Sunteți pe pagina 1din 55

ESCOLA TEOLÓGICA CHARLES SPURGEON

THIAGO EMÍLIO MATIAS SANCHES

A POESIA HEBRAICA E A IDENTIDADE DO REI MESSIÂNICO


NO SALMO 110. 1-3: UMA ANÁLISE BÍBLICO-TEOLÓGICA

Fortaleza (CE)
2015
THIAGO EMÍLIO MATIAS SANCHES

A POESIA HEBRAICA E A IDENTIDADE DO REI MESSIÂNICO


NO SALMO 110. 1-3: UMA ANÁLISE BÍBLICO-TEOLÓGICA.

Monografia apresentada como Trabalho de


Conclusão do Curso Livre em Teologia da Es-
cola Teológica Charles Spurgeon como requi-
sito parcial para a obtenção do grau de Bacha-
rel em Teologia. Orientador: Prof. Samuel
Fernandes Nascimento Junior.

Fortaleza (CE)
2015
THIAGO EMÍLIO MATIAS SANCHES

A POESIA HEBRAICA E A IDENTIDADE DO REI MESSIÂNICO


NO SALMO 110. 1-3: UMA ANÁLISE BÍBLICO-TEOLÓGICA.

Monografia apresentada como Trabalho de


Conclusão do Curso Livre em Teologia da Es-
cola Teológica Charles Spurgeon como requi-
sito parcial para a obtenção do grau de Bacha-
rel em Teologia.

Aprovada em: __________/_________/__________

BANCA EXAMINADORA

___________________________________________________________________________
Prof. Samuel Fernandes Nascimento Junior
Escola Teológica Charles Spurgeon - ETCS

___________________________________________________________________________
Prof. Dra. Claúdia Ramos Carioca
Universidade da Integração Internacional da Lusofania Afro-Brasileira - UNILAB

___________________________________________________________________________
Prof. Me. Francisco Macena da Costa
Escola Teológica Charles Spurgeon - ETCS

Fortaleza
2015
DEDICATÓRIA

Dedico esta monografia à minha querida esposa, Vanessa Sanches, e a pequena Maria
Ester, fruto de nossa união no Senhor e dádiva de Deus para nossas vidas.
AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Trindade Santíssima, ao Deus Pai, Filho e Espírito Santo


“... porque Dele, e por meio Dele, e para Ele são todas as coisas. A Ele, pois, a glória eter-
namente. Amém!” Rm. 11. 36. Em segundo lugar, agradeço a minha família, em especial, mi-
nha esposa Vanessa Sanches, sem a qual não conseguiria alcançar meus objetivos. Se não
fosse sua companhia, paciência e dedicação, provavelmente não teria concluído o seminário.
Da mesma forma, agradeço a minha pequena Maria Ester, que mesmo com dois aninhos e
sem entender porque o papai se trancava no escritório por horas, ficava com a mamãe para
que eu pudesse concluir meus trabalhos. Agradeço a minha mãe, Terezinha Cassiano, por
todo trabalho que teve para me proporcionar uma boa educação, por ser a principal incentiva-
dora para que eu fizesse o bacharelado em Teologia.
Agradeço aos meus irmãos da Igreja Presbiteriana de Monte Castelo por todas as ora-
ções, comunhão preciosa e bênçãos materiais, e em especial ao conselho da Igreja que colo-
cou sobre meus ombros a liderança das congregações de Presidente Kennedy e Nova Metró-
pole. Minha palavra de gratidão aos irmãos da Igreja Presbiteriana de Boa Viagem, que me
receberam de braços abertos e me deram uma das mais preciosas oportunidades ministeriais.
Tambem quero agradecer ao Presbiterio Centro Oeste do Ceara pelo apoio financeiro, confi-
ança e por ter acreditado em meu chamado ministerial.
Agradeço também a duas pessoas de valor inestimável em minha caminhada ministe-
rial. Primeiro, ao Reverendo Carlos Alberto Gomes Silva, meu pastor, amigo e tutor eclesiás-
tico. Louvo a Deus por sua vida! Segundo, ao meu orientador Prof. Samuel Fernandes N. Jr.,
obrigado mestre, sua contribuição foi grandiosa, que Deus te recompense! Por fim, agradeço a
Escola Teológica Charles Spurgeon, na pessoa do Diretor Executivo Pr. Cleyton Gadelha, ao
corpo docente, funcionários e amigos que fazem parte desta casa de profetas.
“Pergunta 54. Como é Cristo exaltado em
sentar-se à destra de Deus? Cristo é exalta-
do em sentar-se à destra de Deus, em ser Ele,
como Deus-homem, elevado ao mais alto
favor de Deus o Pai, tendo toda a plenitude de
gozo, glória e poder sobre todas as coisas no
céu e na terra; em reunir e defender a sua
Igreja e subjugar os seus inimigos; em forne-
cer aos seus ministros e ao seu povo dons e
graças e em fazer intercessão por eles.”

Catecismo Maior de Westminster


RESUMO

A questão central de nossa pesquisa é responder à indagação “quem é o meu Senhor


do Salmo 110?” Dessa forma, considerando as varias escolas de interpretação na tradição pós-
exílica, a discussão quanto à verdadeira identidade do Meu Senhor, a natureza poética da lit-
eratura hebraica e o uso da passagem no Novo Testamento, nossa finalidade neste trabalho é
dar uma resposta a tal questionamento e demonstrar biblicamente que Jesus é o Messias
prometido. Bem como, aquele que estabelecerá o reino escatológico previsto pelos os profetas
do Antigo Testamento. Assim, a monografia foi dividida em três partes. No primeiro momen-
to, apresentaremos os fundamentos da poesia hebraica, dando ênfase aos seus principais ele-
mentos, além de demonstrar a ligação dos mesmos com o texto de nossa exegese. Posterior-
mente, comentaremos sobre a natureza e mensagem dos salmos reais, sua contribuição para o
desenvolvimento da teologia bíblica e para a revelação messiânica. Por fim, analisaremos
exegeticamente o salmo 110, em especifico os versos de 1 a 3, onde o oráculo do Senhor de-
screve a dimensão do reino messiânico, apontando para Pessoa e Obra de Cristo no Novo Tes-
tamento. No final da pesquisa, listaremos dois títulos cristológicos que estão diretamente liga-
dos à temática do trabalho, ou seja, Cristo como Senhor e Cristo como o Filho de Davi. Sendo
assim, respondendo à indagação que norteou toda pesquisa, entendemos que Jesus é o Cristo,
a saber, o meu Senhor pronunciado por Davi no Salmo 110. Ele é a única pessoa onde todos
os elementos que estão ancorados no pronunciamento encontram seu pleno cumprimento.
Portanto, como afirma o credo apostólico “Cristo está assentado à destra de Deus Pai Todo
Poderoso”.

Palavras-Chave: Poesia hebraica; Salmos reais; Reino Messiânico; Cristo; Senhor; Filho de
Davi.
ABSTRACT

The central issue f our research is to answer the question “Who is „My Lord‟ in Psalm
110?” So, we are going to consider several schools of interpretation on the post-exilic tradi-
tion, the discussion on the true identity of „My Lord,‟ the poetic nature of the Hebrew litera-
ture, and the use of that passage by the New Testament writers. We aim to give an answer to
that question, by demonstrating from the biblical text that Jesus is the promised Messiah, as
well as He who will set forth the eschatological kingdom announced by the Old Testament
prophets. So, this paper has been divided in three parts. At the first moment, we shall present
the fundamentals of the Hebrew Poetry, stressing the main elements and showing the link
between those and our exegesis paper. We will turn to comment the nature and message of the
Royal Psalms, its contribution for the development of biblical theology and for the messianic
revelation. Finally, we will consider exegetically the text of Psalm 110, specifically verses 1
to 3, as the Lord‟s oracle describes the messianic kingdom‟s dimension, pointing to the Per-
son and Work of Christ in the New Testament. The final part of this paper will list two escha-
tological titles, directly attached to our main theme, i.e., Christ as the Lord, and Christ as the
Son of David. This way, we will respond the initial and thoroughly question, comprehending
Jesus as the Christ, that is to say, the „my Lord‟ proclaimed by David as read in Psalm 110.
He is the only person where all elements are anchored in and find their absolute fulfillment.
Therefore, as we read from the Apostles Creed, “[Christ] sits at the right hand of God the Fa-
ther Almighty.”

Keywords: Hebrew Poetry; Royal Psalms; Messianic Kingdom; Christ; Lord; Son of David.
SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ...................................................................................................................... 12
2 OS ASPECTOS HERMENÊUTICOS DA POESIA HEBRAICA ................................. 15

2.1 Os gêneros literários segundo a hermenêutica bíblica e sua importância para a ativi-
dade exegética ........................................................................................................................ 15

2.2 Fundamentos da literatura poética ................................................................................. 17


2.2.1 Padrões de métrica .......................................................................................................... 18

2.2.2 Paralelismo ..................................................................................................................... 20

2.2.3 Figuras de linguagem e imagens ..................................................................................... 22

2.3 A expectativa judaica acerca do rei messiânico no material poético ........................... 24


2.3.1 Salmos da realeza: a majestade de Deus e a glória de Seu reino .................................... 26
3 A IDENTIDADE DO “MEU SENHOR” NO SALMO 110 ............................................ 29

3.1 Limites da passagem e justificativa ................................................................................ 29

3.2 O salmo 110 no judaísmo do segumdo templo .............................................................. 31

3.3 As posições quanto a identificação de “Meu Senhor” .................................................. 32

3.3.1 O servo Abraão ................................................................................................................ 33

3.3.2 O sumo sacerdote Zadoque ............................................................................................. 33


3.3.3 Salomão, filho de Davi ................................................................................................... 34

3.3.4 Um príncipe macabeu ..................................................................................................... 35


3.4 O rei messiânico do Salmo 110. 1-3: uma análise bíblico-teológica ............................ 35

3.4.1 Quem escreveu? A autoria davídica ................................................................................ 36

3.4.2 Quem disse a quem? As palavras do Senhor ................................................................... 37


3.4.3 Quem dominará? O cetro do Seu poder ......................................................................... 38

3.4.4 Quem faz parte do exercíto? A resposta do povo ........................................................... 39

3.5 Uma ressalva .................................................................................................................... 41

3.6 O uso e a interpretação messiânica do Salmo 110 e os títulos cristológicos ............... 42

3.6.1 As duas indagações de Jesus em Mateus 22. 42-46 ........................................................ 43


3.6.2 Jesus, O Messias .............................................................................................................. 45

3.6.3 O Filho de Davi ............................................................................................................... 46

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS .............................................................................................. 48


REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 50
12

INTRODUÇÃO

Inicialmente nossa pesquisa se propõe a analisar o uso que o Novo Testamento faz do
Antigo, principalmente no que se refere a identidade do rei messiânico e o anseio do povo
judeu quanto ao seu governo, pois como disse Groningen “[…] existia nos tempos passados
uma expectativa messiânica generalizada por parte dos judeus […] que fervorosamente anela-
vam sua manifestação” (2003, p. 72). Portanto, a fim de aprofundarmos na temática, nos con-
centraremos em analisar o primeiro oráculo do Salmo 1101, os versos 1 a 32 que mencionam o
aspecto real do Messias prometido.
Outra questão que precisamos consisderar é a problemática que deu origem a esta pes-
quisa, que é a indagação: “Quem é o “meu Senhor” do Salmo 110?” Responder a esse questi-
onamento é de grande valia para a comunidade acadêmica, “[…] tendo em vista que em ne-
nhum outro lugar no Saltério há tanta doutrina quanto no salmo 110, […] e um outro fator, é
que a mensagem do Novo Testamento está diretamente ligada a seu conteúdo […]” (KIN-
DER, 1981, p. 407). Diante disso, entendemos que identificar a pessoa do “meu Senhor” con-
tribuirá de forma valiosa para a formulação de uma Cristologia consistente, capaz de solucio-
nar debates a respeito do Filho de Deus, além de esclarecer nosso entendimento quanto a ver-
dadeira natureza do reino de Deus no Novo Testamento.
Esta pesquisa também é significante por outro motivo, ela lida com um dos principais
pilares do pensamento evangélico, a Pessoa e a Obra de Cristo como declarado na teologia
sistemática. Embora nosso foco esteja primeiramente em um estudo de cunho bíblico-
exegético, averiguando as relações entre ambos os testamentos, e o desenvolvimento da reve-
lação progressiva, vale ressaltar que no final das contas a maior contribuição deste trabalho se
dará no campo da dogmática ao afirmamos a doutrina do ofício real do Redentor. Como disse
Osborne ao comentar sobre a relação entre as teologias3 “[…] aqui, nós temos uma ponte en-
tre a revelação divina e a compreensão humana, onde as duas disciplinas suplementam e
completam uma à outra” (2009, p. 451).

1
Todas as citações bíblicas, com exceção daquelas expressamente identificadas, foram retiradas da versão Al-
meida Revista e Atualizada (2 ed. Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2009), doravante ARA. Versões popula-
res como a Nova Versão Internacional (NVI), Nova Tradução na Linguagem de Hoje (NTLH), Almeida Revista
e Corrigida (ARC) etc., serão mencionadas segundo suas respectivas abreviações.
2
Salmo de Davi. Disse o SENHOR ao meu senhor: Assenta-te à minha direita, até que eu ponha os teus inimigos
debaixo dos teus pés. O SENHOR enviará de Sião o cetro do seu poder, dizendo: Domina entre os teus inimigos.
Apresentar-se-á voluntariamente o teu povo, no dia do teu poder; com santos ornamentos, como o orvalho emer-
gindo da aurora, serão os teus jovens.
3
Acerca desta constrovérsia recomendamos a leitura do livro de Dr. Donald A. Carson “Teologia Bíblica ou
Teologia Sistemática? Unidade e diversidade do Novo Testamento” publicado em 2008 por Editora Vida Nova.
Outro material que poderá ser consultado é o artigo “Teologia Sistemática ou Teologia Bíblica” de Vicent
Cheung disponível em: http://www.monergismo.com/textos/teologia/historia-sistema-ts-tb_vincent-cheung.pdf .
13

Sendo assim, o que temos para apresentar nesta monografia é uma junção de forças
entre ambas áreas da teologia, com a finalidade de ratificar que Jesus é o rei messiânico pro-
metido, e “[…] que cada uma das ministrações proféticas encontra seu cumprimento nele […]
o incorporador pessoal da Nova Aliança” (ROBERTSON, 2002, p. 62).
Quanto à metodologia e à estrutura da pesquisa, ela consistirá no primeiro momento
em examinar os fundamentos da poesia hebraica com base nos argumentos de conceituados
exegetas e teólogos bíblicos4. Além disso, obras de hermenêutica serão devidamente consul-
tadas com o objetivo de assimilarmos a natureza da literatura poetica, seus usos, tipos e ima-
gens. Posteriomente, daremos atenção especial ao Saltério5, mas precisamente aos chamados
“salmos da realeza” que segundo Fee e Stuart “[…] também eram conhecido no período pós-
exílico como os salmos messiânicos” e acrescentam “[…] e que tiveram um papel relevante
no ministério de Jesus e na igreja primitiva” (2013, p. 169).
Na segunda parte onde abordaremos os textos bíblicos, faremos uma análise exegética
da passagem, considerando os seus aspectos: históricos-culturais, elementos gramaticais, a
tradução das línguas originais, e por fim uma consulta aos comentários bíblicos com o intuito
agregar informações e responder o problema “Quem é o „meu senhor‟ do Salmo 110?”. No
final da pesquisa encerraremos a discussão concluindo que Jesus se encaixa perfeitamente no
perfil messiânico e que o título cristológico “Filho de Davi” utilizado frequentemente nos
evangelhos confirma sua identidade como um herdeiro do glorioso rei de Israel e como o
“ungido de Deus” que veio governar o seu povo.
Por se tratar de uma monografia para a conclusão do curso de bacharel em teologia,
outras questões permanecerão sem discussão neste trabalho, sobretudo algumas de âmbito
estritamente judaico. Portanto, nosso foco se concentrará apenas em descrever acerca de Jesus
como cumprimento à luz da primeira declaração profética do Salmo 110. Todavia, outro alvo
que almejamos alcançar por meio desta pesquisa é o de fornecer aos estudantes e pregadores-
leigos, orientações e diretrizes de como anunciar Cristo a partir do texto veterotestamentário
lembrando que “[…] o método cristocêntrico complementa o método teocêntrico de interpre-
tação do Antigo Testamento procurando fazer justiça ao fato de que a história de Deus de tra-

4
Nossa pesquisa julga sua expressividade com base na sua importância para o protestantismo, por isso as obras
de teologia bíblica, hermenêutica e comentários mencionados neste tópico são todas de cunho protestante, com
exceção daquelas expressamente identificadas.
5
Equivalente ao Livro de Salmos “a palavra hebraica para o livro é tehillîm (do hebraico ‫ )תהילים‬onde encon-
tramos uma coleção de cento e cinquenta cânticos da vida religiosa e da adoração hebraica – cânticos do coração
do povo e que refletem suas experiências pessoais. Podemos afirmar que os salmos representam o antigo hinário
do povo de Deus” (ARNOLD ; BEYER, 2001, p. 304).
14

zer seu reino sobre a terra é centrada em Cristo – Cristo, o centro das Escrituras 6 […]”
(GREIDANUS, 2006, p.259). Em outras palavras, este autor ratifica que “[…] na pregação de
qualquer porção das Escrituras, deve-se estender sua mensagem à luz deste centro: Jesus, o
Messias” (2006, p. 259).

