi - d
tldao por uns instante U çao estacam-se da mui.
s. m punhado de palavr (
arquivos policiais do , I as os az CXIStJr nos
· SCCU O XVIII
Tão evidentes como eni á
gm llcos, pode-se fazer os arquivos di
zcrem tudo, tudo e o contráno, pois falam do real sem Jamais des-
crevê· lo. O trabalho do historiador se impõe, portanto, em todo seu
ngor, em toda sua modéstia.
Este livro acompanha todos os passos da pesqu1sa com acervos
c manuscntos, articulando a experiênCia pessoal da autora com as
pecul1andades do trabalho arguivistlco.ApaLXonada pelos arquivos,
Arlettc Farge convida o leitor a acompanhá-la em seu prazer quase
cotidiano de "ir aos arquivos", em um texto gue Já se tornou clássico.

OI
o
. .. .. I o
"'

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