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KÁRATE
TODAS AS BASES
DE PRINCIPIANTE
A CINTO NEGRO
cs&gradecimento
FOTOGRAFIAS DO REPÓRTER
PEDRO GOMES
*É O HOMEM QUE
TORNA A VERDADE GRANDE,
NÃO A VERDADE QUE
TORNA O HOMEM GRANDE.*
CONFÍJCIO
PREFACIO
I
ções do corpo ao solo, foram totalmente abandonados, ficando como meios
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— 17 —
OS ESTILOS DO KARATE
O Shotokan-J. K. A.
HIDETAKA NISHIYAMA
7.o DA N — INSTRUTOR DA J. K. A.
do estilo Sholokan e Presidente da Federação de Karate MESTRE MASUTATSU OYAMA •
AH America Karate 1'ederation
Que multo admiramos, representante máximo do estilo Klokunhlnkal
que • par de figura mental excepcional, aniquilou um touro de 60O
-20- t C»., com um só golpe I I !
— 21-
cheados de proezas fantásticas em testes de quebra (Swiwari). Os Katas
são mais complicados e pouco conhecidos na Europa: Osurhiho, Seienchin,
Garyu etc..
A guarda de combate é estabelecida a partir de Neko-Ashi-pachi, po-
sição que define praticamente a particularidade do estilo Kiokushinkai.
Este método é praticado em todo o mundo e bastante difundido na
América, onde Mestre Oyama efectuou uma tournée que deixou todo o públi-
co abismado com uma tal potência.
MASUTATSU OYAMA
Meitre Gogen Vamannchl, o «Grande Mestre, do estilo
mo MmJUora Square Garden
G o J n - H y n , primeiro dtccípnlo de Chojum Myugy,
BB América, ••* rX.ren.hro d« 1»6» Presidente da Ai«oclaçfio Gnju-liyn em Tóklo
-22 — -23 —
O Goju-Ryu Os Katas desta escola são oe Sanchin, Tensho, Sanseru, Surapumpc,
etc.. Este estilo é pouco estético e elegante mas muito eficaz no combate
próximo. O lema deste estilo é: «À força opõe a souplesse, à souplesse opõe
Esta técnica é a tendência de estilo do velho Mestre Higaonna. Este a força».
verdadeiro gigante, de forças hercúlea, era partidário das blocagens estácti-
cas, para daí poder efectuar o contra-ataque em contracção máxima. Daí O mestre actual é o famoso Mestre Gogen Yamaguchi, mais conheci-
resulta uma série de movimentos e posições mais altas e de pouca amplitu- do por «Gato», que numa idade avançada (70 anos), mantém uma forma ex-
de, mas de tremendo poder. cepcional dirigindo a Escola Associação Goju-Kai, com cerca de 6000 parti-
cipantes. Este estilo é quase desconhecido na Europa. Uma das especialida-
des desta Escola é a execução dos Katas com uma respiração ventral sono-
ra.
Este estilo foi fundado no Japão por Gojum Miyagi e é praticado
actualmente no Japão e na América.
Gogen Yamaguchi, personagem e síntese do Zen-Karate, 10.° Dan e
patriarca do Goju-Kyu, é, com efeito, uma das figuras vivas que atestam o
Karate com forma quase sobrenatural. Sobrepõe-se, por isso, às que-
relas sobre a diferença dos estilos, tão apanágio nos graus mais baixos da
Europa.
Diz-se de Mestre Yamaguchi que o «seu olhar é tão penetrante como
um tigre», e o seu «poder semelhante ao de um leão».
De facto, a impressão do contacto com um Karateka que atingiu o
fim do caminho, ou mesmo com os seus discípulos, deve ser única, pois con-
tactar com mestres cuja evolução em «completa visão», «completa com-
preensão», «completa acção», «completa vocação», «completa aplicação», (as
verdades do Zen), é receber deles os meios de atingir o «completo acor-
dar», o fim do Karate-Zen, o «Sayori».
O Wado-Ryu
Tae-Kwondo
O Karate Coreano mantém sensivelmente as mesmas características do
Karate Japonês e tem conhecido grande sucesso, entre os praticantes dos
Estados Unidos, estando ai muito divulgado. Â unificação das escolas rivais
do Karate Coreano foi realizada pelo General Choi-Hong-Li, criador do mé-
todo do Tae-Kwondo que possui os seus Katas específicos. Existe também
neste estilo a graduação no sistema de Kyus e de Dans, sendo a graduação
mais alta a de 9." Dan. NANBU
Este método é de prática obrigatória no exército coreano. Recente;
mente Mestre Oyama, que é ele mesmo de nacionalidade coreana, visitou ó No «eu evtllo característico da eompotlçAo Slilto-Hjn
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sas técnicas balanceadas ao som do reco-reco, constituem um interessan-
te estudo. Temos, por exemplo, «o rabo de arraia amarrado», «a meia lua»,
«o voo do morcego», e algumas outras tipicamente brasileiras.
Esta luta, que se mantém ao nível dos bas-fonds, é praticada na maio-
ria pelos rufiões e mestiços brasileiros tendo a origem nas técnicas intro-
duzidas pelos orientais no Brasil. Foi depois adaptada por indivíduos na
maioria pouco escrupulosos e utiliza muito os sofismas ou truques (fingir
de bêbado, desistir da contenda voltando as costas para atacar depois
repentinamente, fingir chorar cobrindo a cabeça, o truque do «seu cara»,
O KARATE E OS OUTROS em que o capoeirista se finge amigo, agredindo depois os pontos vitais.
Estas técnicas mantêm o espírito e a psicologia própria aos mestiços brasi-
MÉTODOS DE COMBATE leiros. Muitos capoeiristas antigos usavam lâminas de barbear e mesmo
armas brancas nos dedos dos pés e das mãos, atingindo uma perfeição de-
veras séria.
Contudo, em relação ao Karate, é um tipo de luta bastante ingénuo e
Karate e Judo frágil, estando a desaparecer quase completamente a sua prática no Brasil
para dar lugar às Escolas de Karate que proliferam por todo o país.
Só em S. Paulo contam-se cerca de 50 Escolas de Karate dos estilos Shotokan,
Kiokushinkai e Tae-Kwondo. Aliás os únicos volumes sobre o Karate em lín-
Uma das primeiras perguntas que se põem aos leigos no assunto é: gua portuguesa são oriundos do Brasil.
qual a diferença entre o Karate e o Judo?
Em princípio, o Judo é apenas um desporto, não uma arte de guerra.
A competição e a forma moderna da prática do Judo fez deste um jogo, uma
prática convencional, uma vez que para combater é necessário a prévia
aceitação do «Kumi-Kata» agarrar o Kimono adverso. Por sua vez o Judo Karate e Boxe
divide-se em dois tipos de treino específicos: projecções e técnicas de con-
trole no solo, técnicas que o Karate só aplica como meios acessórios.
