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A doutrina dos fatos alternativos

Por Carlos Castilho em 11/02/2017 na edição 933

Publicado originalmente na plataforma Medium, 26/01/2017




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“Fatos alternativos”! Esta enigmática expressão tornou-se mundialmente


conhecida no dia seguinte à posse do novo presidente norte-americano, Donald
Trump, quando sua assessora especial, Kellyanne Conway, recorreu à ela para
tentar justificar, apesar das evidências em contra, porque a cerimônia de
transmissão de cargo, no dia 20/1, teve mais espectadores que nos casos de
antecessores do atual inquilino da Casa Branca.

No jargão norte-americano “alt facts” é uma adaptação de outra expressão


recente, “alt right”, cuja tradução literal seria “direita alternativa” mas que no
vocabulário dos seguidores de Trump passou a significar “nova direita”.
Nenhum membro da nova equipe de governo dos Estados Unidos explicou em
detalhes o que entendem por “fatos alternativos” mas interpretando o uso que
está sendo dado à expressão pelos assessores de Trump fica claro que estão se
referindo a “fatos” que corroboram a versão da Casa Branca.
A imprensa dos Estados Unidos recebeu a estratégia comunicacional dos “fatos
alternativos” com um misto de ironia e perplexidade, porque começou a se
delinear um contexto extremamente complexo na forma como a imprensa
produz notícias e na maneira como os governantes lidam com a realidade
política. Até agora havia uma coincidência mínima entre os tomadores de
decisões políticas e os editores dos principais jornais, revistas, telejornais e
sites noticiosos online nos Estados Unidos. As duas partes se entendiam quando
lidavam com dados, fatos e eventos.

Mas Trump e sua equipe resolveram romper com este consenso propondo fatos
alternativos, ou seja, fatos que não integram a visão da imprensa convencional
e são fruto de representações da realidade, criadas pela nova equipe da Casa
Branca. Poder-se-ia dizer que a “direita alternativa” está tentando criar uma
“realidade alternativa”, o que em termos das teorias sobre visão de mundo não
é um absurdo na medida em que cada pessoa percebe a realidade que a cerca
de uma forma própria e diferente.

Acontece que a diversidade de percepções está vinculada a preocupação com


uma visão complexa do mundo, ou seja, não há uma única verdade. Para os
adeptos dos “fatos alternativos” há apenas uma verdade, a deles, um
posicionamento que gera conflitos e até guerras mundiais. O que Trump e sua
equipe estão tentando impor é uma visão própria do mundo em que os Estados
Unidos estão inseridos.
Ganhando no grito, literalmente
Isto nos leva inevitavelmente a um choque de visões do mundo, cujo desenlace
dependerá fundamentalmente do conflito estratégias de comunicação, o que
coloca a imprensa no centro do confronto. É bom lembrar que estamos na era
da chamada pós-verdade, onde o que entendíamos por verdade agora depende
mais da propagação maciça de versões do que da veracidade dos fatos, dados e
eventos. Quem gritar mais alto, com mais frequência e com maior alcance,
passa a ser considerado arauto da verdade.

Este é o grande calcanhar de Aquiles de Donald Trump. Ele tem o poder político
mas não controla a mídia. Por isto transformou as redes sociais, em especial o
Twitter, na sua grande plataforma de comunicação, onde pode dizer o que
quer, do jeito que quer e quando quiser, sem ter que passar pelo controle de
editores.

O que provavelmente veremos em breve é um agravamento dos confrontos


entre a imprensa convencional e as redes sociais. Se o antagonismo era até
agora apenas por questões financeiras ligadas à sustentabilidade de empresas
jornalísticas, agora passa a ser também um problema politico. A imprensa
norte-americana se apresenta como um bloco homogêneo, com estratégias
definidas. Trump e os adeptos dos “fatos alternativos” usam as redes sociais,
onde a heterogeneidade é um fator estrutural.

É impossível dizer agora quem acabará prevalecendo. No momento o bloco da


imprensa norte-americana está em vantagem porque ainda é hegemônico na
disseminação de suas “verdades”, que por sua vez são a principal matéria-
prima do boca-a-boca nas redes sociais. Mas Trump e a “direita alternativa”
agora controlam boa parte do governo mais poderoso do mundo, cuja
capacidade de criar “fatos alternativos” é imensa, principalmente porque os
veículos de comunicação norte-americanos sempre dependeram muito da
informação oficial.




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