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REFUTAÇÃO DA TFP
a uma
Investida Frustra

Volume II
r

REFUTAÇAO DA TFP
VOLUME I

Três Cartas
Refutação por
Átila Sinke Guimarães
Parecer do
Pe. Victorino Rodriguez, O.P.
Professor de ^Teologia e
Prior do Convento de Santo Domingo el Real (Madrid)

Um comentário anti-TFP
Estudo de
Gustavo Antonio Solimeo
acerca de um Parecer
concernente a uma Ladainha
Análise de
Pe. Victorino Rodriguez, O.P.

Um exemplo concreto
Como se analisam na Santa Sé
os escritos dos candidatos à honra dos altares
Posfácio
Quae cum ita sint...
VOLUME II

Editado para circulação restrita pela Reflexões e exemplos de Santos,


Sociedade Brasileira de Defesa da Tradição, Família e Propriedade
Rua Dr. Martánioo Prado, 246 oportunos para nossos dias
01224 - São Paulo - SP
Teb 221-6755 470 fichas hagiográficas em defesa da TFP
Julho de 1984 Orientação da pesquisa
JoAò S. Clá Dias
Serviço datilográfioo da TFP Ordenação e revisão
Gustavo Antonio Solimeo
Serviços gráficos da ARTPRESS Papéis e Artes Gráficas Ltda
Rua Garibaldi* 404 - São Paulo - SP

Colaboração, revisão e posfácio


Antonio Augusto Borelli Machado
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índice
Volume II

i ISISilii -È §§OSg|»
2B=£Í=S2i ülí- S2iili iíii
470 fichas haglográflcas
em defesa da TFP

Introdução — 0 exemplo dos Santos confirma as con­


clusões do presente estudo .......... ........... ..... 3

Secção I_ — "Vox populi, vox Del”: £ consenso dos


fiéis pode discernir santos verdadeiros multo antes
do pronunciamento oficial da Igreja...... . 5

I. Muitos Servos de Deus que morreram em odor de


santidade são desde logo proclamados "santos"
pelo povo fiel....... ..... .......... ......... 7
II. No momento mesmo da morte de muitos Servos de
Deus começa a disputa por relíquias suas, dire­
tas e indiretas .............. ............ . 27
III. 0 entusiasmo pelas pessoas eminentes em virtude
se manifesta frequentemente por ocasião dos fu­
nerais, dando origem a enterros festivos ou até
apoteóticos .V.. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 41
IV. As multidões acorrem ao túmulo e aos lugares
onde viveram ou morreram pessoas muito excep­
cionalmente virtuosas ........ . 49
V. Os fiéis veneram como relíquias os objetos mais
simples usados ou tocados pelos Servos de Deus.
.Curas são obtidas pelo contato com suas relíquias 63
VI. Os fiéis querem ter consigo fotografias e es­
tampas dos Servos de Deus ........ . 71
VII. Em süas necessidades, os fiéis recorrem â in­
tercessão valiosa dos Servos de Deus .......... 77
VIII. 0 recurso, aos Servos d'è Deus se exprime Inter­
calando o seu nome na recitação privada de la­
dainhas e compondo orações em sua honra ....... 89
IX. Para obter graças, os fiéis fazem promessas e
novenas aos Servos de Deus .............. ...... 93
índice índice VII.
VI.
Secção III — Quando é para a maior glória de Deus t
X. ”Bonum est diffusivum sui”: a devoção nascente
os santos aceitam, permitem ou até estimulam as mani-
ao Servo de Deus leva a divulgar sua vida e sua Testaçoes de veneraçao e respeito de que ~sao objeto;
obra ........................................... 99 quando essas manifestações nao sao para a maior glo­
XI. 0 que caracteriza a santidade é à virtude e ria -de Deuseles as recusam ................... 26l
não o milagre, ou os fatos extraordinários da
vida espiritual ........... ................... 105 I. A exemplo do Divino Mestre, os santos acolhem
com benignidade e simplicidade as multidões que
Secção II — Já em vida, pela sua eminente virtude, os buscam sequiosas e entusiasmadas .......... 263
os santos atraem as manifestações de veneração e II. Um problema espiritual delicado para os santos:
respeito dos fléTs, mas frequentemente as repelem ... 113
como passar incólumes, em meio às honras e lou­
I. A pessoa eminente em virtude desperta nas al­ vores de que são alvo, e sem se deixarem afetar
mas boas a exclamação: "E um santo!”.......... 115 péla váidáde? ..... .................... ....... 279
II. A ação de presença dos santos atrai as pessoas, III. Se nécéssário para o bem das almas, e sobretu­
que buscam acercar-se deles, conversar com do para a glória de Deus, os santos manifestam
eles, permanecer Junto a eles, ocupar o lugar os dons que dEle receberam, fazem a apologia de
onde estiveram, ou simplesmente contemplá- sua vida: e até elogiam a si mesmos. E nisto
-los....... .................................... 129 Imitam o Divino Mestre ........................ 289
IV. Manifestando-se como imitadores de Cristo,
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os santos recomendam aos fiéis que, por sua
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IV. 0.entusiasmo pela pessoa dos santos explode em V. Santos e. pessoas eminentes em virtude, fre­
aclamações e aplausos e facilmente se transfor­ quentemente apontam seus pais, e especialmente •
ma em jovial alvoroço, com corre-^corres e dis­ suas mães, como modelo de sua santidade ....... 319
putas de lugar junto a eles ...... ........ . 161 VI. Para que os. fiéis tenham sempre presentes os
V. A fim de participar, de alguma maneira, das seus ensinamentos, santos consentem, às vezes
graças que os santos difundem, as multidões com relutância, que sejam distribuídas foto­
querem tocar neles, possuir objetos tocados grafias suas. Mas, para o bem das almas, por
ou benzidos por eles, relíquias diretas ou in­ vezes as distribuem eles mesmos ....... . 327
diretas, e Imagens suas ...... .. .V........... 179 VII. Para fazer bera às almas, os santos chegam a
VI. Copos e pratos, e até restos de bomida e bebi- distribuir relíquias de si mesmos, encarecendo
ba dos santos, ou da ágüa ha qual se lavaram, o valor delas e, recomendando que as guardem ... 331
são venerados como portadobes de bênçãos ...... 203 VIII. A rogo dos que lhes discerniam a santidade,
VII. A bênção dos santos - mesmo não sendo estes sa­ pessoas virtuosas dão a bênção, mesmo sem se­
cerdotes - é particularmente preciosa aos olhos rem sacerdotes. E até dão ordens a seus fi­
dos fiéis, que em sinal de veneração se lhos espirituais, em nome da santa obediência . 3^1
ajoelham diante deles e lhes beijam as mãos IX. Nem sempre, porém, os santos são compreendidos
e os pés ......... > ...... ............ . *.... . 207 ou reconhecidos. Muitas vezes sofrem detrações
VlII. A confiança na oração e nos méritos dos santos e perseguições, até mesmo de pessoas boas, e
1 leva os fiéis a recorrerem à sua intercessão inclusive de membros da Hierarquia ......... 353
perante Deus, mesmo à distância 213
IX. Alguns santos se. salientaram pelo discernimen­ Secção IV — A formação católica tradicional, propor­
to dos espíritos é pelo acerto de suas decisões_ 231 cionada pelos santos, £ uma formação vlva~êm que, a
par da doutrinação, a personalidade do mestre ou do
X. A missão providencial, o dom ou o carisma da Li superior, seus exemplos e_ seu convívio desempenham
profecia são apontados pelos biógrafos em vá­ papel relevante ............................. ;....... 375
rias vidas de Santos ........... ;..............
XI. As pessoas constituídas em dignidade ou que se I. Para uma boa formação católica, é capital não
distinguem pela sua virtude têm direito à nossa só ministrar a ciência, como também inculcar a
honra e ao nosso louvor .......... ............ 255 virtude e o amor de Deus ............. ......... 377
VIII. índice índice onomástico IX.

II. Para inculcar nas almas o amor à verdade e ao Jesuíta. Beat. 12-6-1825; lia. Dominicano. Arcebispo
bem, é altamente útil usar recursos sensí­ Can. 15-1-1888. Fichas: de Florença. Can. 1522. Fi­
veis, como sejam fatos históricos, símbolos é 120, 206, 207, 208. cha: 119.
metáforas. Só assim se terá um ensino ricamente * Venerável Afonso (Alonso) * Santo Antonlo de Pádua
..vivo, que ilumina a inteligência e move a von­ Rodríguez. Fichas: 316,331
tade .............. .. A ............... ........ 385 (ou de Lisboa) (1195-1231).
* Pe. Afonso Salmerón (1515 Nasc. Portugal. Francis-
II. 0 exemplo de uma vida santa", por parte do supe­ 1585). - Nasc. Espanha. Je­ cano. Viveu na Itália. Can.
rior ou do mestre, é meio de grande eficá­ suíta; dos primeros compa­ 30-5-1232.' Fichas: 117, 196
cia para tocar os corações e induzir as almas nheiros de Santo Inácio.
à prática do bem .......... . ....... ........... 399 * Frei Antonlo de Sant1Anna
Teólogo do Papa no Concílio Galvão (lf39-l822). - Nasc.
IV. 0 método dos santos: ganhar os corações para de Trento. Ficha: 27. Brasil. Franciscano.Fichas:
ganhar as almas ............... ................ 413 49, 50, 92, 345, 375.
* Santo Agostinho (354-430)
V. Com a ajuda de recreações sadias e atraentes, - Nasc. Numídia (hoje Algé- * Santo Antonlo Maria Cla-
pode-se preservar a inocência dos jovens e sus­ ria).. Bispo de Hipona. Fi­ ret (1807-1870). - Nasc.
citar neles o entusiasmo pela virtude ........ *121 chas: 104, 358, 36o. Espanha. Fundador dos Mis­
sionários Filhos do Coração
VI. Os discípulos verdadeiramente fiéis consideram * Santo Alexandre Saull Imaculado de Maria (os
cada dia com enlevo e veneração crescentes até (1534-1592). - Nasc. Itá­ "Claretianos"). Arcebispo
os mínimos feitos e ditos dos santos, . e se lia. Barnabita. Bispo. de Santiago de Cuba. Beat.
empenham em anotá-los para proveito espiritual Beat. 23-4-1741; Can. 11- 25-2-1934; can. 7-5-1950.
próprio, dos seus condiscípulos e das gerações 12-1904. Ficha: 8.
futuras Fichast 128, 164, 165, 183,
......... ............. ............. 427
377,-425, 465.,
VII. Na formação católica, o papel relevante das * Amália Errázuriz de Su-
bercaseaux (1860- 193Q). - * São Bàsllio (329- 379). -
biografias dos santos: sua leitura desperta o
desejo de os imitar e de os seguir no caminho Nasc. Chile. Mãe de famí­ Nasc. Capadócia (Ásia Me­
da perfeição ....... ............ ■....-...... . 433 lia. Ficha: 88. nor). Arcebispo de Cesa-
reia. Ficha: 316.
* Beata Ana Maria Talgi
Apêndice (1769-1837)i - Nasc. ' Itá­ *' São Beda Venerável (673—
735).*.. - Nasc. Inglaterra.
Uma contradição aparente: Por que os Santos ora Sacerdote> monge. Can.
aceitam, ora repelem as homenagens que .lhes são lia. Mãe de família. Per­ l899. Doutor da Igreja na
prestadas? ......... v............ .................. 447 tenceu à Ordem Terceira mesma data. Ficha: 112.
Trinitária. Beat. 30-5- * São Benedito (1526-
SANTO AGOSTINHO, Sobre a pureza de lrjtençãb 449 1920; Fichas: 20, 52, 75,
*125,Santo Andréa Auclino I5891). - Nasc. Itália. Ir­
154, 292.
mão menor da Observância
(de obediência franciscana)
Superior do Convento de
índice onomástico Santa Maria de Jesus. Beat.
1743; Oan. 1807. Fichas:
dos Papas, Santos, Bem-aventurados, 173, 382, 442.
* Irmã Benigna Consolata
Veneráveis e Servos de Deus, bem Ferrer*o (Í8Ô5-1916) .- Nasc.
Itália. Mística, religiosa
oonio de outras personalidades citadas do mosteiro da Visitação de
Como (Itália). Ficha: 76.
* Santo Afonso Maria de Ll- Fichas: 74, 84, 124, 216, « Bento XIV (1675- 1758). -
gorio (1696-1737).- Nasc. 244, 404, 405, 417. Nasc. Itália. Ocupou vários
Italia. Fundador dos Re- cargos,.na Cúria Romana. Pa­
dentoristas. Bispo. Beat. * Santo Afonso (Alonso) Ro- pa; um dos maiores canonis-
15—9—1816;_ Can. 26-5-1839; driguez (1533-1617). tas e legisladores da Igre­
Doutor da igreja 23-3-1871. Nasc. Espanha. Irmão leigo ja. Fichas: I89, 340.
XVI. Índice onomástico

* 217. do Apostolado Católico), um


de Freiras, 'obras de cari­
* São Vicente Fallóttl dade e educação.. Beat.
22-5-1950; Can. 20-1-1963.
Ficha:'20.
* Venerável Virgínia Cen-
turiónà Bracelli (1587

(1795r*l850). - Nasc; Itá­


397. • ,
Reflexões e exemplos
lia. Formou um instituto de
padres seculares (Sociedade
de Santos
oportunos para nossos dias

470
Fichas hagiográficas
em defesa da TFP
Orientação da pesquisa
João S. Clá Dias
Ordenação e revisão
Gustavo Antonio Solimeo
Q exemglQ dos §'§o£g'3 2§o£lcg|

ü conclusões do BÇÊSÊQíe eatudQ

Como já foi dito no Volume I, nas acusações


contra a TFP e contra o Dr. Plinio Corrêa de Oli­
veira ali analisadas, cabe uma importante distin­
ção no tocante às manifestações de respeito, e até
de veneração, que sócios e cooperadores da entida­
de prestam à pessoa do Presidente de seu Conselho
Nacional e à alma de sua veneranda Mãe.
Em tese poder-se-iam alegar contra tais mani­
festações:
1- ) que são heterodoxas, e/ou contrárias
ao Direito Canônico;
%
2- ) que embora tais manifestações sejam
conformes à sã Doutrina Católica e ao Direito Ca­
nônico, as pessoas do Dr. Plinio Corrêa de Olivei­
ra e de sua Mãe não as merecem.
0 objetivo do presente estudo consiste em
provar que essas manifestações são conformes à sã
Doutrina Católica, e ao Direito Canônico. Nem o
Dr. Plinio, nem a TFP têm qualquer empenho em pro­
var que ele, ou sua Mãe, merecem as referidas ma­
nifestações. Mais especificamente quanto ao que
lhe diz respeito, Jamais o Dr. Plinio dará o menor
passo para provar que ele merece tais manifesta­
ções. Esta é matéria eminentemente opinável, acer­
ca da qual ele respeita, no mais alto grau, a li­
berdade de cada um, de formar sua convicção pes­
soal, e de a externar.
0 único ponto em que a TFP e o Dr. Plinio se
empenham consiste em rebater, com argumentos irre-
4. Introdução

torquíveis, a acusação de heterodoxia e de ilega­


lidade canônica feita a tais testemunhos de res­
peito e veneração.
Assim se explica porque razão, a toda a argu­
mentação doutrinária, baseada na Teologia e no Di­
reito Canônico, que foi desenvolvida no Volume I,
para demonstrar a ortodoxia e a legalidade dessas Secção I
homenagens, se segue aqui uma copiosa relação de
fatos, extraídos da vida de Santos que receberam,
multas vezes sem oposição, e por vezes até estimu­
laram, tais testemunhos de veneração, no que diz
respeito a si próprios.
Sem duvida, dentre tais atitudes, algumas, em
“Vox populi, vox Dei”:
circunstâncias
tadas.
correntes, não são para serem imi­
0 que não exclui, aliás, que eventualmente o consenso dos fiéis
possam servir de exemplo em circunstâncias excep­
cionais . pode discernir
Talvez não sej^/de todo supérfluo recalcar o
que de sl é óbvio. Isto é, publicando esta relação
de fatos, não é feita qualquer comparação entre o
santos verdadeiros
Dr.. Pli.nio Corrêa.de Oliveira e sua veneranda Mãe,
de um lado, e, de outro lado, todos esses Santos. muito antes
Esta coletânea de fatos hagiográficos será
especialmente interessante para o leitor brasilei­
do pronunciamento
ro, não raras vezes mais propenso à consideração
dos fatos históricos do que ao estudo doutrinário. oficial da Igreja
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1. "Os Santos foram canonizados pelos


fiéis, antes de o serem pela Igreja"
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Declaração prévia de Mons. Garon MS, Pró-Pre-
feito Apostólico de Morondava, Madagascar, em seu
livro sobre Nossa Senhora de la Salette:

"Os santos foram canonizados pelos fiéis, an­


tes de o serem pela Igreja.
"As multidões acorreram a Salette ou a Lour-
des, antes que Dom Felisberto Bruillard e Dom Lau-
rence pronunciassem sua sentença sobre estas apa­
rições.
"Os fiéis gozam, pois, de certa liberdade na
Igreja. E desta liberdade que faço uso nestas pa^
ginas. Se proclamo santa esta ou aquela pessoa;
se, uma que outra vez, externo minha crença no mi­
lagre, antecipo a voz da Igreja, mas não empenho
seu juízo, nao me intrometo no campo de sua auto­
ridade; somente comprometo a minha".(E. GARON MS,
A Virgem dos Alpes — Nossa Senhora da Salette,
Vozes, Petropõlis, 1956, p. 11).

2. Os^ fiéis, animados por um instinto


peculiar, e antecipando-se~as honras
que a ígreJa~ributarâ, reconhecem
Nota: Todos os sublinhados simples, no texto muitas vezes os verdadeiros santos
das fichas, são nossos, bem como os subtítulos in­
tercalados nos textos. Da vida de Santa Isabel da Hungria
f1207-1231), escrita pelo Conde de Montalembert:
8. Secção I Secção I 9.

wAnimados por aquele Instinto popular que "Tão logo faleceu Neumann (São João Neumann),
tantas vezes e precursor da verdadeira fama, e an­ fez-se ouvir a vox popull, a voz do povo, através
tecipando a honra que logo a Igreja cjecretarla a de toda Filadélfia. 0 povo tem um sexto sentido
seus preciosos despojosos mais ardentes tentavam para a santidade; ele reconhece a pessoa santa, o
obter relíquias da 'Santa (Santa Isabel da artigo verdadeiro. Ele o proclama sempre de várias
Hungria). Lançavam-se sobre o féretro; alguns ras­ maneiras; ele o proclama com Insistência e persis­
gavam pedaços de seu manto; outros cortavam suas tência ate que, flnalmente, as autoridades ecle­
unhas e seus cabelos; algumas mulheres chegaram ao siásticas Introduzam o Processo de Canonização. Ã
ponto de cortar as pontas de suas orelhas”. (Count voz do povo foi ouvida no profundo pesar, na atur­
de MONTALEMBERT, The Life of Salnt Ellsabeth, P.J. dida descrença e nos reiterados pedidos para que
Kenedy Sc Sons, New York, p. 342). se confirmasse a veracidade da qotícia de sua mor­
te. Ela se evidenciou nas multidões, dentro e fora
das Igrejas de São João e de São Pedro, nas milha­
3 • "Vox popull, vox Del” res de pessoas que ocupavam cada polegada de espa­
ço ao longo das ruas, nos telhados e nas Janelas,
Sobre as manifestações de devoção à recém-fa­ enquanto a procissão percorria seu trajeto rumo à
lecida Joana, ex-Ralnha de França e Duquesa de Igreja de São João. Ela se manifestou nos milhares
Berry (1464-1505), escreve o Postulador de sua que bloquearam o caminho para a Igreja de São Pe­
Causa de canonização: dro, para tentar ver mais uma vez o seu bispo,
* quando o plano do funeral foi modificado e eles
”Joana (Santa Joana de Valois) morre então no souberam que haveria uma outra exposição do corpo
Mosteiro da Anunciação, de Bourges, do qual havia e o sepultamento na Igreja de São Pedro.
sido a fundadora e a mãe, em 4 de fevereiro de
1505- Ela aí morre de.tal modo em odor de santida­ "Estas multidões não podem ser explicadas
de que os favores miraculosos se multiplicam em apenas pela curiosidade popular de ver o funeral
torno dé seu túmulo, e sua fama sanctitatis se de um bispo importante. Uma descrição da época
propaga por todo o reino, é mais além, onde seus diz: *Se necessitássemos de alguma evidência sobre
mosteiros conhecem maravilhosa germinação. Vox po­ o apreço com que o distinto prelado era considera­
pull, vox Del. A voz do povo cristão não espera do pelo clero e pelo laicato, bem como por todos
multo tempo para a canonizar, antecipando-se, por que o conheciam, certamente a terísunos testemunha­
um incoercível movimento do Espírito Santo, ao do na maneira como eles se reuniram por ocasião
julgamento da Igreja. Dão-lhe cómumente o título das exéquias, para honrar sua memória e atestar o
de Bem-aventurada, e até de Santa. As autoridades amor que lhe dedicaram1.
eclesiásticas deixam mesmo orgariizar-se em torno "A fvoz do povo1 manifestou-se na reverência
de sua memória um certo culto, que não fará senão com a qual eles sé aproximavam do corpo, osculavam
crescer com os anos, ao mesmo tempo que a prote­ as mãos ou òs pés, e tocavam nele algum objeto pa­
ção, da qual a santa Duquesa dá a seus piedosos ra conservar como lembrança ou relíquia. Ela se
devotos sinais sempre mais tangíveis. Nada deterá patenteou no oferecimento de flores que constante­
esta devoção popular”. (Mgr. R. FONTENELLE, LfHls- mente ornamentavam sua sepultura. Outra manifesta­
tòire d 'un Procès, in "Ferveur", Paris, n. 7, aoüt ção da 1 voz do povo* se verificou na conversão que
194$), p. 3) - sua morte provocou; para alguns foi a conversão do
t . s pecado para a virtude; para outros foi a conversão
4.0 povo tem um sexto sentido pelo para uma prática mais fervorosa da vida cristã” .
qual reconhece a pessoa santa (Pe. ALFRED C. RUSH CSSR, Epllogue, in The Auto-
blography of St. John Neumann CSSR, St. Paul Edi-
Epílogo do Pe. Alfred Rush CSSR à autobiogra­ tions, Boston, 1977, pp. 69-70 / Imprimatur: Wil-
fia de São João Neumann (+ 1860), Bispo de Fila­ liam Cardinal Baum, Archbishop of Washington,
délfia (EUA): 16-12-1976).
10. Secção I Secção I 11.

5- A opinião pública, tem frequentemente, 6. São João Nepomuceno, canonizado


quando se trata de discernir em 1729era venerado como
as almas que Deus favoreceu santo desde sua morte, no século XIV ^
com os seus dons, uma IntuTção segura
De uma biografia de São João Nepomuceno
(1340—1383), mártir do sigilo de confissão:
Da vida da Beata Maria-Eugênia Milleret
(I817-I898), fundadora e primeira Superiora-geral "No túmulo de nosso Santo (São João Nepomuce­
das religiosas da Assumpção: no) deram-se muitos milagres. Tentativas de pilhá-
-lo foram feitas pelos hussitas e novamente pelos
"Até o dia do enterro houve uma constante calvinistas em 1618.
afluência de visitantes na capela onde o corpo es­
"0 santo não foi canonizado senão em 1729,
tava exposto; vinha-se rezar pela defunta (Beata mas desde a sua morte, no século XÍV, ele foi ve­
Maria Eugênia Milleret) sem dúvida, mas vinha-se
nerado como santo pelo povo da Boêmia. Por ocasião
ainda mais para rezar a ela e para venerar seus
da canonização, 0 tumulo foi aberto e milagres fo­
despojos. 0 sentimento geral se traduziu então por
ram testemunhados. Verificou-se que a língua tinha
um gesto bem simples, sempre o mesmo, mas cujo
permanecido incorrupta e perfeita como no caso de
sentido não se presta a enganos. A fé cristã sem­
Santo Antônio de Pádua" . (DESMOND MURRAY OP, A.
pre julgou que o corpo, separado momentaneamente Saint of the Week, Catechetícal Guild Educational
da alma da qual ele.fjpi o instrumento, retém uma Society, Saint Paul, Minnesota, p. l6l).
* virtude1, quando eáta alma viveu da graça de
Deus. Daí o culto das relíquias dos santos e as
honras com as quais a Igreja cerca os restos mor­
7. Fra Angélico pintava Santa Catarina
tais de seus fiéis. de Siena, com a auréola
"A opinião pública, tão fácil de extravlar- de santidade, mesmo antes +
-se, tem de ordinário, quando se trata do discer­ de ter sido canonizada ou beatiflcada
nimento das almas que Deus favoreceu com seus
dons, uma segurança de intuição que quase nunca é Da famosa Historia dos Papas, de L. Pastor:
desmentida posteriormente pela autoridade compe­
tente . A nao ser nesta especie de sufrágio"^ na o "Os papás sempre celebraram com grande magni­
existe quase mais nada onde a voz jdo povo seja ha­ ficência as canonizações dos Santos, das quais Pio
bitualmente um eco da voz de Deús. A Madre Maria II pôde solenizar apenas uma: a de Santa Catarina
Eugênia foi assim espontaneamente honrada desdè o de Siena.
dia de sua morte com uma espécie de culto que "Tendo falecido aos trinta e três anos de
proclamava a eminência de suas virtudes (*)• Toca- idade, esta virgem consagrada a Deus tinha-se tor­
vam-se imagens e terços no corpo, beijavam-se suas nado em pouco tempo, como São Francisco de Assis,
vestes, suas mãos e seus pés, que continuavam fle­
objeto da veneração popular.
xíveis, apesar da morte".
"Suas cartas, .principalmente, eram muito li­
das, é foram qualificadas até por certo historia­
(*) A Madre Maria Eugênia de Jesus foi bea- dor nacionalista de 'grandioso livro de edifica­
tifiçada. ção, onde há coisas que mais parecem escritas com
o estilo de um apóstolo, que com o de uma donzela
(Mère Marle-Eugénle de Jésus, Imprimerie J. sem particular instrução'.
Le Hénaff & Cie. — Saint^Etienne, 1922, pp. "Suas imagens, que já no princípio do século
478-479 / Imprimatur: Hyacinthus, Ep. Modrensis,
XV haviam-se multiplicado em Veneza, andavam em
v. g. Sancti-Stephani, 5-7-1922).
milhares de mãos, e (o Beato) Fra Angélico, que
12. Secção I
Secção I 13.
representou Santa Catarina em vários quadros, não
morte uma transfiguração semelhante à do Tabor, os
teve dificuldade em rodear a cabeça de suas Ima­
gens com a auréola~g~e santidade; pols~êla era con­ fiéis de Pavia prestaram um culto espontâneo ao
siderada c^omo santa pelos dominicanos reformados. seu túmulo. Nas procissões nao ousavam pisar a pe­
■s ; ± '• dra sepulcral que o cobria. 0 bispo, o clero, os
"Em seus conventos celebrava-se anualmente fiéis, compenetrados de profundo respeito, afasta­
uma festa no dia em que morreu Catarina, pregava- vam-se à direita ou à esquerda, ao subir e descer
-se a respeito de suas virtudes, e as donzelas ro­ os degraus da escada do coro.
deavam suas imagens de coroas e ramalhetes de flo­
"Quantos ensinamentos grandiosos e quantas
res. Pela* tarde executavam-se cenas dramáticas no
virtudes egrégias não inspirou e grangeou o bene­
átrio externo do convento, representando os mais
mérito taumaturgo milanês! Esse santo recebeu ho­
notáveis episódios de sua vida; foram conservados menagens profundas, exerceu influencias~ivis3imas
os coros que se costumava cantar nessas ocasiões: na multidão que sê prosternava orando com fervor e
'0 cidade da virgem, ó doce pátria de Siena! A
beijando respeitosamente a pedra do túmulo. Foi
glória desta donzela sobrepuja todos os teus bra­
mister rodeá-la de uma balaustrada que os fiéis
sões ! 1 " .
cobriam de ex-votos de cera ou de prata, de qua­
Nota: 0 Beato Pra Angélico morreu em 1455. dros comemorativos; lâmpadas ardiam dia e noite;
Santa Catarina de Siena (1347-1380) foi canonizada círios constantemente renovados testemunhavam a
apenas em 1461, sem ter sido beatificada previa­ gratidão popular.
mente, o que era então visual.
, ’J V 1
(LUD0VIC0 PASTOR, Historia de los Papas, Edi-
ciones G. Gili, Buenos Aires, 1^F8, Volumen III, A Autoridade eclesiástica tenta refrear o culto
pp. 277-278 / Imprímase: Antonio Rocca, Obispo de não autorizado pela Igreja
Augusta y Vicário dei Arzobispado de Buenos Aires,
20-5-1948). ”0 clero procurava, entretanto, refrear os
ardores" de uma devoção não autorizada pela ígreja.
0 bispo de Tavia, João Batista Billia, compenetra-
8. A Igreja tolerou o culto a Santo do de veneração pela memória de Alexandre, temeu,
todavia, incorrer na censura da Santa Sé; mandou
Alexandre Saull, antes mesmo da beatificação,
tal o entusiasmo de , seus devotos { retirar-as lâmpadas, os ex-votos, as oferendas que
ornavam o tumulo de Alexandre e explicou ao povo o
De uma biografia de Santo Alexandre Sauli, o que determinava o seu modo de proceder. Foi tudo
Apóstolo da Córsega (1534-1592), depois Bispo de em vão. Quando retiravam uma lâmpada ou um ex-vo-
Pavia (Itália): tõ, outros, em duplicata, os substltuTãm e o povo
afluía cada vez mais. 0 bispo persistia na sua re­
"Alexandre Sauli pedira para ser enterrado solução e, como meio preventivo, mandou fechar as
embaixo dos degraus do coro, na Catedral de Pavia, portas da igreja, convencido de que os fiéis es-
mas como escreveu M. de Falloux: 'Notou-se sempre queceriam a devoção. Este alvitre, porém, nao deu
uma espécie de contestação entre Deus e os seus resultado satisfatório. 0s_ fiéis ajoelharam-se
santos. Quanto mais estes afetam sepultar os seus diante das portas fechadas da igreja, penduraram
nomes, por humildade, com a lembrança de suas vir­ ex-votos e acenderam velas, correndo o risco de
tudes, mais Deus tem a peito retirá-los das’ trevas incendiarem a igreja. A catedral conservou-se fe­
para torná-los célebres à posteridade e propô-los chada por espaço de trinta e dois dias, desde do­
como objeto de veneração1 (Vida de S. Pio V, T. mingo de Quasímodo até a Ascensão.
II, p. 319). "Os cônegos, inquietos; convenceram o Bispo
"Depois da morte do santo Bispo, cuja vida de que não era conveniente interromper, por tão
fora um holocausto remodelado pelo ds^ Cruz, e a longo tempo, o serviço divino e impedir as homena­
gens tributadas ao servo de Deus, por meios inú-
Secção I 15.

teis e dos quais se poderiam originar desordens o conhecemos e o consideramos desde já santo1. Em
graves. vista desta circunstância o Bispo de Pavla autorl-
zou a devoção dos fiéis ao seu Pastor venerando.
"Abriram-se, pois, as portas da igreja. Esta devoção espalhou-se por toda a Lombardla, pe­
la Sabóla, a França, a Alemanha e a Córsega.....
0 Bispo decide não mais embaraçar as manifestações
da devoção popular
Teólogos e canonlstas afirmam a legitimidade do
"No dia imediato apareceu um grande círio culto
aceso sobre o túmulo do santo. 0 Bispo desconfiado
"Em 1625, em virtude do decreto de Urbano
que fosse motejo, ordenou sérias pesquisas, para
VIII proibindo que se prestassem as honras do cul­
saber quem poderia ter sido o autor da mistifica­ to aos mortos ainda não beatlflcados ou canoniza­
ção* Soube-se que o círio havia sido colocado por dos, surgiram dúvidas sobre a legitimidade do cul­
Jorge Piazzola, reitor da .igreja de S. Nicolau. to consagrado ao servo de Deus. Fabrlclo Landrlnl,
Mandou prendê-lo. Este, porém, justificou-se, ale­ bispo de Pavla, consultou, a esse respeito, teófo­
gando que procurara, dessa maneira, manifestar o gos e canonlstas.
seu reconhecimento pela graça que obtivera de Deus
por intermédio do seu fiel servidor. "Com eloqííente unanimidade, declararam todos
que o culto tributado a Alexandre Sauli, já tole­
"Ante tão significativos testemunhos, o Bispo rado pela Santa Se e pelos bispos locais, não po­
resolveu nao mais emhàraçar as demonstrações da- dia ser atingido pela proibição.
devoção popular.
"Em 1645, João Baptista Sfondrati mandou para
"A corporação dos Mercadores mandou colocar, Roma as peças do processo apostólico do prelado,
sobre o túmulo, un; baldaquim de seda; as associa­ afirmando que a devoção a esse santo estava tão
ções da Doutrina Cristã ofereceram um magnífico enralgada no espírito dos povos que qualquer ten-
estandarte com tapetes preciosos; lâmpadas ardiam tativa para colbl-la seria a -origem de perturba­
sem cessar; espalharam Imagens. em que o represen­ ções e escândalos.
tavam com a aureola dos santos e o designavam pelo
titulo de Bem-aventurado qUe o povo lhe havia "No dia de Natal de 1732, o Soberano Pontí­
conferido.. fice Clemente XI, promulgou o decreto enaltecendo
as virtudes heróicas do servo de Deus".
São Roberto Belarmino e o próprio! Papa Paulo V o
consideram santo Nota: Santo Alexandre Sauli foi beatificado
em 17*12 e canonizado em 1904.
"Quando os procuradores do Bispo levaram es­
tes^ fatos ao conhecimento do Cardeal Belarmino, (B. DE MAGDALENA, Vida de Santo Alexandre
então prefeito da Sagrada Congregação dos Ritos, Sauli, Officinas Graph. da Associação da Boa Im­
este examinou longamente e com a maior atenção uma prensa, Recife, 1928, pp. 105 a 109 / Imprlmatur:
dessas imagens. "E ele mesmo", disse, conheci-o, Mons. Rosalvo Costa Rego, Vigário Geral
fomos amigos; era realmente um santo. 28-11-1925).
"0 Papa Paulo V ao ouvir a relação do Cardeal
Belarmino, declarou que não tencionava impedir a
continuação desse culto, mas desejava que fossem 9. "A devoção do povo já o havia
registradas, com exatidão, as maravilhas-operadas canonizado em sua veneraçao e apreço..."
por Deus pela intercessão do seu servo. !E-nos
agradável1, acrescentou o Soberano Pontífice, ’ter De uma biografia de São João da Cruz
notícia das graças admiráveis concedidas por Deus, (1542-1591), colaborador de Santa Teresa de Jesus
à intercessão do Bem-aventurado Bispo; nós também na reforma do Carmelo:
16. Secção I Secção I 17.

"A população ubedenha (da cidade de Ubeda) 11. Ruas, colégios, Regimentos colocados
que ouvira o tanger dos sinos a finados, se preci­ sob a proteção da Irma Tereslnha do Menino
pitou no Carmo à notícia de que ali havia morrido Jesus, antes mesmo de sua beatificação
um santo, ávida de ver oa rosto do bom frade que
quase ninguém conhecia, mas que todos admiravam. Trechos de cartas da Madre Inês de Jesus, ir­
Parecia uma romaria ou um dia de visitas à igreja mã de Santa Tereslnha:
dos Carmelitas para ganhar indulgências. Os ubede-
nhos empregaram toda espécie de argúcias para se (Ao P. Frei Rodrigo de São Francisco de Pau­
apropriar de alguma relíquia do finado, e os menos la OCD, Postulador da Causa de Beatificação e Ca­
afortunados tocavam os rosários e outros objetos nonização de Santa Tereslnha em Roma):
nos seus restos mortais. Houve até devotos que se
atreveram a cortar o seu hábito ou a sua capa. Por "Um patronato de Paris foi fundado cora o nome
muitos lados voaram as suas relíquias, prodigali­ de Irmã Teresa; em outro lugar, o prefeito permi­
zando a mancheias graças surpreendentes...... tiu que se dê a uma via pública o nome de * Ruã
Santa Tereslnha1". Espero que este entusiasmo não
"A devoção do -povo que Já o havia canonizado prejudique nossa amada causa (29-7-1913)".
na sua devoção e apreço, e a abundância e brilho
de seus muitos milagres, Junto com a fama, por (A Mons. De Teil):
certo merecida, de virtuoso e santo, fizeram com
que o Papa Clementei"X o beãtl.f içasse em 25 de ja­ "Que guerra tão triste! E como se prolonga!
neiro de lbl5 e que -Bento XIII o. inscrevesse no (I Guerra Mundial, de 1914 a 1918).
catálogo dos Santos, em 27 de dezembro de
172b". (R. F. J55E "ANTQNTO DE LÃ" mSDRe T5E DIÜS "Ontem recebi carta de um coronel que consa­
CD, Sari Juan de la Cruz, Editorial Sánchez Rodri­ grou seu regimento à Irmã Teresa. Nela diz: 'Aqui,
go, PTãsencia,~Ta. ed., pp. 84, 85 e 89 / Imprimi neste bosque do qual tanto se fala e que se encon­
potest: R. P. Otílio dei Nino Jesus, Provincial) . tra todo encharcado de sangue.^francês, temos o
projeto de levantar uma capelinha ao Sagrado Cora­
ção. Minha intenção e de que em um de seus vitrais
figure a imagem de nossa admirável santinha (Irma
tereslnha). Esta capela se levantará com o dinhei­
ro de meus soldados e a contribuição de meus ofi­
10. Antes mesmo da beatificação de ciais. Meu regimento colocará na erecção desta ca­
São. Vicente de Paulo j pela todo o seu coração e todo o seu agradecimen­
os fiéis o honram e invocam to' (30-4-1915)".

De uma biografia de São Vicente de Paulo (Ao Cardeal Vico, Prefeito da Sagrada Congre­
(1581-1660): gação dos Ritos e Relator da Causa de Santa Tere-
sinha):
"Q culto de Si Ylggnfcg EaulQ. —
não esperaram a data da beatificação, 13 de agosto "Vossa Eminência verá nossa Capela, não ape­
de 1729, para honrar e invocar o Pai cíã üarldade. nas coberta de ex-votos de mármore, mas também
Üs* membros de suas duas Congregações foram exem­ adornada com as bandeiras de quase todas as na­
plares em cultivar a sua memória e propagar as ções. Temos já vinte e cinco, todas de seda, bor­
suas virtudes. Antes mesmo da palavra da Igreja, o
povo de França pronunciava com amor e respeito o dadas e dedicadas â Irmã Teresa. De todos ós paí­
nome do fundador de tantas empresas de ses nos chega esta homenagem com indescritívexl en­
caridade". (Pe. JER0NIMO PEDREIRA DE CASTRO, S. tusiasmo. Assim o Brasil, não podendo empregar to­
Vicente de Paulo, Vozes, Petrópolis, 1942, p. 448 do o dinheiro coletado na compra de sua bandeira,
/ Com aprovação eclesiástica). teve a idéia de nô-la enviar em um magnífico esto-

I
18. Secção I

Jo de madeira das Ilhas, maravilhosamente esculpi­


do e que representa, por si só, um valor de milha­
res de francos (31-1-1921)”.

Nota: Santa Teresinha do Menino Jesus


(1873—1897) foi beatificada em 29 de abril de 1923
e canonizada em 17 de maio de 1925.

(La hermana ”Madrecita” de una Santa — La


R. Madre ínés de Jesús (Paulina Martin) y Santa
Teresita, El Angel 'dei Carmelo, Buenos Aires,
1953, pp. 11^7 120, 122^T?3T^

12. A mãe de São Domingos de Gusmão,


beatificada por Leão XlT~em lB28,
era honrada como Santa desde o século XIII

De uma biografia de São Domingos de Gusmão:

”Pareee entretanto provado que, seja do lado


dos Gusmán, seja do lado dos Aza, nosso santo (São
Domingos) descendia de nobres cavaleiros que, du­
rante vários séculos, combateram pela pátria espa­
nhola e a fé cristã. Seus pais eram piedosos; hon­
rada como uma santa desde o século XIII, sua mãe
Joana foi beatificada por Leão XII em 1828”. (JEÃN
GUIRAUÜ^ Salnt Dominlque,~Llbralrle Victor Lecof-
fre, Paris, 4a. ed-, 1901, p. *1) .

13. ”Ela vai nos ajudar lá


no Céu. Era uma santa”!

De uma biografia da Mãe de São João Bosco:

”4 Lora de Deus• — ’Dom Bosco se retirou,


obedecendo a vontade expressa da mãe que, poucos
instantes depois, entrava em agonia’.
”Eram 3 horas da madrugada do dia 25 de no­
vembro de 1856.

”’Dom Bosco, que não se tinha deitado, ouviu


os passos de José que vinha ter com ele. A piedosa
mulher tinha voado ao céu. Os dois irmãos entreo­ Vitral (à direita) dedicado à mãe de São João Bosco, na
lharam-se sem nada dizer e romperam em copioso Igreja de Nossa Senhora do Sufrágio, em Medellin (Colômbia).
pranto’. Não está representada com auréola ou resplendor, pois não foi
canonizada ou beatificada.
20 Secção I
Secção I 21.
"Ê QS menlOQS? — *Não se pode descrever a

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"* — Perdemos nossa mae, mas estou certo de Do depoimento da Irma Cristlana de Messire
que ela vai nos ajudar lâ do céu. Era uma santa! * Chrlstiano de Parisse, no processo de Canonização
de Santa Clara de Assis:
"Foi o que disse Dom Bosco aos meninos reuni­
dos, querendo consolá-los.
"A depoente continuou dizendo que a perfeição
"*Era uma santa! * E o que dizia um mestre de e a honestidade de vida da dita Senhora Madre Cla­
santidade, era a voz de um dos maiores santos da ra foram tais que ela não as conseguiria descre­
igreja. ver. Porque, assim como ela o cria firmemente, a
Bem-aventurada Madre era, em todos os seus atos,
"Essa declaração encontra eco no coração de
cheia de virtudes e cheia do Espírito Santo. Do
todos nós, de quantos amam Dora Bosco". (FAUSTO
CURTO,' A Mãe de Dom Bosco, Editorial Dora Bosco, mesmo modo, ela pensava que tudo o que se pode di­
zer da santidade de uma mulher, cTepoís^a Virgem
São Paulo, 1979, p. 131TI
Maria, podia ser dito, em toda verdade, de Santa
Clara". (J1 ai connu Madame Salnte Clalre -- Le
procês de canonlsatlon de Salnte Clalre d*Assl-
se, Les Edltioris du Cèdre, Paris, 1961, p. 5 7
1A. As religiosas de- Santa Clara
Tmprimatur: J. Gaston, Vic. Gen. de Toulouse,
consideravam a santidade de sua fundadora
apenas inferior à de Nossa Senhora 12-7-1960).

16. "Caetano é grande diante de Deus


Relato do depoimento da Abadessa e das frei­
e tem seu lugar no coro dos Sérafins"
ras do Convento de São Damião, no processo de Ca­
nonização de Santa Clara de Assis (1193-1253):
Conta um biógrafo de São Caetano de Thiene
(1480-1547), fundador dos Teatinos:
"No dia 24 de novembro, Mons. Barthélemy, se­
guido de seu tribunal, se apresenta em São Damião. "No momento mesmo da morte de São Caetano de
Faz Jurar às treze Irmas de dizérem a verdade
Thiene, parece que dela teve conhecimento à dis­
sobre o que elas sabem de Clara, sua Mãe, e recebe tância São Pedro de Alcântara. Enquanto Caetano de
no claustro seus depoimentos. A eètas treze Irmãs Thiene expirava em Nápoles, teria ele exclamado
acrescenta-se uma décima quarta e depois uma déci­
com a mesma intuição de vidente com a qual Santo
ma quinta, doente na enfermaria.. Afonso de Ligório, mais tarde, anunciará aos fami­
"No dia 28 dp mesmo mês, as depoentes são liares a morte do papa Ganganelli: — *Ah! , em um
reunidas de novo no claustro, e à uma só voz, uni­ ponto da terra deixou de haver uma forte coluna
das à sua Abadesa, Soror Benedita, atestam sob a para a santa Igreja!1.
fé do juramento a santidade de Clara, que elas não "Santo André Avellino, precioso recoletor em
creem inferior senão à da Virgem Maria". (J'ai Nápoles das memórias do Santo, ainda esvoaçantes
connu madame "Salnte Clalre -- Le procés de cano- em São Paulo Maior, interpelado a respeito, com a
nlsatlon de Salnte Clalre d* Assis, Ces”~editlons sua exuberância disse: 1 Caetano é grande diante de
du Cèdre, Paris^ 1961, p. 14 / Imprimatur: ÍJ. Gas- Deus e tem seu lugar no Coro dos Serafins*. E o
ton, Vic. gen., de Toulouse, 12-7-1960) . explicava assim: *Quem, depois dos Santos Apósto­
los, demonstrou mais fé do que Caetano? Quem, com­
parado a ele, pode dizer-se mais humilde? Quem, em
22. Secção I Secção I 23.

confronto com ele, mais despido e desapegado da mostrando-se acessível a todos. Consultado sobre
terra?1 .... assuntos importantes, sobre escrúpulos de cons­
ciência, ou sobre qualquer outra matéria, não dei­
"São Caetano .... foi proclamado santo pela xava seu interlocutor antes de tê-lo satisfeito e
voz do povo, com uma veneração inteiramente espon­ consolado. Repassando em meu espírito as palavras
tânea. Quando o Pontífice Clemente X, em 12 de do Servo de Deus, sinto tal admiração, que me ln-
abril de 1671, o canonizou, pode-se dizer que ele clino a pensar que foi ele quem melhor reproduziu
legitimou, nos corações, um culto que Já estava na terra os exemplos vivos do Filho de Deus".. ....
difuso por toda parte". (PIERO CHIMINELLI, San
Gaetano Thlene, Soc. An. Tipográfica Fra Cattolici "Eu mesmo fui testemunha de como moderou e
Vicentlni Editrice, Vlcenza, 19*18, pp. 938, 939 e apaziguou ele as paixões da alma e os gozos do es­
9*11 / Imprlmatur: Francisous Snichelotto, Vic. pírito..., pois de tal sorte submetera ao império
Gen.) . da razão as paixões e movimentos da alma, que não
só conservou sempre o mesmo teor de vida, como nem
sequer se refletiam na sua fisionomia os aconteci­
17. "Parece-me que nosso bem-aventurado mentos prósperos ou adversos"• (FERNANDO FURQUIM
Padre era uma Imagem viva DE ALMEIDA, A graça própria dos Fundadores, Secção
em que estava pintado "Calicem Domini biberunt" in "Catolicismo", n.
o Fllho~de Deus, Senhor Nosso" 144, Junho de 1960).

Santa Joana de^Cfiantal escrevia em carta, a


respeito de São Francisco de Sales (1567-1622): 19. "Estou tão certo de sua glória no céu,
como se a visse com meus olhos corporais"
"f0h, Deus meu! atrever-me-ei a dizê-lo? Sim,
eu o direi: parece-me que o nosso bem-aventurado De uma biografia de São João Berchmans
Padre era uma Imagem viva em que estava pintado o (1599-1621), da Companhia de Je§us:
Pilho de Deus, Senhor Nosso. 'Porque, verdadeira­
mente, a ordem e a economia desta santa alma erâ "Os alunos do Colégio Romano, entravam nas
toda sobrenatural e divina. Muitas pessoas disse­ aulas quando as badaladas do sino anunciaram que a
ram-me que quando olhavam este bem-aventurado, pa- alma de Berchmans havia deixado a terra.
recla-^lhes ver Nosso Senhor na terra* (E. M. BOÜ- "Os cursos foram imediatamente suspensos. Os
ÔAUD, História de Santa Joana~”F. F. de Chantal, t. gemidos e as lágrimas de mestres e alunos mistura-
I, p. 167)". (Pe. RAMON J. DE MUfrANA SJ, Verdad ram-se, e todos celebraram à porfia os louvores de
í Editorial El Mensajero dei Corazón de Je- Berchmans. 0 padre Diego Sicco, professor de teo­
sús, Bilbao, Í947, Tomo I, p. 437). logia, fez sem demora, e com os olhos nadando em
lágrimas, o panegírico do santo estudante. Ao ter­
minar, disse o que mais tarde escreveu. 'Orar pela
18. "Foi quem melhor reproduziu na terra alma de Berchmans, seria fazer Injuria às promes­
os exemplos vivos do Filho de Deus" sas divinas . Devemos dar graças à Èem-aventurada
Virgem por haver sido chamado para o céu, um filho
Ainda sobre São Francisco de Sales, depoimen­ tão digno dEla. Nunca vi na sua pessoa, coisa que1
to de São Vicente de Paulo no Processo de Canoni­ não fosse conforme às leis de Deus, e às nossas
zação: Regras; e eu estou tão certo da sua glória no céu,
como se a visse com meus olhos corporais'".
"0 fervor do Servo de Deus, disse ele, bri­ (Pe. ITT J. M. CROS SJ, Vida de S. Joao Ber­
lhava em seus colóquios íntimos e familiares. Os chmans , Duprat & Comp., São Paulo, T912, p. 385 /
que o ouviam ficavam como que presos a seus lá­ Com licença da autoridade eclesiástica).
bios. Tinha a ciência de acomodar-se a cada um,
2*. Secção I Secção I 25.

20* "Se ela não está no paraíso, 21. "Nunca vi cópia mais
então não há ninguém TáTl" verdadeira do Divino Mestre"

.Mons. Salotti (depois Cardeal) recolhe o tes­ Mons. Francis Trochu apresenta o depoimento
temunho de vários Santos / sobre a santidade de Ana de vários Sacerdotes sobre São João Baptista
Maria Taigi (1769-1837), beatificada em 1920: Vianney, o Cura d'Ars (1786-1859):

"0 Venerável Bernardo Clausi, que muitas ve­ "Ouçamos agora aquele que foi seu prelado du­
zes tinha experimentado a eficácia das orações, rante 29 anos. Em 1838 o P. Tailhades, de Montpel-
das luzes e dos conselhos da Bem-aventurada, quan­ lier, depois de uma estada de 2 meses com o Cura
do soube de sua morte bradou enfaticamente: 'Se d'Ars, encontrou-se com Mons. Devie. 0 P. Tailha­
ela não está no paraíso, então não há ninguém lâl1 des tomara alguns apontamentos sobre o Cura dfArs
0Beato?aspar dei Búfalo (canonizado em com o intuito de imprimir um opúsculo. Para isso
12-6-195*0, consternado por ter Roma perdido tão precisava da aquiescência do bispo de Belley. En­
grande senhora, assim exprimiu sua profunda dor: tão, conta o referido sacerdote, *S. Exciá., apro­
'Quando o Senhor chama a si certas almas a Ele veitando a oportunidade para conhecer minha opi­
muito caras, é sinal de que nos quer castigar. nião sobre o P. Vianney, perguntou-me: — 'Que
Preparemo-nos para ser açoitados'. 0 Venerável Vi­ pensa V.Revma. sobre o Cura d *Ars? — Creio que é
cente Pallottl, cuja causa de beatificação está em um santo1, respondi, ü Br. Bispo acrescentou: rEu
pleno curso no momenta (beatifiçado em 22-1-1950), também penso como V. Revma1 (Processo Ordinário,
teve provas da particular proteção da Serva de p • 1525).....
Deus depois de falecida, tanto que afirmou desejar
"0 P. Toccanier, seu coadjutor durante seis
eonstitui-la secretária plenipotenciária junto ao
trono da Santíssima *frTnda<Íe, para suas obras. A anos, assim fala do nosso Santo:
Venerável j75a Maria fiufrãsTa Pelletler (beatif1- "— Aproximavam-se dele como de uma relíquia.
cada em 30-4-1935— cãnonizadaem 5-5-19^0), fun­ Jamais vi tanta energia e tanta força de vontade.
dadora das Irmãs do Bom Pastor, tendo ouvido o Nada o abatia; nem as contradições, nem as enfer­
piedosíssimo Cardeal Ódescalchl falar muito bera midades, nem as tentações. Mostrou oonstantemente
dela» venerou-a granderaente e confiou à sua inter­ a mesma coragem/na prática da virtude e no devota-
cessão todos os assuntos que tinha necessidade de mento ao próximo. Era tão surpreendente a sua vir­
tratar era Roma. E todo ura coraljde louvores e de tude que causava admiração a quantos o viam. Era
elogios sinceros qüe atestara a reputação comum de uma força tranquila como vinda de Deus; uma força
santidade, a qual se revigorou apôs a mdrte de Ana invencível• 0s peregrinos, até mesmo os religio­
Maria. «*«« sos, pertencentes às ordens mais austeras, diziam
não haver necessidade de outros milagres que aque­
"Poi verdadeiramente surpreendente que a vida la força, para se convencerem dé sua santidade
<*£ nwa Pobre mulhérzinha fosse tão tmlversalmente (Processo apostólico in genere, p. 178; Processo
Procurada £ preferida às vidas 3e tantos santos, Ordinário, p. 160).....
antigos e novos, que tanta graridfeza trouxeram à "0 P. João Luís Borjon, antigo cura de Ambé-
Igreja♦ De onde o desejo vivíssimo de possuir o
retrato de Ana MãrTaTfalgl, e o pedido contlriuó de r.ieux-en-Dombes, que muito fez sofrer ao Santo e a
quem este perdoou de todo o coração, diz:
gUftfl relíquias qüe vinha de todas as partps do
raulmo"*^ (Mons. CARLO SAÍiOTTI, La Beata Anna Maria "—. Encontrei nele as virtudes que fazem os
T*igl Madre dl Faraiglla, Grottaferrata* — àpuo- grandes santos*
la Tipográfica Iíalo-Orientale "S. Nilo1*» Í$ZÚt, "De outros sacerdotes que também tiveram oca­
pp« 377-378 / Imprimatúr: Pr* Albertus Lepidi OP, sião de o conhecer, são as palavras seguintes:
S.P. Ap. Magister. Imprimatúr: Can. Sylviüs de An-
gells Vic. Gen. Dioec. Tusculanae). "— 0 P. Vianney era a imagem viva da vida
26. Secção I

sobrenatural... (Cônego João Gardette, capelão das


carmelitas de Châlons, Processo apostólico ne pe-
reant, p. 921). A perfeição que pregava aos outros
era a regra austera de sua conduta. 0 móvel de to­
das as suas ações, de toda a sua vida foi a fé.
.... (Pe. Raymond, Processo Ordinário, pp. 306 e
290). Sempre notei nele a perfeição das virtudes

IIM
HM
.... (Pe. J. B. Descôtes, missionário diocesano de
Belley, Processo Ordinário, p. 1343). Nunca vi oó-
pla mais verdadeira do Divino Mestre ..7. (Pe. Es- Nq mQoifiDtg mearac da mgcts
tevão Dubouis, cura de Fareins, id., p. 1246). A
felicidade que tive de conhecê-lo foi uma graça de ©uilgs igCYQg de ggu§
especial de Deus (P. Faivre, Processo Ordinário,
p. 1493)". (Cônego FRANCIS TROCHU, O Cura çTArs, sgçQgg! a diaputa pgr
Vozes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, pp. 369-370 /
Imprlmatur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uru­ çelíaulig guag, dlnetag e lQdiçetaa
guaiana, 29-6-1959).

22. "A ciência materialista deplora a perda 23. Cardeais e Bispos colocavam seus anéis
de Ferrlnl como sâblò,vmas~a sòbre a3 mãos de Santa Clara,
ciência cristã venera-o como a um santo" pa~ra aBqulrlrem a virtude que delas se desprendia

Conferência realizada em Milão a 25 de março Da Legenda de Tomás de Celano sobre Santa


de 1905, pelo Dr. Luigi Olivi, grande promotor da Clara de Assis (1193-1253):
*•
Causa do Beato Contardo Ferrini (1859-1902), bea-
tiflcado em 1947: "A devoção dos fiéis em torno de seu corpo
era tão gránde que Cardeais e outros Prelados fi­
"Foi grande nele a ciência, porém maior ainda zeram colocar sobre as mãoiT"da virgem seus precio­
a Fé, e a sua ciência foi profunda, porque mais sos anels para que eles pudessem, adquirir um pouco
profunda foi a sua convicção religiosa. A Fé e a da virtude que se desprendia dosdedos muTEo san­
ciência sempre andaram nele par ajpar, iluminando- tos" (J'al connu Madame Salnte Clalre, Le Procès
-se e completando-se reciprocamerite. Que exemplo de Canonlsatlon de Salnte Claire d1Assise, Les
para a mocidade! A ciência materialista, que não Editiohs dú Cèdre, Paris, l9bl, p. 13 / Tmprlma-
quer saber nem de ideal nem de vida futura, deplo­ tur: J. Gaston, Vic«, gen., de Toulouse,
ra a perda de Ferrini como sábio, mas a ciência 1^7-1960).
cristã venera-o como a um santo.. Mitiga-se a nossa
dor por pensamentos consoladores e sobre o seu tú­
mulo eleva-se tranqüila e majestosa a imortalidade 24. Devotos "saqueiam" a cela de Santa
dos santos". (Padre H. W. SPYKER SJ, Beato Contar­ Gertrudes sem deixar coisa que
do Ferrlnl, Vozes, Petrópolis, 1945, p. 163 / Com tivesse usado ou tocado com suas mãos
aprovação eclesiástica, 30-12-1944).
De uma biografia da prodigiosa virgem Santa
Gertrudes a Grande (1256-1301):

"A primeira que fizeram depois disto (da mor­


te de Santa Gertrudes), foi saquear a sua cela,
tomando à porfia suas pobres vestes por relíquias,
28 Secção I Secção I 29.

sem deixar coisa que tivesse usado, ou tocado com ve ura concurso imenso de povo nos funerais. A
suas mãos, crendo que de seu contato tinham ficado guarda suíça foi obrigada a se interpor Dara pro­
tão santificadas, que poderiam dar saúde a muitos: teger o corpo do Santo contra os excessos da vene­
e não se enganaram, porque operou Deus por elas ração. Todos queriam ter um pedaço de seus orna­
muitos milagres, como -véremos adiante, pelo que mentos pontifícios; disputavam-se sua barba £ seus
foram pedidas, e estimadas de toda a cristandade, cabelos; os menos favorecidos queriam ao menos fa­
como de Santa, e tão valida do Senhor". (Fr. JUAN zer tocar em seu caixão terços ou outros objetos
DE CASTARIZA, Vida de la prodigiosa Virgen Santa de devoção”. (J. CtíANTREL, Hlstolre Populalre des
Gertrudis la Magna, Administración dei Real Arbí­ Fãpes, Salnt Pie V et Slxte-Qulnt, C. Dillet, Pa­
trio de Beneficencia, Madrid, 1804, p. 313)* ris , 1862, Vol. XIX, pp. 1Ò7-16Ü) .

27. Dificuldades em enterrar o Padre


25• Devoção fervorosa em torno do cadáver' Salmerón: cadaTTm queria uma relíquia
de Santa Catarina de Génova
0 famoso jesuíta Padre Pedro de Ribadaneyra
De uma vida de Santa Catarina de Gênova narra em sua Vida e Morte do Pe. Afonso Sal-
(1447-1510), canonizada por Clemente XII em 1737: merón (1515-15^517
"A afluência em torno do santo corpo foi tão "Quando se so\xbe da morte do Padre Salmerón,
grande, que foi ne.cçssário deixá-lo exposto Dor toda a cidade acorreu à nossa casa para vê-lo e
oito dias, a fim dê satisfazer à devoção pública. beijar-lhe a mão. 0 Arcebispo de Nápoles velo ao
Durante todo esse tempo, a igreja não se esvazia­ enterro com o Cabido e o Clero, em trajes pontifi­
va, da manhã até â noite, e urt, clamor de admiração cais. Acabado o ofício, foi tanta a gente que
perpassava a multidão, à vista de uma conservação acorreu, tanto Senhores, Cavaleiros £ Ministros
tão miraculosa. Os tecidos que cobriam o santo reais, como pessoas do povo, que^ não se pode fazer
corpo tornaram-se logo insuficientes para satisfa­ o enterro, porque uns lhe cortavam os cabelos e a
zer o fervor da devoção. Alguém arrancou furtiva­ barba, outros as unhas dos pés; outros pedaços dé
mente uma de suas unhas, £ este ato com certeza suas vestes, ateF que, com um estratagema, se con­
teria sido imitado, se não se houvesse tomado a seguiu despedir as pessoas e, já de noite, fecha­
precauçaq de colocar em segurança o precioso depo­ das as portas da igreja, e presentes apenas os da
sito. Foi ele colocado era uma capjela defendida por casa, o enterraram”. (PEDRO DE RIBADENEYRA, Vida £
uma grade que o deixava ver aos q\xe o vinham visi­ muerte dei P_. Alfonso de Salmerón, ln Historias
tar; e Deus continuou a manifestar o poder das de la Contrarreforma, BAC, Madrid, 1945,~p. 595 /
preces de sua serva, multiplicando os prodígios em Imprlmatur: Casimiro, Obispo Aux; y Vic. Gen.,
favor dos que recorriam à sua intercessão”. (Abbé 31-3-1945).
POSTEL, Vle de Sainte Catherlne de Genes, Librai-
rie Catholique et Classique de Perisse" Frères, Pa­
ris, 1881, p. 143). 28. D£ São Luís Gonzaga, cortaram-lhe
as vestes, os cabelos, as
unhas, £ até duas artlcuTãçÕes
26. Funeral de São Pio V: todos queriam do dedo mínimo da mao direita
ter -um pedaço de seus ornamentos
pontificais £ disputavam seus cabelos £ sua barba Funeral e manifestações de devoção em relação
a São Luís de Gonzaga (1568-1591), num livro sobre
De uma historia dos Papas: sua vida:

”A dor dos romanos foi igual à veneração que "Os dois Padres que assistiam Luís (São Luís
professavam pelo santo Pontífice (São Pio V). Hou- de Gonzaga) na sua morte Julgaram ter recebido do
30. Secção I Secção I 31
Senhor uma grande graça; com efeito, eles tinham amizade antes da sua morte. Na manhã seguinte, 21
sido preferidos em relação a tantos outros que de­ de junho, mal foi dado o sinal para o despertar,
sejavam estar presentes na ocasião da morte desse que a enfermaria onde estava o corpo não podia
santo Jovem. Pouco antes de sua morte, ele lhes mais conter o grande numero de pessoas que acorreu
assegurou que os recomendaria a Deus durante todo aí. Rezavam por ele, mas se recomendavam ainda
o tempo de suas vidas. Eles sentiram em breve os mais a ele; muitos se lançaram sobre os seus sapa­
felizes efeitos disso. 0 Padre ministro encontrou tos , sobre uma camisola e outras vestimentas de
uma paz de espírito perfeita e uma sensível conso­ seu uso. Enfim, levaram o corpo à capela domésti-
lação, e o P. Guelfucci sentiu nesse momento uma ca.
devoção particular, uma grande dor de ter ofendido
a Deus, e um ardente desejo de melhor 0 servir Não se cansavam de o proclamar santo
segundo os conselhos de Luís. Esta viva impressão
não durou nele somente alguns meses, mas anos, nem "Muitos dos seus Irmãos, dominando o horror
sempre com igual vivacidade, mas conforme as oca­ que se tem normalmente de tocar num morto, aproxi­
siões mais ou menos importantes. mavam-se do caixão, beijavam por devoção o defun­
to, e não se cansavam de chamá-lo santo. Todas as
Por devoção, todos desejavam uma relíquia sua missas que se disseram nesse dia no colégio e nas
outras casas da Companhia em Roma foram celebradas
"Este mesmo Padre desejava, por devoção a na intenção dele, se bem que muitos não lhe apli­
Luís, ter qualquer çofrsa que tivesse estado no seu cassem o fruto senão para se conformarem ao costu­
uso, e não ousando entretanto tocar no seu corpo, me, certos que estavam de que ele não tinha neces­
pegou e conservou os cordões de seus sapatos, as sidade disso.
penas de que ele se servia para escrever <5 outras
coisas semelhantes. Os enfermeiros, tendo vindo Embora fosse simples seminarista, até os Padres
para lavar o corpo e prepará-lo antes de o vestir, vieram oscular suas mãos
f
aperceberam-se, ao tirá-lo do leito na presença
dos dois Padres, que ele tinha sobre o seu peito^o "Para bem compreender que sensação causou em
crucifixo de bronze, de que falamos, e do qual não todo o colégio a morte de Luís, era preciso ter
se separava há três dias. Ao despí-lo, eles viram estado aí presente. Não se falava senão das suas
também que ele tinha nos Joelhos dois grossos ca­ virtudes e da sua santidade; cada um lembrava o
los, causados pelo hábito que tinhá desde a infân­ que tinha visto. Mas o coração dizia mais do que
cia de fazer todas as suas -orações de Joelhos. Al­ as palavras, ao recordar a pérola preciosa que ti­
guns, por devoção, cortaram parcelas desses calos, nham perdido.
<3 conservaram-nos como outras táhtas relíquias. Üm "A tarde, pelas seis horas, antes de rezar o
dos enfermeiros, atendendo ao pedido que alguns ofício, transportaram c corpo da capela doméstica
lhe faziam, quis cortar carne, mas errou e não para a grande sala onde os Padres e os Irmãos es­
cortou senão pele, que, aplicada a um doente o cu­ tavam reunidos. £ hábito era de beijar a mão so­
rou. mente aos Padres; mas, se bem que Lu1s~na o tivesse
senão as ordens menores, a idéia que faziam de sua
Mais do que rezar "por" ele, rezavam "a" ele santidãcTe levou todo mundo, mesmo os Sacerdotes, a
lhe beijar a mão.
"Mal havia Luís expirado, muitos dos seus
mais íntimos amigos, avisados por um dos Padres de Seu corpo é levado em procissão
que o nosso anjo tinha voado para o céu, levanta-
ram-se imediatamente cheios de fervor, e acorreram "Depois desse piedoso testemunho de estima,
para se recomendarem à sua proteção, certos de que levaram processionalmente o seu corpo à Igreja da
ele tinha chegado a bom porto. Muitos fizeram en­ Annunziata, do colégio, onde, segundo o costume,
tão por ele as orações que lhes tinha pedido por salmodiaram o ofício dos mortos.
32. Secção I Secção I 33.
Altos personagens disputam suas relíquias recomendar à sua proteção. Eles lhe deram esta
prova de confiança e de veneração durante todo o
"Depois do ofício, houve uma tal concorrência tempo que permaneceram em Roma.
de estudantes e de outras pessoas que se aproxi-
mavara do corpo para o homenagear e dele pegar re­ Um Padre cobria o túmulo de flores, todos os dias
líquias, que os Padres, nao podendo dominar esta
massa de gente, foram obrigados a fechar as portas "0 Padre Antonlo Valtrino, vindo da Sicília,
da Igreja. Pol nesta ocasião que lhe cortaram as que nunca tinha visto Luís, concebeu por ele uma
vestes, os cabelos, as unhas, e as duas articula­ tal devoção ao ler o meu livro, que não contente
ções do dedo mínimo da mão direita ."Entre os que de ir todos os dias rezar ao seu túmulo, colhia
dividiram entre si estas relíquias encontravam-se no Jardim flores que semeava sobre a sua sepultu­
Dom Francisco Dletrlcht, mais tarde Cardeal da ra. Ninguém, dizia ele, merece mais esta homenagem
Santa Igreja," Bento e Filipe Gaetani, Júlio Órsi- do que aquele que cultivou no seu coração as flo­
nl, Dom Maximiílano Pernestein, ilustre Senhor da res de tantas virtudes". (Pe. CHARLES CLAIR SJ,
Boêmia, que morreu camareiro secreto do Papa Cle­ La vle de Salnt Louis de Gonzague, Libralrie de
mente VIII, ao qual tomou um grande pedaço da ba­ FTrmin-Didot et Cie., Faris~ 1891, pp. 267 a 270).
tina, que eu vi' nas suas mãos.

Seu corpo e tratado ele todo como uma relíquia 29. Durante as exéquias de São Vicente
,7 il de Paulo, o entusiasmo extraordinário do povo
"Quando chegou o momento de colocar o^ corpo leva alguns a arrancar fios de seu cabelo
na sepultura, os principais Padres do colégio, e para conservar como relíquias
entre eles o Padre Bellarmino (São Roberto Bellar-
mino), foram da opinião que não convinha^confundi- Exéquias de São Vicente de Paulo (1581-1660),
-lo cora os outros, mas depositá-lo num tumulo par­ patrono das obras de Caridade:
ticular; porque, em. consideração de tão grande
santidade, Deus não deixaria de ò glorificar aos "0 corpo foi revestido dos hábitos sacerdo­
olhos do mundo tanto quanto ele se tinha aplicado tais e colocado na eça, na igreja de S. Lázaro.
em ser pouco conhecido. Entretanto, como o costume Durante o dia e a noite, seis padres, revestidos
da Companhia era de enterrar os mortos sem caixão, de sobrepelizes, rezavam, Junto ao corpo, o ofício
o Reitor enviou o Padre ministro jreceber as ordens dos mortos. A multidão dos pobres enchia, inces­
do Padre Geral, o qual declarou q,ue o deviam colo­ santemente, a igreja. Nà capela-mor, viam-se mui­
car num caixão, e que ele dispensava do uso comum tos bispos, príncipes, magistrados, religiosos.
com tanto mais boa vontade quanto estava persuadi­ Todas as nobres Damas de Caridade e as Irmãs de
do da santidade singular desse jovem Trmao. Pode- Caridade revezavam-se, banhadas em lágrimas, to­
-se Julgar por ai que idéia tinham de Luís, uma cando os objetos de piedade nas mãos do Santo,
vez que faziam para ele coisa tão extraordinária, beijando-lhe os pés e essas mãos, santificadas pe­
tratando já o seu corpo como uma relíquia. 0 seu la prática de tantas virtudes. Algumas pessoas
precioso cadáVer foi* então colocado num caixão chegavam a arrancar-lhe alguns fios de cabelo da
feito sob encomenda, e enterrado na capela do Cru­ cabeça. Os padres da Mlssaq precisaram ser enérgi-
cifixo, no lado esquerdo da igreja do colégio. cos, impedindo este entusiasmo extraordinário do
povo". (Pe. JERÔNIMO PEDREIRA DE CASTRO, S. Vicen-
Muitos visitavam seu túmulo te de Paulo, Vozes, Petrópolis, 19*12, p. "^07 / Com
aprovaçao eclesiástica).
"Durante vários dias, não se tratava de outra
coisa senão do santo Jovem; veneravam-no morto,
não tendo nials a felicidade de o -homenagear vivo*
Todos os dias, vários iam ao seu tumulo para se
3*1. Secção I Secção I 35.

30. Oí* mais afortunados cortaram 31. ”Arrebataram-lhe o crucifixo,


os cabelos de Santa Rosa e o terço, o barrete,
houve quem lhe amputasse um dedo os sapatos e muitos até os cabelos”
x‘; l ■ .
Relato da devoção popular quando das cerimô­ De uma biografia de São João Berchmans
nias fúnebres de Santa Rosa de Lima (1586-1617), a (1599-1621), da Companhia de Jesus:
primeira Santa canonizada do Novo Mundo: "A notícia da morte de Berchmans, espalhou-se
depressa em Roma, pelos dois mil estudantes do co­
"Chegado o momento de conduzir o cadáver (de
Santa Rosa de Lima) ao convento de São Domingos, légio Romano.
foi tal a aglomeração de gente, que encheram as ”Logo uma multidão de religiosos e de secula­
ruas desde a casa onde falecera até o dito conven­ res, correu pressurosa a rodear o corpo do Bem-
to, sem que fosse possível ao próprio Arcebispo -aventurado exposto na Igreja, apesar de haverem
penetrar por entre aquele apertado concurso de fechado a porta principal que comunica com a rua.
fiéis. Assistiram ao cortejo o cabido metropolita­
no, a câmara municipal, todas as comunidades e ”Num minuto desapareceram as flores que ador­
confrarias da cidade, sem nenhum convite. navam o esquife; depois, nao obstante a resistên­
cia dos Padres encarregados de proteger o corpo,
11 Suas vestimentas (de Santa Rosa de Lima) arrebataram-lhe o crucifixo, o terço, o barrete,
eram despedaçadas e arrebatadas com tal avidez, os sapatos e muitos até os "cabelos. A custo conse­
que foi necessário 7enovà-las por seis vezes. Os guiram afastar os indiscretos, e a igreja foi
mais afortunados cortaram os seus cabelos e ainda aberta. Uma onda de povo precipitou-se para den­
houve quem com os dentes lhe amputasse um dedo. tro. 0 . respeito que à primeira vista imprimiu o
corpo de Berchmans, impediu a desordem, porém daí
"0 povo não queria permitir que fosse enter­ a pouco, alguns dos assistentes tendo conseguido a
rada, pois : não havia sinal de corrupção, e para
consolação de beijar piedosamefite as mãos do de­
não se ver privado de sua vista, de tal maneira Se
funto, os guardas foram empurrados por uma multi­
agrupou ao redor do féretro, que não sendo possí­
vel movê-la do lugar, houve necessidade de persua­ dão ávida de satisfazer a própria devoção.
dir aquela gente de que o enterro seria apenas no "Começaram então a falar de muitas curas mi­
dia seguinte. Retirou-se por fim, e levaram a San­ lagrosas que acabavam de operar-se; disso resultou
ta ao capítulo (e ali a enterrariam); mas quando â ura rumor interminável, que abafava o canto dos sa­
tarde abriram a igreja e o povo jdeu pela falta de cerdotes. A£ vestes do santo foram despedaçadas,
seu corpo, rompeu os ferrolhos do claustro, e qual cortaram-lhe as unhas, e até um dedo do pé. Somen­
onda impetuosa lançou-se ao capítulo para rezar te depois de um trabalKo inaudito pucferam colocar
Junto a seu túmulo e levar consigo a terra como sobre o corpo quase todo despojado, os pedaços de
preciosa relíquia. ura pano mortuário e transportar o esquife para a
capela de Nossa Senhora, onde ficou protegido por
"Durante um mês não cessaram as peregrinações uma grade de ferro. Aí mesmo, não ficou resguarda­
da multidão à casa onde morreu e ao convento aonde do contra a piedade dos fiéis, e foram obrigados a
Tõ1 énterrada, venerando os lugares por ela santi­ levá-lo para a sacristia”. (Pe. L. J. M. CROS SJ,
ficados , os instrumentos de suas penitencias £ tu- Vida de S. João Berchmans, Duprat & Comp., São
do quanto mais de perto recordava a sua querida Fãulo, 1912, pp. 385-386 / Com licença da Autori­
Santa11. (Te . Fr. VTCTORINO OSENDE, misione ro domi- dade eclesiástica).
nicano, Santa Rosa de Lima, Lima, 4a. ed., pp.'154
-155 / Con las debidas licencias).
32. "Uns pediam algo de seus vestidos,
outros alguns escritos de sua mãõ^
Do Compêndio da vida de Santa Margarida Maria
36. Secção I Secção I 37.

davam repetindo: E um santo. Perante tal espetácu­


Alacoque (16^7-1690), a vidente de Paray-le-Mo-
lo e tais elogios, devia por força subir de ponto
nial, escrito por um seu contemporâneo:
a fama de santidade do Servo de Deus; e não havia
quem não ficasse comovido ao ver uns, que choravam
"A morte desta san.tq moça (Santa Margarida
de emoção; outros que rezavam fervorosamente; es­
Maria Alacoque) causou no espírito de todo o mundo tes que se recomendavam à sua intercessão; aqueles
aquelas impressões de admiração e de piedade, que que pediam graças e favores; e todos que lhe bei­
causa de ordinário a morte dos justos cuja memória javam o hábito, ou as mãos ou os pés, e lhe tribu­
está na estima universal. Ouvia-se por toda a Casa tavam as homenagens da sua mais profunda venera­
e por toda a Cidade ressoarem estas palavras: Mor­ ção .
reu a Santa. E em vez de sentirem aquele horror
que se tem naturalmente à vista de um corpo morto, Desejosos de relíquias, cortavam-lhe o hábito e os
as pessoas presentes não se podiam cansar de olhá-
cabelos
-la e de permanecer Junto a seu corpo. Diversas
pessoas declararam que parecia um não sei que no "Nem parou nisso a sua devoção. Desejosos de
seu rosto que inspirava aquela veneração, e aque­
terem alguma relíquia do homem de Deus, começaram
les sentimentos de devoção que se têm para com as
indiscretamente a cortar-lhe o hábito, ou os ca-
relíquias dos Santos. A afluência do povo às suas belos, e a lhe tirar seja o que for que The tlves-
exéquias foi tão grande que ois Padres que faziam o se pertencido, de maneira que daí a pouco aquele
serviço, foram frequentemente interrompidos pelo
venerável cadáver ficou quase meio despido. Para
ruído daqueles que ppdJTam fizessem tocar seus ter­
pôr um limite à súa indiscrição, formaram com os
ços no corpo: uns pediam algo de seus vestidos, bancos como um recinto, o qual depois do meio-dia
outros alguns escritos de sua mao, todos queriam
foi preciso reforçar. Dentro deste recinto havia
ter algo de suas Relíquias, £ a veneração que se alguns senhores, que distribuíam pequenas relí­
tem para com esta santa defunta aumenta todos os quias , e faziam tocar ao venerável corpo do Servo
dlag". (Te. JOAÓCRÕIsEÍ SJ, Compêndio da vida da de Deus os terços, as medalhas*£ outros objetos,
Irma Margarida Maria Alacoque, religiosa da Visi­ que eram apresentados pela pi'edade popular. 0 con­
tação de Santâ~~Marla, Livraria Agir, Rio de Janei- curso do povo foi indo até de tarde.....
ro, 1950, pp. 10^4-105)•
Para satisfazer a devoção, enxugavam com os lenços
o suor que lhe sala do rosto
33- Numa .santa porfia, pessoas dej respeito
reclamavam relíquias de São Paulo; da Cruz
"Chegando à noite, foi uma dificuldade para
fazer sair da igreja a grande massa do povo; mas
De uma biografia de São Paulo da Cruz
não foi possível mandar sair diversas pessoas de
(169*4-1775), fundador dos Passíonistas:
respeito, que desejaram ficar. Tratou-se entretan­
to de colocar o cadáver no caixão, e por isso em
"Apenas a sua bela alma se separara do corpo,
presença do Monsenhor Vice-gerente, tendo sido re­
todos diziam a uma voz: * Acaba de morrer um-santo; digida a ata do reconhecimento, foi despido aque­
temos visto morrer um santoS* .... le resto de hábito que lhe ficara no corpo, e
distribuído às pessoas presentes, que numa santa
Todos falavam de suas virtudes e repetiam: fE um porfia o reclamavam. 0cadáver estava perfeitamen­
santo!9 te flexível em todas as suas partes, e foi obser­
vado com admiração que do rosto saía um suor tão
"Entretanto o corpo do Servo de Deus estava abundante que serviu para satisfazer a devoção dos
cercado pelo povo, que se aglomerava e não se far­ que o enxugaram com os seus lenços; e no peito
tava de contemplar aquele rosto, que parecia ilu­
acharam-lhe gravado com ferro em brasa o nome san­
minado e quase resplandecente, como sabemos pelos
tíssimo de Jesus.....
processos; todos falavam nas suas virtudes, e an­
38. Secção I Secção I 39.

Até da porta do quarto onde jazia flzeram relí­ "Envio-lhe, caro Sr., uma imagem mortuária
quias dele e um pouco de seus cabelos. Ouso crer que V.
Revma. ficará satisfeito e que dignará de acusar a
"Muitíssimo sentidas ficaram depois por sua recepção de minha carta, assim como terá a bondade
vez as pessoas, mesmo disitintas, que no dia se­ de comunicar-nos por miúdo o efeito produzido no
guinte foram em grande número à igreja para ver o Brasil pela morte de S. Excia." (Bei. ANTONIO MA­
Servo de Deus, queixando-se de que o tivessem ti­ NUEL DOS REIS, 0 Bispo de Olinda Perante a Histó­
rado tão depressa à veneração dos fiéis. Para sa­ ria, Imprensa Industrial, Recife, 1940, pp. 53 ê
tisfazer -de um modo qualquer a sua piedade ficaram 55” / Imprimatur: Miguel, Arc. de Olinda e Recife,
rezando diante da porta do quarto, onde estava se­ 12-3-1940).
pultado, e houve pessoas que tiraram alguns f rag-
mentos da mesma porta, conservando-as como relí­
quias" . TF.“PÍO DÍTNÔME DE MARIA, Vida de SáoHFãu^ 35- Santa Tereslnha: "Ousei tomar por relíquia
lo da Cruz, Imprensa Pontifícia do Instituto Pio a última lágrima de uma Santa..."
IX, ~~Roma, 1914, pp. 247 a 250 / Imprimatur: Fr.
Albertus Lepidi 0P, S.P.A. Magister). Sobre a morte de Madre Genoveva escreve a
Santa de Lisieux:

34. "Fui obrigado a cortar em pedaços "No instante mesmo do nascimento de nossa
uma batina de Dom Vital Santa Madre Genoveva para o Céu, minha disposição
para satisfazer a devoção do povo" Interior mudou-se; senti-me, num abrir e fechar de
olhos, Inundada por uma alegria e fervor indizí­
Carta de Frei Vicente, Religioso que serviu veis; era como se Madre Genoveva me desse uma par­
de enfermeiro em Paris a Dom Vital, Bispo de Olin­ te da felicidade de que gozava, pois estou persua­
da (1844-1878), cujo Processo de Beatificação está dida de que foi direito para o Céu....... Cada
em curso: Irmã apressou-se em reclamar uma relíquia; sabeis,
minha Mae querida, a que ténho a. felicidade de
"V. Revma. não tem mais Bispo! Monsenhor Vi­ possuir... Durante a agonia de Madre Genoveva, no­
tal morreu como um santo e como um mártir na quin­ tara uma lágrima cintilando em sua pálpebra, como
ta-feira, 4 de Julho, às onze horas e quinze minu­ um diamante; esta lágrima, a última de todas ás
tos da noite que ela derramou não caiu; no Coro, eu a vi, aln^
da, brilhar sem que ninguém pensasse em recolhê-
"Mas seus exemplos me restam e minha fé me -la. Então, tomando um paninho fino, aproximei-me,
diz que temos um protetor no céu.' Ore, Revmo. Se­
à noite, sem ser vista, e ousei tomar por relíquia
nhor, a ele por mim como eu faço todas as noites a última lágrima de uma Santa... Desde então, tra-
por V. Revma... go-a sempre na bolsinha onde estão guardados os
"Desde que ele morreu, todos exclamam, una meus votos". (Santa TERESA DO MENINO JESUS, Manus­
voce, * é um santo *. Todos os jornais falaram dele critos Autobiográficos, Carmelo do I. C. de Maria
com elogio, exaltando bem alto sua coragem e sua e Santa Tereslnha, Cotia, 2a. ed., pp. 213-214 /
firmeza... As_ exéquias pareceram mais um triunfo Reimprimatur, Antonius Maria, Arc. Coadj.,
do que uma cerimonia fúnebre. Dizer-lhe o número 17-5-1900).
de ramalhetes, de flores, de palmas, de cruzes que
foram lançadas era sua sepultura seria coisa impos­
sível. Todos querem relíquias suas e_ eu fui obri­ 36. 0 Pe. Regatillo oscula o cristal
gado a cortar em pedaços uma sua batina para sa­ da urna do Marques de Comlllas "como se
tisfazer a devoção do povo..... beijam as relíquias dos Santos"

Carta do Pe. Gutiérrez dei Olmo, Provincial


*J0. Secção I

da Companhia de Jesus, à viúva do Marquês de Co-


mlllas (1853-1927):
MTIve a ventura de descer ao panteão com o
cortejo fúnebre e ver os restos veneráveis do Mar­
III
quês. A emoção que experimentei ao ver aquele San­ Q entusiasmo pélas gessoas
to vestido de Jesuíta (o Marquês havia pedido para
ser enterrado com o hábito dos Jesuítas, o que lhe giglQeütS! yirjugç g§ gaot£ês£§
foi concedido) foi profundíssima. Despertava devo­
ção o vê-lo. 0 Padre Regatlllo osculou o cristal rçegüeDSsiêQSi pçç oçaslaç doa Cugiçais,
da ^ urna (Já que nao era possível beijar o
cadáver), como se beijam as relíquias dos Santos”. dando oçlgem a egfcençoa
(Pe. EDUARDOF. RÊGAtILLÜ-ST] Un Marquês Modelo,
Sal Terrae, Santander, p. 23*J / Imprlmatur: Jo- QU i£l
sephus, Episcopus Santanderiensis, 1-5-1950) .

37- 0s_ funerais de Virgínia Bracelli


foram como que a celebração de sua festa

Da vida da Venerável Virgínia Centurione Bra­


celli (1587-1651): ; *
"0 cadáver de Virgínia, por disposição do
Cardeal, foi exposto na capela do Instituto, e uma
multidão enorme acorre para vê-la e venerá-la. Pa-
rece estar dormindo; os membros estão flexíveis
como se ainda fossem .vivos, placida a fronte e
•aquele rosto parece mais róseo e sorridente que em
vida. 0 povo, esquecido de que contempla uma de­
funta, procede como quem se acha diante de uma
santa; ajoelha-se reverente, multas pessoas tocam-
-lhe terços e medalhas, beijam-lhe as maos e os
pés £ cortam-lhe as vestes., Como recordação, mul­
tas se assenhoreiam de livros, de papéis, de es­
critos pertencentes a ela; e infelizmente, é tão
completo o despojamento que se perdem lembranças
preciosas e documentos, do que se lamentam depois
a família e a historia.
nNo dia seguinte foram realizadas as exé­
quias, na capela do Asilo. A função se revestiu de
caráter privado; é cerimônia familiar; é a última
reunião entre mãe e filhas, o adeus confirmado
diante do altar, por entre as preces e lágrimas
dos corações; é a promessa de se reencontrarem na
Pátria, onde ela as precedera, e de se reconsti­
tuir lá a doce família. Por ordem do Cardeal, um
Sacerdote proferiu um elogio à extinta: elogio,
que pelo argumento proferido, toma o aspecto de um
*42. Secção I Secção I 43.
panegírico« A verdade é que Virgínia tem a honra ”A partir do momento em que os sinos de Santa
de ser louvada £ suplicada, e já é considerada ca­ Maria dos Reis anunciam a morte do bem-aventurado
paz de dispensar favores e não como uma necessita­ José Oriol e que a notícia se propaga por toda a
da de sufrágios; quando se celebrasse a sua festa, cidade, a emoção é tal, que pareceria tratar-se de
os coraçoes se sentiriám com disposições diversas um grande Príncipe ou de um Rei: uma multidão
das de hoje?” (Mória. LUIGT~TRÃVERSÒ, Vlda e Apos­ compacta se comprime junto ao cadáver, e arranca
tolado da Serva de Deus Virgínia Centurfone Brã~^ tudo o que pode, a tal ponto que se faz necessária
celll, Ave Maria, São Paulo, la. ed. em portu­ a intervenção dos guardiães e dos vigias para que
guês^ 1961, pp. 298-299 / Imprima-se: Mons. José não seja tudo levado.....
Augusto Bicalho, Vigário Geral, Belo Horizonte,
16-8-1960). ”0 corpo é_ colocado sobre o andor monumental,
no qual se costuma conduzir solenemente através
das ruas da cidade, no mês ~de agosto, na festa da
38. ”Toda a cidade de Quebec assistiu Assunção, a Imagem da Santíssima Virgem.
a seus funerais como se
parecesse cometer sacrilégio "Disposto em boa ordem no meio de uma grande
aquele que não rendesse uma afluência de expectadores que o cerca de todos os
suprema homenagem a uma mulher de tal valor” lados, o clero acompanha os santos restos mortais
até Santa Maria dos Reis. Lá, em meio a uma pompa
Decreto de São Pio X proclamando a heroicida­ e uma afluência grandiosas, celebraram-se os fune­
de de virtudes de ,/Madre Maria da Encarnação rais solenes. Nesse momento, mais uma vez é neces­
(1599-1672): sária a autoridade de uns, a intervenção ativa de
outros, para afastar a multidão do caixão fúnebre,
”Ela (Madre Maria da Encarnação) morreu san­ de tal maneira ££ precipita e ££ acotovela para
tamente no dia 30 de abril de 1672 com a idade de tocar os membros inanimados do Santo, para beijar
72 anos. Toda a cidade de Quebec assistiu a seus seus peF e suas mãos, para pegar alguma relíquia,
funerais como se parecesse cometer sacrlTeglo quem pedir uma graça, implorar uma dura. E, de fato, um
não rendesse uma suprema homenagem a uma mulher de grande número de curas se produziu: uma mulher,
tal valor. entre outras, abre caminho através da multidão,
”A sua reputação de santidade, ao mesmo tempo coloca sobre o corpo do bem-aventurado seu filho,
que o rumor de seus milagres cresceu tanto com o fraco e paralítico, a ponto de não poder mais nem
passar do tempo que, depois de |tudo feito segundo andar nem ficar sentado; e com este contato ele
recobra imediatamente saúde e vigor. Numerosos são
os procedimentos de costume, ppr três vezes foi
instituída diante da Sagrada Congregação dos Ritos os que sentem um suave perfume emanar dos santos
restos mortais; estes são sepultados, sem o povo
a discussão sobre as virtudes da Venerável Serva
saber, pois teria colocado obstáculos, na noite de
de Deus”. (Apud Chanoíne J. L. BEAUMIER, Marle Gu-
yart de Incarnation, Editions du- Bien Public, 24 de março, pessa mesma igreja Santa Maria dos
Trois Rivières, 1959, pp.23^-235 / Imprlmatur: Reis”. (São PIO X, Bula de canonização do Beato
José Oriol, 20 de maio de T90*97 ln Acte~s de Pie X,
Georgius Leo Pelletler, Episcopus Trifluvianen,
30-4-1959). Maison de la Bonne Presse, Paris, pp. 175-176).

