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Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de


adaptação

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Contextos Clínicos, 7(2):155-167, julho-dezembro 2014
© 2014 by Unisinos - doi: 10.4013/ctc.2014.72.04

Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos


períodos iniciais de adaptação

Late adoption: adopters’ perceptions of the initial period of adjustment

Amanda Bicca
Psicóloga do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Travessa Sílvio Roman,
45, 89700-000, Concórdia, SC, Brasil. amandabicca@tjsc.jus.br

Luciana Suárez Grzybowski


Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre. Rua Sarmento Leite, 245,
sala 207, 90050-170, Porto Alegre, RS, Brasil. lucianasg@ufcspa.edu.br

Resumo. O período de adaptação, em uma adoção, traz algumas caracterís-


ticas próprias, que geram desafios para a família. Nas adoções de crianças
com idade acima de dois anos, tal período pode se apresentar ainda mais
complexo, sendo sua superação fundamental para o êxito da adoção. Dessa
forma, foi realizado um estudo com três casais que realizaram adoção de
crianças com mais de dois anos de idade, com o objetivo de conhecer sen-
timentos, percepções, dúvidas, anseios, dificuldades e alegrias vivenciadas
nos primeiros tempos de convivência das famílias constituídas pela adoção.
Nesses casos de adoção tardia, a análise das entrevistas com os casais reve-
lou que muitos fatores contribuíram para o sucesso da adaptação inicial e da
adoção como um todo, com destaque para as características dos adotantes e
das crianças. Da parte da criança, mostrou-se positivo o fato de ela já saber
de sua história de adoção e de ter consciência do rompimento com a família
de origem. Em relação aos adotantes, os aspectos facilitadores foram a flexi-
bilidade em relação às peculiaridades da adoção de crianças maiores e o res-
peito às suas características, sua capacidade de demonstrar afeto, a postura
de naturalidade em relação à adoção, a inserção da criança nas atividades
sociais da família e o apoio da família extensa. Não foram referidos pelos en-
trevistados fatores dificultadores da adaptação em si, mas os casais citaram
a demora para a concretização da sentença de adoção como fator gerador de
ansiedade. O estudo mostrou uma faceta positiva da adoção tardia, eviden-
ciando o potencial de viabilidade e o êxito nessas situações.

Palavras-chave: adoção tardia, família, adaptação.

Abstract. The adjustment period in an adoption has some characteristics that


pose challenges for the family. In the adoption of children over two years,
this period may be even more complex, being key to a successful adoption.
A study was conducted with three couples who adopted children over two
years old, aiming to understand feelings, perceptions, doubts, anxieties, joys
and difficulties experienced in the early days of cohabitation in the families
formed by adoption. In these cases of late adoption, the analysis of inter-
views with couples revealed that many factors contributed to the success
of the initial adaptation and of the adoption as a whole, highlighting the
Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de adaptação

characteristics of adopters and children. On the child’s part, some aspects


proved to be positive: knowing their adoption story in advance and being
aware of the break with the family of origin. Regarding adopters, the facili-
tating factors were flexibility in relation to the peculiarities of adopting older
children and respect to their characteristics, their ability to show affection,
the attitude in relation to adoption, the inclusion of the child in the family’s
social activities and support from the extended family. There were no com-
plicating factors mentioned by the respondents about adaptation itself, but
couples cited the delay in the implementation of the judgment of adoption as
a factor generating anxiety. The study showed a positive facet of late adop-
tion, demonstrating the potential feasibility and success in these situations.

Keywords: late adoption, family, adaptation.

A adoção consiste no mecanismo legal que tos. Por outro lado, das 4.791 crianças disponí-
propicia à criança ou ao adolescente a inserção veis para adoção no país, 53% apresentam ida-
de forma integral em uma nova família, adqui- de superior a 10 anos, 26,8% se encontram na
rindo condição de filho, com caráter irrevogá- faixa entre cinco e dez anos, 12% apresentam
vel. Ela é a possibilidade de garantir o direito idade entre um e cinco anos e somente 1,2%
à convivência familiar após o esgotamento de estão com menos de um ano de idade.
todas as outras possibilidades de permanên- Observa-se, a partir desses dados, que a
cia na família de origem. Assim, a adoção se ampla maioria dos pretendentes à adoção
constitui no ponto de partida para uma nova preferem crianças até 3 anos de idade, mas as
fase na vida do adotando, a partir da vincula- crianças disponíveis estão concentradas na fai-
ção com a família adotiva. Com isso, surgem xa etária dos 5 aos 10 anos ou mais (CNJ, 2014).
transformações sociais e emocionais e, conse- Assim, verifica-se a existência de uma grande
quentemente, um aprimoramento na imagem discrepância entre as necessidades das crian-
que tem de si próprio e do mundo (Fonseca, ças que aguardam a inserção em uma família e
2002; Schettini Filho, 2009; Vargas, 2006). os desejos dos candidatos à adoção, que pare-
Quando a idade desse adotando é superior cem não apresentar disponibilidade ou não se
a dois anos de idade, ela é, usualmente, deno- considerar preparados para realizar uma ado-
minada ‘adoção tardia’ (Paiva, 2004; Weber, ção tardia, adoção esta ainda permeada por
2004). Em debates sobre o tema tem-se utiliza- muitos mitos e fantasias (Schettini et al., 2006).
do também o termo ‘adoção de crianças maio- Devido a essas dissonâncias, diversas ini-
res’, numa tentativa de afirmar que não existe ciativas estão sendo tomadas para incentivar
um tempo exato ou adequado para a adoção, a adoção tardia. A Lei 12010/09 (Brasil, 2009),
ou mesmo que possa parecer ‘tarde demais’. conhecida como ‘Lei da adoção’, buscou ace-
No entanto, optou-se por utilizar, neste tra- lerar o processo de adoção no país, bem como
balho, o termo ‘adoção tardia’, por ser am- qualificá-lo. Destaca-se a alteração no Estatuto
plamente utilizado na literatura científica da da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), no
área, bem como em textos técnicos e jurídicos, seu artigo 197 – C § 1º, tornando obrigatória,
incluindo a Lei da Adoção (Brasil, 2009), o Pla- para todos os pretendentes à adoção, a parti-
no Nacional de Convivência Familiar e Comu- cipação em programa de preparação psicosso-
nitária (PNCFC) e o Estatuto da Criança e do cial e jurídica. A Lei expressa que, no referido
Adolescente (1990). programa, entre outros tópicos, deve ser in-
No Brasil, o índice de pretendentes à ado- cluída a discussão e o estímulo a adoções tar-
ção que desejam adotar crianças maiores de dias, de crianças com necessidades especiais,
dois anos é bastante reduzido. Segundo dados portadoras do vírus HIV, grupos de irmãos e
do Cadastro Nacional de Adoção (CNJ, 2014), interraciais. Da mesma forma, o Plano Nacio-
dos cerca de 27.363 pretendentes cadastrados, nal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito
41% colocam como limite máximo de idade de Crianças e Adolescentes à Convivência Fa-
para a criança pretendida um ano de idade, miliar e Comunitária (Brasil, 2006) preconiza o
54% estabelece três anos como limite e apenas estímulo às adoções de crianças em faixas etá-
5% aceita crianças com até 10 anos, sendo que, rias mais avançadas e de adolescentes, com o
acima dessas faixas etárias, inexistem candida- objetivo de possibilitar adequada convivência

