Sunteți pe pagina 1din 103

GUIA PRÁTICO

PARA SUPERMERCADOS
MAIS SUSTENTÁVEIS
GUIA 2 - OPERAÇÃO E MANUTENÇÃO
SUMÁRIO

Palavras do presidente 08
Diretoria de sustentabilidade 09
1 O que você vai encontrar neste guia 10
2 Consumo 12
2.1 Energia 12
2.1.1. Onde sua energia está sendo usada? 12
2.1.1.1. Refrigeração (frio alimentar) 15
2.1.1.1.1. Equipamentos (casa de máquinas e unidade condensadora) 15
2.1.1.1.1.1. Manutenção estratégica para eficiência energética 18
2.1.1.1.1.2. Outras ações para eficiência 18
2.1.1.1.1.2.1. Monitoramento e gerenciamento 18
2.1.1.1.1.2.2. Fluidos frigoríficos 20
2.1.1.1.1.2.2.1. Vazamentos 26
2.1.1.1.1.2.2.2. A importância de recolher os fluidos refrigerantes 27
2.1.1.1.1.2.2.3. Cadastro técnico federal 27
2.1.1.1.2. Câmara frigorífica e salas de preparo 29
2.1.1.1.2.1. Operação sustentável 30
2.1.1.1.2.2. Manutenção estratégica para eficiência energética 32
2.1.1.1.3. Expositores refrigerados 32
2.1.1.1.3.1. Operação sustentável 33
2.1.1.1.3.1.1. Ações auxiliares para o bom desempenho 37
2.1.1.1.3.2. Manutenção estratégica para eficiência energética 37
2.1.1.1.4. Expositores autônomos ou plug-in 38
2.1.1.2. Climatização de ambientes 39
2.1.1.2.1. Isolamento de áreas 41
2.1.1.2.2. Pintura reflexiva e exaustores 42
2.1.1.2.3. Climatizadores evaporativos 44
2.1.1.2.4. Manutenção estratégica para eficiência energética 45
2.1.1.2.5. Sistemas centrais de climatização 45
2.1.1.2.6. Automação 46
2.1.1.3. Iluminação 47
2.1.1.3.1. Padrões para iluminação 48
2.1.1.3.2. Como está dividida a iluminação da loja em termos de consumo? 49
2.1.1.3.3. Tipos de lâmpadas comumente usadas 50
2.1.1.3.4. Eficiência luminosa 55
SUMÁRIO

2.1.1.3.5. Controle e automação 60 2.2. Água 96


2.1.1.3.6. Equipamentos eficientes e economizadores 60 2.2.1. Onde e como sua água está sendo utilizada (e desperdiçada)? 96
2.1.1.3.7. Operação sustentável 63 2.2.1.1. Setores de preparação 101
2.1.1.3.8. Manutenção preventiva 63 2.2.1.2. Uso de água na limpeza de loja 102
2.1.1.3.8.1. Lâmpadas queimadas 64 2.2.1.3. Sanitários 102
2.1.1.3.8.2. Acender e apagar 64 2.2.1.4. Sistema de frio alimentar, ar-condicionado e climatização 105
2.1.1.3.9. Iluminação natural e temperatura ambiente 64 2.2.1.5. Paisagismo 107
2.1.1.3.10. Efeitos de luz e sombra internamente 65 2.2.2. Entenda sua conta de água 108
2.1.1.3.11. Altura da luminária 65 2.2.2.1. Analisando os dados disponíveis: controles e monitoramento 109
2.1.1.3.12. O que se espera de uma boa iluminação? 66 2.2.3. E qual o consumo ideal? 110
2.1.1.4. Equipamentos elétricos de uma loja 67 2.2.4. Soluções 111
2.1.1.4.1. Você sabe o que há na loja? 67 2.2.4.1. Detecção de perdas 112
2.1.1.4.2. Uso consciente 69 2.2.4.1.1. Encontrando vazamentos 112
2.1.1.4.3. Operação sustentável 69 2.2.4.1.1.1. Evidências de vazamentos 116
2.1.2. Entendendo sua conta de energia 70 2.2.4.2. Equipamentos mais eficientes e economizadores 116
2.1.2.1. Tarifas de energia 72 2.2.4.2.1. Bacias sanitárias 116
2.1.2.1.1. Tarifas do grupo A 72 2.2.4.2.2. Mictórios 117
2.1.2.1.1.1. Estrutura tarifária convencional 72 2.2.4.2.3. Torneiras 118
2.1.2.1.1.2. Tarifa horossazonal verde 73 2.2.4.2.4. Chuveiro 119
2.1.2.1.1.3. Tarifa horossazonal azul 73 2.2.4.2.5. Limpeza de loja 119
2.1.2.1.2. Tarifas do grupo B 74 2.2.4.2.6. Eliminador, bloqueador de ar e válvula economizadora 120
2.1.2.2. O que é mostrado na conta? 74 2.2.4.3. Controle de pressões e vazões 121
2.1.3. Redução de custo e de consumo 77 2.2.4.4. Reúso de água e captação de água de chuva 121
2.1.3.1. Correção do fator de potência 78 2.2.4.5. Águas subterrâneas 125
2.1.3.1.1. Consequências do fator de potência baixo 80 2.2.5. Destinação correta dos efluentes 126
2.1.3.2. Enquadramento tarifário (THS azul ou verde?) 81 2.2.5.1. Óleos e gorduras 127
2.1.3.3. Determinação da demanda contratada 83 2.2.5.2. Detergentes 127
2.1.3.3.1. É possível controlar a demanda? 84 2.2.6. Comunicação e engajamento 128
2.1.4. Outras ações 87 2.3. Embalagens 129
2.1.4.1. O uso de geradores em horário de ponta 87 2.3.1. Embalagens: conceito 130
2.1.4.1.1. Biodiesel 89 2.3.2. Aspectos desejáveis para embalagens
2.1.4.2. Fontes alternativas 90 em uma operação sustentável 131
2.1.4.2.1. Energia fotovoltaica 90 2.3.3. As embalagens usadas nos supermercados 133
2.1.4.2.2. Aquecimento solar 92 2.3.3.1. Potes plásticos, bandejas e placas 133
2.1.4.2.3. Mercado livre de energia (energias incentivadas) 94 2.3.3.2. Bobinas de sacos plásticos e sacos de papel 134
2.3.3.3. Sacolinhas 136 3.2.1.3.1. Destinação e mercado 172
2.3.4. Responsabilidade no uso de embalagens: PNRS 138 3.2.1.4. Resíduos provenientes das atividades de preparação
2.4. Gás 139 e área de convivência de colaboradores 174
2.4.1. Gases combustíveis 139 3.2.1.4.1. Restos de alimentos (resíduos orgânicos) 174
2.4.2. Fogões 142 3.2.1.4.1.1. Destinação e mercado 174
2.4.2.1. O que levar em consideração na escolha de um fogão? 145 3.2.1.4.2. Óleos vegetais 176
2.4.2.1.1. Qualidade do equipamento 145 3.2.1.4.2.1. Destinação e mercado 176
2.4.2.1.2. Distribuição da chama 145 3.2.1.4.2.2. Volumes gerados 176
2.4.2.1.3. Capacidade de vaporização 146 3.2.1.4.3. Coleta seletiva de embalagens 177
2.4.2.1.4. Consumo 146 3.2.1.4.3.1. Destinação e mercado 178
2.4.3. Fornos 147 3.2.1.4.4. Quebras 180
2.4.4. Dispositivos economizadores de gás 150 3.2.1.5. Resíduos provenientes das atividades de manutenção e reparo 181
2.5. Limpeza 152 3.2.1.5.1. Recicláveis não perigosos: metais e vidro 183
2.5.1. Crie seu programa 152 3.2.1.5.1.1. Destinação e mercado 183
2.5.2. Uso de produtos menos impactantes 153 3.2.1.5.2. Resíduos perigosos 184
2.5.3. Produtos de qualidade e uso correto na redução de consumo 153 3.2.1.5.2.1. Lâmpadas fluorescentes 184
2.5.4. Equipamentos 156 3.2.1.5.2.2. Pilhas, baterias e equipamentos elétricos e eletrônicos 185
2.5.5. Outras ações importantes 156 3.2.1.5.2.3. Fluidos de refrigeração - freezeres, geladeiras
2.6. Manejo de áreas externas 157 e ares-condicionados 186
2.6.1. Paisagismo e contole de pragas 158 3.2.1.5.2.4. Óleos minerais e sintéticos 188
3 Resíduos 162 3.2.1.5.2. Resíduos da Construção Civil 189
3.1. Políticas de Resíduos Sólidos: Nacional, Estadual e Municipal 162 3.3. A responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos 189
3.1.2. Plano de gerenciamento de Resíduos Sólidos 162 3.3.1. Pilhas e baterias 190
3.1.2. Responsabilidade compartilhada 164 3.3.2. Lâmpadas fluorescentes e de vapores metálicos 192
3.2. Os resíduos que geramos 166 3.3.3. Resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos 193
3.2.1. O que você está jogando fora? 167 3.3.4. Embalagens 193
3.2.1.1. Papelão e papel 168 3.3.5. Óleo comestível 195
3.2.1.1.1. Destinação 168 3.3.6. Pneus, óleo lubrificante, medicamentos e agrotóxicos 196
3.2.1.1.2. Mercado 168 3.4. Comunicação e engajamento 197
3.2.1.1.3 .Volume gerado 169 3.4.1. Para não gerar resíduos 197
3.2.1.1.4. Operação 169 3.4.2. Para reduzir a geração de resíduos 198
3.2.1.2. Plástico 170 3.4.3. Para reutilizar 198
3.2.1.2.1. Destinação e mercado 170 3.4.4. Para reciclar os resíduos 199
3.2.1.2.2. Volume gerado 171 3.4.5. No escritório 199
3.2.1.3. Madeira 172 4 Por que ter uma operação e manutenção sustentável? 201
PALAVRAS DO PRESIDENTE DIRETORIA DE SUSTENTABILIDADE

Cumprindo o objetivo de disseminar o conhecimento com relação ao tema A Diretoria de Sustentabilidade da APAS vem cumprir com o objetivo de promover
supermercados mais sustentáveis, estamos lançando esta edição do guia prático, a sustentabilidade da cadeia supermercadista, apresentando o tema de forma
que aborda a operação e manutenção sustentável de supermercados. Com este aplicada e evidenciando os benefícios que pode alcançar.
guia completamos o ciclo iniciado em nossa publicação anterior em que abordamos
a elaboração de projetos, construção e reformas mais sustentáveis. O conteúdo deste segundo GUIA PRÁTICO PARA SUPERMERCADOS MAIS
SUSTENTÁVEIS, que aborda a operaçãoe manutenção de lojas, traz aspectos
Neste segundo volume temos o objetivo de contribuir para busca da melhor práticos e cotidianos de lojas pequenas a grandes, respondendo a questões comuns,
eficiência nos processos, minimização de riscos e manutenção de espaços sem deixar de abordar os temas mais recentes aplicados aos supermercados. Com
agradáveis, que propiciam a melhor experiência de consumo e de trabalho, com isso, o guia torna-se umaferramenta que permite a todo supermercadista conhecer,
menores custos operacionais, gerando maior rentabilidade para o supermercadista. comparar e poder implantar as ações que melhor seenquadrem à sua realidade.

A importante discussão acerca da Política Nacional de Resíduos Sólidos e do A sustentabilidade nos supermercados tem como base a busca pela eficiência
papel do setor supermercadista para sua implementação, desenvolvido neste guia, no consumo de água, energia eembalagens, bem como a minimização de
é outro ponto de extrema relevância para todos nós, reforçando o compromisso impactos com a geração de resíduos. O respeito e a valorização daspessoas é o
da APAS para com seus associados de disseminar conhecimento para o que norteia este guia que ora apresentamos, trazendo dicas de ações ecológicas
aprimoramento do setor e incentivar a melhoria da qualidade de vida, promovendo e economicamente viáveispara o setor supermercadista no que se refere à
a responsabilidade social e a sustentabilidade. manutenção e operação das lojas.

Esta ferramenta de orientação, consulta e apoio ao supermercadista é um Parabéns a todos os envolvidos na realização deste trabalho, aos integrantes dos
projeto muito bem capitaneado pelo diretor de Sustentabilidade, Erlon Ortega e o Comitês de Sustentabilidade da APAS e da ABRAS, e aos colaboradores da APAS
diretor de Responsabilidade Ambiental, Maurício Cavicchiolli. O material completo que, direta ou indiretamente, contribuíram para que este guia fosselançado.
para supermercados mais sustentáveis pretende orientar empresários a “fazer
mais com menos”. Neste guia encontra-se uma grande ajuda na busca por maior
rentabilidade, mais economia, mais eficiência e desenvolvimento de lojas mais
agradáveis.

João Galassi
PRESIDENTE APAS
Mauricio Cavicchiolli Erlon Godoy Ortega
Diretor de Responsabilidade Ambiental Diretor de Sustentabilidade

8 9
 QUE VOCÊ VAI
O
1
ENCONTRAR NESTE GUIA

O segundo volume do Guia Prático para Supermercados mais Sustentáveis Após reconhecer o que é gerador de resíduos, são discutidos mais claramente os
aborda o tema Sustentabilidade na Operação e Manutenção da Loja. O objetivo aspectos e exigências legais para seu gerenciamento correto.
é apresentar os aspectos operacionais de forma prática e objetiva, trazendo Para cada resíduo, são apresentados dados sobre geração, formas de operação,
informações e exemplos que visem contribuir para a organização, mensuração, análises e exemplos de procedimentos aplicáveis, sempre pautado pelo conhecer
análise e definição de procedimentos e equipamentos aplicáveis a cada loja e a para planejar e executar.
cada situação. Ele resume os principais requisitos legais aplicáveis, explicita o Além dos resíduos gerados durante a operação e manutenção da loja, a discussão
caráter voluntário de aplicação de cada ação, define linhas de orientação e um é ampliada para responsabilidade sobre os resíduos pós-consumo daquilo que
conjunto de medidas práticas, sempre visando melhorar comportamentos, práticas distribuímos, a chamada Responsabilidade Compartilhada, prevista nas Políticas
e atitudes, assim como promover uma operação e manutenção mais sustentáveis, Nacional e Estadual de Resíduos Sólidos. As mais recentes discussões sobre os
o que acarreta gastos operacionais mais baixos e maior longevidade patrimonial. sistemas de logística reversa a serem implementados no Brasil, focando o papel do
Cada capítulo foi pensado para apresentar os temas de forma que possamos supermercado neste processo, são debatidas nesta seção.
melhor conhecer, analisar, planejar e executar ações dentro de uma lógica de Este segundo volume do Guia Prático para Supermercados mais Sustentáveis
sustentabilidade para o varejo. Ao longo do texto, encontraremos também destaques não objetiva ser um manual de “como se faz” — apesar de poder ser usado como
que discutem pontualmente situações específicas, exigências especiais, apontam tal em muitos casos —, mas ser uma ferramenta de orientação, consulta e apoio
as tendências e trazem exemplos de aplicação. ao supermercadista que busca resultados por meio da sustentabilidade de seu
negócio, contribuindo para uma maior rentabilidade através da contribuição de
O conteúdo do guia está basicamente dividido entre CONSUMO e DESCARTE.
lojas mais eficientes, aprazíveis e salubres.
Em CONSUMO, os subcapítulos apresentam questões relacionadas a água,
Uma ótima leitura.
energia, embalagens usadas na loja, gás e produtos de limpeza, entre outros
produtos consumidos na operação e manutenção de uma loja.
Em cada subcapítulo são apresentados aspectos de onde o consumo ocorre (e
onde pode haver desperdício), trazendo uma radiografia dos principais processos
envolvidos e explorando alternativas quanto ao uso eficiente, gerando mais
economia.
Os instrumentos ou ferramentas de que dispomos para medição e monitoramento,
assim como os indicadores de desempenho, metas e desafios da operação, são
apresentados de forma a possibilitar a verificação de desempenho e o planejamento
das ações a serem implantadas.
Novas tecnologias e desafios do mercado também são apresentados, concluindo
com indicações de execução e acompanhamento das ações.
Em DESCARTE, as inovações e exigências trazidas pelas Políticas Nacional e
Estadual de Resíduos Sólidos pautam todo o capítulo.
A implementação dessa lei exigirá mudanças na forma de operação em relação
aos resíduos, de forma que o capítulo inicia-se pela classificação do resíduo gerado
em uma loja, como base para o estabelecimento dos procedimentos operacionais.

10 11
2 CONSUMO

2.1. Energia De fato, ao observar o perfil de consumo ao longo do ano, verifica-se a formação de
uma curva coincidente com a de temperatura média (Figura 13). Uma comparação entre
2.1.1. Onde sua energia está sendo usada?
os dias da semana pode evidenciar variações relacionadas a operações específicas da
O uso de energia em supermercados está entre os itens do topo da lista de custo loja, como maior consumo em dias de promoções. E mesmo ao longo de apenas um dia
operacional. Na operação sustentável, objetiva-se buscar alternativas para a existe grande variação, como se pode ver no gráfico de demanda (Figura 2).
redução de consumo e custo por meio da eficiência sem, contudo, colocar em risco
a segurança alimentar, o conforto térmico e a adequada iluminação da loja. demanda máxima registrada
190
Não há indicadores no Brasil sobre média de consumo em supermercados. Nos
170
Estados Unidos, a Agência de Proteção Ambiental (EPA), por meio do programa
150
Energy Star, define como média de consumo anual para supermercados 538,2 kWh/m2.
Um levantamento realizado em seis lojas do interior de São Paulo chegou a resultado 130

kW
semelhante de 509,2 kWh/m2 por ano. 110 consumo fora consumo
da ponta na ponta
Definir indicadores como esse é imprescindível para a definição de objetivos e 90

metas. Mas é fato que a energia demandada para uma loja é tão variável quanto os 70
modelos de operação e serviços oferecidos. Em comum temos apenas a área de 50
venda, sendo a composição de setores e serviços bastante diversificada. 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
O estudo Avaliação de índices de consumo de energia para supermercados Horas
exemplifica melhor essa variação. Utilizando-se de softwares específicos, ao Figura 2. Perfil de variação diária da demanda em uma loja de porte médio, com distinção entre os
simular uma mesma loja em localidades diferentes do País, o consumo médio horários de ponta e fora da ponta, indicação de máxima demanda em cada horário.
Fonte: Estech Engenharia.
alcançado em cada cidade variou significativamente devido aos sistemas de
climatização e refrigeração, que sofrem influência direta do clima (Figura 1). No gráfico apresentado na Figura 2, podemos ver que antes da abertura da loja o
Consumo Energético Anual consumo restringe-se aos equipamentos de refrigeração e outros, que necessitam
permanecer ligados. Com a abertura, iniciam-se os processos com uso de equipamentos,
800
além da iluminação. A partir da tarde, o fator temperatura passa a impactar diretamente
Consumo Energético (MWh/ano)

700
600 o sistema de refrigeração e climatização, pelo maior movimento em câmaras e troca
500
Climatização de calor nos expositores, elevando o consumo. No início da noite, a iluminação amplia
400
300
Refrigeração o consumo, havendo casos em que iluminação e fornos elétricos promovem grande
200 elevação de demanda no horário de ponta. Por fim, o consumo volta a descer à medida
100 que as atividades e a temperatura ambiente diminuem, chegando ao estado basal de
0
Belém Brasília Porto Rio de São Paulo antes da reabertura da loja.
Alegre Janeiro
A contribuição de cada segmento no consumo total da loja também é variável. A
Figura 1. Consumo de energia pelo sistema de refrigeração e climatização em supermercados
instalado em cinco cidades brasileiras. situação é ilustrada por três perfis de lojas, evidenciando a participação dos grupos de
Fonte: Branco (2010) Avaliação de índice de consumo de energia para supermercado. consumo de energia (Figura 3).

12 13
2 CONSUMO

Perfil 01 Seja qual for o caso, o frio alimentar e a iluminação, seguidos pela climatização
de ambiente, balcões com aquecimento e fornos, constituem os grupos de maior
consumo na loja. Compreender como cada grupo funciona e as alternativas
que temos para melhorar a eficiência deles são fatores-chave na busca pela
Refrigeração (41%) sustentabilidade operacional.
Balcão Aquecido e Forno (20%)
2.1.1.1. Refrigeração (frio alimentar)
Iluminação (25%)
Equipamentos Preparação (14%)
A partir da carga instalada, pode-se dividir o grupo Frio Alimentar em subgrupos:
equipamentos (unidades condensadoras e casa de máquinas); expositores e
balcões refrigerados; câmaras frigoríficas e salas de preparação; e expositores
autônomos (plugins). Apesar de a casa de máquinas, as câmaras e os expositores
fazerem parte de um mesmo sistema, optou-se por separá-los para fins de
Perfil 02
organização das ações de eficiência. A participação de cada grupo é exemplificada
na Figura 4 pela média entre seis lojas estudadas.

Ar-condicionado (30%)
Refrigeração (25%)
Iluminação (20%) Casa de Máquinas (58%)

Outros (25%) Autônomos (21%)


Expositor (18%)
Câmaras (3%)

Perfil 03
Figura 4. Participação dos subgrupos na potência instalada em frio alimentar, informação baseada
em média.

Refrigeração (43%) Ventilação (4%) 2.1.1.1.1. Equipamentos (casa de máquinas e unidades condensadoras)
Autônomos (17%) Aquecimento (2%) Sistemas de refrigeração parecem bastante complexos, mas a maior parte das
Ar-condicionado (14%) Cozimento (2%) informações para uma operação sustentável está contida nos manuais de instalação
Iluminação (13%) Aquecimento da Água (1%) e manutenção fornecidos por seus fabricantes. Neles você encontra os indicadores
Outros (4%) e o meio mais eficiente de uso do equipamento. Essas recomendações devem ser
seguidas na medida do possível, sendo os desvios discutidos com seu técnico de
confiança.
Figura 3. Percentual de participação no consumo elétrico de cada segmento. Perfil 1, referente Indicaremos alguns dos pontos mais relevantes sobre um sistema em rack
à média de 6 lojas entre 600 e 1.000 m2 de área de venda. Perfil 2, apresentado por Panesi (2008) no
(compressores ligados em paralelo, geralmente montados em uma casa de máquinas)
estudo Eficiência energética em supermercados, como padrão para os supermercados analisados,
e Perfil 3, indicado pela Agência de Proteção Ambiental Americana (EPA) como padrão para lojas ou uma unidade condensadora (unidade compacta onde todos os componentes da
nos Estados Unidos. linha de pressão estão alojados) na busca por melhores desempenhos.

14 15
2 CONSUMO

válvula de expansão
tubulação

ar quente para fora

ar frio para dentro


ventilador ventilador

compressor

A B

Figura 5. Exemplos de Unidade condensadora (A) e Rack (B).


tubulação
Explicando de forma simplificada, esses equipamentos funcionam retirando condensador evaporador
o calor dos expositores e câmaras — pela circulação do fluido refrigerante — Figura 6. Esquema de funcionamento do sistema de refrigeração, com indicação dos componentes
e jogando o calor retirado no ambiente, por meio dos condensadores (Figura principais.
6). Para garantir a boa eficiência, podemos facilitar a dissipação do calor nos Fonte: http://revistaescola.abril.com.br

condensadores e reduzir a resistência térmica nos evaporadores (expositores), O uso de ventiladores mais eficientes, bem como de controle de rotação do
mantendo-os limpos e conservados. ventilador — variadores de frequência, dimmers e controles de liga/desliga —
A utilização de ventilação mecânica ou exaustão para remoção, quando associados a um controlador, permitem ganhos em eficiência energética neste
necessário, do calor dissipado pelos equipamentos é muito importante, ainda mais campo.
quando os condensadores estão no mesmo espaço dos compressores. Mesmo O correto dimensionamento dos compressores também é essencial para a
quando só há compressores, a elevação da temperatura pode resultar em baixo eficiência do sistema. E sempre consulte o catálogo técnico do fabricante para
rendimento, maior consumo de energia e maior despesa para a loja. determinar as condições operacionais que proporcionam maior economia. Pequenos
No caso dos condensadores, os técnicos devem garantir que a pressão de ajustes podem representar grandes ganhos, mas todo ajuste deve ser acompanhado
condensação permaneça em níveis suficientemente baixos durante o verão, para pelo pessoal técnico para avaliação das consequências da mudança antes da
conseguir o melhor desempenho. Só para ilustrar, para cada 5,5 ºC de aumento na definição de novos parâmetros de operação. Sistemas multiplex ou em paralelo
temperatura de condensação, a unidade perde entre 6 e 10% de sua capacidade possibilitam desativar um dos compressores ou reduzir o tempo de operação quando
de refrigeração. Sempre que possível, deve-se evitar instalar os condensadores em não estão operando a toda carga, mas misturar expositores com temperaturas de
áreas confinadas ou onde a entrada de ar possa ser afetada por outras unidades ou evaporação diferentes pode tornar o sistema menos eficiente. O sistema atenderá a
por ar com particulados (cinza ou poeira). Nessas condições também se observam todos os expositores, mas operando na modulação necessária para atender a maior
elevação da pressão de condensação e consequente redução de desempenho. necessidade, consumindo mais energia no geral.

16 17
2 CONSUMO

2.1.1.1.1.1. Manutenção estratégica para eficiência energética A limitação de demanda é outro recurso que pode ser aplicado. Consiste em
A manutenção ainda tem sido negligenciada em muitas empresas que atuam limitar os valores máximos de demanda elétrica, evitando que a operação exceda
a demanda contratada. Há sistemas que fazem o controle automático, mas ciente
apenas de forma corretiva, e não preventiva. Mas, com uma simples coleta
da sua operação você também pode ligar e desligar equipamentos de forma
sistemática de informações e uma boa programação, consegue-se prever e
programada, evitando o excedente de demanda. Mais adiante, no item Controle de
antecipar os problemas, possibilitando alguns ganhos e evitando perdas, o que é Demanda, listaremos exemplos de cargas que podem ser moduladas para redução
fundamental para a eficiência e a lucratividade da empresa. de demanda em certos horários .
Inicie pela coleta de dados. Uma Planilha de Manutenção Preventiva deve:
• registrar periodicamente as pressões, temperaturas, superaquecimento e sub-
resfriamento;
• registrar não conformidades, causas identificadas e soluções aplicadas;
• indicar as especificações de cada equipamento presente;
• especificar as necessidades de cada equipamento a partir dos manuais de seus
fabricantes;
• fornecer dados para se acompanhar o desempenho do sistema durante todo o
ano e facilitar a detecção de problemas antecipadamente.
A partir desses dados e do monitoramento constante por uma equipe treinada,
você estará sempre um passo à frente na resolução de problemas.
A segunda fase de implantação do Programa Brasileiro de
Eliminação dos Hidroclorofluorcarbonos (PBH) prevê a disponibilização
de um software de monitoramento da manutenção de sistemas de
refrigeração desenvolvido na Alemanha. O sistema estará acessível
a todo supermercadista pelo portal da Associação Brasileira de
Supermercados (ABRAS) na internet, ainda em 2014.
Figura 7. Tela de monitoramento via web de controlador de demanda instalado em supermercado.
2.1.1.1.1.2. Outras ações para eficiência Nela você pode acompanhar a oscilação de demanda e consumo de energia, podendo reconhecer
Listamos algumas ações possíveis que devem ser avaliadas para cada situação os horários de maior e menor consumo entre 18h e 21h, entrada do gerador derruba demanda de
em busca da maior eficiência do sistema. energia da rede a zero.
Fonte: ECOSUPORTE.
2.1.1.1.1.2.1. Monitoramento e gerenciamento
Por meio de instrumentos digitais para controle dos equipamentos de refrigeração Durante a operação, gera-se grande quantidade de calor transportado pelos fluidos
e ar-condicionado, como pressostatos, controles de fase, termômetros e termostatos, refrigerantes. Além de simplesmente dissipá-los, a recuperação de calor pode ser feita
bem como controladores e softwares de gerenciamento, constituem grande ajuda na através de um trocador de calor entre o compressor e o condensador. O calor do gás
economia de energia elétrica e redução de custos operacionais dos equipamentos, é transferido para a água antes de se encaminhar para o condensador. Consegue-se
além de proporcionar facilidades na programação de manutenção preventiva e nesse processo água com temperatura acima de 30ºC, sendo necessário, além do
preditiva. Mas para se alcançar resultados com tais sistemas, faz-se necessário próprio trocador de calor, um boiler para armazenamento da água aquecida. A ação
também pessoal treinado e que saiba como trabalhar com os dados gerados. reduz a troca de calor no condensador e ainda fornece água aquecida sem custo.

18 19
2 CONSUMO

2.1.1.1.1.2.2. Fluidos frigoríficos A eliminação de CFC (R12) e HCFC (R22), gases comumente usados nos sistemas
O principal fluido frigorífico ou refrigerante usado no País iniciou seu processo de refrigeração em supermercados e centros de distribuição, é um dos pontos
de eliminação, com o congelamento da quantidade permitida para importação em desse tratado. Na Europa, o uso de R22 é proibido em equipamentos novos desde
2004; nos Estados Unidos, desde 2010. Agora chegou a vez do grupo em que o
2013, com base no consumo de 2009 e 2010, e a diminuição dessa quantidade em
Brasil se insere. A importação do fluido teve seu limite fixado com base na média
10% em 2015 e a sua gradual redução nos anos seguintes, até a eliminação total
de consumo de 2009 e 2010 e, gradativamente até 2040, será totalmente eliminado.
em 2040. Apesar de ser um processo pelo qual Europa e Estados Unidos já tenham Estima-se que entre 80% e 90% das novas instalações de supermercados ainda
passado, ainda não há definições claras sobre o caminho que a indústria seguirá estejam baseadas no R22. Em pouco mais de dez anos, a quantidade máxima de
para a substituição. Não há fórmula pronta, e a informação constitui nossa principal fluido importado será apenas 32,5% do volume usado em 2010, o que impactará
ferramenta para tomadas de decisões. Enquanto isso, preservar o que já existe ainda diretamente essas novas instalações, que terão de ser readequadas em um espaço
é a ação mais indicada para a questão. de tempo relativamente curto.

Cientistas descobrem Cientistas descobrem Eliminação do consumo Eliminação do consumo


que os CFCs que os CFCs (100%) de HCFs em países (100%) de HCFs em países
NO MUNDO

NO MUNDO

podem prejudicar podem prejudicar em desenvolvimento em desenvolvimento


a camada de ozônio a camada de ozônio (países do Artigo 5) (países do Artigo 5)

Países desenvolvidos Ajuste no protocolo


Países desenvolvidos Eliminação do consumo Eliminação
Ajuste no protocolo Eliminaçãododo consumo Eliminação do consumo
consumo Eliminação do Eliminação do
Cientistas Instituída
Cientistasa Instituído o Instituída a Instituídoeliminam
o o consumo de Montreal para
eliminam o consumo de CFCs
de Montreal para e CTC nos países dede Brometo
CFCs e CTCde
nosMetila
países em de Brometo de Metilaconsumo
em (100%) consumo (100%)
sintetizam os Convenção
sintetizam os protocolo Convenção protocolodos CFCs e do CTC dos CFCs e donovo
CTCcronograma de em desenvolvimento
novo cronograma de países
em desenvolvimento dos HCFs nos países
em desenvolvimentopaíses em desenvolvimento dos HCFs nos países
CFCs (R-12) de Viena
CFCs (R-12) de Montreal de Viena de Montreal (Tetracloreto de Carbono) (Tetracloreto de eliminação
Carbono) de HCFCs eliminação de(países
HCFCs do Artigo 5) (países
(países dodo Artigo
Artigo 5) 5) (países do Artigo 5)desenvolvidos desenvolvidos

1928 1974 1985


1928 1987
1974 1990
1985 1995
1987 1996
1990 2000
1995 2002
1996 2007
2000 2002 2009
2007 2010 2013
2009 2015
2010 2020
2013 2025
2015 2030
2020 2040
2025 2050/2075
2030 2040 2050/2075

Brasil adere Resolução Brasil adereResolução


Resoluçãono- 267 Fim da importação
Resolução no- 267 Fim da importação
Fim da importação FimRedução de 10%
da importação Reduçãode
Redução de10%
67,5% Redução
Redução dede 100%
67,5% Redução de 100%
NO BRASIL

ao Protocolo no- 13 de ao Protocolo


de CONAMA estabelece de do CONAMA
CFC-12 (R12) para uso do CFC-12 (R12) para usode CFCs no
deconsumo nonoconsumo
consumo nonoconsumo
consumo
NO BRASIL

no- 13 de estabelece CFCs no consumo


de Montreal CONAMA de Montreal cronograma
CONAMAde eliminação cronograma
em serviços de RAC
de eliminação em serviços de RAC de HCFCs dedeHCFCs
HCFCs dedeHCFCs
HCFCs de HCFCs
proíbe uso de CFCs-PNC
proíbe uso de CFCs-PNC
de CFCs em de CFCs em
aerosóis aerosóis Aprovado o Plano Aprovado o 2009/2010:
Plano início da Congelamento
2009/2010: início da Redução de 35%
Congelamento Reduçãode
Redução de35%
97,5% Redução deEstima-se
97,5% o Estima-se o
Nacional Eliminação elaboração do PBH
Nacional Eliminação do Consumo
elaboração de
do PBH no consumo
do Consumo de nonoconsumo
consumo reestabelecimento
no consumo reestabelecimento
de CFCs-PNC de CFCs-PNC HCFCs na média de HCFCs
HCFCs na média de HCFCs
de HCFCs da camada
de HCFCs de ozônio da camada de ozônio
de 2009/2010 de 2009/2010

Figura 8. Evolução do Tratado de Montreal. Os impactos já podem ser sentidos: desde a eliminação nos Estados Unidos, o fluido
Fonte: Protocolo de Montreal vem sofrendo reajuste que já soma 209%. No mesmo período, o dólar valorizou 29%,
basicamente o mesmo reajuste de outros fluidos refrigerantes, como R134a e R404A.
Em 1987 era assinado o Protocolo de Montreal, acordo que previa a eliminação
Fica claro que, em pouco tempo, a especulação sobre o preço do R22 o tornará
gradual de gases prejudiciais à camada de ozônio, considerado entre especialistas
inviável, forçando a migração para outros fluidos refrigerantes. Já existem no mercado
um dos mais bem-sucedidos tratados internacionais já realizados. Graças aos diferentes misturas de gases que possibilitarão a manutenção do sistema adaptado
esforços conjuntos, desde 2011 pesquisadores têm registrado a diminuição do para R22. Mas não há consenso se esses promoveriam perda de desempenho ou
buraco na camada de ozônio, reduzindo assim a entrada da radiação solar nociva e, dano ao equipamento. De fato, nenhum dos fabricantes de equipamentos garante igual
consequentemente, os riscos relacionados a isso. Mas ainda há muito que ser feito, desempenho com a mistura no lugar do gás para o qual o sistema foi montado, e o
pois se estima que apenas entre 2050 e 2075 a camada de ozônio deverá voltar ao retrofit por misturas de gases deve ser visto como uma alternativa intermediária até a
nível que apresentava em 1980. definição de nova tecnologia a ser adotada.

20 21
2 CONSUMO

Os gases naturais surgem como alternativas menos impactantes, mas aqueles com
maior Potencial do ponto de vista energético apresentam riscos quanto à toxicidade
ou inflamabilidade. Assim, diversos outros fluidos refrigerantes e tecnologias estão
sendo trabalhadas, buscando equacionar esses indicadores ambientais (ODP e
GWP) com eficiência energética, baixa toxicidade e baixa inflamabilidade.
Na Europa e nos Estados Unidos, temos várias vertentes de usos, com clara
Figura 9. Programa Brasileiro de Eliminação dos HCFCs (PBH). Em sua primeira etapa, prevê tendência para sistemas com gases naturais, como o R744 (CO2), combinados com
o treinamento e capacitação do setor de serviços para combater vazamentos dos sistemas já
sistemas chamados de expansão indireta, como o bombeamento de água com
instalados.
propilenoglicol ou etilenoglicol, com fluidos primários de baixo GWP (R134a, R410A,
Programa Brasileiro de Eliminação dos Hidroclorofluorcarbonos R407C). Os hidrocarbonetos (HC) surgiram como alternativa de grande eficiência,
(HCFCs) (PBH) porém estão restritos a baixas cargas instaladas, como no caso de equipamentos
O PBH é o compromisso brasileiro com o Protocolo de Montreal. autônomos. Talvez seja possível termos, em breve, sistemas combinados que
Entre as ações previstas no PBH e implementadas pelo governo por permitam o uso seguro desses fluidos inflamáveis ou tóxicos restritos à casa de
meio do Ministério do Meio Ambiente em conjunto com a ABRAS, estão: máquinas.
seminários, manual de boas práticas em refrigeração, projetos-piloto E, apesar das incertezas, a consulta a especialistas hoje nos permite traçar
demonstrativos de contenção de HCFCs em cinco supermercados de tendências:
todas as regiões do País; a capacitação de 4.800 técnicos/mecânicos de • para sistemas já em operação, a preocupação deve estar na preservação do
refrigeração; o estímulo à recuperação, reciclagem e regeneração dos gás existente, eliminado vazamentos e garantindo a redução de riscos pela
gases; o desenvolvimento de um software on-line de documentação manutenção preventiva;
de consumo de HCFCs; o fortalecimento do Cadastro Técnico Federal • uso de gás recuperado, reciclado e regenerado é alternativa plenamente viável e
do IBAMA para o monitoramento do consumo de HCFCs. Para saber muito atrativa economicamente;
mais, acesse www.protocolodemontreal.org.br ou www.abras.com.br • uso de blends de gases para evitar a mudança de todo o sistema ainda não pode
Os candidatos à substituição do R22 ser considerado uma solução permanente, mas pode ser viável para aumentar a
Na década de 1980, quando o foco estava na camada de ozônio, os candidatos vida útil do sistema até uma mudança definitiva;
automáticos à substituição eram os HFCs (principalmente o R404A, no caso de • uso de equipamentos autônomos (ou plug-ins) que possuem sistema próprio, e
supermercados), pois não exercem qualquer impacto ao ozônio (ODP ou Potencial não estão interligados ao sistema central de refrigeração.
de Degradação da Camada de Ozônio zero). Entretanto, de lá para cá, outro indicador
E no caso da mudança:
ganhou a cena: o GWP ou Potencial de Aquecimento Global. Enquanto o R22 possui
GWP 1.810 (equivalente a 1.810 vezes mais impactante que a mesma quantidade de • o consenso está na modificação dos projetos, propiciando redução da quantidade
CO2), seu Potencial substituto, o R404A, tem GWP 3.922. Ou seja, no cenário atual, total de fluido refrigerante na instalação;
o R404A é 2,16 vezes mais impactante que seu antecessor e 3.922 vezes que o CO2. • o uso de R744 (CO2) tem sido a aposta de muitos especialistas. Apesar de custo
Apesar de ser uma alternativa aplicável no Brasil, teme-se que esse alto Potencial de instalação 30% maior, sua eficiência energética é superior à dos sistemas com
de aquecimento global constitua um novo entrave no uso do fluido, acarretando R22. Trabalha em alta pressão e, portanto, requer maior atenção às questões de
uma nova substituição de tecnologia no futuro próximo. manutenção;

22 23
2 CONSUMO

• o uso de R404A é plenamente possível, mas sempre se levanta a discussão sobre


o risco de mudanças no cenário internacional pelo seu impacto no aquecimento
global, o que afeta diretamente o preço e a disponibilidade dele no Brasil. Tem bom
desempenho em sistemas de baixa temperatura, mas perde rendimento na média
temperatura;
• fluidos refrigerantes em sistemas restritos à casa de máquinas e bombeamento
de solução com glicol para distribuição do frio também têm sido usados no
Brasil, mas apresentam consumo de energia um pouco maior se comparado
ao R22. Todavia, a restrição ao gás permitiria o uso inclusive de amônia e HC
na casa de máquinas.

Figura 11. Exemplos de fluidos frigoríficos, comumente chamados de gases de refrigeração,


usados nos sistemas de refrigeração.

Conheça os principais fluidos frigoríficos usados hoje


R134a: tem boa eficiência em resfriados, mas não pode ser usado
em congelados. Tem alto GWP e zero ODP, não sendo tóxico nem
inflamável.
R404A e R507: têm menor eficiência, principalmente em resfriados,
mas podem ser usados tanto em resfriados quanto em congelados.
Possui alto GWP e zero ODP, não sendo tóxicos nem inflamáveis.
Era o candidato automático à substituição do R22, mas pelo seu alto
impacto ambiental (GWP), têm sofrido grande pressão para que
venham a ter seus usos restringidos.
Figura 10. Sistema de expansão indireta com o bombeamento de solução de proprilenoglicol.
R407C: principalmente usado em ar-condicionado, pode também
O Ministério de Meio Ambiente, dentro do PBH, vem trabalhando com a agência ser aplicado em linhas de resfriados. Todavia, a baixa disponibilidade
da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Indústrial (UNIDO) na de mercado torna o custo elevado.
identificação das tecnologias aplicáveis ao Brasil para substituição dos gases na R410A: principalmente usado para ar-condicionado e sistemas
indústria de manufatura de equipamentos. O plano de trabalho foi apresentado em industriais, tem grande Potencial para uso em frio alimentar, mas
março de 2014 e só deve ser concluído em 2015, quando então teremos o cenário trabalha em alta pressão, exigindo maior segurança de sistema e
mais bem definido. consequentemente maior custo de instalação.

