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Silvana Taís
Winkelmann
Reencontros
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SUMÁRIO
2. O primeiro ritual.........................................10
3. O primeiro cálice.......................................17
4. Sentindo os efeitos....................................24
5. A vida real.................................................72
6. Um pouco de reflexão...............................76
7. O dia seguinte...........................................85
8. Alterando as percepções...........................98
9. O novo chamado.....................................114
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Para Alexandre Pizzolato,
por acreditar, dizer sim e
estender a mão.
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O despertar para o novo
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natureza, a simplicidade, o som do mundo, o
gosto dos alimentos, a sensibilidade, o cheiro,
o toque, a certeza, a confiança, uma felicidade
imensa que passa a fazer parte cada vez mais
da percepção diária, ocasionando uma
vontade imensa de levar todas as pessoas ao
mesmo caminho, de compartilhar o amor e a
verdade. Todas estas sensações aprimoram-
se e passam a ter um significado diferente.
Somente quem passa pela
experiência da “força” entende o real sentido
de cada palavra aqui escrita, ou melhor, sente
na pele.
Não posso dizer que a experiência
que tive foi por acaso, pois acredito que tudo
tem uma razão e que as coisas acontecem no
momento certo.
Foi num sábado em uma conversa à
mesa com Mano após almoçarmos, que veio
em minha mente uma reportagem que vi na
televisão há certo tempo que mostrava um
ritual do Santo Daime. Trocamos ideias sobre
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o tema e ambos demonstramos interesse em
participar do ritual quando houvesse
oportunidade, não por curtição, mas por
acharmos que seria um bom aprendizado.
Apesar de não falarmos mais neste
assunto, a ideia permaneceu em minha mente
até a segunda-feira seguinte quando então fiz
uma pesquisa na internet sobre locais que
realizam o ritual do Daime aqui no Rio Grande
do Sul, e se não encontrasse nenhum, já
estava em meus planos uma ida futura para
Florianópolis, onde o Mano disse que sabia
que ocorriam os rituais.
Para minha feliz surpresa, apareceram
várias informações de centros religiosos do
Santo Daime aqui no Estado e fui abrindo
várias páginas para ver as informações, das
quais a maioria fechava logo em seguida por
não sentir segurança ou não achar que fosse
bem o que eu estava procurando (apesar de
não conhecer o que era).
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No entanto, um blog específico
chamou minha atenção e fez com que
despertasse meu interesse, deixando de
procurar outras informações. Logo salvei o
endereço e mandei para o Mano para que ele
visse e me dissesse a impressão que teve a
respeito, se era algo sério ou para que
pesquisasse outros locais. No mesmo dia já
obtive resposta positiva dele, de que estava
disposto a embarcar nessa "trip" comigo e que
era só nos organizarmos para irmos até lá,
concordando com a minha ideia de irmos já no
próximo sábado, cinco dias depois.
Pedi então que ele entrasse em
contato com o Instituto pedindo se ainda tinha
vaga e informando o nosso interesse, mas
logo disse que se realmente era para ser algo
bom pra gente iria dar tudo certo para que
conseguissemos participar. E não deu outra.
No dia seguinte já recebeu a confirmação da
nossa inscrição e acertamos os detalhes para
nossa viagem.
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Durante a semana estávamos com
uma ótima expectativa para a viagem,
pesquisando ainda mais sobre o assunto,
assistindo vídeos, lendo reportagens, relatos
de pessoas que já haviam participado e tudo
era muito positivo e se enquadrava
perfeitamente ao que estávamos procurando.
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O primeiro ritual
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no trajeto, sem atrapalhar em nenhum
momento.
O trânsito estava tranquilo e tudo se
encaminhava de forma natural, como se
estivéssemos sendo guiados e protegidos,
pois nenhum empecilho surgiu, tendo tudo
transcorrido muito bem. Chegamos tão rápido
e de forma tão tranquila que a viagem não foi
nenhum pouco cansativa.
Incrível perceber como nos damos
bem, que compartilhamos das coisas mais
simples até as mais elaboradas, sendo que
até o silêncio é confortável. Somos uma
parceria perfeita, unidos pelos mesmos gostos
e preferências, amigos, companheiros e
amantes. Amantes da natureza, da
contemplação do que é belo, das imagens,
dos cheiros, dos gostos, das melodias que
tocam a alma. Todos os sentidos aguçados e
unidos pela felicidade de serem
compartilhados.
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A alimentação deveria ser equilibrada
naquele dia, nada de excessos e de dificultar
a digestão. Então seguimos comendo pão e
frutas (maçãs, bananas, ameixas, laranjas),
tomando suco, água e um capuccino para
acordar de manhã cedo.
Ao nos aproximarmos do sítio em que
se localizava o Instituto, fomos percebendo
que a atmosfera foi se alterando, a impressão
era de que estávamos chegando em um local
protegido pelas boas energias, um lugar a
parte, parado no tempo e envolto de paz e
bondade.
Ao sermos bem recebidos pelas
pessoas que já estavam no local, aos poucos
a ansiedade foi dando lugar à segurança, a
curiosidade à confiança e a expectativa à paz,
fazendo com que nos sentíssemos a vontade,
contemplando a beleza do lugar, ouvindo as
experiências dos demais que estavam lá.
Alguns passariam pela experiência pela
primeira vez, assim como nós dois, mas a
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maioria já havia “comungado” outras vezes e
compartilhavam com muita alegria o que
tinham vivido, passando segurança e
tranquilidade aos que estavam sendo
iniciados.
O dia estava lindo, com uma
atmosfera amorosa, um sol brilhante e de
calor ameno, os passarinhos cantavam felizes
e fomos apresentados ao local. Havia uma
sede do instituto, na qual várias imagens
estavam expostas nas paredes, das mais
diferentes formas e crenças, todas com muita
beleza e envoltas da natureza.
Uma música tranquila ecoava pelo
local somando-se ao aroma dos incensos
tranquilizadores que se espalhavam,
enchendo de equilíbrio e paz a todos que por
ali estavam. Alguns cachimbavam ervas
naturais preparadas pelo brilho da lua e
fumaça dos ancestrais, em um ritual de
preparação do corpo e espírito para receber
as ervas indígenas vindas da Amazônia.
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Cobertores, mantas, almofadas e
cadeiras, estavam a disposição para que cada
um encontrasse um lugar confortável para se
acomodar e vivenciar a “força” da Ayahuasca.
Embora houvesse liberdade para comungar
no local que cada um entendesse melhor,
todos foram se direcionando para a sombra da
imensa figueira que há no local. Os que não
estavam com a intenção de ficar na sombra da
figueira, aos poucos foram sendo atraídos
para ela, e a comunhão foi feita de forma
unida neste local, com muita paz e harmonia.
Contaminados pelas más notícias que
emanam diariamente na mídia, ficamos com
receio de entrar em algo que não fosse
idôneo. Diante disso, passei todas as
informações que tínhamos do local para minha
amiga Suelen, para que na remota hipótese
de acontecer alguma coisa, alguém soubesse
“no que tínhamos nos metido”. Mas isso foi
feito somente por precaução e por alívio de
consciência, pois sabíamos dentro de nós que
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tudo tinha se encaminhado tão bem por
alguma razão especial.
Nossa busca ao mesmo tempo que
era desinteressada, pois não estávamos indo
até lá para alcançar respostas, curas ou algum
objetivo específico, era também muito bem
direcionada ao autoconhecimento, boas
sensações e percepções.
Tentamos não criar muitas
expectativas com o que encontraríamos com
esta experiência. Confiamos no que estava
nos esperando, no que tinha nos guiado até
este local e aguardamos com respeito e
coração aberto o que estava por acontecer.
Ao sermos orientados sobre como
seria realizado o ritual, disseram para que nós
dois não ficássemos juntos, próximos, pois ao
ver o que o outro estivesse passando poderia
interferir e prejudicá-lo, interrompendo o
processo de compreensão. No entanto, isso
não fazia muito sentido para nós e não
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seguimos a recomendação, o que, no entanto,
descobrimos depois que faria toda a diferença.
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O primeiro cálice
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Após encontrar uma posição
confortável para ficar, deitada de costas para
o chão, com o corpo reto e mãos sobre o
abdômen, com os olhos fechados aguardei o
momento em que começaria a ter alguma
visão.
Fiquei atenta a todos os detalhes,
sensações, mas o tempo foi passando e nada
acontecia. Concentrava-me na música alta
que ouvia, a qual variava entre toques
indígenas e sons tranquilos, perfeitos para o
momento.
Até então não tinha sentido nada
diferente, nenhuma emoção, arrepio ou
“visão”. Comecei a ficar tensa e a pensar que
o chá não faria efeito nenhum em mim.Talvez
o medicamento antidepressivo que eu tomava
pudesse interferir, já que ambos agiam no
cérebro.
Lembrei do que uma mulher havia me
dito antes do ritual sobre suas experiências
com o Daime, de que nas duas primeiras
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vezes que comungou não viu e nem sentiu
nada, somente após a terceira vez que viu "as
estrelas dançarem no céu".
Neste momento senti medo de que
isso acontecesse comigo, de que não fosse
agraciada naquele ritual. Mas em seguida este
pensamento sumiu assim como surgiu, dando
lugar à esperança.
Pensei que se era isso que deveria
acontecer eu iria aceitar, mas sabia que não
era por acaso que estávamos ali e que algo
significativo aconteceria comigo ou com o
Mano.
Enchi meu coração de certeza e
confiança, relaxei novamente e aguardei,
tranquila, sentindo o tempo passar.
Abri meus olhos duas ou três vezes
para ver o que estava acontecendo com os
outros. Percebi a tranquilidade de todos e a
espera pelos efeitos da Ayahuasca. Algumas
pessoas estavam sentadas, com os olhos
fechados, sorrindo e embalando levemente o
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corpo ao ritmo da música. Outros estavam
deitados envoltos de cobertores, parecendo
sentir muito frio.
Fiquei feliz, percebendo que eles
estavam bem, curtindo os efeitos, e que os
demais estavam aguardando assim como eu.
Retomei a concentração, lembrando
das palavras de Raul antes do ritual, falando
acerca da entrega de cada um, da confiança,
da sabedoria da Ayahuasca e dos
ensinamentos que ela proporciona.
Ninguém sente ou vive a mesma coisa
do que outra pessoa. Cada um experiencia o
seu íntimo, revive situações e memórias,
resolve conflitos e traumas, entende situações
e sentimentos, livra-se de doenças espirituais
e carnais, enfim, ninguém vai embora da
mesma forma que chegou.
Depende de cada um se entregar à
vivência que a Ayahuasca irá proporcionar.
Buscar entender cada imagem e sentimento
que virá à tona. O medo deve ser deixado de
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lado, dando lugar à coragem e confiança, já
que após ingerir a bebida não tem mais volta.
Como foi muito bem ressaltado por
Raul não haverá visões do futuro, mas sim, o
resgate de memórias do que já vivemos nesta
e em outras existências. Tudo com o objetivo
do ensinamento, e isto não pode ser
esquecido durante o ritual, pois faz muita
diferença.
Saber que o que eu sentiria fazia parte
de uma lembrança do passado foi essencial,
pois assim poderia superar o trauma e
perceber o presente que estava recebendo
nesta vida, para que o meu futuro fosse
transformado em algo muito melhor e mais
seguro.
Cabe a cada um interpretar as
situações expostas e receber a lição,
aplicando a memória e sentimentos no
presente, para que isso melhore o amanhã e
nos torne pessoas cada vez melhores.
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A Ayahuasca oportuniza uma reflexão
sobre quem somos realmente,
compreendendo o que passamos para ser
quem somos, das razões por sermos assim.
Ela abre feridas, mas mostra a cura; abre
portas e cabe a nós escolhermos passar por
elas; ela traz à tona situações e sentimentos
esquecidos, mas que foram muito importantes
para o que somos hoje; nos presenteia com
imagens exuberantes de nós mesmos, de
familiares, de amigos, mas principalmente da
natureza; resgata nossas raízes e origens,
mostrando o mundo como ele realmente é e
que somos abençoados por viver esta
experiência tão grandiosa.