6
Ressaltamos que o próprio Senhor Jesus Cristo afirmou essa chave hermenêutica, quando no caminho de
Emaús disse aos discípulos: “Então, lhes disse Jesus: Ó néscios e tardos de coração para crer tudo o que os pro-
fetas disseram! Porventura, não convinha que o Cristo padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por
Moisés, discorrendo por todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras. A
seguir, Jesus lhes disse: São estas as palavras que eu vos falei, estando ainda convosco: importava se cumprisse
tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos” Lucas 24. 25-27; 44. [Itálico nos-
so].
15

2 OS ASPECTOS HERMENÊUTICOS DA POESIA HEBRAICA

O primeiro passo da nossa pesquisa é fornecer uma visão abrangente da interpretação


bíblica, tendo em vista a importância e necessidade do assunto para uma melhor compreens-
são do texto sagrado. O estudo da hermenêutica é indispensável na vida de um pregador e de
um exegeta, se de fato ele almeja extrair das Escrituras o verdadeiro significado de sua men-
sagem. Para Berkhof podemos definir hermenêutica como “[...] a ciência que nos ensina os
princípios, as leis e os métodos de interpretação” (2008, p. 11). Da mesma forma Kaiser e
Silva falando sobre a necessidade da hermenêutica dizem “[...] que pelo o fato da Bíblia ser
um livro divino isso exige de nós algum treinamento especial para entendê-la” e reforça “[...],
além disso, também é um livro humano” (2009, p. 16).
Já Zuck, citando Terry, afirma que a hermenêutica pode ser classificada como uma ci-
ência e uma arte:

Na qualidade de ciência, enuncia princípios, investiga leis do pensamento e da lin-


guagem e classifica seus fatos e resultados. Como arte, ensina como esses princípios
devem ser aplicados e comprova a validade deles, mostrando o valor prático que têm
na elucidação das passagens mais difíceis. Portanto, a arte da hermenêutica desen-
volve e constitui um método exegético válido (1994, p. 21).

Dessa forma, fica claro que não podemos dispensar o estudo da hermenêutica e muito
menos coloca-lo em segundo plano. Se realmente anelamos pregar todo o designío de Deus,
conhecer a sua vontade e expôr a sua Palavra com autoridade e segurança, precisamos dar
uma atenção especial ao estudo da interpretação bíblica. Diante disso, nosso próximo passo
será uma analise dos diversos gêneros que encontramos nas Escrituras e a importância do
mesmo para o trabalho exegético.

2.1 Os gêneros literários segundo a hermenêutica bíblica e sua importância para a ativi-
dade exegética

Como vimos, hermenêutica bíblica é o campo da teologia cristã que lida com a inter-
pretação do texto sagrado, e consequentemente com o estudo dos gêneros literários. Destaca-
mos que o trato com o estilo de linguagem é uma etapa indispensável no processo interpreta-
tivo, logo, o individuo que está examinando o texto e deseja extrair dele seu verdadeiro signi-
ficado, não poderá ignorar este elemento, pois “[...] para interpretar o “lá e antigamente” dos
16

textos bíblicos, você não somente precisa saber algumas regras gerais [...] você deve aprender
as regras especiais que se aplicam a cada uma das formas literárias (gêneros)” e mais “[...] a
forma como Deus nos comunica sua Palavra “aqui e atualmente” frequentemente diferirá de
uma forma para outra” (FEE; STUART, 2013, p. 30).
Sob o mesmo ponto de vista Longam (2015)7 comenta que um dos fatores mais impor-
tantes de ter em mente quando você lê o Antigo Testamento ou o Novo Testamento é saber
que gênero você tem em suas mãos, e ele ressalta, que estes tipos diferentes de leitura levan-
tam certa expectativas por parte dos leitores, daí a necessidade de examinar a matéria. Toda-
via, a primeira indagação que devemos fazer a fim de entendermos é: mas, afinal, o que é gê-
nero literário?
Segundo Zuck:

Gênero é uma palavra derivada do latim genus, significa estilo literário. E se refere à
categoria ou ao tipo de escrito caracterizado por determinada(s) forma(s) e conteúdo
ou um dos dois. Enfim, a identificação dos diversos gêneros (ou tipos de literatura)
nas Escrituras ajuda-nos a interpretá-las com maior precisão (1994, p. 147)

Para corroborar com sua definição de “gênero” o autor cita os quatro artigos8 da De-
claração de Chicago sobre Hermenêutica Bíblica9, com intuito de deixar claro para o leitor
que existe um consenso entre os teólogos bíblicos quanto as divisões, ou o reconhecimento
dos vários usos literários no Antigo e Novo Testamento.
Dessa forma, concluímos que “[…] gênero é a categoria de composição literária […]
escolhida pelo o autor para transmitir uma mensagem […]” (ERICKSON, 2011, p. 86). Outro
ponto importante neste assunto é que “[…] o gênero ou o tipo de literatura em que se encontra
determinada passagem fornece “as regras do jogo de linguagem”, ou seja, os princípios her-
menêuticos pelos os quais se interpreta o texto” (OSBORNE, 2009, p. 32). Com isso, fica

7
Vídeo disponível em português no site da Escola Teológica Charles Spurgeon
<https://www.youtube.com/watch?v=YBTyMG4vIpg>
8
Art. X. Declaramos que as Escrituras transmitem-nos a verdade de Deus verbalmente por meio de uma grande
variedade de estilos literários […] Art. XIII. Declaremos que a categoria literária, da forma e da estilística, das
diversas seções das Escrituras é essencial para uma exegese correta, e, portanto, consideramos a crítica literária
uma das mais disciplinas do estudo bíblico […] Art. XIV. Declaramos que, apesar de o registro bíblicos de acon-
tecimentos, discursos e declarações acontecer por meio de uma série de estilos literários legitímos, esse registro
corresponde aos fatos históricos […] Art. XV. Declaramos a necessidade de interpretar a Bíblia de acordo com
seu sentido literal, normal. O sentido literal é o sentido gramatical e histórico, ou seja, o expressado pelo autor. A
interpretação literal leva em conta todas as figuras de linguagem e os estilos literários existentes no texto. (apud
ZUCK, 1994, p. 147).
9
Este documento foi formulado numa conferência realizada em Chicago e patrocinada pelo International Coun-
cil on Biblical Inerrancy e publicado no Journal of the Evangelical Theological Society 24: p. 397 – 401, em
1982. Disponível em http://www.monergismo.com/textos/credos/declaracao_chicago.htm
17

claro, que sem uma compreensão adequada dos usos literários das Escrituras, o interprete fica
impossibilitado de chegar a uma compreensão correta da Palavra de Deus. Por isso, comen-
tando sobre a importância deste assunto para um expositor da Palavra, Schmutzer nos fala:

Assim como uma chave está para uma porta, a identificação do gênero leva a uma
leitura “correta” e “abre” as possibilidades interpretativas necessárias para o exposi-
tor pregar o texto e os ouvintes o colocarem em prática [...] isso ocorre até nos casos
em que um gênero mais complexo é transmitido [...] o público que o ouve (isto é,
“que a ele é submetido”) é capacitado a entender a mensagem, aplicá-lo ao seu dia a
dia (apud KOESSLER, 2010, p.164).

Não restam dúvidas que o uso consciente dos princípios de interpretação, somados ao
conhecimento dos gêneros bem como a preserveção de sua identidade literária fornecem ao
expositor uma maior absorção da verdade bíblica. E com isso, o objetivo de entender o texto e
comunicar a sua fiel mensagem aos ouvintes torna-se possível. Como disse Anglada ao co-
mentar sobre o valor da hermenêutica bíblica na vida de um pregador “não podemos subesti-
mar a importância dessas disciplinas [...] com suas metodologias [...] e técnicas [...] que tanto
auxiliam os interpretes a avançar na compreensão da Bíblia” (2006, p. 21). Por isso, nosso
próximo passo nesta pesquisa, será um estudo acerca dos aspectos basilares da poesia hebrai-
ca, com ênfase no livro de Salmos.

2.2 Fundamentos da literatura poética

Segundo Futato, podemos definir poesia hebraica10 como “[...] um tipo de literatura
que se comunica com linhas concisas que empregam paralelismo e imagens com grande fre-
quência” (2011, p. 14). Além disso, ele destaca que “o uso consistente e contínuo destas ca-
racteristicas [...] servem como marcadores, ou seja, distingue a poesia hebraica da prosa”
(2011, p. 14). Outro dado importante é o que nos diz Hill e Walton quanto ao uso frequente da
poesia nas Escrituras, vejamos:

[...] os estudiosos reconhecem que a poesia compreende cerca de um terço do Anti-


go Testamento hebraico. Ela varia de trechos breves (Gn. 4. 23,24; Nm 21. 18; 1 Sm
18. 7) a composições inteiras como cânticos, hinos e oráculos (Gn. 49. 2-27; Êx. 15.

10
É importante destacar que “... poesia hebraica não é poesia ocidental. A poesia ocidental clássica é construída
em torno de convenções de métrica, rima e ritmo [...] enquanto a poesia ocidental emprega uma métrica identifi-
cavel, a hebraica pode ser mais adequedamente descrita como tendo um “ritmo flexível”. A poesia ocidental se
vale de técnicas clássicas de rima, ao passo que a hebraica apresenta a “ritma de ideias”, e não de palavras.
(SCHMUTZER apud KOESSLER, 2010, p. 160).
18

1-18; 1 Sm 2.1-10) no Pentateuco e nos livros históricos; de obras poéticas longas e


adornadas de Jó e Salmos à prosa oracular expressiva e ousada de Isaias 40 – 66,
Naum e Habacuque.” (2007, p. 334).

Com isso, percebemos que embora a poesia esteja mais concentrada em livros especi-
ficos, também é importante observar que encontramos poemas e linguagem poética espalhada
por todo o cânon das Escrituras. Dessa forma, “[...] isso exige que tenhamos mais habilidade
com este tipo de literatura onde quer que ela apareça, e não apenas onde esperamos encontrá-
la” (apud SCHUMTZER, 2010, p. 159), pois, sua ocorrência é algo comum na Palavra de
Deus.
No entanto, nossa pesquisa se concentrará na poesia hebraica como registrada no livro
de Salmos, até porque “[...] por apresentar maior concentração de poemas e ser o livro mais
comum nos “Manuscritos do Mar Morto”11, ele é considerado o principal exemplo de expres-
são poética em todos os níveis” (apud SCHUMTZER, 2010, p. 159). Além disso, Schmutzer
relembra “[...] que o Novo Testamento cita Salmos mais que qualquer outro livro, especial-
mente os salmos 2, 22, 110, fato que aumenta sua relevância teológica.” (apud 2010, p. 159).
Portanto, no próximo passo de nossa pesquisa, abordaremos de forma panorâmica os elemen-
tos que dão forma a poesia hebraica, que são: os padrões de métrica, o paralelismo e as figu-
ras de linguagem e imagens.

2.2.1 Padrões de métrica

Futato comenta que “os poetas hebreus usaram padrões estruturais ao organizar suas
composições” e acrescenta “[...] eles usaram padrões em todos os níveis de sua poesia – li-
nhas, estrofes, e poemas inteiros.” (2011, p. 38). Por isso, precisamos aprofundar o nosso en-
tendimento e a nossa apreciação a respeito deste recurso, pois “um conhecimento básico de
métrica é importante para permitir ao leitor um pouco mais de habilidade com a poesia he-
braica” (OSBORNE, 2009, p. 287). Confirmando isto, os professores de Antigo Testamento,
Dillard e Longam III, citando um magistral trabalho do bispo Lowth12 no séc. XVIII, afirmam

11
Segundo Elledge “[...] foram encontradas trinta e nove cópias de Salmos entre os Manuscritos do Mar Morto.
Isaias fica em segundo lugar, com vinte e quatro cópias.” (2005 apud KOESSLER, 2010).
12
Robert Lowth (1710 - 1787), foi bispo da Igreja da Inglaterra, Professor na área de Poesia Bíblica em Oxford,
e autor de um dos livros mais influentes do século XVIII. O Bispo Anglicano foi responsavél por explorar o
valor estético dos textos hebraicos, além de criar o termo “paralelismo de membros” aplicado ao texto bíblico. Já
em 1778, como fruto de suas pesquisas no campo da poesia hebraica, destacou as três éspecies de paralelismo,
distinguindo-o como sinonímico, antitético e sintético.
19

que “[...] a métrica, juntamente com o paralelismo é uma das principais características da poe-
sia hebraica” (2006, p. 26).
Por outro lado, não podemos esquecer que “a natureza exata da métrica permanece um
tema em debate, pois as características formais constituintes da poesia hebraica ainda não
estão bem definididas” (HILL; WALTON, 2007, pp. 345, 346), até porque, como diz Hill e
Walton “[...] a poesia hebraica foi suposta com base na analogia com outros tipos de poesia”
(2007, p. 345). Da mesma forma, confirma Dillard e Longam III ao destacar “[...] que os pri-
meiros exegetas, formados pela retórica clássica, procuravam identificar os cânones métricos
dos poemas hebreus usando as categorias de poesia clássica”13 (2006, p. 26).
Mas, embora, a discussão acerca da legitimidade da métrica da poesia hebraica exista,
mesmo assim, vemos escritores na área da exegese bíblica como é o caso de Futato afirmando
“[...] que existem três padrões básicos a serem analisados [...] o linear, o paralelo e o simétri-
co”. (2011, 38). Vejamos as características de cada um deles:
a) Padrão linear: é o padrão mais comum e o mais fácil de acompanhar. Nele, as
unidades se seguem em uma ordem não repetida com cada letra representando uma
unidade (FUTATO, 2011, p. 38). O Salmo 2. 6 é um exemplo de uma linha linear:

A
E eu / B constituí / C meu Rei //
D
sobre Sião, / E o meu santo monte.

