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• Princípio democrático: mais que um princípio, a democracia constitui fundamento e valor essencial das
sociedades ocidentais, definindo sua estética e o modo como elas existem e operam. Trata-se de um dos
mais valiosos valores da atualidade. A enorme extensão atribuída a essa palavra fez com que se perdesse
um pouco de sua clareza, tornando-se algo com sentido vago. Segundo Ferreira Filho, a experiência de um
autêntico regime democrático exige a presença de alguns pressupostos, como certo grau de desenvolvimento
social e progresso econômico. Para José Afonso da Silva, ao contrario, a democracia não precisa de
pressupostos especiais; basta a existência de uma sociedade. Se o seu governo emana do povo, é
democracia; se não, não é. A participação popular no governo é condição essencial da democracia. À vista
disso, foram concebidos alguns modelos de democracia, os quais podem ser reunidos em 3 grupos:
- modelo clássico ou democracia direta: as decisões de governo devem ser tomadas em assembléia
pública, da qual devem participar todos os cidadãos (Democracia ateniense do séc V e VI a. C)
- democracia indireta: é a representativa. Nela os cidadãos escolhem aqueles que os representarão no
governo. A participação popular se dá, pois, na escolha dos representantes mandatários.
- Democracia semi-direta ou mista: procura mesclar os dois modelos anteriores. Convivem
simultaneamente a representação e a participação popular direta (plebiscito e referendo).
• Princípio democrático e garantias e direitos fundamentais: há uma proximidade muito grande entre eles,
pois as idéias de liberdade e igualdade necessariamente participam da essência da democracia. A liberdade
denota amadurecimento de um povo, que passa a ser artífice do seu destino e, consequentemente,
responsável por seus atos. De outro lado, a igualdade significa que a todos é dado participar do governo,
sem que se imponham diferenças artificiais e injustificáveis como origem social, cor, instrução, fortuna etc. O
respeito à dignidade da pessoa humana, por fim, encontra-se na base de qualquer regime que se pretenda
democrático, por elevar a consciência ética.
• Regime político e democracia: os regimes políticos dizem respeito à relação entre Estado e concepções
de vida, isto é, os interesses predominantes em relações sociais e o grau de intervenção estatal nas relações
sociais. A doutrina diverge quanto à classificação dos regimes de governo, podendo-se destacar duas
tentativas de sistematização: 1ª) regimes: liberal (liberdade política e civil de um povo); totalitário (relação
transpersonalista entre sociedade civil e Estado) e ditatorial (exercício de poder bem autodelimitado por
poucos); 2ª) regimes: democrático (direto e indireto); autocrático (ex: por conquista de poder, herança,
cooptação ou sorteio) e mistos ou de transição (juntas de governo). Releva notar que, de acordo com a
primeira classificação, o conceito de regime liberal não guarda relação com democracia, eis que seria possível
pensar num regime liberal sem ser democrático.
1
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo, 19ª edição, 2001, página 197.
Tais instituições são protegidas diretamente como realidades sociais objetivas. Apenas
indiretamente se expandem para a proteção dos direitos individuais.
Canotilho, citado por Alexandre de Moraes 2, afirma que “a protecção das garantias
institucionais aproxima-se, todavia, da protecção dos direitos fundamentais quando se exige, em face de
intervenções limitativas do legislador, a salvaguarda do ‘mínimo essencial’ (núcleo essencial) das instituições”.
2
MORAES, Alexandre. Direito Constitucional, 19ª edição, 2006, São Paulo, Atlas, página 29.
deles, não configura a eutanásia.
d) Garantia da legítima defesa
O direito de a pessoa não ser morta legitima que se tire a vida de outra pessoa que atentar
contra a sua própria.
A liberdade de consciência refere-se à visão que o indivíduo tem do mundo, ou seja, são
as tendências ideológicas, filosóficas, políticas etc. de cada indivíduo.
A liberdade de crença tem um significado de cunho religioso, ou seja, as pessoas têm a
liberdade de cultuar o que elas acreditam. A CRFB proíbe qualquer distinção ou privilégio entre as igrejas e o
Estado. O que se prevê é que o Estado poderá prestar auxílio a qualquer igreja quando se tratar de assistência
à saúde, à educação etc.
Seja qual for a crença, o indivíduo tem direito a praticar o culto. A CRFB assegura, também,
imunidade tributária aos templos quando se tratar de qualquer valor auferido em razão de realização do culto.
O STF decidiu que a imunidade regiligiosa ou de assistência social não se estende à
maçonaria, que é uma ideologia de vida, e não uma religião (Informativo n° 678).
Ainda, a CRFB assegura o atendimento religioso às pessoas que se encontrem em
estabelecimentos de internação coletiva, como manicômios, cadeias, quartéis militares etc.
c) Liberdade de Atividade Intelectual, Artística, Científica e de Comunicação (art. 5.º, IX).
É assegurada a liberdade de escolher qual a atividade que se exercerá. Essa é uma norma
de eficácia contida porque tem uma aplicabilidade imediata, no entanto traz a possibilidade de ter o seu campo
de incidência contido por meio de requisitos exigidos por lei.
A lei exige que certos requisitos de capacitação técnica sejam preenchidos para que se
possa exercer a profissão (ex.: o advogado deve ser bacharel em Direito e obter a carteira da OAB por meio
de um exame; o engenheiro deve ter curso superior de engenharia etc.).
e) Inviolabilidade do Domicílio (artigo 5.º, XI)
A Lei n. 9.296/96 dispõe que a interceptação telefônica é possível por ordem judicial:
- desde que seja imprescindível para a instrução processual penal ou para a investigação
criminal;
Fora dessas hipóteses a interceptação telefônica pode ser considerada prova ilícita,
porque viola a intimidade.
É a liberdade física de ir, vir, ficar ou permanecer. Essa liberdade é considerada pela CRFB
como a mais fundamental, visto que é requisito essencial para que se exerça o direito das demais liberdades.
Todas as garantias penais e processuais penais previstas no art. 5.º são normas que
tratam da proteção da liberdade de locomoção. Por exemplo, o habeas corpus é voltado especificamente para
a liberdade de locomoção.
Essa norma também é de eficácia contida, principalmente no que diz respeito à liberdade
de sair, entrar e permanecer em território nacional. A lei pode estabelecer exigências para sair, entrar ou
permanecer no país, visando a proteção da soberania nacional.
h) Liberdade de Reunião (art. 5.º, XVI)
A competência para dar a segurança jurídica é do Poder Judiciário. É por meio do acesso
ao Poder Judiciário que as pessoas conseguem a segurança jurídica.
a.1) Lesão e ameaça ao direito
Diante de uma agressão ou de ameaça de agressão a um direito, a pessoa poderá ir ao
Poder Judiciário e assegurá-lo – é o princípio da inafastabilidade da jurisdição. Para que o Judiciário tenha o
dever de conceder a segurança jurídica, não é necessário comprovar a efetiva lesão, ou seja, pode-se,
preventivamente, buscar essa segurança para impossibilitar a lesão ao direito.
Esse acesso tem uma exceção no art. 217, § 3.º, da CF/88, que prevê que, em casos
relativos aos esportes (ações relativas à disciplina e às competições desportivas), deve antes haver uma
decisão da Justiça Desportiva para que se possa recorrer ao Judiciário. Também na lei que regulamenta o
habeas data, existe a disposição de que se devem esgotar todos os meios administrativos para que se possa,
então, recorrer ao Judiciário.
a.2) Direito de petição (art. 5.º, XXXIV, “a”)
Independentemente do pagamento de taxas, a todos são assegurados:
O direito de petição aos Poderes Públicos em defesa de direito ou contra ilegalidade ou
abuso de poder. Pode a petição ser dirigida a qualquer autoridade do Executivo, do Legislativo ou do Judiciário
e a autoridade a quem é dirigida deve apreciá-la, motivadamente, mesmo que apenas para rejeitá-la, pois o
silêncio pode caracterizar o abuso de autoridade por omissão.
O direito de petição, classificado como direito de participação política, pode ser
exercido por pessoa física ou jurídica e não precisa observar forma rígida. Não se exige interesse
processual, pois a manifestação está fundada no interesse geral de cumprimento da ordem jurídica.
O direito de petição não se confunde como direito de ação, já que, por este último, busca-
se uma tutela de índole jurisdicional e não administrativa.
a.3) Assistência jurídica (art. 5.º, LXXIV)
Para se pedir em juízo, a CRFB exige que o pedido seja formulado por um advogado. Às
vezes, também é necessária a produção de provas. Para garantir que aqueles que não possuem condições
financeiras possam ter acesso ao Poder Judiciário, portanto, o Estado tomou para si o dever de fornecer a
assistência jurídica.
b) Devido Processo Legal (art. 5.º, LIV)
A prestação jurisdicional deve respeitar o devido processo legal. Quando se trata dessa
questão, observa-se um duplo acesso. Por um lado, dispõe que o Estado, sempre que for impor qualquer tipo
de restrição ao patrimônio ou à liberdade de alguém, deverá seguir a lei. Por outro lado, significa que todos
têm direito à jurisdição prestada nos termos da lei, ou seja, a prestação jurisdicional deve seguir o que está
previsto em lei. O respeito à forma é uma maneira de garantir a segurança.
b.1) Juiz natural (art. 5.º, LIII)
A decisão de um caso concreto deve ser feita pelo Juiz natural que é o Juiz ou o Tribunal
investido de poder pela lei para dizer o direito no caso concreto, ou seja, é o Juiz ou Tribunal que tem a
competência, previamente expressa, para julgar determinado caso concreto.
Discute-se, hoje, a existência ou não do princípio do Promotor Natural, que seria extraído
da locução processar prevista no inc. LIII do art. 5.º da CF.
Conforme leciona Nelson Nery Jr.(Princípios do Processo Civil na Constituição Federal.
5.ª ed. RT. p. 90): “No âmbito interno do Ministério Público, o princípio do Promotor Natural incide para
restringir os poderes do Procurador-Geral de Justiça de efetuar substituições, designações e delegações, que
devem circunscrever-se aos casos taxativamente enumerados na lei, sendo vedado ao chefe do parquet, em
qualquer hipótese, a avocação do caso afeto ao Promotor Natural”.
b.2) Vedação a Juízes e Tribunais de exceção (art. 5.º, XXXVII)
A nossa ordem jurídica não admite que sejam criados Tribunais ou designados Juízes
especialmente para decidir um caso concreto (Juízes ou Tribunais de exceção). Qualquer tipo de Tribunal de
exceção significa um atentado à imparcialidade da Justiça, comprometendo a segurança jurídica.
b.3) Contraditório e ampla defesa (art. 5.º, LV)
Deve-se respeitar o contraditório e a ampla defesa como requisitos para que o devido
processo legal seja respeitado. O contraditório é a possibilidade que deve ser assegurada, a quem sofrer uma
imputação em juízo, de contraditar essa imputação, ou seja, de apresentar a sua versão dos fatos. A ampla
defesa significa que as partes devem ter a possibilidade de produzir todas as provas que entendam
necessárias ao esclarecimento dos fatos e ao convencimento do Juiz. Excepcionam-se apenas as provas
obtidas por meio ilícito.
Há também, implicitamente, a garantia do duplo grau de jurisdição, ou seja, a pessoa
vencida e inconformada com a decisão tem o direito a uma revisão dessa decisão, que será sempre feita por
um juízo colegiado.
b.4) Isonomia
Deve haver um tratamento isonômico. A isonomia entre as partes decorre de um princípio
disposto na CRFB. Todos os órgãos públicos deverão dar tratamento isonômico para as partes (p. ex.: se o
Juiz dá o direito a uma das partes de apresentar uma outra prova, ele deverá, obrigatoriamente, dar o mesmo
direito à outra parte).
b.5) Motivação das decisões (art. 93, IX)
Toda a decisão judicial deverá ser motivada, visto que uma decisão sem motivação
desobedece ao devido processo legal e será considerada inválida.
b.6) Publicidade
O Juiz deve dar publicidade de todas as decisões que ele proferir e todos os atos serão
públicos.
c) Segurança em Matéria Penal
Quando se trata de segurança em matéria penal, a CF/88 tomou mais cuidado, tendo em
vista a competência punitiva do Estado. Essa competência punitiva tem, entretanto, limites, visto que a
aplicação da pena vai restringir a liberdade física de locomoção e que os demais direitos têm ligação estreita
com o direito à liberdade de locomoção.
A pena somente poderá ser aplicada se estiver prevista anteriormente em lei e na forma
prevista em lei, seguindo um procedimento específico também previsto em lei. A aplicação da pena, portanto,
está vinculada à disposição legal.
c.1) Princípios processuais gerais
Os princípios processuais gerais estão presentes na matéria penal, ou seja, deverão
sempre ser aplicados.
- Princípio da estrita legalidade penal
A CRFB dispõe sobre o princípio genérico da legalidade. Em determinados campos,
entretanto, a CRFB tem o cuidado de reforçá-lo, aplicando-o especificamente a cada área. Esse é, então, o
princípio da estrita legalidade.
Para que o comportamento seja punido pelo Estado, se o crime estiver descrito em lei e
se essa lei for anterior ao comportamento ilícito, somente poderá ser aplicada a pena que a lei estabelecer.
- Princípio da irretroatividade
Há um reforço nessa idéia quando se trata de matéria penal. O próprio Direito Penal,
entretanto, excepciona esse princípio, ou seja, há a possibilidade de retroatividade da lei no tempo para
beneficiar o réu.
c.2) Demais garantias em matéria penal
- princípio da incomunicabilidade da pena: a pena não pode passar da pessoa do
criminoso. A CF/88 prevê somente uma hipótese de comunicabilidade da pena, que é o caso de indenização,
quando os sucessores respondem por ela até o quinhão da herança (inc. XLV);
- garantia de que determinado tipo de pena não será aplicada: há limitação à própria
atividade do Estado. Existem penas que o legislador não poderá cominar, quais sejam: pena de morte, pena
de caráter perpétuo, pena de trabalho forçado, pena de banimento e penas cruéis. A pena será cumprida em
estabelecimentos distintos, assegurando a divisão por sexo, idade e gravidade do delito;
- princípio do Juiz natural: ninguém poderá ser sentenciado nem preso senão pela
autoridade competente;
- princípio da presunção de inocência: todos são inocentes até que se prove o contrário.
Ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado da sentença;
- somente poderá ser preso aquele que for pego em flagrante ou tiver ordem escrita
fundamentada pela autoridade judiciária competente.
- tribunal do júri: sigilo de votações e soberania dos veredictos.
c.3) Responsabilidade por desrespeito à segurança em matéria penal
- Do Estado: a CRFB estabelece a responsabilidade do Estado por erro judiciário e se a
pessoa ficar detida por tempo superior àquele estabelecido na pena. Trata da responsabilidade objetiva do
Estado nos termos do art. 37, § 6.º, da CRFB.
- Do Juiz (art. 133 do CPC e art. 630 do CPP),: o juiz poderá ser responsabilizado pelos
prejuízos que vier a causar, entretanto sua responsabilidade é subjetiva, ou seja, depende de comprovação
de dolo ou fraude de sua parte.
d) Gratuidade das ações de habeas
Todas as ações de habeas (habeas corpus e habeas data) são gratuitas.
e) Direito à razoável duração do processo
A EC 45/2004 incorporou ao art. 5º o direito à “razoável duração do processo e os meios
que garantam a celeridade de sua tramitação”, o que exige não só a atenção ao conhecido princípio da
celeridade, como reflete na necessidade da máxima efetividade dos pronunciamentos jurisdicionais.
f) Respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada
O direito adquirido é um dos recursos que limitam a retroatividade da lei. A lei nova não
pode retroagir como forma de ferir situações jurídicas que já tinham se consolidado no tempo.
Ato jurídico perfeito é aquele que se aperfeiçoou debaixo da lei velha, que nela reunia
todos os elementos necessários para sua formação.
Coisa julgada é a decisão judicial transitada em julgado, assim entendida como aquela da
qual já não caiba recurso.
DA CÂMARA LEGISLATIVA
Art. 54. O Poder Legislativo é exercido pela Câmara Legislativa, composta de Deputados
Distritais, representantes do povo, eleitos e investidos na forma da legislação federal.
Parágrafo único. Cada legislatura terá a duração de quatro anos, iniciando-se com a posse dos
eleitos.
Art. 55. A Câmara Legislativa do Distrito Federal tem sede em Brasília, Capital da República
Federativa do Brasil.
Parágrafo único. Poderá a Câmara Legislativa reunir-se temporariamente, em qualquer local do
Distrito Federal, por deliberação da maioria absoluta de seus membros, sempre que houver
motivo relevante e de conveniência pública ou em virtude de acontecimento que impossibilite seu
funcionamento na sede.
Art. 56. Salvo disposição em contrário da Constituição Federal e desta Lei Orgânica, as
deliberações da Câmara Legislativa e de suas comissões serão tomadas por maioria de votos,
presente a maioria absoluta de seus membros, em votação ostensiva.
Parágrafo único. Quando o sigilo for imprescindível ao interesse público, devidamente justificado,
a votação poderá ser realizada por escrutínio secreto, desde que requerida por partido político
com representação na Câmara Legislativa e aprovada, em votação ostensiva, pela maioria
absoluta dos Deputados Distritais.
Art. 57. O Poder Legislativo será representado por seu Presidente e, judicialmente, pela
Procuradoria Geral da Câmara Legislativa.
§ 1º Excetua-se do disposto neste artigo a desafetação prevista no Plano Diretor Local e a
desafetação que seja feita por lei específica, motivada esta por situação de relevante interesse
público, precedida de estudos técnicos que avaliem o impacto da alteração, aprovados pelo
órgão técnico do Distrito Federal.
I - representar a Câmara Legislativa judicialmente; *
II - promover a defesa da Câmara, requerendo a qualquer órgão, entidade ou tribunal as medidas
de interesse da Justiça, da Administração e do Erário; *
III - promover a uniformização da jurisprudência administrativa e a compilação da legislação da
Câmara Legislativa e do Distrito Federal; *
IV - prestar consultoria e assessoria jurídica à Mesa Diretora e aos demais órgãos da
estrutura adminsitrativa;
§ 2º O ingresso da carreira de Procurador da Câmara Legislativa far-se-á mediante concurso
público de provas e títulos.
§ 3º A Câmara Legislativa do Distrito Federal regulamentará a organização e o funcionamento
da sua Procuradoria-Geral e da respectiva carreira de Procurador da Câmara Legislativa.
§ 4º A Câmara Legislativa disporá, ainda, sobre o funcionamento da sua Procuradoria-Geral até
que sejam providos por concurso público os respectivos cargos daquele órgão.
Seção II
Das Atribuições da Câmara Legislativa
Art. 58. Cabe à Câmara Legislativa, com a sanção do Governador, não exigida esta para o
especificado no art. 60 desta Lei Orgânica, dispor sobre todas as matérias de competência do
Distrito Federal, especialmente sobre:
I - matéria tributária, observado o disposto nos arts. 145, 147, 150, 152, 155, 156 e 162 da
Constituição Federal;
II - plano plurianual, diretrizes orçamentárias, orçamento anual, operações de crédito, dívida
pública e empréstimos externos a qualquer título a ser contraídos pelo Distrito Federal;
III - criação, transformação e extinção de cargos, empregos e funções públicas, fixação dos
vencimentos ou aumento de sua remuneração;
IV - planos e programas locais de desenvolvimento econômico social;
V - educação, saúde, previdência, habitação, cultura, ensino, desporto e segurança pública;
VI - autorização para alienação dos bens imóveis do Distrito Federal ou cessão de direitos reais
a eles relativos, bem como recebimento, pelo Distrito Federal, de doações com encargo, não se
considerando como tais a simples destinação específica do bem;
VII - criação, estruturação e atribuições de Secretarias do Governo do Distrito Federal e demais
órgãos e entidades da administração direta e indireta;
VIII - uso do solo rural, observado o disposto nos arts. 184 a 191 da Constituição Federal;
IX - planejamento e controle do uso, parcelamento, ocupação do solo e mudança de destinação
de áreas urbanas, observado o disposto nos arts. 182 e 183 da Constituição Federal.
X - criação, incorporação, fusão e desmembramento de Regiões Administrativas;
XI - concessão ou permissão para a exploração de serviços públicos, incluído o de transporte
coletivo;
XII - o servidor público, seu regime jurídico, provimento de cargos, estabilidade e aposentadoria;
XIII - criação, transformação, fusão e extinção de entidades públicas do Distrito Federal, bem
como normas gerais sobre privatização das entidades de direito privado integrantes da
administração indireta;
XIV - prestação de garantia, pelo Distrito Federal, em operação de crédito contratada por suas
autarquias, fundações, empresas públicas e sociedades de economia mista;
XV - aquisição, administração, alienação, arrendamento e cessão de bens imóveis do Distrito
Federal;
XVI - transferência temporária da sede do Governo;
XVII - proteção e integração de pessoas portadoras de deficiência;
XVIII - proteção a infância, juventude e idosos;
XIX - organização do sistema local de emprego, em consonância com o sistema nacional.
Art. 59. Compete à Câmara Legislativa autorizar, nos limites estabelecidos pelo Senado Federal,
a celebração de operações de crédito, a realização de operações externas de natureza
financeira, bem como a concessão de qualquer garantia pelo Distrito Federal ou por suas
autarquias.
Art. 60. Compete, privativamente, à Câmara Legislativa do Distrito Federal:
I - eleger os membros da Mesa Diretora e constituir suas comissões;
II - dispor sobre seu regimento interno, polícia e serviços administrativos;
III - estabelecer e mudar temporariamente sua sede, o local de suas reuniões, bem como o de
suas comissões permanentes;
IV - zelar pela preservação de sua competência legislativa;
V - criar, transformar ou extinguir cargos de seus serviços, bem como provê-los e fixar ou
modificar as respectivas remunerações;
VI - sustar os atos normativos do Poder Executivo que exorbitem do poder regulamentar,
configurando crime de responsabilidade sua reedição;
VII - fixar, para cada exercício financeiro, a remuneração do Governador, Vice-Governador,
Secretários de Governo do Distrito Federal e Administradores Regionais, observados os
princípios da Constituição Federal.
VIII - fixar a remuneração dos Deputados Distritais, em cada legislatura para a subseqüente;
IX - solicitar intervenção federal para garantir o livre exercício de suas atribuições, nos termos
dos arts. 34, IV e 36, I da Constituição Federal;
X - promover, periodicamente, a consolidação dos textos legislativos com a finalidade de tornar
sua consulta acessível aos cidadãos;
XI - dar posse ao Governador e Vice-Governador e conhecer da renúncia de qualquer deles;
declarar vacância e promover as respectivas substituições ou sucessões, nos termos desta Lei
Orgânica;
XII - autorizar o Governador e o Vice-Governador a se ausentarem do Distrito Federal por mais
de quinze dias;
XIII - proceder à tomada de contas do Governador, quando não apresentadas nos prazos
estabelecidos;
XIV - convocar Secretários de Governo, dirigentes e servidores da administração direta e indireta
do Distrito Federal a prestar pessoalmente informações sobre assuntos previamente
determinados, importando crime de responsabilidade a ausência sem justificativa adequada ou
o não atendimento no prazo de trinta dias, bem como a prestação de informações falsas, nos
termos da legislação pertinente;
XV - julgar anualmente as contas prestadas pelo Governador e apreciar os relatórios sobre a
execução dos planos do governo;
XVI - fiscalizar e controlar os atos do Poder Executivo, incluídos os da administração indireta;
XVII - escolher cinco entre os sete membros do Tribunal de Contas do Distrito Federal;
XVIII – aprovar previamente, em votação ostensiva, após argüição em seção pública, a escolha
dos titulares do cargo de conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal indicados pelo
Governador;
XIX - suspender, no todo ou em parte, a execução de lei ou ato normativo declarado ilegal ou
inconstitucional tanto pelo Supremo Tribunal Federal quanto pelo Tribunal de Justiça do Distrito
Federal nas suas respectivas áreas de competência, em sentenças transitadas em julgado;
XX - aprovar previamente a indicação ou destituição do Procurador-Geral do Distrito Federal;
XXI – convocar o Procurador-Geral do Distrito Federal e o Defensor Público-Geral do Distrito
Federal a prestar informações sobre assuntos previamente determinados, no prazo de trinta dias,
sujeitando-se estes às penas da lei por ausência injustificada;
XXII - declarar a perda do mandato do Governador e do Vice-Governador;
XXIII - autorizar, por dois terços dos seus membros, a instauração de processo contra o
Governador, o Vice-Governador e os Secretários de Governo;
XXIV - processar e julgar o Governador nos crimes de responsabilidade, bem como adotar as
providências pertinentes, nos termos da legislação federal, quanto ao Vice-Governador e
Secretários de Governo, nos crimes da mesma natureza ou conexos com aqueles;
XXV - processar e julgar o Procurador-Geral nos crimes de responsabilidade;
XXVI - autorizar ou aprovar convênios, acordos ou contratos de que resultem, para o Distrito
Federal, encargos não previstos na lei orçamentária;
XXVII – aprovar previamente, em votação ostensiva, após argüição pública, a escolha dos
membros do conselho de Governo indicados pelo Governador;
XXVIII - aprovar previamente a alienação de terras públicas com área superior a vinte e cinco
hectares e, no caso de concessão de uso, com área superior a cinqüenta hectares;
XXIX - apreciar e julgar, anualmente, as contas do Tribunal de Contas do Distrito Federal;
XXX - receber renúncia de Deputado Distrital e declarar a vacância do cargo;
XXXI - declarar a perda de mandato de Deputado Distrital, como prevê o art. 63, § 2º;
XXXII - solicitar ao Governador informação sobre atos de sua competência;
XXXIII - encaminhar, por intermédio da Mesa Diretora, requerimento de informação aos
Secretários de Governo, implicando crime de responsabilidade, nos termos da legislação
pertinente, a recusa ou o não atendimento no prazo de trinta dias, bem como o fornecimento de
informação falsa;
XXXIV - apreciar vetos, observado, no que couber, o disposto nos arts. 66 e 67 da Constituição
Federal;
XXXV - aprovar previamente a indicação de presidente de instituição financeiras oficiais do
Distrito Federal;
XXXVI - conceder licença para processar Deputado Distrital;
XXXVII - emendar a Lei Orgânica, promulgar leis, nos casos de silêncio do Governador, expedir
decretos legislativos e resoluções;
XXXVIII - regulamentar as formas de participação popular previstas nesta Lei Orgânica;
XXXIX - indicar membros do Conselho de Governo, nos termos do art. 108, V;
XL - conceder título de cidadão benemérito ou honorário, nos termos do regimento interno;
XLI - autorizar referendo e convocar plebiscito.
§ 1º Em sua função fiscalizadora, a Câmara Legislativa observará, no que couber, o disposto
nos arts. 70 a 75 da Constituição Federal.
§ 2º No caso do inciso XI, a Mesa Diretora da Câmara Legislativa enviará denúncia, em cinco
dias, à Comissão Especial composta em conformidade com o art. 68, garantida a
proporcionalidade partidária; a qual emitirá parecer, no prazo de quinze dias, submetendo-o
imediatamente ao Plenário.
§ 3º A remuneração dos Deputados Distritais obedecerá ao limite estabelecido pela Constituição
Federal.
§ 4º Sem prejuízo do disposto no inciso XIV do caput, os Secretários de Estado e dirigentes da
administração pública direta e indireta do Distrito Federal comparecerão perante a Câmara
Legislativa ou suas comissões para expor assuntos de interesse de sua área de atribuição:
I – por iniciativa própria, até o término de cada sessão legislativa, mediante entendimento com a
Mesa Diretora ou a presidência de Comissão;
II – finda a gestão à frente da pasta.
Seção III
Dos Deputados Distritais
Art. 61. Os Deputados Distritais são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer de suas
opiniões, palavras e votos.
§ 1º Os Deputados Distritais, desde a expedição do diploma, serão submetidos a julgamento
perante o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios.
§ 2º Desde a expedição do diploma, os membros da Câmara Legislativa não poderão ser presos,
salvo em flagrante de crime inafiançável.
§ 3º No caso de flagrante de crime inafiançável os autos serão remetidos dentro de vinte e quatro
horas à Câmara Legislativa, para que, pelo voto da maioria de seus membros, resolva sobre a
prisão.
§ 4º Recebida a denúncia contra o Deputado Distrital por crime ocorrido após a diplomação, o
Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios dará ciência à Câmara Legislativa, que, por
iniciativa de partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá,
até a decisão final, sustar o andamento da ação.
§ 5º O pedido de sustação será apreciado pela Câmara Legislativa no prazo improrrogável de
quarenta e cinco dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.
§ 6º A sustação do processo suspende a prescrição, enquanto durar o mandato.
§ 7º Os Deputados Distritais não serão obrigados a testemunhar sobre informações recebidas
ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas que lhes confiaram ou
deles receberam informações.
§ 8º A incorporação de Deputados Distritais às Forças Armadas, embora militares e ainda que
em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Câmara Legislativa.
§ 9º As imunidades dos Deputados Distritais subsistirão durante o estado de sítio, só podendo
ser suspensas mediante o voto de dois terços dos membros da Câmara Legislativa, nos casos
de atos praticados fora do recinto da Casa que sejam incompatíveis com a execução da medida.
§ 10. Poderá o Deputado Distrital, mediante licença da Câmara Legislativa, desempenhar
missões de caráter diplomático e cultural.
Art. 62. Os Deputados Distritais não poderão:
I - desde a expedição do diploma:
a) firmar ou manter contrato com pessoa jurídica de direito público, autarquia, empresa pública,
sociedade de economia mista ou empresa concessionária de serviço público, salvo quando o
contrato obedecer a cláusulas uniformes;
b) aceitar ou exercer cargo, função ou emprego remunerado, inclusive os de que sejam
demissíveis ad nutum nas entidades constantes da alínea anterior;
II - desde a posse:
a) ser proprietários, controladores ou diretores de empresa que goze de favor decorrente de
contrato com pessoa jurídica de direito público, ou nela exercer função remunerada;
b) ocupar cargo ou função de que sejam demissíveis ad nutum, nas entidades referidas no inciso
I, a;
c) patrocinar causa em que seja interessada qualquer das entidades a que se refere o inciso I,
a;
d) ser titulares de mais de um cargo ou mandato público eletivo.
Art. 63. Perderá o mandato o Deputado Distrital:
I - que infringir qualquer das proibições estabelecidas no artigo anterior;
II - cujo procedimento for declarado incompatível com o decoro parlamentar;
III - que deixar de comparecer, em cada sessão legislativa, à terça parte das sessões ordinárias,
salvo licença ou missão autorizada pela Câmara Legislativa;
IV - que perder ou tiver suspensos os direitos políticos;
V - quando o decretar a Justiça Eleitoral, nos casos previstos na Constituição Federal;
VI - que sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado;
VII - que utilizar-se do mandato para a prática de atos de corrupção ou improbidade
administrativa.
§ 1º É incompatível com o decoro parlamentar, além dos casos definidos no regimento interno,
o abuso das prerrogativas asseguradas ao Deputado Distrital ou a percepção de vantagens
indevidas.
§ 2º Nos casos dos incisos I, II e VI, a perda do mandato será decidida por maioria absoluta dos
membros da Câmara Legislativa, em votação ostensiva, mediante provocação da Mesa Diretora
ou de partido político representado na Casa, assegurada ampla defesa.
§ 3º Nos casos previstos nos incisos III a V, a perda declarada pela Mesa Diretora, de ofício ou
mediante provocação de qualquer dos membros da Câmara Legislativa ou de partido político
nela representado, assegurada ampla defesa.
§ 4º A renúncia de Deputado Distrital submetido a processo que vise ou possa levar à perda do
mandato, nos termos deste artigo, terá seu efeitos suspensos até as deliberações finais de que
tratam os §§ 2º e 3º.
Art. 64. Não perderá o mandato o Deputado Distrital:
I - investido na função de Ministro de Estado, Secretário-Executivo de Ministério ou equivalente,
Secretário de Estado, Administrador Regional, Chefe de Missão Diplomática Temporária ou
dirigente máximo de Autarquia, Fundação Pública, Agência, Empresa Pública ou Sociedade de
Economia Mista pertencentes à Administração Pública Federal e Distrital;
II - licenciado pela Câmara Legislativa por motivo de doença ou para tratar, sem remuneração,
de interesse particular desde que, neste caso, o afastamento não ultrapasse cento e vinte dias
por sessão legislativa.
§ 1º O suplente será convocado nos casos de vaga, de investidura nas funções previstas neste
artigo ou de licença superior a cento e vinte dias.
§ 2º Ocorrendo vaga e não havendo suplente, far-se-á eleição para preenchê-la, se faltarem mais
de quinze meses para o término do mandato.
§ 3º Na hipótese do inciso I, o Deputado Distrital poderá optar pela remuneração de seu mandato.
SEÇÃO IV
DO FUNCIONAMENTO DA CÂMARA LEGISLATIVA
SUBSEÇÃO I
DAS REUNIÕES
Art. 65. A Câmara Legislativa reunir-se-á, anualmente, em sua sede, de 1º de fevereiro a 30 de
junho e de 1º de agosto a 15 de dezembro.
§ 1º As reuniões marcadas para essas datas serão transferidas para o primeiro dia útil
subseqüente, quando recaírem em sábados, domingos ou feriados.
§ 2º A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes
orçamentárias, nem encerrada sem a aprovação do projeto de lei do orçamento.
Art. 66. A Câmara Legislativa, em cada legislatura, reunir-se-á em sessões preparatórias no dia
1º de janeiro, observado o seguinte:
I - na primeira sessão legislativa, para a posse dos Deputados Distritais, eleição e posse dos
membros da Mesa Diretora;
II - na terceira sessão legislativa, para a posse dos membros da Mesa Diretora eleitos no último
dia útil da primeira quinzena de dezembro da sessão legislativa anterior, vedada a recondução
para o mesmo cargo.
Parágrafo único. Na composição da Mesa Diretora é assegurada, tanto quanto possível, a
proporcionalidade da representação partidária ou de blocos parlamentares com participação na
Câmara Legislativa.
Art. 67. A convocação extraordinária da Câmara Legislativa far-se-á:
I - pelo Presidente, nos casos de:
a) decretação de estado de sítio ou estado de defesa que atinja o território do Distrito Federal;
b) intervenção no Distrito Federal;
c) recebimento dos autos de prisão de Deputado Distrital, na hipótese de flagrante de crime
inafiançável;
d) posse do Governador e Vice-Governador;
II - pela Mesa Diretora ou a requerimento de um terço dos Deputados que compõem a Câmara
Legislativa, para apreciação de ato do Governador do Distrito Federal que importe crime de
responsabilidade;
III - pelo Governador do Distrito Federal, pelo Presidente da Câmara Legislativa ou a
requerimento da maioria dos seus membros, em caso de urgência ou interesse público relevante;
IV - pela comissão representativa prevista no art. 68, § 5º, nas hipóteses estabelecidas nesta Lei
Orgânica.
Parágrafo único. Na sessão legislativa extraordinária, a Câmara Legislativa somente deliberará
sobre a matéria para a qual tiver sido convocada.
SUBSEÇÃO II
DAS COMISSÕES
Art. 68. A Câmara Legislativa terá comissões permanentes e temporárias, constituídas na forma
e com as atribuições previstas no seu regimento interno ou no ato legislativo de que resultar sua
criação.
§ 1º Na composição de cada comissão, é assegurada, tanto quanto possível, a representação
proporcional dos partidos ou dos blocos parlamentares com participação na Câmara Legislativa.
§ 2º Às comissões, em razão da matéria de sua competência, cabe:
I - apreciar e emitir parecer sobre proposições, na forma do regimento interno da Câmara
Legislativa;
II - realizar audiências públicas com entidades representativas da sociedade civil;
III - convocar Secretários de Governo, dirigentes e servidores da administração pública direta e
indireta do Distrito Federal e o Procurador-Geral a prestar informações sobre assuntos inerentes
a suas atribuições;
IV - receber petições, reclamações, representações ou queixas contra atos ou omissões das
autoridades ou entidades públicas;
V - solicitar depoimento de qualquer autoridade ou cidadão;
VI - apreciar programas de obras, planos regionais e setoriais de desenvolvimento e sobre eles
emitir parecer;
VII - fiscalizar os atos que envolvam gastos de órgãos e entidades da administração pública.
§ 3º As comissões parlamentares de inquérito, que terão poderes de investigação próprios das
autoridades judiciais, além de outros previstos no regimento interno, serão criadas mediante
requerimento de um terço dos membros da Câmara Legislativa, para apuração de fato
determinado e por prazo certo; sendo suas conclusões, se for o caso, encaminhadas ao
Ministério Público e á Procuradoria-Geral do Distrito Federal, para que promovam a
responsabilidade civil, criminal, administrativa ou tributária do infrator.
§ 4º A omissão de informação às comissões parlamentares de inquérito, inclusive as que
envolvam sigilo, ou a prestação de informações falsas constituem crime de responsabilidade, na
forma da legislação pertinente.
§ 5º Durante o recesso, haverá uma comissão representativa da Câmara Legislativa, com
atribuições definidas no regimento interno, cuja composição reproduzirá, tanto quanto possível,
a proporcionalidade de representação partidária, eleita na última sessão ordinária de casa
sessão legislativa.
SEÇÃO V
DO PROCESSO LEGISLATIVO
Art. 69. O processo legislativo compreende a elaboração de:
I - emendas à Lei Orgânica;
II - leis complementares;
III - leis ordinárias;
IV - decretos legislativos;
V - resoluções.
Parágrafo único. Lei complementar disporá sobre elaboração, redação, alteração e consolidação
das leis do Distrito Federal.
SUBSEÇÃO I
DAS EMENDAS À LEI ORGÂNICA
Art. 70. A Lei Orgânica poderá ser emendada mediante proposta:
I - de um terço, no mínimo, dos membros da Câmara Legislativa;
II - do Governador do Distrito Federal;
III - de cidadãos, mediante iniciativa popular assinada, no mínimo, por um por cento dos eleitores
do Distrito Federal distribuídos em, pelo menos, três zonas eleitorais, com não menos de três
décimos por cento do eleitorado de cada uma delas.
§ 1º A proposta será discutida e votada em dois turnos, com interstício mínimo de dez dias, e
considerada aprovada se obtiver em ambos, o voto favorável de dois terços dos membros da
Câmara Legislativa.
§ 2º A emenda à Lei Orgânica será promulgada pela Mesa Diretora da Câmara Legislativa, com
o respectivo número de ordem.
§ 3º Não será objeto de deliberação a proposta de emenda que ferir princípios da Constituição
Federal.
§ 4º A matéria constante de proposta de emenda rejeitada ou havida por prejudicada não pode
ser objeto de nova proposta na mesma sessão legislativa.
§ 5º A Lei Orgânica não poderá ser emendada na vigência de intervenção federal, estado de
defesa ou estado de sítio.
SUBSEÇÃO II
DAS LEIS
Art. 71. A iniciativa das leis complementares e ordinárias cabe a qualquer membro ou comissão
da Câmara Legislativa, ao Governador do Distrito Federal e, nos termos do art. 84, IV, ao Tribunal
de Contas do Distrito Federal, assim como aos cidadãos, na forma e nos casos previstos nesta
Lei Orgânica.
§ 1º Compete privativamente ao Governador do Distrito Federal a iniciativa das leis que
disponham sobre:
I - criação de cargos, funções ou empregos públicos na administração direta, autárquica
e fundacional, ou aumento de sua remuneração;
II - servidores públicos do Distrito Federal, seu regime jurídico, provimento de cargos,
estabilidade e aposentadoria;
III - organização da Procuradoria-Geral do Distrito Federal;
IV - criação, estruturação, reestruturação, desmembramento, extinção, incorporação, fusão e
atribuições das Secretarias de Governo, Órgãos e entidades da administração pública;
V - plano plurianual, orçamento anual e diretrizes orçamentárias.
§ 2º Não será objeto de deliberação proposta que vise a conceder gratuidade ou subsídio em
serviço público prestado de forma indireta, sem a correspondente indicação da fonte de custeio.
Art. 72. Não será admitido aumento da despesa prevista:
I - nos projetos de iniciativa exclusiva do Governador do Distrito Federal, ressalvado o disposto
no art. 166, §§ 3º e 4º da Constituição Federal;
II - nos projetos sobre organização dos serviços administrativos da Câmara Legislativa.
Art. 73. O Governador do Distrito Federal pode solicitar urgência para apreciação de projetos de
sua iniciativa.
§ 1º Se, na hipótese prevista no caput, a Câmara Legislativa não se manifestar sobre a
proposição em até quarenta e cinco dias, esta deverá ser incluída na Ordem do Dia, sobrestando-
se a deliberação quanto aos demais assuntos, para que se ultime a votação.
§ 2º Os prazos de que trata o parágrafo anterior não ocorrem nos períodos de recesso da Câmara
Legislativa, nem se aplicam a projetos de código e de emendas a esta Lei Orgânica.
Art. 74. Aprovado o projeto de lei, na forma regimental, será ele enviado ao Governador que,
aquiescendo, o sancionará e promulgará.
§ 1º Se o Governador do Distrito Federal considerar o projeto de lei, no todo ou em parte,
inconstitucional ou contrário ao interesse público, vetá-lo-á total ou parcialmente, e comunicará,
dentro de quarenta e oito horas, os motivos do veto ao Presidente da Câmara Legislativa.
§ 2º O veto parcial somente abrangerá texto integral de artigo, parágrafo, inciso ou alínea.
§ 3º Decorrido o prazo de quinze dias, o silêncio do Governador importará sanção.
§ 4º Se o veto não for mantido, será o projeto enviado ao Governador para promulgação.
§ 5º Esgotado, sem deliberação, o prazo estabelecido no art. 66, § 4º, da Constituição Federal,
o veto será incluído na ordem do dia da sessão imediata, sobrestadas as demais proposições
até a sua votação final, só podendo ser rejeitado pelo voto da maioria absoluta dos Deputados,
em votação ostensiva.
§ 6º Se a lei não for promulgada em quarenta e oito horas pelo Governador nos casos dos §§ 3º
e 4º, o Presidente da Câmara Legislativa a promulgará e, se este não o fizer em igual prazo,
caberá ao Vice-Presidente fazê-lo.
§ 7º A matéria constante de projeto lei rejeitado somente poderá constituir objeto de novo projeto,
na mesma sessão legislativa, mediante proposta da maioria absoluta dos membros da Câmara
Legislativa.
§ 8º Caso o projeto de lei seja vetado durante o recesso da Câmara Legislativa, o Governador
comunicará o veto à comissão a que se refere o art. 68, § 5º e, dependendo da urgência e da
relevância da matéria, poderá convocar a Câmara Legislativa para sobre ele se manifestar, nos
termos do art. 67, IV.
Art. 75. As leis complementares serão aprovadas por maioria absoluta dos Deputados da Câmara
Legislativa e receberão numeração distinta das leis ordinárias.
Parágrafo único. Para os fins deste artigo, constituirão leis complementares, entre outras:
I - a lei de organização do Tribunal de Contas do Distrito Federal;
II - o estatuto dos servidores públicos civis;
III - a lei de organização da Procuradoria-Geral do Distrito Federal;
IV - a lei do sistema tributário do Distrito Federal;
V - a lei que dispõe sobre as atribuições do Vice-Governador do Distrito Federal;
VI - a lei que dispõe sobre a organização do sistema de educação do Distrito Federal;
VII - a lei de organização da previdência dos servidores públicos do Distrito Federal;
VIII - a lei que dispõe sobre o plano diretor de ordenamento territorial do Distrito Federal.
IX - a lei que dispõe sobre a Lei de Uso e Ocupação do Solo;
X - a lei que dispõe sobre o Plano de Preservação do Conjunto Urbanístico de Brasília;
XI - a lei que dispõe sobre o Plano de Desenvolvimento Local.
XII – a lei de organização e funcionamento da Defensoria Pública do Distrito Federal.
SUBSEÇÃO III
DA INICIATIVA POPULAR
Art. 76. A iniciativa popular pode ser exercida pela apresentação à Câmara Legislativa de
emenda à Lei Orgânica, na forma do art. 70, III, ou de projeto de lei devidamente articulado,
justificado e subscrito por, no mínimo, um por cento do eleitorado do Distrito Federal, distribuído
por três zonas eleitorais, assegurada a defesa do projeto por representantes dos respectivos
autores perante as comissões nas quais tramitar.
SEÇÃO VI
DA FISCALIZAÇÃO CONTÁBIL E FINANCEIRA
SUBSEÇÃO I
DAS DISPOSIÇÕES GERAIS
Art. 77. A fiscalização contábil, financeira, orçamentária, operacional e patrimonial do Distrito
Federal e das entidades da administração direta, indireta e das fundações instituídas ou mantidas
pelo Poder Público, quanto à legalidade, legitimidade, economicidade, aplicação de subvenções
e renúncia de receitas, será exercida pela Câmara Legislativa, mediante controle externo, e pelo
sistema de controle interno de cada Poder.
Parágrafo único. Prestará contas qualquer pessoa física ou entidade pública que utilize,
arrecade, guarde, gerencie ou administre dinheiros, bens e valores públicos ou pelos quais o
Distrito Federal responda, ou quem, em nome deste, assuma obrigações de natureza pecuniária.
Art. 78. O controle externo, a cargo da Câmara Legislativa, será exercido com auxílio do Tribunal
de Contas do Distrito Federal, ao qual compete:
I - apreciar as contas anuais do Governador, fazer sobre elas relatórios analítico e emitir parecer
prévio no prazo de sessenta dias, contados do seu recebimento da Câmara Legislativa.
II - julgas as contas:
a) dos administradores e demais responsáveis por dinheiros, bens e valores da administração
direta e indireta ou que estejam sob sua responsabilidade, incluídos os das fundações e
sociedades instituídas ou mantidas pelo Poder Público do Distrito Federal, bem como daqueles
que derem causa a perda, extravio ou outra irregularidade de que resulte prejuízo ao erário;
b) dos dirigentes ou liquidantes de empresas incorporadas, extintas, liquidadas ou sob
intervenção ou que, de qualquer modo, venham a integrar, provisória ou definitivamente, o
patrimônio do Distrito Federal ou de outra entidade da administração indireta.
c) daqueles que assumam obrigações de natureza pecuniária em nome do Distrito Federal ou de
entidade da administração indireta;
d) dos dirigentes de entidades dotadas de personalidade jurídica de direito privado que recebam
contribuições, subvenções, auxílios e afins, até o limite do patrimônio transferido.
III - apreciar, para fins de registro, a legalidade dos atos de admissão de pessoal, a qualquer
título, na administração direta e indireta, incluídas as fundações instituídas e mantidas pelo Poder
Público, excetuadas as nomeações para cargo de provimento em comissão, bem como a das
concessões de aposentadorias, reformas e pensões, ressalvadas as melhorias posteriores que
não alterem o fundamento legal do ato concessório;
IV - avaliar a execução das metas previstas no plano plurianual, nas diretrizes orçamentárias e
no orçamento anual;
V - realizar, por iniciativa própria, da Câmara Legislativa ou de alguma de suas comissões
técnicas ou de inquérito, inspeções e auditorias de natureza contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial, nas unidades administrativas dos Poderes Executivo e Legislativo do
Distrito Federal:
a) da estimativa, lançamento, arrecadação, recolhimento, parcelamento e renúncia de receitas;
b) dos incentivos, transações, remissões e anistias fiscais, isenções, subsídios, benefícios e
afins, de natureza financeira, tributária, creditícia e outras concedidas pelo Distrito Federal;
c) das despesas de investimento e custeio, inclusive á conta de fundo especial, de natureza
contábil ou financeira;
d) das concessões, cessões, doações, permissões e contratos de qualquer natureza, a título
oneroso ou gratuito, e das subvenções sociais ou econômicas, dos auxílios, contribuições e
doações.
e) de outros atos e procedimentos de que resultem variações patrimoniais;
VI - fiscalizar as aplicações do Poder Público em empresas de cujo capital social o Distrito
Federal participe de forma direta ou indireta, nos termos do respectivo ato constitutivo;
VII - fiscalizar a aplicação de quaisquer recursos repassados ao Distrito Federal ou pelo Distrito
Federal, mediante convênio, acordo, ajuste ou outros instrumentos congêneres;
VIII - prestar as informações solicitadas pela Câmara Legislativa ou por qualquer de suas
comissões técnicas ou de inquérito sobre a fiscalização contábil, financeira, orçamentária,
operacional e patrimonial e sobre resultados de auditorias e inspeções realizadas;
IX - aplicar aos responsáveis, em caso de ilegalidade de despesa ou irregularidade de contas,
as sanções previstas em lei, a qual estabelecerá, entre outras cominações, multa proporcional
ao dado causado ao erário;
X - assinar prazo que o órgão ou entidade adote as providências necessárias ao exato
cumprimento da lei, verificada a ilegalidade;
XI - sustar, se não atendido, a execução do ato impugnado, comunicando a decisão à Câmara
Legislativa;
XII - representar ao Poder competente sobre irregularidades ou abusos apurados;
XIV - apreciar e apurar denúncias sobre irregularidades e ilegalidades dos atos sujeitos a seu
controle.
§ 1º No caso de contrato, o ato de sustação será adotado diretamente pela Câmara Legislativa,
que solicitará, de imediato, ao Poder Executivo as medidas cabíveis.
§ 2º Se a Câmara Legislativa ou o Poder Executivo, no prazo de noventa dias, não efetivar as
medidas previstas no parágrafo anterior, o Tribunal decidirá da questão.
§ 3º O Tribunal encaminhará à Câmara Legislativa, trimestral e anualmente, relatório
circunstanciado e demonstrativo das atividades internas e de controle externo realizadas.
§ 4º Nos casos de irregularidade ou ilegalidade constatados, sem imputação de débito, em que
o Tribunal de Contas do Distrito Federal decidir não aplicar o disposto no inciso IX deste artigo,
deverão os respectivos votos ser publicados juntamente com a ata da sessão em que se der o
julgamento.
§ 5º As decisões do Tribunal de Contas do Distrito Federal de que resultem imputação de débitos
ou multa terá eficácia de título executivo.
Art. 79. A Câmara Legislativa ou a comissão competente, diante de indícios de despesas não
autorizadas, ainda que sob forma de investimentos não programados ou de incentivos, isenções,
anistias, remissões, subsídios ou benefícios de natureza financeira, tributária ou creditícia não
aprovados, poderá solicitar à autoridade governamental responsável que, no prazo de cinco dias,
preste esclarecimentos necessários.
§ 1º Não prestados os esclarecimentos ou considerados estes insuficientes, a Câmara Legislativa
ou a comissão competente solicitará ao Tribunal de Contas pronunciamento conclusivo sobre a
matéria, no prazo de trinta dias.
§ 2º Entendendo o Tribunal de Contas irregular a despesa, a comissão competente, se julgar que
o gasto possa causar dano irreparável ou grave lesão à economia pública, proporá à Câmara
Legislativa sua sustação, se ainda não realizado, ou seu reembolso devidamente atualizado
monetariamente, consoante regras vigentes, se já efetuado.
§ 3º O Tribunal de Contas do Distrito Federal agirá de ofício ou mediante iniciativa da Câmara
Legislativa, do Ministério Público ou das autoridades financeiras e orçamentárias do Distrito
Federal ou dos demais órgãos auxiliares, sempre que houver indício de irregularidade em
qualquer despesa, inclusive naquela decorrente de contrato.
Art. 80. Os Poderes Legislativo e Executivo manterão, de forma integrada, sistema de controle
interno com a finalidade de:
I - avaliar o cumprimento das metas previstas no plano plurianual, a execução dos programas de
governo e dos orçamentos do Distrito Federal;
II - comprovar a legalidade e avaliar os resultados quanto à eficácia e eficiência da gestão
orçamentária, financeira, contábil e patrimonial nos órgãos e entidades da administração do
Distrito Federal, e quanto à da aplicação de recursos públicos por entidades de direito privado;
III - exercer o controle sobre o deferimento de vantagens e a forma de calcular qualquer parcela
integrante da remuneração, vencimento ou salário de seus membros ou servidores;
IV - exercer o controle das operações de crédito, avais e garantias, bem como os dos direitos e
haveres do Distrito Federal;
V - avaliar a relação de custo e benefício das renúncias de receitas e dos incentivos, remissões,
parcelamentos de dívidas, anistias, isenções, subsídios, benefícios e afins de natureza
financeira, tributária, creditícia e outros.
VI - apoiar o controle externo, no exercício de sua missão institucional.
§ 1º Os responsáveis pelo controle interno, ao tomarem conhecimento de qualquer
irregularidade, ilegalidade ou ofensa aos princípios do art. 37 da Constituição Federal, dela darão
ciência ao Tribunal de Contas do Distrito Federal, sob pena de responsabilidade solidária.
§ 2º As contas públicas do Distrito Federal ficarão, durante sessenta dias, anualmente, em local
próprio da Câmara Legislativa à disposição de qualquer contribuinte para exame e apreciação.
§ 3º Qualquer cidadão, partido político, associação ou entidade sindical é parte legítima para, na
forma da lei, denunciar irregularidades ao Tribunal de Contas ou à Câmara Legislativa.
§ 4º A prestação de contas anual do Governador e as tomadas ou prestações de contas anuais
dos administradores dos órgãos e entidades do Distrito Federal deverão ser acompanhadas de
relatório circunstanciado do órgão de controle interno sobre o resultado das atividades indicadas
neste artigo.
Art. 81. O Tribunal de Contas do Distrito Federal prestará contas anualmente de sua execução
orçamentária, financeira e patrimonial à Câmara Legislativa até sessenta dias da data da
abertura da sessão do ano seguinte àquele a que se referir o exercício financeiro quanto aos
aspectos de legalidade, legitimidade e economicidade, observados os demais preceitos legais.
SUBSEÇÃO II
DO TRIBUNAL DE CONTAS
Art. 82. O Tribunal de Contas do Distrito Federal, integrado por sete Conselheiros, tem sede na
cidade de Brasília, quadro próprio de pessoal e jurisdição em todo o território do Distrito Federal,
exercendo, no que couber, as atribuições previstas no art. 96 da Constituição Federal.
§ 1º Os Conselheiros do Tribunal serão nomeados entre brasileiros que satisfaçam os seguintes
requisitos:
I - mais de trinta e cinco e menos de sessenta e cinco anos de idade;
II - idoneidade moral e reputação ilibada;
III - notáveis conhecimentos jurídicos, contábeis, econômicos e financeiros ou de administração
pública;
IV - mais de dez anos de exercício de função ou de efetiva atividade profissional que exija os
conhecimentos mencionados no item anterior.
§ 2º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal serão escolhidos:
I – três pelo Governador do Distrito Federal, com a aprovação da Câmara Legislativa, sendo um
de livre escolha, e dois alternadamente dentre auditores e membros do Ministério Público junto
ao Tribunal, indicados em lista tríplice pelo Tribunal, segundo os critérios de antiguidade e
merecimento;
II – quatro pela Câmara Legislativa.
§ 3º Caberá à Câmara Legislativa indicar Conselheiros para a primeira, segunda, quarta e sétima
vagas, e ao Poder Executivo para a terceira e quinta vagas.
§ 4º Os Conselheiros do Tribunal de Contas terão as mesmas garantias, prerrogativas,
impedimentos, vencimentos e vantagens dos Desembargadores do Tribunal de Justiça do
Distrito Federal e Territórios, na forma da Constituição Federal, e somente poderão aposentar-
se com as vantagens do cargo quanto o tiverem exercido, efetivamente, por mais de cinco anos.
§ 5º Os Conselheiros, nas suas faltas e impedimentos, serão substituídos por Auditores, na forma
da lei.
§ 6º O Auditor, quando em substituição a Conselheiro, terá as mesmas garantias, prerrogativas
e impedimentos do titular e, no exercício das demais atribuições da judicatura, as de Juiz de
Direito da Justiça do Distrito Federal e Territórios.
§ 7º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal farão declaração pública de bens,
no ato da posse e no término do exercício do cargo.
§ 8º Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal, nos casos de crime comum e
nos de responsabilidade, serão processados e julgados, originariamente, pelo Superior Tribunal
de Justiça.
§ 9° É proibida a nomeação para o cargo de Conselheiro do Tribunal de Contas do Distrito
Federal de pessoa que tenha praticado ato tipificado como causa de inelegibilidade prevista na
legislação eleitoral.
Art. 83. Os Conselheiros do Tribunal de Contas do Distrito Federal ainda que em disponibilidade,
não poderão exercer outra função pública, nem qualquer profissão remunerada, salvo uma de
magistério, nem receber, a qualquer título ou pretexto, participação nos processos, bem como
dedicar-se à atividade político-partidária, sob pena de perda do cargo.
Art. 84. É da competência exclusiva do Tribunal de Contas do Distrito Federal:
I - elaborar, aprovar e alterar seu regimento interno;
II - organizar seus serviços auxiliares e prover os respectivos cargos, ocupados aqueles em
comissão preferencialmente por servidores de carreira do próprio tribunal, nos casos e condições
que deverão ser previstos em sua lei de organização;
III - conceder licença, férias e outros afastamentos a Conselheiros e Auditores;
IV - propor à Câmara Legislativa a criação, transformação e extinção de cargos e afixação dos
respectivos vencimentos;
V - elaborar sua proposta orçamentária, observados os princípios estabelecidos na lei de
diretrizes orçamentárias.
Art. 85. Funcionará junto ao Tribunal de Contas o Ministério Público, regido pelos princípios
institucionais de unidade, indivisibilidade e independência funcional, com as atribuições de
guarda da lei e fiscal de sua execução.
Parágrafo único. A proibição de que trata o art. 82, § 9°, aplica-se à nomeação do Procurador-
Geral do Ministério Público de Contas do Distrito Federal.
Art. 86. Lei complementar do Distrito Federal disporá sobre a organização e funcionamento do
Tribunal de Contas, podendo dividi-lo em câmaras e criar delegações ou órgãos destinados a
auxiliá-lo no exercício de suas funções e na descentralização dos seus trabalhos.
1. Funções
As funções típicas do Poder Legislativo são legislar (desde a Emenda Constitucional até
as leis ordinárias) e fiscalizar (exercer o controle político do Poder Executivo e realizar a fiscalização
orçamentária de todos os que lidam com verbas públicas), sendo que ambas tem o mesmo grau de
importância.
As funções atípicas constituem-se em administrar (ex. quando o Legislativo dispõe
sobre sua organização e operacionalidade interna, provimento de cargos, promoções de seus servidores) e
julgar (ex. processo e julgamento do Presidente da República por crime de responsabilidade).
NOTA: De uma maneira clássica, pode-se dizer que o Legislativo faz a lei; o Executivo
aplica a lei na Administração; e o Judiciário a aplica na solução de conflitos. O centro do Poder era o Poder
Legislativo. Entretanto, no século XX o estado liberal é substituído pelo estado do bem estar social e o centro
do poder migra para o Poder Executivo, que é quem presta as atividades necessárias à sociedade. È o
Executivo quem dita a pauta do Legislativo e os projetos de lei são do interesse do Executivo. Na verdade, a
própria função de legislar migra para o Executivo (ex. MP, poder normativo das Agências Reguladoras, Dec.-
Lei).
2. Congresso Nacional
O Poder Legislativo Federal é BICAMERAL, por conta do estado federativo (art. 44, da
CF). É exercido pelo Congresso Nacional, que se compõe da Câmara dos Deputados (representantes do
povo) e do Senado Federal (representantes dos Estados e do DF), diferentemente dos estaduais, distritais e
municipais, onde é consagrado o unicameralismo (arts. 27, 29 e 32, da CF).
O CN reunir-se-á, anualmente, na Capital Federal, de 2 de fevereiro a 17 de julho e de
1° de agosto a 22 de dezembro. Cada legislatura terá duração de 4 anos, compreendendo 4 sessões
legislativas3 ou 8 períodos legislativos. Fora desse período, temos o recesso parlamentar. Atentar que com
a EC 50/2006 houve a redução desse recesso (de 90 para 55 dias). 4
Não confundir legislatura (período de 4 anos) com mandato; um Senador é eleito
para 2 legislaturas (8 anos).
O mandato dos deputados é de 4 anos (uma legislatura), o dos senadores, 8 anos,
havendo sua renovação a cada 4 anos, na proporção intercalada de 1/3 e 2/3.
O número de deputados federais deve ser proporcional à população de cada Estado-
membro. O número total de Deputados será estabelecido por lei complementar, com ajustes no ano anterior
às eleições, sendo que nenhum Estado-membro pode ter menos de 8 nem mais de 70 deputados federais.
Os senadores representam os Estados e o Distrito Federal; são em número de 3 por
unidade da Federação, com 2 suplentes, e mandato de 8 anos (princípio majoritário).
3. As Deliberações
3
Art. 57, § 2°, da CF – A sessão legislativa não será interrompida sem a aprovação do projeto de lei de diretrizes orçamentárias.
4
Acrescentado pela revisora.
Para que a sessão de votação seja instalada, para que seja tomada qualquer decisão, é
necessária a presença da maioria dos membros da Casa ou de suas Comissões (quórum de maioria absoluta
para a instalação). Assim, por ex., se fosse 500, teriam que estar presentes 251.
Salvo disposição constitucional em sentido contrário, as deliberações de cada uma das
Casas e de suas Comissões são tomadas por maioria de votos (quórum de aprovação), presente a maioria
absoluta de seus membros (artigo 47 da Constituição Federal). É a denominada maioria simples, ou
maioria relativa, porque não se relaciona com o total (ex. se estiverem presentes 300, é aprovada com 151
votos).
As abstenções dos presentes só validam o quórum de instalação.
► O quórum pode ser de maioria:
1. absoluta;
2. simples (relativa);
3. 3/5: para as emendas e tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos
para serem equivalentes a emendas (60%);
4. 2/3: Lei Orgânica Municipal e impeachment – art. 29 - (66,66%).
NOTA: o maior quórum NÃO é das emendas, é da Lei Orgânica Municipal. O
impeachment não é processo legislativo, é julgamento.
Em regra, as deliberações legislativas do Congresso Nacional são submetidas à sanção
do Presidente da República.
Algumas matérias, porém, não exigem a sanção do Presidente, pois são de competência
exclusiva do Congresso, da Câmara ou do Senado (artigos 49, 51 e 52 da Constituição Federal). Nesses
casos não tem sanção porque é só competência decisória e não lei, por isso são exercidas por meio de
Resoluções. Podem ser políticas, interna corporis, de julgar.
OBS. O Presidente da República NÃO sanciona nem veta a Emenda Constitucional. Quem
promulga são as Mesas do Senado e da Câmara.
As mesas diretoras são escolhidas nas sessões preparatórias de 1.º de fevereiro, com
mandato de 2 anos, vedada a recondução para o mesmo cargo na eleição imediatamente subseqüente.
Essa vedação à recondução não é norma de reprodução obrigatória nas Constituições
Estaduais (STF).
O Congresso Nacional é presidido pelo presidente do Senado Federal e pode ser
convocado extraordinariamente, em casos de urgência ou relevante interesse público, ocasião em que só
deliberará sobre a matéria que deu causa à convocação.
O Presidente da República, os presidentes da Câmara e do Senado, ou a maioria dos
membros de ambas as Casas podem convocar extraordinariamente o Congresso em caso de urgência ou de
interesse público relevante. Sessão essa em que somente se deliberará sobre a matéria para a qual foi
convocado e sobre MPs que estiverem em vigor na data da convocação, vedado o pagamento de qualquer
parcela indenizatória (art.57,§7º, CF). Sobre a questão dessa verba, extinta pela EC 50/2006, Pedro Lenza
esclarece:
“Mas atenção: nos termos do artigo 3º do Decreto Legislativo n.7/95, continua devida ao
parlamentar, no início e no final previstos para a sessão legislativa ordinária, ajuda de
custo equivalente ao valor da remuneração, ficando vedado o seu pagamento, contudo,
na sessão legislativa extraordinária.
A ajuda de custo destina-se, nos termos do revogado §1º do art.3º do Decreto Legislativo
nº7/95, à compensação de despesas com transporte e outras imprescindíveis para o
comparecimento à sessão legislativa.”5
- Art. 51, I, CF: o CN entende que o impeachment não é processo criminal, mas sim
político. É uma decisão política.
- Nos casos de julgamentos previstos nos incisos I e II do art. 52 da CF, funcionará como
presidente o do STF, a condenação só será proferida por 2/3 dos votos do Senado Federal, sendo que não
5
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado, 11ª ed. Método : São Paulo, 2007, p.343. observações inseridas pela revisora.
há prisão temporária, cautelar etc., porque não há previsão de pena de prisão, mas sim, inabilitação por
8 anos para o exercício de cargo e função pública, perde o cargo.
4. As Comissões
Além dos plenários, o Legislativo (Congresso Nacional, Câmara dos Deputados, Senado
Federal, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores) atua por meio de comissões – grupos menores
de parlamentares que deliberam, de forma transitória ou temporária (ex. Comissão Parlamentar de Inquérito)
ou permanente (ex. Comissão de Constituição e Justiça e a Comissão de Cidadania do Senado), sobre
determinados assuntos.
Outra divisão possível é a seguinte: comissões temáticas ou em razão da matéria (ex:
comissão da saúde, do orçamento, do transporte...); comissão especial ou temporária (extingue-se com o
fim da legislatura ou com o término de sua finalidade); comissões parlamentares de inquérito; comissões
mistas (examinadas em sessão conjunta do CN. ex: comissão mista e permanente do orçamento) e
comissões representativas (constitui-se apenas no período de recesso parlamentar). 6
Na formação das comissões, deve ser observada a representação proporcional dos
partidos.
A Constituição admite que à comissão seja delegada a deliberação (votação) sobre projeto
de lei que dispensar, na forma do Regimento Interno, a competência do plenário. É a chamada delegação
interna corporis (artigo 58, § 2.º, inciso I, da Constituição Federal), impugnável antes da votação por recurso
de 1/10 dos membros da Casa e que não pode ser utilizada para aprovação de Projeto de Emenda
Constitucional ou de Lei Complementar.
4.1. As Comissões Parlamentares de Inquérito (CPIs)
Requisitos:
1- requerimento de pelo menos 1/3 da Casa;
2- objeto determinado: mas pode apurar fatos novos e fatos conexos. Fato
exclusivamente privado não pode, nem exclusivamente local ou regional; só se tiver algum
interesse geral; tem que respeitar o pacto federativo, não pode querer investigar um Estado, DF
ou Município.
3- prazo certo de duração: geralmente 6 meses, pode ser prorrogada até que se termine
a legislatura, não pode passar para a próxima.
As CPIs têm poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, além de outros
previstos nos regimentos das respectivas casas. Mas, as CPIs não têm poderes de autoridade judicial.
A CPI não pode decretar a indisponibilidade de bens, porque não é poderes de
investigação, mas sim, poder geral de cautela; a CPI só tem poderes de investigação, e mesmo assim, nem
todos, aqueles considerados reserva de jurisdição a CPI não tem, então quando a CF disser que só o juiz
pode fazer ninguém mais pode, ex: interceptação telefônica; prisão preventiva e temporária, inviolabilidade
do domicílio.
As deliberações das CPIs, quando relacionadas a poderes de investigação próprios das
autoridades judiciárias, devem ser fundamentadas, e tais fundamentações têm que ser contemporâneas a
quebra, não podem vir depois. O Supremo Tribunal Federal admite a quebra de sigilo bancário, fiscal e de
registros telefônicos por determinação de Comissão Parlamentar de Inquérito, desde que devidamente
motivada.
A Lei Complementar n. 105/01, que dispõe sobre sigilo bancário, revogou o artigo 38 da
Lei n. 4.595/94, autorizando que o Poder Legislativo Federal e as CPIs, fundamentadamente, tenham acesso
direto (sem ordem judicial) a informações e documentos sigilosos das instituições financeiras. As requisições
devem ser aprovadas previamente pelo plenário da Câmara, do Senado ou da respectiva Comissão
Parlamentar de Inquérito, por maioria absoluta.
Quanto ao sigilo telefônico, à decretação de prisão preventiva, escuta telefônica, e busca
e apreensão domiciliar, cinco ministros do Supremo Tribunal Federal já declararam (incidentalmente) que
sobre os temas incide o princípio da reserva de jurisdição, ou seja, tais medidas exigem prévia autorização
judicial por previsão constitucional.
Admite-se que a Comissão Parlamentar de Inquérito determine a condução coercitiva de
testemunha e a prisão em flagrante por falso testemunho. Mas, as CPIs têm feito muitas prisões ilegais, que
6
Inserido pela revisora.
o STF tem liberado por HC, porque prendem os investigados por falso testemunho, ocorre que ele não tem o
compromisso de dizer a verdade, não é obrigado a produzir provas contra si mesmo.
Entretanto, respeitados o sigilo profissional, as prerrogativas funcionais e o direito ao
silêncio dos acusados, a Comissão Parlamentar de Inquérito pode determinar que qualquer pessoa preste
depoimento.
A CPI tem um poder que nem o juiz, MP, ou delegado têm; que é só dela: pode, antes da
sentença condenatória transitar em julgado, no relatório da CPI (conclusão da CPI), ela pode decidir
divulgar dados sigilosos para toda a sociedade, se isso for de interesse público.
Suas conclusões (instrumentalizadas por projeto de resolução) e a resolução que as
aprovar (depende de maioria simples) são encaminhadas ao Ministério Público ou às autoridades
administrativas ou judiciais competentes, para que seja promovida a responsabilização administrativa, civil e
criminal dos infratores, pois a CPI nem condena, nem absolve, não faz coisa julgada. O MP NÃO está
vinculado às conclusões da CPI.
A autoridade que presidir processo ou procedimento, administrativo ou judicial, instaurado
em razão das conclusões da Comissão Parlamentar de Inquérito, comunicará, semestralmente e até sua
conclusão, a fase em que se encontra o processo. O processo ou procedimento instaurado em razão do
relatório da Comissão Parlamentar de Inquérito deverá tramitar com prioridade sobre os demais (exceto
habeas corpus, habeas data e mandado de segurança).
Poderes da CPI:
- quebra de sigilos: bancário, fiscal e telefônico → é o registro de ligações telefônicas (não
é interceptação telefônica, nem gravação clandestina);
- conduta coercitiva: não pode obrigar a falar, a produzir prova contra si mesmo, para não
se auto incriminar.
- não pode punir delitos, nem condenar ninguém. Ela só investiga.
OBS: pode haver CPIs. Nos Estados e Municípios, o STF permite, por se NORMA DE
REPETIÇÃO OBRIGATÓRIA → simetria → tem que ser reproduzidas nas CEs e nas LOM (ex. processo
legislativo e normas do Tribunal de Contas da União, CPI). Entretanto, os Estados não podem investigar
quem tem foro privilegiado federal; tem os mesmos poderes (princípio da simetria, o qual não está expresso
na CF, mas implícito no art. 25, CF):
OBS: É da competência originária do STF processar e julgar MS e HC impetrados contra
CPI´s no âmbito do Congresso Nacional ou de qualquer de suas casas. 7
7
Inserido pela revisora
5. Imunidades e Impedimentos (Estatuto dos Parlamentares)
5.1. A imunidade material (real) ou inviolabilidade parlamentar
Os parlamentares federais (deputados federais e senadores), estaduais
(deputados estaduais) e municipais (vereadores) são invioláveis, civil e penalmente, por
quaisquer de suas opiniões, palavras e votos. Trata-se de IMUNIDADE MATERIAL (real),
que exime o parlamentar do enquadramento no tipo penal, impedindo a instauração de Inquérito
Policial. Assim, não responde por esses crimes.
Conforme leciona Damásio de Jesus8, trata-se de causa funcional de
exclusão de pena e não de exclusão da antijuridicidade. Por isso, embora não seja punível, o
fato pode ser típico e ilícito, admitindo inclusive a legítima defesa.
A inviolabilidade (imunidade material), segundo prevalece no Supremo
Tribunal Federal, significa que o parlamentar não pode ser responsabilizado civil ou
penalmente, a qualquer tempo, por suas opiniões, palavras e votos manifestados no exercício
do mandato. A imunidade real tem por pressuposto o exercício do mandato ou, ao menos, um
nexo de causalidade entre o ato praticado e a qualidade de mandatário político do agente. Em
síntese, a imunidade material é prerrogativa concedida aos parlamentares para o exercício de
sua atividade com a mais ampla liberdade de manifestação, por meio de palavras, discussão,
debate e voto; tratanto-se pois, a imunidade, de cláusula de irresponsabilidade funcional do
congressista, que não pode ser processado judicial ao disciplinarmente pelos votos que emitiu
ou pelas palavras que pronunciou no Parlamento ou em uma das suas comissões.
A imunidade parlamentar material só protege o congressista nos atos,
palavras, opiniões e votos proferidos no exercício do ofício congressual, sendo passíveis dessa
tutela jurídico-constitucional apenas os comportamentos parlamentares cuja prática possa ser
imputável ao exercício do mandato legislativo. A garantia da imunidade material estende-se
ao desempenho das funções de representante do Poder Legislativo, qualquer que seja o
âmbito dessa atuação – parlamentar ou extraparlamentar - desde que exercida ratione
muneris.
Dessa forma, estão excluídas as manifestações que não guardem
pertinência temática com o exercício do mandato parlamentar.”9
8
Código de Processo Penal Anotado. 12.ª ed. São Paulo: Saraiva. p. 20.
