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A definição legal do meio ambiente se encontra insculpida no artigo 3.º, I, da Lei 6.938/1981,
que pontifica que o meio ambiente é “o conjunto de condições, leis, influências e interações de
ordem física, química e biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas”.
Alguns estados da federação brasileira optaram por inserir em suas leis um conceito próprio, a
exemplo da Bahia, para quem meio ambiente é “a totalidade dos elementos e condições que,
em sua complexidade de ordem física, química, biológica, socioeconômica e cultural, e em
suas inter-relações, dão suporte a todas as formas de vida e determinam sua existência,
manutenção e propagação, abrangendo o ambiente natural e o artificial”.
Apesar de a definição de meio ambiente perpetrada pela Lei da Boa Terra ser até de melhor
técnica que a federal, vez que há referência expressa aos elementos socioeconômicos e
culturais, não se acha recomendável que cada entidade política regional ou local trace
conceitos próprios, porquanto se cuida de norma geral de Direito Ambiental, cuja competência
legiferante é da União.
Afinal, os elementos bióticos (com vida) e abióticos (sem vida) que integram o meio ambiente
são os mesmos dentro do Brasil, não cabendo nenhum tipo de diferenciação. Aliás, o próprio
Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA nos trouxe um conceito de meio ambiente
mais completo do que o posto na Lei 6.938/1981, englobando o patrimônio cultural e artificial, o
definindo como o “conjunto de condições, leis, influências e interações de ordem física,
química, biológica, social, cultural e urbanística, que permite, abriga e rege a vida em todas as
suas formas”.
Já há quem entenda existirem, ainda, o meio ambiente do trabalho e o genético, mas crê-se
que o primeiro integra o artificial e o segundo o natural, ressalvando-se que não há
uniformidade doutrinária sobre a questão.
É possível afirmar que o meio ambiente do trabalho, extensão do meio ambiente artificial, é
respeitado quando as empresas cumprem as normas de segurança e medicina do trabalho,
proporcionando ao obreiro condições dignas e seguras para o desenvolvimento de sua
atividade laborativa remunerada, a exemplo da disponibilização dos equipamentos de proteção
individual, a fim de preservar a sua incolumidade física e psicológica.
Para quem admite a sua existência autônoma, o meio ambiente genético é composto pelos
organismos vivos do planeta Terra, que formam a sua diversidade biológica.
É prevalente que a expressão “Direito Ecológico” não deve ser tomada como sinônimo de
“Direito Ambiental”, pois aquela apenas abarca o meio ambiente natural, excluindo o cultural e
o artificial.
Precedente em que o STF adota o conceito amplo de meio ambiente:
(ADI 3540 MC, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado
em 01/09/2005, DJ 03-02-2006 PP-00014 EMENT VOL-02219-03 PP-
00528)
É certa a autonomia didática deste novo ramo jurídico, uma vez que goza de princípios
peculiares não aplicáveis aos demais, que serão estudados em capítulo próprio.
Antes, apenas existiam normas jurídicas ambientais setoriais, mas não um Direito Ambiental
propriamente dito, formado por um sistema harmônico de regras e princípios.
Trata-se de disciplina transversal que se alastra aos demais ramos jurídicos, pois informa e
troca informações com todos eles, a exemplo do Direito Civil, como o disposto no artigo 1.228,
§ 1.º, do Código Civil, que consigna que o proprietário deve respeitar a fauna, a flora, as
belezas naturais, o equilíbrio ecológico, o patrimônio histórico e artístico, bem como evitar a
poluição do ar e das águas.
Com o Direito Administrativo a proximidade é ainda maior, pois as disposições gerais dessa
disciplina fundamentam o Direito Ambiental no que for compatível, a exemplo da teoria geral do
poder de polícia.
Aliás, com o advento da Lei 12.349/2010, algumas disposições em defesa do meio ambiente e
do desenvolvimento sustentável foram inseridas na Lei 8.666/1993 (Lei de Licitações e
Contratos Administrativos), não sendo exagero denominá-las agora de licitações sustentáveis.
Com esse espírito, conforme publicado no Diário Oficial da União em 20 de abril de 2012, “o
TCU deu ciência à Superintendência Regional do Departamento de Polícia Federal no Piauí no
sentido de que, no âmbito da administração pública federal, direta, autárquica e fundacional,
tanto em face do disposto no art. 3º da Lei nº 8.666/1993, quanto na IN/MP nº 1, de
19.01.2010, as especificações para a aquisição de bens, contratação de serviços e obras,
deverão conter critérios de sustentabilidade ambiental, atentando-se para os processos de
extração ou fabricação, utilização e descarte dos produtos e matérias-primas que deram
origem aos bens ou serviços a serem contratados” (item 1.5.1.1, TC-028.613/2011-2, Acórdão
nº 2.380/2012, 2ª Câmara).
Por sua vez, é o Direito Penal o responsável pela tutela mais densa do meio ambiente, ao
tipificar as condutas mais agressivas contra o patrimônio ambiental, por meio do
sancionamento das posturas humanas que tragam efetivo dano ou perigo concreto.
Prosseguem as relações com os demais ramos sem exceção, como ocorre com o Direito
Tributário, que prevê instrumentos de fomento à preservação ambiental (tributação ecológica),
como a não incidência do Imposto Territorial Rural em determinados espaços territoriais
especialmente protegidos sob o enfoque ambiental.
Também com o Direito Econômico são íntimas as relações, pois a Defesa do Meio Ambiente é
um princípio constitucional desse ramo, devendo-se tratar diferentemente os agentes que
causem menor impacto ambiental na sua produção.
Aliás, é nítida a natureza econômica das normas ambientais, que acaba importando em
intervenção estatal na economia, existindo, inclusive, instrumentos econômicos de efetivação
da Política Nacional do Meio Ambiente, a exemplo do seguro, da servidão e da concessão
ambiental, pois muitos recursos ambientais também são recursos econômicos.
É no Direito Processual Civil que o Direito Ambiental vai buscar importantes armas processuais
para a sua proteção, a exemplo da tutela de inibição do dano ambiental, não podendo deixar
de citar as mais importantes ações coletivas: ação civil pública e ação popular.
Com o Direito do Consumidor há uma interação bem comum. É que muitas vezes os danos
causados ao consumidor pelo fornecedor de produtos ou serviços também se revelam como
prejuízos ambientais, sendo regulado simultaneamente pelo Código de Defesa do Consumidor
e pela legislação ambiental.
Até ramos jurídicos que aparentemente não são conexos ao Direito Ambiental este informa. É o
que ocorre com o Direito Previdenciário, em que os conceitos de extrativismo e pesca são
buscados na legislação ambiental, para fins de enquadramento do segurado especial da
Previdência Social.
PONTO 01 – DIREITO CONSTITUCIONAL
1 - Conceito:
José Afonso da Silva: "A Constituição de um Estado, considerada sua lei fundamental, seria a
organização dos seus elementos essenciais: um sistema de normas jurídicas, escritas ou
costumeiras, que regula a forma do Estado, a forma de seu governo, o modo de aquisição e o
exercício do poder, o estabelecimento de seus órgãos, os limites de sua ação, os direitos
fundamentais do homem e as respectivas garantias. Em síntese, a Constituição é o conjunto de
normas que organiza os elementos constitutivos do Estado."
Diz Canotilho que na formulação do que deva consistir uma constituição, deve-se decidir
entre um conceito que coloque a constituição como uma lei do Estado, e só dele, ou seja, uma
lei que se limite a enumerar uma ordem de competências, bem como a disciplinar a forma
como o Estado se organiza, ou, por outro lado, deve a constituição ser o estatuto jurídico
do fenômeno político em sua totalidade, que não cuide apenas do Estado, mas também
de toda a sociedade.
Sentido sociológico - Ferdinand Lassale defendeu que uma Constituição só seria legítima se
representasse o efetivo poder social, refletindo as forças sociais que constituem o poder. Caso
isso não ocorresse, ela seria ilegítima, uma mera "folha de papel". Só será boa, duradoura e
prevalecerá quando corresponder à constituição real e tiver raízes nos fatores do poder que
regem o pais. A Constituição seria, então, a somatória dos fatores reais do poder dentro de
uma sociedade.
Sentido político - Elaborado por Carl Schmitt, tal conceito distingue constituição de lei
constitucional. Constituição só se refere à decisão política fundamental (estrutura e órgãos do
Estado, direitos individuais, vida democrática, etc.); as leis constitucionais seriam os demais
dispositivos inseridos no texto do documento constitucional, mas não contêm matéria de
decisão política fundamental. A Constituição é a decisão política do titular do poder
constituinte.
Sentido material e formal - Do ponto de vista material, o que vai importar para definirmos se
uma norma tem caráter constitucional ou não será o seu conteúdo, pouco importando a forma
pela qual ela foi introduzida no ordenamento jurídico. Assim, constitucional será aquela norma
que defina e trate das regras estruturais da sociedade, de seus alicerces fundamentais. É o
que Schmitt chamou de Constituição. Quando nos valemos do critério formal, não interessa o
conteúdo da norma, mas sim a forma como ela foi introduzida no ordenamento jurídico. São as
introduzidas pelo poder soberano, por meio de um processo legislativo mais dificultoso,
diferenciado e mais solene que o das demais normas do ordenamento.
Sentido jurídico - Hans Kelsen aloca a Constituição no mundo do dever ser, e não no mundo
do ser, caracterizando-se como fruto da vontade racional do homem, e não das leis naturais. A
Constituição é considerada norma pura, puro dever ser, sem qualquer pretensão a
fundamentação sociológica, política ou filosófica. A concepção de Kelsen toma a palavra
Constituição em dois sentidos: no lógico-jurídico e no jurídico-positivo. De acordo com o
primeiro, Constituição significa norma fundamental hipotética, cuja função é servir de
fundamento lógico transcendental da validade da Constituição jurídico-positiva, que equivale à
norma positiva suprema, conjunto de normas que regula a criação de outras normas, lei
nacional no seu mais alto grau. Michel Temer (comentando Kelsen): "O jurídico-positivo é
corporificado pelas normas postas, positivadas. O lógico jurídico situa-se em nível do suposto,
do hipotético. Umas são normas postas; outra é suposta." A Constituição, por seu turno, tem o
seu fundamento de validade na norma hipotética fundamental, situada no plano lógico, e não
no jurídico, caracterizando-se como fundamento de validade de todo o sistema, determinando-
se a obediência a tudo o que for posto pelo Poder Constituinte Originário.
Obs: Konrad Hesse – concepção normativa (A força normativa da Constituição), defendendo a
concepção de Kelsen, rebate a concepção de Lassale, tentando demonstrar que nem sempre
os fatores reais de poder prevalecem sobre a constituição normativa. Hesse argumenta que se
as normas constitucionais nada mais expressam do que relações fáticas altamente mutáveis,
não há como deixar de reconhecer que a ciência da constituição tem apenas a função de
comentar e constatar os fatos criados pela REALPOLITIK. Neste caso, o direito constitucional
não estaria a serviço de uma ordem estatal justa. Aduz que a constituição real e a jurídica
estão em relação de coordenação, condicionando-se mutuamente, embora não dependam,
pura e simplesmente, uma da outra.
Sentido culturalista (JH Meirelles Teixeira) - Pode-se dizer, neste sentido, que a Constituição
é produto de um fato cultural, produzido pela sociedade e que sobre ela pode influir. A
concepção culturalista do direito conduz ao conceito de uma Constituição Total em uma visão
suprema e sintética que apresenta na sua complexidade instrínseca, aspectos econômicos,
sociológicos, jurídicos e filosóficos, a fim de abranger o seu conceito em uma perspectiva
unitária. Sob o conceito culturalista de Constituição as Constituições positivas são um
conjunto de normas fundamentais, condicionadas pela Cultura total, e ao mesmo tempo
condicionantes desta, emanadas da vontade existencial da unidade política, e reguladoras da
existência, estrutura e fins do Estado e do modo de exercício e limites do poder público.
2 - Objeto:
As constituições têm por objeto estabelecer a estrutura do Estado, a organização de seus
órgãos, o modo de aquisição do poder e a forma de seu exercício, limites de sua atuação,
assegurar os direitos e garantias dos indivíduos, fixar o regime político e disciplinar os fins
sócio-econômicos do Estado, bem como os fundamentos dos direitos econômicos, sociais e
culturais.
3 - Estrutura:
Entende José Afonso da Silva que a constituição tem cinco categorias de elementos:
1) Elementos Orgânicos - se contêm nas normas que regulam a estrutura do Estado e do
poder, e, na atual Constituição, concentra-se predominantemente nos Títulos III (Da
Organização do Estado), IV (Da Organização dos Poderes e do Sistema de Governo),
Capítulos II e III do Título V (Das Forças Armadas e da Segurança Pública) e VI (Da Tributação
e do Orçamento, que constituem aspectos da organização e funcionamento do Estado);
2) Elementos Limitativos, que se manifestam nas normas que consubstanciam o elenco dos
direitos e garantias fundamentais - direitos individuais e suas garantias, direitos de
nacionalidade e direitos políticos e democráticos; são denominados limitativos porque limitam a
ação dos poderes estatais e dão a tônica do Estado de Direito; acham-se inscritos no Título II
da Constituição, sob a rubrica Dos direitos e garantias fundamentais, excetuando-se os Direitos
Sociais (capítulo II);
- Quanto ao conteúdo ideológico das constituições (André Ramos Tavares): liberais (ou
negativas), aonde se destacam os direitos humanos de 1ª dimensão, não-intervenção do
estado e proteção das liberdades públicas, e sociais (ou dirigentes), que refletem um
momento posterior, de necessidade de atuação estatal, consagrando a igualdade substancial,
bem como os direitos sociais (de 2ª dimensão).
- Constituição Suave (Gustavo Zagrebelsky). A CF/88 constitui uma ordem jurídica fundamental
de processo publico livre, caracterizando-se, nos termos de Haberle, como uma constituição
aberta, que torna possível a Sociedade Aberta de Popper, ou uma constituição suave, no
conceito de Zagrebelsky, que permite, dentro dos limites constitucionais, tanto a
espontaneidade da vida social quanto a competição para assumir a direção política, além de
condições para a sobrevivência de uma sociedade pluralista democrática. Zagrebelsky é autor
da obra “El direito dúctil – Ley, derechos y justicia”. Traça a idéia de ductibilidade constitucional
(distensão ou flexibilização de suas regras) – coexistência de valores e princípios. Idéia da
solidariedade dos princípios constitucionais (Canotilho). Busca da máxima efetividade das
normas constitucionais.
Obs: Zagrebelsky diz que a constituição federal substitui o papel do Estado na expressão da
soberania. Não é mais o Estado que controla as fontes de direito (p. ex. na edição de leis e
códigos), mas a CF que orienta o ordenamento jurídico.
Obs: Para Zagrebelsky há convergência para o centro, em conformidade do ordenamento
jurídico com os direitos fundamentais expressos na CF, e não mais uma pura e simples
irradiação da força normativa como vértice. Canotilho ensina que a CF representa o ápice do
ordenamento e o ponto de controle de sua coerência interna. São as leis que devem se
movimentar no âmbito dos direitos fundamentais e não o contrário.
Obs: Canotilho ensina que a CF é um sistema normativo aberto de princípios e regras. É aberto
porque tem uma estrutura dialógica (Caliess), traduzida na disponibilidade e capacidade de
aprendizagem das normas constitucionais para captarem a mudança da realidade. É normativo
porque a estruturação das expectativas referentes a valores, programas, funções e pessoas é
feita por normas. É de regras e princípios pois normas do sistema podem revelar-se por uma
ou por outra.
5 - Fontes:
Nos países que adotam o sistema da civil law, a fonte originária e suprema do direito
constitucional é a Constituição escrita. As fontes derivadas podem ser subdividas em fontes
delegadas e fontes reconhecidas.
A rigidez constitucional decorre da maior dificuldade para sua modificação do que para a
alteração das demais normas jurídicas da ordenação estatal. Da rigidez emana, como
primordial conseqüência, o princípio da supremacia da Constituição que, no dizer de Pinto
Ferreira, "é reputado como uma pedra angular, em que assenta o edifício do moderno direito
político". Significa que a constituição se coloca no vértice do sistema jurídico do país, a que
confere validade, e que todos os poderes estatais são legitimados na medida em que ela os
reconheça e na proporção por ela distribuídos. A Supremacia material pode ser reconhecida
até nas constituições costumeiras e flexíveis. Isto é certo do ponto de vista sociológico, tal
como também se lhes admite rigidez sócio-política. Mas do ponto de vista jurídico, só é
concebível a supremacia formal, que se apoia na regra de rigidez, de que é o primeiro e
principal corolário. Nas Constituições rígidas há hierarquia formal entre norma constitucional
e norma ordinária, o que não existe nas Constituições flexíveis, logo, em relação a estas
últimas, não há que se falar em supremacia da Constituição!
Conclui-se que, nos países onde prevalecem as Constituições rígidas, a lei ordinária
incompatível com a Lei Maior não se aplica por ser inválida, enquanto que, em relação
aos países onde adotam as Constituições flexíveis, em face da inexistência de hierarquia
ou supremacia entre essas normas, o problema não se resolve pela via da invalidade da
norma por vícios de inconstitucionalidade e, sim, pelo instituto da revogação da norma
anterior pela norma posterior (lex posterior derogat priori).
Formas de Inconstitucionalidade:
Inconstitucionalidade por omissão: Verifica-se nos casos em que não sejam praticados atos
legislativos ou administrativos requeridos para tornar plenamente aplicáveis normas
constitucionais. O pressuposto para propositura da ação de inconstitucionalidade por omissão
é a omissão do legislador em legislar sobre matéria que a Constituição demanda a existência
de lei para aplicá-la (norma de eficácia limitada), visando obter deste a elaboração da lei em
causa. É inspirada na Constituição Portuguesa, art. 283, visando combater a chamada
"síndrome de inefetividade das normas constitucionais". Na ADI por omissão, temos
controle concentrado, enquanto no mandado de injunção, o controle difuso de tal
omissão. A omissão pode ser total ou parcial. Total, quando não houver o cumprimento
constitucional do dever de legislar; parcial, quando houver lei integrativa infraconstitucional,
porém de forma insuficiente. Por omissão parcial propriamente dita, temos o caso em que a lei
existe, mas regula de forma deficiente o texto. Na omissão parcial relativa, a lei existe e
outorga determinado benefício a certa categoria, mas deixa de concedê-la a outra, que deveria
ter sido contemplada.
O STF já entendeu que, pendente julgamento de ADI por omissão, se a norma que não
tinha sido regulamentada é revogada, a ADI por omissão deverá ser extinta por perda de
objeto. Contudo, quanto aos casos de encaminhamento de projeto de lei sobre a matéria
ao Congresso Nacional ou do processo legislativo já ter sido desencadeado, o STF não
mais entende ser caso de perda do objeto, devendo continuar a ação. Por fim, o STF não
admite a fungibilidade entre ADI por omissão e mandado de injunção.
A competência para julgar a ADI por omissão é do STF, e seus legitimados são os
mesmos da ADI genérica (art. 103, CF). Admite-se a concessão de cautelar na ADI por
omissão, após a oitiva dos órgãos ou autoridades responsáveis pela omissão
inconstitucional, consistente na suspensão da aplicação da lei ou do ato normativo
questionado, no caso de omissão parcial, bem como na suspensão de processos
judiciais ou de procedimentos administrativos, ou ainda em outra providência ser fixada
pelo tribunal (Lei 9868/99, art. 12-F).
Pelo poder Legislativo - realizado pelo próprio parlamentar e pela Comissão de Constituição
e Justiça.
Pelo Poder Executivo - realizado pelo Chefe do poder Executivo através do chamado veto
jurídico.
Pelo Poder Judiciário - Mandado de Segurança impetrado por parlamentar em defesa do seu
direito de participar de um processo legislativo juridicamente hígido, quando a tramitação do
projeto agrida a própria Constituição.
Obs: Doutrina não trata do assunto, mas o STF admite o MS impetrado pelo chefe do
executivo com o fito de resguardar sua legitimidade para a iniciativa legislativa (p. ex.
criação de cargos públicos).
Controle político - verifica-se em Estados onde o controle é exercido por um órgão distinto
dos três Poderes, órgão este garantidor da supremacia da Constituição.
Controle jurisdicional - é realizado pelo Poder Judiciário, tanto através de um único órgão
(controle concentrado) como por qualquer juiz ou tribunal (controle difuso). O Brasil adotou o
sistema jurisdicional misto, porque realizado pelo Poder Judiciário - daí ser jurisdicional - tanto
de forma concentrada (controle concentrado) como por qualquer juiz ou tribunal (controle
difuso)
Controle Híbrido - algumas normas são levadas a controle perante um órgão distinto dos três
poderes (controle político), enquanto outras são apreciadas pelo Poder Judiciário (controle
jurisdicional)
* Controle Posterior Repressivo pelo Legislativo - art. 49, V, CF - compete ao Congresso
Nacional sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar
ou dos limites de delegação legislativa.; art. 62, CF - Entendendo o Congresso Nacional
inconstitucional a medida provisória, estará realizando controle de constitucionalidade.
O art. 97 da CF estabelece que, nos tribunais, somente pelo voto da maioria absoluta de
seus membros ou dos membros do respectivo órgão especial poderão os tribunais declarar a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público. É a chamada cláusula da
reserva de plenário. Por meio do recurso extraordinário (nas hipóteses do art. 102, III, "a", "b",
"c" e "d"), a questão poderá chegar até o STF, que também, assim como o Tribunal de segunda
instância, realizará o controle difuso, de forma incidental (e não principal), observadas as
regras do art. 97, CF.
A cláusula de reserva de plenário (full bench) é aplicável somente aos textos normativos
erigidos sob a égide da atual Constituição. 3. As normas editadas quando da vigência das
Constituições anteriores se submetem somente ao juízo de recepção ou não pela atual ordem
constitucional, o que pode ser realizado por órgão fracionário dos Tribunais sem que se tenha
por violado o art. 97 da CF. Precedentes: AI-AgR 582.280, Segunda Turma, Rel. Min. Celso de
Mello, DJ 6.11.2006 e AI 831.166-AgR, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, Dje de
29.4.2011. 3. Agravo regimental desprovido.
(ARE 705316 AgR, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em 12/03/2013,
PROCESSO ELETRÔNICO DJe-070 DIVULG 16-04-2013 PUBLIC 17-04-2013)
No entanto, deve-se alertar que existe um precedente da 2ª Turma do STF no qual a Min.
Ellen Gracie afirma expressamente que a cláusula da reserva de plenário não se aplica
ao STF:
(...) 4. O STF exerce, por excelência, o controle difuso de constitucionalidade quando do
julgamento do recurso extraordinário, tendo os seus colegiados fracionários
competência regimental para fazê-lo sem ofensa ao art. 97 da Constituição Federal. (...)
(RE 361829 ED, Relatora Min. Ellen Gracie, Segunda Turma, julgado em 02/03/2010)
A 2ª Turma invocou este precedente nas decisões em que afastou o regime inicial fechado ao
tráfico de drogas?
Ainda não foi disponibilizado o inteiro teor dos votos dos Ministros nos processos HC
111844/SP e HC 112195/SP (noticiados no Informativo 663 do STF). Contudo, se analisarmos
o voto do Min. Gilmar Mendes no leading caseHC 105779/SP, julgado em 8.2.2011, percebe-se
que o eminente Ministro não menciona esta questão da cláusula de reserva de plenário.
Diante desse quadro, das duas uma: ou realmente o art. 97 não se aplica ao STF, ou então
acreditamos que houve violação à cláusula de reserva de plenário.
Súmula Vinculante 10/STF: "Viola a cláusula de reserva de plenário (CF, art. 97) a
decisão de órgão fracionário de tribunal que, embora não declare expressamente a
inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no
todo ou em parte."
No controle difuso, para as partes os efeitos serão inter partes e ex tunc. Contudo, o
STF já entendeu que, mesmo no controle difuso, é possível dar efeito ex nunc (RE
197.917) – modulação dos efeitos.
Declarada inconstitucional a lei pelo STF, no controle difuso, desde que tal decisão seja
definitiva e deliberada pela maioria absoluta do pleno do Tribunal, o art. 178 do Regimento
Interno do STF estabelece que será feita a comunicação, logo após a decisão, à autoridade ou
órgão interessado, bem como, depois do trânsito em julgado, ao Senado Federal, para os
efeitos do art. 52, X, CF, que estabelece ser competência privativa do Senado Federal,
mediante o instrumento da resolução, suspender a execução, no todo ou em parte, de lei
declarada inconstitucional por decisão definitiva do STF. A suspensão pelo Senado Federal
poderá dar-se em relação a leis federais, estaduais, distritais ou mesmo municipais que forem
declaradas inconstitucionais pelo STF, de modo incidental, no controle difuso de
constitucionalidade.
A expressão "no todo ou em parte" significa que é impossível ao Senado Federal ampliar,
interpretar ou restringir a extensão da decisão do STF.
Os efeitos da decisão do Senado, na forma do art. 52, X, CF serão erga omnes e ex nunc,
não retroagindo.
Respeitável parte da doutrina e alguns julgados do STJ e do STF rumam para uma nova
interpretação dos efeitos da declaração de inconstitucionalidade no controle difuso pelo
STF. Gilmar Mendes afirma ser "possível, sem qualquer exagero, falar-se aqui de uma
autêntica mutação constitucional em razão da completa reformulação do sistema
jurídico e, por conseguinte, da nova compreensão que se conferiu à regra do art. 52, X,
da Constituição de 1988. Valendo-nos dos subsídios da doutrina constitucional a
propósito da mutação constitucional, poder-se-ia cogitar aqui de uma autêntica 'reforma
da Constituição sem expressa modificação de texto'". Na mesma linha, Teori Albino
Zavascki sustenta a transcendência, com caráter vinculante, de decisão sobre a
constitucionalidade da lei, mesmo em sede de controle difuso. Os principais argumentos
a embasar esse novo posicionamento são, em síntese apertada: força normativa da
Constituição; princípio da supremacia da Constituição e sua aplicação uniforme a todos
os destinatários; o STF enquanto guardião da Constituição e seu intérprete máximo;
dimensão política das decisões do STF. No julgamento do RE 197.917, nos termos do
voto do Ministro Celso de Mello, o Ministro Gilmar Mendes ressaltou a aplicabilidade, ao
E. TSE, do efeito vinculante emergente da própria ratio decidendi que motivou o
julgamento do precedente mencionado. Em outro julgado, o Min. Gilmar Mendes
"sepultou" de vez a regra do art. 52, X, aproximando o controle difuso do controle
concentrado, dizendo se tratar de reminiscência histórica. O tema ainda depende de
manifestação dos outros ministros do STF.
Pode ser exercitado através de cinco ações constitucionais: ADI (ação direta de
inconstitucionalidade) genérica - art. 102, I, "a"; ADPF (ação de descumprimento de preceito
fundamental) - art. 102, § 1º; ADO (ação direta de inconstitucionalidade por omissão) - art. 103,
§ 2º; ADI interventiva - art. 36, III; ADC (ação direta de constitucionalidade) - art. 102, I, "a".
O STF tem entendido serem passíveis de controle jurisdicional por ADI os requisitos
constitucionais de relevância e urgência para edição de Medida Provisória, em caráter
excepcional.
Regulamentos subordinados e decretos, via de regra, não podem ser atacados por ADI,
já que a discussão em torno deles é de legalidade e não de constitucionalidade. A
exceção é no caso do chamado decreto autônomo, aonde será analisada sua
compatibilidade com a Constituição para verificar-se a observância do princípio da reserva
legal.
A legitimidade para propositura de ADI é dos legitimados do art. 103, CF, sendo que os
dos incisos I, II, III, VI, VII, VIII (Presidente da República, Mesa do Senado Federal, Mesa da
Câmara dos Deputados, PGR, Conselho Federal da OAB e partido político com representação
no Congresso Nacional) tem legitimidade universal, enquanto os dos incisos IV, V e IX (Mesa
da Assembléia Legislativa e da Câmara Legislativa do DF, Governador do Estado ou do DF e
confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional) estão sujeitos ao requisito da
pertinência temática.
A ADI tem caráter dúplice ou ambivalente, pois, conforme estabelece o art. 24 da Lei
9.868/99, proclamada a constitucionalidade, julgar-se-á improcedente a ação direta ou
procedente eventual ação declaratória e, no mesmo passo, proclamada a inconstitucionalidade,
julgar-se-á procedente a ação direta ou improcedente eventual ação declaratória. A decisão
produzirá efeitos erga omnes e terá efeito ex tunc, retirando do ordenamento jurídico o ato
normativo ou lei incompatível com a constituição, tratando-se de ato nulo (teoria da nulidade –
plano de validade – influência do direito norte-americano). No entanto, a Lei 9.868/99, em seu
art. 27, introduziu a técnica da declaração de inconstitucionalidade sem a pronúncia de
nulidade (modulação dos efeitos). Neste sentido, ao declarar a inconstitucionalidade de lei
ou ato normativo, e tendo em vista razões de segurança jurídica ou de excepcional interesse
social, poderá o STF, por maioria qualificada de 2/3 de seus membros, restringir os efeitos
daquela declaração ou decidir que ela só tenha eficácia a partir do seu trânsito em julgado ou
de outro momento que venha a ser fixado. Ou seja, o STF poderá dar a decisão efeitos ex
nunc, ou até mesmo atribuir efeitos a ela após determinado momento que venha a ser fixado.
O efeito é, também, vinculante em relação aos órgãos do Poder Judiciário e da Administração
Pública federal, estadual, municipal e distrital.
É possível a concessão de medida cautelar na ADI, sendo ela concedida por decisão da
maioria absoluta dos membros do tribunal (art. 10 e 22, L. 9.868/99), após a audiência dos
órgãos ou autoridades dos quais emanou a lei ou ato normativo impugnado, que deverão
pronunciar-se em cinco dias, dispensada essa audiência em caso de excepcional urgência. A
concessão da medida cautelar terá eficácia contra todos e efeito ex nunc, salvo se o
Tribunal entender que deva conceder-lhe eficácia retroativa. A concessão da medida
cautelar torna aplicável a legislação anterior acaso existente (efeito repristinatório da
ADI – diferente da regra da LINDB, onde a repristinação por conta de revogação é a
exceção), salvo expressa manifestação em sentido contrário.
A reclamação visa garantir a autoridade de decisão proferida pelo STF em sede de controle
concentrado de constitucionalidade, nos termos do art. 102, I, “l”, CF, desde que o ato judicial
que se alega ter desrespeitado a decisão do STF não tenha transitado em julgado (Súmula
734, STF: “Não cabe reclamação quando já houver transitado em julgado o ato judicial que se
alega tenha desrespeitado decisão do Supremo Tribunal Federal”), pois não se pode usar a
reclamação como sucedâneo de ação rescisória. A inocorrência do trânsito em julgado,
segundo o STF, é pressuposto negativo de admissibilidade da reclamação. Óbvio que se a
decisão que transitou em julgado for a paradigma, não há problema (o que não pode transitar é
a decisão que desrespeitou a paradigma). São partes legítimas para ajuizar a reclamação
todos aqueles que forem atingidos por decisões contrárias ao entendimento formado pela
Suprema Corte no julgamento de mérito proferido em ação direta de inconstitucionalidade. A
reclamação tem natureza jurídica, de acordo com o STF (ADI 2.480 -2007), de simples
exercício constitucional do direito de petição (art. 5º, XXXIV, “a”, CF), por isso é cabível que os
regimentos internos dos tribunais prevejam reclamações (já que não é matéria de direito
processual).
Foi introduzida no ordenamento jurídico brasileiro pela EC 3/93, alterando a redação do art.
102, I, “a”, e foi regulamentada pela Lei 9.868/99. O objetivo da ADC é transformar uma
presunção relativa de constitucionalidade em absoluta, não mais se admitindo prova em
contrário. Julgada procedente a ADC, tal decisão vinculará os órgãos do Poder Judiciário e a
administração pública, que não mais poderão declarar a inconstitucionalidade da aludida lei, ou
agir em desconformidade com a decisão do STF. O objeto da ação é lei ou ato normativo
federal. O órgão competente para seu processamento e julgamento é o STF. Os legitimados
ativos são os mesmos da ADI genérica - art. 103, CF. As regras sobre quórum e votação são
as mesmas da ADI genérica (instalação - 8 Ministros; voto de 6 Ministros para a procedência
da ação). Efeitos da decisão: erga omnes, ex tunc, vinculante em relação aos órgãos do Poder
Judiciário e à administração pública federal, estadual, municipal e distrital. O STF, por maioria
absoluta de seus membros, pode deferir pedido de medida cautelar em ADC, consistente na
determinação de que os juízes e tribunais suspendam o julgamento dos processos que
envolvam a aplicação da lei ou do ato normativo objeto da ação até seu julgamento definitivo.
Essa suspensão perdurará por apenas 180 dias, contados da publicação da parte dispositiva
da decisão no DOU.
- art. 60, I, II e III - trata-se de iniciativa privativa e concorrente para alteração da Constituição.
Havendo PEC por pessoa diversa das taxativamente enumeradas, haverá vício formal
subjetivo, caracterizados de inconstitucionalidade. A Constituição, dessa forma, só pode ser
emendada mediante proposta: de 1/3, no mínimo, dos membros da Câmara dos Deputados ou
do Senado Federal; do Presidente da República; de mais da metade das Assembléias
Legislativas das unidades da federação, manifestando-se, cada uma delas, pela maioria
relativa de seus membros.
- art. 60, § 2º (quórum de aprovação) - a PEC será discutida e votada em cada Casa do
Congresso Nacional em 2 turnos, considerando-se aprovada se obtiver, em ambos, 3/5 dos
votos dos respectivos membros.
- art. 60, § 3º - a promulgação da emenda deve ser realizada pelas Mesas da Câmara dos
Deputados e do Senado Federal, com o seu respectivo número de ordem. No processo
legislativo da Emenda Constitucional não existe sanção ou veto presidencial.
Limitações Circunstanciais:
A CF não poderá ser emendada na vigência de: intervenção federal; estado de defesa;
estado de sítio.
Limitações Materiais:
Obs.: Não há limitação temporal expressa prevista na CF/1988, sendo o exemplo clássico do
nosso constitucionalismo sobre o tema o art. 174 da Constituição Imperial de 1824, que não
permitia a reforma da Constituição antes de 4 anos do início de sua vigência
Limitações Implícitas:
Na esteia do ensinamento de Michel Temer, limitações implícitas são as que dizem respeito
à: 1 – As normas concernentes ao titular do Poder Constituinte; 2 – As normas concernentes
ao titular do Poder de Reforma; 3 – As normas referentes ao processo de emenda.
Parte expressiva da doutrina também afirma que, após o plebiscito de 1993, a forma
republicana passou a ser limitação implícita ao poder de reforma (virou cláusula pétrea).
País é a palavra que se refere aos aspectos físicos, à paisagem territorial, habitat. Estado é,
na definição de Balladore Pallieri, uma ordenação que tem por fim específico e essencial a
regulamentação global das relações sociais entre os membros de uma dada população sobre
um dado território, na qual a palavra ordenação expressa a idéia de poder soberano,
institucionalizado. Elementos essenciais do Estado: poder soberano, povo, território e
finalidades. A constituição é o conjunto de normas que organizam esses elementos. República
Federativa do Brasil condensa o nome do Estado brasileiro, o nome do país (Brasil), a forma de
Estado (Federativa), e a forma de governo (República).
Território é o limite espacial dentro do qual o Estado exerce de modo efetivo e exclusivo o
poder de império sobre pessoas e bens. O modo de exercício do poder político em função do
território dá origem ao conceito de forma de estado. Pode ser unitário ou federal. O Brasil
assumiu a forma de Estado federal em 1889, sendo tal mantida pelas Constituições
posteriores. A Constituição de 1988 manteve com a declaração no art. 1º que configura o Brasil
como República Federativa. A federação consiste na união de coletividades regionais
autônomas que a doutrina chama de Estados federados, Estados-membros ou, simplesmente,
Estados. No federalismo brasileiro, há de se destacar que os Municípios, bem como o Distrito
Federal, também são entes federados.
- Federalismo por Agregação: Os Estados resolvem abrir mão de parcela de sua soberania
para agregarem-se e formarem novo Estado Federativo, passando a ser autônomos entre si.
Exemplos: EUA, Suiça, Alemanha.
- Federalismo por Desagregação (segregação): Surge a partir de um Estado unitário que
resolve descentralizar-se, em obediência a imperativos políticos e de eficiência. Ex: Brasil.
- Federalismo Dual: A separação de atribuições entre os entes federativos é absolutamente
rígida. Não se fala em cooperação ou interpenetração entre os entes. Ex: EUA
- Federalismo Cooperativo: As atribuições são exercidas de modo comum ou concorrente,
estabelecendo-se uma aproximação entre os entes federativos, que atuarão conjuntamente.
Ex: Brasil
- Federalismo Simétrico: Verifica-se a homogeneidade de cultura, desenvolvimento e língua.
Exemplo: EUA.
- Federalismo Assimétrico: Decorre da diversidade de cultura, desenvolvimento, língua. Ex: O
Canadá é um país bilíngüe e multicultural; A Suiça possui quatro diferentes grupos étnicos; O
Brasil possui diversidades de desenvolvimento.
- Federalismo Orgânico: O Estado deve ser considerado como um “organismo”, sustentando-se
a manutenção do todo sobre a parte. Os Estados membros seriam apenas um pequeno reflexo
do poder central. Acabaram por atender aos objetivos ditatoriais de governos federais
socialistas e da América Latina.
- Federalismo de integração: Há a preponderância do Governo Central sobre os demais entes
em nome da integração nacional. Trata-se de um federalismo meramente formal, aproximando-
se de um Estado Unitário descentralizado.
- Federalismo equilíbrio: Os entes federativos devem se manter em harmonia, reforçando-se as
instituições. Exemplos: Arts. 25, §3º; 43; 151, I; 157 a 159, todos da Constituição Federal.
- Federalismo de segundo grau: A Constituição de 1988 enaltece um federalismo de segundo
grau. No Brasil é reconhecida a existência de três ordens (União, Estados e Municípios, sem
nos esquecer da peculiar situação do Distrito Federal). O poder de auto-organização dos
Municípios deverá observar dois graus (Constituição Federal e Constituição do Estado).
O Estado brasileiro, segundo o art. 1º, tem como fundamentos a soberania, a cidadania, a
dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa e o pluralismo
político. A cidadania tem sentido mais amplo que a titularidade de direitos políticos,
reconhecendo o indivíduo como pessoa integrada na sociedade estatal e a submissão do
funcionamento do Estado à vontade popular. Dignidade da pessoa humana é valor supremo
que atrai o conteúdo de todos os direitos fundamentais do homem, desde o direito à vida.
Quando se fala na dignidade da pessoa humana, fala-se em sobreprincípio constitucional,
ou seja, valor pré-constituinte de hierarquia supraconstitucional (portanto, a idéia de não
hierarquia entre os princípios não se aplicaria quando em confronto com a dignidade da pessoa
humana).
A divisão de poderes consiste em confiar cada uma das funções governamentais (legislativa,
executiva e jurisdicional) a órgãos diferentes, que tomam os nomes das respectivas funções,
menos o Judiciário (órgão ou poder legislativo, órgão ou poder executivo, órgão ou poder
judiciário). Elementos em que se fundamenta a divisão de poderes: a) especialização
funcional; b) independência orgânica. O princípio da separação de poderes, cogitado por
vários pensadores e materializado como conhecemos por Montesquieu, foi adortado pela
Constituição dos Estados Unidos e erigido a dogma pelo art. 16 da Declaração dos Direitos do
Homem e do Cidadão (1789 – França), que declarou que não teria Constituição a sociedade
que não tivesse separação de poderes.
Independência dos poderes – significa que: (a) a investidura e permanência das pessoas
num dos órgãos de governo não dependem da confiança nem da vontade dos outros; (b) no
exercício das atribuições que lhe sejam próprias, não precisam os titulares consultar os outros
nem necessitam de sua autorização; (c) na organização dos respectivos serviços cada um é
livre, observadas apenas as disposições constitucionais e legais.
Eficácia social se verifica na hipótese de a norma vigente, isto é, com potencialidade para
regular determinadas relações, ser efetivamente aplicada a casos concretos. Eficácia jurídica
significa que a norma está apta a produzir efeitos na ocorrência de relações concretas; mas já
produz efeitos jurídicos na medida em que a sua simples edição resulta na revogação de todas
as normas anteriores que com ela conflitam.
Normas Constitucionais de Eficácia Limitada são aquelas normas que, de imediato, não têm
o condão de produzir todos os seus efeitos, precisando de lei integrativa infraconstitucional.
São, portanto, de aplicabilidade mediata e reduzida, ou, segundo alguns autores, aplicabilidade
diferida. José Afonso observa que tais normas têm, ao menos, eficácia jurídica imediata,
direta e vinculante, já que: a) estabelecem um dever para o legislador ordinário; b)
condicionam a legislação futura, com a conseqüência de serem inconstitucionais as leis
ou atos que a ferirem; c) informam a concepção do Estado e da sociedade e inspiram sua
ordenação jurídica; d) constituem sentido teleológico para a interpretação, integração e
aplicação das normas jurídicas; e) condicionam a atividade discricionária da Administração
e do Judiciário; f) criam situações jurídicas subjetivas, de vantagem ou desvantagem; g)
possuem eficácia ab-rogativa da legislação precedente incompatível.
Dividem-se em dois grupos: normas de princípio institutivo (ou organizativo) e normas de
princípio programático. As primeiras contêm esquemas gerais (iniciais) de estruturação de
instituições, órgãos ou entidades, enquanto as segundas veiculam programas a serem
implementados pelo Estado, visando a realização de fins sociais.
Normas supereficazes com eficácia absoluta – são intangíveis, não podendo ser
emendadas. Contêm força paralisante total de qualquer legislação que, explícita ou
implicitamente, vier a contrariá-las (ex.: cláusulas pétreas: federação, voto direto, secreto,
universal e periódico, direitos e garantias individuais, Separação de Poderes).
Obs: CF só aceita a repristinação expressa. LINDB dispõe que, salvo disposição em contrário,
a lei revogada não se restaura por ter a lei revogadora perdido a vigência.
Obs: Efeito repristinatório tácito – Hipóteses:
a) Art. 11, parágrafo segundo, L. 9868/99 – medida cautelar concedida pelo STF em sede
de controle concentrado. Lei revogada volta a ter aplicação;
b) Declaração de inconstitucionalidade com efeitos ex tunc em controle concentrado;
c) Exercício da competência legislativa pelos estados (Art. 24, parágrafo terceiro, CF);
d) Revogação ou rejeição da MP por outra.
Obs: Desconstitucionalização – normas constitucionais antigas compatíveis com a nova CF são
recepcionadas por ela, ainda que rebaixadas a categoria de lei ordinária (aceita por Pontes de
Miranda e Manoel Gonçalves filho). Deve-se atentar que inexistindo previsão expressa nesse
sentido não deve ser aceita.
Obs: Mutação Constitucional – conceito introduzido no direito constitucional por Laband e,
posteriormente tratado de forma mais ampla e técnica por Jellinek, que a situou em
contraposição a reforma constitucional. Mutação ocorre por meio de processos informais de
modificação do significado originário da CF sem alteração de seu texto. É tanto problema de
interpretação quanto de tensão entre o direito constitucional e a realidade constitucional.
Canotilho ensina que uma rigorosa compreensão da estrutura normativo-constitucional conduz
à exclusão de mutações constitucionais operadas por meio de interpretação, o que não
significa que a constituição deva ser compreendida como um texto estático e rígido, indiferente
à realidade constitucional. Aduz que as mutações constitucionais silenciosas poderiam ser
consideradas um ato legítimo quando decorrentes da permanente adequação dialética entre o
programa normativo (texto) e o domicílio normativo (realidade social) e desde que, embora
traduzindo a mudança de sentido de algumas normas provocado pelo impacto da evolução da
realidade constitucional, não sejam incompatíveis com os princípios estruturais da CF.
Repudia, no entanto, a interpretação criadora com base na força normativa dos fatos.
Interpretação Constitucional:
Legitimidade ativa: do cidadão (brasileiro nato ou naturalizado, no pleno gozo de seus direitos
políticos, provada tal situação através do título de eleitor ou documento que a ele corresponda
– art. 1º, § 3º, Lei 4.717/65).
Legitimidade passiva: art. 6º, Lei 4.717/65 – agente que praticou o ato, entidade lesada e
beneficiários do ato ou contrato lesivo ao patrimônio público.
O Ministério Público é parte pública autônoma, funcionando como fiscal da lei ou prosseguindo
com a ação, se o autor popular desistir (art. 9º da Lei).
É possível a concessão de liminar, desde que presentes o fumus boni iuris e o periculum in
mora, podendo a ação popular ser tanto preventiva (evitar atos lesivos) ou repressiva
(buscando ressarcimento do dano, anulação do ato, recomposição do patrimônio público
lesado, etc.). A coisa julgada se opera secundum eventum litis, ou seja, se julgada procedente
ou improcedente por ser infundada, produzirá efeito de coisa julgada oponível erga omnes. Se
a improcedência se der por deficiência de provas, opera apenas coisa julgada formal, podendo
qualquer cidadão intentar outra ação com idêntico fundamento, valendo-se de nova prova.
Julgada improcedente a ação, só produzirá efeitos depois de passar pelo duplo grau obrigatório
de jurisdição. Julgada procedente, eventual apelação será recebida no seu duplo efeito:
suspensivo e devolutivo (art. 19 da Lei). O autor popular é isento de custas judiciais e ônus de
sucumbência, salvo comprovada má-fé.
SÚMULA VINCULANTE
"Art. 103-A. O Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou por provocação, mediante
decisão de dois terços dos seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito
vinculante em relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta
e indireta, nas esferas federal, estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou
cancelamento, na forma estabelecida em lei.
§ 1º A súmula terá por objetivo a validade, a interpretação e a eficácia de normas
determinadas, acerca das quais haja controvérsia atual entre órgãos judiciários ou entre esses
e a administração pública que acarrete grave insegurança jurídica e relevante multiplicação de
processos sobre questão idêntica.
§ 2º Sem prejuízo do que vier a ser estabelecido em lei, a aprovação, revisão ou cancelamento
de súmula poderá ser provocada por aqueles que podem propor a ação direta de
inconstitucionalidade.
§ 3º Do ato administrativo ou decisão judicial que contrariar a súmula aplicável ou que
indevidamente a aplicar, caberá reclamação ao Supremo Tribunal Federal que, julgando-
a procedente, anulará o ato administrativo ou cassará a decisão judicial reclamada, e
determinará que outra seja proferida com ou sem a aplicação da súmula, conforme o
caso."
- Quais os requisitos para edição da súmula vinculante?
Matéria controversa entre órgãos do Judiciário ou entre estes e a Administração
Grave insegurança jurídica
Relevante multiplicação de processos sobre questão idêntica.
- Quem são os legitimados a requerer a aprovação, revisão ou cancelamento de
súmula vinculante?
- Segundo a Lei 11.417/2006, Art. 3o São legitimados a propor a edição, a
revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula vinculante:
- I - o Presidente da República;
- II - a Mesa do Senado Federal;
- III – a Mesa da Câmara dos Deputados;
- IV – o Procurador-Geral da República;
- V - o Conselho Federal da Ordem dos Advogados do Brasil;
- VI - o Defensor Público-Geral da União;
- VII – partido político com representação no Congresso Nacional;
- VIII – confederação sindical ou entidade de classe de âmbito nacional;
- IX – a Mesa de Assembléia Legislativa ou da Câmara Legislativa do Distrito
Federal;
- X - o Governador de Estado ou do Distrito Federal;
- XI - os Tribunais Superiores, os Tribunais de Justiça de Estados ou do Distrito
Federal e Territórios, os Tribunais Regionais Federais, os Tribunais Regionais
do Trabalho, os Tribunais Regionais Eleitorais e os Tribunais Militares.
- § 1o O Município poderá propor, incidentalmente ao curso de processo em que
seja parte, a edição, a revisão ou o cancelamento de enunciado de súmula
vinculante, o que não autoriza a suspensão do processo.
- § 2o No procedimento de edição, revisão ou cancelamento de enunciado da
súmula vinculante, o relator poderá admitir, por decisão irrecorrível, a
manifestação de terceiros na questão, nos termos do Regimento Interno do
Supremo Tribunal Federal.
- O Prefeito de Porto Alegre desrespeita disposição de súmula vinculante. Qual
a medida cabível? Quais os efeitos desta medida?
Reclamação, a qual anulará o ato.
- As súmulas já editadas adquirem efeito vinculante?
Não. Art. 8° da EC 45.
Art. 8º As atuais súmulas do Supremo Tribunal Federal somente produzirão efeito
vinculante após sua confirmação por dois terços de seus integrantes e publicação na
imprensa oficial.
NOÇÕES GERAIS DE DIREITO E FORMAÇÃO HUMANÍSTICA - ASPECTOS
GERENCIAIS DA ATIVIDADE JUDICIÁRIA (ADMINISTRAÇÃO E ECONOMIA).
GESTÃO. GESTÃO DE PESSOAS. TEORIA DO CONFLITO E OS MECANISMOS
AUTOCOMPOSITIVOS. TÉCNICAS DE NEGOCIAÇÃO E MEDIAÇÃO. CÓDIGO DE
ÉTICA DA MAGISTRATURA NACIONAL. DIREITOS E DEVERES FUNCIONAIS DA
MAGISTRATURA. ÉTICA NA FUNÇÃO JUDICIAL E NA VIDA PESSOAL DO JUIZ.
Ressalta-se que o Plano Estratégico, mais que um documento estático, deve ser
visto como um instrumento dinâmico de gestão, que contém decisões antecipadas sobre a
linha de atuação a ser seguida pelo TJDFT. A cada mudança no ambiente, novo diagnóstico
pode ser necessário e, em conseqüência, novas decisões devem ser tomadas. Daí, a
necessidade de constante revisão e atualização.
Além disso, nesse contexto, deve ser destacada a Gestão por Competência, em
implementação no TJDFT desde 2009. Foi iniciada em abril de 2009 a implantação da Gestão
por Competências, que pretende definir e mapear as competências gerenciais adequadas aos
objetivos da Instituição e apontar as necessidades de capacitação. Profissionalizar as práticas
de gestão é requisito fundamental para aumentar a efetividade do TJDFT e o seu
reconhecimento pela sociedade. Gestão por competência é um modelo de gestão de
pessoas.
Lei 13.140/2015: Art. 1º - Esta Lei dispõe sobre a mediação como meio de
solução de controvérsias entre particulares e sobre a autocomposição de
conflitos no âmbito da administração pública.
I - imparcialidade do mediador;
III - oralidade;
IV - informalidade;
VI - busca do consenso;
VII - confidencialidade;
VIII - boa-fé.
Art. 3 º- Pode ser objeto de mediação o conflito que verse sobre direitos
disponíveis ou sobre direitos indisponíveis que admitam transação.
Conceito de ética
A ética é um conceito filosófico, que não deve ser confundido com a moral.
Moral Ética
Sistema normativo interno da pessoa, que vem estabelecer regras de conduta segundo análise
íntima, inserido em um ambiente histórico social.
Logo, ao se prever um Código de Ética para a magistratura, objetiva-se mais do que uma
análise setorial, ou de um determinado momento histórico, já que a avaliação feita seria do
comportamento do magistrado de forma global.
Os motivos de um Código de Ética da Magistratura (segundo o Min. TST João Oreste Dalzan):
O Código de Ética foi aprovado em 2008. Todavia, não há consenso em relação à necessidade
da elaboração de um Código de Ética para juízes. No entanto, o Código se preordena a focar
balizas, fornece parâmetros para os seus destinatários e para os órgãos correcionais, além se
ser um elenco de normas de bem proceder, e não de tipificação de condutas proibitivas. O seu
teor é diretivo, sinalizador de como deva ser o procedimento de um juiz no Brasil de tantas
carências na esfera do justo.
O profissional do Direito que se humanizar e der à técnica o seu valor, que não pode se
sobrepor ao substancial, que é reduzir a injustiça do mundo, saberá encontrar na prolífica
(produtiva) produção normativa as estratégicas hábeis a resolver os conflitos humanos.
Não padece de deficiência técnica a Magistratura brasileira. Ao contrário, alicerçada em boa
doutrina e em normatividade fundante reconhecidamente avançada, produz jurisprudência
paradigmática. Investir na formação de uma reta consciência dos agentes encarregados de
fazer valer o direito é solidificar uma atuação consequente, responsável, afinada com as reais
necessidades da sociedade. O Poder Judiciário não está liberado de buscar os objetivos
fundamentais desta República.
O julgador ainda é a imagem da justiça e a qualidade desta depende da higidez moral de seu
artífice. Quando se detecta descompromisso moral no julgador, não se pode estranhar a queda
do grau de credibilidade na Justiça.
A exigência de diretrizes éticas para o juiz se justifica ante a diversidade de ritmo entre a
proliferação de demandas e a invencível lentidão das respostas. Somente uma nova postura do
juiz fará a reconfiguração do padrão simbólico da função judicial hoje residente na consciência
coletiva: o de um ser distante, afeiçoado a tecnicalismos e excessivamente burocratizado,
insensível perante a dor do jurisdicionado.
“Considerando que é fundamental para a magistratura brasileira cultivar princípios éticos, pois
lhe cabe também função educativa e exemplar de cidadania em face dos demais grupos
sociais;”
Toda decisão judicial é uma lição, no sentido de transmissão de um critério do que deva ser o
justo. Por isso, o aprendizado jurídico não pode descuidar da jurisprudência, da qual até o
parlamento se abebere para tentar reduzir a distância entre os reclamos da população e o
déficit normativo, decorrente da lentidão com que a produção legislativa acompanha as
mudanças sociais. Para poder julgar, o juiz se vê obrigado a completar a tarefa legislativa,
razão pela qual é considerado legislador negativo, pois afasta do quadro de normas cogentes
aquelas consideradas incompatíveis com a regra fundante.
Tudo que o magistrado faz é uma vitrine de condutas, Pode ser bom ou péssimo exemplo. Mas
o juiz não tem direito de ser mau exemplo. O CNJ impõe que seja paradigma perante os
demais grupos sociais. É natural se reclame um complexo de atributos mais completo a quem
pretenda ser julgador de seu semelhante. Por administrar as misérias humanas, o juiz
aperfeiçoa a sua capacidade de distinguir o certo do errado. Seria melancólico se soubesse
aplicar o critério distintivo em relação às partes e não o assimilasse para a sua própria conduta.
Situação de conflito do que vale para os jurisdicionados e o válido para ele próprio geraria uma
dicção falaciosa do justo.
Com efeito, da leitura atenta do ordenamento, depreende-se que o legislador não delimitou o
alcance da repreensibilidade. A LOMAN (LC 35/79) submete o juiz à condição ser virtuoso: ter
o hábito de fazer o bem e evitar o mal.
A virtude predispõe à contínua autocrítica, mas “a luta fundamental da autocrítica dá-se contra
a autojustificação. A máquina cerebral funciona por todo lado a se inocentar, se legitimar e se
autoestatificar” (Edgar Morin, Meus demônios, p. 82). O risco da leniência é próprio do ser
humano e pode suplicar o juiz que negligencie a vida virtuosa. Dentre as virtudes, sobressai a
urgência da humildade, a requisitar incessante autoexame de consciência. Todos terão uma
justiça mais adequada se o juiz vier a enfrentar – corajosamente – a autocrítica.
Ao recordar o juiz brasileiro de que está submetido ao dever legal de virtude, o CNJ sublinha a
exigência de uma ética prudencial. Prudência é a virtude que impõe sensatez, pausa para
avaliar consequências, análise e avaliação dos passos a serem dados.
O Código de Ética pormenoriza os deveres extraíveis da CF, LOMAN, dos Códigos e não se
pode ignorar a produção jurisprudencial disciplinar das corregedorias. Tais comandos exparsos
estão agora ordenados em 12 capítulos, abordados a seguir.
O Código de Ética é uma síntese de tudo aquilo que se espera do juiz no exercício funcional e
na vida particular. Explicita-se a função judicial como responsável, juntamente com as demais
tarefas estatais, pela edificação da pátria fraterna, justa e solidária, com eliminação da miséria
e redução de desigualdades e vedação ao preconceito. Promessa do constituinte de 1.988, da
qual o Judiciário é fiador e conclamado a concretizar.
Art. 1º O exercício da magistratura exige conduta compatível com os preceitos deste Código e
do Estatuto da Magistratura, norteando-se pelos princípios da independência, da
imparcialidade, do conhecimento e capacitação, da cortesia, da transparência, do segredo
profissional, da prudência, da diligência, da integridade profissional e pessoal, da dignidade, da
honra e do decoro.
Apesar de tratar-se de questão que não constitui matéria constitucional, mas preceito apenas
formalmente fundante, atendeu-se a uma exigência de ordem prática, ante a reiteração de
reclamos e denúncias. A primeira obrigação do juiz é estar a disposição de quem dele precise.
E isso pode acontecer a qualquer hora, não apenas durante o expediente.
A comunicação de prisão, por exemplo, não se fará em dia útil e no horário forense, mas deve
ser feita imediatamente. Desde a vigência da CF/88, não se justifica os Fóruns, Tribunais e
demais dependências judiciais não estarem permanentemente à disposição de quem necessite
ver respeitados os seus direitos fundamentais. Daí a estranheza que ainda se resista a plantão
judiciário, o que parece inconcebível na Democracia.
Em 88, ao elencar os requisitos para promoção por merecimento, não se deixou de mencionar
a presteza: qualidade de quem é presto, rápido célere. Dez anos depois, inclui-se a eficiência
dentre os princípios fundamentais da Administração Pública. Há que sustente que essa
inserção decorreu da incapacidade do Judiciário.
- obrigou o funcionamento pleno dos serviços judiciais sem interrupção ou férias coletivas;
- determinou a distribuição imediata de todos os processos;
- vedou a promoção do juiz que mantivesse autos com atraso em seu poder;
-a itinerância (CF: Art. 125. § 7º O Tribunal de Justiça instalará a justiça itinerante, com a
realização de audiências e demais funções da atividade jurisdicional, nos limites territoriais da
respectiva jurisdição, servindo-se de equipamentos públicos e comunitários.
-e outros meios de tornar a justiça mais eficaz e efetiva (Ex: Art. 126. Para dirimir conflitos
fundiários, o Tribunal de Justiça proporá a criação de varas especializadas, com competência
exclusiva para questões agrárias. (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Parágrafo único. Sempre que necessário à eficiente prestação jurisdicional, o juiz far-se-á
presente no local do litígio).
O compromisso com a rapidez não se esgota nestes preceitos. Ainda há: (i) a Súmula
vinculante; (ii) o efeito vinculante das decisões definitivas de mérito proferidas em ADIN e
ADECON; e (iii) o mecanismo da repercussão geral.
O mal menor é a decisão corrigível, mas oportuna. O mal maior é a decisão insuscetível de erro
– na visão do seu prolator – mas que sobrevém quando a permanência da controvérsia já
causou males financeiros e, sobretudo, morais aos que nela estão envolvidos.
Na verdade, conferir eficiência e efetividade à justiça é questão moral.
A LOMAN – texto legal recepcionado pela CF/88, segundo o STF –, por sua vez, foi própria em
disciplinar a vida e conduta do magistrado.
A conotação moral da função do juiz está presente quando o legislador dele reclama sempre e
inevitavelmente uma decisão que resolva a controvérsia. Não pode o juiz alegar lacuna ou
obscuridade da lei para se eximir de sentenciar ou despachar. Exige-se-lhe ainda estudo
incessante, para aplicar as normas legais e conhecimento pleno do que significa analogia,
costumes e princípios gerais de direito. Se o CPC veda ao juiz decidir por equidade, ressalvada
a expressa previsão legal, isso não o impede de buscar o justo, valendo-se do contido na
LINDB: Art. 5o Na aplicação da lei, o juiz atenderá aos fins sociais a que ela se dirige e às
exigências do bem comum. Não pode uma reta consciência moral sentir-se em paz e satisfeita
com sua missão, ao retribuir quem procurou pela justiça no processo com uma resposta
meramente processual.
Mais do que manter a sua própria irrepreensibilidade ética, o magistrado é o zelador da ética
das partes.
A doutrina também já forneceu substancioso material de ilustração ética. Por isso é que não
poucos se posicionaram no sentido de desnecessidade do Código de Ética, sob o
convencimento de que a capacidade de previsão do codificador é sempre inferior à
multiplicidade de ocorrências registradas na prática.
Exortação dos juízes brasileiros à sua fiel observância, inexistente dispositivo sancionador.
Característica singular do Código de Ética é a ausência de sanções. Ele apenas remete aos
deveres contidos na LOMAN e exorta os juízes brasileiros à sua fiel observância.
Dworkin rechaça tal idéia, “em favor da tese – derivada, em última instância, de sua própria
teoria interpretativa do direito – de que deve haver ao menos fundamentos morais prima facie
para as afirmações acerca da existência dos direitos e deveres jurídicos. Por esta razão,
considera a idéia de que os direitos jurídicos devem ser entendidos como espécie dos direitos
morais, como um elemento crucial de sua teria do Direito (...)”:
Se não existe infração de outra natureza que não seja antes disso uma vulneração ética,
mostra-se suficiente a previsão de sanções no Estatuto da Magistratura, no capítulo da
responsabilidade civil previsto o Código de regência processual e no âmbito criminal.
A codificação ética passa a ser um reforço na conscientização do juiz brasileiro de que dele se
espera uma conduta compatível com a relevância das funções cometidas ao julgador.
Com a edição do Código de Ética, o CNJ acredita na suficiência deste convite para convencer
o juiz a ser ético. A função docente e exemplar da Magistratura diante dos demais grupos
sociais
É da tradição do direito consagrar ao seu profissional uma intimidade com a ética nem sempre
detectável em outras atividades. Por isso é que se tributa à Magistratura o epíteto de reserva
moral da Nação. A responsabilidade do juiz brasileiro é expressivamente acrescida no presente
estágio histórico, em que a sensação corrente é a de que a moralidade foi sepultada, tantas e
tamanhas são as mazelas comportamentais em todos os níveis.
A educação, que poderia treinar os espíritos para vôos mais elevados e prolongados, padece,
ela própria, de evidente deformidade. A maior parcela da população satisfaz-se com
sobreviver. A qualquer custo, a qualquer preço. Os valores estão em declínio.
Na falência da moral, a missão do juiz – fazer justiça – torna-se epopéia heróica. Não há direito
sem ética. A judicialização dos conflitos é uma seara em que se pode e se deve reorientar as
práticas sociais. Ao decidir, o juiz sinaliza à sociedade o parâmetro da conduta desejável. Há
uma Constituição principiológica e dirigente, que permite a hermenêutica seminal, criativa, de
uma ética para a nacionalidade.
Toda decisão veste caráter eminentemente docente. A magistratura pode ser fator de redenção
dos princípios sepultados na mercancia de interesses subalternos. A nacionalidade tem direito
de esperar que seus juízes liderem o processo de recuperação da moralidade pública. Em todo
e qualquer processo há um conteúdo ético a ser revigorado. Não há causas menores, nem
irrelevantes, para o significado incomensurável do apostolado de fazer justiça.
Princípios
De acordo com o art. 1◦ do CE, o exercício da magistratura deve ser norteado pelos seguintes
princípios:
E a preocupação com essa imprescindível qualidade exigida ao Julgador, fez com que o CNJ
colocasse a independência como condição pioneira, por constituir a própria essência da função
judicial (pergunta da prova oral do TJDFT no concurso anterior);
O princípio da independência não tem como objetivo conferir privilégios aos julgadores.
Na verdade, visa garantir a defesa dos direitos interesses legítimos dos cidadãos.
Independência interna: é aquela que examina a autonomia do juiz perante o próprio poder
judiciário, notadamente diante da estrutura orgânica hierarquizada em ele funciona.
Conhecimento e capacitação;
Cortesia;
Transparência: é necessário dar publicidade aos atos praticados pelo Poder Judiciário, até
mesmo para o fim de compensar a sua legitimidade (já que não se sujeito a sufrágio). A
publicidade é um elemento de participação democrática. A publicidade precisa atender aos
interesses de quem litiga, mas também àquele que apenas pretenda exercer sua parcela
cidadã no controle de atuação do Estado.
Todavia, é necessário que a informação seja transmitida de forma útil, compreensível e clara;
Segredo Profissional;
Prudência: o Código de Ética contempla não só a prudência, mas impõe ao juiz atuar de forma
cautelosa, atento às consequências que sua decisão pode provocar. O juiz não pode se afastar
das consequências da sua atuação - consequencialismo;
Primeiramente, devem ser vistas as garantias dos Magistrados, que são a vitaliciedade (após
dois anos de efetivo exercício ou, para aqueles que ingressam direto nos tribunais, desde a
posse), a inamovibilidade (atenção para decisão recente do STF dizendo que substituto
também possui essa garantia) e irredutibilidade de subsídios.
Destacam-se entre os direitos dos magistrados o de portar arma, ser ouvido como testemunha
em data, hora e local previamente ajustados com a autoridade ou juiz e não ser preso, senão
por ordem escrita do Tribunal ou em caso de flagrante delito por crime inafiançável.
3) Se um juiz ofender outro juiz por e-mail, deveria ele ser repreendido pelo tribunal, qual base
legal?
Resposta:
Penso que sim, porque a lei orgânica da magistratura “veda ao magistrado "procedimento
incompatível com a dignidade, a honra e o decoro de suas funções" e comete-lhe o dever de
"manter conduta irrepreensível na vida pública e particular" (LC nº 35/79, arts. 35, inciso VIII, e
56, inciso II)” (expressão extraída do Código de Ética da Magistratura,
http://www.cnj.jus.br/codigo-de-etica-da-magistratura).
"Quanto ao tema de fundo, cumpre destacar que a compreensão predominante nesta Corte é
no sentido de que os direitos e deveres dos magistrados são, no mínimo, aqueles previstos na
sua lei complementar de regência, qual seja, a Lei Complementar nº 35/79. Sobre o tema
específico da concessão da ajuda de custo para fins de moradia, cumpre transcrever o que
disposto no art. 65, inciso II, da Lei Complementar nº 35/79, verbis :
Art. 65 - Além dos vencimentos, poderão ser outorgadas aos magistrados, nos termos da lei, as
seguintes vantagens: (...)
II - ajuda de custo, para moradia, nas localidades em que não houver residência oficial à
disposição do Magistrado.
Nesse cenário, a previsão na LOMAN do direito à ajuda de custo pretendida afasta qualquer
tese no sentido de que o Poder Judiciário estaria concedendo vantagens pecuniárias não
previstas ou com fundamento de validade em lei."
"O direito à parcela indenizatória pretendido já é garantido por lei, não ressoando justo que
apenas uma parcela de juízes o perceba, considerado o caráter nacional da magistratura, tal
como reconhecido por esta Corte "
"os servidores federais lotados no Poder Judiciário ocupantes dos cargos em comissão de nível
CJ-2 a CJ-4 possuem o direito que, a despeito de expressa previsão legal, tem sido negado
aos autores. Cria-se, com isso, uma situação inusitada. É que, em casos de remoção ou
promoção de um magistrado federal, usualmente ele se desloca para o interior do país e
alguns servidores que integram a sua equipe o acompanham. Normalmente, o Diretor de
Secretaria, ocupante de um cargo CJ-3, é um dos que aceita o convite. Em razão do
deslocamento para um local em que não existe residência oficial, o Diretor de Secretaria terá o
direito a receber o auxílio-moradia pago regularmente nos termos da Resolução nº 4 do CJF.
Por outro lado, o Juiz Federal, que é seu chefe na hierarquia administrativa e que, também, se
removeu para o mesmo local, tem o seu pedido de ajuda de custo para fins de moradia
negado. E a situação se agrava quando se tem conhecimento inequívoco de que esta Corte,
bem como o CNJ, STJ, o Ministério Público Federal e o CJF já pagam, regularmente, a ajuda
de custo aos magistrados e membros do Ministério Público Federal convocados. "
"Por sua vez, o próprio CNJ reconhece o direito ao auxílio-moradia. Ao editar a Resolução nº
13, o referido Conselho estabeleceu que fica de fora do cômputo do teto de remuneração a
parcela recebida a título de auxílio-moradia (art. 8º), verbis :
Art. 8º Ficam excluídas da incidência do teto remuneratório constitucional as seguintes verbas:
I - de caráter indenizatório, previstas em lei: (...) b) auxílio-moradia; "
"A tese da inexistência de uma deliberação legal ou administrativa específica voltada para a
concessão da parcela pretendida em favor dos magistrados federais não pode inviabilizar o
reconhecimento de um direito assegurado por lei e fundado na Carta de 1988, mormente se
considerado que a regulamentação, já existente em diversos tribunais, e nesta própria Corte
Suprema, tem criado uma diferenciação iníqua e odiosa entre os magistrados: de um lado os
que já têm reconhecido a direito à ajuda de custo para fins de moradia, e, de outro, aqueles
que se encontram em situações fáticas idênticas, mas que, ainda, não tiveram o
reconhecimento expresso da administração judicial do direito à referida parcela. "
"Também não encontra amparo no ordenamento jurídico a tese defendida pela União de que o
auxílio-moradia não deveria ser pago ao magistrado na cidade que habitualmente o faça. É que
a pretendida restrição não foi imposta pelo Estatuto da Magistratura, ressoando inviável que, a
pretexto da regulamentação do tema, seja aniquilado ou restringido o direito nos termos do que
legalmente previsto. Regulamento de execução de lei não está autorizado a contrariá-la, e nem
mesmo a criar restrições que a própria lei não estabeleceu "
"E nem se diga que o referido benefício revela um exagero ou algo imoral ou incompatível com
os padrões de remuneração adotados no Brasil. É que cada categoria de trabalhador brasileiro
possui direitos, deveres e verbas que lhe são próprias. Por exemplo, os juízes federais não
recebem adicional noturno, adicional de insalubridade, adicional de periculosidade, participação
nos lucros, FGTS, honorários advocatícios, bônus por produtividade, auxílio-educação,
indenização para aprimoramento profissional, ou mesmo qualquer tipo de gratificação por
desempenho. Os juízes brasileiros sequer recebem qualquer retribuição por hora-extra
trabalhada, o que é, destaque-se, um direito universalmente consagrado aos trabalhadores.