24 25
2 CONSUMO

R32: com alta eficiência e médio impacto, seria um caminho viável O uso de sensores eletrônicos portáteis de vazamento de gases é bastante útil
à substituição, mas também trabalha em alta pressão e é levemente para a identificação de vazamentos durante a verificação prevista na manutenção
inflamável, exigindo maior segurança e maior custo. preventiva. Esses equipamentos são capazes de identificar um vazamento na escala
R717 (amônia): com alta eficiência e baixo impacto ambiental, já de 5g de gás por ano:
é usada em sistemas industriais. Entretanto é altamente tóxica, e o • a presença de óleo ao redor de uma conexão pode ser indicativa da existência
risco de vazamento em locais de alta concentração de pessoas é de fuga;
fator quase impeditivo para supermercados. • mantenha condensadores e evaporadores sempre limpos e sem gelo;
R744 (CO2): aplicado em larga escala na Europa, tem alta eficiência • mantenha em dia as trocas preditivas (óleo, filtros, vedações de portas);
e baixo impacto ambiental, mas também necessita de alta pressão • a fixação rígida de tubulações evita vibrações e reduz o risco de vazamentos;
e um projeto eficiente para compensar o maior investimento. Tem
• reapertos de flanges, conexões e parafusos devem ser feitos periodicamente.
sido a aposta de muitos especialistas para o Brasil, que já conta com
Treine sua equipe para o uso correto das câmaras e reabastecimento em
dezenas de lojas instaladas.
expositores, seguindo sempre as indicações de temperatura de recebimento,
R290 (propano): apesar de ser eficiente e de ter baixo impacto
exposição e estocagem. E nunca misture diferentes tipos de fluidos.
ambiental, é inflamável e apresenta alto potencial de explosão,
2.1.1.1.1.2.2.2. A importância de recolher os fluidos refrigerantes
limitando seu uso a sistemas de baixa capacidade.
A liberação do gás refrigerante na atmosfera é hoje enquadrada como crime
2.1.1.1.1.2.2.1. Vazamentos
ambiental, além de ser um desperdício de dinheiro, uma vez que esse gás pode
Levantamentos realizados entre supermercados brasileiros por fabricantes de ser recuperado e reutilizado. Sempre trabalhe com técnicos capazes de recolher
sistemas de refrigeração apontam uma média de reposição da quantidade de fluido o fluido antes de reparos ou da desativação de sistema. A empresa responsável
refrigerante de 39% a 109% ao ano. Pesquisas semelhantes realizadas na Suécia deve transferi-lo para outro cilindro e encaminhá-lo para centrais de recolhimento
mostram taxas inferiores a 15%, sendo que em alguns Países a reposição não é e regeneração, conforme Instrução Normativa 14/2012 do IBAMA. Há centros de
maior que 5% ao ano. coleta, reciclagem e regeneração por todo o País. Consulte o site (http://www.
Os sistemas são projetados para serem herméticos, onde o gás deveria circular protocolodemontreal.org.br) para identificar um ponto próximo de você. Esse gás
sem nenhum consumo. Os vazamentos acidentais deveriam ser mínimos, mas não é recuperado volta para você a um custo muito menor que o gás novo, sem perder
esse o cenário brasileiro. A má qualidade de alguns componentes dos sistemas de qualidade e garantindo a redução de impacto ambiental.
refrigeração e problemas de montagem podem até justificar parte do problema, mas a É fundamental que a empresa responsável pelo recolhimento do refrigerante
falta de manutenção preventiva desses sistemas tem se mostrado o ponto mais crítico. possua equipamentos adequados para tal finalidade e que seja cadastrada
no IBAMA. O retorno do fluido ao sistema sem a regeneração pode introduzir
Portanto, crie uma rotina de verificação — visual e, se possível, com sensores
contaminantes que reduzem sua eficiência, chegando a danificar o equipamento.
eletrônicos — dos pontos de maior incidência de vazamentos:
2.1.1.1.1.2.2.3. Cadastro técnico federal de atividades Potencialmente poluidoras
• válvulas de expansão;
ou utilizadoras de recursos ambientais – IBAMA
• conexões e curvas;
O IBAMA é a instituição responsável pelo controle da produção, importação,
• medidores; exportação e consumo de Substâncias que Destroem a Camada de Ozônio (SDOs)
• filtros; no País. Por meio do Cadastro Técnico Federal de Atividades Potencialmente
• soldas. Poluidoras ou Utilizadoras de Recursos Ambientais (CTF) realiza o monitoramento do

26 27
2 CONSUMO

comércio e utilização dessas substâncias, garantindo que o Brasil atenda aos limites 2.1.1.1.2. Câmaras frigoríficas e salas de preparo
estabelecidos pelo Protocolo e pela legislação em vigor. Consideramos apenas forçadores, iluminação e resistências de degelo, que
O comércio varejista se insere no CTF pelo uso dos gases de refrigeração e, em são as que representam menor impacto no consumo, quando em uma instalação
alguns casos, pelo uso ou importação de alguns produtos, ou exploração de um adequada e em operação regular. Mas podem ter grande impacto em todo sistema
recurso natural. Com o implemento da Política Nacional de Resíduos Sólidos, por se alguns desses fatores não estiver de acordo.
serem empresas que deverão ter Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos, A capacidade de armazenamento das câmaras deve ser dimensionada de acordo
deverão também ter o CTF, inclusive dos responsáveis técnicos. Enfim, o CTF para com o volume previsto de vendas e da frequência de entrega. Colocadas juntas, de
supermercados já é um documento obrigatório. forma que possam utilizar paredes comuns e abrindo-se em antecâmaras ou nas
O cadastro deve ser feito para cada CNPJ, para seu representante legal e salas de preparação climatizadas, consegue-se maior eficiência de conservação
responsável técnico, quando for o caso. O recadastro é feito a cada dois anos, mas da temperatura. As portas devem ser localizadas de forma a facilitar operações de
anualmente o sistema requer a submissão de relatórios. Certificados de regularidade carga e descarga e minimizar o manuseio e tempo de operação.
apresentam validade de apenas três meses, sendo esse um documento requerido a Um problema comum é a presença de degrau na porta. Muitas vezes, visando
cada nova compra de fluido. reduzir custos, não se nivelam as câmaras com o piso, dificultando operações
Em setembro de 2013, houve um recadastramento geral para atualização de simples que, não raramente, exigem um tempo de permanência de porta aberta
dados e suspensão de cadastros inativos. Empresas e pessoas inscritas que não demasiadamente grande. E o piso precisa ser isolado e capaz de suportar
cumpriram o prazo têm agora sua situação cadastral modificada para Suspenso estruturalmente o peso de transportadores de cargas.
para Averiguações, na forma do art. 46, § 1º, da IN nº 6/2013. Essa situação significa As temperatura e umidades relativas indicadas a seguir baseiam-se no projeto
que ela não terá acesso ao seu cadastro nem a qualquer sistema do IBAMA até que de norma regulamentadora da ABNT intitulada Sistemas de Refrigeração para
a situação seja normalizada. Na internet (no link https://servicos.ibama.gov.br/ctf/ supermercados – Diretrizes para o projeto, instalação e operação.
publico/certificado_regularidade_consulta.php), você consulta a situação de seu CPF
e CNPJ no IBAMA, pois, se nos últimos 13 anos você comprou um botijão de gás para
refrigeração, esteja certo de que possui cadastro no órgão, pois era prática comum
entre os vendedores realizar o cadastro em seu nome para efetuar a venda. Agora o
recadastramento virá para corrigir esses anos de uso indevido do sistema.

Atividade Categoria Código Descrição TCFA*


Utilização de
Outros substâncias
Usuário 21 – 3 Isento
Serviços controladas pelo
Protocolo de Montreal
*TCFA: Taxa de Controle e Fiscalização Ambiental.

Tabela 1. Atividade e categoria aplicada a supermercados referente a substâncias controladas


pelo Protocolo de Montreal. Figura 12. A entrada de ar aquecido na câmara, durante operações de porta aberta, aumenta o
Fonte: CTF/IBAMA consumo do equipamento que precisa compensar a diferença de temperatura. .

28 29
2 CONSUMO

No setor de frutas, legumes e verduras (FLV), a câmara deve ser projetada para Manter as portas da câmara sempre fechadas é outro desafio, em especial
operar a aproximadamente 3 ºC e 80% de umidade relativa. A sala de preparo deve aquelas que dão acesso às salas de preparo. A prática de mantê-las abertas para
ser mantida a uma temperatura de aproximadamente 15 ºC. facilitar o trânsito não só aumenta o consumo, como também cria problemas para o
Uma câmara frigorífica para carnes e frios deve operar a 0 oC e umidade relativa conteúdo da câmara pela entrada de ar quente e úmido. Pode provocar o acúmulo
de 80%. As salas de preparo de carnes devem operar a 13 oC. Nessa área, o nível de de gelo no evaporador, impedindo o sistema de funcionar com toda eficiência até o
umidade relativa deve ser mantido suficientemente baixo para evitar a condensação próximo período de degelo.
de umidade sobre a superfície das carnes em processamento (umidade relativa Cortinas de PVC reduzem o impacto da porta aberta. Cortinas de ar, além de criar
típica de 65%). Já a área de pescado deve dispor de um gerador de gelo, uma sala a barreira térmica, poderiam facilitar o trabalho por não constituir um bloqueio à
de preparo localizada na proximidade dos expositores, projetada para operar a 15 ºC, e passagem. Mas, independentemente da solução aplicada, não se deve deixar de
de uma câmara de armazenamento mantida a 0 ºC e 80% de umidade relativa. inibir a prática de manutenção das portas abertas.
As câmaras para laticínios devem ser projetadas para operarem a 2 ºC. Enquanto
uma câmara de congelados deve operar a -20 ºC.
2.1.1.1.2.1. Operação sustentável
Deve-se evitar a entrada de produtos “quentes” nas câmaras frigoríficas. A grande
maioria dos projetos de câmaras frigoríficas para supermercados é para produtos
“pré-resfriados” e “pré-congelados”. O recebimento destes produtos deve garantir
que as temperaturas estejam dentro do especificado, e o armazenamento deve ser
feito o mais rápido possível. Sendo assim, as câmaras terão apenas que conservar
os produtos, que necessariamente devem entrar com a temperatura próxima àquela
que deve ser mantida. Mas em uma situação de prioridade, entre ter que colocá-los
“quentes” na câmara ou no expositor, prefira sempre a câmara.
Toda transferência de produtos congelados deve ter, assim, prioridade entre os
serviços a serem executados, a fim de manter o produto com o mesmo nível de
qualidade que tinha ao ser congelado inicialmente.
Não ultrapasse a capacidade máxima de armazenagem dos produtos para qual
a câmara foi dimensionada. Evite também colocar produtos nas entradas de ar da
câmara (evaporadores), pois obstruem a circulação do ar, atrapalhando a distribuição
da temperatura no interior da câmara e provocando acúmulo de gelo no evaporador.
Os fabricantes definem a capacidade de carga, espaçamento mínimo entre as
mercadorias e as paredes e entre os evaporadores da câmara. Consulte seu manual.
As luzes internas da câmara frigorífica deverão ser apagadas quando não
estiverem sendo utilizadas. Este é um procedimento muitas vezes neglicenciado pela
equipe. O uso de indicadores de luz acesa e dispositivos de acendimento automático Figura 13. Câmara com cortina de PVC para limitar a entrada de ar quente durante procedimentos
é válido nesses casos. que exijam a manutenção da porta aberta.

30 31
2 CONSUMO

2.1.1.1.2.2. Manutenção estratégica para eficiência energética Operar na temperatura certa é o primeiro passo. A norma vigente exige que os
Além de limpeza e organização, o principal ponto é a formação excessiva de gelo expositores passem a vir de fábrica com indicador de temperatura, o que facilitará
e/ou bloqueio da circulação de ar. Mais que simplesmente realizar a desobstrução, o controle e monitoramento deles. Nos modelos que não dispõem do termômetro,
busque identificar as causas do problema. o ideal ainda é realizar a leitura com termômetro próprio e fazer o registro para
Esteja sempre atento também à perda do isolamento das câmaras. Rodapés acompanhamento do desempenho diário. As temperaturas exigidas para cada
com pontos de apodrecimento, marcas de umidade e paredes externas muito grupo alimentar encontram-se na Tabela 2.
geladas são sinais de perda de isolamento. A infiltração de água é um dos grandes Faixa de temperatura
geradores desse tipo de problema. Produto
recomendada
Da mesma forma, portas sem um isolamento adequado permitem a entrada do Carnes 0 a 2 ºC
calor, exigindo da casa de máquinas maior trabalho.
Aves 0 a 2 ºC
2.1.1.1.3. Expositores refrigerados
Embutidos 2 a 4 ºC
Além do consumo relacionado à casa de máquinas, os expositores têm
Pescados 0 a 2 ºC
resistências, evaporadores e iluminação que consomem parcela considerável da
Pratos prontos resfriados 0 a 2 ºC
energia. Simulações em softwares de planejamento energético mostram que um
aumento de 20% da potência dos balcões resulta em um consumo de energia total Laticínios 4 a 6 ºC
do estabelecimento 9,3% maior. Inversamente, a redução em 20% da potência reduz Leite 2 a 4 ºC
o consumo total em 9,5%. Assim, o foco do trabalho de redução de impactos está na Frutas e verduras 6 a 8 ºC
correta operação do equipamento para reduzir a pressão sobre a casa de máquinas Legumes processados 0 a 2 ºC
e a necessidade de manutenção corretiva dos expositores. Alimentos processados 0 a 5 ºC
Sorvetes -15 a -18 ºC
Congelados -15 a -18 ºC
Tabela 2. Temperaturas indicadas para exposição dos produtos.

2.1.1.1.3.1. Operação sustentável


Não ultrapassar a capacidade máxima de armazenamento do expositor é outra
importante medida nem sempre seguida. Estes equipamentos apresentam marcações
de nível a fim de evitar que os produtos cortem ou desviem o fluxo de ar necessário
para manutenção da temperatura. Expositores sobrecarregados reduzem a qualidade
do produto e consumem mais energia, pois há aumento na mistura de ar da loja com
o do expositor, sobrecarregando, com isso, o compressor, que precisa manter-se em
operação para compensar a perda de frio.
Um sinal claro disso é a presença de corredores gelados, que chegam a provocar
Figura 14. Expositores refrigerados da loja – ilha de congelados, balcão e gôndola refrigerada. desconforto térmico nos clientes.

32 33
2 CONSUMO

A B

Figura 15. A montagem das ilhas e dos expositores pode influenciar na eficiência dos
equipamentos. Enquanto em A temos a disposição de produtos dentro do nível indicado (abaixo da
saída de ar do equipamento), em B a disposição da mercadoria acima desse nível força o ar para fora
do equipamento, aumentando seu consumo de energia.

Aproveitamento do corredor gelado Figura 16. Ilha de congelados com tampa. Menor eficiência energética, menor risco à manutenção
Já há sistemas que buscam aproveitar essa dispersão do ar do da mercadoria e melhor apresentação dos produtos.

sistema de refrigeração, captando-a na base dos expositores e Além de não terem sentido redução de vendas, ainda listaram outras vantagens
fazendo-a misturar-se ao ar de retorno do sistema de ar-condicionado e desvantagens como:
da loja, reduzindo o desconforto térmico e o consumo de energia com • não descongelamento do produto, o que melhora a qualidade, reduz quebra e
climatização. reduz a formação de gelo dentro das embalagens, facilitando ao cliente enxergar
Essas discussões acerca da eficiência de ilhas de congelados sempre levantam a o que está comprando, fato que pode estimular a venda;
questão de se usar ou não sistemas com tampas. É fato que, mesmo em equipamentos • diminuição da quebra do setor, em especial no uso de ilhas autônomas (plug-in),
dotados de sistemas de cortinas de ar, a troca de calor entre os expositores e o ambiente pois conservam melhor a temperatura e permitem o remanejamento rápido.
da loja é responsável por até 80% da carga térmica imposta aos evaporadores dos Por outro lado, a loja torna-se mais quente, pois perde o resfriamento que a ilha
expositores. Na edição da Feira APAS 2013, todos os fornecedores apresentaram aberta promovia naquele setor e ainda recebe o calor do motores do sistema
modelos de ilhas fechadas, garantindo redução entre 34% e 56% do consumo total autônomo.
do equipamento. Ainda não foram gerados dados que confirmem o percentual de Os modelos de ilhas são variáveis, desde aqueles que lembram os freezeres
redução, mas o fato é que a mudança garante, sim, ampla redução de consumo desta, horizontais até os de design moderno. Mas para operação, o destaque fica com os
que é a “maior porta aberta” de seu sistema de refrigeração. de degelo automático, iluminação em LED (valoriza o produto exposto) e com portas
Mas, apesar da redução de energia, a grande preocupação do supermercadista ainda que correm para cima, evitando o bloqueio lateral que as portas tradicionais causam.
está na ideia de que a porta fechada inibe a compra. A maioria dos supermercadistas E, atenção: as tentativas de adaptação, com instalação de portas nos equipamentos
consultados que não apresenta o sistema fechado acredita que há inibição de venda, abertos, não se mostraram eficazes, uma vez que a capacidade térmica da ilha
mas aqueles que assumiram o risco e instalaram o sistema fechado afirmam que essa aberta é maior que a das fechadas. Além disso, a adaptação provoca formação
inibição não existe. excessiva de gelo, bloqueios e manutenção, bem como o embaçamento dos vidros.

34 35
2 CONSUMO

Se ainda não chegou o momento para substituição de suas ilhas, não deixe de usar A transferência de produtos congelados do depósito até o expositor deve ter
as cortinas noturnas ou tampas térmicas durante a noite. A ação garante redução prioridade entre os serviços a serem executados, a fim de manter o produto dentro
de consumo de até 17% para o período. Faça uso desse recurso especialmente nos dos níveis de qualidade. E lembre-se sempre de que a função de um expositor é
períodos mais quentes do ano. Mas atenção: a operação com cortinas noturnas expor/manter, e não servir para o congelamento/resfriamento dos produtos.
exige cuidado, pois elas podem ser danificadas e, pelo custo de reposição, passam 2.1.1.1.3.1.1. Ações auxiliares para o bom desempenho
a constituir uma despesa em vez de promover economia. Alternativas mais simples, Não há por que substituir algo se não há perda de eficiência, mas, em se tratando
como cobertura com chapatex, têm sido aplicadas com sucesso, mas cabe ressaltar de expositores, sempre considere a possibilidade de substituir o expositor obsoleto.
que um sistema ideal deve impedir a condensação. A cada dia, modelos mais eficientes são lançados, e a modernização é uma
importante forma de se alcançar melhores resultados.
A iluminação nos expositores é algo desejável, mas esteja atento aos níveis
adequados de luz, opte sempre pela iluminação com baixo consumo de energia e
baixa produção de calor (fluorescentes e LEDs).
O vento, mesmo uma leve corrente de ar, pode afetar diretamente o rendimento
dos balcões frigoríficos, pois passa a operar em temperatura acima do normal ou
ter dificuldades de degelo. Esteja atento às portas e janelas próximas, ventiladores
mal posicionados, dutos de ar soprando sobre balcões e toda movimentação de ar
próxima aos expositores refrigerados. A eliminação dessas ocorrências certamente
melhorará o desempenho do equipamento.
Identifique também qualquer fonte de calor que incida diretamente sobre os
expositores. Lâmpadas quentes, incidência direta de luz solar, motores e até mesmo
o teto da loja podem ser um radiante de calor. Um sinal perceptível é a temperatura
dos pacotes colocados na parte superior do expositor. Caso esteja mais alta, é
porque há a incidência direta de alguma fonte de calor sobre ele.
Figura 17. Exemplo de cortina noturna para redução de consumo no período de loja fechada
2.1.1.1.3.2. Manutenção estratégica para eficiência energética
No sobrecarregamento dos expositores, uma das consequências indesejadas é Antes da reposição dos produtos nos balcões refrigerados/congelados, os
o aumento das necessidades de degelos, exigindo energia adicional para remover repositores devem ser orientados a limparem os balcões e, principalmente, retirar
o gelo das serpentinas e aletas, além de o gelo contribuir para baixa eficiência do os pedaços de papel e plástico que podem ter se desprendido das embalagens ou
sistema. Outro erro comum, que resulta no mesmo efeito, é a colocação de etiquetas qualquer outro detrito. A limpeza preventiva é uma medida simples e eficaz para
de precificação sobre a grade de retorno do ar frio, especialmente nos expositores evitar o entupimento dos esgotos e manter o bom funcionamento do equipamento.
refrigerados verticais. Sempre que possível, utilize o degelo natural para que não haja consumo de
Os repositores devem ser bem orientados sobre a correta exposição de mercadorias energia no processo. Para expositores de até 0 ºC, ventiladores podem ser usados
e etiquetas. E, mesmo em períodos de promoções, faça reposições contínuas para não para aceleração do processo. O degelo automático facilita a operação, mas o
deixar exceder a capacidade de refrigerar do balcão. Somente quando o ar frio estiver degelo por demanda (aquele que você aciona quando verifica ser necessário)
envolvendo totalmente a mercadoria é que ela poderá ser adequadamente resfriada, é, sem dúvida, a forma mais econômica, uma vez que ele acontece quando há
mantendo a segurança alimentar dos produtos. necessidade, e não por um agendamento.

36 37
2 CONSUMO

E não deixe de realizar o monitoramento dos indicadores na Planilha de auxiliam no monitoramento, passando pelos que apresentam controladores mais
Manutenção Preventiva. Registrando regularmente as temperaturas apresentadas eficientes, e chegando aos com motores de alta performance, com redução de até
em cada equipamento e conferindo-as com uma tabela de referência (Tabela 2), 60% do consumo total se comparado aos modelos tradicionais.
você estará sempre um passo à frente na resolução de problemas. No site do INMETRO, você encontra as tabelas de referência de consumo
2.1.1.1.4. Expositores autônomos ou plug-in para diversos equipamentos autônomos (http://www.inmetro.gov.br/consumidor/
tabelas.asp). Elas podem ser usadas para avaliar o desempenho dos que estão
Os equipamentos autônomos ou plug-ins são geladeiras e freezeres
em sua loja.
independentes do sistema central de refrigeração, dotados de motor próprio para
sua refrigeração. Geralmente são equipamentos de fornecedores, mas muitas
lojas passaram a adotar o uso de grandes freezeres em substituição às ilhas de
congelados ou conjuntos de freezeres verticais para congelados.
Estes requerem basicamente os mesmos cuidados dos expositores, passando
pela limpeza e degelo, até o monitoramento de temperatura interna como
estratégia preventiva de manutenção.
Alguns pontos são importantes neste caso, como a checagem do correto
isolamento – borrachas das portas danificadas e laterais muito geladas são
indicativos de falhas. A eficiência destes está diretamente relacionada com a
capacidade de manutenção da temperatura interna. Quanto mais calor ela absorve
pela falha no isolamento, mais o motor trabalhará para compensação da perda e
maior será o consumo de energia. A B
O calor retirado de dentro do equipamento é dissipado pela parte traseira
dele (geladeiras e freezeres verticais) ou pela base do equipamento (freezeres Figura 18. Exemplos de expositores refrigerados e congelados autônomos ou plug in

horizontais e ilhas). Isso implica a necessidade de se permitir a circulação de ar 2.1.1.2. Climatização de ambientes
nesses locais para que o equipamento funcione eficientemente, ou seja, devem A climatização do ambiente é usada para garantir o conforto térmico na loja
estar afastados de paredes e não ter o fluxo de ar obstruído. E ainda, no caso e a melhor apresentação de produtos sensíveis às altas temperaturas, como
dos freezeres horizontais, em que o calor é jogado para o corredor, deve haver chocolates, mas também apresenta algumas funções essenciais que acabam
a preocupação para evitar a quebra do conforto térmico no corredor onde estão sendo negligenciadas, como a de garantir a renovação do ar interior por ar exterior
instalados.
e promover a filtragem de todo ar insuflado, caracteríticas importantes para
Problemas de iluminação interna, falha na resistência de orvalho, na resistência
manutenção da aprazibilidade da loja.
das portas (vidros embaçado) e perda do isolamento (borrachas) são muito comuns Maior eficiência das funções térmicas é alcançada quanto maior for a
nesses equipamentos. Não deixe de recorrer a seu fornecedor para correção recirculação do ar frio, mas a renovação do ar interior é essencial por questões de
desses problemas, que impactam diretamente no consumo. E busque sempre o conforto e saúde. A norma regulamentadora ABNT NBR 16401 de 2008 apresenta
diálogo sobre a possibilidade de substituição por equipamentos mais eficientes uma série de parâmetros mínimos para sistemas de ar-condicionado. Traz, por
para mesma finalidade. Entre os novos modelos de geladeiras para bebidas, por exemplo, a vazão eficaz mínima de ar exterior para ventilação em supermercados,
exemplo, encontram-se desde modelos com indicadores de temperatura, que que é de 5,7 litros/segundo para cada pessoa na loja ou de 0,5 L/s por m2. Esses

38 39
2 CONSUMO

níveis, segundo os estudos em que são embasados, garantem a redução de Um sistema instalado em supermercados representa até 30-40% da carga
reclamações e manifestações alérgicas. Níveis mais baixos também podem ser instalada da loja, todavia seu uso não é permanente e pode ser modulado. Para isso,
aplicados e devem ser definidos entre o projetista e o cliente. é necessário primeiro compreender a dinâmica de uso do equipamento (quando ele
Outro cuidado a ser tomado está na captação de ar exterior. O distanciamento é ligado?) e a temperatura para a qual está regulado. Ainda é comum a prática de
de fontes de calor e poluição, bem como o bloqueio de entrada de insetos, são definição da temperatura em níveis muito baixos (em torno de 21 a 22 °C). O indicado
medidas importantes para a boa eficiência do equipamento. é buscar níveis mais adequados para o conforto térmico (tipicamente de 25 a 26 °C).
E claro, o correto dimensionamento quanto à necessidade térmica do espaço é A elevação de 1 °C na temperatura promove reduções no consumo de energia na
crucial para o melhor desempenho e eficiência.
faixa dos 2 a 3%.
Acelerar o resfriamento da loja e garantir que a temperatura não se eleve durante
o período mais quente são as duas principais razões para manter o sistema em
temperaturas mais baixas. Porém, para se atingir esses objetivos, não se faz
necessária a redução da temperatura; basta buscar o melhor isolamento do prédio
e/ou a eliminação do calor gerado.
O número de pessoas na loja altera o consumo do sistema de
ar-condicionado?
A resposta é sim, mas de forma pouco significativa. Simulações
evidenciam que o consumo energético anual de uma loja com 371,8
kWh/m2.ano sofre um aumento de apenas 0,7 kWh/m2.ano caso haja
elevação de 20% de seus frequentadores, da mesma forma que
A
reduziria em 0,6 kWh/m2.ano caso o movimento diminuísse em 20%.
2.1.1.2.1. Isolamento das áreas
O aparelho de ar-condicionado tentará refrigerar o todo ambiente onde está
instalado, fazendo todo o volume de ar presente circular por ele. Permitir a
B
entrada do ar externo é o mesmo que forçar o equipamento a refrigerar também
Figura 19. Ar-condicionado rebaixado reduz a massa de ar a ser resfriada e consequentemente 0 o ambiente externo. Manter portas e janelas fechadas, instalar cortinas de PVC
consumo de energia. nas portas de fluxo interno ou cortinas de vento nos acessos à loja garantem o
isolamento necessário. Deixe que a renovação do ar seja feita pelo equipamento.
Atendidas as condições básicas às quais se propõe a instalação de um sistema
de ar-condicionado, é hora de se atentar para seu consumo. A classificação da Assim, além de melhorar a eficiência do sistema, ainda evita-se a entrada de
eficiência enérgica (EER) de um ar-condicionado é a sua capacidade em BTU insetos, particulados (pó) e de outros poluentes para o interior da loja e do
dividida pelo seu consumo. Se, por exemplo, um ar-condicionado de 10 mil BTUs sistema de climatização.
consome 1.200 Watts, seu EER é de 8,3 (10 mil BTUs/1.200 Watts). Ao escolher o Em lojas com pé-direito elevado, a instalação dos equipamentos deve ser
melhor modelo para a sua loja, além do preço, esteja atento também a esse indicador rebaixada. Isso porque o ar frio é mais denso e se concentra na parte de baixo da
de desempenho. O programa de etiquetagem sobre desempenho energético é loja. Quanto mais alto o aparelho, maior será o volume de ar para refrigerar e maior
uma ótima referência para definição dos equipamentos mais eficientes. também será o consumo de energia.

40 41
2 CONSUMO

Películas protetoras (filmes) nos vidros são outra alternativa indicada. Para janelas
e claraboias, um filme com percentual de 10% já é suficiente para bloquear a entrada
de radiação infravermelha (calor) e ultravioleta sem comprometer a iluminação.
Tão importante quanto impedir a entrada do calor é garantir a saída do calor
gerado internamente. Fogões, fornos, motores e lâmpadas geram calor, que deve
ser dissipado. Os exaustores exercem essa função: retiram o ar quente interno e
o dissipam para fora do prédio. Além disso, ajudam a reduzir a concentração de
contaminantes, a umidade e o odor no ar.
No caso da climatização, os exaustores eólicos podem desempenhar importante
função. Como o ar quente sobe, a parte superior de um depósito ou loja chega a
apresentar 10 a 15 ºC de diferença em relação à temperatura do chão. Sem a troca
de ar e em contato com uma cobertura aquecida, a diferença entre a temperatura
Figura 20. Sem o isolamento da área refrigerada, o equipamento de refrigeração precisa resfriar
interna e a externa começa a subir. O exaustor eólico forma um vácuo ao rodar, seja
não só o ar interior mas também o ar externo que acessa a área, elevando o consumo. pela ação do vento externo, seja pela convecção do ar quente interno, promovendo
2.1.1.2.2. Pintura reflexiva e exaustores a renovação do ar. Sempre instale o equipamento no ponto mais alto de seu telhado,
pois o ar mais quente que sobe será sempre dispersado.
Além do isolamento do ar interior com o ar exterior, existe a troca de calor pelos
É importante ressaltar que o sistema permitirá no máximo igualar a temperatura
objetos, calor este que pode vir de fora ou estar sendo gerado dentro do prédio.
externa com a interna, pois a saída do ar quente pelo exaustor força a entrada de ar
Paredes duplas, uso de materiais isolantes, orientação solar apropriada ou bloqueio
por pontos mais baixos do prédio, sendo desejável que no entorno da loja a arborização
solar, vidros duplos, película de reflexão solar, paredes e telhados externamente
pintados de cor clara são ações que promovem esse isolamento ou limitam a ou bloqueios arquitetônicos do sol crie condições mais amenas de temperatura.
absorção do calor externo. Equipamentos em que as paletas de circulação são feitas de policarbonato dão
A pintura reflexiva do telhado, também conhecida como telhado branco, transparência a ele, que passa a desempenhar também a função de iluminação natural.
cobertura fria ou cool roof, promove a maior reflexão da luz solar, minimizando a
absorção de calor para o prédio. Diferentes tecnologias estão disponíveis hoje. Há
desde a tinta com alta reflexão até a presença de quartzo (aumento de reflexão) e
microesferas de cerâmica (encapsulamento e dispersão do calor). Na escolha da
tinta para essa finalidade, esteja atento ao seu índice de reflexão. Quanto maior for,
maior será sua eficiência na proteção do prédio contra o calor.
Como regra geral, a pintura reflexiva evita que o calor externo entre, garantindo
o isolamento e manutenção do ar fresco interno. E, mesmo apresentando custo A B
de mão de obra mais elevado, pela necessidade de preparação do telhado para
Figura 21. Duas estratégias para controle de temperatura do prédio. Em A, pintura reflexiva,
receber a cobertura, esse custo se justifica pela longa vida útil da solução. Com
que impede o aquecimento do telhado por meio da reflexão da luz solar. Detalhe para as lentes de
o mesmo resultado, o uso de telhas reflexivas com isolamento térmico torna-se iluminação natural. Em B, exaustores eólicos, que facilitam a saída do ar quente do interior do prédio.
bastante interessante quando se busca a substituição de toda cobertura. Créditos: Ecosuporte.

42 43
2 CONSUMO

2.1.1.2.3. Climatizadores evaporativos Atenção à disposição de climatizadores e dispersores de água


O climatizador de ar possui um ventilador que força o ar externo através de um painel A presença de grande umidade próxima a expositores de baixa
evaporativo, sobre o qual a água circula continuamente por bombeamento. Nessa temperatura pode acelerar a formação de gelo nas aletas e
passagem do ar pelo painel, o ar transfere calor para água que evapora. A temperatura consequente redução da eficiência do equipamento.
do ar diminui, e a água que evapora garante uma maior umidade do ar resfriado.
Seu bom funcionamento depende muito da umidade do ar. Quanto menor a 2.1.1.2.4. Manutenção estratégica para eficiência energética
umidade, maior a troca de calor (Tabela 3). Normalmente, ao meio-dia temos as A manutenção do sistema de ar-condicionado é uma das ações de menor custo
maiores temperaturas e as menores umidades relativas, levando sua eficiência e maior retorno em termos de eficiência do sistema. Além disso, garante a boa
ao máximo. Assim, um climatizador garante a diminuição de picos de temperatura qualidade de ar em termos de conforto e saúde. Há dois tipos:
ao longo do dia, propiciando um bom conforto térmico. Porém, em um dia quente, Manutenção de melhoria: inclui as modificações ou alterações destinadas
mas também úmido (abafado), seu desempenho fica bastante reduzido. Da mesma a melhorar o desempenho do equipamento, ajustá-lo a novas condições de
forma, a recirculação do ar já resfriado não é interessante nesses sistemas, pois o ar funcionamento, aperfeiçoar ou reabilitar as suas características operacionais.
interno da loja terá grande umidade, dificultando um maior resfriamento. Manutenção preventiva: busca evitar a ocorrência de avarias e perda
Temperatura de entrada 25 ºC 32 ºC 37 ºC de eficiência. Deve-se estipular uma manutenção preventiva sistemática
(agendada a intervalos predeterminados) e condicional (realizada quando há
Umidade relativa Redução de temperatura
indicações técnicas de perda de eficiência). Desenvolva um check-list a partir
30% 8,5 ºC 9,5 ºC 11,0 ºC
das recomendações dos fabricantes considerando revisões, análise de óleos,
40% 7,0 ºC 8,0 ºC 8,5 ºC rotinas de lubrificação, rotinas de inspeção etc.
50% 5,5 ºC 6,5 ºC 7,0 ºC Manutenção corretiva: destinada a reparar avarias e maus funcionamentos.
60% 4,5 ºC 5,0 ºC 5,5 ºC
Atenção à disposição dos equipamentos de ar-condicionado entre
75% 2,5 ºC 2,5 ºC 3,0 ºC os setores
Tabela 3. Umidade relativa, temperatura e sua redução em climatizadores. Flores e umidade próximos ao ar-condicionado aumentam a
presença de pólen e fungos nos filtros, agravando casos de alergia
entre colaboradores e clientes. Verifique a disposição dos setores e
dos equipamentos para minimizar esses efeitos indesejáveis.
2.1.1.2.5. Sistemas centrais de climatização
São equipamentos de grande capacidade e porte cujo refrigerante resfria
um líquido intermediário, normalmente a água. Gelada, ela segue para os
ambientes por meio de dutos isolados termicamente. Esse sistema pode ou
não ser combinado a tanques de termoacumulação, complemento que permite
a fabricação e o armazenamento de gelo nos horários em que as tarifas
Figura 22. O climatizador retira calor do ar externo, transferindo o ar mais fresco e úmido para
dentro do supermercado. Diferente do ar-condicionado, o ar não deve recircular (ambiente fechado) de energia são menores e a sua utilização nos horários de pico, quando a
pois o ar que entra já não perde mais calor no mesmo sistema. eletricidade é mais cara.

44 45
2 CONSUMO

Para grandes áreas, os sistemas centrais tornam-se mais econômicos quando 2.1.1.3. Iluminação
empregam as válvulas de volume de ar variável (VAV) dotadas de sensores que O que se busca com a sustentabilidade na iluminação é que os ambientes
captam as variações de temperatura. tenham o melhor conforto luminoso, a melhor qualidade e o menor custo
Da mesma forma que a mudança do setpoint reduz o consumo, mudanças possível. Simples na forma como é colocado, mas nem sempre fácil de ser
nas temperaturas da água nos sistemas que se utilizam de chiller e torres de alcançado na operação. Ações efetivas em iluminação são principalmente
resfriamento garantem resultados interessantes de economia. Usando como base alcançadas no projeto de execução ou em retrofit, sempre considerando
a temperatura de saída da água gelada no chiller em 7 °C, observa-se redução do que a iluminação deva atender aos requisitos propostos – iluminação de um
consumo de energia do sistema de climatização (1,4%) quando a temperatura de ambiente, destaque de produto, facilitação de uma tarefa ou atividade – sem
saída da água gelada é elevada para 9 °C. Inversamente, há aumento em relação promover desperdício de energia. Não se pode comprometer o aspecto visual
ao consumo de energia do sistema a 5 °C (4,8%). Características do sistema e do de uma instalação simplesmente para reduzir o consumo de energia, sob o
ambiente onde está instalado podem influenciar nessas temperaturas. risco de estar adotando uma medida não sustentável para seu negócio.
Já como efeito da temperatura de saída da água de condensação, tomando Ao entrar em uma loja, o cliente sente todas as variáveis físicas do espaço
como base de comparação os resultados obtidos para a situação com temperatura por meio de seus sentidos – estímulos visuais, auditivos e térmicos. Quanto
igual a 29 °C, observa-se uma redução do consumo anual de energia do sistema menor for o esforço de adaptação do indivíduo a este ambiente, maior será sua
de climatização (5,3%) para a situação com a temperatura de saída da água de sensação de conforto. Para iluminação, não se trata apenas da quantidade de
condensação a 27 °C. Porém a redução dessa temperatura deve ser feita com luz, mas também da boa distribuição da luz no ambiente, da reprodução real
critério, consultando os fornecedores da torre de resfriamento e evitando problemas das cores e da ausência de contrastes excessivos (incidência direta do sol na
na operação de todo sistema. área observada ou reflexos indesejáveis). Além das sensações, as emoções
2.1.1.2.6. Automação relacionadas a cada sensação completam a situação de conforto, mas esta é
A automação também é uma tecnologia aplicada na climatização. Refere-se ao uma variável que foge do nosso controle.
uso da tecnologia para facilitar e tornar automáticas algumas tarefas habituais que
ficariam a seu cargo ou de colaboradores. Com sensores de presença, temporizadores
e programações, é possível acionar cenas ou tarefas pré-programadas, trazendo
maior praticidade, segurança, economia e conforto para o usuário.
A tecnologia continua evoluindo
Sistemas de resfriamento do ar interno pelo solo (processo
no qual o ar é injetado no solo para perder calor) e sistemas de
ar-condicionado duplos que permitem o controle da umidade do
ar antes do controle de temperatura já são alternativas viáveis,
com exemplos no Brasil, e impactam positivamente na eficiência
energética dos sistemas de climatização de ambientes, mas que Figura 23. Iluminação de loja: iluminação ambiente, iluminação direcional e luz natural sendo
ainda têm sido pouco exploradas entre supermercados. aplicadas.

46 47
2 CONSUMO

2.1.1.3.1. Padrões para iluminação internacionalmente) mede o quão próximo das cores reais a iluminação artificial
A iluminação energeticamente eficiente primeiramente deve estar em consegue alcançar, variando de 0 a 100, sendo que um IRC alto irá reproduzir melhor
conformidade com as normas. A norma ABNT NBR ISO/CIE 8995-1:2013 (Iluminação as cores dos objetos. A referência de cores reais seriam aquelas observadas sob
de ambientes de trabalho), na Parte 1 (Interior), define indicadores mínimos sobre a luz do sol.
a qualidade da iluminação em cada local e situação. A Tabela 4 apresenta algumas A importância desse indicador é enorme. Enxergar as cores reais é importante tanto
destas referências. para o bom desempenho visual quanto para a sensação de conforto e bem-estar.
Todo investimento em comunicação visual da loja e dos produtos ali expostos pode
- se perder se não houver a reprodução real das cores. E mais, as cores do ambiente,
Tipo de ambiente, tarefa ou atividade Em lux Ra
dos objetos e da pele humana, se não forem reproduzidas naturalmente, podem ser
Área de vendas – pequeno porte 300 80 interpretadas pelo cérebro de forma a tornar os produtos pouco atrativos ou com
Área de vendas – grande porte 500 80 aspecto desagradável, além de deixar as pessoas com aparência pouco saudável.
Imagine o impacto que isso pode ter na venda de uma peça de carne ou de salmão.
Checkout e empacotador 500 80 Portanto, não se recomenda a utilização de lâmpadas com Ra inferior a 80 em
áreas de venda ou para interiores onde as pessoas trabalham ou permanecem por
Refeitório e vestiários 200 80
longos períodos.
Depósito*, corredores, câmaras frias 100 60 Outra variável relevante é a sensação de tonalidade da luz. Para mensurá-la,
usa-se a Temperatura de Cor (Kelvin). Quanto mais claro o branco (semelhante à luz
Preparações, padaria 300 80 diurna ao meio-dia) maior é a temperatura de cor (acima de 5.300 K). A luz amarelada,
como a de uma lâmpada incandescente, está abaixo de 3.300 K.
Açougue 500 80
As cores frias de lâmpadas são empregadas quando se deseja uma atmosfera
Escritórios, salas de reunião 500 80 íntima, aconchegante, sociável, pessoal e exclusiva (adegas, importados, produtos
especiais); as cores quentes são usadas para criar uma atmosfera formal, precisa,
Estacionamento 75 40 limpa (expositores refrigerados, peixarias). As cores neutras ou intermediárias
* Quando continuamente ocupados, utilizar 200 lux. (entre 3.300 e 5.300 K) são as geralmente empregadas no restante dos ambientes
Tabela 4. Exigências da NBR 8995-1 quanto à iluminação de ambientes. comerciais.
E-m é a iluminância mantida na superfície de referência para um ambiente, tarefa 2.1.1.3.2. Como está dividida a iluminação da loja em termos de consumo?
ou atividade. Simplificadamente, seria a densidade de fluxo luminoso na superfície A iluminação é responsável por 9 a 10% do consumo, na média das lojas analisadas,
sobre a qual este incide. Assim a referência da Tabela 4 apresenta o valor mínimo chegando a 25% em alguns casos.
de “luz” que cada ambiente deve ter. A maior parte dessa iluminação encontra-se na área de venda, sendo composta
Ra é o índice de reprodução de cor mínimo para a situação listada. Este é um pela iluminação ambiente e de gôndolas.
indicador que a nova norma apresenta e que pode fazer muita diferença para o Estacionamentos apresentam uma característica importante, pois normalmente
varejo, isso porque objetos iluminados podem parecer diferentes, mesmo se as possuem iluminação de grande potência e, apesar de serem usadas por menor
fontes de luz tiverem idêntica tonalidade (temperatura de cor) e intensidade (lumens). período que a iluminação interna, são acesas no horário de maior custo com
O Índice de Reprodução de Cores (Ra, também conhecido como IRC no Brasil e CRI energia, o horário de ponta.

48 49
2 CONSUMO

Lâmpadas halógenas também são incandescentes, nas quais se adicionam


internamente ao bulbo elementos halógenos como o iodo ou bromo, que
Estacionamento (9%)
regeneram o filamento de tungstênio em reação cíclica. Com isso, o filamento
Gôndolas (11%)
pode trabalhar em temperaturas mais elevadas obtendo-se maior eficiência
Depósito (9%)
luminosa, maior durabilidade e menores dimensões. São comuns em refletores
Loja (61%)
e, apesar da maior eficiência, a substituição por LEDs de alto desempenho tem
Demais (9%)
se mostrado bastante viável.
A lâmpada dicroica é uma variação da lâmpada halógena, portanto
incandescente, montada em um bulbo de quartzo, no centro de um refletor com
Figura 24. Consumo de energia com a iluminação da loja. espelho multifacetado numa base bipino. Ela é usada como iluminação decorativa
A iluminação interna, fora da área de venda (principalmente setores de e direta para destaque de produtos.
preparação e banheiros), aparece na Figura 25 agrupada em “demais”, compondo
também parcela significativa do consumo. Por fim a iluminação de depósito com
praticamente o mesmo percentual da iluminação de setores de preparação.
Estes dados referem-se à média observada entre 6 lojas de 600 a 1.000 m2
de área de venda. Entretanto, não reflete uma situação geral, pois a variação
observada entre as lojas foi bastante significativa. Altura das luminárias e a
opção de ter ou não iluminação em gôndolas foi o que intensificou as diferenças.
Em comum podemos citar apenas a hierarquização entre as variáveis, com a
iluminação da área de venda compondo a maior parcela de participação no
consumo com esse item (Figura 25).
2.1.1.3.3. Tipos de lâmpadas comumente usadas
Há 3 grupos de lâmpadas mais comumente usadas em supermercados: Figura 25. Fachada com lâmpadas halógenas.
Incandescentes, de Descarga (fluorescentes) e as LED.
Nas lâmpadas de descarga, a luz é gerada quando uma corrente elétrica
As lâmpadas incandescentes são as que produzem luz pela incandescência
atravessa um gás, mistura de gases ou vapores. Os elétrons, deslocando-se,
de um filamento de tungstênio pela passagem da corrente em um ambiente esbarram com o vapor de mercúrio, o que provoca a liberação de radiação
de gás inerte ou vácuo. Esse processo torna sua eficiência comprometida ultravioleta. Essa radiação, em contato com a pintura fluorescente do tubo, produz
pela grande geração de calor. Entretanto, novas lâmpadas incandescentes a luz visível.
com filamentos de dupla espiralagem têm alcançado os níveis de eficiência As lâmpadas de descarga podem ser fluorescentes, multivapores metálicas, de
exigidos pela legislação brasileira, apesar do custo mais elevado de produção. vapor de mercúrio, vapor de sódio e de luz mista.
Em supermercados ainda é comum observar essas lâmpadas em banheiros, Lâmpadas fluorescentes diferenciam-se quanto aos tamanhos. As do tipo HO são
depósitos e salas de menor frequência de uso, sendo recomendada a sua geralmente usadas em ambientes que exigem alta luminosidade e boa reprodução
substituição por modelos mais eficientes. de cores, em locais de média altura (entre 3 e 6 metros).