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Amanda Bicca, Luciana Suárez Grzybowski

familiar e comunitária. Além disso, tem cres- Em pesquisa cujo tema foi a construção
cido progressivamente o número de GEAAs da identidade nas famílias adotivas, Schettini
(Grupos de Estudos e Apoio à Adoção), orga- et al. (2006) ressaltam a relutância dos preten-
nizações que têm por objetivo apoiar e escla- dentes à adoção em aceitar crianças com idade
recer os pretendentes à adoção, bem como os superior a dois anos por temerem a existência
que já adotaram. Esses grupos trazem, tam- de traumas derivados de suas vivências com
bém, como um de seus objetivos, favorecer as a família biológica ou nos programas de aco-
categorias descritas acima, incluindo a adoção lhimento e acreditarem que tais crianças pode-
tardia (Angaad, 2012). riam ter maiores dificuldades em estabelecer
Nos casos de concretização de uma adoção vínculos com a família adotiva. Os autores res-
tardia, é necessário um período de adaptação saltam a necessidade de os pais adotivos con-
para o seu êxito. A partir do momento em que seguirem ajudar o filho a integrar a vivência
os pretendentes à adoção assumem a guarda, prévia com a família biológica à sua história de
para fins de adoção de uma criança ou de um vida, permitindo ao filho a valorização daque-
adolescente, inicia-se o período denominado la etapa de sua vida. Tal abertura dos adotan-
estágio de convivência, que perdura até o mo- tes à história de vida da criança seria funda-
mento em que a sentença de adoção é homolo- mental para a adequada adaptação da família.
gada. A duração deste período depende de de- Diversos autores citam características con-
terminação judicial e pode ser prorrogada por sideradas comuns no período de adaptação da
sugestão da equipe técnica que o acompanha criança à nova família. Vargas (1998) cita como
(Brasil, 1990). Nesse período, é recomendável pontos comuns apresentados pelos adotantes
que haja um acompanhamento técnico, com o no início da adaptação: comportamentos re-
objetivo de fornecer suporte ao agrupamento gressivos, agressividade, ritmo de desenvol-
familiar nas possíveis dificuldades e nos desa- vimento global bastante acelerado, esforço da
fios que poderão surgir. Assim, o período de criança para se identificar com as novas figu-
estágio de convivência é de crucial importância ras parentais, enfrentamento do preconceito
para o desenvolvimento dos laços de afetivida- social e necessidade de preparação e acom-
de entre adotando(s) e adotante(s) (Paiva, 2004). panhamento específico no processo. Schettini
A produção de pesquisas que abordam Filho (2009) também traz essas características
essas vivências no decorrer desse período de como inerentes ao processo de adaptação e
adaptação é escassa. Costa e Rossetti-Ferreira ressalta que as alterações de comportamento
(2007) pesquisaram os processos de construção apresentadas pelo adotando expressam o que
da maternidade e paternidade em situações de se passa na sua intimidade.
adoção tardia por meio de um estudo de caso Além das características já citadas, diver-
com um casal que adotou duas crianças com sos autores (Otuka et al., 2013; Reppold e Hutz,
idade superior a quatro anos em diferentes 2003; Sasson e Suzuki, 2012; Schettini Filho,
momentos do estágio de convivência. Ao final 2006) referem reações de desconforto por parte
da pesquisa, os autores concebem o estágio de da criança, as quais não devem ser interpreta-
convivência como um período frágil, no qual os das, necessariamente, como inadaptação ou re-
vínculos estariam sendo construídos e a possi- jeição, pois, muitas vezes, refletem a busca de
bilidade de devolução estaria constantemente acolhimento para a construção de novos víncu-
presente. Na adoção tardia, o estágio de convi- los afetivos. Comportamentos de indiferença,
vência traria algumas características peculiares, lentidão na maturação e recusa em aprender,
pois o adotando já apresenta postura ativa, in- também possíveis de ocorrer, podem significar
terferindo na dinâmica familiar de forma mais tentativas de proteção contra um novo abando-
intensa, além de já apresentar vivências ante- no. Muitas vezes, a criança direciona aos pais
riores que repercutem no seu estilo de viver, adotivos agressões relacionadas aos genitores,
aprender, sentir e pensar. Assim, o período de o que pode gerar mágoas, tanto nos pais, quan-
estágio de convivência nas adoções tardias seria to na criança. Em alguns casos, as dificuldades
marcado por maiores desafios, sendo necessá- no período crítico de adaptação podem gerar
ria constante articulação entre as necessidades intensa frustração, colocando em risco o pro-
e os desejos da criança ou do adolescente e dos cesso de vinculação afetiva se não houver um
pais ou demais membros do grupo familiar. A acompanhamento adequado.
pesquisa ressalta, ainda, a importância de um Também as características dos adotantes
acompanhamento pós-adoção adequado às ne- são relevantes neste processo de vinculação.
cessidades dessa família. Estudos envolvendo características comuns

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Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de adaptação

