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RUY DE MENDONÇA

KÁRATE
TODAS AS BASES

DE PRINCIPIANTE

A CINTO NEGRO
cs&gradecimento

O AUTOR AGRADECE A TODOS OS QUE POSSIBILITARAM


E COLABORARAM NA EXECUÇÃO DO MATERIAL PARA
ESTE MODESTO ENSAIO, EM ESPECIAL A COOPERAÇÃO
DO CINTO NEGRO FRANCISCO TOMÁS LOULÉ GOUVEIA,
PROFESSOR DE KARATE DA UNIÃO PORTUGUESA DE JUDO,
DE LISBOA, E DOS ALUNOS, CARLOS VITORINO, FONSECA,
ANTÓNIO CAVACO, MATEUS, JORGE, ARMANDO E MÁRIO.
E A TODOS OS QUE DIRECTA OU INDIRECTAMENTE
AJUDARAM A PUBLICAÇÃO DESTE LIVRO DEDICADO A
TODOS OS PRATICANTES E SIMPATIZANTES DO KARATE.

FOTOGRAFIAS DO REPÓRTER

PEDRO GOMES
*É O HOMEM QUE
TORNA A VERDADE GRANDE,
NÃO A VERDADE QUE
TORNA O HOMEM GRANDE.*

CONFÍJCIO
PREFACIO

Uma cuidadosa investigação da literatura publicada em Portugal sobre


o Karate e o estudo das obras importadas à venda nas livrarias de renome
Nacional, fizeram-nos chegar à conclusão de que o panorama era desolador.
Com efeito, e a menos que qualquer obra nos possa ter escapado, nunca foi
publicado qualquer livro em Portugal sobre esta matéria. Por outro lado, as
obras em língua Inglesa e Francesa mantêm preços verdadeiramente in-
comportáveis ao leigo e ao praticante e oscilam entre o nível altamente es-
pecializado e a pobreza do livro de bolso pouco esclarecedor e por vezes ate
deformador da ideia do Karate.
Este ensaio não tem pretensões de servir de guia didáctico do Karate,
e sim de esclarecer o público, dentro da nossa concepção dessa arte, dos
fins genéricos, da técnica, do espírito e da própria filosofia que preside à
prática de tão interessante desporto que, no dizer de um mestre japonês,
«parece ter sido feito à medida do Português»...
Sem querermos fazer apologia da raça, nós próprios constatamos já
por varias vezes, a poderosa atracção que as ar,tes de combate exercem sobre
o português. Reminiscências do espírito indomável dos nossos antepassados?
Não podemos negar ao Português uma extraordinária força interior, misto
de poder de adaptação, espírito de sacrifício, vocação nata para o combate,
e sobretudo, à flor da pele, o espírito «Ki». É curioso constatar que sempre
mantivemos relações de verdadeira afinidade com o Povo Japonês e creio
que todos nutrimos por esse extraordinário povo uma simpatia e uma admi-
ração muito especial.
É, pois, surpreendente que, com a tendência do português para este
desporto específico e dado o excepcional momento que a nassa soberania
vessa, o Karate não tomasse maior desenvolvimento.
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Será o mito, o mistério, a prática sub-reptícia, quase envergonhada, o
destino do Karate em Portugal? Esperemos que não, uma vez que nos pa-
rece que é possível um desenvolvimento mais amplo e uma afluência de pra-
ticantes sempre crescente a este desporto, via de perfeição mental, que um
mestre definiu: "Uma arte magnífica, um desporto viril, uma defesa total,
Incontestada, um domínio do corpo e do espírito, para o enriquecimento da
personalidade", esta é na realidade, a arte da «Verdade Interior».
Á par da incomparável técnica de defesa pessoal, o que propõe o Ka-
rate aos seus adeptos?
O Karate é, na sua essência fundamental, uma «ARTE DE SE VENCER O KARATE E A ISENÇÃO DO MEDO
A SI MESMO».
Este conceito pode parecer paradoxal mas, racionalizando a questão,
veremos que o homem que se vence a si mesmo já ultrapassou largamente O Karateca verdadeiro, sobretudo o que atinge níveis de professor, é
todas as condições acessórias para vencer a vida dentro dos quadros normal- normalmente e por natureza, forte, controlado, desapaixonado na análise e
mente impostos pela Sociedade. jamais «faz ondas» ou denigre os outros estilos ou formas de Karate e, so-
bretudo, jamais sub-estima os que sinceramente, bem ou mal, praticam a
Contrariamente ao que parece à primeira vista, o Karate não desenvol- mesma arte, com intenções por vezes esotéricas. O Karate, muitas vezes, atrai
ve o espírito agressivo mas sim o equilíbrio, o bom senso, a humildade, o o indivíduo exactamente pela sua absoluta totalidade: o combate de vida ou
respeito pelos outros.
de morte. Muitos sentem o Karate profundamente exactamente pela sua inu-
Que maior vitória na vida pode o homem conseguir que vencer-se a si tilidade como aplicação prática. Esses, quanto a nós, praticam o verdadeiro
mesmo, vencer o medo, o orgulho, a mesquinhês, a intolerância em relação Karate, uma vez que na competição não se pode matar o adversário, nem
aos demais? Que maior vitória que o domínio absoluto sobre os sentimentos sequer levá-lo ao K. O., pelo menos deliberadamente.
e a vida interior? Pedimos a quem nos lê que não fique chocado com esta maneira de
falar da morte num tom tão ligeiro. Nós, pessoalmente, amamos a vida mas
O controle da razão, o domínio dos nervos, da cólera, da excitação, das também amamos a morte. A dualidade do pensamento que nos permite
paixões, de todas as influências inibidoras que bloqueiam e constrangem o es- alhear do medo natural do indivíduo em relação à morte é das sensações
pírito humano. mais belas que um indivíduo pode experimentar, e também, das mais admi-
A aquisição do «sexto sentido», da acuidade máxima, quase a posse de radas pela sociedade. Toda a vida social, política e militar de todos os paí-
um processo telepático, à vez uma energia cósmica, ou uma intuição para — ses, clãs, etnias, admira o indivíduo sem medo da morte ou que em deter-
psicológica é uma das grandes experiências do que consegue a prática do minados momentos venceu esse medo latente inconsciente ou consciente;
Karate. que todos ou a maioria dos indivíduos possuem.
Toda a máquina de trituração humana (publicidade, cinema, rádio, T.
Assim, o Karate pode representar, para os seus adeptos, mais do que V., jornais etc.), glorifica e admira o herói. Não interessa que tipo de herói
um desporto de combate, uma técnica de defesa pessoal, um método infalí- crie. O que interessa é que, de algum modo, reaja ao medo, vença o medo,
vel de superioridade sobre os demais.uma prática salutar para a saúde. Mas não tenha medo. Essa dramática, e por vezes patética, exploração da imita-
não devemos perder de vista que, acima dê tudo, ele propõe uma profunda ção das situações reais da vida para a ganância comercial servir os seus
e séria filosofia. Mais ainda, ele pode conduzir a uma mística e ser trampo- intereses, não escapa à escalpelização fria e mordaz de alguns críticos ho-
lim para uma experiência pessoal única uma vivência interior que, tão ma- nestos. Todos os países e facções adversas têm os seus heróis, mas o ver-
gnífica e ímpar, é de difícil tradução em palavras. dadeiro herói, na maioria inconsciente da sua faceta de herói, é modesto.
Para nós é apenas cumprimento do dever em relação a qualquer tipo
de entidade a que se esteja ligado, militar ou política. A contestação moder-
B. M. - Coimbra / 1971 na reaje em relação estreita, íntima, com o medo. O medo é inconsciente-
mente, todo o processo que desencandeia a reacção. Este é o medo-angústia,
neurose-tipo da época que atravessamos.
Como meio de conseguir tecnicamente a isenção do temor, o Karate-
Zen — ou Karate-Do é extremamente subtil, uma vez que o Karate simples,
desportivo, competitivo, não difere fundamentalmente na parte técnica. Mas
um praticante desse tipo de Karate, está tão longe da isenção do temor, da
tranquilidade mental, do controle e tolerância humana, como um vulgar
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«Boxeur» ou um capoeirísta brasileiro. Desassodar o espírito do Karate é
auto-destruir-se e jamais o praticante conseguirá os mínimos resultados
pois será sempre vencido. Estes conceitos são os únicos que nos atrevemos,
na nossa modéstia, afirmar peremptoriamente neste ensaio sobre o Karate-
-Do. E dizemos vencido, não no combate mas na vida. Em si mesmo. Quando
pretende destruir alguém, o homem tem medo. O verdadeiro forte não é o
que ataca e sim o que defende: esse é o principio do Karate-Do.
Todos sabemos, embora pouco pensemos nisso, que na própria vida,
quando um indivíduo teme ou inveja profundamente outro, nega-se a acei-
tá-lo e o despeito fá-lo falar incontrolàvelmente. Isso acontece nos negócios,
na vida social, enfim, em todas as facetas da existência. A calúnia, o boato INTRODUÇÃO
falso, o anonimato, o equívoco, são normalmente as armas dos que psicologi-
camente se sentem, não só culpados mas inibidos, frustrados, incompletos,
em suma, infelizes. O desejo da libertação final pode, no entanto, curá-los e
dignificá-los até e limpar completamente o espírito da sujidade, (pois o
espírito, como o corpo, pode estar sujo). E surgirá então a paz, a tranquilida- Origens do Karate
de do «Mizu-No-Kokoro», onde nada pode penetrar que nos excite e exa-
cerbe, onde a mente é como um «imenso lago de águas tranquilas», o esta-
do de lucidez e de clarividência, reservado aos simples e aos que se despo-
jam, não do bem ou do mal, mas das reacções por reacção. A origem e história do Karate é muito incerta. Não existe mesmo uma
O saber enfrentar o perigo, (na guerra por exemplo, principalmente a data ou uma época em que possamos verdadeiramente definir o princípio do
guerrilha de mato, nervosa, lenta, inexorável, por vezes só dependendo de Karate. No entanto, reportando-nos à bibliografia da especialidade, todos os
uma íntima partícula do factor sorte), é um tipo de situação que se asseme- historiadores, autores e mestre.; que escreveram sobre este assunto são unâ-
lha bastante à mentalidade de que adquire um bom Karateka. nimes em estabelecer a ligação com o nome do patriarca do Zen, «Bodhidar-
ma» estreitamente ligado às primeiras formas de Karate como método de
Seria, pois, muito lógico que as forças Armadas utilizassem o Karate a combate e ao mesmo tempo exercícios em que o corpo e espírito participariam
fundo para preparação psicológica de comandos ou tropas especiais, mais com uma noção de indivisibilidade, que permitiriam ao homem a ascese à
até do que o judo, que serve apenas de preparação física e onde só muito ha- «verdade única», quer dizer, a um estado de iluminação de tal clareza que
bilmente um perito pode estrangular silenciosamente uma sentinela. A per- lhe daria o verdadeiro conhecimento e a paz de alma. Recuando ainda mais
cepção do Karate-Do a alto nível, é semelhante à dos animais de presa, es- através da história, contam certos manuscritos antigos que viveu na índia
pecialmente os Felinos. Pressentir o ataque, ou mesmo a presença pelas cos- um príncipe que passava o tempo a observar os animais nos seus combates
tas à distância, é normal em Karate avançado. Apelamos para os nossos Go- e analisava atentamente os seus movimentos. Ele classifica todas as suas
vernantes, para que o Karate seja adoptado pelo exército, pois o enriqueci- observações e tenta transpor um certo número de técnicas de combate dos
mento mental é na verdade excepcional. animais de presa e de voo, para serem utilizadas pelo homem.
Numa segunda etapa, o mesmo príncipe sacrifica algumas centenas de
Ao nível a que o nosso Portugal ascende rapidamente, todos os recur- escravos na busca exacta do sítio onde se encontram os pontos vitais do
sos válidos devem ser utilizados para fortalecer esta raça a que nos orgu- corpo humano.
lhamos de pertencer, cada vez mais, e que é a nossa razão de viver! Esta lenda, verdadeiro banho de sangue inútil, não tem todavia qual-
quer relação com a utilização milenária, chinesa, dos métodos de «Acum-
punctura», o processo de picagem com agulhas nos pontos principais sensi-
tivos, para reanimação e até cura de certas doenças.
Também na China o Karate era conhecido há cerca de 5.000 anos.onde
era praticado, contudo, com um sentido mais tipo ginástico, (mas sempre co-
mo imitação simplificada do movimento de ataque e defesa) destinado a man-
ter o equilíbrio e diminuir a tensão nervosa.
A fonte de inspiração foi ainda a observação dos animais ferozes como
o tigre, a águia, etc.. Esta imitação dos animais tem, contudo, um sentido ló-
gico e extraordinariamente concreto. Com efeito, se estudarmos atentamen-
te o movimento de ataque da pantera, o chamado «Bote Felino» en-
contraremos uma velocidade de ataque relâmpago e sempre ao ponto sensí-
vel dos animais carnívoros, a veia jugolar. O próprio avanço, recuo, volta-
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gens, esquivas dos movimentos de Karate, assemelham-se aos dos Felinos
em combate. acessórios. Esta fase explica a diferença de eficácia entre o Karate e o Jlu-
É óbvio que um KarateKa a nível elevado pode enfrentar com êxito, -Jitsu japonês, mais tarde substituído pelo Judo.
em luta de vida ou de morte, qualquer tipo de animal, mesmo um leão, ou
tigre.
Contam certas lendas orientais que existiu um guerreiro japonês, já em
épocas recentes, que, para divertimento do seu príncipe, enfrentava com as Cerca de 1900, o estudo do Karate foi divulgado em Okinawa pelos
mãos vazias qualquer animal feroz, aniquilando-o a golpes de Kartate, a pon- mestres Itosu e Higaona, já com caráter oficial e aberto. Depois o Governo
to de esmagar o próprio crânio da fera. Japonês, na pessoa dos ministros, convida os mestres a ensinar Karate
no Japão. É então que entre todos se destaca o mestre Gichin Funakoshi,
Já mais recentemente, em 1953, Mestre Oyama, o famoso Karateka co-
como personagem de primeiro plano e figura de nível intelectual, mental e
reano inventor do Kiokushinkai, diante de um público numeroso, enfrentou espiritual ímpar, como ainda hoje se venera o seu espírito para que presida
um touro bravo de 600 Kg., abatendo-o com um golpe sobre a testa depois de ao trabalho em cada «Dojo» Esse o homem de olhar repousante e firme de
lhe haver cortado os chifres tendo sido toda a cena registada e filmada. que vemos, na parede central de cada «Dojo» de Karate, a fotografia.
Ainda voltando às origens do Karate, está definitivamente estabelecido É ele que organiza a Escola Shotokan, codificando as actuais formas
ter sido a China, com a técnica de combate designada Kempo, que avançou de Karate no Japão e insuflando a uma simples técnica a força mental do
mais a técnica, sobretudo procurando a maior velocidade possível de execu- Karate como era praticado por Bodhidarma, associando o corpo e o espírito,
ção. Esta arte era de início reservada aos nobres, desenvolvendo-se como como nas antigas formas do Kempo.
desporto popular na dinastia de «Han», cerca de 300 anos antes de Jesus Este espírito encontrou uma ressonância particular nos adeptos do Bu-
Cristo. As técnicas de combate sem armas desenvolveram-se mais na China, dismo-Zen e nos jovens japoneses plenos de espírito marcial do «Budo», ca-
com a vinda da dinastia «Ming». minho de perfeição humana através de uma das técnicas marciais (judo, Ken-
A espantosa imaginação criadora dos chineses, (libertados da invasão do, Aikido, Karate e Sumo).
Mongólia de «Gengis-Kan»), deu lugar à criação de novos métodos de com-
bate sucessivamente aperfeiçoados.

Foi assim introduzido o Karate no Japão atingindo o apogeu antes da


guerra. Foi contudo a guerra que atingiu mais duramente o Karate. Com o
espírito indomável do Karate, milhares de instrutores tombaram no fogo. De-
A Ilha de Okinawa, criadora do Karate zenas foram os famosos Kamikaze, que enfrentaram serenamente e com pra-
zer a morte contra os contra-torpedeiros americanos. O próprio filho de Gi-
chin Funakoshi morreu de fome, recusando as rações americanas do após
A Hha de Okinawa foi, desde sempre, um ponto de contacto entre a guerra. Dezenas de instrutores treinavam a população de maneira a fazer
cultura chinesa e a cultura do Japão. É nesta Ilha, sucessivamente conquis- frente a um desembarque americano nas costas do Japão, submetendo os
tada pelos imperadores chineses e pelos senhores feudais japoneses, que o civis a um treino sem limite.
Karate toma a forma sob a qual o conhecemos hoje na Europa, embora divi- Quem conhece a história dessa guerra mortífera decerto
dido em cinco escolas fundamentais de que falaremos mais adiante. recorda a superioridade tremenda da guerrilha japonesa nas ilhas ocupa-
Nessa época era proibida em absoluto aos habitantes da ilha, sob do- das. O período do após guerra, mais calmo, e com a morte dos velhos mes-
mínio japonês, o uso das armas. Mesmo as armas brancas eram interditas. Só tres (FunaKoshi morreu com a idade de 88 anos), serviu para divi-
dir os estilos. Os discípulos separam-se pára ensinar, muitas vezes longe da
os samurais invasores podiam fazer uso das suas. disciplina e da técnica de origem.
Destas interdições nasce o Okinawte-Te, misto da Escola Kempo e de
técnicas locais. Constituíram-se seitas secreta/í que praticavam secreta e in-
tensamente, de noite, entre discípulos seguros. Pés e mãos transformaram-se,
em armas terríveis, capazes de subtituir os punhos e as espadas. As pontas
dos dedos' tornaram-se tão perigosas como uma faca. Os cotovelos e joelhos,
adquirem a potência das matracas, dos maços de ferro. Os braços, a solides
dos sabres. Nesse Karate, todos os membros eram utilizáveis procurando,
sistemática e rapidamente, uma eficácia absoluta e rápida. Os golpes são sis-
tematizados à velocidade máxima. Os estrangulamentos, luxações, projec-

I
ções do corpo ao solo, foram totalmente abandonados, ficando como meios
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OS ESTILOS DO KARATE

A um espectador não conhecedor, o estilo de Karate praticado por este


ou por aquele clube dá a sensação de não fazer diferença nem apresentar
uma especial particularidade. Porém, para os praticantes dos diversos esti-
los, as diferenças de concepção de técnica e mesmo das bases fundamentais,
são bem distintas e muitas vezes, infelizmente, irredutíveis.
Cada um julga estar na posse da verdadeira ciência e do verdadeiro
segredo, caminhando, pois, na via do Karate que considera melhor. Esses
pontos de vista assemelham-se muitas vezes ao fanatismo das religiões e
desembocam, como essas religiões, no mesmo fim. Há uma grande multipli-
cidade de «escolas» com diferentes estilos de Karate. No Japão podemos
contar 15 ou 20 diferentes. Estas serão as mais válidas pois estão mais codi-
ficadas, estabelecendo o programa de ensino através dos Katas e indicando
ainda os Katas necessários a uma progressão de graduação. Dessas escolas,
só falaremos das cinco mais importantes e conhecidas na Europa.

O Shotokan-J. K. A.