50 51
2 CONSUMO

As demais fluorescentes, tipo tubulares, T10 e T8, têm aplicação em ambientes Lâmpadas de vapor de sódio são indicadas para aplicação em áreas externas
com as mesmas exigências citadas para as do tipo HO, mas para locais de baixa (estacionamentos, jardins, parques, iluminação pública) e galpões de grande
altura (3 metros no máximo). O modelo T5, atualmente o de melhor eficiência entre altura, que não necessitam de luz clara e boa reprodução de cores. Apresentam luz
as tubulares fluorescentes, tem sido usado em ambas as situações (média e baixa amarelada e baixa reprodução de cores.
altura).

A B

Figura 26. Iluminação de loja com lâmpadas tubulares T5 e HO.

As lâmpadas de multivapor metálico são usadas para iluminação de grandes


áreas, de grande altura com níveis de iluminância elevados e, principalmente, em
locais onde a qualidade de luz é primordial. Apresentam luz extremamente branca
e brilhante e boa reprodução de cores, com eficiência que pode chegar a 90lm/W.
Figura 28. Iluminação de estacionamento com lâmpadas de vapor de sódio.

Em grandes áreas, fachadas, estacionamentos, jardins e iluminação pública,


também são usadas lâmpadas de vapor de mercúrio. Elas apresentam luz
branco-azulada, baixa reprodução de cores e pequena eficiência energética.
O período de partida leva alguns segundos e a lâmpada só entra em regime
aproximadamente 6 minutos após ligada a chave. Se a lâmpada é apagada, o
mercúrio não pode ser reionizado até que a temperatura do arco seja diminuída
suficientemente, isto leva de 3 a 10 minutos, dependendo das condições externas
e da potência da lâmpada.
As lâmpadas de luz mista, apesar de dispensarem o reator, não constituem
boa opção na maioria dos casos. Só podem ser ligadas em tensões de 220V. O
IRC dessas lâmpadas é 60, e a eficiência luminosa é em torno de 25 lm/W (muito
baixa comparada com a lâmpada de vapor de mercúrio) e tem restrições quanto à
Figura 27. Iluminação de loja com lâmpadas de multivapor metálico, associada à iluminação natural. posição de funcionamento.

52 53
2 CONSUMO

A lâmpada LED ou light emitting diode é um componente eletrônico que, Lâmpadas LED não precisam de reator, de luminária e não queimam
diferentemente da tecnologia encontrada nas lâmpadas convencionais, que utilizam
As lâmpadas LED podem ser ligadas diretamente em 127 ou
filamentos metálicos, radiação ultravioleta e descarga de gases, transformam a
220V, sem necessidade de reator, pois são montadas com fontes
energia elétrica diretamente em energia luminosa. Além da alta eficiência, a qualidade
internas. E mais, como apresentam os LEDs direcionados para baixo,
da iluminação proporcionada por essa fonte de luz também é um diferencial. As
dispensam até mesmo a necessidade de luminária. Por razões
lâmpadas são formadas por conjuntos de pequenos LEDs montados na forma
desejada – de tubulares a compactos – ou por um grande diodo emissor-refletores. estéticas, muitos ainda usam luminárias, mas é crescente o número
A evolução nesse campo não para. Hoje já se encontram no mercado LEDs com de instalações das lâmpadas diretamente fixadas em eletrodutos e
eficiência na faixa dos 200lm/W. Uma segunda revolução também é esperada eletrocalhas por simples presilhas.
com a introdução no mercado dos LEDs orgânicos (OLEDs). Essa tecnologia usa Outra peculiaridade do LED é que o conceito de “queimar” a
compostos orgânicos de carbono, permitindo produzir superfícies luminosas lâmpada não se aplica. Isso não significa que uma lâmpada não
flexíveis, muito finas, com uma infinidade de cores. O mercado de televisores possa deixar de funcionar, mas possivelmente ocorrerá pela falha
foi o primeiro a produzir em série equipamentos com OLEDs, permitindo montar dos componentes eletrônicos, e não pela queima do LED. Ao final
telas curvas e ultrafinas. O que se espera agora são as inovações no mercado de sua vida útil, ele terá perdido tanta eficiência que já não emitirá a
de equipamentos de iluminação, assim como em diversos outros segmentos,
quantidade de luz necessária. Ou seja, a lâmpada enfraquecerá até
especialmente de displays.
que seja necessário substituí-la.
2.1.1.3.4. Eficiência luminosa
A eficiência luminosa é a relação entre o fluxo luminoso emitido por uma lâmpada
e sua potência elétrica. Por exemplo, enquanto uma lâmpada incandescente de
100 W apresenta uma eficiência de 10 lm/W, uma lâmpada multivapor metálico
de 250 W alcança 68 lm/W. Apesar do consumo maior (relacionado à potência),
a capacidade de transformar um mesmo consumo em luz é quase 7 vezes maior.
Geralmente, o uso de lâmpadas de melhor eficiência energética representa
maior investimento inicial, mas proporciona economia no custo operacional. Resta
a você calcular o retorno do investimento dentro de um dado período para decidir
pela mudança.
Para visualizar este conceito, realizamos o comparativo entre 10 modelos
e marcas considerando eficiência, custo de aquisição, consumo e trocas de
lâmpadas e reatores (de acordo com a vida útil indicada pelos fabricantes). Para
podermos compará-los, equacionamos todos os custos para produção de 1.000
lumens durante 1.000 horas, dentro de um intervalo de 30.000 horas. O resultado é
Figura 29. Iluminação com LED e luz natural. representado na Tabela 5.

54 55
2 CONSUMO

classificação de resíduos lista a lâmpada de mercúrio como “resíduo


Eficiência
Modelo Custo (R$) perigoso” e que o Ministério do Trabalho inclui o mercúrio como agente
(lm/W)
nocivo que afeta a saúde do trabalhador na NR15, sobre atividades
LED tubular 90 152,97 e operações em locais insalubres. No capítulo sobre Resíduos, são
abordados os aspectos relacionados ao descarte correto desses
T8 64 150,98
resíduos e das necessidades especiais para seu armazenamento até
HO 69 141,84 o envio para destinação final.

T5 Entre 87 e 108 129,79 Em retrofits, onde a iluminação original é baseada em lâmpadas de vapor
metálico ou HO, o retorno do investimento em LED fica entre 15 e 24 meses, pela
LED tubular 120 111,19 significativa redução de consumo. No caso de refletores, a situação torna-se ainda
mais vantajosa. A substituição de refletores de 150W por outros de LED de 30W,
Tabela 5. Comparativo de custo de produção de 1.000 lumens durante 1.000 horas
reduz em 80% o consumo, ao passo que o uso de tubos LED em gôndolas reduz 50%
A Tabela 5 comparativa entre modelos evidencia que o custo do LED, considerando do consumo nesses equipamentos.
investimento e redução de consumo, só é mais baixo nos modelos de maior eficiência
Não se deve apenas substituir uma lâmpada pela outra
– 120lm/W. Mesmo considerando o maior tempo de vida útil e o não uso de reatores,
os modelos mais comuns de LED tubular (T8) são de 90lm/W, tornando a opção A iluminação de uma loja é baseada na quantidade de luz distribuída
menos vantajosa que o uso de Fluorescentes T%, por exemplo. no ambiente. Uma simples substituição pode resultar em falta ou
É preciso ainda considerar que não está incluso o custo de mão de obra (menor excesso de lumens, além de não levar em conta a distribuição da
necessidade de manutenção no caso do LED) e de descarte após a vida útil (custo luz pelo ambiente. Em um exemplo prático, a substituição direta de
de descarte das fluorescente ainda é elevado); é preciso levar em conta também o lâmpadas fluorescentes tubulares com 5.000 lumens por lâmpadas
fato de que quando o LED estiver próximo do fim de sua vida útil (cerca de 9 anos) é LED de 1.600 lumens resultaria em uma loja até 3 vezes mais escura.
muito provável que seu custo de substituição estará bem menor que o atual e que A solução seria a substituição de 1 fluorescente por 2 lâmpadas
sua eficiência poderá ser ainda maior. de LED, evitando alterar a disposição das luminárias. Porém a
simulação por projeto luminotécnico mostrou que a dispersão da luz
Descarte de lâmpadas fluorescentes
se daria de maneira não uniforme, inviabilizando o projeto.
O descarte de lâmpadas fluorescentes feito de forma correta deve
Portanto, ao comparar projetos para retrofit, não aceite apenas
evitar não apenas a ocorrência de impactos ao meio ambiente e à saúde
a simples substituição de lâmpadas, exija um projeto luminotécnico
humana, como também contribuir para prolongar a vida das reservas
embasando a substituição.
de recursos naturais não renováveis, pois promove a reciclagem. No
corpo humano, a absorção do mercúrio ocorre principalmente através Com a entrada em vigor dos índices de eficiência instituídos pelas Portarias
das vias respiratórias. Uma concentração maior que 0,04 mg de Hg/ Interministeriais 1.007 e 1.008 de 2010, o Brasil passou a limitar a produção e
m3 em ambiente fechado pode provocar intoxicação, ocasionando comercialização de lâmpadas de baixa eficiência. As Tabelas 6 e 7 apresentam os
tremores, comportamento anormal e introvertido. Não é a toa que a limites estabelecidos de eficiência mínima.

56 57
2 CONSUMO

Níveis mínimos de eficiência energética para lâmpadas incandescentes Lâmpada fluorescente compacta
de 127V até 750 horas de uso Potência da lâmpada (W) Eficiência mínima (lm/W)
Potência Eficiência mínima (em lm/W) Menor que 6 W 47
(W) 30/06/2012 30/06/2013 30/06/2014 30/06/2015 30/06/2016 Entre 6 e 8 W 49
Acima de Entre 8 e 12 W 54
20 24
150 Entre 12 e 15 W 56
101 a 150 19 23 Entre 15 e 18 W 58
76 a 100 17 22 Entre 18 e 25 W 59
61 a 75 16 21 Acima de 25 W 60
41 a 60 15,5 20 Lâmpada fluorescente compacta com invólucro ou corrente contínua
26 a 40 14 19 Potência da lâmpada (W) Eficiência mínima (lm/W)
Menor que 15 W 40
Até 25 11 15
Entre 15 e 25 W 44
Níveis mínimos de eficiência energética para lâmpadas incandescentes Acima de 25 W 45
de 220V até 1.000 horas de uso
Lâmpada fluorescente compacta refletora
Potência Eficiência mínima (em lm/W) Potência da lâmpada (W) Eficiência mínima (lm/W)
(W) 30/06/2012 30/06/2013 30/06/2014 30/06/2015 30/06/2016 Todas as potências 31
Acima de Tabela 7. Índices de eficiência para lâmpadas fluorescentes compactas.
18 22
150
O comércio de lâmpadas fora do limite estabelecido
101 a 150 17 21
O prazo para comercialização das lâmpadas incandescentes que
76 a 100 14 20
não atendam aos níveis de eficiência, para o atacadista e varejista, é
61 a 75 14 19 de um ano a contar das datas-limite de produção (Tabela 6). Algumas
41 a 60 13 18 lâmpadas incandescentes, utilizadas em fins específicos, não foram
26 a 40 11 16 abrangidas pela regulamentação, como as automotivas, semafóricas,
halógenas, refletoras, decorativas. Para as fluorescentes, o prazo
Até 25 10 15
permitido para comercialização de lâmpadas abaixo da eficiência
Tabela 6. Índices de eficiência para lâmpadas incandescentes no Brasil. estabelecida expirou em 30 de junho de 2013.

58 59
2 CONSUMO

2.1.1.3.5. Controle e Automação O Dimmer é um variador de tensão que modula a luminosidade da lâmpada.
O controle e automação da iluminação compreende o uso de sensores e Dimerizar uma luminária significa reduzir seu consumo sem comprometer o
dispositivos de controle para gerenciar e ajustar a iluminação ao nível desejado pelo conforto visual, pois permite ajustes ao longo do dia ou para cada situação. Além
usuário. Dimmers, sensores de luminosidade e sensores de presença, associados disso, acender e apagar uma lâmpada “em rampa” pode aumentar em até 6 vezes
a um software de gerenciamento, garantem a eficiência do sistema de iluminação. a sua durabilidade.
A automação procura simplificar a operação, garantindo que o sistema
responderá da forma programada, considerando as variáveis necessárias, sem Dimerizar as luzes Economia de energia Aumento da vida útil
depender de uma pessoa para estar atenta a tudo isso. 10% 10% 2 a 3 vezes
O custo da automação não é baixo, mas muitas lojas já possuem controladores nas
casas de máquinas com possibilidade de interligação com o sistema de iluminação, 25% 20% 3 a 6 vezes
fazendo-se necessário apenas programá-lo, adequar as linhas para o gerenciamento 50% 40% Mais de 10 vezes
e instalar os medidores necessários. Os resultados tornam-se melhores à medida que
Tabela 8. Relação entre dimerização, economia de energia e aumento da vida útil.
o sistema é capaz de avaliar situações previamente programadas, sendo necessário Fonte: Lutron.
sistemas inteligentes e bons técnicos para implantação.
Ao decidir investir na automação, busque a interligação de todos os sistemas: Células fotoelétricas, comutadores fotoelétricos ou relés fotoelétricos são
iluminação, refrigeração e climatização. capazes de detectar a luminosidade do ambiente, fechando o circuito de ligação de
2.1.1.3.6. Equipamentos eficientes e economizadores uma lâmpada apenas quando a intensidade luminosa for reduzida ao nível ajustado.
Luminárias distribuem, controlam ou filtram a luz proveniente das lâmpadas e
Além das lâmpadas, cuja eficiência foi discutida, alguns equipamentos podem
podem ser responsáveis por boa parte da otimização do desempenho do sistema.
auxiliar na busca pela eficiência do sistema de iluminação.
Para eficiência energética, uma das partes mais importantes da luminária é seu
Os sensores de presença funcionam pela detecção da presença de indivíduos
refletor, que tem na sua forma e material a função de distribuição da luz. Não
em um determinado ambiente na área de cobertura do sensor. Detectada a
trata-se apenas de capacidade de reflexão, mas também da forma, evitando a
presença (movimento), o sistema de iluminação é acionado, permanecendo ativado
concentração da luz ou o ofuscamento.
por um tempo predefinido. Funcionam com raios infravermelhos e ultrassom. De
acordo com a Environmental Protection Agency (EPA), o uso desses sensores pode Existem dois tipos de reatores para lâmpadas fluorescentes, o eletromagnético e
resultar em economia de energia que varia de 13% a 50% em escritórios, 30% a o eletrônico. Segundo os fabricantes, os reatores eletrônicos oferecem vantagens
90% em refeitórios, 30% a 80% em corredores e 45% a 80% em depósitos. Esses em relação aos eletromagnéticos, como menor ruído audível; menor aquecimento;
sensores têm evoluído para sensores de ocupação, sendo capazes de detectar menores níveis de interferência eletromagnética e menor consumo de energia.
a presença de pessoas (captam movimento, calor e volume por meio de micro- O uso de reatores de fator de potência adequado também reduz problemas com
ondas) e manter a luz acesa durante todo o período de ocupação. Esse é um avanço energia reativa. E mais, o uso de alguns reatores eletrônicos permite que seja feita
significativo, por exemplo, para o uso em sanitários e escritórios, onde o baixo nível a “dimerização” das lâmpadas fluorescentes.
de movimentação ou o “sombreamento” do dispositivo tornam os sensores apenas Quanto ao aproveitamento da iluminação natural, dentre os aspectos positivos,
de movimento pouco apropriados. pode-se destacar a qualidade da iluminação, pois a visão humana desenvolveu-se
Minuteiras são equipamentos ligados a interruptores que desligam a luz após com a luz natural, e a constante mudança da quantidade de luz natural no tempo
o período programado. Há modelos que atuam sobre interruptores em paralelo e e espaço é favorável, pois proporciona efeitos estimulantes no ambiente. E
sobre linhas de iluminação. ainda pode reduzir o custo com condicionamento de ar por produzir menos calor

60 61
2 CONSUMO

que a maior parte da iluminação artificial. Todavia, a direcionalidade e altíssima a luz e a dissipam de forma difusa pelo interior do edifício (lentes prismáticas),
intensidade, além da imprevisibilidade, são desvantagens da iluminação natural. tornando os sistemas extremamente eficientes.
Para se obter a eficiência energética em uma edificação, a iluminação natural deve Além da seleção de bons materiais para aumentar a eficiência do sistema,
ser projetada em conjunto com o sistema de iluminação artificial. Pois, através do deve-se estar atento à boa qualidade da mão de obra de instalação, tendo em
seu uso otimizado, consegue-se a redução do uso da luz artificial, de forma que vista os recorrentes relatos de problemas com a impermeabilidade do telhado
quando a luz natural é suficiente em um determinado ambiente, a luz artificial pode após a instalação, especialmente pela dilatação e retração dos diferentes
ser desligada ou diminuída. materiais, que acabam criando passagens para a água ao longo do tempo.
2.1.1.3.7. Operação sustentável
Muitas vezes não é possível realizar mudanças estruturais, então o que fazer
para buscar o melhor desempenho da estrutura que já tenho?
Listamos ações e sugestões que podem ser aproveitadas.
2.1.1.3.8. Manutenção preventiva
Com o passar do tempo, o fluxo luminoso de um sistema de iluminação diminui.
Parte se deve ao envelhecimento das lâmpadas; parte, à redução de reflexibilidade
das luminárias; e parte, simples acúmulo de pó, acúmulo este que representa, na
verdade, a maior causa de redução de iluminação. A manutenção mais significativa
na melhoria da iluminação é a limpeza das lâmpadas e luminárias.
Novo valor

Figura 30. Uso da iluminação natural em depósito. Iluminância constante


com limpeza em

_
Iluminância média E
Apesar de haver citações de que apenas 3% de abertura da área coberta intervalo de 3 anos

já seria suficiente para alcançar os níveis de iluminação necessária sem


Valor do sistema
gerar desconforto visual, existe grande variação regional que necessita ser sem manutenção
considerada na realização de um projeto específico para cada loja. Pode-
se trabalhar com aberturas laterais ou zenitais (no teto), dependendo do
posicionamento do prédio e do efeito buscado (Figura 31).
O tipo de material usado para permitir a transparência também é outro ponto
0
importante. Todos os materiais translúcidos reduzem sua eficiência de passagem Início Período de uso
de luz ao longo do tempo. O vidro é o material que apresenta a menor redução,
Figura 31. Restabelecimento da iluminância pela limpeza preventiva das lâmpadas e luminárias.
perdendo até 12% da transparência após 10 anos de exposição ao tempo. Já
o policarbonato e a fibra de vidro chegam a perder metade de sua eficiência, Não há regra quanto à periodicidade de limpeza, cabendo uma avaliação de
enquanto o acrílico, 25%. Hoje, no mercado, há uma série de soluções que permitem tempos em tempos. O período entre 1 e 3 anos para limpeza tem sido o mais citado
a filtragem da radiação (retém a radiação ultravioleta e infravermelho), conduzem na consulta a técnicos da área.

62 63
2 CONSUMO

2.1.1.3.8.1. Lâmpadas queimadas A arborização caducifólia (que perde as folhas no inverno, como os ipês) foi a que
A substituição de lâmpadas queimadas é outra importante medida, pois os reatores propiciou o melhor resultado, pois promove o sombreamento no verão e permite a
continuam operando (e consumindo) mesmo que a lâmpada não esteja emitindo luz. ampla exposição ao sol no inverno, melhorando as condições de conforto térmico e
Caso não perceba o interruptor ligado, seu consumo continuará ocorrendo. de iluminação. Todavia, essa alternativa deve ser bem avaliada para supermercados,
uma vez que a queda das folhas e flores exige boa manutenção e limpeza da
Recuperação de lâmpadas fluorescentes tubulares
área externa a fim de minimizar o seu impacto na limpeza interna da loja e de sua
Existe no mercado o serviço de recuperação de lâmpadas infraestrutura de escoamento de águas pluviais.
fluorescentes tubulares, que se baseia na reionização dos gases
internos, restabelecendo a produção do UV e da fluorescência. A
fragilidade do processo está nos eletrodos que geram o arco elétrico.
Como eles não podem ser regenerados, uma hora irão falhar. Todavia,
a tecnologia tem se mostrado viável, especialmente para as lâmpadas
de maior valor, por tratar-se de um processo relativamente barato e
que aumenta o tempo de vida da mesma lâmpada.
2.1.1.3.8.2. Acender e apagar
Ciclos de funcionamento mais curtos, partidas mais frequentes, encurtam a vida
das lâmpadas de descarga. Já os ciclos de funcionamento mais longos, partidas
menos frequentes, aumentam a vida útil. Portanto, não se deve ligar/desligar uma
lâmpada fluorescente a cada um ou dois minutos. Na relação custo da lâmpada
x custo da energia consumida x tempo de vida útil, se a ausência da sala for de
menos de 10 a 15 minutos pode ser que não valha a pena apagar a luz – sai mais Figura 32. Arborização na lateral da loja garantindo proteção da incidência direta de sol.

barato o consumo nesse minutos que o desgaste gerado na lâmpada pelo processo 2.1.1.3.10. Efeitos da luz e sombra internamente
de ligar/desligar, o que reduz seu tempo de vida útil. Deve-se tomar cuidado no direcionamento do foco de uma luminária e na
2.1.1.3.9. Iluminação natural e temperatura ambiente disposição do mobiliário e peças de comunicação para evitar que sejam criadas
Apesar da luminosidade natural ser desejada, existe uma clara relação entre sombras incômodas. Por outro lado, a total ausência de sombras leva à perda da
exposição ao sol e aumento da temperatura ambiente. Essa relação pode ser identificação da textura e do formato dos objetos, dificultando a interpretação pelo
equilibrada por meio do sombreamento com árvores. Um estudo desenvolvido nosso cérebro. Portanto, nem sempre exagerar na iluminação trará bom resultado.
por Pietrobon (1999)* sobre essa relação em escolas chegou a resultados de 2.1.1.3.11. Altura da luminária
melhor eficiência quando se utiliza a arborização como proteção da incidência À medida que nos afastamos do ponto de geração de luz, a abertura do foco faz
direta de sol, associado ao controle do índice de iluminação ambiente ao longo com que a luz emitida se espalhe, reduzindo sua “densidade”. Em outras palavras,
do dia, segmentando a iluminação em 3 linhas, acionadas conforme necessidade. quanto mais afastado, menor será a quantidade de lumens que chegam a uma
superfície. Assim, o rebaixamento de uma iluminação ou o uso de iluminação de
* Luz e Calor no Ambiente Construído Escolar e o Sombreamento Arbóreo: Conflito ou Compromisso
com a Conservação de Energia? Tese de Doutorado da Universidade Federal de Santa Catarina, gôndola podem ser medidas fáceis para se aumentar a eficiência da iluminação,
defendida pelo Eng. Claudio Pietrobon em 1999. reduzindo custos com energia.

64 65
2 CONSUMO

2.1.1.3.12. O que se espera de uma boa iluminação? 2.1.1.4. Equipamentos elétricos de uma loja
Ter um adequado nível de iluminância (lux). Para ter a referência, recorra aos Os equipamentos elétricos de uma loja são bastante variáveis e apesar de
valores fixados pela norma NBR 8995-1 (Tabela 4). individualmente representarem pouco perto do montante geral, ao serem agrupados,
Ter uma boa distribuição destes níveis de iluminação pela área de venda. passam a representar parcela significativa do consumo geral. O desafio aqui é
Não ter presença de ofuscamentos dentro do campo visual – luz direta, reflexos, conhecê-los e aplicar ações de uso racional.
grandes variações ou excessos.
Ter uma boa reprodução de cor (IRC) – acima de 80.
Ter uma temperatura de cor (K) adequada – entre neutra e fria, salvo em locais
em que se busque a criação de um espaço diferenciado, como adega e importados;
Ser uma instalação econômica – não só do ponto de vista de custos iniciais, mas
também de manutenção e consumo (conta de luz).
E antevendo tendências, permitir mutabilidade/flexibilidade da luz – a luz natural
caracteriza-se pela mutabilidade, não somente em termos de quantidade, mas
também de aparência, cor da luz e de sua projeção em função das posições do sol.
Modular sistemas assemelhando-se ao ambiente natural auxilia no conforto e torna-
se um estimulante natural às pessoas.

Figura 34. Iluminação ambiente reduzida e iluminação direcionada aos produtos ampliada.
Redução de consumo e maior destaque no produto.
36 lux
A=1 2.1.1.4.1. Você sabe o que há na loja?
1m
Na operação sustentável, o primeiro a ser feito é conhecer esse grupo. Um
9 lux
inventário dos equipamentos com especificações de potência ou consumo, período
A=4 em que é utilizado e procedimentos adotados é a base para definição do plano de
ação para redução de consumo.
2m Com os dados levantados, uma medida importante é verificar a possibilidade de
4 lux planejar a ligação de equipamentos de maior consumo em horários não coincidentes
A=9 (para controle da demanda de energia) e/ou fora do horário de ponta (quando a
energia é mais cara). Voltaremos às questões de faixas e horários de consumo mais
adiante, ainda neste capítulo.
Pode-se ainda organizá-los em grupos de acordo com o consumo para
3m
hierarquizar as ações a serem adotadas. Com base nos levantamentos já realizados,
Figura 33. Relação entre altura e quantidade de luz dispersa. destacamos situações comuns à maioria das lojas.

66 67
2 CONSUMO

Na área de venda, os equipamentos resumem-se às geladeiras e freezeres 2.1.1.4.2. Uso consciente


(discutido em refrigeração), expositores aquecidos e alguns poucos equipamentos, Saber quais são os equipamentos, suas potências e frequência de uso é muito
como cafeteiras, balanças e embaladoras. Uma curiosidade quanto aos checkouts: importante para o planejamento das ações. Mas como traduzir essas informações
enquanto um checkout simples apresenta pouco mais de 120W de potência entre para poderem ser usadas na promoção do uso consciente?
seus equipamentos instalados, um checkout com esteira rolante pode ter seu Entre as iniciativas aplicadas, a conversão em valores gastos no consumo se
consumo duplicado (250W). mostrou uma boa alternativa para compreensão de questões de uso consciente.
Entre os setores, a padaria congrega a maior parte dos equipamentos de alta Dizer que uma masseira tem 3,7kW é o mesmo que dizer que ela consome R$ 1,15/
potência, seguido por rotisseria, açougue e frios. Destacamos alguns desses hora. Qual destas duas formas gerou mais impacto e foi mais bem compreendida?
equipamentos separados em grupos que norteiam as ações de redução de consumo. Assim, ao traduzir toda informação em valores, você não só cria uma ferramenta
Os fornos que podem ser a gás ou apenas elétricos variam de potências (1kW de conscientização quanto ao uso racional, como também uma ferramenta para
até 37kW). tomada de decisões. Por exemplo: sabendo que um expositor de cigarros iluminado
Masseira e cilindro são equipamentos pesados com potências que chegam a chega a consumir R$ 102,67 por mês, tomar a decisão entre mantê-lo aceso ou não
3,7kW. Nesse grupo também incluímos fritadeiras, com até 8kW, além de picadores fica mais fácil do que se tivéssemos que decidir com base na sua potência, 460W.
(moedores) e serras-fita, com até 2,2kW. 2.1.1.4.3. Operação sustentável
Dosador, geladeira, freezeres, balcões aquecidos, câmara de fermentação e
modeladora, com potências menores mas com uso muitas vezes prolongado ou
contínuo, variando entre 0,37kW até 1,5kW.
E o grupo de equipamentos de baixo consumo, mas também de uso prolongado,
como embaladora de bandejas (Resinit), balanças e fatiadores, com potências que
variam de 15W a 250W. Alguns utensílios de cozinha podem apresentar potências
mais elevadas, mas nestes casos apresentam frequência de uso menor.
Demais equipamentos, como computadores e impressora de etiquetas (250w)
ou prensas (a partir de 7,5kW) são outros exemplos.
Ao programar seu computador para entrada de descanso de
tela, dê preferência aos fundos escuros ou sem imagens, assim
pode-se diminuir em 15W por hora o consumo do equipamento. Figura 35. Exemplos de etiquetas usadas na sensibilização e orientação dos colaboradores.

Individualmente a ação parece pequena, pois representa uma Comece estabelecendo procedimentos para os grupos de equipamentos, por
economia de pouco mais de R$1,00 por mês, mas multiplicando-se exemplo, com definição de melhor horário de operação com equipamentos pesados
por todos os computadores de sua empresa, estendendo-se ao e desligamento noturno dos grupos de menor consumo.
desligamento de outros equipamentos durante os períodos de loja Você pode identificar os equipamentos de maior consumo para auxiliar na
fechada (balanças, seladoras, fatiadoras, TVs), a pequena ação sensibilização da equipe para o consumo racional (defina o melhor formato para essa
pode trazer grandes resultados. sensibilização com seu público – palestra, treinamento, reuniões, visitas técnicas).

68 69
2 CONSUMO

Com base nos dados levantados e a partir de informações dos manuais dos e 22h. Para atender a essa variação, o custo de produção de energia torna-se
fabricantes, é indicado formular uma planilha de monitoramento de consumo e, em mais elevado, sendo necessário repassá-lo ao consumidor. Além disso, o valor
intervalos regulares, fazer a medição para verificar se não há excesso de consumo. diferenciado das tarifas motiva a economia e a melhor distribuição do uso da
Há no mercado equipamentos que fazem essa medição. Também é possível energia elétrica ao longo do dia.
contratar uma empresa especializada. Cada companhia de distribuição estabelece 3 horas dentro do período de ponta
Siga as indicações de manutenção desses equipamentos e esteja sempre atento para cobrança diferenciada de tarifa. Em geral, entre 18h e 21h do dia é estabelecido
às oportunidades de melhoria. o horário de ponta. Já o horário “fora da ponta” compreende as demais horas dos
2.1.2. Entendendo sua conta de energia dias, além dos sábados, domingos e feriados.

Na operação sustentável, no que tange o monitoramento elétrico, deve-se atuar Ao longo do dia, a necessidade por energia (demanda) tende a
não só na redução de consumo, como também na redução de custo. Gerenciamento aumentar, culminando no chamado horário de ponta. Do ponto de
de contratos, monitoramento dos indicadores de consumo de energia para verificar vista operacional, as distribuidoras de energia devem ter capacidade
possíveis reenquadramentos tarifários, revisões de demanda e conferência de para atender à demanda na ponta, o que cria uma capacidade
cálculos de faturas de consumo são ações aplicáveis neste sentido. de produção ociosa na maior parte do tempo. Assim, a principal
Mas para isso é importante reconhecer sua conta e saber que informações estratégia usada é a manutenção das usinas hidrelétricas para
podemos usar a partir dela. atender à demanda média e a entrada de termoelétricas na ponta,
No Brasil, o consumidor é dividido em classes e subclasses de consumo da para complementar a demanda necessária. Com isso, a produção
seguinte forma: Residencial, Indústrial, Rural, Poder Público, Iluminação Pública de energia na ponta torna-se mais cara e mais poluente.
e Serviço Público, Consumo Próprio da Companhia e, claro, Comercial, Serviços e Já para o ano, são estabelecidos dois períodos: “período seco”, quando a
Outras Atividades. incidência de chuvas é menor; e “período úmido” quando é maior o volume
Sobre essas classes, aplicam-se tarifas de energia elétrica diferenciadas
de chuvas. As tarifas no período seco são mais altas, refletindo o maior custo
em grupos e definidas com base em dois componentes: demanda de potência e
de produção de energia elétrica devido à menor quantidade de água nos
consumo de energia. Essas tarifas variam ainda de acordo com o horário do dia
reservatórios das usinas hidrelétricas, o que provoca a eventual necessidade
(sistema horossazonal) e com o período do ano (seco e úmido ou, a partir de 2015, o
de complementação da carga por geração térmica, que é mais cara. O período
novo sistema de bandeiras tarifárias).
seco compreende os meses de maio a novembro e o período úmido, os meses de
A demanda de potência é medida em quilowatt (kW) e corresponde à potência
dezembro a abril.
elétrica solicitada pelo consumidor à empresa distribuidora. É medida pela média
Em caráter educativo, as contas de energia passaram a indicar uma bandeira
alcançada a cada intervalo de 15 minutos, sendo faturada pelo maior valor medido
tarifária (verde, amarela ou vermelha) referindo-se também ao custo da tarifa
durante o período de fornecimento, normalmente de 30 dias.
em função das condições de geração de energia. A partir de 2015, o sistema de
O consumo de energia é medido em quilowatt-hora ou em megawatt-hora (MWh)
e corresponde ao valor acumulado pelo uso da potência elétrica disponibilizada ao bandeiras tarifárias passa a valer, substituindo os atuais períodos seco e úmido,
consumidor ao longo de um período de consumo, normalmente de 30 dias. sendo assim determinado:
A estrutura tarifária horossazonal é caracterizada pela aplicação de tarifas • bandeira verde: condições favoráveis de geração de energia. A tarifa não sofre
diferenciadas de consumo de energia elétrica e de demanda de potência de nenhum acréscimo;
acordo com as horas de utilização do dia e dos períodos do ano. Ao longo de •
bandeira amarela: condições de geração menos favoráveis. A tarifa sofre
24 horas, a necessidade por energia aumenta, chegando ao pico entre as 17h acréscimo de R$ 1,50 para cada 100 quilowatt-hora (kWh) consumidos;

70 71
2 CONSUMO

• bandeira vermelha: condições mais custosas de geração. A tarifa sofre acréscimo Extinção da tarifa convencional
de R$ 3,00 para cada 100 kWh consumidos. Em 2012 foi anunciada a extinção da tarifa convencional,
Mensalmente a ANEEL definirá a bandeira aplicada de acordo com indicadores visando estender a todos os grandes consumidores a cobrança
predeterminados. diferenciada dos horários de ponta e fora da ponta. A modalidade
Atualmente, os custos com compra de energia pelas convencional, que estava disponível para demanda contratada
entre 30 kW e 299 kW, desde que fosse atendida em tensão inferior
distribuidoras são incluídos no cálculo de reajuste das tarifas
a 69 kV, teve seu limite de demanda atualmente reduzido para
e repassados aos consumidores, ou seja, muito tempo depois
150kW e será extinta em 2015.
do ocorrido. Com as bandeiras, haverá a sinalização mensal
do custo de geração da energia elétrica, que será cobrada Todo usuário enquadrado nesse grupo deverá migrar para
imediatamente do consumidor. Essa sinalização deve ser estrutura horossazonal, verde ou azul, de acordo com suas
características de uso. E mais que isso, com a diferenciação de
uma oportunidade de adaptar seu consumo, em especial nos
custo entre os horários de uso, contratar uma tarifa e uma demanda
períodos mais críticos, para garantir melhor resultado na gestão
e esquecer-se dela por anos estará longe de garantir uma operação
de energia e redução de custos.
sustentável e viável. A gestão constante de energia deverá ganhar
2.1.2.1. Tarifas de energia cada vez mais força nos próximos anos, garantindo redução de
As tarifas de energia elétrica estão estruturadas em dois grandes grupos de impactos gerados pelo consumo e dos custos operacionais.
consumidores – “grupo A” e “grupo B” – cujas principais diferenças são: 2.1.2.1.1.2. Tarifa horossazonal verde
2.1.2.1.1. Tarifas do grupo A Essa modalidade possui uma única tarifa para demanda e duas tarifas para
As tarifas do “grupo A” são para consumidores atendidos pela rede de alta o consumo, uma para o horário de ponta e outra para o horário fora de ponta,
tensão, de 2,3 a 230 quilovolts (kV) e recebem denominações com letras e algarismos diferindo ainda entre período úmido e seco ao longo do ano. Está disponível para
indicativos da tensão de fornecimento, como segue: unidade consumidora com qualquer demanda contratada desde que seja atendida
A1 para o nível de tensão de 230 kV ou mais; com tensão inferior a 69 kV. Por tratar-se de um custo mais elevado no horário de
ponta, a geração de energia nesse período (uso de geradores) tem sido uma opção
A2 para o nível de tensão de 88 a 138 kV;
amplamente aplicada como forma de redução de custos com energia. Mais adiante
A3 para o nível de tensão de 69 kV; abordaremos especificamente o tema geração de energia, analisando exemplos em
A3a para o nível de tensão de 30 a 44 kV; operação.
A4 para o nível de tensão de 2,3 a 25 kV; 2.1.2.1.1.3. Tarifa horossazonal azul
AS para sistema subterrâneo. Essa modalidade possui duas tarifas para a demanda e duas tarifas para o
As tarifas do “grupo A” são construídas em três modalidades de fornecimento: consumo, ambas diferindo entre horário de ponta e fora de ponta. Pode-se contratar
convencional, horossazonal azul e horossazonal verde. diferentes demandas para ponta e fora da ponta, gerando oportunidades de redução
de custos com a boa gestão da energia, seja pela dispensa da geração própria
2.1.2.1.1.1. Estrutura tarifária convencional
de energia, seja pelo controle de demanda. As tarifas de consumo são diferentes
A modalidade convencional possui apenas uma tarifa para demanda (kW) e uma também para o período mais seco do ano (de maio a novembro) e para o período
para consumo (kWh), sendo preciso apenas estabelecer a demanda necessária. úmido (de dezembro de um ano a abril do seguinte).

72 73
2 CONSUMO

2.1.2.1.2. Tarifas do grupo B do sistema elétrico e pelo que é efetivamente consumido. É a discriminação entre
As tarifas do “grupo B” se destinam às unidades consumidoras atendidas TUSD e TE.
em tensão inferior a 2,3 kV e são estabelecidas para as seguintes classes (e TUSD é a Tarifa de Uso dos Sistemas Elétricos de Distribuição. É o encargo
subclasses) de consumo: sobre os consumidores conectados aos sistemas elétricos das concessionárias de
distribuição, que remunera as instalações, equipamentos e componentes da rede
B1: classe residencial e subclasse residencial baixa renda;
de distribuição.
B2: classe rural, abrangendo diversas subclasses, como agropecuária, Já a TE (Tarifa de Energia), refere-se ao valor da energia consumida.
cooperativa de eletrificação rural, indústria rural, serviço público de irrigação Não há padronização de preços entre as companhias de energia, apenas a
rural; regulação pela ANEEL (Agência Nacional de Energia Elétrica) para que os valores
B3: outras classes – indústrial, comercial, serviços e outras atividades, Poder não sejam abusivos. Para se ter uma ideia dos valores praticados em 2013 para as
Público, serviço público e consumo próprio; operadoras do sudeste brasileiro, a variação de custos total por kWh, foi de 70,4%
B4: classe iluminação pública. entre o menor e o maior valor homologado (calculado a partir da diferença entre
As tarifas do “grupo B” são estabelecidas considerando apenas o consumo as tarifas médias aplicadas por empresa do sudeste para as classes de consumo
de energia, em reais por megawatt-hora, sendo o custo da demanda de potência Comércio e Serviços – fonte: relatorios.aneel.gov.br)
incorporado ao custo do fornecimento de energia em megawatt-hora. Quadro Explicativo
2.1.2.2. O que é mostrado na conta? O que é mostrado na conta?
Para o consumidor, a conta é composta por custo de geração de energia
Distribuição Período
(aproximadamente 40%), de transmissão e distribuição de energia (30%) e encargos Contratação Componentes Horário
e Geração do ano
e tributos (30%). A fixação dos custos de geração, transmissão e distribuição é
demanda
regida pela ANEEL e calculada a partir de custos gerenciais e não gerenciais contratada
TUSD

apresentados pelas operadoras.


bandeira
TUSD
verde
ponta
bandeira
Geração TE amarela
Transmissão
Distribuição horossazonal energia bandeira
verde consumida vermelha
Encargos e tributos

bandeira
TUSD
verde
fora da
Figura 36. Composição média de custo da energia para o consumidor. ponta
bandeira
Fonte: ANEEL TE
amarela

Desde setembro de 2012 a fatura de energia apresenta, devidamente separado, encargos e bandeira
impostos vermelha
o quanto você paga para que a energia chegue até sua casa, ou seja, pelo uso

74 75
2 CONSUMO

Distribuição Período Por conta desse novo critério de cálculo, as alíquotas de PIS/COFINS apuradas a
Contratação Componentes Horário
e Geração do ano serem repassadas via faturamento na conta de luz variam de um mês para o outro,
sendo apresentadas na própria conta de energia elétrica. A variação deve-se ao fato
ponta TUSD de o cálculo estar diretamente relacionado ao volume de créditos (custos) e débitos
demanda
contratada (vendas) apurados mensalmente pelas distribuidoras. O cálculo sobre o consumo tem
fora da
ponta
TUSD como base o conceito universal de formação de preço: “cálculo por dentro”.
No âmbito estadual temos o ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias
bandeira
TUSD e Serviços). Para fins tributários, a energia elétrica é considerada mercadoria, e
verde
ponta
bandeira
a distribuidora tem a obrigação de realizar a cobrança do ICMS direto na fatura
horossazonal TE
azul amarela para posterior repasse. Também é um imposto calculado “por dentro”, sendo que
bandeira o montante do imposto integra sua própria base de cálculo. Apresenta variação de
energia
consumida vermelha acordo com a classe, variando de isenta para faixas basais de consumo residencial
até 25% para consumo residencial maior que 200kWh. Para classes não residenciais
bandeira
TUSD
encargos e fora da
verde a alíquota é de 18%.
impostos ponta
bandeira
Muitas prefeituras apresentam ainda a CIP (Contribuição para Custeio do
TE
amarela Serviço de Iluminação Pública), casos em que a conta de energia é utilizada para
bandeira arrecadação da contribuição para custeio do serviço de iluminação pública. Essa
vermelha
contribuição é variável de acordo com o município.
Figura 37. Estrutura de composição para formação do custo com energia – Tarifa Horossazonal. Assim, em um exemplo simplificado, para se calcular o valor do consumo,
deve-se realizar o seguinte cálculo:
Além dos custos de geração e distribuição, encargos e tributos constituem
Valor da tarifa publicada pela ANEEL em vigência = valor em R$ / kWh
grande parte da conta final.
O PIS (Programa de Integração Social) e o COFINS (Contribuição para o 1- (PIS* + COFINS* + ICMS)
* Variável e informado pela distribuidora de energia mensalmente
Financiamento da Seguridade Social) são contribuições federais arrecadadas
pela concessionária, incidentes sobre o faturamento das Notas Fiscais/Conta Com o valor do kWh com tributos inclusos (PIS, COFINS e ICMS), multiplique-o
de Energia Elétrica. pelo seu consumo. Por fim, inclua o valor da Contribuição de Iluminação Pública
O PIS/COFINS estavam embutidos nas tarifas de energia elétrica e eram (CIP) e/ou Encargo de Capacidade Emergencial (ECE), caso seja aplicado, pois
sobre estes não há incidência desses impostos.
reajustados quando dos reajustes periódicos das tarifas. As alterações na forma
de cálculo e de recolhimento dessas contribuições implicaram retirar o PIS e 2.1.3 Redução de custo e de consumo
COFINS quando da homologação pela ANEEL das tarifas a serem praticadas, sendo A redução de gastos com energia pode vir tanto pela diminuição de custo –
transferida a responsabilidade pelo cálculo e repasse diretamente às distribuidoras mudança do tipo de estrutura tarifária, ajuste de demanda contratada, redução do
de energia elétrica. fator de potência – quanto pela contenção de consumo, como vimos anteriormente,

76 77
2 CONSUMO

pelo uso de equipamentos mais eficientes e pela conscientização dos colaboradores Para a mesma carga de 100 kW, mas com fator de potência corrigido para 0,92,
com relação ao consumo e à maneira de utilizar a energia elétrica. são necessários apenas 109 kVA, o que representa uma diferença de 24% no
Embora uma análise completa exija certa experiência e conhecimento técnico, fornecimento em kVA.
é possível você mesmo identificar as oportunidades de redução de despesas O fator de potência indica qual porcentagem da potência total fornecida (kVA) é
com a energia elétrica, mas é sempre bom ressaltar que a consulta a empresas efetivamente utilizada como potência ativa (kW), mostrando o grau de eficiência do
especializadas pode ser essencial para o sucesso desde o início do projeto. uso dos sistemas elétricos. Quanto mais próximo a 1,0 estiver o fator de potência,
Antes de qualquer alteração, a verificação dos padrões de consumo e demanda mais eficiente é o uso da energia elétrica, enquanto valores baixos evidenciam seu
nos segmentos “horários” (ponta e fora de ponta) e “sazonais” (períodos seco e mau aproveitamento.
úmido) é imprescindível para tomada de decisões. Além de revelar relações entre
hábitos e consumo de energia elétrica, úteis ao se estabelecer rotinas de combate
ao desperdício, a análise da conta de luz é a base para a avaliação econômica dos
projetos de eficiência eletroenergética.
Três medidas importantes a serem tomadas na redução de custos, apesar de
algumas também significarem redução de consumo, são:
• correção do fator de potência;
• enquadramento tarifário;
• determinação da demanda contratual.
A partir do histórico de consumo e de demanda, facilmente conseguido com
sua concessionária de energia ou no verso de sua fatura de energia, você já pode A

identificar oportunidades para redução.