Nada estão recebendo, ainda, pelo desempenho de funções gerenciais de caráter
administrativo, ou mesmo pela acumulação de juízos e de juízos com funções administrativas.
É isso o que, aliás, tem provocado no Brasil uma recente evasão maciça da carreira da
magistratura federal, o que, aliás, é noticiado como motivo de grande preocupação pelo CNJ
(Notícia publicada no Jornal do Brasil de 18/06/2013, http://www.jb.com.
br/pais/noticias/2013/06/18/evasao-de-magistrados-preo cupa-cnj/). Mais de cem candidatos
aprovados no árduo concurso público para Juiz Federal preferiram não assumir o cargo e se
enfileiram ao lado de outras centenas de juízes que estão, ano a ano, se exonerando do cargo,
em razão de carreiras mais atrativas, porquanto menos estressantes e que muito melhor
remuneram. "
"DEFIRO a tutela antecipada requerida, a fim de que todos os juízes federais brasileiros
tenham o direito de receber a parcela de caráter indenizatório prevista no artigo 65, inciso II, da
LC nº 35/79, aplicandose como regra aplicável para a concessão da referida vantagem,: i) o
artigo 65 da LOMAN ora referido, que, apenas, veda o pagamento da parcela se, na localidade
em que atua o magistrado, houver residência oficial à sua disposição; ii) os valores pagos pelo
STF a título de auxíliomoradia a seus magistrados " (a decisão foi posteriormente estendida
para todos os magistrados brasileiros)
PONTO 1 –
PROCESSO CIVIL
JURISDIÇÃO:
1 -Natureza da Jurisdição:
“A função jurisdicional é aquela função do Estado que se aplica concretamente, ou seja, no
caso concreto que lhe é apresentado, a norma abstrata e genérica que a função legislativa
criou. É a atuação da vontade concreta da lei. É a função do Estado de aplicar a lei ao caso
concreto que lhe é levado para processamento e julgamento.
“A jurisdição pode ser vista como poder, função e atividade. É manifestação do poder estatal,
conceituado como capacidade de decidir imperativamente e impor decisões. Expressa, ainda, a
função que têm os órgãos estatais de promover a pacificação de conflitos interindividuais,
mediante a realização do direito justo e através do processo. Marcelo Lima Guerra afirma que a
jurisdição civil tem a função específica de proteger direitos subjetivos (art. 5º, XXXV, CF/88) –
esse conceito exclui a jurisdição constitucional em controle abstrato da constitucionalidade das
normas. Por fim, a jurisdição é um complexo de atos do juiz no processo, exercendo o poder e
cumprindo a função que a lei lhe comete.” – Fredie Didier Júnior.
3 Conceito de Jurisdição:
Resumindo, para Carnelutti a jurisdição é a busca da justa composição da lide” – Edward
Carlyle Silva.
“Teoria contemporânea – Luiz Guilherme Marinoni defende posição de que o conceito de
jurisdição pode variar de acordo com a época e o tipo de Estado que irá exercer a atividade
jurisdicional. Significa dizer que, dependendo do tipo de Estado em que a Jurisdição deve ser
exercida, o conceito de jurisdição pode variar. (...) Da mesma maneira, a época em que o
Estado irá exercer a jurisdição também influencia diretamente em seu conceito.” – Edward
Carlyle Silva.
4 -Características da Jurisdição:
“O art. 2º, CPC traz o princípio da inércia, ou princípio da demanda, segundo o qual a
jurisdição, em regra, é inerte. Ela não se movimenta de ofício, precisando ser provocada. As
exceções a esse princípio podem ser observadas nos casos em que o juiz pode agir de ofício,
tais como: abertura de inventário (art. 989, CPC); exibição de testamento (art. 1.129, CPC);
arrecadação de bens de herança jacente (art. 1.142, CPC); arrecadação de bens de ausente
(art. 1.160, CPC); e execução de sentença trabalhista (art. 878, CLT). A atividade jurisdicional,
por sua vez, é delimitada pelo pedido formulado pelo autor (princípio da correlação entre
sentença e pedido). É o pedido formulado pela parte que limita a atuação do juiz. É por essa
razão que se considera eivada de vício, por exemplo, a sentença ultra petita, na qual o juiz
concede mais do que foi pedido. A sentença extra petita ocorre quando o juiz na sentença
decide fora do que foi pedido, julgando algo que não foi objeto do pedido, constituindo assim
uma espécie de vício. Entretanto o juiz pode conceder menos do que foi pedido, sem que, a
princípio, a sentença possa ser considerada viciada. É o caso da sentença de procedência
parcial ou sentença parcialmente procedente.” – Edward Carlyle Silva.
“Sentença de procedência parcial: o juiz julga procedente parcialmente porque acolhe um dos
pedidos e rejeita o outro. Ele examina todos os pedidos formulados, mas concede apenas parte
deles. Caberá apelação com base em error in judicando, não cabendo embargos de declaração
a princípio. Sentença citra petita: é aquela em que apenas uma parte dos pedidos formulados
recebe manifestação por parte do juiz, verificando-se assim que nem todos os pedidos
formulados pela parte foram objeto de exame pelo juiz, sendo omissa nesse particular.” –
Edward Carlyle Silva.
“No caso da sentença citra petita, cabem embargos de declaração para suprir a omissão.
Tema interessante, entretanto, diz respeito aos efeitos infringentes de tais embargos de
declaração. Haverá efeito infringente nos casos em que o exame dos argumentos
apresentados acarretarem uma nova decisão, modificando aquela anterior que foi objeto de
recurso. No caso de o juiz somente examinar a parte omissa que foi objeto de recurso e ela
não ocasionar qualquer alteração do julgado, não há que se falar em efeitos infringentes dos
embargos de declaração. Entretanto, se os embargos de declaração não forem recebidos ou
for negado provimento aos mesmos, caberá apelação por error in procedendo, já que o juiz foi
omisso no exame de um dos pedidos. O procedimento adequado a ser adotado pelo Tribunal é
o de anular a sentença, devolvendo o processo ao 1º Grau, para que seja proferida nova
sentença que abranja todos os pedidos.” – Edward Carlyle Silva.
“Princípio da Inércia - o processo se origina por iniciativa da parte (Nemo iudex sine actore;ne
procedar iudex ex officio), mas se desenvolve por impulso oficial (art. 262, CPC). Podem
provocar a atividade jurisdicional a parte ou o interessado (jurisdição voluntária), bem como o
Ministério Público nos casos em que estiver legitimado a ajuizar ação civil pública.” - Nelson
Nery Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery.
“Assim, a inércia da jurisdição, embora permaneça como característica geral, fica reduzida,
basicamente, à instauração do processo e à determinação do objeto litigioso (o mérito da
causa), que, a princípio, exigem provocação da parte.” – Fredie Didier Júnior.
“Há matérias que, por serem de ordem pública, devem ser apreciadas ex officio pelo juiz, não
estando sujeitas à preclusão. São, por exemplo, as relativas às condições da ação (art. 267, VI
e 295, caput, II e III, e parágrafo único, III, ambos do CPC) e pressupostos processuais (art. 13,
113, 134, 136, 267, § 3º e 301, § 4º, todos do CPC), prescrição e decadência (art. 219, § 5º e
220, CPC), bem como nos procedimentos de jurisdição voluntária, fundados no interesse
público, onde vige o princípio inquisitório. Todas as questões relativas às relações de consumo
são de ordem pública e interesse social, devendo sobre elas se pronunciar o juiz de ofício,
independentemente de requerimento da parte ou do interessado (art. 1º, CDC). Pode o juiz
decretar de ofício a falência no curso do pedido de concordata ou do processo de recuperação
judicial (art. 73, LF).” - Nelson Ney Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery.
“Unidade – A jurisdição é poder estatal; portanto, é uma. Para cada Estado soberano, uma
jurisdição. Só há uma função jurisdicional, pois se falássemos de várias jurisdições,
afirmaríamos a existência de várias soberanias e, pois, de vários Estados. No entanto, nada
impede que esse poder, que é uno, seja repartido, fracionado em diversos órgãos, que
recebem cada qual as suas competências. O poder é uno, mas divisível.” – Fredie Didier
Júnior.
“O princípio da congruência, decorrência própria do princípio dispositivo, não incide
relativamente às questões de ordem pública, que o juiz deve examinar de ofício, em razão de
aqui incidir o princípio inquisitório.” - Nelson Ney Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery.
“Substitutividade – O Estado substitui a vontade dos particulares ou de órgãos públicos na
solução de eventuais conflitos que os envolvam. No momento em que o Estado é provocado
para exercer a atividade jurisdicional, ele substitui a vontade das partes, assumindo a
responsabilidade de solucionar o caso.Arbitragem – A corrente majoritária entende que ela é
atividade jurisdicional. Questão importante na arbitragem é que na própria lei existe previsão de
que se pode pleitear junto ao Poder Judiciário a nulidade da sentença nos casos de nulidade
(vício formal), obrigando o Judiciário a examinar tudo aquilo novamente. É necessário recordar
que os atos de execução da sentença arbitral são realizados pelo Estado (art. 584, CPC, com a
redação da Lei nº 11.232/05).” – Edward Carlyle Silva.
“Para a maioria da doutrina, de acordo com a qual a teoria de Chiovenda é a mais correta, a
natureza declaratória é uma característica da jurisdição. Sendo a atividade de declarar a
vontade concreta da lei preexistente, quando esta for objeto de violação.” – Edward Carlyle
Silva.
“Coisa Julgada – 1ª Corrente: defende como sendo uma das características da jurisdição a
definitividade. Segundo ela, a jurisdição teria como uma de suas características primordiais o
fato de que o exercício da atividade jurisdicional com a aplicação da vontade concreta da lei
àquele caso que lhe teria sido levado para conhecimento e julgamento poderia resultar na
imutabilidade e indiscutibilidade do teor daquela decisão, possibilitando, portanto, a formação
da coisa julgada ou na definitividade. 2ª Corrente: para parte majoritária da doutrina, as
decisões finais proferidas no processo cautelar (art. 810 a contrario sensu do CPC) e na
jurisdição voluntária (art. 1.111 do CPC) são consideradas atividades jurisdicionais, embora,
em regra, não façam coisa julgada. Como não é possível negar o caráter jurisdicional a estas
decisões, é forçoso concluir que a definitividade não pode ser considerada característica da
jurisdição.” – Edward Carlyle Silva.
“A coisa julgada é situação jurídica que diz respeito exclusivamente às decisões
jurisdicionais, mas isso não quer dizer que só haverá jurisdição se houver coisa julgada
material. A coisa julgada material é uma opção política do Estado; nada impede que o
legislador, em certas hipóteses, retire de certas decisões a aptidão de ficar submetida à coisa
julgada; ao fazer isso, não lhes tiraria a “jurisdicionalidade”. A coisa julgada é situação posterior
à decisão, não podendo dela ser sua característica ou elemento de existência; não se
condiciona o “ser” por algo que, no tempo, lhe é posterior. Na verdade, a marca da jurisdição
(...) é ser ela a última decisão, a decisão definitiva. Quando o Poder Judiciário resolve a
questão que lhe é submetida, cria uma norma jurídica concreta que não pode ser controlada
por nenhum outro poder, nem mesmo o legislativo; o Poder Judiciário dá a última palavra sobre
o conflito. Só os atos jurisdicionais podem adquirir essa definitividade, que recebe o nome de
coisa julgada, essa situação jurídica que estabiliza as relações jurídicas de modo definitivo.
Essa aptidão é, pensamos, a característica mais marcante da atividade jurisdicional.” – Fredie
Didier Júnior.
“Lide – 1ª Corrente: defende que a necessidade da existência de “lide” é considerada por
alguns autores como sendo característica do exercício da atividade jurisdicional. (...) Com base
nessa premissa, estes autores acabam por defender a idéia de que a jurisdição voluntária não
é hipótese de jurisdição, na medida em que não existiria lide nestes casos, mas sim meros
requerimentos. 2ª Corrente: para a doutrina mais atual, o exercício da jurisdição não exige a
existência de uma lide. A lide seria elemento acidental e não principal do processo. Seria
possível, portanto, a existência de processo sem lide. (...) Os adeptos desta teoria defendem a
natureza jurisdicional da jurisdição voluntária, exatamente pelo fato de ser desnecessária a
existência de lide para que a jurisdição possa ser considerada existente.” – Edward Carlyle
Silva.
5 – Poderes da Jurisdição:
São: poder de decisão, poder de coerção e poder de documentação.
6 – Princípios da Jurisdição:
“Princípio da Investidura: o juiz precisa estar investido de função jurisdicional para exercer a
jurisdição. Isso significa dizer que, a princípio, é exigência para o exercício da jurisdição a
aprovação em concurso de provas e títulos, tal como estabelece o art. 37, II da Constituição da
República. A doutrina afirma, no entanto, que de acordo com o art. 132 do CPC, no caso de o
juiz estar licenciado, afastado por qualquer motivo, aposentado ou convocado, ele não estará
mais investido de jurisdição, não podendo mais prestá-la. Nestes casos é incabível a aplicação
da teoria da aparência, uma vez que não existe investidura na jurisdição, o que impede que o
ato praticado por aquele sujeito possa implicar a produção de efeitos de qualquer ordem.” –
Edward Carlyle Silva.
“Princípio da aderência ao território: o juiz somente pode exercer a jurisdição dentro de um
determinado limite territorial previsto na lei. (..) A doutrina, entretanto, menciona como
exceções a esse limite: 1) o art. 107 do CPC – segundo o qual a competência do juiz prevento
prorroga-se para a parte do imóvel que esteja localizado em Estado ou comarca diversa. 2) o
art. 230 do CPC – o qual determina que os atos de citação podem ser realizados pelos oficiais
de justiça em comarcas contíguas, que não aquela da competência do juízo.” – Edward Carlyle
Silva.
“Princípio da Indelegabilidade: a atividade jurisdicional que é entregue aos juízes ou Tribunal
não pode ser delegada a outrem. A Jurisdição é indelegável. A doutrina, no entanto, usa como
exceção a possibilidade de o Tribunal expedir cartas de ordem para que juiz de 1º Grau cumpra
determinado ato. (...) Outra exceção por vezes mencionada é a possibilidade de o Colendo
Supremo Tribunal Federal delegar a prática de atos executivos de seus julgados, nos termos
do art. 102, inciso I, alínea “m” da Constituição da República. (...) Não pode ser entendida como
exceção ao princípio da indelegabilidade a expedição de carta precatória. Esta não implica
qualquer delegação ao juízo deprecado, na medida em que caracteriza a observância do
princípio da colaboração entre os órgãos jurisdicionais.” – Edward Carlyle Silva.
“O inciso XI do art. 93 da CF/88 autoriza a delegação da competência do Tribunal Pleno para
o órgão especial deste mesmo Tribunal. (...) O Tribunal Pleno compõe-se da totalidade dos
membros do tribunal, independentemente da antiguidade. Trata-se de delegação permitida pela
Constituição Federal, que “depende de ato dos delegantes, consubstanciado nas normas de
criação do órgão da sua competência. Matérias excluídas dessas normas só poderão ser
entregues ao órgão especial por delegação específica. (...) É preciso lembrar, ainda, a regra do
inciso XIV do art. 93 da CF/88, que expressamente permite a delegação, a serventuário de
justiça, do poder de praticar atos de administração e atos de mero expediente sem caráter
decisório. (...) Tanto atos jurisdicionais não decisórios quanto atos administrativos podem ser
delegados.” – Fredie Didier Júnior.
“Princípio da Indeclinabilidade: o juiz não pode se furtar a julgar a causa que lhe é
apresentada pelas partes. Trata-se da chamada proibição de o juiz proferir o non liquet, ou
seja, afirmar a impossibilidade de julgar a causa por inexistir dispositivo legal que regule a
matéria. Este princípio está previsto no ordenamento jurídico no art. 126, CPC. (...) A condição
de ação da possibilidade jurídica do pedido significa que o pedido não pode estar proibido pela
lei. Se não previsto na lei, ele, a princípio, é possível juridicamente, ou seja, tem que ser
julgado.” – Edward Carlyle Silva.
“Princípio do juiz natural: este princípio encontra sua base de fundamentação no art. 5º,
incisos XXXVII e LIII, ambos da Constituição da República. (...) Trata-se de verdadeira garantia
constitucional, na medida em que só podem exercer a jurisdição aqueles órgãos a quem a
Constituição atribui a função jurisdicional. (...) É interessante salientar que o princípio do juiz
natural deve ser compreendido sob dois aspectos: um formal ou objetivo; e outro denominado
material ou substancial. Quando ao aspecto formal ou objetivo, o princípio do juiz natural
identifica o juiz competente para o julgamento da causa com base em regras anteriores à sua
ocorrência. Tais regras devem ser abstratas, gerais e objetivas, de modo a impedir a possível
indicação de determinado juiz para o julgamento da causa. Note-se que sendo a definição do
juiz por critérios gerais, abstratos e genéricos, não há qualquer empecilho à criação de varas
especializadas, na medida em que não existe indicação de “determinado” juiz para o
julgamento da causa, mas sim de definição da competência de determinados juízos para o
julgamento de causas que envolvam matérias específicas. (...) Quanto ao aspecto material ou
substancial, o princípio do juiz natural diz respeito à imparcialidade da própria pessoa do juiz.
Não basta a preocupação com a existência de um órgão jurisdicional que esteja anteriormente
previsto como competente para o julgamento de determinada causa (aspecto formal); é
necessário, ainda, que o juiz que irá julgar a causa seja imparcial, independente, de modo a
evitar que por via oblíqua o princípio possa ser violado. (...)” Obs.: “O legislador implementou
alterações no CPC (Lei 11.280/06), em especial no art. 253 daquele estatuto, ampliando a
abrangência do dispositivo de modo a estabelecer como juiz natural aquele que tenha
extinguido, sem resolução do mérito e por qualquer motivo previsto no art. 267, o processo
anteriormente ajuizado pelo mesmo autor, que agora ingressa novamente em juízo, formulando
o mesmo pedido, sozinho, com outros litisconsortes e até alterando alguns dos réus da
demanda.” – Edward Carlyle Silva.
“Pelo princípio do juiz natural, proíbem-se, portanto, o poder de comissão (criação de juízos
extraordinários) e o poder de avocação (alteração das regras predeterminadas de
competência). (...) Não viola o princípio do juiz natural a criação de varas especializadas, as
regras de competência determinada pro prerrogativa de função, a instituição de Câmaras de
Férias em tribunais, porque em todas essas situações as regras são gerais, abstratas e
impessoais.” – Fredie Didier Júnior.
“Inevitabilidade – as partes hão de submeter-se ao quanto decidido pelo órgão jurisdicional.
Tratando-se da emanação do próprio poder estatal, impõe-se a jurisdição por si mesma. A
situação de ambas as partes perante o Estado-juiz (e particularmente a do réu) é de sujeição,
que independe de sua vontade e consiste na impossibilidade de evitar que sobre elas ou sobre
sua esfera de direitos se exerça a autoridade estatal.” – Fredie Didier Júnior.
“Prescreve o art. 5º, XXXV da Constituição Federal do Brasil: ‘a lei não excluirá da apreciação
do Poder Judiciário lesão ou ameaça de lesão a direito’. (...) Quando a Constituição fala de
exclusão de lesão ou ameaça de lesão do Poder Judiciário quer referir-se, na verdade, à
impossibilidade de exclusão de alegação de lesão ou ameaça, tendo em vista que o direito de
ação (provocar a atividade jurisdicional) não se vincula à efetiva procedência do quanto
alegado; ele existe independentemente da circunstância de ter o autor razão naquilo que
pleiteia; é direito abstrato. O direito de ação é o direito à decisão judicial tout court. Este
princípio não se dirige apenas ao Legislativo – impedido de suprimir ou restringir o direito à
apreciação jurisdicional -, mas também a todos quantos desejem assim proceder, pois, ‘se a lei
não pode, nenhum ato ou autoridade de menor hierarquia poderá’ excluir algo da apreciação
do Poder Judiciário. Ressalve-se a situação da arbitragem, na qual os próprios contendores
optam por retirar do Poder Judiciário o poder de solucionar os conflitos que advenham de
determinado negócio jurídico. (...) A única imposição de esgotamento de vias extrajudiciais é
em relação às questões desportivas. E só. Não se admite mais a chamada jurisdição
condicionada ou instância administrativa de curso forçado. (...) Com inclusão da tutela
jurisdicional da ameaça – inexistente na ordem jurídica anterior, constitucionalizou-se a tutela
preventiva, a tutela de urgência, a tutela contra o perigo, legitimando ainda mais a concessão
de provimentos antecipatórios e cautelares. A Constituição é clara ao prescrever a tutela
reparatória e a tutela preventiva. Interessante questão, que deriva desta inovação
constitucional, diz respeito às leis que proíbem ou limitam a concessão de medidas de urgência
- notadamente em face do Poder Público (Leis 4.348/64, 5.021/66, 8.437/92 e 9.494/97). No
julgamento da medida cautelar na ADIN 223-DF, o Supremo Tribunal Federal considerou
constitucionais tais restrições, o que não impede, contudo, que o magistrado, no caso concreto
que lhe for submetido, aprecie a constitucionalidade / razoabilidade da restrição. A lei que
restringe não é inconstitucional em tese, mas pode revelar-se com o vício supremo quando
concretizada.” – Fredie Didier Júnior.
“Surge, assim, a noção de tutela jurisdicional qualificada. Não basta a simples garantia formal
do dever do Estado de prestar a Justiça; é necessário adjetivar esta prestação estatal, que há
de ser rápida, efetiva e adequada. Esta última característica é a que aqui nos interessa:
atualmente, fala-se em tutela jurisdicional adequada. O princípio da inafastabilidade garante
uma tutela jurisdicional adequada à realidade da situação jurídico substancial que lhe é trazida
para solução. Ou seja, garante o procedimento, a espécie de cognição, a natureza do
provimento e os meios executórios adequados às peculiaridades da situação de direito
material. É de onde se extrai, também, a garantia do devido processo legal. E daí se retira o
princípio da adequação ao procedimento, que nada mais é do que um subproduto do princípio
da adequação da tutela jurisdicional.” – Fredie Didier Júnior.
“Escopos da jurisdição: Para Cândido Rangel Dinamarco, a jurisdição possui outros escopos
que não somente aquele já conhecido e que seria apenas o de natureza jurídica. Segundo ele
a jurisdição possui escopos de caráter social, político e jurídico. Escopos sociais: pacificar a
sociedade; realizar o bem comum; educar com justiça. Escopos políticos: garantia das
liberdades públicas (ou tutela das liberdades públicas) que dizem respeito aos direitos
fundamentais; afirmação do poder estatal; garantia do ideal de participação democrática.
Escopo jurídico: atuar a vontade concreta da lei.” – Edward Carlyle Silva.
8 – Equivalentes Jurisdicionais:
“A solução dos conflitos intersubjetivos pode ser classificada de acordo com a titularidade
para decidi-los. Caso essa titularidade seja atribuída às próprias partes, estaremos diante da
autonomia. Já se a titularidade for atribuída a terceiro, estaremos diante da heteronomia.
Diante disso, os equivalentes jurisdicionais ou substitutivos da jurisdição são formas de solução
de conflitos sociais sem que haja a participação do Estado-Juiz. Assim como é verdade que o
Estado é soberano e que o exercício da jurisdição é uma das manifestações desse poder,
também é verdade que as próprias partes podem solucionar suas desavenças sem a
indispensável participação estatal. Nesses casos, estamos diante do que a doutrina denomina
de equivalentes jurisdicionais. São formas de solução de conflitos que acarretam o mesmo
resultado prático que o exercício da jurisdição, muito embora não sejam realizadas pelo
Estado.” – Edward Carlyle Silva.
“A autotutela é a solução do conflito através do emprego de meios próprios. (...) Ela é
normalmente caracterizada pelo exercício de ação direta de uma das partes sobre a outra, o
que acaba por torná-la inaceitável para grande parte dos ordenamentos jurídicos. (...) A
autotutela é prevista como crime no Código Penal sob o nomen iuris de exercício arbitrário das
próprias razões caso o autor seja um particular, e abuso de poder (Lei 4.898/65), no caso de o
autor ser autoridade pública. Apesar disso, em algumas hipóteses expressamente previstas na
lei, o legislador entendeu por bem permitir a utilização de autotutela. São situações específicas
em que o ordenamento permite a utilização da própria força para a defesa do direito lesado ou
ameaçado de lesão. São os casos de legítima defesa, desforço imediato, direito de retenção,
direito de greve, etc. A autocomposição é uma forma de solução do conflito por meio da qual
uma das partes aceita abrir mão de parcela ou de todo o seu interesse em favor da parte
contrária. É por tal razão que a autocomposição é considerada uma forma de solução de
conflitos que é o gênero, e da qual podem ser identificadas como espécies a transação, a
submissão e a renúncia. A transação pressupõe uma concessão recíproca entre as partes. A
submissão é a aquiescência de um ao direito postulado pelo outro. Equipara-se, por assim
dizer, ao reconhecimento do pedido no âmbito judicial. A renúncia ocorre quando o autor
reconhece que não possui alegado direito, razão pela qual abre mão daquele interesse,
renunciando ao mesmo. Mediação – nesta espécie de método para a solução de conflitos, um
terceiro que não está incluído dentre as autoridades investidas do poder estatal para exercer a
jurisdição é colocado entre as partes, para tentar levá-las a uma solução de consenso. Esse
terceiro seria um profissional preparado para realizar a aproximação das partes adversárias, de
modo a possibilitar uma solução de comum acordo. O mediador não traz as hipóteses de
solução do conflito, mas cria um ambiente favorável às partes. A arbitragem é uma técnica
utilizada para solução de conflitos que utiliza o auxílio de um terceiro, escolhido de comum
acordo entre as partes, para que este decida de modo “imparcial” o eventual conflito existente.
Não é forma obrigatória, mas sim facultativa de composição de litígios. (...) A arbitragem é
regulamentada pela Lei 9.307/96. As principais características da arbitragem são expostas com
clareza por Fredie Didier Jr., o qual faz inclusive menção ao fato de que ela não é propriamente
um equivalente jurisdicional, mas verdadeiro caso de jurisdição, uma vez que a decisão nela
proferida não pode ser revogada ou modificada pelo Poder Judiciário, mas apenas anulada
com base em vícios formais. Segundo ele, são características da arbitragem: 1) há a
possibilidade de escolha da norma de direito material a ser aplicada (art. 2º, §§2º e 3º, L. arb.);
2) árbitro (art. 13, L. arb.); 3) desnecessidade de homologação judicial da sentença arbitral (art.
31, L. arb.), que produz efeitos imediatos; 4) a sentença arbitral é titulo executivo judicial (art.
13, L. arb.; art. 584, VI, CPC) – o árbitro pode decidir, mas não tem poder para tomar nenhuma
providência executiva; também não é possível a concessão de provimentos de urgência, que
exigem atividade executiva para serem implementados (art. 22, § 4º, L. arb.); e possibilidade de
reconhecimento e execução das sentenças arbitrais produzidas no exterior (art. 34 e segs. L.
arb.).” – Edward Carlyle Silva.
“A arbitragem, no Brasil, é regulamentada pela Lei Federal 9.037/96. Pode ser constituída por
meio de um negócio jurídico denominado convenção de arbitragem que, na forma do art. 3º da
Lei 9.307/96, compreende tanto a cláusula compromissória como o compromisso arbitral.
Cláusula compromissória é a convenção em que as partes resolvem que as divergências
oriundas de certo negócio jurídico serão resolvidas pela arbitragem, prévia e abstratamente; as
partes, antes do litígio ocorrer, determinam que, ocorrendo, a sua solução, qualquer que seja
ele, desde que decorra de certo negócio jurídico, dar-se-á pela arbitragem. Compromisso
arbitral é o acordo de vontades para submeter uma controvérsia concreta, já existente, ao juízo
arbitral, prescindindo do Poder Judiciário. Trata-se, pois, de um contrato, por meio do qual se
renuncia à atividade jurisdicional, relativamente a uma controvérsia específica e não
simplesmente especificável. Para efetivar a cláusula compromissória, é necessário que se faça
um compromisso arbitral, que regulará o processo arbitral para a solução do conflito que surgiu.
(...) Há possibilidade de controle judicial da sentença arbitral, mas apenas em relação à sua
validade (art. 32 e 33, caput, L.Arb.). Não se trata de revogar ou modificar sentença arbitral
quanto ao seu mérito, por entendê-la injusta ou por errônea apreciação da prova pelos árbitros,
senão de pedir sua anulação por vícios formais. É por conta desta circunstância que se diz que
a arbitragem, no Brasil, não é equivalente jurisdicional: é propriamente jurisdição, sem qualquer
diferença, a não ser que é privada e o juiz é escolhido pelos litigantes.” – Fredie Didier Júnior.
9 – Limite da Jurisdição:
“Os juízes e tribunais exercem a atividade jurisdicional apenas no território nacional (princípio
da aderência). Dentro do Brasil essa atividade é repartida entre os juízes, de acordo com as
regras de determinação de competência. A denominada competência internacional (art. 88 e
89, CPC) é, na verdade, jurisdição, pois se o juiz brasileiro não tem jurisdição não pode ter
competência, que é daquela derivada.” - Nelson Ney Júnior e Rosa Maria de Andrade Nery.
“Quem dita os limites internacionais da jurisdição de cada Estado são as normas internas
desse mesmo Estado. Contudo, o legislador não leva muito longe a jurisdição de seu país,
tendo em conta principalmente duas ponderações ditadas pela experiência e pela necessidade
de coexistência com outros Estados soberanos: A) a conveniência (excluem-se os conflitos
irrelevantes para o Estado, porque o que lhe interessa, afinal, é a pacificação no seio da sua
própria convivência social); B) a viabilidade (excluem-se os casos em que não será possível a
imposição autoritativa do cumprimento da sentença). A doutrina, sintetizando os motivos que
levam à observância dessas regras, alinha-os assim: a existência de outros Estados
soberanos; respeito a convenções internacionais; razões de interesse do próprio Estado. Fala-
se também nos princípios da submissão e da efetividade, que condicionam a competência
internacional de cada Estado. Assim, em princípio cada Estado tem poder jurisdicional nos
limites de seu território: pertencem à sua autoridade judiciária as causas que ali tenham sede.
No direito brasileiro, os conflitos civis consideram-se ligados ao território nacional quando: A) o
réu tiver domicílio no Brasil; B) versar a pretensão do autor sobre obrigação a ser cumprida no
Brasil; C) originar-se de fato aqui ocorrido; D) for objeto da pretensão um imóvel situado no
Brasil; E) situarem-se no Brasil os bens que constituam objeto de inventário (arts. 88 e 89,
CPC).” – Ada Pellegrini Grinôver, Cândido Rangel Dinamarco e Antonio Carlos de Araújo
Cintra.
“Por respeito à soberania de outros Estados, tem sido geralmente estabelecido, em direito
das gentes, que são imunes à jurisdição de um país: a) os Estados estrangeiros (par in parem
non habet judicium); b) os chefes de Estados estrangeiros; c) os agentes diplomáticos. (...)
Cessa a imunidade, nos termos das regras de direito das gentes: a) quando há renúncia válida
a ela; b) quando o seu beneficiário é autor; c) quando se trata de demanda fundada em direito
real sobre imóvel situado no país; d) quando se trata de ação referente à profissão liberal ou
atividade comercial do agente diplomático; e) quando o agente é nacional do país em que é
acreditado.” – Ada Pellegrini Grinôver, Cândido Rangel Dinamarco e Antonio Carlos de Araújo
Cintra.
AÇÃO:
1. – Conceito:
“Ação como Direito Cívico – É aquela ação prevista no art. 5º, inciso XXXV da CR. É a
palavra ‘ação’ sendo utilizada como direito inerente à pessoa humana, o qual está vinculado ao
direito de personalidade. Qualquer um pode exercer o direito de ação, esteja certo ou errado,
porque a Constituição da República, no dispositivo mencionado, assegura esse direito. A
palavra ‘ação’ nesse sentido tem concepção mais constitucional do que processual.” – Edward
Carlyle Silva.
“Ação como Direito a um Processo Justo e Équo - É uma interpretação do direito de ação
muito atual, baseada na concepção de um processo em que devem ser observadas as
garantias do contraditório, da ampla defesa, da possibilidade de produção de provas, etc.
Trata-se, a bem dizer, da garantia de um processo no qual todos os requisitos de existência e
desenvolvimento do processo sejam devidamente observados, para que tanto autor como o réu
tenham oportunidade de se manifestar no curso do processo, com o objetivo de apresentar
todas as alegações e provas que possam auxiliar o juiz na formação do seu convencimento
com vistas a um julgamento favorável do pedido. (...) É preciso afastar a idéia tradicional de
processo civil com base apenas no ponto de vista do autor da demanda e permitir que
autor e réu sejam tratados de forma equânime, em relação de paridade, concedendo-lhes os
mesmos direitos, deveres, ônus, sujeições e faculdades. O processo civil não é visto mais sob
o ponto de vista do autor. Autor e réu têm os mesmos direitos de proteção do Estado.” –
Edward Carlyle Silva.
“Ação como Direito à Jurisdição – Ocorre que, para prestar a jurisdição (que em regra é
inerte), o Estado precisa ser provocado. Esta provocação é feita pelo exercício do direito de
ação. Instado a prestar a atividade jurisdicional, o Estado precisa de um instrumento para
deixar assentada sua decisão em relação àquele caso concreto, tornando-a pública: o
instrumento através do qual o Estado torna pública sua decisão para aquele conflito é o
processo. A palavra ‘ação’ é utilizada, portanto, no sentido de meio de provocar o Estado para
exercer a atividade jurisdicional. Neste sentido, a palavra em questão possui natureza mais
processual do que constitucional, o que implica a impossibilidade de confundir ação como
direito cívico com ação como direito à jurisdição. Enquanto naquela hipótese qualquer pessoa,
possuindo ou não direito, pode se dirigir ao Poder Judiciário, nesta última a prestação da
atividade jurisdicional está diretamente vinculada à presença ou não dos requisitos necessários
(pressupostos processuais e condições da ação) ao exame do mérito da causa. Isto significa
que existe uma diferença entre prestação jurisdicional ou atividade jurisdicional e o termo ‘tutela
jurisdicional’. Na prestação ou atividade jurisdicional, qualquer pessoa pode pleitear, esteja ela
certa ou não, ou seja, independe de ter ou não razão. Já o termo ‘tutela jurisdicional’ é oriundo
do latim tutere, que significa tutela, proteção. Diante disso, somente tem direito à tutela
jurisdicional quem efetivamente possui razão.” – Edward Carlyle Silva.
“Ação como Demanda – A demanda é a materialização do direito de ação. O correto não é
propor, suspender ou cumular ações, mas sim propor, suspender ou cumular demandas.
Sempre que a palavra ação for utilizada no sentido de ‘exercício concreto do direito de ação’,
ou seja, materializado, na verdade estamos falando de demanda. A ação é abstrata, a
demanda é concreta.” – Edward Carlyle Silva.
“Ação de Direito Material – É a ação que o próprio credor irá realizar para obter o
cumprimento da obrigação. São atos materiais realizados pelo próprio credor, pela própria
pessoa, para obter aquilo que o devedor voluntariamente não cumpriu. O credor pessoalmente,
com suas próprias forças, ingressa no patrimônio do devedor, retira o bem necessário à
satisfação de seu direito, e com isso obtém o pagamento da dívida. Assim, ele irá praticar atos
de direito material, concretos para satisfação do seu direito. (...) O Estado proíbe a autotutela
(mas há exceções legalmente previstas como o desforço pessoal e o direito de retenção). Tal
fato levou alguns doutrinadores à conclusão de que a ação de direito material teria sido banida
do ordenamento jurídico. Para os defensores desta teoria, no momento em que o Estado
proíbe a autotutela, o titular do direito violado pode se dirigir a ele (Estado) através do exercício
do direito de ação (processual) e pleitear a prestação jurisdicional. Diante disso, não se pode
afirmar que a ação de direito material desapareceu, uma vez que determinadas situações
permitem a atuação do próprio titular do direito na defesa de seus interesses, mas ela teria
ficado esvaziada pela possibilidade de ajuizamento da ação processual. Há outra corrente,
entretanto, que sustenta a permanência da ação de direito material no ordenamento jurídico,
mas no sentido de que ela teria sido atribuída ao próprio Estado quando da realização de atos
de execução em face do patrimônio do devedor.” – Edward Carlyle Silva.
“A ação processual possui um conteúdo, que se constitui naquela obrigação no plano do
direito material e que agora faz parte do próprio processo. Essa pretensão recebe a
denominação de pretensão processual, uma vez que formalizada dentro do processo.
Normalmente, o que não quer dizer sempre, a pretensão de direito material e a pretensão
processual tratam da mesma pretensão, embora em momentos distintos. (...) Resumindo: como
não posso exercer a autotutela, não posso exercer na prática minha ação de direito material.
Isto significaria uma divergência doutrinária: 1ª Corrente – a ação de direito material estaria
extinta, salvo nas hipóteses em que o próprio ordenamento permite sua realização, como nos
casos de desforço imediato, direito de retenção, etc. Defendida por Guilherme Rizzo Amaral,
Gabriel Pintaúde e Carlos Alberto Álvaro de Oliveira; 2ª Corrente – a ação de direito material
existiria ‘através’ da ação processual, na medida em que seria caracterizada pela atuação do
Estado na realização de atos executórios. Parece ser a posição de Ovídio Baptista da Silva e
Daniel Francisco Mitidiero. A pretensão processual é o conteúdo da ação processual. Em regra,
ela equivale à pretensão de direito material. Existem casos, entretanto, em que elas não
representam a mesma coisa, isso porque uma diz respeito ao plano do direito material e outra
ao plano processual. Além disso, outra diferença pode ser verificada quando, por exemplo,
você tem o direito de cobrar R$ 100,00 (pretensão de direito material), mas pode cobrar R$
100,00 ou menos (pretensão processual). A pretensão processual pode ser inferior ao direito
material que a pessoa possui. Fato é que o autor não tem direito a receber mais do que a
pretensão de direito material lhe possibilita pedir em juízo (a pretensão de direito processual é
limitada pela de direito material).” – Edward Carlyle Silva.
3. – Condições da Ação:
“Alexandre Câmara prefere o termo ‘requisitos do provimento final’, José Carlos Barbosa
Moreira denomina de condições para o regular exercício do direito de ação, porque para ele, se
uma das condições não estiver presente, não é hipótese de ausência de direito de ação (plano
da existência), mas sim de abuso do direito de ação (plano da validade).” – Edward Carlyle
Silva
Legitimidade Ordinária – ocorre quando alguém, em nome próprio, defende interesse próprio.
Pode ser considerada a regra no ordenamento jurídico;
Legitimidade Extraordinária – (art. 6º, CPC) ocorre quando alguém, em nome próprio, defende
interesse alheio. Não é representação, uma vez que ele defende em nome próprio, e não em
nome de outrem, aquele direito. Um exemplo é o caso em que o Ministério Público propõe uma
ação de investigação de paternidade. O MP não é titular do direito, nem pode ser considerado
como representante do menor, mas a lei atribui a ele a legitimação extraordinária para
ingressar com a demanda. (...) Legitimação extraordinária é sempre prevista em lei. (...)
Tema controvertido é o que trata da legitimidade extraordinária e da substituição processual
ensejando o aparecimento de entendimentos como:
1ª corrente: para os adeptos dessa corrente, a legitimidade extraordinária e a substituição
processual são tratadas como sinônimas;
2ª corrente: defendida por José Carlos Barbosa Moreira. Para ele a legitimidade extraordinária
pode ser de dois tipos: subordinada e autônoma. A subordinada é aquela que ‘... não habilita
o respectivo titular nem a demandar nem a ser demandado quanto à situação litigiosa, mas
unicamente a deduzi-la, ativa ou passivamente, junto com o legitimado ordinário, em processo
já instaurado por este ou em face deste, e no qual aquele se limita a intervir.’ Já a legitimidade
extraordinária autônoma é aquele em que se ‘... confere ao respectivo titular a possibilidade
de atuar em juízo com total independência em relação à pessoa que ordinariamente seria
legitimada’. Ele ainda divide a legitimação autônoma em exclusiva e concorrente. Legitimidade
extraordinária autônoma exclusiva: ocorre quando é atribuída a uma pessoa, em virtude de
lei e com exclusividade, ‘a posição processual que ordinariamente pertenceria ao titular da
situação litigiosa’. Legitimidade extraordinária autônoma concorrente: ocorre quando ‘a
legitimação extraordinária não cancela a legitimação ordinária do titular da situação jurídica
litigiosa, nem lhe produz o rebaixamento de nível (...). Tão somente concorre com ela, tornando
indiferente para a verificação da regularidade do contraditório que no processo figure apenas o
legitimado extraordinário, apenas o ordinário, ou ambos’. Para o professor José Carlos Barbosa
Moreira, a substituição ocorre na legitimação extraordinária autônoma exclusiva. O exemplo
dado por ele é o caso do marido na defesa dos bens dotais da mulher, o que aliás, não existe
mais no novo CC.” – Edward Carlyle Silva.
“Possibilidade Jurídica do Pedido: para autores como Liebman e José Eduardo Carreira
Alvim, possibilidade jurídica do pedido significa a admissibilidade em tese do pedido formulado.
É importante salientar que é possível a existência de pedido que não encontra previsão legal: a
impossibilidade jurídica significa que o pedido é proibido pela lei. Em contrapartida, não
havendo qualquer previsão, o pedido, em tese, é juridicamente possível, até mesmo por força
do princípio da indeclinabilidade ou inafastabilidade da jurisdição. Liebman criou a possibilidade
jurídica do pedido, mas a partir da 3ª edição de seu manual, ele a abandonou, salientando que
tal problema poderia ser solucionado através do interesse de agir. Mas no Brasil estas duas
condições não se confundem.” – Edward Carlyle Silva.
“Causa de Pedir – há duas teorias que procuram esclarecer o conteúdo da causa de pedir:
Teoria da individuação (ou individualização): De acordo com essa teoria, a causa de pedir é
composta apenas da menção à relação jurídica que envolve as partes, sendo desnecessária a
apresentação de fatos, bastando apenas demonstrar a relação jurídica existente entre o autor
da demanda e o bem da vida pretendido. Dependendo do tipo de demanda proposta, a relação
é entre autor e réu.
Teoria da substanciação: amplamente dominante na doutrina e jurisprudência, ela afirma que
o conteúdo da causa de pedir é formado pelos fatos e fundamentos jurídicos apresentados pelo
autor. Com base nesses fatos, o juiz poderá qualificá-los juridicamente e eventualmente
atribuir-lhes as conseqüências jurídicas pleiteadas pelo autor. O Código faz menção a adotar
esta teoria quando afirma que o autor deverá apresentar na petição inicial os fatos e
fundamentos jurídicos de seu pedido. (art. 282, III do CPC).
A causa de pedir pode ser (em relação à proximidade do pedido):
Remota – são os fatos relatados pelo autor na inicial.
Próxima – são os fundamentos jurídicos. Na verdade, a causa de pedir remota são os fatos
constitutivos do direito do autor que processualizam o direito material que o autor julga possuir.
E a fundamentação jurídica é a adequação do fato a uma norma legal que permite a este autor
a propositura da demanda pleiteando a prestação jurisdicional, em razão da suposta violação
àquela norma. Por isso que alguns autores falam em causa de pedir ativa que são os fatos
constitutivos, ou seja, os fatos geradores do direito do autor.
Por outro lado, existiria a chamada causa de pedir passiva caracterizada pela violação da
norma legal realizada pelo réu e que ocasionaria o direito à prestação jurisdicional. Seria
possível falar, ainda, em causa de pedir simples, composta e complexa.
Simples – aquela composta apenas por uma só causa de pedir que dará ensejo a um pedido.
Composta – duas ou mais causas de pedir fundamentam um pedido.
Complexa - há duas ou mais causas de pedir ensejando a formação de dois ou mais pedidos.”
– Edward Carlyle Silva.
6. – Cumulação de Demandas:
“Exemplo: Maria propõe demanda em face de João, com pedido de separação judicial. Ela
alega abandono do lar e violência doméstica por parte do marido. Nesse caso, quantas
demandas existem? Existem duas demandas em um único processo. (...) O fato é que a
alteração de qualquer dos elementos da demanda (partes, pedido ou causa de pedir) enseja o
surgimento de uma nova demanda, distinta daquela que foi proposta. Resumindo: no caso
acima tenho duas demandas cumuladas em um só processo. É a cumulação de demandas que
alguns autores chamam de cumulação causal, porque é caso de cumulação de causas de
pedir. A cumulação de pedidos do art. 292, CPC ocorreria no caso de Maria alegar violência
por parte de João e formular dois pedidos, separação e indenização, por exemplo. Também
são duas demandas, há cumulação de demandas, mas em razão dos pedidos feitos. É a
denominada cumulação de pedidos prevista no art. 292 do CPC. No caso de três autores
formulando um pedido em face do réu, com base em uma causa de pedir, dependendo do tipo
de natureza da relação jurídica de direito material, também seria caso de cumulação de
demandas, conhecida normalmente com o nome de litisconsórcio ou cumulação subjetiva. O
litisconsórcio é uma das espécies de cumulação subjetiva, mas não é a única, porque esta
também abrange a intervenção de terceiros.” – Edward Carlyle Silva.
“Apesar de a doutrina nacional defender a pretensão processual como sendo o objeto do
processo, e, portanto, o elemento passível de pluralidade, a causa de pedir das próprias partes
também podem dar ensejo ao surgimento da cumulação de causas. Diante disso, não obstante
existir quem sustente a teoria ser a demanda o próprio objeto do processo, enquanto outros
afirmam ser a pretensão, a cumulação de causas surge com base na pluralidade de elementos
identificadores da demanda, ou seja, partes, pedido ou causa de pedir. Assim sendo, embora
Dinamarco afirme que ‘... através da demanda, formula a parte um pedido, cujo teor determina
o objeto do litígio e, conseqüentemente, o âmbito dentro do qual toca ao órgão judicial decidir a
lide (art. 128)’, o fato de qualquer demanda ser identificada por três elementos distintos (partes,
pedido e causa de pedir) implica em admitir que qualquer modificação ou pluralidade de tais
elementos acarretará o surgimento de uma nova demanda (modificada) ou varias delas
(pluralidade de partes, pedido ou causa de pedir).
O art. 292 do CPC afirma, portanto, que a hipótese versada em seu texto cuida de cumulação
de pedidos, ou seja, apenas um dos elementos passíveis de cumulação, entendido aqui no
sentido de ‘pretensão’. Contudo, é inegável que, ao estabelecer para a cumulação de tais
pedidos que eles não precisam ser conexos, o próprio legislador demonstra que existe
diferença entre as espécies de cumulação e os casos de conexão. Diante disso, muito embora
o Código de Procesos Civil afirme que o art. 292 cuida de cumulação de pedidos, a doutrina se
divide entre aqueles que entendem ser caso de cumulação de ações, de pedidos, de
demandas ou de pretensões.” – Edward Carlyle Silva.
Modalidades de intervenção:
1) por provocação - intervenção provocada ou coacta;
2) por deliberação espontânea do terceiro - intervenção voluntária ou espontânea.
A intervenção provocada assume 3 institutos distintos:nomeação à autoria, denunciação da
lide, chamamento ao processo.
A intervenção voluntária ou espontânea se apresenta pelos seguintes institutos: assistência,
oposição. A intervenção voluntária é aquela em que o ingresso do terceiro no processo é
deixado ao seu arbítrio. Os efeitos da sentença não serão refletidos diretamente no terceiro,
todavia, poderão, de modo reflexo, trazer-lhe algum prejuízo. Assim, se desejar, poderá o
terceiro interferir no feito para tentar, por vias diretas ou indiretas, batalhar para o resguardo de
seus direitos ou interesses.
A intervenção voluntária pode ser: a) ad coadjuvandum – aquela em que o terceiro intervém na
relação processual para auxiliar uma das partes, praticando atos processuais com o objetivo de
que a sentença seja favorável àquela parte que ele ajuda; b) ad excludendum – dá-se quando
o terceiro intervém no processo exercendo uma pretensão sobre a coisa ou o direito que é o
objeto da controvérsia entre autor e réu.
Para Fredie Didier, toda intervenção de terceiro propriamente dita é incidente do processo; se o
terceiro gera processo novo ele não estará intervindo. Por isso é que os embargos de terceiro
não são intervenção de terceiro.
Uma intervenção de terceiros pode acarretar:
a) uma ampliação subjetiva do processo (ex. denunciação da lide);
b) uma modificação subjetiva do processo (ex. nomeação à autoria);
c) uma ampliação objetiva do processo (ex. oposição)
LITISCONSÓRCIO
O litisconsórcio pressupõe pluralidade de partes no processo, de autor (ativo), ou do réu
(passivo), ou de ambos (misto).
Alguns autores entendem que o litisconsórcio implica, necessariamente, na cumulação de
pretensões. Outros autores, ao contrário, entendem que a pretensão é única, mas dirigida a
mais de uma pessoa. Na realidade, há casos em que a pretensão é única, e tal ocorre, quando
o litisconsórcio é necessário. Tratando-se de litisconsórcio facultativo, há cumulação de
pretensões.
O litisconsórcio pode ser :
Facultativo- quando se forma pela vontade originária das partes. O litisconsórcio facultativo
ativo forma-se no momento do ajuizamento da ação, não se admitindo o litisconsórcio
facultativo ativo ulterior, sob pena de afronta ao princípio do juiz natural. A limitação do
litisconsórcio facultativo não impede que o excluído ajuíze sozinho ação autônoma ou que haja
reunião dos processos por conexão (Nery, 2003).
Necessário- quando é de formação obrigatória, seja por determinação de lei, seja em razão da
natureza da relação jurídica deduzida no processo. Exemplo de litisconsórcio necessário pela
lei: citação obrigatória de ambos os cônjuges nas ações reais imobiliárias (art. 10, § Único,
CPC). Exemplo de litisconsórcio necessário pela natureza da relação jurídica: dissolução de
sociedade, em que, pela própria lógica, devem ser citados todos os sócios. O litisconsórcio
necessário subdivide-se também em unitário e simples. Os dois exemplos citados
anteriormente são casos de litisconsórcio necessário unitário. Um exemplo de litisconsórcio
necessário simples seria o usucapião, em que obrigatoriamente são citados todos os
confinantes, além da pessoa em cujo nome o imóvel está registrado, podendo a decisão ser
diferente para cada confinante. O litisconsórcio necessário deve estar fundamentado em uma
das hipóteses do art. 46, I, do CPC. Tal dispositivo também poderá embasar o litisconsórcio
facultativo, será, contudo, necessário, em razão da lei ou da natureza da relação jurídica.
A redação do art. 47, do CPC, não é perfeita pois acaba definindo o litisconsórcio necessário
como sendo aquele em que o juiz tem que decidir a lide de forma uniforme para todos os
litisconsortes. Tal definição, conforme abaixo, é a do litisconsórcio unitário. Como é cediço, o
litisconsórcio necessário pode ser simples ou unitário. Será sempre unitário o litisconsórcio
necessário fundado na natureza da relação jurídica. Por outro lado, o litisconsórcio necessário
por preceito legal poderá ser simples ou unitário. Por fim, não se pode olvidar a possibilidade
de haver litisconsórcio facultativo e unitário.
Unitário é aquele em que o juiz tem de decidir a questão de modo igual para todos os autores e
todos os réus, não podendo a sentença ser procedente para uns e improcedente para outros.
Isto porque a relação jurídica é a mesma.
Simples– é aquele em que a decisão pode ser diferente para cada litisconsorte. Quatro
empregados de uma empresa, por exemplo, propõem juntos uma reclamação trabalhista para
obter determinada verba. A decisão pode ser diferente para cada um, dependendo das
respectivas provas e situações.
As classificações acima se cruzam, ou seja, o litisconsórcio pode ser necessário unitário,
necessário simples, facultativo unitário e facultativo simples.
O litisconsórcio se forma quando os direitos e obrigações derivarem do mesmo fundamento de
fato ou de direito; quando ocorrer conexão pelo objeto ou causa de pedir. O objeto mediato é o
bem, objeto de direito material sobre o qual incide a ação.
No litisconsórcio simples,os litisconsortes são independentes e autônomos entre si. Os atos de
um não prejudicam nem favorecem os outros (art. 48, CPC). Cada um tem de fazer a sua
defesa e apresentar as suas provas.
No litisconsórcio unitário, tanto facultativo como necessário, a sentença será igual para todos.
Por isso, os atos úteis, praticados por um, beneficiam os demais. A todos os litisconsortes
aproveita a defesa de um só, a exceção oposta por um só, a prova oferecida por um só. O
recurso de um só também a todos aproveita (art. 509, CPC). Por outro lado, em regra, os atos
prejudiciais de um não atingem a comunidade dos co-litigantes. A confissão de um só, por
exemplo, é inoperante, vez que apenas será válida a confissão coletiva (art. 302, I, CPC). No
unitário, atos que beneficiem um, aproveitam aos demais. Atos que prejudiquem, não
aproveitam.
No litisconsórcio passivo necessário, a ação não se instaura validamente sem a participação de
todos (art. 267, VI, CPC). Se faltar um litisconsorte necessário passivo, ordenará o juiz que o
autor promova a citação do mesmo. Não poderá o juiz determinar a citação ex officio do
litisconsorte necessário. A ausência de litisconsorte necessário acarreta a ineficácia da
sentença prolatada. A sanção para a parte que não providencia a citação do litisconsorte
necessário ou unitário é a extinção do processo sem julgamento do mérito.
Toda vez que se vislumbrar a possibilidade de a sentença atingir diretamente a esfera jurídica
de outrem, a menos que a lei estabeleça a faculdade litisconsorcial, deve ser citado como
litisconsorte necessário.
Na ação coletiva para a defesa de direito individual homogêneo, as pessoas não são parte na
ação. Apenas os legitimados do art. 82, CDC é que estão autorizadas a ingressar com a ação,
não havendo litisconsórcio multitudinário.
Nos termos do art. 47, § Único, do CPC, o juiz ordenará ao autor que promova a citação
de todos os litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar, sob pena de
declarar extinto o processo.
O dispositivo acima mencionado só se aplica no caso de citação de litisconsorte necessário
passivo. No pólo ativo, se faltar litisconsorte, a ação poderia ser proposta, pois ninguém pode
ser obrigado a ser autor de uma ação ou a aderir a pedido alheio (Celso Agrícola Barbi).
Ademais, entende-se que não pode o autor ser privado do seu direito de ação (art. 5º, XXXV,
CF); ou seja, não se pode condicionar a ida de alguém a juízo à aceitação de outrem. Em
suma, não existe litisconsórcio necessário no pólo ativo, mesmo sendo unitário, pois quem
quiser ajuizar uma ação não pode ser condicionado à formação de litisconsórcio no pólo ativo.
ASSISTÊNCIA
É uma das formas de intervenção de terceiros (CPC art. 50/55). Embora o CPC tenha tratado
da assistência junto ao litisconsórcio, ou seja, fora do capítulo “Intervenção de Terceiro”, é de
entendimento geral que, na realidade, o ingresso do assistente no processo seja caso típico de
intervenção voluntária de terceiro, mesmo quando é considerado litisconsorte da parte
principal.
Nos termos do art. 50 do CPC, dá-se a assistência quando o terceiro, na pendência de uma
causa entre outras pessoas, tendo interessejurídico em que a sentença seja favorável a uma
das partes, intervém no processo para prestar-lhe colaboração.
A assistência permite que o terceiro intervenha no processo para combater a simulação e a
fraude, auxiliando a parte a que assiste, exercendo os mesmos poderes, sujeitando-se aos
mesmos ônus. O assistente pode ser considerado gestor de negócios ou substituto processual
do assistido caso este seja revel.
Enquanto durar o processo, cabe a intervenção do assistente; não existindo limite de
tempo/grau de jurisdição para a manifestação do assistente.
Espécies: assistência (simples ou adesiva), (litisconsorcial ou autônoma).
O interesse do assistente, seja simples ou litisconsorcial, é sempre jurídico.
O que difere a assistência simples da litisconsorcial é o fato de, na simples, não haver relação
jurídica entre assistente e adversário do assistido; ao passo que, na litisconsorcial, o assistente
tem relação direta com o adversário do assistido.
Assistência simples (art. 50, CPC): é a intervenção de terceiros no processo entre as partes
visando a sustentar as razões de uma delas contra a outra. O assistente intervém no auxílio de
uma das partes contra a outra, em razão do interesse jurídico que tem na vitória do assistido
e/ou na derrota do adversário do assistido. O papel do assistente é o de auxiliar a parte
assistida em defesa do direito da mesma. Ex: sublocatário que assiste o locatário em demanda
deste contra o locador. A assistência simples é forma exata de intervenção de terceiros, ao
contrário da assistência litisconsorcial, em que o assistente é parte.
A assistência litisconsorcial, por sua vez, pressupõe haver uma relação jurídica entre o
interveniente e o adversário do assistido; essa relação há de ser normada pela sentença. A
assistência será litisconsorcial, pois, se a sentença tiver de ser uniforme, envolvendo
diretamente também o direito do assistente, como no caso de um condômino em coisa indivisa
que intervenha em auxílio de outro condômino (art. 54, CPC). Trata-se de verdadeiro
litisconsórcio unitário.
O interesse do assistente terá de ser jurídico, não podendo ser apenas econômico (RT
469/170), seja a assistência simples ou litisconsorcial. O assistente pode contestar no lugar do
assistido revel (RT 550/127); recorrer da sentença, mesmo que não o faça o assistido (RT
402/199), bem como purgar a mora do locatário assistido (RT 542/166). Não é permitido,
contudo, postular contra o assistido (RT 383/181).
Admite-se a assistência em qualquer ação e em qualquer procedimento ou grau de jurisdição.
Não cabe, porém, assistência na jurisdição voluntária, porque não há litígio, apenas atividade
administrativa do juiz. A relação jurídica processual quando decidida definitivamente dá origem
à sentença. Esta sentença diz respeito às partes da relação processual, não a terceiros
estranhos a esta.
Para ingressar como assistente, o terceiro o fará por meio de petição fundamentada onde
comprovará suas alegações indicando a parte que pretende assistir e juntando documentos.
Os poderes processuais do assistente litisconsorcial são os mesmos do assistido. O assistente
litisconsorcial pode praticar qualquer ato processual com ou sem oposição do assistido, e,
como tal, pode alegar prescrição.
A sentença faz coisa julgada entre as partes. Oassistente litisconsorcional, uma vez que é parte
no processo, se submete à coisa julgada. Ora, uma vez que o assistente litisconsorcial é titular
do direito discutido em juízo, será atingido pela coisa julgada. Ex.: o adquirente do bem
litigioso, que não seja admitido a suceder o alienante, pode ingressar na lide como assistente
litisconsorcial (ele tem relação jurídica com o adversário do assistido). Para Marinoni, a
assistência litisconsorcial corresponde à formação de um litisconsórcio ulterior (o assistente
litisconsorcial, apesar de não formular pedido próprio, ele adere ao pedido formulado pelo
assistido).
Diz o art. 55 do CPC que ao terceiro, havendo ingressado como assistente, depois não será
lícito discutir a justiça da decisão. Tal artigo tem aplicação, exclusivamente, à assistência
simples.
Tal artigo não significa, em rigor técnico, que ele (o assistente simples) fique sujeito às
vinculações inerentes à coisa julgada. Esta se refere exclusivamente ao conteúdo da sentença
em relação aos eventuais direitos e obrigações entre autor e réu. Somente foi julgada a
pretensão daquele em face deste e por isso somente os efeitos sentenciais referentes a essa
pretensão é que ficam cobertos pelo julgado. E o assistente simples, que não é sujeito desses
direitos e obrigações e não foi o autor da pretensão ou destinatário dos efeitos da sentença,
não fica dentro dos limites subjetivos da coisa julgada.
A vinculação do assistente simples, neste caso, constitui o que a doutrina chama de eficácia da
intervenção. Trata-se de autêntica eficácia preclusiva da coisa julgadae não da res judicata em
si mesma. Em virtude dela, ficará o assistente preso ao julgamento pronunciado inter alios, na
medida em que venha a ser relevante em eventual causa ulterior na qual ele figure como parte
principal. Em suma, até o que consta da fundamentação – e não-só do dispositivo – resta
imodificável através de nova demanda, por conta do instituto da eficácia preclusiva da coisa
julgada ou justiça da decisão. O efeito da intervenção somente poderá ser afastado, se o
assistente simples alegar e provar que pelo estado em que recebera o processo, ou pelas
declarações do assistido, fora impedido de produzir provas suscetíveis de influir na sentença,
ou que desconhecia a existência de alegações ou de provas, de que o assistido, por dolo ou
culpa, não se valeu.
O artigo 55 do CPC, que trata da eficácia preclusiva da coisa julgada, não se destina ao
assistente litisconsorcial, pois este, a rigor, já fica submetido à coisa julgada, por se tratar de
caso de verdadeiro litisconsórcio unitário.
Lei 9469/97, art. 5º. É possível (não obrigatório) que a União intervenha nas causas em que
sejam partes os estes da administração indireta -federais, não tendo a UF que demonstrar
interesse estritamente jurídico em que a sentença venha a ser favorável à entidade assistida.
A maior novidade, porém, está no fato de poder a administração direta ou indireta intervir em
QUALQUER DEMANDA cuja sentença possa influir, ainda que de forma indireta, no patrimônio
da aludida pessoa jurídica. Nesses casos, por se tratar de intervenção atípica, a competência
não se desloca para a JF, salvo se a entidade de direito público interpuser recurso. Nesse
caso, será considerada assistente e haverá deslocamento de competência.
Observações:
- o simples interesse econômico não embasa a assistência. Assim, o credor do demandado
numa ação reivindicatória não está legitimado a intervir para auxiliar seu devedor, uma vez que
o seu interesse não é jurídico, pois a sentença contrária ao seu devedor, ainda que possa
reduzi-lo à insolvência, não vai interferir na existência da relação obrigacional que liga o
demandado ao seu credor;
- o assistente não pode ser considerado parte da demanda, pois não faz pedidos e não formula
nenhum pedido em face de si; no entanto, Liebman e Fredie Didier Jr. afirmam a qualidade de
parte do assistente;
- Fredie Didier Jr. sustenta que o assistente simples atua no processo como legitimado
extraordinário, pois, em nome próprio, auxilia a defesa de direito alheio. Tal entendimento
parece merecer uma reflexão mais aprofundada. O legitimado extraordinário recebe
legitimidade legal para em nome próprio figurar como parte na defesa de direito alheio, e não
simplesmente para auxiliar a parte na defesa de direito desta;
- as pessoas jurídicas de direito público poderão, mediante simples demonstração de interesse
econômico, ingressar como assistente (art. 5º, parágrafo único, da Lei n.º 9.469, de 10-07-97);
- a União poderá intervir como assistente, independentemente da demonstração de qualquer
tipo de interesse (quase sempre, interesse econômico), nas causas em que figurarem como
partes as suas autarquias, fundações públicas, empresas públicas e sociedades de economia
mista (art. 5º, caput, da Lei 9.469/97). Marinoni e Sérgio Cruz denominam tal figura de
intervenção anômala;
- o mero interesse moral não autoriza a assistência.
- se a parte assistida for vencida, o assistente será condenado nas custas em proporção à
atividade que houver exercido no processo (art. 32 do CPC);
- é descabida a condenação do assistente simples em honorários advocatícios (Celso Agrícola
Barbi, RT 623/50);
- se o assistido for revel, o assistente assumirá a posição de gestor de negócios daquele
(parágrafo único do art. 52 do CPC); devendo ser ressaltado que a figura da gestão se limita ao
campo processual;
- o assistente simples não pode praticar atos contrários à vontade do assistido;
- discute-se se o assistente simples pode, contra a vontade do assistido, recorrer da sentença.
Contra a possibilidade de recurso, Nélson Nery. A favor, RJTJSP 111/43 e RT 514/194;
- o assistente não pode suscitar exceção de incompetência de foro, oferecer reconvenção ou
propor ação declaratória incidental;
- assistente está sujeito ao denominado efeito de intervenção, segundo o qual, uma vez
transitada em julgado a sentença, na causa em que interveio o assistente, este não poderá, em
processo posterior, discutir a justiça da decisão (art. 55 do CPC), salvo se alegar e provar a
exceção de processo mal conduzido ou de má gestão processual (exceptio malegesti
processus), nos termos do art. 55, I e II, do CPC. Por justiça da decisão se entende a definição
quanto aos fatos e fundamentos jurídicos. Assim, pelo efeito da intervenção, o assistente fica
adstrito ao fundamento da sentença, e não à parte dispositiva. Seria, por exemplo, o caso da
intervenção do fiador no processo em que se discute a obrigação principal, ficando aquele
impedido de, em processo futuro, rediscutir o reconhecimento da obrigação principal.
- não se admite a assistência no processo de execução, uma vez que este visa realizar o direito
do credor, e não a formar um título favorável àquele que haveria de ser assistido (Ovídio
Baptista, Alexandre Freitas Câmara, Athos Gusmão Carneiro, Sergio Ferraz, Arruda Alvim,
Humberto Theodoro, STJ- 6ª Turma- REsp 329059/SP e TFR - 5ª Turma, DJU, 1, 22.8.88).
Existe posição em contrário (Celso Agrícola Barbi, Cândido Dinamarco, Ernane Fidélis dos
Santos e Nélson Nery);
- é possível o ingresso do assistente por ocasião da liquidação da sentença;
- se a União ingressa como assistente, em ação indenizatória em curso na Justiça Estadual,
em fase de liquidação, a competência se desloca para o foro federal, não se aplicando o
princípio da perpetuatio jurisdictionis (STJ, 4ª Turma, DJU, 1, de 18.2.91);
- estando o processo em grau de recurso, o pedido de assistência deve ser formulado perante
o juízo ad quem;
- não se admite no Juizado Especial Cível a assistência simples (art. 10 da lei 9.099/95);
- discute-se quanto ao cabimento da assistência litisconsorcial no Juizado Especial Cível, tendo
em vista o disposto no art. 10 da LJE. Nélson Nery entende que não, enquanto Theotônio
Negrão, que sim;
- não cabe assistência simples em ação direta de inconstitucionalidade ( art. 7º , caput, da Lei
9.868/99 e julgado do STF na ADIN 1191-0). Por outro lado, o STF, com base no art. 7º, § 2º,
da lei antes referida, admite o ingresso de terceiro na ADIN na condição de amicus curiae,
tendo em vista a necessidade de legitimar socialmente as decisões em controle concentrado de
constitucionalidade. A admissão de alguém na condição de amicus curiae exige que o alguém
tenha representatividade, ou seja, o ente deve representar os interesses gerais da coletividade
ou expressar valores essenciais e relevantes de grupos, classes ou estratos sociais;
- ao amicus curiae, inicialmente, o STF não reconheceu legitimidade para fazer sustentação
oral em ADin (ADin MC 2.223-DF), passando a admitir a partir do julgamento da ADI 2777
QO/SP;
- entende-se que não cabe assistência nos procedimentos de jurisdição voluntária, pois nesta
não há litígio;
- a doutrina e a jurisprudência dominantes, inclusive a do STJ e a do STF (RE 111.778-8),
fixaram-se no sentido do não cabimento da assistência simples em mandado de segurança.
Ovídio Baptista mantém tese oposta;
- Ovídio Baptista e Marcelo Abelha defendem o cabimento da assistência no processo cautelar.
Já Marcus Vinícius Rios só admite em cautelar de produção antecipada de provas;
- Antônio Gidi (Coisa julgada e litispendência em ações coletivas. Saraiva, 1995, p. 54-55) não
admite que o particular possa ingressar como assistente em ação coletiva para defesa de
interesses difusos ou coletivos. Por outro lado, Fredie Didier Jr., embasado no § 2° do artigo 5°
da Lei da Ação Civil Pública, defende o cabimento da assistência em ação coletiva por parte de
um co-legitimado;
- O Código de Defesa do Consumidor, em seu art. 94, prevê a possibilidade de o particular
intervir nas causas relativas a direitos individuais homogêneos
OPOSIÇÃO
Nos termos do art. 56 do CPC: “Quem pretender, no todo ou em parte, a coisa ou o direito
sobre que controvertem autor e réu, poderá, até ser proferida a sentença, oferecer oposição
contra ambos”.
É intervenção ad excludendum, visa a procurar comprovar que nenhumas das partes
originárias têm razão.
Essa intervenção desnatura a idéia e a condição de terceiro, porque o opoente, quando
participa do processo, formula ação própria, tendente a excluir a pretensão dos sujeitos iniciais
sobre o objeto litigioso do processo. Como se sabe, quem formula ação própria é parte e não
terceiro.
Traz um pedido novo, ampliando objetivamente a lide.