dos adotantes de crianças maiores (Ebrahim, Método


2001; Otuka et al., 2012; Sasson e Suziki, 2012) Participantes
apontam aspectos como altruísmo, maturida-
de e estabilidade emocional. Os autores des- Os participantes da pesquisa foram três
crevem o altruísmo como um comportamen- casais, residentes em uma comarca da região
to voltado ao atendimento das necessidades oeste de Santa Catarina, escolhidos aleatoria-
alheias, sem a espera de benefícios advindos mente entre aqueles que realizaram adoções
de seus atos. A maturidade seria a resultante de crianças com idade superior a dois anos de
da interação entre traços psicológicos, biológi- idade no período de 2009 a 2011.
cos e sociais e estaria relacionada ao equilíbrio
entre o autoconceito e as mudanças de papel. Já
a estabilidade emocional seria definida como
Instrumentos e procedimentos
capacidade de tolerar frustrações, enfrentando
Por meio de consulta aos processos de ado-
as condições insatisfatórias de forma realista,
constante e equilibrada. Os autores citam, ain- ção da Vara de Família, Órfãos, Sucessões, In-
da, como características comuns dos adotantes fância e Juventude do Fórum de uma comarca
de crianças maiores, um nível sócio-econômi- da região oeste de Santa Catarina, foram sele-
co superior e a presença de filhos biológicos. cionados 3 casais que adotaram crianças com
Sólon (2006), em pesquisa realizada com mais de dois anos de idade. Optou-se por es-
crianças adotadas depois dos dois anos de colher casais que se inscreveram para adoção
idade, critica as concepções deterministas se- antes da nova lei da adoção, evitando que ti-
gundo as quais a criança que é inserida tar- vessem sido avaliados ou acompanhados pela
diamente em uma família substituta teria seu pesquisadora. A metodologia empregada foi o
desenvolvimento prejudicado, trazendo a estudo de casos múltiplos (Stake, 2000), sen-
reflexão sobre aspectos históricos e culturais do realizadas entrevistas semi-estruturadas
envolvidos em cada adoção. A autora salienta, (Kidder, 1987; Gaskell, 2002) com cada casal
ainda, que o desconhecimento sobre o passa- nas residências dos participantes. A entrevista
do dos filhos e a disponibilidade insuficiente abordou, principalmente, o tempo transcorri-
para escutá-los seriam fatores complicadores do desde a adoção, a idade da criança ao ser
no processo de adaptação entre a família e a adotada, reações à chegada da criança, desa-
criança. Nesse sentido, Segalin (2013) aponta fios encontrados durante o período de adap-
o período de adaptação entre a criança e a fa- tação, sentimentos associados, fatores facilita-
mília adotiva como um momento significativo dores, fatores dificultadores, avaliação geral
para todos os envolvidos, mas que demanda da experiência e sugestões. Todos assinaram
aprendizado de novos papéis e reorganização o termo de consentimento livre e esclarecido
de aspectos como rotina, espaço físico e or- e as entrevistas foram gravadas para poste-
çamento doméstico. Em seu estudo, a autora rior transcrição e análise. Após o término da
aponta a importância do tempo de convívio pesquisa, foi realizado novo contato com os
entre pais e filhos nesse período, ressaltando participantes para devolução dos resultados
a importância da licença maternidade como encontrados. A pesquisa orientou-se pelos
meio facilitador da adaptação. preceitos éticos recomendados pela Resolução
Com base no exposto, identifica-se de gran- 196/96 (CNP, 1996), iniciando-se a coleta após
de relevância a realização de pesquisas sobre as a aprovação do CEP da Universidade Comu-
particularidades desse período de adaptação, nitária Regional de Chapecó/SC - Unochapecó
de forma a produzir subsídios para a atuação (Protocolo 034/2012).
de profissionais que lidam com famílias em
processos de adoção, diminuindo a incidência Procedimentos de análise dos dados
de ‘devoluções’. Além disso, estudos neste cam-
po contribuem para desmistificar preconceitos Os relatos obtidos nas entrevistas foram
e mitigar fantasias a partir do conhecimento analisados por meio da análise do conteúdo
da realidade vivida por famílias adotantes de clássica (Bauer et al., 2002) a partir das variá-
crianças maiores. Assim, com a presente pes- veis explicativas do fenômeno da adoção tar-
quisa, buscou-se conhecer sentimentos, percep- dia encontradas na literatura pesquisada: ex-
ções, dúvidas, anseios, dificuldades e alegrias pectativas dos adotantes X características dos
vivenciadas nos primeiros tempos de convivên- adotandos (Reppold e Hutz, 2003; Schettini
cia das famílias constituídas pela adoção tardia. et al., 2006; Costa e Rossetti-Ferreira, 2007);

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Amanda Bicca, Luciana Suárez Grzybowski

relação dos adotantes com a história de vida e ela precisou diminuir pela metade sua carga
o passado do adotando (Schettini et al., 2006; horária para se dedicar aos cuidados com o
Sólon, 2006); processo de adaptação - tempo, filho. Outro desafio encontrado foi a preocupa-
ritmo, características, mudanças e peculiarida- ção com os problemas de saúde apresentados
des - (Vargas, 1998; Otuka et al., 2013; Reppold pelo menino, sem maior gravidade, mas que
e Hutz, 2003; Sasson e Suzuki, 2012; Schettini dispensaram certa atenção, sendo algo até en-
Filho, 2006, 2009); características dos adotan- tão desconhecido do casal. As características e
tes (Ebrahim, 2001; Otuka et al., 2012; Sasson e os comportamentos da criança são apontados
Suziki, 2012); formação e consolidação do vín- pelos sujeitos como fator central para o sucesso
culo afetivo (Otuka et al., 2013; Schettini Filho, da adaptação.
2006; Segalin, 2013; Vargas, 1998). Inicialmen- A idade da criança foi apontada como fator
te, realizou-se uma análise por caso (vertical) facilitador da adaptação entre a criança e a família,
com posterior integração entre os achados (ho- pelo fato de ele já apresentar certa compreen-
rizontal), visando uma análise que englobasse são da adoção e ter sido aparentemente ‘pre-
aspectos particulares e comuns entre os parti- parado’ para isso. O momento em que Mário
cipantes da pesquisa. chamou Daniel de pai pela primeira vez, du-
rante a aproximação, teve destaque em suas
Resultados e discussão falas. O entrevistado discorreu sobre esse mo-
mento como sendo uma abertura para que ele
Os resultados encontrados nas entrevistas assumisse seu novo papel.
são apresentados, inicialmente, de forma su- O casal demonstrou satisfação em relação
cinta e separada por cada caso. Após essa ex- à concretização da adoção, referindo-se a ela
como o preenchimento de um vazio e a com-
posição, apresenta-se sua discussão e sua aná-
plementação da família. Como sugestão, citaram
lise integrada. Ressalta-se que todos os nomes
a possibilidade de haver troca de experiências
são fictícios, preservando o anonimato dos
entre adotantes e pretendentes à adoção.
participantes.