39* 0 corpo de São José Orlol foi 40. Grandes honras fúnebres
transportado no andor no qual prestadas a São Clemente Hofbauer, em
se costumava conduzir a Imagem reconhecimento de suas virtudes
de Nossa Senhora na festa da Assunção
Bula de Canonização de São Clemente Maria
São Pio X, na Bula de Canonização de São Hofbauer (1751-1822), publicada por São Pio X:
José Oriol, Sacerdote de Barcelona " (165Ó-1702):
44. Secção I Secção I 45.
"Um grande número de pessoas veio ajoelhar-se
"Ele tornará a ocupar, no ano seguinte, as
Junto a seu cadáver (de São Clemente Hofbauer). E
suas funções de confessor em Reuilly.
se pediam ao Céu o repouso de sua alma, não deixa­
vam de invocar sua intercessão Junto a Deus. Bei­ "Os pobres ofereceram uma coroa de flores. Os
javam respeitosamente seu corpo, e procuravam al­ velhos, uma outra. Eles querem estar à cabeça do
guma coisa sua para venerar como relíquia. E quan­ cortejo para acompanhar à sua derradeira morada
do» no mesmo dia, o corpo foi levado, pessoas em aquela que cuidou deles tão bem. Sim, 'nenhuma Ir­
numero quase inverossímil encontravam-se lâ como mã era tão querida quanto ela'! Mas esse dom, essa
que por encanto, para acompãnhâ-lo até a catedral. presença, pareciam tão naturais que eles só agora
como teria sido se se tratasse de algum grande se deram conta disso.
dignitário público. Os bairros estavam representa­ "Depois deles, 'o estandarte dos Jovens abre
dos por uma multidão de pobres, de viúvas, de o cortejo'. Eles são seguidos pelas Filhas de Ma­
crianças, de artesãos, desejosos de dar uma supre­ ria, igualmente com o estandarte à frente. Vêm de­
ma prova de.gratidão pelos benefícios recebidos; pois os 'externosT que 1 deixaram o seu trabalho'
por professores e alunos do ginásio superior que para estarem lá, e as órfãs com seus véus brancos.
vieram prestar as últimas honras a seu mestre; Enfim, o corpo, carregado por homens (e não levado
acrescentai' a isto escrivães públicos, tribunos, na carreta como era costume). Assim se realizava a
oficiais, literatos, cientistas, artistas, padres, previsão de Catarina:
religiosos, patrícios e damas da alta sociedade.
Quanto ao caixão mortuário, doze Jovens de família "— Não será necessário carreta. Eu irei a
nobre ou de qualidad?e 'dar'regaram-no sobre os om­ Reuilly!
bros. Assim, no meio de uma imensa assistência, "A Irmã Maria Thomas, a enfermeira negligen­
chegou-se à igreja de Santo Estêvão, de onde, na te, compreende súbitamente esta frase, que a havia
outra manhã, o cadáver foi transportado ao cemité­ desconcertado..... •
rio de Santa Maria d 'Enzersdorf. Foi lá que, após
a celebração de uma missa de Requiem, o enterra­ "EçqçIssIq* — Vêm depois* as Filhas da Cari­
ram". (São PIO X, Bula de canonização do Beato dade, em número de 250, e o ólero, com muitos La-
Clemente Maria Hofbauer, 20 de maio de T909, in zaristas; enfim, uma imensa massa popular, vinda
Actes de Pie X, Maison de la Bonne Presse, Paris, de todo o bairro. Jovens operários do bairro Santo
p. 21577 Antonio, vieram com a Medalha na lapela, presa por
uma fita azul, bem como a esposa do Marechal de
Mac-Mahon (presidente da república), discreta ami­
41. 0 enterro de Santa Catarina Labouré ga da casa. Perto do caixão, levam a magnífica co­
foi uma procissão festiva, improvisada pela roa que ela ofereceu com estas palavras de seu pu­
multidão, certa de que Ja estava no céu nho: 'Homenagem respeitosa à minha Irmã Catari­
na ' . ....
Descrição do enterro de Santa Catarina Labou­ "0 cortejo caminha lentamente. Isso devido ao
ré (I806-I876), a quem Nossa Senhora revelou a Me­ número, à estreiteza da rua, mas também ao fervor.
dalha Milagrosa:
"As invocações £ os cânticos brotam como numa
"Ena quarta-feira 3 de Janeiro, festa de festa. Nada de cantos fúnebres, mas o Benedictus,
Santa Genoveva — querida ao Padre Vincent (São o Magnificai, as ladainhas da Santíssima Virgem, e
Vicente de Paulo) — que se dão os funerais (de sobretudo, a invocação inscrita sobre a Medalha:
Santa Catarina).
— *0 Maria concebida sem pecado...'
"A cerimônia começa às 10 horas. E o Pe.
Chinchon quem canta a missa na capela de Enghien, "Cantam-na com um fervor crescente. Ao chegar
muito pequena, transbordando de gente. Catarina a Reuilly, as primeiras filas se afastam e se api­
tinha dito às Irmãs: — 'Ele voltará'. nham para deixar o caixão passar. 0 cântico é re-
tomadb com novo fervor, no momento em que os qua­
46. Secção I Secção I 47.

tro que carregam o caixão descem-no pela estreita depois haveria sempre algo de sagrado no uso des­
abertura, feita na véspera, sobre o solo recém ci­ tas, ou assim acreditavam seus proprietários, e
mentado do Jazigo. como poderiam as freiras abalar a fé daquela gen­
te? As ferramentas e tesouras eram tratadas com
"Algumas pessoas subiram aos telhados das ca­ tanta~everêncla quanto as medalhas ou cruzes.
sas vizinhas. Não, não £ um cortejo fúnebre, e uma
procissão alegre que a multidão improvisou. "A emoção fora do recinto da Casa Mãe era
quase tão intensa quanto dentro. E havia uma nova
"Algumas lágrimas entretanto: os velhos, que
palavra nos lábios das pessoas, quando falavam.
sabem o que perdem; e depois, Leõnia Labouré: Uma mulher pobre, que não tinha conseguido chegar
— 'Eu chorava’, reconhece ela. até a capela por causa da multidão, encontrou uma
das freiras no parque.....
"Espantam-se com isso, consolam-na.
'A que horas o cortejo passará por aqui a ca­
— ’Eu sou sua sobrinha!’
minho do cemitério?' — perguntou timidamente. 'Eu
— 'Mas não deves chorar! E uma Santa, ela gostaria de pelo menos ver isto'.
viu a Santíssima Virgem!'". (R. LAURENTIN, Vie de 'Nos não vamos levar irmã Maria Bernard (Ber­
Catherine Labouré, Desclée de Brouner, Paris, nadette) para o cemitério. Ela ficará conosco'.
I98O, pp. 306 a 310 / Imprimatur: P. Faynel, Vi-
caire épiscopal, 20-9-1980). Respondeu a irmã atenciosamente, mas com ufania.
'Oh, eu fico muito contente. Bem, Irmã, não é
por falar, mas eu não acho que ela era apenas uma
42. Era como se o mundo inteiro quisesse
boa cristã. Eu acho que ela era uma Santa'.
ver o funeral de uma
Santa: a multidão reconhecia "Na movimentada estação de estrada de ferro
as virtudes extraordináriasde Bernadette ecoava a mesma palavra que tinha sl^do ouvida no
tranquilo parque. Cada trem que chegava trazia
Relato sobre os funerais de Santa Bernadette passageiros sem conta. Todos chegavam a Nevers pe­
Soubirous (1844-1879), a quem Nossa Senhora apare­ lo mesmo motivo: tinham vindo para assistir os fu­
ceu em Lourdes: nerais de uma Santa.
"Essa nova palavra nem sempre era pronunciada
"Normalmente, um enterro nao era adiado por com reverência, pelo menos no começo. Dois jovens
tanto tempo. Mas as circunstâncias tinham sido ex­ que perambulavam pelas ruas de maneira alegre e
traordinárias. A notícia de que ela (Santa Berna­ despreocupada, própria aos da sua idade, disseram
dette) tinha exalado seu último suspiro nem bem um ao outro: 'Venha, vamos dar uma olhada nesta
tinha acabado de ser divulgado à comunidade, e Já Santa, como todos estão fazendo'. Eles foram até a
toda a cidade parecia saber. Logo que seu corpo capela com petulância. Mas ficaram lá longo tempo,
foi exposto, as multidões começaram a mover-se em e ninguém à volta do caixão estava mais cheio de
ondas rumo à capela. Era como se todo mundo qui­ respeito do que eles. Quando foram embora, saíram
sesse ver a freira que tinha desejado não ser vis­ da capela com um ar grave, sem se falarem, e cada
ta pelo mundo. Mas não foi a vã curiosidade que um seguiu um caminho diferente.
impeliu as multidões. Foi veneração. As quatro
frelras que se mantinham em vigília ao lado do "As irmãs que estavam fazendo vigília não
ataúde eram constantemente solicitadas ã tocar pe­ pronunciaram a nova palavra com os lábios. Mas
quenos objetos em alguma parte daquele corpo que elas sentiram era seus corações o seu significado e
tao tranquilamente repousava entre suas guardiãs. a sua força. Não foram somente os pobres e os ig­
Alguns, eram objetos de piedade, mas nem todos. Os norantes que vieram acotovelar-se em torno delas.
trabalhadores trouxeram suas ferramentas, as cos­ 0 Comandante do Regimento entrou e, ajoelhando re­
tureiras as suas tesouras, para serem abençoadas; zou como nunca fizera antes. 0 clero apareceu vin­
48. Secção I

do de longe e de diversas regiões. Estava lá o


Padre Pomlan, o mesmo que disse à pastorinha de
Bartrès que, se ela viesse a Lourdes, ele a prepa­
raria para a Primeira. Comunhão. Ele se adiantou
com altanerla entre 24 prelados e, embora houvesse
superiores a ele, não houve quem tivesse lugar tão
simbólico — nem mesmo o Bispo de Nevers, Mgr. Le-
long, que pregou segundo o texto tirado do Livro
de Tobias: 'E bom guardar o segredo do Rei. Mas é IY
honroso revelar e dar testemunho das obras de
âi iUlÊldõeg içgrçem
Deus 1.
"0 terraço e todos os grandes pátios estavam aç tumulç e aça luganea
cheios quando o corpo foi levado da capela da Con­
gregação, através do Jardim, para a capela votiva Qude YiYeçam qu mccreçam
de S. José que ali se ergue1'. (FRANCIS PARKINSON
KEYES, Bernadette of Lourdes, shepherdess sister gggSQgs gjuijQ ÍSggggÍQgalgen|g Yiftuosas
and saint, Julian Messner, Inc. New York:, 1953,
pp. 1?7 a "129 / Imprimatur: Francis Cardinal Spel-
lman, Archbishop of^New York) .
44. E uma lei da hagiografla que
o culto aos santos começa
43- Num só dia, mais de ao redor de seus túmulos
25*000 pessoas desfilaram perante
os despojos de Frei Leopoldo, Comenta um monge beneditino a propósito do
cobrlndo-o de flores e osculos culto a São Bento (480-547):
De uma biografia de Frei Leopoldo de Castel- "E uma lei da hagiografia que ó culto aos
novo (1866-1942), Religioso Capuchinho recentemen­ santos começa em torno do seu túmulo. Isso vale
te canonizado: especialmente para a antiguidade. Logicamente, o
culto a são Bento devia começar ao redor de Monte-
"Espalhou-se logo a triste jnotícia pela cida­
casslno, e nas dioceses da Campania". (Dom ANSCA-
de e campinas. Uma só foi a voz -de todos: 'Faleceu RI0 M. MUNDO QSB, El culto £ las fiestas de San
um Santo! Faleceu um Santo!'. Benlto, ln San Benito su vida y su Regia, BXC,
"Logo começou o afluir do povo para ver o ca­ drid, 1954, Apendlce I, p^ 69o / Imprimatur: José
dáver, de modo que foi necessário armar a câmara- Maria, Ob. aux. y Vic. gral., 25-3-1954).
ardente numa sala perto da igreja.
"Durante o dia 31 de Julho mais da que 25*00Q 45. Várias almas sofrendo o jugo do
pessoas desfilaram perante os venerandos despojos, pecado aprenderam a livrar-se
e cobriram de flores, de osculos, de lágrimas dele junto ao túmulo de Santa Isabel
aquele corpo abençoado. Todos queriam tocá-lo, £
aproximar objetos para guardá-los como Têlíqulas".
De uma biografia de Santa Isabel da Hungria
TFr. PEDRO DE VALDIPORRO OFM, 0~Servo de Deus P. (1207-1231):
Fr. Leopoldo de Castelnovo, Convento dos Capuchi­
nhos, Padua, 2a. ed., p. 65 / Imprlma-se: Jerôni- "No segundo dia depois de seu funeral (de
mo, Bispo, Verona, 25-6-19^8)* Santa Isabel) , ’um monge da Ordem de Cister veio
ajoelhar-se Junto a seu tumulo e pedir-lhe socor-
50. Secção I
Secção I
ro...... e foi livre do mal que o atormentou du­
rante tanto tempo..... várias vezes: ’Uma vez que Luís está aqui, a casa
nada tem a temer'.....
"Pouco tempo depois, veio a sua sepultura um
prelado da mais ilustre estirpe e de alta dignida­ "Feito Cardeal, visitava a cada aniversário,
de eclesiástica: a História não registrou seu no­ não somente o túmulo de Luís, mas o quarto de onde
me, mas acusou-o de estar entregue a todos os ex­ ele^ tinha voado para o Céu. A alegria fazTa-lhe
cessos do pecado, o que o caráter sagrado do seu então derramar doces lágrimas ao se recordar das
ofício tornava ainda mais odioso. Muitas vezes, últimas demonstrações de ternura de seu caro filho
vítima do remorso e da vergonha, em vão recorria e dos supremos colóquios que tivera com ele. Não
ao tribunal da penitência; à primeira tentação ce­ lhe pareceu conveniente que esse quarto fosse ocu­
dia de novo e suas reincindências tornavam-se mais pado por outros doentes e obteve dos superiores
e mais escandalosas e deploráveis. Lutava ainda que o mesmo ficasse vazio, até que Deus houvesse
contra sua debilidade e, manchado pelo pecado como glorificado seu servidor. Ele teve logo a ocasião
estava, foi procurar forças no santuário da pura e de se alegrar e o próprio céu interveio para apro­
santa Isabel. Rezou e invocou sua proteção e in­ var seu zelo. Por diversas vezes, nesse lugar ben­
tercessão, enquanto vertia uma torrente de lágri­ dito, ressoaram suaves melodias, ouvidas por um
mas, e permaneceu ajoelhado por várias horas, ab­ grande número de pessoas, sem que se pudesse des­
sorto em fervorosa e profunda contrição. Não ces­ cobrir de onde elas provinham. Acreditou-se que os
sou suas ardentes súplicas, até ficar inteiramente Anjos queriam consagrar pelos seus cantos este lu­
convencido de que elas tinham atingido o trono da gar da terra onde seu irmão bem-amado havia aban­
Misericórdia, e que o Senhor ouvira sua prece, donado o corpo mortal.
apresentada por sua' bem amada Isabel, em nome des­ "Quando a Igreja deu a Luís Gonzaga as honras
ta pobre vítima do pecado. Sentiu-se então dotado dos Beatos, o Cardeal transformou esse quarto em
de uma força espiritual muito maior do que os im­ capela, embelezou-o com diversos ornamentos e quis
pulsos do vício; a partir de então, conforme que se pintasse em suas paredes as principais
declarou em confissão ao Mestre Conrado, dominou ações daquela vida admirável". (Pe* CHARLES CLAIR
de tal modo o aguilhão da carne que dali em diante SJ, La vle de Salnt Louls de Gonzague, LIbrairie
não teve que lutar senão contra tentações tri­ de FTrmln-ÜTdot et Cie., “Paris, 1891, pp.
viais, as quais era capaz de vencer facilmente. 280-281).
"Diversas outras almas, sofrendo sob o_ jugo
dos grilhões do pecado, aprenderaifa aTlvrar-se de-
le Junto à sepultura desta santa mulher”• ("Count 47• A^ campa de Madre Virgínia
ÜE MONTOTEMBERt, ftie Til te of~"SãInt Ellza^eth, P.J. era considerada um pequeno Santuário
Kenedy Sc Sons, New York, pp. 346-347).
Da vida da Venerável Virgínia Centurione Bra-
celli (1587—1651), fundadora das Filhas de Nossa
46. São Roberto Belarmlno visitava Senhora do Monte Calvário:
não só o túmulo de São Luís Gonzaga, as Monjas de Santa Clara...... Sim,
mas o quarto de onde voara ao Ceu também estas temiam perder 0 seu precioso tesouro,
principalmente porque novos favores haviam sido
Da Vida de São Luís Gonzaga (1568-1591), pelo alcançados pela intercessão de Virgínia. Para elas
Padre Clair: a tumba da nobre senhora Já era como um pequeno
santuarlo e cada vez que lá passavam tinham o cui-
"Acrescentemos a todos estes testemunhos o do úado de reverenciá-la. como se ali repousassem as
Cardeal Belarmlno. Era simplesmente inexprimível a relíquias de uma santa. ....
estima deste grande homem por Luís. Era tão grande
"A sua memória era uma bênção e^ se conservava
que, quando ele residia no Colégio Romano, disse
CQmo preciosidade e_ relíquia, um pequeno santinho
52. Secção I Secção I 53.

encontrado no seu breviário; e, âs vezes, aquele pultura, que chegou ao estado de . ser preciso
santinho era enviado aos enfermos como portador de substituí-la por outra, o que fez o Conde de Pra-
prodigiosas virtudes. Alguns corriam à sua tumba tes no ano de 1906, quando síndico do convento. Na
para Impetrar graças, outros lâ voltavam para fa­ nova lápide de mármore foram gravados os mesmos
zer seus agradecimentos..... dizeres da primeira. Desta, o Mosteiro continua
distribuindo pedacinhos, as 1pedrlnhas de Frei
"Entre aquelas Irmãs se formou a persuasão de Galvão1, multo procuradas pelos devotos.....
que sob o seu teto repousavam os despojos de uma
santa. Não se hesitava em pô-la em paralelo com "0 dia 23 de cada mês foi por eles esponta­
Santa Catarina". (Mons. LUIGI TRAVERSO, Vida £ neamente consagrado a homenagear o Servo de Deus;
Apostolado da Serva de Deus Virgínia Centurlone à hora da Missa fica a Igreja literalmente reple­
Bracelll, Ave Maria, Sao Paulo, la. ed. em portu- ta, e durante o resto do dia e um continuo entrar
guês, 19ol, pp. 306, 310 e 311 / Imprlma-se: Mons. e sair de visitantes que vêm rezar junto ao aben­
José Augusto Bicalho, Vigário Geral, 16^8-1960, çoado tumulo, quer para agradecer favores, quer
Belo Horizonte). para pedir novos, e dele nao se despedem sem devo-
tamente' beijar ~ a lápide sepüTcral"! ("MARISTELA
Frei Galvão, Bandeirante de Cristo, Vozes, Petrô-
48. Sentiam a Influência da santidade polis, 195Í, pp. 192 e 197 / Imprimatur: Paulo,
de Berchmans £ rezavam no seu túmulo bispo Auxiliar de São Paulo, 20-7-1953) •

Da já referida -Biografia de São João Ber­


chmans (1599-1621): 50. Pétalas de rosas do túmulo
de Frei GáTváõ obtêm cura miraculosa
"Os padres Idosos sentiram a mesma influência
da santidade de Berchmans £ foram ajoelhar-se ao De outro livro sobre o Servo de Deus Frei An­
lado dos Jovens Irmãos, para rezar com eles, no tonio de SanfAnna Galvão:
tumulo do santo escolástico (estudante)"” (Te. L7
J, M. CROS SJ, Vida de S. João Berchmans, Duprat & "Uma senhora acometida-de meningite, foi de­
Comp., São Paulo, 1912, p. 387 / Com licença da senganada pelo médico. Sua filha muito aflita, di­
autoridade eclesiástica). rigiu-se ao túmulo de Frei Galvão, para pedir-lhe
a graça da cura de sua querida Mãe. Em sua ardente
fé, toma de umas pétalas de rosas esparsas na pe­
49. No desejo de levar consigo dra da sepultura, e leva-as para casa, poe-nas em
qualquer objeto abençoado pela presença uma vasilha com água e com esta lava a cabeça de
de Frei Galvão, os devotos tiravam sua mãe. Qual não foi a sua alegria quando o médi­
fragmentos da pedra de seu túm.ulo ~ co, voltando para ver a doente, declara que estava
milagrosamente curada, pois no estado em que a
De um livro sobre Frei Antonio de SantfAnna deixara, só a potência divina podia curá-la". (Sor
Galvão, Religioso franclscano morto em São Paulo MIRYAM, Vida do venerável servo de Deus Frei Anto­
com fama de santidade (1739-1822): nio de Sant' Anna Galvão, São Paulo, 2a. ed., 1936,
"A Igreja do Mosteiro da Luz, Incessantemente p. TTO / Imprlfcatur: Mons. Ernesto de Paula, Vig.
continuaram a peregrinar os devotos em visita ao Geral).
ÊTeu túmulo, e a portaria do convento acorreram os
doentes e necessitados a procurar os famosos pape­ 51 - Os devotos levavam como relíquias punhados
linhos, para obter a cura de moléstias corporais e de terra, flores e até mato crescido
espirituais. junto à sepultura de São Clemente Hofbauer
"No desejo de levar consigo qualquer objeto
abençoado pela presença do Servo de Deus~7 tiravam Conta São Pio X na Bula de Canonização de São
Clemente Maria Hofbauer (1751-1820):
pequenas lascas £ fragmentos da pedra de sua se-
54. Secção I Secção I 55.
"Os restos mortais de Clemente foram honra­ tale "S. Nilo", Grottaferrata, 1922, p. 376 / Im-
dos no cemitério de Santa Maria d *Enzersdorf, com
primatur: Fr. Albertus Lepidi 0P, S.P. Ap. Magis-
um grande culto. Com efeito, a seu tumulo afluíam ter, Imprlmatur: Can. Sylvius de Angelis Vic. Gen.
pessoas de todas as classes e conálçoes sociais, Dioec. Tusculanae).
tanto de Enze rsdorf como das localidades vizinhas,
e^ até mesmo de Viena, venerando este túmulo que
elas ornavam com coroas de flores e de onde elas 53. Gostaria de beijar a terra no lugar
levavam punhados de terra, flores e_ relva■ Houve que a Irmã Marle-Bernard ocupava
mesmo quem, para testemunhar sua devoção para com
o Santo, pedisse para ser enterrado ao lado dele. Depoimentos no Processo de Beatificação e
Entretanto, os discípulos de São Clemente, que, Canonização de Santa Bernadette Soubirous
trilhando as vias que ele lhes tinha tão ativamen­ ( 1*844-1879):
te aberto, entraram na Congregação do Santíssimo
Redentor, não se consolavam com o fato de que as "0 meu afeto pela irmã Marie-Bernard, afirma­
relíquias de seu bem-amado Pai repousassem e fos­ rá a irmã Joseph Caldairou, era uma veneração1.
sem veneradas tão longe deles. Por esse motivo, em 1 Tinha uma tal estima pela irmã Marie-Bernard,
4 . de novembro de 1862, ao repicar dos sinos, e no acrescentará a Irmã Paul Pubrler, que, se me atre­
meio de uma enorme multidão de fiéis, eles as re­ vesse, quando venho à Comunidade, iria beijar a
conduziram a Viena, na sua Igreja de Santa Maria terra no lugar que ela costumava ocupar..71 (Estes
da Escada, e muito piedosamente as depositaram em três uTtimos depoimentos, escritos pelos interes­
um magnífico túmulo. Naquele momento, uma mulher, sados, são citados pela madre Henrl Fabre, Pr.
que tinha uma doença, no peito e estava desenganada Ord. Nevers, f. 293). .... A irmã Hélène Chautard:
pelos médicos, recobrou subitamente a saúde. As­ 'Nunca a vi fazer nada, nunca a ouvi dizer nada
sim, a devoção a São Hofbauer foi crescendo, £ de que não fosse por bem. Por isso amo-a, rezo-lhe e
dia para dia as manifestações ~de culto junto ao consldero-a uma santa7 (Pr. Ord. Nevers, f. 293)”.
seu novo túmulo se fizeram mais grandiosas..... (FRANCIS TRÕCHU, Bernadette Sòublrous, Editorial
"De todos os lados ganhava fama a idéia de Aster, Livraria Flamboyant, Lisboa, - São Paulo,
que se podia ter confiança no seu poder e na sua 1958, p. 387 / Imprlmatur: Ernesto, Arcebispo-Bis­
intercessão". (SAO PIO X, Bula de canonização do po de Coimbra).
Beato Clemente Maria Hofbauer, 20 de maio de 1909T
Tn Xctes de Pie X, Malson de la Bonne Presse, Pa­
ris , pp. 215 a 217). 54. Em grande número, devotos
vindos de varlós Estados do Brasil
ãfíuem ao túmulo de Madre Voiron
52. Cardeal rezava junto ao
túmulo de Ana Maria Talgl De uma biografia da Madre Maria Teodora Voi­
ron (1835-1925), fundadora da Província Brasileira
Da biografia da Beata Ana Maria Taigi, das Irmãs de São José:
(1769-1837):
"Muitíssimas são as graças alcançadas por in­
"0 Cardeal Pedlclnl, devido à sua longa fami­ tercessão da Veneranda Madre Maria Teodora. Por
liaridade com ela (Beata Ana Maria Taigi), havia isso, em grande número, animados pela gratidão ou
conhecido intimamente seu espírito de santidade. em cumprimento de promessas afluem visitantes ao
Ele não se limitava a i_r, n_o verão, rezar no seu seu tumulo, vindos ate mesmo de outros Estados do
tumulo; preparava-se também para escrever aquelas Eaís, vencendo enormes distâncias.
memórias de onde nós extraímos tantas notícias".
(Mons. CARLO SALOTTI, La Beata Anna Maria Taigi, "Alguns pedem a fotografia ou lembranças pie­
Madre di Famlglia, Scuola Tipográfica Italo-Orien- dosas da Veneranda Madre, outros oferecem donati­
56. Secção I Secção I 57.
vos para a publicação de graças ou prosseguimento "Naturalmente, ela está ainda fraca, mas, em
dos trabalhos da Causa de sua Beatificação. breve, esperamos vê-la retomar seu posto de traba­
"Contam-se entre os favores: curas, consecu­ lho.
ção de empregos, bom êxito em negócios, socorro em "Em outras circunstâncias também tenho invo­
momentos angustiosos, etc., etc." (OLIVIA SEBAS-
cado Madre Theodora, com resultados, às vezes sur­
TIANA SILVA, Madre Maria Teodora Voiron, "Ave Ma­ preendentes .
ria", São Paulo-," 19^6, pp.“ílb-4l9“7' Níihil obstat:
Pe. Cristiano Pilzecker, MSC, Itú, 11-11-19^8) . "(a) Irmã Josephina do Sagrado Coração". (Ma­
dre Maria Theodora Voiron, Escolas Profissionais
SaTeslanas, São Paulcf^ 1937, p. 5*0.
55. Pétala do túmulo de Madre
Theodora Voiron cura grave doença
56. Conservam a sua cela (quarto pequeno)
Carta da Irmã Josefina do Sagrado Coração, com amor £ respeito
Superiora Pçovincial das Irmãs de São José, nos
Estados Unidos: De livro Já citado sobre Madre Maria Teodora
Voiron (1835-1925):
"Mui prezada Madre,
"Sua cela (da Madre Maria Teodora Voiron),
"Minha Irma Ida (religiosa de São José) foi
que no Patrocínio se conserva com amor e respeito,
curada pela sua querida Madre Theodora (Madre Ma­
é um conjunto de documentos a nos atestarem seu
ria Theodora Voiron, 1835-1925, fundadora e pri­ fervoroso culto à virtude franciscana". (OLIViA
meira superiora da Província Brasileira das Irmãs SEBASTIANA SILVA, Madre Maria Teodora Voiron, "Ave
de São José, cujo Processo de Beatificação está em Maria", São Paulo, 19^B, p. 379 / Nlhll obstat:
curso, em Roma). Escrevo-lhe, para cumprir uma Pe. Cristiano Pilzecker MSC, Itú, 11-11-19*48)”.
promessa feita por ocasião da grave moléstia de
que fora ela acometida, em fevereiro deste ano.
"Transportada para o Hospital, no mesmo dia, 57. "Os^ habitantes de Suna faziam
3a. feira,^foi operada da vesícula biliar. Consta­ romarias ao túmulo de Ferrlnl..."
tando os médicos que Já estava gangrenada, não lha
tiraram, inserindo apenas um dreno, na abertura De um livro sobre o Beato Contardo Perrini,
praticada. A doente piorava cada vez mais, e, (1859-1902), leigo, professor universitário, bea-
declarando o médico — não haver mais esperança, tificado em 19^7:
recebeu os últimos sacramentos, sábado, à tarde.
"Faleceu a 17 de outubro de 1902, às onze e
"Piquei no Hospital, receando um desenlace meia horas da manhã. Também depois da morte con­
fatal. Então na Capela, dirigi-me à Madre Theodo­ servou o seu rosto aquele sorriso que lhe era tão
ra, suplic^ndo-lhe a cura da doente, a quem Já ha­ familiar, e muitos dos que o conheceram disseram:
via dado uma das pétalas de rosa colhida na sepul­ *Morreu um santo1. Toda a população de Suna chorou
tura da Veneranda Madre. a morte daquele que lhe mostrara o modelo tão per­
"Durante a noite, operou-se umã grande mudan­ feito de vida cristã.
ça que causou pasmo aos médicos e enfermeiras. "No enterro do dr. Contardo Ferrini, a 20 do
"Compreendi que minha irmã estava salva, gra­ mesmo mês, às dez e meia horas, compareceram as
ças à intercessão de Madre Theodora. Meu coração autoridades civis e grande número de pessoas do
transbordava de gratidão. Esta maravilhosa mundo científico. Tinha Ferrini determinado que
transformação continuou e as melhoras se acentua­ não haveria flores, e não se fariam discursos. Es­
ram de dia para dia. te desejo foi respeitado. Mas dentro em breve ou-
í

58. Secção I Secção I 59.

vlram-se vozes do povo e vozes de homens de ciên­ "0 corpo do Servo de Deus foi exposto na Ca­
cia que o proclamavam santo. E a fama da sua san­ pela do Colégio Cristo Rei, para onde acorreram
tidade ecoou por toda a Itália. numerosos fiéis da cidade, que o haviam tido como
confessor e o consideravam como santo. Tocando no
"Os habitantes de Suna faziam romarias ao tú­ seu corpo terços, medalhas, santinhos, etc . , aT^
mulo de Perrlnl..... guns Ja começaram a lnvocá-lo como intercessor
"Com o tempo, la sempre crescendo a fama de Junto de Deus.....
santidade. "0 movimento tomou tamanho vulto que impres­
"Não tardou que os fiéis começassem a Implo­ sionava a todos, e pensou-se seriamente em iniciar
rar a Intercessão de Ferrlnl Junto de Deus e se logo o processo de Beatificação.....
falasse em graças especiais obtidas pelo seu in­ "0 apostolado externo, bastante limitado du­
termédio". (Pe. H. W. SPYKER SJ, Beato Contando rante a vida terrena, se tornou intenso depois da
Ferrlnl, Vozes, Petrópolis, 1945, pp. 1*57 e 160 / sua santa morte, transformando o seu túmulo em cá­
Com aprovação eclesiástica, 30-12-1944). tedra permanente e poderosa de caridade e de~soll-

58. "0 sepulcro do Justo será glorioso, JOGOOCOaCOOCOOCOCCOCCCOOOOCOOOCCCOCOSOCOCOOCOSCCCCCCOCOCCC^


diz a Sagrada Escritura. Assim o tumulo
de Frei Leopoldo tornou-se logo centro de
uma continua romaria"

Da Já referida biografia de São Leopoldo de


Castelnuovo (1866-1942):

"0 sepulcro do Justo será glorioso, diz a Sa­


grada Escritura.
"Assim é do túmulo de Fr. Leopoldo. Ele tor-
nou-se logo centro duma contTnua romaria de povo
de toda a classe social, que expoe ainda ao Pai
querido suas próprias ansiedades, e lhe pede enca
recidamente de interpor-se perante Deus, e de con­
fortá-lo assim como quando estava nesta vida.
"Aquele túmulo está sempre coberto de
flores". (Fr. PEDRO DE VALDIP0RR0 OFM Cap., 0 Ser­
vo de Deus P_. Fr. Leopoldo de Castelnuovo, Conven­
to dos Capuchinhos, Pádua, 2a. ed., pp. 66-67 /
Imprlma-se: Jerônimo,' Bispo, Verona, 25-6-1948).

59* 400 mil romeiros visitam


anualmente o túmulo do Padre Reus
ÍOQCCCOCCOCOOCCCCSCOCCCCCCCCCOCCCOOOCCCCCCCCCCCCCOCCCCCCCCC^
Conta um biografo do Pe.- João Baptista Reus,
(1868-1947), Sacerdote Jesuíta que viveu no Rio
Grande do Sul, falecido em odor de santidade: Túmulo do Pe. João Batista Reus S.J., em São Leopoldo, RS
(foto tirada por volta de 1970).
6o. Secção I Secção I 6l.
da piedade crl3tã. 0 P. Reus está atraindo fiéis (Ao R. P. Rodrigo de São Francisco de Paula,
nao so do Rio Grande do Sul, mas de todos os Esta­ Postulador da Causa em Roma):
dos do Brasil e até do Estrangeiro..... Atualmen­
te , quando estamos preparando a ^a. edição desta "Agrada-me muito saber que na Itália se vai
breve Biografia (Julho deL1972), a média mensal de conhecendo mais e mais nossa querida Santinha.
pessoas, que visitam o túmulo do Servo de Deus,
sobe a mais de trinta e cinco mlTT Pelos Trutos se "Aqui as geregrlnações de soldados e de
conhece a árvore. E os frutos em torno do túmulo pobres feridos nao cessam nunca. Um soldadinho de
do P. Reus são extraordinários. Lá se respira um dezoito anos, da Prisão Central de Lisieux, escre­
ar de profunda piedade, de fé genuína e inabalá­ via-me ontem: *Como estou contente por achar-me em
vel, de sacrifício, por vezes heróico, de gratidão Lisieux! Que felicidade poder ajoelhar-me Junto ao
impressionante. Aí está evidentemente, o fdedo de túmulo da Irmã Teresa, onde sempre vejo um numero
Deus ’..... consíderáveime soldados! Sênte-se uma emoção mui­
to viva à vista da multidão que se comprime ao re­
"Em Julho de 65 .... o responsável pelo movi­ dor dos restos da Santa. Um cabo, que se distingue
mento em torno do túmulo do £. Reus, que Já estava por sua grosseria, por sua incredulidade e por sua
transformado num verdadeiro centro de peregrinação dureza, confessou-me que não pode reprimir as lá­
permanente, calculando-se, em perto de quatrocen­ grimas à vista de tal espetáculo’.
tos mil os romeiros que, anualmente, desfila­
vam diante do~túmuTo doServo de Deus>T. (Pe. CÂN­ ’Agora, no quartel, fala-se em termos elogio­
DIDO SANTINI SJ, 0:Servo de Deus P. João Baptlsta sos, da Irmã Teresa e um número grande de rapazes,
Reus, SJ, Editora MetrõpõTe” Porto Alegre, 6a. mesmo dos mais grosseiros, desejam conhecer a sua
ed. s 19*81, pp. 36, 37, 39, 40 e 120). vida *.
"Pedem-nos, por intermédio da Suíça, relí­
quias para os alemães. Nós as enviamos com muito
60. " A_s peregrinações ao túmulo estão gosto" (6-5-1915).
neste ano mais numerosas do que nunca..
Nota: Estes fatos deram-se durante a I Guerra
Trechos de cartas da Madre Inês de Jesus Mundial (1914-1918) era que a França estava em luta
(Paulina) a personalidades que intervieram direta­ com a Alemanha, e passaram-se vários anos antes da
mente no Processo de Beatificação e Canonização de beatificação de Santa Teresinha, ocorrida apenas
sua irmãSanta Teresinha (1873-1897): em 1923. (La hprmana "Madreclta" de una Santa
— La R. Madre Inés de Jesús (Paulina Martin) £
(A Mons. De Teil, Vice-Postulador da Causa na Santa Tereslta, Ei Ângel dei Carmelo, Buenos Ai-
França): F?57"1953, PP- 118-119).

"(A Madre Maria Ângela do Menino Jesus, Prio-


ra do Carmelo de Lisieux) deseja que o Sr. saiba 6l. 0s_ sepulcros dos Santos e_ servos
que as peregrinações ao túmulo (da Irmã Teresinha de Deus costumam ser meta de contínuas
do Menino Jesus) são este ano mais numerosas do e frequentes visitas
que nunca. Ontem o sacristão foi até lá, a fim de
trabalhar no Jardim, e voltou cheio de admiração. De um livreto sobre Da. Sílvia Cardoso (1882-
*E uma verdadeira procissão — nos disse — que 1950), piedosa senhora portuguesa:
nao cessou durante todo £ dia. E, além do mais,
maravilhoso! Vi um seminarista ajoelhado ali du­
"Qs túmulos dos grandes heróis costumam ser
rante cinco horas seguidas!* E até parece que cha­ meta de contínuas £ frequentes visitas. 0 mesmo
mam o túmulo de * agência de correio *, pelas mul­ verifica-se, dum modo particular, nos sepulcros
tais sim as cartas que ali há depositadas" dos santos e_ servos de Deus, que são verdadeira-
TTR-8--1909).---- -- — ------
62. Secção I
í
mente os maiores heróis dentre os homens e os
seus mais generosos benfeitores.
"Junto do Jazigo e do monumento de Sílvia
Cardoso na sua terra natal, Paços de Ferreira, ve­
mos todos os dias pessoas devotas, algumas vindas
de longe, a pedir ou a agradecer favores e a dei­ ¥
xar esmolas ou a cumprir promessas". (Pe. FERNAN­
DES LEITE, Graças de Sílvia Cardoso, Gráfica S. Qi Çttil vegecii çqçq celíqulll
Vicente, Braga, p. 1T"/~Som aprovação da autorida­
de eclesiástica). 21 QtiJltQl iiil 2Í1BÍ21
ui§dQ5 qu ÊQClâQS gelga Sêcyqs de Deus-
62. Seu túmulo estava sempre coberto
de flores e velas acesas Sunaa afg gfcfcidaa
De uma pequena biografia do Padre Eustáquio gelg çQQtatQ çgm auaa çglíquiaa
van Lieshout, Sacerdote falecido em Belo Horizon­
te, em odor de santidade (1890-1943):

"Pode-se dizer, que a cidade inteira se diri­ 63. Imagens e relíquias de entes
gira à Vila Progresso para, de lá, acompanhar o queridos, vivos ou falecidos,
cortejo fúnebre do seu benfeitor, ao cemitério do avivam nosso amor e nossa devoção
Bonfim, a fim de tributar-lhe as suas homenagens
de gratidão e era reconhecimento dos seus méritos. De uma pequena biografia de Padre Eustáquio,
"Durante cinco anos o túmulo do Padre Eustá­ (1890-1943):• . .
- ' /
quio foi visitado, diariamente, por muitas pes­ "E costume entre todos os povos conservar e
soais, vindas de todo o terrltoFio brasileiro. Re- venerar com saudosa piedade as recordações e lem­
zavam por sua alma, imploravam a sua proteção e branças de pessoas queridas vivas ou falecidas...
agradeciam graças alcançadas por sua intercessão retratos, bustos, escritos ou objeto de seu uso
Junto a Deus. Seu túmulo estava sempre coberto de
pessoal.
flores frescas e velas acesas. .
"As Imagens e relíquias dos Santos, assim co­
”0 túmulo atual de padre Eustáquio acha-se mo de outros entes queridos, nos fazem lembrar es­
perto da entrada principal da igreja, chamada de sas pessoas. No-las tornam como presentes1, fmais
1 igreja de padre Eustáquio1, numa capela bem ade­ perto*, avivam o nosso amor e a nossa devoção fa­
quada.
zendo-nos recordar suas virtudes e boas qualida­
"Al ajoelham-se, diariamente, os fiéis para des" . (Novena ao Servo de Deus Padre Eustáquio,
rezar, implorar e agradecer a padre Eustáquio fa­ Promoção da FamTTia-Editora, Belo Horizonte, pp.
vores , curas e graças alcançadas". (Novena ao 44-45 / Com aprovação eclesiástica).
Servo de Deus Fadre Eustáqulo, Promoção da FamT^
lia-Edltora, Belo Horizonte, pp. 14-15 / Com apro­
vação eclesiástica). 64. São Bernardo usava como relíquia
valiosísslma a túnica de São Malaquias

De uma biografia de São Bernardo (1090-1153):

"Antes de dar sepultura aos restos de São Ma-

!
64. Secção I Secção I 65-

laquias (arcebispo de Armagh, primaz da Irlanda, «(0 Padre Luís Gonçalves da Câmara) escrevia
que morreu em Claraval em 1148) o Abade de Clara- a Diego Laínez, Vigário Geral, que, apesar de sua
val (São Bernardo) tirou-lhe cuidadosamente a tú­ pouca saude, esperava ir a Roma para intervir na
nica e desde então a usou, como relíquia valiosís- Congregação Geral e 1 recolher alguns despojos de
sima". (Fr. Ma. GONZALO MARTINEZ SUAREZ, Bernardo nosso Padre, já que não mereci estar presente à
de Claraval, Editorial El Perpetuo Socorro, Ma­ sua morte’. E ainda a 22 de Julho do mesmo ano
drid^ 191)4, p. 555 / Imprimase: Segundo, Arzobispo tornava a manifestar os seus desejos em carta ao
de Burgos, 20-7-1964). Padre Cristóvão de Madri: ’Digo a V. R. que desejo
tanto ir a Roma, nem que seja só para visitar as
relíquias de nosso beatíssimo Padre, que não vejo
65- Fragmentos dos sapatos de Frei Domingos a hora em que tenha essa felicidade'". (VICTORIANO
de Valência distribuídos como LARRANAGA SJ, Introducclón a la Autobiografia de
benção aos doentes, logo após sua morte San Ignaclo de Loyola in Obras Completas de San
Ignaclo de Loyola, BAC, Madrid, 1947, Tomo I, p.
De uma vida dos Frades Pregadores, escrita 30 / Imprimatur: Ca3Ímiro, Obispo aux. y V. g.).
por um contemporâneo de São Domingos:
67. Padres dos mais veneráveis pela idade
T,Freí Domingos de Valência, pertencente ao recebem, de joelhos, fragmentos
convento de Orthez, tendo sido enviado a pregar em de escritos de São João Berchmans
Bazas, aldeia da Vasoonia, depois das muitas fadi­
gas que teve que sofrer nas pregações, nas confis­ Relato do Padre de Greeff, professor de São
sões e nas observâncias regulares, faleceu ali João Berchmans (1599-1621) no Colégio dos Jesuítas
mesmo, no hospital dos pobres; e ele, pobre, foi de Malinas (Bélgica):
sepultado entre os pobres. Em seu sepulcro muitos
foram curados de diversas enfermidades. "Habituado a não guardar os escritos dos meus
discípulos não tenho nenhuma das composições de
"Certa irmã do hospital conservou os sapatos Berchmans, mas considero como um singular benefí­
desse frade e os entregou a um peregrino, segundo cio da Providência ter achado um autógrafo do san­
creio, sem licença do superior da casa. Mas naque­ to jovem.
la mesma noite apareceu-lhe em sonhos o frade,
procurando seus sapatos. E na mesma noite apareceu "Ao publicar algumas indulgências, Paulo V
também ao peregrino, mandando-lhe que devolvesse proibiu que fosse impressa a tradução. Pedi a Ber­
logo os sapatos ao hospital; e èle assim o fez. E chmans que traduzisse o breve, em linguagem vul­
os frades da casa os dividiram em fragmentos pe­ gar, a fim de que se púdesse espalhar cópias ma­
quenos que entregaram como bênção aos enfermos. E nuscritas. E esse trabalho autógrafo que possuo.
muitos ficaram curados". (GERARDO DE FRACHET, Vida Alguns dos nossos padres dos mais veneráveis pela
idade, pediram-me fragmentos e quiseram recebê-los
de los Fralles predicadores, in Santo Domingo de
de joelhos". (Pe. L. J. M. CROS SJ, Vida de S.
(juzmân visto por sus contemporâneos, BAC, Ma­
drid, 1947, p. 787 / Imprimatur: Casimiro, Obispo João Berchmans, Duprat & Comp., São Paulo, 1912,
Aux. y Vic. gen., 30-5-1947). pp. 78-79 / Com licença da autoridade eclesiásti­
ca) .

66. Padre Câmara: "Espero ir a Roma 68. Um mês depois da morte de Santa
para recolher alguns Verónica, um Padre recorre as
despojos de nosso Padre Inácio" relíquias dela para obter sua cura

De uma introdução às Obras Completas de Santo Relato de um milagre operado por uma relíquia
Inácio de Loyola (1491-1556): de Santa Verônica Giuliani (1660-1727):
66. Secção I Secção I 67.

"Entre os milagres inumeráveis que se produ­ pondi: 'Pois façam-na', e lhes entreguei a cor­
ziram após sua morte, um dos mais célebres foi a reia. Achava-se presente um padre lazarista, o P.
cura do Arcipreste de Pieve di Saddi, Don Giovanni Mellier, superior da casa de Angers. Sem me pedir
Prancesco Leonazzi, ocorrido um mês aproximadamen­ licença, se apoderou do outro cordão e não quis,
te após a morte de Verônica. Don Leonazzi foi por nenhum preço, devolvê-lo. 'Também, disse-me,
atingido no dia 27 de agosto de 1727 por um ataque poderei servir-me dele' (Declaração de 10 de ou­
de apoplexia. Toda a parte direita de seu corpo tubro de 1864, Processo Ordinário, p. 1581)". (Cô­
ficou paralisada; ele quase não enxergava mais e nego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d'A r s , Vozes, Petrópo-
sua língua endurecida o impedia de falar. Cheio de lis, 2a. ed., 1960, p.~477 / Imprimatur: Luís Fi­
fé no poder de Verônica, o Padre pediu que lhe lipe de Nadai, Bispo de Uruguaiana, 29-6-1959).
aplicassem alguma das relíquias dela, o que foi
feito. Ele foi curado imediatamente e três dias
depois podia retomar a celebração dos Ofícios, pa­ 70. 0 Santo Cura d'Ars conservava um espelho,
ra grande espanto de seu rebanho". (Ctesse. M. DE porque nele se havia refletido o rosto
VILLERMONT, Salnte Véronique Giuliani, Librairie do Padre Balley, que ele tinha por Santo
Génerale Catholique— Maison Saint-Roch, Paris-
-Couvin, Belgique, 1910, pp. 486-487 / Imprimatur: Da vida de São João Vianney, Cura d'Ars
J. M. Miest, Vic. Gen., Namurei, 1-3-1910). (1786-1859):
"0 P. Vianney chorou-o (ao Padre Balley) como
69• Uma "preciosa relíquia" do Cura d1Ars: a um pai. Devia-lhe tudo! Conservou imperecível
um par de sapatos velhos lembrança daquele santo varão. 'Tenho visto almas
muito belas, afirmava ele, nenhuma porém como
Declaração de Soror Maria Ana Gallamand, no aquela'. Os exemplos do antigo mestre ficaram gra­
Processo de Beatificação e Canonização do Cura vados tão profundamente no seu espírito, que dizia
d1 Ars (1786-1859): ainda nos últimos anos da vida: 'Se eu fosse pin­
tor poderia traçar o seu perfil'. Sempre que fala­
"Este 'par de sapatos velhos tem a sua his­ va nele enchlam-se-lhe os olhos de lágrimas (Irmão
tória. Em março de 1862, refere Soror Maria Ana Jerônimo, Processo Ordinário, p. 55o). Todos os
Gallamand, das Irmãs de Caridade, uma mocinha da dias pela manhã nomeava-o no memento da missa. Até
nossa paróquia de São João, que acabava de perder â morte o Cura d'Ars, que era tão desprendido de
sua mãe, nos disse que aquela recebera de sua ami­ tudo, conservou sobre a estufa um pequeno espelho
ga um par de sapatos do Cura d'Ars, e que ela os 'porque nele se havia refletido o rosto do P. Bal­
tinha dado a uma pobre. Sem dúvida, separou-se de­ ley' (P. Beau, Processo Ordinário, p. 1204)". (Cô­
les, com pena, mas pensava que o bom Cura não de­ nego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d'Ars, Vozes, Petrópo-
saprovaria o seu ato. A pobre, que vivia numa lis, 2a. ed., 1960, p. 94 / Imprimatur: Luís Fili­
água-furtada do sexto andar da casa daquela senho­ pe de Nadai, Bispo de Uruguaiana, 29-6-1959)•
ra, deixou-os atirados a um canto porque lhe pare­
ciam muito velhos para o seu uso. Ao sair daquele
quarto deixou os sapatos e a Srta. Lavic (este é o 71. Pétala de rosa tocada por
seu nome) nô-lo ofereceu crendo que nos fazia um Irmã Tereslnha do Menino Jesus
grande obséquio. Recebemo-los contentíssimas, como opera cura milagrosa
uma preciosa relíquia. Ao vê-los nos admiramos da
pobreza do Santo Cura. Sóror Margarida lembrou-se Do Processo de Beatificação e Canonização de
de pedir-me a tira de couro de um dos sapatos. Santa Tereslnha (1873-1897):
'Com isto, disse ela, estou certa de que o P.
Vianney curará a nossa Adelaide. Faremos fervoro­ "Em fins de junho de 1908, a Irmã Catarina
samente uma novena e a senhora verá'. Eu lhe res- Clarke, então postulante no noviciado da Congrega-
Secção I 69.
68. Secção I
o que é que fizestes por mim nesta madrugada? Eu
ção do Bom Pastor, em Flnchley, Londres, escorre­ estou curada!" (Procès de Beatífication et Cano-
gou dois degraus de uma escada e sofreu uma grave nlsatlon de Salnte Thérese de 1'Enfant-Jesus et
contusão no pé. .... de la Salnte-Pace — Procés Tnfõrmatlf OrdlnalrêT
"Por ocasião do acidente, colocou-se sobre o Teresianum, Roma, 1973, vol. I, Articles — Troi-
pé afetado uma medalha do Sagrado Coração, empre­ sième partle: Grâces et Miracles, pp. 72-73).
gou-se também água de Lourdes nos curativos. Foram
feitas novenas ao Sagrado Coração, à Santíssima
72. Três mil relíquias da Irmã Teresa
Virgem, a São Geraldo Majella, à Venerável Madre para os soldados ria frente de batalha
Pelletier, fundadora do Instituto do Bom Pastor.
Outros santos foram ainda invocados, mas o céu pa­
Trecho de carta da Madre Inês de Jesus a
recia surdo a todos os pedidos. Mons. De Tell, Vice-Postulador na França da Causa
"No dia 30 de outubro, após a decisão do ci­ de Beatificação e Canonização de sua irmã, Santa
rurgião (de operar urgentemente), a conselho de Teresinha do Menino Jesus (1873-1897):
sua Superiora, Irmã Catarina começou uma novena à
Irmã Teresa do Menino Jesus, e colocou entre as "Entrementes, enviei ao sr. Coronel (que con­
ataduras uma pétala de rosa com a qual a Irmã Te­ sagrara o Regimento à Irmã Teresa) as três mil re­
resa tinha outrora perfumado e acariciado seu cru­ líquias (da Serva de Deus) que me pedia e Juntei
cifixo, era seu leito de morte. Havia, aliás, no um folhetinho para cada soldado. Se isso continuar
convento uma grande devoção por esta jovem reli­ assim, a tipografia de São Paulo não conseguirá
giosa. dar vazão a tantos pedidos (30-4-1915)”- (La her-
"Sexta-feira â noite, 30 de outubro — escre­ mana £ "Madreclta" de una Santa — La R. Madre
ínés de Jesus (Paullna Martin) Y Santa Tereslta,
ve a Irmã Catarina — comecei uma novena à Peque­
na Flor* (nome dado à Serva de Deus na Inglaterra) El Angel dei Carmelo, Buenos Aires, 1953, p. 12Ô) .
com grande confiança. Eu não a perdia de vista nem
um só instante, sempre lhe pedia para ter pena de
mira e me curar, para salvar minha vocação. No dia
3 de novembro, véspera de minha partida, deitei-me
por volta de 9 horas sentindo uma dor muito forte
no pé. Eu supliquei então à 1 Pequena Flor* que ob­
tivesse enfim, de Deus todo. Poderoso, a minha pu­
ra. Cada vez que acordava, fazia os mesmos pedi­
dos. Por volta de 3 horas acordei novamente, mas
desta vez rainha cela estava inundada de luz. Eu
não sabia o que pensar desta luminosidade extraor­
dinária e exclamei: !0h meu Deus, o que é isto?*
Permaneci nesta luz durante 3 quartos de hora e
não conseguia dormir apesar de meus esforços. Ti­
ve, então, a sensação de que alguém tirava as co­
bertas de minha cama e me incitava a levantar. Eu
movimentei meu pé e qual não foi a minha surpresa
ao encontrar os 7 metros de faixas que tinham sido
fortemente atadas e das quais eu não teria podido
prescindir, completamente retiradas. Olhei para o
meu pé e ele estava completamente curado. Levan-
tei-me, andei e, não sentindo mais nenhuma dor,
cai de joelhos exclamando: *0 Florzinha de Jesus,

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73*
* Ha pouco tempo nos deixou e J_á foram
divulgadas mais de trinta mil gravuras suas

Da citada biografia de São João Berchmans


(1599-1621):
?,Um hábil artista procurou reproduzir os tra­
ços de Berchmans. Sexta-feira à noite, fizeram um
modelo em gesso. Realizou-se em seguida a autop­
sia.
"0 padre Bauters escrevia: *Tão pouco tempo
faz que ele nos deixou, e já doze dos nossos me­
lhores gravadores publicaram-lhe o retrato; já fo­
ram vendidas mais de trinta mil destas belas gra­
vuras; sem falar da quantidade de estampas baratas
que se acham nas mãos do povo. Eu próprio, acres­
centava o venerando religioso, trago comigo por
toda a parte uma imagem de João, a qual venero co­
mo a de um santo*.....
*Esses fatos maravilhosos multiplicaram-se
tanto que poderíamos escrever um volume deles. En­
tre os prodígios submetidos ao seu Juízo, a Igreja
reconheceu inteiramente irrecusáveis, tres curas
completas e súbitas operadas pela intercessão do
V. João Berchmans: — *Em 1729, vivia em Roma, no
convento da Visitação de Santa Maria, Maria Cruci­
fixa Ancajani. Uma febre contínua a devorava desde
muito tempo, depois juntaram-se-lhe tosse pertinaz

j
72. Secção I Secção I 73.

e vivas dores no coração, com palpitações...... 75» 0 próprio Prefeito da


Sagrada Congregação dos Ritos tinha
'Passei a noite de 6 para 7 de abril na mais uma Imagem e recorria à intercessão da
extrema aflição. Pelas 5 horas da manhã, voltando recém-falecida Ana Marla~~Talgl
um pouco a calma, lembrei-me da imagem que na vés­
pera, haviam colocado debaixo de meu travesseiro Relata Mons. Cario Salottl (1870-1947), mais
(era um retrato do V. João Berchmans) senti então tarde Cardeal e Prefeito da Sagrada Congregação
nascer na minha alma, uma grande confiança nos mé­ dos Ritos:-
ritos e na intercessão do servo de Deus.
'Com a mão direita que estava livre, tomei a "Entre as personalidades Junto às quais a fa­
imagem, e a coloquei primeiro sobre minha cabeça, ma de santidade da Serva de Deus era Indiscutivel­
depois sobre o peito. Imediatamente senti-me cura­ mente aceita, Inclui-se o Cardeal Ludovico Mlcara,
da, saí da cama e‘ajoelhei-me para agradecer a Capuchinho, Decano do Sacro Colégio, o qual tinha
Deus aquele imenso favor. Em seguida fui ao tanta estima e confiança naquela falecida, que
coro'". (Pe. L. J. M. CROS SJ, Vida de S. João conservava consigo uma Imagem dela e recorria fer­
Berchmans, Duprat & Comp., São 'Paulo, 19T7, pp. vorosamente à sua intercessão nas suas angústias.
375^ J8T7 389 e 415 / Com licença eclesiástica). A opinião do ilustre Purpurado reveste-se de maior
valor, se se considera o importante cargo de Pre­
feito da Sagrado Congregação dos Ritos, por ele
74. Distribuem 60 mil e.stampas ocupado, e se se tem em mente a sua habitual pru­
de Santo Afonso de Llgorlo só no dência e sua crítica severa ao emitir um Juízo em
dia de seu funeral matéria tão delicada". (Mons. CARLO SALOTTI, La
Beata Anna Maria Talgl, Madre dl Famlglla, Scuola
De uma biografia de Santo Afonso Maria de Li- Tipográfica Italo-Orientale "S. Nilo", Grottafer-
gório (1690-1787): rata, 1922, p. 376 / Imprlmatur: Fr. Albertus Le-
pidi 0P, S.P. Ap. Magister, ' Imprlmatur: Can.
"Após a morte, vivia Afonso mais que nunca no Sylvius De Angelis Vic. Gen. Dioce. Tusculanae).
coração do povo que tanto amara. Por toda a parte
era aclamado santo. Se nos templos não lhe podia
render um culto, que a Igreja ainda não autoriza­ 76. Curas e conversões operadas
ra. na intimidade dos lares Invocavam-no como a um por estampas de Sóror Benigna
poderoso protetor.
Relatos de curas e conversões, numa Vida da
"Sua Imagem, impressa em Nápoles, entrou em Serva de Deus Irmã Benigna Consolata Ferrero
todas as famílias, calculando-se que só no dia dos
(1855-1916), Religiosa da Visitação de Como na
funerais foram distribuídas cerca de 60.000. Itália:
"Mas a veneração pública avultou sobretudo na "No dia 12 de agosto do mesmo ano, a senhora
pequena Igreja do convento de Pagani. Ao seu túmu­ Magdalena Varini, residente em Como, referiu que,
lo chegavam diariamente os romeiros, muitos dos sofrendo de otite catarral crónica no ouvido di­
quais trazendo os seus doentes à procura de reito, havia sido inutilmente submetida a uma sé­
saúde. .... rie de tratamentos sobremodo dolorosos. Recorrendo
"Seria demasiado longo enumerar os prodígios então com a maior confiança à proteção de Irmã Be­
operados sobre aquela pedra sepulcral. Por toda a nigna Consolata, põe uma sua imagem sobre o ouvido
parte multiplicavam-se os milagres". (Pe. JOSE doente, começando logo a perceber os sons, até que
MONTES CSSR, Afonso de Llgórlo o^ Cavaleiro de por fim desapareceu de todo a surdez.
Deus, Editora Vozes, Petropolis, 1962, p. T67 /
"Em fins de agosto de 1917, a senhora Giaco-
Imprlmatur: Pe. José Ribolla CSSR, Superior Pro­ mina Salvadé, de Como, trazia ao mosteiro da Visi-
vincial, São Paulo).
74. Secção I Secção I 75.
tação da dita cidade sua fllhinha Magdalena, de mã Benigna e entregamos uma imagem da mesma âs
três anos de Idade, que tinha por completo perdido pessoas que tinham vindo pedir as nossas orações
a vista, não obstante os esforços de hábeis ocu­ para implorar a conversão do infeliz incrédulo.
listas e dos Fatebene Fratelll de Milão. Aflitís­ Mal o enfermo rebelde deu com os olhos na santi­
sima, como se pode facilmente imaginar, a pobre nha, tão longe esteve de se enfurecer como era seu
mãe recorreu cheia de confiança à intercessão de costume, que antes se comoveu, pediu que lhe des­
Soror Benigna Consolata e colocou uma imagem de sem a imagem que ele mesmo guardou debaixo do tra­
Benigna sobre os olhos da criança. Desde aquele vesseiro; daí a dois dias mandou chamar um sacer­
momento a menina foi melhorando e, dentro em bre­ dote e recebeu todos-os sacramentos’”. (Vjda da
ve, recuperou a vista. Narrando este fato, a ven­ Serva de Deus Irmã Benigna Consolata Ferrero, Tra­
turosa mãe não podia disfarçar a sua alegria, e a dução de Pe. Amando Adriano Lochu SJ,Livraria Sa-
sua fllhinha Magdalena, esperta, de olhos sãos e lesiana Editora, São Paulo, 1926, pp. l60 a 164 /
bem abertos, . fazia fé do grande favor alcança­ Imprima-se: Mons. Pereira Barros, Vigário Geral,
do • .... 8-10-1926).
'Obtive duas curas: a primeira de uma exce­
lente jovem daqui atacada de pneumonia. Mandei-lhe
uma parcela de um vestido usado pela Irmã Benigna 77. A maioria dos devotos do Pe. Eustáquio
Consolata, que Va. Revma. teve a gentileza de me adquiriu fotos suas, munidas de relíquias
enviar, e ao cabo de póucos dias desapareceu o
mal, de maneira que... hoje a Jovem goza ótima sau­ Da mesma biografia do Padre Eustáquio
de. .... (1890-1943), anteriormente citada;
'Jubilosa rendo infinitas graças ao miseri­ "Existem também reproduções fotográficas,
cordioso Coração, de Jesus que, por intercessão de bustos de gesso e relíquias do saudoso padre Eus­
Soror Benigna Consolata, me concedeu a cura de uma táquio.
fllhinha gravemente doente. Peço-lhe que me mande
um exemplar do Vademecum e algumas estampas de Be­ "Algumas pessoas privilegiadas possuem algum
nigna que, por devoção, quero espalhar'. osso do seu corpo, conseguido na ocasião da exuma­
ção dos restos mortais do Servo de Deus, realizada
'Há meses, uma senhora afastada da Igreja no cemitério do Bonfim, em 19^9- Outras estão de
desde muitos anos e que chegava até a escarnecer posse de certos objetos que padre Eustáquio usou
toda prática de religião, foi salteada de um in­ em vida. A maioria dos devotos, porém adquiriram
sulto apoplético. Obstinava-se em recusar os reproduções fotográficas do Servo de Deus, munidas
sacramentos. Pessoas piedosas è amigas correram de um pedaço de roupa por ele usada, ou de um
logo ao nosso mosteiro para pedir orações. Levaram fragmento dos panos com que os ossos de padre Eus­
daqui uma imagem da Irmã Benigna. Caso maravilho­ táquio foram limpos mais tarde.
so!... Pouco depois, a mencionada senhora cumpria
todos os seus deveres religiosos e morreu assisti­ "Todos esses objetos materiais, por si mes­
da por algumas Irmãs. A Abadessa das religiosas mos, não têm poder extraordinário ou sobrenatural
Capuchinhas'. algum. A contemplação do retrato do Servo de Deus
e o uso de suas relíquias devam avivar em nós a
*’Da mesma Revma. Abadessa recebemos as se­ consciência da presença de padre Eustáquio. A fé e
guintes informações: a confiança em seu poder, junto ao trono de Deus,
'Há poucas semanas vieram ao nosso mosteiro são capazes de nos assegurar os favores pedidos e
recomendar um pobre incrédulo gravemente enfermo, a proteção implorada.
que de contínuo blasfemava como um possesso. Nin­ "Procuremos merecê-los por uma vida verdadei­
guém ousava falar-lhe de confissão, sabendo todos ramente cristã". (Novena ao Servo de Peu3 Padre
que em tais circunstâncias era uma verdadeira fú­ Eustáquio, Promoção da Família-Editora, Belo Hori­
ria. Recorremos então com Instantes súplicas à Ir­ zonte, p. 45 / Com aprovação eclesiástica).
VII

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78. ”0 Virgem bendita, Clara,


rezai por nos" — clamava o povo de
Assis ao morrer Santa Clara

Da vida de Santa Clara de Assis (1193-1253),


por Tomás de Celano, seu contemporâneo:

"A notícia da morte da Senhora Santa Clara


não tardou em se propagar, e quando o povo de As­
sis foi informado disso, uma tal multidão de ho­
mens e. mulheres acorreu ao Mosteiro de São Damíão,
que a cidade parecia inteiramente vazia.
"Todos vertiam piedosas e devotas lágrimas,
exclamando dolorosamente:
»— 0 virgem bendita, ó amiga de Deus! Queri­
díssima Clara, adeus! rezai por nós!* ....
"Desde que a Senhora Santa Clara foi colocada
nesse lugar, uma grande afluência de povo regis­
trava-se todos os dias junto a seu túmulo. Essas
pessoas louvavam a Deus dizendo:
?— Esta virgem, que Deus fez tanto honrar
neste mundo pelos homens, é verdadeiramente santa
e reina gloriosamente no céu com os anjos. Rogai a
Deus por nos, tu, a primeira das Damas Pobres que
78, Secção I

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180 e 181).

79* A bondade divina nada negava pelos


méritos e_ intercessão de
São Francisco de Paula,
invocado antes mesmo de seu sepultamento
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nimos:

•'Urna testemunha ocular assim depôs no proces­


so de beatificação: ’E impossível dizer quantos
milhares de pessoas, de um e de outro sexo e de
todas as idades, fez acorrer de suas casas o anún­
cio de sua morte. Afluíram de todos os cantos para
ver o corpo ainda não sepultado. Veneravam aquele
corpo nobilíssimo, que tinha hospedado uma alma
tao insigne: beijavam-lhe as mãos, instrumentos de
tantas obras santas. Aqueles cue na terra tlnham
experimentado sua piedade e_ seus beneffeios implo­
ravam sua intercessão junto deÜeus. fí suas preces
nao eram vas; a bondade divina"nada negava pelos
méritos e a intercessão de seu servo1 .
"Não obstante o serviço de guardas, disposto
expressamente pelo rei Luís XII, vinte nobres con-
segulram dividir entre s1 uma parte de sua túnica
para guardá-la como preciosa relíquia; outros le­
varam o cilício, a disciplina e um cinto de couro
que lhe cingiam as carnes. Todos queriam tocar e
beijar aquele corpo que conservava ainda intactas
a flexibilidade e a maciez.
"Ao contato daquele corpo glorioso flore sce-
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ram ainda os milagres". (ANTONIO CASTIGLIONE,



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Francisco de Paula, vida ilustrada, Delegação


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ral daT Ordem dos Mínimos, São Paulo, 1980, p.


/ Com aprovação eclesiástica).

Santa Clara de Assis. Afresco de Simone Martini (sec. XIV),


na igreja inferior da Basílica de São Francisco, em Assis (Itália)
80. Secção I Secção I 81

80. Pela opinião que tinham da santidade


de Anchleta, muitos, em lugar
cTe rezar por ele, rezavam a ele

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'•Sabida a morte do bom padre Jose, .houve mul­


tas lágrimas e geral sentimento nos padres, nos
portugueses e índios de toda a Capitania, porque
todos o tinham por pai.....
" . . . . e muitas pessoas houve que pela opinião
que tinham da santidade do padre, em lugar de o
encomendarem a Deus, se encomendavam a ele, que os
favorecesse com este Senhor" . (Pe. PERO RÓIZ, An-
chieta, Livraria Progresso Editora, Salvador,
1955, PP- 85 a 87).

81. Abadessa curada por Invocar


como sa.nto a Luls Gonzaga recem-falecldo

Da Já referida biografia de São Luís Gonzaga


(1568-1591):

"Tomás Mancini, secretário do Cardeal delia


Rovere, numa carta escrita à Marquesa (mãe de São
Luls Gonzaga), assinala algumas particularidades
que marcaram as exéquias do Bem-aventurado......
'Sexta-feira à tarde, 21 de junho, ele foi enter­
rado na capela da Annunziata, no Gesú. Eu me en­
contrava lá. Não somente os Padres guardam o seu
cadáver como um tesouro, mas o_ povo apressou-se em
cortar as suas vestes para ter^ relíquias suas. Ho­
je, sábado 22, dizem-me que muitos Senhores
fazem grandes instâncias para ter qualquer coisa
dele.....
"A reverenda Madre Maura Lucenia, irmã desse
príncipe (Ranuzio Farnèse), Religiosa professa e
Abadessa de Santo Alexandre em Parma, declarou que
se tinha visto livre de violentas dores de cabeça,
por ter invocado Luís como santo". (Pe. CHARLES
CLAIR SJ, La vie de Saint Louis de Gonzague,
Librairie de Firmin-Didot et Cie., Fãris”j 1 o9Í,
pp. 276 e 279)• São Luís Gonzaga, Detalhe de quadro do Museu de História
da Arte de Viena.
Secção I 83.
82. Secção I
considerando seu caráter, sabendo o quanto era
82. “Não hesitei Jamais em
circunspecto no falar e reservado na afirmação de
recomendar-me às suas orações”
coisas duvidosas, tive por certo que ele tivera
sobre isso uma revelação divina. Entretanto eu não
quis ir mais longe, para não lhe dar ocasião de
Carta de São Roberto Bellarmino ao Pe. Virgí­ vanglória. Eu poderia dizer muitas outras coisas
lio Cepari, a respeito de São Luís Gonzaga sobre as quais me calo, não estando certo de lem-
(1568-1591) escrita antçs da beatificação do Jovem brar-me bem delas. Em suma, crelo que ele entrou
noviço Jesuíta, ocorrida em 1604: diretamente na glória dos bem-aventurados, e tive
"Reverendíssimo Padre, sempre escrúpulo de rezar por essa alma, temendo
fazer injuria a Deus, cuja graça tao bem eu vira
"E com agrado que satisfaço a tudo o que Vos­ agir nele. Pelo contrário, eu Jamais hesitei em
sa Reverência pede de mim; porque é, parece-me, da recomendar-me as suas orações, nas quais tenho
gloria de Deus Nosso Senhor, que se conheçam os grande confiança. Que Vossa Reverência reze por
dons concedidos por sua Divina Majestade aos seus mim.
servidores. Confessei durante muito tempo o nosso
caro e muito santo Luís Gonzaga; ouvi mesmo uma "Do Palácio Apostólico, 17 de outubro de 1601
confissão geral de toda sua vida. Ele ajudava mi­ "De Vossa Reverência, o irmão muito
nha missa e gostava de conversar frequentemente afeiçoado em Jesus Cristo
comigo* sobre as coisas de Deus. De acordo com suas "Roberto, Cardeal Bellarmino".
confissões e com essas conversas, creio poder
afirmar em toda verdade o que segue:
"Em primeiro lugar, ele jamais cometeu um pe­ (Pe. CHARLES CLAIR SJ, La vie de Saint Louls
cado mortal. Tenho por certo que isto foi assim de Gonzague, Librairie de Firmin-Didot et Cie, "Pa­
desde a idade de seis anos até sua morte. Quanto ris, 1891, pp. -282-283).
aos anos anteriores durante os quais ele não tinha
esse conhecimento de Deus que teve mais tarde, de­
vo conjeturar com tanto mais fundamento que não é
verossímil que ele tenha pecado mortalmente em sua
infância, sobretudo ele, que Deus predestinava a 83. "Venero e_ invoco o Irmão João,
uma tão grande pureza. Em segundo lugar, após o como invoco os Santos canonizados"
sétimo ano de sua vida, época na qual, assim me
dizia, ele se converteu do mundo a Deus, levou uma Da biografia de São João Berchmans
vida perfeita. Em terceiro lugar, ele nunca sentiu (1599-1621):
o aguilhão da carne. Quarto, em sua oração, duran­
te a qual se mantinha o mais frequentemente ajoe­ "0 padre Bauters escrevia: — Em Roma, como
lhado no solo e sem apoio, ele não sofreu, de or­ em Flandres, os mais conspícuos personagens honra­
dinário, distrações. Quinto, ele foi um espelho de vam a memória de Berchmans. (Venero e invoco o Ir-
obediência, de humildade, de mortificação, de ro£o João, como invoco os santos canonizados" —
abstinência, de prudência, de devoção e de pureza. Honro sua imagem, recomendo-me à sua intercessão,
Nos últimos tempos de sua vida, ele experimentou como honro as Imagens e como imploro a intercessão
uma vez, durante a noite, uma tão extrema consola­ dos outros santos 1.
ção ao meditar sobre a glória dos bem-aventurados,
que toda essa noite lhe pareceu ter passado num "Assim falavam, nos depoimentos Jurídicos, os
quarto de hora. Nessa mesma ocasião, tendo morrido padres Ceccotti e Massucci". (Pe. J. L. M. CROS
o P. Luís Corbinneli, eu o interroguei sobre a SJ, Vida de S. João Berchmans, Duprat & Comp., São
sorte dessa alma. Ele respondeu com grande segu­ Paulo, 1912, p. 389 / Com licença da autoridade
rança: fEla apenas passou pelo purgatório1. Então, eclesiástica).
84. Secção I
Secção I 85.
84. Logo após a morte de Santo Afonso de
Llgórlo, 11 todos se recomendavam 85. Falecida Bernadettet seu confessor
à InteTcessão e poder do novo santo” a invocava como Santa canonizada

Escreve o conhecido hagiógrafo Mons. Francis


De uma biografia de Santo Afonso Maria de Li- Trochu:
gório (1696-1787), Doutor da Igreja:
"Um de seus antigos confessores, o padre Dou-
"Ao divulgar-se a notícia de que Monsenhor ce, declarava a um colega 'que a irmã Marle-Ber-
Ligório estava desenganado, a consternação de^to- nard foi uma boa religiosa sem nada de extraordi­
dos foi grande. As igrejas encheram-se de fiéis, nário*. Mas, mesmo no tempo em que ele falava da
que com extraordinário fervor pediam a saúde do sua penitente com esta reserva, sem dúvida para ir
querido enfermo. Bispos, sacerdotes, religiosos, ao encontro de perguntas indiscretas, 'escrevia
nobres e plebeus acorriam de toda a parte a pedir­ nas suas notas íntimas o que pensava realmente de
-lhe a última bênção. _As famílias de Pagani, que o Bernadette'... Ali 'se encontram as invocações à
consideravam como propriedade de sua cidade, apro- irmã Marle-Bernard ou as ações de graças pelos fa-
ximavam-se com intenção de apoderar-se de qualquer vores recebidos por sua intercessão * . Mas, explica
coisa que lhes servisse de lembrança e relíquia. a testemunha, 'eu sei que o padre Fouce não utili­
Como por encanto desapareciam roupas, faixas e tu- za esta linguagem no seu üiarlo senãoa respeito
do quanto fosse de uso do servo de Deus. Tudo isto dos santos, da bem-aventurada Margarlda-Marla e do
ê~ra repartido e disputado ansiosamente. Os que na­ venerável Cura de A rs* (Estas ultimas citações
da encontravam para levar, consolavam-se tocando pertencem ao R.~T. Le Cerf, Pr. Ord. Nevers, f.
no corpo do Santo rosários e medalhas. .... 897).
”0 governador da cidade, temendo que, ao sa­ "Um outro religioso marista, o R. P. Charles
ber do passamento do Santo, todo aquele povo to­ Payrard, declara que *a£ obseryações do P. Douce
masse de assalto o convento, à procura de alguma são invocações a Bernadette ou açoes de graças pe­
relíquia, ordenou que um batalhão de soldados mon­ la sua intercessão. Verifiquei que no seu Diário
tasse guarda da casa. A notícia do falecimento só s~o trata assim os santos canonizados ’ (Pr. Ord.
foi publicada algumas horas depois. Os Padres ÍTevers, f. 1089) •
trasladaram o cadáver a uma pequena capela interna
e no dia seguinte levaram-no à igreja, onde ficou "Eis alguns extratos:
exposto. Uma avalanche humana prècipitou-se para T16 de Abril de 1882. — Iniciei piedosamente
venerar e contemplar pela última vez o rosto da­ uma novena era honra da Imaculada Conceição, por
quele a quem todos proclamavam santo. .... ocasião do aniversário da morte de Bernadette...
wNinguém pensava em encomendar a Deus a alma *8 de Maio. — Hoje, às três da tarde, estava
do defunto, mas todos se recomendavam a Interces­ prostrado junto do túmulo de Bernadette e rogava-
são e poder do novo santo. Todos, na verdade, £ -lhe para terminar a obra.
proclamavam santo e o próprio ceu, com um milagre,
quis por seu selo àquela glorificação popular" . *15 de Agosto. — Hoje, festa da Assunção
(Pe. JOSÊ MONTES CSSR, Afonso de Llgórlo o Caya- (ação de graças à irmã Marle-Bernard), pedia à
leíro de Deus, Editora Vozes., Petropolls, 1962, Virgem que inspirasse...
ppd ~15T~e 163 / Imprimatur: P. José Ribolla CSSR, *22 de Agosto. — Hoje, oitava da Assunção,
Superior Provincial, Sao Paulo). agradeço-vos e agradeço à irmã Marle-Bernard.
*9 de Dezembro. — Obrigado, ó minha boa Mãe,
obrigado paj*a a irmã Marle-Bernard.. .
*20 de Agosto de 1883- — Agradeço-vos, ó Ma­
ria, por São Bernardo e por Bernadette*". (FRANCIS
86. Secção I Secção I 87.

TROCHU, Bernadette Soublrous, Editorial Aster, Li­ sessão necrológica pública, terminou seu discurso
vraria Flamboyant, Lisboa, São Paulo, 1958, pp. com esta Invocação: *Bem-aventurado Marquês de Co-
38^-385 / Imprimatur: Ernesto, Arcebispo-Bispo de mlllas, rogai por nós!*
Coimbra)• "0 Exrao. Sr. D. Luís Javier Mufíoz SJ, Arce­
bispo da Guatemala, na oração fúnebre pronunciada
86. Francesla, Saleslano, não hesita na Catedral de Havana, não vacilou em assim se ex­
em invocar seu aluno recém-falecido pressar:
TE tão luminosa a esteira de santidade que
Da vida de Miguel Magone (18^45—1859) » escrita deixou após si o grande cavaleiro cristão, que não
por São João Boscó: me parece aventuroso dizer-vos que bem podeis^ em
"0 sentimento de seus condiscípulos (de Mi­ vossas necessidades e perigos, £ em vossos afas £
guel Magone, aluno saleslano recém-falecido) e de dores, dlrlglr-vos a essa alma cujo poder ante
seu professor, o Sacerdote Don Francesla, foi ex­ Deustem que corresponder à perfeição cristã que
presso por este nas seguintes palavras: ’ No dia regulou todo3 os atos de sua vida. Prudentíssimas
seguinte à morte de Magone fui â minha classe. Era leis da Igreja não permitem tributar a alguém ho­
um sábado e deveria realizar-se uma prova. 0 lugar menagens de culto, antes que Ela, após severo exa­
vago de Magone indicava-me que eu tinha perdido um me e provas irrecusáveis, o autorize; mas não
aluno £ o céu ganho utp cidadão ■ Eu estava profun- proíbe à piedade privada que invoque a interces­
daraente comovido; ós "Jovens, sob a Influência de são daqueles cuja vida nos oferece uma segurança
imenso pesar e em silêncio geral; não me foi pos­ moral de que já gozam da eterna recompensa* **. (Pe.
sível pronunciar outras palavras senão estas: EDUaHNT fT REGATXLL0"3j , njn~~Karquês Modelo, Sal
•Morreu!* Todos choravam. E como não chorar, se Terrae, Santander, pp. 23^-235 /Imprimatur: Jo-
todos amavam um menino tão virtuoso? Depois de sua sephus, Episcopus Santanderiensis, 1-5-19ÍOT*
morte constatou-se a grande reputação de piedade
que conquistara entre os companheiros.
88. Rezavam à falecida como se faz
"As páginas de seus escritos eram disputadas junto aos túmulos dos Santos
uma a uma, e um digníssimo colega meu conslderou-
-se multo feliz porque pôde recolher um cadernlnho De uma biografia de Amália Errázuriz de Su-
do jovem Miguel. bercaseaux (1860-1930), piedosa senhora chilena
"Eu mesmo, movido pelas virtudes que praticou morta era odor de santidade:
era vida com tanta perfeição, não duvidei em invo­
cá-lo depois com plena confiança nas minhas neces­ "Apenas depuseram o caixão na catedral, foi
sidades ; e, a bem da verdade, devo confessar que ele iraediatamente cercado por todos os que amavam
não foram baldadas as minhas esperanças". (São Amália. E, segundo a afirmação dos privilegiados
JOAO BOSCO, Vida de Miguel Magone, in Biografia £ de sua amizade, sentiram, junto aos seus despojos,
Escritos de San Juan Bosco, BAC, Madrid, 1955, PP« uma paz tão sobrenatural, que, era vez de rezar por
897-898 / Imprimatur: José Maria, Ob. aux. y vic. ela, recomendavam-se à sua InEercessao, como se
gral., 13-5-055) • costuma fazer Junto aos túmulos dos Santos. Beija-
vam o seu caixão, e tocavam nele terços e outros
objetos de piedade". (B. SUBERCASEAUX DE VALDES,
87* "Bem podeis em vossas necessidades Amália Errázuriz de Subercaseaux, Editora Vozes,
Fetropolis, 3a. ed., 1958, p. 222 / Imprimatur:
£ perigos, em vossos afãs
e dores, dlrlglr-vos a essa alma" Por Comissão Especial do Exmo. Revmo. Sr. Dom Ma­
noel Pedro da Cunha Cintra, Bispo de Petrópolis,
Da Já mencionada biografia do Marquês de Co- Frei Desidério Kalverkamp, OFM, Petrópolis,
millas (1853-1925): "0 conde de Dona Marina, em 30-9-57).
88. Secção I

89. Podemos recorrer â oração dos


que Jâ estão junto de Deus,
assim como pedir que nossos
lrmaos em Cristo rezem por nos

Da Já citada biografia do Padre Eustáquio


(1890-19^3), da Congregação dos Sagrados Corações,
que morreu em odor de santidade:
VIII
"Assim, a Congregação dos SS. Corações, reco­
nhecendo as grandes virtudes de seu religioso Pa­ 9 ÇÍÇUÇ5Q |Q| §S£YQ| dg
dre Eustáquio van Lieshout, e ciente de que os
fieis, já agora, reconhecem que a intercessão do gg gígfiSt iDtçfgalggâQ q DQm§
Servo de Deus e^ valiosa Junto de Deus, aguardam o
3lã era que o processo seja simplificado e possa n§ ceçitaçlQ pnlYada de ladainhas e
ser conduzido pelo próprio episcopado brasileiro.
"Mas para os devotos do Pe. Eustáquio, é bom ÇQ^gQndQ orações em sua honra
saber que, além do testemunho humano durante o
curso dos Processos diocesanos, é preciso o TESTE­
MUNHO DE DEUS, a fira de que seja confirmada por
milagres do céu a fama de santidade de Padre Eus­ 90. São Francisco Xavier inseriu o nome do
táquio* E sabemos: quem faz milagres é só Deus.
Padre Fabro na ladainha dos Santos
"A oração de suplica é recomendada por Cristo e São Francisco de Sales o
no Evangelho. E até mesmo recomenda-se o pedido de invocava como se tivesse sido canonizado
saúde e de coisas temporais. E e_ verdade também
que podemos recorrer à oração das pessoas qu¥ Do livro Tudo por Jesus, do grande convertido
estão junto de Deus, da mesma maneira que podemos inglês do século passado, Padre Faber:
pedir que os nossos irmãos em Cristo rezem por
nós. Por isso, podemos pedir favores de Deus por "Escutai o que Orlandini conta do Padre
Intermédio de Pe. EusTáqulo". (Novena ao Servo Fabro, cujo nome São Francisco Xavier inseria nas
de T)eus Padre Eustáquio, Promoção da Família- Ladainhas dos Santos, e^ que São Francisco de Sales
editora, Èelo Horizonte, pp. 36-37 / Com aprova­ invocava como se tivesse sido canonizado*.~TR. Pe.
ção eclesiástica). FREDERIC-WILLIAM FABER, Tout Pour Jésus, Ambroise
Bray, Librairie-Editeur, Paris, 3a. ed., 1862, p.
120).

91 • São João Berchmans invoca,


na ladainha dos Santos,
alguns da Companhia nao
canonizados, e outros nem beatlfiçados

Últimos momentos de São João Berchmans


(1599-1621), numa biografia sua:

!,Âs 10 horas, o enfermeiro ofereceu ao doente


um pouco de caldo. — Berchmans tendo tomado algu-
90. Secção I

mas gotas disse: ’Basta, irmão, é chegada a hora,


não de comer, nem de beber, mas de rezar*. — Pou­
co depois: ‘Desejo que reciteis as orações da re­
comendação da alma, disse ao padre Van Doorne, o
tempo poderá nos faltar. Começaram imediatamente.
Quando nas ladainhas dos Santos, chegaram aos no­
mes dos confessores, João pediu ao padre que pa­
rasse, e invocasse com ele os Bem-aventurados Ig-
nacio de Loyola, Francisco Xavier, Luiz de Gonza­
ga, Estanislau Kostka; os Veneráveis Padres Fran­
cisco de Bor ja, Jose Anchieta, e_ o_ Venerável ir­
mão coadjutor Affonso Rodrigues”. (Pe. L. J. M.
CROS SJ, Vida de S. João Berchmans, Duprat &
Comp., São Paulo, 1912, p. 375 / Com licença da
autoridade eclesiástica).

92. ‘‘Sejam também meus, intercessores,


a minha Mae Isabel,
Irmãos parentes e_ amigos”

Do ato de consagração a Nossa Senhora como


£s+//aJ £**+< r/*r-
escravo, de Frei Antonio de Sant‘Anna Galvão,
franciscano brasileiro, morto em odor de santidade ./‘c
(1739-1822):

“Sejam também meus intercessores o Arcanjo -r*, fy ^ fy* f? •/*rof'


São Gabriel ~e o Ánjo da minha guarda e todos os ^ Jy ^ /*'*rrr cY ;•V- ••« **. &. <■ y*
Jf (Fztf HcJÁ/i/. ‘T' *-2*2/
mais anjos de todos os coros angélicos; os Santos
e bem-aventurados, principalmehte meu pai São \S Qk/t-UZCtVby* ;
Francisco, digo primeiramente os gloriosos Santos
vossos pais e esposo, meu pai São Francisco, Santa
Agueda, o Santo do meu nome, São Pedro de Alcânta­
ra, Santa. Gertrudes, meu pai São Domingos, São
Tiago Apóstolo, São Benedito, os Reis Magos, São
Jerônimo, Santa Teresa, São Francisco de Borja, a
minha Mãe Isabel. e irmãos parentes e_ amigos , se é
que todos gozam da vossa vista (como o espero e
piamente suponho), e a todos os mais que é vossa
vontade que eu peça em particular. Rogo a todos
estes referidos Santos que orem a vós por mim e me'
sirvam de testemunhas lrrefragáveis desta minha
filial entrega e escravidão”. (Frei ANTONIO DE
SANT‘ANNA GALVAO, Escritos Espirituais, São Paulo,
1980, p. 6). ’ Fac-símile da Cédula de consagração do Servo de Deus
Frei Antonio de SanfAna Galvão a Nossa Senhora,
92. Secção I

93 • Freira de Llsleux compõe


oração à Irmã Teresa, logo apôs sua
morte, para invoca-la cada dia

Depoimento da Irmã Genoveva de Santa Teresa :í*


(Celina) no Processo de Beatificação e Canoniza­
ção de sua irmã, Santa Teresinha do Menino Jesus:

"Apôs a morte da Serva de Deus, a atitude das


irmãs que lhe tinham sido hostis se transformou em

Mil
xii
veneração. Ninguém tinha maior sofreguidão em
guardar lembranças e retratos dela do que a Irma
São Vicente de Paulo, essa freira conversa que a QÊSsn g秣§i,
tinha feito sofrer..... Uma outra irmã compôs uma
oração para invocâ-la todos os dias". (Procès de qs fiéis rasea ÊÇQiillil e
Béatification et Canonisation de Sainte Thérése de
1 fEnfant-Jesus et de la Salnte-Face -- I_I Procei* OQYean |Q2 SerYQa de D|u§
Apostolique, Teresianum, Roma, 1976, témoln Ge-
nevieve de Sainte-Thérèse OCD, pp. 323-324).
95* Antes de sua beatificação,
novenas a Joana de França, alcançam
94* "Lembrai-Vos, ô poderosa Rainhazinha .. várias curas
Oração composta pela Madre Isabel do Sagrado
Coração (1883-1914), freira do Carmelo de Lisieux, Relatos de testemunhos da época, sobre o co­
para invocar a então Serva de Deus Teresinha do meço do culto a Santa Joana de França (1464-1505),
beatificada em 1742 e canonizada em 1950:
Menino Jesus, vários anos antes da beatificação
desta, ocorrida em 1923:
"No ano de 1507, um homem nobre, Pierre de
Vaux, escudeiro, senhor na Corte, da paróquia de
"Lembrai-vos, ô poderosa Rainhazinha, doce
Saint-Aubin, a quatro léguas de Bourges, aqui velo
espelho da misericordiosa Virgem Maria, lembrai-
e contou-nos coisas dignas de memória: é que ele
-vos da revelação que vÓ3 mesma nos fizestes de tinha uma filha com cerca de doze anos, a qual
que ninguém Jamais vos suplica em vão e que nenhum muitas vezes caía repentinamente para trás e, dez
daqueles que vos invocam não é jamais abandonado vezes ao dia, os membros se lhe tornavam enrijeci­
por vós * dos e ficava privada dos sentidos; sem saber o que
"Animada eu da maior confiança, venho lem- acontecia consigo, como aqueles que têm epilepsia;
brar-vos de vossa promessa de passar vosso Céu fa­ a doença perdurou pelo espaço de cinco anos... E,
zendo o bem sobre a terra, venho suplicar-vos de não sabendo mais o que fazer, o pai e a mãe fize­
espalhar sobre mim, e sobre todos aqueles para os ram um voto e promessa a Deus, à Virgem e_ à_ bem-
quais eu imploro a vossa proteção, uma abundante -aventurada Joana, de que flíha faria uma novena
chuva de rosas, uma torrente de graças celestes. junto a. seu "Túmulo; assim que o voto foi feito, a
"Apressai-vos em responder ao meu apelo, dig- filha ficou sa e curada e começou a comer ....
e não caiu mais e não ficou doente daquele
nai-vos descer para junto de mim, abrasar-me com o modo.....
divino amor e ouvir a minha humilde súplica. Assim
seja" . (Novissima Verba, Derniers entrétiens de "Anne, filha de Jean Bartelot, (era) atormen­
Ste. Thérèse de L'Enfant-Jésus, Office Central de tada pela doença das escrófulas..... Ela vai,
EIsTeujT/ 1926, pp. 222-223)*
94. Secção I Secção I 95.
pois, junto ao túmulo de Joana de França, em Bour- mesmo aspecto que o outro, sem vestígio de raqui­
ges, e, tendo começado sua novena, verificou não tismo. 0 tumor tinha desaparecido completamente. 0
sentir mais nenhuma dor, ' e não aparecia mais ne­ Dr. Berne ficou estupefato. Não teve dificuldade
nhum tumor, nem inflamação na parte afetada, pelo em exarar um certificado que foi remetido ao bispo
que ela deu graças a Deus e à bem-aventurada Joana de Belley. Fizemos todos, muito alegres, uma nove­
de França*”• (MARGUERITE D’ESCOLA, Jeanne de Fran- na de ação de graças e desde então invocamos mais
ce, in "Ferveur", Paris, n. 7, 8-1949/ PP- ^2 ã freqíientemente o Cura d'Ars, que curou minha Irmã-
OT) . zinha". (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d*Ars, Vo­
zes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, p. "478 7 Imprima-
tur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uruguaiana,
96. Fazem uma novena ao Cura d1Ars, 29-6-1959).
antes de beatlflcado
e_ obtêm uma cura milagrosa
97. "Concedei-nos (Senhor) ver logo
Declaração de Leônidas Joly, no Processo Or­ nos altares a Vosso Servo Cláudio..
dinário de Beatificação e Canonização de São João
Vianney (1786-1859): Novena para obter a Beatificação do Servo de
Deus Don Cláudio López Bru, Marques de Comillas
”— Nasci em Saint-Claude, a ^8 de maio de (1853-1925):
1848, Adelaide tem ,quatro anos menos do que eu.
Faz cinco anos que ambos estamos no orfanato diri­ "Pelo Sinal...
gido pelas Irmãs de Caridade, na paróquia de São "Senhor meu Jesus Cristo...
João de Lião.
"Senhor e Deu3 meu, que entre as riquezas
”Todas as manhãs era eu quem vestia a minha guardastes a vosso servo Cláudio desapegado ao
irraãzinha. Um dia. começou a se queixar de dores no ponto de não as conservar senão para o socorro dos
braço esquerdo. Em setembro de 1861 a professora pobres; e entre os negócios -do mundo, fizestes de
que visitava o nosso trabalho reparou que Adelaide seu coração o foco de intensa caridade para con-
tinha o braço esquerdo apoiado sobre o joelho e Vosco, de ardente amor à Santa Igreja e de filial
que não podia trabalhar. Chamou-a de menina pre­ reverência ao Vosso Vigário, o Sumo Pontífice!
guiçosa e nós nos pusemos a chorar. Então levaram Concedei-nos, por seus méritos e intercessão, a
a menina ao Dr. Berne, primeiro,cirurgião da Cari­ graça de seguir suas pegadas e virtudes; e o favor
dade. Disse que Adelaide tinha um tumor branco, que Vos pedimos para a Vossa glória, honra de Vos­
que estava aleijada para toda à vida, e que teria so servo e proveito de nossas almas. Amém.
de usar um aparelho. Este não foi necessário; nos­
sas professoras quiseram experimentar outra coisa: "Peça-se a graça especial que se deseja con­
fizeram uma novena ao Cura d1 Ars e., como estives­ seguir por intercessão do Servo de Deus.
sem em seu poder uns sapatos velhos que tinham "Pai-Nosso, Ave-maria, Glória.
pertencido ao Santo, tiraram deles uma correia e_a
puseram no braço de minha lrmãzlnha. "Onipotente e benigníssimo Senhor, que Vos
alegrais que Vossos servidores sejam glorificados
”Passados sete dias, Adelaide me disse: fLeô- ainda nesta terra, concedei-nos ver logo nos alta­
nidas, meu braço Já não me dói*. E descobrindo-o res o Vosso servo Cláudio, para que, como em vida
vi que podia move-lo com facilidade. Em seguida mereceu ser chamado o Marquês humilde da caridade,
subi ao quarto de nossa professora para anunciar assim possamos invocá-lo no céu como generoso pro­
tão agradável nova. Repreendeu-me por havê-lo fei­ tetor de seus devotos. Pelos méritos de Nosso Se­
to sem licença. No último dia da novena, a irmã nhor Jesus Cristo, e pela intercessão da Virgem
tirou a atadura do braço e o achou perfeitamente Imaculada. Amém. — A.M.D.G." (Pe. EDUARDO F. RE-
curado. Mexia-o em todos os sentidos e tinha o GATILLO SJ, Un Marquês Modelo, Sal Terrae, Santan-
96. Secção I Secção I 97.
der, p. 2*í0 / Imprlmatur: Josephus, Episcopus San- "2- dia da novena.....
tanderiensis, 1-5-1950).
"Oração do dia. — Alcançai-me, bondoso padre
Eustáquio, a graça de abandonar-me em tudo à Von­
tade divina, confiando na Sua infinita bondade.
98. "Meu grande protetor, Padre Eustáqulo, Fazei-me compreender melhor a necessidade da ora­
por vossa poderosa ção confiante.
intercessão junto a Peu3, "3- dia da novena.....
alcançai-me a graça que tanto almejo. -»w
"Oração do dia. — Meu grande protetor, padre
Novena ao Padre Eustáquio (1890-19^3), morto Eustáquio, ajudai-me a pôrem prática o mandamento
em odor de santidade em Belo Horizonte: do amor, para que a minha alma fique sempre unida
a Deus pela graça santificante, e o amor de Deus
inspire todas as ações da minha vida cotidiana.
"Novena ao Padre Eustáquio
"Oração preparatória "*J- dia da novena. ....
- para cada dia - "Oração do dia. — Alcançai-me, bondoso padre
"Meu bom Jesus, eu vos adoro e vos agradeço o Eustáquio, a grande graça de contemplar em meu
benefício recebido da Fé cristã. proxirao a imagem de Jesus, para que, inspirado pe­
lo seu edificante exemplo, eu pratiquq as obras de
"Eu vos suplico ;ique, meditando as-virtudes da caridade cristã em benefício daqueles que a divina
vida cri3tã e contemplando o exemplo do vosso Ser­ Providência puser era meu caminho.
vo fiel Padre Eustáquio, eu sinta em mim o desejo
de santificar-me cada vez mais. Quero tornar-me, "5- dia da novena. ....
como ele, um testemunho vivo do vosso Evangelho, "Oração do dia. —.Por vossa poderosa inter­
em meu benefício próprio, para o bem do próximo e cessão, padre Eustáquio, alcançai-me a virtude da
para vossa maior glória* Assim seja. prudência cristã, pela qual èu procure fazer sem­
pre o que é reto aos olhos de Deus e o que é pro­
"Oração para alcançar uma graça especial veitoso àqueles que vivem em contato comigo.
por intercessão de Padre Eustáquio
"6- dia da novena.....
"Bondoso Padre Eustáquio, grande amigo e ben­ "Oração do dia. — Bom padre Eustáquio, al­
feitor das almas sofredoras, alçançai-me por vossa cançai-me , por vosso exemplo e^ intercessão, a gra­
intercessão junto a. Deus a graça que tanto ça de ser justo e de viver como bom cristão. Que o
almejo... meu amor próprio nunca me faça cometer injustiça a
"Eu prometo, se for atendido nesta suplica, quem quer que seja.
viver como bom cristão, rezar e colaborar para "7- dia da novena.....
que, em breve, sejais beatificado e elevado à hon­
ra dos altares, para a maior glória da Santa Igre­ "Oração do dia. — Alcançai-me, generoso pa­
dre Eustáquio, por vossa intercessão junto a Deus,
ja, no Brasil. Amém.
a fortaleza de alma, a coragem sobrenatural para
"1- dia da novena..... enfrentar as dificuldades da vida e para carregar
"Oração do dia. — Alcançai-me, padre Eustá­ as cruzes com submissão à vontade de Deus e com
quio , a graça de uma fé viva e generosa nos Misté- generosidade.
rios de Deus, nas Verdades reveladas e na Bondade "Quero sempre lembrar-me de vossas palavras:
e Providência divina. Que minha fé seja, como foi 'A coroa que deve cingir nossa fronte no Céu, é
a vossa, inabalável, principalmente nas dificulda­ nas oficinas da terra que ela é fabricada'.
des e sofrimentos da vida.
98. Secção I

"8- dia da novena.....


"Oração do dia. — Alcançai-me, padre Eustá-
qulo, por vosso exemplo e_ intercessão, a convicção
da necessidade da pratica da temperança.
"Ajudai-me em tudo a não ser egoísta e como­
dista. Que eu saiba compreender o valor da morti­
ficação e praticá-la com generosidade a fim de me
sentir mais forte e corajoso na luta cotidiana da
vida. X
"9- dia da novena..... "Sqd™ difCuaiYum sul":
"Oração do dia. — Meu grande benfeitor, pa­
dre Eustáqulo, inspirai-me o vosso amor à Sagrada a âiYQSlQ QiiÇeQtl |Q linyQ ÚQ Dçy§
Eucaristia, a qual vos alimentou todo o dia e vos
deu tanta força e generosidade em vosso apostolado leva a ãixulgaç
de caridade.
IMi s sua Qbca
"Suplico-vos conceder-me um grande desejo do
Pão Eucarístico, que>nos é oferecido diariamente
por Nosso Senhor durante o S. Sacrifício da Missa.
Assim seja" . (Novena ao Servo de Deus Padre Eustâ- 99. Antes da beatificação de seu Fundador,
qulo, Promoção da"FamTTia-Editora, Belo Horizonte, jesuítas pedem que se publiquem
pp. 17 a 32 / Com aprovação eclesiástica). as cartas, feitos e ditos
de' "nosso Santo Pacfre Inácio"
para consolo <5. edificação dos Religiosos

Da introdução a uma edição das Obras Comple­


tas de Santo Inácio de Loyola (1*191-1556):

"Finalmente, a Congregação Provincial de Cas­


tela enviava, em 1584, esta petição ao Geral,
Cláudio Aquaviva:
"Também deseja esta congregação que se procu­
rem em todos os lugares as cartas, feitos e ditos
de nosso Padre Inácio, tanto os que se acham na
Itália como na Espanha, e que escolhendo o melhor
de tudo, se publique para edificação e consolo dos
Nossos.
"Louvamos a devoção da Congregação para com
nosso Padre Inácio — respondeu Aquaviva — mas no
que diz respeito ao que pede, está Já em mãos de
todos a sua vida com quanto havia de comunicável
sobre ele.
"Peça-se a Nosso Padre General — acrescenta-
va-se no Memorial da Província — um livro do Pa­
dre Luís González, composto parte em espanhol e
100. Secção I Secção I 101,

parte em português, sobre os ditos, feitos e res­ sionária e apóstola, que é Maria da Encarnação,
postas de Nosso Santo Padre Inácio, e quantos es­ para muitos de nós se assemelha àquele belo quadro
critos possam achar-se semelhantes a este". (VTC- esquecido, perdido sob a poeira do tempo .... En­
TORIANO LARRANAGA SJ, Introducción a Ija Autobio­ tretanto ela é uma obra-prima do Artista divino, o
grafia de San Ignacio de Loyola in Obras Comple­ Espírito Santo!
tas de^an Ignacio de Loyola, EAÜT/ Madrid"] 19^7/ ”E preciso, portanto, descobri-la! ....
Tomo I, p. 36 / Imprimatur: Casimiro, Obispo aux.
y vic. gen.). "Nestes capítulos quisemos, expor, de maneira
muito simples, mas com amor, certos aspectos de
uma vida esplêndida, à qual não falta atualidade.
100. 0 Papa Bento XV recomenda que se As verdadeiras vidas de santos têm sempre atuali­
divulgue a vida de uma Venerável para que dade. Quisemos pôr em evidência o aspecto virtuoso
os fieis recorram a ela com confiança e desta vida ardente, de maneira a suscitar estima,
com isso se apresse a sua canonizaçao amor e confiança em relação a esta alma muito san­
ta e poderosa no céu". (Chanoine J. L. BEAUMIER,
Da introdução à biografia da Madre Maria da Marie Guyart de L'Incarnation, Editions du Bien
Encarnação (1599-1672), fundadora das Ursulinas de Public, Trois-Rivières, 1959, P* Í2 / Imprimatur:
Québec, recentemente beatificada: Georgius Leo Pelletier, Episcopus Trifluvianen,
30-4-1959).
"Dezoito anoa .mais tarde (19 de julho de
1911), o Santo Papa Pio X reconhecia'oficialmente
a heroicidade da3 virtudes da grande e imortal Ur- 102. Os^ devotos de Virgínia Bracelll
sulina, Maria da Encarnação. procuravam tornar sua vida mais conhecida,
apesar de não estar beatificada
"Algun3 anos depois, Bento XV fazia saber às
Ursulinas de Roma, por intermédio do Cardeal Gas- De uma biografia da Venerável Virgínia Centu-
parri, que * seria vantajoso propagar jí_ vida da Ve- rione Bracelli, fundadora das Pilhas de Nossa Se­
nerãvel Maria da Encarnação sob uma forma popular nhora do Monte Calvário (1587-1651):
a fim de que os fiéis recorram a. ela com conflan-
ça, e assim obtenham favores assinalados que "Entretanto, a fama _a veneração por Virgí­
apressem sua Beatificação'". (Chanoine J. L. BEAU- nia se difundiam; a ressuscitada (*) ganhava nome,
MIER, Marie Guyart de L1'Incarnation, Editions du e muitos admiradores e devotos se acolhiam em tor­
Bien Public, Trois-HXvières, 1959/ P* H / Impri- no dela.^Havla intensa porfia para que revivesse
matur: Georgius Leo Pelletier, Episcopus Triflu- sua memória, para que fosse ela mais conhecida 1[
vianen, 30-4-1959). mais bem seguidos os seus exemplos.
"Já o Provincial dos Agostinianos havia des­
101. Divulgar a vida de Maria coberto a Vida da Fundadora, escrita por Antero e
da Encarnaçao para suscitar a estima, que há cento e vinte anos jazia esquecida na
amor e confiança em relaçao a esta alma Biblioteca de São Nicolau. Depois, a senhora Fran-
multo santa £ poderosa no Céu cisca Boggioni, cheia de zelo pela honra de Virgí­
nia, percorrendo a cidade à procura de descenden­
~.

Do mesmo livro sobre a Beata Maria da Encar­ tes dela, conseguiu encontrar o último herdeiro de
nação : Scipião Alberto, que era nada menos que um pedrei­
-;

ro. Mas, este possuía um tesouro que lhe fora dado


"Como muitos, sem dúvida, eu 'descobri* um pelos seus antepassados: um maço volumoso de pa­
U1J

dia a Venerável Maria da Encarnação..... péis, que guardava com todo o cuidado, e que agora
_

cedia àquela senhora. 0 referido volume era justa-


"Essa grande figura, essa incomparável mis-
102. Secção I Secção I 103.

mente o *Embrião'. Do precioso manuscrito se apro­ modelo do mundo moderno, como personagem da Nobre­
veitou de bom grado o jesuftã Padre César Manzl, za, do mundo dos neçócios, da família, da Ação So­
para compor uma modesta biografia de~ Virgínia, im- cial, da Ação Católica, em uma palavra, como o
pressa em 18077 exemplar acabado do cavaleiro, do patriota e do
Cristão.
"Melhor ainda se ocupavam dela os corações.
Admitia-se que o seu providencial reaparecimento "Mas o Papa não o porá nos altares, enquanto
servisse à sua glória, mas, justamente se preten­ o Servo de Deus não operar verdadeiros milagres,
dia que também os outros fossem por ele beneficia­ reconhecidos como tais pela Santa Sé; e para isso
dos . Os devotos visitavam o_ sepulcro de Virgínia, £ preciso que os fiéis conheçam suas insignes vir­
a_ invocavam _e_ ela atendia e_ dispensava favores: e tudes _e_ o_ invoquem com a mais viva fe, a fim de
logo às Filhas, que então conservavam cuidadosa- conseguir do ceu, por sua intercessão, toda espé­
mente tudo quanto era concernente à honra da Mãe, cie de graças e milagres verdadeiros, que são o
afluíam os documentos que relatavam os benefícios selo com que Deus referenda a santidade de seus
extraordinários obtidos pela sua intercessão. Servos.
"As inteligências e os corações se sucediam ^nJL com e3^a finalidade que se encaminha este

...
compêndio da vida do Marquês de Comillas". (Pe.

.
assim em se ocupar de Virgínia.
EDUARDO F. REGATILLO SJ, Un Marques Modelo, Sal
"Monsenhor Carmo Cordlvlola e_ o, industrioso Terrae, Santander, pp. 5-6 7~~Imprlmatur: Josephus.
D. João Batista Fázlo empregaram anos em reunir Episcopus Santanderiensis, 1-5-1950).
passagens da vida da: serva de Deus e_ era narrá-las.
Teciam-lhe elogios: Antônio Baratta, João Semeria,
Caetano Morroni. Consagravam-lhe a homenagem de
sua arte: D. Luís Grillo, o Padre Sportono, o Car­
deal Morichini".

(*) A Serva de Deus foi chamada de "ressusci­


tada" porque o 3eu corpo, desaparecido, foi encon­
trado incorrupto um século e meio depois de sua
morte, quando sua figura já havia sido esquecida

.
pelas próprias freiras da Congregação que fundara.

;
(Mons. LUIGI TRAVERSO, Vida e Apostolado da Serva

.
de Peu3 Virgínia Centurione Bracelli, Ave Maria",
Sao Paulo, la. edição em português, 1961, pp.
331-332 / Imprima-se: Mons. José Augusto Bicalho,
Vigário Geral, Belo Horizonte, 16-8-1960).

103. Para que o Marquês de Comlllas seja


elevado aos altares, ”e preciso que
os fiéis conheçam as suas insignes
virtudes £ o invoquem com a mais viva fé"

Do prólogo do famoso canonista espanhol Pe.


Regatillo, ao livro Urn Marquês modelo:

"Não duvidamos que o Papa há de ter muito em­


penho em sublimar à glória dos altares tão exímio
Xn
Mn
>*
***
Q 99 § SiSISteeiSâ § §§QSlda⧠g

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§ íiciydg g qIq q mllagse,

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m Si £a£Sã §5S£§SEâÍ9ÍEͧI

i
âi eiBiClSual

4 .
■ :
104. "Se o testemunho dos milagres fosse
necessiirio para ilustrar a
glória doã_ Santos, nao seriam
honrados na í gr ela de Deus muitos deles"
.. y

_
Diz o famoso jesuíta do século XVI, Pe. Riba-

i
C) daneyra, discípulo de Santo Inácio de Loyola:

"Até aqui contamos a vida de nosso B. Padre


Inácio; dela poderá tomar cada um a parte que mais

^
lhe convenha, para imitá-la.

Por que Deus não patenteou a santidade de Inácio

"
iw#
com milagres?

.'
"Mas quem duvida que haja alguns que se ad­

'
'•
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mirem e espantem, e perguntem porque é que sendo

*'*
estas coisas verdadeiras (como sem dúvida o são),

-
não fez milagres o. nosso B. Padre. nem Deus quis
patentear a_ santidade deste seu servo com sinais ei
testemunho sobrenaturais, como o fez com muitos
outros santos?
"Â estes respondo eu com o Apóstolo: quem
conhece os segredos de Deus? Ou a quem Deus fez do
seu Conselho? Porque é só Ele que faz as grandes
maravilhas, como diz David, pois é só com a sua
virtude infinita quí se podem fazer as coisas que
ultrapassam a força e a ordem da natureza; e como
Ele é que pode fazer isto, só Ele é que sabe em

I
I
i
106. Secção I 107.
Secção I
que lugar e em que época, por que melo e por cuja ram luzeiros e ornamento da Igreja católica, e cu­
intercessão se hão de fazer os milagres. ja vida e doutrina dá luz a todo o mundo, esta­
riam, hoje em dia, sepultados nas trevas do esque­
A santidade na o se mede pelos milagres, mas pela cimento, se não tivessem outro testemunho e res­
caridade plendor para mostrar o que eram, senão o de seus
"Se bem que nem todos os santos foram escla­ milagres. E pelo contrário, sabemos que no dia do
recidos com milagres, nem os que fizeram mais mi­ juízo muitos dirão: ’Senhor, Senhor, porventura
lagres e_ maiores que outros, sao por Isso mais não profetizamos em Vosso nome, e em Vosso nome
santos, porque a_ santidade de cada um não se há de não expulsamos os demônios, e fizemos muitos mila­
rcedir assim, nem tem por regra de avaliação os mí^ gres?’ E então o Senhor lhes responderá: *Não sei
lagres, mas a caridade; como diz o bem-aven­ quem sois*. E para que, porventura, não pensemos
turado São Gregorlo por estas palavras: *A verda­ que isso não é assim, apesar de eles o dizerem,
deira prova da santidade não fazer milagres, mas porque, como maus que são, mentem e não dizem a
e amar aos outros como a_ j3i mesmos, ter verdadeiro verdade, o mesmo Senhor (como nota Santo Agosti­
conhecimento de üéus, e melhor conceito do próximo nho) diz por São Mateus: ’Levantar-se-ão falsos
do que de si mesmo. Porque o Redentor nos ensinou Cristos, e falsos profetas, e farão tão grandes
c°m clareza, que a_ verdadeira virtude nao consiste sinais e prodígios, que enganariam cora eles, se
em fazer milagres, mas em amar, quando disse: fosse possível, aos próprios escolhidos’.
^TTisto conhecerão todos que sois meus discípulos,
se vos amardes uns^aos outros’. Pois que não dis­ Houve ímpios que profetizaram, e até Judas fez
se: nisto conhecerão que sois meus discípulos, se milagres
fizerdes milagres, mas se vos amardes uns aos ou­ "E diz São Jerônimo sobre as palavras de São
tros, dá claramente a entender que o verdadeiro Mateus que alegamos:*- *0 profetizar e fazer mila­
sinal de que alguém e_ servo de Deus nao consiste gres, e expulsar os demônios, algumas vezes não se
nos milagres, mas só na caridade. E assim o maior faz por mérito do que o opera, mas pela invocação
argumento e o sinal mais certo de que alguém é do Nome de Jesus Cristo, em ,nome de cuja virtude
discípulo do Senhor, é o dom do amor fraterno*. se obra, concedendo-o o Senhor, ou para a condena­
Até aqui são palavras de São Gregório.
ção dos que invocam o seu santo Nome e não vivem
bem ou para proveito dos que vêm ou ouvem os mila­
Outro não houve maior que João Batista, mas ele gres; os quais, ainda que tenham em pouca consi­
não fez milagres
deração os homens que fazem os milagres, honram
"E por isso, pouco antes disse o mesmo santo, neles a Deus Nosso Senhor, em cujo santo nome se
que nos homens dever-se-ia reverenciar a humilde fazem. E assim vemos que Saul, Balaão e Caifás,
caridade, e não as obras maravilhosas que se fazem profetizaram, não sabendo o que diziam; e Faraó e
nos milagres, e que jse o testemunho dos milagres Nabucodonosor foram iluminados, e entenderam as
fosse necessário para ilustrar a glória dõs san­ coisas que haviam de suceder no futuro; e nos Atos
tos, nao seriam honrados, hoje em dia, muitos de- dos Apóstolos os filhos de Sceva parece que expul­
les_, na Igreja de Deus. Pois vemos que tendo dito saram os demônios dos corpos, e Judas, sendo Após­
a mesma Veraade (Nosso Senhor Jesus Cristo) que tolo, tendo ânimo de traidor, fez muitos milagres
entre os nascidos de mulher não se havia levantado como os demais apóstolos*. Estas são as palavras
outro maior que São João Batista, entretanto disse deste glorioso Doutor.
ãele o Evangelista da mesma Verdade, que ele (São
João Batista) não fez nenhum milagre. Não se deve exigir milagres como prova de
santidade
Se fosse pelos milagres, grandes luminares da ”E é doutrina de São Paulo, que alguém pode
Igreja estariam hoje esquecidos ter o dom da profecia e de toda a ciência e conhe­
*'E outros muitos varões santíssimos que fo- cimento, sem caridade; e ainda força para
108. Secção I Secção I lüy.
transportar montanhas de um lugar para outro. De 105. Sem fazer nenhum milagre,
maneira que não se deve exigir a_ ninguém os mila­ São Joao Batista atraia as multidões
gres , como se deles dependesse necessariamente a
santidade, mas devemos, isso sim, nivelar e medir Dora Chautard, o Abade de Sept-Pons, escreve:
todo este assunto com a verdadeira regra da cari­
dade .
"Joannes quldem slgnum feclt nullum (João na
verdade não fez milagre algum — Jo., 10, Ml).
Que milagres fizeram em vida Santo Agostinho, São
Joao Crlsostomo, Santo Atanâslo, Sãõ GregórTo Na- Sem fazer nenhum milagre, João Batista atraia as
zlanzeno e São Gregórlo de NlcéTa? multidões. Bera fraca era a voz de são Vianney para
se fazer ouvida da multidão que em volta dele se
"Porque, ainda que muitas vezes Deus Nosso apinhava e, sem embargo, se o não ouviam, viara-no,
Senhor manifeste com milagres e sinais a santidade viam uma custódia de Deus, e só essa vista subju­
de seus servos, isto, como dissemos, não o é sem­ gava e convertia os assistentes. Voltara de Ars um
pre, nem necessário. Quais são os milagres que le­ advogado. Como lhe perguntassem o que mais 0 tinha
mos ter feito Santo~~Ãgostinho era sua vida? São impressionado, respondeu: *Vi Deus num homem*w.
Ürísóstomo? Santo Atanâslo? Os dois Gregórios, Na-
(Dom J. B. CHAUTARD, A Alma de todo Apostolado,
zlanzeno e de Nicéia? Certamente nenhum ou multo Editora Coleção F.T.D., São Paulo, p. Ilfl / Reim-
poucos. E rtao é por isso que nos atreveríamos a rimatur: Vicente Zioni, B. Aux. — V. Geral,
dizer que foi maior santo que eles o outro Gr*egó-
rio, a quem, pelas maravilhas que fez, os gregos
f2-8-19 62).
chamam taumaturgo, que quer dizer o que faz mila­
gres * 1-06. A santidade não está em fazer milagres,
mas em levar a sua cruz
Nem todos os Santos fazem milagres em vida, porque
c 'EspiritcT?anto concede esse dom a quem quer Comenta um biógrafo de Santa Rosa de Lima:
ttPe onde Santo Agostinho ao escrever ao cle­ "Quantas vezes ouvimos dizer: * agora não há
ro, aos anciãos, c a todo o povo de Hipona, ensi­ mais santos!* Não obstante, talvez os tenhamos ao
nando-os que ninguém pode esquadrinhar a razão pe­ nosso lado. Essa mãe, essa irmã, essa filha, que
la qual Deus ordena que nuns lugares se façam mi­ carregara todo o peso de uma família, que são o an­
lagres e noutro não, conclui com estas palavras: jo da casa, que suportara em silêncio penas e amar­
çAssira como, segundo diz o Apostolo, nera todos os guras sem conta, levando sua abnegação até o he­
santos têm o dom de curar doenças, nem a graça de roísmo sem esperar nada de ninguém, a não ser de
discernir os espíritos, assim também não quis o Deus, cujo amor as impele a tão sublime sacrifí­
Espírito Santo, que distribui os seus dons a cada cio; essas são verdadeiramente santas. Porque ji
um como quer, conceder milagres a todas as memó­ santidade não está em fazer milagres, como crê o
rias dos Santos*. Isto é dito não para tirar a comum dãs pessoas, senão em renunciar-se a si mes­
força aos milagres, mas para que o prudente leitor mo e_ levar _a Cruz, seguindo a_ Nosso Senhor Jesus
entenda que todo este assunto deve ser remetido a Cristo** * £P. Pr. VICT0RIN0 OSENDE, Santa Rosa de
Deus, o qual distribui os seus dons a cada um como Lima, Pluma Fuente, Lima, Ma. ed., p. 31 / Con las
lhe apraz". (PEDRO DE RIBADENEYRA SI, «Vida dei debidas licencias).
Bienaventurado Padre San Ignacio de Loyola, in
Nistorlas de ía Contrarreforma, BAC, Madrid, 19^5,
107* Berchmans não teve êxtases, tribulações
pp. 3ff7 a 389 / Imprimatur: Casimiro, Obispo Aux.
extraordinárias, nem deu mostras de virtudes
y Vic. Gen.).
excelsas t acusou o "Advogado do Diabo"

Da vida de São João Berchmans (1599-1621) pe­


lo Pe. Cros, SJ:
MVHnNNHlKi,!
110. Secção I
Secção I 111.
Objeção do "Advogado do Diabo"
de todas as lutas, esta é a mais difícil, de todas
"— Pelo menos será necessário concordar, as vitórias a mais rara. Não é exato que Berchmans
prossegue o Promotor da fé ("advogado do diabo"), só tivesse amigos; desde a infância amou os seus
que a^vida de J. Berchmans na religião, nada teve inimigos; e sabemos que sua caridade muito mais
de heróico...... que a formosura do seu semblante, atraíu-lhe gran­
de número deles; é outro triunfo da sua heróica
"— Berchmans será então herói; mas um herói virtude. João Berchmans foi portanto um herói mi­
nunca visto, isto é, um soldado que triunfou sem
litante: graças à sua magnanimidade, o mal, duran­
ter tido inimigos a combater: nenhuma tentação, te 20 anos, não conseguiu aproximar-se da sua al­
nenhuma ^perturbação anuviou-lhe a serena existên­ ma. E quando na hora da morte, permitiu Deus que o
cia. João Berchmans viveu ao lado do campo da ba­ inimigo se chegasse a Berchmans, o intrépido sol­
talha, no qual entretanto jamais pôs pé. Sua afa­
dado teve ainda forças suficientes para repelir
bilidade, sua meiguice, a própria beleza do seu
seus mais terríveis assaltos......
rosto, grangearam-lhe o afeto de todos; ninguém o
contradisse, todos o amaram. — Assim fala o ad­ Prossegue o "Advogado do Diabo"
versário.
"— Mas foi c> venerável Berchmans, alguma vez
Resposta do Defensor da Causa supreendldo era êxtase? Quem o_viu em arrebatamen­
de Beatificação e Canonização: to? Dentre os dons maravilhosos de Estanlslau,
”— Se o promotor da fé falasse a sério, a qual se notou nele? Ora, perfeita caridade * dos
Escritura Sagrada* todos os Doutores, os concílios santos, obtém sempre essas recompensas.
da^ Igreja teriam ensinado o erro. Interrogo S. Resposta do Defensor da Causa
João Crisóstomo: — Quanta energia, quantos esfor­
"— Bento XIV, responderá por mim: *0_ êxtase,
ços, diz ele, não emprega a alma Inocente, para não é prova de santidade, e por si não santifica;
conservar-se numa pureza semelhante a dos Anjos.. naõ "e mais que um dom gratuito;, por isso nas cau­
Bento XIV escreve: — Um homem, passar a vida
sas de Beatificação, ele não tem valor senão de­
isento de todo o pecado mortal, JT~de tõcTòs ~õs
atos, o mais heróico; por Tsso e mui^õ* justo que pois de provada a_ heroicidade das virtudes. .... -
admiremos os Santos, que guardaram a alma intacta "0 adversário estará satisfeito? — A beati­
no meio das numerosas armadilhas de Satanás e na ficação de João Berchmans, acrescento, canonizará,
enfermidade da carne; e o numero desses homens é não o Instituto de S. Inácio já muitas vezes cano­
pequeno. — 0 venerável J. Berchmans, não será en­ nizado pelos S. Pontífices, e pelo concílio de

.
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tão herói, ele que conservou até à morte, sua alma

i
Trento, mas sim a vida comum da Companhia de Je­

m ,
1
.
isenta de todo o pecado venial? sus. Cte jovens religiosos saberão que podem, sem
procurar sacrifícios extraordinários, igualar-se
nE de fé, o concílio de Yrento o definiu, que
aos Santos mais Inocentes, e_ aos mais penitentes,
a concupiscência permanece nos filhos de Adão de­ pois que J. Berchmans lhes aparecerá coroado, na
pois do batismo, e os inclina para o pecado, e vereda comum da Regra, com as glórias de Luís de
que Deus a deixa em nós, a fim de que a ocasião de Gonzaga e de Estanlslau Kostka". (Pe. L.J.M. CROS
combatê-la seja também ocasião de triunfar. E de
SJ, Vida de S. João Berchmanns, Duprat & Comp.,
fe, S. Pedro nô-lo ensina, que o demônio gira à São FãiHo,T9T2,~Êp7 394, 395, 396, 397, 399, 401
roda de nós como um leão rugidor e procura inces­ e 402 / Cora licença da autoridade eclesiástica).
santemente devorar-nos.
"João viveu submetido às mesmas leis. Se ele
108. São Pio X: "Creio na santidade
não sentiu vivamente o aguilhão dos maus desejos,
que resulta unlcamemte da prática
o movimento das paixões, é a glória da sua fiel
--

da virtude e da observância da regra"


correspondência à graça, da sua escrupulosa vi­
gilância que prevenia os ataques do inimigo. Ora,
Argumentando a favor da santidade da
L.
!
■»*
,]
112. Secção I
Madre Maria da Encarnação, diz seu biógrafo:
nA 7 de novembro de 1954, Sua Santidade Pio
XII beatificava Maria Assunta Palotta, Franciscana
Missionária de Maria, falecida era 1905, aos 27
anos de idade.
nEm 1913, o Santo Papa Pio X, dizia à Supe­
riora Geral desta Congregação: 1Quanto a mira, eu
creio na santidade que resulta unicamente da prSp Secção II
tica da virtude e_ da observância da Regra. A san­
tidade é uma via espinhosa, mas simples. E preciso
introduzir a Causa e o mais cedo possível*.
n0 Papa Santo, que entendia de santidade, não
se enganava.
"Um outro exemplo. Para fazer andar a Causa
Já em vida, pela
de beatificação da pequena Bernadette Soubirous, o
bispo de Nevers escrevia à Superiora Geral das Ir­
sua eminente virtude,
mãs da Caridade de Nevers: *Não é necessário que
haja fatos extraordinários: é a prática da virtude os santos atraem
que e preciso por/à luz1/ E a Igreja honra santa
Bernadette Soubirous. as manifestações de
"Eis como devemos considerar a vida dos san-
tos. A_ santidade que a_ Igreja reconhece em um Ser­
vo ou em uma Serva de Deus. consiste na prática
veneração e respeito
heróica das virtudes cristãs". (Chanoine J. L.
BEâÜMIER, Marie Guyartde IPÍncarnatlon, Editions dos fiéis, mas
du Bien Public, Irois-Rivières, 1959, P- 13 / Im-
prlmatur: Georgius Leo Pelletier, Episcopus Tri-
fluvianen, 30-^-1959)*
freqüentemente
109. Não percebemos nele
as repelem
coisas extraordinárias,
mas o considerávamos Santo

Do Pe. João Batista Reus (1868-19^7), Jesuíta


falecido em odor de santidade, comenta uma biogra­
fia:
"Estou certo de que, se tivéssemos ocasião de
inquirir muitos dos antigos alunos do Pe. Reus,
numero ponderável nos haveria de dizer: 'Conslde-
ràmo-lo como santo e^ todos o_ diziam; mas coisas
extraordinárias não percebemos '". (Pe. LEO KOHLER
Sl, Biografia completa P. João Baptlsta Reus, SJ,
Livraria Selbáck & Cia.,“Torto Alegre, 1950, voTu-
me II, p. l8lJ / Imprimatur: Mons. André Pedro
Frank, Vig. Ger., 26-^4-1950).
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110. Todos o proclamavam "Santo"


e procuravam tocar-lhe
“como a um segundo Cristo

Conta uma biografia de Santo Antão do Deserto


(250-355), o fundador dos primeiros conventos e
Pai do monaquismo:
"Ora, de um dia para o outro, vê-se (Antão)
atirado para a vida pública, vê-se saudado como
mestre por uma multidão de todas as idades que
procura dar-lhe e^ receber o_ ósculo da paz, tocar-
-lhe como a uru segundo Cristo, cortar-lhe em se­
gredo um pedaço da túnica, que lhe pede conselhos
de ordem ascética, que o interroga sobre a inter­
pretação de um texto de Paulo, que lhe apresenta
doentes para consolar ou curar. Meia dúzia de pe­
dras que rolam, uma entrada que se franqueia, uma
soleira em que se penetra, e é o triunfo. Todas as
vozes q_ proclamam santo. ' Bem-aventurados os selos
que te amamentaram, feliz o_ homem que te gerou,
feliz a casa em que soltaste o_ teu primeiro vagi­
do 1? dizem à sua volta. 'Mestre, aqui está o meu
filho, toca-o com as tuas mãos, porque tem erisi­
pela... Qual é para ti, Mestre, a virtude por ex­
celência?... Parte comigo este pão, Mestre, apesar
de eu ser indigno... Mestre, olha-me... Mestre,
Mestre!...' Chegam constantemente pessoas do vale.
E a multidão ruidosamente alegre reconhece em An­
tão o seu chefe e guia...". (HENRI QUEFFÉLEC, San-
to Antão do Deserto, Editorial Aster, Lisboa, pp.
TT
116. 117.
Secção II Secção II

111. "...£ evidente que o tinham 113. São Francisco de Assis considerava
já em vida por Santo" Frei Rufino "canonizado" e'm vida por Cristo

Da Introdução à vida de São Bento (480-547), Da vida de São Francisco (1181-1226), escrita
Patriarca do monaquismo Ocidental, escrita por São por Tomás de Celano, contemporâneo do Santo de As­
Gregórlo Magno: sis :
"Se nos restringirmos aos Diálogos, a Vida de "Pelo que, Francisco dizia dele: que Frei
São Bento é uma cadela de milagres desde o princí­ Rufino estava nesta vida canonizado por Cristo; e
pio até o fim. Que fé temos que dar ao historiador que, fora da presença dele, ele não duvidaria era
de tantas maravilhas? Tomemos em consideração que dizer São Rufino, embora ele ainda estivesse vivo
todos esses episódios emanam, no essencial, do na terra". (JOHANNES JOERGENSEN, São Francisco de
círculo dos primeiros discípulos do Santo. Estes Assis, Vozes, Petrópolis, 1957, p. 359 / Com apro-
estavam firmemente persuadidos de que seu venerá­
vação eclesiástica) •
vel Pai, poderoso em obras, tinha lido nas
consciências, tinha profetizado o futuro e tinha
exercido, por meio da oração e do sinal da Cruz, 114. Sao Caetano de Thiene, "verdadeiro
um poder divino sobre os elementos, sobre o demô­ servo de Deus, canonizado em vida pelo povo"
nio e até sobre a morte. E evidente que o tinham
por Santo já em vida. E naturalmente esta convic­ De São Caetano de Thiene (1480-1547), funda­
ção .resultava de fatos prodigiosos". (Rev. Pe. dor dos Teatinos, conta uma biografia:
BRUNO AVILA OSB, Introducclón a SAN GREGORIO MAG­
NO, Vida de San Benlto, Editorial San Benito, Bue­
"0 altíssimo grau de elevação alcançado como
nos Aires, 3a. ed., 1956, p. 15 / Imprlmatur: Ra- se viu até agora por São Caetano de Thiene, refle-
món Novoa, Pro-Vicario General, 14-5-1956)• te-se exteriormente no unânime consenso de vozes
de quantos o_ conheceram e_ o_ consideraram, ainda era
112. Como não lhe podiam dar ainda sua vida, um santo.
o nome de Santo, chamaram-lhe o "Venerável" "Eis alguns traços desta sua canonização —
digamos assim — pela voz do povo, a qual deve ter
Do conhecido Missal Quotidiano e Vesperal de começado há muito tempo, pois seu Processo recorda
Dom Gaspar Lefèbvre na festa de Sao Beda, o Vene- que, desde o seu período universitário (1501-1504)
rável (27 de maio): 'foi exemplar ao ponto de, Já então, ser chamado
"Nascido em Yarrow na Inglaterra, (São Beda) ' santo1 por todos! • Neo-sacerdote, em Roma, Barto-
foi confiado desde a infância a S. Bento Biscopo, lomeo Stella — que não o havia encontrado ainda
Abade beneditino de Wearmouth, vindo mais tarde a pessoalmente, mas se baseia no Juízo do confessor
vestir o hábito e a ser 'o mais observante e o de Caetano, o agostiniano Frei Gabriel — em data
mais feliz dos monges1. Como se lhe não podia dar de 2 de março de 1517, chama-o 1 verdadeiro Servo
ainda o^ nome de Santo, chamaram-lhe o_ ' Venerável * , de Deus 1......
título que não perdeu depois da morte. Deixou
"Para o período napolitano (da vida de São
grandes comentários à Sagrada Escritura, de que a Caetano), tem grande significado a terna veneração
S. Igreja se serve com frequência para lições do
que teve por Thiene um seu' convertido, o ex-val-
Breviário. Emulo de Cassiodoro e de S. Isidoro de
dense Messer Raniero Gualano. Santo André Avelll-
Sevilha, foi do3 sábios mais eminentes do seu tem­
no, na sua carta ao Padre Santomango, nos refere o
po. Leão XIII declarou-o Doutor da Igreja. Morreu testemunho deste glorificador de São Caetano de
a 25 de maio de 735” • (Dom GASPAR LEFEBVRE, Missal Thiene: 'Mas o Senhor Rainiero Gualandi, familiar
Quotidiano e Vesperal, Desclée de Brouwer & Cie.,
do referido Padre (São Caetano), dizia grandes
Bruges, 1960, pp. 1329-1330 / Imprlmatur: M. De
Keyzer, vic. gen., 15-2-1960). coisas da sua prudência, devoção e santa vida, de
118. 119.
Secção II
Secção II
tal modo que o_ dito Senhor tinha o_ referido Padre

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por fsanto/ e_ fazia a oração de Santo Confessor1”.