9
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 16ª ed. São Paulo, Atlas, 2004, p. 415.
nominal (não há mais previsão constitucional de voto secreto nesta hipótese) da maioria dos
seus membros resolverá sobre a prisão10.
Ressalte-se que, em relação à possibilidade de prisão do parlamentar em
virtude de decisão judicial com trânsito em julgado, o STF já se posicionou pela sua
admissibilidade, por entender que “a garantia jurídico-institucional da imunidade parlamentar
formal não obsta, observado o due processo of law, a execução das penas privativas de liberdade
definitivamente impostas aos membros do Congresso nacional”. Leia-se:
Dentro do contexto normativo delineado pela Constituição, a garantia
jurídico-institucional da imunidade parlamentar formal não obsta,
observado o "due process of law", a execução de penas privativas da
liberdade definitivamente impostas ao membro do Congresso Nacional.
Precedentes: RTJ 70/607. (STF – Pleno – Inq n. 510/DF – Rel.: Min. CELSO
DE MELLO – julg. 01/02/1991.
10
De acordo com o inciso IV do artigo 251 do Regimento Interno da Câmara dos Deputados, recebidos os autos da prisão em flagrante
o Presidente da Casa os encaminhará à Comissão de Constituição e Justiça, a qual determinará a apresentação do preso e passará a
mantê-lo sob a sua custódia até a deliberação do plenário.
Saliente-se que na hipótese de ocorrer a sustação do andamento da ação
penal em relação ao parlamentar e existindo concurso de agentes com não parlamentar, o
processo deverá ser separado, enviando-se os autos à Justiça Comum, para que prossiga no
processo e julgamento do co-agente não parlamentar; enquanto a prescrição estará suspensa
para o parlamentar.
5.3. Foro Privilegiado
Os Deputados Federais e Senadores, desde a expedição do diploma, são
submetidos a julgamento perante o Supremo Tribunal Federal por infrações de natureza criminal.
Quando o mandato termina os processos vão para o juiz de 1° grau.
Lembre-se que, a Lei n. 10.628, de 24/12/2002 que deu nova redação ao §
1.º do artigo 84 do Código de Processo Penal, estabelecendo que a competência especial por
prerrogativa de função, relativa a atos administrativos do agente, prevalece ainda que o inquérito
ou a ação judicial sejam iniciados após a cessação da função pública, foi julgada inconstitucional
pelo STF pelas ADIns 2.797-2 e 2.860-0, em 15/09/2005, pois uma lei ordinária tratou da
competência dos Tribunais (matéria reservada à norma constitucional).
5.4. Outras prerrogativas:
1) Os deputados e senadores não serão obrigados a testemunhar sobre
informações recebidas ou prestadas em razão do exercício do mandato, nem sobre as pessoas
que lhes confiaram ou deles receberam informações, trata-se do sigilo da fonte (artigo 53, § 6.º,
da CF). Quanto aos demais fatos, os deputados e senadores têm o dever de testemunhar,
embora devam ser convidados a depor, e não intimados, sob pena de condução coercitiva.
2) A incorporação às Forças Armadas de Deputados e Senadores, embora
militares e ainda que em tempo de guerra, dependerá de prévia licença da Casa respectiva
(artigo 53, § 7.º, da CF).
3) Conforme já decidiu o Supremo Tribunal Federal, as imunidades
parlamentares (reais e processuais) são irrenunciáveis, indisponíveis, porque caracterizam
prerrogativa funcional e não privilégio pessoal:
4) Estabelece o § 8.º do artigo 53 da CF que as imunidades de Deputados ou
Senadores subsistirão durante o estado de sítio, é para se evitar que se falem segredos (é
possível, no entanto, haver suspensão, mediante o voto de dois terços da Casa respectiva, para
os casos de atos incompatíveis com a medida praticados fora do recinto) 11.
5) Podem ter licença não remunerada de 120 dias, por sessão legislativa,
para tratar de assuntos particulares.
5.5. Os principais impedimentos:
1) os parlamentares federais e estaduais não podem ser proprietários,
controladores ou diretores de empresas que gozem de favores decorrentes de contratos com
pessoas jurídicas de direito público, ou patrocinadores de causas daquelas;
2) poderá perder o mandato o parlamentar federal que infringir os
impedimentos do artigo 55 da CF; que tiver comportamento incompatível com o decoro
parlamentar; que injustificadamente deixar de comparecer (em cada sessão legislativa) a um
terço das sessões ordinárias da Casa a qual pertence; que sofrer condenação criminal transitada
em julgado; quando a Justiça Eleitoral decretar a perda do mandato; e na hipótese de perder ou
ter suspensos os seus direitos políticos.
Nos casos de infringência dos impedimentos, falta de decoro e condenação
criminal transitada em julgado, a perda do mandato será decidida pela Casa respectiva, após
provocação da Mesa ou de partido com representação na Casa, por meio de voto secreto da
maioria absoluta, com ampla defesa. Ocorre que, segundo o art. 15, III, da CF é automática a
perda de direitos políticos em caso de sentença criminal transitada em julgado. Significa dizer
que alguém pode ser condenado criminalmente e não ter suspenso seus direitos políticos e
continuar com o mandato. A idéia era para retirar crimes pequenos, mas não é bem o que ocorre.
11
Inserido pela revisora
Nos casos de faltas excessivas e de decretação pela Justiça Eleitoral da
perda do mandato, essa será declarada pela Mesa da Casa respectiva, de ofício, por provocação
de partido nela representado ou de qualquer dos seus membros, assegurada a ampla defesa.
A renúncia de parlamentar submetido a processo ou investigação, que
possam levar à perda do mandato, terá seus efeitos suspensos até que o plenário ou a mesa
respectiva deliberem sobre a perda. Se declarada a perda do mandato, a renúncia é arquivada.
Os parlamentares (membros do Legislativo) que perdem seus mandatos
eletivos por infringência dos incisos I e II do artigo 55 da Constituição Federal (e dispositivos
congêneres das Constituições Estaduais, da Lei Orgânica do Distrito Federal e das Leis
Orgânicas Municipais) ficam inelegíveis, condição que perdura durante o período do mandato
para o qual foram eleitos e por mais 8 anos, contados do término da legislatura (alínea “b” do
inciso I do artigo 1.º da Lei Complementar n. 64/90).
Obs. A quebra de decoro pode ter ocorrido em um mandato anterior; o STF
admite. Se foi antes de se eleger, a princípio, não, mas teve alguns casos que o parlamento
ameaçou abrir processo pela vida pregressa, e o parlamentar renunciou antes, então ainda não
há uma definição.
Os deputados estaduais gozam das mesmas imunidades e sofrem os
mesmos impedimentos dos parlamentares federais (artigo 27, § 1.º, da Constituição Federal).
5.6. A inviolabilidade dos vereadores
A inviolabilidade dos vereadores – por suas opiniões, palavras e votos, no
exercício do seu mandato e na circunscrição do Município em que atuam –, vem prevista no
artigo 29, inciso VIII, da Constituição Federal. Trata-se de imunidade material.
Por crime comum, o vereador é julgado pelo juiz de primeiro grau, porém, a
Constituição de seu Estado pode lhe atribuir a prerrogativa de ser julgado pelo Tribunal de Justiça
(artigo 125, § 1.º, da Constituição Federal). Por infração político-administrativa (crime próprio de
responsabilidade), o vereador é julgado pela respectiva Câmara Municipal.
12
Op. Cit; p.440. Inserido pela revisora.
g) Note-se que o TCU não pode, em suas decisões, ir contra a coisa julgada
(Informativo 272 do STF).
Os responsáveis pelo controle interno devem dar ciência ao Tribunal de
Contas da União de qualquer irregularidade apurada, sob pena de responsabilidade solidária.
6.3. O Ministério Público junto ao Tribunal de Contas da União
O Ministério Público, que atua junto ao Tribunal de Contas da União (art. 73,
§ 2.º, inciso I, da CF), é regido por lei ordinária de iniciativa do próprio Tribunal de Contas
da União e não por lei complementar de iniciativa do Procurador Geral da República,
embora seus membros (inclusive um procurador geral próprio) estejam sujeitos aos mesmos
direitos, vedações e forma de investidura impostos aos demais integrantes do Ministério Público
em geral (art. 130 da CF).
O ingresso na carreira ocorre mediante concurso de provas e títulos.
Na doutrina de Hugo Nigro Mazzilli:
“os membros do Ministério Público junto aos Tribunais de Contas têm atuação
restrita a esses tribunais, dando pareceres e atuando como custos legis nos
procedimentos e processos respectivos. Caso se apure a existência de ilícito
penal ou civil, devem as peças ser remetidas aos membros do Ministério
Público que tenham atribuições perante os juízes e tribunais judiciários, para
a promoção da ação civil ou penal competente”.13
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:
LENZA, Pedro. Direito Constitucional Esquematizado. 11. ed., São Paulo: Método, 2007.
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 19. ed., São Paulo: Atlas, 2006.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. 19. ed. São Paulo: Malheiros,
2001.
1. Processo: conceito, objeto, tipos. 2. Relação jurídica. 3. Atos processuais. 4. Princípios
processuais. 5. Meios de prova. 6. Os processos na Lei nº 8.078/90. 7. Ação civil pública. 8. Ação
popular. 9. Suspensão de liminar e sentença em mandado de segurança. 10. Ação de alimentos
e execução de alimentos.
Introdução.
Etimologicamente, a palavra processo significa “marcha avante”, “caminhada”, daí porque é
conceito que transcende o direito processual, estando presente, enquanto instrumento para o
legítimo exercício do poder, em todas as atividades estatais (processo administrativo, legislativo)
e mesmo não-estatais (processos disciplinares dos partidos políticos e associações).
O Processo, agora tomado em sua feição judicial, que é a que particularmente nos interessa,
está indissociavelmente ligado ao exercício da jurisdição. Sabe-se que a vida em sociedade
implica o surgimento de inúmeros conflitos de interesses, cabendo ao Estado solucionar, em
13
Introdução ao Ministério Público. 3.ª ed. São Paulo: Saraiva, 2000. p. 69
última instância, tais litígios. A esse poder de eliminar conflitos e pacificar pessoas ou grupos é,
pois, o que se denomina jurisdição. O cumprimento da função jurisdicional não se efetiva, porém,
instantaneamente. Sendo o objetivo-síntese do Estado contemporâneo a realização do bem
comum, indispensável que a pacificação social – escopo magno da jurisdição – seja feita com
justiça. Daí a importância do exercício da jurisdição submeter-se a determinadas regras jurídicas,
de molde a assegurar a plena participação dos interessados (corolário do regime democrático)
na solução dos eventuais conflitos e delimitar a atuação dos juízes, impondo-lhes deveres e
impedindo-lhes os excessos e abusos. O instrumento idôneo para tanto é, pois, o Processo.
Conceito e Mérito.
Três acepções do vocábulo processo.
1. Sistema de técnicas coordenadas por uma ciência específica e destinadas a solucionar
conflitos jurídicos. Nesta primeira acepção o vocábulo processo designa o próprio ramo do direito
que é o direito processual.
2. Método de trabalho referente ao exercício da jurisdição pelo juiz e dos poderes inerentes à
ação e defesa, pelos sujeitos envolvidos no conflito. Esse método é definido pelos princípios e
pelo direito positivo, resultando em um modelo abstrato imposto aos litigantes. O modelo
delineado pela Constituição e leis de cada país, em cada momento de sua história, é o seu
processo (processo como modelo abstrato).
3. Em sua terceira acepção, o vocábulo processo designa a realidade fenomenológica da
experiência dos juízes e das partes em relação a cada um dos conflitos concretamente trazidos
ao Estado-juiz em busca de solução (processo como realidade concreta).
O processo como categoria jurídica (segunda acepção).
Processo é uma série de atos interligados e coordenados ao objetivo de produzir a tutela
jurisdicional justa, a serem realizados no exercício de poderes ou faculdades ou em cumprimento
a deveres ou ônus.1 Os atos interligados correspondem ao procedimento. O conjunto de
situações jurídicas ativas e passivas que autorizam ou exigem a realização dos atos é a relação
jurídica processual (poderes, faculdades, deveres e ônus).
Mérito do Processo.
Objeto do processo é a pretensão a um bem da vida, quando apresentada ao Estado-juiz em
busca de reconhecimento ou satisfação. A pretensão ao bem da vida preexiste ao processo e
consiste na aspiração a obter um dado bem material ou imaterial, tal qual uma coisa móvel ou
imóvel etc. O termo mérito, de uso corrente, expressa o próprio objeto do processo. A pretensão
exposta na petição inicial e posteriormente ajuizada constitui, pois, o mérito das diversas
espécies de processos. O mérito do processo de conhecimento é a pretensão trazida a juízo com
pedido de julgamento que a acolha. O mérito do processo de execução é a pretensão a receber
a coisa pleiteada – e não uma sentença. Também o processo cautelar e os recursos têm o seu
mérito, ou seja, o seu objeto. Lá, o mérito é a pretensão do demandante à medida urgente; cá, a
pretensão a obter nova decisão. Importante: no pensamento do CPC, o mérito não seria
constituído pela pretensão, mas pela lide, que é o conflito de interesses qualificado por uma
pretensão resistida. Dinamarco, com inteira razão a nosso ver, considera inadequado alçar a lide
à condição de objeto do processo (mérito). Entre outros motivos, porque no processo nem
sempre existe um conflito de interesses entre as partes: há casos em que ambas podem até
desejar o mesmo resultado e apesar disso o processo é indispensável para que o resultado se
obtenha, como na ação de separação judicial ou de divórcio. O ilustre professor também ressalta
que o objeto do processo consiste exclusivamente no pedido formulado pelo demandante, não
integrando o mérito a causa de pedir. Assim, distingue ele as questões de mérito – que são
aquelas que a sentença resolve em seus fundamentos, como antecedente lógico da conclusão
– do próprio mérito, este último decidido no dispositivo.
Pressupostos processuais.
A ação é o direito ou poder de exigir do Estado-juiz a tutela jurisdicional. Mediante o exercício da
ação – manifestado pela petição inicial – provoca-se a jurisdição, que por sua vez se exerce
através daquele complexo de atos que é o processo.
Ação: 3 sentidos: i) constitucional: direito de ir a juízo, direito de acesso aos Tribunais,
embutido no Princípio da Inafastabilidade. Tal direito é FUNDAMENTAL,
INCONDICIONADO, AUTÔNOMO (tenho direito de ir a juízo independentemente de ter
razão), ABSTRATO (posso ir a juízo para afirmar qualquer tipo de problema, abstraia a
situação, pouco importa, posso ir a juízo); (ii) Processual: Ação ato é o exercício do
direito de ação (de ir a juízo, sentido constitucional), pelo qual se afirma possuir um
determinado direito (situação material). É uma ação concreta, refere-se sempre a um
problema concreto; (iii) Material: sentido de direito
CPC adotou a teoria mista ou eclética (idealizada por Liebman): Direito de ação é o
direito a um julgamento de mérito (não é favorável, nem qualquer coisa, trata-se de
decisão de mérito, seja favorável ou não). Neste contexto surgem as CONDIÇÕES DA
AÇÃO, condições para um julgamento de mérito. Para esta teoria, CARÊNCIA DE AÇÃO
é diferente de improcedência da ação.
Os pressupostos processuais constituem então, juntamente com as condições da ação, os
requisitos de admissibilidade do julgamento de mérito. As condições da ação delimitam o direito
à jurisdição; os pressupostos processuais regulam o modo de exercer esse direito através do
processo. Enquanto a ausência das condições da ação impede o pronunciamento jurisdicional
sobre a situação jurídica afirmada no processo, a falta dos pressupostos processuais invalida a
atividade tendente a esse pronunciamento.
Visão de Dinamarco.
Pressupostos processuais são os requisitos sem os quais não se forma um processo viável.
Pressupostos de existência. A propositura de uma demanda3 e a investidura jurisdicional do
destinatário da demanda, isto é, do juiz.
Pressupostos de viabilidade. Regularidade da propositura da demanda, tríplice capacidade do
demandante4 e personalidade do demandado.5
Visão clássica.
Súmula 196 STJ – “Ao executado que, citado por edital ou por hora certa, permanecer
revel, será nomeado curador especial, com legitimidade para apresentação de
embargos” => o curador especial não pode dispor de direito do curatelado porque não é
parte, é apenas representante. O curador especial pode praticar todos os atos de defesa
do curatelado, o que inclui embargos à execução (não pode reconvir).
Súmula 115 STJ - Na instância especial é inexistente recurso interposto por advogado
sem procuração nos autos
CPC, art. 10. O cônjuge somente necessitará do consentimento do outro para propor
ações que versem sobre direitos reais imobiliários => Tal disposição decorre de previsão
já contida no CC/16, porém, CC/02 mudou o regramento: art. 1.647 CC/02: Ressalvado
o disposto no art. 1.648, nenhum dos cônjuges pode, sem autorização do outro, exceto
no regime da separação absoluta: (Novidade, nos casos de casamento em regime de
separação absoluta não há mais necessidade de consentimento do cônjuge) I - alienar
ou gravar de ônus real os bens imóveis; II - pleitear, como autor ou réu, acerca desses
bens ou direitos; (Bens Imóveis) III - prestar fiança ou aval; IV - fazer doação, não sendo
remuneratória, de bens comuns, ou dos que possam integrar futura meação.
Dentro deste rol se encaixa a previsão da citação: faz com que o processo passe a
produzir efeitos para o réu; requisito de validade da sentença proferida contra o réu
(juiz só pode proferir uma sentença contra o réu quando citado). A concepção de que a
citação é um requisito de validade é a concepção majoritária. Na PUC-SP, o pensamento é
outro (Arruda Alvim, Teresa Nambier, Nelson Ney, Cássio Scarpinella) – entendem que
a citação é um pressuposto de existência do processo (Didier critica: indeferimento liminar
da inicial).
o Qual a natureza da sentença proferida contra réu revel, não citado ou
citado invalidamente? Duas correntes:
CORRENTE MAJORITÁRIA CORRENTE DA PUC-SP
A sentença é nula, ou seja, é uma sentença A sentença é inexistente, ou seja, um nada
que existe mas é gravemente defeituosa. jurídico.
Ambos defendem que a sentença pode ser impugnada a qualquer tempo.
(uma porque nula e a outra porque inexistente) .
*Fundamento legal: art. 475-L, inciso I14 e 741, inciso I15.
Ambos entendem que o meio de impugnação disso é Querela Nullitatis16.
(nome da ação de impugnação da sentença nula ou inexistente).
*Querela Nullitatis está prevista como defesa na execução17 (arts. 475-L, inciso I e 741,
inciso I) mas é unânime o entendimento que pode ser utilizada como ação autônoma
Caso é de vício transrescisório (defeito tão Não é caso de vício, é caso de inexistência
grave que pode ser arguido mesmo após o (mas pode ser arguida mesmo após o prazo
prazo da rescisória). de rescisória).
Se chega na execução, réu vem a juízo e não
Não há preclusão.
alega o defeito, temos preclusão.
14 Art. 475-L CPC – “A impugnação somente poderá versar sobre: I – falta ou nulidade da citação,
se o processo correu à revelia;”
15 Art. 741 CPC – “Na execução contra a Fazenda Pública, os embargos só poderão versar sobre:
A relação Jurídica deve ser entendida como triangular, e não como angular, uma vez que há
vínculos jurídicos diretos entre as partes, sem a mediação do Estado-Juiz, como por exemplo:
1. dever de lealdade e boa-fé entre as partes;
2. obrigação da parte derrotada em reembolsar as custas processuais adiantadas pela
parte vencedora;
3. possibilidade de convenção para a suspensão do processo, situação na qual a decisão
do juiz que homologa tal acordo de vontade tem efeito ex tunc, considerando-se o
processo suspenso desde a celebração da convenção;
É importante ressaltar que a despeito de a relação jurídica ser tríplice, com a simples
propositura da demanda pelo autor já existirá uma relação jurídica, ainda que limitada ao autor
e juiz (relação jurídica incompleta). Trata-se da formação gradual do processo. Há como haver
extinção da relação jurídica processual e do processo antes mesmo de haver a citação.
Características:
1. autonomia
2. complexidade
3. dinamismo
4. unidade
5. natureza pública
A relação jurídica processual é cutonoma quando comprada com a relação jurídica de direito
material, significando que sua existência independe da existência da relação material. Assim o
juízo de improcedência fundado na inexistência da relação material não implica na inexistência
da relação processual.
Por unidade da relação jurídica processual entende-se que os atos praticados pelos sujeitos
processuais estão todos interligados de forma lógica, dependendo o ato posterior da prática e
do resultado do ato anterior. Os atos são interdependentes entre si e conduzem a relação
jurídica processual à resolução da lide.
A relação jurídica processual tem sempre natureza pública, uma vez que conta com o Estado-
juiz no exercício do poder estatal de jurisdição. Do mesmo modo há o interesse público na boa
prestação jurisdicional, sendo o adequado deslinde da relação jurídica uma aspiração de toda a
coletividade.
3. ATOS E FATOS PROCESSUAIS
A relação processual desenvolve-se com a ocorrência de uma série de eventos, que geram
constituição, modificação, desenvolvimento, conservação, e extinção de situações jurídico-
processuais, fazendo surgir fatos processuais.
Os fatos jurídicos processuais podem ser enfocados sob dois prismas distintos: 1º) aqueles que
dependem da vontade humana, apresentando-se ora como manifestação unilateral da vontade
(atos processuais), ora como resultado de manifestação bilateral de vontade (negócios
processuais); 2º) aqueles que independem da vontade humana, apresentando-se como meros
fatos processuais (por exemplo: a morte da parte, o perecimento do objeto litigioso, etc.).
Assim, são atos de constituição da relação processual a petição inicial, a citação; são atos
de conservação, dentre outros, o que repele a exceção de coisa julgada ou de litispendência, o
que rejeita pedido de extinção do processo; são atos de desenvolvimento, entre outros, as
notificações e intimações, as designações de data para a realização de audiência ou de perícia;
são atos de modificação, entre outros, a citação de litisconsorte necessário vindo ao processo
nos termos do art. 47, parágrafo único, do CPC 18, a habilitação dos herdeiros em decorrência do
falecimento de uma das partes; são atos de extinção da relação processual, entre outros, a
sentença, a desistência da ação homologada pelo juiz (art. 158, parágrafo único, do CPC 19).
À luz do critério subjetivo, os atos jurídicos processuais podem ser: a) atos judiciais (ou
jurisdicionais), assim considerados tanto aqueles praticados diretamente pelo juiz, quanto os
praticados pelos auxiliares da Justiça; atos das partes (também os de terceiros intervenientes).
O art. 158, do CPC20, regula a eficácia dos atos das partes, consistentes em declarações
unilaterais ou bilaterais de vontade, dispondo que produzem imediatamente a constituição, a
modificação ou a extinção de direitos processuais. A exceção fica por conta do ato da parte
consistente em pedido de desistência da ação, o qual, segundo o parágrafo único do referido
dispositivo, só produz efeitos depois de homologada pelo juiz.
A) Postulatórios: aqueles pelos quais as partes postulam pronunciamento do juiz, sejam quanto
ao processo (requerimentos – ex: requerimento produção de prova pericial), sejam quanto ao
mérito (petições – ex: petição inicial);
18
Parágrafo único. O juiz ordenará ao autor que promova a citação de todos os litisconsortes necessários, dentro do prazo que assinar,
sob pena de declarar extinto o processo.
19
Parágrafo único. A desistência da ação só produzirá efeito depois de homologada por sentença.
20
Art. 158. Os atos das partes, consistentes em declarações unilaterais ou bilaterais de vontade, produzem imediatamente a
constituição, a modificação ou a extinção de direitos processuais.
etc. 2 – concordantes: consistentes em declaração de vontade de uma parte a que adere a parte
contrária, ainda que por omissão – ex: desistência da ação após o transcurso do prazo para
resposta do réu, que, segundo o art. 267, § 4º, do CPC, exige a concordância deste. 3 –
contratuais: consistentes em declarações expressas bilaterais de vontade – ex: a conciliação e
a transação;
D) Reais: aqueles que se manifestam pela coisa, não por palavras – ex: apresentação de
documentos, o pagamento de custas, o preparo de um recurso, etc.
Quanto ao momento dos efeitos dos atos da parte, consistente de declarações unilaterais
e bilaterais de vontade, produzem imediatamente a constituição, a modificação ou a extinção
dos direitos processuais dispostos no artigo art. 158, CPC, podemos ter a seguinte análise.
Entretanto, deve-se interpretar essa regra do artigo 158 CPC com temperamentos, pois
lembrando MONIZ DE ARAGÃO, algumas dessas declarações, como a confissão, meio de
prova a ser apreciado livremente pelo juiz (art. 131), que, indubitavelmente, prescinde de
homologação, necessita sempre que o magistrado a acolha em sentença, pena de ineficácia
do resultado final.
Frise-se também, a classe dos atos omissivos, criação doutrinária de MARCO TULIO
ZANZUCCHI, apoiando-se em CARNELUTTI, pois em que pese não se originarem de
declaração alguma, mas sim da inércia processual, propositada ou não, igualmente tem o
condão de produzir constituições, modificações ou extinções do direito processual,
necessita, também de declaração judicial.
A) atos do juiz: consistem em pronunciamentos ou provisões dos juízes, que se exprimem por
meio de despachos (definidos por exclusão, a teor do § 3º do art. 162 do CPC, como todos os
demais atos do juiz – que não sentença ou decisão interlocutória – praticados no processo, de
ofício ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma), decisões
interlocutórias (ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve questão incidente – art. 162,
§ 2º, do CPC) ou sentenças (segundo o § 1º do art. 162 do CPC, na redação dada pela Lei nº
11.232/2005, ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts. 267 e 269 desta
Lei).
Súmula 318 STJ - Formulado pedido certo e determinado, somente o autor tem interesse
recursal em arguir o vício da sentença ilíquida.
Uma vez publicada, a sentença torna-se irretratável. Mas há exceções – toda decisão
poderá ser revista se houver erro material (erro material é erro no nome das partes, p.
ex.). Acolhendo embargos de declaração, o juiz pode rever sua decisão.
Ainda é possível a retratação nos casos de apelação contra sentença que indefere a
petição inicial e apelações em causas do ECA.
Pratica o juiz, ainda, alguns atos ou atividades de ordem material, que não se exprimem por meio
de despacho, decisão ou sentença. Podem ser atos ou atividades instrutórias (ex: ato de ouvir
testemunhas ou peritos, acareação de testemunhas entre si ou com as partes, etc.) ou de
documentação, pelos quais o juiz participa da documentação dos atos feita por algum dos
auxiliares da Justiça (ex: termo de audiência de instrução, lavrado pelo auxiliar, e subscrito pelo
juiz).
Seção III
Dos Atos do Juiz
Art. 162. Os atos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias
e despachos.
§ 1º Sentença é o ato do juiz que implica alguma das situações previstas nos arts.
267 e 269 desta Lei. (Redação dada pelo Lei nº 11.232, de 2005)
§ 2o Decisão interlocutória é o ato pelo qual o juiz, no curso do processo, resolve
questão incidente.
§ 3o São despachos todos os demais atos do juiz praticados no processo, de ofício
ou a requerimento da parte, a cujo respeito a lei não estabelece outra forma.
§ 4o Os atos meramente ordinatórios, como a juntada e a vista obrigatória,
independem de despacho, devendo ser praticados de ofício pelo servidor e
revistos pelo juiz quando necessários. (Incluído pela Lei nº 8.952, de 13.12.1994)
Art. 163. Recebe a denominação de acórdão o julgamento proferido pelos
tribunais.
Art. 164. Os despachos, decisões, sentenças e acórdãos serão redigidos,
datados e assinados pelos juízes. Quando forem proferidos, verbalmente, o
taquígrafo ou o datilógrafo os registrará, submetendo-os aos juízes para revisão e
assinatura.
Parágrafo único. A assinatura dos juízes, em todos os graus de jurisdição, pode
ser feita eletronicamente, na forma da lei.(Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
Art. 165. As sentenças e acórdãos serão proferidos com observância do disposto no art.
458; as demais decisões serão fundamentadas, ainda que de modo conciso.
B) atos dos auxiliares da Justiça: dos atos dos auxiliares da Justiça mais importantes, trata o
CPC nos arts. 166 a 171. Tais atos podem ser de três espécies: atos de movimentação: visam
ao andamento do processo (ex: termos de abertura de vista às partes para falar; os de conclusão
dos autos ao juiz – art. 168, do CPC); atos de documentação: por meio dos quais o escrivão
atesta a realização de atos das partes, do juiz ou dos demais auxiliares da Justiça (ex: certidão
de intimação das partes); atos de execução: são aqueles por meio dos quais os serventuários
da justiça cumprem determinações do juiz.
Seção IV
Dos Atos do Escrivão ou do Chefe de Secretaria
Art. 167. O escrivão numerará e rubricará todas as folhas dos autos, procedendo
da mesma forma quanto aos suplementares.
Parágrafo único. Às partes, aos advogados, aos órgãos do Ministério Público,
aos peritos e às testemunhas é facultado rubricar as folhas correspondentes aos
atos em que intervieram.
Art. 169. Os atos e termos do processo serão datilografados ou escritos com tinta
escura e indelével, assinando-os as pessoas que neles intervieram. Quando estas
não puderem ou não quiserem firmá-los, o escrivão certificará, nos autos, a
ocorrência.
§ 1º É vedado usar abreviaturas. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
§ 2º Quando se tratar de processo total ou parcialmente eletrônico, os atos
processuais praticados na presença do juiz poderão ser produzidos e
armazenados de modo integralmente digital em arquivo eletrônico inviolável, na
forma da lei, mediante registro em termo que será assinado digitalmente pelo juiz
e pelo escrivão ou chefe de secretaria, bem como pelos advogados das partes.
(Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
§ 3º No caso do § 2o deste artigo, eventuais contradições na transcrição deverão
ser suscitadas oralmente no momento da realização do ato, sob pena de
preclusão, devendo o juiz decidir de plano, registrando-se a alegação e a decisão
no termo. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
Art. 171. Não se admitem, nos atos e termos, espaços em branco, bem como
entrelinhas, emendas ou rasuras, salvo se aqueles forem inutilizados e estas
expressamente ressalvadas.
Aqui implica perquirir o conceito de ato de administração e atos de mero expediente. Ademais,
resta definir qual o órgão competente para delegar esses poderes. A delegação é do juiz titular?
Do Tribunal? Da Lei?
O CPC 2015 consagra o acordo procedimental, a ser realizado entre as partes diante das
peculiaridades do caso concreto. Nota-se uma evidente influência do princípio dispositivo, de
forma a ser a vontade das partes a fonte de determinação do procedimento. No entanto, o acordo
deve ser aceito pelo juiz, o que mostra uma exigência fundada no princípio inquisitivo, vinculada
à geração de efeitos do acordo de vontade das partes à autorização judicial.
Segundo o artigo 190, versando o processo sobre direitos que admitam autocomposição, é lícito
às partes plenamente capazes estipular mudanças no procedimento para ajustá-lo às
especificidades da causa e convencionar sobre os seus ônus, poderes, faculdades e deveres
processuais, antes ou durante o processo. E, consoante o parágrafo único desse dispositivo, de
ofício ou a requerimento, o juiz controlará a validade das convenções previstas neste artigo,
recusando-lhes aplicação somente nos casos de nulidade ou de inserção abusiva em contrato
de adesão ou em que alguma parte se encontre em manifesta situação de vulnerabilidade.
Os atos jurídicos em geral, quanto à forma, costumam ser classificados em solenes e não
solenes.
Os atos jurídicos processuais são solenes porque, via de regra, subordinam-se à forma escrita,
a termos adequados, a lugares e tempo expressamente previstos em lei, o que é necessário para
se garantir a ordem e a segurança jurídica no exercício da jurisdição.
Por essas razões, busca-se um meio termo entre o excessivo e intransigente rigor de forma e o
extremismo de sua total ausência.
Isso porque, por um lado, o ato processual não tem uma finalidade em si mesmo, posto
apresentar-se como mero instrumento para o atingimento do fim último do processo, que é a
prestação jurisdicional na busca da satisfação do direito material violado ou desrespeitado; mas,
por outro, a total ausência de forma levaria ao caos e à inutilização do processo como meio hábil
de composição dos litígios.
Assim, o Código de Processo Civil, ao mesmo tempo em que prevê formas para os atos
processuais, faz, de maneira clara, prevalecer sobre a forma a substância e a finalidade do ato
processual, ao dispor, em seu art. 154, que os atos e termos processuais não dependem de
forma determinada senão quando a lei expressamente a exigir, reputando-se válidos os que,
realizados de outro modo, Ihe preencham a finalidade essencial.
Dispõe, outrossim, o art. 244, do CPC, que quando a lei prescrever determinada forma, sem
cominação de nulidade, o juiz considerará válido o ato se, realizado de outro modo, lhe alcançar
a finalidade.
Assim, deve o ato processual ser praticado segundo a forma legalmente prevista para sua
prática. Porém, poderá prevalecer e ser tido como válido se, tendo sido praticado de forma
diversa, o objetivo do ato tenha sido alcançado, e não tenha havido prejuízo para as partes ou
ao processo, caso em que a forma, em si mesma considerada, passa a ter um caráter
secundário.
Entretanto, deve-se ter presente que, quando o texto legal cominar expressamente a pena de
nulidade para a inobservância de determinada forma, como no caso da intimação do MP para
acompanhar o feito em que deva intervir (art. 246 c/c 82, ambos do CPC), não incide a regra
liberal do art. 154, reconhecendo-se como nulo o ato.
Pode-se assim sintetizar as regras sobre a forma dos atos processuais
e os reflexos advindos do descumprimento do formalismo, na validade
ou invalidade do ato assim praticado: 1º) Em princípio, é livre a forma
(princípio da liberdade das formas – art. 154 do CPC); 2º) em alguns
casos, porém, o legislador estabelece uma determinada forma, sem,
contudo, cominar expressamente a pena de nulidade para a sua não
observância (princípio da instrumentalidade das formas – art. 244 do
CPC); 3º) finalmente, o legislador, noutras hipóteses (as mais raras),
dada a suprema relevância do ato ou atos, determina expressamente
a forma de que se devem revestir e, não sendo obedecida, nega-lhes
a produção de efeitos, isto é, aplica-lhes a pena de nulidade (arts. 243;
245, parágrafo único; 246; 247; e 248) 21.
STJ, Súmula nº 429 - 17/03/2010 - DJe 13/05/2010: Citação Postal - Exigibilidade - Aviso de
Recebimento: A citação postal, quando autorizada por lei, exige o aviso de recebimento.
Para os atos processuais aos quais a lei não prescreve determinada forma, esta é livre, bastando
que a forma seja idônea para realizar a finalidade do ato – arts. 154 e 244, do CPC. Mas a
liberdade de forma não chega ao ponto de se permitir espaços em branco, entrelinhas, emendas
ou rasuras, salvo se aqueles forem inutilizados e estas expressamente ressalvadas – art. 171,
do CPC;
Releva atentar para as regras veiculadas nos arts. 156 e 157, das quais deflui, respectivamente,
que em todos os atos e termos do processo é obrigatório o uso do vernáculo e que só poderá
ser junto aos autos documento redigido em língua estrangeira, quando acompanhado de versão
em vernáculo, firmada por tradutor juramentado.
Se não existir tradutor oficial na sede do Juízo, é admissível que a parte junte o documento
estrangeiro, mediante requerimento de nomeação, pelo juiz, de tradutor ad hoc (para o ato) para
fazer, nos autos, a versão devida.
Há, também, necessidade de intérprete, para dar versão em vernáculo, quando, nos atos
orais das partes e testemunhas, estas não souberem expressar-se na língua nacional. Assim,
dispõe os arts. 151do CPC:
Art. 151. O juiz nomeará intérprete toda vez que o repute necessário
para:
I - analisar documento de entendimento duvidoso, redigido em língua
estrangeira;
II - verter em português as declarações das partes e das testemunhas
que não conhecerem o idioma nacional;
III - traduzir a linguagem mímica dos surdos-mudos, que não puderem
transmitir a sua vontade por escrito.
As formas não têm valor intrínseco, próprio, mas são estabelecidas como meio para atingir a
finalidade do ato. Portanto, a necessidade de sua observância deve ser medida pela
possibilidade de ter atingido o mesmo fim, mesmo sob outra forma – arts. 154 e 244, do CPC;
21
ALVIM, Arruda. Manual de Direito Processual Civil. Vol. 1, Parte Geral. 9ª ed. revista, atualizada e ampliada. . São Paulo: RT,
2005. p. 402.
Ex: se feita a citação sem observância de sua forma própria, ou ainda que nem mesmo realizada,
o réu comparecer espontaneamente em juízo e defender-se, considerar-se-á sanado o vício ou
inicial falta do ato – art. 214, § 1º, do CPC (§ 1o O comparecimento espontâneo do réu supre,
entretanto, a falta de citação).
De ordinário, o meio de expressão dos atos processuais é a forma escrita, ficando, assim,
documentado o ato. Se for de sua natureza expressar-se oralmente, impõe-se seja reduzido a
termo, para sua documentação por escrito. Ex. os requerimentos em audiência, os depoimentos
das partes ou das testemunhas, as contraditas às testemunhas, os debates em audiência são
atos orais, que se reduzem a termo escrito no livro de protocolo de audiências – art. 457, do
CPC;
Art.457. O escrivão lavrará, sob ditado do juiz, termo que conterá, em resumo, o
ocorrido na audiência, bem como, por extenso, os despachos e a sentença, se esta
for proferida no ato.
§ 1o Quando o termo for datilografado, o juiz Ihe rubricará as folhas, ordenando
que sejam encadernadas em volume próprio.
§ 2o Subscreverão o termo o juiz, os advogados, o órgão do Ministério Público
e o escrivão.
§ 3o O escrivão trasladará para os autos cópia autêntica do termo de audiência.
§ 4o Tratando-se de processo eletrônico, observar-se-á o disposto nos §§ 2o e
3o do art. 169 desta Lei. (Incluído pela Lei nº 11.419, de 2006).
A publicidade é uma das maiores garantias do indivíduo no exercício da jurisdição, uma vez que
possibilita ao jurisdicionado fiscalizar a imparcialidade e a lisura no exercício da jurisdição.
Garante a livre consulta dos autos por todos, bem como a presença pública em audiências arts.
155 e 444, do CPC.
Entretanto, não é absoluto o princípio, já que os atos processuais também não devem ser
divulgados sem qualquer cuidado. Com efeito, a publicidade será excepcionada nos casos em
que o interesse social ou mesmo particular exigem discrição e anonimato dos atos processuais.
Isso faz com que alguns atos gozem da máxima publicidade, como as hastas públicas, em que
se expedem editais, e a maioria das audiências processuais, enquanto outros gozem de
pouquíssima publicidade, como os atos que correm em “segredo de justiça”. São hipóteses em
que a intimidade das partes deve ser resguardada, por se tratar de questões personalíssimas,
que pouco importam a terceiros.
Nestes casos de “processo em segredo de justiça”, segundo dispõe o parágrafo único deste Art.
155: O direito de consultar os autos e de pedir certidões de seus atos é restrito às partes e a
seus procuradores. O terceiro, que demonstrar interesse jurídico, pode requerer ao juiz certidão
do dispositivo da sentença, bem como de inventário e partilha resultante do desquite (leia-se
separação judicial).
Vale relembrar, no ponto, a norma do art. 93, IX, da Constituição Federal de 1988, a determinar
que todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas todas
as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às
próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do
direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação
(Redação dada pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)
Art. 189. Os atos processuais são públicos, todavia tramitam em segredo de justiça os
processos:
I - em que o exija o interesse público ou social;
II - que versem sobre casamento, separação de corpos, divórcio, separação, união estável,
filiação, alimentos e guarda de crianças e adolescentes;
III - em que constem dados protegidos pelo direito constitucional à intimidade;
IV - que versem sobre arbitragem, inclusive sobre cumprimento de carta arbitral, desde
que a confidencialidade estipulada na arbitragem seja comprovada perante o juízo.
§ 1o O direito de consultar os autos de processo que tramite em segredo de justiça e de
pedir certidões de seus atos é restrito às partes e aos seus procuradores.
§ 2o O terceiro que demonstrar interesse jurídico pode requerer ao juiz certidão do
dispositivo da sentença, bem como de inventário e de partilha resultantes de divórcio ou
separação.
4. ÔNUS PROCESSUAIS
É a situação em que a prática de determinado ato leva a parte a obter determinado efeito
processual ou impedir que ele ocorra.
4.1 Classificação
O juiz não tem ônus. Tem o poder-dever de agir nos termos da lei, conduzindo o processo a
seu final, respeitando a igualdade das partes e aplicando corretamente a lei material ao caso
concreto.
5. DO TEMPO NO PROCESSO
22
NEGRÃO, Theotônio. Código de Processo Civil e legislação processual em vigor, 37ª edição atualizada até 10 de fevereiro de 2005,
p. 262, nota “6” ao art. 155 do CPC.
5.1 – Generalidades e princípios
Daí porque a lei fixa prazos para a prática dos atos processuais, como também cria as chamadas
preclusões.
Partindo-se da ideia de que o processo deve marchar em direção ao provimento final (através
da sentença), e que essa marcha deve, como regra, ser permanente e progressiva, fixa a lei
prazos para a prática dos atos que compõem o procedimento e determina a perda da faculdade
de praticá-los transcorrido o tempo oportuno por ela fixado.
A teoria dos prazos (espaço de tempo entre dois termos, o inicial e o final) vincula-se a dois
princípios informativos do processo: princípio da paridade e princípio da brevidade.
As partes devem ser colocadas no mesmo pé de igualdade em todo o curso do processo, dando-
lhes prazos idênticos para a prática de idênticos atos processuais, sendo que as condições da
pessoa não devem influir na determinação dos prazos para a prática dos atos processuais.
Decorre do princípio da igualdade (art. 5º, caput, da CF/88 e art. 152, I, do CPC).
c) art. 5º, § 5º, da Lei nº 1.060/50, na redação dada pela Lei nº 7.871/89: prazos em
dobro para defensores públicos ou quem exerça cargo equivalente, nos Estados
onde a assistência judiciária seja por eles organizada e mantida. Justifica-se
também pela especial qualidade do litigante (pessoa necessitada), e pela peculiar
situação de seu representante (defensor público).
B) Princípio da brevidade:
O processo deve desenvolver-se e encerrar-se no menor prazo de tempo possível (sem prejuízo
do princípio da veracidade e da plenitude do contraditório bilateral). O interesse público é o de
que as demandas terminem o mais rapidamente possível, razão pela qual se impõe a máxima
simplificação da estrutura do processo, praticando-se o menor número possível de atos, e no
menor tempo possível (sempre atentando a que também sejam as causas suficientemente
instruídas para que sejam decididas com acerto).
5.2. Do tratamento da matéria no Código de Processo Civil
O Código utiliza determinações de tempo para a prática dos atos processuais sob dois ângulos
diferentes:
A primeira regra sobre o tempo hábil à prática dos atos processuais é a do art. 172, que determina
sejam eles realizados em dias úteis, entre as 6 e 20h. Os atos iniciados antes das 20h, todavia,
poderão ser concluídos depois desse horário, quando o adiamento prejudicar a diligência ou
causar grave dano.
Dias úteis são aqueles em há expediente forense, de modo que durante as férias e nos feriados
não se praticarão atos processuais, e, bem assim, aos sábados e domingos.
A citação e a penhora (e assim também o sequestro e o arresto, por força do que determinam
os arts. 821 e 823, do CPC) poderão ser realizadas em domingos e feriados ou, nos dias úteis,
fora do horário antes referido, desde que:
Quanto às intimações, também há autorização legal para que ocorram em dia em que não tenha
havido expediente forense, mas, em tal caso, considerar-se-ão realizadas no primeiro dia útil
seguinte, para todos os efeitos (art. 240, parágrafo único).
Com relação aos atos que devem ser praticados em determinado prazo e por meio de petição,
esta deverá ser apresentada no protocolo dentro do horário de expediente, nos termos da lei de
organização judiciária local, sendo que o horário útil para protocolar petições não é o genérico
do caput do art. 172 (20h), mas aquele fixado pela lei de organização judiciária para o término
do expediente.
Consideram-se feriados os dias não úteis, isto é, aqueles em que não há expediente
forense, como os domingos, dias de festa nacional ou local e os sábados, quando as
normas de organização judiciária suspenderem a atividade judiciária nesses dias (art.
175).
Constituem dias não úteis, e equiparam-se aos feriados, os que se compreendem nos períodos
de férias da Justiça (na Justiça Federal o recesso vai de 20/12 a 06/01, inclusive).
Tanto nos feriados quanto nas férias, em regra, não se praticam atos processuais (art. 173). Em
caráter excepcional, porém, permite o Código a prática dos seguintes atos durante as férias e
nos feriados (art. 173, incisos I e II):
Já nos casos previstos no art. 174, trata-se de processos que têm curso normal no período de
férias, ou seja, processam-se durante as férias e não se suspendem, como os demais, pela
superveniência delas. São eles:
Os atos processuais realizam-se, de ordinário, na sede do Juízo (art. 176), ou seja, no edifício
do fórum ou do tribunal competente para a causa.
Nesses termos: a) o juiz utiliza seu gabinete para expedir os despachos, decisões e a sentença,
e a sala de audiências para as sessões públicas de colheita de provas orais, debates e
julgamento; b) o escrivão ou Diretor de Secretaria pratica os atos de documentação e
comunicação, geralmente, no Cartório ou Secretaria.
Inobstante, podem os atos processuais, excepcionalmente, realizar-se em locais diversos da
sede do Juízo, em razão de:
a) deferência;
Exemplo de ato praticado fora da sede do Juízo pelo critério da deferência é o da tomada de
depoimento do Presidente da República, dos Governadores, Deputados, Senadores, Ministros
de Estado e demais pessoas arroladas no art. 411, do CPC, as quais serão inquiridas em sua
residência ou no local em que exercem sua função.
Exemplo de ato praticado fora da sede do Juízo por interesse da Justiça é a inspeção judicial in
loco (no local dos fatos), conforme disposto no art. 440, do CPC.
Em razão de obstáculo, o ato processual pode ser levado a efeito em lugar estranho à sede do
Juízo, por exemplo, na hipótese de oitiva de testemunha enferma (art. 336, parágrafo único, do
CPC).
Por fim, ainda quanto ao lugar dos atos processuais, convém referir que a jurisdição de cada juiz
está limitada ao território de sua circunscrição (de sua comarca). Assim, quando o ato processual
tiver de ser praticado em território sob jurisdição de outro Juízo, como a citação de réu ou a oitiva
de testemunha domiciliados em outra Comarca ou Subseção Judiciária, ter-se-á de utilizar carta
precatória, para que o ato se realize sob a jurisdição do órgão judiciário local competente. Nos
casos, porém, em que se admite a citação ou intimação por via postal, não prevalecem os limites
territoriais do Juízo, podendo tais atos alcançar qualquer comarca ou Subseção Judiciária do
país, conforme dispõe o caput do art. 222, do CPC.
4. Princípios fundamentais.
Princípio da imparcialidade do juiz. Reflete o culto de uma fundamental virtude democrática, que
é a igualdade. Quer-se o juiz imparcial, para que dê tratamento igual aos litigantes ao longo do
processo e na decisão da causa.
Princípio do juiz natural. A garantia desdobra-se em três conceitos: a) só são órgãos jurisdicionais
os instituídos pela Constituição; b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a
ocorrência do fato; c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de
competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que
seja.
Princípio do contraditório. Significa em primeiro lugar que a lei deve instituir meios para a
participação dos litigantes no processo e o juiz deve franquear-lhe esses meios. Significa também
que o próprio juiz deve participar da preparação do julgamento a ser feito, exercendo ele próprio
o contraditório.=> é constituído por 2 elementos: (i) informação; e (ii) reação. Ambos ligados ao
conceito de participação, que é a faceta básica do contraditório. Falar e ser ouvido no processo
é o mínimo do princípio do contraditório. Para Didier, elemento essencial é o “poder de
influência”. A parte deve participar do processo, mas em condições de poder influenciar a decisão
do magistrado. O contraditório não admite exceções, mesmo nos casos de urgência. Nestas
hipóteses o contraditório é postecipado para momento posterior à concessão do provimento de
urgência, como no caso das decisões liminares. Tratando-se de uma decisão provisória, poderá
ser revista.
CPC/2015:
Para Daniel Assumpção, não é feliz o novo CPC quando prevê que o juiz não proferirá decisão
contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Para ele, não há qualquer ofensa
em decidir sem que a outra parte tenha sido ouvida, já que a manifestação dela é ônus
processual. A única compreensão possível do dispositivo legal é a de que a decisão não será
proferida antes de intimada a parte contrária e concedida a ela a oportunidade de manifestação.
De qualquer forma, o CPC traz exceções, tratando do chamado contraditório diferido:
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento
a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que
se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Princípio da ação ou da demanda. Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício
da função jurisdicional. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do
interessado.
Princípio do impulso oficial. É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação
processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a função jurisdicional.
Princípio da motivação das decisões judiciais. Apresenta-se como verdadeira garantia de ordem
política ou garantia da própria jurisdição, dirigindo-se não só às partes e aos juízes de 2o grau,
mas à comunidade como um todo. O mencionado pórtico constitucional compreende o dever que
tem o juiz de analisar as questões postas a seu julgamento, explicitando as razões pelas quais
chegou às conclusões adotadas. Cândido Dinamarco não considera tal dever como um princípio,
conquanto entenda constituir relevante garantia constitucional ínsita à cláusula do due process
of law.
Princípio do devido processo legal. Em sentido meramente processual, constitui fórmula sintética
destinada a afirmar a indispensabilidade de todas as garantias inerentes ao processo, tais como
o direito ao contraditório, ampla defesa, juiz natural, à motivação das decisões, etc. Considerado
seu aspecto substancial, consiste em um vínculo autolimitativo do poder estatal, fornecendo
meios de censurar a própria legislação e ditar a ilegitimidade de leis que afrontem as bases do
regime democrático. Em resumo, o contexto de garantias tipificadas e atípicas contidas na
fórmula due process of law oferece aos litigantes um direito ao processo justo, com
oportunidades reais e equilibradas.
=> Segundo Carlos Augusto de Assis, “o devido processo legal, na sua dimensão substancial,
tem correspondência com o chamado ‘princípio da proporcionalidade’, disseminado na Europa
Continental ”.
STF: O Brasil tem Constituição de inspiração americana, mas a legislação complementar tem
influência europeia continental. Os princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do
DPL, para o Professor (Didier – caderno). De acordo com Paulo Bonavides, contudo, os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do princípio da igualdade e não do
devido processo legal.
O princípio da Boa fé objetiva também se aplica ao processo civil, por estar contido no
devido processo legal (STF – vide julgado abaixo – transcrevi parte do acórdão):
A BFO surgiu inicialmente no Direito Civil, mas a sua aplicação foi expandida
para todos os demais ramos do direito, inclusive os de direito público, como é o caso do
Direito Administrativo. Assim, por exemplo, de acordo com o STJ, a teoria dos atos
próprios (venire contra factum proprium) é aplicada ao poder público, sendo possível
ainda a aplicação da boa-fé objetiva no Processo Civil (Fredie Didier Jr. - Curso de Direito
Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 13ª ed., 2011, p. 66 e ss).
- fundamento constitucional: civilistas apontam dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88); processualistas o fundamentam com base no princípio do devido
processo legal. Essa é também a posição do STF: RE 464.963-2/GO.
Previsão legal: CPC/Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer
forma participam do processo: II - proceder com lealdade e boa-fé (doutrina tradicional
diz é a boa-fé subjetiva; a contemporânea diz que é a boa fé objetiva, que seria cláusula
geral processual que proíbe quaisquer hipóteses de comportamento desleal pelos
sujeitos do processo) => do site dizer o direito.
STF RE 464.963-2/GO, Rel. Min. GILMAR MENDES, J. 14/02/2006 (EMENTA:
Recurso extraordinário. 2. Diretor-geral de Tribunal Regional Eleitoral. Exercício da
advocacia. Incompatibilidade. Nulidade dos atos praticados. 3. Violação aos princípios
da moralidade e do devido processo legal (fair trial). 4. Acórdão recorrido cassado.
Retorno dos autos para novo julgamento. 5. Recurso extraordinário conhecido e
provido): “o princípio do DPL assegura que todo julgamento seja realizado com a
observância das regras procedimentais previamente estabelecidas, e, além disso,
representa uma exigência de ‘fair trial’, no sentido de garantir a participação
equânime, justa, leal, enfim, sempre imbuída pela boa-fé e ética dos sujeitos
processuais. A máxima do fair trial é uma das faces do DPL positivado na CF/88, a
qual assegura um modelo garantista de jurisdição, voltado para a proteção efetiva
dos direitos individuais e coletivos, e que depende, para o seu pleno
funcionamento, da boa-fé e lealdade dos sujeitos que dele participam, condição
indispensável para a correção e legitimidade do conjunto de atos, relações e
processos jurisdicionais e administrativos. Nesse sentido, tal princípio possui um
âmbito de proteção alargado, que exige o fair trial não apenas dentre aqueles que
fazem parte da relação processual, ou que atuam diretamente no processo, mas
de todo o aparato jurisdicional, o que abrange todos os sujeitos, instituições e
órgãos, públicos e provados, que exercem, direta ou indiretamente, funções
qualificadas constitucionalmente como essenciais à Justiça”.
- STJ também já aplicou BFO: PROCESSUAL CIVIL. TEMPESTIVIDADE DA
APELAÇÃO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. HOMOLOGAÇÃO ANTES DE SER
PUBLICADA A DECISÃO RECORRIDA. IMPOSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE ATO
ENQUANTO PARALISADA A MARCHA PROCESSUAL. HIPÓTESE QUE NÃO SE
CONFUNDE COM A ALEGADA MODIFICAÇÃO DE PRAZO PEREMPTÓRIO. BOA-FÉ
DO JURISDICIONADO. SEGURANÇA JURÍDICA E DEVIDO PROCESSO LEGAL.
NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
“8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual,
em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus
corolários - princípios da confiança e da não surpresa - valores muito caros ao nosso
ordenamento jurídico.
9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos
jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o
termo final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em
seguida, seja praticado ato processual de ofício - publicação de decisão - e, ademais,
considerá-lo como termo inicial do prazo recursal.
10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação
processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à concretização do
princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima
nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito
processual. Precedentes do STJ.
11. Recurso Especial provido” (REsp 1306463/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 11/09/2012)
Como manifestação da boa-fé objetiva, o CPC 2015 traz expressamente, como dever, que todos
os sujeitos do processo cooperem entre si para que se obtenha a solução do processo com
efetividade e em tempo razoável. Traz, ainda, de forma expressa, que aquele que de qualquer
forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé e que todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva.
4. Princípios fundamentais.
Princípio da imparcialidade do juiz. Reflete o culto de uma fundamental virtude democrática, que
é a igualdade. Quer-se o juiz imparcial, para que dê tratamento igual aos litigantes ao longo do
processo e na decisão da causa.
Princípio do juiz natural. A garantia desdobra-se em três conceitos: a) só são órgãos jurisdicionais
os instituídos pela Constituição; b) ninguém pode ser julgado por órgão constituído após a
ocorrência do fato; c) entre os juízes pré-constituídos vigora uma ordem taxativa de
competências que exclui qualquer alternativa deferida à discricionariedade de quem quer que
seja.
Princípio do contraditório. Significa em primeiro lugar que a lei deve instituir meios para a
participação dos litigantes no processo e o juiz deve franquear-lhe esses meios. Significa também
que o próprio juiz deve participar da preparação do julgamento a ser feito, exercendo ele próprio
o contraditório.=> é constituído por 2 elementos: (i) informação; e (ii) reação. Ambos ligados ao
conceito de participação, que é a faceta básica do contraditório. Falar e ser ouvido no processo
é o mínimo do princípio do contraditório. Para Didier, elemento essencial é o “poder de
influência”. A parte deve participar do processo, mas em condições de poder influenciar a decisão
do magistrado. O contraditório não admite exceções, mesmo nos casos de urgência. Nestas
hipóteses o contraditório é postecipado para momento posterior à concessão do provimento de
urgência, como no caso das decisões liminares. Tratando-se de uma decisão provisória, poderá
ser revista.
CPC/2015:
Para Daniel Assumpção, não é feliz o novo CPC quando prevê que o juiz não proferirá decisão
contra uma das partes sem que esta seja previamente ouvida. Para ele, não há qualquer ofensa
em decidir sem que a outra parte tenha sido ouvida, já que a manifestação dela é ônus
processual. A única compreensão possível do dispositivo legal é a de que a decisão não será
proferida antes de intimada a parte contrária e concedida a ela a oportunidade de manifestação.
De qualquer forma, o CPC traz exceções, tratando do chamado contraditório diferido:
Art. 9o Não se proferirá decisão contra uma das partes sem que ela seja previamente
ouvida.
Parágrafo único. O disposto no caput não se aplica:
I - à tutela provisória de urgência;
II - às hipóteses de tutela da evidência previstas no art. 311, incisos II e III;
III - à decisão prevista no art. 701.
Art. 10. O juiz não pode decidir, em grau algum de jurisdição, com base em fundamento
a respeito do qual não se tenha dado às partes oportunidade de se manifestar, ainda que
se trate de matéria sobre a qual deva decidir de ofício.
Princípio da ação ou da demanda. Indica a atribuição à parte da iniciativa de provocar o exercício
da função jurisdicional. A jurisdição é inerte e, para sua movimentação, exige a provocação do
interessado.
Princípio do impulso oficial. É o princípio pelo qual compete ao juiz, uma vez instaurada a relação
processual, mover o procedimento de fase em fase, até exaurir a função jurisdicional.
Princípio da motivação das decisões judiciais. Apresenta-se como verdadeira garantia de ordem
política ou garantia da própria jurisdição, dirigindo-se não só às partes e aos juízes de 2o grau,
mas à comunidade como um todo. O mencionado pórtico constitucional compreende o dever que
tem o juiz de analisar as questões postas a seu julgamento, explicitando as razões pelas quais
chegou às conclusões adotadas. Cândido Dinamarco não considera tal dever como um princípio,
conquanto entenda constituir relevante garantia constitucional ínsita à cláusula do due process
of law.
Princípio do devido processo legal. Em sentido meramente processual, constitui fórmula sintética
destinada a afirmar a indispensabilidade de todas as garantias inerentes ao processo, tais como
o direito ao contraditório, ampla defesa, juiz natural, à motivação das decisões, etc. Considerado
seu aspecto substancial, consiste em um vínculo autolimitativo do poder estatal, fornecendo
meios de censurar a própria legislação e ditar a ilegitimidade de leis que afrontem as bases do
regime democrático. Em resumo, o contexto de garantias tipificadas e atípicas contidas na
fórmula due process of law oferece aos litigantes um direito ao processo justo, com
oportunidades reais e equilibradas.
=> Segundo Carlos Augusto de Assis, “o devido processo legal, na sua dimensão substancial,
tem correspondência com o chamado ‘princípio da proporcionalidade’, disseminado na Europa
Continental ”.
STF: O Brasil tem Constituição de inspiração americana, mas a legislação complementar tem
influência europeia continental. Os princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do
DPL, para o Professor (Didier – caderno). De acordo com Paulo Bonavides, contudo, os
princípios da proporcionalidade e razoabilidade decorrem do princípio da igualdade e não do
devido processo legal.
O princípio da Boa fé objetiva também se aplica ao processo civil, por estar contido no
devido processo legal (STF – vide julgado abaixo – transcrevi parte do acórdão):
A BFO surgiu inicialmente no Direito Civil, mas a sua aplicação foi expandida
para todos os demais ramos do direito, inclusive os de direito público, como é o caso do
Direito Administrativo. Assim, por exemplo, de acordo com o STJ, a teoria dos atos
próprios (venire contra factum proprium) é aplicada ao poder público, sendo possível
ainda a aplicação da boa-fé objetiva no Processo Civil (Fredie Didier Jr. - Curso de Direito
Processual Civil. Salvador: JusPodivm, 13ª ed., 2011, p. 66 e ss).
- fundamento constitucional: civilistas apontam dignidade da pessoa humana
(art. 1º, III, da CF/88); processualistas o fundamentam com base no princípio do devido
processo legal. Essa é também a posição do STF: RE 464.963-2/GO.
Previsão legal: CPC/Art. 14. São deveres das partes e de todos aqueles que de qualquer
forma participam do processo: II - proceder com lealdade e boa-fé (doutrina tradicional
diz é a boa-fé subjetiva; a contemporânea diz que é a boa fé objetiva, que seria cláusula
geral processual que proíbe quaisquer hipóteses de comportamento desleal pelos
sujeitos do processo) => do site dizer o direito.
STF RE 464.963-2/GO, Rel. Min. GILMAR MENDES, J. 14/02/2006 (EMENTA:
Recurso extraordinário. 2. Diretor-geral de Tribunal Regional Eleitoral. Exercício da
advocacia. Incompatibilidade. Nulidade dos atos praticados. 3. Violação aos princípios
da moralidade e do devido processo legal (fair trial). 4. Acórdão recorrido cassado.
Retorno dos autos para novo julgamento. 5. Recurso extraordinário conhecido e
provido): “o princípio do DPL assegura que todo julgamento seja realizado com a
observância das regras procedimentais previamente estabelecidas, e, além disso,
representa uma exigência de ‘fair trial’, no sentido de garantir a participação
equânime, justa, leal, enfim, sempre imbuída pela boa-fé e ética dos sujeitos
processuais. A máxima do fair trial é uma das faces do DPL positivado na CF/88, a
qual assegura um modelo garantista de jurisdição, voltado para a proteção efetiva
dos direitos individuais e coletivos, e que depende, para o seu pleno
funcionamento, da boa-fé e lealdade dos sujeitos que dele participam, condição
indispensável para a correção e legitimidade do conjunto de atos, relações e
processos jurisdicionais e administrativos. Nesse sentido, tal princípio possui um
âmbito de proteção alargado, que exige o fair trial não apenas dentre aqueles que
fazem parte da relação processual, ou que atuam diretamente no processo, mas
de todo o aparato jurisdicional, o que abrange todos os sujeitos, instituições e
órgãos, públicos e provados, que exercem, direta ou indiretamente, funções
qualificadas constitucionalmente como essenciais à Justiça”.
- STJ também já aplicou BFO: PROCESSUAL CIVIL. TEMPESTIVIDADE DA
APELAÇÃO. SUSPENSÃO DO PROCESSO. HOMOLOGAÇÃO ANTES DE SER
PUBLICADA A DECISÃO RECORRIDA. IMPOSSIBILIDADE DA PRÁTICA DE ATO
ENQUANTO PARALISADA A MARCHA PROCESSUAL. HIPÓTESE QUE NÃO SE
CONFUNDE COM A ALEGADA MODIFICAÇÃO DE PRAZO PEREMPTÓRIO. BOA-FÉ
DO JURISDICIONADO. SEGURANÇA JURÍDICA E DEVIDO PROCESSO LEGAL.
NEMO POTEST VENIRE CONTRA FACTUM PROPRIUM.
“8. É imperiosa a proteção da boa-fé objetiva das partes da relação jurídico-processual,
em atenção aos princípios da segurança jurídica, do devido processo legal e seus
corolários - princípios da confiança e da não surpresa - valores muito caros ao nosso
ordenamento jurídico.
9. Ao homologar a convenção pela suspensão do processo, o Poder Judiciário criou nos
jurisdicionados a legítima expectativa de que o processo só voltaria a tramitar após o
termo final do prazo convencionado. Por óbvio, não se pode admitir que, logo em
seguida, seja praticado ato processual de ofício - publicação de decisão - e, ademais,
considerá-lo como termo inicial do prazo recursal.
10. Está caracterizada a prática de atos contraditórios justamente pelo sujeito da relação
processual responsável por conduzir o procedimento com vistas à concretização do
princípio do devido processo legal. Assim agindo, o Poder Judiciário feriu a máxima
nemo potest venire contra factum proprium, reconhecidamente aplicável no âmbito
processual. Precedentes do STJ.
11. Recurso Especial provido” (REsp 1306463/RS, Rel. Ministro HERMAN BENJAMIN,
SEGUNDA TURMA, julgado em 04/09/2012, DJe 11/09/2012)
Como manifestação da boa-fé objetiva, o CPC 2015 traz expressamente, como dever, que todos
os sujeitos do processo cooperem entre si para que se obtenha a solução do processo com
efetividade e em tempo razoável. Traz, ainda, de forma expressa, que aquele que de qualquer
forma participa do processo deve comportar-se de acordo com a boa-fé e que todos os sujeitos
do processo devem cooperar entre si para que se obtenha, em tempo razoável, decisão de mérito
justa e efetiva.
5. Meios de Prova
Com elas não se confundem os meios de prova, que são os métodos gerais usados nos
processos para a investigação do fato. Os meios de prova são internos ao processo e genéricos,
ao contrário das fontes, que são externas e específicas.
Vige o princípio da liberdade da prova, que, como toda regra, comporta exceções, que
são as provas ilícitas.
Como não poderia deixar de ser, na medida em que nenhum poder é absoluto, a iniciativa
probatória do juiz sofre algumas limitações. Tal poder deve ser exercido sem que o julgador
desmereça os demais princípios que norteiam o processo civil.
MEIOS DE PROVA
Seção I
Das Disposições Gerais
Art. 332. Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos, ainda que não
especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se
funda a ação ou a defesa.
Art. 333. O ônus da prova incumbe:
I - ao autor, quanto ao fato constitutivo do seu direito;
II - ao réu, quanto à existência de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do direito
do autor.
Parágrafo único. É nula a convenção que distribui de maneira diversa o ônus da prova
quando:
I - recair sobre direito indisponível da parte;
II - tornar excessivamente difícil a uma parte o exercício do direito.
Art. 334. Não dependem de prova os fatos:
I - notórios;
II - afirmados por uma parte e confessados pela parte contrária;
III - admitidos, no processo, como incontroversos;
IV - em cujo favor milita presunção legal de existência ou de veracidade.
Art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de
experiência comum subministradas pela observação do que ordinariamente acontece
e ainda as regras da experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial.
Art. 336. Salvo disposição especial em contrário, as provas devem ser produzidas em
audiência.
Parágrafo único. Quando a parte, ou a testemunha, por enfermidade, ou por outro
motivo relevante, estiver impossibilitada de comparecer à audiência, mas não de
prestar depoimento, o juiz designará, conforme as circunstâncias, dia, hora e lugar
para inquiri-la.
Art. 337. A parte, que alegar direito municipal, estadual, estrangeiro ou
consuetudinário, provar-lhe-á o teor e a vigência, se assim o determinar o juiz.
Art. 338. A carta precatória e a carta rogatória suspenderão o processo, no caso
previsto na alínea b do inciso IV do art. 265 desta Lei, quando, tendo sido requeridas
antes da decisão de saneamento, a prova nelas solicitada apresentar-se
imprescindível. (Redação dada pela Lei nº 11.280, de 2006)
Parágrafo único. A carta precatória e a carta rogatória, não devolvidas dentro do prazo
ou concedidas sem efeito suspensivo, poderão ser juntas aos autos até o julgamento
final.
Art. 339. Ninguém se exime do dever de colaborar com o Poder Judiciário para o
descobrimento da verdade.
Art. 340. Além dos deveres enumerados no art. 14, compete à parte:
I - comparecer em juízo, respondendo ao que Ihe for interrogado;
II - submeter-se à inspeção judicial, que for julgada necessária;
III - praticar o ato que Ihe for determinado.
Art. 341. Compete ao terceiro, em relação a qualquer pleito:
I - informar ao juiz os fatos e as circunstâncias, de que tenha conhecimento;
II - exibir coisa ou documento, que esteja em seu poder.
Princípio da liberdade (ou atipicidade) dos meios de prova: não há tipicidade estrita aos
meios de prova, desde que moralmente legítimos, e os meios definidos em lei fazem
parte do rol meramente exemplicativo:
Art. 332 do CPC: “Todos os meios legais, bem como os moralmente legítimos,
ainda que não especificados neste Código, são hábeis para provar a verdade dos fatos,
em que se funda a ação ou a defesa”.
O CC/02 indica, em seu art. 212, IV, que a presunção é meio de prova, o que é
encampado pelo artigo 335 do CPC, constituindo espécie de prova indireta, pois não se vale da
verificação imediata do fato a ser provado, quando muito de um raciocínio dedutivo elaborado a
partir de fato secundário e conhecido (CPC interpretado – coord. Marcato, 3ª ed. – p. 1049) =>
art. 335. Em falta de normas jurídicas particulares, o juiz aplicará as regras de experiência comum
subministradas pela observação do que ordinariamente acontece e ainda as regras da
experiência técnica, ressalvado, quanto a esta, o exame pericial.
A prova pode ser emprestada mesmo que a parte contra a qual será utilizada não tenha
participado do processo originário onde foi produzida. É admissível, assegurado o contraditório,
a prova emprestada vinda de processo do qual não participaram as partes do processo para o
qual a prova será trasladada. A prova emprestada não pode se restringir a processos em que
figurem partes idênticas, sob pena de se reduzir excessivamente sua aplicabilidade sem
justificativa razoável para isso.
Quando se diz que deve assegurar o contraditório, significa que a parte deve ter o direito de se
insurgir contra a prova trazida e de impugná-la. STJ. Corte Especial. EREsp 617.428-SP, Rel.
Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/6/2014 (Info 543)
Não existe, em princípio, hierarquia entre os meios de prova. Isso se extrai em face do princípio
da persuasão racional, previsto no art. 131 do CPC. Deve-se ressalvar a prova legal, cuja
aceitação e valoração estão previstas antecipadamente na lei, prevalecendo sobre todo e
qualquer meio de prova. O princípio da persuasão racional fica mitigado em face da prova legal.
A doutrina estabelece uma prevalência de eficácia entre os meios de prova, na seguinte ordem:
a) prova legal;
b) confissão;
c) prova pericial;
d) prova documental;
e) prova testemunhal;
f) indícios e presunções.
STJ, Sumula 381: nos contratos bancários, é vedado ao julgador conhecer, de ofício, da
abusividade das cláusulas.
Ônus da prova:
CPC: adotou a teoria estática do ônus da prova, que prevê distribuição prévia e rígida do ônus
da prova. Regra: o ônus é de quem alega (art. 333 CPC) => CDC: distribuição da dinâmica do
ônus da prova – teoria das cargas probatórias.
Julgados STJ:
PROCESSUAL CIVIL. RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE ANULAÇÃO DE ATO JURÍDICO
CUMULADA COM REPARAÇÃO DE DANOS MATERIAIS E MORAIS. FATO IMPEDITIVO E
MODIFICATIVO DO DIREITO DO AUTOR. ÔNUS DA PROVA. ART. 333, II, DO CPC.
INCUMBÊNCIA DO RÉU. INDEVIDA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
(...) 2. Ao alegar fatos impeditivos/modificativos do direito do autor na contestação, a recorrida
assumiu o ônus da prova quanto ao que sustentou, na forma do art. 333, II, do CPC.
3. Estando incontroversos nos autos os fatos alegados e tendo os réus apresentado defesa
indireta, os autores não podem ser surpreendidos com a imposição, pelo Tribunal de origem, de
um ônus que antes não lhes cabia. Assim concluindo, o acórdão incorreu em violação ao art.
333, II, do CPC.
4. Incumbe, portanto, aos réus o ônus de demonstrar a extensão dos fatos que impliquem
modificação ou extinção do direito dos autores.
(REsp 1261311/CE, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
14/02/2012, DJe 26/04/2012)
Depoimento Pessoal:
Seção II
Do Depoimento Pessoal
Art. 342. O juiz pode, de ofício, em qualquer estado do processo, determinar o
comparecimento pessoal das partes, a fim de interrogá-las sobre os fatos da
causa.
Art. 343. Quando o juiz não o determinar de ofício, compete a cada parte requerer
o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiência de instrução e
julgamento.
§ 1o A parte será intimada pessoalmente, constando do mandado que se
presumirão confessados os fatos contra ela alegados, caso não compareça ou,
comparecendo, se recuse a depor.
§ 2o Se a parte intimada não comparecer, ou comparecendo, se recusar a depor, o
juiz Ihe aplicará a pena de confissão.
art. 344. A parte será interrogada na forma prescrita para a inquirição de
testemunhas.
Parágrafo único. É defeso, a quem ainda não depôs, assistir ao interrogatório da
outra parte.
Art. 345. Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que Ihe for
perguntado, ou empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e
elementos de prova, declarará, na sentença, se houve recusa de depor.
Art. 346. A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo
servir-se de escritos adrede preparados; o juiz Ihe permitirá, todavia, a consulta a
notas breves, desde que objetivem completar esclarecimentos.
Art. 347. A parte não é obrigada a depor de fatos:
I - criminosos ou torpes, que Ihe forem imputados;
II - a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo.
Parágrafo único. Esta disposição não se aplica às ações de filiação, de desquite e
de anulação de casamento.
Representa o testemunho prestado por uma das partes em juízo e tem dois objetivos: trazer
esclarecimentos acerca dos fatos da causa (fatos controvertidos e relevantes alegados pelas
partes) e provocar a confissão.