Apresentação dos casais Casal 2: Adriana e Luciano


Casal 1: Ana e Daniel Adriana e Luciano, comerciantes, estão
casados há 17 anos. No ano de 2007, após re-
Ana e Daniel, empresários do ramo da ele- alizarem algumas tentativas sem sucesso de
trônica, estão casados há 17 anos. Em 2008, ins- fertilização in vitro, devido a uma obstrução
creveram-se no cadastro de pretendentes à ado- tubária apresentada por Adriana, optaram
ção para crianças com idade de 0 a 4 anos, de pela adoção. Um casal de amigos dos entre-
cor branca ou mulata, sem irmãos e saudáveis. vistados estava com uma criança sob guarda.
A opção pela adoção deveu-se ao quadro Através desse casal, Adriana e Luciano toma-
de infertilidade apresentado por Daniel. O ram conhecimento da existência do irmão da
casal havia realizado uma tentativa de fertili- referida criança, João, que contava com dois
zação in vitro, sem sucesso, cinco anos antes anos e meio. João estava, na época, aos cuida-
da inscrição. Afirmaram não terem realizado dos da avó, que não desejava mais exercer sua
outras tentativas no intuito de evitar maiores guarda. Os pais do menino, por sua vez, não
frustrações. Após um ano de espera, adotaram se encontravam em condições de exercer as
Mário, com três anos, na mesma comarca onde funções parentais, de modo que concordaram
residem. A criança estava em programa de que Adriana e Luciano postulassem a guarda
acolhimento há dez meses. O estágio de convi- da criança.
vência foi acompanhado por assistente social. Logo após obterem a guarda pelas vias ju-
O casal refere como primeiro desafio apre- diciais, o casal instaurou processo de adoção,
sentado as modificações na rotina surgidas concomitante à destituição do poder familiar,
com a chegada da criança. Os entrevistados sendo que os pais biológicos de João consenti-
ressaltaram o fato de terem vivido bastante ram com a entrega do menino ao casal na mo-
tempo sozinhos como um fator potencialmente dalidade de adoção. Ao todo, João está com a
dificultador da adaptação à vinda de um novo família há seis anos, com adoção formalizada
membro no grupo familiar. Ana e Daniel cita- há cerca de dez meses. A criança mantém con-
ram como principal modificação nessa rotina tato com a irmã biológica, atualmente adotada
o tempo diário dedicado ao trabalho, já que pelo casal de amigos de seus pais.

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Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de adaptação

É necessário observar que essa adoção não Com o passar do tempo, Adriana conseguiu
ocorreu conforme o previsto na legislação bra- estabelecer relação de confiança com o filho.
sileira, pois o casal não estava inscrito no ca- Importa salientar que, em momento algum de
dastro de pretendentes à adoção. Sendo assim, suas falas, o casal atribuiu culpa à criança por
não houve estágio de convivência propriamen- esse comportamento. Ao contrário, os entre-
te dito e o casal teve contato com profissionais vistados buscaram, nas poucas informações
forenses somente no momento das avaliações que conseguiram colher acerca de sua história,
para a regularização da adoção. Assim, essa algumas justificativas para essa rejeição inicial,
adoção caracterizou-se como adoção intuitu como o fato dele ter convivido apenas com o
personae, sendo essa modalidade de adoção pai, desconhecendo a relação de mãe e filho. É
aquela nas quais os pais biológicos entregam o possível que a criança estivesse se protegendo
filho diretamente aos adotantes, com compro- da possibilidade de novo abandono. Assim, as
vados vínculos de afeto ou quando os adotan- atitudes de Adriana, em permitir que o filho
tes já possuem guarda legal da criança há tem- fosse desenvolvendo, aos poucos, a confiança
po suficiente para a construção de vínculos de necessária, permitiu o gradual estabelecimen-
afeto, estando a criança com mais de três anos to da vinculação afetiva.
de idade. Foram relatados comportamentos de aco-
Como reações iniciais à chegada de João, o lhimento e disponibilidade para a construção
casal citou a necessidade de adquirir itens de do vínculo, compreendendo que, para o su-
alimentação, vestuário e brinquedos adequa- cesso da adoção, é necessário que haja uma
dos à sua necessidade. Nas suas falas, não foi adaptação de todos os membros da família e
ressaltado o impacto financeiro disso, mas as não apenas da criança. Como exemplo disso,
inseguranças em relação às escolhas relativas a pode-se citar o fato de Adriana ter diminuído
tais necessidades. A preocupação com a saúde a sua carga de trabalho pelo intervalo de um
da criança também foi item destacado, já que ano, conseguindo permanecer um período di-
João chegou em estado de desnutrição, atraso ário com o filho.
no desenvolvimento e certa fragilidade inicial Em relação aos fatores facilitadores do proces-
em seu estado geral de saúde. O casal relatou so de adaptação, o casal citou, primeiramente, a
que qualquer sintoma apresentado despertava forma natural com que lidaram com a adoção,
neles grande angústia em conhecer sua causa. observando que sua abertura às características
Adriana e Luciano declararam ter se preocu- da criança teria permitido que ele se inserisse
pado que a criança pudesse apresentar algum com facilidade naquele núcleo familiar. Veri-
problema de saúde de ordem hereditária, por ficou-se, em seu discurso, real aceitação das
não conhecerem seu histórico familiar. O ca- qualidades da criança, sem cobranças para que
sal referiu, ainda, preocupação com que João se adequasse aos hábitos e gostos da família.
se sentisse aceito e inserido no grupo familiar Concomitante a isso, percebeu-se atitude de
desde o início. Ressalta-se que esse casal, den- respeito às informações que ele trazia sobre sua
tre os entrevistados, foi o único que se referiu origem e sua história de vida, demonstrando
ao temor de que a criança pudesse ter trazido aceitação da criança como realmente é e facili-
alguma doença de ordem genética. Provavel- tando sua integração na nova família. Exemplos
mente, tal temor esteja relacionado ao fato de disso foram constatados com o fato de o pai se
as etapas iniciais da adoção terem sido reali- oferecer para ir buscar fotos de quando João era
zadas fora das esferas legais. Sendo realizada bebê em sua família de origem ao se deparar
informalmente, o casal não teve acesso às in- com a curiosidade do menino nesse sentido.
formações a respeito do histórico da criança e Outro momento em que isso ficou claro foi em
de sua família de origem, propiciando o sur- conversa sobre o time de futebol para o qual o
gimento de medos e angústias relacionados a pai torce, em contraponto ao time de preferên-
essas características. cia do genitor de Pedro: João – “Pai, sabe, não
O principal desafio encontrado na adapta- vai ficar brabo, pai. Pai, o meu outro ex-pai, lá,
ção desse grupo familiar foi a dificuldade de ele torcia pelo Inter. Entendeu? (risos)”. Lucia-
vinculação de João com Adriana no início da no: - “João..., fica à vontade, se quiser torcer
convivência. Eles relataram que o menino, ini- para o Inter, torce, não tem problema, não tem
cialmente, identificou-se apenas com Luciano, motivo, o pai é do Grêmio, mas você escolhe o
desejando que ele se responsabilizasse por time”. João – “Não, pai, eu sou do Grêmio, pai”.
seus cuidados e chegando a manifestar algu- Este diálogo demonstra claramente a segurança
mas atitudes de rejeição direcionadas à mãe. do adotante quanto à relação de parentalidade,