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(PIERO CHIMINELLI, San Gaetano Thlene, Soc. An.

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Tipográfica Pra Cattolici Vicentini Editrice, VI-
cenza, 1948, pp. 936, 937 e 938 / Imprlmatur: 117. "Se soubessem o tesouro que têm
Franciscus Snichelatto, Vic. gen.).
em Catarina, andariam
osculando o chao onde põe os pés”
115* São Francisco Xavier:
Da extraordinária virtude de Catarina de San­
"0 Padre Inácio é um grande santo"
to Alberto, disse um dia São João da Cruz às Car­
Conta o conhecido historiador Jesuíta Padre melitas de Beas:
Ribadeneyra, contemporâneo e discípulo de Santo "Se soubésseis, filhas, o_ tesouro que têm em
Inácio de Loyola (1^91—1556), numa vida do Santo: Catarina de Santo Alberto, andariam osculando ~ã
".... o Padre Francisco Xavier, varão verda­ terra onde poe os pés. Não poderia crer, se não
deiramente apostólico e enviado por Deus ao mundo tivesse tratado cora ela, que em tempos tão calami­
para iluminar as trevas de tantos infiéis cegos, tosos como os presentes, houvesse uma alma que tão
com a luz esclarecida do Evangelho, e tão conheci­ verdadeiramente servisse a Deus, e vivesse tão
do e estimado pelas obras maravilhosas e pelos mi­ unida a Ele". (CRIS0G0N0 DE JESUS OCD, Vida* de
lagres que Nosso Senhor operou por meio dele- Di­ San Juan de la Cruz, in Vida y_ Obras de San Juan
zia pois aquele Japonês chamado Bernardo, ao qual de la Cruz, Motas de Matias dei" Nino Têsus OCÍ),
já nos referimos, qué: g_ Padre Francisco falando de BXC, Madrid, 5a. ed •, 1964, p. 1feO / Imprlmatur:
nosso Pai, costumava dizer: * Irmão Bernardo, o Pa­ José Maria, 0b. Âux. y Vic. Gen., 11-5-1964).
dre Inácio é um grande santo *; e como tal ele mes­
mo o reverenciava”. (PEDRO DE RIBADENEYRA, Vida
dei Blenaventurado Padre San Ignaclo de Loyola, in
Historias de la ContrarreTõrma7 BAC, Madrid, T§^5, 118. São Roberto Belarmino: deve-se
pT 313 / Imprima tu r: Cás insiro, Obispo Âux. y Vic. crer que a Providência"mantem
Gen., 3I-3-19IÍ5K na Tgreja Santos confirmados em graça

Da vida de São Luís Gonzaga (1568-1591), es­


116. ”03 ossos daquele corpinho crita pelo Padre Cepari, da Companhia de Jesus e
hão de fazer milagres” contemporâneo do Santo:

Conta uma vida de São João da Cruz "() Cardeal Bellarmlno, discorrendo um dia
(15^2-1591): sobre as insignes virtudes de S_. Luís, sendo este
ainda vivo, e, em presença de muitos, entre os
”Alguns meses mais tarde, em 1580, indo (San­ quais estava eu, dizendo com razões bera fundadas,
ta Teresa de Jesus) para a fundação de Villanueva que se deve provavelmente crer que a_Divina Provi­
de la Jara, se detém com suas freiras no convento
dencia sempre mantem na Igreja militante alguns
dos Descalços de La Roda. Recai a conversa sobre
santos que 3ão em vida confirmados na graça,
Frei João da Cru**. Os Religiosos ponderam sua vir­
acrescentou estas formais palavras: TEu por mim
tude e mostram à Madre Fundadora alguns papéis es­ tenho como certo, que um desses confirmados na
critos por ele sobre coisas espirituais. madre graça e_ o_ nosso Luís de Gonzaga, porque sei o que
Teresa comenta regozijada e_ em tom profético: *03 se passa naquela alma'". (Pe. VIRGÍLIO CEPARI SJ,
.
M

ossoá daquele corpinho hão de fazer milagres1”. Vida de S. Luís Gonzaga, da Companhia de Jesus,
___ __ —

(CRIS0G0N0 DE JESUS 0CDT~Tlda de San Juan de la üfflcina PõTigrafica Editrice, Roma, T91Ü7 p. 37 /
Cruz, in Vida £ Obras de San Juan de la Cruz, BAC,
Com aprovação eclesiástica).
__ ..
..
120. 121.
Secção II ão II
Secção
119- Papa Nlcolau V: ”Não é gres para testemunhar sua santidade, como o refe­
menos digno de canonização Antonlno rido exemplo da aparição do Menino Jesus a ele du­
vivo, que Bernardlno morto" rante a santa Missa. Durante esta época, os unia-
tas (católicos de rito oriental unidos a Roma)
Lê-se na mesma vida de São Luís Gonzaga, pelo consideravam o_ Já então Abade Josafá como um pilar
Padre Cepari: da verdade para resistir aos ataques dos cismáti­
"Iam por devoção diversos Padres vê-lo e^ ser­ cos eí_ protestantes nesse gênero de guerra espiri­
vi-lo (a São Luís Gonzaga), entre os quais foram tual" . (Rev. ALBAN BUTLER, The Lives of the
os mais assíduos o Padre Márcio Fuccioli, Procura­ Fathers, Martyrs and other principal SãintsT
dor geral, e o Padre Jeronymo Piattl, que morreu ChristTan classics,_Westminster, vol. I, p. 425).
dois meses depois dele. Este, ao sair uma vez da
câmara de S. Luís, prorrompeu nestas palavras, en­
dereçadas ao Padre Martinho Martini, que o acompa­ 121. Vinham pedir uma oração a Verónica
nhava: 'Eu vos digo que Luís é_ ura Santo, Santo com com tanta fé como teriam para com
toda certeza, tao santo, que se poderia canonizar üm dos Santos mais ilustres da Igreja
ainda vivo1. Aludia as palavras do Papa Nlcolau V,
que na canonização de S. Bernardlno de Sena De uma biografia de Santa Verônica Giuliani
(1380-1444) disse de Santo Antonlno, Arcebispo de (1660-1727):
Florença (1390-145977 que estava vivo e presente: "Ao mesmo tempo que se estabeleciam as bases
'Creio que não é menos digno de canonlzaçao Anto­ do processo de canonização, _a_ devoção a_ Santa Ve-
nlno vivo, que bernardlno morto1 (Pe. VIRGÍLIO rônica crescia todos os dias com a fama de sua
CEPARI SJ, vida de S. Luiz Gonzaga, da Companhia santidade"! Dissemos que essa nomeada tinha, Já em
de Jesus, Officlna Poligraflca Edltrlce, Roma, sua vida, atravessado as grades do mosteiro da3
T$i0, p. 342 / Com aprovação eclesiástica).
Capuchlnhas. Há multoque se vinha pedir uma ora­
ção de Verônica com a. mesma fé que se teria para
com ura dos santos mais ilustres da Igreja. 0 Grão-
120. Ele Já era olhado LDuque da Toscana, Õosme III, recomendava-se à
como um "santo vivo"•.. Santa, cada vez que tinha que realizar uma coisa
importante, e lhe enviava frequentemente esmolas.
Da historia de São Josafá Kuncevlcz, Arcebis­ A nora de Cosme III, Violante da Baviera, obteve
po de Polotsk, martirizado pelos cismáticos por mesmo do Papa a permissão de entrar no convento
sua fidelidade a Roma (1580-1623): para poder contemplar, com seus próprios olhos, os
"Como monge da Ordem de São Basíllo, o Irmão gloriosos estigmas de Verônica. Quantos grandes
João ou Josafá, como passou a chamar-se, tornou- personagens teriam querido obter o mesmo favor que
-se, _a exemplo de Santo Afonso Rodrigues, uma es­ lhes foi sempre negado. 0 renome da Santa tinha
pécie de oráculo de Instrução sagrada de sábios penetrado até na Alemanha, e o Imperador Carlos II
conselhos. 0 povo afluía para consultá-lo, embora fez-se recomendar a ela, cora toda a família".

I
ainda não fosse padre, e seu conselho trazia Inva­ (Ctesse. M. DE VTLLERMONT, Salnte Véronlque Glu-
V
w
,
riavelmente a solução correta da dúvida ou difi­ llanl, Librairie Générale Catholique — Malson
.
culdade. No seminário Jesuíta da cidade fundado Saint-Roch, Parls-Couvin, Belgique, 1910, p. 486 /
pelo Príncipe Jorge Radziwill, Cardeal-bispo de Imprimatur: J. M. Miest, vic. gen., Namurci,
Cracóvia, havia então ura erudito clérigo, Padre
^
1-3-1910).
\

Fabrício, com quem o irmão Josafá estudou para o


sacerdócio, tendo sido ordenado em 1609* Entre
122. Nos poucos meses que viveu em Roma,
aquele período e 1617, o bom padre exerceu a fun­
ção de Superior em várias casas da Ordem. Ele Já chamaram-na comumente a, "Santa"
era olhado como um 1 santo vivo1 e narram-se mila- Da famosa Enciclopédia Universal ESPASA:
122. Secção II Secção II 123-

"FILIPPINI (Santa Lúcia). Fundadora do Insti­ lelro de Deus, Editora Vozes, Petrópolis, 1962, p.
tuto de Mestras Pias (Filipinas). Nascida em Mon- 94 / Imprlmatur: P. José Rlbolla CSSR, Superior
tefiascone (Itália) no dia 13 de Janeiro de 1672. Provincial, Sao Paulo).
.... Lucia foi chamada à Cidade Eterna por Clemen­
te XI, e_ foi tanta a_ fama de santidade que deixou 125- Pessoas notáveis por suas posições e por
nos poucos meses que viveu na capital dos Papas, suas virtudes diziam que ela era uma santa
que era chamada comumente 'a_ Santa*”. (Enciclopé­
dia Universal Ilustrada Espasa-Calpe, Suplemento Da biografia da Beata Anna Maria Taigi
anual'^193i4, Secclón Hagiografia — Flllpplnl, San­ (1769-1837), por Mons. Cario Salottl, então sub-
ta Lucia, p. 739). -promotor geral da fé, mais tarde Cardeal e Pre­
feito da S. Congregação dos Ritos:
123. ”Els aí ura santo, ura homem
de quem se escreverá a vida!” K 0z a v a
ie
po s i Ç Ô e s
De uma biografia de São Luís Maria Grlgnion :ini > B a r —
de Montfort (1673-1716), o grande Apóstolo da es­ h, aDr e
cravidão marial: pre 1 a d 0 s >
como Mons. Piervisani, Mons. Ercolani, Mons. Ba-
”Entre os mais solícitos Junto ao homem de sillci, Mons. Guerrieri, Mons. Paolo Mastai, que
Deus (São Luís Maria Grignion de Montfort) distin- haviam experimentado suas luzes, a veneravam una-
guia-se o curador dá' Regra da comunidade, Jacques nimemente. Beatos, Veneráveis e Servos de Deus,
le Vallois. Ele estava líteralmente conquistado. que morreram em odor de santidade como (São) Gas­
'Eis ura santo — dizia, falando do Padre Montfort par da Búfalo; o Venerável Strambl (São Vicente
— ei3 HHL Lomem do qual se escreverá a vida, como Marla~TTtrambl); o_ Venerável Bartolomeu Menochlo; o
a do padre Le Nobletz, que nos lemos presentemente Venerável Bernardo Maria Clausl^; o_ Venerável Pal-
no refeitório1. A este entusiasmo, ele Juntava uma lotl (Slo Vlcente~~Pallotl); a Venerável Elizabeth
rara piedade. 0 Padre Montfort dava-se conta dis­ Canorl-Mora; Frei Félix de Montefiascone; Frei Pe-
so”. (LOUIS LE CROM Monf., Salnt Louls-Marle Grig­ trônio de Bolonha, diziam ser ela santa, pois as­
nion de Montfort, Librairie Mariale, Pont-Château, sim a consideravam; as damas de corte da Duquesa
W, p” 307 / Imprlmatur: Eduardus, Eplscopus de Lucca e tantos personagens da nobrezat como os
Pictaviensis, 29-9-19^2)• Patrizi, os Bandini, os Caetani, e uma grande
quantidade de sacerdotes e_ leigos, admirados de
sua santidade, a enalteciam e_ divulgavam em todas
12^4 • Papa Clemente XIII: ”Após as ocasiões. Pois bem, a nossa Santa diante de
a morte de Mons. Llgórlo tanta exaltação, permaneceu sempre humilde e con­
teremos na Igreja mais ura Santo” fusa; Jamais aconteceu que a estima, da qual era
cercada, excitasse seu amor próprio e lhe fosse
Sobre Santo Afonso de Ligório (1696—1787)* estímulo de vanglória ou de ostentação. Crescida
conta uma biografia sua: aos pés da Cruz, quanto mais era estimada e exal­
tada, tanto mais repelia as manifestações de esti­
”Clemente XIII não pôde dissimular a admira­ ma publica e se humilhava no seu nada”. (Mons.
ção que lhe causaram a ciência e as virtudes do CARLO SALOTTI, La Beata Anna Maria Taigi, Madre dl
novo bispo e, depois que este se.despediu, disse Famlglla, Scuola Tipográfica Italo-Orientale ”S.
aos cardeais que o rodeavam: Nilo” , Grottaferrata, 1922, p. 358 / Imprlmatur:
” — Haveis de ver que, apôs <a morte de Monse­ Fr. Albertus Lepidi OP, S.P.Ap. Magister, Imprlma-
nhor Llgórlo, teremos na Igreja mais um santo” . tur: Can. Sylvius de Angelis Vic. Gen. Dloec. Tus-
(Pe. JOSÉ MONTES CSSR, Afonso de Llgórlo o Cava- culanae) .
124 .
Secção
Secção II 125.

126. Servido à mesa por Bispos;


aclamado como "Santo11 pelo clero e pelo povo

De uma biografia de São José Benedito Cotto-


lengo (1786-1842):
"Santo o_ reputavam (a. São José Benedito Cot­
tolengo) muitasfamílias de todas as classes so­
ciais, as quais lhe pediam dignar-se abençoar-lhes
Õ3 enfermos e o interrogavam sobre o futuro de
seus caros, certos de que Deus o iluminava fre­
quentemente com o conhecimento do futuro.
"E o primeiro a estimar Cottolengo era o ar-
cebispo, mons. Fransoni, que lhe demonstrava a
mais subicTã confiança e dele falava como de um
santo.....
"Semelhante estima professsava para com Cot­
tolengo Mons. Massi, bispo de Gúbbio e núncio
apostólico na Casa Real de Sardenha, o qual, indo
uma vez à Pequena Casa, o tratou com os sinais da
mais alta e profunda reverência.
"Todo o clero fazia coro ao mesmo sentimento
de admlração e_ veneração para com a_ pessoa de Cot­
tolengo , ja indo conferenciar com ele na Pequena
Casa, já acolhendo-o, quando os procurava na cida­
de e província, já também nos atestados às Irmãs
enviadas às diversas casas, a serviço dos pobres.
"E os primeiros entre esses eram os bispos,
alguns dos quais, como mons. D* Angennes, arcebispo
de Vercelli, e_ mons . Bruno de Tournefort, bispo de
Fossano, .0 serviam quase como copeiros à mesa e
faziam questão de o terem como hospede nos seus
palácios .
"Os cônegos e os párocos de Turim e muitos
das dioceses do Piemonte o declaravam sacerdote
intemerato, chamando-lhe freqüentemente um S_. Vi­
cente de Paulo redivivo, ou o_ novo S_. Filipe Néri
Bem-aventurada de^ Turim" . (Mons. AQUILES GORRINO, São Jose Bene­
dito Cottolengo, Vozes, Petrópolis, 2a. ed., 1952,
Anna Maria Taigi pp. 352-353 /Com aprovação eclesiástica).

127. Cardeal Luçon: "Se houve homem canonizado


pela voz do povo, este e o nosso Cura"

Escreve o conhecido hagiógrafo Cônego Trochu


na sua vida de São João Vianney (1786-1859):

!
I
126.
Secção II Secção II 127.
11A multidão anônima, _a grande testemunha cuja
voz , como se diz, é a voz de Deus, não se enganou ( i815—1888) : ” 1 São as mesmas cenas de Ars, e_ me
no seu juízo sobre o Cura d rKv3. * Onde está o_ San­ parecia estar ainda lá1. Como São João Batista
to? ' perguntavam os recem-chegados. Vianney, São João Bosco foi canonizado ainda em
0 Santo! Eis ò Santo que passa!1 bradavam vida pela oplnlao publica. Em ura século tao cheio
nas fileiras de forasteiros quando aparecia o hu­ de vãos rebuscamentos e de odiosas revoltas, por
milde sacerdote. E, dlrigindo-se aos paroquianos duas vezes, em favor de dois padres encarregados
depois de verem como o aclamavam desta maneira, de missões tão diferentes, mas iguais em caridade,
alguns diziam: !Não temos necessidade de outra ma­ Deus permitiu o espetáculo de multidões orantes e
ravilha para crer que o vosso Cura é um santo1 (P. pacientes, mares de povo centralizando seu fluxo
Toccanler, Processo apostólico ne pereant, p. insistente sobre um só ponto, onde Cristo parecia
325)- Na verdade, segundo palavras de Mons~ Luçon, mostrar-se a eles novamente, na transparência de
antigo bispo de Belley, depois cardeal-arcebispo um Santo aniquilado nEle. A Idade Média não guar­
de Reims: T se jamais houve um homem canonizado pe- dou tudo para si”. (PIERRE CRAS, La Fidèle Histoi-
lã voz do povo, este e c> nossoDura. A sentença da re de Saint Jean Bosco, Editlons Spes, Paris,
Igreja nada mais fará que confirmar o_ juízo do po­ T5Í4Ó7~" PP* 299-300 / Imprimatur: Lud. Audibert,
vo 1 fCarta pastoral de 23 de outubro de 1905)’11. vic. gen., 17-6-1936).
(Cônego FRANCIS TROCHÜ, 0 Cura d'Ars, Vozes,’ Pe-
trópolis, 2a. ed., 1960, p. 371 / Imprlmatur: Luís
Filipe de Nadai, Bispo de Uruguaiana, 29-6-19590 . 130. ”Quantas vezes la à capela
agradecer por ser aluno de um santo...”

Pí° "O Arcebispo Claret é um santo! ” Escreve um seminarista aluno do Pe. Reus
(1868-19^7), jesuíta que morreu no Rio Grande do
De um livro de escritos de Santo António Ma­ Sul, em odor de santidade:
ria Claret (1807-1870), fundador dos Missionários ”0 que nos penetrava o coração nas instruções
do Coração Imaculado de Maria: religiosas eram as suas palavras cheias de unção,
palavras que traíam íntima familiaridade com as
”Quando estava próxima a data de iniciar o coisas de Deus. Quantas vezes, depois da aula, eu
Concílio Vaticano, Pio IX, conversando com o deca­ ia Jl capela* para agradecer _a graça de ser aluno
no da Rota, Mons. Marcial Ávila, disse-lhe confi­ dum santo. .. ÂTMã~e 3e Deus e o Sagrado Coração de
dencialmente: fAgora virão os Bispos de tua nação. Jesus eram seus temas favoritos”. (Pe. CÂNDIDO
Que Bispos, sobretudo Claret 1 ... uim Santo! Não o SANTINI SJ, 0 servo de Deus P. João Baptlsta Reus,
poderemos canonizar, mas Haverá quem o faça mais SJ, Editora MetrópõTe7 Forto Alegre, 6a. ed.,
tarde 1J T9Bl, p. 28 / Com aprovação eclesiástica e dos su­
”0 Arcebispo Claret passou para a História periores ).
como o Santo do Concílio Vaticano”. (San ANTONIO
MARIA CLARET, Escritos autobiográficos y esplrl-
tuales, BAC, Madrid, 1959, pp. 465-466 / Imprlma- 131. ”Asslm recolhido e mortificado
tur: Blasius Budelacci, Ep. Nissen. Tusculi, só podia rezar um santo”
9-2-1959).
Depoimento de D. Frei Henrique Golland Trin­
dade, falecido Arcebispo de Botucatu (SP), sobre o
129. São João Bosco foi ^canonizado” ainda Padre Reus:
em vida pela oplnlão~públlca
”Do padre Reus guardávamos uma recordação
De uma biografia de São João Bosco inapagável, desde o nosso tempo de ginasiano do
'Anchieta', quando o vimos a rezar o seu breviário
128. Secção II

na capelinha de Nossa Senhora; pensávamos que as­


sim , recolhido e_ mortificado, so poderia rezar um
santo. Conhecemo-lo depois, e nossa opinião nunca
se alterou". (Pe. LEO KOHLER SJ, Biografia comple-
ta João Baptlsta Reus, SJ, Livraria Selback &
ÜTa., Porto Alegre, 195tf> Volume II, p. 368 / Im-

UM
hm
primatur: Mons. André Pedro Frank, Vig. Ger.,
26-4-1950). â ssls ás gceaessi s§q£q§

âiEii a§ gesaoag, gue


132. Santa Tereslnha a seu Pai:
"Impossível ver alguém mal3 santo byaçii §çeç秣-a§ deles,
que tu sobre a terra"
S9Q¥SE§§S S23 §lea,
De uma carta de Santa Tereslnha do Menino Je­
sus (1873-1897) a seu Pal, o Sr. Martin: BiESISiSiE Jygís § sleg,
"Quando eu penso em ti, meu Paizinho, penso SSUBiS 3 iUilE S9᧠§§£lXS£S3,
naturalmente no bom Deus, pois me parece impossí­
vel ver alguém mais santo que tu sobre a terra. Sá SliBlS§3SS£S SgSÊê3Blkl28iii
Sim, es certamente tão santo quanto o proprio São
LüTs, • e êu tenho a necessidade de te repetir que
te amo como se tu não soubesses disso ainda. Oh!
quanto sou ufana de ser a tua Rainha... E eu espe­ 133. "Quão eficazes são a visita, a saudação,
ro bem merecer sempre esse título. Jesus, o Rei do as conversas e as oraçoes dos s^antos"
Céu, tomando-me para Si, não rae arrebatou a meu
5an10 Rei da terra. De uma compilação da obra de Cornélio a Lápi­
de, famoso exegeta jesuíta do século XVII:
"Oh, não! sempre, se meu Paizinho querido o
quiser, e não me considerar indigna disso, eu se­
rei *a Rainha do Papai*! Sim, eu permanecerei sem­ "Vantagens de tratar frequentemente com os
Santos e^ de estar na companhia deles~ü -- Serit5
pre tua *rainhazinha', e eu' prpcurarei te dar glô-
santo com os~Santos, diz o Salmista, e inocente
ria tornando-me uma grande .santa". "TRev. Pe.
5TEPHANE-JÓSEPH PTÃ/F OFM, Histoire d*une Famille, com os inocentes: Cum sancto sanetu3 erls, et cum
vlru innocente lnnocens erls (XXVII, 26).
Office Central de Lisieux, 4a. ed., pp. 304-3tf5~/
Imprimatur: François-Marie, Evêque de Bayeux, "A Bem-aventurada e Imaculada Virgem Maria,
■5*)-^ ^ ^ 1 li 7" V"
Mãe de Deus, por obra do Espírito Santo, foi visi­
tar sua prima Santa Isabel, que trazia São João
Batista em seu seio, e entrando em casa de Zaca­
rias, saudou a Isabel. Quando Isabel ouviu a sau­
dação de Maria, sucedeu, diz o Evangelho, que seu
filho saltou de alegria em seu ventre, e Isabel
ficou cheia do Espírito Santo: jst ractum est ut
audlvlt salutatlonem Marlae Ellsabeth, exultavlt
Infans in útero ejus, et repleta est Splrltu
Sancto Elísabeth (Lc. I, 41). Aprendei com este
fato quao eficazes são a_ visita, a_ saudação, as
conversas e as^ oraçoes dos Santos ♦
130. Secção II 131.
Secção II
"Estando as almas Justas cheias de caridade e "Esta manifestação do divino que se traia em
abrasadas de amor, ao falar com elas e_ vê-las com todos os gestos £ ate no repouso do Homem-Deus,
freqüencla, nosso coração se abrasa e_ se Inclina nos a vislumbramos em certas almas dotadas de vida
Imediatamente ao amor de Deus~ São Serafins, e a irTteFlor mais intensa. As conversões maravilhosas
sociedade dos Serafins nos•transforma em Anjos operavam certos santos só com a fama de suas
(Lib. XXI Moral., c. XV). virtudes, as plêiades de aspirantes à vida perfei­
ta que Iam pedir-lhes a graça de seguí-los, aí es­
"0 autor da Imitação de Jesus Cristo, diz:
todas as vezes que estive entre os homens do mun­ tão clamando bem alto qual o segredo do seu silen­
do, voltei menos homem: Quotles lnter hómlnes- fui, cioso apostolado. Cora santo Antão, assim se povoa­
minor homo redil. 0 contrário pode e deve dizer-se vam os desertos do Oriente. S. Bento fez surgir
do convívio e trato com os Santos". (Abate BAR- essa inumerável falange de santos religiosos que
BIER, Tesoros de Cornello A Lápide, Libreria Cató­ civilizaram a Europa. S. Bernardo exerce influên­
lica de Gregorio Del Amo, Madrid, 3a. Ed., 1909, cia sem par, assim na Igreja como sobre os reis e
Tomo Cuarto, pp. 424-425). sobre os povos. S. Vicente Perrer excita, à sua
passagem, entusiasmo indescritível em multidões
imensas e, o que é mais, provoca a conversão de­
13*1. Deus manifesta-se por melo las. No encalço de santo Inácio, ergue-se esse
de seus santos £ das almas fervorosas exército de bravos, um dos quais, Xavier, por si
só basta para regenerar uma quantidade- incrível de
pagãos. Somente a irradiação do poder do próprio
Diz D. Chautard (1858-1935), o douto e piedo­
so Abade trapista,4 em seu célebre livro elogiado DeuSj através destes instrumentos humanos, pode
pelos Papas São Pio X e Bento XV: explicar a razão desses prodígios.
"Que desgraça, quando não há almas verdadei­
"0 fato de Deus ser oculto, Deus absconditus ramente Interiores entre as pessoas que estão à
(Is. 45, 15), é ura dos obstáculos mais graves para frente de obras importantes! 0.-sobrenatural parece
a conversão das almas. eclipsado, o poder de Deus fica como encadeado. E
"Deus, porém, por efeito de sua bondade, de então, como os santos nos ensinam, que um país
alguma sorte se manifesta por melo de seus santos, declina e que a Providência parece abandonar aos
e_ ate por melo de almas fervorosas. Assim é que o maus todo o poder de fazer estragos.
sobrenatural transpira aos olhos dos fiéis que "As almas, compenetremo-nos bem desta verda­
vislumbram alguma coisa do mistério de Deus. de , as almas, como que instlntlvamente, e_ sem lo-
"Que é, pois, esta difusão do sobrenatural? grarem claramente definir o que sentem, percebem
Não será o brilho da santidade, o esplendor do in­ essa lrradlaçao do sobrenatural**. (Dom J. B. CHAU-
fluxo divino chamado correntemente pela teologia TARD, A, Alma de todo Apostolado, Editora Coleção
P.T.D., São Paulo, pp. 116-117 / Relmprlmatur: Vi­
graça santificante? Ou melhor, não será talvez o
cente Zloni, B. Aux. - V. Geral, 2?-8-l~9ó2) .
resultado da presença inefável das pessoas divinas
naqueles que elas santificam?
"Outra não era a explicação de S. Basílio: 135* _A presença de Deus no apóstolo
quando o Espírito Santo, diz ele, se une às almas patentela-se as pessoas que o ouvem
que a sua graça purificou, é para espiritualizá-
-las ainda mais. Como o sol torna mais rutilante o Dom Chautard, Abade trapista de Sept-Fons
cristal que toca e penetra com o seu raio, assim o (França), que viveu alguns anos no Brasil:
Espírito 8antificador torna mais luminosas as al­
mas onde habita e estas, devido a tal presença, "Joannes quldem slgnum feclt nullum (João na
tornam-se, por sua vez, outros tantos focos que verdade não fez milagre algum — Jo., 10, 41). Sem
difundem em torno delas a graça santificante (De fazer nenhum milagre, João Batista atraía as mui-
Sp. Sancto, c. IX, n. 23).
132. Secção II Secção II 133.

tldões. Bem fraca era a voz de São Vianney para se trar cruzados. Bernardo, no auge do inverno com
fazer ouvida da multidão que em volta dele se api­ que terminava o ano de 1146, para lá acorreu. Ele
nhava e, sem embargo, se o não ouviam, vlam-no, se encontrou diante de multidões que não sabiam
viam uma custodia de Deus, e só essa vista subju- nem ji língua romana, nem a língua latina; ele fa­
gava e_ convertia os~~ãsslstenFesT Voltara de Ars um lou, apesar de tudo,, e quando o intérprete começa­
advogado. Como lhe perguntassem o que mais o tinha va £ traduzir, as multidõesj? haviam entendido,
impressionado, respondeu: TV1 Deus num homem*. dominadas simultaneamente pelo gesto de Bernardo e
"Lícito nos seja resumir tudo por melo de uma por seus milagres, pela ação oratória do monge e
pela ação sobrenatural de Deus". (GEORGES GOYAU,
comparação um tanto vulgar. E bem conhecida a se­ Saint Bernard, E. Flammarion, Editeur, 19*18, p.
guinte experiência de eletricidade: colocada sobre
um isolador, uma pessoa é posta em comunicação com 155).
uma máquina elétrica. Seu corpo carrega-se de
fluído e mal alguém dela se aproxima, logo se de­
flagra a faísca que faz estremecer aquele que se
põe em contacto com tal pessoa. Assim acontece pa­ 137. "Entrei no quarto de Bernardo,
ra o homem interior. Uma vez desapegado das cria­ como se me aproximasse do altar"
turas, entre Jesus e ele logo se estabelece uma
comoção incessante, uma como que corrente contí­ De uma biografia de São Bernardo:
nua. Tornando-se o apostolo um acumulador de vida
sobrenatural, condensa em si o fluído divino que "Guilherme de Saint-Thierry veio retribuir a
se diversifica e adapta ás circunstâncias e a to­ visita de Bernardo durante este retiro, e passar
das as exigências do meio em que opera. Virtus de alguns dias com ele, a fim de observar seu modo de
viver privado e costumeiro. Anotou em seu diário
illo exibat et sanabat omnes (Saía dele uma virtu­
de que os curava a todos - Lc. XI, 19)* As suas tudo quanto vira em Claraval; o quadro por ele
palavras e_ atos tornam-se então os eflúvios dessa descrito é tão simples, comovedor e edificante,
força, latente sim, mas sumamente eficaz para der­ que dele faremos aqui uma tradüção fiel, abrevian­
ribar os obstáculos, alcançar conversões e_aumen­ do-a porém um tanto por receio de diminuir-lhe o
tar o fervor. interesse:
"Quanto mais as virtudes teologais existirem ♦Foi por essa época que comecei a frequentar
num coração, tanto mais esses eflúvios hão de aju­ Claraval e a visitar o santo. .... quando coloquei
dar a fazer nascer essas mesmas virtudes nas al­ os pés neste real aposento, e_ considerei £ seu
mas . significado e_ quem nele se hospedava, dou fé dian­
te de Deus, que fui tomado de tanta reverência co­
mo se me aproximasse do santo altar. .... Eu nada
T
C>

pediria de tao seriamente quanto viver sempre com


o 3

este homem de Deus para servi-lo.....


Qi

rTal foi o estado em que encontrei o servo de


Deus e tal era o seu estilo de vida e a sua soli-r
dão; entretanto, não estava só: Deus estava cora
ele. E ele gozava da companhia e da consolação dos
136. Mesmo sem compreender suas palavras, santos anjos, como ficou evidente através de si-
a multidão se entusiasmava com Sao Bernardo qais manifestosf" • (M. L*Abbé RATISBONNE, The Life
and Times of St. Bernard, P.J. Kenedy, Excelsior
De uma biografia de São Bernardo (1090-1153): Catholic Publishing tíouse, New York, 1895, PP*
79-80 e 81).
"0 bispo de Constança dirigia seu apelo. Em
Brisgau, na Suíça alemã, podia-se, parece, encon­
134. Secção II Secção II 135.

138. Levantavam-se à mela-nolte fervor de espírito, que parecia estar de tal ma­
para tomar um lugar na praga neira abrasado pelo fogo da caridade, que lançava
onde ia pregar Saci Vicente Perrer umas como que chamas incandescentes nos corações
dos ouvintes; a tal ponto que, mesmo quando se ca-
Da vida de São Vicen(te Ferrer (1350-1-419): lava, parecia que seu semblante inflamava os pre­
sentes, ê que õ brilho de todo o seu rosto os
"Nos dias em que (São Vicente Perrer) pregou abrandava e derretia com o divino amor". (PEDRO
em Tolosa, não houve pregador que quisesse pregar, DE RIBADENEYRA, Vida dei Blenaventurado Padre San
a não ser um, do qual adiante falaremos, porque Ignacio ' de Lqyola, in Historias de la Contrarre-
todo mundo ia atrás de São Vicente; os próprios Torma, BAÜ7 Madrid, 1945, P« 166 7~~Imprlmatur: Ca-
pregadores e Mestres davam-se por satisfeitos de simiro, Obispo Aux. y Vic. Gen., 31-3-1945)•
terem ura lugar para ouví-lo. E diziam que, depois
dos Apóstolos, aquele era o_ maior pregador que
Deus havia enviado a sua Igreja, segundo criam. 1140. Durante sua vida, quarto de
Mas sendo tão grande o afluxo de pessoas que não São Francisco Xavier é venerado
se podiam acomodar bera no claustro do convento, o
Arcebispo pediu ao Santo que fosse morar cora ele De São Francisco Xavier, Apóstolo das índias,
era seu palácio e pregasse na praça de Santo Estê­ (1506-1552), conta a conhecida historiadora Dau-
vão, onde podia caber mais gente. Condescendeu o rignac:
Santo cora o Arcebispo, por ser de sua Ordem, e foi "Até então cedera a febre que minava a saúde
para o palácio; pregou quase todos os demais dias de Xavier, e uma carta do seu querido mestre Iná­
e cantou Missa na referida praça, à qual acudiam cio, chamando-o a Roma pelos fins da Quaresma’, o
as pessoas com tão grande devoção, que se levanta­ fez partir de Bolonha quase furtivamente para evi­
vam a_ mela noite com archotes, para conseguir lu­ tar a explosão de dor que ele esperava se decla­
gar; e cada ura trazia em que sentar-se. Porque, rasse em toda a cidade com a notícia da sua parti­
embora se diga comumente que se lhe ouvia de longe da. .
como de perto, e assim o era de ordinário, todos
entretanto queriam estar perto dele, para vê-lo 1— Jamais, disse o cüra de Santa Lúcia,
bem e olhar a seu gosto como oficiava as cerimo­ quando o Santo deixou o presbitério, jamais será
nias da Missa, e como curava os doentes que vinham ocupado por outra pessoa o_ quarto que foi habitado
ao palanque; e, finalmente, para poder beijar-lhe pelo santo Padre Francisco Xavier1.
as mãos, logo que acabava o serjnão e voltar para 1— Enquanto nós vivermos, ajuntava a sobri­
casa tendo-lhe tomado a bênção”. (Fray VICENTE nha, ninguém mais habitará esta câmara abençoada!
JUSTINIANO ANTIST, Vida de San Vicente Ferrer, in e^ nós, meu tio, Iremos sempre orar ali1". (J.M.S.
Biografia y Escritos de San Vicente Ferrer, BAC, DAURIGNAC, S_^ Francisco Xavier, Apóstolo das ín­
Madrid, 195o, p. 209 /Tmprlmatur: TTyacinthus, Ep. dias , Livraria Apostolado da~Tmprensa, Porto, 5a7
aux. y Vic. gen., Valentiae, 9-6-1956). ed., 1959, P« 80 / Pode lmprlmlr-se: Mons. Pereira
Lopes, Vig. ger., 20-5-195SJ'*

139* Mesmo quando se calava, o semblante de


Santo Inácio inflamava os presentes 141. Estando Santo Inácio vivo,
São Francisco de Borja oscula o chão
Comenta o Padre Ribadeneyra, na vida de Santo da~casa onde nasceu
Inácio de Lqyola (1491-1556):
Na sua vida de São Francisco de Borja
"Recordo-me de ter ouvido pregar então o nos­ (1510-1572), escreve o Padre Ribadeneyra:
so Bem-aventurado Pai com tanta força e com tanto "Chegando à Espanha, (S. Francisco de Borja)
foi diretamente àquela província, e a_ primeira
136. Secção II
Jifícção II 137.
coisa que fez foi entrar na casa de Loyola e per­
sé). (CRIS0G0N0 DE JESUS OCD, Vida de San Juan de
guntar pelo lugar no qual havia nascido o “Padre
-^rcácio; e_ beijando chao, começou a louvar ao Se- la Cruz, in Vida jr Obras de San Juan de la Cruz,
n^op com grande afeto pela graça dada ao mundo na- ííõtas de Matias dei Nino Jesus”OCD, BAC, Madrid,
quele local, onde veio à luz tão fiel servidor 5a. ed., 1964, p. 234 / Imprlmatur: José Maria,
seu; e a suplicar-lhe que, posto que ele o havia Ob. Aux. y Vic. Gen., 11-5-1964).
feito filho de tal pai e discípulo e soldado de
tão bom mestre e capitão, o transformasse num ver­
dadeiro imitador de suas virtudes". (PEDRO DE RI­ 144. Muitos saíam mais abrasados destas
BADENEYRA, Vida dei P. Francisco de Borja, in conversas, que da própria oração"
Historias de la Contrarreforma. BAC7~Madríd, 19$5,
P*6o7 / Tmprimatur: Casimiro. ObisDo Aux. v V1e. De um livro do Padre Cepari SJ, contemporâneo
Gen., 31-3-1945). de São Luis Gonzaga (1568-1591)> sobre a vida do
Santo:
"E primeiro foi (São Luís) mandado a Tívoli,
142. Sô de vê-lo, voltavam com onde poucos dias se deteve, mas foram o bastante
o espTríto abrasado para deixar na cidade geral conceito de santo;
£ brando para com Deus porque segundo o depoimento de várias testemunhas,
revelava de tal maneira no exterior a beleza de
Conta o Padre Ribadeneyra na vida de São sua alma, que so o por nele os olhos movia à_ devo­
Francisco de Borja (1510-1572):
ção » ....
"Era tal a compostura de seu rosto (de São "Antes do sinal para entrar na escola, costu­
Francisco de Borja), a devoção e o comedimento que mava (São Luís Gonzaga) ir à igreja visitar o San­
resplandeciam nele, que alguns Padres graves da tíssimo Sacramento, e o mesmo fazia ao tornar para
Companhia, quando se encontravam tíbios e sem de­ casa, tanto de manha, como à tarde. No caminho.re­
voção, iam onde estava esse Padre e, sem lhe fa- luzia nele singular modéstia é recolhimento; a
lar* mas apenas vendo-o, voltavam compungidos e ponto gue muitos estudantes de fora se punham no
com espirito abrasado e_ brando~para coro Deüs"7 pátio do Colégio para o ver passar, e ficavam mui­
(PEDRO DÉ RIBADENEYRA, Vida dei Padre Francisco de to edificados. Era particular, ura Padre estrangei­
Borja., in Historias de Ia Contrarreforma, BAC, Mã^ ro, que no colégio tinha completado o curso de
drid, 1945, p. 828 7~Imprimatur; Caslmiro. Obispo Teologia, atraído por sua modéstia, ia assistir às
Aux. y vic. gen. 31-3-1955). aulas só para vê-lo, e^ durante as lições não tira­
va os olhos dele. Não deve isto parecer maravilha,
porque, como testemunhou o Padre Provincial de Ve­
143* Enchia-se de fervor so de neza no processo feito pelo Patriarca da mesma ci­
ver e ouvir São~"João dã~Cruz dade, em S. Luís verificavam-se as palavras de
Santo Ambróslo sobre o verso do salmo: Qul tlment
Em uma vida de São João da Cruz (1542-1591), te, vldebunt me, et laetabuntur: os que te temem,
lê-se a seguinte declaração de uma freira carmeli­ o~ meu Deus, ver-me-ão caminhar pelos teus manda­
ta; mentos, e encher-se-ão de alegria. Diz o Santo:
"Coisa preciosa e_ ver o homem justo: porque o seu
"Somente cora fato de olh6-lo (a São João da aspecto à maior parte das pessoas serve de aviso
Cruz), ou ouvi—lo falar de Nosso Senhor, embora de emenda, e aos mais perfeitos causa alegria".
esta testemunha fosse muito tíbia e descuidada em Tais eram justamente os efeitos produzidos pela
servir a Deus, dava-lhe fervor para prosseguir vista do bendito jovem nas pessoas que o olhavam,
adiante no estado de religiosa que no tempo, dele de modo que também se verificava nele o que o mes­
recebeu" (Declaração da Irmã Agostinha de São Jo­ mo Santo acrescenta: *0. aspecto do homem justo cu­
ra, e os_ mesmos lampejos de seus olhos parecem in­
138. Secção II Secção II 139.

fundir uma certa vlrtude naqueles que com fideli­ 1H6. Passar uma recreação com São
dade o desejam ver1. Isto acontecia porque seu ex­ Luís Gonzaga inspirava mais
terior era tao bem composto, que movia à devoção e ardor para o bem do que a meditação da manhã
compunção quantos o viam. Ainda mais: fazia fica­
rem suspensos os que com ele tratavam; não só se­ Sobre São Luís Gonzaga, lê-se numa biografia
culares e jovens Religiosos, seus companheiros, de São João Berchmans, de quem o primeiro foi mo­
mas até Padres gravíssimos, que em sua presença delo na virtude:
pareciam recolher-se, e_ não eram capazes de fazer "Existe ainda, no colégio Romano, e na casa
ou dizer a menor leviandade à sua vista. .... Professa grande número de Padres, que conheceram o
"Nao é pois de admirar que à porfia o procu­ Bem-aventurado Luís e que viveram familiarmente
rassem na recreação, a fim de ouví-lo discorrer com ele; entre outros, o Revmo. P. Muzio Vitteles-
altamente de Deus, das coisas do Céu e da perfei­ chi, e o P- Cepari, que escreveu sua vida e apres­
ção; e sei por ditos de outros e por experiência sou sua beatificação. Um e_ outro confirmam que uma
própria, que muitos saíam mais abrasados destas recreação passada com o_ Bem-aventurado Luís,
conversas, que da própria oracao"! (Pe. VIRGÍLIO inspirava-lhes maior ardor para o Bem do que a_ me­
CEPARI SJ, Vida de S. Luiz Gonzaga, da Companhia ditação da manhã" . (Pe. L.J.M. CROSS SJ, Vida de
de Jesus, Officina Poligrafica Editrice, Roma, ST Joao Berchmans, Duprat & Comp., São Paulo,
T9l0, pp. 215, 226, 227 e 312 / Cora aprovação T912, pp. 220-221 / Com licença da autoridade
eclesiástica). eclesiástica).

145. Sò_ c5e ver São Luís Gonzaga 147- A_ grande atração dos exercícios piedosos
uma alma se abrasava de fervor era a própria pessoa de São Vicente de Paulo

De outra biografia de São Luís Gonzaga Da vida de São Vicente de^Paulo (158l-l660),
(1568-1591): por Mons. Louis Bougaud, Vigário geral de Orleans
e depois Bispo de Lavai:
"De resto, ela (a Princesa Maura Lucenia Far- "0_ grande atrativo desses exercícios era a
nèse, Abadessa de Santo Alexandre, em Parma) sem­
própria pessoa de São Vicente de Paulo. Desconhe­
pre o havia venerado (a São Luís Gonzaga), desde c cido ãté então, ele aparecia com um esplendor de
dia em que, em Mantua, ainda criança, ela ouvira a piedade, de humildade, de amor de Deus, de santa
Condessa de Martinenga, Laura Gonzaga, dizer-lhe, eloquência, que entusiasmava. As pessoas não se
mostrando-lhe o Jovem Luís, então com treze anos:
cansavam de vê-lo dizer diariamente a Santa Missa.
'Este menino, apesar de sua pouca idade, leva en­
Que fé ardente! que recolhimento! que união terna
tretanto uma vida muito santa?. E a jovem Princesa
não cessava de ter os olhos postos nele, sentindo- e profunda com a vítima adorável! que transfigura­
ção de seu rosto e de todo o seu ser depois da
-se, a_ sua vista, abrasada de fervor......
santa comunhão! Isso ^á valia por um sermão".
"Enfim, a Infanta Margarida da Áustria, irmã (Monselgneur BOUGAUD, Hlstolre de Sãlnt Vlncent de
do próprio Imperador, freira clarissa no Real Mos­ Paul, Librairie Vve. Chi PoussTêlgue, Paris, 4a.
teiro de Madrid, repetia ainda o que já havia dito ed., tome premier, p. 157).
ao Príncipe Francisco de Gonzaga, irmão do Bem-
-aventurado, que quando sua.mãe, a Imperatriz,
velo à Espanha, não somente Sua Majestade, mas to- 148. "Se^ alguém fala, que suas
da sua Corte olhava Luís como um pequeno santo" . palavras sejam como de Deus"
"(Te. CHARLES CLAIR SJ, La vle de Salnt Louls de
Gonzague, Librairie de Firmin-Didot et Cie., Pa- Da mesma vida de São Vicente de Paulo, por
rls, 1891, pp. 279-280). Monsenhor Bougaud:
1^0. Secção II Secção II m.
"Nós nos associamos, escrevia Bossuet, a esta
Companhia de piedosos eclesiásticos que se reuniam
semanalmente para tratar em conjunto das coisas de
Deus. Vicente (São Vicente de Paulo) era seu autor
e sua alma. Quando, ávidos, escutávamos sua pala­
vra, não havia sequer um que não sentisse aí a
realização da palavra do Apóstolo: ’Se alguém fa­
la, que sua palavra seja como de Deus'". (Monseig-
neur BOUGAUD, Hlsfolre de Salnt Vlncent de Paul,
Librairie Vve. Ch. Poussielgue, Paris, ía. ed.,
Tome Premier, p. 167).

1^9- A_ simples vista de São João Berchmans


excitava desejos eficazes de santificação

Da vida de São João Berchmans (1599-1621), da


autoria de um Sacerdote da Companhia-de Jesus, à
qual pertenceu o Santo:

"Dele (São João Berchmans) escreveu o padre


Frizno, que não era desses devotos selvagens, *que
imaginam que para o homem ser virtuoso, deve mos-
trar-se tristonho, fazendo assim, em vez de bene­
fício, grande mal à virtude, pelo modo áspero e
desagradável por que a praticam. No nosso santo
noviço, a devoção mostrava-se tão afável, amena,
fácil e graciosa, que só de_ olhar para e_le se
adorava a piedade e_ se ficava inclinado a_pratica^
—la • •«*

Todos o queriam como companheiro,


quando deviam sair

"Quando eu solicitava a permissão de levá-lo


(a São João Berchmans) comigo à cidade dizia-me o
Reitor: Ide com esse anjo de Deus. Nas ruas os
transeuntes voltavam-se, ou paravam para admirar a
sua modéstia. Aqueles dos nossos padres que melhor
o conheciam tinham-no na conta de grande, servo de
Deus; outros não podiam deixar de estimá-lo como a
um religioso completo; todos o desejavam e o pe­
diam para companheiro, quando deviam sair, e ale­
gravam-se vivamente de o ter obtido......
"Para multo3 só a_ vista de Berchmans excitava
desejos eficazes de santlf lcaçlTo, como eles mesmos
São João Berchmans. Pintura que se conserva no Convento
o confessaram...... das Beneditinas de Via di Tor de Specchi, em Roma,
142. Secção II 143*
Secção II

Se Deus tivesse enviado um an jo, tua conversatione castitatis amorem ingeneres in


esse anjo seria Berchmans allis)......

"Desse modo, João Berchmans realizou perfei­ "Eu tinha vergonha de mim mesmo,
tamente, na sua pessoa,‘ o tipo do jovem companhei­ quando o avistava"

Wl
ro de Jesus Cristo tal como S. Inácio o concebera;
e de boamente concordaremos com a seguinte conclu­ "Multas pessoas de fora, depois de vê-lo uma
são dum condiscípulo de Berchmans, Jeronymo Alber- vez, pediam para serem recomendadas às suas ora­
gotti: ’Se Deus tivesse mandado do céu ao colégio ções. Por toda a parte, encontram-se nos testemu­
Romano, um anjo para mostrar-lhe o verdadeiro mo­ nhos dos seus Irmãos, palavras como estas: *Eu tl-
delo do escolástico da Companhia de Jesus, esse nha vergonha de mim mesmo, quando o_ avistava; o
anjo ao meu parecer, não poderia ser outro senão seu aspecto acendia no meu coraçao o_ desejo da
João Berchmans1. .... perfeição; imediatamente via-me obrigado a ordenar
o meu exterior *.
Muitos vinham ao Colégio só para vê-lo "Anciãos e padres atestam o império que exer­
cia sobre eles a modéstia de Berchmans. 1 Sua pre-
"Depois de ter por largo tempo gozado do, es­ sença, diz o P. Bisdomini, tornava como que impos­
petáculo da modéstia do jovem religioso, o gentil- sível a_ menor imperfeição aos que se achavam na
-homem dirigindo-se ao P. Octavio Palconi: 'Meu sua companhia......
padre, disse mostrando Berchmans, aquele é eviden­
temente um anjo *. :Nas ruas, os transeuntes paravam "Experimentávamos a impressão d_o respeito
para contemplar Berchmans, muitos vinham ao colé­ que teria produzido a vista de" um anjo,.
gio unicamente para vê-lo quando passava para a ou a presença de um tabernáculo..."
aula......
"Francisco Surdio que veio a ser colega de "0 venerável religioso (Be. Bisdomini) pros­
segue: *0 Fe. Diego Sicco, então revisor de li­

.
Berchmans conta suas impressões do seguinte modo:

mp
'Antes de ir para as aulas, os filósofos, e os vros, depois bispo, dizia de Berchmans uma coisa

us&tr
teólogos do colégio Romano reunem-se e param numa que eu também posso afirmar. Não podíamos chegar-

r
galeria perto da porta da casa. Foi lá que eu vi -nos a ele sem sermos constrangidos a regularizar
pela primeira vez o irmão Berchmans. Fiquei tão o nosso exterior e elevar nossos corações para
maravilhado com a sua modesta circunspecção que Deus. Ao mesmo tempo experimentávamos a. impressão
desde então, nas freqüentes visitas que fazia ao do respeito que teria produzido a_ vista de um an-
P. Reitor, aguardava a hora da reunião, para ter o Jõ, ou a. presença de um tabernáculo"^ residência
ãTual e preferida cTi Deus. Enfim, ao respeito,
prazer de considerar aquele cuja vista tanto me
havia encantado1...... Juntava-se na alma um vivo sentimento de alegria
sobrenatural, que dissipava toda a tristeza*.....
Só a vista do seu semblante
inspirava amor à castidade Na companhia de João,
adquiria maiores auxílios para atingir a virtude
"A modéstia de João teve como recompensa vá­ do que pela meditação
rios privilégios: o primeiro foi que _só vista do
seu semblante, inspirava o^ amor ji castidade; de
resto pedia essa graça à SS. Virgem, e para isso "Escreve Edislas Berca: *Cada vez que Deus
fez-me a graça de achar-me ria companhia de -> Joãò,
rezava cada dia, em honra da sua virgindade sem
nácula, uma coroa de doze Ave Marias (A resolução adquiri auxílios mais poderosos para atingir a_
3e Berchmans está formulada num dos seus cadernos, I
!
lo seguinte modo: Beata Virgo impuras aliorum co-
çitatlones suo aspectu pellebat; pete et tu, ut
F-

14H. Secção II
Secção II 145.
virtude, do que os alcançados pela meditação e^ por
151. Convertiam-se só de ver pregar
outros exercícios espirituais.
São Vicente Maria Strambl
'Nem uma s6 vez me entretive com ele, sem
sentir grande confusão da rainha negligência, sem Conta um livro sobre São Vicente Maria Stram-
conceber um verdadeiro desejo de servir a Deus* bi (1745-1824), Bispo de Macerata e Tolentino:
Sua ação ainda estendia-se a outros; múitas vezes
ouvi conversações indiferentes mesmo de padres "As igrejas são pequenas demais para conter
graves, transformarem-se em entretenimentos sobre seus ouvintes (de São Vicente Strambi). Ele prega
a Bem-aventurada Virgem ou sobre os santos. A úni­ nas praças públicas. Aqueles que não o ouvem por
ca razão dessa mudança maravilhosa era a chegada estarem multo longe de seu púlpito improvisado,
de Berchmans. Infeliz de mim pecador que não abri convertem-3e somente por vê-lo 1" (MARIA WINOWSKA,
os olhos àquele esplendor de santidade, e o cora­ C1Est 11Heure de3 Salnts, Imprimerie Maison de la
ção àquela chama ardente1..... Bonne Presse, Paris, 1952, p. 9 / Imprimatur: Pe-
trus Brot, V.G., Paris).
Todos sentiam que o próprio
Deus falava por sua boca
152. São Clemente Hofbauer atraia
"Alguns consignaram nos seus testemunhos es­ todos a s_i, especialmente os jovens,
critos, aqueles derradeiros avisos de São João, que não o queriam deixar nunca
fazendo observar que o santo moribundo falava cora
um tora de irresistível autoridade. Todos estavam De uma vida de São Clemente Maria Hofbauer
estupefatos da majestade sobre-humana da sua voz; (1751-1820):
todos sentiam que o próprio Deus falava pela sua
boc'a*}. (Pe. L. J. MT CROS SJ, Vida de 37 João Ber­ "Com toda a razão comparavam São Clemente ao
chmans, Duprat & Comp., São Paulo,~T9T?, p. 106, magnete (ímã), pois que conhecia o_ segredo de
121, 141, 179, 249, 250, 252, 253, 254, 314, e 363 atrair a_ si todos os corações.•Realmente não havia
/ Com licença da autoridade eclesiástica). em Viena classe alguma de pessoas que não o procu­
rasse em sua pobre residência para receber seus
conselhos ou para procurar consolo em alguma dor
150. Passavam a noite em vigília, ou sofrimento físico ou moral; entre essas pessoas
no desejo de cumprimentar £ acompanhar encontravam-se também protestantes, gregos cismá­
São Luís Grignion de Montfort , ticos e até indivíduos que, em geral, se sentem
mal na companhia de algum padre católico. Um atra­
De São Luís Maria Grignion (1673-1716), conta tivo especial sentiam os rapazes que a ele cor­
uma biografia sua: riam , e_ a ele se apegavam não o_ querendo deixar
nunca, como se pertencessem á família do Santo.
"Os camponeses abandonavam suas ocupações, os Quando o Servo de Deus descia do púlpito, já ãT-
cavalheiros desciam de suas montarias, prostrando- guns estudantes o esperavam na sacristia para o
-se a seus pés (de São Luís Maria Grignion de cumprimentar, beijar-lhe a mão ou travar amizade
Montfort) e pedindo-lhe a bênção; outros, enfim, com ele; desejavam achar-se ao seu lado e^ ern sua
vigiando grande parte da noite na soleira da casa companhia nas reuniões que se efetuavam, todas às
onde repousava o_ santo, esperavam saud^lo pela tardes, em sua residência. Um estudante servia de
manhã, acompanhando-o após por ura grande trecho da chamariz para o outro; aos poucos aumentou-se con­
estrada". (J. M. TEXIER, São Luís Maria Grignion sideravelmente o número dos alunos de Clemente,
de Montfort, Vozes, Petrópolis, 194b, p. 193 7 Dom entre os quais se achavam estudantes de medicina,
aprovação eclesiástica). teologia, Jurisprudência etc. Grande parte desses
estudantes haviam já perdido a fé, outros haviam
sido panteístas, ateístas, racionalistas etc. S.
146.
Secção II 147.
Secção II
Clemente converteu-os radicalmente em grandes ami­
154. Bispos e Cardeais sentiam-se elevados
gos da Igreja”. (Pe. OSCAR CHAGAS AZEREDO CSSR, psplrltualmente no contato com aquela senhora
São Clemente Maria Hofbauer, Livraria Nossa Senho­
ra Aparecida, 1928,” p. 171/ Imprlmatur: Mons. Pe­ Conta o biógrafo da Beata Ana Maria Taigl
reira Barros, Vig. Geral).
(1769-1837), Mãe de família:
”Todos aqueles que dela (Beata Ana Maria Tal-
153* Somente por vê-lo, gl) se aproximaram sentiram-se melhores. Simples
sentiam-se atraídos eclesiásticos, Prelados, Bispos e Cardeais, gosta­
para Deus e as coisas celestes
vam de frequentar sua casa, porque nq_ trato com
aquela senhora sentiam-se elevados esplrltualmen-
Da Bula de Canonização de São Clemente Maria te”. (Mons. CARLO SALOTTI, La Beata Anna Maria
Hofbauer (1751-1820), publicada por São Pio X: Taigi, Madre di Famlglla, Scuola tipográfica Ita-
lo-Orientale "3>. Nilo", Grottaferrata, 1922, p.
"Foi então que ele julgou que se apresentavam 258 / Imprlmatur: Fr. Albertus Lepidi, 0P, S.P.
a ocasião e a possibilidade de ousar fazer algo a Ap. Magister. Imprlmatur: Can. Sylvlus de Angelis
mais pelo bem das almas: coisa tão difícil quanto VIc. Gen. Dloec. Tusculanae).
necessária; mais difícil ainda, talvez, do que ne­
cessária, poder-se-ia dizer. Com efeito, naqueles
dias em que a audácia dos maus estava no seu auge
155. "Vê-lo nos basta; sua presença
e que a moleza e o torpor dos fiéis ultrapassava
todo limite, inteiramente só, Clemente não hesitou nos consola. Uma palavra sua,
um olhar, um encorajamento dissipa todo
em confessar pela perseverança, pela palavra e pe­
los atos a fé cristã e disso fazer a sua glória; temor e firma as vontades vacilantes...”
ele foi o primeiro a empreender a obra árdua por
excelência de restaurar a piedade de outrora e de De uma vida de São José Benedito Cottolengo
ressuscitar do túmulo, por assim dizer, a religião (1786-1842):
dos fiéi3. Seus exemplos faziam um bem extraordi­
nário; pois, quando celebrava a Missa na igreja "Costumavam dizer os asilados que de todos os
sacerdotes religiosos ou leigos, que iam à Pequena
das Ursulinas, distribuía aos fiéis a Santa Comu­
nhão ou presidia as orações públicas, a dignidade Casa, não havia um que pudesse comparar-se com o
servo de Deus; que a alegria e satisfação que con­
desse homem, seu fervor e as lágrimas que vertia tinuamente mostrava era única e exclusivamente de
tinham de tal modo o dom de comover os assistentes Cottolengo; se se deixassem levar pelo coração
que, somente por vê-io, sentiam-se atraídos, por permaneceriam sempre com ele: 'Vê-lo nos basta1,
uma forca inelutável, para Deus e_ as coisas celes­
tes . Ele encontrou sua igreja descuidada, miserá- diziam eles, 'a. sua presença nos consola, e se a
Isto se acrescentam suas converçoes conosco, então
vel; fez reinar a limpeza nela, embelezou-a, con­
seguiu móveis, vasos sagrados, ornamentos, em su­ é uma alegria que se não expressa'. E noutras oca­
siões: 'Para mostrar-se de contínuo tão contente e
ma, tudo o que requerem o decoro e o respeito ao
culto divino. Uma vez restaurada e mobiliada como tranqiiilo é necessário ser santo; e estamos per­
suadidos de que o_ nosso bom padre eT na verdade um
convinha a Casa de Deus, ele aí presidia assidua­
mente, piedosamente e com grande distinção as ce­ santo'.....
rimônias católicas e, nos dias de festa, perante "Esta fortaleza ele não só a possuía para si,
numerosos „ e atentos fiéis, pregava a palavra de mas comunicava-a com a máxima facilidade aos ou­
Deus”. (São PIO X, Bula de canonização do Beato tros. Bastava uma só palavra, um só olhar, um en­
Clemente Maria Hofbauerde maio de 1909, in corajamento para dissipar todo temor e_ firmar as
Actes de fie )(, Maison de la Bonne Presse, Paris, vontades incertas e vacilantes'1! CHons^ AQUILES
pp. 202-201TT GORRINO, São Jos~e Benedito Cottolengo, Vozes, Pe-
148. Secção II Secção II 149-

trópolis, 2a. ed., 1952, pp. 177, 313 e 314 / Com Depois dirigia-se à casa paroquial, para o que
aprovação eclesiástica). bastava atravessar o espaço de apenas 10 metros.
Nele empregava cada dia, no mínimo, um quarto de
hora. Os peregrinos formavam alas no vestíbulo de­
156. Iam à igreja especlalmente baixo do campanário e na estreita passagem até à
para contempla-lo e £e edificarem porta do presbitério. As pessoas que tinham ido a
Ars não para se confessar, mas para dizer-lhe al­
Depoimentos sobre São João Maria Vianney, o guma palavra, ou fazer-lhe um pedido, apinhavam-se
Cura d' Ars (1786-1859): ali para serem as primeiras a vê-lo.....
"Os dois irmãos Léman, Jovens Judeus conver­
"A dar-se crédito a uma carta do Sr. Sionnet, tidos, os quais, como já vimos, foram acolhidos
de Nantes, dirigida ao P. Toccanier, em 4 de maio pelo Po Vianney tão ternamente, iam partir de Ars.
de l86l, formou-se com a aprovação do Cura d*Ars
uma associação de pessoas piedosas, que todas as *— Ao sairmos da vila, contam eles mesmos,
manhãs, às 7 horas, se uniam em espírito à sua vimos uma multidão que caminhava em sentido inver­
missa. ..•. so: era o Sr. Cura que voltava da visita a um en­
fermo e como no tempo de Nosso Senhor, a gente o
*Vi o servo de Deus enquanto celebrava a rodeava e_ se_ comprimia em torno dele * 7 ....
missa, refere o P. Luís de Beau, seu confessor;
cada vez parecia-me ver um anjo no altar (Processo *Todo3 se esforçavam, diz Marta de Garets,
Ordinário, p. 1086).-Muitos iam a_Igreja espedlal- para vê-lo mais de perto e lhe poder falar. Era ura
mente para contemplá-lo e^ se edificarem. Os mora­ espetáculo delicioso e sem igual quando, ao passar
dores do castelo de Àrs, ainda que tivessem inten­ para a sacristia, se voltava para aquela multidão
ção de assistir à missa paroauial, iam contudo a fim de dizer algumas palavras piedosas* (Marta
*para terem ocasião de admirá-lo* (Maria cfê Gá- de Garets, Processo apostólico in genere, p. 327).
retSj Processo apostolico in genere, p. 311)- *Uma A jovem Maria de Garets, bem ,como seus irmãos e_
pessoa da paroquia, conta a baronesa de Belvey, irmãs, gostavam de ve-lo passar". (Cônego FRANCIS
disse-me certo dia: *Se quer aprender a ouvir bem TROCHU, 0 Cura d*Ars, Vozes, Petrópolis, 2a. ed.,
a missa coloque-se de maneira que possa ver o nos­ 1960, pp. 28Ó, 282, 350 e 351 / Imprimatur: Luís
so Cura no altar*. Pus-me num canto donde podia Felipe Nadai, Bispo de Uruguaiana, 29-6-1959)-
observá-lo sem dificuldade. Notei-lhe, na expres­
são do rosto, algo de celestial’ (P. Monnin, Pro­
cesso Ordinário, p. 203)**- (Cônego PRANCIS TROCHU, 158. Não tinham necessidade de
0 Cura d *Ars, Vozes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, outros milagres para se
pp. 274-275 / Imprimatur: Luís Filipe de Nadai, convencerem de sua santidade
Bispo de Uruguaiana, 29-6-1959)•
Ainda sobre o Cura d*Ars, depoimento do Pe.
Toccanier, seu coadjutor durante seis anos:
157. Como no tempo de Nosso Senhor,
2. P°v° rodeava o Cura d 'Ars **— Aproximavam-se dele como de uma relíquia.
± ü comprimia em torno dele Jamais vi tanta energia e tantãforça de vontade.
Nada o abatia; nem as contradições, nem as enfer­
Da vida do Cura d*Ars, São João Vianney, pelo midades, nem as tentações. Mostrou constantemente
Cônego Trochu: a mesma coragem na prática da virtude.e no devota-
mento ao próximo. Era tão surpreendente a sua vir­
”0 momento em que o Cura d*Ars saía da igreja tude que causava admiração a quantos o viam. Era
para ir tomar alguma refeição era talvez o mais uma força tranquila como vinda de Deus; uma força
extraordinário, o mais patético do dia. Ao meio- invencível. Os peregrinos, até mesmo os religio­
-dia rezava o Angelus de joelhos diante do altar. sos, pertencentes às ordens mais austeras, diziam
gi ,
151*

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150. Secção II Secção II


,
160. Na ausência da Irmã Catarina Labouré,

i
não haver necessidade de outros milagres que ague-
uma fFeira ocupava-lhe o lugar na

„ «*
la força, para se convencerem de sua santidade
lapela e ali rezava "como se

ta
TTrocesso apostólico ln genere, p. 17tf; Processo.
Ordinário, p. l60). (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura estivesse sobre o túmulo de uma santa"
d'Ars, Vozes, Petrópolls, 2a. ed., 1960, p. 369 /
Irmã Maurel, no Processo de Beatificação e

ú •
Imprlmatur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uru­ Canonização de Santa Catarina Labouré (1806—1876):
guaiana, 29-6-1959)*
"Eu gostava multo de me colocar no seu lugar
na capela, quando ela não estava lá. Uma de nossas
159* Enfrentavam a fome, a sede,
Irmãs criticou-me por isso, dizendo que eu era bem
o sono, o frio, o cansaço, para ouvir
algumas palavras Io Santo orgulhosa para ocupar esse lugar. Eu queria esse
lugar porque, para mim, era uma santa que ali re-
De outra biografia do Cura d'Ars: zava, e eu rezava nesse~~Iugar como se estivesse
sobre o túmulo de uma santa" . (R. LAURENTIN, Vle
"Perto do Cura d* Ars, escrevia um peregrino, de Catherine LaboureJ Desclée de Brouwer, Paris,
esqueciam-se das coisas mais necessárias à_ vida. 1980, p. 255 / Imprlmatur: P. Faynel, Vicaire
Mal instalados, mal alimentados, levantando antes episcopal, 20-8-1980;.
da aurora, apertados, acotovelados, repelidos, de­
safiávamos _o frio, _a fome, ji sede, jr; fadiga, a_ in­
sônia, tudo enfim para ouvir algumas palavras do 161. "Era Maria que eles
bom Santo. .... procuravam em Bernadette"
"Logo que o peregrino entrava, em Villefran- De uma biografia de Santa Bernadette Soubi-
che ou em Trévoux, na viatura que o devia conduzir rous (18^4^4—1879) > a vidente de.Lourdes:
ao termo de sua viagem, ele não ouvia falar senão
do Santo. Aochegar â praça da aldeia, ele não via "Pode-se imaginar, então, o desapontamento, a (
nas lojas senão gravuras dele. Mal desembarcava, decepção dolorosa que se exprimia na fisionomia
corria àigreja para o avistar; e não o via, mas dos peregrinos, quando lhes respondiam: 'Bernadet­
por tudo o que via, começava a compreender como te está doente; ela não vos pode receber; é-lhe


era grande o domínio que esse humilde Padre exer­

*
proibido levantar-se, falar*.


cia sobre as almas.....

.
"Eles suplicavam:
"Todos os dias, entre as ónze e meia e meio-
*— Vê-la somente, contemplá-la um instante 1 *

x .
-dia, enquanto o Padre Vianney descia do seu púl­
pito, toda a_ assistência se precipitava para fora "Então, parece, era sugerido à pequena doente
da igreja e_ se amontoava no espaço que ele devia que se envolvesse num chale e fosse mostrar-se à
atravessar para chegar ~a~~resldencla paroquial ou a Janela. E_ os visitantes, a_ cabeça levantada, en­
Provldence. A_ mesma multidão esperava à sua vol­ chiam seus olhares com essa doce fisionomia sorri­
ta" . dente sobre a_ qual eles procuravam ainda o_ re­
flexo de uma outra Fisionomia.*. Pois ela te­
"0 Cura d'Ars não gostava nada desses sinais
públicos de veneração e tentou, de início, esqui- ve sempre, dizem-nos, o rosto do tempo das apa­
var-se. Mas depressa se resignou a sujeitar-se a rições. ....
eles, compreendendo que durante esse curto trajeto "Não se pode deixar de ficar comovido, apesar
teria tempo para distribuir muitos conselhos e de tudo, do que isto custava à querida pequena
muitas consolações". (JOSEPH VTANEY, Le Blenheu- Santa, -com a paixão que atraía a ela este desfile
reux Cure d'Ars Patron des Cures Françals, Llbral- ininterrupto. Estas pessoas estavam ávidas sobre­
rie Vlctor Lecoffre, 31a. ed., Paris, 1920, pp. tudo dos olhos que tinham visto a_ Mãe de Deus.
99, 100 e 113).
152. Secção II 153-
Secção II
Era, em suma, Maria que eles procuravam em Berna- 164. "Que felicidade fazer oração
dette, e Bernadette tinha um senso multo Justo pa­ Junto a um santo! **
ra não atribuir a si o mérito disso". (COLETTE
YVER, LTHumble Sainte Bernadette, Editions Spes, De uma biografia de Santo Antonio Maria Cla-
Paris, 1949, pT 143-144 / Imprlmatur: V. Dupin, V.
ret (1807-1870):
G., 22-1-1934). -------
"E se é verdade que o seu exterior refletia a
humildade, também Irradiavam pelo mundo os dons de
162. "Jamais me aproximei dela sem Deus para glória do Santo.
me sentir mais perto de Nosso Senhor" "Ouçamos, a este propósito, o Pe. Agullana;
Da mesma biografia de Santa Bernadette: *Fui ura dia pregar missões com o Pe. Claret.
0 povo era frio e indiferente era matéria religio­
"0 aspecto popular da pequena postulante não sa. Como prática de missões fazíamos os dois uma
indispunha também inconscientemente as Madres, ha­ hora de meditação pela manhã, antes de começar o
bituadas a ver acorrer para cá jovens do mundo, primeiro ato do culto.
que deixavam a melhor sociedade para servir os *Sua presença me infundia recolhimento. Que
pobres? felicidade fazer oraçao Junto a_ unr santo 1 Pa­
"Em todo caso, as testemunhas reconhecem que rece que de seu corpo brotava o calor duma grande
uma invencível desconfiança sempre as impedia de devoção interior, que contagiava suavemente*".
reconhecer a santidade profunda de Bernadette, ao (Pe. J0X0 ECHEVERRIA CMP, Santo Antonio Maria Cla­
passo que as jovens noviças, simplesmente ao vê- ret, Arcebispo e Fundador, Editora Ave Maria,"~Sáõ
-la, experimentavam uma emoção~indlzlveTT~ *5ua 2T- Paulo, 1952, p. 2l6 / Imprlmatur: Paulo, B. Aux.,
sionomia sobrenatural, seu olhar celeste deixaram 21-3-1951).

"
- •
no meu coração uma impressão profunda* — *Eu ja-

.
jftals me aproximei dela sem me sentir mais perto de 165. Estava tão cheio de amor de Deus
Nosso Senhor* — vEu a~õThcT~como uma Santa*, es^ que o comunicava aos outros nas conversas
creveram elas, umas depois das outras". (COLETTE
YVER, L’Humble Sainte Bernadette, Editions Spes, Nota a uma edição da autobiografia de Santo
Paris, 1949, p. 160 / Imprlmatur: V. Dupin. v.g., Antonio Maria Claret:
22-1-1934). —----- —
"Pelo testemunho de Da. Jacoba de Balzola,
que o hospedou (a Santo Antonio Maria Claret) em
l63. "Desejava ficar o mais próximo San Sebastian, antes de partir para o desterro,
possível de sua pessoa: sabemos qual era o teor de vida que levou naqueles
perto dela sentia-me melhor" dias: *Não conheci pessoa de santidade tão eminen­
te como o Revmo. Pe. Claret •••• Está tão cheio
Sobre Santa Bernadette, afirmou a Irmã Dorni- do amor de Deus, que nô-lo comunicava através da
nique Larretchard: conversa. Nele resplandeciam todas as virtudes em
grau eminente*". (San ANTONIO MARIA CLARET, Escri­
"Considerei sempre a irmã Marie-Bernard como tos autobiográficos £ espirituales, BAC, Madrid,
uma pequena santa. Desejava encontrar-me o mais 1959, p. 581 / Imprlmatur: Blaslus Budelacci, Ep.
próximo possível da sua pessoa; perto dela, sen­ Nlssen, Tusculi, 9-2-1959).
tia-mê melhor" • (FRÀNCÍlS TROCHU, Bernadette Sou-
blrous, Editorial Aster, Livraria Flamboyarit, Lis-
l66. "Parece Nosso Senhor 1"
boa, São Paulo, 1958, p. 386 / Imprlmatur: Ernes­
to, Arcebiso-Bispo de Coimbra). De uma introdução à biografia e aos escritos
de São João Bosco (1815-1888):
154. Secção II Secção II 155-

"Nos últimos anos (São João Bosco) parecia do Padre João Baptista Reus (1868—19^7), falecido
delflcado. A sua presença não só impunha respeito em odor de santidade:
e simpatia, como também infundia devoção■ 1 Parece
Nosso Senhor 1?, diziam as pessoas ao ve-lo..... "Ao passar junto dele (do Padre Reus), sen­
tia-me tomado de respeito; parecla-me que da sua
"Um sacerdote turinês que o tratava testemu­ pessoa dimanavam eflúvios de santidade.....
nhou nos processos, em nome de muitas outras pes­
soas, que 'na sua fisionomia transparecia tão evi­ "Das conversas que com ele tive no quarto,
dente o pensamento da presença de Deus que, olhan­ jamais me poderei esquecer. .... Bati à porta.
do-o, pensava-se instintivamente nas palavras do 'Entre!' disse de dentro.
Apostolo: 1Nostra conversatlo in caells est1 (Nos­
sa intimidade está no céu)". "^RODOLFO PIêRRO SDB, "Abri, entrei, e deparo com ele sentado à me­
Biografia y Escritos de San Juan Bosco, Introduc- sa, virado para a porta, rezando o terço, olhar
cion general, BAC, Madrid^ 1955, p. 50 / Imprlma- plácido e estático, era direção da porta. Senti um
tur: José Maria, Ob* aux. y Vic. gral,, súbito respeito: tive £ Impressão de que estava
TF5-1955). vendo qualquer coisa. Mas os Santos sabem disfaçar
como ninguém. Logo mostrou-se amável e quase joco­
so. ....
167. Com a sua simples presença,
o Marques de Comlllas "Ainda na mesma palestra, de repente, quase
modificava £ ambiente da Corte mudando de assunto, diz-me estas palavras: 'E pre­
ciso ficar santo. Peça a graça de ser santo!' Pa­
Conta o eminente canonista espanhol Pe. recla-me ser Nosso Senhor que me houvesse falado,
Eduardo Regatillo no seu livro sobre a vida de Don tão profunda foi a impressão que estas palavras em
Cláudio Lopez Bru, Marquês de Comlllas mim causaram". (Pe. LEO KOHLER, SJ, Biografia com­
(1853-1925): pleta P. João Baptista Reus, SJ, Livraria Selbach
& Cia.,"Torto Alegre, 1950'," volume II, pp. 370-371
"Seu caráter era dos que atraem e subjugam,
/ Imprimatur: Mons. André Pedro Prank, Vig. Ger.,
por aquela majestade proveniente, em parte, de sua 26-4-1950).
presença digna, sem arrogância; e mais ainda, por
sua santidade, que lhe cativava a veneração. ....
'Era tal o prestígio, bem merecido, de que 169. "Eu olhava mais vezes papal
gozava — escreve o insígne arqueólogo Padre Car- que o pregador"
vallo — que inclusive na Corte se impunha apenas
pela sua presença. Quancfõ, convidando pelo -rei, ia Dos Manuscritos Autobiográficos de Santa Te-
a alguma celebração no Palácio do Oriente, sua resinha do Menino Jesus (1873-1897):
presença bastava para que os cortesãos se portas­
sem com maior correção: os senhores evitando fra­ "Eu não me inquietava por ser olhada, escuta­
ses ou palavras que amiúde se permitiam entre sT7 va atentamente os sermões, dos quais, entretanto,
as senhoras apresentavam maior modéstia, reduzindo não compreendia grande coisa; o primeiro que com­
seus decotes ' " . TPe. EDUARDO P. REGATILLO SJ, Un preendi e que me tocou profundamente foi um sermão
Marquês Modelo, Sal Terrae, Santander, pp. 111-lT? sobre a Paixão..... Eu escutava, com efeito, mas
/ Imprimatur: Josephus, Episcopus Santanderlensis, olhava mais vezes papal do que o_ pregador, sua be­
1-5-1950). la fisionomia dizia-me tantas coisas!..." (Santa
TERESA DO MENINO JESUS, Manuscritos Autobiográfi­
168. "Parecla-me ser Nosso Senhor cos , Carmelo do I.C. de Maria e Santa Teresinha,
Cotia, 2a. ed., pp. 67-68 / Reimprlmatur: Antonlus
que me houvesse falado"
Maria, Arc. Coadj., 17-5-1960) .
Depoimento de um Sacerdote Jesuíta a respeito
156. Secção II

170. "Quanto mais a amava,


mais eu amava a Deus"

Depoimento da Irmã Marie de la Trinlté no


Processo de Canonização de Santa Teresinha do Me­
nino Jesus:

"Reciprocamente, a afeição que eu tinha por


ela (Santa Teresinha) era também toda sobrenatu­
ral. Eu constatava com espanto que quanto mais a. III
amava, tanto mais eu amava também a_Deus, e quando
roeu amor por ela esfriava, era forçada a reconhe­ âa SUlÈlâSil iÇQfCil
cer que estava em más disposições. Um dia ela me
deu uma estampa no verso da qual escrevera esta pana os saotoa, oa §03i§ de
frase de Nosso Pai São João da Cruz: 'Quando o
amor que se tem à criatura é uma afeição toda es­ çQDhôçê-lQa, ESãlEslbea
piritual e fundada em Deus, à medida que ela cres­
ce, cresce também o amor de Deus em nossa alma'".
(Procès de Béatiflcatlon et Canonisation de Sainte

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w. ~ Conta uma vida de Santo Antão (250-355):

"Santo Antão sempre se considerava o último e


mais desterrado dos homens. Ele prestava ouvidos
ao conselho de qualquer um e'declarava tirar pro­
veito dos que eram dados pelas mais miseráveis
pessoas • • • • •
"Todo jd povo acorria para vê-lo e se rejubi­
lava em ouvi-lo; até os "pagãos, impressionados com
dignidade de seu caráter, acorriam £ ele dizen­
do: 1 Queremos ver o_ homem de Deus1• Ele converteu
muitos e operou vários milagres". (Rev. ALBAN BU-
TLER, The Llfes of the Pathers, Martyrs and other
principal Salnts, Christian Classics, Westminster,
vol. I, p."'òl).~

172. De Roma e de outros lugares


distantes, vinham ilustres
personagens para ver Sao Isento

De um livro sobre a vida dos Padres, Mártires


e outros Santos principais da Igreja: "A fama de
santidade de São Bento atraia para vê-lo os mais
ilustres" personagens de Roma e deoutros "Tugares
distantes. Muitos dos que vinham, vestidos de pur-
-1
159.
158. Secção II Secção II
as casas onde se hospedava eram procuradas por vi­
pura, cintilantes de ouro e pedras preciosas, en­ sitantes da mais alta posição; a_ rua em frente fi­
cantados pela admirável santidade do Servo de
cava repleta de homens e_ mulheres devotos e_ zelo-
DeuSj prosternavam-se a seus pés para implorar-lhe
a benção e orações; e alguns, imitando o sacrifí­
303T Muitos queriam que ela tocasse seus anéis,
cio de Abraão, colocavam sob sua orientação os fi­ abençoasse seus lenços e todos eram movidos por
indubitável fé". (ALBERT BIGELOW PAINE, Joan of
lhos na mais tenra idade, a fim de que fossem for­ Arc, Maid of Prance, The Macmillan Company, New
mados para a perfeita virtude desde a infância".

innl
(Rev. ALBAN BUTLER, The Lives of the Fathers, York, T925, vol. I, p. 110).
Martyrs and other principal Salnts, Christian

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classics, Westrainster, vol. I, p” 2$9) •
175'. Faziam romarias para venerar

.
uma relíquia viva: o Cura d1Ars
173. Só para conhecer São Benedito, Mais uma vez o famoso hagiógrafo Trochu, na
um homem foi de Portugal à Itália~
sua vida de São João Vianney, o Cura de Ars:
De uma vida de São Benedito (1526-1589):
"Que um homem em vida seja visitado em pere­
grinação, que as multidões acudam a_venerá-lo como
"Plinio c Jovem escreveu que um espanhol, mo­
vido pela fama do célebre historiador Tito Lívio, a uma relícjuia, é um fa~tõ multo 'raras vezes pre­
senciado , e uma reprodução do ocorrido com os Pa­
veio desde Cadiz até Roma para vê-lo. Tendo-o vis­
dres do-_.deserto, na distante Tebaida. Durante 30
to, retornou à sua; pátria, sem se preocupar de
anos, a humilde aldeia de Ars foi testemunha de
mais nada, embora houvesse tanta coisa digna de
ser vista em Roma. D& nosso Benedito lemos igual­ uma tal maravilha: multidões, que sem cessar se
renovavam, calam de joelhos aos pés dum santo. Dê
mente que um português, para conhecê-lo e_ pros­
trar-se a. seus pes, abandonou o Tejo e depois re­ 1827 a 1859 a igreja nao esteve um momento vazia".
(Cônego FRANGIS TROCHU, 0 Cura d*Ars, Vozes, Pe-
tornou orgulhoso de ter visto o Servo de Deus £ de trópolis, 2a. ed., 1960, p.~22*> / Imprimatur: Luís (
ter-se entretido longa e_ familiarmente com ele: Filipe de Nadai, Bispo de Uruguaiana, 29-8-1959)•
tao grande se tornara a fama de santidade do Reli­
gioso mouro, mesmo naquela parte mais ocidental da
Europa; e tal era o divino empenho era exaltá-lo
ainda durante a sua peregrinação terrena. Mas o
eterno Criador daquela alma cohhecia o quão soli­
damente ela estava fundada no.desprezo das honras
terrenas, para temer algum sentimento vão. E via
produzir-se nela o fruto contrário, da sempre mais
vil consideração de si mesmo diante de Deus e dos
homens". (GIUSEPPE CARLETTI ROMANO, Vlta di
Benedetto, Presso Antonio Fulgoni, Roma"^ TBo57 PP«
36-37 ~T Imprlmatur: Pr. Thomas Vincentius Pani
Ord. Praed. Sacri Palatii Apostolici Magister,
3-8-1805).

17*J. Aglomeravam-se em frente


à casa onde se hospedava

De uma biografia de Santa Joana d*Arc


(1M12—1431) "Em Poitiers como em outros lugares
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Q gaSuaiasmQ gela genga des santos
ÊXBlQdg em aclamações g aglausQS
s CiSllSiSSi sg SEiQi£QC®i
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çgm conçe-coccea e
dg lugag Juntg a gles

176. k multidão acorria para


escutar São Jõao Crisóstomo, aclamava-o
e aplaudia louca de entusiasmo

Relata a Enciclopédia Universal-ESPASA:

"São João Crisóstomo .... tráta os assuntos


de maneira inesperada, e se dirige ao fim por ura
modo que ninguém podia suspeitar, mas o faz cora
liberdade e destreza, como se fosse o único cami­
nho para chegar ao termo que se propõe* Não é de
estranhar que a multidão acorresse para recolher
suas palavras como as abelhas num campo semeado de
flores; nem que o_ santo tivesse muitas vezes que
se esforçar para conter os aplausos dos ouvintes.
Xquele que quiser saber quantos elogios se fizeram
da arrebatadora eloqiiência de Crisóstomo, leia os
testemunhos dos Padres, dos Concílios e dos Douto­
res estampados nas edições de suas obras.....
"Durante doze anos, entre 386 e 398, exerceu
o presbítero João (São João Crisóstomo) seu minis­
tério de pregação em Antioquia. Em 27 de setembro
de 397 morreu Nectário, patriarca de Constantino­
pla, e, por proposta do Imperador Arcádio, do Cle­
ro e do povo, foi eleito Crisóstomo como sucessor.
Más para tirá-lo de Antioquia sem produzir alvoro­
ço no povo, foi preciso recorrer a um estratagema.
163.

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sordens tão freqíientes naquela corte mole e efemi­

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nada. Para este fim, pregava incessantemente, e o
número de ouvintes era tão grande, que segundo 178. Para não ser esmagado, andava no melo de
testemunho de Sozomeno, viu-se obrigado a fazê-lo
pranchões sustentados por homen3 possantes
no meio da igreja, na tribuna destinada aos leito­
res, para que o ouvisse melhor aquela multidão que Conta sobre São Vicente Ferrer (1350-1^19),
acorria _a escutá-lo, _o aclamava, e o_ aplaudia lou­ um livro da vida de São Bernardino de Sena, seu
ca de entusiasmo". (Enclclopedia~~tlnlversal Ilus­
trada Espasa-Calpe, tomo 2o, 2a. parte, verbete contemporâneo:
Juan Crisóstomo, San). nAo chegar (São Vicente Ferrer) perto de uma
cidade, seus penitentes formavam procissão, ji po­
pulação vinha a seu encontro, e_ todos porfiavam em
177* A multidão se precipita sobre o orador: se lhe aproximar, em tocâ^lo; seus vestidos em
era preciso uma guarda breve se estraçalhavam às mãos de todos aqueles
de jovens robustos para protegê-lo que dele queriam levar alguma relíquia; era-lhe
necessário manter as maos cruzadas na cabeça para
De uma biografia de Santo Antonio de Pádua subtraí-las às pessoas que as queriam beijar; e
(1195-1231): somente evitava de ser esmagado, arídando no melo
de pranchões sustentados por homens possantes. Era
"A planta ressecada pelos ardores do sol es­ vSrlas cidades, enquanto durava sua pregação, os
negócios paravam, as lojas fechavam, as audiências
pera, para erguer-se sobre sua haste, o orvalho da
manhã. Mais viva é a impaciência com a qual os pa- dos próprios tribunais eram 'suspensas". (PAULO
duenses desejam o retorno da aurora e a hora da THUREAU-DANGIN, Sao Bernardino de Sena, Vozes, Pe-
conferência anunciada. Desde meia-noite, põem-se trópolis, 1937, p« 3A / Com aprovação eclesiásti­
a caminho. Os cavaleiros e as grandes damas sao ca, 23-6-1937).
precedidos de tochas, e se comprimem em torno do
púlpito improvisado; multidões de povo cobrem ji
planície; o Bispo, à frente de seu clero, preside 179* Receberam Santa Joana d *Arc
todos os exercícios. Contam-se até trinta mil pes­ com tanta alegria como se estivessem
soas no auditório. Santo Antonio aparece, o olhar vendo~Deus descer entre eles
modesto, o coração transbordante de amor. Antes
que tenha aberto a boca, todos os olhares estão De uma biografia de Santa Joana d*Arc
fixos nele. Enquanto fala, ò auditório permanece (1*112-1^31):
suspenso a seus lábios, em meio a um silêncio e a
um recolhimento que se acreditaria impossíveis. "Em outro lugar ela (Santa Joana d*Arc) foi
Terminado _o_ sermão, o entusiasmo explode; e_ uma recebida por outros soldados, cidadãos e autorida­
ebriedade que não~~sabe se conter; são soluços ou des de Orleans que portavam grande número de to­
brados de alegria, segundo os sentimentos que ani­ chas e sentiam tal alegria como se estivessem a
mam os coraçoes. A multidão se precipita sobre jo ver Deus descendo entre eles.....
orador. Querem contemplá-lo de perto, beijar a "Sentiram-se, porém, inteiramente reconforta­
franja de sua túnica ou seu crucifixo; chegam ate dos e como que livres do cerco pela virtude divi­
a. cortar sua roupa. para dela levar um pedaço, a na, a qual lhes tinha sido dito estar na simples
título de relíquia e de lembrança. preciso, era
donzela, a quem homens, mulheres e crianças olha-
torno dele, uma guarda de jovens robustos, para
164. Secção II 165.
Secção II
vam muito afetuosamente. E houve então uma maravl-
lhosa premência para tocar nela ou no cavalo em l8l. "Era um espetáculo de
que vinha” . CÃLBERT BÍGELÕW PAlNE, Joan of A_rc, edlflcaçao e devoção ver todos
Maid cf France, The Macmillan Company, New York, correrem para ir ver £ Santo"
1925, vol. I, p. 1492). Da vida de São Paulo da Cruz (1694-1775):

"Não foram somente os seus religiosos que de­


ram provas de estima e veneração ao Servo de Deus;
180. Por todos os lugares onde la, senão também £s cidades e_ §£ povoações por onde
o povo se comprimia em torno dele para o passava, se levantaram para tributar-lhe honras e
ver, £ tocar e_ receber a sua bênção obséquios extraordinários. Deus, Nosso Senhor.,
quis que lá Justamente onde o seu Servo fora, como
Já. contamos, tratado de impostor, hipócrita* e
De uma vida de São Lourenço de Bríndisi, nas­ perturbador dos povos, fosse pelos povos e por to­
cido na Itália (1559-1629), Ministro Geral dos Ca­ da classe de pessoas aclamado e_venerado como san­
puchinhos, Doutor da Igreja: to . Não podemos descrever tudo minuciosamente; di­
remos apenas que as estradas públicas das cidades
nComo para o consolar de tantos aborrecimen­ e aldeias e_ até dos campos se viam em todo o per­
tos, as populações da Ligúria não cessaram de cer­ curso repletas de gente desejosa de ver £ venerar
car nosso santo (São Lourenço de Bríndisi) de uma ao Servo de Deus. Em Ceprano £ Froslnone foi pre­
estima e de uma devoção ilimitadas. Por todos os ciso mandar vir soldados para conter a_ multidão,
lugares onde ele la, £ povo se comprimia em que nao fazendo caso de colsa~ãlguma, la em seu
torno dele para £ ver, £ tocar £ receber sua bên­ seguimento até no interior das casas dos benfeito­
ção. '*... res , desejoso cada um de levar consigo um pedaço
"Se a presença de Lourenço em Milão era ex­ do seu manto; e lho cortavam de tal modo, que nao
tremamente agradável a dom Pedro, e útil aos fins podia^ mais usar dele; pelo que o Santo era obriga­
da paz, ela não foi igualmente agradável para seus do a tomar o do seu companheiro, embora também es­
confrades, a quem ela tirou toda tranquilidade. 0 te outro manto tivesse parte à mesma sorte do pri­
tropel _e £ fervilhar da multidão em torno do con­ meiro.....
vento foram tais, que se tornaram absolutamente "A indiscrição de alguns foi tão longe que
insuportáveis. Não havia nenhum,canto onde fosse chegaram _a_ cortar-lhe até os cabelos.
possível pôr-se ao abrigo e estàr um pouco tran­
quilo. Claustro, jardim, Igreja; praça e ruas vi­ "Um assalto ainda mais forte teve de aguentar
zinhas , tudo regurgitava de gente; os nobres riva­ a sua humildade, quando de volta do Monte Argenta-
lizavam nisso com as pessoas do povo. Era um ver­ ro, donde saíra no dia 5 de maio, chegando a Mon-
dadeiro desastre. talto sobre ura carro, que lhe procurara a caridade
dos seus discípulos, lhe saiu ao encontro quase
"Em certo momento, os religiosos não encon­ todo £ povo daquela localidade; £ era \m espetácu­
traram melhor expediente para se salvar do que lo" de edlflcaçao e devoção ver todos correrem e_
afastar o Santo de Milão, e o enviar para o con­ convicíarem-se reciprocamente para irem ver ao San­
vento de Melzo. Mas, como depois de poucos dias o to . Nao queremos repetir aqui que enorme era a
governador o fez chamar novamente a Milão, eles multidão, e que todos se empurravam uns aos outros
terminaram por insistir junto ao governador para £ • fim de se chegarem ao áervo de Deus, de lhe to­
que o deixasse ir para Veneza". (Pe. ARTHUR DE marem a_ benção, e de lhe tirarem por melo de ura
CARMIGNANO OFM Cap., Salnt Laurent de Brindes, piedoso furto algum pedaço do seu hábito. 0 que
Postulation Générale des Freres Mirieurs Capucins, mais comovia, era ver como os próprios doentes
Rome, 1959, PP* 109, 113 e 114 / Imprimatur: A. largando a cama ou a casa, e arrastando-se de per
Gottafdi, p. Vic. Gen. 1-4-1959).
si, ou sendo levados pelos outros, se apresentavam
166. Secção II Secção II 167.

ao Santo para receber a sua bênção, cora a esperan­ ponto de lhe arrebatarem £ breviário, se bem que
ça de ficarem curados e como as mães no melo da devolve-lo loRQ depois de terem tirado algum
multidão suspendiam os seus filhinhos nos braços, «santinho' (Madalena Mandy Scipiot, Processo apos­
pedindo em voz alta abençoasse aquelas crianças tólico Tn genere, p. 273). Uma ou outra vez, po­
inocentes. Todo absorto era si mesmo, e humilhado rém, não o devolveram intacto. 0_ P_. Vianney supor-
em presença de Sua Divina Majestade, o Servo de tftva esses latrocínios da multidão sem se^ queixar.
Deus sentia muito aquilo, e dizia ao cocheiro que JXestava habituado a tais indiscrições. Não raro
fosse adiante; mas era inútil, porque atestou quem aconteciam engraçados equívocos.
estava prqsente: * foi tanta a Importuna devoção do
povo, que à_ força chegaram a_ deter o carro e_ os «_ 0 empenho dos fiéis para se apoderarem
cavalos, as mães desprezando todo o perigo seu e dos objetos pertencentes ao servo de Deus — conta

...
das crianças, colocavam-se entre as rodas e^ os ca­ o P. Dufour, encarregado várias vezes de manter a
vai03 » para fazer com que seus filhinhos tocassem ordem — deu lugar duas vezes a que, Julgando tra­
úe um modo qualquer ao Servo de Deus; foi um ver­ tarem com o Sr. Cura, me despojassem a mira mesmo.
dadeiro milagre que não acontecesse coisa alguma. Certo dia arrebataram-me o breviário, o qual me
Depois de atravessar aquela região, conforme foi enviaram depois pelo correio dé Saint-Etienne.
possível, Paulo desabafou o seu bem aflito cora­ Queixei-me disso ao P. Vianney. Respondeu-me sor­
ção, desfazendo—se em pranto e repetindo sempre rindo: '0 mesmo Já me sucedeu muitas vezes'. Outra
estas palavras: Ai pobre de mira! pobre de mim! E vez cortaram um pedaço de minha batina. Era de
preciso que eu me feche debaixo de chave, porque noite e a escuridão favoreceu o honroso engano*
estou enganando aò mundo. Eu não tenhò, é verdade, (Processo apostólico ln genere, p. 362)". (Cônego
tal péssima Intenção de enganá-lo; mas ele é que FRANCIS TROCHU, 0 Cura d'Ars, Vozes, Petrópolis,
se engana, julgando que eu seja aquele que não 2a. ed., 1960, p. 2~8Í 7 Tmprímatur: Luís Filipe de
sou". (Pe. PIO DO NOME DE MARIA, Vida de São Paulo Nadai, Bispo’de Uruguaiana, 29.^6-1959).
da Cru^» Imprensa Pontifícia do InstitutcTTiõ^IX,
íIõmaT ^914, pp. 122, 126 e 127 / Imprlmatur: Pr.
Albertus Lepidi OP, S.P.A. Magister). 183. Nas Canárias todos queriam estar
perto do Padre ÒTaret e foi necessário
protege-lo por um quadro de madeira
182. Rodeado pela multidão, não podia avançar
senão protegido por três senhores de boa vontade De uma vida de Santo Antonio Maria Claret
(l807-l870), por Dom Geraldo Fernandes CMF, fale­
Da vida de São João Vianney (1786-1859), pelo cido Arcebispo de Londrina:
Cônego Trochu:
"Quem percorre ainda hoje, um século depois,
"As doze e meia, quando o P. Vianney saía da a Ilha da 'Gran Canária', ouve narrar os diversos
casa paroquial era novamente rodeado pela multidão episódios daqueles dois anos de missões, guardando
que o_ esperava. Não podia descer a^ escadaria da cada povoação a lembrança de algum milagre operado
Igreja, nem atravessar a praça e_ nem andar pelas pelo 'Padrezinho', como o chamavam.
ruas senão multo devagar je protegido por dois ou V

tres senhores de boa vontade, os seus 'guarda-cor^* "Era tanta a gente que em torno dele se com­
pos'. 'Iam adiante com os braços estendidos para primia que foi necessário fazer-se um quadro de
evitar que o Santo fosse vítima de veneração in­ madeira segurado por quatro homens para defender o
discreta' (Carta de Mons. Jasper a Mons. Convert, 'Padrezinho', que corria risco de ser sufocado pe-
4 de Janeiro de 1914). Apesar disso, enquanto lhe 15 povo, pois todos queriam estar perto dele".
beijavam a_ roupa, cortavam-lhe pedacinhos da balT^ iDom GERALDO FERNANDES CMF, Vida de Santo Antonio
na ou da sobrepeliz, e fios de cabelo (P. Beau, Maria Claret, Ave Maria, Sao PauTo" IF6F^ PP-
Frocesso Ordinário, p. 1220), chegando a audácia a 24-25)•
fl

Secção II 169.