Esta linha seria representada assim: A B C // D E (com // indicando a quebra entre


uma linha14).
b) Padrão paralelo: é bem comum no Antigo Testamento e é tipicamente formado
por uma linha, onde as partes de se combinam. Observe o Salmo 19. 1:

A
Os céus / B proclamam / C a glória de Deus //
A
e o firmamento / B anuncia / C as obras das suas mãos.

Esta linha seria representada assim: A B C // A B C. Dorsey destaca que “além de sua
beleza estética e do seu auxílio à memorização, esse padrão comunica significado ao leitor ao
„comparar, contrastar, reiterar, enfatizar, explicar e ilustrar‟” (1999, p. 26, 35, apud FUTATO,
2011, p. 39).

13
Josefo, Agostinho e Jerônimo (DILLARD e LONGAM III, 2006, p. 26).
14
“a linha é a unidade básica da poesia hebraica” (FUTATO, 2011, p. 17).
20

c) Padrão simétrico15: Tal como o padrão paralelo, o padrão simétrico envolve repe-
tição. A diferença é que o padrão simétrico adiciona uma invenção de ordem à re-
petição (FUTATO, 2011, p. 39).

A
Lava-me completamente / B da minha iniquidade //
B
e do meu pecado / A purifica-me.16

Esta linha serie representada assim: A B // B A. Futato ressalta que “nenhuma tradu-
ção em português segue a ordem do texto hebraico neste ponto” (2011, p. 41).
Deste modo, as palavras de Fee e Stuart fazem sentido quando eles comentam que
“[...] os salmistas se deleitavam em certos arranjos [...] ou nas repetições de palavras e sons,
bem como em jogos estilísticos com palavras” a fim de enaltecer a sua mensagem (2011, p.
252). Sendo assim, percebemos que os padrões de métrica no livro de Salmos, na verdade,
nos ajudam não apenas a sentir a poesia, mas também a entendê-las melhor.

2.2.2 Paralelismo

De acordo com Hill e Walton “[...] o veículo principal de transmissão da estrutura de


pensamento na poesia hebraica é a característica chamada de “paralelismo de termos consti-
tuintes” (2007, p. 342)”. E ele ressalta “[…] essa foi à forma mais difunfida nos círculos lite-
rários do Antigo Oriente Médio” (HILL; WALTON, 2007, p. 342), além disso, o paralelismo
foi desenvolvido com grande habilidade pelos poetas hebreus, uma prova disso é o livro de
salmos. O livro de Salmos é uma coletânia de paralelismos, daí a ênfase de Ellisen (1993, p.
164) acerca deste assunto, observe:

[…] parelelismo é a tecnica poetica básica da poesia hebraica, e tem de ser reconhe-
cida para o livro de salmos ser bem entendido17 […] interpretar poesia como prosa e
deixar de reconhecer adequeadamente essa técnica hebraica, ou deturpará as ideias
paralelas, ou fará com que pareçam rídiculas.

Em outras palavras, o paralelismo “raramente está ausente da poesia” (DILLARD;


LONGAM III, 2006, p. 25), ele é, como disse Futato “o meio pelo o qual os poetas hebreus

15
O padrão simétrico também é denominado de quiasmo ou padrão concêntrico. (FUTATO, 2011, p. 40).
16
A inversão do versículo corresponde à tradução do autor.
17
Itálico nosso.
21

expressaram seus pensamentos, inclusive no saltério” (2011, p. 22). Portanto, conforme as


palavras de Kaiser e Silva citando o trabalho do bispo Lowth, “o paralelismo constitui na
principal característica da poesia veterotestamentária” (2009, p. 84).
Em suma, segundo Longam, o paralelismo “[…] se refere à correspondência que ocor-
re entre as setenças de uma linha poética” (apud FUTATO, 2011, p. 23). Em outras palavras,
“podemos dizer […] que é um relacionamento de correspondências entre duas declarações
que juntas, formam um só verso” (FUTATO, 2011, p. 23). Todavia, não podemos esquecer
que existem vários tipos de paralelismo nas Escrituras, e a identificação de cada de um é uma
tarefa extremamente relevante para o interprete biblico. Como bem fala Ellisen, “os mais im-
portantes tipos são: o sinônimo, o antitético e o sintético.” (1993, p. 145). Vejamos de-
talhadamente cada um deles:
a) Sinônimo: sua característica central é que “[...] a segunda linha da forma poética
repete a idéia da primeira linha sem fazer qualquer adição ou subtração significati-
va a ela” (KAISER e SILVA, 2009, p. 84). Do outro lado nos lembra Osborne,
“[...] que muitas vezes isso inclui paralelos gramaticais, quando o segundo verso se
equipara gramaticalemente ao primeiro e, assim, também se equipara em signifi-
cado” (2009, p. 289). Veja o salmo 92. 12:

1A
O justo florescerá como a palmeira,
1B
Crescerá como o cedro no Líbano.

b) Antitético: “a segunda linha da poesia contrasta ou nega o pensamento e sentido da


primeira linha [...] o livro de Provérbios é especialmente rico em exemplos desse
tipo de paralelismo” (KAISER; SILVA, 2009, p. 85). Contudo Osborne ressalta
“[...] que apesar disso, ele ainda constitui um paralelismo, pois o segundo verso re-
toma o primeiro afirmando o oposto” (2009, p. 293). Confira o salmo 20. 7:

1A
Uns confiam em carros, outros, em cavalos;
2A
nós, porém, nos gloriaremos em o nome do SENHOR, nosso Deus.

c) Sintético: “esta não exibe uma rima de pensamento e um paralelismo de idéias,


como as outras duas formas de paralelismo [...] apesar de as linhas póeticas nesta
modalidade serem paralelas na forma [...] aqui não exise harmonização nos pen-
samentos” (KAISER; SILVA, 2009, p. 85). Como enfatiza Futato “neste tipo não
22

se diz a mesma coisa, seja com palavras diferentes ou opostas” (2011, p. 27). Um
exemplo é o salmo 148. 7 – 12:

Louvai ao SENHOR da terra,


A
monstros marinhos e abismos todos;
B
fogo e saraiva, neve e vapor
C
e ventos procelosos que lhe executam a palavra;
D
montes e todos os outeiros,
E
árvores frutíferas e todos os cedros;
F
feras e gados,
G
répteis e voláteis;
H
reis da terra e todos os povos,
I
príncipes e todos os juízes da terra
J
rapazes e donzelas,
L
velhos e crianças.

Dessa maneira, vale lembrar as palavras de Futato que diz “[…] compreender o para-
lelismo e como ele funciona enriquece a nossa experiância em ouvir Deus falar a nós por
meio dos salmos” (2011, p. 29), pois como disse Fee e Stuart “[…] os salmos foram compos-
tos pelos os israelitas para o uso na adoração, e no culto […] queremos dizer que eles serviam
a função crucial de estabelecer uma conexão entre o adorador e o Deus Todo Poderoso”
(2011, p. 253). Por isso, quanto melhor compreendermos a natureza dessa literatura e todos os
meios que a mesma utiliza para transmitir a verdade da Palavra de Deus será válido, princi-
palmente, no que se refere ao paralalelismo.

2.2.3 Figuras de linguagem e imagens.

O terceiro elemento que dá forma a poesia hebraica são as figuras de linguagem e as


imagens. Segundo Osborne “[...] os autores bíblicos, ou seja, os poetas hebreus utilizaram
deste recurso para ilustrar verdades espirituais apreendidas a partir das experiências cotidianas
do povo” (2009, p. 295). No entanto, elas não se limitam aos livros poéticos, pois como bem
nos lembram Kaiser e Silva, “estes recursos aparecem […] em narrativas, profecias, cartas e
23

em todos os outros gêneros” (2009, p. 88). De acordo com as palavras de Schokel citando o
valor das figuras no imaginário dos escritores cânonicos, ele diz que: “as imagens são a gló-
ria, talvez até à essência da poesia” e acrescenta “ela é o planeta encantado da imaginação,
uma gálaxia sem limites, sempre viva e sempre em mudança” (apud FUTATO, 2011, p. 30).
Portanto, fica claro que as figuras de linguagem e as imagens são marcas registradas
no saltério hebreu, elas estão por todas as partes “tocando as emoções e cativando a mente de
seus leitores” (FUTATO, 2011, p. 30). Calvino, por exemplo, comentando sobre a natureza
figurativa do livro de salmos disse “[...] tenho por costume denominar este livro de „uma ana-
tomia de todas as partes da alma‟, pois não há sequer uma emoção da qual alguém não tenha
participado” (2002, p. 33). Sendo assim, como fala Fee e Stuart “para ler Salmos e entender o
uso constante de figuras e imagens do livro […] você precisa apreciar a linguagem simbólica
para o que se prentende envocar e, assim, “traduzir” para a realidade o que está em foco”
(2011, p. 251).
Outro ponto de suma importância quanto ao uso de figuras de linguagem e imagens no
livro de salmos, é saber o que motivou os autores bíblicos a usarem esse recurso demasiada-
mente. Diante disso, vejamos o que nos diz Zuck (1994, p. 169, 170) sobre o assunto:

[…] os autores bíblicos, em especial no livro de salmos se utilizaram figuras de lin-


guagem porque elas acrescentam cor e vida […] chamam a atenção […] tornam os
conceitos abstratos ou intelectuais mais concretos […] ficam mais bem registradas
na memória […] sintetizam idéias […] estimulam a reflexão, […] devido ao seu as-
pceto de grande realismo elas dizem muito em poucas palavras.

Um exemplo claro na Escritura é o Salmo 133, que ao tratar da unidade e do bom rela-
cionamento entre os irmãos, menciona o epísodio da unção do sumo sacerdote com intuito de
ilustrar a verdade central da passagem exposta no verso 1. Vejamos:

1
Oh! Como é bom e agradável viverem unidos os irmãos!
A
É como o óleo precioso sobre a cabeça, o qual desce para a barba, a barba de Arão,
e desce ara a gola de suas vestes.
B
É como o orvalho do Hermom, que desce sobre os montes de Sião.
C
Ali, ordena o SENHOR a sua bênção e a vida para sempre.

Além disso, o interprete das Escrituras deve lembrar que apesar desses elementos esta-
rem presentes na literatura poética, nem todas as figuras de linguagem e imagens são interpre-
24

tadas da mesma forma18. De acordo com Bullinger “[…] existem mais de duzentas figuras de
linguagem […] e mais de oito mil ilustrações de seu uso nas Escrituras” dos quais estão “di-
vididos em figuras de comparação, adição ou inteireza de expressão, relação ou associação,
contraste e omissão” (apud KAISER; SILVA, 2009, p. 89).
Por fim, percebemos que a Bíblia contém muitas figuras e imagens em seu registro, e
que elas provarão ser uma rica fonte para reflexões, chamando nossa atenção “[...] para algo
que o autor quer realçar entre todas as informações do texto” (KAISER; SILVA, 2009, p. 94).
Nas palavras de Osborne “cada figura de lingaguem é uma ilustração que precisa ser descorti-
nada” e completa “[…] basta contextualizarmos para nosso tempo, e teremos uma ilustração
memorável das verdades divinas” (2009, p. 161).
Desse modo, após analisarmos os aspectos hermenêuticos da poesia hebriaca, bem
como a sua forma, na próxima etapa da pesquisa voltaremos a nossa atenção para um tema
dominante no Antigo Testamento, a expectativa judaica quanto à vinda do rei messiânico. No
entanto, considerando à amplitude do assunto nos fundamentaremos em examinar temática
tendo como ponto de partida o material poético, mas especificamente os salmos reais.

2.3 A expectativa judaica acerca do rei messiânico no material poético

À primeira vista, se existe um tema dominante nas Escrituras, “é a expectativa genera-


lizada acerca do Messias” (GRONINGEN, 2003, p. 73). Segundo Kaiser Jr “[...] uma das ca-
racterísticas centrais da revelação é a doutrina do Messias prometido” e diz mais “[...] ela está
por toda a Bíblia e não apenas em algumas poucas passagens isoladas ou escolhidas conforme
o esquema de profecia e cumprimento [...]” (2011, p. 16). Somando a isso, Groningen (2003,
p.21) destaca que “à medida que a revelação progredia e se desdobrava, e os vários messias
humanos juntamente com seus eventos e fenômenos retratavam o Ungido de Deus, [...] isso
dava mais clareza” e alimentava os anseios do povo em busca de um libertador, ou seja, de
um Messias.

18
Segundo Osborne (2009, p. 154 - 161) podemos catalogar seis tipos de figuras de linguagem, são elas: figuras
de comparação (símile e metáfora), figuras de acréscimo ou plenitude de expressão (pleonasmo, paronomásia,
epizeuxe ou epanadiplose, hipérbole e hendíadis), figuras de linguagem incompletas (elipse, zeugma e aposiope-
se), figuras envolvendo contraste ou atenuação (ironia, litótis, eufemismo e antítese) figuras de associação ou
relação (metonímia e sinédoque), e por fim, as figuras que sublinham a dimensão pessoal (personificação e após-
trofe).
25

Sobre essa questão, Costa enfatiza os elementos que contribuíram para a formação de-
sas expectativa na comunidade judaica pós-exilica (2002, p. 208, 209):

O povo judeu, após o cativeiro babilónico - iniciado em 587/ 586 a.C., tendo o povo
começado a retornar apenas em 537 a.C. chefiado por Zorobabel (cf. Ed 2.1ss) teve
vários dominadores estrangeiros (Persas, Gregos, Sírios, Romanos) que invadiram
suas terras [...] essas sucessivas invasões e o silêncio por parte de Deus, visto que
Deus não levantou nenhum profeta depois de Malaquias e a idéia dominante era que
o Espírito Santo de Deus se apagara devido ao pecado de Israel; e agora Deus só fa-
lava pelo eco de sua voz - contribuíram fortemente para a intensificação das espe-
ranças messiânicas.

E a respeito das varias concepções messiânicas (identidade), ele comenta:

[...] mesmo não havendo unidade e coerência no pensamento judeu quanto à figura
do Messias - falavam do Messias como profeta, ou como sacerdote ou como rei e até
mesmo como um anjo ao que parece, “a esperança de um Messias militar predomi-
nava”, o qual libertaria o povo das mãos dos opressores estrangeiros, subvertendo a
ordem estabelecida no dia chamado “Dia do Senhor” (COSTA, 2002, p. 209).

Por outro lado, quando nos debruçamos no material poético, logo percebemos que o
conceito messiânico ganha forma “por meio dos cantos, louvores e orações” da nação de Isra-
el (GRONINGEN, 2003, p. 319). Diante disso, Groningen levanta uma discussão: Pode al-
gum salmo ser considerado messiânico? Ou seja, podemos afirmar que no saltério temos alu-
sões há algum tipo de expectativa messiânica? Em resposta a tal questionamento ele diz:

Um estudo de certos salmos demonstrará como os três fatores – revelação anterior,


circunstancias histórica e experiencias pessoais – foram usados pelo Espírito do Se-
nhor para repetir, explicar, ampliar o real conceito messiânico antes revelado [...] e
esses salmos tratados dentro de suas perspectivas, podem ser considerados como fa-
zendo alusão ao tema messiânico [...] De acordo com Paton J. Gloag podemos en-
contrar mais de quaretna e três salmos com um caráter messiânico.

