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Contextos Clínicos
Universidade do Vale do Rio dos Sinos
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Amanda Bicca
Psicóloga do Tribunal de Justiça de Santa Catarina. Travessa Sílvio Roman,
45, 89700-000, Concórdia, SC, Brasil. amandabicca@tjsc.jus.br
A adoção consiste no mecanismo legal que tos. Por outro lado, das 4.791 crianças disponí-
propicia à criança ou ao adolescente a inserção veis para adoção no país, 53% apresentam ida-
de forma integral em uma nova família, adqui- de superior a 10 anos, 26,8% se encontram na
rindo condição de filho, com caráter irrevogá- faixa entre cinco e dez anos, 12% apresentam
vel. Ela é a possibilidade de garantir o direito idade entre um e cinco anos e somente 1,2%
à convivência familiar após o esgotamento de estão com menos de um ano de idade.
todas as outras possibilidades de permanên- Observa-se, a partir desses dados, que a
cia na família de origem. Assim, a adoção se ampla maioria dos pretendentes à adoção
constitui no ponto de partida para uma nova preferem crianças até 3 anos de idade, mas as
fase na vida do adotando, a partir da vincula- crianças disponíveis estão concentradas na fai-
ção com a família adotiva. Com isso, surgem xa etária dos 5 aos 10 anos ou mais (CNJ, 2014).
transformações sociais e emocionais e, conse- Assim, verifica-se a existência de uma grande
quentemente, um aprimoramento na imagem discrepância entre as necessidades das crian-
que tem de si próprio e do mundo (Fonseca, ças que aguardam a inserção em uma família e
2002; Schettini Filho, 2009; Vargas, 2006). os desejos dos candidatos à adoção, que pare-
Quando a idade desse adotando é superior cem não apresentar disponibilidade ou não se
a dois anos de idade, ela é, usualmente, deno- considerar preparados para realizar uma ado-
minada ‘adoção tardia’ (Paiva, 2004; Weber, ção tardia, adoção esta ainda permeada por
2004). Em debates sobre o tema tem-se utiliza- muitos mitos e fantasias (Schettini et al., 2006).
do também o termo ‘adoção de crianças maio- Devido a essas dissonâncias, diversas ini-
res’, numa tentativa de afirmar que não existe ciativas estão sendo tomadas para incentivar
um tempo exato ou adequado para a adoção, a adoção tardia. A Lei 12010/09 (Brasil, 2009),
ou mesmo que possa parecer ‘tarde demais’. conhecida como ‘Lei da adoção’, buscou ace-
No entanto, optou-se por utilizar, neste tra- lerar o processo de adoção no país, bem como
balho, o termo ‘adoção tardia’, por ser am- qualificá-lo. Destaca-se a alteração no Estatuto
plamente utilizado na literatura científica da da Criança e do Adolescente (Brasil, 1990), no
área, bem como em textos técnicos e jurídicos, seu artigo 197 – C § 1º, tornando obrigatória,
incluindo a Lei da Adoção (Brasil, 2009), o Pla- para todos os pretendentes à adoção, a parti-
no Nacional de Convivência Familiar e Comu- cipação em programa de preparação psicosso-
nitária (PNCFC) e o Estatuto da Criança e do cial e jurídica. A Lei expressa que, no referido
Adolescente (1990). programa, entre outros tópicos, deve ser in-
No Brasil, o índice de pretendentes à ado- cluída a discussão e o estímulo a adoções tar-
ção que desejam adotar crianças maiores de dias, de crianças com necessidades especiais,
dois anos é bastante reduzido. Segundo dados portadoras do vírus HIV, grupos de irmãos e
do Cadastro Nacional de Adoção (CNJ, 2014), interraciais. Da mesma forma, o Plano Nacio-
dos cerca de 27.363 pretendentes cadastrados, nal de Promoção, Proteção e Defesa do Direito
41% colocam como limite máximo de idade de Crianças e Adolescentes à Convivência Fa-
para a criança pretendida um ano de idade, miliar e Comunitária (Brasil, 2006) preconiza o
54% estabelece três anos como limite e apenas estímulo às adoções de crianças em faixas etá-
5% aceita crianças com até 10 anos, sendo que, rias mais avançadas e de adolescentes, com o
acima dessas faixas etárias, inexistem candida- objetivo de possibilitar adequada convivência
familiar e comunitária. Além disso, tem cres- Em pesquisa cujo tema foi a construção
cido progressivamente o número de GEAAs da identidade nas famílias adotivas, Schettini
(Grupos de Estudos e Apoio à Adoção), orga- et al. (2006) ressaltam a relutância dos preten-
nizações que têm por objetivo apoiar e escla- dentes à adoção em aceitar crianças com idade
recer os pretendentes à adoção, bem como os superior a dois anos por temerem a existência
que já adotaram. Esses grupos trazem, tam- de traumas derivados de suas vivências com
bém, como um de seus objetivos, favorecer as a família biológica ou nos programas de aco-
categorias descritas acima, incluindo a adoção lhimento e acreditarem que tais crianças pode-
tardia (Angaad, 2012). riam ter maiores dificuldades em estabelecer
Nos casos de concretização de uma adoção vínculos com a família adotiva. Os autores res-
tardia, é necessário um período de adaptação saltam a necessidade de os pais adotivos con-
para o seu êxito. A partir do momento em que seguirem ajudar o filho a integrar a vivência
os pretendentes à adoção assumem a guarda, prévia com a família biológica à sua história de
para fins de adoção de uma criança ou de um vida, permitindo ao filho a valorização daque-
adolescente, inicia-se o período denominado la etapa de sua vida. Tal abertura dos adotan-
estágio de convivência, que perdura até o mo- tes à história de vida da criança seria funda-
mento em que a sentença de adoção é homolo- mental para a adequada adaptação da família.