18*1. Querem tocâ-lo como a Cristo


ou ao menos ter algo que
tenha recebido o seu contato

De uma biografia de São João Bosco


(1815-1888):

"As viagens de Dom Bosco na Itália, na Fran­


ça, na Espanha, são bem conhecidas: são triunfos;
alguns sólidos agentes policiais devem cercar con-
tlnuamente Dom Bosco quando ele caminha, para que
possa avançar; centenas de criaturas humanas, re­
colhidas e ardentes, esperam pacientemente por ho­
ras e horas, deslocam seu grande corpo de multidão
sem que haja necessidade de policiais ou de guar­
das a cavalo... Elas são tão bem comportadas como
em Lourdes, como sabe ser uma multidão quando não
está em cólera, e quando espera, sob qualquer tem­
po, no melo de todos os Incómodos, a distribuição
de uma coisa de primeira necessidade que não se dá
senão por um único guichê. Querem tocá-lo, como a
Cristo: ao menos, que ele toque este terço, este
escapulário! e por cima do rude círculo dos ombros
dos agentes policiais, ele é flagelado por terços
e escapulários dos necessitados de graças que, pe­
lo menos, querem possuir uma ,má teria que tenha re­
j! cebido o_ seu contato". "ÍPlEftftÊ CBÃS~ Fldèle
Hlstoire de Saint Jean Bosco, Editions Spes*^ Pa-
ris, 19^67~ P- 300 / Imprlmatur: Lud. Audibert,
vic. gen., 17-6-1936).

í •
I85. Entusiasmo fervoroso dos franceses
em torno de Dom Bosco

Sobre a mesma viagem de São João Bosco à


França, conta outro biógrafo:
"Desde a partida, podia-se prever o sucesso.
0 pobre vagão de terceira classe suscitava uma
atenção extrema; nós diríamos mais exatamente: um
tocante fervor. Os ferroviários italianos acorriam
em multidão para vê-lo passar. Nas estâçoes~ Hs
Nas Canárias, as multidões cercam Santo Antônio pTataforma8 se enchiam de espectadores e de devõ^
Maria Claret, sendo necessário conduzi-lo dentro tos. Seus acdlitos puderam sentir entao~qúãl era
agora a atração unânime do povo%.....
de um quadrado de madeira.
"Dom Bosco passou o mês de fevereiro em Nice.
(Ilustração e legenda da Vida de Santo Antônio Maria Claret, v. ficha 183) Depois começou a subida, sempre por etapas, e no
170. Secção II
Secção II 171.
melo de uma afluência que la num crescendo, de uma rios; em seguida, seis não conseguiram dar conta
exaltação que se amplificava, que se revelava sem­ de verificar a_ correspondência e_ classificar as
pre mais. êãrtas. Foram levados sacos Inteiros delas para a
ittirã.
Triunfo em Lyon; entusiasmo delirante em Paris
"Dom Bosco começava suas recepções a partir
"Em Avinhão, foi preciso organizar um serviço das seis horas da manhã, e nós não estamos mais
para manter a_ ordem..... Triunfo também em Llao, nos tempos heróicos das visitas na alvorada. As
onde Dom Bosco foi obrigado dar sua bênção para duas horas da tarde, quando ele retomava suas au­
fora, como os Reis que aparecem no balcão ante & diências, recebia às vezes pessoas que o aguarda­
expectativa das multidões, as suas ovações. ....
vam desde a manhã.
"Dom Bosco acabou por chegar a Paris no dia "Senhoras da alta Sociedade transformavam-se
19 de abril..... Até esse momento pouco conhecido era porteiras para canalisar o fluxo ininterrupto
na França, onde a excelência de suas virtudes pa­ Hos recém-chegados, os quaís, na maioria, nao pu­
recia não existir senão para uma elite restrita, deram senão entrever o Santo e receber sua bên­
Dom Bosco conheceu de um so golpe ji vaga, _o
transbordamento do povo e suscitou um entusiasmo ção .....
delirante — este e o termo exato. As cartas "Por último, não se admitia mais do que uma
haviam invadido 0 Hotel; o Conde de Gombaud as ar­ fila em marcha, sem se deter^ ou quase. Não se au­
mazenava em seu escritório pessoal, onde formavam torizava dizer ao Santo senão uma frase, uma so­
ura monte. Depois das cartas velo a multidão. Os mente, e todos a meditavam e a elaboravam, de tal
assaltos das estações estavam ultrapassados. forma, que a maioria apenas balbuciava. ....

"Nunca se viu tanta gente em torno de um Padre, Gente sentada no coro.e até nos
desde a vinda 'do "Papa Pio VTl^ degraus do altar para ouvir Dom Bosco
"No segundo domicílio do Santo, na Rua de la "0 sermão pregado na igreja de la Madeleine
Ville 1'Evêque, na casa das Senhoritas de Seni- por ordem do Cardeal Guibert, teve um sucesso sem
lhac, irmãs muito em voga na Sociedade, o assalto precedentes nos anais da igreja..... _A afluência
foi mais vivo ainda. era tal que se havia duplicado o_número das con­
"Era o capricho parisiense, esta vez Justifi­ fortáveis cadeiras francesas; todos os genuflexó-
cado, bem exatamente essa espécie de frenesi que rios tinham sido virados, para duplicar as filei­
torna todas essas pessoas tão delicadas, como que ras . Havia gente sentada no coro e até mesmo sobre
fascinadas, como tendo perdido todo senso crítico. os degraus 00 altar. A igreja de Ta Madeleine, tao
A excitação geral foi ainda espicaçada pelos noti­ protocolar, — dir-se-ia tão pharlslenne (sem in­
ciários da imprensa, pelos repetidos artigos, qua­ tenção pérfida) — tinha perdido toda sua altivez.
se frenéticos; por uma nomeada de prodígios, de
milagres quase incessantes; pelo contraste entre Para chegar ao púlpito foi preciso
esse velho alquebrado e a atividade que lhe era apelar para uma guarda vigorosa
atribuída, que lhe era reconhecida, e da qual fa­
lavam os parisienses de todas as classes. Uma ve­ "Para chegar até o_ púlpito, Dom Bosco preci­
lha senhora dizia: 1 Nunca houve tanta gente em sou apelar para uma guarda vigorosa. Todos lhe
torno de um Padre, desde a vinda de Pio VI17 no
beijavam as mãos, o que nao o admirava, uma vez
tempo de Napoleão í'.
que na Itália é ura gesto familiar de devoção; mas,
Seis secretários não davam conta em Paris! Mesmo os homens! ....
da correspondência "As viaturas de luxo atravancavam a Rua Roya-
"0 Santo utilizava a_ principio dois secretá­ le e a parte baixa da alameda Malesherbes, mas na
igreja encontrava-se a mais heteróclita mistura de
Secção II 173.
172 . Secção II
triunfal à Espanha, lê-se num livro traduzido pelo
pobreza e opulência, de nobreza e de plebe- Ura nú­
Arcebispo de Belo Horizonte, D. João Rezende Cos­
mero singular de trajes de operário. Os açouguei-
ros de La Vlllette formavam um grupo; era presença ta:
da marê final, a_ Marquesa de Caulalncourt, chegou "Partiu de Turim no dia 31 de janeiro. Passou
a pensar em recorrer aos grossos braços deles para todo o mês de fevereiro em Nice para recuperar
livrar o_ Santo..... forças em vista das grandes fadigas que o aguarda­
vam. Prosseguiu depois por Toulon, Marselha e Avi-
Mela hora para chegar à sacristia... nhão, atraindo em toda a parte enormes multl-
£ £ velha batina ficou pelo caminho, does que lhe iam pedir uma oração, um conselho,
retalhada em relíquias uma~ bênção. Doentes do corpo ou da alma, apinha­
vam-se ao redor do humilde ancião, aguardando de
"Aliás, alguns dias mais tarde, Dora Bosco seus lábios a palavra que renova e de suas mãos o
quase morreu na Igreja de São Sulpiclo- Levou uma gesto que cura. *_São as mesmas cenas que se viam
hora para retornar _a Sacristia, passo ji passo, sob, em Ars: parecia-me atéTestar lá1, dizia ao ver o
o assedio- Madame de Caulalncourt teria feito bera entusiasmo popular o Padre Monnin, primeiro bio­
em trazer seus capangas! Tudo foi empurrado: os grafo do Santo Cura. Era Avinhão, no dia 2 de
porteiros, os Vigários, os Cónegos, os guardas... abril, na hora da partida do trem, o povo se api­
A querida batina velha pereceu, rasgada, esquarte­ nhava de tal maneira que os viajantes nao conse­
jada, arrancada era relíquias sem numero. Haviam guiam entrar nos seus compartimentos. 'Um verda­
sido levados a Donf”Eosco doentes, que gritavam. deiro dilúvio! Está vendo, Dom Bosco?* observou o
. rx secretário Padre Baruel. 'Mais um motivo para fu­
"Ouvi vários relatos de testemunhas oculares
girmos logo’, retrucou alegre e espirituoso o san­
concernentes ao entusiasmo desencadeado em Paris. to homem! E prosseguiram a viagem até Lião.....
Depois de meio século, eles estavam ainda espanta­
dos, como que inquietos... lamentando-se, talvez,
de não terem sido bastante loucos. "E a Missa dos pecadores £ vai ser celebrada por
um santo"
Ura santo que desconcertava e_ depois entusiasmava "Bem poucas vezes uma bênção chegou a ter
tanta eficácia como essa. No dia 28 de abril, sá­
"0_ entusiasmo geral de todas as classes era o bado, antes de visitar qualquer outro santuário de
que surpreendia mais. Além do que, dir-se-ia que o Paris, Dom Bosco fez questão de ir rezar à Virgem
Santo se prodigalizava e procurava satisfazer a tão querida do coração da grande cidade, no seu
todos, como que sensibilizado por uma acolhida que templo preferido, Nossa Senhora das Vitórias. Ce­
o emocionou tão fortemente, que ele teve que reco­ lebrou a missa no altar da Arqulconfraria pela
nhecer não ter jamais encontrado algo de semelhan­ conversão dos pecadores.
te, mesmo na Itália, onde as pessoas entretanto se
"E essa missa de sábado, Já habitualmente
agitam. Ele conquistou o coração e a imaginação muito concorrida, atraiu nessa manhã uma imensa
dos parisienses por uma mistura extraordinária de
turba de povo. Estava marcada para as nove horas,
grandeza £ àe_ simplicidade, de gravidade £ de ale- mas às~~T,3ü já a igreja estava cheia. Alguém es­
rla. Ele desconcertava; depois ele entusiasmava".
fLA VÃRENDK, Don Bosco, Arthême Payard,- Paris,
1961, pp. 176 a' 18lTI
tranhou ao ver tanta gente e perguntou o motivo
disso. *0 senhor compreende — explicou uma boa
mulher do povo — é a missa dos pecadores e^ vai
186. Saltavam por cima das cadeiras ser celebrada por um Santo1. ....
ou as derrubavam para vê-lo
£ para chegar-lEe bem pertinho "As mesmas cenas de entusiasmo, de devoção e
de generosidade... era um delírio"
Ainda sobre a entusiástica acolhida dos fran­ "Três dias depois, a 2 de maio, renovaram-se
ceses a Dom Bosco, e também sobre sua viagem
m. Secção II Secção II 175-
as mesmas cenas de entusiasmo, de devoção e_ de ge­ "Acesslvel a toda3 as mãos que o queriam tocar"

ÉWw»
nerosidade , em São Sulpício, onde Dom Bosco foi

a
celebrar a missa das nove. Desde as 8 hs., Já a

a
"Quando pelas sete horas Dom Bosco quis reti­

i
Éi
nave central e as laterais estavam repletas de

t
rar-se para ir a um encontro marcado no ponto

t
É
gente, de modo que não era mais possível circular oposto da cidade, não se sabia como fazer para le­
por elas. Dom Bosco chegou com atraso de uma hora vá-lo até a carruagem que ò esperava. Dois homens
e um quarto, porque, havendo saldo da Alameda Mes- robustos, se puseram R_ seu lado e_ ura terceiro la
sina às 7>30, teve, entretanto, de se deixar levar adiante rompendo a multidão. Sempre sorrindo, sem­
à cabeceira de vários doentes. Depois do evangelho pre abençoando, acessível a todas as mãos que que­
da missa, voltou-se para aquele imenso auditório, riam tocá-lo ou entregar^lhe uma esmola, chegou
e lhes disse multo simplesmente que obras eram es­ finalmente a carruagem aberta que o devia levar.
sas para as quais pedia o óbulo da caridade. A Mas para conseguir pôr o animal em movimento foi
comunhão distribuída por ele mesmo, durou mais de outro problema: o^ povo agarrava-se ao veículo, o_
meia hora. A volta para a sacristia foi algo de pobre cavalo pateava incapaz de sair do lugar.
inconcebível. 0 clero tinha previsto o aperto e Afinal multo lentamente, r poder de braços huma­
quatro eclesiásticos além do suíço e_ do sacristão nos , conseguiram fazer rolar as roda3 e_a_ carrua-
se encarregaram de acompanhá-lo e_ de protegê-lo gem partiu• ....
contra o piedoso assalto do publico. Pois bem, fo­
ram dominados, rodeados e_ envolvidos pelas vagas "Muniam-se de tesouras e cortavam-lhe a batina
humanas que se vinham quebrar ininterruptamente para fazer relíquias
junto ao humilde ancião. Paziam questão que ele
tocasse terços e íhiagens, pediam-lhe e lhe torna­ "Também em I»ille, e talvez mais que em outras
vam a pedir a bênção, cortavam-lhe pedaços da sur­ partes, a multidão dos católicos alvoroçava-se pa­
rada batina para conservaram como reliquíà, salta­ ra aproximar-se dele. Nas igrejas subiam nas ca­
vam por cima dasHcã d~êí ras ~ou as derrub a vam para deiras , e_ nao se ouvia 3enão este grito: Quantol
vê-lo e_ para chegar-lhe bem pertinho. Era um delí­ Õ Santo 1 Os mais entusiastas, muniam-se de tesou­
rio. Finalmente, ja perto das onze e um quarto, ras , e_ quando êlê pasgava, cortavam-lhe pedaços da
conseguiu chegar à porta da sacristia, que se fe­ batina para fazer relíquias. Sera perder a calma,
chou logo depois de ele ter passado. Mas o povo, Dom Bosco suspirava e dizia em tora resignado:
ansioso por lhe apresentar seus doentes, assediou 1 Afinal, estou mesmo vendo que nem todos os loucos
inexoravelmente os pesados portais, até que se estão em Cherenton1 (lugar perto de Paris onde
soube que Dom Bosco tinha ido para a casa paro­ havia um célebre asilo de alienados).....
quial. Então a onda humana se precipitou para lá
volumosamente. Em Barcelona, recepção digna de um Rei

"A distância de três anos de triunfo de Pa­


wEm cada dia, em cada igreja, o mesmo entusiasmo ris, fez-lhe Capital da Catalunha ^Espanha) uma
recepção realmente triunfal. Um rei nao teria sido
"Poderíamos seguir Dom Bosco por vários dias recebido com maior solenidade. Na estação princi-
ainda e nas várias Igrejas de Paris, e assistiría­ pal estavam à sua espera as primeiras autoridades
mos a cenas semelhantes em cada dia e em cada religiosas, civis e militares. Na praça da estação
Igreja. Colégios, conventos, obras religiosas de havia quarenta landos à sua disposição para levá-
varias categorias, disputaram a primazia das visi­ ^To a Casa Salesiana de Sarriâ. A multidão que se
tas de Dom Bosco e ele procurou satisfazer a to­ apinhava para vê-lo, aclamá-lo e receber sua bên­
dos, despertando por toda a_ parte o mesmo santo ção, era tao grande que do trem a carruagem o cor­
entusiasmo e a mesma generosa manifestaçao de ca­ tejo durou uma hora!
ridade para com suas obras. ....
"E durante toda a permanência do Santo em
Barcelona, as demonstrações de entusiasmo não ar-
176. Secção II
Secção II 177.
refeceram. 0 número de visitantes que todos os SS. Dom Bosco, Escolas Profissionais Salesianas,
dias se dirigiam da cidade para o colégio salesia- São Paulo, 19^7, pp. 433, 442 a 446, 452 e 453 /
no, situado num dos arrabaldes mais próximos, ia
crescendo de dia para dia. Imprimatur: Mons. M. Meireles Freire, Vig. G.).

Todas as classes se confundiam.


na multidão de admiradores
l87. Num abrir e fechar
"Nessa multidão de admiradores estavam con­ de olhos o convento e Massaltado":
fundidas todas as classes da sociedade; senhoras querem ver Bernadette
da mais alta nobreza membros eminentes de um- £
Sobre Santa Bernadette Soubirous (1844-1879),
de outro clero, operários e grandes industriais,
Jornalistas e^ gente humilde^do povo. Na casa sale- escreve o Cônego Trochu:
siana de Sarria, já não havia mais lugar para aco­
lhê-los; e as pessoas tinham que esperar paciente­ "Era Pau, envergando o gracioso traje pirenai-
co, foi reconhecida por um transeunte no momento
mente, sentadas à beira do caminho, aguardando o
próprio turno. A afluência chegou a ser tal que era que com a madre Alexandrine entrava no conven­
to. Nura abrir e_ fechar de olhos, o^ convento ’ foi
Dom Bosco teve que receber em grupos de quarenta
assaltado por uma multidão de pessoas. . . Teve que
ou cinquenta pessoas por vez. Dava a cada um uma
se recorrer à polícia. 0 patio estava cheio de
medalhinha de Nossa Senhora Auxiliadora, e no fim
dava a bênção a todos. mães que queriam que Bernadette tocasse nos ’seus
filhos. Com o auxílio de agentes, con3eguiu-se pôr
írNos últimos dias teve que recorrer a meios um pouco de ordem neste ajuntamento, e Bernadette
mais expeditos ainda: assomava de quando era quando passou por elas, tocando nas crianças... Para sa­
à sacada e abençoava a multidão que se ia renovan­ tisfazer as Irmãs de Oloron, Bernadette teve de
do sucessivaraente. partir de Pau e dirigir-se para aí* (segundo as
notas da irmã Victorine). ....
Para ver passar Dom Bosco, apinhavam-se
nas Janelas, nos telhados, nas árvores,
nos lampiões de gás... Que linda santa 1

"Quando entre uma e outra dessas interminá­ "Os habitantes de Lourdes apontavam-na ao
veis audiências Dom Bosco descia à cidade para vi­ passar. No seu traje de filha de Maria, conta
sitar os principais benfeitores de suas obras, a Jeanne Védère que viera de Momères à festa, 'era
população de Barcelona para vê-lo passar apinhava- tão bela como um anjo’. Admiravara-na sob aquele
-se não só nas janelas, mas ate nõs telhados, nos véu e aquele vestido branco que faziam lembrar a
muros, nas árvores, nos lampiões de gás. A pequena estátua da gruta. ' Oh I Que linda santa 1 Que linda
estrada”dé ferro Barcelona-Sarriá teve que du­ virgem!*. . Como ela está feliz!', exclamavam vozes
plicar o número de trens e foi necessário pôr duas na multidão! (Bernadette et Jeanne Védere, p. 75).
locomotivas a puxar os carros superlotados..... Mas Bernadette não as ouvia. Por várias vezes, os
"Não nos é possível difundir-nos muito a nar­ assistentes, deixando os seus lugares, a rodearam.
rar as múltiplas cenas de devoção popular de que * Quase que a. sufocaram, cortaram-lhe o_ véu. As
foi testemunha a cidade de Barcelona durante toda freiras conseguiram defende-la, sem o que as suas
a permanência de Dom Bosco dentro de seus muros. vestes seriam arrebatadas. Escondeu-se no meio das
Era a_ repetição dos triunfos de Paris, com algo' de companheiras1 e — não tendo outras palavras para
mais vibrante ainda: o ardorTnflamado da Espanha exprimir em francês a sua estupefação ao ver-se
e todo o fervor católico dessa nobre nação fun- apontada em público de um modo tão indiscreto, —
dizia: 'Como são tolos!’ (Madre Bordenave, Pr. Ap.
diam-se numa aclamação interminável". (A.'AUFFRAY
Nevers, f. 380).....
-
178. Secção II

Escalam os muros para ver Bernardette

"A tardinha, *a multidão dirigiu-se para o Y


hospício. Como o portão do .pátio estava fechado,
escalaram os muros para ver Bernadette' . Foi pre­ a fíg ds g§£Slglg§n>
ciso organizar um simulacro de defesa: alguns sol­
dados hospitalizados vestiram o seu uniforme. Para

.. ........................ ..
dg alguma manslca,
contentar toda a gente, a madre Ursule Court fê-la
andar para trás e para diante na galeria. Simulta­ daa gragas gug ga aantgg difundem,
neamente aborrecida e divertida, Bernadette dizia
à superiora de Bagnères: fMas assim expõe-me como §i iul|íúggg guerem tgg§r neles,
se eu fosse um bicho raro!1 (Madre Ursule Court,
Pr. Ord. Nevers, foi. 380)". (FRANCIS TROCHU, Ber­ iQSSUlg gretei SQSadça
nadette Soubirous, Editorial Aster, Livraria Flara-
boyant, Lisboa, São Paulo, 1958, pp. 297, 298, 302
gu henzldoa gçç eleg, çslíguiag
e 303 / Imprlmatur: Ernesto, Arcebispo-Bispo de

.
Coimbra). dlcetag gU indiretas, e imagens sugs

'"I '
•J V* 188. As_ relíquias de São Paulo,
estando este ainda vivo,
operavam muitos milagres

Contam os Atos dos Apóstolos:

"Deus operava milagres extraordinários pela


mão de Paulo, de maneira que, aplicando aos enfer­
mos até qs lenços aventais que tinham tocado em
seu corpo, nao so saíam deles as doenças, mas tam­
bém 03 espíritos malignos se retiravam" (At. 19,
1111277 (Dr. FftÉáEftICO TíLLMÃNN, Luz e Vida, Vo­
zes, Petrópolis, R.J., 1936, vol. ÍIT, p. 130 /
Pode Imprlmlr-se: Cgo. Francisco de A. Caruso, p.
c. do Sr. Card. Arcebispo, 18-6-1936).

189. Sendo ainda vivo São Simeão Estllita,


certo mercador colocou a Imagem dele nó~
vestíbulo de sua casa; e o mesmo
fizeram os agtesões de Roma em suas oficinas

Narra o Papa Bento XIV a respeito de São Si­


meão Estllita (390-459):

"Conta-se a respeito de São Simeão Estllita


que foi ele procurado por um certo mercador antio-
quenho, o qual era atormentado pelo demônio, e o
180.
Secção II Secção II l8l.
curou. Então o mercador, estando Slmeão ainda vi- tar, e obteve imediatamente sua cura". (R. P. AN-
vo, colocou a imagem do santo na entrada de sua SELME DIMIER OCR, Salnt Bernard "Pêcheur de Dleu",
casa. Alguns ~homens ímpios e inTiéis do lugar a Letouzey & Ané, Paris, 1953, Tome Premier, p. 108
derrubaram, mas foram severamente punidos. Do mes­ / ImDrimatur: Michel Potevin, Vic. Gen.,
mo Slmeão, Igualmente álnda em vida, conta~~Teodo- 23-4-1953T^
reto que os artesaos de- Hõma colocavam pequenas
Imagens del~ê na entrada e_ no pórtico de suas ofl-
clnas, para por esse melo obter defesa e_ 192. Beijavam a sua túnica
proteção" . CBENTO XIV, De Servo rum Del Beatlflca- e os mais ousados cortavam £ rasgavam
tlone et Beatorum Canonlzatlone, Typographla Aldi- peããços de sua capa
na, PratT^ 1839, liber II, caput XI, n. 15, tomus
II, p. 72). Da introdução geral a um livro sobre São Do­
mingos (1170-1221):
190. Tudo o que ele havia tocado "0 Santo chega nesta época à sua máxima popu­
parecia conservar algo de santo laridade. 1 Ao término de seus sermões, nos quais
arrancava lágrimas de arrependimento e de admira­
Conta conhecido historiador das Cruzadas, a ção em seu auditório, ao sair das basílicas o povo
respeito de São Bernardo (1090-1153): se precipitava era tropel para receber sua benção,
beijar suas mãos e a fímbria de suas vestes. 0s
"A casa na qual- o abade de Claraval (São Ber­ mais ousados cortavam e rasgavam pedaços de suã
nardo) se dignava entrar era considerada ditosa: capa, de modo que esta The chegava apenas até os
tudo £ que ele havia tocado parecia conservar algo Joelhos... Domingos de Guzmão, a quem vimos tratar
de santo: o_s que deviam ir à Asla, se gloriavam de de igual para igual, para dizê-lo assim, com Siraão
ter uma cruz benta por suas mãos ou feita de tecl- de Montfort, com os Bispos de Toulouse, de Carcas-
do que ele tivesse usado, £ mais de uma vez _a mul­ sone e de Narbonne, não era admirado somente pela
tidão que o rodeava rasgou as vestes do santo, an­ nobreza e pelo clero, era também amado e venerado
siosa por conseguir algum pedaço delas para fazer pelo povo *" . (JOSE MARIA DE "GARGANTA 0P, Santo Do­
o sinal venerado de sua peregrinação. A' multidão mingo de Guzmán visto por sus contemporâneos, In-
que se aglomerava ao seu redor era tão grande, que troducclón General, BAC, Madrid” 19^7, p. 9^ 7 ím-
um dia esteve em perigo de ser asfixiado e deveu a primaturT Casimiro, Obispo Aux. y Vic. gen.,
salvação ao Imperador da Alemanha, que o ergueu em 3 0 - 5 -19 lí 7).
seus braços e o levou para uma igreja, depondo-o
diante de uma imagem milagrosa da Virgem”. (J. F.
MICHAUD, História de las Cruzadas, Union Tipográ­
193. Devota de São Domingos guarda
fica Editorial Hispano Americana, México, Reimpre- sua túnica como relíquia

a
sión de 1965, Tomo primero, p. 2Í5) •
De uma vida de São Domingos (1170-1221):
191• Pendurou ao pescoço uma carta
"Estando então em Segóvia na casa desta pobre
de São Bernardo e ££ viu curado
'

mulher, ele tirou a túnica de lã cora a qual estava


V

interiormenté vestido para colocar uma de tecido


'

De uma vida de São Bernardo (1090-1153):


;

mais duro. A_ sua hospedeira percebeu £ fato e_, por


um sentimento de veneraçao, escondeu em um cofre a
"Quando Hugo recebeu esta carta (de São Ber­ túnica que o_ santo tinha tirado. Algum tempo mais
nardo) encontrava-se doente, com febre. Por vene­ tarde, estando ela ausente, seu quarto pegou fogo
ração para com seu autor, ele pendurou o pergami­ e todos os seus móveis foram queimados, exceto 0
nho ao pescoço com devoção, como um remedio saiu-
cofre que, juntamente com a relíquia, continha
V—
183.
182. Secção II Secção II
atrevia a replicar a suas palavras, porque somente
seus objetos mais preciosos”. (Rev. Pe. HENRI-DO-
MINIQUE LACORDAIRE, Vie de Saint Domlnlque, An- a ele afluíam as multidões. Acreditava ele que
"sobre todas as coisas devia conservar-se a fé na
cienne Librairie Poussielque, Paris^ 1922, p. 230
Santa Romana Igreja, pois somente nEla pode espe­
/ Com aprovação eclesiástica).
rar-se a salvação dos predestinados. Venerava os
sacerdotes e reverenciava com submisso afeto toda
19*í« Levados por sua grande fé, a ordem eclesiástica”. (TOMAS CELANO, Vida de San
cortavam pedaços da túnica do Santo Francisco, in San Francisco de Asis. Sus escri­
tos . Las Floreclllas. Biografias dei Santo por
Relata Tomás de Celano, contemporâneo de São Celano, San Buenaventurã y los Tre3 Companeros
EspeJo de perfección, BAC, Madrid, 3a. ed., 1956/
Francisco de Assis (1181-1226):
p. 325 / Cora aprovaçao eclesiástica).
”As pessoas ofereciam-lhe (a São Francisco de
Assis) pão para que ele abençoasse, e quando, em
caso de doença, comiam do pão, ficavam inteirarnen- 196. Armavam-se de tesouras para cortar
te curadas. Por esse mesmo motivo, levados por sua ao Santo algum picfaclnho do
grande fé, cortavam pedaços de sua túnica, até o habito, que guardassem como relíquia
ponto de que certa vez o deixaram quase desnudo; e De uma biografia de Santo Antonio
o mais admirável era que se o santo Pai tocava al­
gum objeto com a mão, o uso desse objeto também (1195-1231):
restituía a saude a./não poucos”. (TOMAS CELANO,
Vida de San Francisco, in San Francisco de Asis. ”0s mercadores, vendeiros e vendeiras, fecha­
Sus escritos. Las Floreclllas. Biografias dei San- vam as lojas, e, só findo o sermão, tornavam aos
to por Celano, San Buenayentura y los tres seus negócios. As mulheres, inflamadas em devoção,
UÕmpaneros . Es pejo de perTección, BAC, “"Madrid, 3a» armavam-se de tesouras para cortarem aõ Santo
ed., 1956, p. 325 / Com aprovação eclesiástica). (Santo Antonio) algum pedaclto/do hábito que guar­
dassem como relíquia. E tinha-se por afortunado
quem chegasse a tocar-lhe ao menos a orla dos ves­
tidos” . (Pe. FERNANDO FÊLIX LOPES, S. Antonio de
195* Consideravam-se ditosos em poder
tocar~ão menos a fímbria de seu hábito Lisboa Doutor Evangélico, Edição do "Boletim Men­
sal", Braga, 2a. ea., 195*1, p* 21^ / Imprlmatur:
A., Arch. Primas., Brach., 26-11-1953)•
Narra Tomás de Celano, contemporâneo de São
Francisco de Assis (1181-1226), em sua biografia
do Santo:
197. Recolhiam os seus cabelos como relíquias
”Era tão grande a fé daquelas pessoas, tanto Lê-se num livro sobre Branca de Castela, Rai­
dos homens como das mulheres, com respeito ao ser­
vo de Deus, que s<e reputavam ditosos por chegar a_ nha da França e Mãe de São Luís Rei:
tocar ao menos sl fímbria de seu hábito. Ao entrar
"Branca tinha que dirigir novamente a educa­
em alguma cidade, alegrava-se o clero, tocavam-se
todos os sinos, celebravam-no os homens, regozija- ção de um Rei (São Luís IX de França).
vam-se as mulheres, aplaudiam os meninos e muitís­ "Ela tinha Junto de si, ajudando-a em suas
simas vezes saiam ao seu encontro em triunfo, com diversas tarefas, sua filha Isabel (a Beata Isa­
salmos e ramos. Ficava confundida a_ maldade dos bel) *a mais nobre Dama que existia sobre a terra:
hereges, os quais se escondiam destas Inocentes ela era muito graciosa e de grande beleza*. Isa­
manlfestações dos fiéis, e exaltava-se iT fe dã bel, aos vinte e três anos é uma figura excepcio­
Igreja. Vislumbravam-se em São Francisco tantos nal. Fisicamente, ela se parece com Luís; ela é
resplendores de santidade insigne, que ninguém se
18U. Secção II 185
Secção II
loira, tão loira que suas acompanhantes comparam a
fios de ouro os cabelos que ficam no pente quando
elas a penteiam — esses cabelos que elas recolhem
como relíquias, pois Isabel Inspira uma verdadeira
veneração a tados que a cercam”. (REGINE PERNOUD,
La Reine Blanche, Editioris Albln Michel, p. 307).

198. ”...e as águas daquele rio


ficaram tidas em veneraçao”

De uma vida de Santa Isabel, Rainha de Portu­


gal (1271-1336):

WA pretexto de recrear-se, (a Rainha Santa


Isabel) descia até à borda da veia e ali, por suas
mãos, levada da sua humildade, lavava os panos as­
querosos do hospital e outras roupas de pobres.
Não faltou quem a visse era tão heroico exercício
de virtude, e desde aí ficaram as águas daquele
rio tidas era veneração. Muitos enfermos, valendo-
-se delas, sararam d£ repente”. (J. LE BRÜN, Santa
Isabel Rainha de Portugal, Apostolado da Imprensa,
Porto,’ 2a. ecíT, 19467 P* 68 / Pode imprimir-se:
Mons. Pereira Lopes, Vig. Geral, 29-12-1944).

199- Tocavam e^ beijavam o palanque


de onde havia pregado
Sao Vicente Ferrer, como coisa de Deus

De uma vida de São Vicente Ferrer


(1350-1*119):

”Com estas e outras coisas, deixou Mestre Vi­


cente (São Vicente Ferrer) muito reformada a cida­
de de Tolosa. De tal modo que, costumando seus ha­
bitantes ir cada ano a certas festas com muitos
Jogos, cantadores e máscaras, foram lá com uma
cruz, disciplinando-se cruamente; porque temiam
que, se não se emendassem de suas vaidades pelas
pregações do Mestre Vicente, não podiam escapar de
algum terrível castigo. Diziam comumente: este ho­
mem veio a esta terra para nossa salvação ou para
nossa perdição. Para que nos salvemos, se fizermos São Vicente Ferrer. Detalhe de quadro do século XV, atri­
o que ele nos diz; para que nos condenemos, se nos buído a Juan Reixach, na Catedral.de Valência.
descuidarmos de obedecer-lhe. Porque até aqui po­
díamos dizer que não tínhamos quem nos ensinasse *<■* + <»****** + »
186. Secção II Secção II 187.

tão bem o que somos obrigados a fazer; e agora já patrão. Acontecera que o seu patrão tinha caçoado
não podemos dizê-lo. Assim, foi tanta a_ devoção da esposa porque guardava zelosamente um 'pouco de
que a_ ele tomaram, que depois de sua partida os palha do leito em que o_ Santo tinha dormido na ca­
tolosanos ficaram com relíquias suas, e não quise­ sa do embaixador francês. Quando jogava fora essa
ram desfazer o palanque rto qual havia pregado; an­ palha, seu braço ficara paralizado.
tes o beijavam e tocavam como coisa de Deus".
(Pray VICENTE JUSTINIANO ANflsT, Vida de San Vi­ "Francisco disse:
cente Ferrer, in Biografia y Escritos de San Vi­ f- Fique tranquilo, irmão, volte para casa
cente Ferrer, BAC, Madrid, 195'&7p^~2^0“7 Imprlma- que não é nada1• (ANTONIO CASTIGLIONE, S^_ Francis­
tur: lyãcinthus, Ep. aux. y Vic. gen., Valentiae, co de Paula, vida ilustrada, Delegação Geral da
5^-1956). Ordem dos Mínimos, São Paulo, 1980, p. 131 / Com
aprovação eclesiástica).

200. Frade expulsa o demônio com cabelos


de São Vicente Ferrer,
que guardava como relíquia 202. Dividiam os cabelos que cortava,
os restos dos papéis nos
Da vida de São Vicente Ferrer (1350-1*119): quais tinha escrito uma ordem
"Uma vez em que o Santo raspou ji barba e^ fez Da vida de Santo Inácio de Loyola
a_ tonsura, certo .Fre.l Guillén recolheu parte dos (1491-1556):
cabelos e os guardou como relíquias. E multo tempo
depois, havendo em Mallorca uma mulher endemoniada "Compreende-se a veneração que o santo funda­
que descobria segredos e dava pena a muitos, tomou dor (Santo Inácio de Loyola) inspirava a todos os
o frade os cabelos e, envolvendo-os com ura pano, seus religiosos, quando se vê que Deus parecia
com prazer ou pesar dela, atou-lhos nb pescoço. comprazer-se em justificá-la. Os* bons Padres reco­
Enfureceu-se o demônio mais do que nunca, e ator­ lhiam tudo o^ que podiam apanhar ao seu santo Ge­
mentou a mulher duramente; e se lhe perguntavam ral . Dividiam os cabelos que cortava, os restos
porque a maltratava tanto, respondia que também a^ dos papéis nos quais tinha escrito uma ordênT já
ele atormentavam os cabelos de São Vicente. Por inútil por ter sido executada, tudo o_ que lhe per­
fim teve que sair da mulher e_ Sêixá-la livre. Tam­ tencia e^ lhe dizia respeito. Inácio tinha conser­
bém ali, tiraram do Santo uma capinha, a qual, co­ vado o saco que usava em Manresa; mas não p_ pôde
mo diz Ranzano, serviu para liyrar muitas pessoas guardar intacto, porque lho descobriram e não ti­
de suas enfermidades". (Fray VICENTE JUSTINIANO veram escrúpulo de tirar-lhe alguns bocados; fe­
ANTIST, Vldâ de San Vicente Ferrer, in Biografia £ lizmente para os piedosos culpados, o Santo igno-
Escritos de San Vicente Ferrer, BAC, Madrid,1956, rou-os sempre.
pp.~- 1Ü2-TB3 / Imprlmatur: Hyaclnthus, Ep. aux. y
Vic. gen., Valentiae, 9-6-1956). "0 Padre Nadai foi menos feliz. Santo Inácio
sofria muito dum dente e resolveu-se a mandá-lo
arrancar. Nadai, presente jL operação, apoderou-se
201. Seu braço se parallzou ao Jogar furtlvamente do dente £ queria conservá-lo como
fora uma "relíquia" de uma relíquia; mas o nosso Santo, que tinha exce­
São Francisco de Paula ainda vivo lente ouvido, escutou algumas palavras, suficien­
tes para traírem o segredo; censura severamente o
De uma vida ilustrada de São Francisco de seu querido Padre Nadai, a quem amava com terna
Paula (1416-1507): afeição, obriga-o a apresentar o corpo de delito e
fá-lo desapareceb para sempre". (DAURIGNAC, S.
"Em Ostia, veio ter com Francisco um pobre Inácio de Loyola, Livraria Apostolado da Imprensa,
homem, consternado, para pedir socorro para seu Porto, Tíã. ed., p. 322, 1958, p. 322).
188. Secção II
Secção II 189.
203* Levava numa caixinha
ao peito a assinatura do nunca me esquecer de vós e ter-vos na lembrança,
Padre Inácio ainda vivo, junto continuamente e dum modo especial, a fim de me
com um osso de São Tomé consolar, faço-vos saber, caríssimos irmãos, que
das cartas que escrevestes tirei os vossos nomes,
Da conhecida autora Daurignac, em seu livro "escritos por vossas próprias mãos e^ juntamente
sobre São Francisco Xavier (1506-1552): com o voto da minha profissão, levo-os sempre co­
migo , por amor das consolaçoes que deles recebo".
"A nova da morte do santo Padre (São Francis­ (S. FRANCISCO XAVIER, Cartas £ escritos selectos,
co Xavier) tão amado, todos os portugueses da San- Apostolado da Imprensa, Porto, 1952, p. 35)^
ta-Cruz romperam em soluços.
"Os marinheiros desembarcaram com todo o pes­
soal do navio; todos queriam ver e venerar o corpo 205- Recolhiam os cabelos cortados,
do grande apóstolo, todos queriam beijar-lhe os para guardar como
pés e as mãos, recomendarem-se às suas orações, e relíquias do seu senhor
testemunhar-lhe o amor e o reconhecimento que ele
havia grangeado de todos os corações! Da vida de São Francisco de Borja
(1510-1572), neio Padre Ribadeneyra:
n0 santo corpo foi conservado até ao terceiro
dia, domingo, estendido sobre a esteira que cobria "Depois que com estas e outras palavras afe­
o solo da cabana»? ,/ tuosas se ofereceu a seu Criador, saiu (São Fran­
"Jorge Alvares, Francisco de Aguiar, Cristó­ cisco de Borja) de seu oratório, e comescritura
vão e António de Saríta-Fé, tiraram-lhe a sua pobre pública e solene ato renunciou em favor do Marquês
batina da qual-repartiram entre si os preciosos Dom Carlos, seu filho primogênito que estava au­
pedaços, acharam sobre o seu peito uma pequena sente, a seus estados, títulos, rendas e vassalos,
caixa contendo & assinatura de santo Inácio, os sem reservar para si coisa alguma. Feito isto,
nomes dos Padres com os qual3 cd nosso Santo tinha despojou-se das vestes seculares e vestiu-se com o
vivido em Roma, a fórmula dos seus votos, e_ uma hábito da Companhia. Raspou a barba e fez a tonsu­
frarcela de osso do apóstolo S_. Tomé, sob cuja pro­ ra para receber as Sagradas Ordens. Ã vista disso,
teção ele pusera o seu apostolado das índias". (J. seus criados choravam como se diante de seus olhos
M. S. DAURIGNAC, Francisco Xavier, Apóstolo das 0 vissem morrer; e às escondidas, recolhiam os ca­
índias, Apostolado da Imprenba, Porto, 5a. ed., belos cortados para guardá-los como relíquias de
1$59, p. 459 / Pode lmprimir-sfe: Mons. Pereira Lo­ seu senhor, ao qual Já tinham como morto e estlma-
pes, Vig. ger. 20-5-1958). vam como a um santo". (PEDRO DE RIBADENEYRA, Vida
dei Padre" Francisco de Borja, in Historias de la
Contrarreforma, BAC, Madrid, 1945, pp» 688-6H9 /
204. São Francisco Xavier levava consigo Imprimatur: Casimiro, Obispo Aux. y Vic. gen.,
assinaturas de Jesuítas,por 3Tt3-ZT9-íf5y.
amor das consolações que delas recebia

Conta agora o próprio São Francisco Xavier 206. As_ cadeiras onde se sentava
numa de suas cartas: eram guardadas como relTqulas

"Pela muita necessidade que tenho da vossa De uma vida de Santo Afonso (Alonso) Rodrí-
continuada ajuda espiritual, fui conhecendo, em guez (1553-1617):
muitas ocasiões, como Deus Nosso Senhor me auxilia
e favorece, em muitos trabalhos corporais e espi­ "'Quando o Irmão (Santo Afonso Rodríguez)
rituais, por causa das vossas suplicas. E para acompanhava algum Padre em casas de fiéis, havia
alguns que prestavam bem atenção na cadeira
190 Secção II Secção II

e se sentava, e_ depois _a guardavam como re­ Librería Vda. E. H. de Subirana, Barcelona, 1888,
líquia '• Ficou multo famosa uma dessas cadeiras, p. 589 / Con licencia).
n_a qual costumava sentar-se Afonso quando acompa­
nhava o Padre Melchior Miralles em casa de Mateus 208. Ainda em vida de Santo Afonso Rodríguez,
Mas, curtidor, morador em Monteslon, cujo pal es­
a mulher do Vice-Rei de Mallorca
teve multo tempo^doente de cama. Jamais permitiu colocou um retrato dele em seu oratório
Mateus que alguém se sentasse nela. Estando sua
esposa próxima do parto, e padecendo Indizíveis Lê-se na vida de Santo Afonso (Alonso) Rodrí­
dores, cheia de fé nos méritos de Afonso, creu que
guez (1533-1617):
sentando-se naquela venerada cadeira teria feliz
exlto naquele transe. E, com efeito, assim se pas­ "Tal era a estima que Já desde o princípio, e
sou, cora não pouca admiração e alegria da paciente ainda era vida do Santo (Santo Afonso Rodríguez),
e de todos da casa. Já desde então, ainda em vida se tinha às suas coisas. 0 mesmo se dava com os
do Santo, aquela cadeira foi o refúgio de todas as retratos do Servo de Deus que, sem ele saber, fi­
mulheres que costumavam ter partos infelizes ou zeram ainda em sua vida. 'Vivendo ainda o_ santo
perigosos. fSe se tivesse que escrever todos os Irmão, continua Onofre Serra, há pouco citado, f1-
partos felizes que se deram por devoção àquela ca­ zeram-se muitos retratos seus. E não faltou quem
deira, diz o P. Marlmon, ocupariam uma grande par­ pusesse um deles em plena rua, devendo passar por
te de sua história: deste modo se deixa apenas di­ ela uma procís~são.""Aconteceu de o Irmão" passar por
to que é comum levar esta cadeira nos lugares dos ãli e, vendo sua figura, disse ao companheiro:
partos, por devo£ãõ a ela1. Atualmente desapareceu 'Valha-me Deus, que feio pintaram o nosso Beato
esta venerável relíquia, sem se saber onde terá Padre!' — parecendo-lhe sem dúvida que aquele não
ido parar, ou se foi destruída". (Pe. JAIME N0- era retrato seu, mas de Santo Inácio.
NELL, Vida de San Alonso Rodríguez, Imprenta y "E não somente gozava Afonso dessa fama de
Librería Vda.~E.~H7 de Subirana, ldbÓ, pp. 589-590
santidade entre o povo de Mallorca, mas também en­
/ Con licencia, Barcelona). tre as pessoas mais autorizadas, como eram os Vi­
ce-Reis, Bispos e Inquisidores, que o conheceram
ou tiveram notícia de sua santidade por intermédio
207. Recolhiam-se cabelos seus, de pessoas fidedignas. Escreviam-lhe, pedindo o
penas com que escrevia, mesmo que o Santo Patriarca. Mas voltemos aos re­
pedaços de papel que tivesse tocado... tratos •
Da vida de Santo Afonso (Alonso) Rodríguez "Dona Juana Pardo, esposa do Vice-Rei de Mal­
(1533-1617): lorca, ]5T Juan Vilaragut, tinha, ainda era vida do
Irmão, um retrato deste em seu oratório, <5 disse a
"Grande era a fama de santidade que desde há seu confessor que não podia passar diante dele sem
lhe fazer úmã reverência; e que tinha escrúpulo"cte
muito tempo gozava dentro e fora da casa o Irmão
Afonso e conservava-se como relíquia qualquer ob­ não sentir tanta devoção quando passava diante das
jeto seu. *Tal era o conceito que todos da casa imagens de outros santos^ JÃ~~canonizados" ♦ (Pe.
tínhamos de sua santidade, escreve o Irmão Onofre JAIME NOVELL, Vida de San Alonso Rodríguez, Im-
prenta y Librería Vda. E. H. de SubiranaJ Barcelo-
Serra, ^que há catorze anos que o conheci, muitos
do Colégio recolhiam coisas suas para . guardá-las na, 1888, pp. 591 e 59% / Con licencia).
como relíquias: e_ quando lhe cortavam o^ cabelo,
recolhiam-no para o_mesmo efeito; até as penas com 209» As_ pessoas recorriam às relíquias
que escrevia, pedaços de papel que tivesse tocado. de suas vestes para afastar bs maus pensamentos
E conseguiam sua assinatura, dizendo que era para
colocar no registro da portaria•(Pe. JAIME N0- De uma antiga biografia do Beato José de An-
NELL, Vida de San Alonso Rodríguez, Imprenta y chieta (153^—1591)> o grande Missionário Jesuíta e
192. Secção II
Secção II 193.
Apóstolo do Brasil: "Da perpétua pureza com que cabeça muitas pessoas que as padeciam, só com o
Deus o conservou, alguma coisa se disse no livro
por com fé". (SIMAO DE VASCONCELOS, Vida do vene-
primeiro, capítulos sétimo e oitavo, quando esteve rável Padre José de Anchieta, Imprensa Nacional,
entre os gentios só amparado com o fervor da glo­ Rio de Janeiro^ ^9^3, vol. I, p. 216).
riosa Virgem Mãe de Deus, ajudando-se da oração e
penitência corporal; neste passo bastará acrescen­
tar o que um padre nosso certificou em seu teste­
211. Médico guarda como relíquia as
munho, que ainda sendo ele vivo, algumas pessoas
que podiam haver algumas relíquias do seu vestido, ataduras que cobriam
confessavam serem multo ajudadas Be"Deus contra os as chagas de São Joao da Cruz
maus pensamentos.....
Conta-se sobre São João da Cruz (1542-1591),
"Pela fama da santidade do padre José, con­ num livro de sua vida:'
firmada cora tão notáveis exemplos quotidianos, e
de sua rara virtude e obras milagrosas, que Deus, "Ainda que Frei João (São João da Cruz) tenha
por este vaso escolhido fazia, multas pessoas to­ escolhido Ubeda porque ninguém o conhecia, logo
marem devoção de se ajudarem das relíquias do ves­ corre a noticia de que no convento dos Descalços
tido do padre, para suas enfermidades, em especial há um enfermo que é santo, e são muitos os que se
para dor de cabeça, como algumas pessoas o Juram interessam por sua saúde.....
era seus testemunhos, terem-no ouvido e visto em "Uma vez preparada a comida, uma menina de
outras, e ainda experimentado em si mesmos". (Pe.
PERO ROIZ, Anchlèta, Livraria Progresso Editora, catorze anos, empregada de Dona Clara, chamada Ma­
Salvador, 1$55, pp. 98 e 18^4). ria de Ortega, leva-a ao Convento. Um dia .... as­
siste a um curativo que o Doutor Robres faz no
Santo. A menina observa que no transcurso do cura­
210. Furtavam santamente alguns tivo, o médico guarda dlsslmuladamente na sacola
de seus objetos e eram curados os panos e^ ataduras que retira "das chagas, apesar
de estarem empapadas de pus. Quando volta para ca­
sa, Dona Clara lhe pergunta como está o enfermo. A
Ainda sobre o Beato José de Anchieta conta
menina diz que se espanta de como ele não se quei­
outra biografia antiga: xa dos curativos e, recordando o que viu o médico
fazer, exclama: 'Senhora, que grande porco é o Dr.
"7* Estava outra mulher de parto, havia quin­ Robres! Coloca na sacola os panos e ataduras
ze dias, apertada de dores e com grave perigo; foi cheias de pus que retira das chagas do Padre Frei
chamado José, aplicou-lhe a mão, e de repente lan­
João da Cruz, e os leva'. 'Cale-se, boba! — res­
çou a criança e ficou livre do perigo. E era tal a ponde Da. Clara — pois são relíquias que cheiram
fé nestes casos que, quando não podiam haver a multo bem, porque o_ Padre Frei João da Cruz é üiü
presença e_ mãos de Jose, bastava so o toque de santo, e £ por isso que ele os leva'". (CRIS0G0N0
qualquer coisa sua para grandes efeitos. Sao ví^ DE JESUS OCD, Vida de San Juan de la Cruz in Vida
rios os sucessos em seus processos, era os quais se í obras de San Juan de la Cruz, BAC, Madrid, 196*!,
mostra que só com uma carta escrita de sua letra,
pp. 322 a 324 / ImprTmaíur: José Maria, Ob. Aux. y
tiveram partos felicíssimos mulheres diferentes,
Vic. Qen., ll-5-19b4).
que estavam em perigo: Juliana de Sousa, Maria Ma­
chado e Vitória Pinto, na vila de Santos, e outras
muitas, nas demais vilas.
212. Tocaram nele medalhas
"8. Era coisa também mui ordinária fazerem-se e terços, como num santo
furtos santos de coisa de suas alfaias, que apli­
cavam com efeitos maravilhosos. Com um barrete De uma biografia de São Roberto Belarmino,
seu, deste modo havido, foram livres de dores de Bispo, Cardeal e Doutor da Igreja (1542-1621):
194.
Secção II Secção II 195.
"Arcebispo de Cápua. — Foi o próprio Clemen­

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"Este seguindo as prescrições do Concílio
Tridentino e com grande edificação de toda a Cú­
ria Romana, partiu para a diocese poucos dias de­ 214. Paroquianos disputam entre si
pois da sagração. para guardar algum objeto
que pertencera ao seu Cura
"Realizou-se a 1 de maio a entrada solene do
novo Pastor. Ãs portas da^cidade montou a cavalo,
escoitado por toda a nobreza de Cápua, e sob um Da história de São Vicente de Paulo
(I58I-I66O), por Monsenhor Boúgaud:
baldaquino que sustentavam seis magistrados. A fa-
ma de santidade do novo arcebispo trouxera a_ rece­
"Nada diremos da profunda aflição dos habi­
be-lo ura enorme concurso de gente, que levava a
tantes de Châtillon, quando eles se deram conta de
sua veneraçao a_tocar riêXe, como em santo, meda­
lhas e^ terços. Para poder entrar na catedral,’ ti­ que iam perder o seu pároco (São Vicente de
Paulo). Viara-se repetir as cenas de Clichy. À pri­
veram que tomá-lo nos braços alguns homens robus­
tos e levá-lo por outro caminho. meira palavra que ele disse do púlpito, os soluços
desataram-se. 1Nós perdemos tudo, nós perdemos o
"Parecia-nos ver nele um bispo dos tempos an­ nosso pai*. Ele distribuiu naquela mesma tarde aos
tigos, diz uma relação contemporânea, e as suas seus queridos pobres, que ele estava particular­
palavras fizeram-nos compreender que vinha até nós mente desolado de deixar, seus móveis, suas rou­
levado daquele espírito de força e doçura a que pas, seus parcos mantimentos. Os ricos tornavam a
ninguém resiste". (JOAO RODRIGUES MENDES SJ, 0 comprar deles as menores lembranças; e_ um dos
Santo Cardlal Roberto Belarmino, Apostolado da Im­ pobres, Jullen Caron, teve que sustentar uma espé­
prensa-^ Porto^ I$3Ú> p. 42 / Imprlmatur: A.A., cie de assédio para guardar um,velho chapéu.
Bispo do Porto, 30-4-1930).
"No dia da partida, toda a paróquia estava no
•caminho. Logo que o santo apareceu, todos caíram
213. Bispos e Cardeais colocam seus solidéus de joelhos clamando: fA sua bênção! * — que o san­
na cabeça veneranda do ancião," para to lhes deu chorando. Perto de cinqiienta anos de­
santificá-los naquele contacto. sagrado pois, as pessoas idosas que testemunharam esta ce­
na, ou os seus filhos e netos, declararam sob Ju­
Ainda da mesma biografia de São Roberto Be­ ramento, em vista de uma provável canonização, que
larmino (1542-1621): seria impossível assinalar tudo o que tinha sido
feito em tão pouco tempo (cirtco meses!) pelo Padre
"E_assim pessoas de todas as condições passa­ Vlncent (São Vicente de Paulo), e que eles teriam
tido dificuldade em crer, se não tivessem visto e
vam pelo quarto de Belarmino (Sãõ Roberto Belarml-
no], tocando neUT crucifixos. Imagens, e terços» ouvido. Eles lhe tinham uma tão alta estima, que
não falavam a seu respeito senão como de um santo.
procurando como inapreciável dita beijar-lhe as
mãos; alguns caíam de Joelhos a chorar; a_ devoção Acreditam que sua atuação em Châtillon seria sufi­
levava outros a furtar algum objeto do santo; hem ciente para o fazer canonizar, e não duvidam abso­
faltaram bispos £ cardeais que colocassem o_ seu lutamente que o será um dia" . (Monseigneur B0U-
8olldeu~ na cabe"ça veneranda do ancião para o_ san­ GAUD, Hlstolre de Salnt Vlncent de Paul, Llbrairie
tificarem naquele contacto sagrado. Belarmino, Vve. Ch. Foussielgue, Paris, 4a. ed., Tome Pre-
julgando que lhe tocavam aqueles objetos, só com o mier, pp. 80-81).
fim de o animar e consolar, agradecia ingenuamente
tamanha caridade". (JOAO RODRIGUES MENDES SJ, 0
Secção II 197.
196. Secção II
um ouvido, depois o outro, pois sofria de surdez
215* Ousadia de uma postulante ^77ase completa. No mesmo instante a_ surdez desapa­
para obter relíquia dos cabelos de
receu e nunca mais voltou.
São Luís Grlgnlon de Montfort
"Um dos religiosos da comunidade sofria de um
De uma vida do grande Apóstolo marlano, São tumor na garganta. Os médicos, a princípio, opta­
Luís Grlgnlon de Montfort (1673-1716): ram pela operação, mas depois verificaram que era
demasiado tarde. 0 Padre estava há dias à espera
MUm dia em que ele (São Luís Maria Grlgnlon da morte. Abandonado da ciência, fez-se transpor­
de Montfort) se demorou em formular bera certas tar â cela onde agonizava o santo Fundador. Tomou
uma das vendas recém-usadas pelo doente e aplícou-
prescrições (da Regra), uma postulante, entrando
por acaso no aposento onde ele escrevia, foi toma­ ZgTa”si cheio de confiança. Levaram-no de volta a
da de respeito em sua presença, de tal forma ele enfermaria e, no dia seguinte, qual não foi a es­
parecia como que perdido era Deus; com uma ousadia tupefação dos médicos que não descobriram o mínimo
frem desculpável, ela teve mesmo a_ldeiã~ de lhe de tumor, onde antes havia um muito grande, como
cortar algumas mechas de cabelos, para fazer delas tinham constatado". (Pe. JOSE MONTES CSSR, Afonso
relíquias para si" . TUOUIS LE "CROÍÕÍonf., Saint de Ligorio o Cavaleiro de Deus, Editora Vozes, Pe-
Louls-Marie Grlgnlon de Montfort, Librairie Maria- trópolis, 1962, p. 160 / Imprimatur: Pe. José Ri-
Tê] Pont-Chateau, 1^2“ Í20 / Imprimatur: bolla CSSR, Superior Provincial, Sao Paulo).
Eduardus, Eplscopus Pictaviensis, 29-9-1942).
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217. Toda a sua vida Vicente trará
2l6. 0 simples contato com c) corpo sobre seu coração, como
õe Santo Afonso agonizante ou com relíquia, uma carta de São Paulo da Cruz
objetos nele tocados opera milagres
Narra um livro sobre São Vicente Strambi
De uma biografia de Santo Afonso Maria de Li- (1745-1824):
gório (1696-1787):
"Em lugar de entrar novamente em Civita-Vec-
"Ura cônego, que havia três anos só podia an­ chia, ele (São Vicente Strambi) foi*ter à Casa dos
dar^ de muletas, veio pedir-lhe (a Santo Afonso de Passionistas de Capranica, onde o aguardava uma
Ligorio) uma ultima bênção. Os facultativos haviam carta de São Paulo da Cruz.....
capitulado ante a enfermidade e o bom padre se ti­ "Durante toda.a_ sua vida Vicente Strambi le-
nha conformado com a vontade divina. Encontrando- varia este bilhete, como uma relíquia, sobre seu
-se ao lado do Servo de Deus e lembrando—se de coração, e não é proibido supor que nos momentos
tantos milagres, que, segundo lhe diziam, havia de extrema fadiga, ele o tocasse com as mãos".
operado, quis experimentar também a fortuna. Sobre (MARIA WINOWSKA, CEst 1'Heure des Salnts, Impri-
a cama estava o escapulário de Afonso. Tomou-o, merie Maison de la Bonne Presse, Paris, 1952, pp.
aplicou-o à. perna doente e imediatamente desapare­ 70-71 / Imprimatur: Petrus Brot, V. G., Paris).
ceram todas as dores £ ficou são, pelõ~que, cho-
rando de comoção, disse aos presentes:
218. Distribuíam o sangue do
Cheguei aqui aleijado e volto são e bom.
Cura d'Ars como preciosa relíquia
"No dia seguinte entrou no quarto do doente o
Provincial dos Capuchinhos. Afonso estava em esta­ Contam algumas testemunhas do processo de Ca­
do letárgico. 0 Provincial pediu-lhe, quase a gri­ nonização e Beatificação do Cura d'Ars
tar, uma bênção para s*eus religiosos, mas não lo­ (1786-1859):
grou fazer-se entender. Então tomou-lhe a mão e
persignou-se com ela, tocando com _a_ mesma “primeiro
198. Secção II Secção II 199.

”0 interesse da multidão pela sua pessoa (de "Apenas o Cura d'Ars aparecia fora da igreja,
São João VIanney) sempre lhe foi desagradável. a multidão começava a murmurar: Ei-lo! Corriam até
'Sentia verdadeira tristeza, diz a condessa de Ga- ele, assedlando-o, comprimlndo-o; ele nao podia
rets, ao ver que buscavam os objetos de seu uso avançar ura passo sem levantar seu braço para aben­
para convertê-los em relíquias* (Processo Ordiná­ çoar. Geralmente, um homem caminhava adiante dele,
rio, p. 917). Um dia, ao notar que lhe cortavam um para conter a_ multidão. 0 Santo Bem-aventurado im-
pedaço da batina, disse entre gemidos: 'Que devo­ punHa as mãos na fronte das crianças, tocava os
ção mais mal-entendida1 . Cada vez que cortava os enfermos, respondia às perguntas com que o asse­
cabelos tinha o cuidado de os recolher e queimar diavam. Algumas mulheres, por trás, cortavam a
na estufa do seu quarto. (Ds barbeiros, porém, não fímbria de sua sobrepeliz, mechas de seus cabelos
eram lá multo escrupulosos e facilmente se deixa­ abundantes. Sem se irritar, ele lhes dizia: 'Dei-
vam subornar. João Pertinand conquistou muitos xem-me tranquilo'. Humilde, curvado, não aguentan­
amigos graças ao piedoso latrocínio que se permi­ do mais, porém amável cora todos, ele continuava
tia cometer sempre que achava ocasião propícia lá, como no altar, o intercessor e a vítima.
(Catarina Lassagne, Processo apostólico n®. pe-
reant, p. lJ10) . "Que alívio sentia, entretanto, quando atin­
gia o presbitério e fechava a porta atrás de si!"
"0 Cura dTArs, que era o menos desconfiado (EMILE BAUMANN, Trols Vllles Salntes, Editions
dos homens, não acertava adivinhar a causa desses Publlros, Marseille, pp. 3^-35).
furtos, de que frequentemente era vítima. Ao ter­
minar uma missão desapareceu-lhe o candieiro. 'E
curioso, disse ele, ^eu julgava que todos se hou­ 220. Eclesiásticos franceses desfiaram
vessem convertido... e eis que me roubam!' (João a murça de Pio IX guardando
Pertinand, Processo Ordinário, p. 391). com veneração essas relíquias
"Quando nos últimos anos o Dr. Saunier san­ De uma biografia de Pio IX (1792-1878),
grava-o uma ou outra vez para lhe descongestionar
a cabeça, o P. Vianney mandava enterrar o sangue publicada em sua vida: „
no cemitério, 'porque era sangue de cristão' (Con­ "No dia seguinte, celebrou-se o vigésimo pri­
dessa de Garets, Processo Ordinário, p. 917), mas
meiro aniversário da coroação de Pio IX. No dia 23
exigia que só o enterrassem na sua presença (Marta-
foi sagrada a Igreja de Santa Maria dos Anjos, ad­
Miiard, Processo apostólico continuativo, p. 858;
Cônego Morei, Processo apostólico iri genere, p. mirável monumento edificado pelo plano de Miguel
456). Mesmo assim, isso não impediu aos bons Ir­ Ângelo nas Termas de DIocleciano e retificado por
mãos de Ars de subtraírem um pouco e_ dlstrlbui-lo Pio IX. A 2H, à saída da basílica de S. João de
como preciosa relíquia. (Ainda se guardam algumas Latrão, fizeram ao Papa uma ovação como talvez
garraflnhas de cristal com sangue que permaneceu nunca tinha recebido. Ajoelhada na ampla praça, e
líquido. Há uma no tesouro de Ars, outra no Carrae- quase enchendo-a, a multidão que não coubera na
lo de Châlons-sur-Saône e outra em Nantes, na Ca­ basílica esperava a bênção pontifical. Depois que
pela dos PP. Capuchinhos. Esta última,.sem dúvida, Pio IX estendeu a mão para abençoar, todo o povo
se levantou, e por ura único movimento em um só
pertenceu ao Sr. Sionnet, grande amigo do Cura brado respondeu: Viva Fio IX, Viva o Papa-Rel! Os
d'Ars)" . (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d'Ars, Vo­
zes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, p. 379 / Imprlma- braços e os lenços agitavam-se, as flores choviam,
tur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uruguaiana, e a carruagem papal ficou por multo tempo aprisio­
^6-1959). nada. 0 Santo Padre, apesar de estar acostumado às
demonstrações apaixonadas do povo, tinha os olhos
cheios de lágrimas. _A_ sua murça foi por assim di­
219. "Algumas mulheres, por trás, cortavam-lhe zer desfeita fio a_ fio pelos ecTesiástlcos france­
a sobrepeliz e mechas de cabelos..."
ses que se achavam por trás dele, os quais deposl-

Sobre São João Vianney (1786-1859) lê-se:


200. Secção II 201.
Secção II
tavam com veneração essas relíquias, em seus bre­ (FRANCIS TROCHU, Bernadette Soublrous» Editorial
viários . 0 ajuntamento de povo e as exclamações
Aster, Livraria Flamboyant, Lisboa, São Paulo,
duraram até chegar ao Vaticano, Isto é o .espaço de 1958, pp. 449-450 / Imprlmatur: Ernesto, Arcebis­
uma grande légua. E todos os dias repetia-se o po-Bispo de Coimbra).
mesmo entusiasmo”. (VILLEFRANCHE, Pio IX, Sua Vi­
da, Sua História e Seu Século, Cia. Editora Pano­
rama, São Paulo, 1*948, p. 2bl).
222. Inventam mil astúcias
para guardar os cabelos de Bernadette,
221. Piedoso estratagema para obter quando ela os corta
objeto tocado por uma Santa De ura livro sobre Santa Bernadette Soublrous
(1844-1879) e Lourdes:
Da história de Santa Bernadette (1844-1879):
"As postulantes, junto às quais ela (Santa
"Em Nevers, numa altura em que a irmã Marie- Bernadette) goza de imenso prestígio — 'Gosto
-Bernard se entregava ainda às suas ocupações ha­ muito das pequenas toucas!' diz ela com agrado —
bituais, uma mulher da cidade veio a Saint-Gil- as postulantes, inventam mil astúcias para ter uma
dard. Desejava encontrar para o filho multo doen­ Tembrança de Bernadette, guardar seus cabelos
te , algo que a_ vldente~He LourcTes tivesse tocado, quando ela os corta, fazer-lhe tocar objetos - ou,
e por isso imaginou ura estratagema: pediu que 'en­ mais simplesmente, devorá-la com os olhos.
tregassem a Bernadètte uma cobertura de berço
•feita de renda, mas emaranhada e inacabada’, para "Bispos, Cardeais, vêm ver Bernadette, e a
que ela a desenredasse e acabasse. A irmã Victoire interrogam com visível emoção...
Cassou foi entregar o recado. Entrando na sala on­ "Alguns visitantes pretendem pedir-lhe conse­
de a irmã Marie-Bemard trabalhava cora as suas lho na conduta de sua vida espiritual. De todos os
companheiras, explicou: *-Minhas irmãs, uma mulher lados as pessoas lhe pedem orações. As crianças,
enredou esta cobertura. Podem repará-la?’ Dizendo as postulantes, as noviças que a visitam quando
isto colocou a lã emaranhada sob os olhos de Ber­ está doente, manifestam frequentemente uma admira­
nadette, que de nada desconfiava. ’Está bem res­ ção fortíssima e saem da enfermaria recuando..."
pondeu esta, estas senhoras estragara o trabalho e (MICHEL DE SAINT-PIERRE, Bernadette et Lourdes,
nós somos obrigadas a repará-lo... Vamos lá, dê-me Éditions "La Table Ronde", Paris, 1958, p. 16b).
essa cobertura’. Bernadette arranjou-a; levaram-na
imediatamente à mulher que a; colocou sobre a
criança, e esta curou-se (segundo o cônego Aug. 223. Estratagema de um Bispo para
Perreau, Pr. Ap. Nevers, f. 154• «— Madre Bordena- óbter~uma relíquia de Santa Bernadette
ve, id., f. 394).
"A casa-mãe foi ainda testemunha de um outro De um livro sobre Santos dos nossos tempos:
prodígio. ’Uma mulher, conta a irmã Claire Bordes,
trouxe-nos ura garoto que não podia andar. Queria "Algumas vezes, ela (Santa Bernadette) ficava
que Bernadette lhe tocasse^ esperando que se desse bem zangada com as jovens freiras que tentavam to­
um milagre’. A superiora geral — madre Joséphine car seu hábito ou seu rosário. E ura Bispo que vie­
Irabert — chamou a irmã Marie-Bernard e disse-lhe: ra vê-la, numa ocasião em que estava doente, in­
•Torae conta da criança enquanto falo com esta se­ clinou-se tanto sobre sua cama que o solidéu lhe
nhora’. Bernadette, continua a irmã Bernard Da- caiu. Ele esperou que ela o_ pegasse e^ lhe devol­
lias, ’gostava muito de crianças. Tomou nos bra­ vesse, mas a. Santa, sabendo que ele _o_ iria consi­
derar çomo uma relíquia, deixou-o ficar onde esta­
ços, mas depois achando-o muito pesado, pô-lo no va. Em vez de apanhá-lo, o_ Bispo de tal modo in­
chão'. 0 garoto 'correu alegreraente para a mãe'". sistiu para que ela o_entregasse, que até a Madre
'1
202. Secção II

Superiora riu-se do estratagema. Foi só à ordem


desta que Bernadette apanhou o solldéu e o devol­
veu ao Bispo”. (THEODORE MAYNARD, Salnts for our
Times, Appleton-Century-Crofts, Inc., New York, p.
261 / Imprlmatur: Francls Cardinal Spellman).

4
n<S
224. ”Estes cabelos serão para mim relíquias”

— IU
De duas cartas de Santa Tereslnha (1873-1897) Çqpq3 g gratgs* e rgstgi
ao Padre Roulland* missionário na China:
de çgmld§ e bebida agg sagjga*
”Ides de certo achar-me criança demais, mas
não Importa, confesso-vos que cometi um pecado .de qu da água na qual ae lavaram*
Inveja, lendo que vossos cabelos lam ser cortados


e substituídos por uma trança chinesa. Não foi aãg venerados çqçdq
desta que tive Inveja, mas simplesmente de uma pe­
quena mecha dos cabelos deitados fora. Perguntais- ÊQçSiâQcea de binglgs

-

-me de certo rindo que é que eu faria déles? Pois
bera, é muito simples, nestes cabelos serão para mim

.í--
relíquias, quando estiverdes no Céu com a^ palma do
martírio na mao. Achais sem duvida que me previno 225. Cardeal vê-se curado depois de beber
com muita antecedência, mas sei que é a única ma­ por um copo que Sao Bernardo utilizara
neira de conseguir o meu intento, porque a vossa
irmãzinha (que não é tida como tal senão por Je­ De uma biografia de São Bernardo (1090-1153):
sus) ficará certamente esquecida na distribuição
de vossas relíquias. Estou certa que vos rides de "(São Bernardo) curou diversas pessoas enfer­
mim, mas não faz mal. Se consentirdes em pagar a mas tocando-as com as mãos ou dando-lhes a beber
pequena recreação que vos dou com 'os cabelos de água benta. 0_ próprio cardeal Mateus se restabele-
ura futuro mártir', fico bem recompensada (Carta ceu de um violento ataque de febre depois de beber
de 1-11-1896)”.
t
"Recebi com alegria, ou antes com emoção, as
relíquias (trata-se da mecha de cabelos pedida pe­
la Santa ao R_. P_. Roulland - Ver Carta CLXXVIII de
1 de Novembro de 1896) que vos dignastes enviar— 226. Bispo recupera a saúde ao
-me (Carta de 1-5-1897)". (Cartas de Santa Teresa utilizar-se de um prato do qual se
do Menino Jesus, Obra das Vocações Sacerdotais, servira Sao Bernaroc)
Salvador, pp. 361, 362, 402 e 406 / Imprlmatur:
Antonio. Bispo Auxiliar, 30-9-1952). De outra biografia do mesmo São Bernardo:

"Qualquer coisa que (São Bernardo) tivesse


trazido sobre si, era tida por preciosa relíquia;
até um prato de barro, do qual se utilizou uma vez
õ Santo, bastou para restituir a saúde a um Bispo
que comeu uns pedaços de pão e tomou um pouco de
agua que havia mandado colocar nele". (P. PEDRO DE
RIBADENEIRA SJ, Vida de San Bernardo in Obras Com-
20*4. Secção II
Secção II 205.

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227. Um homem guardou como relíquia
o copo usado por São Joao da Cruz
229. Uma paralítica fica curada ao comer
De uma vida de São João da Cruz (15*12-1591),
das sobras do prato de Frei Isnardo
colaborador de Santa Teresa na reforma do Carmelo:
Do santo varão Frei Isnardo (sec. XIII), con­
"Antão de la Bermeja é um homem bom e piedo­
ta uma antiga vida dos Padres Dominicanos:
so, Irmão terceiro do Carmo. Não sabe como obse­
quiar ao padre Prior (São João da Cruz), com cuja "No convento de Pavia viveu ura piedoso e fer­
presença se considera tão honrado, e lhe oferece voroso varão, pregador muito eloqiiente, chamado
ura copo de vinho. Prel João o recusa, mas ante a Frei Isnardo (Beato Isnardo), por meio do qual
Insistência de Antão, bebe um pouco. 0 piedoso ho­
Deus fez muitos milagres, confirmados por testemu­
mem guarda c> copo como uma relíquia TNlnguem tor­ nhas fieis • ....
nará a beber nele por cerca de trinta anos, duran­
te os quais consegue conservá-lo. 0 padre Alonso
da Madre de Deus (;o Asturiano) chega a ver o òopo
e constata a estima com que o guarda Antão de la
Bermeja. Ao morrer deixa-o a ura parente seu, que o
conserva cora a mesma veneração, até que um dia se
quebra". (CRIS0G0N0 DE JESUS OCD, Vida de San Juan
de la Cruz, in Vida £ Obras de San Juan de la
Cruz, BAC, Madrid, 19^*4, p. 2tí7~7 Imprimatur: José"
Maria, Ob. Aux. y Vic. Gen., ll-5-19o*4).
230. Um cônego sara ao comer pedaço de pão
subtraído do prato de São Paulo da Cruz
228. Por devoção, freiras chegam
£i tomar os restos de seus alimentos De uma historia de São Paulo da Cruz
(169*4-1775), que fundou a Congregação dos Passlo-
Da mesma biografia de São João da Cruz: nistas:

"Tudo isto faz com que a veneração por seu "0 cônego Vespasiano de Sanctis, de Sonnino,
Mestre espiritual (São~~Jõao da Cruz) seja a que se na diocese de Terraclno, que Já sofria de uma
tem um santo canonizado. Quando entra na clausu­ grande e perigosa hérnia, foi atingido da cólica
ra, há~~Irmãs que se põem de Joelhos diante dele e 'miserere*. Não havia mais esperanças; o médico
beijam-lhe as mãos e^ os pes, como faz Isabel da fez com que lhe fossem administrados os últimos
Encarnação. Outras vezes disputara as sobras da sua sacramentos. Na própria noite em que se contava
comida. Atentas ao momento em que Frei Joao Çêrmi- vê-lo expirar, ele se lembrou de que tinha ura pe­
nou sua refeição, quando as Irmãs porteiras rece­ queno pedaço de pão, subtraído ao Servo de Deus
bera de volta os pratos de barro, chegam as.Freiras (São Paulo da Cruz) durante seu jantar na casa de
como porfia, comem o pão que sobra e^ bebem, como um benfeitor; fê-lo trazer, tomou algumas migalhas
se fosse benta, a água que deixou no copo e_ repar­ com um pouco de água e imediatamente entrou era um
tem entre si as sobras do prato como coisa santa. profundo sono, que durou a noite toda. Quando
Pelo contrário, ninguém toca nas sobras do compa- acordou, de manhã, encontrava-se completamente cu-
206. Secção II

rado; ate a hérnia havia desaparecido. ?Desde en­


tão, acrescenta o venerável Strambi (São Vicente
Maria Strambi), contemporâneo do cônego, ele goza
de perfeita saude™. (L0UIS-TH. DE JESUS AGONI- YII
SANT, Hlstolre de Salnt Paul de la Croix, Librai-
rie H. Oudin, Sditeur, Paris, 4a. ed., 1888, p. A trêgslg dga üsSqs
613 / Cora aprovação eclesiástica).
— oig igoâg est|| §§çg£âg£g| —
231. "Bebo esta água porque nela I PiESiculirmeg£| P5i§lQ|§
um santo lavou as mãos"
glhQS dgl
De uma biografia de São José Benedito Cotto-
lengo (1786-1842): guq §1 algal d§ YIPiEISlg
"Como demonstração do conceito que os asila­
dos faziam do seu padre (São José Benedito Cotto- 55 ilgelbii âiigíi áslea
lengo), basta este episódio. A Irmã Fernanda viu
um dia uma Ursulina, .... cora alegria e respeito § lüiã §1 sIqs § §| gli
beber da água na qual o_ servo de Deus* Tavara as
mãos. Interrogada pela superiora por que faziais-
to, --respondeu que bebia aquela água, porque nela 233. 0£ ósculos eram tantos
um santo lavara as mãos". (Mons.AQUILES GORRINQ, que as mãos de Sao Bernardo inchavam
Sab José Benedito Cottolengo, Vozes, Petrópolis,
2a. ed., 1952, p. 354 / Com aprovação eclesiásti­ De São Bernardo (1050-1153) nos conta o Padre
ca).
Teodoro Ratisbonne, fundador.das Filhas e dos Mis­
sionários de Nossa Senhora de Sion:
232. Após lavar os pés de Santa Clara,
"Em Toulouse não foram menos abundantes os
uma freira bebeu aquela
água, achando-a doce £ saborosa efeitos de suas palavras (de São Bernardo); mas o
entusiasmo e as demonstrações de respeito que lhe
manifestavam os habitantes da cidade, logo trouxe­
Depoimento da Irmã Inês de Oportulo, no Pro­ ram sérias Indisposições a São Bernardo. Diz-se
cesso de Canonização de Santa Clara de Assis que tantos ósculos cobriam suas mãos que várias
(1193-1253):
vezes elas inchavam consideravelmente como aconte­
"A depoente contou finalmente que tendo uma ceu também com os seus magros e delicados braços,
vez .conseguido £ grandes instâncias, lavar os pes a ponto de não poder mais dar a bênção". (M. l*Ab-
da Bem-aventurada MadreT bebeu em seguida a água bé RATISBONNE, The Life and Times of St. Bernard,
desse banho, a qual lhe pareceu doce e tão saboro­ P. J. Kenedy, Excelsior Catholic PuBTishing House,
sa que ela nab saberia explicar. — Foi-lhe per­ New York, 1895, pp. 408-409).
guntado se alguma outra Irmã havia também bebido
dessa água; ela respondeu que não, porque a refe­
rida Madre a Jogou fora imediatamente, a fim de 234. Aqueles que se encontravam perto
que ninguém mais a degustasse*!. (J*al connu Mada- dele beijavam-lhe os pés.~
me Salnte Clalre — le procès de canonlsatlon de
SãintcT üTalre d1 Assise -- Les Ecfitions du Cedre, ' Ainda de São Bernardo, narra outra biografia
Paris, 1961, p. 87 / Imprimatur: J. Gaston, Vic. sua: "Ele (São Bernardo) foi recebido pela popula­
gen. de Toulouse, 12-7-1960). ção com um entusiasmo indescritível: Jamais um mo-
Secção II 209.

Francisco Xavier, varão verdadeiramente apostólico


208. Secção II .. . para mostrar a devoção e_ veneração que lhe
tinha (a Santo Inácio), muitas vezes, quando lhe
narca se viu de tal maneira aclamado. Esperado no escrevia cartas, escrevi-as de joelhos”. (PEDRO DE
caminho por uma enorme multidão, não pôde esqui- RIBADENEYRA SJ, Vida dei blenaventurado Padre San
var-se aos sinais de veneração que lhe prodigali­ Ignacio de Loyola, in Historias de la Contrarre-
zavam. Os que se achavam perto dele, beijavam-lhe
os pés; outros, mais ousados, cortavam ou rasgavam forma, BAÜ"7 Madrid, 19*15, p. 313 / Imprimatur: Ca-
simiro, Obispo Aux. y Vic. Gen.).
os panos da sua vestimenta para os conservar como
relíquias, e ele entrou na cidade no meio de alas
de doentes que foram colocados em seu caminho para 237. ...como ele mesmo
que os curasse tocando-os. Pois se sabia que Deus conta numa carta
gostava de operar pelas mãos do abade de Claraval
milagres que atestavam a sua virtude. Nos dias se­ Fecho de uma carta de São Francisco Xavier a
guintes, invadiu-se o presbitério onde ele se hos­ Santo Inácio de Loyola:
pedara, e se espreitavam os seus movimentos para o
aclamar: ele ficava impassível no meio desta ex­ ”Assira termino, meu Pai zelosíssimo de minha
plosão de popularidade”. (RENE DUMESNIL, Saint alma, com os Joelhos em terra enquanto esta escre­
Bernard Homme d1Action, Desclée de Brouwer et' Cie, vo como se vos tivesse presente, pedindo a vossa
Editeurs, Paris, 193*
*1, pp. 87-88 / Imprimatur: V. santa Caridade que me recomendeis muito a Deus
Dupin, v. g., 2-3-193*0 • Nosso Senhor em vossos santos e devot.os sacrifí­
cios e orações, para que Ele me faça sentir a sua
santíssima vontade nesta vida presente e me dê
235* Be i Jav.am os pés do graças para a cumprir perfeitamente. Amém. E o
Bem-aventurado~Tordao da Saxônia, mesmo peço a todos os da Companhia / De Cochim, em
à sua partida~~de Jerusalém 12 de Janeiro de 15*19 / Vosso mínimo e mais Inútil
filho / Francisco”. (San FRANCISCO JAVIER, Cartas
Da vida do Bem-aventurado Jordão da Saxônia £ Escritos de San Francisco Javler, BAC, Madrid,
(1185-1237), discípulo e sucessor de São Domingos 1953, p. 281T’/ Imprimatur: José Maria, Ob. aux. y
como Mestre Geral da Ordem dos Pregadores: Vic. gen., Madrid, 1-5-1953).
”E tendo assim começado, continuou o bem-
-aventurado (Jordão da Saxônia) o seu discurso; e 238. ”Renunclarla a ver São João Batista
quando chegou o momento da separação, os cavalei­ para me lançar aos pés da
ros vertiam lágrimas, beijavam seus pes e_ suas Madre^Teresa £ pedir-lhe a bênção!”
vestes, recomendando-se as suas oraçoes”. (Rev7
Pê: Fr. JOSEPH-PIE MOTHON, Vie du Bienheureux
• Lê-se em uma biografia de Santa Teresa
Jourdain de Saxe, Société Génerale de Librairie (1515-1582), com aprovação eclesiástica:
Catholique, Paris, 1885, p. 306 / Imprl- matur:
Fr. Thomas Faucillon, Prior Provincialis, . ”Francisco de Salcedo, Gaspar Daza, Gonzalo
10-9-1884). de Aranda, o P. Pedro Ibáhez, todos estavam Já
não só convencidos, mas conquistados: se quisesse
podia fazê-los passar pelo fundo de uma agulha, e
236. São Francisco Xavier escrevia não era ela que se privaria de o fazer. A venera­
de joelhos a Santo Inácio, ção que o santo fidalgo lhe dedicava não tardaria
pela grande devoção que lhe tinha... a tornar-se tão espetacular como o tinham sido as
suas dúvidas:
Da vida de Santo Inácio de Loyola
(1*191-1556), pelo Padre Ribadeneyra: ”0 Padre
210. Secção II
Secção II 211.
”— Se me viessem dizer que S. João Batista
estava às portas de Ávila e a Madre Teresa noutro interdizer-lhes a entrada, receando que o enfermo
ponto da cidade, renunciaria _a_ ver S_. João Batista se extenuasse de fatiga com novos entretenimentos.
para me lançar aos pés da Madre Teresa £ pedir-lhe Berchmans veio a saber disso, e prevendo que não
a ben~çao"~» (MARCELLE AUCLAIR, Santa Teresa de Avi- veria mais seus Irmãos, se não os visse naquele
la, a Dama Errante de Deijs, Livraria Apostolado da dia, suplicou ao Superior que levantasse a sua
Imprensa, Porto, 1^759, p. 121 / Imprimatur: Fio- proibição. 0 Reitor não ousou resistir a um desejo
rentinus, ep. Aux., 4-9-1958). que julgava inspirado por Deus; e todos os reli­
giosos vieram cada um por sua vez visitar o santo
irmão. Ao chegarem junto ao leito, muitos ajoelha-
239* Frades ajoelhados pedem ram-se, e Joao nao o conseguiu impedir..... Al­
a bênção a Santa Teresa guns consignaram nos seus testemunhos escritos,
aqueles derradeiros avisos de São João, fazendo
Conta o famoso historiador William Thomas observar que o santo moribundo falava cora um tom
Walsh, sobre Santa Teresa de Jesus (1515-1582): de irresistível autoridade. Todos estavam estupe­
fatos da majestade sobrehumana da sua voz; todos
"A medida que a carroça que a levava (a Santa sentiam que o próprio Deus falava pela sua boca".
Teresa) ia atravessando os povoados do campo frio, (Pe. Íj. J. Ml CROS SJ, Vida de João Ber­
o povo saía ao seu encontro para vê-la, pois já chmans , Duprat & Comp., São Paulo, 1912, p. 363 /
então se havia estendido largamente o seu prestí­ Com licença da. autoridade eclesiástica).
gio, e corria rapidamente a notícia de sua passa­
gem por ali. .. i/
241. Muitos se prostravam diante
MEm uma casa de Villarrobledo, .onde se deteve dele para lhe beijar os pês
para comer, as pessoas se alvoroçaram de tal ma­
neira que quebraram a porta e as Janelas para vê- De uma vida de São Paulo da Cruz, fundador
-la, e as autoridades tiveram que deter alguns. Em dos Passionistas (1694-1775): .*
outro povoado, ela precisou sair horas antes do
amanhecer, para escapar à nervosa curiosidade do "Tendo chegado a Orbetello ao anoitecer, (São
publico. Pediam-lhe que abençoasse a_ multidão e_j Paulo da Cruz) foi obrigado a ficar lá todo o dia
em alguns lugares, inclusive que abençoasse o_ ga­ seguinte por causa da muita chuva. Bastou este dia
do . No mosteiro Descalço dê~~Nossa Senhora do~ So­ só para que a cidade era peso, lerabrando-se das
corro , os frades saíram"para recebê-la em procis­ missões, prodígios, trabalhos, bemquerença e cari­
são e, depois de se terem ajoelhado diante dela,1 dade do Servo de Deus, se pusesse em movimento, e
pedindo sua benção, escoltaram^-na ate ã~ igreja todas as classes lhe dessem provas dos mais cor­
cantando ~o TeHSêum^. (WILLIAM THOMAS WALSH, Santa
diais sentimentos de afeto, veneração e estima,
Teresa de Ávilã^ Espasa-Calpe, Madrid, 1951, PP.
572-573)" Julgando-se todos felizes de tornar a ver o seu
santo missionário. Quando ele saía de casa para ir
à igreja ou para fazer alguma visita indispensá­
240. Ao chegarem junto ao leito vel, o cercavam uns para lhe tomar a bênção, ou­
tros para prostrar-se diante dele e~beljar-lhe os
de morte de Berchmans,
pes, outros enfim para lhe cortar algum pedacinho
muitos Religiosos se ajoelharam do hábito e levâ-lo consigo, guardando como relTJ
quiaj e tão grande era a massa do povo que o cer­
De uma biografia de São João Berchmans cava, que não conseguia livrar-se daquela santa
(1599-1621): importunidade". (Pe. PIO DO NOME DE MARIA, Vida de
São Paulo da Cruz, Imprensa Pontifícia do Institu­
M0s outros irmãos, menos felizes, cercavam as to fio lX7 ftoma, 1914, p. 125 / Imprlmatur: Fr.
portas da enfermaria. Mas o Reitor, Julgou melhor Albertus Lepidi OP, SPA Magister).
212. Secção II

242. Entravam por um lado e_ saiam por outro,


após terem osculado a mão de Bernadette

Da vida de Santa Bernadette Soublrous


(1844-1879) pelo Cônego Trochu: "Como explicar en­
tão, senão por um Impulso espontâneo, este entu-
slasmo que levava 'todo um povo' a seguir os pas-
sos da jovem vidente, ate 'encher por completo a YIII
rua de Petits-Fossés'? 'Dir-se-ia, declara no mes­
mo momento o comissário da polícia, que ninguém A çgonaQÇâ ga graçlg
quis deixar a_ cidade sem a_ ver de perto1 .
e Dü}§ritQ| âgs ||n|Q|
* Os que estavam mais próximo da casa tinham
conseguido entrar', conta o cabouqueiro Martin leya Çlela a ceggnrengi
Tarbès, e os outros quiseram fazer o mesmo. 'Eu
tinha entrado com Bernadette. Fizemo-la subir para I sua igíicgeaalg garante geua*
o primeiro andar, na casa de Sajous,.e as pessoas
começaram a entrar em fila indiana- como quem vai mesmo à distância
às oferendas. Ajudei a fazer desfilar o povo: en­
travam por ura lado £ saiam por outro depois de te­
rem apertado a_ mão a Bernadette ou de a terem bei­
jado. Isto durou bem' duas horas'. 'Segui-a até ã 244. Santo Afonso ensina: "E licito
casa', exclama Jeanne-Marie Adrian, 'e tive o pra­ e proveitoso invocar em
zer de a beijar com todo o_ ardor do meu coraçao'" . nosso auxilio os santos ainda vivos"
XÍRANCIS TROCHU, Bernadette Soublrous, Editorial
Aster, Livraria Flamboyant^ Lisboa-São Paulo, Do conhecido livro de Santo Afonso Maria de
1958, p. l8l / Imprlmatur: Ernesto, Arcebispo-Bis­ Ligório, Doutor da Igreja (1696-1787), sobre o va­
po de Coimbra). lor da oração:

243. Prelado do Vaticano obstina-se era "_E_ útil e bom recorrer à_ intercessão dos san­
receber a bênção da Madre~Inês de Jesus tos? \— Vem aqui a dúvida se será necessário re­
correr à intercessão dos santos para obter a divi­
Da circülar do Carmelo de Lisieux sobre a Ma­ na graça. Que é lícito e util invocar os santos
dre Inês de Jesus, irmã de Santa Teresinha: como intercessores, para eles impetrarem, pelos
méritos de Jesus Cristo, o que nós por nossos mé­
"Como não recordar esta cena emocionante de ritos não somos digno3 de receber, é doutrina da
um Prelado do Vaticano, futuro Cardeal, admitido a Igreja, como declarou o Concílio de Trento (Sess.
fazer uma peregrinação ao interior do Mosteiro? No 25, dec. de inv. Sanct.): 'E bom e util invocar
momento de partir, no umbral da porta da clausura, humildemente os santos, e recorrer à sua proteção
como a Priora (Madre Inês) se ajoelhasse para re­ e intercessão para impetrar benefícios de Deus pe­
ceber sua bênção, viram-no colocar-se ele mesmo de lo seu divino Filho Jesu3 Cristo'. Essa invocação
oelhos diante dela, recusando levantar-se antes dos santos fora reprovada pelo ímpio Calvino, mas
áe ter sido abençoado pela '"Hãezlnha1 Hà Santa
T5anta Teresinha). Nas grades do locutório, o mes-
contra toda a razão; pois é lícito e proveitoso
invocar em nosso auxilio os santos aThda Vivos e
mo fato se renovará várias vezes". (La "Petlte Mè- pedir-lhes nos ajudem com suas orações; assim fa­
re" d_e Salnte Thérèse de Lisieux, Here Agnès de zia o profeta Baruc O-, 13), dizendo: 'E por nós
Jesus, Carme1”dê Lisieux, L1ImprlmerieSalnt-PauT mesmos rogai ao Senhor nosso Deus'; e assim S.
a Bar-le-Duc, 1953, p. 99 / Imprlmatur: François- Paulo, dizendo: 'Irmão, rogai por nós' (1 Tes 5,
-Marie Picaud, Evêque de Bayeux e Lisieux). 25)• Deus mesmo quis que os amigos de Job se reco-
214. Secção II Secção II 215.

mendassem às orações dele. oarq. que, pelos méritos rendemos o culto de latria, que só à divindade
de Job. lhes fosse propício. !Ide ao meu servo pertence. Adoramos a Deus por sua Infinita exce­
Job... o meu servo Job, porem, orará por vós; ad­ lência e santidade soberana. Honramos os santos
mitirei propício a sua prece' (Job 42, 8). Se, pelos reflexos da santidade que Deus neles estam­
pois, é licito recomendar-se aos vivos, por que pou. Muito diverso pois é o culto que lhes rende­
não se~rá permitido invocar os santos que no céu mos do que rendemos a Deus, fonte suprema de sua
mais de perto gozam de Deus? Isso não é derrogar a excelência e de sua santidade; e essa mesma honra
honra que se deve a Deus, mas é duplicá-la, como o que rendemos aos santos, por causa de sua santida­
é honrar o rei não só na sua pessoa como na pessoa de refletida, remonta para Deus, que é dela prin­
de seus servos, E por isso que S. Tomás diz ser cípio. A Deus é que propriamente honramos nos san­
útil recorrer a muitos santos, porque 'pelas ora­ tos, pois tal honra nos merecem só pela santidade
ções de muitos às vezes se alcança o que pela ora­ de Deus neles refletida. Nessa qualidade de per­
ção de ura só não se obteria' (In 4 sent. dlst. feição termina toda a glória que rendemos aos san­
45). Poderá alguém objetar: de que serve recorrer tos. E porque não honraríamos os santos que estão
aos santos, para que orem por nós, quando eles já no céu, se honramos os que se acham na terra? Se
intercedem por todos quantos são dignos disso? tao respeitáveis nos torna os homens que a possuem
Responde o mesmo santo doutor que 'alguns não se­ a santidade iniciada neste exílio, que respeito
riara dignos de que os santos rogassem por eles; nao merece a_santidade consumada dos cidadãos do
mas eles se tornara dignos por recorrerem cora devo­ Céu, tão estreitamente unidos a_ Deus na comparti-
ção aos santos* (IJbid. ad 5)". (S. AFONSO MARIA DE cipação de sua glóriaf^or isso é da mais alta an­
LIGORIO, A Oração, o Grande Meio da Salvação, Vo­ tiguidade na Igreja o culto dos santos, como ates­
zes, Petropòlls, 3a. ed., 1356, pp.”27-2o / Com

V"'
tam estas palavras de S. Cipriano: Martyrum pas-
aprovação eclesiástica). slones et dles anniversarla commemoratlone ce-
lebramusTLib. V, epist. 5•)" • (GOFFINE, Manual do
Cristão, Rio de Janeiro, 9a. ed., 1915 > pp.
245* "E porque não honrarmos os santos 683-684 / Imprimatur: Pe. Dehaene).
que estão no céu, se
honramos os que se acham na terra?"
246. "Nós invocamos os Santos que
Diz o antigo e venerando Goffiné - Manual do estão sobre a terra e nos
Cristão: aproveitamos de seu crédito junto a Deus"
"Os santos são todas as criaturas racionais, Ensina o Padre Gaussens em seu Curso de
anjos ou homens, que Deus admitiu à participação Instrução Religiosa:
de sua glória eterna, nomeadamente os cristãos ca­
nonizados pelos Soberanos Pontífices. "Nós invocamos os santos que estão na terra e
"Honramos os santos como os amigos e servido­ nos aproveitamos de seu crédito junto a Deus para
res de Deus, a quem Ele encheu dos seus mais ricos nos obter favores ou afastar desgraças."Moisés ob­
.
*
*
teve mais de uma vez do Altíssimo o perdão para

dons e das suas graças mais preciosas. 0 culto
*
*
■•
pois que lhes rendemos é um culto religioso, e seu povo. Jó rezou por seus amigos, a fim de que
fundado na sobrenatural excelência dos santos que Deus lhes perdoasse a inconsideração da lingua­
1

gem. São Paulo se recomendava diariamente às ora­


dele são objeto; a esse culto chama-se culto de


dulia. ções dos fiéis e ele mesmo não cessava de rezar
por eles.
"Nada tem este culto de contrário ao primeiro
mandamento, que nos manda adorar a Deus, a Deus "Se os santos têm poder junto a_Deus enquanto
só; porquanto, digam, mintam e caluniem os hereges estão aqui na terra, e se sua intervenção então
■N

quanto quiserem, não adoramos os santos, não lhes nos pode ser proveitosa, quando eles estão no céu,
216. Secção II Secção II 217.

seriam menos poderosos, ou menos bons para nós, ou guns, hereges ou equivocados, disseram que rezar
menos tocados pelas nossas misérias? .... aos Santos é fazer Injúria a Cristo, como se não
bastasse a Intercessão dEle e seus méritos. E o
"Rezemos pois aos santos, meus Irmãos, e não que afirmam os protestantes. Eles, que alegam as
temamos,^ao rezar a eles,' de substituí-los aos mé­ Escrituras, podem ler nelas que os Apóstolos roga­
ritos e à glória da mediação de Jesus Cristo. Não,
vam aos fiéis que rezassem por eles e por todos.
o que nós obtivermos por melo dos santos, nós o
São Paulo pede que rezem por ele e orem uns pelos
obteremos em virtude dessa mediação divina. Jesus
outros. E São Tiago recomenda que quando haja al­
Cristo é sempre o Intermediário necessário entre
Deus e nós, quer nos dirijamos a Deus diretamente, gum enfermo, levem-no ao Presbítero e este reze
por ele. Se fosse uma Injúria contra Jesus Cristo
quer recorramos à Intercessão dos santos. E sem­
Invocar aos Santos, seria também uma Injuria pedir
pre, notai bem, 'por Nosso Senhor Jesus Cristo1 aos vivos que sejam nossos Intercessores. Mas nao
que nós^rezamos, per domlnum nostrum Jesum Chrls-
e assim. Porque não é por necessidade que devemos
tum. E vede pois a diferença da fórmula que empre­ rezar aos Santos, mas porque Nosso Senhor assim
gamos com relação aos santos e com relação a Jesus dispôs: que os Irmãos na Igreja nos ajudemos uns
Cristo. Aos santos dizemos: Rogai por nós! a Jesus aos outros para estarmos mais unidos. Ademais,
Cristo: Tende, piedade de nós! Tudo o que pedimos Deus quer honrar os seus servos concedendo por
aos santos, é que eles rezem por nós. Nós lhes re­ melo deles o que às vezes não concede quando^invo-
conhecemos ura poder, é verdade, mas um poder su­ camos a Ele só. Dizem alguns que os Santos não co­
plicante, e por consequência um poder dependente, nhecem nossas súplicas; Isso porém é falso: eles
e que não tem efeito senão pelos méritos dAquele as podem conhecer, e Deus lhes dá a conhecer por
por quem suas orações chegam até Deus, por Jesus
um dos tantos meios de que dispõe para isso.
Cristo Nosso Senhor, per domlnum nostrum Jesum
Chrlstum. "_A_ que Santos podemos rezar. — Convém escla­
recer “o que se entende ou se pode entender por
"Honremos ps santos, meus Irmãos, rezemos a Santos. Santo é, no sentido mefls amplo, todo aque-
eles. Eles Intercederão por nós. E nesta permuta le que tem a graça~~santlf lcante~0u seja, todo
frocante de testemunhos recíprocos, dê respeito, 51b justo, esteja ele vivo, ou no Céu. E~~para que pos­
confiança õ_ de caric[aáe que conslste~~ã comunhão
samos. rezar a alguém, basta saber que e um homem
dos santos da terra com os santos do céu. Possamos bom e que se encontra em estado de graça, o que
nos recolher disso os preciosos frutos! Assim se­ devemos crer de todos enquanto não conste o con­
ja". (M. 1'Abbé GAUSSENS, Cours Complet d'Instruc- trário. E de muitos podemos crer que estão no Céu,
tlons, Llbralrle Vlctor Lecoffre, Paris, 3a. ed., porque viveram e morreram bem; ou porque morreram
í908, pp. 25^ a 256 / Ouvrage approuvé par son sem perder a Inocência, como, por exemplo, as
Emlnence le Cardinal Donnet archeveque de Bor-’ crianças batizadas que morreram antes de chegar ao
deaux) uso da razão e de se tornarem capazes de pecar. _E
a todos estes - em orações particulares - podemos
dirigir nossas suplicas e pedir-lhes~que roguem a
247. Devemos pedir a Intercessão dos Deus por nos. Mas na oraçao publica e no culto
Santos, quer daqueles que oficial só podemos rezar aos Santos canonizados,
Jâ estão no Ceu, quer ou ao menos beatifiçados.
daqueles que ainda vivem nesta terra
"ü Que é_ um Santo. — Como dissemos, Santo j?
Ensina 0 Jesuíta Padre Remlglo Vllarlho Ugar- aquele“quIT"Tem ã~~graça santlflcante, Isto é_, aque-
te: le que não tem pecado mortal. E assim Sao Paulo,
quando dirigia suas cartas e saudações aos cris­
"Devemos rezar aos Anjos e^ aos Santos? — Não tãos, chamava-os Santos, porque, supondo que eram
há dúvida, nã IgrejliCato Uca*, "de que podemos e bons cristãos, julgava que estavam na graça de
devemos rezar também aos Anjos e aos Santos. Al­ Deus. Quando escrevia aos cristãos de Roma, dizia:
218. Secção II Secção II 219*

’A todos os amigos de Deus chamados Santos que es­ Deus operou muitos milagres. Entre os quais con-
tão em Roma*. E do mesmo modo fala das esmolas tam-se estes, que foram garantidos por Juramento
que se recolhem entre os Santos; e a si mesmo se de testemunhas: treze cegos, quatro surdos, sete
chama o último dos Santos e aconselha que para di­ coxos, cinco entrevados e vinte e quatro enfermos
rimir querelas não se acuda aos gentios, mas a um em perigo de morte, os quais apenas pelo toque de
Santo. E que, no seu estilo, dizer santo era o sua mão e a invocação do nome de Jesus Cristo,
mesmo que dizer cristão. Entretanto, na linguagem ficaram perfeitamente curados.
hoje jâ^corrente, entendemos propriamente por San­
"Certa mulher, encurvada e entrevada de corpo
to alguém que teve especial mérito e_ excelencla de
virtudes. JE, era rigor, para dar a alguém o titulo inteiro, fez com que a levassem a ouvir ura de seus
sermões; e como pela afluência de pessoas não pu­
de Santo, é preciso que a Igreja o tenha canoniza­
do" . (REMIGIO VILARINO UGARTE SJ, Puntos de Cate­ desse chegar até ele, quando os fiéis se afasta­
cismo, Editorial "El Mensajero dei Corazón de" Je— ram, tomou as cascas de um salgueiro, no qual se
sus", Bilbao, 12a. ed., 1962, pp. 314-315 / Imprl- havia sentado o_ frade, e_, depois de invocar a San­
matur: Paulus, Episcopus Flaviobrigensis, tíssima Virgem e^ Frei Pedro, seu - pregador, tocou
31-7-1962). com elas as articulações de seus membros; no mesmo
momento, como se fossem de cera, elas começaram^a
esticar-se, rangendo: e a mulher se põs de pé,
248. "Eu pensarei em ti diante de Deus" louvando as magnificências de,-Deus". (GERARDO DE
ti
FRACHET, Vida de los Fralles Predicadores, in San-
to Domingo de Guzmán visto por sus contemporâ­
De uma vida de São Domingos de Gusmão neos, BAC," MãcTrid, 1947, p.~ 7lff / ímprlmatur: Ca-
(1170-1221):
simiro, Obispo Aux.. y Vic. gen., 30-5-1947).
"Pedro Cellani alega sua ignorância, a falta
de livros em que se encontra. Domingos lhe respon­
de com uma confiança intrépida em Deus: * Vai, meu 250. 0 Papa Gregôrlo IX se
filho, vai sem medo; duas vezes por dia eu pensa­ via atendido quando
rei em ti diante de Deus; nao tenhas-dúvlcía. Ga- recorria às oraçoes de Santa Clara
nharás muitas almas, produzirás frutos, crescerás
e te multiplicarás, e o Senhor estará contigo*. De um livro de escritos e documentos contem­
Pedro Cellani contava mais tarde, na intimidade, porâneos de Santa Clara (1193-1253):
que todas a3 vezes que se sentira perturbado inte­
rior ou exteriormente, lêmbrara-se—desta promessa, "Não sem razão, o Senhor Papa Gregôrlo (Gre-
invocando Deus e~ Domingos, ê tudo IRe correra gório IX) tinha uma fe extraordinária nas oraçoes
bem" . (R~êv. Pe. HENRl-DOMINIQUE* CTÜORDÃIRE, VleUê de Santa Clara, cuja proteção havia experimentado
ser eficaz. Muitas vezes, quando -surgia, como cos­
Salnt Domlnlque, Ancienne Librairie Poussielgue,
Paris, 1922, p. 242 / Com aprovação eclesiástica). tuma acontecer, alguma nova- dificuldade, tanto
quando era Bispo de Ostla, como depois que foi
elevado ao cume do Apostolado, suplicando por es­
249* Milagrosamente curada crito à mencionada virgem, logo apôs ter feito o
depois de invocar "a Santíssima Virgem pedido, experimentava a ajuda. Uma coisa e_inques­
e Frei Pedro, seu pregador" tionável : que a_ atitude do Papa, ao mesmo tempo
que é notável pela humildade, e_ digna de ser imi­
Conta uma antiga Vida dos Frades Pregadores: tada com todo empenho, uma vez que o_ vigário de
Cristo pede a ajuda da escrava de Cristo e_ se? re­
"Na Província da Espanha, existiu um fervoro­ comenda às suas virtudes. Sabia Judiciosamente o
síssimo pregador, venerável e virtuoso, de origem que'pode o amor e que facil acesso é franqueado às
catalã, chamado Frei Pedro Sendra, em cuja vida virgens puras ante o consistório da Majestade. Se
certamente o Rei dos Céus, a si mesmo se entrega
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Secção II 221.
tzv. Secção II

àqueles que o amam com fervor, o que não há de estado no navio. Atiraram-se aos seus pés, dando­
-lhe fervorosas graças por ter-lhes salvo a vida.
conceder, caso seja conveniente, àqueles que lhe
pedem com devoção?" (SANTA CLARA, Escritos de San- Mas o Santo, fazendo-se de desentendido, lhes dis­
se: irmãos, dal graças a Deus de tê-los livrado
ta Clara y Documentos Contemporâneos, BAC, Madrid,
T970, p. T60). dos perigos, pois em Suas mãos estão a vida e a
morte, porque é o Senhor dos mares e dos ventos, e
não a mim, que sou um pecador miserável". (Dr. D.
LORENZO ALONSO RUEDA, Vida de San Nlcolás de Barl,
251. Invocado ainda em vida,
Sao Nlcolau de Barl Arzobispo de Mira y Taumaturgo, Apostolado de la
Prensa, S. A., MadricT, 1953, pp. 62 a 65)*
salva um navio do naufrágio

De uma vida de São Nlcolau de Barl, Arcebispo


252. "Mal havíamos pronunciado o nome

.......
de Mira - Asla Menor (séc. IV):
de Catarina, sentimo-nos
"Creem alguns autores que em certa ocasião um curiosamente reconfortados"
anjo tomou a figura de São Nlcolau de Barl para

■.
Do livro de Johannes Joergensen sobre Santa


levar a cabo um favor milagroso e contam como foi
Isso. Um navio fez-se ao mar, saindo do porto de Catarina de Siena (13*17-1380):
Cilicia, quando no golfo do mesmo nome desatou-se
"Quando viajavam seus discípulos, ela os se-
uma borrasca que fazia temer um naufrágio. Os ma­
rinheiros Já se tinham abandonado ao Impulso das guia em espírito é, muitas vezes, no meio de uma
conversa deixava a_reunião das Mantellate para~lr
ondas, e tudo o que faziam era esperar o temido
rezar, dizendo: 'Ouço o_ chamado dos meus filhos
momento. Mas um dos tripulantes do navio tinha no­
tícia do grande poder e_ dos milagres de São Nlco­ queridos1. Habitualmente, vinham elas a saber de­
lau , e começou a invocá-lo; uniram-se os demais pois que algum dentre eles havia corrido algum pe­
rigo e_ que dele fõraafastado pela oração de Cata­
marinheiros as suas oraçoes, embora nada soubessem
rina. Frei Tommaso delia Fonte e Frei Giorgio dl
até então do nosso Santo. Logo apareceu entre eles
Sao Nlcolau, anlmando-os e dando-lhes a segurança Nadda escaparam assim das mãos de salteadores en­
de serem salvos; o Santo mesmo tomou o timão e go­ tre Sena e Montepulciano. Mais tarde, em perigo
vernou o navio; em pouco tempo, aplacados os ven­ análogo, Stéfano Maconl recorreu ao mesmo melo de
tos, renasceu no mar a serenidade e a calma. Mas a defesa, pronunciando o_ nome de sua Mamma. Frei
tempestade havia causado grandes destroços na na­ Bartoíommeõ di Dominici, estando em oração, na
ve, rompendo os cordames e as Velas; São Nlcolau igreja de Santa Maria Novella, era Florença, foi
subiu no mais alto do mastro para ajudar a recolo­ acometido por violento combate espiritual. Repen­
cá-las. Todos estavam assombrados olhando São Ni- tinamente, a consolação e a luz afluíram à sua al­
colau e vendo que tudo se consertava com tal faci­ ma, graças às preces de Catarina diante do altar
lidade. 0 que não teriam feito bons marinheiros em de São Pedro Mártir, em Sena.
muitas horas, fazia-se agora num instante. Logo "Nas palavras que se seguem, Francesco Mala-
começou o navio a navegar com vento próspero para volti dá, talvez, o mais belo testemunho da prote­
as costas de Lícia e o Santo desapareceu. ção que ela dispensava aos que lhe eram queridos:

"Logo que avistaram os montes de Lícia, os 'No tempo em que eu ainda trazia roupas de
;

marinheiros decidiram desembarcar no porto de An- secular (foi no início da minha conversão), combi­
drônlca, o mais próximo de Mira, com a finalidade namos ura dia, meu amigo Neri e eu, irmos Juntos ao
de agradecer a São Nlcolau pelo seu milagroso fa­ Monastério de Monte Oliveto, situado a quarenta
vor. Encontraram o Santo na Igreja, cantando o milhas de Sena. Foi durante a quaresma. Projetamos

OITclo dlvl no com seus cleTlg03 e_ Imediatamente fazer uma ligeira refeição numa cidade chamada As-
reconheceram que tinha sIdo ele mesmo que havia ciano, a dois terços do caminho, aproximadamente.
-- -
Secção IX 223-

Como, porém, não sentíssemos fome alguma ao chegar


a Asclano, resolvemos continuar o caminho e tomar
nossa refeição no convento, com os padres, pois
parecia-nos fácil suportar até lá o nosso jejum.
No entanto, apenas havíamos atingido a distância
de uma milha, sentimo-nos de tal modo esgotados
que tivemos que nos sentar. Estávamos tão cansados
e fracos que nos parecia impossível prosseguir.
Nenhuma habitação existia pelas redondezas. En­
quanto comentávamos tão triste situação, aconte-
ceu-nos falar em Catarina, a_ virgem bendltal Mal
havíamos pronunciado seu_ nome, sentimo-nos curio-
samente reconfortados. Levantamo-nos então e, ape­
sar da subida penosa, percorremos ainda outra mi­
lha falando sempre da serva de Deus. Bem. longe de
imaginar donde nos vinha aquela provisão de for­
ças, deixamos, após certo tempo, de falar da espo­
sa de Cristo, passando a outro assunto. De novo a
fraqueza nos entorpeceu, obrigando-nos a repousar.
Mas o Senhor, que queria abrir nossos olhos, fez
voltar aos nossos lábios o_ nome da nossa mãe. E as
forças, como por milagre, nos voltaram. Percorre­
mos, então, com facilidade, o resto do caminho,
compreendendo afinal o que, a princípio, nos esca­
para e sorrindo de não termos logo percebido donde
nos vinha o auxílio. E_ assim alcançamos nossa
meta, repetindo, numerosas vez.es, o nome bendito
de CatàrinãT* fWs. Casanat. ff. 466^67)” . (JOHAN-
NES JOERGENSEN, Santa Catarina de Sena, Editora
Vozes, Petrópolis, 19^>pp. 1^6-1?7 / Imprlmatur:
Por comissão especial do Exmo. Revmo. Bispo de Ni­
Santa terói, D. José Pereira Alves, Frei Atico Eyng OFM,
Catarina de Petrópolis).
Siena
e uma devota.
Afresco de 253. "Depois de Deus e da Bem-aventurada
Andréa Virgem Maria, a nenhuma outra
Vanni, seu criatura me sinto mais
irmão em reli­ reconhecido que a esta doce virgem Catarina”
gião e
discípulo Do livro sobre Santa Catarina de Siena
(13^7-1380), do conhecido escritor Johannes Joer-
(séç. XIV), na
gensen:
Igreja de
São Do­ ”Entre os discípulos presentes naquela oca­
mingos, de sião, Caffarini menciona Stefano Maconi (Beato
Siena. Estevão)...... Quer a lenda que, enquanto ele re­
zava em Sena, na capela da Irmandade da Scala, te-
224. Secção II
Secção II 225-
nha ouvido uma voz que assim exortava: 1 Parte para
Roma, não hesites mais, a morte de tua Mamma está 255. Padre suplica a Deus pelos
próxima!* E atendendo ao chamado, ele partiu e méritos do Padre Inãclo,
ainda chegou a tempo. 'Catarina vivia seus últimos ainda vivo, e se vê atendido
momentos, conta ele, e revelou a cada um de nós,
em particular, o que devíamos fazer depois de sua Mais uma vez a Vida de Santo Inácio de Loyola
morte. Voltando-se para mim, deslgnou-me com o de­ pelo conhecido historiador Jesuíta, Padre Pedro de
do e disse: 'Eu te recomendo, em nome de Deus e da Ribadeneyra:
santa obediência, que entres na ordem dos Cartu­
xos, pois é essa a ordem para a qual Deus te esco­ ”0 Padre Cláudio Jayo, vivendo ainda o_ Padre
lheu e te chama!... quando assim me falou Catari­ Inácio, estando muito incomodado por uma gravíssi­
na, continua Stefano mais adiante, (nesta época, ma dor de estômago, estando era viagem e achando-se
outubro de 1411, ele Já há multo usava o hábito sem nenhum remédio humano, voltou-se para Nosso
branco e estava Instalado na Certosa dl Pavla, co­ Senhor, suplicando-lhe pelos merecimentos de nosso
Pai Inácio, que o livrasse daquele incomodo e dor,
mo superior geral de sua ordem), — devo confes­
sar, para confusão minha, tão pouco eu pensava era e logo foi livre deles”. (PEDRO DE RIBADENEYRA,
entrar para os Cartuxos como qualquer outra or­ Vida dei blenaventurado Padre San Ignaclo de Loyo-

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pois de Deus e da Bem-aventuradã~"Virgem Maria, a

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Gen., 31-3-1945).