A resposta à pergunta é pois: a afinidade da prática do Karate em O Boxe é um desporto por demais conhecido para que seja necessário
relação ao Judo, é que ambos são praticados em Kimono. O Karate incide uma explicação dos seus meios, fins e técnica. Sem grandes possibilidades
também toda a sua pujança sobre a parte mental e a concentração como em luta de rua, devido à sua técnica se encontrar unicamente no tronco, o
meio de canalizar a energia máxima numa só acção. Boxe é, além disso, uma luta em que a esquiva é quase impossível no decor-
Não perdemos de vista que o Karate sob a forma sincera como se prati- rer de um combate. Vemos muitas vezes o vencedor de um combate
ca, é um combate livre, sem condicionalismos de qualquer espécie e, assim, ficar completamente desfigurado pela violência dos golpes que recebe.
todos os meios são válidos. Reproduzimos o pensamento de H. Plée: «Em O Karate possui um trabalho de pés de esquiva que lhe permite man-
Karate tudo é permitido», tudo o que é eficaz em todos os outros meios de ter à distância ou mesmo aniquilar o Boxeur pouco preparado ao tipo de
combate existe em Karate, sob o ponto de vista do homem lutando com os combate e de contracção. Sem qualquer preparação mental, os- Boxeurs são
meios com que a natureza o dotou para conservar a vida. É por isso que, se na maioria as vítimas dos interesses das organizações que os movimentam.
a base fundamental do Karate é composta por golpes com os punhos, o Contudo a técnica de combate do tronco é bem planeada podendo o
sabre da mão, dos pés, dos cotovelos, da cabeça, dos joelhos, são igualmen- Karate reconhecer a semelhança entre o «Uppercul», com o Ura-Tsuki, o
te permitidos os estrangulamentos, as projecções, as luxações, etc.. Mawashi-Tsuk! com o «Cross», etc..
Esta é a parte atraente do Karate. A sensação de dominar todas as té-
cnicas eficazes, dá-nos uma paz interior e uma calma que é difícil de en-
contrar noutros desportos de combate, que comportam limitações ou inter-
dições de qualquer espécie. Karate e Ailcido
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que certos músculos e nervos se encontram instantaneamente prontos a in-
tervir à mínima solicitação do «sentido». E aqui dizemos sentido pois não é o
pensamento que intervém neste caso, nem mesmo o consciente. Esta é uma
noção difícil de exprimir por escrito, pois é tão subtilmente intuitiva, que
só quem a sente a pode compreender inteiramente.
Com efeito, todos sabemos a importância da «ligação» do bloco, da ac-
PRINCÍPIOS E FUNDAMENTOS ção em bloco, e as «nuances» atravessadas por exemplo no recuo veloz do Ko-
kutsu acompanhado da blocagem e a contracção e descontracção atraves-
DO KARATE sada pelos membros inferiores e superiores ao passar ao contra ataque em
pujança.
TETSSUI URAKKN
As formas de batimento com as mãos e pés, joelhos, cotovelos, cabeça,
são variadas. Nós fixaremos as mais racionais, eficazes e, sobretudo, as Lateral do Punho Uercr*o do Punho
que se aprendem até ao 1.° Dan. Não é necessário possuir uma variedade
grande de técnicas para ser um bom Karateka mas sim conhecer em pro-
fundidade as fundamentais. Aos iniciados estas técnicas parecerão talvez
resumidas, em comparação com certos volumes da especialidade, noutras
línguas, que apresentam um «gabarit» variadíssimo de formas de bater com
a mão que só servem como prova documental das imensas possibilidades do
Karate. Queremos ser, sobretudo, razoáveis e dar a possibilidade ao prati- O reverso da mão - Uraken
cante solitário de aprender, mesmo em casa, a técnica de base
O Uraken é a parte do reverso da mão, sendo o golpe dado normal-
mente de cima para baixo ou de lado, como veremos mais adiante na descri-
ção detalhada.
Bases das armas naturais
O sabre ou cutelo da mão - Shuto
O Selken é o famoso Tsukl que quer dizer bater directo. É a mais de- O golpe cem a parte de fora da mão em cutelo é o meio de resposta mais
vastadora forma de batimento da bagagem do Karateka, e a única que per- conhecido e talvez o mais utilizado em Karate. Este golpe é muitas vezes a
mite utilizar toda a força em bloco do corpo no ataque.
Para conseguir um Tsuki com uma força deveras importante é neces-
sário começar pelo fechar da mão. Fechar primeiro as falanges da ponta dos
dedos, a seguir os nós dos dedos, apertando bem as unhas contra a palma da
mão; o dedo polegar deve apertar-se bem contra o indicador.
A face do punho deve ficar completamente direita. Para consegui-lo SHUTO — Sabre 4a
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identificação do Karate e oferece múltiplas possibilidades em combate. O cotovelo - Empi
Como o punho, a mão bem esticada deve estar sólida e sempre sob tensão,
o polegar deve dobrar-se contra a palma da mão para evitar entorses e lu-
xações. Este ataque é utilizado à garganta, às têmporas, nuca, flancos, raiz
do nariz, entre os olhos ,etc.. Em defesa, blocagens do punho, dos ataques O cotovelo, por estranho que pareça é a arma mais potente do corpo
de pés, etc.. humano. Esta parte do corpo pode bater em quase todas as situações jun-
to ao adversário. Particularmente eficaz no corpo a corpo, o seu emprego
necessita relativamente pouca força.
Pode executar-se directo, circular, para trás e para baixo e o impacto
As pontas dos dedos - Nukité
O Nukité são as extremidades dos dedos, como se vê na foto, e é muito
utilizado nos ataques à garganta e ao estômago. Este ataque é formado pela
ponta dos dedos reunidos ou pelos dedos separados (ataque aos olhos). As Empi — Cotovelo
técnicas de Nukité necessitam pouco do emprego da força e são de terrível
eficácia. faz-se com a ponta do osso do cotovelo (apófise do cúbito). Os pontos de ba-
timento podem situar-se na cabeça, plexo solar, abdómen, costelas, nas
costas e na espinha, sendo o golpe verdadeiramente esmagador se dirigido
A palma da mão - Teisho num movimento circular do exterior para o interior.
Como o cotovelo, o joelho possui uma terrível força. A articulação deve A Makiwara pode ser feita e praticada em casa mesmo que o Kara-
porém estar flectida no seu máximo. A aplicação é directa ou circular, po- teka frequente o «Dojo». No «Dojo», contra o que possa parecer, não deve
dendo usar-se nos ataques ao baixo ventre, cabeça ou costela, peito, abdó- existir nada que possa distrair o praticante da procura sistemática do aper-
men, dorso, segundo a posição do adversário no momento. feiçoamento das técnicas.
É fácil fazer uma Makiwara e colocá-la numa garagem ou no quintal.
