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CULTURA

POP JAPONESA
EM BELÉM
Raphael Freire e Felipe Cortez

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Muito vermelho, flores coloridas, karaokê...
tradicionalmente, o Japão é conhecido por
expressar sua cultura brilhantemente colorida
por meio de comidas diferentes, quimonos
de cores vibrantes, teatro com personagens
típicos. Mas durante a Segunda Guerra Mundial
a vida dos japoneses mudou, como se houvesse
desaparecido toda a tradição e encantamento
da sociedade japonesa. O impulso e o desejo de
expressar seus estilos e características que lhes
são próprios foram reprimidos.
Os japoneses viviam em uma sociedade
onde os valores individuais e os padrões de
homogeneidade eram impostos como justificativa
para alcançar a supremacia econômica e
tecnológica, na tentativa de reerguer o país que
havia sido destruído durante a guerra. Em casa,
na escola ou entre amigos, a regra era simples:
aceitar e seguir os mandamentos impostos pelo
grupo. Com quase todos os prazeres individuais
negados, a nação perseguia seus objetivos
em concordância harmoniosa e sempre com
pensamento coletivo, deixando de lado a riqueza
cultural e a variedade individual.
Cansados dessa uniformização e padro-
nização, surgem diversos movimentos com
o objetivo de buscar a individualidade e
expressão dos sentimentos mais profundos.
Um dos precursores é o J-Rock ou rock japonês,
movimento musical de contracultura que surgiu
com a intenção de romper com as convenções.
“Os jovens japoneses não tinham imagem
definidas deles mesmos. Por não saberem,
ainda, pensar como indivíduos, eles queriam se
libertar das semelhanças, abraçando o diferente,
o exótico”, diz Ken Ohira, autor de 10 livros
sobre psiquiatria de adolescentes. Todo esse
desespero pela busca da diferenciação do todo é
perfeitamente visto por meio de um movimento
visual chamado de Visual Kei ou simplesmente

