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Sociedade e Cultura

ISSN: 1415-8566
brmpechincha@hotmail.com
Universidade Federal de Goiás
Brasil

Bernardes DArc, Genilda


Resenha de: "A ordem do discurso" de Michel Foucault
Sociedade e Cultura, vol. 7, núm. 2, julho-dezembro, 2004, pp. 247-250
Universidade Federal de Goiás
Goiania, Brasil

Disponível em: http://www.redalyc.org/articulo.oa?id=70370210

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FOUCAULT, Michel. A ordem do discurso. São Paulo: Ed. Loyola,
1996.

GENILDA D’ARC BERNARDES*

Em A ordem do discurso, Foucault finaliza meiam, delineando artifícios que moldam e


sua exposição desafiando os que o tacham de controlam os discursos na sociedade. Para o
estruturalista. “E agora, os que têm lacunas de autor, “o discurso não é simplesmente aquilo que
vocabulário que digam – se isso lhes soar melhor traduz as lutas ou os sistemas de dominação,
– que isto é estruturalismo” (p. 70). mas aquilo pelo que se luta, o poder de que
Primeiro, uma resenha não começa pelo queremos nos apoderar” (p. 10).
final. Segundo, mais do que encaixar o autor A crítica desenvolvida pelo autor descortina
em modelos teóricos precisos, os objetivos que indagações acerca da institucionalização do
delineiam esta reflexão é repor os caminhos discurso, que lhe confere poderes de exclusão
metodológicos apresentados pelo autor em sua e de interdição. Ao mesmo tempo, essa crítica
aula inaugural no Collège de France em 1970, assegura caminhos metodológicos que, ao modo
ao assumir a vaga do pensador hegeliano Jean da arqueologia, possibilitam acessar novas
Hyppolite, a qual culmina com o questionamento: camadas, mais superficiais ou mais profundas;
“se a filosofia deve começar como discurso conjuntos, às vezes números, densos e intercam-
absoluto, o que acontece com a história e o que biáveis, porém nunca lineares. Ao final, Foucault
é esse começo que se inicia com um indivíduo baliza o que denomina “conjunto genealógico”,
singular, em uma sociedade, em uma classe lançando o projeto de estudo das interdições que
social e em meio às lutas” (p. 77). Questão que atingem o discurso da sexualidade. Sua hipótese
o leva a confrontar com expoentes universais é a de que “em toda sociedade a produção do
como Marx, Fichte, Bergson, Kierkegaard e discurso é ao mesmo tempo controlada, selecio-
nada, organizada e redistribuída por certo
Husserl.
número de procedimentos que têm por função
A importância dessa obra deve-se ao fato
conjurar seus poderes e perigos, dominar seu
de ela constituir um elo de ligação entre História
acontecimento aleatório, esquivar sua pesada e
da loucura, As palavras e as coisas, Arqueo-
temível materialidade” (p. 9).
logia do saber (todos da década de 1960, com
As interdições, em nossa sociedade, reve-
análises voltadas para as condições de possibi-
lam o que Foucault nomeia como tabu do objeto
lidades das ciências humanas) e as que se
(que não se tem o direito de dizer tudo), ritual
seguiram ao maio de 68, centradas na apreciação
da circunstância (que não se pode falar de tudo
da microfísica do poder. Com Vigiar e punir,
em qualquer circunstância), direito privilegiado
Foucault busca desvendar a relação entre as
ou exclusivo do sujeito que fala (que qualquer
práticas discursivas e os poderes que as per-
um não pode falar de qualquer coisa). Esses
três tipos de interdições cruzam-se, formando
* Doutora em Sociologia pela UnB, colaboradora do Pro- uma grade complexa.
grama de Mestrado em Sociologia da UFG e coordenadora
de pesquisa do Centro Universitário UniEvangélica . E- Ele ressalta, ainda, que as regiões da
mail: genilda@hotmail.com. sexualidade e as da política constituem, em
BERNARDES, GENILDA D’ARC. A ordem do discurso (Michel Foucault)