gada. A duração deste período depende de de- Diversos autores citam características con-
terminação judicial e pode ser prorrogada por sideradas comuns no período de adaptação da
sugestão da equipe técnica que o acompanha criança à nova família. Vargas (1998) cita como
(Brasil, 1990). Nesse período, é recomendável pontos comuns apresentados pelos adotantes
que haja um acompanhamento técnico, com o no início da adaptação: comportamentos re-
objetivo de fornecer suporte ao agrupamento gressivos, agressividade, ritmo de desenvol-
familiar nas possíveis dificuldades e nos desa- vimento global bastante acelerado, esforço da
fios que poderão surgir. Assim, o período de criança para se identificar com as novas figu-
estágio de convivência é de crucial importância ras parentais, enfrentamento do preconceito
para o desenvolvimento dos laços de afetivida- social e necessidade de preparação e acom-
de entre adotando(s) e adotante(s) (Paiva, 2004). panhamento específico no processo. Schettini
A produção de pesquisas que abordam Filho (2009) também traz essas características
essas vivências no decorrer desse período de como inerentes ao processo de adaptação e
adaptação é escassa. Costa e Rossetti-Ferreira ressalta que as alterações de comportamento
(2007) pesquisaram os processos de construção apresentadas pelo adotando expressam o que
da maternidade e paternidade em situações de se passa na sua intimidade.
adoção tardia por meio de um estudo de caso Além das características já citadas, diver-
com um casal que adotou duas crianças com sos autores (Otuka et al., 2013; Reppold e Hutz,
idade superior a quatro anos em diferentes 2003; Sasson e Suzuki, 2012; Schettini Filho,
momentos do estágio de convivência. Ao final 2006) referem reações de desconforto por parte
da pesquisa, os autores concebem o estágio de da criança, as quais não devem ser interpreta-
convivência como um período frágil, no qual os das, necessariamente, como inadaptação ou re-
vínculos estariam sendo construídos e a possi- jeição, pois, muitas vezes, refletem a busca de
bilidade de devolução estaria constantemente acolhimento para a construção de novos víncu-
presente. Na adoção tardia, o estágio de convi- los afetivos. Comportamentos de indiferença,
vência traria algumas características peculiares, lentidão na maturação e recusa em aprender,
pois o adotando já apresenta postura ativa, in- também possíveis de ocorrer, podem significar
terferindo na dinâmica familiar de forma mais tentativas de proteção contra um novo abando-
intensa, além de já apresentar vivências ante- no. Muitas vezes, a criança direciona aos pais
riores que repercutem no seu estilo de viver, adotivos agressões relacionadas aos genitores,
aprender, sentir e pensar. Assim, o período de o que pode gerar mágoas, tanto nos pais, quan-
estágio de convivência nas adoções tardias seria to na criança. Em alguns casos, as dificuldades
marcado por maiores desafios, sendo necessá- no período crítico de adaptação podem gerar
ria constante articulação entre as necessidades intensa frustração, colocando em risco o pro-
e os desejos da criança ou do adolescente e dos cesso de vinculação afetiva se não houver um
pais ou demais membros do grupo familiar. A acompanhamento adequado.
pesquisa ressalta, ainda, a importância de um Também as características dos adotantes
acompanhamento pós-adoção adequado às ne- são relevantes neste processo de vinculação.
cessidades dessa família. Estudos envolvendo características comuns
relação dos adotantes com a história de vida e ela precisou diminuir pela metade sua carga
o passado do adotando (Schettini et al., 2006; horária para se dedicar aos cuidados com o
Sólon, 2006); processo de adaptação - tempo, filho. Outro desafio encontrado foi a preocupa-
ritmo, características, mudanças e peculiarida- ção com os problemas de saúde apresentados
des - (Vargas, 1998; Otuka et al., 2013; Reppold pelo menino, sem maior gravidade, mas que
e Hutz, 2003; Sasson e Suzuki, 2012; Schettini dispensaram certa atenção, sendo algo até en-
Filho, 2006, 2009); características dos adotan- tão desconhecido do casal. As características e
tes (Ebrahim, 2001; Otuka et al., 2012; Sasson e os comportamentos da criança são apontados
Suziki, 2012); formação e consolidação do vín- pelos sujeitos como fator central para o sucesso
culo afetivo (Otuka et al., 2013; Schettini Filho, da adaptação.
