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Como você começa o seu dia? Você tem uma rotina matinal?
tos, em geral pela manhã, comprometem parte de minha semana, até por compreen-
derem aeroportos e traslados terrestres. Logo, não consigo estabelecer uma rotina ma-
Em que hora do dia você sente que trabalha melhor? Você tem algum ritual
nos horários normais é algo ordinário. Conseguir trabalhar e escrever em horário pouco
usuais é o que torna possível avançar em projetos ligados a essas atividades. A ma-
Escrever é para mim uma atividade muito prazerosa, mas (ou talvez por isso)
não vem acompanhada de qualquer ritual. Preciso apenas de uma mesa com nenhum
(ou quase nenhum) objeto que me desvie a atenção e um computador com duas telas.
Acostumei-me a escrever com duas telas e tenho hoje muita dificuldade quando elas
não estão disponíveis. Como morei fora do país (Portugal e Alemanha), terminei por
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livros e artigos), o que me liberava dos problemas com o transporte de tanto material
Se é possível falar em um ritual, o que realmente não admito que o possua, ele
chado de Assis, Alexandre Dumas e Mario Vargas Llosa são autores com tal caracterís-
tica, embora por razões diferentes. Machado escrevia para atender a seus compromis-
sos com os diários fluminenses do século XIX. Era uma forma de complementação de
sua renda como oficial de gabinete no Império. Mas a escrita de seus romances era
lenta, burilada, extremamente reflexiva. Dumas era outro autor que não perdia o fôlego
(de escritor) para não perder o crédito (com seus inúmeros fornecedores de bebidas,
póstera como grande autor, o que julgo ser mais uma manifestação injusta de esno-
bismo. Llosa, em uma entrevista ao periódico espanhol El País, revelou que tem uma
disciplina férrea de escrita. Não há dia em que ele não se dedique a escrever algumas
páginas, com ou sem inspiração. Esse seria meu modelo. Infelizmente, não consigo tal
Como é o seu processo de escrita? Uma vez que você compilou notas sufi-
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teleiras. Posteriormente, a leitura compulsiva desses textos. Em casa, no avião ou,
até que ele transborde. Quando há o transbordo, começo a escrita. É claro que a me-
mória nem sempre funciona bem e ter os materiais à mão é ótimo para não se perder o
rio (que eu elaboro apenas mentalmente e depois confiro-lhe uma forma no texto) e da
sensação de que não será possível abordar tudo o que seria desejável ou esperável.
forem mais simples ou se forem as colunas que publico na revista Consultor Jurídico,
às quartas-feiras, o processo é mais ágil: leitura das fontes e escrita quase em simultâ-
dadas) que fiz para escrever livros ou teses, bem como aquelas feitas de modo desin-
gos?
um livro jurídico: conselhos a um jovem que vai escrever um livro”, publicado em 2003
pela editora da Universidade de Campinas, com uma bela tradução de Jefferson Carús
Guedes. Nesse livro, o qual recomendo vivamente a leitura, o velho jurista uruguaio in-
e terminar uma tese (ou um livro, em geral). Procrastinação, medo dos leitores e de
suas expectativas, como figuram em sua pergunta, somam-se aos cronófagos (como
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como verdadeiros “devoradores do tempo”), aos erros no dimensionamento do objeto
da tese ou desvios para temas laterais, que criam labirintos que nos impedem de ter-
minar um texto.
A meu favor, porém, invoco o benefício de não ser um grafômano, como definia
Rudolf von Jhering aos escritores jurídicos em série (quase serial killers das letras jurí-
textos fast food e outros desvios da escrita jurídica de nosso tempo são pragas cada
vez mais incontroláveis. Na raiz disso talvez esteja a falta de superego ou o que tenho
Quantas vezes você revisa seus textos antes de sentir que eles estão pron-
tos? Você mostra seus trabalhos para outras pessoas antes de publicá-los?
Adoraria poder ler e revisar meus textos duas ou três vezes. Mais do que isso,
circular draft papers ou versões preliminares com alguns amigos e colegas que admiro
e respeito, antes, é claro, de mandar para a publicação. Esse tipo de expediente, que
lembra muito o tipo de Ciência que se faz desde o século XVIII, é um ideal cada vez
mais raro, difícil de se pôr em prática e alheio à realidade de textos para consumo ime-
Quando consigo fazer isso, sinto que produzi algo de superior qualidade em re-
Como é sua relação com a tecnologia? Você escreve seus primeiros rascu-
porâneo. Ela permite eliminar uma série de processos mecânicos que antes retardavam
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1970 e 1975) conheceram a máquina de escrever. Até o meio da faculdade (1994), ela
ainda era o “instrumento” por excelência. A chegada dos editores de texto dos compu-
da informática, escrever tornou-se bem mais fácil. Embora, reconheça-se, mais perigo-
dernos. Há uma espécie de “ritual do chá” no uso desses instrumentos de escrita: en-
chê-los, limpar as penas e os conversores, trocar as tintas. É algo que aprecio muito e,
também útil para fazer sumários, preparar tópicos ou anotar algumas ideias centrais de
textos que me servem à elaboração de um livro ou de uma coluna. Fora isso, porém,
De onde vêm suas ideias? Há um conjunto de hábitos que você cultiva para
se manter criativo?
Das viagens, das leituras jurídicas e não jurídicas, dos filmes, das músicas e das
situações da vida... Tudo concorre para a criatividade do escritor, seja ele jurídico ou
não. Viver é encontrar fontes para a criação literária. Evidentemente que o texto técnico
não jurídico é, muitas vezes, inconciliável. Fatores como carga de leitura e conheci-
mento especializado são muito mais importantes. Nesse caso, a influência do elemento
metajurídico serve para dar o colorido certo a uma aquarela que, até por dever de ofí-
O que você acha que mudou no seu processo de escrita ao longo dos
anos? O que você diria a si mesmo se pudesse voltar à escrita de sua tese?
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O processo em si mudou muito pouco. Escrevo artigos desde 1994 e livros des-
essência, contudo, é basicamente igual. O que mudou – e muito – foi a maneira como
co), diminuí os adjetivos, eliminei os cacoetes do texto jurídico mais antigo (o douto, o
pranteado...) e tentei escrever, ao menos nos últimos anos, de forma mais autoral e
próprio texto. Mas isso não depende, muita vez, da vontade do autor. No meu caso, os
bloqueios criativos podem durar dias. Quando são vencidos, consigo escrever a fio por
Que projeto você gostaria de fazer, mas ainda não começou? Que livro
Deixarei a primeira parte dessa pergunta em aberto. Aprendi com meu falecido e
querido orientador, Antonio Junqueira de Azevedo, que projetos literários não se anun-
Quanto ao livro que eu gostaria de ler? Aquele que descobrirei em minha próxi-
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