Gera um litisconsórcio ulterior necessário, porém não necessariamente unitário (entre os
opostos – autor e réu originários).
A oposição pode ser total ou parcial, ou seja, pode referir-se a toda a coisa ou direito litigioso,
ou apenas parte dele.
Na oposição, o opoente formula sua pretensão independente, mas conexa com a causa. É
espécie de intervenção de terceiro no processo. A oposição se caracteriza pela pretensão que
o terceiro tem sobre a coisa ou direito em controvérsia. Pode ser oferecida até a sentença e
deve ser proposta contra ambos os opostos (Autor e Réu da demanda principal), desde que
haja conexão entre o objeto mediato do pedido, que é a coisa ou direito disputados. Forma-se,
assim, com a oposição, um litisconsórcio necessário posterior simples entre os opostos.
A oposição será deduzida no mesmo processo em que as partes originariamente contendem,
sempre que vier antes da audiência (art. 59) – é a oposição interventiva.Com ela, aquele que
não é parte, mas pretenda o mesmo bem ou direito em torno do qual litigam as partes, tornar-
se-á parte também e estará inserido na relação processual já existente.
Se este terceiro formular oposição depois de iniciada a audiência, com isso dará formação a
processo novo e a sua oposição dir-se-á autônoma(art. 60, CPC), onde o opoente não se
insere entre os sujeitos do primeiro processo.
Em outras palavras, pode constatar-se, então, que a atitude do terceiro em relação ao bem ou
direito em disputa pelas partes de um processo pendente pode dar-se: a) mediante a oposição
interventiva, até que se inicie a audiência de instrução e julgamento da causa pendente; b)
mediante oposição autônoma, que dá origem a novo processo e não é propriamente uma
intervenção de terceiro, sempre que trazida a juízo quando já iniciada a audiência e sempre
antes da prolação de sentença de mérito ou terminativa; c) mediante a propositura de demanda
verdadeiramente autônoma, que também dá origem a novo processo, a partir de quando
proferida a sentença e mesmo que o processo ainda penda de recurso.
Na modalidade interventiva, a oposição será necessariamente julgada com a causa principal,
dado que se integram num processo só (art. 59). A oposição interventiva caracteriza-se como
um incidente do processo, recaindo sobre ele e nele sendo resolvida juntamente com a causa
originária.
Já a oposição autônoma se dá através de um processo incidente.
A oposição autônoma poderá, conforme o caso, ser julgada em conjunto com a causa principal,
sobrestando-se no andamento desta à espera da instrução daquela (art. 60). Mas, ao deduzi-
la, o terceiro dá vida a um novo processo: trata-se de um processo incidente, dado que
produzirá efeitos destinados a se projetarem sobre aquele. Assim, se apresentada a oposição
depois de iniciada a audiência, corre em autos separados, mas nada impedirá que o juiz, antes
de proferir a sentença, determine a reunião dos autos da ação e da oposição.
A oposição autônoma, por ser um novo processo, se extingue por uma sentença. Ademais, a
lei diz que a oposição autônoma ‘seguirá o procedimento ordinário’ (art. 60), mas, segundo
Cândido Rangel Dinamarco, inexiste razão para que esse processo de oposição, que é
processo em si mesmo e não mero incidente, seja invariavelmente encaminhado ao
procedimento ordinário, quando haja fundamento para fazê-lo trilhar as vias do sumário (seja
pela natureza da causa, seja pelo valor: CPC, art. 275, I e II).
Na oposição interventiva, o opoente deixa de ser terceiro em relação ao processo instaurado
entre os opostos, ingressando nele e fazendo-se parte.
Já na oposição autônoma, o terceiro não se torna parte no processo inicial e quanto a ele
mantém a qualidade de terceiro, (art. 60). É curioso observar que, mesmo nesta, a partir de
quando eventualmente reunidos os feitos para sentença única todos os três sujeitos passam a
ser partes de um processo só e como tais são tratados (para fins recursais, etc.).
A demanda proposta depois da prolação de sentença não suspende o primeiro processo, os
autos não se apensam aos deste e os julgamentos serão sempre separados (pela própria
razão de o primeiro deles já ter recebido sentença em primeiro grau, pelo menos).
O que difere a oposição autônoma do art. 60 do processo autônomo (que se dá com o
oferecimento da oposição após a sentença) é o fato de a primeira poder gerar
julgamento simultâneo das lides (principal e oposição autônoma), tendo o juiz da
demanda inicial competência funcional para julgar a oposição.
# Observações:
- Marcus Vinícius Rios e Fredie Dider Jr. entendem que a oposição interventiva corre nos
mesmos autos da ação primitiva;
- no julgamento conjunto da ação e da oposição, deve o juiz conhecer desta em primeiro
lugar (art. 61 do CPC), pois o julgamento da oposição interfere na apreciação da ação
primitiva. Com efeito, se acolhida a oposição, fica prejudicado o julgamento da ação. É
nula a sentença que inverte a ordem (JTA 96/70);
- a extinção da ação principal não obsta o prosseguimento da oposição (Nélson Nery, Aldo
Sabino e RT 599/63);
- há divergências quanto ao recurso cabível contra o ato que rejeita liminarmente a oposição:
há um entendimento de que seria apelação (Ovídio Baptista e Vicente Greco Filho e JTA
91/380); o segundo entendimento é no sentido de que caberia agravo de instrumento (Arruda
Alvim, RP. 2/237). Nélson Nery e Bedaque entendem que a rejeição liminar da oposição antes
da audiência se configura decisão interlocutória e, depois da audiência, sentença;
- a hipótese de oposição não se confunde com a de embargos de terceiro. Nestes, busca-se
desembaraçar bem atingido por constrição judicial; já naquela, insurge-se contra pretensões de
autor e réu deduzidas num processo em curso;
- embora não sendo unânime, prevalece o entendimento segundo o qual não cabe oposição
em processo de execução, uma vez que neste não haveria controvérsia material entre autor e
réu, pressuposto básico para a intervenção do terceiro na qualidade de opoente (JTA 99/128,
Arruda Alvim, Nélson Nery, Dinamarco, Marcus Vinícius Rios). Celso Agrícola Barbi entende
que não é possível oposição apenas em execução baseada em sentença. Já Humberto
Theodoro admite a oposição sem restrição no processo de execução;
- Ernane Fidélis não admite oposição no processo cautelar. Já Aldo Sabino admite “nas
hipóteses em que seria cabível na cognição”;
- o art. 280 do CPC excluiu a oposição do procedimento sumário;
- os opostos são citados na pessoa de seus advogados (art. 57 do CPC), independentemente
de estes terem recebido poderes especiais, uma vez que o poder para receber a citação
decorre da lei; no entanto, não pode ser feita mediante publicação na imprensa, devendo ser
observadas as modalidades citatórias previstas no CPC;
- é incabível oposição oferecida em ação possessória pelo titular do domínio (JTA 107/214).
Divergente é a posição de Ovídio Baptista;
- é controvertida a questão relativa ao fato de ser aplicável a regra do art. 191 do CPC em se
tratando de prazo para contestar a oposição. Eduardo Arruda Alvim, Moniz de Aragão, Luiz
Fux, Ovídio Baptista, João Penido Burnier Jr. e Nélson Nery entendem que não. Celso Agrícola
defende a aplicação;
- não se admite oposição nos juizados especiais (art.10 da LJE);
- não cabe oposição em desapropriação (Nélson Nery e RT 505/153);
- o instituto da oposição, por restringir-se ao âmbito dos processos subjetivos, não se estende
nem se aplica ao processo de fiscalização abstrata de constitucionalidade, que se qualifica
como processo típico de caráter objetivo, sine contradictores, destinado a viabilizar o
julgamento, não de uma relação jurídica concreta, mas da validade da lei em tese (STF em RTJ
95/999);
- Celso Agrícola, Ovídio Baptista Fredie Didier Jr. e Frederico Marques admitem oposição de
oposição (oposição sucessiva);
- Candido Rangel Dinamarco fala ainda da possibilidade de oposições convergentes. Seriam
aquelas deduzidas no processo para impugnação da pretensão inicial sem levar em
consideração as demais oposições já deduzidas, ou seja, ter-se-iam duas ou mais
oposições à ação primitiva, e não oposição a uma anterior oposição já deduzida
- a oposição resulta da conexão entre a sua ação e a já existente;
- a oposição não pode ter objeto mais amplo que a coisa ou o direito controvertido entre autor e
réu (TFR, 2ª Turma, AC83.433-MS), sendo também esta a posição de Aldo Sabino;
- há divergência na doutrina quanto à classificação do litisconsórcio formado pelos
opostos. Athos Gusmão Carneiro e Alexandre Freitas Câmara ressaltam que por não ter
o juiz que decidir de maneira idêntica em relação aos opostos, se trata de litisconsórcio
simples e não unitário. Já Cândido Rangel Dinamarco e Luiz Fux sustentam o caráter
unitário do litisconsórcio.
NOMEAÇÃO À AUTORIA
Consiste no incidente pelo qual o mero detentor, quando demandado, indica aquele que é o
proprietário ou o possuidor da coisa litigiosa, visando a transferir-lhe a posição de réu (art. 62,
CPC). Na nomeação à autoria, na verdade, a demanda não é do nomeante, mas do nomeado.
O objetivo é corrigir o polo passivo da demanda. Tem como finalidade apenas a de fazer o
acertamento da legitimidade passiva ad causam do processo. Alexandre Freitas Câmara
entende que não é esse o real objetivo da nomeação à autoria, em razão da adoção da Teoria
da Asserção, no que se refere às condições da ação. Com efeito, de acordo com tal teoria, se o
autor indica o réu como sendo possuidor (ainda que ele seja mero detentor), ele é parte
legítima para a causa, uma vez que as condições da ação são aferidas em face das alegações
da parte autora. Na instrução do feito, caso se verifique que o réu é mero detentor, o caso será
o de improcedência da demanda, e não de ilegitimidade passiva. Dessa forma, para tal autor, a
nomeação à autoria existe para assegurar-lhe um resultado favorável e não para corrigir o polo
passivo da demanda.
Pode ser nomeado à autoria aquele com o qual o detentor está em relação direta de
dependência em relação ao objeto.
Aquele que deveria ser nomeado à autoria e não o foi não sofre os prejuízos da coisa julgada
diretamente no processo em que não foi parte.
Essa medida é cabível, também, nas ações de indenização, quando o réu causador do dano
“alegar que praticou o ato por ordem, ou em cumprimento de instruções de terceiro” (art. 63,
CPC).
O art. 63 do CPC trata da nomeação à autoria aplicável aos prepostos. Pela redação do §
único do art. 942 c/c art. 932 do novo CC, são responsáveis pelos atos do preposto tanto ele (o
preposto) como o empregador.
Pelo estudo dos artigos acima, Fredie Didier entende que, se o preposto é responsável
solidário com o empregador, não seria ele parte ilegítima; então o art. 63 do CPC não seria
nomeação à autoria, mas sim um chamamento ao processo, interpretando o tal artigo em
consonância com o novo Código Civil.
A nomeação à autoria, no sistema do Código, não é uma faculdade, mas sim um dever do réu,
de cuja inobservância resulta a responsabilidade por perdas e danos (art. 69, I, CPC). A
mesma sanção é aplicável no caso em que o réu nomeia pessoa diversa daquela em cujo
nome detém a coisa demandada (art. 69, II, CPC). Para ser admitida a nomeação à autoria,
faz-se necessário que se opere a dupla concordância, ou seja, primeiro o autor tem que
concordar com a nomeação. Depois, o nomeado tem que concordar com a nomeação.
Somente a partir de então, ocorreu a saída do réu-nomeante.
Chama-se extromissão a saída do réu-nomeante.
Sendo aceita a nomeação e assim sucedido um sujeito por outro na condição de réu, alterado
está o polo passivo da relação processual. A sentença que vier a ser dada incluirá o autor e o
réu nomeado, não mais o primitivo réu (o nomeante), que já estará excluído do processo.
Obviamente, com isso a coisa julgada será vinculativa do nomeado e não do nomeante – como
seria se não tivesse sido feita a nominatio, ou se não tivesse sido aceita. A nomeação à autoria
é uma iniciativa, portanto, que influirá na configuração subjetiva da coisa julgada a se formar ao
cabo do processo.
É cabível a nomeação à autoria em qualquer procedimento do processo de
conhecimento.
O prazo é o mesmo da contestação.
Quando o réu nomeia à autoria, não deve contestar o mérito da causa, pois, agindo desta
forma, aceita sua legitimidade para a causa. A nomeação à autoria está prevista no Código de
Processo Civil, artigos 64 a 68.
Com o advento do art. 1228 do novo CC (“art. 1228. O proprietário tem o direito de reavê-la do
poder de quem quer que injustamente a possua ou detenha”), surgiram vozes afirmando que o
mero detentor seria parte-ré legítima em ação reivindicatória. Para Fredie Didier Jr., isto é um
absurdo, ele diz que a inovação é inaplicável, continuando a regra da nomeação à autoria
prevista no art. 62 do CPC.
# Observações:
a) não cabe nomeação à autoria quando o preposto agiu com excesso de gestão e praticou ato
culposo;
b) embora o CPC (art. 66) faça presumir que ao terceiro nomeado será sempre livre a recusa,
ficando o autor e o nomeante constrangidos a persistirem numa causa para a qual ambos
resultem convencidos da completa ilegitimidade passiva do demandado originário, a disposição
do art. 66 deve ser entendida em termos, uma vez que não parece lógico, que alguém possa
se livrar da condição de réu alegando simplesmente ilegitimidade passiva. De forma que se
deve atribuir ao juiz o poder de decidir quanto à legitimidade do nomeado (posição de Ovídio A.
Baptista);
c) na verdade, a tese defendida por Ovídio Baptista na alínea anterior não prevalece em termos
doutrinários. Celso Barbi e Barbosa Moreira defendem que o processo prossiga sem a
participação do nomeado que recusou a nomeação, mas este ficará sujeito aos efeitos da coisa
julgada se a recusa não tinha justa causa;
d) o CPC, ao estabelecer a responsabilidade por perdas e danos daquele que deixou de
nomear à autoria, quando lhe competia tal mister (art. 69, I), estabeleceu a
obrigatoriedade da nomeação à autoria;
e) o juiz pode indeferir de plano a nomeação à autoria, quando verificar desde logo o não
cabimento, sendo que neste caso há dois entendimentos quanto à restituição do prazo
para a resposta. A 3ª Turma do STJ entende que não se deve restituir o prazo para
resposta, sob pena de se incentivar a prática imoral de dilação do prazo para
contestação através de inadmissíveis nomeações (REsp 19452/RJ). Já a 4ª Turma do
mesmo STJ entende que, no caso de nomeação requerida de modo temerário, devem ser
aplicadas as sanções por litigância de má-fé, mas há que ser restituído o prazo para
resposta (REsp 32605/RS);
f) o nomeado à autoria não pode oferecer oposição;
g) se o autor nada requereu no prazo em que lhe competia se pronunciar sobre a nomeação,
ou se o nomeado não compareceu ou nada alegou, presume-se aceita a nomeação (art. 68 do
CPC);
h) não se admite nomeação a autoria no procedimento sumário (art. 280 do CPC);
i) Lívia Dal Pont Nicola leciona o cabimento da nomeação à autoria no processo cautelar por
ser a nomeação modo de fazer cessar a ilegitimidade passiva, o que beneficia o autor (que tem
inclusive o poder de recusá-la).
DENUNCIAÇÃO DA LIDE
A doutrina clássica, citada por Ovídio Baptista da Silva, conceitua denunciação da lide
como o ato pelo qual o Autor ou o Réu chamam a juízo um terceiro a que se ligam por
alguma relação jurídica de que decorra, para este, a obrigação de ressarcir prejuízos
porventura ocasionados ao denunciante, em virtude de sentença que reconheça a algum
terceiro direito sobre a coisa por aquele adquirida, ou para que este reembolse dos
prejuízos decorrentes da demanda. O instituto, segundo Sydney Sanches, melhor se
denominaria chamamento à garantia.
Trata-se de medida que leva, a uma sentença, a análise da responsabilidade do terceiro em
face do denunciante, de par com a solução normal do litígio de início deduzido em juízo, entre
autor e réu. A sentença poderá decidir sobre a relação e a responsabilidade de denunciado
para com o denunciante. Daí ter a denunciação da lide um caráter de “ação de regresso
incidental” – embora no bojo dos autos principais – entre denunciante e denunciado. Deve-se
sublinhar que o denunciado só pode ser condenado em relação ao denunciante e não em
relação à outra parte, perante a qual é terceiro alheio à lide, segundo a doutrina tradicional.
A denunciação à lide consiste em chamar o terceiro (denunciado) mantenedor de um vínculo
de direito com a parte (denunciante), para vir a responder pela garantia do negócio jurídico,
caso o denunciante saia vencido no processo.
O entendimento atual da jurisprudência admite a condenação direta da seguradora integrada à
lide por meio da denunciação. Invoca-se a função social do contrato de seguro, celeridade,
efetividade:
1. Para fins do art. 543-C do CPC: Em ação de reparação de danos movida em face do
segurado, a Seguradora denunciada pode ser condenada direta e solidariamente junto com
este a pagar a indenização devida à vítima, nos limites contratados na apólice.
(REsp 925130/SP, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em
08/02/2012, DJe 20/04/2012)
1. Já assentou a Corte, em diversos precedentes, que o "direito que o evicto tem de recobrar o
preço, que pagou pela coisa evicta, independe, para ser exercitado, de ter ele denunciado a
lide ao alienante, na ação em que terceiro reivindicara a coisa". 2. Recurso especial não
conhecido.
Outra questão que também causa dúvidas é o exato alcance do art. 70, III, do CPC (direito
regressivo de indenização).
Se no regime do Código de Processo revogado a única obrigação de indenizar que justificava a
denunciação da lide era aquela decorrente da evicção, muito raros não eram os julgados que
ampliavam o instituto, admitindo o chamamento à garantia em casos diferentes da evicção –
especialmente quando era chamada alguma companhia seguradora em caso de demanda de
ressarcimento movida por pessoa que mantinha contrato de seguro de responsabilidade civil
(especialmente demandas relativas a acidentes automobilísticos). Foi assim que, consciente da
linha da evolução dos ordenamentos processuais mais avançados, no inciso III de seu art. 70,
o CPC passou a destinar o instituto da denunciação da lide à conservação de qualquer direito
de garantia – e não mais, exclusivamente como antes, da garantia pela evicção. A partir de
então, qualquer que seja a natureza da garantia ou a natureza da obrigação sobre que ela
incide, poderá a parte denunciar a lide ao garante. E, despregada a litisdenunciação do instituto
da evicção, não há mais razão para limitá-la às ações reais; ao contrário, é justamente nas
ações pessoais para ressarcimento de dano que reside a sua grande e mais freqüente
utilidade, no dia-a-dia da experiência forense.
De acordo com o entendimento atual do STJ o exercício dos direitos de que resulta a evicção
não dependem do manejo da denunciação da lide, podendo ser realizado em processo
autônomo. Também não precisa aguardar o trânsito em julgado:
2. A evicção consiste na perda parcial ou integral do bem, via de regra, em virtude de decisão
judicial que atribui o uso, a posse ou a propriedade a outrem, em decorrência de motivo jurídico
anterior ao contrato de aquisição, podendo ocorrer, ainda, em virtude de ato administrativo do
qual também decorra a privação da coisa. Precedentes.
3. A perda do bem por vício anterior ao negócio jurídico oneroso é fator determinante da
evicção, tanto que há situações em que, a despeito da existência de decisão judicial ou de seu
trânsito em julgado, os efeitos advindos da privação do bem se consumam, desde que, por
óbvio, haja a efetiva ou iminente perda da posse ou da propriedade, e não uma mera cogitação
da perda ou limitação desse direito.
5. No caso dos autos, notadamente, houve decisão declaratória da ineficácia das alienações
dos imóveis litigiosos - assim como seu arresto - em virtude do reconhecimento de fraude nos
autos da execução fiscal movida pelo Estado de Goiás contra a empresa Onogás S/A, que
transferiu os referidos bens à recorrente, sendo certo que, em consulta ao sítio do Tribunal a
quo, verificou-se a improcedência dos embargos à execução fiscal em 14/12/2012, em
processo que tramita desde 1998.
6. Dessarte, a despeito de não ter ainda ocorrido o trânsito em julgado da decisão prolatada na
execução fiscal, que tornou ineficaz a alienação dos bens imóveis objeto do presente recurso,
as circunstâncias fáticas e jurídicas acenam para o robusto direito do adquirente, mormente
ante a determinação de arresto, medida que pode implicar no desapossamento dos bens e que
promove sua imediata afetação ao procedimento executivo futuro.
8. Recurso especial não provido. (REsp 1332112/GO, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO,
QUARTA TURMA, julgado em 21/03/2013, DJe 17/04/2013)
(AgRg no REsp 702.689/SP, Rel. Ministro RICARDO VILLAS BÔAS CUEVA, TERCEIRA
TURMA, julgado em 23/10/2012, DJe 29/10/2012)
# Observações:
a) há uma posição que não admite a possibilidade de denunciação da lide no processo
cautelar, uma vez que não há neste condenação indenizatória (Nélson Nery, Cândido
Dinamarco, Bedaque, JTA CIV 89/301); e há outra em sentido contrário (RT 592/208, RJTJSP
84/186);
b) predomina o entendimento da impossibilidade de denunciação da lide no processo de
execução (Nélson Nery, Cândido R. Dinamarco, Bedaque, RT 600/209,590/231, 562/112);
c) não se admite a denunciação da lide no procedimento sumário (CPC, art. 280) e no juizado
especial cível (LJE, art. 10). No primeiro caso, excetua-se a regra quando a denunciação
decorre de contrato de seguro;
d) admite-se denunciação da lide em ação declaratória (RTJ 125/655); há posição em contrário,
como a de Nélson Nery. Este sustenta que só seria cabível a denunciação em ação
condenatória, pois o objetivo do litisdenunciante é obter indenização regressiva a partir de uma
decisão que imponha pagamento ou a perda de um bem;
e) por se considerar que a obrigatoriedade constante do art. 70 decorre do direito material,
entende-se predominantemente que a denunciação da lide é obrigatória apenas nos casos em
que o direito material a estabelece como condição para o exercício do direito decorrente da
garantia. Assim, a denunciação da lide só seria obrigatória na hipótese do inciso I do art. 70 do
CPC; esta inclusive era a posição do STF (RTJ 106/1054). Por outro lado, ainda que se
reconheça que o adquirente, que não denunciou a lide ao alienante, perca o direito que da
evicção lhe resulta, por haver renunciado tacitamente a ele, aquele pode autonomamente
ajuizar ação para reaver o preço pago, a respeito do qual a renúncia tácita não se opera, sob
pena de se permitir o enriquecimento sem causa do alienante (Pontes de Miranda, JSTJ 40/75,
RJTJSP 131/123). A 3ª Turma do Superior Tribunal de Justiça, no REsp 132.258-RJ, julgado
em 06.12.99, no entanto, decidiu de forma diversa, entendendo que a não denunciação da lide
não acarreta a perda da pretensão regressiva, mas apenas a privação da imediata obtenção de
título executivo contra o obrigado regressivamente;
f) o art. 73 do CPC admite a cumulação sucessiva de várias denunciações da lide num só
processo;
g) o Código Civil, em seu art. 456, parece admitir a denunciação per saltum, conforme
entendimento esposado por Cássio Scarpinella Bueno (Partes e terceiros no processo civil.
Saraiva, 2003, p.249-256) e por Nélson Nery. Não obstante há que se salientar que tal
entendimento não é pacífico.
Rodrigo Salazar, Daniel Carvalho e Fredie Didier Jr. sustentam que o artigo legal em
destaque autoriza a denunciação da lide coletiva, ou seja, a disposição legal permite a
denunciação de todos os anteriores proprietários, e não apenas a denunciação a um elo
intermediário da cadeia dominial.
E ainda há tese no sentido de que, como a lei civil determina que a cientificação se
faça em conformidade com a lei processual, e esta exige que a denunciação seja feita a quem
fez imediatamente a transferência do bem ao denunciante, a disposição do art. 456 do CC se
apresenta inócua (Alexandre Freitas Câmara);
h) Marinoni e Sérgio Cruz entendem que, como o art. 73 do CPC fala em intimação do outro
terceiro (a ser denunciado por aquele que já o foi anteriormente), o ideal é que a partir da
primeira denunciação não se admita outra figura, mas que seja apenas intimado o terceiro
alienante;
i) a denunciação sucessiva pode ser feita coletivamente, ou seja, requerida em conjunto pelo
denunciante (Moniz de Aragão, STJ- RT 679/195);
j) não se admite a denunciação da lide pelo comerciante titular do direito de regresso
decorrente da responsabilidade pelo fato de o produto comercializado ser defeituoso (art. 88
c/c art. 13, parágrafo único, ambos do CDC);
k) discute-se quanto à possibilidade de condenação no pagamento de honorários
advocatícios do réu denunciante quando o pedido da ação principal foi julgado
improcedente e prejudicada, em conseqüência, a denunciação. Há entendimento
segundo o qual só há condenação se a denunciação era facultativa; bem como se
defende que, neste caso, o adversário do denunciante deve ser condenado, pelo
princípio da causalidade, pois deu causa à propositura da ação secundária. Já José
Roberto dos Santos Bedaque entende que, quando a denunciação não era obrigatória e
a mesma fica prejudicada, quem arca com os honorários advocatícios é o denunciante;
Não tendo havido resistência à denunciação da lide não cabe a condenação da denunciada em
honorários de advogado em face da sucumbência do réu denunciante. Incidência da Súmula
83.
1. Na denunciação à lide, se o denunciado comparece aos autos e atua como litisconsorte ativo
do réu, obtendo ambos o êxito na demanda, é descabida a condenação em honorários
advocatícios entre eles.
Precedentes.
l) o CPC de 1939 tratava a denunciação da lide como chamamento à autoria; se bem que esta
naquele diploma legal tinha acepção mais restrita;
m) não existe a possibilidade de a parte denunciada simplesmente não aceitar a denunciação.
Aquela poderá impugnar o cabimento, e não apenas recusar a denunciação;
n) há entendimento segundo o qual, se o réu alega ilegitimidade passiva, não pode promover a
denunciação da lide, pois, se se coloca como parte ilegítima, não terá automaticamente
legitimidade ativa na denunciação (Arruda Alvim, Eduardo Arruda Alvim, RT581/213, JTA
149/92). Há outro entendimento no sentido do cabimento, diante do princípio da eventualidade
(Theotônio Negrão, LEX 149/92);
o) o art. 76 do CPC deve ser entendido como se dissesse que a sentença, quando o
denunciante for vencido na ação principal, declarará o direito do evicto ou a responsabilidade
por perdas e danos decorrentes da derrota;
p) em ação civil pública fundada em responsabilidade objetiva do réu, não cabe
denunciação da lide que importaria em introduzir fundamento novo em detrimento do
direito do autor (Mazzilli, STJ-1ª Turma, REsp 232.187/SP). Em sentido oposto se
posiciona Mancuso;
q) é da competência da Justiça Federal decidir sobre a denunciação da lide a ente federal;
r) contestando a ação, o litisdenunciado assume a posição de litisconsorte do
denunciado e pode ser diretamente condenado, tanto que reconhecida a sua exclusiva
responsabilidade (STJ, 3ª Turma, REsp 23.102-8-RS);
s) não cabe denunciação da lide em ação de despejo (RT 596/157, 661/135);
t) Nélson Nery e Armelim entendem que não cabe denunciação da lide em embargos de
terceiro, uma vez que nestes não se exerce pretensão à propriedade, posse ou uso da coisa;
u) o VI ENTA concluiu pelo não cabimento da denunciação da lide em embargos à execução;
v) Cândido R. Dinamarco afirma que o entendimento dominante é no sentido de não se admitir
denunciação na monitória. Em sentido contrário, é a posição de Verônica Santos de Novaes;
w) pelo que consta do art. 75, inciso II, do CPC, se o denunciado for revel, cumprirá ao
denunciante, na relação primitiva, prosseguir na defesa do interesse até o final. Por outro lado,
o Código Civil de 2002 fixa, para o caso de denunciação da lide feita em razão de evicção, a
possibilidade, em caso de revelia do denunciado, de o denunciante deixe de contestar ou de
usar recursos na relação primitiva. Assim, fica evidente que não se aplica o inciso II do art. 75
do CPC em caso de denunciação da lide feita com fundamento em evicção.
Importante registrar que Fredie Didier Jr. sustenta que o dispositivo mencionado no parágrafo
anterior foi revogado totalmente e já era incompatível com a figura da denunciação da lide
como introdução de uma nova relação processual. Destaca o doutrinador em evidência que o
art. 75, II, do CPC só teria razão de ser na vigência da figura extinta denominada de
chamamento à autoria.
CHAMAMENTO AO PROCESSO
É o incidente pelo qual, nos termos do art. 77 do CPC, o devedor demandado chama para
integrar o mesmo processo os coobrigados pela dívida, de modo a fazê-los também
responsáveis pelo resultado do feito.
É uma intervenção provocada pelo réu facultativa, só cabível em processo de conhecimento.
Do ponto de vista do direito material, o que caracteriza o chamamento é a existência de uma
solidariedade passiva.
Na situação em que se admite o chamamento ao processo (art. 77), abre-se ao réu (e só ao
réu) a possibilidade de provocar um litisconsórcio passivo, trazendo à relação processual o
legitimado que o autor excluíra; é o fiador chamando o devedor principal, ou um co-fiador
chamando outro, ou um devedor solidário chamando o co-devedor. O chamamento à demanda
se dirige invariavelmente ao coobrigado que o autor não fez citar. No chamamento ao processo
o terceiro deixa de ser terceiro, tornando-se litisconsorte passivo (ulterior) ainda que venha a
impugnar a existência da solidariedade.
O efeito útil da integração de terceiro ao processo é, para o réu que o chama, a obtenção de
título para promover execução forçada contra ele (chamado) em caso de sucumbir perante o
autor e vir a satisfazer a obrigação (art. 80). Assim, por exemplo, o fiador que é condenado e
paga ou suporta a execução sub-roga-se no direito do credor e, se tiver chamado o afiançado
ao processo, valer-se-á da mesma sentença que impusera condenação solidária a ambos
como título para promover a execução contra ele. Conseqüentemente, a sentença que julgar a
causa compor-se-á de capítulos– um para decidir a pretensão do demandante, outro dispondo
sobre a deduzida pelo chamador. E, com isso, tal sentença terá eficácia mais ampla do que a
que teria se não tivesse sido feito o chamamento.
A incorporação do instituto do chamamento ao processo à ordem processual brasileira veio a
simplificar as coisas, em benefício do fiador, ou do devedor solidário: se tomar a iniciativa de
chamar ao processo aquele ou aqueles perante os quais terá direito em caso de sucumbir,
todos serão condenados juntamente com ele, tornando-se desnecessária nova iniciativa, no
processo de conhecimento; bastar-lhe-á, se vier a fazer o pagamento ou a suportar a execução
promovida pelo credor comum, promover a sua própria execução em face dos chamados.
O chamamento ao processo é uma faculdade e não uma obrigação do devedor demandado.
Só o réu pode fazer o chamamento ao processo.
O chamamento ao processo é instituto peculiar ao processo de conhecimento, sendo
inadmissível chamar terceiro ao de execução, ao cautelar ou ao monitório. Essa modalidade de
intervenção coata gravita em torno de uma sentença de mérito, que seria dada entre autor e
réu e passará a ser dada entre aquele e todos os litisconsortes passivos integrantes da relação
processual a partir de quando feito o chamamento. A utilidade do chamamento, para o
chamador, reside precisamente nesta sentença assim mais ampla e de eficácia subjetivamente
mais ampla. Ora, inexiste sentença de mérito naqueles processos, como é notório. Não há
como produzir, no processo monitório, por exemplo, uma sentença como aquela indicada no
art. 80 do CPC, quando nele o juiz não profere sentença alguma sobre a existência ou
inexistência do direito do autor. O STF afirmou uma vez a admissibilidade do chamamento ao
processo executivo, mas o fez por notória razão pragmática e depois, acertadamente,
retrocedeu.
Tampouco cabe o chamamento ao processo em caso de procedimento sumário (art. 280, I,
CPC), bem como nos processos perante os juizados especiais (art. 10, Lei 9099) e em certos
processos destinados à tutela diferenciada, como o mandado de segurança, etc.
O art. 77 do CPC elenca os casos de admissibilidade do incidente: “I – do devedor, na ação em
que o fiador for o réu; II – dos outros fiadores, quando para a ação foi citado apenas um deles:
III – de todos os devedores solidários, quando o credor exigir de um ou de alguns deles, parcial
ou totalmente, a dívida comum".
Vê-se, assim, que ocorre o chamamento ao processo quando, sendo citado apenas um ou
alguns dos devedores solidários, peçam eles a citação do outro, ou outros, de modo a decidir
num mesmo processo sobre a responsabilidade de todos. A finalidade do chamamento ao
processo é ampliar o objeto do processo, trazendo para a causa os demais obrigados
solidariamente responsáveis com o Réu. Trata-se de formação litisconsorcial facultativa,
faculdade legal outorgada ao Réu.
Para parte da doutrina, da análise do art. 77 do CPC, os casos ali especificados são de
obrigações que comportam direito de regresso, fato que poderia muito bem ser enquadrado na
previsão do art. 70, III (denunciação da lide). No entanto, não poderá o réu escolher se
denuncia a lide ao terceiro ou se o chama ao processo, eis que o artigo 77 trata decasos
específicos de direitos regressivos, aos quais a lei deu tratamento à parte.
Fredie Didier Jr. discorda do entendimento acima. A disciplina da situação do chamado no
processo é diferente da disciplina da situação do litisdenunciado, justamente por causa da
direta vinculação jurídico-material ao autor, que o primeiro tem e o segundo, não.
Ademais, distingue-se o chamamento ao processo da denunciação à lide por vários motivos:
1º) no chamamento ao processo os réus são obrigados perante o credor comum; na
denunciação da lide há vínculo obrigacional apenas entre o denunciante e o denunciado, não
havendo nenhuma relação jurídica entre este e o adversário do denunciante;
2º) a denunciação da lide constitui ação condenatória incidente que permite ao juiz
cumulativamente, ao julgar procedente ou improcedente o pedido, estabelecer a
responsabilidade do terceiro para com o denunciante; no chamamento ao processo, além
dessa responsabilidade que pode ser fixada, o terceiro chamado fica também sujeito aos
efeitos da sentença que julgar o pedido procedente;
3º) cabe denunciação da lide em casos em que o prejuízo obtido advém de ato ou por
responsabilidade de outrem e que o denunciante deve suportar;
4º) na denunciação à lide não há previsão de solidariedade passiva, enquanto no chamamento
ao processo todas as hipóteses são formas de solidariedade; e
5º) na denunciação à lide está previsto o direito de regresso. A denunciação à lide pode ser
feita pelo Autor e pelo Réu, ao passo que o chamamento ao processo é faculdade atribuída tão
somente ao Réu.
Segundo Fredie Didier, não obstante a literalidade do art. 80 do CPC, deve-se permitir que
qualquer um (chamante ou chamado) pode sofrer, primeiramente, a execução. Não há ordem
de preferência na execução. Aquele que pagar a dívida poderá se voltar contra o outro.
O chamamento ao processo deve ocorrer no prazo da contestação.
# Observações:
a) não se admite o chamamento ao processo no procedimento sumário (art. 280 do CPC);
b) predomina o entendimento de que não cabe chamamento ao processo na execução
(Dinamarco e Walter Vecchiato Júnior, por exemplo), uma vez que, tendo esta a finalidade de
realização do crédito do exeqüente, não haveria lugar para a prolatação da sentença referida
no art. 78, e que serviria de título executivo ao vencido contra os co-obrigados; no processo de
execução, se o co-obrigado paga a dívida por inteiro, poderá nos mesmos autos executar os
demais co-obrigados (CPC, art. 595, parágrafo único), desde que o título executivo já
estabeleça a responsabilidade dos co-devedores;
c) entende-se predominantemente que não cabe chamamento ao processo nos embargos à
execução, uma vez que os réus destes são os credores e, ainda, pelo fato de os embargos
terem objetivo exclusivo de elidir a execução;
d) predomina o entendimento de que não cabe chamamento ao processo no processo cautelar,
uma vez que não haveria espaço para condenação de co-obrigado (Dinamarco e RT 591/180);
e) não se admite chamamento no Juizado Especial Cível (LJE, art. 10);
f) não cabe o chamamento ao processo em ação civil pública, quando fundada na
responsabilidade objetiva do réu (RT 655/83);
g) é cabível o chamamento ao processo em ação de indenização por acidente de veículo
quando o réu imputar a terceiros participação na causação do dano, tendo em vista que o
terceiro tem responsabilidade solidária (RT 526/86, 494/89 e RF 255/195);
h) Dinamarco admite o chamamento ao processo na monitória.
OBSERVAÇÕES GERAIS A RESPEITO DA INTERVENÇÃO DE TERCEIROS:
1ª) Na ação desenvolvida no Juizado Especial, é possível a formação de litisconsórcio tanto
ativo quanto passivo. Já quanto às formas de intervenção de terceiro, todas são
expressamente vedadas, inclusive a assistência (art. 10, lei 9099/95). Afinal, busca-se
simplicidade e celeridade no procedimento, que, com a adoção das aludidas formas ficariam
prejudicadas.
2ª) No procedimento sumário não será admissível ação declaratória incidental, nem a
intervenção de terceiros, salvo a assistência, o recurso de terceiro prejudicado e a intervenção
fundada em contrato de seguro (art. 280, I, CPC).
3ª) Não cabe, no processo de embargos, a denunciação da lide, o chamamento ao processo e
a nomeação à autoria. Os dois primeiros são formas de intervenção que ocorrem em processo
tendente à obtenção de sentença condenatória. A última (nomeação à autoria) funciona como
mecanismo de correção de ilegitimidade passiva, cabível em hipóteses restritíssimas, que não
se realizam na execução.
4ª) A assistência é a modalidade de intervenção de terceiro que mais se adapta ao processo
cautelar, em maior amplitude de hipóteses. A perspectiva de futura intervenção no processo
principal – pela forma de oposição, denunciação da lide ou de chamamento ao processo –
legitima o terceiro a intervir como assistente no cautelar; ele tomará a iniciativa de intervir para
preparar sua própria oposição, ou será provocado a isso pela parte que pretende fazer depois
a denunciação ou chamamento (assistência voluntária ou coata, portanto, conforme o caso).
Apenas a nomeação à autoria é que, por suas características e objetivos, aparece também no
processo cautelar em sua plena configuração.
5ª) O chamamento ao processo e a denunciação da lide, que entre si guardam significativos
pontos de semelhanças, não são admissíveis, como tais, em espécie alguma de processo
cautelar. É pensar, por exemplo, num processo de arresto, seqüestro, busca-e-apreensão, ou
mesmo atentado: a pedra de toque para eliminar qualquer cogitação a respeito é sempre a
observação de que condenação alguma cabe nesses feitos, os quais não conduzem a medidas
satisfativas, mas de apoio.
Art. 923 CPC. Na pendência do processo possessório, é defeso, assim ao autor como ao réu,
intentar a ação de reconhecimento do domínio.
Interpretação literal deste dispositivo é que se há uma ação possessória pendente, autor e réu
não podem propor ação petitória sobre o bem, entretanto, a interpretação dominante que se dá
a este artigo é se a ação possessória pendente for uma ação em que a alegação de
domínio é irrelevante esta proibição não se aplica. Este dispositivo só se aplica na
pendência de ações possessórias nas quais o domínio for relevante.
SÚMULA 228 STJ: É inadmissível o interdito proibitório para a proteção do direito autoral.
A idéia é que os direitos autorais não se protegem por ações possessórias, pois só pode existir
posse de bens materiais. Para proteger os direitos autorais é necessário utilizar a proteção do
art. 461 CPC.
A posse pode ser divida entre duas pessoas, possuidor direto e indireto. Neste caso, ambos
podem obter proteção possessória.
Na ação possessória é necessário provar a posse e a violência (ameaça, esbulho,
turbação). Entretanto, atualmente muitos discutem a necessidade de provar um terceiro
elemento que decorreria diretamente da CF, qual seja, a FUNÇÃO SOCIAL DA POSSE,
pois só uma posse exercida em conformidade com a sua função social pode ser
considerada digna de proteção. Diz-se que a função social da propriedade exige a
função social da posse.
O procedimento especial das ações possessórias tem como grande marca a possibilidade de
tutela antecipada possessória, a qual dispensa a demonstração de perigo/ urgência,
basta que prove a posse e a violência. Uma tutela antecipada que dispensa perigo é uma tutela
antecipada apenas da evidência.
Esta tutela antecipada diferenciada pode ser concedida com ou sem audiência de
justificação de posse. Nesta audiência de justificação de posse para concessão de liminar, o
réu deve participar? Participa, pode inclusive inquirir as testemunhas porventura levadas pelo
autor (existe contraditório).
Não cabe tutela antecipada possessória contra o Poder Público sem a sua oitiva prévia
(art. 928, § único CPC).
O CC/1916 previa que o possuidor só teria direito a este procedimento especial da possessória
se entrasse com ação possessória no prazo de ano e dia contados do esbulho ou da turbação,
caso contrário a ação estará sujeita ao procedimento comum. Esta disposição foi repetida pelo
CPC/1973. O CC/2002 não fala mais no prazo de um ano e dia, entretanto, este prazo
ainda é admitido com base no CPC.
Cabe tutela antecipada na ação possessória comum (com mais de um ano e dia)?
Cabe a tutela antecipada comum com necessidade de comprovar a urgência.
Cabe reconvenção em possessória?
É cabível, desde que se peça algo distinto da proteção possessória e da indenização. Ex.:
resolução do contrato.
É na defesa da ação possessória que o réu alega o direito de retenção.
Na defesa da ação possessória o réu pode alegar usucapião? É possível, mas pode ser isso
irrelevante, pois usucapião refere-se ao domínio.
Item: Ação de Divórcio:
Com a recente alteração da CF acerca do divórcio, surgiram algumas questões interessantes:
Questão controvertida acerca do desaparecimento ou não da separação judicial:
1° posição: foi extinta com a emenda do divórcio.
2° posição: não foi a finalidade da emenda acabar com a separação. Ela apenas acabou com a
sua obrigatoriedade como fase para se chegar ao divórcio. Ainda é faculdade dos cônjuges.
O divórcio pode ser feito extrajudicialmente ou judicialmente. Esse tem vez com a ação de
divórcio. Sempre que houver filhos menores ou incapazes, ou então, não houver consenso
entre os cônjuges.
Pode se ajuizada um dia após o casamento, não havendo mais a obrigatoriedade de cumprir
qualquer prazo.
Não precisa imputar ao outro qualquer quebra do dever conjugal, apenas comprovar a
insuportabilidade da vida em comum.
A EC 66/2010 suprimiu o requisito da prévia separação judicial para a dissolução do casamento
civil pelo divórcio.
A Lei 6.515/1977 (Lei do Divórcio) deve ser lida hoje à luz da EC 66/2010.
2.3. A complexidade da causa, que certamente exigia ampla dilação probatória, não exime a
responsabilidade do autor pelo dano processual. Ao contrário, neste caso a antecipação de
tutela se evidenciava como providência ainda mais arriscada, circunstância que aconselhava
conduta de redobrada cautela por parte do autor, com a exata ponderação entre os riscos e a
comodidade da obtenção antecipada do pedido deduzido.
(REsp 1191262/DF, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
25/09/2012, DJe 16/10/2012)
1. Não se olvida que "a multa prevista no art. 475-J do CPC não se aplica à execução
provisória" (REsp 1.059.478/RJ, Corte Especial, Relator o Ministro Luis Felipe Salomão,
Relator p/acórdão o Ministro Aldir Passarinho Junior, DJ de 11/4/2011).
DIREITO TRIBUTÁRIO - IMUNIDADES TRIBUTÁRIAS. IMUNIDADES EM
ESPÉCIE, DISTINÇÃO ENTRE IMUNIDADE E ISENÇÃO.
Imunidades Tributárias
Imunidade tributária não se confunde com isenção uma vez que essa deve estar prevista em
lei.
Importante: dois artigos na CF/88 que trazem a expressão equivocada “são isentas de” quando
na verdade trata-se de imunidade: art. 195, parágrafo 7º e art. 184, parágrafo 5º.
Art. 184. Compete à União desapropriar por interesse social, para fins de
reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social,
mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária, com
cláusula de preservação do valor real, resgatáveis no prazo de até vinte
anos, a partir do segundo ano de sua emissão, e cuja utilização será definida
em lei.
Art. 195. A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma
direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos
orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e
das seguintes contribuições sociais:
Conceito de Imunidade
Norma constitucional de desoneração tributária, que, justificada no conjunto de caros valores
proclamados no texto constitucional, delimita uma não incidência do tributo e credita ao
beneficiário um direito público subjetivo de não incomodação.
Exemplos de valores: liberdade religiosa (igreja não paga impostos); liberdade sindical
(sindicato trabalhador não paga imposto); liberdade de expressão (não incidem impostos sobre
livros, jornais).
A norma de imunidade é uma norma de não incidência tributária. Daí se falar que ela se opõe
negativamente ao plano de competência tributária (poder político de instituição do tributo). Para
parte da doutrina, a norma de imunidade é uma norma de “incompetência tributária”.
O campo de intributabilidade demarcado pela imunidade não pode ser desafiado por nada e
ninguém: nem por emenda constitucional, muito menos por lei ordinária.
É uma imunidade para União, Estados, Municípios e DF; é uma imunidade que afasta apenas o
imposto (então a igreja paga taxa; o sindicato de empregado paga contribuição de melhoria,
etc.).
Segundo o STF, deve-se dar interpretação extensiva a essa norma (inclusão de IOF, IPI, II, IE
e outros).
E quanto às outras pessoas jurídicas de direito público (autarquias e fundações públicas)? Art.
150, § 2º - a vedação do inciso VI, "a", é extensiva às autarquias e às fundações instituídas e
mantidas pelo Poder Público, no que se refere ao patrimônio, à renda e aos serviços,
vinculados a suas finalidades essenciais ou às delas decorrentes. Em regra, sociedade de
economia mista, empresa pública e prestacionista de direito público tem tributação normal.
O STF analisou o caso de duas empresas públicas (Correios e INFRAERO – art. 21, X e XII,
“c”, CF/88) e uma sociedade de economia mista (CAERD) e entendeu que todas
desempenhavam funções típicas de Estado, portanto, dotadas de estatalidade. Por esse
motivo, estendeu-lhes a imunidade tributária.
Alínea “b”: o templo já foi conceituado a partir de várias teorias. No passado, o templo era
apenas o local do culto, tributando-se tudo o mais. Com a evolução da doutrina e da casuística,
houve a necessidade de reformular o conceito de templo. Aos poucos, “templo” passou a
abranger aquilo que correspondia a ele próprio e, até mesmo, situações ligadas indiretamente
ao propósito religioso.
Segundo o STF, o templo é “entidade”, ou seja, uma organização religiosa a qual merece
proteção sem mesquinharia e sem sectarismo (liberdade de culto – art. 5º, VI ao VIII, CF/88). O
Brasil é um Estado laico, ou seja, não há religião pré-definida e todas as religiões merecem
proteção.
A imunidade religiosa afasta: IR sobre as receitas; IPTU sobre o imóvel dedicado ao evento
religioso; IPVA sobre o veículo de propriedade da igreja; ITBI sobre a aquisição do imóvel que
será destinado ao evento religioso, dentre outros.
Caso: Igreja X é proprietária de um apartamento e o aluga a terceiros, recebendo alugueis.
Incide IPTU no apartamento? Provado o reinvestimento dos alugueis no propósito eclesiástico,
teremos a conexão ou correspondência fática entre o valor protegido e a atividade correlata
(art. 150, § 4º, CF/88).
Dicas Finais:
Alínea “c”: partidos políticos (inclusive suas fundações), sindicais dos trabalhadores,
instituições de educação (inclusive bibliotecas públicas, museus, centro de pesquisa –
educação extracurricular) e de assistência social (entidades filantrópicas).
O artigo 14, CTN é que regula a fruição da imunidade descrita na alínea “c”: I – se a entidade
tiver lucro, esse não poderá ser distribuído com os seus mantenedores, ou seja, o lucro não é
proibido, mas sim a sua distribuição (não confundir distribuição de lucro com pagamento de
salários razoáveis); II – não pode ter remessa dolosa do lucro (superávit) para o exterior; III –
manutenção da contabilidade (escrituração contábil) em dia, capaz de atestar o cumprimento
dos dois primeiros requisitos (obrigação tributária acessória).
Imunidade Tributária e as Entidades do Sistema “S” (serviços sociais autônomos): como essas
entidades promovem a integração no mercado de trabalho (uma das características da
assistência social – art. 203, III, CF/88 – entendimento também do STF) são consideradas
entidades de assistência social e, consequentemente, possuem imunidade tributária.
Alínea “d”: pode ser classificada como uma imunidade objetiva já que protege bens e não
pessoas. Exclusão de ICMS, IPI, ISSQN, II, IE e etc.
Os valores prestigiados aqui são: difusão do conhecimento, acesso à cultura, acesso à
informação, liberdade de expressão e outros. OBS: o STF considerou que a lista telefônica (na
condição de periódico) também é imune levando em consideração a utilidade social do bem.
Temos nessa alínea 03 veículos de pensamento (livro, jornal e período) e 01 insumo (papel
destinado à impressão).
O conteúdo é relevante ou não? Segundo o STF, não é relevante, pois o que importa é o valor
homenageado pelo constituinte que é a liberdade de expressão.
E quanto aos suportes físicos? Essa questão ainda está aberta e demanda esforços
interpretativos, sobretudo do STF, no qual a questão atualmente se encontra pendente de
julgamento em nível de repercussão geral. A doutrina e a jurisprudência se dividem diante da
problemática de estender ou não a imunidade aos livros digitais e outros suportes. Para
Ricardo Lobo Torres, a interpretação deve ser restritiva, entendendo o doutrinador que “não se
pode saltar da cultura tipográfica para a cultura eletrônica.” Por outro lado, Roque Antônio
Carrazza, acredita que a melhor interpretação deverá ser a ampliativa, buscando a finalidade
espiritual do bem, em detrimento do suporte físico. Segundo o professor Sabbag, a
interpretação que melhor se adapta à realidade parece ser aquela que busca realizar a
finalidade da norma. No plano jurisprudencial, os Tribunais sempre oscilaram e, atualmente, a
questão se encontra pendente de julgamento no STF, como dito acima (o caso no STF diz
respeito a enciclopédia jurídica em formato eletrônico: RE 330.817-RJ).
Atenção! Para o STF, há dois periódicos importantes que receberam a imunidade: 1) listas e
catálogos telefônicos; 2) álbum de figurinhas. O valor prestigiado é o caráter lúdico (recreativo)
de transmissão da cultura, do conhecimento.
Outros insumos, além do papel, podem ser imunes? A doutrina e a jurisprudência oscilam no
tema. Para uns, deve prevalecer a interpretação literal da alínea; para outros, a interpretação
ampliativa. No caso dessa interpretação mais ampla, o signo “papel” abrangeria outros insumos
(tinta, por exemplo). O STF editou a Súmula 657, na qual prioriza uma exegese (interpretação)
literal.
Questão mais recente no STF: importação de chapas de impressão offset para jornais. A
referência no preceito a “papel” é exemplificativa e não exaustiva (RE 202.149, STF). Atenção:
em julgamento de Embargos de Divergência no presente RE, houve decisão monocrática do
Min. Celso de Mello, dando provimento ao RE da União, no sentido de não reconhecer
imunidade tributária no presente caso (07/04/15). Foi interposto Agravo Regimental contra tal
decisão e está pendente de julgamento!
A ressalva diz respeito ao suporte físico vazio, ou seja, o CD e o DVD vazios. Haverá a
incidência de impostos na escala de produção desses suportes.
Haverá a exclusão de ICMS, ISS e IOF (nas operações virtuais). Na prática, espera-se o
barateamento dos produtos e o combate à pirataria.
Contra a EC 75/2013 foi ajuizada a ADI 5058 no STF pelo governador do Estado do Amazonas
que está temeroso quanto aos reflexos negativos que essa medida poderá influenciar na Zona
Franca de Manaus (acompanhar julgamento).
Não incidência
A previsão da não incidência nos próprios textos legais é uma exceção - por muitos vista como
desnecessária-, porém útil para definir e esclarecer situações duvidosas, aumentando a
segurança jurídica nas relações tributárias e prevenindo conflitos. Quando ocorre, é chamada
de não incidência legalmente qualificada.
Exemplo: pode ser que determinada norma preveja que um tributo incida sobre as situações
jurídicas "A", "B" e "C". Do que se depreende, logicamente, que as situações "D", "E", "F" etc.
não estarão submetidas à tributação, pois elas não se encontram previstas na regra de
incidência. Entretanto, como uma dada situação "X" é bastante semelhante à situação tributada
"A", o legislador opta, por questão de segurança jurídica, que a norma preveja expressamente
que "o tributo não incidirá na situação X", aclarando seu alcance e proscrevendo qualquer
tentativa de interpretação extensiva que vise abarcar aquela situação pela tributação.
Parte da doutrina advoga que as imunidades nada mais são do que hipóteses de não
incidência da norma tributária constitucionalmente classificadas, isto é, normas de não
incidência previstas no próprio texto constitucional.
Isenção
A isenção distingue-se da imunidade pela sede jurídica. Toda previsão de imunidade radica na
Constituição e, às vezes, é chamada de isenção constitucional O nomen juris não importa: se a
previsão está no texto constitucional, é imunidade; a seu turno, toda previsão de
intributabilidade abaixo da Constituição é isenção (Coêlho, 2007).
"Isenção constitucional"
Em algumas passagens de seu texto, a Constituição impõe isenções a certas situações que
discrimina, como aquela inserta no § 5° do art. 184: "são isentas de impostos federais,
estaduais e municipais as operações de transferência de imóveis desapropriados para fins de
reforma agrária".
Essas previsões nada mais são do que imunidades, pois quando definidas no corpo da Carta
Magna, impedem que as normas tributárias incidam sobre as situações descritas. Os termos
utilizados na CF é que não observaram a boa técnica jurídica; correto seria dizer "são
imunes...".
1.3.1. DIREITO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE.
PONTO 1 - História da proteção jurídica e social da infância brasileira. Evolução
histórico-sociológica da infância e da juventude. Aspectos Gerais do Direito da Criança e
do Adolescente. A proteção da infância no Brasil.
Incumbe acrescentar, por último, que eventual responsabilidade penal por crime eleitoral será
individual do infrator (sempre pessoa física), pois não há previsão legal de punição por prática de aludido
delito por pessoa jurídica.
Tamanha é a importância das agremiações políticas que o TSE e o STF afirmam que o mandato
eletivo a elas pertence. Por corolário, “se o mandatário se desliga da agremiação pela qual foi eleito,
perde igualmente o mandato, salvo se houver justa causa.” (GOMES, 2012, p. 39).
Diante do exposto, fica claro que os partidos políticos têm suma importância para efetivação da
democracia.
SUFRÁGIO
Na doutrina, o melhor e mais didático meio de entender o que é o sufrágio está descrito como “o
direito de votar e ser votado”. Contudo, e mais além que isso o sufrágio para a democracia deve revelar-
se como a vontade do povo, a verdadeira participação da sociedade na vida política e nas decisões
tomadas pelo governo, não existindo limitações fundadas em descriminações sociais, raciais,
intelectuais, de sexo, cor e/ou idade.
Porém, esta participação política apesar da ideia de amplitude contida na nomenclatura da
palavra “povo”, é restrita aos denominados cidadãos. E quem são os cidadãos? Seriam aqueles
detentores de direitos políticos.
Enfim, o sufrágio universal é o direito de votar e ser votado inerente a todos os indivíduos da
sociedade, desde que respeitadas às restrições trazidas pela Constituição Federal com o intuito apenas
de garantir a mínima capacidade possível para aqueles que participarão do processo eleitoral, os
chamados cidadãos.
VOTO
O ato de votar é o exercício do sufrágio pelo cidadão, consequentemente o ponto máximo do
exercício da soberania popular. Os indivíduos revestidos de plena capacidade eleitoral ativa e exercendo
seus direitos políticos, por meio do voto escolhem aqueles que irão representá-los no governo. É a
manifestação da vontade popular de forma a viabilizar a concretização de uma das formas da
democracia, no Brasil, a chamada democracia representativa ou indireta.
Características do voto:
a) Direto: é o voto pelo qual os cidadãos escolhem de forma direta seus representantes, sem
terceiros na intermediação do voto. A própria Constituição Federal traz exceções ao voto direto, no caso
de vacância do Presidente e Vice Presidente da República nos últimos dois anos do período presidencial
as eleições serão feitas de forma indireta através do Congresso Nacional. (art. 8, §1º CF).
b) Secreto: o voto é secreto, não podendo ser revelado, apenas por vontade do próprio eleitor. É
a garantia de um processo eleitoral imparcial, probo e forma de evitar corrupção, suborno, além de
dificultar a prática do voto de cabestro.
c) Igual: o voto de qualquer cidadão terá o mesmo peso e valor.
d) Personalíssimo: o ato de votar é restrito a pessoa do eleitor, o qual deve se apresentar sem
intermédio de terceiros na votação.
e) Obrigatório: é obrigatório o voto a todo cidadão maior de 18 anos e menor de 70 anos. A
obrigatoriedade de comparecimento às urnas nos dias de eleição. No entanto, o voto poderá ser
facultado para os analfabetos, os maiores de 70 anos e maiores de 16 anos e menores de 18 anos.
f) Livre: é o direito do eleitor em votar em quem quiser ou mesmo anular o voto.
g) Periódico: o voto será realizado em determinados períodos. No Brasil, por exemplo, ocorrem
eleições de dois em dois anos com o intuito de renovação e rotatividade dos mandatos políticos.
1. Histórico
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza,
garantindo-se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito
à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor.
1ª) Quando se fala em direito fundamental, remete-se à uma eficácia vertical entre Estado e
Administrado. Com este dispositivo, surge a eficácia horizontal dos direitos fundamentais nas
relações privadas de consumo.
2ª) Força normativa da CRFB/88, na qual não se tem mais norma programática e sim norma
exigível.
1ª corrente) esta diz que esta simbiose traz repercussões negativas, em razão da autonomia
valorativa típica do direito privado.
2ª corrente) esta diz que esta simbiose traz repercussões positivas, em razão da garantia
reforçada de certos institutos do direito privado, como é o caso da defesa dos consumidores —
os vulneráveis da relação jurídica.
4.3) Introdução Econômica e Social = tem como objetivo trazer acontecimentos, às vezes
sociais, que fizeram surgir a necessidade de defesa especifica para o consumidor.
● Ordem econômica = Para Adam Smith, o consumidor é que dita a regra do mercado (é o rei
do mercado). O consumidor deixou de ser rei, quando sua vontade passou a ser manipulada
por técnica agressiva de marketing e de publicidade.
● Âmbito social
2ª corrente (Rizzardo Nunes) = é ramo autônomo do direito, porém misto (público +privado) —
é o chamado DIREITO DIFUSO.
3ª corrente (Cláudia Lima Marques) = é ramo do direito privado, ou seja, ao lado do direito civil
e do direito empresarial há o direito do consumidor – DIREITO TRIPARTITE. Ela entende que é
direito privado, não porque possui regras de direito privado, mas sim porque os sujeitos do
direito do consumidor são sujeito privados.
b) é lei principiológica – porque confere séries de princípios, cujo objetivo é reequilibrar uma
relação jurídica que é bastante desigual — conferindo direito ao consumidor (mais fraco) e
impondo deveres ao fornecedor (mais forte).
c) alberga ordem pública e de interesse social = os direitos dos consumidores não podem
ser renunciados, são indisponíveis. Desta forma, existindo cláusula abusiva num contrato,
pode o juiz reconhecer, de ofício, os direitos do consumidor.
** ATENÇÃO: A situação é diferente no que tange aos contratos bancários, onde o juiz não
poderá reconhecer de ofício uma cláusula abusiva, conforme preconiza a súmula 381 STJ.
Art. 1º - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e
Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como
fundamentos:
III - a dignidade da pessoa humana.
Art. 5º - Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos
brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade,
à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes:
● direito à intimidade, vida privada, honra e imagem (art. 5º,X);
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurado o
direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;
XXXIII - todos têm direito a receber dos órgãos públicos informações de seu interesse
particular, ou de interesse coletivo ou geral, que serão prestadas no prazo da lei, sob pena de
responsabilidade, ressalvadas aquelas cujo sigilo seja imprescindível à segurança da
sociedade e do Estado.
Art.37 - A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
6.3 – Relação jurídica de Consumo = Segundo, Nelson Nery Jr., é a relação jurídica existente
entre fornecedor e consumidor tendo por objeto a aquisição de produtos ou utilização de
serviços pelo consumidor.
Consumidor Fornecedor
Art. 2° Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou
serviço como destinatário final.
● Agravo 686.793 STJ (em sentido oposto) = caso em que o consumidor não fora considerado
destinatário final — empresa que busca empréstimo bancário para dinamizar seu negócio,
pois neste caso, há o chamado consumidor intermediário.
I) art. 2º,§Ú CDC = fundamentação na tutela coletiva do consumidor, além de ser mero
espectador, estando protegido pela tutela coletiva.
II) art. 17 CDC = trata das vítimas do evento danoso (ex.: é aquela pessoa que não comprou a
TV e sim ganhou e quando a liga na tomada, esta explode na sua cara). As vítimas de evento
danoso são conhecidas pela doutrina americana de By-stander. Por exemplo, aquele que
passava pelo shopping para cortar caminho em direção a sua casa, mesmo não comprando
qualquer coisa no shopping. Mesmo aquele que não foi comprar um produto, mas sofreu o
evento danoso, também será considerado consumidor. Outro exemplo, avião que cai em uma
casa na favela, o morador também será considerado consumidor por equiparação por ser
vítima do evento danoso.
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas as vítimas
do evento.
III) art. 29 CDC = incluem todas as pessoas determináveis ou não expostas às práticas
comerciais e contratuais.
Art. 29. Para os fins deste Capítulo e do seguinte, equiparam-se aos consumidores
todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas nele previstas.
b) Fornecedor (art. 3º, caput CDC) = é toda PF ou PJ, público ou privado, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados que colocam um produto ou serviço no
mercado de consumo com habitualidade na atividade fim (não há necessidade de uma
constituição formal para a sua caracterização, bastando a habitualidade).
As associações desportivas (clubes) e condomínio estão abrangidos como fornecedores,
pelo CDC?
Resposta: Nenhum dos dois, em razão da natureza comunitária entre os filiados e os
condôminos (sem fins lucrativos) e pelo fato dos interessados deliberarem o objeto social.
● Resp 650.791/RJ
Ementa: TRIBUTÁRIO. TAXA DE ESGOTO. COBRANÇA INDEVIDA. RELAÇÃO DE
CONSUMO. CONDOMÍNIO.
1. É inaplicável o Código de Defesa de Consumidor às relações entre os condôminos e
o condomínio quanto às despesas de manutenção deste.
2. Existe relação de consumo entre o condomínio de quem é cobrado indevidamente
taxa de esgoto e a concessionária de serviço público.
3. Aplicação do artigo 42 do Código de Defesa de Consumidor que determina o
reembolso em dobro.
a) Produto (art. 3º,§1º CDC) = exemplo de bem imaterial (mútuo bancário). A doutrina também
considera como produto, os bens novos ou usados, fungíveis ou infungíveis, principais ou
acessórios.
Obs.: Foi proposta a ADIN 2591/DF, na qual argumentava que o CDC é lei ordinária, não
podendo assim regulamentar a instituição financeira, em razão de ser inconstitucional, pois o
art. 192 CRFB/88, diz que as mesmas serão regidas por lei complementar. A decisão do STF
foi de julgá-la improcedente, podendo o CDC ser aplicado às instituições financeiras.
Súmula 382 STJ: “A estipulação de juros remuneratórios superiores a 12% ao ano, por
si só, não indica abusividade”.
NÃO PROVIDO.
1. O Tribunal de origem consignou que a taxa de juros praticada pela Instituição bancária
deveria observar a taxa média de mercado apurada pelo Banco central para o período de
contratação, não sendo abusiva a taxa de juros pactuada. Rever este entendimento implicaria
no reexame do acervo fático-probatório da demanda, o que é vedado pelo teor da Súmula 7 do
STJ.
Pela súmula 380 STJ (relativa aos bancos), a pessoa que não concorda com o valor ou
existência de uma dívida com o banco e por conta disso ajuíza ação revisional, não inibirá a
mora do consumidor, podendo assim ver o seu nome incluído no cadastro de inadimplente.
Desta forma, para impedir o cadastramento, a ação revisional além de ter que conter
jurisprudência pacífica dos Tribunais (STJ e STF), terá o interessado que depositar o valor
incontroverso.
Súmula 380 STJ: “A simples propositura da ação de revisão do contrato não inibe a
caracterização da mora do autor”.
Pela Súmula 379 STJ (juros moratórios), há o estabelecimento de um limite destes —
12% ao ano. Diferentemente dos juros remuneratórios que podem ser superiores a 12% ao
ano, desde que dentro da média do mercado.
Súmula 379 STJ: “Nos contratos bancários não regidos por legislação específica, os
juros moratórios poderão ser fixados em até 1% ao mês”.
● ADIN 3694/AP (não se aplica o CPC e sim a lei tributária, por justamente os emolumentos e
custas terem caráter de taxa).
Ementa: Ação direta de inconstitucionalidade: L. 959, do Estado do Amapá, publicada no DOE
de 30.12. 2006, que dispõe sobre custas judiciais e emolumentos de serviços notariais e de
registros públicos, cujo art. 47 - impugnado - determina que a "lei entrará em vigor no dia 1º de
janeiro de 2006”: II. Custas e emolumentos: serventias judiciais e extrajudiciais: natureza
jurídica. É da jurisprudência do Tribunal que as custas e os emolumentos judiciais ou
extrajudiciais tem caráter tributário de taxa. III. Lei tributária: prazo nonagesimal.
**ATENÇÃO: Em 27.07.2009, o CDC sofreu alteração em seu art. 31, sendo acrescido o §Ú,
pela L. 11.989/09.
6.1 – Origem = Havia uma concepção de que caso existisse duas ou mais normas
regulamentando uma matéria deveria haver cisão delas, prevalecendo apenas uma norma. E,
1995, no Curso Geral de Haia, Erik Jayme propôs o diálogo das fontes, ou seja, a unificação
destas normas, invés da cisão (exclusão).
6.2 – Aprofundamento = Para Cláudia Lima Marques (no Brasil) três são os tipos de “diálogo”
possíveis:
a) Diálogo sistemático de coerência = aplicação simultânea de duas leis, sendo que uma
serve de base conceitual para outra (o CCB é a base do CDC). Para ela, o CDC não impede a
aplicação do CCB, quando este trouxer regra mais favorável ao consumir, como é o caso dos
prazos prescricionais.
Por fim, vale dizer que o diálogo das fontes deverá ocorrer também entre o CDC e “leis
especiais” como a lei de planos de saúde, lei sobre incorporação imobiliária, Código Brasileiro
de Aeronáutica, lei sobre as mensalidades escolares, lei de concessões e permissões de
serviços públicos, lei complementar que regulamenta o sistema financeiro...
** ATENÇÃO: O STJ não admite a Teoria Dos Diálogos Das Fontes, prevalecendo ainda em
suas decisões à cisão entre o CDC e o CCB e quando aplicado este último prejudica o
consumidor.
O STJ admite a aplicação do diálogo das fontes. A doutrina, todavia, critica a aplicação que
vem sendo feita quando sustentam que seria tão somente para beneficiar o consumidor, sendo
que a jurisprudência vem aplicando tanto em desfavor quanto em benefício do consumidor:
DA BOA-FÉ
§3º. Não se exime de cumprir a convenção o fornecedor que se desligar da entidade em data
posterior ao registro do instrumento.
- Principais pontos:
Conceito de Empresário.
O profissionalismo pressupõe:
Econômica. Busca-se o lucro, sendo este o fim e não o meio da união de bens e
esforços.
Profissionais intelectuais:
Art. 966, CC, § único: Não se considera empresário quem exerce profissão
intelectual, de natureza científica, literária ou artística, ainda com o concurso de
auxiliares e colaboradores, salvo se o exercício da profissão constituir elemento de
empresa.
Exemplo: O médico que começa com seu consultório, amplia os negócios e abre uma
clínica e depois amplia e abre um hospital. Nesta última etapa, sua clientela não mais busca os
serviços prestados pessoalmente, mas os serviços oferecidos pelo hospital, sendo a atividade
médica elemento de empresa.
Enunciado 194 aprovado na III Jornada de Direito Civil: os profissionais liberais não são
considerados empresários, salvo se a organização dos fatores de produção for mais importante
que a atividade pessoal desenvolvida.
Art. 971, CC: O empresário, cuja atividade rural constitua sua principal profissão, pode,
observadas as formalidades do art. 968 e seus parágrafos (que cuidam da inscrição do
empresário), requerer inscrição no Registro Público de Empresas Mercantis da respectiva
sede, caso em que, depois de inscrito, ficará equiparado, para todos os efeitos, ao empresário
sujeito a registro.
Cooperativas.
São sempre sociedade simples (sociedades civis – é o que não for empresária),
independentemente do que venham a explorar, por força de lei.
Empresário Individual.