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VK. Antes de tratarmos mais a fundo sobre o tocam J-Rock; entre elas estão as bandas 175
Visual Kei, uma coisa deve ser esclarecida: todo R, L’Arc~en~Ciel, Sex Machineguns, Wyse,
VK pertence ao J-Rock, mas nem todas as bandas BUCK-TICK. “Pro adolescente ‘o mundo é
adotam o estilo VK. Ambos estão estreitamente o seu limite’. O processo de rebeldia, de ser
relacionados. diferente, de querer aparecer é passageiro”,
Se você está lendo essa matéria e chegou justifica a psicóloga. Esse estilo musical é bem
até aqui conseguindo perceber que VK e J-Rock difícil de ser classificado, pois cada banda
não são a mesma coisa, parabéns! Mas se você possui a sua maneira de tocar e nem sempre
ainda não entendeu essa diferença, a hora é seguem o mesmo estilo o tempo todo. As
agora. Imagine que você é um adolescente bandas de J-Rock sofrem influência de outras
japonês que está cansado de seguir as normas derivações do rock, punk e metal. Quando
que lhe são impostas e de se vestir quase igual a grupos musicais resolvem mudar a sonoridade
todo mundo. Por ser um estilo musical popular das músicas, eles não param por aí: mudam
no Japão, você ouve J-Rock e gosta bastante todo o aparato, o interesse e o pensamento.
da mistura de sons. Depois fica sabendo o Quando questionados sobre a qualidade das
que compõe todo esse movimento e começa músicas, os jovens entrevistados nessa matéria
a se vestir como os integrantes das bandas de disseram que elas retratam a realidade da nossa
J-Rock. Pronto você já é um VK! A partir de agora, sociedade. “A música não é para ser entendida,
você passa a usar roupas muito chamativas, mas para ser sentida”, conta Giovanna Sovano,
maquiagem bastante carregada, muitas vezes 17, VK desde os 14 e gosta de ser chamada de
aposta nas tentativas de copiar modelos de Gika. Em Belém existem cinco bandas (Otaku
personagens de animes...Segundo a psicóloga Band, X Japan Cover, Shinob 88, Kuroi Usaghi
Sandra Bastos, tipos de comportamentos como e Hasenga) que se dedicam a tocar no estilo
este ocorrem principalmente devido a uma fase do rock japonês e que também são adeptas do
conhecida como polarização, onde o desvio de Visual Kei, as bandas geralmente tocam em
atenção do âmbito familiar é transferido para o reuniões feitas pelos próprios integrantes ou
social. “O adolescente começa a descobrir uma em eventos como o Japan Rock Festival, que
outra visão de mundo, ele está deixando de está sendo organizado por Cris.
priorizar o núcleo familiar e começa a priorizar
o núcleo social e as relações interpessoais”, VK’S DE BELÉM BUSCAM
explica. IDENTIDADE PRÓPRIA
Com essa transformação o adolescente
procura se apoiar em alguém que o entenda. O movimento que mudou a cara do rock
“Quando começa a ter os primeiros embates japonês a partir da década de 80 surgiu em
com a família, o grupo social funciona como Belém no seio de outro fenômeno da cultura
um suporte para esta fase de insegurança, nipônica, o universo Otaku. Em 2004, um amante
descoberta e transição. O grupo é compreensivo, dos desenhos japoneses chamado Jaime Netto,
acha que ele está certo. A necessidade de se 16, plantou as sementes do Visual Kei na Cidade
sentir igual, de ser aprovado em um grupo, das Mangueiras. Ele percebeu que, apesar dos
pode ser motivada por diversos fatores. Todo eventos direcionados para os fãs de desenhos
adolescente quer chamar atenção, com tanto japoneses já apresentarem vídeos-clipe das
que não chame atenção sozinho”, explica Sandra. bandas visuais de J-Rock, ninguém via nisso a
Essa busca pela individualidade do grupo muitas inspiração para se vestir como estes artistas,
vezes é alvo de preconceitos e estranheza, como até então só se fazia com personagens de
principalmente pelos mais tradicionalistas.“Já desenhos. Jaime diz que sempre foi “alucinado”
aconteceu de eu estar andando na rua e uma por cultura japonesa. Sempre participou das
senhora desviar o caminho para não passar festas promovidas pela comunidade nipônica
perto de mim”, conta a promoter e empresária local e buscou ler tudo o que lhe caia nas mãos
Cris Vasconcelos, 30, dona da banca Cristal sobre a cultura oriental. Até que um dia, numa
Mistical e também VK. revista de variedades que o consulado japonês
Existem bandas que não abusam de roupas do Pará distribui, tinha uma matéria sobre
e maquiagens elaboradas e performances Harajuku. “Eu achei curioso e resolvi pesquisar
extravagantes – seguem uma tendência mais na internet. Nessa época, em meados
mais ocidental na maneira de se vestir –, mas de 2003, eu nem sabia que havia eventos de

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Rege, celebridade
entre os VK’s de Belém
anime em Belém e que faziam cosplays. Daí, no
ano seguinte, quando fui ao primeiro evento, vi
pessoas fazendo cosplay e clipes de J-Rock como
atrações do evento, mas ninguém fazia VK”.
No Animazon, realizado no Taikai de 2005
(tradicional encontro de otakus em Belém),
Jaime, acompanhado da amiga de escola
Giovanna Sovano, usava roupas pretas e rasgadas
e maquiagens feitas pelos próprios adolescentes,
que lembravam os VK’s da década de 90. “Já
no nosso segundo VK nos preocupamos em
mandar fazer as roupas em costureiras e tivemos
mais cuidado com cabelo e maquiagem. Algum
tempo depois, o garoto adotou um pseudônimo,
como faz todo VK. Seu novo nome era Hooki.
“Hooki pode significar várias coisas: abandono,
rebeldia, diferente e vassoura. Naquela época
o que eu queria mesmo eram os três primeiros
Os garotos também ousam significados”. Vale lembrar que todo artista do
com roupas femininas cenário J-Rock/Visual Kei adota um pseudônimo.
Jaime continua dando exemplo do guitarrista da
banda The Gazette, conhecido como Aoi (significa
“Azul”), que, na verdade, se chama Shiroyama
Yuu, um nome comum no Japão. Inspirado nisso,
muitos fãs adotam pseudônimos também.
Hoje, os eventos que reúnem os otakus da
cidade recebem VK’s aos montes. Entretanto,
também há encontros exclusivos para esses
grupos, que ocorrem geralmente sob as formas
de reuniões fechadas em locais específicos –
casas, salões alugados e praças reservadas – e
Um dos locais preferidos dos VK’s é o
de passeios do tipo Harajuku, em que os VK’s
Complexo Feliz Luzitânia, na Cidade Velha desfilam, em grupo, por lugares públicos como
um shopping, uma praça ou um bosque. Já nas
reuniões fechadas, os VK’s ouvem e conversam
sobre J-Rock, cantam músicas no karaokê,
brincam, para não deixar nada passar em branco,
fotografam. Aliás, é a fotografia que permite
o contato de outros otakus com o universo do
VK através de sites de relacionamento como o
Orkut, ferramenta virtual já enraizada na cultura
comunicacional dessa turma.
Mas o Visual Kei não está ligado apenas
à aparência. “Visual Kei não é só pose, é uma
atitude. Não adianta querer fazer um figurino
bem feito se a pessoa não conhecer o J-Rock e as
bandas. VK não é uma tribo, é um movimento”,
diz Reges Dantas, 18, vocalista de três bandas de
música japonesa de Belém, também animador de
encontros, cosplayer e, além de tudo isso, o rapaz
ainda se dedica em ser o hair design dos amigos
VK’s. Isso mesmo, Reges prepara os cabelos dos
membros do grupo , além de conhecer técnicas
Algumas garotas preferem
o visual mais masculino de maquiagem.