O lema do estilo Shotokan, o mais codificado e directamente ensinado e


estabelecido pelo mestre Gichin Funakoshi e seu filho Yoshitaka Funakoshi,
é «força, velocidade e endurance». No entanto, em princípio, é uma técnica
baseada no trabalho a longa distância e em contracção de movimento. Os
Katas oficiais são os Taykyokus, Heians, Tekkis, Kankus e Bassai, hoje edi-
tados minuciosamente em magníficos volumes por Masatoshi Nakayama,
chefe instrutor da Japan Karate Association.
Contudo, mesmo no seio do Shotokan, existe ainda nova cisão baseada
no ensino dos mestres Egami e Harada, Oshima e Murakami, que dirigem a
Escola Shotokai. É um estilo muito fechado, que se detém, sobretudo, sobre
o aspecto mental do Karate.
O Shotokan é o estilo mais difundido na Europa (agrupando cerca de
70 por cento de efectivos do Karate no exterior do Japão) talvez por ser a
técnica mais racionalizada e com um programa didáctico mais definido, mais
sóbrio e clássico.
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O Kiokushinkai

Não poderíamos deixar de citar o estilo Kiokushinkai, de Mestre Ma-


sutatsu Oyama. Oposto ao Shotokan, tem de espectacular o que o Shotokan
e o Shotokai possuem de sobriedade. Os volumes de Mestre Oyama estão re-

HIDETAKA NISHIYAMA
7.o DA N — INSTRUTOR DA J. K. A.
do estilo Sholokan e Presidente da Federação de Karate MESTRE MASUTATSU OYAMA •
AH America Karate 1'ederation
Que multo admiramos, representante máximo do estilo Klokunhlnkal
que • par de figura mental excepcional, aniquilou um touro de 60O
-20- t C»., com um só golpe I I !
— 21-
cheados de proezas fantásticas em testes de quebra (Swiwari). Os Katas
são mais complicados e pouco conhecidos na Europa: Osurhiho, Seienchin,
Garyu etc..
A guarda de combate é estabelecida a partir de Neko-Ashi-pachi, po-
sição que define praticamente a particularidade do estilo Kiokushinkai.
Este método é praticado em todo o mundo e bastante difundido na
América, onde Mestre Oyama efectuou uma tournée que deixou todo o públi-
co abismado com uma tal potência.

MASUTATSU OYAMA
Meitre Gogen Vamannchl, o «Grande Mestre, do estilo
mo MmJUora Square Garden
G o J n - H y n , primeiro dtccípnlo de Chojum Myugy,
BB América, ••* rX.ren.hro d« 1»6» Presidente da Ai«oclaçfio Gnju-liyn em Tóklo

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O Goju-Ryu Os Katas desta escola são oe Sanchin, Tensho, Sanseru, Surapumpc,
etc.. Este estilo é pouco estético e elegante mas muito eficaz no combate
próximo. O lema deste estilo é: «À força opõe a souplesse, à souplesse opõe
Esta técnica é a tendência de estilo do velho Mestre Higaonna. Este a força».
verdadeiro gigante, de forças hercúlea, era partidário das blocagens estácti-
cas, para daí poder efectuar o contra-ataque em contracção máxima. Daí O mestre actual é o famoso Mestre Gogen Yamaguchi, mais conheci-
resulta uma série de movimentos e posições mais altas e de pouca amplitu- do por «Gato», que numa idade avançada (70 anos), mantém uma forma ex-
de, mas de tremendo poder. cepcional dirigindo a Escola Associação Goju-Kai, com cerca de 6000 parti-
cipantes. Este estilo é quase desconhecido na Europa. Uma das especialida-
des desta Escola é a execução dos Katas com uma respiração ventral sono-
ra.
Este estilo foi fundado no Japão por Gojum Miyagi e é praticado
actualmente no Japão e na América.
Gogen Yamaguchi, personagem e síntese do Zen-Karate, 10.° Dan e
patriarca do Goju-Kyu, é, com efeito, uma das figuras vivas que atestam o
Karate com forma quase sobrenatural. Sobrepõe-se, por isso, às que-
relas sobre a diferença dos estilos, tão apanágio nos graus mais baixos da
Europa.
Diz-se de Mestre Yamaguchi que o «seu olhar é tão penetrante como
um tigre», e o seu «poder semelhante ao de um leão».
De facto, a impressão do contacto com um Karateka que atingiu o
fim do caminho, ou mesmo com os seus discípulos, deve ser única, pois con-
tactar com mestres cuja evolução em «completa visão», «completa com-
preensão», «completa acção», «completa vocação», «completa aplicação», (as
verdades do Zen), é receber deles os meios de atingir o «completo acor-
dar», o fim do Karate-Zen, o «Sayori».

O Wado-Ryu

Este estilo é a concepção do Karate inteiramente japonesa, criada de-


pois de guerra pelo japonês Hironari Otsuka. Este aprendeu o Karate de Fu-
nakoshi, separando-se depois deste para ensinar o seu estilo de Karate.
Este estilo, baseado particularmente sobre as posições altas e de té-
cnicas na maioria baseadas sobre a esquiva, tem como Katas fundamentais
de ensino os Pin-An, Kushaku, Seishan, etc.. Os Katas Rn-An, diferem rela-
tivamente pouco dos Heians, podendo considerar-se os Katas Heians, como
diferença)} de interpretação.
O sistema de treino é menos penoso que o Shotokan, não existindo
GOGEN YAMAGUCHI — 10.° DAN a concentração de potência e sendo os movimentos menos sincopados. Este
Uma da* rara* foto» do Mestrfgglmo Gogcn Yiimaguchi. IO." l>nn, o mal* alio
tipo de Karate é representado na França pelo Mestre Mochizuki, conselheiro
técnico da Federação Francesa de Karate, e em Inglaterra pelo Professor
grau actual em knrate, do estilo Gojii-Uyu e gimbolo flvo do Zen Suzuki, autor do livro «Karate-Do-Wado-Ryu».
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seu País de origem para contribuir para o movimento de expansão do Karate
na Coreia e no Sudoeste Asiático.
As escolas chinesas, donde deriva afinal o Karate de base, poss
numerosos métodos, sendo os mais importantes o Kung-Fu, Kempo, I
Ptf*
Todos estes sistemas são formas de Karate menos codificadas e coi
cidas do que os estilos clássicos Shotokan, Wado-Ryu etc..

O ProfeMor Znzukl, representante do Wado-Ryu


na Europa, numa demonstrae&o em Landret

O Shito-Ryu e as escolas Coreanas e Chinesas


A técnica representada em França por Nambu, foi inventada e codifi-
cada pelo Mestre Kenwa Mabuni. É a técnica de competição ideal, visando
sobretudo o combate directo contra um único adversário (em contraste com
o ideal do Karate, que é combater um número de adversários sem limite).
Possui interessantes Katas, que são também estudados na Escola Shotokan:
os Shozuki, Saipa, Saifa, Kosoku, etc..

Tae-Kwondo
O Karate Coreano mantém sensivelmente as mesmas características do
Karate Japonês e tem conhecido grande sucesso, entre os praticantes dos
Estados Unidos, estando ai muito divulgado. Â unificação das escolas rivais
do Karate Coreano foi realizada pelo General Choi-Hong-Li, criador do mé-
todo do Tae-Kwondo que possui os seus Katas específicos. Existe também
neste estilo a graduação no sistema de Kyus e de Dans, sendo a graduação
mais alta a de 9." Dan. NANBU
Este método é de prática obrigatória no exército coreano. Recente;
mente Mestre Oyama, que é ele mesmo de nacionalidade coreana, visitou ó No «eu evtllo característico da eompotlçAo Slilto-Hjn

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sas técnicas balanceadas ao som do reco-reco, constituem um interessan-
te estudo. Temos, por exemplo, «o rabo de arraia amarrado», «a meia lua»,
«o voo do morcego», e algumas outras tipicamente brasileiras.
Esta luta, que se mantém ao nível dos bas-fonds, é praticada na maio-
ria pelos rufiões e mestiços brasileiros tendo a origem nas técnicas intro-
duzidas pelos orientais no Brasil. Foi depois adaptada por indivíduos na
maioria pouco escrupulosos e utiliza muito os sofismas ou truques (fingir
de bêbado, desistir da contenda voltando as costas para atacar depois
repentinamente, fingir chorar cobrindo a cabeça, o truque do «seu cara»,
O KARATE E OS OUTROS em que o capoeirista se finge amigo, agredindo depois os pontos vitais.
Estas técnicas mantêm o espírito e a psicologia própria aos mestiços brasi-
MÉTODOS DE COMBATE leiros. Muitos capoeiristas antigos usavam lâminas de barbear e mesmo
armas brancas nos dedos dos pés e das mãos, atingindo uma perfeição de-
veras séria.
Contudo, em relação ao Karate, é um tipo de luta bastante ingénuo e
Karate e Judo frágil, estando a desaparecer quase completamente a sua prática no Brasil
para dar lugar às Escolas de Karate que proliferam por todo o país.
Só em S. Paulo contam-se cerca de 50 Escolas de Karate dos estilos Shotokan,
Kiokushinkai e Tae-Kwondo. Aliás os únicos volumes sobre o Karate em lín-
Uma das primeiras perguntas que se põem aos leigos no assunto é: gua portuguesa são oriundos do Brasil.
qual a diferença entre o Karate e o Judo?
Em princípio, o Judo é apenas um desporto, não uma arte de guerra.
A competição e a forma moderna da prática do Judo fez deste um jogo, uma
prática convencional, uma vez que para combater é necessário a prévia
aceitação do «Kumi-Kata» agarrar o Kimono adverso. Por sua vez o Judo Karate e Boxe
divide-se em dois tipos de treino específicos: projecções e técnicas de con-
trole no solo, técnicas que o Karate só aplica como meios acessórios.
A resposta à pergunta é pois: a afinidade da prática do Karate em O Boxe é um desporto por demais conhecido para que seja necessário
relação ao Judo, é que ambos são praticados em Kimono. O Karate incide uma explicação dos seus meios, fins e técnica. Sem grandes possibilidades
também toda a sua pujança sobre a parte mental e a concentração como em luta de rua, devido à sua técnica se encontrar unicamente no tronco, o
meio de canalizar a energia máxima numa só acção. Boxe é, além disso, uma luta em que a esquiva é quase impossível no decor-
Não perdemos de vista que o Karate sob a forma sincera como se prati- rer de um combate. Vemos muitas vezes o vencedor de um combate
ca, é um combate livre, sem condicionalismos de qualquer espécie e, assim, ficar completamente desfigurado pela violência dos golpes que recebe.
todos os meios são válidos. Reproduzimos o pensamento de H. Plée: «Em O Karate possui um trabalho de pés de esquiva que lhe permite man-
Karate tudo é permitido», tudo o que é eficaz em todos os outros meios de ter à distância ou mesmo aniquilar o Boxeur pouco preparado ao tipo de
combate existe em Karate, sob o ponto de vista do homem lutando com os combate e de contracção. Sem qualquer preparação mental, os- Boxeurs são
meios com que a natureza o dotou para conservar a vida. É por isso que, se na maioria as vítimas dos interesses das organizações que os movimentam.
a base fundamental do Karate é composta por golpes com os punhos, o Contudo a técnica de combate do tronco é bem planeada podendo o
sabre da mão, dos pés, dos cotovelos, da cabeça, dos joelhos, são igualmen- Karate reconhecer a semelhança entre o «Uppercul», com o Ura-Tsuki, o
te permitidos os estrangulamentos, as projecções, as luxações, etc.. Mawashi-Tsuk! com o «Cross», etc..
Esta é a parte atraente do Karate. A sensação de dominar todas as té-
cnicas eficazes, dá-nos uma paz interior e uma calma que é difícil de en-
contrar noutros desportos de combate, que comportam limitações ou inter-
dições de qualquer espécie. Karate e Ailcido

Karate e Capoeiragem O espírito da prática do verdadeiro Karate é muito semelhante ao do


Aikido na procura da ascese do Zen. Para dar ao leitor uma ideia acerca do
Aikido, transcrevemos «os princípios do Aikido» dum artigo de Masamitsu
A «capoeira» é um tipo de luta praticado no Brasil cujas origens são um Noro, Mestre do Instituto de Budo S. Naessens em Bruxelas. Ao ler este
tanto obscuras, assemelhando-se algumas técnicas ao Karate. Os nomes des- artigo pareceu-nos desnecessário estabelecer qualquer comparação entre
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iln c K . n . i i c uma vez que o mestre define em poucas linhas, mas ma-
glHtrnlmente, ••.•;. i ;;i arte marcial. «Os princípios do Aikido, a mais recente das
Ai N•:; M.-irciais Japonesas, foram descobertos por Morihei Uyeshiba. A sua
MI ir.inalidade marca uma grande evolução em relação às artes físicas tra-
didonais, defensivas e agressivas, projectando-sc. como uma arte Marcial
absoluta, que procura abolir todo o conflito. Aparentemente poucas pessoas
têm a noção de que o espírito, como o corpo, se suja e enfraquece, se ele
não é limpo e exercitado. Ora, na verdade, é o espirito que dirige o corpo. O
Aikido ensina-nos que devemos servir-nos do nosso espírito antes de ten-
tarmos mover-nos fisicamente. Mesmo quando tentamos vencer um adver-
sário devemos primeiro conduzir o seu espírito a fim de controlar o seu cor-
po.
«Em Aikido todas as técnicas estão em conformidade com as leis da
natureza, por isso todos os movimentos são harmoniosos».
«Se vós compreendeis verdadeiramente as leis da natureza e lhe
obedeceis, sereis parte integrante dela, e quem vos ataca, ataca a
própria natureza. Ora ninguém pode vencer essas leis».
«Sede, pois, unidos à natureza, não procureis ser fortes mas justos,
nem vencer os inimigos, mas vencer-vos a vós mesmos, apoiando-vos em
princípios correctos».

iMtitnto IMeawen» de Uru xelim — Rudo-Karate-Alktdo

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que certos músculos e nervos se encontram instantaneamente prontos a in-
tervir à mínima solicitação do «sentido». E aqui dizemos sentido pois não é o
pensamento que intervém neste caso, nem mesmo o consciente. Esta é uma
noção difícil de exprimir por escrito, pois é tão subtilmente intuitiva, que
só quem a sente a pode compreender inteiramente.
Com efeito, todos sabemos a importância da «ligação» do bloco, da ac-
PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS ção em bloco, e as «nuances» atravessadas por exemplo no recuo veloz do Ko-
kutsu acompanhado da blocagem e a contracção e descontracção atraves-
DO KARATE sada pelos membros inferiores e superiores ao passar ao contra ataque em
pujança.

Antes de entrar no plano da técnica do Karate, queremos deter-nos


nos princípios fundamentais, teóricos e práticos, que são de uma importân-
cia excepcional para quem se proponha abordar o estudo desta arte. A respiração
Dividiremos estes princípios em duas partes: a parte física e a parte
mental, embora as duas estejam intimamente ligadas.
Com efeito, se aprendermos a técnica do Karate e não a executar-mos As fases de força e fraqueza que o corpo atravessa são devidas à res-
com o espírito, essa técnica é apenas um conjunto de sóbrios e belos movi- piração. Quando expiramos, encontramo-nos vulneráveis a qualquer ata-
mentos, mas não o próprio Karate. Por outro lado, o espírito sem a técni- que. Daí o conselho de concentrar sempre a respiração no ataque e contrair
ca, por muita intensidade que possua, jamais poderá ser eficaz no combate a respiração abdominal no momento do impacto.
total. Nunca, em Karate, se deve agir de maneira desordenada. Uma perfei-
ta coordenação e um perfeito equilíbrio são absolutamente necessários no
que respeita à inspiração e expiração. Daí ser por vezes monótono, para os
Energia Dinâmica iniciados, o tipo de treino inicial na posição zazen, onde se aprende, durante
longo tempo, a respirar. Em combate de karate a respiração não deve trans-
parecer ao adversário. A respiração deve ser discreta, excepto, é claro, no
caso das respirações ventrais sonoras.
Todas as técnicas do Karate devem, depois de assimiladas, ser execu- Para o iniciado, o ler que a respiração pode ser executada com o ven-
tadas a fundo, quase ferozmente, no sentido de libertar e acordar a energia tre, pode parecer estranho. Aí entramos no campo do Karate, pois a res-
latente. Esse é o meio de obter a explosão de força concentrada ao mais alto piração pode exteriorizar-se por um grito gultural e breve, destinado mais
grau. Aqui, a vontade de cada um joga um papel mais importante do que a a contribuir para a explosão de energia do que a assustar ou desorientar o
simples força muscular pois são canalizadas sobre um fim específico todas adversário. Esse grito chama-s« o «Kiai», que não é mais do que o estado de
as reservas musculares e nervosas, sendo a tensão e a contracção do tipo tensão interna que preside à execução do grito.
isométrico a base de obtenção de um poder, que cada um possui latente
mas que raramente é posto em execução. O potencial atlético é realmente
importante em Karate? — A resposta é não. Ò importante é a tensão posta
no final da execução da técnica e ao mesmo tempo a coordenação de cada
movimento. Aprendemos assim a bater com o punho ou com o pé na zona O Kiai
onde a concentração é máxima. O factor precisão na acção entra então em
jogo.
O Kiai pode ser sonoro ou silencioso e é um estado psicológico, mais
do que um simples berro gutural. Ele é a expressão violenta duma tensão
mental e física que atingiu o paroxismo, o apogeu. Esse grito é o símbolo
Descontracção da explosão da dinâmica física e facilita a concentração total na acção. O
Kiai deve sair das profundezas dos abdominais e não unicamente das cordas
vocais.
A tensão que citamos acima atravessa porém períodos relâmpagos de O que a maioria dos iniciados, e mesmo certos cintos avançados, fazem
descontracção. Pode parecer um paradoxo, mas na realidade é possível atin- julgando ser o Kiai é na maioria das vezes um simples grito prolongado que
gir uma tensão em descontracção, que consiste num estado de espírito em é mais ridículo do que inibidor do espírito adverso.
O verdadeiro Kiai é usado com parcimónia e só nos momentos exactos
da acção total. Todavia é tão perigoso usá-lo destrambelhadamente como
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prescindir dele, principalmente nos Katas Heians e Tekkis, como já temos
observado nalguns praticantes.
O Karate é a procura da sensação e não da beleza e perfeição do gesto.
O próprio Kiai deve ser executado em sensação e não mecanicamente, como
meio de marcação do exercício executado.
 um nível mais avançado não é raro ver-se a paralização do ataque
oponente através do Kiai.
Certos mestres e instrutores conseguem mesmo o desmaio do adver-
sário, por meio do Kiai. O Kiai é pois um meio de inibição e ao mesmo tem-
po usado como reanimação por meio da aplicação da técnica do Kuatsu,
(técnica de recuperação e reanimação de desmaio provocado por pancadas, PRINCÍPIOS MORAIS E SOCIAIS
luxações e projecções, etc.).
Para chegar ao estado psicológico necessário à explosão do Kiai é pois DO KARATE
necessária não só uma execução intensa das técnicas, em potência, mas tam-
bém uma disponibilidade de espírito e contracção ventral que permita a ex-
plosão imediata da energia acumulada num instante preciso. Procurar, so- O Karate, como doutrina ou actividade interligada à obtenção do es-
bretudo, que o som provenha da parte baixa da região abdominal. tado «Satori» do Zen, não tem, em princípio, qualquer tipo de código a se-
guir. Só abordaremos esse aspecto no fim do volume. No entanto, todos os
«estilos», «jogos», «associações», livros sobre o assunto, insistem no aspecto
A Concentração altamente superior e moral do Karate. Vejamos o juramento do Estilo Kio-
kushinkai que é pronunciado no fim de cada sessão de treino.
«Juramos solenemente:
Sem verdadeira, positiva e treinada concentração mental, não há Ka- 1.° — Dedicar todo o nosso esforço ao desenvolvimento mútuo espiri-
rateka válido, como atrás dissemos. Sem o espírito, a eficácia da técnica ar- tual, intelectual e físico.
risca-se a severas e decepcionantes desilusões. 2.° — Manter-nos atentos ao ensino dos mestres, esforçando-nos por
O que é afinal a concentração em karate? Aqui abordamos um outro conseguir o domínio desta Arte Marcial.
factor importante: o domínio pessoal, o chamado auto-domínio. Ora um Ka- 3." — Enfrentar com firmeza todos e cada um dos obstáculos que se
rateka deve, em todas as circunstâncias, ficar calmo, tranquilo, sem qual- ergam impedindo-nos de alcançar nossas metas.
quer atitude ou gesto ou contracção visível que deixe adivinhar as suas in- 4." — Ser corteses no nosso comportamento exterior e recordar per-
tenções. manentemente a virtude da modéstia.
Esse tipo de concentração deve e pode ser usado no treino do «Dojo» 5.° — Ter respeito pelos outros, superiores ou inferiores, amigos ou ini-
e na vida quotidiana. Lembramos a máxima: aquele que está bem prepara- migos.
do, não o parece. Esta é a atitude do Karateka. Â tensão é dissimulada numa 6." — Evitar todo o incidente desnecessário e só utilizar o Karate em
concentração disponível, sem a mínima excitação que deforme a realidade caso de perigo real e só em defesa.
e impeça a percepção exacta, institiva, do acontecimento que se produza. 7.° — Juramos ser bons cidadãos, membros dignos da comunidade e
Por outro lado parece um paradoxo entrar em acção com a ener- verdadeiros cavalheiros».
gia explosiva do Karate e manter o espírito lúcido e o sangue frio. Como con-
seguir essa maravilhosa indiferença frente a situação desesperada? Como
conseguir esse vazio de espírito, esse desprendimento aparente, quando
toda a energia física é desencandeada?
A resposta só a podem os iniciados encontrar através da prática real São certamente surpreendentes para muitos, os bons propósitos desta
do Karate. A concentração está em contradição aparente com a disponibi- Arte Marcial em relação aos outros. E por isso é caso raríssimo o emprego do
lidade de espírito uma vez que, frente ao adversário, o Karateka não deve Karate para o mal, o que felizmente só vemos no cinema. A ascensão na té-
fixar nenhum ponto preciso para assim se aperceber e registar imediata e cnica é acompanhada pela elevação à pureza. As graduações, os sacrifícios e
intuitivamente a menor abertura na sua defesa. É certo que a maioria dos sinceridade necessária a cada treino, conduzem, mesmo fora do aspecto
mestres e instrutores são unanimes em aconselhar a concentração nos olhos puramente mental, a uma purificação das intenções do indivíduo, dando-lhe
do adversário para assim aperceber as suas intenções, mas o verdadeiro uma medida exacta do seu valor em relação a si mesmo e em relação aos
sistema, o ideal, é a concentração do olhar ao nível do meio dos olhos, con- outros, obrigando-o a uma introspecção que nivela as paixões e equilibra o
servando o olhar vago ou tentando olhar através do rosto, mas sem fixar as espírito. Recordamos uma frase curiosa que traduz bem esse pensamento:
pupilas do oponente. Este método permite «sentir» o adversário da cabeça «O Karate é destinado a uma elite. Iniciação mental de essência supe-
aos pés. rior, é inacessível a naturezas mesquinhas».
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são muito úteis as flexões sistemáticas com os punhos no solo, que endure-
cem extraordinariamente os nós dos dedos.