Intimada a parte para comparecer à audiência de instrução e julgamento a fim de prestar
depoimento pessoal, e não sendo atendida a determinação judicial, ou seja, ficando a parte
que deveria depor ausente daquele ato processual, deverá ser aplicada a “pena de confissão”,
o que significa dizer que se considerará que a parte contumaz confessou os fatos sobre os
quais deveria prestar depoimento.
Trata-se, entretanto, de confissão presumida, e não, de confissão ficta. Presunção relativa, iuris
tantum, que poderá, portanto, ser ilidida pelo conjunto probatório constante dos autos.
A parte será interrogada na forma prescrita para a inquirição de testemunhas, sendo defeso, a
quem ainda não depôs, assistir ao interrogatório da outra parte. Sobre o assunto, considerando
que em primeiro lugar deve depor o autor, para que somente após o réu preste o seu
depoimento, tem-se que, em função da garantia da ampla defesa, a regra aqui considerada
pode sofrer alterações, invertendo-se a ordem dos depoimentos.
Quando a parte, sem motivo justificado, deixar de responder ao que lhe for perguntado, ou
empregar evasivas, o juiz, apreciando as demais circunstâncias e elementos de prova,
declarará, na sentença, se houver recusa de depor.
A parte responderá pessoalmente sobre os fatos articulados, não podendo servir-se de escritos
adrede preparados, sendo-lhe permitido, todavia, a consulta a notas breves, desde que
objetivem completar esclarecimentos.
Por fim, a parte não é obrigada a depor de fatos criminosos ou torpes, que lhe forem imputados,
e de fatos a cujo respeito, por estado ou profissão, deva guardar sigilo, salvo se a ação versar
sobre filiação, desquite ou anulação de casamento.
CPC 2015: não diferencia depoimento pessoal e interrogatório, o qual deixou de ser meio de
prova, transformando-se em produção do depoimento pessoal. Explicitou que pode ser
requerido pelo Ministério Público (o que já era aceito pela jurisprudência).
Acrescenta outras possibilidades para a dispensa do dever de responder às perguntas, quais
sejam: fatos acerca dos quais não possa responder sem desonra própria, de seu cônjuge, de
seu companheiro ou de parente em grau sucessível; e fatos que coloquem em perigo a vida do
depoente ou das pessoas referidas no inciso III.
Também prevê que o depoimento pessoal da parte que residir em comarca, seção ou subseção
judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser colhido por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão de sons e imagens em tempo
real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a realização da audiência de instrução e
julgamento.
Confissão:
Seção III
Da Confissão
Art. 348. Há confissão, quando a parte admite a verdade de um fato, contrário ao
seu interesse e favorável ao adversário. A confissão é judicial ou extrajudicial.
Art. 349. A confissão judicial pode ser espontânea ou provocada. Da confissão
espontânea, tanto que requerida pela parte, se lavrará o respectivo termo nos autos; a
confissão provocada constará do depoimento pessoal prestado pela parte.
Parágrafo único. A confissão espontânea pode ser feita pela própria parte, ou por
mandatário com poderes especiais.
Art. 350. A confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando,
todavia, os litisconsortes.
Parágrafo único. Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre
imóveis alheios, a confissão de um cônjuge não valerá sem a do outro.
Art. 351. Não vale como confissão a admissão, em juízo, de fatos relativos a direitos
indisponíveis.
Art. 352. A confissão, quando emanar de erro, dolo ou coação, pode ser revogada:
I - por ação anulatória, se pendente o processo em que foi feita;
II - por ação rescisória, depois de transitada em julgado a sentença, da qual
constituir o único fundamento.
Parágrafo único. Cabe ao confitente o direito de propor a ação, nos casos de que
trata este artigo; mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.
Art. 353. A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a quem a represente,
tem a mesma eficácia probatória da judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento,
será livremente apreciada pelo juiz.
Parágrafo único. Todavia, quando feita verbalmente, só terá eficácia nos casos em
que a lei não exija prova literal.
Art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser
invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que Ihe for
desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção.
Confissão é a admissão, por alguma das partes, de fato contrário aos seus interesses e favorável
ao adversário.
Não se pode confundir a confissão com o reconhecimento jurídico do pedido, que tem por objeto
as próprias pretensões do autor e só pode emanar do réu ou de algum dos litisconsortes.
Pode ser judicial ou extrajudicial.
A confissão judicial pode ser espontânea ou provocada. A confissão espontânea pode ser feita
pela própria parte, ou por mandatário com poderes especiais. Da confissão espontânea, tanto
que requerida pela parte, se lavrará o respectivo termo nos autos. A confissão provocada, por
sua vez, constará do depoimento pessoal prestado pela parte.
De acordo com o CPC, a confissão judicial faz prova contra o confitente, não prejudicando,
todavia, os litisconsortes. Todavia, pelo princípio da comunhão da prova, a confissão será
valorada pelo juiz, destinatário direto da mesma, e poderá servir de base para a formação de
seu convencimento, sendo ilógico admitir a possibilidade de o juiz considerar que o fato
confessado ocorreu para o confitente e não ocorreu para os demais.
Nas ações que versarem sobre bens imóveis ou direitos sobre imóveis alheios, a confissão de
um cônjuge não valerá sem a do outro.
A confissão somente pode versar sobre fatos concernentes a direitos disponíveis e, quando
emanar de erro, dolo ou coação, poderá ser revogada por ação anulatória, se pendente o
processo em que foi feita; ou através de ação rescisória, depois de transitada em julgado a
sentença, da qual constituir o único fundamento, cabendo ao confitente o direito de propor as
referidas ações, mas, uma vez iniciada, passa aos seus herdeiros.
A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a quem a represente, tem a mesma eficácia
probatória da judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento, será livremente apreciada pelo
juiz. Todavia, quando feita verbalmente, só terá eficácia nos casos em que a lei não exija prova
literal.
A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-
la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que lhe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia,
quando o confitente lhe aduzir fatos novos, suscetíveis de constituir fundamento de defesa de
direito material ou de reconvenção => trata-se da confissão complexa, a única que pode ser
cindida (juiz pode pegar a confissão complexa e separá-la, ficando apenas com a confissão,
deixando a alegação de fora – nas outras confissões o juiz deve examiná-la por inteiro), sendo
espécie de defesa indireta, na qual o réu reconhece os fatos do autor mas traz fato novo que
modifica, extingue ou impede o que o autor pretende.
Prevista no artigo 354 do CPC: “art. 354. A confissão é, de regra, indivisível, não podendo a
parte, que a quiser invocar como prova, aceitá-la no tópico que a beneficiar e rejeitá-la no que
Ihe for desfavorável. Cindir-se-á, todavia, quando o confitente Ihe aduzir fatos novos,
suscetíveis de constituir fundamento de defesa de direito material ou de reconvenção”.
CPC 2015: corrige o equívoco do CPC 1973, estabelecendo que a confissão é irrevogável, mas
pode ser anulada se decorreu de erro de fato ou de coação. Apesar da omissão, continua
cabível a ação rescisória após o trânsito em julgado da decisão.
Elimina a diferença entre a confissão extrajudicial por escrito ou verbal (a primeira, segundo o
CPC 1973, tem a mesma carga de convencimento da confissão judicial; a segunda, é
livremente apreciada pelo juiz), em homenagem ao livre convencimento motivado do juiz.
Seção IV
Da Exibição de Documento ou Coisa
Art. 355. O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache em
seu poder.
Art. 356. O pedido formulado pela parte conterá:
I - a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa;
II - a finalidade da prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou
a coisa;
III - as circunstâncias em que se funda o requerente para afirmar que o documento
ou a coisa existe e se acha em poder da parte contrária.
Art. 357. O requerido dará a sua resposta nos 5 (cinco) dias subseqüentes à sua
intimação. Se afirmar que não possui o documento ou a coisa, o juiz permitirá que o
requerente prove, por qualquer meio, que a declaração não corresponde à verdade.
Art. 358. O juiz não admitirá a recusa:
I - se o requerido tiver obrigação legal de exibir;
II - se o requerido aludiu ao documento ou à coisa, no processo, com o intuito de
constituir prova;
III - se o documento, por seu conteúdo, for comum às partes.
Art. 359. Ao decidir o pedido, o juiz admitirá como verdadeiros os fatos que, por meio
do documento ou da coisa, a parte pretendia provar:
I - se o requerido não efetuar a exibição, nem fizer qualquer declaração no prazo do
art. 357;
II - se a recusa for havida por ilegítima.
Art. 360. Quando o documento ou a coisa estiver em poder de terceiro, o juiz mandará
citá-lo para responder no prazo de 10 (dez) dias.
Art. 361. Se o terceiro negar a obrigação de exibir, ou a posse do documento ou da
coisa, o juiz designará audiência especial, tomando-lhe o depoimento, bem como o das
partes e, se necessário, de testemunhas; em seguida proferirá a sentença.
Art. 362. Se o terceiro, sem justo motivo, se recusar a efetuar a exibição, o juiz lhe
ordenará que proceda ao respectivo depósito em cartório ou noutro lugar designado, no
prazo de 5 (cinco) dias, impondo ao requerente que o embolse das despesas que tiver;
se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de apreensão, requisitando,
se necessário, força policial, tudo sem prejuízo da responsabilidade por crime de
desobediência.
Art. 363. A parte e o terceiro se escusam de exibir, em juízo, o documento ou a coisa:
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
I - se concernente a negócios da própria vida da família; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
II - se a sua apresentação puder violar dever de honra; (Redação dada pela Lei nº
5.925, de 1º.10.1973)
III - se a publicidade do documento redundar em desonra à parte ou ao terceiro, bem
como a seus parentes consangüíneos ou afins até o terceiro grau; ou lhes representar
perigo de ação penal; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
IV - se a exibição acarretar a divulgação de fatos, a cujo respeito, por estado ou
profissão, devam guardar segredo; (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
V - se subsistirem outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz,
justifiquem a recusa da exibição. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Parágrafo único. Se os motivos de que tratam os ns. I a V disserem respeito só a uma
parte do conteúdo do documento, da outra se extrairá uma suma para ser apresentada
em juízo. (Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Trata-se, aqui, em verdade, de demanda autônoma, de índole cautelar, e não, de meio de prova.
O CPC regula a demanda cautelar de exibição em dois locais distintos, conforme seja a
demanda antecedente ou incidente ao processo principal. Enquanto a “ação de exibição
antecedente”, preparatória do processo principal cuja efetividade visa garantir, encontra sua
regulamentação nos arts. 844 e 845, a “ação cautelar de exibição”, incidente ao processo
principal está regulada pelos arts. 355 a 363.
O juiz pode ordenar que a parte exiba documento ou coisa, que se ache em seu poder.
Legitimado ativo para a exibição é qualquer das partes, sendo legitimado passivo seu adversário
no processo principal ou terceiro em cujo poder se encontre o documento ou a coisa e, em
cada uma dessas hipóteses, haverá um procedimento diferente a ser obedecido.
Na petição inicial da “ação de exibição”, além dos requisitos de qualquer petição inicial, deverá
haver a individuação, tão completa quanto possível, do documento ou da coisa; a finalidade da
prova, indicando os fatos que se relacionam com o documento ou a coisa; e as circunstâncias
em que se funda o requerente para afirmar a existência do documento ou da coisa, bem como
sua localização em mãos do requerido. Este será citado para responder em cinco dias (se se
tratar do adversário do requerente no processo principal) ou em dez dias (se for terceiro
estranho ao processo para onde se pretende carrear a prova).
A exibição será dispensada: se concernente a negócios da própria vida da família; se a sua
apresentação puder violar dever de honra; se a publicidade do documento redundar em
desonra à parte ou ao terceiro, bem como a seus parentes consanguíneos ou afins até o
terceiro grau; ou lhes representar perigo de ação penal; se a exibição acarretar a divulgação
de fatos, a cujo respeito, por estado ou profissão, devam guardar segredo; ou se subsistirem
outros motivos graves que, segundo o prudente arbítrio do juiz, justifiquem a recusa de
exibição. Todavia, se os motivos disserem respeito só a uma parte do conteúdo do documento,
da outra se extrairá uma suma para ser apresentada em juízo.
Não se encaixando em tais situações, o requerido terá que exibir a coisa ou o documento que se
encontre em seu poder e, em não cumprindo a ordem, o juiz considerará verdadeiros os fatos
que o requerente pretendia provar através da exibição (quando o requerido for seu adversário
no processo principal – art. 359); ou expedirá mandado de apreensão se o requerido for terceiro
(art. 362).
Súmulas pertinentes:
S. 389/STJ: a comprovação do pagamento do custo do serviço referente ao fornecimento de
certidão de assentamentos constantes dos livros da companhia é requisito de procedibilidade da
ação de exibição de documentos ajuizada em face de sociedade anônima.
S. 390/STF: A exibição judicial de livros comerciais pode ser requerida como medida preventiva.
S. 260/STF: o exame de livros comerciais, em ação judicial, fica limitado às transações entre os
litigantes.
CPC 2015: como novidade, o CPC 2015 prevê que, sendo necessário, o juiz pode adotar, contra
a parte, medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias para que o documento
seja exibido, o que, segundo Daniel Assumpção, é incompreensível, pois a não exibição
permite a conclusão da veracidade dos fatos que se pretendia provar. Como já há
consequência para a não exibição (que é ônus e não dever processual), não há qualquer
necessidade de atos executivos.
Quando o pedido de exibição se dirigir a terceiro, o CPC 2015 aumenta o prazo de resposta para
15 dias. Além disso, prevê outras consequências para o caso de descumprimento da ordem,
nos seguintes termos: se o terceiro descumprir a ordem, o juiz expedirá mandado de
apreensão, requisitando, se necessário, força policial, sem prejuízo da responsabilidade por
crime de desobediência, pagamento de multa e outras medidas indutivas, coercitivas,
mandamentais ou sub-rogatórias necessárias para assegurar a efetivação da decisão.
Prova Documental: documento é toda atestação gravada ou escrita de um fato. A sua noção é,
portanto, bastante ampla, alcançando não só os instrumentos escritos como também
fotografias, filmes, gravações de sons e assemelhados.
A prova documental deve ser produzida com a petição inicial e com a contestação. Só é
admissível a juntada posterior de documentos quando sua apresentação no momento em
princípio oportuno não foi possível por legítimo impedimento.
O documento público faz prova não só da sua formação, mas também dos fatos que o escrivão,
o tabelião, ou o funcionário declarar que ocorreram em sua presença. Em sendo incompetente
o oficial responsável pela lavratura do documento, este terá o mesmo valor probante de um
documento particular, assim como se feito sem a observância das determinações legais.
Quando a lei exigir, como da substância do ato, o instrumento público, nenhuma outra prova, por
mais especial que seja, pode suprir-lhe a falta. Em outras palavras, quando a forma é da
substância do ato, a sua inobservância acarretará a invalidade do ato jurídico.
O documento particular gera uma presunção relativa de veracidade das alegações ali constantes,
cabendo, portanto, ao interessado, o ônus de provar a falsidade das referidas informações.
Quando, todavia, contiver declaração de ciência, relativa a determinado fato, presume-se
verdadeira a declaração, mas não a existência do ato, competindo ao interessado em sua
existência o ônus de provar a veracidade da alegação (art. 368, parágrafo único).
A fé do documento público ou particular cessa com a declaração judicial de sua falsidade,
consistindo tal falsidade em formar documento não verdadeiro e em alterar documento
verdadeiro.
O incidente de arguição de falsidade é, em verdade, uma ação declaratória incidental. Nesta
ação declaratória incidental de falsidade de documento o ônus de provar a falsidade cabe à
parte que arguiu o incidente.
Suscitado o incidente o juiz suspenderá o processo principal (o que se tem, na verdade, é uma
suspensão imprópria do processo).
Arguida a falsidade do documento, a parte que carreou o documento aos autos será intimada
para oferecer resposta no prazo de dez dias, devendo o órgão jurisdicional, a seguir, determinar
a realização de prova pericial.
A sentença, que resolver o incidente, declarará a falsidade ou autenticidade do documento. A
natureza deste provimento jurisdicional é, para alguns autores, decisão interlocutória, recorrível
mediante agravo; contudo, a doutrina majoritária entende tratar-se de verdadeira sentença.
Assim, por sentença única, o juiz decidirá a demanda principal e a demanda incidental de
declaração de falsidade do documento.
Por fim, a sentença que declarar a falsidade (ou a autenticidade) do documento transita em
julgado apenas inter partes (art. 472).
Prova Testemunhal: é a que se obtém através do relato prestado, em juízo, por pessoas que
conhecem o fato litigioso. Ou seja, é a prova produzida por testemunhas.
Conceitua-se testemunha como sendo a pessoa estranha ao feito (pois se for parte o que se tem
é depoimento pessoal) que vai a juízo dizer o que sabe sobre os fatos da causa.
A prova testemunhal é sempre admissível, não dispondo a lei de modo diverso. O juiz indeferirá,
contudo, a inquirição de testemunhas sobre fatos já provados por documento ou confissão da
parte e sobre fatos que só por documento ou por exame pericial puderem ser provados.
A prova exclusivamente testemunhal só se admite nos contratos cujo valor não exceda o décuplo
do maior salário-mínimo vigente no país, ao tempo em que foram celebrados.
Podem depor como testemunhas todas as pessoas, exceto as incapazes, impedidas ou
suspeitas.
São incapazes: o interdito por demência; o que, acometido por enfermidade, ou debilidade
mental, ao tempo em que ocorreram os fatos, não podia discerni-los; ou, ao tempo em que
deve depor, não está habilitado a transmitir as percepções; o menor de dezesseis anos; o cego
e o surdo, quando a ciência do fato depender dos sentidos que lhes faltam.
São impedidos: o cônjuge, bem como o ascendente e o descendente em qualquer grau, ou
colateral, em terceiro grau, de alguma das partes, por consanguinidade ou afinidade, salvo se
o exigir o interesse público, ou, tratando-se de causa relativa ao estado da pessoa, não se
puder obter de outro modo a prova, que o juiz repute necessária ao julgamento do mérito; o
que é parte na causa; e o que intervém em nome de uma parte, como o tutor na causa do
menor, o representante legal da pessoa jurídica, o juiz, o advogado e outros, que assistam ou
tenham assistido as partes.
São suspeitos: o condenado por crime de falso testemunho, havendo transitado em julgado a
sentença (hipótese abolida pelo CPC 2015); o que, por seus costumes, não for digno de fé
(hipótese abolida pelo CPC 2015); o inimigo capital da parte, ou o seu amigo íntimo; e o que
tiver interesse no litígio.
Sendo estritamente necessário, o juiz ouvirá testemunhas impedidas ou suspeitas (o CPC 2015
acrescenta os menores); mas os seus depoimentos serão prestados independentemente de
compromisso (art. 415) e o juiz lhes atribuirá o valor que possam merecer. Seus depoimentos
serão tomados, portanto, na qualidade de informantes.
A testemunha fica isenta de depor sobre fatos que lhe acarretem grave dano, bem como ao seu
cônjuge e aos seus parentes consanguíneos ou afins, em linha reta, ou na colateral em
segundo grau (no CPC 2015, até o terceiro grau); ou a cujo respeito, por estado ou profissão,
deva guardar sigilo.
Nos termos do art. 407, incumbe à parte, cinco dias antes da audiência, depositar em cartório o
rol de testemunhas, precisando-lhes o nome, a profissão e a residência. No CPC 2015, caso
tenha sido determinada a produção de prova testemunhal, o juiz fixará prazo comum não
superior a 15 (quinze) dias, do saneamento e organização do processo, para que as partes
apresentem rol de testemunhas. Se a causa apresentar complexidade em matéria de fato ou
de direito, deverá o juiz designar audiência para que o saneamento seja feito em cooperação
com as partes, oportunidade em que o juiz, se for o caso, convidará as partes a integrar ou
esclarecer suas alegações. Nesse caso, as partes devem levar, para a audiência prevista, o
respectivo rol de testemunhas.
Limita-se a dez o número de testemunhas que cada parte pode oferecer, sendo lícito ao juiz
dispensar as que excedam de três sobre o mesmo fato.
Oferecido o rol de testemunhas, só é possível a substituição daquela que falecer; que, por
enfermidade, não estiver em condições de depor; ou que, tendo mudado de residência, não for
encontrada pelo oficial de justiça.
Quando o juiz da causa for arrolado com testemunha, este declarar-se-á impedido, se tiver
conhecimento de fatos, que possam influir na decisão, caso em que será defeso à parte, que o
incluiu no rol, desistir de seu depoimento; ou, se nada souber, mandará excluir o seu nome.
O depoimento das testemunhas deve ser colhido na audiência de instrução e julgamento, perante
o juiz da causa. Exceções a essa regar são as testemunhas que prestam depoimento
antecipadamente; que são inquiridas por carta; que, por doença, ou outro motivo relevante,
estão impossibilitadas de comparecer em juízo (art. 336, parágrafo único); e as arroladas no
art. 411, que cria um benefício para os ocupantes de certos cargos.
Segundo o CPC 2015, a oitiva de testemunha que residir em comarca, seção ou subseção
judiciária diversa daquela onde tramita o processo poderá ser realizada por meio de
videoconferência ou outro recurso tecnológico de transmissão e recepção de sons e imagens
em tempo real, o que poderá ocorrer, inclusive, durante a audiência de instrução e julgamento.
A testemunha é intimada a comparecer à audiência, constando do mandado dia, hora e local,
bem como os nomes das partes e a natureza da causa. Se a testemunha deixar de comparecer,
sem motivo justificado, será conduzida, respondendo pelas despesas do adiamento. Mas a
parte pode comprometer-se a levar à audiência a testemunha, independentemente de
intimação; presumindo-se, caso não compareça, que a parte desistiu de ouvi-la.
Tal regra também foi substancialmente modificada com o CPC 2015. A partir dele, cabe ao
advogado da parte informar ou intimar a testemunha por ele arrolada do dia, da hora e do local
da audiência designada, dispensando-se a intimação do juízo. A intimação deverá ser realizada
por carta com aviso de recebimento, cumprindo ao advogado juntar aos autos, com
antecedência de pelo menos 3 (três) dias da data da audiência, cópia da correspondência de
intimação e do comprovante de recebimento.
A intimação continuará sendo por via judicial quando: for frustrada a intimação descrita acima;
sua necessidade for devidamente demonstrada pela parte ao juiz; figurar no rol de testemunhas
servidor público ou militar, hipótese em que o juiz o requisitará ao chefe da repartição ou ao
comando do corpo em que servir; a testemunha houver sido arrolada pelo Ministério Público
ou pela Defensoria Pública; a testemunha for uma daquelas previstas no art. 454.
Quando figurar no rol de testemunhas funcionário público ou militar, o juiz o requisitará ao chefe
da repartição ou ao comando do corpo em que servir.
O juiz inquirirá as testemunhas separada e sucessivamente; primeiro as do autor e depois as do
réu, providenciando de modo que uma não ouça o depoimento das outras. Aqui também houve
modificação com o CPC 2015: as perguntas serão formuladas pelas partes diretamente à
testemunha, começando pela que a arrolou, não admitindo o juiz aquelas que puderem induzir
a resposta, não tiverem relação com as questões de fato objeto da atividade probatória ou
importarem repetição de outra já respondida. O juiz poderá inquirir a testemunha tanto antes
quanto depois da inquirição feita pelas partes.
Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarando o nome por inteiro, a profissão, a
residência e o estado civil, bem como se tem relações de parentesco com a parte, ou interesse
no objeto do processo.
É licito à parte contraditar a testemunha, arguindo-lhe a incapacidade, o impedimento ou a
suspeição. Se a testemunha negar os fatos que lhe são imputados, a parte poderá provar a
contradita com documentos ou com testemunhas, até três, apresentadas no ato e inquiridas
em separado. Sendo provados ou confessados os fatos, o juiz dispensará a testemunha, ou
lhe tomará o depoimento, observando o disposto no art. 405, § 4º.
A testemunha pode requerer ao juiz que a escuse de depor, alegando os motivos de que trata o
artigo 406; ouvidas as partes, o juiz decidirá de plano.
Ao início da inquirição, a testemunha prestará o compromisso de dizer a verdade do que souber
e lhe for perguntado. O juiz advertirá à testemunha que incorre em sanção penal quem faz
afirmação falsa, cala ou oculta a verdade.
O depoimento, depois de datilografado, será assinado pelo juiz, pela testemunha e pelas partes.
O CPC 2015 especifica o conteúdo do laudo pericial, nos seguintes termos: o laudo pericial
deverá conter: a exposição do objeto da perícia; a análise técnica ou científica realizada pelo
perito; a indicação do método utilizado, esclarecendo-o e demonstrando ser
predominantemente aceito pelos especialistas da área do conhecimento da qual se originou;
resposta conclusiva a todos os quesitos apresentados pelo juiz, pelas partes e pelo órgão do
Ministério Público.
O perito protocolará o laudo em juízo, no prazo fixado pelo juiz, pelo menos 20 (vinte) dias
antes da audiência de instrução e julgamento. As partes serão intimadas para, querendo,
manifestar-se sobre o laudo do perito do juízo no prazo comum de 15 (quinze) dias, podendo o
assistente técnico de cada uma das partes, em igual prazo, apresentar seu respectivo parecer.
O perito do juízo tem o dever de, no prazo de 15 (quinze) dias, esclarecer ponto: I - sobre
o qual exista divergência ou dúvida de qualquer das partes, do juiz ou do órgão do Ministério
Público; II - divergente apresentado no parecer do assistente técnico da parte.
Se ainda houver necessidade de esclarecimentos, a parte requererá ao juiz que mande
intimar o perito ou o assistente técnico a comparecer à audiência de instrução e julgamento,
formulando, desde logo, as perguntas, sob forma de quesitos. O perito ou o assistente técnico
será intimado por meio eletrônico, com pelo menos 10 (dez) dias de antecedência da audiência.
Inspeção Judicial:
Seção VIII
Da Inspeção Judicial
Art. 440. O juiz, de ofício ou a requerimento da parte, pode, em qualquer fase do
processo, inspecionar pessoas ou coisas, a fim de se esclarecer sobre fato, que interesse
à decisão da causa.
Art. 441. Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais
peritos.
Art. 442. O juiz irá ao local, onde se encontre a pessoa ou coisa, quando:
I - julgar necessário para a melhor verificação ou interpretação dos fatos que deva
observar;
II - a coisa não puder ser apresentada em juízo, sem consideráveis despesas ou
graves dificuldades;
Ill - determinar a reconstituição dos fatos.
Parágrafo único. As partes têm sempre direito a assistir à inspeção, prestando
esclarecimentos e fazendo observações que reputem de interesse para a causa.
Art. 443. Concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado,
mencionando nele tudo quanto for útil ao julgamento da causa. (Redação dada pela Lei
nº 5.925, de 1º.10.1973)
Parágrafo único. O auto poderá ser instruído com desenho, gráfico ou fotografia.
(Redação dada pela Lei nº 5.925, de 1º.10.1973)
Trata-se de meio de prova em que o próprio juiz, através de seus sentidos, examina pessoa ou
coisa, a fim de obter esclarecimentos sobre os fatos da causa. Consiste, portanto, na percepção
sensorial direta do juiz sobre qualidades ou circunstâncias corpóreas de pessoas ou coisas
relacionadas com litígio.
A inspeção judicial pode ser feita, de ofício ou a requerimento das partes, em qualquer fase do
processo.
Ao realizar a inspeção direta, o juiz poderá ser assistido de um ou mais peritos e deverá ir ao
local, onde se encontre a pessoa ou coisa, toda vez que julgar necessário para a melhor
verificação ou interpretação dos fatos que deva observar; quando a coisa não puder ser
apresentada em juízo, sem consideráveis despesas ou graves dificuldades; e também quando
determinar a reconstituição dos fatos. Nas demais hipóteses, a inspeção judicial deverá ser
realizada na própria sede do juízo, lugar onde, via de regra, devem ser praticados todos os atos
do processo.
As partes têm direito a assistir à inspeção, prestando esclarecimentos e fazendo observações
que reputem de interesse para a causa.
Uma vez concluída a diligência, o juiz mandará lavrar auto circunstanciado, mencionando nele
tudo quanto for útil à decisão da causa. Tal auto poderá ser instruído com desenho, gráfico,
fotografia ou peça análoga.
6. Os Processos na Lei 8.078/90
Principais obras consultadas: Resumos dos Grupos do 27º CPR e anteriores. DIDIER JR.,
Fredie, Curso de Direito Processual Civil, v. 4, Ed. Juspodivm, 2013. MAZZILLI, Hugo Nigro, A
Defesa dos Interesses Difusos em Juízo. CAPPELLETTI, Mauro. Acesso à justiça, Ed. Fabris,
1988. Intensivo LFG 2011. BRAUNER, Arsênio. Aulas do Curso Alcance (Juiz Federal), 2013.
NEVES, Daniel Assumpção Amorim, Manual de Processo Coletivo, Ed. Método, 2014.
Informativos STF e STJ. LORDELO, João Paulo, MANUAL PRÁTICO DE
PROCESSO COLETIVO, 2ª Ed., 2015 (Acesso gratuito em
http://media.wix.com/ugd/256fe5_50d6ee6e9f69462b99fd78a01069119c.pdf) Legislação
básica: CRFB/88; CPC; Leis infraconstitucionais – Lei 7.347/85 (ACP), Lei Lei 4.717/65, CDC,
Título III.
Principais obras consultadas: Resumo do Grupo do 25º; Nelson Nery Júnior. Código de
Processo Civil Comentado. 11ª Edição. Ed. RT; Emerson Garcia e Rogério Pacheco Alves,
Improbidade Administrativa, 6ª ed., ed. Lumen Juris, 2011; Leonardo de Medeiros Garcia,
Roberval Rocha. Ministério Público Federal edital sistematizado. 2.ed. Bahia:
Juspodivm,2012; Adriano Andrade; Clebar Masson; Landolfo Andrade. Interesses difusos e
coletivos esquematizado. 2 ed. São Paulo: Método, 2012. Legislação básica: Lei n. 7.347/85 e Lei
n. 8.429/92
Ação Civil Pública.
A ação civil pública foi regulamentada pela Lei 7.347 em 1985, como defesa dos diretos difusos
e coletivos, primeiramente tratou de áreas como meio ambiente, patrimônio histórico e cultural e
direitos do consumidor, logo após estendeu-se ao patrimônio público e ao controle da probidade
administrativa até alcançar os direitos fundamentais como educação, saúde, trabalho, etc. Pode
ser usada nos casos de infração à ordem econômica. Os elementos do processo coletivo
apontados pela doutrina e que, por consequências podem ser citados para a ACP coletiva são:
a)Presença do interesse público primário; b)Afirmação de um direito coletivo lato sensu no pólo
ativo, ou afirmação de um direito em face de um titular de um direito coletivo lato sensu (ação
coletiva passiva); c)Extensão subjetiva da coisa julgada;
Conceitos de direitos coletivos latu sensu:
Interesses Difusos: são interesses ou direitos transindividuais, de natureza indivisível, de que
sejam titulares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstância de fato. "Reputam-se direitos
difusos aqueles transindividuais (metaindividuais, supraindividuais, pertencentes a uma
coletividade) de natureza indivisível (só podem ser considerados como um todo) e cujos titulares
sejam pessoas indeterminadas (ou seja, indeterminabilidade dos sujeitos, não havendo
individuação) ligadas por circunstâncias de fato, não existindo um vínculo de natureza
jurídica..." Ex ; proteção ao meio-ambiente e a moralidade administrativa. (Didier.op.cit. pág. 76)
Interesses Coletivos (em sentido estrito): São interesses transindividuais indivisíveis de um
grupo determinado ou determinável de pessoas, reunidas por uma relação jurídica básica
comum. Ex: interesse à nulificação de cláusula abusiva em contrato de adesão.
Obs: a relação jurídica base pode dar-se entre os membros do grupo "affectio societatis" (Ex:
advogados inscritos na OAB) ou pela ligação com a parte contrária (Ex: contribuintes de um
determinado imposto). Ademais, a relação jurídica base precisa ser anterior à lesão. (op. cit.pág
76)
Elementos Comuns entre Direitos Difusos e Coletivos: de acordo com Carvalho Filho, dois são
os Pontos de identificação entre os direitos difusos e coletivos. O primeiro diz respeito aos
destinatários, pois em ambos está presente a transindividualidade; o segundo se refere à
indivisibilidade do direito, o que significa que não se pode identificar o quinhão do direito que cabe
a cada integrante do grupo, pois o direito merece a proteção legal como um todo, abstraindo-se
a situação jurídica individual de cada beneficiário.
Diferença entre Direito Difuso e Coletivo: é a determinabilidade inerente aos direitos coletivos
e a existência de uma relação jurídica base.
Interesses Individuais Homogêneos: São aqueles direitos de grupo, categoria ou classe de
pessoas determinadas ou determináveis que compartilhem prejuízos divisíveis, de origem
comum, normalmente oriundas das mesmas circunstâncias de fato. Ex: compradores de
veículos produzidos com o mesmo defeito de série.
Origem: class actions for damages (ações de reparação de danos à coletividade do direito
norteamericano). Sob o aspecto processual, o que caracteriza os interesses transindividuais não
é apenas o fato de serem compartilhados por diversos titulares individuais reunidos pela mesma
relação jurídica ou fática, mas também é a circunstância de que a ordem jurídica reconhece a
necessidade de acesso coletivo à Justiça, que produz uma solução única e mais eficiente para
todo o grupo lesado e evita decisões contraditórias.
ACP e direitos individuais. De se ressaltar, contudo, que a doutrina menciona que a ACP nem
sempre será uma ação coletiva. Existe a ACP para tutela de direitos individuais, como a ação
que veicula pretensão individual de uma criança, um idoso ou a saúde de um hipossuficiente.
Abaixo as considerações relativas às ações coletivas, que têm regime previsto na lei citada e no
microssistema mais abaixo mencionado.
Logo no art. 1º estabelece-se a inexistência de litispendência entre ação civil pública e ação
popular, bem como que a ACP pode ser veiculada para defesa de todos os direitos coletivos lato
sensu (direitos difusos, coletivos stricto sensu e individuais homogêneos). Por tal razão mesma,
não cabe ACP cujo objeto envolva tributos, contribuições previdenciárias, FGTS ou outros
fundos de natureza institucional cujos beneficiários podem ser individualmente
determinados (parágrafo único), todos direitos individuais disponíveis.
Legitimação ad causam nas Causas Coletivas (art. 5º, LACP): MP, Defensoria, entes
federados e entidade da indireta, associações. Há 3 teorias a respeito da natureza da
legitimidade:
1) Legitimação Extraordinária (Mazzilli) - Corrente majoritária. Quando a parte na relação jurídica
processual diz estar defendendo direito subjetivo material de terceiro, não há identidade entre
o autor da ação e o titular do direito A LACP e o CDC autorizam determinados entes a
promover ações em defesa de direitos transindividuais. Na jurisprudência, é amplamente
majoritário o entendimento de que, sejam direitos difusos, coletivos, ou individuais homogêneos,
a legitimação para a sua defesa na ação civil pública é extraordinária, havendo substituição
processual. (interesses difusos e coletivos sistematizado - p. 60/61)
2) Legitimação Ordinária. Quando a parte na relação jurídica processual se diz titular do direito
subjetivo material por ela invocado. Existe pertinência subjetiva (identidade entre o autor da ação
e o titular do direito). Trata-se de legitimação ordinária para os direitos naturalmente coletivos
(difusos e coletivos em sentido estrito) e legitimação extraordinária para os direitos individuais
homogêneos.
3) Legitimação Autônoma para Condução do Processo (tertium genus - legitimação anômala)
para os direitos difusos e coletivos; e legitimação extraordinária para os direitos individuais
homogêneos. Nelson Nery afirma que o substituto defende direito de titular determinado. Como
os titulares dos direitos difusos são indetermináveis e os dos direitos coletivos indeterminados
(CDC 81, par. Único I e II), sua defesa em juízo é realizada por meio de legitimação autônoma
para a condução do processo estando superada a dicotomia clássica de legitimação ordinária e
extraordinária.
Consoante Marinoni, "o direito brasileiro seguiu em parte - mas com inúmeras adaptações, diante
da realidade nacional - a experiência do direito anglo-americano, estabelecendo uma dualidade
entre as condições de legitimação. De um lado, buscou efetivamente atender a critério
semelhante ao da "representatividade adequada", autorizando a propositura das ações coletivas às
associações legalmente constituídas há pelo menos um ano e que incluam entre os seus fins
institucionais a defesa dos interesses específicos (art. 82, IV,CDC e art. 5º, V, a e b, da Lei
7.347/85). Estabelecidos os critérios da "representatividade adequada" em lei, cumpre ao
magistrado avaliar, no caso concreto, o preenchimento de tais condições, outorgando à
associação a legitimidade para postulação do interesse."(op. cit. 745) O juiz pode dispensar o
requisito de pré-constituição mínima de um ano, quando haja manifesto interesse social
evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela relevância do bem jurídico a ser
protegido (art. 5º, p. 4º, LACP). "Note-se que, para defesa destes interesses, não depende a
associação de autorização assemblear ou de específica outorga de poderes pelos interessados".
(Marinoni.op. cit. 745)
Obs: A Lei 9.494/97 em seu art. 2-A, parágrafo único dispõe: "Nas ações coletivas propostas contra
a União, os Estados, o DF, os Municípios e suas autarquias e fundações, a petição inicial deverá
obrigatoriamente estar instruída com a ata da assembleia da entidade associativa que a autorizou,
acompanhada da relação nominal dos seus associados e indicação dos seus respectivos
endereços". Flagrantemente inconstitucional, fere o princípio da isonomia e do acesso à justiça,
de acordo com Kazuo Watanabe. (op. cit. pág 745). Em relação ao MS Coletivo não há essa
exigência. (Súmula do STF).
Outrossim, o direito pátrio confere a agentes públicos determinados o poder para exercer a ação
coletiva. "Seja por representarem, por sua própria natureza o interesse público, seja pela estrutura
e pelas prerrogativas de que gozam, entende o legislador como conveniente autorizar também a
órgãos públicos a defesa desses direitos.
Legitimação ativa: Assim, estabelece-se como legitimados para ação coletiva: i) MP (art. 129,
III, CF); ii) União, Estados, DF e Municípios; iii) a entidades e órgãos da administração pública,
direta ou indireta, ainda que sem personalidade jurídica, especificamente destinados à defesa dos
interesses e direitos difusos, coletivos e individuais homogêneos (art. 82 do CDC)".
especificamente destinados à defesa dos interesses e direitos protegidos pelo CDC (art. 82, III,
CDC), v.g., o PROCON. Admite-se litisconsórcio facultativo do Poder Público ou de outras
associações, tanto no polo ativo quanto no passivo da ACP, bem como admite-se litisconsórcio
facultativo entre MPU, MPDFT e MPE's (§ 5.°). iv) associação que, concomitantemente, esteja
constituída há pelo menos um ano e inclua, entre suas finalidades, a proteção do bem jurídico
objeto da ação (Obs.: tal requisito da pré-constituição poderá ser dispensado pelo juiz, quando
haja manifesto interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano, ou pela
relevância do bem jurídico a ser protegido, § 4.°); v) Defensoria Pública.
Defensoria Pública. (Lei 11.448/2007) De acordo com Marinoni, a legitimidade da Defensoria
está ligada a sua finalidade essencial, as ações coletivas precisam ter repercussão em interesses
dos necessitados, ainda que também possa operar efeitos perante outros sujeitos. (op.cit.pag 746)
Ministério Público. A CF prevê, em seu art. 129, III, a atribuição para o MP promover o "inquérito
civil e ACP, para proteção do patrimônio público e social, do meio-ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos". Por essa previsão, parece que o MP não teria legitimidade para
propositura de ações relativas a direitos individuais homogêneos, mas tal conclusão é errada. O
MP possui legitimidade para a defesa de tais direitos, por expressa previsão do CDC (art. 82, I)
e autorização de lei específica (art. 6, XII, LC 75/93), ambas encontram-se em consonância com
o art. 129, IX, da CF, que permite que o MP exerça outras funções compatíveis com sua finalidade.
Contudo, o MP não pode atuar na defesa de quaisquer interesses individuais (ainda que
homogêneos), é preciso que estes caracterizem interesses sociais (tenham relevância social) ou
individuais indisponíveis.
Se o MP não intervier como parte, ocorrerá sua intervenção obrigatória como fiscal da lei - custus
legis- (art 5º §1º - a presença do interesse público primário nas ações coletivas justifica sua
atuação). Deve assumir, também, a titularidade ativa em casos de desistência infundada ou
abandono de ação. O MP ou outro legitimado assumirá a titularidade ativa (controle da
desistência pelo MP que só ocorre na desistência infundada, não em qualquer desistência da
parte autora). Caso não queira assumir, cabe ao juiz, que com isso não concorde, remeter os
autos a Câmara de Coordenação e Revisão (LC 75/93, ART 62). Analogia ao art. 9º da lei ACP.
Associações: estar constituída há pelo menos 01 ano (pode ser dispensado pelo juiz quando
houver interesse social evidenciado pela dimensão ou característica do dano e relevância do
bem jurídico), pertinência temática (nexo dos fins institucionais e objeto da ACP).
Quanto à possibilidade de um MP propor ACP na esfera de outro, há 2 posições: a) não pode; e
b) é possível, a natureza difusa/coletiva dos direitos não encontra limites territoriais (Nery).
Legitimação Coletiva Passiva: ocorrerá quando um grupamento humano (titular de um direito
coletivo lato sensu) for colocado como sujeito passivo de uma relação jurídica afirmada na
petição inicial. (op. cit. pág 218)
Há quem não admita a possibilidade, pois não há previsão legal; pela dificuldade de identificar
o representante adequado; e devido à coisa julgada coletiva, que não poderia prejudicar direitos
individuais.
Características da Legitimação Coletiva a) Concorrente e disjuntiva (independe da participação dos
outros). b) Regulada por lei.
c) O legitimado coletivo atua em nome próprio na defesa de direitos que pertencem a um
grupamento humano.
d) Esse grupamento humano não tem personalidade judiciária, só os legitimados coletivos
podem atuar em juízo. Exceção: atribuição de capacidade de ser parte a uma comunidade - art.
37 do Estatuto do Índio: "Os grupos tribais ou comunidades indígenas são partes legítimas para a
defesa dos seus direitos em juízo, cabendo-lhes, no caso, a assistência do Ministério Público
Federal ou órgão de proteção ao índio". (op.cit. 227)
Conseqüência da Falta da Legitimação Coletiva Ativa: não pode ser a extinção do processo
coletivo, sem exame de mérito. Deve haver a substituição (sucessão) da parte que se reputa
inadequada para condução da causa. (art 9º LAP e art. 5, p. 3º da LACP)
Intervenção de Terceiros:
1) Assistência nas causas que versem sobre Direitos Difusos e Coletivos sentido restrito:
A) Particular: não pode, pois não possui legitimidade para a causa; não tem interesse, na
medida em que não pode ser prejudicado pela coisa julgada; e não há relação do particular com
a pessoa a quem assiste. (op. cit. 257); B) Co-legitimado: é possível - natureza de assistência
litisconsorcial. (art. 3º, p.5º, da Lei 7.853/89 e art, 5, p. 2º da LACP).
2) Assistência nas causas que versem sobre Direitos Individuais Homogêneos: É
possível.(natureza de assistência litisconsorcial- art. 94 do CDC).
3) Intervenção de Amicus Curiae. Previsão expressa: a) Intervenção da CVM nas ações
envolvendo mercado de capitais - art. 31 da Lei 6385/76; b) Intervenção do CADE nas causas
relativas à proteção da concorrência - art. 89 da Lei 8.884/94. A tendência da doutrina e da
jurisprudência é admitir a intervenção do amicus curiae em todas as ações coletivas, desde que
tenha relevância e condições de auxiliar o trabalho do magistrado.
4) Denunciação da lide e Chamamento ao processo nas causas de consumo. A
denunciação da lide a doutrina majoritária não admite, pois o art. 88 do CDC veda
expressamente, na hipótese de responsabilidade pelo fato do produto. Ademais,
comprometeria a efetiva e tempestiva tutela jurisdicional, e também seria incompatível com o
sistema de responsabilidade objetiva do CDC.
Competência, critérios: 1) local onde ocorrer o dano (art 2º) e, se envolver mais de uma
comarca, a competência se resolverá pela prevenção nos moldes do CPC. Quando a ação
competir à Justiça Federal, a competência será do juízo federal cuja competência abarque o
"local do dano" (art. 93, CDC). Essa competência é funcional, ou seja, absoluta e "admite sua
verificação em qualquer tempo e grau de jurisdição" (STJ, Resp 463.762/PR). Denominada de
competência territorial absoluta em razão do interesse público, defende Barbosa Moreira.
Há que se atentar, contudo para a extensão do dano (art 93, II, do CDC). Se o dano for nacional
ou regional, caberá interpor a ação no foro da capital do Estado ou no DF (neste quando o dano
for nacional, defende Mazzilli), 2) é sempre de primeiro grau, ainda que em face do Presidente
ou Ministros.
Pretensão/pedido: A ACP pode ter por causa de pedir danos morais ou patrimoniais causados
a qualquer dos direitos coletivos lato sensu (art. 1) e terá por objeto a condenação em dinheiro
ou o cumprimento de obrigação de fazer ou não fazer (art. 3). Na obrigação de fazer ou não
fazer, o juiz determinará o cumprimento da prestação da atividade devida ou a cessação da
atividade, sob pena de execução específica ou de cominação de multa diária ex officio (art. 11).
Embora o art 3º trate de condenação em dinheiro e obrigação de fazer e não fazer, cabe a
aplicação do art 83 do CDC que determina serem admissíveis todas as espécies de ações para
a adequada e efetiva tutela do direito. Princípio da Informação aos Órgãos Competentes:
Traduz o dever funcional de informar o MP sobre os fatos que constituam objeto de uma ACP.
(arts. 6º e 7º da LACP). O interessado deve ser atendido em 15 dias quando solicitar certidões
ou informações. Requisições do MP pro prazo não inferior a 10 dias. Não oferecimento e
retardamento é crime, art 10. Desistência: O MP não pode desistir enquanto persistirem as
mesmas circunstâncias fáticas vigentes à época da propositura da ação, em face do princípio da
obrigatoriedade. Só pode fazer quando há fato novo. Abandono e desistência: O MP ou outro
legitimado assumirá o pólo ativo (art. 5, p.3º, LACP).
Pedidos: Liminar: poderá o juiz conceder mandado liminar (veiculada através de ação cautelar
ou de pedido de antecipação dos efeitos da tutela, nos moldes do art. 273, CPC), com ou sem
justificação prévia, em decisão sujeita a agravo. A multa cominada liminarmente (astreintes) só
será exigível do réu após o trânsito em julgado da decisão favorável ao autor, mas será devida
desde o dia em que se houver configurado o descumprimento (art. 13, § 2º). Suspensão da
liminar: para evitar grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, poderá o
Presidente do Tribunal suspender a execução da liminar - decisão da qual caberá agravo para a
turma (art. 13, § 1º).
Coisa julgada: a sentença na ACP fará coisa julgada erga omnes (art.16), nos limites da
competência territorial do órgão prolator, exceto se o pedido for julgado improcedente por
insuficiência de provas, hipótese em que qualquer legitimado poderá intentar outra ação com
idêntico fundamento, valendo-se de nova prova (art. 16, alterado pela Lei n. 9.494/97).
"Malgrado seja notória a divergência doutrinária e jurisprudencial acerca do alcance da coisa
julgada em ações civis públicas que tenham por objeto defesa dos direitos de consumidores, o STJ
encerrou a celeuma, firmando entendimento de que a sentença na ação civil pública faz coisa
julgada erga omnes nos limites da competência territorial do Tribunal" (AgRg nos EREsp
253.589/SP, AgRg no REsp 1105214/DF, EDcl no REsp 167.328/SP). Não obstante, em 2010,
a Terceira Seção do STJ aplicou, em caso de ação civil pública para reserva de vagas em
concurso federal, o seguinte entendimento: "A restrição territorial prevista no art. 16 da Lei da Ação
Civil Pública (7.374/85) não opera efeitos no que diz respeito às ações coletivas que visam
proteger interesses difusos ou coletivos stricto sensu, como no presente caso; nessas hipóteses,
a extensão dos efeitos à toda categoria decorre naturalmente do efeito da sentença prolatada,
vez que, por ser a legitimação do tipo ordinária, tanto o autor quanto o réu estão sujeitos à
autoridade da coisa julgada, não importando onde se encontrem" (CC 109.435/PR, DJe
15/12/2010).
Prescrição e Decadência nos Direitos Coletivos Lato Sensu. A doutrina ensina que os
direitos difusos e coletivos são imprescritíveis, já os direitos individuais homogêneos possuem
prazo prescricional. Contudo, há diversas regras específicas: Ações de ressarcimento ao erário
são imprescritíveis (art, 37, p. 5º, CF); Art. 23 da LIA; Art. 26, 27 e 100 do CDC; 05 anos para ação
popular, ressalvada a imprescritibilidade prevista na letra "A"; 120 dias para optar pelo
procedimento do MS. Também são consideradas imprescritíveis as ações coletivas de reparação
a dano ambiental (REsp 1120117/AC)
Obs: causas que obstam o prazo decadencial no CDC: a) Reclamação comprovadamente
formulada pelo consumidor; e b) instauração de IC.
OBS; cabe astreintes, cabe concessão de liminar (cabe suspensão da liminar pelo presidente do
Tribunal da qual caberá agravo em 05 dias).
Pedido de Indenização por Dano Moral Coletivo: previsão: art. 1º da LACP. A doutrina
majoritária admite. Pacífica a possibilidade nos direitos individuais homogêneos. Quanto aos
direitos difusos e coletivos, o STJ se divide: a) Possível – REsp 1221756; b) Não é possível:
REsp 871844.
ACP e o Controle de Constitucionalidade. O STF admite, desde que se trate de controle
difuso, que a controvérsia constitucional seja apenas uma questão prejudicial e não o objeto
único da demanda, e que tal controvérsia funcione como causa de pedir. Logo, não haverá coisa
julgada sobre questão prejudicial e também a norma não será retirada do ordenamento de direito
positivo. ACP e Matéria Tributária. O STF não admite ( RE 195.056-1/PR). No entanto, de
acordo com o art. 5º, II, da LC 75/93 cabe ao MPF zelar pela observância do sistema tributário
nacional. Outrossim, a doutrina admite (Nery, Mazzilli, Kazuo Watanabe). A MP 2180-35,
alterando o parágrafo único da art. 1º da LACP, confirmou a impossibilidade de ACP em matéria
tributária, mas a doutrina considera inconstitucional tal previsão.
Reconvenção em Ações Coletivas. Há 2 posições: a) não é possível, pois não existe ação
coletiva passiva; e b) é possível, desde que haja compatibilidade de procedimento com a
demanda principal e seja respeitado o art. 315, parágrafo único do CPC.
Litigância de Má-fé e Despesas Processuais. A lei dispensa do pagamento de custas e isenta
do pagamento de honorários advocatícios. Custas e honorários advocatícios somente são
devidos nos casos de litigância de má-fé (art. 87 do CDC). Em caso de má-fé, a associação e os
diretores serão solidariamente condenados em honorários advocatícios e ao décuplo das custas,
sem prejuízo das perdas e danos (art. 17).
Também a lei da ACP, art.18, dispensa o adiantamento de custas, emolumentos, honorários
periciais e quaisquer outras despesas. Os dispositivos não se aplicam ao réu (aplica-se in totum
o art 20 CPC). Quanto o MP for autor, contudo, não cabe condenação em honorários em seu
favor (EResp895530-PR).
Qualquer dos litigantes ou intervenientes na ACP pode ser considerado litigante de má-fé. No
entanto, para se condenar o MP é preciso que se comprove o dolo (STJ-REsp 28.751/SP).
ACP e Ação Popular. Normalmente ocorre conexão e não litspendência, por uma das ações ter
objeto mais amplo. Tal identificação dependerá do caso concreto. (STJ, Resp 208680/MG)
Condenação. A condenação é genérica, resultando apenas na fixação do dever de indenizar,
sem especificar o montante devido a cada vítima do prejuízo. A atuação do magistrado é verificar
se o réu é ou não o responsável pelo dano. Trata-se de sentença certa, embora ilíquida. Obtida
a sentença de condenação genérica, surge a necessidade de liquidação. Podem promover a
liquidação os legitimados do art. 82 do CDC, bem como as vítimas específicas do dano ou seus
sucessores, sendo certo que estes (vítimas e sucessores) têm preferência. Na liquidação o autor
deve provar que há o direito à indenização, comprovando-se o dano, o nexo causal e quantum
devido (liquidação imprópria ou habilitação). Trata-se de verdadeira ação, chamada pela doutrina
de "ação de cumprimento". A atuação do ente coletivo, nessa hipótese, é de representação
processual. Caso decorra um ano sem habilitação dos interessados em número compatível
com a gravidade do dano, poderão os legitimados do art. 82 promover a liquidação e execução
da indenização. A indenização, nesse caso, vai para o fundo previsto na LACP. Outrossim, nas
hipóteses de dano individualmente insignificantes, mas ponderáveis em seu conjunto, poderá não
existir interesse das vítimas na habilitação, daí o surgimento da chamada "indenização fluida"
(fluid recovery), destinada ao "fundo" para a proteção de bens e valores da coletividade lesada. A
execução da tutela coletiva de direitos individuais homogêneos pode ser também individual ou
coletiva. A execução individual, que poderá ser realizada pelo ente coletivo (mediante
representação) ou pessoalmente, deve ter por título a certidão da sentença de liquidação. A
competência (relativa) é do juízo da liquidação do dano, que pode ser o mesmo da condenação
genérica ou outro; e pode ser afastada em benefício da vítima. A execução será processada
pela via normal, observando, quando possível, o regime de cumprimento de sentença (art. 475 - I
e ss. Do CPC) A execução coletiva poderá ser submetida ao sistema da fluid recovery, nos
termos do art. 100 do CDC, como supramencionado. Havendo execuções individuais e coletivas
decorrentes da mesma ACP, as primeiras possuem preferência. As vítimas devem receber as
indenizações antes da destinação da importância recuperada para o fundo coletivo (art. 99 do
CDC).
Recursos. Art. 14 da LACP: O juiz poderá conferir efeito suspensivo aos recursos, para evitar dano
irreparável à parte. Contra a sentença, portanto, cabe o recurso de Apelação, ao qual pode ser
atribuído efeito suspensivo. Como nas demandas coletivas a coisa julgada é secundum
eventum probationis, não há coisa julgada material se a improcedência se fundar em falta de
prova. Assim, há interesse recursal para modificação do fundamento da sentença, para que seja
reconhecida a inexistência do direito, uma vez que possibilitará a ocorrência da coisa julgada
material. (op. cit. pág 366)
Reexame Necessário. 4 posições: a) não há reexame necessário; b) aplica-se a regra geral do
art. 475 do CPC (Mazzilli); c) aplica-se a Lei de Ação popular, por analogia. d) os 2 regimes são
aplicáveis: "Condenada a Fazenda Pública em ACP, há remessa necessária; julgada
improcedente ACP ou extinto o processo por carência de ação, envolva ou não o ente público, há
também, remessa necessária" (Didier e Zaneti, op.cit pág. 367). Obs: Na lei dos portadores de
necessidades especiais o Reexame Necessário é em favor do deficiente e não do poder público.
Execução: decorridos sessenta dias do trânsito em julgado da sentença condenatória, sem que a
associação autora lhe promova a execução, deverá fazê-lo o MP, facultada igual iniciativa aos
demais legitimados (art. 15). Execução esta que deve ser interpretada em conjunto com a
liquidação e execução da sentença coletiva prevista no Título III do CDC.
Destinação dos valores da condenação: havendo condenação em dinheiro, ela reverterá, no
plano federal, ao Fundo Federal de Defesa dos Direitos Difusos (FDD, Decreto n. 1.306/94),
gerenciado pelo Conselho Federal Gestor do FDD (Lei n. 9.008/94). Em dispositivo incluído pelo
Estatuto da Igualdade Racial (Lei nº 12.288/10), prevê-se que o valores da condenação com
fundamento em dano causado por ato de discriminação étnica serão utilizados para ações de
promoção da igualdade étnica, conforme definição dos Conselhos de Promoção da Igualdade
Racial (art. 13).
Inquérito Civil
(Resolução nº 23 do CNMP - 17/09/2007)
O MP pode instaurar inquérito civil, que é um procedimento administrativo destinado à colheita
de elementos para eventual e futura propositura de ação civil pública.
Há 2 espécies: a) Inquérito Civil (causas mais complexas) e b) Peças de informação (causas
menos complexas).
Características:
a) Legitimidade: restrita ao MP; b) Objetivo: colher elementos de convicção para o exercício da
ACP ou celebração de um TAC; c) Natureza jurídica: procedimento administrativo inquisitivo
(contraditório é mitigado); d) Facultativo; e) Aplica-se o princípio da publicidade, salvo se: i) O MP
teve acesso a informações sigilosas que passaram a integrar os autos; ii) da publicidade puder
resultar prejuízo a investigação ou ao interesse da sociedade; e iii) quando puder causar dano
significativo à imagem do investigado; f) Deve ter duração razoável (art. 5º, LXXXIII).
Efeitos da instauração do IC
a) Interrupção da decadência - art. 26, p. 2º, CDC.
b) Possibilidade de surgimento de dever de o Estado indenizar o investigado, no caso de
instauração temerária.
Obs: É cabível MS para obstar o IC temerário. Outrossim, é possível a configuração de crime de
denunciação caluniosa para quem der causa a instauração indevida de IC.
Fases do IC
a) Instauração. (art. 4º, Res 23)
Poderá ser por portaria ou por despacho exarado no requerimento, ofício ou representação
enviada ao MP, por designação do PGJ, do CSMP, da Câmara de Coordenação e Revisão, e
demais órgãos superiores da Instituição, nos casos cabíveis (art. 2º, Res 23). É preciso que
exista a identificação de fato(s) que serão apurados e a fundamentação jurídica, ainda que
sucinta, que justifique o início da investigação. (op.cit. 250).
O procedimento preparatório deverá ser concluído em 90 dias prorrogável por igual período, em
caso de motivo justificável (art 3º, p.6º, Res. 23)
b) Produção de provas. O MP poderá valer-se do poder de notificação para comparecimento ou
de requisição, de qualquer órgão público ou particular, de certidões, informações, exames ou
perícias, no prazo que assinalar, o qual não poderá ser inferior a dez dias. Além de vistorias e
inspeções.
c) Conclusão: arquivamento do IC (art. 10, Res. 23), celebração do TAC ou ajuizamento da ação
coletiva. Prazo para conclusão do IC: 1 ano, prorrogável pelo mesmo prazo e quantas vezes for
necessária, por decisão fundamentada do seu presidente, dando-se ciência ao CSMP, à Câmara
de Coordenação e Revisão ou à Procuradoria Federal dos Direitos do Cidadão. (art. 9º, Res. 23).
Cada MP poderá estabelecer prazo inferior.
Se o órgão do MP, esgotadas todas as diligências, se convencer da inexistência de fundamento
para a propositura da ACP, promoverá motivadamente o arquivamento dos autos do inquérito civil
ou das peças informativas. (art. 9, LACP)
O ato de arquivamento do inquérito ou das peças de informação deve ser encaminhado à
Câmara de Coordenação e Revisão correspondente à matéria tratada no inquérito civil (isso no
MPF), no prazo de 3 dias, sob pena de falta grave. Antes da apreciação pela Câmara, as
associações legitimadas poderão apresentar documentos e razões escritas.
Caso não seja homologada a promoção de arquivamento, será convertido o julgamento em
diligência para realização de atos imprescindíveis, designando-se outro órgão do MP para
atuação; ou deliberará pelo prosseguimento do IC ou do procedimento preparatório, com atuação
de outro membro do MP. O desarquivamento do IC poderá ocorrer no prazo máximo de 6 meses
do arquivamento, depois desse prazo será necessária instauração de novo IC, sem prejuízo das
provas colhidas anteriormente. (art. 12, Res. 23)
Termo de Ajustamento de Conduta (TAC)
Os órgãos públicos legitimados poderão tomar dos interessados compromisso de ajustamento de
conduta às exigências legais, mediante cominações (obrigações de dar, fazer e/ou não fazer). O
Termo terá a eficácia de título executivo extrajudicial, independentemente de homologação
judicial, exceto se o acordo for proposto no curso da ação.
Vale lembrar que o IC pode resultar na celebração de um TAC. Mas nem sempre o TAC implica
a extinção do IC, pois o TAC pode ser parcial. Nesse caso, prosseguirá a investigação a respeito
de fatos não abrangidos por ele.
Observação: Não é possível TAC em ação de improbidade administrativa.
Recurso. É possível que terceiro (co-legitimado) ingresse com recurso para questionar a
homologação do acordo, uma vez que a coisa julgada produz efeitos erga omnes. Admite-se
também ação autônoma para impugnação do TAC. (op. cit. 365).
Informativo de Jurisprudência
Informativo STF. Legitimidade do Ministério Público: ação civil pública e patrimônio
público municipal. O Ministério Público possui legitimidade ativa ad causam para promover a
ação civil pública com o fito de obter condenação de agente público ao ressarcimento de
alegados prejuízos que sua atuação teria causado ao erário, nos termos do art. 129, III, da CF. A
ausência de previsão, na CF, da figura da advocacia pública municipal, corrobora tal
entendimento. RE 225777, red. p/ac/ Min. Dias Toffoli, 24/2/2011. Pleno. Info. 617.
8. Ação Popular (retirado do material MPF)
AÇÃO POPULAR.
Obras consultadas: FIORILLO, Celso Antonio Pacheco; RODRIGUES, Marcelo Abelha; NERY,
Rosa Maria Andrade. Direito Processual Ambiental Brasileiro. Belo Horizonte: Del Rey, 1996.
GRECO FILHO, Vicente. Direito Processual Civil Brasileiro. v. 3. 10. ed. São Paulo: Saraiva,
1995. MENDES, Gilmar Ferreira. Curso de Direito Constitucional. 7ed. São Paulo: Saraiva, 2012.
Legislação básica: Art. 5º, LXXIII, CF; Lei 4.717/1965; Lei 8.078/1990, arts. 81 a 104 (aplicação
subsidiária); Súm. 101, STF; Súm. 365, STF
1. Natureza jurídica.
Trata-se de procedimento especial de legislação extravagante; garantia constitucional;
mecanismo constitucional de controle popular.
A ação popular é um controle popular da administração pública, ou seja, com a ação popular o
cidadão participa do controle dos atos públicos.
2. Objeto.
Presta-se à tutela (inibitória ou de remoção do ilícito) e/ou ressarcitória dos seguintes direitos
difusos: a) patrimônio público ou bens de entidade de que o Estado participe; b) moralidade
administrativa; c) meio-ambiente; d) patrimônio histórico-cultural. Esse rol de interesses difusos
protegidos pela AP é um rol taxativo. (STJ, REsp 818725). Segundo o STJ, não é exigível que
aja dano, a AP visa à defesa da moralidade administrativa (STJ, REsp 1.130.754).
Considerando-se o caráter marcadamente público desta ação constitucional, o autor está em
princípio, isento de custas judiciais e de ônus da sucumbência, salvo comprovada má fé (art 5º ,
LXXIII da CF)
3. Cabimento.
Em face de atos: a) administrativos: Exceção: não cabe AP contra atos administrativos de
natureza política (atos políticos). Os atos políticos não podem ser atacados por AP porque esses
são manifestações de soberania nacional e o cidadão não pode interferir; b) legislativos: regra
geral é de que NÃO cabe AP contra atos legislativos. Isso porque, como a lei é abstrata, ela não
é capaz de causar prejuízo por si só. Exceção: cabe AP contra lei de efeitos concretos; c)
jurisdicionais: via de regra, NÃO cabe AP contra atos jurisdicionais porque existem recursos
para atacar esses atos. Exceção: o STJ recentemente estabeleceu uma hipótese em que será
cabível AP contra ato jurisdicional: sentença homologatória de acordo (STJ, REsp 906400 e
REsp 884.742); d) particulares: a regra geral é de que NÃO cabe AP. Exceção: cabe AP contra
atos de particulares subvencionados pelo poder público, na proporção do dinheiro público
investido.
4. Legitimidade ativa e passiva. Litisconsórcio ulterior. Posição da pessoa jurídica lesada.
4.1 Legitimidade ativa: cidadão é quem goza da plenitude de seus direitos políticos, podendo
votar. Dessa forma, pode propor AP aquele que tiver mais de 16 anos e inscrição eleitoral. (STJ,
REsp 889766) Caso de perda ou suspensão direitos políticos no curso do processo: aplica
princípio da máxima amplitude (excepcionalidade na qual MP poderá conduzir AP) – Art. 9º LAP.
Obs.: Súm. 365/STF. Formação delitisconsórcio ativo entre cidadãos: litisconsórcio
facultativo unitário. Natureza da legitimação ativa: prevalece o entendimento de que se trata
de legitimação extraordinária, ou seja, o cidadão age em substituição processual, porque o
sujeito age em nome próprio defendendo direito alheio/difuso (José Afonso da Silva e Hely Lopes
Meirelles). STF/Recl 424. O autor só será condenado em custas, em caso de má-fé/lide temerária
(art. 13, LAP). STJ, REsp 1.225.103-MG; REsp 1.242.800-MS.
4.2 Legitimidade passiva: (art. 6º da LAP) litisconsórcio necessário simples: a) pessoas
jurídicas lesadas; b) todos os que participaram da formação/execução do ato atacado;c)
beneficiários diretos.
4.3 Litisconsórcio ulterior: art. 7º da LAP.
4.4 Especial posição da pessoa jurídica lesada: (art. 6º, §3º, LAP) a pessoa jurídica de direito
público ou privado pode deixar de contestar a ação ou, até mesmo, mudar do polo passivo para
o ativo.
5. Papel do Ministério Público na ação popular.
O MP (art. 6º, §4º e art. 9º, LAP) atua no processo como órgão opinativo; e tem legitimidade
extraordinária subsidiária para a execução, se não for promovida pelo autor em 60 dias (art. 16).
O MP promoverá, também, em ação autônoma, a responsabilidade civil ou criminal dos
responsáveis.
6. Particularidades procedimentais: art. 7º da LAP.
A LAP deve ser inserida no contexto da jurisdição civil coletiva e observar os princípios e
dispositivos do Título III do CDC (Lei 8.078) + LACP. Fiorillo et al (1996) pugnam, inclusive, por
uma abertura do conceito de cidadão constante da LAP, quando se tratar de defesa do meio-
ambiente.
6.1 Poder de requisição: o autor popular tem direito de requisitar documentos as entidades de
natureza pública ou privada (subvencionadas) para instruir a ação popular. Se as informações
não foram prestadas, o autor poderá ajuizar a AP com pedido para que o juiz requisite os
documentos.
6.2 Prazo de contestação: o prazo de resposta na AP é de 20 dias, prorrogáveis por mais 20
dias. Não se aplicam os arts. 188 e 191 do CPC. Para os demais prazos aplicam-se as regras
dos dispositivos processuais.
7. Natureza jurídica da sentença (art. 11, LAP).
Diferentemente da ACP, a sentença da AP só pode ter natureza desconstitutiva (decretação da
invalidade do ato impugnado) e/ou condenatória (condenação ao pagamento de perdas e danos).
Não há condenações civis, políticas, administrativas ou criminais na ação popular. A sentença
de improcedência ou carência de ação está sujeito ao duplo grau obrigatório. O MP e qualquer
cidadão terão legitimidade para recorrer da sentença proferida “contra o autor” (art. 19, § 2º ).
8. Críticas doutrinárias: tutela do meio ambiente fica fragilizada sem a tutela mandamental
(preventiva). Obs.: Não cabe AP, para reparação do dano já consumado; hipótese em que caberá
ACP (Fiorillo et al, 1996)
9. Coisa julgada conforme eventum probationis: se o pedido for julgado improcedente, por
falta de provas, qualquer cidadão poderá ajuizar nova ação, com idêntico fundamento, valendo-
se de novas provas (art. 18). Se procedente, terá eficácia erga omnes.
9. Suspenção de liminar e sentença em mandato de segurança (retirado do material do MPF)
1. Noções Gerais. O Mandado de Segurança é criação do direito brasileiro. Entre suas fontes
incluem-se os vários writs do Direito anglo-americano e o amparo mexicano. Todavia, sua
principal fonte foi a doutrina brasileira do habeas corpus. Conforme ensina Manoel Gonçalves
Ferreira Filho (pág. 321), de 1981 a 1926 se procurou estender o habeas corpus à proteção de
direitos outros que não o de locomoção, o que foi alcançado, dentro de certos limites. No STF
firmou-se jurisprudência admitindo o habeas corpus em favor de qualquer direito lesado, que
tivesse como pressuposto a liberdade de locomoção, acaso o Tribunal entendesse ser
"incontestável" o direito, ou seja, não pairar sobre ele dúvida razoável. O principal nome a
defender a doutrina brasileira do habeas corpus foi Rui Barbosa. Porém, a reforma constitucional
de 1926 restringiu o habeas corpus à liberdade de locomoção, deixando sem proteção especial
os demais direitos fundamentais. Tentou-se suprir tal lacuna com projetos de lei, mas apenas em
1934 o problema foi resolvido com a promulgação da CF de 1934 que criou o mandado de
segurança. "Daí em diante, mesmo de 1937 a 1946, perdura essa medida em nosso Direito. De
1937 a 1946, porém, sem o caráter constitucional.
Em 1951 foi editada a Lei 1.533, que foi complementada/alterada por outras: 4.348/1964,
5.021/1966 e 8.437/1992. Atualmente, o mandado de segurança é disciplinado pela Lei
12.016/2009 e se trata de garantia constitucional (art. 5º, incisos LXIX e LXX, CF).
A Lei 12.016/2009 unificou todas as leis existentes sobre mandado de segurança, positivou
algumas das súmulas dos tribunais superiores, principalmente do STF, assim como
regulamentou o mandado de segurança originário nos tribunais (arts. 16 e 18) a o mandado de
segurança coletivo (arts. 21 e 22). Vale ressaltar que de acordo com o art. 24 do referido diploma
normativo e o STJ, aplica-se subsidiariamente o CPC ao Mandado de Segurança, com exceção
da vedação do art. 25 que obsta o ajuizamento de embargos infringentes.
2. Conceito. O mandado de segurança é remédio específico contra a violação pelo poder público
de direito, líquido e certo, outro que o de locomoção ou o acesso a informações pessoais. O seu
campo de ação é definido por exclusão: onde não cabe habeas corpus ou habeas data, cabe
mandado de segurança.
3. Legitimado ativo. O legitimado ativo é o titular do direito líquido e certo violado, pessoa física
ou jurídica; brasileira ou estrangeira, incluindo os entes despesonalizados; autoridades públicas
e o nascituro. Também se admite a impetração por órgão público (que não possui personalidade
jurídica), desde que direcionado à defesa de suas prerrogativas ou que esteja autorizado por lei.
O art. 3º da Lei 12.016/09 faculta ao titular de direito líquido e certo decorrente de direito, em
condições idênticas, de terceiro impetrar mandado de segurança a favor do direito originário, se
o seu titular não o fizer, no prazo de 30 (trinta) dias, quando notificado judicialmente. Trata-se de
hipótese de legitimação extraordinária.
Afirma a doutrina que o mandado de segurança é uma ação personalíssima. Com isso, a morte
do autor gera extinção do processo. O STF tem jurisprudência pacífica reconhecendo o cunho
personalíssimo do direito em disputa no mandado de segurança, de modo que não admite a
habilitação de herdeiros em caso de óbitos, os quais devem se valer das vias ordinárias na busca
de seus direitos (RE-AgR 445.409).
4. Legitimado Passivo. Para a melhor doutrina, somente contra o poder público pode ser
reclamado o mandado, pois a Constituição pressupõe, no art. 5º, LXIX, uma autoridade como
coatora. (Manoel Gonçalves Ferreira Filho). Equiparam-se a autoridade os representantes ou
órgãos de partidos políticos e os administradores de entidades autárquicas, bem como os
dirigentes de pessoas jurídicas ou pessoas naturais no exercício de atribuição do poder público.
STJ, Súmula n. 333: "Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida
por sociedade de economia mista ou empresa pública".
"O mandado de segurança há de ser impetrado em face de órgão ou agente público investido de
competência para praticar o ato cuja implementação se busca". (STF, MS 24.849)
Atualmente entende-se que o réu da ação de mandado de segurança é a pessoa jurídica a que
pertence autoridade coatora, a qual apenas a representaria.
Entretanto, precisa-se verificar quem detém o poder de praticar ou desfazer o ato coator, pois
este será a parte passiva legítima, conforme entende o Supremo Tribunal Federal:
RECURSO EM MANDADO DE SEGURANÇA. ANISTIA POLÍTICA. PENSÃO MILITAR.
IMPOSTO RETIDO NA FONTE. LEI Nº 10.559/02. AUTORIDADE COATORA. LEGITIMIDADE.