2006; Segalin, 2013; Vargas, 1998). Inicialmen- A idade da criança foi apontada como fator
te, realizou-se uma análise por caso (vertical) facilitador da adaptação entre a criança e a família,
com posterior integração entre os achados (ho- pelo fato de ele já apresentar certa compreen-
rizontal), visando uma análise que englobasse são da adoção e ter sido aparentemente ‘pre-
aspectos particulares e comuns entre os parti- parado’ para isso. O momento em que Mário
cipantes da pesquisa. chamou Daniel de pai pela primeira vez, du-
rante a aproximação, teve destaque em suas
Resultados e discussão falas. O entrevistado discorreu sobre esse mo-
mento como sendo uma abertura para que ele
Os resultados encontrados nas entrevistas assumisse seu novo papel.
são apresentados, inicialmente, de forma su- O casal demonstrou satisfação em relação
cinta e separada por cada caso. Após essa ex- à concretização da adoção, referindo-se a ela
como o preenchimento de um vazio e a com-
posição, apresenta-se sua discussão e sua aná-
plementação da família. Como sugestão, citaram
lise integrada. Ressalta-se que todos os nomes
a possibilidade de haver troca de experiências
são fictícios, preservando o anonimato dos
entre adotantes e pretendentes à adoção.
participantes.
É necessário observar que essa adoção não Com o passar do tempo, Adriana conseguiu
ocorreu conforme o previsto na legislação bra- estabelecer relação de confiança com o filho.
sileira, pois o casal não estava inscrito no ca- Importa salientar que, em momento algum de
dastro de pretendentes à adoção. Sendo assim, suas falas, o casal atribuiu culpa à criança por
não houve estágio de convivência propriamen- esse comportamento. Ao contrário, os entre-
te dito e o casal teve contato com profissionais vistados buscaram, nas poucas informações
forenses somente no momento das avaliações que conseguiram colher acerca de sua história,
para a regularização da adoção. Assim, essa algumas justificativas para essa rejeição inicial,
adoção caracterizou-se como adoção intuitu como o fato dele ter convivido apenas com o
personae, sendo essa modalidade de adoção pai, desconhecendo a relação de mãe e filho. É
aquela nas quais os pais biológicos entregam o possível que a criança estivesse se protegendo
filho diretamente aos adotantes, com compro- da possibilidade de novo abandono. Assim, as
vados vínculos de afeto ou quando os adotan- atitudes de Adriana, em permitir que o filho
tes já possuem guarda legal da criança há tem- fosse desenvolvendo, aos poucos, a confiança
po suficiente para a construção de vínculos de necessária, permitiu o gradual estabelecimen-
afeto, estando a criança com mais de três anos to da vinculação afetiva.
de idade. Foram relatados comportamentos de aco-
Como reações iniciais à chegada de João, o lhimento e disponibilidade para a construção
casal citou a necessidade de adquirir itens de do vínculo, compreendendo que, para o su-
alimentação, vestuário e brinquedos adequa- cesso da adoção, é necessário que haja uma
dos à sua necessidade. Nas suas falas, não foi adaptação de todos os membros da família e
ressaltado o impacto financeiro disso, mas as não apenas da criança. Como exemplo disso,
inseguranças em relação às escolhas relativas a pode-se citar o fato de Adriana ter diminuído
tais necessidades. A preocupação com a saúde a sua carga de trabalho pelo intervalo de um
da criança também foi item destacado, já que ano, conseguindo permanecer um período di-
João chegou em estado de desnutrição, atraso ário com o filho.
no desenvolvimento e certa fragilidade inicial Em relação aos fatores facilitadores do proces-
em seu estado geral de saúde. O casal relatou so de adaptação, o casal citou, primeiramente, a
que qualquer sintoma apresentado despertava forma natural com que lidaram com a adoção,
neles grande angústia em conhecer sua causa. observando que sua abertura às características
Adriana e Luciano declararam ter se preocu- da criança teria permitido que ele se inserisse
pado que a criança pudesse apresentar algum com facilidade naquele núcleo familiar. Veri-
problema de saúde de ordem hereditária, por ficou-se, em seu discurso, real aceitação das
não conhecerem seu histórico familiar. O ca- qualidades da criança, sem cobranças para que
sal referiu, ainda, preocupação com que João se adequasse aos hábitos e gostos da família.
se sentisse aceito e inserido no grupo familiar Concomitante a isso, percebeu-se atitude de
desde o início. Ressalta-se que esse casal, den- respeito às informações que ele trazia sobre sua
tre os entrevistados, foi o único que se referiu origem e sua história de vida, demonstrando
ao temor de que a criança pudesse ter trazido aceitação da criança como realmente é e facili-
alguma doença de ordem genética. Provavel- tando sua integração na nova família. Exemplos
mente, tal temor esteja relacionado ao fato de disso foram constatados com o fato de o pai se
as etapas iniciais da adoção terem sido reali- oferecer para ir buscar fotos de quando João era
zadas fora das esferas legais. Sendo realizada bebê em sua família de origem ao se deparar
informalmente, o casal não teve acesso às in- com a curiosidade do menino nesse sentido.