Empresário pode ser pessoa física ou jurídica. Se física, será empresário individual; se
jurídica, será sociedade empresária. Atualmente, existe uma outra forma de exercício da
empresa: EIRELI. Trata-se de uma nova espécie de pessoa jurídica.
Para ser empresário individual a pessoa física deve estar no pleno gozo de sua
capacidade civil. Há duas hipóteses especialíssimas que permitem ao incapaz, mediante
autorização judicial (alvará), através dos institutos da assistência ou representação, exercer a
empresa: (a) continuar atividade que já exercia antes da superveniência da incapacidade; (b)
suceder os pais ou pessoa de quem é sucessor que exerciam a atividade.
O incapaz não pode dar início à atividade como empresário individual. No entanto, se o
incapaz estiver enquadrado nas hipóteses de emancipação, poderá ser empresário individual.
O incapaz pode continuar uma empresa?
Sim, ele pode continuar. Art. 974 CC (Decorar).
Ex. 2: menor pode continuar tocando hotel, após o falecimento de seu pai.
Mas é preciso a observância de alguns requisitos, para que o incapaz possa continuar
a atividade empresarial:
Um Promotor pode ter uma franquia do Habib´s? Um funcionário público pode ter uma
floricultura? Um Militar na ativa pode ter uma empresa de segurança?
Cuidado: é preciso analisar sob duas óticas. Uma coisa é ser empresário individual:
pessoa natural que sozinha, individualmente está organizando uma atividade empresarial.
Outra coisa é ser sócio de uma sociedade empresária.
Em todos esses casos eles não podem ser empresário individual. Mas eles podem ser
sócios de sociedade empresária.
Logo, o MP pode ter franquia do Habib´s, o juiz pode adquirir ações da Petrobrás,
desde que não exerçam a administração.
Prepostos.
O preposto não pode concorrer com o proponente (empresário), sob pena de perdas e
danos e retenção dos créditos equivalentes ao lucro da operação.
O C. Civil refere-se especificamente a 2 espécies de prepostos: o gerente e o
contabilista. A existência do primeiro é facultativa. A do segundo é obrigatória.
_____________________________
Em hipótese alguma o incapaz poderá iniciar uma atividade empresarial. Todavia, poderá
continuá-la em duas hipóteses:
a) incapacidade superveniente: Tal ocorre quando, após o início da empresa, lhe sobrevém
incapacidade mental.
Com efeito, dispõe o art.974 do CC: “Poderá o incapaz, por meio de representante ou
devidamente assistido, continuar a empresa antes exercida por ele enquanto capaz, por
seus pais ou pelo autor da herança”.
Vê-se que o exercício da atividade empresarial pelo menor ou incapaz será feito mediante
representação ou assistência do representante legal, conforme se trate de absolutamente ou
relativamente incapaz.
É preciso ainda alvará judicial para que o menor ou incapaz continue a empresa, revogável a
qualquer tempo pelo juiz, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros.
O juiz só expedirá o alvará após o exame das circunstâncias e dos riscos da empresa, bem
como da conveniência em continuá-la. De fato, reza o §1º do art.974 do CC: “Nos casos deste
artigo, precederá autorização judicial, após exame das circunstâncias e dos riscos da
empresa, bem como da conveniência em continuá-la, podendo a autorização ser
revogada pelo juiz, ouvidos os pais, tutores ou representantes legais do menor ou do
interdito, sem prejuízo dos direitos adquiridos por terceiros”.
O art.975 dispõe que: “Se o representante ou assistente do incapaz for pessoa que, por
disposição de lei, não puder exercer atividade de empresário, nomeará, com aprovação
do juiz, um ou mais gerentes”.
Vê-se assim que quem nomeia o gerente é o próprio representante, o juiz apenas aprova a
nomeação. Fora dessa hipótese, será ainda nomeado gerente em todos os casos em que o juiz
entender ser conveniente (§1º do art.975). A aprovação do gerente não exime o representante
ou assistente do menor ou do interdito da responsabilidade pelos atos dos gerentes nomeados
(§2º do art.975).
Não ficam sujeitos ao resultado da empresa os bens que o incapaz já possuía, ao tempo da
sucessão ou da interdição, desde que estranhos ao acervo daquele, devendo tais fatos constar
do alvará que conceder a autorização (§ 2º do art.974). Preserva-se assim o patrimônio anterior
do incapaz dos riscos do negócio. O juiz, ao expedir o alvará, deverá separar os bens que o
incapaz já tinha, enumerando-se no alvará que será registrado na Junta Comercial,
protegendo, destarte, o seu patrimônio anterior.
a) Falido: com a sentença de falência, suspende-se para o falido o direito de exercer atividade
empresarial (art.102 da Lei nº 11.101/2005). Se o falido não sofreu condenação criminal, ele
pode exercer atividade empresarial a partir da sentença que julgar extinta as suas obrigações.
Se ele foi condenado por crime falimentar e a sentença lhe impõe expressamente como efeito
da condenação a inabilitação para o exercício de atividade empresarial, ele só poderá tornar-se
novamente empresário após a reabilitação penal (art. 181, §1º, da Lei nº 11.101/2005). Se foi
condenado por crime falimentar, mas a sentença não lhe impôs expressamente o efeito da
condenação mencionado acima, ele readquire o direito de exercer atividade empresarial com a
simples sentença que declara extinta as suas obrigações.
e) Estrangeiros: Não podem exercer atividades relacionadas com jazidas, demais recursos
minerais e com energia hidráulica (art.176, §1º, da CF). Não podem ser proprietários de
empresa jornalística e de radiofusão sonora e de sons e imagens (art.222 da CF), mas podem
ser sócios de sociedade que explore essa atividade, desde que não seja gestor e que 70%
(setenta por cento) do capital social e do capital votante pertença a brasileiro nato ou
naturalizado há mais de 10 anos (§1º do art. 222 da CF). O serviço de transporte aéreo
doméstico só pode ser exercido por pessoa jurídica brasileira (art.216 CBA).
Art. 966, CC. Conceito. Empresário: aquele que exerce profissionalmente atividade
econômica organizada para produção e circulação de bens e serviços. Não é empresário quem
exerce atividade intelectual, científica, artística ou literária, salvo se elemento da empresa.
Atividade rural: Atividade agrícola, pastoril ou pecuária. Em princípio não é empresário, mas
seu explorador poderá escolher se será empresário (artigo 971, CC, registro constitutivo da
situação de empresário). Enunciado do CJF – o registro tem natureza excepcionalmente
constitutiva (ruralista). ENUNCIADO 202 CJF: o registro do empresário ou sociedade rural na
Junta Comercial é facultativo e de natureza constitutiva, sujeitando-o ao regime jurídico
empresarial. É inaplicável esse regime ao empresário ou sociedade rural que não exercer tal
opção.
4. Enunciado 205 do CJF – Art. 977: Adotar as seguintes interpretações ao art. 977: (1)
a vedação a participação de cônjuges casados nas condições previstas no artigo refere-se
unicamente a uma mesma sociedade; (2) o artigo abrange tanto a participacao originaria (na
constituição da sociedade) quanto a derivada, isto e, fica vedado o ingresso de sócio casado
em sociedade de que já participa o outro cônjuge.
EMPRESÁRIO INDIVIDUAL
Empresário casado: art. 978. O empresário casado pode, sem necessidade de outorga
conjugal, qualquer que seja o regime de bens, alienar os imóveis que integrem o patrimônio da
empresa ou gravá-los de ônus real.
EIRELI
Não significa que a EIRELI é o empresário individual, mas sim uma nova espécie de
pessoa jurídica, na qual existe um único titular de todas as quotas. Capital será de, no mínimo,
100 salários mínimos.
O nome empresarial deverá ser formado pela inclusão da expressão "EIRELI" após a
firma ou a denominação social da empresa individual de responsabilidade limitada. A pessoa
natural que constituir empresa individual de responsabilidade limitada somente poderá figurar
em uma única empresa dessa modalidade
A empresa individual de responsabilidade limitada também poderá resultar da
concentração das quotas de outra modalidade societária num único sócio, independentemente
das razões que motivaram tal concentração. Poderá ser atribuída à empresa individual de
responsabilidade limitada constituída para a prestação de serviços de qualquer natureza a
remuneração decorrente da cessão de direitos patrimoniais de autor ou de imagem, nome,
marca ou voz de que seja detentor o titular da pessoa jurídica, vinculados à atividade
profissional.
Aplicam-se à empresa individual de responsabilidade limitada, no que couber, as regras
previstas para as sociedades limitadas.
Duas correntes a respeito da EIRELI:
I. EIRELI é uma sociedade unipessoal. É uma pessoa jurídica com um único sócio.
Exceções, em que há um único sócio: subsidiária integral (art. 251, L.S.A.), empresa pública
(pode ser unipessoal, tendo a União como única acionista), EIRELI.
O direito brasileiro permite a sociedade unipessoal, para ser pessoa jurídica não há
necessidade de coletividade de pessoas. A fundação, por exemplo, decorre de coletividade de
patrimônio, e não de pessoas. Não há impedimento para classificação da EIRELI como
sociedade de um único sócio.
O legislador não usou a expressão “sociedade”, mas o art. 980-A diz: “capital social”:
quem tem capital social é a sociedade. Ainda, utiliza-se a expressão “cotas”: quem tem cotas é
sociedade.
II. EIRELI é uma pessoa jurídica sui generis. Não se trataria de sociedade. Tratar-se-
ia de nova categoria de pessoa jurídica, formada por apenas um titular.
O Código Civil adotou a segunda teoria, pois no artigo 44, inciso VI, indica como
espécie de pessoa jurídica de direito privado a EIRELI.
Discute-se quem pode ser o titular da EIRELI. De acordo com sua estrutura, a doutrina
majoritária afirma que somente a pessoa física pode constituir a EIRELI. Enunciado 468 da V
Jornada de Direito Civil: a empresa individual de responsabilidade limitada só pode ser
constituída por pessoa natural.
Se a EIRELI tem dívida trabalhista, e o patrimônio da EIRELI não for suficiente, não é
possível a execução do patrimônio do titular (a princípio). Mas na EIRELI cabe a
desconsideração da personalidade jurídica (é diferente do empresário individual, que não
há desconsideração).
SOCIEDADE
A pessoa jurídica (sociedade) é constituída por, no mínimo, 2 sócios. Os bens pessoais dos
sócios não respondem pelos débitos da pessoa jurídica. Por ter personalidade jurídica, a
sociedade tem patrimônio próprio. Há separação de patrimônio.
O brasileiro, buscando a proteção de seu patrimônio, passou a constituir sociedade. “Ele quer
ter sociedade, mas não quer ter sócio.” Passou a fazer uma sociedade forjada, fraudulenta: fica
com 99% das cotas, e passa 1% para a esposa / laranja. É uma forma de forjar o empresário
individual.
A fim de evitar esse comportamento, para criar uma estrutura melhor, para promover a
regularização de muitos empresários individuais que sequer tinham registro, criou-se a EIRELI.
VISÃO GERAL
Pode recair sobre imóveis, valores mobiliários (títulos emitidos por S/A) e veículos.
Para imóvel: lei 9.514/97, a partir do art. 33.
Para valores mobiliários: art. 66-B, da lei 4.728/65.
Para veículos: DEL 911/69, alterado pela lei 13.043/14.
Fiduciário (credor) ---------mútuo------------------------> Fiduciante (devedor)
<----------alienação fiduciária----
CONCEITO
CLASSIFICAÇÃO:
Legislação Aplicável: Bens móveis – Art. 66-B, da Lei 4.728/651 e Decreto- lei 911/69 (no
âmbito do mercado financeiro e de capitais ou em garantia de créditos fiscais ou
Art. 66-B. O contrato de alienação fiduciária celebrado no âmbito do mercado financeiro e de capitais,
bem como em garantia de créditos fiscais e previdenciários, deverá conter, além dos requisitos
definidos na Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil, a taxa de juros, a cláusula penal, o
índice de atualização monetária, se houver, e as demais comissões e encargos.(Incluído pela Lei 10.931,
de 2004)
§ 1o Se a coisa objeto de propriedade fiduciária não se identifica por números, marcas e sinais no
contrato de alienação fiduciária, cabe ao proprietário fiduciário o ônus da prova, contra terceiros, da
identificação dos bens do seu domínio que se encontram em poder do devedor.(Incluído pela Lei
10.931, de 2004)
§ 2o O devedor que alienar, ou der em garantia a terceiros, coisa que já alienara fiduciariamente em
garantia, ficará sujeito à pena prevista no art. 171, § 2o, I, do Código Penal.(Incluído pela Lei 10.931, de
2004)
§ 3o É admitida a alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de direitos sobre coisas
móveis, bem como de títulos de crédito, hipóteses em que, salvo disposição em contrário, a posse direta
e indireta do bem objeto da propriedade fiduciária ou do título representativo do direito ou do crédito é
atribuída ao credor, que, em caso de inadimplemento ou mora da obrigação garantida, poderá vender a
terceiros o bem objeto da propriedade fiduciária independente de leilão, hasta pública ou qualquer
outra medida judicial ou extrajudicial, devendo aplicar o preço da venda no pagamento do seu crédito e
das despesas decorrentes da realização da garantia, entregando ao devedor o saldo, se houver,
acompanhado do demonstrativo da operação realizada.(Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 4o No tocante à cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou sobre títulos de crédito aplica-se,
também, o disposto nos arts. 18 a 20 da Lei no 9.514, de 20 de novembro de 1997.(Incluído pela Lei
10.931, de 2004)
previdenciários) e CC subsidiariamente (art. 1368-A, CC). ATENÇÃO para as alterações
promovidas pela Lei 13.043/14.
Obs.: Apesar de o art. 1365 do CC vedar o pacto comissório, as leis específicas que
regulamentam a alienação fiduciária admitem tal pacto (arts. 26 e 27 da Lei 9514/97 e art. 3° do
Decreto- lei 911/69).
Registro do Contrato
A doutrina discute se com o advento do CC, art. 1361, § 1º, no caso de alienação
fiduciária de automóveis, é necessário registrar no REGISTRO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS
ou se é suficiente apenas o registro no DETRAN. O STJ já decidiu que a exigência do duplo
registro afronta o princípio da razoabilidade. Assim, basta o registro no DETRAN para que o
contrato produza efeitos contra terceiros.
§ 5o Aplicam-se à alienação fiduciária e à cessão fiduciária de que trata esta Lei os arts. 1.421, 1.425,
1.426, 1.435 e 1.436 da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.(Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 6o Não se aplica à alienação fiduciária e à cessão fiduciária de que trata esta Lei o disposto no art. 644
da Lei nº 10.406, de 10 de janeiro de 2002.(Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
REPERCUSSÃO GERAL EM RE n. 611.639-RJ, Relator Min. Marco Aurélio
VEÍCULOS AUTOMOTORES - GRAVAME - OBRIGATORIEDADE DO REGISTRO EM
CARTÓRIO DE TÍTULOS E DOCUMENTOS - INCONSTITUCIONALIDADE DO ARTIGO
1.361, § 1º, DO CÓDIGO CIVIL DECLARADA NA ORIGEM. Possui repercussão geral a
controvérsia sobre a constitucionalidade do artigo 1.361, § 1º, do Código Civil no tocante à
obrigatoriedade do registro, no cartório de títulos e documentos, do contrato de alienação
fiduciária de veículos automotores, mesmo com a anotação no órgão de licenciamento. (Info
621, STF)
Inadimplemento do Devedor
2
Lembrar que a Ação de Busca e Apreensão do DL 911/69 tem aplicação somente nas
hipóteses previstas no art. 8-A do Decreto (no âmbito do mercado financeiro e de capitais ou
em garantia de créditos fiscais ou previdenciários). Fora desses casos, a alienação fiduciária
de bens móveis é regida pelo CC.
Pensando nisso, a Lei n.° 13.043/2014 acrescentou o § 9º ao art. 3º do DL 911/69
estipulando que o juiz, ao decretar a busca e apreensão de veículo, deverá inserir uma
restrição judicial na base de dados do Renavam.
Renavam significa Registro Nacional de Veículos Automotores e consiste em um
banco de dados que funciona como um registro de todos os veículos existentes no Brasil. Cada
veículo recebe um número identificador que é chamado de “código renavam” e lá são
registradas todas as informações sobre a “vida” do automóvel, desde o momento da sua
fabricação ou importação, passando pelo emplacamento, mudanças de proprietário, alterações
em sua cor e características, até o instante em que o veículo sai de circulação.
O Poder Judiciário mantém convênio com o DENATRAN por meio do qual os
magistrados possuem acesso ao sistema informatizado do Renavam. Assim, o juiz pode digitar
seu login e sua senha, entrar na página interna do Renavam e inserir restrições judiciais
incidentes sobre os veículos objeto do processo. Assim, quando o carro for parado em uma
blitz ou for realizar uma inspeção de rotina no DETRAN, aparecerá aquela informação no
sistema e o veículo será apreendido e entregue à Justiça.
Dessa forma, quando o juiz decreta a busca e apreensão, ele próprio, com sua
senha, deverá inserir diretamente a restrição judicial no RENAVAM. Caso ele não tenha acesso
à base de dados, deverá expedir um ofício ao DETRAN para que:
I - registre o gravame referente à decretação da busca e apreensão do veículo; e II
- retire o gravame após a apreensão do veículo. (§§ 9º e 10 do art. 3º do DL 911/69,
acrescentados pela Lei n.° 13.043/2014).
No mais:
Caso o bem seja localizado em comarca diferente da qual onde está tramitando a
ação (ex: o processo tramita em Belo Horizonte e o carro foi encontrado em Lavras), a parte
interessada poderá requerer diretamente ao juízo dessa comarca pedindo a apreensão do
veículo, bastando que em tal requerimento conste a cópia da petição inicial da ação e, quando
for o caso, a cópia do despacho que concedeu a busca e apreensão do veículo (§ 12 do art. 3º
do DL 911/69, acrescentado pela Lei n.° 13.043/2014).
A apreensão do veículo será imediatamente comunicada ao juízo, que intimará a
instituição financeira para retirá-lo do local depositado no prazo máximo de 48 horas (§ 13 do
art. 3º do DL 911/69, acrescentado pela Lei n.°13.043/2014).
O devedor, por ocasião do cumprimento do mandado de busca e apreensão,
deverá entregar o bem e seus respectivos documentos (§ 14 do art. 3º do DL 911/69,
acrescentado pela Lei n.° 13.043/2014).
AÇÃO DE BUSCA E APREENSÃO
Quando o credor faz a busca e apreensão do bem, poderá fazer a venda do bem.
Para a venda judicial, não é preciso leilão ou avaliação prévia, nos termos do art. 2º do DL
911/69. Nada impede que a venda seja feita de outras formas, como, por exemplo, venda em
consignação.
Súmula 384 do STJ - Cabe ação monitória para haver saldo remanescente
oriundo de venda extrajudicial de bem alienado fiduciariamente em garantia.
Nos termos da Súmula 245 STJ: A notificação destinada a comprovar a mora nas
dívidas garantidas por alienação fiduciária dispensa a indicação do valor do débito.
3
Súmula 72 do STJ: A comprovação da mora é imprescindível à busca e apreensão do bem
alienado fiduciariamente.
A indicação do valor do débito é necessária na petição inicial.
A Lei 10.931/2004 traz situação favorável ao credor, nos termos do art. 3º, § 1º, do
DL 911/69: 05 dias após a execução da liminar, o credor passa a ter a propriedade e a posse
plena do bem. O bem passa a integrar a propriedade do credor.
O devedor purga a mora quando ele oferece ao devedor as prestações que estão
vencidas e mais o valor dos prejuízos que este sofreu (art. 401, I, do CC). Nesse caso,
purgando a mora, o devedor consegue evitar as consequências do inadimplemento. Ocorre
que na alienação fiduciária em garantia, a Lei n.° 10.931/2004 passou a não mais permitir a
purgação da mora.
Vale ressaltar que o tema acima foi decidido em sede de recurso repetitivo,
tendo o STJ firmado a seguinte conclusão, que será aplicada em todos os processos
semelhantes:
“Nos contratos firmados na vigência da Lei n.° 10.931/2004, que alterou
o art. 3º, §§ 1º e 2º, do Decreto-lei 911/1969, compete ao devedor, no
prazo de cinco dias após a execução da liminar na ação de busca e
apreensão, pagar a integralidade da dívida – entendida esta como os
valores apresentados e comprovados pelo credor na inicial –, sob pena
de consolidação da propriedade do bem móvel objeto de alienação
fiduciária.” STJ. 2ª Seção. REsp 1.418.593-MS, Rel. Min. Luis Felipe
Salomão, julgado em 14/5/2014 (recurso repetitivo).
Ao mesmo tempo em que a lei favorece ao credor, permitindo que faça uma venda
mais célere (05 dias após a execução da liminar), se a ação for julgada improcedente ao final,
o credor deverá devolver o dinheiro ao devedor e mais uma multa equivalente a 50% do valor
originalmente financiado.
Prisão civil do depositário. Com fulcro no art. 4° do DL, se o bem não for
encontrado ou não se achar na posse do devedor, o credor poderá requerer a conversão do
pedido de busca e apreensão em ação de depósito, na forma do CPC.
A partir desta orientação, o STF entende que o Pacto de São José da Costa Rica,
recepcionado com status supralegal, cessa a possibilidade da conversão da ação de busca e
apreensão em ação de depósito. Eis o entendimento sumulado do Supremo:
Legislação Aplicável: Bens imóveis – Lei 9.514/97 e CC subsidiariamente (art. 1368-A, CC).
Nos termos da lei, pode ser realizada por pessoa física ou jurídica, não sendo
privativa das entidades que operam no Sistema Financeiro Imobiliário.
Além da propriedade plena, podem ser objeto de alienação fiduciária em garantia:
Se o imóvel estiver locado, a locação será denunciada com prazo de 30 dias para
desocupação.
Além disso, nada impede que o devedor que se sinta prejudicado busque o
Judiciário para revisão de eventuais cláusulas abusivas ou para impedir a venda do imóvel em
valor muito inferior ao de mercado.
Legislação Aplicável: Bens móveis – Art. 66-B, da Lei 4.728/65 e Decreto- lei 911/69 (no
âmbito do mercado financeiro e de capitais ou em garantia de créditos fiscais ou
previdenciários), CC subsidiariamente (art. 1368-A, CC).
A alienação fiduciária de bens móveis está regulada pelo art. 66-B da Lei
4.728/65, quando celebrado no âmbito do mercado financeiro e de capitais ou feito em garantia
de créditos fiscais e previdenciários. Nesses casos, ademais, aplicam-se as regras processuais
do DL n. 911/69, por força do que dispõe o art. 8 –B, desse diploma legal: “o procedimento
judicial disposto neste decreto-lei aplica-se exclusivamente às hipóteses da seção XIV da lei
4.728/65, ou quando o ônus da propriedade fiduciária tiver sido construído para fins de garantia
do débito fiscal ou previdenciário”. Destarte, remete-se o leitor para os comentários ao
procedimento da Ação de Busca e Apreensão do DL 911/69 supra, do item alienação fiduciária
de bem móvel.
Neste caso, a posse direta e indireta do bem objeto do título pode ser atribuída ao
credor, que, em caso de inadimplemento ou mora, deverá vender a terceiro o bem objeto da
propriedade fiduciária independentemente de leilão, hasta pública ou qualquer outra medida
judicial ou extrajudicial, devendo aplicar o preço da venda no pagamento do seu crédito e das
despesas decorrentes da realização da garantia, cabendo ao devedor eventual saldo.
Art. 66-B. O contrato de alienação fiduciária celebrado no âmbito do mercado
financeiro e de capitais, bem como em garantia de créditos fiscais e previdenciários, deverá
conter, além dos requisitos definidos na Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002 - Código Civil,
a taxa de juros, a cláusula penal, o índice de atualização monetária, se houver, e as demais
comissões e encargos. (Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 1o Se a coisa objeto de propriedade fiduciária não se identifica por números,
marcas e sinais no contrato de alienação fiduciária, cabe ao proprietário fiduciário o ônus da
prova, contra terceiros, da identificação dos bens do seu domínio que se encontram em poder
do devedor. (Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 2o O devedor que alienar, ou der em garantia a terceiros, coisa que já alienara
fiduciariamente em garantia, ficará sujeito à pena prevista no art. 171, § 2o, I, do Código Penal.
(Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 3o É admitida a alienação fiduciária de coisa fungível e a cessão fiduciária de
direitos sobre coisas móveis, bem como de títulos de crédito, hipóteses em que, salvo
disposição em contrário, a posse direta e indireta do bem objeto da propriedade fiduciária ou do
título representativo do direito ou do crédito é atribuída ao credor, que, em caso de
inadimplemento ou mora da obrigação garantida, poderá vender a terceiros o bem objeto da
propriedade fiduciária independente de leilão, hasta pública ou qualquer outra medida judicial
ou extrajudicial, devendo aplicar o preço da venda no pagamento do seu crédito e das
despesas decorrentes da realização da garantia, entregando ao devedor o saldo, se houver,
acompanhado do demonstrativo da operação realizada. (Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 4o No tocante à cessão fiduciária de direitos sobre coisas móveis ou sobre
títulos de crédito aplica-se, também, o disposto nos arts. 18 a 20 da Lei no 9.514, de 20 de
novembro de 1997.(Incluído pela Lei 10.931, de 2004)
§ 5o Aplicam-se à alienação fiduciária e à cessão fiduciária de que trata esta Lei
os arts. 1.421, 1.425, 1.426, 1.435 e 1.436 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002.(Incluído
pela Lei 10.931, de 2004)
§ 6o Não se aplica à alienação fiduciária e à cessão fiduciária de que trata esta Lei
o disposto no art. 644 da Lei no 10.406, de 10 de janeiro de 2002. (Incluído pela Lei 10.931, de
2004)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
APLICAÇÃO DAS REGRAS DO DL 911/69 AO LEASING: o arrendamento
mercantil (também chamado de leasing) é uma espécie de contrato de locação, no qual o
locatário tem a possibilidade de, ao final do prazo do ajuste, comprar o bem pagando uma
quantia chamada de valor residual garantido (VRG).
A Lei n.° 6.099/74 dispõe sobre o tratamento tributário das operações de
arrendamento mercantil, mas não trata, de forma detalhada, a respeito das regras e
procedimentos aplicáveis nos casos de leasing.
Pensando nisso, a Lei n.° 13.043/2014 determinou que o procedimento adotado
pelo DL 911/69 para o caso de inadimplemento do devedor na alienação fiduciária,
inclusive o regramento sobre a ação de busca e apreensão deveria ser também aplicado para
o arrendamento mercantil.
Importante: Assim, a partir de agora, os procedimentos previstos no art.
2º, caput e § 2º e no art. 3º do DL 911/69 (regras relacionadas com a alienação fiduciária)
deverão ser aplicadas às operações de arrendamento mercantil (leasing).
Se o devedor do contrato de alienação fiduciária estiver em processo de recuperação
judicial ou extrajudicial, mesmo assim será possível a busca e apreensão do bem?
SIM. Mesmo já existindo pedido de recuperação judicial ou extrajudicial envolvendo o devedor
do contrato de alienação fiduciária, tal fato não impedirá a distribuição e a busca e apreensão
do bem (art. 6º-A do DL 911/69, inserido pela Lei n. 13.043/2014).
O Código Civil traz regras sobre a alienação fiduciária de bens MÓVEIS infungíveis quando o
credor fiduciário for pessoa natural ou jurídica (sem ser banco).
A Lei n.° 13.043/2014 promoveu duas mudanças nessas regras do CC-2002. Vejamos:
ANTES DEPOIS
Teoria geral dos títulos de crédito. Títulos de crédito no Código Civil. Constituição do crédito.
Exigibilidade. Títulos de crédito em espécie. Letra de Câmbio. Nota promissória. Cheque.
Duplicata. Títulos de créditos vinculados ao crédito rural. Títulos de créditos vinculados ao
financiamento imobiliário. Conhecimento de depósito. Warrant. Conhecimento de transporte.
Títulos do agronegócio. Ações cambiárias.
A constituição do crédito cambiário dá-se com o saque do título, o qual dá ensejo a diferentes
situações jurídicas para os envolvidos, ou seja, o sacador, que emite o título, constituindo o
crédito cambiário; o beneficiário do crédito cambiário – credor; e o aceitante, se houver.
CLASSIFICAÇÃO DE REQUIÃO
a) títulos cambiários: são os títulos perfeitos, abstratos. Nota Promissória e Letra de Câmbio.
b) títulos cambiariformes: são títulos que não apresentam todas as características dos títulos
de crédito. São títulos imperfeitos. Exemplo: cheque - não possui o elemento crédito, porque é
ordem de pagamento à vista; duplicata – é um título causal.
A doutrina apresenta ainda quatro critérios para classificação dos títulos. São eles:
2. Quanto à estrutura
2.1. Ordem de pagamento - alguém dá ordem para que interposta pessoa efetue o pagamento
a um terceiro beneficiário. São exemplos o cheque, a duplicata mercantil, a letra de câmbio.
2.2. Promessa de pagamento - alguém, diretamente, se compromete a pagar determinado
valor ao beneficiário. É exemplo de promessa de pagamento a nota promissória.
O Código Civil de 2002 apresentou uma classificação tripartite dos títulos de crédito com
relação à sua circulação. A diferença é que os títulos à ordem deixaram de ser considerados
“subdivisão” dos títulos nominativos, passando a ser uma categoria diferente. Assim, segundo
o diploma civil, a classificação quanto à circulação se faz da seguinte forma:
a) Título ao portador - classificado da mesma forma que faz a doutrina majoritária, ou seja, são
os títulos transferíveis mediante a simples tradição (artigos 904 e seguintes do Código Civil).
b) Título à ordem - transmissíveis por endosso, em branco ou em preto (artigos 910 e seguintes
do diploma civil).
c) Título nominativo - circulam mediante termo no registro próprio do emitente, assinado pelo
proprietário e pelo adquirente (artigos 921 e seguintes do Código Civil).
Para Cesare Vivante, títulos de crédito constituem “documentos necessários para o exercício
do direito literal e autônomo nele mencionado”. Este conceito foi acolhido pelo Código Civil de
2002, segundo o qual “título de crédito é o documento necessário ao exercício do direito
literal nele contido” (art. 887).
b) princípio da literalidade - vale o que está escrito no título, ou seja, é o título que define os
contornos da obrigação. A literalidade indireta é aquela em que também vale o que decorre da
lei ou de um outro documento a que o título faz remição. Quem fala disso é Túlio Ascarelli.
d) princípio da abstração – Fábio Ulhoa não trata como princípio. Em regra, o título se
desvincula do negócio jurídico que lhe deu origem, ou seja, o credor não pode discutir o
negócio jurídico para cobrar a dívida. Esse princípio não se aplica a todos os títulos de crédito,
como no caso da duplicata, que é um título causal, e das cédulas de crédito. Para os outros
títulos a abstração não é aplicada em três hipóteses:
- se o credor participou do negócio jurídico;
- se o credor tem ciência de problemas no negócio jurídico – RESp 612423;
- quando o título está expressamente vinculado ao negócio jurídico – RESp 111961
e) princípio da independência – Significa que o título vale por si só, não precisando ser
completado por nenhum outro documento. Não é aplicado a todos os títulos, como no caso da
cédula de crédito bancário, que não vale sozinha, precisando ser completada pelos extratos e
pelo contrato. A duplicata sem aceite também não vale sozinha, precisando do comprovante de
recebimento de mercadoria e do protesto para ser executada.
f) Princípio da tipicidade – Todos os títulos de crédito são disciplinados por lei, criados por ela e
com requisitos formais a serem observados, sob pena de serem inexistentes. Discute-se, no
entanto, se este princípio ainda é aplicado, diante da possibilidade de criação de títulos atípicos
por particulares. Para a doutrina majoritária, este princípio não vale mais porque os particulares
podem criam títulos de crédito atípicos, que seriam regidos pelo CC. Fábio Ulhôa, por exemplo,
diz que é possível a criação desses títulos atípicos, porém eles não seriam regidos pelo CC. A
doutrina minoritária defende a impossibilidade de criação de títulos atípicos.
O prazo prescricional dos títulos de crédito no Código Civil é de três anos, nos termos do artigo
206, § 3°, VIII, ressalvadas as disposições de lei especial.
Os institutos típicos do regime jurídico cambiário, como o saque, o aceite, endosso, o aval e o
protesto foram analisados quando do estudo da letra de câmbio, no item 1 do resumo deste
ponto.
LETRA DE CÂMBIO
É um título de crédito clássico e comporta todas as características dos títulos de crédito. É mais
utilizada em negócios internacionais (comércio exterior). Na prática, foi substituída pela
duplicata. Está prevista no Decreto 57663/66 (Lei Uniforme de Genebra). Ler o anexo I do
Decreto, que ainda está em vigor. O anexo II estabelece as reservas do que não vige no Brasil,
devendo ser aplicado o Decreto 2044/1908.
ORIGEM
Na idade média. Alcançou sua perfeição (abstração) no direito germânico em 1849 (Requião).
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Decreto n. 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra - e, excepcionalmente, o Decreto
2044/1908, quanto às reservas e omissões da Lei Uniforme.
CONCEITO
Ordem dada por escrito a uma pessoa para que pague a um beneficiário ou a sua ordem uma
determinada importância em dinheiro.
ELEMENTOS PESSOAIS
a) SACADOR - eminente da letra de câmbio / quem dá a ordem de pagamento;
b) SACADO - quem recebe a ordem de pagamento;
c) TOMADOR - o beneficiário da ordem de pagamento.
Quanto à assinatura do sacador, seja ele próprio, seja um representante com poderes para
tanto; quem se apresenta como representante do sacador, mas age sem poderes ou com
excesso de poder (ultra vires), responde pessoalmente pela obrigação. O sacador é garante
tanto da aceitação como do pagamento de letra. É permitido que o sacador se desonere da
garantia da aceitação, mas não que se desonere do pagamento, razão pela qual toda e
qualquer cláusula pela qual ele pretenda exonerar-se da garantia do pagamento considera-se
como não escrita.
A validade da assinatura do mandatário, ainda que com poderes especiais, não é
ampla, havendo que se destacar a Súmula 60 do STJ: “É nula a obrigação cambial assumida
por procurador do mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste”. Tal
enunciado veio para proibir uma prática que se tornava comum: quando emprestavam dinheiro
(contrato de mútuo), algumas instituições financeiras (mutuantes) colhiam a assinatura do
cliente (mutuário: aquele que tomou o empréstimo) numa procuração. Assim, diante do
inadimplemento, a instituição financeira ou empresa a ela vinculada sacava uma letra de
câmbio como representante do mutuário, o que foi considerado ilícito. Note-se, porém, que não
se impede a própria instituição financeira emita, como sacadora, a letra de câmbio,
apresentando-se como tomadora e indicando o cliente como sacado; se ele recusa a letra,
haverá protesto por falta de aceite; obviamente, se houve abuso no saque, o cliente sacado
terá ação contra a instituição sacadora, pedindo a indenização pelos danos morais sofridos.
Outros, ainda, entendem que o vencimento não é requisito, pois se não tiver vencimento
escrito, o título é à vista.
Hoje predomina o entendimento de que a lei não veda a emissão de cambial indexada ou com
cláusula de correção monetária, desde que o índice usado seja oficial ou de amplo
conhecimento no comércio.
Título em branco: A presença dos requisitos impostos por lei é necessária em razão do
formalismo que rege os títulos de crédito. Um documento só será considerado um título de
crédito se atender a todos os requisitos impostos em lei. Todavia, a verificação da obediência a
esses requisitos não é necessária desde a emissão do título. Os requisitos devem estar
presentes no momento da apresentação do título para pagamento. Portanto, é perfeitamente
possível a emissão de um título em branco.
Esse preenchimento de lacunas da letra emitida em branco pode ser feito pelo próprio credor
do título, que possui uma espécie de mandato (art. 891, CC) para preencher o documento.
A Súmula 387 do STF dispõe que os requisitos dos títulos de crédito não precisam constar do
instrumento no momento do saque. Os requisitos devem estar totalmente cumpridos antes da
cobrança ou do protesto do título, entendendo-se o portador de boa-fé como procurador do
sacador para completar o título emitido com emissões.
STF Súmula nº 387 -
A cambial emitida ou aceita com omissões, ou em branco, pode ser completada pelo credor
de boa-fé antes da cobrança ou do protesto.
SAQUE
É o ato de emissão da letra de câmbio. O saque é declaração originária e necessária porque o
título surge graças a ele.
Este ato vincula o sacador ao pagamento da LC. O sacador é codevedor do título junto com o
sacado. A lei faculta que uma mesma pessoa ocupe mais de uma dessas situações. A letra
pode ser sacada em benefício do próprio sacador (mesma pessoa sacador e tomador) ou pode
ser sacada sobre o próprio sacador (mesma pessoa como sacador e sacado).
Na hipótese de serem a mesma pessoa sacador e sacado, temos, na verdade, uma promessa
de pagamento, e não uma ordem de pagamento.
Ressaque:
É o saque à vista contra qualquer dos coobrigados do título vencido, não pago,
protestado e não prescrito, evitando-se o ajuizamento da ação cambial, sendo a letra de
câmbio colocada novamente em circulação. Na realidade, é um novo saque que substitui
a ação regressiva.
ACEITE
Não é essencial do título. Só existe aceite na LC e na duplicata.
O sacado de uma LC não tem nenhuma obrigação cambial pelo só fato de o sacador ter-lhe
endereçado a ordem de pagamento. Estará vinculado ao pagamento do título apenas se
concordar em atender à ordem que lhe é dirigida.
O ato cambial pelo qual o sacado concorda em acolher a ordem incorporada pela letra se
chama “aceite”. É ato de sua livre vontade. O aceite resulta da simples assinatura do sacado
lançada no anverso do título, mas poderá ser firmado também no verso, desde que identificado
o ato praticado pela expressão “aceito” ou outra equivalente.
O aceite pode ser dado fora do titulo? Não, em virtude do princípio da literalidade. Também em
virtude do princípio da cartularidade.
Contudo, para Bulgarelli e Mamede, o aceite dado fora do título de crédito produz
efeitos normalmente, tornado o sacador devedor da obrigação. De outro lado, Luiz Emygidio da
Rosa Júnior afirma que o aceite dado em separado produz efeitos não cambiários, como um
reconhecimento de dívida, mas reconhece a possibilidade do aceite dado em documento
separado, no caso de aceite riscado do sacado, nos termos do art. 29 da LUG.
Art. 29 da LUG é o caso do aceite riscado; manda uma carta ao credor dizendo que aceitou e
quando o titulo volta, risca o aceite; nesse caso, a carta enviada mais o titulo com o aceite
riscado vale como aceite. Bulgarelli diz que é um caso de aceite dado fora do titulo.
Para que haja aceite é necessário que o beneficiário apresente o titulo para o sacado. Essa
apresentação pode ser obrigatória, facultativa ou dispensada ou inexistente, dependendo do
vencimento do titulo.
A apresentação para aceite pode ser: a) facultativa: se a letra for a dia certo ou em certo prazo
da data; b) obrigatória: quando o vencimento for em certo termo da vista.
Quando a letra for pagável a vista ou a um certo termo da vista, o sacador poderá estipular a
incidência de juros sobre a quantia ser paga. Trata-se de uma exceção válida à regra do art.
890 do CC. A taxa de juros deverá ser indicada na letra; sua ausência invalida a incidência; os
juros contam-se da data da letra, se outra data não for indicada. Trata-se de um estímulo para
apresentação tardia da letra para pagamento. Nos demais casos, a estipulação de juros será
considerada como não escrita.
O prazo para apresentação é de até um ano após o saque, no vencimento à vista ou a certo
tempo da vista (artigos 34 e 23 da LU); e até no vencimento, nas demais hipóteses (artigo 23,
da LUG). Se perder o prazo, não pode cobrar dos coobrigados (art. 53 da LU).
Art. 23 - As letras a certo termo de vista devem ser apresentadas ao aceite dentro do
prazo de um ano das suas datas.
O sacador pode reduzir este prazo ou estipular um prazo maior.
Esses prazos podem ser reduzidos pelos endossantes.
Apresentado o título ao sacado, este tem o direito de pedir que ele lhe seja reapresentado no
dia seguinte, nos termos do art. 24 da LU. É o chamado PRAZO DE RESPIRO ou
reapresentação.
Nesse caso, o prestador não está obrigado a deixar nas mãos do aceitante a letra apresentada
ao aceite. Irá recolhê-la e trará novamente no dia seguinte. Se o sacado retiver a letra, além do
protesto por falta de devolução, é possível requerer judicialmente a busca e apreensão do
título.
A legislação não estabelece o prazo no qual deverá haver a devolução do título, sendo
razoável entender-se que o prazo é de 24 horas, caso não haja nenhum prazo combinado
entre as partes.
Não é requisito do aceite a expressão da data em que foi passado; basta a assinatura do
sacado, salvo nas hipóteses da letra pagável a certo termo de vista e a letra que deva ser
apresentada ao aceite dentro de um prazo determinado por estipulação especial. A data,
nesses casos, é essencial. Diante da recusa do sacado em dispor a data correta, o portador
deverá providenciar imediato protesto do título pela falta de data, preservando seus direitos
contra o endossante e contra o sacador. Na falta de protesto, o aceite não datado entende-se,
apenas no que respeita ao aceitante, como tendo sido dado no último dia do prazo para a
apresentação ao aceite; mas essa regra não alcança a responsabilidade solidária de
endossantes e sacador, bem como seus avalistas.
Se o sacado não aceitar a ordem de pagamento que lhe foi dirigida, o tomador – ou credor –
poderá cobrar o título de imediato do sacador, posto que o vencimento originariamente fixado
para a cambial é antecipado com a recusa do aceite, o que também ocorre no caso de aceite
parcial - limitativo ou modificativo.
Se o sacado aceita, mas modifica alguma coisa do titulo, é o aceite qualificado. Há o aceite
qualificado limitativo quando o sacado reduz o valor. Há também o aceite modificativo, onde o
sacado modifica outra coisa que não seja o valor, como, por exemplo, o vencimento. O sacado
que dá o aceite qualificado se torna responsável nos termos do aceite qualificado e não na
forma do titulo. O tomador não é obrigado a concordar com o aceite qualificado, para ele esse
aceite equivale à recusa, podendo protestar o titulo, provando que o aceite não foi dado como
deveria e cobrar o titulo antecipadamente. Quanto pode cobrar antecipadamente no caso do
aceite limitativo? São 2 opiniões:
1)Bulgarelli e Fabio Ulhoa entendem que pode cobrar tudo.
2)Requião, Luis Emydio, Fran Martins, Gladston Mamede entendem que pode cobrar a parte
não aceita.
Para evitar que a recusa do aceite produza o vencimento antecipado da LC, o sacador pode
valer-se de expediente previsto no art. 22 da LU – cláusula “não-aceitável”. Uma LC com
esta cláusula não poderá ser apresentada ao sacado para aceite. O credor somente poderá
apresentar o título ao sacado no seu vencimento, e, para pagamento, portanto.
O sacado que retém indevidamente a LC que lhe foi apresentada para aceite – ou o devedor,
em caso de entrega para pagamento – está sujeito a prisão administrativa, que deverá ser
requerida ao juiz, nos termos do art. 885 do CPC. Obs.: a prisão aqui foi considerada
inconstitucional, eis que a Carta Magna só prevê prisão civil para devedor de alimentos e
depositário infiel.)
Limitação do aceite - o aceite, em princípio, é puro e simples, mas admite que o sacado o limite
a uma parte da importância sacada. Assim, se o sacado aceita uma letra pela metade de seu
valor, a limitação resulta em recusa do aceite, mas o aceitante se vincula cambiariamente ao
pagamento da importância reduzida. É o aceite parcial, e o sacador é o responsável pelo saldo
não aceito.
Aceite por intervenção – a Lei Uniforme admite que, em certas condições, um estranho à
relação cambiária nela intervenha, para firmar o aceite pelo sacado. Esclareçamos a utilidade
da intervenção: é que a recusa do aceite pelo sacado pode criar embaraçosas situações para o
sacador e os endossantes, pois o portador, em consequência da recusa do aceite pelo sacado,
tem o direito de usar do regresso contra o sacador ou endossantes, exigindo deles o
pagamento da letra, antes mesmo do vencimento.
ENDOSSO
Ato cambiário que opera a transferência e vinculação dos direitos inerentes ao título de crédito.
Ato cambiário que opera a transferência do crédito representado por título “à ordem”.
O endosso deve sempre constar do título (cartularidade - art.13, Lei Uniforme). O local próprio
é o verso do título, não precisando de indicação do ato. Se for feito na frente tem que constar
como endosso. Caso o espaço no documento não seja suficiente para realizar o endosso,
deve-se colar uma folha de papel (anexo, alongue ou alongamento) ao título e realizar o
endosso nessa folha, que, para todos os efeitos, é o próprio título de crédito.
Para que se efetive o endosso, pressupõe-se que o título possua a cláusula à ordem. Ela é
presumida na letra de câmbio e na nota promissória (LUG- art. 11), bem como no cheque.
Caso queira impedir o endosso, deve-se escrever expressamente a cláusula não à ordem ou
outra equivalente. O simples fato de riscar a cláusula à ordem impressa no título não é
suficiente para tornar o título não passível de endosso.
Inserida expressamente a cláusula não à ordem, o título só poderá ser transferido com
forma e os efeitos de uma cessão ordinária de créditos.
Caso seja realizado um endosso nessa hipótese, a melhor doutrina afirma que será
válido, mas não produzirá os seus próprios efeitos, mas apenas de cessão de crédito. Aplica-se
a teoria da conversão substancial do negócio jurídico.
O endosso pode ser em preto (indicando a pessoa a quem é transferido o título) ou em branco
(não indicando a pessoa a quem é transferido o título).
O endosso em branco só pode ser lançado no verso do título ( art. 13- LUG).
Endossos impróprios: torna-se legítima a posse de uma pessoa sobre o documento, sem
a transferência da titularidade do título.
O protesto é ato necessário para garantir o direito de regresso contra os endossantes e seus
avalistas (coobrigados).
Não se confunde com a cessão de crédito, tendo em vista apresentarem as seguintes
distinções:
a) o endosso é ato unilateral de declaração de vontade, enquanto a cessão é um contrato
bilateral;
b) a nulidade de um endosso não afeta os endossos posteriores; na cessão, a nulidade de uma
acarreta a das posteriores;
c) o devedor não pode opor exceções pessoais ao endossatário; na cessão, o devedor pode
opor ao cessionário a mesma defesa que teria contra o cedente (princípio da autonomia das
obrigações cambiais e subprincípio da inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de
boa-fé).
d) o endosso é forma própria de transferência dos títulos de crédito. A cessão de
créditos objetiva a transferência de qualquer tipo de crédito, inclusive títulos;
e) o endosso independe de qualquer comunicação ao devedor, enquanto a cessão de
créditos só produz efeitos quando notificada ao devedor (art. 290, CC);
f) no endosso, em regra, o endossante responde pelo pela aceitação e pelo pagamento;
já na cessão de crédito, em regra, o cedente responde apenas pela existência do crédito
Há alguns endossos que produzem efeitos de cessão civil de crédito, ou seja, endossos em
que o endossante não responde, em regra, pela solvência do devedor e em que o endossatário
não adquire obrigação autônoma. São duas as hipóteses de endosso com efeito de cessão civil
de crédito: a) endosso praticado após o protesto por falta de pagamento ou do transcurso do
prazo legal para a extração desse protesto (endosso tardio, posterior ou póstumo – art. 20,
LUG); b) endosso de letra de câmbio com a cláusula “não à ordem”.
A Lei 8021/90 sobre títulos nominativos e endossáveis (Plano Collor) vale para títulos da SA e
não para títulos de crédito (Resp 120173). Tal lei proibia a emissão de quotas ao portador ou
nominativo-endossáveis, pelos fundos em condomínio, bem como a emissão de títulos e a
captação de depósitos ou aplicações ao portador nominativo-endossáveis.
A Lei 8088/90, no art,19 diz que todos os títulos devem ser endossáveis em preto, mas isso
não acabou com o endosso em branco, porém o endossatário tem que se identificar na hora de
receber (Resp 204595).
Factoring e endosso
O TJDFT já afirmou que “por ser o contrato de factoring uma operação de risco, especulativo,
portanto, e não uma operação de crédito, como são as operações bancárias, o faturizador, ao
adquirir créditos, mediante uma contraprestação, isenta o faturizado da responsabilidade pelo
pagamento do título” (20040020091815AGI, Rel. Ana Maria Duarte Amarante, j. em
14/03/2005). O STJ também já havia afirmado que a faturizadora não teria direito de regresso
contra o faturizado.
Pode-se concluir, portanto, que a tendência mais recente é no sentido de admitir o pacto
expresso de responsabilidade do faturizado pelos créditos transferidos, ou sua
responsabilidade, mesmo sem pacto, no caso do endosso de títulos próprios.
AVAL
Conceito: Segundo Fábio Ulhoa, é o ato cambiário pelo qual uma pessoa (avalista) se
compromete a pagar um título de crédito, nas mesmas condições do avalizado.
Aval pode ser total ou parcial (art.30). O artigo 897, parágrafo único, do Código Civil,
entretanto, veda o aval parcial para os títulos atípicos.
Pode-se indicar a quem é dada a garantia – aval em preto (identifica o avalizado) – ou não –
aval em branco (não identifica o avalizado). O aval em branco deve ser lançado na frente do
título e é oferecido em favor do sacador (art.31).
O local apropriado é na frente da LC, se for no verso deve identificar o ato. Sendo feito em
branco na frente do título, o sacador é o avalizado. Para avalizar o sacado, deve ser em preto.
Embora a lei não considere suficiente a simples assinatura no verso do título, o STJ vem
reconhecendo que a assinatura no verso por si só pode caracterizar o aval, desde que não
concorram elementos em sentido contrário. (REsp 493.861/MG):
AVAL FIANÇA
É contratual.
É unilateral.
É acessória, nulidade da obrigação do afiançado
É autônomo. A obrigação do avalista persiste
abrange a obrigação do fiador. (princípio da
mesmo com a nulidade do avalizado.
gravitação jurídica)
O avalista, se executado, não pode se opor ao pagamento, alegando matéria atinente à origem
do título. Recorde-se que nenhum obrigado pode opor ao exequente as exceções pessoais de
outro devedor. O Supremo Tribunal Federal já afirmou que “não cabe ao avalista defender-se
com exceções próprias do avalizado, esclarecendo que sua defesa, quando não se funda em
defeito formal do título, ou em falta de requisito para o exercício da ação, somente pode
assentar em direito pessoal seu” (RE nº 67.378, in RTJ 57/474).
No entanto, vale ressaltar que o STJ, no REsp 678.881/PR, já entendeu que o avalista poderá
opor exceções causais ao credor de má-fé, sob pena de enriquecimento ilícito deste. Não se
aplicaria o princípio da abstração in casu.
Por outro lado, vale ressaltar que há o Enunciado 114 do CJF: “Art. 1647- O aval não pode ser
anulado por falta de vênia conjugal, de modo que o inciso III do art. 1647 apenas caracteriza a
inoponibilidade do título ao cônjuge que não consentiu”.
Aval antecipado – o aval pode anteceder o aceite ou o endosso, ainda não lançados no título. A
respeito do aval aposto antes do aceite, cumpre salientar que a recusa total ou parcial do
aceite nenhuma influência exercerá sobre a responsabilidade do avalista, que
independentemente do aceite assumiu a obrigação de garantir o pagamento do título.
No entanto, há autores que sustentam que o aval antecipado pode ser dado, mas somente
produzirá efeitos com o aceite do sacado (Pontes de Miranda). Deve existir ao menos a
aparência da existência da obrigação e do aceite.
VENCIMENTO
Há duas espécies de vencimento: o ordinário, que se opera pelo fato jurídico decurso do tempo
ou pela apresentação ao sacado da letra à vista; e o extraordinário, que se opera por recusa do
aceite ou pela falência o aceitante.
a) à vista: vence contra a apresentação. Apresenta para pagamento e não para aceite.
b) a dia certo: no dia que consta no título, que já está ali fixado;
c) a tempo certo da data (DO SAQUE): a data do vencimento será contada a partir do saque
(emissão);
d) a tempo certo da vista (DO ACEITE): o marco inicial é o aceite. Se o sacado recusa-se a
aceitar o título, o prazo para vencimento será contado a partir do protesto por falta de
aceite.
Se o titulo vencer, podem incidir juros de mora e esses juros são legais e por isso não precisam
estar previstos no titulo. Qual é o termo inicial e a taxa desses juros de mora? O termo inicial é
o vencimento. A taxa é prevista no art. 48 e 49 da LUG, mas foi objeto de reserva e por isso
não vale; também o Dec. 2044 não vale; o que vale é o art. 406, CC (não fixou a taxa; diz que é
a taxa para a Fazenda Pública, que é a selic, mas nela tem juros e correção). Há divergências
e há quem defenda a aplicação do art. 161, CTN (1%). A 2ª Seção do STJ aplica a SELIC
(Resp 823818); a 1ª Seção aplica 1% (Resp 784235). A divergência entre as seções do STJ
acabou sendo resolvida por meio dos Embargos de Divergência 727.842, no qual a Corte
Especial entendeu que os juros de mora decorrentes de descumprimento da obrigação civil são
calculados conforme a taxa referencial do Sistema Especial de Liquidação e Custódia (SELIC);
o TJDF recomenda o uso da taxa de 1%.
Prorrogação do vencimento:
O direito brasileiro não admite dias de perdão, ou dias de graça em relação à letra de
câmbio (LUG – art. 74), ou seja, não se admite que o credor conceda dias de tolerância
para o cumprimento da obrigação. Caso o faça, ele poderá perder os direitos contra os
devedores indiretos, uma vez que se exige para a cobrança deles um protesto
tempestivo (LUG – art. 53).
Caso as partes convencionem uma prorrogação de tal vencimento, tal convenção só vale
em relação às partes que o ajustaram.
EXIGIBILIDADE DO CRÉDITO CAMBIÁRIO
Os devedores de um título de crédito são: devedor principal, que na LC é o aceitante, e os
coobrigados, que nesta espécie de título são o sacador e os endossantes. Os avalistas se
enquadram em um outro grupo em função do enquadramento do respectivo avalizado.
Para tornar-se exigível o crédito cambiário contra o devedor principal basta o vencimento do
título; já em relação aos coobrigados, é necessária, ainda, a negativa de pagamento do título
vencido por parte do devedor principal. A comprovação deste fato deve ser feita por protesto do
título, em face do princípio da literalidade. O protesto do título também é condição de
exigibilidade deste crédito na hipótese de recusa do aceite. Para produzir este efeito, contudo,
o protesto deve ser providenciado pelo credor dentro de um prazo estabelecido por lei.
Um coobrigado, portanto, ao contrário do que ocorre em relação ao devedor principal, não está
vinculado ao pagamento do título não-protestado ou protestado fora do prazo legal.
O coobrigado que paga o título de crédito tem o direito de regresso contra o devedor principal e
contra os coobrigados anteriores. As obrigações representadas por um título de crédito só se
extinguem, todas, com o pagamento, pelo aceitante, do valor do crédito. Para se localizarem os
coobrigados na cadeia de anterioridade das obrigações cambiais, adotam-se os seguintes
critérios: a) o sacador da LC é anterior aos endossantes; b) os endossantes são dispostos, na
cadeia, segundo o critério cronológico; c) o avalista se insere na cadeia em posição
imediatamente posterior ao respectivo avalizado.
PAGAMENTO
A letra de câmbio é uma obrigação quesível (quérable) por natureza, pois o devedor, no dia do
vencimento, não sabe nas mãos de quem e onde se encontra o título. O portador deve ir ao
devedor apresentar o título para pagamento.
Tipos de pagamento:
A doutrina distingue dois tipos de pagamento, de acordo com a posição do sujeito que o
efetua.
O primeiro tipo é o pagamento extintivo, na qual a letra deixa de existir cambialmente.
Tal tipo de pagamento extingue a vida útil do TC. Na letra de câmbio é o pagamento feito
pelo aceitante, ou pelo sacador de letra não aceita.
O segundo é o chamado pagamento recuperatório que não extingue a vida útil do TC, na
medida em que faz nascer o direito de regresso. Tal pagamento é feito pelo devedor
indireto.
O pagamento de uma LC deve ser feito no prazo da lei, que difere segundo o lugar de sua
realização. Para uma LC pagável no exterior, o credor deve apresentar o título ao aceitante no
dia do vencimento ou num dos dois dias úteis seguintes (LU art. 38). Já se a LC é pagável no
Brasil, o credor deve apresentá-la ao aceitante para pagamento no dia do vencimento ou,
recaindo este num dia não-útil, no primeiro dia útil seguinte. Tal regra, evidentemente, não se
aplica às letras à vista, as quais podem ser apresentadas em qualquer momento, no prazo de
um ano.
Se não for observado o prazo de apresentação para pagamento, o credor não perderá o direito
ao crédito cambiário. Mas nesta hipótese, qualquer devedor poderá depositar, em juízo, por
conta do credor, o valor do título. Responderá, portanto, o credor de LC não-apresentada
tempestivamente para pagamento, pelo ressarcimento das despesas de eventual depósito
judicial feito pelo devedor principal ou por um coobrigado.
Somente na hipótese de LC com a cláusula “sem despesas”, que dispensa o protesto para fins
de conservação do direito de crédito contra os coobrigados, ou parte deles, é que a
inobservância do prazo de apresentação para pagamento importa conseqüência distinta, a
saber: perda do direito de crédito contra todos os coobrigados, nos termos do art. 53 da LU.
Para fins cambiais, considera-se útil o dia em que há expediente bancário, independentemente
de ser, ou não, feriado local ou nacional.
Em conseqüência de o título ser documento essencial para o exercício do direito, a sua posse
em mãos do devedor presume o pagamento. Tal presunção, contudo, admite prova em
contrário (pode ser que haja o título sido roubado ou extraviado).
O portador não pode recusar o pagamento que se lhe queira efetuar, seja total ou parcial, se
for oferecido no dia do vencimento (no direito civil, o credor pode recusar o pagamento parcial).
Art. 902, § 1°, CC: no vencimento, não pode o credor recusar pagamento, ainda que parcial. No
mesmo sentido, art. 39, 2 – LUG).
O pagamento antecipado, seja total ou parcial, pode ser recusado. Art. 902 CC: não é o credor
obrigado a receber o pagamento antes do vencimento do título, e aquele que o paga, antes do
vencimento, fica responsável pela validade do pagamento.
Verificação dos endossos – Aquele que paga a letra é obrigado a verificar a regularidade da
sucessão dos endossos, mas não a assinatura dos endossantes. A cadeia de endossos em
preto deve estar perfeita, com as assinaturas dos endossantes se encadeando, um a um.
Lugar do pagamento – Na falta de menção no título, prevalece o lugar que constar ao lado do
nome do sacado.
O credor pode fazer uma oposição ao pagamento, nos casos em que o título estiver na posse
ilegítima de outra pessoa. Esta oposição deve ser dirigida ao devedor por carta registrada.
Pagamento por intervenção: o que paga por intervenção (a intervenção é sempre voluntária)
fica sub-rogado nos direitos emergentes da letra.
Se a apresentação da letra ou o seu protesto não puder ser feito dentro dos prazos indicados
por motivo insuperável (caso fortuito ou força maior), esses prazos serão prorrogados. É a
mesma regra da apresentação para aceite.
PROTESTO
Não é meio de cobrança. É meio de prova, regulado pela Lei 9492/97.
Fábio Ulhôa conceitua como o ato formal e solene feito perante o competente cartório,
para fins de incorporar ao título a prova de fato relevante para as relações cambiais.
Espécies:
- protesto por falta de aceite: só pode ser feito até o vencimento do título;
- protesto por falta de pagamento: prova a falta de pagamento e só pode ser feito após o
vencimento do título;
- protesto por falta de devolução: prova que o título foi remetido ao sacado e não foi devolvido e
pode ser feito tanto antes como depois do vencimento;
- protesto por falta de data do aceite: é extraído contra o aceitante e é específico para as letras
de câmbio a certo termo da vista. O aceitante é intimado para vir datar a letra em cartório,
considerando-se, em caso de não comparecimento, como data do aceite a do protesto.
Pedido do protesto:
Deve-se atentar para o disposto no art. 9º, da Lei 9492/97, pois o tabelião, ao lavrar o
protesto, se aterá apenas aos aspectos formais do título ou documento de dívida. Assim,
não cabe a ele analisar a prescrição.
Intimação do protesto:
A princípio tal intimação não precisa ser pessoal, sendo suficiente a entrega do aviso no
endereço indicado (Lei 9492/97 – art. 14). Todavia, para fins de pedido de falência, o STJ
já se manifestou no sentido de que é essencial a identificação da pessoa que recebeu a
intimação, afirmando que a gravidade de tal protesto exige uma certeza maior de que a
intimação foi efetivamente realizada (Súmula 361).
O protesto pode ter várias finalidades, funções que vão depender do tipo de protesto. Assim
são efeitos do protesto:
a) permitir a cobrança dos devedores indiretos (sacador, endossante e respectivos avalistas); o
protesto tem que ser feito até o primeiro dia útil após o vencimento do título (art. 53, LUG c/c
art. 28, Dec. 2044); isso vale para LC e NP; para cheque e duplicata o prazo é diferente. Fábio
Ulhôa e Fran Martins dizem que vale a LUG (prazo de dois dias úteis após o vencimento), mas
é uma opinião isolada. A maioria da doutrina e jurisprudência dizem que vale é o decreto
(prazo de um dia útil após o vencimento).
b) interrupção da prescrição: art. 202, III, CC. A Súmula 153/STF (“Simples protesto cambiário
não interrompe a prescrição”) não vale mais por causa do advento do CC.
c) permitir o pedido de falência: art. 94, I da Lei 11101/05 - só vale para o protesto por falta de
pagamento.
d) o devedor que for intimado no protesto tem o nome automaticamente inserido no SPC e no
SERASA. O cartório dá o prazo de 3 dias úteis para a pessoa se manifestar. Para o protesto
não ser concluído e não haver o pagamento há uma ação de sustação de protesto; essa ação
pode ser uma cautelar com pedido de liminar ou ação de conhecimento com pedido de
antecipação de tutela em virtude da fungibilidade. O sucesso dessa ação pode depender de
uma caução, que não é obrigatória, mas ajuda bastante. Se não conseguir sustar o protesto, é
possível ainda se pedir um cancelamento do protesto (art. 26 da Lei 9492/97) judicial ou
extrajudicialmente (tem que provar que pagou o título).
a) protesto obrigatório (ou necessário, ou conservatório) – deve ser feito pelo portador do título
para não perder o direito de regresso, ou seja, o direito de ação contra os coobrigados não
principais (sacador, endossantes e respectivos avalistas);
Cancelamento do protesto: Lei 9.492/97 – Art. 26. Só é feito pela prova do pagamento ou por
determinação judicial.
Protesto indevido:
Por protesto indevido deve-se entender aquele protesto irregular sob o ponto de vista
formal, ou mesmo aquele protesto por falta de pagamento se a dívida inexiste. A
responsabilidade pela indenização será, a princípio, da pessoa que levou o título a
protesto, uma vez que é a sua conduta que foi apta a causar o dano. Mesmo no caso de
endosso translativo, a responsabilidade será do endossatário que levou o título a
protesto.
No endosso-mandato, a responsabilidade será do endossante mandante, uma vez que o
endossatário mandatário age em nome e em proveito do endossante. No caso de culpa
comprovada do endossatário mandatário, ele é quem responderá pela indenização. Já no
endosso caução a responsabilidade será do endossatário pignoratício, uma vez que ele
age em nome e em proveito próprio.
AÇÃO CAMBIAL
Os títulos de crédito constituem títulos executivos extrajudiciais e a ação cambial é a execução
por quantia certa contra devedor solvente. A doutrina divide essa ação em 2 tipos:
- ação direta: devedor principal; não precisa de protesto.
- ação de regresso: devedores indiretos; é essencial o protesto no prazo estipulado.
Essa ação cambial tem como sujeitos legítimos o credor (autor) e todos os devedores, a critério
do credor, que pode ajuizar ação contra um, contra alguns ou contra todos os devedores (art.
47, LUG). O foro competente é o local de pagamento. O valor da causa é o valor principal do
título acrescido de juros de mora, correção monetária e outros encargos previstos no título e
também as despesas do protesto.
Há ainda o prazo do devedor que pagou para exercer o direito de regresso, que é de 6
meses.
Esses prazos estão sujeitos à interrupção da prescrição do art. 202, CC. Porém a
interrupção só vale para o devedor em relação a que foi feita a ação (art. 71, LUG).
Se passar o prazo da ação cambial, tem-se ainda a ação de enriquecimento sem causa ou de
locupletamento ilícito. Essa ação não está na LUG e por isso vale o Dec. 2044, art. 48. Tem 4
pressupostos:
- não caber mais ação cambial, porque é uma ação subsidiária. O STJ tem relativizado esse
pressuposto (Resp 504503).
- enriquecimento sem causa do réu
- empobrecimento do autor
- nexo de causalidade entre eles.
Essa ação tem sua legitimidade: autor é o credor; réu pode ser o sacador ou o aceitante (o
endossante e o avalista não podem – Resp 200492). O foro competente é o domicilio do réu. O
autor prova os pressupostos acima apenas com a apresentação do título não pago (Resp
575027). O rito para essa ação pode ser ordinário e, dependendo do valor, pode ser sumário
ou sumaríssimo, mas o normal é o rito da ação monitória.
Essa ação prescreve (LC, NP e duplicata) em 3 anos contados da perda do direito de ajuizar a
ação cambial. O fundamento desse prazo é art. 70, LUG para Luis Emydio. Outros autores
como Fran Martins usam o fundamento do art. 206, §3°, IV, CC. É divergente esse fundamento
por causa da natureza jurídica dessa ação; quem entende que é ação cambiária segue a linha
de Luis Emydio e quem entende que é ação civil segue a linha do Fran Martins.
Para Fábio Ulhôa, um coobrigado cuja obrigação tenha se originado exclusivamente no título
de crédito, como é, em geral, o caso do avalista, após a prescrição da execução, não poderá,
em nenhuma hipótese, ser responsabilizado perante o credor da letra.
Ação causal
É aquela que tem por base o negócio jurídico que deu origem ao próprio título ou que
permitiu a sua circulação, vale dizer, a causa de pedir dessa ação será o
descumprimento desse negócio jurídico. Embora ela tenha o mesmo objetivo da ação
cambial (receber o crédito), é certo que ela é uma ação autônoma.
Pressupostos:
a) subsistência da relação jurídica que deu origem ao título;
b) não pagamento;
c) devolução do título ao devedor.
Legitimidade:
Será definida pelo negócio subjacente, isto é, as partes do NJ é que terão legitimidade
para a ação.
Prescrição:
Irá depender do tipo de NJ que deu origem ao título.
Em todo caso, a prescrição irá se iniciar a partir do momento em que é possível exigir o
cumprimento da obrigação subjacente.
Procedimento:
Pode haver a cumulação da ação cambial e da ação causal. Nesse caso, o rito pode ser
executivo.
Caso não haja cumulação, resta para a ação causal o procedimento ordinário comum.
Além desses procedimentos, o autor pode optar pelo procedimento monitório.
NOTA PROMISSÓRIA
Está prevista na mesma legislação da letra de câmbio, por isso o regramento é praticamente o
mesmo. Serão abordadas a seguir apenas as diferenças do regime jurídico, como a
inexistência de aceite e de vencimento antecipado por recusa de aceite.
LEGISLAÇÃO APLICÁVEL
Decreto n. 57.663/66 – Lei Uniforme de Genebra - e, excepcionalmente, o Decreto 2044/1908,
quanto às reservas e omissões da Lei Uniforme.
CONCEITO
É uma promessa de pagamento de certa quantia em dinheiro feita por escrito por uma pessoa
em favor de outra ou a sua ordem.
ELEMENTOS PESSOAIS
a) SACADOR, EMITENTE OU SUBSCRITOR – é aquele que promete pagar quantia
determinada. Quando emite a nota, já está se obrigando. É o devedor.
b) BENEFICIÁRIO OU SACADO- é aquele que se beneficia com a promessa. É o credor.
NP pode ter vencimento a certo termo da vista? Sim, mas é estranho porque não tem aceite.
Nesta hipótese, o credor deverá apresentar o título ao visto do emitente no prazo de 1 ano do
saque, sendo a data desse visto o termo a quo do lapso temporal do vencimento. A nota
promissória desta espécie pode ser protestada por falta de data.
NP vinculada a contrato:
Embora esteja vinculada a um contrato, a NP não perde a sua identidade, isto é, ela
continua a ser um TC, admitindo seus institutos típicos, como o endosso e o aval, e
especificamente mantém a condição de título executivo.
a) perde a abstração do título; b) endossatário, ainda que de boa-fé, fica sujeito a exceções
pessoais de que disponha o emitente com base no ajuste subjacente (REsp 238558/CE); c) se
o valor do título não corresponde ao contrato (mútuo) em que se vinculou, tem-se como
imprestável ao processo executório (validade: art. 889, CC); d) Para o STJ e TJDF, a nota
promissória vinculada a contrato de crédito carece de autonomia em razão da iliquidez do
título que a originou. (STJ- Súmula 258).
CHEQUE
O cheque é uma ordem de pagamento à vista, atualmente disciplinada pela Lei 7357/85. Quem
ordena o pagamento é o emitente ou devedor. A ordem é dirigida ao banco (instituição
financeira) que é o sacado e cumpre a ordem de pagamento. Aquele que recebe o cheque é o
beneficiário, o credor da importância. O banco não tem qualquer responsabilidade pelo
pagamento imediato de cheques pós-datados.