2.1.3.1. Correção do fator de potência B

Verifique em suas últimas 12 contas de luz quanto tem pago de energia e/ou Figura 38. A energia reativa não transforma-se em movimento, mas é necessária em alguns
demanda reativa. A cobrança desses itens só ocorre quando seu fator de potência motores. Se a quantidade de energia reativa é grande, ela passa a ser cobrada pela cia de energia.
Banco de capacitores limitam a circulação de energia no circuito interno e esta deixa de ser cobrada
é menor que 0,92, sendo um indicativo de que é preciso corrigi-lo. pela cia de energia, reduzindo custos de consumo.
Muitos motores, transformadores, lâmpadas de descarga, entre outros, consomem
E o que fazer para corrigir o fator de potência?
energia reativa indutiva, necessária à formação de campo eletromagnético para
A primeira providência para corrigir o baixo fator de potência é a análise das
seu funcionamento.
causas que levam à utilização excessiva de energia reativa. Entre essas causas
Assim, enquanto a potência ativa é sempre consumida na execução de trabalho,
destacam-se:
a potência reativa circula entre a carga e a fonte de alimentação, ocupando um
“espaço” no sistema elétrico que poderia ser utilizado para fornecer mais energia • motores e transformadores operando em “vazio” ou com pequenas cargas;
ativa. Este “espaço” é mais bem entendido com um exemplo: para alimentar uma • motores e transformadores superdimensionados;
carga de 100 kW com fator de potência igual a 0,70, são necessários 143 kVA. • grande quantidade de motores de pequena potência;

78 79
2 CONSUMO

• máquinas de solda; provocar ainda diminuição da intensidade luminosa nas lâmpadas e aumento
• lâmpadas de descarga: fluorescentes, vapor de mercúrio, vapor de sódio – sem da corrente nos motores.
reatores de alto fator de potência; A energia reativa em excesso reduz a capacidade de plena utilização da rede,
condicionando a instalação de novas cargas a investimentos que seriam evitáveis
• excesso de energia reativa capacitiva necessária.
se o fator de potência apresentasse valores mais altos. A melhor forma de entender
A eliminação dessas causas passa pela racionalização do uso de esse conceito é pensando que o “espaço” ocupado pela energia reativa poderia ser
equipamentos – desligar motores em vazio, redimensionar equipamentos utilizado para o atendimento a novas cargas. Por exemplo, em uma instalação de
superdimensionados, redistribuir cargas pelos diversos circuitos. 315 kVA, com fator de potência 0,8, tem-se 252 kW disponíveis, mas, corrigindo para
Mas há casos em que essas mudanças não são possíveis ou não são 0,92, chega-se a 290 kW, uma ampliação de 38 kW disponíveis. Boa parte dos custos
suficientes. A partir daí, uma forma de reduzir a energia reativa consiste em de ampliação da capacidade de uma rede, para instalação de novos equipamentos,
limitar sua circulação utilizando capacitores. A energia reativa passa a ser vem dos custos com distribuição, comando, proteção e controle. Com a simples
fornecida pelos capacitores, liberando parte da capacidade do sistema elétrico correção do fator de potência, eles são reduzidos ou até dispensados. Por exemplo,
e das instalações da unidade consumidora. para dimensionar um transformador, o fator de potência é decisivo. Para os mesmos
Nesse caso, faz-se necessária a contratação de uma empresa especializada para
800 kW de potência útil, em um fator de potência de 0,5, você deve instalar um
dimensionar a necessidade de seu sistema. Caberá a você verificar a viabilidade de
transformador de 1600 kVA, enquanto corrigido o fator de potência para 0,92, o
aplicação da solução. Para isso, com as 12 últimas contas de luz em mãos, faça a
transformador pode ter 900 kVA.
seguinte conta:
2.1.3.2. Enquadramento tarifário (THS azul ou verde?)
A = 0,17698 x Orçamento do banco de capacitores.
Há grande distinção entre os valores cobrados nos diferentes horários de
Se o valor de “A” for menor ou igual à soma do que você pagou nos últimos 12
cada tarifa, verde ou azul, mas definir qual a melhor modalidade está diretamente
meses, vale a pena contratar o serviço de correção do fator de potência.
relacionado ao seu perfil de uso.
0,17698 é o valor referente a 10 pagamentos anuais, calculado à taxa de 12%
Na tarifa verde, o custo do kWh no horário de ponta chega a ser 3 vezes maior
ao ano, considerado um período de retorno significativo para redução de energia
que na tarifa azul, impactando diretamente o custo da energia consumida nestas
reativa pelo Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (Procel).
3 horas diárias. Mas a situação se inverte no caso da demanda, que, no horário
O retorno não é restrito à diminuição de custo direto, mas também à redução de
de ponta, tem o custo do kW 3,3 vezes mais caro na tarifa azul que na tarifa verde.
consequências indiretas, como destacado a seguir.
Isso sem falar no custo de ultrapassagem da demanda contratada. Assim, saber
2.1.3.1.1. Consequências do fator de potência baixo qual a melhor modalidade depende principalmente da relação entre a quantidade
A corrente elétrica aumenta com excesso de energia reativa, elevando a perda de energia consumida e a demanda necessária.
de energia na forma de calor pelo aquecimento de condutores e equipamentos. Em um cenário ideal, em que o consumo de energia é constante e inalterado, a
Para se ter uma ideia, a correção do fator de potência de 0,78 para 0,92 resulta em demanda necessária seria a divisão do seu consumo mensal pelo número de horas
redução de 28,1% das perdas desse tipo. de consumo no mesmo mês. Este é sua demanda média. A divisão da demanda
O aumento da corrente também leva a quedas de tensão acentuadas, média pela demanda máxima medida (a que aparece na conta) é seu fator de carga.
podendo ocasionar a interrupção do fornecimento de energia elétrica e a Quanto mais próximo de 1 (ou 100%) melhor é seu desempenho e estabilidade.
sobrecarga em certos elementos da rede. Esse risco é acentuado durante os Usando esse indicador, que nada mais é senão a relação entre consumo e
períodos nos quais a rede é fortemente solicitada. As quedas de tensão podem demanda, observamos na tabela abaixo o custo com energia em cada modalidade.

80 81
2 CONSUMO

quentes pelo impacto que a refrigeração tem no consumo de energia e o uso de


Relação geradores na ponta são fatores que mudam completamente os cenários de análise.
Demanda Demanda THS THS
Consumo Dem. Convencional Com a extinção da modalidade convencional, todas as concessionárias de
real média** Verde Azul
(kWh) média/ (R$) energia devem disponibilizar simulações a partir de seu histórico de consumo e
*(kW) (kW) (R$) (R$)
Dem.real
demanda, que indicam a melhor modalidade. Não deixe de consultá-lo antes de
definir a melhor modalidade para sua empresa. E, persistindo a dúvida, recorra
100 5000 11 0,11 3.021,70 1.888,42 3.611,51 a especialistas.
2.1.3.3. Determinação da demanda contratada
100 10000 22 0,22 3.963,40 3.156,84 4.575,03 A demanda contratada é a base do contrato de suprimento de energia. Refere-
se à potência que a concessionária disponibilizará para você. Simplificadamente,
100 20000 44 0,44 5.846,80 5.693,68 6.502,05 é a soma da potência de todos os equipamentos ligados ao mesmo tempo na loja,
entretanto nem tudo está ligado ao mesmo tempo e existem variações na demanda,
100 30000 67 0,67 7.730,20 8.230,51 8.429,08 como na partida de motores.
Sua cobrança independe do consumo e refere-se à quantidade contratada ou, em
caso de ultrapassagem, ao pico máximo de potência registrado no medidor durante
100 40000 89 0,89 9.613,60 10.767,35 10.356,10
o período de apuração. Caso haja ultrapassagem em mais de 5%, a tarifa paga pelo
excedente chega a ser 2 ou 3 vezes maior. Portanto, é desejável que uma atenção
100 45000 100 1,0 10.555,30 12.035,77 11.319,61 seja dada à sua conta para verificação de quanto se tem pago por ultrapassagem de
* Demanda real é a medida, sendo a demanda máxima alcançada durante o período de medição
demanda e/ou se a demanda contratada está acima da registrada. Será necessário
de consumo; ** Demanda média = Consumo (kWh) / horas consumidas fazer isso nas contas dos últimos 12 meses, pois a demanda oscila de acordo com
Tabela 9. Relação entre demanda média e demanda real na seleção do melhor modelo de
o período do ano.
contratação tarifária. 175
Nas simulações expressas na Tabela 9, pode-se verificar o efeito da relação 170
Demanda (kW)
entre demanda e consumo, sobre cada modalidade de cobrança, onde a tarifa azul 165
30
parece ter mais vantagem nos casos em que a relação entre demanda média e 160 Temperatura (oC)

kW
demanda real tende a 1. Considerando o perfil de uso de energia de uma loja, a 155 25
tarifa verde é a que apresenta-se mais adequada, descartando os resultados para

C
150

o
20
tarifa convencional, que será extinta. Uma análise do fator de potência entre 7 lojas 145
de médio e grande porte mostrou o valor médio de 0,65, variando entre 0,39 e 0,86. 15
140
Mas sempre vale a pena realizar simulações e analisar o histórico de consumo e

12
2

12

2
2

2
2

12

13
2
/1

/1

z/1
r/1

t/1
/1

t/1
l/1

o/

v/
v/

n/

n/
demanda, pois há certos pontos de equilíbrio entre as modalidades e a definição do

ar

ai
n

ou
ab

se

de
no
ju

ag
fe

ju
ja

ja
m
m
melhor modelo que só pode ser feito a partir da análise de toda série histórica. Além Figura 39. Relação entre demanda e temperatura média mensal, evidenciando a influência da
disso, o horário de funcionamento da loja, a elevação de demanda em períodos temperatura na demanda de energia de uma loja.

82 83
2 CONSUMO

Pelo o que o sistema de refrigeração representa no custo com energia, há clara horários de pico e cruzar com aspectos da operação da loja. A análise entre os dias
associação entre a temperatura média e a demanda. Assim, durante o inverno é da semana também ajuda no processo, pois datas promocionais alteram o ritmo da
certo que a demanda contratada estará acima do medido, mas o importante neste operação. E fatores climáticos integram o grupo de variáveis para compreensão de
caso é estarmos o mais próximo possível dos picos máximos do verão, evitando que picos de demanda.
ocorra ultrapassagem devido à sobretaxa do excedente. Entenda como é calculado:
demanda excedente demanda máxima
Demanda contratada = 500kW 190
demanda contratada + 5%
170
Com tolerância de 5% = 525 kW
150
Custo de contratação na tarifa verde = R$ 6,20 / kW
130
Custo de ultrapassagem = R$ 12,40 / kW

kW
110 consumo fora consumo
da ponta na ponta
Demanda registrada = 525 kW Custo na tarifa verde = R$ 3.255,00 90
70
Demanda registrada = 526kW Custo na tarifa verde = R$ 3.583,60
50
Isso porque na ultrapassagem você paga: 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24
Horas
Demanda (526kW) + Ultrapassagem (26kW)
R$ 3.261,20 + R$ 322,40 Figura 40. Perfil de variação diária da demanda em uma loja, com distinção entre os horários de
ponta e fora da ponta, indicação de máxima demanda e da demanda contratada.
Note que a ultrapassagem de 1kW sobre a tolerância penaliza pela
ultrapassagem sobre o contratado (26kW). O custo anual para se elevar 1kW As concessionárias disponibilizam o serviço de emissão do relatório de Memória
contratado é de R$ 74,40, enquanto o custo de uma só ultrapassagem em 1kW de Massa do Medidor, que teve o custo definido pela ANEEL em R$ 42,50 em 2013.
acima do limite foi de R$ 322,40. O medidor armazena somente um período de 30 dias. Ou seja, você receberá os
Mas de fato, sempre estaremos trabalhando com suposições e qualquer alteração 30 dias anteriores à coleta de dados pelo técnico. A partir dele, pode-se verificar
de cargas (equipamentos) ou procedimentos (horários de funcionamento) pode a oscilação diária e semanal ao longo de um mês, possibilitando o cruzamento dos
resultar em alterações na demanda. Portanto, é importante se realizar o registro dados com aspectos operacionais ou climáticos. Com investimentos médios na faixa
mês a mês da demanda medida informada nas contas de luz. Esse histórico é a dos R$ 2.000,00 e mensalidades de R$ 300,00 você também pode contratar serviços
ferramenta pela qual você perceberá com mais nitidez a evolução da demanda de monitoramento on-line desses indicadores, permitindo a resolução de problemas
necessária para sua loja. A Resolução ANEEL 456 permite revisão anual do contrato de forma mais ágil do que pelo relatório de memória de massa do medidor.
com a concessionária para redução de demanda. A solicitação, em algumas Há também o recurso tecnológico. Um controlador de demanda é o equipamento
concessionárias, pode ser feita em períodos inferiores a um ano, mas nem sempre eletrônico que tem a função de manter a demanda de energia ativa dentro de
é atendida de imediato. valores-limite predeterminados. A maior parte desses equipamentos controla
2.1.3.3.1. É possível controlar a demanda? também o fator de potência e o consumo de energia, desempenhando função de
Ao longo do dia, a demanda oscila, mas é possível controlá-la. Na prática é o monitoramento. Controlar a demanda é fundamental não só para o consumidor
mesmo que desligar equipamentos, em ordem de importância, de forma a garantir diminuir seus custos com energia elétrica, mas também para a concessionária,
que a demanda nunca ultrapasse um teto estabelecido. Com um gráfico de demanda que necessita operar de forma bem dimensionada, evitando interrupções ou má
de 24 horas, da mesma forma que no gráfico de consumo, podemos identificar os qualidade de fornecimento.

84 85
2 CONSUMO

Ao decidir pela instalação de um controlador, você deve saber que eles podem d) diversos
ser convencionais ou inteligentes. Um controlador de demanda convencional • aquecedores elétricos de água;
atua de forma mais simples, ligando e desligando equipamentos. Ele pode atuar • ventiladores de exaustão de mais de 1 kW;
de forma prematura ou intermitente, pois utiliza medição por média e controle de
• grupos de iluminação não críticos.
projeção simples. Um controlador de demanda inteligente posterga ao máximo
sua atuação, dando oportunidade para a demanda cair naturalmente, pois se 2.1.4. Outras ações
baseia num método de medição preditivo mais elaborado. Exemplificando, em 2.1.4.1. O uso de geradores no horário de ponta
uma instalação de três compressores com a mesma potência nominal, com um Em função do atual regime de tarifas, é comum em empresas de médio e
controlador de demanda convencional, as prioridades de atuação seriam fixas, grande porte, por motivos de economia e segurança, optarem pela contratação do
derrubando sempre um mesmo compressor. Até num esquema de rodízio, o fornecimento de energia elétrica pelo regime de tarifa horossazonal (tarifa azul e
sistema pode derrubar um compressor, ainda que ele estivesse numa condição tarifa verde) e utilizarem grupos geradores para o suprimento de energia elétrica
proibitiva de ser atuado. Com o recurso de adaptação (inteligente), o controlador nos horários de ponta.
atuaria prioritariamente sobre o compressor que estivesse na melhor condição A equação é bastante lógica: com a impossibilidade de redução do consumo
de processo, como na fase de estabilização. no horário de ponta, cujo custo de consumo é bastante alto, deixar de usar a
Esteja atento ao fator de carga (relação entre demanda média e demanda máxima energia distribuída pela concessionária e passar a usar a energia gerada
medida) como indicador da necessidade de um controlador. Quanto mais baixo o internamente, a um custo menor, torna-se uma possibilidade aplicável. O uso de
valor, entre 0 e 1, maior é a chance de você precisar controlar sua demanda. Primeiro geradores a diesel ainda é a forma mais comumente aplicada, apesar de haver
revendo procedimentos e horários de funcionamento dos equipamentos de alta projetos bem-sucedidos com o uso de gás natural.
potência, reduzindo a frequência de acionamentos simultâneos. E, posteriormente, Hoje, a crescente preocupação com impactos ambientais, associada à
vendo a possibilidade de uso de controladores com uma empresa especializada de desoneração da energia elétrica e à elevação de custos com manutenção, tem
sua confiança. levantado dúvidas sobre o real benefício do uso de grupos geradores.
A partir da análise de custos diretos anuais com o uso de geradores de 16 lojas,
Agora, você também pode controlar sua demanda conhecendo os horários e
buscamos reunir informações para facilitar a tomada de decisão neste sentido.
processos de sua operação, determinando períodos para ligação de cada um
Os custos de geração de energia com grupos geradores pode ser resumido
deles, evitando que ocorram acionamentos simultâneos sem necessidade. A seguir,
em 3 variáveis: Combustível, Lubrificantes (óleo e filtros) e Manutenção (peças e
temos uma relação de cargas elétricas que podem, potencialmente, ser desligadas
serviços). A composição percentual de custos nas lojas analisadas ficou assim
visando à limitação da demanda: distribuída (Figura 41):
a) ar-condicionado
• compressor para resfriamento; Composição dos Custos Geradores
• aquecedores elétricos. Diesel (79%)
Filtros (1%)
b) refrigeração
Lubrificantes (2%)
• não é recomendável desligar seus componentes.
Peças (9%)
c) preparações Serviços (9%)

• elementos de aquecimento elétrico em fornos. Figura 41. Percentual de custos com grupos geradores em 16 lojas analisadas.

86 87
2 CONSUMO

O custo médio por kWh gerado nessas lojas foi de R$ 0,34, variando entre
R$ 0,30/kWh e R$ 0,47/kWh. Comparando com o custo cobrado pelas concessionárias,
tomando-se por base o valor definido pela ANEEL para o grupo A4 verde da CPFL
Paulista em 2013, considerando a composição de encargos e tributos de janeiro de
2014, temos R$ 0,23/kWh nos horários fora da ponta e R$ 0,99/kWh no horário de
ponta.

GERADOR CONCESSIONÁRIA*
THS VERDE THS AZUL
Melhor Pior
desempenho desempenho Fora da Fora da
Ponta Ponta
Ponta Ponta
R$ 0,99 / R$ 0,23 /
R$ 0,30 / kWh 0,47 / kWh R$ 0,26 R$ 0,27
kWh kWh
Figura 42. Exemplos de grupos geradores usados em supermercados. Modelos aberto e silenciado
* Considerando tarifas de consumo aplicadas pela CPFL Paulista para o grupo A4, encargos e
tributos de janeiro de 2014. (fechado).

Tabela 10. Comparativo entre geração de energia própria e da concessionária. A geração de energia apresenta outras possibilidades,
Como visto, se comparado ao custo da energia na ponta fornecida pela muitas vezes negligenciadas pelas empresas. O atendimento
concessionária, a geração própria ainda é vantajosa, considerando apenas os custos emergencial, em caso de falta de energia, é um recurso desejável
do kWh para a modalidade de tarifa horossazonal verde. No caso da convencional, a para se evitar perdas. E a alimentação de equipamentos
vantagem torna-se inexistente: o custo do kWh na tarifa convencional, considerando de uso esporádico, como contêineres refrigerados, evitam
os mesmos tributos e encargos acima mencionados, estaria em R$ 0,215 / kWh. ultrapassagens de demandas, garantindo a manutenção da
condição inicial contratada, sem necessidade de readequação
Incluindo o custo com contratação de demanda, o valor médio ficaria próximo dos
contratual e pagamento de multas.
R$ 0,30 / kWh, abaixo do observado para geração própria (R$ 0,34 / kWh). Todavia,
é importante ressaltar que essa modalidade será extinta em 2015. Já no caso da 2.1.4.1.1. Biodiesel
THS Azul, a geração de energia deixa de ser vantajosa, cabendo à empresa apenas Notadamente, o diesel é o principal combustível usado na geração própria
controlar a demanda, visto seu alto custo nessa modalidade. de energia. O uso de biodiesel torna-se, portanto, uma importante medida para
Não se obteve dados acerca do custo de geração com gás natural. Entretanto, redução do impacto do uso de combustíveis fósseis. A partir do óleo vegetal pode-se
cabe aqui, incluindo o caso dos grupos geradores a diesel, destacar o alto custo produzir biodiesel. Na prática, a adição de etanol ou metanol ao óleo vegetal resulta
de implantação do equipamento, que não foi levado em conta nos comparativos na formação de éster (combustível), glicerina e matéria sólida. Em comparação
anteriores devido à variabilidade de acordo com a demanda necessária. O retorno ao diesel convencional, testes nas emissões mostraram uma diminuição de 54%
do investimento em geração própria se dá em longo prazo, sendo o uso emergencial de HC, 46% de CO2 e 14,7% de NOx – poluentes atmosféricos – na utilização do
(entrada no gerador na falta de energia da concessionária) também um grande biodiesel obtido através de óleos de fritura usados.
motivador para implantação do sistema. Consulte seu fornecedor sobre a possibilidade técnica de uso de biodiesel.

88 89
2 CONSUMO

2.1.4.2. Fontes alternativas A quantidade de energia que se pode gerar depende das características das
células fotovoltaicas usadas e da região onde se encontra (radiação média anual
da região). O Atlas Solarimétrico do Brasil, fornecido pelo centro de pesquisa de
energia elétrica – CEPEL / Eletrobras, traz as referências de cada região do Brasil.
Com o advento da Resolução ANEEL nº 482 de 2012, todo consumidor pode aderir
ao sistema de compensação de energia elétrica, com o qual a interligação de seu
sistema de geração à rede de distribuição permite que a energia ativa injetada
no sistema de distribuição seja usada pela concessionária e gere um crédito em
quantidade de energia ativa, que pode ser consumida de volta em um prazo de 36
meses. Na prática, você pagaria apenas a diferença entre o gerado e consumido ou
o valor mínimo de manutenção do sistema.
Algumas regras devem ser seguidas, como a manutenção da cobrança de, no
mínimo, o valor referente ao custo de disponibilidade para o consumidor do grupo B,
Figura 43. Painéis de captação de energia fotovoltaica. ou da demanda contratada para o consumidor do grupo A. Mas a energia injetada
2.1.4.2.1. Energia Fotovoltaica que não tenha sido usada na própria unidade poderá ser utilizada para compensar
Um sistema de produção fotovoltaico é uma fonte de energia que, através da o consumo de outras unidades de mesma titularidade.
utilização de células fotovoltaicas, converte diretamente a energia luminosa em Sua capacidade de produção não deve ser superior à sua demanda de uso. Até
eletricidade. As células fotovoltaicas são capazes de criar um fluxo de energia ao 100 kW de potência serão os microgeradores, e entre 100 kW e 1.000 kW de potência
serem excitadas pelo sol, gerando assim eletricidade. serão os minigeradores. Dentro dessas faixas não há necessidade de alteração
Esses sistemas têm vida útil de duas a três décadas, com manutenção e/ou contratual, apenas do documento chamado Relacionamento Operacional.
modificação em alguns momentos ao longo desse período. Mas um conjunto de Os custos referentes à adequação do sistema de medição – instalação do
baterias para essa finalidade possui vida útil entre 4-5 anos. Atualmente, os sistemas medidor bidirecional – necessário para implantar o sistema de compensação de
ligados à rede – sistemas de compensação de energia – reduzem ou eliminam a
energia elétrica, são de responsabilidade do interessado, mas a distribuidora fica
necessidade de baterias, tornando o sistema ainda mais viável.
responsável pela sua operação e manutenção, incluindo os custos de eventual
A geração de energia em um sistema fotovoltaico sofre influência da luminosidade
substituição ou adequação.
e da temperatura, variando na potência alcançada ao logo do dia. Portanto, não se
Outra resolução da ANEEL, a 481 de 2012, também estabelece em até 80% o
pode falar em um valor de energia/hora, mas em quantidade diária gerada. Esse
aspecto é o que determina a necessidade de uso de baterias ou interligações à desconto das chamadas Tarifas de Uso do Sistema de Distribuição e Transmissão
rede. Para entendê-lo, quando se liga um motor diretamente ao sistema fotovoltaico, (TUSD e TUST) nos primeiros 10 anos do projeto (para os empreendimentos que
não se aproveita a energia gerada nas primeiras horas da manhã e ao entardecer, entrarem em operação comercial até 31 de dezembro de 2017, caracterizando mais
por não atingirem a potência necessária. Também pode-se perder energia no pico uma vantagem.
de geração, por ultrapassar a potência requerida. Ao usar baterias ou sistemas de A partir de dados do Simulador Solar do Instituto Ideal (www.americadosol.org/
compensação, pode-se ter o acúmulo do excesso produzido e a melhor distribuição simulador) e indicação de profissionais da área, foram realizadas análises com
da energia gerada. base em dados-padrão de um supermercado médio para avaliação:

90 91
2 CONSUMO

Com um consumo mensal médio de 35.000 kWh, seriam necessários 291,1 kWp
instalados (enquadrado como minigerador), cobrindo uma área entre 1.961 e
2.398 m2. Essa instalação, na cidade de São Paulo, geraria anualmente cerca de
369,98 MWh. A diferença entre o gerado e o consumido reduziria sua fatura de
35.000kWh para 4.170 kWh, evidenciando ser tecnicamente possível a geração
desse tipo de energia em supermercados. Cabe agora avaliar economicamente
a viabilidade do projeto, sendo necessário consultar especialistas para
detalhamento de um projeto específico para cada caso.
Todavia, o potencial para implantação de sistemas de geração fotovoltaicos é
crescente à medida que o custo de implantação diminui e a ampliação da vida
útil dos equipamentos aumenta. Com a entrada em vigor da Portaria 482, que
permite a disponibilização da energia à concessionária, associada às linhas de
crédito especiais para implantação de ações de cunho ambiental, é quase certo
que em pouco tempo supermercados passem a produzir energia para uso próprio,
como ocorre em outros Países do mundo, visto sua situação estratégia de grande
disponibilidade de área.
Coletor Solar Sistema Acoplado
2.1.4.2.2. Aquecimento solar
Outra possibilidade de aproveitamento da energia solar está no aquecimento
de água. De tecnologia mais barata e acessível, está principalmente associada ao
uso domiciliar, impulsionado recentemente pelas leis de instalação em moradias
populares. Mas o setor de comércio e serviços representa 9% dos pontos de uso
do aquecimento solar, inclusive com soluções associadas ao aproveitamento do
calor residual de chillers.
O Brasil conta hoje com dezenas de fabricantes e prestadores de serviço
nessa área, que exige alto nível de conhecimento, além da garantia de padrões
de confiabilidade, durabilidade e desempenho dado pelo Programa Brasileiro de
Etiquetagem (PBE) e pelo selo PROCEL.
Por meio da etiquetagem, compulsória a partir de 2014, pode-se decidir pelos
equipamentos de maior eficiência. A classificação usada estabelece como
eficiência “A” coletores solares capazes de absorver mais que o equivalente a
77 kWh/m2 por mês. Os melhores modelos chegam a 90 kWh/m2 por mês.
Até 10 de julho de 2015, você ainda poderá encontrar artigos sem o selo do
Inmetro, pois apenas a partir de 10 de julho de 2014 o selo tornar-se-á compulsório
Reservatório Térmico
para indústria, havendo mais um ano para estoques no comércio, mas muitas
empresas já apresentam o selo em caráter voluntário. Figura 44. Selo Inmetro de eficiência para coletores, reservatórios e sistemas integrados.

92 93
2 CONSUMO

O uso da água quente em lojas pode ser tanto nas áreas de preparação para limpeza
de utensílios, por facilitar o processo e permitir redução do uso de detergentes,
bem como em sistemas de aquecimento e manutenção da temperatura de pratos
(banho-maria, cubas e balcões aquecidos). As resistências de aquecimento desses
sistemas variam de 4.000 W a 7.000 W, representando consumos de até 1.000 kWh/
mês (cerca de R$ 350,00/mês) para elevação e manutenção da água acima de 65 ºC.
Sistemas integrados com água já aquecida reduzem o consumo de energia apenas
para manutenção da temperatura, e não mais para elevação.
E a finalidade mais amplamente empregada do aquecimento solar, a alimentação
de chuveiros, garante redução significativa de consumo energético. Há dados
que sugerem haver aumento do consumo de água pelo processo de estabilização
da temperatura por acerto do misturador. Para isso, sistemas integrados de água
aquecida e chuveiro elétrico de baixa potência demonstraram os melhores
resultados, com 30% de redução de energia (se comparado apenas ao chuveiro
elétrico) e 50% de água (quando comparado apenas ao chuveiro com aquecimento
solar). Figura 45. No mercado livre de energia, a energia comercializada provém de usinas de menor
Apesar do investimento não elevado, o retorno financeiro fica entre 6 e 9 anos, impacto, como PCHs, solar, biomassa ou eólicas..

pelo uso mais pontual da solução. Todavia, aspectos de redução de impactos e Além de a livre negociação de preços permitir a escolha de seu fornecedor de
o fato de a vida útil do equipamento ficar entre 15 e 20 anos tornam ainda viável energia, é possível negociar condições contratuais, como prazo, flexibilidade e
sua implantação. Existe ainda a necessidade de manutenção mensal (limpeza índices de correção. Sua contratação pode ainda resultar em desconto na TUSD
dos vidros) para garantia de aproveitamento total de sua capacidade. (Tarifa de Uso do Sistema de Distribuição). Isso é importante, pois na contratação
2.1.4.2.3. Mercado livre de energia (energias incentivadas) regulada estamos acostumados a receber uma única fatura de energia, com os
Há hoje dois ambientes de comercialização de energia elétrica: o Ambiente de custos de energia e distribuição lançados juntos, mas no mercado livre passamos
Contratação Regulada (ACR), que é o convencional, contratado da concessionária a receber duas faturas – uma da geradora de energia e outra da distribuidora de
de energia; e o Ambiente de Contratação Livre (ACL) chamado mercado livre de energia.
energia. Entretanto, o mercado livre de energia não é acessível a todos. As aparentes vantagens do mercado livre vêm também acompanhadas de novas
No mercado livre, há o chamado Consumidor Livre, que caracteriza-se como responsabilidades, pois você passa a ser o único responsável pelas suas projeções
grande consumidor (demanda contratada igual ou maior que 3.000 kW), e o de consumo e contratação de energia. Os melhores preços são alcançados quanto
consumidor especial, categoria em que se enquadram alguns supermercados, maior for a quantidade negociada, o que requer um bom planejamento, pois o
com demanda contratada igual ou maior a 500 kW. E mais, a demanda não precisa mercado de energia pode oscilar de acordo com as condições climáticas e ações
ser de apenas uma loja, mas também pela reunião de um grupo. governamentais. Compras em curto prazo podem ser mais caras, e isso torna-se
No caso dos consumidores especiais, a energia comercializada só pode provir bastante relevante quando se leva em conta que a migração para o mercado livre
de fontes incentivadas, ou seja, de pequenas centrais hidrelétricas – PCHs, eólica, exige que você permaneça nessa modalidade por 6 meses (consumidor especial)
solar ou biomassa, tornando esse mercado ainda mais atrativo pela redução de ou 5 anos (consumidor livre). Um mal planejamento poderá forçá-lo a complementar
impactos associados à geração de energia. o contrato de aquisição de energia a valores acima do mercado.

94 95
2 CONSUMO

Hoje no Brasil, dos 1.144 consumidores especiais*, 15% são do varejo. Há apenas efetivamente é usada. E mais, qual será a quantidade ideal de consumo? Como
um relato de retorno ao mercado cativo entre varejistas, cujo motivo foi a oscilação saber se está havendo desperdício? E como evitá-lo?
no preço da energia comercializada por fornecedores independentes, fazendo com Ao longo do capítulo, discutiremos cada caso, iniciando pela dinâmica de
que a empresa se sentisse frágil e temesse ficar sem energia no mercado livre. consumo que uma loja apresenta e inferindo sobre os processos em que a água é
Assim decidiu voltar ao mercado cativo por sentir mais segurança. mais utilizada.
Mas esse mercado ainda deve mudar no Brasil. Antes de 2013, a inadimplência e Ao analisarmos um ano completo de consumo, não é possível observar relação
outros fatores de mercado aumentaram muito os riscos do mercado livre. Hoje, com entre as variações mensais. Isso ao considerarmos apenas o consumo interno
novas medidas regulatórias, o mercado encontra-se mais estável. Há ainda questões da loja, pois o uso em paisagismo e torres de resfriamento estará diretamente
em discussão que devem mudar para melhor, como flexibilizações de contrato (por relacionado às condições climáticas. A análise foi feita em 4 lojas de médio porte
percentual ou por prioridade), com preço predefinido ou pós-definido (com piso e (entre 10 e 19 checkouts) ao longos dos anos de 2012 e 2013. Nessas lojas, as únicas
teto, spread, prêmio) reduzindo o risco de contratos de longo prazo. Deverá haver variações observadas relacionaram-se à limpeza de caixas-d’água e vazamentos.
também a divulgação de preços de referência, por grupos de consumo ou tipos de
contrato e a regulamentação da figura do Comercializador Varejista de Energia, que Consumo Médio Diário por Mês
representará pequenos consumidores na aquisição e repasse da energia no livre 7
comércio. 6
De fato, o mercado livre é uma oportunidade de redução de custos e de 5
aproveitamento de energia de menor impacto ambiental, mas ainda é importante que 4
a empresa consumidora tenha uma equipe ou consultoria voltada a esse mercado 2012
3
para gestão dos contratos e comercialização dos montantes de energia, garantindo 2013
2
análises de risco (de mercado, climático e de modulação governamental) para
1
obtenção dos resultados pretendidos sem haver riscos de pagamento do insumo de
0
energia elétrica superior ao ambiente cativo. O trabalho será o mesmo dos que são JAN FEV MAR ABR MAI JUN JUL AGO SET OUT NOV DEZ
realizados em ambiente de bolsa de valores, com previsões de risco e busca pelas
Figura 46. Gráfico da média de consumo diário em cada mês do ano. Médias calculadas a partir de
melhores negociações. Afinal, a energia é uma commodity. E tendo o Brasil um 4 lojas medianas, entre os anos de 2012 e 2013.
sistema interligado, não existem barreiras para adquirir energia incentivada de uma
fonte alternativa localizada em qualquer região do País, por mais distante que seja. Ao analisarmos mês a mês, passamos a encontrar tendências de consumo. O
acompanhamento mais detalhado em 2 lojas de maior porte (mais de 20 checkouts)
2.2. Água permitiu verificarmos o aumento no consumo de água em dias relacionados à
maior atividade na cozinha. Nos casos estudados, há grande movimento nas
2.2.1. Onde e como sua água está sendo utilizada (e desperdiçada)? quartas-feiras (evidenciado pelo número de cupons emitidos), porém o maior
O consumo de água está essencialmente ligado às seções de preparação, consumo de água é observado nas sextas-feiras e sábados, justamente nos dias
instalações sanitárias e operações de higienização e lavagem de instalações de maior consumo no restaurante e rotisseria. A redução no domingo é reflexo
e equipamentos. A água pode ainda ser utilizada na rega de espaços verdes e do movimento e menor período de funcionamento. Em uma das lojas, há uma leve
em sistemas de resfriamento. Mas, de fato, pouco sabemos sobre como e onde tendência de aumento nas terças e quartas-feiras. Não foi possível relacionar
o fato além da preparação da seção de hortifrúti para o dia de promoções que
* Fonte www.ccee.org.br, referente a novembro de 2013 ocorre às quartas.

96 97
2 CONSUMO

Comparativo entre os dias da semana A setorização da medição interna é uma ferramenta de grande valor para o
conhecimento do consumo. Estudos realizados em 5 supermercados dos Estados
50
45 Unidos, separando o consumo de banheiros e preparações, apresentou resultados
40 similares entre as lojas analisadas. De 75% a 85% de todo o consumo concentra-se
35 nas preparações.
30
25
Percentual do Consumo Interno
20
15
82 83 74 77 Banheiros
10 85
5 Preparações
18 17 26 15 23
0
segunda terça quarta quinta sexta sábado domingo
Irvine Los Angeles Phoenix San Diego Santa Monica
Figura 47. Gráfico de comparação de consumo entre os dias da semana em um mês. Análise da Figura 49. Uso da água nas lojas (2000).
média de consumo de duas lojas durante 3 meses. As cores referem-se às semanas 1, 2, 3 e 4. Fonte: Commercial and institutional end uses of water, AWWA Research Foundation and American
Water Works Association
E, ao longo de um dia, observamos o consumo de água concentrado no período
da tarde e noite. Este é o resultado dos registros hora a hora em 2 lojas de maior Dados mais detalhados para supermercados ainda não foram produzidos, mas ao
porte, com cozinha para atendimento de restaurante e rotisseria, além de padaria, analisarmos o perfil de consumo em restaurantes, onde a operação de preparação
frios e hortifrúti. Apesar de se tratar de um grupo específico de lojas, os resultados pode ser muito similar às cozinhas e preparações de supermercados, podemos ter
uma ideia de como se dá o consumo. As contribuições das “torneiras” e máquinas
podem ser extrapolados, ao analisarmos o consumo em relação à operação.
de lavar louça são as mais significativas, com cerca de 75% de todo consumo.
Na análise realizada foi evidente a grande participação no consumo das
Banheiros representam entre 10 e 15% do consumo.
operações de limpeza de utensílios e higienização de instalações, além, é claro, do
uso de instalações sanitárias ao longo do período (loja aberta das 8h às 22h). Percentual de Participação no Consumo em Restaurantes
4,2
4,5 4,8 15
4 15
10
3,5
Torneiras
3 25
33 Lava-louças
2,5
2 Banheiros

1,5 Máquina de Gelo

1 Lava-roupa
50
0,5 43

0
7h
8h
9h

h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
21
22
23

A B
Figura 48. Gráfico de consumo diário em metros cúbicos por hora, considerando a média de 3 Figura 50. Percentual de uso da água em restaurantes. Fonte: Commercial and institutional end
lojas analisadas. uses of water, AWWA Research Foundation and American Water Works Association (2000).

98 99
2 CONSUMO

Ainda carecemos de estudos sobre a contribuição de cada seção, e mais que 2.2.1.1. Setores de preparação
isso, o desenvolvimento de padrões médios de consumo para cada operação, Como já vimos, nos setores de preparação, os pontos de consumo são torneiras
determinando os ideais a serem alcançados. Todavia, saber onde e como a água (pias e mangueiras) e equipamentos (lavadoras, dosadores, máquina de gelo). Em
está sendo utilizada é apenas uma parte do consumo sustentável dos recursos – ordem de grandeza quanto ao consumo, destacam-se os seguintes procedimentos:
precisamos estar atentos também ao desperdício. • limpeza de utensílios;
CONCEITO CAUSAS • limpeza de instalações;
Problemas no sistema e • preparações.
PERDA
DESPERDÍCIO Água que escapa em equipamentos Conhecer os procedimentos empregados, equipamentos utilizados, horários de
Toda água disponível em do sistema sem ser Vazamento pico das atividades e demanda necessária de água para o processo é a base para
um sistema hidráulico, efetivamente utilizada Negligência o desenvolvimento de ações que visem identificar boas práticas, necessidade de
perdida antes de seu adequações, padronização de procedimento e realização de treinamentos.
uso ou usada de forma Problema no sistema e
USO DESNECESSÁRIO em equipamentos LAVAR LOUÇA E UTENSÍLIOS, NOSSO MAIOR CONSUMO.
desnecessária para Água usada de
atividade em que é Procedimento Máquinas de lavar louça podem ser 6 vezes mais econômicas,
forma perdulária ou
empregada inadequado em consumo de água, que a lavagem manual. Esse dado é a média
inadequadamente
Hábitos apresentada entre 8 modelos de lavadoras, relacionando sua capacidade
e volume de água por ciclo de lavagem. Mesmo considerando o consumo
Tabela 11. Conceitos e causas do desperdício. Adaptado de Conservação da Água em Edifícios
Comerciais, Nunes (2006).
de energia, há vantagens na utilização desses equipamentos, desde que
seguidos alguns procedimentos básicos:
Perdas provocadas por problemas nos sistemas de distribuição e equipamentos • pré-lavagem adequada, conforme indicação do fabricante;
são grandes responsáveis por desperdício de água em uma loja, sendo influenciado • utilização máxima de sua capacidade;
por: • utilização da quantidade e dos tipos corretos de detergente.
• tipos de peças e metais utilizados; Há hoje processos de limpeza de utensílios, grelhas e assadeiras,
• condições de vazão e pressão do sistema; com ação de detergentes e enzimas que, além de reduzir o tempo de
limpeza, geram economia de água. Vasilhas, formas e utensílios sujos
• procedimentos de manutenção e estado de conservação.
e incrustados (plástico, alumínio e outros metais) são mergulhados
Mas o uso inadequado é ainda o maior fator de desperdício, pois constitui na solução desengordurante a 80 ºC por duas a três horas, em tanque
problema crônico. Está intimamente relacionado com: próprio para operação. O equipamento opera durante 30 dias com o
• quantidade e características dos usuários; mesmo líquido, garantindo a redução de consumo, que fica restrito
• aspectos culturais; ao enxágue.
Em um restaurante analisado, chegou-se à economia de R$
• condições climáticas.
1.600,00 com água contra o investimento de R$ 950,00 por mês no
Conhecer tais relações ajuda a compreender melhor o problema e traçar equipamento e insumos. Nesse cálculo não foi considerado o custo
estratégias mais assertivas para mudança de hábitos em busca do consumo com detergente, mão de obra (há redução de tempo na operação) e
consciente. Abordaremos mais sobre uso no item 6, Comunicação e Engajamento, ganho na durabilidade dos utensílios, que aumentam ainda mais as
deste capítulo. vantagens sobre o processo economizador.