O treino de Makiwara deve incidir sobre o Tsuki, Guyak-Tsuki e do Shuto.
O material ideal a utilizar na Makiara seria a juta entrançada
ou reforçada com ráfia. Um pedaço de tapete ou um bocado de borracha ser-
vem também.
Como podemos ver na foto, esse material é fixado na parte superior
de um pedaço de madeira, grosso em baixo e estreito no topo. Mais rudi-
mentarmente, pode ser também fixa a um tronco de árvore ou à parede, em-
bora não exista dessa forma a elasticidade e o «vai-vem» ideal à fixação da
pancada.
-40- -41-
nas extremidades depois dê mergulhar insistentemente as mãos, bem esti-
cadas, nessas matérias, que podem ser também o arroz, a serradura, fei-
jões. É um treino bastante desagradável mas que produz uma eficácia real
e uma insensibilidade completa nas pontas dos dedos, ao mesmo tempo que
se formam umas calosidades duríssimas.
Este treino é desaconselhado a estudantes de medicina ou músicos,
ou a quem exerça profissões que utilizem a sensibilidade manual, pois em-
botam totalmente o tacto das extremidades quando praticado sistematica-
mente.
O saco de areia
PONTOS VITAIS
1 — Têmporas
2 — Orelha
3 — Atraz do lóbulo da orelha
4 — Angulo do queixo
5 — Nuca
5 — Clavícula 30
7 — Externo 14 — Hipogástrico
8 — Peitoral 16 — Testículos
Ko - Kutsu - Dachi
A tradução significa «postura com o peso do corpo para trás». Nesta HACHICHI.DACHI YOI
posição a perna de trás é fortemente flectida, suportando 80 por cento do
peso do corpo. O peito apresenta-se de perfil mas a cabeça é conservada em
direcção à frente. O ideal é que o torso, as ancas, o joelho e o pé sejam con-
servados no mesmo ângulo da vertical. O joelho da frente fica muito ligei
ramente dobrado.
A utilização desta posição é essencialmente defensiva (Shuto por
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exemplo). Permite um recuo rapidíssimo a um ataque forte, recuo que de-
verá ser simultaneamente uma esquiva e uma tomada de forças para passa-
gem ao contra-ataque em Zen- Kutso.
-kl TM) OU Hl
Kiba - Dachi
Kiba-Dachi — quer dizer textualmente: <cavaleiro de ferro». Posição
desconfortável e difícil para o iniciado, só é compreendida mais tarde a sua
eficácia e extrema utilidade em. combate. Tecnicamente o peso é igualmente
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repartido entre as duas pernas, muito dobradas, com os artelhos dirigidos
para o interior exactamente como se montássemos um cavalo.
A força das pernas deve ser igualmente distribuída pelos músculos cos-
tureiros e pelos joelhos.
É a posição mais forte do Karate e a base das «Tekkis» (Katas de Cin-
to Negro).
Esta posição é utilizada para combater lateralmente apresentando-se
portanto de perfil em relação aos adversários, pois permite o controle OS DOIS ATAQUES DE PUNHO
quase total de todas as faces e possibilidades de defesa em todas as direc-
ções possíveis.
Os iniciados devem esforçar-se o máximo por adquirir estabilidade BÁSICOS
nesta posição, forcando o centro de gravidade (hara) em direcção a baixo.
Oi • Tsuki - Ataque
GVAKU-TSUKI
-60 — -61-
l
Bases e Derivadas
YOKO-10BI-GEHI MAI-TOBI-GEBI
DAS
TÉCNICAS DO KARATE Gedan-Barai — Parada Baixa
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AGE -UKE
Uchi-Uke ou Ude-Uke
Yoi, recuar a perna direita para ficar em Zen-Kutso. O punho esquer-
do vem à cintura e o braço que faz Hikité cruza na direcção oposta, para
bloquear. Dirigir o braço esquerdo para o lado, ficando o punho a fazer for-
ça para o exterior de maneira a bloquear com o pulso. A rotação do punho
Uchi-Komí - Entrando
Este bloqueio executa-se como o anterior Soto-Uke, sendo apenas, con-
tinuada a trajectória do punho que roda para dentro até à altura do ombro
oposto, permitindo assim o varrimento total. O interesse desta técnica é evi-
dente no corpo a corpo ou quando se avança sobre o ataque.
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Morote-uke - Biocageffl a duas mãos
Técnica de blocagem, semelhante a Ude-Uke, mas onde o punho
oposto, em vez de fazer Hlkité, é lançado na mesma direcção para acres-
centar força à blocagem e ao mesmo tempo permitir um ataque instantâneo.
É executada em Ko-Kutso Dachi, que permite uma defesa potentíssima
recuando ou avançando em ataque.
S H U T O
Noklté — Ataqi 10 com •• ponta* do* ded« Ura-Tcnkl — "Uppereut", icmelhanto à técnica do paglllimo do menino nome
-80- -81-
l
Mae-Geri - Pontapé directo (Face)
Para Mae-Geri levanta-se o joelho bem alto e o mais rápido possível,
diante do busto, levantando os artelhos e contraindo os dedos dos pés para
cima. Ao mesmo tempo lança-se a perna para a frente, o mais longe possí-
vel, procurando encaixar bem a articulação do joelho e utilizando um mo-
vimento de entrada de ancas simultâneo na direcção do impacto.
Mne-Cerl
-82- -83-
i
É preferível de início executar o «Kekomb à altura da cintura, até
adquirir força suficiente, do que bater alto mas sem força nem eficácia. É
bom também treinar o movimento sem pousar o pé no solo para adquirir
estabilidade. A técnica pode ser treinada a partir de Yoi ou de Zen-Kutso.
-4?
{MT Jxr^HHM>HKSi
A|>«-»»r da aparente pujança técnica dente Mae-Geri, enta foto tem um defeito
Importante, o pé de apoio deve miar bem apoiado no noto, mesmo em eombate
Mae-Geri — Jodan
-85-
,
Yoko-Geri - Pontapé para o lado
Este ataque é feito mantendo o sabre do pé paralelo ao solo. Pode exe-
cutar-se de início a partir de Yoi levantando o joelho à altura do ombro,
como para Mae-Gery, e lançando depois a perna e anca na direcção late-
ral, até adquirir a fixação do impacto.