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 160


Amanda Bicca, Luciana Suárez Grzybowski

o que faz como que ele se permita agir de modo de 2009, para crianças com idade entre um e
aberto e flexível, facilitando a expressão emo- sete anos, de qualquer etnia ou sexo, podendo
cional do filho. ter problemas de saúde tratáveis e aceitando
O apoio e participação de familiares e ami- grupos de irmãos. Cinco meses após a inscri-
gos também foram apontados como importan- ção, adotaram Pedro, com seis anos de idade,
te para o processo de adaptação. Os entrevis- em outra comarca do Estado. Antes da adoção,
tados relataram que, desde o início, receberam o casal teve um filho, que veio a falecer aos de-
constantes visitas de amigos e familiares com zoito anos de idade, cerca de cinco anos antes
filhos, permitindo o entrosamento da criança da adoção. Ao decidirem serem pais novamen-
com seus pares e obtendo apoio externo frente te, o casal descartou a possibilidade de filiação
aos desafios encontrados. Entre os casais que biológica, pois Carolina já havia sofrido um
mantinham contato frequente neste período aborto espontâneo e a gestação de seu primei-
estão os pais por adoção da irmã biológica de ro filho teria sido de risco.
João. Observou-se que, provavelmente, este A aproximação entre a criança e os adotan-
amplo apoio social externo, de alguma forma, tes foi realizada em dois encontros no progra-
tenha suprido a ausência do acompanhamento ma de acolhimento. Houve acompanhamento
profissional durante os primeiros tempos da do estágio de convivência, realizado por psi-
convivência. Por outro lado, Luciano, em suas cóloga e assistente social. A adoção ocorreu há
falas, admitiu ter vivenciado situações de pre- três anos e meio.
conceito social relacionado à adoção. O casal ressaltou, como principais desafios
A idade da criança também foi citada pelo encontrados no decorrer do processo de adap-
casal como fator facilitador para a adaptação. tação, a necessidade de modificar suas rotinas,
Eles afirmaram acreditar que o fato de João incluindo tarefas relacionadas à criança. O ca-
já estar com mais de dois anos na época teria sal citou o fato de serem sozinhos, atendendo
permitido maior compreensão dele acerca da às suas próprias necessidades e, a partir da
adoção. O casal demonstrou profunda satis- adoção, necessitarem atender às necessidades
fação com a adoção, verbalizando sentimento e aos interesses de Pedro. Um exemplo colo-
de alegria e culpabilização por não ter adota- cado pelo casal foi o momento de realizar as
do antes. Em relação a isso, os entrevistados tarefas escolares, algo que, naquele momento,
declararam imaginar que a criança tenha vi- não fazia parte de seu cotidiano. Os adotantes
venciado situações de privação e sofrimento, relataram, também, a existência de dificulda-
cobrando-se por não estarem com ele naquela des transitórias da criança em acompanhar o
época. Quanto à trajetória vivida com a ado- ensino escolar. Em relação a esse ponto, refe-
ção, ambos os entrevistados afirmaram ter rem terem sido auxiliados pelos profissionais
crescido emocionalmente com a experiência e da escola.
terem realizado novos aprendizados na convi- Os hábitos alimentares diferenciados tam-
vência com João. bém foram abordados pelos entrevistados,
Os entrevistados se referiram a alguns de- com exemplos de alimentos habituais em
safios ainda enfrentados, como o preconceito seu cardápio e que teriam sido, inicialmente,
social e o despreparo de alguns educadores, rejeitados pela criança. A necessidade de im-
que ainda solicitam em trabalhos escolares, por limites também foi relatada, pois o casal
por exemplo, informações sobre a fase de bebê afirmou que Pedro era habituado a sair para
dos alunos. Em relação a esses desafios atuais, passear por conta própria e em qualquer ho-
Adriana e Luciano se reportam ao grupo de rário, sem solicitar autorização para isso. Os
apoio à adoção do qual participam como fonte entrevistados necessitaram de algum tempo
de auxílio e de esclarecimento. Assim como os para demonstrar ao filho que haveria regras
outros casais, trazem como sugestão a possi- que precisariam ser respeitadas.
bilidade de trocas de experiências entre pre- No decorrer das falas de Adriano e Caro-
tendentes e pais por adoção visando auxiliar lina, foi observado que, em momento algum,
o processo de adaptação das famílias adotivas. a criança foi responsabilizada pelos desafios
encontrados. Ao contrário disso, foram relata-
Casal 3: Adriano e Carolina das como naturais da fase de adaptação e, al-
gumas delas, como características comuns nas
O casal Adriano e Carolina, agricultores, crianças em geral. Acredita-se que o fato de o
atualmente casados há 28 anos, inscreveu-se casal já ter tido um filho antes da adoção possa
no cadastro de pretendentes à adoção no ano ter sido um fator facilitador dessa compreen-