100 101
2 CONSUMO

2.2.1.2. Uso de água na limpeza de loja a regulagem de tempo, acionamento para volumes diferenciados de descarga e
A mesma discussão acerca da operação das seções se aplica à limpeza. Conhecer sistemas de segurança de fechamento automático.
procedimentos empregados, equipamentos utilizados, horários e a demanda Hoje, pela regulamentação brasileira, os vasos sanitários devem operar com
necessária para cada seção é a base para o desenvolvimento de ações de mais volume de descarga de 6,8 litros por descarga (inscrição no vaso sanitário de 6 lpf).
eficiência no consumo. Além da válvula de parede, há descargas com caixa acoplada e caixa conjugada,
Aspectos técnicos dos produtos, equipamentos e aspectos comportamentais dos que limitam o volume máximo por descarga, sempre atendendo à regulamentação
colaboradores são itens essenciais para implementação das ações. – 6 litros por descarga – e com a opção de 3 litros para efluentes líquidos.
O uso de máquinas de lavar pode representar redução de consumo. São 3 tipos Para torneiras de lavatórios não há regulamentação quanto ao volume máximo de
básicos de máquinas: limpeza pelo impacto da água (lavadoras de alta pressão); vazão. Em julho de 2013 o Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia
limpeza por esfrega com escova ou disco (enceradeiras industriais); e máquinas (INMETRO) colocou em consulta pública uma proposta de Regulamento Técnico
que esfregam e secam ao mesmo tempo (lavadoras e secadoras automáticas de da Qualidade para Equipamentos e Dispositivos Hidráulicos Prediais – Torneiras,
piso). Todos esses equipamentos promovem a redução no consumo em diferentes que limita a vazão mínima para 2,4 l/min com arejador e 4,2l/min sem arejador para
escalas. torneiras de pia e lavatório. Como referência, temos a Agência Ambiental Americana
Lavadoras de alta pressão apresentam vazão média de 5 litros por minuto, ao que estabelece uma vazão máxima de 10L/min para torneiras, dentre as ações de
passo que uma mangueira convencional pode variar de 15 a 40 litros por minuto. consumo racional de água.
Com uma hora de uso, a diferença entre os métodos pode chegar a 2 mil litros. Já
as lavadoras e secadoras automáticas podem alcançar performances de 50 m2 de
piso limpo com apenas 1 litro de água, sendo sem dúvida a forma mais econômica
de limpeza, em relação ao consumo de água.
Atenção às áreas de serviço – a limpeza de panos e equipamentos de limpeza
pode representar um grande consumo, em especial de acordo com o hábito e
procedimento adotado. Conheça a operação nesse setor e estimule as boas
práticas para o uso racional.
2.2.1.3. Sanitários
Como já vimos, os sanitários podem representar entre 15% e 25% do consumo de
água de uma loja. Esse consumo está relacionado aos hábitos, mas também às louças
e metais sanitários usados. No item 4.2, Equipamentos mais eficientes e econômicos,
ainda neste capítulo, abordaremos mais sobre alternativas menos dispendiosas. Vale
agora entender como funciona o sistema que está em uso em sua loja.
Até 2004, a preocupação na fabricação de vasos sanitários era baseada em
estética e funcionalidade. A média de consumo de uma descarga sanitária estava Figura 51. Exemplos de redução de consumo em torneiras. Na torneira A, a ligação direta na rede
entre 9 e 15 litros. Todavia, o padrão de válvula de parede deixava, literalmente, na faz sua vazão chegar a 20L/min. Em B temos o uso de redutor de vazão e de arejador que reduzem
a vazão para até 6L/min. Além da redução de vazão, temos também exemplos de mecanismos
mão do usuário a decisão de tempo de descarga (tempo de acionamento da válvula).
redutores do tempo de acionamento, como em C, onde temos a torneira com temporizador e arejador
Válvulas com vazão entre 1,6 e 1,8 litro por segundo têm o consumo relacionado ao de 1,8L/min, limitando o ciclo a 7 segundos, e em D, com acionamento por sensor de movimento,
tempo de acionamento e fechamento. Modelos de válvulas mais recentes permitem limitando o tempo ao exato período em que o usuário estiver com a mão sob a torneira.

102 103
2 CONSUMO

RESULTADO DA SUBSTITUIÇÃO DE VASOS SANITÁRIOS EM 2.2.1.4. Sistemas de frio alimentar, ar-condicionado e climatização
SHOPPING Todo sistema de refrigeração necessita dispersar o calor sequestrado e o
O exemplo trata da medição real de consumo de água no banheiro uso de água pode ser empregado nesse processo. No caso dos condensadores
feminino de um shopping, onde promoveu-se a substituição de 105 resfriados a ar, bastante comuns nas casas de máquinas, o calor absorvido do
vasos sanitários de modelos anteriores a 2004 por novos modelos de sistema é diretamente transferido para o ar externo. Esse sistema arrefecido a
6 lpf (litros por função). Como resultado, o volume de água consumido ar requer uma diferença maior de temperatura entre o fluido refrigerante e o
foi reduzido em 20%, atingindo um pay-back de 3 meses. ar externo, tornando-os menos eficientes em termos energéticos se comparado
Fonte: Conservação e reúso de água em edificação. FIESP (2005) aos sistemas que utilizam água. Porém, são sistemas mais simples, de baixos
LIMPEZA DE CAIXAS-D’ÁGUA custos de instalação e manutenção e não geram custo com água.
Os sistemas resfriados a água primeiro transferem o calor do fluido
A caixa-d’água funciona como uma reserva capaz de equacionar
refrigerante para a água que circula no condensador. Depois a água é
diferenças entre consumo e oferta nos horários de maior demanda
transferida de dentro do condensador para uma torre de resfriamento. E, por
e garantir o abastecimento durante episódios de interrupção de
fim, a torre de resfriamento transfere o calor da água para o ar externo. Há
fornecimento, além de ser necessária ao atendimento da legislação.
ainda condensadores evaporativos, que combinam os dois processos em um
Sua limpeza é essencial para manutenção da qualidade da água
só aparelho. Ambos constituem sistemas mais complicados e mais caros, além
dentro dos parâmetros necessários, todavia não há legislação ou
de exigirem manutenção maior do que os sistemas resfriados por ar, apesar de
norma, em âmbito nacional, que defina sua periodicidade. Os estados
serem mais eficientes em termos energéticos.
do Rio de Janeiro e Rio Grande do Sul apresentam leis estaduais,
A evaporação da água nas torres de resfriamento é responsável por
enquanto em São Paulo há apenas leis municipais disciplinando o
aproximadamente 80% da transferência de calor para o ambiente. A diferença de
tema. Para o município de São Paulo, a Lei nº 10.770/1989 estabelece
temperatura entre o ar e a água é responsável pelos outros 20% do resfriamento.
que a limpeza deve ser realizada a cada 360 dias.
Assim, uma torre de resfriamento pode perder por evaporação até 10% de seu
O processo de limpeza geralmente envolve grande consumo de
volume diariamente.
água. Para minimizar o desperdício, esteja atento a esses fatores:
Pintura refletiva e instalação em locais sombreados têm efeito benéfico sobre
• Programe com antecedência o dia da lavagem da sua caixa-d’água. o consumo de água e de energia nesses equipamentos. Instalar sensor de
• Escolha os dias e períodos de menor consumo para redução do temperatura na saída da torre para modular a velocidade do motor usando um
impacto. inversor de frequência é outra medida viável para redução do consumo de água
• Utilize ao máximo a água para esvaziamento da caixa, reservando-a e energia. Também convém evitar proximidade de refletores e proteger a piscina
se possível. Posteriormente à água da lavagem, use a água que será das torres contra o ingresso de folhas e insetos. A contaminação da água exige
dispensada para limpeza de áreas externas. mais produtos químicos para prevenção do crescimento de bactérias e algas.
• O trabalho de limpeza pode requerer o atendimento a normas Os climatizadores evaporativos constituem outro sistema para redução da
específicas, como a NR 33 – Segurança e saúde em espaços confinados temperatura ambiente que têm ganhado destaque pelo custo de operação mais
e NR 35 – Trabalho em altura. reduzido em relação aos sistemas de ares-condicionados.

104 105
2 CONSUMO

Temperatura de Entrada 25oC 32oC 37oC Por fim, seu consumo de água está relacionado ao modelo do equipamento e
condições de dia em operação, variando entre 1 a 30 litros por hora.
Umidade Relativa Redução de Temperatura
30% 8,5 C
o
9,5oC 11,0oC 2.2.1.5. Paisagismo
40% 7,0oC 8,0oC 8,5oC O consumo de água em paisagismo é muito variável, pois depende do ambiente,
do solo, condições climáticas, de espécies e sistemas utilizados. Não há um padrão
50% 5,5 C
o
6,5 C
o
7,0 C o
ou norma a ser seguida.
60% 4,5 C
o
5,0 C
o
5,5oC As alternativas possíveis vão desde sistemas de irrigação que otimizam a utilização
75% 2,5oC 2,5oC 3,0oC da água (gotejamento, tubos porosos, microaspersão, sistemas temporizados) até
Tabela 12. Umidade relativa, temperatura e redução em climatização. a escolha de espécies adaptadas a climas secos (xerófitas). Menos comum, mas
Fonte – Ar-condicionado versus climatizadores por evaporação. Lopes et al. (2006). bastante viável, é a utilização de espécies nativas regionais, que já são adaptadas
Esses equipamentos promovem a redução da temperatura ao forçarem o ar ao regime de chuvas local. E opte sempre pela irrigação nos períodos mais amenos
sobre superfícies evaporativas, onde a água absorve o calor do ar ao se evaporar. (início da manhã e final de tarde) para reduzir a perda por evaporação. Outra ação
Sua eficiência está diretamente relacionada à temperatura e umidade do ar. que gera bons resultados é o uso de matéria orgânica na cobertura do solo (folhas,
Quanto mais quente e seco o ar, maior sua eficiência no resfriamento. Na prática, casca de árvores), que ajuda a reter a umidade e minimiza o aspecto de seca da
temos a diminuição de picos de temperatura e umidade, propiciando um maior grama durante períodos de estiagem.
conforto térmico. O aproveitamento de água de reúso ou captação de água de chuva para uso na
irrigação são também opções viáveis a serem implantadas.

Figura 52. Esquema de funcionamento do climatizador evaporativo evidenciando o reservatório de


água e o sistema de recirculação. O consumo de água se dá na medida em que a mesma evapora
pela passagem de ar pelo sistema.
Nesse processo, o ar fresco resultante apresenta alta umidade relativa. Isso não
significa que o ambiente chegará a ficar molhado ou que haja limitação quanto ao
uso junto com equipamentos elétricos, mas cabe o cuidado de analisar modelos com
controle de névoa. Outro ponto interessante é que, diferentemente do ar-condicionado, Figura 53. Manutenção de árvores nativas do terreno, adequando estacionamento à disposição
no sistema evaporativo, a recirculação do ar não é benéfica (o ar com grande das árvores. Menor exigência de manutenção e irrigação, por tratar-se de espécies nativas já
umidade relativa perderá eficiência na retirada de calor do ambiente). adaptadas e aproveitamento das espécies no sombreamento do estacionamento.

106 107
2 CONSUMO

2.2.2. Entenda sua conta de água problema que impediu sua realização (vidro sujo, embaçado ou local obstruído, por
A conta de água deve apresentar alguns dados básicos e são eles que nos exemplo). Quando a leitura não pode ser realizada, a cobrança é calculada pela
auxiliam a verificar possíveis erros de cobrança, identificar sinais de vazamentos, média de consumo dos últimos meses até que se acerte a medição.
estabelecer metas e monitorar o consumo. • Discriminação do faturamento: apresenta os itens que fazem parte do valor total
Algumas das principais informações disponíveis e o que podemos extrair desses a pagar, como fornecimento de água, serviços de coleta de esgotos, eventuais
dados seguem abaixo: penalidades por atraso no pagamento e serviços. Com ele você visualiza a
• Identificação: RGI, número do hidrômetro, endereço da instalação são todos dados contribuição de cada item na composição final da conta.
que identificam o consumidor e o equipamento de medição. Mês de referência e 2.2.2.1. Analisando os dados disponíveis: controles e monitoramento
data da leitura são outros dados de identificação do período de medição bastante A forma mais fácil de controlar o consumo é a anotação da leitura do seu
úteis para o acompanhamento do consumo. hidrômetro. Entre os tipos de mostradores de hidrômetros mais comuns, a leitura
• Economias: é o campo que traz como o imóvel está cadastrado. Cada categoria é feita com os algarismos da mesma cor. Anote esses números para ter o registro
(residencial, comercial, industrial) apresenta preços e formas diferentes de em metros cúbicos.
cobrança. Outra informação importante é número de unidades que compõem a Para saber quanto você consumiu no período medido (mês, semana, dia, horas),
ligação (mais comum no caso de apartamentos / conjunto de lojas sem cobrança basta subtrair da leitura que você acaba de fazer a leitura do período anterior.
individualizada). A individualização é sempre vantajosa, pois a cobrança em faixas
de consumo penaliza a medição em grupo pelo registro único de quantidade
elevada de água consumida. 9 0 1

• Tarifas de água / m3: a água é medida pelo consumo em metros cúbicos, e o cálculo 0 1 2 6 1 9 0 1 7
8 2
3 9 0 1
8 2 6 5 4 8 2
do custo é progressivo. Quanto maior for seu consumo, mais caro será o valor m3 7 3 7 3
6 5 4 6 5 4
cobrado por metro cúbico. Conhecer quais são as faixas pode ser um importante
9 0 1 9 0 1
dado para o estabelecimento de metas de redução, buscando a migração para 8 2 8 2
7 3 7 3
faixas menores de consumo. Normalmente as faixas de consumo para cobrança 6 5 4 6 5 4
diferenciada, usadas pelas fornecedoras de água são: até 10 m3 (consumo mínimo),
de 11 a 20 m3, de 21 a 30 m3, de 31 a 40 m3, de 41 a 50 m3 e acima de 50 m3.
• Consumo em metro cúbico: O consumo, calculado por meio da subtração do
consumo atual pelo consumo anterior, é a quantidade de água consumida no Figura 54. Tipos de mostradores de hidrômetros.
período entre medições. A comparação desse dado entre os meses do ano ou com Quanto mais detalhado for o monitoramento, mais rápida é sua resposta a problemas
o mesmo mês do ano anterior dá a ideia de desempenho (se sua operação está como vazamentos e desperdícios. Medições setorizadas e sistemas com telemetria
consumindo mais ou menos água em relação aos demais períodos comparados). (envio de dados que podem ser consultados remotamente) são formas disponíveis
Confira sempre esses dados para assegurar-se de que o volume cobrado é o mesmo que facilitam o monitoramento, todavia requerem investimentos e pessoal.
que o medido. O histórico de leituras e a média de consumo nos últimos meses são Em muitas lojas, a anotação diária de consumo, na abertura ou fechamento da
outros indicadores que podem ser usados para monitoramento do consumo. loja, auxilia na identificação quase imediata de consumos excessivos, evitando que
• Condição de leitura: indica o que ocorreu no momento em que o profissional problemas de vazamento só sejam identificados no recebimento da conta mensal
realizou a leitura do hidrômetro. Se a leitura foi normal ou se apresentou algum de consumo.

108 109
2 CONSUMO

2.2.3. E qual o consumo ideal? CONSUMO ANUAL EM LITROS,


POR METRO QUADRADO DE LOJA
A grande dificuldade de se chegar a esse dado é estabelecer formas de
E MÉDIA DIÁRIA DE CUPONS EMITIDOS
equacionar as variações entre lojas quanto a suas seções, serviços e público
atendido. Ainda não há consenso neste sentido, mas um estudo norte-americano EUA – de 0,82 a 1,23
se propôs a responder à pergunta. Para isso, realizou as medições em 5 BRASIL – de 0,7 a 2,0
supermercados, chegando aos seguintes resultados: Fonte EUA: Commercial and institutional end uses of water, AWWA Research
Foundation and American Water Works Association
CONSUMO ANUAL
EM METROS CÚBICOS Para saber qual é seu índice, faça a seguinte conta:
POR METRO QUADRADO DE LOJA CONSUMO ANUAL (agora em litros)
EUA – de 2,14 a 2,63 ÁREA x MÉDIA DIÁRIA DE CUPONS
Fonte: Commercial and institutional end uses of water, AWWA Research Foundation
and American Water Works Association A conclusão da análise com supermercados brasileiros mostra que, apesar do
consumo maior por área das grandes lojas (chegando a 2,83 m3/m2), o aproveitamento
Calculado pela soma total de água consumida ao longo do ano (em metros
da água é melhor, chegando a 0,8 litro/m2 x cupom.
cúbicos) e dividindo pela metragem da loja (em metros quadrados).
2.2.4. Soluções
CONSUMO ANUAL (M3)
As soluções para diminuir o consumo de água passam por:
ÁREA DA LOJA (M2)
• levantamento do perfil de consumo e avaliação do potencial de redução;
O mesmo cálculo foi aplicado em 5 lojas brasileiras, com portes de pequeno a
• descrição e diagnóstico das instalações hidráulicas;
grande, com resultados bastante variáveis:
• caracterização de hábitos e vícios de desperdício;
CONSUMO ANUAL • controles e monitoramento;
EM METROS CÚBICOS
• padronização de procedimento;
POR METRO QUADRADO DE LOJA
• pesquisa/correção de vazamentos em redes, reservatórios e instalações;
BRASIL – de 0,9 a 2,83
• alternativas para substituição de equipamentos hidráulicos convencionais por
No geral, o que se observou foi uma variação no sentido de aumento do consumo equipamentos economizadores de água;
por metro quadrado em lojas maiores. • alternativas para reaproveitamento de água (reúso, chuva);
Uma forma de equalizar variações entre as lojas é a inclusão da variável Cupons
• treinamento e sensibilização;
emitidos. Ao dividirmos o consumo por área da loja (cálculo anterior), pela média
diária de cupons emitidos, busca-se incluir na análise indicadores relacionados ao • comunicação.
número de pessoas que se utilizam da água (pela compra de mercadorias ou uso Os levantamentos e descritivo constituem a base para o planejamento das ações.
da infraestrutura da loja). Nessa análise, as lojas norte-americanas e brasileiras Do item 1.1 ao 1.5 deste capítulo analisamos as questões de uso e desperdício.
chegaram ao resultado de: Recorra a esses itens para fazer um diagnóstico e o descritivo de sua loja.

110 111
2 CONSUMO

O controle periódico, cujos parâmetros foram discutidos no item 2, constitui


A
importante forma de prevenir, identificar e corrigir eventuais fugas, perdas ou uso
inadequado da água. Sempre que possível, a medição setorizada – hidrômetros
para ramais específicos da rede, medindo o consumo de seções e/ou equipamentos
específicos – também auxiliam no controle de forma mais precisa.
E os procedimentos padronizados, embasados no uso eficiente da água nas
várias atividades desenvolvidas nos estabelecimentos, promovem as primeiras
grandes mudanças no consumo. Com os procedimentos, busque ainda:
• otimizar o uso de água na limpeza das seções, lavagem de alimentos ou
preparação de refeições, salvaguardando os procedimentos internos B
existentes;
• utilizar a máquina de lavar louça em sua capacidade total;
• privilegiar o descongelamento natural de alimentos nas seções;
• racionalizar o uso de água na lavagem de pavimentos, equipamentos e veículos;
• otimizar os sistemas de rega em função da época do ano e das condições
meteorológicas e privilegiar a rega automática;
• sensibilizar e divulgar aos colaboradores medidas simples de economia de água
(ver item 6 deste capítulo).
2.2.4.1. Detecção de perdas
As perdas ou fugas podem ocorrer em resultado de avarias de equipamentos
e tubulações. Muitas vezes permanecem ocultas e só são identificadas pelo
monitoramento do consumo. Por esse motivo, devem ser adotadas algumas
medidas preventivas:
• realizar periodicamente testes;
• assegurar a manutenção preventiva dos equipamentos.
2.2.4.1.1. Encontrando vazamentos
Um bom indicador de vazamento é verificar se o hidrômetro está parado antes da
entrada dos primeiros colaboradores na abertura da loja, quando não há torneiras C
ou sanitários em uso e já tendo ocorrido a recarga das caixas-d’água durante a
noite. Caso o hidrômetro esteja em movimento, a água que está passando por Figura 55. Em A e C, procedimentos para identificação de vazamentos no ramal direto da rede.
ele deve estar sendo perdida em algum ponto. Para localizar a perda, podemos Em B, procedimento para identificação de vazamento em cisternas, reservatórios ou na instalação
realizar alguns testes: alimentada pela caixa.

112 113
2 CONSUMO

Vazamento no ramal direto da rede Obs.: Nas bacias cuja saída da descarga for para trás (direção da parede),
1º mantenha aberto o registro do cavalete; deve-se fazer o teste esgotando-se a água. Se a bacia voltar a acumular água, há
2º feche bem todas as torneiras e não utilize os sanitários; vazamento na válvula ou na caixa de descarga.
Torneiras
3º feche a alimentação da caixa-d’água, não permitindo a entrada de água;
Este tipo de vazamento é caracterizado por torneira pingando quando fechada.
4º anote a leitura do hidrômetro e, após uma hora, verifique se houve alteração.
Quando isso acontecer, troque a vedação.
Caso ele tenha se movimentado, é sinal de vazamento no ramal diretamente
alimentado pela distribuidora de água. Aparelho/Equipamento Sanitário Perda Estimada
Outro teste possível é: Gotejamento lento 6 a 10 litros/dia
1º feche o registro do cavalete; Gotejamento médio 10 a 20 litros/dia
2º abra uma torneira alimentada diretamente pela rede da distribuidora (de Gotejamento rápido 20 a 32 litros/dia
Torneiras
preferência em um ponto um pouco afastado do cavalete);
(de lavatório, de pia, Gotejamento muito rápido > 32 litros/dia
3º espere até a água parar de correr e coloque um copo cheio de água na boca de uso geral) Filete 2 mm > 144 litros/dia
da torneira.
Filete 4 mm > 333 litros/dia
Se houver sucção da água do copo pela torneira, é sinal de que existe vazamento
no cano alimentado diretamente pela rede. Vazamento no flexível 0,86 litro/dia
Vazamento em cisternas e reservatórios Filetes visíveis 144 litros/dia
1º feche o registro de saída do reservatório; Mictório Vazamento no flexível 0,86 litro/dia
2º feche completamente a alimentação da caixa-d’água; Vazamento no registro 0,86 litro/dia
3º marque no reservatório o nível da água e, após uma hora, no mínimo, veja se Filetes visíveis 144 litros/dia
ele baixou.
Vazamento no tubo de
Em caso afirmativo, há vazamento nas paredes ou na tubulação de limpeza. 144 litros/dia
alimentação da louça
Vazamento na instalação alimentada pela caixa Bacia sanitária
com válvula 40,8 litros (supondo a
1º Feche todas as torneiras da loja e não utilize os sanitários; válvula aberta por um
de descarga Válvula disparada quando
2º Feche completamente a alimentação da caixa-d’água; período de 30 segundos,
acionada
3º Marque na caixa o nível da água e, após uma hora, no mínimo, verifique se ele a uma vazão de 1,6 litro/
baixou. segundo)
Em caso afirmativo, há vazamentos na canalização ou nos sanitários alimentados Vazamento no registro 0,86 litro/dia
pela caixa-d’água. Vazamento no tubo de
Chuveiro
Vazamento na válvula ou na caixa de descarga alimentação junto da 0,86 litro/dia
Jogue corante ou pó de café no vaso sanitário. O normal é o pó ficar depositado parede
no fundo do vaso. Caso contrário, é sinal de vazamento na válvula ou na caixa Tabela 13. Volumes estimados perdidos em vazamentos.
de descarga. Fonte: Conservação e reúso de água em edificação. FIESP (2005)

114 115
2 CONSUMO

2.2.4.1.1.1. Evidências de vazamentos Há ainda modelos bem menos comuns, como o de pressão assistida, que, ao
Esteja atento a manchas de umidade, aspecto esponjoso ou descolorido nas utilizar água pressurizada, garante a descarga com menor volume de água. E o
paredes, som de escoamento de água e presença de vegetação em juntas de modelo de vácuo assistido, em que o lançamento de água na bacia sanitária e no
sifão de escoamento cria um vácuo capaz de proporcionar a descarga com apenas
assentamentos de pisos externos, diferenciando-se das demais áreas, pois esses
3 litros de água.
são indicativos de vazamentos.
A grande redução do volume de água nas descargas nem sempre é vantajosa
Em casos onde o vazamento não pode ser identificado, o melhor é recorrer
para locais de maior movimento. O filme de água ao longo de toda a tubulação de
a empresas especializadas, que, por meio de testes de escuta, geofonia e esgoto é essencial para o escoamento dos detritos, e a diminuição dos volumes
correlacionadores de ruídos, buscam identificar acusticamente o local mais utilizados deve ser prevista para planejamento das redes sanitárias, evitando
provável do vazamento. obstruções ao longo da tubulação.
2.2.4.2. Equipamentos mais eficientes e econômicos Além das bacias sanitárias, os sistemas de descarga também devem atender às
Estes equipamentos, em geral, promovem a redução de pressão e/ou fluxo de necessidades especificadas na bacia sanitária (quantidade de litros por descarga).
As válvulas e caixas acopladas com opções de acionamento seletivo de descarga
água para otimizar o consumo e prevenir o desgaste de equipamentos. Mas os
(3 e 6 litros), acompanhadas de comunicação visual explicativa sobre a distinção de
benefícios dependem das condições de cada lugar. Antes de instalar, verifique:
volumes utilizados, é uma medida econômica que pode representar de 30% a 60%
• pressão hidráulica; de redução em relação a sistemas convencionais antigos de descarga.
• higiene e conforto necessários;
• atividade de risco de contaminação do usuário;
• facilidade de manutenção;
• impacto na operação / tempo despendido na operação;
• avaliação técnico-econômica de viabilidade;
• hábitos dos usuários;
• possibilidade de vandalismo.
Identificadas as condições acima, fica mais fácil decidir entre os modelos que
trarão mais economia. A B

2.2.4.2.1. Bacias sanitárias Figura 56. Sistema de funcionamento da válvula de duplo fluxo.
Entre as bacias sanitárias, há 2 modelos de funcionamento: o primeiro com limpeza 2.2.4.2.2. Mictórios
por sifão e outro com limpeza por arraste. O modelo com sifão é o mais usado no Mictórios também apresentam economia na escolha da válvula de descarga.
Brasil (saída para tubulação no piso), mas o modelo por arraste vem ganhando Válvulas automáticas podem proporcionar redução de até 50% em relação à
espaço, em especial nos casos de estruturas em dry-wall, pois apresentam a saída convencional. O acionamento das válvulas pode ser hidrodinâmico (pela presença
da tubulação para trás (e não para o chão). Porém, independentemente do modelo, da urina do mictório), sensor de presença ou válvula temporizada. As válvulas
o volume máximo de água para descarga nos modelos produzidos após 2004 será automáticas chegam a limitar a vazão a 1 litro por descarga, dependendo do modelo
sempre de 6,8 litros. e regulagem.

116 117
2 CONSUMO

Há no mercado diferentes modelos de mictórios sem água. Eles funcionam pela Um levantamento realizado em 22 lojas mostrou a preponderância de torneiras
ação do sifão, que, associado a um cartucho feito de material mais leve que a urina, com vazão acima dos 15 litros/min, chegando a casos de até 40 litros/min.
deixa passar o líquido e depois veda a abertura, impedindo a saída de odores. Há Normalizada a vazão, no caso das torneiras de lavatório e pias, o uso de
modelos com fluido biodegradável especial que interage quimicamente com a urina arejadores é aconselhável. Esses equipamentos, instalados na ponta das torneiras,
para evitar odor e revestimento com gel das paredes do mictório para completa promovem a mistura de ar e água, proporcionando a abertura do jato e impressão
drenagem da urina. de maior volume de vazão. Além disso, a abertura do jato também facilita o processo
2.2.4.3. Torneiras de enxágue. Há diversos modelos, inclusive com sistemas que também reduzem a
No caso de torneiras, deve-se avaliar a pressão da água e o uso preponderante vazão, permitindo chegar a 1,8 litros/min sem redução da percepção de volume para
dela para se determinar que alterações devam ser feitas. Em geral, as possibilidades lavagem de mãos. Modelos mais recentes de torneiras já apresentam arejadores.
de economia ocorrem pela utilização de reguladores de vazão, arejadores e válvulas E o fechamento automático, seja por temporizador, seja por sistemas eletrônicos,
de acionamento. conclui as opções de economia, garantindo de 20% a 40% de redução em relação
Quando a pressão da água é grande, a regulagem da vazão é uma boa opção. ao fechamento convencional para pias de banheiros. Em cozinhas, há válvulas de
Esta pode ser feita por registros reguladores ou restritores instalados junto da acionamento com o pé para torneiras (eletrônica ou por pedal mecânico), com
conexão tubulação/torneira. Para torneiras de uso geral, a redução de vazão fica resultados bastante satisfatórios para cozinhas industriais.
entre 6 e 12 litros/minuto. Sendo de 6 litros/min no caso das torneiras de lavatório e 2.2.4.2.4. Chuveiro
de 12 litros/min, no das torneiras de tanques e jardins. Novamente a relação com pressão é determinante. O ideal é corrigir a vazão
entre 8 e 12 l/min, por meio de registros ou restritores de vazão, resultando em
redução de 30% em relação à convencional em locais de baixa pressão (até 6
mca) e redução de 60% em locais de alta pressão (de 15 a 20 mca) . Há opções de
sistemas de fechamento automático e acionamento com os pés que constituem
boas ferramentas de controle.
2.2.4.2.5. Limpeza da loja
O uso de máquinas de lavar pode representar redução de consumo. São 3 tipos
básicos de máquinas: limpeza pelo impacto da água (lavadoras de alta pressão);
limpeza por esfrega com escova ou disco (enceradeiras industriais); e máquinas
que esfregam e secam ao mesmo tempo (lavadoras e secadoras automáticas de
piso). Todos esses equipamentos promovem a redução no consumo em diferentes
escalas.
Lavadoras de alta pressão apresentam vazão média de 5 litros por minuto, ao
Figura 57. Exemplos de redução de consumo em torneiras de cozinha. Na torneira A, a ligação passo que uma mangueira convencional pode variar de 15 a 40 litros por minuto.
direta na rede faz sua vazão chegar a 30L/min. Em B temos o uso de redutor de vazão e de arejador Com uma hora de uso, a diferença entre os métodos pode chegar a 2 mil litros. Já
que reduzem a vazão para até 6L/min. Em C, além da redução de vazão, temos o acionamento com o
as lavadoras e secadoras automáticas podem alcançar performances de 50 m² de
pé, que impede o operador de deixar a torneira ligada sem estar na pia. E em D, uma torneira gourmet
que dispõe de bico de maior vazão (enchimento de panelas) e mangueira de menor vazão (enxágue piso limpo com apenas 1 litro de água, sendo sem dúvida a forma mais econômica
de louças). de limpeza em relação ao consumo de água.

118 119
2 CONSUMO

Atenção às áreas de serviço – a limpeza de panos e equipamentos de limpeza 2.2.4.3. Controle de Pressões e Vazões
pode representar um grande consumo, em especial de acordo com o hábito e Pressões elevadas no sistema de distribuição podem implicar o fornecimento
procedimento adotado. Conheça a operação nesse setor e estimule as boas de água em quantidade superior à necessária numa torneira, propiciando o uso
práticas para o uso racional. exagerado ou comprometendo o funcionamento de equipamentos específicos.
2.2.4.2.6. Eliminador, bloqueador de ar e válvula economizadora Implicam ainda aumento da frequência de rupturas e consequentemente grandes
volumes perdidos na ocorrência de um vazamento.
Não há consenso quanto ao uso desses equipamentos como forma de economia
Pelas normas brasileiras, as redes de distribuição devem ter de 10 mca a 50 mca
de água ou diminuição do registro de consumo. Assim, apresentamos os sistemas,
(mca é uma unidade de medida de pressão, referente aos metros de coluna d’água).
seus princípios de funcionamento e a discussão sobre prós e contras de cada Uma redução de pressão de 30 mca para 17 mca pode resultar em economia de
sistema. aproximadamente 30% do consumo de água, sem comprometer seu sistema de
Eliminadores de ar são equipamentos que necessitam ser instalados antes distribuição interno (pressões entre 15 e 20 mca são consideradas altas. Abaixo de
do hidrômetro para impedir que o ar tenha seu fluxo contabilizado por ele como 6 mca, passa a ser considerada baixa pressão). A avaliação e o controle da pressão
consumo de água. Funcionam por meio de boias, que liberam a passagem da água, no sistema hidráulico podem representar importante contribuição para a redução
impossibilitando o registro de ar, caso ocorra na rede. do consumo de água. O uso de restritores de vazão, placas de orifício ou válvulas
Bloqueadores e válvulas antiar podem ser instalados após os hidrômetros. redutoras de pressão são alternativas para regulagem da pressão. Todavia, o
Funcionam bloqueando a passagem (e registro) em baixas pressões provocadas simples ajuste no registro geral da água pode auxiliar na limitação da vazão de
justamente pela existência de grande quantidade de ar na tubulação. Quando a entrada na loja ou setores específicos.
pressão sobe, o bloqueador se abre, permitindo a passagem de água. O sistema 2.2.4.4. Reúso de água e captação de água de chuva
também impede o retorno da água ao sistema de distribuição.
A instalação de aparelhos antes do hidrômetro é proibida em muitas localidades
porque o hidrômetro ainda faz parte da rede pública, mesmo estando dentro dos
imóveis. A Sabesp, por exemplo, não recomenda e nem permite a instalação em
sua rede (antes do cavalete) de peças que pretensamente economizariam água
ao remover ar da tubulação. Tais peças importam no risco de permitir ingresso de
contaminantes, comprometendo a qualidade da água. Porém, após o hidrômetro,
a rede é particular e não há proibição, ficando a cargo do proprietário do imóvel
qualquer intervenção.
As concessionárias de água garantem que em 99% dos casos não há ar na rede.
Mesmo em redes altas, só se corre o risco de entrada de ar caso haja uma suspensão
no fornecimento de água. A eficácia dos produtos, segundo essas concessionárias,
não é comprovada por nenhum órgão responsável (Inmetro, por exemplo). Porém,
no caso dos bloqueadores, há tantos casos de eficiência, quanto de insucesso no
Figura 58. Captação de água de chuva em supermercados. Cisterna externa, com sistema de pré-
registro de consumo para supermercados, possivelmente relacionados à condição filtragem na captação, redução de turbilhonamento na entrada, captação por boia para limitação de
da distribuição de água em cada localidade. entrada de particulados.

120 121
2 CONSUMO

Água de reúso está principalmente associada a um produto comercializado • presença de bactérias:


pelas concessionárias de água a preços mais baixos que do sistema de – clostrídio sulfito redutor (91% das amostras), que pode causar
distribuição normal. Trata-se da água resultante do tratamento de efluentes, intoxicação alimentar, entre outras doenças;
empregada em fins que dispensem a exigência de água potável (resfriamento, – enterococos (98% das amostras), que podem causar diarreia
limpeza, esgotamento sanitário). aguda;
Mas o reúso pode (e deve) ser pensado também internamente. Qual o destino – pseudomonas (em 17% das amostras), que podem ocasionar
infecções urinárias.
da água usada na preparação de hortifrúti? Essa água não poderia ser reutilizada
na limpeza de áreas externas ou regas? Cada operação tem suas especificidades A explicação: a água armazenada é aquela recolhida pelos
telhados e áreas impermeáveis de uma edificação, estando sujeita
e possibilidades. Esteja atendo para identificá-las. Os usos possíveis para água de
a fezes de animais e demais detritos.
reúso são todos aqueles em que a potabilidade não é necessária, como:
Fonte: Avaliação experimental da qualidade da água de chuva na cidade de São
• irrigação de áreas ajardinadas; Paulo para a finalidade de consumo não potável. May e Prado (2005). BT/PCC/393.
• lavagem de pisos, pátios, calçamentos, veículos ou galerias de águas pluviais;
A disponibilidade das chuvas não é constante, portanto é necessário realizar
• desobstrução de rede de esgotos, águas pluviais e calhas; estudos de dimensionamento respondendo a perguntas como: Qual sua demanda
• sistemas independentes para descargas sanitárias; de uso? Qual a disponibilidade de chuvas na região onde estou? Qual a área e a
• reserva de combate a incêndios; capacidade de captação de minha loja? Qual o tamanho do reservatório necessário?
• sistemas de resfriamento por água (torres de resfriamento); Como exemplo, temos o estudo para uma loja com área de captação de 6.000 m2
(telhado) e consumo mensal das bacias sanitárias estimado em 388 m3/mês (a água
• em obras, no assentamento de poeira, aterros e terraplanagem;
seria destinada apenas para uso em descargas sanitárias). O dimensionamento
• em obras, na preparação e cura de concreto e para estabelecer umidade ideal do reservatório, para obtenção do melhor custo-benefício, foi de 300 m3. Neste
em compactação de solos. cenário, usando como base a série histórica de volume de chuva nos últimos 10
A água captada das chuvas também tem seu uso associado à não necessidade anos, chegou-se ao seguinte comportamento do reservatório:
de potabilidade. Em outras palavras, não deve ser usada para preparação de
Comportamento do volume do reservatório
alimentos, higienização de áreas e equipamentos de preparo, lavagem de mãos
ou banhos (veja sobre risco de contaminação com água de chuva no quadro de
volume de chuvas
destaque). Assim, seu uso é restrito aos mesmos listados para água de reúso.
Água armazenada
A ÁGUA DE CHUVA PRECISA SER TRATADA Água perdida
O uso de água de chuva se restringe às atividades em que não se faz Complementação
necessário o uso de água potável. Mas qual o risco de contaminação com água comprada

dessa água? Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez

Um estudo publicado pelo Boletim Técnico da Escola Politécnica da Figura 59. Comportamento do volume do reservatório ao longo do ano, a partir da série histórica
Universidade de São Paulo constatou as seguintes características da de volume de chuva, considerando uma área de captação de 6.000 m2. .
água de chuva coletada e armazenada em reservatório: Já no caso de outra loja, com 500 m2 de cobertura para captação da chuva,
• presença de coliformes fecais em mais de 98% das amostras consumo mensal de 10 m3 em sanitários, o dimensionamento do reservatório em
realizadas; 30 m3 permitiu alcançar a independência do sistema.

122 123
2 CONSUMO

Comportamento do volume do reservatório 2.2.4.5. Águas Subterrâneas


volume de chuvas A captação de águas subterrâneas é prática comum entre grandes consumidores.
Sua exploração e utilização é permitida e regulamentada, sendo que para isso o
Água armazenada responsável deverá estar atento aos seguintes pontos:
Água perdida • atendimento à legislação – outorga pelo uso;
• tratamento e monitoramento adequado da água captada para garantia das
características necessárias ao uso a que será destinada.
Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez
Sempre que uma pessoa quiser fazer uso das águas de um rio, lago ou mesmo
Figura 60. Comportamento do volume do reservatório a partir da série histórica do volume de
chuvas, em área de captação de 500 m2 e reservatório de 30 m3.
de águas subterrâneas, terá que solicitar uma autorização, concessão ou licença
(outorga) ao Poder Público. No Estado de São Paulo, cabe ao DAEE (Departamento
O correto dimensionamento é o que determinará o sucesso do resultado alcançado. de Águas e Energia Elétrica da Secretaria de Saneamento e Recursos Hídricos), o
A captação da água de chuva pode ser feita de maneira simples e direta, mas poder outorgante.
estará sujeita a diversos fatores que podem comprometer a qualidade da água. Há
A outorga deve ser requerida na Diretoria de Bacia do DAEE de sua região (bacia
no mercado equipamentos para melhoria do sistema, dos quais listamos os mais
hidrográfica), atendendo ao disposto na Portaria DAEE 717/96 e a suas retificações.
significativos com breve descrição de sua função.
Entre os documentos solicitados temos:
Sistemas de pré-filtragem antes da captação atuam reduzindo o arraste de
detritos (areia, folhas) vindos com as primeiras chuvas. São filtros que podem • informações do empreendimento, documentos de posse ou cessão de uso da
funcionar pela força centrífuga (vortex) ou filtros de descida (instalados terra e do usuário;
diretamente nos condutores de descida do telhado), que turbilhona a água de •
projetos, estudos e detalhes das obras acompanhados da Anotação de
forma a separá-la dos detritos. Parte da água é recolhida para o reservatório, Responsabilidade Técnica (ART);
e os detritos continuam pela tubulação normalmente. Adptação para pequenos • relatório de execução do poço, no caso de captação de água subterrânea, e
volumes, feitos com sifões de cozinha, demonstraram ser aplicáveis à retenção relatório de avaliação de eficiência (RAE) do uso das águas;
de particulados antes de lançar a água no reservatório. •
estudos de viabilidade (EVI) e cronograma de implantação no caso de
Na chegada ao reservatório, sistemas que impeçam a excessiva movimentação empreendimentos;
ou turbilhonamento da água evitam a suspensão de sedimentos depositados no • comprovante de pagamento dos emolumentos;
fundo do tanque, mantendo a captação limpa.
• outros documentos poderão ser necessários conforme o uso pretendido, a critério
Sistemas de extravasamento da água excedente (ladrões) dotados de mecanismos
do DAEE e da complexidade do caso.
de captação da lâmina d’água retiram partículas flutuantes. E sistemas com sifões
evitam a entrada de animais e contaminantes. É importante saber que a outorga é exigida não só para novos poços, mas também
Para captação da água do reservatório, boias flutuantes com filtros para captação em casos de regularização dos existentes, ampliação e renovação, bem como para
por sucção permitem a seleção da faixa de água mais limpa do reservatório. a desativação dos usos já outorgados. A Instrução Técnica DPO – n° 006/2013
E, por fim, sistemas de segurança para manter o nível basal do reservatório, traz as exigências mais recentes de cada processo. Você encontra informações
complementando-o com água do sistema de distribuição convencional quando atualizadas no site do DAEE (http://www.daee.sp.gov.br).
necessário, são essenciais para a operação do sistema, que estará sempre sujeito Há ainda áreas de restrição e controle da captação e uso das águas subterrâneas.
às situações de estiagem prolongada. Regiões de Ribeirão Preto, Jurubatuba, Monte Azul Paulista e entorno da Lagoa

124 125
2 CONSUMO

de Carapicuíba em São Paulo apresentam normas específicas para exploração do de Efluentes sob sua administração. Para isso, foi estabelecido o chamado Fator de
recurso. Consulte o DAEE para mais informações. Poluição, que nada mais é senão a relação entre dois indicadores de contaminantes da
A atenção aos custos iniciais de perfuração dos poços é bastante óbvia, mas água: o DQO (demanda química de oxigênio) e o RNF (resíduos não filtráveis) ou sólidos
outros custos, como os relativos à gestão da qualidade e quantidade dessa água, suspensos voláteis. No fator de poluição os Supermercados aparecem com um índice
manutenção e energia, acabam sendo negligenciados e não computados de forma de K1 = 1,65 usado para composição dos custos com tratamento de efluentes.
a permitir a constante avaliação de viabilidade. 2.2.5.1. Óleos e gorduras
Além disso, com a Lei 12.183/05, sobre cobrança pelo uso, a economia poderá ser
Entre as exigências legais em relação ao ao efluente lançado, destaca-se a
eliminada em alguns casos, uma vez que farão parte da formulação dos preços sobre os
ausência de óleo e graxas. Em alguns municípios, já ocorre fiscalização quanto
volumes captados e consumidos, além dos aspectos qualitativos dos efluentes gerados.
ao destino dado para o óleo usado, onde o Poder Público exige a comprovação
2.2.5. Destinação correta dos efluentes documentada (contratos e recibos) de envio à reciclagem, garantindo que ele não
Quando falamos de água e sustentabilidade dos recursos hídricos, não seja descartado nas redes de esgoto.
estamos tratando só de consumo. O lançamento de efluentes deve também ser De fato, as estações de tratamento de esgoto são dimensionadas para receber
uma preocupação. Disciplinado pela Lei Estadual 997/76, o efluente que deve ser o esgoto coletado independentemente da presença de óleo de fritura. Porém,
lançado na rede de esgoto tem seus limites de contaminantes estabelecidos pelo o óleo jogado no esgoto provoca obstruções em encanamentos ao funcionar
Decreto Estadual 8.468/76, alterações do Decreto 15.425/80 e outras eventuais como aglutinante de outros detritos. Por isso, caixas retentoras de gordura são
características impostas pela agência ambiental. uma exigência para a instalação da 1ª ligação de esgoto em diversos segmentos
As principais características são: comerciais, entre os quais os supermercados.
Mais informações sobre destinação correta do óleo, você encontra no capítulo
I – pH nem muito básico, nem muito ácido: entre pH6,0 e pH10,0;
4, Resíduos.
II – temperatura inferior a 40 ºC;
2.2.5.2. Detergentes
III – materiais sedimentáveis até 20 ml/l;
Detergentes biodegradáveis são aqueles que podem ser decompostos por micro-
IV – ausência de óleo e graxas visíveis; -organismos, reduzindo assim seu impacto quando descartados. Seu uso é sempre
V – ausência de solventes, gasolina, óleos leves e substâncias explosivas ou mais benéfico que o tradicional, mas ainda assim são capazes de causar impactos,
inflamáveis em geral; sendo mais importante o uso racional que a escolha do material.
VI – ausência de despejos que causem ou possam causar obstrução das Prefira sabões e detergentes isentos de fósforo e fosfatos, pois eles se comportam
canalizações ou qualquer interferência na operação do sistema de esgotos; como nutrientes em excesso na água e resultam no consumo de todo oxigênio
VII – ausência de qualquer substância em concentrações potencialmente tóxicas disponível, causando a morte dos organismos aquáticos. O uso de tensoativos de
a processos biológicos de tratamento de esgotos; base vegetal reduz o efeito de poluição e geração de espumas. A substituição de
surfactantes aniônicos por não iônicos e anfotéricos mais suaves, por compostos
VIII – ausência de águas pluviais em qualquer quantidade;
orgânicos ou baseados em silicone, é onde se concentram os esforços para
IX – metais pesados e outros contaminantes dentro dos limites estabelecidos. produção de detergentes menos agressivos atualmente, mas existe sempre o risco
No caso da Sabesp, o Decreto 41.446/96 ainda fixa tarifas específicas para o das novas formulações, que por serem recentes demais, apresentarem impactos
recebimento de efluentes de usuários não domésticos nas Estações de Tratamento não mensurados. Assim, economizar ainda é a melhor maneira.