A Ayahuasca traz de volta nossa
ligação com a terra, com as coisas simples da
vida, com nossa natureza animal, alterando o
paladar, o olhar para as coisas, os sons do
mundo, os cheiros, o toque, o jeito de ver a
vida e as pessoas, transformando cada
momento em algo especial e principalmente
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tocando o coração com muito carinho,
resgatando nossa bondade, refletindo nos
olhos o brilho da vida.A alma fica leve e o
corpo flutua. A vontade de sorrir não cessa,
mesmo doendo a face.
Transformação - esta é a palavra que
define muito bem a experiência com a
Ayahuasca, pois realmente, o que éramos não
seremos mais, e a busca por melhorias e
crescimento do ser não cessará.
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Sentindo os efeitos
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involuntária, senti um carinho e amor enorme
por ele e dele por mim.
Fiquei muito feliz com esta sensação,
foi puro e bonito, como se fossem "flashes" de
momentos especiais e uma preparação para o
que viria a seguir.
Alguns minutos depois não via mais
nenhuma imagem, mas sentia dentro de mim
um bem-estar e um conforto muito bons. Voltei
a sentir o ambiente em que estava, a brisa do
ar fresco, o barulho das folhas balançando nas
árvores, o som dos passarinhos e cachorros,
olhando todas aquelas pessoas ao meu redor
em busca de algo melhor, com muita paz e
bondade, sentadas na grama.
Mano estava ao meu lado e sempre
estávamos encostados de alguma forma,
mantendo a sensação de que o outro estava
ali do lado caso fosse preciso, transmitindo
segurança. Era algo natural e espontâneo,
pois mesmo sendo orientados a não ficarmos
juntos, não conseguíamos nos separar.
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Uma hora e meia depois do primeiro
cálice, foi anunciado de que seria servido o
segundo e era facultado a quem desejasse, o
que foi aceito pela maioria.
O sabor da Ayahuasca não é
desagradável, é diferente de tudo o que já
experimentei, tem gosto característico da
natureza, de consistência mais concentrada, e
em pouca quantidade, podendo ser
consumida em dois ou três goles.
O segundo cálice pareceu mais
amargo e forte do que o primeiro, e foi um
pouco mais difícil de tomar. Mas mesmo
assim, nada me impediu de que o fizesse com
muito interesse. Na verdade, na primeira dose
foi servido um cálice e meio, e na segunda,
um cálice.
Logo depois de tomar a segunda
dose tive que me concentrar para não me
sentir enjoada, mantendo a Ayahuasca dentro
de mim, o que também foi aconselhado por
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Raul antes do ritual, pois era normal acontecer
de ser expelida antes da hora.
O efeito foi surgindo logo em seguida
e comecei a me sentir diferente, sem saber
explicar direito o que senti, pois era novo e
confuso, um mal estar no organismo, mas me
mantive deitada com os olhos fechados,
concentrada, e aguardando a experiência
incrível que iria viver em poucos minutos.
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Antes de começar a experiência com
a Ayahuasca eu pensava que seria melhor
ficar sentada do que deitada, por receio de
ficar enjoada ou adormecer. Mas no momento
não foi o que senti. Percebia a necessidade
de deitar para ter uma entrega maior e um
relaxamento mais profundo, o que não tirava a
minha expectativa e ansiedade pelo o que iria
acontecer.
Permaneci deitada, então, com os
olhos fechados, tentando perceber alguma
imagem que surgiria perante meus olhos, mas
nada acontecia.
Até que de repente percebi que não
era esse o meu propósito neste dia. Eu não
deveria ver, deveria sentir.
Isso somente foi percebido por mim
quando o Mano encostou a sua mão em meu
ombro, de leve, para mostrar que estava ali.
Senti algo muito bom, um conforto, e em
seguida ele colocou a sua mão de leve sobre
o meu coração, o que também foi muito bom.
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Não sei o que ele estava passando
nesta hora, se estava reagindo a alguma
sensação do ritual ou não, mas foi o gatilho
para a minha principal experiência daquele
dia.
Em uma questão de segundos aquela
sensação boa e confortante deu lugar a uma
dor. Meu rosto foi se transformando da
felicidade para a tristeza, meu semblante se
fechando, como se alguém estivesse
passando a mão por ele e transformando-o
em algo ruim.
Uma tristeza muito forte tomou conta
do meu ser e a sensação do toque da mão do
Mano em mim não era boa, e eu não sabia a
razão de tal transformação.
Na mesma hora comecei a chorar,
pois uma imensa vontade invadia o meu
íntimo. A tristeza tomou conta de mim e pude
entender que era uma dor relacionada a ele,
que significava rejeição, perda, abandono.
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Lembrei de que o Raul disse que
99,99% do que vivenciamos com a Ayahuasca
era lembrança, marcas do passado, o que já
vivemos e é trazido à tona por algum motivo.
Compreendi que o Mano já tinha feito
parte de minha vida em outra existência, que
ele era muito importante para mim, mas eu
não era assim para ele. Senti uma dor
incrivelmente forte, como se ele estivesse me
abandonando naquele exato momento.
Compreendi que eu tinha sido rejeitada por ele
ou abandonada quando estivemos juntos em
outra vida.
Não soube o motivo ou o que
realmente aconteceu. Somente senti aquela
dor imensa em meu peito e chorei muito. Me
virei de costas para ele, fiquei deitada de lado,
encolhida, chorando e sofrendo por algum
tempo que não tenho ideia do quanto foi, mas
pra mim parecia que horas estavam se
passando enquanto eu sofria.
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Ao mesmo tempo eu conseguia
perceber a angústia do Mano ao meu lado ao
me ver daquele jeito, sofrendo, e não saber o
que estava acontecendo. Ele colocava a mão
em mim para me dar conforto, mas isso não
era bom, pois o conforto não vinha. Ao
contrário, eu sentia um grande vazio, um
sofrimento ainda maior.
Foi então que ele percebeu, com sua
imensa percepção, que eu precisava daquele
momento e se afastou um pouco. Continuei
chorando muito, notando em certa hora que
sequer estava respirando direito ou engolindo
a saliva. Notei que uma mão me tocou e
desencostou o meu rosto do chão, virando um
pouco para o lado. Alguém estava cuidando
de mim e não deixaria que algo de ruim me
acontecesse, que eu perdesse o controle da
situação.
Passado um tempo fui me acalmando
e senti vontade de me virar para o lado do
Mano, ficar mais próxima dele, como se
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procurasse um colo, um consolo, o que fiz e
fui acolhida. Apesar disso, a vontade
de chorar não cessou e pensei que se
realmente era esse o propósito da minha
experiência, então eu iria me entregar e
chorar, sofrer o que fosse necessário.
O Mano me abraçava e eu sentia
muita vontade de contar o que estava
sentindo, que ele tinha me abandonado, me
rejeitado, perguntando a razão, mas sabia que
não era a hora certa, porque isso iria
atrapalhar a experiência dele.
Chorei, chorei como há muito não
fazia. Senti um sofrimento tão grande que
tinha vontade de chorar em voz alta, externar
o sofrimento de alguma forma, porque parecia
que não cabia dentro de mim.
Tinha certeza do que o sofrimento
representava e o quanto ele foi significativo
em alguma vida, pois fui impedida de amar. A
decepção era enorme e tomava conta de mim.
Era algo que jamais gostaria de sentir
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novamente e essa certeza tomou conta de
mim.
Neste momento eu não sabia o que
isso significaria nesta vida, se isso era um
sinal para que eu não me envolvesse com o
Mano novamente, se iria acontecer de novo
ou que ele não me amava. Mas mesmo assim
me entreguei ao sentimento e confiei, sabendo
que no momento certo entenderia o
significado daquilo.
Senti-me sozinha, mesmo com ele ao
meu lado. Não tive nenhuma visão, somente a
sensação do sofrimento intenso.Por mais que
eu tente descrever o que senti não há como.
O sofrimento era tamanho que eu tinha
vontade de me encolher e entrar dentro de
mim, abraçar a mim mesma para me
confortar, como uma criança que se encolhe
no canto de uma sala com medo, abraçando
os joelhos, encarando a verdade consigo
mesma.
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Na verdade, não importava se tivesse
alguém lá comigo, pois era algo tão profundo
e íntimo que era preciso que eu mesma saísse
daquilo ou ficasse imersa naquele sofrimento
para sempre. Era algo que eu tinha que viver,
sentir novamente, relembrar, e com certeza
isso era essencial para este momento, para
esta vida, para esse reencontro que
estávamos tendo.
Acredito muito em evolução do
espírito, que somos presenteados com a vida
para que nos tornemos melhores, para
aprendermos, tirarmos lições, evoluir e
alcançar um dia uma paz completa.
Por algum motivo eu e o Mano
estávamos tendo uma nova chance nesta
vida. Não foi por acaso o nosso encontro e
caberia somente à nós evoluir como seres ou
permanecer no mesmo erro.
Por isso sofri de novo, sofri muito,
entreguei-me totalmente àquela sensação e
angústia, pois era necessário passar por isso.
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“Tu é o ser iluminado que está
encantando minha vida. Espero
sempre retribuir esse amor com toda a
minha capacidade! Estou sempre
contigo, Angel! Tudo é perfeito
quando você está do meu lado”.
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Aos poucos fui me acalmando e
percebendo meu estado físico. Estava com o
nariz totalmente trancado, não conseguia
respirar direito. Sentia-me embriagada pela
tristeza, como se estivesse chorando há dias,
realmente acabada em mim mesma. Senti que
precisava sentar e respirar um pouco, tentar
me recompor, organizar as ideias e entender o
que estava acontecendo.
Sentei e encostei os cotovelos nos
joelhos, colocando as mãos por entre os
cabelos, com os dedos junto ao couro
cabeludo, como uma forma de me confortar e
fazer carinho.
Percebi que Mano também sentou e
se concentrou, permitindo que eu me
encontrasse.Sabiamente ele sempre tinha a
atitude correta, a palavra certa, o toque na
hora adequada e o afastamento também.
Quando estava imersa na tristeza,
deitada ao seu lado, ele se aproximava e dizia
ao meu ouvido "estou aqui contigo", "eu te
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amo". Ouvindo isso ocorria um combate
dentro de mim, pois uma coisa era
contraditória a outra, eu sentia a rejeição e
ouvia palavras de amor vindas dele!
Mas o fascinante é que a Ayahuasca
permite o aumento da consciência, fazendo
com que sejamos capazes de separar o
presente do passado, o que estamos sentindo
e vivenciando naquele momento do que é
vivido na vida presente. Assim, consegui
manter um equilíbrio, procurar o ar, sentar e
seguir adiante.
Em alguns minutos sentada naquela
posição, segurando os meus cabelos,
concentrei-me na música doce que estava
tocando naquele momento.
Recuperei a respiração pelo nariz e a
calma foi tomando conta de mim. Em questão
de segundos o sofrimento retornava e eu
chorava, doía o peito e eu sentia como se
estivesse curvada para o chão à minha frente,
encostada nas pernas, em posição de
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sofrimento. Abria meus olhos um pouco e via
que não estava naquela posição que eu sentia
estar, estava ereta, com os cotovelos nos
joelhos e mãos nos cabelos. Recuperava a
tranquilidade e a respiração e percebia que
não podia ficar naquela situação de
sofrimento.
Foi então que fui presenteada com a
visão mais exuberante de minha vida e a
melhor sensação que já tive.Uma visão que
esperei minha vida inteira para ter.
Fui abençoada com a presença de
meu anjo protetor.
Com os olhos fechados e imersa
naquele momento, vi o meu anjo perante mim,
olhando-me de perto, do meu lado esquerdo e
indo para a frente. Ele era incrivelmente lindo,
de cor azul clara, jovem, com os traços do
rosto muito delicados. Ele sorria para mim de
uma forma doce e vi suas asas nas costas,
estavam fechadas e eram no mesmo tom de
azul.