Foi elaborada, também na Convenção de Genebra, uma Lei Uniforme apenas para a disciplina
dos cheques, a qual foi inserida no ordenamento jurídico brasileiro através do Decreto nº
57.595, de 7 de janeiro de 1966.
O Brasil, todavia, posteriormente, editou sua própria lei sobre cheques – a Lei nº 7.357, de 2 de
setembro de 1985. Referida lei, no entanto, respeitou as normas da Lei Uniforme; seu escopo
foi apenas de assegurar uma redação mais condizente com as peculiaridades da legislação
interna e de melhor harmonizar certos dispositivos a outros existentes na praxe doméstica.
Tem por pressupostos: ser o sacado uma instituição financeira; haver um prévio contrato de
conta corrente entre o emitente e o sacado; e existir fundos disponíveis do emitente.
Alguns levantam dúvidas quanto à sua caracterização como título de crédito. O cheque – é
bem verdade – é um instrumento de pagamento, na sua forma mais simples. Todavia, ele
também toma a feição de título de crédito, quando se apresenta com endosso e aval, pondo-se
em circulação. Aplicam-se ao cheque, portanto, os institutos próprios aos títulos de crédito.
Para Fran Martins e Requião é um título impróprio.
Quanto aos cheques “pós-datados” (os chamados pré-datados), deve ser feita a seguinte
observação: o artigo 28 da Lei Uniforme determina que “o cheque apresentado a pagamento
antes do dia indicado como data de emissão é pagável no dia da apresentação”. A data futura,
ou a pré-data, é pela Lei Uniforme considerada como inexistente, e o beneficiário pode
apresentá-la imediatamente ao sacado. Assim, não havendo provisão, caracteriza-se o cheque
sem fundos. Ademais, a cláusula de pós-datação não é cláusula cambial e expressa apenas
uma obrigação civil de não-fazer.
CONCEITO
Ordem de pagamento, à vista, dada a um banco ou instituição assemelhada, por alguém que
tem fundos disponíveis no mesmo, em favor próprio ou de terceiro.
ELEMENTOS PESSOAIS
a) EMITENTE ou SACADOR – dá a ordem de pagamento. É o devedor principal.
b) SACADO – aquele que recebe a ordem de pagamento – o banco.
c) BENEFICIÁRIO ou TOMADOR– o favorecido da ordem de pagamento.
REQUISITOS
O cheque é título de modelo vinculado, cuja emissão só pode ser feita em documento
padronizado pelo banco sacado, e deve conter: a expressão “cheque” inserta no próprio texto
do título; a ordem incondicional de pagar quantia determinada; a identificação do banco
sacado; o local de pagamento ou a indicação de um ou mais lugares ao lado do nome do
sacado ou, ainda, a menção de um local ao lado do nome do emitente; a data da emissão; a
assinatura do sacador ou seu mandatário com poderes especiais, admitido o uso de chancela
mecânica ou processo equivalente. O local da emissão deve constar do título mas, na sua
ausência, entende-se como tendo sido o cheque emitido no local designado ao lado do nome
do sacador.
O ordenamento jurídico brasileiro não admite o cheque marcado, uma vez que é vedado o
aceite pelo banco sacado.
O cheque de valor superior a R$ 100,00 (cem reais) deve adotar, necessariamente, a forma
nominativa e pode conter a cláusula “à ordem” ou a cláusula “não à ordem”. A sua circulação,
portanto, segue o regramento da circulação da LC. Salientem-se, no entanto, três diferenças
em relação a tal disciplina: a) não se admite o endosso-caução, em razão da natureza do
cheque de ordem de pagamento à vista; b) o endosso feito pelo sacado é nulo como endosso,
valendo apenas como quitação, salvo se o sacado tiver mais de um estabelecimento e o
endosso feito por um deles em cheque a ser pago por outro estabelecimento; c) o endosso
feito após o prazo para apresentação é tardio, e por isso, gera os efeitos de cessão civil de
crédito.
Nos termos da Lei 9311/96, o cheque só pode ter um endosso (a razão era a cobrança do
CPMF, que não existe mais desde 31 de dezembro de 2007 – ADCT – art. 90 e, por isso, não
há mais esse limite do número de endossos no cheque.
No tocante ao aval, a lei estabelece que o aval em branco favorece o sacador; além disso,
proíbe-se o aval por parte do sacado. No mais, aplica-se o mesmo regime reservado ao aval
da LC.
TIPOS DE CHEQUE
a) Cheque Cruzado – Recebe na frente (anverso) dois traços paralelos e transversais. O
cruzamento do cheque faz com que ele só possa ser pago a um banco, para tanto deverá ser
depositado em uma conta. Há cruzamento em branco (quando não se indica em que banco
deve ser depositado) e em preto (quando, entre os traços, é feita indicação do banco em que
deve ser depositado). Destina-se a possibilitar, a qualquer tempo, a identificação da pessoa em
favor de quem foi liquidado.
b) Cheque Para Ser Levado Em Conta – Quando o emitente proíbe o pagamento do título em
dinheiro, exigindo que seja depositado em conta. Tem o mesmo objetivo do cheque cruzado.
d) Cheque de viagem: representa um instrumento de troca de moeda, isto é, são cheques que
podem ser sacados em estabelecimentos no exterior, quando o emitente estiver em viagem.
d) Cheque Visado – Aquele em que o banco sacado lança declaração de suficiência de fundos
a pedido do emitente ou do portador legitimado. O visto não equivale a aceite e o banco
sacado deve reservar quantia equivalente ao valor do cheque, em beneficio do credor, durante
o prazo de apresentação.
Mesmo que passe o prazo de apresentação, o banco deve pagar o cheque. Porém, não
pode ter passado o prazo para execução (art. 59 – 6 meses contados da expiração do prazo
para apresentação - 30 ou 60 dias – e conta-se sem ou com apresentação) – posição
majoritária.
Se o cheque for devolvido sem provisão de fundos, reapresentado e devolvido pela segunda
vez, o banco pode encerrar a conta e mandar o nome do cliente para um cadastro do Banco
Central (CCF). No cheque não se admite os juros remuneratórios. Os juros moratórios são
admitidos sem problema.
O protesto é facultativo, uma vez que a apresentação pode ser provada por declaração do
banco sacado, escrita e datada, com indicação do dia de apresentação (carimbo de devolução
do cheque). No cheque só há o protesto por falta de pagamento.
Pedido de falência: é obrigatório o protesto especial para fins de falência, mesmo com a
declaração de devolução do sacado (Não se confundem os protestos) (art 11).
SUSTAÇÃO DO CHEQUE
Objetiva impedir a liquidação do cheque pelo banco sacado.
Revogação ou Contra-ordem – Ato exclusivo do emitente e que deve ser motivado. Esta
modalidade de sustação do pagamento gera efeitos apenas após o término do prazo de
apresentação e, evidentemente, caso o cheque não tenha sido, ainda, liquidado. Equivale a
ato cambial que limita ao prazo de apresentação previsto em lei a eficácia do cheque como
ordem de pagamento à vista;
Oposição – Pode ser praticado pelo emitente ou portador legitimado do cheque, mediante
aviso escrito, fundado em relevante razão de direito (extravio ou roubo do título, falência do
credor etc). Produz efeitos a partir da cientificação do banco sacado desde que anterior à
liquidação do título. Não cabe ao banco julgar a relevância da razão invocada para a oposição.
A sustação, seja por revogação, seja por oposição, pode configurar crime de fraude no
pagamento por cheque, nos termos do art. 171, parágrafo 2º do CP, se o emitente ou o
portador presumivelmente legitimado agirem dolosa e fraudulentamente, provocando dano ao
portador do cheque.
A execução do cheque sem fundos prescreve, contra qualquer devedor, no prazo de 6 meses,
contados do término do prazo de apresentação a pagamento.O direito de regresso de um
coobrigado contra outro, contra o devedor principal ou seu avalista prescreve em 6 meses
contados do pagamento ou da distribuição da execução judicial contra ele.
Se se tratar de cheque pós-datado, apresentado antes da data lançada como emissão, para
fins de cálculo do prazo prescricional, considera-se como data de emissão do título não a que
nele consta, mas a da sua apresentação a pagamento. Computam-se então 30 ou 60 dias,
conforme seja cheque da mesma ou de praças diferentes e, em seguida, os 6 meses.
Após o decurso do prazo prescricional do cheque, será admissível ação com base no
locupletamento sem causa, no prazo de 2 anos. Embora se cuide de ação de conhecimento, é
ainda de fundamento cambial. Qualquer coobrigado cambial que se locupletou indevidamente
em função da prescrição do cheque pode ser responsabilizado.
Normalmente usa o rito da ação monitória – Súmula 299/STJ. Não precisa narrar a causa-
debendi (origem) do cheque, basta apenas apresentar o cheque – Resp 575027. O prazo
prescricional dessa ação é de 2 anos (regra especial). Como a redação do art. 61 é genérica,
em tese essa ação pode ser contra o emitente e o endossante. A princípio, contra o avalista
não pode porque não gerou enriquecimento ilícito, já que ser avalista é ato gratuito.
Prescrita a ação de enriquecimento ilícito, nenhuma outra ação será possível com base no
título de crédito. Poderá, no entanto, o credor por obrigação que, embora representada por um
cheque, seja de origem extracambiária promover a ação correspondente a seu título, que
prescreverá no prazo que a lei específica estabelecer ou nos termos do art. 205 do CC (10
anos). É a chamada ação causal. A própria Lei do Cheque possibilita esse entendimento ao
dispor, no seu art. 62, que, salvo prova de novação, a emissão ou transferência do cheque não
exclui a ação fundada na relação causal, feita a prova do não-pagamento.
Na ação causal é essencial a narrativa da causa debendi. Tal afirmação é indiscutível
quando forem usados os ritos ordinário, sumário ou do juizado especial. Todavia,
usando-se o procedimento monitório, o STJ firmou a orientação no sentido de que
também não seria necessária a narrativa da causa debendi na ação causal.
Para o STJ, no rito da monitória, há uma técnica de inversão do contraditório, o que
dispensaria o autor de narrar a causa debendi do cheque. Se o réu quiser ele é quem
deveria trazer a causa para discussão. Não se afastaria a discussão, mas dependeria da
intervenção do réu na ação. Tal orientação é seguida em alguns julgados do TJDF.
Na execução do cheque sem fundos o credor terá direito à importância do título acrescida de
juros legais a partir da apresentação a pagamento, despesas com protesto, avisos e outras e
correção monetária prevista no art. 52, IV, da Lei do Cheque.
ASPECTOS CRIMINAIS
Fraude no pagamento por meio de cheque (art. 171, §2°, VI, CP):
- o cheque é do emitente
- a consumação ocorre com a recusa do pagamento
- o foro competente é o do local onde se deu a recusa do pagamento pelo sacado (Súmula 521
STF)
- se o pagamento ocorre antes do recebimento da denúncia, a pena será reduzida de um a dois
terços, em face do arrependimento posterior (art. 16 do CP, após reforma de 1984)
- antes da reforma não existia tal instituto e nos termos da Súmula 554 do STF, o pagamento
efetuado antes do recebimento da denúncia retirava a justa causa para a ação penal (554 - O
pagamento de cheque emitido sem provisão de fundos, após o recebimento da denúncia, não
obsta ao prosseguimento da ação penal. (D. Pen .)
Prevalece o entendimento que a Súmuls 554 do STF permanece vigente, em razão do seu
caráter especial. Assim o pagamento antes do recebimento da denúncia retira a justa causa
para a ação penal.
Fase pré-processual
(INQUÉRITO)
PERSECUÇÃO CRIMINAL
Fase processual (EM JUÍZO)
2 INVESTIGAÇÃO PRELIMINAR
2.1 QUEM PROMOVE
2.1.1 POLÍCIA JUDICIÁRIA
Em regra é a polícia judiciária (CPP, art. 4º). A investigação, portanto, no Brasil, em princípio, é
policial. Mas outras autoridades podem também investigar delitos (CPP, art. 4º, parágrafo
único). Por exemplo: CPIs, Inquérito Policial Militar (nos crimes militares), autoridades
administrativas (procedimentos administrativos), Coaf (lavagem de capitais), Banco Central
(nos crimes financeiros), MP, etc.
2.1.2 OUTRAS AUTORIDADES
Há outros inquéritos presididos por outras autoridades? Sim:
(a) inquérito contra membros do ministério público (quem preside é o PGJ - LONMP: Lei
8.625/93, art. 41, parágrafo único);
(b) contra juiz de direito (quem preside é o Desembargador sorteado – LOMN: Lei
Complementar 35/79, art. 33, parágrafo único);
(c) contra autoridade que goza de prerrogativa de função (parlamentares, Ministros etc.) um
Magistrado da Corte competente etc.. Exemplo: Investigação contra Deputado Federal:
quem preside é Ministro do STF; investigação contra Desembargador: quem preside é
Ministro do STJ e assim por diante;
(d) autoridades administrativas.
No que concerne à alínea c, tem-se que observar o seguinte. Na verdade, o Ministro/Relator
não preside o IP. Pelo contrário, o IP é presidido pelo próprio delegado. O que ocorre é que o
STF, ou STJ, ou TJ, a depender do caso, passa a ser o Órgão Jurisdicional perante o qual tem
tramitação o procedimento investigativo. Nesse sentido, os seguintes julgados:
3 INQUÉRITO POLICIAL
3.1 CONCEITO E FINALIDADE
É o conjunto de diligências que visa à apuração do fato punível e de sua autoria, ou seja, é o
procedimento administrativo, meramente informativo destinado a apurar a autoria e a
materialidade de uma infração penal.
Finalidade do inquérito policial: apuração do fato punível e sua autoria, ou seja, preparar a
ação penal para o oferecimento da inicial, fornecendo ao titular do direito de ação de elementos
para a instrução da inicial e para formar o convencimento do titular da ação penal (opinio
delicti). Nos termos do art. 12, do CPP (“O inquérito policial acompanhará a denúncia ou
queixa, sempre que servir de base a uma ou outra”) destina-se o IP a servir de base para a
futura ação penal (pública ou privada).
EXCEÇÃO: INQUÉRITO POLICIAL PARA EXPULSÃO DO ESTRANGEIRO não tem por
finalidade apurar uma infração penal (artigo 70, Lei 6815/80 – Estatuto do Estrangeiro), sua
finalidade é permitir a expulsão do estrangeiro, para tanto tem que ser garantido o
CONTRADITÓRIO.
3.3 CARACTERÍSTICAS DO IP
Pré-processual, preparatório, informativo e meio de realização do conjunto de
diligências investigatórias, tem como destinatários imediatos o MP e o ofendido, e como
destinatário mediato o juiz.
3.3.1 PEÇA INFORMATIVA / ADMINISTRATIVA
É peça meramente informativa, isto é, administrativa: seus vícios, portanto, não afetam a
ação penal futura. Inquérito presidido por autoridade policial, com vícios: não anula a ação
penal superveniente. Isso não se confunde com a situação anômala de a investigação ser
totalmente inválida, como reconheceu o STF (Segunda Turma), em caso em que o MP presidiu
a investigação. Mas se a investigação for inteiramente inválida, não vale nada, daí se não
sobra nada da investigação, também não tem ação. O STF entendeu assim, no julgamento do
poder de investigação do MP que tinha como investigado um delegado de polícia. OBS.: Li o
inteiro teor do RHC 81326 - relator o Min. Jobim, e ali não se falou de ação penal a ser
anulada; apenas se anulou o procedimento investigativo em curso no MPDFT, porque o MP
não teria “legitimidade” (palavra do Ministro) para investigar delegado de polícia civil.
3.3.3 DISPENSABILIDADE
É dispensável: sim (arts. 12, 27, 39, § 5º e § 1º do art. 46 do CPP). (cf. RTJ 76, p. 741). O MP,
se conta com documentos suficientes, pode ingressar com ação penal diretamente.
Facultativo e disponível para o MP – somente as peças de informação são capazes de
instruir a ação penal, não sendo necessário o IP. EXEMPLO: nos crimes financeiros objeto de
apuração no BACEN, já vem tudo pronto, não precisa de inquérito. Se o inquérito é
dispensado, não há indiciamento. O que sempre será necessário é a JUSTA CAUSA
(suporte probatório mínimo da autoria e da materialidade) (condição da ação). As peças de
informação também estão submetidas ao procedimento do artigo 28, CPP. EXCEÇÃO:
inquérito indispensável (não policiais): expulsão de estrangeiro.
3.3.4 ESCRITO
É peça escrita(Art. 9º do CPP): Não existe IP oral nem mesmo o termo circunstanciado.
3.3.5 SIGILOSO
É sigiloso(Art. 20 do CPP): sim. O sigilo necessário à elucidação do fato ou exigido pelo
interesse da sociedade (o sigilo é no interesse da sociedade e da investigação). Em regra, o IP
é sigiloso, diferentemente de uma audiência, por exemplo. O delegado de polícia pode
assegurar o sigilo de parte da investigação, deixando a outra parte pública, bem como poderá
verificar o momento; mas, sempre, nas investigações de natureza propriamente sigilosa, não
haverá publicidade.
É possível argüição de suspeição das autoridades policiais? Não (CPP, art. 107).
Vítima ou indiciado podem requerer provas? Sim. (CPP, art. 14). Serão deferidas ou
indeferidas, conforme o caso.
Exceções: há inquéritos que admitem (ou exigem) defesa do investigado: inquérito para
decretar expulsão de estrangeiro (defesa obrigatória), inquérito para apurar falta administrativa
(defesa obrigatória) etc.
3.3.7 LEGALIDADE
Legalidade:todo ato praticado no curso do IP deve encontrar amparo legal. IP ilegal perde a
credibilidade. E pode ser tido como inválido (foi o que ocorreu com a investigação do caso de
Santo André).
3.3.8 OFICIALIDADE
Oficialidade: No IP atua um órgão oficial (que é a polícia judiciária).
3.3.9 OFICIOSIDADE
Oficiosidade ou obrigatoriedade na atuação: no caso de ação penal pública incondicionada
a autoridade policial, desde que existam indícios de uma infração penal, é obrigada a agir (a
investigar). Não conta a autoridade policial com poder discricionário de agir ou não agir. A
autoridade policial, tendo o conhecimento da prática de infração penal, tem o dever de instaurar
o inquérito, não há espaço para discricionariedade do delegado, nos crimes de ação penal
pública incondicionada.
A lei 9099/95 substitui o IP pelo termo circunstanciado. Há uma divergência sobre quem tem
autoridade para elaborar o termo, entre saber se somente o delegado pode (ato exclusivo) ou
se outros policiais podem elaborar o termo. A posição dominante é a de que qualquer policial
pode, é o que predomina, em que pese a existência de doutrina de peso em sentido contrário,
defendendo que se trata de atribuição exclusiva de autoridade policial. Ninguém pode arquivar,
4
Poderia haver o contraditório no IP, seria uma regra possível, entretanto, resta
saber se ela realmente seria viável ou factível. Para DEMERCIAN, essa regra não traria benefícios para
a sociedade e nem para o investigado. Seria assegurado ao investigado o direito de se defender de uma
acusação que ainda não foi feita; ou seja, seria colocado na posição de réu, sem dominar qual a acusação
que lhe é imputada. Por outro lado, a sociedade sofreria danos maiores que os sofridos pelo investigado;
pois esse, faria de tudo para prejudicar a investigação, na prática, não existe investigado que coopere com
a investigação; cada diligência que a autoridade policial fosse realizar teria que notificar o investigado e
seu advogado, o que significa que os IP não terminariam.
a não ser, mediante requerimento do MP apreciado pelo juiz (princípios da obrigatoriedade e
da titularidade da ação penal). Não obstante a discussão supra, cabe salientar que o art. 69, da
Lei 9.099/95, é expressa no seguinte sentido: “A autoridade policial que tomar conhecimento
da ocorrência lavrará termo circunstanciado e o encaminhará imediatamente ao Juizado...”
(destaquei).
3.3.10 INDISPONIBILIDADE
Indisponibilidade:a autoridade policial não pode arquivar o IP (CPP, art. 17). O artigo 17,
CPP, estabelece claramente que a autoridade policial não poderá arquivar o IP (somente pode
ser arquivado pelo juiz, mediante requerimento do MP). Delegado não arquiva inquérito,
somente o MP pode arquivar
3.3.11 UNIDIRECIONAL
Unidirecional: o delegado não pode fazer juízo valorativo sobre a conduta do investigado, dar
parecer está errado. Deve se limitar a investigar, mas não valorar, tanto que a ausência de
classificação é mera irregularidade. Somente na Lei de Tóxicos é que se exige que o delegado
tem que fundamentar por que está enquadrando o sujeito em determinado crime. (Lei 6368 e
10409). OBS.: essa última observação vale para a nova Lei 11.343/06, que, no seu art. 52, I,
também determina que a autoridade policial justifique as razões da sua classificação.
3.3.12 ATIVIDADE ADMINISTRATIVA
Atividade investigatória ADMINISTRATIVA e atos praticados: é muito comum dizer-se que
o IP é um procedimento administrativo (PAULO RANGEL: a natureza jurídica do IP é de um
PROCEDIMENTO DE ÍNDOLE MERAMENTE ADMINISTRATIVA, de caráter informativo,
neste caso, de intervenção do Estado-juiz).
Mas isso somente é válido mediante a abordagem de um sentido amplo do termo procedimento
administrativo (em sentido estrito, é a concatenação de atos em uma determinada ordem), pois
no IP não há uma concatenação de atos num movimento para frente. Não há, portanto,
nulidades procedimentais (no processo penal, a inversão da ordem pode causar nulidade). Não
há rito ou ordem predeterminada para a prática dos atos 5. Eventuais invalidades não
contaminam a ação penal. Por isso, EXPEDIENTE ADMINISTRATIVO.
Não há especificação de fases, os artigos 6º e 7º, do CPP:
3.3.12.1 Produção das provas
Os artigos somente elencam os atos que a autoridade policial pode adotar.
Discricionariamente, a autoridade policial poderá adotar as práticas que entender convenientes
de acordo com o caso concreto. O IP não tem um roteiro específico, caberá ao delegado
definir as diligências que prefere adotar na ordem que melhor for conveniente para a
investigação criminal.
3.3.12.2 Requerimento de provas
A autoridade não está obrigada a atender aos requerimentos de prova elaborados pelo
investigado (esse é o conteúdo da discricionariedade da autoridade policial), mas se a
diligência for importante (irrepetível) e o delegado por capricho não autorizar a realização, esse
argumento pode ser usado pela defesa durante a ação penal.
3.3.12.3 Requisição de provas
Se o MP requisitar a produção, a diligências, a autoridade policial está obrigada a realizar,
uma vez que não se trata de requerimento, mas sim de REQUISIÇÃO (ordem com base na lei).
OBS. Se a portaria instauradora do IP for irregular, os atos seguintes não estão eivados de
nulidade, essa é mais uma diferença entre o IP e a ação penal, e demonstra que não se trata
de procedimento. Note-se que a produção de provas ilícitas invalida as demais.
3.3.12.4 INDICIAMENTO
3.3.12.4.1 Conceito
O famigerado indiciamento pouca gente sabe o que é, na verdade, ele consiste na
formalização da suspeita, o delegado evidencia pelos elementos colhidos que há indícios de
autoria e prova da autoria. Há quem diga que o indiciamento pode ser solicitado pelo MP
ou pelo Juiz, mas o indiciamento é ato discricionário da autoridade policial. O
indiciamento somente pode ser feito se houver base ou prova. O Delegado se convence de que
5
A autoridade policial pode proceder a outras diligências que não estejam previstas no artigo 6 o.,
CPP; há no CPP, um rol de provas nominadas expressamente previstas, mas há também os meios de
prova que não têm previsão expressa, em que pesem não previstas, podem ser realizadas se não forem
imorais, ilegais ou ilícitos. Esse mesmo critério vale para o delegado de polícia, ou seja, pode colher as
provas inominadas
tem provas, se o delegado está certo ou não é outro problema, bastam provas mínimas da
prática da conduta.
Parágrafo único. As cópias dos documentos apresentados deverão ser juntadas aos
autos do inquérito, ou outra forma de investigação, ainda que consideradas insuficientes para
identificar o indiciado.
LISTA DE CRIMES: A teoria de LOMBROSO ainda não morreu totalmente, o legislador quando
escolheu os tipos de delinqüência está aplicando a teoria de Lombroso, essa escolha não é
fundada, LFG afirma que deveria ter começado pelos CRIMES HEDIONDOS e CRIMES
FINANCEIROS. Por isso tudo, há uma discussão sobre a constitucionalidade da exigência.
CONCURSO: não questione a constitucionalidade.
HIPÓTESES DE DÚVIDAS: a identificação criminal é obrigatória. EXEMPLOS: apresentação
de identidade rasgada ou sem fotografia ou foto colada; apresenta uma cópia e é deferido
prazo para apresentação do original, que não é cumprida pelo agente.
3.3.12.4.4 DESINDICIAMENTO
Caiu em uma prova de delegado se caberia o DESINDICIAMENTO, em concurso para
delegado deve-se responder que, como se trata de ato discricionário, pode fazê-lo, mas na
prática, isso é meio difícil, porque não tem como desidentificar o indivíduo. DEMERCIAN
acredita que poderia estar querendo se referir ao não envio do nome ao prontuário do instituto
de identificação.
OBS.: O nosso resumo é expresso na seguinte afirmação: “Caso se queira impugnar o
indiciamento o instrumento cabível é o MS e não o HC, mas os juízes têm aplicado o princípio
da fungibilidade e aceitado o HC”. Não obstante isso, andei buscado jurisprudência e verifiquei
que o STJ admite o HC sem problemas.
Enfim, vale salientar que fiz pesquisa no STF e encontrei vários HC’s tratando de indiciamento.
Todos foram conhecidos, portanto, não há falar em impropriedade da via eleita.
3.3.12.4.5 Identificação criminal nos juizados
INDENTIFICAÇÃO CRIMINAL NOS JUIZADOS: se se elabora TC não existe indiciamento.
Mas se a situação for complexa e o MP requer o IP, nele haverá o indiciamento.
Sobre a identificação em si, aplica-se a Lei 10.054, no que for cabível. É óbvio que não se
aplicará para os delitos previstos no art. 3º, inc. I. Entretanto, ocorrendo qualquer das demais
hipóteses, possível será a identificação. Aliás o próprio caput do art. 1º, da referida Lei,
expressa sua aplicabilidade às infrações penais de menor gravidade.
3.3.12.5 Reconstituição do crime ou reprodução simulada do crime
O delegado pode fazer isso, desde que não afete os bons costumes e a ordem pública
(CPP, art. 7º). Exemplo: não se faz a reconstituição de um estupro.
O suspeito ou indiciado é obrigado a participar da reconstituição do crime? Não(nemo
tenetur se detegere (RT, HC 64354, RT 624/372 e RTJ 127/461, TJSP, RJTJSP 431343 e RT
697/385). De outro lado, se não é obrigado a participar do ato, tampouco é obrigado a ir ao
local dos fatos. Constitui rematado constrangimento fazê-lo estar presente no local dos fatos na
medida em que ele tem o direito de não participar de absolutamente nada – ninguém é
obrigado a se autoincriminar. De outro lado, se o ato final (participação da reconstituição) está
vedado, não tem sentido o meio (condução do suspeito ao local dos fatos). Essa condução tem
puro caráter incriminatório. É coercitiva e abusiva. Esse é o posicionamento do LFG. O
Fernando Capez, de seu turno, defende que “O indiciado poderá ser forçado a comparecer
(CPP, 260), mas não a participar da reconstituição, prerrogativa que lhe é garantida pelo direito
ao silêncio e seu corolário, o princípio de que ninguém está obrigado a fornecer provas contra
si (CF, art. 5º, LXIII)”.
3.3.12.6 Reconhecimento
O réu é obrigado a estar presente no ato do reconhecimento, podendo inclusive o delegado
mandar buscar, não há violação constitucional, porque, no reconhecimento não se exige do réu
nenhum comportamento ativo, logo, é legítimo. Art. 260, CPP.
3.3.12.7 Busca domiciliar e busca pessoal
BUSCA DOMICILIAR: Só juiz pode determinar. Há uma RESERVA DE JURISDIÇÃO
E a busca pessoal? Pode ser determinada por juiz ou por autoridade policial. Em regra,
entretanto, a busca pessoal é feita sem ordem escrita. Há muitas situações em que isso é
possível. Por exemplo: suspeita de posse de arma de fogo.
judicial.
3.3.12.8 Incidente de insanidade mental
Só juiz pode determinar. Esse poder (de iniciar o incidente) não foi conferido à Autoridade
Policial, o qual pode representar pela realização do exame de sanidade.
3.3.12.9 Folha de antecedentes e instrumentos do crime
Devem acompanhar o IP.
Outras diligências ou atos que podem ser, também, empreendidos pela autoridade policial:
representação para a prisão preventiva, para a prisão temporária, cumprimento de mandado de
prisão, representação para decretação da interceptação telefônica, cumprimento da ordem de
interceptação etc.
3.3.12.10 Infiltração de policiais
A Lei de Tóxicos n. 10.409 admitia a INFILTRAÇÃO DE POLICIAIS em quadrilhas, grupos,
organizações ou bandos, cabível somente para os fins de COLHER INFORMAÇÕES. PAULO
RANGEL: entende que essa medida somente é cabível na fase de persecução penal, já que se
trata de atividade policial para busca de formação da justa causa. A nova Lei 11.343/06
mantém essa possibilidade e mais, a saber:
Art. 53. Em qualquer fase da persecução criminal relativa aos crimes previstos nesta Lei, são
permitidos, além dos previstos em lei, mediante autorização judicial e ouvido o Ministério
Público, os seguintes procedimentos investigatórios:
I - a infiltração por agentes de polícia, em tarefas de investigação, constituída pelos órgãos
especializados pertinentes;
II - a não-atuação policial sobre os portadores de drogas, seus precursores químicos ou outros
produtos utilizados em sua produção, que se encontrem no território brasileiro, com a finalidade
de identificar e responsabilizar maior número de integrantes de operações de tráfico e
distribuição, sem prejuízo da ação penal cabível.
Parágrafo único. Na hipótese do inciso II deste artigo, a autorização será concedida desde que
sejam conhecidos o itinerário provável e a identificação dos agentes do delito ou de
colaboradores.
Há infiltração de policiais prevista da Lei 9034 (crime organizado). Não se admite a figura da
infiltração para a investigação de quaisquer outros crimes, sob pena de ilicitude da prova
colhida. Mas se no decurso da infiltração, descobrir-se a prática de outro crime (caso fortuito):
se conexo, não há problema algum; se independente, dará ensejo à abertura de outro
processo. É o chamado encontro fortuito de prova. A nova Lei do Crime Organizado, Lei
12.850/2013, prevê a infiltração de agentes como meio de obtenção de prova. A matéria é
tratada entre os artigos 10 e 14 da citada lei:
Seção III
Da Infiltração de Agentes
§ 2o Será admitida a infiltração se houver indícios de infração penal de que trata o art.
1o e se a prova não puder ser produzida por outros meios disponíveis.
§ 3o A infiltração será autorizada pelo prazo de até 6 (seis) meses, sem prejuízo de
eventuais renovações, desde que comprovada sua necessidade.
Art. 12. O pedido de infiltração será sigilosamente distribuído, de forma a não conter
informações que possam indicar a operação a ser efetivada ou identificar o agente que será
infiltrado.
§ 3o Havendo indícios seguros de que o agente infiltrado sofre risco iminente, a operação
será sustada mediante requisição do Ministério Público ou pelo delegado de polícia, dando-se
imediata ciência ao Ministério Público e à autoridade judicial.
Art. 13. O agente que não guardar, em sua atuação, a devida proporcionalidade com a
finalidade da investigação, responderá pelos excessos praticados.
Parágrafo único. Não é punível, no âmbito da infiltração, a prática de crime pelo agente
infiltrado no curso da investigação, quando inexigível conduta diversa.
II - ter sua identidade alterada, aplicando-se, no que couber, o disposto no art. 9o da Lei
no 9.807, de 13 de julho de 1999, bem como usufruir das medidas de proteção a testemunhas;
III - ter seu nome, sua qualificação, sua imagem, sua voz e demais informações pessoais
preservadas durante a investigação e o processo criminal, salvo se houver decisão judicial em
contrário;
IV - não ter sua identidade revelada, nem ser fotografado ou filmado pelos meios de
comunicação, sem sua prévia autorização por escrito.
3.5 INÍCIO DO IP
O seu início depende do tipo de ação penal que é cabível:
3.5.1 AÇÃO PENAL PÚBLICA INCONDICIONADA
(a) por portariada autoridade policial (notitia criminis de cognição imediata ou informal do
delito);
(b) por auto de prisão em flagrante(notitia criminis de cognição coercitiva);
(c) por requisiçãode juiz; (notitia criminis de cognição mediata ou formal do delito);
(d) por requisiçãodo ministério público ou (notitia criminis de cognição mediata ou formal
do delito);
(e) por requerimentoda vítima ou de quem tiver qualidade para representá-la (notitia criminis
de cognição imediata).
Portaria: é a peça que dá início ao IP; decorre do conhecimento pela autoridade policial em
razão de suas atividades de rotina, p. ex. boletim de ocorrência (documento de natureza
estatística), relatório de investigação, etc
REQUERIMENTO na ação penal pública (artigo 5o., II última parte): Esse requerimento não é
obrigatório, nos crimes de ação penal pública, se a vítima não o requerer o Delegado de Polícia
pode e deve instaurar de ofício. Se for indeferida a instauração, cabe recurso ao Chefe de
Polícia (artigo 5o. § 2o., CPP). Como se trata de crime de ação penal pública, na verdade, esse
recurso é totalmente desnecessário, porque o ofendido pode escolher outra via: dirigir-se ao
MP ou ao juiz solicitando-lhes, que requisitem a instauração do IP.
REQUERIMENTO/DELATIO CRIMINIS (artigo 5o. § 3o. CPP):Qualquer pessoa do povo que
tomar conhecimento de prática de crime que deve ser apurada mediante ação penal pública
incondicionada poderá verbalmente ou por escrito comunica-la à autoridade, e essa verificando
a procedência mandará instaurar o IP. O CPP fala somente em crimes de ação penal pública,
mas deve-se entender como APP INCONDICIONADA, porque se for condicionada exigível a
representação.
Exercício: se o fato, mesmo em tese, não constitui fato punível, admite-se a abertura de
inquérito policial? Não (JSTJ 33, p. 341). E se se trata de fato absolutamente insignificante?
Incide o princípio da insignificância (fato atípico). Logo, não há que se falar em IP. E se
instaurado, não há que se falar em indiciamento. Toda a ocorrência tem que ficar registrada
para que o MP possa requerer o arquivamento, em juízo. O correto, portanto, é a autoridade
policial não instaurar inquérito policial no caso, nem lavrar auto de prisão em flagrante.
Registra-se o fato e manda tudo para juízo, que cuidará do arquivamento.
Diferença entre requerimento e requisição: o primeiro pode ser indeferido. No caso de
requisição (do juiz ou do MP), a autoridade deve agir. E se se trata de fato flagrantemente
atípico? Deve fundamentar sua convicção e não instaurar o IP (sob pena de estar cometendo
atividade arbitrária). Caso o MP discorde, deve requerer a abertura de IP ao Chefe da
Autoridade policial que se recusou a agir. A autoridade que se recuou a agir pode praticar o
crime de prevaricação (satisfação de interesse próprio ou de terceiro) ou falta funcional. Note-
se que não se trata de crime de desobediência, para parte da doutrina e da
jurisprudência, porque para sua configuração exige-se que o particular (e não o
funcionário público) o pratique contra a autoridade pública.
Há, na doutrina, quem diga inadequadamente, que o Delegado pode deixar de cumprir a
requisição se a ordem for manifestamente ilegal (Tourinho e Vicente Grecco); está errada essa
posição, porque exigir é determinar legalmente, e assim, não tem como ser manifestamente
ilegal. O instituto é determinado não pelo nome que recebe, mas pela sua natureza. Assim, o
delegado pode não atender a uma ordem manifestamente ilegal (claro), mas a requisição tem
em sua natureza a característica de ordem legal. Não confundir: REQUISIÇÃO (ordem legal
do MP) com a REQUISIÇÃO DO MINISTRO DA JUSTIÇA, que é, na verdade, uma condição
específica da ação penal pública condicionada à requisição do Ministro da Justiça (artigo 141, I,
CP).
REQUISIÇÃO = obrigação, quando o MP requisita o delegado é obrigado a instaurar o IP.
REQUERIMENTO = pode ser deferido ou indeferido
A requisição do juiz é muito questionada, o juiz deve copiar e mandar ao MP (artigo 40, CPP).
E se indeferido o requerimento da vítima (de abertura de inquérito policial)? Cabe recurso para
o Chefe de Polícia (em São Paulo, Delegado Geral de Polícia).
AÇÃO PENAL PÚBLICA CONDICIONADA
Depende de representação da vítima ou seu representante legal. A representação, nesse
caso, constitui uma delatio criminis postulatória (porque revela o crime e ainda postula a
abertura do IP).
Requisição do ministro da justiça – não está sujeita a prazo. É um ato de natureza
POLÍTICA e ADMINISTRATIVA. Quanto à REVOGABILIDADE, há divergência quanto à sua
possibilidade ou não. Impossibilidade por ser ato político, não vincula o MP, que não é obrigado
a oferecer denúncia mantém a sua autonomia funcional.
Está prevista no artigo 5o. IV, CPP (é a forma de iniciar a ação penal pública condicionada). Os
conceitos registrados na ação penal são utilizados aqui também. A investigação criminal nos
crimes em que a ação penal for pública condicionada não se inicia sem a representação do
ofendido ou de seu representante (autorização).
AÇÃO PENAL PRIVADA
Depende de requerimento da vítima ou de seu representante legal (princípio da
oportunidade).A vítima é obrigada a “denunciar” o fato? Não. Sem requerimento da vítima, a
autoridade policial não pode jamais investigar o crime de ação penal privada. Mulher casada
pode requerer abertura de IP? Sim (CPP, art. 35: revogado – Lei 9.520/97).
IP só pode ser instaurado a requerimento do ofendido ou de seu representante legal, não
podendo ser instaurado de ofício; quem tem legitimidade para exercer o direito de queixa, são
as mesmas pessoas que podem exercer o direito de representação.
INDEFERIMENTO DE INSTAURAÇÃO DO IP
Se for indeferida a instauração do IP, cabe recurso ao Chefe de Polícia, nos termos do artigo
5o. § 2o., CPP, é um recurso de natureza administrativa, assim, conclui-se que a autoridade
policial pode indeferir a abertura de IP, mas o CPP não estabelece as hipóteses em que o
indeferimento pode ocorrer. Mas se pode inferir algumas hipóteses (em qualquer tipo de ação):
a. Fato não ser típico;
b. Manifesta extinção de punibilidade;
c. Ausência de mínimo de informações para início das investigações.
Há quem entenda que o Chefe de Polícia é o Secretário de Segurança Pública e há quem
entenda que é o Delegado Geral da Polícia (artigo 5o. § 2o., CPP)..
TÉRMINO DO IP
O encerramento do IP ocorre em prazos distintos de acordo com a previsão legal específica:
CÓDIGO PENAL
10 dias – preso, improrrogável (a partir do 1º dia – artigo 10, CP) e 30 dias – solto (artigo 798,
CPP), poderá o juiz prorrogar o prazo PEDIDO DE DILAÇÃO DE PRAZO, quando houver
necessidade (artigo 10, § 3o.), controle da Polícia pelo Judiciário, correndo o risco de prejudicar
o sistema acusatório, a rigor o juiz não deveria controlar isso, já que a CF fala que é papel do
MP, o controle externo da atividade policial
JUSTIÇA FEDERAL E CPM
Justiça Federal(artigo 66 daLei 5010/66): se preso, 15 dias prorrogável por mais 15’. Se solto
segue a regra do CPP normalmente (trinta dias).
Código Penal Militar: 20 dias se preso (contado do dia em que se executar a prisão) e 40 dias
se solto (contado a partir da data em que se instaurar o IP).
ECONOMIA POPULAR
Lei de Economia Popular (Lei 1521/51): 10 dias, preso ou solto; 02 dias denúncia
TÓXICOS
Lei 10.409 Tóxicos (Art. 29): 15 dias, preso (prorrogável por mais 15), 30 dias, solto
(prorrogável por mais 30 dias); 10 dias, denúncia.
Lei 6368 Tóxicos (Art. 21): 05 ou 10 dias, preso e 30 ou 60 dias, solto
A nova Lei 11.343/06 aumentou os prazos: 30 dias, se preso, podendo ser duplicado; 90 dias,
se solto, também admitindo duplicação. É a regra do art. 51.
Nos processos de competência da JUSTIÇA FEDERAL, a dúvida surge em relação ao crime de
TRÁFICO INTERNACIONAL DE ENTORPECENTES, cuja competência é da Justiça Federal:
SÚMULA 522, STF. Salvo ocorrência de tráfico para o exterior, quando então a
competência será da Justiça Federal, competem à Justiça dos Estados o processo e
julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
Note-se que os crimes de tráfico podem ser de MULHERES, CRIANÇAS OU
ENTORPECENTES. O entendimento mais aceito consiste na aplicação do prazo previsto
na Lei de tóxicos, por ser específica e mais recente.
PRISÃO TEMPORÁRIA
A prisão temporária pode ser pelo prazo de 5 dias, mais 5 dias, totalizando 10 dias. Na Lei de
Crimes Hediondos o seu prazo é de 30 dias mais 30 dias, totalizando 60 dias. Note-se que
essa prisão é estabelecida para facilitar a investigação criminal, sendo assim, o IP pode
perdurar pelo prazo de duração da prisão, alterando o limite máximo para a conclusão do
inquérito. A prisão temporária pode ser convertida em prisão preventiva, o delegado terá ainda
mais 10 dias para finalizar o IP.
ARTIGO 10, CAPUT: TOURINHO diz que, em caso de prisão preventiva, já houve indício de
autoria e prova da materialidade, logo, não há porque continuar com o IP, pois o seu objetivo já
está atendido. DEMERCIAN diz que esse entendimento está errado, porque o caput é
expresso ao estabelecer o prazo de encerramento do IP, quando o indiciado estiver preso
preventivamente.
EXCESSO DE PRAZO
Excesso de prazo para a conclusão: o indiciado está preso, pode ser impetrado o HC.
PROCEDIMENTO DE FINALIZAÇÃO
Finalizando o IP: a autoridade policial poderá elaborar um relatório (artigo 10, §§ 1 o. e 2o.)
(que não é imprescindível) e o MP poderá adotar as providências:
DELEGADO → JUIZ → PROMOTOR (adotará as seguintes providências:)
1. Requisitar diligência (retorno dos autos à polícia – artigo 16)
2. Propugnar pelo arquivamento, que pode ser deferido ou indeferido
3. Apresentar denúncia e o conseqüente início da ação penal
No relatório, a autoridade policial poderá fazer constar o nome e o endereço das testemunhas
que não tenha ouvido. Mas não cabe, em princípio, o juízo de valor da autoridade policial, por
se tratar de um relatório e o seu juízo ser inócuo para a formação da opinião do MP.
Entretanto, há atos no IP que demandam uma apreciação, p. ex., na decisão de indiciamento,
para tanto terá que analisar os indícios de autoria. Note-se que no tráfico de entorpecentes, há
previsão de que a autoridade policial deverá justificar as razões que a levaram à classificação
do delito (essa previsão ainda permanece na nova Lei 11.343/06).
O MP somente poderá solicitar as diligências imprescindíveis para o oferecimento da
denúncia, de acordo como juízo valorativo do próprio MP (detentor da opinio delicti).
CARLOS FREDERICO COELHO NOGUEIRA o artigo 16 contém um duplo comando: 1)
requerimento do promotor ao juiz para o retorno físico dos autos à delegacia de polícia e 2) a
requisição de diligência feita pelo MP à autoridade policial. GUSTAVO SENNA: Somente pode
ser utilizado com o indiciado em liberdade, pois as idas e vindas do IP, com indiciado preso,
podem ocasionar excesso de prazo e constrangimento ilegal sobre a liberdade do preso.
O juiz não pode indeferir, mas se o juiz indeferir, não cabe recurso, podendo o MP adotar:
a. Correição parcial
b. Requisitar diretamente à autoridade policial, que não pode se recusar.
Se o pedido de diligência do promotor for monstruoso, afastando-se da legalidade, o juiz
poderá exercer um controle, indeferindo o pedido e depois por analogia aplicar o artigo 28,
CPP, remeter os autos ao Procurador Geral de Justiça que poderá designar outro órgão do
MP.
ENCERRAMENTO ANORMAL DO IP
Encerramento anormal do IP: trancamento por falta de justa causa. Só pode ser trancado, por
falta de justa causa, quando os fatos investigados são atípicos, quando não constituem nem
mesmo em tese, crime ou contravenção. Não se pode trancar o IP, por falta de justa causa,
sob a alegação de insuficiência de provas contra o indiciado.
O IP pode ter sucessivas prorrogações de prazo, caso o indiciado esteja solto, nos termo do
art. 10, § 3º, do CPP. A exceção fica por conta da Lei 10.409 e agora 11.343 que apenas
admitem a duplicação, ou seja, uma única prorrogação.
O MP pode devolver o IP para a polícia, desde que seja para diligências imprescindíveis (artigo
16, CPP).
ARQUIVAMENTO DO IP
Promover ou requerer o arquivamento são expressões sinônimas. O arquivamento ocorre
quando o IP está concluído, mas não traz prova suficiente e não há novas diligências a serem
realizadas. O juiz pode deferir ou indeferir a promoção de arquivamento, requerida nos termos
do artigo 18, CPP. O juiz defere o arquivamento, que somente pode ser requerido pelo MP, não
pode a autoridade policial requerer.
DESARQUIVAMENTO
A decisão interlocutória mista de arquivamento não (LFG afirma que faz coisa julgada, nos
termos abaixo) faz coisa julgada e pode ocorrer o desarquivamento. Mudando a situação de
fato (rebus sic stantibus), a decisão de arquivamento pode ser modificada se existir notícia de
prova nova. Súmula 18 – ela é para denunciar e exige depois do arquivamento do IP se tiver
prova nova, nem precisa desarquivar o IP.
COISA JULGADA MATERIAL: se o juiz analisa a tipicidade ou se extingue a
punibilidade.
COISA JULGADA FORMAL: se o juiz arquiva por falta de provas.
Pelo artigo 18, reabre o IP quando há NOTÍCIA DE PROVAS NOVAS, ou seja, basta a simples
notícia para a reabertura do IP. Mas a futura ação penal somente poderá ser promovida se
EFETIVAMENTE foram encontradas provas novas.
Súmula 524, STF. Arquivado o IP por despacho do juiz, a requerimento do MP, não pode
a ação penal ser iniciada sem novas provas.
Para desarquivar o IP, basta a notícia. Novas provas no sentido substancial até poderiam
existir, mas não haviam chegado ao conhecimento das autoridades, p. ex., testemunho de
nova testemunha.
FUNDAMENTO DO ARQUIVAMENTO
O pedido do MP deve ser fundamentado, pois o artigo 28, CPP, fala em razões invocadas. O
CPP não elenca as hipóteses de arquivamento, usando a contrario sensu as hipóteses de
rejeição da denúncia (artigo 43):
Falta de condição da ação para o exercício da ação, incluindo a justa causa
(presença de prova da materialidade e indícios de autoria).
O fato não se constituir em fato criminoso.
Aplicando-se o conceito analítico do crime.
A excludente de culpabilidade (vide observação abaixo com relação à
inimputabilidade).
Comprovada a inimputabilidade a denúncia é imprópria OBS.: Ao contrário do que
aqui sustentado, Rogério Greco entende que, nesse caso, deve-se oferecer
denúncia, já que o processo penal é único meio para se impor medida segurança
(vide Curso de Direito Penal Parte Geral, Impetus, 5ª ed., p. 451).
Causas extintivas da punibilidade, nos termos do artigo 107, CP, e outras por que o
rol não é taxativo. A única dúvida que pode surgir é em relação à prescrição virtual
ou da pena ideal. IMPORTANTE OPINIÃO ABAIXO. 6
B) excludente da ilicitude coisa julgada formal e material. *** julgado que ainda não foi
concluído (HC 87.395 – está com vista para o Min. Carlos Brito). O último julgado ainda
admite o desarquivamento.
D) causas extintivas de punibilidade coisa julgada formal e material. *** OBS.: a questão da
certidão de óbito falsa o STF entende que é possível reabrir o processo contra o acusado,
ou seja, o STF entende que não é revisão criminal.
03 ANOS
RECURSO
Não cabe recurso da decisão do juiz que determina o arquivamento do IP (ARQUIVAMENTO
DIRETO). O TJ/SP, entretanto, já admitiu recurso da vítima em hipótese específica na qual se
reconhece, para efeito de arquivamento, a atipicidade do fato, essa posição também já foi
Se o juiz arquivar o IP sem o prévio pedido do MP, cabe a correição parcial (recurso
cabível em hipóteses de error in procedendo). Por outro lado, equivaleria à concessão de
ofício de HC, assim, poderia haver a impugnação por meio de RECURSO EM SENTIDO
ESTRITO voluntário do MP e de ofício, já que o juiz é obrigado a recorrer de sua decisão
concessiva de HC.
Feito o pedido de arquivamento, o juiz NÃO pode, em princípio restituir os autos ao MP para
que o reavalie, nos termos do artigo 28, CPP. Mas, em recente decisão, o STJ entendeu ser
possível essa medida, em casos excepcionais, o juiz poderia devolver os autos ao MP, em
virtude do princípio da verdade real e não do formalismo. O STJ cuidou de caso (OBS.: não
encontrei) no qual tomou ciência de situação após o pedido de arquivamento e o deferimento
do arquivamento, situação que demonstrava a existência de elementos que viciavam a prova
produzida, ou seja, trata-se de possibilidade somente cabível em caso
EXCEPCIONALÍSSIMOS. Mas NUNCA os autos poderão ser devolvidos para outro membro do
MP, ele deve valer-se da medida do artigo 28, CPP.
O artigo 28 disciplina o procedimento de arquivamento, sendo que o juiz exerce uma função
atípica de controle do princípio da obrigatoriedade da ação penal (controle judicial, feito
pelo magistrado, e administrativo, feito pelo chefe o MP). O MP tem independência (funcional
do órgão do MP, o juiz não pode obrigar o promotor a promover a ação penal, porque isso
equivaleria ao juiz ajuizar a ação) e autonomia (do MP em face de outros órgãos estatais), daí
as origens do artigo 28. Também fundamenta a existência do artigo 28, o fato de que o MP
representa a sociedade, o interesse público, assim, deve ser verificada a sua atuação pelo
chefe do MP.
APLICAÇÃO DO ARTIGO 28
Se o juiz discorda da promoção de arquivamento, ele deve enviar o IP para o Procurador
Geral de Justiça, que poderá:
Concordar com MP (arquivamento obrigatório, que vincula o juiz)
Denunciar pessoalmente (é uma hipótese incomum)
Determinar que outro promotor o faça por delegação, ele não pode recusar (atua
como longa manusdo chefe do MP), não haverá lesão a sua independência
funcional, porque ele ainda não manifestou a sua opinião (independência
funcional somente é garantida quando o MP manifeste a sua posição).
Requisitar diligências complementares (decorrente dos poderes do órgão
máximo do MP)
Em hipótese alguma, o promotor que promoveu o arquivamento pode ser obrigado a
denunciar, sob pena de violação à sua independência funcional (já antecipou a sua opinião
sobre a impossibilidade de ajuizamento da ação). A decisão de arquivamento não faz coisa
julgada material (senão nos casos de atipicidade e extinção de punibilidade), tanto que pode
haver o desarquivamento do IP (ver anotações acima). A decisão do juiz deve ser
fundamentada.
Se o juiz desobedecer ao arquivamento obrigatório, há duas medidas previstas na doutrina:
a) correição parcial, remédio jurídico contra erro em procedendo do juiz que causa
uma confusão processual (ainda que no momento não há processo);
b) HC, pelo constrangimento ilegal que passa a sofrer o investigado.
MP FEDERAL
No MP FEDERAL, não é o Procurador Geral da República que atua no lugar do PGJ, os autos
deverão ser enviados para uma Câmara de Coordenação e Revisão Criminal do MPF (artigo
167 e seguintes da LC 75/93 – LOMPF); que é formada por 03 Procuradores da Republica com
mandato de 02 anos, tendo 02 suplentes.
O artigo 28 é aplicado analogicamente em algumas hipóteses, sendo que, algumas são
equivocadas, para permitir uma aplicação analógica, devem ser obedecidas algumas
premissas:
b. Tratar-se de ato privativo do MP;
c. Ato do qual dependa o andamento do processo
EXEMPLO: Na audiência de instrução e julgamento, o MP requer ao juiz a juntada de
documento, que é indeferida pelo juiz, o MP avisa que se não deferir ele não fala;
normalmente, o juiz aplica o artigo 28, mas não deveria, pois, não há dúvida que o debate oral
é privativo do MP, entretanto, a segunda premissa não foi atendida, ou seja, da sua prática não
depende o andamento do processo, assim, basta o juiz sentenciar, mesmo que o MP não fale
nos debates orais.
ARQUIVAMENTO IMPLÍCITO OU TÁCITO e INDIRETO
Arquivamento implícito ou tácito – Nessas hipóteses, o juiz deve adotar o artigo 28, por
aplicação analógica, pedido indireto de arquivamento.
Arquivamento Objetivo – deixar um delito de fora, sem falar nada.
implícito Subjetivo – deixar sujeito de fora, sem falar nada.
(STJ)
Com o arquivamento implícito, a denúncia somente pode ser aditada, mediante a existência de
novas provas. Mas se o entendimento é pela inadmissão do arquivamento implícito, admite-se
o aditamento da denúncia. DEMERCIAN não concorda, porque não pode existir decisão tácita;
o MP tem o dever constitucional de fundamentação de suas manifestações; da mesma forma,
se o Juiz não diz nada, estaria ele também decidindo tacitamente, ou seja, também
desobedecendo ao dever constitucional de fundamentação.
LFG afirma que o arquivamento indireto ocorre quando o MP identifica que o juiz não é
competente, mas o juiz se entende competente. Se o MP diz que não tem atribuição, o juiz
pode: 1) concordar, remetendo para o juízo competente; 2) discordar, e, assim, enviar os autos
ao PGJ, nos termos do art. 28, do CPP; aqui caso o PGJ concorde com o promotor,
discordando, portanto, do juiz, este nada poderá fazer (não pode obrigar o MP ao oferecimento
da denúncia perante aquele Juízo).Melhor dizendo, o MP, ao invés de requerer o arquivamento
ou o retorno dos autos à polícia para novas diligências, ou, ainda, de não oferecer denúncia,
manifestar-se no sentido da INCOMPETÊNCIA DO JUÍZO perante o qual oficia, recusando, por
isso, atribuição para a apreciação do fato investigado. O juiz não concordando com a alegação
de incompetência, aplicará o artigo 28, CPP, e se submeterá à decisão da última instância do
MP, tal como ocorre em relação ao ARQUIVAMENTO propriamente dito, ou o arquivamento
direto. Esse tipo de arquivamento já passou pelo crivo do STF, que acolheu tal tese.
CONFLITO DE ATRIBUIÇÕES DOS MP
Trata-se de tema ainda aberto nas nossas Cortes Superiores. Entre membros do MP do
mesmo Estado ou do entre membros de MP do mesmo ramo do MPU, não há dúvidas: a) MP
estadual: PGJ; b) MPU: respectiva Câmara de Coordenação e Revisão; c) entre ramos
diferentes do MPU (exemplo: MPT e MPF): PGR, nos termos do art. 26, inc. VII, da LC 75/93.
O problema ocorre quando se tratar de membros do MPE, de um lado, e membros do MPF, de
outro.
Conforme Pacelli, três correntes surgiram: a) o PGR, como órgão máximo do MP brasileiro,
deveria decidir; b) trata-se de dissenso entre órgão federal e estadual, portanto, a competência
seria do STF, a teor do art. 102, I, CF; c) ter-se-ia, no caso, verdadeiro conflito virtual de
competência, porque tudo desaguará no Judiciário, assim, invocável o art. 105, I, d, CF, e,
portanto, a competência seria do STJ.
Na verdade, o tema ainda está aberto. O primeiro posicionamento nunca foi bem aceito, porque
o PGR é o chefe do MPU e do MPF, portanto, não tem qualquer ingerência sobre os MPE’s. Na
PET 1503/MG, o Plenário do STF acolheu posição do Ministro Maurício Corrêa, no sentido de
que se verifica “...Presença de virtual conflito de jurisdição entre os juízes federal e estadual
perante os quais funcionam os órgãos do parquet em dissensão. Interpretação analógica do
artigo 105, I, d, da Carta da República, para fixar a competência do Superior Tribunal de
Justiça, a fim de que julgue a controvérsia”. Tal entendimento foi seguinte posteriormente em
outros casos como na ACO 756/SP.
STJ, HC 3.496:
STJ, HC 3496: ESTADO DE QUASE-FLAGRÂNCIA. PRISÃO. ATENTADO VIOLENTO AO
PUDOR. 1- Em se tratando de quase-flagrante ou flagrante impróprio relativo a fato contra
menor, o tempo a ser considerado medeia entre a ciência do fato pelo seu representante e as
providências legais que este venha a adotar para a perseguição do paciente. 2- Havendo
perseguição ao ofensor, por policiais, logo após terem sido informados do fato pela mãe da
vítima, caracterizado está o estado de quase-flagrância, pouco importando se a prisão ocorreu
somente quatro horas após. 3- Fato comprovado que dá subsistência ao auto de prisão em
flagrante. 4- Ordem denegada.
3. Flagrante presumido, ficto ou assimilado
Art. 302, IV, CPP. Nesse flagrante presumido, não há necessidade de perseguição. Basta
que a pessoa seja encontrada com objetos que tragam a presunção de autoria.
No flagrante presumido, o encontro casual deve ser “logo depois” da prática delituosa. No
flagrante impróprio, a lei fala em “logo após”. Há diferença?
A doutrina mais antiga diz que, se a lei usou palavras distintas, é porque o significado é
distinto. Dizem que o “logo depois” é um pouco a mais que o “logo após”.
Isso não mais prevalece! A doutrina moderna diz que é a mesma coisa.
Flagrante provocado ou preparado ou crime de ensaio ou delito putativo por obra
do agente provocador.
Requisitos cumulativos:
a) Indução à prática do delito pelo agente provocador, que pode ser tanto um policial quanto
um particular);
b) Adoção de precauções para que o delito não se consume.
O crime só existiu “na cabeça do criminoso”.
O flagrante preparado é uma hipótese de crime impossível. Isso por causa da ineficácia
absoluta do meio, pelas precauções que impedem a consumação do delito.
Súmula 145, STF:Não há crime, quando a preparação do flagrante pela polícia torna
impossível a sua consumação.
Prisão em flagrante por crime impossível: essa prisão é ilegal. Deve haver o seu imediato
relaxamento.
5. Flagrante esperado
A autoridade policial se limita a aguardar o momento da prática delituosa. Não há ação de
agente provocador; a autoridade não induz nada. O que acontece é que, devido a uma prévia
investigação, toma-se o conhecimento de que um delito será praticado e se espera a prática
para que ocorra a prisão.
Prisão em flagrante esperado: é uma prisão legal. Não houve qualquer induzimento.
Ex: venda simulada de drogas (o policial pede para um traficante a droga, simulando querer
comprá-la). O crime de tráfico de drogas é crime de ação múltipla ou de conteúdo variado.
Quanto à venda da droga, o flagrante é preparado e não seria legal. Contudo, o agente já
portava a droga e poderá ser responsabilizado, sendo plenamente possível a prisão em
flagrante do agente com base nos verbos ‘trazer consigo’, ‘guardar’, etc., desde que a posse da
droga seja preexistente.
Nesse caso de prisão em flagrante por drogas, lembrar que é indispensável o laudo preliminar
de constatação da natureza.
6. Flagrante postergado ou prorrogado ou diferido ou de ação controlada
Essa prisão consiste no retardamento da intervenção policial, que continua sendo obrigatória,
para que ocorra no melhor momento sob o ponto de vista probatório.
Ex: apreensão de droga em mala em aeroporto. É interessante deixar a prisão para momento
posterior, para que se identifique o maior número de pessoas envolvidas no crime.
Esse flagrante está previsto na lei de drogas (11.343/06), lei das organizações criminosas
(12.850/2013) e lei de lavagem de capitais (9.613/98).
Lei das organizações criminosas: não há necessidade de autorização judicial, porém, com a
Nova Lei das Organizações Criminosas, deve haver prévia comunicação ao juiz competente
(artigo 8º, § 1º).
Lei de drogas e Lei de lavagem de dinheiro: há previsão expressa da necessidade de
autorização judicial.
7. Flagrante forjado ou fabricado, maquinado ou urdido
Um policial ou um particular cria provas de um crime inexistente. Trata-se de prisão ilegal e, em
se tratando de autoridade, é crime de abuso de autoridade.
Ex: colocar drogas no carro de alguém.
e) Prisão em flagrante nas várias espécies de crimes
Crimes permanentes: a consumação se prolonga no tempo.
Ex: quadrilha, extorsão mediante sequestro, algumas modalidades de tráfico e de lavagem de
capitais, associação para o tráfico. A prisão em flagrante pode ser efetuada a qualquer
momento. Art. 303, CPP.
Art. 303. Nas infrações permanentes, entende-se o agente em flagrante delito enquanto não
cessar a permanência.
Inclusive a violação ao domicílio poderá ser realizada para o flagrante, mesmo sem autorização
judicial.
Crimes habituais: são aqueles crimes que demandam a prática reiterada de determinada
conduta.
Ex: exercício ilegal da medicina (art. 282, c; a prática isolada de determinada conduta não
caracteriza o crime).
Há grande polêmica doutrinária:
1ª Corrente: Não é possível a prisão em flagrante em crimes habituais, por não ser possível a
verificação, no momento da prisão, se o crime foi ou não cometido de maneira reiterada (Paulo
Rangel, Capez, Tourinho Filho).
2ª Corrente: É possível a prisão em flagrante, a depender das circunstâncias do caso
concreto. Ex: falso médico em um consultório, com estrutura montada, agenda cheia de
consultas e vários pacientes na sala de espera. Não há dúvida acerca da prática reiterada do
crime.
Crimes de ação penal privada e ação penal pública condicionada à representação: A
prisão em flagrante é possível, mas é condicionada à manifestação do ofendido. Ex: estupro.
Não há necessidade de formalismo quanto a essa manifestação da vítima, mas o ideal é que
ela se dê em 24 horas, que é o prazo que o delegado tem para lavrar o APF.
Crimes culposos: Prisão em flagrante em crimes culposos é plenamente possível, mas muito
provavelmente a pessoa não permanecerá presa. É cabível a concessão de fiança pela
autoridade policial.
Art. 301, CTB: hipóteses em que o condutor presta socorro à vítima; não haverá flagrante nem
se exigirá fiança.
CTB.Art. 301. Ao condutor de veículo, nos casos de acidentes de trânsito de que resulte
vítima, não se imporá a prisão em flagrante, nem se exigirá fiança, se prestar pronto e integral
socorro àquela.
Crimes formais: É possível a prisão em flagrante? Ex: um funcionário público exige dinheiro
de alguém para não praticar um ato e pede que o dinheiro seja levado em outro local em outro
dia. A prisão em flagrante ocorre no momento da entrega do dinheiro, que é o exaurimento da
conduta delituosa. Isso pode ocorrer?
O flagrante é possível, mas deve ocorrer no momento da execução do delito e não no
exaurimento.
Crime continuado: (flagrante fracionado).
O crime continuado é uma ficção jurídica: crimes da mesma espécie, praticados com
homogeneidade de circunstâncias de tempo, lugar e modo de execução.
A prisão em flagrante é possível e pode ser efetuada em qualquer um dos crimes da
continuidade.
f) Prisão em flagrante e apresentação espontânea do agente
Cuidado com a Lei 12.403/11 e a nova redação dos artigos 317 e 318 do CPP.
Ainda que se apresentasse espontaneamente, a prisão preventiva poderia ser realizada (antiga
redação do art. 317). A doutrina, interpretando esse artigo, dizia que a prisão em flagrante não
poderia ser feita.
Hoje, esses artigos falam de outro assunto e não há mais o capítulo da apresentação
espontânea no CPP. Então, pode ou não haver a prisão???
1ª Corrente: diante da mudança do art. 317 e da inexistência do assunto no CPP, seria
possível a prisão em flagrante nas hipóteses de apresentação espontânea (LFG).
2ª Corrente: continua não sendo possível a prisão em flagrante (Renato Brasileiro), o que, no
entanto, não impede a decretação da prisão preventiva. Quando a pessoa se apresenta
espontaneamente, ela não está em situação de flagrância.
Ainda não há posição jurisprudencial sobre a mudança legislativa nesse ponto.
g) Fases da prisão em flagrante
1. Primeiro momento: captura do agente. É um momento muito delicado, pois não se sabe
qual será a reação do indivíduo.
Considerações sobre a captura: pode se valer do emprego de força? Sim. Art. 292, CPP.
Havendo resistência, os meios necessários podem ser utilizados.
Uso de algemas: com moderação. Somente quando houver resistência ou pretensão de fuga
por parte do preso ou quando se verificar que a utilização das algemas é necessária para evitar
agressão do preso contra policiais, contra terceiros ou contra si mesmo.
Há a súmula vinculante 11:
Só é lícito o uso de algemas em casos de resistência e de fundado receio de fuga ou de perigo
à integridade física própria ou alheia, por parte do preso ou de terceiros, justificada a
excepcionalidade por escrito, sob pena de responsabilidade disciplinar, civil e penal do agente
ou da autoridade e de nulidade da prisão ou do ato processual a que se refere, sem prejuízo da
responsabilidade civil do Estado.
A doutrina critica a súmula, dizendo que isso não é matéria para uma súmula vinculante, pois
não se trata de grande controvérsia sobre matéria de direito.
Exibição de presos pela imprensa: apenas se a exibição atender a alguma finalidade de
interesse público. Ex: a exibição de um estuprador preso em região em que várias mulheres
foram estupradas e se busca a autoria.
2. Segundo momento: condução coercitiva à delegacia.
3. Lavratura do auto de prisão em flagrante.
O APF é lavrado no local onde o crime foi praticado ou no local onde se deu a prisão?
A lavratura se dá no local da captura. Art. 290, CPP.
Lei 11.343/06, art. 48, § 2º e Lei 9.099/95, art. 69, § único: para o usuário de drogas e autor de
infração de menor potencial ofensivo, não se imporá prisão em flagrante. Mas isso não significa
que nada possa ser feito contra essa pessoa.
A captura é possível e a condução coercitiva também. O que se deve entender é que não será
lavrado o APF. No caso dos juizados, não se lavrará o APF desde que o agente compareça ao
juizado ou assuma o compromisso de lá comparecer.
4. Recolhimento à prisão.
Às vezes, será possível a concessão de fiança pela autoridade policial. Art. 322, CPP. Se não
for possível, é que ocorrerá o recolhimento à prisão.
CPP.Art. 322. A autoridade policial somente poderá conceder fiança nos casos de infração
cuja pena privativa de liberdade máxima não seja superior a 4 (quatro) anos.
Parágrafo único. Nos demais casos, a fiança será requerida ao juiz, que decidirá em 48
(quarenta e oito) horas.
“A analogia é a atividade pela qual se aplica hipótese prevista em lei a uma hipótese
semelhante sem previsão legal. Quanto à natureza jurídica, a analogia é forma de auto-
integração da lei, e não de interpretação. (...) A analogia é expressamente prevista no
CPP (art. 3º) e no CPPM (art. 3º,
Quanto às espécies de analogia, temos as seguintes:
a) quanto à fonte: a.1) analogia legis: método de integração da norma com outra; a.2) analogia
iuris: método de integração da norma ou do ordenamento jurídico com os princípios gerais de
direito;
b) quanto ao resultado: b.1) analogia in bonam partem: em benefício do acusado (permitida);
b.2) analogia in malam partem: em prejuízo do acusado (proibida no direito penal, mas
permitida no direito processual penal, se não houver constrição da liberdade individual).
A lei processual admite interpretação extensiva e analogia. Veja arts. 4º e 5º da LINDB e art. 3º
do CPP (previsão expressa). Exemplo de analogia no processo penal: aplica-se a suspeição
por motivo íntimo, prevista no CPC, art. 135, parágrafo único, também ao juiz criminal, mesmo
não tendo previsão no CPP.
Podemos fazer as seguintes distinções entre:
a) analogia: não existe norma reguladora do caso concreto, devendo ser aplicada norma que
trata de hipótese semelhante. Dizemos, então, que há uma aplicação analógica. Por exemplo,
na hipótese de ‘arquivamento indireto’, um promotor de justiça se manifesta no sentido de não
querer oferecer a denúncia, em razão de considerar o juiz incompetente, o qual afirmou sua
competência. Como não há norma específica regulando como resolver o problema, o juiz aplica
analogicamente o art. 28 do CPP, que trata de hipótese semelhante, na qual ocorre
discordância judicial do pedido (expresso) de arquivamento;
b) interpretação extensiva: existe a norma para o caso concreto, mas ela não mencionou
expressamente o seu alcance, que foi atingido pela interpretação. Por exemplo, o art. 33 do
CPP trata da queixa, mas está claro que a lei também quis dizer interpretação; c) interpretação
analógica: a norma regula o caso concreto de modo expresso, embora genericamente. Após
enumeração casuística, a norma traz formulação genérica, que deve ser interpretada de acordo
com os casos anteriormente elencados; por exemplo, arts. 121, §2º, III e IV, do CP, art. 171 do
CP e art. 403 do CPP.” – Denilson Feitoza Pacheco.
