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~M~
I ERll R·~'" L FRI:::,I'NÇ\~
s • .
Preso, l!uma ocorrenCia que . marca os dest.mos smgula-
.
rcs. Assim, mesmo que o d1scurso feito se1·a confuso, mis-
.
turando. a _verdade com a mentira
. ' 0 ódio com a astuc1a,
..
a subm1ssao
.. com
, o desafio, 1sso
. não 0 com promete em
sua .verdade . Talvez o arqu1vo não diga a verdade, mas
~!e d~z da verdade1. tal ,co.mo o entendia Michel Foucault,
1sto e, dessa ma.ne1ra umca que ele tem de expor 0 Falar
do outro, prem1do entre relações de poder e ele mesmo,
rela?ões às quai~ ~le se submete, mas ~e também COJ)-
cretlza ao verbahza-las. O que vê aí, nessas palavras espar-
sas, são elementos 'da realidade que, por sua aparição em
um determinado momento histórico, eroduzem sentido.
,L_sobre sua aparição que é preciso trabalhar, é nisso que
se deve ~ptar decifrá-lo./
Por trás das palavras expostas nos autos, pode-se ler
a maneira como cada um procura se posicionar diante de
um p . coercivo como cada um articula sua própria
vida, com êxito ou não, em confronto com a do grupo
social e em relação às autoridades. Para isso, apropria-se,
de forma bem-sucedida ou não, do vocabulário dominan-
éculo XVIII, a mulher está .surpreen-
~ Jo . ela trabalha, se desloca e participa seus estados, mas também em seus gestos prestes a se
.w..-cr- rr:::~ natural do conjunto das atividades
l'lll
realiz.uem. Graças a ele, a mulher não é um objeto à par-
~-Jaeacoisamaisfácil do mundo~ pois os te, cujos hábitos e costumes se aãorana eXlbi~
dDCX., OS~.,,
as feiras e as margens do
___ .J_
J Sena es- ser imerso de forma específica na vida social e polítir,j da
penD""""'""k ocupados por ela. Gera mente mi- época. Imersa no mundo masculino, dando sua contribui-
como 0 homem, ela vem do campo, sozinha ou ção a cada dia.J
IC'DIIIf••luda,eprocurastestahelecertomando conta da Ele permle superar uma das falhas que marcaram um
c-..re- bainoL pouco o início d:,;:história das mulheres", já que é preciso
,.._, eaa.bar uma moradia, assim como um chamá-la assim~ua presença obrigatória nas pesquisas e
1nt ta; ee •1 uncompanha em suas peregrinações. nos trabalhos parecia mais um dado adicional do que uma
jejf e o auabo de uma banca, uma carroça
.....
investigação sobre sua maneira de interagir com o mundo
....•-•..U.decadlorro já üo o bastante para à sua volta .
r' j ~~-~--eiiOidepoimentos; assim, ela Por mais que descrevessem as mulheres, que dedicas-
sem a elas um capítulo à parte em toda tese bem infor-
tlllt f ' :f •I ...._
. . . . . . . . . . .,.. . de uma sociabilidade
quanto de solida-
daro e fe-
mada, não se explicava nada e dava-se a entender que, de
todo modo, a história se passava em outro lugar e de ou-
~l!fi!N~---~~~~~~~411e-. •reprodução" tra maneira. As mulheres eram estudadas, sabia-se de sua
existência, descreviam-se seus trabalhos, suas taxas de re-
~em ~us gestos produção, suas doenças e seus infortúnios, mas elas nunca
~---·tpllcff'O arquivo, inseridas num acontecimento uer que foss~
IIIIIM-, ao qual ela se uivo tal como existe, o as isola, o con .
pela po.
e os bens
llillolllfo•••-tempo.
apenna.
debulhado
vieram
PERCum;o6 E PRBSBNc;1U
peRCURSOS E PRESENÇAS
ensar o mominável.
, d O . conflito é um lugar d e nascimen-
.