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nenhuma outra criatura sinto-me mais reconhecido


que a esta doce virgem Catarina e_ reconheço que,
se houve Jamais em:mlm algum bem, a ela o atribuo1 256. Armava-se, como de um escudo,
TlTp. Domni StephanTT 8)”. (JOHANNES JOERGENSEN, da memória, do nome e^
da intercessão do Padre Inácio
Santa Catarina de Sena, Editora Vozes, Petrópolis,
I9447 pp. 392-3*53’ / Imprlmatur: Por comissão espe­
Conta o Pe. Ribadeneyra sobre São Francisco
cial do Exmo. Revmo. Bispo de Niterói, D. José Pe­
Xavier (1506-1552) o Apóstolo das índias:
reira Alves, Frei Atico Eyng OFM, Petrópolis).
”(São Francisco Xavier) pedia-lhe instruções
(a Santo Inácio) e conselhos lá da índia sobre co­
254. Recomendava-se a Inácio, propondo mo havia de converter os infiéis. E dizia que os
a Deus sua santidade pedia, para que Nosso Senhor não o castigasse por
não ter sabido aproveitar-se da luz e espírito de
De uma biografia de Santo Inácio de Loyola seu Pai e Mestre. E_ contra todas as tempestades e
(1491-1556): perigos armava-se, como de um escudo e arnes, da
memória, nome £ intercessão do Padre Inácio, tra­
”Além do amor, Francisco Xavier consagrava ao zendo ao pescoço sua assinatura e nome da mão do
seu santo pai (Santo Inácio) verdadeira veneração; mesmo Pai, e os votos de sua profissão”. (PEDRO DE
e assim, quando se via engolfado em perigos e qua­ RIBADENEYRA, Vida dei Blenaventurado Padre San Ig-
se a ponto de soçobrar, recomendava-se a ele, pro- nacio de Loyola, in Historias de la Contrarrefor­
pondo a Deus ji sua santTcTade, para queV mediante ma, BAÜ7 Madrid, 1945, P- 31Í 7~~Imprlmatur: Casi^
ela, o livrasse, como de fato livrava” (Santo Iná- miro, Obispo Aux. y Vic. Gen., 31-3-1945)•
cio ainda estava vivo, pois São Francisco Xavier
faleceu quatro anos antes dele). (P'è. ALVINO BER- 257* ”Comecei tomando por intercessores
THOLDO BRAUN SJ, Santo Inácio de Loyola, Vozes, na terra a todos os da bendita Companhia* de
Petrópolis, 3a. ed., 19567 p. 25^T / Com aprovação Têsus, com todos os seus amigos!”
eclesiástica).
De uma carta de São Francisco Xavier, escrita
de Cochim para os Jesuítas de Roma, acerca das Mo-
lucas e do Japão (20-1-1548): ”No auge da tempes-
226. Secção II Secção II 227•

tade, encomendei-me a Deus Nosso Senhor. Comecei, 259. Salvos dos corsários por
primeiro, tomando por Intercessores, na terra, _a duas vezes, ao invocarem o nome
todos õs da bendita Companhia de Jesus. com todos do Padre Tose de Anchieta
os seus amigos 1 E com tão grande favor e ajuda,
abandonel-me, inteiramente, nas devotíssimas ora­ De uma vida do Beato José de Anchieta, o
ções da esposa de Jesus Cristo, que é a Santa Ma­ Apóstolo do Brasil (1534-1591):
dre Igreja. Estando ela na terra, Jesus Cristo, "Vieram à portaria Manuel Francisco e Antonio
seu esposo, ouve-a continuamente no céu. Nunes, homens conhecidos, a despedir-se do padre
"Não me esqueci de tomar como medianeiros a José, que iam para Portugal, pedindo ajuda sua
todos os santos da glória do paraíso, principian­ porque temiam os corsários, que então eram mui or­
do, antes de mais nada, por aqueles que, nesta vi­ dinários em todo o mar. Perguntou-lhe em que nau
da, pertenceram à santa Companhia de Jesus. E to­ íam, das duas que estavam de verga dalto para par­
mei, logo, para interceder por mim, a bem-aventu­ tir Juntas. Responderam que na mais pequena; le­
rada alma de Pedro Fabro, com todas as que, neste vou-os a uma janela donde se viam, lançou uma bên­
mundo, foram da Companhia. ção à pequena e disse: ide embora, que haveis de
ir a salvamento; porém da grande não disse nada,
"Nunca poderei acabar de escrever as consola­ ficando logo os dois com suspeita de seu mau su­
ções que recebo, quando me encomendo a Deus Nosso cesso. Partiram e, tanto avante como altura dos
Senhor, por melo dos da Companhia, tanto dos vivos Ilhéus, tiveram vista de três naus inimigas, que,
como dos que reinam, no ceu. .... pondo-os em cerco, os acometeram e_, quando se da­

..
"Muitas vezes, me tem dado a sentir Deus Nos­ vam por rendidos, invocando o nome áê_ Jõsê~~ com

~
so Senhor, no interior da minha alma, os muitos grande confiança, sem saber como, se viram livres

■ •
e prosseguiram sua viagem, ficando a nau grande a

-
perigos corporais e trabalhos espirituais de que

- ■
me tem livrado, pelos devotos e contínuos sacrifí­ suas aventuras; chegando avistar depois de tempo
cios e orações de todos os que militam na bendita as Ilhas de Baiona, aqui foranv acometidos de ini­
Companhia de Jesus e, também, dos que agora estão, migos por quatro vezes, e outras tantas lhe acal­
com muito triunfo, na glória — os quais, em vida, mou o vento Junto a elas, de repente, no ponto em
militaram e pertenceram à Companhia de Jesus". (S. que invocavam o^ nome de José, que todos houveram
FRANCISCO XAVIER, Cartas e_ escritos selectos, por milagre; e finalmente foram entrar o porto de
Apostolado da Imprensa, Porto, 1952, pp. 65 a 67). Viana, para onde era sua descarga, a salvamento e
com espanto dos vianeses, que havia tempos não ti­
nham visto tal fortuna, de que entrasse naviõ sua
258. Santa Teresa, por inspiração divina, barra; e afirmavam que dentro em quatro meses fo­
tomou o hábito de recomendar-se ram tomados dos corsários quarenta navios, e o que
ã 5slo Pedro de~~Tlcântara, e de o chamar de santo, mais é de notar, que a náu grande, que com esta
estando ele ainda vivo partira em companhia, foi tomada dos mesmos Inimi­


gos, cumprindo-se à risca, não só o que José dis­
Da Lição de Matinas do Ofício de São Pedro de sera claramente, mas o que quis Insinuar lançando
Alcântara (19 de outubro): a bênção à pequena embarcação e deixando de a lan­
"(São Pedro de Alcântara) ajudou Santa Teresa çar à grande". (SIMAO DE VASCONCELOS, Vida do ve­
nerável Padre José de Anchieta, Imprensa Nacional,
-

— cujo espírito havia provado — a promover a re­


Rio de Janeiro, 194TT vol. II, pp. 29-30).
:

forma das Carmelitas. Quanto a esta, instruída por


Deus de que nada do que se pedisse em nome de Pe­

____________________

dro deixaria de ser Imediatamente atendido, tomou 260. Vendo-se em perigo, invocou-a
o_ hábito de~se recomendar ás orações dele, e de o como a uma "santa" e foi salvo
chamar santo, estando ele ainda vivo". (Brevlarlum
Romanum — Pars autumnalis, Marietti, Turim-Roma, Conta Monsenhor Bougaud, o famoso hagiógrafo,
1957, p. 6407:
228. Secção II Secção II 229.

em sua vida de São Vicente de Paulo: 11 fMadame Aca- onde só havia uma casa, em cuja porta avistei um
rie (Beata Maria da Encarnação, falecida em l680 e homem que fazia sinais para que me aproximasse.
beatifiçada em 1791) — dizia a marquesa de Meig- Repentinamente fui presa de um medo terrível. Lem-
nelais — era santa; mas Madre Margarida (Marga­ brei-me das palavras do Cura d1Ars; clamei por
rida do Santíssimo Sacramento), sua filha, o é Deus e~pus-me a correr em disparada. Por sua vez,
ainda mais1. 0 Padre Binet pensava o mesmo. .... aquele infeliz lançou-se no meu encalço e çrocura-
va atirar-me um laço ao pescoço... Não o pode con­
"No mar, nas galés do Estado, ele (o General seguir, e por fim estacou porque já me aproximava
de Gondi) mantinha correspondência com esta (Madre dos marinheiros.
Margarida), que lhe recomendava sem cessar que
pensasse na salvação de sua alma; e tinha por ela "Soube depois que eu fora cair nas mãos do
uma tal veneração que, numa tempestade, vendo-se f-amoso Dumollard, apelidado o assassino de cria­
em perigo, invocõiT-a como a_ uma santa e^ tendo si­ das. Quando o prenderam, depus contra ele perante
do salvo, proclamou por toda a parte que a ela de­ o tribunal... Mas veja se não fosse o_ Cura
via este milagre". (Monseigneur BOUGAUD, Hlstolre d*Ars...* (extraímos esta notícia de uma relação
de Salnt Vlncent de Paul, Librairie Vve. Ch. Pous- dada pela senhora E... a 8 de agosto de 1905 ao
sielgue, Paris, ITã. ed., Tome Premler, pp. 127 a senhor Desjardins, médico-major da primeira classe
129). aposentada. — Dumollard, natural de Tramoyes, pe­
quena vila do cantão de Trévous, foi condenado à
morte e executado em Montluel (Ain) a 8 de março
26l. "Pensa em mim e >recomenda-te a Deus"
de 1862". (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d*Ars,
Vozes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, ppl *1X4-415 /
Da vida do Cura d*Ars (1786-1859): Imprimatur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uru­
"Quando entramos na igreja, o P. Vianney es­ guaiana, 29-6-1959)•
tava dando a aula de catecismo, é explicava o si­
nal da cruz. Avistando-me, deixou de falar por um 262. Estando Kallnowskl ainda vivo,
momento e disse: —> fLá em baixo... aquela mais seus companheiros
alta, que venha ter comigo na sacristia; tenho al­ Invocavam-no na Ladainha dos Santos
go a lhe dizer*.
"Acabado o catecismo, fui-lhe ao encontro. Do texto liturgico da cerimônia de Beatifica­
*Vais partir para Lião, assim me falou, sem que eu ção de Joseph Kalinowski (Frei Rafael), nobre po­
tivesse dito coisa alguma. Sabe, filha, que um lonês deportado para a Sibéria por razões políti­
grande perigo lá te_ espera. Quando lâ te achares cas, e mais tarde frade Carmelita Descalço, fale­
empregada pensa em mim e_ recomenda-te ~a "Deus * . cido em 1907:
"Chegamos a Lião,, onde durante três dias não "(Kalinowski) fez o longo e terrível ca­
minho de Vllna à Sibéria, onde executou por três
encontrei emprego. Então entrei numa agência de
colocações. Atendiam ali dois homens. Expus-lhes anos trabalhos forçados, tendo sido considerado
minha situação, e ura deles me disse: *Busca uma como modelo de perfeita paciência pelos companhei­
colocação? Pois bem, eu necessito de uma criada. ros de desterro, os_ quais não duvidavam em acres­
Chegados a acordo, acrescentou: *Também é mister centar à_ladainha dos Santos: *Pela intercessão de
que a minha esposa a veja; venha encontrar-me era José Kalinowski, livrai-nos, Senhor*"! (Textus Li-
tal parte, às tres horas da tarde*. Aquele homem turglcT propril ln sollemní fíeatlflcatlone Vene-
morava era Mulatière. rabllium Servorum~~I)e~Raphaêlis Kalinowski^ Sacer-
dotls Professl ordlnls Carmelltarum Dlscalceato-
"Pui à hora marcada. Meu Deus! quão longo me rum, ac Albertl ChmiêTowskl Fundatorls congrega-
parecia o caminho! Cheguei enfim na confluência do tionum TPratrum et Sororum Pauperlbus Inservien-
Saona com o Ródano. Ali estavam muitos bateleiros tlum Sacrum "Feragendum a Ioanne Paulo ?f7 TT7
e trabalhadores. Ao voltar-me achei-me num deserto Cracóvia, 22-6-19^3)•
230. Secção II

263- "Senhora bendita, manda-me o vosso


Servo Fr. Leopoldo: fazel-me esta graça"

De uma biografia de São Leopoldo de Castel-


nuovo (1866-1942):
"Pedia-Lhe (São Leopoldo) graças para si
mesmo, e para seus penitentes, cora tamanha Fé e
confiança que freqiientemente Ela (Nossa•Senhora) o
consolava cora verdadeiros milagres. Ais vezes man­
dava os pobres doentes, ou os que em qualquer modo
sofriam, à Basílica de 5T Tustlna, para que ajoe­
lhados diante da milagrosa imagem de Nossa Senhora

XII
Mil
Tã Cônstantinopolitana) lhe dissessem: 1 Senhora
bendita, manda-me o vosso servo Fr. Leopoldo: fa­
ze 1-rae esta graça*. E Nossa Senhora, cheia de bon- Alguns santos se salientaram
dade, movida por tão viva Fé fazia as graças".
(Fr. PEDRO DE VALDIPORRO OFM Cap., 0 servo de Deus pelo ãlseerolnjentQ doa espíritos
P. Fr. Leopoldo de Castelnoyo, Convento dos capu-
(ThinEÕs, Pádua, 2a. ed., p. 27 / Imprima-se: Jero- § pglQ asgrtO de suas deçigges
nimo, Bispo, Verona*/25-6-1948).

264. Pedia graças a Nosso Senhor 265. Pelo seu discernimento dos
Sacramentado por amor desse seu "santo" espíritos,' São Bento desmascara o impostor
f
Conta uma biografia do Pe. João Baptista Conta São Gregorio Magno na sua Vida de São
Reus (1868-1947), falecido em São Leopoldo (RS), Bento (480-547):
em odor de santidade:
"A felicidade que levava na alma sabia irra- "No tempo dos Godos, tendo o Rei Tótlla ouvi­
diá-la aos qúe entravam era contacto mais íntimo do dizer que _o santo Varão (São Bento) tinha espí­
com ele. Eis o que nos narra um testemunho expres­ rito de profecia, encaminhou-se rumo ao mosteiro,
sivo. *Tive a ventura^de viveri mais um ano e meio mas, detendo-se a alguma distância, enviou-lhe um
ao lado do P. Reus até a sua bem-aventurada mor­ recado anunciando sua visita. Como iraediatamente
te*. .... Ao passar Junto dele, sentia-me tomado responderam do mosteiro que podia ir, Tótlla, que
de respeito; parecla-me que da sua pessoa dimana­ era de alma desleal, tratou de verificar se era
certo que o Varão de~Deus possüTa espírito de pro­
vam eflúvios de santidade.
fecia.
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232. Secção II Secção II 233.

vista de tanto luxo e trajes de púrpura, pudesse 267. As decisões de São Domingos eram
ser tido por Rei. tão acertadas que pareciam
reveladas pelo Espirito Santo
"Quando Rigo, assim revestido e acompanhado
de numerosa comitiva, entrou no mosteiro, o. Varão Conta o Beato Jordão da Saxônia, discípulo e
de Deus estava sentado a_ considerável distância. sucessor de São Domingos (1170-1221), no seu livro
Viu-o chegar e, quando se pôde-"fazer ouvir, gritou
dizendo! 'Deixa, filho,~~cíelxa tudo isto que levas, sobre a origem da Ordem Dominicana:
pois não e_ teu*. No mesmo instante, Rigo caiu por "Então (São Domingos) transferiu para Paris o
terra e estremeceu de pavor por se ter atrevido a
rir de tão grande Varão; e todos os que o acompa­ Mestre Reginaldo, não sem grande desolação dos fi­
nhava na visita ao Homem de Deus também caíram, lhos que cora sua palavra evangélica havia engen­
consternados, por terra. drado para Cristo e choravam ao ver-se tão cedo
privados de seus cuidados paternais.
"Quando se levantaram, não ousaram aproximar-
se, mas voltaram a seu Rei e, tremendo, lhe conta­ "Mas estas coisas se realizavam por vontade
ram cora que presteza haviam sido descobertos". divina. Era algo maravilhoso que o_ servo de Deus
(SÃO GREGORIO MAGNO, Vida de San Benito, Editorial São Domingos, ao enviar seus frades para esta ou
San Benito, Buenos Aires, 3a. ed., 1956, pp. 56-57
/ Imprlmatur: Ramón Novoa, Pro-Vicario General,
14-5-1956).

266. São Bernardo discernia os pensamentos


£ _as preocupações dos seus monges

Escreveu o secretário de São Bernardo


(1090-1153), Godofredo, sobre o santo Abade:

"E inacreditável a solicitude que tinha para


que nenhum (dos seus monges) fosse dominado pela 268. Sua aprovação, um sinal
tristeza, nem inquietado por alguma idéia obsessi­ infalível da aprovaçaõ divina
va; cora quanta facilidade penetrava os pensamentos
e preocupações dos outros; com quanto amor e pie­ Do livro sobre São Francisco de Assis
dade dispunha discretamente para que ninguépi fosse (1181-1226), do conhecido autor escandinavo J.
sobrecarregado de trabalho excessivo, que a nin­ Joergensen:
guém deprimisse o descanso exagerado; caberia di­
"Quem quer que, na mocidade, teve a fortuna
zer que media paternalmente a quantidade de sono
necessária a cada um. Sacudia a preguiça dos ro­ de poder viver ao lado de uma pessoa moralmente
bustos e aos de espírito excitado obrigava-os a muito elevada, estaria disposto a pensar como
descansar. Tenho para mim que ele conhecia, como aquele jovem frade chamado Ricerio, o qual chegara
por um instinto divino, as forças de todos, seus a considerar £ aprovação de Francisco (São Fran­
espíritos, e até o estômago de cada qual; numa pa­ cisco de Assis) como um sinal~Tnfalívêl da aprova-
lavra, *fazia-se servidor de todos por amor de Je­ ção divina". (JOHANNES JOERGENSEN, Saõ "Francisco
sus Cristo»". (Pr. Ma. GONZALO MARTINEZ SUAREZ, de Assis, Vozes, Petrópolis, 1957, p. 158 / Com
Bernardo de Claraval, Editorial El Perpetuo Socor­ aprovação eclesiástica).
ro, Madrid ,1964 , pp. 38^4—385 / Imprlmase: Segun­
do, Arzobispo de Burgos, Burgos, 20-7-196*1) .
234. Secção II 235.
Secção II
269. Santa Catarina de Slena discernia,
retoma Catarina gravemente. Francisco -resiste,
por um dom de Deus, até a sombra de uma falta fingindo inocência:
em seus filhos espirituais
*— Mãezinha dulcíssima, amanhã é sábado e eu
De um estudo sobre Santa Catarina de Slena irei confessar-me*.
(1347-1380): "Então a Santa lhe diz indignada:
"Ela (Santa Catarina de Slena) 11a o que se *— Como, meu filho, tu crês verdadeiramente
passava nessas almas que Deus lhe havia confiado, que eu desconheço a tua falta? Tu fizeste tal coi­
onde quer que estivessem. Seu primeiro confessor, sa, em tal lugar, a tal hora. Vai portanto purifi-
o Padre delia Ponte, intrigado muitas vezes pelo car-te imediatamente de uma tão grande miséria!»
conhecimento extraordinário que ela testemunhava "Catarina não se limita a ler nas almas de
de todos os seus atos e de todos os seus pensamen­ seus filhos: ela os assiste por toda a parte"
tos, acabou por perguntar-lhe ura dia, formalmente: (Chanoine JACQUES LECLERQ, La mistyque de 1»Apos-
1— Minha Mãe, vós sabeis portanto tudo o tolat — Salnte Catherlne de Sienne, catholique
que se passa conosco?1 romaine, Casterman^ Paris, 2a. ed., 1947, pp7
198-199).
*— Meu filho — respondeu ela — sabei que
Nosso Senhor me deu uma família espiritual, e que
Ele não me deixa ígjiorar nada do que concerne a 270. "A voz do Padre Inácio
8eus membros. Eu vejo tudo o aue fazeis, e se ti­ deve ser considerada
vésseis os olhos sãos, me verieis como eu vos ve­ como a do próprio Deus"
jo».
Escreve Daurignac, conhecida historiadora, na
"0 mais querido de seus filhos, Estêvão Maco- sua história de Santo Inácio de Loyola
ni (o Beato Estêvão, futuro Prior Geral da Ordem (1491-1556): . '
dos Cartuxos), dizia-lhe gracejando:
*— Na verdade, minha Mãe, é perigoso estar "D. João III venerava profundamente Santo
perto de vós, porque descobris todos os nossos se­ Inácio, olhava-o como ura inspirado do alto, e con­
gredos » . siderava ura dever agir em todas as coisas em con­
formidade cora a sua maneira de ver. Ele tinha o,
*— Meu filho — respondeu;ela — sabei que costume de dizer que ji voz do Padre Inácio devia
Deus me revela tudo, das almas qüe Ele me confiou, ser considerada como & do proprio Deus". («f. M. S.
até mesmo a sombra de uma falta*•
DAÜRiGNAC, Histoire de Saint Ignace de Loyola,
"Um dia, Francisco Malavolti voltou para Jun­ Bray et Retaux, Tãris, 1878, 3a. ed., tomo TT,
to de Catarina, com a consciência pesada de um pe­ p. 119).
cado em que tinha recaído. Convidando-o a sentar-
-se perto dela, faz saírem todos os outros, e o
interroga: 271. São Francisco Xavier:
Nos só bendito Padre Inácio conhece a todos
*— Quando te confessaste?» melhor do que cada um a si mesmo
*— Sábado*. (Era costume da família espiri­
tual de Santa Catarina confessar todo sábado para De uma vida de Santo Inácio de Loyola:
comungar no domingo).
"E este amor ao *Pai da sua alma*, *ao nosso
*— Vá mesmo assim confessar sem demora!* — bendito Padre Inácio», *ao bem-aventurado Padre
Inácio», *ao santo Padre Inácio», Francisco Xa­
vier, Provincial das Índias, procurava inoculá-lo
236. Secção II Secção II 237.

nos corações de todos os novéis jesuítas do lon­ com a caridade, não o dissesse a mais ningu ém. Pe-
gínquo Oriente. A todos e a cada um em particular lo contrário, enviou o fbeato! a alguns dl retores
costumava dizer: 1Irmãos, se agora estivéssemos na espirituais experimentados, para que o exe rcitas-
presença de nosso bendlto~~Fadre Inácio com toda a sem no trabalho corporal e na obediência, 0 santo
certeza ele reconheceria £ cada um melhor do que varão negou-se a admitir tal coisa; e não tardou
cada um se conhece a si^ mesmo”. (Pe. ALVINO BER- muito em ver-se, como diz Ribera, que ’ele era to-
THOLDO BRAUN SJ, Santo Inácio de Loyola, Vozes, do vaidade e loucura’”. (WILLIAM THOMAS WALSH,
Petrópolis, 3a. ed., 1956, p. 25^ / Com aprovação Santa Teresa de Avila, Espasa-Calpe, Madrid 1951,
eclesiástica). pp 299-300).

273. "Nunca abandonou uma obra começada,


272. Como outros Santos, tinha Santa Teresa
o dom de discernir os espíritos nem foi obrigado a voltar
atrás £ a dizer: eu me enganei”
Da vida de Santa Teresa de Jesus (1515-1582), vida de São Vicente de Paulo
pelo historiador Thomas Walsh: De uma
(1581-1660):

. ...
"Como outros santos, tinha (Santa Teresa) _o ”A santidade de S. Vicente de Paulo engrande­
dom de saber distinguir os espíritos. -Diz Ribera
ce as qualidades naturais de sua Inteligência, ca­
que uma noviça que c;pntava com os votos de toda a
comunidade e parecia muito apropriada para a vida ráter e da todas as potências de sua alma......
carmelita, disse à Madre: * Amanhã farei minha pro­ "Quando lhe propunham ura projeto, a sua pene­
fissão. Esperarei minha mãe, se vossa reverência tração era completa, nada lhe escapava: via logo
mandar’. A que contestou a Santa: *Pois eu lhe di­ todas as vantagens ou inconvenientes, todas as fa­
go que não professe na Ordem’. Não houve meio de cilidades ou obstáculos. Quando tomava uma resolu­
fazer com que as súplicas da noviça e a interces­ ção, podia-se estar, certo de ser realizada, porque
são das outras freiras a fizessem mudar de pare­ tinha previsto todos os meios para consegui-la.
cer. A candidata voltou para a sua casa, caiu en­ Nunca abandonou uma obra começada, nem foi obriga­
ferma de tuberculose galopante e morreu em poucos do £ voltar atrás e dizer: ’Eu me enganei *; o que
dias. .... teria dito, impelido pela sua extrema humildade;
mas não teve ocasião de dizê-lo, porque via as
”Uma vez a Santa se deteve de repente enquan­
coisas até nas profundas circunstâncias.
to. falava e disse a uma freira que parecia escutá-
-la com todo recolhimento e humildade: ’Tu não "Esta viva penetração dava a S. Vicente de
sentes isso interiormente’. Igualmente descobriu Paulo uma ousadia singular, como consequência da
a tentação de que era vítima uma freira, sem que grandeza do seu espírito.
esta lhe tivesse dito nada sobre isso, e escreveu- "Mas a ousadia só é bela e justa, quando di­
-lhe ura bilhete em que lhe dava um conselho sobre rigida, çovernada e continuada pelo bom senso. Sem
o caso. Seu discernimento não se limitava às coi­ estas tres qualidades Juntas, a audácia é um peri­
sas que se referiam ao convento e às que estavam go e um erro. A união do bom senso com os dons da
sob sua vigilância. Fala Ribera de certo *homem penetração e da decisão torna uma alma capaz de
rústico *, a quem o público em geral, e inclusive
tudo. Ora, S. Vicente de Paulo possuia este raro
os homens instruídos, consideravam santo. Aconse­ bom senso, do qual ele era mestre, dizia Bossuet
lhado por alguém, foi ele visitar a Madre para (Floquet, Hist. de Bossuet, t. III, p. 6). Esta
dar-lhe conta das coisas de seu espírito e daque­ qualidade confere à alma uma sorte de infalibili-
las que Deus lhe havia comunicado. Teresa discer­ dade". (Pe. JERONlMÜ" PEDREIRA DE CASTRO, S. VlcefP
niu imediatamente que seu espírito não era bom. E te de Paulo, Vozes, Petrópolis, 19*12, pp. *111-1112
o disse ao seu confessor, embora, para não faltar 7~~Com aprovação eclesiástica).
-- -
238.
Secção II Secção II 239.

27*J. Tinha o discernimento dos espíritos,


como o das doutrinas q o dos negoclos

Ainda sobre São Vicente de Paulo, escreve ura


comentador:
"Seus raciocínios (de São Vicente de Paulo)
eram precisos, justos e concludentes, expressos em
termos claros e definidos, animados de um doce ca­
lor, e levavam a persuasão aos corações ao mesmo
tempo que a convicção aos espíritos. Se ele falava
em primeiro lugar, desenredava e expunha uma ques­
tão com tanta ordem e clareza, tanta profundidade
e extensão, que cada um, mesmo o mais hábil, se
dizia: *E Isto!* homenagem a seu senso Infalível.
Além do que^ cT~bom senso aincía-IKe fazia tomar to-
dos os tons e todas as linguagens, conforme à na­
tureza dos espíritos, de maneira que o homem me­
díocre se acreditava no mesmo nível que ele, en­
quanto os mais altos gênios não o achavam Jamais
abaixo . deles.
r,_E que ele tinha q discernimento dos espíri­
tos , como q_ da3 doutrinas e_ q dos negócios. Via
imediatamente o alcance de cada coisa e a elas
proporcionava sua conduta e sua linguagem. Pene­
trava o ponto forte e o ponto fraco, a3 qualidades
boas e más de todos, e sabia regular a partir dis­
to o lugar e a atividade de cada um. Resumindo,
ele distinguia o verdadeiro do falso, o bom do
mau, o melhor do menos bom, sob as aparências mais
enganosas e mais habilmente hipócritas.
"Eis q que tornava sua direção tão segura,
sua decisão tao infalível, sua ação tão firme e
tão resoluta, depois que ele tinha tomado seu par­
tido. Quando o consultavam, era às vezes lento no
responder, pois ele mesmo pedia para consultar an­
tes a Deus e aos sábios; mas a resposta que dava
enfim era sempre marcada com o selo da sabedoria e
da experiência". (Abbé MAYNARD, Maxlmes et Prati­
ques de St. Vlncent de Paul, Bray et Retaux,
Llbraires-Editeurs, Paris, 188Í, pp. 156-157).

São Vicente de Paulo. Retratado por Simon François em


1660; o quadro se encontra na casa-mãe dos lazaristas, em Paris.
X

4 SlâãiS 2E2¥Ídençial>

q úm qu q siEiSffll âi 2E2£iSli

SlS §BQQSiâQa pelça felognaCoi

§1 SiEiil Siâii âl §§S£§3

275» "E ura fato que existe na


Igreja o dom de profecia,
como o demonstra a sua Historia"*-

Escreve um Sacerdote Jesuíta espanhol, na


apresentação de um opúsculo sobre profecias parti­
culares :

"E ura fato que existe na Igreja o dom de pro­


fecia, como o demonstra toda a sua Historia. Dom\
carismático, e que, por isso mesmo — tal como
dom de fazer milagres, por exemplo —, ao contrá­
rio dos dons de infalibilidade e de autoridade,
não reside na Hierarquia ou em seus ministros, en­
quanto tais. Já no Antigo Testamento, Araós (III,
7) advertia que Deus não faz nada sem revelar seus
planos a seus servos, os profetas. Quanto mais não
o fará e o faz à sua Esposa, a seu próprio Corpo
Místico, em seus santos, em pessoas humildes que
Ele escolhe! (sob ^ supervisão da autoridade ecle­
siástica, cfr. Lul2)T~J e su 8 Cristo o assegurou
expressamente: *0 Espírito Santo vos anunciará as \
coisas que irão acontecer1 (Jo. XVI, 13)"* (JOSÉ \
LUIS DE URRUTIA, El tlempo que se aproxima / Según j
las principales profeciTãs, Separata de "EfiDÃ’*, J
XTT vm: p. D-
2*J2. Secção II Secção II 2^3-
276. Santo Tomás: aos Justos £ os Apóstolos e os que os seguiram. E testemunha
familiar e habitual agirem guiados São Justlno, mártir (Contra Tryphonem~7~, que até os
pelo espírito de profecia seus tempos existiram profetas na Igreja de Deus
era uma sucessão quase continua.~Tgualmente Santo
Ensina São Tomás de Aquino na Suma Teológica: Agostinho falando a respeito de seu século TLTBT
"E bem sabido que aos Justos lhes é_ familiar V, De Clv. Dei, Cap. XXVI), fala entre outros dos
e habitual o_ serem Instruídos pelo Instinto Inte­ oráculos de São João Anacoreta.....
rior do Espírito Santo, isto pelo espírito de "0_ mesmo se deu nos outros séculos, como de-y
profecia, sem a intervenção de sinais sensl^ monstra Tomás Bózius (lib. De Notis Ecclesiae, \
veis..... signo XIX). hfeste nosso século consta terem sido \
"Os Justos não necessitavam da aparição visí­ favorecidos com £ espírito de profecia São Carlos \
vel dos anjos, porque, sendo perfeitos, bastava- Borromeu, São Francisco de Paula, Sao Luís Ber- \
-lhes o instinto interior do Espírito Santo". trand, Santo Inácio, São Francisco Xavier, Gaspar 1

(Santo TOMAS DE AQUINO, Suma Teologlca — Tratado Belga, São Luís Gonzaga^ Santa Teresa, e muitos /
outros, como se ve em suas vidas, dignas de fé". '
de la Vida de Cristo, BAC, Madrid, Í95Í, Tomo 'Xll,
(C0RNÊLI0 A LAPIDE SJ, Commentarla in Sacram
pp. 207 e 209 / Imprlmatur: Fr. Franciscus OP,
Epi8copus Salmant., Í7-10-1951O• Scrlpturam — In Prophetam/ Proeraium).

277. "Em quase todos/os séculos, Deus 279. ”••• suscitai homens de vossa destra,
envia ao mundo varões perfeitíssimos" tais quais mostrastes a alguns de vossos
maiores servos, a quem destes luzes proféticas"
Escreve o famoso Jesuíta Pe. Pedro de Ribade-
neyra, discípulo de Santo Inácio, na sua vida do Da prece de São Luís Maria Grignion de
Santo: Montfort pedindo missionários para sua Companhia
de Maria, a famosa Oração abrasada:
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luminares e_ tochas celestiais, para que, abrasa­ trastes a alguns de vossos maiores servos, a quem
dos por seu amor e desejosos d,e imitá-lo e de al­ destes luzes proféticas, a_ um São Francisco cTê
Paula, a ura São Vicente Ferrer, a_ uma. Santa Cata­
cançar a perfeição da vida crl.stã que o Evangelho
nos apresenta, atiçassem e despertassem o fogo que rina de Sena, e tantas outras grandes almas, no
o mesmo Senhor veio atear nos corações dos homens; século passado e até neste, em que vivemos". (São
e com seus exemplos vivos è palavras abrasadas LUIS MARIA GRÍGNlOirüfe MONTFORT,"Tratado da Verda­
conservassem esse fogo e não o deixassem extin­ deira Devoção à Santíssima Virgem, Vozes, Petrópo-
guir-se ou acabar". (PEDRO DE RIBADENEYRA, Vida lis, 7a. ed., 1971, p. 301 / Com aprovação ecle­
dei Blenaventurado Padre San Ignaclo de Loyola, in siástica) .
fílstorlas de ía Contrarrefõrma7 BAC, Madrid, T9^5,
3b / Imprlmatur: Casimiro, Obispo Aux. y Vic. 280. Ele era um homem de poder
Gen., 31-3-19^5 extraordinário, um profeta, um homem de Deus

278. Cornéllo a Lápide: neste nosso século Comentam D. Estevão Hilpisch e D. Pedro Alon-
consta terem sido favorecidos com sô, monges, respectlvamente, das famosas abadias
o espírito de profecia várioT Santos beneditinas de Maria-Laach (Alemanha) e Silos fEs-
panha), no seu livro sobre a obra de São Bento
(H80-5Í7): "Quando no ano de 590, foi chamado à Sé
Comenta o famoso exegeta Jesuíta do século
XVII: "No Novo Testamento foram profetas Cristo e de São Pedro, (São Gregório Magno) primeiro monge
244. Secção II 245.
Secção II
a quem coube tal honra, deu a conhecer que conti­ 282. No Concílio e^ fora do Concílio,
nuaria sendo verdadeiro amigo da vida monástica. 0 ele se tornou o árbitro universal
trono pontifício não o faria esquecer nem a leitu­
ra das Sagradas Escrituras, nem a oração silencio­ De uma vida de São Bernardo de Claraval
sa, nem o culto litúrgico. Mais ainda, durante seu (1090-1153):
pontificado tomaria muitas medidas relativas aos
mosteiros e os protegeria em todas as suas neces­ "Dentro do Concílio e fora do Concílio, todos
sidades. Mas sua obra mais importante a esse res­ os olhares estavam cravados em Bernardo. Dia e
peito seria a de escrever a vida de São Bento. Es- noite, os visitantes o assediavam, deitando-se
timava-o por cima de tudo e falava sempre dele com diante de sua porta, impacientes por entrar, por
grande veneração. Para ele, São Bento era um homem lhe fazer perguntas. Ele tornou-se o^ árbitro unl-
de poder extraordinário, um profeta, um homem de versal, com o qual se contava^ de crise em crise,
Deus, um pai venerávejT7 ura mestren. (Dom ESTEBÃ7J para tirar a~Igreja dos embaraços"I (GÉORGES G0-
HíLPÍSCfTy Dom PEDRO ALONSO, San Benlto y Su Obra,
YAU7 Saint Bernard, E. Flammarion, Editeur, 1948,
Desclée de Brouwer, Bilbao, 19Ó2, p. 151 / Imprl- p. 9*0-
matur: Isaac Maria Toribios Ramos, Abad de Silos).

283. 0 Papa parecia não poder ficar


281. Só um homem, pelo seu renome de profeta, sem o_ santo monge, a quem
seria capaz de sacüdlr a opinião considerava como o suporte do Papado
publica indiferente: Bernardo de Claraval!

Ainda de São Bernardo comenta o Padre Ratis-


Comenta Georges Goyau, secretário perpétuo da bonne:
r
Academia Francesa:
"A veneração pública, da qual incessantemente
^ ”E naquelas mesmas semanas em que Bernardo (São Bernardo) recebia testemunhos tão numerosos
(São Bernardo) suplicava ao Papa Eugênio III que quanto veementes, oprimia sua humildade; por longo
afastasse dele qualquer novo fardo, ura Bispo, vin­ tempo 8o1icitou a permissão do Sumo Pontífice para
do âs pressas da Palestina, chamava a atenção do retornar a Claraval e repousar, uma vez mais, à
Papa sobre a urgência de uma Cruzada. Eugênio con­ sombra de seu claustro. Mas seus dias de descanso
templava o horizonte da Europa, auscultava ao lon­ não haviam chegado ainda e o Papa parecia não po­
ge as disposições dos poderosos. Ura soberano aca­ der ficar sem o santo monge, a quem consldera-
bava de declarar aos seus barões que queria par­ va como o_ suporte do Papado e a_ alma de toda
tir: era Luís VII; mas, de um extremo ao outro da Igreja. .... "
Cristandade, a opinião pública parecia indecisa, "Eugênio III encontrava-se impossibilitado de
fria. Havia em Claraval um homem da Igreja que a presidir pessoalmente à assembléia de Vézelay. Pa­
podia sacudir: seu renome de profeta submetia-lhe ra cumprir esta missão apostólica, ele enviou como
as massas. Unicamente ele, dos torreões e dos ca­ delegado seu, o homem cuja autoridade ultrapassa­
sebres, podia fazer sair cruzados. Luís pedia-lhe va, de certo modo, a do próprio Pontífice. ....
isso, mas Bernardo aguardava a opinião do papa. A
partir do momento em que Eugênio, decretando a "Ele (São Bernardo) dirigia a consciência de
Cruzada, o designou como pregador oficial, o abade reis e pontífices e através deles foi o guia de
de Claraval foi dizer à Europa, durante quatorze sua época". (M. L»Abbé RATISBONNE, The~~Llfe and
meses, o que o Papa desejava". (GEORGES GOYAU, limes of St. Bernard, P. J. Kenedy, Excelsior
Saint Bernard, E. Flammarion, Editeur. 1948. d. Catholic Publishing ffouse, New York, 1895, PP*
i5Ty: 225, 347 e 353).
246. Secção II

284. Bento XIV: São Bernardo não só ensinou


na Igreja, mas ensinou a Igreja

De uma biografia de São Bernardo:

,TAs obras escritas por São Bernardo de Clara-


val foram recomendadas por Papas e príncipes da
Igreja, por grandes teólogos e eminentes filóso­
fos, através de todos os tempos. E asslra, segundo
Bento XIV, * São Bernardo ê_ não só um dos que ensi­
nou na Igreja, mas dos que ensinou _a Igreja1".
iFr. Ma. GONZALO MARTINEZ SUAREZ, Bernardo de Cia-
rayal, Editorial El Perpetuo Socorro, Madrid,
1964, p. 558 / Imprimase: Segundo, Arzobispo de
Burgos, Burgos, 20-7-1964).

285. "Destinado pelo Céu para


fazer grandes coisas”

Conta São Boavèntura a respeito de São Fran­


cisco de Assis (II8I-I226) no primeiro capítulo
da Legenda Maior:

*

"Um homem de Assis, muito simples, estendendo

4
*
aos seus pés £ capa e_ a_ túnica, proclamava-o digno

A
de veneraçao. Dizia que era destinado pelo Ceu £

.
a.
grandes" coisas, e a ser honrado por todos no mun­
do". CROMEO ClANCHírTTA, Asslsi, Arte £ Storla nel
Secoll, Plurigraf, Narnl-Terni, p7 44).

286. Orientadora de Pontífices,


Príncipes £ Cardeais

Do Prólogo âs obras de Santa Catarina de Se­


na (1347-1380)7 por D. Frei Francisco Barbado Vie-
jo OP, Bispo de Salamanca e Grão-Chanceler da fa­
mosa Universidade espanhola:

"Esta ação dos dons do Espírito Santo em San­


ta Catarina será alguma vezes silenciosa e in­
consciente, outras imperante e avassaladora,
guiando-a sempre na própria santificação, e no
apostolado individual santificador de seus discí­ São Francisco, jovem, é honrado por um homem simples.
pulos, e no plano social, pacificador de povos e Afresco do “Mestre de Santa Cecília” (século XIII), na igreja
orientador de pontífices, príncipes e cardeais*"" superior da Basílica de São Francisco, em Assis, Itália.
(Fr. FRANCISCO BARBADO VIEJO OP, Obres d£ Santa
248. Secção II Secção II 249.
Catallna de Slena, Prólogo, BAC, Madrid, 1955, P* lidade dos franciscanos, Impediram que este assun­
XXV / Imprimatur: Fr. Francisco, OP, Obispo de Sa­ to fosse levado a termo. Nos tempos de Calixto III
lamanca, 1-12-1955). tinha-se ativado de novo este processo por instân­
cias dos enviados senenses, e Pio II o tomou des­
de logo eficazmente era sua mão •••• sendo-lhe dado
287. "Um dos tipos mais extraordinários e elevar às honras dos altares a mais nobre mulher
mais puros desta sorte de que tinha saído de Sena". (LUDOVTCO PASTOR, Histo­
profetlsmo que apraz à Providência ria de los Papas, Ediciones 0. GUI, Buenos Aires,
fazer surgir ao lado da Hierarquia" I948, vol. III, p. 278 / Imprímase: Antonio Roc-
ca, Obispo de Augusta y Vicário dei Arzobispado de
Comenta o autor de uma vida de São Bernardino Buenos Aires, 20-5-1948).
de Sena a respeito da grande Virgem senense:

"Enfim, cercada de ura esplendor ainda mais 289. Graça excepcionalmente poderosa:
fulgurante, brilhava a figura de Santa Catarina de "a graça de chefe"
Sena: filha de operários, humilde terceira domini­
cana, torturada pelos sofrimentos; enquanto vivia De uma vida da Beata Maria da Encarnação
num estado contemplativo cujos mistérios espantam (1599-1672), que depois de viúva abraçou a vida
nossa Inteligência, demonstrava, nas coisas do religiosa na' Ordem das Ursulinas e se tornou a
mundo, um génio admiravelmente prático; achava primeira freira missionária da História da Igreja,
acentos convincentes ,para pregar a paz, a união, a trabalhando 43 anos entre os Indígenas do Canadá.
Justiça, numa época em que tudo era dissensão, Foi grande mística:
discórdia e violência, não só na cidade, mas tam­
bém na Igreja universal. "Mas eis um segundo favor do Coração de Je­
"Somente por sua autoridade santa, tornou-se, sus. Desta vez se trata de uma graça verdadeira-
mocinha' ainda, a conselheira atendida do papa js mente especial, eminente, que Dom Jamet, seguindo
dos governos, o_ êrbltro da cristandade, e^ apare­ Dora Cláudio Martin, chama de á 1 graça de chefe'.
ceu como ura dos tipos mais extraordinários <e mais "Esta 'graça de chefe' ultrapassa ji pessoa, ji
puros desta sorte de profetlsmo que em certas ho­ alma que a_ recebe. E uma graça excepcionalmente
ras de crise excepcional, apraz a Providência fa­ poderosa, quê o SenKbr concede, como ensina ITT
zer surgir ao lado da hierarquia eclesiástica". João dê Cruz, 'sobretudo às almas~~cuja virtude _e
(PÃULO THUREAU-DANGIN, São Bernardino de Sena, Vo­ espírito devem propagar-se na sucessão de seus
zes, Petrópolis, 1937, p. 16/ Còm aprovação ecle- filhos espirituais'.
siástica, 23-6-1937).
"Dom Cláudio não deixa de ter um filial e
santo entusiasmo com relação à sua admirável mãe
288. "Vários papas se ocuparam (a Beata Maria da Encarnação). 'Deus, escreve,
atlvamente em promover a que a havia escolhido para ser a pedra fundamental
canonização da profética donzela" de um edifício que devia durar até o fira do mundo,
lhe concedeu uma graça de chefe, quer dizer, uma
Da História dos Papas, de L. Pastor: graça eminente, que não devia servir somente à sua
santificação, mas que devia ainda aproveitar às
"Na Corte pontifícia não se esquecia o quanto pessoas que viviam cora ela e àquelas que lhes de­
a Santa Sé devia àquela humilde religiosa (Santa viam suceder até à consumação dos séculos'. ....
Catarina de Sena); vários Papas, principalmente Esta graça de chefe e de fonte, acrescenta Dom
Qregório XII, ocuparam-se atlvamente em promover a Martin, .... consiste nas luzes da ciência .... e
canonização da profética donzela de Sena; somente no exemplo de uma vida santa e sublime .... A Ma­
as calamidades dos tempos, e tambenT a susceptibi- dre da Encarnação, prossegue, deixou tantos escri-
250. Secção II
Secção II 251*
tos .... que todas as filhas que viverem no seu
Mosteiro, até o fim dos séculos, aí encontrarão marial; na descoberta das mais profundas e mais
abundantemente de que se Instruírem elas próprias, abundantes fontes da vida sobrenatural.
e de que ensinar aos outros segundo o espírito de "Grignion seria colocado como uma estátua
sua vocação; e sua vida foi tão santa e tão cheia sobre a montanha: de maneira a ser visto pelas ge­
de virtudes heróicas, que ela lhes será para sem­ rações futuras. Ura certo recuo seria necessário
pre, um modelo a Imitar”. (Chanoíne J. L. BEAU- para o Julgar bem. Visto de muito perto, é uma
MIER, Marle Guyart de I/Incarnatlon, Editions du força abrupta, ura gigante cujas proporções e cujas
Bien Public, Trois-Rivières, 1959, PP* 85-86 / Im­ linhas nós não captamos pelo olhar, e cuja harmo­
prima tur: Georglus Leo Pelletier, Episcopus Tri- nia nos escapa. Seus mestres, seus condiscípulos,
fluvianen, 30-5-1959). seus confrades, seus superiores eclesiásticos ti­
veram muita dificuldade para compreendê-lo; muitos
\ dentre eles teriam desejado ocultá-lo sob a terra,
290. Pela ousadia de sua palavra inspirada, escondê-lo sob o alqueire, porque ele chocava seu
foi considerado como um profeta senso de medida, porque ele não estava de ãcõrdo
com Seu"""*cânon * estético e moral, porque ele não j
Sobre São Luís Maria Grignion de Montfort sê aiinhava"~hãs~'categorias classificadas. Sendo/
(1673-1716), diz um seu biógrafo: gênio excepcional, declaravam-no gênio bizarro".1
(GEORGES RIGAULT, Salnt Louls-Marie Grignion de
"Ao término do.primeiro sermão, o pregador Montfort, Les Traditions Françaises, Touj*coing,
(São Luís Maria Grignion de Montfort), pela ousa­ 1947, p* 10 / Imprimatur, Joannes Baptista Megnin,
dia de sua palavra inspirada, foi considerado como Episcopus Engolismensis, 28-4-1947).
um enviado do céu,' como um profeta. Sua voz clara,
penetrante, que se ouvia-Bem era todos os recantos,
seus gestos expressivos, a sublimidade dos pensa­ 292. Deus elegeu Beata Ana Maria Talgl,
mentos, o encanto e a originalidade de suas ex­ como "vítima pela Igreja £ por.-Roma"
pressões, a unção e a força que acompanhavam todas
as suas palavras, todo seu conjunto enfim cativava De uma vida da Beata Ana Maria Taigi
os espíritos e submetia as vontades". (J.M. TE- (1769-1837):
XIER, São Luís Maria Grignion de Montfort, Vozes,
Petrópolis, 1948, p. 185 / Com aprovação eclesiás- "'Sem efusão de sangue não há remissão'. Pois
tica). 1 bem, Deus elegeu esta mulher humilde (Beata Ana
Maria Taigi), para obter a remissão do mundo. Nun­
ca, desde o Grande Cisma do Ocidente, houve uma
291• "Um intrépido realizador de um ideal, miséria espiritual semelhante, no reino de
um precursor, um profeta" Cristo.Deus é escarnecido, expulso de milhares de
templos, o clero é dizimado, os Papas arrastados
Sobre São Luís Maria Grignion de Montfort, de prisão em prisão, a Cristandade se afunda em um
comenta outro autor: rio de sangue. Não há um só sacerdote nos exérci­
tos da Revolução e do Império, para absolver os
"Luís Grignion foi um desses homens estra­ moribundos.
nhos e^ admlravels: um intrépido realizador de um
ideal, um precursor, um profeta. Deus o destinava "Era necessária uma vitima expiatória.
a tarefas sobre-humanas. Ele lhe designava uma Substituição ininteligível para o racionalis-
missão que ultrapassaria de muito a duração de sua mo. ....
existência terrestre; um papel na ressurreição da "A Santa, atestam Monsenhor Pedlcini, Monse­
França católica; no desenvolvimento*da teologia nhor Hatali e o Pe. Felipe, foi 'vitima pela
Igreja e por Roma'....
252. Secção II 253-
Secção II
"Seu papel essencial (da Beata Ana Maria Tai- que Tereslnha foi 1 favorecida de luzes sobrenatu­
gl) £ o <ie sustentar o papado mediante suas ora­ rais sobre a sua missão futura1, e ajunta que, ’a
ções...... Os príncipes da Igreja vão à sua casa, não nos revoltarmos contra a evidência, precisamos
alguma vezes, solicitar seus conselhos, mas suas reconhecer que a Irmã Teresa do Menino Jesus, nos
armas preferidas são o silêncio e a Imolação". últimos dias de sua vida, obteve uma revelação
(ALBERT BESSIERES SJ, La Beata Ana Maria Taigi, sobrenatural da sua santidade e da sua missão pro­
Desclée de Brouwer,' Buenos^Air es, 19*12, pp. 139 e videncial1. Lembra nesta altura as palavras com
151 / Puede lmprlmlr-se: Mons. Dr. Antonlo Rocca, que Bento XV declarou que Tereslnha foi agraciada
Oblspo de Augusta y Vlcarlo general, Buenos Aires, com o dom de profecia.
28-3-19^2).
"De qualquer forma, fosse por intuição ge­
nial, fosse por dom de profecia, o que não sofre
293- Bento XV; Santa Tereslnha foi dúvida é que a nossa Tereslnha claramente predisse
agraciada com o dom de profecia o esplendor de prodígios de que hoje o mundo in­
teiro é testemunha". (Pe. ANTONIO FEITOSA, Santa
De uma vida de Santa Tereslnha do Menino Je­ Tereslnha, a Violeta de Llsleux, Vozes, Petrópo-
sus (1873-1897): lis, 2a. ed. refundida, 1955, pp. 274-275 / Impri-
matur: D. Manuel Pedro da Cunha Cintra,
"Numa confidência com a Madre Inês de Jesus, 20^1955).
Tereslnha declarou: fPara a minha missão, como pa­
ra a de~7òana d‘Arc„ a~ vontade de Deus cumprlr-se-
-a apesar da Inveja dos homens1".^ ajuntou que 294. Tal era o discernimento dos
espíritos de Madre Teodora Volron,
Nosso Senhor havia de servir-se da ‘História duma
Alma1 para fazer bem às almas..... que as alunas se confessavam
ante3 de se apresentarem diante dela
"Refere ainda a Madre Inês de Jesus ter ouvi­
do de Tereslnha, Já quase sem vida, as seguintes De uma biografia de Madre Teodora Voiron
palavras proféticas, que tiveram a mais completa (1835-1925), fundadora da Província Brasileira das
confirmação: ‘Depois da minha morte, irá para o Irmãs de São José:
lado da caixa do correio. Ali encontrará muitas
consolações *. "— Uma de suas alunas costumava dizer: ‘Não
falo com Madre Teodora sem me confessar, porque
"Que é que Madre Inês encontrou na caixa do ela adivinha até os pensamentos da gente1. — Pre­
correio? Inumeráveis cartas pedindo retratos e re­ disse ao meu mano, com dez anos de antecipação,
líquias da Santa, e outras tantas narrando mila­
que ele seria Ministro depois Deputado, e tudo se
gres de primeira ordem..... realizou". (OLIVIA SEBASTIANA SILVA, Madre Maria
"Tão inteiro cumprimento em coisas tão de an­ Teodora Volron, Editora "Ave Maria", Saõ Paulo,
temão prognosticadas, deixa bem fora de dúvida que T94&, p. 391 / Com aprovação eclesiástica).
a Irmã Tereslnha claramente previu a sua missão
póstuma. Até aqui sao convergentes os autores. Pa-
rece divergirem na interpretação. A confidência em
que a Santa falou de voltar ao mundo para fazer
amar o amor e passar o seu céu a fazer bem sobre a
terra, diz o Pe. Martin que foi uma ‘profecia1; £
Mons. Lavellle, que foi uma ‘confidência proféti­
ca1. Admitem, ao que parece, a hipótese, rejeitada
pelo Pe. Eymieux, de uma ‘revelação precisa1.....
0 Pe. Petitot opina que ‘era tais previsões, o gê­
nio entra com largo quinhão1, mas afirma também
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295- Os^ superiores foram constituídos por Deus


para o_ nosso bem: devemos-lhes temor e honra

Da Epístola de São Paulo aos Romanos:

nToda alma esteja sujeita^aos poderes supe­


riores, porque não há poder que não venha de Deus;
e os que existem foram Instituídos por Deus. Aque­
le, pois, que resiste à autoridade, resiste à or­
denação de Deus. E os que resistem, atçaera sobre
si próprios a condenação. Porque os príncipes não
são para temer pelas ações boas que praticamos,
mas pelas más. Queres, pois, não temer a autorida­
de? Faze o bem, e terás o louvor dela; porque o
que tem a autoridade é ministro de Deus para teu
bem..... E, pois, necessário que lhe estejais su­
jeitos, não somente pelo temor da ira, mas também
por motivo de consciência..... Pagai, pois, a to­
dos o que lhe é devido: a quem o tributo, o tribu­
to; a quem o imposto, o imposto; a quem o temor, o
temor; _a_ quem a honra, a honra" (Rom. XIII, 1 a
í-' 7).

296. 0 culto aos superiores humanos


deve ser manifestado por sinais externos

Do conhecido teólogo e moralista espanhol


Frei Antonio Royo Marín OP: "A honra ou culto que

256. Secção II 257.


Secção II
se deve a Deus (latria) pode ser meramente inte­ em meu nome, eu estarei no meio deles’ (Mt 18,
rior, pois ele conhece perfeitamente os movimentos 20)”. (Dr. FREDERICO TILLMANN, Luz e_ Vida, Vozes,
de nosso coração. Mas o_ culto devido aos superio­ Petrópolis, 1936, III volume, pp. 131-132 / Pode
res humanos tem que se manifestar de algum modo lmprlmlr-se: Cgo. Francisco de A. Caruso, p. c. do
por algum sinal exterior (palavra, gesto, etc.), Sr. Card. Arcebispo, 18—6.—1936) .
porque se deve honrá-los não somente perante Deus,
mas também diante dos homens (São Tomas, Summa,
II, 103, D". (Fr. ANTONIO R0Y0 MARIN 0P, Teologia 298. Todo indivíduo tem direito
de la Perfeccion Crlstlana, BAC, Madrid, 2a. ed., a que suas boas qualidades sejam honradas
T955, p” 537 / linprlmatur: Fr. Franciscus, Episco-
pus Salmant, 7-10-1955)• De um curso superior de religião por Catedrá­
ticos da Universidade de Bonn:
297* _A dupla natureza do homem ”Todo indivíduo tem c> direito a que as suas
lmpele-o a manifestar exteriormente boas qualidades, mormente as virtudes sociais, se­
as disposições da alma jam reconhecidas e respeitadas pelos seus seme­
lhantes . Nesse direito e que se baseia a noção da
De um curso superior de Religião, por cate­ honra, isto é, a estima que o homem goza por causa
dráticos da Universidade de Bonn: de seus dotes pessoais, verdadeiros ou presunti­
vos. ....
"0 culto extehno é indispensável aos^homens: ”A honra é um patrimônio moral que o indiví­
"a) 0 homem deve servir a Deus, com todas as duo deve conservar religiosamente, por considera­
forças do corpo e da alma, porque é coisa e pro­ ção a si mesmo e por amor à coletividade. Isto va­
priedade de Deus (Lc 10, 27; 1 Jo 4, 16-19)* Além le prlncipalmente da fama de alguma entidade moral
disso, a. dupla natureza do homem impele-o a mani­ (p. ex., família, classe social ou profissional,
festar, exteriormente, a3 disposições da alma, co- corporação, etc.). Por amor do fcera comum, o Indi­
mo sejam sentimentos de amor, de estima, de aver- víduo não pode renunciar ao prestígio de ura cargo,
3ao, etc. - Pela psicologia, sabemos perfeitamente ainda que pessoalmente não tenha nenhum apreço a
que tais expansões exteriores intensificam os sen­ honrarias (p. ex., as autoridades civis e ecle­
timentos da alma. Não havendo nenhuma expansão, a. siásticas, os pais cora relação aos filhos, etc.).
alma perde facilmente o_surto de suas boas dispo­
sições . ; ”A Igreja reconhece o valor moral da honra, e
defende-a em sua legislação. Em alguns delitos, o
”b) 0 cristão é membro de uma perfeita socie­ Direito Canônico aplica a pena da infâmia. Por
dade religiosa. Como tal, deve assistir aos atos meio de atos simbólicos, a Igreja presta as devi­
com que essa sociedade reconhece a absoluta sobe­ das . homenagens aos diversos estados e vocações
rania de Deus, os seus direitos de supremo Legis­ (hierarquia social e eclesiástica). Muitas homena­
lador da humanidade. Por isso é que a Igreja regu­ gens não se referem à pessoa como tal, mas à dig­
la o culto externo por leis positivas, e convoca nidade que representa (cfr. a pragmática eclesiás­
todos os fiéis, aos domingos e dias santos de tica). Essas praxes são de muito valor psicológi­
guarda, para o santo Sacrifício da Missa, que é a co, porque todo coração é acessível ao estímu­
oração liturgica por excelência. lo .... .
f,c) Pela nossa assistência, devemos edificar ”Era muitos casos, o cristão deve defender-se,
e estimular o próximo. Ver e ouvir alguém rezar para que a contumélia não recaia sobre a causa de
com fervor aumenta a_nossa própria devoção. Deus e da Igreja (cfr. o processo de S. Paulo: At.
"d) Jesus Cristo recomenda a oração publica e 21, 27-28, 30).....
coletiva: 'Onde dois ou três se acharem reunidos ”Se gozar de boa fama entre os semelhantes, o_
259-
258. Secção II Secção II
Indivíduo pode cumprir seus deveres com maior fa­ 299. Não louvar alguém que mereça, ou
cilidade . Daí segue t^ue conservar e defender _a então louvá-lo com frleza imerecida,
próprlã~~ honra não £ so um direito, mas e até uma podeT~ser pecado
grave obrigaçao. Escreve D. Salvador Rial, Vigário de Bruch
"A coletividade deve dar as necessárias ga­ (Espanha), no seu Catecismo Ilustrado:
rantias para quem cumpre, fielmente, todos os de­
veres individuais e sociais. Deve, antes de tudo, "Oitavo Mandamento: * Não levantarás falso
conceder-lhe a defesa legal do bom nome. Em alguns
testemunho *
casos, a legislação é deficiente, em particular "1. Amparado o direito de propriedade ou a
quando se trata de imputações aleivosas justa posse dos bens temporais pela proteção do
(imprensa), e de certas contumélias que atingem mandamento divino, Deus ampara com o oitavo manda­
pessoas morais e instituições, etc..... mento o direito àquilo que e_ melhor £ mais nobre
"Injúria ou contumélia. Consiste, negativa­ do que os bens temporais, isto é; o_ direito que
mente, em nao prestar as honras devidas ao proxl- tem o_ próximo â honra £ a boa fama. Esta3 são as
moj positivamente, era maltratar o próximo por atos palavras do Legislador "Supremo: *Não levantarás
e palavras..... contra o teu próximo falso testemunho*.
"As faltas contra a honra e reputação do pró­ "2. Chama-se boa fama a opinião das pessoas
ximo acarretam a grave obrigação de reparar, quan­ sobre a excelência, as boas qualidades e as virtu­
to • possível, os prejuízos causados à pessoa ofen­ des de alguém. Chama-se honra o testemunho que da­
dida. A maneira ;de/'"reparar difere, conforme a na­ mos a alguém do nosso reconhecimento de sua exce­
tureza da falta. lência e de sua virtude.....
"a) Como exprime a verdade, a detração não "18. 0 pecado de murmuração pode ser cometido
pode ser sanada pela retratação. 0 maldizente de­ de muitas maneiras. r
ve, contudo, reabilitar a sua vítima na opinião
"Murmura-se de modo positivo não só denun­
dos que lhe ouviram as palavras. Para esse fim,
ciando as faltas ocultas, mas também exagerando-as
pode enaltecer as boas qualidades da pessoa, ale­
e desfigurando os feitos pecaminosos que Já são de
gar a sua reta intenção e outros fatores que des­
façam, no próximo, a funesta impressão da maledi­ conhecimento público; exagerando uma falta aumen-
cência. Se ninguém fala da matéria, não convém re­ ta-se a difamação.
novar a lembrança; extingue-se por si a obrigação "19* Murmura-se de modo negativo escondendo
de reparar, porque também Já cessaram as más con­ ou negando as virtudes de alguém; atribuindo más
sequências . intenções a um ato bom; diminuindo a_ importância
"b) A reparação da calúnia é mais dificulto­ dos elogios que se tributam a outra pessoa; lou­
sa. Exige retratação diante das pessoas que a ou­ vando com notorla frieza quando outros louvam com
viram. Muitas vezes, será necessário retratar entusiasmo; calando quando outros louvam; fazendo
publicamente. reticências, por exemplo: siüT] é muito bom, mas...
”c) A reparação da contumélia requer, pro­ "Murmura-se de modo positivo ou negativo não
priamente, que se peça perdão ao ofendido. Não só por palavras, mas também por escritos, carica­
sendo possível pedir perdão, deve o culpado dar turas, sinais, etc.". (D. SALVADOR RIAL, El Cate-
provas de especial benevolência para com a pessoa cismo Mayor en Imágenes, José Vilamala, Barcelona,
ofendida". (Dr. FREDERICO TILLMANN, Luz e Vida. 1913, pp. 20*67 207, 210).
Vozes, Petrópolis, 1936, III volume, pp. 2T5 a 21o
e 273 / Pode Imprlmlr-se: Cgo. Francisco de A.
Caruso, p. c. do Sr. Card. Arcebispo, 18-6-1936).
260. Secção II
300. Um elogio frio, a quem
merece mala do que lato, pode conatltulr
pecado de detraçao

De um Curao de Religião:

"A maledicência e a calúnia chamam-se detra-


Secção III
ção. Esta comete-se de diferentes modos, a saber:
— atribuindo ao próximo uma culpa em que ele não
incorreu, ou um defeito que não tem; exagerando
suas faltas, dando como certas as que são incer­
tas, fazendo conhecer as que são ocultas, insi­
Quando é para a maior
nuando-as,
como estas:
fazendo-as suspeitar por fórmulas tais
Diz-se, conta-se.,.; interpretando
desfavoravelmente as boas intenções do próximo,
glória de Deus,
negando 'suas boas qualidades, diminuindo seu méri­
to; fazendo-lhe por vezes um elogio multo frio, ou
os santos aceitam,
guardando um silencio que~eT uma aprovação do .mal
que outros contam, ou um desmentido do bem que di­ permitem ou
zem dele". (Pe. P. X. SCHOUPPE SJ, Curso abrevla-
do de Religião, Livraria internacional de Ernesto
UEarcTron^ Porto, 2á. edição, 189*1, pp. 270-271 /
até estimulam
Imprlmatur:
2-7-1875).
J.B.Lauwers, Vic. Gen. Mechliniae,
as manifestações de
301. São João Crisóstomo: o homem,
veneração e respeito
quando e mau, nao aplaude
o Justo; antes, pelo contrário, o inveja
de que são objeto;
São Tomás de Aquino na Catena Aurea (comen­
tários sobre os quatro Evangelhos) inclui a se­
quando essas
guinte observação de São João Crisóstomo: manifestações não são
"Assim como uma coluna inclinada, se receber
mais peso, se inclinará ainda mais para aquele la­
do, assim também o coração do homem, quando é mau;
para a maior
se v£ ou ouve falar de ações de um homem justo,
nao as aplaude; antes, pelo contrário, se excita à
glória de Deus,
inveja. Os sacerdotes se excitaram deste modo con-
tra Jesus Cristo, dizendo: *0uves o que dizem es­ eles as recusam
tes?’". (Santo TOMAS DE AQUINO, Catena Aurea, Cur­
sos de Cultura Católica, Buenos Aires, 19^6, vol.
II, p. 178 / Imprlmatur: Antonio Rocca, Ob. tit.
de Augusta y Vic. Gen., Buenos Aires, 6—14—19^6).
I

â exerçglQ dQ OIyIdq Mestçe,


qs liQtQS âQQlhem
cqq] beglggldade e slçellçldade
§1 multidões que qs dusçam
üuuIqiii e êSSmiiiSiâSi

302. A multidão que se reunia em torno


de Nosso Senhor era tanta, e d_e tal modo
se arrojavam sobre Ele, que mais de uma
vez foi preciso entrar numa barca,

paranao ser comprimido
r

Do Evangelho de São Mateus:


'* ‘4
"Naquele dia, saindo Jesus de casa, sentou-se
à beira do mar. E juntou-se em volta dele uma
grande multidão de gente, de tal sorte que foi
preciso entrar numa barca e sentar-se nela; e toda
a multidão istava em pé sobre a praia. E falou-
-lhes muitas coisas por parábolas" (Mt. XIII, 1 a
3).
Do Evangelho de São Marcos:

"E Jesus retirou-se com os seus discípulos


para a banda do mar; e seguiu-o uma grande multi­
dão de povo da Gallléia e da Judeia, e de Jerusa­
lém, e da Iduméia, e da Transjordânia; e os das
vizinhanças de Tiro e de Sidônia, tendo ouvido as
coisas que fazia, foram também em grande multidão
ter com ele. E mandou aos seus discípulos que lhe
aprontassem uma barca, para que a multidão q nao
oprimisse. Porque, como curava muitos, todos os
que padeciam algum mal arrojavam-se sobre ele para
o tocarem" (Mr. III, 7 a 10).
264. •Secção III Secção III 2bb.
30 3- Ajs mu11ldões afluíam de lugares distantes "E estavam ali sentados alguns^escribas, os
para ver Nosso Senhor, seguiam-no quais iam discorrendo nos seus corações: Como fala
por vários dias, e até se assim este homem? Ele blasfema. Quem pode perdoar
esqueciam de providenciar o que comer os pecados, senão só Deus? E Jesus, conhecendo lo­
go no seu espírito que eles discorriam desta ma­
Assim narra São Marcos a segunda multiplica­ neira dentro de si, disse-lhes:^Porque pensais is­
ção dos pães: so nos vossos corações? 0 que é mais fácil, dizer
ao paralítico: Os teus pecados te são perdoados;
”Naqueles dias, havendo novamente grande mul­ ou dizer: Levanta-te, toma o teu leito, e anda?
tidão , e, nao tendo que comer, chamados os discí­ Ora, para que saibais que o Filho do homem tem na
pulos, disse-lhes: Tenho compaixão deste povo, Terra poder de perdoar pecados, (disse ao paralí­
porque ^há três dias que não se afastam de mim, tico): Eu te digo: Levanta-te, toma o teu grabato,
e nao têm o que comer; e, se os despedir em Jejum e vai para tua casa. E imediatamente ele se levan­
para suas casas, desfalecerão no caminho, porque tou, e, tomando o seu leito, retirou-se à vista de
alguns deles vieram de longe. E os discípulos res­ todos, de maneira que todos se admiraram e louva­

r-
ponderam-lhe : Como poderá alguém saciá-los de pão vam a Deus, dizendo: Nunca tal vimos11 (Mr. II, 1 a

*
aqui no deserto? E (Jesus) perguntou-lhes: Quantos 12).

• ,
pães tendes? Responderam: Sete.
"E ordenou ao povo que se recostasse sobre a
305. Ajs_ multidões apertavam e comprimiam
terra; e tomando os'''sete pães, dando graças, par­
q Divino Mestre, e Ele entretanto pergunta:
tiu-os e deu a seus discípulos, para que os dis­
tribuíssem; e eles os distribuíram pelo povo. Ti­ 11 Quem me tocou?”
nham também uns poucos de peixinhos; e ele os
Do Evangelho de São Lucas:
abençoou, e mandou que fossem distribuídos. Come­
ram e ficaram saciados, e, dos pedaços que sobeja­

M-íi
”E aconteceu que, tenda voltado Jesus, foi
ram, levantaram sete cestos. Ora qs que comeram recebido pela multidão; pois todos o estavam espe­


eram cerca de quatro mil. Em seguida T^esus) des­ rando. E eis que veio um homem, chamado Jairo, que
pediu-os'1 (Mr. VIII, 1~9). era príncipe da sinagoga; e lançou-se aos pés de
Jesus, implorando-lhe que fosse a sua casa, porque
304. 0s_ que transportavam o paraílítlco tinha uma filha única com cerca de doze anos, que
estava a morrer. E sucedeu que, enquanto Jesus ia
tiveram que destelhar a casa
caminhando, era apertado pelo povo. E uma mulher,
para põ-lo diante do Divino Mestre
que padecia fluxo de sangue fia doze anos, e tinha
dispendido cora médicos todos os seus bens, sem po­
Do Evangelho de São Marcos:
der ser curada por nenhum deles, aproximou-se por
"E, alguns dias depois, entrou Jesus outra detrás e tocou a orla do seu vestido; e, imediata­
vez em Cafarnaum. E_ soube-se que ele estava em ca- mente, parou o fluxo do seu sangue. E Jesus disse:
sa> !L Juntou-se multa gente, de modo que não~~cabia Quem me tocou? E, negando todos, dlssê~Pedro e os
nem mesmo diante da porta; e ele pregava—lhes ã que com ele estavam: Mestre, as multidões apertam-
palavra. E foram ter com ele, conduzindo um para­ -te e_ oprimem-te, e tu perguntas: Quem me tocou? E
lítico, que era transportado por quatro. E, como Jesus disse: Alguém me tocou, porque conheci que
não pudessem apresentar-lho por causa da multidão, saiu de mim uma virtude. E a mulher, vendo-se des­
descobriram o teto pela parte debaixo da qual es- coberta, foi tremendo, e prostrou-se a seus pés, e
tava (JesusT"; e_, tendo feito uma abertura, arria­ declarou diante de todo o povo a causa porque o
ram o. leito, em que jazia o paralítico. E, quando tinha tocado, e como ficara logo sã. E ele disse-
Jesus viu a sua fé, disse ao paralítico: Pilho, -lhe: Filha, a tua fé te salvou; vai em paz.
são-te perdoados os teus pecados.
267.
2 66. Secção III Secção UI
"Ainda ele não tinha acabado de falar, quando que está defronte de vós, e logo encontrareis pre­
sa uma Jumenta e o seu Jumentinho com ela; des­
veio um dizer ao príncipe da sinagoga: Tua filha
morreu, não o incomodes. Mas Jesus, tendo ouvido prendei-a, e trazei-ma. E, se alguém vos disser
estas palavras, disse ao pai da menina: Não temas, alguma coisa, dizei que o Senhor precisa deles; e
crê somente e ela será salva. E, tendo chegado à logo os deixará trazer. Ora tudo isto aconteceu,
para que se cumprisse o que tinha sido anunciado
casa, não deixou entrar ninguém com ele, senão Pe­
pelo profeta, que disse: Dizei à filha de Slão:
dro e Tiago e João, e o pai e a mãe da menina. En­
tretanto todos choravam, e a lamentavam. Porém, Eis que o teu rei vem a ti manso, montado sobre
ele disse-lhes: Não choreis, a menina não está uma Jumenta, e sobre um Jumentinho, filho da que
morta, mas dorme. E zombavam dele, sabendo que es­ leva o Jugo. E, indo os discípulos, fizeram como
tava morta. Então Jesus, tomando-a pela mão, le­ Jesus lhes ordenara. E trouxeram a Jumenta e o Ju­
vantou a voz e disse: Menina, levanta-te. E o seu mentinho, e puseram sobre eles os seus vestidos, e
fizeram-no montar em cima (do Jumentinho). E £ po­
espírito voltou (para o seu corpo), e levantou-se
imediatamente. E Ele mandou que lhe dessem de co­ vo, em grande número, estendia no caminho os seus
mer. E seus pais ficaram cheios de assombro, e vestidos; e_ outros cortavam ramos~de árvores, _e
(Jesus) ordenou-lhes que não dissessem a ninguém o juncavam com eles £ estrada. E as multidões que o
precediam, e as que iam atrás, gritavam, dizendo:
que tinha acontecido" (Lc. VIII, 40 a 56).
Hosana ao Filho de David! Bendito o_que vem em no­
me do Senhor! Hosana no mais alto dos céus! E,
306. Em qualquer lugar>onde Nosso Senhor quando entrou em Jerusalém,alvoroçou-se toda _a
chegasse, os enfermos afluíam £ cidade, dizendo: Quem é este? E os povos diziam:
Este é Jesus, o profeta de Nazaré da Gali-
lhe imploravam que os deixasse tocar
ao menos a orla do seu vestido léia".....
"E, quando os príncipes dos sacerdotes e os
Do Evangelho de São Marcos: escribas viram as maravilhas operadas por Ele, e
os meninos gritando no templo, e dizendo: Hosana
"E, tendo passado à outra banda, foram ao ao Filho de David! indignaram-se, e disseram-lhe:
país de Genesaret, e lá aportaram. E, tendo desem­ Ouves o que estes dizem? E Jesus disse-lhes: Sim.
barcado , logo o conheceram; e, correndo por todo Nunca lestes: J3a boca dos meninos e_ das crianças
aquele país, começaram a. trazer-lhe de todas as de leite tiraste £ perfeito louvor?tendo-os
partes os doentes em leitos, onde sabiam que ele deixado, retirou-se Jesus para fora da cidade, pa­
estava. E, em. qualquer lugar £ qúe chegava, (fos­ ra Betânia; e lá ficou" (Mt. XXI, 1 a 11 e 15 a
se) nas aldeias ou nas vilas ou nas cidades, pu­
nham os enfermos no meio das pragas, e pediam-lhe 17).
que os deixasse tocar ao menos a orla do seu ves­
tido; e todos os que o tocavam ficavam sãos" (Mr.
VI, 53 a 56). 308. "S£ eles se calarem, as
próprias pedras clamarao" "
Descrição da entrada triunfal de Nosso Senhor
307. "Da boca dos meninos e das crianças de
em Jerusalém por São Lucas:
leite tiraste £ perfeito louvor"
"E, dito isto, ia Jesus adiante subindo para
Descrição da entrada triunfal de Nosso Senhor Jerusalém. E aconteceu que, quando chegou perto de
em Jerusalém por São Mateus: Betfagé e de Betânia, no monte que se chama das
Oliveiras, enviou dois dos seus discípulos, dizen­
"Aproximando-se de Jerusalém, e, chegando a do: Ide a essa aldeia, que está fronteira; entran­
Betfagé, junto do monte Olivete, enviou Jesus dois do nela, encontrareis um Jumentinho atado, em que
dos seus discípulos, dizendo-lhes: Ide à aldeia,
269.
268. Secção III
Secção III
dele, segundo está escrito: Não temas, filha de
nunca montou pessoa alguma: desprendel-o e trazei- Sião; eis que o teu Rei vem montado sobre um Ju­
-o. E, se alguém vos perguntar porque o soltais, mentinho. A princípio os seus discípulos não com­
dir-lhe-eis: Porque o Senhor tem necessidade dele. preenderam estas coisas, mas, quando Jesus foi
"Partiram, pois, os que tinham sido enviados, glorificado, então lembraram-se de que estas coi­
e encontraram o Jumentinho, como o Senhor lhes sas tinham sido escritas dele, e que eles mesmos
dissera. E, quando desprendiam o Jumentinho, dis­ tinham contribuído para o seu cumprimento. A mul­
tidão, pois, que estava com ele, quando chamou Lá­
seram-lhes os seus donos: Porque soltais vós esse
Jumentinho? E eles responderam: Porque o Senhor zaro do sepulcro e o ressuscitou dos mortos, dava
tem necessidade dele. E levaram-no a Jesus. E testemunho dele. E, por isso, lhe saiu ao encontro
lançando sobre o Jumentinho os seus vestidos, fi- a multidão; porque ouviram dizer que tinha feito
zeram-no montar em cima. E, à_ sua passagem, (as este milagre. Portanto 03_ fariseus disseram entre
multidões) estendiam os seus mantos no caminho. "E7 si: Vedes que nada aproveitamos? Eis que todo o^
quando Já ia chegando à descida do Monte das Oli­ mundo vai após ele" (Jo. XII, 12 a 19)•
veiras, toda ci multidão dos seus discípulos come­
çou alegremente louvar a_ Deus em altas vozes por
todas as maravilhas que tinham visto, dizendo: 310. São Francisco de Assis recebia as
Bendito o rei que vem em nome do Senhor, paz no honras que lhe prestavam, como as
céu e glória nas alturas. recebem os quadros e estátuas nas igrejas
"Então alguns dos fariseus (que se achavam) Conta Joergensen em seu conhecido livro sobre
entre o povo, dlsseham-lhe: Mestre, repreende os São Francisco de Assis (1181-1226):
teus discípulos. Mas ele respondeu-lhes: Digo-vos
que, se eles se calarem, clamarao as mesmas pe­ "Este último trecho da viagem de Francisco
dras" TEc. XIX, 28 a 40). pareceu quase uma marcha triunfal. Quando o Santo
se aproximava de uma cidade, t<jdos os sinos toca­
vam: o povo la em multidão encontrar-se com ele,
309. Despeito d_os fariseus: todo o com palmas na mao, e^ conduzla-o, em procissão so­
mundo segue a Nosso Senhor! lene, ate a casa do pároco, Junto ao qual Francis­
co costumava alojar-se. Ali eram levados pães, pa­
Entrada triunfal de Nosso Senhor em Jerusalém ra que ele os benzesse, e, depois eram conservados
segundo São João: i como relíquias. E a miúdo ouvia-se repetir pela
multidão o grito, que tão facilmente ressoa na
"E, no dia seguinte, uma grande multidão de Itália: 'Eis o Santo!'
povo, que tinha ido à festa, ouvindo dizer que Je­ "Os seus próprios discípulos achavam excessi­
sus la a Jerusalém, tomaram ramos de palmas, _e vas essas honras. Multas vezes, tal como os após~
saíram ao seu encontro, e clamavam: Hosana! Bendi­
to o que vem em nome do Senhor, _o rei de~Tsrael! E tolos já o haviam feito ao Divino Mestre, pergun-
Jesus encontrou um Jumentinho, e montou em cima tavam-lhe: 'Não ouves o que diz esta gente?' Mas
Francisco costumava responder que considerava
aquelas homenagens como as que se prestam aos qua­
dros e^ às estatuas nas igrejas; figuras estas que,
para os cristãos, nao passam de imagens de Deus; e
dizia que a sua carne, o^ seu sangue, ji sua própria
pessoa tinham tanta parte, naquelas honrarias que
ele recebia, quanto a_ madeira ou a_pedra nas ima­
gens veneradas.
270. 271.
Secção III Secção III
"Mas, com o correr do tempo, Francisco Julgou completaraente são à sua mãe, mandando a esta que
não dissesse isto a ninguém. Mas ela, voltando à
esta resposta insuficiente, e sentiu-se sempre
mais constrangido ante aquelas aclamações da mul­ sua casa com grande alvoroço, em companhia de seu
tidão: de modo que procurava, ao menos, humilhar- filho, contou tudo o que havia acontecido, de tal
maneira que chegou aos ouvidos do Sumo Pontífice.
-se a si mesmo o mais que podia: 'Não me louveis
demasiadamente, dizia ele ao povo, porque ainda Este quis que este milagre fosse contado a todos
na pregação pública; porém, o bem-aventurado Do­
posso ter filhos e filhas!' Ou então exclamava:
'Se Deus tivesse concedido a um ladrão tantas gra­ mingos, verdadeiro amante e custódio da humildade,
não consentiu que assim se fizesse, declarando que
ças quantas tem concedido a mim, ele lhe seria
bastante mais reconhecido!''' (JOHANNES JOERGENSEN, se isto se realizasse, partiria para o outro lado
São. Francisco de Assis, Vozes, Petrópolis, 1957, do mar, às terras dos sarracenos, e não pisaria
pp. 20*1-205 / Com aprovação eclesiástica). mais nestas regiões. Temeroso o Pontífice de que
assim o fizesse, desistiu do empenho de dar publi­
cidade ao fato.
311. "Deixai-os fazer, "Ma3 o Senhor, que disse no Evangelho: '0 que
£ que saciem c> seu fervor" se humilha será exaltado' , e costuma honrar e_ glo­
rificar os seus fiéis contra a vontade e^ os dese­
A Beata Cecília Romana (1203-1290), na sua jos distes, excitou desde então de tal mocTõ a de-
relação dos milagres que realizou São Domingos em voção dõ povo e dos poderosos em favor do bem-
Roma, refere o seguinte: -aventurado Domingos, que em todas as partes o
consideravam como um anjo de Deus, e_ as_ pessoas
"Certa mulher, residente em Roma, que perten­ que podiam tocar-lhe, ou as que pudessem ter como
cia à Paróquia de São Salvador in Perfllls de Bu- relíquia algum fragmento de suas vestes, sentlam-
vallschls, chamada Dona Tuta, _a qual pFõfessaya -se afortunadas, pelo que sua capa foi retalhada
uma terna devoção ao bem-aventurado Domingos, ti- de tal maneira, que apenas lha chegava aos Joe­
nha um f-ilho unico, criança ainda, gravemente en­ lhos. E_ aos frades que se opunham ji que se despe­
fermo. Um dia era que São Domingos pregava na igre­ daçassem assim suas vestes, dizia o_ bem-aventurado
ja de São Marcos, daquela cidade, a referida se­ padre, celebrando ^ devoção daqueles:
nhora, premida pelo desejo de ouvir de seus lábios
a palavra de Deus, foi para a igreja, deixando seu " ' Delxal-os fazer, e_. que saciem seu fervor' " .
filho doente em casa. Ao regressar, depois de con­ (BEATA CECÍLIA ROMANA, Relaclón de los mllagros
cluído o sermão, encontrou-o morto. Abatida por obrados por Santo Domingo en Roma, in Santo Domin­
go de Guzman visto por sus contemporâneos, BÀC,
uma extraordinária aflição, mak afogando seu des­ Madrid, 1947, pp. 4Ò1-462 / Imprlmatur: Cãsimiro,
gosto com o silêncio, confiada no poder de Deus e^ Obispo Aux. y Vic. Gen. 30—5—19^7) .
nos méritos do bem-aventurado Domingos, tomou con­
sigo o cadáver de seu filho e foi, acompanhada de
suas criadas, até a igreja de São Sixto, onde vi­
via então o bem-aventurado Domingos, com os fra­ 312. "...e não só permitia
des...... Entrando, encontrou o Santo de pé Junto que lhe prestassem aquela homenagem,
da porta do Capítulo, como se esperasse algo. E mas antes os louvava por isso"
ela, olhando para ele, pôs o filho aos seus pés e
De uma antiga Vida de São Vicente Ferrer
prostrada começou a suplicar-lhe, com lágrimas,
que o ressuscitasse. Então, o bem-aventurado Do­ (1350-1419):
mingos, compadecido de dor tão veemente, afastou-
"Tudo isto nascia de uma profunda humildade,
-se um pouco dela e fez uma breve oração, depois a qual fazia que a ninguém tivesse em menor conta
da qual levantou-se e, aproximando-se do menino,
traçou sobre ele o sinal da cruz. Tomando-o depois do que se tinha a si mesmo, mas antes tivesse a
pela mão, levantou-o vivo e incólume e o devolveu todos em muita conta.
272.
Secção III Secção III 273.
Quanto mal3 se humilhava São Vicente Ferrer,
mais o exaltavam veito, pouco a pouco dissimulou com elas; e_ não só
permitia qü~e~~ihe fizessem aquela honra, mas antes
"JE, pois, ele se humilhava diante de todos, e as louvava por isso, dizendo-lhes que faziam bem
todos o honravam. (D Papa Bento, com seus Cardeais,
em honrar a_ Deus em seus ministros e_ pregadores.
£ Imperador Sigismundo, òs Reis de Castelã^ Aragao
e InglateTra, os Bispos £ Abades, e os Prelados de
Referia tud£ a Deus e se humilhava
todas as Ordens parece que não se desvelavam senão diante ~do SenKor
em pensar como o_ honrariam. Não que ele, como se
diz, , lhes alisasse o pêlo, nem os adulasse, pois "Todas aquelas honras, ele as referia a Deus,
isso ele não fazia, antes repreendia muito às cla­ e dizia cora o coraçao e com os lábios: Non nobls,
ras os seus defeitos; mas procedia nas repreensões Domine, non nobls, sed nomlnl tuo da gloriam
tão mansamente e com tanta educação, que mal se Nãõ ã nós, Senhor, nao a nós, mas ao teu nome dá
achou alguém que se aborrecesse de suas repreen­ glória (Salmo 113 B, 1). Para evitar a vanglória
sões. Diziam que era um anjo enviado por Deus para
que de semelhantes honras se lhe podia oferecer,
dizer-lhes as verdades; e quanto mais os repreen­ antes de entrar nos lugares, seguindo o conselho
dia e avisava de suas culpas, mais o queriam. de Nosso Senhor que diz: Orate ut ne intretls ln
Saíam-lhe ao encontro, como fariam para receber tentatlonem — Orai para que não entreis em tenta-
ção (Mt. 26, 41; Mc. 14, 38), ajoelhava-se com os
São Paulo
que vinham em sua companhia e, as mãos posta3 em
"Em multas cldaàes, saíam para recebê-lo em oração, erguia os olhos com lágrimas ao céu. Devia
procissão com pendões e_ bandeiras, os clérigos então o Santo rogar a Deus que o guardasse da so­
vestidos de roupas sagradas, com £Cruz £ relí­ berba e da vanglória, a qual (como diz Santo Agos­
quias _e outras coisas sagradas, do modo que sai­ tinho) está sempre espreitando nossas boas obras,
riam ao encontro de São PaulõT se viesse pregar- para que se percam diante do conspecto divino. E
-lhes. E porque todos o queriam tocar e beijar-lhe para que se veja o quão longe estava de alegrar-se
a mao, ou tomar-lhe algum pedaço da roupa, inúme­ da honra que lhe faziam, e da autoridade que lhe
ras vezes foi necessário fazer uns quadros de ma­ davam, basta saber que, algumas vezes, pedindo-lhe
deira e_ colocá-lo no melo, as~vezes a_ pe t ^outras os enfermos a bênção para alcançar de Deus a saú­
vezes montado em seu burrico, conforme vinha. Mas de, não queria dá-la, para fugir da vanglória; se
já que nao podiam tocar nele, atiravam suas roupas bem que, depois, movido de misericórdia, fazia o
para que alcançassem pelo menos o_ burrico. que lhe rogavam, e os despedia muito contentes".
(Fray VICENTE JUSTINIANO ANTIST, Vida de San Vi-
No começo ele repreendia quem o honrava em demasia cente Ferrer, in Biografia y Escritos de San Vi­
cente Ferrer, BAC, Madrid, 1956, pp. 13*3-134 / im­
"Diz Flamínio, que quando começaram a_ usar prima tur: Hyacinthus, Ep. aux. y Vlc. gen., Valen-
estes modos de reverência, São Vicente os repreen­ tiae, 9^6-1956).
dia por isso, e dizia-lhes que eram idólatras,
pois não sendo ele santo, tomavam pedaços de sua
roupa ou pelos de seu burrico como relíquias. 313. nHá trinta £ seis anos
"Também fugia das entradas solenes nas cida­ que estou em Ars
des . £ ainda não me zanguei"

Mas vendo £ proveito das almas, não só permitia, Da vida de São João Maria Vianney, o Cura
como louvava a quem o_ honrasse d f Ars (1786-1859):
"Mas depois, vèndo que com aquela reverência "Ura dia, foi em 1854, ao sair do catecismo,
que lhe prestavam as pessoas importantes, o_ povo enquanto passava da igreja à casa paroquial, teve
dava mais valor a seus sermões e_ tirava maior pro- de suportar tais importunações, uns queriam cor-
{

27^. Secção III


Secção III 275.
tar-lhe um pedaço da sobrepeliz, outros o cabelo -
que algumas pessoas cheias de Indignação lhe dis­ ciente! Uma grande multidão impedia o carro de
se ram1 'Senhor CuraVRevma. deve mandar esta avançar: cercavam-no, para pedir-lhe uma bênção,
gente embora... Se eu estivesse no seu lugar, fi- uma palavra, a promessa duma prece, até que o co­
carla doído... cheiro gritou: ^om a breca! Eu preferia levar o
1— Ah! meu Deus, respondeu o Santo, faz diabo do que um santo no meu carro!1
trinta £ seis anos que estou em Ars, e_ ainda não
Esperteza de um alfaiate para obter relíquia
me zanguei; agora, estou multo velho para come­
çar Fõrãra vistos sacerdotes maravilharem-se com
o espetáculo desta paciência. 0 P. Gérln, cura da Quando Dora Bosco ura dia estava à mesa dum
catedral de Grenoble, a quem o Pe. Vlanney chamava amigo em Lille, apresentou-se ura alfaiate e_ pediu
'seu primo1, ficou horas Inteiras a contemplá-lo, licença para mudar uma manga estragada de sua so­
taina. Ves o matreiro! Eoderla assim guardar toda
todo bondade e paciência, comprimido pela multidão
uma manga como relíquia! E o padre passou a vestir
que o cercava" (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura
d *Ars, Vozes, Petrópolls, 2a. ed., 1967, pp. uma sotaina velha com uma manga inteiramente nova!
392-393 / Imprlmatur: Luís Filipe de Nadai, Bispo
de Uruguaiana, 29-6-1959). Agradeçamos a Deus por tão boa comida

Todos os seus amigos queriam tê-lo â sua me­


31^ "Permltlu-lhes tudo, esse sa, e o Santo disse a Dom Rua (o Beato Miguel
bondoso homem, sempre pronto a servir" Rua): 'E singular o programa que meus amigos orga­
nizaram para rainha estadia em Lille. Eu esperava
De uma biografia popular de São João Bosco romarias, prédicas, visitas a igrejas! E em que se
(1815-1888): transformou? Banquetes, sempre banquetes! Mas
agradeçamos ji Deus ter dado ao seu Dom Bosco tão
"Sua grande viagem através da França teria boa comida1' .... ,
virado a cabeça de qualquer um, que não a dele.
Porque se Jamais uma teve um sucesso, foi essa! Relíquia "sul generls": ura recibo!
.... 0 povo precipitava-se, literalmente, no seu
caminho, _£ multidão premla-o de todos os lados, "Com o mesmo humor logrou uma senhora da alta
procuravam suas maos para beljã^las ou pelo menos sociedade que o vinha constantemente importunando
toca-las! Reduzia-o quase, na verdade, a pedaços! por algumas linhas de seu próprio punho, como lem-
que ousadia: cortavam com uma tesoura pedaços brança. Sabes o que ele escreveu?.7^ HTecebi, mui­
de sua sotaina, na frente, atrás, à direita, _a es­ to grato, de Mme. X. a quantia de 2.000 liras para
querda, de tal forma, que suas pobres roupas de os meus pobres. — Dora Bosco1" (M. PELLISSIER, Dom
baixo apareciam de todos os lados: ura aspecto la­ Bosco, Edições Melhoramentos, São Paulo, pp. 108 a
mentável! Alguns mais ousados levaram as coisas ao 110).
extremo £ cortaram até mesmo cachos de seus cabe­
los ! Tão longe se deixou o povo levar 1 315* "Conduzem sobre os ombros, com festivas
"E_ ele? Permltlu-lhes tudo, esse bondoso ho- aclamações o sacerdote João Bo"sco"
mem, sempre pronto a servir! Dizia sô com o seu
habitual sorriso: Histá bera, está bem! Estou vendo Conta o próprio São João Bosco nas Memórias
que ainda há doidos, que podem andar soltos!’ do Oratório:

Impaciência de um cocheiro "Ao fazer-se noite, um toque de sino reunia a


todos na igreja, onde se fazia ura pouco de oração
"Houve aquele cocheiro, que devia conduzí-lo ou se rezava o terço com o Angelus, e se terminava
através de Lion e que não era particularmente pa- tudo com o canto de 'Louvado seja sempre o Santís­
simo Sacramento!1
277.