Diante desta informação de Groningen “somos levados a crer em uma elaboração do


conceito messiânico no material poético”19 (2003, p. 320, 321). E mais que isso, quando o
mesmo aparece, outros elementos estão diretamente ligados a ele, tais como “os ofícios de
Sacerdote, Profeta e Rei” (GRONINGEN, 2003, p. 31), algo que ficou perceptível no decorrer
da revelação. Quanto ao aspecto real do Messias prometido, Ferreira e Myatt destacam o fato
de que “Ele reinará a destra de Deus, e todos os seus inimigos serão derrotados e subjulgados”
(2007, p. 559), da mesma maneira, Futato falando sobre o termo ‫( למׁשיחו‬seu ungido) no livro

19
Gerard Van Groningen escreveu mais de setenta páginas acerca do caráter messiânico no material poético. Ele
dedicou a sua vida a estudar os aspectos veterotestamentários, dando atenção especial aos elementos cristológi-
cos na antiga aliança.
26

de Salmos, afirma que ele aponta para o fato de “[...] que o ungido de Deus, o descendente de
Davi, herdará o trono como rei e que governará soberanamente” (2011, p. 62).
Dessa forma, o material adequado para identificarmos a natureza deste reino messiâni-
co, são os chamados “salmos da relazeza” ou como bem coloca Fee e Stuart “[...] os salmos
de entronização [...] responsáveis por oferecer um pano de fundo para seu ministério de Mes-
sias, o ungido de Deus” (2011, p. 257). Por isso, no próximo passo de nossa monografia,
abordaremos os salmos reais, analisando sua mensagem, teologia e a importância dos mesmos
no processo interpretativo do Antigo para o Novo Testamento, e de que formam eles prepa-
ram o cenário teológico para o ministério de Jesus.

2. 3. 1 Salmos da realeza: a majestade de Deus e a glória de Seu reino.

Futato declara que a característica primária que identifica esta categoria é “[…] o foco
na realeza de Deus”, no entanto, outros temas corelacionados, segundo ele são “[…] as obras
de Deus na criação, redenção, julgamento, a supremacia do Senhor sobre os deuses das na-
ções e por fim, o cuidado universal de Deus pelos povos” (2011, p. 146). Da mesma forma
Chisholm Jr menciona “[…] resumimos o conteúdo dos salmos reais como […] autoridade e
soberania de Deus sobre a ordem criada […] no papel de rei universal, e aquele que governa
com o poder de guerreiro invencível” (apud ZUCK, 2009, p. 228). Portanto, temos por certo,
afirma Dillard e Longam III que a mensagem áurea dos salmos realeza é “[…] que Deus é o
Grande Rei, e Israel, representado pelo rei davídico – a nação vassala” (2006, p. 220).
Quanto a importância dos salmos reais, eles consistem em declarar abertamente o
domínio do Senhor. Futato falando acerca deste assunto nos diz “…a declaração de abertura
dos salmos 93, 97 e 99, se inicia com a afirmação ‫( יהוה מלך‬O SENHOR Reina), […] demos-
ntrando claramente a devoção e a crença do povo no Deus que reina” (2011, p. 147). Do
mesmo modo, Harman (2011, p. 42) em seu comentário do livro de salmos, ao tratar sobre o
tema da realeza, observa “[…] é quase surpreendente que o fator central da fé de Israel, de
que o Senhor era seu Rei, fosse tão proeminente nos cânticos do povo […] ao ponto de con-
vocarem as outros povos para reconhecê-lo como Deus-Rei”.
Além disso, outro fato marcante, que demonstra a relevância dos salmos régios, reside
no papel que o mesmo desempenhou na história da nação de Israel quando a monarquia foi
instaurada, observe o comentário de Kaiser Jr. “[…] os salmos reais estão saturados com a
ideologia da danistia davídica […], pois não foi somente o ofício real identificado como dei-
27

dade, bem como a própria pessoa do rei, com sua descendência […] que regeria como Deus
para sempre!” (2011, p. 133, 134). Neste caso, esta categoria de salmos não somente tipifica-
va acerca do futuro rei messiânico, como dava prova “[…] da aliança que Deus tinha feito
com Davi” e mais que isso “…situava abertamente a vinda de seu reino por meio de sua casa”
(ROBERTSON, 2002, p. 213).
Todavia, como enfatiza Merrill “[…] o não reconhecimento de Davi como um tipo de
rei messiânico acarretaria em grandes problemas” (2001, p. 243), não só pelo contexto histó-
rico de Israel, mas pelo “corpus teológico das Escrituras”, que dá testemunho de que o Cristo
do Novo Testamento não é outra pessoa, senão o Filho de Davi. Isto é, aquele que irá estabe-
lecer o seu trono entre os homens e governá-los com o cetro de seu poder (Sl. 110. 2). Além
do mais, negar o aspecto real do Messias prometido, também trará implicações quanto ao seu
clímax escatológico, pois como bem disse Groningen:

Javé [reinando por meio de Davi] era o único Deus que os salmistas conheciam […]
Ele era seu Deus eterno de quem escreviam e cantavam. Seu nome, atributos e rei-
nado eram, são e serão tão sempiternos como é o próprio Deus. Ele é o Senhor sobe-
rano e trará todos os aspectos cósmicos a seu estado final de perfeição. Os salmistas,
por meio dos salmos reais, cantaram sobre esse Deus pactual como o Senhor sobe-
rano e escatológico (2008, p. 335).

Em vista disso, notamos que os salmos reais longe de serem insignificantes, são os
meios pelo qual a esperança messiânica se manteve viva, na certeza de que Deus enviaria o
seu Ungido para “estabelecer a ordem cósmica e trazer vida abundante (Sl 96. 10 – 13; 98. 7 –
9)” (FUTATO, 2011, p. 159). Já que “[…] o ideal de um rei davídico justo e temente a Deus
nunca foi completamente atingido no antigo Israel” (CHISHOLIM, apud ZUCK, 2009, p.
239). Enfim, esta categoria de salmos desempenhou um papel fundamental no processo reve-
lacional, pois a medida que o tempo passava eles preparavam o cenário “…para a vinda do
Rei messiânico […] que viria restaurar Israel e estabelecer a salvação eterna” (ARNOLD;
BEYER, 2001, p. 309).
Apesar de tudo o que foi dito, somente à luz do Novo Testamento teremos uma visão
completa dos aspectos reais aplicados ao ministério messiânico do Filho de Davi. Assim co-
mo, da dimensão dos salmos reais para os autores dos evangelhos, no seu processo de regis-
trar os feitos do Ungido do Senhor. A totalidade dos atos de Deus desde a criação envolve o
foco de Deus em Cristo, na sua vinda, na sua obra redentora, pois tudo está direcionado para
Ele, o Messias, isto é, o Senhor da Nova Aliança.
28

No entanto, para uma melhor comprenssão de nossa pesquisa concernente à identidade


do rei messiânico, nos próximos tópicos faremos uma análise de cunho exegético do Salmo
110. 1 – 3. Isto é, do primeiro dito de Davi referente ao futuro rei que assentará a destra do
Senhor. Dando total atenção as formulações gramaticais, os dados contextutais e, examinando
as implicações do mesmo para a mensagem poética das Escrituras. Em seguida, analisemos
como foi historicamente interpretado a passagem no Judaismo do segundo templo, buscando
compreender o motivo que levou a inutiliazação do texto naquele período. No final, olhare-
mos para o Novo Testamento, em especial para o registro do evangelista Mateus, na ocasião
em que Jesus se envolve numa discussão com os fariseus e sauduceus e faz o uso do Salmo
110. 1 com a finalidade de responder a uma indagação referente a sua ascedência davídica.
29

3 A IDENTIDADE DO “MEU SENHOR” NO SALMO 110

Na primeira parte desta pesquisa nos concentramos nos aspectos introdutórios, ou seja,
os fundamentos da poesia hebraica e a expectativa messiânica como revelado no material poé-
tico, com um olhar especial para os salmos reais. Desta seção em diante, esboçaremos acerca
da natureza mais técnica de nossa monografia. Faremos uma análise histórica quanto a inter-
pretação do Salmo 110 no período do Segundo Templo, e as várias interpretações do mesmo
segundo a tradição rabínica. Posteriormente, apresentaremos a exegese de nosso texto (Sl.
110. 1 – 3), contrastando com o que temos explanado até aqui, quanto ao entendimento do
ofício real do Messias prometido. Por fim, examinaremos suas implicações para a mensagem
do Novo Testamento, em especial, no registro do evangelista Mateus ao descrever a discussão
entre Jesus e os fariseus no capítulo 22.
Todavia, antes de seguirmos com o esquema apresentado, temos que fazer duas res-
salvas. A primeira, precisamos fazer delimitação do nosso parágrafo e justificar os limites de
nossa passagem, expondo os motivos que nos fizeram escolher os três primeiros versículos de
todo capítulo. A segunda, é quanto aos mais de 400 anos conhecidos como “Segundo Tem-
plo”. É de suma importância entendermos a diversidade do judaísmo neste período, além das
características comuns da interpretação do saltério no que se refere a identidade do rei messi-
ânico. Sendo assim, sigamos em nossa pesquisa, com intuito de melhor entendermos a relação
entre ambos os testamentos na tarefa de revelar o reinado do ungido do Senhor.

3.1 Limites da passagem e justificativa.

O salmo 110 é “[…] o capítulo do Antigo Testamento mais citado no Novo” (CAR-
SON, 2015, p. 169). Como vimos anteriomente, ele é considerado um dos salmos reais e mes-
siânicos da poesia hebraica e está estruturado em torno de dois oráculos proféticos. Como
afirma Carson (2015, pp. 174-176):

[…] ele é composto de dois oráculos, cada um seguido por um comentário […] e o
Novo Testamento cita essa breve expressão “assenta-te à minha direita”, como faz
alusão à ela a todo momento. No total, são seis inferêcias teológicas20 sobre o Mes-

20
1º Ele é maior que Davi (Cf. At 2.34); 2º Ele é maior que os anjos (Cf. Hb. 1.13); 3º Ele está exaltado ao lado
de Deus (Cf. At. 5. 31); 4º O assentar-se à direita de Deus é o fundamento de sua intercessão em nosso favor (Cf.
Rm. 8.34; At. 5.31); 5º O assentar-se à direita de Deus indica que seu sacrifício se completou (Cf. Hb. 10.11,12);
6º Ele aguarda aderrota e a rendição definitiva de seus inimigos (Cf. Hb. 10. 12,13). (CARSON, 2015, p. 176).
30

sias extraídas de uma única frase. […] Isso demonstra à importância e o valor do
Salmo 110 para a revelação bíblica e a Cristologia.

Quer dizer, a figura do rei é muito clara uma vez que no primeiro pronunciamento da
passagem (v.1 – 3), temos uma palavra do Senhor acerca daquele que se assentará no trono.
Do mesmo modo, no mesmo capítulo, o ofício sacerdotal é afirmado (Cf. 4 – 6), ratificando
que o Messias prometido também exerceria suas funções quanto ao culto a Deus. Para que
tenhamos uma visão abragente do mesmo, analisemos à estrutura proposta por Groningen
(2003, p. 376) e vejamos as relações entre “oráculos” e suas “atribuições”21:

Sobrescrito: autor (Davi), gênero (salmo/poesia)


Introdução: gênero (profecia), autor (Eu Sou)
Destinatário: (Senhor)
A primeira parte; Senhor como Rei
A1 – Pronunciamento Divino:
Tu és Rei (v. 1b)
B1 – Elaboração:
Assenta-te à minha direita até que eu ponha
os teus inimigos debaixo dos teus pés (v. 1c)
C1 – Explanação:
1. Cetro de Sião (v. 2a)
2. Reina no meio dos teus inimigos (v. 2b).
3. Resposta do povo (v. 3)

Introdução: gênero (um juramento)


Segunda parte: Senhor como Sacerdote
A2 – Pronunciamento Divino:
Tu és Sacerdote (v. 4c)
B2 – Elaboração:
Segundo a ordem de Melquisedeque (v. 4.d)
C2 – Explanação:
1. Senhor à mão direita (v. 5a)

21
Fizemos algumas alterações na estrutura de Groningen, a fim de destacar outros pontos da passagem.
31

2.Sê vitorioso sobre inimigos (vv. 5b,6)


3. Resposta (v. 7).

Três fatores importantes são destacados quando se consideram os vários aspectos da


estrutura do salmo, que é organizado em torno de dois pronunciamentos divinos. De acordo
com Groningen, “[…] primeiro, o salmo dirige-se à mesma pessoa, primeiro como rei e de-
pois como sacerdote […] segundo, as afirmações que se seguem as declarações referem-se
diretamente ao precedente: a primeira ao rei, a segunda ao sacerdote” e completa “[…] as
explanações, entretanto, referem-se, em ambos os casos, ao rei e à sua obra.” (2003, p. 375).
Por fim, ele destaca “[…] as explanações são paralelas; C1-1 é paralela a C2-1; C1-2 é parale-
la a C2-2; e C1-3 é paralela a C2-3” (GRONINGEN, 2003, p. 375). Assim, à ambos os ofícios
dá-se igual status nos pronunciamentos, enquanto que as explanações destacam o ofício e as
obras reais.
Por outro lado, nossa pesquisa consiste em analisar o apsecto real declarado no salmo
110, bem como as declarações de YWHW ao meu Senhor. Portanto, nos limitaremos aos pri-
meiros versos (v.1-3), uma vez que o foco de nosso trabalho, é verificar a ideía de um rei
messiânico e a interpretação do mesmo, à luz discurso de Jesus no evangelho mateano.

3.2 O Salmo 110 no Judaísmo do Segundo Templo.

A era comumente referida como o período do segundo templo, “[…] data de 516 a.C,
tempo da construção e dedicação, até a destruição deste pelos romanos, por volta de 70 d.C”
(WALKTE; HOUSTON; MOORE; 2015, p. 27). Os anos que antecederam a esta era foram
marcados segundo Harrison por “[…] invasões e conquistas de outros povos […] e pelas con-
fusões e disputas entre os impérios” (2010, p. 284). Em outras palavras, o retorno do povo
judeu à Judá, demolida após passar aproximadamente setenta anos de exílio na Babilônia, a
redução de uma nação independente a uma pequena provínvia nos isolamentos do governo
Persa, a dispersão judaica, as conquistas de Alexandre, o Grande, a difusão do helenismo, as
guerras dos macabeus, a restauração do estado judeu e o domínio romano na Palestina “[…]
tudo influenciou a forma com a qual a comunidade pós-exílica se compreendeu e como os
vários grupos interpretaram e apropriaram-se das Escrituras e dos Salmos em particular”
(WALKTE; HOUSTON, 2015, p. 27).
32

Uma prova disso foi o fato de que o judaísmo do Segundo Templo adotou um conjun-
to de estratégias para conciliar a realidade presente com a expectativa bíblica, “[…] renovan-
do assim, o interesse e a reflexão pelos textos sagrados, principalmente no estudo das promes-
sas messiânicas encontradas no saltério” (WALKTE; HOUSTON, MOORE; 2015, p. 28).
Nesse período, houve uma crescente apropriação escatológica dos explícitos salmos régios,
interpretados como apontando para o julgamento e vingança perpetrados pelo dia do Eu Sou”.
Dessa forma, podemos afirmar “[…] que o foco teológico mudou da história monarquica da-
vídica para um futuro indefinido quando se esperava que as promessas davídicas fossem
cumpridas no reinado messiânico” (TOURNAY, 1991, p. 46, 67)22.
Contudo, embora houvesse uma expectativa messiânica, o que fica claro nos “[…]
manuscritos do Mar Morto […] que refletem a crença em dois Messias, um político e um sa-
cerdotal” (DAVIES; ROGERSON, 2002, p. 222), esse período também foi marcado por um
desprezo pelo o Salmo 110. Segundo Orlandi (2015)23 “[…] ele não foi citado nos escritos
judaicos desta época […] mas, posteriormente, aparece nos Talmudes24 e nas obras rabíni-
cas”. E nessas obras, o mesmo aparece com diferentes interpretaçãoes quanto a identificação
do “meu Senhor”.
Portanto, diante dos dados levantados, reconhecemos a importância e a necessidade de
descobrirmos a verdadeira identidade do “Meu Senhor” do Salmo 110. E com isso, observar-
mos o seu impacto para a mensagem messiânica no Novo Testamento.