P
to' e o que a d vem ep01s dele . raramente tem a ver com 0
que :;e passava
. antes dele.
. Ainda
, que mínimo 0 u ·1rnsono,
· •.
c mesmo ntual, o confl1to e uma fiss ura que traça"
.. . " d .. outros
lugares e cna novos esta os . Ao historiado r cabe nao -
apenas relatá-lo, como também instituí-lo como motor de
sua reflexão, fo nte d e seu p róprio relato.
Por momentos, o arquivo miniaturiz/o objeto histó-
rico: se ele d á a m edida e a amplitude dos grandes movi-
mentos sociais (como as greves, as agitações, os fenômenos
d e mendicância ou de criminalidad e), ele isola como faria
um microscópio o exercício de paixões pessoais.,:Nas pala-
vras retidas pelos documentos, a vingança, a gesticulação,
o ódio e o ciúme fazem sua aparição, figuram na drama-
turgia do real da mesma maneira que o amor e a aflição.
Isso obriga a não omitir essa parte de sombra, esse gosto da
destruição e da morte que habitam o homem; isso obriga
a não deixar de lado essa "insaciável sociabilidade do ser"
em que o interesse de uns pela submissão de outros, a astú-
cia e a mentira se atracam impiedo~amente com esse gosto
por mais liberdade e concórdia: "A tragédia humana ins-
creve-se no desacordo fundamental dos seres com sua pró-
pria cam screver a história é passar um atestado desse
desacor "'4, Entre calúnia e pe:aão' divagam~ pãlaVí'D;
através devidas sem importância, ouve-se a parte inaudfvel-
por vezes ignóbU - do humano, ao mesmo tempo em
le 1111preende a insistente melodia de felicidades tentladllilk
e de dignidades conquistadas.
O sabor do arquivo se enraíza nesses encontros
lllhuetu desfalecidas ou sublimes. Obscura oeaca-1
O ,..OR DO ARQUIVO
...
1111*'_.wnadetansiedade.
ELA ACAHA DE CHEGAR
...
"D espojar"
i-====:::aceçoes:
- ou de contradi-
da hipótese inicial que
III•MifiiNãiCZI' solidamente. Essa
Miilla..olllir•-o escolhido é, em cer-
lilllllilllllll e frequentemente in-
••••IMIX
. .• • • • a pratica. Inevitável,
swtenta. O romancista faz obra de ....,as a uma narrativa capaz de restituí-lo com ..
ce, "· . o SUJeito da
••Ml•* ~~~
1
'1Ustórico• e os personagens saí- hi tória, em uma soc1edade que lhe emprestou al
muita coisa. Pode-se de
s
frases. Se ele deve "ganhar VI'da'" não é em uma fábula,
p avras e
mas
Dão, homens e mulheres do em uma escrita que torna pe_rceptiveis as condições de sua
pll'8 o leitor a conivência e um ?e
irrUpção e,trabalha a obscund~de _seus dias 0 mais pró-
•&zer história~ Eviden- ximO poss1vel do que o produ~1.u. U~co e autônomo (ape-
se revela indispen- sar dos efeitos do poder), o pns10ne1To da Bastilha, fugitivo
assando pelo arquivo, é um ser de razão, colocado em dis-
~so, que a história deve usar como interlocutor.
Por mais que se denunciem as armadilhas do arquivo e
as tentações que ele encerra, não se deve ter ilusões. Paixão
or arquivos não evita as emboscadas. Seria falta de mo-
~éstia se considerar ao abrigo deles por tê-los descoberto.