Aplicação da lei processual penal militar - o CPPM admite a aplicação subsidiária da lei
processual comum nos casos omissos, fazendo ressalva expressa (art. 3º, CPPM), desde que
não haja prejuízo da índole do processo penal militar (ou seja, desde que não fira os princípios
do processo penal castrense). Pela ordem, em caso de omissão aplica-se: a) legislação
processual penal comum; b) jurisprudência; c) usos e costumes militares; d) princípios gerais
de direito; e) analogia.
Aplica-se ao CPPM o princípio do tempus regit actum (art. 5º), ou seja, a nova lei processual
aplica-se de imediato.
Inquérito policial militar (IPM):
A atribuição de polícia judiciária militar é exercida pela Polícia Militar, se o agente for policial
militar, ou pelo respectivo Corpo de Bombeiros Militar, se o agente for bombeiro militar. A
presidência do inquérito fica a cargo do comandante da unidade (ou batalhão), ou de um
encarregado, que recebe a atribuição de presidir o IPM por delegação do comandante (v. art.
7º, §1º, CPPM). Tal encarregado, necessariamente, deve ser Oficial (Bombeiro ou PM, sempre
da mesma corporação que o suspeito).
Caso o agente seja Oficial (PM ou BM), o encarregado deve ser de posto superior ao dele.
Sendo o suspeito/indiciado praça, basta que seja Oficial da mesma corporação, de qualquer
patente, mas, atendendo ao disposto no art. 15, CPPM, deve ser, preferencialmente, oficial de
posto não inferior ao de capitão. Ressalte-se que não é norma imperativa, sendo corriqueiro,
na prática, a atribuição de tal encargo a Oficial de posto inferior (Primeiro ou Segundo
Tenente).
O art. 8º, CPPM enumera as atribuições da polícia judiciária militar (o dispositivo,
incorretamente, utiliza o nomen iuris “competência”): apurar os crimes militares, prestar aos
órgãos e juízes da justiça militar e aos membros do MP informações necessárias à instrução e
julgamento dos processos, bem como realizar as diligências que por eles lhe forem
requisitadas; cumprir os mandados de prisão expedidos pela Justiça Militar; representar a
autoridades judiciárias militares acerca da prisão preventiva e da insanidade mental do
indiciado; cumprir determinações da Justiça Militar relativas aos presos sob sua guarda e
responsabilidade, bem como demais prescrições do CPPM nesse sentido, solicitar das
autoridades civis as informações e medidas que julgar úteis à elucidação das infrações penais,
que esteja a seu cargo; requisitar da polícia civil e repartições técnicas civis as pesquisas e
exames necessários ao complemento e subsídio de IPM; atender, com observância dos
regulamentos militares, a pedido de apresentação de militar ou funcionário de repartição militar
à autoridade civil competente, desde que legal e fundamentado o pedido.
Vale ressaltar que o encarregado exerce funções equivalentes no IPM, grosso modo, ao do
delegado no IP.
O IPM é iniciado mediante portaria (art. 10): de ofício, pela autoridade militar em cujo âmbito
ocorreu a infração penal militar, observando a hierarquia do infrator; por determinação de
autoridade militar superior; em virtude de requisição do MP; a requerimento do ofendido ou de
quem tenha tomado conhecimento da infração penal cuja repressão caiba à Justiça Militar;
quando, de sindicância feita em âmbito militar, resulte indício da existência de infração penal
militar. Ressalte-se que um oficial de patente inferior não pode instaurar IPM contra seu
superior, devendo comunicar a infração à autoridade superior competente (comandante do
autor da infração, em regra), para que esta decida sobre a instauração do inquérito (art. 10,
§1º). Da mesma forma, se no curso do IPM se verifica que existem indícios de autoria contra
militar superior ao encarregado, este comunicará o comandante para proceder sua
substituição.
O escrivão do inquérito será sargento, subtenente ou suboficial (praças graduados), se o
indiciado for praça, e primeiro ou segundo-tenente, se aquele for oficial. O escrivão será
nomeado pelo encarregado.
Os arts. 12 e 13 do CPPM descrevem as atribuições do encarregado do IPM, com razoável
semelhança com as disposições do art. 6º, CPP. Cabem alguns comentários:
- O CPPM é anterior à Constituição, sendo lei de 1967, período da ditadura militar. Desta
forma, além de não haver referência ao direito ao silêncio na parte que trata do interrogatório
no inquérito, o art. 308, CPPM afirma que “o silêncio do acusado não importará confissão, mas
poderá constituir elemento para a formação do convencimento do juiz.” É cristalino que tal
dispositivo não foi recepcionado pela ordem constitucional vigente.
- Neste momento, a autoridade a que se refere o art. 12, CPPM, será o comandante ou oficial
mais graduado presente na ocasião (exemplo, um oficial de dia, como costuma ocorrer fora do
horário de expediente). Já no art. 13, CPPM, as medidas serão tomadas pelo encarregado do
inquérito (presidente do IPM). O art. 6º, CPP aglutina as medidas determinadas nos dois
artigos do CPPM em um só. Isso se dá porque no CPP a autoridade policial é presidente do
inquérito em decorrência do próprio cargo exercido (delegado de polícia). No processo penal
militar, o encarregado é designado para aquele inquérito específico e APÓS A OCORRÊNCIA
DO DELITO, cessando suas funções quando do encerramento do procedimento. Só poderá
presidir outro inquérito se houver nova delegação para apuração de outro fato criminoso. As
medidas mais imediatas, desta forma, são tomadas pela autoridade militar presente ao local, e
não pelo presidente do inquérito, que ainda não foi designado.
A previsão de incomunicabilidade do preso constante no art. 17, CPPM é inconstitucional, em
face do art. 136, § 3º, IV, CF.
O encarregado elaborará relatório (art. 22, CPPM), devendo remetê-lo a autoridade de quem
recebeu a delegação (comandante) para homologar ou não a solução, aplicar penalidade ou
determinar novas diligências. Discordando da solução, o comandante poderá avocá-lo e dar
solução diferente (art. 22, §2º).
O IPM deve ser concluído em 20 dias, se o indiciado encontrar-se preso, e em 40 dias, se este
estiver em liberdade, podendo, neste caso, haver prorrogação por mais 20 dias.
Quanto ao procedimento de arquivamento, transcrevo a lição do Prof. Denílson Feitoza
Pacheco (Direito Processual Penal, Ed. Impetus, 2009): “No direito processual penal militar, a
decisão de indeferimento do pedido de arquivamento é sujeita a recurso em sentido estrito (art.
516, ‘b”, CPPM). Vamos supor que o Promotor da Justiça Militar requeira o arquivamento ao
juiz-auditor. Este discorde do arquivamento e aplique o art. 397, caput, do CPPM (equivalente
ao art. 28 do CPP). O Promotor da Justiça Militar poderá insistir no arquivamento, interpondo
recurso em sentido estrito para o tribunal ad quem, objetivando o deferimento, em grau
recursal, do seu pedido de arquivamento. Se o tribunal ad quem der provimento ao recurso, o
inquérito policial militar será arquivado; se não der provimento, remeterá o inquérito ao
Procurador Geral de Justiça (militar), para que este decida, nos termos em que o faria se
tivesse recebido os autos diretamente do juiz-auditor. Note que o tribunal ad quem, na Justiça
Militar Federal é o STM e, se admitirmos o sistema recursal do CPPM nas Justiças Militares
Estaduais, será o tribunal de Justiça Militar, ou, se não houver, o Tribunal de Justiça.”
O trecho acima foi reproduzido apenas a título de curiosidade, já que, em virtude do art. 6º,
CPPM, não se aplica à Justiça Militar Estadual as regras do CPPM referentes a organização da
Justiça, recursos e execução de sentença. Quanto aos recursos, aplica-se o CPP comum e a
LEP vigerá as execuções de sentenças condenatórias contra os BMs e PMs. Ou seja, na
Justiça Militar Estadual (Distrital) teremos a aplicação tão-somente do art. 397, CPPM, mas não
do recurso em sentido estrito do art. 516, "b", CPPM. Em suma, o procedimento a ser adotado
no DF é idêntico ao do art. 28, CPPM.
Ainda como curiosidade, ressalte-se outra peculiaridade, também aplicável somente à Justiça
Militar Federal: o corregedor-geral de Justiça Militar da União pode interpor correição parcial
por representação perante o STM para corrigir arquivamento irregular de IPM (art. 598, ‘b’,
CPPM), no prazo de cinco dias da decisão de arquivamento. Se o STM prover a
representação, aplicará o art. 397, caput, CPPM (equivalente ao art. 28, CPP), cabendo a
palavra final ao Procurador-Geral da Justiça Militar.
O arquivamento do inquérito não obsta a instauração de outro, se novas provas aparecerem
em relação ao fato, ao indiciado ou a terceira pessoa, ressalvados o caso julgado e os casos
de extinção de punibilidade. No caso, porém, a teor do art. 25 e seu § 1º (CPPM), não haverá
desarquivamento do inquérito, como no processo penal comum, mas sim A INSTAURAÇÃO
DE NOVO IPM, POR REQUISIÇÃO DO MP.
Nos crimes sujeitos a processos especiais (deserção - arts. 187 a 192, CPM - e insubmissão -
art. 183 e seu § 1º, CPM) não existe inquérito, mas sim INSTRUÇÃO PROVISÓRIA, a teor do
art. 452 e 463, § 1º, ambos do CPPM. Voltemos ao tema quando falarmos dos processos
especiais (LIVRO II, TÍTULO II, CPPM).
Ação Penal Militar:
A ação penal no processo penal militar é sempre pública, na forma do art. 29, CPPM. Existe
previsão de ação pública condicionada à requisição no art. 31, CPPM, porém os crimes a que
se refere são de competência da Justiça Militar da União, já que são os Crimes contra a
Segurança Externa do País, de forma que, em tese, não será possível ocorrer na Justiça Militar
estadual. Aplica-se, por força do art. 5º, LIX, CF, a possibilidade de ação penal privada
subsidiária da pública, em caso de inércia do órgão ministerial. Não existe ação penal privada
ou ação pública condicionada à representação do ofendido no processo penal militar.
O CPPM refere-se a um "direito de representação" no seu art. 33, que nada mais é do que a
notitia criminis do art. 27 do CPP comum.
Ressalte-se também que não existe mitigação do princípio da obrigatoriedade da ação penal
pública, já que não se aplica a lei 9.099/1995 na órbita da Justiça Militar, por expressa vedação
de seu art. 90-A, acrescido pela Lei 9.839/1999.
Princípios da ação penal pública: oficialidade, obrigatoriedade e indisponibilidade.
Da denúncia:
Requisitos (art. 77, CPPM): designação do juiz a que se dirigir; nome, idade, profissão e
residência do acusado ou esclarecimentos pelos quais possa ser identificado; tempo e lugar do
crime; qualificação do ofendido e designação da pessoa jurídica ou instituição prejudicada ou
atingida, sempre que possível; exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias;
as razões de convicção ou presunção da delinqüência; a classificação do crime; rol de
testemunhas, em número não superior a seis, com indicação da sua profissão e residência; e o
das informantes com a mesma indicação. O rol de testemunhas poderá ser dispensado, se o
MP dispuser de prova documental suficiente para oferecer a denúncia.
O juiz rejeitará a denúncia (art. 78, CPPM): se não contiver os requisitos expressos do artigo
anterior; se o fato narrado evidentemente não constituir crime da competência da Justiça
Militar; se já estiver extinta a punibilidade em qualquer das hipóteses do art. 123 do CPM; se
for manifesta a incompetência do juiz ou a ilegitimidade do acusador.
Ausentes os requisitos formais, o juiz, antes de rejeitar a denúncia, mandará, em despacho
fundamentado, remeter o processo ao órgão do MP para que, dentro do prazo de três dias,
contados da data do recebimento dos autos, sejam preenchidos tais requisitos.
Prazos para oferecimento da denúncia: cinco dias, se o acusado estiver preso; quinze dias, se
solto. Pode ser prorrogado, por despacho do juiz, ao dobro ou ao triplo, em caso excepcional e
se o acusado não estiver preso (art. 79 e seu § 1º, CPPM). O juiz deverá manifestar-se sobre a
denúncia em quinze dias.
Sujeitos no Processo:
Do Juiz -
art. 38 - casos de suspeição: se for amigo íntimo ou inimigo de qualquer das partes; se ele,
seu cônjuge, ascendente ou descendente, de um ou de outro, estiver respondendo a processo
por fato análogo, sobre cujo caráter criminoso haja controvérsia; se ele, seu cônjuge, ou
parente, consangüíneo ou afim até o segundo grau inclusive, sustentar demanda ou responder
a processo que tenha de ser julgado por qualquer das partes; se ele, seu cônjuge, ou parente,
a que alude a alínea anterior, sustentar demanda contra qualquer das partes ou tiver sido
procurador de qualquer delas; se tiver dado parte oficial do crime; se tiver aconselhado
qualquer das partes; se ele ou seu cônjuge for herdeiro presuntivo, donatário ou usufrutuário de
bens ou empregador de qualquer das partes; se for presidente, diretor ou administrador de
sociedade interessada no processo; se for credor ou devedor, tutor ou curador, de qualquer
das partes. O art. 39 refere-se a suspeição entre adotante e adotado e o art. 40 à suspeição ou
impedimento decorrente de parentesco por afinidade.
Impedimento - art. 37, CPPM - o juiz não poderá exercer jurisdição no processo que: como
advogado ou defensor, órgão do MP, autoridade policial, auxiliar de justiça ou perito, tiver
funcionado seu cônjuge, ou parente consangüíneo ou afim até o terceiro grau inclusive; ele
próprio houver desempenhado qualquer dessas funções ou servido como testemunha; tiver
funcionado como juiz de outra instância, pronunciando-se, de fato ou de direito, sobre a
questão; ele próprio ou seu cônjuge, ou parente consangüíneo ou afim, até o terceiro grau
inclusive, for parte ou diretamente interessado. São considerados inexistentes os atos
praticados por juiz impedido.
Vale lembrar que os casos de impedimento e suspeição aplicam-se ao juiz de direito e aos
juízes militares, juízes de fato que são (membros do Conselho Permanente de Justiça e
Conselho Especial de Justiça, que serão estudados adiante).
Do MP -
Suspeição - art. 58, CPPM: se for amigo íntimo ou inimigo do acusado ou ofendido; se ele
próprio, seu cônjuge ou parente consangüíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, sustentar
demanda ou responder a processo que tenha de ser julgado pelo acusado ou pelo ofendido; se
houver aconselhado o acusado; se for tutor ou curador, credor ou devedor do acusado; se for
herdeiro presuntivo, ou donatário ou usufrutuário de bens, do acusado ou seu empregador; se
for presidente, diretor ou administrador de sociedade ligada de qualquer modo ao acusado.
Impedimento - art. 57, CPPM - não poderá funcionar no processo o membro do MP: se nele
houver intervindo seu cônjuge ou parente consangüíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive,
como juiz, defensor do acusado, autoridade policial ou auxiliar da justiça; se ele próprio houver
desempenhado qualquer dessas funções; se ele próprio ou seu cônjuge ou parente
consangüíneo ou afim, até o terceiro grau inclusive, for parte ou diretamente interessado no
feito.
Do assistente de acusação -
O ofendido, seu representante legal e seu sucessor podem habilitar-se a intervir no processo
como assistentes do MP (art. 60 e parágrafo único do CPPM). Cabe ao juiz do processo,
ouvido o MP, conceder ou negar a admissão de assistente de acusação (art. 61), enquanto não
passar em julgado a sentença e recebendo a causa no estado em que se achar (art. 62). A
atuação do assistente é restrita e complementar, sendo permitido, com aquiescência do juiz e
ouvido o MP, apenas atuar nos seguintes casos: a) propor meios de prova; b) requerer
perguntas às testemunhas, fazendo-o depois do promotor; c) apresentar quesitos em perícia
determinada pelo juiz ou requerida pelo MP; d) juntar documentos; e) arrazoar os recursos
interpostos pelo MP; f) participar do debate oral. Não poderá arrolar testemunhas, exceto
requerer o depoimento das que forem referidas, nem requerer a expedição de precatória ou
rogatória, ou diligência que retarde o curso do processo, salvo a critério do juiz e com audiência
do MP, em se tratando de apuração de fato do qual dependa o esclarecimento do crime (art.
65, § 1º). Não poderá impetrar recursos, salvo de despacho que indeferir o pedido de
assistência (art. 65,§ 2º), que não terá efeito suspensivo, processando-se em autos apartados.
Do Perito -
Os peritos e intérpretes serão nomeados de preferência dentre oficiais da ativa, atendida a
especialidade (art. 48). O encargo não poderá ser recusado, salvo motivo relevante que o
nomeado justificará, para apreciação do juiz (art. 49). As perícias serão, sempre que possível,
feitas por dois peritos, especializados no assunto ou com habilitação técnica, observado o art.
48 (art. 318, CPPM).
Jurisdição e Competência:
Haverá conexão (art. 99, CPPM): a) se, ocorridas duas ou mais infrações, tiverem sido
praticadas, ao mesmo tempo, por várias pessoas reunidas (intersubjetiva por simultaneidade)
ou por várias pessoas em concurso (intersubjetiva por concurso), embora diverso o tempo e o
lugar, ou por várias pessoas, umas contra as outras(intersubjetiva por reciprocidade); b) se, no
mesmo caso, umas infrações tiverem sido praticadas para facilitar as outras (objetiva
teleológica), ou para ocultar, conseguir impunidade ou vantagem em relação a qualquer delas
(objetiva conseqüencial); c) quando a prova de uma infração ou de qualquer de suas
circunstâncias elementares influir na prova de outra infração (instrumental ou probatória). Não
há, aqui, maiores diferenças pro processo penal comum.
Haverá continência (art. 100, CPPM): a) quando duas ou mais pessoas forem acusadas da
mesma infração (cumulação subjetiva); b) na hipótese de uma única pessoa praticar várias
infrações em concurso (casos de concurso formal, aberratio ictus e aberratio criminis).
Regras para determinação (art. 101, CPPM): no concurso entre a jurisdição especializada e a
cumulativa, preponderará aquela; no concurso de jurisdições cumulativas, prevalecerá a do
lugar da infração para a qual é cominada pena mais grave, a do lugar onde houver ocorrido o
maior número de infrações, se as penas forem de igual gravidade, ou firmar-se-á pela
prevenção nos demais casos; no concurso de jurisdição de diversas categorias, predominará a
de maior graduação (ex.: TJ sobre a auditoria militar estadual).
No caso de civil praticar crime conexo com PM, por vedação expressa, o PM será julgado na
justiça militar estadual e o civil na justiça comum (art. 102, ‘a’, CPPM e súmula 90 do STJ). Na
justiça militar federal, o militar e o civil serão julgados pela justiça castrense. Caso interessante:
PM pratica crime da Lei 4.898/1965 (abuso de autoridade) e de lesão corporal (art. 209, CPM).
Pelo primeiro será julgado no juizado especial criminal (Súmula 172/STJ) e pelo segundo, na
auditoria militar. A transação penal aceita e homologada no juizado criminal não extingue a
punibilidade pelo crime conexo (lesão corporal), que será processado e julgado na auditoria
militar estadual.
Separação facultativa de processos (art. 106, CPPM): quando as infrações houverem sido
praticadas em situações de tempo e lugar diferentes; quando for excessivo o número de
acusados, para não lhes prolongar a prisão; quando ocorrer qualquer outro motivo que ele
próprio repute relevante. Os parágrafos 1º e 2º (referentes ao recurso de ofício) não se aplicam
à Justiça Militar Estadual, por força do art. 6º, CPPM.
Separar-se-ão somente os julgamentos: se, de vários acusados, algum estiver foragido e não
puder ser julgado à revelia; se os defensores de dois ou mais acusados não acordarem na
suspeição de juiz do Conselho de Justiça, superveniente para compô-lo, por ocasião do
julgamento.
O desaforamento do processo poderá ocorrer (arts. 109 e 110, CPPM): no interesse da ordem
pública, da Justiça ou da disciplina militar; em benefício da segurança pessoal do acusado;
pela impossibilidade de se constituir o Conselho de Justiça ou quando a dificuldade de
constituí-lo ou mantê-lo retarde demasiadamente o curso do processo.
Conflito de competência (arts. 111 a 121, CPPM): poderá ser suscitado pelo acusado, pelo
órgão do MP ou pela autoridade judiciária. Quando negativo o conflito, pode ser suscitado nos
próprios autos do processo. Se positivo, o relator do feito poderá ordenar, desde logo, que se
suspenda o andamento do processo até decisão final. Como curiosidade, vale lembrar que o
conflito de competência entre auditoria militar estadual e auditoria militar federal é solucionado
pelo STJ, por força do art. 105, I, ‘d’, CF (conflito de competência entre juízes vinculados a
tribunais diversos). No caso de conflito de competência entre auditoria militar estadual e vara
criminal federal, será julgada pelo TJ, quando não houver TJM, como no DF, ou pelo STJ,
quando houver naquele estado TJM, com fulcro no mesmo dispositivo constitucional acima
transcrito (caso de SP, MG e RS).
A exceção de incompetência (arts. 143 a 147, CPPM) poderá ser oposta verbalmente ou por
escrito, logo após a qualificação do acusado. No primeiro caso, será tomada por termo nos
autos. Se aceita a alegação, os autos serão remetidos ao juízo competente. Se rejeitada, o juiz
continuará no feito. Neste caso, o art. 145, CPPM prevê recurso ao STM em autos apartados.
Ressalve-se que as disposições do CPPM referentes a recursos não se aplicam a Justiça
Militar Estadual.
Competência Interna:
Aplica-se, aqui, a regra do art. 125, § 5º, CF, com a redação da EC 45/2005, na Justiça Militar
Estadual. Ao juiz de direito da auditoria militar (juízo militar, na letra da CF) compete processar
e julgar, singularmente, os crimes militares cometidos contra civis. Independentemente da
patente ou graduação do oficial ou praça, se a vítima do delito militar for civil, será julgado pelo
juiz de direito singular, aplicando-se as regras do CPPM, desprezando-se somente aquelas que
se referem aos conselhos de justiça.
Quando a vítima não for civil, a competência para processar e julgar o crime militar será do
Conselho de Justiça. Se o agente for praça ou graduado, será julgado pelo Conselho
Permanente de Justiça da mesma corporação que o réu (PM ou BM). Sendo Oficial, será
julgado por Conselho Especial de Justiça, constituído exclusivamente para aquele processo e
composto por oficiais da mesma corporação e de patente superior a sua (ou da mesma
patente, desde que os conselheiros sejam mais antigos na corporação que o réu).
As regras de formação e composição dos Conselhos, na esfera federal, são regulados pela Lei
de organização da JMU (Lei. 8.457/92) e, na esfera do DF, pela Lei 11.697/2008, lei de
organização judiciária do DF.
O art. 39, LODJDF prevê que o Conselho Especial de Justiça será composto por 4 juízes
militares, de patente igual ou superior ao acusado e do Juiz-Auditor (Juiz de Direito do DF).
Não havendo Oficiais da ativa nessa condição, recorrer-se-á a Oficiais em inatividade. O Juiz
Auditor é presidente e relator do CEJ (art. 37, § único, LODJDF). O Conselho Permanente de
Justiça compor-se-á de 4 (quatro) Juízes Militares, escolhidos dentre os oficiais da ativa, e do
Juiz-Auditor (art. 39, § 2º, LODJDF). Os Juízes Militares do Conselho Permanente de Justiça
servirão pelo período de 4 (quatro) meses consecutivos e só poderão ser de novo sorteados
após transcorrido o prazo de 6 (seis) meses, contados da dissolução do Conselho que tenham
integrado (art. 39, § 3º, LODJDF). O Juiz Auditor presidirá e relatará os processos do CPJ (art.
37, § único, LODJDF). Cada Juiz Militar do Conselho Especial ou Permanente de Justiça terá
um suplente, ambos escolhidos em sorteio presidido pelo Juiz-Auditor em sessão pública (art.
40, LODJDF). Os Juízes Militares dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça serão
sorteados dentre os oficiais constantes da relação que deverá ser remetida ao Juiz-Auditor pelo
Comando-Geral da Polícia Militar do Distrito Federal e pelo do Corpo de Bombeiros Militar do
Distrito Federal.
Ressalta-se que, se o militar cometer crime militar em outra unidade federativa, responderá na
auditoria da sua unidade.
Caso interessante ocorre quando o mesmo militar cometer um crime, por ex., numa mesma
ocasião, de lesão corporal (art. 290, CPM) contra um civil e de violência contra um superior seu
agravada pela lesão corporal (art. 157, § 3º, CPM). Neste caso, Ricardo Henrique Alves
Giuliani (Direito Processual Penal Militar, Ed. Verbo Jurídico, 2ª ed., pg. 131) sugere,
acompanhado por Célio Lobão (“Reforma do Judiciário. Competência da Justiça Militar” -
Revista Direito Militar nº 50), que o primeiro crime seja julgado pelo juiz de direito monocrático
e o segundo pelo Conselho competente, separando-se o processo.
Outra questão interessante refere-se a aplicação da Lei 11.719/2008 ao processo de crime
cometido por militar contra civil. Ricardo Henrique Alves Giuliani defende ser possível tal
aplicação da lei nova do processo comum ao processo de militar perante o juízo monocrático
(crime praticado contra civil). Vale lembrar que o STF entende que somente em caso de
omissão da legislação processual penal militar pode-se aplicar o CPP comum (HC 90977/MG).
Da mesma forma, o caso não é referente a recursos ou execução de pena, a teor do art. 6º,
CPPM. Tratando-se de fato que, ainda que sujeito ao juízo monocrático como os crimes
comuns, é crime militar e processado perante o juízo especializado, penso que deve seguir o
rito processual do CPPM, não sendo possível a aplicação da Lei 11.719/2008. Melhor faria o
legislador se, ao alterar o CPP, dispusesse acerca do CPPM também, já que este sempre é
esquecido nas ocasiões de reforma. Por fim, pesquisando a jurisprudência, parece-me que o
assunto ainda não pôde ser analisado pelos tribunais pátrios, em especial pelo E. STJ e E.
TJDFT.
Da citação, da intimação e da notificação:
A citação real no processo penal militar far-se-á: mediante mandado, quando o acusado estiver
servindo ou residindo na sede do juízo em que se promove a ação penal; mediante precatória,
quando estiver servindo ou residindo fora desta sede, mas no país; mediante requisição,
quando militar em atividade (art. 280, CPPM) ou preso (art. 282, CPPM). É intuitivo que, na
justiça militar estadual, esta última será a forma de citação do réu, em regra.
A citação ficta far-se-á somente por edital. Considerando não aplicar-se as recentes alterações
processuais penais ao processo castrense, não se admitirá a citação por hora certa do art. 362,
CPP. Os arts. 286 e 287 do CPPM tratam dos requisitos e prazos para a citação por edital.
As intimações e notificações são feitas em regra pelo diretor de secretaria às partes,
testemunhas e peritos, para prática de atos (notificação) ou seu conhecimento (intimação) no
curso do processo, por meio de carta, telegrama ou comunicação telefônica, bem como
pessoalmente, se estiverem presentes em juízo, o que será especificado nos autos (art. 288,
CPPM). O MP e a defensoria pública tem a prerrogativa de intimação pessoal. Tratando-se de
militar em situação de atividade a intimação ou notificação será feita por intermédio da
autoridade a que estiver subordinado. As notificações, intimações e citações serão sempre
feitas de dia e com antecedência de 24 horas, pelo menos, do ato a que se referirem. A
citação feita no início do processo é pessoal, bastando, para os demais termos, a intimação ou
notificação do seu defensor, salvo se o acusado estiver preso, caso em que será, da mesma
forma, intimado ou notificado. O processo seguirá a revelia do acusado que, citado, intimado ou
notificado, para qualquer ato do processo, deixar de comparecer sem motivo justificado.
Em relação à aplicação do art. 366 do CPP comum, em recente decisão, o STF negou
provimento a recurso ordinário em HC em que a DPU pleiteava a aplicação subsidiária, ao
processo penal militar, da regra do art. 366 do CPP (“Se o acusado, citado por edital, não
constituir advogado, ficarão suspenso o processo e o curso do prazo prescricional...)
Considerou-se ausente, no caso, fundamento legal para justificar a aplicação da suspensão
prevista no CPP comum ao processo penal militar. Não existiria, tendo em conta o caráter
excepcional e os pressupostos de aplicação analógica do CPPM, omissão a ensejar a
incidência da legislação comum. Ademais, salientou-se que a pretensão implicaria situação
desfavorável ao paciente, quanto à interrupção do prazo prescricional, uma vez que esta
hipótese não estaria prevista na legislação castrense (HC 90997/MG - Rel, Min, Carmen Lúcia -
08/06-2007).
Das Provas:
As alterações trazidas pela Lei 11.690/08, a priori, não se aplicam ao Processo Penal Militar,
devido ao princípio da especialidade deste.
O CPPM, no art. 297 acolheu o sistema da livre convicção ou livre convencimento, segundo o
qual o juiz formará sua convicção pela livre apreciação do conjunto das provas colhidas em
juízo. O Conselho Permanente ou Especial tem liberdade de apreciação, limitado apenas aos
fatos e circunstâncias constantes nos autos.
A prova no juízo penal militar, salvo quanto ao estado das pessoas, não está sujeita às
restrições estabelecidas na lei civil, sendo admissível qualquer espécie de prova, desde que
não atente contra a moral, a saúde ou segurança individual ou coletiva, ou contra a hierarquia
ou disciplina militar. Não são admitidas as provas produzidas por meios ilícitos (art. 5º, LVI,
CF).
O interrogatório é ato privativo do juiz. Somente este pode inquirir o acusado. No processo
penal militar, todos os membros do Conselho de Justiça podem fazer perguntas ao acusado,
sendo o primeiro o juiz, e, posteriormente, os juízes militares por ordem de hierarquia, sendo as
perguntas formuladas por intermédio do juiz auditor, que poderá entender pela impertinência da
pergunta e não repassá-la ao acusado. Findo o interrogatório, poderão as partes levantar
questões de ordem, que o juiz resolverá de plano, fazendo-as consignar em ata com a
respectiva solução, se assim for requerido. Não tem aplicação na Justiça militar a Lei
10.793/2003 que alterou o interrogatório no CPP comum. Havendo mais de um, cada acusado
será interrogado separadamente. Apesar da previsão do art. 305, CPPM, tal artigo não foi
recepcionado pela CF, não podendo seu silêncio ser interpretado contra si, constituindo direito
do acusado.
A confissão é meio de prova , não tendo nenhuma hierarquia entre ela e as demais existentes.
Deve ser: feita perante autoridade competente; ser livre, espontânea e expressa; versar sobre
o fato principal; ser verossímil; ter compatibilidade e concordância com as demais provas do
processo (art. 307, CPPM). A confissão é retratável e divisível.
As declarações do ofendido serão feitas na presença do acusado, que poderá contraditá-las no
todo ou em parte, após a sua conclusão, bem como requerer ao juiz que o ofendido esclareça
ou torne mais precisa qualquer das suas declarações, não podendo, entretanto, reperguntá-lo.
O ofendido não está obrigado a responder pergunta que possa incriminá-lo.
As perícias estão disciplinas nos arts. 314 a 346, CPPM. Elas serão, sempre que possível,
feitas por dois peritos, especializados no assunto ou com habilitação técnica, nomeados de
preferência dentre os oficiais da ativa, atendida a especialidade, que deverá prestar
compromisso para cada nomeação.
As testemunhas serão notificadas em decorrência de despacho do juiz-auditor ou deliberação
do Conselho de Justiça, em que será declarado o fim da notificação e o lugar, dia e hora em
que devem comparecer. O comparecimento é obrigatório, não podendo dele eximir-se a
testemunha, salvo motivo de força maior, devidamente justificado. A testemunha que,
notificada regularmente, deixar de comparecer sem justo motivo, será conduzida por oficial de
justiça e receberá uma multa na quantia de um vigésimo a um décimo do salário mínimo
vigente. Havendo recusa ou desobediência à condução, o juiz poderá impor-lhe prisão de até
quinze dias, sem prejuízo do processo penal por crime de desobediência. O art. 352, § 2º
elenca os casos em que não se tomará compromisso da testemunha, e o art. 355, os casos de
proibição de depor. O militar ou funcionário público será requisitado ao respectivo chefe, pela
autoridade que ordenar a notificação. As testemunhas serão arroladas pelo MP na denúncia e
pela defesa, regra geral, até após a oitiva das testemunhas da acusação, que mudará o prazo
para o seu oferecimento, caso de procedimento ordinário, até cinco dias após (art. 417, par. 2º,
CPPM), e em procedimentos especiais (deserção e insubmissão), até três dias após a oitiva
das testemunhas do MP, que serão ouvidas no ato do interrogatório do réu (art. 457, § 4º,
CPPM). O número de testemunhas são 6, por fato, ao MP e 6, por acusado, para a defesa (por
isonomia, apesar do artigo falar em somente 3). Esta é a regra contida na leitura dos arts. 77,
‘h’ e 417, § 2º, CPPM. O juiz pode ouvir testemunhas suplementares e referidas quando julgar
necessário. O juiz poderá, de ofício ou a requerimento de qualquer das partes, tomar-lhe
antecipadamente o depoimento, se qualquer testemunha tiver de ausentar-se ou, por
enfermidade ou idade avançada, inspirar receio de que, ao tempo da instrução criminal, esteja
impossibilitado de depor.
Os arts 365 a 367 dispõe sobre a acareação, quando houver divergência em declarações sobre
fatos ou circunstâncias relevantes.
Reconhecimento de pessoas e coisas (art. 368 a 370, CPPM): a pessoa que tiver de fazer o
reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser reconhecida; a pessoa
cujo reconhecimento se pretender será colocada, se possível, ao lado de outras que com ela
tiverem qualquer semelhança, convidando-se a apontá-la quem houver de fazer o
reconhecimento; se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento,
por efeito de intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deva
ser reconhecida, a autoridade providenciará para que esta não seja vista por aquela.
Documentos - no processo penal militar, a simples fotocópia, sem autenticação,
desacompanhada de fé pública, não tem valor probante de documento. Poderão os
documentos ser juntados em qualquer fase do processo, até o momento dos autos conclusos
para julgamento, respeitando sempre o contraditório.
Prisão:
Com exceção da prisão disciplinar (art. 5º, LXI, CF), da prisão do art. 18, CPPM, nos crimes
propriamente militares, a do estado de defesa, a do estado de sítio (art. 139, II, CF) e a
recaptura de réu evadido (art. 230, parágrafo único, CPPM), toda prisão só poderá ser efetuada
em flagrante delito ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
O emprego de algemas deve ser evitado, desde que não haja perigo de fuga ou de agressão
da parte do preso, e de modo algum será permitido nos presos recolhidos ao quartel ou à
prisão especial a que se refere o art. 242, CPPM.
As pessoas sujeitas à prisão provisória deverão ficar separadas das que estiverem
definitivamente condenadas (art. 239, CPPM).
Da prisão em flagrante - 1) flagrante próprio ou real: art. 244, ‘a’ e ‘b’, CPPM; 2) flagrante
impróprio ou quase-flagrante: art. 244, ‘c’, CPPM; 3) flagrante presumido ou ficto: art. 244, ‘d’,
CPPM. Qualquer pessoa poderá (flagrante facultativo) e os militares deverão (flagrante
necessário) prender quem for insubmisso ou desertor, ou seja, encontrado em flagrante delito.
A autoridade militar deverá, ao elaborar o APF, observar, além dos dispositivos constitucionais
do art. 5º, especialmente seus incisos LXII, LXIII e LXIV. Em relação à presença de advogado
no flagrante, esta é dispensável; o que é indispensável é a possibilidade de contratar um
defensor, ou na impossibilidade, os autos devem ser remetidos à Defensoria Pública no prazo
de 24 horas, conforme a Lei 11.449/2007. Deve-se observar, ainda, o disposto nos arts. 245 a
247, CPPM, devendo ser remetido o APF imediatamente ao juiz competente, ou, no máximo,
em cinco dias quando depender de diligências previstas no art. 246, CPPM, entre elas o exame
de corpo de delito e a busca e apreensão dos instrumentos do crime. Quando a prisão em
flagrante for efetuada em lugar não sujeito à Administração Militar, o auto poderá ser lavrado
por autoridade civil, ou pela autoridade militar do lugar mais próximo daquele em que ocorrer a
prisão.
Para a manutenção da prisão em flagrante há necessidade de estarem presentes os
pressupostos e fundamentos da prisão preventiva.
Pressupostos da prisão preventiva (art. 254, CPPM): prova do fato delituoso; indícios
suficientes de autoria. Fundamentos da prisão preventiva (art. 255, CPPM): garantia da ordem
pública; conveniência da instrução criminal; periculosidade do indiciado ou acusado; segurança
da aplicação da lei penal militar; exigência da manutenção das normas ou princípios de
hierarquia e disciplina militares, quando ficarem ameaçados com a liberdade do indiciado ou
acusado. Na prática, devem ocorrer os dois pressupostos do art. 254 e ao menos um
fundamento do art. 255 para fundamentar a prisão preventiva do indiciado. O art. 257
estabelece motivos que demonstram a desnecessidade da prisão preventiva. A prisão
preventiva não será decretada se for verificado, pelas provas constantes dos autos, ter o
agente praticado o fato amparado pelo erro de direito (art. 35, CPM), em coação irresistível ou
em obediência hierárquica (art. 38, CPM), em coação física irresistível (art. 40, CPM), em
estado de necessidade como excludente da culpabilidade (art. 39, CPM) e nos casos das
excludentes da ilicitude (art. 42, CPM).
Da Menagem:
“Instituto tipicamente militar, é o benefício outorgado por lei a certos acusados, os que
respondem por crimes cujo máximo da pena não exceda a quatro anos, para ficarem presos
sob palavra, fora do cárcere, uma vez preenchidos os requisitos legais. Trata-se de medida que
evita o recolhimento provisório do acusado à prisão, substituindo o instituto da prisão provisória
para a maioria da doutrina.” - Ricardo Henrique Alves Giuliani (obra citada).
A menagem pode ser concedida a militar e cumprida em sua residência, ou, atendido o seu
posto e graduação, em quartel, navio, acampamento, ou em estabelecimento ou sede de órgão
militar. O insubmisso tem uma menagem com regramento próprio, não sendo preso, mas tendo
o quartel por menagem. Não irei, contudo, aprofundar o assunto, já que a insubmissão é crime
de competência exclusivamente militar federal.
Antes de conceder a menagem, a autoridade judicial pedirá informações à autoridade militar e
ouvirá previamente o MP que emitirá parecer em três dias. Quando concedida a menagem, são
fixadas algumas condições, dentre elas, ser cumprida em determinado local, comparecer a
todos os atos judiciais a que tenha sido intimado ou a que deva comparecer
independentemente de intimação especial. Descumprindo alguma dessas condições, será
cassada a menagem. A cessação da menagem ocorre com a sentença condenatória, ainda
que não transitada em lugado. Ao reincidente é vedada expressamente a menagem (art. 269,
CPPM)
Menagem-liberdade - concedida tendo a cidade ou residência como local de cumprimento;
menagem-prisão - é concedida para ser cumprida em quartel, navio ou estabelecimento
delimitado. Esta última será contada para fins de detração penal, na execução de pena.
Liberdade Provisória:
A legislação processual penal militar prevê apenas a liberdade provisória sem fiança, com
vinculação (art. 253, CPPM) e sem vinculação (art. 270, CPPM). Esta última se dará nos
crimes: não punidos com pena privativa de liberdade; culposos, salvo se cometido contra a
segurança externa do País (caso de competência da JMU); punidos com deteção não superior
a dois anos, salvo os crimes dos arts. 157, 160, 161, 162, 163, 164, 155, 173, 177, 178, 187,
192, 235, 299 e 302, CPM. ]
Processo Ordinário:
Recebimento da denúncia ----> sorteio do Conselho Especial, se o acusado for Oficial, ou
convocação do Conselho Permanente, se praça (o juiz, exceto nos casos de vítima civil,
quando terá competência singular até o fim, só tem competência monocrática até o
recebimento da denúncia; após, a competência será do Conselho) ----> citação do acusado até
24 horas antes do interrogatório ----> qualificação e interrogatório em ato único ----> oitiva de
até 6 testemunhas da acusação por fato imputado ao réu (bem como testemunhas referidas e
substituídas pelo MP)----> prazo de cinco dias da oitiva da última testemunha de acusação para
a defesa arrolar testemunhas (máximo de 6 por acusado) ----> autos conclusos ao juiz ---->
vista em cartório para as partes requererem diligências ou juntada de documentos no prazo de
cinco dias após a oitiva da última testemunha de defesa ----> prazo para alegações escritas,
sucessivo, de oito dias para o MP e, após, para a Defesa (havendo assistente de acusação,
este terá prazo de cinco dias que será aberto após o prazo do MP; havendo mais de cinco
acusados e sendo diferentes os advogados, o prazo para as partes será de 12 dias, correndo
em cartório a vista) ----> autos conclusos para o juiz, que poderá ordenar diligências, ou,
achando-se o processo devidamente instruído, designará dia e hora para o julgamento,
cientificando os demais juízes, partes e acusado.
Obs.1: não há no processo penal militar a chamada defesa prévia.
Obs.2: as testemunhas serão inquiridas, pela ordem, pelo juiz, e, após, por intermédio deste,
pelos juízes militares, por quem arrolou (acusação ou defesa) e, por fim, pela outra parte
(defesa ou acusação). Só serão recusadas as perguntas ofensivas ou impertinentes com o fato
descrito na denúncia.
Obs.3: as partes e o acusado devem ser notificados com 3 dias de antecedência da audiência
de oitiva de testemunha
O julgamento pode ser adiado uma vez, faltando o réu solto. Não comparecendo na nova data,
será declarado revel. A ausência do advogado, na segunda ocasião, resultará na sua
substituição por outro. A ausência do assistente de acusação não obstará a realização da
audiência de julgamento.
Procedimento da audiência de julgamento - iniciada a sessão, o presidente ordenará ao
escrivão a leitura das seguintes peças: a) denúncia e seu aditamento; b) exame de corpo de
delito e conclusão de outros exames ou perícias fundamentais à configuração do crime; c)
interrogatório do acusado; d) qualquer outra pela dos autos cuja leitura tenha sido proposta
pelos juízes militares ou requeridas pelas partes. ----> 3 horas para alegações orais da
acusação ----> 1:30 hora para alegações orais do assistente de acusação ----> 3 horas para
alegações orais da defesa (se forem mais de 10 acusados, cada advogado terá direito a, no
máximo, 1 hora para cada réu e 6 horas de tempo total) ----> se houver, 1 hora para réplica
pelo MP ----> havendo, 1 hora para tréplica para a defesa ----> Em seguida, Conselho
deliberará em sessão pública (a sessão secreta do art. 434, CPPM não foi recepcionada pelo
art. 93, X, CF), votando primeiro o juiz de direito e depois os juízes militares, em ordem inversa
de hierarquia sobre as questões preliminares e o mérito da causa.
Obs.1: Poderão ser dados apartes durante os debates, desde que permitidos por quem esteja
na tribuna e não tumultuem a sessão.
Quando, pela diversidade de votos, não se puder constituir maioria para a aplicação da pena,
entender-se-á que o juiz que tenha votado por pena maior, ou mais grave, terá votado por pena
imediatamente menor ou menos grave. O Conselho de Justiça poderá: a) dar ao fato definição
jurídica diversa da que constar da denúncia, ainda que, em conseqüência, tenha de aplicar
pena mais grave, desde que aquela definição haja sido formulada pelo MP em alegações
escritas, e a outra parte tenha tido a oportunidade de respondê-la; b) proferir sentença
condenatória por fato articulado na denúncia, não obstante haver o MP opinado pela
absolvição, bem como reconhecer agravante objetiva, ainda que nenhuma tenha sido argüida
(art. 437, CPPM).
O juiz “civil”, ainda que vencido e discordando dos fundamentos ou da conclusão, redigirá a
sentença, podendo, entretanto, justificar o seu voto, no todo ou em parte, após a assinatura. Os
juízes militares vencidos também tem a faculdade de justificar seu voto. Se a sentença não for
lida na sessão de julgamento, deverá ser lida em oito dias, em audiência pública, ficando dela
intimados desde logo o MP, o réu e o defensor, se presentes.
A intimação da sentença condenatória será feita ao defensor, ao réu, pessoalmente, se estiver
preso; se o réu estiver solto ou revel, far-se-á após a prisão.
Dos Processos Especiais (Deserção e Insubmissão)
Não vou ater-me a insubmissão, por não estar na competência da justiça militar estadual, mas
sim da federal, por ser crime cometido pelo conscrito contra o serviço militar obrigatório às
forças armadas.
O crime de deserção (art. 187, CPM) é crime de mera conduta, consumando-se após expirado
o prazo de graça de 08 dias ou, no caso da deserção especial (art. 190, CPM), no momento em
que parte o navio ou aeronave a qual deixou de apresentar-se (de configuração mais
improvável na justiça militar estadual).
Consumado o crime de deserção, o comandante da unidade, ou autoridade correspondente, ou
ainda autoridade superior, fará lavrar o respectivo termo, imediatamente. O termo de deserção
tem o caráter de instrução provisória e destina-se a fornecer os elementos necessários à
propositura da ação penal, sujeitando, desde logo, o desertor a prisão. O desertor que se
apresentar ou for capturado deve ser submetido a inspeção de saúde e, se julgado incapaz
definitivamente, fica isento do processo e da reinclusão, sendo os autos arquivados, após o
pronunciamento do MP. A incapacidade temporária não afasta a condição de procedibilidade
(ser militar) para o processo. Sendo capaz, os autos serão encaminhados ao MP para
oferecimento da denúncia.
O processo, com desertor preso, deve terminar em 60 dias do momento da captura ou
apresentação voluntária do desertor, sob pena de ser o acusado colocado em liberdade, se
estourar este prazo. Contudo, é possível a concessão de liberdade provisória antes deste
prazo, conforme entendimento do STF.
As testemunhas do MP serão ouvidas na mesma ocasião da qualificação e interrogatório do
desertor. Cada parte tem direito a três testemunhas somente, devendo as testemunhas de
defesa ser arroladas três dias após a oitiva da última testemunha da acusação, devendo ser
ouvidas em cinco dias, prorrogáveis até o dobro pelo Conselho, ouvido o MP.
Não haverá apresentação de alegações escritas. No julgamento, o prazo para debates e
sustentação oral será de 30 minutos para cada parte, podendo haver réplica e tréplica pelo
prazo de 15 minutos.
Direito Civil
Diretrizes teóricas do Código Civil. Princípios do Direito Civil. Direito Civil Constitucional.
Das pessoas naturais. Dos atos ilícitos. Da responsabilidade civil. Dos Contratos em geral.
O próprio Miguel Reale apontava os regramentos básicos que sustentam a atual codificação
privada: eticidade, socialidade e operabilidade. Repise-se que o estudo de tais princípios é
fundamental para que se possa entender os novos institutos que surgiram com a nova lei
privada.
O princípio da eticidade pode ser percebido pela leitura de vários dispositivos da atual
codificação privada. Inicialmente, nota-se a valorização de condutas éticas, de boa-fé objetiva –
aquela relacionada com a conduta de lealdade das partes negociais –, pelo conteúdo da norma
do art. 113, segundo o qual “os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e
os usos do lugar de sua celebração” (função interpretativa da boa-fé objetiva). Ademais, o art.
187 determina qual a sanção para a pessoa que contraria a boa-fé no exercício de um direito:
cometerá abuso de direito, assemelhado a ilícito (função de controle da boa-fé objetiva). Ato
contínuo,o art. 422 valoriza a eticidade, prevendo que a boa-fé deve integrar a conclusão e a
execução do contrato (função de integração da boa-fé objetiva).
No que concerne ao princípio da socialidade, o Código Civil de 2002 procura superar o caráter
individualista e egoísta que imperava na codificação anterior, valorizando a palavra nós, em
detrimento da palavra eu. Os grandes ícones do Direito Privado recebem uma denotação
social: a família, o contrato, a propriedade, a posse, a responsabilidade civil, a empresa, o
testamento.
Por fim, há o princípio da operabilidade, que tem dois significados. De início, há o sentido de
simplicidade, uma vez que o Código Civil de 2002 segue tendência de facilitar a interpretação e
a aplicação dos institutos nele previstos. Como exemplo, pode ser citada a distinção que agora
consta em relação aos institutos da prescrição e da decadência, matéria que antes trazia
grandes dúvidas pela lei anterior, que era demasiadamente confusa. Por outra via, há o sentido
de efetividade, ou concretude do Direito Civil, o que foi seguido pela adoção do sistema de
cláusulas gerais.
As cláusulas gerais têm um sentido dinâmico, o que as diferencia dos conceitos jurídicos
indeterminados, construções estáticas que constam da lei sem definição. Assim, pode-se
afirmar que quando o aplicador do direito cumpre a tarefa de dar sentido a um conceito legal
indeterminado, passará ele a constituir uma cláusula geral.
Pois bem, três são os princípios básicos do Direito Civil Constitucional, conforme as lições de
Gustavo Tepedino, o que é fundamental para a compreensão da essência desse marco teórico
importante para a civilística contemporânea.
O primeiro deles, aquele que pretende a proteção da dignidade da pessoa humana, está
estampado no art. 1.º, III, do Texto Maior, sendo a valorização da pessoa um dos objetivos da
República Federativa do Brasil. Trata-se do superprincípio ou princípio dos princípios como se
afirma em sentido geral. A proteção da dignidade humana, a partir do modelo de Kant, constitui
o principal fundamento da personalização do Direito Civil, da valorização da pessoa humana
em detrimento do patrimônio.
Por fim, o princípio da isonomia ou igualdade lato sensu, traduzido no art. 5.º, caput, da Lei
Maior, eis que “todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-
se aos brasileiros e aos estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à
liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade”. Quanto a essa igualdade, princípio
maior, pode ser a mesma concebida pela seguinte expressão, atribuída a Aristóteles e Ruy
Barbosa: A lei deve tratar de maneira igual os iguais, e de maneira desigual os desiguais. Do
texto, nota-se na sua primeira parte a consolidação do princípio da igualdade stricto sensu (a
lei deve tratar de maneira igual os iguais), enquanto a segunda traz o princípio da
especialidade (... e de maneira desigual os desiguais). Essa é a essência da igualdade
substancial.
Outra questão relevante é a chamada eficácia horizontal dos direitos fundamentais, que pode
ser dividida ainda em direta e indireta.
A eficácia horizontal dos direitos fundamentais, também chamada de eficácia dos direitos
fundamentais entre terceiros ou de eficácia dos direitos fundamentais nas relações privadas,
decorre do reconhecimento de que as desigualdades não se situam apenas na relação
Estado/particular, como também entre os próprios particulares, nas relações privadas.
Para a teoria da eficácia indireta ou mediata, os direitos fundamentais são analisados do ponto
de vista de duas dimensões: a) dimensão negativa ou proibitiva, que veda ao legislador editar
lei que viole direitos fundamentais; b) dimensão positiva, impondo um dever para o legislador
implementar direitos fundamentais, ponderando, porém, quais deles devam se aplicar às
relações privadas. Essa a teoria prevalente na Alemanha.
Para essa teoria, não há que se falar em imposição de direitos fundamentais numa relação
entre particulares que estão em nível de igualdade. Não negam - os seguidores de referida
teoria - que os direitos fundamentais possam ser aplicados a essas relações, mas dizem que
para isso acontecer, é necessário uma intermediação através da lei. A lei, o direito privado,
teria que regulamentar, que incorporar aqueles direitos fundamentais ao direito privado, para
que a aplicação fosse relativizada, ou, tecnicamente falando, os direitos fundamentais irradiam
os seus efeitos nas relações entre particulares por meio de mediação legislativa. Então,
segundo a doutrina alemã, essa porta de entrada dos direitos fundamentais nas relações entre
particulares seriam as cláusulas gerais do direito privado, os pontos de infiltração.
Portanto, para a teoria da eficácia indireta dos direitos fundamentais, ao se interpretar uma
cláusula geral, deve-se fazê-lo com base nos direitos fundamentais que a Constituição
consagra.
Nos termos da proposta da teoria da eficácia direta ou imediata, como o próprio nome sugere,
alguns direitos fundamentais podem ser aplicados diretamente às relações privadas, ou seja,
sem a necessidade da intervenção legislativa.
“(...) sem dúvida, cresce a teoria da aplicação direta dos direitos fundamentais às relações
privadas (‘eficácia horizontal’), especialmente diante de atividades privadas que tenham um
certo ‘caráter público’, por exemplo, em escolas (matrículas), clubes associativos, relações de
trabalho etc.”
Porém, Ingo Wolfgand Sarlet lembra que há duas considerações a respeito da aplicação da
teoria da eficácia dos direitos fundamentais às relações privadas:
Primeiro, quando há relativa igualdade das partes figurantes da relação jurídica, caso em que
deve prevalecer o princípio da liberdade para ambas, somente se admitindo eficácia direta dos
direitos fundamentais na hipótese de lesão ou ameaça ao princípio da dignidade da pessoa
humana ou aos direito aos direitos da personalidade.
Segundo: quando a relação privada ocorre entre um indivíduo (ou grupo de indivíduos) e os
detentores de poder econômico ou social, caso em que, de acordo com o referido autor, há
consenso para se admitir a aplicação da eficácia horizontal, pois tal relação privada assemelha-
se àquela que se estabelece entre os particulares e o poder público (eficácia vertical).
E ainda Armando Cruz Vasconcellos nos adverte que as:
“(...) violações aos direitos fundamentais podem partir tanto do Estado soberano como,
também, dos agentes privados. Essa tendência atual de aplicação horizontal dos direitos
fundamentais não visa se sobrepor à relação anterior, uma vez que o primordial nessa questão
é nos atentarmos para que a aplicação dos direitos fundamentais, no caso concreto, esteja
sempre ponderada com os demais princípios. Diversas questões precisam ser melhores
desenvolvidas, como qual a forma dessa vinculação e seu alcance”.
Alguns autores como Alexy, por exemplo, defendem ser uma teoria integradora, onde, em face
de uma demanda entre particulares, que tenha por objeto direito fundamentais, que se faça
uma ponderação entre os valores discutidos.
DAS PESSOAS NATURAIS
Pessoa natural é o ser humano considerado como sujeito de direitos e deveres (art. 1º, CC).
Toda pessoa é dotada de personalidade, isto é, tem capacidade para figurar em uma relação
jurídica. Capacidade é a medida da personalidade. A que todos possuem (art. 1º) é a
capacidade de direito (de aquisição ou de gozo de direitos). Mas nem todos possuem a
capacidade de fato (de exercício do direito), que é a aptidão para exercer, por si só, os
atos da vida civil. Capacidade não se confunde com legitimação – esta é a aptidão para a
prática de determinados atos jurídicos. Quem tem as duas capacidades, tem capacidade plena.
Quem só tem a de direito, tem capacidade limitada e necessita de outra pessoa que substitua
ou complete a sua vontade. São, por isso, chamados de incapazes.
Incapacidade é a restrição legal ao exercício dos atos da vida civil, ou seja, é a restrição da
capacidade de fato. A absoluta (art. 3º) acarreta a proibição total do exercício, por si só, do
direito. O ato somente poderá ser praticado pelo representante legal do absolutamente
incapaz, sob pena de nulidade (art. 166, I, CC). A relativa (art. 4º) permite que o incapaz
pratique atos da vida civil, desde que assistido, sob pena de anulabilidade (art. 171, I, CC).
ALGUNS ATOS O RELATIVAMENTE INCAPAZ PODE PRATICAR SEM A ASSISTÊNCIA
DO REPRESENTANTE LEGAL (SER ELEITOR, ACEITAR MANDATO, FAZER
TESTAMENTO, SER TESTEMUNHA ETC.).
Absolutamente Incapazes (art. 3º, CC) – (a) os que, por enfermidade ou deficiência
mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática dos atos da vida civil; (b)
os que, por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade; (c) os menores de
dezesseis anos (menores impúberes).
Relativamente Incapazes (art. 4º, CC) – (a) os maiores de dezesseis e menores de dezoito
anos (menores púberes); (b) ébrios habituais, viciados em tóxicos e os que, por deficiência
mental, tenham o discernimento reduzido; (c) os excepcionais, sem desenvolvimento mental
completo; (d) os pródigos.
Quanto aos indígenas, sua capacidade é regulada pelo Estatuto do Índio – Lei 6.001/73. A
referida lei considera nulos os negócios celebrados entre um índio e pessoa estranha à
comunidade indígena, se a participação da FUNAI, enquadrando-o, pois, como absolutamente
incapaz. Entretanto, declara que se considerará válido tal ato se o índio revelar consciência e
conhecimento do ato praticadoe, ao mesmo tempo, tal ato não o prejudicar. A tutela do
indígena é independente de qualquer medida judicial (ou seja, não se exige processo de
interdição), sendo ele incapaz desde o nascimento, até que preencha os requisitos exigidos
pelo art. 9º da Lei 6.001/73 - quais sejam: idade mínima de 21 anos, conhecimento da língua
portuguesa, habilitação para o exercício de atividade útil à comunidade nacional, razoável
compreensão dos usos e costumes da comunhão nacional – e seja liberado por ato judicial,
diretamente, ou por ato da FUNAI homologado pelo órgão judicial.
Cessa a incapacidade, primeiramente, quando cessar a sua causa e, em segundo lugar, pela
emancipação. A menoridade cessa aos dezoito anos completos (art. 5º, CC). A emancipação
(aquisição da capacidade plena antes da idade legal) pode ser de três espécies:
voluntária, judicial ou legal. A voluntária é a concedida pelos pais, se o menor tiver dezesseis
anos completos. A judicial é concedida por sentença, ouvido o tutor, em favor do tutelado que
já completou dezesseis anos. A legal é a que decorre de determinados fatos previstos em lei
(casamento, exercício de emprego público efetivo, colação de grau em curso de ensino
superior e estabelecimento com economia própria, civil ou comercial, ou a existência de
relação de emprego, tendo o menor dezesseis anos completos).
A emancipação voluntária deve ser concedida por ambos os pais, ou um deles, na falta do
outro. Havendo divergência entre eles, esta será dirimida pelo juiz. Forma – instrumento
público. Segundo o STF, tal forma de emancipação só não produz o efeito de isentar os
pais da obrigação de indenizar as vítimas dos atos ilícitos praticados pelo menor
antecipado, para evitar emancipações maliciosas. Se o menor estiver sob tutela, deve
requerer sua emancipação por sentença – o tutor não pode emancipá-lo. As emancipações
voluntária e judicial devem ser registradas em livro próprio do 1º Ofício do Registro Civil da
comarca do domicílio do menor, anotando-se também, com remissões recíprocas, no assento
de nascimento. A emancipação legal independe de registro e produzirá efeitos desde logo, a
partir do ato ou do fato que a provocou. A emancipação é irrevogável, mas é possível
reconhecimento de invalidade do ato (nulidade ou anulabilidade). A dissolução da sociedade
conjugal não faz o menor retornar à condição de incapaz. No caso de casamento nulo, estando
ele de boa-fé, será putativo com relação a ele e produzirá efeitos de um casamento válido,
inclusive a emancipação (art. 1.561, CC). É dominante a corrente que exige tratar-se de
emprego público EFETIVO para ocorrer a emancipação.
A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida (art. 2º, CC), o que se
constata pela respiração. Antigamente utilizava-se de método chamado de “docimasia
hidrostática de Galeno”, atualmente a medicina tem outros modos de aferir se houve a
respiração. Os direitos assegurados ao nascituro encontram-se em estado potencial, sob
condição suspensiva – não há personalidade antes do nascimento, apenas garantia de
alguns direitos.
Somente com a morte termina a existência da pessoa natural. Doutrinariamente fala-se em:
(a) morte real (art. 6º, CC) – prova-se pelo atestado de óbito ou pela justificação, em caso
de catástrofe e não encontro do corpo (art. 88, L. 6.015/73) – acarretaa extinção do poder
familiar, a dissolução do vínculo matrimonial, a extinção dos contratos personalíssimos, a
extinção da obrigação de pagar alimentos, etc.; (b) morte simultânea ou comoriência (art. 8º,
CC) – se dois indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar qual morreu
primeiro, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Não há transferência de bens entre os
comorientes; (c) morte presumidasem declaração de ausência – presume-se a morte,
quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva (art.
6º, 2ª parte, CC). A declaração de ausência produz efeitos patrimoniais, permitindo a abertura
da sucessão provisória e, depois, a definitiva. Na última hipótese, constitui causa de dissolução
da sociedade conjugal. Declaração de morte presumida – art. 7º, CC –sem decretação de
ausência: se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; se
alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos
após o término da guerra.
Exceções à imutabilidade do nome – art. 58, parágrafo único, LRP (antiga redação) –
retificação de evidente erro gráfico; art. 55, parágrafo único – mudança em face de nomes que
expõem ao ridículo seus portadores – a lei 9.708/98 alterou o art. 58, parágrafo único para
dizer que: “O prenome será definitivo, admitindo-se, todavia, a sua substituição por
apelidos públicos notórios”; a lei 9.807/99 mudou novamente a redação do par. único do
art. 58, prescrevendo também “que a substituição do prenome será ainda admitida em
razão de fundada coação ou ameaça decorrente de colaboração com a apuração de
crime, por determinação, em sentença, de juiz competente, ouvido o Ministério Público.”
A sentença concessiva de adoção pode determinar a modificação do prenome do adotado, se
menor, a pedido do adotante ou do próprio adotado (art. 1.627, CC). É possível alteração do
nome (sem modificar prenome ou sobrenome) no primeiro ano após atingir a maioridade
civil pela via administrativa ou decisão judicial (art. 110, LRP). Decorrido este prazo
decadencial, tais alterações só poderão ser feitas, motivadamente e por exceção, em
ação judicial de retificação de nome, conforme o art. 57, LRP. O nome completo pode
também sofrer alterações no casamento, reconhecimento de filhos, adoção, união estável,
separação judicial e divórcio. Exemplos de casos não previstos em lei: viuvez; abandono
afetivo (o filho poderá retirar o sobrenome do pai – STJ); divórcio dos pais com mudança do
nome (o filho poderá retificar seu registro – STJ).
Estado: soma das qualificações da pessoa na sociedade, hábeis a produzir efeitos jurídicos –
é seu modo particular de existir. Estado individual é o modo de ser da pessoa quanto à idade,
sexo, cor, altura, saúde, etc. Estado familiar é o que indica a sua situação na família em
relação ao matrimônio (solteiro, casado, viúvo, divorciado) e ao parentesco (pai, filho, irmão,
etc.). Estado político é a qualidade jurídica que advém da posição do indivíduo na sociedade
política, podendo ser nacional (nato ou naturalizado) e estrangeiro. Características (ou
atributos) do estado: indivisibilidade; indisponibilidade (o que não implica sua mutação em
decorrência dos fatos, mas sua inalienabilidade e irrenunciabilidade); imprescritibilidade.
Direitos da Personalidade:
São inerentes à pessoa humana, estando a ela ligados de forma perpétua. Maria Helena Diniz:
“direitos da personalidade são direitos subjetivos da pessoa de defender o que lhe é próprio, ou
seja, a sua integridade física (vida, alimentos, próprio corpo vivo ou morto, corpo alheio vivo ou
morto, partes separadas do corpo vivo ou morto); a sua integridade intelectual (liberdade de
pensamento, autoria científica, artística e literária); e a sua integridade moral (honra, recato,
segredo profissional e doméstico, identidade pessoal, familiar e social).” O Novo Código Civil
os disciplina entre os arts. 11 e 21.
Art. 11, CC – “Com exceção dos casos previstos em lei, os direitos da personalidade são
intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária.” São,
ainda, inalienáveis e imprescritíveis.
Art. 13, CC – Salvo por exigência médica, é defeso o ato de disposição do próprio corpo,
quando importar diminuição permanente da integridade física, ou contrariar os bons costumes.
Gustavo Tepedino: Apesar da falta de previsão expressa no CC, considera-se hoje lícita a
cirurgia de mudança de sexo, quando em conformidade com o procedimento médico
estabelecido pelo CFM. Permanecem, contudo, polêmicos os efeitos civis da mudança.
Enunciado 276 da IV Jornada de Direito Civil do CEJ do CJF: “o art. 13 do Código Civil, ao
permitir a disposição do próprio corpo por exigência médica, autoriza as cirurgias de
transgenitalização, em conformidade com os procedimentos estabelecidos pelo Conselho
Federal de Medicina, e a conseqüente alteração do prenome e do sexo no Registro Civil.”
Art. 14, CC – É válida, com objetivo científico, ou altruístico, a disposição gratuita do próprio
corpo, no todo ou em parte, para depois da morte. Parágrafo Único – O ato de disposição pode
ser livremente revogado a qualquer tempo.
Enunciado 277 da IV Jornada de Direito Civil do CEJ do CJF: “o art. 14 do Código Civil, ao
afirmar a validade da disposição gratuita do próprio corpo, com objetivo científico ou altruístico,
para depois da morte, determinou que a manifestação expressa do doador de órgãos em
vidaprevalece sobre a vontade dos familiares, portanto, a aplicação do art. 4º da Lei
9.434/97 ficou restrita à hipótese de silêncio do potencial doador.”
Art. 15, CC – “Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento
médico ou a intervenção cirúrgica.”
Gustavo Tepedino leciona: “há de ser interpretado o art. 15 – não só o constrangimento que
induz alguém a se submeter a tratamento com risco deve ser vedado, como também a
intervenção médica imposta a paciente que, suficientemente informado, prefere a ela não se
submeter, por motivos que não sejam fúteis e que se fundem na afirmação de sua própria
dignidade.” Nesse sentido, o art. 46 do Código de Ética Médica (Resolução CFM n. 1.246/88):
“é vedado ao médico efetuar qualquer procedimento médico sem o esclarecimento e
consentimento prévios do paciente ou de seu responsável legal, salvo iminente perigo de vida.”
O art. 20, CC prescreve que poderão ser proibidas a transmissão da palavra e divulgação de
imagens, a requerimento do autor e sem prejuízo da indenização que couber, se lhe atingirem
a honra, a boa fama ou respeitabilidade, ou se destinarem a fins comerciais, salvo se
autorizadas, ou se necessárias à administração da justiça ou à manutenção da ordem pública.
O mesmo tratamento é dado à exposição ou à utilização da imagem, que o art. 5º, X da CF
considera um direito inviolável
Enunciado 279, da IV Jornada de Direito Civil do CEJ do CJF: “a proteção à imagem deve
ser ponderada com outros interesses constitucionalmente tutelados, especialmente em face do
direito de amplo acesso à informação e da liberdade de imprensa. Em caso de colisão, levar-
se-á em conta a notoriedade do retratado e dos fatos abordados, bem como a veracidade
destes e, ainda, as características de sua utilização (comercial, informativa, biográfica),
privilegiando-se medidas que não restrinjam a divulgação de informações.”
Art. 21, CC: “A vida privada da pessoa natural é inviolável, e o juiz, a requerimento do
interessado, adotará as providências necessárias para impedir ou fazer cessar ato contrário a
esta norma.”
Da ausência:
Ausente é a pessoa que desaparece de seu domicílio sem dar notícia de seu paradeiro e sem
deixar um representante ou procurador para administrar-lhe os bens (art. 22, CC). Neste caso,
o juiz, a requerimento de qualquer interessado, ou do MP, declarará a ausência, e nomear-
lhe-á curador. Também será nomeado quando o ausente deixar mandatário que não queira ou
não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes.
Fases da Ausência:
- fase da curadoria: art. 22 a 25, CC – é restrita aos bens, não produzindo efeitos de
ordem pessoal. Comunicada a ausência ao juiz, este determinará a arrecadação dos bens do
ausente e os entregará à administração do curador nomeado. Prolonga-se pelo período de um
ano, durante o qual serão publicados editais, de dois em dois meses, convocando o ausente a
reaparecer (art. 1.161, CPC). Decorrido o prazo sem que o ausente apareça, ou se tenha
notícia de sua morte, ou se ele deixou representante ou procurador, e, passando três anos,
poderão os interessados requerer a abertura da sucessão provisória (art. 26, CC).
- fase da sucessão provisória: art. 26 a 36 – estão legitimados para requerer sua abertura:
(a) cônjuge não separado judicialmente; (b) herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários;
(c) os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte; (d) credores de
obrigações vencidas e não pagas. A sentença que determinar sua abertura só produzirá
efeitos 180 dias depois de publicada pela imprensa, mas logo que passe em julgado,
proceder-se-á à abertura do testamento e ao inventário e partilha de bens, como se o ausente
houvesse falecido. Os bens serão entregues aos herdeiros, em caráter provisório e
condicional, desde que prestem garantia da restituição deles. Se não o fizerem, ficarão os
respectivos quinhões sob a administração de curador ou de outro herdeiro designado pelo juiz
que preste a garantia. Tal regra não inclui ascendentes, descendentes e cônjuge (art. 30 e
parágrafos). Os descendentes, ascendentes ou cônjuge que for sucessor provisório fará seus
todos os frutos e rendimentos dos bens que a ele couberem; os outros sucessores deverão
capitalizar metade desses frutos e rendimentos. Se o ausente aparecer e ficar provado que sua
ausência foi voluntária e injustificada, perderá em favor do sucessor sua parte nos frutos e
rendimentos.