3.3 As posições quanto identificação de “Meu Senhor”

Nesta seção da monografia, avaliaremos as posições concernentes ao “Meu Senhor”,


quais os principais argumentos, e como elas se relacionam com a verdade das Escrituras. Con-
forme Waltke, Houston e Moore (2015, p. 537) “a erudição moderna, quanto ao Salmo 110. 1
defende quatro candidatos […] concordando assim, com a sentença do criticismo histórico”25.

22
Todas as citações diretas das obras que ainda não possuem versão em português são de nossa autoria.
23
Artigo disponível em <http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=460>
24
É um livro sagrado dos judeus, contendo o material existente para o estudo da interpretação rabínica do Antigo
Testamento. Usamos no plural porque existem dois deles: o Talmude de Jerusalém e o da Babilônia. O primeiro
é menor e menos elaborado. Foi feito na Palestina e é o produto das discussões dos rabinos do período amoraico
sobre a interpretação do Mishna (200 – 500 d.C), e ganhou forma escrita no 5º século. O segundo contém os
ensinamentos dos rabinos das academia da Pérsia, e é bem maior e mais sofisticado. (LOPES, 2007, p. 53)
25
O criticismo histórico é um termo usado para se referir a um método de interpretação que procura ler a Bíblia
como um documento puramente humano do passado distante. Em outras palavras, o método crítico-histórico
tipicamente não considera a Bíblia como divinamente inspirada. Ela é meramente um livro humano, como qual-
quer outro, e assim deve ser lida como qualquer outro livro (JOWETT apud GUY; 1998, p. 295).
33

Igualmente, “[…] tanto o Talmude, como as interpretações rabínicas do primeiro século, tem
pelo menos o entendimento de quatro figuras diferentes quanto ao meu Senhor” (ORLANDI,
2015). Entretanto, em resposta a cada uma dessas interpretações, apresentaremos também os
pontos fracos, bem como a inconsistencia bíblica de suas afirmações. Preparando as bases,
para o próximo tópico de nossa pesquisa, onde apresentremos a verdadeira identidade do
“Meu Senhor”.

3.3.1 O servo Abraão

Diante de tantas interpretações para o primeiro versículo do salmo 110, Orlandi


(2015) afirma “[...] uma das mais comuns na tradição rabínica e nos talmudes, é a identifica-
ção com Abraão”. Segundo o Talmude Babilônico26 no tratado Nedarim 32b “[...] o sacerdó-
cio foi dado a Abraão [...] como está escrito: Disse o Senhor ao meu Senhor [...]”. Do mesmo
modo, o tratado Sanhedrim 108b, notifica: “[...] bendito seja Ele que tomou a Abraão e colo-
cou a sua direita [...] como está escrito no Salmo de Davi „Disse o Senhor ao meu Senhor:
Assenta-te a minha direita até que coloque teus inimigos debaixo de teus pés”.
Contudo, não existe uma base sólida à luz das Escrituras para tal aplicação. Embora, a
Palavra de Deus mencione o epísodio entre Abraão e Melquisedeque (Gn. 14. 18-20), no texto
não temos nenhuma evidência que subentenda que o oráculo do Salmo 110 faça referência ao
pai da fé israelita.

3.3.2 O sumo sacerdote Zadoque27.

Segundo Rowley “[…] durante a solenidade de coroação do rei os oradores viram-se e


dirigem ao sumo sacerdote Zadoque” (apud, WALTKE; HOUSTON; MOORE, 2015, p. 538).
Para ele a melhor interpretação do salmo 110, se quisermos identificar o „Meu Senhor‟, é en-
tender que Zadoque dirige-se a Davi nos versículos 1-3, 5-7, e que Davi dirige a Zadoque no

26
Tanto o tratado Nedarim 32b, como o Sanhedrim 108b do Tamulde Babilônico, identificam o “meu Senhor”
(Salmo 110) com Abraão. Disponível em <http://www.come-and-hear.com/sanhedrin/sanhedrin_108.html> e
<http://www.come-and-hear.com/nedarim/nedarim_32.html>.
27
“Zadoque, sacerdote de Davi (2Sm 15.24-37). Os zadoqueus eram os sacerdotes que lideravam o culto em
Jerusalém desde o tempo de Salomão. Estavam ligados a Simão II e Onias III, a linhagem sacerdotal legítima na
época da revolta dos macabeus. (DOCKERY, David S. (Org.) 2001, p. 554).
34

versículo 4. Ou seja, não é a Davi e seus descendentes que o ofício sacerdotal é vinculado,
mas ao sacerdote Zadoque. Embora, o oficio real permaneça sobre o grande rei de Israel.
Todavia, tal interpretação é arbitrária. E não condiz com a estrutura do texto apresen-
tado nas Escrituras e com o uso do salmo no Novo Testamento, pois como diz Waltke, Hous-
ton e Moore:

[…] o profeta enuncia todo o oráculo ao “Meu Senhor”, a quem ele se dirige consis-
tentemente como “tu” em ambas as partes do salmo (2-3; 4-5). Além disso, o poeta
do senhor é um guerreiro campeão que reina universalmente no tempo e no espaço.
Nenhum historiador faz uma afirmação como esta em relação a Zadoque. (2015, p.
539).

Dessa forma, dizer que o salmo 110 no momento de seu pronunciamento visava duas
pessoas distintas gera ainda mais dificuldades, quando reinterpretadas à luz dos Evangelhos.
Isto é, no ministério de Jesus o verdadeiro Filho de Davi.

3.3.3 Salomão, filho de Davi.

Não são poucos os que defendem o “Meu Senhor” como sendo Salomão, o filho de
Davi. Mas, o que levaria ao grande rei de Israel a chamar o seu filho de “Meu Senhor?” Se-
gundo Waltke, Houston e Moore (2015, p. 538) “[…] o Davi idoso chamaria Salomão de se-
nhor em vista do novo status - como rei” e completa “[…] ao fazer isto, ele argumenta adicio-
nalmente que Davi disse a palavra mais maginífica que ele conhecia”. Quer dizer, Davi já
velho, ao ver seu filho, como o novo e grande rei de Isarael, apenas reconheceria sua majesta-
de e o trataria como o „seu‟ soberno. No entanto, esta interpretação é insustentável por dois
motivos.
Primeiro, a profecia inteira representa o “senhor” de Davi como um rei-guerreiro que
rigorosamente subjuga toda a terra na guerra santa. Como diz Figueiredo “[…] com poder real
ele governa, […] e todos estão sujeitos a Ele” (1885, p. 726). Por outro lado, “[…] Davi espe-
rava que Salomão concentrasse a força e recursos da nação para a construção do templo e não
se engajasse em guerra santa (2 Sm. 7. 10; 1 Rs. 5. 1-6)”. Segundo, “[…] o sujeito de nosso
salmo é um sacerdote […] Salomão não era!” (WALTKE; HOUSTON; MOORE, 2015, p.
539).
35

3.3.4 Um príncipe macabeu.

Por volta do início do século XX, “[...] era comum a critíca histórica considerar o
“meu Senhor” de Davi [...] uma espécie de príncipe macabeu” (WALKE; HOUSTON, 2015,
p. 537). Os nomes mais cotados eram de Jonantan (1 Mc 9. 30; 10.20) e Simão (1 Mc 14. 35,
38, 41). Beale e Carson (2014, p. 103) comentado acerca disso, ressaltam “[...] que no capítu-
lo 14 do livro de Macabeus28, Simão, irmão de Judas Macabeus é apresentado como um sa-
cerdote eterno em seu papel ilegal de rei e sacerdote”.
Porém, esta teroria enfrenta dificuldades insuperavéis. Vejamos algumas razões que pelo
qual não podemos aplicar a mensagem do Salmo 110 aos príncipes mencionados acima. Pri-
meiro, os macabeus não são herdeiros de Davi, e, além disso, “[...] eles são sacerdotes, en-
quanto o salmo coroa um príncipe” (WALKE e HOUSTON, 2015, p. 537). Segundo, como
afirma Briggs e Briggs (1906, p. 374) “[...] Os Salmos de Salomão, no capítulo 17. 23 (e o
Tamulde e Midrash) procuram por um filho de Davi como rei messiânico, não por um filho de
Arão”. E por fim, o próprio livro de 1 Macabeus (14. 41) ao declarar “[...] e que os judeus e
seus sacerdotes haviam achado por bem que Simão fosse o seu rei e sumo sacerdote para
sempre, até que surgisse um profeta fiel”29, parace apontar para um Messias futuro, que, de
fato, exerceria os ofícios de rei e sacerdote plena e satisfatoriamente.

3.4 O rei messiânico do Salmo 110. 1-3: uma análise biblíco-teológica.

Depois de analisarmos as várias tentativas de identificar o meu Senhor do Salmo 110,


percebemos como são inconsistentes suas afirmações à luz das Escrituras. Por isso, deste pon-
to em diante, tomaremos o texto em mãos e faremos uma exegese da passagem (versos 1-3), a
fim de entendermos a sua real mensagem. Posteriomente, veremos como o Novo Testamento,
mas precisamente o Senhor Jesus, interpreta e aplica o texto do Antigo Testamento.

28
É um livro apócrifo. O termo grego αποκπςθορ significa "escondido", e é utilizada para designar uma coleção
de documentos que às vezes são incluídos com as Escrituras do cristianismo. Constituem apenas uma pequena
parte da produção literária dos dois últimos séculos e subsequentemente do nascimento de Jesus. Para este perío-
do pertencem também a pseudoepígrafos e os Manuscritos do Mar Morto (TAYLOR, Richard S. (ed. geral),
1984).
29
Itálico nosso.
36

3.4.1 Quem escreveu? A autoria davídica.

A autoria é a primeira questão que precisamos considerar no texto. Como disse Kin-
der “em nenhum outro lugar no Saltério há tanta doutrina quanto no título deste salmo […],
pois nenhum outro tem sua autoria tão enfaticamente confirmada noutras partes das Escritu-
ras.” (1981, p. 407). Segundo Waltke, Houston e Moore (2015, p. 527) a expressão ‫לְ דָ ִ֗וד ִ֫מז ְ֥מו‬
(le dawîd mizmôr) “[...] é importante para o argumento de que Jesus é mais que um filho de
Davi”. Por isso, “[…] amputar esta frase de abertura, ou recusar-se a reconhecer nela qualquer
referencia à autoria do salmo, é ficar fora de harmonia com o Novo Testamento, que vê muita
significância no fato do rei Davi reconhecer seu “Senhor””.
No entanto, “[…] a maioria dos comentaristas modernos nega a veracidade da epígrafe
que atribui o salmo a Davi, e a base para isso é que as epígrafes eram acréscimos posteriores
que se faziam aos salmos originais” (BEALE; CARSON, 2014, p. 103). Assim, ratifica Beale
e Carson “[…] o autor é considerado uma pessoa anônima que louva o rei de Israel, e ora por
ele” (2014, p. 103). Mas, com o intuito de confirmar a autoria davídica, Waltke, Houston e
Moore comentam “[…] se tratarmos o salmo 110 como pré-exílico, como a maioria dos erudi-
tos pensam, não há razão para negar a autoria davídica” (2015, p. 527) .
Portanto, considerando que “[…] Davi é o único rei na memoria de Israel por quem
ocorreu a comunicação divina (Cf. 2 Sm. 23. 1,2) 30 ” (WALTKE; HOUSTON; MOORE,
2015, p. 527). Ele é o autor do oráculo do Salmo 110. Tendo em vista que a expressão 31 ‫נְ אֺ ֻ֤ם‬
(Ne ûm), que significa “declaração inspirada”, ocorre unicamente em um hino de Davi, apon-
tando assim, sua característica profética. Algo perceptivel na mensagem do texto do Salmo
110. Além disso, ‫( ִ֫מז ְ֥מו‬mizmôr) traduzido por salmo, indica uma ação profética acompanhada
por músicas32. Ou seja, tudo parece indicar que Davi é o seu autor, e que o canto foi entoado
“no periodo da entronização de seu filho Salomão” (HARMAN, 2011, p. 380).

30
São estas as últimas palavras de Davi: Palavra de Davi, filho de Jessé, palavra do homem que foi exaltado, do
ungido do Deus de Jacó, do maravilhoso salmista de Israel. O Espírito do SENHOR fala por meu intermédio, e a
sua palavra está na minha língua.
31
“Ela ocorre somente aqui nos Salmos, porem é muito comum em Jeremias (175 vezes), Ezequiel (85 vezes),
Isaías (24 vezes), e Amós (21 vezes)” (HARMAN, 2011, p. 381)
32
Ou instrumentos de corda. A música era parte importante da vida cotidiana. Diversões, casamentos e funerais
não estavam completos sem ela. Até mesmo a guerra dependia da música, visto como instrumentos especiais
soavam para chamar à batalha. A diversão e a descontração aristocráticas patrocinavam os músicos e suas habi-
lidades. A música também fazia parte da vida religiosa de Israel. O culto formal dos israelitas observava diversos
rituais prescritos por Deus. A música servia de acompanhamento a esses rituais.
37

3.4.2 Quem disse a quem? Palavras do Senhor.

Neste segundo tópico de nossa exegese, nossa atenção recaí sobre a primeira parte do
versículo 1, representada em nossa pesquisa pela letra “a” (Ex. 1a). Na frase ‫נְ אֺ ֻ֤ם יְ הוָה ּלאדֹ ִ֗ני‬
(Ne´ûm yhwh la donî) “[…] há três pessoas envolvidas – O Eu Sou, o salmista/profeta e aquele
a quem ele chama „Meu Senhor‟” (HARMAN, 2011, p. 381). Waltke, Houston e Moore nos
lembram que o “Eu Sou” no texto, traz a memória “[...] o nome pactual33 de Deus com Israel”
(2015, p. 527). Ou seja, “[...] o nome que salienta a Aliança que Ele fez com Seu povo [...] o
Seu nome próprio par excellence, e portanto, não é empregado com referência a mais nin-
guém [...]” (BERKHOF, 2009, p. 40).
Entretanto, entender o conceito pactual do nome de Deus, não resolve o nosso proble-
ma quanto à identificação do “meu Senhor”. Mas, em certa medida ajuda-nos a encaixar o
pronunciamento do Salmo 110 como “um ato profético”. Tendo em vista, que o próprio Deus
falou por intermédio de Davi. Sendo assim, o que podemos concluir da frase de abertura do
texto é que não pode haver dúvida, visto que nosso Senhor afirmou sua origem davídica. E
quanto ao verso 1a, o mesmo assume “[...] todas as características de um profeta veterotesta-
mentário, do ato da proclamação ao teor da mensagem” (HARMAN, 2011, p. 381).
Nosso foco agora é a segunda parte do verso 1, que será identificada pela letra “b”
(Ex. 1b). O texto ‫( ֥שב ּלימינִ֑י‬sêb lîmînî) é o convite divino “senta-te à minha direita”, “[...] con-
ferindo a Davi uma posição de honra (Cf. 1 Rs. 2. 19)” (WALKTE; HOUSTON; MOORE,
2015,p. 528). Já para Harman “[…] é a palavra profética que visa o Rei messiânico” (2011, p.
381), do mesmo modo, que Kinder ao afirmar “[…] a declaração assenta-te à minha direita
confere poder e autoridade […]” e completa “[…] e o seu pleno sentido só pode ser compre-
endido à luz do Novo Testamento” (1981, p. 409).
Calvino falando acerca deste pronunciamento nos diz “[…] os reis são colocados por
Deus em lugar de honra […] todavia, tais governadores não são vestidos com a sacra majesta-
de, com a qual Davi foi honrado […] sendo ele, tipo do Filho unigênito de Deus” (2002, p.
65). Em outras palavras, nos diz Perone, “[…] tal expressão exegeticamente falando simboli-
za a autoridade do rei em contraste com os assinstentes que ficam em pé para esperar por ele
e, mais que isso, sentar à Direita significa servir ao Eu Sou como uma espécie de vice-rei”
(apud WALTKE; HOUSTON; MOORE, 2015, p. 528). Em outras palavras, “[…] o certo é