. i iisputas em retalhos expostas ali
1
(hlk\'llJ,l. t1 ue•11 cia1 mesmo sem avaliar plenamente o exato d
t f 'l' rn l , ·tletindo ao mesmo tempo o desafio
~ J i;unrntt:, rt: ,. , _ ~,1vras Suas frases também são "acont . P0 er das
' .:n ' Compreende-se que e Impossivel, ou pa._.. .. , . eclmentos" or
t."na humana. d d , las estão la para persuadu, e porque é im , P que
'' . · ·es nesses magmas e enuncias de e . d. , poss1ve] esqu
"' ·tabelecer ~en d . . er esse aspecto m Ispensavel das relaçõe . e-
• 't es t'dianidade banal. O u se eixa Isso de e enas o conteu, d o d eIas exi b e um mundo s sociais
. · Não
exala uma co I 1 .
-1ue . . . por outra coisa, por exemp o, a história ap ) orgJn!zado (ou
J , e e mtere~sa de smantelado , como seu enunciado está la' p d
ara espertar
J,J
rroced1mentO J·udioal ou dos grandes processos em a convicção e obter o assentimento daqueles
_ que ouvem
e que julgam. ~essa relaçao estreita entre a palavra dita e
" d ,.da forma; ou então se aprende a captar essas
roa e e\1 d' ' .
- de ,.•1Ja • intensas e contra 1tonas,
. 1
vw entas e
e.xpIosoes , . a vontade d~ cnar o v~r~ssímil instaura 0 ac~imento.
empre complexas, para delas tirar o maximo d e sentido.
Porém, nos m~errogator~os, cada resposta, apesar de gra-
ças à personalidade do mterrogado, oferece não somen-
Sobre o .t'1coniecimmto em f fistória te os esclarecimentos esperados, mas todo um horizonte
que é preciso querer captar. Pois as palavras são portadoras
Essa insistência em trabalhar sobre o minúsculo, o sin-
do presente, elementos de reconhecimento e de dist~o
gular e o quase imperceptível merece um esclarecimento
do tempo do qual vieram. Quando se pergunta, por exem-
sobre os problemas encontrados e, antes de tudo, sobre a
plo, a um vendedor ambulante suspeito de roubo em que
noção de acontecimento em história.
ano nasceu e ele responde: "não sabe o ano, mas fará dezes-
As palavras ditas, os curtos relatos registrados pelos
sete anos no dia da Saint-Charles'~ seria uma lástima que se
escrivães e os embriões de explicações balbuciadas são
anotasse despreocupadamente na ficha: "dezessete anos';
acontecimentos. Nesses discursos truncados, sustentados
junto da rubrica idade, pois faltaria tudo o que mergulha
apesar do medo, da vergonha ou da mentira, há um acon-
tecunento, porque, mesmo em rudimentos, essa linguagem essa informação em um universo ao mesmo tempo pessoal
e coletivo. Esse tipo de respostas não ocorre excepc~onal
carrega tentativas de. .coerência pretendidas por aquela ou
o~quele ~ue proferiu essas respostas1 tentativas que criam o mente faz parte do lote cotidiano de informações t1radas
b, di
o~Contecunento· nelas d
I
. de arquivo, o que determina o valor delas e tam em a -
' ( ,.....se ~
emarcam Identidades sociais ex-
Pnnundo-se por
dos ou
0 ... · d
......., preasas e representação de si e ?culdade de interpretá-las. Do ~esm~ ~od?'. qu~~o s~
de~~~se formas de sociabilidade e maneiras
tnterroga um homem sobre sua s1tuaçao ta1mhar, P ~
tando-lhe se tem mulher e filhos e eIe respo nde·· "não'fre VI-
~ Pois ele ~o, o tolerável e o insupor-
.,,. ilio~ respo~de ao comissário, com uma
, e seus filhos são faleci'dos ", percebe-.se que dessa ase
uvo
. d a (mas os exemp 1 pc-
...,• ...., ou nao, exprime-se forçosamente escapa todo um universo. Ou am · d dos zes-
·-wt::..::.que~ dele mesmo, de sua famí-
Maia do que isso, ele procura ter in-
d enam
· ser alinhados indefim.damente )' esserapaz. . c e me
. -
sete anos com 21 irmãos e 1rmas que na
-o sabe mais o no
'dentificar
1
d 0 lllnào
· mais velho e que tampouco consegue
rincadeira, a chamam de gorda
de b . I . Ique ela n· .