É o ato praticado em desacordo com a ordem jurídica que viola direitos e causa
prejuízos a outrem. Diante da sua ocorrência a norma jurídica cria o dever de reparar o dano, o
que justifica ser o ato ilícito fonte do direito obrigacional7. O ato jurídico é considerado fato
jurídico em sentido amplo, uma vez que produz efeitos jurídicos que não são desejados pelo
agente, mas somente aqueles impostos pela lei, sendo, por isso, chamados de
involuntários. Entende-se que o ato ilícito constitui um fato jurídico, mas não é um ato jurídico,
pois para a configuração deste é necessária a licitude da conduta.
7São consideradas fontes das obrigações: a) a lei, que é a fonte primária ou imediata
(embora alguns autores, como Fernando Noronha, entendam que a lei sozinha não é
fonte obrigacional, sendo necessária a presença da autonomia privada, que é o direito
que a pessoa tem de regulamentar os próprios interesses); b) os contratos, tidos como
fonte principal do direito obrigacional; c) os atos ilícitos e o abuso de direito, pois
geram o dever de indenizar; d) os atos unilaterais, declarações unilaterais de vontade
que geram obrigações; e) os títulos de crédito, documentos que trazem em seu bojo,
com caráter autônomo, a existência de uma relação obrigacional de natureza privada.
a. FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO ORDINÁRIO (fenômeno natural
comum)
b. FATO JURÍDICO EM SENTIDO ESTRITO EXTRAORDINÁRIO
(excepcional, como caso fortuito e força maior)
O ato ilícito pode ser civil, penal ou administrativo. Por vezes, a conduta ofenderá às 03
esferas.
Art. 186. Aquele que, por ação ou Art. 159. Aquele que, por ação ou
omissão voluntária, negligência ou omissão voluntária, negligência, ou
imprudência, violar direito e causar dano imprudência, violar direito, ou causar
a outrem, ainda que exclusivamente prejuízo a outrem, fica obrigado a
moral, comete ato ilícito. reparar o dano.
Da análise do art. 186 CC verifica-se que O art. 159 CC/16 utilizava a expressão
o ato ilícito é a soma entre lesão de “ou”, admitindo o ato ilícito por mera
direitos e dano causado. lesão de direitos.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando
as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os
limites do indispensável para a remoção do perigo.
O art. 187 CC traz uma nova dimensão de ilícito, consagrando a teoria do abuso de
direito como ato ilícito, também conhecida como teoria dos atos emulativos. Amplia-se a
noção de ato ilícito para considerar como precursor da responsabilidade civil também aquele
ato praticado em exercício irregular de direitos, ou seja, o ato é originariamente lícito, mas foi
exercido fora dos limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé objetiva ou
pelos bons costumes.
Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo,
excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou
social, pela boa-fé ou pelos bons costumes.
Segundo RUBENS LIMONGI FRANÇA, abuso de direito é um “ato lícito pelo conteúdo,
ilícito pelas conseqüências, tendo natureza jurídica mista – entre o ato jurídico e o ato ilícito –
situando-se no mundo dos fatos em sentido amplo”. Em outras palavras, a ilicitude do abuso
de direito está presente em sua execução (e não na sua origem, que é lícita). Assim, a
diferença para o ato ilícito é que este é ilícito no todo quanto ao conteúdo e quanto às
consequências.
O Código trabalhou com dois ilícitos: Ato ilícito subjetivo (art. 186) e o ato ilícito objetivo
(art. 187). Há, portanto, uma bifurcação no conceito de ilicitude. Ilicitude, para o Código é um
conceito rico porque existem diferentes espécies, categorias de ilicitude.
O art. 186 traz o conceito: aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou
imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete
ato ilícito.
Você acaba de ver o que é o ato ilícito subjetivo. Um ato ilícito subjetivo é a violação de
um direito alheio culposamente causando dano a outrem.
Observe que o art. 186 revela que todo ato ilícito tem 4 pressupostos. E os quatro
pressupostos da ilicitude são:
2º Pressuposto: Culpa
3º Pressuposto: Dano
São os quatro pressupostos de um ato ilícito subjetivo. Isso porque o ato ilícito
subjetivo se dá quando se causa dano a terceiro violando culposamente o direito dele.
• Ato ilícito subjetivo se caracteriza quando alguém viola o direito de outrem e causa um
dano.
• Ato ilícito objetivo se caracteriza quando alguém exerce um direito excedendo os seus
limites.
O art. 187 está dizendo: o ilícito objetivo é caracterizado pelo exercício abusivo de um
direito. Observe que o ato ilícito objetivo não nasceu ilícito. Ele nasceu lícito e se tornou ilícito
pelo seu exercício anormal, irregular.
Para você não confundir, a doutrina brasileira apelidou o ato ilícito objetivo de
abuso do direito. É aquela ilicitude caracterizada pelo exercício da norma, irregular do direito.
É lógico que você só vai pensar no ato ilícito objetivo quando você estiver dentro do campo da
licitude. Isso porque o abuso do direito nasceu quando alguém, ao exercer o direito, excede o
seu limite. Esse excesso tem que ser controlado (como eu vou saber se um exercício de direito
é ou não abusivo) pela boa-fé objetiva, bons costumes, finalidade social e econômica. Esses
são os mecanismos de controle do excesso do exercício de um direito.
O que é o ato ilícito subjetivo? Violar direito e causar dano a outrem culposamente.
Nasce e morre ilícito. O ato ilícito objetivo nasceu lícito e se tornou ilícito pelo seu exercício
anormal. Por isso, que a ilicitude objetiva está no plano do exercício do direito. E não no plano
da violação do direito.
Além desses efeitos, o ato ilícito pode produzir infinitos efeitos previstos na norma.
Basta que a norma indique, que esses efeitos serão possíveis. Toda ilicitude é normativa e
seus efeitos também. Exemplos:
Vamos abrir um parêntesis para uma informação importante sobre o art. 557.
Revogação da doação é matéria muito importante que vai caindo bastante em concurso.
Revogar é retratar, voltar atrás, se arrepender. Revogação da doação é expressão lamentável
porque o doador não está voltando atrás, mesmo porque a doação é irrevogável. A revogação
da doação nada mais é do que a perda de eficácia do contrato de doação por um ato
superveniente praticado pelo donatário. Ou seja, as hipóteses de revogação da doação
tecnicamente não constituem revogação. O doador não está se retratando, mas ajuizando uma
ação para que o juiz suspenda a eficácia do ato. Pois bem, no Código Civil, duas são as
causas de revogação da doação. Cabe revogação da doação por ingratidão do donatário (em
toda e qualquer doação) e por descumprimento de encargo (somente nas doações onerosas,
com encargo, óbvio).
O Código Civil diz que o prazo para a propositura da ação de revogação da doação por
ingratidão do donatário é de 1 ano. Prazo decadencial. E qual é o prazo decadencial para a
propositura da revogação da doação por descumprimento de encargo? O código esqueceu.
Esqueceu! Não tem previsão no código. Ele simplesmente esqueceu de estabelecer um prazo
de revogação da doação por descumprimento de encargo. Se restringiu a estabelecer um
prazo para a revogação da doação por ingratidão, ação personalíssima, que só pode ser
proposta pelo doador, salvo na hipótese de homicídio que, evidentemente, serão os seus
herdeiros. Mas, descumprimento de encargo, qual é o prazo? Não tem. E como a doutrina
resolve? Vem estabelecendo dois critérios para tentar indicar um prazo para essa ação:
Flávio Tartuce – Esse prazo seria de 10 anos, com base na cláusula geral de
prescrição do art. 205, do Código Civil: toda ação condenatória sem prazo prescrito em lei vai
seguir o prazo de 10 anos. Eu tenho uma objeção: esse prazo é uma cláusula geral de
prescrição. E aqui é caso de decadência porque não se trata de ação condenatória, mas
constitutiva. E em se tratando de ação constitutiva, não é possível utilizar uma cláusula geral
de prescrição até porque os fundamentos da prescrição e da decadência são distintos.
Afastado o cabimento do prazo de dez anos, qual seria o prazo? Fico com a opinião do
professor sinopse, Carlos Roberto Gonçalves:
Carlos Roberto Gonçalves – Este prazo para a ação de revogação da doação por
descumprimento de encargo também será de 1 ano. Por analogia da revogação da revogação
por ingratidão. Eu voto com ele. Me parece que esse prazo é de 1 ano e não de 10. Essa é
uma posição mais razoável.
Se você estiver em prova objetiva, a resposta é: não tem prazo porque o Código não
estabeleceu prazo para a ação de revogação de doação por descumprimento de encargo.
Mas eu abri esse parêntesis para falar do art. 557, para saber o que significa ingratidão
do donatário. Quais são os atos que geram ingratidão do donatário? Quando é que o donatário
é ingrato?
33 - Art. 557: o novo Código Civil estabeleceu um novo sistema para a revogação da
doação por ingratidão, pois o rol legal previsto no art. 557 deixou de ser taxativo, admitindo,
excepcionalmente, outras hipóteses.
Ora, na medida em que se diz isso, são admitidos outros tipos. Então, vale tudo?
Qualquer outro tipo pode ser considerado pelo juiz? Calma, não é assim. A interpretação do
art. 557 estará submetida ao Princípio da Tipicidade Finalística. Significa: o juiz pode
considerar outros tipos, outras circunstancias, outras condutas, que se adequem à finalidade
daqueles tipos que estão previstos em lei. O juiz pode considerar outros fatos que estejam
adequados ao tipo, que se harmonizem com aquele tipo, que tenham a mesma finalidade. Daí
o nome: tipicidade finalística.
Olhando para o art. 557, no conceito de ingratidão, traz quatro hipóteses. Eu pergunto:
homicídio culposo pode ser considerado como ingratidão? Ele está adequado à mesma
finalidade do homicídio doloso? Não. Portanto, o juiz não pode. Mas ao invés de matar, faz
auxílio, induzimento ou instigação ao suicídio. Agora, o juiz pode considerá-lo ingrato? Sim
porque esse ato se adequa à finalidade do tipo. O X da questão, portanto, é saber se a conduta
a ser considera da pelo juiz se adequa à finalidade do tipo. Se há adequação, há tipicidade
finalística e é possível admitir outras situações previstas em lei. Essa é uma importantíssima
novidade. Caiu recentemente no MP/RJ. Por isso, eu abri esses parêntesis para lembrar que o
conceito de ingratidão do art. 557 é não taxativo, se adequando à tipicidade finalística.
Isso vale também para a indignidade (art. 1.814) e deserdação (arts. 1.962 e 1.963), no
campo do direito das sucessões.
Eu estou falando dos efeitos do ato ilícito que podem decorrer diferentes efeitos. Vou
lembrar de mais um exemplo de ilicitude, só para lhe provar que esse rol é exemplificativo e
que do ato ilícito pode gerar uma presunção contrária a quem o praticou. Ou seja, sempre que
se fala em ilicitude vamos ter efeitos jurídicos que estão previstos na norma. Isso que eu vou tô
falando é tão importante que caiu no MP/SP (2005). Olha o que perguntou: “O ato ilícito produz
efeitos”? Sim. “Por quê?” norma jurídica. Se a ilicitude veio prevista na norma, é a própria
norma que estabelece os seus efeitos. Só que nem todo efeito é responsabilidade civil. TJ/SC
(2003). “O ilícito é fato jurídico?” Sim. “O ilícito é ato jurídico volitivo?” não necessariamente. “O
ilícito é ato jurídico inconsciente?” Não necessariamente. O certo é que podemos perceber que
há em nosso sistema inúmeros efeitos para o ato ilícito que pode produzir uma infinidade de
efeitos e todos esses efeitos que podem decorrer de um ato ilícito estarão decorrendo da
norma.
Cite-se como exemplo, o caso em que foi considerada abusiva uma publicidade que
incitava as crianças à destruição de tênis velhos, que deveriam ser substituídos por outros
novos, situação tida como incentivadora da violência, abusando da inocência das crianças.
Abuso de direito art. 187 do CC: exerce o direito subjetivo ou o potestativo de modo
desproporcional, fere a boa-fé objetiva, o direito é exercido de forma distorcida a ponto de
violar a finalidade para a qual este direito fora concedido pelo ordenamento. Não olha o
elemento psicológico, não é conduta ilegal. A ilicitude ocorrerá devido à falta de legitimidade, o
ofensor viola materialmente os limites éticos do ordenamento jurídico (é ilícito na finalidade,
mas lícito na origem).
- O ato ilícito culposo é dito pela lei. Já no abuso do direito o juiz é quem diz o que é
ilícito, pois o abuso do direito é uma cláusula geral.
Por tudo isso, e pela concepção relativizada do direito de propriedade, constitui abuso de
direito a situação em que o proprietário se excede no exercício de qualquer um dos direitos
decorrentes do domínio, de forma a causar prejuízo a outrem como ocorre, por exemplo, no
caso de danos ambientais.
Neste sentido, dispõe o art. 1228, § 2º CC: São defesos os atos que não trazem ao
proprietário qualquer comodidade, ou utilidade, e sejam animados pela intenção de prejudicar
outrem. Deve-se ressaltar que também poderá ser configurado ato emulativo se o proprietário
tiver vantagens com o prejuízo alheio.
O §2º segundo, na parte final, faz com que a pessoa prejudicada tenha de provar que
estava com intenção de prejudicar. Deveria o codificador ter seguido a linha do art. 187. Como
se prova que o vizinho tem a intenção de prejudicar? Pablo entende que a parte final do
parágrafo é inútil pelo simples fato da dificuldade de se provar a intenção do vizinho.
FLÁVIO TARTUCE entende tratar-se de abuso de direito, pois contraria o fim social e
econômico da internet, além de ser atentatória à boa fé objetiva, pois uma pessoa que nunca
solicitou a mensagem a recebe, o que contraria a probidade e lealdade.
Além disso, pode-se dizer que o spammer viola garantias fundamentais, eis que utiliza-
se de informação privativa e até certo ponto íntima de uso exclusivo do internauta: o seu
endereço eletrônico.
É claro que se nós estivéssemos diante do conceito clássico de ato ilícito, que era um
conceito puramente subjetivo, jamais se poderia falar em ilicitude por venire porque no venire o
titular está exercendo um direito seu, mas está exercendo um direito seu depois de criar a
expectativa de que aquele direito não seria exercido.
O venire é admitido tanto no campo das relações privadas, quanto no campo das
relações de direito público.
Reserva mental – Também não se confunde o venire contra factum proprium com a
reserva mental porque a reserva mental está no campo do descumprimento contratual, do
inadimplemento contratual. O venire, em verdade, não se confunde com a reserva mental
porque a reserva mental é uma das espécies de descumprimento contratual.
E assim, você vai percebendo que o venire está atrelado na boa-fé objetiva, no
comportamento de alguém que criou uma expectativa de que não iria exercer determinado
direito e o faz, surpreendentemente.
Fredie Didier entende que é caso típico de venire e que ele está renunciando à
impenhorabilidade, portanto, que há supressão de direito, que há renúncia à
impenhorabilidade. Essa não é a posição do STJ.
OBS: o venire contra factum proprium tem aplicação também nas condutas no
processo, inclusive quanto às condutas do juízo.
Supressio
No venire o titular cria uma expectativa de que não vai exercer determinado direito
(nem ele nem ninguém), ele cria a expectativa de que aquele direito não será exercido.
Na supressio ele cria a expectativa de que alguém exercerá aquele direito em seu lugar
(aquele direito não será exercido por ele, mas será por outrem). Supressio para o titular e
surrectio para o terceiro.
O STJ vai admitindo a supressio e a surrectio com facilidade: REsp 356821/RJ e REsp
214680/SP. Nestes julgados, o STJ vai, tranquilamente, admitindo, acolhendo a alegação de
supressio e surrectio.
Surrectio
Tu quoque
“Tu quoque ou Estoppel nada mais é do que o venire contra factum proprium aplicado
no âmbito das obrigações contratuais.”
Exemplo: é o contratante que, embora não tenha cumprido suas obrigações, exige que
o outro o faça. Você está louco para dizer que isso é o exemplo típico de exceptio non
adimpleti contractus. Exceção do contrato não cumprido. Pensou nisso e acertou. Só que você
deve lembrar que a exceção do contrato não cumprido é exclusiva dos contratos onerosos e
bilaterais. Se o contrato não é bilateral, não é oneroso, não se admite a exceptio non adimpleti
contractus. A exceptio non adimpleti contractus pode ser afastada pela cláusula solve et repete.
A cláusula solve et repete é uma cláusula expressa que serve para afastar a exceptio non
adimpleti contractus. Se a exceptio non adimpleti contractus é tácita, significa que a solve et
repete só pode ser expressa. E a solve et repete é a cláusula que permite ao contratante exigir
o cumprimento das obrigações do outro sem ter cumprido as suas.
Agora você acompanha comigo. Atenção! O tu quoque é mais largo, é mais amplo, do
que a exceptio non adimpleti contractus porque o tu quoque chega onde a exceptio não
conseguiu chegar. O tu quoque vai estar presente sempre, porque diz respeito a abuso do
direito, mesmo que o contrato não admita a exceptio non adimpleti contractus. E quais são os
contratos que não admitem a exceptio non adimpleti contractus? Os contratos unilaterais
gratuitos ou os contratos que têm cláusula solve et repete. Esses não admitem a exceptio, mas
o tu quoque está ali porque o tu quoque é o abuso do direito no que tange às obrigações
contratuais.
O STJ ainda não julgou nada sobre isso, mas vai julgar agora e é um caso muitíssimo
interessante aqui da Bahia. É um contrato celebrado entre duas grandes empresas. Através
desse contrato, elas estipularam convenção de arbitragem caso ocorresse algum conflito.
Estipularam a decisão de um árbitro e não do juiz. A empresa interessada, alegando que a
outra descumpriu suas obrigações foi lá e o árbitro dirimiu o conflito. Dirimindo o conflito por
sentença arbitral a empresa vencida no laudo arbitral vai a juízo. Se você fosse o advogado da
empresa vencedora iria alegar o quê? Extinção do processo sem resolução do mérito por
inadequação da vida processual, uma vez que aquilo era caso de arbitragem. Sabe o que foi
que a empresa vencedora do laudo arbitral e ré na ação disse? Contestou dizendo: não
procedem as alegações do autor e não alegou a existência de arbitragem. Contestou dizendo
que não era verdade nada daquilo e foi mais longe: ofereceu reconvenção. E disse: “não fui eu
quem descumpriu as obrigações. Foi ela e estou reconvindo. Agora estou formulando um
pedido contra ela, apesar de ter sido vencedora no laudo arbitral.” O processo andou e nas
alegações finais sabe o que o réu alegou? Arbitragem! Tu quoque nele! E por quê? Porque ele
está se comportando de forma arbitrária. Era direito dele ter alegado arbitragem, mas na
medida em que ele contesta e oferece reconvenção sem alegar arbitragem e permite a
instalação da instrução do processo, agora é abuso lembrar da cláusula de arbitragem. O STJ
não julgou esse caso ainda, mas vai julgar e, seguramente, vai aplicar o tu quoque. Abuso do
direito no que tange ao campo das relações obrigacionais.
“Ocorre o dever de mitigar as próprias perdas quando o credor exerce um direito seu,
gerando prejuízo para si mesmo ou se omite de uma conduta que lhe geraria uma vantagem ou
eliminaria uma desvantagem.”
É abuso do direito do credor quando ele pratica um ato que lhe prejudica ou se omite
de uma conduta que lhe geraria uma vantagem ou que eliminaria uma desvantagem.
Recálculo das Astreintes (multa diária) – Meu nome foi inserido indevidamente no SPC.
Aí eu vou à Justiça e o juiz manda tirar, sob pena de multa diária de 1000 reais. Mas o réu não
cumpre a obrigação. Passa uma semana, dois meses. Ele não cumpriu e eu comuniquei o juiz
que ele não tinha cumprido. Eu fico esperando e já se passaram dois anos e dois anos depois
a dívida já está na casa de 1 milhão de reais e eu nunca comuniquei ao juiz. Sabe o que eu
vou fazer agora? Vou executar a multa e ao fazer isso, estou abusando do meu dinheiro que
não tinha natureza indenizatória, mas tinha natureza inibitória. Se tinha natureza inibitória era
para evitar o descumprimento e se o réu descumpriu, qual era o meu dever ético? Comunicar
ao juiz quanto tinha 15 dias, um mês, uma semana, sei lá! Se eu esperei dois anos e agora
executei estou fazendo de forma abusiva. O juiz deve, nessa hipótese, recalcular as Astreintes.
Ele faz o quê? Diminui o valor da multa e, com isso refaz o título executivo. Ele vai diminui o
valor da multa para que a execução não seja abusiva. Para que essa execução não viole a
natureza inibitória do título. Ele vai, portanto, diminuir o valor da multa, promovendo um
recálculo do título para impedir uma execução abusiva. Com esse exemplo, o STJ julgou o
AgRg 1075142/RJ (Luiz Felipe Salomão – Junho/2009) – para você ver a importância do duty
to mitigate the loss,
Direito à purgação da mora na locação dos imóveis urbanos – A Lei de Locações (Lei
8.245/91) diz expressamente que nas ações de despejo por falta de pagamento, o locatário
tem direito à purgação da mora. Tem direito de afastar o despejo pagando a dívida no curso do
procedimento. Ele só não pode exercer o direito à purgação da mora duas vezes no prazo de
12 meses. Sabe o que o locador faz, para impedir que o locatário tenha o direito de purgar a
mora? Ao invés de promover a ação de despejo com dois, três meses de inadimplemento, ele
deixa juntar um ano, um ano e meio, dois. Se o cara não pagou, agora é que não paga de jeito
nenhum. O juiz deve limitar o número de meses para a purgação da mora. Ou seja, o réu está
devendo 14, 16 meses, o juiz diz: “se ele pagar 4, a mora está purgada e afasta-se o despejo.”
E o resto? Cobrança autônoma. O credor tem o dever de minorar suas próprias perdas, tem o
dever de minorar o prejuízo violado.
Todos vão lembrar que nos termos dos arts. 389 e 395, do Código Civil, é direito da
parte requerer a rescisão contratual com todos os seus efeitos quando ocorrer o
descumprimento das obrigações pela outra parte. Toda vez que o contratante descumpre as
suas obrigações, toda vez que ocorre o inadimplemento contratual, surge para a outra parte o
direito à rescisão com todos os seus efeitos. Para quem não lembra quais são os efeitos da
rescisão de um contrato:
• Perdas e danos (multa) – normalmente já são previamente limitadas por cláusula penal.
• Honorários e custas
Estes são os efeitos da rescisão contratual. Extingue-se o contrato com todos esses
efeitos. Imagine o contrato de financiamento de automóvel em 24 parcelas. Dessas parcelas, o
devedor pagou 21 ou 22. Deixou de pagar as restantes. Ficou desempregado, por exemplo.
Não pagou 3 de 24 parcelas. Se não pagou, descumpriu. Se é assim, rescisão contratual nos
seus efeitos. O banco tem direito de ajuizar rescisão de contrato pedindo a devolução do carro.
“Com prazer. Devolvo o carro e você me devolve o meu dinheiro.” E o banco, muito honesto,
vai dizer: “devolvo, sim, mas antes vou fazer alguns abatimentos na forma da lei.” Art. 389. Eu
vou reter a multa, cláusula pena, vou reter juros e correção, honorários e custas e taxa de
ocupação (que é uma espécie de aluguel, afinal de contas, o devedor estava utilizando o
carro). Na hora que você somar isso tudo, significa que o cara devolve o carro e continua
devendo. Tudo isso porque ele deixou de pagar duas ou três parcelas. É direito do contratante
requerer a rescisão do contrato nesse caso? Sim, mas esse direito está sendo exercido
abusivamente.
Dois julgados exatamente desse caso: REsp 272739/MG e 293722/SP. Nesses dois
julgados, o STJ reconheceu o abuso do direito do credor no requerimento da rescisão. Ele não
perde o direito ao crédito. Ele perde o direito de rescindir o contrato. São coisas bem
diferentes.
Quem quiser pesquisar mais sobre o performance, vá ao site do STJ e ao TJ/RS. Você
verá uma grande quantidade de acórdãos tratando do substantial performance. Todavia, muito
embora os acórdãos que você encontrará sejam todos tratando do substantial performance
numa ótica quantitativa, eu queria que você deixasse claro no seu caderno. Anote agora: é
possível falar de substantial performance também pela ótica qualitativa. Em outras palavras: no
exemplo que eu dei (de 24 foram cumpridas 22), estou falando da ótica quantitativa.
Mas é possível falar no subtantial performance qualitativo. Eu me lembro dos
financiamentos de imóveis que têm um plano diferente. O devedor começa pagando uma
parcela muito alta e, na metade do contrato, a parcela já é quase irrisória porque ele começa
quitando a dívida para, lá no final, pagar os juros. Imagine que esse contrato é de dez anos.
Imagine que no 5º ano ele já pagou a dívida inteira e que dali pra frente ele só vai pagar juros.
Nesse momento houve o inadimplemento. Eu posso dizer que o inadimplemento foi mínimo?
Se eu olhar para o critério quantitativo, não. Mas se eu olhar para o critério qualitativo, sim,
porque a dívida já foi paga e agora ele só está pagando juros. Eu quero dizer, portanto, que o
substantial performance não atende somente a um critério quantitativo, mas também a um
critério qualitativo.
TV de Plasma – Em 2006 todo mundo comprou para ver a Copa. Quem vendeu,
vendeu a TV em perfeito estado e não contou que no sinal de TV analógico a imagem do
plasma deformava. O vendedor entregou a TV em perfeito estado, no prazo, mas descumpriu o
dever de informação.
Lada – Foi outro exemplo, julgado pelo STJ. Lada era um carro russo horroroso. E a
Lada vendia aquele carro e de repente parou de vender e parou de vender peças de reposição.
Aí você tinha um carro do ano. Se quebrou uma lanterna, tinha que mandar buscar na Rússia.
Violação positiva de contrato. O STJ obrigou a Lada a manter por cinco anos peças de
reposição no mercado.
Outdoors – TJ/SP julgou: Uma empresa queria fazer uma propaganda em placas de
outdoor de um produto muito caro, voltado para o público A. 20 placas foram espalhadas pela
cidade. E a empresa, mesmo sabendo que o produto era dirigido à classe A, espalhou as
placas pelos subúrbios e favelas. Cumpriu o contrato porque colocou as 20 placas, mas violou
positivamente o contrato.
O STJ vem admitindo a violação positiva de contrato: REsp 330261/SC. Nesse julgado,
o STJ admitiu violação positiva de contrato.
DA RESPONSABILIDADE CIVIL
Para Daniel Boulos, a ilicitude prevista no art. 186 é subjetiva, diferente da ilicitude
prevista no art. 187, que é objetiva, uma vez que, na definição do abuso de direito, o legislador
utilizou um critério apenas finalístico, qual seja, o desvio na finalidade que o ato deveria buscar.
O art. 927 representa uma síntese desse sistema dual consagrado pelo direito
brasileiro, pois reconhece a ilicitude subjetiva (com culpa) e a ilicitude objetiva (sem culpa).
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica
obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa,
nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo
autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
Convém, nesta oportunidade, trazer à baila os conceitos e as nuances que envolvem
os institutos baseados na boa-fé objetiva, um dos pilares da novel Codificação Civil.
Para minimizar ou evitar o abuso do direito, há mecanismos que procuram evitar que a
aplicação da lei se torne tirânica.
Este é, precisamente, o sentido da verwirkung, Instituto que impede que o titular
exercite seu direito, sempre que tenha criado, na contraparte, a partir de inércia prolongada ao
longo do tempo, a expectativa fundada de que não o faria valer, malgrado não fosse ainda o
caso de prescrição.
No Brasil, o Ilustre Ministro Ruy Rosado já explicara a importância que as referidas
teorias possuem no âmbito das relações contratuais:
"A teoria dos atos próprios, ou a proibição de venire contra factum proprium protege
uma parte contra aquela que pretenda exercer uma posição jurídica em contradição com o
comportamento assumido anteriormente. Depois de criar uma certa expectativa, em razão de
conduta seguramente indicativa de determinado comportamento futuro, há quebra dos
princípios de lealdade e de confiança se vier a ser praticado ato contrário ao previsto, com
surpresa e prejuízo à contraparte.
Aquele que vende um estabelecimento comercial e auxilia, por alguns dias, o novo
comerciante, inclusive preenchendo pedidos e novas encomendas, fornecendo o seu próprio
número de inscrição fiscal, não pode depois cancelar tais pedidos, sob alegação de uso
indevido de sua inscrição. O credor que concordou, durante a execução do contrato de
prestações periódicas, com o pagamento em lugar ou tempo diverso do convencionado, não
pode surpreender o devedor com a exigência literal do contrato. Para o reconhecimento da
proibição é preciso que haja univocidade de comportamento do credor e real consciência do
devedor quanto à conduta esperada”.
Na supressio, um direito não exercido durante um determinado lapso de tempo não
poderá mais sê-lo, por contrariar a boa-fé.
O contrato de prestação duradoura, que tenha passado sem cumprimento durante
longo tempo, por falta de iniciativa do credor, não pode ser exigido, se o devedor teve motivo
para pensar extinta a obrigação e programou sua vida nessa perspectiva. O comprador que
não retira as mercadorias não pode obrigar ao vendedor a guarda dos bens por tempo
indeterminado.
Enquanto a prescrição encobre a pretensão pela só fluência do tempo, a supressio
exige, para ser reconhecida, a demonstração de que o comportamento da parte era
inadmissível, segundo o princípio da boa fé.
A surrectio é a outra face da supressio, pois consiste no nascimento de um direito,
sendo nova fonte de direito subjetivo, conseqüente à continuada prática de certos atos. A
duradoura distribuição de lucros de sociedade comercial, em desacordo com os estatutos,
pode gerar o direito de recebê-los do mesmo modo, para o futuro."
Figuras típicas delineadas pela casuística dos tribunais alemães vão determinar o
alcance do exercício inadmissível de posições jurídicas, sob as seguintes formas:
a) exceptio doli: Fundamentado em bases romanas, este instituto é definido por
Menezes Cordeiro, como “o poder que uma pessoa tem de repelir a pretensão do autor, por
este ter incorrido em dolo”;
b) inalegabilidade de nulidades formais: Ocorre quando “o exercício de um direito
que implique a alegação de nulidade formal pode ser abusivo por contrariar a boa-fé”;
c) supressio: É “a situação do direito que, não tendo sido em certas circunstâncias,
exercido durante um determinado lapso de tempo, não possa mais sê-lo por, de outra forma, se
contrariar a boa-fé”,
d) surrectio: De semelhante modo, erige-se ao lado da supressio, a denominada
surrectio, apontada por Menezes Cordeiro, como instituto que faz surgir um direito que não
existe juridicamente, mas que existe na efetividade social;
e) tu quoque: Define-se como a “regra pela qual a pessoa que viole uma norma
jurídica não poderia, sem abuso, exercer a situação jurídica que essa mesma norma lhe tivesse
atribuído”;
f) o desequilíbrio no exercício de direitos: Hipótese ainda apontada por Menezes
Cordeiro, encontra-se no despropósito entre o exercício do direito e os efeitos que dele
derivam, gerando um desequilíbrio.
g) duty to mitigate the loss: Tal teoria tem por base o princípio da boa-fé objetiva,
inspirado no art. 77 da Convenção de Viena:
“A parte que invoca a quebra do contrato deve tomar as medidas razoáveis, levando em
consideração as circunstâncias, para limitar a perda, nela compreendido o prejuízo resultante
da quebra. Se ela negligencia em tomar tais medidas, a parte faltosa pode pedir a redução das
perdas e danos, em proporção igual ao montante da perda que poderia ter sido diminuída”.
Atualmente pode-se dizer que tal teoria tem guarida no art. 422, do CC, segundo o qual “Os
contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios da probidade e boa-fé”.
2 - Nexo de causalidade:
Conceito: O nexo causal traduz o liame jurídico que vincula o agente ao prejuízo
causado.
Teorias: Há 3 teorias explicativas fundamentais sobre o nexo de causalidade:
Teoria da equivalência de condições, ou da conditio sine qua non:
Sustenta que todo antecedente que concorra para o resultado é causa. Para a doutrina
clássica, é adotada pelo CP, no seu art. 13, com os temperamentos trazidos pela teoria da
imputação objetiva. Contudo, é preciso estar atento às críticas encetadas a essa teoria no
sentido de, se se levar essa teoria aos extremos, a responsabilidade alcançaria infinitos
comportamentos, podendo vir a implicar mesmo o marceneiro que fez a cama onde se
cometeu o adultério. Isto é, a referida teoria não estabelece um limite para a fixação da causa.
No Direito Civil essa teoria não é aceita.
Teoria da causalidade adequada:
Desenvolvida por Von Kries, sustenta que nem todo antecedente é causa. Somente é
causa o antecedente abstratamente idôneo ou adequado a produzir o resultado danoso. Ou
seja, o antecedente que, segundo um juízo de razoabilidade e probabilidade, e, segundo a
experiência comum da vida, determina o resultado danoso.
Por exemplo, se X prende Y no banheiro de um avião, e, em decorrência disso, Y é
obrigado a pegar um vôo diferente do inicialmente planejado, vindo a sofrer acidente aéreo do
qual resulta a sua morte, não se pode responsabilizar X pela eventual morte de Y, pois a
conduta de X, abstratamente analisada, não é causa adequada ao evento morte.
Adotada no direito argentino e por grande parte da doutrina brasileira (ex: Jean
Carbonnier, irmãos Mazzaud, Andre Tunc, Cavalieri Filho, Washington de Barros Monteiro,
parte da doutrina argentina), encontrando também eco na jurisprudência.
Teoria da causalidade direta e imediata, ou da necessariedade do dano, ou da
interrupção do nexo causal:
Defendida por Tepedino, Carlos Roberto Gonçalves, Agostinho Alvim, e pelo próprio
professor Pablo Stolze, consoante essa doutrina, causa é apenas o antecedente que determina
um resultado como sua conseqüência direta e imediata.
Embora as duas últimas teorias sejam semelhantes, a teoria da causalidade direta é
mais objetiva, e explica melhor as concausas relativamente independentes (ex: X dá um soco
em Y; Y é socorrido por ambulância, que se envolve em acidente e ocasiona, por si, a morte de
Y o soco de X não enseja como conseqüência direta e imediata a morte de Y).
Além disso, o CC/02 adotou essa teoria, em seu art. 403:
Art. 403. Ainda que a inexecução resulte de dolo do devedor, as perdas e danos só
incluem os prejuízos efetivos e os lucros cessantes por efeito dela direto e imediato,
sem prejuízo do disposto na lei processual.
3 – Dano ou prejuízo:
Sem dano ou prejuízo não há responsabilidade civil. O mero aborrecimento, percalço
da vida comum, não gera responsabilidade civil.
Conceito: O dano ou prejuízo traduz lesão ao interesse jurídico tutelado material ou
moral
O dano material (lucros cessantes e danos emergentes) constituem prejuízos ou
perdas ao patrimônio corpóreo de alguém.
Requisitos do dano indenizável:
Lesão a interesse jurídico: nem todo dano interessa à responsabilidade civil. Na
Apelação Cível 7000.822.0634, por exemplo, o TJRS entendeu que o término de
namoro não traduz interesse jurídico tutelado, para efeito de responsabilidade civil,
mesmo se tratando de relacionamento prolongado;
Certeza do dano: o dano não pode ser hipotético.
Relativizando esse requisito, a doutrina francesa desenvolveu a doutrina da indenização
pela perda de uma chance (perte d’une chance). Segundo Fernando Gaburri, a perda de uma
chance pode ser indenizável, por afastar uma expectativa favorável ao lesado. Isso ocorre nos
casos em que o ato ilícito praticado por outrem retira da vítima a oportunidade de, futuramente,
melhorar sua situação atual.
Na Apel. Cível 7000.0958868, o TJRS reconhece essa teoria, em face de um advogado
que perdeu prazo para interposição de um recurso, ainda que não se possa saber qual seria o
resultado de um eventual recurso.
Quanto ao tema – perda de uma chance – tem-se o Enunciado 444 da V Jornada de Direito
Civil: Art. 927. A responsabilidade civil pela perda de chance não se limita categoria de danos
extrapatrimoniais, pois, conforme as circunstâncias do caso concreto, a chance perdida pode
apresentar também a natureza jurídica de dano patrimonial. A chance deve ser séria e real,
não ficando adstrita a percentuais apriorísticos.
A Turma decidiu não ser aplicável a teoria da perda de uma chance ao candidato que pleiteia
indenização por ter sido excluído do concurso público após reprovação no exame psicotécnico.
De acordo com o Min. Relator, tal teoria exige que o ato ilícito implique perda da oportunidade
de o lesado obter situação futura melhor, desde que a chance seja real, séria e lhe proporcione
efetiva condição pessoal de concorrer a essa situação. No entanto, salientou que, in casu, o
candidato recorrente foi aprovado apenas na primeira fase da primeira etapa do certame, não
sendo possível estimar sua probabilidade em ser, além de aprovado ao final do processo,
também classificado dentro da quantidade de vagas estabelecidas no edital. AgRg no REsp
1.220.911-RS, Rel. Min. Castro Meira, julgado em 17/3/2011.
A teoria da perda de uma chance pode ser utilizada como critério para a apuração de
responsabilidade civil ocasionada por erro médico na hipótese em que o erro tenha reduzido
possibilidades concretas e reais de cura de paciente que venha a falecer em razão da doença
tratada de maneira inadequada pelo médico. De início, pode-se argumentar ser impossível a
aplicação da teoria da perda de uma chance na seara médica, tendo em vista a suposta
ausência de nexo causal entre a conduta (o erro do médico) e o dano (lesão gerada pela perda
da vida), uma vez que o prejuízo causado pelo óbito da paciente teve como causa direta e
imediata a própria doença, e não o erro médico. Assim, alega-se que a referida teoria estaria
em confronto claro com a regra insculpida no art. 403 do CC, que veda a indenização de danos
indiretamente gerados pela conduta do réu. Deve-se notar, contudo, que a responsabilidade
civil pela perda da chance não atua, nem mesmo na seara médica, no campo da mitigação do
nexo causal. A perda da chance, em verdade, consubstancia uma modalidade autônoma de
indenização, passível de ser invocada nas hipóteses em que não se puder apurar a
responsabilidade direta do agente pelo dano final. Nessas situações, o agente não responde
pelo resultado para o qual sua conduta pode ter contribuído, mas apenas pela chance de que
ele privou a paciente. A chance em si – desde que seja concreta, real, com alto grau de
probabilidade de obter um benefício ou de evitar um prejuízo – é considerada um bem
autônomo e perfeitamente reparável. De tal modo, é direto o nexo causal entre a conduta (o
erro médico) e o dano (lesão gerada pela perda de bem jurídico autônomo: a chance).
Inexistindo, portanto, afronta à regra inserida no art. 403 do CC, mostra-se aplicável a teoria da
perda de uma chance aos casos em que o erro médico tenha reduzido chances concretas e
reais que poderiam ter sido postas à disposição da paciente. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.
Não é possível a fixação da indenização pela perda de uma chance no valor integral
correspondente ao dano final experimentado pela vítima, mesmo na hipótese em que a teoria
da perda de uma chance tenha sido utilizada como critério para a apuração de
responsabilidade civil ocasionada por erro médico. Isso porque o valor da indenização pela
perda de uma chance somente poderá representar uma proporção do dano final experimentado
pela vítima. REsp 1.254.141-PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/12/2012.
Tem direito a ser indenizada, com base na teoria da perda de uma chance, a criança que, em
razão da ausência do preposto da empresa contratada por seus pais para coletar o material no
momento do parto, não teve recolhidas as células-tronco embrionárias. STJ. 3ª Turma. REsp
1.291.247-RJ, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 19/8/2014 (Info 549).
Para o STJ, não se está diante de situação de dano hipotético (o que não renderia ensejo a
indenização), mas sim de caso claro de aplicação da teoria da perda de uma chance. A
responsabilidade é por perda de uma chance por serem as células-tronco, cuja retirada do
cordão umbilical deve ocorrer no momento do parto, o grande trunfo da medicina moderna para
o tratamento de inúmeras patologias consideradas incuráveis. É possível que o dano final
nunca venha a se implementar, bastando que a pessoa recém-nascida seja plenamente
saudável, nunca desenvolvendo qualquer doença tratável com a utilização das células-tronco
retiradas do seu cordão umbilical. O certo, porém, é que perdeu, definitivamente, a chance de
prevenir o tratamento dessas patologias. Essa chance perdida é, portanto, o objeto da
indenização.
Subsistência do dano: o dano, para ser indenizável, não pode ter sido objeto de uma
reparação (in natura, extrajudicial, etc.) Deve ser mantido o estado de prejuízo (v. MHD).
Questões especiais de concurso envolvendo dano:
Dano moral in re ipsa: trata-se do dano que, dada a sua natureza, dispensa a prova
em juízo (v. REsp 296634 – RN; 357404 – RJ; 718618 – RS). Ex: negativação indevida do
nome no SPC ou SERASA.
Dano reflexo ou em ricochete: ocorre quando o prejuízo atinge terceira pessoa,
ligada à vítima direta do ilícito (v. REsp 254418 – RJ; Apelação Cível 598.060.713 – TJRS) (ex:
pai é baleado e vem a óbito. Seus filhos serão as vítimas indiretas).
O dano reflexo não deve ser confundido com o simples dano indireto, em que uma
mesma vítima sofre prejuízos em cadeia (ex: X compra uma vaca, que veio com uma doença
(1º dano). X coloca essa vaca em contato com seu rebanho, e essa vaca contamina outras
(danos em cadeia).
Partindo-se da premissa de que o dano mensura a indenização a ser paga, o
ordenamento jurídico permite que o juiz reduza o quantum indenizatório, com base no
grau de culpa?
Normalmente, a indenização é fixada com base na extensão do dano, como preceitua o
art. 944 do CC/02. Entretanto, o CC/02 trouxe dispositivo, bastante criticado pela doutrina (v.
Rui Stoco), que permite a redução do valor da indenização devida se o juiz verificar ausência
de gravidade na culpa (art. 944, parágrafo único):
Art. 944. A indenização mede-se pela extensão do dano.
Parágrafo único. Se houver excessiva desproporção entre a gravidade da culpa e o
dano, poderá o juiz reduzir, eqüitativamente, a indenização.
Dano social: Muito além da simples reparação dos danos materiais e morais, aqui já
consolidada, Antonio Junqueira de Azevedo propõe uma nova modalidade: o dano social. Para
ele, “os danos sociais, por sua vez, são lesões à sociedade, no seu nível de vida, tanto por
rebaixamento de seu patrimônio moral – principalmente a respeito da segurança – quanto por
diminuição na qualidade de vida”. O conceito mantém relação direta com a principiologia
adotada pelo Código Civil de 2002, que escolheu entre um de seus regramentos básicos a
socialidade: a valorização do nós em detrimento do eu, a superação do caráter individualista e
egoísta da codificação anterior. Justamente por isso, os grandes ícones privados têm
importante função social: a propriedade, o contrato, a posse, a família, a empresa e também a
responsabilidade civil.
A função social da responsabilidade civil deve ser encarada como uma análise do
instituto de acordo com o meio que o cerca, com os objetivos que as indenizações assumem
perante o meio social. Mais do que isso, a responsabilidade civil não pode ser desassociada da
proteção da pessoa humana, e da sua dignidade como valor fundamental.
O dano social está caracterizado, por exemplo, na responsabilidade civil do Estado por
omissão, particularmente pelas balas perdidas.
Nesse sentido, cumpre anotar Enunciado 456 da V Jornada de Direito Civil: Art. 944. A
expressão “dano” no art. 944 abrange não só os danos individuais, materiais ou imateriais, mas
também os danos sociais, difusos, coletivos e individuais homogêneos a serem reclamados
pelos legitimados para propor ações coletivas.
Parágrafo único. No caso do inciso II, o ato será legítimo somente quando as
circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do
indispensável para a remoção do perigo.
Estado de necessidade;
Legítima defesa;
Exercício regular do direito;
Estrito cumprimento do dever legal;
Caso fortuito ou força maior;
Culpa exclusiva da vítima;
Fato de terceiro.
Art. 930. No caso do inciso II do art. 188 (estado de necessidade), se o perigo ocorrer
por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a
importância que tiver ressarcido ao lesado.
Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujos
efeitos não era possível evitar ou impedir.
Fortuito interno e externo:
Interno: o fortuito ocorre durante o próprio processo de elaboração do produto ou
execução do serviço, não excluindo a responsabilidade civil.
Externo: o acontecimento se dá após a colocação do produto no mercado ou após a
prestação do serviço. Esse fortuito exclui a responsabilidade civil, pois é alheio à
atividade do fornecedor, rompendo o nexo causal.
Na V Jornada de Direito Civil aprovou-se o enunciado: 443 com o seguinte teor: Arts.
393 e 927. O caso fortuito e a força maior somente serão considerados como excludentes da
responsabilidade civil quando o fato gerador do dano não for conexo à atividade desenvolvida
O STJ tem entendido o assalto à mão armada em ônibus como fortuito externo. Ele
exime a responsabilidade civil da empresa de transportes, pois os ministros entendem que a
empresa também é vítima da falta de segurança pública. Todavia, existe ainda o entendimento
respeitável, posto não predominante, no sentido de que se o assalto é freqüente, haverá
previsibilidade e a empresa transportadora será responsável por ele (há julgados nesse sentido
no TJRO e no TJRJ). Portanto, há de se analisar o caso concreto à luz da previsibilidade.
Obs.: Há hipóteses legais em que o caso fortuito e força maior não excluem a
responsabilidade civil:
(ii) perpetuatio obligationis –
Art. 399. O devedor em mora responde pela impossibilidade da prestação, embora
essa impossibilidade resulte de caso fortuito ou de força maior, se estes ocorrerem
durante o atraso; salvo se provar isenção de culpa, ou que o dano sobreviria ainda
quando a obrigação fosse oportunamente desempenhada.
(iii) do mandatário (procurador) que agiu contra a proibição do mandante. Vide:
CC/02 - Art. 667, § 1º.
Art. 667 - O mandatário é obrigado a aplicar toda sua diligência habitual na execução
do mandato, e a indenizar qualquer prejuízo causado por culpa sua ou daquele a quem
substabelecer, sem autorização, poderes que devia exercer pessoalmente.
§ 1º Se, não obstante proibição do mandante, o mandatário se fizer substituir na
execução do mandato, responderá ao seu constituinte pelos prejuízos ocorridos sob a
gerência do substituto, embora provenientes de caso fortuito, salvo provando que o
caso teria sobrevindo, ainda que não tivesse havido substabelecimento.
§ 2º Havendo poderes de substabelecer, só serão imputáveis ao mandatário os danos
causados pelo substabelecido, se tiver agido com culpa na escolha deste ou nas
instruções dadas a ele.
§ 3º Se a proibição de substabelecer constar da procuração, os atos praticados pelo
substabelecido não obrigam o mandante, salvo ratificação expressa, que retroagirá à
data do ato.
§ 4º Sendo omissa a procuração quanto ao substabelecimento, o procurador será
responsável se o substabelecido proceder culposamente.
(iv) comodatário que salva primeiro os seus bens – Art. 583 do CC/02.
Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros do
comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do comodante,
responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortuito, ou força
maior.
Culpa exclusiva da vítima:
É a defesa mais comum dos demandados na responsabilidade civil. Ela rompe o nexo
de causalidade, excluindo a responsabilidade. Aplicável também no Direito Administrativo (v.
CABM) e no Direito do Consumidor, em favor do fornecedor (ex: mesmo diante do aviso de não
plugar o aparelho em tomada 220V, o consumidor pluga o aparelho e o danifica).
No campo dos acidentes automobilísticos, o evento perto de passarela exclui a
responsabilidade do motorista. O STJ tem entendido (RESP 439408/SP) que não se presume a
culpa exclusiva da vítima, tendo de ser provada.
A culpa concorrente da vítima não exclui a responsabilidade, apenas atenua a
indenização. A doutrina consumerista tem certa resistência à tese da culpa concorrente: há
quem entenda que a redução da indenização somente seria aplicável nas relações regidas pelo
CC/02, por falta de previsão na legislação do consumidor.
Fato de Terceiro:
O fato de terceiro também é causa excludente da responsabilidade civil por ruptura do
nexo jurídico de causalidade. É pacificamente aceito pela doutrina e jurisprudência, apesar de
não estar previsto expressamente no CC/02. Ex: Um ator dispara contra outro, acreditando que
seu revólver está carregado com balas de festim, mas o revólver estava, em verdade,
carregado com balas de verdade. O ator alvejado morre.
Obs.: O enunciado da Súmula 187 do STF proíbe o transportador de alegar, em
defesa, fato de terceiro, em virtude do princípio da segurança. A empresa de transporte aéreo
GOL, por exemplo, não pode alegar fato de terceiro no caso do acidente com o jato Legacy,
ainda que os pilotos desta aeronave sejam considerados culpados pelo referido acidente.
Súmula 187 do STF: A responsabilidade contratual do transportador, pelo
acidente com o passageiro, não é elidida por culpa de terceiro, contra o qual tem
ação regressiva.
Teoria do corpo neutro: Segundo o professor Pablo Stolze, a teoria do corpo neutro é
uma especial aplicação do fato de terceiro nos acidentes de trânsito. É a situação na qual o
agente físico do dano, sem atuação voluntária, atinge veículo de terceiro inocente. Ex:
engavetamento.
Existe entendimento no sentido de que a vítima poderia demandar o mero agente físico
da ação e este interporia ação regressiva contra o verdadeiro culpado. No entanto, por não
haver previsão específica, o melhor entendimento, amparado no Superior Tribunal de Justiça
(REsp n.º 54.444/SP), é o de que a vítima deve demandar diretamente o causador jurídico do
dano, com base na teoria do corpo neutro.
Exemplo de situação em que se aplica a referida teoria: condutor de caminhão fecha
um Ford Ka (que trafegava regularmente), arremessando-o no passeio, causando ferimentos a
um transeunte.
Na situação acima, há corrente jurisprudencial (v. RT 646/89 e RT 437/127) no sentido
de que, envolvido terceiro inocente, o condutor do Ford Ka deverá indenizá-lo, cabendo ação
regressiva em face do condutor do caminhão, verdadeiro culpado. Trata-se de uma aplicação
analógica dos art. 929 e 930, de forma equivocada, pois o causador do dano também foi vítima.
A segunda corrente, sustentada pelo STJ (v. REsp 54444/SP), é no sentido de que, quando um
veículo for arremessado, como um corpo neutro (“bola branca de bilhar”), a vítima deve
demandar diretamente contra o condutor do caminhão, o terceiro causador do dano.
Todavia, há situações em que o ato praticado por terceiro poderá responsabilizar outra
pessoa. A nova codificação trouxe um rol, nos Arts. 932 e 933, em que determinadas pessoas
responderão por atos praticados por terceiros sujeitos ao seu cuidado ou vigilância.
O art. 933 do CC/02 traz a responsabilidade civil por ato de terceiro, consagrando a
responsabilidade objetiva:
Art. 933. As pessoas indicadas nos incisos I a V do artigo antecedente, ainda que não
haja culpa de sua parte, responderão pelos atos praticados pelos terceiros ali referidos.
Art. 932. São também responsáveis pela reparação civil:
I - os pais, pelos filhos menores que estiverem sob sua autoridade e em sua
companhia;
II - o tutor e o curador, pelos pupilos e curatelados, que se acharem nas mesmas
condições;
Os pais (bem como tutores e curadores) respondem pelos atos de seus filhos menores.
No CC/16, o art. 156 dizia que os menores relativamente capazes (16 a 21 anos) equiparavam-
se aos maiores pelos ilícitos que praticassem. Havia responsabilidade passiva entre esse
menor e o seu representante. Porém, caso o menor fosse absolutamente incapaz, os pais
responderiam sozinhos, sem equiparação, pois o menor absolutamente incapaz era
considerado inimputável e, portanto, irresponsável por seus atos, e, conseqüentemente, não
responderia, mesmo que seus responsáveis não pudessem pagar, e que o menor tivesse
grande patrimônio.
Parágrafo único. A indenização prevista neste artigo, que deverá ser eqüitativa, não
terá lugar se privar do necessário o incapaz ou as pessoas que dele dependem.
O incapaz só responderá perante a vítima se os seus responsáveis não dispuserem de
condições econômicas, ou não tiverem a obrigação de indenizar. Na verdade, a
responsabilidade subsidiária não passa de uma responsabilidade solidária com preferência.
Hipóteses em que o representante legal não tem obrigação de indenizar a vítima pelo
dano causado pelo menor, recaindo o dever sobre o incapaz:
Medida sócio-educativa de reparação pecuniária do ECA: em caráter pedagógico, o
juiz pode impor ao menor a obrigação de reparar o dano, imputando-lhe, por exemplo, as
despesas de limpeza de um muro pichado com sua mesada. Corrobora essa conclusão o
Enunciado 40 da I Jornada de Direito Civil.
Art. 928, parágrafo único: Cumpre salientar que, para indenizar, o patrimônio do menor
não pode ser totalmente esgotado. A idéia constante do parágrafo único do art. 928 guarda
conexão com a Teoria do Estatuto Jurídico do Patrimônio Mínimo (Luiz Edson Fachin),
segundo a qual, numa perspectiva civil-constitucional, as normas das legislações ordinárias
devem resguardar a cada pessoa um mínimo para assegurar a vida digna. Essa é a idéia
refletida nos Enunciados 39 e 449 das Jornadas de Direito Civil.
Casal separado: No caso de casal separado, terá responsabilidade quem estiver com a
guarda do menor (salvo se, no momento do ato ilícito, o menor estava visitando o outro pai). O
STJ, no REsp 540459/RS, interpretou literalmente a responsabilidade dos pais, de maneira que
o dever de indenizar recairá apenas àquele que detinha a autoridade e esteve com o incapaz
em sua companhia quando do ilícito. O professor critica esse posicionamento, pois, em geral,
ele acaba por excluir a responsabilidade do pai que não tem a guarda, sendo que, muitas
vezes, esse pai participa ativamente da educação do menor.
Essa crítica doutrinária é bem explicitada no Enunciado 450 da V Jornada: Art. 932, I.
Considerando que a responsabilidade dos pais pelos atos danosos praticados pelos filhos
menores é objetiva, e não por culpa presumida, ambos os genitores, no exercício do poder
familiar, são, em regra, solidariamente responsáveis por tais atos, ainda que estejam
separados, ressalvado o direito de regresso em caso de culpa exclusiva de um dos genitores
CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE DOS PAIS E DA AVÓ EM FACE DE ATO
ILÍCITO PRATICADO POR MENOR. SEPARAÇÃO DOS PAIS. PODER FAMILIAR EXERCIDO
POR AMBOS OS PAIS. DEVER DE VIGILÂNCIA DA AVÓ. REEXAME DE FATOS. INCIDÊNCIA
DA SÚMULA 7/STJ. DISSÍDIO JURISPRUDENCIAL COMPROVADO.
1. O Tribunal a quo manifestou-se acerca de todas as questões relevantes para a solução da
controvérsia, tal como lhe fora posta e submetida. Não cabe alegação de violação do artigo 535
do CPC, quando a Corte de origem aprecia a questão de maneira fundamentada, apenas não
adotando a tese da recorrente. Precedentes.
2. Ação de reparação civil movida em face dos pais e da avó de menor que dirigiu veículo
automotor, participando de "racha", ocasionando a morte de terceiro. A preliminar de
ilegitimidade passiva dos réus, sob a alegação de que o condutor do veículo atingiu a
maioridade quando da propositura da ação, encontra-se preclusa, pois os réus não
interpuseram recurso em face da decisão que a afastou.
3. Quanto à alegada ilegitimidade passiva da mãe e da avó, verifica-se, de plano, que não
existe qualquer norma que exclua expressamente a responsabilização das mesmas, motivo
pelo qual, por si só, não há falar em violação aos arts. 932, I, e 933 do CC.
4. A mera separação dos pais não isenta o cônjuge, com o qual os filhos não residem, da
responsabilidade em relação ao atos praticados pelos menores, pois permanece o dever de
criação e orientação, especialmente se o poder familiar é exercido conjuntamente. Ademais,
não pode ser acolhida a tese dos recorrentes quanto a exclusão da responsabilidade da mãe,
ao argumento de que houve separação e, portanto, exercício unilateral do poder familiar pelo
pai, pois tal implica o revolvimento do conjunto fático probatório, o que é defeso em sede de
recurso especial. Incidência da súmula 7/STJ.
5. Em relação à avó, com quem o menor residia na época dos fatos, subsiste a obrigação de
vigilância, caracterizada a delegação de guarda, ainda que de forma temporária. A insurgência
quanto a exclusão da responsabilidade da avó, a quem, segundo os recorrentes, não poderia
se imputar um dever de vigilância sobre o adolescente, também exigiria reapreciação do
material fático-probatório dos autos. Incidência da súmula 7/STJ.
(omissis) 7. Recurso especial parcialmente conhecido e, na extensão, provido. (REsp
1074937/MA, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
01/10/2009, DJe 19/10/2009)
Empregado e comitente:
Súmula 341 STF: É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do
empregado ou preposto.
Esta súmula foi derrubada, pois, como visto, com a vigência do CC/02, não mais vigora
a presunção de culpa, sendo a responsabilidade, nesses casos, objetiva.
A teoria que explica a responsabilidade do empregador pelo ato do empregado é
denominada teoria da substituição. Entende-se que o empregador substitui o empregado no
pagamento à vítima.
Hotéis: A responsabilidade solidária dos donos de hotéis por atos de seus hóspedes se
baseia no dever de segurança, segundo José de Aguiar Dias. Complementa Sérgio Cavalieri
Filho que a responsabilidade é objetiva, por se tratar de relação de consumo.
Escolas: Os donos de escola respondem pelos atos de seus educandos menores, pois,
no momento em que os responsáveis deixam seus filhos na escola, há a transferência da
guarda provisória da criança (v. Cáio Mário). A escola passa a ser responsável pela segurança
da criança e dos atos que ela praticar.
Atenção! Se o educando for maior, em tese, não há responsabilidade da escola.
Entretanto, se houver omissão da escola, pode-se verificar nexo causal, acarretando a sua
responsabilidade.
V - os que gratuitamente houverem participado nos produtos do crime, até a
concorrente quantia.
Ex. o receptador que acondiciona o produto do crime participa gratuitamente e terá
responsabilidade solidária. Aplicação do princípio que veda o enriquecimento sem causa.
O fato de não ser possível a discussão de culpa na relação entre o responsável e a
vítima não impede que se discuta a culpa do terceiro que praticou o ato (ex: num acidente de
trânsito, o empregador responderá objetivamente pelo dano provocado pelo seu empregado,
mas poderá alegar, em juízo, que seu empregado não teve culpa no acidente).
Direito de regresso (ação regressiva):
Art. 934. Aquele que ressarcir o dano causado por outrem pode reaver o que houver
pago daquele por quem pagou, salvo se o causador do dano for descendente seu,
absoluta ou relativamente incapaz.
Em geral, é cabível a ação regressiva, salvo se quem causou o dano for descendente
incapaz.
No caso de donos de escola, entretanto, se o dono da escola indeniza a vítima pelo ato
do menor, NÃO caberá ação regressiva em face dos pais da criança, justamente por ter havido,
durante o período de aulas, a transferência de guarda (v. Cáio Mário).
Jurisprudência:
Responsabilidade civil do advogado:
Parte da doutrina entende que a responsabilidade do advogado é subjetiva, baseada
na culpa profissional, nos termos do art. 14, §4º, CDC:
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existência de culpa,
pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos relativos à
prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou inadequadas sobre
sua fruição e riscos.
(...)
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada mediante a
verificação de culpa.
O advogado assume obrigação de meio, não de resultado.
No entanto, o STJ vem negando aplicação do CDC, ao fundamento de que o Estatuto
dos Advogados esgota a matéria referente à responsabilidade.
“CONTRATO DE SERVIÇOS ADVOCATÍCIOS. CDC. INAPLICABILIDADE.
3. O CDC não se aplica à regulação de contratos de honorários advocatícios. (REsp
1123422/PR, Rel. Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA, QUARTA TURMA, julgado em
04/08/2011, DJe 15/08/2011)”
Responsabilidade civil médica:
Cirurgia de miopia a laser:
Prevalece o entendimento de que, por ser obrigação de meio, o médico não pode
garantir o resultado. Somente se a visão se deteriorar haverá a sua responsabilidade.
Regra geral:
A responsabilidade civil do médico é, nos termos dos artigos 951, CC/02 e 14, §4º do
CDC, subjetiva (baseada na culpa profissional), traduzindo-se numa obrigação de meio.
Médico é profissional liberal, pessoa física que presta serviço técnico. Culpa em geral traduzida
pela imperícia. Em regra, o médico assume uma obrigação de meio, porque não pode assumir
a responsabilidade da cura, mas tem o dever de empregar seus conhecimentos em prol da
cura do mal.
Cirurgião plástico estético:
Excepciona a regra geral da responsabilidade subjetiva do médico a hipótese do
cirurgião plástico estético, porque ele assume uma obrigação de resultado, havendo
entendimento do STJ no sentido de que, em razão disso, sua responsabilidade seria objetiva
(v. REsp 81101 – PR).
Assim, mister analisar se a cirurgia é de natureza reparadora ou estética. A cirurgia
reparadora tem a função de reparar um mal ocorrido sem culpa do médico e, por isso, ele não
tem a obrigação de resultado. O cirurgião plástico de reparação assume obrigação de meio. Já
na cirurgia estética, o médico tem o dever de empregar a melhor técnica para melhorar o
aspecto físico do paciente, tendo, portanto, obrigação de resultado.
Anestesiologistas:
O anestesiologista, que tem responsabilidade autônoma em face do chefe da equipe
cirúrgica, responde com base na culpa profissional, e, segundo Jurandir Sebastião, assume
obrigação de meio.
Testemunhas de Jeová: Há 2 correntes sobre o tema:
Com base no direito constitucional à liberdade de consciência e crença, e à luz da
dignidade da pessoa humana, o paciente teria o direito de se recusar a uma
intervenção médica indesejada, mesmo que isso lhe custe a própria vida. O
paciente, mesmo que fosse curado, poderia, por exemplo, ser alijado de sua
comunidade (nesse sentido: Gustavo Tepedino, Anderson Schreiber).
No caso de criança, o professor aconselha não defender essa corrente, pois
significaria colocar nas mãos dos pais a possibilidade de ceifar a vida de uma
criança que ainda não escolheu sua própria religião. Importante lembrar que a
criança está amparada pelo princípio da proteção do menor, calcado no ECA,
cabendo ao Estado a defesa do menor.
À luz do princípio da proporcionalidade, com base nos art. 46 a 56 do Código de
Ética Médica, na Resolução 1.021 do CFM e em vários julgados (ex: Apel. Cível
123430-4 TJSP), não se deve impedir a atuação do médico, se essa for a única
alternativa capaz de salvar a vida do paciente.
Responsabilidade dos hospitais e clínicas:
O hospital presta serviço de consumo e, não sendo pessoa física, não estaria
excepcionado pelo art. 14, §4º do CDC. Assim sendo, o paciente poderia demandar o hospital
diretamente, que responderia objetivamente, em vez de demandar o médico membro do seu
quadro clínico, caso em que deveria demonstrar culpa profissional.
RESPONSABILIDADE CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RECURSO
ESPECIAL.TEMPESTIVIDADE. DEMONSTRAÇÃO NOS AUTOS. FIBROPLASIA
RETROENTICULAR, QUE OCASIONOU PERDA DA VISÃO AO PACIENTE.
RESPONSABILIDADE CIVIL DO HOSPITAL E DO MÉDICO POR ALEGADO ERRO
CULPÁVEL. NECESSIDADE DE DEMONSTRAÇÃO DA CULPA DO PROFISSIONAL DA
MEDICINA E DO NEXO DE CAUSALIDADE ENTRE O DANO E O ATO COMISSIVO OU
OMISSIVO. REEXAME DE PROVAS, EM SEDE DE RECURSO ESPECIAL. INVIABILIDADE.
(omissis)
2. A obrigação do médico, em regra, é de meio, isto é, o profissional da saúde assume
a obrigação de prestar os seus serviços atuando em conformidade com o estágio de
desenvolvimento de sua ciência, com diligência, prudência e técnicas necessárias, utilizando
os recursos de que dispõe - elementos que devem ser analisados, para aferição da culpa, à luz
do momento da ação ou omissão tida por danosa, e não do presente-, de modo a proporcionar
ao paciente todos os cuidados e aconselhamentos essenciais à obtenção do resultado
almejado.
3. Portanto, como se trata de obrigação de meio, o resultado final insatisfatório
alcançado não configura, por si só, o inadimplemento contratual, pois a finalidade do contrato é
a atividade profissional médica, prestada com prudência, técnica e diligência necessárias,
devendo, para que exsurja obrigação de indenizar, ser demonstrada a ocorrência de ato,
comissivo ou omissivo, caracterizado por erro culpável do médico, assim como do nexo de
causalidade entre o dano experimentado pelo paciente e o ato tido por causador do dano.
4. "O reconhecimento da responsabilidade solidária do hospital não transforma a
obrigação de meio do médico, em obrigação de resultado, pois a responsabilidade do hospital
somente se configura quando comprovada a culpa do médico, conforme a teoria de
responsabilidade subjetiva dos profissionais liberais abrigada pelo Código de Defesa do
Consumidor". (REsp 1.216.424/MT, Rel. Ministra Nancy Andrighi, Terceira Turma, julgado em
09/08/2011, DJe 19/08/2011)
5. No caso, a Corte local apurou que a oxigenoterapia era tratamento premente e
essencial à preservação da vida do autor e que "não há como estabelecer como único vínculo
para a retinopatia de prematuridade a utilização da oxigenoterapia, pois além deste fator, no
presente caso, a apelante também nasceu com insuficiência respiratória grave, sendo
imprescindível naquele momento afastar o risco de morte" e o acórdão impugnado, com base
em laudo pericial, consignou que "o oxigênio somente não é suficiente nem necessário para
desencadear retinopatia da prematuridade, e o nível seguro de oxigênio ainda não foi
determinado" pela Ciência, de modo que só se concebe a revisão da decisão por meio do
reexame provas, obstado pela Súmula 7/STJ. 6. Recurso especial não provido. (REsp
992.821/SC, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em 14/08/2012,
DJe 27/08/2012)
DANO MORAL
Num primeiro momento da história do Direito, não se admitia reparação civil.
Argumentava-se que não se poderia colocar um preço na dor da vítima. Ademais, o dano moral
não seria mensurável (não se poderia quantificar a dor sentida pela vítima) sua reparação
significaria dar um poder excessivo ao juiz.
Até o primeiro quarto do século XX, o STF não reconhecia a indenização por dano
moral (mas houve somente uma ou duas decisões nesse sentido).
A reparação por dano moral no Brasil começou a ser acatada, desde que vinculada ao
reconhecimento de um dano material, sendo conseqüência deste.
O dano moral somente ganhou autonomia no Brasil com o advento da CF 88 (art. 5º, V
e X), que deu maior atenção aos direitos da personalidade:
V - é assegurado o direito de resposta, proporcional ao agravo, além da indenização
por dano material, moral ou à imagem;
X - são invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas,
assegurado o direito a indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua
violação;
Conceito de dano moral: O dano moral é a lesão a direito da personalidade (ex: direito à
imagem, à honra, à vida privada).
A reparação do dano moral é autônoma. O entendimento no STJ é consolidado nesse
sentido, de forma que o dano moral pode, inclusive, ser cumulado com o dano estético (v. REsp
519258 – RJ, julgado em 06/05/2008), pois a imagem tem uma dimensão física e outra
psicológica.
Súmula 37 do STJ: São cumuláveis as indenizações por dano material e dano moral
oriundos do mesmo fato.
A tendência atual é de se reconhecer os novos danos, conforme Súmula STJ 387, que
admite a cumulação dos danos estéticos com os danos morais e, obviamente, também com os
danos materiais.
No REsp 1002985, a 2ª seção do STJ, por unanimidade, decidiu que o devedor que já
tiver outros registros em cadastros de proteção não tem direito a indenização por dano moral.
Incidência de IR sobre a indenização por dano moral: há uma discussão sobre se essa
indenização tem natureza de reparação por um direito ofendido, ou se tem natureza de nova
riqueza, fruto do trabalho, ganho de capital. O STJ tem entendido o seguinte:
Na fixação do valor da reparação pelos danos morais sofridos por parentes de vítimas
mortas em um mesmo evento, não deve ser estipulada de forma global a mesma
quantia reparatória para cada grupo familiar se, diante do fato de uma vítima ter mais
parentes que outra, for conferido tratamento desigual a lesados que se encontrem em
idêntica situação de abalo psíquico, devendo, nessa situação, ser adotada metodologia
de arbitramento que leve em consideração a situação individual de cada parente de
cada vítima do dano morte. A fixação de valor reparatório global por núcleo familiar,
justificar-se-ia apenas se a todos os lesados que se encontrem em idêntica situação
fosse conferido igual tratamento. STJ. Corte Especial. EREsp 1.127.913-RS, Rel. Min.
Napoleão Nunes Maia Filho, julgado em 4/6/2014 (Info 544).