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Logo em seguida ele retornou para
atrás de mim e pude sentir o seu abraço ao
redor dos meus braços. Senti como se ele
tivesse sentado atrás de mim e me abraçado,
recostando-me junto a ele, como uma mãe
que abraça um filho machucado. Na hora
escutei uma música de ninar, só com o som
de piano, em notas leves e doces, e entreguei-
me ao abraço e colo de meu anjo.
De repente o sentimento de tristeza e
as lágrimas voltavam, como se eu estivesse
contando para ele o que tinha acontecido
comigo, mas logo ele me abraçava mais forte
e a dor sumia. Fiquei envolta de muito amor e
carinho, senti que ele me protegia e sempre
esteve comigo, cuidava de mim em todos os
momentos e por isso eu não precisava de
mais nada. Eu sabia que ele estava comigo e
que poderia confiar, que não me abandonaria
e eu não estava e nunca estive sozinha.
Meu rosto transformou-se, era como
se ele passasse a mão por ele tirando toda a
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tristeza e trazendo felicidade. Uma felicidade
imensa tomou conta do meu ser, e foi
aumentando muito, como se fosse sair de
dentro de mim e eu tivesse que externar de
alguma forma.
A música era belíssima e sempre vai
estar em minha mente. Ouvi uma voz doce e
suave feminina dizendo "Beeeeem-
viiiiiinndaaa", "Beeeeeem-viiindaaa", como se
naquele momento eu estivesse renascendo e
sendo agraciada pela vida, como se todo o
sofrimento que eu tinha passado momentos
antes tivesse sido parte do passado e que
agora eu estava pronta para viver o presente.
Senti o abraço da vida, da luz, da
natureza, acompanhada de meu anjo que
continuava abraçado a mim, e senti que ele
sempre me acompanharia, que não precisava
de mais ninguém, que eu já tinha tudo o que
era necessário para ser feliz.
A música continuava linda, mas em
um ritmo um pouco mais dançante e o anjo
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me embalava para os lados com muita alegria,
dizendo que daquele momento em diante não
iria mais sofrer e que a vida tinha muita
felicidade a me proporcionar.
Era mágico e maravilhoso poder
dançar com meu anjo, ele me embalava com
muito carinho no ritmo da música e me
abraçava apertado sempre que a tristeza
teimava em retornar ao meu coração,
transformando-a em felicidade.
A alegria que senti era tamanha que
meu sorriso tornou-se risada, gargalhada!
Nunca me senti tão bem e tão feliz em toda a
minha vida, uma felicidade que não cabia
dentro de mim e sentia a necessidade de rir
em voz alta para poder suportá-la, porque
minha vontade era de sair rodopiando e
dançando de verdade com meu anjo.
Para ter certeza do que estava
vivenciando, apertava os dedos nos cabelos e
sentia que realmente estava ali e que tudo era
real em minha mente e meu corpo, abria
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somente um pouco dos olhos e via que
permanecia sentada na mesma posição, e
logo que os fechava novamente, sentia como
se voltasse a flutuar.
A sensação é indescritível. Posso
afirmar com toda a certeza de que fui
imensamente feliz neste momento como
nunca havia sido em toda a minha vida.
Gargalhei como nunca havia feito antes e eu
me ouvia e achava muito lindo e engraçado,
porque era uma risada muito natural,que
expressava muita alegria na forma
mais verdadeira que existe.
Era a alegria de uma criança, algo que
tomava conta de mim. O anjo permanecia
comigo, abraçando e embalando o meu ser,
fornecendo muito amor para mim, um amor
puro, sublime, que me fazia voar.
Pude sentir a felicidade do Mano perto
de mim vendo que eu estava feliz. Quando eu
ria eu podia ouvir ele rindo também, e então
eu ria mais ainda! Ouvia também outro rapaz
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perto de mim que ria de vez em quando, e
logo em seguida me dava vontade de rir
novamente, como se a felicidade dele me
contagiasse.
Comecei a perceber tudo ao meu
redor de uma forma diferente, os sons, o
vento, retornando daquele estágio total de
felicidade para o momento real, voltando dos
céus e colocando os pés no chão.
Ao abrir um pouco os olhos pude
ver que estava anoitecendo, mas minha visão
não estava mais como antes, ela era
embaralhada, como se minhas pupilas
estivessem muito dilatadas. Um mal estar
físico começou a tomar conta de mim, e um
enjôo muito forte surgiu. Fiquei tonta e falei
que estava mal, que iria vomitar. Prontamente
o Mano estava comigo e pegou um balde.
Comecei, então, a passar pela catarse.
Durante aquele dia não haviamos
comido nada pesado, como mencionei, por
recomendação prévia da organização do
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ritual. Além do estado de equilíbrio, existe a
possibilidade e é comum as pessoas
enjoarem, sendo que antes do ritual começar
é fornecido um pequeno balde para cada um,
caso necessário.
No meu caso foi necessário. Vomitei
bastante, somente sentia a ânsia forte em
meu estômago que não cessava mesmo não
tendo nada para expelir. Sentia dor por causa
disso, e demorou para passar. Cheguei a
pensar se aquilo realmente estava
acontecendo ou eu estava imaginando, mas
era real.
Percebi que meu organismo estava
sendo limpo, que aquilo era necessário e fazia
parte do meu renascimento.
Depois deitei novamente para me
recuperar, com as costas ao chão, e então
abri meus olhos. Já era noite e olhei em
direção ao céu. O que vi era mágico, incrível.
A natureza estava se mostrando na sua mais
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pura e verdadeira forma, em cores
incrivelmente belas e surreais.
Tudo o que via era a árvore gigante
acima de mim. Os galhos mais grossos
estavam refletindo a cor amarelo limão, muito
destacados em meio a escuridão. A cor era
viva, um amarelo neon. Destes galhos saíam
galhos menores e muitas folhas, as quais
eram em tons de verde limão, e eu conseguia
ver cada folha individualmente, estavam em
relevo, como se fosse com um efeito 3D,
umas se sobressaindo sobre outras, sempre
incrivelmente belas.
As cores da figueira eram
incandescentes em meio a escuridão, e diante
de meus olhos era só o que via, mais ninguém
ou qualquer coisa, somente a árvore com toda
a sua beleza e grandiosidade.
Depois, fui conseguindo visualizar o
céu estrelado por entre as folhas da figueira.
As estrelas eram muito claras e maiores do
que o normal, misturavam-se com as folhas,
45
mas era perfeitamente possível diferenciá-las
por causa das cores que possuíam, muito
brancas e brilhantes.
Uma emoção muito forte tomou conta
de meu ser quando percebi tudo o que estava
vendo naquele momento, com tanta beleza da
natureza se mostrando para mim, como se
estivesse me chamando para uma nova
realidade.
Nada mais me importava naquele
momento. Não percebia se tinha mais gente
perto de mim ou o que estava acontecendo ao
meu redor. Só queria ficar contemplando toda
aquela beleza e sentindo a emoção diante do
presente que a vida estava me dando.
Uma felicidade imensa tomou conta
do meu ser novamente, fazendo-me sentar e
querer apalpar a natureza, pois me sentia
parte dela. Esta felicidade voltou a ser
exteriorizada, pois não cabia dentro de mim.
Nunca, em toda a minha vida, eu
havia me sentido tão plena e feliz,
46
gargalhando daquela maneira tão inteira e
sincera. Não era um momento de alegria, uma
risada passageira. Era algo quase
incontrolável. Uma felicidade imensa que
tomava conta do meu ser de tal forma que a
risada era espontânea e tudo era motivo para
desencadeá-la.
Dava-me conta da música que estava
tocando e parecia não ter fim, repetindo-se
inúmeras vezes. A letra era sempre
significativa e até que eu não compreendesse
totalmente ela não terminava.
Uma das músicas que me marcou
neste momento falava sobre as coisas simples
da vida e que deveriam ser valorizadas; cada
momento vivido, os pequenos detalhes do dia-
a-dia, as pessoas e situações, tudo da forma
mais simples e sincera que a vida pode
oferecer; que são nesses momentos que a
felicidade está, que o segredo se encontra;
que não é preciso grandes conquistas e
fortunas para alcançar a felicidade, ela está
47
bem diante de nós todos os dias, e isso deve
ser sempre valorizado.
Ouvi repetidas vezes a expressão
“coisas simples” durante a música e isso trazia
a certeza de que eu sou feliz e que
principalmente a felicidade só dependia de
minha vontade, pois ela está a disposição nas
coisas simples da vida, basta percebê-las.
É incrível como a introdução de uma
ou duas palavras podem desencadear uma
série de pensamentos e certezas que passam
a fazer parte do que somos e até então não
tínhamos pensado a respeito ou não dado o
valor necessário.
Recordo de ter sentado na mesma
posição que estava anteriormente, com os
cotovelos encostados nos joelhos dobrados
em minha frente, com as mãos entre os
cabelos, acariciando minha própria cabeça e
me deixando levar pelas músicas cada vez
mais significativas.
48
Depois dessa mensagem sobre as
coisas simples da vida, recordo de dizer em
voz alta que já tinha entendido e que a música
poderia terminar, mas ela não terminava, o
que eu achava engraçado e ria muito. Mas
aos poucos ela foi baixando o volume e
terminou.
Logo em seguida outra canção
começou, muito bonita, com melodia suave e
doce. Ela falava sobre o amor, a força do
amor que preenche o ser, o corpo e a alma,
que dá sentido à vida e rompe obstáculos.
Senti o amor tomando conta de mim
intensamente. Meu corpo flutuava com a
música e ela repetia “só o amor, só o amor”,
“somos um”, e isso ia me enchendo de certeza
de que tudo de ruim e difícil já tinha passado,
que daquele momento em diante só o amor
importava, só o amor era o que valia a pena,
só o amor bastava para a verdadeira
felicidade, e o amor da minha vida tinha
49
chegado e desta vez não iria me abandonar
ou rejeitar.
Incrivelmente quando eu estava
sentindo tudo isso o Mano se aproximou de
mim e me abraçou, sentia o quanto ele estava
feliz e dizia que estava do meu lado, que me
amava. Neste momento eu senti uma
felicidade enorme misturada com muita
emoção, choro, risadas, um amor imenso e
uma certeza de que o trauma tinha sido
superado e que seriamos felizes, nos amando
da forma mais pura e verdadeira.
A sensação neste momento era como
se estivesse embriagada de tanto amor e
felicidade, chorava de emoção e repetia as
palavras que ouvia na música, “só o amor”,
“somos um”. Lembro de dizer inúmeras vezes
“que bom, que bom, que bom” quando o Mano
me abraçava. Eu queria dizer para ele tudo o
que estava sentindo e que era por causa dele
que eu estava tão feliz, mas sabia que não
teria como explicar naquele momento. Então
50
eu abraçava ele também e chamava o seu
nome, sorria muito, e ele sentia a minha
vibração e fazia o mesmo por mim.
Estávamos deitados entre as raízes
da figueira, abraçados como se fossemos um
só, sentindo a intensidade do amor e a beleza
intensa do momento. Era mágico, surreal!
De repente ele me disse para olhar na
direção de uma luz verde que estava atrás de
onde estávamos deitados e foi o que fiz, na
tentativa de começar a me trazer de volta pra
realidade, pois já haviam se passado horas
desde o início do ritual. O que vi foi de uma
beleza estonteante e fiquei maravilhada. O
verde da luz era belíssimo e iluminava tudo ao
seu redor, até as árvores que estavam
próximas estavam ficando no mesmo tom de
verde, assim como o céu e toda a vegetação
existente no local.
Mano dizia ao meu ouvido que aquela
luz verde significava a cura. Cura que
estávamos recebendo naquele dia, sem ao
51
menos imaginar o que eu havia
experimentado e qual tinha sido a razão do
meu sofrimento e felicidade.
Lembro que ele estava irradiante,
transmitindo muito amor, carinho e proteção
para mim, em todo o momento estava ao meu
lado, cuidando e protegendo, tentando me
trazer de volta para a realidade, para que aos
poucos o efeito da Ayahuasca passasse. Mas
não passava, e isso já estava me deixando
cansada.