muitas vezes me US1ve não respo d ao e gorda
,uJC , n eae h '
"~ ue esse não c seu nome"'• ssa c acota1
P o~ · o
-o
. . . . . . . . ~é uma ferramenta inútil, tos
. . . . . . . . . . . 0 . . . pelo estranho não tem maior coletivos; :o mesmo tempo, .el.a só pode ser examinada
ent interaçao com grupos soctats,
. . . . . .,.. 1 ' olhar sobre os documen-
. . . ...,.. ..,( illlll, a análise 6na da raridade a
Talvez se p.ressinta que a atenção ao singular requer
a atenção ao aJUStamento de cada um ao outro e sorve
• • • • • • hlbitual e do excepcio-
• • -1 F I 1 capaz de integrar as suas forças além até da disponibilidade do material de ar-
111!~'11·· tpta a restituir suas ru-
quivo para lhes permitir figurar. Ela se enraíza na vontade
de ler hoje como ontem a infinidade de desvios que cada
um constrói em relação à norma, n complexidade dos
caminhos traçados no interior dela, para inventar e não
se subiQeter, para se unir e se opor. Há nisso, sem dúvida,
uma visão do mundo, uma ontologia do atual, a inquieta
;;.ltl&\iidaLde em jamais imobilizar nada. Como se a fala de
pus:un como a de outrora abrigasse nela a esperança
IIIDPN veicular uma possibilidade qualquer.
Sentido e VemcidaJ.
- es porque sabe que podem cont
nt..• -~ de ...c crhtalizar em uma forrna
f,lzo · . . - rapar-lhe 0 t
h l'1>. l . a nrimctra 11usao a combater é a d u ras. As-
hJptltettcas pa~~am diantl' do:- olho~, se es- sln,, ' r h' ' . a narrativ d
· da verdade. A tstona, de fato é u a efiniti-
J. d luz mado. ante de .-.e imobilizarem vJ • . ' ma maneir d
~ ~tl" e . , não funda um dtscurso de verdade a e fazer
lrname nto ·
o menor mo,'lmento toma-as que . controlável
r ponto; ela enuncta uma narrativa qu , ponto
fazendo com que dela~ na:-çam outras 0 po . • . . , e reune a for
~\"el • d . .. ·io de uma eXIgencta ctenttfica e uma ar mu-
Jo vqw,·o tem a força e o ef~mt.>ro c~~as Imagens Iaç• . , . gumentação
.Ylllllft.ll~as uma a uma pelo turbtlhao do caleidoscópio ual se introduzem cntenos de veracidade d .n~
q . h' . e e p1austb1.
t sa},1do· não ha. enodo um,·oco para as co~sas l1·dade. O poeta cna, o 1stonador argument aereeilioR
_ 1
pass-ado e 0 arquno contem em_ SI ess_a lição. Frag1I os sistemas de r~laçao do passado por representações da
brança ele pos 1btlita ao h1stonador Isolar objetos comunid~de soCial que estuda, e ao mesmo tempo por seu
e trsta b. ·o lustonador que reflete sobre um tema próprio s1stema de valores e de normas. O objeto da his-
coostrwr a lustona de que necessita e fazer isso tória é, sem dúvida nenhuma, a consciência de uma época
a. outras disaplina " J3 que nenhum documento e de um meio, assim como é necessariamente construção
emapr sentido dele mesmo: "'Nenhum documen- plausível e verossímil de continuidades e de descontinui-
podt diz.rr nws do que aquilo que pensava seu dades do p assado, a p artir de exigências cientificas. O his-
. tória como um processo de reint
.1 I11!> d d erpreta -
n. m uma ·realidade" trivial e flagran- "do passa o ten o como parâm t Çao Penna.
nentc 'd d e ro urna .
re-.e rosto. e :.ofnmento~, emoções e c ,uas necess1 a esi outra cais , soctedade
.1tuaI • c a e subve t
, p.trl .:ontrola-lo ; ~eu conhecirn~nto é . do passado para 1avorecer ideologi .r er os fa-
p.u-a tentar des.crever dep01:. a ~rquitetura tO!> · . as pernicio
entos em que e necessario dizer Há
'-""'_._es do passado. !\o fundo, o arqm,·o ~empre
mon1 . , . . · ver ades"sas.