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 161


Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de adaptação

são, pois se verificou conhecimento acerca das Análise e discussão integrativa


características da criança nessa fase do desen- dos casos
volvimento, além de certa familiaridade com
as atividades infantis. O casal demonstrou, Com os relatos coletados nas entrevistas,
assim, disponibilidade para agir de modo ati- foi possível observar alguns aspectos seme-
vo no processo de adaptação, sem esperar que lhantes, bem como peculiaridades na história
a criança, por si só, se acomodasse ao ritmo de cada uma dessas famílias. Observou-se,
familiar. Por outro lado, o sucesso da adoção inicialmente, que os casais relataram modifica-
também foi creditado pelo casal à criança, com ções na rotina de vida à qual estavam habitua-
afirmações de que suas atitudes teriam facili- dos, deparando-se com a necessidade de flexi-
tado o processo. É interessante perceber que bilizar suas próprias necessidades em prol das
o fato de Pedro já ter seis anos no momento crianças. Importa salientar que todos os casais,
da adoção foi citado pelo casal como um fator no momento da adoção, não tinham filhos. Fo-
que teria facilitado a adaptação, por permitir ram relatadas alterações como diminuição na
inserir a criança mais facilmente em alguns as- carga horária de trabalho (casal 1: “Ficava um em
pectos da vida em família, como as atividades casa com ele e o outro vinha trabalhar” e casal
sociais vivenciadas. 2: “Eu nem trabalhei mais um ano de manhã,
Observou-se a presença de baixo nível de fiquei praticamente com ele”), necessidade de
exigências e cobranças em relação ao compor- acompanhar tarefas escolares (casal 3: “Tinha
tamento da criança nos relatos do casal, sem as tarefas da escola para ajudar a fazer”) e até
expectativas exageradas em relação ao seu mesmo a modificação geral do ambiente doméstico
perfil. Percebe-se que essa abertura do casal (casal 1: “Mudou totalmente o ambiente. Aí a
propiciou uma adaptação mais tranquila e rotina mudou toda.” e casal 3: “fomos preci-
sem tantas dificuldades. sando nos acostumar com ele em casa”). Fo-
Outro ponto importante é o estilo de vida ram citadas, também, a necessidade de comprar
dessa família, que reside na área rural, traba- itens para a criança (casal 2: “a gente se prepa-
lhando na agricultura e em uma comunidade na rou para ir comprar mamadeira, roupa, calça-
qual o contato com os vizinhos é bastante próxi- dos, brinquedos, tudo”), anseios relacionados
mo. A ausência de horários rígidos de trabalho, ao seu estado de saúde e preocupação com seu
com a possibilidade de Carolina permanecer bem-estar (casal 2: “a gente não sabia se ele ti-
mais tempo com o filho, bem como o apoio re- nha alguma coisa hereditária ou não”).
cebido do meio social podem ter auxiliado na Todos os entrevistados, de alguma forma,
adaptação da família, mesmo não sendo fatores relataram modificações importantes no estilo de
perceptíveis aos olhares dos entrevistados. vida familiar após a chegada da criança. Essas mu-
Um ponto característico da adaptação des- danças, com a chegada de um novo membro
se grupo familiar foi a existência de certa difi- na família, seja pela adoção ou não, são co-
culdade de vinculação afetiva da criança com o muns e necessárias, pois propiciam transições
pai adotivo, com demonstrações de sentimen- no ambiente e nos papéis desempenhados. No
tos de insegurança e medo em relação a essa fi- entanto, como destaca Vargas (2006), na ado-
gura. Mais uma vez, o casal se referiu com na- ção, a transição para a parentalidade ocorre
turalidade a essa característica, justificando-a mais abruptamente do que na filiação bioló-
com o fato de que a criança teria sofrido agres- gica, por não haver um envolvimento gradual
sões do genitor e demostrando disponibilida- dos pais com seus novos papéis. Ressalta-se
de para compreender tal situação, adquirindo que, nos casos de adoção tardia, o tempo de
confiança gradual por parte de Pedro. Assim, espera é usualmente bastante curto, pois há
o que se observa é que, apesar de atribuir o poucos pretendentes inscritos para esse perfil
sucesso da adoção às características da crian- e um número elevado de crianças. Nos casos
ça, foram primordialmente os adotantes que estudados nesta pesquisa, apenas o casal 1 vi-
permitiram a construção de uma vinculação venciou tempo de espera maior (um ano). As-
adequada e segura, por meio da necessária sim, as mudanças na rotina da família, presen-
aceitação da criança como um todo e da dispo- tes também com o nascimento de um bebê, são
nibilidade para superar os desafios encontra- sentidas de modo mais intenso nas situações
dos nessa trajetória. O casal acrescentou como de adoção tardia, como exemplificado nas fa-
sugestão para aqueles que estão se preparando las dos entrevistados.
para adotar a troca de experiências com pesso- Observa-se que, no decorrer da adaptação
as que já são pais por adoção. das famílias entrevistadas foram vivenciados

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 162


Amanda Bicca, Luciana Suárez Grzybowski

alguns desafios nesse processo vinculados às tar com seis anos na época da adoção, ao passo
características da criança. Entre eles, foram ci- que as outras crianças estavam com três anos.
tados dificuldades no aprendizado escolar (casal 3: Por outro lado, situações de preconceito social
“Ele tinha um pouco de dificuldade na esco- não foram referidas por esse casal, o que pode
la”), dificuldade para aceitar os hábitos da família estar relacionado ao contexto no qual estão in-
(casal 3: “queria comer só besteira, coisinhas seridos, com menor exigência de padrões pré-
assim”), atitudes de desafio em relação a regras e estabelecidos, já que o casal reside em uma co-
limites estabelecidos (casal 3: “ele gostava bas- munidade rural. Assim, variáveis pessoais da
tante de sair, queria sair todo dia com outras criança e do contexto devem ser analisadas de
crianças, ficar em volta, por aí, ou ir na casa de forma idiossincrática, como facilitadoras ou
um cada dia”), manifestações de raiva (casal 3: dificultadoras da adoção tardia.
“No início teve umas vezes que ele se revolta- Quando questionados sobre as formas pe-
va […] ele estava desenhando e jogou todos os las quais lidaram com os desafios apresenta-
lápis no chão, bravo”), problemas de saúde (casal dos, os adotantes foram unânimes em respon-
2: “nós não conseguíamos dormir à noite, por- der que utilizaram de diálogo recorrente com
que ele ficava ruim [...] E era um sofrimento os filhos. Além disso, declararam que a pró-
para todo mundo”) e preconceito social (casal 2: pria convivência foi permitindo desenvolvi-
“Eu já ouvi muito papo assim “Ah, vai criar fi- mento de maior confiança pela criança (casal 3:
lho dos outros”). “aos poucos, a gente foi colocando, foi fa-
Schettini Filho (2006), ao discorrer acerca lando para ele experimentar uma coisa e ou-
da construção dos vínculos de afeto no decor- tra”). Observou-se a predominância do estilo
rer do estágio de convivência, ressalta que a parental autorizante entre os entrevistados,
vinculação afetiva na adoção é um processo, caracterizando-se por altos níveis de exigência
que, como qualquer relacionamento humano, mesclados por uma atitude responsiva. A pre-
exige tempo para oferecer segurança à criança, dominância do estilo autorizante utilizado pe-
de um lado, e para aceitar, perceber e sentir los entrevistados vai ao encontro do apontado
a criança como filho, para os pais. Nesse mo- na literatura, como na pesquisa realizada com
mento, a situação de ‘como se fosse meu filho’ pais adotivos na qual Reppold (2001) verificou
é substituída pelo ‘sendo’, constituindo-se no altos índices de estilo parental autorizante, o
que o autor denomina relação unívoca, da que a autora relaciona com o investimento afe-
mesma forma que a expressão “família substi- tivo iniciado na fase de pré-adoção e à reflexão
tuta” vai se diluindo, permanecendo simples- efetuada durante o período de habilitação.
mente como família. Nesse processo, situações Além do diálogo, foram relatados pelos ca-
de aceitação e rejeição são normais. Assim, as sais, como fatores facilitadores na superação dos
cenas descritas pelos casais, como manifesta- desafios, o próprio comportamento da criança
ções de raiva, desafios às regras, regressão e (casal 2: “Às vezes a gente estava meio sério
oposição aos hábitos familiares, são conside- ele já fazia uma brincadeira”); a inserção ime-
radas comuns nos períodos iniciais de forma- diata nas atividades sociais da família (casal 2:
ção da nova família (Costa e Rossetti-Ferreira, “No primeiro final de semana que ele estava
2007; Sasson e Suzuki, 2012; Weber, 2004). aqui já fomos numa festa, já a comunidade
A presença de preconceitos sociais também inteira conheceu ele”) e o respeito às caracterís-
aparece no relato dos casais. A supervaloriza- ticas do adotando e sua história de vida (casal 2:
ção dos laços sanguíneos intensifica as tensões “Eu falei “João, fica à vontade, se quiser torcer
já existentes nesse período, tendo suas origens para o Inter, torce, não tem problema, não tem
em mitos ainda muito arraigados na sociedade motivo, o pai é do Grêmio, mas você escolhe o
em geral, como os de que uma criança adotada time”). Verifica-se que atitudes dos adotantes,
com mais idade não aceitaria as regras esta- envolvendo manifestações de afeto com acei-
belecidas pela família adotante, de que pode- tação e o modo de lidar com a adoção foram
riam trazer maus hábitos adquiridos nas insti- fundamentais.
tuições de acolhimento ou de que as crianças A abertura e a acolhida dos adotantes são,
adotadas tardiamente apresentam maior pro- como exposto na literatura (Otuka et al., 2013;
babilidade de problemas e fracassos (Schettini Reppold e Hutz, 2003; Sasson e Suzuki, 2012;
et al., 2006; Vargas, 2006). É interessante obser- Schettini Filho, 2006), variáveis muito impor-
var que a maior parte das situações desafiado- tantes nesse processo, lidando com as imper-
ras foram relatadas pelo casal 3, o que talvez feições e os desconfortos das crianças, ao mes-
possa ter relação com o fato de o menino já es- mo tempo em que respeitam o seu passado.