Num estado mais avançado toma-se a posição Kiba-Dachi, avança-se Yolto-Gerl — Exemplificação
lateralmente transferindo o centro de gravidade nessa direcção e levantando para Kihon, avançando, pode tomar-se a posição Zen-Kutso-Dachi e pi-
a perna oposta efectuando o movimento de. perfil em relacção ao adversá- votear sobre o pé de apoio a 90 graus. Aí, da posição de frente passamos,
rio. Ainda num outro estado de treino um pouco mais avançado e mesmo com a execução do golpe, que deve ser seco e potente, a estar também de
perfil para o adversário no momento da pancada. O treino intensivo vos
Y«ko.Cerl.J«dai
Yoko-Ccrl — Exempllcaefta
— 87 —
— 86 —
l
YOKO-GERI - CONTRA ATAQUE
4 AGRESSÃO COM PEDAÇOS DE C4RH4F1
-89 —
4
M
Mawanhl-Geri
— 92
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SEQUÊNCIA ATACANTE
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eri - Pontapé circular com a planta do pá cruzando Fumikomi - Pontapé para baixo a esmagar
O Fumikomi é chamado o pontapé esmagador por se aplicar nele toda
Este é um pontapé dado com a planta do pé (Teísoku) ao peito do a força do corpo em direcção abaixo com intenção de esmagar. É muito utili-
adversário. É muito poderoso e mais directo do que Mawashi-Gery. A tra-
jectória da face do batimento é circular mas num plano mais próximo da
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I
zado quando o adversário cai, para se esmagar o crâneo. Ê também utilizado
como ataque ao joelho sendo terrivelmente perigoso, pois aniquilaria o joe- Hittsui-Geri - Joelhada circular ou directa
lho para toda a vida. É interdito o uso em competição.
Muito utilizado nos filmes. No combate de rua, o joelho, arma potentis-
sima, só tem eficácia no corpo a corpo quando o adversário se curva para
cabecear, por exemplo. É muito útil no combate real, especialmente no ata-
que ao baixo ventre. Pode ser mortal.
100- 101 —
elas rcprosontnm também um estupendo exercício acrobático muito útil ao
il<-.\envolvimento gonil c tnmbém um bom exercício ginástico.
Os r.'.iil<>.'; tlr K;ir.itr coreanos possuem uma extraordinária variedade
de técnicas salUidtis e os seus combatentes aplicam-nas com uma facilidade
<!• •.••ronri-rl.-iiilc. como ;;<• i|',iioni::som as leis da gravidade.
Mae-Tobl-Gerl
Os famosos ataques com as pontas dos dedos não têm nada de fanta-
sistas e o próprio Nukité clássico é de tão terrível poder que é interdito em Ataque* em Oj-Tsukl defendido* com Shnto-Hke
competição legal e com justa razão. O Karate, nos moldes em que é pratica- « contra ataque Shuto-Jodnn à* coitela* e à Tela Jugular
do nos tempos modernos, não visa já o arrancar imediato dos olhos do adver-
sário. No entanto, o estudo do Nukité é mais que nunca pertinente. A execu-
ção faz-se desta maneira: a mão deve partir do Hikité clássico acrescen-
Ura-Tsuki - Soco para cima
tando uma velocidade a maior possível até ao encaixe da articulação do coto- Muito semelhante ao Uppercut do pugilisino, parece-nos que esta té-"
velo. Os principiantes têm a tendência para confundir os dois termos japo- • "" •> i' m ::iil<> um pouco descurada em alguns Dojos. Em Katas aparece no
neses Nukité. e Hikité. O Nukité é, pois, o ataque com a ponta dos dedos e o ' •" l Lm lvv<-<-utn-.sc fazendo um movimento circular de baixo para cima, per-
Hikité o movimento de retorno do punho à anca. mllliulo i . - i i n l i c i i i um desdobramento e combinação de ataques muito eficaz.
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Lançado, por exemplo, ao coração, com penetração, pode causar a
Mawashi-Tsulci - Kagi.Tsuki - AtaQUBS CÍFCUlarOS morte. É, pois, necessária muita prudência na sua aplicação no treino de
tDojo».
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Tettsui - Martelo da mio - Palma da Mio
O martelo da mão, poderossíssima pancada, segue as normas da técni-
ca de batimento do shuto, mas com a mão fechada. É uma técnica de eficá-
cia terrível quando o batimento se faz na nuca.
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110 —
OS KUMITÉS
SISTEMAS DE TREINO
CONVENCIONAIS E LIVRES
(SHOTOKAI)
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-
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N.° 6 — foto 6: réplica do tempo 3 — Heisoku-Dachi-Kagi-Zuki-direi- N.° 7 — foto 7: Migi-Kokutsu-Dachi, em frente, fazendo Chudan-Mo-
to-Hikité-esquerdo. Cabeça dirigida à linha central do Kata. roté-Uke.
126 — — 127 —
N.° 8 — foto 8: avançar na mesma direcção em Zen-Kutsu e bloquear
em Gedau-Juji-Uke. N.° 9 — foto 9 : elevar os Braços sem mover o Zen-Kutsu rápida e
directamente em Jodan-Judi-Uke.Mãosabertas.
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N.° 10 — foto 10 : fazer um movimento de rotação, com as mãos aber-
tas, sem perder o contacto com os pulsos, levando-as «o fliin
co, cruzando a esquerda sobre a direita. Este movimento, em
interpretação, significa uma prisão ao braço que ataca ao N.» 11 - foto 11 : na sequência do ataque precedente, atacar imedia-
rosto e que, assim, é bloqueado. Depois da prisão do braço tamente em 0!«-Tsuk!-Chudan. com «Kiab, marcando 2 se-
puxa o adversário para nós, apresentando o flanco r «s
porás, atacar seguido com Chudan-Tessuí gundos de paragem, em Migi-Zen Kutsu-Dachi
-130-
-131 -
N." 12 — foto 12 : Um novo adversário ataca directamente atrás .No
fim do movimento anterior estamos, pois, de costas voltadas à
parte central do Kata. Pivoteamos sobre o pé esquerdo N.° 13 — foto 13: em Kiba-Dachi, voltar a cabeça à esquerda, fazer
180° para a esquerda e para trás fazendo Fumlkoml alto, des- Chudan-Ha!shu-Uke. Punho direito em Hlkité.
cendente ao joelho com a perna direita, fazendo Ktba-Daehl-
-Mtgl-Gedan-Baral.
— 132 — 133 —
N.° 14 — foto 14: fazer Mikazu-KI-Geri do pé direito, tomando a mão N.° 15 — foto 15: No mesmo encadeamento e aproveitando a força cir-
estendida como alvo do batimento. O mesmo movimento per- cular das ancas, ao pousar o pé direito em Kiba-Dachi, fazer
mite o pivoteamento de 180." Mae-Empi-Uchl direito tomando como alvo do batimento a
mão esquerda.
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N.» 17 _ foto 17: fazer Ura-Tsuki (uppercut), do braço direito, com
uma rotação seca de 180.° dirigida ao eixo central do Kata. A
N.° 16 — foto 16: encadear o movimento seguinte: Migl-Uraken-Uch!
em Kake-Dachi. O punho esquerdo vem ao plexo e os joelhos perna esquerda faz Neko-Ashi-Dachi. O punho esquerdo imo-
baixam para dar força e equilíbrio ao movimento do Uraken. biliza junto ao ombro direito.