1. A folha de pagamento dos militares corre à conta do Ministério do Exército. O Ministro de
Estado da Defesa e o Comandante do Exército, portanto, detêm o poder de determinar a
interrupção dos descontos relativos ao imposto de renda feitos nos proventos da recorrente,
exatamente o objeto da impetração. Legitimidade, assim, das citadas autoridades para figurar no
pólo passivo do mandado de segurança. 2. Recurso ordinário provido para reconhecer a
legitimidade passiva das autoridades apontadas como coatoras e determinar a devolução dos
autos ao Superior Tribunal de Justiça para a apreciação do mérito do mandado de segurança,
inaplicável o art. 515, § 3º, do Código de Processo Civil. (STF, RMS 26.959).
Contudo, se quem praticou o ato foi o órgão, como, por exemplo, o CNJ ou o CNMP, então este
é que deverá compor o polo passivo:
MANDADO DE SEGURANÇA. QUESTÃO DE ORDEM SOBRE LEGITIMIDADE PASSIVA. - Não
emanando o ato atacado do Procurador-Geral da República, que não é competente para praticá-
lo, mas, sim, do Conselho Superior do Ministério Público, falta àquele legitimidade para figurar
no polo passivo da segurança impetrada. Esta Corte, ao julgar o MS 22.284 impetrado contra
deliberação desse Conselho, decidiu que, embora se tratasse de órgão presidido pelo
Procurador-Geral da República, parte legítima para figurar como impetrado era o Conselho e não
o Chefe do Ministério Público Federal. Resolvendo-se questão de ordem, não se conheceu do
mandado de segurança por ilegitimidade de o Procurador-Geral da República figurar no seu polo
passivo. (STF, MS-QO 22987).
O STJ não admite a formação de litisconsórcio passivo entre a pessoa jurídica e a autoridade
coatora, por entender que se trata da mesma pessoa.
4.1. Observações sobre a legitimidade passiva:
- Simples subalterno não pode ser autoridade coatora;
- Ato coator praticado diversas vezes e em áreas distintas, inclusive por executores distintos -
pode-se impetrar contra cada ato ou um único MS em desfavor do superior hierárquico;
- MS no ato complexo – a autoridade coatora é a final;
- MS no ato composto – autoridade coatora é a que homologa;
- Ato colegiado – autoridade coatora é o presidente.
- STJ – indicação errônea da autoridade coatora – caso de extinção do MS.
4.2. Teoria da Encampação: em ação de mandado de segurança ocorre a teoria da encampação
quando a autoridade apontada como coatora não se limita a negar sua legitimidade, passando a
defender o mérito do ato impugnado. Assim, assume a legitimidade passiva para a causa. A
aplicação desta teoria demanda a presença de alguns requisitos, a saber: a) o encampante deve
ser superior hierárquico do encampado, b) o juízo deve ser competente para apreciar o MS contra
o encampante; c) as informações prestadas pelo encampante devem enfrentar diretamente o
mérito do ato impugnado, não servindo apenas para alegar ilegitimidade; d) a dúvida quanto à
real autoridade coatora deve ser razoável.
4.3. Litisconsórcio passivo. Se o ato impugnado beneficia terceira pessoa, há litisconsórcio
passivo, necessário e unitário entre a pessoa jurídica e o beneficiário do ato atacado (súmulas
701 e 631 do STF; súmula 202 STJ).
4.4. Objeto e fundamento. O fundamento do mandado de segurança é a ilegalidade lato sensu,
que compreende o abuso de poder.
O fato no mandado de segurança deve ser incontroverso, ou seja, provado de plano, não
dependendo de dilação probatória em audiência, pois já deve estar provado por prova pré-
constituída, a qual deverá ser produzida junto à inicial. A doutrina afirma que esta é uma condição
especial do mandado de segurança. Excepcionalmente, se os documentos a comprovar os fatos
estiverem na posse de terceiro ou da autoridade coatora, o impetrante deverá pedir ao juiz que
determine a exibição.
Direito líquido e certo, diz Pontes de Miranda, "é aquele que... não precisa ser aclarado com o
exame de provas em dilações, que é, de si mesmo, concludente e inconcusso". No entanto, os
fundamentos jurídicos (direito em debate) podem ser controversos.
Cabe mandado de segurança contra ato administrativo, salvo quando se tratar de ato em que
caiba recurso administrativo com efeito suspensivo e sem caução. Porém, se disser respeito a
ato omissivo cabe mandado de segurança (súmula 429 STF). Ademais, a parte pode abrir mão
expressamente do recurso para entrar com o mandado de segurança.
Não cabe mandado de segurança contra ato legislativo, salvo leis de efeito concreto. No caso
projeto de lei aprovado com violação do processo legislativo, o parlamentar prejudicado pode
entrar com o mandado de segurança para que seja observada a legalidade do processo
legislativo.
Também não cabe mandado de segurança contra ato judicial. Exceções: decisão contra a qual
não haja recurso previsto em lei (deve ser impetrado antes do trânsito em julgado); decisão
teratológica. Porém, mesmo não havendo recurso previsto em lei, não cabe mandado de
segurança de decisão do STF.
O mandado de segurança é cabível contra o Estado, sendo cabível também contra o particular
quando o mesmo fizer as vezes do Estado. Porém, quando o ato for estritamente particular, não
cabe mandado de segurança.
Não cabe Mandado de Segurança contra: a) atos de gestão comercial praticados por
administradores de empresas públicas, sociedade de economia mista e concessionária de
serviço público; b) atos que caiba recurso administrativo com efeito suspensivo; c) decisão
judicial que admita recurso com efeito suspensivo; d) decisão judicial transitada em julgado; e)
lei em tese.
5. Competência. A competência para o mandado de segurança é determinada em razão da
pessoa [autoridade coatora].
STF: MS contra atos do Presidente da República, das Mesas da Câmara dos Deputados e
do Senado Federal, do Tribunal de Contas da União, do Procurador-Geral da República e
do próprio Supremo Tribunal Federal. (102, I, d, CF)
STF, Súmula n. 330: "O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado
de segurança contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados".
STF, Súmula n. 624: "Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de
mandado de segurança contra atos de outros tribunais".
STJ: MS contra ato de Ministro de Estado, dos Comandantes da Marinha, do Exército e da
Aeronáutica ou do próprio Tribunal. (105, I, b, CF). Também é competente contra ato de
procurador da regional da República.
STJ, Súmula n. 41: "O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar,
originalmente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos órgãos".
STJ, Súmula n. 177: "O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de
Estado".
TRF: MS contra ato do próprio Tribunal ou de juiz federal (108, I, c, CF). Também caberá ao TRF
julgar MS contra ato de turma recursal em juizado especial.
TURMA RECURSAL: MS contra ato de juizado especial ou de juiz federal no exercício da
jurisdição do Juizado Especial Federal.
STJ, Súmula n. 376: "Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança
contra ato de juizado especial".
JUIZ FEDERAL: MS contra ato de autoridade federal, excetuados os casos de competência dos
tribunais federais (109, VIII, CF). O Procurador da República enquadra-se aqui.
OBS: O MS contra Promotor de Justiça será julgado pelo TJ ou Juiz de 1ª Instância (A
Constituição Estadual e a Lei de Organização Judiciária poderão prever que a competência será
do TJ. Se tais diplomas não disserem nada a respeito do assunto, a competência será do juiz de
1ª instância).
MS contra Promotor de Justiça do MPDFT é julgado pelo Juiz de 1ª Instância da Justiça do DF
(O TJDFT somente tem competência para julgar o MS impetrado contra o Procurador-Geral de
Justiça do MPDFT, e não contra os Promotores).
- "As universidades estaduais gozam de total autonomia para organizar e gerir seus sistemas de
ensino (CF/88, art. 211), e seus dirigentes não agem por delegação da União. A apreciação
jurisdicional de seus atos é da competência da Justiça Estadual." (STJ, CC 45.660/PB).
- Nos processos em que envolvem o ensino superior, são possíveis as seguintes conclusões: a)
mandado de segurança - a competência será federal quando a impetração voltar-se contra ato
de dirigente de universidade pública federal ou de universidade particular; ao revés, a
competência será estadual quando o mandamus for impetrado contra dirigentes de
universidades públicas estaduais e municipais, componentes do sistema estadual de ensino; b)
ações de conhecimento, cautelares ou quaisquer outras de rito especial que não o mandado de
segurança - a competência será federal quando a ação indicar no polo passivo a União Federal
ou quaisquer de suas autarquias (art. 109, I, da Constituição da República); será de competência
estadual, entretanto, quando o ajuizamento voltar-se contra entidade estadual, municipal ou
contra instituição particular de ensino.
A competência, sob o Ponto de vista territorial, é definida pelo domicílio funcional da autoridade
coatora. A competência territorial em MS é absoluta.
6. Procedimento. A petição inicial deve atender ao art. 282 do CPC e também ser apresentada
em duas vias com os documentos que instruem a primeira reproduzidos na segunda e indicará
a autoridade coatora e a pessoa jurídica da qual faz parte, se encontre vinculada ou da qual
exerce atribuições.
Para o STJ, é possível que haja a emenda da petição do feito mandamental para retificar o
polo passivo da demanda, desde que não haja alteração da competência judiciária, e se
as duas autoridades fizerem parte da mesma pessoa jurídica de direito público. (AgRg no
AREsp 368.159-PE /i-529, julgado em 1º/10/2013).
O mandado de segurança observa, no geral, o rito da lei especial e, no mais, as normas do CPC.
Não há instrução em audiência ou realização de perícias no curso do processo, pois a prova
deve ser toda documental.
A fase postulatória e saneadora obedece direcionamentos similares ao do CPC – requisitos da
inicial, possibilidade de emenda ou até de indeferimento. Regular o feito, o juiz analisará eventual
pedido de liminar; ordenará a notificação da autoridade impetrada para apresentar informações;
mandará dar ciência do órgão de representação judicial da pessoa jurídica interessada e pode
determinar a suspensão do ato impugnado, de ofício ou a requerimento, podendo exigir caução
para assegurar eventual ressarcimento futuro à pessoa jurídica.
Para forçar a obediência à ordem judicial podem ser determinadas astreintes, a qual deve recair,
segundo entende o STJ, sobre a pessoa jurídica, e não sobre a autoridade (REsp 747.371/DF).
Neste julgamento, o STJ asseverou que as autoridades coatoras atuaram como substitutos
processuais e, por isso, não são parte na execução, a qual dirige-se contra a pessoa jurídica
de direito público interno.
"Nos termos da reiterada jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça, a multa diária somente
é exigível com o trânsito em julgado da decisão que, confirmando a tutela antecipada no âmbito
da qual foi aplicada, julgar procedente a demanda". (AgRg no AREsp 50.196/SP, julgado em
21/08/2012.).
Ainda sobre a multa, a Súmula 410/STJ estabelece que "a prévia intimação pessoal do devedor
constitui condição necessária para a cobrança de multa pelo descumprimento de obrigação de
fazer ou não fazer".
Não há efeitos da revelia em Mandado de Segurança, ainda que a autoridade coatora e a pessoa
jurídica respectiva se mantenham inertes. Para a concessão da liminar, o julgador poderá ouvir
a parte contrária ou concedê-la inaudita altera parte, cabendo dessa decisão agravo de
instrumento. Em se tratando de Mandado de Segurança Coletivo, a concessão de liminar exige
prévia audiência com o representante judicial da pessoa jurídica de direito público, que terá 72
horas para se pronunciar.
Após notificação à autoridade coatora e ciência à pessoa jurídica, o MP será intimado para emitir
o seu parecer. A lei determinou que o prazo para decisão, após manifestação ministerial, será
de trinta dias, no qual necessariamente a decisão deve ser dada. O prazo para manifestação do
MP e para a sentença não têm a mesma natureza dos prazos das partes, denominados próprios,
cujo descumprimento acarreta a preclusão (art. 183 do CPC). Tratam-se de prazos
improrrogáveis, mas impróprios, o que significa que a extemporaneidade da apresentação do
parecer ou da prolação da sentença não os invalida, nem macula de nulidade o julgamento da
demanda.
A sentença concessiva da segurança poderá ser executada provisoriamente, exceto nos casos
em que não se admite a concessão de liminar. Além disso, somente poderão ser cobradas em
execução de sentença de MS as vantagens econômicas que se vencerem a partir do ajuizamento
da petição inicial (art. 14, §3º e §4º, LMS).
Salvo os processos de habeas corpus, o mandado de segurança e respectivos recursos terão
prioridade sobre todos os demais atos judiciais.
A novel lei prevê que o descumprimento de decisões em Mandado de Segurança caracteriza o
crime de desobediência. Destarte isso signifique um prestígio à força das ordens judiciais, há
quem critique essa inovação, já que a diminuta pena desse crime não traria força coercitiva em
si. Talvez a indicação de elevadas multas em caso de desobediência fosse mais “convincente”,
ou a simples ameaça de prisão civil em caso de desobediência.
O STJ entende que o impetrante pode desistir de mandado de segurança sem a anuência
do impetrado mesmo após a prolação da sentença de mérito. Esse entendimento foi definido
como plenamente admissível pelo STF. De fato, por ser o mandado de segurança uma garantia
conferida pela CF ao particular, indeferir o pedido de desistência para supostamente preservar
interesses do Estado contra o próprio destinatário da garantia constitucional configuraria patente
desvirtuamento do instituto. Essa a razão por que não se aplica, ao processo de mandado de
segurança, o que dispõe o art. 267, § 4º, do CPC (“Depois de decorrido o prazo para a resposta,
o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação.”) (REsp 1.405.532-SP / i-533,
julgado em 10/12/2013).
A decisão final poderá ou não formar coisa julgada impugnável via ação rescisória. Isso
dependerá de ter ou não havido cognição aprofundada, sendo que, no geral, o julgamento
contrário ao impetrante admite a propositura de novo Mandado de Segurança ou o acionamento
das vias ordinárias.
7. Decisão liminar. O art. 7º da Lei 12.016/09 veda a concessão de liminar para que tenha por
objeto: a) a compensação de créditos tributários; b) a entrega de mercadorias vinda do exterior;
c) a reclassificação ou equiparação de servidores públicos; d) concessão de aumento ou
extensão de vantagens ou pagamentos de qualquer natureza.
A vedação de medidas cautelares sobre incorporação imediata de acréscimos de vencimentos
foi considerada constitucional pelo STF na ADC n. 4.
No que toca à compensação tributária, a vedação existente diz respeito a concessão de liminar
para compensação de crédito tributário, nos termos da Súmula 212 do STJ: "A compensação de
créditos tributários não pode ser deferida por medida liminar".
Todavia, é plenamente admissível o MS para declarar o direito à compensação tributária. "O
mandado de segurança constitui ação adequada para declaração do direito à compensação
tributária" (TRF2, AC 200551100028258).
STJ, Súmula n. 213: "O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do
direito à compensação tributária".
Porém, não caberá para "convalidar" a compensação realizada pelo contribuinte.
STJ, Súmula n. 460: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação
tributária realizada pelo contribuinte.
Ainda acerca da liminar, cabe destacar posicionamento do STF segundo o qual a concessão de
liminar, em mandado de segurança, supõe, além do risco de ineficácia da futura decisão
definitiva da demanda, a elevada probabilidade de êxito da pretensão, tal como nela
formulada. (ADI nº 4.029/DF, Rel. Min. Luiz Fux, DJe de 27.06.2012)
8. Recursos. Decisão liminar que defere ou indefere a segurança: agravo de instrumento (7º, §1º,
Lei 12.016/09 c.c o CPC).
Nos casos de competência originária de tribunal, caberá agravo ao órgão competente do tribunal,
no prazo de 05 (cinco) dias (art. 557, §1º, CPC) da decisão do relator que indeferir a petição
inicial, conceder ou denegar a segurança liminarmente (art. 16, parágrafo único, Lei 12.016/09).
Da sentença, que indefere a petição inicial, denega ou concede a segurança, caberá apelação
(art. 10, §1º e 14, Lei 12.016/09). Sentença que concede a segurança está sujeita a reexame
necessário. A autoridade coatora também poderá recorrer (art. 14, §1º e §2º, da Lei 12.106/09).
As decisões proferidas pelo tribunal no julgamento de apelação ou reexame necessário em MS
ou do acórdão que concede a segurança nos casos de competência originária desafiam recurso
especial e/ou extraordinário. Se na competência originária a decisão for denegatória de
segurança, então caberá recurso ordinário constitucional (102, III e 105, III, CF).
Caberá embargos de declaração, em regra, de decisões interlocutórias, sentença e acórdão.
Não cabem embargos infringentes (art. 25 da Lei 12.016/09).
9. Suspensão de Segurança. A decisão de primeira instância que defere liminar com
potencial de grave lesão à ordem, à saúde, à segurança e à economia pública, desafia
pedido de suspensão de segurança (art. 15, Lei 12.016/09). Também caberá a suspensão
de segurança da decisão de tribunal que negar provimento a agravo interposto da decisão
que deferiu liminar.
Da decisão do presidente do tribunal que concede liminar em suspensão de segurança
cabe agravo sem efeito suspensivo no prazo de 05 (cinco) dias (art. 15, caput, Lei
12.106/09). Se o pedido de suspensão for indeferido, então caberá novo pedido de
suspensão perante o STF ou o STJ, no caso de ser possível o ajuizamento de recurso
especial ou extraordinário.
STF, Súmula n. 626: A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação
em contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal
Federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da
impetração.
10. Prazo decadencial. Entende-se se tratar de prazo decadencial, pois o art. 23 da Lei 12.016/09
diz que se opera a extinção do prazo para requerer mandado de segurança em 120 (cento e
vinte) dias, contados da ciência inequívoca do ato impugnado ou da ameaça da prática do ato.
- O prazo decadencial para se impetrar mandado de segurança com o objetivo de obter
nomeação de servidor público se inicia a partir do término do prazo de validade do concurso.
(STF, RMS 24.551).
- Termo inicial do prazo decadencial: data do efetivo prejuízo capaz de configurar violação a
direito líquido e certo – no caso, eliminação no Teste de Aptidão Física. (STF, MS-AgR 29.874).
- Prazo decadencial do art. 23 da Lei 12.016/2009. Termo inicial. Data de publicação do ato do
poder público que efetivamente venha a causar prejuízo ao impetrante. (STF, MS-AgR 30.620).
STF, Súmula 632: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de
mandado de segurança.
- Mandado de segurança preventivo não está sujeito a prazo decadencial, conforme orientação
do STJ:
Se não há ato abusivo já praticado, o que é próprio do mandado de segurança preventivo, não
há termo inicial para a contagem de prazo decadencial, de modo que não há decadência do
direito à impetração no caso de mandado de segurança preventivo, conforme jurisprudência
consolidada do STJ (AGRESP nº 1128892, Rel. Min. Benedito Gonçalves, 1ª Turma, j.
14/10/2010; RESP nº 833409, Rel. Mauro Campbell Marques, 2ª Turma, j. 14/09/2010).
11. Mandado de segurança coletivo. No que diz respeito ao Mandado de Segurança Coletivo, a
legitimidade ativa pertence a partido político com representação no Congresso Nacional,
organização sindical, entidade de classe e associação legalmente constituída e em
funcionamento há pelo menos um ano, em defesa dos interesses de seus membros ou
associados. Exige-se pertinência temática entre esses legitimados e os interesses tutelados e é
dispensada autorização especial.
O Mandado de Segurança Coletivo terá como objeto os direitos coletivos (os transindividuais de
natureza indivisível de que seja titular grupo ou categoria de pessoas ligadas entre si ou com a
parte contrária por uma relação jurídica básica) ou os individuais homogêneos (os decorrentes
de origem comum e da atividade ou situação específica da totalidade ou de parte dos associados
ou membros do impetrante), e a coisa julgada será limitada aos membros do grupo ou categoria
substituídos pelo impetrante.
O MS coletivo não induz litispendência para as ações individuais, mas os efeitos da coisa julgada
não beneficiarão o impetrante a título individual se não requerer a desistência de seu mandado
de segurança no prazo de 30 (trinta) dias a contar da ciência comprovada da impetração da
segurança coletiva.
12. Teoria do fato consumado. Segundo esta teoria, as situações jurídicas consolidadas pelo
decurso do tempo, amparadas por decisão judicial, não devem ser desconstituídas, em razão do
princípio da segurança jurídica e da estabilidade das relações sociais (STJ, REsp. 709.934).
Trata-se de tema polêmico, que é resolvido em conformidade com o caso concreto. Atualmente
tanto o STF quanto o STJ aplicam esta teoria somente em casos excepcionais, nos quais a
inércia da administração ou a morosidade do Judiciário deram causa a que situações precárias
se consolidassem pelo decurso do tempo, quando a restauração da estrita legalidade ocasionaria
mais danos sociais do que a manutenção da situação consolidada pelo decurso do tempo.
Em relação a concursos públicos, em regra, STF e STJ negam a aplicação da teoria do fato
consumado em relação a candidato que consegue provimento liminar para manter-se no
concurso público, mas que ao final a ação é julgada improcedente. Nestes casos, as
mencionadas cortes entendem que o candidato não tem direito à permanência no cargo.
No RE 608.482/RN o STF reconheceu repercussão geral e decidiu, em 07/08/2014, pela não
aplicação da “teoria do fato consumado” à situação em que a posse e o exercício em cargo
público se deu por força de decisão judicial de caráter provisório.
13. Súmulas do Supremo Tribunal Federal (a súmulas a partir da 622 foram editadas após
CF/88):
Súmula 701: No mandado de segurança impetrado pelo Ministério Público contra decisão
proferida em processo penal, é obrigatória a citação do réu como litisconsorte passivo.
Súmula 632: É constitucional lei que fixa o prazo de decadência para a impetração de mandado
de segurança.
Súmula 631: Extingue-se o processo de mandado de segurança se o impetrante não promove,
no prazo assinado, a citação do litisconsorte passivo necessário.
Súmula 630: A entidade de classe tem legitimação para o mandado de segurança ainda quando
a pretensão veiculada interesse apenas a uma parte da respectiva categoria.
Súmula 629: A impetração de mandado de segurança coletivo por entidade de classe em favor
dos associados independe da autorização destes.
Súmula 627: No mandado de segurança contra a nomeação de magistrado da competência do
Presidente da República, este é considerado autoridade coatora, ainda que o fundamento da
impetração seja nulidade ocorrida em fase anterior do procedimento.
Súmula 626: A suspensão da liminar em mandado de segurança, salvo determinação em
contrário da decisão que a deferir, vigorará até o trânsito em julgado da decisão definitiva de
concessão da segurança ou, havendo recurso, até a sua manutenção pelo Supremo Tribunal
Federal, desde que o objeto da liminar deferida coincida, total ou parcialmente, com o da
impetração.
Súmula 625: Controvérsia sobre matéria de direito não impede concessão de mandado de
segurança.
Súmula 624: Não compete ao Supremo Tribunal Federal conhecer originariamente de mandado
de segurança contra atos de outros tribunais.
Súmula 623: Não gera por si só a competência originária do Supremo Tribunal Federal para
conhecer do mandado de segurança com base no art. 102, i, "n", da Constituição, dirigir-se o
pedido contra deliberação administrativa do tribunal de origem, da qual haja participado a maioria
ou a totalidade de seus membros.
Súmula 622: Não cabe agravo regimental contra decisão do relator que concede ou indefere
liminar em mandado de segurança. (Está súmula é de 2003 e foi tacitamente cancelada pelo
art. 16, parágrafo único, da LMS)
Súmula 597: Não cabem embargos infringentes de acórdão que, em mandado de segurança
decidiu, por maioria de votos, a apelação. (Súmula de 1976, encampada pelo art. 25 da LMS).
Súmula 512: Não cabe condenação em honorários de advogado na ação de mandado de
segurança. (Súmula de 1969, encampada pelo art. 25 da LMS).
Súmula 510: Praticado o ato por autoridade, no exercício de competência delegada, contra ela
cabe o mandado de segurança ou a medida judicial. (Súmula de 1964, encampada pelo art.
1º, §1º, da LMS).
Súmula 506: O agravo a que se refere o art. 4º da lei 4348, de 26/6/1964, cabe, somente, do
despacho do Presidente do Supremo Tribunal Federal que defere a suspensão da liminar, em
mandado de segurança; não do que a "denega".
Súmula 474: Não há direito líquido e certo, amparado pelo mandado de segurança, quando se
escuda em lei cujos efeitos foram anulados por outra, declarada constitucional pelo Supremo
Tribunal Federal.
Súmula 430: Pedido de reconsideração na via administrativa não interrompe o prazo para o
mandado de segurança.
Súmula 429: A existência de recurso administrativo com efeito suspensivo não impede o uso do
mandado de segurança contra omissão da autoridade.
Súmula 405: Denegado o mandado de segurança pela sentença, ou no julgamento do agravo,
dela interposto, fica sem efeito a liminar concedida, retroagindo os efeitos da decisão contrária.
Súmula 392: O prazo para recorrer de acórdão concessivo de segurança conta-se da publicação
oficial de suas conclusões, e não da anterior ciência à autoridade para cumprimento da decisão.
Súmula 330: O Supremo Tribunal Federal não é competente para conhecer de mandado de
segurança contra atos dos Tribunais de Justiça dos Estados.
Súmula 319: O prazo do recurso ordinário para o Supremo Tribunal Federal, em "habeas corpus"
ou mandado de segurança, é de cinco dias. (Súmula de 1963 e cancelada parcial e
tacitamente pelo art. 33 da Lei n. 8.038/1990, a qual fixou o prazo de 15 dias para o recurso
ordinário da decisão denegatória do mandado de segurança. Porém, no que toca ao HC, a
Lei 8.038/90 manteve o prazo de 05 dias).
Súmula 304: Decisão denegatória de mandado de segurança, não fazendo coisa julgada contra
o impetrante, não impede o uso da ação própria. (Súmula de 1963 e encampada pelo art. 19
da LMS).
Súmula 299: O recurso ordinário e o extraordinário interpostos no mesmo processo de mandado
de segurança, ou de "habeas corpus", serão julgados conjuntamente pelo Tribunal Pleno.
(Apesar desta súmula ser de 1963, a competência ainda é do Plenário, conforme RISTF,
art. 5º, inciso V).
Súmula 294: São inadmissíveis embargos infringentes contra decisão do Supremo Tribunal
Federal em mandado de segurança. (Súmula encampada pelo art. 25 da LMS).
Súmula 272: Não se admite como ordinário recurso extraordinário de decisão denegatória de
mandado de segurança. (Súmula de 1963, porém mantém-se o seu entendimento, porque o
STF somente aplica a fungibilidade nos recursos quando houver dúvida séria sobre qual
o recurso cabível, o que não é a hipótese, ante a clareza do art. 18 da LMS). "É inviável a
aplicação do princípio da fungibilidade recursal quando inexiste dúvida objetiva a respeito de qual
o recurso adequado" (STF, RMS 25354, 2007). RECURSO EXTRAORDINÁRIO INTERPOSTO
DE DECISÃO DENEGATÓRIA EM MANDADO DE SEGURANÇA PROFERIDA EM ÚNICA
INSTÂNCIA POR TRIBUNAL LOCAL. APLICAÇÃO O PRINCÍPIO DA FUNGIBILIDADE.
INCABÍVEL. ERRO GROSSEIRO. AGRAVO IMPROVIDO. I - É inaplicável o princípio da
fungibilidade recursal ante a clara existência de erro grosseiro. (STF, AI-AgR 630444, 2008).
Súmula 271: Concessão de mandado de segurança não produz efeitos patrimoniais em relação
a período pretérito, os quais devem ser reclamados administrativamente ou pela via judicial
própria. (Súmula de 1963 e que foi encampada pelo art. 14, §4º, da LMS, ou seja, os
pagamentos reclamados somente serão feitos em relação às prestações que se vencerem
a contada da data do ajuizamento da inicial).
Súmula 270: Não cabe mandado de segurança para impugnar enquadramento da Lei 3780, de
12/7/1960, que envolva exame de prova ou de situação funcional complexa. (Deve-se entender
que a complexidade refere-se à ausência de liquidez e certeza quanto aos pressupostos
de fato e não em relação à questão de Direito em si).
Súmula 269: O mandado de segurança não é substitutivo de ação de cobrança. (Súmula
encampada pelo art. 14, §4º, da LMS).
Súmula 268: Não cabe mandado de segurança contra decisão judicial com trânsito em julgado.
Súmula 267: Não cabe mandado de segurança contra ato judicial passível de recurso ou
correição. (Súmula encampada pelo art. 5º, II, da LMS).
Súmula 266: Não cabe mandado de segurança contra lei em tese.
Súmula 248: É competente, originariamente, o Supremo Tribunal Federal, para mandado de
segurança contra ato do Tribunal de Contas da União. (Súmula encampada pelo art. 102, I, d,
da CF/88).
Súmula 101: O mandado de segurança não substitui a ação popular.
14 – Súmulas do Superior Tribunal de Justiça:
Súmula 460: É incabível o mandado de segurança para convalidar a compensação tributária
realizada pelo contribuinte.
Súmula 376: Compete a turma recursal processar e julgar o mandado de segurança contra ato
de juizado especial.
Súmula 333: Cabe mandado de segurança contra ato praticado em licitação promovida por
sociedade de economia mista ou empresa pública.
Súmula 217: Não cabe agravo de decisão que indefere o pedido de suspensão da execução da
liminar, ou da sentença em mandado de segurança. (Súmula CANCELADA em 2003. O art. 15,
§1º, da LMS admite expressamente o agravo para o órgão colegiado).
Súmula 213: O mandado de segurança constitui ação adequada para a declaração do direito à
compensação tributária.
Súmula 202: a impetração de segurança por terceiro, contra ato judicial, não se condiciona a
interposição de recurso.
Súmula 177: O Superior Tribunal de Justiça é incompetente para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de órgão colegiado presidido por Ministro de
Estado.
Súmula 169: São inadmissiveis embargos infringentes no processo de mandado de segurança.
(Súmula encampada pelo art. 25 da LMS).
Súmula 105: Na ação de mandado de segurança não se admite condenação em honorários
advocatícios. (Súmula encampada pelo art. 25 da LMS).
Súmula 41: O Superior Tribunal de Justiça não tem competência para processar e julgar,
originariamente, mandado de segurança contra ato de outros tribunais ou dos respectivos
órgãos.
10. Ação de Alimentos e execução de alimentos
O rito especial da lei de alimentos (Lei 5.478/1968) é aplicável no caso de cobrança de alimentos
com prova pré-constituída da obrigação alimentar. Havendo necessidade de discussão do dever
alimentar, a ação será de procedimento ordinário. Pode, ainda, valer-se deste rito a companheira
comprovada de homem solteiro, separado judicialmente, divorciado ou viúvo, que com ele viva
há mais de cinco anos, ou dele tenha prole, enquanto não constituir nova união e desde que
prove a necessidade, e, nas mesmas condições, o companheiro.
O autor dirigir-se-á ao juiz competente expondo suas necessidades e provando apenas seu
parentesco ou a obrigação alimentar do devedor, indicando sua qualificação e recursos de que
dispõe. Se o credor não estiver assistido por advogado, o juiz nomeará profissional para que o
faça. O juiz poderá, ao despachar o pedido, fixar alimentos provisórios a serem pagos pelo
devedor, salvo se o credor expressamente declarar que deles não necessita. No caso de
companheiros, deverá haver comprovação documental da união para a concessão de alimentos
provisórios. O escrivão, em 48 horas remeterá ao devedor a segunda via da petição com
despacho do juiz e designação de dia e hora para a realização de audiência, fixada com prazo
razoável para a preparação da contestação. A comunicação é feita pelo correio com registro
postal e com aviso de recebimento, mesmo se o devedor é domiciliado fora da comarca. Não
logrando êxito, se fará por oficial de justiça e, ainda assim não sendo possível, por edital. Na
audiência de conciliação e julgamento deverão estar presentes autor e réu e advogados. Não
comparecimento do autor implica arquivamento do processo, e o do réu, em revelia. Aberta a
audiência e lidas inicial e contestação, juiz ouvirá as partes litigantes e MP, propondo a
conciliação. Havendo acordo, lavrar-se-á o respectivo termo. Não havendo, o juiz tomará o
depoimento pessoal das partes e das testemunhas, ouvidos os peritos, se houver, podendo julgar
o feito sem produção de provas, se as partes concordarem. Terminada a instrução, poderão as
partes e o MP aduzir alegações finais no prazo de dez minutos para cada um. O juiz, em seguida,
renovará a proposta de conciliação sendo que, não sendo aceita, proferirá a sentença com um
sucinto relatório do ocorrido. Da sentença cabe apelação sem efeito suspensivo. Os alimentos
definitivos são devidos desde a citação. Os provisórios poderão ser modificados havendo
alteração da situação financeira das partes.Atenção ao art. 13 da lei de alimentos: § 1º. Os
alimentos provisórios fixados na inicial poderão ser revistos a qualquer tempo, se houver
modificação na situação financeira das partes, mas o pedido será sempre processado em
apartado.
Os definitivos só poderão ser alterados pela competente ação revisional. A execução da
obrigação alimentar far-se-á nos termos dos arts. 732 a 735 do CPC.O STJ entende por aplicável
o regime do cumprimento de sentença (CPC, art. 475 – J).
EXECUÇÃO DE ALIMENTOS
É uma execução de pagar quantia certa;
Prevalece que somente os alimentos decorrentes de relação de parentesco, casamento e UE é
que podem ser executados pela via especial.
Tal espécie de execução não necessita estar fundada em sentença, tb sendo aplicada às Dec.
Interloc. O procedimento do art. 733, CPC tb se aplica a execução de alimentos provisórios ou
provisionais.
STJ: O devedor de alimentos decorrentes de ato ilícito não está sujeito à prisão civil.
STJ: A escolha dos meios executivos dependem exclusivamente do credor
STJ: As normas especiais da execução d alimentos também se aplicam à execução d
TEExtrajudicial
a) Execução por sub-rogação (arts. 732 e 735, CPC)
Procedimento: cumprimento de sentença de obrigação de pagar quantia certa.
De acordo com o art. 732, CPC, a execução de sentença de alimentos deve observar a execução
de TEE. Para STJ, não é necessário processo autônomo para execução de alimentos. O STJ
entendeu que, considerando a presteza que deve permear a obtenção de alimentos, a cobrança
de alimentos pretéritos deve se dar via cumprimento de sentença, sem a necessidade de uma
nova citação do executado.
Especialidades:
Desconto em folha de pagamento, sob pena de os valores serem cobrados do 3º pagador +
crime
Levantamento mensal da importância da prestação desde que tenha havido penhora de
dinheiro, ainda que pendentes o julgamento de embargos. Daniel: o executado, ainda que
preencha os requisitos, não pode obter efeito suspensivo em seus embargos à execução de
alimentos.
STJ: somente se aplica o art. 734, CPC, às prestações vincendas, sendo as parcelas vencidas
cobradas pelo procedimento comum de execução de pagar quantia certa.
Art. 17, Lei 5478/68: prestações cobradas de alugueis ou de outros rendimentos do devedor.
b) Execução indireta (prisão civil) (art. 733, CPC)
Processo autônomo. O devedor é citado para, em 3 dias:
- Efetuar o pgto ou provar que já cumpriu a obrigação: extinção da execução;
- Justificar o não pagamento: a prisão civil não é decretada, podendo o exequente requerer a
instauração de execução por quantia certa pelo procedimento comum. O juiz deve designar uma
audiência a fim de que o devedor comprove que não pode pagar.
Se a justificativa acima não for acolhida, sendo determinada a prisão, não cabe HC para
convencer o Tribunal das razões do inadimplemento (em HC, não se admite a dilação probatória),
sendo mais técnica a interposição de agravo de instrumento.
STJ: A prisão civil depende de expresso pedido do exequente. (a prisão civil não deve ser
decretada ex officio, isso porque é o credor quem sempre estará em melhores condições que o
juiz para avaliar sua eficácia e oportunidade).
STJ: o prazo máximo da prisão é o do CPC e não o da Lei de alimentos (60 dias)
STJ: Só se admite a prisão do devedor de alimentos referentes às 3 últimas parcelas não
quitadas anteriores à distribuição da ação de execução e de todas as demais que se vencerem
durante a execução até o pagamento. (S. 309 – STJ). (se o devedor ficou 2 anos sem pagar
pensão, somente as 3 últimas parcelas podem ser cobradas sob pena de prisão. As anteriores
só podem ser cobradas pela execução comum).
Entendimento tradicional: A prisão pode ser renovada diante de novo inadimplemento do
devedor, desde que se trate de novas parcelas em aberto após a ameaça ou a efetiva decretação
de prisão, não sendo necessário, nesse caso, esperar pelo débito de 3 prestações para requerer
a prisão. Não se decreta 2 vezes a prisão do devedor em decorrência das mesmas prestações.
STJ: O inadimplemento do alimentante, seja em relação a parcelas anteriores ao primeiro
decreto prisional, seja no tocante a débito posterior, autoriza a renovação da ordem de prisão
civil no mesmo processo.
A impenhorabilidade do bem de família não é oponível pelo devedor de pensão alimentícia.
STJ: Os efeitos da sentença proferida em ação de revisão de alimentos - seja em caso de
redução, majoração ou exoneração - retroagem à data da citação (Lei 5.478/68, art. 13, § 2º),
ressalvada a irrepetibilidade dos valores adimplidos e a impossibilidade de compensação do
excesso pago com prestações vincendas.
STJ: Dependendo de mero cálculo aritmético a readequação do valor da execução, não há falar
em iliquidez da execução processada sob o rito do art. 733 do CPC, tampouco ilegalidade do
decreto de prisão civil.
STJ: Somente em hipóteses excepcionais, nas quais fique cabalmente demonstrada a fragilidade
do estado de saúde do devedor de alimentos ou sua idade avançada é que o STJ autoriza o
cumprimento da prisão civil em regime semiaberto, circunstâncias não verificadas no caso
concreto.
STJ: A decretação da prisão do alimentante revela-se cabível quando não adimplido acordo
firmado entre o alimentante e o alimentado no curso da execução de alimentos, nos termos da
Súmula nº 309/STJ, sendo certo que o pagamento parcial do débito não elide a prisão civil do
devedor.
Alimentos Provisórios: São os arbitrados liminarmente pelo juiz, sem ouvir o réu, no
despacho inicial da ação de alimentos (Lei 5.478/68). Só é possível quando houver prova
pré-constituída do parentesco, casamento ou união estável. Caracterizam tutela antecipada
e tem natureza de direito material, Podem ser concedidos de ofício pelo juiz.
Alimentos provisionais: arbitrados em medida cautelar, preparatória ou incidental, de ação
de separação judicial, divórcio, nulidade ou anulabilidade de casamento ou de alimentos,
dependendo da comprovação dos requisitos inerentes a toda medida cautelar: fumus boni
juris e o periculum in mora. Os provisionais destinam-se a manter o suplicante e a prole
durante a tramitação da lide principal. São caracterizados como tutela cautelar tem natureza
processual
Via de regra, os alimentos são devidos desde a citação. Exceção: os alimentos provisionais
são devidos desde a data do despacho da petição inicial e os gravídicos são devidos desde a
data da concepção.
Os alimentos provisórios podem ser transformados em definitivo por julgamento através
sentença que finaliza o processo. Diferentemente os alimentos provisionais, não podem ser
transformados em definitivo, porque encerram exatamente com a extinção do processo principal.
Dispõe o p.u. do art.732 que recaindo a penhora em dinheiro, o oferecimento dos embargos não
obsta o levantamento do dinheiro pelo exeqüente.
Jurisprudência do STJ
Informativo nº 0391
Período: 20 a 24 de abril de 2009.
Terceira Turma
Terceira Turma
Não é possível nova prisão relativa aos débitos alimentícios vencidos durante a execução, que
já foi alcançada pela prisão anterior, sob pena de tratar-se de prorrogação que poderia conduzir
à prisão perpétua, vedada no ordenamento jurídico brasileiro. REsp 658.823-MS, Rel. Min.
Carlos Alberto Menezes Direito, julgado em 17/5/2007.
Informativo nº 0281
Período: 10 a 19 de abril de 2006.
Terceira Turma
A cada três meses era ajuizada contra o paciente uma execução de alimentos pelo
procedimento do art. 733 do CPC e, em cada uma, foi decretada a prisão civil pelo prazo de
sessenta dias. Houve, então, pedido de unificação dessas execuções, indeferido por decisão
que, implicitamente, determinou o cumprimento cumulativo dos decretos prisionais. Diante
disso, a Turma entendeu que, proposta a primeira execução, em razão do disposto nos arts.
290 e 733, § 2º, do CPC, todas as prestações alimentícias vincendas no curso do processo
serão abrangidas pelo provimento jurisdicional a ser exarado, bem como eventual decreto
prisional também atingirá aquelas parcelas que se vencerem até o cumprimento do prazo de
prisão estabelecido no decreto. Assim, não é razoável prosseguir várias execuções paralelas
pelo art. 733 nem cumular o tempo de prisão dos sucessivos decretos prisionais sob pena de
bis in idem. Porém ressaltou que essa impossibilidade de cumulação do prazo de prisão não
impede que o juiz, ao analisar a conveniência e oportunidade, renove o decreto prisional até o
limite de três meses (art. 733, § 1º, do CPC), tal como admitido pela jurisprudência do STJ, ou
mesmo que se decrete nova prisão com base em novo fato gerador, tal como o inadimplemento
das parcelas que se vencerem posteriormente ao cumprimento do prazo da prisão. Anotou,
também, que nosso atual ordenamento jurídico não veda a renovação do decreto prisional, visto
que a Lei n. 6.515/1977 alterou a redação do art. 733, § 2º, do CPC, banindo o impedimento de
nova prisão. Ao final, determinou a reunião dos processos para que o juiz analise a subsistência
de interesse do credor no prosseguimento dos feitos e eventual litispendência, mais uma vez
ressaltando a viabilidade de expedição de novo decreto prisional.HC 39.902-MG, Rel. Min.
Nancy Andrighi, julgado em 18/4/2006.
Informativo nº 0211
Período: 31 de maio a 4 de junho de 2004.
Terceira Turma
A maioridade de filha credora de alimentos, por si só, não afasta a obrigação alimentar,
devendo ser discutida nas instâncias cíveis a real necessidade da mesma. O habeas corpus
não é via adequada para o exame aprofundado de provas e a verificação da necessidade, ou
não, da credora dos alimentos. A prisão civil, cuidando-se de execução fundada no art. 733
do CPC, pode ser fixada de um a três meses, nos termos do § 1º do referido dispositivo. A
Turma negou provimento ao recurso. RHC 16.005-SC, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes
Direito, julgado em 1º/6/2004.
Informativo nº 0179
Período: 1º a 15 de agosto de 2003.
Terceira Turma
Observação:
O STJ entendia que não havia interesse processual na ação de prestação de contas por parte
do alimentante:
Todavia a Lei 13.058/2014 – Que cuida da guarda compartilhada, alterou o art. 1.583 do Código
Civil e agora consta expressamente:
§ 5º A guarda unilateral obriga o pai ou a mãe que não a detenha a supervisionar os interesses
dos filhos, e, para possibilitar tal supervisão, qualquer dos genitores sempre será parte
legítima para solicitar informações e/ou prestação de contas, objetivas ou subjetivas, em
assuntos ou situações que direta ou indiretamente afetem a saúde física e psicológica e a
educação de seus filhos.
1. Lei de Introdução as Normas do Direito Brasileiro. 2. Do direito intertemporal no Código Civil.
3. Do Negócio Jurídico. 4. Das modalidades das obrigações. 5. Da
transmissão das obrigações. 6. Dos alimentos.
Vacatio legis
Por vacatio legis deve-se entender o período que medeia entre a publicação da lei e a
sua entrada em vigor, com a finalidade de fazer com que os seus futuros destinatários a
conheçam e se preparem para bem cumpri-la.
A Constituição Federal não exige que as leis observem um período de vacatio
legis. Aliás, normalmente, as leis entram em vigor na data de sua publicação.
Em duas hipóteses, porém, a vacatio legis é obrigatória; são elas: a) lei que cria ou
aumenta Contribuição Social para a Seguridade Social – que só pode entrar em vigor noventa dias após
sua publicação (art. 195, § 6.º, da CRFB); b) lei que cria ou aumenta tributo, que só pode entrar em
vigor noventa dias da data em que haja sido publicada, conforme art. 150, III, c, da CRFB, com
a redação determinada pela EC 42/2003.
Saliente-se, ainda, que nos casos em que o tributo observa o princípio da anterioridade
geral, até que se mude o exercício financeiro a lei também não entra em vigor (não pode ser
exigida!).
Em contrapartida, em três hipóteses, a vigência da lei dá-se imediatamente, sem
que haja vacatio legis. Isso ocorre nos seguintes casos: a) atos administrativos, que, salvo
disposição em contrário, entram em vigor na data da publicação (art. 103, I, do CTN); b) emendas
constitucionais, que, em caso de silêncio, como esclarece Oscar Tenório, entram em vigor no dia
da sua publicação; c) lei que cria ou altera o processo eleitoral, cuja vigência é imediata,
ocorrendo na data da sua publicação; todavia, cabe lembrar que ela não se aplica à eleição que
ocorra em até um ano da data de sua vigência (art. 16 da CRFB).
- Cláusula de vigência
Cláusula de vigência é a que indica a data a partir da qual a lei entra em vigor. Na
ausência dessa cláusula, a lei começa a vigorar em todo o país 45 dias depois de oficialmente
publicada.
Nos Estados estrangeiros, a obrigatoriedade da lei brasileira, quando admitida, inicia-se três
meses depois de oficialmente publicada.
A obrigatoriedade da lei nos países estrangeiros é para os juízes, embaixadas, consulados,
brasileiros residentes no estrangeiro e para todos os que fora do Brasil tenham interesses regulados
pela lei brasileira.
Saliente-se, contudo, que o alto mar não é território estrangeiro, logo, no silêncio, a lei entra
em vigor 45 dias depois da publicação (Oscar Tenório).
Os prazos de 45 dias e de três meses, mencionados acima, aplicam-se às leis de direito
público e de direito privado, às leis federais, estaduais e municipais, bem como aos Tratados e
Convenções, pois estes não são atos administrativos.
Conforme preceitua o § 2.º do art. 8.º da LC 95/1998, as leis que estabelecem período
de vacância deverão utilizar a cláusula “esta lei entra em vigor após decorridos (o número de)
dias de sua publicação oficial”. No silêncio, porém, o prazo de vacância é de 45 dias, de modo
que continua em vigor o art. 1.º da LINDB.
- Forma de contagem
Quanto à contagem do prazo de vacatio legis, dispõe o art. 8.º, § 1.º, da LC 95/1998, que
deve ser incluído o dia da publicação e o último dia, devendo a lei entrar em vigor no dia seguinte.
Conta-se o prazo dia a dia, inclusive domingos e feriados, como salienta Caio Mário da
Silva Pereira. O aludido prazo não se suspende nem se interrompe, entrando em vigor no dia
seguinte ao último dia (que também é contado), ainda que se trate de domingo e feriado.
Convém esclarecer que se a execução da lei depender de regulamento, o prazo de 45
dias, em relação a essa parte da lei, conta-se a partir da publicação do regulamento (Serpa
Lopes).
- Lei corretiva
Pode ocorrer de a lei ser publicada com incorreções e/ou erros materiais. Nesses casos,
se a lei ainda não entrou em vigor, para corrigi-la não é necessária nova lei, bastando a repetição
da publicação, sanando-se os erros e reabrindo-se, destarte, o prazo da vacatio legis em relação
aos artigos republicados. Entretanto, se a lei já entrou em vigor, urge, para corrigi-la, a edição de
uma nova lei, que é denominada lei corretiva, cujo efeito, no silêncio, se dá após o decurso do
prazo de 45 dias a contar da sua publicação. Enquanto não sobrevém essa lei corretiva, a lei
continua em vigor, apesar de seus erros materiais, ressalvando-se, porém, ao juiz, conforme
esclarece Washington de Barros Monteiro, o poder de corrigi-la, no caso concreto.
Por outro lado, se o Poder Legislativo aprova um determinado projeto de lei,
submetendo-o à sanção do Presidente da República, e este acrescenta determinados
dispositivos, publicando em seguida o texto, a hipótese será de inconstitucionalidade, por
violação do princípio da separação dos poderes. De fato, o Presidente da República não pode
acrescentar ou modificar os dispositivos aprovados pelo Poder Legislativo, devendo limitar-se a
suprimi-los, pois, no Brasil, é vedado o veto aditivo ou translativo, admitindo-se apenas o
veto supressivo.
De acordo com esse princípio, consagrado no art. 3.º da LINDB, ninguém se escusa de
cumprir a lei, alegando que não a conhece. Trata-se da máxima nemine excusat ignorantia legis.
Assim, uma vez em vigor, todas as pessoas sem distinção devem obedecer a lei,
inclusive os incapazes, pois ela se dirige a todos.
Diversas teorias procuram justificar a regra acima. Para uns, trata-se de uma presunção
jure et jure, legalmente estabelecida (teoria da presunção). Outros defendem a teoria da ficção
jurídica. Há ainda os adeptos da teoria da necessidade social, segundo a qual a norma do art.
3.º da LINDB seria uma regra ditada por uma razão de ordem social e jurídica, sendo, pois, um
atributo da própria norma.
Aludido princípio encontra exceção no art. 8.º da Lei das Contravenções Penais, que permite
ao juiz deixar de aplicar a pena se reconhecer que o acusado não tinha pleno conhecimento do caráter
ilícito do fato. Além disso, existem todas as discussões em torno do erro de proibição, que envolvem,
mesmo que indiretamente a questão.
O princípio do jura novit curia significa que o juiz conhece a lei. Consequentemente, torna-se
desnecessário provar em juízo a existência da lei. Esse princípio, contudo, comporta as seguintes
exceções: a) direito estrangeiro; b) direito municipal; c) direito estadual; d) direito
consuetudinário. Nesses casos, a parte precisa provar o teor e a vigência do direito.
De acordo com esse princípio, a lei terá vigor até que outra a modifique ou revogue
(art. 2.º da LINDB). Assim, só a lei pode revogar a lei. Esta não pode ser revogada por
decisão judicial ou por ato do Poder Executivo.
Em regra, as leis têm efeito permanente, isto é, uma vigência por prazo indeterminado,
salvo quanto as leis de vigência temporária.
A não aplicação da lei não implica na renúncia do Estado em atribuir-lhe efeito, pois a lei
só pode ser revogada por outra lei.
Repristinação
Lacunas da lei
Pela inteligência do artigo 4º da LINDB, somente quando a lei for omissa é que se
aplicarão as demais formas de expressão direta do direito, as denominadas ‘formas de
integração da norma jurídica’, que são ferramentas para correção do sistema, utilizadas quando
não houver norma prevista para o caso concreto.
Em total sintonia com o que prevê a LINDB, o CPC, no seu artigo 126, prevê que “o juiz
não se exime de sentenciar ou despachar alegando lacuna ou obscuridade da lei”. No julgamento
da lide caber-lhe-á aplicar as normas legais; não as havendo, recorrerá à Analogia, aos
Costumes e aos Princípios gerais do direito (nesta ordem = há hierarquia. DICA! Está em
ordem alfabética A – C -- P). Esse dispositivo veda que o magistrado não julgue o caso concreto,
o que se denomina non liquet.
Utilizar-se da analogia significa aplicar a um caso não regulado (não qualificado
normativamente) uma norma que se enquadra num caso semelhante – é o chamado recurso
analógico. Para que tal se dê, entretanto, é necessária alguma propriedade que seja comum a
ambos os casos.
No direito penal e fiscal, contudo, é necessário uma regra prévia para motivar tanto uma
pena quanto a imposição fiscal, diferente do direito civil, em que a analogia pode ser utilizada em
larga escala. No direito administrativo, por sua vez, a existência de uma lacuna normativa não
dá azo à sua utilização; pelo contrário, a liberdade de ação do poder administrativo fica limitado.
Predomina que a analogia é um processo para integrar norma, muito embora haja quem
sustente tratar-se de um mecanismo de interpretação e quem sustente tratar-se de uma fonte
jurídica.
Entende-se que é na analogia que se origina a missão conferida ao juiz pelo art. 4º da
LINDB, impedindo-o de furtar-se a uma decisão para o caso concreto (non liquet). Deve ele
excluir todos os meios de integração, criando uma norma individual para um caso em que a
subsunção não é possível.
Dessa forma, tem o magistrado a autorização da lei para interpretar e integrar as normas,
mantendo-se nos limites assinalados pelos arts. 4º e 5º da LINDB. O aplicador do direito acaba
por criar uma norma individual, que só vale para aquele determinado caso concreto, pondo fim
ao conflito, sem dissolver a lacuna.
A analogia pode ser legis ou juris. Na analogia legis (propriamente dita), aplica-se ao
caso semelhante uma norma existente. Na analogia juris, porém, a norma é retirada de um caso
singular, mas abstraída de todo o sistema ou de parte dele; aplicam-se ao caso concreto
elementos extraídos de um conjunto de normas. Como exemplo de analogia jurídica ou juris cite-
se a antiga possibilidade de aplicação, por analogia, das regras processuais previstas para a
separação judicial consensual nos casos envolvendo casamento, e também para a ação de
reconhecimento e dissolução da união estável que assumir a forma amigável. Utiliza-se a
expressão antiga uma vez que a maioria da doutrina tem se filiado à corrente doutrinária que
afirma que a EC 66/10 retirou do sistema a separação de direito.
Os costumes, diferente, serão utilizados somente quando não for possível o emprego do
recurso analógico, isto é, quando esgotadas todas as potencialidades legais (ideologia liberal –
intenção de garantir a segurança jurídica e o culto à lei). Para ser aplicado, exigem-se o uso
continuado de determinada conduta (elemento objetivo) e a convicção de sua obrigatoriedade
(elemento subjetivo).
Os costumes podem se apresentar nas seguintes espécies: a) contra legem- contra a lei
(não pode ser aplicado); b) secundum legem- a lei reconhece previamente a sua aplicação (arts.
1297, §1º; 596 e 615, CC). Na aplicação dos costumes secundum legem, não há integração,
mas subsunção, eis que a própria norma jurídica é que é aplicada; c) praeter legem – a conduta
não é derivada de uma determinação legal, mas também não contraria a lei. Aplicado quando a
lei for omissa, sendo denominado de costume integrativo. É, esse último, o tipo de costume
referido no artigo 4º, LINDB como método de integração do direito diante de lacuna normativa.
Entretanto, essas lacunas não são do direito, mas da lei, que é omissa em alguns casos,
quando então deverão ser utilizadas as formas de integração.
Assim, o direito não é lacunoso, mas apenas a lei.
Algumas discussões sobre as lacunas do direito, contudo, devem ser analisadas.
Primeiramente, aborda-se a celeuma dos jus positivistas sobre o assunto, já que: como
seria possível, de um lado, obrigar o judiciário a dar uma resposta a toda questão se, de outro
lado, esta resposta não se encontra na legislação, que pela teoria da separação e autonomia
dos poderes somente do legislador pode emanar?
De acordo com a indagação apresentada, existe um impasse para os jus positivistas,
partindo das premissas que o dever de legislar incube ao legislador e o juiz não poderia criar o
direito.
Como balancear, pois, essa problemática jus positivista com a que proíbe a recusa do
juiz de resolver qualquer controvérsia em caso de lacunas (non liquet)?
Os jus positivistas encontram a resposta a esse problema admitindo que as lacunas são
um fenômeno aparente, pois a hermenêutica a preenche por um processo de
autorregulamentação e autointegração.
Um outro impasse surge quando se atribui ao juiz o dever de preencher as lacunas, pois
como se poderia evitar que o mesmo exerça esse poder de modo arbitrário, sem violar a garantia
de sua imparcialidade? Para responder a essa indagação, afirma-se que o juiz, na ausência de
uma regra expressa, deverá inspirar-se no espírito do direito, ou seja, nos valores e nas técnicas
que outros textos protegem ou utilizam.
Melhor desenvolvendo o raciocínio acima, tem-se que o juiz e os demais operadores do
direito podem e devem interpretar o direito com vistas a aperfeiçoá-lo. Portanto, o magistrado,
no caso de lacunas, está autorizado a colmatá-las. Sem embargo, essa medida não se confunde
com alterar ou substituir o direito. Pode-se interpretar o direito de uma forma sistemática, hábil,
analisando-o como um todo, com suas regras e princípios. Entretanto, exercer o direito de modo
arbitrário e de maneira contrária aos ditames legais é inconcebível, posto que haverá um ponto
de partida e um tramite a serem seguidos.
Quanto às lacunas, interessante, ainda, seguir a classificação criada por Maria Helena
Diniz, que as apresenta da seguinte maneira: a) lacuna normativa- ausência de norma prevista
para um determinado caso concreto; b) lacuna ontológica- presença de norma para o caso
concreto, mas que não tenha eficácia social; c) lacuna axiológica- presença de norma para o
caso concreto, mas cuja aplicação seja insatisfatória ou injusta; d) lacuna de conflito ou
antinomia- choque de duas ou mais normas válidas, pendente de solução no caso concreto.
Antinomias
Para resolver o conflito entre duas ou mais normas jurídicas, destacam-se os seguintes
critérios (critérios para solução de antinomias aparentes): a) hierárquico- lei superior
prevalece sobre lei inferior; b) temporal ou cronológico- lei posterior prevalece sobre lei anterior;
c) especialidade – lei especial prevalece sobre a lei geral.
Caso na seja possível solucionar o conflito pela utilização dos critérios acima, estaremos
diante de um conflito de 2º grau, já que o conflito não será entre simples normas, mas entre os
critérios. Nesses casos, utilizam-se os metacritérios para solução de antinomias de segundo
grau: a) conflito entre os critérios hierárquico e o cronológico – prevalecerá o hierárquico, mesmo
que a norma prevalecente seja anterior; b) conflito entre os critérios da especialidade e o
cronológico – prevalecerá o da especialidade, ainda que a norma especial seja mais antiga (isso
se a norma mais nova não tiver regulado também a questão especial); c) conflito entre os critérios
hierárquico e o especial – prevalecerá o hierárquico. O critério hierárquico é o mais sólido dos
três.
Vale lembrar que o Direito existe para expressar a justiça. O que for mais justo,
certamente será o melhor, portanto, quando não se chega a um consenso de qual conceito seria
o melhor parar solucionar uma antinomia, a solução ficará a cargo do magistrado. Em outras
palavras, caso não se consiga resolver o conflito pelos metacritérios, deve-se recorrer ao critério
dos metacritérios, o princípio da justiça: escolhe-se a norma mais justa.
Se durante a vacatio legis ocorrer nova publicação de seu texto, para correção de erros
materiais ou falha de ortografia, o prazo de obrigatoriedade começará a ocorrer da nova
publicação (LINDB, art. 1º, § 3º). Se a lei já entrou em vigor, tais correções são consideradas
lei nova, tornando-se obrigatória após o decurso da vacatio legis (art. 1º, § 4º).
O lapso temporal entre a publicação e a efetiva vigência da lei (vacatio legis) tem dupla
finalidade: possibilita que a norma seja conhecida antes de tornar-se obrigatória e, às
autoridades incumbidas de fazê-los executar e às pessoas a que se endereça, a oportunidade
de se prepararem para a sua aplicação (Vicente Ráo).
A contagem do prazo para entrada em vigor das leis que estabeleçam período de vacância far-
se-á com a inclusão da data da publicação e do último dia do prazo, entrando em vigor no dia
subseqüente à sua consumação integral (art. 8º, § 1º, da LC 95/98). Os decretos e
regulamentos entram em vigor na data de sua publicação. A lei tem caráter permanente,
permanecendo em vigor até ser revogada por outra lei. Revogação é a supressão da força
obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia. Pode ser total (ab-rogação) ou parcial (derrogação).
A revogação pode ser expressa ou tácita. Expressa quando a lei nova declara que a lei
anterior, ou parte dela, fica revogada. Tácita quando não traz declaração nesse sentido, mas é
incompatível com a lei antiga ou regula inteiramente a matéria de que ela tratava (art. 2º, § 1º,
LINDB).
Repristinação: Preceitua o § 3º do art. 2º da LINDB que a lei revogada não se restaura por ter a
lei revogadora perdido a vigência, salvo disposição em contrário. Não há, portanto, o efeito
repristinatório da primeira lei revogada.
2) Vigência temporária: pelo simples fato de que seu elaborador fixou o tempo de sua duração.
Tais normas desaparecem do cenário jurídico com o decurso do prazo estabelecido (ex: leis
orçamentárias – período de um ano).
Essas leis de “vigência temporária” a que alude o Código podem ser denominadas:
- TEMPORÁRIAS: aquelas que trazem preordenada a data da expiração de sua
vigência;
- EXCEPCIONAIS: as que, não mencionando expressamente o prazo de vigência,
condicionam a sua eficácia à duração das condições que as determinam (guerra, comoção
intestina, epidemia, etc...).
Como se nota, o término da vigência dessas leis não depende de revogação por lei posterior,
fugindo à regra geral. Fala-se em auto-revogação. São ultra-ativas, na medida em que
continuam a ser aplicadas aos fatos praticados durante a sua vigência.
Revogar é tornar sem efeito uma norma, retirando sua obrigatoriedade. É a supressão da força
obrigatória da lei, retirando-lhe a eficácia. A perda da eficácia pode ocorrer, também, da
decretação de sua inconstitucionalidade pelo STF, cabendo ao Senado suspender-lhe a
execução (controle difuso concreto).
Revogação é o gênero, tendo por espécies a ab-rogação (supressão total da norma anterior) e
derrogação (torna sem efeito uma parte da norma; somente os dispositivos atingidos perdem
sua obrigatoriedade).
Conflito de leis no tempo: para solucionar tais questões, dois são os critérios utilizados:
1) o das disposições transitórias (chamadas direito intertemporal), que são elaboradas pelo
legislador no próprio texto normativo, para conciliar a nova norma com as relações jurídicas
que estavam sob a vigência da anterior. São disposições com vigência temporária.
2) o dos Princípios da retroatividade e irretroatividade das normas (construção doutrinária
utilizada na ausência da disposição transitória). O direito pátrio adotou como regra a
IRRETROATIVIDADE da lei (art. 5º XXXVI, CF; art. 6º, §§ 1º, 2º, 3º LINDB). Irretroativa é a lei
que não se aplica às situações constituídas anteriormente. É um princípio que objetiva
assegurar a certeza, a segurança e a estabilidade do ordenamento jurídico-positivo,
preservando as situações consolidadas em que o interesse individual prevalece.
Assim, a Constituição Federal e a LINDB adotaram o Princípio da Irretroatividade das leis como
regra, e o da retroatividade como exceção. Acolheu-se a teoria subjetiva de Gabba, de
completo respeito ao ato jurídico perfeito, ao direito adquirido e à coisa julgada. Assim, como
regra, aplica-se a lei nova aos casos pendentes (facta pendentia) e aos futuros (facta futura),
só podendo ser retroativa, para atingir fatos já consumados, pretéritos (facta praeterita),
quando:
a) não ofender o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada;
b) quando o legislador, expressamente, mandar aplicá-la a casos pretéritos, mesmo que a
palavra “retroatividade” não seja usada (Carlos Roberto Gonçalves).
* ato jurídico perfeito: o que já se consumou segundo a norma vigente ao tempo em que se
efetuou;
* direito adquirido: o que já se incorporou definitivamente ao patrimônio e à personalidade de
seu titular;
* coisa julgada: é a decisão judiciária de que já não caiba recurso (presunção absoluta de que
o direito foi aplicado corretamente ao caso sub judice)
Inicialmente, vale dizer a LINDB é um conjunto de normas sobre normas, visto que
disciplina as próprias normas jurídicas, determinando o modo de aplicação e entendimento, no
tempo e no espaço. Ultrapassa ela o âmbito do direito civil, pois enquanto o objeto das leis em
geral é o comportamento humano, o da LINDB é a própria norma, visto disciplina a sua
elaboração e vigência, a sua aplicação no tempo e no espaço, as suas fontes, etc. Contém
normas de sobredireito ou de apoio, podendo ser considerada um Código de Normas, por ter a
lei como tema central.
*Inaplicabilidade do art. 1º, §2º, LINDB- não mais se aplica ao direito brasileiro desde o advento
da CF de 1946.
Errata - se, durante a vacatio legis, vier a norma a ser corrigida em seu texto, que contém erros
substanciais, suscetíveis de modificar parcial ou totalmente o seu sentido, ensejando nova
publicação, o prazo nela mencionado para a sua entrada em vigor ou, não o havendo, os prazos
de 45 dias e 3 meses começam a correr da nova publicação, portanto nova vacatio legis iniciar-
se-á a partir da data da correção, anulando-se o tempo decorrido. As emendas ou correção da
lei que já tenha entrado em vigor são considerados lei nova (LINDB, art. 1º, §4º, a cujo começo
obrigatoriamente se aplica o princípio geral da vacatio legis, pois só produzirão efeitos a partir
do decurso do prazo legal, ou não o havendo, dos 45 dias ou 3 meses após a publicação, uma
vez que derrogaram ou ab-rogaram a lei anterior, cuja obrigatoriedade e efeitos se reconhecerão.
Se os erros forem evidentes, como os de ortografia ou se apresentarem erros materiais, o próprio
magistrado poderá saná-los ex autoritate.
*Princípios aplicáveis:
1) Princípio da continuidade: é aquele pelo qual a lei terá vigência enquanto outra não a modificar
ou revogar.
A lei também pode perder a vigência pela não recepção pela nova ordem constitucional; por
suspensão de sua execução pelo Senado (art. 52, X CR) ou pelo trânsito em julgado de ação
que a declarou inconstitucional em controle concentrado de constitucionalidade.
2) Princípio da irretroatividade - a lei nova não pode retroagir de maneira a alcançar situações
consolidadas por lei anterior ou seus efeitos. Visa a estabelecer a segurança jurídica do
sistema. Contudo, discute-se em doutrina se a retroatividade seria em verdade a regra (a
exceção seria a vedação de atingir os direitos adquiridos, a coisa julgada e o ato jurídico
perfeitos).
O art. 2º da LINDB trata da vigência temporal da norma, salientando que, não sendo temporária
a vigência, a norma poderá produzir efeitos, tendo força vinculante (vigor) até sua revogação por
outra. A norma pode ter: vigência temporária, pelo simples fato de já ter fixado o termo de sua
duração, contendo um limite para a eficácia; e vigência permanente, ou seja, para o futuro sem
prazo determinado, durando até que seja modificada ou revogada por da mesma hierarquia ou
hierarquia superior (LINDB, art. 2º, caput). A cessação da vigência da norma pode dar-se por
decurso do tempo para o qual foi promulgada ou por revogação.
Princípio da obrigatoriedade: ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece
(art. 3o LINDB). A justificativa desse princípio pode se dar com três teorias: 1) a da presunção
legal, de que a lei, publicada, passa a ser de conhecimento de todos; 2) a da ficção de que todos
passam a conhecer a lei com a sua publicação; 3) a da necessidade social, de que assim seja,
possibilitando uma convivência harmônica. Essa terceira teoria é a mais aceita. A lei de
contravenções penais traz uma exceção a esse princípio, com a possibilidade de isenção de
pena no caso de desconhecimento da lei. Art. 8º da LCP No caso de ignorância ou de errada
compreensão da lei, quando escusáveis, a pena pode deixar de ser aplicada.
A revogação é a supressão de uma lei por outra. Ela pode ser classificada:
-revogação expressa= é aquela em que a lei nova declara inequivocamente a revogação da lei
anterior (CC atual revogou expressamente o anterior – art. 2045).
-revogação tácita= é aquela em que a lei nova mostra-se incompatível com a lei anterior ou regule
inteiramente a matéria desta.
É possível que uma lei revogada continue a produzir efeitos. Exemplo disso é a disposição do
art. 2.038 do CC/02 que determina a continuidade da aplicação do CC/16 para as enfiteuses. É
um caso de ultratividade da lei.
Para a verificação de revogação das normas, três critérios devem ser utilizados:
Repristinação: pelo art. 2,§ 3º, da LINDB, a lei revogadora de outra lei revogadora não terá efeito
repristinatório sobre a velha norma abolida, a não ser que haja pronunciamento expresso da lei
a esse respeito. Esse dispositivo legal contém duas normas: a) proibição da repristinação,
significando que a antiga lei não se revalidará pelo aniquilamento da lei revogadora, uma vez
que não restitui a vigência daquela que revogou; b) restauração ex nunc da antiga lei, quando a
norma revogadora tiver perdido a vigência, desde que haja disposição expressa nesse sentido.
Art. 7o A lei do país em que domiciliada a pessoa determina as regras sobre o começo
e o fim da personalidade, o nome, a capacidade e os direitos de família.
§ 1o Realizando-se o casamento no Brasil, será aplicada a lei brasileira quanto aos
impedimentos dirimentes e às formalidades da celebração.
§ 2o O casamento de estrangeiros poderá celebrar-se perante autoridades diplomáticas
ou consulares do país de ambos os nubentes.
§ 3o Tendo os nubentes domicílio diverso, regerá os casos de invalidade do matrimônio
a lei do primeiro domicílio conjugal.
§ 4o O regime de bens, legal ou convencional, obedece à lei do país em que tiverem os
nubentes domicílio, e, se este for diverso, a do primeiro domicílio conjugal.
§ 5º - O estrangeiro casado, que se naturalizar brasileiro, pode, mediante expressa
anuência de seu cônjuge, requerer ao juiz, no ato de entrega do decreto de naturalização,
se apostile ao mesmo a adoção do regime de comunhão parcial de bens, respeitados os
direitos de terceiros e dada esta adoção ao competente registro.
§ 6º O divórcio realizado no estrangeiro, se um ou ambos os cônjuges forem brasileiros,
só será reconhecido no Brasil depois de 1 (um) ano da data da sentença, salvo se houver
sido antecedida de separação judicial por igual prazo, caso em que a homologação
produzirá efeito imediato, obedecidas as condições estabelecidas para a eficácia das
sentenças estrangeiras no país. O Superior Tribunal de Justiça, na forma de seu
regimento interno, poderá reexaminar, a requerimento do interessado, decisões já
proferidas em pedidos de homologação de sentenças estrangeiras de divórcio de
brasileiros, a fim de que passem a produzir todos os efeitos legais.
»EC 45/2004 – A competência para homologar sentença estrangeira é do STJ
23GONÇALVES, Carlos Roberto. Sinopses Jurídicas - 1. Direito Civil Parte Geral. 16ª ed. São
Paulo: Editora Saraiva, 2009. p. 30-34.
Art. 9o Para qualificar e reger as obrigações, aplicar-se-á a lei do país em que se
constituirem.
§ 1o Destinando-se a obrigação a ser executada no Brasil e dependendo de forma
essencial, será esta observada, admitidas as peculiaridades da lei estrangeira quanto
aos requisitos extrínsecos do ato.
§ 2o A obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir o
proponente.
Art. 10. A sucessão por morte ou por ausência obedece à lei do país em que domiciliado
o defunto ou o desaparecido, qualquer que seja a natureza e a situação dos bens.
§ 1º A sucessão de bens de estrangeiros, situados no País, será regulada pela lei
brasileira em benefício do cônjuge ou dos filhos brasileiros, ou de quem os represente,
sempre que não lhes seja mais favorável a lei pessoal do de cujus.
§ 2o A lei do domicílio do herdeiro ou legatário regula a capacidade para suceder.
Art. 12. É competente a autoridade judiciária brasileira, quando for o réu domiciliado no
Brasil ou aqui tiver de ser cumprida a obrigação.
§ 1o Só à .autoridade judiciária brasileira compete conhecer das ações, relativas a
imóveis situados no Brasil.
§ 2o A autoridade judiciária brasileira cumprirá, concedido o exequatur e segundo a
forma estabelecida pele lei brasileira, as diligências deprecadas por autoridade
estrangeira competente, observando a lei desta, quanto ao objeto das diligências.
Art. 13. A prova dos fatos ocorridos em país estrangeiro rege-se pela lei que nele
vigorar, quanto ao ônus e aos meios de produzir-se, não admitindo os tribunais
brasileiros provas que a lei brasileira desconheça.
Art. 14. Não conhecendo a lei estrangeira, poderá o juiz exigir de quem a invoca prova
do texto e da vigência.
Art. 15. Será executada no Brasil a sentença proferida no estrangeiro, que reuna os
seguintes requisitos:
a) haver sido proferida por juiz competente;
b) terem sido os partes citadas ou haver-se legalmente verificado à revelia;
c) ter passado em julgado e estar revestida das formalidades necessárias para a
execução no lugar em que foi proferida;
d) estar traduzida por intérprete autorizado;
e) ter sido homologada pelo Supremo Tribunal Federal (Vide art.105, I, i da Constituição
Federal).
24NERY JUNIOR, Nelson e NERY, Rosa Maria de Andrade. Código Civil Comentado. 5ª ed.
São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2007. p. 145.
Art. 16. Quando, nos termos dos artigos precedentes, se houver de aplicar a lei
estrangeira, ter-se-á em vista a disposição desta, sem considerar-se qualquer remissão
por ela feita a outra lei.