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Jaime Neto é o precursor do movimento

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A turma de VK’s se reúne todo fim de semana em pontos turísticos da cidade

OTAKU, É? gosta e faz cara feia para quem ainda acredita


que anime é coisa de criança ou adolescente. “A
“O seu clã” ou “a sua família” são os divulgação do primeiro Tomodachi, realizado
significados originais da palavra japonesa em março de 2008, por exemplo, foi feita
otaku. Porém, no Japão da década de 80, Otaku apenas por Orkut. Assim, conseguimos reunir
virou sinônimo de fanático ou maníaco. A no Cefet-PA cerca de 700 otakus”, conta
popularização da palavra entre os fãs de anime Arcanjo. Os principais eventos de Belém são o
ocorreu por volta de 1989, quando o cronista ‘Otaku no Matsuri’, ‘TomodachiCon’, ‘Animazon
Akio Nakamori utilizou a palavra em um de no Taikai’ e o ‘Animazon Connection’ (os dois
seus livros, “A era de M”, cujo enredo descreve últimos se diferenciam apenas pelos grupos
uma série de assassinatos praticados por um organizadores).
viciado em animes e mangás pornográficos. Nesses eventos, os otakus basicamente
A publicação contribuiu para disseminar uma fazem concursos de cosplay, onde o vencedor é
imagem pejorativa do otaku, que passou quem imita a atitude e se veste mais fielmente
a sugerir o portador de qualquer tipo de como os seus personagens de desenho favoritos;
obsessão dentro e fora de Nihon. O viciado em cantam e dançam os animesongs ou outras
videogames, por exemplo, é um g–mu otaku. músicas asiáticas que gostam. Além disso,
Já um pasokon otaku seria um maníaco por jogam games como Super Smash Brothers e
computadores. Anime e mangá otakus são os The King of Fighters e também conhecem novos
fãs do universo dos desenhos japoneses. otakus e trocam idéias sobre os velhos e novos
Em Belém, o fenômeno otaku já se encontra animes da praça.
consolidado, mas reservado a um pequeno
público, composto por fãs que buscam trocar HARAJUKU: O OUTRO LADO DO ESPELHO
informações sobre seus desenhos favoritos e
acabam se tornando grandes amigos, formando Belém não possui um “point” específico
ramificadas redes de relações. Uma delas pode para o Visual Kei. Normalmente, nossos VK’s se
ser observada no Orkut, mais precisamente na reúnem em locais como Parque da Residência
comunidade Animazon. “A gente não conhece e Casa das Onze Janelas, onde, dizem com
todo mundo, mas essas redes de relações unanimidade, ficam a salvo de “olhares
permitem que a gente possa divulgar os maldosos”. Entretanto, no berço do movimento
eventos”, diz Arcanjo – na verdade Alexandre músico-visual japonês, há um bairro que acolhe
– otaku de 24 anos que continua firme no que todos os fins de semana, não apenas os VK’s, mas