formações a respeito do histórico da criança e Outro momento em que isso ficou claro foi em
de sua família de origem, propiciando o sur- conversa sobre o time de futebol para o qual o
gimento de medos e angústias relacionados a pai torce, em contraponto ao time de preferên-
essas características. cia do genitor de Pedro: João – “Pai, sabe, não
O principal desafio encontrado na adapta- vai ficar brabo, pai. Pai, o meu outro ex-pai, lá,
ção desse grupo familiar foi a dificuldade de ele torcia pelo Inter. Entendeu? (risos)”. Lucia-
vinculação de João com Adriana no início da no: - “João..., fica à vontade, se quiser torcer
convivência. Eles relataram que o menino, ini- para o Inter, torce, não tem problema, não tem
cialmente, identificou-se apenas com Luciano, motivo, o pai é do Grêmio, mas você escolhe o
desejando que ele se responsabilizasse por time”. João – “Não, pai, eu sou do Grêmio, pai”.
seus cuidados e chegando a manifestar algu- Este diálogo demonstra claramente a segurança
mas atitudes de rejeição direcionadas à mãe. do adotante quanto à relação de parentalidade,
o que faz como que ele se permita agir de modo de 2009, para crianças com idade entre um e
aberto e flexível, facilitando a expressão emo- sete anos, de qualquer etnia ou sexo, podendo
cional do filho. ter problemas de saúde tratáveis e aceitando
O apoio e participação de familiares e ami- grupos de irmãos. Cinco meses após a inscri-
gos também foram apontados como importan- ção, adotaram Pedro, com seis anos de idade,
te para o processo de adaptação. Os entrevis- em outra comarca do Estado. Antes da adoção,
tados relataram que, desde o início, receberam o casal teve um filho, que veio a falecer aos de-
constantes visitas de amigos e familiares com zoito anos de idade, cerca de cinco anos antes
filhos, permitindo o entrosamento da criança da adoção. Ao decidirem serem pais novamen-
com seus pares e obtendo apoio externo frente te, o casal descartou a possibilidade de filiação
aos desafios encontrados. Entre os casais que biológica, pois Carolina já havia sofrido um
mantinham contato frequente neste período aborto espontâneo e a gestação de seu primei-
estão os pais por adoção da irmã biológica de ro filho teria sido de risco.
João. Observou-se que, provavelmente, este A aproximação entre a criança e os adotan-
amplo apoio social externo, de alguma forma, tes foi realizada em dois encontros no progra-
tenha suprido a ausência do acompanhamento ma de acolhimento. Houve acompanhamento
profissional durante os primeiros tempos da do estágio de convivência, realizado por psi-
convivência. Por outro lado, Luciano, em suas cóloga e assistente social. A adoção ocorreu há
falas, admitiu ter vivenciado situações de pre- três anos e meio.
conceito social relacionado à adoção. O casal ressaltou, como principais desafios
A idade da criança também foi citada pelo encontrados no decorrer do processo de adap-
casal como fator facilitador para a adaptação. tação, a necessidade de modificar suas rotinas,
Eles afirmaram acreditar que o fato de João incluindo tarefas relacionadas à criança. O ca-
já estar com mais de dois anos na época teria sal citou o fato de serem sozinhos, atendendo
permitido maior compreensão dele acerca da às suas próprias necessidades e, a partir da
adoção. O casal demonstrou profunda satis- adoção, necessitarem atender às necessidades
fação com a adoção, verbalizando sentimento e aos interesses de Pedro. Um exemplo colo-
de alegria e culpabilização por não ter adota- cado pelo casal foi o momento de realizar as
do antes. Em relação a isso, os entrevistados tarefas escolares, algo que, naquele momento,
declararam imaginar que a criança tenha vi- não fazia parte de seu cotidiano. Os adotantes
venciado situações de privação e sofrimento, relataram, também, a existência de dificulda-
cobrando-se por não estarem com ele naquela des transitórias da criança em acompanhar o
época. Quanto à trajetória vivida com a ado- ensino escolar. Em relação a esse ponto, refe-
ção, ambos os entrevistados afirmaram ter rem terem sido auxiliados pelos profissionais
crescido emocionalmente com a experiência e da escola.
terem realizado novos aprendizados na convi- Os hábitos alimentares diferenciados tam-
vência com João. bém foram abordados pelos entrevistados,
Os entrevistados se referiram a alguns de- com exemplos de alimentos habituais em
safios ainda enfrentados, como o preconceito seu cardápio e que teriam sido, inicialmente,
social e o despreparo de alguns educadores, rejeitados pela criança. A necessidade de im-
que ainda solicitam em trabalhos escolares, por limites também foi relatada, pois o casal
por exemplo, informações sobre a fase de bebê afirmou que Pedro era habituado a sair para
dos alunos. Em relação a esses desafios atuais, passear por conta própria e em qualquer ho-
Adriana e Luciano se reportam ao grupo de rário, sem solicitar autorização para isso. Os
apoio à adoção do qual participam como fonte entrevistados necessitaram de algum tempo
de auxílio e de esclarecimento. Assim como os para demonstrar ao filho que haveria regras
outros casais, trazem como sugestão a possi- que precisariam ser respeitadas.