" d
( .
. rdadc) mcontestaveis, Isto é forma . . e nao
.l \ e , s Inteiras de r
m.mga aquele ou aque1a que re~valaria com
'" Jade no estudo de formulaçõe:. abstratas e )·d de que de nada serve esconder ou sub
t a , . , . verter. Há mo
ea-
ntos em que a h1stona deve demonstrar ·
sobre. Ele e dos lugares a partir do qual podem me " , . erros, recorrer
~as construções simbohcas e intelectuais do
a provas,,para que a memo~Ia n~o s;ja assassinada"•!. "A
D.D-.Itv e uma matriz que não formula "a" verdade, e\i- hl.stória e uma lacuna perpetua •... J mas na·o e, sempre
.iellttm~.nte mas que produz tento no reconhecimen- 1·ndispensável .se agarrar a essa velharia1 'o real', ao que se
t ~"14
na e.xpatnação elementos necessários sobre os passou autentlcar:nen ~.
dar um discurso de ,·eridíção distante da men- "N ão se deve Jamais enfraquecer a inmi\idade do que
nws nem menos real que outras fontes1 ele su- ocorreu, a incisividade do acontecimento" - dizia recen-
datmc>S de homens e mulhere com ge ticulações temente Paul Ricreur durante uma jornada de encontro
_.Pft~:iftlltae 50mbrus cruzando poderes com múlti- com historiad ores'5 - 1 sobretudo quando ele ainda pro-
di-.CUI1506. A emagenaa de 'Idas se entrechocando duz horror e traumatismos. H ouve no passado aconteci-
dilpolitmK de poder estabelecidos conduz uma mentos abjetos cuja narrativa é necessária e que, por isso
..,...,n história que busa estar a altura dessa irrupção mesmo, impõem um estatuto específico à sua narração,
pao. ou~ que lev.a em conta esses retalhos de particularmente quando ainda vivem na "memória cultu-
alldlda a;hid,u, que desvenda estrategias individuais ral': Auschwitz, dizia ele, é um "acontecimento fundador
,.. doi aao ditD6 e dos silencios1 coloca-os negativo" que é obrigatório manter na condição do me-
1
, ....
I ••
'"'*
· H m1hM.
IIIDI intehgjbdidade pr.ópria morável, e cujo enunciado não pode em hipótese n_e~~-
.
ma ser deformado. Evidentemente, "a re1aJcão da h1stona
._ . d
com o real não se faz à manetra e uma ran f..
t soarência mas
'
p . La Oecou~erte, ,gS•.
11- P. Vidal-Naquet, Les assassins de la mimOJrc, ms. dou 198•.
Centre G. Pomp• •
14- P. Vidal-Naquet, "Lettre", Michel de Certeau,
pp. 71·?1. . das essas pala1Ta5 pro·
IA Ri que sao e1ta
• com a autorização pessoal de P. co:ur É des en :,aen•-es
L.... .. - É I d s Hautes tu
--au no dia 11 de junho de 1988 na co e e_ d J trabalho'Emtor·
.__._,_ a 1orna a e
~em uma intervenção oral durante um
. F Hartog.
Paul Ricceur", organizada por R. Charuer e .
n.'\0 somente reuniu os fatos c as cif
, . - ras, como t b.
nropos t.un.1 ultct prctaçao convinccnt d d am em
r .
acontccunentos a partir desse recx e o . . 1ar dos
esenr 0
ame Indispe .. I
Trata-se da obra de jcan-Clémcnt Ma t' ( · nsave.