Eu podia ouvir muito bem tudo o que
acontecia ao meu redor, mas não conseguia
reagir, terminar o ritual.
Mano perguntou se eu precisava de
mais tempo ou estava pronta, eu disse que
precisava mais tempo e então tranquilizou-me,
dizendo que estaria comigo o tempo que fosse
preciso.
Voltei a deitar de costas para o chão,
prestando atenção na música que tocava.
Neste momento recebi outra mensagem muito
52
importante. A canção falava muito sobre
ensinamento, ouvi e senti dentro de mim um
chamado de que era preciso ensinar, falar ao
mundo sobre o amor, dizer que o amor existe
e que as pessoas precisam disso. Entendi que
o que eu estava vivendo naquele dia era algo
transformador e eu não poderia guardar
somente para mim, tinha que transmitir este
conhecimento para o mundo inteiro.
Neste momento tive a certeza de que
escreveria um livro sobre esta experiência
única com a Ayahuasca e sobre o amor que
encontrei no Mano, sobre a nossa história que
sabia até aquele momento. Senti uma
felicidade enorme ao perceber isso e uma
emoção também, pois desde criança quis
escrever um livro, mas não sabia nem por
onde começar, não tinha inspiração sobre qual
assunto escrever, e agora ele estava pronto
em minha mente.
A partir deste instante as músicas
começaram a ficar de certo modo
53
perturbadoras. Estavam em um volume muito
alto e misturadas aos sons de tambores que
estavam sendo tocados por aqueles que já
tinham terminado o ritual e estavam ao redor
da fogueira, cantando e celebrando.
Eu queria muito terminar o ritual, mas
não conseguia, os efeitos ainda eram muito
fortes e tomavam conta do meu ser. Mano
tentava me ajudar, dizendo para eu me
concentrar na música, no som dos sapos que
estavam cantando, tentando me "acordar"
daquele efeito, mas não era fácil, e eu não
conseguia.
Em certos momentos eu me sentia
muito angustiada por isso. Quando abria os
olhos para me recuperar, via tudo colorido e
logo sentia tontura e enjoo novamente, então
voltava a deitar. Não tinha forças para me
erguer e muito menos caminhar.
Percebia o Mano um pouco agitado
por me ver assim, querendo me ajudar de
54
alguma forma, mas também não queria sair do
meu lado.
Lembro de sentir muita sede e pedir
água, e depois de um tempo consegui receber
este presente por alguém que o Mano pediu
que fizesse esse favor, mas mesmo assim,
ainda não conseguia levantar de onde estava.
Quando tentava sair daquela situação
e voltar para a realidade, sentia tontura e
enjoo, até a água que tomei eu vomitei,
continuava com ânsia de vômito, mas como
não havia mais nada em meu estômago,
apenas sentia a dor intensa. Então, retornava
a deitar e esperava ansiosa o efeito passar.
Mano sempre estava ao meu lado,
perguntava se eu estava melhorando, se
precisava de alguma coisa, dava conselhos de
como seguir consciente e melhorando, mas
era difícil e lembro de dizer pra ele que
precisava de mais tempo, que ainda não
conseguia levantar, “quero que isso pare!”,
lembro de dizer algumas vezes.
55
Minha mente estava exausta e a
música me incomodava, era muito alta, mas
era preciso para que o ritual terminasse, pois
a música não deixa que entremos num estado
de inconsciência.
56
Aos poucos o efeito da Ayahuasca vai
passando e enquanto isso é possível perceber
o que está acontecendo ao redor. Escutava
perfeitamente as conversas das pessoas que
se aproximavam. Ainda não conseguia
levantar, meu corpo estava pesado e cansado
e logo sentia enjoo em razão da tontura,
então, permanecia deitada.
Ouvindo as vozes das pessoas eu
sabia exatamente quem estava falando, e isso
que eram pessoas que eu havia conhecido
naquele dia, mas sabia quem era. Pude
perceber a felicidade que todos estavam
sentindo, que várias pessoas tinham
experienciado algo especial e queriam
compartilhar.
Uma sensação de bem estar e festa
tomou conta do local. A maioria já estava em
uma área um pouco mais afastada, ao redor
da fogueira, cantando, batendo palmas e
tambores, lanchando, sob a luz do luar e a
brisa tranquila da noite. A vibração se
57
espalhava por todo o lugar, a natureza estava
feliz!
Mesmo não podendo ver o que estava
acontecendo, escutava com felicidade e sentia
as boas energias que fluíam.
Dois rapazes conversavam com o
Mano próximos a mim e falavam que aquele
dia tinha sido um marco, um encontro muito
especial de vários espíritos evoluídos, que era
possível sentir o amor e a sabedoria
irradiando entre as pessoas e algo muito
mágico tinha acontecido com cada um.
Ao ouvir isso eu concordei em
pensamento e comecei a me dar conta da
dimensão do que tinha acontecido, do que
representava aquele ritual e que ninguém
estava lá por brincadeira ou curtição.
Cada um teve a experiência íntima
que a Ayahuasca entendeu necessária,
proporcionando crescimento
e autoconhecimento.
58
Ouvia os meninos falando do quanto
aquele lugar representava um local especial
do universo, um ponto iluminado com imensa
força energética. Contaram as histórias
passadas por Raul, de que naquele lugar, há
certo tempo, era um centro de cura de um
povo que ali morava, principalmente onde fica
a figueira.
Eles estavam eufóricos relatando o
que tinham visto por ali e apontavam para o
céu e para o horizonte, dizendo "olha ali,
olha ali, vocês estão vendo aquilo!!".
Referiam-se a uma luz que brilhava
intensamente e foram em direção a cerca
que separava os terrenos, poucos metros a
frente, cerca esta que o Raul pediu que
não fosse ultrapassada, para poder ver melhor
a luz. Mano pediu que eu fosse junto e me
ajudou a levantar.
Com muito custo eu consegui levantar
e caminhar alguns passos até a cerca, mas
era incrível como meu corpo estava diferente,
59
como se eu tivesse que aprender a caminhar
novamente. Aproximei-me da cerca, sempre
amparada por Mano, e tive a sensação nítida
de que do outro lado da cerca havia água, um
lago. Pude ver a água mesmo no escuro, ela
brilhava embaixo da vegetação verde escura
que a cobria, e não queria me aproximar mais
por receio de cair dentro da lagoa, era uma
certeza que eu tinha.
Então parei, segurei firme no braço do
Mano e ergui a cabeça para procurar o que
eles estavam animados olhando, vi algumas
luzes bem brilhantes, mas não sei se era isso
que eles estavam admirando, porque não
consegui ficar muito tempo com os olhos
abertos.
A tontura voltou forte e a fraqueza no
corpo também. Precisava deitar novamente,
mas não queria interromper aquele momento
vibrante dos meninos. Então somente fui me
abaixando e deitei onde estava, direto na
grama e perto da lagoa que eu sabia que
60
estava ali (mas na verdade havia um campo,
sem água).
Com o tempo percebi a preocupação
dos meninos comigo, o Mano queria me levar
lá para a sede do instituto ou para o carro, eu
dizia que não conseguia caminhar, sentia frio,
estava com os pés descalços, sentindo a
terra.
Levantei com a ajuda do Mano e um
rapaz me emprestou o casaco, encontraram
meus chinelos (mas meu casaco ficou lá) e
fiquei um pouco em pé para me orientar.
Mesmo com dificuldade, fui caminhando com
o auxílio total do Mano, que me abraçava, e
fomos indo devagar para a sede.
O terreno era irregular e havia
vegetação, troncos, uma escada, mas tudo
ocorreu bem e conseguimos chegar lá. Por
alguns momentos eu abria os olhos para me
localizar, mas ainda era muito difícil e a
tontura voltava.
61
Sentei em uma cadeira, eu só queria ir
dormir num lugar bem silencioso, acalmar a
minha mente, mas ainda não era possível.
Abri meus olhos e vi a fogueira próxima a
mim, com suas chamas cor de laranja neon e
amarelas, brilhando imensamente na
escuridão da noite.
A sede estava enfeitada com
pequenas luzes penduradas e eu as via como
se estivessem em movimento. Ergui a cabeça
e olhei para a imensidão do céu. Deparei-me
com tantas estrelas que jamais tinha visto em
tamanha quantidade e beleza, estavam muito
próximas e iluminadas, lindo demais.
Mas logo tinha que fechar meus olhos
novamente, pois estava forçando muito minha
cabeça que estava doendo, cansada. Mano
voltou e me disse que tinha arrumado um
lugar para eu deitar dentro da sede, que lá
poderia descansar um pouco até terminar o
ritual e irmos dormir onde fosse possível.
62
Dentro da sede estava tudo iluminado
com pequenas luzes e as imagens que
estavam nas paredes ficavam muito belas
e destacadas, tornando um ambiente sagrado,
ideal para o que eu estava precisando.
Deitei no chão onde o Mano havia
colocado um colchonete, travesseiro e alguns
cobertores, e quando abria um pouco os olhos
podia ver ele sentado em uma cadeira
próximo a mim, direcionado às imagens e em
posição de oração, agradecimento, isso
enchia meu coração de amor e eu retornava a
descansar.
Muita coisa passava pela minha
cabeça e eu queria contar logo pro Mano tudo
o que tinha vivenciado naquele dia, mas ainda
não estava em condições, precisava
descansar e poder abrir os olhos com clareza.
Não sei quanto tempo fiquei ali, acho
que não mais de meia hora, mas quando abri
meus olhos já enxergava melhor, mais nítido,
menos embaçado e minha mente estava um
63
pouco menos bagunçada. Fiquei olhando para
o Mano e ele logo se aproximou, pedindo se
eu estava melhor. Disse que Raul nos levaria
para dormir na casinha, um local perto da
casa deles que tinha uma cama pra gente,
banheiro pra tomar um banho e descansarmos
para seguir viagem no dia seguinte. Ficamos
imensamente agradecidos por isso, estava
tudo perfeito.
Sentia uma felicidade imensa e uma
paz inigualável dentro de mim e percebi que
tinha condições de contar algumas coisas
para o Mano, as principais, pois os detalhes
falaria posteriormente.
Percebi a surpresa dele ao saber que
o que eu tinha vivido tinha a ver com ele e
com nós dois, pois a experiência poderia ser
sobre qualquer coisa, e foi sobre a gente e era
algo que aos poucos iríamos entender.
A sensação que eu tinha era de
certeza de que ele era muito importante para
mim desde outras vidas e que eu estava certa
64
em seguir meu coração e permanecer ao lado
dele.
Por mais que eu tivesse sofrido
imensamente a perda dele, relembrado
naquela noite, fui abençoada com o perdão, o
renascimento, uma nova chance que não iria
desperdiçar.
Concluído o ritual naquela noite,
fomos com Raul e Liana para a casa em que
moravam a alguns metros de distância do
instituto, no mesmo sítio. Durante o caminho o
balanço do carro e a voz alta de Raul ao
telefone provocaram novo enjoo em mim, mas
somente veio a ânsia, pois nada havia para
expulsar do organismo. Tudo o que eu queria
naquele momento era um banho e uma cama.
Ao entrarmos na casa de Raul e
Liana, chamou minha atenção um quadro na
parede, no qual vi nitidamente a foto de Mano
quando criança, a mesma foto que ele havia
me enviado por email há alguns dias
atrás para me mostrar como era quando
65
criança. Este fato chamou muito a minha
atenção, mas deixei para comentar em outro
momento.
Acomodaram-nos na sala enquanto
levavam uma menina para casa, e ficamos na
companhia dos gatos, gentis e carinhosos. Um
deles já se acomodou no colo do Mano. Em
seguida levantei e fui procurar o quadro que
tinha visto, mas não mais o encontrei. Fiquei
inconformada com isso, pois tinha certeza que
tinha visto o quadro na parede, e então
comentei com Mano. Incrivelmente ele disse
que teve a mesma visão quando entrou na
casa. Disse que viu um quadro com o seu
retrato de criança, a mesma foto que havia me
mandado.