bilidade de trocas de experiências entre pre- No decorrer das falas de Adriano e Caro-
tendentes e pais por adoção visando auxiliar lina, foi observado que, em momento algum,
o processo de adaptação das famílias adotivas. a criança foi responsabilizada pelos desafios
encontrados. Ao contrário disso, foram relata-
Casal 3: Adriano e Carolina das como naturais da fase de adaptação e, al-
gumas delas, como características comuns nas
O casal Adriano e Carolina, agricultores, crianças em geral. Acredita-se que o fato de o
atualmente casados há 28 anos, inscreveu-se casal já ter tido um filho antes da adoção possa
no cadastro de pretendentes à adoção no ano ter sido um fator facilitador dessa compreen-
alguns desafios nesse processo vinculados às tar com seis anos na época da adoção, ao passo
características da criança. Entre eles, foram ci- que as outras crianças estavam com três anos.
tados dificuldades no aprendizado escolar (casal 3: Por outro lado, situações de preconceito social
“Ele tinha um pouco de dificuldade na esco- não foram referidas por esse casal, o que pode
la”), dificuldade para aceitar os hábitos da família estar relacionado ao contexto no qual estão in-
(casal 3: “queria comer só besteira, coisinhas seridos, com menor exigência de padrões pré-
assim”), atitudes de desafio em relação a regras e estabelecidos, já que o casal reside em uma co-
limites estabelecidos (casal 3: “ele gostava bas- munidade rural. Assim, variáveis pessoais da
tante de sair, queria sair todo dia com outras criança e do contexto devem ser analisadas de
crianças, ficar em volta, por aí, ou ir na casa de forma idiossincrática, como facilitadoras ou
um cada dia”), manifestações de raiva (casal 3: dificultadoras da adoção tardia.
“No início teve umas vezes que ele se revolta- Quando questionados sobre as formas pe-
va […] ele estava desenhando e jogou todos os las quais lidaram com os desafios apresenta-
lápis no chão, bravo”), problemas de saúde (casal dos, os adotantes foram unânimes em respon-
2: “nós não conseguíamos dormir à noite, por- der que utilizaram de diálogo recorrente com
que ele ficava ruim [...] E era um sofrimento os filhos. Além disso, declararam que a pró-
para todo mundo”) e preconceito social (casal 2: pria convivência foi permitindo desenvolvi-
“Eu já ouvi muito papo assim “Ah, vai criar fi- mento de maior confiança pela criança (casal 3:
lho dos outros”). “aos poucos, a gente foi colocando, foi fa-
Schettini Filho (2006), ao discorrer acerca lando para ele experimentar uma coisa e ou-
da construção dos vínculos de afeto no decor- tra”). Observou-se a predominância do estilo
rer do estágio de convivência, ressalta que a parental autorizante entre os entrevistados,
vinculação afetiva na adoção é um processo, caracterizando-se por altos níveis de exigência
que, como qualquer relacionamento humano, mesclados por uma atitude responsiva. A pre-
exige tempo para oferecer segurança à criança, dominância do estilo autorizante utilizado pe-
de um lado, e para aceitar, perceber e sentir los entrevistados vai ao encontro do apontado
a criança como filho, para os pais. Nesse mo- na literatura, como na pesquisa realizada com
mento, a situação de ‘como se fosse meu filho’ pais adotivos na qual Reppold (2001) verificou
é substituída pelo ‘sendo’, constituindo-se no altos índices de estilo parental autorizante, o
que o autor denomina relação unívoca, da que a autora relaciona com o investimento afe-
mesma forma que a expressão “família substi- tivo iniciado na fase de pré-adoção e à reflexão
tuta” vai se diluindo, permanecendo simples- efetuada durante o período de habilitação.
mente como família. Nesse processo, situações Além do diálogo, foram relatados pelos ca-
de aceitação e rejeição são normais. Assim, as sais, como fatores facilitadores na superação dos
cenas descritas pelos casais, como manifesta- desafios, o próprio comportamento da criança
ções de raiva, desafios às regras, regressão e (casal 2: “Às vezes a gente estava meio sério
oposição aos hábitos familiares, são conside- ele já fazia uma brincadeira”); a inserção ime-
radas comuns nos períodos iniciais de forma- diata nas atividades sociais da família (casal 2:
ção da nova família (Costa e Rossetti-Ferreira, “No primeiro final de semana que ele estava
2007; Sasson e Suzuki, 2012; Weber, 2004). aqui já fomos numa festa, já a comunidade
A presença de preconceitos sociais também inteira conheceu ele”) e o respeito às caracterís-
aparece no relato dos casais. A supervaloriza- ticas do adotando e sua história de vida (casal 2:
ção dos laços sanguíneos intensifica as tensões “Eu falei “João, fica à vontade, se quiser torcer
já existentes nesse período, tendo suas origens para o Inter, torce, não tem problema, não tem
em mitos ainda muito arraigados na sociedade motivo, o pai é do Grêmio, mas você escolhe o
em geral, como os de que uma criança adotada time”). Verifica-se que atitudes dos adotantes,
com mais idade não aceitaria as regras esta- envolvendo manifestações de afeto com acei-
belecidas pela família adotante, de que pode- tação e o modo de lidar com a adoção foram
riam trazer maus hábitos adquiridos nas insti- fundamentais.