136 — -137-
N.° 18 — foto 18: salto para o ar e em profundidade rodando o corpo
no ar, caindo face à esquerda do eixo principal do Kata em N." 19 - foto 19: rectificando o pé direito em direcção ao eixo central
Juji-Uke, a bloquear um ataque de pé. O salto significa uma do Kata, executar um Mlg1-Zen-Kutso-Daehl-Morot«-Uke-
passagem sobre um ataque de bastão às pernas. No ar lançar
-Chudan.
um «Kiafo sonoro.
-138 — -139-
N.° 20 — foto 20 : rotação de 180.° para trás e para a esquerda, fazen- N." 21 — foto 21: passar à Kokutso-Dahi executando Gedan-Barai, es-
-Nuktté e Teishu-Uchl da mão direita, descendo a Hidari-Zen- querdo, e Jodan-Uchi-Uke direito, para trás, estes movimen-
-Kutso-Dachi. tos são blocagens duplas, contra, dois adversários, que ata-
cam um por de trás, e outro pela frente.
— 140 — — 141 —
N.° 23 — foto 23: pivotear sobre o pé esquerdo, invertendo a posição
N.° 22 — foto 22: lentamente, juntar o pé esquerdo contra o direito das blocagens e avançar o pé direito em M!gi-Zen-Kutso-
em (Heisoku-Dachl) (pés juntos). O alto do corpo conserva -Dachi, executando ao mesmo tempo o movimento do tempo
(20) Gcdan-Nukffé e Telsho-Uchi.
a posição das blocagens anteriores.
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N." 24 — foto 24: passar a Koktuso-Dacht, com a blocagem dupla do
tempo 21 (Gedan-Barai, direito, e Jodan-Uchi-Uke, esquerdo).
Voltar a Yoi, ao ponto de partida exacto do inicio da kata. Sau- TOMAR A POSIÇÃO DE YOI
dar em Ritsurei.
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KATAS COM ALTERES DE 2 KILOS
AS ESQUIVAS
TAI-SABAKI (KAWASHI)
s
A tabela acima é a tabela válida para o ocidente, acordando ao prati-
cante ocidental a satisfação intermediária das cores, citadas acima, não é
-154 -
-155-
a nós porém, modestos principiantes do Karate que nos compete comentar
esse factor. Aconselhamos o praticante a não se prender muito à graduação,
não esquecendo que o Karate é um arte, e como tal pouco permeável a uma
classificação exacta do valor de cada um. A um certo nível isso é uma coisa
que só se pode apreender por intuição, e essa só os verdadeiros mestres a
possuem com capacidade para julgar com imparcialidade e exactidão. «O
primeiro princípio, para o estudo do Zen ou de qualquer arte do extremo
oriente, é a «calma». A pressa, e tudo o que ela envolve, é fatal, porque não
há alvo a ser atingido. A partir do momento em que se concebe, um alvo,
torna-se impossível praticar a disciplina da arte, dominar c próprio rigor
da sua técnica». KARATE
Estas palavras adaptam-se bem ao que pensamos e ao que todos de-
viam pensar acerca das graduações. E DEFESA PESSOAL
-156- -157-
são de utilizar, mas em Karate é sempre necessário cuidado em não atingir a melhor defesa, é... o ataque, a antecipação a tudo o que o adversário pos-
pontos vitais. sa pensar ou fazer. Assim, num ataque contra mais de 3 indivíduos, impor
Nos tempos que correm, em que a violência campeã quase livremente sempre o ritmo do combate, e procurar a aniquilação de cada um com um só
nas grandes cidades da Europa, assistimos, ou lemos, diariamente, casos em golpe ,o efeito psicológico, é também chocante, e a nossa experiência, em
que o mais forte, na altura, faz a lei. A injustiça, e intolerância dos homens, combate de rua, diz-nos que depois de saírem dois realmente feridos, to-
a carga psicológica, a pressão do progresso faz não raramente o homem dos os outros debandam. Recordamos uma vez em Durban em 1961, enfren-
explodir violentamente, contra o seu semelhante. Por outro lado, o crime, t/iino:; ;ilrnri-mi'Mte uns 15 indivíduos, marinheiros gregos, num combate
a violação, o roubo, o desrespeito pelo ser humano são uma constante nu- < i i i r durou apenas 5 ou 10 minutos e, para surpresa nossa, saímos ilesos
ma sociedade em contínuo progresso tecnológico e retrocesso humanístico! < ! < > incidente, deixando apesar da nossa pouca idade (18 anos) 4 indivíduos
. i.imdidos no terreno, batendo depois prudentemente f m retirada .E isto
•-MI 11 mu Karate mais que rudimentar.
K H;in> que, nestas circunstâncias, o factor espírito e o desprendimento
l(i!:il prl;is consequências é fundamental. O indivíduo só pode ser realmente
do m.-imo, se não agir inibido pelas convenções e ao mesmo tempo «não
t.t-r n.ida a perder».
Nada melhor pois, que estar preparado, para a defesa, pois mesmo
que um ataque de meliantes aconteça uma vez na vida, não nos
arrependeremos, das horas passadas no «Dojo». Mas não es-
quecer que um Karateka real sabe dar às coisas e às situações a justa me-
dida, agindo sempre a favor do mais fraco, da justiça, da ordem constituí-
da, da disciplina social, e jamais para satisfazer um ódio pessoal, ou uma sa-
tisfação íntima, de aniquilar alguém.
O verdadeiro Karateka, não é de modo algum o rufião que tenta
fazer prevalecer os seus pontos de vista à força ou dentro do «Dojo», co-
mo infelizmente há alguns!...
Damos alguns exemplos fotográficos de defesa, mas aconselhamos, que
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Quando o homem superior ouve falar do Tão
Faz o possível por o praticar.
Quando o homem médio ouve falar do Tão
Umas vezes o guarda, outras o perde
Quando o homem inferior, ouve falar do Tão
Ri dele em altas gargalhadas,
Se não rir, é que não é o Tão.
LAO-TSEU
-161-
KARATE E ZEN
Se és um verdadeiro homem.
Podes perfeitamente levar o boi do agricultor,
ou arrancar a comida, a um esfomeado.
Yuan-wu
-163-
O caminho (Do), a «via», oferecida pelas artes marciais, ou pela me-
ditação, é uma das muitas «vias» orientais para o homem se transcender Estes princípios do taoismo, de difícil interpretação apesar da apa-
e encontrar-se, «ver claro em si mesmo», penetrar através do sentimento rente simplicidade dos conceitos, fazem-nos tomar consciência da insepara-
e da intuição na fonte de divindade que existe nele mesmo, num estado de bilidade do bom e do mau, do agradável e do doloroso, tão idênticos nas suas
profunda sub-jacência! diferenças como complexos na difinição e limites.