.
la I•rancc, Lc'Scu 'l
I ' 1987) . O autor dcmonr In La Vcndé t
t ee
. . . i . . - s ra a que ponto
as pnn11ctas t a msurretçao vcndcana trau ·.
. . . . matizaram 0 go-
verno rcvoluc10nano que v1u nesse levant .
.. . . e a negaçao de
todos os seus esforços. A partir desse choqu . .
.. _ . . c, uma unp1e.
dosa reprcssao veJO consolidar uma região que - . h
nao tm a
na época nenhuma consciência de seu poder. Toda a com-
preensão do a~tor _vem mostrar, com apoio de arquivos,
que os fatos nao sao nada se não forem reinseridos nas
representações que se tem delesJ repre.s..en.taÇ.ões ~e os
tealimentam em Se&1Jida.ou.,queLao co~~n:rere
quzir sua progressão e sua acuidade. A guerra ia
ocorreu no cerne de um processo em espiral de impacto
dos fatos sobre as consciências: se o governo revoludo·
nário não tivesse visto nesses acontecimentos tamanha
carga simbólica, a engrenagem da guerra àvil certamenm
não teria sido tão violentaJt\ nessa obra um belo equi
librio entre a abordagem €'o que se passou e o sentido a
dar a esses acontecimentos que se alastraram em .......,.,_"'.:
_,li6cando os outros incessantem.en~
bem: com raras dac::\111111
)e tato. trata-se de refletir ~obre e~se es- deixando de lado uma opinião popular'l ..
do Condon.:ct, a da parcela do povo mai q~e_é, segun-
queo ser coloca entre ele c elt' me~mo, ele , V 'd d d s estuptda e .
miscrávc1. acUI a e o raciocínio po 1 fu mats
:l.lli,.JUltn. ele e a imagem de sua~ condutas. . b 'd , pu ar ndado e
t wto SlDlples, ,;sto que o arqmvo judiciário
um pressuposto: su mett a a pressão da . m
necesstdade e d
~te, aumentada~ lupa, a ~aneira como trabalho, as camadas populares não têm ne .. ~
.d d ma posstbth-
ll!(lllllft"'YIIItrs e elites estão convenados da Impossibilida- dade nem a oportum a e de se preocupar .
_ . . com as cotsas
powo de participar da coisa pública e de ser suJeito que não estao diretamente
. . hgadas às suas necesst·dades
t.aona. Porém, um maciço de arquiYos de polícia vem físicas ou matena1s.
seu coomído às certezas há muito tempo adquiridas A essa filosofia infalível, o arquivo de tenente-geral
~vacuidade do ponto de vista popular. Como de polícia, forma e conteúdo confundidos, oferece talvez
tmmtr-geraJ de Paris' , que contêm os relatórios um duplo desmentido. A própria constituição do arquivo
~e dos inspetores de pohcia' chamados revela a dimensão das preocupações monárquicas com 0
•15'*- *"polia staik. ruído das falas de seu povo, e o encontro semanal do te-
~.-f~ que o povo não tenha nem ponto de nente-geral de polícia com o rei é uma prova disso; é, aliás,
tllla-.,..,., maupen.as
crenças e superstições, mas
, ....... _.polícia inteira construída em tomo da
para fornecer o máximo de informações à pessoa do rei
que o tenente compôs com a ajuda de toda uma coorte
e4 ~ ............ e dos ruídos da cidade, da ob- de "moscas"'4 e de acólitos tantos registros consignando
WiilifliJ .... ecbn='JJaoue fazem o chão tremer~
r 1 J ~ • as c-;nversas da multidão, captadas aqui e ali, em praças
• f , *"!'IMD,~nasupressão do popular, e cruzamentos. É claro que não se deve confundir: estar
__!•·•••••.-...._ alado na utopia de cap- à espreita do burburinho popular não significa reconhe-
o a onda...ir.IT.gular cer o povo como interlocutor, mas não se pode afirmar a
~!llllii IIIIÍII~ pnlltia aão é assunto do povo,
..