Prejuízo de afeição: No voto, o Min. Psulo de Terso Sanseverino fez menção a um
interessante termo: o prejuízo de afeição. Conforme explica o Min. Sanseverino, o
“prejuízo de afeição” (préjudice d'affection) é o dano extrapatrimonial sofrido pelos
familiares da pessoa morta.
Trata-se do dano moral povocado em decorrência da morte do ente querido, cujo
sofrimento é incomensurável, bastando pensar na dor dos filhos menores com a perda
do pai em acidente de trabalho, no sofrimento psíquico da esposa com a morte do
marido em um desastre aéreo, no vazio existencial dos pais com o óbito de um filho em
um acidente de trânsito.
Busca-se com a indenização um paliativo para o sofrimento psíquico ensejado pelo
evento danoso, sendo esse o ponto nuclear do conceito de dano moral stricto sensu
(voto do Ministro no EREsp 1.127.913-RS).
O prejuízo de afeição é um da moral que atinge as vítimas por ricochete considerando
que a vítima direta é o falecido e seus familiares são afetados reflexamente pelo
evento.
CONTRATOS EM GERAL
1 NOÇÕES GERAIS
O Estado Social, marcado pelo avanço tecnológico, e pela sociedade de massa subverteu a
concepção clássica de contrato que pressupunha a igualdade dos contratantes. O contrato de
adesão, criado em 1901, demonstrou a necessidade de o Estado limitar a autonomia privada
em prol do interesse público e social. O contrato de adesão é um contrato bastante suscetível
de abuso do poder econômico (RIPERT): onde está a autonomia da vontade no contrato de
adesão? É mais um ato de império. Em que pesem as críticas, o contrato de adesão é um mal
necessário à sociedade moderna. EXEMPLO: contratos de prestação de fornecimento de água,
luz, telefone. Cabe ao Estado coibir os abusos decorrentes do contrato de adesão, por meio de
leis de intervenção para imprimir a igualdade onde há desigualdade econômica. EXEMPLO:
CDC.
EXEMPLO 01: a sublocação, como ocorre com qualquer contrato derivado, haverá de seguir o
contrato-base (LOCAÇÃO), não podendo, desta forma, permitir o que este proíbe. Assim,
extinto o contrato-base, seja qual for a sua causa, serão também extintas as eventuais
sublocações, ressalvados direitos indenizatórios em favor do sublocatário contra o
sublocador.
2 CONCEITO
RECIPROCAMENTE
CONSIDERADOS EM SI MESMOS
CONSIDERADOS
Unilaterais ou bilaterais
Onerosos ou gratuitos
Quanto à natureza da obrigação
Comutativos ou aleatórios
Formais ou reais
Consensuais, formais ou CONTRATOS PRINCIPAIS ou
Quanto à forma CONTRATOS-BASE
reais
Quanto à designação Nominados e inominados
Quanto à presença de Formais, informais,
formalidades solenes ou não solenes
Alienação de bens
Transmissão de uso e
Quanto ao objeto (conteúdo do gozo
direito conferido)
Prestação se serviço
Conteúdo especial
CONTRATOS ACESSÓRIOS
Execução imediata
ou CONTRATOS-DERIVADOS
Quanto ao tempo de execução Execução continuada
Execução diferida
Quanto à pessoa do Intuito personae ou
contratante impessoal
Unilaterais: se um só dos contratantes assumir obrigações em face do outro, de tal sorte que
os efeitos são ativos de um lado e passivos do outro, pois uma das partes não se obrigará, não
havendo, portanto, qualquer contraprestação.
EXEMPLO de contrato unilateral imperfeito = doação modal ou com encargo, por trazer um
ônus ao donatário.
Contrato bilateral imperfeito – é o contrato unilateral que, por circunstâncias acidental, ocorrida
no curso da execução, gera alguma obrigação para o contratante que não se comprometera.
Pode ocorrer com o depósito e o comodato quando, por exemplo, surgir para o depositante e o
comodante, no decorrer da execução, a obrigação de indenizar certas despesas realizadas
pelo comodatário e pelo depositário. O contrato bilateral imperfeito subordina-se ao regime dos
contratos unilaterais, porque as contraprestações não nascem com a avença (Carlos Roberto
Gonçalves).
Gratuitos ou benéficos são os contratos em que apenas uma das partes aufere benefício ou
vantagem. Nos onerosos, ambos os contraentes obtêm proveito, ao qual corresponde um
sacrifício.
Alguns negócios são aleatórios devido à sua própria natureza, caso dos contratos de seguro e
de jogo e aposta. Em outros casos, contudo, o contrato é aleatório em virtude da existência de
um elemento acidental, que torna a coisa ou o objeto incerto quanto à sua existência ou
quantidade, como ocorre na compra e venda de uma colheita futura. O CC/2002 consagra duas
formas básicas de contratos aleatórios:
Contrato aleatório emptio spei – um dos contratantes toma para si o risco relativo à
própria existência da coisa, sendo ajustado um determinado preço, que será devido
integralmente, mesmo que a coisa não exista no futuro, desde que não haja dolo ou
culpa da outra parte (art. 458 do CC). O risco é maior. No caso de compra e venda,
essa forma negocial pode ser denominada venda da esperança.
Contratos reais são os que exigem, para se aperfeiçoar, além do consentimento, a entrega da
coisa que lhe serve de objeto, como os de depósito, comodato ou mútuo, por exemplo.
Contratos nominados são os que têm designação própria. Inominados são as que não a têm.
Contratos típicos são os regulados pela lei, os que têm o seu perfil nela traçado. Contratos
atípicos são os que resultam de um acordo de vontades, não tendo, porém, as suas
características e requisitos definidos e regulados na lei.
Forçoso repisar a diferenciação entre forma e solenidade. Forma é gênero, ou seja, qualquer
formalidade, caso da forma escrita. Solenidade é espécie, querendo significar o ato público,
caso da escritura pública, lavrada no Tabelionato de Notas. Feito esse esclarecimento,
vejamos as quatro possibilidades de categorias:
Contrato formal – aquele que exige qualquer formalidade, caso da forma escrita.
Exemplo: o contrato de fiança deve ser celebrado por escrito (art. 819 do CC).
Contrato informal – não exige qualquer formalidade, constituindo regra geral pelo
sistema civil brasileiro, pelo que consta do art. 107 do CC, que consagra o princípio da
liberdade das formas. Exemplo: prestação de serviço.
Contrato solene – aquele que exige solenidade pública. O art. 108 do CC enuncia que
a escritura pública somente é necessária para os negócios de alienação de imóvel com
valor superior a trinta vezes o maior salário mínimo vigente no País. Ilustrando, em
havendo compra e venda de imóvel com valor superior a tal parâmetro, necessária a
escritura pública (contrato solene e formal). Se o imóvel tiver valor inferior, dispensa-se
a escritura, mas é fundamental a forma escrita, para o registro (contrato não solene,
mas formal).
Contrato não solene – Não há necessidade de se lavrar a escritura pública em
Tabelionato de Notas, como no último exemplo citado.
Contratos principais: são os que existem por si, exercendo sua função e finalidade
independentemente de outro.
Contratos acessórios: são aqueles cuja existência jurídica supõe dos principais, pois visam a
assegurar a sua execução. EXEMPLO: a fiança é contrato acessório, estabelecido para
garantir a locação, que é contrato principal; logo, a fiança não poderá existir sem a locação.
Diante do princípio da gravitação jurídica, pelo qual o acessório segue o principal, tudo o que
ocorre no contrato principal repercute no acessório. Desse modo, sendo nulo o contrato
principal, nulo será o acessório; sendo anulável o principal o mesmo ocorrerá com o acessório;
ocorrendo prescrição da dívida do contrato principal, o contrato acessório estará extinto; e
assim sucessivamente. Todavia, deve ficar claro que o que ocorre no contrato acessório não
repercute no principal. Assim sendo, a nulidade do contrato acessório não gera a nulidade do
contrato principal; a anulabilidade do contrato acessório não gera a nulidade relativa do
principal e assim de forma sucessiva. A conclusão é retirada do art. 184 do CC, segundo o qual
“Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o
prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal implica a
das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal”.
3 CONTRATOS NO CC/02
O domínio da vontade foi uma conquista advinda de lento processo histórico, culminando com
o “respeito à palavra dada, principal herança dos contratos romanos e expressão propulsora da
ideia central de contrato como fonte de obrigação.
Para alguns doutrinadores, são expressões sinônimas. A diferenciação feita por parte da
doutrina é no sentido de que a autonomia da vontade tem conotação subjetiva, psicológica;
enquanto a autonomia privada marca o poder da vontade no direito de um modo objetivo,
concreto e real.
É importante salientar que a função social não elimina totalmente a autonomia privada ou a
liberdade contratual, mas apenas reduz o alcance desse princípio.
Assim, entende-se que o contrato é formado por uma soma de fatores, e não mais pela
vontade pura dos contratantes, delineando-se o significado do princípio da autonomia
privada, pois outros elementos de cunho particular irão influenciar o conteúdo do negócio
jurídico patrimonial. Na formação do contrato, muitas vezes, percebe-se a imposição de
cláusulas pela lei ou pelo Estado, o que nos leva à intervenção do Estado nos contratos ou
dirigismo contratual.
Segundo este princípio, o contrato, em regra, somente atinge as partes contratantes, não
prejudicando ou beneficiando terceiros estranhos a ele.
Contudo, deve-se entender que o principio da relatividade dos contratos também encontra
limitações na própria codificação privada ou mesmo na legislação extravagante aplicável aos
contratos. Em outras palavras é possível afirmar que o contrato também gera efeitos perante
terceiros. Ex.: estipulação em favor de terceiros (436 e 438 CC).
Além disso, é exceção ao princípio da relatividade, a promessa de fato de terceiro (art. 439 e
440 CC), contrato com pessoa a declarar e o consumidor por equiparação.
Essa tutela externa do crédito pode ser verificada no art. 608 CC: “Aquele que aliciar pessoas
obrigadas em contrato escrito a prestar serviço a outrem pagará a este a importância que ao
prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.”
Outro exemplo de tutela externa do crédito é o entendimento do STJ segundo o qual a vítima
de evento danoso poderá propor ação direta contra a seguradora (e o segurado), mesmo não
havendo relação contratual direta entre as partes.
RECURSO ESPECIAL. CIVIL E PROCESSUAL CIVIL. RESPONSABILIDADE CIVIL. DANO
MATERIAL. ACIDENTE AUTOMOBILÍSTICO. AÇÃO INDENIZATÓRIA AJUIZADA POR
TERCEIRO CONTRA O SEGURADO E A SEGURADORA. LITISCONSÓRCIO PASSIVO.
POSSIBILIDADE. OBSERVÂNCIA DOS LIMITES CONTRATADOS NA APÓLICE. RECURSO
PROVIDO. 1. A controvérsia dos autos cinge-se à possibilidade de o terceiro prejudicado no
acidente automobilístico promover a ação convocando à lide, em litisconsórcio passivo, o
segurado e a seguradora, no seguro de responsabilidade civil facultativo. 2. Desde que os
promovidos não tragam aos autos fatos que demonstrem a inexistência ou invalidade do
cogitado contrato de seguro de responsabilidade civil por acidentes de veículos, limitando-se a
contestar sobretudo o mérito da pretensão autoral, mostra-se viável a preservação do
litisconsórcio passivo, entre segurado e seguradora. Isso, porque esse litisconsórcio terá,
então, prevalentes aqueles mesmos contornos que teria caso formado, em ação movida só
contra o segurado apontado causador do acidente, por denunciação feita pelo réu, em
decorrência da aplicação das regras dos arts. 70, 71, 72, 75 e 76 do Código de Processo Civil -
CPC. 3. Se o réu segurado convocado para a ação iria mesmo denunciar a lide à seguradora,
nenhum prejuízo haverá para esta pelo fato de ter sido convocada a juízo, como promovida, a
requerimento do terceiro autor da ação. Em ambos os casos haverá de defender-se em
litisconsórcio passivo com o réu, respondendo solidariamente com este pela reparação do dano
decorrente do acidente, até os limites dos valores segurados contratados. 4. Recurso especial
provido. (REsp 710.463/RJ, Rel. Min. RAUL ARAÚJO – 4ª TURMA, DJe 17/04/2013).
O princípio da força obrigatória como regra máxima tinha previsão já no direito romano,
segundo o qual deveria prevalecer o pacta sunt servanda. Não poderia, sem qualquer razão
plausível, ser o contrato revisto ou extinto, sob pena de acarretar insegurança jurídica ao
sistema romano.
Podemos, nessa linha de intelecção, decompor essa importante construção dogmática, nos
seguintes elementos:
4.3.2.4 enriquecimento ilícito – Não teria que haver um quarto requisito: ENRIQUECIMENTO
ILÍCITO DA PARTE? Parte da doutrina defende a necessidade desse requisito. Entretanto, a
menção a somente 03 requisitos acima é defendida por outra parte da doutrina (RUY ROSADO
DE AGUIAR), porque NEM sempre o enriquecimento ilícito é INDISPENSÁVEL, para a
doutrina. Mas o CC/02 exige o enriquecimento ilícito, nos termos do artigo 478, que afirma a
necessidade de a onerosidade excessiva gere uma vantagem exagerada para a outra parte.
O artigo 317 do CC é uma aplicação específica da teoria da imprevisão para fins de revisão de
uma prestação do contrato. O artigo 478 é o artigo que serve para revisar o CONTRATO e não
somente uma prestação específica do contrato.
(...)
Os contratos devem ser interpretados de acordo com a concepção do meio social onde estão
inseridos, não trazendo onerosidades excessivas às partes contratantes, garantindo que a
igualdade entre elas seja respeitada, mantendo a justiça contratual e equilibrando a relação
onde houver preponderância da situação de um dos contratantes sobre a do outro.
O § único do art. 2035 CC, é um dispositivo de suma importância para a função social do
contrato pois:
a) Compara a função social dos contratos à função social da propriedade stricto sensu,
dotando a primeira de fundamento constitucional.
b) Prevê expressamente que a função social dos contratos é preceito de ordem pública,
o que faz com que caiba sempre declarar a sua proteção ex officio, pelo magistrado e
eventual intervenção do MP.
c) Traz em seu bojo o principio da retroatividade motivada ou justificada, princípio anexo à
função social dos contratos.
Eficácia Interna
o Proteção dos vulneráveis contratuais
o Vedação da onerosidade excessiva ou desiquilíbrio contratual (efeito gangorra)
o Proteção da dignidade humana e dos direitos da personalidade
o Nulidade de cláusulas antissociais, tidas como abusivas
o Tendência de conservação contratual, sendo a extinção a última medida
Eficácia Externa
o Proteção dos direitos difusos e coletivos
o Tutela externa do crédito
A boa-fé objetiva está relacionada com os deveres anexos ou laterais de conduta que são
ínsitos a qualquer negócio jurídico, não havendo sequer a necessidade de previsão no
instrumento negocial. Assim, pode-se dizer que o contrato será sempre complexo, pois
composto de uma obrigação principal + deveres anexos referentes à boa-fé objetiva.
A constatação de que existem no vínculo obrigacional, o que a doutrina tem chamado dos
DEVERES INSTRUMENTAIS, DEVERES SECUNDÁRIOS, DEVERES ANEXOS ou
DEVERES COLATERAIS8. Queiram as partes ou não, esses deveres, que enriquecem o
vínculo obrigacional além da obrigação principal prevista, são deveres de conduta de lealdade,
por exemplo, são deveres de informação, de sigilo, de cuidado, de colaboração; são deveres
de comportamento que visam a garantir que o vínculo patrimonial irá se desenvolver de forma
mais honesta e solidária; esses deveres decorrem do PRINCÍPIO DA BOA-FÉ OBJETIVA
(standard de comportamento honesto e leal).
8 Wanderlei de Paula Barreto: Professor da Universidade Estadual de Maringá. O ordenamento civil obrigacional brasileiro não
contém normas específicas e tampouco outras adequadas para regular hipóteses do chamado adimplemento ruim ou
insatisfatório e das denominadas violações positivas do contrato. As recentes normas sobre a boa-fé objetiva (artigos. 113 e 422
do Código Civil de 2002) e sobre o abuso de direito (art. 187 do mesmo Código, que se vale, entre outros, da boa-fé como valor
paradigma para aferir o abuso de direito) introduziram fundamento legal para a admissibilidade de deveres secundários nos
negócios jurídicos e nos contratos. Enquanto as obrigações principais ou primárias pressupõem violação culposa para ensejar
responsabilidade pela indenização, os denominados deveres anexos ou secundários consideram-se violados objetivamente.
Já os deveres acessórios de informação tornam obrigatórios às partes, a prestação de
informações relevantes ao contrato, sendo essa obrigação considerada reciprocamente entre
elas.
Finalmente, o dever anexo de lealdade obriga as partes a evitar a adoção de condutas que
possam tornar inútil à contraparte, a prestação a ser cumprida. Contudo, deve-se ressaltar que
esses deveres anexos de lealdade, informação e proteção, encontram-se implícitos nos
contratos
Exemplos:
Fase Pré-contratual: “Caso dos Tomates” envolvendo a empresa CICA (TJRS, década de 90).
Sem nada escrito, a empresa CICA distribuía sementes de tomates aos produtores gaúchos
para plantação. Eles plantavam as sementes e após vendiam os tomates para a empresa. Isso
se repetia ano a ano, até que certo ano a CICA distribuiu as sementes, os produtores
plantaram e a empresa não comprou os tomates. Os produtores foram indenizados por quebra
da confiança.
Fase Pós-contratual: o credor tem o dever de retirar o nome do devedor de cadastro negativo
no prazo de 05 dias úteis após acordo ou pagamento da dívida (art. 43, CDC).
À ideia de “supressio”, “surrectio”, “tu quoque”, “venire contra factum proprium no potest”
necessita, preliminarmente, de uma exata compreensão sobre o princípio da confiança e sobre
abuso de direito.
Portanto, sendo legítima a expectativa criada, e por ser a boa-fé uma cláusula geral inserida no
ordenamento jurídico brasileiro, a tutela jurídica ampara o sujeito que teve a sua confiança
violada, conforme, por exemplo, é a vedação do “venire contra factum proprium”. Igualmente, o
abuso do direito decorre da violação de um direito subjetivo, cuja conceituação varia conforme
a maioria da doutrina. Logo, em rápida síntese, direito subjetivo é aquele conferido ao indivíduo
que visa à satisfação dos próprios interesses. Desse modo, visando o direito subjetivo à
satisfação de determinados interesses, da sua violação verifica-se o seu abuso, ou seja, dá-se
o abuso de direito toda vez que um interesse se sobrepujar ao interesse reciprocamente
contraposto na relação jurídica. A conjectura gerada pela violação do princípio da confiança,
respaldada na cláusula geral da boa-fé (art. 422, CC), como o abuso de direito, tutelado pela
responsabilidade civil dos atos ilícitos, transpõem-se de uma responsabilidade meramente
subjetiva, para uma responsabilidade que independe de culpa. Ou seja, a ilicitude do ato
praticado com abuso de direito possui natureza objetiva, auferível independentemente de culpa
ou dolo.
Com relação ao “TU QUOQUE”, é esta expressão que, de fato, revela os deveres anexos de
uma relação contratual, decorrentes da boa-fé. Essa locução é designativa de uma situação
gerada de um abuso de direito, que se verifica quando uma das partes viola a norma jurídica e,
após, tenta aproveitar-se dessa conduta em benefício próprio, que conforme o brocardo
“turpitudinem suam allegans non auditur” – o sujeito não pode valer-se da própria torpeza -,
que é vedada pelo direito. Assim, quem viola as suas obrigações contratuais não pode se valer
da sua própria falta para se favorecer diante da contra parte. Assim, conforme o Enunciado nº
24 do Conselho Superior da Justiça Federal, a violação dos deveres anexos decorrentes da
cláusula geral da boa-fé objetiva, constitui-se espécie de inadimplemento, independentemente
de culpa.
Afirma, neste contexto, Menezes de Cordeiro que “a pessoa que, mesmo fora do caso
nuclearmente exemplar do sinalagma, desequilibre, num momento prévio, a regulação material
instituída, expressa, mas só em parte, no seu direito subjetivo, não pode pois pretender, como
se nada houvesse ocorrido, exercer a posição que a ordem jurídica lhe conferiu. Distorcido o
equilíbrio da base, sofre-lhe a consequência”. Consequentemente, chega-se à conclusão de
que tanto o “tu quoque” como o “venire contra factum proprium no potest” são autênticos
representantes dos deveres anexos implícitos nos contratos, que devem ser observados à
integralização pela boa-fé objetiva. Logo, da sua não observância que configura uma
usurpação dissimulada de uma conduta juridicamente válida, como visto, acarreta numa
responsabilização objetiva desse inadimplemento contratual. Por outro lado, o “venire contra
factum no potest representa”, também, diametralmente, um nexo de ligação da “supressio” e da
“surrectio”, para que essas formas de aquisição e extinção de direitos possam ser validamente
considerados, uma vez que, repita-se, essas formas de criação e perda de direitos, pelo
decurso do tempo, somente são abarcadas como legítimas, em nosso ordenamento jurídico,
mediante expressa disposição legal.
Para alguns autores (ex.: PAULO LUIZ NETTO LOBO) é princípio; para outros (ex.: PABLO
STOLZE E RODOLFO PAMPLONA) é “subproduto normativo do princípio maior, senão axial,
da função social do contrato.”
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta
dentro do prazo dado;
A proposta entre presentes é aquela feita entre pessoas que mantém contato direto e
simultâneo uma com a outra. Entre ausentes, todavia, a proposta pressupõe não haver contato
direto e imediato entre as partes. EXEMPLOS ENTRE PRESENTES: telefone e internet.
EXEMPLO ENTRE AUSENTES: por carta ou por e-mail.
O maior problema que temos na matéria de contratos é formação de contratos entre ausentes,
digladiando-se a doutrina ao sabor de 02 teorias: TEORIA DA COGNIÇÃO e TEORIA DA
AGNIÇÃO.
Mas, afinal, qual seria a teoria adotada pelo nosso direito positivo?
No Direito brasileiro, parte da doutrina entende que se deve aplicar a subteoria da EXPEDIÇÃO
e outra parte sustenta que se deve aplicar a subteoria da RECEPÇÃO.
CLÓVIS BEVILÁQUA, autor do anteprojeto do Código Civil de 1916 era, nitidamente, adepto da
subteoria da expedição, por reputá-la “a mais razoável e a mais jurídica”. Por isso, boa parte
da doutrina brasileira, debruçando-se sobre o art. 1086 do Código revogado, concluía tratar-se
de dispositivo afinado com o pensamento de CLÓVIS;
Note-se, entretanto, que o referido dispositivo enumera situações em que o contrato não se
reputará celebrado a partir da expedição da aceitação: no caso do art. 433; se o proponente se
houver comprometido a esperar a resposta (nesta hipótese, o próprio policitante comprometeu-
se a aguardar a manifestação do oblato); ou, finalmente, se a resposta não chegar no prazo
assinado pelo policitante.
Ocorre que se nós observarmos a ressalva constante no inciso I desse artigo, que faz remissão
ao art. 433, chegaremos à inarredável conclusão de que a aceitação não se reputará existente,
se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante. Atente para essa
expressão: “se antes dela ou com ela CHEGAR ao proponente a retratação do aceitante”.
OBS: Por tais comandos legais, é correto afirmar que o Código Civil de 2002 adotou tanto a
teoria da expedição quanto a da recepção, sendo a primeira regra e a segunda exceção, de
acordo com a própria organização da matéria no Código em vigor. A grande dúvida reside
sobre a formação do contrato eletrônico celebrado entre ausentes, como é o caso da
contratação por e-mail, segundo o entendimento majoritário. O que prevalece na doutrina
nacional é a aplicação da teoria da recepção, o que pode ser retirado do Enunciado n. 173 do
CJF/STJ, aprovado na III Jornada de Direito Civil: “A formação dos contratos realizados entre
pessoas ausentes, por meio eletrônico, completa-se com a recepção da aceitação pelo
proponente”. De toda sorte, alerte-se que o Projeto de Lei 281/2012, que pretende tratar dos
contratos eletrônicos dentro do Código de Defesa do Consumidor, propõe a inserção, em
nosso sistema, da teoria da confirmação, chamada na Europa de teoria do duplo clique.
Por essa teoria, o contrato eletrônico é formado com a confirmação do recebimento da
aceitação pelo proponente originário.
6 VÍCIOS REDIBITÓRIOS
6.1 CONCEITO
Os vícios redibitórios, por definição, são defeitos ocultos que diminuem o valor ou
prejudicam a utilização da coisa recebida por força de um contrato comutativo (é o
contrato que tem regras certas, sendo o oposto ao contrato aleatório). EXEMPLO: aparelho de
celular que não aceita determinadas ligações (matéria que tem regramento próprio pelo CDC).
6.3 FUNDAMENTO
Diante da ocorrência dos vícios redibitórios, o adquirente pode propor dois tipos de ação (não
cumuláveis: TRF1), há um concurso de ações:
6.4.1 ação redibitória: rejeição da coisa. As perdas e danos estão referidas no artigo 443:
Prazos para a propositura das ações edilícia foram dos poucos prazos que foram aumentados
(artigo 445):
BEM 15 DIAS
30 DIAS
MÓVEL Contado da SE JÁ
Contado da
entrega ESTAVA NA
BEM alienação
01 ANO efetiva POSSE
IMÓVEL 6 MESES
O legislador entende que se o adquirente já estava na posse, já conhecia a coisa, então deve
ter um prazo menor para ingressar com ação contra o alienante. EXEMPLO: pessoa que mora
em imóvel por comodato, sendo que o comodatário decide adquirir o imóvel, será aplicado o
prazo menor.
CRÍTICA: a lei não estabeleceu um prazo mínimo da posse, assim pela letra fria da lei até o
prazo de posse de 01 dia seria suficiente para a perda da metade do prazo decadencial. Assim
seria justo que o legislador estabelecesse um período de tempo suficiente para o efeito de
perda da metade do prazo, na hipótese prevista na segunda parte do artigo 445.
Há GARANTIA LEGAL (essa estabelecida nos artigos acima), mas há também a GARANTIA
CONTRATUAL. Enquanto o prazo de GARANTIA CONTRATUAL está em curso, o prazo de
garantia legal está suspenso, nos termos do artigo 446, CC, que deve ser aplicado também às
relações de consumo, já que não há regulação no CDC.
7.1 CONCEITO
A evicção, prevista como garantia legal do adquirente, ocorre quando o adquirente vem a
perder a posse e a propriedade da coisa, em virtude do reconhecimento judicial ou
administrativo do direito anterior de terceiro. Consiste a evicção na perda, pelo adquirente
(evicto), da posse ou propriedade da coisa transferida, por força de uma sentença judicial ou
ato administrativo que reconheceu o direito anterior de terceiro, denominado evictor.
Em nosso Código Civil, a evicção é disciplinada a partir do seu art. 447 (art. 1107, CC-16):
Personagens fundamentais:
A mesma sentença que condena o adquirente a devolver, determina que o alienante responda
junto ao adquirente.
No aspecto processual, em que pese a letra da lei, o STJ entende que ainda assim NÃO é um
caso de denunciação obrigatória.
OBS: na redação do novo CPC (2015/16) a expressão “obrigatória” foi trocada por
“admissível”, o que corrobora o entendimento do STJ.
A primeira parte do artigo 447 deixa bem claro quem responde pelos riscos: o alienante.
a) aquisição de um bem;
A evicção pode ser até mesmo EXCLUÍDA, por admissão do CC. A exclusão pode ser: LEGAL
(artigo 457) ou CONVENCIONAL (artigo 449)
Ora, se o adquirente sabia que a coisa era de terceiro, não pode demandar contra a evicção.
O contrato pode dizer que o alienante não responde pela evicção (até poderia ser revisada sob
a luz do princípio da função social do contrato, mas a lei permite). Mas se isso ocorrer (cláusula
que exclui a garantia), o evicto terá pelo menos o direito a receber o PREÇO QUE PAGOU, o
que pode significar a não exclusão total da garantia. Entretanto, o contrato pode prever que o
adquirente ciente do ato está assumindo-o, o que implicará a total exclusão da garantia.
Para que haja a exclusão total da garantia (artigo 449), é preciso que o adquirente
expressamente tome ciência e assuma os riscos da evicção.
Resumindo:
DA EVICÇÃO
Art. 456. Para poder exercitar o direito que da evicção lhe resulta,
o adquirente notificará do litígio o alienante imediato, ou qualquer
dos anteriores, quando e como lhe determinarem as leis do
processo.
Com a entrada em vigor do novo Código Civil, importantes problemas referentes ao Direito
Intertemporal poderão ser suscitados, exigindo do magistrado redobrada cautela. Um desses
problemas diz respeito à possibilidade de incidência da lei nova em contratos celebrados antes
de 11 de janeiro de 2003. Tentando dirimir eventual conflito de normas, o Código Civil, em seu
art. 2035, dispõe que:
Segundo esta regra, os negócios jurídicos celebrados antes da entrada em vigor do novo
Código continuarão regidos pelas leis anteriores (Código Civil de 1916, Código Comercial), no
que tange aos seus pressupostos de validade (nulidade e anulabilidade).
Destarte, tomando como exemplo um contrato de mútuo (empréstimo de coisa não fungível)
celebrado em 2000, não poderá o intérprete invocar os pressupostos de validade do art. 104 do
CC-02, eis que continuará a ser aplicada a regra anterior do código revogado (art. 82 – agente
capaz, objeto lícito, forma prescrita ou não defesa em lei).
Da mesma forma, não se deve pretender aplicar as regras da lesão e do estado de perigo
(defeitos do negócio jurídico), inauguradas pelo Código de 2002 (art. 156 e 157), restando ao
hermeneuta recorrer a outros meios de colmatação, eventualmente aplicáveis, e à luz da
disciplina normativa anterior.
Por tais razões, um contrato celebrado por um menor de 18 anos, antes de 11 de janeiro
(data da entrada em vigor do novo Código), continua sendo anulável (art. 147, I, CC-16), a
despeito da redução da maioridade civil (18 anos), eis que, à época da celebração do negócio,
segundo a lei então vigente, o ato seria considerado inválido.
Aliás, esta impossibilidade de retroação dos efeitos da lei nova para atingir a validez dos
negócios já celebrados apenas consubstancia a observância da regra constitucional que impõe
o respeito ao ato jurídico perfeito (art. 5°, XXXVI, CF).
No entanto, se, por um lado, não pode a lei nova atingir a validade dos negócios jurídicos já
constituídos, por outro, se os efeitos do ato penetrarem o âmbito de vigência do novo
Código, deverão se subordinar aos seus preceitos, salvo se houver sido prevista pelas
partes determinada forma de execução. Esta parte final do caput causa polêmica e abre
margem à insegurança jurídica. (MÁRIO DELGADO = direito intertemporal). (ANTONIO
JEOVÁ DOS SANTOS = a segunda parte é inconstitucional).
Para melhor entendê-lo, cumpre-nos marcar, neste ponto, um divisor de águas: quanto ao
aspecto de sua validade, não poderá o Código de 2002 atingir negócios celebrados antes da
sua vigência; no entanto, quanto ao seu aspecto eficacial, ou seja, de executoriedade ou
produção de seus efeitos, caso estes invadam o âmbito temporal de vigência da nova lei,
estarão a esta subordinados.
Entretanto, nos termos da parte final do art. 2035, se as partes houverem previsto outra
forma de execução, a exemplo da execução instantânea (que se consuma imediatamente, em
um só ato), ou se afastaram a incidência de determinadas regras consagradas na lei nova –
que não tenham substrato de ordem pública – a exemplo do aumento progressivo das
prestações sucessivas, poderá ser evitada a incidência da nova lei.
Mas observe: determinadas normas, como a que prevê a resolução por onerosidade excessiva
ou a correção econômica das prestações pactuadas, por seu indiscutível caráter publicístico e
social, não podem, a prioristicamente, ser afastadas pela vontade das partes.
Muitos autores têm defendido que por meio desse dispositivo, há a extinção de toda e qualquer
cláusula leonina.
Para algumas categorias negociais a morte de um dos contratantes pode gerar o fim do pacto.
Isso somente ocorre nos casos em que a parte contratual assume uma obrigação
personalíssima ou intuitu personae, sendo denominada cessação contratual, conforme
expressão de Orlando Gomes.
Em casos tais, o contrato se extingue de pleno direito, situação que ocorre, por exemplo, na
fiança. Para este contrato, os herdeiros não recebem como herança o encargo de ser fiador, só
respondendo até os limites da herança por dívidas eventualmente vencidas durante a vida do
seu antecessor (art. 836 do CC). Em reforço, a condição de fiador não se transmite, pois ele
tem apenas uma responsabilidade, sem que a dívida seja sua (“obligatio sem debitum” ou
“Haftung sem Schuld”).
10 CONTRATO DE ADESÃO
É uma técnica de contratação típica das sociedades de massa, na qual um dos pactuantes pré-
determina as cláusulas do negócio.
Não se pode confundir o contrato de adesão com o contrato obrigatório. O último é não tanto
um contrato, mas uma determinação da lei. EXEMPLO: contrato de seguro obrigatório (só é
contrato no nome, mas não tem qualquer expressão de vontade); trata-se na verdade de uma
imposição da lei.
O NCC é muito tímido ao regular o contrato de adesão somente trata do assunto em dois
artigos 423 e 424:
OBS: nem sempre que houver contrato de adesão haverá uma relação de consumo.
11 CONTRATO COM PESSOA A DECLARAR
Surgiu na Idade Média. Era muito vergonhoso para os nobres comparecerem na praça para
fazer o contrato e também era vergonhoso fazer um contrato de mandato.
Atualmente esse contrato é mais uma cláusula do que um contrato em si. EXEMPLO 01: no
contrato de compra e venda, uma das partes pode indicar quem é a pessoa que vai assumir o
contrato. EXEMPLO 02: no contrato de locação que conste a pessoa que irá assumir (o locador
somente celebraria o contrato com pessoa jurídica e o locatário ainda não tinha constituído a
pessoa jurídica).
O contrato deve estabelecer qual é o prazo para a indicação. Não havendo prazo aplica-se o
artigo 468.
Luís Régis Prado: “A norma jurídico-penal tem a natureza imperativa e endereça-se a todos os
cidadãos genericamente considerados, através de mandados (imperativo positivo) ou
proibições (imperativo negativo) implícita e previamente formulados, visto que a lei penal
modernamente não contém ordem direta, mas sim vedação indireta, na qual se descreve o
comportamento humano pressuposto da conseqüência jurídica.” Segundo Binding, a lei penal
teria caráter descritivo da conduta proibida ou imposta, tendo a norma, por sua vez, caráter
proibitivo ou mandamental. Em outras palavras, a lei contém uma norma, que deve ser
desvendada pelo intérprete ao ler a descrição.
Concurso aparente de normas penais – será resolvido com a análise dos seguintes princípios:
especialidade (normas especial afasta norma geral); subsidiariedade (norma subsidiária –
soldado de reserva, na lição de Hungria); consunção (crime-meio, crime-fim; antefato ou pós-
factum impuníveis); alternatividade (caso de crimes de ação múltipla ou de plurinucleares –
punição por somente um dos fatos listados no delito).
Fontes:
A lei como fonte formal única, exclusiva e imediata do Direito penal incriminador:no que diz
respeito às normas que criam ou ampliam o ius puniendi a única e exclusiva fonte de
exteriorização é a lei formal (lei ordinária ou complementar), escrita, cujo conteúdo é discutido,
votado e aprovado pelo Parlamento. Por força do nullum crimen, nulla poena sine lege
nenhuma outra fonte pode criar crimes ou penas ou medidas de segurança ou agravar as
penas (ou seja: nenhuma outra fonte pode criar ou ampliar o ius puniendi).
O que acaba de ser dito expressa o conteúdo do chamado princípio da reserva legal ou
princípio da reserva de lei formal. Reserva legal é um conceito muito mais restrito que
legalidade (que é um conceito amplo). A única manifestação legislativa que atende ao princípio
da reserva legal é a lei formal redigida, discutida, votada e aprovada pelos Parlamentares.
Essa lei formal é denominada pela Constituição brasileira de lei ordinária, mas não há
impedimento que seja uma lei complementar que exige maioria absoluta (CF, art. 69).
Constituição Federal: a Constituição Federal constitui fonte imediata ou direta do Direito penal
(em geral), mas ela não pode definir crimes ou penas ou agravar as existentes. Essa função,
por força do nullum crimen, nulla poena sine lege é exclusiva da lei ordinária ou complementar.
Medidas provisórias: no que concerne às normas penais incriminadoras (as que definem
crimes, penas, medidas de segurança ou que agravam as penas), exclusivamente a lei penal
formalmente redigida, discutida e aprovada pelo Parlamento (garantia da lex populi) é que
serve de instrumento para essa finalidade. Em relação às normas penais não incriminadoras,
conseqüentemente, admite-se a medida provisória como fonte formal do Direito penal. Em
conclusão: a lei, por emanar do poder que encarna a soberania popular, conta com um plus de
legitimidade política, diante de outras fontes. Sendo norma escrita, retrata uma segurança
jurídica frente à arbitrariedade e ao ius incertum.
Como dizia o Marquês de Beccaria, Cesare Bonessana, "só uma norma procedente do poder
legislativo, que representa toda uma sociedade unida pelo contrato social, pode limitar a
sagrada liberdade do indivíduo, definindo os delitos e estabelecendo as penas". Sendo a lei
formal a única e exclusiva fonte imediata do Direito penal incriminador (o que cria ou amplia o
ius puniendi), não podem cumprir esse papel a lei delegada nem os princípios jurídico-penais
nem os costumes.
Leis delegadas: considerando-se que as leis delegadas são elaboradas pelo Presidente da
República (CF, art. 68), parece muito evidente que elas não servem de fonte para o Direito
penal incriminador. Aliás, referidas leis não podem versar sobre direitos individuais (CF, art. 68,
§ 1º, II). Daí se infere que não podem cuidar da definição do delito nem das suas
conseqüências jurídicas.
De qualquer maneira, quanto aos índios, não é correto concluir que a vida deles está regida
exclusivamente pelos seus costumes. O homicídio praticado por índio, ainda que tenha como
vítima outro índio, configura, em regra, um fato punível de acordo com o Direito penal nacional
e, por isso mesmo, deve o autor responder por ele normalmente. Aliás, em regra a
competência, nesse caso, é da Justiça estadual (Súmula 140 do STJ).
Fontes formais mediatas: duas são as fontes formais mediatas (que explicam ou interpretam ou
aplicam as fontes imediatas ou informais): doutrina e jurisprudência.
1º) Doutrina: a função da doutrina (opnio doctorum) consiste em interpretar as fontes formais
imediatas do Direito penal. Não conta com caráter vinculante, mas muitas vezes acaba bem
cumprindo seu papel de evitar a improvisação e o arbítrio, oferecendo conceitos coerentes que
muito contribuem para a sistematização do Direito.
2º) Jurisprudência: a decisão reiterada dos juízes e tribunais num determinado sentido forma a
jurisprudência, que muitas vezes não só é fonte formal do Direito como inclusive "criadora" dele
(por exemplo: quem afirma no Brasil que só existe crime continuado quando as infrações não
se distanciam mais de um mês umas das outras? A jurisprudência. Logo, essa regra foi criada
pela jurisprudência. É lógico que não é uma posição ortodoxa afirmar que o juiz "cria" o Direito,
porém, na prática, é isso o que ocorre (muitas vezes) e inclusive é legítima essa função do juiz,
desde que ele atue no âmbito do vazio legislativo (para suprir suas lacunas).
Interpretação:
Interpretação objetiva (voluntas legis): busca encontrar a vontade da lei – mens legis.
Interpretação subjetiva (voluntas legislatoris): procura-se alcançar a vontade do legislador –
mens legislatoris.
A interpretação pode ser distinguida, ainda, quanto ao órgão (sujeito) de que emana, quanto
aos meios que são utilizados para alcançá-la, e, ainda, quanto aos resultados obtidos.
Quanto ao sujeito: (a) Autêntica (realizada pelo próprio texto legal, podendo ser contextual –
realizada no mesmo momento em que é editado o diploma legal, como o art. 327 do CP, que
definiu o conceito de funcionário público pra fins penais – ou posterior – realizada pela lei
depois da edição do diploma legal anterior) ; (b) doutrinária (realizada pelos estudiosos do
Direito, comentando sobre a lei que se pretende interpretar); (c) judicial (realizada pelos
aplicadores do Direito, ou seja, os magistrados de 1º grau e que compõem os tribunais,
podendo nela incluir-se as súmulas).
Quanto aos meios empregados: (a) literal (ou gramatical) – o exegeta se preocupa com o real
significado das palavras; (b) teleológica – busca-se alcançar a finalidade da lei, sua real
intenção; (c) sistêmica (ou sistemática) – o exegeta analisa o dispositivo em consonância com
o sistema jurídico em que está contido, para extrair sua interpretação; (d) histórica – o
intérprete busca no momento histórico da criação do dispositivo os seus fundamentos, o
momento da sociedade, para alcançar sua melhor interpretação.
Quanto aos resultados: (a) declaratória – o intérprete apenas declara a vontade da lei; (b)
restritiva – o intérprete restringe o alcance inicial da lei – esta disse mais que pretendia dizer
(Lex plus dixit quam voluit); (c) extensiva – o intérprete alarga o alcance da lei, haja vista ter
aquela dito menso do que efetivamente pretendia (Lex minus dixit quam voluit).
Interpretação analógica – a uma forma casuística, que servirá de norte ao exegeta, segue-se
uma fórmula genérica – ex.: art. 121, § 2º, III, CP.
Na dúvida acerca de matéria de interpretação, defende Hungria que deve-se aplicar o in dubio
pro reo, resolvendo-se a dúvida a favor do agente.
Analogia – a analogia in malam partem não é permitida em matéria penal. A analogia in bonam
partem pode ser utilizada em matéria de interpretação. (ex.: art. 128, II, CP – aplicação por
analogia no caso de atentado violento ao pudor). No processo penal, a analogia é possível.
9Überdie Wertungen im Strafrecht: sobre as valorações no Direito penal (1932) e Naturalismus und
Wertphilosophie im Strafrecht: sobre Naturalismo e Filosofia dos valores no Direito penal (1935)
Todos esses requisitos são normativos porque devem ser aferidos pelo juiz. Nem a
imputabilidade nem a consciência da ilicitude, que se acham na cabeça do agente, devem ser
enfocados desde essa perspectiva. Cabe ao juiz examinar em cada caso concreto se o
agente tinha capacidade de entender ou de querer e, ademais, se tinha possibilidade de
ter consciência da ilicitude, ainda que seja nos limites de sua capacidade de
compreensão do injusto - numa “valoração paralela na esfera do profano” (Mezger,
Tratado de Derecho penal, trad. de 1955), isto é, valoração do injusto levada a cabo pelo
leigo, de acordo com sua capacidade de compreensão.
10Política Criminal e Sistema do Direito Penal, de Roxin, obra programática cuja primeira edição alemã veio a público em 1970.
Fundamentos dos modernos sistemas penais, obra coletiva compilada por Schünemann e publicada em 1984. Saiba mais sobre a
orientação sustentada por Claus Roxin nas seguintes obras: ROXIN; Claus. Política Criminal e Sistema Jurídico-Penal, trad. de Luís
Greco, Rio de Janeiro: Renovar, 2000; ROXIN; Claus. A apreciação jurídico-penal da eutanásia. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, vol. 8, fascículo 32, São Paulo, 2000; ROXIN; Claus. A culpabilidade como critério limitativo da pena. Revista de Direito
Penal, nº 11/12, 1973, Rio de Janeiro: Borsoi, p.7 e ss.; ROXIN; Claus. A teoria da imputação objetiva. Revista Brasileira de Ciências
Criminais, vol. 10, fascículo 38, São Paulo, 2002; ROXIN; Claus. Culpa e responsabilidade. Revista Portuguesa de Ciência Criminal,
ano I, nº 4, Lisboa: Aequitas, 1991, p.503 e ss; ROXIN; Claus. Funcionalismo e imputação objetiva no Direito Penal, 3ª ed., Rio de
Janeiro: Renovar, 2002; ROXIN; Claus. Problemas atuais da política criminal. Revista Ibero-Americana de Ciências Penais, vol. 2,
No âmbito da atual tendência à normativização do sistema penal (e particularmente do delito: o
delito e o Direito penal não podem abrir mão de um momento axiológico fundamental) e suas
categorias, convém distinguir duas sub-orientações teleológico-funcionalistas:
• a moderada: que é sustentada por Roxin (1997) e seus seguidores.
• a radical: representada pelo funcionalismo-sociológico ou sistêmico (teoria dos
sistemas) de Jakobs.
A pretensão de Roxin consiste em superar as barreiras existentes entre o Direito penal e a
Política criminal, fazendo do sistema penal um instrumento válido para a solução satisfatória
(político-criminalmente) dos problemas reais levados para o sistema penal. Sua preocupação é,
portanto, prática.
Sugere Roxin a decidida orientação do sistema do Direito penal às valorações da Política
criminal, isto é, todas as categorias do sistema penal (tipicidade, antijuridicidade, culpabilidade
e punibilidade) seriam redefinidas em função das exigências político-criminais. Um bom
exemplo dessa interferência da Política criminal no Direito penal pode ser dado com o princípio
da insignificância, que contava com pouco (ou nenhum) espaço dentro do Direito penal
formalista e lógico-dedutivista. Na medida em que orientações político-criminais de cunho
minimalista (Direito penal mínimo) ganham terreno no âmbito penal, já não podemos enfocar a
tipicidade de maneira puramente formalista (ou naturalista ou finalista); só pode ser típico o fato
ofensivo relevante. Em se tratando de uma ofensa insignificante, ínfima, embora o fato seja
formalmente típico, materialmente não o é (porque o Direito penal só deve intervir quando
necessário, posto que é a ultima ratio). Por considerações de ordem político-criminal o fato
insignificante deixa de ser típico, isto é, está fora do Direito penal.
Com a reorientação de todas as categorias e subcategorias do sistema penal procura Roxin
evitar o lamentável contra-senso que propiciava o positivismo jurídico, com seus excessos
abstrato-dedutivos, que muitas vezes apresentava uma interpretação dogmaticamente correta
e impecável mas que, do ponto de vista político-criminal, não resolvia o problema concreto de
forma adequada e satisfatória.
Jakobs, por seu turno, pretendendo uma nova fundamentação da dogmática jurídico-
penal e do sistema, correlaciona a missão do Direito penal (de prevenção geral) com a
perspectiva sociológico-funcionalista.
A teoria luhmaniana dos sistemas permitiria, no seu entender, a renormativização das velhas
categorias da dogmática, inservíveis por sua vinculação às inexpressivas estruturas lógico-
objetivas e conceitos pré-jurídicos.
Jakobs, desde logo, diferentemente de Roxin, torna absoluto o critério funcional,
rejeitando toda limitação que proceda do âmbito ontológico (teoria finalista de Welzel) ou
mesmo do sentido ordinário da linguagem ou dos postulados político-criminais (Roxin).
As orientações moderadas (Roxin, 1970), por seu turno, não conferem tanta magnitude ao
sistema, nem às exigências derivadas dele, conservando certa operatividade aos limites
externos ao Direito penal ancorados na esfera do ser (natureza das coisas) ou no âmbito da
própria linguagem. Ademais, o funcionalismo moderado de Roxin orienta as categorias do
sistema do Direito penal às finalidades da política criminal (intervenção mínima, exclusiva
proteção de bens jurídicos, resultado jurídico relevante etc.) que são várias e diversas entre si
e que se limitam reciprocamente.
Em suma, enquanto para Jakobs, 1984, somente são decisivas as necessidades
“sistêmicas”, orientadas ao princípio supremo da “função do Direito penal” (a
prevenção-integração), Roxin dá acolhimento a valores e princípios garantistas no
momento de configurar o sistema do Direito penal (direito positivado) e da dogmática
jurídico-penal (que deve estudar, sistematizar e criticar o direito positivado). Enquanto
na teoria teleológico-funcional (Roxin) o sistema penal deve ser orientado para as
finalidades político-criminais, na construção sistêmica (Jakobs) o sistema penal deve ser
orientado para as necessidades sistêmicas.11
fascículo 4, Porto Alegre, 2001; ROXIN; Claus. Sobre a fundamentação político-criminal do sistema jurídico-penal. Revista Brasileira
de Ciências Criminais, vol. 9, fascículo 35, São Paulo, 2001.
11Saiba mais sobre a orientação sustentada por Jakobs nas seguintes obras: JAKOBS, Günther. A Imputação Objetiva no Direito
Penal, trad. de André Luís Callegari, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2000; JAKOBS, Günther. Fundamentos do direito penal, trad.
de André Luís Callegari, São Paulo: Revista dos Tribunais, 2003; JAKOBS, Günther. Sociedad, norma, persona. Trad. Manuel Cancio
Meliá e Bernardo Feijoó, Bogotá, UEC, s/d; JAKOBS, Günther. Derecho penal-PG. Trad. Cuello Contreras e Serrano Gonzalez de
Murillo, Madri, Marcial Pons, 1995
As teorias funcionalistas radicais (Jakobs e seus seguidores) têm como ponto comum a
mudança do centro de atenção do sistema social, subordinando, a seu bom funcionamento − à
produção de um eficaz consenso −, qualquer valoração ética, política, individual ou coletiva.
Desde essa ótica sistêmica do funcionalismo radical, o indivíduo não é mais que um
“subsistema físico-psíquico”, mero centro de imputação de responsabilidades e o próprio
Direito um “instrumento de estabilização social, de orientação das ações e de
institucionalização das expectativas”. Ao “subsistema penal” corresponde assegurar a
“confiança institucional” dos cidadãos, entendida a referida função como forma de integração
no sistema social.
A violação de uma norma (o delito) é considerada socialmente disfuncional, porém, não porque
lese ou coloque em perigo determinados bens jurídicos, senão porque questiona a “confiança
institucional” no sistema. O delito é, antes de tudo, para o funcionalismo radical, “expressão
simbólica de uma falta de fidelidade ao Direito”: uma ameaça para a integridade e estabilidade
sociais, particularmente nocivo quando a infração aparece de modo manifesto, visível. A teoria
sistêmica, por isso, adota um enfoque “sintomatológico”, preocupando-se mais com a
manifestação do fato disfuncional do que com as causas do conflito que possam gerar o delito.
A pena, por isso mesmo, tem finalidade de reforçar o conteúdo da norma (isto é, o Direito
penal).
Para a teoria sistêmica, sustentada pelo funcionalismo radical, o Direito penal não se
limita a proteger bens jurídicos, senão funções, isto é, a confiança institucional no
sistema assim como a segurança dos co-associados em seu bom funcionamento.
Para comprovar, fundamentar e graduar a culpabilidade não interessa se o sujeito podia e/ ou
devia comportar-se de outra forma: a exigência funcionalista de restabelecer a confiança no
Direito mediante a contraposição simbólica de uma pena será o critério decisivo, exacerbando-
se assim a concepção “normativista”, que prescinde de todo conteúdo psicológico-cognoscitivo
no juízo de reprovação.
A pena não é examinada desde um enfoque valorativo (fins ideais da mesma), senão funcional,
dinâmico, como qualquer outra instituição social (funções reais que a pena desempenha em
função do bom funcionamento do sistema).
A pena, segundo a teoria sistêmica, cumpre uma função de prevenção integradora, que é
distinta dos objetivos retributivos, de prevenção geral e especial, que lhe atribuía a
dogmática tradicional. Se o delito lesa os sentimentos coletivos da comunidade, isto é, o
considerado por “bom e correto”, a pena simboliza a necessária reação social: esclarece
e atualiza exemplarmente a vigência efetiva dos valores violados pelo criminoso,
impedindo que se diluam e percam eficácia; reforça a convicção coletiva em torno da
transcendência desses valores; fomenta e canaliza os mecanismos de integração e de
solidariedade social frente ao infrator e devolve ao cidadão honesto sua confiança no
sistema.
A primeira crítica que se pode formular contra o funcionalismo sistêmico consiste na sua falta
de cientificidade (alto déficit empírico).
A crítica básica centra-se na tendência à neutralidade valorativa, típica da análise sociológica
(positivista ou sistêmica).
No que concerne à teoria do delito, as diferenças marcantes entre o funcionalismo
moderado (Roxin) e o radical (Jakobs) são as seguintes:
• para Roxin o fato punível é composto de tipicidade, antijuridicidade e responsabilidade.
Esta última (a responsabilidade) cuida de saber se o agente imputável é ou não
merecedor da pena. Seu pressuposto é a culpabilidade bem como a necessidade
preventiva da pena. A pena tem finalidade preventiva (geral e especial), não retributiva. A
culpabilidade não funciona como fundamento da pena, mas sim, apenas como limite
dela;
• para Jakobs todas as categorias do delito (tipicidade, antijuridicidade, etc.) devem ser
interpretadas de acordo com o fim da pena, que é o preventivo geral positivo (leia-se: a
pena existe para reafirmar o valor da norma violada; a pena é um reforço da vigência da
norma; a pena reafirma a ordem jurídica e isso incrementa a atitude de confiança e
fidelidade ao Direito; a pena exercita a fidelidade ao Direito). O Direito penal não existe
para proteger bens jurídicos, mas sim, para reafirmar o conteúdo comunicativo da
norma. O Direito penal existe para cumprir uma função de tutela das normas,
independentemente do seu conteúdo. Parece não haver dúvida que a doutrina brasileira já
alcançou, com certa pacificidade, o terceiro estágio, ou seja, a teoria finalista. Pelo menos essa
é a posição majoritária. De qualquer modo, na atualidade, como você leu, a concepção de
delito que encontra maior ressonância constitucional e maior afinidade com o tipo de Estado
democraticamente consagrado que adotamos é a que considera o delito como uma ofensa
intolerável ao bem jurídico, protegido pela norma penal e, ao mesmo tempo, objetivamente
imputável ao risco proibido criado. Isso é o que estamos denominando de teoria
constitucionalista do delito (ou do fato punível), cujas bases teóricas encontram forte
ressonância na teoria funcionalista de Roxin.
Obs: Posição do dolo e da culpa: na teoria finalista da ação, dolo e culpa deixam de ser
elementos ou requisitos da culpabilidade para integrarem o fato típico; fazem parte, assim, do
tipo, não da culpabilidade. E, “dogmaticamente a colocação do dolo no tipo, que hoje é aceita
até mesmo por não-finalistas, trouxe enormes facilidades na construção do delito.
Primeiramente, equacionou o problema da separação assistemática dos elementos subjetivos,
que informam o ilícito, do dolo, para juntá-los num mesmo bloco. Tudo o que é, assim,
naturalisticamente subjetivo, deve ser encarado de uma mesma forma. Depois, pôde-se obter
um melhor enquadramento técnico da tentativa e do crime consumado, da autoria e da
participação, do erro de tipo e do erro de proibição, como também, dosar-se adequadamente o
caráter indiciário do tipo com relação à antijuridicidade”.12
Obs: Síntese da culpabilidade de acordo com a teoria adotada pelo CP (LFG): De acordo com
a teoria normativa pura a culpabilidade é tão-somente normativa (não possui nenhum requisito
12
TAVARES, Juarez. Teorias do delito (variações e tendências), cit., p. 86; sobre a tentativa, v. REALE
JÚNIOR, Miguel. Dos estados de necessidade. São Paulo: José Bushatsky, 1971, p. 6-7.
psicológico); a culpabilidade é, assim, vista como puro juízo de reprovação, de censura; está só
na cabeça do juiz; ela pressupõe a imputabilidade e tem como requisitos a potencial
consciência da ilicitude e a exigibilidade de conduta diversa; dolo e culpa deixam de pertencer
à culpabilidade e passam a fazer parte do tipo; acolhe-se o dolo natural (dolo de tipo ou de
fato) e assim distingue-se claramente o dolo da consciência da ilicitude; esta, para adequar-se
às exigências normativas puras do finalismo, passa a ser vista também como requisito
normativo, e assim basta a possibilidade ou a potencial consciência da ilicitude; em relação ao
erro surgem as teorias da culpabilidade, a extrema ou estrita e a limitada; o ponto de
divergência entre ambas reside no tratamento do erro sobre os pressupostos fáticos de uma
causa de exclusão da ilicitude: a primeira considera-o também erro de proibição, com a
conseqüência de excluir ou atenuar a culpabilidade dolosa, enquanto a segunda admite-o
como erro equiparável ao erro de tipo, com a conseqüência de excluir sempre o dolo, podendo
o agente ser punido por crime culposo, se previsto em lei; objeto do juízo de culpabilidade é o
poder agir de outro modo (o agente, mesmo podendo agir de modo diverso, formou sua
vontade em desacordo com o ordenamento jurídico); a culpabilidade recai sobre o fato, mas,
pela sua fundamentação, não se pode excluir a culpabilidade de autor; a culpabilidade tem por
fundamento a liberdade relativa do homem de dirigir seus atos finalisticamente; integra a
culpabilidade o conceito analítico de crime, que consiste na ação típica, ilícita e culpável.
Causas:
DEPEDENTES da conduta – encontram-se na mesma linha de desdobramento causal da
conduta. Não quebram o nexo causal13. (Ex.: A, sabendo que B é diabético, ministra-lhe
grande dose de açúcar e leva-o a morte).
INDEPENDENTES -
Causas absolutamente independentes – sempre excluem o nexo causal
PRÉ-EXISTENTE
Ex. A atira em B, que vem a falecer pouco depois, mas porque ingeriu veneno antes de tomar o
tiro. A não responderá pela morte, pois a causa dela foi outra independente de sua conduta e
pré-existente a esta. Responderá pelos atos anteriores e, assim, será punido por tentativa de
homicídio.
1. CONCOMITANTE
Ex. A atira em B, no mesmo momento em que este vem a falecer exclusivamente por um
colapso cardíaco. A não responderá pela morte, pois a causa dela foi outra independente de
sua conduta, embora concomitante a esta. Responderá pelos atos anteriores e, assim, será
punido por tentativa de homicídio.
2. SUPERVENIENTE.
Ex. A ministra veneno na alimentação de B que, quando está tomando a refeição, vem a
falecer em conseqüência de um desabamento. A não responderá pela morte, pois a causa dela
foi outra ABSOLUTAMENTE independente de sua conduta, embora a ela superveniente.
Responderá pelos atos anteriores e, assim, será punido por tentativa de homicídio.
As causas absolutamente independentes rompem o nexo causal decorrente da conduta. O
agente não responde pelo resultado, mas sim pelos atos praticados antes de sua produção.
Causas Relativamente independentes –
a) PRÉ-EXISTENTE
Ex. A, querendo a morte de B, golpeia-o e este, hemofílico, vem a falecer em decorrência dos
ferimentos.
b) CONCOMITANTE
Ex. A desfecha tiros em B, no exato instante em que está sofrendo um colapso cardíaco,
provando-se que a lesão contribuiu para eclosão do êxito letal.
O resultado é imputável nestes dois casos, pois o resultado se coloca na linha de
desdobramento causal gerado pela ação. O fato de ser a vítima hemofílica ou portadora de
doença cardíaca não afasta o nexo entre a conduta (tiros disparados para matar) e o resultado
(morte em decorrência dos tiros).
No entanto, deve-se ter em mente o dolo do agente: se ele queria ferir, mas a causa
relativamente independente, seja ela concomitante ou pré-existente, não era de seu
conhecimento, ele poderá responder por crime preterdoloso, se provada a sua culpa em
relação ao resultado mais grave.
c) SUPERVENIENTE (exceção ao princípio consagrado no caput do art. 13)
O código adota a teoria da condicionalidadeadequada – "para ser considerada como causa do
evento, seja concretamente reconhecida como idônea à consecução, através de uma
'valoração póstuma'." (Miguel Reale Júnior, Teoria do Delito)
"Por sua preponderância sobre as condições anteriores, às quais está ligada de modo relativo,
a nova condição absolve o processo de causalidade no qual interfere. Se a ação subseqüente,
mesmo que relativamente relacionada com as condições anteriores, por si só apresenta-se
como causadora do evento, esse apenas é a ela atribuído com a ressalva de que os fatos
anteriores, entretanto, imputam-se a quem os praticou" Miguel Reale Júnior. Ex. Vítima de um
atentado é levada ao hospital e sofre acidente no trajeto, vindo, por esse motivo, a falecer.
A causa superveniente relativamente independente exclui a imputação do resultado,
respondendo o agente apenas pelos atos praticados.
13
O problema da condenação do agente dependerá da prova do seu dolo.
OBS.: Segundo Capez, “se a causa superveniente está na linha do desdobramento físico
ou anátomo-patológico da ação, o resultado é atribuído ao agente. Trata-se de causa
dependente. Exemplos colhidos na jurisprudência: choque anestésico por excesso de éter ou
imprudência dos médicos operadores (...). Em tais hipóteses, ao autor é atribuído o resultado
final (morte), já que a segunda causa guarda relação com a primeira, num desdobramento
causal obrigatório. Inserem-se, assim, dentro da linha de desdobramento causal da
conduta, classificando-se como causas dependentes desta. (..)”.
RESULTADO = MESMA LINHA DE DESDOBRAMENTO FÍSICO DA AÇÃO INICIAL +
SIGNIFICÂNCIA DA LESÃO.
Para Alberto Silva Franco, a tese de que o evento se encontra na linha de desdobramento
físico da ação anterior não basta, contudo, para concluir-se sempre pelo nexo de causalidade,
como enfatizou, com razão Silva Pinto. Se tal fosse exato, um ferimento levíssimo, através do
qual houve no organismo a penetração de bacilos tetânicos, poderia engendrar o resultado
morte e não se poderia negar que tal resultado estivesse na linha de desdobramento físico da
lesão provocada. Para evitar tal rigor, ao critério do desdobramento da ação física deve ser
adicionado outro ingrediente, qual seja, o conceito de significância, para evitar que, na vida
real, surjam situações embaraçosas ou excessivamente rigorosas que poderiam atentar contra
o sentimento de justiça de um homem de bem14.
Aberratio causae (dolo geral ou erro sucessivo) – ERRO SOBRE O NEXO CAUSAL
Quando o agente, na convicção de já ter praticado o crime, pratica outra conduta, que achava
ser mero exaurimento da primeira, e, neste momento sim, chega à consumação desta, terá
praticado o primeiro crime na modalidade de dolo geral, posto que, desde o começo, sua
intenção era atingir o resultado a que somente chegou através de duas condutas. Ex.: o
agente, após estrangular a vítima, crendo que esta já está morta, atira-a num rio e esta vem a
falecer por afogamento, fato este provado pelo exame de corpo de delito. O agente responderá
por homicídio doloso com dolo geral e não por tentativa de homicídio doloso e homicídio
culposo em concurso material.
OMISSÃO COMO CAUSA DO RESULTADO: a omissão também poderá ser considerada
causa do resultado, bastando que para isso o omitente tenha o dever jurídico de impedir, ou
pelo menos tentar impedir, o resultado lesivo.
CRIMES OMISSIVOS PRÓPRIOS E IMPRÓPRIOS:
crimes omissivos próprios, puros ou simples: são os que objetivamente são descritos com uma
conduta negativa, de não fazer o que a lei determina, consistindo a omissão na transgressão
da norma jurídica e não sendo necessário qualquer resultado naturalístico. Para a existência do
crime basta que o autor se omita quando deve agir. Aqui o legislador faz expressa previsão
típica da conduta que deve ser imposta ao agente.
crimes omissivos impróprios, comissivos por omissão ou omissivos qualificados: são aqueles
que, para sua configuração, é preciso que o agente possua um dever de agir para evitar o
resultado. Esse dever de agir não é atribuído a qualquer pessoa, mas tão somente àquelas que
gozem do status de garantidoras da não-ocorrência do resultado (art.13, §2º do CP). Chamam-
se também de crimes de omissão qualificada, porque os sujeitos devem possuir uma qualidade
específica. Estes são considerados tipos abertos, não existindo prévia definição típica. É
preciso que o julgador elabore um trabalho de adequação, situando a posição de garantidor do
agente aos fatos ocorridos, considerando, ainda a sua rela possibilidade de agir. Enquanto nos
crimes omissivos próprios a conduta é negativa, aqui a conduta é positiva, só que praticada via
omissão do agente que, no caso concreto, tinha o dever de agir para evitar o resultado. Por
isso é que se diz que o crime é comissivo por omissão. Os resultados podem ser imputados ao
agente em razão das condutas dolosa ou culposa do agente.
O CP adotou o critério das fontes formais do dever de garantidor, deixando de lado a teoria das
funções, preconizada por Armin Kaufmann, que defendia a tese de que seria garantidor o
agente que tivesse uma relação estreita com a vítima, mesmo que não existisse qualquer
obrigação legal entre eles.
14
Veja-se o caso da doença raríssima polineurite viral: o sujeito, numa briga, recebe um soco
que lhe corta a testa. Teríamos aí uma lesão corporal leve. Porém, por “azar” da vítima – “azar”
porque só há registro, no mundo, de 12 casos da doença – ela a contrai e vem a ficar
tretaplégica. Deve o autor do soco responder por lesão corporal gravíssima? Penso que não, seja
dado à insignificância da ação em relação ao resultado, seja pela correção da teoria da
causalidade adequada pela imputação objetiva: quem desfere soco em outro alguém cria risco
proibido penalmente relevante de lesionar levemente e não de lesionar gravemente.
TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA:
Surgiu na Alemanha, tendo seus primeiros conceitos partido de Hegel e Richard Honig.
Recebeu maior impulso depois da Segunda Guerra Mundial por Claus Roxin, que é o
responsável pela corrente doutrinária denominada funcionalismo teleológico funcional (o Direito
Penal existe para cumprir determinados fins, que são retratados nos princípios da intervenção
mínima, da exclusiva proteção dos bens jurídicos, etc).
EVOLUÇÃO: Enquanto prevaleceu a Teoria Causalista, bastavam ao tipo seus elementos
objetivos (descrição do sujeito, do objeto e da ação executiva, formas especiais de
comissão...), eis que dolo e culpa não integravam o fato típico, mas sim a culpabilidade. Com a
posterior adoção da Teoria Finalista, o dolo e culpa foram retirados da culpabilidade e inseridos
no tipo, que passou desta maneira a possuir também um elemento subjetivo (“tipo complexo”).
A partir daí o tipo deixou de ser considerado realizado tão-somente em decorrência do
fenômeno natural da causação, passando a ser exigido também um direcionamento.
O tipo objetivo, entretanto, continuou a ser considerado como realizado por meio da mera
relação de causalidade. Em outras palavras, manteve a Teoria Finalista o conceito de Tipo
Objetivo já adotado na Teoria Causalista.
Daí surgiu a TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA, com o fito de resolver os problemas não
solucionados pelo causalismo e o finalismo, por intermédio de uma nova metodologia de
análise e delimitação do tipo objetivo. A partir dela, deixa-se de analisar uma relação de
causalidade puramente material. Esta somente é condição mínima, a ela devendo se agregar
também a causalidade normativa (imputação objetiva).
Chama-se imputação objetiva porque procura descobrir se o fato pode ser imputado ao agente,
independentemente de seu dolo. Em outras palavras, a imputação objetiva é distinta da
imputação subjetiva. Por sinal, distinta e precedente.
A imputação objetiva é a sintonia fina da teoria da equivalência dos antecedentes causais
(art.13 do CP). Se pudéssemos nos valer de uma imagem, diríamos que o nexo de causalidade
é uma peneira de espaços grandes enquanto a imputação objetiva conta com orifícios
menores. Muitos fatos passam pelo filtro maior do nexo de causalidade, não porém pelo menor
da imputação objetiva.
CONCLUSÕES INICIAIS:
- Para as teorias causalista e finalista:
TIPO OBJETIVO = (Presença dos) ELEMENTOS DO TIPO OBJETIVO.
- Para a teoria da imputação objetiva:
TIPO OBJETIVO = (Presença dos) ELEMENTOS DO TIPO OBJETIVO + IMPUTAÇÃO
OBJETIVA.
TIPO COMPLEXO = TIPO OBJETIVO (ELEMENTOS DO TIPO OBJETIVO + IMPUTAÇÃO
OBJETIVA) + TIPO SUBJETIVO.
A TEORIA DA IMPUTAÇÃO OBJETIVA SEGUNDO CLAUS ROXIN: deve o tipo compreender
tanto a causalidade material quanto a causalidade normativa (imputação objetiva). Para que
possa haver imputação objetiva, seria necessária a concorrência de três condições:
a) criação ou incremento de um risco proibido relevante;
b) conexão direta entre esse risco e o resultado jurídico;
c) resultado no âmbito de proteção da norma.
A contrario sensu, podemos afirmar não poder o resultado ser imputado ao agente sempre que
ocorrer uma das seguintes situações:
a) o resultado decorra do exercício de um risco permitido ou de uma ação do agente que
tenha visado apenas diminuir um risco não permitido;
b) o risco não permitido não chegue a se realizar no resultado concreto;
c) o resultado se encontre fora do alcance do tipo ou da esfera de proteção da norma.
Item: Homicídio:
Homicídio Culposo na direção de veículo automotor (art. 302, Lei 9.503/97): apesar do veto no
dispositivo do CTB, é aplicável o perdão judicial ao homicídio culposo na direção de veículo
automotor. Causas de aumento de pena: agente não possuir permissão para dirigir ou carteira
de habilitação; crime é cometido na faixa de pedestres ou na calçada; deixar de prestar
socorro, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, à vítima do acidente; agente, no exercício
da profissão ou atividade estiver conduzindo veículo de transporte de passageiros.