Art. 17. As leis, atos e sentenças de outro país, bem como quaisquer declarações de
vontade, não terão eficácia no Brasil, quando ofenderem a soberania nacional, a ordem
pública e os bons costumes
Interpretação da lei:
a) conceito
c) Tipologias da interpretação
1) Autêntica (legislativa) - Vem de autos, (própria). Aquele que faz a norma, estabelece sua
interpretação por meio de outra norma, donde seu caráter de obrigatoriedade.
3) Doutrinária (doutrinal) – São as opiniões científicas emanadas dos doutrinadores. Não são
mais obrigatórias, ao contrário do que se passava em Roma, que dava efeitos vinculantes às
opiniões dos jurisconsultos.
Não há hierarquia em relação aos critérios abaixo, e um não exclui o outro; há, inclusive, quem
afirme que não existem várias espécies de interpretação, mas, na verdade, uma
INTERPRETAÇÃO ÚNICA, que combina vários métodos de interpretação (FERRARA).
Consiste em analisar a norma meramente sob o aspecto lingüístico, gramatical, a colocação das
palavras na frase, o significado de cada uma delas, etc.
A interpretação literal não é suficiente, mas é necessária. Primeiro, é preciso saber o que está
escrito. Em seguida, parte-se para o processo lógico de interpretação.
2) Lógico – Consiste na ênfase oferecida à analise do texto da norma, em lugar das palavras que
compõem o mesmo. Busca descobrir o sentido e o alcance da lei independentemente do auxílio
de elementos exteriores, aplicando ao dispositivo regras tradicionais e precisas, tomadas de
empréstimo à lógica geral. Pode ser fracionada em três subespécies: lógico-analítica, lógico-
sistemática e lógico-jurídica.
3) Sistemático (sistêmico) – Para quem não vislumbra subdivisão no método lógico, o sistemático
tem o mesmo sentido já afirmado acima, ou seja, cuida-se de analisar a norma no sistema em
que se insere e que lhe atribui um sentido diferente do que adquiriria se estivesse em um outro
processo.
5) Teleológica (finalista, finalística) – por meio desse processo, tenta-se encontrar o fim último
da norma. Toda norma tem uma finalidade social que deve ser levada em conta pelo intérprete.
É a única modalidade de interpretação obrigatório no direito brasileiro, pelo contido no art. 5° da
lei de introdução ao Código Civil.
Quanto ao resultado
1) Interpretação declarativa ou estrita – é aquela que conclui que a fórmula verbal da norma
coincide com a mens legis.
3) Interpretação retificadora (corretiva) – ocorre ante a existência de erro material. Tem-se que
adaptar a norma para que a interpretação não leve a um absurdo.
4) Interpretação restritiva – nela, constata-se que o legislador se utilizou de uma fórmula ampla
em demasia para traduzir a mens legis. Então, o intérprete restringe o significado dos termos
usados e chega à conclusão que a lei disse mais do que queria (plus dixit quam voluit).
Também aqui diverge a doutrina quanto a quais e quantas são. Existem basicamente duas
gamas de metodologias, as correspondentes às escolas tradicionais e as chamadas modernas
escolas de interpretação.
2) Escolas modernas:
Escola da evolução histórica – tem em Raymond Saleilles seu principal teórico. Apregoa que
a interpretação deve ser evolutiva, variando no tempo e no espaço. A norma jurídica estaria
sempre evoluindo, adaptando-se à sociedade, à ética e a seus valores. Em suma, a lei deve se
adaptar ao momento histórico.
Escola da livre investigação – seu mais conhecido defensor foi François Gény. Deve-se aplicar
a lei no exato sentido que lhe deu o legislador. Predica-se a busca da mens legislatoris. A
denominação da escola não é boa, pois dá a entender que defendia exatamente o contrário do
que pensavam seus criadores.
Escola do direito livre – criada por Von Kirchmann, mas aperfeiçoada por Kantorowicz. Por ela,
o juiz poderia até julgar contra a lei. Existiria liberdade para se julgar conforme suas próprias
convicções de justiça. Ainda tem sua função por conta do ressurgimento do direito alternativo.
Escola da teoria pura do direito – criada por Hans Kelsen. Basicamente, consiste em
vislumbrar a lei como um marco de possibilidades, uma moldura, na qual cabem sempre ao
menos duas soluções interpretativas. A escolha por uma das opções seria preocupação da
política jurídica, não da ciência do direito. Assim, a relação entre justiça e ciência do direito
terminaria por ser meramente acidental, não essencial.
O Código Civil estabeleceu em seu artigo 2.028 regra de direito intertemporal, onde regulou os
prazos prescricionais iniciados sob a vigência do Código Civil de 1916, e que não ainda não se
extinguiram.
“Serão os da lei anterior os prazos, quando reduzidos por este Código, e se, na data de sua
entrada em vigor, já houver transcorrido mais da metade do tempo estabelecido na lei
revogada”.
Ainda neste sentido são dois os enunciados do Conselho da Justiça Federal sobre o tema,
conforme segue:
Enunciado 50: “Art. 2.028: a partir da vigência do novo Código Civil, o prazo prescricional das
ações de reparação de danos que não houver atingido a metade do tempo previsto no Código
Civil de 1916 fluirá por inteiro, nos termos da nova lei (art. 206)”.
“No que tange à responsabilidade civil, o novo Código representa, em geral, notável avanço,
com progressos indiscutíveis, entendendo a Comissão que não há necessidade de prorrogação
da vacatio legis.”
Enunciado 299: "Art. 2.028. Iniciada a contagem de determinado prazo sob a égide do Código
Civil de 1916, e vindo a lei nova a reduzi-lo, prevalecerá o prazo antigo, desde que transcorrido
mais de metade deste na data da entrada em vigor do novo Código. O novo prazo será
contado a partir de 11 de janeiro de 2003, desprezando-se o tempo anteriormente decorrido,
salvo quando o não-aproveitamento do prazo já decorrido implicar aumento do prazo
prescricional previsto na lei revogada, hipótese em que deve ser aproveitado o prazo já
decorrido durante o domínio da lei antiga, estabelecendo-se uma continuidade temporal."
Sendo estas as regras de Direito Intertemporal no Código Civil de 2002, ocorrem as seguintes
situações possíveis:
c) Se o prazo prescricional do CC/16 foi diminuído no CC/02 duas situações podem ocorrer:
b) Se a soma do prazo já transcorrido com o novo prazo forem superiores ao prazo total
estabelecido pelo CC/16, a prescrição ocorrerá quando completar-se o prazo originário, uma
vez que a regra do art. 2028 não pode ser utilizada para aumentar prazos prescricionais posto
que tem como fundamento a diminuição de prazos prescricionais.
3. DO NEGÓCIO JURÍDICO
Negócio jurídico
Os autores trazem o gênero Fatos Jurídicos, dos quais são espécies: fatos
jurídicos strictu sensu e atos jurídicos lato sensu (que, por sua vez, têm como espécies os atos
jurídicos lícitos ou strictu sensu, atos ilícitos e negócios jurídicos). Alguns (doutrina minoritária)
isolam os atos ilícitos, entendendo que não fazem parte dos atos jurídicos lato sensu, pois não
seriam jurídicos, mas antijurídicos. Pontes de Miranda desenvolveu a categoria do ato-fato
jurídico, sendo uma categoria intermediária entre o ato jurídico e o fato jurídicos. Trata-se de
uma espécie de fato jurídico em sentido amplo. Trata-se de um comportamento humano que
determina a produção de efeitos jurídicos, embora desprovido de consciência ou intenção
na sua realização.
Fato Jurídico
lato sensu
Já para o NCC (2002), foi feita uma TRIPARTIÇÃO do gênero FATO JURÍDICO em 03
espécies: a) NEGÓCIO JURÍDICO (artigos 104 a 184); b) ATO JURÍDICO LÍCITO (artigo 185)
e c) ATO ILÍCITO (artigos 186 e 187).
FATO NÃO JURÍDICO : Sem conseqüência jurídica (o CC/02 não regula, óbvio).
FATO JURÍDICO INVOLUNTÁRIO (strictu sensu): Não provocado voluntariamente pelo homem,
que gera conseqüências jurídicas (o CC/02 não traz essa categoria sistematicamente, mas fala de
FATO forma esparsa, como, por exemplo, quando trata do nascimento com vida e conseqüente aquisição
JURÍDICO da personalidade jurídica etc.).
Com ATO ILÍCITO
conseqüência
Ato praticado é contrário a lei.
jurídica. Todo
ATO JURÍDICO LÍCITO / EM SENTIDO ESTRITO
acontecimento
natural ou Trata-se de um simples comportamento humano consciente, de natureza não
negocial, e que determina a produção de efeitos legalmente previstos. A
humano que
PARTE NÃO TEM A LIBERDADE DE ESCOLHER OS EFEITOS. Falta a
determina a
liberdade negocial, os efeitos são automáticos.
produção de
Afasta o elemento vontade para definição da construção do ato, ele sempre
efeitos na órbita
VOLUNTÁRIO decorre de lei (Artigo 185).
jurídica, ou seja,
ATO JURÍDICO
tem
EM SENTIDO Ex1: estar caminhando e encontrar um tesouro, sem estar procurando nada.
conseqüência
AMPLO NEGÓCIO JURÍDICO
jurídica.
Conduta humana É uma declaração de vontade que nasce de um processo complexo de
Acontecimento
hábil a elaboração e, por meio da qual a parte auto-disciplina os efeitos que escolheu
modificar, criar e pretende atingir. O negócio jurídico permite a liberdade de escolha dos
ou extinguir defeitos que pretende atingir, ou seja, as partes têm autonomia para escolher
direitos. Que os efeitos que pretendem produzir.
seja relevante Ele é a aplicação do princípio da autonomia da vontade. Há liberdade negocial.
para o Direito Também provoca efeitos jurídicos, mas o indivíduo ao praticar o ato tem como
objetivo alcançar os efeitos jurídicos decorrentes.
Ex1: assinar nota promissória (vinculação cambiária).
Ressalvas à tabela acima:
PLANO DA EXISTÊNCIA
Existência: um negócio jurídico não surge do nada, exigindo-se, para que seja considerado
como tal, o atendimento a certos requisitos mínimos
Engloba o estudo dos elementos constitutivos ou existenciais do negócio jurídico. O CC/02 não
traz um capítulo específico para o plano de existência. Sem os elementos o negócio jurídico é
um nada, é inexistente. São os elementos do plano de existência (Pablo Stolze):
d) forma – meio pelo qual se exterioriza a vontade, para que exista, o negócio jurídico deve
ser manifestado de alguma forma, a forma está ligada à manifestação de vontade, mas
ela é um revestimento exterior de vontade.
PLANO DA VALIDADE
Validade: o fato de um negócio jurídico ser considerado existente não quer dizer que ele seja
considerado perfeito.
O plano da validade possui os elementos necessários para a validade, sendo o rol abaixo mais
complexo do que o previsto no artigo 104, do CC. Basta pegar os elementos da existência e
qualificá-los:
a) manifestação da vontade – deve ser totalmente livre (a vontade pode existir, mas não
ser livre – defeito da coação, por exemplo) e de boa-fé (o dolo é um artifício que engana
alguém, daí não há boa-fé, o que interfere na manifestação da vontade). Os defeitos ou
vícios do negócio jurídico interferem no ato jurídico no plano de validade.
b) agente – o agente deve ser capaz e legitimado para a prática do negócio jurídico. A
falta de legitimação traduz um impedimento específico para a prática de determinado
ato (por exemplo, a outorga conjugal para a alienação de bens móveis).
c) objeto – o objeto deve ser lícito, possível e determinado ou determinável. Esse assunto
tem repercussão em Direito das Obrigações. Em direito civil, considera-se lícito não
apenas o que é legal, mas, também, o que é moral, dentro de uma moral de um homem
médio (padrão médio de moralidade). Exemplo: a atividade da prostituição não é crime
(casa de prostituição é), o contrato celebrado entre a prostituta e o cliente é existente,
mas o contrato é inválido, porque não tem um objeto lícito.
Artigos correlatos: Artigo 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma
especial, senão quando a lei expressamente a exigir.
Artigo 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Art. 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público,
este é da substância do ato.
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando: (...) IV - não revestir a forma prescrita em lei; V - for
preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua validade.
PLANO DA EFICÁCIA
Eficácia: ainda que um negócio jurídico existente seja considerado válido, ou seja, perfeito para
o sistema que o concebeu, isto não importa em produção imediata de efeitos, pois estes podem
estar limitados por elementos acidentais da declaração
MANIFESTAÇÃO DE VONTADE
+
REQUISITOS DE VALIDADE
MANIFESTAÇÃO DA VONTADE
Pode ser feita de forma expressa (escrita, oral ou gestual) ou de forma tácita (muito em voga,
com o direito do consumidor), ela é inferida de um comportamento, podendo sua vontade ser
concluída do que comportamento contundente, ou seja, o comportamento que leve à conclusão
de que o indivíduo pretende alcançar os efeitos do negócio,
O silêncio, via de regra, não gera manifestação da vontade, mas em alguns casos
(excepcionalmente) pode gerar, pois no direito quem cala, cala, não quer dizer que consente.
Por exemplo:
Art. 111. O silêncio importa anuência, quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não
for necessária a declaração de vontade expressa
SUJEITO CAPAZ
Não basta somente a capacidade, a pessoa deve estar não impedida para a prática do ato.
Artigo 105. A incapacidade relativa de uma das partes não pode ser invocada pela outra em
benefício próprio, nem aproveita aos co-interessados capazes, salvo se, neste caso, for
indivisível o objeto do direito ou da obrigação comum.
Se o capaz contrata com o relativamente incapaz não pode alegar o vício da vontade.
Os menores atualmente fazem pequenos contratos (comprar revistas, andar de ônibus); sobre
isso, a doutrina se manifesta das seguintes formas, entre outras:
ato jurídico lícito (em sentido estrito): essas aquisições automáticas que não
deixam espaço para auto-regramento, afastam a configuração do negócio
jurídico.
Artigo 106. A impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou
se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado.
Normalmente, tudo ligado a imóveis exige forma solene. Essa exigência de formas especiais
se justifica quando os bens em questão sejam importantes, garantindo a liberdade de
manifestação de vontade da parte e facilitando a prova do negócio jurídico.
Artigo 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão
quando a lei expressamente a exigir.
Artigo 108. Não dispondo a lei em contrário, a escritura pública é essencial à validade dos
negócios jurídicos que visem à constituição, transferência, modificação ou renúncia de direitos
reais sobre imóveis de valor superior a 30 (trinta) vezes o maior salário mínimo vigente no País.
Artigo 109. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público,
este é da substância do ato.
INTERPRETAÇÃO
A interpretação foi um tema pouco explorado pelo novo CC/02 (artigos 112 a 114)
Artigo 112. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do
que ao sentido literal da linguagem.
A vontade está privilegiada, mas não acima de tudo, é preciso se atentar à intenção do agente,
que deve, de alguma maneira, ter se manifestado na declaração, esse foi um abandono da Teoria
Pura da Vontade. O NCC conseguiu um equilíbrio entre as Teorias da Vontade e da Declaração,
agora, é aplicada a Teoria da Auto-Responsabilidade, que consiste no prestígio da vontade
(ainda é uma mola propulsora), atribuindo responsabilidade ao emissor dessa vontade, mas
deve-se procurar um lastro na declaração.
A manifestação de vontade, portanto, constitui conteúdo do negócio jurídico. É preciso
configurarem-se dois elementos: a vontade e sua declaração. O que se procura é extrair, dos
elementos contidos na declaração, a intenção das partes. Ou seja: não quer dizer que a vontade
omitida da declaração deva ser levada em conta. Quer dizer que deve se extrair a vontade dos
elementos extraídos da declaração, preocupando-se com a intenção mais que com o sentido
literal da linguagem.
Artigo 113. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar
de sua celebração.
Essa regra de interpretação é objetiva. A boa-fé que se fala aqui é a OBJETIVA, que em cada
livro do CC ela se renova; ela é uma regra de conduta, um padrão de comportamento leal,
um modelo de conduta social, verdadeiro standard jurídico, o que se espera de pessoas
leais e solidárias, ela é objetiva porque, para verificar se alguém está de boa-fé ou não, não
importa mais o que está na cabeça do agente, basta a verificação se sua conduta está
adequada ou não ao padrão objetivo ideal. Trata-se de uma manifestação do Princípio da
Eticidade (segundo Miguel Reale, os paradigmas do CC/02 são eticidade, socialidade e
operabilidade). A boa-fé objetiva desempenha várias funções no CC: desempenha papel de
paradigma interpretativo na teoria dos negócios jurídicos (art. 113); assume caráter de controle,
impedindo o abuso do direito subjetivo, qualificando-o como ato ilícito (art. 187); finalmente,
desempenha atribuição integrativa, pois dela emanam deveres que serão catalogados pela
reiteração de precedentes jurisprudenciais (art. 422).
Aqui, está funcionando como uma regra interpretativa, p. ex., ao invés de buscar a intenção das
partes especificamente, o intérprete se abstrai e procura descobrir o que pessoas legais,
solidárias e honestas queriam ter dito com as declarações expostas. Entendimento
predominante: sempre deve ser feita a interpretação com os aspectos subjetivos; não dando
certo, parte-se para os aspectos objetivos (Godoy discorda, acreditando que as duas formas de
interpretação devem coexistir).
Casos que impõem interpretação estrita, seguindo esta regra geral, oferece o Código na
doação (arts. 538 a 564), na fiança (art. 819), na transação (art. 843), na renúncia à prescrição
(art. 191), à herança (art. 1806) etc.
MOTIVO
RESERVA MENTAL
Artigo 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental
de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
Parte da doutrina entende que é um vício do negócio jurídico (artigo 110). Alguns autores
chamam de “simulação unilateral”. É uma proposital divergência entre a vontade interna e
a vontade declarada.
Se a RESERVA MENTAL não for conhecida do destinatário, ela não tem relevância.
Somente terá relevância se for do conhecimento do destinatário – nesse caso, a doutrina
diverge: alguns entendem que será causa de nulidade; outros entendem que será causa de
inexistência (por ausência de manifestação de vontade).
1) Conhecida: o outro contratante sabe da reserva mental e adere a ela. Esse ato é equiparado
à simulação.
Artigo 110. A manifestação de vontade subsiste ainda que o seu autor haja feito a reserva mental
de não querer o que manifestou, salvo se dela o destinatário tinha conhecimento.
REPRESENTAÇÃO
Há representação quando uma pessoa atua juridicamente em nome de outra. Esse poder
resulta da lei ou de concessão pelo interessado. Os atos de representação legal, em regra, têm
lugar no âmbito do direito de família, por institutos de proteção da personalidade, que são o
poder familiar (art. 1.690), a tutela (art. 1.747, I) e a curatela (art. 1.772). A representação
voluntária se dá no campo da autonomia privada, normalmente pela procuração, que a lei
qualifica como o instrumento do mandato (art. 653), ou mediante a figura do preposto (art. 1169
e ss.).
O artigo 120, CC/02, afirma que a representação legal rege-se pelas disposições do respectivo
instituto (ex: poder familiar – art. 1630 e ss.), mas também pelas disposições respectivas (arts.
115 a 119). Já a representação convencional rege-se pelo negócio jurídico entabulado entre
representante e representado. Submetem-se, todavia, estes às regras legais que disciplinam o
referido negócio (previstos na parte especial).
Pelo artigo 116, se atuar fora de seus poderes, estará atuando ultra vires e aí não vincula
o representado. O representado somente se vincula pelo ato do representante, se este
houver atuado dentro de seus poderes. Se for legal, a lei estabelecerá quais são os limites de
atuação do representante; se for convencional, o instrumento escrito (procuração) estabelecerá
quais são esses poderes.
Imprecisão técnica cometida pelos dois CCs: A procuração é o instrumento do mandato, isso
está errado porque o mandato pode ser até mesmo verbal, na verdade, a procuração é
instrumento da representação.
Pelo 119, o representante age de acordo com os poderes que lhe foram outorgados, mas
está em desacordo com os interesses do representado (aquele negócio jurídico, naquela
situação e condições) – há conflito de interesses.
Artigo 119. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesse com o
representante, se tal era ou devia ser do conhecimento de quem com ele tratou.
Parágrafo único. É de 180 dias a contar da conclusão do negócio ou da cessação da
incapacidade, o prazo de decadência para pleitear-se a anulação prevista nesse artigo.
Artigo 117. Salvo se o permitir a lei ou o representado, é ANULÁVEL o negócio jurídico que o
representante, no seu interesse ou por conta de outrem, celebrar consigo mesmo.
Parágrafo único. Para esse efeito, tem-se como celebrado pelo representante o negócio
realizado por aquele em quem os poderes houverem sido estabelecidos.
Elementos acidentais podem ou não estar nos negócios jurídicos (PLANO DA EFICÁCIA), mas,
se estiverem presentes, são obrigatórios.
Quais atos podem conter elementos acidentais? Responde Sílvio Venosa: “Geralmente, todos
os atos com conteúdo econômico permitem a aposição de elementos ditos acidentais. Não
podem, no entanto, constar de negócios que digam respeito ao estado das pessoas, aos direitos
de família puros, que não admitem restrição”.
a. Condição
b. Termo
c. Encargo
CONDIÇÃO (“se” – palavra reveladora)
Há negócios jurídicos que não podem ser subordinados a nenhuma espécie de condição, esta
somente é cabível em negócios patrimoniais. Sendo assim, não é cabível condição nos
seguintes casos:
a. Celebração de casamento
b. Adoção de filho
c. Reconhecimento de filho
d. Aceitação ou renúncia de herança
É importante para a determinação de quais são válidas ou não e quais que prejudicam o negócio
jurídico como um todo ou não:
CONDIÇÕES CONSEQUÊNCIA
POSSÍVEIS VÁLIDAS
Invalidam o negócio jurídico: Quer seja suspensiva ou resolutiva, não importa se o negócio
jurídico gerou ou não efeitos, é inválido o negócio jurídico, porque o vício da condição é muito
grave. Essa idéia é de Clóvis Bevilácqua.
RESP 1314209: É possível ao Poder Judiciário reconhecer a nulidade de uma das cláusulas
incluídas em plano de recuperação judicial aprovado em Assembleia Geral de Credores, sob o
fundamento de que seria condição puramente potestativa, vedada pelo artigo 122 do CC de
2002, pois,
apesar de não competir ao juízo interferir na vontade soberana dos credores, alterando o
conteúdo do plano de recuperação judicial, tal obrigação de respeitar a vontade dos credores
não implica impossibilitar o controle judicial quanto à licitude das providências decididas em
assembleia, sendo que a soberania desta não pode sobrepujar os requisitos legais da
manifestação de vontade representada pelo plano de recuperação.
Artigo 129. Reputa-se verificada, quanto aos efeitos jurídicos, a condição cujo implemento for
maliciosamente obstado pela parte a quem desfavorecer, considerando-se, ao contrário, não
verificada a condição maliciosamente levada a efeito por aquele a quem aproveita o seu
implemento.
É elemento acidental do negócio jurídico, que subordina a sua eficácia a evento futuro e certo
Esse evento pode ser datado previamente, porque já se sabe que vai ocorrer; mas pode
ser também não datado (morte). O termo pode ser inicial (a quo) ou final (ad quem).
O termo inicial tem ponto em comum com condição suspensiva: o negócio jurídico ainda não
está gerando efeitos, antes de chegar o termo; mas o termo inicial já gera direito adquirido
(na condição não gera, havendo mera expectativa de direito, porque o evento é incerto; no termo,
é certo). O termo inicial não impede o pagamento antecipado da obrigação, por isso, que se pode
pagar antecipadamente o financiamento do carro, com abatimento dos juros, o denominado
deságio. Portanto, pode-se afirmar genericamente que, quando há um direito a termo, presume-
se que o prazo foi fixado em benefício do devedor, o que significa que como regra o devedor
pode cumprir sua obrigação antes de alcançado o termo final.
Artigo 131. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito.
O termo final, por outro lado, tem ponto em comum com a condição resolutiva, porque o
termo final encerra o negócio jurídico.
Prazo é o intervalo de tempo entre o termo inicial (início da locação) e final (fim da locação).
Como elemento acidental, o termo pode ser explicitado ou não, mas é evidente que todo negócio
jurídico tem início e fim.
Artigo 134. Os negócios jurídicos entre vivos, sem prazo, são exeqüíveis desde logo, salvo se a
execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. (artigo correlato: art. 331,
CC).
IMPORTANTE (REGRA GERAL): Artigo 133. Nos testamentos, presume-se o prazo em favor
do herdeiro, e, nos contratos, em proveito do devedor, SALVO, quanto a esses, se do teor do
instrumento, ou das circunstâncias, resultar que se estabeleceu a benefício do credor, ou de
ambos os contratantes.
c) DE GRAÇA – é o termo judicial, ocorre muito dos acordos formalizados, quando o juiz
estabelece o prazo para pagamento.
ENCARGO
Artigo 136. O encargo não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando
expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva.
a. DOAÇÃO: expresso no CC/02, o beneficiário pode ser acionado para cumprir o encargo,
que pode ser executado pelo doador, ou em sua falta, sendo de finalidade social, o MP
(art. 553, parágrafo único, CC). Mas o doador pode também pedir a revogação da doação
que sempre se dá por sentença judicial com EFEITO EX NUNC (art. 555, CC). A
doutrina majoritária NÃO reconhece a possibilidade de promessa de doação, mas
há posição doutrinária distintas.
Se ele não for possível de ser cumprido (artigo 137) e o motivo do contrato tiver sido o
encargo, o contrato perde a validade. O encargo ilícito (viola a lei) ou impossível (física ou
juridicamente) será afastado, mantendo-se o negócio jurídico.
Note-se que o tratamento dispensado à condição suspensiva ilícita e/ou impossível é diferente
do dispensado ao encargo, na medida em que, nela, há a invalidação de todo o negócio; já no
encargo, ele é afastado e será mantido o negócio jurídico. Ou seja, diferentemente da condição
suspensiva, regra geral, o encargo ilícito ou impossível deve ser desconsiderado, mantendo-se
o negócio jurídico, salvo se o encargo foi motivo determinante da liberalidade, caso em que se
invalida também o negócio jurídico (seguindo o mesmo destino da condição suspensiva ilícita
e/ou impossível).
Artigo 137. Considera-se não escrito o encargo ilícito ou impossível, salvo se constituir
motivo determinante da liberalidade, caso em que se invalida o negócio jurídico.
O defeito pode se iniciar já desde o processo mental da vontade até a declaração dessa mesma
vontade. Os defeitos da vontade podem ser aqueles que o agente não declararia ou não
declararia daquele jeito. Outras vezes, o defeito está nos efeitos que se pretende alcançar com
o negócio jurídico, a declaração de vontade não corresponde ao que o agente realmente queria.
ERRO
Há uma diferença no plano teórico entre erro e ignorância, mas o CC não a estabelece. O erro
consiste em uma falsa percepção da realidade; ao passo que a ignorância traduz a
ausência total de conhecimento. A conseqüência do erro é a anulação do negócio jurídico.
No erro, a pessoa se engana sozinha (a pessoa percebe mal os fatos e em razão disso declara
uma vontade que não declararia, ou pelo menos, não o faria da forma que fez), sem ter sido
induzida por ninguém, já que a pessoa tem uma falsa percepção da realidade. É um vício de
consentimento, é uma falsa noção da realidade, está no plano psicológico.
Para invalidar o negócio jurídico, o erro deve ser substancial (sem o erro, o negócio jurídico
não teria sido feito).
Nem todo erro pode levar a invalidade do negócio jurídico, deve preencher certos requisitos para
possibilitar a anulação do negócio jurídico (para Pablo Stolze, o erro tem que ser essencial ou
substancial e perdoável):
É o que incide sobre elemento importante do negócio jurídico, é o erro que se opõe ao erro
acidental (não é causa de invalidação do negócio jurídico).
Natureza jurídica do negócio: será essencial quando incidir sobre o tipo de negócio, p. ex., o
sujeito que doar, mas, por erro, acaba declarando a vontade de vender, ou pior, pode estar
querendo vender mas acaba declarando a vontade de doar
Qualidades essenciais: sujeito que queria comprar um anel de prata e compra de latão.
2) Erro real
Erro real: é o que traz real prejuízo (prejuízo efetivo); é um requisito que continua sendo exigido.
3) Erro escusável
Erro escusável: é requisito do CC/16, que consiste no erro que seria cometido por qualquer
pessoa que estivesse nas mesmas circunstâncias. (NÃO É MAIS EXIGIDO NO CC/02). Há
autores, contudo, que entendem persistir esse requisito, como GUSTAVO TEPEDINO.
Pelo enunciado nº 12 da I Jornada de Direito Civil do CJF, “na sistemática do art. 138, é
irrelevante ser ou não escusável o erro, porque o dispositivo adota o princípio da confiança”. 25
Requisito voltado para a pessoa que recebe a declaração de vontade (artigo 138 – erro
perceptível por quem recebe a declaração da vontade), aplicação da Teoria da Auto-
Responsabilidade. Assim, se o erro não poderia ter sido percebido por quem recebe a
declaração, não é capaz de anular o negócio jurídico, visando assim, a proteger a segurança.
Outro aspecto interessante quanto ao receptor da vontade, quando o artigo 144 afirma que: “o
erro não prejudica a validade do negócio jurídico quando a pessoa, a quem a manifestação
de vontade se dirige, se oferecer para executá-la na conformidade da vontade real do
manifestante”. É A CONSAGRAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO DOS NEGÓCIOS
JURÍDICOS, que também está presente em inúmeros outros artigos.
A transmissão errônea da vontade pode ser feita por meios interpostos ou por declaração direta,
sendo que ainda assim será anulável (artigo 141).
O erro de cálculo apenas autoriza a retificação da declaração de vontade, não sendo causa de
anulabilidade (artigo 143).
Artigo 142. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, a que se referir a declaração de vontade,
não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a
coisa ou a pessoa cogitada. (o erro é acidental aqui – por exemplo, testador se refere a filho de
nome José, mas só tem um filho, de nome João. Não há erro, pois é possível identifica a pessoa).
DOLO
Dolo principal
É a substância da relação jurídica, se ele fosse conhecido o negócio jurídico não seria feito. É
requisito previsto no artigo 145. É causa de anulabilidade. Ataca a causa do negócio.
Artigo 145. São os negócios jurídicos anuláveis por dolo, quando este for a sua causa.
Dolo acidental
O negócio jurídico seria feito de qualquer forma, mesmo conhecendo a realidade como um todo,
somente em circunstâncias e condições distintas do que seria feito; esse dolo gera no máximo o
pagamento de perdas e danos.
Não anula o negócio, gerando apenas a obrigação de pagar perdas e danos. É o dolo que
ataca elementos secundários do negócio jurídico.
Artigo 146. O dolo acidental só obriga à satisfação das perdas e danos, e é acidental quando, a
seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo.
Pode gerar ou dolo principal ou acidental, dependendo do que for pode gerar a anulação,
está relacionado à boa-fé objetiva e dever de informação. Muitas vezes, uma das partes
sabe que tem que informar à outra quanto às características, mas não o faz.
Art. 147. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de
fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que
sem ela o negócio não se teria celebrado.
Dolo bilateral
Artigo 150. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular
o negócio, ou reclamar indenização.
Dolo de terceiro
Como regra, o dolo de terceiro não é causa de anulação do negócio jurídico; somente levará à
invalidação se a parte sabia ou, pelas circunstâncias, devesse saber que a outra estava
sendo induzida a erro, caso contrário o negócio é mantido e o terceiro responde pelas perdas
e danos.
Artigo 148. Pode também ser anulado o negócio jurídico por dolo de terceiro, se a parte quem
aproveite dele tivesse ou devesse ter conhecimento; em caso contrário, ainda que subsista o
negócio jurídico, o terceiro responderá por todas as perdas e danos da parte a quem ludibriou.
“Dolus malus”
É má intenção de induzir o outro a erro, é requisito para a caracterização do dolo, para anular o
negócio jurídico, é a vontade de obter vantagem indevida para si ou para outrem. É esse o dolo
que anula.
“Dolus bonnus”
O dolus bonnus tem como limites o CDC (propaganda abusiva ou publicidade enganosa).
COAÇÃO
Artigo 151. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente
fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens.
Parágrafo único. Se disser respeito à pessoa não pertencente à família do paciente, o juiz, com
base nas circunstâncias, decidirá se houve coação. (NOVIDADE DO CC/02)
A figura do homem médio não pode ser utilizada, porque a coação é sempre apreciada em
concreto, nos termos do artigo 152.
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade
dela.
A coação (violência que é a causa da vontade) pode ser física ou moral (psicológica) (vis
compulsiva), sendo a última que consiste em uma pressão ou argumentação.
A violência física (vis absoluta) para parte da doutrina consiste em nulidade, por ter-se suprimido
a vontade. Godoy e Pablo:
Requisitos específicos
A coação para invalidar o negócio jurídico deve se revestir de alguns requisitos específicos:
2) A ameaça deve ser grave, ou seja, deve ser uma ameaça séria capaz de incutir temor na
vítima; é uma ameaça que infunde receio à vítima, que se sente atemorizada, e por isso, escolhe
declarar a sua vontade, viciada é claro.
Art. 152. No apreciar a coação, ter-se-ão em conta o sexo, a idade, a condição, a saúde, o
temperamento do paciente e todas as demais circunstâncias que possam influir na gravidade
dela.
Ainda considerando a gravidade da ameaça, o CC/02 afirma que não se considera coação a
ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial (artigo 153).
Assim, o simples temor reverencial afasta o requisito da gravidade da coação.
3) A ameaça deve ser injusta, porque se a ameaça for feita por um exercício regular de direito,
não há qualquer invalidade do negócio jurídico não se considera coação a ameaça do
exercício normal de um direito (artigo 153).
4) A ameaça de dano deve ser eminente e atual à pessoa, familiares e amigos íntimos. O dano
tem que ser próximo, imediato ou atual, pois, se não for assim, o dano não provoca temor
suficiente que justifique a prática de um ato.
Coação de terceiro
Na coação feita por terceiro, o negócio será anulado se o beneficiário sabia ou devesse saber
da coação; em tal caso, responderá solidariamente pelas perdas e danos. Se o beneficiário não
sabia ou não tivesse como saber, o negócio é mantido e o terceiro responde sozinho pelo perante
o prejudicado.
Artigo 154. Vicia o negócio jurídico a coação exercida por terceiro, se dela tivesse ou devesse
ter conhecimento a parte a que aproveite, e esta responderá solidariamente com aquele por
perdas e danos.
No CC/16, a coação de terceiro sempre viciava o negócio jurídico, agora não, somente vicia se
houver ciência ou devesse haver ciência da parte beneficiada, e nesse caso responderá
solidariamente com o terceiro por perdas e danos.
Artigo 155. Subsistirá o negócio jurídico, se a coação decorrer de terceiro, sem que a parte a que
aproveite dela tivesse ou devesse ter conhecimento; mas o autor da coação responderá por
todas as perdas e danos que houver causado ao coacto.
LESÃO
Art. 157. Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência,
se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta.
§ 1o Aprecia-se a desproporção das prestações segundo os valores vigentes ao tempo em que
foi celebrado o negócio jurídico.
§ 2o Não se decretará a anulação do negócio, se for oferecido suplemento suficiente, ou se a
parte favorecida concordar com a redução do proveito.
É uma novidade no CC/02, mas não é uma novidade no sistema jurídico, porque já existia no
CDC (cláusula abusiva: sendo a lesão causa de nulidade absoluta). (artigos 39, V, e 51, IV)
A primeira lei que constou a lesão foi a lei criminal Lei 1521/51 (Lei de Economia Popular). É
uma reação ao abuso do poder econômico, principalmente, com o surgimento do contrato de
adesão, o conteúdo do contrato está com um desequilíbrio, por meio de uma prestação
excessivamente onerosa.
REQUISITOS
REQUISITO OBJETIVO
No CDC (não há exigência de requisito subjetivo, basta o requisito objetivo), já existia a previsão
de lesão, mas sem nominá-la como tal. O CDC afirma que é uma causa de revisão de qualquer
dispositivo contratual que represente uma excessiva desvantagem para si, com
consequente vantagem do fornecedor, autorizando o juiz a invadir o contrato e reequilibrar a
situação. O legislador consumerista exige que seja um desequilíbrio excessivo.
REQUISITOS SUBJETIVOS
Esse requisito depende do que o ordenamento exige, pode a lei exigir ou não.
Ora diz respeito a quem está levando desvantagem no negócio, ora a quem está levando
vantagem no negócio. Quando relacionado com o indivíduo que leva desvantagem, o lesado,
o requisito subjetivo pode ser ESTADO DE NECESSIDADE ou ESTADO DE PERIGO ou
INEXPERIÊNCIA.
Esse dolo de aproveitamento consiste no fato de que é exigível que quem está levando vantagem
saiba ou deva saber do estado de necessidade ou estado de perigo ou inexperiência do lesado.
Pablo: o legislador NÃO exigiu o DOLO DE APROVEITAMENTO. Por isso, Moreira Alves afirma
que a lesão é objetiva. O CC/02 não o exige para a configuração da lesão. Assim a inexperiência
ou o estado de necessidade não precisam ser conhecidos de quem está levando vantagem.
Godoy: acredita que o dolo de aproveitamento está presumido de maneira relativa (mas essa
matéria é aberta).
Enunciado nº 150 do CJF: “ a lesão de que trata o art. 157 do CC não exige o dolo de
aproveitamento”. 26
É o mesmo instituto do direito penal, SALVO, se decorrer de risco à pessoa, porque aí é estado
de perigo e não lesão.
Inexperiência
Não pode ser confundida com incapacidade, não é que o lesado é incapaz, ele é plenamente
capaz; também não é uma hipótese de erro (percepção errônea da realidade), o inexperiente
entende bem os fatos, mas avalia mal a extensão e as conseqüências da obrigação que está
assumindo, por ser um indivíduo pouco versado no negócio que está entabulando.
ESTADO DE PERIGO
É um vício parecido com a coação, o sujeito está sob ameaça de ocorrência de um dano iminente,
para resolver a situação, o agente acaba realizando um negócio em situações bastante
desfavoráveis, o perigo é causado por situação natural ou por terceiro. Exemplo: judeus que
venderam suas casas na Alemanha nazista.
O estado de perigo causará a anulação do negócio jurídico (artigo 172). Está associado a
PERIGO FÍSICO, perigo voltado para as pessoas e não para as coisas.
CRÍTICAS
Godoy defende que a melhor opção seria a possibilidade de revisão como estabelece o CDC
para as hipóteses de anulação por lesão e por estado de perigo.
SIMULAÇÃO
A simulação está nos artigos 167 e 168 e gera no ato nulidade absoluta. Pode ocorrer em várias
situações, todas fraudulentas, causando prejuízo a outrem ou à lei, sendo um vício social (defeito
social da obrigação).
Art. 167. É nulo o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na
substância e na forma.
§ 1o Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I - aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se
conferem, ou transmitem;
II - contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III - os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o Ressalvam-se os direitos de terceiros de boa-fé em face dos contraentes do negócio jurídico
simulado.
MODALIDADES
A simulação sempre esconde um efeito jurídico oculto, mas dependendo do fato de esconder ou
não outro negócio jurídico, ela pode ser dividida em:
O negócio jurídico existe, mas não existe do jeito em que foi declarado. Esconde um outro
jurídico, cujo efeito é proibido por lei. Exemplo: compra e venda por preço menor que esconde a
compra e venda por preço maior; quando houver interposta pessoa.
Negócio jurídico simulado é nulo, mas o negócio jurídico dissimulado pode ser válido, desde que
preenchidos os requisitos. A possibilidade de fazer valer o negócio jurídico oculto faz parte da
punição a quem simulou.
Simulação absoluta
O negócio jurídico é totalmente distinto do que está expresso. Esconde um efeito jurídico
indevido, sem ser um outro negócio jurídico. As partes criam um negócio jurídico destinado a não
gerar efeito nenhum.
Artigo 167. É NULO o negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido
for na substância e na forma.
§ 1o. Haverá simulação nos negócios jurídicos quando:
I – aparentemente conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente
se conferem, ou transmitem;
II – contiverem declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira;
III – os instrumentos particulares forem antedatados, ou pós-datados.
§ 2o. RESSALVAM-SE OS DIREITOS DE TERCEIROS DE BOA-FÉ em face dos contraentes do
negócio jurídico simulado.
Artigo 168. As nulidades dos artigos antecedentes podem ser alegadas por qualquer interessado,
ou pelo MP, quando lhe couber intervir.
Parágrafo único. As nulidades devem ser pronunciadas pelo juiz, quando conhecer do negócio
jurídico ou dos seus efeitos e as encontrar provadas, não lhe sendo permitido supri-las, ainda
que a requerimento das partes.
Enunciado 294 do CJF: sendo a simulação uma causa de nulidade do negócio jurídico, pode ser
alegada por uma das partes contra a outra.30
É vício social. O sujeito declara exatamente a vontade que quer declarar, os seus efeitos
jurídicos não estão ocultos, não há disfarce e não há mentira, mas os seus efeitos causam
prejuízo a credor. É caso de anulação do negócio jurídico. Godoy: seria melhor que o CC
estabelece a ineficácia do ato. Na fraude à execução, a sanção é a ineficácia. Contudo, tanto o
CC fala em anulação, quanto a Súmula 195 do STJ, ao afirmar: “Em embargos de terceiros, não
se anula ato jurídico, por fraude contra credores”.
A fraude contra credores tem uma vítima específica que é o credor. O patrimônio do devedor é
garantidor do crédito dos credores.
SUJEITOS ENVOLVIDOS
REQUISITO OBJETIVO
É o eventus damni (o patrimônio do devedor alienante se torna insuficiente para fazer frente ao
crédito do credor). A idéia de solvência é a de que há patrimônio suficiente para arcar com seus
débitos, quando isso não acontece trata-se de insolvência. Na fraude, é feito um negócio jurídico
que reduzirá o devedor à insolvência, ou vai piorar a sua situação de insolvência.
REQUISITO SUBJETIVO
A prova da existência desse requisito pode ser dispensada quando se tratar de ato de
alienação GRATUITO (a má-fé do devedor é presumida, nesse caso); assim, nem se cogita
da necessidade de ciência do terceiro adquirente, que não está despendendo nada para adquirir.
Veja que o requisito subjetivo SEMPRE deve existir, mas nos negócio gratuitos a prova é
dispensada, já que se presume a existência do requisito.
São casos em que o consilium fraudis é presumido, ou seja, presume-se a má-fé do terceiro
adquirente:
Lembre-se: só a má-fé do terceiro não configura o elemento subjetivo, mas pode existir
aliada a do devedor; nesse caso, há importância em saber se o terceiro também atuou,
pois se o terceiro foi co-fraudador, será parte passiva na ação pauliana, em litisconsórcio
necessário com o devedor, conforme art. 161, CC. Já decidiu o TJDFT nesse sentido do
litisconsórcio necessário (TJDFT, 1ª T., Ap. Cív. 120842, Des. Waldir Leôncio Júnior, j.
20/09/1999).
AÇÃO PAULIANA
A AÇÃO PAULIANA (ação revocatória e anulatória em nada diferente da ação que será ajuizada
contra os demais vícios de anulação) é o instrumento utilizado pelo prejudicado.
O bem protegido na ação pauliana será revertido para todos os demais credores.
Quando o cidadão quer fraudar, ele é rápido, pode acontecer que no pólo passivo figure o terceiro
adquirente de má-fé, o terceiro de boa-fé não será réu da ação pauliana, note-se que nos
contratos de boa-fé, não pode o terceiro ser colocado no pólo passivo. Se estiver de boa-fé a lei
resguarda o terceiro, o credor não irá poder perseguir o bem. Nos negócios gratuitos, a má-fé é
presumida.
A jurisprudência tem permitido que seja desconstituída a personalidade jurídica para ser
alcançado o patrimônio particular do sócio, de forma a afastar a fraude contra credores.
O bem de família fica afastado, para não prestigiar a má-fé do devedor; o imóvel que retornou
ao acervo do devedor em decorrência da pauliana não pode ser protegido pelo bem de família.
Acontece que existe uma parcela (minoritária) da doutrina, com base em LIEBMAN,
representada por YUSSEF CAHALI, entende que a sentença na paulina é apenas
DECLARATÓRIA da ineficácia jurídica do negócio fraudulento em face do credor prejudicado,
ou seja, o negócio é válido, mas é ineficaz em relação do credor. A vantagem dessa posição
reside no fato de que se o devedor conseguir dinheiro e pagar ao credor o negócio é válido, mas
INEFICAZ em face do credor (PABLO).
OBS: Freitas Câmara, além dessas duas categorias, traz uma terceira, que chama “alienação de
bem penhorado”, que seria mais que uma fraude à execução, pois se aliena o bem APÓS o ato
de constrição (penhora) na execução. Nesse caso, a ineficácia do ato não depende nem de
comprovar eventus damni (redução à insolvência), como necessita na fraude contra credores ou
fraude à execução.
De acordo com a gravidade dos vícios dos atos jurídicos, o legislador estabelece uma graduação
para o vício, estabelecendo gradação na sanção (= reação do ordenamento jurídico),
escolhendo uns casos com sanção mais grave e mais séria e outros a sanção é menos grave,
porque considera que o interesse seja menos da sociedade e mais das partes envolvidas no ato
jurídico.
A nulidade absoluta será nas circunstâncias de interesse público, mais grave, que o juiz pode
acolher de ofício. Já a nulidade relativa (anulabilidade) interesse privado, somente pode ser
alegada pelos interessados, somente tem eficácia entre as partes, pode sofrer convalescimento.
Há um plano logicamente antecedente que determina a existência ou não do ato jurídico. Existem
três planos de análise do negócio jurídico: existência, validade e eficácia.
a. Absolutamente incapaz
e. For preterida alguma solenidade que a lei considere essencial para a sua
validade
CARACTERÍSTICAS
NULIDADES ANULABILIDADES
Não há nulidades sem texto, sempre devem os casos estar previstos na lei.
Somente as partes podem alegar, ou seja, somente
Qualquer pessoa interessada pode alegar, aqueles que tenha legítimo interesse jurídico na
inclusive o MP. propositura da ação anulatória (artigo 177).
O MP não pode alegar.
Deve o juiz conhecer de ofício,
independentemente de alegação e de ser a
discussão principal do processo.
O juiz não pode conhecer de ofício
EXCEÇÃO: Há dispositivos da lei que estabelecem
nulidades que não podem ser acolhidas de ofício
pelo juiz, p. ex., nulidades do casamento (art. 1549,
CC).
O negócio jurídico nulo NÃO é suscetível de
confirmação, nem convalesce pelo decurso de
Pode ser confirmado pelas partes, salvo direito de
tempo (artigo 169), ou seja, o nulo é
terceiro (art 172 a 175). PABLO afirma que deve ser
IMPRESCRITÍVEL. Admite-se a repetição.
terceiro de BOA-FÉ.
Dizia no CC/16 que o nulo teria que prescrever
Ato de confirmação deve conter a substância do negócio
mesmo que em prazo maior, agora o CC/02 é
celebrado e a vontade expressa de mantê-lo (art 173); a
expresso a dizer que o nulo não prescreve. Godoy:
confirmação pode ser também tácita (art.175),
isso está errado quando se tratar de direitos
comportamento no sentido de confirmar o negócio.
patrimoniais, podendo causar graves injustiças.
PABLO: os efeitos patrimoniais não sofrem os
A anulabilidade DECAI, se a lei não estabelecer prazo
efeitos da imprescritibilidade, a DECLARAÇÃO é
específico, o prazo será de 02 anos. Ação anulatória se
imprescritível, a condenação, não o é, está
submete aos prazos decadenciais:
submetido ao prazo prescricional de 03 anos. A
04 anos = prazo clássico mais conhecido, contado nos
imprescritibilidade refere-se à declaração de
termos do art. 178.
nulidade absoluta do negócio jurídico, muito
02 anos = nos demais casos não constantes no art. 178,
embora, eventual pretensão condenatória de
como determina o art. 179.
natureza patrimonial seja prescritível no prazo
de lei.
Não gera qualquer efeito direto (p. ex. o comprador
não é comprador, não gera efeito de compra e
venda), de tal forma que o reconhecimento é feito
A decisão do juiz que reconhece uma anulabilidade é de
por decisão com natureza DECLARATÓRIA. Mas,
natureza CONSTITUTIVA NEGATIVA ou
como se verá, pode produzir, excepcionalmente,
DESCONSTITUTIVA.
efeitos indiretos, sendo eficaz nesse ponto. E há
casos, como casamento putativo, que gera
efeitos diretos (é muito excepcional).
Efeito ex nunc = ERRADO. PABLO: disse que o efeito
é ex tunc, com base no novo art. 182, CC. E a sentença
anulatória é uma sentença desconstitutiva, realmente,
99% dessas sentenças tem efeitos ex nunc, ou seja, para
o futuro. Mas nesse caso específico a sentença anulatória
tem eficácia retroativa, tem efeito EX TUNC, para
recompor as partes ao estado anterior (status quo ante),
Efeito ex tunc
nos termos do artigo 182 do CC. Ressalte-se que isso
ainda está sendo objeto de acirrada discussão,
havendo posições de ambos os lados. Por exemplo,
Francisco Amaral, Caio Mário e Sílvio Venosa
continuam a entender que é ex nunc. Já Sílvio
Rodrigues, Pablo Stolze, Leonardo Mattieto entendem
ser ex tunc.
Art. 178. É de quatro anos o prazo de decadência para pleitear-se a anulação do negócio
jurídico, contado:
I - no caso de coação, do dia em que ela cessar;
II - no de erro, dolo, fraude contra credores, estado de perigo ou lesão, do dia em que se
realizou o negócio jurídico;
III - no de atos de incapazes, do dia em que cessar a incapacidade.
Art. 179. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo
para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato.
Art. 184. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não
o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da obrigação principal
implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal.
NULIDADES
IMPORTANTE: Podem gerar EFEITOS INDIRETOS (p. ex. compra e venda nula não gera efeitos diretos de
compra e venda, mas pode justificar a posse do comprador). Portanto, podem ser eficazes.
Pode gerar o efeito da CONVERSÃO SUBSTANCIAL (artigo 170), que consiste na conversão do negócio
jurídico nulo (o anulável possui outros remédios) em outro negócio jurídico válido, desde que respeitados
dois requisitos:
a) presença dos requisitos do negócio jurídico novo no negócio jurídico nulo (negócio jurídico de
compra e venda de imóvel nulo porque feito por escritura particular) e
b) as partes deveriam querer o negócio jurídico novo se soubessem da nulidade (pode ser
aproveitada como promessa de compra e venda, desde que se possa concluir que as partes, se
soubessem da necessidade de escritura pública o teriam feito)
Esse instituto tem pertinência com o PRINCÍPIO DA CONSERVAÇÃO. A conversão substancial é uma medida
sanatória, por meio da qual aproveitam-se os elementos materiais do negócio jurídico inválido, convertendo-o
em outra categoria de negócio válido e de fins lícitos. (KARL LARENZ).
Pode gerar o efeito da CONVERSÃO APARENTE – o tipo negocial é o mesmo, p. ex., escritura pública de
compromisso de compra e venda, que não é válida como pública, mas pode ser aproveitada como instrumento
particular, que também valida o compromisso de compra e venda.
TERCEIRO DE BOA-FÉ
Artigo 1247. Se o teor do registro não exprimir a verdade, poderá o interessado reclamar que se
retifique ou anule.
Parágrafo único. Cancelado o registro, poderá o proprietário reivindicar o imóvel,
independentemente da boa-fé ou do título do terceiro adquirente.
PLANO DA EFICÁCIA
Não basta que o ato seja existente e válido, é preciso que possa produzir os efeitos almejados.
Orlando Gomes estabelece uma distinção entre os atos ineficazes e inválidos O negócio é
inválido quando defeituoso em seus pressupostos e requisitos. Diz-se ineficaz quando, embora
válido, não produz os efeitos normais devido a obstáculo estranho aos seus elementos
essenciais, como a necessidade de prática de ulteriores atos para se tornar eficaz ou implemento
de condição ou advento de termo.
Em que pese a distinção entre os atos ineficazes e os atos inválidos, vale registrar que os atos
ou negócios anuláveis serão eficazes até que lhe seja decretada a anulação, tanto que é negócio
que pode ser convalidado pelo decurso do tempo. A eficácia do negócio é, pois, condicionada
ao não exercício do direito a invocar a sua invalidade.
Observe-se, entretanto, que em algumas hipóteses (raras que se diga), os atos jurídicos nulos
também produzem efeitos, como por exemplo, o casamento putativo. Assim, nos termos do artigo
1561, do Código Civil de 2002, se o casamento, mesmo nulo, for contraído de boa-fé por ambos
os cônjuges, produzirá efeitos em relação aos filhos e aos próprios cônjuges até que seja
decretada a sua anulação. E pode produzir efeitos indiretos, como vimos.
.
4. DAS MODALIDADES DE OBRIGAÇÕES:
Aplica-se também para as obrigações de dar coisa certa, o princípio jurídico de que
o acessório segue o principal. Dessa forma, não resultando o contrário do título ou das
circunstâncias do caso, o devedor não poderá se negar a dar ao credor aqueles bens que, sem
integrar a coisa principal, secundam-na por acessoriedade (art. 233).
O CC prevê em seu art. 238 que “se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta,
sem culpa do devedor, se perder (total) antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação
se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda”. De qualquer forma, subsiste a
regra de que a coisa perece para o dono (credor), que suportará o prejuízo, sem direito à
indenização, considerando-se a ausência de culpa do devedor.
Em caso de simples deterioração, o art. 240 estipula que: “se a coisa restituível se
deteriorar (parcial) sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a
indenização; se por culpa do devedor, observar-se-á o disposto no art. 239”.
Por sua vez, se a coisa se perde ou se deteriora por culpa do devedor, o art. 239
dispõe que: “se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente, mais
perdas e danos”.
BENFEITORIAS - boa-fé: necessárias, úteis (indenização pelo valor atual e direito de retenção)
e voluptuárias (levantá-las);
- má- fé: necessárias (indenização pelo valor atual ou custo).
FRUTOS - boa-fé: ficar com os percebidos; restituir os colhidos por antecipação e os pendentes,
deduzidas as despesas da produção e custeio.
- má-fé: responde por todos os frutos colhidos e percebidos, bem como, pelos que, por
culpa sua, deixou de perceber; tem direito às despesas de custeio e produção.
O art. 315 dispõe que: “as dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento,
em moeda corrente e pelo valor nominal, salvo o disposto nos artigos subsequentes”. Consoante
se depreende dessa regra legal, é o princípio do nominalismo que regula as denominadas
dívidas de dinheiro. Por força dessa regra, assevera Carlos Roberto Gonçalves, considera-se
“como valor da moeda o valor nominal que lhe atribui o Estado, no ato de emissão ou cunhagem.
De acordo com o referido princípio, o devedor de uma quantia em dinheiro libera-se entregando
a quantidade de moeda mencionada no contrato ou no título da dívida, e em curso no lugar do
pagamento, ainda que desvalorizada pela inflação, ou seja, mesmo que a referida quantidade
não seja suficiente para a compra dos mesmos bens que podiam ser adquiridos, quando
contraída a obrigação”. Nada impede, outrossim, a adoção de cláusulas de escala móvel, para
que se realize a atualização monetária da soma devida, segundo critérios escolhidos pelas
próprias partes.
Ao lado das obrigações de dar coisa certa, figuram as obrigações de dar coisa
incerta, cuja prestação consiste na entrega de coisa especificada apenas pela espécie e
quantidade. Trata-se das chamadas obrigações genéricas. Nesse sentido, clara é a norma do
art. 243 do CC: “a coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade”.
Ressalte-se, entretanto, que essa indeterminabilidade do objeto há que ser meramente relativa.
A escolha, em princípio, cabe ao devedor, uma vez que o CC, em quase todas as
suas normas, prefere o devedor, quando a vontade das partes não houver estipulado a quem
assiste determinado direito (art. 244, CC). Essa liberdade de escolha, contudo, não é absoluta,
eis que o devedor não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a dar a melhor (art. 244: “nas
coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o
contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado
a prestar a melhor”). Por óbvio, se nas obrigações de dar coisa incerta, a prestação é inicialmente
indeterminada, não poderá o devedor, antes de efetuada a sua escolha, alegar perda ou
deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito (art. 246). O gênero, segundo
tradicional entendimento, não perece jamais.
Feita a escolha, as regras que passarão a ser aplicadas serão aquelas previstas
para as obrigações de dar coisa certa (art. 245, CC).
OBRIGAÇÕES DE FAZER
A obrigação de fazer será fungível quando não houver restrição negocial no sentido
de que o serviço seja realizado por outrem. Atento a isso, o CC admite a possibilidade de o fato
ser executado por terceiro, havendo recusa ou mora do devedor. Nos termos do seu art. 249: “se
o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar à custa do
devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível”.
Por outro lado, se ficar estipulado que apenas o devedor indicado no título da
obrigação pode satisfazê-la, estaremos diante de uma obrigação infungível. Trata-se das
chamadas obrigações personalíssimas (intuitu personae), cujo adimplemento não poderá ser
realizado por qualquer pessoa, em atenção às qualidades especiais daquele que se contratou.
Tais pessoas não poderão, sem prévia anuência do credor, indicar substitutos, sob pena de
descumprimento da obrigação personalíssima pactuada.
Depreende-se ter sempre a natureza infungível, haja vista que toda omissão é uma
atitude pessoal e intransferível do devedor. Difere, portanto, da obrigação de fazer que pode
comumente ser satisfeita por terceiros, na base da fungibilidade.
As relações jurídicas que criam obrigações de não fazer são aquelas que mais
cerceiam a liberdade do contratante. Assim, poderá haver uma deliberação judicial no sentido de
restringir o conteúdo de tais prestações, quando ofensivas à ordem econômica ou a direitos
fundamentais do ser humano.
A outro lado, para os títulos executivos extrajudiciais, com obrigação líquida, certa
e exigível de entregar coisa (art. 585 do CPC), mantém-se a tutela erigida pelo art. 621 do CPC,
mediante o ajuizamento de ação de execução, capaz de propiciar ao credor a imissão na posse
do bem imóvel ou a busca e apreensão do bem móvel desejado, caso o réu recuse-se a entregar
voluntariamente a coisa no prazo de 10 dias contados da citação.
Outra novidade da Lei 10.444/02 concerne ao parágrafo único do art. 621 do CPC,
que permite ao juiz a fixação de multa por dia de atraso no cumprimento da obrigação. As
astreintes possuem finalidade coativa, constrangendo o devedor a cumprir a tutela específica.
Pela nova sistemática, na execução de título extrajudicial, que segue o rito do art.
621 e ss. do CPC, o executado será citado para, em dez dias, entregar a coisa ao exequente.
Feita a entrega, extingue-se a execução. É facultado ao executado depositar a coisa em juízo
nesse mesmo prazo de dez dias, a fim de escapar da multa que pode ser fixada pelo juiz no
momento em que despachar a inicial da execução (art. 621, parágrafo único, CPC). Já os
embargos, cuja interposição independe do depósito, poderá ser interposto no prazo de 15 dias,
contados da juntada aos autos do mandado de citação (arts. 738 e 736 do CPC).
Para as obrigações de dar quantia em dinheiro, caberá a execução por quantia certa
(art. 646 do CPC), restrita aos títulos executivos extrajudiciais. Em se tratando de título executivo
judicial, o cumprimento da obrigação se dará através do Cumprimento de Sentença, previsto no
art. 475-I e ss. do CPC, com redação determinada pela Lei 11.232/2005. Diversamente das
demais modalidades de execuções de obrigações de dar, a decorrente de dívida por quantia
certa é conhecida como execução genérica, pois o credor detém livre acesso a qualquer um
dos bens que compõem o patrimônio do devedor, visando a convertê-los em dinheiro
(expropriação: adjudicação, alienação particular ou hasta pública e usufruto). Já nas
modalidades de dar coisa certa e incerta, fala-se de execuções específicas, eis que o credor
circulará restritamente pelo patrimônio do devedor, sendo-lhe apenas facultado buscar os bens
voluntariamente recusados.
A execução por quantia certa é igualmente oportunizada quando restar frustrada a
execução específica – consistente na busca da prestação in natura -, por haver o objeto da
obrigação sido extraviado ou danificado.
O art. 461 do CPC (art. 84 do CDC) permite ao juiz impor ao devedor a observância
estrita do que foi objeto da convenção entre as partes, concedendo ao credor duas formas
alternativas de implementação da tutela inibitória. Primeiramente, a tutela específica da
situação a que originariamente o autor faria jus. Sendo materialmente impossível o cumprimento
da prestação originária, ou entendendo o magistrado que outra medida poderá atender ao credor,
porém de maneira menos gravosa ao devedor, conceder-se-á resultado prático equivalente
ao autor da ação, por meio da tutela assecuratória (inespecífica), mediante providências
alternativas exigidas ao réu.
Em arrimo à prestigiada tutela inibitória, não se olvide ainda da letra dada ao art.
287 do CPC que permite a imposição de sanção pecuniária para o eventual descumprimento da
sentença ou da decisão antecipatória de tutela.
Vale ainda mencionar que, quanto às obrigações de não fazer, caso expressa em
título executivo extrajudicial, a execução se processará pela execução de obrigação de fazer e
ou de obrigação por quantia certa relativamente às perdas e danos. Isso porque se estará diante
de uma situação de descumprimento da obrigação (de não fazer), cujas opções serão a de
retornar ao estado anterior (desfazendo o que foi feito, que importa em um fazer) mais
indenização por perdas e danos; ou simplesmente perdas e danos quando não for possível o
desfazimento (ditas instantâneas, como no caso de obrigação de não divulgar determinado
segredo). Note-se, ainda, que, na execução de obrigação de não fazer, não se está diante de
uma alternativa, mas de uma cumulação. O exequente obterá o desfazimento (quando possível:
assim consideradas as obrigações de não fazer permanentes) por terceiro à custa do executado
e, além disso, receberá as perdas e danos.
Enfim, torna-se a exceção as perdas e danos, razão pela qual faz-se mister
propugnar por uma interpretação mais consentânea e lógica do art. 248 do CC, ou seja, tal regra
somente pode ser aplicada quando não é mais possível o cumprimento da obrigação ou, não
tendo o credor mais interesse na sua realização – ante o inadimplemento do devedor -, o autor
da ação assim o pretender. Obviamente, a busca da tutela específica não exclui a indenização
pelas perdas e danos ocorridos até a data da realização concreta da obrigação de fazer
submetida à apreciação judicial.
Obrigações fracionárias
Nas obrigações fracionárias, concorre uma pluralidade de devedores ou credores,
de forma que cada um deles responde apenas por parte da dívida ou tem direito apenas a uma
proporcionalidade do crédito. Fracionárias diz respeito a fração.
As dívidas de dinheiro, por exemplo, são, em princípio, fracionárias (ex: art. 1371).
Tais obrigações, por óbvio, pressupõem a divisibilidade da prestação.
a) cada credor não pode exigir mais do que a parte que lhe corresponde, e cada
devedor não está obrigado senão à fração que lhe cumpre pagar;
b) para os efeitos da prescrição, pagamento de juros moratórios ou nulidade da
obrigação e cumprimento de cláusula penal, as obrigações são consideradas autônomas, não
influindo a conduta de um dos sujeitos, em princípio, sobre o direito ou dever dos outros.
Obrigações conjuntas
Também chamadas de unitárias ou de mão comum. Nesse caso, concorre uma
pluralidade de devedores ou credores, impondo-se a todos o pagamento conjunto de toda a
dívida, não se autorizando a um dos credores exigi-la individualmente. São exigidas em conjunto.
Obrigações disjuntivas
Nesta modalidade de obrigação, existem devedores que se obrigam
alternativamente ao pagamento da dívida. Vale dizer, desde que um dos devedores seja
escolhido para cumprir a obrigação, os outros estarão, consequentemente, exonerados,
cabendo, portanto, ao credor a escolha do demandado.
Diferem das obrigações solidárias por lhes faltar a relação interna que é própria do
mecanismo da solidariedade, justificando, nesta última, o direito regressivo do devedor que paga.
Obrigações solidárias
A solidariedade
Existe solidariedade quando, na mesma obrigação, concorre uma pluralidade de
credores, cada um com direito à dívida toda (solidariedade ativa), ou uma pluralidade de
devedores, cada um obrigado à dívida por inteiro (solidariedade passiva). Nada impede que se
fale também em solidariedade mista, ainda que não haja previsão legal específica.
Principais postulados:
a) a solidariedade só se manifesta nas relações externas, eis que cada
credor poderá exigir o pagamento de qualquer devedor no todo, como se fosse o único
existente, assim como o devedor poderá exonerar-se pagando o total a qualquer credor.
Já nas relações internas, prevalece o direito apenas fracionário de reembolso dos co-
credores que não receberam suas partes e o direito de regresso do devedor que pagou
o preço em face dos co-devedores;
b) observe-se que existe unidade objetiva da obrigação (o objeto é
único), embora concorram mais de um credor ou devedor, cada um deles com direito ou
obrigado a toda a dívida;
c) a solidariedade não se presume (art. 265 do CC). Nasce em virtude de
convenção das partes ou imposição legal (arts. 932 e 942, parágrafo único, CC e art. 2°,
§2°, CLT).
Solidariedade ativa
Traduz um concurso de credores na mesma obrigação, cada um com direito a exigir
a dívida por inteiro (art. 267 do CC). É instituto pouco utilizado, pelo risco de os co-credores não
obterem ressarcimento daquela que recebeu o pagamento, seja por incorrer em insolvência ou
simples desonestidade. Muitos credores optam pela outorga de mandato, eis que os mandatários
agem em nome alheio e em caráter revogável.
O art. 273 dispõe que: “a um dos credores solidários não pode o devedor opor as
exceções pessoais oponíveis aos outros”. Exceção, aqui, significa defesa. Assim, se apenas um
dos credores atuou dolosamente quando da celebração do contrato, estando todos os demais
de boa-fé, a exceção não poderá ser oposta contra todos.
Por fim, o inusitado art. 274 do CC penetra na esfera do processo civil para
compatibilizar os limites subjetivos da coisa julgada na solidariedade ativa. Estabelece que: “o
julgamento contrário a um dos credores solidários não atinge os demais; o julgamento favorável
aproveita-lhes, a menos que se funde em exceção pessoal ao credor que o obteve”.
Solidariedade passiva
Existe solidariedade passiva quando, em determinada obrigação, concorre uma
pluralidade de devedores, cada um deles obrigado ao pagamento de toda a dívida. (art. 275: “O
credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcial ou totalmente, a
dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam
obrigados solidariamente pelo resto. Parágrafo único. Não importará renúncia da solidariedade
a propositura de ação pelo credor contra um ou alguns dos devedores”). Observe-se que não se
cogita de concentração do débito o fato de o credor optar preferencialmente por um dos
devedores, por tratar-se de litisconsórcio passivo facultativo.
O devedor que for demandado poderá opor ao credor as exceções que lhe forem
pessoais e, bem assim, as defesas que forem comuns a todos os devedores. Não lhe aproveita,
contudo, as defesas pessoais a outro devedor.
Subsidiariedade
A responsabilidade subsidiária é uma forma especial de solidariedade, com
benefício ou preferência de excussão de bens de um dos obrigados.
Obrigações alternativas
As obrigações alternativas ou disjuntivas são aquelas que têm por objeto duas ou
mais prestações, sendo que o devedor se exonera cumprindo apenas uma delas. São, portanto,
prestações de objeto múltiplo ou composto.
Como regra geral, o direito de escolha cabe ao devedor, se o contrário não houver
sido estipulado no título da obrigação. (art. 252: “Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao
devedor, se outra coisa não se estipulou”). Entretanto, essa regra geral sofre alguns
temperamentos, consoante deflui da análise dos parágrafos do art. 252:
“§ 1° Não pode o devedor obrigar o credor a receber parte em uma prestação
e parte em outra (princípio da indivisibilidade do objeto).
§ 2° Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção
poderá ser exercida em cada período.
§ 3° No caso de pluralidade de optantes, não havendo acordo unânime entre
eles, decidirá o juiz, findo o prazo por este assinado para a deliberação.
§ 4° Se o título deferir a opção a terceiro, e este não quiser, ou não puder
exercê-la, caberá ao juiz a escolha se não houver acordo entre as partes”.
Interessante notar que o CC não cuidou de estabelecer prazo para o exercício do
direito de escolha. Por isso, a despeito da omissão do CC, o CPC, em seu art. 571, dispõe que:
“Nas obrigações alternativas, quando a escolha couber ao devedor, este será citado para exercer
a opção e realizar a prestação dentro em 10 (dez) dias, se outro prazo não lhe foi determinado
em lei, no contrato, ou na sentença.
§ 1o Devolver-se-á ao credor a opção, se o devedor não a exercitou no
prazo marcado.
§ 2o Se a escolha couber ao credor, este a indicará na petição inicial da
execução”.
Por fim, impende salientar que é possível a retratação do devedor, desde que prove
que incorreu em erro substancial, ignorando que a prestação era alternativa. A retratação só é
possível se demonstrar vício de consentimento (que, na realidade, não se cuida de retratação,
mas de anulação da “opção” manifestada, nos termos do art. 171, II, do CC/2002).
Obrigações facultativas
O CC não cuidou dessa espécie obrigacional, também denominada obrigação com
faculdade alternativa ou obrigação com faculdade de substituição.
Obrigações cumulativas
As obrigações cumulativas ou conjuntivas são as que têm por objeto uma
pluralidade de prestações, que devem ser cumpridas simultaneamente. Note-se que as
prestações, mesmo diversas, são cumpridas como se fossem uma só, e encontram-se
vinculadas pela partícula conjuntiva “e”.
O CC trata das obrigações divisíveis em seu art. 257 (“Havendo mais de um devedor
ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações,
iguais e distintas, quantos os credores ou devedores”).
Já o art. 258 trata das obrigações indivisíveis (“a obrigação é indivisível quando a
prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão, por sua natureza, por
motivo de ordem econômica, ou dada a razão determinante do negócio jurídico”).
O efeito disso, porém, é muito semelhante à solidariedade, uma vez que o devedor
que paga integralmente a dívida sub-roga-se nos direitos do credor em relação aos outros
coobrigados.
Por outro lado, se a pluralidade for de credores, poderá qualquer deles exigir a
dívida inteira. O devedor se desobrigará em duas hipóteses:
a) pagando a todos os credores conjuntamente
b) pagando a um, dando este caução de ratificação dos outros credores.
Recebendo a dívida por inteiro, o credor deverá repassar aos outros, em dinheiro,
as partes que lhes caibam no total (art. 261). Essa regra se justifica pelo fato de que a coligação
entre os credores decorreu da própria impossibilidade de fracionamento da prestação, e, se
assim foi, os outros deverão se contentar com as suas parcelas em dinheiro.
Finalmente, por força do que dispõe o art. 263 do CC, perde a qualidade de
indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos.
SOLIDARIEDADE INDIVISIBILIDADE
a causa da solidariedade é o a causa é a natureza da
título obrigação
Obrigações condicionais
Trata-se de obrigações condicionadas a evento futuro e incerto. Lembre-se que a
condição é a determinação acessória que faz a eficácia da vontade declarada dependente de
algum acontecimento futuro e incerto. Nesses casos, a aposição de cláusula dessa natureza no
ato negocial subordina não apenas a sua eficácia jurídica, mas, principalmente, os direitos e
deveres decorrentes do negócio jurídico, de tal sorte que enquanto não se implementar a
condição, não poderá o credor exigir o cumprimento da dívida.
Obrigações a termo
Se a obrigação subordinar a sua exigibilidade ou a sua resolução, outrossim, a
evento futuro e certo, estaremos diante de uma obrigação a termo. Em regra, nas obrigações a
termo, poderá o devedor antecipar o pagamento, sem que isso caracteriza enriquecimento sem
causa do credor, eis que apenas a exigibilidade está suspensa.
Obrigações modais
As obrigações modais são aquelas oneradas com encargo imposto a uma das
partes que experimentará um benefício.
Finalmente, se a obrigação não for condicional, a termo ou modal, diz-se que a
obrigação é pura.
Obrigações de meio
A obrigação de meio é aquela em que o devedor se obriga a empreender sua
atividade, sem garantir, todavia, o resultado esperado.
Obrigação de resultado
Nesta modalidade obrigacional, o devedor se obriga não apenas a empreender a
sua atividade, mas, principalmente, a produzir o resultado esperado pelo credor.
Obrigações de garantia
Por fim, parte da doutrina ainda lembra da existência, na classificação das
obrigações quanto ao conteúdo, das chamadas “obrigações de garantia”, que não se enquadram
perfeitamente em nenhuma das duas anteriores.
De fato, tais obrigações têm por conteúdo eliminar riscos que pesam sobre o credor,
reparando suas conseqüências. A eliminação do risco representa bem suscetível de aferição
econômica.
OBRIGAÇÃO NATURAL
Vale salientar que a obrigação natural não se identifica com o mero dever moral,
pois representa uma dívida efetiva, proveniente de uma causa precisa. O objeto de sua prestação
pertence, do ponto de vista ideal, ao patrimônio do credor, de modo que, não cumprida a
obrigação, sofre ele um prejuízo patrimonial, o que não se verifica quando há o descumprimento
de um dever moral.