tuições de acolhimento ou de que as crianças A abertura e a acolhida dos adotantes são,
adotadas tardiamente apresentam maior pro- como exposto na literatura (Otuka et al., 2013;
babilidade de problemas e fracassos (Schettini Reppold e Hutz, 2003; Sasson e Suzuki, 2012;
et al., 2006; Vargas, 2006). É interessante obser- Schettini Filho, 2006), variáveis muito impor-
var que a maior parte das situações desafiado- tantes nesse processo, lidando com as imper-
ras foram relatadas pelo casal 3, o que talvez feições e os desconfortos das crianças, ao mes-
possa ter relação com o fato de o menino já es- mo tempo em que respeitam o seu passado.
Essa postura afetiva dos adotantes (casal 3: “os iniciais de rejeição à figura paterna (“Ele tinha
casais que adotam têm que ter amor e carinho”) um pouco de receio de mim. Tinha medo”).
e de naturalidade em relação à adoção (casal 2: Ambos os casais se referiram ao que sabiam so-
“não tentamos fazer disso um bicho-papão, bre a família de origem da criança para tentar
né. A gente sempre levou de forma natural) compreender esse comportamento. O casal 3
foram marcantes nos casais pesquisados. relatou que o filho teria vivido, antes do aco-
A interação de pessoas de fora daquele nú- lhimento, apenas com o genitor, sem a presen-
cleo também apareceu como importante rede ça materna. No entanto, esse genitor seria uma
de apoio, de modo que as atitudes de aceita- pessoa agressiva, com histórico de violência
ção e integração se sobrepuseram às situações contra a criança. Assim, no entendimento do
de preconceito social nas falas dos entrevista- casal, o menino estaria reproduzindo com o
dos. Os entrevistados se referiram a familiares, pai adotivo as reações de medo e insegurança
amigos, vizinhos, professores da criança, equi- direcionadas ao genitor.
pe técnica forense e grupo de apoio à adoção No caso do casal 2, a criança também con-
como fontes de apoio externo que auxiliaram as vivia apenas com o pai. Não há conhecimento
famílias a superar os desafios relatados (casal 2: de histórico de violência, tendo a entrega ocor-
“No começo, assim, que a gente adotou o João, rida de forma espontânea. O casal atribui a di-
vinha gente quase todo dia lá em casa”). O ficuldade de vinculação com a mãe o fato de
suporte à família adotiva seria semelhante ao o filho não ter recebido cuidados de mulheres
requerido por uma puérpera em relação aos antes da adoção. Observa-se que a possibili-
parentes próximos (Vargas, 2006), tornando-se dade de os casais conhecerem esses aspectos
um importante fator de proteção da saúde fa- da história de vida das crianças possibilitou a
miliar nesse período. construção de meios funcionais para lidar com
Um dado surpreendente é que o casal que os desafios apresentados. A existência dessas
referiu a atuação da equipe técnica foi justa- relações anteriores, com frequência, é um fator
mente aquele que não passou por acompa- que gera insegurança para os adotantes, que
nhamento do estágio de convivência (por se se questionam sobre a capacidade deles e da
tratar de adoção intuitu personae), mas passou criança em desenvolverem afeto mútuo. Para
por intervenções posteriores, durante a fase de que a adoção seja bem sucedida, os adotantes
avaliação para concretização da adoção e, atu- precisam compreender a impossibilidade de
almente, participa de grupo de apoio à adoção apagar a história pregressa da criança e per-
(“depois de conversar com a assistente social, mitir a ela que expresse seus sentimentos de
e passar no grupo de adoção, a gente abre a perda, raiva, tristeza ou outros que possam es-
mente, porque, às vezes, a gente fica meio fe- tar presentes (Weber, 2004). Esse aspecto tam-
chada, assim”). Os contatos que esse casal teve bém é ressaltado por Costa e Rossetti-Ferreira
com a referida profissional foram no momen- (2007), que enfatizam que os pais adotivos
to da avaliação da guarda, e, posteriormente, precisam oportunizar com a criança o diálogo
em avaliações para a concretização da adoção. sobre o seu passado, para auxiliá-la a construir
Talvez a atribuição de maior peso para essa narrativas sobre sua história, sem se sentir traí-
atuação se deva ao fato de que teriam sido as da pelos pais biológicos ou adotivos. Um dado
primeiras orientações técnicas a respeito da interessante foi a facilidade com que o casal 2
adoção, enquanto os demais tiveram esse con- lidou com a adoção, pois não receberam ne-
tato desde o início do processo de habilitação, nhuma orientação prévia, nem foram submeti-
apresentando menor necessidade de orienta- dos a processo de habilitação. Tal dado sugere
ções posteriores. que, além de todos esses fatores já conhecidos
Em relação à vinculação da criança com os como importantes para o sucesso da adoção,
adotantes, as experiências foram bastante dife- podem existir outros, ainda não bem pesqui-
renciadas entre os casais. O casal 1 vivenciou sados e delimitados.