Nesse estado absoluto, ou somente na procura de «estar sobre a Assim vejamos num «Koan», (poema Zen) do «Zenrin Kushu».
via» (Do), o corpo não é geralmente um obstáculo mas, pelo contrário, uma
ajuda para a vida espiritual, para conseguir a unidade de corpo-espírito e Encontrar fatalidade é encontrar boa sorte,
resolver esse dualismo para poder libertar-se e chegar ao «satori», ao com- Encontrar harmonia é encontrar oposição.
pleto «acordar».
-164 -
-165-
T
Não tentaremos explicar ou traduzir o pensamento subjacente de Lao- das vezes, o homem age, não definitivamente por si próprio, mas por moti-
-Tseu, mas diremos que a ideia «não é reduzir a mente à vacuidade, mas vações e reacções que lhe escapam e são conduzidas por uma fonte que está
trazer à tona do consciente a sua inata espontaneidade! » para além do seu próprio controle.
Bodhidharma, que os historiadores apontam como o primeiro codifi- Não nos afastando das reacções entre o atingir do Zen e o combate
cador dos movimentos do Karate-Do como meio de unificar o espirito com dtamos a atitude correcta em combate total segundo Lao-Tseu:
o corpo, e que esteve nove anos em meditação disse: «Apontando directa-
mente à própria alma, minha doutrina é única, e não é assolada por ensina-
mentos canónicos. É a transmissão absoluta do verdadeiro sinal». «A perfeição para o que comanda é ser pacífico. Para o que combate é
O Zen é, acima de tudo lucidez, serenidade e mesmo felicidade per- n*o ser colérico; para o que quer vencer, é não lutar!».
feita e contínua, factores bem difíceis, senão impossíveis, segundo os «Vejamos o Tão do céu; excelente a vencer sem lutar; excelente a
cépticos, de conseguir num mundo como o actual em que o ser humano é convencer sem falar, fazer vir expontaneamente sem chamar; realizar per-
um joguete à mercê de todas as influências e situações ocasionais. O espíri- feitamente sem actuarl».
to do Zen é bem definido por D. T. Zuzuki, mestre incontestado do Zen:
«A vida desenha o seu desenrolar sobre uma tela chamada «tempo» e o
tempo nunca se repete. Uma vez partido, ele parte para sempre. O mesmo É claro que todas as vias se completam e assim Judo, Karate-Do, Ken-
no acto, uma vez praticado não pode ser desfeito». Porquê nos parecem os -Do, Aikido, Tiro ao Arco, Arranjo Floral, Meditação, Zazen, Vida Ascética,
conceitos, pensamentos, reflexões, sutras, «Koans», tão enigmáticos, parado- Disciplina Zen, são caminhos que preconizam directamente a ascenção ao
xais, ilógicos, risíveis mesmo, dramáticos umas vezes, anedóticos outras? estado de «acordar», implícita até na simples cerimónia do «beber o chá»,
Qual o pensamento ou ideia dirigida que produz essas formas de conheci- dos orientais. Muitos praticantes assíduos e entusiastas do karate arris-
mento contraditório? Que formas de especulação presidem a uma coisa que cam-se a severas desilusões se julgam,depois de lançar muitas vezes uns
é ou não pode deixar de ser sincera? Para aqueles que associam religião a Kiais, vaguear nas alturas do Zen!...
hipocrizia ou pusilanimidade, um mestre Zen ou de Karate parecerá uma Estas páginas são dirigidas, nós sabemos a quem. E o Karateka sim-
pessoa extremamente grosseira. «Tokusan», um dos maiores mestres, quan- ples e humilde sabe que é pela intuição que as poderá compreender, re-
do ensinava no templo, costumava brandir o seu enorme bastão gritando: lendo-as de tempos a tempos para se encontrar, pois a mutação no homem
«Pronunciai uma palavra e dar-vos-ei trinta pancadas. Caso não digais nada é contínua e a própria capacidade de compreensão de ontem pode ser já
levareis trinta golpes na cabeça». diferente da de hoje. Como alguns sabem, a pureza do ataque é fundamental.
Aqui aparece a primeira fase da tentativa do mestre para libertar a Em Karate, Tsuki deve partir sem intensão. É esse, na generalidade, o
mente dos discípulos da escravidão da lógica, ruína da humanidade. O mé- fim a atingir em artes marciais: o vazio, a descontracção, o abandono total
todo da disciplina Zen consiste em colocar o indivíduo diante de um dilema de toda a avidez, de orgulho de tensão e até de vontade de atingir qualquer
do qual ele deve tentar escapar, não através da lógica mas sim através de fim definido, o próprio fim. Tomamos por exemplo um mestre famoso de
uma mente completamente liberta, onde o ser se manifeste sem sofistica- Tiro ao Arco, (uma das expressões mais impregnadas da atmosfera espiri-
ções da realidade concreta. tual e religiosa dos orientais). Esse mestre depois de uma vida dedicada a
«Se realmente quisermos atingir o âmago da vida, temos de abandonar atingir o domínio do Tiro ao Arco, ao ponto de apagar uma vela de olhos
os nossos silogismos, adquirindo um novo modo de observação através do vendados, esquece tudo e abandona o instrumento com o qual tinha pro-
qual possamos escapar à tirania da lógica e do aspecto unilateral da nossa curado durante toda a vida, esta verdade: «O estado último da actividade
fraseologia quotidiana». Como nos diz D. T. Zuzuki, o Zen, sendo acima de é a inactividade; o estado último da palavra, é o silêncio; o estado último
tudo uma técnica de descondicionamento para vencer a inércia, adopta os do tiro ao arco, é não atirar!». Substituindo o tiro ao arco por Karate, nós
seguintes recursos: 1: paradoxo; 2: ultrapassagem dos opostos; 3: contradi- teríamos: «o estado último do Karate é não combater».
ção; 4: afirmação; 5: repetição. Com efeito, finalizando a construção do edifício, podem-se deitar
A acção directa é utilizada e por isso choca a maioria dos observa- fora os andaimes. Andaimes são a técnica do Karate e o edifício sólido, impo-
dores, pancadas, empurrões, choques, gritos ou mesmo a dor injensa, são nente é o espírito o carácter a realização do aproveitamento mental sem
meios de atingir o «satori», o «nirvana», o «acordar», o estado último do a qual o Karate nada vale, e assim melhor será não o praticarmos, ou prati-
Zen! E podem consegui-lo imediatamente e contra anos inteiros de procura car o box ou a capoeira, desportos sem preocupações filosóficas ou místicas
ascese e meditação. sem qualquer fim a atingir.
A auto-destruição do indivíduo começa com a paixão,, de que a compe-
tição desportiva é bem o símbolo; por isso os japoneses falam de mestres
Como uma espada que corta, mas não pode cortar-se a si própria. e instrutores; «O mestre é eficaz porque ele conseguiu, despojar-se de toda
Como um olho que vê, mas não pode ver-se a si próprio. a palxio perturbadora».