As obrigações propter rem, ônus reais e as com eficácia real pertencem à categoria
das obrigações híbridas.
As obrigações propter rem decorrem de um direito real sobre determinada coisa,
aderindo a essa e, por isso, acompanhando as modificações de seu titular (exemplos: art. 1.315,
1.297) Cuida-se de uma relação obrigacional que decorre de um direito real. A nota distintiva é
se constituir em um direito pessoal vinculado a um direito real.
Outro exemplo é o contido no art. 576 do CC/2002 (Se a coisa for alienada durante
a locação, o adquirente não ficará obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a
cláusula da sua vigência no caso de alienação, e não constar de registro.), pois a locação pode
ser oposta ao adquirente da coisa se constar do registro.
BIBLIOGRAFIA:
GAGLIANO, Pablo Stolze & PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo Curso de Direito
Civil, São Paulo: Saraiva, 2002, vol. II.
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito das Obrigações - Parte Geral - Sinopses
Jurídicas 5. São Paulo: Saraiva, 2002.
PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, v. 2. Rio de Janeiro:
Forense, 1998.
RODRIGUES, Sílvio. Direito Civil, v. 2. São Paulo: Saraiva, 2002.
ROSENVALD, Nelson. Direito das Obrigações, Rio de Janeiro: Ìmpetus, 2004.
5. DA TRANSMISSÃO DAS OBRIGAÇÕES:
Definição. “É o negocio jurídico pelo qual o credor transfere a terceiro sua posição na
relação obrigacional”.
· É negócio jurídico bilateral, pois exige manifestação de vontade daquele que cede (o
cedente) e daquele que recebe o crédito (cessionário). O devedor, porém, não intervém
no negócio jurídico.
· Capacidade de exercício para as partes. Exige-se, ainda, legitimação do cedente, que
deve ser titular do crédito a ser cedido e ter poder de disposição sobre ele.
· É meramente consensual (não real e, por isso, não exige a entrega imediata do crédito,
que pode estar sujeita a termo, condição ou, quando cartular, sujeita ao endosso).
Não é necessária a tradição do documento.
· Não requer forma especial.
· Pode ser gratuita ou onerosa.
· É causal. Ou não abstrata. Assim, a nulidade do negócio original afeta a cessão. Na
Alemanha é abstrato.
· Pode ser total ou parcial.
Conceito “É um negócio jurídico bilateral, pelo qual o devedor, com anuência expressa ou
tácita do credor, transfere a um terceiro os encargos obrigacionais, de modo que este
assume sua posição na relação obrigacional, substituindo-o” (MHD).
Pressupostos:
Efeitos:
Dos Alimentos:
Elementos do direito a alimentos: (a) vínculo de parentesco, casamento ou união estável; (b)
possibilidade econômica do alimentante; (c) necessidade do alimentando. O critério de fixação
do quantum dos alimentos pelo juiz depende da conciliação desses dois últimos elementos
formadores do denominado binômio alimentar (art. 1.694, CC). A prestação de alimentos em
espécie, ou seja, o sustento do alimentando diretamente pelo alimentante, pode compreender o
dever de hospedagem e o de prestar educação apenas enquanto aquele for menor (art. 1.701,
CC), visto, contudo, que caberá ao juiz, e não ao devedor, fixar a forma de cumprimento da
prestação.
3. O entendimento do eg. Tribunal de origem está de acordo com a orientação desta Corte
Superior, de que, em se tratando de filho maior, a pensão alimentícia é devida pelo seu genitor
em caso de comprovada necessidade ou quando houver frequência em curso universitário ou
técnico, por força do entendimento de que a obrigação parental de cuidar dos filhos inclui a
outorga de adequada formação profissional. Contudo, cabe ao alimentado a comprovação de
que permanece tendo necessidade de receber alimentos, o que não foi o caso dos autos. Nesse
sentido: REsp 1.198.105/RJ, Relatora a Ministra NANCY ANDRIGHI, DJe de 14.9.2011.
4. Agravo regimental não provido.
(AgRg no AREsp 13.460/RJ, Rel. Ministro RAUL ARAÚJO, QUARTA TURMA, julgado em
19/02/2013, DJe 14/03/2013)
Poderá a mulher grávida pleitear alimentos objetivando possibilitar o nascimento com vida do
filho que carrega em seu ventre (ver nova lei de alimentos gravídicos – Lei 11.804/08). No
site do IBDFAM, extraímos artigo sobre o tema: “Os alimentos gravídicos podem ser
compreendidos como aqueles devidos ao nascituro, e, percebidos pela gestante, ao longo da
gravidez, sintetizando, tais alimentos abrangem os valores suficientes para cobrir as despesas
adicionais do período de gravidez e que sejam dela decorrentes, da concepção ao parto,
inclusive as referentes a alimentação especial, assistência médica e psicológica, exames
complementares, internações, parto, medicamentos e demais prescrições preventivas e
terapêuticas indispensáveis, a juízo do médico, além de outras que o juiz considere pertinentes.
Assim, entende-se que o rol não é exaustivo, pois pode o juiz pode considerar outras despesas
pertinentes.
Nesses moldes já afirmava Silvio de Salvo Venosa sobre a legitimidade para a propositura da
ação investigatória:
"São legitimados ativamente para essa ação o investigante, geralmente menor, e o Ministério
Público. O nascituro também pode demandar a paternidade, como autoriza o art. 1.609,
parágrafo único (art. 26 do Estatuto da Criança e do Adolescente, repetindo disposição
semelhante do parágrafo único do art. 357 do Código Civil de 1.916)."
Ainda especificamente a respeito dos alimentos ao nascituro, vale trazer à baila valioso
ensinamento de Caio Mário da Silva Pereira:
"Se a lei põe a salvo os direitos do nascituro desde a concepção, é de se considerar que o seu
principal direito consiste no direito à própria vida e esta seria comprometida se à mãe necessitada
fossem recusados os recursos primários à sobrevivência do ente em formação em seu ventre.
Neste sentido Pontes de Miranda comenta que 'a obrigação alimentar pode começar antes de
nascer, pois existem despesas que tecnicamente se destinam à proteção do concebido e o direito
seria inferior se acaso se recusasse atendimento a tais relações inter-humanas, solidamente
fundadas em exigências da pediatria'.
Silmara J. A. Chinelato e Almeida reconhece que são devidos ao nascituro os alimentos em
sentido lato - alimentos civis - pra que possa nutrir-se e desenvolver-se com normalidade,
objetivando o nascimento com vida.
(...) Têm os nossos Tribunais reconhecido a legitimidade processual do nascituro, representado
pela mãe, tendo decisão pioneira da Primeira Câmara do Tribunal de Justiça de São Paulo,
datada de 14.09.1993 (Ap. Cível n. 193648-1), atribuído legitimidade 'ad causam' ao nascituro,
representado pela mãe gestante, para propor ação de investigação de paternidade com pedido
de alimentos. Concluiu o relator - Des. Renan Lotufo - reportando-se à decisão pioneira no
mesmo sentido do Tribunal do Rio Grande do Sul (RJTJRS 104/418) que 'ao nascituro assiste,
no plano do Direito Processual, capacidade para ser parte como autor ou réu. Representado o
nascituro, pode a mãe propor ação de investigatória e o nascimento com vida investe o infante
na titularidade da pretensão de direito material, até então uma expectativa resguardada'. Na
hipótese de reconhecimento anterior ao nascimento autorizada pelo parágrafo único do art. 1.609
do Código Civil, não se pode excluir a legitimidade do nascituro para a ação de alimentos."
Já enfatizava o Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul acerca dos alimentos em favor de
nascituro, ao decidir que:
"Havendo indícios da paternidade, não negando o agravante contatos sexuais à época da
concepção, impositiva a manutenção dos alimentos à mãe no montante de meio salário mínimo
para suprir suas necessidades e também as do infante que acaba de nascer. Não afasta tal
direito o ingresso da ação de investigação de paternidade cumulada com alimentos."
Diante de tais ensinamentos, dúvidas não restavam de que a tendência apontada pela doutrina
e jurisprudência era é o reconhecimento à mãe gestante da legitimidade para a propositura de
ações em benefício do nascituro. Fato jurídico que foi socorrido e se fez consagrado pela nova
legislação alimentícia através da Lei 11.804/08.
Abrilhanta a Lei de Alimentos Gravídicos a desejada proteção da pessoa humana e dos direitos
fundamentais consagrados na Carta Magna, correspondendo-os ao sistema do direito privado,
gerando a via tão desejada do direito civil-constitucional, considerando assim um grande avanço
da legislação pátria.
A nova legislação entra em contato com a realidade social facilitando a apreciação dos requisitos
para a concessão dos alimentos ao nascituro, devendo a requerente convencer o juiz da
existência de indícios da paternidade, desta forma, este fixará os alimentos gravídicos que
perdurarão até o nascimento da criança, sopesando as necessidades da parte autora e as
possibilidades da parte ré. Note-se que os critérios para a fixação do valor dos alimentos
gravídicos são os mesmos hoje previstos para a concessão dos alimentos estabelecidos no art.
1694 do Código Civil: a necessidade da gestante, a possibilidade do réu - suposto pai -, e a
proporcionalidade como eixo de equilíbrio entre tais critérios. Outro aspecto interessante da nova
lei é o período de condenação ao pagamento dos alimentos gravídicos que se restringe a
duração da gravidez, e com o nascimento, com vida, do nascituro, eles se convertem em pensão
alimentícia. Leva-nos, em ordem contrária, como nos indica a boa justiça, a afirmar que caso
haja a interrupção da gestação, tal é o fato de um aborto espontâneo, por exemplo, extingue-se
de pleno direito os alimentos de forma automática. Isso porque não abrangem os alimentos
gravídicos o disposto na recente Súmula 358 do STJ, que dispõe sobre "o cancelamento de
pensão alimentícia de filho que atingiu a maioridade está sujeito à decisão judicial, mediante
contraditório, ainda que nos próprios autos". Após o nascimento com vida, os alimentos
gravídicos ficam convertidos em pensão alimentícia em favor do menor até que uma das partes
solicite a sua revisão, de acordo com o parágrafo único do art. 6º, da Lei 11.804/08. Nessas
linhas, nada impede, contudo, que o juiz estabeleça um valor para a gestante, até o nascimento
e atendendo ao critério da proporcionalidade, fixe alimentos para o filho, a partir do seu
nascimento. Quanto ao foro competente certo é o do domicílio do alimentado, neste caso a
gestante. O Projeto de Lei que originou a Lei de Alimentos Gravídicos previa a competência do
domicílio do réu, mostrava-se em desacordo com a sistemática adotada, que de boa ordem foi
vetado. Outro ponto de suma importância e que causou controvérsias, encontrava-se no vetado
artigo 9º, que determinava a incidência dos alimentos desde a citação. É direta a possibilidade
de se afirmar que se assim fosse determinado, ou seja, que os alimentos gravídicos somente
fossem devidos apenas depois da citação do réu, provocaria manobras no sentido de se evitar a
concretização do ato, objetivando escapar do oficial de justiça. Talvez fosse possível encontrar
o suposto pai somente após o nascimento do filho, perdendo assim a finalidade da lei. Colidia o
artigo 9º também com a redação da Lei de Alimentos que determina ao juiz despachar a inicial
fixando, desde logo, os alimentos provisórios. Dessa forma, a Lei 11.804/08 adotou a posição
consagrada na doutrina e na jurisprudência, e também expressa legalmente, ou seja, o juiz deve
fixar os alimentos ao despachar a petição inicial. Vislumbra-se através da Lei de Alimentos
Gravídicos a busca incessante pela dignidade da pessoa humana, pessoa esta considerada
desde a sua concepção. Alcança a nova legislação alimentícia as características atinentes
a repersonalização do Direito Civil, a conseqüente despatrimonialização do Direito de Família e
a responsabilização efetiva da parentalidade.
Como afirma Maria Berenice Dias, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Direito de Família
(IBDFAM), em artigo que analisou o Projeto de Lei que deu origem a atual Lei de Alimentos
Gravídicos: "apesar das imprecisões, dúvidas e equívocos, os alimentos gravídicos vêm
referendar a moderna concepção das relações parentais que, cada vez com um colorido mais
intenso, busca resgatar a responsabilidade paterna". Ademais a Constituição Brasileira de 1988
prioriza a necessidade da realização da personalidade dos membros familiares, ou seja, a
família-função, através do princípio da solidariedade familiar, com amparo no art. 3º, inciso I da
CF. Assim como é dever do Estado assegurar a assistência à família na pessoa de cada um dos
que a integram, o que pôde ser alcançado, salvo as intempéries legislativas, com a sanção da
Lei 11.804/08, elencando a pessoa humana como centro da proteção jurídica, ao invés do
individualismo e do patrimonialismo do século passado. Em conclusão, invoca-se palavras de
Jurandir Freire Costa, ao considera que "para que possamos restituir à família a legitima
dignidade que, historicamente, lhe foi outorgada, é preciso colocar em perspectiva seus
impasses, procurando reforçar o que ela tem de melhor e vencer a inércia do que ela tem de
pior". Espera-se que Lei de Alimentos Gravídicos vença os impasses outrora vividos diante da
lacuna que existia em nosso ordenamento jurídico, e reforce as garantias e o melhor interesse
do menor e da gestante” (http://www.ibdfam.org.br/?artigos&artigo=467).
Alimentos devidos entre cônjuges e companheiros – decorrem do dever de mútua assistência,
constituindo este uma obrigação tanto do casamento quanto da união estável (art. 1.694, CC) A
pensão alimentícia é fixada para atender às necessidades do consorte ou convivente, igualmente
tomadas sob o prisma do padrão de vida usufruído pelo casal.
Execução dos alimentos: O devedor de alimentos que não fizer o seu pagamento está sujeito à
prisão civil pelo prazo de um a três meses (art. 733, § 1º, CPC e art. 19 da Lei 5.478/68) ou a ter
os seus bens penhorados na forma do art. 732, CPC. A prisão civil por dívida de alimentos é
medida excepcional e somente deve ser aplicada em casos de renitência desarrazoada e
injustificável do devedor que possua os meios necessários para saldar as prestações
alimentícias em atraso. A defesa do inadimplente deve fulcrar na impossibilidade do cumprimento
do encargo alimentício (casos de força maior, caso fortuito). O cumprimento integral da pena de
prisão não exime o devedor do pagamento das prestações alimentícias vincendas ou vencidas
e não pagas (art. 733, § 2º, CPC). Arnoldo Wald: “Os alimentos pretéritos, ou seja, aqueles
vencidos há mais de três meses, perdem, segundo a jurisprudência, a natureza alimentar,
passando a ter característica tipicamente reparatória de despesas já efetivadas, não justificando,
por isso, o decreto de prisão. Súmula 309/STJ: “O débito alimentar que autoriza prisão civil do
alimentante é o que compreende as três prestações anteriores ao ajuizamento da execução e as
que vencerem no curso do processo.” Esclareça-se que, uma vez citado para a execução, caso
o devedor ofereça o pagamento do débito atrasado em parcelas, não poderá mais ter, contra si,
decretada a prisão. Contudo, a simples oferta de bens à penhora não tem o condão de elidir o
decreto de prisão, pois nem sempre os bens ofertados têm liquidez imediata. O não-cumprimento
deliberado da obrigação alimentar por parte do indivíduo são e capaz para o trabalho configura
crime de abandono material previsto no art. 244, CP. A figura delituosa só se descaracteriza na
hipótese de o devedor de alimentos encontrar-se sem condições de prover à própria
subsistência.
II - A execução de alimentos é tratada de maneira especial pela ordem jurídica. A isso se deve
em razão de estar sua finalidade relacionada com o respeito à dignidade humana da pessoa que
é credora da obrigação (art. 1°, inciso III, da Carta Republicana), o que demanda severa atuação
dos órgãos oficiais para que esse pleito se satisfaça de forma plena, rápida e produtiva.
III - Após a reforma processual promovida pela Lei 11.232/05, inclinando-se esta à simplificação
dos atos executórios, há de se conferir ao artigo 732 do Código de Processo Civil interpretação
que seja consoante com a urgência e a importância da execução de alimentos, admitindo-se,
portanto, a incidência das regras do cumprimento de sentença (art. 475-J do Código de Processo
Civil).
IV - Tendo em conta o objetivo da Lei 11.232/2005 que foi a de acelerar a entrega da prestação
jurisdicional, é perfeitamente possível a aplicação do artigo 475-J do Código de Processo Civil
às execuções de alimentos.
V - Recurso especial improvido.
(REsp 1177594/RJ, Rel. Ministro MASSAMI UYEDA, TERCEIRA TURMA, julgado em
21/06/2012, DJe 22/10/2012)
Meios processuais para obtenção de alimentos: ação de alimentos (procedimento ordinário ou
rito especial da Lei 5.478/68); medida cautelar de alimentos provisionais (art. 852 e sgs, CC);
ação de separação, divórcio e dissolução de união estável (prova pré-constituída da obrigação
alimentar); ação indenizatória decorrente de ato ilícito.
1. Do Direito à Profissionalização e a Proteção do Trabalho Urbano e Rural do Adolescente. 2.
Ato infracional. 3. Medidas socioeducativas. 4. Das medidas de proteção. Das medidas
específicas de proteção
Contrato de Aprendizagem
Trabalho Rural
O trabalho rural é regulado pela Lei nº 5.889/73 e pela CT, que o equiparou ao trabalho
urbano quanto às garantias previstas no art. 7º.
O trabalho adolescente no campo se submete à idade mínima de 16 anos, ressalvada a
aprendizagem a partir dos 14 anos. É vedado o trabalho noturno que, na lavoura é compreendido
entre as 21 horas e as 5 horas do dia seguinte e na atividade pecuária entre 20 horas e 4 horas
do dia seguinte.
A remuneração não poderá ser inferior ao salário-mínimo-hora e o empregador
assegurará o período de frequência à escola.
Infelizmente, um grande número de crianças e adolescentes trabalham irregularmente
na atividade. Passos iniciais já foram dados através dos programas PETI – Programa de
Erradicação do Trabalho Infantil e Agente Jovem. O desafio é democratizá-los.
Trabalho educativo
Trabalho educativo é aquele que pode ser ministrado por entidades governamental ou não
governamental sem fins lucrativos, devendo o programa social a ser desenvolvido assegurar ao
adolescente que dele participe condições de capacitação para o exercício de atividade regular
remunerada. As exigências pedagógicas devem prevalecer sobre o aspecto produtivo. Eventual
remuneração não modifica a natureza do trabalho educativo.
2. Ato infracional
O ato infracional corresponde, para o adolescente, ao crime ou a contravenção penal dos adultos.
O adolescente que comete uma infração é julgado e pode ter que cumprir uma medida sócio-
educativa.
O ECA possibilita ao Juiz da Infância e Juventude decidir, entre seis tipos de medida sócio-
educativa, a que mais se aplica ao adolescente que comete uma infração:
I – Advertência
II – Obrigação de reparar o dano
III – Prestação de serviços à comunidade
IV – Liberdade assistida
V – Inserção em regime de semiliberdade
VI –Internação em estabelecimento educacional
(ECA, art. 112)
Garantias do menor:
Quando o adolescente for autor de ato infracional, estará sujeito a uma ação sócio-educativa que
tem por finalidade a aplicação de uma medida sócio-educativa. Acontece que a medida sócio-
educativa será aplicada não no interesse do adolescente e sim no interesse da coletividade. A
coletividade tem por intuito inibir a reincidência.
O adolescente, verdadeiro sujeito de direitos, pode opor-se a essa pretensão da coletividade. A
isso se dá o nome de GARANTISMO, que implica uma série de garantias processuais previstas
em favor do adolescente e que devem ser observadas na aplicação da medida sócio-educativa.
Esses direitos são os mesmos que os adultos possuem e mais alguns, em razão de sua peculiar
condição de pessoa em desenvolvimento. As garantias são previstas expressamente nos artigos
110 e 111 do ECA:
Art. 110. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade sem o devido processo legal.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio
equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e
produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
IV - assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados, na forma da lei;
V - direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente;
VI - direito de solicitar a presença de seus pais ou responsável em qualquer fase do
procedimento.
Os mesmos direitos que tem os adultos de ter um devido processo legal (processo justo, que
garanta o contraditório e a ampla defesa), os adolescentes que forem autores de atos infracionais
também os tem. Em razão do devido processo legal, temos a necessidade de oposição efetiva
da pretensão ministerial em aplicar uma medida sócio-educativa, ou seja, se de um lado o MP
propõe a aplicação de uma medida sócio-educativa, de outro lado temos que ter a efetiva
oposição através da defesa técnica do adolescente ou de seus responsáveis, (RE 285.571 de
13/02/2001 – relator Min. Sepúlveda Pertence).
A doutrina da proteção integral das nações unidas é formada por 03 documentos:
Diretrizes de RIAD;
- as regras de Beijing;
- as regras de Tóquio;
- Convenção sobre os direitos da criança (ONU).
A Convenção sobre os Direitos da Criança (ONU), em seu art. 40, resumidamente, observa
dentre outros o princípio da reserva legal, o princípio da presunção de inocência etc. Em razão
de vários hábeas corpus, de vários recursos que estão subindo aos Tribunais Superiores, são
no sentido do reconhecimento do devido processo aos adolescentes, ex: Súmula 342 do STJ.
Essa súmula é a aplicação direita do devido processo legal para o adolescente. Na aplicação da
medida sócio-educativa, deve ser observado o devido processo legal.
No art. 110, do ECA, temos as garantias gerais. No art. 111, do ECA, verificamos as garantias
específicas. Assim, mesmo que o artigo 111, não existisse, as garantias nele previstas existiriam
mesmo assim, pois todas são garantias do devido processo penal. O rol do art. 111, do ECA, é
meramente exemplificativo. Vamos analisar cada um dos incisos do art. 111 do ECA:
• INCISO I ⇒ a atribuição de ato infracional ocorre na peça processual chamada de
representação, que é a peça inicial da ação sócio-educativa. É elaborada pelo Promotor de
Justiça (MP). É atribuição exclusiva do promotor de justiça, não podendo ser proposta pelo
procurador da República, por exemplo, assim como o julgamento será feito pelo Juiz da Infância
e da Juventude. Essa representação pode ser escrita (regra), ou apresentada de forma geral
(exceção), em sessão diária instalada perante a vara da infância e da juventude. No art. 182, §
1º e 2º, do ECA, estão descritos os requisitos da representação, e de acordo com eles, não há
necessidade de prova pré-constituída da autoria e da materialidade do fato, pois esta prova será
produzida no decorrer da ação sócio-educativa. A representação poderá ter, se necessário, o rol
de testemunhas. Se a representação não observar os requisitos do art. 182, ela poderá ser
indeferida pelo juiz, seja pela inépcia ou por outro motivo, aplicando o CPC subsidiariamente
nesses casos.
• INCISO II ⇒ igualdade na relação processual. Os adolescentes têm os mesmo direitos que os
adultos, inclusive na ação sócio-educativa. É a igualdade de armas, se foi produzida provas de
um lado, deve dar a oportunidade para a outra parte ter conhecimento dessa prova e de produzir
também as provas que achar necessário. Tem o direito de se confrontar com vítimas e
testemunhas. Igualdade entre acusação e defesa. Adolescente é sujeito de direito, não é objeto
de proteção, pois quando era objeto de proteção no Antigo Código de Menores, todas as medidas
tomadas eram para protegê-lo, ele não tinha garantias processuais ⇒era a antiga doutrina da
situação irregular do menor. Hoje, adolescente é sujeito de direitos, tendo garantia ao devido
processo legal, direito à liberdade, ou seja, há uma igualdade de armas ⇒ doutrina da proteção
integral.
• INCISO III ⇒ direito a defesa técnica por advogado. A participação do advogado é
imprescindível à administração da justiça, já está previsto na CF/88. No ECA, também há essa
mesma previsão no art. 207.
Art. 207, do ECA:
Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou
foragido, será processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito
de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do processo,
devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou,
sido constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da
autoridade judiciária.
Esse artigo 207, do ECA, tem uma aparente incompatibilidade com o art. 186, § 2º, do mesmo
Estatuto, que se lido de forma rápida, dá a entender que a participação do advogado só será na
audiência em continuação. Na verdade, ocorre inicialmente a audiência de apresentação, que é
a oitiva do adolescente, tal qual o interrogatório; além dessa, existe a audiência em continuação,
na qual há a oitiva de testemunhas, ou seja, é destinada à colheita de provas. A participação do
advogado é imprescindível tanto na audiência de apresentação quanto na audiência em
continuação.
Se em uma dessas audiências houver a ausência do advogado constituído, o juiz não vai
remarcar outra audiência, e sim vai nomear um advogado para a ocasião. Se o adolescente não
tiver condições de arcar com o pagamento de um advogado, a defesa técnica ficará a cargo da
Defensoria Pública que tem uma atuação muito forte nessa área da infância e da juventude.
Será que antes da audiência de apresentação é necessária a presença de advogado? NÃO, pois
a medida sócio-educativa se divide em duas fases: uma administrativa e outra judicial. Na fase
administrativa (da apreensão até a apresentação ao promotor de justiça) o promotor ouve o
adolescente (oitiva informal), tomando conhecimento dos fatos, podendo inclusive ouvir
testemunhas e vítimas, e com isso terá subsídios para tomar o passo seguinte, que pode ser:
arquivar o procedimento, ou oferecer a representação, ou ainda conceder a remissão. Sendo
assim, a presença do advogado nessa fase não é obrigatória. A doutrina mais garantista traz a
idéia de que se acaso for concedida remissão cumulada com medida sócio-educativa na fase
administrava (que é aquela remissão como forma de exclusão do processo com medida sócio-
educativa), essa medida somente poderia ser exigida se houvesse a participação do advogado,
tendo a concordância tanto dos pais ou responsáveis, e do adolescente.
A participação do Advogado deve ser efetiva, buscando todos os meios necessários para
declarar a improcedência da medida e/ou para incidência de uma medida sócio-educativa mais
branda. O advogado jamais pode concordar com uma medida de internação do adolescente,
porque trata-se de responsabilização, e o advogado tem o papel de defender o adolescente
apresentando toda a oposição legal necessária, até para que ocorra o garantismo que é previsto
no ECA e no art. 227, § 3º, IV, CF/88.
• INCISO IV ⇒ assistência judiciária gratuita e integral aos necessitados na forma da lei – A
Defensoria tem uma atuação muito importante nesses casos. Essa assistência deve ocorrer não
só para a ação de conhecimento, mas também na execução de medida sócio-educativa.
• INCISO V ⇒ direito de ser ouvido pessoalmente pela autoridade competente – o adolescente
pode requerer sua oitiva pelo juiz, pelo promotor, delegado, o defensor, e até o diretor de uma
unidade de internação. Imagine um adolescente que foi internado provisoriamente, como ele
poderia passar informações ao seu defensor se ele não pudesse se entrevistar pessoalmente
com ele? Seria impossível.
• INCISO VI ⇒ direito de solicitar a presença dos pais ou responsável em qualquer fase do
procedimento – deve-se entender que essa referência diz respeito tanto à fase administrativa
quando à fase judicial. Na fase administrativa porque pode ocorrer um caso em que o delegado
entenda que não deve liberar esse adolescente a seus pais, e sim mantê-lo internado até que
ele possa ser apresentado ao promotor de justiça, o que deve ocorrer o mais rápido possível (se
essa apresentação não puder ser imediata, o adolescente deverá ser conduzido a uma entidade
de atendimento, e em caso de não possuí-la naquela localidade, deve permanecer na unidade
policial devendo ser apresentado ao promotor de justiça no prazo de 24 horas), mesmo nesse
momento ele pode requisitar a presença dos pais. Tutela-se aqui a liberdade.
Essas garantias são aplicadas tanto na ação de conhecimento quando na ação de execução de
medida sócio-educativa. Uma vez aplicada uma medida sócio educativa, é expedida uma guia
de execução da mesma, a qual é cadastrada e autuada em separado, inaugura-se o processo
da execução da medida. Nesse momento, começa para o juiz o dever de acompanhar o
cumprimento da medida sócio-educativa, devendo observar também o devido processo legal,
ouvindo o menor sobre qualquer alteração mais gravosa que possa ser-lhe imposta durante a
execução. Nesse sentido temos a súmula 265 do STJ.
Súmula 265/STJ: “É necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão
da medida sócio-educativa”.
Existem 03 diferentes tipos de internação:
► Internação por prazo indeterminado (art. 122, I e II, do ECA);
► Internação por prazo determinado (art. 122, III, do ECA) – internação sanção;
► Internação provisória (art. 108, do ECA).
Além das garantias previstas no art. 110 e 111 do ECA, existem outras que estão na CF/88,
citaremos algumas delas:
Presunção de inocência – presumi-se que o adolescente é inocente até que se prove o contrário;
Necessidade de relaxamento de eventual internação ilegal – a restrição da liberdade do
adolescente é uma medida excepcional, só podendo ser aplicada nas hipóteses legais, sendo
interpretadas de forma restrita e não ampliativa. Daí, o juiz que tem conhecimento de uma
internação ilegal e que não libera esse adolescente, estará praticando um delito previsto no
próprio Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). O relaxamento de internação ilegal constitui
um dever tanto do juiz (na fase judicial) quanto da autoridade policial (na fase administrativa)
quando souber que essa internação é arbitrária;
Deve ser comprovada a sua culpabilidade – se aplicam os mesmos direitos dos adultos aos
adolescentes, ou seja, deve-se verificar se no determinado caso há inexigibilidade de conduta
diversa, por exemplo, e o adolescente deve ter potencial consciência da ilicitude do fato;
Princípio da Reserva legal – somente será ato infracional aquela conduta prevista na lei como
crime ou como contravenção penal. O ECA toma emprestado a previsão de crime e de
contravenção penal da lei penal.
Além das garantias processuais expressas, podemos falar também em direitos individuais, os
quais estão previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) nos artigos 106 a art. 109:
* ARTIGO 106 ⇒ não existe apreensão de adolescente para averiguação, ele somente pode ser
apreendido por 03 motivos: prática de ato infracional (em flagrante), por ordem da autoridade
judiciária, ou se adolescente evadir-se do cumprimento de medida sócio-educativa;
* ARTIGO 106, parágrafo único ⇒ o adolescente tem o direito à identificação dos responsáveis
pela sua apreensão e de ser informado dos seus direitos. Além desses direitos, no art. 173, do
ECA, estão previstas diversas formalidades que devem ser tomadas pela autoridade responsável
pela sua apreensão;
* ARTIGO 107 ⇒ a própria Constituição de 1988, fala que no caso de prisão de qualquer pessoa
em flagrante deverá ser comunicada a autoridade judiciária. Se isso se aplica aos adultos, com
muito mais razão se aplica aos adolescentes, de modo que se forem apreendidos, deve esse
fato ser informado o mais rápido possível à autoridade judiciária competente para que tome as
providências cabíveis, assim como deve a família do menor também ser avisada;
* ARTIGO 107, parágrafo único ⇒ A apreensão do adolescente em razão de flagrante ou por
ordem de autoridade judiciária, só ocorrerá em casos excepcionais, se for extremamente
necessária. Por isso, quando ela ocorrer, deve a autoridade verificar se desde logo é possível
colocar o adolescente em liberdade novamente;
* ARTIGO 108 ⇒ internação provisória – é a internação antes da sentença, tem o prazo máximo
de 45 dias e é decretada pela autoridade judiciária;
* ARTIGO 108, parágrafo único ⇒ a internação provisória vai ser necessária em casos que
adolescente não pode continuar em liberdade para a sua própria segurança ou em casos de
grande repercussão social deve-se aplicar as regras do art. 174, do ECA;
* ARTIGO 109 ⇒ o adolescente não será submetido à coleta de impressões digitais salvo em
caso de confrontação ou havendo dúvidas de sua identidade, pois é uma prática comum o
adolescente ser internado e dar o nome de outro adolescente com a ficha limpa para fugir de
uma medida sócio-educativa mais enérgica (devido a uma possível reincidência), por exemplo.
Destaque-se, ainda, a súmula do STJ (nº. 492): “O ato infracional análogo ao tráfico de drogas,
por si só, não conduz obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do
adolescente”.
JURISPRUDÊNCIA-
O STF entendeu que não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a
liberdade do adolescente (internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato
infracional análogo ao delito do art. 28 da Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei n.
11.343/2006 não prevê a possibilidade de penas privativas de liberdade caso um adulto cometa
esse crime. Ora, se nem mesmo a pessoa maior de idade poderá ser presa por conta da prática
do art. 28 da LD, com maior razão não se pode impor a restrição da liberdade para o adolescente
que incidir nessa conduta. STF. 1a Turma. HC 119160/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/4/2014.
O STF entendeu que não é possível aplicar nenhuma medida socioeducativa que prive a
liberdade do adolescente (internação ou semiliberdade) caso ele tenha praticado um ato
infracional análogo ao delito do art. 28 da Lei de Drogas. Isso porque o art. 28 da Lei n.
11.343/2006 não prevê a possibilidade de penas privativas de liberdade caso um adulto cometa
esse crime. Ora, se nem mesmo a pessoa maior de idade poderá ser presa por conta da prática
do art. 28 da LD, com maior razão não se pode impor a restrição da liberdade para o adolescente
que incidir nessa conduta. STF. 1ª Turma. HC 119160/SP, Rel. Min. Roberto Barroso, julgado
em 9/4/2014 (Info 742/STF).
3. Medidas Socioeducativas:
Nas palavras de Wilson Donizeti Liberati, a medida socioeducativa pode ser assim
conceituada:
As medidas socioeducativas estão disciplinadas nos artigos 112 a 125, sendo que cada uma
possui peculiaridades e hipóteses de aplicação que devem ser analisadas com atenção.
Bem por isso, há posição doutrinária que classifica as medidas socioeducativas em típicas e
atípicas; as primeiras (típicas) são as elencadas nos incisos 1 a VI do artigo 112, ao passo em
que as atípicas seriam as medidas de proteção aplicadas em virtude da prática de ato
infracional.
3. OBJETIVOS
As medidas socioeducativas estão previstas no artigo 112 do Estatuto. A Lei do Sinase (Lei n°
12.594/2012, por sua vez, elencou os objetivos a serem alcançados pela imposição de tais
medidas, a saber.
4. PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS
A regra deixa claro que o juízo não pode valer-se das más condições dos programas de
atendimento de meio aberto para aplicar medida mais gravosa.
Assim, diante da inadequação da medida mais branda, pode haver a regressão para a
internação, mas o prazo limite de 3 meses (art. 122, § 1°) deve ser respeitado. Confira-se
recente julgado do STJ sobre o tema:
A remissão é uma forma de perdão dado ao adolescente que não tem efeito de antecedente,
nem implica o reconhecimento ou a comprovação da responsabilidade. Ao invés de buscar a
atribuição de responsabilidade do adolescente, perdoa-se aquela suposta conduta. Nesses
casos, é possível cumular a remissão com uma medida socioeducativa (diversa da internação
e da semiliberdade) sem que haja plena comprovação de autoria e materialidade.
• Importante:
Muito já se discutiu quando do advento do Código Civil de 2002, que reduziu a maioridade para
18 anos, se a previsão do Estatuto estaria revogada.
2. O Novo Código Civil não revogou o art. 121, § 5.0, do Estatuto da Criança e do Adolescente,
devendo permanecer a idade de 21 (vinte e um) anos como limite para a liberação
compulsória.
(MC 20.797/RJ, Rei. Min. Laurita Vaz, 5a Turma, julgado em 07/11/2013, Dje 25/11/2013)
Art. 109. A prescrição, antes de transitar em julgado a sentença final, salvo o disposto no § 1°
do art. 110 deste Código, regula-se pelo máximo da pena privativa de liberdade cominada ao
crime, verificando-se:
I - em vinte anos, se o máximo da pena é superior a doze;
II - em dezesseis anos, se o máximo da pena é superior a oito anos e não excede a doze;
III - em doze anos, se o máximo da pena é superior a quatro anos e não excede a oito;
IV - em oito anos, se o máximo da pena é superior a dois anos e não excede a quatro;
V - em quatro anos, se o máximo da pena é igual a um ano ou, sendo superior, não excede a
dois;
VI - em 3 (três) anos, se o máximo da pena é inferior a 1 (um) ano.
Parágrafo único - Aplicam-se às penas restritivas de direito os mesmos prazos previstos para
as privativas de liberdade.
Por exemplo, a medida de internação tem prazo máximo de 3 anos. Nesse caso, o prazo
prescricional previsto pelo CP é de 8 anos (art. 109, inc. IV).
Como o adolescente é menor de 21 anos, faz jus à redução pela metade do prazo
prescricional, com base no art. 115 do Código Penal: "São reduzidos de metade os prazos de
prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na
data da sentença, maior de 70 (setenta) anos."
V. Não tendo sido fixado pelo magistrado singular um prazo definido para o cumprimento da
medida de internação, não se pode, pura e simplesmente, tomar o prazo mínimo de 06 (seis)
meses previsto no art. 118, § 2°, do ECA, como parâmetro para o cálculo da prescrição.
VI. Em caso como o dos autos, em que não há prazo certo para a medida socioeducativa
imposta à paciente, para se analisar a ocorrência, ou não, da prescrição, de acordo com uma
interpretação sistemática da Lei n.0 8.069/90, deve-se considerar o prazo de 03 (três) anos,
fixado no art. 121, § 3o, do referido diploma legal, que é o limite imposto pelo legislador para a
permanência em medida socioeducativa de internação .
VII. Sendo o réu menor de 21 anos à época do fato delituoso, reduz-se à metade o prazo
prescricional, nos termos do art. 115 do Código Penal.
VIII. Hipótese em que não se vislumbra o transcurso do prazo de 4 (quatro) anos entre
nenhuma das causas interruptivas da prescrição.
IX. Ordem parcialmente conhecida e denegada.
(HC 199.074/RS, Rei. Min. Gilson Dipp, 5a Turma, julgado em 28/06/2011, Dje 01/08/2011)
Importante:
Súmula 338 STJ. A prescrição penal é aplicável nas medidas socioeducativas.
3. Apesar do pequeno valor da res, para que o principio da insignificância seja aplicado, são
necessários alguns requisitos: mínima ofensividade da conduta do agente, nenhuma
periculosidade social da ação e reduzidíssimo grau de reprovabilidade do comportamento,
fatos que não estão presentes no caso analisado. Adequada a aplicação da medida
socioeducativa de liberdade assistida.
4. Habeas corpus não conhecido.
(HC 253.769/ES, Rei. Min. Sebastião Reis Júnior, 6• Turma, julga do em 03/10/2013, DJe
15/10/2013)
Veja-se, então, que foram fixados critérios para aplicação do princípio da insignificância, a
saber: pequeno valor do bem; mínima ofensividade da conduta; nenhuma periculosidade social
da ação; reduzido grau de reprovabilidade do comportamento.
Advertência
De grande valia tem se apresentado a efetiva utilização desta medida que, se por um lado
preenche, com algo útil, o costumeiramente ocioso tempo dos adolescentes em conflito com a
lei, por outro traz a nítida sensação à coletividade de resposta social pela conduta infracional
praticada.
Tem-se observado, por exemplo, que o índice de reincidência dos jovens que cumprem
prestação de serviços comunitários é baixíssimo, o que só comprova a importância da sua
implementação nas comarcas.
A jornada de trabalho máxima que pode ser imposta ao adolescente é de 8 horas semanais e
desde que não interfira na frequência escolar ou em atividades profissionais. Além disso, a
medida tem prazo máximo de 6 meses de duração.
Liberdade assistida
A medida socioeducativa de liberdade assistida está disciplinada nos artigos 118 e 119 do
Estatuto. Essa é a medida mais rígida dentre as cumpridas pelo adolescente em liberdade.
Durante o período de liberdade assistida, o adolescente é acompanhado pela equipe
interdisciplinar de uma entidade de atendimento, responsável por promover socialmente o
adolescente e sua família, supervisionar sua frequência e aproveitamento escolar, diligenciar
acerca de sua profissionalização e inserção no mercado de trabalho (art. 119, incisos I, II e III).
A equipe de atendimento deve apresentar relatórios à autoridade judiciária (art. 1119, IV) para
que se avalie a necessidade de sua prorrogação, substituição ou mesmo de seu encerramento
(art. 118, § 2°).
A liberdade assistida não se confunde com o instituto da liberdade vigiada, presente no Código
Mello Mattos. Embora no Código de Menores de 1979 estivesse prevista a liberdade assistida,
sua natureza era semelhante à liberdade vigiada, ou seja, estava limitada ao controle da
conduta do menor.
A liberdade assistida do Estatuto tem natureza completamente distinta, pois não se limita a
vigiar os passos do adolescente, senão promover-lhe a cidadania e a reinserção social.
Como se vê, o Estatuto não se limitou a ratificar a liberdade vigiada, velha conhecida da
legislação menorista desde o Código de Menores de 1927 (Código Mello Mattos) e que depois
trocou de nome para liberdade assistida sem, no entanto, perder a característica principal de
"vigiar" (art. 38 do Código de Menores de 1979).
Acompanhar, auxiliar e orientar, como consta do caput do art. 118 do Estatuto, devem ser
entendidos dentro dessa visão moderna e recomendada pelos órgãos internacionais.
A pessoa que o fará deverá ser capacitada para tanto, com formação na área de
Humanidades, podendo pertencer ao quadro de servidores do Juizado (onde a estrutura
judiciária o permitir...) ou recrutada através de entidade ou programa de atendimento (§ lo).
O art. 118, § 2°, da Lei n.o 8.069/90 não estabeleceu o prazo máximo de duração da liberdade
assistida, mas tão-somente a duração mínima, a qual pode ser prorrogada até o limite de 3
(três) anos, pela aplicação subsidiária do art. 121, § 3°, da mesma Lei.
(HC 172.017/SP, Rei. Min. Laurita Vaz, 5a Turma, julgado em 05/05/2011, D)e 18/05/2011)
Semiliberdade
Internação
É a medida socioeducativa mais gravosa para o adolescente, pois lhe cerceia amplamente a
liberdade. Está prevista no artigo 121 do Estatuto: "A internação constitui medida privativa da
liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar
de pessoa em desenvolvimento."
A norma do Estatuto está em consonância com os diplomas internacionais sobre o tema. É o
que demonstra Emílio García Mendez:
O art. 221 (assim como todos os artigos contidos na seção VII, "Da internação") compila, sem
dúvida alguma, a doutrina mais avançada na matéria, abrangendo tanto a doutrina da proteção
integral das Nações Unidas quanto as ideias mais avançadas dos atuais estudos do controle
social. Pela primeira vez no campo da legislação chamada até agora de "menores" renuncia-se
aos eufemismos e à hipocrisia, designando a internação como medida de privação de
liberdade. O caráter breve e excepcional da medida surge, também, do reconhecimento dos
provados efeitos negativos da privação de liberdade, principalmente no caso da pessoa
humana em condição peculiar de desenvolvimento. [...]
Por brevidade, deve-se entender que a medida de internação somente deve ser imposta e
cumprida pelo adolescente durante um período curto, o estritamente necessário para que reflita
sobre a gravidade de suas ações e comece a ressocializar-se. Tão logo se verifique avanço em
sua formação pessoal, melhoria de seu caráter, a medida deve ser substituída por outra menos
gravosa (ex: semiliberdade ou liberdade assistida) ou mesmo encerrado seu cumprimento.
O princípio da excepcionalidade denota que a medida de internação deve ser aplicada com
extrema cautela, em situações peculiares especificamente previstas em lei. A medida de
internação somente pode ser aplicada quando outra não se mostrar adequada (art. 122, § 2°).
Vale dizer, se o caso concreto demonstra que o adolescente pode ressocializar-se plenamente
em meio aberto, através, por exemplo, da liberdade assistida, então afasta-se a aplicação da
medida extrema de internação - ainda que se esteja diante de uma situação que autorizaria,
em tese, essa medida (art. 122, incisos I, II e III).
Além de alterar o Estatuto, a Lei trouxe, em seu artigo 50, previsão a respeito de hipótese de
saída temporária durante o cumprimento da medida de internação: "Sem prejuízo do disposto
no § 1° do art. 121 da Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do
Adolescente), a direção do programa de execução de medida de privação da liberdade poderá
autorizar a saída, monitorada, do adolescente nos casos de tratamento médico, doença grave
ou falecimento, devidamente comprovados, de pai, mãe, filho, cônjuge, companheiro ou irmão,
com imediata comunicação ao juízo competente."
A medida socioeducativa de internação não está sujeita a prazo certo. O juízo, em sua
sentença, se limita a impor a medida de internação. Periodicamente, no máximo a cada seis
meses, o adolescente tem o direito de ter reavaliada sua medida (art. 121, § 2°).
Tanto para prolatar a sentença de internação, quanto para decidir sobre a reavaliação da
medida, o juízo de direito se vale dos laudos técnicos. No entanto, a palavra final é sua, pois
prevalece seu livre convencimento motivado. A esse respeito, confira-se manifestação do
Superior Tribunal de Justiça.
3. Este Superior Tribunal possui orientação no sentido de que o magistrado não está vinculado
ao relatório técnico que recomenda a desinternação do menor infrator, podendo,
fundamentadamente, discordar do seu resultado e justificar a manutenção da medida de
internação com base em outros elementos de prova, em homenagem ao princípio do livre
convencimento motivado e em observância à independência dos magistrados no exercício de
suas funções judicantes. Precedentes.
4. Ordem denegada.
(HC 189.631/MT, Rei. Min. Sebastião Reis Júnior, 6• Turma, julgado em 06/12/2011, DJe
01/02/2012)
O dever de motivação decorre diretamente da Constituição da República, que prevê a
obrigação de fundamentação das decisões judiciais (art. 93, inc. IX).
O Estatuto fixa prazos máximos para o cumprimento da medida de internação através de dois
marcos: (i) o tempo de cumprimento e (ii) a idade do adolescente.
O adolescente pode permanecer internado pelo prazo máximo de 3 anos (ar. 121, § 3°), se a
internação decorreu de ato infracional cometido com violência ou grave ameaça a pessoa ou
por reiteração no cometimento de infrações graves (art. 122, inc. I e II, respectivamente).
No Superior Tribunal de justiça, o entendimento era o de que as penas não poderiam ser
unificadas:
Já em doutrina, em posição distinta e - a nosso ver - mais adequada, Bianca Mota de Moraes e
Helane Vieira Ramos traçam a seguinte distinção:
Essa foi a orientação seguida pela Lei do Sinase, Lei n° 12.594/2012, que regulou a matéria no
artigo 45, cuja redação é a seguinte:
Art. 45. Se, no transcurso da execução, sobrevier sentença de aplicação de nova medida, a
autoridade judiciária procederá à unificação, ouvidos, previamente, o Ministério Público e o
defensor, no prazo de 3 (três) dias sucessivos, decidindo-se em igual prazo.
§ 1° É vedado à autoridade judiciária determinar reinício de cumprimento de medida
socioeducativa, ou deixar de consi derar os prazos máximos, e de liberação compulsória previs
tos na Lei n° 8.069, de 13 de julho de 1990 (Estatuto da Criança e do Adolescente), excetuada
a hipótese de medida aplicada por ato infracional praticado durante a execução.
§ 2° É vedado à autoridade judiciária aplicar nova medida de internação, por atos infracionais
praticados anteriormente, a adolescente que já tenha concluído cumprimento de medida
socioeducativa dessa natureza, ou que tenha sido transferi do para cumprimento de medida
menos rigorosa, sendo tais atos absorvidos por aqueles aos quais se impôs a medida
socioeducativa extrema.
Por fim, vale destacar que o prazo de internação provisória deve ser computado no prazo de
internação total do adolescente.
Portanto, o artigo 122 traz em si dois comandos claros: (i) para aplicação da internação,
somente nas hipóteses expressamente previstas; (ii) ainda que diante dessas hipóteses, pode
ser aplicada medida diversa, menos gravosa.
Importante:
A internação é possível ainda que a hipótese seja apenas tentada, como destaca o STJ:
Nos casos em que o ato infracional não é praticado com violência ou grave ameaça, não é
cabível a medida socioeducativa de internação com base no inciso I do art. 122.
Súmula 492. O ato infracional análogo ao tráfico de drogas, por si só, não conduz
obrigatoriamente à imposição de medida socioeducativa de internação do adolescente.
Nesse ponto, é sempre importante lembrar o entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal
Federal acerca da opinião do julgador sobre a gravidade do delito:
Súmula 118. A opinião do julgador sobre a gravidade em abstrato do crime não constitui
motivação idônea para a imposição de regime mais severo do que o permitido segundo a pena
aplicada.
O só fato de um crime ser considerado grave aos olhos do julgador não é motivação adequada
para que seja fixado um regime de cumprimento de pena mais gravoso. Dentro do regime
jurídico do Estatuto, pode-se afirmar que a opinião do julgador de que o tráfico de drogas (ou o
porte de arma) é um ato grave não serve de fundamento para aplicação da medida extrema de
internação, uma vez que não há violência ou grave ameaça em sua prática.
Como o Estatuto não elenca como hipótese de internação a reincidência, e tendo em vista que
o rol é numerus clausus, tem-se que a prática de dois atos infracionais não enseja a imposição
da medida de internação. De acordo com entendimento já consolidado pelo Superior Tribunal
de Justiça, a internação é possível apenas se o adolescente já tiver dois processos anteriores,
ou seja, ao responder pelo terceiro processo de atribuição de ato infracional, é possível a
aplicação da medida de internação ao adolescente.
Importante:
Há quem entenda que reiteração não se confunde com reincidência, no sentido de a reiteração
exigir a prática de, no mínimo, 3 atos infracionais.
A internação baseada no inciso III do art. 122 tem o prazo máximo de 3 meses (art. 122).
Importante notar que o art. 122 menciona que o prazo máximo em caso de regressão é de 3
meses, de maneira que o juízo pode determinar o cumprimento da medida de internação por
um prazo menor. O critério para sua fixação deve ser pautado pela proporcionalidade. Se o
adolescente já cumpriu metade do prazo fixado em sua medida soció educativa, é coerente
que a regressão seja imposta por um período aproximado de 45 dias - que é justamente
metade do prazo máximo de cumprimento de internação por regressão.
Importante:
legal, com a necessária elaboração de laudo técnico e realização de audiência prévia com o
adolescente e seu defensor (art. 122, § 1°; súm. 265 STJ; Lei do Sinase, art. 43, § 4o).
O cumprimento da medida de internação não se confunde, nem deve ser assemelhada, à pena
de prisão, imposta ao maior. o local de cumprimento da internação deve ser destinado
exclusivamente aos adolescentes, e estes devem ser separados e agrupados de acordo com a
idade, a compleição física e a gravidade do ato praticado (art. 123). As atividades pedagógicas
são obrigatórias para todos os internos, inclusive os provisórios (art. 123, p.ú.).
Além disso, o artigo 124 do Estatuto elenca, em rol exemplificativo, os direitos dos
adolescentes privados de sua liberdade:
(Utilizei como base o livro de Guilherme Freire de Melo Barros – Juspodivm e a Lei, com adaptações)
Situação de risco: hipóteses em que os direitos da criança ou adolescente estão ameaçados ou foram
violados. Em outras palavras quando se verificar que algum direito da criança ou do adolescente está
ameaçado ou foi violado, tem-se a situação de risco ou irregular que permite a aplicação das medidas de
proteção, cujo objetivo é sanar tal violação ou impedir que ela ocorra. Relação com o princípio da
inafastabilidade do controle judicial, previsto no art. 5º, XXXV, da CF.
Agentes responsáveis pelas lesões ou ameaças das lesões aos direitos da criança e do adolescente
(art. 98 do ECA):
Importante: a aplicação das medidas de proteção (art. 101) tem lugar, por exemplo, quando a criança pratica
ato infracional, pois as medidas sócio-educativas são aplicadas somente a adolescentes (art. 105) 33.
Na aplicação das medidas levar-se-ão em conta as necessidades pedagógicas, preferindo-se aquelas que
visem ao fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários.
A Lei n.º 12.010/2009 incluiu um rol de princípios que regem a aplicação das medidas de proteção (parágrafo
único do art. 100). São eles:
(Obs: Ler o artigo completo)
33 “Art. 105. Ao ato infracional praticado por criança corresponderão as medidas previstas no art. 101”.
As medidas específicas de proteção estão elencadas no artigo 101, cujo rol é meramente exemplificativo e
sua aplicação é atribuição do Conselho Tutelar 34, salvo as previstas nos incisos VII a IX, ressalvado a hipótese
de urgência do art. 93, onde o Conselho poderá encaminhar ao acolhimento institucional. Nas hipóteses de
atuação do conselho, o juiz também poderá aplicar as medidas do art. 101 de ofício, através de procedimento
simplificado, salvo nos casos dos incisos VII a IX, onde se fará necessário o processo judicial contencioso.
VII - acolhimento institucional; (Redação dada pela Lei nº 12.010, de 2009) Substituiu o abrigo pelo
acolhimento. Atenção para o art. 19, § 2º, ECA. São diferentes das casas-lar (O Serviço de Acolhimento
provisório oferecido em unidades residenciais, nas quais pelo menos uma pessoa ou casal trabalha como
educador/cuidador residente – em uma casa que não é a sua – prestando cuidados a um grupo de crianças
e adolescentes afastados do convívio familiar por meio de medida protetiva de abrigo; e das Repúblicas
(oferece apoio e moradia subsidiada a grupos de jovens em situação de vulnerabilidade e risco pessoal e
social; com vínculos familiares rompidos ou extremamente fragilizados; em processo de desligamento de
instituições de acolhimento, que não tenham possibilidade de retorno à família de origem ou de colocação em
família substituta e que não possuam meios para auto-sustentação).
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;
IX - colocação em família substituta. Embora se trate de providência excepcional e provisória, a família
acolhedora poderá obter a guarda provisória do assistido (art. 34, § 2º, ECA). Lépore e outros classificam a
medida de acolhimento familiar em formal (com intermediação de entidade de atendimento) ou informal (sem
intermediação, com a remessa direta à família acolhedora).
Sem prejuízo da tomada de medidas emergenciais para proteção de vítimas de violência ou abuso sexual e
das providências a que alude o art. 130 desta Lei 35, o afastamento da criança ou adolescente do convívio
familiar é de competência exclusiva da autoridade judiciária e importará na deflagração, a pedido do Ministério
Público ou de quem tenha legítimo interesse, de procedimento judicial contencioso, no qual se garanta aos
pais ou ao responsável legal o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Crianças e adolescentes somente poderão ser encaminhados às instituições que executam programas de
acolhimento institucional, governamentais ou não, por meio de uma Guia de Acolhimento, expedida pela
autoridade judiciária, na qual obrigatoriamente constará, dentre outros:
I - sua identificação e a qualificação completa de seus pais ou de seu responsável, se conhecidos;
II - o endereço de residência dos pais ou do responsável, com pontos de referência;
III - os nomes de parentes ou de terceiros interessados em tê-los sob sua guarda;
IV - os motivos da retirada ou da não reintegração ao convívio familiar.
Imediatamente após o acolhimento da criança ou do adolescente, a entidade responsável pelo programa de
acolhimento institucional ou familiar elaborará um plano individual de atendimento, visando à reintegração
familiar, ressalvada a existência de ordem escrita e fundamentada em contrário de autoridade
judiciária competente, caso em que também deverá contemplar sua colocação em família substituta,
O plano individual será elaborado sob a responsabilidade da equipe técnica do respectivo programa de
atendimento e levará em consideração a opinião da criança ou do adolescente e a oitiva dos pais ou do
responsável.
34
“Art. 136. São atribuições do Conselho Tutelar: I - atender as crianças e adolescentes nas hipóteses previstas nos arts. 98 e 105, aplicando as medidas
previstas no art. 101, I a VII”.
35“Art. 130. Verificada a hipótese de maus-tratos, opressão ou abuso sexual impostos pelos pais ou responsável, a autoridade judiciária
poderá determinar, como medida cautelar, o afastamento do agressor da moradia comum”.
Constarão do plano individual, dentre outros:
I - os resultados da avaliação interdisciplinar;
II - os compromissos assumidos pelos pais ou responsável;
III - a previsão das atividades a serem desenvolvidas com a criança ou com o adolescente acolhido e seus
pais ou responsável, com vista na reintegração familiar ou, caso seja esta vedada por expressa e
fundamentada determinação judicial, as providências a serem tomadas para sua colocação em família
substituta, sob direta supervisão da autoridade judiciária.
O acolhimento familiar ou institucional ocorrerá no local mais próximo à residência dos pais ou do
responsável e, como parte do processo de reintegração familiar, sempre que identificada a necessidade, a
família de origem será incluída em programas oficiais de orientação, de apoio e de promoção social, sendo
facilitado e estimulado o contato com a criança ou com o adolescente acolhido.
Cadastro de informações
A autoridade judiciária manterá, em cada comarca ou foro regional, um cadastro contendo informações
atualizadas sobre as crianças e adolescentes em regime de acolhimento familiar e institucional sob sua
responsabilidade, com informações pormenorizadas sobre a situação jurídica de cada um, bem como as
providências tomadas para sua reintegração familiar ou colocação em família substituta, em qualquer das
modalidades previstas no art. 28 desta Lei.
Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social e os
Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais incumbe
deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de
acolhimento.
Terão acesso ao cadastro o Ministério Público, o Conselho Tutelar, o órgão gestor da Assistência Social
e os Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente e da Assistência Social, aos quais
incumbe deliberar sobre a implementação de políticas públicas que permitam reduzir o número de crianças e
adolescentes afastados do convívio familiar e abreviar o período de permanência em programa de
acolhimento.
Registro civil
As medidas específicas de proteção serão acompanhadas da regularização do registro civil.
Verificada a inexistência de registro anterior, o assento de nascimento da criança ou adolescente será feito à
vista dos elementos disponíveis, mediante requisição da autoridade judiciária. Os registros e certidões
necessários à regularização de que trata este artigo são isentos de multas, custas e emolumentos, gozando
de absoluta prioridade.
Caso ainda não definida a paternidade, será deflagrado procedimento específico destinado à sua
averiguação, conforme previsto pela Lei no 8.560/9236. Todavia, é dispensável o ajuizamento de ação de
36
Regula a investigação de paternidade dos filhos havidos fora do casamento e dá outras providências.
investigação de paternidade pelo Ministério Público se, após o não comparecimento ou a recusa do suposto
pai em assumir a paternidade a ele atribuída, a criança for encaminhada para adoção.
Defensoria não pode ingressar em juízo, de ofício, para pedir medidas protetivas a menor. A atuação da
Defensoria Pública como curadora especial para defender interesses de crianças e adolescentes só pode
ocorrer quando houver convocação. Em seu voto, o ministro Luis Felipe Salomão, relator do processo,
reconheceu que não há previsão legal para intervenção da Defensoria Pública como curadora especial em
situações como a do processo em julgamento. Segundo ele, “a curadoria especial objetiva suprir a
incapacidade do menor na manifestação de vontade em juízo e não a proteção de menor destinatário da
decisão judicial”. O ministro reconheceu que as medidas protetivas requeridas pela Defensoria Pública, na
verdade, são atribuições dos conselhos tutelares. “A atuação da Defensoria Pública como curadora especial,
no que se refere ao ECA, deve se dar somente quando chamada ao feito pelo juiz da Vara da Infância e
Juventude, em processos em que a criança ou adolescente seja parte na relação processual, desde que
vislumbrada tal necessidade”.
DIREITO ELEITORAL
1. Definição
Constituem-se os partidos políticos sob o regime de direito privado, sendo um grupo social de
grande amplitude no âmbito da democracia representativa, detentor de várias prerrogativas e obrigações,
após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil e registrar seu ato constitutivo na Justiça Eleitoral.
Tem por objetivos reunir filiados em torno de ideias e interesses, a fim de levar seus membros a participar do
poder decisório no âmbito político-governamental37.
Art. 1º O partido político, pessoa jurídica de direito privado, destina-se a assegurar, no interesse do
regime democrático, a autenticidade do sistema representativo e a defender os direitos fundamentais
definidos na Constituição Federal.
2. Autonomia Partidária
Com a nova natureza dos partidos políticos lhes foi assegurada constitucionalmente a autonomia para
definir sua estrutura interna, organização e funcionamento. Esta liberdade se estende inclusive à formação
de coligações partidárias, que não devem seguir necessariamente o padrão das coligações nacionais,
podendo estas ser diferentes dos pactos realizados em estados e municípios, segundo nova redação do art.
17, § 1º, dada pela EC 52/2006.
Art. 17. É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos, resguardados a
soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo, os direitos fundamentais da pessoa
humana e observados os seguintes preceitos:
I - caráter nacional;
II - proibição de recebimento de recursos financeiros de entidade ou governo estrangeiros ou de
subordinação a estes;
III - prestação de contas à Justiça Eleitoral;
37FERNANDES, Lilia Maria da Cunha. Direito Eleitoral. Série Primeiras Linhas. 2ª ed. Brasília: Editora
Fortium, 2006. p. 129.
IV - funcionamento parlamentar de acordo com a lei.
§ 1º É assegurada aos partidos políticos autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento e para adotar os critérios de escolha e o regime de suas coligações eleitorais, sem
obrigatoriedade de vinculação entre as candidaturas em âmbito nacional, estadual, distrital ou
municipal, devendo seus estatutos estabelecer normas de disciplina e fidelidade partidária. (Redação
dada pela Emenda Constitucional nº 52, de 2006)
§ 2º - Os partidos políticos, após adquirirem personalidade jurídica, na forma da lei civil, registrarão
seus estatutos no Tribunal Superior Eleitoral.
§ 3º - Os partidos políticos têm direito a recursos do fundo partidário e acesso gratuito ao rádio e à
televisão, na forma da lei.
§ 4º - É vedada a utilização pelos partidos políticos de organização paramilitar.
O STF tem entendido que “a autonomia partidária não se estende a ponto de atingir a autonomia de
outro partido, cabendo à lei regular as relações entre dois ou mais deles”. Assim, o Tribunal rejeitou a arguição
de inconstitucionalidade do art. 22 da Lei 9.096/95, que prescreve que “quem se filia a outro partido deve
fazer comunicação ao partido e ao juiz de sua respectiva Zona Eleitoral, para cancelar sua filiação. Se não o
fizer no dia imediato ao da nova filiação fica configurada dupla filiação, sendo ambas consideradas nulas para
todos os efeitos”. Entendeu-se que a nulidade que impõe o art. 22 da Lei 9.096/95 é conseqüência da vedação
da dupla filiação e, por conseqüência, do princípio da fidelidade partidária. 38
Atenção para alteração do inciso V e parágrafo único do artigo 22, feita pela Lei nº 12.891/13.
Segundo o inciso V, ocorre o cancelamento imediato da filiação partidária no caso de filiação a outro partido,
desde que a pessoa comunique o fato ao juiz da respectiva zona eleitoral. O novo parágrafo único dispõe que
havendo coexistência de duas filiações partidárias, prevalecerá a mais recente, devendo a justiça eleitoral
determinar o cancelamento das demais. Dessa forma, entendo que restou superado o disposto no parágrafo
acima, não sendo mais necessária a comunicação ao partido e também não sendo caso de nulidade das duas
filiações.39
3. Organização e Funcionamento
Art. 2º É livre a criação, fusão, incorporação e extinção de partidos políticos cujos programas
respeitem a soberania nacional, o regime democrático, o pluripartidarismo e os direitos fundamentais
da pessoa humana.
Art. 3º É assegurada, ao partido político, autonomia para definir sua estrutura interna, organização e
funcionamento.
Parágrafo único: é assegurada, aos candidatos, partidos políticos e coligações autonomia para definir
o cronograma das atividades eleitorais de campanha e executá-lo em qualquer dia e horário,
observados os limites estabelecidos em lei (p.u. acrescido com a Lei nº 12.891/13) 40
A autonomia partidária significa que, dentro de certos limites, as agremiações têm liberdade de
organização, estabelecendo suas normas de funcionamento, disciplina e fidelidade partidárias sem qualquer
ingerência estatal ou de outros órgãos.
Exceto quando ferem os limites dentro dos quais têm que agir (p. exemplo recebendo recursos de
organismos estrangeiros, ausência de prestação de contas à Justiça Eleitoral, manutenção de organização
paramilitar), os partidos não estão sujeitos à tutela jurisdicional ou interferências estatais.
"(...) a divergência interna do partido político, desde que a questão tenha reflexos no processo
eleitoral, pode ser apreciada pela Justiça Eleitoral, sem que esse controle jurisdicional interfira na
38 MENDES, Gilmar Ferreira; COELHO, Inocêncio Mártires; BRANCO, Paulo Gustavo Gonet. Curso de
Direito Cosntitucional. 2ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2008. p. 767.
39 Atualizado em junho de 2015.
40 Atualizado em junho de 2015.
autonomia das agremiações partidárias, garantido pelo art. 17, § 1º, da Constituição Federal (Edcl no
AgRg no REspe nº 23.913/CE, rel. Min. Gilmar Mendes, DJ 26.10.2004).
Art. 5º A ação do partido tem caráter nacional e é exercida de acordo com seu estatuto e programa,
sem subordinação a entidades ou governos estrangeiros.
Art. 6º É vedado ao partido político ministrar instrução militar ou paramilitar, utilizar-se de organização
da mesma natureza e adotar uniforme para seus membros.
Art. 7º O partido político, após adquirir personalidade jurídica na forma da lei civil, registra seu estatuto
no Tribunal Superior Eleitoral.
Só após o registro perante o TSE é que o partido passa a ter prerrogativas como receber recurso do
fundo partidário, lançar candidatos, postulando seu registro perante a Justiça Eleitoral, e a realização de
propagandas partidárias no horário gratuito e propagandas eleitorais, com vistas a angariar votos para seus
candidatos. As propagandas eleitorais podem ser em horário gratuito (rádio e televisão) ou pagas (jornal,
outdoors, panfletos etc).
Após este registro, o partido tem assegurada a exclusividade sobre sua denominação, sigla e
símbolos, vedada a utilização, por outros partidos, de variações que venham a induzir a erro ou confusão.
Só é admitido o registro do estatuto de partido político que tenha caráter nacional, considerando-se
como tal aquele que comprove o apoio de eleitores não filiados a partido político (alteração do §1º do artigo
7º pela Lei nº 13.107/15) 41 correspondente a, pelo menos, meio por cento (0,5%) dos votos dados na última
eleição geral para a Câmara dos Deputados, não computados os votos em branco e os nulos, distribuídos
por um terço, ou mais, dos Estados, com um mínimo de um décimo por cento (0,1%) do eleitorado que haja
votado em cada um deles.
A prova do apoio mínimo de eleitores é feita por meio de suas assinaturas, com menção ao número
respectivo título eleitoral, em listas organizadas para cada Zona, sendo a veracidade das respectivas
assinaturas e o número dos títulos atestados pelo Escrivão Eleitoral.
O requerimento do registro de partido político, dirigido ao Cartório competente do Registro Civil das
Pessoas Jurídicas, da Capital Federal, deve ser subscrito pelos fundadores, em número nunca inferior a cento
e um (101), com domicílio eleitoral em, no mínimo, um terço (1/3) dos Estados, e será acompanhado de:
I – cópia autêntica da ata da reunião de fundação do partido;
II – exemplares do Diário Oficial, que publicou, no seu inteiro teor, o programa e o estatuto;
III – relação de todos os fundadores com o nome completo, naturalidade, número do título eleitoral
com a Zona, Seção, Município e Estado, profissão e endereço da residência.
O requerimento indicará o nome e função dos dirigentes provisórios e o endereço da sede do partido
na Capital Federal. Satisfeitas essas exigências, o Oficial do Registro Civil efetua o registro no livro
correspondente, expedindo certidão de inteiro teor. Comprovado o apoiamento mínimo exigido é feito o
registro no TSE.
Interessante e atualíssima discussão tem sido travada em torno do PLC 14/2013, que, nos termos de
decisão monocrática proferida pelo relator do MS 32033 / DF, Ministro Gilmar Mendes (DJe-103 DIVULG
31/05/2013 PUBLIC 03/06/2013, disponível em:
http://www.stf.jus.br/portal/jurisprudencia/listarJurisprudencia.asp?s1=%28%28cria%E7%E3o+e+partidos+e
+pol%EDticos%29%29+NAO+S%2EPRES%2E&base=baseMonocraticas&url=http://tinyurl.com/p29zfzp),
OBS: normas constitucionais interpostas: Zagrebelsky afirma, por outro lado, que, se as normas
constitucionais fizerem referência expressa a outras disposições normativas, a violação constitucional pode
advir da afronta a essas outras normas, as quais, muito embora não sejam formalmente constitucionais,
vinculam os atos e procedimentos legislativos, constituindo-se normas constitucionais interpostas
(Zagrebelsky, Gustavo. La giustizia costituzionale. Bologna, Mulino, 1979, p.40-41)”
Art. 12. O partido político funciona, nas Casas Legislativas, por intermédio de uma bancada, que deve
constituir suas lideranças de acordo com o estatuto do partido, as disposições regimentais das
respectivas Casas e as normas desta Lei.
Art. 13. Tem direito a funcionamento parlamentar, em todas as Casas Legislativas para as quais tenha
elegido representante, o partido que, em cada eleição para a Câmara dos Deputados obtenha o apoio
de, no mínimo, cinco por cento dos votos apurados, não computados os brancos e os nulos,
distribuídos em, pelo menos, um terço dos Estados, com um mínimo de dois por cento do total de
cada um deles
O art. 13 expressa a chamada Cláusula de Barreira ou Cláusula de Exclusão, que visa coibir pequenas
agremiações, sem representatividade, ou seja, aquelas que não atingem os parâmetros do art. 13 da LPP a
possibilidade de constituírem bancadas.
O PSC – Partido Social Cristão ingressou com ADI em face do art. 13, em 1996. Apreciando o pedido
de medida liminar, o Ministro Maurício Correa indeferiu o pleito sob o argumento de que “a norma contida no
art. 13 da Lei 9.096/95 não é atentatória ao princípio da igualdade; qualquer partido, grande ou pequeno,
desde que habilitado perante a Justiça Eleitoral, pode participar da disputa eleitoral, em igualdade de
condições, ressalvados o rateio dos recursos do fundo partidário e a utilização do horário gratuito de rádio e
televisão – o chamado “direito de antena” – ressalvas essas que o comando constitucional inscrito no art. 17,
§ 3º, também reserva à legislação ordinária a sua regulamentação”.
Considerou o Tribunal que tais normas violavam o princípio da reserva legal proporcional, da
“igualdade de chances”, do pluripartidarismo, assim como os direitos de liberdade assegurados às minorias
parlamentares42.
Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data do depósito a que se
refere o § 1º do artigo anterior, fará a respectiva distribuição aos órgãos nacionais dos partidos,
obedecendo aos seguintes critérios:
I - um por cento do total do Fundo Partidário será destacado para entrega, em partes iguais, a
todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral;
II - noventa e nove por cento do total do Fundo Partidário serão distribuídos aos partidos que
tenham preenchido as condições do art. 13, na proporção dos votos obtidos na última eleição
geral para a Câmara dos Deputados.
Em 2007, por meio da lei 11.459, foi incluído o art. 41-A, estabelecendo nova forma de
distribuição dos recurso do Fundo Partidário:
Art. 41-A. 5% (cinco por cento) do total do Fundo Partidário serão destacados para entrega, em
partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral
e 95% (noventa e cinco por cento) do total do Fundo Partidário serão distribuídos a eles na proporção
dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados.
Art. 48. O partido registrado no Tribunal Superior Eleitoral que não atenda ao disposto no art.
13 tem assegurada a realização de um programa em cadeia nacional, em cada semestre, com
a duração de dois minutos.
II - a utilização do tempo total de quarenta minutos, por semestre, para inserções de trinta
segundos ou um minuto, nas redes nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais.
Art. 56. No período entre a data da publicação desta Lei e o início da próxima legislatura, será
observado o seguinte: (interpretação que elimina qualquer limite temporal)
I - fica assegurado o direito ao funcionamento parlamentar na Câmara dos Deputados ao partido que
tenha elegido e mantenha filiados, no mínimo, três representantes de diferentes Estados;
V - ao partido com representante na Câmara dos Deputados desde o início da Sessão Legislativa de
1995, fica assegurada a realização de um programa em cadeia nacional em cada semestre, com a
duração de cinco minutos, não cumulativos com o tempo previsto no inciso III;
Art. 57. No período entre o início da próxima Legislatura e a proclamação dos resultados da segunda
eleição geral subseqüente para a Câmara dos Deputados, será observado o seguinte: (interpretação
que elimina qualquer limite temporal)
I - direito a funcionamento parlamentar ao partido com registro definitivo de seus estatutos no Tribunal
Superior Eleitoral até a data da publicação desta Lei que, a partir de sua fundação tenha concorrido
ou venha a concorrer às eleições gerais para a Câmara dos Deputados, elegendo representante em
duas eleições consecutivas:
a) na Câmara dos Deputados, toda vez que eleger representante em, no mínimo, cinco Estados e
obtiver um por cento dos votos apurados no País, não computados os brancos e os nulos;
b) nas Assembléias Legislativas e nas Câmaras de Vereadores, toda vez que, atendida a exigência
do inciso anterior, eleger representante para a respectiva Casa e obtiver um total de um por cento
dos votos apurados na Circunscrição, não computados os brancos e os nulos;
III - é assegurada, aos Partidos a que se refere o inciso I, observadas, no que couber, as disposições
do Título IV:
a) a realização de um programa, em cadeia nacional, com duração de dez minutos por semestre;
b) a utilização do tempo total de vinte minutos por semestre em inserções de trinta segundos ou um
minuto, nas redes nacionais e de igual tempo nas emissoras dos Estados onde hajam atendido ao
disposto no inciso I, b.