Sentamos no sofá e admiramos
aquele momento, aquele sinal, aquela
coincidência, não podia ser em vão.
Na sala em que estávamos haviam
porta retratos de crianças, até uma delas era
um pouco parecida com a foto do Mano, mas
66
não era naquele local da casa que a tínhamos
visto, e foi logo quando entramos, antes de ver
a parede com os porta retratos, então não
poderia ter sido uma confusão mental, ainda
mais por ter acontecido com nós dois ao
mesmo tempo. Incrível e mágico.
Quando Liana e Raul retornaram,
levaram-nos até a casinha que ficava ao lado
da casa e nos acomodaram gentilmente.
Tomei meu desejado banho e deitei na cama,
tentando acalmar minha mente e ficar em
silêncio, o que fui conseguindo aos poucos.
Meu corpo estava muito pesado e cansado,
precisava de repouso.
Quando deitei na cama não conseguia
nem me mexer de tão exausta, mas tinha uma
sensação maravilhosa, sentia o espírito leve e
o coração repleto de amor. Mano ajudou-me a
deitar e foi até a casa de Liana e Raul para
tomar uma sopa que eles tinham oferecido. Eu
não tinha a menor condição de comer, e sabia
que se o fizesse, seria expelido. Precisava de
67
mais algumas horas de recuperação da
catarse.
Lembro quando Mano retornou, tomou
seu banho e deitou ao meu lado, sempre
muito cuidadoso para não me acordar. Abri
meus olhos e pedi se estava bem, respondeu
afirmativamente, muito contente com
a refeição que tinha feito e dormimos
felizes pelo lugar em que estávamos e a
experiência que tivemos.
O silêncio era perfeito e o sono
revigorante. Acordei no meio da noite ouvindo
Mano tossir bastante, tentando não me
acordar e segurando a tosse no peito. De
imediato senti que tinha que ajudá-lo, pois ele
tinha cuidado tanto de mim naquele dia e
agora precisava de ajuda. Percebi que ele não
estava conseguindo dormir e a tosse
incomodava muito, já que há dias estava com
dor de garganta com inflamação, tendo
tomado duas injeções de antibióticos para
melhorar.
68
Virei para ele e disse que tossisse
forte, colocasse pra fora o que tivesse que
sair, sem receio. Foi o que fez e me perguntou
se o balde estava comigo, lembrando do ritual
em que cada um tinha um balde. Ele tossiu
bastante, com força, sentado na cama, e aos
poucos foi se acalmando. Deitou ao meu lado
novamente, recuperando a respiração
tranquila, massageei o seu peito com carinho,
transmitindo amor, energia de cura, boas
vibrações.
Coloquei em prática o que a
Ayahuasca me ensinou naquele dia, falei cada
palavra que surgiu em minha mente e
coração, que estava ao lado dele para cuidá-
lo, que ia passar, melhorar, que estávamos
juntos, que nosso amor era lindo e
principalmente, que o perdoava pelo que já
tinha acontecido, se ele me abandonou ou
rejeitou um dia, eu o perdoava.
Precisava muito dizer isso, pois tinha
certeza que os momentos ruins e difíceis
69
haviam passado, e que agora a vida estava
nos dando uma nova chance para vivermos o
amor e nada mais iria nos separar.
A tosse foi cessando, estava deitada
de lado com a cabeça no peito dele, e chamei
a atenção para os sons que vinham da
natureza naquele instante.
O som do vento tranquilo nas árvores
e o canto dos animais. Como se ouvissem a
nossa conversa, e tenho certeza que sim, os
cachorros uivavam de uma forma feliz, era
como se fossem muitos e estivessem vibrando
o nosso amor, dizendo que estávamos certos
e que realmente isso iria acontecer. Rimos do
que ouvimos, era belo e perfeito para o
momento. A natureza celebrava o nosso amor
junto com a gente e tivemos um sono tranquilo
até o amanhecer.
Acordamos com a sensação de que
tínhamos dormido uns dois dias, pois nos
sentimos muito descansados e revigorados,
70
sensação perfeita para seguir uma viagem
tranquila até nossas casas.
71
A vida real
72
Os questionamentos começaram a
surgir pouco antes de completar 30 anos. Dei-
me conta de que já tinha vivido tanto tempo e
comecei a analisar o que tinha feito até então
por mim e por minha vida, pelo meu bem
estar. Refleti muito sobre isso e surgiu uma
nova preocupação que até então eu não tinha,
acerca do que eu era naquele momento, se
estava realizada, feliz, onde queria estar e
viver, de como seria se estivesse no final da
vida, teria valido a pena?
Tais questionamentos não poderiam
ser ignorados, pois não estavam dentro de
mim sem razão. A comunhão com a
Ayahuasca veio no momento exato de minha
vida e agora posso perceber essa mudança
de ciclos.
Poder escrever sobre isso é algo que
me dá uma realização muito grande, pois
eu tenho isso dentro de mim desde criança e
faltava a oportunidade certa de materializá-la.
73
Como falei, não sei o que me espera
deste momento em diante, mas estou
confiante e feliz, pois tenho a convicção de
que não quero nada em minha vida que não
me faça bem, incluindo pessoas, situações,
lugares, coisas, alimentos, enfim, chega uma
hora em que temos que fazer escolhas e dizer
não, pensar no próprio bem estar e no que se
quer na vida, quem quer ser, o que quer
sentir, o que quer transmitir aos outros,
realizar, curtir, comer, beber, frequentar.
Tenho a convicção de que tudo foi
perfeito até aqui. Tudo o que vivi, aprendi,
presenciei, pessoas com as quais convivi,
situações que me fizeram feliz e
principalmente as que me fizeram sofrer.
Somente passando por este momento
é que entendo que tudo é perfeito na nossa
existência, cada momento, tudo faz parte da
nossa história e temos que passar para
sermos quem devemos ser.
74
No momento do sofrimento, quando
perdemos, não alcançamos algum objetivo,
não tem como aceitar essa ideia, faz parte do
processo de indignação e evolução.Mas
quando encerramos este ciclo, é fácil perceber
o quão bom foi não ter acontecido tal coisa,
pois senão talvez não chegaríamos a este
momento.
Não nos damos conta que a vida
passa muito rápido, que não seremos jovens
eternamente (pelo menos fisicamente) e que é
preciso fazer escolhas.
75
Um pouco de reflexão
76
Uma coisa que nunca aceitei e é algo
muito forte que tenho dentro de mim é a
injustiça.
Por alguma razão, que espero um dia
entender, passei por situações em que fui
injustiçada e sofri muito por isso. Podem ter
sido coisas pequenas, mas sofri por ter sido
acusada de ter feito alguma coisa que não
tinha, ou ter direcionado para mim situações
que não me diziam respeito, mas de
alguma forma faziam com que eu me sentisse
injustiçada e não merecesse passar por isso.
Tenho algo em mim que é inocente,
não direciono nada de ruim para ninguém, não
provoco situações nem pessoas, estou
sempre de bem e tento evitar o que e quem
não me faz bem, mas mesmo assim, por
alguma razão, não tem como evitar e essas
situações surgem para me desestabilizar.
Muitas pessoas fizeram parte de
minha vida e que depois simplesmente nunca
mais tive contato, mas tenho consciência do
77
quanto foram importantes por alguma razão,
ou eu fui importante por alguma palavra que
disse ou algum gesto que fiz, alguma atitude,
amizade, carinho, enfim, assim como eu
sempre tento guardar o melhor de cada
relação que tive eu espero que a outra pessoa
faça isso também, mas isso não terei como
saber.
Pode o tempo passar o quanto for,
mas algumas pessoas quando encontramos
novamente nos fazem sentir que o tempo não
passou e a amizade continua da mesma
forma, há uma cumplicidade que traz a
certeza de que o melhor ficou marcado e a
razão de ser foi cumprida no momento certo.
Todos os tipos de relacionamento são
um desafio. Um desafio que exige o nosso
melhor ou desperta o nosso pior, e é algo que
temos que enfrentar e superar.
Dentro da própria família acontecem
os mais variados desafios, pois pessoas tão
diferentes as vezes são colocadas em uma
78
posição que devem conviver e resolver
conflitos que nem sabem que existiram, mas
fazem parte do que são agora e do
que devem vivenciar nesta vida para uma
evolução espiritual ou continuar persistindo no
erro e demorar mais algumas vidas para
serem capazes de resolver. Cabe a cada um
conseguir fazer isso no momento certo, no
momento em que houver amadurecimento
suficiente para entender o desafio e superá-lo,
para então, partir para um novo caminho.
Neste momento em que estou,
consigo perceber várias coisas que até então
não tinha parado para pensar e entendo o
sentido de muitas situações.
Sinto realmente a mudança de um
ciclo, um marco em minha vida,
uma transformação, uma nova fase. Valorizo
muito o que já vivi até aqui, o que aprendi, por
onde andei e as pessoas com as quais me
relacionei. Se deixei algo pendente
isso não me impede de seguir adiante e tenho
79
certeza que chegará o momento certo para
resolver.
Sinto que as pessoas que não fazem
mais parte significativamente de minha
vida realmente não fazem falta e fizeram o
papel que deveriam ter feito, ou eu fiz por
elas, mas tudo está em seu lugar e não quero
mais nada que não me faça bem.
Se houve o afastamento por alguma
razão que desconheço, aceito a vontade do
universo e faço reverência, principalmente
agradecendo por todos os ensinamentos que
compartilhamos e agradeço imensamente
pelas pessoas que permaneceram em minha
vida, em todos os sentidos, pois sinto
realmente que são especiais.
Sei que nosso caminho é longo e
muitas pessoas farão parte dele, e espero
poder aprender um pouco com cada uma,
mesmo que seja difícil.
Sou como sou hoje em razão de tudo
o que já vivi e me sinto evoluir cada dia um
80
pouco, aprendendo o que posso e sempre
almejando ser uma pessoa melhor em todos
os sentidos.
A busca pelo autoconhecimento
sempre esteve presente em mim e é algo que
respeito muito, e tenho certeza de que se isso
fizesse parte da vida de mais pessoas, o
mundo poderia ser melhor.
Seguir o coração, a intuição, ouvir o
sussurro do anjo e prestar atenção aos sinais
da vida todos os dias, perceber os momentos
especiais, podem influenciar na tomada de
decisões, das mais simples às mais
responsáveis, mas com certeza mais sensatas
e sem arrependimentos.
Depois da Ayahuasca isso tudo se
tornou ainda mais intenso, mais nítido e
sensitivo. São muitos sinais da vida a todo o
instante, mostrando as direções e a verdade,
tanto de pessoas como de situações.
Não sei se é perceptível o quanto me
sinto diferente, mais equilibrada e feliz, porque
81
eu sei o quanto é difícil para as pessoas,
inclusive as mais próximas, dizer isso a
alguém. Parece que dói fazer um elogio, dói
assumir que outra pessoa está bem, ninguém
se importa com o outro sem alguma intenção
ou contraprestação.
Mas isso não me afeta mais. Deixei de
esperar isso dos outros e assim também
deixei de me decepcionar tanto, ficando
imensamente feliz quando recebo algum gesto
de carinho e verdade, que sinto que é sincero
e de coração. Quanto aos demais, espero que
algum dia possam se sentir tão realizados e
felizes que espalhem isso aos outros todos os
dias, seja com sorrisos ou palavras.
Dei-me conta que na maioria das
vezes somos o espelho do outro e vice-versa.
Procurei formas de me reequilibrar depois de
situações negativas, energias pesadas de
pessoas, que foram me trazendo paz. Cada
um é responsável por aquilo que faz de sua
vida, por cada sentimento que carrega no
82
peito e por suas atitudes. Se eu conseguir
manter tudo isso equilibrado dentro de mim,
poderei ter um bom relacionamento com as
outras pessoas, mas isso também depende do
quão equilibradas elas estarão para que a
empatia prevaleça. Se não, ocorrerão os
conflitos e desentendimentos.