33
“[...] o autor do Pacto Mosaico, cujos ensinos catequéticos-chaves são amar o Deus de Justiça e Salvação e
amar ao próximo como a si mesmo, é também o Autor do Pacto davídico, que comissiona a Casa de Davi a pro-
pagar universalemente o ensino catequético (Cf. Sl. 2)”(WALKTE, HOUSTON; MOORE, 2015,p. 530).
38

que “ ‫( ֥שב ּלימינִ֑י‬sêb lîmînî) ou senta-te a minha direita se cumpre na ascensão corpórea da res-
surreição do Senhor Jesus Cristo ao céu, onde, hoje, o Filho do Homem está reinando com
toda autoridade”. (WALTKE; HOUSTON; MOORE, 2015, p. 529).
A outra parte do verso 1b de nosso texto é ‫( עדֽאָ ֥שית ֹ֜ ֹאיְ ִ֗ביָך הֲדֹֹ֣ ם לְ רגְ ּליָך‬âd –asît oyebeykâ
hadôm leragleykâ), ou seja, o triunfo final do Meu Senhor. A preposição hebraica “até” (“‫)עד‬,
refere-se a um período de tempo até determinado ponto” (GRONINGEN, 2003, p. 377). Da
mesma forma Waltke, Houston e Moore, que falam “[…] a expressão ‫ עד‬nos fala acerca de
um limite que não é absoluto, pois existe uma ação posterior e contínua” (2015, p. 529). To-
davia, para Delitzsch (1845, p. 189) tal preposição “[…] embora, não exclua o tempo que está
além […], assim como em Sl 112. 8 e Gn 49. 10, ela pontua o tempo determinado e final, on-
de Deus subjulgará todos os seus inimigos”. Em outras palavras, afirma Groningen “sua fun-
ção nessa frase é da ênfase na vitória definitiva do Rei entronizado […] e mais que isso, a
referência aqui não é primeiramente ao reino davídico, mas ao reinado vitorioso do Senhor,
que é representado pelo reino de Davi” (2003, p. 377).
Sendo assim, a última parte do verso ‫“( אָ ֥שית ֹ֜ ֹאיְ ִ֗ביָך הֲדֹֹ֣ ם לְ רגְ ּליך‬que eu faça dos teus ini-
migos um estrado para teus pés”), aponta para “[…] os inimigos que virão para se deitar de-
baixo de seus pés […], e para terem seus pescoços pisados, de modo que não haverá resistên-
cia, pois os derrotados estarão no chão, e o vencedor na glória” (DELITZSCH, 1845, p. 189).
Confirmando, esta interpretação para a parte final do verso primeiro, os exegetas comentam
“‫הֲדֹֹ֣ ם‬, traduzido por „estrado‟ sempre ocorre com „pés‟34 […] e ‫„ לְ רגְ ּליך‬para teus pés‟, nos in-
dicam um vencedor que faz de seus inimigos estrados, descrevendo o poder e autoridade total
de um conquistador sobre seus opositores (Cf. Js. 10. 24; 1 Rs 5. 3[17]).

3.4.3 Quem dominará? O Rei messiânico.

Agora nos concentraremos nos versos 2 e 3, “onde encontraremos a explanação do


pronuncimamento precedente” (GRONINGEN, 2003, p. 377). No entanto, nos limitaremos ao
segundo verso, e posteriormente analisaremos o último deles (v. 3). O segundo versículo do
ּ (matteh cuzzekâ yislah yhwh mitzion
Salmo 110 diz ‫מטהֽ ֺעז ְִָ֗ך י ְש ֹ֣לח ְ֭ ְיהוָה מציִ֑ ֹון ְ ֹ֜ר ִ֗דה ְב ֹ֣קרב אֹ יְ ּביָך‬
redêh beqereb ôyebeykâ)35. O cetro que YHWH ‫(י ְשלֹ֣ח‬yislah) enviará é “do seu poder”. Se-

34
Aparece seis vezes nas Escrituras, sempre usado em referência aos pés.
35
Tradução: O SENHOR enviará de Sião o cetro do seu poder, dizendo: Domina entre os teus inimigos.
39

gundo Waltke, Houston e Moore “[…] o substantivo significa vara ou bastão, mas no contex-
to régio torna-se o símbolo do rei de autoridade e poder para punir os inimigos (Is. 10.5)”
(2015, p. 530). Já a expressão (‫“ ) ֺע ְז ִָ֗ך‬de teu poder” conota brandir o cetro coercitivo vigoros-
amente sem quebrá-lo e assim, simbolicamente, não perde sua realeza (Cf. Jr. 48.12). Deli-
tszch ressalta que tal declaração também nos comunica o fato de que o „Meu Senhor‟ “[…] é
a pessoa a qual Ele delegou autoridade, ou seja, a figura messiânica que goveranrá todos os
homens” (1845, p. 190).
Por outro lado, a continuação do verso ‫“ י ְשלֹ֣ח ְ֭ ְיהוָה מציִ֑ ֹון‬enviará o Senhor de Sião”, nos
apresenta um elemento determinante, à esfera ou domínios do „Meu Senhor‟. A declaração “O
Eu Sou estenderá” tem o sentido especializado de “enviar” com referência a alguma coisa
anexada a algo mais (1 Cr 13.10; Is 18.2; Ez 17.6)” e complementa a descrição conota esferas
de domínio maiores desde Sião (isto é, Jerusalém; veja Sl 1.6), conceituando como o centro
do mundo.
Em outras palavras, Groningen (2003, p. 377) nos fala que esse “algo mais” “[…] é a
missão do soberano Senhor de levar adiante sua obra concernente a Lei de Deus”. Do mesmo
modo à ordem “dominarás sobre os teus inimigos” (‫)ר ִ֗דה בְ ֹ֣קרב אֹ יְ ּביָך‬
ֹ֜ ְ inicia a guerra santa. Tal
imperativo nos dá uma idéia de segurança “[…] uma vez, que ‫ ְ ֹ֜ר ִ֗דה‬significa „pisar‟ [no lagar]
e, muitas vezes, „dominar‟ com o sentido associado de compelir à obediência por punir a de-
sobediência e, assim, ordenar respeito” (WALTKE; HOUSTON; MOORE, 2015, p. 530).
Em suma, a mensagem do verso 2 nos fala acerca de um Rei soberano que exercerá
seu governo triunfantemtente sobre seus inimigos. Como diz MacDonald “[…] aqui, não se
trata de destruir inimigos, mas, sim, de governar sobre os adversários obstinados, aqueles, que
um dia se sujeitarão ao seu governo” (2008, p. 488). “Não é aniquilação do mal, mas, antes a
sua subjugação” (DELITZSCH, 1845, p. 190).

3.4.4 Quem faz parte do exercícito? A resposta do povo.

No verso 3 “[...] temos o texto mais difícil de traduzir e de interpretar” (GRONIN-


GEN, 2003, p. 377). Todavia, segundo Harman, a ênfase da passagem consiste na mensagem
de que “[...] o povo do pacto, se mostrará disposto a servi-lo, e especialmente os jovens pac-
tuais” (2011, p. 381). Do mesmo modo, Groningen que diz “[...] a juventude do povo do pacto
virá ao soberano Senhor, segui-lo-á, e servi-lo-á, assim, como o orvalho refrescante da auro-
40

ra” (2003, p. 377). Portanto, vejamos alguns elementos deste último verso, e como o mesmo
esclarece o oráculo dirigido ao „Meu Senhor‟.
Primeiro, para fortalecer o rei e iniciar a guerra santa, “[...] o profeta infunde confiança
ao rei sobre a competência de suas tropas em tuas tropas36, ou como na tradução de ‫עמָך‬
ְ (ame-
khâ) “teu povo” – aplicado ao contexto de guerra santa” (WALTKE; HOUSTON; MOORE,
2015, p. 530). Dessa forma, aquele que está “assentado à destra" de YHWH terá um exército
para batalhar em prol do seu reino. E esse exército é formado por voluntários, ou como diz a
expressão idiomática ‫( נְ דָ בֹ ת‬nedâbôt) “totalmente voluntários / voluntários livremente”. Em
outras palavras, a guerra santa é conduzida somente com guerreiros dedicados e destemidos
para sustentar o líder no campo de batalha, não com mercenários ou recrutas medrosos.
Outro ponto importante no texto é o uso de ‫( בְ י֪ ֹום‬Beyôm), que normalmente equivale a
“quando”, além disso, ‫ י֪ ֹום‬é mais bem definido como por “convocares”, o termo especifica um
período particular de tempo (“no dia de”). Como diz Delitzsch (1845, pp. 190, 191) equivale
“[...] ao dia que o Senhor convocou as suas tropas” ou “[...] chamou com poder o seu exérci-
to”. Já a presença de ‫( ִ֫חיל֥ך‬hêlekâ), sinaliza “[…] uma metonímia37 para o tempo da guerra
santa” (WALTKE; HOUSTON; MOORE, 2015, p. 351). Resumindo, esta parte do verso 3,
Kinder em seu comentário do livro de salmos escreve “[...] „no dia do teu poder‟ , nos fala de
força, ou “força de armas” (Cf. Zc. 4.6), e corresponde bem a mensagem do verso 5 “no dia
da tua ira” (1981, p. 410).
Para o final do texto, o salmista/profeta adiciona duas imagens destas tropas. Primeiro,
‫( ְֻ ּה ְדריֽקְֹ֭ דש‬behaderêi qôdesh), traduzido “vestes santas”, literalmente, “santo esplendor”38. É
uma metonínmia para os direitos e prerrogativas régias (Cf. Sl 45.3[4]). Ou seja, aponta para a
realidade de um povo animado, que saúda o seu rei e que em sua vida, e conduta, manisfesta-
rão toda a beleza ou atratividade de um caráter santo e puro. Como declara Waltke, Houston e
Moore (2015, p. 531) “[...] „santas‟ significa que as vestes os distinguem como separados por
Deus e, desta forma, como um exército puro (1 Sm 21.4 seg.), como os sacerdotes, porquanto
eles são conceituados como um reino de sacerdotes (Êx. 19.6)”.

36
Itálico nosso.
37
Metonímia: “é o que acontece quando um substantivo é substituído por outro intimamente relacionado com ele
[...] No Antigo Testamento , trono ( lCr 17.12) no lugar de reinado, espada (ls 51.19) no lugar de julgamento ou
guerra, e chave (ls 22.22) no lugar de autoridade. No Novo Testamento, principados e potestades (Ef 3.10; 6.12)
refere-se à esfera demoníaca (alguns diriam “govemo demoníaco”); circuncisão (Gl 2.7-9), aos judeus; e Moisés
é uma referência à Torá” (OSBORNE, 2009, p. 160).
38
Lit. “nas belezas da santidade”, segundo o texto hebraico padronizado, com apoio de LXX, Vulgata (Alguns
MSS, bem como Símaco e Jerônimo) (KINDER, 1981, p. 410).
41

A segunda imagem que aparece no texto é ‫( מ ֹ֣רחם‬mêrehem-m) „desde o romper‟, que


39
descreve o poder decisivo do rei quando ele cria este exército dedicado. Da ‫מ ְש ָ ִ֑ח ר‬
(mishêchar) alvorada, segundo Waltke, Houston e Moore “[...] sinaliza a dispersão da noite
quando as pessoas choram e pressagia o começo da esperança e felicidade na experiência hu-
mana” (2015, p. 531). Para Groningen isso testifica “[...] que tanto os mais velhos, como os
mais jovens na comunidade do pacto, sob o exercício do cetro soberano do Senhor, participa-
rão de sua soberania e tomarão parte em sua garantida vitória” ( 2003, p. 378). Este exército,
tão copioso como o orvalho da manhã, misteriosamente surgindo e resplandecente em cada
espada e lâmina, renova uma terra decaída.
Para finalizar, a expressão ‫( ילְ ד ֺּתיָך‬yaldûteykâ) „os teus jovens‟ completa a metáfora
sobre o exército, bem como ‫( לְֹ֜ ִָ֗ך‬lekâ) „virão‟, funcionando como um paralelo. Nesse caso,
“jovens” “[...] conota vigor, pujança, bravura, promessa e resistência, a prontidão em servir o
rei soberano” (DELITZSCH, 1845, p. 191). Além de ‫( טֹ֣ל‬tal), que quer dizer „orvalho‟ ou
„chuva brilhante‟, que nas palavras de Waltke, Houston e Moore “[…] evoca a origem celesti-
al das tropas, porquanto no Antigo Testamento o orvalho é considerando vindo do céu e des-
cendo sobre a terra (Cf. Gn 27.28, 39; Dt. 33. 28; Ag. 1.10; Zc 8.12; Pv 3.20)” (2015, p. 351).
Em outras palavras, por ser imperceptível quando cai, o orvalho pode trazer à memória a obra
invisível de Deus.
Resumindo, o verso 3 do salmo 110 “mostra o Messias saindo em vigor pristino, san-
tidade e glória, encabençando uma hoste que é tão dedicada como aqueles israelitas antigos
que “expuseram a sua vida a morte (Jz 5.18)” (KINDER, 1981, p. 410). Assim, Deus levanta
um exército santo para renovar a terra com justiça e amor, por meio do governo do Messias
prometido.

3.5 Uma ressalva

Diante do que foi apresentado até aqui, quanto à natureza dos salmos reais, as quatro
posições acerca do „Meu Senhor‟ e a análise exégetica dos versos de 1 a 3 do Salmo 110.
Concluímos que nenhuma das propostas apresentadas no ponto 3.3, refletem com precisão o
caráter messiânico de ‫“( ּלאדֹ ִ֗ני‬Meu Senhor”). Percebemos a luz do texto bíblico, que os nomes

39
As traduções gregas (LXX, Orígenes, Teodócio) e Syr. registra ‫“( מ ְש ָחִ֑ר‬do útero, da alvorada”). Os massoretas,
provalvemente, pensaram que ‫ מ ְש ָחִ֑ר‬fosse uma forma dual sâhar. Mais provalvemente nem tampouco entendido
como mem enclítico. O texto deveria ser normalizado como rbm-m shr (Veja IBHS, p. 158-60, p. 9.8).
42

sugeridos não ecoam as verdades apresentadas na mensagem do salmo. A fim de esclarecer-


mos alguns pontos entre o texto bíblico e as figuras apresentadas, vejamos os seguintes aspec-
tos messiânicos que não estão presente em tais personagens.
Primeiro, o texto fala no verso 1 que o “Meu Senhor” recebeu o chamado de Deus pa-
ra ser seu co-regente e que, como prova disso, os seus inimigos estariam debaixo de seus pés
e reconheceriam o seu governo santo e soberano. Este elemento não é encontrado em nenhu-
ma das opções sugeridas. Embora, Salomão, fosse filho de Davi e herdeiro do trono, o seu
governo não foi triunfante e unificador. Aliás, depois de seu governo, o reino foi dividido
entre o lado do Norte e do Sul.
Segundo, os versos 2 e 3 falam de um rei soberano, que está assentado no trono e rege
os seus inimigos com o “cetro de seu poder desde de Sião”. Além disso, Ele tem um forte e
poderoso “exército”, vestidos de “trajes santos” como “o orvalho da aurora”, formado por
pessoas de todas as idades. Por implicação, entendemos que este povo não é formado somente
por judeus, antes, são pessoas de todos os reinos, ou seja, dos lugares mais longíquos da terra.
Dessa forma, o texto aponta para um clímax escatológico do Filho de Deus. Ele fala de um
período onde o Messias prometido estabelecerá o seu trono e governará a todos os homens
com poder e autoridade. Portanto, estes elementos, embora parcialmente estejam presentes na
vida de alguns deles, os mesmos não ocorrem de forma definitiva, como nos é apresentado no
texto do Salmo 110.
Sendo assim, identificar ‫“( ּלאדֹ ִ֗ני‬Meu Senhor”) é uma tarefa do Novo Testamento. Por
isso, na próxima etapa de nossa pesquisa nos concentraremos em examinar o uso do salmo
110 no ministério de Jesus.