126 127
2 CONSUMO

2.2.6. Comunicação e engajamento • Há procedimentos padronizados de operações que envolvam o uso de água?
Por quê?
Evitar o desperdício e dar o destino correto à água utilizada é um tema recorrente
• Como é possível reduzir a quantidade de água utilizada?
de campanha relacionada à sustentabilidade ambiental. E mesmo sendo comum,
ainda é capaz de motivar as pessoas. • Outros supermercados usam mais ou menos água do que o meu?
Pesquisas internas entre colaboradores de supermercados demonstram a força • Há necessidade de usar água potável em todas as atividades em que a água é
que o tema tem na sensibilização. A grande oportunidade nesse caso é utilizarmos necessária? Quais são e quais não são?
esse mote para alavancarmos todas as demais ações do projeto de sustentabilidade Entretanto, da mesma forma que o tema tem força para sensibilizar, a prática
da operação em supermercados. tem demonstrado que o desafio continua sendo promover e consolidar a
mudança comportamental. Programas baseados na racionalidade econômica
do consumidor, mesmo apoiados em incentivos, não foram duradouros. Atribuir
responsabilidade pela escassez não motiva a mudança de velhos hábitos. Ações
mais pontuais, personalizadas, que envolvam todos, têm surtido melhor resultado.
Quanto menos obrigado for, e mais estimulado e sensibilizado, maiores as chances
de promovermos mudanças duradouras. E mesmo a instalação de equipamentos
economizadores, sem ser acompanhada da comunicação e esclarecimento a
todos, resulta em resultados menos expressivos.
O material visual de melhor aceitação é ainda o de formato atraente, conteúdo
mínimo, metas e justificativas de economia. Mostrar as relações entre comportamento
Figura 61. Modelo de comunicação usada em supermercados para sensibilização dos individual e consequências coletivas resulta em boas peças para sensibilização.
colaboradores. Manuais de operação e manutenção são as melhores formas de apresentar
textos mais longos e completos. Mas palestras, seminários e treinamentos com
Algumas práticas simples com resultados positivos para redução do consumo de
pessoal externo e com o envolvimento dos participantes por meio de pesquisas de
água passaram pelo envolvimento de todos os colaboradores, tais como: reuniões
opinião são mais fáceis de terem seu conteúdo compreendido.
e treinamentos para apresentação do problema; convite a todos para opinarem
Dois grandes problemas comumente observados são a não continuidade das
sobre soluções; e instalação de comunicação visual perto de torneiras, lembrando
campanhas e a ausência de feedback para os colaboradores. A divulgação de
a todos sobre o consumo consciente de água. resultados, na forma de gráficos de consumo, é uma boa estratégia de manter o
Tenha como perguntas norteadoras para o envolvimento de todos as seguintes: projeto sempre em desenvolvimento e dar o retorno esperado pelos colaboradores.
• Em toda atividade da loja em que hoje a água é usada, se faz realmente
necessária sua utilização? Por quê? 2.3. Embalagens
• Em toda atividade em que hoje a água é usada, se tem controle do quanto é A discussão acerca da sustentabilidade ambiental e empresarial no uso de
consumido? Por quê? embalagens é ainda diversificada e complexa. Ao mesmo tempo que podem ser
• Em toda atividade em que hoje a água é usada, é possível reduzir seu uso? Por indicadas como promotoras de impactos ambientais, é inegável que apresentam
quê? benefícios que vão da redução de desperdício à promoção de mudanças de consumo.
• Há tecnologia ou processo alternativo disponível que evita ou reduz o consumo Mas nem toda embalagem é igual e não se pode avaliar seu impacto, seja ele positivo,
de água? seja negativo, apenas por um indicador, sob o risco de equívocos e distorções.

128 129
2 CONSUMO

Em supermercados, podemos separar as embalagens em 3 grupos: Outro termo comum é a embalagem de venda, ou seja, aquela com a qual o
• embalagens de transporte e armazenamento das mercadorias; consumidor deixa a loja. Dependendo da localização e do tipo da atividade varejista,
• embalagens dos produtos comercializados, embalados pela indústria; ela pode ser composta de um ou vários níveis de embalagem.
• embalagens usadas pelos supermercados em produtos preparados ou 2.3.2. Aspectos desejáveis para embalagens em uma operação sustentável
fracionados pela loja.
As embalagens são responsáveis por proteger os produtos e garantir ao
Nos dois primeiros grupos, a responsabilidade do supermercado está basicamente
consumidor que eles são apropriados para o consumo. Mas ao mesmo tempo
relacionada ao descarte correto, se inserindo no conjunto de ações acordadas
não podem ser tratadas apenas como insumo ou elemento secundário na
entre todos da cadeira de produção e distribuição (para mais detalhes ver capítulo 4,
composição do produto, pois, para o consumidor, é a expressão e um atributo
Resíduos). Mas no caso dos produtos embalados – fracionados e produzidos na loja –
do conteúdo.
a responsabilidade vai além do descarte, incluindo a preocupação com a escolha da
embalagem (dimensões e materiais) e informações que devem estar presentes nela. Os requisitos técnicos e legais que recaem sobre a embalagem garantem que ela
propicie proteção ao produto e viabilidade logística, de distribuição, de venda e de
2.3.1. Embalagens: conceitos consumo. Então cabe selecioná-las quanto a suas funções secundárias e aspectos
A função primária de uma embalagem é conter e proteger um produto. Suprida ambientais, sociais e econômicos. Na Tabela 14, apresentamos alguns desses
essa necessidade, há uma série de funções secundárias que podem (e devem) ser critérios, que podem ser relevantes na definição de embalagens.
incorporadas, como garantir a praticidade de manuseio, facilitar o armazenamento e
Critério Benefício buscado
as funções de abrir e refechar, ser reciclável ou recuperável, e reforçar a experiência
da marca com seu visual. Incentivador de venda – permitir boa
Para o varejo sustentável, as funções secundárias podem ser tão essenciais visualização do produto, destaque na Redução de desperdício do
quantos as primárias, pois evitar o desperdício também passa pela aceitação de gôndola, expressar características do produto embalado
venda, boa logística e facilitação de operação. produto e classe atendida
As embalagens podem ser classificadas em três tipos: embalagens primária, Redução de desperdício pelo aumento
Prolongamento da vida útil do produto
secundária e terciária – diferindo em funções e em demais aspectos que devem do tempo de prateleira
conter. Selecionar o equilíbrio ideal entre esses três níveis de embalagem é um Redução de matéria-prima de
elemento crítico no desenvolvimento de embalagens sustentáveis. Dimensionamento adequado ao produção, de custo e na geração de
A embalagem primária é a que apresenta contato direto com o produto. produto embalado resíduos; eficiência logística e de
A embalagem secundária (ou embalagem de grupo) é a que agrupa uma determinada armazenamento; facilitação de manejo
quantidade de unidades de embalagens primárias. Pode ser por conveniência de Redução do impacto gerado e da
Minimização da geração de resíduos
venda ou para permitir o melhor manejo nas gôndolas. Ela pode ser removida sem responsabilidade pós-consumo
afetar as propriedades do produto e pode definir a unidade manuseada pelo varejista Redução de resíduo e da
(embalagem de venda), incorporando as funções secundárias da embalagem. responsabilidade pós-consumo
A embalagem terciária (ou embalagem de transporte) visa permitir o manuseio e Materiais adequados e compatíveis
Facilitação da destinação adequada –
o transporte seguro de uma determinada quantidade de embalagens primárias ou reúso, reciclagem ou compostagem
secundárias. Normalmente trata-se de uma unidade de transporte, como uma caixa Tabela 14. Critérios para seleção de embalagens. Economia, proteção, saúde e segurança
externa ou palete. Sem participação no processo de venda, deve ser funcional e são os pilares garantidos. Aumento de vida útil, redução do desperdício e bem-estar, além das
gerar o menor impacto possível. responsabilidades após o consumo do produto, devem também ser considerados.

130 131
2 CONSUMO

Alguns critérios usados no ecodesigner, em acordo com o Global Protocol on Portanto, no uso de embalagens, tenha como regra geral prevenir o impacto,
Packaging and Sustainability, publicado pelo The Consumer Goods Forum, trazido evitando a geração do resíduo, ou minimizá-lo quando não for possível evitá-lo,
para o Brasil pela Associação Brasileira de Embalagens – ABRE, também ajudam a considerando a avaliação de uma embalagem a partir de múltiplas variáveis além
definir critérios de seleção: da econômica.
• minimizar o peso e a espessura das embalagens sem comprometer a sua qualidade
2.3.3. As embalagens usadas nos supermercados
e desempenho;
• minimizar os itens/componentes da embalagem sem comprometer a sua qualidade 2.3.3.1. Potes plásticos, bandejas e placas
e desempenho; Potes plásticos de diferentes tipos e formatos são bastante utilizados em diversas
• priorizar materiais provenientes de fontes renováveis; operações e praticamente em todos os setores de uma loja. Da mesma forma, bandejas
• definir a melhor alternativa de reaproveitamento da embalagem: retornável, e placas de EPS – mais conhecidas como isopor – têm ampla utilização no varejo.
reaproveitável ou reciclável; Os pontos de desperdício mais comuns dessas embalagens relacionam-se
• priorizar rótulos e etiquetas que possam ser reciclados juntamente com a própria ao armazenamento incorreto, à diversificação de tipos sem uma padronização
embalagem; operacional e ao superdimensionamento.
• facilitar o processo de desmontagem das embalagens (exemplos: rótulo e frasco; Não raramente, observa-se a estocagem incorreta de embalagens – fora da
frasco e tampa) quando o processo de reciclagem não for compatível. embalagem de proteção – na área de preparo ou mesmo nos depósitos. Embalagens
sujas, descartadas antes do uso, podem ser coibidas pela sensibilização da equipe
Mas avaliar um produto a partir de múltiplos indicadores não é tarefa fácil. O desafio
e padronização de procedimentos.
é encontrar unidades funcionais aplicáveis, ou seja, unidades que representem o uso
A diversificação de cores e formas, para destaque de produtos ou diferenciação
do produto para que se possa definir o melhor desempenho em uma comparação.
de setores, se não estiver pautada em um procedimento ou se não houver o
Compreender esse conceito é mais fácil a partir de um exemplo:
Pensando em um produto concentrado, se buscarmos compará-lo com o mesmo cumprimento desse procedimento, pode gerar desperdícios. É bastante comum
produto diluído, baseado na característica “proteger 1L de produto da fábrica até observar que bandejas de cores diferentes para destaque de produtos, na prática,
o consumidor”, o produto concentrado estará em desvantagem (duas embalagens acabam sendo usadas sem o rigor e o critério planejados.
do concentrado têm mais plástico que uma embalagem do convencional) porque Embalagens superdimensionadas, uso de embalagens “caras” em produtos de
sua verdadeira função não está sendo considerada. A unidade funcional mais baixo valor agregado ou embalamento de produtos sem necessidade também são
apropriada nessa circunstância seria baseada no resultado alcançado com cada práticas comumente observadas e que precisam ser coibidas em uma operação
produto. Pensando em amaciantes, por exemplo, o resultado final seria o número sustentável. Ao determinar o tamanho ideal, não se esqueça das demais funções
de ciclos de lavagem que um e outro permitem, ou seja, consegue-se mais lavagens de uma embalgem – em especial a boa visibilidade do produto em seu interior, e a
com uma embalagem menor, significando vantagem ambiental pela redução de possibilidade de etiquetagem sem que isso comprometa a visibilidade do produto.
geração de resíduo ao longo do tempo. Apesar de saber que hoje as exigências quanto ao conteúdo das etiquetas já são
Mas mesmo em unidades funcionais escondem-se variáveis que podem não demasiadas, elas ainda deverão conter informações sobre o descarte correto da
ser pensadas imediatamente. Como no caso da qualidade do produto: mesmo embalagem.
sendo concentrado, se a qualidade não for equiparável, fazendo com que o Com a padronização e controle setorizado, é possível estabelecer uma relação
cliente tenha que repetir a operação mais de uma vez, teremos o aumento do entre venda do setor e uso de embalagens para se criar um indicador de desempenho,
impacto com o tempo. que pode ser usado para identificação de desvios, indicando possível desperdício.

132 133
2 CONSUMO

Há ainda certa relação entre o uso de filmes de PVC (stretch ou resinite) com
Problema Consequência Solução
bandejas e placas de EPS, que pode ser uma forma de identificar não conformidades.
Mas, primeiro, liste todas as operações em que o filme de PVC é usado para Identifique as
A chance de os clientes
determinar a relação mais claramente. Diferentes tamanhos à embalagens por
usarem embalagens
Apesar do relacionamento entre tipos de embalagens ou outras variáveis, de escolha do cliente, sem tamanho e indique a
superdimensionadas é
todos os indicadores de consumo testados, o que melhor resultado apresenta indicação de tamanho capacidade de cada uma
maior
ainda é a relação custo x receita. Esse dado não nos permite identificar o motivo por unidade de produto
do problema, mas tem se mostrado o melhor indicador para acompanhamento da Mapear produtos
evolução de consumo destes materiais. Defina a partir de seu histórico de consumo e necessidades de
o melhor percentual para esse grupo. Disposição incorreta dos Comum em hortifrúti, tamanho de embalagem,
Fique sempre atento também à evolução de materiais e formas em questão tamanhos, em relação resultando no uso em evitando, por exemplo,
de embalagens que propiciem maior economia e menor impacto ambiental no aos produtos próximos excesso a colocação de sacos G
pós-consumo. próximos ao alho e P,
às batatas
Definição do produto de
Colocação de 2
Uso desnecessário de resistência adequada
saquinhos por produto
embalagens e treinamento dos
pelo atendente no balcão
colaboradores
Uso na operação de loja
Para estes fins,
para acomodação de
pode-se usar embalagens
quebras ou na triagem Uso desnecessário de
descartadas ou as não
do hortifrúti para retirada embalagens
usadas e deixadas sobre
de produtos fora do
a banca pelos clientes
padrão
Uso por clientes para
A B Melhorar a disposição
finalidades diferentes
das bobinas,
das indicadas, por
Figura 62. Bandejas de EPS e potes plásticos. Embalagens comumente usadas pelos supermercados disponibilizar alternativas
no fracionamento e acomodação de mercadorias. exemplo, evitar o Uso desnecessário de
(caixas de papelão
choque entre garrafas embalagens
2.3.3.2. Bobinas de sacos plásticos e sacos de papel ou outras formas)
e potes de vidro ou
São usados dentro da loja para acomodação de produtos que podem ser e comunicar sobre o
para acomodação de
escolhidos pelo cliente ou servidos nos balcões de atendimento. Agrupamos na uso correto
produtos já embalados
tabela a seguir os principais problemas observados e consequências que devem
ser evitadas. Tabela 15. Aspectos observados na operação de loja que resultam em desperdício de embalagens.

134 135
2 CONSUMO

Esteja sempre aberto às negociações com fornecedores para o melhor desempenho • incentivo ao uso de retornáveis (filas preferenciais, bonificações, promoções
possível. Muitas vezes, a possibilidade de readequação de tamanho ou espessura dos exclusivas, benefícios em sorteios promocionais da loja, brindes exclusivos);
produtos, sem comprometer o desempenho, traz ótimos resultados para redução de • reduzir a percepção de gratuidade das sacolinhas descartáveis (destaque do custo
geração de resíduos e de custos. em nota fiscal, devolução do crédito para quem não se utiliza delas, cobrança pelo
uso);
• treinamento dos colaboradores quanto aos procedimentos corretos (verificar
especificação com fornecedor das embalagens);
• reuniões específicas com colaboradores da frente de caixa para desenvolvimento
conjunto de um plano de ação, ouvindo-os quanto às dificuldades e sugestões de
melhoria para redução de uso dessas embalagens;
• incentivos aos colaboradores – “loja boa de meta”, com benefícios à coletividade
quando as metas de desempenho são batidas; no caso de concursos e promoções
aos clientes relacionados às sacolas, permitir a inscrição da operadora no verso
do cupom, para que seja premiada também;
• não deixe de divulgar resultados das ações aos seus colaboradores. A divulgação
é uma forma de incentivo e um convite à adesão de outro;
• não dispor as sacolinhas livremente sobre o checkout. Não há confirmação
da redução de uso pela retirada das sacolinhas da vista, mas a percepção das
operadoras claramente indica redução;
• crie indicadores: vendas x sacolinhas distribuídas, número de itens x sacolinhas
distribuídas. Não há indicadores que possam ser aplicados a todas as lojas, pois
há diferenças claras no uso de sacolinhas quanto ao perfil de público atendido,
local da loja e perfil de compra (relação número de tíquetes e valor do tíquete
médio). O ideal é que cada loja crie seus indicadores para acompanhamento
Figura 63. Bobinas de saquinhos fundo estrela com a correta identificação do tamanho.Essa e verificação do desempenho mensal, corrigindo qualquer desvio de média
medida ajuda a reduzir o uso de embalagens superdimensionadas. observado e possibilitando assim estabelecer metas aplicáveis e alcançáveis.
2.3.3.3. Sacolinhas O custo dessas embalagens elevou-se consideravelmente entre 2012 e 2013.
Usadas para empacotar as mercadorias após o checkout, apresentam a função Percentualmente, cerca de 70% do custo de uma sacolinha está baseado na
de acomodação das mercadorias para transporte. Para essa mesma finalidade, há matéria-prima, cuja oferta está centralizada em poucas empresas e ainda apresenta
caixas de transporte, sacolas reutilizáveis e carrinhos. seu preço indexado ao dólar. Esse tem sido o principal argumento para justificar
O uso indiscriminado dessas embalagens é bastante comum. Entre as alternativas o aumento. Novamente cabe aqui a negociação quanto a dimensionamento,
de redução, destacam-se as ações de incentivo ao cliente ao uso de outras opções espessura e mistura de diferentes polímeros, com resultados significativos na
de transporte. Também são fundamentais treinamento e incentivo ao operador de redução de custos.
checkout e empacotador, além de mudanças operacionais que permitam maior Todavia, a melhor alternativa ainda é o desestímulo ao uso indiscriminado dessas
controle, destacando-se: embalagens.

136 137
2 CONSUMO

• utilizar embalagens reutilizáveis, recicláveis ou passíveis de outra destinação


ambientalmente adequada;
•
utilizar embalagens que gerem a menor quantidade possível de resíduo,
considerando o dimensionamento e as especificações técnicas para alcançar
a melhor eficiência;
•divulgar informações sobre como evitar, reduzir, reciclar e eliminar
adequadamente os resíduos.
O diálogo entre supermercado e seu fornecedor de embalagens é essencial
para adequação dessas responsabilidades, buscando alternativas biodegradáveis,
reutilizáveis ou recicláveis e restritas ao volume, peso e dimensões dos produtos,
dispondo de informações relativas à sua composição e destinação final. No caso
da reciclagem, a indicação de destinação ao serviço de coleta seletiva municipal
ou, quando for o caso, a instalação de coletores e a destinação ambientalmente
correta por parte da empresa fecham o ciclo de responsabilidades sobre elas.
2.4. Gás
Figura 64. Sacolinhas contidas em porta-sacolinhas, reduzido sua disponibilidade sobre o
checkout e caixas de papelão disponibilizadas para o transporte de mercadorias. 2.4.1. Gases combustíveis
2.3.4. Responsabilidade no uso de embalagens: Política Nacional de Resíduos Todo combustível usado gera impactos relacionados à emissão de gases
Sólidos
resultantes da queima, além dos aspectos de exploração e beneficiamento. O
Claramente existe uma prevalência de produtos embalados pela indústria nos objetivo da operação é também minimizar esses impactos, basicamente pela
supermercados, mas, para as embalagens usadas na operação de uma loja, temos escolha do tipo de recurso de menor impacto e pelo seu uso mais eficiente
o acréscimo de responsabilidades divididas com os fabricantes. (equipamentos eficazes e operação consciente).
Como fabricante, cabe garantir a destinação ambientalmente adequada aos
produtos e embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado para a GASES EMITIDOS PELA QUEIMA
disposição final ambientalmente adequada. E, como comerciante, cabe receber as Os gases usados como combustíveis são basicamente derivados
embalagens dos consumidores, garantindo o acondicionamento correto dos produtos de metano, butano e propano. Entre os combustíveis fósseis, os gases
antes da destinação final. Ao atuarmos como embaladores, as responsabilidades de são os menos impactantes, pois permitem uma queima completa,
indústria recaem sobre o fabricante da embalagem e o supermercado. transformando-se em CO² com baixa formação de outros contaminantes.
Visto que o acordo setorial tem indicado a inclusão de uma taxa recolhida na Comparativamente, a queima de carvão, diesel e gasolina gera, além do
venda da embalagem (para mais detalhes, recorra ao capítulo 3, Resíduos), os CO², grande gama de outros compostos, muitos dos quais são tóxicos ao
custos de coleta e destinação estariam cobertos pelo grupo gestor, cabendo ao homem. O grande impacto do CO² está na alteração de sua concentração
supermercado, mais uma vez, apenas as obrigações de comércio. Mas isso falando na atmosfera, indicada como um dos contribuintes para as alterações
apenas em logística reversa, pois a lei traz como importantes responsabilidades climáticas. E, nesse sentido, um pequeno vazamento de gás pode ser
que continuarão sendo aplicáveis: até mais impactante que sua própria queima. Como são 30 vezes mais

138 139
2 CONSUMO

impactantes que o CO², uma perda maior que 4% do gás combustível discussões seguintes pela escassez de dados sobre valor de mercado ou de
resultaria em um impacto maior que a queima de 100% do gás. produção fora do ambiente agrícola e de manejo de resíduos urbanos.
Por isso, é preciso também estar atento para promoção da combustão Todos esses gases diferem não só na composição, mas na forma de distribuição
completa, que é a reação de combustão em que todos os elementos e de medida de consumo, o que torna mais complexa a comparação entre as
constituintes do gás combustível se combinam com o oxigênio do ar, alternativas disponíveis.
convertendo-se integralmente em dióxido de carbono (CO²) e água
Unidade
(H²O). O indicador de combustão completa mais fácil de ser visualizado Tipo de Composição Em caso de Poder Equivalência
Distribuição de
é a chama azul, formada quando apresenta a melhor mistura de gás e gás principal vazamento alorífico energética
medida
oxigênio. Já a chama amarela indica não haver suprimento de oxigênio
suficiente. Com menos oxigênio disponível, há a formação de monóxido Mais
de carbono (CO). Além de tóxico para as pessoas, esse gás produz uma Butano e pesado que Botijões e 11.100
GLP Kg 1 kg
Propano o ar (o gás cilindros kcal/kg
chama amarela que pode escurecer as panelas. Verifique a situação
desce)
das chamas em sua loja, pois os fogões possuem entrada de oxigênio
que pode ser regulada. A chama amarela também ocorre quando o Mais leve
Redes 8.800
botijão está acabando devido à alteração da pressão e vazão. GN Metano que o ar (o M3 1,26 m3
canalizadas kcal/m²
gás sobe)
Em supermercados, o uso do gás está principalmente ligado a fornos e fogões,
com alguns casos de aquecimento de água e geração de energia. Mas há uma Entre
Mais leve
4.060
diversificação quanto ao tipo de gás usado em cada caso. Biogás Metano e CO² que o ar (o Limitado Kg 1,72 kg
e 8.840
O gás liquefeito de petróleo (GLP) é uma mistura de propano e butano produzida gás sobe)
kcal/kg
a partir do petróleo e comercializada principalmente em botijões e cilindros
pressurizados para manutenção do estado líquido. Tabela 16. Comparação entre os gases combustíveis.
O gás natural (GN) é a mistura de gases, especialmente metano, que permanecem Para melhor compará-los, usamos seu poder calorífico, ou seja, quanto de calor
em estado gasoso nas condições atmosféricas normais. É extraído diretamente de eles conseguem gerar a partir do mesmo volume queimado. Assim, sabemos
reservatórios petrolíferos ou gaseíferos. A maior parte das redes de distribuição de exatamente quanto de cada gás usamos para uma mesma atividade:
gás canalizado já migrou para o GN, mas o antigo gás canalizado ou gás de rua era o
1kg de GLP = 1,26 m3 de GN
chamado gás manufaturado, obtido do carvão ou pelo craqueamento de gás natural
ou nafta e distribuído nos centros urbanos para consumo predominantemente Comparativamente, um sistema de GN consome 26% a mais que um de GLP. Do
residencial. ponto de vista econômico, mesmo com o aumento do volume consumido, pode-se
E o biogás, composto basicamente por metano e gás carbônico, proveniente da ter redução de custos, dependendo dos valores aplicados.
degradação da matéria orgânica (resíduos e esgoto) na ausência de oxigênio, em Em um consumo de 10 kg de GLP a R$ 3,24/kg, teríamos um total de R$ 32,40 para
biodigestores. Apesar de já constar como alternativa viável, ainda é principalmente essa operação. Na conversão para o gás natural, o consumo subiria para 12,6 m³,
usado no local em que é produzido, não havendo exemplos em supermercados. Há que, com um custo médio de R$ 2,41/m³, resultaria em R$ 30,37 para mesma operação.
exemplos de geração de energia a partir desses casos, mas os supermercados O exemplo acima foi calculado com valores de referência que podem diferir dos
estão baseados no uso de GN, e não no de biogás. Assim, não o incluiremos nas atualmente aplicados, portanto faça os cálculos com seus próprios dados.

140 141
2 CONSUMO

1m3 de GLP = 2,97 m3 de GN


Há casos em que o consumo de GLP também é cobrado em m³. Neste caso, fique
atento para conversão correta, pois o GLP é mais denso que o GN, onde 1,00 m³ de
GLP equivale a 2,97 m³ de GN. Então, em um consumo de 5,0 m³ de GLP a R$ 8,50/m³,
teríamos R$ 42,50 por operação. Na conversão para o GN, o consumo saltaria para
14,9 m³, que, a R$ 2,41/m³, resultaria em R$ 35,90 para a mesma operação.
Mas a discussão sobre o gás não deve se limitar ao seu custo atual. Há diferenças
importantes que influenciam em aspectos de segurança, disponibilidade, livre
mercado e custos de adequação da infraestrutura existente.
O GLP, por ser mais denso, acumula-se no ambiente em caso de vazamento,
enquanto o GN, sendo mais leve, dispersa-se com mais facilidade, reduzindo o risco
de explosões. O uso de GLP deve prever uma área para armazenamento (cilindros), Figura 65. A cor da chama é indicativa da eficiência de queima do gás. A chama azul é indicativa
enquanto o GN, quando disponível a infraestrutura necessária, é fornecido de mistura perfeita de gás e oxigênio e, portanto, deve ser buscada na regulagem dos equipamentos.

continuamente via rede de distribuição. O mercado de GLP é mais competitivo e Potência e eficiência dos queimadores
oferece maior chance de negociação, enquanto o GN encontra-se em um mercado O BTU (British Thermal Unit) é a quantidade de energia necessária para elevar
regulado pelo governo e com dependência do mercado externo (especialmente em 1 ºC a temperatura de certa quantidade de água em condições específicas. Essa
da Bolívia). Muitos investimentos vêm sendo feitos na área do gás natural para é a unidade de medida de potência de um fogão – a quantidade de BTUs por hora
expansão e independência na produção, mas o GLP ainda apresenta a maior que cada queimador consegue alcançar. Há casos em que a medida é feita em
abrangência, chegando a todos os municípios brasileiros. Kilowatt, sendo a conversão 1kW igual a 3.409 BTUs.
Conhecer sobre os gases e optar por aquele de menor impacto na operação é Na prática, para fervermos 10 litros de água são necessários 2.960,12 BTUs
apenas a primeira etapa. Para garantir melhores resultados, vamos entender um (considerando 100% de eficiência, temperatura ambiente de 25 ºC e fervura a 100 ºC).
pouco dos maiores consumidores de gás em uma loja – fogões e fornos. Em um queimador de fogão com 11.000 BTUs/h, a água deveria ferver em pouco mais
2.4.2. Fogões de 16 minutos. Em condições normais, um queimador não consegue transferir todo o
calor gerado, pois sofre influência de correntes de vento e dispersão do calor pelas
Na operação sustentável, buscamos a maior eficiência no consumo e menor laterais da panela, resultando em tempos maiores para o aquecimento. Em média a
geração de resíduos. Tendo já discutido a questão de resíduos gerados no processo eficiência de transferência do calor para panela fica entre 50% e 60%.
de queima, vamos nos ater à eficiência. Os fogões podem ser entendidos como Não foram encontradas referências sobre quantidades ideais de BTUs ou padrões
equipamentos que transferem o calor da queima do gás para a panela. Assim para fogões não domésticos. Na legislação brasileira, há apenas requisitos de
fica fácil perceber que sua eficiência está na capacidade de transferir a maior avaliação da conformidade para fogões e fornos a gás de uso doméstico, onde um
quantidade de calor para a panela com o menor consumo de gás possível. A fogão deve conter ao menos 1 queimador com potência superior a 13.640 BTUs (4 kw)
capacidade de geração de calor (poder calorífico) de cada gás é conhecida assim e 1 menor que 3.409 BTUs (1 kw). Na definição do melhor modelo para sua loja, tenha
pode-se traçar a relação entre o calor gerado e o calor realmente absorvido pela em mente essa relação de tempo (quanto mais BTUs/hora, mais rápido alcançam-se
panela. A eficiência dessa transferência está nas características do equipamento e as temperaturas desejadas). Porém, na operação sustentável, voltamos a atenção
na prática de uso. Vamos buscar entender cada uma delas agora. também à eficiência (o menor consumo de gás para se alcançar a mesma potência).

142 143
2 CONSUMO

Novamente, em termos de eficiência, pouca informação está disponível para Alguns termos técnicos quanto ao sistema de funcionamento dos
modelos não domésticos. Desde 2002, a portaria Inmetro 73/2002 tornou compulsória a queimadores certamente vão aparecer quando você for pesquisar
etiquetagem de fogões e fornos domésticos a gás quanto à sua eficiência. As normas sobre o assunto. Conheça alguns deles:
regulamentadortas brasileiras 13.723-1 e 2/1999 definem os ensaios e parâmetros de Fogões de alta e baixa pressão
eficiência; a Portaria Inmetro 400/2012 e a 496/2013; as referências de enquadramento Modelos de baixa pressão possuem um regulador para diminuição
do desempenho alcançado. Em resumo, elas especificam que equipamentos com mais da pressão do gás, permitindo melhor controle da queima.
de 63% de eficiência nas condições de teste são classificados com desempenho A, o Os modelos de alta pressão não possuem o regulador, e o gás
que lhes confere inclusive o Selo CONPET do Programa Nacional de Racionalização sai basicamente direto do cilindro para o fogão, o que normalmente
do Uso dos Derivados do Petróleo e do Gás Natural. A pior classificação (E) refere-se gera mais potência, mas com menor sensibilidade para controle da
a queimadores com rendimento menor que 52%. A Portaria interministerial 363/2007 intensidade da chama.
regulamenta os índices mínimos de eficiência para fogões a gás e impõe restrições a Queimador simples, múltiplo e caulins
equipamentos com rendimento menor que 56%. Queimadores simples ou múltiplos basicamente se referem aos
anéis de saída para queima do gás. A diferença entre eles está na
melhor distribuição do calor na base das panelas. Já o caulim é uma
peça que, assim como um queimador comum, distribui a chama. Em
geral tem forma arredondada, com vários furos para a chama se
dispersar. O número de caulins é o que define a melhor distribuição
ou concentração do calor.
Jet
São peças em que a queima do gás se processa como em
maçaricos. Espalham bem a chama já que os jets são inclinados,
mas podem ser barulhentos e de difícil regulagem. São mais comuns
em modelos de fogões fora do Brasil.
2.4.2.1. O que levar em consideração na escolha de um fogão?
2.4.2.1.1. Qualidade do equipamento
Atenção para o uso de produtos de qualidade, pois gerar despesas com
manutenção corretiva não é objetivo em uma operação sustentável. Pró-atividade
nos quesitos segurança e manutenção preventiva é essencial.

Fogão a Gás Natural Fogão e Forno a GLP 2.4.2.1.2. Distribuição da chama


Queimadores pequenos, simples ou com poucos caulins e alta potência concentram
Figura 66. Modelo de etiqueta de fogão de mesa. No exemplo da esquerda, cabeçalho com dados do
as chamas, isso pode significar que sua panela terá pontos com calor extremo, o
fogão, inclusive com indicação do gás usado (GN ou GLP); logo abaixo, a letra indicativa de desempenho;
na sequência, o rendimento médio, que é o percentual de aproveitamento de calor que consegue ser
que melhora a eficiência de transferência do calor para a panela (aquecimento
transferido para a panela, e, no rodapé, a assinatura dos órgãos aferidores e selos de desempenho mais rápido), mas também promover o aquecimento (e queima) desigual do que está
quando alcançado o mínimo necessário. À direita, etiqueta com informações do fogão e forno conjugados. sendo cozido. A escolha entre chama concentrada ou distribuída está relacionada

144 145
2 CONSUMO

ao uso a ser dado. Considerando os usos comuns de um supermercado, opte por • Chama alta só ajuda a secar a água mais rapidamente quando já entrou em
modelos que disponham de queimadores de ambos os tipos e promova o treinamento fervura. Quando o líquido abre fervura, permanecerá na mesma temperatura até
da equipe para orientação do melhor uso em cada caso. que se evapore por completo. Assim, manter a chama alta consome mais gás e
2.4.2.1.3. Capacidade de vaporização não acelera o cozimento, apenas acelera a evaporação. Espere a água ferver
Use botijões adequados ao seu fogão de forma que a vazão de gás seja e diminua o tamanho da chama até alcançar o cozimento necessário. Fogo alto
compatível. Um fogão com capacidade de queimar mais de 1kg de GLP/h se usado servirá apenas quando o objetivo for acelerar a evaporação.
somente com um botijão de 13Kg (P-13), cuja capacidade máxima é 0,6kg de GLP/h, • Panelas tampadas aproveitam melhor o calor para o cozimento dos alimentos.
perde eficiência. Da mesma forma, panelas destampadas desperdiçam o calor, gerando
desperdício de energia.
Código Capacidade Capacidade de vaporização a 20°C
• Caso seu fogão não disponha de acendimento automático, ligue o queimador
P-13 13 kg 0,6 kg de gás por hora
apenas quando o fósforo já estiver riscado. Esse procedimento reduz o consumo
P-45 45 kg 1,0 kg de gás por hora de gás, além de ser mais seguro. Lembre-se de que 4% de gás liberado é mais
P-90 90 kg 2,0 kg de gás por hora impactante ambientalmente do que 100% dele queimado.
P-190 190 kg 3,5 kg de gás por hora • Evite correntes de ar. Nunca instale seu fogão próximo a portas, janelas ou lugares
Tabela 17. Padrões e capacidades de botijões e cilindros de gases. muito ventilados. Correntes de vento reduzem a eficiência na transferência do
calor para a panela, além de provocarem apagamento acidental e desperdício
Quando um botijão é forçado a fornecer mais gás que sua capacidade de por vazamento de gás.
vaporização, ele tende a esfriar, podendo chegar à formação de gelo no corpo do
• Utilize panelas que cubram totalmente os queimadores. Panelas pequenas em
cilindro. À medida que o botijão se torna mais frio, sua capacidade de fornecer GLP
queimadores grandes (ou chamas altas saindo pela lateral da panela) fazem
em fase vapor diminui, reduzindo ainda mais a potência no queimador.
com que o calor não seja todo aproveitado. Isso aumenta o tempo de cozimento
2.4.2.1.4. Consumo e, consequentemente, aumenta o consumo de gás. Prefira panelas de base
O consumo está na relação potência-eficiência. Queimadores de alta potência larga e plana, que facilitam a absorção do calor.
(muitos BTUs por hora) liberam mais calor, mas é preciso que também haja boa • Panelas de pressão cozinham os alimentos em temperaturas mais altas, em
eficiência de transferência desse calor (maior que 60% de transferência do calor menor tempo. Portanto, consomem menos gás no processo.
gerado) para que o tempo de cozimento seja pequeno, reduzindo o consumo.
• Ao retirar a panela do fogão, apague a chama imediatamente.
E para melhorar a eficiência do equipamento, há alguns comportamentos aos
• Em se tratando de fogões de alta pressão, feche primeiro o registro do botijão,
quais devemos estar atentos.
para então fechar o fogão.
• Fique atento às cores das chamas, elas devem apresentar coloração azulada.
Caso aparentem estar amareladas, é sinal de baixa disponibilidade de oxigênio 2.4.3. Fornos
(queimadores sujos, entupidos ou com alimentador de oxigênio desregulado). O funcionamento do forno a gás é simples de ser entendido, pois trata-se de uma
Essa condição pode significar aumento no consumo de gás. Mantenha os estrutura isolada termicamente com um queimador que controla a temperatura interna
queimadores sempre limpos, lavando-os com água e detergente. Coloque-os pela variação da entrada de combustível. Seu consumo será maior à medida que o
no lugar somente quando estiverem completamente secos e verifique se estão tamanho do forno aumentar, portanto dimensione corretamente sua necessidade e
corretamente acoplados. opere sempre com o máximo possível de produtos para garantir mais eficiência.

146 147
2 CONSUMO

Novamente, os indicadores para fornos não domésticos são escassos e o Na consulta à etiqueta, esteja atento à letra indicativa de eficiência, pois a simples
recurso da etiquetagem indicativa de eficiência energética do Inmetro pode não comparação do consumo indicado, sem levar em consideração o volume do forno,
estar presente em todos os modelos. pode levar a interpretações equivocadas de eficiência. E, novamente, atenção ao
Baseando-se na normatização existente, a eficiência de um forno é medida pelo dimensionamento correto para sua necessidade.
consumo para manutenção da temperatura interna. Quanto menor o consumo para Hoje é muito comum a oferta de modelos a gás e elétricos. A partir de indicações
manutenção da temperatura, mais eficiente é o equipamento. dos parâmetros técnicos fornecidos pelos fabricantes, realizamos a comparação
O índice de consumo, conforme Portaria Inmetro 400/2012, é calculado a partir entre os modelos de dimensionamento idênticos, mas operando de forma
da relação percentual entre consumo de gás por determinado tempo e o volume indenpendente com sistemas a gás e elétrico.
do forno. Assim, quanto menor for essa relação, mais eficiente será o forno. Fornos
eficientes apresentam índice de consumo de manutenção de forno (Ic) menores Modelo 1 – 0,6 m3 com 75 cm de altura
que 49%, enquanto os menos eficientes apresentam Ic maiores que 63%. A Portaria Sistema Consumo Custo* Redução
Interministerial 363/2007, que regulamenta os índices mínimos de eficiência para
fornos a gás, restringe a produção de fornos domésticos com Ic maiores que 67%. 0,4 Kg/h GLP +
Gás R$ 1,47/h 32% de redução
0,5 kWh
para o elétrico
Elétrico 6,22 kWh R$ 2,18/h
*Indicadores usados: R$3,24/Kg de GLP e R$0,35/kWh de energia.
Tabela 18. Comparação de consumo entre fornos a gás e elétrico.

Sistema Consumo Custo* Redução


2,5 Kg/h GLP +
Gás R$ 8,38/h 21% de redução
0,8 kWh
para o a gás
Elétrico 30,56 kWh R$ 10,70/h
*Indicadores usados: R$3,24/Kg de GLP e R$0,35/kWh de energia.
Tabela 19. Comparação de consumo entre fornos a gás e elétrico.

Como pode ser visto nas Tabelas 18 e 19, não há uma solução única e, nesses
casos, tampouco levamos em conta outras despesas relacionadas à variação de
custo horossazonal da energia elétrica, despesas com manutenção, necessidades
de adequação de infraestrutura, necessidades operacionais. Enfim, o importante é
Forno a GLP Forno e Fogão a GN conhecer para melhor decidir qual o modelo a ser usado. A portaria Inmetro 446 de
Figura 67. Modelo de etiqueta de forno a gás. No cabeçalho, os dados do forno, inclusive com 2012 traz o Regulamento Técnico da Qualidade para Fornos Elétricos Comerciais,
indicação do gás usado (GN ou GLP); abaixo, a letra indicativa de desempenho, que é basicamente que será mais bem detalhado no capítulo sobre consumo de energia.
a relação entre volume do forno e consumo de gás para manutenção da temperatura interna. Na
sequência, o volume do forno e o consumo aferido. No rodapé, a assinatura dos órgãos aferidores
Mas se por um lado a definição do equipamento depende de estudos mais
e selos de desempenho, quando alcançado o mínimo necessário, e selos de segurança. Na direita, a detalhados, os cuidados da operação serão sempre os mesmos para garantir a
etiqueta com informações do fogão e forno conjugados. eliminação de desperdício.