a vinculação de forma simétrica, com ambos Todos os casais expressaram que, no seu
os pais. O casal 2 relatou que a criança teria ponto de vista, seria vantajoso adotar crianças
se identificado primeiramente com o pai, de- com idade superior a dois anos, apesar de este
monstrando desconfiança e receio em receber aspecto não constar de modo explícito no ro-
os cuidados maternos (“ele não ficava comigo, teiro de entrevista utilizado. Como principal
eu era bicho-papão para ele”). Já o casal 3 re- vantagem apontada está a capacidade da crian-
latou o oposto, pois a criança teria se vincu- ça em compreender a adoção e participar de
lado rapidamente à mãe, com demonstrações modo ativo no processo de adaptação (casal 2:
“ele já sabia, sabe, ele já, com dois anos já tem nasceu e de outras etapas”). Tal dificuldade
noção, já sabe das coisas”). Foi enfatizado por é observada também, na prática profissional,
alguns entrevistados o fato de a adoção tardia pois é comum os adotantes ficarem sem saber
prescindir da “revelação” sobre a adoção em como agir diante de situações nas quais a esco-
si. No entanto, cabe ressaltar que o fato de a la aborda a filiação biológica, deixando de lado
criança já saber que é adotada não significa a adotiva. Essa situação evidencia a presença
que jamais ocorrerão questionamentos sobre de dificuldades das escolas diante da diversi-
sua história anterior à inserção na família, de- dade familiar atual e na relação família-escola.
vendo os pais estar preparados para lidar com A segunda sugestão, verbalizada por to-
essa situação, valorizando, na medida adequa- dos os casais, foi a criação de espaços para trocas
da, essa história. A facilidade para inserir a entre pessoas que já adotaram e outros que ainda
criança em sua vida social também foi citada, são pretendentes à adoção (casal 2: “poderia ter
como um ponto positivo em se adotar crian- contato das famílias que querem adotar com
ça nessa faixa etária (casal 3: “se a gente saía quem adotou, para conversar, tirar dúvidas,
e já dava para ele ir junto, porque era maior- medo” e casal 3: “Daria também para cha-
zinho”). mar os casais que têm dúvida sobre isso, ou
Observou-se que, na literatura referen- que têm dificuldades e conversar com quem já
te à adoção tardia são apontados os desafios passou”). Nesse sentido, os grupos de apoio à
próprios do processo de adaptação, conside- adoção, presentes em vinte e três comarcas do
rando-a como mais “difícil” ou “desafiado- Estado de Santa Catarina, têm como uma de
ra” em relação à adoção de crianças menores suas funções reunir pais adotivos, profissio-
(Otuka et al., 2013; Sasson e Suzuki, 2012). nais e simpatizantes em torno da ideia de ado-
Todavia, o discurso dos entrevistados mos- ção (Angaad, 2012), possibilitando a troca de
tra outra face da adoção tardia, sendo perce- experiências e apoio aos que estão iniciando a
bidos não somente os desafios, mas também construção de uma família. Expandir essa ex-
aspectos facilitadores da integração entre a periência em nível nacional seria fundamental.
criança, a família e a sociedade ocasionados, Ao falar sobre suas histórias de adoção, os
justamente, pelo fato de a criança já apresentar entrevistados descrevem sentimentos atuais
idade mais avançada. Pode-se citar o fato de de satisfação e felicidade, referindo medo do in-
a criança já apresentar certa autonomia, con- sucesso nas fases iniciais e arrependimento por
seguindo acompanhar os pais em muitas das não ter buscado a adoção mais cedo. Ressalta-
suas atividades, apresentando maior interação -se que o sentimento de medo foi verbalizado
e exigindo menos cuidados básicos dos pais como mais intenso no casal 2, associado ao fato
como uma das justificativas para a visão po- de que a adoção, inicialmente, não cumpriu os
sitiva dos entrevistados acerca da adoção tar- requisitos legais. Assim, a possibilidade de
dia. Além disso, o conhecimento da criança de que, a qualquer momento, a criança fosse re-
sua própria história, com menor possibilidade tirada do casal, antes da concretização jurídica
de construções de fantasias sobre a família de da adoção era fator gerador de insegurança e
origem também apareceram como fatores que temor (“a gente ficava com medo, que fossem
facilitam a integração das novas famílias. A tomar ele de nós”). Apesar disso, o sentimento
idade e a maturidade da criança, geralmente geral é de bem-estar e realização com as ado-
vistas como obstáculos difíceis de transpor, ções realizadas.