O martelo da mão - Tetssui


O Tetssui, ou martelo de ferro, traduz-se na utilização da parte lateral
do punho, técnica terrivelmente eficaz no ataque à nuca, ao cotovelo, à têm-
pora, etc..
TÉCNICAS DO KARATE

TETSSUI URAKKN
As formas de batimento com as mãos e pés, joelhos, cotovelos, cabeça,
são variadas. Nós fixaremos as mais racionais, eficazes e, sobretudo, as Lateral do Punho Uercr*o do Punho
que se aprendem até ao 1.° Dan. Não é necessário possuir uma variedade
grande de técnicas para ser um bom Karateka mas sim conhecer em pro-
fundidade as fundamentais. Aos iniciados estas técnicas parecerão talvez
resumidas, em comparação com certos volumes da especialidade, noutras
línguas, que apresentam um «gabarit» variadíssimo de formas de bater com
a mão que só servem como prova documental das imensas possibilidades do
Karate. Queremos ser, sobretudo, razoáveis e dar a possibilidade ao prati- O reverso da mão - Uraken
cante solitário de aprender, mesmo em casa, a técnica de base
O Uraken é a parte do reverso da mão, sendo o golpe dado normal-
mente de cima para baixo ou de lado, como veremos mais adiante na descri-
ção detalhada.
Bases das armas naturais
O sabre ou cutelo da mão - Shuto
O Selken é o famoso Tsukl que quer dizer bater directo. É a mais de- O golpe cem a parte de fora da mão em cutelo é o meio de resposta mais
vastadora forma de batimento da bagagem do Karateka, e a única que per- conhecido e talvez o mais utilizado em Karate. Este golpe é muitas vezes a
mite utilizar toda a força em bloco do corpo no ataque.
Para conseguir um Tsuki com uma força deveras importante é neces-
sário começar pelo fechar da mão. Fechar primeiro as falanges da ponta dos

TSUKI • SE1KEN — Face do Ponho

dedos, a seguir os nós dos dedos, apertando bem as unhas contra a palma da
mão; o dedo polegar deve apertar-se bem contra o indicador.
A face do punho deve ficar completamente direita. Para consegui-lo SHUTO — Sabre 4a
-36- -37-
identificação do Karate e oferece múltiplas possibilidades em combate. O cotovelo - Empi
Como o punho, a mão bem esticada deve estar sólida e sempre sob tensão,
o polegar deve dobrar-se contra a palma da mão para evitar entorses e lu-
xações. Este ataque é utilizado à garganta, às têmporas, nuca, flancos, raiz
do nariz, entre os olhos ,etc.. Em defesa, blocagens do punho, dos ataques O cotovelo, por estranho que pareça é a arma mais potente do corpo
de pés, etc.. humano. Esta parte do corpo pode bater em quase todas as situações jun-
to ao adversário. Particularmente eficaz no corpo a corpo, o seu emprego
necessita relativamente pouca força.
Pode executar-se directo, circular, para trás e para baixo e o impacto
As pontas dos dedos - Nukité
O Nukité são as extremidades dos dedos, como se vê na foto, e é muito
utilizado nos ataques à garganta e ao estômago. Este ataque é formado pela

NUKITÉ — Ponta do* dedo*

ponta dos dedos reunidos ou pelos dedos separados (ataque aos olhos). As Empi — Cotovelo
técnicas de Nukité necessitam pouco do emprego da força e são de terrível
eficácia. faz-se com a ponta do osso do cotovelo (apófise do cúbito). Os pontos de ba-
timento podem situar-se na cabeça, plexo solar, abdómen, costelas, nas
costas e na espinha, sendo o golpe verdadeiramente esmagador se dirigido
A palma da mão - Teisho num movimento circular do exterior para o interior.

Esta técnica circunscreve-se à parte inferior e carnuda da mão, muito


potente, e utiliza-se em ataques ao baixo ventre, nariz, testa e também
em paragens do corpo, à cabeça ou ao peito, para executar contra ataques.
Dada na base do nariz, de baixo para cima, causa a morte, pois espeta o Pés - Kakato - Koshi - Sokuto
osso do nariz no cérebro!
Dividiremos apenas as imensas possibilidades do trabalho de pés em
i!•<•.•: mais conhecidos e aplicados nas técnicas até Cinto Negro.
O Kakato — É o K«rtimento com o calcanhar.
O Koshi — A parte carnuda debaixo dos dedos. É aplicada nas técnicas
Mae-Gueri e Mawashi.
O Sokuto — A parte do sabre do pé. É conseguido através da contrac-
ção do artelho, directamente para o lado, e aplica-se nas técnicas de Yoko-
TEISHO — Palma da mfio -Gueri.
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O ENDURECIMENTO DAS ARMAS
KAKATO — Calcanhar KO9H1 — Parte debaixo do* dedo* NATURAIS DO CORPO

O treino de endurecimento dos membros utilizados como armas naturais


é extremamente variado. Ele excita a imaginação do principiante e ajuda
a ideia de que um Karateka poderoso é um indivíduo que, cheio de calos
nas mãos, executa toda a sorte de quebras em diferentes materiais. Contu-
do, nada mais errado, como mais adiante explicaremos. A base do Karate
está na técnica e no espírito. No entanto, todo o indivíduo que pratica o Ka-
rate em «Dojo» sob a direcção de um mestre, de um instrutor ou ainda
sozinho em casa, deverá fortificar-se batendo com as partes susceptíveis
de se fortificar no saco de areia ou na Makiwara. Para orientação do lei-
tor só reteremos quatro formas de treino de endurecimento.
SOKUTO — Sabre do Vê

O joelho - Hiza Makiwara

Como o cotovelo, o joelho possui uma terrível força. A articulação deve A Makiwara pode ser feita e praticada em casa mesmo que o Kara-
porém estar flectida no seu máximo. A aplicação é directa ou circular, po- teka frequente o «Dojo». No «Dojo», contra o que possa parecer, não deve
dendo usar-se nos ataques ao baixo ventre, cabeça ou costela, peito, abdó- existir nada que possa distrair o praticante da procura sistemática do aper-
men, dorso, segundo a posição do adversário no momento. feiçoamento das técnicas.
É fácil fazer uma Makiwara e colocá-la numa garagem ou no quintal.
O treino de Makiwara deve incidir sobre o Tsuki, Guyak-Tsuki e do Shuto.
O material ideal a utilizar na Makiara seria a juta entrançada
ou reforçada com ráfia. Um pedaço de tapete ou um bocado de borracha ser-
vem também.
Como podemos ver na foto, esse material é fixado na parte superior
de um pedaço de madeira, grosso em baixo e estreito no topo. Mais rudi-
mentarmente, pode ser também fixa a um tronco de árvore ou à parede, em-
bora não exista dessa forma a elasticidade e o «vai-vem» ideal à fixação da
pancada.
-40- -41-
nas extremidades depois dê mergulhar insistentemente as mãos, bem esti-
cadas, nessas matérias, que podem ser também o arroz, a serradura, fei-
jões. É um treino bastante desagradável mas que produz uma eficácia real
e uma insensibilidade completa nas pontas dos dedos, ao mesmo tempo que
se formam umas calosidades duríssimas.
Este treino é desaconselhado a estudantes de medicina ou músicos,
ou a quem exerça profissões que utilizem a sensibilidade manual, pois em-
botam totalmente o tacto das extremidades quando praticado sistematica-
mente.

MESTRE IIIRONISÍ'1 HOTONUBU


exeentando Guynbu-Timkl à .llalilirar

As flexões com os punhos

Extremamente dolorosas e peníveis. Este tipo de flexão, a par de for-


talecer muito especialmente os ante-braços e tricípites, nivela os dedos e dá
ao punho em geral aquela unidade ideal à formação do bloco da mão que
bate. Aconselhamos 200 flexões diárias para obter calosidade nas raízes dos
«índex».

O saco de areia

O saco de areia aproxima-se mais do género de resistência à panca-


da que se produz com o corpo humano e quase todos os «Dojos» o possuem,
especialmente para o treino de pés — Yoko-Gueri, etc..

Balde com milho, areia, etc.

Dedicado às pontas dos dedos, este treino é especialmente utilizado


para o treino da ponta dos dedos, conseguindo uma espécie de deformação
— 42- -43-
10 — Plexo cardíaco
11 — Plexo solar
12 — Flanco
13 — Boca do estômago

PONTOS VITAIS

Os pontos vitais são as regiões em que uma pancada, seca ou per-


furante, pode causar o desmaio, o desfalecimento, a paralização ou a morte.
O corpo humano apresenta cerca de 80 pontos vitais diferentes entre
si na receptividade da pancada, que pode causar a dor, a fractura, a sin-
cope, etc.. O resultado depende, portanto, do ponto visado, como do estado
de contracção ou descontracção do adversário, o seu grau de resistência, a
precisão, a rapidez de execução, etc.. Estes pontos são extremamente vul-
neráveis ao choque local. O Karate procura a eficácia total em combate,
concretizando as suas direcções de «Atemi» (zona de palicação), em cer-
ca de 4 a 5 regiões extremamente sensíveis aos golpes (Atemis).
Descrevemos por meio dê um gráfico esses pontos vitais.
Recomendamos também a maior prudência quando trabalhamos com 21
outros colegas de «Dojo». Jamais devemos lançar a pancada realmente a
fundo. O resultado pode ser mesmo, com surpresa de quem o aplica, catas-
trófico e irreparável! Por outro lado, se pr,r circunstâncias várias nos vimos
frente a uma confrontação real de rua e se a defesa e ataque é inevitá-
vel, então deve visar-se não os pontos vitais, mas regiões ósseas. Responder
ao ataque, sim, mas descontrolar-se ao ponto de reagir com uma brutalida-
de supérflua é absolutamente injustificável, desumano e até criminoso.
No século em que vivemos a finalidade das Artes Marciais é situada
num contexto mais esotérico do que prático e real.
PONTOS DE ATEMI FRONTAIS

1 — Têmporas
2 — Orelha
3 — Atraz do lóbulo da orelha
4 — Angulo do queixo
5 — Nuca
5 — Clavícula 30
7 — Externo 14 — Hipogástrico

8 — Peitoral 16 — Testículos

9 — Debaixo dos braços 16 Rótula


-44- -45-
que sem o contacto com a realidade do combate, o praticante tem tendên-
cia a aprofundar mais a imitação do gesto que perde toda a eficácia em
combate real. Quem tem a oportunidade de frequentar um «Dojo», seja ele
de que estilo for, deve seguir com paixão todos os ensinamentos. Ser pon-
tual. Mesmo doente, ir visitar o «Dojo». Não pretextais qualquer afazer que
substitua a vossa regularidade aos treinos.
Mesmo que falte a vontade de ir ao treino, é nesse momento que não
se deve faltar. Aprender com paixão. Não só aprender mas «descobrir» o
que não for explícito e concludente.
Nunca esquecer que a essência de toda a Arte Marcial, e em especial
A PRÁTICA: É POSSÍVEL PRATICAR SÓ? o Karate, é de nos dar o meio de «ver claro em nós mesmos».

A possibilidade de praticar Karate sem professor não é ridícula nem,


de modo algum, de pôr de parte.
Sem a prática solitária, possivelmente, jamais o Karate se teria desen-
volvido, quer através dos tempos, quer na Europa!
Temos o exemplo concludente de H. D. Plée que praticou o Karate
por meio de fotos, livros, filmes, durante 10 anos, em Paris, e que ao visitar
a China e o Japão, foi, com enorme surpresa sua (pois a sua ideia era ape-
nas estudar e aperfeiçoar-se), graduado com o mais alto grau do Karate:
5.° Dan!
Os mestres japoneses, alegam que Plée (hoje presidente de honra
da F. F. J. D. A.) tinha chegado a um nível tão superior, técnica e mental-
mente, que era impossível julgá-lo (intuição mental, etc.).
Este exemplo indica bem o quanto é extemporâneo e vulgar o valor
que a maioria dos ocidentais dão aos graus e à rapidez com que preten-
dem, muitos iniciados, uma graduação.
Defendemos pois (no caso de não existir, ou não haver possibilidades
de frequentar regularmente um «Dojo»), a prática solitária, partindo de al-
guns conselhos de base.
Este livro é mesmo, até certo ponto, pela sua modéstia, dedicado aos
que, vivendo longe das grandes cidades, procuram ou têm tendência para
o Karate. Para esses o contacto com um mestre ou instrutor, mesmo algu-
mas horas num ano, é muitas vezes mais produtiva do que os que frequen-
tam diariamente o «Dojo». Aqui refiro-me a um indivíduo de nome Amado
a quem numa praia há uns anos explicámos umas técnicas e que encontrá-
mos mais tarde, com uma perfeição de execução e sentido mental, de um ní-
vel surpreendente.
' Poucos desportos de combate oferecem a possibilidade da prática soli-
tária como o Karate. No entanto .esta não é suficiente e um livro não
substitui o professor mas, contudo, apesar da força e velocidade que se pode
conseguir praticando só e sem qualquer material, é preciso não esquecer
-48- -4»-
AS TÉCNICAS DE BASE DO KARATE

O estudo das técnicas de base do Karate é feito através de um tipo


especial de treino que se chama Ki-Hon. O movimento é feito no vazio, no
ar, mas com determinação e força, avançando ou recuando lentamente ou
rapidamente segundo o fim que se pretenda. As repetições da técnica, a
executar são sem limite, pois em Karate a técnica aprendida jamais atinge
a perfeição, força, velocidade, controle, fixação, kime, que seria ideal.
Este treino, que à primeira vista parece fastidioso e monótono, dá a Execução de Kl-Hon numa clai«e universitária do Prof. Ra/ Mendonça
ideia inicial que não tem uma utilidade imediata.
(Coimbra)
Alguns conselhos farão compreender facilmente o interesse deste exer-
cício fundamental e que é sem dúvida a melhor garantia de um progresso
seguro em Karate. 8.° — Ki-Hon, num segundo estado deve ser executado em «sensação»,
quer dizer, num estado de espírito forte, enérgico e não guar-
dando a mínima reserva de energia.
O Ki-Hon 9." — Lançar um Kiai sonoro ao prefazer o número de ataques ou blo-
queios que determinem a voltagem a 180.°.
10.° — Não esquecer de que o Ki-Hon é a melhor «via» de atingir o má-
ximo de poder em Karate.
1.° — Executar o movimento lentamente até assimilação completa. Só
numa segunda fase a técnica se executa em velocidade e força. 11.° — O simples facto deexecutar o Ki-Hon diariamente, a sós ou no
«Dojo», dá ao praticante um desenvolvimento muscular excepcio-
2." — Cada movimento deve seguir uma coordenação com a respira- nal que jamais perderá, mesmo em idade avançada, devido ao
ção. Contracção final expirando rapidamente. contrair e descontrair de cada movimento.
3." — Contracção total em cada repetição; estabilidade e posição 12." — Não descurar, antes de iniciar um Ki-Hon, um aquecimento in-
sempre baixa, corpo em bloco. tegral das articulações e geral do corpo, especialmente tendões
4." — A contracção deve partir dos abdominais (hara). e partes ósseas.
5." — Não olhar o chão. Manter os olhos a uma altura média sempre
igual.
6." — Estar sempre consciente das vossas posições e da correcção
contínua do movimento.
7." — Se praticarem sós, utilizar um espelho para a análise das faltas.
-50- — 51 —
AS QUATRO POSTURAS
FUNDAMENTAIS

Hachichi - Dachi - Yoi

Esta é a primeira posição, aparentemente simples pois consiste ape-


nas em estar de pé, com os punhos cerrados frente às coxas, e os pés aber-
tos somente na linha dos ombros. É chamada a «postura de espera». O olhar
é direito em frente, sem estar fixo em nenhum ponto preciso, respiração
discreta. Devemos sentir-nos prestes a tudo, pesados e ligeiros, fortes e rá-
pidos, sem demonstrar qualquer emoção. Rosto impassível.

Zen - Kuisu - Dachi

A tradução significa «posição com o busto direito para a frente». Em


execução o peso do corpo deve manter-se 60 por cento sobre o joelho da fren-
te que deverá manter-se forte. A perna de trás deve estar forte-
mente esticada e com o pé ligeiramente virado. O pé da fren-
te deve estar ligeiramente voltado para o interior fazendo força nessa direc-
ção. O joelho, porém deve fazer força para fora. Ao avançar, os joelhos
unem, fazendo ao andar um semi-círculo pelo interior. Esta posição é ideal
no contra-ataque e permite resistir a uma força vinda da frente.