Nem sempre conseguiremos refletir no
outro a nossa verdade logo de início, mas com
certeza isso ocorrerá nas próximas situações,
desde que mantida a verdade e a boa
intenção.
“Amor é acordar ela manhã
com minha Angel cheirosa me
abraçando e o querido Johnny
tentando lamber meu rosto. Ver o teu
sorriso inigualável e doce ao ponto de
me entregar todo a você, livre de
medo, simplesmente apaixonado.
Ficar bobo te admirando e encantado
por ter uma mulher belíssima por
dentro e por fora. Abraçar teu ser
83
mesmo diante de momentos tensos de
transformação e catarses, o amor real
sempre permanece intacto.”
84
O dia seguinte
85
uma grata surpresa que encheu meu coração
de alegria, recebi o abraço de uma bananeira
que estava atrás de mim. Um de seus galhos
enormes passou em minha frente com a ajuda
do vento que soprava levemente, e repousou
em meu rosto e peito.
Senti a pureza da natureza e um
abraço carinhoso vindo dela. Fechei meus
olhos e agradeci imensamente por aquele
momento que tocava meu ser, agradeci pela
manifestação da natureza em minha vida e eu
sabia que tudo iria ser diferente a partir
daquele ritual.
Com o coração cheio de amor
recebido da bananeira, abri meus olhos e
continuei a contemplar aquele lugar em que
estava. Logo depois Mano chegou, contei o
que tinha acontecido e ele sorriu, com seu
jeito meigo e compreensivo, entendendo
perfeitamente o sentido do que eu disse e me
passou a certeza de que tinha sido
presenteada.
86
Fomos em busca de Liana e Raul para
nos despedir. Raul estava tratando os animais
do sítio e Liana estava na casa. Ao mesmo
tempo que eu sabia que tínhamos que ir
embora, que umas cinco ou seis horas de
viagem nos esperavam pela frente, tive a
sensação de que não era a hora certa, ainda
faltava alguma coisa, não estava tranquila.
Encontramos o casal. Liana sempre
muito amável abraçou-me, pedindo como
havíamos passado a noite e se precisávamos
de alguma coisa, como estávamos nos
sentindo. Agradecemos por todo o carinho e
atenção, dizendo o quanto nos sentíamos
bem.
Liana convidou-nos para comer, tomar
café da manhã, o que recusamos, pois já
tínhamos comido uns biscoitos e não
queríamos abusar da hospitalidade. Mas
quando ela disse: “um cafezinho?”, não resisti
e aceitei, seria perfeito.
87
Entramos na sala deles e aguardamos
o café no sofá. Estava ótimo e passamos a
conversar sobre nossas vidas e a Ayahuasca.
Era isso que eu precisava fazer antes de
seguir o caminho de casa, compartilhar a
experiência que tinha tido com eles, pois
sentia-me muito agradecida.
88
Enquanto tomávamos o cafezinho,
Liana e Raul transmitiam um pouco do
significado da Ayahuasca na vida de quem a
comunga e das mudanças que ela vai fazendo
no ser de cada um no decorrer dos dias
seguintes, pois ela não age somente naquele
momento em que é consumida, mas vai
mostrando seus ensinamentos no momento
certo.
Sentimos como se estivéssemos em
casa, o ambiente era aconchegante e de uma
paz que nos deixava muito a vontade.
Contei um pouco do que passei no ritual,
expressando a emoção que estava sentindo
naquele momento, pois logo que comecei
a falar meus olhos se encheram de lágrimas e
a voz quase não saía, meu peito ansiava por
aquele momento, como se não pudesse ir
embora sem contar o que tinha
experimentado.
Liana compartilhou comigo a
emoção ao chorar de felicidade ouvindo-me
89
contar sobre o anjo que havia me abraçado,
de como ele cuidou de mim, colocou no colo e
embalou, sobre a voz feminina que ouvi
dizendo que eu era bem-vinda ao
renascimento.
Sentia que Liana entendia
perfeitamente tudo o que eu tentava explicar,
o sofrimento por causa do que tinha passado
com o Mano, a transformação, o meu
renascimento e o amor incondicional.
Falei que não conseguimos seguir os
conselhos que eles haviam nos dado com
relação a ficarmos separados no momento do
ritual, para que não interferíssemos na
experiência um do outro, mas não foi um ato
de rebeldia, seguimos nossa intuição, pois não
conseguíamos ficar separados e isso foi
fundamental e o que fez toda a diferença,
como já referi.
Sei que se não fosse isso, o Mano
ficar ao meu lado e eu sentir que ele estava lá,
ouvindo suas palavras, talvez não teria tido a
90
experiência da forma que foi, relacionada a
nós dois, ao que já vivemos, para que
pudéssemos ter noção do que significa o
nosso reencontro.
Eu poderia ter tido qualquer outro tipo
de experiência naquele dia, com qualquer
pessoa ou situação, mas não, era para ser
com o Mano, era pra gente saber o que tinha
acontecido e dar valor a esta vida e o
momento que estamos vivendo, entendendo a
grandiosidade do nosso amor.
Percebemos naquela sala
muitas coisas em comum em nossas
experiências, principalmente Liana e eu. Ainda
não sei qual a nossa ligação, mas senti que há
e que não era por acaso que estávamos
naquele lugar, naquela sala, com aquelas
pessoas.
Mencionei o fato de ter sentido um
chamado para escrever um livro sobre aquela
vivência e Liana sorriu, olhou para Raul, e foi
buscar o livro que ela tinha escrito - O
91
Chamado da Terra. Recebemos o presente
com muita honra e orgulho, pois sabíamos
que era especial e de coração. Ao escrever a
dedicatória, Liana teve a iniciativa de chamar-
me de Thaís (com h), e Mano disse que
quando viu o meu nome completo o Taís
chamou a sua atenção, e neste momento senti
como se esse tinha sido o meu nome na outra
existência em que certamente nós três
vivenciamos. Liana escreveu: “Silvana Thais e
Alexandre, ‘O Chamado’ tem muitas leituras,
caminhos, e que possamos fazer nosso
melhor, seguindo o coração”.
Logo senti imensa vontade de
começar a ler o livro, mas guardei com muito
carinho e respeito, sabendo que primeiro tinha
que escrever o meu para depois lê-lo, pois
sabia que me identificaria e temia que isso
interferisse em minha escrita, porque eu
queria escrever livre de qualquer influência
para poder retratar exatamente o que sentia, e
92
sabia que leria o livro de Liana no momento
certo.
Contei sobre o episódio da lagoa que
vi do outro lado da cerca e Liana disse
que realmente existiu muita água naquele
local antigamente, o que recebi com surpresa
e felicidade, tendo mais noção do quanto a
Ayahuasca nos mostra sobre o que realmente
aconteceu, reavivando nossas memórias.
Eu sabia o quanto estávamos
empolgados com o que tinha acontecido e o
anseio em divulgar isso para todo mundo,
dizer o quanto era magnífico e querer que
todas as pessoas provassem também,
mas sabia que tinha que ser cautelosa,
entender primeiro o que significava cada
detalhe, perceber a mudança no íntimo, e não
dividir isso com todos antecipadamente, pois
só a gente sabia a magnitude de tudo e
poderíamos ser mal interpretados.
Raul foi muito perceptivo nisso e nos
alertou sobre algumas mudanças que iríamos
93
sentir a partir de então, sobre como as coisas
poderiam parecer diferente, de como tínhamos
que nos adequar à realidade, pois fomos nós
que mudamos e não os outros e isso a gente
iria sentir como se 'o mundo desmoronasse'
na nossa frente e a decepção poderia ser
grande.
Percebemos então a responsabilidade
que tínhamos a partir daquele momento, com
a gente mesmo e com os outros, de como
iríamos agir diante de situações e com as
pessoas. Nosso olhar do mundo iria mudar, e
realmente mudou, assim como perceber um
abraço da natureza ao invés de rechaçar o
galho da árvore com ignorância, os valores
estavam transformados e a mudança era
inevitável.
Senti que recebemos aqueles
conselhos como se estivessem sendo
repassados por nossos pais, por sábios
Xamãs que tinham muito a ensinar e era uma
honra para nós estarmos recebendo isso.
94
Despedimo-nos com muito carinho e
gratidão, um abraço longo e significativo
marcou meu encontro com Liana e eu sabia
que não era uma despedida. Tanto que fiz
questão de deixar um casaco na sede do
Instituto para ter certeza de que ele me
chamaria de volta quando eu esquecesse de
voltar.
A partir daquele momento eu sentia
como se estivesse pronta para enfrentar o
mundo que me esperava depois de ter
renascido, de ter reencontrado aquele lugar
que ainda vou saber o quão significativo é
para mim. Sentia a certeza da felicidade e do
amor, de um caminho lindo e seguro que me
esperava, principalmente por ter o Mano ao
meu lado.
Tinha dentro de mim a transformação
necessária para encarar o que tivesse que
ser, principalmente comigo mesma.
Sei que a primeira mudança deve
ocorrer dentro de nós mesmos, sempre
95
busquei o autoconhecimento e a reflexão
como prioridade, o bem-estar físico, mental,
espiritual, estar em paz comigo mesma. Não
foi um caminho fácil e demorei muitos anos
para encontrar algumas respostas, tive que
sofrer na pele algumas dificuldades para então
aprender, e sei que o caminho é longo e ainda
tenho muita coisa para absorver e entender,
aprender e acrescentar ao meu ser, tornando-
me uma pessoa cada vez melhor.
Sinto pelas pessoas que tive que
magoar de certa forma para poder dar
seguimento à vida, mesmo com a intenção do
melhor, às vezes o sofrimento é inevitável,
mas entendo ser necessário para a evolução
quando todas as demais alternativas não
forem suficientes.
De tudo o que vivi até aqui, passo a
entender que foi essencial para quem sou
hoje, vejo que foi melhor assim, que tudo
aconteceu do jeito perfeito e aceito com
felicidade.
96
Com o decorrer dos dias tenho ainda
mais certeza de que um ciclo de minha vida
encerrou, estou atenta a todos os sinais que
estou recebendo neste sentido, e apesar de
ter uma certa ansiedade de que algo ocorra
logo, confio na grandeza do universo e no que
Deus tem para mim, acalmando o meu
coração e esperando com os braços abertos o
que a vida tem para me proporcionar e qual
será o caminho que terei que seguir.
97
Alterando as percepções
98
Seguimos o caminho com calma e
tranquilidade, observando onde poderíamos
almoçar.
Era tanta coisa que passava pela
minha cabeça, queria rever tudo o que havia
passado no dia anterior, cada detalhe,
entender o que cada coisa significava e que
tinha me transformado em uma
pessoa melhor.
Antes de chegarmos na rodovia que
nos levaria para casa, tínhamos que passar
pela cidade de Porto Alegre e para isso o GPS
era nosso parceiro e fomos tranquilos.
Durante o trajeto vi em nossa frente
alguns carros com balões festejando algum
evento. Neste momento veio nítido em minha
mente que se tratava de um casamento e
como um sopro angelical surgiu em mim o
desejo de casar com o Mano e que isso teria
que ocorrer aos pés daquela árvore onde
renascemos, e que a celebração deveria ser
feita pela Liana e Raul, e vi isso naquele
99
momento como um relance, nós de branco,
pés descalços, muito felizes e com as pessoas
que presenciaram o nosso renascimento.
Por um instante pensei se deveria
falar isso para o Mano, um pouco com receio
de estar me precipitando ou de assustá-lo,
mas lembrei do ensinamento que tive durante
a madrugada, de que deveria falar tudo o que
sentisse, ainda mais se fosse tão belo e do
coração.
Alguns segundos se passaram entre
todos esses pensamentos e a decisão que tive
de compartilhar o meu desejo com Mano,
tentando explicar aquele sentimento de
certeza que tomava conta de mim, mas
também deixando claro que se fosse da
vontade dele ocorreria no momento ideal.