nossos dias, o locus privilegiado onde os discur- de uma identidade que tem a forma de reatua-
sos exercem seus poderes, pois as interdições a lização permanente das regras, ao se constituir
que lhes são submetidas desvendam sua ligação numa espécie de sistema anônimo (objeto,
com o desejo e com o poder. métodos, corpus de proposições, jogo de regras
Essa evidência não é nova, correspondendo e de definições, de técnicas e de instrumentos)
à produção do discurso. A exemplo, desde a à disposição de quem quer ou pode servir-se
alta Idade Média, louco era aquele cujo discurso dele.
não podia circular como os das outras pessoas, Rituais da palavra, sociedades do discurso,
pois suas palavras eram consideradas nulas, grupos doutrinários e apropriações sociais
portanto, despossuídas de verdade, ou, ao cessam as digressões realizadas por Foucault
contrário, às vezes, se eram ouvidas, eram-lhe na busca de problematizar sistemas que, às
atribuídos estranhos poderes de predição de uma vezes, se interpenetram e garantem a distribuição
verdade escondida – de predizer o futuro. “De dos sujeitos que falam nos diferentes tipos de
qualquer modo, excluída ou secretamente inves- discurso e a apropriação dos discursos por certas
tida pela razão.” A sua palavra não era ouvida categorias de sujeito.
ou caía no nada. Porém, era através de sua Indaga, o autor, até que ponto alguns temas
palavra que se exercia a separação entre razão da filosofia reforçaram os sistemas de sujeição
ou loucura. do discurso, ao “propor uma verdade ideal como
Um outro sistema de exclusão refere-se à lei do discurso e uma racionalidade imanente
relação/oposição entre o falso e o verdadeiro. como princípio de seu desenvolvimento, recon-
O verdadeiro (poetas gregos, século VI) estava duzindo também uma ética do conhecimento que
revestido de poder, de terror; era ao qual devia só promete a verdade ao próprio desejo da
submeter-se, o discurso pronunciado por quem verdade e somente ao poder de pensá-la” (p.
de direito, conforme o ritual requerido. Posterior- 45).
mente, as grandes modificações científicas A prática sofisticada do pensamento oci-
podem ser vistas como a aparição de novas dental procurou desenhar caminhos para que o
formas na vontade de verdade, tendo nos século discurso ocupasse o menor lugar possível entre
XVII e XVIII o contexto para a construção do o pensamento e a palavra. A ele foi relegado o
novo paradigma da verdade, marcado pela papel, nada além, de signos visibilizados pelas
emolduração do método no desenho de planos palavras, suprimindo a realidade do discurso.
de objetos possíveis, observáveis, mensuráveis, Entre outros, destacam-se o tema do
classificáveis, portadores de nova relação sujeito fundante, que, na sua relação com o
saber–poder. Discurso com suporte institucio- sentido, dispõe de signos, marcas, traços e letras,
nalizado através da prática pedagógica, dos cuja manifestação prescinde da instância
sistemas de publicação, da dinamização das singular do discurso, assumindo a forma de
bibliotecas, criando, portanto, um sistema de escritura, que é o tema da experiência origi-
valorização material e simbólica que funciona nária, no qual o discurso exerce um papel
como elemento de exclusão de outras formas comparável ao anterior. Nele, assume a validade
de saberes. de uma discreta leitura, uma vez que a
Porém, os discursos, como mecanismos de proximidade com o mundo edificaria a possibi-
enunciação, contêm procedimentos internos lidade de “falar dele, nele, de designá-lo e
tendentes ao controle e, sobretudo, princípios de nomeá-lo, de julgá-lo ou de conhecê-lo, final-
classificação, de ordenação, de distribuição, mente sob a forma de verdade” (p. 48). No tema
como se tratasse, dessa vez, de submeter outra da mediação universal, o discurso anula-se ao
dimensão do discurso: “a do acontecimento e se inscrever na ordem do significante, pois nele
do acaso”. pressupõe que “exista um movimento de um
As disciplinas agregam-se aos anteriores logos que eleva as singularidades até o conceito
saberes, também, como um princípio de limitação e que permite à consciência imediata desen-
e de controle da produção de discursos. Porém, volver finalmente toda a racionalidade do
diferenciam-se deles ao fixar os limites pelo jogo mundo”, assumindo o jogo da troca (p. 48).
SOCIEDADE E CULTURA, V. 7, N. 2, JUL./DEZ. 2004, P. 247-250