Ko - Kutsu - Dachi

A tradução significa «postura com o peso do corpo para trás». Nesta HACHICHI.DACHI YOI
posição a perna de trás é fortemente flectida, suportando 80 por cento do
peso do corpo. O peito apresenta-se de perfil mas a cabeça é conservada em
direcção à frente. O ideal é que o torso, as ancas, o joelho e o pé sejam con-
servados no mesmo ângulo da vertical. O joelho da frente fica muito ligei
ramente dobrado.
A utilização desta posição é essencialmente defensiva (Shuto por
-52- — 53-
exemplo). Permite um recuo rapidíssimo a um ataque forte, recuo que de-
verá ser simultaneamente uma esquiva e uma tomada de forças para passa-
gem ao contra-ataque em Zen- Kutso.
-kl TM) OU Hl

Kiba - Dachi
Kiba-Dachi — quer dizer textualmente: <cavaleiro de ferro». Posição
desconfortável e difícil para o iniciado, só é compreendida mais tarde a sua
eficácia e extrema utilidade em. combate. Tecnicamente o peso é igualmente
-54- -55-
repartido entre as duas pernas, muito dobradas, com os artelhos dirigidos
para o interior exactamente como se montássemos um cavalo.
A força das pernas deve ser igualmente distribuída pelos músculos cos-
tureiros e pelos joelhos.
É a posição mais forte do Karate e a base das «Tekkis» (Katas de Cin-
to Negro).
Esta posição é utilizada para combater lateralmente apresentando-se
portanto de perfil em relação aos adversários, pois permite o controle OS DOIS ATAQUES DE PUNHO
quase total de todas as faces e possibilidades de defesa em todas as direc-
ções possíveis.
Os iniciados devem esforçar-se o máximo por adquirir estabilidade BÁSICOS
nesta posição, forcando o centro de gravidade (hara) em direcção a baixo.

Oi • Tsuki - Ataque

O Oi-Tsuki é bem uma técnica característica do Karate clássico e fun-


damental. Vindo de trás, o pé, ancas, punho, antebraço, deltoite. Avançando
em Zen-kutso, adquire uma potência formidável que permite a perfeita sin-
cronização de um ponto essencial: o pé que avança deve imobilizar-se no
instante preciso em que o punho dá o impacto.
O ideal para aprendizagem é treinar primeiro o movimento de rota-
ção do punho, parado e só quando a rotação de saída (os cotovelos, devem
roçar as costelas sempre) estão sincronizados. Então começar com os avan-
ços ou recuos, mantendo a consciência de que os ombros devem manter-se

OI.TSI.1KI — TREINO DE KIHOIV


KIBA-DACHI
— 56 — -57-
OI-TSUKI DE PERFIL OI.TSVKI DE FRENTE
— 58 — -59-
de face para o avanço e o punho contrário manter-se em «Hikitei, forte no
movimento da pancada. ( Hikite é o movimento de retorno e aperto do
punho contra a anca no intervalo de cada técnica).
Para executar o Oi-Tsuki, toma-se normalmente a posição de (Gedan-
-Barai), (defesa em varrimento com o braço). A execução do Tsuki proce-
de-se adiantando o punho direito e avançando a perna direita em Zen-Kutso,
ao mesmo tempo que recuamos rapidamente o punho contrário à cintura,
com as unhas viradas para cima.
O Oi-Tsuki é um dos melhores ataques possíveis em combate, pois
permite atacar de longe e encandear um número de ataques rapidíssimos.
Deve ser treinado sistematicamente até atingir força e velocidade no movi-
mento do batimento.

Gyaku-Tsuki — Contra ataque

O Gyaku-Tsuki, que o iniciado julga muitas vezes ser igual ao


Oi-Tsuki, é o ataque «contrário» às pernas, batendo-se por exemplo com o
punho direito quando avançamos o pé esquerdo e vice-versa. Os ombros são
igualmente face ao impacto e a posição do Hikite é também invariável. É o
ataque ideal depois de qualquer blocagem e muito usado em contra-ataque.
A acção das ancas é aqui primordial, podendo seguir a força do braço mas
mantendo uma grande estabilidade, aumentando também a largura das per-
nas para alargar o polígono de sustentação.
O Gyaku-Tsuki deve, depois de ter atingido uma força regular de exe-
cução, recuar velozmente à cintura e pode bater aos três níveis: Cabeça,
Carótida, Costelas, Plexo, Baixo Ventre, etc..

GVAKU-TSUKI

-60 — -61-
l

PLANO GERAL DE TÉCNICAS CEDAN-BARAI UDE-UKE AGE.UKE 90TO.HUKE

Bases e Derivadas

ATAQUES DE PUNHO DE BASE

Oi-Tsukl — Ataque contrário ao pé que avança


Gyaku Tsukl — Ataque seguindo o pé e punho que avança OTOSHI-UKE UCHI-KOMI MOROTE-UKE HAI9HU-SHUTO SHUTO

Kaklwake-Uke — Blocagem separando os punhos adversos.


Halschu-Uke — Blocagem do dorso da mão aberta.
GOLPES DE PÉS DE BASE

Mae-Gery — Pontapé para a frente directo (Kekomi)


Yko-Gery — Pontapé de lado (2 alturas) (Kekomi) (Keage).

OI-TSUKI GYAKU-TSUKI YAMi-TSllil

BLOCAGENS DE BASE — (DEFESAS) MAE- MAWA-


-CEEI 8HI.CEBI
Gedan-Barai — Parada baixa com varrimento
Age-Uke — Parada alta
Ude-Uke — Média do interior para o exterior
Shuto — 2 alturas média e alta
Soto-Uke — Média do exterior para o interior
Uchi Komi — Blocagem para dentro, do exterior para interior
Morote-Uke — Blocagem a duas mãos
Jujl-Uke — Blocagem em cruz, mãos abertas ou fechadas ao alto
ou ao baixo. YOHO-GEBI
-62- -63-
Mawashl-Gery — Pontapé circular (chicoteado) (2 alturas) (Kckoml). BÁSICOS — COTOVELOS
Ushlro-Guery — Pontapé para trás (2 alturas).
Empl-Uchl — Circular, lateral, para trás, frente ,etc.
GOLPES DE PÉS DERIVADOS
ATAQUES DIVERSOS ESPECIAIS
Voko - Toby • Gery — Salto com pontapé de lado
Mae-Toby Gery — Salto com pontapé para a frente. Telsho — Palma da mão.
HITT9VI.GEIU Uraken — Reverso do punho.
Tettsul — Martelo da mão.
Ue-Nl — Cabeçada — ataque com a cabeça.

YOKO-10BI-GEHI MAI-TOBI-GEBI

Mlkazukl-Gery — Pontapé de meio tírculo c/ plantado do pé.


Fumlkoml — Pontapé para baixo esmagando.
Hittsui-Gery — Batimento de joelho, circular ou directo.

ATAQUES DE PUNHO E MÃO BÁSICOS E DERIVADOS

Shuto — Ataque com a mão aberta — interior e exterior.


Nuklté — Ponta dos dedos — directo.
Kagl-Tsuky — Circular, soco fechado.
Mawashi-Tsuky — Circular, aberto.
Ura-Tsuky — "Upercutt", soco para cima.
Tobl-Tsuky — Ataque em Tsuky saltando.
Ippon-Ken — Ataque em Tsuky com Índex saído.
— 64- 65-
INTRODUÇÃO AO ESTUDO DEFESAS EM BLOCAGEM

DAS
TÉCNICAS DO KARATE Gedan-Barai — Parada Baixa

Este bloqueio que é ao mesmo tempo uma «Balayage», ou varrimento,


é também a posição de «guarda» Kamae, fundamental no Sambon Kumité e
Como sabemos, o Karate ê extraordinariamente rico em ataques de outros tipos de treino.
mãos e pés, assim como em defesas, que não podem ser, infelizmente, anali- Bloqueia-se o golpe (normalmente pontapés ou socos baixos) levan-
zados totalmente, pois um volume de 1.000 páginas seria ainda um resumo. do o punho ao ombro e descrevendo depois uma trajectória circular (ver
Sem querer exagerar contamos 200 ou 300 ataques diferentes, todos sem fan- foto), em direcção a baixo, com firmeza, ficando o punho ou face dos index,
tasia e extremamente eficazes. Mas se nos contentarmos em concentrar j voltado para baixo. O punho deve ficar a 20 cm. acama do joelho em Zen-
nossa atenção sobre as bases clássicas, os progressos nos outros ataques -Kutso. Õ peito deve ficar a três quartos em relação à frente e não de fren-
serão fáceis. Oomo diz o Mestre H. D. Pleè no seu livro magnífico «Karate te como no método Wado-Ryu. O punho contrário fica firmemente colado
Par L'lmage». ao flanco, pronto a recuar, a avançar ou a atacar simplesmente em Gyaku-
-Tsuki.
Esta técnica pode ser executada em qualquer posição e em direcção à
"Um principiante, no seu entusiasmo, deve ser suficientemente razoá- frente, aos lados e para trás. É muito importante repetir muitas vezes este
movimento com grande força e velocidade, a fim de poder fazê-lo expontâ-
vel para saber dominar-sé, trabalhar inteligentemente, sem perca de tempo neamente, com «souplesse» e energia total.
inútil, e não dispersar os seus esforços em busca de ilusórias satisfações. Gedan-Barai é igualmente um «dégagement» ou técnica de libertação
do membro preso. Executada pelo exterior do braço, ele pode partir o bra-
Se tendes coragem procurai sem cessar os segredos de cada ataque e cada ço ou causar a luxação do cotovelo de quem vos agarre ou vos ataque.
defesa, pois eles existem reais e importantes".

Age-Uke - Blocagem ou Parada Alta

O Age-Uke é a maneira mais eficaz de defesa contra um ataque alto,


quer esse ataque seja desferido com punho, pés, bastão, etc.. O punho deve,
poróm, rodar, no fim da blocagem, em direcção ao adversário de maneira a
apresentar a parte carnuda do braço rigidamente contraída.
A verdadeira posição ideal dos ombros, não é, como podem pensar di-
versos Karatekas, de frente e sim a 3/4 de perfil, o que no recuo permite
não só a esquiva simultânea como evitar que no caso de «toque» o ataque
atinja algum ponto vital. O ataque é, pois, rejeitado em direcção ao alto e
guiado num sentido em que não represente tanto perigo.
-66 — -67-
GCDAN-BABA1 GEDAN.BABAI

-68- — 69-
AGE -UKE

O ataque não é só anulado como também desviado, mesmo que a sua


acção continue.
Execução: de Yoi, recuamos a perna direita ficando em Zen-Kutso
à esquerda. Nós descrevemos o movimento desde esta posição, pois assim
permite uma acção forte de reacção, das ancas, em direcção à frente. Assim,
antes de lançar o braço esquerdo em direcção ao alto, avançamos a mão di-
reita em shuto, de maneira a desenhar uma cruz com o braço que sobe. A
mão direita executa Hikité.
YOI
Ude-Uke - Parada média do interior para o exterior - Cuchi-Uke
As três blocagens mais importantes e fundamentais. Têm de ser ana-
lizadas em pormenor pois há sempre tendência, por parte do iniciado, a
confundir as três paradas que têm um sentido e execução totalmente dife-
rentes.

Uchi-Uke ou Ude-Uke
Yoi, recuar a perna direita para ficar em Zen-Kutso. O punho esquer-
do vem à cintura e o braço que faz Hikité cruza na direcção oposta, para
bloquear. Dirigir o braço esquerdo para o lado, ficando o punho a fazer for-
ça para o exterior de maneira a bloquear com o pulso. A rotação do punho

Yoko-Uke «a Ude-Uke bloqueando Gyaka-Trakl


— 70- -71-
l
para fora é muito importante. O cotovelo aponta em direcção ao joelho; o
braço e punho direito fazem Hlkité. O punho não deve ultrapassar a altura
do ombro, embora em combate isso possa acontecer. Uchi-Uke é essencial-
mente uma blocagem de força, onde se lança violentamente o braço em di-
recção ao membro a bloquear. Daí o interesse do Karateka em possuir os
braços sólidos.

Soto-Uke - Parada média do exterior para o interior


A posição preparatória é Zen-Kutso. A execução desta blocagem é
relativamente fácil de assimilar mas é necessário reduzir o tempo de execu-
ção pois o peito fica completamente descoberto. A parada executa-se com
uma forte rotação de ancas em direcção à direita, fazendo ao mesmo tem-

Solo IIk« — Bloqueio pelo exterior

po o punho esquerdo descrever uma trajectória curva e ligeiramente em


direcção a baixo, que leva o braço diante do peito com os índex virados pa-
ra o alto. Como nas outras blocagens recomendamos a sincronização perfei-
ta entre os dois braços, o que se consegue executando o Kihon (treino de
repetição de técnicas).
Esta blocagem é, contudo, muito perigosa quando efectuada sobre o co-
tovelo e dolorosa para o adversário quando executada pesadamente. Um
golpe seco é suficiente para desviar o ataque adverso e poder passar ao
contra-ataque.

Uchi-Komí - Entrando
Este bloqueio executa-se como o anterior Soto-Uke, sendo apenas, con-
tinuada a trajectória do punho que roda para dentro até à altura do ombro
oposto, permitindo assim o varrimento total. O interesse desta técnica é evi-
dente no corpo a corpo ou quando se avança sobre o ataque.
— 72 — - 73 —
Morote-uke - Biocageffl a duas mãos
Técnica de blocagem, semelhante a Ude-Uke, mas onde o punho
oposto, em vez de fazer Hlkité, é lançado na mesma direcção para acres-
centar força à blocagem e ao mesmo tempo permitir um ataque instantâneo.
É executada em Ko-Kutso Dachi, que permite uma defesa potentíssima
recuando ou avançando em ataque.

Shuto - Blocagem do cutelo da mio


O Shuto utiliza-se para desviar um ataque batendo no membro adver-
so lateralmente. Os ataques são feitos da mesma maneira: encaixando a arti-
culação do braço. Pela sua potência o shuto possui uma eficácia particular
tanto no ataque como na defesa. Partir o braço duma pessoa não treinada
em Karate é relativamente fácil.
Para executar o shuto, toma-se sempre a posição de Ko-Kutso-Dachi. A
(Jrht-Koml — Blocagem entrando no corpo ponta dos dedos deve ser dirigida em direcção ao olhos do agressor e não

S H U T O

deve jamais ultrapassar o nível dos ombros. Em todas as defesas de altura


média o braço fica dobrado a 90.° e nunca estendido na defesa.
É essencial ficar com as ancas à mesma altura, quer no avanço quer no
recuo durante as defesas. Não afastar os olhos dos olhos do agressor. Con-
centrar bem a força; sem essa concentração não podem defender-se eficaz-
mente os ataques realmente fortes.
Execução: logo que o adversário ataca recuar largamente o pé di-
reito, em Kokutso, estável. Durante esta acção, ou seja, simultaneamente,
!Horo<e-l'ke — Bloqueio eom •• dum* mão*
«•sU-nder a mão direita com a palma virada para baixo ao nível do peito,
levando a esquerda contra a orelha direita, com a palma voltada para a ca-
— 75 —
beça. A seguir executar o movimento com as mãos em sentido contrário. A
direita encosta ao plexo com os dedos virados para fora e a esquerda exe-
cuta a trajectória de bloqueio. A sincronização deve ser estudada procuran-
do aliar e conciliar a secura da execução à amplitude do movimento, que
deve varrer largamente a zona a proteger mas mantendo o ângulo do co-
tovelo que deve estar recolhido em direcção ao joelho.
O shuto é, pois, no prolongamento do braço e aponta em direcção aos
olhos do adversário.

Juji-Uke - Blocagem em cruz


Muito sólida, mas de pouca utilização em combate o Juji-Uke é uma blo-
cagem de diferentes utilizações e consiste em cruzar os punhos em frente
do baixo ventre. As mãos podem estar abertas ou fechadas, segundo a situa-
ção. Executado aos níveis alto, médio e baixo, o princípio do movimento é
sensivelmente o mesmo, partindo das ancas.

Bloqueio alto de mãos abertas

Fotos com sequência

Bloqueio de Mae-Gerl Bloqueio «eguldo da prlião do braço e eontra-ataque Mae-Cerl


\
— 76 — — 77 —
OS 4 ATAQUES FUNDAMENTAIS DE PÉS

É difícil de explicar as «nuances» do batimento de ataque com os pés


em poucas linhas. Estas verdadeiras armas da natureza são ao mesmo tem-
po simples e complicadas de empregar. É muito difícil bater com uma força
realmente devastadora com os pés. É necessário treinar, primeiro o equilí-
brio no vazio levantando bem alto os artelhos. Em quase todos os ata-
ques de pés é indispensável recolher velozmente a perna que dá o impacto.
O joelho da perna de apoio deve dobrar ligeiramente segundo a altura do
golpe e o calcanhar não deve jamais levantar do solo. Os ombros, por sua
vez, devem ficar o mais de frente possível mesmo nos batimentos em Yoko-
-Gery. Mas não em Ushiro, como é obvio. Na concretização do golpe todo o
corpo (e espírito) deve estar tenso, em direcção ao adversário, sem desequi-
Contra-ataqne a* carótida* ou têmpora*
librar.

Noklté — Ataqi 10 com •• ponta* do* ded« Ura-Tcnkl — "Uppereut", icmelhanto à técnica do paglllimo do menino nome

-80- -81-
l
Mae-Geri - Pontapé directo (Face)
Para Mae-Geri levanta-se o joelho bem alto e o mais rápido possível,
diante do busto, levantando os artelhos e contraindo os dedos dos pés para
cima. Ao mesmo tempo lança-se a perna para a frente, o mais longe possí-
vel, procurando encaixar bem a articulação do joelho e utilizando um mo-
vimento de entrada de ancas simultâneo na direcção do impacto.

Mne-Cerl

Mae-Gerl, Inicio do movimento


Aplicação de IVfne-Gerl — Pontapé na Garganta

-82- -83-
i
É preferível de início executar o «Kekomb à altura da cintura, até
adquirir força suficiente, do que bater alto mas sem força nem eficácia. É
bom também treinar o movimento sem pousar o pé no solo para adquirir
estabilidade. A técnica pode ser treinada a partir de Yoi ou de Zen-Kutso.

l», l. »• c contra-ataqne — Mae-Gerl

-4?
{MT Jxr^HHM>HKSi

A|>«-»»r da aparente pujança técnica dente Mae-Geri, enta foto tem um defeito
Importante, o pé de apoio deve miar bem apoiado no noto, mesmo em eombate
Mae-Geri — Jodan

-85-

,
Yoko-Geri - Pontapé para o lado
Este ataque é feito mantendo o sabre do pé paralelo ao solo. Pode exe-
cutar-se de início a partir de Yoi levantando o joelho à altura do ombro,
como para Mae-Gery, e lançando depois a perna e anca na direcção late-
ral, até adquirir a fixação do impacto.

Num estado mais avançado toma-se a posição Kiba-Dachi, avança-se Yolto-Gerl — Exemplificação
lateralmente transferindo o centro de gravidade nessa direcção e levantando para Kihon, avançando, pode tomar-se a posição Zen-Kutso-Dachi e pi-
a perna oposta efectuando o movimento de. perfil em relacção ao adversá- votear sobre o pé de apoio a 90 graus. Aí, da posição de frente passamos,
rio. Ainda num outro estado de treino um pouco mais avançado e mesmo com a execução do golpe, que deve ser seco e potente, a estar também de
perfil para o adversário no momento da pancada. O treino intensivo vos

Y«ko.Cerl.J«dai
Yoko-Ccrl — Exempllcaefta
— 87 —
— 86 —
l
YOKO-GERI - CONTRA ATAQUE
4 AGRESSÃO COM PEDAÇOS DE C4RH4F1

mostrará e vos fará descobrir as imensas possibilidades deste ataque, quer


cm contra ataque quer a «parar» o avanço do adversário.
É importante a utilização das mãos neste movimento pois as mesmas
devem jogar como movimento de balanço. Em princípio, os punhos devem
apontar para baixo ou ficar o mais possível junto do corpo, variando de
acordo com o avanço técnico individual. Como todos os ataques, os três tem-
pos em que a técnica à decomposta devem unir-se só num, instantâneo.