. . . . . . . . . . OWmlo debate que se ins- •
:1.3. Sobre . .. pu'bl'tca no secu
o tema da opmtao · 1o X\'lll •ver os trabalhos de K. •. Ba·
-~---~~~- ''111t ele ~~~~~a opinião pública " bl' l'A •
ker, Politique et opinion pu tquc sous nc1cn c.,. • R luime" AnnaltsESC,JW.-
. .
~~~~-.....I;;;A;~~·-.ao. esduecidos 11
1
.
fev. 1987; R. Chartier "Culture populatrc ct cu ure
lt politique sous l Ancten
. tJModtm PolrtiCal Culturt, vo
L
Régime", French Revolution .md the Creatron ° M "Le
. B Press 1987; S. w,
I, Política/ Culturt of the Ancien Regrmt, ergamon .' bli à la 6n
. . d' · · t l'opinton pu que
tribunal de la nation: les mém01res JU tctatres e ui: 'L'opinion pu·
de I'Ancien Régime" Annalts ESC, jan.-fev. 1987; M. Ozo ' ·) c-...1
' . aergamon Press, 1987, ·.>r...
blique~ Politiul Culturt of tht Ancien Regime, LesiUIIII._
•Niiuance de l'opinion publique", no p~lo (CoUoque 0 tawa.
tluuvoir, 1986). Uda dl11imuJadol 111
... MoKa (~]:nome dado aoa observadorea de po
•·'Hdlo e notlocail públícol.
., 101 ~
encarregados de recolher sem descans nh
cursos e as propnas profecias dos convulsionári os'.Mas
, . oosso dis-
também todos aqueles que, nas praças e c <>r'.
transcrevem o que se propaga sobre 0 caso. ~
brevemente os fatos: em 1728, Fleury, ministro do
ça uma ofensiva pesada contra os jansenistas, e---
tos eclesiásticos são interditados a partir de •••
1730
período, acontecimentos muito singulares occ>m:!D
recinto do cemitério da igreja Saint-Ménard.
um diácono, jansenista, de nome Phis, ínteir.unt~ntl
•-=~a~~a atenção ex-
sagrado à ascese e à pobreza, morando em uma
aio se quer lhe
do Faubourg Saint-Marcel, em pleno bairro
ãoéoquese 1727, ele morre, tendo persistido em seus
contra a Constituição e contra Roma.
por seus fiéis, sua morte ocasiona vúiu
•.m.•
inicialmente muito disaetas. As Del10111,.a4
tear sobre seu túmulo e se rec:albat'llttl
lilliÍIII. . . . ()OI'6ssão · a morte
iíiill.... o-s.
• • • e aflica5 severa e
- · · - de relato mvenfi-
O .Hl]Uivo nasce da d d
esor em. Ca ta a
ML'I1dlgos, ladrões, pesso . d b . P Cidade em flagrante dehto.
. . as e alxa condi - d
tldao por uns instante U çao estacam-se da mui.
s. m punhado de palavr (
arquivos policiais do , I as os az CXIStJr nos
· SCCU O XVIII
Tão evidentes como eni á
gm llcos, pode-se fazer os arquivos di
zcrem tudo, tudo e o contráno, pois falam do real sem Jamais des-
crevê· lo. O trabalho do historiador se impõe, portanto, em todo seu
ngor, em toda sua modéstia.
Este livro acompanha todos os passos da pesqu1sa com acervos
c manuscntos, articulando a experiênCia pessoal da autora com as
pecul1andades do trabalho arguivistlco.ApaLXonada pelos arquivos,
Arlettc Farge convida o leitor a acompanhá-la em seu prazer quase
cotidiano de "ir aos arquivos", em um texto gue Já se tornou clássico.
OI
o
. .. .. I o
"'