Desvendar esse jogo implica, para Foucault, acontecimentos discursivos, que estatuto con-
certos mecanismos metodológicos: princípio de vém dar a noção de acontecimento? O aconteci-
inversão, princípio de descontinuidade, princípio mento não é substância nem acidente, nem
de especificidade e princípio de exterioridade. qualidade nem processo; o conhecimento não é
O primeiro trata de substituir na fonte dos da ordem do corpo. Entretanto, ele não é ima-
discursos a crença da existência de um princípio terial; é sempre no âmbito da materialidade que
de expansão e de sua continuidade na figura do ele se efetiva. Não constitui ato nem propriedade
autor, da disciplina, da vontade, pelo reconhe- de um corpo. Avançando na indagação, se os
cimento da descontinuidade através do jogo acontecimentos discursivos devem ser tratados
negativo de um recorte e de uma rarefação do como séries homogêneas, mas descontínuas
discurso. O segundo pressupõe que os discursos umas em relação às outras, que estatuto convém
devem ser tratados com práticas descontínuas, dar a esse descontínuo? Ele próprio avalia que
que se cruzam por vezes, mas também se “não se trata, bem entendido, nem da sucessão
excluem. O terceiro parte da consideração de dos instantes do tempo, nem da pluralidade dos
que não se deve transformar o discurso em um diversos sujeitos pensantes; trata-se de cesuras
jogo de significações prévias, pois o mundo não que rompem o instante e dispersam o sujeito
é cúmplice de nosso conhecimento e, portanto, em uma pluralidade de posições e de funções
apresenta-se como uma face legível a ser deci- possíveis” (p. 58). Trata-se, portanto, de uma
frada por nós. Em última instância, o discurso teoria das sistematicidades descontínuas.
constitui uma violência que imprimimos ao Tais considerações encaminham para os
mundo. O quarto, ao considerá-lo prática impo- princípios que devem direcionar a análise do
sitiva, aponta que os acontecimentos do discurso discurso. Um conjunto crítico através do qual
encontram o princípio da regularidade. Essa propõe a prática da inversão, que consiste em
postura significa que não se deve passar do procurar cercar, nos discursos, as formas da
discurso para o interior de um pensamento ou exclusão, da limitação, da apropriação; mostrar
de uma significação que nele se manifestariam. como se formaram, para responder a que neces-
A esses princípios, Foucault acrescenta sidades, como se modificaram e se deslocaram,
quatro noções reguladoras da análise: a noção que força exerceram efetivamente e em que
de acontecimento, a de série, a de regula- medida elas foram contornadas.
ridade, a de possibilidade. Estas opõem-se As descrições críticas e as genealógicas
às que dominaram a história tradicional das idéias devem alternar-se, apoiar-se umas nas outras e
na qual se buscava o ponto da criação, a unidade complementarem-se. As primeiras procuram
de uma obra, de uma época, de um tema, a destacar os princípios de ordenamento, de exclu-
marca da originalidade individual e o tesouro são, de rarefação do discurso. As segundas
indefinido das significações ocultas. Defende o detêm-se, nas séries da formação efetiva do
autor o ponto de vista de que a história não discurso, procurando apreendê-lo em seu poder
desvia dos acontecimentos, alarga-os ao desco- de afirmação. Essa prática é entendida por Fou-
brir neles novas camadas, mais superficiais e cault como o poder de constituir domínios de
mais profundas, numa perspectiva de que a “his- objeto, a propósito dos quais se poderiam afirmar
tória não considera um elemento sem definir a ou negar proposições verdadeiras ou falsas.
série da qual ele faz parte, sem especificar o Retorno ao início da exposição: mais do que
modo de análise da qual esta depende, sem tentar emoldurar, apressadamente, a obra de
procurar conhecer a regularidade dos fenôme- Foucault de estruturalista, o leitor deveria
nos e os limites de probabilidade de sua emergên- embrenhar-se pelos três eixos – o eixo da
cia, sem interrogar-se sobre as variações, as verdade, com História da loucura na idade
inflexões e a configuração da curva, sem querer clássica, O nascimento da clínica, As pala-
determinar as condições das quais dependem” vras e as coisas; o eixo do poder, com Vigiar e
(p. 56). punir, A vontade de saber, História da
Foucault pondera que, se os discursos sexualidade, v. I, e o eixo do sujeito, com
devem ser tratados antes como conjuntos de História da sexualidade, vs. II e III. Certa-
BERNARDES, GENILDA D’ARC. A ordem do discurso (Michel Foucault)

mente, descobrirá que a concepção do autor vai realidade. E, mais, que a conferência proferida
muito além de considerar que, por baixo de todos no Collège de France em dezembro de 1970
os fenômenos, existe uma estrutura invariante, constitui uma demarcação dos parâmetros com
que constitui uma representação concebível da base na qual será produzido o seu discurso.

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