8. Estatuto Partidário
Art. 15. O Estatuto do partido deve conter, entre outras, normas sobre:
I - nome, denominação abreviada e o estabelecimento da sede na Capital Federal;
II - filiação e desligamento de seus membros;
III - direitos e deveres dos filiados;
IV - modo como se organiza e administrar, com a definição de sua estrutura geral e identificação,
composição e competências dos órgãos partidários nos níveis municipal, estadual e nacional, duração
dos mandatos e processo de eleição dos seus membros;
V - fidelidade e disciplina partidárias, processo para apuração das infrações e aplicação das
penalidades, assegurado amplo direito de defesa;
VI - condições e forma de escolha de seus candidatos a cargos e funções eletivas;
VII - finanças e contabilidade, estabelecendo, inclusive, normas que os habilitem a apurar as quantias
que os seus candidatos possam despender com a própria eleição, que fixem os limites das
contribuições dos filiados e definam as diversas fontes de receita do partido, além daquelas previstas
nesta Lei;
VIII - critérios de distribuição dos recursos do Fundo Partidário entre os órgãos de nível municipal,
estadual e nacional que compõem o partido;
IX - procedimento de reforma do programa e do estatuto.
Art. 15-A. A responsabilidade, inclusive civil, cabe exclusivamente ao órgão partidário municipal,
estadual ou nacional que tiver dado causa ao não cumprimento da obrigação, à violação de direito, a
dano a outrem ou a qualquer ato ilícito, excluída a solidariedade de outros órgãos de direção
partidária.
Atenção, alguns autores entendem que tal artigo é inconstitucional. Não achei julgados a respeito,
mas a jurisprudência que se formou antes do surgimento do artigo era no sentido da solidariedade entre os
diretórios. Há uma ação direita de constitucionalidade no STF, ADC nº31. 43
9. Filiação Partidária
A filiação partidária é uma das condições de elegibilidade, haja vista que apenas os partidos têm
competência para lançar candidatos, não havendo candidaturas avulsas no sistema pátrio.
Art. 16. Só pode filiar-se a partido o eleitor que estiver no pleno gozo de seus direitos políticos.
Art. 17. Considera-se deferida, para todos os efeitos, a filiação partidária, com o atendimento das
regras estatutárias do partido.
Parágrafo único. Deferida a filiação do eleitor, será entregue comprovante ao interessado, no modelo
adotado pelo partido.
Art. 19. Na segunda semana dos meses de abril e outubro de cada ano, o partido, por seus órgãos
de direção municipais, regionais ou nacional, deverá remeter, aos juízes eleitorais, para
arquivamento, publicação e cumprimento dos prazos de filiação partidária para efeito de candidatura
a cargos eletivos, a relação dos nomes de todos os seus filiados, da qual constará a data de filiação,
o número dos títulos eleitorais e das seções em que estão inscritos. (Redação dada pela Lei nº 9.504,
de 30.9.1997)
§ 1º Se a relação não é remetida nos prazos mencionados neste artigo, permanece inalterada a
filiação de todos os eleitores, constante da relação remetida anteriormente.
§ 2º Os prejudicados por desídia ou má-fé poderão requerer, diretamente à Justiça Eleitoral, a
observância do que prescreve o caput deste artigo.
Art. 20. É facultado ao partido político estabelecer, em seu estatuto, prazos de filiação partidária
superiores aos previstos nesta Lei, com vistas a candidatura a cargos eletivos.
Parágrafo único. Os prazos de filiação partidária, fixados no estatuto do partido, com vistas a
candidatura a cargos eletivos, não podem ser alterados no ano da eleição.
Art. 21. Para desligar-se do partido, o filiado faz comunicação escrita ao órgão de direção municipal
e ao Juiz Eleitoral da Zona em que for inscrito.
Parágrafo único. Decorridos dois dias da data da entrega da comunicação, o vínculo torna-se extinto,
para todos os efeitos.
Art. 22. O cancelamento imediato da filiação partidária verifica-se nos casos de:
I - morte;
II - perda dos direitos políticos;
III - expulsão;
IV - outras formas previstas no estatuto, com comunicação obrigatória ao atingido no prazo de
quarenta e oito horas da decisão.
V – filiação a outro partido, desde que a pessoa comunique o fato ao juiz da respectiva Zona Eleitoral.
(inciso acrescido pela Lei nº 12.891/13) 44
Parágrafo único. Havendo coexistência de filiações partidárias, prevalecerá a mais recente, devendo
a justiça eleitoral determinar o cancelamento das demais. (alterado pela Lei nº 12.891/13) 45
Atenção, antes da alteração do parágrafo único, era prevista a nulidade das duas filiações.
Art. 23. A responsabilidade por violação dos deveres partidários deve ser apurada e punida pelo
competente órgão, na conformidade do que disponha o estatuto de cada partido.
§ 1º Filiado algum pode sofrer medida disciplinar ou punição por conduta que não esteja tipificada no
estatuto do partido político.
§ 2º Ao acusado é assegurado amplo direito de defesa.
Art. 24. Na Casa Legislativa, o integrante da bancada de partido deve subordinar sua ação
parlamentar aos princípios doutrinários e programáticos e às diretrizes estabelecidas pelos órgãos de
direção partidários, na forma do estatuto.
Art. 25. O estatuto do partido poderá estabelecer, além das medidas disciplinares básicas de caráter
partidário, normas sobre penalidades, inclusive com desligamento temporário da bancada, suspensão
do direito de voto nas reuniões internas ou perda de todas as prerrogativas, cargos e funções que
exerça em decorrência da representação e da proporção partidária, na respectiva Casa Legislativa,
ao parlamentar que se opuser, pela atitude ou pelo voto, às diretrizes legitimamente estabelecidas
pelos órgãos partidários.
Art. 26. Perde automaticamente a função ou cargo que exerça, na respectiva Casa Legislativa, em
virtude da proporção partidária, o parlamentar que deixar o partido sob cuja legenda tenha sido eleito.
Em 27/03/2007 o TSE (Consulta 1.398 – Min. César Asfor Rocha), fundamentando sua decisão,
principalmente, nas características do sistema proporcional, disse que, no sistema proporcional (com regras
de quociente eleitoral e quociente partidário), o mandato é do partido, e a mudança de agremiação, após a
diplomação, gera a extinção do mandato parlamentar.
Posteriormente (em 1/8/2007), o TSE voltou a decidir sobre a questão, reafirmando o posicionamento
anterior, no sentido de que “o mandato é do partido e, em tese, o parlamentar o perde ao ingressar em novo
partido” (Consulta 1.423 – Min. José Delgado).
Esse mesmo entendimento foi mantido pelo STF ao julgar os mandados de segurança 26.602, 26.603
e 26.604. O STF, vislumbrando a existência de situações especiais em que a quebra dos vínculos políticos
entre partido e parlamentar não configuram hipótese de infidelidade partidária, consignou que a desfiliação
em virtude de (1) mudança de orientação programática do partido ou de (2) comprovada perseguição política
pela agremiação ao parlamentar não dariam ensejo à extinção do mandato.
O STF definiu, também, que caberia ao TSE editar resolução que regulamentasse todos os aspectos
decorrentes da adoção dessas novas regras de fidelidade partidária.
O TSE, em decisão de 16/10/2007, em resposta à Consulta 1.407/DF, Min. Carlos Britto, aplicou para
os cargos obtidos pelo sistema eleitoral majoritário (Presidente da República, Senadores, Governadores e
Prefeitos) o mesmo entendimento adotado para o sistema proporcional, ou seja, os detentores desses cargos
ficam igualmente submetidos à regra da extinção do mandado decorrente de abandono da legenda pela qual
foram eleitos, salvo nas situações especiais em que, segundo a apreciação da Justiça Eleitoral, esteja
configurada justa causa. E, em observância à decisão do STF, o TSE editou a Resolução 22.610, de
25/10/2007, regulamentando o processo de perda de cargo por conta de desfiliação partidária sem justa
causa.
De acordo com o art. 1º da Resolução 22.610/2007, considera-se justa causa (a não ensejar a perda
do mandato):
O art. 2º da referida resolução estabelece que “O TSE é competente para processar e julgar pedido
relativo a mandato federal; nos demais casos, é competente o tribunal eleitoral do respectivo Estado”.
A repercussão no Congresso Nacional foi imediata. No dia 17/10/2007, um dia após a última decisão
do TSE (de 16/10/2007), o Senado aprovou Proposta de Emenda à Constituição n. 23/07, do Senador Marco
Maciel (DEM-PE), que altera os arts. 17 e 55 da Constituição. A PEC encontra-se na Câmara dos Deputados:
as seguintes alterações:
“Art. 17...............................................................................
...........................................................................................
VII – que se desligar do partido pelo qual tenha concorrido à eleição, salvo no caso de extinção,
incorporação ou fusão do partido político.
...........................................................................................
§ 5º No caso previsto no inciso VII, a perda do mandato será declarada pela Mesa da Casa respectiva,
no prazo máximo de três sessões ordinárias ou extraordinárias, mediante comunicação da mais alta
instância do partido político titular do mandato, acompanhada de documento comprobatório da
desfiliação. (NR)”
A perda do mandato em razão de mudança de partido não se aplica aos candidatos eleitos pelo
sistema majoritário, sob pena de violação da soberania popular e das escolhas feitas pelo eleitor.
Essa a conclusão do Plenário, que julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar
inconstitucional o termo “ou vice”, constante do art. 10, e a expressão “e, após 16 (dezesseis) de
outubro corrente, quanto a eleitos pelo sistema majoritário”, constante do art. 13, ambos da Resolução
22.610/2007 do TSE [“Art. 10. Julgando procedente o pedido, o tribunal decretará a perda do cargo,
comunicando a decisão ao presidente do órgão legislativo competente para que emposse, conforme
o caso, o suplente ou o vice, no prazo de 10 (dez) dias. ... Art. 13. Esta Resolução entra em vigor na
data de sua publicação, aplicando-se apenas às desfiliações consumadas após 27 (vinte e sete) de
março deste ano, quanto a mandatários eleitos pelo sistema proporcional, e, após 16 (dezesseis) de
outubro corrente, quanto a eleitos pelo sistema majoritário”]. Ademais, conferiu interpretação
conforme à Constituição ao termo “suplente”, constante do citado art. 10, com a finalidade de excluir
do seu alcance os cargos do sistema majoritário. Preliminarmente, o Colegiado assentou o cabimento
da ação direta. No ponto, assinalou que, embora a Resolução 22.610/2007 do TSE, já tivesse sido
objeto de controle concentrado perante o STF [ADI 3.999/DF (DJe de 17.4.2009) e ADI 4.086/DF (DJe
de 17.4.2009)], a Corte apenas se pronunciara sobre a constitucionalidade formal da norma. Além
disso, a questão da legitimidade constitucional da perda de mandato nas hipóteses de cargos eletivos
do sistema majoritário não teria sido suscitada anteriormente, e não houvera decisão a respeito, muito
embora a causa de pedir, na hipótese, fosse aberta. No mérito, o Plenário comparou os sistemas
eleitorais praticados no Brasil: majoritário e proporcional. O majoritário, utilizado para eleição de
prefeito, governador, senador e do presidente da República, contemplaria o candidato que obtivesse
o maior número de votos, e os dos demais candidatos seriam desconsiderados. O proporcional, por
sua vez, adotado para eleição de vereador, deputado estadual e deputado federal, contemplaria os
partidos políticos. O número de cadeiras que cada um deles teria na Casa Legislativa estaria
relacionado à votação obtida na circunscrição. No sistema aqui adotado, de lista aberta, o eleitor
escolheria um candidato da lista apresentada pelo partido, sem ordem predeterminada. A ordem de
obtenção das cadeiras seria ditada pela votação que os candidatos, individualmente, obtivessem.
Porém, o sucesso individual dependeria impreterivelmente da quantidade de votos recebida pelo
partido ao qual filiados (quociente partidário). Esse sistema apresentaria várias disfunções: o custo
elevado de campanha, o fato de cerca de 7% dos candidatos, apenas, serem eleitos com votação
própria, e a criação de disputa direta e personalista entre candidatos de um mesmo partido. O
Colegiado analisou que a Constituição atual optara por desenho institucional que fortalecesse os
partidos políticos, inclusive mediante a criação do fundo partidário e da garantia do acesso gratuito
ao rádio e à televisão (CF, art. 17, § 3º). Esse cenário, somado com a possibilidade de criação de
coligações nas eleições proporcionais, permitiria que partidos sem densidade mínima para atingir o
quociente eleitoral conseguissem representatividade. Assim, haveria multiplicidade de partidos, a
destacar as chamadas “legendas de aluguel”, existentes somente para obter dinheiro do fundo
partidário e acesso aos meios de comunicação. A política ficaria afastada do interesse público e se
tornaria negócio privado. Nesse cenário, surgiria a tradição de infidelidade partidária, a culminar em
posicionamento do STF sobre o tema [MS 26.602/DF (DJe de 17.10.2008), MS 26.603/DF (DJe de
19.12.2008) e MS 26.604/DF (DJe de 3.10.2008)]. A Corte, à época, chancelara entendimento no
sentido do dever constitucional de observância da regra de fidelidade partidária, possuindo como
pano de fundo o sistema proporcional. Posteriormente, o TSE editara a resolução ora em debate,
para aduzir que a mesma linha de entendimento seria aplicável quanto ao sistema majoritário, aos
fundamentos de centralidade dos partidos políticos no regime democrático e de os candidatos do
sistema majoritário também se beneficiarem da estrutura partidária para se elegerem. O Plenário
reputou, entretanto, que haveria fundamento constitucional consistente apenas para vincular a regra
da fidelidade partidária ao sistema proporcional. Sucede que, no sistema majoritário, como a regra
seria da maioria de votos e não do quociente eleitoral, o candidato eleito seria o mais bem votado.
Portanto, não seria necessário impor a fidelidade partidária como medida para preservar a vontade
do eleitor. Não se trataria de corolário natural do princípio da soberania popular (CF, artigos 1º,
parágrafo único; e 14). Ao contrário, no sistema majoritário, a imposição da perda do mandato por
infidelidade partidária seria antagônica à soberania popular. Nos pleitos dessa natureza, os eleitores
Art. 27. Fica cancelado, junto ao Ofício Civil e ao Tribunal Superior Eleitoral, o registro do partido que,
na forma de seu estatuto, se dissolva, se incorpore ou venha a se fundir a outro.
Art. 28. O Tribunal Superior Eleitoral, após trânsito em julgado de decisão, determina o
cancelamento do registro civil e do estatuto do partido contra o qual fique provado:
I - ter recebido ou estar recebendo recursos financeiros de procedência estrangeira;
II - estar subordinado a entidade ou governo estrangeiros;
III - não ter prestado, nos termos desta Lei, as devidas contas à Justiça Eleitoral;
IV - que mantém organização paramilitar.
§ 1º A decisão judicial a que se refere este artigo deve ser precedida de processo regular, que
assegure ampla defesa.
§ 2º O processo de cancelamento é iniciado pelo Tribunal à vista de denúncia de qualquer eleitor, de
representante de partido, ou de representação do Procurador-Geral Eleitoral.
§ 3º O partido político, em nível nacional, não sofrerá a suspensão das cotas do Fundo Partidário,
nem qualquer outra punição como conseqüência de atos praticados por órgãos regionais ou
municipais. (Parágrafo incluído pela Lei nº 9.693, de 27.7.98)
§ 4º: Despesas realizadas por órgãos partidários municipais ou estaduais ou por candidatos
majoritários nas respectivas circunscrições devem ser assumidas e pagas exclusivamente pela
esfera partidária correspondente, salvo acordo expresso com órgão de outra esfera partidária.
§ 5º: Em caso de não pagamento, as despesas não poderão ser cobradas judicialmente dos órgãos
superiores dos partidos políticos, recaindo eventual penhora exclusivamente sobre o órgão partidário
que contraiu a dívida executada.
§6º: O disposto no inciso III do caput refere-se apenas aos órgãos nacionais que deixarem de prestar
contas ao Tribunal Superior Eleitoral, não ocorrendo o cancelamento do registro civil e do estatuto do
partido quando a omissão for dos órgãos partidários regionais ou municipais. (§§ 4º a 6º acrescidos
pela Lei nº 12.034/09)50
Art. 29. Por decisão de seus órgãos nacionais de deliberação, dois ou mais partidos poderão
fundir-se num só ou incorporar-se um ao outro.
§ 1º No primeiro caso, observar-se-ão as seguintes normas:
I - os órgãos de direção dos partidos elaborarão projetos comuns de estatuto e programa;
II - os órgãos nacionais de deliberação dos partidos em processo de fusão votarão em reunião
conjunta, por maioria absoluta, os projetos, e elegerão o órgão de direção nacional que promoverá o
registro do novo partido.
§ 2º No caso de incorporação, observada a lei civil, caberá ao partido incorporando deliberar por
maioria absoluta de votos, em seu órgão nacional de deliberação, sobre a adoção do estatuto e do
programa de outra agremiação.
§ 3º Adotados o estatuto e o programa do partido incorporador, realizar-se-á, em reunião conjunta
dos órgãos nacionais de deliberação, a eleição do novo órgão de direção nacional.
§ 4º: vetado (lei nº 13.107/15)
§ 5º: vetado (lei nº 13.107/15)
§ 6º: No caso de incorporação, o instrumento respectivo deve ser levado ao Ofício Civil competente,
que deve, então, cancelar o registro do partido incorporado a outro. (lei nº 13.107/15)
§ 7º: Havendo fusão ou incorporação de partidos, os votos obtidos por eles, na última eleição geral
para a Câmara dos Deputados, devem ser somados para efeito do funcionamento parlamentar, nos
termos do art. 13, da distribuição dos recursos do Fundo Partidário e do acesso gratuito ao rádio e à
televisão. (lei nº 13.107/15)
§ 8º: O novo estatuto ou instrumento de incorporação deve ser levado a registro e averbado,
respectivamente, no Ofício Civil e no Tribunal Superior Eleitoral. (lei nº 13.107/15)
Os partidos políticos devem prestar contas, anualmente, à Justiça Eleitoral, na forma estabelecida na
Lei 9.096/95 e por resolução do TSE. A não-prestação de contas ou a sua desaprovação total ou parcial
enseja a suspensão de cotas do Fundo Partidário (art. 37 da Lei 9.096/95). Além disso, o partido fica sujeito
ao cancelamento de seu registro civil e de seu estatuto pelo TSE (art. 28, III, da Lei 9.096/95).
Os recursos públicos são repassados mediante utilização do Fundo Especial de Assistência aos
Partidos Políticos (Fundo Partidário), previsto na Lei 9.096/95. Referido Fundo é composto (1) de recursos
provenientes de multa e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas; (2)
de dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, a cada ano, ao número de eleitores inscritos em
31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicandos por R$ 0,35, em valores de
agosto de 1995; (3) de doações de pessoas físicas ou jurídicas, dentre outros. Os recursos oriundos do Fundo
Partidário devem ser aplicados na manutenção das sedes e serviços do partido, permitido o pagamento de
pessoal, a qualquer título, este último até o limite máximo de 20% do total recebido, na propaganda doutrinária
e política; no alistamento e campanhas eleitorais; na criação e manutenção de instituto ou fundação de
pesquisa e de doutrinação e educação política, sendo esta aplicação de, no mínimo, 20% do total recebido
(lei 9.096/95, art. 44)52.
Como já se analisou, os arts. 13 e 41, I e Ii, da Lei 9.096/95 foram declarados inconstitucionais pelo
STF, no julgamento das ADI 1.351-3 e 1.354-8. Entendeu o Tribunal, naquela ocasião, que os
condicionamentos impostos pela lei para que as agremiações partidárias obtivessem acesso aos recursos do
fundo partidário violavam o princípio da igualdade de chances, além de não obedecerem a critérios de
proporcionalidade. Com efeito, a regra tornava inviável a própria sobrevivência dos partidos que não
conseguissem ultrapassar a “cláusula de desempenho” ou cláusula de barreira (5% dos votos apurados para
Câmara dos Deputados, distribuídos em pelo menos 1/3 dos Estados, com um mínimo de 2% do total de cada
um deles), na medida em que destinava a todos eles apenas 1% dos recursos do Fundo, ficando os outros
99% restantes com os demais partidos que atingissem os referidos percentuais53.
O modelo legal do Fundo Partidário instituído originariamente pela Lei 9.096/95 era assaz restritivo
para com os partidos menores e, especialmente, com as agremiações em formação. Após a decisão do STF,
declarando a inconstitucionalidade dos dispositivos mencionados, a Lei 11.459/2007 incluiu na Lei dos
Partidos Políticos o art. 41-A, que traz nova regra para a distribuição dos recursos do Fundo Partidário.
Segundo a nova regra, 5% (cinco por cento) do total do Fundo Partidário serão destacados para entrega, em
partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no TSE e 95% (noventa e cinco por
cento) do total do Fundo Partidário serão distribuídos a eles na proporção dos votos obtidos na última eleição
geral para a Câmara dos Deputados.54
O modelo de financiamento dos partidos admite também a doação privada efetivada por pessoas
físicas ou jurídicas, sem que se assegure qualquer benefício fiscal. A doação há de ser efetuada e registrada
de forma nominal, independentemente do seu valor.
Em consulta relatada pelo Min. Marco Aurélio (Resolução TSE, 1.135, de 14/06/2005), o TSE se
manifestou pela ilegalidade do chamado “dízimo”, ou seja, a contribuição que alguns filiados de partidos
políticos têm que pagar à legenda quando são indicados para ocupar cargos de confiança ou cargos políticos
na administração pública. Em outros julgados, contudo a cobrança a cobrança fora considerada legítima
(Resolução 22.025/05 e 21.627/04) 55.
Art. 31. É vedado ao partido receber, direta ou indiretamente, sob qualquer forma ou pretexto,
contribuição ou auxílio pecuniário ou estimável em dinheiro, inclusive através de publicidade de
qualquer espécie, procedente de:
I - entidade ou governo estrangeiros;
II - autoridade ou órgãos públicos, ressalvadas as dotações referidas no art. 38;
III - autarquias, empresas públicas ou concessionárias de serviços públicos, sociedades de economia
mista e fundações instituídas em virtude de lei e para cujos recursos concorram órgãos ou entidades
governamentais;
IV - entidade de classe ou sindical.
Art. 32. O partido está obrigado a enviar, anualmente, à Justiça Eleitoral, o balanço contábil do
exercício findo, até o dia 30 de abril do ano seguinte.
§ 1º O balanço contábil do órgão nacional será enviado ao Tribunal Superior Eleitoral, o dos órgãos
estaduais aos Tribunais Regionais Eleitorais e o dos órgãos municipais aos Juízes Eleitorais.
§ 2º A Justiça Eleitoral determina, imediatamente, a publicação dos balanços na imprensa oficial, e,
onde ela não exista, procede à afixação dos mesmos no Cartório Eleitoral.
§ 3º No ano em que ocorrem eleições, o partido deve enviar balancetes mensais à Justiça Eleitoral,
durante os quatro meses anteriores e os dois meses posteriores ao pleito.
Art. 34. A Justiça Eleitoral exerce a fiscalização sobre a escrituração contábil e a prestação de contas
do partido e das despesas de campanha eleitoral, devendo atestar se elas refletem adequadamente
a real movimentação financeira, os dispêndios e recursos aplicados nas campanhas eleitorais,
exigindo a observação das seguintes normas:
I - obrigatoriedade de constituição de comitês e designação de dirigentes partidários específicos, para
movimentar recursos financeiros nas campanhas eleitorais;
II - caracterização da responsabilidade dos dirigentes do partido e comitês, inclusive do tesoureiro,
que responderão, civil e criminalmente, por quaisquer irregularidades;
III - escrituração contábil, com documentação que comprove a entrada e saída de dinheiro ou de bens
recebidos e aplicados;
IV - obrigatoriedade de ser conservada pelo partido a documentação comprobatória de suas
prestações de contas, por prazo não inferior a cinco anos;
V - obrigatoriedade de prestação de contas, pelo partido político, seus comitês e candidatos, no
encerramento da campanha eleitoral, com o recolhimento imediato à tesouraria do partido dos saldos
financeiros eventualmente apurados.
Parágrafo único. Para efetuar os exames necessários ao atendimento do disposto no caput, a Justiça
Eleitoral pode requisitar técnicos do Tribunal de Contas da União ou dos Estados, pelo tempo que for
necessário.
Art. 35. O Tribunal Superior Eleitoral e os Tribunais Regionais Eleitorais, à vista de denúncia
fundamentada de filiado ou delegado de partido, de representação do Procurador-Geral ou Regional
ou de iniciativa do Corregedor, determinarão o exame da escrituração do partido e a apuração de
qualquer ato que viole as prescrições legais ou estatutárias a que, em matéria financeira, aquele ou
seus filiados estejam sujeitos, podendo, inclusive, determinar a quebra de sigilo bancário das contas
dos partidos para o esclarecimento ou apuração de fatos vinculados à denúncia.
Parágrafo único. O partido pode examinar, na Justiça Eleitoral, as prestações de contas
mensais ou anuais dos demais partidos, quinze dias após a publicação dos balanços
financeiros, aberto o prazo de cinco dias para impugná-las, podendo, ainda, relatar fatos,
indicar provas e pedir abertura de investigação para apurar qualquer ato que viole as
prescrições legais ou estatutárias a que, em matéria financeira, os partidos e seus filiados
estejam sujeitos.
Art. 36. Constatada a violação de normas legais ou estatutárias, ficará o partido sujeito às seguintes
sanções:
I - no caso de recursos de origem não mencionada ou esclarecida, fica suspenso o recebimento das
quotas do fundo partidário até que o esclarecimento seja aceito pela Justiça Eleitoral;
II - no caso de recebimento de recursos mencionados no art. 31, fica suspensa a participação no
fundo partidário por um ano;
III - no caso de recebimento de doações cujo valor ultrapasse os limites previstos no art. 39, § 4º, fica
suspensa por dois anos a participação no fundo partidário e será aplicada ao partido multa
correspondente ao valor que exceder aos limites fixados.
Art. 37. A falta de prestação de contas ou sua desaprovação total ou parcial implica a suspensão de
novas cotas do Fundo Partidário e sujeita os responsáveis ás penas da lei. (Redação dada pela Lei
nº 9.693, de 27.7.98)
§ 1º. A Justiça Eleitoral pode determinar diligências necessárias à complementação de informações
ou ao saneamento de irregularidades encontradas nas contas dos órgãos de direção partidária ou de
candidatos. (Parágrafo renumerado pela Lei nº 9.693, de 27.7.98)
§ 2º A sanção a que se refere o caput será aplicada exclusivamente à esfera partidária responsável
pela irregularidade. (Incluído pela Lei nº 9.693, de 27.7.98)
§3º: A sanção de suspensão do repasse de novas quotas do Fundo Partidário, por desaprovação total
ou parcial da prestação de contas de partido, deverá ser aplicada de forma proporcional e razoável,
pelo período de 1 (um) mês a 12 (doze) meses, ou por meio de desconto, do valor a ser repassado,
da importância apontada como irregular, não podendo ser aplicada a sanção de suspensão, caso a
prestação de contas não seja julgada, pelo juízo ou tribunal competente, após 5 (cinco) anos de sua
apresentação.
§4º: da decisão que desaprovar total ou parcialmente a prestação de contas dos órgãos partidários
caberá recurso para os Tribunais regionais Eleitorais ou para o Tribunal Superior Eleitoral, conforme
o caso, o qual deverá ser recebido com efeito suspensivo.
§5º: As prestações de contas desaprovadas pelos Tribunais Regionais e pelo Tribunal Superior
Eleitoral poderão ser revistas para fins de aplicação proporcional da sanção aplicada, mediante
requerimento ofertado nos autos da prestação de contras.
§6º: O exame da prestação de contas dos órgãos partidários tem caráter jurisdicional. (§§ 3º a 6º
acrescidos pela Lei nº 12.034/09)56
CAPÍTULO II
Do Fundo Partidário
Art. 38. O Fundo Especial de Assistência Financeira aos Partidos Políticos (Fundo Partidário) é
constituído por:
I - multas e penalidades pecuniárias aplicadas nos termos do Código Eleitoral e leis conexas;
II - recursos financeiros que lhe forem destinados por lei, em caráter permanente ou eventual;
III - doações de pessoa física ou jurídica, efetuadas por intermédio de depósitos bancários
diretamente na conta do Fundo Partidário;
IV - dotações orçamentárias da União em valor nunca inferior, cada ano, ao número de eleitores
inscritos em 31 de dezembro do ano anterior ao da proposta orçamentária, multiplicados por trinta e
cinco centavos de real, em valores de agosto de 1995.
§ 1º (VETADO)
§ 2º (VETADO)
Art. 39. Ressalvado o disposto no art. 31, o partido político pode receber doações de pessoas físicas
e jurídicas para constituição de seus fundos.
§ 1º As doações de que trata este artigo podem ser feitas diretamente aos órgãos de direção nacional,
estadual e municipal, que remeterão, à Justiça Eleitoral e aos órgãos hierarquicamente superiores do
partido, o demonstrativo de seu recebimento e respectiva destinação, juntamente com o balanço
contábil.
§ 2º Outras doações, quaisquer que sejam, devem ser lançadas na contabilidade do partido, definidos
seus valores em moeda corrente.
§ 3º As doações em recursos financeiros devem ser, obrigatoriamente, efetuadas por cheque cruzado
em nome do partido político ou por depósito bancário diretamente na conta do partido político.
Art. 40. A previsão orçamentária de recursos para o Fundo Partidário deve ser consignada, no Anexo
do Poder Judiciário, ao Tribunal Superior Eleitoral.
§ 1º O Tesouro Nacional depositará, mensalmente, os duodécimos no Banco do Brasil, em conta
especial à disposição do Tribunal Superior Eleitoral.
§ 2º Na mesma conta especial serão depositadas as quantias arrecadadas pela aplicação de multas
e outras penalidades pecuniárias, previstas na Legislação Eleitoral.
Art. 41. O Tribunal Superior Eleitoral, dentro de cinco dias, a contar da data do depósito a que se
refere o § 1º do artigo anterior, fará a respectiva distribuição aos órgãos nacionais dos partidos. (O
restante do artigo foi considerado inconstitucional pelo STF na ADI 1351-3 e 1354-8).
Art. 41-A. 5% (cinco por cento) do total do Fundo Partidário serão destacados para entrega, em
partes iguais, a todos os partidos que tenham seus estatutos registrados no Tribunal Superior Eleitoral
e 95% (noventa e cinco por cento) do total do Fundo Partidário serão distribuídos a eles na proporção
dos votos obtidos na última eleição geral para a Câmara dos Deputados. (Incluído pela Lei nº 11.459,
de 2007).
Paragrafo único: Para efeito do disposto no inciso II, serão desconsideradas as mudanças de filiação
partidária, em qualquer das hipóteses. (alterado pela Lei nº 13.107/15)57
Art. 42. Em caso de cancelamento ou caducidade do órgão de direção nacional do partido, reverterá
ao Fundo Partidário a quota que a este caberia.
Art. 43. Os depósitos e movimentações dos recursos oriundos do Fundo Partidário serão feitos em
estabelecimentos bancários controlados pelo Poder Público Federal, pelo Poder Público Estadual ou,
inexistindo estes, no banco escolhido pelo órgão diretivo do partido.
Enquanto a Lei das Eleições (Lei 9.504/97) disciplina o horário gratuito na propaganda eleitoral, sendo
esta permitida após o dia 5 de julho do ano eleitoral, a Lei dos Partidos Políticos regula a propaganda partidária
fora do período eleitoral, sendo esta vedada no 2º semestre do ano da eleição (art. 36, § 2º, da Lei das
Eleições)60.
A Constituição consagrou o direito de acesso dos partidos ao rádio e à televisão, na forma da lei (art.
17, § 3º). A matéria estava disciplinada na Lei 9.096/95 (art. 48), que assegurava aos partidos que não
possuíssem funcionamento parlamentar a realização de um programa em cadeia nacional, em cada semestre,
com a duração máxima de dois (2) minutos. Aos partidos com funcionamento parlamentar (5% dos votos
válidos nas últimas eleições parlamentares, distribuídos em, pelo menos, 1/3 dos Estados, com um mínimo
de 2% do total em cada um deles – art. 13) assegurava-se a realização de programa em cadeia nacional e
de um programa em cadeia estadual em cada semestre, com duração de vinte (20) minutos cada (Lei
9.096/95, art. 49, I) e, ainda, a utilização do tempo de quarenta (40) minutos por semestre, para inserções de
trinta (30) segundos ou um minuto, nas redes nacionais, e de igual tempo nas emissoras estaduais (Lei
9.096/95, art. 49, II)61.
O STF entendeu que tais regras (art. 13 c/c os arts. 48 e 49) violavam o princípio da igualdade de
chances, tendo em vista o tratamento demasiado restritivo aos partidos que não atingissem os percentuais
de votação da “cláusula de barreira” (art. 13).
O acesso ao rádio e à televisão pelos partidos políticos é subsidiado integralmente pela União, tal
como estabelece o art. 52, p.ú, da Lei 9.096/95, que assegura que “as emissoras de rádio e televisão terão
direito a compensação fiscal pela cedência do horário gratuito previsto em lei”.
Além do acesso regular ao rádio e à televisão, estabelece a Lei das Eleições (Lei 9.504/97) que as
emissoras de rádio e televisão reservarão, nos quarenta e cinco (45) dias anteriores à antevéspera das
eleições, horários destinados à divulgação em rede, da propaganda eleitoral gratuita.
TÍTULO IV
Do Acesso Gratuito ao Rádio e à Televisão
Art. 46. As emissoras de rádio e de televisão ficam obrigadas a realizar, para os partidos políticos, na
forma desta Lei, transmissões gratuitas em âmbito nacional e estadual, por iniciativa e sob a
responsabilidade dos respectivos órgãos de direção.
§ 1º As transmissões serão em bloco, em cadeia nacional ou estadual, e em inserções de trinta
segundos e um minuto, no intervalo da programação normal das emissoras.
§ 2º A formação das cadeias, tanto nacional quanto estaduais, será autorizada pelo Tribunal Superior
Eleitoral, que fará a necessária requisição dos horários às emissoras de rádio e de televisão, mediante
requerimento dos órgãos nacionais dos partidos, com antecedência mínima de quinze dias.
§ 3º No requerimento a que se refere o parágrafo anterior, o órgão partidário solicitará conjuntamente
a fixação das datas de formação das cadeias, nacional e estaduais.
§ 4º O Tribunal Superior Eleitoral, independentemente do âmbito nacional ou estadual da
transmissão, havendo coincidência de data, dará prioridade ao partido que apresentou o requerimento
em primeiro lugar.
§ 5º: O material de áudio e vídeo com os programas em bloco ou as inserções será entregue às
emissoras com a antecedência mínima de doze horas da transmissão, podendo as inserções de rádio
ser enviadas por meio correspondente de correspondência eletrônica. (alterado pela Lei 12.891/13)
§ 6º As inserções a serem feitas na programação das emissoras serão determinadas:
I - pelo Tribunal Superior Eleitoral, quando solicitadas por órgão de direção nacional de partido;
II - pelo Tribunal Regional Eleitoral, quando solicitadas por órgão de direção estadual de partido.
§ 7º Em cada rede somente serão autorizadas até dez inserções de trinta segundos ou cinco de um
minuto por dia.
§8º: é vedada a veiculação de inserções idênticas no mesmo intervalo de programação, exceto se o
número de inserções de que dispuser o partido exceder os intervalos disponíveis, sendo vedada a
transmissão em sequencia para o mesmo partido. (acrescentado pela Lei 12.891/13)
OBS! Os incisos III e IV tratam do meio ambiente cultural. Os incisos VI, VII e XI tratam do meio ambiente
natural.
OBS! Art. 23, § único: Essas leis complementares até hoje não foram editadas.
Atenção! Foi editada a LC 140/2011, que “fixa normas, nos termos dos incisos III, VI e VII do caput e
do parágrafo único do art. 23 da Constituição Federal, para a cooperação entre a União, os Estados, o Distrito
Federal e os Municípios nas ações administrativas decorrentes do exercício da competência comum relativas
à proteção das paisagens naturais notáveis, à proteção do meio ambiente, ao combate à poluição em qualquer
de suas formas e à preservação das florestas, da fauna e da flora.”
Eis o conteúdo da lei complementar, no que mais interessa:
Art. 6o As ações de cooperação entre a União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios
deverão ser desenvolvidas de modo a atingir os objetivos previstos no art. 3 o e a garantir o
desenvolvimento sustentável, harmonizando e integrando todas as políticas governamentais.
Art. 10. São ações administrativas do Distrito Federal as previstas nos arts. 8 o e 9o.
Art. 11. A lei poderá estabelecer regras próprias para atribuições relativas à autorização de
manejo e supressão de vegetação, considerada a sua caracterização como vegetação primária
ou secundária em diferentes estágios de regeneração, assim como a existência de espécies da
flora ou da fauna ameaçadas de extinção.
Art. 12. Para fins de licenciamento ambiental de atividades ou empreendimentos
utilizadores de recursos ambientais, efetiva ou potencialmente poluidores ou capazes,
sob qualquer forma, de causar degradação ambiental, e para autorização de supressão e
manejo de vegetação, o critério do ente federativo instituidor da unidade de conservação
não será aplicado às Áreas de Proteção Ambiental (APAs).
Parágrafo único. A definição do ente federativo responsável pelo licenciamento e autorização a
que se refere o caput, no caso das APAs, seguirá os critérios previstos nas alíneas “a”, “b”, “e”,
“f” e “h” do inciso XIV do art. 7o, no inciso XIV do art. 8o e na alínea “a” do inciso XIV do art. 9o.
Art. 13. Os empreendimentos e atividades são licenciados ou autorizados,
ambientalmente, por um único ente federativo, em conformidade com as atribuições
estabelecidas nos termos desta Lei Complementar.
§ 1o Os demais entes federativos interessados podem manifestar-se ao órgão
responsável pela licença ou autorização, de maneira não vinculante, respeitados os
prazos e procedimentos do licenciamento ambiental.
§ 2o A supressão de vegetação decorrente de licenciamentos ambientais é autorizada pelo
ente federativo licenciador.
§ 3o Os valores alusivos às taxas de licenciamento ambiental e outros serviços afins devem
guardar relação de proporcionalidade com o custo e a complexidade do serviço prestado pelo
ente federativo.
(...)
Art. 15. Os entes federativos devem atuar em caráter supletivo nas ações administrativas
de licenciamento e na autorização ambiental, nas seguintes hipóteses:
I - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado ou no
Distrito Federal, a União deve desempenhar as ações administrativas estaduais ou
distritais até a sua criação;
II - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Município, o
Estado deve desempenhar as ações administrativas municipais até a sua criação; e
III - inexistindo órgão ambiental capacitado ou conselho de meio ambiente no Estado e no
Município, a União deve desempenhar as ações administrativas até a sua criação em um
daqueles entes federativos.
Art. 16. A ação administrativa subsidiária dos entes federativos dar-se-á por meio de
apoio técnico, científico, administrativo ou financeiro, sem prejuízo de outras formas de
cooperação.
Parágrafo único. A ação subsidiária deve ser solicitada pelo ente originariamente detentor
da atribuição nos termos desta Lei Complementar.
OBS! Se a competência em matéria de fiscalização é comum entre todos os entes federativos, é possível,
por exemplo, a atuação concomitante do Órgão Federal e Estadual impondo sanções a um mesmo fato. Até
hoje não foram editadas as leis complementares fixando normas para a cooperação entre os entes e, por
isso, todos os Entes Federativos podem atuar concomitante. Assim, por exemplo, em uma mesma situação
um ente federal e um ente estadual podem autuar uma determinada pessoa por infração ambiental.
Cuidado!!! Art. 76 da Lei 9605/98: “o pagamento de multa imposta pelos Estados, Municípios, DF ou
Territórios substitui a multa federal na mesma hipótese de incidência”. Mas atenção!!! Não vale a assinatura
de TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o órgão estadual, salvo se o órgão ambiental federal
(IBAMA) participar. Em outras palavras, é necessário que tenha o efetivo pagamento para o órgão ambiental
estadual (Art. 12, § único do Decreto 6514/08).
OBS! O Estado do Rio Grande do Sul tinha uma Lei estadual que pontuava o seguinte: a fiscalização do
patrimônio histórico compete exclusivamente aos Municípios. Esta Lei foi declarada inconstitucional, porque
uma Lei estadual não pode restringir a competência administrativa do art. 23 da CF. (ADI 2.544, Rel.
Min. Sepúlveda Pertence, julgamento em 28-6-2006, Plenário,DJ de 17-11-2006.)
A competência legislativa ambiental é concorrente. E, portanto, cabe a União editar as normas gerais, aos
Estados e DF competem editar as normas suplementares. As normas gerais servem para a uniformização e
coordenação da legislação em todo o País. O padrão mínimo, as diretrizes são fixadas nas normas gerais.
Atenção!!! Norma geral não pode entrar em detalhes, ou seja, não pode detalhar a Lei.
Os Estados e DF editam normas suplementares, que irão suplementar a norma geral. Aqui sim ocorrerá um
detalhamento, tendo como referência a norma geral.
OBS! Competência legislativa plena: inexistindo lei federal sobre normas gerais, os Estados exercerão a
competência legislativa plena, para atender a suas peculiaridades.
OBS! Conflito de normas ambientais: Lei ambiental estadual contrariando Lei ambiental federal (norma
geral). Como resolver este conflito? O problema é: o STF tem decisões para tudo quanto é lado.
1º critério para dirimir este conflito: critério da prevalência da lei federal (STF, ver ADI’s no material de apoio).
Temos mais números de julgado neste sentido. Mas Cuidado!!! Os ministros que mais defendiam este critério
não estão mais no STF como, por exemplo, Ellen Gracie.
2º critério para dirimir este conflito: critério da lei mais protetiva ao meio ambiente (STF, ADI 3.937). Este
critério é praticamente unânime entre os doutrinadores de direito ambiental. A tendência é que este
entendimento se consolide.
OBS! Os Municípios têm competência legislativa: art. 30, II da CF. Logo, os Municípios também têm
competência legislativa ambiental. O que eles não têm é competência legislativa concorrente do art. 24 da
CF.
ART. 225 CF
Define o meio ambiente ecologicamente equilibrado como direito de todos e lhe dá a natureza de bem de uso
comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever
de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.
O art.225, parag.4º, declara patrimônio nacional a Floresta Amazônica brasileira, a Mata Atlântica, a Serra do
Mar, o Pantanal Mato-Grossense e a Zona Costeira, e sua utilização econômica, inclusive, quanto ao uso dos
recursos naturais é admissível, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio
ambiente.
As constituições que precederam a de 1988 jamais se preocuparam com a proteção do ambiente de forma
específica e global. Nelas, nem mesmo uma vez foi pregada a expressão meio ambiente, dando a revelar
total inadvertência ou até, despreocupação com o próprio espaço em que vivemos.
Constituição do Império, de 1824 > apenas cuidou da proibição de indústrias contrárias à saúde do cidadão.
Primeira constituição republicana 1891> atribuía competência legislativa à União para legislar sobre as suas
minas e terras.
Constituição de 1934> dispensou proteção às belezas naturais, ao patrimônio histórico, artístico e cultural;
conferiu à União competência em matéria de riquezas do subsolo, mineração, águas, florestas, caça, pesca
e sua exploração.
Constituição de 1937> também se preocupou com a proteção dos monumentos históricos, artísticos e
naturais, bem como das paisagens e locais especialmente dotados pela natureza; inclui entre as matérias de
competência da União legislar sobre minas, águas, florestas, caça, pesca, e sua exploração; cuidou ainda da
competência legislativa sobre subsolo e tratou da proteção das plantas e rebanhos contra moléstias e agentes
nocivos.
Constituição de 1946 > além de manter a defesa do patrimônio histórico, cultural e paisagístico, conservou
como competência da União legislar sobre normas gerais da defesa da saúde, das riquezas do subsolo, das
águas, florestas, caça e pesca.
Constituição de 1967 > insistiu na necessidade de proteção do patrimônio histórico, cultural e paisagístico;
disse ser atribuição da União legislar sobre normas gerais de defesa da saúde, sobre jazidas, florestas, caça,
pesca e água.
Constituição de 1969> emenda outorgada pela Junta Militar à Constituição de 1967, cuidou também da defesa
do patrimônio histórico, cultural e paisagístico. No tocante à divisão de competência, manteve as disposições
da Constituição emendada. Em seu art. 172, disse que “a lei regulará, mediante prévio levantamento
ecológico, o aproveitamento agrícola de terras sujeitas a intempéries e calamidades” e que “o mau uso da
terra impedirá o proprietário de receber incentivos e auxílio do governo”. Cabe observar a introdução, aqui,
do vocábulo “ecológico” em textos legais.
CONSTITUIÇÃO DE 1988
A dimensão conferida ao tema não se resume aos dispositivos concentrados, especialmente, no Capítulo VI
, do Título VIII, dirigido à ordem social; alcança da mesma forma, inúmeros outros regramentos insertos ao
longo do texto nos mais diversos Títulos e Capítulos, decorrentes do conteúdo multidisciplinar da matéria.
Referido dispositivo compreende, segundo José Afonso da Silva, três conjuntos de normas. O primeiro
aparece no caput , aonde se inscreve a norma matriz, reveladora do direito de todos ao meio ambiente
ecologicamente equilibrado; o segundo, encontra-se no §1º, com seus incisos, que versa sobre os
instrumentos de garantia e efetividade do direito anunciado no caput do artigo; o terceiro compreende um
conjunto de determinações particulares, em relação a objetos e setores, referidos nos §§ 2º a 6º, que, por
tratarem de áreas e situações de elevado conteúdo ecológico, merecem desde logo proteção constitucional.
A norma matriz cria um direito constitucional fundamental ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, e,
sendo assim, é indisponível. E esta indisponibilidade vem acentuada pelo fato de mencionar o interesse não
só da presente, como das futuras gerações. Em segundo lugar, o meio ambiente é considerado bem de uso
comum do povo, o que o qualifica como patrimônio público a ser necessariamente assegurado e protegido,
tendo em vista o uso coletivo.
Além de ser bem de uso comum do povo, é reputado bem essencial à sadia qualidade de vida. Esta norma
cria para o Poder Público um dever constitucional, geral e positivo, representado por verdadeiras obrigações
de fazer, isto é: defender e preservar o meio ambiente. Esta ação é vinculada, saindo da esfera da
conveniência e oportunidade, para ingressar num campo de imposição.
De outro lado, deixa o cidadão de ser mero titular (passivo) de um direito ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado e passa também a ter a titularidade de um dever de defesa e preservação.
Os titulares do bem jurídico “meio ambiente” não são apenas os cidadãos do país – as presentes gerações,
mas, por igual, aqueles que ainda não existem e os que poderão existir – gerações futuras.
Preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais. Cuida-se de garantir, através de ações
conjugadas de todas as esferas e modalidades do Poder Público, o que se encontra em boas condições
originais, e de recuperar o que foi degradado. Por processos ecológicos essenciais se pode subentender
aqueles que garantem o funcionamento dos ecossistemas e contribuem para a salubridade e higidez do meio
ambiente.
Significa lidar com as espécies e conservá-las, e, se possível, recuperá-las. Prover o manejo dos
ecossistemas quer dizer cuidar do equilíbrio das relações entre a comunidade biótica e seu habitat. Em caso
de dúvida, o gestor deve pautar-se pela solução mais segura sob o ponto de vista ecológico, uma vez que o
patrimônio da coletividade deve ser assegurado.
No dizer da Convenção da Biodiversidade, esta vem a ser a variedade de seres que compõe a vida na Terra,
a variabilidade de organismos vivos de todas as origens, compreendendo, dentre outros, os ecossistemas
terrestres, marinhos, e outros ecossistemas aquáticos e os complexos ecológicos de que fazem parte;
compreendendo, ainda a diversidade dentro de espécies, entre espécies e ecossistemas. Preservar a
biodiversidade, significa reconhecer, inventariar, e manter o leque dessas diferenças de organismos vivos.
Hoje existe uma grande preocupação no diz respeito ao patrimônio genético. Foi no Fórum sobre
Biodiversidade, realizado em Washington, em 1986, que a questão foi posta como uma grande preocupação
de nosso tempo, alertando para o desaparecimento acelerado das espécies, e colocando o assunto na
agenda internacional. Adverte Laimert Garcia dos Santos que existem vários indícios sugerindo como o
terreno vem sendo preparado para a revolução biológica e a constituição do biomercado, da política de fusões
que concentra os mesmos conglomerados: as indústrias de alimentos, farmacêuticos, química e insumos
agrícolas...”
A definição de “espaços territoriais especialmente protegidos” a que alude a CF figura no rol dos Instrumentos
da Política Nacional do Meio Ambiente, por força de determinação da L. 7.804, de 18.07.1989, que deu nova
redação ao art. 9º, VI, da L. 6.938/81. Isto significa que estes espaços são um dos instrumentos jurídicos para
implementação do direito constitucional ao ambiente hígido e equilibrado, em particular, no que se refere à
estrutura e funções do ecossistema.
EIA destina-se à prevenção de danos. Foi inspirado em modelo americano e introduzido em nosso
ordenamento pela lei 6.938/81, de 02.07.1980, que dispõe sobre as diretrizes básicas para zoneamento
industrial nas áreas criticas de poluição.
Seu objetivo é evitar que um projeto (obra ou atividade), justificável sob o ponto de vista econômico, revele-
se posteriormente nefasto ou catastrófico para o meio ambiente.
Valoriza-se a vocação essencialmente preventiva do direito ambiental. Foi justamente para prever o dano,
antes de sua manifestação, que se criou o EIA. Daí a necessidade de que seja elaborado no momento certo:
antes do início da execução, ou mesmo antes de atos preparatórios do projeto.
A publicidade exigida pela norma constitucional possibilita a participação popular nas discussões e aferições
do conteúdo dos estudos, contribuindo para seu aprimoramento.
Permite-se aqui, a interferência do Poder Público nas atividades econômicas de domínio privado para impedir
a prática danosa à saúde da população ao meio ambiente.
Levado a sério, tal dispositivo é extremamente revolucionário. Com efeito, não somente as substancias, mas
também as técnicas e métodos, são considerados como fatores de danos reais ou potenciais ao meio
ambiente. De modo implícito, são privilegiadas as chamadas tecnologias limpas.
- Educação Ambiental
Não se trata de ser contra o progresso, mas de promover e compatibilizar o desenvolvimento econômico-
social com os requisitos ambientais mínimos, utilizando e conservando de modo racional os recursos naturais
e solidarizando-se sincronicamente (nos tempos presentes) e diacronicamente (através dos sucessivos
tempos) com toda humanidade.
Estão protegidos todos os animais indistintamente, vez que todo ser vivo tem valor, função e importância
ecológica, seja como espécie ou como indivíduo. No tocante à flora, tem igual proteção, vez que é estreita a
ligação entre fauna e flora, expressada nas relações ecossistemicas. Desta feita, as florestas, matas ciliares,
os cerrados, o manguezal, e quaisquer formas de vegetação estão sob a proteção constitucional.
A atividade da mineração possui interface direta com a realidade do meio ambiente, dado que não há como
extrair um mineral sem danos. Após consagrado interesse público existente sobre o aproveitamento dos
minerais, impôs ao minerador a responsabilidade de recuperar o meio ambiente degradado, segundo
soluções técnicas exigidas pelo órgão público. Vale observar que, anteriormente, a Lei 6.938/81, art. 2º, VIII,
já se referia à recuperação de áreas degradadas como um dos princípios programáticos informadores da
Política Nacional do Meio Ambiente. O que o legislador quer é que a própria recuperação do dano ecológico
produzido pela mineração se faça de acordo com uma decisão técnica.
Ao poluidor, nos termos da Constituição, aplicam-se medidas de caráter reparatório e punitivo. A danosidade
ambiental, potencial ou efetiva, pode gerar uma tríplice reação do ordenamento jurídico, ou seja, um único
ato pode detonar a imposição de sanções administrativas, penais e civis. Em âmbito civil, a responsabilidade
ambiental é objetiva, ou seja, o dever de reparar exsurge com a simples presença do nexo causal entre a
lesão e uma determinada atividade.
Contudo, administrativamente, porém, o risco não é integral, constituindo as hipóteses de força maior, caso
fortuito e fato de terceiro, excludentes de responsabilidade administrativa, exceto naqueles casos em que haja
concausa, isto é, ocorrência de um resultado em função da combinação do evento excludente com um
comportamento omissivo ou comissivo do agente. Isto pq, a conduta do infrator terá concorrido para a
realização do ilícito administrativo.
Cinco regiões entre os grandes biomas brasileiros, recebem tratamento particular em decorrência das
características de seus ecossistemas. São eles: Floresta Amazônica, Mata Atlântica, Serra doMar, Pantanal
Mato-grossense e Zona Costeira. Tão grande foi a preocupação do legislador constitucional com a
manutenção desses vastosterritórios, que os considerou patrimônio nacional, estabelecendo, em consonância
com a devida proteção aos direitos de terceira geração, uma limitação ao seu uso, que só se dará na forma
da lei edentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente. A expressão patrimônio
nacional, a que se refere o dispositivo, não tem, à evidência, o sentido de propriedade federal ou do Estado,
mas de riqueza que, neste país, herdamos com a obrigação de preservar e transmitir às gerações futuras,
sem perda, é claro, de seu adequado aproveitamento econômico. Deveras, qualificado como bem de uso
comum do povo, não integra o patrimônio disponível do Estado. Portanto, o Estado não atua jamais como
proprietário deste bem, mas, diversamente, como simples administrador de um patrimônio que pertence à
coletividade.
As terras devolutas ou arrecadadas pelo Estado por ações discriminatórias, desde que
necessárias à proteção de ecossistemas naturais, são consideradas indisponíveis, segundo regra expressa
no art. 225, §5º da CF. No atual quadro constitucional, as terras devolutas foram mantidas como bens
públicos, em razão da origem de seu domínio. Segundo prevê a CF88, pertencem à União aquelas
indispensáveis à defesa das fronteiras, das fortificações e construções militares, das vias federais de
comunicação e à preservação ambiental definidas em lei. As que sobejam, pertencem aos Estados
Federados.
No que diz respeito à forma, só a lei, no sentido estrito, ou seja, lei federal, poderá dispor sobre a matéria,
pois a Constituição também elegeu o controle político, efetuado pelo Congresso Nacional, como forma de
gestão das atividades nucleares.
Do Registro Público das Empresas Mercantis. Lei nº 8.934 de 18 de novembro de 1994. Fomento
mercantil. Teoria geral dos títulos de crédito. Títulos de crédito no Código Civil. Constituição do
crédito. Exigibilidade. Títulos de crédito em espécie. Letra de Câmbio. Nota promissória. Cheque.
Duplicata. Títulos de créditos vinculados ao crédito rural. Títulos de créditos vinculados ao
financiamento imobiliário. Conhecimento de depósito. Warrant. Conhecimento de transporte. Títulos
do agronegócio. Ações cambiárias. Teoria geral da falência. Evolução do Direito Falimentar. Princípio
da preservação da empresa. Crise da empresa. Lei nº 11.101/2005.
Registro Público das Empresas Mercantis e Lei 8.934/94 (extraído do resumo do TRF1):
O Serviço do Registro Público de Empresas Mercantis e Atividades Afins é exercido em todo o território
nacional, de maneira uniforme, pelo Sistema Nacional de Registro de Empresas Mercantis (Sinrem). A
disciplina dos órgãos que o compõem, bem como o do sistema registral, está disciplinada na Lei n.º 8.934/94,
que é a Lei do Registro de Empresas. Merece destaque o fato de que com a criação da Secretaria da Micro
e Pequena Empresa pela Lei n. 12.792/2013, de 28/03/2013, foi editado o Decreto n. 8.001/2013 extinguindo
o Departamento Nacional de Registro do Comércio (DNRC), ligado ao Ministério da Indústria e Comércio, e
criando o Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI), subordinando-o à nova Secretaria.
O Sinrem é integrado pelo Departamento de Registro Empresarial e Integração (DREI – Antigo DNRC),
vinculado à Secretaria da Micro e Pequena Empresa da Presidência da República, e pelas Juntas Comerciais,
órgãos locais responsáveis pelo registro de Empresários individuais, sociedades empresárias e cooperativas.
(LRE, art. 3º). As funções do DREI estão previstas no art. 4º da LRE, podendo assim serem sintetizadas:
supervisão e coordenação, no plano técnico, dos órgãos de registro.
Funciona também como segunda instância administrativa;
expedição de normas e diretrizes gerais relativas ao registro;
solução de dúvidas e controvérsias oriundas do registro
Embora tenha sido investido nas funções de órgão central disciplinador, fiscalizador e supervisor do registro
de empresas, o DREI não dispõe de instrumentos de intervenção nas Juntas comerciais, caso não adotem
suas diretrizes ou deixem de acatar recomendações de correção. A lei estabelece, apenas, que o DREI pode
representar às autoridades competentes (o Governador do Estado, O Ministério Público Estadual e outros).
As Juntas Comerciais são órgãos estaduais submetidos, no âmbito técnico, ao DREI, e no âmbito
administrativo e financeiro, ao Governo Estadual (exceção a situada no Distrito Federal, pois se submete
técnica e administrativamente ao DREI). Há uma Junta Comercial em cada Estado do País, com sede na
capital e jurisdição na área de circunscrição territorial respectiva. São responsáveis pelo registro das
empresas.
Jurisprudência:
(...)
1. A jurisprudência deste Superior Tribunal de Justiça tem decidido pela competência da Justiça Federal, nos
processos em que figuram como parte a Junta Comercial do Estado, somente nos casos em que se discute
a lisura do ato praticado pelo órgão, bem como nos mandados de segurança impetrados contra seu
presidente, por aplicação do artigo 109, VIII, da Constituição Federal, em razão de sua atuação delegada.
2. Em casos em que particulares litigam acerca de registros de alterações societárias perante a Junta
Comercial, esta Corte vem reconhecendo a competência da justiça comum estadual, posto que uma eventual
decisão judicial de anulação dos registros societários, almejada pelos sócios litigantes, produziria apenas
efeitos secundários para a Junta Comercial do Estado, fato que obviamente não revela questão afeta à
validade do ato administrativo e que, portanto, afastaria o interesse da Administração e, conseqüentemente,
a competência da Justiça Federal para julgamento da causa. Precedentes. Recurso especial não conhecido.
(STJ, REsp 678.405/RJ, 3ª
Turma, Rel. Ministro CASTRO FILHO, julgado em 16.03.2006, DJ 10.04.2006 p. 179)
(...)
1. Compete à Justiça Comum processar e julgar ação ordinária pleiteando anulação de registro de alteração
contratual efetivado perante a Junta Comercial, ao fundamento de que, por suposto uso indevido do nome do
autor e de seu CPF, foi constituída, de forma irregular, sociedade empresária, na qual o mesmo figura como
sócio. Nesse contexto, não se questiona a lisura da atividade federal exercida pela Junta Comercial, mas atos
antecedentes que lhe renderam ensejo. 2. Conflito conhecido para declarar competente o Tribunal de Justiça
do Estado de Rondônia, o suscitado. (STJ, CC 90.338/RO, Rel. Ministro FERNANDO GONÇALVES,
SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 12/11/2008, DJe 21/11/2008)
Em síntese, a jurisprudência é:
– se em discussão a regularidade dos atos e registros da Junta Comercial, órgão estadual que exerce função
federal delegada, a competência é da Justiça Federal;
-- se apenas por via reflexa será atingido o registro da Junta Comercial, não há interesse da União, e por isso
a competência será do juízo estadual, como, por exemplo, discussão sobre nome comercial, sobre idoneidade
de documentos usados em alteração
contratual, sobre o direito de preferência de sócio.
Em matéria criminal, no que tange aos delitos de falsidade ideológica que afetem exclusivamente a junta
comercial, sem lesão direta a bens, interesses ou serviços da União, a competência é da justiça estadual.
Confira-se o recente julgado do STJ:
CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. JUSTIÇA FEDERAL E JUSTIÇA
ESTADUAL. CRIME FALSIDADE IDEOLÓGICA CONTRA JUNTA COMERCIAL.
INEXISTÊNCIA DE LESÃO DIRETA A BENS, INTERESSES OU SERVIÇOS DA UNIÃO.
COMPETÊNCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
1. As juntas comerciais subordinam-se administrativamente ao governo da unidade federativa de sua
jurisdição e, tecnicamente, ao Departamento Nacional de Registro do Comércio, conforme termos da Lei n.
8.934/1994.
2. Para se firmar a competência para processamento de demandas que envolvem a junta comercial de um
estado é necessário verificar a existência de ofensa direta a bens, serviços ou interesses da União, conforme
art. 109, IV, da Constituição Federal, o que não ocorreu neste caso.
3. Conflito conhecido para declarar competente o JUÍZO DE DIREITO DO DEPARTAMENTO DE
INQUÉRITOS POLICIAIS E POLÍCIA JUDICIÁRIA DE SÃO PAULO/DIPO-3, o suscitado. (STJ, CC
130.516/SP, Rel. Ministro ROGERIO SCHIETTI
CRUZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 26/02/2014, DJe 05/03/2014)
3.2 - ATOS DE REGISTRO
O ordenamento dos atos do registro de empresa, previsto nas disposições da Lei n. 8.934/94 é muito simples
e compreende três atos [art. 32 da LRE]:
Matrícula: a matrícula se refere aos agentes auxiliares do comércio.
Assim, são matriculados nas Juntas Comerciais, sob a supervisão e segundo as normas
do Departamento Nacional do Registro do Comércio os leiloeiros, tradutores públicos,
administradores de armazéns-gerais, trapicheiros (responsáveis por armazéns gerais de
menor porte destinados à importação e exportação), entre outros. A matrícula é uma condição para que eles
possam exercer tais atividades paracomerciais.
Arquivamento: correspondem, por sua vez, ao registro dos empresários individuais, sociedades
empresárias e cooperativas. Enquanto não registrados seus atos constitutivos, as sociedades empresárias
não adquirem personalidade jurídica. Os atos de arquivamento abrangem contratos ou estatutos sociais das
sociedades empresárias, atos constitutivos da empresa dos empresários individuais, bem como futuras
alterações contratuais, dissoluções ou extinção da atividade empresarial. Essas mudanças e demais
observações relativas às empresas serão averbadas à margem do registro. A averbação é uma espécie de
arquivamento e corresponde à anotação de nova situação contratual feita à margem do registro originário.
1. Em relação à cooperativa, a previsão no art. 32. II, a da Lei 8.934/94 não restou derrogada pela atribuição
da natureza de sociedade simples por força de disposição legal (CC/02, art. 982, PU: Independentemente de
seu objeto, considera-se empresária a sociedade por ações; e, simples, a cooperativa). Enunciado 69 do CJF
– Art. 1.093: as sociedades cooperativas são sociedades simples sujeitas à inscrição nas juntas comerciais.
Autenticação: refere-se aos instrumentos de escrituração, ou seja, aos livros comerciais. A autenticação é
condição de regularidade dos referidos documentos. Assim, um livro comercial, deve ser levado à Junta
Comercial para autenticação, e neste ato terá todos os requisitos que devem ser observados na escrituração,
fiscalizados.
No momento da apresentação dos documentos necessários para o registro da empresa, a Junta Comercial
deverá ater-se apenas aos aspectos formais exigidos por lei para o respectivo registro [legalidade extrínseca
do ato]. Não serão registradas empresas cujos documentos não obedecerem às prescrições legais, ou que
contenham matéria contrária aos bons costumes, à ordem pública, bem como os que colidam com o
respectivo estatuto ou contrato social originário não modificado anteriormente. Assim, se a maioria dos sócios
de uma sociedade limitada resolver expulsar um minoritário que está concorrendo com a própria sociedade,
não caberá à Junta verificar se é verdadeiro ou não o fato ensejador da expulsão. É considerada inativa a
firma individual ou a sociedade empresária que, durante dez anos consecutivos, não arquivar nenhuma
alteração contratual ou não comunicar à Junta Comercial que se encontra em atividade. Como efeito, tem-se
que, se for considerada inativa pela Junta Comercial, terá seu registro cancelado (artigo 60 da LRE).
É com o registro na Junta Comercial que o nome empresarial passa a gozar de proteção jurídica. O nome
comercial consiste na firma ou denominação com a qual o comerciante se apresenta, em suas relações
comerciais.
Fomento Mercantil
Contrato pelo qual uma instituição financeira (faturizadora) se obriga a cobrar os devedores de um empresário
(faturizado), prestando a este os serviços de administração do crédito.
Por esse negócio, o banco presta ao empresário o serviço de administração do crédito, garantindo o
pagamento das faturas por este emitidas. A instituição financeira faturizadora assume, com a faturização, as
seguintes obrigações:
O risco assumido pelo faturizador é inerente à operação de factoring, não podendo o faturizado ser
demandado para responder regressivamente, salvo se tiver dado causa ao inadimplemento dos contratos
cedidos. Isso porque a responsabilidade do faturizado é pro soluto, diferentemente da responsabilidade do
cedente no contrato de desconto bancário, que é pro solvendo, respondendo em caso de inadimplência do
devedor (STJ, REsp 949.360/RN, julgado em 17/12/2013).
A faturizadora tem direito de regresso contra a faturizada que, por contrato de factoring vinculado a nota
promissória, tenha cedido duplicatas sem causa subjacente. Nesse caso, o direito de regresso justifica-se no
fato da questão não se limitar a um mero inadimplemento, mas envolver a própria existência do crédito (STJ,
REsp 1.289.995/PE, julgado em 20/2/2014 – Inf. 535).
Há duas modalidades de faturização. De um lado, se a instituição financeira garante o pagamento das faturas
antecipando o seu valor ao faturizado, tem-se o conventional factoring. Essa modalidade compreende,
portanto, três elementos: serviços de administração do crédito, seguro e financiamento. De outro lado, se a
instituição faturizadora paga o valor das faturas ao faturizado apenas no seu vencimento, tem-se o maturity
factoring, modalidade em que estão presentes apenas a prestação de serviços de administração do crédito e
o seguro e ausente o financiamento.
As empresas de fomento mercantil (as faturizadoras) também devem manter, a exemplo das instituições
financeiras, sigilo sobre as suas operações (LC n. 105/2001, art. 1º, par. 2º).
Período italiano: até o ano de 1650. Cidades marítimas italianas e feiras medievais. Desenvolvimento
das operações de câmbio.
Período francês: de 1650 a 1848. Surgimento da cláusula à ordem. Criação do endosso, que permitia
ao benefício da letra de câmbio transferi-la independentemente de autorização do sacador.
Período alemão: de 1848 a 1930. Edição da "Ordenação Geral do Direito Cambiário". Consolidação
da letra de câmbio e dos títulos de crédito de forma geral como instrumentos viabilizadores da
circulação de direitos
Período uniforme: iniciou-se em 1930 com a realização da Convenção de Genebra sobre títulos de
crédito e a aprovação da Lei Uniforme das Cambiais aplicável às letras de câmbio e às notas
promissórias. Em 1931 foi aprovada a Lei Uniforme do Cheque.
Conceito de título de crédito
Vivante: título de crédito é o documento necessário para o exercício do direito, literal e autônomo nele
mencionado (art. 887, CCB).
André Luiz Santa Cruz Ramos: é o instrumento que instrumentaliza o crédito e permite a sua mobilização com
rapidez e segurança. São, em síntese, instrumentos de circulação de riqueza.
Características
Princípios informadores
O conceito de Vivante é ideal porque nos remete a seus princípios informadores: é o documento necessário
(princípio da cartularidade) para o exercício do direito literal (princípio da literalidade) e autônomo (princípio
da autonomia) nele mencionado.
a) Princípio da cartularidade
O crédito deve estar representado (materializado) em um documento (título).
Para a transferência do crédito é necessário a transferência do documento.
Não há que se falar em exigibilidade do crédito sem apresentação do documento.
Para a transferência do cheque não é suficiente o endosso. Em razão do princípio da cartularidade é
necessário realizar a entrega do título.
Não há que se falar em exigibilidade do crédito sem o documento. Para ajuizar a execução precisa do
documento original (não serve cópia autenticada). O título é extrajudicial, art. 585, I do CPC.
A cartularidade está mitigada, pois o art. 889,§3º do CC admite a possibilidade de título de crédito eletrônico.
Ex.: títulos de agronegócio, estabelecidos na lei 11076/04. Duplicata virtual ou eletrônica é também exemplo
da não corporificação no papel.
Com o mesmo sentido da cartularidade, tem-se o princípio da incorporação, segundo o qual o direito de
crédito materializa-se no próprio documento, não existindo o direito sem o respectivo título
A desmaterialização dos títulos de crédito: EMBARGOS DE DIVERGÊNCIA EM RECURSO ESPECIAL.
DIVERGÊNCIA DEMONSTRADA. EXECUÇÃO DE TÍTULO EXTRAJUDICIAL. DUPLICATA VIRTUAL.
PROTESTO POR INDICAÇÃO. BOLETO BANCÁRIO ACOMPANHADO DO INSTRUMENTO DE
PROTESTO, DAS NOTAS FISCAIS E RESPECTIVOS COMPROVANTES DE ENTREGA DAS
MERCADORIAS. EXECUTIVIDADE RECONHECIDA. (...) 2. Embora a norma do art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68
permita o protesto por indicação nas hipóteses em que houver a retenção da duplicata enviada para aceite, o
alcance desse dispositivo deve ser ampliado para harmonizar-se também com o instituto da duplicata virtual,
conforme previsão constante dos arts. 8º e 22 da Lei 9.492/97. 3. A indicação a protesto das duplicatas
mercantis por meio magnético ou de gravação eletrônica de dados encontra amparo no artigo 8º, parágrafo
único, da Lei 9.492/97. O art. 22 do mesmo Diploma Legal, a seu turno, dispensa a transcrição literal do título
quando o Tabelião de Protesto mantém em arquivo gravação eletrônica da imagem, cópia reprográfica ou
micrográfica do título ou documento da dívida. 4. Quanto à possibilidade de protesto por indicação da duplicata
virtual, deve-se considerar que o que o art. 13, § 1º, da Lei 5.474/68 admite, essencialmente, é o protesto da
duplicata com dispensa de sua apresentação física, mediante simples indicação de seus elementos ao
cartório de protesto. Daí, é possível chegar-se à conclusão de que é admissível não somente o protesto por
indicação na hipótese de retenção do título pelo devedor, quando encaminhado para aceite, como
expressamente previsto no referido artigo, mas também na de duplicata virtual amparada em documento
suficiente. 5. Reforça o entendimento acima a norma do § 2º do art. 15 da Lei 5.474/68, que cuida de
executividade da duplicata não aceita e não devolvida pelo devedor, isto é, ausente o documento físico,
autorizando sua cobrança judicial pelo processo executivo quando esta haja sido protestada mediante
indicação do credor, esteja acompanhada de documento hábil comprobatório da entrega e recebimento da
mercadoria e o sacado não tenha recusado o aceite pelos motivos constantes dos arts. 7º e 8º da Lei. 6. No
caso dos autos, foi efetuado o protesto por indicação, estando o instrumento acompanhado das notas fiscais
referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega e recebimento das mercadorias
devidamente assinados, não havendo manifestação do devedor à vista do documento de cobrança, ficando
atendidas, suficientemente, as exigências legais para se reconhecer a executividade das duplicatas
protestadas por indicação. 7. O protesto de duplicata virtual por indicação apoiada em apresentação do
boleto, das notas fiscais referentes às mercadorias comercializadas e dos comprovantes de entrega
e recebimento das mercadorias devidamente assinados não descuida das garantias devidas ao
sacado e ao sacador. 8. Embargos de divergência conhecidos e desprovidos. (EREsp 1024691/PR, Rel.
Ministro RAUL ARAÚJO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 22/08/2012)
No mesmo sentido, são os julgados do TJDFT:
PROCESSUAL CIVIL. EXECUÇÃO DE TITULO EXTRAJUDICIAL. AUSENCIA DE CITAÇÃO. DUPLICATAS
VIRTUAIS. EXIGENCIAS PARA QUE SEJAM EXECUTADAS DEVIDAMENTE CUMPRIDAS. PRESCRIÇÃO.