O pretender provar, qualquer coisa é já uma forma acentuada de neu-
rose, de angústia dos tempos modernos. Cada um pretende provar aos outros
Esta é.segundo o pensamento Zen, a definição da mente. Na maioria a sua superioridade. Mas já vimos alguém tentar provar o que é inferior?
-166- — 167-
T
Salvo é claro, Pessoa no seu «poema em linha recta». tlcularmente feliz, só cpm a diferença de não participar, com a unidade
corpo-espirito, o dissecar de toda a existência, através da fria análise, ló-
gica e Intelectual. É caminho profundamente errado, para estabelecer um
«Nunca conheci quem tivesse levado porrada. contacto com o Zen.
Todos os meus conhecidos têm sido campedes em tudo». A superficialidade da nossa consciência é tal que basta considerarmos
«Eu que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado*. o facto de não controlar o organismo humano nem poder fazê-lo. Todos os
órgãos funcionam independentemente do haver ou não consciência disso, e
<> organismo é, assim, regulado pela «mente original», o «mental cósmico».
O Zen ultrapassa, pois, toda a lógica e actua perante o mundo «com Assim a consciência superficial pode atingir a outra se deixar um certo nú-
uma branda indiferença». mero de prisões que a condicionam e obrigam a circunscrever-se como um
O Zen, com a isenção do temor, projecta o homem muito adma dos MTVO ;Vs suas limitadas actividades, pensar, ter a noção do passado, presen-
valores normais mas sem com essa superioridade, tomar consciência disso i< ou futuro. Essa seria a libertação do ego. Ultrapassar esse «eu» que é
em relação aos outros ou sem, pelo menos, fazê-la sentir de forma concreta. o conjunto do corpo, das emoções, dos pensamentos conscientes e incons-
À definição de absoluto não é: que existe por ele mesmo e não depende cientes, da memória, que o Zen denuncia como ilusório e impermanente e a
de ninguém? Pois essa é justamente a atitude do homem em relação ao lógica ocidental considera, erradamente, como real e permanente. O clima
mundo, o homem-Zen. específico da experiência Zen é, no «satori», conseguido por qualquer meio.
Em relação ainda ao mundo ocidental e mais ao mundo português, Uma jornada fantástica de verdadeiro renascimento, em cada novo dia a vida
nós temos um mestre Zen, mas que na realidade não existiu: Alberto Caci- toma um carácter extremo de expontaneidade e beleza. Em cada momento
ro: se Fernando Pessoa fosse Alberto Caeiro e nada mais, ou se Caeiro exis- nós sentimos bater o ritmo da essência da própria vida, em plenitude abso-
tisse por ele mesmo, era um mestre de Zen: luta, onde as palavras não conseguem revelar a dimensão exacta.
Vamos então, tranquilos, no transitório espaço de tempo em que de-
corre a nossa ex-istência, em direcção ao velho sonho da humanidade: a fe-
Como um grande borrão de fogo sujo licidade. Com a solução: anunciada por Sócrates: «Conhece-te a H mesmo»,
o sol posto demora-se nas nuvens que ficam». nós estamos no limiar de um caminho que por vias diferentes, desembocam
todas no mesmo plano: a libertação da angústia milenária do homem na
procura infrutífera das suas origens.
Como diferenciar estes versos de Pessoa, dos poemas Zenrin: Mas aí chegados, e à pergunta inevitável, à questão sempre presente
«onde atingir esse lugar de paz e serenidade, onde não mora o «mal nem o
bem», nem o «ser» ou o não «ser», nem o «interior ou exterior», nem o meio
«Calmamente sentado, nada fazendo nem o vazio, nem a abstração ou a não abstração?», só podemos responder
A primavera chega e a erva cresce por si própria». com o dualismo das eternas metáforas Zen:
Uma profunda unidade de pensamento une Pessoa, ou melhor, A. Caei- «O jardim está em nós».
ro, ao Zen e aos Koans, aos Haikus japoneses, ao Zenrin: P. T. Zuzuki
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do principalmente à falta de contacto com instrutores mais qualificados.
Para obviar a este mal decidiu a União Portuguesa de Budo contratar um
mestre japonês para dirigir um estágio em Portugal, tendo a escolha re-
caído no Mestre Tetzuji Murakani, 5.° dan.
Mestre Murakani possui a mais alta graduação concedida pela escola
Shotokay, de Tóquio, a qual, dentro da regra tradicional japonesa, não atri-
bui graduação superior à de 5.° dan ao contrário de outras escolas. Este
técnico japonês, com residência fixa em Paris foi o primeiro mestre japo-
nês a vir ensinar Karate na Europa, onde começou a exercer a sua activi-
^Drev vidade, em vários países, há cerca de 15 anos.
O primeiro estágio dirigido por este Mestre teve lugar na Academia de
Budo em 1969 e a este mais cinco se seguiram, até ao presente, quatro em
Lisboa e um no Porto. Em 1970, M. Murakani foi nomeado Director-Técnico
DO KARATE SHOTOKAI da secção de Karate da União Portuguesa de Budo, tendo todos os clubes,
academias e centros de Karate filiados nesta União aderido ao estilo de
Karate praticado por aquele Mestre. Com o impulso dado por M. Murakani
a partir do primeiro estágio pode dizer-se que hoje se pratica nos centrosi de
em t^or tu ai Karate portugueses por ele dirigidos superiormente um Karate já bastante
bom para o nosso meio, devido não só ao facto de ele ser um técnico de
alta craveira, como igualmente às excepcionais qualidades didácticas que
possui. Muito tem também contribuído para este progresso a deslocação
frequente de instrutores portugueses deste estilo a França, onde têm fre-
quentado estágios dirigidos por M. Murakani. Mais rápido não tem sido o
O Karate começou a praticar-se no nosso País na Academia de Budo, progresso do Karate Shotokay em Portugal por virtude dos espaçados con-
em Lisboa, já lá vão quase dez anos. tactos com o Mestre, e, principalmente, por ser aquele método bastante di-
Foi, com efeito, em 1963 que o Dr. João Luís Franco Pires Martins, fícil. Na realidade, o método Shotokay caracteriza-se por um trabalho men-
instructor daquela Academia, resolveu incluir nas suas aulas de budo-judo, tal grande e por um treino físico não inferior ao de outras escolas e até na
como complemento, algumas noções da arte do combate de mãos, mas o maioria dos casos superior, por exigir posições extremamente baixas, o que
entusiasmo manifestado pelos praticantes conduziu a que fossem criadas torna a prática bastante penosa embora benéfica.
imediatamente classes especiais de Karate. Até à vinda do Mestre Murakani praticava-se no nosso país, nos cen-
Naquela época os conhecimentos que se possuíam sobre a arte eram tros filiados na União Portuguesa de Budo, o estilo Shotokan, versão J. K.