Continuava dirigindo enquanto falava e apesar
de saber que teria sido melhor em uma
ocasião em que pudesse olhar em seus olhos,
aquele momento foi único, e eu não
100
conseguiria guardar aquilo dentro de mim por
muito tempo.
Falei sem esperar qualquer resposta
dele, apenas queria compartilhar o que tinha
sentido e que ele soubesse o quanto desejava
a concretização da nossa união. Jamais me
imaginei falando isso para alguém, pois até
pouco tempo atrás, apesar de ter o desejo
muito íntimo de casar e ter alguém pra vida
inteira, pensava que não seria realizado, que
não encontraria um homem que despertasse
esse meu anseio, até conhecer o Mano e
sentir um frio na barriga.
Contei o que estava sentindo naquele
momento de uma forma muito tranquila e
serena, de que um dia gostaria de selar a
nossa união à sombra da figueira que
havíamos renascido, e ele sorriu, com os
lábios, os olhos, a face inteira e a alma,
dizendo que seria perfeito.
Sei o quanto aquilo foi surpreendente
para ele e que apesar de não ter falado muita
101
coisa, percebi e senti nitidamente a felicidade
brilhando em seus olhos e o compartilhamento
do mesmo desejo.
Tenho certeza que fomos guiados
para aquele lugar e de volta para casa, pois
tudo acontecia de modo muito natural e
correto, não erramos o caminho, não tivemos
surpresas ou sustos no trânsito,
aborrecimentos ou qualquer apreensão. Era
nítido o quanto fomos levados para aquela
experiência e que ela tinha transformado as
nossas vidas.
Os breves momentos que
permanecíamos em silêncio soavam com
muita paz e equilíbrio. Minha mente estava
processando cada momento que vivi durante o
ritual e ao mesmo tempo apreciava tudo o que
se mostrava diante de nós durante o caminho.
Como era um domingo de manhã, as
ruas de Porto Alegre estavam sem movimento
algum, fluindo tranquilamente o trânsito e a
nossa saída em direção ao destino.
102
Chegamos para almoçar em um
restaurante que já conhecia, depois de
sairmos da cidade, e senti que minhas
necessidades estavam diferentes, meu
paladar pedia alimentos vindos da terra, da
natureza, frutas, saladas, alimentos leves e
revigorantes.
Logo que chegamos no local
encontramos muitas pessoas do lado de fora,
pois aquele era um ponto de parada de vários
ônibus de excursões, e tive a sensação de
que éramos apreciados, que chamávamos a
atenção por algum motivo. Enquanto nos
direcionávamos para dentro, sentia uma
leveza ao caminhar e uma sensação de que
estava iluminada, o que pode ter sido
percebido por aqueles que nos olhavam sem
piscar os olhos, porque não eram olhares
maldosos, eram de apreciação.
O primeiro alimento que ingeri foi um
melão e o prazer que senti percorreu todo o
meu ser, o sabor estava intenso e
103
maravilhoso, causando um bem-estar e
felicidade ímpar, tanto que fechei os olhos
para saboreá-lo lentamente.
Segui comendo as frutas e as saladas,
arroz e massa, sentindo o sabor de cada
alimento de uma forma que jamais tinha
sentido, ou pelo menos não tinha percebido e
dado importância. Nitidamente havia ocorrido
uma mudança em meu paladar, nos desejos
que me nutriam, querendo me afastar de tudo
o que fosse industrializado ou artificial. A
vontade que eu tinha de deixar de comer
carne vermelha materializou-se a partir
daquele momento, não sentindo mais
necessidade do alimento e minha saciedade
estava diferente, percebendo que precisava
de muito menos para viver.
A concepção da alimentação estava
mudando, assim como a minha ligação com a
terra e natureza, e agução dos sentidos, a
percepção do mundo ao redor. Enquanto
almoçávamos o barulho do lugar e das
104
pessoas contrastava muito com o ambiente
que havíamos estado, e foi aí que começamos
a reencontrar o mundo e a realidade, vendo o
quanto estávamos transformados e que a
adaptação era necessária novamente.
Um certo incômodo pelo barulho das
pessoas fez com que fossemos embora logo
que acabamos a refeição, seguindo nossa
viagem com o corpo satisfeito pelo alimento
material e espiritual.
105
Contemplamos tudo o que se
mostrava durante o caminho, principalmente a
natureza. O carro andava levemente pela
estrada, assim como sentíamos nossos
corpos, flutuando de tanta felicidade e
equilíbrio. As músicas que tocavam no rádio
eram perfeitas para o que sentíamos, alegres,
com emoção e significado.
106
Disse para Mano que eu gostaria muito disso
e que era pra ele pensar a respeito, sentindo-
se à vontade para responder quando fosse a
hora certa, mas gostaria que ele soubesse
disso.
107
serei eternamente grata, pois foi fundamental
para a nossa relação que estava iniciando.
108
leveza de espírito e paz no coração, mas com
ansiedade no peito com relação ao que
esperava, que teríamos uma semana inteira
pela frente, longe um do outro.
109
vontade era de contar para todas as pessoas,
dizer o quanto tinha sido maravilhoso,
transformador, e que deveriam ir também. Sei
que isso cabe a cada um escolher, que cada
pessoa tem o seu caminho, e por isso não tive
dúvidas em atender ao chamado que tive para
contar ao mundo sobre isso por meio de um
livro, pois assim ele servirá de instrumento e
chegará nas mãos certas, acendendo a
chama dentro daquele que receber o
chamado.
110
evoluir. Buscamos aplicar os ensinamentos da
Ayahuasca todos os dias, enfrentando o
mundo desmoronar na nossa frente,
percebendo que é muito fácil sair do caminho,
deixar aquela experiência na memória e entrar
na realidade caótica e fria, voltando ao
materialismo e apego. Mas juntos
conseguimos resgatar o caminho e de mãos
dadas ter a certeza de que somos um e que
nossa vida depende do desejo íntimo da
felicidade todos os dias e por isso, mesmo
estando em cidades diferentes (cerca de 40km
de distância) e nos vendo apenas nos finais
de semana, compartilhamos amor e carinho
todos os dias por mensagens, emails,
pensamentos e sonhos, tornando cada
encontro inesquecível e de maior entrega.
111
Ambos estamos em momentos iguais
na vida, encerrando um ciclo, com sede de
mudança e evolução, e com a sensação de
que o novo será construído por nós dois
juntos, com realização, simplicidade, família,
lealdade, arte e união, pois nosso amor anseia
por isso, uma vida inteira juntos para celebrar
o reencontro.
112
intuição e o coração, o que me levou a bons
caminhos.
113
O novo chamado
114
prontamente disse que iria comigo quando eu
quisesse, quando eu sentisse vontade e
recebesse o chamado. Não houve um final de
semana em que não relembrássemos do
ritual, e aos poucos o Mano foi me contando
tudo o que havia passado naquele dia e como
estava o processo de amadurecimento de
tudo dentro dele e refletimos juntos sobre
várias situações.
116
depois se desse vontade, ir ao show e voltar
no outro dia para nossas casas, curtindo a
nossa amizade e as experiências que
havíamos tido no final de semana.
117
de que havia somente duas vagas para o ritual
daquele dia, e nosso amigo já tinha decidido
que não se sentia preparado para aquele
momento e não iria conosco. Minha amiga
disse que queria muito ir, mas que esperava
outra oportunidade, que não se importaria se
fossemos somente nós dois. Dentro de mim
de início senti uma dúvida quanto ao que era
melhor fazer, se devíamos esperar e irmos
nós quatro em outro momento, ou irmos nós
dois neste dia, pois sabia que isso seria
importante para eles também.
118
O caminho da Ayahuasca mostrou-se
a nós dois, decidimos entrar nele e sei que
ainda temos muito aprendizado pela frente e
isso teremos que seguir juntos, entendendo os
sinais e indicações que a vida nos dá.
119
vivendo é crucial para o novo ciclo que se
inicia para nossa vida juntos.
120
Dois dias antes da viagem uma
ansiedade um pouco negativa persiste dentro
de mim, não sei se é uma intuição sobre o que
irei passar no ritual, alguma angústia ou
insegurança, é difícil definir, mas sei que a
resposta virá em breve.
121
buscando esclarecimentos que me farão
seguir pelo melhor caminho.
122
O amor que transforma
123
Sigo a escrever, pois a continuidade é
crucial diante do que foi revelado a mim, uma
surpresa, algo inesperado, mas que explicou a
minha existência e o que me levou a este
caminho, ao Céu Renascer das Águias, ao
nome do livro, ao meu atual momento.
124
Independentemente de crença ou
religião, uma certeza me foi dada a graça
descobrir não só com a razão, mas também
com sentimentos e vivendo de verdade, que a
força maior que existe e é capaz de
transformar as pessoas em seres melhores e
na sua verdadeira essência é o AMOR.
125
ser e até que isso acontecesse estaria aberta
a recebê-lo, acreditando e confiando, mas não
buscando.
126
presente, pois o futuro (que é amanhã)
depende do que somos hoje.
127
É importante a companhia constante
da humildade, pois ela nos permite refletir
sobre cada momento, sobre quem somos e
quem queremos ser, o que podemos mudar,
sermos melhores, abertos à transformação da
vida, e a ferramenta maior que há e nos
proporciona este crescimento que é o amor.
128
mão da busca, em que apenas senti vontade
de zelar pelo meu próprio bem-estar, nos
momentos em que me amei acima de
tudo, curtindo o momento comigo mesma,
sem temer a solidão ou sofrimento.
129
passar por alguma razão e iria cumprir minha
missão.
130
essa evolução e reconhecimento,
compreensão dos sentimentos e entrega,
sabendo-se aos poucos da importância
daquele sentimento crescente e do quão
significante representa aquele ser que
desperta o mais nobre dos valores e
sentimentos.
131
Sentir o amor verdadeiro por alguém é
uma bênção, engrandece e dá sentido à vida.
É a melhor forma de se conhecer, de ser
quem realmente é, sem máscaras ou agrados,
tudo surge do coração e do mais íntimo da
essência do ser, sem esperar nada em troca,
pois a maior realização de quem ama é poder
dar, dar o que puder ao ser amado, com muito
amor e verdade.
132
o quanto se ama; por isso o amor é eterno,
porque a doação e entrega é tamanha que
nunca é suficiente, é uma busca em querer o
melhor para o outro que jamais cessa ou
diminui, é um amor que cresce e com força
suficiente para ser compartilhado com outros
seres, espalhando o amor por todos os
caminhos.
133
decidas fazer, eu te darei força. Sei
que teu potencial é livre de limites e
sou teu maior admirador e
incentivador.”
134
O segundo ritual
135
Acordamos às 5 horas da manhã de
um sábado para nos prepararmos para saída
em direção à Porto Alegre. De banho tomado
e roupas já em tons claros, pegamos nossas
coisas e saímos de viagem, curtindo um som
tranquilo no carro e vendo o dia clarear. Aos
poucos o as nuvens escuras foram tomando o
céu, trazendo uma forte chuva com raios e
trovões, a qual ia ficando para trás enquanto
avançávamos pelo caminho, sendo que o dia
ia se abrindo na nossa frente e a chuva sendo
vista pelo espelho retrovisor.
136
Sabíamos que havia chovido muito
nos dias anteriores e até enviei uma
mensagem para Liana perguntando se o ritual
estava confirmado e se estava tudo bem.
137
tranquilo ao vê-los chegando sorrindo, com as
calças dobradas até o joelho.
138
prejudicaria o uso das almofadas, cobertores e
colchões no gramado.
139
sua cabeça toda a luz que emana em nossa
direção.
140
aquilo, mas sem compreender a razão. Não
era uma sensação boa, era angustiante e meu
coração estava acelerado, comentei com
Mano e permaneci onde estava, tentando
entender o que sentia.
141
A Ayahuasca, como já mencionei, age
de forma única e individual no íntimo de cada
um, de modo que é aconselhado que os
casais não permaneçam juntos para que não
interfiram no ritual do outro, pois podem haver
reações que gerem preocupações e impeçam
de concluir ou aprofundar os ensinamentos.