São João Bosco carregado em triunfo


pelos seus meninos.
Esta cena figurou no grande estan­
)
darte que ornava o átrio
da Basílica de São Pedro, no dia
de sua beatificação,
a 2 de junho de 1929.
"Ao sair da igreja, punha-me no meio deles e sobre aquele camarote de braços, que passava por
os acompanhava enquanto cantavam ou se alvoroça­ cima dos mais altos de estatura, e caminhavam can­
vam. Quando chegávamos na subida do Rondón, canta­ tando, rindo e aplaudindo até o largo chamado Ron­
va-se uma estrofe de uma canção religiosa, despe- dón. Cantavam-se ainda ali algumas canções, que
diara-se até o Domingo seguinte e, dando-se mutua­ terminavam com o canto solene em honra de Jesus
mente boa-noite, cada um caminhava para sua casa. Sacramentado e de Maria Santíssima.
"A despedida do Oratório era uma cena singu­
lar. Quando estavam fora da igreja, todos davam "Fazia-se depois ura grande silêncio e eu, en­
mil vezes boas-noites sem separar-se do grupo dos tão, podia dar a todos as boas-noites, com os con­
companheiros. Eu lhes dizia: selhos para toda a semana. Todos respondiam a ple­
nos pulmões:
”— Ué para casa; Já é noite; vossos pais
vos aguardam. Inutilmente. Era preciso deixá-los "— Boa noite!
fazer; seis dos mais robustos formavam com seus "Naquele momento eu era baixado do trono, iam
braços uma espécie de cadeira sobre s^ qual, como todos para suas FãmTTias, enquanto alguns dos
num trono, eu tinha que sentar-me por força. Orde- maiores me acompanhavam até minha casa, meio morto
navam-se então em várias filas, com Dom Bosco de cansaço". (Nota do editor do livro: "Esta cena
278. Secção III

encantadora a^ vimos representada em Roma no dia


da beatlflcaçao (2 de junho de l$29y, em um enormç
estandarte quê~pendfã sobre & entrada principal do
6trlo da basílica de àão Pedro: Dom "Bosco levacío
em triunfo por ura grupo de alegres alunos seus.
Ele, sentado em uma poltrona, e atrás, no fundo, a

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carapina piemontesa. Ura dístico latino dizia: •Sus-

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tollunt humerl8 festo clamore Ioannem — laetantes
luvenes quem allt unus amor1: com festivas aclama-

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Bosco" (São JOAO BOSCO, Memórias dei Qratorlo ln
Biografia £ Escritos de San JuãrTBõsco, BAC. Ma­

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1955> pp» 183-18T~/ Imprlmatur: José Maria,

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Ob. Aux. y Vic. gral., 13-5-1955).
g lQUYQces ãg que s§q §1yq,
g sem se deixarem afetar pela vaidade?

316. Quando é útil para a gloria de


Deus è a salvação das almas,
pode-se aceitar as honras e
querer a estima dos homens

Do célebre tratado ascéticcf publicado em I606


pelo Venerável Padre Alonso Rodríguez, da Compa­
nhia de Jesus:

"Como se pode conciliar _a humildade com o de-


se.1 o de ser considerado e^ estimado pelos homens.
i
A doutrina comum: deve-se preferir
o desprezo as honras

"Com relação à humildade apresenta-se multas


vezes uma dúvida, cuja solução nos Importa muito
conhecer, para saber como nos havemos de comportar
na matéria. Dizemos, e é doutrina comum dos San­
tos, que devemos desejar ser desprezados, abatidos
e tidos em pouca conta, e que não façam caso de
nós.

Uma objeção: como fazer bem ao próximo se somos


por ele desprezados e^ tidos em pouca conta?

"Mas aqui surge uma objeção: como faremos


frutificar as almas se nos desprezam e têm em pou-
280. Secção III Secção III 281.

ca conta, ^á que para Isso £ preciso ter autori­ que tal £ um melo necessário para o_ proveito das
dade sobre £ proximo, e_ que ele tenha boa opinião almas. E isto, diz São Gregorio, não é alegrar-se
£ nosso respeito e nos e3tlme. E assim parece que com a própria estima e bom conceito, mas sim com o
não será mau, mas pelo contrário bom, desejar ser­ proveito do próximo, o que é coisa muito diferen­
mos estimados e considerados pelos homens. te. Uma coisa é alguém amar a honra e a estima
humana em si mesma, detendo-se nela pela própria
A solução dos santos: para uma finalidade boa satisfação que lhe vem de ser grande e considerado
£ para a gloria de Deus podemos aceitar as honras na opinião dos homens; e isto é mau. Outra coisa é
e £ estima dos homens quando se tem amor a isto pelo proveito do próximo
e para o bem de sua alma; e isto não é mau, mas
"Desta dúvida tratam os gloriosos São Basí- bom. E_ desta maneira bem podemos desejar £ honra e
lio, São Gregório e São Bernardo. E respondem mui­ a estima do mundo, e que se tenha boa opinião _a
to bera a ela: ainda que seja verdade que deve­ nosso respeito pela maior gTórla de Deus e_ por ls-
mos fugir da honra e estima do mundo, pelo grande to 3er necessário para a_ edificação do próximo e
perigo que há nisso; e que, pelo que nos diz res­ para fazer frutificar suas almas; porque isto não
peito, devemos sempre desejar ser desprezados e e deleitar-se cora sua honra e estima, mas com o
tidos em pouca conta, entretanto, para alguma fi­ proveito e o bem do próximo, e com a maior glória
nalidade boa, do maior serviço de Deus, podemos de Deus. Como aquele que por razão de saúde quer o
desejar, lícita e santamente, a honra e a estima fí remédio que naturalmente rejeita, o querer o re­
dos homens. médio é amar a saúde: assim aquele que, desprezan­
do a honra humana, a quer e admite por ser no caso
São Bernardo: às vezes podemos querer santamente um meio necessário ou proveitoso para o serviço de
que não conheçam nossas faltas Deus e bem das almas, diz-se verdadeiramente que
ele não quer nem deseja senão a glória de Deus.
"E assim diz São Bernardo que é verdade que, si
no que nos toca, devemos querer que os outros co­ Critério para conhecer quando é^bom
nheçam e sintam de nós o que nós mesmos conhecemos •e quando £ mau desejar as honras
e sentimos, para nos ter na conta era que nós mes­ £ a estima dos homens
mos nos temos. Mas muitas vezes, diz ele, não con­ x
vém que os outros saibam essas coisas; e assim po­ "Mas vejamos como se conhecerá se alguém se
demos algumas vezes lícita e_3antamente querer que compraz com a honra e estima puramente pela glória
nao conheçam as nossas faltas, para que não~~rece- de Deus e proveito do próximo, ou por seu proveito
bam daí algum dano, e se impeça com isso algum e pela sua própria honra e estima; porque esta é
proveito espiritual. Mas é preciso que o entenda­ uma coisa muito delicada e toda a dificuldade do
mos bera, e o tomemos cora prudência e com muito es­ assunto está nisso. Responde São Gregório: o ale­
pírito, porque semelhantes verdades, sob o colori­ grarmo-nos com a honra e a estima deve ser pura-
do de verdades, costumam causar grande dano em al­ mente por Deus, pois quando não for necessário
guns por não saberem utilizar-se bem delas. para a sua maior glória e bem do próximo, não só
não haveremos de nos rejubilar com ela, mas an­
São Gregório: gozar de boa reputação e da estima tes nos será penoso. De maneira que nosso coração
e nosso desejo, na medida que esteja em nós, sem­
dos homens pode ser necessário para a gloria de
beus e bem das almas pre se há de inclinar à humilhação e ao desprezo;
/ e assim, quando se nos oferecer ocasião para isto,
"Os mesmos Santos nos explicam bem esta dou­ devemos abraçá-la de coração e alegrarmo-nos com
! ela, como quem encontrou o que desejava. E só de­
i trina, para que não tiremos delas ocasião para er­
rar. Diz São Gregório: Algumas vezes também os va­ vemos querer a honra e a estijna e rejubilarmo-nos
rões santos se alegram de gozar de boa reputãçao e com ela quando for necessária para a edificação do
de estima junto dos homens; mas isso é quando veem próximo, para fazê-lo frutificar, e para maior
honra e glória de Deus.
Secção III 283.
282, Secção III
época, era uma pregação planificada. 0 Santo se
0 exemplo de Santo Inácio de Loyola apresentava em cada aldeia como um enviado de
Deus, sua entrada era solene, congregavara-se as
"De nosso bem-aventurado Padre Inácio lemos multidões. Organizava-se uma procissão, cantavara-
que, se se deixasse levar pelo seu fervor e dese­ -se cânticos piedosos e penitenciais. 0 Santo, que
jo, andaria pelas ruas desnudo e coberto de penas sempre repeliu com humildade heróica ãs Honras
e cheio de lodo, para ser tido por louco. Mas a pessoais, aceitava voluntariamente as que lhe tri­
caridade <s o_ desejo que tinha de ajudar o_ próximo butavam como enviado do Senhor. Aparecia pobreraen-
reprimia nele este tao grande ímpeto de humildade, te vestido cora seu hãbito de Dominicano, montava
e fazia que fosse tratado com a autoridade e^ a_ de­ sobre um Jumentinho, o qual andava entre caibros
cência que convinha ao seu ofício e à suã pessoa.
de madeira para evitar que os devotos impedissem a
Mas a sua lnclinaçao e desejo era ser desprezado e marcha regular" (Biografia £ escritos de San Vi­
abatido, e sempre que se lhe oferecia a ocasião de cente Ferrer, Biblioteca de Autores Cristianos,
se humilhar, ele a abraçava e até a buscava deve­ Madrid, 1956, pp. 43-44 / Imprlmatur: + Hyacin-
ras. Pois nisto se reconhecerá se vos alegrais com thus, Ep. aux. y Vic. gen., Valentiae,' 9-6-1956).
a ^autoridade e estima pelo bem das almas e pela
glória de Deus, ou por vós mesmos e por vossa pró­
pria honra e estima: se quando se vos oferecer uma 318. "A vaidade esvoaça era redor de mim,
ocasião de humildade e desprezo, a abraçais deve­ mas, pela graça de Deus", não entra"
ras e de coração e vos regozijais com ela; então é
sinal de que, quando vos sai bem o sermão, ou o Lê-se numa vida de São Vicente Ferrer
negócio, e por isso sóis considerado e estimado,
não vos regozijais por vossa honra e estima, (1350-1419):
mas puramente pela glória de Deus e proveito do "Sua humildade deixou estupefato a Pierre
próximo que daí vem. Mas se quando se vos apresen­
d*Ailly. Os contemporâneos ficavam admirados dian­
ta a ocasião de serdes humilhados e de serdes ti­
te de sua piedade, tanto quanto da virilidade, da
dos em pouco, a recusais e não a levais bem; e se
energia, e do bom senso, aos quais essa humildade
quando nao é necessário para o proveito do próxi­
e essa piedade Jamais causaram prejuízo. Bem ao
mo, contudo vos regozijais com a estima e louvores contrário, elas lhe davam uma visão Justa das coi­
dos homens, e o procurais, isto é sinal de que sas, porque eram sinceras, vivas, e não hipócritas
também no demais vos regozijais pelo que vos toca
ou deformadas. Essa humildade de São Vicente Fer­
e por vossa honra e estima, e nao puramente pela
glória de Deus e proveito do próximo". (V. Pe. rer tem o seu mérito. Era de temer, com efeito,
que diante de seus êxitos brilhantes, o mestre
ALONSO RODRIGUEZ SJ, EJerclclo de Perfección £
(São Vicente Ferrer) perdesse a cabeça e se dei­
Virtudes Crlstlanas» Apostolado cTê la Prensa, Ma­
drid^ r930, tomo II, pp. 383-387 / Imprlmase: Dr. xasse levar por todas as formas de orgulho. Mas aí
estava a sua humildade. Um dia, ao que parece, um
J. Francisco Morán, Vicário General; Madrid, bispo francÍ8cano amigo encontrava-se ao seu lado
10-6-1930). durante uma dessas procissões triunfais em que se
manifestava a veneração do povo pelo grande santo
317» Repelia com humildade as honras pessoais, civilizador. Diante das aclamações, diante mesmo
aceitava voluntariamente as que das manifestações insólitas de adoração (*), dis­
lhe tributavam como enviado do Senhor se-lhe o bispo:
*— Frei Vicente, a vaidade o que faz?1
Da Introdução Geral às obras de São Vicente
Ferrer (1350-1419), pelo Pe. Fr. José M. de Gar­ 1— Ela vai e vem, esvoaça ao redor de mim,
ganta OP: mas, pela graça de Deus, nao entra1. Tal foi a
resposta" (MATTHIEU-MAXIME GORCE, Salnt Vincent
"A pregação de São Vicente Ferrer, como a de
todos os chamados pregadores de penitência de sua
í

284 .
284. Secção III Secção III 285.
Ferrler, Librairie Plon, Paris, 1924, pp. 285-286).

(*) A palavra "adoração" é empregada aqui no


sentido de "veneração", usual na Sagrada Escritura
e nos teólogos.

319* "Graças a Deus, jamais


o orgulho se aproxima de mim"

Um biografo de São Paulo da Cruz, Fundador


dos ^Passionistas (1694-1775), narra o seguinte
episódio da vida do Santo:

"Não podemos nos Impedir de mencionar um pe­


queno episódio, ao qual não falta certo encanto.
Um dia, o Pe. Paulo se dirigia, com ura de seus
companheiros, da praia de Orbetello para o Monte
Argentaro. Um pescador, que o conhecia apenas pela
reputação, saudou-o e disse: fSois bem felizes de
ir para lá, para o convento onde mora esse Santo,
£ Pe« Paulo!’ -- Tais palavras foram como uma ma-
cetada para o humilde Padre; ele ficou desconcer­
tado. Mas logo replicou cora vivacidade: *Mas quem
é esse Santo, de quem falais? 0 Pe. Paulo?*
* Sim, respondeu o bravo homem; é ura Santo 1 * — En­
tão, o Servo de DeUs, como para tTrá-lo do erro,
responde com tom seguro: *Pois eu posso lhe ga­
rantir que ele certamente não se considera ura San­
to!* Após essas palavras, o Pe. Paulo retoma pron­
tamente o caminho. 0 pescador, sempre mais afirma­
tivo e_ quase ofendido: 1 Pois bem — exclama ele —
quer ele se considere, quer nao se considere, eu
vo-lo digo: £ um Santo, um verdadeiro Santo, um
grande Santo!*
"Parece-nos difícil que em melo a tantas hon­
ras e prodígios não se levantasse algum sopro de
vaidade. Por ura privilégio extraordinário, nunca
pensamento algum alterou a humildade do Santo. Ele
pode dizer ao diretor espiritual cora cândida sim­
plicidade: *Graças a Deus, jamais o orgulho se
aproxima de mira. Eu me consideraria ura condenado
se me viesse um pensamento de orgulho* . Ele nem
sequer podia conceber como possível o orgulho. Eis
o retrato que traçava de sua pessoa: comparava-se
a um pobre andrajoso e coberto de úlceras dos pés São Paulo da Cruz. Quadro pintado ao vivo por Domenico
Porta em 1733 (Capela do Santíssimo Sacramento do Retiro
i dos Santos João e Paulo, em Roma).
Secção III 287.
286. Secção III
à cabeça. 'Tal homem — dizia ele — poderia se 321. ”Dlgam lá o que quiserem,
orgulhar se se visse introduzido numa reunião de sou apenas o que sou perante Deus”
grandes senhores? Um tão grande pecador como eu
De uma vida de São João Bosco:
orgulhar-se! Deus me faz *ler num grande livro; es­
se livro é o conhecimento de meus pecados * . Daí ”Esta noite, achando-nos em bom número no
vera que ele não tivesse nunca matéria para se acu­
quarto de Dom Bosco enquanto ceava, depois de ha­
sar de orgulho” (R. P. LOUIS-TH. DE JESUS AGONI-
SANT, Hlstolre de Salnt Paul de la Crolx, Librai- ver confessado das 5 às 9,30 hs da noite, mandou
ler uma carta do Bispo de Spoleto. Tecia-lhe nela
rie H. Oudin, EcTiteur, Paris-Fõitiers, lo88, 4a.
ed., pp. 575-576 / Com a aprovação dos Arcebispos o Prelado grandes elogios, dizendo, entre outras
coisas, que embora não tivesse a honra de conhecê-
de Bordeaux, Albi, Tours, Reiras, Bourges e Rennes,
-lo pessoalmente, a fama do seu nome chegara até
e dos Bispos de Luçon, Poitiers, Mende, Bayonne,
Carcassone, Aire, Rodez e Mans). seus ouvidos, e que nele reconhecia um grande zelo
pela çlória de Deus e um espírito de verdadeiro
eclesiástico. 0 Padre Francésia, que lhe ficava
320. Santo Cura d'Ars: 0 elogio quase sempre ao lado, a sorrir lhe perguntou: —
nada acrescenta, a ln3úrla nada retira Não se ensoberbece cora tamanhos encómios?
"Respondeu: — Ora essa! Escuta: habituei-me
Da biografia de São João Batista Vianney a ouvir de tudo. Tanto se me dá ler uma carta re­
(1786-1859), do Cônego Trochu: pleta de louvores como uma cheia de insultos.
'J ' i
Quando recebo uma destas laudatõrias, vera-me o
"0 Cura d'Ars não ignorava as denúncias for­ gostinho de confrontá-la com certas outras, de ura
muladas contra ele diante de seu prelado. Mais de carregador e quejandos, repassadas de insultos; e
uma vez, alguns colegas amigos pedirara-lhe que se repito comigo mesmo: Como são desencontrados os
defendesse. Ele, porém, sempre preferia calar-se e Juízos dos homens! Digam lá o ,que quiserem: sou
para explicar o seu silencio contava uma historie­ apenas o que sou perante Deus” CMarques FELIPE
ta extraída de seu livro predileto: a Vida dos CRISPOLTI, Dom Bosco, Livraria Salesiana Editora,
Santos. São Paulo, 4a. ed., 1945, p. 242).
«— Um santo disse um dia a ura de seus reli-
gisos: 'Vai ao cemitério e injuria os mortos'." 0
religioso obedeceu e, ao voltar, perguntou-lhe o
santo: 'Que responderam? — Nada. Pois bem, volta,
e faz-lhes grandes elogios'. 0 religioso obedeceu
novamente: Que disseram desta vez? — Nada também.
Eis, replicou o santo, sje te injuriam ou se te
louvam, faz como os mortos'.
fHoJe recebi duas cartas, contava numa expli­
cação de catecismo: Numa me dizem que sou um san­
to, na outra que sou um charlatão; a_ primeira nada
me acrescentou, ji segunda nada me tirou' • Éra de­
pois da leitura duma missiva deste gênero que ele
dizia 'todo contente': 'Eis aqui um que me conhece
bem! Se fosse tentado de orgulho, teria com que me
curar'” (Cônego PRANCIS TROCHU, 0 Cura d'Ars, Vo­
zes, Petrôpolis, 1960, 2a. ed., p. 539 7 Imprima-
-se: + Luís Felipe de Nadai, Bispo de Uruguaiana,
29-6-1959).
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322, !tBrÍlhe a vossa luz diante dos homens, para


que glorifiquem a vosso Pai que está nos Céus”

Instrução de Nosso Senhor^aos Apóstolos, no


Sermão da Montanha:

"Vós sois a luz do mundo. Não pode esconder-


sé uma cidade situada sobre um monte; nem acen­
dem uma lucerna, e a pôem debaixo do alqueire, mas
sobre o candeeiro, a fim de que ela dê luz a todos
os que estão em casa. Assim brilhe a vossa luz
diante do3 homens, para que eles vejam as vossas
boas obras, e glorifiquem a vosso Pai, que está
nos céus" (Mt. V, 1*J a 16).

323. "Eis aqui quem ê mais do que Salomão";


"Eis aqui quem é_ mais do que Jonas"

Nosso Senhor Jesus Cristo proclama a grandeza


de sua própria Pessoa:

"E, concorrendo as multidões, começou a di­


zer: Esta geração é uma geração perversa; pede um
sinal, mas não lhe será dado outro sinal, senão o
sinal do profeta Jonas. Porque, assim como Jonas
foi um sinal para os ninivitas, assim o Filho do
290. Secção III Secção III 291.

_________ !___________ _
homem será um sinal para esta geração. A rainha do mim; porque ele escreveu de mim. Porém, se vós não
roeio-dia levantar-se-á no (dia de) Juízo contra os dais crédito aos seus escritos, como haveis de dar
homens desta geração, e condená-los-á; porque veio crédito às rainhas palavras?” (Jo. V, 31 a 47).
da extremidade da terra ouvir a sabedoria de Salo­
mão; entretanto, eis aqui está quem é mais do que
Salomão. Os ninivitas levantar-se-ão no (dia do 325. ”Não podeis ouvir minha palavra,
Juízo contra esta geração, e condená-la-ão; porque porqueTêndes põr pai "o demônio, e quereis
fizeram penitência com a pregação de Jonas; entre­ satisfazer os desejos de vosso pai”
tanto eis aqui quem é mais do que Jonas” (Lc. XI,
29 a 32). Jesus increpa os Judeus por recusarem a acei­

........ ■
tar a sua missão divina:

324. "0 Pai, que me enviou, dá testemunho de mim” "Jesus disse-lhes: Se sois filhos de Abraão,
fazei as obras de Abraão. Mas agora procurais ma-
Nosso Senhor reivindica a própria missão tar-me, a mim, que sou um homem que'vos disse a
diante dos homens: verdade que ouvi de Deus; Abraão nunca fez Í3to.
Vós fazeis as obras de vosso pai. E eles disseram-
”Se eu _dou testemunho de mim mesmo, o meu -lhe: Nós não somos filhos da fornicação, temos um
testemunho não é verdadeiro. Outro é o que dá te- pai (que é) Deus. Mas Jesus disse-lhes: Se Deus
temunho de mim; e eu sei que é verdadeiro o teste­ fosse vosso pai, certamente me amaríeis, porque eu
munho que ele dá de mim. Vós enviastes (mensagei­ saí de Deus e vira; porque não vim de mim^ mesmo,
ros) a João; e ele deu testemunho da verdade. Eu, mas ele me enviou. Porque não conheceis vós a mi­
porém, não recebo o testemunho do homem, mas digo- nha linguagem? Porque não podeis ouvir a minha pa­
-vos estas ^coisas, a fim de que sejais salvos. lavra. Vós tendes por pai o demônio, e quereis sa­
Ele era uma lâmpada ardente e luminosa. E vós pou­ tisfazer os desejos do vosso pai; ele foi homicida
cos momentos quisestes gozar da sua luz. desde o princípio, e não permaneceu na verdade;
porque a verdade não está nele; quando^ele diz a
”Mas eu tenho um testemunho maior que o de mentira, fala do que é próprio, porque é mentiroso
João. Porque as obras que meu Pai me deu que cum­
e pai da mentira. Mas, ainda que eu vos digo a
prisse, estas mesmas obras que eu faço, dão teste­ verdade, vós não me credes. Qual de vós me arguirá
munho de mim, de que o Pai me enviou; e o Pai que de pecado? Se eu vos digo a verdade, porque me não
me enviou, esse mesmo deu testemunho de mim; vós
credes? 0 que é de Deus, ouve as palavras de Deus.
nunca ouvistes a sua voz, nem vistes a sua face. E Por isso vósnão as ouvis, porque não sois de
não tendes permanente em vós a sua palavra, porque
Deus” (Jo. VIII, 39 a 47).
não credes no que ele enviou.
"Examinais as escrituras, porque Julgais ter
nelas a vida eterna; e elas são as que dão teste­ 326. "Sou o menor dos Apóstolos, mas pela graça
munho de mira; e não quereis vir a mim, para terdes de Deus tenho trabalhado mais do que todos”
vida. Eu não recebo a glória dos homens. Mas co-
nheço-vos, (sei) que hão tendes era vós o amor de Diz São Paulo na la. Epístola aos Coríntios:
Deus. Eu vim era nome de meu Pai, e vós não me re­
cebeis; se vier outro em seu próprio nome, recebê- "Porque eu sou o mínimo dos Apóstolos, que
-lo-eis. Como podeis crer, vós que recebeis a não sou digno de ser chamado Apóstolo, porque per­
glória uns dos outros, e não buscais a glória que segui a Igreja de Deus. Mas, pela graça de Deus,
só de Deus vem? Não Julgueis que sou eu que vos sou o que sou, e a sua graça, que está em mim, não
hei de acusar diante de meu Pai; Moisés, em que foi vã, antes tenho trabalhado mais que todos
vós confiais, é que vos acusa. Porque, se vós eles; não eu, porém, mas a graça de Deus, que está
cresseis em Moisés, certamente creríeis também em comigo” (I Cor. XV, 9-10).
292. Secção III Secção III 293.
327. São Paulo faz a apologia do
próprio apostolado 328. São Paulo: "Era por vós
que eu devia ser louvado..."
Da 2a. Epístola aos Coríntlos:
Da 2a. Epístola aos Coríntlos:
"Outra vez o digo (ninguém-me tenha por nés­
cio, ou ao menos sofrel-me como tal para que tam­ "Tornei-me insensato (falando de mira mesmo),
bém eu me glorie ainda por ura pouco), o que digo, mas fostes vós que me obrigastes (a isso). Porque
era por vós que eu devia ser louvado, pois que era
relativamente a esta matéria de glória, (aparente­
mente) não o digo segundo Deus, mas como por insi­ nada fui inferior aos maiores Apóstolos, ainda que
piência. Visto que muitos se gloriara segundo a (por mim) nada sou; entre vós contudo foram reali­
zados os sinais do meu apostolado em toda a pa­
carne, também eu me gloriarei. Porque vós, sendo ciência, nos milagres, e nos prodígios, e nas vir­
sensatos, sofreis de bom grado os insensatos. Por­ tudes" (II Cor. XII, 11-12).
que sofreis quem vos põe era escravidão, quem vos
devora, quem vos rouba, quem se exalta, quem vos
dá na cara. Digo-o para minha vergonha, como se
tivéssemos sido fracos neste ponto. Mas naquilo em
que qualquer tem ousadia (falo como louco), também
eu tenho: São Hebreus, também eu; são Israelitas, 329. São Paulo: "Deus é testemunha de
também eu; são descendentes de Abraão, também eu; quão santa, justa e irrepreensivelmente
são ministros de Cristo (falo como menos sábio), procedemos para convosco"
mais (do que eles) o sou eu; mais nos trabalhos,
mais nos cárceres, em açoites sem medida, frequen­ Da la. Epístola aos Tessalonicenses:
temente em perigos de morte. Dos Judeus recebi
"Porque vós mesmos sabeis, irmãos, que a nos­
cinco quarentenas de açoites, menos ura. Três vezes
sa ida a vós não foi sem fruto; mas, tendo primei­
fui açoitado com varas, uma vez fui apedrejado,
ro sofrido e tolerado afrontas" (como sabeis) era
três vezes naufraguei, uma noite e um dia estive
Pilipos, tivemos confiança em nosso Deus para vos
no abismo do mar; muitas vezes em viagens, entre pregar o Evangelho de Deus no meio de muitos
perigos de rios, perigos de ladrões, perigos dos
da minha nação, perigos dos Gentios, perigos na obstáculos. Porque a nossa exortação não procedeu
cidade, perigos no deserto, perigos no mar, peri­ de erro, nem de malícia, nem de fraude, mas, como
fomos aprovados por Deus, para que nos fosse con­
gos dos falsos irmãos; no trabalho e na fadiga, em
muitas vigílias, na fome e na sede, em muitos je­ fiado o Evangelho, assim falamos, não como para
juns, no frio e na nudez. Além destas coisas, que agradar aos homens, mas a Deus, que sonda os nos­
são exteriores, (tenho também) a minha preocupação sos corações. Porque a nossa linguagem nunca foi
cotidiana, o cuidado de todas as igrejas. Quem es­ de adulação, como sabeis, nem um pretexto de ava­
tá enfermo, que eu não esteja enfermo? Quem é es­ reza; Deus é testemunha; nem buscamos glória dos
homens, quer de vós, quer de outros..... Pois vos
candalizado, que eu me não abrase?
lembrais, irmãos, do nosso trabalho e fadiga; ta-
"Se importa que alguém se glorie, eu me glo­ balhando de noite e de dia para não sermos pesados
riarei das coisas que são da minha fraqueza. 0 a nenhum de vós, pregamos entre vós o Evangelho de
Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo, que é Deus. Vós e Deus sois testemunhas de quão santa e
bendito por todos os séculos, sabe que não minto". Justa e irrepreensivelmente procedemos convosco,
(II Cor. XI, 16 a 31). que crestes; assim como sabeis de que maneira a
cada um de vós (como um pai a seus filhos) vos an­
dávamos exortando, e confortando, e suplicando que
andásseis duma maneira digna de Deus, que vos cha­
mou ao seu reino e à sua glória" (I Thess. II, la
6 e 9 a 12).
29*1 • Secção III Secção III 295-

330. São Paulo proclama o Apóstolo, porque perseguiu a Igreja de Deus, cha­
perfeito cumprimento de sua missão mando-se blasfemo, repugnante e o maior dos peca­
£ sua esperança no dores; e quando se lhe apresentaram humilhações e
recebimento da coroa da glória menosprezes, fazia deles seu contentamento e rego­
zijo. Destes corações não há nada a_ temer quando
Da 2a. Epístola a Timóteo: recebem qualquer honra ou mesmo quando dizem al­
guma coisas favorável de si mesmos; porque nunca
"Quanto a mira, estou Já para ser oferecido era faraó essas coisas senão quando for necessário pa­
libação (derramando o meu sangue), e o tempo da ra a_ maior "glória de Deus; e então o_ fazem seth
minha dissolução avizinha-se. Combati o bom comba­ apegar-se a^ nada disso, como se nao o fizessem,
te, acabei a minha carreira, guardei a fé. De res­ porque não amam sua própria honra, mas a honra de
to está-me reservada a coroa da Justiça que o Se­ )eus e^ o bem das almas". (V. Pe. ALONSO RODRÍGUEZ
nhor, Ju8to Juiz, me dará naquele dia; e não só a SJ.~EJercício de Perfecclón £ Virtudes Cristianas,
mim, mas também àqueles que desejam a sua vinda" Apostolado 3e la Prensa, Madrid, 1930, tomo IX,
(II Tira. IV, 6 a 8). pp. 387-388 / Imprlmase: Dr. J. Francisco Morán,
Vicário General; Madrid, 10-6-1930;).

331. Louvar-se a si mesmo pode ser


bom e santo, como"~Tez Saõ Paulo 332. "Vai em paz: Aquele que te criou
te predestinou a santidade" — assim falava
Do Exercício de Perfeição e Virtudes Cristãs, Santa Clara dlrlglndo-se a ai mesma...
do Venerável Padre Alonso HodrTguez, da Companhia
de Jesus: Depoimento da Irmã Benvenuta di Diambra, Re­
ligiosa do Mosteiro de São Damião, no Processo de
"De maneira que a honra e estima dos homens Canonização de Santa Clara de Assis (1193-1253):
na verdade não e_ má, senão boa, se usamos bem de­
la, e^ sendo assim, pode ser lícita e_ santamente "Ela (Irmã Benvenuta) continuou dizendo as­
desejada. Como quando o Padre Francisco Xavier sim: na noite da sexta-feira véspera do sábado que
compareceu diante do rei de Bungo com uma grande foi o terceiro dia (8 de agosto) antes da morte da
embaixada e um grande brilho. E até alguém louvar- Senhora Clara, de santa memória, a referida de­
-se a si mesmo pode ser bom e santo, se se faz co- poente estava sentada perto de seu leito, cora ou­
mo selleve, como vemos Sãõ Paul o, que ao escrever tras Irmãs, chorando a morte próxima de uma tão
aos "Çorlntlos, começa a louvar-se e^ a contar âs admirável .e santa Mãe. Ora, enquanto ninguém lhe
próprias grandezas, narrando os grancTes favores falava, a dita Mãe começou a recomendar Bua alma a
que Nos8o Senhor lhe havia feito, e^ dizendo que Deus, dizendo: *Vai era paz, pois tu serás bem as­
havia trabalhado mais do que os outros Apóstolos; sistida. Aquele gue te criou te predestinou à san­
conta as revelações que recebeu e o seu arrebata­ tidade, logo pos em ti o Espirito Santo, e_ te
mento ao terceiro céu. Mas isto ele o fazia porque olhou sempre como uma Mãe olha a seu fllhlnho1.
convinha e era necessário para a honra de Deus e Uma Irma chamada Anastácia, perguntou-lhe então a
para o proveito do próximo, á quem escrevia, para quem ela falava assim. Ela respondeu: 'Eu falo à
que assim o considerassem e estimassem por Apósto­ minha alma bendita1" (J'ai connu Madame Sainte
lo de Cristo, recebessem a sua doutrina e se apro­ Claire, le proces de canonisation de Sainte Claire
veitassem dela. E dizia estas coisas de si com ura d * Assise, Les EditTbns du Cédre, Fãris, 19bl, pp.
coração não só desprezador da honra, mas até aman­ 89-90 7 Imprimatur: J. Gaston, Vic. gén., de Tou-
te do desprezo e da humilhação por Jesus Cristo. louse, 12-7-1960).
Porque, quando não era necessário para o bera do
próximo, muito bera sabia ele apoucar-se e abater-
-se, dizendo de si que não era digno de chamar-se
296, Secção III 297.
Secção III
333. "Era mais merltórlo para 335. "Sim, eu serei santo
ele falar de si do quando vós lordes FapaM
que calar 03 seus louvores”
Conta uma biografia de São Francisco de Paula
Comenta o Beato: Jácome de Varezze (1416-1507), fundador da Ordem dos Mínimos:
(1230-1298), na sua conhecida Legenda Áurea:
"Escutais (São Paulo) falar de sl com alguma "A permanência de Francisco (São Francisco de
satisfação? Vós o podeis admirar, do mesmo modo Paula) em Roma durou cerca de sete dias, durante
os quais ele visitava as igrejas da Urbe, como Já
que ^quando o vedes desprezar-se a sl mesmo. Aqui
se vê grandeza de alma, lá humildade. Era mais me­ o fizera outrora com seus pais, como peregrino.
ritório para ele falar de s_l, do que calar seus Foi também visitado por grande numero de pessoas.
louvores porque, se ele não os tivesse proferido, "Um dos visitantes, narra Belarmino (São Ro­
teria sido mais culpado do que aqueles que se ga­ berto Belarmino), foi Lourenço de Mediei, o qual,
bam ao menor propósito. Cora efeito, se ele não ti­ encontrando-se em Roma com o filhinho Joao, apre-
vesse sido glorificado, teria arrastado à ruina os sentando-o a Francisco, disse: *Joãozinho, beije a
que lhe foram confiados, enquanto que, humilhando- mão do Santo*. E o Santo disse ao menin~com bono-
-se, ele os elevava. Paulo, glorificando-se ji sl Slã; *-Sim, eu serei santo quando vós fordes Papa* .
mesmo, obteve mais méritos do que um outro que Ê a profecia se cumpriu — Joãozinho tomou o nome
Houvesse escondido aquilo que o distingue"; este, de “Leão X como Papa e canonizou Francisco em 1-
Pela humildade, quelffe faz esconder seus méritos, dê maio de 1519 (São Roberto Belarmino, Concio VI;
ganha n»enos do que aquele, manifestando-os"L (JAC- De Gloria miraculorum)" (P. ALFREDO BELLANTONIO,
QUES ITE VORKUINE7 La Lègende Dorèe, Garnier-Flam- ST Francesco di Paolã, Postulaziqne Generale Dei
marion, Paris, 1967, vol. I, pTT4T). Minimi, Roma, 3a. ed., 1973, p. 150 / Imprimatur:
Aloysius Card. Traglia, 17-5-1962).

334. "Eu mesmo serei, depois de minha morte,


objeto de tua particular veneração"
336. Era comum contar-lhes alguma
São Vicente Ferrer (1350-1419) profetiza a coisa semelhante, que se
eleição do Papa Calixto III: havia passado com ele,
ou que ele havia experimentado
"(Calixto III) logo se recordou de uma profe­
cia de São Vicente Ferrer com respeito a sua elei­ Da vida de Santo Inácio (1491-1556), pelo Pa­
ção. Este santo dominicano espanhol — segundo se dre Pedro de Ribadeneyra:
conta — durante suas pregações em Valência, entre
a multidão dos que se aproximavam para recomendar- "Comunicou-lhe (a Santo Inácio) Deus nosso
-se às suas orações, fixou-se também num sacerdote Senhor singular graça e prudência em pacificar e
que pedia igualmente a caridade de uma oração, ao sossegar consciências perturbadas, era tal grau,
qual (o Santo) dirigiu as seguintes palavras: *Eu que muitos que o procuravam para receber remédio e
te felicito, meu filho; tem presente que estás não sabiam explicar sua enfermidade, e era preciso
chamado a ser ura dia a glória de tua pátria e de que ele mesmo explicasse o que estavam sentindo
tua família, pois serás revestido da mais alta dentro de suas almas e não sabiam dizer (e o fazia
dignidade à qual pode chegar um homem mortal; e eu como se visse o mais íntimo e secreto de seus co­
mesmo serei, depois de minha morte, objeto de tua rações), e lhes desse o remédio que pediam. E esse
particular veneração. Esforça-te pois por perseve­ remédio, coraumente, era contar-lhes alguma coisa
rar em tua virtuosa maneira de viver". (LUDWIG semelhante das que se tinham passado com ele, ou
PASTOR, Historia de los Papas, Ed. Gill, Buenos que ele havia experimentado; e com isso os deixava
Aires, 19^8, vol. II, pp. 329-330). livres de toda tristeza, e os despedia consolados.
298. Secção III 299.
Secção III
Parecia-nos que Nosso Senhor o havia exercitado e tando ao Padre Luís Gonçalves da Câmara com muita
provado nas coisas espirituais, para que ele vies­ gravidade e cora semblante celestial, o que se lhe
se a ser Pai espiritual de tantos filhos e general oferecia. Este Padre, acabando de ouvir, escrevia
de tantos e de tais soldados". (PEDRO DE RIBADE- tudo quase com as mesmas palavras que tinha ouvi­
do. Porque os favores e* graças que Deus Nosso Se­
NEYRA, Vida dei Blenaventurado Padre San Ignaclo
de Loyola, ln Historias de la ContrarreformaT BAC, nhor faz a seus servos, não os faz para eles ape­
Madrid, T945, p. 3bb / ImprTmatur: Caslmlro, Obis- nas , e_ sim para o_ bem de muitos. Assim, embora
po Aux. y Vic. Gen., 31-5-19^5)• eles os queiram encobrir, dando-nos com seu segre­
do e silêncio exemplo de humildade, o mesmo Senhor
os move para que os publiquem, a_ fim de frutificar
337* "As mercês. e dádivas que Deus
nos outros o que ETe pretende.
faz a seus servos, nao as faz para eles
apenas, mas para o bem Eê muitos" "São Boaventura conta que, quando o glorioso
patriarca e seráfico Pai São Francisco recebeu os
Comenta o Padre Ribadeneyra: estigmas sagrados, desejou muito encobri-los. Mas
depois duvidou se não estaria obrigado a manifes­
"Também direi jD que o mesmo Padre (Santo Iná­ tá-los; e perguntando em geral a alguns de seus
cio) contou de si, a. rogos de toda a Companhia. santos companheiros se deveria revelar algumas
Porque depois que ela se estabeleceu e se fundou, graças de Deus, respondeu-lhe ura dos frades: 'Pai,
Deus Nosso Senhor foi revelando os resplendores sabeis que Deus algumas vezes descobre seus segre-
dos dons e virtudes /;cora que havia enriquecido e dos, não 8omente para vosso bem, mas Igualmente
afqrmoseado a alma de seu servo Inácio, tivemos para o bem de outros; e assim tendes razao de te­
todos os seus filhos um grandíssimo desejo de en­ mer que Ele vos castigue e_ repreenda como _a_ um
tender muito particularmente os caminhos por onde servo que escondeu seus talentos, se nao des­
o Senhor o havTa guiado e os meios que havia em­ cobrirdes o que para proveito de muitos Ele vos
pregado para o modelar e aperfeiçoar, e fazê-lo comunicouT. E_ por esta razão‘~H,ouve~multos~^antos
digno ministro de uma obra tao assinalada como es­ que contaram e_ até escreveram sobre as graças
ta. Porque nos parecia que tínhamos a_obrigação de secretíssimas de seu espírito, as doçuras de suas
procurar conhecer os fundamentos que Deus havia almas .e os favores admiráveis e_ divinos com que o
osto em edifício tao alto e tão admirável, para Senhor os alentava, sustentava e^ transformava. Não
fouyá-Lo por isso, e ter-nos feito, por sua mise­
ricórdia, pedras espirituais do; mesmo edifício;
poderíamos conhecer tais favores, se eles mesmos
não os tivessem tornado públicos, e se o Senhor,
tínhamos também a obrigação de Imitar, como bons que era liberal para cora eles, comunicando-Se a
filhos, aquele que o^ mesmo Senhor nos havia dado eles com tanto segredo e suavidade, não o tivessem
sido para conosco, movendo-os a publicarem eles
por pai, modelo e^ mestre; £ não se podia imitar
bem aquilo cuja raiz e_ principio nao se conhecia mesmos o que a sua poderosa mão, para o bem deles
bem. e nosso, lhes havia concedido. E por isso moveu
também Deus ao nosso Inácio a dTzer de si o que
"Para isso, tendo-lhe pedido e rogado muitas disse" (PEDRO EE RIBADENEYRA, Tida dei Bienaventu-
vezes e em diversas ocasiões, com grande e ex­ rado Padre San Ignaclo de Loyola, in Historias de
traordinária insistência, que para nosso exemplo e Ta Contrarrefõrmar BAC,n^adrld, 19^5, bp. 3ü-39“"7
progresso espiritual, nos participasse o que se Imprlmatur: Casimiro, Obispo Aux. y Vic. Gen.,
havia passado cora ele nos seus princípios, e em
seus trabalhos e perseguições (que foram muitas), 31-3-1945).
e as graças e favores que havia recebido das mãos
de Deus, nunca o conseguimos obter dele, até o ano
anterior à sua morte. Nesse ano, depois de muita
oração sobre isso, determinou-se a fazê-lo e assim
procedia; acabada sua oração e consideração, con­
300. Secção III Secção III 301.

338. Dona Catarina de Cardona gostava de vido tornar a lê-lo freqiienteraente 1 w


(JOAO RODRI-
falar das mercês "que Deus lhe GUES MENDES SJ, 0 Santo Cardial Roberto Belarralno,

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do Senhor fosse Touvado e glorificado

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Escreve Santa Teresa no livro das Fundações:
340. Ois elogios que os Santos fazem
wDa grande aspereza de sua vida (de Dona Ca­ de 8_i mesmos, devem ser
tarina de Cardona) tenho ouvido muitas coisas, e Julgados em função de sua vida santa
deve ser a menor parte o que se sabe, porque em
tantos anos que esteve naquela soledade, cora tão Da mesma biografia de São Roberto Belarmlno:
veementes desejos de fazer penitência, e não tendo
quem lhe fosse à mão, devia tratar seu corpo ter­ "A esta rara candura, se devem atribuir algu­
rivelmente. Vou contar o^ que de sua própria boca mas frases da sua autobiografia, que feriram os
ouviram algumas pessoas, entre as quais as monjas ouvidos a pessoas de critério acanhado. Pondo de
do mosteiro de São José de Toledo, onde ela entrou parte a circunstância de que a dita autobiografia
a vê-las. Falava-lhes cora simplicidade como a_ ir­ foi escrita a instâncias sobretudo do P. Múcio Vi-
mãs suas; e o mesmo fazia cora outros, porque era telleschi e não por impulso de vaidade, o critério
extrema sua singeleza e_, penso, também sua humil­ a seguir a_ respeito das autobiografias "dos santos
dade. Tinha entendido vque nada lhe pertencia; es­ e^ como notou Bento XlV, _a_ sua mesma santidade. E
tava multo longe de ter vanglória, e^ assim gostava quem quiser examinar as expressões em que Belarmi-
cTe dizer as merces que Deus lhe fazia, para que no fala de suas qualidades, e que tanto horroriza-
por este melo fosse louvado e glorificado o_ santo ram a Passionei, achará que não são mais arrojadas
Nome do Senhor. Coisa perigosa esta para quem não que algumas de S. Paulo e^ de outros santos.
chegou a tal estado: o menos que pode acontecer é "Não! Belarmlno não foi yaidoso". (JOAO RO­
tomarem tudo por louvor era boca própria; ainda que DRIGUES MENDES SJ, 0 Cardial Roberto Belarmlno,
a lhaneza e simplicidade desta santa a deve ter Apostolado da Imprensa, Porto, 1930, pp. 70-71 /
livrado disto, porque Jamais ouvi acusá-la desta Imprlmatur: A.A., Bispo do Porto, 30-4-1930).
falta” (Santa TERESA DE JESUS, Obras (As Funda­
ções ), Vozes, PetrópolÍ8, 1939, PP- 220-221 / Com
aprovação eclesiástica, 27-6-1939)-
341. Revelar boas obras com reta intenção
pode ser coisa meritória
339- São Roberto Belarmlno fala
comprazido de seu próprio livro Discussão entre o Promotor da Fé ("Advogado
do Diabo") e o Postulador da Causa de Beatificação
De uma biografia de São Roberto Belarmlno e Canonização de São João Berchmans (1599-1621):
(1542-1621):
Objeção do Promotor da Fé, c) "Advogado do
"0 primeiro (dos escritos ascéticos do santo) blabo"~
saiu em 1614, cora o título de * Elevação da alma a
Deus pela escada das criaturas1. Entre tantas "Durante a última doença, Berchmans promete
obras notáveis, foi esta a que levou as predile­ com segurança obter de Deus muitas graças para
ções do sábio teólogo. 'Ignoro qual será o Juízo seus irmãos; declara Jamais ter cometido pecado
do público sobre este opúsculo; para mira foi ji venial; dá com autoridade conselhos a anciãos; não
mais proveitosa de minhas obras. Todos os meus ou­ lhes recusa a sua benção; parece dizer que a pro­
tros trabalhos, so por necessidade os releio; este víncia de Flandres perde muito com a sua morte.
porém Já o 11 três ou quatro vezes, e_ tenho resol- Julgaram acertado os sacerdotes incutir-lhe saiu-
302. Secção III 303.
Secção III
tar receio das tentações, mas ele afeta tal segu­ muitos, mas a ura só; foi uma confidência de ami­
rança, que nada o pode perturbar. - Se Isso não é gos; é lei de amizade, o não reservarem-se os se­
Jactância, não é vaidade, com certeza humildade
gredos .....
também não é; as suas palavras, os seus atos, não
manifestam a humildade tão admirada e exigida num "Nos seus últimos momentos, João promete aos
santo. Parece que Deus, para punl-lo de tantos lrmão3 obter-lhes no ceu, as graças de Deus. Assim
sentimentos de vangloria, permitiu aquelas tenta­ fez Euiz de Gonzaga, o modelo de Berchmans. - Diz
ções terríveis que agitaram a alma do Servo de o autor da sua vida, que aceTtava~prontamênte as
Deus, quase no momento de dar o ultimo suspiro. comissões que lhe faziam para o ceu, e prometia
com segurança pedir a Deus as graças solicitadas.
Resposta do "Postulador da Causa” "João declara que Jamais cometeu pecado ve­
nial- 0 texto do padre Cepari, destrói a objeção:
"Antes de responder diretamente e de explicar perguntando-lhe o Reitor se desejava outra coisa,
por miúdo os fatos, assento dois princípios: respondeu-lhe, ao ouvido: Se V. Rev. Julgar a pro­
"1. - Segundo a doutrina dos santos e o ensi­ pósito, poderá dizer aos meus lrmaõs que minha
no teológico, revelar as boas obras £ virtudes, é maior consolação nesta hora, e que nao me recordo
por si mesmo, uma coisa Indiferente, que j. reta de haver cometido pecado venial deliberado, nem
intenção pode tornar muitõ~meritorlâ. Com grande violado nenhuma Regra desde a minha entrada em re­
merlto, S. Paulo proclamou os próprios louvores. ligião, etc.
”2. - Quando sinais manifestos não demonstram "Bem se compreende que nestas palavras, o pa­
<jue ura ato do próximo é viciado por más Intenções, dre Cepari só enxergou * grande humildade e um
£ de justiça considerá-lo bom. São as próprias pa­ imenso desejo de promover a observância das Re­
lavras do angélico doutor (2. 2., quest. 80, gras '.
a. 4). "João dava conselhos e avisos cora autoridade
a anciãos: deu-os somente àqueles que lhos pedi­
"Esses dois princípios justificariam plena­
mente o servo de Deus, João Berchamns, ainda que ram. Seus avisos foram muito' proveitosos para os
que receberam-nos, e Deus, manifestando a seu ser­
se pudesse duvidar das suas intenções. Mas será
possível a dúvida, em presença dos louvores unâni­ vo as disposições íntimas dos que o interrogavam,
mes, prestados à sua profundíssima humildade? revelou doutra maneira ainda, que tais conselhos
vinham do seu Espírito e que ele próprio ditava-os
"Passando aos pormenores das palavras e dos a João.
atos criminados, encontro sempre circuntâncias que
revelara virtude, Justamente onde o nosso adversá­ "Refere uma testemunha que cada um, ao ouvir
a voz de Berchmans, Julgava ouvir a voz do próprio
rio entende encontrar defeito.
Deus.....
"João entrega ao seu professor uma nota das
"A segurança de Berchmans contra as tentações
boas obras oferecidas em sua intenção. 0 professor não é presunçosa; atribui a Deus a glória: - gra-
sempre considerou isso como prova de gratidão. ças a Deus, diz Berchmans, sinto-me assaz armado
Ainda que o fizesse publicamente, não seria vaida­ contra as tentações que atacam a fè. - João Ber-
de, entretanto o modestíssimo Jovem dava os bilhe­ chmans nao teve presunção na sua confiança, pois
tes secretamente.
diversas vezes pediu a seus Irmãos que viessem em
"João revelava aos superiores os mais íntimos seu auxílio, na hora da tentação. Permitiu Deus
segredos do seu coração, porque a Regra o ordenava que Berchmans fosse tentado, não para castigá-lo
expressamente. — Contou a urn irmão coadjutor que como insinua sem razão o nosso adversário, mas pa­
jamais tivera pensamentos contrários à castidade." ra glorificá-lo, mostrando ao mesmo tempo que o
Passa, porém, o promotor sem observar que Ber- demónio não tinha poder algum sobre sua alma' ino­
chmans acrescentava: Graças à Bem-aventurada Vir­ cente. A tentação mostrou com efeito, que as vio-
gem. — 0 servo de Deus não revelou esse dom a
30H. Secção III
Secção III 305.
lências do inferno não podiam inclinar a alma de
João para o pecado: um milhão de mortes, pareciam- exercícios Julgou conveniente, contra seus costu­
-lhe preferíveis; demonstrou ainda que na vida do mes, fazer sua própria apologia. Conseguiu o efei­
santo mancebo, Satanás não descobriu nenhum ato to desejado: em breve ganhou as simpatias de to­
dos" (J. M. TEXIER, São Luís Maria Qrlgnlon de
que pudesse ser apresentado como falta voluntária. Montfort, Vozes, Petrópolis, 1948, p. 2Õ6-207 ”~7
Para Berchmans, a tentação foi ura favor, uma re­
compensa, e por isso Deus o preveniu da sua próxi­ Com aprovação eclesiástica).
ma chegada” (Pe. L. J. M. CROS SJ, Vida de; S_^ João
Berchmans, Duprat & Comp., São Paulo, 1912, pp.
õlf— q09 / Com. licença da autoridade eclesiástica). 344. Mais uma vez São Luís
Qrlgnlon enfrenta a calúnia

3^2. Escrevia coisas elogiosas de si mesma por De outra biografia de São Luís Maria Grignion
não querer faltar com a sinceridade de Montfort (1673-1726):

"0 Bem-Aventurado (São Luís Maria Grignion de


Conta uma biografia de Santa Verônica Giulla-
ni (1660-1727), que foi freira Clarissa: Montfort) sentia tão bera as dificuldades da tare­
fa, que seu primeiro discurso na Igreja de São
"Foi então que o P. Bastianelli lhe deu (a João foi consagrado a defender sua pessoa contra a
calúnia. * Judlca me, Deus' (Julgai-me, Vós, ó
Santa Verónica Giuli&hi) ordem de escrever dia por
dia, com o maior detalhe, tudo o que lhe aconte- Deus). Ele falou sobre esse texto cora tanta humil­
cla o .... dade e segurança que, mesmo entre os protestantes,
caíram muitas das prevenções.
"A alguns pode mesmo espantar que a humildade
da Santa tenha podido ceder a ponto de contar tan­ "Da parte dos católicos, foi, como sempre, o
tas coisas gloriosas para ela. «... entusiasmo. De todos os bairros da cidade eles
acorriam tão numerosos, que foi^preciso renunciar
"Ao escrever o seu diário, ela praticou a a reuni-los na igreja, e resolveu pregar sucessi­
obediência heroicamente e, se ela conta coisas li­ vamente duas missões, uma para as mulheres e outra
sonjeiras a seu respeito, é porque ela não queria para os homens e rapazes" (Mgr. LAVEILLE, Le Bie-
por nenhum preço faltar à sinceridade". (Ctesse. nheureux L.-M. Grignion de Montfort, Desclee de
M. DE VILLERMONT, Sainte Vêronique Giuliani, Brouwer et Cie., Lille, 19TJ, p. 502 / Imprlmatur:
Librairie Gênérale Catholique -j- Maison Saint-Ro- François, Cardinal Richard, Archevêque de Paris,
ch, Paris-Couvin, Belgique, 1910, pp. 111-112 / IO-II-I906).
Imprlmatur: J. M. Miest, vic. gen., Namurci,
1-3-1910).
345* Frei Galvão: "Meu coração está puro"
3^3- Para combater os efeitos da De uma vida de Frei Antonio de SanfAnna Gal­
calúnia, São Lul~Grlgnlon de Montfort fez vão, Franciscano falecido em São Paulo em odor de
a sua própria apologia santidade (1739-1822):

Conta uma biografia do grande Apóstolo da "Um dia em que Frei Galvão saía do Convento
verdadeira devoção à Santíssima Virgem: da Luz, dois moços que vinham da Ponte Grande,
disseram entre si coisas pouco respeitosas sobre
"Infatigável, iniciou o homem de Deus em 15 a virtude de Frei Galvão.
de agosto de 1715 a missão em Fontanay-le-Comt.e. "0 Servo de Deus, penetrando os seus pensa­
As calúnias espalhadas contra o santo eram, no en­
mentos, esperou-os, e, quando eles se aproximavam,
tanto, tão numerosas, que no início desse curso de saiu-lhes ao encontro e lhes pediu que verificas-
306.
Secção III Secção III 307.
sem se não tinha ele ura argueiro nos olhos. Os obras. Pois ainda enquanto vivia, saíram várias
moços muito corteses, esforçavam-se para sossegá- biografias dele^, principalmente em f rancês, bio-
-lo, afirmando-lhe que seus olhos estavam limpos e grafiáã que nô-lo descrevem era largos traços. Es-
puros. f Pois, assim também está puro o meu cora­ ses livros eram vendidos acreditamos até que ele
ção *, retorquiu o Servo de Deus; deixando-os bem proprio tenha ajudado a propaganda para a_ venda,
desapontados e ao mesmo tempo convictos da sua
pois uma vez em Marselha declarou que tudo isso
virtude". (Sor MIRYAM, Vida do venerável servo de
Deus Prel Antonlo de Sant1Anna Galvão, São Paulo, fornecia meios cora que fazer viver.suas casas su-
2a. ed., l93ò, p. 2ÜF4 / Imprima tu r: Mons. Ernesto perpopuladas de meninos. Sabemos que isso se apre-
de Paula, Vig. Geral). sentou como objeção em Roma, quando se tratou de
sua causa de beatificação; mas o^ advogado de suas
virtudes serviu-se ate disso mesmo para demonstrar
346. "Não tenho consciência de ter ã simplicidade evangélica de seu coração, que nao
via nesse fato uma homenagem a sua pessoa mas sim­
era minha vida rompido com Deus" plesmente ura meio dos mais modernos para difundir
o bem e fazê-lo amar. Seguindo o_ preceito de N.
De um livro sobre São José Benedito Cottolen- Senhor Jesus Cristo, ele permitia essa propaganda^
go (1786-1842): não para sê mostrar diante dos homens, mas sim pa-
"Pelos superiores £ companheiros de seminário ra que os hòmen3 conhecendo suas obras glorificas­
era chamado 'o^ anjo1 js com o_ mesmo nome de * nosso sem o. Fãl que está nos céus; E esta distinção tao
anjo, o propároco':'era indicado pela gente de Cor- própria soube-a ele exprimi? assim: *HoJe era dia o
hellàno. mundo vive imerso na matéria; portanto é preciso
que nós lhe façamos conhecer o bem que vamos rea­
"J) ele mesmo, ura dia, lnadvertldamente, dei­ lizando. Se um homem com as suas orações multipli­
xou escapar estas palavras falando ao cônego fte- ca os milagres, mas dentro do próprio quarto, nin­
naldi, depois bispo de Pinerolo: *Não tenho
consciência de ter em minha vida rompido amizade guém dará por isso. E no entanto o mundo, para o
bem de sua alma, precisa de ver e tocar essas ma­
com Deus*, mas, depois, confundido, pela involun­
ravilhas" (A. AUFFRAY SS, Dom Bosco, Escolas Pro­
tária confissão, todo pálido e trêmulo acrescen­
fissionais Salesianas, Saõ Paulo, 1947, PP*
tou: *0hl esta é apenas misericórdia e graça do
409-410 / Imprlmatur: Mons. M. Meirelles Freire,
Senhor, porque eu sou o mais miserável e último
Vigário-Geral).
dos pecadores*..... ,
"E, falando com os da Casa,* acrescentava: *Eu
vejo que todos me respeitam, todos me saúdam e 348. Durante 24 anos Dom Bosco
muitos se alegram comigo; será talvez porque com­ fezao Padre Pãstarln, "au jour le Jour",
pletei os estudos de teologia ou sei alguma coisa o relato clrcunstaclado de sua vida
mais do que anos atrás? Não, não é por isso; a fé
que estas boas pessoas têm, fá-las ver em mira um
ministro de Jesus Cristo" (Mons. AQUILES GORRINO, De uma introdução geral à biografia e escri­
São José Benedito Cottolengo, Vozes, Petrópolis, tos de São João Bosco:
2a. ed., 1952, pp. 26b e 27o / Cora aprovação ecle­
siástica). "E quanto nos alegramos agora de ler, hum es­
crito de Ceria ao diretor do Seminário Teológico
de Bollengo, Padre Luiz Manzoni — homem sereno,
347. São João Bosco ajudou a propagar a sua crítico de História, moderno nos procedimentos —
biografia como meio de difundir o bem o testemunho de um desses assíduos frequentadores
das recreações post prandium (após o almoço) e
Sobre São João Bosco (1815-1888), conta um post coenam (após o jantar), Padre Pedro Pastarin:
biógrafo: "Pintaram-lhe também a alma, a vida e as * Por 24 anos, quase todas as noites eu me entretl-
308. Secção III 309.
Secção III
Que importa que os homens Julguem de ura modo ou de
nha com Dom Bosco. Sentávamos, uni ao lado do ou- outro? Digam o que disserem, pouco importa para
tro, _e eu lhe fazia contar, e Dom Bosco rcontava, nós. Não serei nem mais nem menos do que aquilo
ponto^ por ponto, tudo o que lhe tinha acontecido que 8ou diante de Deus. 0 que se necessita e_ que
nas últimas 24 horas e_ em épocas anteriores; de- as obras de Deus se manifestem11*’ HCEUGENIÕ CERTA
pols, quando nos separávamos, eu entrava na minha SDB, Memórias dei Oratorio / Introducclon, in Bio-
cela, vizinha à sua, e escrevia logo tudo o que grafíã y Escrltos de San Juan Bosco, BAC, Madrid,
ele me havia contado” (RODOLFO FIERRO SDB, Biogra­ 1955, p. 76 / Imprlmatur: José María, Ob. aux. y
fia. y Escritos de San Juan Bosco, Introducclon ge­ Vic. gral., 13-5-1955)*
neral, BAC7 Madrid, 1^55, p^ 5/ Imprlmatur: Jose
Maria, Ob, aux. y Vic. gral., 13-5-1955)•

8
350. Oh! meu Jesus não posso conceber
maior imensidade de amor do

— Ü
349. Dom Bosco: ”Podemos falar de
que aquele com que Vós me cumulastes!
Dom Bosco, pois é preciso
que as obras de üeus se manifestem”

i
l
Dos manuscritos autobiográficos de Santa

— i
Teresinha do Menino-Jesus (1873-1897):
De uma introdução às Memórias do Oratório, de

ÜaõÉB —.............
São João Bosco: ”Vosso amor antecipou-se a mira desde a infân­
cia, cresceu comigo e agora é um abismo do qual eu
”No dia 2 de^fevereiro de 1876 o Santo con­ não posso sondar a profundidade. 0 amor atrai o
versava ^com os diretores de suas casas, reunidos amor .... Oh! meu Jesus, talvez seja uma ilusão,
no Oratório de São Francisco de Sales, e, ao re­ mas parece-me que Vós não podeis cumular uma alma
cordar os primeiros tempos da Sociedade Salesiana, de maior amor do que cumulastes a minha; é por is­
apontou a necessidade de se copiar quantos dados to que eu ouso pedir-Vos que ameis aqueles que me
servissem para escrever a história completa. Em destes, como Vós me amastes a fnim (João, XVTI,
seguida acrescentou: 'E necessário que, para a

* fcüw te »-éSsa______ _ __ ................ ^ BÜe


23). Um dia, no Céu, se eu déscobrir que Vós as
maior glória de Deus, para salvação das almas e amais mais do que a .mira, eu me rejubilarei, reco­
para o incremento da Congregação, se conheçam mui­ nhecendo desde agora que essas almas merecem vosso
tas coisas*. E, explicando-se melhor, continuou: amor bem mais do que a minha; mas aqui na terra,
* Pode-se dizer que não há nela nada que não tenha eu não posso conceber maior imensidade de amor do
sido visto com antecipação. A Congregação não deu que aquele com quedos aprouve me prodigalizar
um passo sem que um fato sobrenatural o aconse­ ratuitamente, sem mérito algum de minha parte'*.
lhasse; não houve uma mudança, um aperfeiçoamento
ou engradecimento que não tenha sido precedido de
fSàinte THEKESE DE L*ENFANT JESUS, Manuscrita Au-
toblographlques, Office Central de Lisieux, T964,
uma ordem do Senhor. Nós teríamos podido escrever pp. 309-310 / Imprlmatur: Andreas Jacquerain, Epis-
com antecipação e com todos os detalhes e preci­ copus Bajocensls et Lexoviensis, 25-5-1957).
sões as coisas que se sucederam*.
"Mas aqui previu uma observação ou objeção,
conforme se queira chamar: como falar de tais coi­ 351. Santa Teresinha:
sas sem mencionar Dom Bosco? E isto, que impressão ”Vós sabeis bem que cuidais
produziria em -uma pessoa séria? *Sobre este ponto de uma pequena santa”
— acrescentou — não se deve ter atenções para
com Dom Bosco nem para com ninguém. Vemos que _a Depoimento da Irmã Maria do Sagrado Coração,
vida de Dom Bosco esta de todo confundida com a da no Processo de Beatificação e Canonização de sua
Congregação; por conseguinte, podemos falar dele. irmã Teresinha do Menino Jesus:
Creio que se deve deixar de lado o homem. Üõm ”Por volta do mês de agosto de 1897, aproxi-
efeito, que importa que se fale bem ou mal dele?
hs**i!
311.
310. Secção III

iiÉtMHlMMÉÉÉg
madamente seis semanas antes de sua morte, eu es­
tava Junto a seu leito com a Madre Inês de Jesus e
a Irmã Genoveva (Paulina e Celina, Irmãs de Tere-
sinha). De repente, sem que nenhuma conversa con­
duzisse a esta afirmação, ela nos olhou com um ar
celeste e disse: 1 Vós sabeis bem que cuidais de
uma pequena santa1.

.
.
MHÉtoiriiiffli
"(Pergunta: a Serva de Deus explicou ou cor­


rigiu esta expressão? Resposta:)
"Eu fiquei muito emocionada com estas pala­
vras, como se tivesse ouvido um santo predizer o
que aconteceria depois de sua morte. Tomada por
esta^emoção, afastei-me ura pouco até à enfermaria,
e não me lembro de ter ouvido outra coisa", (Pro-
cés de Béatlflcatlon et Canonlsatlon de Salnte
Thérese de L*Enfant-Jesus et d_e la Salnte-Face —
Proces Apostolique Témoln 7T Marle du Sacré-Coeur
ÕYC*D., Teresianum, Roma, 1976, t. II p. 245),

352. "Estas páginas farão multo beml"

A propósito dos manuscritos de sua vida,


observa Santa Tereslnha:

"’Minha Mãe, após a rainha morte, e preciso


não falar a ninguém de meu manuscrito antes que
ele seja publicado, de acordo cora nossa Madre. Se
fizerdes de outro modo, o_ demónio vos armará mais
de uma cilada para impedir £ estragar a obra do
bom Deus.,. uma obra bem importanteI'
"Alguns dias mais tarde, tendo-lhe pedido que
relesse uma passagem de seu manuscrito que me pa­
recia Incompleta, encontrei-a com os olhos cheios
de lágrimas. Como lhe perguntasse porque, ela me
respondeu com uma simplicidade angélica:
* 0 que eu releio neste caderno é bem a minha
almaj... Minha Mae, estas páginas farão muito bem.
Conhecerão melhor depois a doçura do bom Deus...’
"Ela acrescentou num tora inspirado:
!Ah! eu o sei bera: todos me amarão..." (Sain-
te THERESE DE L1ENFANT-JESUS, Novíssima Verba, Im-
prlmerie Saint Paul, Bar-le-Duc (Meuse), 1926, pp. Santa Teresinha do Menino Jesus, com suas irmãs e
107-108 / Permls d'Imprlmer: Thomas, Evêque de Ba- Madre Maria de Gonzaga (fotografia de 1894).
yeux et Lisieux).
312. Secção III

353* Santa Tereslnha via na


publlcagao de seus escritos um
melo de fazer amar ã Deus

Depoimento da Irmã Maria do Sagrado Coração,


irmã mais velha de Santa Tereslnha, no Processo de
Beatificação e Canonização da Santa de Llsleux:

"(Quando redigia seu manuscrito, a Serva


de Deus previa a sua publicação? Resposta:)

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1 Nem ela nem nós pensávamos que estas recor­
dações fossem um dia publicadas: eram notas de fa­

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sa,que a Madre Inês de Jesus achou que a publi­
cação dessas recordações poderia ser útil à glória de ÇçiatQ, ga aantgs
de Deus. Ela disse isto_à Irmã Teresa do Menino
Jesus, que aceitou Idéia com a sua simplicidade reccmeodam aga fiéla que,
e & sua retidão habituais. Ela desejava que o ma-
nu8crito fosse publicado porque via nisto unTlnêTb ggç aua vez, ga Imitem
de fazer amar _a Deus, o que considerava ser sua
missão. Ela acrescentou também: 'Se a nossa Madre
Priora queimasse todos estes cadernos, Isto não me
perturbaria de modo algum; o bom Deus, não tendo 354. São Paulo: "Sede meus Imitadores,
mais este meio, empregaria ura outro'". (Procès de como eu o sou de Cristo”
BéatifIcatlon et Canonlsatlon de Salnte Therése cTê

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11Enfant-Jesus et de la Salnte-Face — II Proclís São Paulo se inculca repetidas vezes como mo­

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Àpostollque, Teresianum,' Roma, 1976, térnoin 7 - delo para os fiéis:
Marie du Sacre-Coeur OCD, p. 246).
Na la. Epistola aos Corintlos


í
"Admoesto-vos como a meus filhos caríssimos.
Porque, ainda que tenhais dez mil preceptores em
Cristo, não tendes todavia muitos pais. Pois fui
eu que vos gerei em Jesus Cristo por meio do Evan­
gelho. Rogo-vos, pois, que sejais meus imitadores,
como eu o sou de Cristo" (I Cor. lV*j Ü4 a lb).


"Logo, ou comais, ou bebais, ou façais qual­
quer outra coisa, fazei tudo para a glória de
.
Deus. Não sejais motivo de escândalo, nem para os
Judeus, nem para os Gentios, nem para a Igreja de
Deus; como também eu em tudo procuro agradar a to­
dos, não buscando o meu proveito, mas o de muitos,
para que sejam salvos. Sede meus imitadores, como
eu também o sou de Cristo. Eu vos louvo, pois, lr-
mãos, porque em tudo vos lembrais de mim, e guar­
dais os meus preceitos, como eu vo-los ensinei" (I
Cor. X, 31 a.33; XI, 1-2).
314. Secção III
Secção III 315.
Na Epistola aos Flllpenses
Na la. Epistola aos Tessalonlcenses
"Ora eu quero^ irmãos, que saibais que todas "0_nosso Evangelho não vos foi pregado somen-
as coisas que se tem passado comigo, têm contri­ te com palavras, mas também com virtude, e_ no Es­
buído mais para proveito do Evangelho; de modo que
crito Santo, e em grande plenitude, como sabeis
as minhas cadeias por amor de Cristo tornaram-se quais nos fomos entre vos por amor de vós. JT vós
conhecidas de todo a (guarda do) pretório e de to­
dos os outros, e muitos dos irmãos, animados no vos fizestes imitadores nossos e^ do^ Senhor, rece­
bendo a palavra no meio de muita tribulação, com a
Senhor pelas minhas cadelas, têm tido maior ousa­
dia em anunciar sem temor a palavra de Deus" alegria do Espírito Santo; de modo que vos tornas­
iPhll. I, 12 a 14). tes modelo para todos os crentes na Macedônia e
na Acaia" (I Thess. I, 5 a 7).
"Cumpre somente que vos porteis dum modo dig­
no do Evangelho de Cristo, a fim de que, quer eu Na 2a. Epistola aos Tessalonlcenses
vá ver-vos, quer esteja ausente, ouça dizer de vós
que permaneceis constantes num mesmo espírito, lu­ "Nós vos ordenamos, irmãos, em nome de nosso
tando unânimes pela fé do Evangelho; e em nada te­ Senhor Jesus Cristo, que vos aparteis de todo o
nhais medo dos adversários, o que para eles é si­ irmão que viver desordenadamente, e não segundo a
nal de perdição, e para vós de salvação, e isto doutrina que receberam de nós. Porque vós mesmos
vera de Deus (que vos dá coragem). Porque a vós vos sabeis como deveis imitar-nos; pois que não vive­
é dado por amor de Cristo, não somente que creiais mos desregrados entre vós, nem comemos de graça o
nele, mas também que sofrais por ele, sustentando pão de ninguém, mas com trabalho e fadiga, traba­
o mesmo combate que vistes em mim, e que ainda lhando de noite e de dia, para não sermos pesados
agora ouvistes de mira" (Phil. I, 27 a 30). a nenhum de vós. Não porque não tivéssemos poder
para isso, mas para vos dar em nós mesmos um exem­
"Sede meus imitadores, irmãos, e ponde os plo a imitar" (ll Thess. til, 6 a 97"^
olhos naqueles que andam conforme o modelo que
tendes em vós. Porque muitos, de quem muitas vezes Na 2a. Epistola a_ Timóteo
vos falei e também agora vos falo com lágrimas,
procedem (com a sua vida sensual) como inimigos da "Tu, porém, tens seguido a minha doutrina, _a
minha maneira de viver, as intenções, a fé, a~Ton-
cruz de Cristo; o fira deles é a perdição; o deus
deles é o ventre; e fazem consistir a sua glória ganlmldade, a^ caridade, a. paciência, as (minhas)
na sua própria confusão, gostando somente das coi­ perseguições, sofrimentos, que me aconteceram em
sas terrenas. Nós, porém, somos cidadãos dos céus, Antioquia, Icônio e em Listra; perseguições que
donde também esperamos o Salvador nosso Senhor Je­ sofri, e de todas me livrou o Senhor. E todos os
sus Cristo, o qual transformará o nosso corpo de que querem viver piamente era Jesus Cristo, padece­
miséria, fazendo-o semelhante ao seu corpo glorio­ rão perseguição. Mas os homens maus e sedutores
so, com aquele poder com que pode também sujeitar irão de mal a pior, errando e induzindo outros a
a si todas as coisas** (Phil. III, 17 a 21). erro. "Mas tu persevera no que aprendeste, e que
te foi confiado, sabendo de quem aprendeste" (II
"Quanto ao mais, irmãos, tudo o que é verda­ Tim. III, 10 a 1b).
deiro, tudo o que é honesto, tudo o que é Justo,
tudo o que é santo, tudo o que é amável, tudo o
que é de bom nome, qualquer virtude, qualquer 355. São Francisco: "0 Senhor me
(coisa digna de) louvor da disciplina, seja isto o manifestou seu desejo de que eu fosse
objeto dos vossos pensamentos. 0 que aprendestes, nova forma de vida neste mundo"
e recebestes, e ouvistes, e vistes em mim, isso
praticai; e o Deus da paz será convosco” (Phil. De uma das mais antigas vidas de São Francis­
IV, tt-9). co de Assis, o Espelho de perfeição:
316. Secção III
Secção III 317.
"Achava-se o bem-aventurado Francisco no Ca­
pítulo geral realizado em Santa Maria da Porciún- Biografias dei Santo por Celano, San . Buena-
cula, que se chamou das Esteiras, porque ali não ^g^tura los tres companeros. Espejo de perfec-
havia outras habitações se não as construídas cora ciôn~, Edición preparada por los Padres Juan R. de
esteiras, do qual participaram cinco mil religio­ Le^Tsima OFM y Lino Gómez Canedo OFM, BAC, Madrid,
sos. Aconteceu que alguns dentre eles, homens de 4a. ed., 1965, P* 652).
letras e de ciências, apresentaram-se ao senhor
Cardeal Ostiense, que se encontrava também ali, e

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lhe disseram: *Senhor, desejamos que procureis
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Bento, de Santo Agostinho e de São Bernardo, nas
quais se dispõe que se viva segundo uma norma es­ "0 retiro terminou cora um sermão sobre Nossa
tabelecida. Senhora. Como o pregador tinha falado sobre o ro­
"Transmitiu o senhor Cardeal todas essas coi­ sário com tanto amor e entusiasmo, pediram-lhe que
desse uma *leçon des choses1 recitando-o ele mesmo
sas ao bem-aventurado Francisco em tom de familiar 'à sua maneira*. Ele o fez, *mas com um ar tão de­
admoestação. Francisco, sem responder nada, o to­ voto e_ tão terno por Maria*, que inspirou a todos
mou respeitosamente pela mão e o conduziu ao lugar
do Capítulo, onde estavam reunidos os frades, aos uma profunda piedade. Não se perdeu a lembrança de
quais, cora grande fervor e unção de espírito, fa­ seu rosário, que ele trazia ostensivamente do lado
lou deste modo: *Meus irmãos, meus irmãos, o Se­ e que era composto de quinze dezenas; assim, cha­
nhor dignou-se chamar-me para que andasse pelos mavam-no o Padre do grande rosário". (L0UIS LE
caminhos da humildade e da pobreza, e quer que não CROM Monf., Saint Louis-Marie Grignion de
Montfort, Librairie Mariale, Pont-Chateau, 19*4TT7
me aparte de3te caminho, nem eu nem aqueles que
desejam seguir-me e_ imitar-me .~Tor isto nao quero p. 333 / Imprimatur: Eduardus, Episcopus Picta-
que me cltel3 nenhuma Regra, nem de São Bento, nem viensis, 29-9-19*42).
de Santo Agostinho, nem de São Bernardo, nem de
nenhum outro, por maior respeito que me inspirem,
nem tampouco outra forma ou modo de viver, que nao 357. São João Bosco:
"Façam como viram D. Bosco fazer"
seja aquela que o Senhor por sua infinita miseri­
córdia se dignou dar-me e ensinar-me. Mais ainda: De uma das mais conhecidas biografias de São
o Senhor me manifestou seu desejo de que eu fosse
João Bosco (1815-1888):
essa nova forma de vida neste mundo e nao quis le­
var-nos por outro caminho a não ser por esta ciên­
cia. Mas, pelo contrário, Deus vos confundirá por "Em 1886, portanto dois anos antes de morrer,
essa vossa vã ciência e inflada sabedoria; e eu Dom Bosco recebeu do Reitor do Seminário Maior de
confio em que Deus Nosso Senhor vos castigará, Montpellier uma carta na qual pedia insistentemen­
servindo-se dos que são ministros de sua Justiça, te que lhe comunicasse o segredo de sua pedago­
até que vós, queirai3 ou não queirais, volteis no­ gia. ....
vamente a vosso primeiro estado, com vergonha para *0 meu sistema! 0 meu sistema! repetia o
vós *. Santo enquanto ia dobrando de novo a carta. Mas se
nem eu o conheço! 0 que eu tenho feito é apenas ir
"Ao ver esta atitude, o Cardeal ficou muito seguindo o que Deus me inspira e as circunstâncias
admirado, sem atrever-se a responder nada, e todos
os religiosos sentiram um salutar temor". (San sugerem*.
Francisco de Assis. Sus escritos. Las Florecil- *’E era isso mesmo. Esse homem que teve o gê-
318. Secção III
nio da educação não cogitou em arquitetar um sis­
tema. Ao declinar de seus dias recolheu, é verda­
de, era princípios breves e de transparência meri­
diana, os resultados de sua experiência; mas foi
só is só• Um tratado didático sobre a matéria não
quis Jamais fazer. Seu livro foi sua própria vida,
pois que ele viveu sua pedagogia depois de ter-se
apropriado dela por meio da experiência. Aliás era
essa Justamente a cátedra à qual ele convidava Y
seus discípulos. Quando, antes de partirem para as
casas às quais tinham sido destinados, os clérigos §!D£Q£ g §3ÍQeB£Êi
lhe iam pediralguma norma para seguir, respondia:
&Q! YlçSuds* rçeaüeotfiafiQSfi
* Façam como viram Dom Bosco fazer1". (A.
AUFFRAY, Dom Bosco, Escolas Profissionais Salesia- apontam geus pala* e eapeçialmente
nas, São Faulo, 19^7, pp. 298-299 / Imprlmatur:
Mons. M. Meirelles Freire, Vigário-GeralT» guaa mãea* como modelo
de sua gantidade

358. wQuase todos os santos


apresentaram como origem
de sua santidade a própria mãe”
*
Do famoso escritor católico Monsenhor Delas-
sus (1836—1921):
" '0_ meu Deus! devo tudo à. minha mãe! *, dizia
Santo Agostinho.
"No seu reconhecimento por havê-lo impregnado
tão . profundamente da doutrina de Cristo, São Gre-
górlo Magno mandou pintar sua mãe, Silvia, ao lado
dele, trajando um vestido branco, com a mitra dos
Doutores, erguencfo dois dedos da mao direita como
para abençoar, £ segurando na mãõ esquerda o_ livro
dos Santos Evangelhos, sob os olhos do filho.....
"Mais próximo de nós, a alguns que o felici­
tavam por ter tido tão cedo o gosto pela piedade,
o Santo Cura d1 Ars diz: 1 Depois de Deus, isto é
obra de mlnha~mãe1.
"Quase todos os Santos fizeram remontar as
origens de sua santidade a suas maes"! (HENRT DE^
LÀSSüS, DF Probléme de LfReure Presente, Desclée,
de Brouwer, Lille, 1905, Tomo II, pp. 575-576).
320. Secção III Secção III 321.
359* São Qregórlo Nazlanzeno aponta alma tão extraordinária que, com doçura e perseve­
sua Mãe e seu Pal como Intercessores rança, tinha ido formando a sua consciência?
Lê-se em conhecido Dicionário de Teologia ”Quantas vezes Bernardo e seus irmãos reco-
Católica: nheceram que para eles, o verdadeiro ‘mestre de
noviçosr tinha sido sua Maê~, a Bem-aventurada AlT^
ce de “Montbari Desde os primeiros anos foi ensl-
"São Gregório Nazianzeno (329-390) mostra aua
mãe Nonna respondendo às orações de seus filhos; nãndo a todos a ter fé, essa fé cega nas doutrinas
da Igrela, inculcando o respeito e a veneração pe­
ele exprime também confiança na intercessão de seu
lo Vigário de Cristo, fazendo-os compreender que
pai (Carra. II, 78, P.G. t. XXXVltl col. 52)"
SEJOURNE, verbete Salnts, Culte des, in Dlctlon- era meio às flores do mundo se encontravam muitos
espinhos que picavam as mãos, faziam sangrar os
nalre de Theologle Cathollque, Letouzey êt Áné, pés ao tentar colhê-las... Ajustava-se à sua men­
Paris, T?397 tomo XIV, p. 894).
talidade de crianças, primeiro, de adolescentes,
depois, de Jovens que haviam de decidir o seu por­
36o. Santo Agostinho amava com delírio vir mais tarde... Fê-los obedientes, mortificados,
piedosos, e, ainda antes de terem o uso da razão,
a sua mãe, e falava dela sem cessar
ensinou-os também a rezar, a voltar-se para o céu
Conta Monsenhor Bougaüd em sua vida quando a alegria reinava à sua volta ou quando as
de Santa Mônica (332-387), Mãe de Santo Agostinho: lágrimas turvavam os seus olhos, para que não fi­
cassem em tolas lamentações, mesmo nos pequenos
sofrimentos, nas contrariedades insignificantes ou
nAgostinho amava com delírio «a sua mãe, fa­ nos desejos não satisfeitos.......
lava dela sern cessar e embalsamou, com a_ sua lem­
brança, quase todo3 os escritos. Vinte anos depois "Jamais retrocederam naquele rumar para o al­
da morte de Santa Monica, envelhecido, mais pelo to no qual os colocou sua boa Mãe, se bem que,
trabalho do que pelos anos, encanecido na penitên­ certamente, por caminhos diferentes" (Fr. Ma. G0N-
cia, quando chegou a esse estado em que o amor de ZALO MARTINEZ SUAREZ, Bernardo de Claraval, Edito­
Deus, rompendo os diques e inundando o coração, rial El Perpetuo Socorro, Madrid, T9o4, pp.
havia destruído nele todos os demais amores, Agos­ 314-316 / Imprimase: Segundo, Arcebispo de Burgos,
tinho não podia recordar-se da mãe, ainda mesmo no Burgos, 20-7-1964)•
púlpito, sem que os olhos ge lhe enches sem de ITlt
grimas. Abandonava-se então aos encantos desta re­
cordação; falava dela ao povo de Hlponã, nos ser­ 362. "Seu filho relatou num
mões , com encantadora beleza, manifestando^ Junta- belo livro a vida de sua piedosa mãe"
mente, o_ grande amor e_ a reconhecida piedade de
filho e_ a assombrosa elevação de sabio e de Do Decreto sobre a heroicidade das virtudes
santo" (MorisT EOUGAUt), Santa Monica, Edição da de Madre Maria da Encarnação (1599-1672), publi­
Typ. de S. Francisco, Bahia, 1928, pp. 20-21 / Im- cado por ordem de São Pio X:
prlmatur: Mons. Castro, Vic. Gen., 19-12-1927)*
"xMaria Guyart, também chamada da Encarnação,
nasceu em Tours no V dia das Calendas de novembro
361. Para São Bernardo, seu verdadeiro (28 de outubro) do ano de 1599..... Ela teve um
"mestre de noviços” tinha sido sua Mae filho que logo consagrou a Deus tanto quanto esta­
va em seu poder fazê-lo. .... Após a morte de seu
De São Bernardo de C,laraval (1090-1153) conta marido .... e depois de suportar, naquela época de
uma biografia escrita por um monge cisterciense: sua vida, muitas provações, ela pôde, finalmente,
”Como poderia Bernardo esquecer sua Mãe, aquela fazer o voto de castidade como desejava há longo
tempo. Pouco depois, tendo confiado seu filho
322. Secção III Secção III 323.
Cláudio, de doze anos, aos cuidados de uma irmã
muito dedicada, e apesar.da oposição deste, ela (1815—1888): "Nosso amado Fundador (São João Bos­
fez profissão religiosa da Ordem das Ursulinas. co) relatava, com encantadora simplicidade, õs
Esse ato teve ura feliz resultado: cora efeito, grandes trabalhos que sua mãe se impunha para all^
Cláudio, após ter recebido uma excelente educação mentar a famlllal ....
dos padres Jesuítas, abraçou a vida monástica na *VE Margarida, mulher santa, fez de seu filho
Ordem de São Bento e, depois Te ter sido ordenacTõ ura santo. Dom Bosco era uma cópia fiel de sua~mãe7
fradre, relatou em ura belo livro _a vida de sua pie­ Eque as lágrimas e oraçoes de uma mãe podem muito
dosíssima mae". T^hanoine J. L. ÈEÁUmTER, Marle diante do céu e influem grandemente no porvir de
Çuyart <!e L* íncarnatlon, Editions du Bien Public, ura filho. Os filhos são, geralmente, tais como os
Trois-RIvières, 1959, pp. 233-234 / Imprlmatur: quis formar ~ã ITEenta solicitude dê uma mãe
Georgius Leo Pelletier, Episcopus Trifluvianen, cristã" (ECaDIO EGANA SDB, Vida de San Juan Bos-
30-4-1959). co7 Uibrería Editorial de Maria Auxiliadora, “Se-
villa, 8a. ed., 1970, pp. 15-16 / Com aprovação
363. "Honrar a sua mãe £ ajuntar eclesiástica).
ura tesouro" (EcleslâstlcoT 3,5)

Do prefácio de ura livro sobre a Madre Maria 365. "Minha mãe £ uma santa"
da Encarnação, fundadora das Ursulinas era Que­ (£ um Santo quem o dlzT
bec, escrito por uraa freira dessa Ordem:
Conta uma biografia da Mãe de São João Bosco:
"Antes de escrever a Vida de sua santa mãe (a
Venerável Maria da Encarnação), Dom Cláudio Martin "— Ou o senhor volta para Turim, ou nós
transportaremos o Oratório para os Becchi. Foi es­
nos abre seu coração de monge timorato. A_ grande
voz de Maria da Encarnação acaba de extlngulr-se; te o dilema proposto a Dora Bosco pelos meninos que
'em pequenos grupos, vinham a pé de Turim aos Bec­
mas ela canta ainda na alma de seu filho benediti­
chi, para vê-lo'.
no..... São Gregorlo Nazlanzeno 'falava bem de seu
pai, de sua mae, de sua irmã e de seu amigo Basí- "Voltar para Turim, ir morar em Valdocco? So­
lio, nas suas Orações e suas Poesias... zinho? Agora não está mais no Instituto da Barolo,
de quem recebia alimento e assistência. Pôr era ca­
"Oh! grande irmão Cláudio, não esqueçais do
sa uma mulher? Que mulher? Se a poucos passos de
que nossa Mãe vos escrevia um dia para vos encora­ sua casa fica a famosa estalagem da Jardineira e
jar a glorificar São Bento:
certos vizinhos?...
'Um bom filho louva seu pai e isto lhe fica
bem'. "Você vai ter um anjo a seu lado
"E eu, de rainha parte, digo com o Eclesiásti­ "— Mas você tem sua mae! — disse o sábio P.
co: 'Honrar a sua mãe é ajuntar um tesouro1 (3,
5)" (Soeur MARlE-EMMAhlUEL QSU, Marle de L*íncar- Cinzano, o amigo de todas as horas — Faça com que
ela venha com você para Turim: vai ter um anjo a
natlon, Les Editions de L'Universitê, Ottawa,
1946, p. 9 / Imprlmatur: Jean-Marie-Rodrigue Car­ seu lado!
%
dinal Villeneuve OMI, Archevêque de Québec, "João fica confuso: obrigar a mãe, sua rainha
1-2-1946). e rainha de José, a ura tão grande desapego, a ura
sacrifício tão duro?
364. São João Bosco falava com "— Minha mãe £ uma santa (é_ um santo que _o_
encantadora simplicidade sobre sua mãe diz); posso fazer-lhe a proposta"."TFÃÜSTÒ CURTO,
A mãe de Dom Bosco, Editorial Dom Bosco, São Pau-
De uma biografia de São João Bosco lo, 1979, pp. 43-44).
324. Secção III 325.
Secção III
366. Dom Bosco reza & Nossa Senhora Irapnsnsa Industrial, Recife, 3a. ed., 1937, p. 21
pedlndo-Lhe que ocupe / Imprima tur: Miguel, Arc. de 01. e Recife,
o lugar vazio de sua mãe 2.5-2-1935)^
De outra biografia sobre a Mãe de São João
Bosco: 368. Mais tarde, quando Abade, citará
o exemplo da própria Mae, como modelo
"Duas horas mais tarde, Dora Bosco saía do pa­ da formação das crianças
tronato acompanhado de um dos seus alunos vetera­
nos: ele ia a La Consolata, igreja preferida de Comenta D. Geraldo Fernandes CMF, falecido
sua mãe, rezar uma missa pelo repouso da alma da Arcebispo de Londrina, a respeito do célebre Abade
humilde cristã, cujo obscuro devotamento o havia de Sept-Fons, D. João Batista Chautard
livrado de tantas preocupações. *E agora, disse (1858-1935):
elo â. Virgem Consoladora antes de deixar seu san-
tuârlo, e_ preciso que^vós tomeis o_ lugar vazio! "0 pai, Augusto Chautard, é um livreiro que
indispensável uma mae na minha grande famíliaT raras vezes pisa na igreja e que, sem ser antire-
Quoraserá, senão V6s? Eu vos confio todos os meus ligioso ou anticlerical, alimenta amizade com vol-
filhos. Velai ‘sobre suas vidas e sobre suas almas, taireanos e lê tudo o que lhe cai sob os olhos.
agora e sempre!* Será D. João Batista que exercerá, mais tarde, in­
"Jamais, pode-se dizer, ato de abandono foi fluência sobre o pai e não o pai sobre o filho. A
tão plenaraente ratificado pelo céu. Durante trinta educação materna de Clarice Sales, cheia de doçu­
e dois anos, até o fim dos dias do Servo de Deus, ra, piedade e fortaleza cristã, supre as deficiên­
Ê. Rainha dos céus pareceu descer do céu para cola­ cias do pai.
borar OQM do na salvaçao da Juventude, no lugar e "Mme. Chautard, com paciência e firmeza, se
posto de Margarida Occhlena. chamada ^Mainae Marga— aplica a corrigir os defeitos ^do menino, que se
ridaj, emigrada ao Paraiso". (A. AUFFRAY, Un Modè- revela terrível. Mais tarde, qúando abade, ele ci­
le áe_ Mère, Librairie Catholique Emmanuel Vitte, tará • o método da mãe como modelo na formação das
Cyon, 1931, p. 94 / Iraprimatur: E. Béchetoille. v. crianças, contando um dos incidentes e uma das li­
g., 16-2-1931). ções recebidas na infância, üm dia, saboreara
ocultamente um doce de pêssegos feito pela mãe.
Esta, ao descobrir a falta do filho, assim o re­
367. Sua terna devoção a Nossa Senhora preendeu: *Jamais esconderei nada, nem fecharei
era fruto dos conselhos nada com chave; mas, se eu não te enxergo, o bom
£ exemplos.de 3ua virtuosa mae Deus te está vendo, e se me desobedeces, ofendes a
Deus*. E acrescentava Dom Chautard: 1 Eis como se
Sobre Dom Frei Vital Maria Gonçalves de Oli­ forma a vontade das crianças*". (Dom J. B. CHAU­
veira (1844-1878), Bispo de Olinda, cujo Processo TARD, A Alma de todo apostolado, Editora Coleção
de Beatificação está em curso, comenta ura piedoso F.T.D., Saõ“Taulo7T?62, p. 13).
frade Capuchinho:

"Dos lábios maternos aprendeu Antônio (o fu­


turo D. Frei Vital) os princípios da nossa fé e as
primeiras orações.
"Mais tarde comprazia-se era dizer que sua
terna devoção ji Nossa Senhora, ji Virgem Imaculada,
oga fruto dos conselhos e exemplos de sua virtuosa
tnae". (Fr. FBlIX DE OLIVOLA, Um Grande "Brasileiro,
IIM
MC
Eaç§ aug qs £lela tenham
aempre EEsaenl^ea 22 aeua enalgimeQÊga,
aaotoa çonaentem, àa yesea cgm gelutâoçla,
que gejam dlstçlbuídaa £QtQS£a£laa auaa.
Mas, pana q bem das almas, pon yezea
aa dlatçlbuem elea geaiQlii^

369* Pedem uqya lembrança sua,


£ ele desenha seu perfil numa parede

Lê-se na vida de São Francisco de Paula


(1416-1507), fundador da Ordem dos Mínimos:

"Pelo anoitecer os nossos viajantes estavam


em Polia, hospedes de piedoso e abastado casal,
que no dia seguinte pediu a Francisco (São Fran­
cisco de Paula) uma lembrança sua, Ele tomou um
carvão da lareira £ desenhou sobre a parede da co­
zinha o_ próprio perfil: r£Is tudõ o_ que eu posso
deixar1 , disse, E agradecendo a generosa hosplta-*
lldade, partiu". (P, ALFREDO BELLANTONIO, S. Fran-
cesco dl Paola, Postulazione Generale Del Mínl-
mi, Roma, 3a. ed., 1973, p* 136 / Imprlmatur:
Aloyslus Card. Traglia, 17-5-1962).

370. "Enfim, se este pobre carnaval


serve para lembrar os conselhos que tenho dado,
não será de todo lnutll"
Conta uma conhecida biografia do Cura d’Ars:
São Francisco de Pauia. Detalhe de antiga pintura de "Uma das grandes provações por que passou q
J. Bourdichon, em Montai to Uffugo (Cosenza). humilde sacerdote (São João Vlanney) foi quando
viu que o seu retrato estava exposto por todos o~s
328. Secção III Secção III 329.

recantos da aldeia. Era 1845 começaram a ser repro­ mercatl em Roma. Fotografarara-no na França, na Es­
duzidas as Imagens de Eplnal, representando vários panha, em vários outros lugares, no centro de um
episódios de sua vida. * Muito aflito * cora essas grupo de amigos ou de benfeitores. Fizeram-no pou­
exibições, ji princípio quis fa"ze-las desaparecer. sar diante de urna tela, sentado, de pé, de Joe­
' 08 vendedores supllcararâ-lhe que nlTo o fizesse, lhos, durante horas a fio.....
põTs era ura melo de ganharem a_ vida. 5 bõm~ Cura
deixou-se convencer. 'Quanto custa esta estampa? "0^ Santo se deixava fotografar, reproduzir
nas telas e_ descrever nos livros. Deus seja bendi­
perguntou-lhes. — Dois soldos, Sr. Cura. — Dois
soldos, ahl é multo por esse miserável carnaval*. to” pois essa licença que ele deu à arte nos vai
* Vendam pois' (Gulllerme Vlllier, Processo Ordiná­ facilitar o trabalho; o testemunho das pessoas que
rio, p. 651) • viveram com ele nos traz também suas luzes; a lei­
tura de seus escritos nos fornece preciosa docu­
”Um dia, ao passar em frente de uma vitrina mentação. Vamos pois, à luz convergente desses
era que se achava o seu retrato, perguntou o preço"? três focos, contemplar sua fisionomia física e mo­
'Cinco francos, lhe responderam. — Cinco francos 1 ral que se nos mostra com toda a nitidez" (A.
OhI o_ senhor não o_ venderá nunca 1 0^ Cura d'Ars não AUFFRAY SS, Dom Bosco. Escolas Profissionais Sale-
vale tanto" (Ir. Atanásio, Processo apostólico ne sianas, São PaulcT^ 135^7, pp. 409-410 / Imprlmatur:
pereant, p. 1048) . Mons. M. Meirelles Freire, Vigário-Geral)".
1 Enfim, dizia algumas vezes, se este pobre
carnaval serve para lembrar os conselhos que tenho
dado, não será de todo inútil'. Para demonstrar o 372. São João Bogco distribui
estampas de sl mesmo
desprezo que sentia por aquilo, sempre se escusou
a gravar neles o seu nome ou a benzê-los. Se entre
Relata um biógrafo inglês de São João Bosco:
as estampas que lhe apresentavam encontrava algum,
separava-o cora ura gesto brusco. Fazia comentários ”(São João Bosco) distribuiu Inúmeros rosá­
como este: — *Isso só tem valor três dias no
ano', referindo-se aos três dias consagrados aos rios, medalhas e, o que parece mais estranho, pe­
mascarados (Ir. Jerônimo, Processo Ordinário, p. quenas estampas de si mesmo, pois nunca desprezou
565)” (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d'Ars, Vo­ os métodos modernos~5e publicidade^ advertindo em
zes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, pp.379-380 / Im- certa ocasião que o demonio os utiliza cora algum
prlmatur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uruguaia­ resultado para toda espécie de empresas duvidosas,
na, 29-6-1959). ■! e que isso autorizava os adversários dele, demô­
nio, a empregar as armas modernas na luta por uma
causa boa". (LANCELOT C. SHEPPARD, Don Bosco, Her-
371. São João Bosco jielxava-se fotografar, der, Barcelona, 1959, P* 194 / Imprima-se: Grego-
rio, Arcebispo-Bispo de Barcelona, 9-9-1957).
reproduzir em telas, descrever em livros. . .

Conta o Salesiano Padre Auffray, um dos mais


conhecidos biógrafos de São João Bosco, em livro
traduzido por D. João Rezende Costa, Arcebispo de
Belo Horizonte:

"Dom Bosco durante a vida permitiu com toda ji


simplicidade que lhe retratassem fisionomia fí-
slca e moral. Fotografaram-no a confessar seus rne^
ninos, sentado no meio do primeiro grupo de mis­
sionários, circundado por uma turma de garotinhos,
na atitude de dar a bênção aos filhos do Conde VI-
I
I

Mil
XI
MH
gaça £ase£ bçm aa almaa,
gs gaotoa çbegis a âlstclguin
C^líguiaa de ai meamoa,
eoçareçendQ o valgc delaa e
recomendando gue aa guardem

373. São Francisco dava relíquias


de 3i meBmo para proporcionar
bem espiritual a seus discípulos

Conta Tomás de Celano, discípulo e biografo


do Poverello de Assis (1181-122Í5):**

**42. Estava o Santo no mesmo lugar, quando um


religioso fervoroso, da Custódia Marsicana, que
estava atormentado por várias tentações, disse em
seu coração: *0h se eu pudesse ter algum objeto,
ainda que fossem somente restos das unhas de Sao
Franclscol Estou certo de que toda esta tentaçaõ
se afastaria de mim e com o favor de Deus eu fica­
ria perfeitamente tranquilo*. Obtida a licença de­
vida, dirigiu-se ao lugar onde morava o varão de
Deus (São Francisco de Assis) e manifestou a um
dos companheiros do Santo o motivo da viagem. Res­
pondeu o frade: *Creio que me será totalmente im­
possível entregar-te parte do que pedes, pois se
bem seja verdade que muitas vezes lhe cortamos as
unhas, ele, entretanto, nos ordena que as Joguemos
fora, proibindo-nos em absoluto de guardá-las*.
Após uns instantes, o frade foi chamado e lhe foi
ordenado apresentar-se ao Santo, que o mandava
vir. Este lhe disse: * Vá buscar, meu filho,, ja te­
soura para que possas cortar-me as unhas *. Tomou o
instrumento, que para isso já tinha pronto, e_, re-
328. Secção III Secção III 329.
recantos da aldeia. Era 1845 começaram a ser repro­ mercati em Roma. Fotografaram-no na França, na Es­
duzidas as Imagens de Epinal, representando vários panha, em vários outros lugares, no centro de um
episódios de sua vida. 1Multo aflito ' com essas grupo de amigos ou de benfeitores. Fizeram-no pou­
exibições, _a princípio quis fa’zê-las desaparecer. sar diante de uma tela, sentado, de pé, de Joe­
* Os vendedores suplicaram-lhe que não o fizesse, lhos, durante horas a fio.....
pois era um melo de ganharem a_ vida, ü bom" Cura
"0 Santo se deixava fotografar, reproduzir
deixou-se convencer. 'Quanto custa esta estampa?
nas telas e_ descrever no3 livros. Deus seja bendi­
perguntou-lhes. — Dois soldos, Sr. Cura. — Dois
soldos, ah! é multo por esse miserável carnaval'. to- pois essa licença que ele deu à arte nos vai
1 Vendam pois' (Gulllerme Vllller, Processo Ordiná­ facilitar o trabalho; o testemunho das pessoas que
rio, p. 65l)• viveram com ele nos traz também suas luzes; a lei­
tura de seus escritos nos fornece preciosa docu­
"Um dia, ao passar em frente de uma vitrina mentação. Vamos pois, à luz convergente desses
em que se achava o seu retrato, perguntou o preço~7 três focos, contemplar sua fisionomia física e mo­
'Cinco francos, lhe responderam. — Cinco francos! ral que se nos mostra com toda a nitidez" (A.
Oh! o senhor não o_ venderá nunca! 0. Cura d'Ars não AUFFRAY SS, Dom Bosco. Escolas Profissionais Sale-
vale tanto" (Ir. Atanáslo, Processo apostólico ne sianas, São Paulo"] 1*947, pp. 409-410 / Imprimatur:
pereant, p. 1048). Mons. M. Meirelles Freire, Vigário-Geral).
'Enfim, dizia algumas vezes, se este pobre
carnaval serve para lembrar os conselhos que tenho
dado, não será de todo inútil'. Para demonstrar o 372. São João Bogco distribui
estampas de sl mesmo
desprezo que sentia por aquilo, sempre se escusou
a gravar neles o seu nome ou a benzê-los. Se entre
Relata um biógrafo inglês de São João Bosco:
as estampas que lhe apresentavam encontrava algum,
separava-o cora um gesto brusco. Fazia comentários
" (São João Bosco) distribuiu Inúmeros rosá­
como este: — 'Isso só tem valor três dias no
ano', referindo-se aos três dias consagrados aos rios, medalhas e, o que parece mais estranho, pe­
mascarados (Ir. Jerônimo, Processo Ordinário, p. quenas estampas de^ sl mesmo, pois nunca desprezou
565)” (Cônego FRANCIS TROCHU, 0 Cura d'Ars, Vo­ os métodos modernos~~5e gubTlcldade"] advertindo era
zes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, pp.379-380 / Im- certa ocasião que o demonio os utiliza cora algum
prlmatur: Luís Filipe de Nadai, Bispo de Uruguaia- resultado para toda espécie de empresas duvidosas,
e que isso autorizava os adversários dele, demô­
na, 29-6-1959).
i nio, a empregar as armas modernas na luta por uma
causa boa". (LANCEL0T C. SHEPPARD, Don Bosco, Her-
371. São João Bosco jielxava-se fotografar, der, Barcelona, 1959, p. 194 / Imprima-se: Grego-
rio, Arcebispo-Bispo de Barcelona, 9-9-1957).
reproduzir em telas, descrever em livros...

Conta o Salesiano Padre Auffray, um dos mais


conhecidos biógrafos de São João Bosco, em livro
traduzido por D. João Rezende Costa, Arcebispo de
Belo Horizonte:

"Dom Bosco durante a vida permitiu com toda


simplicidade que lhe retratassem_a_ fisionomia fí-
slca e moral. Fotografaram-no a confessar seus mel
ninos, sentado no meio do primeiro grupo de mis­
sionários, circundado por uma turma de garotinhos,
na atitude de dar a bênção aos filhos do Conde VI-
>a
MM
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Eaça £aze£ bgm as almas,
gs gaotoa cbsgam a âiitçlkyln
££lígulaa de ai meamos,

encarecendo o valor delas e


Recomendando gue aa guardem

373. São Francisco dava relíquias


de si mesmo para proporcionar
bem espiritual a seus discípulos

Conta Tomás de Celano, discípulo e biógrafo


do Poverello de Assis (1181-122Í5):

M*J2. Estava o Santo no mesmo lugar, quando um


religioso fervoroso, da Custódia Marsicana, que
estava atormentado por várias tentações, disse em
8eu coração: 1 Oh se eu pudesse ter algum objeto,
ainda que fossem somente restos das unhas de Sao
Francisco! Estou certo de que toda esta tentação
s_e afastaria de mim e com o favor de Deus eu fica­
ria perfeitamente tranquilo*• Obtida a licença de­
vida, dirigiu-se ao lugar onde morava o varão de
Deus (São Francisco de Assis) e manifestou a um
dos companheiros do Santo o motivo da viagem. Res­
pondeu o frade: ’Creio que me será totalmente im­
possível entregar-te parte do que pedes, pois se
bem seja verdade que muitas vezes lhe cortamos as
unhas, ele, entretanto, nos ordena que as Joguemos
fora, proibindo-nos em absoluto de guardá-las*.
Após uns instantes, o frade foi chamado e lhe foi
ordenado apresentar-se ao Santo, que o mandava
vir. Este lhe disse: * Vá buscar, meu filho,, a te­
soura para que possas cortar-me as unhas *. Tomou o
instrumento, que para isso já tinha pronto, e, re-
334: Secção III

vão fizera-lhe um cordão, com o intuito de pedir-


-lhe o que ele usava, a fim de guardá-lo como lem­
brança. Chegando ao Convento encontrou-se com Frei
Galvão que sem mais preâmbulos, foi-lhe dizendo:
fiZ-me cá o que me trouxeste e_ guarda esse que mais
tarde servira para salvar multas maes nas apertu­
ras do parto”.(Sor MÍRIAM^ Vida do venerável servo
de Deus Frei Antonlo de Sant1Anna Galvão, São Pau­
lo, 2a. ed., 1936, pp. 217-218 / Imprlmatur: Mons.
Ernesto de Paula, Vig. Geral).