3.6 O uso e a interpretação messiânica do Salmo 110 e suas implicações teológicas.

A nossa pesquisa visa responder a indagação “Quem é o Meu Senhor do Salmo 110?”.
Portanto, depois de analisarmos algumas posições e examinar exegeticamente o texto bíblico,
nosso próximo passo é olhar para o Novo Testamento e ouví-lo quanto a este assunto. Pois
como disse Beale “[...] os autores neotestamentários interpretavam o Antigo, ampliando o seu
sentido e até mesmo esclarecendo alguns assuntos, antes, obscurecidos” (2013, pp. 21-52)40.
Dessa forma, precisamos olhar para o Evangelho de Mateus, e averiguar no capítulo 22. 41-46

40
Acerca desta constrovérsia recomendamos a leitura do livro de G. K. Beale “Manual do uso do Antigo Testa-
mento no Novo Testamento: Exegese e Interpretação” publicada em 2013 por Editora Vida Nova.
43

quais elementos inovadores surgem na autodeclaração de Jesus como Rei Messiânico. Sendo
assim, dividiremos a nossa abordagem com os seguintes pontos.
Primeiro, nos concentraremos na indagação do Senhor “Que pensais vós do Cristo?”, e
com isso na resposta dos fariseus. Neste tópico, avaliaremos as crenças e percepções dos ini-
migos do Senhor quanto à identidade do Messias. Em seguida, na pergunta “Se Davi o chama
Senhor, como ele pode ser seu filho?”, demonstraremos como o Senhor interpretou o Salmo
110 e afirmou sua identidade messiânica. Confirmando assim, a sua linhagem davídica e a
promessa divina “Assenta-te a minha direita”. Na parte final, através do terceiro ponto, dare-
mos maior atenção às implicações teológicas de nossa pesquisa e suas contribuições para o
campo doutrinário.

3.6.1 As duas indagações de Jesus em Mateus 22. 42-46.

No registro de Mateus, capítulo 22, temos uma discussão acerca da identidade do


Messias. Segundo Carson (2010, p. 542) “[...] essa passagem está repleta de questões cristo-
lógicas e hermeneuticas cruciais”. Ela é responsável por uma das grandes afirmações da teo-
logia cristã. Todavia, o contexto imediato começa no verso 15, quando “[...] uma série de
questionamentos foram levantados com o intuito de forçar Jesus [...] a fazer alguma afirmação
que pudesse comprometê-lo” (TASKER, 1980, p. 165). Nesse caso, o debate girava em torno
do “pagamento de imposto a César”. Logo em seguida, outro tema vem à tona, agora eram os
sauduceus e o dilema acerca do “casamento e a ressurreição” (v. 23-33), ou seja, “[...] eles
tentavam de todos os meios envolverem Jesus em polêmicas” (CARSON, 2010, p. 535). Mas
adiante, os fariseus retornam e iniciam outro interrogatório. Agora, o teor da conversa era
saber “qual o maior dos mandamentos” (v. 34-40).
Porém, quando tudo parecia estar calmo, Jesus depois de calar os líderes judeus, fez-
lhe, por sua vez, uma perguta: “Que pensais vós do Cristo? De quem é Filho?” (v. 42). Se-
gundo Carson “seu propósito não era ganhar o debate, mas extrair deles o que a própria Escri-
tura ensina sobre o Messias, ajudando, assim, o povo a reconhecer quem ele realmente é”
(2010, p. 542). Do mesmo modo, Hendriksen comentando a perícope diz “[...] Jesus tinha
acabado de falar do amor, como sendo o cumprimento do Decálogo [...] agora, Ele atencio-
samente dirige-se ao público (fariseus), e se revela como o Messias das Escrituras” (2001, p.
433). Portanto, na indagação de Jesus sobre a filiação davídica, Short ressalta que o seu obje-
tivo “[...] era que aqueles homens o reconhecessem como Messias prometido e que esse Mes-
44

sias possuía não só uma natureza humana (Filho de Davi), mas também uma natureza divina,
por isso, Davi o chamou de Meu Senhor” (apud BRUCE, 2008, p. 1627).
Em certo sentido, como diz Hendriksen:

Havia chegado o tempo de preparar o auditório para a idéia de que o título “Filho de
Davi” significa mais do que era geralmente compreendido. Os fariseus devem
aprender que o Filho de Davi é também o Senhor de Davi. Ele não é simplesmente
homem; ele é também Deus. E que Jesus é este homem! (2010, p. 434).

Enfim, os fariseus respondem a indagação do Senhor afirmando que o Cristo seria fi-
lho de Davi (verso 42). Ou seja, o Messias é da linhagem do grande rei de Israel, é justamente
aquele que assentará no trono e governará com o cetro do seu poder. É neste momento, que
Jesus cita o Salmo 110 a fim de selar a verdade de que Ele é tal Pessoa.
O texto mencionado por Jesus “Disse o Senhor ao meu Senhor: Assenta-te à minha di-
reita, até que eu ponha os teus inimigos debaixo dos teus pés” é oriundo da Septuaginta (109.
1)41, a versão grega do Antigo Testamento, que Hendriksen faz questão de dizer “[...] não há
diferença essencial entre o original hebraico fielmente reproduzido no texto grego de um lado,
e a versão de Mateus, do outro” (2001, p.435). Acresce a isso, Jesus atribui o Salmo 110 a
Davi e afirma que este o escreveu “no Espírito”, isto é, “por inspiração”. Reconhecendo as-
sim, uma natureza profética na mensagem do Saltério. Sobre isso Carson afirma “[...] a frase:
“Falando pelo Espírito”, não só assume que toda Escritura é inspirada pelo Espírito, mas aqui
reforça a verdade do que Davi disse, e assim, pode ser integrado nas crenças dos ouvintes”
(2010, p. 542).
Posteriomente, Jesus faz a segunda indagação “Se Davi, pois, lhe chama Senhor, como
é ele seu filho?” (v. 45). Para Hendriksen essas palavras “[...] significam que Jesus é muito
mais que um descedente de Davi [...] Ele é a raiz, bem como o renovo de Davi (Cf. Is 11.
1,10; Ap 22.16)” (2001, p. 436). Na verdade, Ele pretende por meio deste argumento, con-
frontar a rejeição dos fariseus, de não o aceitarem como Messias. E tentar de alguma forma
descontruir os conceitos errados que eles tinham acerca do Rei messiânico. Em suma:

É como se Jesus estivesse dizendo aos fariseus: “Vocês puseram defeito em mim por
haver aceitado os louvores dos que me chamaram Filho de Davi”. Lembrem-se,
pois, de que eu sou o Filho de Davi no sentido mais excelso, porque Davi mesmo

41
Εἶπεν ὁ κύπιορ ηῷ κςπίῳ µος Κάθος ἐκ δεξιῶν µος, ἕωρ ἂν θῶ ηοὺρ ἐσθπούρ ζος ὑποπόδιον ηῶν ποδῶν ζος.
45

me chamou „meu Senhor‟. Portanto, todo aquele que me rejeita está rejeitando ao
Senhor de Davi. 42 (HENDRIKSEN, 2001, p. 436).

Desta maneira, o ‫ ּלאדֹ ִ֗ני‬do Salmo 110 é o próprio Jesus. Ele é o Messias, ou como disse
Beetham “[…] Ele é O Cristo43ressurreto, colocado como vice-gerente, o davídico vindouro,
através de quem Deus irá estender Seu amplo domínio e por meio de quem YHWH destruirá
todos os inimigos” (2008, p. 226). “Ele é maior que Davi [...] Ele é maior que os anjos [...]
Ele está exaltado à destra de Deus [...] Ele é o Mediador” (CARSON, 2015, p. 175). Carson
comentando a citação do Salmo 110, diz acertadamente “[...] o que temos aqui é a certeza do
rei prometido, que governa a nossa vida, confronta os inimigos de Deus e consuma todas as
coisas – o fato Dele está à destra de Deus prova isso” (2015, p. 201).
Por fim, à luz do que foi examinado com base nas duas perguntas do Senhor (v. 42 e
45), concluímos que a pergunta que norteou a pesquisa (“Quem é o Meu Senhor do Salmo
110?”) foi respondida satisfatoriamente. Além disso, os elementos expostos em nossa análise
exegética dos versos 1 a 3, só encontram fundamento na pessoa de Jesus. Todavia, precisamos
reponder outra pergunta – Quais as implicações teológicas de nosso estudo, ou seja, as contri-
buições doutrinárias? Sabendo que a Teologia Bíblica fornece os alicerces para a Teologia
Sistemática, listaremos dois principais títulos cristológicos e discorremos sobre cada um de-
les.

3.6.2 Jesus, O Messias.

O primeiro título a considerar é Messias do grego Χπιζηόρ, o ungido. Este título44 “[...]
nos fala de alguém ungido para realizar uma missão que envolve redenção, julgamento e re-
presentatividade do próprio Deus, referindo-se à expectativa escatológica, e de um reino sem
fim” (FERREIRA; MYATT, 2007, p. 506). “Ao chegar no mundo helênico, o título Christos
passou a ser usado como nome próprio de Jesus, além de identificá-lo como profeta escatólo-
gico” (KITTEL; FRIEDRICH, 1976, p. 1323).
Sobre sua importância para teologia Ladd nos diz “[…] o título e o conceito de Messi-
as (Χπιζηόρ = ‫( מָ שיח‬mashiah) = ungido), historicamente falando, se não teologicamente, é o
mais importante de todos os conceitos cristológicos […], além disso, tornou-se o modo cen-

42
Itálico nosso.
43
Palavra grega equivalente a Messias.
44
Este título é usado em todo Novo Testamento, exceto em João 1.17 e 17.3.
46

tral de designar a compreenssão cristã da pessoa de Jesus” (2003. p. 181,192). Isto é provado
pelo fato de que Christos, que é propriamente um título designativo de „ungido‟, tornou-se
logo um nome próprio. Jesus tornou-se conhecido “[…] não só como Jesus, o Cristo ou Mes-
sias (At. 3.20), mas como Jesus Cristo ou Cristo Jesus” (LADD, 2003, p. 181,192).
Calvino escrevendo sobre as implicações teológicas do título Cristo e sua importância
para a doutrina cirstã, nos fala “[…] a indicação de Jesus como o Christos é umas das evidên-
cias do seu tríplice ofício como profeta, sacerdote e rei […] pois sabemos que, sob a lei, todos
foram ungidos com óleo sagrado respectivamente” (2006, p. 366). E destaca “[…] do modo
que também foi imposto ao Mediador prometido, o ilustre nome de „Messias” (2006, p. 366).
Para o reformador, Messias não é um simples apelido dado a Jesus. Antes, é a prova divina
“[…] de que Ele é o Messias de Deus, pois em sua vida […] repousa o Espírito de sabedoria,
entendimento, conselho, fortitude e temor de Deus (Is 11.2)” (CALVINO, 2006, p. 369).
Em suma, o messianismo de Jesus é cofirmado por toda Escritura. Nele, temos o cum-
primento das profecias veterotestamentárias acerca do Messias. Inclusive, o próprio Jesus
testificou ao díscipulos de Emaús “[…] porventura, não convinha que o Cristo (que quer dizer
Messias)45 padecesse e entrasse na sua glória? E, começando por Moisés, discorrendo por
todos os Profetas, expunha-lhes o que a seu respeito constava em todas as Escrituras” (Lc. 24.
26, 27).

3.6.3 O Filho de Davi.

De acordo com Lowery “a designação atribuída a Jesus no primeiro versículo do


Evangelho de Mateus foca [...] sua linhagem real como descedente de Davi com direito a rei-
vindicar o trono de Israel” (apud ZUCK, 2008, p. 27). A expressão “Filho de Davi” nos fala
sobre as ligações davídicas de Jesus e das afirmações dos evangelistas de que Jesus, na verda-
de, é o Rei de Israel, embora, como nos diz Zuck “[...] a manifestação da realeza dele difira,
de forma marcante, da norma” (2008, p. 27). Jesus é um rei que se caracteriza pela humilda-
de46. Não obstante, Ele é um rei, fato que reconhece quando Pilatos lhe pergunta: “És tu Rei
dos Judeus? E disse-lhe: Tu o dizes”.

45
Itálico nosso.
46
Conforme Mateus, citando Zacarias 9.9, declara: “Dizei à filha de Sião: Eis que o teu Rei aí te vem, humilde e
assentado sobre uma jumenta” (Mt. 21.5).
47

Hendriksen (2003, p. 534) comentado sobre o uso do título “Filho de Davi” na petição
do cego Bartimeu, informa:

Pelo que sabemos, na literatura pré-cristã, o termo “Filho de Davi”, como um título
para o Messias, ocorre somente no pseudo-epigráfico Salmo de Salomão 17.21.511
Apesar de existirem alguns que neguem que Bartimeu usou o termo no sentido mes-
siânico, a probabilidade de que ele assim o tenha feito é muito alta, porque, baseado
em Marcos 11.9-20; 12.35-37, é evidente que, durante o ministério de Cristo na ter-
ra, “Filho de Davi” e “Messias” haviam se tomado sinônimos. Se não fosse assim,
como poderíamos explicar a indignação dos principais dos escribas e sacerdotes,
quando as crianças estavam honrando Jesus com o título “Filho de Davi”?