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todas as tribos de Nihon. Quem chega de trem 2) Pesquisa dos materiais: peças e assessórios
à província de Shibuya, em Tóquio, pela linha que vão compor o figurino.
Yamanote e dá os primeiros passos para fora da 3) Testes e pesquisas de cabelo e maquiagem.
estação Harajuku pode se sentir transportado
4) Teste de tecidos, linhas e assessórios com a
para outra dimensão da moda alternativa,
costureira.
onde seres, aparentemente jovens e humanos,
5) finalização do figurino.
desfilam com o que há de mais inimaginável
na arte de se vestir. Adolescentes às portas da Ter paciência ajuda muito na escolha dos
vida adulta, perseguidores do reconhecimento elementos adequados a cada composição, já
à sua singularidade. Bairro tradicional da moda que é quase impossível alcançar o resultado
underground japonesa, Harajuku, herdeiro do ideal num primeiro instante. Feira pós-moderna,
nome da estação que circunda, é, aos domingos, a internet é um dos locais mais indicados para o
um dos maiores palcos da imaginação oriental. início das pesquisas de construção do figurino.
Grupos de adolescentes com estilos em Sites de venda são as principais barracas para
comum transitam pelas ruas, consomem nas consulta.
lojas das grandes grifes, conhecem outros Encontrar uma costureira paciente e com
jovens e observam peças que poderão usar de habilidade de cópia suficiente para produzir
um jeito diferente do observado no próximo exatamente o que se pede é outra tarefa difícil,
domingo. Garotas de ar infantil posam loiras e mas não impossível. É com essa profissional
bronzeadas para as lentes curiosas de amigos e que eles trocam informações diariamente em
turistas. Lolitas, góticas ou elegantes, observam busca da manga de corte reto do casaco para
sorridentes os artistas de rua não menos um visual aristocrático, por exemplo. Diferente
exuberantes, rodeado de cosplays de bandas do cosplay, em que a necessidade de alcançar
de J-Rock e Visual Kei. Muitos flashes, vídeos uma semelhança extrema com o original é o
gravados, apresentações de novas bandas e a que conta, a criação do VK é livre e permite o
tecnologia “made in japan” aflora a todo minuto reaproveitamento de peças. E, em se tratando
em cada esquina. de Visual Kei, o importante é agregar o máximo
No fim da tarde de domingo, começa a de informações e inovação. Botas velhas
metamorfose. O que eram seres de intrigante com salto plataforma são exemplos de peças
e, muitas vezes, apaixonante aparência, entram aproveitadas por adeptos de vários estilos VK.
em casulos – geralmente os banheiros de O preço das roupas, assessórios e cosméticos
lanchonetes como McDonald’s e Burger King – varia bastante. Existem visuais em que se gasta
para tornar às suas formas originais. Harajuku 30 reais – com maquiagem e alguns detalhes –
recebe todos os domingos de três a quatro e outros que custam 10 vezes mais. Não existe
mil jovens que, não raro, passaram a semana um preço fixo, pois cada criação é única. Mas
ralando na escola, dando duro no trabalho e se a construção sempre exige um investimento.
comportando bem no ambiente familiar para, “As roupas do meu primeiro visual eu tinha em
naquele domingo, provar sua capacidade de casa. Já o segundo, em que fiz cosplay do Mana
superar a moda da semana anterior, desenhando, (integrante da banda Malice Mizer) em Beast
produzindo e usando suas próprias peças. of Blood, tive que pegar várias fotos e levar na
costureira”, diz Giovanna Sovano, que fez seu
CRIATIVIDADE E GRANA primeiro VK em 2005.
Quem faz VK em Belém, então, é quem
Incorporar os figurinos do Visual Kei não possui, além da criatividade, recursos para a
é tarefa para qualquer um. Se a criatividade é empreitada. Dinheiro esse que vem do trabalho
fundamental para a confecção da peça, a verba próprio – como fazem muitos jovens em
para continuar produzindo é indispensável. Harajuku para alimentar seus hobbies – ou dos
O processo de criação é demorado e exige pais. É possível obter ajuda para a produção de
paciência. Basicamente, segue as seguintes figurinos com quem entende disso em Belém.
etapas: Membros da comunidade Visual Kei Pará, do
1) Escolha do visual: pode ser cosplay do Orkut, ensinam onde pesquisar e indicam
integrante de uma banda ou mais uma criação costureiras que já trabalharam com VK e
pessoal cosplay.

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