376. 0 Cura df Ars vende seus pertences


aos peregrinos desejosos de
relíquias, inclusive seu ultimo dente

Da vida de São João Baptista Vianney


(1786-1859):

"Muito cedo os peregrinos quiseram ter relí­


quias do taumaturgo de Ars, tão persuadidos esta­
vam de sua santidade! Começaram por retalhar as
suas sobrepelizes e 03 seus chapéus e passaram de­
pois a cortar a barra de sua batina e os cachos de
sua cabeleira, enquanto ele dava seu catecismo;
depois, sempre insaciáveis e cada vez maÍ3 indis­
cretos, pilharam a palha de sua cama e das suas
pobres cadeiras, fizeram brechas na sua mesa, di­
laceraram seus livros, inclusive seu breviário,
que ele teve que esconder e, inteiramente descon­
trolados, acabaram.por revirar suas gavetas. Tudo
era bom para esses devotos temíveis: alguns lhe
roubavam as canetas, outros disputavam os cabelos
que ficavam no seu pente. Os menos favorecidos es­
timavam-se felizes por apanharem no pátio da casa
paroquial uma florzinha ou um ramo de sabugueiro.
"Mais tarde, o_ bom Padre teve _a idéia — bem
llonesa — de tirar partido dessa febre singular
era proveito de seus pobres, aos quais ele não ti­
nha mais nem uma camisa para dar. .... Ele fez,
pois, vender aos peregrinos que procuravam lem­
branças , seus móveis velhos, seus sapatos estraga­
dos , suas batinas rotas, suas sobrepelizes"esfar­
rapadas , e mesmo seu último dente. Sua humildade,
neste caso, cedia lugar à sua caridade".(ALPHONSE
GERMAIN, Le Blenheureux J. B. Vianney — Le Curé
dTArs, Vve. Ch. Poussielque - Maison Saint-Roch,
São João Batista Vianney cercado pela multidão, que tenta
Paris-Couvin, Belgique, 1905, pp.172-173). arrebatar-lhe alguma relíquia (uma mulher — embaixo, à es­
querda — corta a batina do Santo com tesoura). Ilustração do
livro El Cura de Ars, de Mons. Fourrey, Bispo de Belley.
T
332.
Secção III 333.
Secção III
colhendo os pedacinhos cortados, entregou-os ao
religioso que os pedia. Este os recebeu com multa 374. Santa Clara cura uma freira
reverência e no mesmo Instante se viu livre de to­ apllcando-lhe um pano
da tribulação..... que levava sobre a cabeça
"Estando o Santo ainda encerrado na sua cela Da vida de Santa Clara de Assis (1193-1253),
do Monte Alverne, um de_ seus companheiros desejava por Tomás de Celano, contemporâneo da Santa:
grandemente ter algum escrito com as palavras de'
Deus anotadas brevemente da própria mao de São "A Irmã Babina, do Mosteiro de São Damião,
Francisco. Pois Julgava que a grande tentaçao que estava gravemente doente, com febre e cora abscesso
sofria, que não era entretanto da carne mas do no peito. Todas as monjas pensavam que ela ia mor­
espírito, com Isso desapareceria, ou pelo menos rer logo, mas a bem-aventurada Madre (Santa
seria mais fácil de suportar. Ansioso cora tal Clara), fez sobre ela o Sinal da Cruz e ela ficou
preocupação, temia no entanto revelá-la ao santo completamente curada.
Pal; mas o que o homem não manifestou foi revelado
pelo espírito, Um dia, o^ bem-aventurado Francisco "Algum tempo depois, esta mesma Irmã foi
chamou <d religioso e lhe disse: 1 Traga-me papel e afligida por uma grande dor no lado. Uma noite em
pena porque desejo escrever as palavras de Deuk e que sofria muito, ela começou a se queixar e a se
seus louvores, que meditei em meu coração1. Apre­ lamentar; ouvindo isso, a Senhora Santa Clara per­
sentados os objetos pedidos, escreveu com sua pró­ guntou-lhe o que tinha. A Irmã lhe confiou seu
pria mão os louvores de Deus e^ as palavras que mal, a_ Mãe bendita se aproximou, pediu para Indi­
quis, £ em~~ul timo lugar sua bênção ao religioso, car o_ lugar doloroso e^ pos em cima um pano que le­
alzendo-lHe-: rTome este escrito e o guarde dlll- vava a cabeça; a dor desapareceu incontinenti".
gentemente até o dia de tua morte1. No mesmo (THÜMAU DE CELANO, Salnte Clalre dfAssise, Perrin
Instante desapareceu a tentação; conservou o es­ et Cie. Libraires-Editeurs, Paris, 3a. ed., 1917,
crito, e mais adiante realizou maravilhas..... p. 8).
"No mesmo religioso resplandeceu outro mila­
gre do santo Pai. Na ocasião era que este Jazia en­ 375* Frei Galvão dá seu cordão
fermo no palácio do Bispo de Assis, aquele reli­ a sua sobrinha, predize~ncTõ
gioso pensou em seu íntimo: '(D Santo está a ponto que por ele serão obtidas graças
de entregar seu espírito ao Senhor, e quao grande
seria a felicidade de minha alrria se depois de sua De uma vida do Venerável Servo de Deus Frei
morte eu pudesse herdar a túnica de meu Paly. Como Antonio de SanfAnna Galvão, Capelão do Convento
se o desejo, nascido do mais recôndito do coração, da Luz, em São Paulo (1739-1822):
tivesse sido ura pedido formal, não transcorreu
muito tempo sem que o bem-aventurado Francisco o "Entre os muitos dons que exornavam o bom
chamasse e_ dissesse: 'Entrego-te esta minha tunlca Servo de Deus, não era menos conhecido o de
Ê- seJa daqui em diante tua. Ainda que a_ utilize perscrutar os corações, conforme Já foi referido,
enquanto viva, quando eu morrer ela te será devol­ e o fato seguinte revelará ainda que Nosso Senhor
vida *. 'Maravilhado com tao profunda e interna pe­ Já em vida lhe dera a conhecer sua futura missão
netração do espírito, tomou com grande consolação de socorrer as senhoras por ocasião de serem mães.
aquela túnica, que depois a santa devoção transla­
dou para a França". (TOMÁS CELANO, Vida de San "A senhora D. Anna Leonisia do Amaral Camar­
Francisco, in San Francisco de Asís. Sus escritos. go, senhora distinta e de esclarecida piedade, re-
Las Floreclllas. BlografTãs dei Santo por Celano. feriu-^nos que uma parente do Servo de Deus lhe
San Buenaventura y los Tres Companeros> Espêjo de mostrara um dia ura cordão, que fora do uso de Frei
perfección, B~ÃCT, Madrid, 3a. ed., 1956, pp. 412 e Galvão e que o guarda não só como relíquia mas
418). ainda como lembrança da singular coincidência que
houve na sua aquisição. Uma sobrinha de Frei Gal-

i
336. Secção III 337.
Secção III
377. -A uma senhora que pedia algo extraordinários que recebeu. Pedem-lhe que toque
que fora de seu uso, Santo os terços: ela o faz, tomando-os numa das maos e^
Antonio Maria Claret deixa tocando-os com a outra,~mas 'senPdar lmport&ncla a.
08 seus cilícios disciplinas Isso, apenas para se desembaraçar das pessoas *.
Depois o Pe7 Pomian lhe proibiu esses gestos. Éla
Nota de uma edição dos escritos autobiográfi­ não os faz mais — e quando lhe apresentam, desde
cos e espirituais de Santo Antonio Maria Claret então, um terço, ela se contenta de responder cora
(1807-1870): ura sorriso afável: *Isso me foi proibido*. Para
agradar as pessoas, aconteceu de ela dar alguns de
"Com efeito, escreve dona Jacoba de Balzola: seus caFêlos. Ura belo dia, o Pároco Peyramale se
labendo (Santo Antonio Maria Claret) por seu ca­ õpos a isto. E Bernadette escreverá, simplesmente,
pelão o_ desejo tão grande que eu tinha de algum a uma solicitante, algumas palavras cujo sabor
objeto de" seu uso, ao despedir-se disse-me: como apreciamos: *Quanto aos cabelos, não me é mais
nos expulsara e não sei o que nos farão, se nos re­ permitido enviá-los*" (MICHEL DE SAINT-PIERRE,
vistarem, deixo-lhe estes cilícios e disciplinas Bernadette et Lourdes, Êditions "La Table Ronde",
de meu uso1 (San ANTONIO MARIA CLARET" Escrltoá Paris"," W8,-pP:--12JJ7'132 e 133).
autobiográficos £ espirituales, BAC, Madrid,
1959, P- 58o nota 157 / Imprlmatur: Blasius Bude-
lacci, Ep. Nissen, Tusculi, 9-2-1959)• 379. 0 Padre Reus dá uma-
batina velha que ura Irmão
lhe pedira por veneração
378. Para agradar as pessoas,
Santa~~5ernadette dava cabelos seus Conta um Irmão coadjutor Jesuíta sobre o Pa­
dre Reus (1868-1947):
De uma biografia de Santa Bernadette Soubi-
rous (1844-1879): "Cheguei a conhecer o bom P. Reus, quando fa­
zia os seus estudos em Valkenburgo. .... Tive-o
"Dez, vinte visitas por dia — no hospital, por santo, por uma alma pura e possuída de Deus.
era casa. Se Bernadette passeia, as pessoas se Senti-me fortemente impelido a rezar por ele e re-
aproximam, a seguem. Quer ela ir rezar na Gruta? comendei-me Intimamente às suas orações. •••• Por
Os comentários se espalham: *VeJam a Santa!* veneração pedi uma de suas batinas velhas, que
1 Olhem a nossa Santa! * De Pai, de Bagnères, de usei com muita consolação e_ conforto
Tarbes, d*Argelès, de Cauterets e de outros luga­ interior" (Pe. LEO KOHLer SJ, Biografia completa
res, as pessoas se precipitam a Lourdes para ver V. João Baptlsta Reus, SJ, Livraria Selbach &
Bernadette. A menina tornou-se objeto de venera-" ÜTa.; Porto Alegre, 1950,~Volurae II, pp. 97-98 /
ção, sem nenhuma duvida; e não se pode ter rigor Imprlmatur: Mons. André Pedro Frank, Vig. Ger.,
com os homens e mulheres cuja fé sólida honra nela 20-4-1950).
03 traços do céu: como se saudariam os passos de
Jesus ou da Virgem sobre a areia.....
"Mas as pessoas insistem em lhe pedir para 380. "Não percam nenhuma dessas pétalas;
tocar objetos, pôr sua assinatura nas imagens, alegrareis a outros com elas. • •"
acariciar as crianças. Persistem em lhe cortar pe­
daços das vestes» áeáobram-se os esforços para lhe Depoimento da Madre Inês de Jesus (Paulina),
Priora do Carmelo de Lisieux, no Processo de Bea­
arrancar seus famosos * segredos*.....
tificação e Canonização de sua Santa irmã:
"A Irmã Vitor.ina se admira de não ter Jamais
notado nessa Jovem o menor sinal de vaidade, de "No fim da vida, ela (Santa Teresinha) pres­
amor-próprio ou de orgulho a propósito dos favores sentia bem o que faria depois de sua morte. Parece
338. Secção III 339.
Secção III
mesmo que ela previu sua glorificação pela Igreja. "2. Lê-se igualraente na vida de São F-éllx de
Vou relatar singelamente e sem comentário as suas Cantalíciq que ele disse às pessoas que beijavam
palavras e os seus atos. A Igreja Julgará. suas roupas: 'Isto, minhas filhas, contentai a
vossa devoção; logo vlrã o dia emque"este hábito
"Quando ela derramava lágrimas de amor, ela será tido como precioso, e_ todos acorrerão para
me deixava recolhê-las num lenço fino, sabendo bem obter um pedaço dele1.
que não era para enxugar-lhe o rosto, mas para
conservá-las como uma lembrança venerada. "(Vie du bienheureux Benoit Labre par Desno-
yers missionnaire apostollque, Lille 1862, Tome I,
"Quando eu lhe cortava as unhas, ela recolhia pp. ^16-^17).
os fragmentos e ela mesma os dava a mira, convidan- "(Vie des saints de toute l'année par le ré-
do-me a guardá-los.
vérend père Ribadeneira, traduction Darras, Paris
"Quando lhe trazíamos rosas para desfolhar 1862, l8 mai, p. 278)" (Procès de Béatification et
sobre o seu crucifixo, se algumas pétalas caíam no Canonisation de Sainte Thérese de T' Enfant-Jésus*
chão, depois que ela as havia tocado, nos dizia: et de la Salnte-Face — II Procès Apostollque. Te-
'Não percam isso, minhas irmãzinhas; alegrareis (a resT&num, Roma, 197b, Témoin d: Geneviéve de Sain-
outros) mais tarde, cora essas rosas1" (Procès de te-Thérèse OCD, p. 313).
Béatification et Canonisation de Sainte Thérese de
1 'Enfant-Jésus et. de la Salnte-Face ~ Procès*
Apostollque, Tereslanum,~Hbma. 197b, t. II, p^ 199
-- Témoin 6: Agnès dev Jesus OCD) .

381. Santa Tereslnha recomendava que guardassem


pedaços de unhas, pedacinhos de pele,
e ate cílios que caiam em séuTengo

___ gaga .. BgfeaE


Testemunho da Irmã Genoveva de Santa Teresa
(Celina, irmã de Santa Tereslnha), no Processo de
Beatificação e Canonização da Santa de Lisieux
(1873-1897):

"Parece, e creio nisso,;que no fim de sua


vida, ela (Santa Tereslnha do Menino Jesus) pres­
sentiu sua glorificação. Com uma simplicidade en­
cantadora, ela me dava para guardar os pedaços de
unhas cortadas, os pedacinhos de pele que se des­
tacavam de seus Táblos e até cíTlos que calam no
seu lenço. Ela nos ajudava também a recolher as
pétalas áe rosas com que tinha acariciado seü~~cru­
cifixo. • • • •
"A_ propósito destas alusóes à. sua glorifica­ mmu
ção próxima, notei, lendo a_vida dos Santos, dois
ratos análogos e_deve haver muitos outros do gêne­
ro:
Fl. Lê-se na vida de São Benedito Labre 'que
ele previu uma aglomeraçao* de gente para venerar o_
8eu corpo1.
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382. Sendo apenas Irmão leigo,


São Benedito benzia
os campos e as plantações
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De uma vida de São Benedito (1526-1589), o
popularíssimo Irmão leigo franciscano preto:

"Para aumentar a comum confiança no patrocí­


nio do nosso Santo (São Benedito) era uma mercê de
tanta importância, qual seja a da felicidade dos
campos, queremos autenticar cora as testemunhas dos
Processos, entre as quais escolhemos uma de vlsu
de um Religioso leigo de nome, também ele, Benedi­
to, Depos o Irmão: 'Eu sei que muitos proprietá­
rios das chácaras que são vizinhas do mencionado
Convento de Santa Maria de Jesus, costumavam, con­
forme a estação, sofrer muitos danos nas frutas e
hortaliças, por causa dos vermes. Por isso vinham
ao Convento, pedindo aos Superiores (1) que man­
dassem Frei Benedito benzê-las; e tendo eu ido vá­
rias vezes em sua companhia, vi como era recebido
muito carinhosamente e com sinal de grande afeição
por parte daqueles sitiantes e camponeses. Vendo
como Frei Benedito andava por todo lugar benzendo
com água benta, ouvia que muitos deles lhe agrade­
ciam e diziam que, graças à sua bênção, não somen-
3^2. Secção III Secção III d4*;}.
te os vermes que destruíam as plantas morriam, mas 38H. A própria Santa Teresa relata
ainda cresciam seus ben3 e_ tinham colheita ferti­ como deu a benção ao Arcebispo
líssima e_ copiosa1 " . deSevTTha ajoelhado a seus pes
"(1) Temos neste testemunho a resposta à ob­
jeção contra aquelas bênçãos dadas pelo nosso San­ De uma carta, datada de 1577, de Santa Teresa
to, as quais, caso fossem ilícitas, eram mandadas de Ávila, à Venerável Ana de Jesus:
pelos Superiores, a quem devia obedecer o Servo de
Deus era caso de dúvida, como ensina Santo Agosti­ "1577 (D* Toledo
nho. Mas^tais bênçãos não foram, certamente, ilí­ "A Ana de Jesus, em Véas
citas, não tendo sido acompanhadas dos ritos, ce­ "Julgue minha emoção quando vi um tão grande
rimônias e exorcismos da Santa Igreja: sendo pois Prelado (7)7 Crlstõbal de Rojas Sandoval, Arce-
lícito a_ qualquer um benzer com água benta^ D bispo de^ Sevilha) de Joelhos aos pés de uma pobre
efeito, pois, Justifica a causa" CgIUSEPPÉ CÁRLET- mulnerzinha como eu; ele não quis se levantar en­
TI ROMANO, Vita di S^ Benedetto, Presso Antonio quanto eu não lhe desse <a minha benção, na presen­
Fulgoni, Roma, 1FÕ5, pp” iOÔ-lÒÍ/ Imprlmatur: Fr. ça de todos os Religiosos e_ de todas as CohfrarlaA
Thomas Vincentius Pani Ord. Praed. Sacri Fãlatti de Sevilha que lâ se encontravam^
Apostolici Magister, 3-8-1805)* "(1) Inform. de Madri — Ana de Jesus: A
Santa, estando em Toledo, lhe escreveu com fre­
quência.... e lhe contou em particular que, no fim
383. Santa Teresa de Jesus dá a bênção da cerimônia de Inauguração do Mosteiro de Sevi­
ao Arcebispo de Sevilha, ajoelhado lha, o Arcebispo D. Crlstobal^êe~RoJas~y Sandoval,
cITante dela à vista de toda a multidão revesTTlêõ ainda Hos paramentos pontificais, ájoe-
lhou-3e a_ seus pés e^ pediu sua bênção" (Sainte
Lê-se era conhecida biografia da Santa Douto­ THÉRESÊ DE JESUS, Letres, Les Editions du Cerf,
ra: Paris, Tome II, pp." 154-155 / Imprlmatur: M. Bac-
"Como nada se opunha à abertura da nova casa, kès, v.g.).
as Irmãs tomaram posse dela no dia 1-. de maio de
1576. Havia sido seu desejo fazê-lo no silencio,
às escondidas, mas o Padre Garcia Alvarez insistiu 385. Santa Teresa de Jesus conta como
era que se devia fazer uma celebração pública, a Dona Catarina era levantada acima da multidão
qual se realizou, cora grande pompa e regozijo, no para que lhê"“lançasse a bênção
dia 3 de Junho. Nela o venerável Arcebispo levou o
Santíssimo Sacramento pelas ruas antigas, desde Conta Santa Teresa de Jesus a respeito de
uma das igrejas paroquiais, seguido da maioria do Dona Catarina de Cardona, dama da alta nobreza es­
clero da cidade e de grande número de confrarias, panhola, que levava uma vida de penitência e ora-
formando assim uma brilhante procissão; enquanto çõa, sem entretanto fazer-se freira:
acorriam as multidões para aplaudir e admirar, da-
vam-se salvas de artilharia. Foi uma grande festa "Depois desses anos de completa solidão, quis
de Justificação e desagravo para a madre Teresa de o Senhor dá-la (Dona Catarina de Cardona) a conhe­
Jesus (a Santa havia sido duramente caluniada an­ cer; e começou o^ povo a_ ter-lhe devoção tão gran­
teriormente). Para que tudo al-cançasse seu ponto de, que ela nao se podia valer. A todos falava com
culminante, quando ela pediu a bênção ao Arcebis­ muita caridade e amor. À medida que passava o tem­
po, este, ajoelhando-se diante da freira, pediu po, acudia maior concurso de gente, e quem lhe po­
que ela lhe desse a sua bênção, o que ela fez dia falar não se Julgava pouco afortunado. Ela se
diante de toda a multidão" (WILLIAM THOMAS WALSH, sentia exausta com isto e dizia que a.estavam ma­
Santa Teresa de Avlla, Espasa-Calpe, Madrid, 1951> tando. Houve dia de ficar todo o campo coberto de
p. 486-487). carros. Depois de se estabelecerem alí os frades,
3*»H. Secção III Secção III 345.
não tinham outro remédio senão levantá-la acima da de novo, disse-me adeus. — AJoelhei-me então Jun­
multidão para que lhes lançasse a bênção, e cora to do seu leito e roguel-lhe que me desse a sua
Isto se retiravam satisfeitos” (Santa TERESA DE bênção. Berchmans (simples noviço) recusou energi-
JESUS, Obras (As Fundações), Vozes, Petrópolls, camente. Insisti com força, recordando-lhe a nossa
1939, p^ ?22 ~í Com aprovação eclesiástica, amizade tão antiga e nossa mútua confiança. Afinal
27-6-1939). cedeu, e^ sorrindo levantou a_ mão para abençoar-me
At* a a Ví»7,e S . •••• ~

386. Santa Rosa de Lima dá a bênção


a pessoas presentes <e ausentes

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dõ Contador e fez çara elas uma prática espiri­
tual, exortando-as a virtude .... deu-lhes também
sua bênção” (Fray PEDRO DE LOAYZA OE, Vida de San-
ta Rosa de" Lima, Ibéria, Lima, 1965, p. 100~7 Eue- No Processo de Canonização de São João Ber­
He relmprlrnlrse: Mario CorneJo, Obispo Auxiliar y chmans, o Postulador da Causa apresentou como ar­
Vicário General)".
gumento:
”Luis de Gonzaga,, moribundo, abençoou em pre­
387. Presenciei sacerdotes ajoelharem-se sença do enfermeiro, um anclaõ, um sacerdote, o
Junto do seu leito padre Luís Corbinelli, que solicitara do santo es­
para Implorarem sua bênção sa consolação £ ninguém censurou a Luiz de Gonzaga
como ato de orgulho, esse ato de caridacTê^ * (Fe 7
177"J. M. CftÕS, Vida de S. Joaõ Berchmans, buprat l
Conta a vida de São João Berchraans que mor­
reu simples noviço da Companhia de Jesus, aos 23 Comp., São Paulo, 191^7 P* / Com licença da
anos de idade, em 1621: autoridade eclesiástica).

"DIzel-me, acrescentei ainda, dizei-me since- 389. A bênção doa Sacerdotes £ ”constltutlva”;
ramente, é certo que não morrereis senão amanhã? a dos leigos £ meramente ”lnvocatlva”
João ficou silencioso e olhando para mim, disse-
-me: 'Sim, meu caro Nicolau, morrerei amanhã cer­ Consulta feita pela TFP ao Pe. Antonio Royo
tamente, durante a manhã. — Eu desejava estar Marin OP, e resposta do ilustre teólogo e autor de
aqui, poderei? — Procurai estar; e abraçando-me numerosos livros:
346. Secção III
Consulta. — «Na História da Igreja lêera-se
rostos exemplos de Santos e pessoas virtuosas que,
não sendo nem Sacerdotes nem Superiores Religio­
sos, e sendo inclusive mulheres, davam a bênção a
outras pessoas, fossem embora Sacerdotes e até
Bispos: Santa Catarina de Siena dava bênção a fra­
des dominicanos; Santa Teresa de Jesus deu, certa
ocasião, a bênção ao Arcebispo de Sevilha, Don
Cristobal de Rojas y Sandoval, por exigência da­
quele Prelado (1577); São Luís Gonzaga e São João
Berchmans, sendo simples seminaristas, deram a .En la Historia de la Iglesia se leen muchos exemplos da San­
bênção a Sacerdotes antigos da Companhia, segundo tos y personas virtuosas que, no siÊndo ni Sacerdotes ni Superiores
Religiosos e inclusive siendo mujeres, daban bendición a otras perso
se lê no Processo de Beatificação deste último nasf> aunque fuesen Sacerdotes y hasta Obispos: Santa Catalina de Si£
Santo; Dona Catarina de Cardona, uma simples lei­ na bandecía a Çrailes dondnicosj Santa Teresa de JcbUb di<5, en cierta
ga, dava a benção às multidões que acorriam a ela ocasión, la bendición al ArzobiBpo de Sevilla, Don Cristóbal de Rojas
y Sandoval, por exigencia de aquel alto Prelado (1577)V San Iaííb de
na gruta era que vivia retirada, conforme narra
Gonzaga y San Juan Berchmans, siehdo simple seminaristas, daban la
Santa Teresa no livro das Fundações etc. bendición a Sacerdotes ancianos de la CompafSía, segdn se lee en el p
proceso de beatifi cación de este lilVimo Santo; Dofia Catalina de Car­
pergunta. — Como explicar o procedimen­ dona, una simple seglar, bendecía a las multitudes que aeudían a ella
to destes Santos e pessoas virtuosas? en la gruta donde ella estaba retirada, conforme cuenta Santa Teresa
en el libro "Las Fundaciones", etc.
"Resposta. — Trâta-se de simples bênçãos in-
vocatlvas — a modo de oração — mas não constitu­ FRIMERA CONSULTA: ^Cómo explicar el procodimiento de estos
tivas , comova dos Sacerdotes. A diferença consiste Santos y personas virtuosas?
era que as bênçãos meramente invocativas não deixara \ RESFUESTA: Se trata de simples bendicioneses invocativas - a ma
benta a coisa mesma, mas se limitam a invocar \'.do de oración - pero no constitutivas como las de los Sacerdotes. La
sobre ela o favor ou a bênção de Deus ou da San­ \\diferencia consiste en que lae meramente invocativas no dejan bendita
‘la cosa misma, sino que se limitan a invocar sobre ella el favor o la
tíssima Virgem. Pelo contrário, a bênção constitu­ i nandición de Dios - o de la Santísimá Virgen. En cambio la bendición
tiva, dada pelo .Sacerdote, deixa benta a coisa Constitutiva, realizada por el Sacerdote, deja bendita la cosa misma
mesma (por exemplo, um crucifixo, um terço, uma vg.: un crucifijo,. un rosário,, una medalla, la comida, etc.). El
medalha, a comida etc.). 0 leigo pede a Deus ou a eglar pide a Dios o a la Virgen que bendiga lo que Ó1 bendice; el
Sacerdote bendice por sí mismo en virtud de sus poderes sacerdota-
Nossa Senhora que abençoe o que ele abençoa; o Sa­ / les. La bendición dei Sacerdote es un sacramental; la dei seglar o la
cerdote abençoa por si mesmo, em virtude de seus \ jdel simple Religioso, no lo es.
poderes sacerdotais. A bênção do Sacerdote é ura
sacramental; a do leigo ou do simples religioso SEGUNDA CONSULTA: i,Es lícito que simples seglares den la ben­
não o é. dición a otras personas, invocando el noabre de Dios c de Su Santí-
sima Madre?
"2a.^pergunta. — Ê lícito que simples leigos RES5UESTA: Si, en el sentido que acabamos de explicar.
dêem a bênção a outras pessoas, invocando o nome
de Deus ou de sua Santíssima Mãe? TERCERA CONSULTA: En caso afirmativo i cuáles son las condi­
ciones para que el seglar pueda dar esa bendición?
"Resposta. — Sim, no sentido que acabamos de RESFUESTA: Hágalo con humildad y devoción sin darse ninguna
explicar. importância.
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CUARTA CONSULTA: j,En quÓ consiste propiaraente esa bendición


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bênção? RESFUESTA: Es una simple deprecación, no un sacramental como


la dei Sacerdote.
"Resposta. —Faça-o com humildade e devoção,
sem se dar nenhuma importância. QUINTA CONSULTA: ^En quó se diferencia esta bendición de la

LE. /..
Secção III 349

"4a. pergunta. — Em que consiste propriamen­


te essa benção, do ponto de vista teológico e ca­
nônico?
"Resposta. — E uma simples deprecação, não
ura sacramental, como a do Sacerdote.
"5a. pergunta. — Em que se diferencia essa
bênção, da benção litúrgica dada pelo Sacerdote ou
litárgica, dada por el Sacerdote o por un Superior Religioso en nom- por um Superior Religioso, em nome da Igreja?
brre de la Iglesia?
RESRJESTA; Ya está dicho. Téngase en cuenta que el Superior
"Resposta. — Já está dito. Tome-se em consi­
Religioso, si no es Sacerdote, no bendice en forma de sacramental. deração que o Superior Religioso, se não é Sacer­
Solo los SacerdoteB y Diáconos gozan de esa potestad sagrada. dote, não abençoa era forma de sacramental. Somente
os Sacerdotes e Diáconos gozam deste poder sagra­
SEXTA CONSULTA: Y, por otro lado £cuál es la diferencia entre
la bendicián dada por seglares y la que acostumltran a dar en ciertos
do.
lugaree los padres a sus hijos, los padrinos a sus ahijadoe,. los tíos "6a. pergunta. — E, por outro lado, qual é a
a sus subrinos e incluso personas mayores a nifios o Jdvenes?
diferença entre a bênção dada por leigos e a que
RESKJESTÀ: Ninguna diferencia. Todos èllos son seglares. costumam dar, em certos lugares, os pais a seus
'N filhos, os padrinhos a seus afilhados, os tios a
seus sobrinhos, e até pessoas mais idosas a crian­
Antb.nirR^yFisS^-or^ ças ou Jovens?
Kadrid, 14 de febrero de 1984
"Resposta. — Nenhuma diferença. Todos são
leigos.
ISGITIMACIO/f: JUA.V VAILKT DE GOrTISOLO. lotnrto de Jfodrid. -- a) Antonio Royo Marin OP

LEGITIMO lo firmn y rubrica que antecede de —
DOU AUTOATO ROYO kA RIU por corresponder a mi - Madrid, 14 de fevereiro de 1984".
Juício a la que aparece como suya en el D.A',1.
nO: 7.609,011, expedido en Madrid, el dia 23“~
de kart o de 1.962,
390. Catarina, simples leiga,
Madrid, a 16 de Febrero de 1.984 ordena a seus drs cl pulos, alguns deles
padres, em nome da santa obediência,
o estado que devem abraçar

Conta Joergensen, o conhecido hagiógrafo, na


sua vida de Santa Catarina de Siena:

"Calou-se Catarina, enquanto Tommaso di Petra


anotava suas últimas palavras. No silêncio do
quarto choravam os discípulos, as amigas soluça­
vam . ....
*Ao terminar estas exortações que a todos
eram dirigidas*, narra Caffarini (o Beato Tomás
Caffarini, frade dominicano), * chamou seus discí­
pulos ura após outro afim de dizer _a_ cada um o que
para eTes Julgava ser mais proveitoso após a mor­
te . A uns demonstrou que a vontade divina a seu
respeito era que se submetessem â disciplina mo-

350. Secção III Secção III 351*

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nástica e revestissem o hábito de uma ordem reli­ mim, designou-me cora o dedo e disse: 'Eu te_ reco­
giosa. Foi assim que ordenou ji Stefano (<} Beato mendo, em nome de Deus e^ da santa obedTencla, que
s Estêvão Maconi), em nome dá~santa obediência, que entres rm ordem dos Cartuxos, pois é essa a ordem
entrasse na ordenfcTos Cartuxos, a Francesco Mala- para a qual Deus te escolheu e te chama!...* Quan­
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volti que se recolhesse ão Monte Oliveto e consa­ do assim me falou Catarina, continua Stefano mais
í ' grasse à vida monacal. A outros, aconselhou que se adiante (nesta época, outubro de 1*111, ele Já há
! ‘ fizessem eremitas e a outros ainda, que abraçassem
muito usava o hábito branco e estava instalado na
a vida eclesiástica. Indicou a Irmã Alessia para Certosa di Pavia, como superior geral de sua or­
i superiora das Mantellate e encaminhou os homens dem), — devo confessar, para confusão minha, tão
1 para Frei Raimundo (o Beato Raimundo de Cápua, do­
pouco eu pensava em entrar para os Cartuxos como
minicano) a fira de que ele os dirigisse e condu­ qualquer outra ordem. Mas, apenas ela expirou, ura
zisse f . desejo tão grande de realizar sua vontade nasceu
"Entre os destinados por Catarina para a vida em meu coração que, se a ele se tivesse oposto o
solitária encontrava-se Neri di Landoccio. Aconse­ mundo todo, tudo teria eu vencido..."
lhou também ao notário Ser Cristofano di Gano Gui- (*) Nota: Entre os presentes encontravam-se
dini que se tornasse irmão leigo do hospital de vários Sacerdotes, como Frei Tommaso di Petra (seu
Sena, sob a regra de Santo Agostinho. fE cada um antigo confessor) e Frei Tommaso Caffarini. (J0-
de nós', diz a. velha crônica, * recebeu, com acata­ HANNES JOERGENSEN, Santa Catarina de Sena, Editora
mento, suas ordens. Era seguida, com verdade'ira hu­ Vozes, Petrópoll8, 1944, PP* 391-3"?? / Cora aprova­
mildade, pediu a todps que lhe perdoassem se não
fora para nós ura modelo durante a vida e não reza­ ção eclesiástica).
ra por nós tanto quanto podia e devia ter feito, e
se bastante não se preocupara com as nossas neces­
sidades como o dever lhe impunha. Por todos os 391. 0 famoso "lo vogllo" de
desgostos, dissabores e tristezas que nos tivesse Santa Catarina de Siena
podido causar, implorou também nosso perdão. E di­
De uma introdução às obras de Santa Catarina
zia: *FÍ-lo por ignorância, pois confesso diante
de Siena (1347-1380):
de Deus que sempre tive e tenho ainda o desejo ar­
dente de vossa perfeição e de vossa salvação1. Por
"A personalidade da Santa de Siena •••• se
fim todos nós chorávamos e, como era seu costume,
deu a cada ura de nós em particular sua bênção em manifesta .... desde as primeiras linhas da pri­
meira carta que se escolha, seja qual for: ’Eu,
Cristo1(*)• Catarina’... Segue-se, é certo, uma fórmula, que é
"Entre os discípulos presentes naquela oca­ expressão de humildade: 'serva e escrava dos ser­
sião, Caffarini menciona Stefano Maconi (o Beato vos de Jesus Cristo*. Porém, no espírito fica, em
Estêvão Maconi). Libertara-se ele das imposições primeiro plano, o eu inicial, e as palavras se­
de sua família como tantas vezes lhe aconselhara guintes Já soam Junto com aquele eu, como... isto
Catarina, compreendendo afinal o que ela lhe que­ precisamente: como uma fórmula.....
ria dizer quando lhe escrevia que *os pais de um
homem podem ser seus piores inimigos’. Quer a len­ "Aos Papas, suplica-os em nome de Cristo cru­
cificado. Ao Rei da França: ’Fazel a vontade de
da que, enquanto ele rezava em Siena, na capela da Deus <5 a minha*. Ao indómito Bernarbo" Visconti,~a
Irmandade da Scala, tenha ouvido uma voz que assim Rainha de Nápoles, aos Cardeais, aos homens de le­
exortava: ’Parte para Roma, não hesites mais, a tras e de armas: 'Eu quero;..’
morte de tua Mamma está próxima!’ E atendendo ao
chamado, ele partiu e ainda chegou a tempo. 'Cata­ "E a_ Deus Nosso Senhor — segundo testemunho
rina vivia seus últimos momentos, conta ele, e re­ do prior da cartuxa de Pavia, em ura caso pessoal
velou a cada um de nós, era particular, o que de­ — sabia dlzer-Lhe também: *Eu quero'.
víamos fazer depois de sua morte. Voltando-se para
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352. Secção III
"Em seu leito de agonia, assim fala ao discí­
pulo Frei Bartoloraeu Dominici: ‘Já que, como sa­
beis, vai celebrar-se em Bolonha o capítulo geral
de vossa Ordem para eleger o Mestre Qeral, quero
que vás e elejais para este cargo o meu pai Frei
Raimundo, ao qual quero que permaneçais sempre
unido e estejais submisso à sua vontade. E_ isto,
tanto quanto posso, eu vos mando1.....
"0 io vogllo de Santa Catarina não pode ser

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consideraHõ fora do conjunto psicológico e sobre­

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natural que constituem toda a sua personalidade.

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mover-se exclusivamente no plano sobrenatural; sua
identificação com a_ vontade de Deus; _a_ plena sãQ CQIBBCefiBálâQS QU CêSQQbgglâQS.
consciência de sua missão na.Igreja, impedem qual-
quer outra interpretação" (AnGEL 'MORTA, Obras de tjultga ^ezea BQfçem detcaçêea g pegaeguiÇQga,
Santa Catallna de Slena, Introducción, BAC, Ma­
drid, 1955, pp. 5j>-bò / ImprlmatuE4: F~r. Francisco atf çgsgg ge BeagQgg t2âi>
OP, Obispo de Salammanca, 1-12-1955)*
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392. Monges desobedientes e


que odiavam a doutrina de 5ao Bento
tentaram envenená-lo ,
Comenta o Abade do antigo Mosteiro beneditino
de Maria-Laach, na Alemanha:
"Não ocultei tua Justiça em meu coração,
anunciei tua verdade e tua salvação (S* 39,
11), mas eles me desprezaram e desdenharam
(Is. 1, 2). ••••
"A tremenda realidade contida nestas palavras
do profeta, S. Bento sentiu-a era Vicovaro, onde os
monges indóceis e^ desobedientes desprezaram _e
odiaram de tal~modo sua doutrina, que procuraram
envenená-lo. Pode-se compreender então que S. Ben­
to, em virtude da atitude de recusa dos monges e
da absoluta repulsa diante do representante de
Cristo, tire a última conseqüência, a saber, as
ovelhas que não querem obedecer à sua direção de­
vem ser submetidas ao castigo da morte
espiritual" (Dom ILDEFONSO HERWEGEN OSB, Sentido
e Espírito da Regra de São Bento, Edições "Lumen
Christi", Rio de Janeiro", 1953, PP- 71-72 / Com
aprovação eclesiástica).
35**. Secção III 355-
Secção III
apontado com o_ dedo pelas ruas como herege. Até
393. São Bernardlno de Sena foi acusado
de herege, Idolatra e_ antl-Crlsto muitos de seus mais fieis partidários o abandona­
ram, mas Bernardlno sofria tudo cora a maior pa­
ciência, sem que nenhuma queixa aflorasse a seus
Sobre São Bernardlno de Sena (1380-1444), lê- lábios; dizendo antes, que a perseguição seria
se em conhecida Historia dos Papas: útil para a salvação de sua alma e exortando a
seus amigos: 'Deixai fazer a Deus1.
"Em 1427 voltou Bernardlno (São Bernardlno de "Da inquisição que mandou fazer o Papa, saiu
Sena) a Roma para se justificar em presença do Pa- o Santo esplendidaraénte Justificado, e Martinho V
pa, ante quem tinha sido acusado~cTe heresia.~~Ü as­ lhe concedeu então permissão para pregar em todos
sunto de que se tratava tinha-se passado da se­ os lugares e para espalhar a veneração do Nome de
guinte maneira: quando- Bernardlno entrava numa ci­ Jesus, como antes fazia, e também para tornar a
dade, fazia levar diante de si ura estandarte, no portar o mencionado estandarte; e^ para que, parti­
qual estava representado o monograma do doce nome cularmente em Roma, onde fora caluniado, ficasse
de Jesus (IHS) rodeado de doze raios de sol e co­ bem manifesta a inocência de BernardlnoT o próprio
roado por uma cruz, e quando preçava ura sermão, Papa, com todo o seu clero, celebrou uma solene
fixava aquela bandeira junto ao púlpito. Algumas procissão, na qual se glorificou o Nome de Jesus,
vezes, quando devia pregar sobre o doce nome de para Jubilosos bons1*' (LUDOVTCO FaSTÜR, “Historia
Jesus, levava também em uma mão uma tábua na qual de los Papas, Ediciones G. Gili, Buenos Aires,
estava representado p mesmo monograma com grandes 1948, vol. I, pp. 369-370 / Imprímase: Antonio
letras visíveis para todos os assistentes. Com Rocca, Obispo de Augusta y Vicário dei Arzobispado
fervorosa persuasão moveu também numerosos sacer­ de Buenos Aires, 20-5-1948).
dotes a que expusessem o nome de Jesus nos alta­
res, a fazê-lo pintar nas paredes interiores e ex­
teriores das igrejas, e a distribuir entre o povo
pequenas pinturas dele; e, ademais disso, por in­ 394. Santa Joana d'Arc foi
fluência de São Bernardlno, em muitas cidades da acusada de tolerar que
lhe preVEassem honras quase divinas
Itália o mencionado monograma foi escrito cora le­
tras gigantescas, nas Casas do Conselho, do modo
como ainda hoje se pode ver em Sena. Esta venera­
ção do Santo Nome pareceu entretanto a muitos uma Diz um livro sobre o Processo de Santa Joana
atrevida e ilícita inovação; e !não somente os hu­
d'Arc (1412-1431):
manistas de sentimentos pagãos,1 como Poggio, le­
vantaram a voz contra aqueles 'Jesuítas*, mas tam­ "Ela (Santa Joana d'Arc) foi acusada de se
bém os inimigos dos (franciscanos) observantes que ter deixado prestar honras quase divinas:
havia entre os dominicanos e os agostinianos, ata­
'Sabíeis se as pessoas de vosso partido man­
caram Bernardlno. Ele foi acusado diante de Martl-
nho V, desnaturando-se as coisas, e_ representando- daram fazer cerimonias, missas, orações por vos?
-o como herege, idólatra, e ate como antl-Crlsto. ' - Eu não sei de nada; se eles fizeram, não
0 Papa mandou então ao Santo apresentar-se em Ro- foi por minha ordem. Mas se eles rezaram por mim,
ma, e Bernardlno, que se encontrava nessa ocasião
parece-me que não fizeram mal.
era Viterbo, interrompeu imediataraente suas prega­
ções para atender ao chamado do Chefe supremo da '— Os de vosso partido crêem firmemente que
Igreja. Submeteu-se incondicionalraente ainda ao vos vindes de~Ceus?
grave preceito de permanecer era Roma e abster-se '— Eu não sei de nada, e me recomendo a seu
de pregar até que se examinassem as acusações di­ coração; mas creiam eles ou não, eu venho da parte
rigidas contra ele; e_o sentimento facilmente mu­
tável do povo afastou-se dele, que chegou &_ ser de Deus.
356.
Secção III
Secção III 357.
' — Se ele3 o creem, a. opinião deles é boa?
*— Sim, e eles não estão enganados. queimam uma gaveta cheia de escritos, cartas e_ re­
tratos de seu pai Frei Joao.....
'— Sabíeis qual era a intenção dos de vosso
partido, quando beijavam vossos pés, vossas mãos, "0 que faz, enquanto isso, o Padre Doria, Vi­
vossas vestes? gário Geral (da Ordem)? Está ignorante, em seu
convento de Madri, ao que acontece na Andaluzia,
’ — Eu não deixava beijar minhas mãos e_ mi­ quando todos estão escandalizados com o alvoroço
nhas vestes senão o menos~~pos3Ível; mas as pessoas levantado pelo Padre Diego Evangelista, seu comis­
pobres vinham de Fora grado atè mim, porque eu não
sário? .... Tão benevolamente olham o Vigário Ge­
lhes fazia mal, sustentando-as tanto quanto po­
ral e os definidores a atuação do Padre Diego que,
dia’" (MARIUS SEPET, avec une introduction par M. era vez de penitenciá-lo, o mimam, levando-o à Itá­
Léon Gautier, Jeanne D*Are. Alfred Name et Fils,
Êditeurs, Tours, 2a. ed., Í873, pp. 242-243). lia, onde continua, mesmo depois de morto Frei
Joao (São João da~~5ruz) seu infame trabalho difa­
matório . ....
395- São João da Cruz, difamado "Estando ele (Frei Diego) em Sanlucar, chegou
e perseguido por seus confrades, com a notícia da morte de Frei João da Cruz e enquanto
a conivência dos Superiores as freiras, Maria de São Paulo especialmente, cho­
ram e lamentam o desaparecimento do Santo, o padre
Da vida de São Jovão da Cruz (1542-1591): Diego exclama: *Se nao morresse, eu lhe tiraria o
hábito não morreria na Ordem1" (CRIS0G0N0 DE
JESUS- OCD, Vida de San Juan de la Cruz, in Vida y
"Alguém Inicia um processo de difamação con­ Obras de San~Juan de la~~CruzT~FSF, Madrid, -l9&4,
tra ele (São João da Cruz). E o padre Diego Evan­ pp. 310, 311, 312 e 313 / Imprlmatur: José Maria,
gelista, o definidor de trinta e ura anos, interape- 0b. Aux. y VIc. Gen., 11-5-19o4).
rante e rancoroso. Comissionado pelo definitório
para completar algumas informações do processo
contra o padre Gracián, quer envolver na mesma 396. Santa Rosa de Lima foi perseguida
sorte o 8antlco de Fray Juan, como o chamava Madre por aqueles mesmos que se
Teresa (Santa Teresa de Jesus)..... conslderavanTcatóllcos sinceros,
e ate por ministros do Santuário
"0 padre Diego Evangelista, a quem os contem­
porâneos chamam de ’moço de pouca prudência e co­ Comenta ura biógrafo de Santa Rosa de Lima
lérico1, não busca informações; exige declarações (1586-1617):
de culpabilidade, que necessita para desonrar seu
Pai — tão aureolado Jâ de virtudes e de milagres "Chama realmente a_ atenção como Rosa, sendo
— e expulsá-lo da Ordem. Por isso, sem dúvida, se tão santa e favorecida pelo Ceu, pôde ser tão per­
dlrTge aos conventos de freiras. Espera atemoriza^ seguida e maltratada por pessoas que eram sincera-
-las aturdi-las. Para Isso emprega alternativa- mente cristãs e que estavam multo longe de ser
mente oferecimentos e^ ameaças. E quando não lhe Inimigas, como sua própria mãe. A explicação” é a
vale nem uma coisa nem a outra — porque não lhe que Ja indicamos. Rosa nao estava então canoniza­
valem — falsificará as declarações, escrevendo o da, nem havia sido proclamada Patrona do Novo Mun­
que não disseram, dando um sentido mau as mais
inocentes açoes * As freiras de Granada, as mais do. Era uma pobre e humilde donzela, que se esfor­
çava por seguir as pegadas do Divino Cordeiro, fu­
terrível e infamemente acossadas pelo definidor,
gindo da vaidade e do mundo, e levando uma vida
pelo fato de terem sido tão queridas pelo perse­
oculta e escondida com Deus, era Jesus Cristo. Sua
guido, assustara-se e, em vista da perversa inter­ mãe nada compreendia dessas coisas, e estava muito
pretação que se dá ao que existe de mais santo, longe de vislumbrar o futuro que estava reservado
a sua filha. Por isto, tudo o que via de estranho
358.
Secção III 359.
Secção III
e singular era sua vida, o atribuía a manias, ilu­
são ou fanatismo devoto; e se porventura alguma
vez, diante da realidade e da evidência dos fatos,
caía em si e reconhecia seu procedimento injusto,
rapidamente a paixão e o mau humor que a dominavam
voltavam a cegar-lhe, e faziam ruir seus bons pro­
pósitos .....

"Rixas, desprezos, pancadas e maus tratos


choviam a cada passo sobre a tímida e inocente
virgem, a quem nem sua delicadeza nem suas lágri­
mas podiam defender dos furiosos ataques de sua
iracunda mãe. Quem ouvisse Maria de Oliva durante
esses acessos, a consideraria a mulher mais infe­
liz do mundo por ter uma filha como Rosa. Esta
era, segundo r mãe, uma hipócrita, farsante, que
procurava enganar todo mundo com embustes e_ encan-
tamentos, uma beata perversa e^ dissimulada, que
queria fazer-se passar por sanFa, quando não era
mais do que um monstro de orgulho que se obstinava
era prosseguir com seus caprichos, mofando-se de
sua mãe e de todo mundo. ....
"Nem faltaram diretores desavisados e_ lmpru-
dentes, pouco versados nos caminhos interiores da
perfeição, que sem experiência dos princípios e_ da
sólida virtude de Rosa, censuravam sem maior exame
sua conduta, atrlbulndo-a a causas multo distantes
da verdade e da Justiça. Levando adiante -suas opi-
nioes, arrojadamente tentavam persuadir a Santa
virgem que seu modo de viver estava fora das re­
gras, que caminhava sem segurança, seguindo unica­
mente o seu arbítrio e seus caprichos, nascidos do
destempero de seus humores e da debilidade de seu
cérebro, em virtude de muitos jejuns e austerida­
des. Estas e outras opiniões expostas em publico
fomentavam sem dúvida os caprichos de Maria de
Oliva, tornando seu natural mais insuportável, e
seriam suficientes para desanimar a quem não ti­
vesse o espírito de Rosa.....
"Santa Rosa sofreu al_ oposição e^ a_ perseguição
mais rancorosa durante oito ou dez anos, da parte
do mundo, de sua família, e_> _o_ que é pior, de al­
guns maus ministros do santuário, que e_ o_ último e
mais poderoso recurso de que o^ demonlo lança mão
Santa Rosa de Lima, retratada em seu leito de morte por para fazer vacilar as almas e_ tornâ-las infiéis r
Angelino Medoro (Santuário de Santa Rosa, em Lima, Peru). Deus e à sua vocação" (P.— Fr. VICTÒftlIíO OSEhDE,
360. Secção III 361.
Secção III

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Santa Rosa de Lima,

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398. Santa Margarida Maria Alacoque


391* "Que grande graça se pudéssemos morrer foi acusada ate de possessa
decapitadas por amor de~T)eusn

Do conhecido hagiógrafo Mons. Bougaud em sua


Da vida da Venerável Virgínia Centurlone Bra- história de Santa Margarida Maria Alacoque
celli, Fundadora das Irmãs de Nossa Senhora do (I647-I69O), a quem Nosso Senhor revelou a devoção
Monte Calvário (1587-1651):
a sèu Sagrado Coração:

"A roda de Margarida tudo eram duvidas, sus­


"Apesar do zelo, não faltara as filhas Incor­ peitas e contradições. Imaginemos o que seria era
rigíveis e Inconstantes, e aquelas que depois de 1675 aos olhos de suas irmãs, as religiosas de Pa-
haverem tomado parte na sua mesa a abandonam sem ray, a nossa humilde Margarida. Deus acabava de
piedade, e aquelas que regressara ao mundo, lançan­ confiar-lhe uma admirável missão e honra inestimá­
do-se novamente nos perigos, E pois natural que vel, fazendo-a confidente das angustias e sofri­
contra Virgínia sè levantem certos progenitores a
mentos de seu Sagrado Coração; mas tudo isto as
cujos olhos a obra dela transtorna seus desejos religiosas ignoravam. Nem o padre de la Colorabiè-
infames e também muitos outros tipos que vêm sub­ re (o Beato Cláudio de la Colombière, Jesuíta),
traído, pelo selo de Virgínia, o alimento das suas
nem a superiora e muito menos a Beata lhes haviam
paixões, Então, rebeliões, zombarias, vilipêndios, revelado o segredo; sabiam somente o que viam; is­
perseguições * Pois bem, ela opõe a tudo isto uma to é, estar era oração tempo imenso; levantar-se às
calma inalterável e também entre os obstáculos de dez horas, o que sem dúvida lhe era permitido pela
todos os gêneros, se revela tal modelo de mansidão superiora, mas desusado na Visitação; atos que pa­
que causa admiração â família inteira e lhe con­ reciam singulares, como trabalhar de joelhos ê ou­
quista a veneração universal. tros que as pasmavam sem aclararem o seu espírito,
"Um dia, durante a recreação comum, fazia-se como os seus desmaios que obrigavam as religiosas
animado comentário sobre certos i fatos ocorridos na a levarem-na era braços; e, o que ainda mais atraía *\
cidade, e especialmente sobre o fim de um famoso a atenção, frequentes conferências com a superio- j
criminoso que havia sido degolado. Virgínia, entre ra, com o padre de la Colombière e outros confes- /
as filhas, comentava o ocorrido, mas fazendo salu­ sores extraordinários, conferências não muito do
tares reflexões. Eis quando uma menina insolente, agrado de Margarida e cujo motivo élas ignoravam;
uma 'coisinha1, Já acolhida de graça, no asilo, e finalmente tudo quanto traz facilmente aos lábios
que agora morria de ódio contra aquela que a rece­ palavras como estas: 1 Por que não fará a^ nossa
bera e a mantinha, se volta com despeito para as querida irmã como todas~~nos? Que desejo de singu­
outras e apontando para Virgínia, resmunga: f0h! larizar-se
porque não cortam também a cabeça desta mulher?1 "A isto acrescia um estado de êxtase singular
Virgínia escuta as delicadas palavras, sorri ura e de que acima falamos, que aumentava de dia em
pouco, e virando-se tranquila para uma sua confi­ dia, tornando-a incapaz de qualquer ofício. Ocupa-
dente lhe diz: TIrmã, que grande graça se pudésse­ ram-na na enfermaria, mas sem muito proveito, ape­
mos morrer decapitadas por amor de Deus!fn (Mons. sar da sua bondade, zelo e dedicação a toda a pro­
LUIGI TRAVERSO, Vida e Apostolado da Serva de Deus va e de sua caridade, que muitas vezes a levava a
Virgínia Centurlone Fracelll, EdlTõra Ave "Maria,
praticar atos de heroísmo tal que só o ouvi-los

*
362. Secção III Secção III 363*
repugnaria aos nossos leitores. Também a haviam
Giuiiani). A pior delas ousou dizer que aquela Ir-
empregado na cozinha, mas foi por pouco tempo,
porque tudo lhe caía das mãos, e a admirável hu­ mã estava possessa do demonlo. ....
mildade com que reparava estes seus desazos, não "Outras, menos furiosas, insinuavam que esses
impedia que prejudicasse a ordem e regularidade estados anormais de Verônica vinham de seu desejo
que devem reinar em uma comunidade. Tinham-lhe de se fazer notar. Muitas se deixaram levar de mo­
confiado a_ educação das meninas, que multo a ama­ mento por essas críticas acerbas, esquecendo a do­
vam e_ lhe cortavam pedaços do hábito como a uma çura, a humildade, a bondade, todas as virtudes
8anta, mas o seu estado de êxtase impedia-a de dessa pobre Irmã acabrunhada, e não considerando
vigiar quanto era necessário. Pobre irmã! era 1675, senão as complicações trazidas para o convento,
muito mais que em 1672, a sua vida Já não era na pelos fenômenos místicos que se davam com ela"
terra, era necessário deixá-la no seu céu! (Ctesse. M. DE VILLERMONT, Salnte Véronlque Glu-
liani, Librairie Générale CatHolique, Maison
"Acresciam ainda as doenças, curas súbitas,
Saint-Roch, Paris-Couvin, Belgique, 1910, pp.
recaídas repentinas, um estado que os médicos não
271-272 / Imprlmatur: J. M. Miest, vic. gen., Na-
compreendiam e muito menos as religiosas- Como não
murci, 1-3-1910T:
se admirariam? Como não diriam: Mas era tudo isto
não terá grande parte a imaginação, um temperaraen-
to mal regulado, e talvez alguma ~ilusão? Interro-
gavam-na^mas debalde, porque nao respondia coisa iJOO. 0s_ ímpios o chamavam de
pelo menos satisfatória ou que desse à comunidade malfeitor e de antl-Crlsto
alguma luz. De maneira que algumas chegavam a di­
zer que Soror Margarida Maria era uma visionária. De uma biografia de São Luís Grignion de
Acusavam-na de se ter apoderado do espirito da su- Montfort (1673-1716), o grande Apóstolo da devo­
perlora e do padre de la Colombiere e de lhei fa- «j ção mariana:
zer acreditar as suas alucinações. Algumas até fcT- j
ram mais longe; imaginando que/Margarida estava "A conduta de Grignion.de Montfort de tal
possessa, quando a_ encontravam, Xhe lançavam âguá forma pareceu extraordinária aos seus contemporâ­
benta" (Pe. BOUGAÜD, Vigário geral de Orleans, neos que os ímpios a_ tomavam como diabólica, cha-
lilstórla da Beata Margarida Maria ou da Origem da mando-o de malfeitor, de^ antlcrlsto, de obsesso;
devoção ao Coraçao de Jesus".~LlvrarTa~Tnternaclo- os mundanos consideravam-no extravagante, e_ os
nal, Porto-Braga, 1873V pp. 228-229). Sons pelo menos tinham-no como~e3qulsíto e fora do
comum" (J. M7 TEXIER, São Luís Maria Grignion de
Montfort, Vozes, Petrópolis, 194Ô, pp. 4M-45 /
399- Acusam Santa Verônica Glullanl Cora aprovação eclesiástica).
de querer fazer-se notar, e de estar
possessa do demônio
M01• Que Santo não foi
acusado de singularidade?

Da vida de Santa Verônica Giuiiani Da mesma biografia de São Luis Maria Grignion
(1660-1727), grande mística italiana que recebeu
de Montfort:
os estigmas da Paixão:
"Acusara-o de singularidade, mas... de igual
"Obstinada como estava em sua injusta suspei­ reprimenda fora porventura excetuado algum santo?
ta» _ela (a Superiora) escutava mais do que nunca Enfim, ura santo é singular 3omente porque se eleva
as Irmãs malevolentes e_ caluniadoras. Estas Sê" sobre o comum dos homens. Certamente que Montfort
aproveitaram disso para desenvolver uma campanha era singular, pois fazia uma guerra contínua ao
violenta contra Verônica (Santa Verónica mundo e às suas máximas falsas, porque calcava aos
364 . Secção III Secção III 365.

pés todo respeito humano, porque colocava o servi­ 1403. Se os Apóstolos tivessem temido
ço de Deus acima de qualquer consideração humana. passar-por originais,
JamalÊT teriam feito apostolado
"Não fora esta, com efeito, a_ mesma linha de
conduta que sublevara o_ mundo contra Jesus e_ seus


Ainda sobre o grande Apóstolo marial:

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Apostolos? 0 santo missionário podia, pois, repu­

c
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tar-se feliz por estar em tão boa companhia" (J.

E
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M. TEXIER, São Luís Maria Grignion de Montfortt "Certas influências, para se exercerem plena-
Vozes, Petrópolis, 1948, p” 188 / Com aprovação mente, necessitam do tempo e da repetição. São
eclesiástica). Puís Maria de Montfort deixou transformadas por um
século paroquias onde ele havia pregado durante
quinze diasV Ele passava, e não voltava mais:
402. 0 Santo desconcerta e atrás dele, seus inimigos reconstruíam às pressas
às vezes escandaliza o homem comum as barreiras, as portas e as pontes levadiças, pa­
ra que sua conquista fosse efêmera, para que seu
rosto fosse esquecido. Inúteis precauções! Sua voz
continuava a ressoar incessantemente entre as mu­
Comentário de outro biógrafo do mesmo São ralhas. Seu olhar permanecia no fundo das
Luís Maria Grignion de Montfort: consciências.....
"(0 Padre) Blain não ousava, diante de uma
"Por definição, um santo não pode ser um ho­ santidade evidente, invocar a distinção entre
mem em tudo semelhante aos outros homens. ETê nao 'preceito' e 'conselho'. Ele julgou encontrar uma
fica no plano da natureza, mas tende à perfeição boa posição de recuo criticando as 'singularida­
do Pai celeste. Seu incessante progresso em dire­
ção a_ Deus aumenta, dia apos dia, a_ distância des ' do homem. — 'Se eu tenho 'singularidades',
respondeu Montfort, é contra minha intenção. Eu
existente entre ele e as almas tornadas pesadas, não procuro tê-las. E se minhas singularidades me
imobilizadas pela carne. santo espanta a humani­
dade média.~Ele a_ escandaliza, enquanto nao a ele­ propiciam algumas humilhações, vamos! tanto me­
lhor! Deus deseja que eu seja assim para confundir
va acima dos baixos horizontes. meu orgulho'. E acrescentou, não sem espírito, que
"0 santo é um original; e ele o é tanto mais se os apóstolos tivessem temido passar por origi­
quanto em sua época, seu ambiente, seus auditó­ nais, jamai8 teriam saldo do Cenáculo" ("GEORSES
rios, estejam mais longe do céu. Ele o é porque RIGAuLT, àaint~LouÍs-Marle~ljrlgnlon de Montfort,
tem mais futuro no espírito, porque negligencia os Les Traditions Françaises, Tourcolng, 1947, pp. 92
hábitos, os preconceitos, as contingências para e 141 / Imprlmatur: Joannes Baptista Megnin, Epis-
preceder seu século no tempo, para levar seus ir­ copus EngolÍ8tnensis, 28-4-1947)*
mãos a esse fim misterioso que seu olhar de profe­
ta descobriu. Mesmo quando se encontra entre ver­
dadeiros cristãos, ele os surpreende ainda; ele .se 404. Perseguições sofridas
apoia, por assim dizer, sobre eles para se proje­ por Santo Afonso de Llgórlo
tar para o alto com mais audácia. Tendo partido de
muito alto, ele avista logo os cumes; sem orgulho, Conta uma biografia de Santo Afonso Maria de
mas sem medo, ele se interroga diante de Deus: Quo Ligório (1696-1787), a quem Pio IX conferiu o tí­
non ascendam? (Até onde não me elevarei?). E ele tulo de Doutor da Igreja:
provoca vertigens em seus contemporâneos". (GEOR-
GES RIGAULT, Saint Louis-Marie Grignion de "Afonso (Santo Afonso de Ligório) ofereceu a
Deus sua vida, resolvida a empreender a fundação
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366. Secção III Secção III 367.

pos. Com efeito, apenas dera os primeiros paBsos, fossem verdadeiras, e não puro engano, fizesse um
desencadeou-se contra ele a mais furiosa tempesta­ milagre, restituindo a razão à pobre freira. Afon­
de. 0 menos que lhe diziam sem rebuços, era que se so achava-se em Nápoles, quando recebeu este reca­
lançava numa extravagancla .... que se deixava lêp do: — Soror Maria Madalena (a enferma) acaba de
var pelas alucinações de uma visionaria .... que recobrar a razão.....
oa louvores lhe tinham feito perder o Juízo e o "Era Nápoles, no entanto, as más línguas con­
orgulho e a vangloria o cegavam. ~ ~ tinuaram a denegrir-lhe a reputação. Ripa e alguns
amigos não descansavam. 0 menos que propalaram
”0 tio, dom Mateus Qizzio, reitor do seminá­ era: Afonso e_ ura iludido, vaidoso, orgulhoso, ¥
rio, repetia-lhe era todos os tons: vergonha e a desonra do clero napolitano. ....
"— Sois uma cabeça sem miolo; deixai-vos "Mas tinham-lhe revelado que a Congregação se
arrastar pela fantasia de uma freira; não ouvis fundaria, embora tivesse de passar pela prova de
nenhum conselho; sois a burla e o escárnio da ci­ fogo, isto é, arrostar dificuldades não só exter­
dade. nas, mas, principalmente internas. Estas dificul­
dades internas são características da obra Afonsi-
"A maior campanha movia-lhe o Colégio da Sa­
na. Todas as fundações têm esbarrado com inimigos
grada Família de Jesus, onde Afonso fora pensio­ externos. Tiveram suas desarmonias internas, é
nista e onde tanto trabalhara. Para o Padre Ripa e certo; mas estas, nã vida de fundador, têm sido
seu estabelecimento,> a decisão de Afonso e sua quase sempre dificuldades que sobrevêm a toda so­
perda representava uma catástrofe. 0 antigo mis­ ciedade de homens. Na obra de Afonso, nós o vere­
sionário dos chineses esforçou-se era vão por dis- mos, não.faltaram as tramas exteriores, e cem ve­
suadi-lo; mostrou-lhe por todos os modos que sua
zes esteve a Congregação a ponto de soçobrar. Mas,
resolução era ridícula, um verdadeiro pecado se­
guir os conselhos de uma freira e abandonar o bem se grandes foram essas tormentas, incomparavelmen­
que vinha fazendo no colégio. Não tendo conseguido te maiores foram as internas e ao Fundador, na ho­
virar a cabeça de seu pensionista, dirigiu-se Ripa ra de sua agonia, não faltou uá Judas.....
a Monsenhor Falcoia numa carta que raiava pelo "Os inimigos tinham espalhado as notícias
atrevimento e injúria. Ao mesmo tempo rompeu com mais ridículas. Diziam que o Papa, informado das
os padres Pagano e Fiorilli e de tal modo amotinou pretensões de Afonso, proibira a Monsenhor Falcoia
a_ opinião pública contra esses dois sacerdotes que de ocupar-se dele e da Fundação. Alguns pregadores
ambos rogaram a_ Afonso tomasse ? por diretor ji Mon­ apresentavam-no do alto da cátedra, como um exem­
senhor Falcoia e_ os deixasse em:paz. plo de erros e de quedas, a_ que estão expostas as
almas presumlcTas e orgulhosas. Os parentes e aml^
"Ripa, esperto era manejar as armas e acostu­
gos recebiam-no envergonhados. 0 tio, reitor do
mado a ver-se sabe Deus em que questões com os
seminário, evitou encontrar-se com ele. 0 padre
chineses, de tal maneira sublevou a_ opinião e_ mo-
Ripa cerrou-lhe as portas do colégio. Nas ruas
veu guerra a Afonso, que este, todo perplexo, per-
apontavam-no com o dedo como se fosse um louco".
guntava ã sl mesmo, se em verdade seus diretores
não o haviam induzido a uma aventura. Abandonado (Pe. JOSE MONTES CSSR, Afonso de Llgórlo o_ Cava­
dos melhores amigos, dirigiu-se a Scala a manifes­ leiro de Deus, Editora Vozes,”Tetropolis, 1962,
tar as hesitações a Soror Maria Celeste (Venerável pp. 35, 36, 40, 41 e 43 /'Imprimatur: P. José Ri-
Maria Celeste Crostarosa). bolla CSSR, Superior Provincial, São Paulo).
"— Dom Afonso, esta obra é de Deus. Haveis
de ver os resultados.
"Havia naquele mosteiro uma religiosa, anciã,
que sofria de demência. Soror Maria Celeste, e
suas co-irmãs, suplicaram a Deus que, se as visões
368. Secção III Secção III 369.

405. Acusado de criar 406. E próprio dos medíocres


uma... "seita das costeletas" se escandalizarem com
õ~s Santos e grandes homens
Da mesma biografia de Santo Afonso Maria de
Ligorio: 0 célebre biógrafo de Santos, Mons. Trochu,
comenta a propósito das incompreensões de que foi
vítima o Cura d*Ars (1786-1859)-
"Entretanto, aquele admirável apostolado ia
terminar de um modo tragicôraico. A multidão que se "No grande movimento que arrastava as multi­
aglomerava era torno do zeloso sacerdote (Santo dões para Ars, bera pouco fez o clero. Aos sacerdo­
Afonso Marla~3e LlgorlÔT, crescia, sem cessar* Nu-
tes , ainda mesmo aos mais zelosos, parecia coisa
merosos eram, também, os clérigos e seculares
instruídos, que o ajudavam. A gente da cidade co­ estranha que se fosse consultar o_cura de uma pa­
róquia "de 20 ú ãXmasI rNão é homem como os outros' ,
meçava a desconfiar daqueles ajuntamentos. Alguns
se aproximavam, mais por curiosidade, ouviam a repetia a voz popular. Ah! sabiam eles. Seu porte
externo bem revelava o que na realidade ele (São
Afonso e retiravam-se edificados. Outros, talvez
com propósitos investigadores, andavam suspeitan­ João Vianney) era: Um excêntrico que seria melhor
do. .. polítlcaT.. heresia... Introduziram-se astu­ portar-se convenientemente como os outros.
tamente nas filas e descobriram uma confirmação 0 santo Cura df Ars era acusado de hipócrita
formidável de suas suspeitas... E que Afonso re­
preendia um operário ,por se entregar a mortifica­ e vaidoso, por outros padres
ções exageradas. E um cavalheiro, dom Pórpora, se­ "Sem dúvida* nos primeiros tempos, os colegas
cundava 0 sacerdote, acrescentando:
julgaram com severidade sua conduta e_ não viam em
*— Olha, filho, é preciso comer para viver. certas maneiras de agir mais do que o_ fruto duma
Se tua mulher te oferece umas costeletas, come-as orlginalTdádè afetada e_ sustentada por vaidade.
e bom proveitoIf Qualificavam de extravagante o que na realidade,
"Não suspeitava o bom Pórpora, quanto Iriam tendo era conta a_intenção, não era mais do que
caminhar as suas costeletinhas. perfeição* £ santidade.....
"Entende-se facilmente que um exterior tão
"Aquelas palavras, ouvidas de má tenção e_ in­
terpretadas de manelra~plor aincTa, correram por desleixado, cuja causa verdadeira ainda não era
toda a_ cidade: "Seita das Costeletas" • E_ começou ,a conhecida, desagradasse a todos os membros do cle­
correr o_ boato de que tudo aqullò, com aparências ro. Os sacerdotes de Lião se têm distinguido sem­
piedosas , terminava era escandaTõsas~Tãcanais . Dma pre pela dignidade do porte. Os contemporâneos do
denúncia apos outra foi chegando ao prefeito da Cura d*Ars julgaram repreensível o descuido que
cidade. A polícia prendeu logo alguns dos Já famo­ qualificavam de inconveniente. Alguns o tachavam
sos sectários, entre os quais Barbarese e Nardone. de avaro. Porventura não poderia, ainda que fossem
poucos seus rendimentos, procurar um traje mais
Interrogados, responderam que se reuniam para ou­
decente? Outros acreditaram descobrir nele falta
vir o senhor de Ligorio. Ao ouvir o nome do pode­ de senso comum. Outros ainda acusaram-no de hi­
roso patrício (Santo Afonso, da nobre e poderosa
família dos Liguori, de Nápoles), a autoridade deu pócrita possuído dum secreto desejo de chamar _a
imedlatamene liberdade aos presos; mas, dirigindo- atenção.
-se ao Arcebispo, a mesma autoridade conseguiu que
as reuniões fossem suspensas" (Pe. JOSE MONTES, "Daí o menosprezo e as antipatias contra ele
que se manifestaram era mais de uma ocasião por pa­
CSSR, Afonso de Ligorio o Cavaleiro de Deus, Edi­ lavras e até por atos.....
tora Vozes, Petropolis, T962, p. 30 7~~Imprimatur:
P. José Ribolla CSSR, Superior Provincial, São "0 P. Vianney pareceu sempre insensível às
Paulo). recriminações que não atingiam mais do que a parte
v

370. Secção III


Secção III 371.
exterior: Desposara a pobreza e como S. Francisco
de Assi8 e S. Bento Labre, trazia as insígnias Os grandes homens e os^ santos escandalizam
dessa virtude. Mas outros ataques, que foram para aqueles que vivem na mediocridade
ele pesada cruz, teve de sofrer da parte dos ir­
mãos no sacerdócio. "Só um leitor Inesperto poder-se-ia maravi­
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lhar desta guerra sorrateira, dirigida contra o
t Quiseram proibir as peregrinações Cura d’Ars por alguns de seus coleças. Ela é um
que se faziam para ve-lo dos preços da santidade. 'Qual o_ apostolo, funda­
dor de uma ordem, o revelador ou o_ indicador de
"Não passara horas amargas quando em Ars e uma devoção, destlnacTa _a ser universal, o reforma­
dor, que nao tenha tfdo que sofrer, não cTlgo Jâ~~cTe
nos povoados vizinhos a maledicência se enfurecia
contra a sua reputação de ministro do Senhor, mi­ seus inimigos, mas de seus amigos, de seus irmãos
nistro austero e casto? Agora tentavam impedir as na fé? E que todo o grande, quer seja pelo gênio,
almas que se dirigiam para ele. quer pela santidade, começa por espantar, por es­
candalizar a todos os que vivem na mediocridade e
"Seria desculpado na sua negligência (no ves­ na rotina1 (HENRI JOLI, Psicologia dos Santos, op.
tir) se fosse ura sacerdote sábio, desterrado por cit., p. 36)" (Cônego FHANCIS THOCHTIj CT“Cura
amor ao estudo, naquele rincão desconhecido do d* Ars, Vozes, Petrópolis, 2a. ed., 1960, pp. 230,
mundo. Mas seus colegas tinham boa memória: 0 Cura 231, 232 e 236 / Imprlmatur: Luís Filipe de Nadai,
dfArs era homem excelente, serviçal, zeloso, porém Bispo de Uruguaiana, 29-6-1959) •
cursara teologia? Cinco meses, a muito custo, em
Santo Irineu de Líãõ: um conhecimento quase nulo
da língua latina: uma despedida na metade do cur­ 407* .A atuação de São João Bosco suscitou
so; umas lições sem importância na casa paroquial oposições obstinadas mesmo nas fileiras
de Ecully e como fecho, a ultima paróquia da dio­ do Clerõ7 e até na proprfã Hierarquia da Igreja
cese. Pobre Cura d!Arsl E iam consultá-lo tantos
ingênuos! Que haveria de extraordinário na sua di- De uma vida de São João Bosco (1815-1888),
reção? Os mesmos conselhos — e^ inspirados por uma- vertida para o português por D. João Rezende Cos­
experiência mais longa no governo das almas — nao ta, atual-Arcebispo de Belo Horizonte:
os tinham ao seu alcance nas respectivas paró­
quias? TTao e mais perfeito do que nós*, assim se "Não podemos omitir nesta vida as páginas do­
permitia dizer um dia na. presepça da senhora CI- lorosas em que se narrara as oposições obstinadas
beins um eclesiástico, falando; do P. Vianney. 0 que o espírito precursor do Santo suscitou, mesmo
contínuo movimento para Ars, que já tomava aparên­
nas fileiras do clero, e até na própria Jerarquia
cia de uma ininterrupta peregrinação, convertia-se católica. Os historiadores da vida de São Felipe
verdadeiramente era pedra de escândalo. Já era tem­ Néri, de Santo Afonso de Ligório, de São João Ba­
po de esclarecer aqueles simples de espírito. Era tista de la Salle, de Santa Antita Thouret, nos
mister pois recorrer à autoridade superior. servem de exemplo neste ponto. Todavia Julgamos
"Assim aconteceu. Muitos sacerdotes proibiram ter conseguido aliar o respeito à fidelidade his­
a_ seu3 paroquianos, sob pena de ser-lhes negada a_ tórica com o respeito às pessoas, cujas intenções
absolvição, de irem a_ Ars. Outros fulminaram esta eram provavelmente retas e cujos desígnios eram
proibição do alto do púlpito. Alguns tomaram da honestos, embora, na expressão de São Paulo, se
Ü pena xpara fazer ver ao prelado, o novo perigo que tivessem convencido erroneamente de que davam gló­
i ria a Deus obstaculando o apóstolo" (A. AUFFRAY
ameaçava tantas almas.....
SDB, Dom Bosco, Livraria Editora Salesiana, São
Paulo, 1955, Prefácio à 3a. ed. francesa, p. 8 /
Imprlmatur: Mons. M. Meirelles Freire, Vigário-Ge­
ral, São Paulo, 9-10-19^6).
372. Secção III Secção III 373.

408. São João Bo8co, para evitar denciais, completamente alheias à política e às
más interpretações e^ coisas do governo. Quando começaram, pois, as in-
acusações, escondeu certos auirlções, eu havia levado para outro lugar tudo
papéis que nada continham de particular quanto pudesse dar o mais ligeiro pretexto para
suspeitar de relações ou alusões políticas em nos­
Relata São João Bosco era suas Memórias do sas casas" (São JOAO BOSCO, Memórias dei Oratorlo
Oratório: in Biografia y Escritos de San Juan BoscõT BA“tT“
Madrid, 1955, pp. 253-254 / Imprimatur: José Ma­
"Corria o ano de 1860. Os acontecimentos po­ ria, Ob. aux. y Vic. gral., 13-5-1955)*
líticos agitavam toda a Europa e seu centro era a
Itália. Um partido, ou por dizer melhor, uma fac­
ção, sob o nome de liberais democráticos, promove­ 409. Santa Teresinha: minha
ram o espírito revolucionário, começando do palá­ mlssãõ~~sê"~~cumprirá apesar
cio dos soberanos até o tugúrio do rude camponês e da inveja dos homen3
do pobre operário.
Sobre Santa Teresinha do Menino Jesus
"Suprimiram as corporações religiosas de um e (1873-1897), escreve o Padre Peitosa:
de outro sexo, desprezaram todas as leis da Igreja
e a própria autoridade do Sumo Pontífice; foi abo­ "Numa confidência com a Madre Inês de Jesus,
lido o foro eclesiástico, foram confiscados todos Teresinha declarou: 1 Para a minha missão, como pa­
os bens dos cabidos^dos seminários e das dioce­


ra a de Joana dfArc, a, vontade de Deus cumpri.r-se-

-
ses; fcram invadidos, em sua maior parte, os Esta­ “apesar da inveja dos homens1'w (Te. ANTONlO
dos da Santa Sé. Os dirigentes da Polícia, para

,
FÊITOSA, Santa Teresinha, a Violeta de Llsleux,
infundir terror e aparentar que não temiam a nin­ Vozes. Petrópolis, R.J., 2a. ed. refundida, "Í5557
guém, começaram a varejar domicílios privados e a

__
p. 274 / Imprimatur: D. Manuel Pedro da Cunha Cin­
encarcerar pacíficos cidadãos..... tra, 20-1-1955)*

,
"Onze vezes a nossa casa foi honrada por es­
tas visitas domiciliares ou batidas policiais. Ex­

;
porei uma delas, e por esta se saberá o teor das

11___
demais.
"Devo advertir que três dias antes da primei­
ra visita, na noite de 23 para 24 de maio, -tinha

.
tido um fsonho* que, explique-se como se quiser,
foi-me muito proveitoso. Pareceu-me que uma turba

|
de esbirros entrava nos meus aposentos, apoderava-

•!
-se da minha pessoa, revistava os papéis, os armá­
rios, as gavetas, revirando tudo. Um deles, de as­
pecto mais benévolo, disse-me ao ouvido:

Por que o senhor não retirou daqui este e


aquele escrito? Com isso teria evitado um dissa­
bor.
"Ao amanhecer, contei o sonho como uma brin­
cadeira da fantasia, o_ que não me impediu, entre­
tanto , de por rainhas coisas em ordem e_ de retirar
alguns papeis que, sem conter nada de particular,
podiam ser mal interpretados. Eram cartas conf i-r
r

Secção IV

A formação católica
tradicional,
proporcionada pelos
santos, é uma
formação viva em que,
a par da doutrinação,
a personalidade do
mestre ou do superior,
seus exemplos e
seu convívio
desempenham papel
relevante
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P§£§ uma bQ§ ÇççffliSlç QãtôlIça,

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ministra^ g çl|oçl|>

como também Inculcar a virtude

e q amor: de Deus

410. A educação do coração, do caráter


e da consciência, deve ir a ^ar
com a da educação da inteligência

Do Novo Manual do Catequista do teólogo Giu-


seppe Perardi:
"Ensinar o catecismo quer dizer, em primeiro
lugar, fazer conhecer, fazer aprender a doutrina
que ele contém. Dissemos em primeiro lugar, porque
o ensino do catecismo difere inteiramente da outra
instrução. Todo o ensino profano se dirige princi­
palmente à razão, isto é, à mente do homem, para o
levar a saber coisas que antes desconhecia, ou fa­
zê-las conhecer melhor. E perfeito todo o ensino
que fornece à inteligência um conhecimento de um
modo perfeito.

Fim do ensino religioso: não só fazer conhecer as


verdades, mas levar a prática do Bem
"Porém assim não sucede c om o ensino do cate-
cismo, que não tem em vista s omente a inteligên-
cia, mas igualmente a vontade e o coração; porque
o fim do ensino religioso (ou do catecismo) não é
só fazer conhecer•as verdades religiosas, dogmátl-
cas -e morais, mas encaminhar a_ vontade st amar a
Deus e ar praticar por amor dEle
_ o bera que Ele
quer, e a~~evltar toda ji sorte de mal.
378. Secção IV
379.

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çar, a instrução é apenas um dos meios'.
Do Ideário Pedagógico de São João Bosco (com­
A instrução enriquece a inteligência; pilação de doutrinas e diretrizes do Santo, orga­
a educaçao cultiva a alma nizada por seus discípulos, mantendo quanto possí­
vel as próprias palavras do autor):
"A instrução enriquece a. inteligência de co­ "Todos ou quase todos os educadores olham co­
nhecimentos ; a educação cultiva toda a alma. A mo principal privilégio da criança o desenvolvi­
instrução visa somente a^ inteligência; a educação mento de sua inteligência. Mas esta £ uma falta de
trabalha simultaneamente por formar a_ inteligên­ prudência, porque desconhecem ou facilmente perdem
cia- , o coração, o cãrácrter e_ a_ consciência. Por di vista a. natureza humana e _a dependência recí-
certo que não pode existir educação religiosa sem proca de nossas faculdades. Concentram todo o es­
instrução religiosa; é porém essencial atender a forço em desenvolver a faculdade cognoscitiva e o
que uma não é a outra. Dar à inteligência a sentimento, que errónea e dolorosamente confundem
instrução religiosa e não cuidar de cultivar ao com a faculdade de amar, e em compensação descui­
mesmo tempo a educação do coração, do caráter e dam completamente da faculdade soberana, a vonta-
da consciência, seria ficar muito desviado do fim dêT única fonte do verdadeiro e puro amor, da qual
que se quer atingir, muito abaixo do que é em ver­ a sensibilidade não é mais que uma espécie de apa­
dade a obra catequística". (GIUSEPPE PERARDI, Novo rência. E se se ocupam algumas vezes desta pobre
Manual do Catequista ou Explicação Literal do "Ca- vontade, não é tanto para regulá-la e fortificá-la
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-la, a destroem". (Biografia y Escritos de San


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drid, 1955, p. 443 / Imprimatur: + José Maria, Ob.


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Aux. y Vic. gral., Madrid, 13-5-1955).


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De um curso completo de religião por Catedrá­


ticos da Universidade de Bonn:
413. 0 fim supremo da educação
£ tornar bons os jovens;
"Só o saber não basta para garantir a forma­
ção moral do Indivíduo (moral positivista). _A cul­ tudo o mais são meios para isso
tura do coração ~:(da vontade) £ mais importante do Do Ideário Pedagógico de São João Bosco:
que a. cultura da inteligência. Nao é o cabedal de "Dois são os sistemas usados em todos ôs tempos na
380. Secção IV Secção IV 381.
educação da Juventude: preventivo e repressivo. i\ 114. Para preservar os bons , olho no3 maus
"0 sistema repressivo consiste em fazer co­
nhecer as leis aos súditos, depois vigiar para de­ 0 célebre princípio de vigilância de São João
tectar os transgressores e aplicar-onde seja - ne­ Bosco:
cessário o merecido castigo. Neste sistema, a pa­
lavra e o aspecto do superior devem ser severos e, "Quanto aos maus, direi apenas uma coisa que
melhor, ameaçadores, e deve evitar toda familiari­ talvez pareça inverossímil, mas se passa comprova-
dade com seus subordinados. 0 diretor, para dar damente tal qual a descrevo: suponhamos que entre
mais valor a sua autoridade, deve encontrar-se ra­ .500 alunos de um colégio haja um de vida deprava­
ras vezes no meio de seus súditos, e em geral só da. Em determinado momento chega um aluno novo,
quando for preciso castigar ou ameaçar. Este sis­ também ele viciado. São de regiões e províncias
tema é fácil, menos fatigante, e pode servir espe­ distintas, até de nacionalidade diversa; estão em
cialmente nas forças armadas e, em geral, para curso e local diferente, nunca se viram antes, nem
pessoas adultas e judiciosas, que estão em condi­ se conheceram. Pois bem: tudo não obstante, no se­
ções de saber e se lembrar por si mesmas do que gundo dia de estada no colégio, quiçá dentro de
está conforme com as leis e demais prescrições. poucas horas, os vereis Juntos durante o recreio.
Parece que um espírito maléfico os faz advinhar
quem está~ manchado pelo mesmo piche, como se um
"Diverso, e eu diria oposto, é o sistema pre­ jmã~~ demoníaco os atraísse para travar uma amizade
ventivo. Este consiste em fazer conhecer as pres­ íntima. 0 'dize-me com quem andas, dir-te-ei quem
crições e regulamentos de um instituto, e depois és' é meio facílimo de detectar as ovelhas sarnen­
vigiar, de maneira que o aluno tenha sempre sobre tas antes que se tornem lobos rapaces". (Biografia
si o olho paternal do diretor ou dos subalternos, y Escritos de San Juan Bosco, Biblioteca de Auto­
que como pais amorosos falem, sirvam de guia em res Cristianos,~~Madrid, T9557 PP* **57-**58 / Impri-
tudo, aconselhem e com carinho corrijam; seria co- matur: + José Maria, Ob. Aux. 'y Vic. gral., Ma­
mo por os_ alunos na impossibilidade moral de come­ drid, 13-5-1955).
ter uma falta. Este sistema se baseia todo sobre
a razão, a religião e o amor; por isso exclui todo
castigo violento, e procura afastar ate os mais
leves... 415- MApllquem-se ao estudo das
virtudes sólidas £ perfeitas £ façam
mais caso disso do que da ciência"
"A prática deste sistema se baseia nas pala­
vras de São Paulo que dizem: 'A caridade é benigna
Das Constituições da Companhia de Jesus, es­
e paciente; tudo sofre, tudo espera, tudo supor­ critas por Santo Inácio de Loyola (1*191-1556):
ta' . Por isto, só o católico pode aplicar com êxi­
to o sistema preventivo. Razão e religião são os
instrumentos de que deve fazer uso constante o "Que todos os que se alistaram na Companhia
educador, explicá-los e praticá-los ele próprio se se apliquem ao estudo das virtudes sólidas £ per­
quer ser obedecido e atingir o seu fim. Este fim feitas e das coisas espirituais; e_ que façam mais
supremo consiste em tornar bons os Jovens £ salvá- caso disso do que da ciência, ou outros dons natu­
-los eternamente: tudo o mais, letras, ciências, rais e humanos. Fõis aquelas são interiores e é
artes, qf íclos~ se deve considerar como meios" . delas que deve vir a eficácia dos dons exteriores
(Biografia y Es~critos de San Juan Bosco, Bibliote­ para o fim a que nos propomos". (Saint IGNACE DE
ca de Autores Cristianos, Madrid, 1955, p. **5** / LOYOLA, L'Honneur et Service de Dieu, L'0rante,
Imprlmatur: + José Maria, 0b. aux. y Vic. gral., Paris, 19****, pp. 99-100 / Imprimatur: Carolus De-
Madrid, 13-5-1955). louvrier, v.g., 31—7—19^3)•
Secção IV 383.
3^2. Secção IV
que é ainda pior, nem sabem reconhecer o grande
416. "Tiago, menos ciência e mais piedade"
defeito de sua impaciência: Tem olhos e não vê,
ouvidos e não ouve. De que vale a ciência a quem
Conta Daurlgnac em sua vida de Santo Inácio naõ têm caridade? Se conhecer toda a ciência...,
de Loyola:
mas não tiver caridade, nada sou". (Obras ascétl-
cas de San Alfonso Maria de Ligorio, BAC, Madrid,
"Tiago Tirio, Jovem escocês, entrara cheio de
zelo e de fervor na Companhia de Jesus, em 1564, e
vp\4 ,—qTT 1-, pT“íi
depois das primeiras provas do noviciado, passou
ao Colégio Romano. (D gosto do estudo fez-lhe em 4l8. São Domingos: 0 livro
breve perder o_ cia piedade. Ã" sua vontade conserva­
do amor de Deus ensina tudo
va-se inteira, so o seu gosto ia de dia para
dia enfraquecendo, e Tiago não dava por isso. Des­ De uma vida de São Domingos de Gusmão
tinava ao estudo o_ tempo que devia consagrar a (1170-1221):
exercícios de piedade, persuadido de que, sendo q
seu trabalho destinado a torna-lo mais apto para "Um jovem, extasiado pela sua eloquência,
exercer o^ santo ministério, devia ser tao agradá­ perguntou-lhe (a São Domingos) em que livros ha­
vel a. Deus como a oração, as leituras piedosas e o via estudado: ’Meu filho, respondeu ele, é_ no 11-
exame da consciência. Vendo o demônio o noviço de­ vro da caridade, mais do que em qualquer outro,
sarmado, atacou-o com violentas tentações; Tiago pois esse livro ensina tudo111. (R. P. HENRI-DOMI-
quer defender-se e desistir-lhe... Somente então NIQUE LACORDAIRE, Vle de Salnt Domlnlque, Ancienne
conhece que não pode, porque perdeu os meios, e, Librairie Poussielque, Paris, ppV 247-248 /
muito admirado da sua fraqueza, chama Deus em seu
Com aprovação eclesiástica).
auxílio com tanta força e confiança, que Deus tem
pidade dele. Num momento em que Tiago não ousava
quase esperar o auxílio que havia pedido, Santo 419. "Uma velhinha que não sabe1'nada,
Inácio aparece diante dele, olha-o com a mais co­ pode amar mais a ffeus do que Sao Boaventura"
movente expressão de bondade, e_ diz-lhe:
— Tiago, porque procurou aperfeiçoar-se Conta 0 famoso hagiógrafo Joergensen:
mais nas letras do que na virtude? Quando Nosso
Senhor o retirou do mundo e o chamou à Companhia, "E, quando, um dia, já sendo velhíssimo Frei
era para que desse este resultado? Tiago, menos Egídio (o Beato Egidío de Assis) foi visitado por
ciência e mais piedade!'". (J.M.S. DAÜRIGNAC, San- Boaventura, Geral da Ordem, a primeira pergunta
tçT Inácio de Lolola, Apostolado da Imprensa, Por- que ele fez a este doutíssimo homem foi a seguin­
to, 4a. êcT., 1958, pp. 350-351 / Pode, lmprlmlr-se: te: !Pai, poderemos ser salvos tanto ignorantes
Mons. Pereira Lopes, Vigário Geral, Porto, como doutos? — Mas sim, certamente! — respondeu
20-5-1958). S. Boaventura.— E pode amar a Deus tanto o idiota
quanto o letrado? — perguntou depois o velho
franciscano. — Urna velhinha pode amar a Deus bas­
417. De que vale a ciência tante melhor do que um mestre de Teologia!’
a quem não tem amor de Deus? respondeu Boaventura. Então Egídio levantou-se,
correu ao balcão do jardim, e, com toda a força
Diz o grande Doutor da Igreja, Santo Afonso que tinha, pôs-se a gritar: Escutai todos! Uma
Maria de Ligório (1696-1787): velhinha que não saiba nada, que nem sequer saiba
ler, pode amar a Deus melhor do que Frei Boaventu-
"Tomás de Kempis escrevia: ’No dia do juízo ra! '" fJOHANftES" JOERGENSEN, Sao Francisco de As­
não nos será pedida conta do que lemos, mãs do que sis , Vozes, Petrópolis, 1957, p. 301 / Com aprova­
fizemos1 . Ha sábios que sabem muitas coisas e que, ção eclesiástica).
apesar disso, nada sabem suportar por Deus; e, o
1

384. Secção IV

420. Oh 1 Como 3entlrla pesar


se tivesse lido todos esses livros

Dos conselhos e lembranças de Santa Teresi-

IIM
IIM
nha (1873-1897), recolhidos pela Irma Genoveva da
Sagrada Face (Cellna, Irmã da Santa):
gara loçulçaç nas almas
"Um dia em que nos encontrávamos diante da
biblioteca, dlsse-me com sua habitual Jovialidade: 2 amçç | veçíifli i §2
’— Oh, como sentiria pesar se tivesse lido
todos esses livros I | altamente útil usaç recursos sensíveis,
'— Mas por que? — repliquei. Depois de os como sejam latos históricos, símbolos e metáforas.
ter lido tratar-se-ia de um bem adquirido; eu
compreenderia que tivesses pesar por ter que os Sq |§|lm 11 tçr| um ensino riçamente vivo,
ler, mas não por os ter lido.
*— Se os tivesse lido, teria quebrado a ca­ que llUllQi i 1dSê11s|Q21|
beça, teria perdido um tempo precioso que empre­
guei simplesmente em amar a_ Deus *". (Consejos ^ e move a vontade
Recuerdos / Recogldos por Sor Genoveva de la Santa
Faz, hermana y nòvlcla de Santa Teresa cTel Nlno
Jesus, in Santa Teresita dei Nino Jesus, Obras
421. 0 ensino por melo de exemplos e
Completas, Edit. "El Monte Carmelo", Burgos, 1964,
p"* 12 4 4 / Imprlmase: Segundo, Arzobispo de Imagens £ mais eficiente:
Burgos). foi o empregado por Nosso Senhor

Do Novo Manual do Catequista do teólogo Giu-


seppe Perardi:

"Para que o ensino do catecismo possa dizer-


se deveras profícuo, instrutivo ou antes educati­
i vo, deve ser conforme à natureza, Isto é, como
oportunamente adverte D*Isengard, *deve adaptar-se
ao natural caminhar do espírito humano, à capaci­
dade e disposição da criança*.
"1. A criança, pelo seu estado natural e fi­
siológico, não é capaz de longos e difíceis racio­
cínios. Tem por Isso necessidade de que o ensino
lhe seja subministrado de modo fácil e claro, ou
(para nos servirmos do term<p dos pedagogistas) de
modo intuitivo.

Revestir de forma sensível as verdades sublimes:


o método" de Jesus Cristo no~Evangelho

"Diz-se Intuitivo o meio que torna sensível


de qualquer modo as coisas que se ensinam. Nosso
Senhor, que faz tudo bem, servlu-se sempre deste
386. Secção IV 387.
Secção IV
melo para doutrinar os homens. Por Isso Jesus Jj22. 0 ensino religioso deve ser
Cristo, no Evangelho, não se deteve em longos ra- amenoT e ilustrado por exemplos atraentes
clocínlos, mas revestiu sempre de forma sensível
as verdades mais sublimes. Do Catecismo de Francisco Spirago:

"Fala da Providência? Torna-a manifesta nas "Este catecismo é impresso em caracteres de


obras da natureza, quando nutre as avezlnhas e re­ três tamanhos. Os grandes formam como que a ossa­
veste os lírios. Ensina quem é o próximo? Conta a tura, os medianos como que os músculos, os peque­
parábola do bom Samarltano que toma à sua conta um nos como que o sangue do catecismo.
desconhecido, o qual lhe é estrangeiro pela pátria
e religião, e até inimigo porque é Judeu. Livros religiosos que se dirigem à inteligência,
mas não comovem os corações e
"Torna-se Intuitivo, quer dizer, sensível, o naõ acendem neles o amor de Deus
ensino do catecismo prlnclpalmente por melo de se­
melhanças , de parábolas, de Imagens e_ dos exem­ "Esta última parte poderia ter-se omitido,
plos . .... que o catecismo não deixaria de conter as verdades
da religião católica; mas assemelhar-se-ia a um
homem completamente anêmico. Ora, catecismos des­
Ensinar as verdades pela narração de fatos ses , e manuais de instrução religiosa, anêmicos e
que se dirigem unicamente a_ inteligência, há mui­
tos ; e_ assim como um homem sem sangue nao~1T bom
"Para; que a narração dum fato se torne eficaz para o_ trabalho, assim" á maior parte desses Tlvros
é preciso que seja breve, não refira particulari­ foram incapazes de comover o_ coração dos cristãos,
dades inúteis, seja viva, colorida, dràmática: e_ de_ acender neles o_ fogo do amor de Deus e do
quer dizer, é necessário que os personagens falem próximo, efeito que devia produzir todo o livro
como se estivessem presentes. Narrar bem um fato é religioso, todo o sermão e todo o catecismo, dig­
uma das coisas mais difíceis; e do efeito depende nos desses nomes. Esses livros careciam sobretudo
era grande parte o ter presa a atenção dos alunos do calor da expressão que convence e vai ao cora­
em toda a lição, ou vir a enfastiá-los. Ao contar ção, da força Juvenil e vivificante que é própria
ura fato tenha sempre o Catequista presente o fim da palavra do Espírito Santo.
prático que quer obter, pois que não se deve ter
nunca por escopo satisfazer apenas a curiosidade; Linguagem simples e sem artifícios,
e tenha-se presente não um fim prático geral, mas como a do Salvador e dos' Apóstolos
particular, bem determinado, que esteja em eviden­
te relação com a verdade de que se trata, ou que "Este catecismo tem por fira formar igual e
se ensina. simultaneamente as três faculdades da alma, a in-
teigência, o coração e a vontade; não gira, por­
"As imagens (especialmente em quadros) devem tanto, em torno de simples definições. 0 fim prin­
ser suficientemente grandes para que todos possam cipal deste livro não é_ fazer do homem uma especie
vê-las e seguir a explicação. Multas verdades Já de filosofo religioso, senão fazer dele um bom
de fé, já de moral são mais facilmente apreendidas cristão, que pratica alegremente sua religião.
em cinco minutos de ilustração com uma imagem, dõ .•.. Tudo que se escreve para crianças ou para o
que com longos raciocínios" ~(GIUsEPfE FERÃRDT7 comum dos fiéis', deve ser escrito em TTlnguagem
Novo Manpal do Catequista ou Explicação Literal do simples e sem artificio, como a_ que usavam o Sal­
"Catecismo da Doutrina Crista", publicado por or­ vador e_ os apóstolos; estes escritos são feitos

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dem de S. Pio X, União Gráfica, Lisboa, 3a. ed. , para ser compreendidos, para comover os coraçoes

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dar ação as vontades, e_não para formar sábios 7

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1939, pp. 19-20 / Imprlmatur: Em. Card. Patriar-
cha, Olisipone, 3-2-1939). ainda menos para martirizar o espírito com ter-
388. Secção IV
Secção IV 389.
mos ininteligíveis e tornar a religião fasti­
diosa..... e viva palavra, com sua facilidade, sua variação
de cadência, familiar ou veemente, satírica ou
Por meio de máximas , figuras ej exemplos, meiga, alegre ou patética, traindo, às vezes", o
dar amenidade £ gosto aos ensinamentos
sorriso sobre os lábios do orador, outras o^ tremor
"Desejo também fazer observar que doutrina comovido da voz, misturada de lnter jelgoes, de
da Igreja não é_ apresentada num modo seco, antes a_ apóstrofes, de perguntas e de respostas, as vezes,
tornamos, atraente — transformando-a, por assim áindlü quase dramazlnhos vlvamente encenados,
dizer, em lições de coisas — por meio daq figu­ cheios cte verve, alia gagllardeza, como ele mesmo
ras , dos exemplos, das máximas, das citações de 5 declara, Ele vai, vem, repete, insiste sobre as
homens ilustres, o^ que dá a estes ensinamentos idéias que sente imperfeitamente compreendidas,
amenidade e gosto". (FRANCISCO_SPIRAGO, Catecismo segue os rastos que surgem, obedece às inspirações
Católico Popular, União Gráfica, Lisboa,-5ã~I ed. , que lhe vêm das circunstâncias, interrompe-se para
I Parte, pp.. 10-11 / Imprimatur: E.M., Car. Pa- dar ura aviso; e, quando depois verifica seu afas­
triarcha, 26-10-1950). tamento do assunto, ele mesmo chama à ordem: 'A
casa, diz, tornlamo a casa1.
423. São Bernardlno de Sena,para expor Agir segundo as necessidades do auditório
£ comprovar seus ensinamentos morais, prefere "Nisso tudo, Bernardlno não obedece à_ sua
as comparações tiradas da vida de cada dia
fantasia, age segundo as necessidades do seu
Lê-se em uma biografia de São Bernardlno de público, tais como as compreendeu de antemão,
tais, também, comc) as verifica no momento. Sente-
Sena (1380-1444): -se que, em nenhum instante, ele deixa de ter os
"E, portanto e seguramente, o mesmo homem que ouvintes sob seus olhares, advinhando, por sua
escreveu os sermões latinos e pronunciou os de atitude, se estão distraídos ou emocionados, con­
língua vulgar; o que não quer dizer que sejam os vencidos ou resistentes e que mbdifica seu dlscur-
mesmos sermões, nem o mesmo gênero de sermões* Ao sõ~t de acordo com a oportunidade. 'Vejo bem por
contrário, são muito diferentes. Sem duvida, quan­ certos sinais — dizia-lhes — quando não ouvis de
do prega na praga de Sena, Bernardlno não se livra boa vontade: uns se mexem, outros levam a mão à
daquelas divisões, e subdivisões e classificações cabeça, outros se viram'.....
escolásticas que combinava tão subtilmente, de pe­
na na mão, em sua cela; até vê nelas um ponto de Em lugar das considerações abstratas,
apoio, a que, no meio dos arroubós da improvisa­ ãs figuras, as Imagens, os exemplos da vida
ção, sujeita-se e não se afasta; seu exórdio con­ quotidiana e da natureza
siste muitas vezes em indicar e numerar as divi­ "Dominado por esta mesma preocupação, dá à
sões, sua peroração em lembrá-las (o escriba dis­
sua palavra um jeito que a torne apreciada e seja
pensava-se às vezes de apanhar esta espécie de re­ facilmente entendida da multidão. Recorre de bom
memoração e limitava-se a indicá-la — cf. p. ex., grado às locuções populares, aos lugares comuns,
Le Predlche volgarl, t. I. d* 238. 306: t. II. d* aos provérbios. Tara expor e_ comprovar seus ensl-
3F7), e, em cada transição, torna a elas fielmen­ nõs morais, prefere^ as considerações abstratas",
te. Porém, nos pontos assim pré-estabelecidos, es- as Imagens, as comparações tiradas de assuntos fa-
tende-se, anima-se e se acalora. millares a seu auditório, da vida de cada dia, do
lar. da cozlnKã. dos brfnquêcTos infantis, das pro-
Em vez da argumentação metódica, Fissões, das coisas da natureza, das plantas, das
a palavra livre e viva
pedras, dos animais, sobretudo. Acham-se essas
11 Em vez da argumentação metódica e_ não raro imagens, essas comparações, quase em cada página
um tanto áspera dos discursos escritos, £ a_ livre dos sermões, às vezes em poucas palavras, outras
desenvolvidas ao ponto de formar pequenos quadros
390. Secção IV Secção IV 391.

de cores vivas e frescas. curtas cenas atraentes e sobre os leigos; e necessário Juntar à ciência das
pitorescas Testas Imagens, estas comparações são Escrituras, 3em a qual não se adianta um passo,
tao frequentes que custa escolher algumas. Nota­ exemplos animadores, recreativos e, ao mesmo tem-
mos, ao acaso, sóraente no primeiro volume, o aco­ no. edTficiantes. Os que censuram este modo de
lhimento feito ao cão estrangeiro pelos cães que pregação não suspeitam dos frutos que podem produ-
vão beber — p. 151 —, a mosca que cai na sopa do zir). Os seus exemplos provinham dos autores anti­
marido guloso — p. 199 4—, a criança caída no lo­ go?, das lendas dos santos, das crônicas, dos con­
do e a quem a mãe vem levantar — p. 335 — etc., tos populares, dos apólogos em circulação. Pelo
etc; ver,, também no t. III, p. 296, o semeador que caráter de universalidade próprio a essa época,
pretende afugentar os corvos com um manequim empu­ formavam uma espécie de fundo comum a todos os
nhando um arcabuz). Era, aliás, um costume dos países da cristandade. Várias coleções tinham sido
Pregadores da Idade Media: usavam, para es3e fim, feitas para uso dos pregadores.....
uma historia natural7 às vezes, muito fantasista,
de que os manuais do tempo, Bestiários, Volucrá- Linguagem apropriada às circunstâncias
rios, Lapidários ou outros forneciam os elementos. e ao publico a que se destina
1 Tantas propriedades — dizia no décimo segundo
século Hugo de Salnt””Vlctor — existem nos objetos "Este modo de pregação popular foi às vezes
visíveis e corporais. tantas aplicações se podem criticado por certos cronistas que se admiram de
achar para a vida Interior da almarT~Ho decimo que monges da Idade Média não falassem em plena
sexto século Sao Francisco de Sales empregaria praça pública, a uma multidão ainda ingênua e ru­
ainda este método, e sabemos com que graça, em de, com o modo dos bispos pregando na corte de
seus livros de espiritualidade. Luís XIV. Este juízo prova estreiteza de espírito.
A eloquência deve ser apropriada às circunstâncias
Exemplos e_ historietas recreativos e edificantes: e a_ melhor é a que mais age sobre o audltorlo a
um método que é de toda? as épocas* que se destina. Ora, nunca teve a palavra religio­
sa”” tanta influência sobre o povo como no tempo em
"Sempre em intenção de seu auditório popular, que se empregavam os meios de' que fingem se escan­
Bernardlno introduz, de_ vez em quando, no corpo de dalizar" (PAULO THUREAU-DANGIN, São Bernardlno de
Sena, Vozes, Petrópolis, 1937, PP* 164, 165, 16F7
seus discursos, curtas novelas ou apólogos conten­
do uma lição de moral (o Sr. Zambrinl publicou, em 167, 168, 170 e 171 / Com aprovação eclesiástica,
18787^ uma coleção de trinta e oito Novellette. 23-6-1937).
Essempl morall Apologhl, extraídos dos discursos
de Sena). 0 laço que liga ao assunto tratado é, às
vezes, um pouco frouxo e artificial, torna visível 424. Santa Tere&a d'ávlla tinha
que a intenção do orador foi sobretudo descansar e a qualidade distintiva dos gênios:
recrear seus ouvintes. o .que não era inútil com o uso de metáforas e comparações
sermões de várias horas. .... apropriadas ao fim visado
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retamente a_ meta" CWILLIAM THOMAS WALSH, Santa
Teresa de Avila, Espasa-Calpe, Madrid, 1951, p.
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425. Santo Antonlo Maria Claret econtrava


sempre exemplos, semelhanças,
comparações na natureza, que tornavam
compreensíveis os mistérios da religião

Sobre o estilo do Fundador dos Missionários


Filhos do Imaculado Coração (Claretianos):
"Diz uma testemunha: 'Seu fervor evangélico,
seu zelo solícito pela causa da Religião, conver­
tem-se num inspirado de Deus, num lmprovlsador ad­
mirável que nunca esgota matéria, antes pelo
contrario, sempre encontra exemplos, semelhanças,
comparações na naturez.a, que tornam compreensíveis
ao povo os mrsterlos da Religião' ■
"0 próprio P. Claret (Santo Antonlo Maria
Claret) ^anota: '0 que eu observei e^ sei por expe­
riência é que quando faço um sermão em termos cor­
rentes e simples, acompanhando-o de algumas compa­
rações e exemplos e descendo até aos detalhes, to­
do o audltorlo fica multo atento e_ sem se cansar,
ainda que o sermão dure sete quartos de hora, como
já me aconteceu; mas se alguma vez me sal um pe­
ríodo longo, se uso termos pouco comuns ou tomo um
estilo algo elevado, vejo que os ouvintes perdem o
fio do discurso, tossem, não me entendem; em tal
caso faço-os voltar a_ s_i contando-lhes um exem­
plo '" (San ANTOfltO MARIA CLARET, Escritos autobio­
gráficos £ esplrltuales, BAC, Madrid, 19591 PpV
T0-11~/ Imprimatur: Blasius Budelacci, Ep. Nissen.
9-2-1959TT

426. A diferença que vai entre um pensamento


expresso secamente e_ outro com uma Imagem. . .