ainda bastante rudimentares, razão que levou alguns dos mais fervorosos A. (Japan Karate Association). O método seguido pelo M. Munakani é o da
praticantes, desejosos de progreso, a serem autenticamente autodidatas pe- escola Shotokay dirigida em Tóquio pelo Mestre Egami (antigo discípulo do
lo recursos a livros, filmes e outros meios sobre a modalidade. Daqui nas- Mestre Funakoshi Gichin que se distingue do de outros grupos Shotokay,
ceram os primeiros instrutores que começaram a ser encarregados do ensi- entre eles o do Mestre Hironishi.
no na Academia de Budo, cujo número de praticantes de Karate aumentava O método da escola Shotokay — Egami utiliza os mesmos nomes de
incessantemente de ano para ano. técnicos, posições, etc. da escola tradicional Shotokan do Mestre Funakoshi,
Mais tarde, precisamente em 1967, surgiram na cidade do Porto mais assim como inclui e pratica os mesmos katas. Como aspectos que o diferen-
duas Academias, primeiro a Bushidokan, seguida da Joshinkay, ambas fi- ciam de outras escolas, podem citar-se como principais: a) maior descon-
liadas, como a Academia de Budo, na União Portuguesa de Budo, organismo tracção; b) posições mais baixas; c) um maior relevo dado ao aspecto men-
que representava o budo perante o Estado. Â um nível mais privado come- tal que culmina no denominado «irimi».
çou também a praticar-se o Karate nalgumas empresas, clubes desportivos Este último aspecto mental (irimi) considera que todas as defesas
e colégios, sob a orientação de instrutores nomeados pela União Portuguesa tem que ser feitas em completa antecipação, «sentindo o ataque» e não «ven-
de Budo. do-o». Aqui reside a harmonia entre atacante e atacado na qual consiste,
Alguns anos passados sobre o começo da prática da arte, reoonhecia-
-se a estagnação dos conhecimentos e a insuficiência do nível técnico, devir , afinal, a essência do budo. No fim de contas, não existe atacante e atacado
exclusivos, pois ambos constituem como que um só.
Segundo este princípio, em Kutnite nunca se deve defender recuando,
— 170 — -171-
pois isto permite um segundo ataque do adversário, mas sempre avançan-
do, o que se consegue «sentindo» o ataque no momento preciso e avançando
antes da sua concretização pelo adversário. Para que esta eficiência possa
ser atingida exige-se, entre outras características, muita rapidez, o que só
se consegue trabalhando em descontracção.
Outro princípio preconizado pelo Mestre Murakani é que a progressão
do Karateca não tem limites por força da idade, pois se com o avançar des-
ta o poder físico diminue, não existem, por outro lado, limites para o desen-
volvimento mental.
Endereços úteis para a Prática do Karate
Com a publicação do decreto-lei n.° 105/72, de 30-3-72, ficou o Karate,
assim como todas as modalidades consideradas por aquele decreto como ar-
tes marciais.dependente da Comissão Directiva das Artes Marciais, integrada
no Departamento da Defesa Nacional. Quaisquer que sejam as consequências ACADEMIA DE BUDO
regulamentares resultantes deste facto, não restam dúvidas que o desenvol- ARTES MARCIAIS
vimento do Karate em Portugal virá a depender essencialmente do interesse
e esforço que vier a ser desenvolvido não só pelos praticantes, mas também, RUA VISCONDE DE SEABRA, 18 - LISBOA A
e principalmente por aqueles que, duma forma ou outra, desempenharem
funções de direcção ou de orientação técnica. SECÇÃO DE KARATE DO
JUDO CLUBE DE PORTUGAL, 36 A
Nestor Pereira
RUA D. CARLOS MASCARENHAS, (CAMPOLIDE) LISBOA
SECÇÃO DE KARATE DO
JUDO CLUBE DE LISBOA — LISBOA
-173 —
-172-
BUSHI DO KAN
R. DO RIO, 572 — PORTO
SECÇÃO DE KARATE DO
JUDO GINÁSIO DE PORTIMÃO - PORTIMÃO
SHOTOKAN KARATE-DO
SPORT CLUBE CONEVtBRIENSE — COIMBRA
KIO—SHU—KAN—
ALVALADE — LISBOA
l A l - 1972
li
II
ENCONTRO GERAL, PARA SHIAI DE ALUNOS DE R. MENDONÇA - 1972 - 2 DE JUNHO l "Nu anu uru o» Cinto» Mfjjrus ! Itebuln, Cerveira, Mendonça, Gouveia e Lima.
Kodriguei» e Nestor
— 177-
•HOTOKAN-KARATE-DO - COIMBRA
— 178- -179-
Shlwarl He um tijolo (R. Mendonça)
-181-
TESTE DE QUEBRA C MENDONÇA )
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-182-- — 183-
O BUSHIDOKAN - PORTO
l
Sob a Orientação do Eng.° António Valente Pereira Cacho. Cinto Ne-
gro, o Karate no Porto tem sofrido nos últimos anos um desenvolvimento
surpreendente, e jamais atingido por qualquer outro desporto de combate.
O Bushidokan Centro de Karate com magníficas instalações próprias, na R.
do Rio, 572. Promoveu a vinda do meste Morakami, ao seu (Dojo) em con-
secutivos estágios.
A gravura em baixo, vemos o director do Bushido Kan, Eng.° Cacho,
executando um dos mais raros e difíceis testes de quebra, em que só uma
velocidade extrema consegue resultados positivos: a quebra de duas tábuas
suspensas por um fio. (Foto tirada em 1968). PORTO
Final do Estágio de Karate do Judo C. de Portugal
— 184 — -185-
O /C7DO
E OS
«ATEMIS»
Ao nível superior de
ir
' "; . - . ' " * , * ' ' • -' ' • '* Cintos Negros o Judo,
;
Aí tó^S^í^"i^íte "--"" " ' " possui os «Atemis», e
>
P%^':X^^;l^"^|-*2 M~ a defesa pessoal e so-
bretudo os graus mais
elevados são mercê da
Classe do Prof. Raul Cerveira - .SOSHUGUEIKO. (Treino de madrugada no Inverno ) prática através dos anos, indivíduos
fabulosos de instinto de defesa e
ataque. Os 7.' e 8." Dans de Judo,
sflo na sua simplicidade e grandeza,
os símbolos máximos da hierarquia
do Judo, dos quais temos em Por-
tugal o conhecido, respeitado e admirado,
Mestre Kloshl-Kobayashi, pilar onde assentam
as bases de todo o Judo Nacional, 8.° Dan do
Kodokan, a mais alta graduação na Europa.
-186 —
-187 —
BIBLIOGRAFIA I NDICE
Prefácio 11
EM LÍNGUA FRANCESA O Karate é a Isenção do medo 13
— 188-