Portanto, o título “Filho de Davi” retrata a natureza real, bem como aponta para a au-
toridade suprema de Jesus sobre todas as coisas. Elwell e Yarbrough destacam “[...] a reação
natural das pessoas à autoridade divina do Filho de Davi, tanto antes como depois da ressur-
reição, era de prostrar-se e adorá-lo” (2002, p. 82). Ou seja, tal título é uma designação impor-
tante. Nas palavras de Carson “[...] Filho de Davi relembra a aliança de Deus com o grande
rei de Israel, quando lhe prometera um descendente que estabeleceria o reino e que seu trono
duraria para sempre (2Sm 7.12-16)” (2010, p. 85).
Na época de Jesus, pelo menos, “[...] alguns ramos do judaísmo popular entendiam
que “Filho de Davi” era messiânico” por causa dessa promessa (CARSON, 2010, p. 85). Já
Robertson no relembra que “[...] existe uma íntima conexão entre o título Filho de Deus e
Filho de Davi” (2002, p. 216). “A relação estabelecida entre “entre os dois títulos” na inaugu-
ração da aliança do reino encontra sua consumação na vinda de Jesus. Ele aparece como cum-
primento final destas duas filiações” (ROBERTSON, 2002, p. 217).
Todavia, nos fala Zuck “[...] na sua primeira vinda, sua realeza foi marcada pela humi-
lhação, porém, não será assim em seu retorno” e conclui “[...] O Filho de Davi virá como Rei
exaltado, sentado em seu trono de glória celestial e vindicará o seu povo” (2008, p. 27). Em
outras palavras, o “Meu Senhor” do Salmo 110 estenderá a sua vara e colocará os seus inimi-
gos como descanso para seus pés. Como diz Paulo escrevendo aos Filipenses “Pelo que tam-
bém Deus o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que está acima de todo nome, para que ao
nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra e toda língua confes-
se que Jesus Cristo é o Senhor, para glória de Deus Pai” (Fl 2. 9-11).
48

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Diante do que foi dito, a saber, se o “Meu Senhor” do Salmo 110 é uma referência a
Jesus, concluimos que “sim”, de fato, somente em Cristo temos uma real compreenssão dos
elementos ancorados no pronunciamento do salmista. Nenhuma das opções descritas no ponto
3.3 preenchem os requisitos do oráculo de Davi. Portanto, por mais que as interpretações ra-
bínicas do primeiro século, bem como as tradições judaicas apontem outros nomes, e o cri-
ticismo histórico afirme que não temos evidências históricas que atestem este fato. Todavia,
por meio da revelação progressiva das Escrituras e do índicios teológicos da fé cristã, somente
Jesus pode se assentar à destra do Pai, e execer os ofícios de profeta, sacerdote e rei plena-
mente.
Como disse Hodge “[…] Cristo é o legitimamente rei, pois as Escrituras falam cons-
tantemente do Messias como um rei que estabeceria um reino. Ele é aquele há quem Deus
estabeleceu sobre o seu santo monte Sião” (2001, p. 930). Isso quer dizer, Jesus é o Filho de
Davi por excelência, o Ungido do Senhor (Sl 2.2), o Deus-homem e Senhor sobre todos. O
autor do livro de Hebreus diz que Ele é aquele “a quem Deus constituiu herdeiro de todas as
coisas […] e depois de ter feito a purificação dos pecados, assentou-se à direita da Majestade,
nas alturas” (Cap. 1. 3).
A doutrina do ofício real de Cristo permeia toda revelação bíblica. Desde o Antigo
Testamento, “quando Deus (Gn 3.15) anúnciou ao seu povo que por meio da semente da mu-
lher à obra da serpente seria destruída […] isto é, um reino prevaleceria contra o outro”
(FERREIRA; MYATT, 2007, 556). Como no Novo Testamento, Jesus publicamente apontou
para os milagres, como evidência da presença do Reino de Deus entre nós. (Mt. 12.28; Lc
7.22). Enfim “[…] a vinda de Jesus que tinha sido predita pelos os profetas, e que se concreti-
zou no periodo apostólico, leva-nos a crer, que o Reino de Deus está dinamicamente ativo e
presente entre os homens” (HOEKEMA, 2001, p. 55). Em suma, biblicamente falando, Cristo
inaugurou uma nova era, um tempo marcado pela à invasão do poder de Deus (Mt 12.29), e o
estabelecimento de seu governo.
Podemos afirmar categoricamente que Jesus neste exato momento está reinando a des-
tra do Pai. Essa verdade retrata um climax escatológico, que coloca Cristo como centro da
revelação escriturística. Dessa forma, concluimos que a expectativa messiânica jão não existe,
uma vez que Ele veio, cumpriu suas promessas e firmou o seu trono em nossos corações. O
que esperemos agora é sua volta triunfante e definitiva, trazendo consigo novos céus e uma
nova terra, nos quais habita a justiça (I Pe 3. 13).
49

Por fim, a luz de tudo que foi abordado neste trabalho, dos aspectos hermenêuticos da
poesia hebraica, da mensagem dos salmos reais, das posições quanto ao “Meu Senhor” e do
estudo bíblico-teológico do Salmo 110 1-3, almejamos que o mesmo tenha contribuido para
uma melhor compreenssão da vedade bíblica. E que a partir desta monografia, tenhamos uma
visão abragente da doutrina do reino de Deus, de sua importância para a história da redenção
e que sejamos súditos leais ao nosso Senhor Jesus Cristo. Rei dos Reis e Senhor dos Senhores
(Ap 16.19).
50

REFERÊNCIAS

ANGLADA, P. R. B. Introdução à hermenêutica reformada: conceitos históricos, pressu-


posições, princípios e métodos linguísticos. Ananindeua – PA: Knox Publicações, 2006.

ARNOLD, B.T. BEYER, B. E. Descobrindo o Antigo Testamento: uma perspectiva histó-


rica. Tradução de Suzana Klassen. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

BEALE, G. K. Manual do uso do Antigo Testamento no Novo Testamento: Exegese e


interpretação. Tradução de A. G. Mendes. São Paulo: Editora Vida Nova, 2013.

____________. CARSON, D. A. Comentário do uso do Antigo Testamento no Novo Tes-


tamento. Tradução de C. E. S. Lopes, F. Medeiros, R. Malkomes e V. Kroker. São Paulo:
Vida Nova, 2014.

BEETHAM, C. A. Echoes of Scripture in the Letter of Paul to the Colossians: Biblical


Interpretation Series. Koninklijke Brill NV, Leiden, The Netherlands, 2008.

BERKHOF, L. Teologia sistemática. Tradução de Odayr Olivetti. São Paulo: Cultura Cristã,
2009.

____________. Princípios de interpretação bíblica. Tradução de Denise Meister. São Pau-


lo: Cultura Cristã, 2008.

BRIGGS, C. A. BRIGGS, E. G. A critical and exegetical commentary on The Book of


Psalms. Edinburg: T & T Clark, 38 George Street, 1906.

BRUCE, F. F (Org.). Comentário Bíblico NVI: Antigo e Novo Testamento; tradução de


Valdemar Kroker. – São Paulo: Editora Vida, 2008.

CALVINO, J. As institutas da religião cristã. Traduzida e publicada por Cipriano de Valera.


Rijswik: Países Baixos: Editora Fundación Editorial de Literatura Reformada, 2006.

___________. O Livro dos Salmos, volume 3, Salmos 69 – 106. Tradução Graciano Martins.
São Paulo – SP. Edições Parakletos, 2002.

CARSON, D. A. O comentário de Mateus. Tradução de Lena Aranha & Regina Aranha. São
Paulo: Shedd Publicações, 2010.
51

____________. As Escrituras dão testemunho de mim: Jesus e o evangelho do Antigo Tes-


tamento. Tradução de Marcelo Brandão Cipolla. São Paulo – SP: Vida Nova, 2015.

CHISHOLIM JR, R. B. Teologia de Salmos. In: ZUCK, R. B. (Ed.). Teologia do Antigo


Testamento. Tradução de Luís Aron de Macedo. Rio de Janeiro: Editora CPAD – Casa Pu-
blicadora das Assembléia de Deus, 2009.

COSTA, Herminsten Maia Pereira da. Eu Creio no Pai, no Filho e no Espírito Santo. São
Paulo: Editora Parakletos, 2002.

DAVIES, P. R. ROGERSON, J. The Old Testament World. Louisville: Westminster. John


Knox Press, 2002.

DELITZSCH, F. Biblical commentary on the psalms. Translated from the German. Edin-
burgh: T & T Clark, 38, George Street, 1845.

DILLARD, R.B.; LONGMAN III, T. Introdução ao Antigo Testamento. Tradução Sueli da


Silva Saraiva. São Paulo: Vida Nova, 2006.

DOCKERY, D. S.(Ed.). Manual Bíblico Vida Nova. Tradução de Lucy Yamakami, Hans
Udo Fuchs, Robinson Malkomes. São Paulo: Nova Vida, 2001.

ELLISEN, S. A. Conheça melhor o Antigo Testamento. Tradução de Emma Andres de


Souza Lima. São Paulo: Vida, 1993.

ELWELL, W. A. YARBROUGH, R.W. Descobrindo o Novo Testamento: Uma perspecti-


va histórica e teológica; tradução de Lúcia Kerr Jóia. São Paulo – SP: Editora Cultura Cristã,
2002.

ERICKSON, M. J. Dicionário popular de teologia. Tradução de Emirson Justino. São Paulo:


Mundo Cristão, 2011.

FEE, G. D. STUART, D. Como ler a Bíblia livro por livro: um guia de estudo panorâmico
da Bíblia. Tradução de Thomas Neufeld de Lima e Daniel Hubert Kroker. São Paulo: Editora
Vida Nova, 2013.
52

______________________. Entendes o que lês: um guia para entender a Bíblia com auxílio
da exegese e da hermenêutica. Tradução de Gordon Chown e Jonas Madureira. São Paulo:
Editora Vida Nova, 2011.

FEINBERG, J. S. (Org.). Continuidade e descontinuidade: perspectivas sobre o relaciona-


mento entre o Antigo e o Novo Testamento – ensaios em homenagem a S. Lewis Johnson Jr.
Tradução de Onofre Muniz. São Paulo: Hagnos, 2013.

FERREIRA, F. MYATT, A. Teologia sistemática: uma análise histórica, bíblica, e apologé-


tica para o contexto atual. São Paulo: Vida Nova, 2007.

FIGUEIREDO, A. P. Bíblia Sagrada: contendo o Antigo e Novo Testamento segundo a Vul-


gata Latina. Tradução de Padre Antônio Pereira Figueiredo. Lisboa, 1885.

FUTATO, M. D. Interpretação dos Salmos. Tradução de Jonathan Hack. São Paulo: Editora
Cultura Cristã, 2011.

GREIDANUS, S. Pregando Cristo a partir do Antigo Testamento. Tradução de Elizabeth


Stowell Charles Gomes. São Paulo: Cultura Cristã, 2006.

GRONINGEN, G. V. Criação e Consumação. Tradução de Hele Hope Gordon Silva. São


Paulo: Cultura Cristã, 2008, Vol. III.

__________________. Revelação Messiânica no Antigo Testamento; tradução de Cláudio


Wagner. São Paulo: Cultura Cristã, 2003.

GUY, J. N. The victorian age: an anthology of sources and documents. By Routledge:


London e New York, 1998.

HARMAN, A. M. Comentário do Antigo Testamento – Salmos. Tradução de Valter Graci-


ano Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2011.

HARRISON, R. K. Tempos do Antigo Testamento: um contexto social, político e Cultural.


Tradução de Degmar Ribas. Rio de Janeiro: Editora CPAD – Casa Publicadora da Assembléia
de Deus, 2010.
53

HENDRIKSEN, W. Comentário do Novo Testamento – Mateus, Vol. 2. Tradução de Val-


ter Graciliano Martins. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

HILL, A. E. WALTON, J.H. Panorama do Antigo Testamento. Tradução de Lailah de No-


ronha. São Paulo: Vida, 2007.

HODGE, C. Teologia sistemática. Tradução de Valter Martins. São Paulo – SP: Editora
Hagnos, 2001.

HOEKEMA, A.A. A Bíblia e o futuro: a doutrina bíblica das últimas coisas. Tradução de
Karl H. Kepler. São Paulo: Cultura Cristã, 2001.

KAISER JR, W. C. O plano da promessa de Deus: teologia bíblica do antigo e novo testa-
mento. Tradução de Gordon Chow (Parte 1 e Apêndice C) e A. G. Mendes (Parte 2 e Apêndi-
ces A e B). São Paulo: Vida Nova, 2011.

KAISER, W. C. SILVA, M. Introdução à hermenêutica bíblica: como ouvir a Palavra de


Deus apesar dos ruídos de nossa época. São Paulo: Cultura Cristã, 2009.

KINDER, D. Salmos 73-150: Introdução e Comentário. Tradução de Gordon Chown. São


Paulo: Vida Nova, 1981, Série Cultura Bíblica.

KITTEL, G. FRIEDRICH, G. (Eds). Theological Dictionary of the New Testament - 10


Vols. Translator Ronald Pitkin. Erdmans, 1976. Series: Theological Dictionary of the New
Testament.

KOESSLER, J, (org.). Manual da Pregação. Tradução de Susana Klassen. São Paulo: Vida
Nova, 2010.

LADD, G. E. Teologia do Novo Testamento. Tradução de Degmar Ribas Júnior. São Paulo:
Hagnos, 2003.

LOPES, A. N. A Bíblia e seus interpretes: uma breve história da interpretação. São Paulo:
Cultura Cristã, 2007.

LOWERY, D. K. Teologia de Mateus. In: ZUCK, R. B. (Ed.). Teologia do Novo Testamen-


to. Tradução de Lena Aranha. Rio de Janeiro: CPAD – Casa Publicadora das Assembléia de
Deus, 2008.

MACDONALD, W. Comentário Bíblico Popular do Novo Testamento. Editado com intro-


duções de ArtFarstad. São Paulo : Mundo Cristão, 2008.
54

MERRILL, E. H. História de Israel no Antigo Testamento: o reino de sacerdotes que Deus


colocou entre as nações. Tradução de Romell S. Carneiro. Rio de Janeiro: CPAD – Casa Pu-
blicadora das Assembléia de Deus, 2001.

NEDARIM, Tractate. Talmud Babylonian. Disponível em http://www.come-and-


hear.com/nedarim/nedarim_32.html Acesso em: 31 Out. 2015.

ORLANDI, V. W. A supremacia de Cristo sobre a dimensão celestial: o uso do Salmo


110.1 em Colossenses 3.1. Revista eletrônica teologia brasileira. Disponível em
<http://www.teologiabrasileira.com.br/teologiadet.asp?codigo=460> Acesso em: 02 Out.
2015.

OSBORNE, G. R. A espiral hermenêutica: uma nova abordagem à interpretação bíblica.


Tradução de Daniel de Oliveira, Robinson N. Malkomes, Sueli da Silva Saraiva. São Paulo:
Vida Nova, 2009.

ROBERSTSON, O. P. O Cristo dos pactos: uma análise exegética e teológica dos sucessivos
pactos bíblicos e do seu papel no desenvolvimento da revelação de Deus. Tradução de Améri-
co Justiniano Ribeiro. São Paulo: Cultura Cristã, 2002.

SANHEDRIM, Tractate. Talmud Babylonian. Disponível em http://www.come-and-


hear.com/sanhedrin/sanhedrin_108.html Acesso em: 31 Out. 2015.

TASKER, R. V. G. Mateus: Introdução e Comentário. Tradução de Odayr Olivetti. São


Paulo: Vida Nova, 1980. Série Cultura Bíblica.
55

TOURNAY, R. J. Seeing and hearing God with the Psalms: the prophetic liturgy of the
second temple in Jerusalem. Published by JSOT Press is an imprint of Sheffield Academic
Press Ltd. England, 1991.

WALTKE, B. K. HOUSTON, J. M. MOORE, E. Os salmos como adoração cristã: um co-


mentário histórico. Tradução de Angelino Junior do Carmo. São Paulo: Shedd Publicações,
2015.

WILBERFORCE vídeo. Tremper Longman III - Genres in the Bible - Part 8. Disponível em:
< https://www.youtube.com/watch?v=Ns6-P4wMRxY>. Acesso em: 01 out. 2015.

ZUCK, R. B. A interpretação bíblica: meios de descobrir a verdade bíblica. Tradução de


Cesar de F. A. Bueno Vieira. São Paulo: Vida Nova, 1994.

ZUCK, R. B. Teologia do Antigo Testamento. Tradução de Luís Aron de Machado. Rio de


Janeiro – RJ: Editora CPAD, 2009.

S-ar putea să vă placă și