MawashhGeri - Pontapé CÍFCUlar

O Mawashi-Gery é uma das mais importantes técnicas de pernas tío


K.ir;ilc mas não é estudado nos primeiros tempos pelos iniciados. Este movi-
mento de pernas é talvez, quanto a nós, a técnica que atinge mais velocidade

-89 —
4
M

nos membros inferiores devido à rota de ancas e a peliculiar movimentação


dita em chicotada. O critério de um bom Mawashi-Gery é um ruído seco do
estalar do Kimono no momento da pancada. Existem duas maneiras de ba-
ter: com o «dente de tigre» «Koshi» (parte carnuda debaixo dos dedos dos
pés) e o batimento com o peito do pé, nitidamente menos perigoso e que
se utiliza mais em Ju-Kumité. O ataque segue uma trajectória circular con-
tida num plano horizontal. A execução para treino de aprendizagem faz-se
partindo de Zen-Kutso, levantando o joelho com o calcanhar levantado ao
máximo até à anca mas lateralmente; o todo é mantido num plano perpendi-
cular à perna de apoio, mas a ponta do pé aponta em direcção ao adversá-
rio. Num segundo tempo, pivotear 90.° sobre o pé de apoio e soltar a perna

MnwBihl-Gerl em eombate do l*rof. H. Mendonça


— 90 — - 91 —
em direcção à têmpora ou, se for mais baixo- às costelas do adversário. Em
Mawashi todos os ataques e combinações são possíveis, podendo bater o
adversário no estômago, no rosto, na cabeça, rins, baixo ventre, etc..

Mawanhl-Geri

Ushiro-Gery - Pontapé para trás


Para Ushiro-Gery, levanta-se o joelho como para Yoko-Gery, e ataca-se
para trás com o calcanhar seguindo-se com o olhar, por cima do ombro, o im-
pacto.
É uma técnica possante mas lenta e perigosa em combate de «Shiai».
Contudo, em combate livre de rua, ela permite uma defesa eficaz contra mais
que um ou dois atacantes, dada ao baixo ventre ou mesmo aos joelhos.

— 92
-93-
SEQUÊNCIA ATACANTE

!Ne»ta leqnearla o atnranlc flimc nm ataque em Yoko-GerI deixando prender


propositadamente o pé. tteuuldumente plvota-se e coloca o« pnnhoi no chão,
aplicando U«hlro-G«rl para trá* on d« alio a baixo à cabeça. Eata técnica é
•iMiitln em "capoeira», com a« me«nta> característica*.

-94- — 95-
eri - Pontapé circular com a planta do pá cruzando Fumikomi - Pontapé para baixo a esmagar
O Fumikomi é chamado o pontapé esmagador por se aplicar nele toda
Este é um pontapé dado com a planta do pé (Teísoku) ao peito do a força do corpo em direcção abaixo com intenção de esmagar. É muito utili-
adversário. É muito poderoso e mais directo do que Mawashi-Gery. A tra-
jectória da face do batimento é circular mas num plano mais próximo da

vertical. Executa-se a partir da posição Kiba-Dachi-(para Kihon) e, esten-


dendo-se a mão lateralmente em Haishu-Shuto, lançamos o pé nessa direc-
ção pivoteando simultaneamente a 180.°. A mão estendida (em treino) re-
cebe a pancada da planta do pé.

MtLaznkl contra Fniulkoml no chão

— 96 — -97-
I
zado quando o adversário cai, para se esmagar o crâneo. Ê também utilizado
como ataque ao joelho sendo terrivelmente perigoso, pois aniquilaria o joe- Hittsui-Geri - Joelhada circular ou directa
lho para toda a vida. É interdito o uso em competição.
Muito utilizado nos filmes. No combate de rua, o joelho, arma potentis-
sima, só tem eficácia no corpo a corpo quando o adversário se curva para
cabecear, por exemplo. É muito útil no combate real, especialmente no ata-
que ao baixo ventre. Pode ser mortal.

Namí-Hashi - Bloqueio com a perna

lllll.i.l — Joelhada circular

O X«nil ll«»lil, que aparece • Teiei nn Trkkl-Shodan é pouco utilizado,


Ura-HHUui — Joelhada para «k •enda nereiiárla muita técnica na »na aplicação
-98 —
PONTAPÉS COM SALTO
As técnicas de salto não podem considerar-se inteiramente novas uma
vez que não são mais do que os golpes executados com os pés, mas sem pon-
to de apoio. Estas técnicas são muito interessantes, não só para realizar uma
surpresa ao adversário como para, por exemplo, romper um círcu-
lo de vários adversários, pois, com um pouco de técnica de salto, pode facil-
mente conseguir saltar-se por cima dos adversários atacando-os depois pelas
costas!

Yoko-Tobi-Geri - Salto lateral


Execução: a partir de Zen-Kutso, saltar para a frente recolhendo a
perna da frente em direcção ao joelho. Uma vez no ar, aplicar o Yoko-Gery
clássico. A aplicação do joelho dobrado o corpo dá uma força muito es-
pecial à pancada, que deve ser seca e breve, para que se possa cair em po-
sição de estabilidade absoluta e continuar o combate.
Estas técnicas necessitam muito treino, grande souplesse e ainda uma
muito boa reacção nervosa. Toda a técnica de salto deve ser precedida de
uma perfeita concentração.

100- 101 —
elas rcprosontnm também um estupendo exercício acrobático muito útil ao
il<-.\envolvimento gonil c tnmbém um bom exercício ginástico.
Os r.'.iil<>.'; tlr K;ir.itr coreanos possuem uma extraordinária variedade
de técnicas salUidtis e os seus combatentes aplicam-nas com uma facilidade
<!• •.••ronri-rl.-iiilc. como ;;<• i|',iioni::som as leis da gravidade.

Mae-Tobl-Gerl

O Uentra Huy de Mendonça executando o Yoko-Tobl-Gerl ao plexo

Mae-Tobí-Geri - Salto para a frente

Esta técnica, na execução, é muito semelhante à anterior com a di-


ferença que a aplicação da pancada é feita em mae-geri, portanto pontapé
para a frente, saltando. Uma variante desta técnica permite também execu-
tar dois pontapés no decurso do mesmo salto. É necessário escolher a direc-
ção da posição no momento da ascenção.
Pouco utilizadas em combate competitivo, as técnicas de salto, come-
çam a executar-se normalmente depois de cinto negro. No entanto, não há
mal nenhum em começar mais cedo a praticar essas técnicas, uma vez que
— 102 — 103 —
ATAQUES

Skuto - Ataque cutelo interior exterior

Como atrás nos referimos, aquando da blocagem em Shuto, o ataque


pouco difere no movimento. Trata-se dum movimento do interior para o ex-
terior, sendo possível, a partir mesmo de uma posição rígida, aplicar o
Shuto praticamente em todas as direcções e partindo das três posições fun-
damentais, Zen-kutso, Ko-kutso ou Kiba-dachi. O ataque pelo exterior, muito
utilizado no contra-ataque, executa-se levantando o braço pelo exterior e
desferindo a pancada num movimento circular ou descendente, dependendo
do ponto a visar.
O movimento de aplicação pelo exterior é muito interessante quando
aplicado, por exemplo, de costas ou directamente para a rectaguarda, dando
uma ideia bem definida das fantásticas possibilidades do Karate em ata-
ques desferidos à altura média.

ité - Ataque com as pontas dos dedos

Os famosos ataques com as pontas dos dedos não têm nada de fanta-
sistas e o próprio Nukité clássico é de tão terrível poder que é interdito em Ataque* em Oj-Tsukl defendido* com Shnto-Hke
competição legal e com justa razão. O Karate, nos moldes em que é pratica- « contra ataque Shuto-Jodnn à* coitela* e à Tela Jugular
do nos tempos modernos, não visa já o arrancar imediato dos olhos do adver-
sário. No entanto, o estudo do Nukité é mais que nunca pertinente. A execu-
ção faz-se desta maneira: a mão deve partir do Hikité clássico acrescen-
Ura-Tsuki - Soco para cima
tando uma velocidade a maior possível até ao encaixe da articulação do coto- Muito semelhante ao Uppercut do pugilisino, parece-nos que esta té-"
velo. Os principiantes têm a tendência para confundir os dois termos japo- • "" •> i' m ::iil<> um pouco descurada em alguns Dojos. Em Katas aparece no
neses Nukité. e Hikité. O Nukité é, pois, o ataque com a ponta dos dedos e o ' •" l Lm lvv<-<-utn-.sc fazendo um movimento circular de baixo para cima, per-
Hikité o movimento de retorno do punho à anca. mllliulo i . - i i n l i c i i i um desdobramento e combinação de ataques muito eficaz.
-104- 105-
Lançado, por exemplo, ao coração, com penetração, pode causar a
Mawashi-Tsulci - Kagi.Tsuki - AtaQUBS CÍFCUlarOS morte. É, pois, necessária muita prudência na sua aplicação no treino de
tDojo».

Os ataques circulares, de terrível eficácia, às têmporas não têm muitos


ultores em Karate uma vez que é indubitável que se perde um certo tempo
em descrever a trajectória circular e ainda devido à fraca amplitude do
impacto não apoiado na força directa. Parece-nos sobretudo útil em en-
cadeamento de técnicas. Por exemplo, avanço em Oi-tsuki,seguido de
Mawashi e de Ura-tsuki. Esta sequência é boa mas sempre arriscada pois são
técnicas que ,para execução eficaz, têm que o ser no corpo a corpo, sempre
peragosíssimo em Karate.

í - Técnicas com o cotovelo


Todos temos mais ou menos a noção de força latente dessa arma na-
tural do Homem que é o cotovelo. Uma cotovelada nas costelas produz es-
M.ttmhl-Tlukt
tragos irreparáveis, principalmente nas flutuantes. No entanto, a utilização
destas técnicas não é das mais fáceis, motivo porque o estudo das mesmas
não é abordado pelo iniciado. Os ataques em Empi-uchi podem ser feitos, co-
mo se vê nas fotos, praticamente em todas as direcções. Um golpe com o co-
Tsuki-lppon-Ken - Punho tovelo deve ser seco (não apoiado) no impacto e só é verdadeiramente efi-
caz em corpo a corpo.
A partir da posição do zen-kutso pode executar-se o Empi-uchi
A técnica do Ippon-ken, muito praticado no Karate Shotokai, é talvez lançando o braço que faz Hikité numa trajectória circular para a frente
a forma mais poderosa da aplicação do principio do Oi-tsuki. Obedecendo por exemplo, no fim de qualquer bloqueio. É claro que esta explicação é mui-
sensivelmente às mesmas regras de aplicação, o Ippon-ken é o fecho da mão lo vnga em relação às inúmeras possibilidades das técnicas de cotovelo,
com o dedo index saído, permitindo o toque exactamente no ponto vital que no entanto definiremos em quatro fundamentais: mawashi-empi-uchi-
que se pretender atingir. Este ataque dirigido, por exemplo, lateralmente -Hroular, yoko-empi-uchi para o lado, tate-empi-uchi para baixo e ushiko-
para a têmpora veia que liga a irrigação do cérebro, pode causar a coma cnipi-uchi para trás. Assim fica o leitor com a noção exacta da direcção e
instantânea e paralizacão vitalícia de todas as actividades motoras. trajectória da execução das técnicas.
— 107-
fmpl-Uchl
Mawanhi - l mpl . Ucbi
Uraken - ReveíSO da IMO
O Uraken, batimento com o reverso da mão, é muitas vezes executado
em posição Hachi-Dachi, como aparece em Katas (Yo-Dan, God-Dan), mas a
sua aplicação pode fazer-se praticamente em todas as posições e como des-
dobramento e encadeamento de outras técnicas.

Uchlro - Empi . Uchl

-108 — -109-
Tettsui - Martelo da mio - Palma da Mio
O martelo da mão, poderossíssima pancada, segue as normas da técni-
ca de batimento do shuto, mas com a mão fechada. É uma técnica de eficá-
cia terrível quando o batimento se faz na nuca.

Batimento com • parte cantada da mfte (Palma), »e o ataque


é feito no narla pode »er mortal, poU «rara a cana do narla
no cérebro, como »e Té na (rarnva

Ue-Ni-Cabeça - Golpes com a cabeça


A pancada com a cabeça deve ser dada com a parte superior da tes-
ta ou com a base posterior do crâneo, quer para a frente quer para trás,
fazendo um forte movimento na trajectória do impacto. É de absoluta efi-
cácia no ataque ao rosto!

-111-
110 —
OS KUMITÉS

SISTEMAS DE TREINO
CONVENCIONAIS E LIVRES

«Kumité», significa combate («Kumi»: combate; «Te»: mãos). Em


Karate há vários tipos de sistema de treino de diferente técnica, diferente
espírito e para atingir fins diferentes. Explicaremos aqui os utilizados até
Cinto Negro.
Estes sistemas de treino são gradualmente ensinados até atingirem o
fim principal, o Ju-Kumité e o Shiai — «competição máxima» .0 Ju-Kumité é
o sistema que precede directamente o Shiai, o fim principal a atingir em
Karate.

Gohon-Kumíté - Assalto convencional sobre 5 passos


É um exercício de ataques e defesas, repetidas 5 vezes. Habitualmen-
te ataca-se em Tsuki 5 vezes em frente inicialmente. O adversário defende-
-se cada vez sem contra atacar e, depois da sua defesa do quinto ataque,
liberta então o seu contra ataque. É bom fazer Kiai no fim do ataque e no
contra ataque, e atacar fortemente de cada vez como se fosse o último ata-
que.
Ataque Tnukt Jodan
Defeca /ige-Uke contra ataque Gyaku-Tgukl
Sam-Bom-Kumité - Assalto convencional clássico sobro 3 passos
da normalmente pela maioria, pois é a que mais se aproxima do combate
O princípio é o mesmo que no tipo de treino precedente, com a dife- real. Com efeito, os ataques devem ser cada vez mais rápidos, até atingir
ferença de que se reduz para três o número de ataques. Quem é submetido uma forma de ataque contínua, sem ponto morto entre cada ataque.
ao ataque, contra-ataca num quarto tempo. Esta forma de ataque é adoptar Quem ataca (tori), ataca a fundo, e reforça ainda o último ataque com
-112 — -113-
um Klai, (Uke). Quem defende, só deve recuar no momento em que é des-
ferido o ataque contrário.
ippon-Kumíté - Assalto convencional sobre um passo
O primeiro ataque d-3ve partir invariavelmente do punho ou pé direito.
Até ao nível de Cinto Negro, o tipo de ataque utilizado é sempre Oi-
-Tsuki, para o tronco, e Mae-Gery-Mawashi-Gery, para os membros inferio-
res, mas as blocagens são utilizadas na sua totalidade. Tori, toma a posição de Gedan-Barai clássica. Uke mantem-se em
Yoi. Tori ataca uma só vez, com um passo da perna de trás. Ele pode bater
com o punho ou com o pé, mas isso deve ficar combinado, antes, assim como
o nível do ataque: Jodan (médio), Judan (alto) e Gedan (baixo).
Muito rico em variedades de ataques, neste tipo de treino já é possível
esquivar o ataque e contra-atacar. Uke não deve jamais deixar de contra-
-atacar. O mais ligeiro atraso ou a mais pequena imperfeição no gesto si-
/',[ni içam a derrota.
Existem 8 formas de fazer frente ao ataque em Ippon Kumité, todas
elas válidas, e que se estudam atenta e sistematicamente, tanto em veloci-
dade como em lentidão, analizando todos os ângulos de ataque.

1.° — Recuar, bloquear e contra-atacar.


2.° — Esquivar bloquando pelo interior do ataque e contra-atacar.
3.° — Esquivar bloqueando pelo exterior do ataque e contra-atacar.
4." — Avançar, bloquear, contra-atacar.
5.° — Esquivar sem bloquear, contra-atacar.
6." — Bloqueio e contra-ataque no mesmo movimento.
7.°'f- Antecipar o ataque antes do adversário partir.
8." — Parar o ataque com golpe de paragem, (Yoko-Gery-Kekomi),
por exemplo.

Depois de cada assalto, Tori e Uke retomam a posição inicial e não


recomeçam sem marcar um tempo de concentração.

Jiyu-ippon-Kumíté - Assalto real sobre um passo

O .Tiyu-Ippon-Kumité, é tecnicamente paralelo ao ataque precedente,


embora com algumas diferenças fundamentais. Em princípio, Tori e Uke po-
dem adoptar todo o tipo de posições. Tori pode, antes de atacar, «fintar»,
procurar uma abertura na defesa de Uke. Porém, a novidade em relação aos
assaltos que estudámos atrás, reside na tensão que precede o ataque. Cada
Karateka, pode também adoptar a guarda que desejar, com exclusão das
posições fantasistas que são na maioria mais perigosas do que úteis.
Ataque T»ukl - Defeca Soto-Dke > Contra ataque Empl-Uekt O melhor é uma atitude sóbria e prudente que não denuncie o ataque.
— 114 — -115-
Jiyu-Kumité - ASSaltO llm SOUpl8

Este tipo de kumité é já o assalto livre total, só havendo uma restri-


ção: bater-realmente nos pontos vitais. Os dois adversários podem atacar
onde quando, e à velocidade que desejarem, partindo da posição que dese-
jarem. Os ataques são feitos em série, combinados ou não. É ai que a pa-
ciência nos estudos de todas as técnicas começa a dar o seu resultado! Todas
as técnicas podem ser utilizadas, todas as iniciativas são permitidas, pois
todos os recursos do Karateka podem e devem ser aplicados. Aqui o nú-
mero de vitórias e derrotas não têm qualquer importância!
O SHIAI
O Jiyu-Kumité deve ser praticado poucos minutos mas trocando cons-
tantemente de adversário, pois o verdadeiro progresso em combate total só
pode conseguir-se com o contacto directo com o maior número possível de COMPETIÇÃO
adversários diferentes.

O Shiai é, como no Judo, a competição em Karate. O Shiai não é mais


portanto do que um Jiyu-Kumité arbitrado; tudo o que foi dito a propó-
ALGUNS CONSELHOS sito deste é válido portanto. A diferença essencial, entre os dois tipos de as-
saltos livres reside no fim a que se destinam. Enquanto que no Jiyu-Kumité
PARA O JIYU-KUMITÉ as vitórias ou derrotas não contam e o combate prossegue o tempo que
se desejar, no Shiai a vitória é definida por um árbitro que marca o fim do
combate. Ó Jiyu-Kumité é ainda uma prova ligeira mas já com "espírito",
onde se põe à prova o máximo de recursos técnicos, mesmo com risco
de perder, pois isso é pouco Importante. O Shiai porém, é o combate total
Sendo este tipo de treino o mais livre e mais permeável em Karate, onde nada conta fora da vitória final. O Shiai é portanto um combate em que
uma vez que não pode ser contestado pelos estilos, vamos dar alguns conse- se pretende ganhar a todo o preço com fins imediatos.
lhos pessoais sobre este treino que nos é particularmente agradável pois O Shiai deve ser, pois, o ponto culminante de todo o trabalho de Karate,
permite dar uma prova real sobre o poder de combate. Primeiramente, nun- pois é a confrontação mais real e mais aproximada do verdadeiro combate
cas vos deixeis influenciar pela graduação, prestígio, ou altura e peso do de morte.
adversário assim como, nas condições inversas, sobretudo nunca sub-estímar Um tal confronto traz-nos um elemento novo e muito precioso: o
o adversário. Seria o maior erro que se poderia cometer em Karate e na confronto real e total de duas técnicas, de duas vontades, de dois homens,
vida real,pois o adversário que nos parece menos perigoso é normalmente, usando de todos os seus recursos para vencer totalmente. É unicamente
em Karate, o mais perigoso. Há mesmo mestres que preconizam: «estuda a nesta medida que o homem se realiza no Karate em plenitude. Encurralado
forma de perder, pois essa é a forma de ganhar». por vezes, decidido a vencer, ele chega a transcender-se a sua
Em Jiyu-Kumité, tomar sempre a direcção total das operações. Não própria surpresa, pois o ensinamento clássico não lhe mostra, por vezes, as
recear o contra-ataque. Nunca vos deixeis distrair por nenhum estratagema suas possibilidades reais. Só então o Karateka atinge o máximo das suas
do adversário: fintas, fingir desatenção, kiai, batimento com as mãos no ki- possibilidades físicas e mentais.
nono, apelo dos pés. Não manter posições muito estáticas e mudar
constantemente de guarda. Não permitir que o adversário «sinta» a vossa
respiração. Ficai sempre calmo, sem demonstrar o mínimo sinal de nervo-
sismo ou medo. Modificai o ritmo dos movimentos, parai, saltai de lado,
avançai, lançai vários ataques; em suma dirijam o combate dominando o
adversário.
Estas são as principais condições para ser um bom combatente. Porém,
o espírito, a sensação de combate, o segredo da eficácia, esse só o podeis
descobrir em contacto real com o «partenaire». Aplicai-vos a descobri-los e
fareis o bom Karate.
-116- -117-
KATAS SHOTOKAN

(SHOTOKAI)

Os Katas codificados e com que se estabelecem os níveis de graduação


das Escolas Shotokan e Shotokai, são as Ten-No-Kata, Taikyoku-No-Kata,
Heians, Tekkis, Kankus, Bassais.