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 163


Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de adaptação

Essa postura afetiva dos adotantes (casal 3: “os iniciais de rejeição à figura paterna (“Ele tinha
casais que adotam têm que ter amor e carinho”) um pouco de receio de mim. Tinha medo”).
e de naturalidade em relação à adoção (casal 2: Ambos os casais se referiram ao que sabiam so-
“não tentamos fazer disso um bicho-papão, bre a família de origem da criança para tentar
né. A gente sempre levou de forma natural) compreender esse comportamento. O casal 3
foram marcantes nos casais pesquisados. relatou que o filho teria vivido, antes do aco-
A interação de pessoas de fora daquele nú- lhimento, apenas com o genitor, sem a presen-
cleo também apareceu como importante rede ça materna. No entanto, esse genitor seria uma
de apoio, de modo que as atitudes de aceita- pessoa agressiva, com histórico de violência
ção e integração se sobrepuseram às situações contra a criança. Assim, no entendimento do
de preconceito social nas falas dos entrevista- casal, o menino estaria reproduzindo com o
dos. Os entrevistados se referiram a familiares, pai adotivo as reações de medo e insegurança
amigos, vizinhos, professores da criança, equi- direcionadas ao genitor.
pe técnica forense e grupo de apoio à adoção No caso do casal 2, a criança também con-
como fontes de apoio externo que auxiliaram as vivia apenas com o pai. Não há conhecimento
famílias a superar os desafios relatados (casal 2: de histórico de violência, tendo a entrega ocor-
“No começo, assim, que a gente adotou o João, rida de forma espontânea. O casal atribui a di-
vinha gente quase todo dia lá em casa”). O ficuldade de vinculação com a mãe o fato de
suporte à família adotiva seria semelhante ao o filho não ter recebido cuidados de mulheres
requerido por uma puérpera em relação aos antes da adoção. Observa-se que a possibili-
parentes próximos (Vargas, 2006), tornando-se dade de os casais conhecerem esses aspectos
um importante fator de proteção da saúde fa- da história de vida das crianças possibilitou a
miliar nesse período. construção de meios funcionais para lidar com
Um dado surpreendente é que o casal que os desafios apresentados. A existência dessas
referiu a atuação da equipe técnica foi justa- relações anteriores, com frequência, é um fator
mente aquele que não passou por acompa- que gera insegurança para os adotantes, que
nhamento do estágio de convivência (por se se questionam sobre a capacidade deles e da
tratar de adoção intuitu personae), mas passou criança em desenvolverem afeto mútuo. Para
por intervenções posteriores, durante a fase de que a adoção seja bem sucedida, os adotantes
avaliação para concretização da adoção e, atu- precisam compreender a impossibilidade de
almente, participa de grupo de apoio à adoção apagar a história pregressa da criança e per-
(“depois de conversar com a assistente social, mitir a ela que expresse seus sentimentos de
e passar no grupo de adoção, a gente abre a perda, raiva, tristeza ou outros que possam es-
mente, porque, às vezes, a gente fica meio fe- tar presentes (Weber, 2004). Esse aspecto tam-
chada, assim”). Os contatos que esse casal teve bém é ressaltado por Costa e Rossetti-Ferreira
com a referida profissional foram no momen- (2007), que enfatizam que os pais adotivos
to da avaliação da guarda, e, posteriormente, precisam oportunizar com a criança o diálogo
em avaliações para a concretização da adoção. sobre o seu passado, para auxiliá-la a construir
Talvez a atribuição de maior peso para essa narrativas sobre sua história, sem se sentir traí-
atuação se deva ao fato de que teriam sido as da pelos pais biológicos ou adotivos. Um dado
primeiras orientações técnicas a respeito da interessante foi a facilidade com que o casal 2
adoção, enquanto os demais tiveram esse con- lidou com a adoção, pois não receberam ne-
tato desde o início do processo de habilitação, nhuma orientação prévia, nem foram submeti-
apresentando menor necessidade de orienta- dos a processo de habilitação. Tal dado sugere
ções posteriores. que, além de todos esses fatores já conhecidos
Em relação à vinculação da criança com os como importantes para o sucesso da adoção,
adotantes, as experiências foram bastante dife- podem existir outros, ainda não bem pesqui-
renciadas entre os casais. O casal 1 vivenciou sados e delimitados.
a vinculação de forma simétrica, com ambos Todos os casais expressaram que, no seu
os pais. O casal 2 relatou que a criança teria ponto de vista, seria vantajoso adotar crianças
se identificado primeiramente com o pai, de- com idade superior a dois anos, apesar de este
monstrando desconfiança e receio em receber aspecto não constar de modo explícito no ro-
os cuidados maternos (“ele não ficava comigo, teiro de entrevista utilizado. Como principal
eu era bicho-papão para ele”). Já o casal 3 re- vantagem apontada está a capacidade da crian-
latou o oposto, pois a criança teria se vincu- ça em compreender a adoção e participar de
lado rapidamente à mãe, com demonstrações modo ativo no processo de adaptação (casal 2:

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 164


Amanda Bicca, Luciana Suárez Grzybowski

“ele já sabia, sabe, ele já, com dois anos já tem nasceu e de outras etapas”). Tal dificuldade
noção, já sabe das coisas”). Foi enfatizado por é observada também, na prática profissional,
alguns entrevistados o fato de a adoção tardia pois é comum os adotantes ficarem sem saber
prescindir da “revelação” sobre a adoção em como agir diante de situações nas quais a esco-
si. No entanto, cabe ressaltar que o fato de a la aborda a filiação biológica, deixando de lado
criança já saber que é adotada não significa a adotiva. Essa situação evidencia a presença
que jamais ocorrerão questionamentos sobre de dificuldades das escolas diante da diversi-
sua história anterior à inserção na família, de- dade familiar atual e na relação família-escola.
vendo os pais estar preparados para lidar com A segunda sugestão, verbalizada por to-
essa situação, valorizando, na medida adequa- dos os casais, foi a criação de espaços para trocas
da, essa história. A facilidade para inserir a entre pessoas que já adotaram e outros que ainda
criança em sua vida social também foi citada, são pretendentes à adoção (casal 2: “poderia ter
como um ponto positivo em se adotar crian- contato das famílias que querem adotar com
ça nessa faixa etária (casal 3: “se a gente saía quem adotou, para conversar, tirar dúvidas,
e já dava para ele ir junto, porque era maior- medo” e casal 3: “Daria também para cha-
zinho”). mar os casais que têm dúvida sobre isso, ou
Observou-se que, na literatura referen- que têm dificuldades e conversar com quem já
te à adoção tardia são apontados os desafios passou”). Nesse sentido, os grupos de apoio à
próprios do processo de adaptação, conside- adoção, presentes em vinte e três comarcas do
rando-a como mais “difícil” ou “desafiado- Estado de Santa Catarina, têm como uma de
ra” em relação à adoção de crianças menores suas funções reunir pais adotivos, profissio-
(Otuka et al., 2013; Sasson e Suzuki, 2012). nais e simpatizantes em torno da ideia de ado-
Todavia, o discurso dos entrevistados mos- ção (Angaad, 2012), possibilitando a troca de
tra outra face da adoção tardia, sendo perce- experiências e apoio aos que estão iniciando a
bidos não somente os desafios, mas também construção de uma família. Expandir essa ex-
aspectos facilitadores da integração entre a periência em nível nacional seria fundamental.
criança, a família e a sociedade ocasionados, Ao falar sobre suas histórias de adoção, os
justamente, pelo fato de a criança já apresentar entrevistados descrevem sentimentos atuais
idade mais avançada. Pode-se citar o fato de de satisfação e felicidade, referindo medo do in-
a criança já apresentar certa autonomia, con- sucesso nas fases iniciais e arrependimento por
seguindo acompanhar os pais em muitas das não ter buscado a adoção mais cedo. Ressalta-
suas atividades, apresentando maior interação -se que o sentimento de medo foi verbalizado
e exigindo menos cuidados básicos dos pais como mais intenso no casal 2, associado ao fato
como uma das justificativas para a visão po- de que a adoção, inicialmente, não cumpriu os
sitiva dos entrevistados acerca da adoção tar- requisitos legais. Assim, a possibilidade de
dia. Além disso, o conhecimento da criança de que, a qualquer momento, a criança fosse re-
sua própria história, com menor possibilidade tirada do casal, antes da concretização jurídica
de construções de fantasias sobre a família de da adoção era fator gerador de insegurança e
origem também apareceram como fatores que temor (“a gente ficava com medo, que fossem
facilitam a integração das novas famílias. A tomar ele de nós”). Apesar disso, o sentimento
idade e a maturidade da criança, geralmente geral é de bem-estar e realização com as ado-
vistas como obstáculos difíceis de transpor, ções realizadas.
aqui se apresentaram como facilitadores e pro-
pulsores do êxito do processo. Considerações finais
Os entrevistados contribuíram, ainda, com
sugestões para auxiliar na adaptação das próxi- Observou-se que a adoção tardia traz con-
mas famílias. A primeira delas foi a realização sigo alguns desafios comuns às adoções e até
de trabalhos visando a conscientização da sociedade mesmo à filiação biológica, como a necessidade
como um todo e, em especial, dos profissionais atu- de efetuar modificações na rotina familiar. Por
antes na área da educação, em relação a aspectos outro lado, traz consigo peculiaridades, como
da adoção. Essa sugestão, proferida pelo casal 2, a necessidade de lidar com a história pregres-
deveu-se à presença de algumas dificuldades sa da criança e os possíveis comportamentos
relacionadas à forma como o tema família é desafiadores durante a fase de adaptação. No
abordado na escola onde a criança estuda, pri- entanto, algo que ficou muito claro na pesquisa
vilegiando os vínculos sanguíneos (“Vem tra- realizada é a percepção dos entrevistados de as-
balhinho da escola de levar fotos de quando pectos muito vantajosos da adoção de crianças

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 165


Adoção tardia: percepções dos adotantes em relação aos períodos iniciais de adaptação

maiores, se comparada com a de bebês, princi- tante lembrar que nenhum dos casais passou
palmente pelo fato de não apresentarem total por curso psicossocial preparatório à adoção,
dependência dos pais, conseguindo interagir o que torna os achados ainda mais relevantes.
com eles de modo mais efetivo, o que se reflete Destaca-se, também, que, a partir dos dados
positivamente no processo de adaptação. Ve- obtidos, fica evidente que a adaptação entre
rificou-se que os casais entrevistados, desde o criança e adotantes depende, sobremaneira,
processo de habilitação, demonstraram dispo- das atitudes destes últimos, e da forma como
nibilidade em aceitar uma criança com caracte- constroem o espaço da criança naquele grupo,
rísticas diferenciadas dos perfis escolhidos pela respeitando seu tempo, seu ritmo, sua história
maior parte dos pretendentes, estando explícita e seus sentimentos.
a possibilidade de acolher crianças de diferen- O presente estudo abordou um recorte mo-
tes idades, etnias, sexos e até mesmo condições mentâneo da vida dessas pessoas, mostrando
de saúde. Assim, a abertura dos pretendentes as percepções dos casais após algum tempo
para acolher crianças reais, com suas histórias de convivência, com a vinculação afetiva já
de vida e características próprias foi fundamen- estabelecida. Para entendimentos mais apro-
tal para o sucesso dessas adoções. O desejo de fundados dos possíveis desafios encontrados
exercer a parentalidade parece se sobrepujar a no processo de adaptação próprio da adoção,
características específicas das crianças, ou seja, sugere-se a realização de estudos longitudi-
os casais querem vivenciar a maternidade e a nais, com o acompanhamento de famílias que
paternidade acima de tudo. realizaram adoção tardia ao longo de anos, po-
Identificou-se, a partir da análise dos casos, dendo observar o desenvolvimento do proces-
que os fatores percebidos como maiores facili- so em longo prazo.
tadores do sucesso do processo de adaptação
e da adoção em si foram o fato de a criança já Referências
saber de sua história de adoção e ter consciên-
cia do rompimento com a família de origem, ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS GRUPOS DE
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ativa e autônoma possibilitou uma integração GASKELL, Pesquisa qualitativa com texto, imagem
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http://dx.doi.org/10.1590/S1413-294X2003000100004 Submetido: 30/03/2014
Aceito: 31/07/2014

Contextos Clínicos, vol. 7, n. 2, julho-dezembro 2014 167

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