148 149
2 CONSUMO

Na operação sustentável para redução de impactos pelo desperdício de energia A mangueira que conecta o botijão ao fogão retém um pouco de gás (dentro
e gás, sabendo que o consumo está relacionado à necessidade de manter o espaço das normas técnicas) e as válvulas permitem certo escape até que a pressão
interno aquecido, precisamos primeiro dimensionar corretamente o forno. Somente seja atingida e normalizada. Ligar e desligar o equipamento pode gerar perda
usar fornos grandes para grandes volumes de assados. Do contrário haverá desse conteúdo. Portanto, o maior número de acionamentos resultaria em
desperdício de gás. Programe-se para utilizá-lo de forma a ocupar todo o seu interior. aumento de perdas. Pode parecer pouco, mas para se ter uma ideia, em
Precisamos manter o máximo possível de calor dentro do forno, portanto evite condições ideais de transferência de calor, são necessários apenas 8 a 10
abri-lo antes do final do tempo de cozimento e verifique sempre o seu isolamento gramas de GLP para ferver 1L de água, ou seja, qualquer redução de perda é
térmico, especialmente o das portas. Todo vazamento de calor representa aumento significativa na conversão em trabalho.
de consumo. No caso de fogareiros de alta pressão, ao terminar de usar, feche o gás pelo
Há um hábito comumente observado no dia a dia de lojas de se manter o forno registro do botijão antes de fechar o registro do queimador para garantir a queima
ligado direto, mesmo que haja intervalos entre as fornadas. O tempo de aquecimento do gás acumulado na mangueira e prevenir vazamentos em seu aparelho.
de um forno moderno não passa de 10 minutos (de 30 °C a 200 °C) e o consumo Quanto à vazão, se temos um sistema com vazão acima do indicado para o fogão/
de manutenção de um forno vazio (na posição mais baixa do queimador ou em forno o resultado seria a queima incompleta do gás, perdendo em eficiência. A
stand-by) é de pelo menos 30% do consumo normal. Assim, se o intervalo entre uma indicação de vazão ideal muitas vezes se relaciona à quantidade de oxigênio que
fornada e outra for maior que 30 minutos, mantê-lo ligado, mesmo em fogo baixo, o equipamento consegue agregar à mistura. Faltando oxigênio, haverá queima
significa desperdício de gás. Tenha como regra sempre desligá-lo entre fornadas
incompleta (chamas amareladas).
não contínuas e lembre-se de religá-lo 10 minutos antes do próximo uso.
Com a redução da vazão, mas mantendo-se a mesma entrada de ar (padrão do fogão),
2.4.4. Dispositivos economizadores de gás temos certa economia, pois “sobra” oxigênio no processo, melhorando a eficiência de
queima. É o que acontece no “fogo baixo”, caso em que se reduz a entrada de GLP,
Existe no mercado uma série de equipamentos ditos economizadores de gás. Há
ainda muitas dúvidas sobre a real eficácia desses dispositivos do ponto de vista da diferente do “fogo alto”, que, por falta de oxigênio, chega a amarelar nas pontas.
economia, com relatos positivos e negativos. Mas uma vazão muito abaixo do indicado resulta em gás insuficiente para
O funcionamento deles está baseado no controle da vazão do gás e manutenção queima, portanto, apesar das chamas constantes e eficientes, o poder calórico será
de pressão constante. Essa relação entre vazão (quantidade de gás que sai reduzido, aumentando o tempo para o cozimento. Pode ainda haver problemas de
no queimador) e pressão (força com que o gás é expelido), se equilibrada, inibe apagamento acidental frequente e de vazamentos.
o excesso de gás liberado, que pode não estar sendo convertido em calor. Além A pressão também deve manter-se constante. Reduzir a vazão não pode significar
disso, o equipamento possui vantagens ao funcionar como dispositivo de segurança reduzir a pressão. Maçaricos de ourives, por exemplo, funcionam com baixa vazão,
(interrompe o fluxo em casos de perda de pressão, sinal de vazamentos) e como mas alta pressão, resultando em grande eficiência de queima. Mangueiras e
indicador de pressão e volume do gás no botijão. reguladores de pressão de baixa qualidade ou fora do prazo de validade resultam
Entre os relatos positivos, o equipamento apresentaria melhores resultados em em oscilação da pressão, comprometendo todo o sistema.
sistemas de baixa pressão e instalados próximos ao ponto de uso (fornos, fogões Botijão e cilindros novos possuem mais pressão e vazão do que aquele que está
e aquecedores). Outro detalhe é a instalação em todos os pontos de uso de uma acabando. Estas oscilações podem interferir na eficiência de queima da mesma
mesma linha de distribuição, pois a regulação da pressão em apenas um ponto forma. Essa interferência é maior nos sistemas de alta pressão, onde não há
poderia alterar a vazão nos demais pontos. reguladores. Além do consumo alterado, as oscilações podem resultar em danos
Mas o que de fato pode gerar economia? aos equipamentos (infravermelhos e queimadores).

150 151
2 CONSUMO

Portanto, a melhor forma de economia ainda é a montagem de sistemas processo, pois ninguém melhor do que os que executarão o trabalho para auxiliar
equilibrados – vazão e pressão dos reguladores e mangueiras condizentes com na indicação das oportunidades de melhoria. E não deixe de estabelecer um
vazão e pressão indicados nos fornos e fogões. E esteja atento às regulagens de responsável, que dará todo o suporte para acompanhamento e execução.
mistura de gases e controle da chama, sem se descuidar do treinamento para boa
2.5.2. Uso de produtos menos impactantes
operação na cozinha.
Quando se trata de sustentabilidade da operação de limpeza, a intenção é reduzir
O cheiro da queima do gás cada vez mais forte é indicador de o uso de produtos químicos e toxinas que podem prejudicar a saúde humana,
desregulagem, pois gás que queima corretamente não produz cheiro. danificar a construção, prejudicar a qualidade do ar interior e do meio ambiente.
Se o seu fogo está bem azul e se a distância entre o fogo e o A varrição e a aspiração devem ser sempre uma opção, principalmente quando
queimador é pequena, o funcionamento deve estar perto do ideal. executada com equipamentos que não promovam a ressuspensão de partículas.
2.5. Limpeza Existem certificações internacionais que auxiliam o consumidor a reconhecer
produtos que atendam a essas premissas, como o Green Seal GS-37 e GS-40.
Conhecer procedimentos empregados, equipamentos utilizados, horários e a Independentemente da certificação, você pode estar atento a alguns aspectos
demanda necessária para cada seção é a base para o desenvolvimento de ações que caracterizam um produto de menor impacto, como não ser tóxico ou corrosivo,
de maior eficiência no consumo. não conter agentes cancerígenos, mutagênicos ou nocivos à pele ou olhos.
Aspectos técnicos dos produtos, equipamentos e comportamentais dos Substâncias como o fosfato e o cloro podem ser impactantes, pois o primeiro
colaboradores são essenciais para implementação das ações que visam à redução contribui para a proliferação desenfreada de algas que roubam o oxigênio da água
de custo e impactos. e acabam com a vida aquática. Já o outro é responsável por alergias na pele e
Com base nesses dados, você poderá criar um programa de limpeza e manutenção irritação nos olhos. Esteja atento, ainda, a produtos que não contribuam para a má
abrangente que inclui a limpeza verde. Além de importante na operação sustentável, qualidade do ar e que não sejam tóxicos para a vida aquática.
esse tipo de limpeza tem se mostrado de custo relativamente baixo, que proporciona Além da composição, observe a possibilidade de uso de produtos químicos
um bom retorno sobre o investimento pela minimização de impactos. A limpeza verde concentrados e os sistemas ou procedimentos de diluição adequados para
também contribui para a criação de ambientes salubres e aprazíveis. minimizar os impactos de transporte, embalagens e de uso eficiente de produtos
químicos.
2.5.1. Crie seu programa
2.5.3. Produtos de qualidade e uso correto na redução de consumo
A primeira indicação para implantação de limpeza verde é descrever os
processos de gestão e de operações da limpeza, incluindo os componentes, áreas, O uso de produtos apropriados e de qualidade para higienização é fundamental
sistemas e materiais aplicáveis. para economia de água e de recursos financeiros. A diluição excessiva de
Você pode levantar, a partir do histórico de consumo, o desempenho alcançado. detergentes, o uso de produtos de baixa qualidade ou mesmo o excesso de produtos
Por exemplo: quantidade de insumos por metro quadrado, metros quadrados por químicos acabam exigindo relavagens e reenxágues, aumentando o consumo.
hora etc. A partir desses indicadores, e cientes da operação empregada, pode-se Neste sentido destacam-se os dosadores, diluidores e dispensers. Dosadores são
estabelecer as primeiras metas de desempenho a serem buscadas por meio da sistemas que adicionam produtos em tanques, cubas e tubulações na quantidade
padronização dos procedimentos. programada, usados para automação em processos de lavagem e aumento
Esta é a oportunidade de se indicarem falhas, pontos de desperdício e da eficiência na lavagem, por possibilitarem a dosagem correta dos produtos,
oportunidades de melhoria. O mais indicado é que toda a equipe seja envolvida no eliminando relavagens e reenxágues. Já os diluidores são sistemas que funcionam

152 153
2 CONSUMO

com o vácuo gerado pelo estrangulamento da passagem de água dentro do corpo Esteja atento aos hábitos do pessoal de operação e crie mecanismos para
do diluidor. São importantes para a padronização do uso de produtos, garantindo incentivá-los a mudar, quando for necessário, usando sempre a informação
proporções sempre iguais entre água e produto; eliminação de desperdícios ou como base para a mudança.
de falsas economias; e segurança para o operador, que não manipula substâncias
concentradas agressivas.
Os dispensers, comuns para sabonetes líquidos e detergentes, podem reduzir o
volume de material liberado, já que o transformam em espuma.
Em comum, o uso desses equipamentos viabiliza a fabricação e comercialização
de produtos superconcentrados, reduzindo o emprego de embalagens e otimizando
o transporte. Dados do setor produtivo de produtos químico demonstraram que um
produto 100 vezes mais concentrado permite a redução de:
• 99,1% de plástico (embalagem);
• 99,0% de papelão (embalagem);
• 99,1% de energia para produção da embalagem;
• 99,0% de energia para produção do produto;
Fonte: Embalagens Inteligentes, Consumo Consciente. Congresso Higicon (2008).
A B
O uso adequado de produtos também é importante para boa eficiência no
consumo de água e insumos. No caso dos produtos de limpeza, tecnicamente
os detergentes incluem os sabões, sabonetes, detergentes, sintéticos, xampus,
dentre outros. Todos são classificados como detergentes pois possuem ação
detergente – do latim detergere, que significa “limpar”, mas nem todos ajem da
mesma forma. Os sabões perdem sua eficiência em água com alta concentração
de cálcio, magnésio e/ou ferro – a chamada água dura – mas o mesmo não
acontece com o detergente sintético, que não sofre influência dos sais no C
processo de limpeza.
O detergente sintético tem sua eficiência relacionada à capacidade de Figura 68. Exemplos de diluidores, dosadores e dispenser, usados no combate ao desperdício de
aprisionar a gordura em pequenos glóbulos, liberando-a do objeto a ser limpo. materiais de limpeza.
Mas isso não forma espuma, e a maioria das pessoas relaciona a espuma à Detergentes biodegradáveis e agentes antimicrobianos
limpeza. Na prática, a espuma pode até atrapalhar o processo (detergentes
de máquinas de lavar produzem bem menos espuma), mas ainda assim os Detergentes biodegradáveis são aqueles que podem ser
fabricantes adicionam substâncias espumantes aos detergentes sintéticos decompostos por micro-organismos, reduzindo seu impacto
para evitar a rejeição do produto ou uso em excesso. Na operação de loja não quando descartados. O uso deles é sempre mais benéfico que o
é diferente: os produtos usados precisam ser pensados do ponto de vista da tradicional, mas ainda assim são capazes de causar impactos,
eficiência, mas também do processo e do pessoal empenhado na atividade. sendo mais importante o uso racional do que a escolha do material.

154 155
2 CONSUMO

Prefira sabões e detergentes isentos de fósforo e fosfatos, O armazenamento dos produtos pode requerer licenças específicas,
pois, em excesso na água, eles se comportam como nutrientes dependendo dos volumes utilizados e armazenados. Previsto legalmente, desde
e resultam no consumo de todo o oxigênio disponível, causando 1935, “quaisquer atividades com produtos controlados, incluindo fabricação,
a morte dos organismos aquáticos. O uso de tensoativos de importação e exportação; comércio; depósito fechado; manipulação; transporte
base vegetal reduz o efeito de poluição e geração de espumas. e o uso (…) necessita de licença específica” (Decreto 6.911/1935), a ser expedida
Na substituição de surfactantes aniônicos por não iônicos e pela Delegacia de Produtos Controlados da Polícia Civil e, dependendo do
anfotéricos mais suaves por compostos orgânicos ou baseados produto e volume, também da Polícia Federal e do Exército. A identificação dos
em silicone se concentram os esforços para produção de itens comercializados e usados na operação de loja constituídos de produtos
detergentes menos agressivos atualmente, mas existe sempre controlados, determinação de estoque máximo e limites estabelecidos legalmente
o risco de as novas formulações, por serem recentes demais, para verificação da necessidade de licença pode ser feita por meio de consulta ao
apresentarem impactos não mensurados. Assim, economizar site do Ministério Público, no link http://goo.gl/x7hLy.
ainda é a melhor maneira. Essa ação, que visa proporcionar maior controle no fluxo desses produtos, no
A certificação LEED para prédios existentes estipula que combate ao tráfico de drogas, exige renovação anual da licença e apresentação
sabonetes não podem conter agentes antimicrobianos, exceto trimestral de relatórios de movimentação de mercadorias.
quando exigido por códigos de saúde em áreas específicas. Isso O descarte e a reciclagem de produtos químicos de limpeza, suas embalagens e
porque a ação antimicrobiana prejudica a biodegradabilidade por equipamentos ao final de sua vida útil são ações importantes. Consulte o fabricante
micro-organismos quando os resíduos desses sabonetes chegam para mais informações.
ao sistema de tratamento de esgoto ou ao ambiente. O uso de grades e tapetes nos acessos à loja ajudam a reduzir a quantidade de
sujeira, poeira, pólen e outras partículas no interior da loja. Mas esteja atento à
2.5.4. Equipamentos limpeza desses tapetes para a manutenção da eficiência do sistema.
Embora os produtos utilizados para limpar sejam obviamente uma A manutenção da vegetação na área externa ajuda a minimizar a entrada de
grande preocupação, o equipamento de limpeza não deve ficar de fora das sujeira na loja. Plantas que produzem frutas, flores ou folhas que se desprendem
considerações. em certas épocas do ano são mais suscetíveis a causarem a entrada de sujeira no
As maiores preocupações quanto aos equipamentos usados estão na emissão prédio. Portanto, a boa seleção de espécies e uma gestão de pragas podem previnir
de ruídos, geração de emissões de gases (uso de equipamentos com motores à ou minimizar esses inconvenientes na operação.
combustão) e uso eficiente do recursos, seja a água, seja o produto de limpeza.
2.6. Manejo de áreas externas
2.5.5. Outras ações importantes
Visando à criação de espaços aprazíveis, a manutenção da área externa torna-se
Você pode adotar uma rotina de treinamentos para constante atualização essencial na construção desses ambientes em uma loja. Mas, para uma operação
dos colaboradores quanto aos procedimentos de uso e de emergência dos sustentável, faz-se necessário garantir que sua manutenção ocorra de forma a
equipamentos e produtos de limpeza. Um plano de gerenciamento de risco e minimizar impactos e alcançar a melhor eficiência possível.
a disponibilização da Ficha de Informações de Segurança do Produto (FISPQ) Use também as práticas de limpeza e manutenção verdes, como uso de
podem ser essenciais em muitos casos. Seu fornecedor deverá disponibilizar a equipamento de manutenção com reduzida emissão de ruído e gases, além de
FISPQ de cada produto. produtos químicos menos agressivos.

156 157
2 CONSUMO

Para identificação precoce, estabeleça o procedimento de verificação periódica,


que pode estar associado à limpeza de áreas pouco acessíveis. Esta é também uma
boa oportunidade para identificação de potênciais criadouros de insetos.
Sendo necessário usar o controle químico no combate a pragas, busque a
orientação para seleção do produto de menor impacto, verifique a orientação do
fabricante, em especial quando se tratar de área com presença de pessoas. Dê
preferência aos que sejam de ataque específico para a praga em questão e que
possam ser usados mais pontualmente.
O uso de fertilizantes pode também ser minimizado pela seleção de espécies
adaptadas localmente e com atenção às questões de erosão e arraste de
sedimentos para as galerias pluviais.

Figura 69. Faixa ajardinada em frente à loja. Aspecto paisagístico de sombreamento (proteção
térmica) e barreira de vento.

2.6.1. Paisagismo e controle de pragas


Já abordamos os aspectos relacionados ao uso de água no paisagismo (para
mais informações, veja o capítulo sobre água), bem como o uso de áreas verdes
na redução de temperatura no entorno da loja (capítulo sobre energia). Cabe agora
abordar o uso eficiente de insumos para manutenção dessas áreas e a minimização
de impactos na limpeza da loja. A identificação de espécies regionais e a atenção
ao comportamento delas (folhas, frutos e flores) ajudam a determinar espécies que
impactem menos na limpeza, mas o fato de estarem longe de um sistema natural,
em um ambiente urbano, as torna mais suscetíveis a pragas. Plantas invasoras e
oportunistas, fungos e insetos podem prejudicar as espécies usadas no paisagismo,
aumentando o problema de sujidade, favorecendo a entrada de insetos na loja e
tornando o ambiente externo pouco aprazível.
A melhor forma de se evitar o uso de químicos nesse manejo é a identificação
precoce do problema. Muitas vezes, uma simples catação ou poda elimina o
problema sem o uso de químicos. Caso trate-se de árvores, esteja ciente da
legislação municipal, pois muitos municípios aprovaram leis de arborização urbana
nos últimos anos, disciplinando a poda e licenciando empresas aptas a executarem
o serviço dentro da legislação.

158 159
160 161
3 RESÍDUOS

3.1. Políticas de Resíduos Sólidos: Nacional, Estadual e Municipais


A discussão acerca dos resíduos pauta-se pelas políticas atuais que
objetivam minimizar a geração de resíduos e garantir o melhor destino aos que
inevitavelmente forem gerados. Para alcançar esses objetivos, elas atribuem
deveres a toda a cadeia de produção, distribuição e consumo, visando internalizar
os custos de algo que até agora estava disperso e impactando toda a sociedade.
Para isso criam ferramentas de controle, monitoramento e planejamento que
estimulam a busca por alternativas de melhor desempenho ambiental e ainda
facilitam a fiscalização.
Na prática e de forma bastante resumida, essas leis definem responsabilidades
às empresas sobre dois grupos de resíduos: o de geração própria na operação da
empresa e o gerado no pós-consumo do que as empresas produzem e distribuem.
Para o controle dos resíduos gerados na sua operação, a Política Nacional
de Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/2010) estabeleceu a exigência dos
Figura 70. Gestão dos resíduos
Planos de Gerenciamento de Resíduos Sólidos. Já sobre os resíduos gerados a
partir dos produtos que você produz ou distribui, foi criada a Responsabilidade Esse plano deve apresentar o diagnóstico dos resíduos sólidos gerados ou
Compartilhada, que, por meio dos Acordos Setoriais, definirá as obrigações administrados, a definição dos procedimentos operacionais relativos às etapas
de cada um para permitir que todo resíduo gerado tenha a melhor destinação do gerenciamento, além de ações preventivas e corretivas em situações de
possível. gerenciamento incorreto ou acidentes e metas para minimização da geração de
Vamos entender melhor cada um deles a seguir. resíduos.
Anualmente, sob a responsabilidade técnica de um profissional habilitado, será
3.1.1. Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos exigida a apresentação de relatórios de gestão dos resíduos para fiscalização do
O Plano de Gerenciamento de Resíduos Sólidos (PGRS) é o documento integrante órgão municipal competente e alimentação do banco de dados do Sistema Nacional
do sistema de gestão ambiental, baseado nos princípios da não geração e da de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos (SINIR).
minimização da geração de resíduos, que aponta e descreve as ações relativas As leis municipais podem ser mais restritivas do que as estaduais e federais.
ao seu manejo, contemplando os aspectos referentes à minimização na geração, Portanto, caberá ao profissional que desenvolver o plano estar atento às exigências
municipais, em especial ao Plano de Gerenciamento Integrado de Resíduos Sólidos,
segregação, acondicionamento, identificação, coleta e transporte interno,
que deve delinear as diretrizes para a gestão dos resíduos no município.
armazenamento temporário, tratamento interno, armazenamento externo, coleta
e transporte externo, tratamento externo e disposição final. ME e EPP
Estão sujeitos à apresentação do PGRS os estabelecimentos comerciais e de ME e EPP que gerem apenas resíduos sólidos domiciliares ou
prestação de serviços que gerem resíduos perigosos ou, mesmo caracterizados equiparados a domiciliares pelo Poder Público municipal, não
como não perigosos, ou não equiparados aos resíduos domiciliares pelo Poder sendo perigosos, estarão dispensadas de apresentar o plano de
Público municipal, seja por sua natureza e composição, seja pelo grande volume. gerenciamento de resíduos sólidos.

162 163
3 RESÍDUOS

Quando exigível, pelo grande volume ou composição diferenciada, consumidores. Aqui se entende que é também atribuição do comerciante receber e
os planos de gerenciamento de resíduos sólidos das microempresas acondicionar esses resíduos, nas condições definidas por lei, até a devolução aos
e empresas de pequeno porte poderão ser apresentados por meio responsáveis.
de formulário simplificado, definido em ato do Ministério do Meio Os fabricantes e os importadores darão destinação ambientalmente adequada
Ambiente, que deverá conter apenas as informações e medidas aos produtos e às embalagens reunidos ou devolvidos, sendo o rejeito encaminhado
previstas no art. 21 da Lei nº 12.305, de 2010. para a disposição final ambientalmente adequada.
3.1.2. Responsabilidade compartilhada Apesar das atribuições bem definidas, há lacunas relacionadas à operação de
todo o processo que precisam ser definidas legalmente. Para isso surge a figura
A responsabilidade compartilhada é definida como conjunto de atribuições do acordo setorial, que é um contrato firmado entre o Poder Público, e fabricantes,
individualizadas e encadeadas dos fabricantes, importadores, distribuidores importadores, distribuidores ou comerciantes, que estabelece o sistema a ser
e comerciantes, dos consumidores e Poder Público, para minimizar o volume adotado e as obrigações de cada parte. Caso um acordo não seja alcançado, o
de resíduos sólidos e rejeitos gerados, bem como para reduzir os impactos governo pode impor regulamentos próprios e termos de compromisso para que os
causados à saúde humana e à qualidade ambiental decorrentes do ciclo de objetivos da lei sejam alcançados.
vida dos produtos. E no sentido de viabilizar a responsabilidade compartilhada, Apesar de as negociações serem realizadas pelas associações representativas
surge o conceito de Logística Reversa, como instrumento que fará a restituição do setor, as adesões aos acordos setoriais serão individuais, por empresa. Cabe às
dos resíduos. Mas a discussão acerca dos resíduos não deve se resumir ao
associações estaduais organizarem a adesão das empresas a cada acordo setorial.
recolhimento e à destinação. Até mesmo porque a melhor alternativa ao problema
E vale ressaltar que a adesão é voluntária, mas o cumprimento da legislação é
dos resíduos sempre será a não geração deles. Entre as responsabilidades de
obrigatório. A não adesão ao acordo setorial de âmbito federal sujeitará a empresa
toda a cadeia produtiva, detacamos:
à obrigação de aderir às exigências locais, que podem ser mais restritivas.
• produzir embalagens reutilizáveis, recicláveis ou passível de outra destinação A partir de 2 de agosto de 2014, esgota-se o prazo para entrada em vigor
ambientalmente adequada; dos últimos dispositivos da lei. A entrada dos acordos setoriais será gradual
• produzir embalagens que gerem a menor quantidade possível de resíduo; em muitos casos, iniciando nas cidades-sede da Copa do Mundo, mas já com
• divulgar informações sobre como evitar, reduzir, reciclar e eliminar adequadamente metas de ampliação definidas. Há condicionantes para o Poder Público, que
os resíduos. podem adiar a entrada em vigor dos acordos, mas o fato é que quanto antes
Cabe aos fabricantes de embalagens, fornecedores de materiais para iniciarmos, mais cedo estaremos adaptados à nova realidade. Ainda em 2014
embalagens e empresas que colocam em circulação embalagens e produtos o SINIR deverá ser iniciado, quando então todos os indicadores e informações
embalados produzi-las de forma que sejam reutilizáveis ou recicláveis e restritas ao necessárias ao preenchimento dos relatórios serão definidos. Com ele, os Planos
volume, peso e dimensões do produto. de Gerenciamento de Resíduos Sólidos passam a ser cobrados, iniciando o
Apenas após estas etapas, iniciam-se as responsabilidades no pós-consumo, processo mesmo nas cidades menores.
sendo elas definidas assim na lei: A Política Nacional de Resíduos Sólidos é um desafio, mas também uma
Os consumidores deverão efetuar a devolução após o uso, aos comerciantes ou oportunidade para o desenvolvimento sustentável de supermercados. Veremos
distribuidores, dos produtos e das embalagens. agora mais sobre a operação de resíduos próprios e, na sequência, apresentaremos
Os comerciantes e distribuidores deverão efetuar a devolução aos fabricantes as definições já alcançadas na área de responsabilidade compartilhada, de forma a
ou aos importadores dos produtos e embalagens reunidos ou devolvidos pelos esclarecer o papel dos supermercados nesse processo.

164 165
3 RESÍDUOS

3.2. Os resíduos que geramos especificidades de cada loja exigem um olhar atento e soluções personalizadas.
Respondendo às perguntas acima, você ainda poderá priorizar áreas e processos
As atuais políticas de resíduos nos impõem o desafio de repensar as soluções
que requerem atenção para minimização dos resíduos, garantindo os melhores
para o lixo, mas, antes mesmo de pensar em como descartar, precisamos pensar
resultados.
em como não gerar. Essa é a melhor forma de minimizar os impactos da gestão dos
resíduos. E para isso é importante compreender o que está sendo jogado fora, de 3.2.1. O que você está jogando fora?
onde está vindo e em que processo é usado. Saber o que compõe seu lixo é o primeiro passo. No geral, os resíduos de uma
Faça algumas perguntas a você mesmo e à sua equipe de trabalho para loja resultam de sua atividade de recepção e desembalamento de mercadoria e
determinar o nível de conhecimento que tem sobre o tema: do funcionamento das várias seções, mas há também aqueles provenientes da
1. O que jogamos fora? Que resíduos geramos? manutenção e reparos onde são gerados o maior número de resíduos perigosos e
2. Podemos evitar a geração de algum dos resíduos que geramos? que exigem grande atenção no gerenciamento.
• Há alternativas que não gerem resíduo para a mesma função? Entenda o código de resíduo estabelecido pela IN IBAMA 13/2012
• Há usos desnecessários, em excesso ou resíduos provenientes do desperdício? Ex.: 07 03 04 (*) Outros solventes, líquidos de lavagem e efluentes orgânicos
• Podemos recorrer aos fornecedores para conhecer alternativas? capítulo descrição do resíduo
subcapítulo
3. Podemos reduzir algum dos resíduos que geramos?
resíduo
• Podemos mudar nosso sistema para promover a redução? indicação de um
resíduo perigoso
• Podemos recorrer aos fornecedores sobre formas e quantidades que propiciem
a minimização dos resíduos? • Capítulo refere-se à origem do resíduo.
4. Podemos reutilizar algo? • Subcapítulo refere-se ao processo ou grupo.
• Podemos reutilizar ou aproveitar algo que iria para o descarte em nossa • Resíduo é o material.
operação? (*) Quando presente, significa tratar-se de resíduo perigoso.
• Podemos retornar para o fornecedor para reutilização? A partir da Instrução Normativa do IBAMA nº 13/2012, que regulamenta a lista
• Clientes podem reutilizar para algo? brasileira de resíduos, organizamos os principais grupos de resíduos gerados. Essa
5. Podemos reciclar? organização, que visa padronizar a classificação, servirá de base para compreensão
• Podemos comercializar o produto ou destiná-lo à reciclagem? das obrigações legais e oportunidades de ações.
• Podemos recorrer ao fornecedor caso tenhamos dificuldades em encontrar o Resíduos provenientes das atividades de recepção, desembalamento e
melhor destino? atividades administrativas
Este é o grupo que representa o maior volume de resíduos de uma loja e,
Geralmente não há respostas prontas, pois ainda falta conhecermos melhor o
talvez por isso, a maior parte das empresas já possui alguma solução para sua
que jogamos fora. Ao longo do capítulo, apresentaremos os principais resíduos
destinação – seja pela doação dos resíduos a terceiros, seja pelo comércio
gerados em um suspermercado, aspectos legais e alternativas para destinação
desses materiais.
ambientalmente correta, que auxiliarão no desenvolvimento dos trabalhos de gestão
Em qualquer caso, um passo importante agora será repensar a forma de trabalho,
dos resíduos. Essas informações servirão de base para melhor compreensão,
a partir da hierarquização de prioridades, evitando a geração, reduzindo, reutilizando
mas não reduzem a importância de responder às perguntas acima, pois as

166 167
3 RESÍDUOS

e reciclando. Além das perguntas iniciais, expressas no item 4, recorra ao item 4.3, No site do Compromisso Empresarial para Reciclagem (CEMPRE), há o
Comunicação e Engajamento, para o desenvolvimento das ações de não geração, levantamento atualizado dos preços praticados em diversas cidades do Estado
redução e reutilização, que passa pelo diálogo com sua equipe e fornecedores. (http://www.cempre.org.br/servicos_mercado.php).
Abordaremos aqui principalmente os aspectos da destinação final ambientalmente 3.2.1.1.3. Volume gerado
responsável com ênfase no mercado de reciclagem. É muito comum encontrar lojas que não conhecem seu potencial de geração.
Para estimar esse volume, realizamos o levantamento do volume gerado
Resíduo Código* Descrição
semanalmente, durante 6 semanas, e o faturamento no mesmo período, de 3
Papelão e papel 20 01 01 Papel e cartão lojas entre 3 e 5 checkouts. A razão encontrada foi praticamente a mesma nas
Plástico-filme e plástico lojas analisadas, sendo de 1,1 Kg para cada R$ 1.000,00 de faturamento, com
20 01 39 Plásticos desvio de 0,14 Kg para mais ou para menos. Há algumas variáveis que podem
duro
influenciar esse número (classe atendida, mix de produtos, operação adotada),
Madeira não mas esse pode ser o ponto de partida para um dimensionamento e planejamento
Madeira 20 01 38 contaminada com estratégico na gestão do resíduos.
resíduo perigoso
* Tabela 20. Código de classificação definido pela Instrução Normativa do IBAMA n. 13/2012.

3.2.1.1. Papelão e papel


3.2.1.1.1. Destinação
Papel e papelão apresentam grande potencial para reciclagem devido ao
mercado fortemente estruturado (segundo a Associação Brasileira do Papelão
Ondulado, 77,3% de todo o papelão produzido volta para cadeia de reciclagem hoje).
As contaminações às quais o papelão está sujeito durante a operação em
supermercados e que depreciam o resíduo são ceras, óleos, terra, pedaços de
madeira, barbantes, cordas, aparas de plásticos, metais e vidros. Fator igualmente
limitante é a mistura com embalagens produzidas por fibras recicladas que
perderam a resistência original. Essas fibras estão presentes em caixas de ovo e
divisores para caixas de frutas. Os contaminantes não devem ultrapassar 1% do Figura 71. Resíduos de papelão enfardado e armazenado em bags.
volume total durante o processo de reciclagem para garantir qualidade ao resíduo 3.2.1.1.4. Operação
a ser reciclado.
A diferença de preço praticada de acordo com a forma como o papelão é
3.2.1.1.2. Mercado comercializado é um grande motivador para lojas médias e grandes manterem
Os valores praticados na reciclagem são bastante flutuantes, variáveis prensas hidráulicas para compactação em fardos desses resíduos. A
de acordo com a oferta entre as regiões e de acordo com o tipo do material. compactação, além de agregar valor na venda do material, auxilia na organização
Produtos limpos, classificados e prensados chegam a custar três vezes o valor e limpeza da área e reduz perdas de mercadorias que poderiam ser jogadas junto
do misto e solto. com o papelão.

168 169
3 RESÍDUOS

A viabilidade do uso de prensa ainda deve levar em consideração o custo da Uma das dificuldades na reciclagem está na diversidade de famílias de plásticos,
hora/funcionário, escassez de mão de obra, custo com energia, manutenção que muitas vezes não são compatíveis quimicamente entre si. Ou seja, a mistura
e adequação do equipamento às normas técnicas. O rodízio do trabalho de de alguns tipos pode resultar em materiais defeituosos, de baixa qualidade, sem as
prensagem entre os colaboradores de diferentes setores de preparação, especificações técnicas necessárias para retornar à produção como matéria-prima,
minimizando o impacto da necessidade de mão de obra pela divisão entre o grupo requerendo assim grande esforço na triagem antes da reciclagem.
já existente, é uma alternativa, mas deve-se atentar para as exigências legais de Entre os plásticos rígidos, o mais comumente gerado como resíduo em
operação com as prensas. supermercados é o polietileno de alta densidade (PEAD), usado na produção de
Caçambas disponibilizadas pelo comprador do resíduo são uma opção caixas e engradados, baldes e tambores. Além desse, outros plásticos rígidos se
para lojas com área disponível, pois dispensam as despesas relacionadas à fazem presentes.
prensagem. Porém, apresentam maior índice de mistura de materiais, risco de • PET (polietileno tereftalato), usado em garrafas diversas;
contaminação e depreciação do produto. Outro problema recorrente entre as • PVC (cloreto de polivinila), comum em tubos e conexões, garrafas para água
lojas são as caçambas dispostas em locais não fechados, que acabam sendo mineral e detergentes líquidos;
acessadas por pessoas não autorizadas, gerando problemas com a limpeza da • PP (polipropileno), que compõe embalagens de massas e biscoitos, potes de
área e impacto na vizinhança. Nesses casos, câmeras de segurança têm sido margarina, utilidades domésticas e embalagens de salgadinhos;
a alternativa mais usualmente adotada. Destaque ainda é dado para casos de • PS (poliestireno), utilizado em equipamentos eletroeletrônicos, copos
furtos, onde a saída de mercadorias é facilitada quando misturada aos resíduos descartáveis e bandejinhas.
de papelão e plástico. Mas a maior geração desse tipo de resíduo em uma loja é de plástico-filme
Big Bags ainda são a alternativa mais usada pelos pequenos geradores. ou aparas de plástico. Praticamente todo plástico-filme gerado na operação
Muitas lojas disponibilizam áreas para o armazenamento temporário do papelão de supermercados é de polietileno (PE), proveniente de filme stretch, sacos e
e o embalamento nos bags fica por conta do receptador. O uso de bags para o filmes plásticos usados em fardos de bebidas. Considerando todo o universo
armazenamento temporário também tem se mostrado a forma mais eficiente e de embalagens plásticas, cerca de 80% dos sacos e embalagens são
organizada de operação. O maior risco nesse processo é o enchimento rápido produzidas com PE e 20% com PP e PVC, podendo inclusive haver mistura de
dos bags, pois se faz necessária a desmontagem das caixas e empenho dos dois ou mais polímeros.
colaboradores para a boa acomodação do papelão. Sensibilização, treinamento Os contaminantes do material incluem restos orgânicos, gorduras, papel,
e incentivos da equipe são essenciais para esse trabalho. E lembre-se sempre de etiquetas, grampos e sujeira em geral. A separação entre plástico transparente e
que organização atrai organização. Sanar os problemas rapidamente é a melhor colorido pode ser uma boa forma de agregar valor sem grande esforço, uma vez
forma de manter tudo organizado. que o transparente é mais valorizado que o colorido.
3.2.1.2. Plásticos 3.2.1.2.2. Volume gerado
3.2.1.2.1. Destinação e mercado A relação entre volume de plástico gerado como resíduo e o faturamento da loja
A reciclagem de plásticos encontra-se em ascensão, mas ainda com potencial também mostrou-se bastante uniformes entre as empresas analisadas. A razão
para crescimento. Dados do CEMPRE apontam que apenas 21,7% dos plásticos encontrada foi de 0,16 kg para cada R$ 1.000,00 de faturamento, com desvio de mais
produzidos foram reencaminhados para reciclagem no Brasil em 2011. Seu valor de ou menos 0,04 kg. Novamente aqui se destaca o grande número de variáveis que
mercado chega a ser o dobro do praticado para o papelão. podem influenciar os números.

170 171
3 RESÍDUOS

Caixas de transporte de madeira podem ser reutilizáveis, mas têm vida útil média
de um ano. A substituição por caixas plásticas tem sido uma tendência. Com uma
vida útil oito vezes maior, com melhor condição para higienização e possibilidade de
ser reciclada ao final de sua vida útil, a caixa plástica apresenta grande vantagem
sobre as de madeira.
Projetos como o Banco de Caixas Plásticas da Ceasa-Campinas ampliam
as vantagens da substituição ao permitirem que produtores, atacadistas e
supermercadistas não precisem dispor de estoques de caixas, reduzindo em
até quatro vezes o volume de embalagens em circulação, além de eliminarem o
descarte de resíduos de madeira. Tecnologia com reduzida quantidade de água na
A B higienização (300 ml/caixa) e uso de energia solar no aquecimento completam os
benefícios do projeto.
Figura 72. Prensagem de um fardo de plástico filme e material armazenado em bag.
3.2.1.3. Madeira
3.2.1.3.1. Destinação e mercado
O maior volume de madeira gerado provém de paletes (descartáveis ou
danificados) e caixas de transporte de hortaliças e frutas.
A higienização das caixas deve seguir a Instrução Normativa
SARC/Anvisa/Inmetro nº 09/2002 e orientações técnicas da
Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), que
estabelecem as condições para a reutilização de embalagens e
regulamenta o acondicionamento, manuseio e comercialização de
produtos in natura.
A recuperação das peças em madeira é ainda a solução mais vista entre os
destinos dados à madeira. Mas a reciclagem também é possível e apresenta
um amplo Potencial. Para se ter uma ideia, 13,9% da matriz energética brasileira
corresponde à biomassa proveniente principalmente de resíduos florestais e
industriais. Entretanto, pela baixa concorrência entre empresas recicladoras, o
valor da madeira para reciclagem é muito baixo ou inexistente (custo logístico se
iguala ao valor de comércio). Neste cenário, destacam-se as soluções locais, com
empresas regionais oferecendo diferentes soluções para a reciclagem da madeira,
com diferentes estratégias e boas oportunidades de negócios.
As melhores alternativas para o resíduo de madeira ainda são a não geração e a
sua redução. E neste sentido destacam-se as alternativas às caixas de transporte. Figura 73. Resíduo de madeira.

172 173
3 RESÍDUOS

3.2.1.4. Resíduos provenientes das atividades de preparação e área de A doação de alimentos não é proibida, mas a responsabilidade recai totalmente
convivência de colaboradores sobre a empresa fornecedora. O Programa Fome Zero do governo federal possui
uma política de doações para empresas cadastradas que permite inclusive
Resíduo Código* Descrição a isenção de ICMS sobre produtos doados (mais informações em http://goo.
Resíduos biodegradáveis gl/1kAZcK). Em São Paulo, a Portaria Municipal 40.497, de 27/04/2001, estabelece
Restos de alimentos 20 01 08 os critérios para doação de gêneros alimentícios e de sobras de alimentos para
de cozinhas e cantinas
reutilização, garantindo o respaldo legal necessário à ação. Em outros municípios,
Óleos e gorduras deve-se recorrer ao Poder Público municipal para outras informações. O
Óleos vegetais 20 01 25
alimentares cadastramento de instituições e as parcerias com algumas ONGs (Organizações
Grupo de embalagens Não Governamentais) e com o Banco de Alimentos (www.bancodealimentos.
mistas ou segregadas org.br), que atuam nas lacunas deixadas pelo Poder Público, também são opções
Embalagens 15 01
entre os tipos de seguras de desenvolvimento da ação.
materiais A comercialização de produtos que seriam descartados como resíduos orgânicos
Tabela 21. Código de classificação definido pela Instrução Normativa do IBAMA nº 13/2012.
é possível, mas só tem sido observada em casos regionais relacionados à presença
de empresas locais que se utilizam do material. São ações restritas a grupos
3.2.1.4.1. Restos de alimentos (resíduos orgânicos) específicos de produtos, e não a toda mistura de orgânicos.
3.2.1.4.1.1. Destinação e mercado Entre as destinações finais ambientalmente responsáveis para os resíduos
A geração de resíduos orgânicos está diretamente relacionada às quebras e orgânicos, a compostagem ainda é a mais citada. Esse é um processo que acelera
processamento de alimentos. Dados da pesquisa apresentada no I Fórum ABRAS a decomposição dos restos orgânicos. Nele o equilíbrio entre resíduos secos e
de Prevenção de Perdas em 2013 mostram que as perdas em perecíveis (FLV, úmidos e a constante movimentação do material resultam em um composto rico
açougue, padaria, frios e laticínios) chega a 2,91%, sendo o setor de FLV o que em nutrientes para plantas. Todavia o processo requer equipamentos específicos
apresenta os maiores números (4,22%). Dessas perdas, um terço foi identificado e/ou mão de obra para operação durante períodos que podem chegar a quatro
meses (enzimas e composteiras mecanizadas podem acelerar o processo a
como quebra operacional, sendo os maiores motivos as embalagens danificadas e
um custo maior) e há restrições para produtos já processados (comida pronta,
o vencimento da validade dos produtos.
óleos e carnes). Isso faz da compostagem um processo dispendioso, em que o
A eliminação e redução do descarte são ainda as formas mais eficientes de
custo de produção pode ser até maior que o custo de destinação em aterros,
resolução dos problemas. O sistema de prevenção de perdas (presente em apenas
mesmo considerando a comercialização do composto produzido. Há exemplos de
28% das empresas, segundo levantamento da ABRAS) é a melhor alternativa dentro parcerias entre supermercados e empresas de compostagem para o oferecimento
da lógica de um supermercado sustentável. do composto produzido nas lojas; também há exemplos de produção do composto
Ações de doação de produtos próprios para consumo, mas fora do padrão na própria loja. O melhor caso de viabilidade do processo foi o desenvolvido no
de venda, para entidades ou para alimentação animal, já são frequentes, mas Shopping Eldorado, que transforma 75 toneladas por mês de resíduos em 14
encontram dificuldades para sua manutenção. Aspectos legais, não conformidade toneladas de composto, usado depois em hortas no teto do prédio. Os produtos
na retirada e dificuldades na rastreabilidade dos destinos dos produtos são alguns plantados são consumidos pelos funcionários do shopping, e o investimento no
fatores apontados por supermercadistas como entraves no processo. projeto chega a R$ 12.000,00 por mês.

174 175
3 RESÍDUOS

Novas alternativas ao aterramento de resíduos estão sendo testadas, cada qual


com seus desafios para tornarem-se viáveis. Biodigestores, que reduzem o resíduo
e ainda geram gás que pode ser aproveitado, além da recuperação de energia, que
aproveita a energia gerada pela combustão dos resíduos, dentro de um processo
controlado e de mínimo impacto, são alternativas promissoras, mas com viabilidade
para destinação de resíduos de consórcios de municípios e empresas.
3.2.1.4.2. Óleos vegetais
3.2.1.4.2.1. Destinação e mercado
O mercado de reciclagem de óleo vegetal encontra-se bastante aquecido. Óleos
e gorduras vegetais destinados à reciclagem são usados na fabricação de produtos
de limpeza, ração animal, tintas e solventes, massa de vidraceiro e biodiesel. Este
último foi o responsável pelo crescimento do mercado agregando maior valor ao
produto atualmente. Este valor, além de sofrer as flutuações, como todo resíduo,
varia de acordo com suas características (pureza, pH, contaminantes, volume
negociado e acordo logístico). Figura 74. Coletores de óleo de cozinha usado.
Os principais contaminantes do óleo são os restos alimentares e a água. A
mistura com óleos minerais inviabiliza sua reciclagem. 3.2.1.4.3. Coleta seletiva de embalagens
3.2.1.4.2.2. Volumes gerados Na área administrativa, refeitórios e preparações, há também a geração de
Não há indicadores que nos permitam determinar um ideal entre volume de óleo resíduos recicláveis provenientes da coleta seletiva de embalagens. Neste caso, a
e gordura usado versus o volume enviado à reciclagem. Assim, apresentamos a classificação estabelecida pela IN IBAMA 13/2012 muda, saindo do capítulo sobre
análise realizada em 11 lojas de diferentes portes, durante 3 meses de registro. Resíduos do Comércio para Resíduos de Embalagens, conforme segue:
Nessas lojas, a gordura vegetal era o principal item usado nas fritadeiras. Ao
Código* Descrição
compararmos os resultados, observamos uma taxa média de aproveitamento para
reciclagem de 85% , com variação entre as lojas de 65% a 95%. Todavia, analisando 15 01 06 Misturas de embalagens
a rotina de trabalho, pode-se observar o uso complementar de óleo de soja nas ou
fritadeiras. Assim, realizamos também o comparativo da taxa de reciclagem 15 01 01 Embalagens de papel e cartão
somando-se o volume de gorduras e óleo. O resultado ficou entre 38% e 42% 15 01 02 Embalagens de plástico
entre os meses acompanhados, com variação entre lojas de 30% a 60%. A queda 15 01 04 Embalagens de metal
significativa deve-se à incorporação do óleo de soja na preparação dos alimentos 15 01 05 Embalagens longa vida
e complementos, portanto sem descarte.
15 01 07 Embalagens de vidro
A partir desses números, traçamos metas reais de desempenho para reciclagem
15 01 09 Embalagens têxteis
de óleo vegetal usado de 80% sobre o volume de gordura vegetal e 40% sobre a
soma de óleo e gordura consumida internamente. Nas lojas acompanhadas, os 15 01 03 Embalagens de madeira
resultados têm se mantido dentro dessas faixas. Tabela 22. Código de classificação definido pela Instrução Normativa do IBAMA nº 13/2012.