KATAS DE KARATE Existem respectivamente, 6 Taikyokus, 5 Heians, 3 Tekkis, 2 Kankus


e dois Bassais.
Os Katas superiores, praticados acima do 2.° Dan, são os Hangetsu,
Gangaku, En-Pi, Jitte, Jion, Chinte, Sochin, Nijyu-Shiho, Unsu. Estes Katas,
são muito pouco conhecidos na Europa.
Os Katas são o princípio e o fim do Karabe. Tudo reside na execução
desta forma de exercício. Katas e combate total interligam-se e completam- A preparação ao ensino dos Katas é feita normalmente, pela Tay Kio-
-se. Um Kata (pode dizer-se também uma Kata), é afinal um combate total ku-Shodan, kata composta apenas de Gedan-Barai e Oie-Tsuki. e seguindo
contra um grupo de adversários imaginários. Ao principiante pode parecer um diagrama em forma de H, que se assemelha muito à Heian-Shodan.
estranho e de pouca utilidade, a execução dos Katas. Para nós consideramos No entanto, as várias escolas ou estilos possuem, elas mesmo, formas
os katas o fundamento básico de todo o ensino do Karate. Exercício, oração de introdução às Katas mais importantes. Há várias maneiras de executar
mental e física, esquema ginástico, dança dramática, performance de movi- os Katas, mas todas devem concluir na mais importante: a sensação de com-
mentos, testamento de perfeição estética, tudo isso são os katas. bate total. Os Katas podem, pois, ser executados lentamente e em descon-
Estes grupos de movimentos, sempre executados rigorosamente nas tracção, como aprendizagem ou aquecimento, rapidamente e em descon-
mesmas direcções, são cuidadosamente codificados. tracção, para habituar o corpo a evolucionar com velocidade, e com as po-
Estudando estes «testamentos» vivos dos velhos metres, o karateka sições correctas. Rapidamente, com «Kime», um por um, movimento por mo-
. descobre uma inesgotável fonte de enriquecimento mental e físico. vimento, mesmo que estes não estejam ainda perfeitos. Cada té-
A repetição dos katas. termina geralmente as aulas no Dojo e é exi- cnica deve ser, então, executada separadamente. Os ataques devem ser secos
gido em todas as passagens e exames de graduação. É na execução de um c as blo- cagens intensas e «vivas», devendo cada técnica exigir o máximo de
kata que se conhece o nível do Karateka. Executado com força, velocidade, concentração mental e física.
ritmo, espírito sinceridade, um Kata é impressionante e belo de assistir.
Mesmo o indivíduo que jamais viu, fica extremamente impressionado com Em Portugal e na Europa a maioria dos «Dojos» trabalham as 5 Heians,
a própria emotividade e seriedade que se desprende do executante. como formas de progressão em Katas, até 2.° e 1.° kyu. No entanto, muitos
Cada kata começa sempre por uma defesa lembrando que o Karate «Dojos» praticam outros Katas sem que por isso o seu valor diminua.
não deve ser utilizado senão em legítima defesa e para salvar a vida e con- O conhecimento, à velocidade do combate, das 5 Heians (Shodan, Ni-
ta com um ou dois kiais (grito breve e sonoro), com a ideia de acabar um Dan, San-Dan, Yo-Dan Go-Dan estabelece já, no Karateka, um conhecimen-
adversário particularmente coriáceo. Pouco a pouco o karateka, ao preço to apreciável e que jamais esquecerá toda a vida. Um Cinto Negro juntará
de repetições sistemáticas, e infindáveis, aproxima-se da verdadeira sensa- ainda à sua bagagem técnica a Tekki-Shodan, a Tekki-Ni-Dan, a Kanku-Dai
ção do kata real, que está longe de ser uma mimíca incompreensível. O kata (que consiste num Kata em que são executadas partes das 5 Heians forman-
é, pois, um exercício de forma, onde o karateka procura a iluminação, a faís- do um todo) e a Bassai-Dai.
ca do momento da eficácia absoluta pelo domínio físico e mental, sem ver
o fim a atingir jamais próximo. Mas o que é apaixonante, justamente, é re- Saindo fora do enquadramento deste modesto ensaio sobre as técnicas
cuar os limites da incompreensão à medida dos progressos.. O grande Mestre do Karate, mais dirigido ao leigo (ao que não tem possibilidade de frequen-
Gigin Funakoshi, não disse quase à hora da morte que só nesse momento tar um «Dojo» do que ao participante dirigido por professores, incluímos o
«sentia» o Tsukl sair bem? Esse é o exemplo de base com que o debutante estudo da Heian-Godan com um esquema fotográfico, que tentamos fazer o
deve encarar o estudo dos katas. mais explícito, possível Porquê a Godan? Kata considerada como a mais
Umas vezes concentrando toda a atenção sobre o estilo, outras ve- difícil das Heians pela maioria dos praticipantes ocidentais é, quando a nós, a
zes combatendo em sensação, o ideal será combinar os dois sistemas. Um mais original e que permite «sentir», vizualizar o combate, alternando «os
iniciado deve, porém, começar separando o kata movimento por movimen- tempos» velozes com a lentidão, plena de concentração e beleza estética.
to.A aprendizagem paciente do estilo é ainda o caminho mais seguro. O principal é executar o Kata com sinceridade e vazio mental absoluto.
-118- -119-
HEI A N - G O D A N - (5.° HEIAN)

O diagrama do 5.° Heian é muito simples, pois os movimentos são pra-


ticamente executados numa só linha. Em contrapartida, pivoteia-se várias
vezes sobre si mesmo. É considerado já um Kata avançado e as nuances en-
tre o Kokutsu-Zenkutsu e Kiba-Dachi. são, como iremos ver contínuas, pois
deve passar-se de Zen-Kutsu para Kukutsu, e Kiba-Dachi, definindo bem
todas as posições dos membros inferiores.

i _ foto l : um adversário ataca à esquerda. Executar a blocagem


Chudan-Uchl-Uke em Hldari Ko ku-Tsu Dachi. O punho di-
reito faz Hikité.

TOMAR A POSIÇÃO DE YOI


-121-
— 120 —
N.° 3 — foto 3: juntar lentamente o pé direito ao esquerdo (Heiso-Ku-
N.° 2 — foto 2: contra ataque imediato em Chudan-Gyaku-Tsuki, fi-
-dachi) voltando a cabeça à direita. Os punhos fazem, com
cando em Hidari-Kokutsu-Dachi.
lentidão, um movimento circular: o direito em Hikité. o es*
querdo Kagi-Zuki. Tempo de observação.

-122- -123-
-

N." 4 — foto 4: Tempo l à direita — Chudan-Uch(-Uke-Mlgl-K»kut«o>


-Dachl. N.° 5 — fotos 5: Tempo 2 à direita — Gyaku-Tsukí-MIgi-Kokufsu-Da-
chi.

-124- -125-
N.° 6 — foto 6: réplica do tempo 3 — Heisoku-Dachi-Kagi-Zuki-direi- N.° 7 — foto 7: Migi-Kokutsu-Dachi, em frente, fazendo Chudan-Mo-
to-Hikité-esquerdo. Cabeça dirigida à linha central do Kata. roté-Uke.

126 — — 127 —
N.° 8 — foto 8: avançar na mesma direcção em Zen-Kutsu e bloquear
em Gedau-Juji-Uke. N.° 9 — foto 9 : elevar os Braços sem mover o Zen-Kutsu rápida e
directamente em Jodan-Judi-Uke.Mãosabertas.

-128 - -129-
N.° 10 — foto 10 : fazer um movimento de rotação, com as mãos aber-
tas, sem perder o contacto com os pulsos, levando-as «o fliin
co, cruzando a esquerda sobre a direita. Este movimento, em
interpretação, significa uma prisão ao braço que ataca ao N.» 11 - foto 11 : na sequência do ataque precedente, atacar imedia-
rosto e que, assim, é bloqueado. Depois da prisão do braço tamente em 0!«-Tsuk!-Chudan. com «Kiab, marcando 2 se-
puxa o adversário para nós, apresentando o flanco r «s
porás, atacar seguido com Chudan-Tessuí gundos de paragem, em Migi-Zen Kutsu-Dachi
-130-
-131 -
N." 12 — foto 12 : Um novo adversário ataca directamente atrás .No
fim do movimento anterior estamos, pois, de costas voltadas à
parte central do Kata. Pivoteamos sobre o pé esquerdo N.° 13 — foto 13: em Kiba-Dachi, voltar a cabeça à esquerda, fazer
180° para a esquerda e para trás fazendo Fumlkoml alto, des- Chudan-Ha!shu-Uke. Punho direito em Hlkité.
cendente ao joelho com a perna direita, fazendo Ktba-Daehl-
-Mtgl-Gedan-Baral.

— 132 — 133 —
N.° 14 — foto 14: fazer Mikazu-KI-Geri do pé direito, tomando a mão N.° 15 — foto 15: No mesmo encadeamento e aproveitando a força cir-
estendida como alvo do batimento. O mesmo movimento per- cular das ancas, ao pousar o pé direito em Kiba-Dachi, fazer
mite o pivoteamento de 180." Mae-Empi-Uchl direito tomando como alvo do batimento a
mão esquerda.

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N.» 17 _ foto 17: fazer Ura-Tsuki (uppercut), do braço direito, com
uma rotação seca de 180.° dirigida ao eixo central do Kata. A
N.° 16 — foto 16: encadear o movimento seguinte: Migl-Uraken-Uch!
em Kake-Dachi. O punho esquerdo vem ao plexo e os joelhos perna esquerda faz Neko-Ashi-Dachi. O punho esquerdo imo-

baixam para dar força e equilíbrio ao movimento do Uraken. biliza junto ao ombro direito.

136 — -137-
N.° 18 — foto 18: salto para o ar e em profundidade rodando o corpo
no ar, caindo face à esquerda do eixo principal do Kata em N." 19 - foto 19: rectificando o pé direito em direcção ao eixo central
Juji-Uke, a bloquear um ataque de pé. O salto significa uma do Kata, executar um Mlg1-Zen-Kutso-Daehl-Morot«-Uke-
passagem sobre um ataque de bastão às pernas. No ar lançar
-Chudan.
um «Kiafo sonoro.

-138 — -139-
N.° 20 — foto 20 : rotação de 180.° para trás e para a esquerda, fazen- N." 21 — foto 21: passar à Kokutso-Dahi executando Gedan-Barai, es-
-Nuktté e Teishu-Uchl da mão direita, descendo a Hidari-Zen- querdo, e Jodan-Uchi-Uke direito, para trás, estes movimen-
-Kutso-Dachi. tos são blocagens duplas, contra, dois adversários, que ata-
cam um por de trás, e outro pela frente.

— 140 — — 141 —
N.° 23 — foto 23: pivotear sobre o pé esquerdo, invertendo a posição

N.° 22 — foto 22: lentamente, juntar o pé esquerdo contra o direito das blocagens e avançar o pé direito em M!gi-Zen-Kutso-

em (Heisoku-Dachl) (pés juntos). O alto do corpo conserva -Dachi, executando ao mesmo tempo o movimento do tempo
(20) Gcdan-Nukffé e Telsho-Uchi.
a posição das blocagens anteriores.

-142 — -143-
N." 24 — foto 24: passar a Koktuso-Dacht, com a blocagem dupla do
tempo 21 (Gedan-Barai, direito, e Jodan-Uchi-Uke, esquerdo).
Voltar a Yoi, ao ponto de partida exacto do inicio da kata. Sau- TOMAR A POSIÇÃO DE YOI
dar em Ritsurei.

-144- -145-
KATAS COM ALTERES DE 2 KILOS
AS ESQUIVAS
TAI-SABAKI (KAWASHI)

As esquivas, aos ataques são tão importantes em Karate, que alguns


estilos eliminam quase por completo a blocagem ao ataque, dedicando a
maior parte do treino à esquiva e contra-ataque, sem passar pelo processo
de desvio do ataque.

PARA FORTALECER E DAR K1ME AO MOVIMENTO

É indubitável que a esquiva é a forma superior da defesa, uma vez que


a parada é o reflexo elementar e instintivo e a esquiva o desvio pensado,
-146- — 147 —
onde joga a noção da distância, a antecipação de adivinhar o ataque, a esta-
bilidade, a velocidade, a tranquilidade, o domínio das reacções do adversá-
rio, etc..
À esquiva exige muito menos força do que a blocagem e a acção das
ancas e das pernas (tai-sabaki) é muito importante.
A esquiva em Karate é composta de várias fases e sistemas, quer mo-
vendo amplamente os pés para o exterior, quer fazendo um movimento de
rotação de ancas e de peito, quer passando a Kokutso-Dachi, avançando
sobre o adversário em diagonal. A novidade, na esquiva, não consiste no mo-
vimento dos braços, mas na maneira de colocar o corpo em relação à linha
de ataque. A maioria das blocagens podem ser adaptadas para acom-
panhar as esquivas e, em alguns casos, o próprio ataque é já uma esquiva.
Por exemplo face a um ataque em Oie-Tsuki, mesmo duplo, contra-atacar O SHIWARI
M^washi-Gery. A inclinação do corpo na execução do contra ataque, propor-
ciona, tanto para a esquerda como para a direita, uma esquiva total e ao CTESTES DE QUEBRA)
mesmo tempo empresta, uma força suplementar ao contra-ataque.

Que pensar dos testes de quebra?

E assim eis-nos chegados a abordar um assunto apaixonante, os «tes-


es de quebra», pelos quais a maioria das vezes se identifica, infelizmente, o
praticante de Karate. Estes testes foram, na sua origem, apresentados pelos
mestres japoneses e chineses para nos dar uma ideia tangível da potência
do batimento do «Atemi» pois não tocando no adversário em combate, es-
tava ali o único meio de mostrar o que valia a sua técnica.
Nós mesmos no Festival de Karate de Coimbra, tivemos oportunidade
de verificar o apreço que o público dá aos testes de quebra e a emoção e
admiração que causa mesmo nos próprios praticantes esses testes quando
atingem o seu máximo. Mestre Oyama, segundo ouvimos contar, quando da
sua digressão pela América, ao executar certos Katas Kiokushinkai, susci-
tou certa hilariedade junto da assistência pouco esclarecida. Quando, afinal-
mente, no decurso das suas demonstrações, apresentou testes de quebra,
quebrando pedras, esmagou a assistência, estarrecida com tal poder
real!...
No estilo coreano, o Tackwon-Do, é mesmo necessário, para obtenção
do Cinto Negro, submeter-se às provas de testes de quebra! Aliás esta prova
espectacular está ao alcance de todo o Karateka com um mínimo de técni-
ca, com a condição que ele a aborde com decisão. Partir um tijolo, uma pe-
dra, ou pulverizar 5 a 10 ou 14 centímetros de madeira com o punho, o pé ou
o cotovelo, são coisas dentro do domínio do possível e todo o Karateka deve
exercitar-se nesse treino frequentemente! Mas que o sucesso não lhe suba
à cabeça!
Muitos Karatekas possuem os testes de quebra como única ciência,
muitas vezes quebrando materiais graças apenas ao vigor físico. Aliás,
contra nós falamos pois enfermámos durante bastante tempo, desse erro
e hoje raramente praticamos o «Swiwari». O Karate é contínua procura
de nós mesmos e por isso jamais devemos evitar enfrentar a verdade, a
realidade, e conhecer os nossos limites... e as nossas limitações!
148- -149-
fthlwarl d« «halv-Tat*, lobre tijolo*

Shwlvarl de Gyako-Ttnkl, prancha* de madeira


-150- -151-
Ao Karateka sério repugnam-lhe os testes de quebra como fim exibl-
cionista e esses só o abordam em demonstração real frente a um público aconselhar e preconizar e não há dúvida que técnica, unidade de acção
numeroso ou em treino, para servir de proveito a outros. Abusar dos testes n i ire corpo e espírito, tensão mental e física dirigida correctamente no
de quebra quebrando pequenos materiais, para vanglória pessoal, é ridicu- 11 n :.mo sentido, explosão de energia resultante de uma concentração prefei-
larizar-se e tirar tudo o que o Karate possui: a dignidade de arte absoluta. ta, «Kime», «Kiai», são os factores indispensáveis a uma realização completa
Muitos karatekas vos dirão que se quebra mais com o corpo do que (lu Icsti- de quebra. Deve, ser atingido por meio da concentração, o vácuo
com o espírito. Existem mestres, com força física média, capazes de fazer mental, o momento único da pancada, o limpar de toda a dúvida, pois a au-
to-incredulidade e desconfiança nas possibilidades são o entrave principal
ao êxito da execução.
Sem querer entusiasmar muito os iniciados, damos alguns exemplos
de testes de quebra, com fotos concludentes, umas do autor, outras de di-
ferentes mestres.
Parece-nos que o estilo que consegue maiores resultados e dá mais

Shlwarl de rabeca «obre madeira


Shuto, numa garrafa, partindo gargalo
Swiwaris fantásticos! Também outros, sem qualquer deformação visível nas
mãos, executam quebras que deixam os karatekas, mesmo avançados, ex- importância aos testes de quebra é o Kiokushinkai de Mestre Qyama. No
tupefactos e maravilhados com tais possibilidades, que tocam as raias do entanto, mais ou menos, todos os estilos praticam os testes de quebra de
sobrenatural! Esses mestres são também surpreendentes de serenidade e uma tábua suspensa por um fio, pois põe à prova a velocidade da pancada
impassibilidade, perante os seus próprios êxitos! A sua potência mental lateralmente.
permitiu-lhes atingir um nível superior na eficácia das suas realizações! Um teste de quebra que atinge o máximo de concentração de força é
Ao contrário do que os leigos possam pensar induzidos em erro, os o Tate-Empi-Uchi- (cotovelo para baixo). Ao iniciado lembraremos, porém,
testes de quebra não pretendem em princípio demonstrar nada. Para nós e que um adversário disposto a tirir-nos a vida não é uma pilha de pranchas
para os karatekas que buscam sem cessar o nível superior, eles são apenas inertes, mas uma coisa viva que pensa, age, finta, esquiva e assim torna-se
e devem ser apenas, experiências íntimas e pessoais, sem qualquer inten- mais difícil de penetrar no homem com o golpe, do que num monte de pran-
ção. Só assim os testes de quebra poderão ser aceites. Só assim os podemos chas! Encarar pois com reserva e sobriamente estas práticas e nunca fazer
delas meio de habilidades ou prestígio pessoal!
-152 - — 153 —
AS GRADUAÇÕES
A atribuição das graduações é diferente de escola para escola e
de c';lilo para estilo. O Goju-Ryu, por exemplo, possui graus de Dan até 10.°,
ji r.srolji Shotokai, somente até 5.° Dan. Por sua vez a cor dos Cintos, na Eu-
ropa, não corresponde às cores japonesas, existindo apenas no Japão as 3
OOTti: branco até 3.° Kiu, castanho até 1.°, e negro até 5." Dan.
A Japan Karate Association, por exemplo, exige como tabela de exa-
iiit-s de graduação os seguintes Katas:

Cinto Branco - 9.° Kyu — Taykyoku-Shodan


Cinto Amarelo - - 8.° Kyu — Ten-Nokata-Heian-Shodan-1
Cinto Laranja - - 7.° Kyu — Keian-Ni-Dan-2
Cinto Verde - - 6.° Kyu — Heian-San-Dan-3
Cinto Azul - - 5.° Kyu — Heian-Yo-Dan-4
Cinto Vermelho - 4." Kyu — Heian-Yo-Dan-5
Cinto Castanho - - 3.° Kyu — Tekki-Shodan
Cinto Castanho - - 2.° Kyu - »
Cinto Castanho • - 1.° Kyu — Tokui-Kata (especial)
Cinto Negro - - 1.° Dan — Kanku-Dai-Bassai-Dai
Cinto Negro - 2.° Dan — Tekki-Ni-Dan, Tekki-San-Dan
iobre uma barra de gele, de 25 em. de expestura Cinto Negro - - 3.° Dan — Hangetsu, Gangaku-Jion-Livres
Cinto Negro - - 4." Dan — Enpi, Jite, Sochin, Unsu, Nijiyu-Shiho
Cinto Negro - - 5.° Dan — Katas Livres

s
A tabela acima é a tabela válida para o ocidente, acordando ao prati-
cante ocidental a satisfação intermediária das cores, citadas acima, não é
-154 -
-155-
a nós porém, modestos principiantes do Karate que nos compete comentar
esse factor. Aconselhamos o praticante a não se prender muito à graduação,
não esquecendo que o Karate é um arte, e como tal pouco permeável a uma
classificação exacta do valor de cada um. A um certo nível isso é uma coisa
que só se pode apreender por intuição, e essa só os verdadeiros mestres a
possuem com capacidade para julgar com imparcialidade e exactidão. «O
primeiro princípio, para o estudo do Zen ou de qualquer arte do extremo
oriente, é a «calma». A pressa, e tudo o que ela envolve, é fatal, porque não
há alvo a ser atingido. A partir do momento em que se concebe, um alvo,
torna-se impossível praticar a disciplina da arte, dominar c próprio rigor
da sua técnica». KARATE
Estas palavras adaptam-se bem ao que pensamos e ao que todos de-
viam pensar acerca das graduações. E DEFESA PESSOAL

Aplicar o Karate como defesa pessoal, é um pouco difícil, defesa sim.


ataque, só com sérias reservas pois arriscar-nos-íamos no calor do combate a
tirar a vida ao adversário, castigando-o desnecessariamente. O ataque em
Karate, é tão violento, como a arma de fogo, e nalguns países é ainda proi-
bido.
Há cerca de 6 anos em Londres o Karate fez uma das suas vítimas co-
nhecidas: Um Karateka Cinto Castanho, matou um indivíduo atingindo-o
com sete golpes em poucos segundos, sendo julgado em tribunal. Os jornais
especularam bastante com esse triste caso, e o Karate sofreu uma certa re-
pressão na altura. É claro que em caso de legitima defesa, todos os meios

Defeca com ecqnlra e antecipação, aplleaMdo Yoko-Gert à cara e Urakeit

-156- -157-
são de utilizar, mas em Karate é sempre necessário cuidado em não atingir a melhor defesa, é... o ataque, a antecipação a tudo o que o adversário pos-
pontos vitais. sa pensar ou fazer. Assim, num ataque contra mais de 3 indivíduos, impor
Nos tempos que correm, em que a violência campeã quase livremente sempre o ritmo do combate, e procurar a aniquilação de cada um com um só
nas grandes cidades da Europa, assistimos, ou lemos, diariamente, casos em golpe ,o efeito psicológico, é também chocante, e a nossa experiência, em
que o mais forte, na altura, faz a lei. A injustiça, e intolerância dos homens, combate de rua, diz-nos que depois de saírem dois realmente feridos, to-
a carga psicológica, a pressão do progresso faz não raramente o homem dos os outros debandam. Recordamos uma vez em Durban em 1961, enfren-
explodir violentamente, contra o seu semelhante. Por outro lado, o crime, t/iino:; ;ilrnri-mi'Mte uns 15 indivíduos, marinheiros gregos, num combate
a violação, o roubo, o desrespeito pelo ser humano são uma constante nu- < i i i r durou apenas 5 ou 10 minutos e, para surpresa nossa, saímos ilesos
ma sociedade em contínuo progresso tecnológico e retrocesso humanístico! < ! < > incidente, deixando apesar da nossa pouca idade (18 anos) 4 indivíduos
. i.imdidos no terreno, batendo depois prudentemente f m retirada .E isto
•-MI 11 mu Karate mais que rudimentar.
K H;in> que, nestas circunstâncias, o factor espírito e o desprendimento
l(i!:il prl;is consequências é fundamental. O indivíduo só pode ser realmente
do m.-imo, se não agir inibido pelas convenções e ao mesmo tempo «não
t.t-r n.ida a perder».

Projecção com lialayage e Gyakn-Tiukl ao chfio à cabeça c Unhiro-Gerl ao plexo

Nada melhor pois, que estar preparado, para a defesa, pois mesmo
que um ataque de meliantes aconteça uma vez na vida, não nos
arrependeremos, das horas passadas no «Dojo». Mas não es-
quecer que um Karateka real sabe dar às coisas e às situações a justa me-
dida, agindo sempre a favor do mais fraco, da justiça, da ordem constituí-
da, da disciplina social, e jamais para satisfazer um ódio pessoal, ou uma sa-
tisfação íntima, de aniquilar alguém.
O verdadeiro Karateka, não é de modo algum o rufião que tenta
fazer prevalecer os seus pontos de vista à força ou dentro do «Dojo», co-
mo infelizmente há alguns!...
Damos alguns exemplos fotográficos de defesa, mas aconselhamos, que
-158- -159-
Quando o homem superior ouve falar do Tão
Faz o possível por o praticar.
Quando o homem médio ouve falar do Tão
Umas vezes o guarda, outras o perde
Quando o homem inferior, ouve falar do Tão
Ri dele em altas gargalhadas,
Se não rir, é que não é o Tão.

LAO-TSEU

-161-
KARATE E ZEN
Se és um verdadeiro homem.
Podes perfeitamente levar o boi do agricultor,
ou arrancar a comida, a um esfomeado.
Yuan-wu

Vamos, nas páginas que se seguem, estabelecer uma analogia entre o


Karate e o Zen. Não tentaremos explicar nada, pois só conseguiríamos o
oposto. Lendo a citação da página anterior, somos levados a pensar que o
Zen preconiza o próprio mal! Não. A citação do Zen com que abrimos o
nosso estudo «significa apenas que o Zen está para além de um ponto de
vista ético, cujas sanções se encontram, não na própria realidade, mas no
consenso mútuo dos seres humanos. «Quando tentamos universalizá-lo ou
absolutizá-lo, o ponto de vista ético torna a existência impossível, pois não
podemos viver um dia sequer sem destruir a vida de qualquer outra cria-
tura».
O fim deste estudo sobre a anologia e interligação entre o Karate-Do
e o Zen é sobretudo esclaracer que o «Karate-Do» é outra coisa que não uma
técnica guerreira bárbara, modernizada e adaptada ao mundo contemporâ-
neo sob forma desportiva. Que significa pois esse «Do» caminho, via, de que
falam todas as artes marciais japonesas. E onde conduz essa via?
Que devemos procurar nesse caminho?
Deixemos então o domínio da técnica, para entrar num mundo mais
elevado e com o qual o Karate parece não ter qualquer relação: a divinda-
de! Todo o homem, consciente ou inconscientemente, vive na angústia do
desconhecido da divindade. As religiões conduzem o homem, segundo as suas
particulares concepções, a um pensamento comum à maioria: atingir o
paraíso depois da morte.
O fim principal, o móbil dessas religiões é, em consequência, a preo-
cupação de assegurar um destino favorável após a morte. O indivíduo pas-
sa durante toda a vida por períodos sucessivos de crença e descrença, es-
tados de espírito sempre diferentes em relação à sua procura ou indiferen-
ça perante a divindade, tome ela a forma que tomar.

-163-
O caminho (Do), a «via», oferecida pelas artes marciais, ou pela me-
ditação, é uma das muitas «vias» orientais para o homem se transcender Estes princípios do taoismo, de difícil interpretação apesar da apa-
e encontrar-se, «ver claro em si mesmo», penetrar através do sentimento rente simplicidade dos conceitos, fazem-nos tomar consciência da insepara-
e da intuição na fonte de divindade que existe nele mesmo, num estado de bilidade do bom e do mau, do agradável e do doloroso, tão idênticos nas suas
profunda sub-jacência! diferenças como complexos na difinição e limites.
Nesse estado absoluto, ou somente na procura de «estar sobre a Assim vejamos num «Koan», (poema Zen) do «Zenrin Kushu».
via» (Do), o corpo não é geralmente um obstáculo mas, pelo contrário, uma
ajuda para a vida espiritual, para conseguir a unidade de corpo-espírito e Encontrar fatalidade é encontrar boa sorte,
resolver esse dualismo para poder libertar-se e chegar ao «satori», ao com- Encontrar harmonia é encontrar oposição.
pleto «acordar».

Procurando uma definição concreta, até certo ponto, do Zen, encon-


Apenas sofrer existe, ninguém que sofra,
tramos na obra de D. T. Zuzuki, as seguintes palavras: «O Zen, na sua es-
O acto existe, não quem o tenha feito;
sência, é a arte de ver claro na nossa natureza. Ele mostra o caminho que
Nirvana é, sem ninguém que o procure;
conduz da escravatura à liberdade. Fazendo-nos beber a fonte da vida, ele
Há o caminho, mas não quem o percorra.
liberta-nos do jugo do sofrimento, extraindo de nós todas as energias, que
possuímos».
A metafísica chinesa, exprime o mesmo pensamento, através dos prin-
cípios do taoismo: «o tão é a ordem do mundo, mas ali o mundo não é real,
Este sumário, um «sutra» da doutrina do Gautama Buda, é um dos sím- e o homem deve, pela intuição mística, ultrapassar a ilusão e realizar a
bolos do Zen. Desconexo, aparentemente sem sentido, encerra todo o mis- união com o princípio, mais além do dualismo aparente de todas as coi-
sas».
tério da revelação da doutrina do Buda. A maioria dos ocidentais desconhe-
ce que Buda significa «acordado», «o acordado». O Budismo Zen serve-se Encontramos no Zen, muitas vezes, uma aproximação do cristianis-
de todos os meios para obter o estado de libertação que não é mais do que, mo e do «Estado de Graça» que são, afinal, condições essenciais das religiões
em vida, atingir, um estado mental e espiritual de completa lucidez, «o de massa. Os Hebraicos conhecem o «Devekhut», o islão, «A grande
Nirvana», um estado de equilíbrio e felicidade onde as paixões não pene- paz» (Es-Sakinah). Mas a diferença total é que o Zen, não trazendo aparen-
tram, esperiência mística, que é como que um estado cósmico da compreen- temante nada de novo, no fundo não se assemelha em principio, a uma re-
são. A este nível, compreender é atingir o degrau máximo do conhecimento ligião. Uma vez que não reconhece nem Deus nem a imortalidade da alma,
e da sabedoria. Não uma sabedoria, baseada no conhecimento intelectual tudo se passa em vida.
mas a sabedoria intuitiva «quase divina» ou mesmo divina. É na realida- A simplificação das necessidades, é uma das consequências da prática
de pouco explícito, constituindo um enigma, a associação da doutrina do do Karate-Zen, ou do Zen ele mesmo: a descoberta da nossa verdadeira na-
Buda, toda paz, e o Buciismo Zen dos Samurais, o famoso código do Bushi- tureza liberta-nos da maior parte dos desejos, tais como desejo de posse,
do, que é essencialmente a aplicação do Zen às artes guerreiras. Parece procura contínua de distracções, de novas alegrias, de prestígio, de reco-
implicar o completo divórcio entre a paz e a guerra,o moral e o imoral. De- nhecimento social, etc, e os valores exteriores tendem a perder a atracção
vemos, contudo, encarar o facto de que a experiência Budista é uma liber- que exercem sobre nós, dando-nos uma independência total e um equilíbrio
tação das convenções e éticas de toda a espécie. Aliás no Cristianismo vemos social. A uma análise do anti-humano, anti-social, nós vemos um tipo de in-
os preceitos de Cristo serem adaptados às artes da guerra, sendo os maiores divíduo que não inventa senão violências, domínio, crueldade e reivindi-
místicos os guerreiros. cações forçadas de toda a espécie.
Nós vemos como forma constante no Zen, «um olhar longínquo em di- Vejamos o que Lao-Tseu diz na condenação aparente do agir, da saga-
recção a ver para além do bem e do mal, do bom e do mau, e, continuamente, cidade clássica do homem:
a oposição a toda a lógica e forma clássica de pensamento, como principal
obstrução à vida do completo «acordar». Suprime a sagacidade; abandona o saber
e o povo terá um centuplicado benefício.
Suprime a «humanidade»; abandona a justiça,
e o povo terá de novo amor pelo semelhante.
Quando todos reconhecem a beleza como bela, há já fealdade
Suprime a esperteza; abandona o utilitário,
Quando todos reconhecem a bondade como boa. Já há maldade,
e não haverá mais ladrões nem salteadores...
«Ser» e não ser originaram-se mutuamente;
Torna-te desafectado
Dificil e fácil são mutuamente descobertos; Estima a sinceridade!
Longe e breve são mutuamente situados;
Minimiza o que é pessoal;
Antes e depois são mutuamente sequentes. Reduz os desejos.

-164 -
-165-
T
Não tentaremos explicar ou traduzir o pensamento subjacente de Lao- das vezes, o homem age, não definitivamente por si próprio, mas por moti-
-Tseu, mas diremos que a ideia «não é reduzir a mente à vacuidade, mas vações e reacções que lhe escapam e são conduzidas por uma fonte que está
trazer à tona do consciente a sua inata espontaneidade! » para além do seu próprio controle.
Bodhidharma, que os historiadores apontam como o primeiro codifi- Não nos afastando das reacções entre o atingir do Zen e o combate
cador dos movimentos do Karate-Do como meio de unificar o espirito com dtamos a atitude correcta em combate total segundo Lao-Tseu:
o corpo, e que esteve nove anos em meditação disse: «Apontando directa-
mente à própria alma, minha doutrina é única, e não é assolada por ensina-
mentos canónicos. É a transmissão absoluta do verdadeiro sinal». «A perfeição para o que comanda é ser pacífico. Para o que combate é
O Zen é, acima de tudo lucidez, serenidade e mesmo felicidade per- n*o ser colérico; para o que quer vencer, é não lutar!».
feita e contínua, factores bem difíceis, senão impossíveis, segundo os «Vejamos o Tão do céu; excelente a vencer sem lutar; excelente a
cépticos, de conseguir num mundo como o actual em que o ser humano é convencer sem falar, fazer vir expontaneamente sem chamar; realizar per-
um joguete à mercê de todas as influências e situações ocasionais. O espíri- feitamente sem actuarl».
to do Zen é bem definido por D. T. Zuzuki, mestre incontestado do Zen:
«A vida desenha o seu desenrolar sobre uma tela chamada «tempo» e o
tempo nunca se repete. Uma vez partido, ele parte para sempre. O mesmo É claro que todas as vias se completam e assim Judo, Karate-Do, Ken-
no acto, uma vez praticado não pode ser desfeito». Porquê nos parecem os -Do, Aikido, Tiro ao Arco, Arranjo Floral, Meditação, Zazen, Vida Ascética,
conceitos, pensamentos, reflexões, sutras, «Koans», tão enigmáticos, parado- Disciplina Zen, são caminhos que preconizam directamente a ascenção ao
xais, ilógicos, risíveis mesmo, dramáticos umas vezes, anedóticos outras? estado de «acordar», implícita até na simples cerimónia do «beber o chá»,
Qual o pensamento ou ideia dirigida que produz essas formas de conheci- dos orientais. Muitos praticantes assíduos e entusiastas do karate arris-
mento contraditório? Que formas de especulação presidem a uma coisa que cam-se a severas desilusões se julgam,depois de lançar muitas vezes uns
é ou não pode deixar de ser sincera? Para aqueles que associam religião a Kiais, vaguear nas alturas do Zen!...
hipocrizia ou pusilanimidade, um mestre Zen ou de Karate parecerá uma Estas páginas são dirigidas, nós sabemos a quem. E o Karateka sim-
pessoa extremamente grosseira. «Tokusan», um dos maiores mestres, quan- ples e humilde sabe que é pela intuição que as poderá compreender, re-
do ensinava no templo, costumava brandir o seu enorme bastão gritando: lendo-as de tempos a tempos para se encontrar, pois a mutação no homem
«Pronunciai uma palavra e dar-vos-ei trinta pancadas. Caso não digais nada é contínua e a própria capacidade de compreensão de ontem pode ser já
levareis trinta golpes na cabeça». diferente da de hoje. Como alguns sabem, a pureza do ataque é fundamental.
Aqui aparece a primeira fase da tentativa do mestre para libertar a Em Karate, Tsuki deve partir sem intensão. É esse, na generalidade, o
mente dos discípulos da escravidão da lógica, ruína da humanidade. O mé- fim a atingir em artes marciais: o vazio, a descontracção, o abandono total
todo da disciplina Zen consiste em colocar o indivíduo diante de um dilema de toda a avidez, de orgulho de tensão e até de vontade de atingir qualquer
do qual ele deve tentar escapar, não através da lógica mas sim através de fim definido, o próprio fim. Tomamos por exemplo um mestre famoso de
uma mente completamente liberta, onde o ser se manifeste sem sofistica- Tiro ao Arco, (uma das expressões mais impregnadas da atmosfera espiri-
ções da realidade concreta. tual e religiosa dos orientais). Esse mestre depois de uma vida dedicada a
«Se realmente quisermos atingir o âmago da vida, temos de abandonar atingir o domínio do Tiro ao Arco, ao ponto de apagar uma vela de olhos
os nossos silogismos, adquirindo um novo modo de observação através do vendados, esquece tudo e abandona o instrumento com o qual tinha pro-
qual possamos escapar à tirania da lógica e do aspecto unilateral da nossa curado durante toda a vida, esta verdade: «O estado último da actividade
fraseologia quotidiana». Como nos diz D. T. Zuzuki, o Zen, sendo acima de é a inactividade; o estado último da palavra, é o silêncio; o estado último
tudo uma técnica de descondicionamento para vencer a inércia, adopta os do tiro ao arco, é não atirar!». Substituindo o tiro ao arco por Karate, nós
seguintes recursos: 1: paradoxo; 2: ultrapassagem dos opostos; 3: contradi- teríamos: «o estado último do Karate é não combater».
ção; 4: afirmação; 5: repetição. Com efeito, finalizando a construção do edifício, podem-se deitar
A acção directa é utilizada e por isso choca a maioria dos observa- fora os andaimes. Andaimes são a técnica do Karate e o edifício sólido, impo-
dores, pancadas, empurrões, choques, gritos ou mesmo a dor injensa, são nente é o espírito o carácter a realização do aproveitamento mental sem
meios de atingir o «satori», o «nirvana», o «acordar», o estado último do a qual o Karate nada vale, e assim melhor será não o praticarmos, ou prati-
Zen! E podem consegui-lo imediatamente e contra anos inteiros de procura car o box ou a capoeira, desportos sem preocupações filosóficas ou místicas
ascese e meditação. sem qualquer fim a atingir.
A auto-destruição do indivíduo começa com a paixão,, de que a compe-
tição desportiva é bem o símbolo; por isso os japoneses falam de mestres
Como uma espada que corta, mas não pode cortar-se a si própria. e instrutores; «O mestre é eficaz porque ele conseguiu, despojar-se de toda
Como um olho que vê, mas não pode ver-se a si próprio. a palxio perturbadora».
O pretender provar, qualquer coisa é já uma forma acentuada de neu-
rose, de angústia dos tempos modernos. Cada um pretende provar aos outros
Esta é.segundo o pensamento Zen, a definição da mente. Na maioria a sua superioridade. Mas já vimos alguém tentar provar o que é inferior?