142
de uma janela, lugar este escolhido por Mano
quando pensamos que sentaríamos juntos.
143
Ayahuasca, com o respeito pelo próximo e
pelo local, com seriedade e consciência.
144
respirando profundamente e com as palmas
das mãos abertas, o que também fiz.
145
permaneci sentada com as pernas
esticadas, braços caídos na lateral do corpo e
mãos descansando no colo, imóvel, com os
olhos fechados, e a “força” começou a agir em
mim de forma muito rápida, diferentemente do
primeiro ritual.
146
Minhas mãos amorteceram, sentia
isso ao mexer os dedos levemente, mas logo
esqueci do corpo físico e mantive-me imóvel,
concentrada no sentido da visão, e perdi a
noção do tempo, de como estava posicionada,
como se estivesse flutuando, entrando em um
túnel de uma atmosfera surreal, imaginária,
mas perceptível.
147
Era como se as imagens de cada um
dos lados das “colméias”, rodassem como
uma roleta, escolhendo o que seria mostrado
neste ritual. Percebi que existe uma infinidade
de coisas para experienciar, memórias,
resgates, lições, aprendizados, mas sei que
tudo tem a hora certa para acontecer.
148
pacientemente que se organizassem. De
repente, todos os desenhos geométricos
sumiram e passei então a visitar um lugar que
denominei como paraíso.
149
agradável, sempre admirando a beleza do céu
em que estava, com suas cores suaves e
belas. Senti como se realmente estivesse no
paraíso, no céu em que se vai após deixar-se
o corpo, ou em um reino encantado, onde eu
era uma jovem princesa feliz. Era como me
sentia.
150
do que vemos no ritual corresponde à
memórias que são trazidas à tona de
momentos de vidas anteriores, percebi que
não era imaginação, e sim algo que tinha
acontecido comigo.
151
braços, balançando de um lado para outro e
erguendo para cima, sorrindo, mostrando uma
criança ao povo que existia no local (povo que
não visualizei, mas sabia que estava lá),
apresentando uma criança ao mundo.
Extremamente surpresa e
compreendendo o que se passava, vi um
momento de festa e comemoração pela minha
chegada, Raul e Liana estavam juntos, felizes,
comigo nos braços, reconhecendo ela como
minha mãe, pois permanecia sentada envolta
de almofadas e tecidos dourados, sorrindo,
após dar a luz.
152
muitos detalhes, mas eram sempre em
lugares bonitos e com bastante luz e
liberdade.
153
olhava para mim e para trás, como se
estivesse observando alguma coisa
enquanto corríamos felizes.
154
lágrimas rolando de tanta felicidade e emoção,
concentrando-me em tudo o que estava vendo
e sentindo, ansiando por ainda mais
conhecimento.
155
Outros lugares me foram mostrados
de onde vivemos, povoados, aldeias, sempre
em meio a natureza, até que a imagem de um
esqueleto queimado, preto, apareceu
rapidamente e sumiu, fora de contexto, o que
entenderia mais adiante, mas me deixou
apreensiva.
156
felizes e experienciando tudo o que nos era
permitido.
157
outro, sabia também que os sofrimentos e
dificuldades que tivemos até aqui tinham a
mesma função do aprendizado e crescimento,
conforme Jesus viveu quando esteve na terra.
Sentia nossa pureza e felicidade, como se
nunca tivéssemos feito mal a ninguém, e
muito menos um para o outro.
158
De repente, algo que eu não esperava
aconteceu diante de meus olhos (fechados).
Era uma invasão, uma batalha, em que
estávamos fugindo, Raul, Liana e eu bebê, por
entre árvores queimadas, pretas e com
fumaça, e chegando ao limite da terra, Liana
entregou-me, estendendo os braços, lançando
uma pomba branca para ir comigo, como
forma de proteção, o que logo em seguida
entendi que se tratava do anjo que me
acompanha até hoje.
160
procurou por todo o mundo e enviou todas as
formas de proteção possíveis.
161
aos seres celestiais por permitirem tal dádiva,
sabe-se lá por quanto tempo ou quantas vidas
isso vem sendo feito, atendendo ao pedido de
uma mãe.
162
era o perfume de um anjo e também o sono
tranquilo logo em seguida.
163
Voltando para casa
164
sabor sempre é mais forte para mim na
terceira dose, a qual tomo de uma vez e me
concentro para deixá-la dentro de mim. Uma
tontura forte ainda me dominava, fazendo com
que sempre ficasse com os olhos fechados
para amenizar e contemplar os efeitos da
Ayahuasca.
167
Fiquei por longos minutos admirando
aquele ser perto de mim, com o qual sabia
que estava há muitas vidas e que nosso
encontro não tinha sido por acaso, que era
algo com um significado imenso e real, e que
assim permaneceríamos por ainda muitas
vidas, nossa ligação é muito forte e estamos
certos no caminho que escolhemos viver
juntos.
168
Enquanto tinha as visões relacionadas
com Mano, sentia um amor e felicidade muito
fortes no peito e em todo o meu ser, e tinha a
impressão de ouvir as palavras "amor eterno"
ecoando em minha mente. Nos vi em algum
lugar escuro, em meio à natureza, com duas
crianças no colo (nossos filhos), e estávamos
agachados entre plantas silvestres verde
escuras, e Mano me perguntava com um jeito
moleque qual era o animal que estava
fazendo aquele som que ouvíamos, e eu dava
risada e dizia que não sabia, pois nunca tinha
ouvido aquele som antes! Ele ria e continuava
me perguntando, dizendo que era para eu
falar o que eu achava que fosse, mas eu não
sabia e dava risada, nos divertíamos muito.
169
fossemos crianças, junto com nossos filhos,
uma sensação de simplicidade e pureza.
170
que ele tinha passado, mas somente consegui
abraçá-lo, deitando minha cabeça em seu
ombro, na cadeira ao lado da minha.
171
engraçado para mim, mas respeitei e nem
questionei.
172
expressar que agora eu sabia de tudo e que
era extremamente grata. Então esperei até o
momento em que me senti pronta, em
condições de caminhar e disse para Mano que
poderíamos ir. Durante o caminho quando nos
aproximamos deles, larguei a mão de Mano e
fui na direção de Liana, que levantou da
cadeira e me recebeu com um abraço.
173
compreendendo aquele momento, sentindo
toda a energia que emanava de nós, sendo
que a sua mão vibrava muito no apoio da
cadeira, involuntariamente em razão da
energia, o que depois foi-me relatado por
Mano.
174
e gratidão expandirem-se de meu peito para
ela, mas a vontade que tinha era de dizer “sou
eu”, “estou aqui”, “voltei para casa”.
175
Ainda era dia e fomos até lá, apenas
alguns passos e a árvore mãe mostrou sua
beleza, abrindo os "braços" para nos acolher.
Sentamos nas raízes sobressalentes, eu
virada na direção do instituto, com a sensação
de que Liana e Raul se juntariam a nós a
qualquer momento. Disse para Mano que logo
ele entenderia tudo, que tinha sido Liana que
pediu para que fossemos até a árvore, e o
quanto aquele momento era especial, mais um
marco em nossas vidas.
176
forma lenta e sem muitos detalhes, pois
estava ansiando pela chegada de Liana e
Raul. Mano expressou muita surpresa com o
que falei sobre eles serem os meus pais,
ficando atônito e compreendendo todo o
significado, maravilhado pela magnitude do
meu ritual.
177
entendia como se fosse uma limpeza feita
pelo organismo, uma eliminação de algum
mal.
178
ter presenciado tal fato no último ritual, em
que uma moça vomitou muito alguns minutos
após beber o primeiro cálice. No mais, acho
que decorre do efeito sim, mas cada um
compreende a sua razão ou motivo.
179
faz bem e o que não faz, incluindo pessoas,
lugares, coisas, alimentação, enfim, estou
mais certa do que eu quero e do que eu não
quero, sabendo que tenho muito a conhecer e
aprender, buscando a evolução do ser e do
espírito.
180
magia daquele lugar, a paz e a transformação
que a Ayahuasca proporciona.
181
não poderíamos ir embora, pois ficaríamos
novamente na casinha de Liana e Raul.
182
cabeça na madrugada, pois doía bastante, e
mesmo com remédio, o qual evitei ao máximo,
demorou a cessar.
183
reação deles, mas tinha a certeza de que seria
compreendida, não pensando nada negativo.
184
Na metade da manhã do domingo,
depois de nos aprontarmos, colocamos
nossas coisas no carro e fomos até a casa de
Liana e Raul. Recebidos com muito carinho,
sentamos na sala, e tomando um
chá, começamos uma conversa amistosa e
tranquila, com Mano tomando a frente ao
contar algumas coisas sobre o ritual do dia
anterior. Com uma sensibilidade incrível,
Mano percebeu o meu silêncio e angústia,
sabendo que aquele momento não seria fácil
para mim e que precisaria me ajudar, o que
me deixou mais segura.
186
pouco de toda a minha existência, desde o
primeiro nascimento, alguns lugares por onde
andei e com quem estive, tudo fazendo muito
sentido, ligando algumas coisas e situações,
como se eu tivesse entendido tudo ao meu
respeito, quem fui e o que sou. Sei que ainda
tenho muito a saber sobre a minha existência,
a ligação com várias pessoas, mas tenho
certeza que o principal me foi revelado
naquele dia, o que fez com que
compreendesse o encerramento de um ciclo.
187
recuperando-se do parto, mas assistindo
também àquela cena linda de festa pelo meu
nascimento. Realmente era uma festa, não
consegui definir em qual tempo era, mas senti
como se fossemos uma família de certa
importância, por ter tantas pessoas ao redor,
uma multidão, agraciando Raul e o meu
nascimento. Uma cena inesquecível que
jamais sairá de meus olhos.
188
em meio a floresta incendiada, cuja cena já
relatei.
189
de outra forma não teria sentido nenhum e a
existência não teria cumprido o seu papel.
190
sua constante busca maternal; percebi que
uma tatuagem que tenho no punho era igual
a um gatinho que tive na infância em uma era
distante e que agora tinha escolhido
homenagear, inconscientemente, assim como
outros detalhes que me deixaram muito feliz
em perceber uma ligação que até então não
conhecia.
191
presenteou-me com um manto pintado a mão
que usou em suas viagens por outros países e
pelo Brasil, o qual recebi com imensa honra e
gratidão, colocando-o ao lado da minha cama,
como uma forma de proteção e carinho.
192
comentado, nossas vidas juntos e o que tinha
levado ao nosso reencontro.
193
Há certo tempo sentia a necessidade
de encerrar um ciclo, uma vontade de
mudança, de seguir em frente. Achava que
isso tinha a ver somente com o meu momento
atual, nesta vida, com relação a profissão ou
anseio em decorrência da idade, de ver
passar o tempo tão rápido, sem ter noção do
quão ampla era essa mudança de ciclo, o que
agora compreendo um pouco melhor após o
último ritual.
194
passado que foi compreendida e muitas outras
que foram abertas.
195
e coragem para seguir adiante, abraçando o
que tiver que ser vivido.
196
sensações de mal estar e acabam camuflando
as reais necessidades, sem dar valor aos
avisos enviados pelo organismo, pela
natureza, que muitas vezes pede socorro e é
ignorada.
197
seja apenas para descansar o corpo. Se isso
é difícil de ser feito em casa, em razão dos
familiares e inúmeras tarefas, que seja
durante uma caminhada ao ar livre, num
banco de praça, dentro da igreja, durante o
banho, antes de dormir, enfim, é possível ter
tempo para si, basta querer, como se fosse
um compromisso agendado.
198
que o torna feliz e realizado. Mas cada um tem
o seu processo de evolução e sabe o que é
melhor para si, o que deve ser respeitado
acima de tudo.
199
de ser e estar, evoluir, aprender, mas acima
de tudo e o mais importante: amar. Amar a si
mesmo, mas livre de ego e vanglorismo, e
amar ao próximo - eis o segredo da
felicidade que transforma!
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