176 177
3 RESÍDUOS

3.2.1.4.3.1. Destinação e mercado de Resíduos Sólidos (ver item 4.4 – Política Nacional de Resíduos
As melhores práticas, no caso das embalagens, são as de não geração (uso Sólidos).
de retornáveis e não descartáveis) e a redução (refis, concentrados e volumes Empresas de reciclagem deverão fornecer toda a documentação
apropriados). comprobatória de regularidade, com especial ênfase às licenças
A reciclagem de embalagens em geral despende maior custo em mão de obra
ambientais, quando aplicáveis. Esta é sua garantia que a destinação
para a segregação dos resíduos. O comércio das embalagens misturadas deprecia
atenderá às exigências legais.
muito o preço, que, somado ao custo logístico, pode comprometer a viabilidade
da reciclagem. Outro ponto relevante é o armazenamento que, dependendo das Cooperativas de reciclagem, em geral, são isentas de
condições de higienização das embalagens, pode resultar em problemas (mau licenciamento ambiental (salvo em casos específicos que trabalham
cheiro, liberação de líquidos, atração de insetos). A relação entre higienização com resíduos classificados como perigosos), mas apresentam
(tempo, água, mão de obra) e tempo de armazenamento é bastante complexa e outros documentos essenciais para comprovação do cumprimento
controversa. Cabe aqui a cada empresa definir as melhores estratégias encontrando da legislação.
um ponto de equilíbrio.
Em todos os casos, o ideal é incluir na formalização da parceria,
Para viabilizar o projeto, primeiramente defina o destino a ser dado: existe a
documentos como:
possibilidade de comércio do material, mas isso depende de um parceiro comercial
que atenda a essa especificidade (via de regra, se comercializa o produto já a) contrato Social ou Estatuto em vigor devidamente registrado;
classificado, pois o custo de mão de obra para segregação é um limitador. Defina
b) comprovante de inscrição no Cadastro Nacional de Pessoa
com ele a melhor forma de separação dos resíduos). Outra possibilidade amplamente
Jurídica (CNPJ);
usada e incentivada é a doação do material às cooperativas de reciclagem. Neste
caso o gargalo fica na logística de recolhimento dos resíduos. Em alguns municípios, c) alvará de funcionamento;
o trabalho é realizado pelas prefeituras e há casos em que a própria cooperativa
d) auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros (AVCB);
realiza a retirada. Mas em ambos os casos são recorrentes os problemas de não
conformidade na retirada, o que gera acúmulo de materiais e excesso de tempo e) inscrição no Cadastro Técnico Federal (IBAMA), licenças
de armazenamento. Negociação prevendo esses problemas, alternativas e opções ambientais estaduais (LP, LI, LO, CADRI), ou certificado de dispensa
para casos emergenciais são necessárias para o bom andamento dos trabalhos. de licença, quando for o caso;
A reciclagem de embalagens é uma ótima opção ao incentivo de colaboradores
f) declaração da cooperativa de não existência de trabalho infantil
para aderirem às ações ambientais, seja pelo retorno dos recursos conseguidos na
e de que se encontra em situação regular perante o Ministério
forma de benefícios, seja pela divulgação da ação social de doação das embalagens
do Trabalho na observância das vedações estabelecidas no
às cooperativas envolvidas.
Art. 7º, XXXIII, da Constituição Federal, ou seja, proibição de
O TRABALHO COM COOPERATIVAS DE RECICLAGEM trabalho noturno, perigoso ou insalubre aos menores de 18 anos
Mesmo doando seus resíduos, sua responsabilidade sobre eles e de qualquer trabalho a menores de 16 anos, salvo na condição
continua. Além disso, você precisará comprovar a destinação dada de aprendiz, a partir de 14 anos, sob as penas do artigo 299 do
a cada resíduo gerado que constar em seu Plano de Gerenciamento Código Penal.

178 179
3 RESÍDUOS

Converse com seus fornecedores e preveja a questão dos custos com destinação
nos casos de quebras e trocas, nas futuras negociações e acordos comerciais.
3.2.1.5. Resíduos provenientes das atividades de manutenção e reparo
Os resíduos provenientes de reparos e manutenção constituem um grupo
bastante importante pelas especificidades que apresentam. Sua minimização
requer conhecimento técnico específico na área de atuação. Uma solução prática é
hierarquizar os resíduos gerados com base no volume e complexidade de descarte e
buscar discutir com seus fornecedores e prestadores de serviços alternativas para
sua minimização. Outra iniciativa ainda pouco explorada é constarem em contrato
as responsabilidades de cada parte no tocante ao descarte ambientalmente correto
desses resíduos. Mas lembre-se de que a simples transferência de obrigações
não o isenta da corresponsabilidade. Faz-se necessário exigir a comprovação do
descarte para inclusão nos relatórios do Plano de Gerenciamento de Resíduos de
sua empresa, sob risco de não se comprovar a destinação correta, ficando sujeito
Figura 75. Embalagens PET prensadas. à lei de crimes ambientais. Na tabela abaixo, onde apresentamos os principais
resíduos gerados, aqueles cujos códigos encontram-se acompanhados pelo
3.2.1.4.4. Quebras asterisco (*) são classificados como resíduos perigosos e, portanto, requerem
Produtos vencidos, avariados, com embalagens violadas constituem um grupo maior atenção ao armazenamento e destinação ambientalmente correta.
de resíduos pouco discutido e que passará a compor os Planos de Gerenciamento
Resíduo Código* Descrição
de Resíduos Sólidos de toda a empresa. A classificação brasileira de resíduos os
codifica da seguinte forma: Metais 20 01 40 Metais
Vidro 20 01 02 Vidro
Resíduo Código* Descrição Lâmpadas Lâmpadas fluorescentes, de vapor de
Resíduos 20 01 21 (*)
fluorescentes sódio, de mercúrio e mistas.
Produtos fora de
16 03 04 inorgânicos não Pilhas e acumuladores fora da
especificação e
perigosos especificação da Resolução CONAMA nº
produtos vencidos
Resíduos orgânicos 401/2008 (que determina as concentrações
ou não utilizados 16 03 06
não perigosos máximas de metais pesados).
Tabela 23. Código de classificação definido pela Instrução Normativa do IBAMA nº 13/2012. Ou grupo de pilhas e acumuladores não
Pilhas e baterias 20 01 33 (*)
separados que possam conter produtos
Todavia esta classificação se baseia na destinação dos produtos intactos (nos
como acima especificado.
casos de necessidade de descaracterização ou destruição do produto). Nos casos
Produtos elétricos e eletrônicos e seus
em que pode ser feita a separação entre produto e embalagem, a classificação e
componentes fora de uso contendo
tratamento dado devem seguir o disposto anteriormente para os resíduos orgânicos componentes perigosos.
e embalagens.

180 181
3 RESÍDUOS

3.2.1.5.1. Recicláveis não perigosos: metais e vidro


Entendem-se como perigosos aqueles
3.2.1.5.1.1. Destinação e mercado
que possuírem acumuladores, pilhas,
disjuntores de mercúrio, vidro de tubos No Brasil o mercado de sucata de metais é bastante sólido, pois de um lado as
Equipamentos de raios catódicos, outro vidro ativado e indústrias siderúrgicas precisam da sucata de ferro para fazer um novo aço; do
elétricos e 20 01 35 (*) lâmpadas de vapores metálicos. Se não, outro alumínio, cobre e demais metais apresentam preços que impulsionam sua
eletrônicos usar o código 20 01 36. reciclagem.
Exclui-se deste grupo as lâmpadas, No geral, o volume desses resíduos gerados em uma loja não é grande, estando
freezeres, geladeiras e mais relacionado às embalagens. Mas as atividades de manutenção e reparo
ares-condicionados já mencionados. também acabam por destinar parte desses componentes à reciclagem.
O vidro também tem sua geração mais relacionada às embalagens, mas não
Freezeres, raramente provém de reparos e manutenção. Via de regra, o vidro de embalagens
Produtos eletroeletrônicos fora de não deve ser misturado a pedaços de cristais, espelhos, lâmpadas e vidro plano
geladeiras e
20 01 23 (*) uso contendo gases enquadrados no de portas e janelas. Por terem composição química diferente, esses tipos de vidro
ares-
Protocolo de Montreal. causam trincas e defeitos nas embalagens. No entanto, algumas indústrias de vidro
-condicionados
já incorporam percentuais de vidro plano na produção.
14 06 01 (*) Clorofluorcarbonetos (CFC), HCFC, HFC. Metais e vidros, seja pelo volume gerado, seja pelo valor de mercado, são itens
secundários na gestão, mas de grande potencial para reciclagem.
Gases em recipientes sob pressão
Fluido de
16 05 04 (*) (incluindo freons e halons) contendo
refrigeração
substâncias perigosas.

13 01 (*) Grupo dos óleos hidráulicos usados.

Grupo dos óleos de motores, transmissões


13 02 (*)
e lubrificação usados ou contaminados.
Óleos minerais e
sintéticos
Grupo dos óleos isolantes, de refrigeração
13 03 (*)
e de transmissão de calor usados.

Resíduos da Grupo dos resíduos de construção e


construção e 17 demolição (incluindo solos escavados de
reforma locais contaminados).

Tabela 24. Código de classificação definido pela Instrução Normativa do IBAMA nº 13/2012. Figura 76. Carrinhos danificados destinados à reciclagem.

182 183
3 RESÍDUOS

3.2.1.5.2. Resíduos perigosos – lâmpadas fluorescentes, pilhas e baterias, 4.2, Lâmpadas). Assim, cada lâmpada comprada garantirá a reciclagem de uma
eletrônicos, freezeres, geladeiras e ares-condicionados, fluido de refrigeração, queimada. Mas a entrada em vigor da ação será gradual, com expectativa de início
óleos minerais e sintéticos em 20% do volume total produzido nos próximos dois anos.
A responsabilidade dos supermercados sobre os resíduos perigosos de geração O sistema de logística reversa das lâmpadas prevê a determinação
própria está no correto armazenamento e na destinação final. Para o cumprimento de embalagens-padrão para seu armazenamento temporário. Até
dessas responsabilidades deve-se considerar a classificação como resíduo sua definição, o melhor é acondicioná-las na embalagem original
perigoso – Resíduo Classe I (NBR 10.004/04), atendendo às normas da NBR 12.235/92 ou outra que as proteja do risco de quebra. Quando ocorre quebra
sobre armazenamento de produtos perigosos. Dependendo da destinação, caberá de uma lâmpada fluorescente, mantenha o local ventilado. Caso
ao gerador ainda a responsabilidade pelo transporte, devendo atender a outras ocorra em área com ar-condicionado, desligue-o. A volatilização do
normas e decretos específicos, como o Decreto nº 96.044/88 e suas alterações que mercúrio contido na lâmpada ocorre nos primeiros minutos após a
regulamentam o transporte rodoviário de Produtos Perigosos, além de licenças quebra. Recolha os cacos e o pó de forma a evitar sua suspensão.
para transporte de resíduos expedidas pelas agências ambientais estaduais. Use papel úmido se necessário e evite varrer. Acondicione os
No geral, as exigências estão na forma correta de armazenamento, garantindo resíduos para o descarte correto.
a segurança e as melhores condições para posterior transporte e reciclagem.
Para resíduos perigosos, faz-se necessário que o local de armazenamento seja
coberto, seco, com piso impermeável e em área demarcada e identificada,
protegida, mas de fácil acesso. Os colaboradores devem ser alertados quanto aos
resíduos armazenados, bem como sobre as práticas de manuseio. De acordo com
volumes e tipos de materiais, sistemas e equipamentos de segurança, bem como o
licenciamento da área poderão ser exigidos.
3.2.1.5.2.1. Lâmpadas fluorescentes
Considerando que o tempo de vida útil de uma lâmpada T10, T8 ou HO está
entre 6.000 e 7.500 horas, pode-se estimar que a cada 1,5 ano uma loja pode
trocar praticamente todas as suas lâmpadas. O custo de destinação final dessas
lâmpadas está hoje entre R$ 0,60 e R$ 1,50 dependendo da técnica empregada.
Figura 77. Lâmpadas acondicionadas para envio à reciclagem.
As melhores permitem o retorno para reciclagem de todos os seus componentes,
sendo realizado por tratamentos térmicos, químicos ou por sobro. Mas existem 3.2.1.5.2.2. Pilhas, baterias e equipamentos elétricos e eletrônicos
equipamentos que promovem a simples trituração das lâmpadas e filtragem dos Trocas e atualizações de equipamentos eletroeletrônicos podem gerar grande
vapores metálicos, o que reduz o custo do processo. Porém, o filtro com o mercúrio volume desses resíduos. Mas as atividades normais de manutenção acabam
deve ser descartado em aterro especial para resíduos perigosos, diminuindo as gerando um volume constante de resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos.
vantagens ambientais por não reciclar o principal componente tóxico. E ainda não Portanto, vale a pena destinar uma área de armazenamento para esses itens.
há consenso sobre se a técnica retira o mercúrio do vidro, o que pode inviabilizar Seu correto armazenamento é importante nos casos de equipamentos com
inclusive sua reciclagem. componentes sabidamente perigosos (pilhas, baterias, tubos de imagem,
Com a entrada em vigor do sistema de logística reversa, o custo de destinação lâmpadas, gases), mas mesmo uma simples placa eletrônica pode desprender
final será internalizado pela indústria (entenda como funcionará o processo no item metais tóxicos se não for mantida protegida da ação do clima.

184 185
3 RESÍDUOS

A reciclagem de pilhas e baterias é feita pela separação das partes plásticas e Toda empresa que produz, importa, exporta, comercializa ou utiliza substâncias
trituração dos componentes metálicos, tendo como produtos finais óxidos metálicos controladas relacionadas nos Anexos do Protocolo de Montreal ou produtos que
usados na fabricação de fogos de artifício, pisos cerâmicos, tintas e vidros. Processo as contenham, especialmente no setor de serviços, em quantidade anual igual ou
semelhante tem sido empregado para vidros contendo metais pesados (monitores). superior a duzentos quilogramas, deverá estar cadastrada junto no IBAMA (mais
Demais equipamentos elétricos e eletrônicos são desmontados e cada informações no quadro explicativo).
componente tem um processo específico de reciclagem. Esse é um mercado em Durante todo e qualquer processo de manutenção que envolva retirada de
ascensão, com crescente oferta de empresas que prometem retorno maior que as sistemas, instalação, equipamentos ou em oficinas de manutenção ou reparo,
despesas relacionadas ao descarte dos resíduos perigosos. Todavia, há ainda muita está proibida a liberação dessas substâncias controladas na atmosfera e devem
informalidade e é grande o risco de comercializar o produto com recicladoras que ser recolhidas mediante coleta apropriada e colocadas em recipientes adequados.
não atendem à legislação, em especial quanto ao descarte correto dos resíduos Tanto o gás quanto os cilindros de fluidos refrigerantes descartáveis devem ser
perigosos. Ao externalizar esse custo, o reciclador alcança valores artificiais enviados aos centros regionais de regeneração de refrigerante licenciados pelo
para compra do resíduo, mas promove a contaminação ambiental e coloca em órgão ambiental competente ou a centros de coleta e acumulação associados
risco pessoas. O fornecedor dos resíduos, mesmo que indiretamente relacionado, às centrais de regeneração. No site http://www.protocolodemontreal.org.br,
responde pelo crime pela corresponsabilidade sobre o descarte. você encontra as listas atualizadas de centrais existentes no Brasil. O descarte
Exija sempre do comprador a comprovação da adequação de sua empresa às dos cilindros é um serviço geralmente pago, mas a regeneração do gás é uma
leis vigentes. E inclua nos contratos sobre compra de novos equipamentos ou oportunidade de voltar a ter o gás disponível para uso a um preço menor que do gás
prestação de serviços, as obrigações de cada parte frente ao resíduo gerado. novo. O descarte incorreto e a liberação do gás na atmosfera sujeitará os infratores
às penalidades e sanções previstas na Lei de Crimes Ambientais.
Da mesma forma, pela nova classificação dos resíduos, os equipamentos que
contenham fluidos de refrigeração em seu sistema, passam a receber o tratamento
de resíduo perigoso até a retirada do fluido.

Figura 78. Computadores obsoletos aguardando destinação para reciclagem.

3.2.1.5.2.3. Fluidos de refrigeração - Freezeres, geladeiras e ares-condicionados


O Brasil, enquanto signatário do Protocolo de Montreal, vem trabalhando na
eliminação de substâncias que provem a destruição da camada de ozônio.
A regulamentação sobre o armazenamento e descarte correto desses gases é
feita pelas Resoluções CONAMA 267/00 e 340/03, que dispõem: Figura 79. Balcões refrigerados obsoletos e destinados à reciclagem.

186 187
3 RESÍDUOS

CTF-IBAMA Nacional da Indústria do Refino de Óleos Minerais (http://www.sindirrefino.org.br)


O IBAMA mantém um cadastro de Atividades Potencialmente há buscadores para identificar o reciclador mais próximo de você.
Poluidoras, onde o uso de fluido refrigerante e de lenha em fornos Existe o comércio do óleo usado, sendo importante exigir os Certificados de Coleta
estão inclusos. Se nos últimos 13 anos você comprou um botijão de de óleo lubrificante usado ou contaminado, e mantê-los para fins de fiscalização
gás para refrigeração, pode estar certo de que possui cadastro no durante cinco anos, conforme exige a resolução.
IBAMA, pois foi prática comum no passado o cadastramento feito 3.2.1.5.2. Resíduos da Construção Civil
pelos próprios vendedores para possibilitar a venda. Além disso, O gerenciamento adequado dos resíduos da construção civil está apoiado na
toda venda é lançada no sistema para cruzamento de dados entre Resolução CONAMA 307/2002 e alteração instituída pela Resolução CONAMA
declaração de vendas e de uso. Em setembro de 2013, o IBAMA 348/2004. A partir destas resoluções, todo supermercado, uma vez enquadrado
exigiu o recadastramento de todas as empresas justamente para como grande gerador, deve desenvolver Projeto de Gerenciamento de Resíduos
corrigir os problemas gerados pelo cadastramento incorreto. da Construção Civil em novas obras e durante reformas, de acordo com o Plano
Consulte sua situação cadastral acessando o site http://servicos.
Integrado de Gerenciamento de Resíduos da Construção Civil Municipal. É neste
ibama.gov.br/ctf/publico/certificado_regularidade.php.
plano que o Poder Público deve apresentar as áreas aptas para recebimento,
3.2.1.5.2.4. Óleos minerais e sintéticos triagem, e armazenamento temporário de pequenos volumes de resíduos; as
Os óleos lubrificantes não são totalmente consumidos durante sua vida útil, mas empresas de transporte credenciadas; e as ações de orientação, de fiscalização e
acabam recebendo contaminantes ou modificando suas propriedades de forma de controle dos agentes envolvidos.
que necessitem serem trocados. Resta, neste processo, o resíduo de óleo usado. Em resumo, o projeto deve conter a caracterização dos resíduos; a triagem
Reciclagem de óleos lubrificantes vem evoluindo significativamente. Em 1993, de acordo com as classes estabelecidas na Resolução; o acondicionamento; o
11,43% do total produzido era recolhido para reciclagem. Em 2003, 24,2% e hoje transporte; e a destinação a ser dada. Recorra ao Poder Público municipal para que
se encontra na faixa dos 37% (42% em São Paulo), conforme exigido pela Portaria possam orientar quanto às empresas e destinos autorizados para cada classe de
Interministerial MMA/MME 59/12. resíduo gerado em uma obra.
A resolução Conama 362/05 e suas alterações (Resolução Conama 450/12) constituem 3.3. 
Responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos
a base legal para a questão, trazendo que todo óleo lubrificante usado ou contaminado produtos
deve ser recolhido, coletado e ter destinação final, de modo que não afete negativamente
o meio ambiente e propicie a máxima recuperação dos constituintes nele contidos. Além dos resíduos próprios, gerados durante a operação e manutenção da
Enquanto geradores do resíduo, os supermercados têm a obrigação legal de loja, o supermercado também passa a ter responsabilidades na destinação
recolher os óleos lubrificantes de forma segura, em lugar acessível à coleta, em ambientalmente correta no pós-consumo de tudo aquilo que disponibiliza aos seus
recipientes adequados e resistentes a vazamentos, de modo a não contaminar o clientes. Ou seja, passamos a ter obrigações para viabilizar a correta destinação
meio ambiente. Devem adotar as medidas necessárias para evitar que o óleo venha dos resíduos gerados após o consumo, dentro de sistemas de logística reversa.
a ser misturado com produtos químicos, combustíveis, solventes, água e outras As definições de obrigações de cada ator desse processo estarão descritas
substâncias, evitando a inviabilização da reciclagem. E devem encaminhar este nos acordos setoriais. Discutiremos nesta sessão apenas a participação dos
resíduo exclusivamente ao ponto de recolhimento ou coletor autorizado, exigindo supermercados nos sistemas em desenvolvimento.
a apresentação pelo coletor das autorizações emitidas pelo órgão ambiental A Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei Federal 12.305/10) e sua
competente e pelo órgão regulador da indústria do petróleo para a atividade de regulamentação (Decreto 7.404/10) estabeleceram, até agora, a obrigatoriedade de
coleta e a emissão do respectivo Certificado de Coleta. No site do Sindicato aplicação de sistema de logística reversa aos seguintes grupos:

188 189
3 RESÍDUOS

• agrotóxicos; Nos casos em que o comércio realizava a coleta, acabavam assumindo também
• pilhas e baterias; o custo da destinação final. Agora, com a implantação da logística reversa,
• pneus; fabricantes e importadores passam a assumir esse custo, como no caso do
• óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; programa ABINEE Recebe Pilhas, da Associação Brasileira da Indústria Elétrica e
Eletrônica, que implementou a primeira ação de logística reversa em operação por
• lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista;
meio da contratação de uma empresa de logística especializada que realiza a coleta
• produtos eletroeletrônicos e seus componentes; e encaminhamento para reciclagem de todas as pilhas e baterias depositadas em
• produtos comercializados em embalagens. coletores instalados em supermercados participantes da ação. Os custos logísticos
Por meio de edital de chamamento, o Ministério do Meio Ambiente incluiu a e de destinação final são rateados entre fabricantes e importadores associados.
logística reversa de medicamento, evidenciando ser plenamente possível que Até agora o projeto vem recolhendo dados para estudo de viabilidade dos
novos grupos sejam incorporados à lista de obrigações ao longo do tempo. mecanismos de ampliação. Busca ainda solucionar os problemas reconhecidos ao
No caso de São Paulo, a Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei Estadual longo do período de avaliação, como a forte presença de “pilhas órfãs”. Ou seja, pilhas
12.300/06) inclui a obrigatoriedade de criação de sistema de logística reversa e baterias ilegalmente trazidas ao País ou vindas por importação indireta (como parte de
também para óleos vegetais de uso doméstico. outras mercadorias), que aumentam o volume para reciclagem, sem contudo ter uma
A obrigação legal do comércio é receber do consumidor os resíduos incluídos nos empresa por trás financiando seu descarte correto.
sistemas de logística reversa e devolver aos fabricantes e importadores tais produtos
e embalagens, sem, contudo, deixar de atender às exigências e normas técnicas
aplicáveis. Isso significa aderir aos sistemas conforme os acordos setoriais forem
sendo publicados, estruturar sua operação para recebimento e armazenamento dos
resíduos e apoiar ou mesmo manter os registros de toda operação. Em alguns casos,
conforme definido no acordo setorial, o transporte até um ponto de consolidação
também poderá incluir as obrigações do comércio e distribuidores.
3.3.1. Pilhas e baterias
A instrução normativa CONAMA 401/2008, que estabelece os limites máximos de
metais pesados em pilhas e baterias, já estabelecia critérios para logística reversa
desses resíduos, citando a obrigatoriedade de os comerciantes terem pontos de
coleta em seus estabelecimentos.
VENDA X COLETA
Um estudo desenvolvido em 19 lojas, durante julho e agosto de
2013, visando conhecer o percentual de retorno para reciclagem de
pilhas e baterias comercializadas, indicou o percentual médio de
apenas 55%. Há lojas que coletaram mais do que comercializaram
no mesmo período, alcançando a marca de 166%. Figura 80. Exemplos de coletores de pilhas e baterias utilizados por supermercados.

190 191
3 RESÍDUOS

Notas fiscais de entrada e saída de resíduos destinados à logística de logística reversa. Pontos de consolidação para grandes geradores estão
reversa previstos. A possibilidade de, em alguns casos, o supermercadista assumir também
A remessa de resíduos para reciclagem requer uma Nota a responsabilidade de encaminhar o recipiente com lâmpadas recolhidas para
Fiscal com CFOP 5.949 com descrição “remessa para descarte tais pontos não está descartada, cabendo a melhor definição de operação no ato
ou reciclagem de pilhas e baterias usadas diversas”, sendo ainda contratual de instalação dos coletores.
necessário no campo Informações Complementares constar a 3.3.3. Resíduos de equipamentos elétricos e eletrônicos
seguinte mensagem: “Produtos usados isentos do ICMS nos termos
O sistema de logística reversa em discussão para Resíduos de Equipamentos
do artigo 119 do Anexo I do RICMS/SP”.
Elétricos e Eletrônicos (REEE) não deve diferir muito do proposto para lâmpadas,
Essa prática é mais conhecida, mas até agora se referia com a inserção da taxa de destinação de forma destacada sobre o valor do produto.
principalmente ao envio de materiais de geração própria. Com a Todavia, neste caso há ainda desafios a serem superados para a assinatura do
entrada da logística reversa, do ponto de vista fiscal, temos que acordo setorial, destacando:
criar o registro da entrada dessas mercadorias, que são na verdade
•
o reconhecimento da não periculosidade dos produtos eletroeletrônicos
trazidas pelos clientes, para conseguirmos emitir sua saída.
pós-consumo enquanto não haja alteração das suas características físico-
A orientação para o caso é a emissão de Nota Fiscal com CFOP: -químicas. Essa medida visa manter as mesmas exigências para transporte e
1.949 com descrição “Entrada de pilhas e baterias usadas diversas” armazenamento do produto novo e descartado;
e no campo Informações Complementares novamente a informação
• adequações de questões fiscais no transporte interestadual para viabilização da
“Produtos usados isentos do ICMS nos termos do artigo 119 do
coleta e destinação;
Anexo I do RICMS/SP”.
•
criação de norma legal que discipline a renúncia da titularidade do REEE
Fonte: ECOSUPORTE Assessoria Ambiental .
descartado;
3.3.2. Lâmpadas fluorescentes e de vapores metálicos • instrumentos e mecanismos de compensação e custeio para produtos órfãos.
A proposta de sistema de logística reversa em discussão prevê o descarte 3.3.4. Embalagens
por parte do consumidor em pontos de entrega a serem definidos. O coletor, a
logística e a destinação final das lâmpadas serão de responsabilidade de empresas Sem dúvida, o Sistema de Logística Reversa de Embalagens é um grande desafio
especializadas, contratadas por intermédio de uma entidade gestora, mantida a ser implementado. Com uma grande diversidade de materiais, formas e tipos,
por fabricantes e importadores. O custeio do processo se dará pela inclusão de constitui uma parcela significativa, senão a maior, de todo resíduo gerado no País.
uma taxa sobre cada lâmpada colocada no comércio, que alimentará um fundo O acordo em desenvolvimento prevê o fomento de ações e investimentos em toda
específico. cadeia, principalmente em parceria com cooperativas, aparistas e prestadores de
Caberá aos supermercados aptos à instalação de um ponto de entrega serviços.
receber e instalar os coletores fornecidos pela entidade gestora; receber as O comércio deverá ceder espaço para os Pontos de Entrega Voluntário (PEV),
lâmpadas entregues pelos consumidores e providenciar o seu acondicionamento comprometendo-se a disponibilizar as embalagens coletadas e informações
e armazenamento temporário; solicitar a retirada de acordo com as condições ao sistema de logística reversa,  bem como promover a comunicação com seus
operacionais acordadas; informar o consumidor sobre o processo de devolução clientes no sentido de informar sobre como proceder na separação e descarte das
e recebimento das lâmpadas; e providenciar os relatórios referentes ao sistema embalagens, além de comunicar sobre a importância da correta destinação.

192 193
3 RESÍDUOS

As despesas de colocação dos PEV e da operação de recolhimento correrão 3.3.5. Óleo comestível
por conta da indústria e importadores de produtos embalados e de embalagens, de
A logística reversa de óleos comestíveis está prevista na Política Estadual de
acordo com contrato diretamente firmado entre o varejista e a indústria, importador
Resíduos Sólidos (Lei Estadual 12.300/06). Por meio de Termos de Compromisso
ou associação representativa, com o aval da coalização para verificação de
assinados em dezembro de 2012, a Associação Brasileira das Indústrias de Óleos
cumprimento do modelo de governança estabelecido e de atenção às metas do
Vegetais (Abiove) se responsabiliza em apoiar a coleta dos resíduos pós-consumo
sistema. Além do PEV, a indústria ainda assume a responsabilidade de promover
dos produtos de suas associadas nos municípios paulistas.
convênios com cooperativas e associações para criação de novas cooperativas,
aparelhamento e capacitação. VENDA X COLETA
A meta do sistema é aumentar o número de cooperativas e PEVs ainda em 2015, Um estudo desenvolvido em 19 lojas, durante julho e agosto de
alcançando a redução de 22% de embalagens sendo destinadas a aterros ainda em 2013, visando conhecer o percentual de retorno para reciclagem do
2015, com a condicionante de que as prefeituras devam cobrir 90% da população óleo comercializado, indicou o percentual médio de apenas 0,22%. O
com coleta seletiva porta a porta. Até 2019, a meta é alcançar a marca de 50% melhor desempenho foi alcançado em lojas de padrão mais elevado,
menos embalagens destinadas a aterros. atingindo a marca de 0,85% de retorno do que foi comercializado no
Os projetos iniciam-se nas cidades-sede da Copa do Mundo de Futebol e cidades mesmo período.
estratégicas de regiões metropolitanas e aglomerados urbanos.
Para aderir aos acordos setoriais, as Associações Estaduais e a ABRAS
organizarão as listas de adesões onde cada empresa estará assinando diretamente
com o Ministério de Meio Ambiente. Está prevista uma taxa de adesão para
cobertura de despesas administrativas do processo de implantação e manutenção.
A adesão ao Acordo Setorial por meio das associações é importante para toda e
qualquer empresa, pois, firmado entre a empresa e o MMA, traz a segurança de
que, mesmo que não venha a ter ainda um PEV instalado, pelas condições locais
ou pelo fato de seu município não estar contemplado na primeira fase, você estará
contribuindo para todo sistema e atendendo às obrigações referentes à logística
reversa de embalagens previstas na Política Nacional de Resíduos Sólidos.

A B

Figura 81. (A) Ponto de Entrega Voluntário (PEV) e (B)conjunto de lixeiras para coleta seletiva. Figura 82. Exemplo de coletor de óleo de cozinha utilizado por supermercados.

194 195
3 RESÍDUOS

No termo assinado não há condições e obrigações para o supermercadista, Por fim, medicamentos, apesar de não ser uma atividade diretamente
porém a lei estadual define a obrigação de coleta para o comércio. Assim, relacionada aos supermercados, faz parte do grupo de muitas empresas
independentemente, cada empresa pode desenvolver ações de coleta e destinação supermercadistas. O desenvolvimento do acordo setorial para esses itens
ambientalmente correta, sempre se lembrando da exigência de registro das ainda não avançou de forma a possibilitar a descrição do procedimento a ser
operações e destinação às empresas licenciadas para o cumprimento de suas adotado. Por tratar-se de um resíduo que requer maior controle, tem enfrentado
obrigações legais perante os órgãos de fiscalização. entraves na formatação de uma proposta conjunta entre indústria, distribuidor
É importante destacar que não há exigências especiais para coleta e e comércio. Todavia, os mecanismos não devem diferir dos já desenhados
armazenamento do óleo vegetal, mas todo cuidado deve ser tomado para evitar para outros resíduos.
acidentes de derramamento e contaminação do solo.
3.3.6. Pneus, agrotóxicos, medicamentos e óleos lubrificantes
Os sistemas de logística reversa para pneus, agrotóxicos e óleo lubrificantes
já se encontram instituídos, embasados em legislações e resoluções anteriores
à Política de resíduos, e, portanto, em operação. A Resolução Conama 416/09
dispõe sobre a prevenção à degradação ambiental causada por pneus
inservíveis e sua destinação ambientalmente adequada. O sistema de logística
reversa implantado hoje está totalmente baseado nos pontos de troca, onde os
pneus deixados pelos usuários são encaminhados por oficinas e borracharias
a pontos de consolidação, normalmente operados pelas prefeituras, para a
coleta e destinação por parte de uma instituição mantida pelos fabricantes e
importadores.
Já as Leis 7.802/89 e 9.974/00 abordam o destino final dos resíduos e
embalagens de agrotóxicos, atuando fortemente sobre o consumidor final
para orientação dos procedimentos e locais de descarte correto.
E a Resolução Conama 362/05 trata da reciclagem de óleos lubrificantes
e suas embalagens, atribuindo ao revendedor a obrigação de receber dos
consumidores o óleo lubrificante usado ou contaminado, dispondo de instalações Figura 83. Coletor de medicamentos.
adequadas devidamente licenciadas pelo órgão ambiental competente para seu
recolhimento de forma segura, em lugar acessível à coleta, utilizando recipientes 3.4. Comunicação e engajamento
propícios e resistentes a vazamentos, de modo a não contaminar o meio 3.4.1. Para não gerar resíduos
ambiente. Novamente, a ação em execução no País está embasada nos pontos
de troca de óleo e restrita às embalagens de 1 litro, havendo comunicação do • Converse com sua equipe sobre que resíduos podem ser eliminados.
consumidor sobre o descarte correto das embalagens no ponto de venda. Para • Converse com seus fornecedores sobre a possibilidade de eliminar embalagens
a destinação final, consulte também o item 4.1.3, Resíduos Perigosos – Óleos não essenciais.
minerais e sintéticos. • Forneça copos, canecas e utensílios reutilizáveis em vez de descartáveis.

196 197
3 RESÍDUOS

3.4.2. Para reduzir a geração de resíduos a todos e podem gerar filas em banheiros de maior movimento. Já a
•
Converse com seus fornecedores sobre possíveis mudanças do tipo de secagem com papel é mais bem aceita e tem a vantagem de permitir
embalagem de produtos para redução de embalagens, aumento de capacidade a secagem também do rosto, por exemplo. O uso de toalha de papel
de transporte que facilitem o reúso e reciclagem. reciclado seria uma opção se a qualidade desse papel fosse melhor
• Certifique-se de que você está comprando de forma a minimizar o volume de (há problemas de absorção). O uso das duas opções tem resultado
embalagens que deverão ser descartadas posteriormente. em redução de até 40% no consumo de papel.
• Monitore e controle o estoque para evitar quebras. 3.4.4. Para reciclar os resíduos
• Esteja sempre atento às preparações de modo a prevenir quebras, desperdícios
e geração excessiva de resíduos pela manipulação. Monitore e controle esses • Verifique se o procedimento para reciclagem encontra-se organizado de forma
indicadores e os use na negociação com seus fornecedores. eficiente, com fácil acesso e boa sinalização. Também é preciso treinar seu pessoal.
• Esteja atento ao recebimento de mercadorias propensas a danos de transporte • Separe todos os resíduos de produtos orgânicos e estabeleça um sistema de
para redução de quebras e geração de resíduos. coleta orgânica.
• Minimize o número de produtos embalados em bandejas não recicláveis. • Encontre um mercado apropriado para paletes não retornáveis e danificados.
• Desencoraje o embrulho desnecessário em plástico.
3.4.5. No escritório
• Tenha sempre oferta de sacolas reutilizáveis, mantenha o mínimo possível de
sacolas descartáveis sobre o checkout e tenha caixas à disposição. • Use e-mail em vez de fax; opte por faturas e documentos eletrônicos; e, claro,
• Em banheiros com toalheiros com papel, considere também o uso de secadores desencoraje a impressão de e-mails.
de mão. • Adote o arquivamento digital.
3.4.3. Para reutilizar • Defina fotocopiadoras e impressoras para impressão frente e verso e busque
• Busque incentivar e negociar o uso de paletes, engradados e caixas retornáveis reduzir as cópias. Opte por cartuchos recarregáveis quando possível.
com o fornecedor. • Use o modo de rascunho para impressão preliminar.
• Negocie a oferta de embalagens retornáveis. • Incentive a utilização de rascunho: deixe uma caixa ou bandeja de reutilização
• Assegure-se de que a equipe sabe que a embalagem é retornável e estabeleça ao lado da impressora / fotocopiadora.
os procedimentos para reduzir os danos de embalagens retornáveis.
• Forneça copos e talheres reutilizáveis em vez de descartáveis nos refeitórios.
• Treine sua equipe sobre como abrir embalagens corretamente para permitir a
reutilização. • Não deixe de investir em comunicação visual sobre as ações executadas,
dentro de um plano de endomarketing.
Papeleiras ou Secadores?
A questão ainda está em aberto. Do ponto de vista do consumo, os Peça ao pessoal sugestões de como os resíduos podem ser
secadores levam vantagem, com uma redução que pode chegar a minimizados. Isso pode levantar o moral deles e orgulho no seu
90% do custo e não gerar qualquer resíduo. Porém, eles não agradam trabalho, incluindo-os na tomada de decisão.

198 199
POR QUE TER UMA OPERAÇÃO
4 
E MANUTENÇÃO SUSTENTÁVEL?

A sustentabilidade ainda é, para a maioria das pessoas, automaticamente Porém, nossa cadeia de valores ainda é aberta, sendo que na natureza tudo
associada às questões ambientais. E como vimos ao longo de todo guia, a se processa na forma de ciclos. Nesta cadeia aberta, criam-se pressões sobre o
sustentabilidade para supermercados vai muito além daquilo que as pessoas estão sistema que podem desestabilizá-lo. Em especial pressões sobre a exploração e
habitualmente sugestionadas a pensar. Impactos ambientais estão diretamente no fim da vida do produto, justamente nas pontas abertas da cadeia.
relacionados aos efeitos sobre as pessoas e garantir satisfação e bem-estar de O aumento da oferta gera disputa por preços, o que força a externalização de
todos os públicos – colaboradores, fornecedores, clientes – deve também estar custos. Na prática o custo nunca deixa de existir. Ele apenas sai do valor do produto
na base da na sustentabilidade de supermercados. A que custo alcançar esses e passa a ser “cobrado” de forma indireta. Surgem assim os impactos sobre o
objetivos também é relevante, pois a rentabilidade esperada deve ser buscada de ambiente, seja na forma de superexploração, processos produtivos impactantes
forma ética e responsável, visando preservar a perenidade do negócio. ou não comprometimento por impactos indiretos. Com a ética e a responsabilidade,
Uma operação e manutenção sustentável auxilia na melhor compreensão e boa parte dessas questões são resolvidas, mas ainda é necessário desestimular a
controle de aspectos da operação que aumentam as chances de aproveitar as demanda pelo impactante e limitar sua oferta.
oportunidades com maior eficiência e que mitiguem riscos nas ópticas de clientes É também o “interesse de mercado” que define perdas e desperdícios. Se não há
e acionistas. Algumas mudanças podem ser alcançadas apenas com tecnologia interesse comercial, o produto, subproduto ou coproduto pode tornar-se resíduo,
e infraestrutura, mas a operação sustentável visa ir além, objetiva aproveitar as mesmo que tenha potencial de uso. E da mesma forma que o mercado é capaz de
oportunidades concentradas na mudança de hábitos e atitudes de toda equipe. definir o que vira resíduo, ele também é capaz de atribuir valor para fazê-lo deixar
Com a sustentabilidade de sua empresa, ganha-se em eficiência, impactando de ser resíduo, influenciando hábitos e oferecendo soluções.
positivamente na redução de desperdício, de riscos e custo operacional, E como um supermercado mais sustentável contribuirá para mudanças
refletindo-se na competitividade e rentabilidade ao longo do tempo. Ganha-se na como essas?
preferência dos potênciais clientes, reflexo dos valores ofertados e bem-estar Não há uma única resposta, mas há indicativos de que caminhamos nessa
durante o ato de compra, garantindo a lucratividade necessária à perenidade nos direção. Fato é que o mercado evolui cada dia mais rápido. Hoje, o produto é uma
negócios. Ganha-se também na retenção de colaboradores, pelo ambiente salubre, parte do processo. Fazendo o produto temos a experiência, a história, os valores,
ético e responsável socioambientalmente, o que possibilita melhorar a cada dia os que chegam ao cliente por meio de supermercados. A simples atenção à questões
serviços oferecidos. ambientais, que já foi um diferencial, hoje já é tratada como obrigação. Algo que
A sustentabilidade de supermercados além de nossas lojas seu cliente espera que esteja fazendo, pois o contrário (não atender às questões
Os padrões modernos de consumo foram possibilitados pelas atividades ambientais) já é algo inaceitável culturalmente.
varejistas, e o setor supermercadista é responsável por 85% do abastecimento Esteja certo de que a sustentabilidade já faz parte de sua empresa. No
nacional. Os padrões de consumo atuais aumentam a pressão sobre os recursos cumprimento a inúmeras legislações, na oferta de produtos que buscam atender
e resultam em volumes crescentes de resíduos gerados. Mas o mesmo consumo a essa demanda latente, na busca pela melhor eficiência na operação de sua
que pode impactar pode também ajudar. loja, no envolvimento em discussões, campanhas, enfim, a sustentabilidade para
O mundo hoje é movido pelo consumo. Ele tem sido incentivado pelos governos supermercados faz parte de sua operação e manutenção. E esperamos poder
e visto como a solução das crises econômicas e melhor distribuição de renda contribir para que sua empresa torne-se cada vez mais sustentável.
pela geração de empregos. Havendo consumo, gera-se demanda, que estimula
a produção e consequentemente a geração de empregos. Isso injeta mais
recursos na sociedade, que passa a consumir mais, estabelecendo-se um ciclo
de crescimento.

200 201
Realização:

Rua Pio XI, 1200 - Alto da Lapa


05060-001 - São Paulo/SP
Tel: (11) 3647-5000
www.portalapas.org.br

Presidente: Autoria, Conteúdo


João Galassi e Redação:
Ecosuporte
Diretor de Sustentabilidade:
Erlon Godoy Ortega Revisão:
Thiago Pietrobon
Diretor de Responsabilidade
Ambiental: Capa, Projeto Gráfico e
Maurício Cavicchiolli Diagramação:
Promovisão
Superintendente:
Carlos Corrêa Colaboração
Comitê de Sustentabilidade
Gerente Administrativo: da ABRAS
Eduardo Ariel Grunewald
Imagens:
Gerente de Comunicação Grupo Pão de Açúcar
e Marketing: Supermercado São Vicente
Fabiano Benedetti Ecosuporte
APAS
Coordenadora de
Sustentabilidade:
Rose Pavan

Conteúdo técnico:

www.ecosuporte.com.br
ecosuporte@ecosuporte.com.br
Tel. (19) 99624.5814

S-ar putea să vă placă și