Escreve o conhecido filósofo espanhol do sé­


culo passado Padre Jaime Balmes (1810—1848):
"Entre um pensamento expresso secamente e ou­
tro revestido de uma imagem feliz, existe a mesma Santa Teresa d’Ávila. Quadro de pintor anônimo do século
diferença que aquela que há entre uma bala atirada XVIL Real Academia da Língua, em Madrid.
394. Secção IV
Secção IV 395.
com a mão e outra disparada com fusil” (Apud Lee-
Regra3 para a formação de hábitos
turas Graduadas — Literatura Espanola, Editorial
FTD, Barcelona, 19251 livro IV, p. 203).
"Primeiramente, quando um homem deseja lem-
brar-se de alguma coisa, deve lançar mão de repre­
427* Porque e necessário o emprego de sentações incomuns, pois que o incomum nos chama a
imagens, símbolos e metáforas atenção e, portanto, produz uma impressão maior e
mais forte no espírito. Eis aí a razão de nos lem­
De um livro sobre a Filosofia da Educação brarmos mais do que vimos quando crianças. 0 moti­
de São Tomás de Aqulno: vo pelo qual o emprego de tais representações ou
imagens é necessário é que impressões simples e
"A razão pela qual é necessário que haja ex­ espirituais, cora facilidade nos fogem da memória,
periência sensível« a fim de haver ato de conheci­ a não ser que estejam, por assim dizer, ligadas, a
mento perfeito, é que sem essa experiência do mun­ alguma imagem material, visto como o_ conhecimento
do exterior, o espírito só conhece, vagamente, um humano se prende mais a objetos sensíveis. Assim
objeto, sem determinar-lhe as propriedades. Para sendo, a memória e atrTbuida à parte sensível da
que o espírito conheça perfeitamente alguma coisa alma” (MARY HELEN MAYER — EDW. A. FITZPATRICK,
é preciso que saiba, não somente 'o que essa coisa Fllosofofia da Educação de Santo Tomás de Aqulno,
éf, mas, ainda, o que faz..... Adaptação do inglês por M. I. de Moraes Card.
Texto latino, traduzido e anot. por Van Acker, Li­
A; imaginação construtora vraria Editora Odeon, São Paulo, 1936, pp. 183,
"Coisas imateriais, das quais não possuímos 198, 199, 207 e 208).
lmagensl sao-nos conhecidas, por melo da compara-
çao com os corpos sensíveis, de cue existem ima­
gens . ÃssTrn, concebemos a vercTade, considerando 428. Gostava de ilustrar seu
uma coisa cuja verdade contemplamos..... Donde, pensamento por melo de exemplos, vivos
para compreendermos qualquer coisa dos seres ima­ e_ reminiscências pessoais
teriais, devemos recorrer às imagens dos corpos,
embora estas não sejam apropriadas aos objetos De um livro sobre o ilustre Abade de Sept-
imateriais. Fons (França), D. Jean-Baptiste Chautard (1858
1935):
"Compreende-se, facilmente,; a grande impor­
tância de possuirmos imaginação bem provida de "Quanta vida era suas palavras! As menores ex­
imagens, ou seja, bom armazenamento de experiên­ pressões tomafti na sua pronuncia um relevo, subli­
cias sensíveis..... nhado, em caso de necessidade, por uma mímica ex­
pressiva. Dora João Batista nasceu orador, no sen­
Os símbolos e a aprendizagem tido de que ele possui o dom de conquistar seu au­
"A razão pela qual o mestre 'pode levar à ditório. Tem ele para isso a preocupação da roupa­
ciência, mais fácil e rapidamente do que qualquer gem literária? Modela seu pensamento em períodos
outra pessoa o poderia fazer por si mesma* ê a se­ harmoniosamente balanceados? Não, por certo. Ja­
guinte: o mestre, tendo completado o ato de conhe­ mais Dom Chautard parou para burilar uma frase.
cimento, apresenta seu conceito, por melo do sím­ Teria sido mesmo uma impossibilidade para ele, era
bolo, 'tendo palavras do mestre relação mais dire- virtude da riqueza de seu pensamento, que^escapa a
ta, no despertar o conhecimento, do que os simples todos os esquemas. 0_ que faz sua força, £ o movi­
objetos perceptíveis, extra-mentais1. As palavras mento mesmo de seu pensamento. Somente a_ ideia in­
do mestre representam seus conceitos e estes são a teressa. Ele a meditou longamente sob o olhar de
sabedoria distilada de um espírito que re­ Deus. Ele esta penetrado dela até o fundo da alma.
flete..... Todas suas faculdades estão concentradas nesse
único pensamento. Então ele fala. E antes de tudo
396. Secção IV Secção. IV 397.

'
uma exposição sóbria, clara, precisa. Depois as 430. A conversa, a grande arte
palavras Jorram, se atropelam, repetindo a idéia, de ensinar de um Santo:

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enriquecendo-a pouco a pouco. Ele revela sua visão Sao Luís, Rei de França

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interior era frases bem acentuadas, diretas, que

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ele deixa frequentemente inacabadas, para as con­ De uma história do grande São Luís IX
densar em fórTnulas concisas, bem cunhadas, com (1214-1270):

-
imagens sempre precisas. Ele gosta de ilustrar seu
pensamento, de o apresentar vivo, por assim dizer, "A conversa era, de modo análogo, sua grande
encarnado; é então um exemplo vivido, uma lembran­ arte de ensinaria seus filhos. Ele (São Luís) os
ça pessoal, uma narração pitoresca, uma descrição recebia de manhã ou de tarde e os levava passear.
em alguns traços vigorosos e_ seguros1' (ABBAYÉ u'E Longe de proceder por meio de sermões ou por essas
SEPT^FONST Un Molne7 Dom Jean-Baptlste Chautard, exposições doutrinárias que são sempre mal compre­
Abbé de Sept^Fons, (l85b-1935)7 Domplerre-sur-Bes- endidas e tacitamente mal recebidas pelas gerações
bre, pp.66-67 / Imprlmatur: Georgius, Episc. Moli- que sucederam à nossa, ele contava-lhes histórias:
nensis, 27-12-1944). eram relatos tirados dos feitos e gestas dos Reis
e Imperadores e de outros grandes personagens que
haviam desempenhãcFo um papel útil e benfa.zejo, e
429. A narração de fatos é que podiam, assim, servir de exemplo; ou de feitos
excelente recurso apologético dos maus condutores de povos, ou dos maus Reis
que, por seus vícios, rapinas, avareza ou neceda-
Escreve em suas Memórias o Cardeal de, haviam perdido seu reino.
Mindszenty, heróico lutador contra o comunismo: "Ele próprio escolhia os mestres e professo­
res de seus filhos e acompanhava 'suas lições'.
"Ao longo de meus anos de Padre, adquiri a_ Antes de se deitar — conta Joinville — fazia vir
convicção de que se deve sempre apresentar os~fa­ os seus filhos, e então é que desempenhava seu pa­
tos como argumentos por ocasião de discussões apo­ pel de educador paternal" (HENRY BORDEAUX, Un
logéticas ou filosóficas. E por esse motivo que precursor: Vida, Muerte £ Supervlyencia de San
juntei, durante meus momentos de descanso e não Luls, Hey de~Francla, EspasaLÇalpe Argentina. Bue­
sem dificuldade, documentos e obras históricas. nos Aires, pp. 304-305).
Este trabalho me agradava. Ele se revelou muito
útil, e os conhecimentos que adquiri me prestaram
grandes serviços no cumprimento de minhas tarefas
e de meus deveres. Esses estudos históricos, por
outro lado, enslnaram-me que, na luta das idéias,
o raciocínio abstrato e_ as teorias puras nao são
de grande ajuda.....
"Fosse na cidade ou no campo, em minhas alo­
cuções eu fazia sempre alusão aos fatos históricos
locais que me haviam contado. E uma característica
bem humana que cada qual seja orgulhoso da histó­
ria ou do passado de sua família, de sua cidade,
de sua aldeia natal ou de sua nação. 0 historiador
sabe que existe uma ligação organica entre o pre­
sente e o passado das comunidades. Pode-se, pois,
utilizar a história para despertar a consciência
religiosa e aprofundar a vida da fé" (Cardinal
MINDSZENTY, Mémoires, La Table Ronde, Paris, 1974,
pp. 130, 131 e 136).
III

Q exemplo de uma vida santa,


pop parte do superior
qu do mestre,
I melg de grande eficácia
p§r§ tocar os corações e
lnduglç as almas à pratica do bem

431. Conselho de Nosso Senhor: Para ser perfeito,


o discípulo deve imitar o mestre

Do Evangelho de São Lucas:**

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o mestre; mas to­

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432. 0 Cristianismo se espalhou mais
pelo espetáculo dos costumes cristãos
do que pela discussão

Escreve Dom vChaiitard, o famoso Abade de


Sept-Fons (1858-1935):

"_0 cristianismo propap;ou-se, menos por fre­


quentes e_ longas discussões , que pelo espetáculo
dos costumes cristãos, tao opostos ao egoísmo, 1[
injustiça e_ à corrupção dos pagaos" (Dora J. B.
CHAUTARD, A. Alma de todo Apostolado, Editora Cole­
ção F.T.D. Ltda., São Paulo, p. IT4 / Relmprlma-
tur: Vicente Zioni, B. Aux. - V. Geral,
22-8-1962).
400. Secção IV
Secção IV 401.
433. Ura gesto expressivo, a maneira de fazer
ça do3 argumentos manlfestara-se então menos que o
o sinal da Cruz, de dizer uma oração, Verbo Interior, o Verbum docens, falando por meio
podem ter mais eficácia do que um sermão
da sua criatura. Verba quae ego loquor vobls, a
meip8o non loquor. Pater autem ln me manens, lpse
Afirma em seu famoso livro A Alma de todo faclt ópera (As palavras que eu vos digo, não as
Apostolado, D. Chautard: digo de mim mesmo, mas o Pai que está era mim, ele
mesmo faz as obras — Jo., 14, 10).
"0 professor sem vida Interior julga ter cum­
prido o dever, conservando-se exclusivamente den­
tro das balizas de um programa de exame. Se fora 0 apóstolo seip vida interior pode, interessar
interior, uma frase que lhe escapasse dos lábios e passageiramente, mas não dá vida às almas
do coração, uma comoção que se lhe espelhasse no
rosto, ura gesto expressivo, que digo? s£ a_ maneira "Influência profunda e duradoura, muitíssimo
de fazer o_ sinal da cruz, de dizer uma oração an­
mais profunda que a admiração superficial ou a de-
tes ou depois de uma aula, embora fosse aula de voção passageira, que o^ homem~~sem espirito inte­
matemática, poderiam exercer maior eficácia nos rior pode excitar. Esse pode levar o auditório a
alunos que um sermão*1 (Dom J.B. CHAUTARD, £ Alma dizer: Isso parece verdadeiro e interessante. Ora,
todo Apostolado, Editora Coleção F.T.D., Sao essa impressão não passa de um sentimento total­
Paulo, p. 114 / Reimprimatur: Vicente Zloni, B. mente impotente de si mesmo para dar às almas uma
Aux. - V. Geral, 2S-d-1962). fé sobrenatural e fazê-las viver dessa fé.

434. A pregação pelo exemplo


Uma linguagem que fale menos ao espirito
há de ser sempre a
principal alavanca do apostolado e mais ao coraçao

"Irmão Gabriel, leigo trapista,exercendo as


Escreve D. Chautard:
funções de segundo hospedeiro, reavivava a fe de
numerosos visitantes multo melhor do quê vingaria
"Por melo da vida Interior o_ apostolo Irradia faze--lo um sacerdote douto, mas cuja linguagem fat­
fé. — A presença de Deus nele patentela-se as iasse mais ao espirito que ao coração. 5 general
pessoas que o_ ouvem. Miribel lã as vezes conversar com o humilde frade
e comprazia-se em dizer: Venho retemperar-me na
5 Deus quem fala pelos lábios fé.
do apostolo de vida Interior

**A exemplo de S. Bernardo, do qual se disse: 0 ato de fé não £ mero ato da inteligência
Solitudlnem cordls clrcumferens ublque solus erat,
o apóstolo isola-se das outras pessoas e destarte 11 Amiudadas vezes, aqueles que têm a mlssão^de
logra ficar interiormente solitário;- mas logo se ensinar só vêem no ato de fe um ato de Inteligên­
entrevê que ele não está só, que tem no coração um cia, quando ele depende também da vontade. Esque­
hóspede misterioso e íntimo, com o qual volta a cem-se de que o crer e dom sobrenatural e que há
conversar a cada momento, e que não fala senão de um abismo entre a percepção dos motivos de credi­
acordo com a direção, conselhos e ordens dele. bilidade e o ato definitivo de fé. Só Deus e a boa
Sente-se que é sustentado e guiado por esse hóspe­ vontade daquele que é ensinado logram preencher
de e que as palavras saídas da sua boca apenas são esse abismo; ah! mas como ajuda a preenchê-lo a
0 eco fiel das palavras desse Verbo interior. Qua- reflexão da luz divina produzida pela santidade
s 1 sermones Del (I Ped. , 4, !!)._£ lógica e. a_ f or- daquele que ensina!
402. Secção IV Secção IV 403»

Discursos retóricos nao bastam; Não basta ensinar a evitar o mal:


só a palavra do homem verdadeiramente e~“preclso mostrar a prática do bem
unido a Deus“ toca os corações
"'Qual é esta religião capaz de assim ilumi­
nar, fortificar e inflamar o coração humano?1 ex­
"Como é viva a palavra de consolação do homem clamaram os pagãos extasiados diante dos maravi­
que, sem mentir, pode aplicar a si mesmo o Hostra lhosos efeitos que conseguiu produzir a liga táci­
conversatlo ln coells est (A nossa conversação es- ta da ação pelo bom exemplo.
t~S. no s ceus, Filip. 20)! Outro qualquer, cora
mais frases e retórica, pode falar das §.legrias da "A força desta liga que existia entre os pri­
pátria celeste; seus discursos serão, porem, in- meiros cristãos não provinha certamente da única
frutuosos: ao passo que uma só palavra do primei­ prática do declina a maio (Salm. 36). A abstenção
ro, palavra convincente e reveladora do estado de dos atos condenados pelo Decálogo não teria sido
alma daquele que a pronuncia, bastará para acalmar capaz de gerar, Juntamente com admiração, o
essa perturbação, aliviar essa tristeza, fazer enérgico e poderoso desejo de imitar. E antes de
aceitar com resignação uma dor pungente. E que a tudo, ao fac bonum que se prende o exempla tra-
virtude da esperança, do homem interior, passou hunt. Era de mister todo o brilho das virtudes
irresistivelmente para uma alma que Jamais talvez evangélicas, tais quais o Sermão na montanha as
fosse acalentada por essa virtude e que se iria tinha proposto ao mundo" (Dom J.B. CHAUTARD, A^ al-
abismar na desesperança. .... ma d_e todo Apostolado, Editora Coleção F.T.D., São
Paulo, pp. 118 a 120, 122-123, 149-150 / Relmprl-
matur: Vicente Zioni, B. Aux. — V. Geral,
"Transfigurado pelo amor divino, o apóstolo 27^1962).
atrairá sem esforço a simpatia das almas: In boni-
tate et alacrltate anlmae suae placult TTgnadou
por causa da sua fé e da sua mansidão, Ecli. 45, _ f
435* Uma teoria que não fosse confirmada
5, 4). As suas palavras e os seus atos serão re­
pela vida do mestre tornar-se-ia inútil
passados de bondade, dessa bondade desinteressada,
que não se assemelha àquela que é inspirada pelo Afirma Dom Ildefonso Herwegen 0SB, Abade de
desejo da popularidade ou pelo egoísmo sutil.....
Maria-Laach (Alemanha):
"Mas os corações duros e_ os espíritos incul­
"Numa palavra, a bondade torna-nos como deu­ tos devem ser convencidos do valor eterno da lei
ses uns para os outros. E a manifestação deste divina por meio do exemplo do pai. 0 que é contra­
sentimento nos*homens apostólicos que lhes atrai rio a palavra e ao mandamento de Deus, reconhece-
os pecadores e que desta sorte concorre para a sua -se de antemão, porque o abade o condenaj e ele
conversão..... mesmo nunca o faz. 0 resultado da doutrina minis­
trada pelo abade deve ser, pois, antes de tudo,
Os exemplos arrastam sua própria vida. A_ pedagogia antiga, segundo a
qual a ação deve se manifestar pelo exemplo, con­
"A_ pregação pelo exemplo há de ser sempre a serva era S. Bento toda a sua força. Ò exemplo do
alavanca principalt pois só exempla trahunt (os abade tem de refletir a verdade plena e total. Uma
exemplos arrastam). Conferências, bons livros, im­ téorla ;que não fosse confirmada pela vida do mes­
prensa cristã ¥ os próprios sermões excelentes, tre tornar-se-ia inútil e levaria ao solapamento
tudo deve gravitar em redor deste programa funda­ da vida monástica. A boa doutrina do abade seria
mental: Organizar o apostolado entre o povo pelo então desmentida pelos atos de sua vida" (Dom IL-
exemplo áe crlsTaos fervorosos, que fazem reviver DEF0NS0 HERWEGEN 0SB, Sentido e Espírito da Regra
a Jesus Cristo, exalando o perfume de suas virtu­ de São Bento, Edições "Lumen Christi", Rio de Ja-
des. • • • • neiro, 1953, p. 73 / Com aprovação eclesiástica).
Secção IV ^05.

436. Toda a pedagogia doa antlgoa


baseava-se no exemplo e na Imitação

Uma vez mais o livro sobre o Espírito da Re­


gra de São Bento, pelo Abade de Marla-Laach, na
Alemanha: ”A observância da Regra, que tem Igual
valor para todos (f communls *) é a lei básica da
existência dos mosteiros. 0 exemplo dos mais ve­
lhos, ao contrário, parece antes ser um estímulo
subjetivo, sem obrigatoriedade. E contudo, toda a
pedagogia dos antigos — Já fizemos menção disto
— baseava-se no exemplo e na Imitação. Também pa-
ra o_ CrlstlanlBmo, a_ lmltaça~o de Cristo tornou-se
principio educacional. Com a_ exortação 'Imltatores
mel estote, slcut et ego Chrls tl1 PT7 lTT; 11, 1)
que Fãulo repete por duas vezes na primeira
Epístola aos Coríntlos, o que ele quer é educar t
como mestre, os seus discípulos, segundo o_ próprio
modelo, de tal modo que se conformem ao exemplar
do mestre. Ser Imitador de Cristo foi também, des­
de o início, o sentido do estado monástico. Por
isso os antigos monges são os modelos dos mais no­
vos. As relações de mestre e discípulo consistem
nesta reciprocidade” (Dom ILDEFONSO HERWEGEN OSB,
Sentido e Espírito da Regra de São Bento, Edições
"Lumen Christi”, Rio de Janeiro, 1953, p. 137 /
Com aprovação eclesiástica).'

JJ37. 0 dever essencial do Geral da Companhia


é de governá-la pelo exemplo de sua vida
Ensina Santo Inácio de Loyola:
”0 dever essencial do Geral não é pregar, nem
confessar, nem fazer qualquer outra coisa seme­
lhante... mas governar todo o corpo da Companhia
... Ele cumprirá esse dever sobretudo pelo peso e
o_ exemplo de sua vida, por sua caridade, seu amor
pela Companhia em Cristo Nosso Senhor, por sua
oração contínua e cheia de desejos, e por suas
missas, que lhe obterão a graça desta conservação
e deste crescimento. Porque estas coisas que ele
pode fazer por s.i mesmo, são as que devem ser as
mais preciosas a_ seus olhos, e nas quais ele deve
ter mais confiança no Senhor, por elas são as mais
eficazes para obter graças da Majestade Divina,
que Ela so pode nos dar tudo que pedimos” (Saint
IGNACE DE LOYOLA, L'honneur et Service de Dleu,
Textes et témoignages recueillls par le Fere Paul
407.
406. Secção IV Secção IV

bera não pode fazer um Inspetor cujos alunos possam


Doncoeur, A L’Orante, Paris, 1944 , p. 168 / Imprl- dizer: fNosso inspetor é um santo!* (Instrucclón
matur: Parisiis, Carolus Delouvrier, v. g. ,
TTT^1943). para I03 profesores jóvenes).
n0s Gerais da Companhia não têm cessado de
438. Nos só sistema de educação repousa recordar, era todas as épocas da história, que nos­
prlmordlalmente sobre a eficácia da virtude so sistema de educação repousa, prlmordlalmente,
sobre a eficácia da virtude" (F. CHARMOT SJ, La
De um livro sobre a pedagogia dos Jesuítas: pedagogia de los jesuítas, sus princípios, su ac-
tualldad'7 Sãpientiã S. À.de Ediciones, MãcFrid7
nf0 educador — escreve Sacchini — deve ser 1952, pp. 285-286 / Imprlraatur: José Maria, Obisp.
a forma exemplar de todas as virtudes* Mas porá aux. y Vic. General, Madrid, 1-5-1952).
todo o empenho em sobressair naquelas virtudes que
as crianças têm maior necessidade de imitar; a sa­
ber, uma castidade angélica, a modéstia, a reser­ 439- 0 mais belo ensinamento brota
va, a mansidão, uma suave gravidade, a pureza de da contemplação da santidade
costumes, a urbanidade nas relações familiares,
sem rudeza nem afetação. A palavra e o gesto, sua Da carta de aprovação ao livro de Johannes
atitude e seu rosto, toda a sua conduta devem se Joergensen, sobre São Francisco de Assis, escrita
conformar com as regras da modéstia e do decoro.

S ,nr-‘Vif—*
em nome de São Pio X, por seu Secretário de Esta­

ii
Deve poder servir de modelo, de modo que a simples
do, o Cardeal Merry dei Vai:
vista do mestre ensine ao discípulo a doutrina das
virtudes f. "Depois, Sua Santidade apreciou particular­
mente o intento que V. S. colimou com esse seu
"Estes documentos de Sacchini foram repetidos trabalho, trabalho rico de predicados artísticos e
frequentemente pelos autores que o seguiram. Diz o de variada erudição, isto é, o intento de visar a
Pe. Judde: ,Tudo o que possais dizer aos alunos ura resultado prático, a um ensinamento moral, en­
não causará neles impressão alguma, se analisando quanto com grande cuidado atendia a fazer obra de
vossa conduta, como não deixarão de fazê-lo, vêm o arte. Certo que não pode haver ensinamento mais
contrário do que lhes ensinais. Ajb crianças apren­ belo (3 eficaz do que o_ que brota da contemplação
dem mais pelos olhos que pelos ouvidos * Que elas do gênio e da santidade sublime" (Card. MERRY DEL
vos vejam muito recolhidos na Igreja e que vosso VSL, in SacT^ranclsco de Assis de Johannes Joer­
aspecto nunca permita que eles duvidem de que re­ gensen, Vozes, Petrópolis, 1957, p. 6 / Com apro­
zais, que, em classe, vossa aplicação em instrui- vação eclesiástica).
-los inspire neles diligência pelo estudo. Fazei-
-os respeitar aà coisas de Deus pela maneira sem­
pre respeitosa de falar delas; inspirai neles a 440. Não viam Cristo, a Igreja e a
mansidão por meio de vossa paciência e equanimida­ doutrina senão através de sua mae, Catarina
de; a modéstia, com vosso comedimento; a afabili­
dade e bom comportamento com vossos modos hones­ De uma vida de Santa Catarina de Siena
tos; o horror ao pecado por uma conduta sem man­ (1347-1380):
cha. Não o conseguireis nunca se não sois de ver­
dade tal como quereis parecer. Não é possível fin­ "Nestas condições, não é áe_ espantar que os
discípulos fascinados não vissem Cristo, a Igreja
gir por muito tempo; um momento que se entregue a e_ a_ doutrina senão através de sua mae. üatarlna
seu natural, tornaria manifesto o que por muito
tempo teríeis procurado dissimular. Deveis ser o (Santa Catarina de Siena) e^ para eles o prisma on­
anjo de vossos alunos; horrenda coisa se fordes de a_ Revelação se concentra, a^ mulher prodigiosa
demônio para eles. Antes ser lançado ao mar com cujo contacto torna~claro o que fe ensina obscu-
uma roda de moinho ao pescoço, do que escandalizar ramente. Perto dela, a alma se aquece e sente, no
a um destes pequenos, prediletos de Deus! Quanto
408. Secção IV Secção IV 409.
aconchego, como a doçura de Deus. A sua voz, as 442. São Pedro Crisólogo: k doutrina ensinada
coisas penosas tornara-se fáceis, as paixões per­ com a voz e ciência;
turbadoras^ parecera um sonho do qual se acorda, a aquela ensinada com os fatos £ virtude
mortificação, a pobreza, as mais austeras virtudes
coruscara. De uma vida de São Benedito (1526-1589):
"Depois, quando Catarina os deixa, eles ficara "Terminado o triénio de Guardião, foi o Santo
desamparados: procurara unir-se mais para relembrar (São Benedito) eleito Vigário e depois Mestre dos
as lições de sua mãe, mas, apesar de tudo, seu Clérigos e dos Noviços. Não nos deteremos aqui em
fervor baixa. Então tomam a pena e lhe escrevem. repetir suas virtudes exercitadas em outra função.
"*Faça saber à nossa mãe que nos nos relaxa­ Elas são, em última análise, as mesmas que o acom­
mos ura pouco; eu gostaria muito que ela nos desse panharam no ofício de Guardião. Todos o considera­
un*a. regra quaTquer a qual nos obedecêssemos por vam Já como vlgilantÍ8simo nos seus novos carços,
causa dela. Nos poderíamos, em seu nome, nos reu­ e particularmente em guiar aqueles Jovens, Cléri­
nir em certos momentos determinados. Peça-lhe tam­ gos ou Noviços, pela estreita e áspera via trilha­
bém para nos escrever algumas vezes e não esquecer da outrora pelo Seráfico Patriarca. Para que estes
suas ovelhas desgarradas* (Carta de Cristofano di corressem vigorosamente pelas pegadas da mortifi­
Gano a Néri di Landoccio, em Roma)" (Chanoine cação e da penitência, não era necessário o empre­
JACQUES LECLERCQ, Sainte Caterine de Siene, Catho- go de estímulos vivazes, bastando apenas o exemplo
lique Romaine, Casterman, Paris, 2a. ed., 1947)V do Santo Mestre; pois, como diz S. Pedro Crisolo-
go, o ensinar com os fatos é a única norma da dou­
trina; porque a doutrina ensinada com a voz é
441. Na Índia, nas Molucas, no Japão ciência; porém, aquela ensinada com os fatos £
agia a personalidade de Sao Francisco Xavier virtude. Nele se via a observância incorrupta da
Regra, a exata obediência a qualquer vontade do
Comenta ura livro sobre o Apostolado de São Superior" (GIUSEPPE CARLETTI ROMANO, Vlta di S^
Francisco Xavier na Ásia: Benedetto, Presso Antonio Fulgoni, Roma, 18057 PP*
39-40 / Imprlmatur: Fr. Thomas Vincentius Pani
"Ignoramos o que Francisco Xavier respondia a Ord. PraedT Sacri Palatti Apostolici Magister,
essas questões que ainda nos preocupam a nos, 3-8-1805)•
homens do século XX, como preocupavam os Japoneses
intelectuais do século XVI. Sabefaos, porém, o que 443* São Luís Gonzaga aprendeu mais em poucos
explicava aos seus interrogadores: que a terra é dias de convivência com o Padre Pescatore,
ura globo, que o relâmpago, o trovão, a chuva, a do que em muitos meses de noviciado
neve, não são coisas sobrenaturais; que há muitas
explicações físicas para esses fenômenos. E pode­ Conta o Padre Virgilio Cepari (1563-1631),
mos presumir que também lhes falasse da Europa, Jesuíta, biografo e promotor da Causa de Canoniza­
dos europeus e das suas condições de vida. Toda­ ção de São Luís Gonzaga:
via, à_ semelhança do <jue ocorreu na Índia e^ nas
Molucas, no Japão agia igualmente, nao a doutrina, "No caminho rezou (São Luís Gonzaga) sempre o
mas ci personalidade de Francisco Xavier. Passara- ofício com o Padre, e teve com ele largas práticas
-se quase um quarto de século, antes que ele pu­ espirituais, propôs-lhe várias dúvidas, e procurou
desse impor-se; mas depois afluirara-lhe prosélitos enriquecer-se cora os avisos e documentos que reco­
em magotes: gente da nobreza, intelectuais, sim­ lhia de sua boca.
ples burgueses, vagabundos, tanto que o número de­ "0 Padre, sabendo que semeava em boa terra,
les subiu era breve a uns quinhentos" (PAUL HER- abria-se com prazer, e comunicava-lhe os segredos
RMANN, A Conquista da Ásia, Boa Leitura Editora da vida espiritual e a prática adquirida em tantos
S.A., São Paulo, p. 2T57) anos de Reitor e de Mestre de noviços. ....

t
410. Secção IV

"No fim da viagem disse aos companheiros, que


aprendera mais naqueles pouco3 dias de contínua
convivência e_ largas praticas com o Padre, obser-
vando-lhe as açoes e o modo de tratar com os secu­
lares, que em muitos meses de noviciado" " (Pê~.
VIRGÍLIO CEPÃÍfl S77~Vida de S. Luiz Gonzaga, da
Companhia de Jesus, OfficiniTTõTigraf lca Edl^rice,
Roma, FJlO, pp. 217-218 / Com aprovação eclesiás­
tica) .

444. "Infundia em nos a esperança


£ — coragem de o Imitarmos"

Diz Dom Cagliero, discípulo de Dom Bosco que


chegou a ser Cardeal:

"Eu e todos os meus companheiros nutrimos a


convicção íntima de que o nosso caro Pai (São
João Bosco), embora ciosamente ocultasse no exte­
rior as suas mortificações, abstinências e peni­
tências, a ponto de nos parecer a sua uma virtude
ordinária e comum a qualquer sacerdote exemplar,
sem atemorizar a ninguém, muito pelo contrário,
infundindo em nos a_ esperança e_ coragem de o_ imi­
tarmos \ contudo, tehdo-se em vista a sua saude
abalada, os desgostos íntimos, o desapego dos bens
terrestres, a pobreza rigorosa, especialmente nos
primeiros vinte e cinco anos do Oratório, a escas­
sez da alimentação, a privação de passeios1, de
confortos e diversões e, sobretudo"os>.seus
constantes trabalhos físicos e morais, -'podemos
afirmar, com plena convicção, que Dom Bosco viveu
a vida constantemente mortificada, apanágio '‘"das
almas que atingiram a mais alta perfeição e santi­
dade. Todas essas mortificações eram nele tão fá­
ceis e naturais que nos levam â persuasão de que o
servo de Deus possuia a virtude da temperança, em
grau heróico" (Marquês FELIPE CRISPOLTI, Dom Bos­
co, Livraria Salesiana Editora, São Paulo, 4a.
ed., 1945, p- 243). São Charbel Makluf
"Durante cinco anos ele (São Charbel Makluf)
445. "Seus companheiros viam vai aprender como esta santidade se forma e como
nele a regra viva" ela se exprime. Basta ver como vive o_ Padre Nehma-
tallah 1-Hardinl, religioso reputado por sua vir­
De um livro sobre a vida de São Charbel Ma- tude e que seus contemporâneos chamavam já de ’ o
kluf, monge libanês da Ordem Maronita (I828-I898): santo de Kfifan1.
■■.
412. Secção IV

"0 Padre Hardini era um desses monges que iam

....
até à verdade com toda sua alma. Esta verdade es­
tava contida na Regra monástica e é porque ele lhe
era fiel ao ponto que seus companheiros viam nele
* a Regra viva*n (P. PAUL DAHER, Charbel, un homme

-
___ i— w ~
lvre de Dleu, Monastère S. Maron D1Annaya, Jbail,
Liban, pp. 75-76 / Imprimatur: N. Stfeir, Vlc.
Pat. Maronite, Bkerké, 17-8-65)*

446. A Igreja aparecla-me como

>11
Mil
qüe concretizada nesse digno
ministro em comunicação com seu Deus
0 método dos santos:
Conta D. Chautard um fato de sua vida:
gapbaç os corações
MSendo estudante numa escola universitária, e
subtraído a toda e qualquer influência clerical, para ganhar as almas
por acaso tivemos ensejo de ver, sem que ele o no­
tasse, um sacerdote rezar o seu breviário. Foi uma

UW
revelação para nós a sua atitude cheia de 'respeito
e de religião e imensamente sentimos desde então 448. 0 coração a Deus pertence
manifestar-se em nós a necessidade de orar, e de
orar procurando imitar esse sacerdote. _A_ Igreja Máxima de São João Bosco no seu Ideário Peda-
aparecia-nos como que concretizada nesse digno rai- góglço:
nistro em "comunicação com seu Pêus1* [DõmJT ~B~.
ÒHAUÍARD , Kl ma de todo Apostolado, Editora Cole­

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ção F.T.D., São Fãulo, p. 225 / Relmprlmatur: Vi­

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Narra um antigo aluno do Pe. Reus
(1868-1947), Jesuíta falecido no Rio Grande do
Refere o conhecido historiador dos primeiros
Sul, em odor de santidade: Jesuítas, Padre Pedro de Ribadeneyra:
,!Nas aulas de religião, o Pe. Reus não falava
com retórica nem com superlativos. Qualquer outro "Muitos e variados eram os modos que tinham
teólogo teria, talvez, falado com mais brilho ex­ nosso bem-aventurado Pai para implantar nas almas
terior do que ele. Porém, o que nos penetrava £ de seus filhos a perfeição e tudo o que desejava.
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coraçao, eram suas palavras quentes, cheias de un­ Mas o principal era ganhar-lhes o_ coração com um
ção, traindo a intima familiaridade que mantinha amor suavíssimo e dulcíssimo de pai, Porque verda­
com o céu” (Pe. LEO KOHLER SJ, Biografia completa deiramente ele o era para com todos os seus fi­
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P. João Baptlsta Reus, SJ, Livraria Selbach & lhos; e como cabeça desse corpo, tinha particular
Cia., Porto Alegre, 1950, volume II, p. 178 / Im­ cuidado de cada um de seus membros; e como raiz
_

prima tur: Mons. A. Pedro Frank, Vig. Ger., dessa planta, comunicava selva e vida ao tronco e
26-4-1950). a^ todos os ramos, folhas, flores e_ fru~tõs que ha~
..
4i4. Secção IV Secção IV 415.

via nela, segundo s,ua necessidade e capacidade: e "A solução que adotaram abarca uma série de
isto por modos admiráveis, dos quais referirei al­ meios, dos quais só vamos enumerar alguns.
guns aqui.
"Primeiramente, recebia com grande afabilida­ "I. Âdqulçlç a g&tlma. — A Companhia pede
de e tratava com maravilhosa benignidade a_ todos aos professores que se façam estimar lealmente pe­
los alunos. Não se trata apenas de ser respeitado,
os seus súditos quando o procuravam. E para conhe­ temido, obedecido, nem ainda de ser visto como
ce-los e dar-lhes prazer, fazia cora que todos co­ mestre competente, mas também de seduzir os ânimos
messem com ele algumas vezes, até os irmãos coad­ com a auréola de' um valor profissional emi­
jutores, o cozinheiro, o porteiro e os que se ocu­ nente . ....
pavam dos ofícios mais baixos da casa.
1A autoridade a que o professor tem direito
"Segundo, concedia-lhes £ que pediam quando
não havia inconveniente, ou por parte da coisa, ou em virtude de seu título não basta — diz Juvêncio
—; é preciso acrescentar a que se adquire pela
por parte deles.
personalidade. . ...'
"Terceiro, para que estimassem mais o que
lhes concedia (se a pessoa era de alguma qualida­ "II. EazeÇrSfi am§£. — 0 segundo meio é ga­
de) , propunha-lhe as razões que tinha para o_ poder nhar o coração dos alunos..... 'Para ser útil aos
hereges de nosso tempo — escreve o Pe. Fabro ao
negar; mas acrescentava que todas elas nao pesavam
tanto como o desejo que tinha dê~~dar-lhe contenta­ Pe. Laynez — é mister que eles nos fiquem afei­
çoados e que se ganhe sua confiança e seu afeto*
mento. (Pe. A. MAUREL, Vle du P. Plerre Lefèvre, Briday,
"Quarto, quando os inconvenientes eram tão 1873, p. 126). Santo~~TnâEio, São Francisco Xavier
grandes que em justiça não se podia conceder o que e todos os demais repetiam o mesmo conselho. Com
era pedido, negava-o. mas com tanta escusa, que o as crianças, este método é certamente mais eficaz
mesmo que o havia pedido, ficava persuadido da boa que com os hereges. Não só obedecem cegamente ao
vontade do Padre, e da impossibilidade ou inconve­ mestre a quem amam, mas tomam in conscientemente
niência da coisa. tudo o que lhes agrada nele, inclusive seus peque-'
nos gestos^ Amor pares aut invenit aut facit. J3
"Quinto, jamais disse alguma palavra inju­
mestre amado, sempre terá .razão; o_ mestre detesta-
riosa nem azeda a uma pessoa que repreendesse,
do, ser»a criticado sempre. '0 amor — escreve o
chamando-lhe de soberbo, desobediente, ou de outro
nome semelhante" (PEDRO DE RIBADENEYRA, Vida dei Fe. Le Gaudier a proposito da autoridade dos edu­
cadores — causa a união das vontades; o que é
Bienaventurado Padre San Ignacio de Loyola, in amado possui de-certa maneira ao que o ama; pode
historias de la Contrarreforma, 5AC, Madrid, 19*15,
inclinar-se a qualquer lado segundo seu gosto; por
p^ W7 Imprimatur: Casimiro, Obispo Aux. y Vic.
este motivo, quando queremos governar com eficácia
Gen., 31-3-1945). e suavidade as vontades humanas, devemos começar
por ser amados"7" (Le Gaudier, c. VII).
450. Como faziam os Jesuítas para vencer a "Este poder do amor sobre os Juízos das
inapetência de certas crianças para a atividade crianças está fora de discussão. 0s_ alunos que tem
intelectual? Entre outras coisas, buscavam uma como que veneração afetiva para com seu pro­
adquirir a estima £ fazer-se amar pelos alunos fessor, adotam suas maneiras de ver e, sobretudo,
as que lhe são mais pessoais..... Cora razão pode­
De um livro sobre A pedagogia dos jesuítas: mos concluir com toda a certeza que £ mestre pode
comunicar infalivelmente aos alunos - seus critérios
"A questão que preocupava os Jesuítas educa­ e_ seus gostos, com £_condição de que lhes inspire
dores se punha nestes termos: como dispor as de antemao uma verdadeira adesão a sua pessoa
crianças para que gostem da vida intelectual? como ^SACCHINI, Paraenesls, c. VI)" CF7 P. CHARMOT, La
vencer a inapetência de tantos?
416. Secção IV 417.
Secção IV

pedagogia de los Jesuítas, sus princípios — su Sentados, de pé, de Joelhos, sobre os bancos,
actualldad, Sapientia S.A. de Édiciones, Madrid, em cima ou embaixo das mesas...
1952, ppT 254 a 256 / Imprlmatur: José Maria,
Obispo Aux. y Vic. General, Madrid, 1-5-1952). Os primeiros a entrar, — como é evidente —
aglomeravam-se ao redor dele, ficavam-lhe bem per­
tinho , tão perto que se podia dizer que lhe toca­
vam os ombros com as cabeças; outros ficavam logo
451. "Deus ordena que me queiram bem" atrás, apoiando-se com os cotovelos ao espaldar da
cadeira. Bom numero deles, com um desembaraço es­
De uma vida de São João de Cruz (1542-1591)* pantoso, tomavam de assalto todas as mesas e_ nelas
se instalavam como numa posição conquistada: uns
"As freiras acabam seguindo cegamente suas sentados com as pernas cruzadas, outros de Joe­
indicações’] não sabem o que tem as palavras e_ o lhos , um pouco mais atrás, outros enfim de pé. En­
acento da voz de frei João (S. João da Cruz) , mas quanto isso, alguns tomavam os bancos, dlspunham-
nao há quem lhe resista. Em certa ocasião pergun- -nos ao longo das paredes e_ subiam em cima. Os úl­
ta-lhe admirada, uma delas: *0 que fazes a estas timos a chegar se apinhavam nos espaços que sobra­
freiras, que logo fazem o que queres?* . *E_ Deus vam entre as mesas e os bancos. E ninguém mais,
quem faz tudo — responde — e para isso ordena dir-se-ia, podia então aproximar-se do carinhoso

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sorrir a essa aparição atrevida. Que quadro mara­
vilhoso essa penca de corações bem Juntinhos ao
redor do pai! Não é isso ao pé ^da letra o que está
Imortalizado no verseto do saJmo: *F1111 tul sicut
452. Amar os Jovens e fazer-se amar por eles: surcull ollvarum clrca mensam tuam* 1 ^eus filhos
a maneira própria de educar dos~Sãntos rodeiam-te a mesa como tenras plantazinhas de oli­
veira? * .
Da biografia de São João Bosco (1815-1888),
fundador dos Salesianos, traduzida pelo Arcebispo
de Belo Horizonte: í 0 bom pai narra um lindo conto,
relembra uma curiosidade histórica,
propõe Um problema...
nNos primeiros tempos do Oratório, todas as
tardes, depois da ceia podia-se observar um quadro
realraente comovedor, na sala era que Dom Bosco em Sem duvida não são observadas todas as regras
companhia de seus auxiliares tomava sua modesta de urbanidade nesse assalto impetuoso dos cora-
ções; mas nenhum desses meninos falta~ao respeito
refeição. Como chegava geralmente em atraso, Dom
afetuoso para com Dom Bosco. Quando ele faz sinal
Bosco tinha que ficar para sair também um pouco
que vai falar, cessa imediatamente todo o barulho
depois dos outros. Os meninos sabiam disto: e com­
e, no meio do silêncio geral, o bom pai narra um
primindo-se em dois grupos de um lado e do outro
lindo conto, relembra uma curiosidade histórica,
da porta, aguardavam a_ mínima interrupção na saída
dos Superiores para se introduzirem impetuosamente propõe um problema, faz perguntas, e_ sua palavra
no refeitório. Os diabretes ocupavam todos os can­ os conserva encantados ate a hora era que o sino,
tos da sala, e uma vez tomado o lugar, se coloca­ dando o sinal para as orações da noite, obriga-os
vam nas posturas mais variadas e alí ficavam a_ go­ a separar-se com pesar. Essa é a maneira de educar
zar da presença do Pai. própria dos santos.....
4 18. Secção IV Secção IV 419-

Todos querem fazer-se ver, recolher alguma passar os Hebreus!, nós o teríamos acompanhado sem
de suas palavras ou um de seus sorrisos
hesitar, certos de que seguindo seus passos atra­
vessaríamos a pé enxuto o leito do rio’. E outro
Quando sal da sacristia são quase nove horas. ex-aluno da mesma geração completava esse Juízo
0 recreio está no auge. Apenas ps meninos o divi­ com estas palavras: ’-Nele tudo era ordinário. E no
sam, correm em tropel ao encontro dele. E õ pri­ entanto poderia conduzir-nos aonde quisesse. Por­
meiro contato familiar dos filhos com o_ pai. E uma tanto era Deus que falava por sua boca e que nos
cena sublime. Todos á~porfia querem estar pertinho rendia a sua pessoa’" f"Ã. AUFFRAY SS, Dom Bosco,
dele. Os primeiros que chegam lhe beijam a mão è
flcam apertadlnho8
braços,
junto dele, suspensos a seus
famlllarmente como está representado tão
gscolas 'Profissionais Salesianas, São Paulo" 194 7
pp. 307-308, 395-396, 417-418 / Imprlmatur: Mons.
M. Meirelles, Vigário-Geral).
bem no motivo principal da estátua que se ergue na
frente da. igreja de Nossa Senhora Auxiliadora. Os
que chegam depois, se esforçam para varar o cacho 453. Fazer-se amar pelo menino
humano que se avolumou rapidamente e querem fazer­ para fazê-lo amar mais a DeusT
-se ver, querem recolher alguma de suas palavras, 0 método de São João Bosco
um seu sorriso, querem sentir a_ doçura de sua mão
e_ pousar-lhes na fronte ou nos ombros. üs" últimos Da mesma vida de Dom Bosco:
enfim sê apinEara ao redor dessa massa ondulante
que de improviso deixou, de gritar e cantar. E, ca­ "Sem afeto não há confiança e sem confiança
minhando lentamente,' pois que a aglomeração é tão não há educação, repetia continuamente Dom Bosco.
cerrada que lhe embarga o passo, Dom Bosco vai fa­ De muito boa mente teria compendiado todo o seu
lando. A_ este diz uma palavra afetuosa, àquele faz sistema nesta frase: fazer-se amar pelo menino pa­
uma pergunta, a um terceiro lança um olhar que ra fazê-lo amar mais a Deus! Esse afeto e essa
slgnlFlca um ~muncTo~5e coisas, a um quarto sussurra confiança ele pedia a seus filhos e ensinava a
ao ouvido um conselho precioso..... seus discípulos" (A. AUFFRAY^S, Dom Bosco, Esco­
las Profissionais Salesianas, São-Paulo, T947, p.
Uma imensa o.vação £ acolhia 311 / Imprlmatur, Mons. M. Meirelles, Vigário-Ge­
ral) .
nE, reciprocamente, quanto £ amava _a_ Juventu­
de ! 0 domínio de Dom Bosco sobre os Jovens era dos
mais poderosos que se tenham conhecido. Quando em
qualquer momento da recreação, aparecia bom Bosco
na varanda ou no~Tlmlar da porta de entrada, a
princípio acolhlam-no com uma imensa" ovação, de-
pol3 todos se precipitavam para ele.

Confiança cega em Dom Bosco

"Aqueles setecentos ou oitocentos garotos Dom


Bosco teria podido conduzi-los para onde quisesse,
porque tinham nele uma confiança cegai fQue extra-
nho poder que ele tinha sobre nosl confiava-me
ainda há pouco tempo um robusto velho de 82 anos,
ex-aluno daqueles tempos. Se um dia ele nos dis­
sesse: Meninos, sigam-me: vamos descer até o rio
que as aguas se irão abrir na nossa presença como
se abriram um dia as aguas do Jordão para deixar
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M5M. Recreações sadias são meios


eficacíssimos de obter a
disciplina e favorecer a
moralidade £ a sanidade dos jovens
)
A pedagogia de São Filipe Neri e de São João
Bosco (1815-1888), segundo um artigo do Pe. Eugê­
nio Valentini SDB, diretor do Instituto Interna­
cional Dom Bosco de Turim, Itália:

"E questão de modo, e não de substância; de


oportunidade, mais do que de valor intrínseco.
"Por todos é conhecido que a espiritualidade
de São Francisco de Sales em nada é inferior^à es­
piritualidade de São João da Cruz, embora, à pri­
meira vista, possa parecer menos austera e mais
humana.
"Não se trata de descurar alguma coisa que
seja requerida para atingir a santidade, ou de
prefixar-se uma santidade de segundo grau, mas
trata-se somente de saber escolher o modo e o tem­
po oportunos para tal resultado.
"São Filipe de Nérl dizia aos jovens: ^Flcal
parados, se puderdes. E_, se nao puderdes, gritai,
pulai, contanto que não façais pecados *.
4 22. Secção IV Secção IV 423.

» «AMÜki M)
"Dom Bosco, nas poucas páginas sobre o siste­ 456. Marchas e contra-marchas, batidas
ma preventivo, escreve: ' Dê-se ampla liberdade de de calcanhares, cânticos, palma3
pular, de correr, de fazer barulho à vontade. ~~K sonoras": o método de Dõm Bosco
ginástica, ã musica, a declamaçao, o teatrinho, os para ahrlr sTs ãTmas, afugentar o tédio,
passeios são meios eficacíssimos para obter a_ dis­ levar os corações à confiança e ao abandono
ciplina, favorecer a_ moralidade e_ a sanidade 1 . E
alhures: ’Não basta amar os jovens, mas é preciso De uma biografia de São João Bosco, traduzida
também que eles percebam ser amados; de modo que, pelo Arcebispo de Belo Horizonte, D. João Rezende
sendo amados nas coisas que lhes agradam, com a Costa, SDB:
participação nas suas inclinações infantis, eles
aprendam a ver o amor nas coisas que naturalmente "Durante a primeira guerra da Independência
lhes agradam pouco, como sejam a disciplina, o es­ Italiana, ele tinha conseguido a amizade e os
tudo, a mortificação de si mesmos; e aprendam a préstimos de um bom bersagllere reformado que ti­
fazer estas coisas com disposição e amor1 (Memorie nha tomado parte na campanha de 1848 .... Esse
Biografiche, XVII, 116)" (Pe. EUGENIO VALENTINI bravo aspirante a oficial colocou-se à disposição
SDB, A Vocação £ a Direção dos Seminários, in "Re­ de Dom Bosco para qualquer trabalho de ordem mili­
vista Eclesiástica Brasileira", vol. 12, fase. 2, tar. 0 Apóstolo aceitou Imediatamente a_ oferta e_
Junho de 1952, p.314). pediu logo ao amigo que ensinasse aos rapazes a.
tática dos combates simulados. Seria um esplêndido
melo de atraí-los e_ conservá-los no- Oratorlo. 0
negócio ficou logo combinado. 0 nosso monitor es­
455- E preciso entreter, distrair e_ colheu dentre os rapazes os mais espertos e mais
Interessar o jovem; um pouco de bulício práticos e começou a dar-lhes instrução militar. 0
é melhor do que um silêncio suspeito Governo consentiu em dar-lhes emprestadas duzentas
carabinas de pau, inofensivas, arranjaram-se ou­
tros tantos bastões para completar o equipamento e
Ainda da Ideário Pedagógico de São João Bos­ o bersagllere deu sua corneta de presente aos Jo­
co, o tópico completo de onde o documento ante­ vens recrutas.
rior extraiu um trecho:
"Em poucas semanas estavam tão bem preparados
que Já podiam exibir-se em combates simulados
"6. ólêgfi§. — E axioma educativo que o jo­ diante do mundo infantil do Oratório e de toda a
vem deve estar contente; por conseguinte, é_ mister multidão de curiosos que se aglomeravam naqueles
entrete-lo, distrai-lo e_ lntereásá-lo. Dê-se-lhes campos para ver esses soldadinhos em botão.....
ampla liberdade de saltar, correr, gritar e diver-
tir-se â vontade: a ginástica, a música, a decla- À alegria, atmosfera da casa de educação
mação, o teatro, os passeios são meios eficacíssi­
mos para obter disciplina e ajudar a moraidade e "Para que a liberdade juvenil encontrasse ao
a saúde. Cuide-se, isso sim, de que o objeto do redor de si o_ calor e_ a luz de que necessitava,
entretenimento, as pessoas que nele intervenham e Dom Bosco tudo fazia para mantê-la numa atmosfera
as conversas não sejam condenáveis. Fazei o que permanente de alegria. ÍT~fim que ele visava com a
quiserdes, dizia o grande amigo da Juventude São alegria era abrir as almas, afugentar _o_ tédio,
Filipe Neri; a mim me basta que não cometais peca- provocar um frêmito de vida através do organismo,
dos. E melhor algo de bulício do que um silêncio auxiliar o_ trabalho da inteligência, associar na
raivoso ou suspeito" (Biografia y Escritos de San alma da criança a_ ideia do prazer à do dever, _e
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424. Secção IV Secção IV 425.
no Oratório a lembrança de certas marchas endiabra
recrutas, conquanto não haja na nossa 3ede senão
das que ele organizava e dirigia naqueles pátios! esses divertimentos antigos e sempre novos que,
Alegria por ura divertido sem nada custarem, distraem alma pela mesma sim­
quarto de hora com Dom Bostso plicidade deles. Lembre-se, acrescentou ele com
finura^ que jé lhe mostrei, ali arrumados para um
"Alinhava era duas filas suas centenas de me­ canto, os instrumentos musicais que eu também, ao
ninos, punha-se k testa deles e^ entoava uma canção princípio, Julgara indispensáveis: a propósito,
P°Pular era piemontês. Todos acertavam o passo eis que se dirige para aqui a nossa atual filarmô­
unindo"* suas vozes com a_ dele e iam cadenciando o~8 nica: vai ter ensejo de apreciá-la*.
versos com o_ violento bater dos calcanhares acom­
panhado de palmas sonorag. Isso produzia um baru­ "Gom efeito, após alguns minutos, desfilava
lho Infernal^ e sob os pórticos as grandes lages diante, de nós um grupo de 40 a 50 Jovens de 12 a
de granito ressoavam com um rumor surdo sob os pés 17 anos. Que algazarra! Quem vingaria reprimir uma
des3e exército em marcha. A enorme serpente desen­ gargalhada em presença desse curioso batalhão, que
rolava seus anéis por todos os cantos; ora saíam o olhar risonho do velho cônego contemplava com
para os pátios, ora reentravam sob as arcadas; num tanta satisfação?
dado momento subia-se por uma escada, enfiava-se
Manter sempre vivo o entusiasmo
por um corredor e saía-se po-r outra escada; depois
descreviam ao redor de uma árvore motivos os mais da verde juventude
bizarros.^ Finalmente , roucos de tanto cantar, e "*01he, me disse ele, observe aquele que ca­
com os músculos das: pernas extenuados, faziam al­ minha aos recuos à frente do grupo e vera agitando
to, todos alegres por sê terem divertido um quarto a sua grossa bengala â guisa de batuta como mestre
de hora com Dom Bosco" (A. AUFFRAY SS, Dom Bosco, de música e depoÍ3 a leva comicamente à boca à
Escolas profissionais salesianas, São Paulo, 1947, guisa de clarinete; é oficial subalterno em licen­
pp. 108-109, 308-309 / Imprimatur: Mons. M. Mei- ça, um dos nossos mais ativos zeladores. Sempre
relles Freire, Vigário-Geral)• que pode comunga todos os dias^, e sobretudo nunca
deixa de fazer a sua. meia hora de oração mental.
Esse anjo de piedade, alma incansável de todos os
457. Fazer recuperar uma alma de criança,
através dos Jogos e^ da oração divertimentos, esforça-se por tirar proveito de
todos os seus talentos a fim de que os recreios
dos médios não esmoreçam. Como dispõe de inesgotá­
Dom Chautard, mestre da vida^ espiritual, des­ veis recursos para esse efeito, sempre mantém vivo
creve a visita que fizera a uma instituição para.a
educação de rapazes: p entusiasmo dessa,verde Juventude. Nada, porem,
escapa aos seus olhares de subvigilante nem ao seu
"Um dia (éramos nós sacerdote apenas havia coração de apóstolo*.
dois anos), esse venerável padre (o cônego Timon-
-David) vira-se obrigado no fim de uma conversação Brincadeira inocente que a todos encantava
a dizer-nos mui f raternalntente, mas não sem certa "Sim, gargalhada irreprimível perante esse
compaixão: grupo de músicos que executavam modinhas triviais
Divertimentos simples que distraem a alma conhecidíssimas. 0 estribilho logo mudava, mal o
mestre da música dava o sinal do exemplo. Cada
níNon potestis portare modo; somente mais
tarde, quanao tiver Jò. avançado na vida interior, executante simulava um instrumento: uns tinham
junto da boca as mãos em forma de pavilhão, outros
me logrará comprender melhor. Já que, afinal de
contas, não pode atualmente prescindir desses faziam vibrar entre os lábios uma folha de papel,
meios, empregue-os, pois, sem hesitar, â falta de raras flautas de cana, etc. -Esquecia-nos de dizer
que, â frente dos executantes., vinha um tocando
outros. Quanto a mim, facilmente retenho os meus
jovens operários e burocratas e atraio novos trombone e outro grande caixa de rufo: dois paus,
a um dos quais a mão imprimia movimento regular de
426. Secção IV

vaivém, eram o Instrumento do primeiro; uma velha


lata de petróleo, o instrumento do segundo. Os
rostos irradiantes de todos esses Jovens mostravam
que a. brincadeira realmente os encatava. 'Sigamos
a filarmônica', disse-me o cônego.

IIM
Verdadeiros diabretes transformados
em anjos de Pra Angélico Os çJisçípulQa ¥ê£Éadeíramente fiéis
"Ao fundo da alameda erguia-se uma estátua de qeoslçleram çaçja dia
Nossa Senhora. 'De Joelhos, meus amigos, diz o
mestre da musica. Um Ave Maris stella à nossa Mãe çpm eplevo g XêgeçaçãQ crescentes
do céu, depois uma dezena de terço' . Toda aquela
rapaziada fica era silêncio durante alguns momen­ Sll ça iÍQÍlçs feitos e ditos dos santos,
tos, depois responde lentamente, com tanta piedade
como na capela, às Ave-Marias. Aqueles jovens me­
ridionais, a maior parte de olhoá baixos, alguns e ag empenham em anotá-los
minutos antes verdadeiros diabretes, transformam-
-se a súbitas em anjos de Fra Angélico. para proveito espiritual próprio,

Reter mediante recreações simples, doa seus condiscípulos


mesmo os maiores de 20 -anos. E levâ-los a rezar
'Não se esqueça, diz-me o guia, de que o ter­ e das gerações futuras
mômetro da obra é: Reter mediante recreações sim­
ples e^ entusiastas os nossos jovens mesmo os de
mais de vinte anos, conseguir que eles aspirem a. 458. "Não me afastava de seu lado,
recobrar aqui durante as suas horas de oração e de anotando seus gestos, ditos e feitos"
recreio uma alma de criança e que se divirtam com
coisas de nada; cFegar sobretudo a_ fazer rezar, Na sua vida de Santo Inácio de Loyola, diz o
mas verdadeiramente rezar, mesmo no melo das brln- Padre Ribadeneyra:
cadeiras; todos os nossos zeladores visam a este
---
"Não me apartava de seu lado (de Santo Iná­
Com alegria deixam a brincadeira para cio) dentro e fora de casa, na cidade e fora dela,
visitar o Divino Prisioneiro.. . acompanhando-o, escrevendo e servindo-lhe em tudo
o que se oferecia; anotando todos os seus atos,
"A banda ergue-se para novas proezas artísti­ feitos e ditos, com aproveitamento para minha alma
cas cujos ecos reboam pelo pátio fora. Uns minutos e particular admiração. Esta crescia _à medida que
depois era o jogo da barra que estava no seu auge. ele la revelando mais do multo que tinha encerrado
Entrementes nós havíamos notado que o oficial, ao em seu peito; e^ eu, com a^ idade, la abrindo os
erguer-se depois do Ave Maris stella, tinha murmu­ olhos para ver o que antes por falta dela não via.
rado algumas palavras aos ouvidos de dois ou três Por esta tao Thtima conversação e familiaridade
jovens, os quais imediata e alegremente, como obe­ que tive com nosso Pai, pude ver e notar não so­
decendo a um uso praticado por todos, foram deixar mente as coisas exteriores e patentes que estavam
as blusas do recreio e as alparcatas e_ se dirigi­ expostas aos olhos de muitos, mas também algumas
ram a_ capela a_ fim de lá passarem um quarto de ho­ coisas secretas que poucos percebiam" (PEDRO DE
ra aos pes do divino FFislonelro''~Tt)om J.B. ~ÜH£TT-
FARD, A Alma dê toáõ Apostolado, Editora Coleção RIBADENEYRA, Vida dei blenaventurado Padre San Ig-
naclo de Loyola," ln Historias de Ta Contrarrefor-
F.T.D., São Paulo, pp. 142 a 144 / Reimprimatur: ma, BAC, Madrid, 1945, p. 38 / Tmprlmatur: Caslml-
Vicente Zioni, B. Aux. — V. Geral, 2Í-Õ-1962) . ro, Obispo Aux. y Vlc. Gen. , 31-3-19^5)•
28. Secção IV 429.
Secção IV
459• Deus nos deu nosso bem-aventurado tória de Deus agindo neste mundo que seus filhos
Padre~Tn?clo por gula e mestre, caudilho espirituais lhe pediam para contar: eles queriam
e capltao desta sagrada milícia que o Fundador lhes deixasse por escrito a relação
de seus trabalhos e de seus dias, e fizesse o
Do Já várias vezes mencionado Padre Pedro de enunciado das graças concedidas por Deus a seu
Ribadeneyra, em sua vida de Santo Inácio de Loyo- servidor no tempo em que ele criava a Companhia de
la: Jesus. Ora, esse Instituto tinha tido por funda-

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nalada como esta, (saída) da mão de Deus, e uma dade do Fundador — melhor, o ser que se tinha

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Ordem Religiosa nova plantada era sua Igreja en tornado o Fundador, sob a mão modeladora de Deus"


nossos dias, e espalhãda em tão pouco tempo por (ALAIN GUILLERMOU, Introdução a Saint Ignace de
quase todas as províncias e terras que o sol ilu­ Loyola, Autoblographle, Edltlons du Seuil, Paris,
mina, não deseje saber como se fez isto, quem a 1962, pp. 10-11).
fundou, que princípios teve; seu pensamento, seus
progressos e extensão, e o fruto que se seguiu de­
la? 461. "Isto é fundar verdadeiramente a Companhia"
"Mas esta razão, Irmãos, não nos toca a nós
somente, mas também aos demais. Há outra razão que Conta o Pe. Luís Gonçalvez de Câmara, Jesuí­
é mais doméstica e mais própria a nós, que é a de ta, confessor do Rei de Portugal D. João III, no
seguir e imitar àqúele que temos como capitão. seu prólogo à Autobiografia de Santo Inácio de Lo­
Porque, assim como os que'procedem de ilustre li­ yola:
nhagem e de um sangue generoso e esclarecido, pro­
curam conhecer as façanhas e gloriosos exemplos de "Daí a uma hora ou duas fomos comer; e estan­
seus antepassados e dos que fundaram e enobreceram do à mesa com ele (Santo Ináciq.), Mestre Polanco e
suas famílias e casas, para tê-los como modelo e eu, nosso Padre disse que multas vezes Mestre Na­
fazer o que eles fizeram; assim também nós, tendo dai e outros da Companhia lhe tinham pedido, mas
recebido da mão de Deus Nosso Senhor a nosso bem- que ele nunca se tinha determinado a isso (escre­
aventurado Padre Inácio por gula e^ mestre, e por ver a sua autobiografia); e que depois de ter fa­
caudilho es capitão desta milícia sagrada, devemos lado comigo, recolhendo-se em seu quarto, havia
toma-lo por espelho de nossa vida e_ procurar se­ sentido tanta devoção e tanta inclinação para o
guí-lo com todas as nossas forçasi De maneira que, fazer, e falando de tal maneira que mostrava que
se por nossa imperfeição nao pudèrmos traçar tão Deus lhe havia dado grande luz de que o devia fa­
ao vivo e tão semelhante ao original, o retrato de zer, que se havia decidido inteiramente; e a coisa
suas muitas e excelentes virtudes, ao menos imite­ era contar tudo quanto em sua alma até agora se
mos a sombra e o rasto delas" (PEDRO DE RIBADENE- havia passado; e que tinha também decidido que se­
YRA, Vida dei Blenaventurado Padre San Ignaclo de ria eu a quem ele manifestaria estas coisas.....
Loyola, in Historias de la. Contrarreforma, BAC,
Madrid, 1945"i pp. T5-3T / Imprimatur: Casimiro, "Mas chegado o Padre Nadai, alegrando-se mui­
to com o que estava começado, mandou-me importunar
Obispo Aux. y Vic. Gen., 31—3—19^5).
o Padre, dizendo-me muitas vezes que em nenhuma
coisa podia ele fazer mais bem à Companhia do que
460. A Companhia de Jesus teve por fazendo Isto; jí que isto era fundar verdadelramenD
te a_ Companhia" (Pe. LUIS GONZALEZ DE CAMARA,
fundamento não o texto das Constituições,
mas a personalidade do Fundador Prólogo de la Autobiografia de San Ignaclo de Lo­
yola, ln übras Completas de San Ignaclo de Loyola,
BAC, Madrid, 194 7, Tomo T~7 pp. 102-103 7~Imprlma-
Da introdução a uma edição francesa da Auto­
biografia de Santo Inácio "Era um momento dá his­ tur: Casimiro, Obispo aux. y Vic. gen.).
*430 . Secção IV
Secção IV 431.
44 62. ”Nos so Padre Inácio a quem
Nosso Senhor nos deu por exemplo tiu (da Irmã Catarina não chegou nada até nós) ve­
e cabeça deste corpo místico” mos que copiavam com muita fidelidade” (CRIS0G0N0
DE JESUS OCD, Vida de San Juan de la Cruz, in Vida
Escreve o Já citado Padre Luís da Câmara, £ Obras de San Juan de la Cruz, BÃÜ, Madrid, 5a.
contemporâneo de Santo Inácio de Loyola: ed., 196T~ p. 159 / pnprlmatur: José Maria, Ob.
Aux. y Vic. Gen., 11-5-1^64).
"Desde que entrei para a Companhia (de
Jesus), na Páscoa de 15*45, sempre desejei muito
464. Recolhiam culdadosamente quanto
ver Nosso Padre Inácio e^ tratar com ele, a quem
Nos so Senhor nos deu como exemplo e_ cabeça deste de notável observavam em seu amado pai
corpo místico de que todos somos membros. Aumenta-
Da introdução geral à biografia e escritos de
vam-me estes desejos, além de outras razões parti­
São João Bosco, por um salesiano:
culares, duas que mais me moviam: uma das quais
era desejar ter obediência de entendimento, do
qual tanto ouvia falar na Companhia. Parecla-me ”Apressemo-nos a dizer que a fonte principal
que, para poder alcançar e3ta virtude, seria multo destes estudos são as Memorle Blograflche, obra
bom melo ouvir a doutrina dos lábios daquele cujos monumental de 19 tomos, alguns dos quais ultrapas­
conceitos sobre as coisas da Companhia deviam ser sam as mil páginas, de cuja autenticidade e fide­
tidos como sendo os primeiros princípios de qual­ lidade não cabe a menor duvida. Compilou-as o
quer ciência, que~nao costumam e_ nem podem ser ne­ secretário do Santo (Dom Bosco), D. João B. Lemoy-
la demonstrados. A outra era a altíssima opinião ne, grande têmpera de historiador. ....
que tinha da santidade da pessoa do mesmo Padre, a "Quando Lemoyne chegou ao Oratório, viu que
qual concebia não so pelas multas coisas que dele vários dos mais inteligentes filhos de Dom Bosco
nos contavam todo3 que tinham tratado com ele, mas Já recolhiam culdadosamente quanto de notável ob­
também pela grande perfeição que Já então reco­ servavam no amado pai e anotavam taqulgraflcamente
nhecia na Companhia e no seu modo de proceder. As­ os seus discursos, conferêncl-a3 e_ o que mais lhes
sim me lembro que, pensando muitas vezes sobre is­ Impressionava nas palavras que saíam dê geus lá­
to, fazia comigo este raciocínio: 'Se o fruto e a bios , ate mesmo nas conversas familiares. Lemoyne
obra são tais, como será a_ árvore e^ o artífice?1 ” recolhia amorosamente todos estes apontamentos,
(VICTORIANO LARHANAGA SJ, Introduccion — Auto­ compulsava diligentemente um por um, e, quando ti­
biografia de San Ignaclo de Loyola ln Obras Com­ nha dúvidas, conferia-os com outras testemunhas;
pletas de ~~S~an Ignaclo dê"~Loyola, BAC, Madrid, às vezes dava um. jeito para consultar o próprio
19*47, Tomo I, p. £3 / Imprlmatur: : Caslmlro, Obispo Dom Bosco. Assim se formou um arquivo verdadeira-^
aux. y Vic. gen.). mente monumental.....
”Corao chegaram até nós estes sonhos (de Dom
463. Freiras se dedicam a copiar os Bosco)? Alguns, ele mesmo os escreveu; de outros
reviu a redação. A maior parte, porem, e fruto do
ensinamentos orais de Frei João da Cruz afeto e_ da estima de seus filhos. Entre estes ha-
via aqueles perspicazes que, amando-o entranhada-
Conta um Carmelita Descalço, na sua vida de mente e_ não querendo perder nada doT maravllhosb
São João da Cruz: que viam em seu Pal7 desde o"inicio montaram um
serviço de estenografia: anotavam os sonhos e logo
”Algumas freiras se dedicam a_ copiar em um
se reuniam para confrontar e_ conseguir o_ texto
papel o ensino oral de Frei João da Cruz. Assim o
mais exato possível. Cora alguma freqüência pediam
faz Catarina de Cristo, que chega a_ formar um li­ a Dòm Bosco que os revisse*1 (RODQlFQ PIERRÔ, SDB,
vro que tera dois dedos de altura, e^ Madalena do Biografia y Escritos de~5an Juan Bosco, Introduc-
Espírito SantcTi Pelo que esta última nos transmi­
clon general, BAC, Madrid, 1955, p. 5, 6, 62 e 63
*132. Secção IV

/ Imprimatur: José Maria, Ob. Aux. y Vic. Gral..


13-5-1955).

I
*165. Autobiografia de Santo Antonlo
Marla~Slaret7 fonte que transmite o
mais rico do espirito do~fundador

Da introdução aos escritos autobiográficos e


espirituais de Santo Antonio Maria Claret:

"Há ademais outras duas ocasiões em que o^


Santo se põe, de propósito, a_ narrar casos que su­ 3*5 6lQS5âClaa dos gag^Qg:
cederam com ele, com o fim expresso de prevenir
aos sacerdotes que o lerem. Tinha razão, pois, gua lsltuca âeagegta q geggjg
quem definia a_ Autobiografia como *o_ Manual do
Missionário Apostollco1. Isto nos expressa, se naõ dg 23 laltag e dg gg ggsulg
seu maior valor — com ser notabilíssimo — ao me­
nos o objetivo que seu autor teve mais presente ao Q2 233ÍBÜ2 da EggCglslQ
escrevê-la.
"Por este motivo, a Congregação dos Missioná­
rios do imaculado Coraçab de Maria recebeu a_ Auto­ 466. A irresistível influência
biografia como dom preciosíssimo de seu próprio dos exemplos dos Santos
fundador e_ a_ considerou sempre como algo multo
seu. Entrava era seu patrimônio espiritual, tendo De conhecido teólogo de começos deste século:
sido composta com o pensamento do autor tão dire­
tamente e de tantas maneiras posto nela. Durante "Sendo a espiritualidade uma ciência vivida,
os quase cem anos que medeiam desde sua composi­ importa mostrar historicamente como foi posta em
ção, _a Autobiografia foi considerada na Congrega­ prática; e para isto é mister ler biografias de
ção — Junto com as Constituições — como fonte santos antigos e modernos, de diversas condições e
primária de nossa espiritualidade, que transmitia países. ....
o que há~"cfe~mal3 rico-no espirito do~ fundador*1.
TSAN ANTÜKIÜ* MARIA CLARET, Escritos autobiográfi­ "E, efetivamente, em contato cora eles (os au­
cos jr esplrltuales, BAC, Madrid, 1959, p. Iò3 7 tores canonizados, ou daqueles que, sem os serem,
Imprimatur: Blasius Budelacci, Ep. Nissen. Tuscu- viveram como santos) que o coração se inflama, a
11, 9-2-1959). inteligência, iluminada pela Pé, percebe mais cla­
ramente e saboreia melhor que num livro didático
os grandes princípios da vida espiritual, e a von­
tade, sustentada pela graça, se sente arrastada à
prática das virtudes, tão vivamente descritas por
aqueles que nelas tão heroicamente se exercitaram.
Se a essas obras se Juntar a leitura da vida dos
Santos, melhor se compreenderá ainda por que moti­
vo e de que modo se devem imitar, e a irresistível
influência de seus exemplos acrescentará nova for­
ça a seus ensinamentos: 1 Verba movent, exempla
trahunt1 (As palavras movera, o exemplo
arrasta).....
43*4. Secção IV
Secção IV 435.

"Nossa devoção se dirigirá sobretudo aos San­ pero e que por causa de nossa grande Ignorância se
tos que viveram na mesma condição que nós, ocupa­ tornou tão obscuro), deve, por alguns momentos
ram empregos semelhantes, e praticaram a virtude olhar a vida dos Santos, porque eles têm todas es­
que nos é mais necessária" (Ad TANQUEREY, Compên­
tas qualidades de modo acabado. Os santos são, sem
dio de Teologia ascética £ mística, Apostolado da dúvida, espelhos^ multo limpos, peTo menos de peca­
Imprensa” Porto," 19bl, ba, ed., pp. 11, 21 e 93 /
dos mortais; sao Imagens de Jesus Cristo razoavel­
Imprlmatur: A. Arch. Bracarensis, 11-2-1961). mente bem feitas; sao maravllhosas~cópías da vida
evangélica; são textos escritos pelas mãos do Es­
467. São Gregórlo Magno; os exemplos, pírito Santo; são gulas que nos mostram os cami­
mais do que as dissertações, nhos estreitos do ceu £ sao tochas que nos alu­
acendem nos coraçoes £ desejo do Céu miam para que não calamos em algum despenhadeiro.

Não basta £ especulação: £ preciso conhecer


Da introdução a uma vida de São Bento
(480-547): a vida dos Santos para se entusiasmar pela virtude
"E por isto que São Tomás, apesar de ser mui­
"Em primeiro lugar, é preciso ter presente to instruído em tudo, não desprezava £ leitura dos
que São Qregório se propôs prlncipalmente escrever feitos £ das palavras dos~~santos pãdre8~ermitão3,
uma vida popular, eminentemente popular, sem preo­ sempre que para isto tinha tempo; £ apesar de ter
cupações críticas. Ele mesmo o afirma: !Mals do escrito muito sobre as virtudes £ £ perfeição
que as dissertações são os exemplos que acenderç evangélica, interrompia seus afazeres sempre que
nos coraçoes o amor da pátria celestial*7 Era suas podia, para entender melHõr~~esta lição. Porque os
biografias, busca a edificação dos cristãos, na­ estudos especulativos, ainda que tratem das virtu­
quela época ávidos de maravilhoso" (R. P. BRUNO des e sejam santos, e muito necessários à Igreja,
AVILA OSB, Introducclón In San Gregorlo Magno, Vi­ têm tantas finuras e sutilezaB que para que não
da de San Benlto, Editorial San Benito, Buenos Ai­ tornem o homem orgulhoso e o desvanesça, £ preciso
res, 3a. ed., T356, p.8 / Imprlmatur; Ramón Novoa, por vezes afastar-se deles £ ocupar-se £ meditar
Pro-VIcario General, 14-5-1956). 8obre~ã vida, a obediência, £ castidaãê, £ devoção
£ £ humildade, £ austeridade e a penitência Junta-
mente com as outras perfeições do£ santos para que
468. Entre as coisas que ensinam,o homem nos venhamos £ entusiasmar pelas virtudes que se
a servir a Deus £ evitar ensinam nas escolas.
o pecado, uma das inal.8 importantes £ o
exemplo da vida dos santos Os exemplos dos Santos são carvões
ardentes que abrasam as almas
De uma biografia de São Vicente Ferrer "Com isto se descobre outra utilidade desta
(1350-1419): lição, porque não somente elas existem (tendo a
razão como espelho, como dissemos) para que a pes­
"Entre as multas coisas que ensinam aos ho­ soa conheça as suas faltas, servindo-lhe de origi­
mens £ servir a Deus~e evitar toda espécie de pe­
nal e desenho para o qual possa olhar, de guia e
cados £ coisas más há uma que não e das menos im­ luz que lhe mostre o caminho do céu; mas também
portantes : £ Ilça^ que nos dlT £ vida dos conquistam £ vontade lançando com ela centelhas de
Santos..... amor de Deus £ menosprezo do mundo; as quais, se
encontram a pessoa, um pouco que seja, disposta a
Os Santos sao imagens de Jesus Cristo receber este fogo celestial, a abrasam Inteiramen-
te. Não há esporas que façam correr tanto ura cava­
"E aquele que não quiser errar no caminho do lo que se recusa a galopar, quanto esta lição faz
céu (que é tão pouco usado, por ser estreito e ás­ caminhar nossa vontade em direção ao céu. Assim
436. Secção IV Secção IV 437.

escreve Santo Agostinho em suas "Confissões”: que


os exemplos dos servos dê~~beus eram para ele como
carvões ardentes que aRrasavara o mais Intimo de
sua alma" (Pray~VlCEHTE~JUSTINIÁN5“ ÃHTISt, Vida de
San Vicente Ferrer (Prólogo), in Biografia Es­
critos de San Vicente Ferrer, BAC, Madrid, 195*57
ppT. 74~-95~/ ímprlmatur :~Hyaclnthus Ep. aux. y Vic.
gen. Valentiae, 9-6-1956).

469- As_ vidas dos santos são normas


de bem viver mais
do que os livros e^ as palavras

Da vida de São Luís Gonzaga (1568-1591), pelo


Padre Virgílio Cepari, Jesuíta, contemporâneo do
Santo, e para cuja beatificação muito trabalhou:

"Toda pessoa que lê as histórias e vidas dos


Santos que em vários tempos floresceram na Igreja
Católica, vê que, de ordinário, a Divina Provldên-
cia nunca manda ao mundo Santo de vida. muito exem­
plar^ sêin que ao mesmo tempo suscite algum conhe-
cido 8eu que, inspirado por Deus, escreva sua vida
e ações; para que com a morte do Santo não expire
sua fama, antes se estenda por toda a Igreja, e se
conserve nos tempos seguintes para beneficio comum
e aproveitamento dos vindouros. Com efeito, jis vi­
das dos Santos são normas de bem viver, e_ mostram
o_ caminho direito do Paraíso, com muito mais efi^
cácla, do que os livros escritos _e as palavras”.
rVTMlLlTT CÉFaRT, Vida de S. Luiz de Gonzaga, Of-
ficina PoligrafIca EditrTce, Roma,-T910, p. 15 /
ímprlmatur: Fr. Albertus Lépidi OP, S.F.A. Magis-
ter, ímprlmatur: Joseph Ceppetelli Patr. Const.,
Vicesg.).

470. ”Si isti ed istae, cur non ego” —


"Se estes £ estas puderam, por que não eu?”

0 mais célebre caso de conversão pela leitura


da vida de Santos: Inácio de Loyola. A conhecida
historiadora Daurignac assim descreve a convales­
cença do cavaleiro D. Inácio, no Castelo de Loyo­
la, após sucessivas operações na perna direita,
Santo Inácio de Loyola. Retratado por Giacomo dei Conte quebrada por uma bala de canhão, durante o cerco
(séc. XVI); encontra-se na casa generalícia dos jesuítas, em Roma, de Pamplona:
438. Secção IV Secção IV 439.

"0 tempo corria e o aborrecimento apoderava- outra razão, este livro pareceu-me insípido. Mas
-8e dele apesar dos sonhos da sua imaginação. Os forçando-me o aborrecimento a lê-lo, terminei por
romances de cavalaria, então muito em voga em Es­ achar-lhe muito interesse.
panha, pareceram-lhe dever preencher o vácuo que
"— Tanto melhor,* caro IFIigo, porque esta
se fazia sentir nas suas longas horas de isolamen­
longa reclusão é dolorosa para uma natureza tão
to e de reclusão. Divertiam-no as imaginárias
aventuras de cavaleiros andantes e as suas impos­ viva como a vossa.
síveis proezas. Esta idéia agrada-lhe; ordena que "— Sofro menos, meu caro irmão, desde que
lhe tragam um desses romances. Depois de alguns leio este livro. Contudo, vede: condeno-me a este
instantes, o seu criado de quarto volta: suplício para não perder a minha influência Junto
das damas da corte, ao passo que todos estes San­
"— Senhor, aqui está tudo o que pude encon­ tos teriam sofrido tudo isto, e mais ainda, só pa­
trar.
ra agradarem a Deus. Eles ganharam uma eternidade
"— Como! Peço-te um romance e trazes-me li­ de felicidade em recompensa da sua vida penitente
vros de devoção? Estás doido? ou do martírio que aceitaram; e eu apenas terei
"— Senhor, não há outros. sorrisos de mulheres ou louvores cortesãos como
única recompensa! Pergunto a mim mesmo o que me
n— Vai do meu mando pedir a D. Garcia (irmão ficará de tudo isso, quando eles e eu tenhamos en­
mais velho e chefe da casa dos Loyola) romances de velhecido? ....
cavalaria.
â 0 desejo de imitar os Santos
”— Já fui, Senhor; D. Garcia não tem roman­
ces; S. Exa. não tem outros livros senão estes. "Inácio não acrescentou, — só o confessou
"Estes livros eram: a Vida de Nosso Senhor mais tarde — que tinha perguntado muitas vezes a
Jesus Cristo, pelo frade Ludolfo, e a Flor dos 8i mesmo, ao ler a vida dos Santos, porque não
Santos, ambos em língua catelhana. procuraria imitá-los; por que não podia fazer o
que os Santos puderam; porque não procuraria, como
"— Pois bem, — disse o jovem • mundano —
eles, glorificar a Deus na terra, com a esperança
deixa-me esses livros.
de ser um dia participante da pua glória no céu. E
"Sobrevém-lhe o tédio e o espírito de Inácio verdade que esses bons sentimentos eram imediata­
tem necessidade de alimento; à falta de melhor, mente abafados pelos sonhos de ambição e de vaida­
aceita a leitura que, por certo, não teria esco­ de,^ que, indo-se-lhe pouco a pouco distendendo a
lhido. .... . perna, a esperança de nèo ficar coxo quando saísse
do seu quarto o preocupava mais que tudc. Entre­
Primeiros efeitos tanto, lia e relia as grandes ações dos Santos, e,
querendo conservar a recordação delas, escrevia
"D. Garcia não entrava no quarto do seu jovem aquelas que mais o impressionavam. Passado pouco
irmão que o não encontrasse ocupado a ler ou a es­ tempo, sentiu-se muito comovido ao entregar-se a
crever. esta ocupação.....
"— Achais interesse na vida dos Santos, caro
Ihigo (nome de batismo de Santo Inácio)? — lhe Luta interior
disse o irmão.
"Todas estas reflexões surgiam no espírito de
"— Sim, senhor, acho nela coisas surpreen­ D. Inácio, assaltavam-no de dia e de noite e o fa­
dentes, que ultrapassam tudo o que os. cavaleiros tigavam tanto mais quantp mais energicamente eram
imaginários têm empreendido para conquistar um combatidas peJLo respeito humano e pelo atrativo
nome glorioso. No primeiro momento, ou fosse por dos prazeres entre os quais tinha vivido até en­
ser privado dos romances que eu desejava, ou por tão... ....
Mo. Secção IV Secção IV Wl*

"Prolongando-se esta luta na alma do nosso maneiras, assuntos de conversação, tudo mudara ne­
herói, perguntou um dia a si mesmo se não seria Já le, e D. Garcia preocupava-se seriamente com
tempo de pôr termo a ela, tomando uma resolução Í8 80. ....
definitiva.
A consagração como cavaleiro de Nossa Senhora.
"— 'Há evidentemente em mim, — dizia ele — Terror do demônio
duas vontades opostas; uma, que me impele para o
bem, e por ele à felicidade eterna; a outra, que "Uma noite, sofrendo mais ainda que de ordi­
me impele para o mal, e por ele â eterna infelici­ nário pela necessidade imperiosa de abandonar tudo
dade. Quando reflito largamente sobre as vantagens por Deus, e estando a sua perna assaz fortificada
duma vida penitente, como a dos Santos, experimen­ para lhe permitir a execução dos seus projetos,
to uma tranquilidade, uma paz de espírito, uma do­ prostrou-se diante duma imagem da Santíssima Vir­
çura interior, que são desconhecidas e que o mundo gem, pediu-lhe que aceitasse o compromisso, que
não pode dar-me. Quando, ao contrário, me deixo ele tomava a seus pés, de só viver para a glória
arrastar pelo pesar e pelo desejo dos prazeres e do seu divino Filho, e Jurou-lhe, na sua linguagem
da glória desta vida, fico com uma perturbação, de guerreiro, ser sempre fiel à sua bandeira, não
uma inquietação, uma agitação que se assemelham ao servir senão na sua milícia e sob suas ordens, e
remorso, e me tornam desgraçado. E, pois, loucura ser do Filho e da Mãe, na vida e na morte. No mes­
hesitar no partido que devo tomar... Farei o que mo instante, um estrondo, semelhante a uma forte
fizeram os Santos!1 detonação, faz-se ouvir no interior do castelo e o
abala até aos alicerces. 0 abalç foi sentido em
A resolução tomada todos os cantos da casa, mas não deixou sinais se­
não no quarto de D. Inácio, mais violentamente
"Esta importante resolução estava tomada e, atingido, e cujos muros, de alguns pés de espessu­
com una natureza como a de Inácio de Loiola, devia ra, sofreram um abalo tão forte que produziu uma
ser executada. Aproxima-se o momento em que ele larga fenda, que ainda existe.'
podia tirar o aparelho da perna e experimentar as
suas forças; mas a estação era pouco favorável, o "Não foi um tremor de terra, porque só o cas­
inverno começava a fazer-se sentir e a prudência telo sofreu o abalo; as dependências nada sofre­
recomendava que esta resolução fosse adiada por ram. Qual a causa deste fenômeno? Procurou-se, mas
alguns meses. Entretanto o nosso recluso ocupava- não se encontrou. Preveria o demônio os temíveis e
-se em ler e reler a vida de Nosso Senhor e a dos incessantes golpes que lhe viria a dar a santa
Santos, e escrevia sempre, mas com muito mais cui­ Companhia de Jesus, e:quereria manifestar a sua
dado, os traços que mais o impressionavam. Fez raiva impotente contra aquele que Deus tinha esco­
deste modo um livro de trezentas páginas, escritas lhido para ser o fundador da mesma? Os historiado­
no gosto da época, em diversas cores. Empregava a res do Santo são dessa opinião.
cor de ouro para Nosso Senhor, a vermelha para a
Santíssima Virgem e as outras cores para os Santos L estranheza da família
(Ribadeneira).
"D. Garcia continuava a preocupar-se com
"Entretanto, Inácio tornara-se um homem novo. a transformação de Inácio e procurava ocasião de
Ocupado de Deus e do desejo de lhe agradar, divi­ comunicar-lhe os receios que o agitavam; esta
dia o seu tempo entre as santas leituras, a ora- apresentou-se breve. Inácio, sentindo-se mais for­
çãOj a meditação e a escrita. Procurava trazer à te, deu um passeio a cavalo sem prevenir o irmão,
memória todas as faltas da sua vida passada, sus­ e, quando regressou, encontrou D. Garcia.....
pirando pelo momento em que lhe fosse permitido
expiá-las pelos jejuns, vigílias, macerações e so­ "A noite os dois convérsavam sem testemunhas
lidão. A sua família estranhava-o: a linguagem, no quarto de Inácio.
Secção IV Secção IV 443.

n— Confesso, — dizia D, Qarcia — que a e, entrando nos aposentos de D. Qarcia, disse-


vossa saída a cavalo me inquietou bastante, em
consequência do silêncio, que guardais sobre os -lhe:
vossos projetos. Por que me não prevenistes? "— Meu querido irmão, o tempo é favorável e
vou aproveitá-lo para ir ver meu tio Manrique; es­
"— É verdade que vô-lo podia ter dito, mas
tarei ausente alguns dias...
que receais?
"— Meu caro Ifíigo, cora toda a franqueza vô- "— Ifíigo, — exclamou D. Garcia — enganais-
-lo digo porque tenho necessidade de expandir o -me 1
coração. A vossa mudança é tal que receio tudo. A "— Não, senhor, digo-vos a verdade, vou a
vossa imaginação está exaltada com a leitura da Navarrete.
vida de Jesus Cristo e dos Santos; renunciastes à
corte, à guerra, às honras, à gloria, a tudo o que "— Sim, mas de lá aonde ireis? Conheço-vos,
amáveis. Só viveis para Deus, não comunicais a Ihigo, e estou certo que há muito tempo alimen­
ninguém^os vossos projetos, e, na vossa idade, de­ tais ura projeto de futuro, que não pode ser agra­
veis tê-los certaraente. E, pois, de temer que, dável à vosBa família. Não posso afastar-vos dele,
deixando-vos levar por indiscreto fervor, façais porque sei como sois firme nas resoluções tomadas.
mais do que deveis. Mas, por Deus! não me direis nada? Afastais-vos
n— Espero, caro irmão, não ir mais longe do dura irmão que vos ama sem lhe dizer aonde ides e o
que devo, — respondeu^Inácio; — peço-vos que fi­ que fareis? Receio que a imaginação vos tenha ilu­
queis tranquilo a esse respeito. - dido. Quereis viver longe do mundo, bem o sei. Mas
não podeis estar aqui só e tão retirado como um
"D. Qarcia prolongou a conversa mais alguns solitário, ficando conosco? Deus não estará em to­
momentos, e, vendo que não podia esperar confidên­ da a parte? Não consultastes ninguém; cedeis a um
cia alguma sobre os projetos do irmão, deixou-o, impulso de fervor inspirado pelo exemplo dos San­
recomendando-lhe que refletisse. tos; bem está. Todavia deveis. £er em consideração
também a honra da vossa família. Ides abraçar a
A restauração da inocência pobreza evangélica e estender a mãos aos viandan­
tes?
"Na noite seguinte, quando Inácio estava "Inácio não respondeu.
era oração, a Santíssima Virgem apareceu-lhe rodea­
da de brilhante luz, trazendo Jesus Menino nos "— Se me engano, — acrescentou D. Garcia —
braços. Não lhe falou; mas a sua celestial presen­ por que me não desenganais e tranquilizais?
ça inundou-lhe a alma de inefável consolação, e
pareceu-lhe que a graça o purificava inteiramente, ”0 mesmo silêncio da parte de Inácio. Seu ir­
que tudo nele fora renovado. A partir daquele mo­ mão continuou:
mento, ficou livre de toda a tentação, de todo o
pensamento contrário à virtude da pureza. n— Nada posso para vos fazer mudar de reso­
lução, mas ao menos, meu irmão, meu caro irmão, se
não voltardes de Navarrete, se vos afastardes de
Tentativas de dissuasão da família nós, como receio, prometei-me, a mim vosso irmão
mais velho, que nunca desonrareis o nobre nome que
"0 nosso Santo tinha experimentado as forças: usais! Prometei-me que em qualquer lugar em que
prolongando a sua estada sob o teto da família, vos acheis, não esquecereis o sangue que corre nas
expunha-se a novas observações, a novas tentativas vossas veias, e que nunca adotareis um modo de vi­
da parte do irmão para o afastar de seguir a voz ver que nos faça corar! Enfim, proraetei-me que
que o chamava. Era, pois, urgente apressar a par­ nunca vos tornareis indigno dos nossos gloriosos
tida. Dois dias depois deu as necessárias ordens, antepassados.
444 . Secção IV

"— Prometo-vô-lo, meu Irmão; não tenho e es­


pero nunca ter a intenção de faltar â honra. Dis­
se-vos a verdade: vou a Navarrete fazer uma visita
de alguns dias a meu tio Duque de Nájera, que veio
ver-me durante a doença, e a quem devo este teste­
munho de reconhecimento e de afeição.....

Cavaleiro da Virgem para sempre

"No dia seguinte, os dois irmãos partiram a


cavalo, seguidos dos seus escudeiros e criados, e Uma contradição aparente
só se separaram era Onate, como fora combinado. As
despedidas fizeram-se à noite porque Inácio devia
partir de madrugada. Mas quando todos estavam
deitados o nosso herói, que tinha tomado todas as
precauções, dirigiu-se â igreja de Nossa Senhora
de Arancuza e ali passou a noite. Ao romper do dia
Por que os Santos
montou a cavalo, e, seguido de dois criados, di-
rigiu-8e para Navarrete.
ora aceitam, ora repelem
pais,
y
"Abandonando para sempre a opulenta casa dos
não levara mais nada que os seus manuscri­
as homenagens
tos; não tomara sequer a bolsa. Chegado à casa de
seu tio, recorda-se que tem algumas dívidas e quer que lhes são prestadas?
solvê-las; em casa de seu tio Manrique devem-lhe
uma certa quantia, que ele reclama, encarrega o
seu escudeiro de pagar as dívidas, e, julgando-se
rico .cora o que lhe resta, manda fazer uma Imagem
da Santíssima Virgem, que trará sempre consigo;
porque ela será agora a sua única Senhora" (J.M.S.
DAURIGNAC, Santo Inácio de Loiola, Livraria Apos­
tolado da Imprensa, Porto, 1$5B, pp. 20 a 30 / Im-
primatur: Mons. Pereira Lopes. Vigário-Geral. Por-
tõ; 20-5-1958).
Os múltiplos fatos que desfilaram diante
dos olhos do leitor nesta coletânea põem inevita­
velmente a pergunta: o que move os santos, ora a
áceitar, ora a rejeitar as cálorosas manifestações
de veneração e de respeito de que são cercados?
A solução dessa questão, de evidente interes­
se intrínseco — posto que nos revela a verdadeira
fisionomia da santidade que brilha na Igreja Cató­
lica — não é sem alcance prático. Pois serve para
orientar nosso compoptamento pessoal em face da
projeção das boas ações alheias ou próprias.
Não é de admirar que tal problema tenha ocu­
pado, desde os primórdios da Igreja, a atenção dos
grandes gênios do Cristianismo. Assim, Santo Agos­
tinho empregou todo o vigor retórico de que era
dotado para elucidar a aparente contradição dos
ensinamentos do próprio Filho de Deus, que ora re­
comendava que ocultássemos nossas boas obras aos
olhos dos homens, ora nos incitava a que as fizés­
semos brilhar diante deles!...
0 sermão sobre a pureza de intenção, a seguir
transcrito, traz a marca do admirável Doutor da
Igreja que foi Santo Agostinho, e elucida cabal­
mente a questão.
Ssbcs â bues&s dg íqSsqsIs

SANTO AGOSTINHO

Sermão a respeito do que se acha escrito em


São Mateus: "Brilhe a vossa luz diante dos ho
mens, para que vejam as vossas boas obras e
glorifiquem a vosso PãT celeste1* (V,~lb) . E
em sentido contrário: "Guardai-vos de fazer
yoasas boas obras diante dos homens, com £
fim de serdes vistos por eles" (Mt. VI, 1) .

1. Eai3 ÊCISeiSsa S2âC§QSSlÍQͧ S2Q£Câãi£2£Í2§

Costuma, caríssimos, desconcertar a muitos


que, tendo dito no Evangelho Nosso Senhor Jesus
Cristo: "Brilhe £ vossa luz diante dos homens, pa­
ra que vejam as vossas boas obras £ glorifiquem a
vos só ^aí celeste", dissesse depoisGuardai-vos
de fazer vossas boas obra3 diante dos homens, .com'
£ fim de serdes vistos por eles". Inquieta-se, di­
go, o espirito de poucas luzes, e desejando real­
mente obedecer a um e a outro preceito, flutua en­
tre pensamentos diversos e adversos. Porque se
torna tão impossível obedecer a um senhor, se or­
dena coisas opostas, como a dois senhores, segundo
mostrou o Senhor no mesmo sermão (Mt. VT, 2*0.
Que saída, pois, há para o ânimo indeciso,
quando pensa, com temor, que não pode obedecer nem
deixar de obedecer? Se, com efeito, mostra as suas
boas obras, de modo a que os homens as vejam, em
cumprimento do preceito: "Brilhe a vossa luz dian­
te dos homens, para que vejam as vossas boas obras
e glorifiquem a vosso Eal celeste", se Julgará
culpado de ter icbo contra o outro, que diz: "Guar-
dal-vos de fazer vossas boas obras diante dos ho­
mens , com £ fim de serdes vistos por eles". E se,

Consagração de Santo Agostinho. Quadro de Jaime Hu-


guet (séc. XV), Museu de Arte da Catalunha, Barcelona.
^50. Apêndice
Apêndice 451,
pelo contrário, por temor e cautela, esconde o
bom, Julgará não servir a quem imperativaraente lhe 3- SfiQslliisIs fle ssfcgg ss bc§ssíêq8
diz: "Brilhe a vossa luz diante dos homens, para

ti
Essas palavras do Evangelho, na verdade, tra­
zem em si mesmas a explicação; contudo, não fecham
a boca dos famintos, porque sempre têm elas
um manjar novo para os corações dos homens que
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ambas as coisas no serviço do Senhor de tudo quan­ guém deseja que os homens vejam suas boas obras,
to existe, o qual não teria condenado o servo ne­ se propõe a própria glória e o próprio interesse,
gligente se vlhe tivesse ordenado algo de impossí­ e busca isso para ser visto por eles, não cumpre
vel. em nada o ordenado pelo Senhor neste particular;
Vede, por exemplo, São Paulo, "escravo de Je­ porque, cora certeza, se propõe fazer as suas boas
sus Cristo, chamado a ser apóstolo, escolhido para obras diante dos homens, mas a sua luz não brilha
cT Evangelho de Deus", cumprir, e ensinar a cum­ diante dos homens para que, vendo as suas boas
prir, um e outro mandamento. Olhai como brilha a obras, glorifiquem ao Pai celeste. 0 que pretende
sua luz diante dos homens, para que vejam as suas sem dúvida é glorificar-se a si mesmo, não a Deus,
boas obras: "Recomendamo-nos — diz ele — _a_ nós e, buscando a sua própria vantagem, não ama a von­
mesmos â consciência de todos os homens diante de tade divina. Desses diz o Apóstolo: "Todos buscam
Deus" (ÍT Cor. IV, 2). E em outro lugar: "Procura­ seus próprios interesses, e não os de~Jesus Cris-
mos fazer o bem, não só diante de Deus, mas tam­ to_" (Phil. II, 217! r T
bém diante dos homen3" (II CorT"VtII, 21). E em A passagem não termina onde diz: "Brilhe a
outro lugar ainda! "Comprazei a_ todos em tudo, as­ vossa luz diante dos homens, ^para que vejam as
sim como eu faço tudo para comprazer a_ todos" (1 vossas boas~õbras", pois acrescenta em segui5a a
tor. X, 33). Intenção com que se hão-de fazer: "E_ glorifiquem
Vede-o agora guardando-se de fazer a sua Jus­ — diz — jL_ vosso Pai celeste", de maneira que, ao
tiça ou boas obras diante dos homens, com o fim de fazer alguém o bem em presença dos homens, não se
ser visto por eles. "Examine — diz ele — cada proponha Interiormente outro fim senão fazer o
qual as suas obras, e_então terá glória somente em bem; mas o fim da publicidade há-de ser a glória
si mesmo, e_ não em outro" (Gal. VI, 4). fe em outro que reverte para Deus, ;para proveito dos que vêm a
lugar: "Porque a nossa glória £ b testemunho da conhecê-lo; porque para estes é vantajoso saber
nossa consciência" (II Cor. I, 12j. Mas nada tão- que Deus se compraz "com as boas obras, cujo autor
diáfano quanto Isto: "Se ainda agradasse aos ho­ é Ele mesmo"; e assim não percam a confiança de
mens , não seria servo de Cristo" (Gal» I> 10)7 também eles poderem agradar-Lhe, se quiserem, pela
graça do Senhor.
Não haverá, pois, agora, quem, vendo contra­
dição entre os preceitos do mesmo Senhor, se po­
nha, e muito mais, contra o seu Apóstolo, dizendo:
Como nos dizes tu: "Comprazei todos em tudo, as­
sim como eu faço tudo para comprazer a todos",~ao (*) Nota do tradutor espanhol: Quer dizer o
dizeres tu mesmo: "Se ainda agradasse aos homens, orador, segundo nos parece: além do sentido óbvio
não seria servo de Cristo"? que se deduz dos mesmos textos, há outros mais
Venha em nossa ajuda o Senhor, que falava em ocultos e ricos para os famintos da verdade que
batem às portas do Senhor.
seu escravo e apóstolo; revele-nos a sua divina
vontade e dê-nos a possibilidade de cumpri-la.
(**) Os sublinhados duplos são nossos.
452. • Apêndice Apêndice 453.

E a outra passagem, onde diz: "Guardai-vos de como intenção do seu agir o serem vistos, mas em
fazer vossa Justiça diante dos homens", a termi­ que seja visto por Deus, em louvor do qual redunda
nou onde <Hz: ncom o fira de serdes vistos por a Justificação do homem, e faça o Senhor, no que
eles". Aqui não acrescenta: "e glorifiquem a vosso presta louvor, o que vê naquele que é louvado; em
Pai ceieste". senão que: "De outro modo>nao tereis outras palavras, que faça do que louva ura homem
recompensa em vosso Pai celeste"; dando-nos a en­ digno de louvor.
tender que buscam, os que fazem isto, a sua recom­
pensa em serem vistos pelos homens, e nisso põem o E observai também como o Apóstolo, ao dizer:
seu bem, e aí se recreia a vaidade do seu coração, "Comprazei ji todos em tudo, assim como eu faço tu­
que os esvazia de Deus para enchê-los de vento, e do para comprazer a_ todos", não pára a!T7 como se
os torna presunçosos e^os consome. Hão quer, pois, isso, "comprazer aoshomens", fora a meta da sua
assim, o Apóstolo, a seus fiéis. intenção”! Porque, a ser assim, se tornaria falso:
"Se agradasse ainda aos homens, não seria escravo
Mas por que é que não bastou dizer: "Quardal- de Cristo"; mas acrescentou incontinenti o fim que
-vo8 de_ fazer _a vossa Justiça diante dos homens", tinha em comprazer aos homens: "Não buscando —
e pelo contrário acrescentou: "com o fim de serdes diz — o_ meu interesse, senão o dos demais, para
visto por eles", se não por haver arguns que fazem que sejam salvos" (I Cor. X, 33T.
as átias boas obras diante dos homens, não com o
fim de:serem vistos por eles, mas para que sejam Deste modo, não comprazia aos homens em bene­
vistas as obras e glorificado o Pai celeste, que fício próprio — não teria sido servo de Cristo —
Se dignou dar aos pecadores Justificados a possi­ mas comprazia aos homens com vistas à salvação de­
bilidade de fazê-las? les, para ser um idôneo dispensador de Cristo.
Porque diante de Deus bastava-lhe a sua consciên­
cia; mas diante dos homens era preciso que bri­
QçsáySâ ás Sis EsyiQ bsiês bqqís lhasse a luz do bom exemplo.

0 Apóstolo diz: "Para ganhar a_ Cristo e ser (Sermão LIV, Obras de San Agustln — Homl-
encontrado nEle, não tendo uma justiça própria, lias, BAC, Madrid, 2a. ed., 1$6$, tomo X, pp. 59 a
que vem da lei, mas aquela que vem pela fé" (Phll.
ITT, ~B-97T Ê em outro lugar: "Para que nos tornás-
semos justiça de Deus nEle" *(íT“Cor. V7_21), em
Cristo. Pelo que repreende assim,os Judeus: "Não
conhecendo ji justiça de Deus, e^ procurando estabe­
lecer a sua própria, não se sujeitaram a justiça
de Deus" (Rom. X, 3).
Portanto, esses, os que fazem as suas boas
obras para a glória de Deus, não se arrogam a qua­
lidade de agir bem, mas antes a atribuem a Deus,
de Quem lhes vem a fé, e que lhes dá a vida. Fa­
zer, portanto, com que os homens vejam estas boas
obras, para -que glorifiquem a quem lhes dá a pos­
sibilidade de fazê-las, e incentivá-los a imitar
com piedosa fé o bem de que são testemunhos, é
realmente fazer brilhar a luz diante dos homens; é
fazer sair de si luz de caridade e não fumo de
vaidade. E também é evitar o fazer a sua Justiça
diante dos homens com o fim de ser visto por eles;
porque não atribuem a si esta Justiça, nem põem
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