-166- — 167-
T
Salvo é claro, Pessoa no seu «poema em linha recta». tlcularmente feliz, só cpm a diferença de não participar, com a unidade
corpo-espirito, o dissecar de toda a existência, através da fria análise, ló-
gica e Intelectual. É caminho profundamente errado, para estabelecer um
«Nunca conheci quem tivesse levado porrada. contacto com o Zen.
Todos os meus conhecidos têm sido campedes em tudo». A superficialidade da nossa consciência é tal que basta considerarmos
«Eu que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado*. o facto de não controlar o organismo humano nem poder fazê-lo. Todos os
órgãos funcionam independentemente do haver ou não consciência disso, e
<> organismo é, assim, regulado pela «mente original», o «mental cósmico».
O Zen ultrapassa, pois, toda a lógica e actua perante o mundo «com Assim a consciência superficial pode atingir a outra se deixar um certo nú-
uma branda indiferença». mero de prisões que a condicionam e obrigam a circunscrever-se como um
O Zen, com a isenção do temor, projecta o homem muito adma dos MTVO ;Vs suas limitadas actividades, pensar, ter a noção do passado, presen-
valores normais mas sem com essa superioridade, tomar consciência disso i< ou futuro. Essa seria a libertação do ego. Ultrapassar esse «eu» que é
em relação aos outros ou sem, pelo menos, fazê-la sentir de forma concreta. o conjunto do corpo, das emoções, dos pensamentos conscientes e incons-
À definição de absoluto não é: que existe por ele mesmo e não depende cientes, da memória, que o Zen denuncia como ilusório e impermanente e a
de ninguém? Pois essa é justamente a atitude do homem em relação ao lógica ocidental considera, erradamente, como real e permanente. O clima
mundo, o homem-Zen. específico da experiência Zen é, no «satori», conseguido por qualquer meio.
Em relação ainda ao mundo ocidental e mais ao mundo português, Uma jornada fantástica de verdadeiro renascimento, em cada novo dia a vida
nós temos um mestre Zen, mas que na realidade não existiu: Alberto Caci- toma um carácter extremo de expontaneidade e beleza. Em cada momento
ro: se Fernando Pessoa fosse Alberto Caeiro e nada mais, ou se Caeiro exis- nós sentimos bater o ritmo da essência da própria vida, em plenitude abso-
tisse por ele mesmo, era um mestre de Zen: luta, onde as palavras não conseguem revelar a dimensão exacta.
Vamos então, tranquilos, no transitório espaço de tempo em que de-
corre a nossa ex-istência, em direcção ao velho sonho da humanidade: a fe-
Como um grande borrão de fogo sujo licidade. Com a solução: anunciada por Sócrates: «Conhece-te a H mesmo»,
o sol posto demora-se nas nuvens que ficam». nós estamos no limiar de um caminho que por vias diferentes, desembocam
todas no mesmo plano: a libertação da angústia milenária do homem na
procura infrutífera das suas origens.
Como diferenciar estes versos de Pessoa, dos poemas Zenrin: Mas aí chegados, e à pergunta inevitável, à questão sempre presente
«onde atingir esse lugar de paz e serenidade, onde não mora o «mal nem o
bem», nem o «ser» ou o não «ser», nem o «interior ou exterior», nem o meio
«Calmamente sentado, nada fazendo nem o vazio, nem a abstração ou a não abstração?», só podemos responder
A primavera chega e a erva cresce por si própria». com o dualismo das eternas metáforas Zen:

Uma profunda unidade de pensamento une Pessoa, ou melhor, A. Caei- «O jardim está em nós».
ro, ao Zen e aos Koans, aos Haikus japoneses, ao Zenrin: P. T. Zuzuki

«Nos dias de chuva «É em nós que é tudo. É ali, ali,


o monte Ryokan Que a vida é jovem e o amor sorri».
sente pena de si próprio.». F. Pessoa

Como não recordar Pessoa tão presente no Zen:


FIM
«Tenho dó das estrelas
brilhando à tanto tempo...».

Mas infelizmente para F. Pessoa, o Zen estava bem longe de si pró-


prio e da sua existência que de algum modo pode considerar-se como par-

— 168- -169-
do principalmente à falta de contacto com instrutores mais qualificados.
Para obviar a este mal decidiu a União Portuguesa de Budo contratar um
mestre japonês para dirigir um estágio em Portugal, tendo a escolha re-
caído no Mestre Tetzuji Murakani, 5.° dan.
Mestre Murakani possui a mais alta graduação concedida pela escola
Shotokay, de Tóquio, a qual, dentro da regra tradicional japonesa, não atri-
bui graduação superior à de 5.° dan ao contrário de outras escolas. Este
técnico japonês, com residência fixa em Paris foi o primeiro mestre japo-
nês a vir ensinar Karate na Europa, onde começou a exercer a sua activi-
^Drev vidade, em vários países, há cerca de 15 anos.
O primeiro estágio dirigido por este Mestre teve lugar na Academia de
Budo em 1969 e a este mais cinco se seguiram, até ao presente, quatro em
Lisboa e um no Porto. Em 1970, M. Murakani foi nomeado Director-Técnico
DO KARATE SHOTOKAI da secção de Karate da União Portuguesa de Budo, tendo todos os clubes,
academias e centros de Karate filiados nesta União aderido ao estilo de
Karate praticado por aquele Mestre. Com o impulso dado por M. Murakani
a partir do primeiro estágio pode dizer-se que hoje se pratica nos centrosi de
em t^or tu ai Karate portugueses por ele dirigidos superiormente um Karate já bastante
bom para o nosso meio, devido não só ao facto de ele ser um técnico de
alta craveira, como igualmente às excepcionais qualidades didácticas que
possui. Muito tem também contribuído para este progresso a deslocação
frequente de instrutores portugueses deste estilo a França, onde têm fre-
quentado estágios dirigidos por M. Murakani. Mais rápido não tem sido o
O Karate começou a praticar-se no nosso País na Academia de Budo, progresso do Karate Shotokay em Portugal por virtude dos espaçados con-
em Lisboa, já lá vão quase dez anos. tactos com o Mestre, e, principalmente, por ser aquele método bastante di-
Foi, com efeito, em 1963 que o Dr. João Luís Franco Pires Martins, fícil. Na realidade, o método Shotokay caracteriza-se por um trabalho men-
instructor daquela Academia, resolveu incluir nas suas aulas de budo-judo, tal grande e por um treino físico não inferior ao de outras escolas e até na
como complemento, algumas noções da arte do combate de mãos, mas o maioria dos casos superior, por exigir posições extremamente baixas, o que
entusiasmo manifestado pelos praticantes conduziu a que fossem criadas torna a prática bastante penosa embora benéfica.
imediatamente classes especiais de Karate. Até à vinda do Mestre Murakani praticava-se no nosso país, nos cen-
Naquela época os conhecimentos que se possuíam sobre a arte eram tros filiados na União Portuguesa de Budo, o estilo Shotokan, versão J. K.
ainda bastante rudimentares, razão que levou alguns dos mais fervorosos A. (Japan Karate Association). O método seguido pelo M. Munakani é o da
praticantes, desejosos de progreso, a serem autenticamente autodidatas pe- escola Shotokay dirigida em Tóquio pelo Mestre Egami (antigo discípulo do
lo recursos a livros, filmes e outros meios sobre a modalidade. Daqui nas- Mestre Funakoshi Gichin que se distingue do de outros grupos Shotokay,
ceram os primeiros instrutores que começaram a ser encarregados do ensi- entre eles o do Mestre Hironishi.
no na Academia de Budo, cujo número de praticantes de Karate aumentava O método da escola Shotokay — Egami utiliza os mesmos nomes de
incessantemente de ano para ano. técnicos, posições, etc. da escola tradicional Shotokan do Mestre Funakoshi,
Mais tarde, precisamente em 1967, surgiram na cidade do Porto mais assim como inclui e pratica os mesmos katas. Como aspectos que o diferen-
duas Academias, primeiro a Bushidokan, seguida da Joshinkay, ambas fi- ciam de outras escolas, podem citar-se como principais: a) maior descon-
liadas, como a Academia de Budo, na União Portuguesa de Budo, organismo tracção; b) posições mais baixas; c) um maior relevo dado ao aspecto men-
que representava o budo perante o Estado. Â um nível mais privado come- tal que culmina no denominado «irimi».
çou também a praticar-se o Karate nalgumas empresas, clubes desportivos Este último aspecto mental (irimi) considera que todas as defesas
e colégios, sob a orientação de instrutores nomeados pela União Portuguesa tem que ser feitas em completa antecipação, «sentindo o ataque» e não «ven-
de Budo. do-o». Aqui reside a harmonia entre atacante e atacado na qual consiste,
Alguns anos passados sobre o começo da prática da arte, reoonhecia-
-se a estagnação dos conhecimentos e a insuficiência do nível técnico, devir , afinal, a essência do budo. No fim de contas, não existe atacante e atacado
exclusivos, pois ambos constituem como que um só.
Segundo este princípio, em Kutnite nunca se deve defender recuando,
— 170 — -171-
pois isto permite um segundo ataque do adversário, mas sempre avançan-
do, o que se consegue «sentindo» o ataque no momento preciso e avançando
antes da sua concretização pelo adversário. Para que esta eficiência possa
ser atingida exige-se, entre outras características, muita rapidez, o que só
se consegue trabalhando em descontracção.
Outro princípio preconizado pelo Mestre Murakani é que a progressão
do Karateca não tem limites por força da idade, pois se com o avançar des-
ta o poder físico diminue, não existem, por outro lado, limites para o desen-
volvimento mental.
Endereços úteis para a Prática do Karate
Com a publicação do decreto-lei n.° 105/72, de 30-3-72, ficou o Karate,
assim como todas as modalidades consideradas por aquele decreto como ar-
tes marciais.dependente da Comissão Directiva das Artes Marciais, integrada
no Departamento da Defesa Nacional. Quaisquer que sejam as consequências ACADEMIA DE BUDO
regulamentares resultantes deste facto, não restam dúvidas que o desenvol- ARTES MARCIAIS
vimento do Karate em Portugal virá a depender essencialmente do interesse
e esforço que vier a ser desenvolvido não só pelos praticantes, mas também, RUA VISCONDE DE SEABRA, 18 - LISBOA A
e principalmente por aqueles que, duma forma ou outra, desempenharem
funções de direcção ou de orientação técnica. SECÇÃO DE KARATE DO
JUDO CLUBE DE PORTUGAL, 36 A
Nestor Pereira
RUA D. CARLOS MASCARENHAS, (CAMPOLIDE) LISBOA

SECÇÃO DE KARATE DO
JUDO CLUBE DE LISBOA — LISBOA

SECÇÃO DE KARATE DO CENTRO DE EDUCAÇÃO FÍSICA DE


CASCAIS

SECÇÃO DE KARATE DO G. C. D. DA TAP — LISBOA

SECÇÃO DE KARATE DO CLUBE ALBERTO DE SOUSA


PARQUE DA GANDARA — MIRAMAR

CENTRO DE KARATE DO CAT


CÂMARA MUNICIPAL DE LOURE — LISBOA

SECÇÃO DE KARATE DO G.D. DO BANCO TOTA E AÇORES


LISBOA

SECÇÃO DE KARATE DO C.P. DO BANCO ESPÍRITO SANTO


LISBOA

-173 —
-172-
BUSHI DO KAN
R. DO RIO, 572 — PORTO

SOSHINKAI — ARTES MARCIAIS


R. DE CAMPANHA, PORTO

CENTRO DE KARATE DO V.F.C. — SETÚBAL

CENTRO DE KARATE DO MONTIJO


PAVILHÃO DESPORTIVO DO C.P. — MONTIJO

SECÇÃO DE KARATE DO
JUDO GINÁSIO DE PORTIMÃO - PORTIMÃO

SHOTOKAN KARATE-DO
SPORT CLUBE CONEVtBRIENSE — COIMBRA

KIO—SHU—KAN—
ALVALADE — LISBOA

ATNEU COMERCIAL DE LISBOA


R. DAS PORTAS DE S. ANTAO — LISBOA

BUDO KAN DE PORTUGAL


ARTES MARCIAIS
KARATE. KENDO, AIKIDO, JUDO, JUDO E ZEN
CASCAIS

O MESTRE TETSUJI MURAKAM1 - S." DAN


—174 - - 175 —
CENTRO DE KARATE DO MONTIJO IO DO JUDO C. DE PORTUGAL
PAVILHÃO DO C. P.

l A l - 1972

li
II

l\lmlre Miirnkami, no final do Eatáaio de Karate. promovido pelo J. C. P. e


prlo l'rof. Itnul Orveiru, figiim de pre§«íglo e técnica excepcional. O prof.
«Ir I t n n i l i * em 1'orinanl que reunr Individualmente maior número de aluno*.

ENCONTRO GERAL, PARA SHIAI DE ALUNOS DE R. MENDONÇA - 1972 - 2 DE JUNHO l "Nu anu uru o» Cinto» Mfjjrus ! Itebuln, Cerveira, Mendonça, Gouveia e Lima.
Kodriguei» e Nestor

— 177-
•HOTOKAN-KARATE-DO - COIMBRA

r.. » . tilmlnnr a actividade •!<- ••••• ano da fundação do karate em Coimbra,R.


MI ...i..i M > . |.r<»u..<. 11 um -N|||AI" que teve a assistência de 2 OOO pessoa* e •
l... H. l,,..v t-- d» RO barutecas. IXa iinirara <-m baixo, vê-se um aspecto da de-
MuIrM^ft», rum |»unhain, em que pnrtieipa o antor e Carlos Comes, hoje n
dlrl||lr » k r.i-Mio de C.oImbrH, que funciona no Sport ('. Conimbricense. O autor
r
u»«l«ii o liurnle em Coimbra, em 1970, sendo este sarau leTndo a efeito em 27
• !• Mal» de 1971 com a presença de altas indiridualidades militares e civis.

O Mestre TetsuJI Murnkaml, 5." Dan, com o autor no decorrer do estágio de


Judo Clube de Portugal

A Academia de Bndo, reserva Intactas através dos anos as excepcional* qua-


lidade» mentais da prática do Budo. IVa gravura o prof. Gnelfáo com anta
classe de Graduado!

— 178- -179-
Shlwarl He um tijolo (R. Mendonça)

Classe de Aveiro fundada pelo autor, en> eoncentracCo

-181-
TESTE DE QUEBRA C MENDONÇA )

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-182-- — 183-
O BUSHIDOKAN - PORTO
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Sob a Orientação do Eng.° António Valente Pereira Cacho. Cinto Ne-
gro, o Karate no Porto tem sofrido nos últimos anos um desenvolvimento
surpreendente, e jamais atingido por qualquer outro desporto de combate.
O Bushidokan Centro de Karate com magníficas instalações próprias, na R.
do Rio, 572. Promoveu a vinda do meste Morakami, ao seu (Dojo) em con-
secutivos estágios.
A gravura em baixo, vemos o director do Bushido Kan, Eng.° Cacho,
executando um dos mais raros e difíceis testes de quebra, em que só uma
velocidade extrema consegue resultados positivos: a quebra de duas tábuas
suspensas por um fio. (Foto tirada em 1968). PORTO
Final do Estágio de Karate do Judo C. de Portugal

O Mestre Tetsuji Murakami, com R. Mendonça e alguns graduados

— 184 — -185-
O /C7DO
E OS

«ATEMIS»
Ao nível superior de
ir
' "; . - . ' " * , * ' ' • -' ' • '* Cintos Negros o Judo,
;
Aí tó^S^í^"i^íte "--"" " ' " possui os «Atemis», e
>
P%^':X^^;l^"^|-*2 M~ a defesa pessoal e so-
bretudo os graus mais
elevados são mercê da
Classe do Prof. Raul Cerveira - .SOSHUGUEIKO. (Treino de madrugada no Inverno ) prática através dos anos, indivíduos
fabulosos de instinto de defesa e
ataque. Os 7.' e 8." Dans de Judo,
sflo na sua simplicidade e grandeza,
os símbolos máximos da hierarquia
do Judo, dos quais temos em Por-
tugal o conhecido, respeitado e admirado,
Mestre Kloshl-Kobayashi, pilar onde assentam
as bases de todo o Judo Nacional, 8.° Dan do
Kodokan, a mais alta graduação na Europa.

(Mcitre H..l,...n.l,l executa o Kata-Gurntna)

-186 —
-187 —
BIBLIOGRAFIA I NDICE

Prefácio 11
EM LÍNGUA FRANCESA O Karate é a Isenção do medo 13

HABERSETZER R.: LÊ GUIDE MARABOUT DU KARATE Introdução 16


PLEE H. D.: KARATE PAR I/IMAGE, JUDO INTERNACIONAL. 1966 Os estilos do Karate 19
Karate e os outros métodos de Combate 28
EM LÍNGUA INGLESA
Princípios e fundamentos do Karate 32
DOMINY ERIC: TEACH YOURSELF KARATE Princípios Morais e Sociais do Karate 35
B. LOWE: MAS OYAMAS KARATE, SOUVENIR PRESS, LONDON 1964
NISHIYAMA H. ET BROWN: KARATE.THE ART OF EMPTYHAND FI- Técnicas do Karate 36
GHTING, TUTTLE, 1960. O endurecimento das armas naturais do corpo 41
OYAMA M.: ADVENCED KARATE, 1969
OYAMA M.: WAHT IS KARATE?, TOKYO NEWS CO 1958 Pontos Vitais 44
ZUZUKIT: KARATE-DO, PELHAM BOOKS, 1967 A Prática: É possível praticar Só? 48
As Técnicas de Base do Karate 50
EM LÍNGUA ALEMÃ
As Quatro Posturas Fundamentais 52
PAWELZ P.: KARATE, MTT BLOSSEN HANOEN Os dois ataques de Punho Básico 67
Plano geral de Técnicas 62
EM LÍNGUA PORTUGUESA
Introdução ao Estudo das Técnicas do Karate . 66
JUICHI SAGARA: "APRENDA O VERDADEIRO KARATE", Defesas em Blocagem 67
Edição Brasileira de Bolso, 1965
Os Quatro fundamentais Ataques 81
Pontapés com salto 100
OBRAS SOBRE O ZEN: EM LÍNGUA PORTUGUESA Ataques 104
ALAN W. WATTS: O BUDISMO ZEN Os Kumités 112
O Shiai 117
EM LÍNGUA FRANCESA Katas de Karate 118
As esquivas 147
H.BENOIT: LA DOCTRINE SUPREME SELON LA PENSÉE ZEN, E DE
LA COLOMBE. O Shiwari (testes de quebra) 149
D. T. ZUZUKI: ESSAIS SUR LT BOUDDHISME ZEN
LÊ ZEN — MARABONT UNIVERSITÉ, 1790 As graduações 155
Karate e defesa pessoal 157
EM LÍNGUA INGLESA
Karate e Zen 163
GLUCKJ: ZEN COMBAT, BALANTINE BOOKS USA
WILSON ROSSN: ZEN, STOCH, 1969 História do Karate em Portugal 170
SASKI, R. F.: ZEN DUST, ÉD. HARCOURT, NEW YORK, 1966 Endereços Úteis 173
LAO-TSEU: TÃO TE CfflNG, 1951
Bibliografia 188

— 188-

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