aqui se apresentaram como facilitadores e pro-
pulsores do êxito do processo. Considerações finais
Os entrevistados contribuíram, ainda, com
sugestões para auxiliar na adaptação das próxi- Observou-se que a adoção tardia traz con-
mas famílias. A primeira delas foi a realização sigo alguns desafios comuns às adoções e até
de trabalhos visando a conscientização da sociedade mesmo à filiação biológica, como a necessidade
como um todo e, em especial, dos profissionais atu- de efetuar modificações na rotina familiar. Por
antes na área da educação, em relação a aspectos outro lado, traz consigo peculiaridades, como
da adoção. Essa sugestão, proferida pelo casal 2, a necessidade de lidar com a história pregres-
deveu-se à presença de algumas dificuldades sa da criança e os possíveis comportamentos
relacionadas à forma como o tema família é desafiadores durante a fase de adaptação. No
abordado na escola onde a criança estuda, pri- entanto, algo que ficou muito claro na pesquisa
vilegiando os vínculos sanguíneos (“Vem tra- realizada é a percepção dos entrevistados de as-
balhinho da escola de levar fotos de quando pectos muito vantajosos da adoção de crianças
maiores, se comparada com a de bebês, princi- tante lembrar que nenhum dos casais passou
palmente pelo fato de não apresentarem total por curso psicossocial preparatório à adoção,
dependência dos pais, conseguindo interagir o que torna os achados ainda mais relevantes.
com eles de modo mais efetivo, o que se reflete Destaca-se, também, que, a partir dos dados
positivamente no processo de adaptação. Ve- obtidos, fica evidente que a adaptação entre
rificou-se que os casais entrevistados, desde o criança e adotantes depende, sobremaneira,
processo de habilitação, demonstraram dispo- das atitudes destes últimos, e da forma como
nibilidade em aceitar uma criança com caracte- constroem o espaço da criança naquele grupo,
rísticas diferenciadas dos perfis escolhidos pela respeitando seu tempo, seu ritmo, sua história
maior parte dos pretendentes, estando explícita e seus sentimentos.
a possibilidade de acolher crianças de diferen- O presente estudo abordou um recorte mo-
tes idades, etnias, sexos e até mesmo condições mentâneo da vida dessas pessoas, mostrando
de saúde. Assim, a abertura dos pretendentes as percepções dos casais após algum tempo
para acolher crianças reais, com suas histórias de convivência, com a vinculação afetiva já
de vida e características próprias foi fundamen- estabelecida. Para entendimentos mais apro-
tal para o sucesso dessas adoções. O desejo de fundados dos possíveis desafios encontrados
exercer a parentalidade parece se sobrepujar a no processo de adaptação próprio da adoção,
características específicas das crianças, ou seja, sugere-se a realização de estudos longitudi-
os casais querem vivenciar a maternidade e a nais, com o acompanhamento de famílias que
paternidade acima de tudo. realizaram adoção tardia ao longo de anos, po-
Identificou-se, a partir da análise dos casos, dendo observar o desenvolvimento do proces-
que os fatores percebidos como maiores facili- so em longo prazo.
tadores do sucesso do processo de adaptação
e da adoção em si foram o fato de a criança já Referências
saber de sua história de adoção e ter consciên-
cia do rompimento com a família de origem, ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS GRUPOS DE
facilitando o estabelecimento de uma relação APOIO À ADOÇÃO (ANGAAD). 2012. Dis-
aberta, franca e verdadeira. Destaca-se que, ponível em: http://www.angaad.org.br/index.
neste estudo, a idade avançada das crianças html. Acesso em: 30/10/2012.
foi considerada como um fator facilitador do BAUER, M.W.; GASKELL, G; ALLUM, N. 2002. A
construção do corpus: um princípio para a co-
processo de adoção, pois sua postura mais leta de dados qualitativos. In: M. BAUER; G.
ativa e autônoma possibilitou uma integração GASKELL, Pesquisa qualitativa com texto, imagem
mais rápida à rotina familiar. A flexibilidade e som: um manual prático. Rio de Janeiro, Vozes,
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adoção de crianças maiores e o respeito às suas BRASIL. 1990. Estatuto da criança e do adolescen-
características e singularidades também apa- te. Brasília, 13 jul. 1990. Disponível em: http://
receram como preditores de uma boa adap- www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8069.htm.
Acesso em: 16/11/2011.
tação, a partir de abertura, disponibilidade e
BRASIL. 2006. Plano Nacional de Promoção, pro-
acolhida com menos expectativas e exigências. teção e defesa do direito de crianças e adoles-
Além disso, conseguiram modificar aspectos centes à convivência familiar e comunitária.
de sua rotina e alterar prioridades, abrindo es- Brasília, 18 jun. 2006. Disponível em: http://
paço, físico e emocional, para o filho. www.mds.gov.br/assistenciasocial/secretaria-
Os adotantes também demonstram uma nacional-de-assistencia-social-snas/livros/pla-
capacidade de demonstrar afeto pelos filhos, no-nacional-de-convivencia-familiar-e-comuni-
taria-2013-pncfc/plano-nacional-de-conviven-
gerando confiança gradual e um apego mais
cia-familiar-e-comunitaria-2013-pncfc. Acesso
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do a criança nas atividades sociais da família, 2009. Disponível em: http://www.planalto.gov.
bem como o apoio da família extensa e da rede br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l12010.htm.
social, também foram citadas por todos como Acesso em: 15/11/2011.
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http://www.cnj.jus.br. Acesso em: 15/02/2014.
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apesar dos desafios enfrentados, mas citaram Tornar-se pai e mãe em um processo de ado-
a demora em concretizar a sentença de adoção ção tardia. Revista Psicologia: Reflexão e Crítica,
como fator gerador de ansiedade. É impor- 20:25-434. Disponível em: http://www.scielo.