OCORRENCIA. RECURSO CONHECIDO E PARCIALMENTE PROVIDO. SENTENÇA REFORMADA EM
PARTE. 1. Havendo nos autos a comprovação de entrega da mercadoria, o protesto da nota fiscal e a
comunicação ao executado, deve-se reconhecer a executividade da duplicata virtual. 2. Nos termos da Lei nº
5474/68 c/c art. 202, III do Código Civil, o prazo prescricional das duplicatas é de 3 (três) anos, prorrogando-
se sua contagem para a data do protesto, e neste caso, deve ser reconhecida a prescrição cambial. 3. O
credor deve manejar a execução no prazo específico para o título exeqüendo e obter a citação do devedor,
para, a partir de então, interromper o prazo prescricional. 4. Se a citação não é concluída no prazo legal, o
despacho que a determina resta desprovido de eficácia interruptiva e a prescrição, que não tem seu fluxo
afetado, pode se consumar durante o desenvolvimento da relação processual. 5. Recurso conhecido e
parcialmente provido. Sentença reformada em parte.(Acórdão n.859852, 20090111757858APC, Relator:
ROMULO DE ARAUJO MENDES, Revisor: FERNANDO HABIBE, 4ª Turma Cível, Data de Julgamento:
08/04/2015, Publicado no DJE: 16/04/2015. Pág.: 183)
Em consonância com esse processo de desmaterialização dos títulos de crédito, foram editados os
Enunciados 460 e 461 da Jornada de Direito Civil do CJF, que possuem a seguinte redação, respectivamente:
“Art. 889. As duplicatas eletrônicas podem ser protestadas por indicação e constituirão título executivo
extrajudicial mediante a exibição pelo credor do instrumento de protesto, acompanhado do comprovante de
entrega das mercadorias ou de prestação dos serviços”; “Art. 889, § 3.° Os títulos de crédito podem ser
emitidos, aceitos, endossados ou avalizados eletronicamente, mediante assinatura com certificação digital,
respeitadas as exceções previstas em lei”.
b) Princípio da literalidade
Só tem eficácia para o direito cambiário aquilo que está literalmente escrito no título, ou seja, que esta
constando literalmente no título.
Finalidade da literalidade: assegurar certeza quanto à natureza, conteúdo e modalidade de prestação
prometida ou ordenada.
c) Princípio da autonomia (pedra fundamental do regime cambial)
O título de crédito configura documento constitutivo de direito novo, autônomo, originário e completamente
desvinculado da relação que lhe deu origem. As relações jurídicas representadas num determinado título de
crédito são autônomas e independentes entre si, razão pela qual o vício que atinge uma delas não contamina
as outras
Desse princípio decorre:
c.1) Abstração: quando o título circula, ele se desvincula da causa que lhe deu origem (a circulação do título
é fundamental para que se opere a sua abstração). Essa abstração desaparece com a prescrição do título.
c.2) Inoponibilidade das exceções pessoais aos terceiros de boa-fé: o portador do título não pode ser
atingido por defesas relativas a negócios do quais não participou. O título chega a ele completamente livre
dos vícios que eventualmente adquiriu em relações pretéritas (art. 17 da Lei Uniforme e art. 916 CCB).
Classificação dos Títulos de Crédito
a) Quanto à forma de transferência ou circulação (classificação moderna)
Ao portador: é aquele que circula pela mera tradição (art. 904, CCB), uma vez que a identificação
do credor não é feita de forma expressa. Qualquer pessoa que esteja com a simples posse do título
é considerada titular do crédito nele mencionado. A simples transferência do título opera a
transferência da titularidade do crédito.
Lei 9.069/95, que dispõe sobre o plano real e o sistema monetário nacional. No artigo 69 vedou-se a
emissão de cheque acima de R$ 100,00 ao portador.
Nominal: é aquele que identifica o beneficiário (credor). Sua transferência não depende apenas da
entrega do documento a outra pessoa. É necessário a prática de um ato formal que opere a
transferência da titularidade do crédito. Em razão desse ato, o título nominal pode ser:
À ordem: circula por meio de endosso (aquele que transfere por endosso responde pela existência
e pelo pagamento do título)
Não à ordem: circula por meio de cessão civil (aquele que transfere por meio da cessão civil não
responde pelo pagamento ou solvência, somente respondendo pela existência).
Obs.: de acordo com o código civil, o endosso tem o mesmo efeito que a cessão civil, ou seja, somente
responde pela existência (art. 914 do CCB). Mas isso só existe no CCB. Na verdade se aplica a disposição
da lei especial, que trata de forma diferente: endosso (existência e solvência) e cessão civil (existência).
Há uma presunção de que os títulos de crédito são “à ordem”, sendo que somente serão “não à
ordem” se estiver expresso no título.
Nominativo: art. 921, CCB. Aqueles emitidos em favor de pessoa determinada, cujo nome consta de
registro específico mantido pelo emitente do título. A transferência só se opera validamente por meio
de termo no referido registo, o qual deve ser assinado pelo emitente e pelo adquirente do título.
Obs.: na classificação tradicional os títulos nominativos do art. 921 do CCB não existiam e os títulos nominais
eram chamados nominativos! Cuidado com isso!
Transferência de títulos:
Ao portador = tradição
título nominal à ordem = endosso
Título nominal não à ordem = cessão civil
Nominativo = termo no registro específico
b) Quanto ao modelo
Vinculado: é aquele cuja forma ou modelo deve obedecer uma padronização obrigatória. (ex.:
cheque e duplicata, que têm padrões definidos pelo conselho monetário nacional).
Livre: é aquele que não precisa observar padronização obrigatória. (ex.: Nota promissória e a letra
de câmbio).
c) Quanto à estrutura
Ordem de pagamento. Cheque, letra de câmbio, duplicata. Tem-se três intervenientes:
- sacador (quem emite o título, ou seja, ordena o pagamento);
- sacado (contra quem o título é emitido, ou seja, a pessoa que recebe a ordem de pagamento);
- tomador/beneficiário (em favor de quem o título é emitido, a pessoa a quem o sacado deve pagar,
em obediência à ordem que lhe foi endereçada pelo sacador)
Promessa de pagamento. Nota promissória. Tem-se dois intervenientes:
Sacador/promitente (quem promete pagar determinada quantia)
Tomador (beneficiário da promessa que receberá o valor prometido)
NOTA PROMISSÓRIA
Decreto 57.663/66: aplica-se à nota promissória as disposições da letra de câmbio (inclusive em relação a
endosso e aval).
É uma promessa de pagamento, ou seja, só tem duas figuras:
promitente subscritor, emitente. É o devedor principal
Tomador
Regime jurídico é o mesmo aplicável às letras de câmbio. Cuidado: uma vez que não há sacado não se
aplicam as regras do aceite!! (não se fala em prazo de respiro, vencimento antecipado, etc.)
Requisitos essenciais (art. 75 Lei Uniforme):
- Expressão "nota promissória" (cláusula cambiária)
- Promessa incondicional de pagamento de quantia determinada
- Nome do tomador
- Data do saque
- Assinatura do subscritor
- Lugar do saque
Pode ser emitida em branco.
Possui implícita a cláusula "à ordem", podendo vir expressa a cláusula 'não à ordem".
Os vencimentos de uma nota promissória são iguais à letra de câmbio. A diferença é que, como não tem
aceite, o "a certo termo de vista" não começa a contar do aceite, mas do visto do subscritor (art. 78). Ausência
de menção à época do pagamento faz com que seja considerada à vista.
Prazo de prescrição: 3 anos, contados do vencimento.
É muito comum a nota promissória ser vinculada a um contrato. Quando isso ocorre, na hipótese de
inadimplemento do contrato, o emitente pode se recusar a efetuar o pagamento da NP. No entanto, se a NP
foi transferida a um terceiro de boa-fé, não se poderá alegar o descumprimento do contrato, já que a NP é
autônoma. Para evitar isso, se a NP for vinculada a um contrato, para que se possa alegar exceção pessoal
contra um terceiro de boa-fé, ou seja, para que a NP deixe de ser autônoma, é necessário que haja indicação
no título acerca da vinculação. É só escrever "vinculada ao contrato X". NP vinculada a contrato não goza de
autonomia. A NP conserva, em princípio, a sua executividade, salvo se o contrato a que está ligada
descaracterizar a sua liquidez.
STJ: o simples fato de a NP estar ligada a um contrato de mútuo não a descaracteriza como título executivo
STJ: NP atrelada a contrato de abertura de crédito não goza de autonomia em razão da iliquidez do título que
a geral
Súmula 233 STJ: o contrato de abertura de crédito, ainda que acompanhado de extrato da conta-corrente,
não é título executivo.
Súmula 247 STJ: o contrato de abertura de crédito em conta-corrente, acompanhado do demonstrativo de
débito, constitui documento hábil ao ajuizamento da ação monitória
Cláusula-mandato. Era colocada em contratos bancários, constituindo a própria instituição financeira ou
empresa ligada a ela, como procuradora do cliente contratante. Assim, em caso de inadimplemento, o banco
ou sua coligada emitia um título de crédito (nota promissória) em seu favor, no valor da dívida, na condição
de mandatória do cliente devedor. Súmula 60 STJ: é nula a obrigação cambial assumida por procurador do
mutuário vinculado ao mutuante, no exclusivo interesse deste.
CONHECIMENTO DE TRANSPORTE
Conceito
Conhecimento de transporte indica o título que é passado pelo transportador ou condutor de mercadorias
ou de outros objetos, e entregue ao carregador ou consignante, como prova do contrato de transporte.
O conhecimento de transporte é um documento emitido por empresas de transporte terrestre, aéreo,
ferroviário, fluvial ou multimodal, que prova o recebimento da mercadoria e a obrigação de entregá-la no
lugar de destino, autuando como um título de crédito representativo da mercadoria transportada.
O conhecimento de transporte recebe denominações específicas em função da via de transporte:
Conhecimento de Transporte Rodoviário - CRT; Conhecimento Internacional de Transporte Ferroviário - TIF;
Conhecimento de Transporte Marítimo, Bill of Landing – BL; ou Conhecimento de Transporte Aéreo ou
AirWaybill - AWB.
Segundo Fran Martins “o conhecimento de transporte é emitido pelas empresas que recebem as mercadorias
para transportá-las de um lugar para outro; é um documento, portanto, que atesta a conclusão de um contrato
de transporte, já que, sendo esse consensual, o remetente fica com a obrigação de entregar as mercadorias
para serem transportadas, entrega que marca o início da execução do contrato. Para comprovar essa entrega
e, ao mesmo tempo, a obrigação de levar a mercadoria de um lugar para outro (já que a característica do
contrato de transporte é justamente essa locomoção, sendo a entrega da mercadoria ao transportador feita
para esse fim e não para outro, como, por exemplo, a simples guarda da mercadoria), a empresa de transporte
emitirá o conhecimento que, acima de tudo, servirá de meio de prova do recebimento da mercadoria e da
obrigação assumida pelo transportador.”
Para Arnaldo Rizzardo “conhecimento de transporte é o título comprobatório do recebimento da mercadoria
a ser transferida de um local para outro, e serve para criar a obrigação de entregá-la. O transportador é o
emitente, ou fretante”.
Requisitos Essenciais do Conhecimento de Transporte
São requisitos essenciais do conhecimento de transporte: a) nome ou denominação da empresa emissora; b)
o número de ordem; c) a data, com indicação de dia, mês e ano; d) os nomes do remetente e do consignatário,
por extenso. O remetente pode designar-se como consignatário e a indicação deste substituir-se pela cláusula
ao portador. Será ao portador o conhecimento que não contiver a indicação do consignatário; e) o lugar da
partida e o destino. Faltando a indicação do lugar da partida, entende-se ser este o mesmo da emissão; f) a
espécie e a quantidade ou peso da mercadoria, bem como as marcas, os sinais exteriores dos volumes de
embalagem; g) a importância do frete, com a declaração de que é pago ou a pagar, e do lugar e da forma do
pagamento. A importância será declarada por extenso e em algarismos, prevalecendo a primeira, em caso
de divergência.
Emitido o conhecimento com frete a pagar e não indicada a forma do pagamento, este será em dinheiro, no
ato da entrega da mercadoria e no lugar do destino, se outro não tiver sido designado. A falta de pagamento
do frete e despesas autoriza a retenção da mercadoria. h) a assinatura do empresário ou seu representante,
abaixo do contexto.
Endosso do Conhecimento de Transporte
O conhecimento de transporte quando emitido nominal será transferido, sucessivamente, por endosso em
preto, ou em branco, seguido da respectiva tradição. Se emitido ao portador, transfere-se pela simples
tradição (Observando-se a Lei no 8.021/90, em seu artigo 2o, II a proibição dos títulos ao portador).
O endosso em preto deverá ser aquele em que conste a indicação do nome, por extenso, do endossatário.
O primeiro endossante deverá ser o remetente, ou o consignatário, que transferirá o conhecimento de
transporte ao endossatário.
O endosso deve ser puro e simples, reputando-se não escritas quaisquer cláusulas condicionais ou
modificativas, não autorizadas em lei, sendo o endosso parcial considerado nulo.
A transferência do conhecimento ao endossatário exime a respectiva mercadoria de arresto, seqüestro,
penhora, arrecadação ou qualquer outro embaraço judicial, por fato, dívida, falência ou causa estranha ao
próprio dono atual do título, salvo caso de má-fé comprovada.
O conhecimento está sujeito a essas medidas judiciais, por alguma causa que diga respeito ao respectivo
dono atual. Nesse caso a apreensão do documento equivale à da mercadoria.
Considera-se proprietário do título àquele que o detiver e a sua exigibilidade se faz através do processo de
execução de título executivo extrajudicial. A ação será para executar a entrega da mercadoria ou a execução
para cobrança da quantia certa, desde que assinalado o valor no documento.
Para o exercício dos direitos sobre o título, tem sido admitida a cópia, desde que apresente cláusula impedindo
a negociação, conforme dispõe decisão do STJ, in verbis: “Admissível a apresentação de cópia xerográfica
do conhecimento de transporte, cuja autenticidade não foi contestada, tratando-se, além do mais, de título
não negociável”.
Desembarque da Mercadoria em Trânsito
O remetente, consignatário, endossatário ou portador pode exigir o desembarque e a entrega da mercadoria
em trânsito, desde que apresente o conhecimento e pague o frete por inteiro e as despesas extraordinárias a
que der causa. Extingue-se desta forma o contrato de transporte e recolhe-se o respectivo conhecimento.
Perda ou Extravio do Conhecimento de Transporte
Em caso de perda ou extravio do conhecimento, qualquer interessado poderá avisar à empresa de transporte,
no lugar do destino, para que retenha a respectiva mercadoria.
Havendo esse tipo de reclamação, a mercadoria não será entregue, tendo o reclamante que exibir outra via
ou certidão do conhecimento, no foro da Comarca do lugar do destino, justificação do fato e do seu direito,
com intimação do órgão do Ministério Público, publicando-se e afixando-se em seguida, editais segundo o §
1o do Artigo 9o do Decreto no 19.473/30.
Conhecimento de Transporte Marítimo
O Decreto no 19.473/30, em seu artigo 2o, §1o, estabelece que o conhecimento de frete marítimo, deverá
conter os requisitos estabelecidos pelo artigo 575 do Código Comercial brasileiro, devendo tal conhecimento
ser datado e declarar: a) o nome do capitão, e o do carregador e consignatário (podendo omitir-se o nome
deste se for à ordem), e o nome e porte do navio; b) a qualidade e quantidade dos objetos da carga, suas
marcas e números, anotados à margem; c) o lugar da partida e o do destino, com declaração das escalas,
havendo-as; d) o preço do frete e primagem, se esta for estipulada, e o lugar e a forma do pagamento; e) a
assinatura do capitão e a do carregador.
Os requisitos acima enumerados são os exigíveis pelo artigo 575 do Código Comercial brasileiro, porém, em
virtude do Decreto no 19.473/30, artigo 2o, VIII, o conhecimento poderá ser assinado pelo empresário ou seu
representante, sendo costume o conhecimento marítimo ser assinado não pelo capitão do navio, mas pelo
agente a que ele está consignado, sendo esse agente considerado como um preposto do armador.
Os conhecimentos de fretes marítimos têm como função provar que as mercadorias foram embarcadas no
navio, destacar a propriedade delas nele descritas e evidenciar os termos e condições do transporte entre o
armador e o embarcador.
O conhecimento de transporte marítimo, ou simplesmente Bill of Lading BL, é o documento, emitido pelo
transportador ou consolidador, constitutivo do contrato de transporte internacional e de prova da posse ou
propriedade da mercadoria para o importador e traz em si, as seguintes características: prova o recebimento
da mercadoria; instrumento do contrato de transporte firmado entre embarcador e transportador; válido como
título de crédito, inclusive, em relação a terceiros e acionável como escritura pública.
O conhecimento de transporte ou de carga é também conhecido por diversas denominações, tais como:
“conhecimento de frete”, “conhecimento de embarque”, “nota de embarque“, mas tradicionalmente
reconhecido no linguajar comercial internacional por “Bill of Lading” BL.
Tanto pode servir como recibo de mercadorias embarcadas, como também, evidência de um contrato de
transporte e, ainda, como título de crédito impróprio que segue as regras do direito cambial.
O documento em questão segue, ainda, os princípios cambiários da literalidade, autonomia e cartularidade,
além do formalismo. O Bill of Lading normalmente formalizado como um contrato de adesão, cujos termos
vêm previamente definidos em modelos impressos do transportador.
Bill of Lading representa a mercadoria nele descrita, podendo ser nominal ou ao portador, transferível por
endosso.
O Bill of Lading, possui função tríplice, qual seja: funcionar como recibo da entrega da mercadoria a bordo do
navio ou outro lugar acordado; evidenciar a existência de um contrato de transporte; e servir como título de
crédito representativo de mercadorias transportadas por meio marítimo.
Dentre as naturezas jurídicas do Bill of Lading, a mais significativa é a de título de crédito, por disposição
legal, tendo em vista que o Código Comercial brasileiro, nos artigos 566, 586 e 587, permite que ele seja
acionável com força de escritura pública e transferido por meio de endosso.
Portanto, de acordo com a legislação pátria e a prática comercial, o Bill of Lading é indubitavelmente um título
de crédito, podendo ser nominativo, mediante cláusula expressa, ou à ordem. Quando emitido ao portador,
será considerada consignatária qualquer pessoa que se apresente com o documento, que representará a
propriedade da carga embarcada e confiada ao transportador.
O Bill of Lading é considerado pela doutrina como título impróprio, visto que não representa uma autêntica
operação de crédito. Para alguns doutrinadores é um título de legitimação dando ao portador não um direito
de crédito propriamente dito, mas apenas o direito a receber uma prestação de serviços ou entrega de coisas.
Outros o consideram como título representativo de mercadorias embarcadas e confiadas ao transportador.
Saliente-se que o Decreto 19.473/30, apresentava diversos dispositivos sobre o Bill of Lading, tratando-o
como título de crédito. Portanto, os Bill of Lading incorporam os elementos principais da teoria geral dos títulos
de crédito, e obrigam todos quantos venham a ser portadores do título, sejam tais portadores determinados
ou não.
O conhecimento de transporte feito em forma regular, conforme dispõe o artigo 575 do Código Comercial
brasileiro tem força executiva e é acionável como escritura pública, na forma do artigo 587 do mesmo diploma
legal, ensejando, desta forma, sua execução nos exatos moldes do artigo 585, II, do Código de Processo
Civil.
Conhecimento de Transporte Aéreo
Conhecimento de transporte aéreo é o instrumento e o comprovante material do contrato de transporte aéreo
de carga, e evidencia: a) a conclusão do contrato; b) o recebimento da carga, pelo transportador, para conduzi-
la a determinado aeroporto; c) as condições do transporte.
Cabe ao expedidor emitir o conhecimento de transporte aéreo, em três vias, entregando-o juntamente com a
carga, sendo a primeira via entregue para o transportador, a segunda para o destinatário e a terceira para o
expedidor.
Entretanto, poderá o transportador emitir o conhecimento de transporte aéreo, a pedido do expedidor,
considerando-se feito por conta e em nome deste.
Conforme artigo 235 do Código Brasileiro de Aeronáutica, Lei no 7.565, de 19 de dezembro de 1986, são
requisitos essenciais do conhecimento de transporte aéreo: a) o lugar e a data da emissão; b) os pontos de
partida e destino; c) o nome e endereço do expedidor; d) o nome e endereço do transportador; e) o nome e
endereço do destinatário; f) a natureza da carga; g) o número, acondicionamento, marcas e numeração dos
volumes; h) o peso, quantidade e o volume ou dimensão; i) o preço da mercadoria, quando a carga for
expedida contra pagamento no ato da entrega e, eventualmente, a importância das despesas; j) o valor
declarado, se houver; l) o número das vias do conhecimento; m) os documentos entregues ao transportador
para acompanhar o conhecimento; n) o prazo de transporte, dentro do qual deverá o transportador entregar
a carga no lugar do destino, e o destinatário ou expedidor retirá-la.
Se houver mais de um volume a ser transportado, deverá o expedidor emitir conhecimentos de transporte
aéreo distintos (art. 238 do Código Brasileiro de Aeronáutica)
Sem prejuízo de responsabilidade penal, o expedidor responde pela exatidão das indicações e declarações
constantes do conhecimento aéreo e pelo dano, em consequência de suas declarações vier a causar ao
transportador ou a qualquer outra pessoa.
O conhecimento de transporte aéreo, até prova em contrário, faz presumir, a conclusão do contrato, o
recebimento da carga e as condições do transporte, sendo permitido ao transportador, recusar a carga
desacompanhada dos documentos exigidos e cujo transporte e comercialização não sejam permitidos.
Ao chegar a carga no local de destino, o transportador deverá avisar o destinatário para retirá-la em 15
(quinze) dias a contar do aviso, a não ser que tenha sido estabelecido outro prazo no conhecimento.
A carga deverá ser entregue ao destinatário e presume-se entregue em bom estado quando não houver o
seu protesto, que deverá ser feito através de ressalva lançada no documento de transporte ou mediante
qualquer comunicação escrita, encaminhada ao transportador, nos seguintes casos: a) avaria da carga, o
protesto deve ser feito no prazo de 7 (sete) dias a contar do recebimento; b) atraso da carga, o protesto deverá
ser feito no prazo de 15 (quinze) dias a contar da data em que a carga haja sido posta à disposição do
destinatário.
Se não houver protesto, somente será admitida qualquer ação se fundada em dolo do transportador.
Em caso de transporte sucessivo ou de transporte de fato o protesto será encaminhado aos responsáveis e
o dano ou avaria, extravio de carga importada ou em trânsito aduaneiro, serão apurados de acordo com a
legislação específica.
A execução do conhecimento de transporte aéreo de carga tem início com o recebimento da carga e persiste
durante o período em que se encontra sob a responsabilidade do transportador, seja em aeródromo, a bordo
de aeronave ou em qualquer lugar, no caso de aterrissagem forçada, até a entrega final ao destinatário.
O período de execução do conhecimento de transporte aéreo é aquele em que as mercadorias se encontram
sob a guarda direta ou indireta do transportador, seja em aeroporto, seja a bordo de aeronave, seja em
qualquer outro lugar, no caso de pouso fora do aeroporto, porém não abrange nenhum transporte terrestre,
marítimo, ou fluvial, efetuado fora do aeroporto. Entretanto, quando, na execução do conhecimento de
transporte aéreo, efetuar-se qualquer daqueles tipos de transporte, para carregamento, entrega ou baldeação,
e houver dúvida sobre onde ocorreu o dano, a responsabilidade do transportador será regida pelo Código
Brasileiro de Aeronáutica, salvo prova em contrário.
Conhecimento de Transporte Eletrônico - CT-e
Considera-se conhecimento de transporte eletrônico ou CT-e o documento fiscal brasileiro emitido pelas
transportadoras de carga para cobrir as mercadorias entre a localidade de origem e o destinatário da carga.
Para a própria empresa transportadora, esse documento é a sua nota fiscal, ou seja, é o documento oficial
usado para contabilizar as receitas e efetivar o faturamento.
O conhecimento de transporte é um impresso fiscal em papel, semelhante a nota fiscal de produtos ou
serviços. No Brasil, o tipo de conhecimento está relacionado com a atividade de transporte da empresa e
conforme determina as leis de cada estado, podendo ser: rodoviário; aéreo; ferroviário; fluvial e multimodal.
Esse último seria a unificação de várias modalidades de transportes no mesmo documento, como por
exemplo, único documento legal combinando o transporte ferroviário e transporte rodoviário.
Semelhante a uma nota fiscal, o conhecimento de transporte tem seus campos de controle, tanto para efeito
fiscal, quanto para controle da empresa, destacando: a) nome, cadastro e endereço do embarcador da carga;
b) nome, cadastro e endereço do destinatário da carga; c) nome, cadastro e endereço de quem contratou o
serviço de transporte; d) valor do serviço, detalhamento por peso, preço da mercadoria, taxas de transporte,
etc.
O conhecimento de transporte eletrônico (Modelo 57) é um documento fiscal eletrônico, instituído pelo
AJUSTE SINIEF 09/07, de 25 de outubro de 2007, que poderá ser utilizado para substituir um dos seguintes
documentos fiscais: a) conhecimento de transporte rodoviário de cargas, modelo 8; b) conhecimento de
transporte aquaviário de cargas, modelo 9; c) conhecimento aéreo, modelo 10; d) conhecimento de transporte
ferroviário de cargas, modelo 27; f) nota fiscal de serviço de transporte, modelo 7, quando utilizada em
transporte de cargas.
O conhecimento de transporte eletrônico também poderá ser utilizado como documento fiscal eletrônico no
transporte dutoviário e nos transporte Multimodais.
O conhecimento de transporte eletrônico – CT-e, é um documento de existência exclusivamente digital,
emitido e armazenado eletronicamente com o intuito de documentar prestações de serviço de transporte, com
validade jurídica garantida pela assinatura digital do emitente e pela Autorização de Uso fornecida pela
administração tributária do domicílio do contribuinte.
De forma simplificada, a empresa emissora de CT-e gerará um arquivo eletrônico contendo as informações
fiscais da prestação de serviço de transporte, que deverá ser assinado digitalmente, de maneira a garantir a
integridade dos dados e a autoria do emissor. Este arquivo eletrônico, que corresponderá ao Conhecimento
de Transporte Eletrônico - CT- e, será transmitido pela internet para a Secretaria de Fazenda Estadual da
jurisdição do contribuinte emitente. A Secretaria de Fazenda Estadual fará, então, uma pré-validação do
arquivo e devolverá uma Autorização de Uso, sem a qual não poderá haver a prestação de serviço de
transporte.
Após o recebimento do CT-e, a Secretaria de Fazenda Estadual disponibilizará consulta, por meio da internet,
para o tomador do serviço e outros legítimos interessados que detenham a chave de acesso do documento
eletrônico.
Este mesmo arquivo do CT-e será ainda transmitido pela Secretaria de Fazenda Estadual para a receita
Federal do Brasil, que será o repositório nacional de todos os CT-e emitidos, e para as Secretarias de Fazenda
de início da prestação do serviço e do tomador do serviço, caso sejam diferentes da Secretaria de Fazenda
da circunscrição do emissor, além da SUFRAMA, quando aplicável.
Nos termos da Cláusula décima quarta do Ajuste SINIEF 09/2007, após a concessão de Autorização de Uso
do CT-e, o emitente poderá solicitar o seu cancelamento, no prazo não superior a 168 horas, desde que não
tenha iniciada a prestação de serviço de transporte, observadas as demais normas da legislação pertinente.
O transportador e o tomador do serviço de transporte deverão manter em arquivo digital os CT -e pelo prazo
estabelecido na legislação tributária para a guarda dos documentos fiscais durante 5 (cinco) anos, devendo
ser apresentados à administração tributária, quando solicitado.
TÍTULOS DO AGRONEGÓCIO
Os Títulos do Agronegócio têm como objetivo viabilizar o financiamento do setor com recursos privados.
CÉDULA DE PRODUTO RURAL – CPR
A Cédula de Produto Rural (CPR) é um título de crédito representativo de promessa de entrega de produtos
rurais, criado pela Lei 8.929/1994 para ser utilizado na formalização de vendas de produto rural para entrega
em data futura e nas trocas de insumos e máquinas por produto, realizadas por produtores rurais e
cooperativas de produtores.
Com a edição da Lei 10.200/2001, a CPR passou à condição de título de crédito referenciado em produto
rural, com a obrigação de pagamento em produto (CPR Física) ou de liquidação financeira (CPR Financeira).
As CPRs somente podem ser emitidas por produtores rurais, suas associações e cooperativas. Devem conter,
no mínimo, os requisitos essenciais exigidos na legislação do título.
Tipos de operações que usualmente utilizam a CPR
A escolha do tipo adequado de CPR depende da modalidade de negócios que se deseja realizar.
Quando o emitente tiver interesse em entregar o produto vendido e o comprador de receber a mercadoria,
deverá ser utilizada a CPR Física. O compromisso de entrega pode ser de qualquer produto rural, seja “in
natura”, beneficiado ou industrializado. Quando se tratar de produto beneficiado ou industrializado, o emitente
da CPR tem de ser produtor ou cooperativa que tenha verticalizado a produção, isto é, produzido e beneficiado
ou industrializado o produto.
Alternativamente, quando o emitente pretender liquidar financeiramente o compromisso assumido e o
comprador tenha esse mesmo interesse, deverá ser utilizada a CPR Financeira.
CERTIFICADO DE DEPÓSITO AGROPECUÁRIO/WARRANT AGROPECUÁRIO CDA/WA
O Certificado de Depósito Agropecuário (CDA) é um título de crédito representativo de promessa de entrega
de produtos agropecuários, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico, emitido por
armazenadores que atendam aos requisitos da Lei 9.973, de 29/05/2000.
O Warrant Agropecuário (WA) é um título de crédito representativo de promessa de pagamento em dinheiro
que confere direito de penhor sobre o CDA correspondente, assim como sobre o produto nele descrito.
O CDA e o WA são títulos unidos, emitidos simultaneamente, podendo ser negociados ou transferidos juntos
ou separadamente, mediante endosso.
Emissão do CDA e WA
O CDA e o WA são emitidos simultaneamente pelo armazenador, com o mesmo número de controle. A
emissão do CDA-WA ocorre por solicitação do depositante da mercadoria, que tenha optado pela emissão
desses títulos em vez da emissão do recibo de depósito.
O armazenador assume a obrigação de guardar, conservar, manter a qualidade e a quantidade do produto
recebido em depósito e de entregá-lo ao credor na quantidade e qualidade consignadas no CDA e no WA.
O CDA e o WA deverão conter, no mínimo, os requisitos essenciais exigidos na legislação do título.
CERTIFICADO DE DIREITOS CREDITÓRIOS DO AGRONEGÓCIO - CDCA
O Certificado de Direitos Creditórios do Agronegócio (CDCA) é um título de crédito nominativo, de livre
negociação, representativo de promessa de pagamento em dinheiro emitido com base em lastro de recebíveis
originados de negócios entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, inclusive financiamentos
ou empréstimos relacionados com a produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de
produtos ou insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária.
Emissão da CDCA
Podem emitir CDCA as cooperativas de produtores rurais e de outras pessoas jurídicas que exerçam a
atividade de comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos e insumos agropecuários ou de
máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária.
O CDCA deve conter, no mínimo, os requisitos exigidos na legislação aplicável ao título.
Os lastros do título devem ser registrados em entidades autorizadas pelo Banco Central, como o RTA, por
exemplo.
LETRA DE CRÉDITO DO AGRONEGÓCIO - LCA
A Letra de Crédito do Agronegócio (LCA) é um título de crédito nominativo, de livre negociação, representativo
de promessa de pagamento em dinheiro emitido com base em lastro de recebíveis originados de negócios
entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, inclusive financiamentos ou empréstimos
relacionados com a produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos ou insumos
agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária.
Emissão da LCA
Podem emitir LCA as instituições financeiras públicas ou privadas, sendo que os emitentes respondem pela
origem e autenticidade dos direitos creditórios a elas vinculados.
A LCA deve conter, no mínimo, os requisitos exigidos na legislação aplicável ao título.
Os lastros da LCA devem ser registrados em entidades autorizadas pelo Banco Central, como o RTA.
CERTIFICADO DE RECEBÍVEIS DO AGRONEGÓCIO – CRA
O Certificado de Recebíveis do Agronegócio (CRA) é um título de crédito nominativo, de livre negociação,
representativo de promessa de pagamento em dinheiro emitido com base em lastro de recebíveis originados
de negócios entre produtores rurais, ou suas cooperativas, e terceiros, inclusive financiamentos ou
empréstimos relacionados com a produção, comercialização, beneficiamento ou industrialização de produtos
ou insumos agropecuários ou de máquinas e implementos utilizados na produção agropecuária.
Emissão da CRA
Podem emitir CRA as companhias securitizadoras de direitos creditórios do agronegócio, ou seja, instituições
não financeiras constituídas sob a forma de sociedade por ações com a finalidade de aquisição e securitização
desses direitos e de emissão e colocação de Certificados de Recebíveis do Agronegócio no mercado
financeiro e de capitais.
O CRA deverá conter, no mínimo, os requisitos exigidos na legislação aplicável ao título.
Pode ser distribuído publicamente e negociado na Bolsa, bem como em mercados de balcão organizados
autorizados a funcionar pela Comissão de Valores Mobiliários.
AÇÕES CAMBIÁRIAS
Impropriedade do nome, pois ação é um direito subjetivo à tutela jurisdicional. Chamar determinada ação de
"cambial" é nominá-la com base no pedido ou na causa pedir.
A “ação cambial” é ação executiva típica, pois há previsão no CPC de que os títulos de crédito são
documentos suficientes para engatilhar a execução fundada em título extrajudicial.
A defesa do devedor corresponderá aos embargos do devedor.
Willie Duarte Costa aponta os seguintes fundamentos como os mais importantes a serem suscitados pelo
executado:
- Inexigibilidade do título
- Ilegitimidade das partes
- Cumulação indevida de execuções
- Excesso de execução
- Qualquer causa impeditiva, modificativa ou extintiva da obrigação: defesas indiretas, cujo ônus da
prova recai sobre o executado (art. 333, I, CPC)
- Incompetência do juízo: natureza meramente dilatória
A ação cambial pode ser proposta contra um, alguns ou todos os obrigados no título, sem estar o credor
adstrito à observância da ordem em que as obrigações ocorreram.
Nos títulos com vários endossantes e endossatários, há de ser respeitada a cadeia de endossos, não podendo
um endossante incluir como litisconsorte passivo um endossatário que o procedeu na cadeia.
Willie sugere nunca deixar de fora ninguém na execução; isso porque, evidentemente, quanto maior o número
de executados, maior a probabilidade de se receber o crédito decorrente do título.
Lembrar que, por ser ação executiva, não cabem determinadas intervenções de terceiros, como denunciação
da lide e chamamento ao processo.
Ação Direta e Ação de Regresso
Ação direta é aquela dirigida contra os obrigados principais: emitente na nota promissória, aceitante na letra
de câmbio, sacado na duplicata, emitente do cheque e seus respectivos avalistas.
Ação de regresso é aquela dirigida contra os garantidores ou devedores indiretos, como o sacador na letra
de câmbio ou da duplicata, endossantes e seus respectivos avalistas.
Essa diferença entre ação direta e ação de regresso é importante, pois para propor execução contra os
legitimados da ação direta não há necessidade de protesto do título para comprovar a apresentação e falta
de pagamento, enquanto para os legitimados da ação de regresso imprescindível o protesto.
Se o título não for levado a protesto (lembrando que o prazo de protesto é decadencial) dentro do prazo legal,
mas depois dele, o portador perde a ação de regresso contra o sacador, endossantes e respectivos avalistas.
Se um endossante ou seu avalista pagar o título, subrrogar-se-á em todos os direitos do exequente, podendo
executar todos os demais garantidores ou devedores indiretos que o precedem na cadeia de endossos, além,
é claro, dos devedores principais.
Decreto 917/1890
Lei 11.101/2005 (vigência desde 9/06/2005) - LRF: atual diploma, objeto de duas ADIs no STF (ADI 3.424
e da ADI 3.934 – esta última já julgada improcedente pelo STF). Princípio norteador: preservação da
empresa (CF: valorização do trabalho humano e livre iniciativa).
Principais inovações da LRF: (i) a substituição da concordata pelo instituto da recuperação judicial; (ii) o
aumento do prazo de contestação, de 24 horas para 10 dias; (iii) impontualidade injustificada relativa à dívida
superior a 40 salários mínimos; (iv) a redução da participação do Ministério Público no processo; (v) síndico,
passa a ser chamado de administrador judicial; (vi) mudança na ordem de classificação dos créditos e a
previsão de créditos extraconcursais; (vii) a alteração nas regras relativas à ação revocatória; (viii) o fim da
medida cautelar de verificação de contas; (ix) o fim do inquérito judicial para apuração de crime falimentar; e
(x) a criação da figura da recuperação extrajudicial.”
Art. 75. A falência, ao promover o afastamento do devedor de suas atividades, visa a preservar e otimizar
a utilização produtiva dos bens, ativos e recursos produtivos, inclusive os intangíveis, da empresa.
Parágrafo único. O processo de falência atenderá aos princípios da celeridade e da economia processual.
CONCEITO DE CONSUMIDOR
Dispõe o art. 2º do CDC:
“Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como
destinatário final”.
CONSUMIDOR
Com efeito, o parágrafo único do citado art. 2º prevê o chamado consumidor por equiparação, nos seguintes
termos: “Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja
intervindo nas relações de consumo”.
São elas:
a) A coletividade de pessoas que tenha, participado de alguma forma, da relação de consumo (parágrafo
único do art.2º). Exemplo: um grupo de mil pessoas se reuniram para comprar material de construção.
b) Todas as vítimas do evento (art.17), ainda que não tenham participado da relação de consumo. Esta
hipótese é tão somente para os acidentes de consumo, que geram a responsabilidade pelo fato do produto
ou serviço (arts. 12 ao 14). Este terceiro (pessoa física ou jurídica), que é equiparado ao consumidor, por ser
vítima, é chamado de bystander. Exemplo: as vítimas da explosão em um Shopping Center.
c) Todas as pessoas determináveis ou não, expostas às práticas comerciais e contratuais lesivas do CDC
(art.29). Exemplos: as vítimas de propaganda enganosa; de cobrança indevida etc.
Em sentido estrito, porém, o consumidor deve ser o destinatário final do produto ou serviço (consumidor
standard). Sobre o assunto desenvolveram-se três teorias. São elas:
Teoria Minimalista ou restrita ou finalista ou subjetiva: o destinatário final deve ser simultaneamente
fático e econômico. O destinatário final fático é o que adquire o produto ou serviço para retirá-lo do mercado
e simplesmente utilizá-lo. O destinatário final econômico é o que coloca um fim na cadeia de produção, isto
é, que não utiliza o produto ou serviço para revenda ou uso profissional. Assim, o conceito de consumidor
restringe-se à pessoa que figura simultaneamente como destinatário fático e econômico do produto ou
serviço, pois o objetivo do CDC é proteger apenas o consumidor vulnerável. Referida teoria praticamente
inviabiliza que a pessoa jurídica seja considerada consumidora, contrariando o disposto no art. 2º do CDC
que expressamente a elenca como tal. A teoria minimalista é extrema. Não haveria, por exemplo, relação de
consumo quando a pessoa jurídica adquirisse os móveis para incorporá-los a seu estabelecimento
empresarial, pois o uso seria para fins profissionais, embora não haja intenção de revenda. Nem mesmo os
produtos de limpeza adquiridos pela pessoa jurídica seriam regidos pelo CDC; os veículos que ela adquirisse
para transporte de seus empregados estaria fora do CDC. Em suma, se o bem for aplicado na empresa, não
se aplica o CDC.
Teoria Maximalista ou objetiva ou ampliativa: o destinatário final do produto ou serviço deve ser apenas
fático, pois o escopo do CDC é proteger o mercado de consumo e não apenas o consumidor não profissional.
Assim, reputa-se consumidor qualquer pessoa física ou jurídica que seja destinatário final do produto ou
serviço, isto é, que o retira do mercado para o fim de utilizá-lo e consumi-lo, pouco importando se o uso
destina-se ou não à atividade empresarial, ou se há ou não o escopo de lucro. Só não se aplica o CDC quando
a aquisição é para fim de comercializar o produto ou serviço. Referida corrente amplia demasiadamente o
conceito de consumidor, desconsiderando-lhe sua principal característica, que é a vulnerabilidade (art. 4º, I,
do CDC), estendendo o benefício a quem não ostenta esse estigma.
Teoria Finalista ou minimalista temperada ou aprofundada: destinatário final deve ser
simultaneamente fático e econômico, mas, no caso de comprovada vulnerabilidade, basta que seja
destinatário final fático. Trata-se, na verdade, de um abrandamento da teoria subjetiva. É, pois, a teoria mais
justa. Assim, para que alguém seja consumidor, além de ser o utente final do bem ou serviço (destinatário
fático), deve ainda utilizar o bem para o atendimento da necessidade privada (própria ou da família), não
podendo reutilizá-lo, ainda que de forma indireta, no âmbito da empresa (destinatário econômico), mas, em
casos de comprovada vulnerabilidade, aplica-se o CDC com base apenas na destinação final fática.
1) A pessoa jurídica que celebra contrato de financiamento bancário para investir o dinheiro em sua empresa.
Para a teoria minimalista, ela não é consumidora; para a maximalista se lhe aplica o CDC. Para a teoria
finalista temperada ela só será consumidora se comprovar a sua vulnerabilidade.
2) A fábrica que adquire cola para a fabricação de sapatos. Como o produto é utilizado como insumo da
produção, a teoria minimalista afasta a incidência do CDC, pois o bem, cola, retorna transformado, em forma
de sapato, para o mercado de consumo, logo não se trata de destinatário final. Já os maximalistas aplicam o
CDC, pois o que importa é a destinação final fática, isto é, a retirada do bem para o consumo. A teoria finalista
temperada, em princípio, também rejeita a aplicação do CDC, salvo mediante comprovação da
vulnerabilidade.
3) Produtor agrícola que compra adubo para o preparo do plantio; a pessoa jurídica que adquire veículo da
concessionária para utilizá-lo na empresa; a pessoa jurídica que celebra contrato com a SABESP de
fornecimento do serviço de água. Nesses exemplos, a teoria finalista ou minimalista exclui a incidência do
CDC; a teoria maximalista ou objetiva aplica o CDC; a teoria finalista ou minimalista temperada, em princípio,
exclui o CDC, salvo mediante comprovação da vulnerabilidade.
O CDC é aplicado ao vulnerável (art. 4º, I), somente ele necessita de fato da proteção do Estado, por se
encontrar em situação de desigualdade com o fornecedor.
A pessoa jurídica que aplica o produto em sua atividade econômica, mas fora da sua área de expertise, pode
revelar-se vulnerável, beneficiando-se do CDC. Todavia, a pessoa física ou jurídica que realiza o negócio em
sua área de especialidade não é vulnerável, excluindo-se a incidência do CDC.
A vulnerabilidade, que é a fonte do desequilíbrio contratual, consistente no ponto fraco apresentado pelo
consumidor, é presumida, quando o consumidor for pessoa física, mas, a meu ver, a presunção é relativa
(juris tantum), podendo ser afastada diante da comprovação da expertise em relação ao produto ou serviço
adquirido. No tocante ao consumidor pessoa jurídica, a vulnerabilidade não se presume, devendo ser
comprovada no caso concreto, sob pena de se afastar a incidência do CDC. Nem mesmo diante da
contratação de um serviço público essencial se pode presumir a vulnerabilidade da pessoa jurídica. Exemplos:
água, luz, gás etc.
d) Informacional: é que decorre da falta das informações que deveriam ser prestadas sobre o produto ou
serviço. Trata-se, na verdade, da própria vulnerabilidade técnica.
Do exposto conclui-se o seguinte:
Não é consumidor a pessoa que adquire o produto ou serviço com o intuito de comercializá-lo, isto é,
revendê-lo. Falta-lhe o atributo da destinação final fática. Este contrato, na verdade, é celebrado entre
empresários, sendo regido pelo direito empresarial, ainda que o empresário adquirente seja vulnerável.
Em regra, não é consumidor quem adquire o serviço ou produto para uso profissional, como é o caso das
pessoas jurídicas e dos profissionais liberais, pois embora seja o destinatário final fático, já que não há o fim
de revenda, falta-lhe a destinação final econômica, visto o produto ou serviço acaba sendo reintroduzido,
ainda que de forma indireta, embutido no preço, no mercado de consumo. Mas, excepcionalmente, desde que
comprovada a vulnerabilidade malgrado o uso profissional, o CDC pode ser aplicado aos profissionais liberais
e pessoas jurídicas que adquirem o produto ou serviço para uso profissional, como é, por exemplo, o caso do
taxista que compra o carro zero KM para empregá-lo em sua profissão.
Em resumo:
Se o adquirente for destinatário fático, mas não econômico, não se aplica o CDC, salvo se comprovada a
vulnerabilidade.
Se o adquirente não for sequer destinatário fático, não se aplica o CDC, ainda que ele seja vulnerável. A
pequena empresa, por exemplo, que compra mercadoria para revender, embora se comprove a sua
vulnerabilidade, não se beneficia do CDC.
CONCEITO DE FORNECEDOR
“Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes
despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação,
importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços”.
Uma agência de viagem, por exemplo, quando vende seu veículo age fora de sua atividade-fim, e, por isso
não é fornecedora. O contrato entre empresários também é excluído do CDC, pois as partes se encontram
em pé de igualdade, inexistindo a figura do “vulnerável”.
O vocábulo fornecedor é o gênero, que abrange as seguintes espécies: produtor, montador, criador,
fabricante, construtor, transformador, importador, exportador, distribuidor, comerciante e prestador de
serviços, conforme bem observa Leonardo de Medeiros Garcia.
a) Pessoa física. É o caso do empresário individual, registrado ou não na Junta Comercial. Exemplo: vendedor
ambulante.
b) Pessoa jurídica de direito público ou de direito privado. Exemplos: serviço de água, luz etc. Assim, o Estado
e os concessionários de serviço público são considerados fornecedores.
c) Entes despersonalizados, isto é, sem personalidade jurídica, mas que titularizam alguns direitos. Exemplos:
espólio, pessoa jurídica sem registro, massa falida, herança jacente, condomínio e a família. Referidos entes
serão fornecedores apenas nas hipóteses em que desenvolverem alguma atividade empresarial.
São, pois, considerados fornecedores, dentre outros, submetendo-se ao Código de Defesa do Consumidor,
os seguintes entes:
a) Os bancos (súmula 297 do STJ). Esta é também a posição atual do STF. A súmula 285 do STJ estabeleceu
ainda que “nos contratos bancários posteriores ao Código de Defesa do Consumidor incide a multa moratória
nele prevista”.
b) Empresa de arrendamento mercantil de bens, inclusive de equipamento médico, ainda que o bem
arrendado se destine a atividades comerciais.
h) Sociedade sem fins lucrativos que prestam serviços a seus associados, ainda que se trate de serviços de
saúde.
i) Serviços prestados por advogados e outros profissionais liberais. São regidos pelo CDC, embora excluídos
da responsabilidade objetiva, por força do art. 14, §4º, do CDC.
Por outro lado, não se aplica o Código de Defesa do Consumidor aos seguintes casos:
c) Relações entre condomínio e condôminos quanto às despesas de manutenção do imóvel. Mas há relação
de consumo entre o condomínio e as empresas que lhe prestam serviço (exemplo: serviço de água, luz,
esgoto etc.).
d) Nas relações entre locador e o locatário, salvo quando intermediados através de administradora
(imobiliárias). Já se admitiu que o Ministério Público é parte legítima para questionar as cláusulas contratuais
de contratos celebrados através de imobiliárias, figurando esta como ré na ação que versa sobre relação de
consumo.
e) Crédito educativo (Lei nº 8.436/1992). Não é serviço bancário, mas programa de governo custeado pela
União, figurando a Caixa Econômica Federal como preposta. Logo, não se aplica CDC.
f) Serviços notariais não são regidos pelo CDC. Não se trata de relação de consumo e sim de uma relação
de serviço público, regida por legislação específica.
Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial (§1º do art. 3º). O termo é, pois, amplo,
abrangendo os bens móveis (exemplos: carros, motos, sofás etc.), os bens imóveis (exemplos: apartamentos,
terrenos etc.), os bens materiais, isto é, corpóreos, de existência física, e os bens imateriais, incorpóreos, isto
é, os direitos (exemplo: programas de computador).
Serviço, por sua vez, é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração,
inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de
caráter trabalhista (§2º do art.3º). Exclui-se expressamente: a) os serviços gratuitos; b) as relações
trabalhistas. Estas são regidas pela CLT.
Quanto aos serviços gratuitos, só são excluídos se forem pura ou inteiramente gratuitos. Se houver uma
remuneração indireta (serviços aparentemente gratuitos), impõe-se a incidência do CDC.
Transporte coletivo para maiores de 65 anos. Há uma remuneração por parte da coletividade de usuários,
que, de uma certa forma, submetem-se a uma tarifa maior para que a gratuidade seja levada a efeito.
Associação que presta serviços médicos gratuitos a seus associados. É evidente a remuneração indireta,
porquanto esse tipo de associação é mantida pelo dinheiro captado dos próprios associados.
Empresa de captação e fornecimento de sangue doado. Com efeito, embora o doador não receba
nenhuma remuneração e o sangue não possa ser comercializado, o certo é que há uma remuneração indireta,
pois a infraestrutura é mantida pelo preço embutido noutros serviços.
SERVIÇOS PÚBLICOS
O serviço público só é regido pelo CDC quando for remunerado, de forma direta e voluntária, pelo consumidor.
De fato, o CDC cuida apenas dos serviços remunerados (§2º do art.3º). Exemplos: água, luz, telefone, metrô
etc. Referidos serviços são chamados de impróprios ou uti singuli e são remunerados por tarifas ou preços
públicos. Vale lembrar que a tarifa é uma remuneração facultativa.
Já os serviços públicos próprios ou uti universi, remunerados por impostos ou taxas, cujo pagamento é
obrigatório, independente, portanto, da vontade do contribuinte, submete-se aos ditames do direito
administrativo e do direito tributário. Assim, o serviço de iluminação pública ou saúde pública não são regidos
pelo CDC.
O art.22 do CDC consagra o princípio da continuidade dos serviços públicos essenciais. Uma primeira
corrente, invocando esse dispositivo legal e a ele juntando o princípio constitucional da dignidade da pessoa
humana, sustenta que, mesmo diante do inadimplemento do consumidor, o serviço público essencial não
pode ser cortado ou suspenso, sobretudo quando o indivíduo for miserável. Prevalece, no entanto, o
entendimento que permite o corte do serviço público, após o aviso prévio ao consumidor inadimplente, diante
da expressa previsão do art.6º, §3º, II, da Lei nº 8.987/95, que regula a concessão e permissão dos serviços
públicos.
Se o consumidor for pessoa jurídica de direito público, ainda assim prevalece a tese do corte da energia
elétrica, ou de outro serviço público essencial, em razão do inadimplemento, mas de forma temperada,
porquanto deve ser mantida a prestação do serviço nas unidades públicas provedoras das necessidades
inadiáveis da comunidade, entendidas essas por analogia à Lei de Greve, como aquelas que, não atendidas,
coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população, como é o caso das
Delegacias de Polícia, hospitais, prontos-socorros etc. Outro tempero imposto pela jurisprudência é a
necessidade de inadimplemento atual, não se justificando o corte por débitos passados.
Por outro lado, o STJ tem permitido, com relação ao serviço de consumo de água, a cobrança mensal de
tarifa mínima, malgrado a proibição do art.39, I do CDC, que proíbe o fornecedor de condicionar o
fornecimento de produtos ou serviços a limites quantitativos. A propósito, dispõe a súmula 356 do STJ: “É
legítima a cobrança da tarifa básica pelo uso dos serviços de telefonia fixa”.
O argumento é que o art. 39, I, do CDC admite, mediante justa causa, a imposição de limites quantitativos, e,
no caso, a justa causa consiste no gasto com a infraestrutura para a disponibilização do serviço. Igualmente,
tem sido admitida a cobrança de tarifa progressiva ou escalonada de água, fixada de acordo com as
categorias de usuários e as faixas de consumo (súmula 407 do STJ).
2 – Da Boa-fé
Boa-fé
Como exceção, o CDC prevê a responsabilidade subjetiva (mediante culpa) dos profissionais liberais
que prestam serviço (artigo 14, parágrafo 4). Exemplo: Médicos e Profissionais da área da saúde em geral (a
sua responsabilidade também é subjetiva pelo artigo 951 do C.C.
Art. 951. O disposto nos arts. 948, 949 e 950 aplica-se ainda no caso de indenização devida por aquele que,
no exercício de atividade profissional, por negligência, imprudência ou imperícia, causar a morte do paciente,
agravar-lhe o mal, causar-lhe lesão, ou inabilitá-lo para o trabalho.
Ex 1: A Turma deu provimento ao recurso por entender que a regra geral do CDC para a
responsabilidade pelo fato do serviço, traçada pelo caput do seu art. 14, é que se trata de
responsabilidade objetiva, ou seja, independente de culpa do fornecedor, como consignado no
próprio enunciado normativo. Observou-se que a incidência da regra de exceção do § 4º do art. 14 do
CDC restringe-se à responsabilidade civil dos profissionais liberais, não se estendendo aos demais
fornecedores, inclusive aos hospitais e clínicas médicas, a quem se aplica a regra geral da
responsabilidade objetiva, dispensando a comprovação de culpa. Desse modo, na hipótese, o ônus
da prova da inexistência de defeito na prestação do serviço, por imposição do próprio legislador, é da
clínica recorrida, que, no entanto, poderá excluir a sua responsabilidade civil mediante a comprovação
de que inexistiu defeito na prestação de serviço, demonstrando ter adimplido corretamente as suas
obrigações em relação à paciente falecida. Ressaltou-se que não havia necessidade sequer de ser
determinada, como fez o magistrado de primeiro grau, a inversão do ônus da prova com base no art.
6º, VIII, do CDC, pois essa inversão já fora feita pelo próprio legislador ao estatuir o § 3º do art. 14 do
mesmo codex. Trata-se da distinção respectivamente entre a inversão ope judicis e a operada
diretamente pela própria lei (ope legis). Assim, entendeu-se ter o acórdão recorrido violado texto
expresso em lei, pois a responsabilidade da clínica é objetiva (independentemente da culpa de seus
prepostos no evento), sendo dela o ônus da prova da inexistência de defeito na prestação dos serviços
médicos. Precedente citado: REsp 696.284-RJ, DJe 18/12/2009. REsp 986.648-PR, Rel. Min. Paulo de
Tarso Sanseverino, julgado em 10/5/2011 (ver Informativo n. 418).
Ex2: Médico cirurgião Plástico Estético. Contudo, o medico cirurgião plástico reparador assume obrigação de
meio, caindo na regra geral da responsabilidade subjetiva.
Ex3: Anestesista (Pablo e Pamplona).
Ex4: Médico que faz exame de ultrassonografia– STJ agravo regimental 744181 do RN.
Todavia, as decisões mais recentes do STJ são no sentido de que a obrigação de resultado não transforma
a responsabilidade subjetiva em objetiva, mas em presunção de culpa. Resp 985888/ SP.
Na responsabilidade objetiva não se discute em culpa. Já a responsabilidade com presunção de culpa se
discute a culpa, há uma inversão do ônus da prova, cabe ao médico demonstrar que não atuou com
negligência, imprudência ou imperícia.
Além dessas duas previstas expressamente no CDC, a doutrina ainda elenca como hipóteses de excludentes
da responsabilidade:
– caso fortuito;
– força maior.
DIREITO PENAL
PONTO 3 - Lei penal no espaço. Elemento subjetivo do tipo. Periculosidade. Contravenções penais.
Incidentes da execução penal. Crimes contra a saúde pública. Crimes hediondos. Crimes previstos no
estatuto do idoso.
1. Lei Penal no Espaço64
64PRADO, Luiz Regis. Direito Penal. Parte Geral. 2ª ed. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p.
38-51.
1.1. Princípios Fundamentais
a) Princípio da Territorialidade – Aplica-se a lei penal aos fatos puníveis praticados no território nacional,
independentemente da nacionalidade do agente, do ofendido ou do bem jurídico lesado. A lei brasileira acolhe
esta diretriz como regra geral, ainda que de forma atenuada, temperada ou não absoluta, nos termos do art.
5º, caput, do CP,
Art. 5º - Aplica-se a lei brasileira, sem prejuízo de convenções, tratados e regras de direito internacional, ao
crime cometido no território nacional.
§ 1º - Para os efeitos penais, consideram-se como extensão do território nacional as embarcações e
aeronaves brasileiras, de natureza pública ou a serviço do governo brasileiro onde quer que se encontrem,
bem como as aeronaves e as embarcações brasileiras, mercantes ou de propriedade privada, que se achem,
respectivamente, no espaço aéreo correspondente ou em alto-mar (território por extensão).
§ 2º - É também aplicável a lei brasileira aos crimes praticados a bordo de aeronaves ou embarcações
estrangeiras de propriedade privada, achando-se aquelas em pouso no território nacional ou em voo no
espaço aéreo correspondente, e estas em porto ou mar territorial do Brasil.
Em relação ao espaço aéreo, adota-se a teoria da absoluta soberania do país subjacente, pela qual o
Brasil exerce completa e exclusiva soberania sobre o espaço aéreo acima de seu território e mar territorial.
b) Princípio real, de defesa ou de proteção – aplica-se a lei penal do Estado titular do bem jurídico lesado
ou ameaçado. Devem ser objeto de tutela exclusivamente bens ou interesses estatais, coletivos ou
comunitários e não de ordem individual.
§ 1º - Nos casos do inciso I, o agente é punido segundo a lei brasileira, ainda que absolvido ou condenado
no estrangeiro.
...
§ 3º - A lei brasileira aplica-se também ao crime cometido por estrangeiro contra brasileiro fora do Brasil, se,
reunidas as condições previstas no parágrafo anterior,
a) não foi pedida ou foi negada a extradição;
b) houve requisição do Ministro da Justiça
Alguns autores entendem que, no caso de vítima brasileira, o princípio é o da personalidade passiva.
Fundamento: relativa proibição de extradição de brasileiros, evitando a impunidade de crimes praticados por
brasileiros no exterior que, depois, fogem para o Brasil.
d) Princípio da Universalidade ou da Justiça Mundial, da Justiça Universal, da Justiça Cosmopolita,
da Competência Universal, da Jurisdição Universal, da Jurisdição Mundial, da Repressão Mundial ou
da Universalidade do Direito de Punir – todos os Estados da comunidade internacional podem punir os
autores de determinados crimes que se encontrem em seu território, de acordo com as convenções ou
tratados internacionais, pouco importando a nacionalidade do agente, o local do crime ou o bem jurídico
atingido. A competência é firmada pelo critério da prevenção.
...
§ 2º - Nos casos do inciso II, a aplicação da lei brasileira depende do concurso das seguintes condições:
a) entrar o agente no território nacional;
b) ser o fato punível também no país em que foi praticado;
c) estar o crime incluído entre aqueles pelos quais a lei brasileira autoriza a extradição;
d) não ter sido o agente absolvido no estrangeiro ou não ter aí cumprido a pena;
e) não ter sido o agente perdoado no estrangeiro ou, por outro motivo, não estar extinta a punibilidade,
segundo a lei mais favorável.
Âmbito espacial sujeito ao poder soberano estatal. Pode ser: a) efetivo ou real – superfície terrestre,
águas territoriais e espaço aéreo correspondente; b) por extensão ou flutuante: embarcações e aeronaves
(art. 5º, § 1º, CP).
Art. 6º - Considera-se praticado o crime no lugar em que ocorreu a ação ou omissão, no todo ou em parte,
bem como onde se produziu ou deveria produzir-se o resultado.
a) Teoria da ação – lugar do delito é onde se realizou a ação ou omissão. Aplicada ao delito de
homicídio, às infrações de menor potencial ofensivo e aos atos infracionais praticados por crianças e
adolescentes.
d) Teoria do efeito intermédio ou do efeito mais próximo – lugar do crime é onde a energia
movimentada pela ação do sujeito alcança a vítima ou o bem jurídico.
a) Extraterritorialidade incondicionada – aplica-se a lei brasileira sem qualquer condicionante, ainda que o
agente tenha sido julgado no estrangeiro, com fundamento no princípio da defesa (art. 7º, I, a, b e c) e no da
universalidade (art. 7º, I, d).
c) Extraterritorialidade na lei de tortura – aplica-se a lei brasileira ainda quando o crime não tenha
sido cometido em território nacional, sendo a vítima brasileira ou encontrando-se o agente em local sob
jurisdição brasileira (art. 2º, Lei 9.455/97).
Uma restrição imposta ao princípio da territorialidade temperada, conforme art. 5º, CP, vem a ser a
imunidade diplomática. Constitui-se de privilégios outorgados aos agentes diplomáticos, observando sempre
o princípio da mais estrita reciprocidade.
As sedes diplomáticas não são extensões do território alienígena. Portanto, a área de uma embaixada
é território nacional, embora seja inviolável. A convenção de Viena, no entanto, estabelece que a
inviolabilidade da residência diplomática não deve estender-se além dos limites necessários ao fim a que se
destina. Isso significa que utilizar suas dependências para a prática de crimes ou dar abrigo a criminosos
comuns faz cessar a inviolabilidade 65.
Renúncia – A imunidade pode ser renunciada pelo Estado acreditante, jamais pelo diplomata.
b) imunidade de jurisdição penal e civil ou imunidade formal – o agente diplomático deverá ser
processado e julgado no Estado que representa, sendo extensível à sua família e aos membros do corpo
diplomático.
65NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado. Versão Compacta. São Paulo: Editora Revista
dos Tribunais, 2009. p. 63.
As imunidades (material e formal) são de ordem pública, devendo ser declaradas de ofício pelo órgão
competente. A natureza jurídica do privilégio da inviolabilidade ou imunidade material – situada no campo do
Direito Penal – é de causa pessoal de exclusão ou de isenção de pena, porque exclui a aplicação da lei penal
do Estado acreditado e, portanto, a punibilidade. Isso em virtude da peculiar função exercida pelo agente
diplomático. Já a exclusão de jurisdição é de cunho formal ou processual.
c) isenção fiscal
Constitui outra exceção à regra da aplicação da lei penal a todo crime ocorrido em território nacional.
São previstas na CF.
Quanto à natureza jurídica da imunidade substantiva a doutrina divide-se em três grupos principais:
I – excludente do crime – uns dizem ser causa de exclusão da tipicidade, outros exclusão da antijuridicidade
por exercício regular do direito, outros causa de exclusão da criminalidade;
II – excludente de pena – causa pessoal de exclusão de pena;
III – causa de incapacidade penal por razões políticas.
Nucci entende ser causa excludente do crime, por exclusão da tipicidade. Diz a constituição que o parlamentar
é inviolável por suas opiniões, palavras e votos, de foram que suas manifestações são sempre penalmente
lícitas.66
Para incidir a imunidade material é necessário que haja uma conexão entre as condutas praticadas
pelo parlamentar e o exercício do mandato.
... Hipótese de incidência da imunidade material, uma vez que as manifestações veiculadas guardam
nexo com exercício da função parlamentar, eis que na defesa de um programa político do governo estadual
do partido da querelada. Queixa-crime não recebida. (Inq 1937, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA,
Tribunal Pleno, julgado em 24/09/2003, DJ 27-02-2004 PP-00021 EMENT VOL-02141-03 PP-00482)
b) processual, formal ou relativa – privilégio de natureza processual e tem por fim garantir a inviolabilidade
pessoal, evitando que o parlamentar seja submetido a processos tendenciosos ou prisões arbitrárias.
No que tange à imunidade de instauração do processo, uma vez recebida a denúncia contra o
parlamentar, por crime ocorrido após a diplomação, o STF dará ciência à Casa respectiva que, por iniciativa
do partido político nela representado e pelo voto da maioria de seus membros, poderá, até a decisão final,
sustar o andamento da ação. Tem a Casa o prazo improrrogável de 45 dias para deliberar sobre a eventual
sustação do feito (art. 53, § 4º, CF). A sustação do processo suspende a prescrição enquanto durar o mandato
(art. 53, § 5º, CF).
Essa imunidade tem eficácia temporal limitada, ou seja, protege os parlamentares somente durante
o exercício do mandato.
Há, ainda, a garantia de ser o parlamentar ouvido em lugar previamente agendado com o juiz, quando
for testemunha, não cabendo qualquer tipo de condução coercitiva. A imunidade subsiste no estado de sítio
e somente pode ser suspensa pelo voto de 2/3 dos membros da Casa respectiva (art. 53, § 8º, CF).
A imunidade processual não impossibilita a investigação policial, de forma que o Parlamento não pode
sustar o curso de inquérito contra qualquer de seus membros. Entretanto, a investigação contará com a
supervisão de Ministro do STF, cuidando-se de parlamentar federal.
2.1. Tipo – é o conjunto dos elementos descritivos do crime contidos na lei penal.
a) objetivos – referentes ao aspecto material do fato (forma de execução, tempo, lugar etc.).
Ex: matar alguém (art. 121, CP), repouso noturno (art. 155, § 1º, CP), lugar ermo (art. 150, § 1º, CP)
Elemento subjetivo geral é o dolo68. O dolo, de acordo com a teoria finalista da ação, é elemento
subjetivo do tipo69.
a) Teoria da Vontade – dolo é a intenção mais ou menos perfeita de praticar um fato que se conhece contrário
à lei. É preciso que o agente tenha a representação do fato (consciência do fato) e a vontade de causar o
resultado.
67 JESUS, Damásio E. de. Direito Penal. 1º volume. Part Geral.28ª ed. São Paulo: Editora Saraiva, 2005. p.
269-277.
68 PRADO. Ob. cit. p. 75.
69 JESUS. Ob. cit. p. 287.
70 JESUS. Ob. cit. p. 287-296.
c) Teoria do Assentimento – Requer a previsão ou representação do resultado como certo, provável
ou possível, não exigindo que o sujeito queira produzi-lo. É suficiente seu assentimento.
Todos esses elementos são exigidos nos crimes materiais e formais. Nos de mera conduta é suficiente
que o sujeito tenha a representação e a vontade de realizá-la.
O dolo deve ser sempre atual, isto é, concomitante à conduta desenvolve-se sua intenção de
realização do tipo penal.
O dolo deve abranger os elementos da figura típica. Assim, para que se possa dizer que o sujeito agiu
dolosamente, é necessário que seu elemento subjetivo tenha-se estendido às elementares e ás circunstâncias
do delito.
a) Dolo Direto (Art. 18, I, primeira parte, CP) – O sujeito visa a certo e determinado resultado. Ex: o agente
desfere golpes de faca na vítima com intenção de matá-la. O dolo se projeta no resultado morte.
b) Dolo Indireto – a vontade do sujeito não se dirige a certo e determinado resultado. Pode ser alternativo
ou eventual.
Dolo alternativo – quando a vontade do agente se dirige a um ou outro resultado. Ex: o agente
desfere golpes de faca na vítima com intenção alternativa: ferir ou matar.
Dolo eventual (Art. 18, I, segunda parte, CP) – quando o sujeito assume o risco de produzir o
resultado, isto é, admite e aceita o risco de produzi-lo. Ele não quer o resultado, pois se assim fosse haveria
dolo direto. Ele antevê o resultado e age. A vontade não se dirige ao resultado (o agente não quer o evento),
mas sim à conduta, prevendo que esta pode produzir aquele. Percebe que é possível causar o resultado e,
não obstante, realiza o comportamento. Entre desistir da conduta e causar o resultado, prefere que este se
produza.
Ex: A está desferindo tiros contra um muro, no quintal da sua residência (resultado pretendido: dar
disparos contra o muro), vislumbrando, no entanto, a possibilidade de os tiros vararem o obstáculo, atingindo
terceiros que passam por detrás. Ainda assim, desprezando o segundo resultado (ferimento ou morte de
alguém), continua a sua conduta. Caso atinja, mortalmente, um passante, responderá por homicídio doloso
(dolo eventual). É o denominado dolo de segundo grau71 (para a doutrina, dolo de segundo grau ou de
consequências necessárias é a vontade do agente dirigida a determinado resultado, efetivamente desejado,
em que a utilização dos meios para alcançá-lo inclui, obrigatoriamente, efeitos colaterais de verificação
praticamente certa).
O juiz, na investigação do dolo eventual, deve apreciar as circunstâncias do fato concreto e não buscá-
lo na mente do autor.
O STF e o STF têm entendimento prevalente de que o condutor de veículo que participa de “racha” em via
movimentada e causa a morte de um pedestre age com dolo eventual, respondendo por homicídio doloso
(artigo 121 do CP). Por isso, o § 2° do artigo 308 do Código de Transito Brasileiro, inserido pela Lei 12.971/14,
não representa um avanço real na punição do condutor que causa a morte de alguém durante um “racha”.
Prevê o mencionado parágrafo que: “se da prática do crime previsto no caput resultar morte, e as
circunstâncias demonstrarem que o agente não quis o resultado nem assumiu o risco de produzi-lo, a pena
privativa de liberdade é de reclusão de 5 (cinco) a 10 (dez) anos, sem prejuízo das outras penas previstas
neste artigo”. O caput tipifica a conduta de “participar, na direção de veículo automotor, em via pública, de
corrida, disputa ou competição automobilística não autorizada pela autoridade competente, gerando situação
de risco à incolumidade pública ou privada”.
PENAL. PROCESSO PENAL. HOMICÍDIO. NOVO JÚRI. APELAÇÃO. VÍCIO NA QUESITAÇÃO. DECISÃO
CONTRÁRIA ÀS PROVAS DOS AUTOS. INOCORRÊNCIA. TESE EXISTENTE NOS AUTOS.
CONDENAÇÃO MANTIDA. AGRAVAMENTO DA CONDENAÇÃO. REFORMATIO IN PEJUS. RECURSO
PARCIALMENTE PROVIDO.
1 - Não gera nulidade o fato de o libelo não conter quesito referente ao dolo eventual, tendo em vista
a sua não obrigatoriedade, conforme pode se verificar do art. 417 do CPP. Da mesma forma, não gera
nulidade a falta de quesitação acerca de insuficiência de provas, tendo em vista que, além de não estar
prevista no artigo referente às regras para formulação dos quesitos, esta pode ser alcançada com a
elaboração dos quesitos relativos à autoria e à relação de causalidade. ...(20080350003306APR, Relator
GISLENE PINHEIRO, 1ª Turma Criminal, julgado em 18/12/2008, DJ 29/04/2009 p. 136)
OBS: Culpa Consciente ou Culpa com Previsão – o agente prevê que sua conduta pode levar a
um certo resultado lesivo, embora acredite, firmemente, que tal evento não se realizará, confiando na sua
atuação (vontade) para impedir o resultado.
a) Dolo de Dano – o sujeito quer o dano ou assume o risco de produzi-lo (dolo direito ou eventual).
Ex: crime de homicídio doloso, em que o sujeito quer a morte (dano) ou assume o risco de produzi-la.
b) Dolo de Perigo – o agente não quer o dado nem assume o risco de produzi-lo, desejando ou
assumindo o risco de produzir um resultado de perigo. Ex: art. 130, caput, CP – o agente quer ou assume o
risco de produzir o perigo de dano (contágio venéreo). Ele não quer o contágio, pois, se assim fosse, haveria
dolo de dano, hipótese prevista no § 1º, (“se é intenção do agente transmitir a moléstia).
a) Dolo Genérico – é vontade de realizar fato descrito na norma penal incriminadora. Ex: homicídio
– matar alguém.
b) Dolo Específico – é a vontade de praticar o fato e produzir um fim especial (específico). Ex:
Exposição ou abandono de recém-nascido (art. 134) – Expor ou abandonar recém-nascido, para ocultar
desonra própria.
Para Damásio não “existem dolo específico e dolo genérico. O dolo é um só, variando de acordo com
a figura típica”.
Ex: O agente, pretendendo matar o inimigo, esgana-o. Imaginando-o morto, o que não ocorreu de
fato, estando a vítima apenas desmaiada, atira o corpo no rio, tendo por fim eliminar a evidência do crime.
Nessa ocasião, a morte se produz por afogamento.
a) Doutrina majoritária - responde por homicídio doloso consumado. Há perfeita congruência entre
o que fez e o que pretendia fazer, pouco importando seu equívoco, quanto ao método que lhe permitiu atingir
o resultado. Não é necessário que o dolo persista durante todo o fato, sendo suficiente que a conduta
desencadeante do processo causal seja dolosa.
b) Damásio – Existe somente uma tentativa de homicídio. Ocorre um desvio essencial no rumo
causal, excludente da imputação objetiva do resultado.
O dolo, na reforma penal de 1984, foi deslocado da culpabilidade para o tipo, não influenciando na
aplicação da pena concreta. Daí a razão por que o art. 59 nenhuma referência faz a esse elemento subjetivo
do tipo.
3. Periculosidade72
3.1. Introdução
As penas e as medidas de segurança constituem as duas formas de sanção penal. Enquanto a pena
é retributiva-preventiva, tendendo hoje a readaptar à sociedade o delinqüente, a medida de segurança
possui natureza essencialmente preventiva, no sentido de evitar que um sujeito que praticou um crime
e se mostra perigoso venha a cometer novas infrações penais.
3.2. Conceito
A verificação da periculosidade se faz por intermédio de um juízo sobre o futuro, ao contrário do juízo
de culpabilidade, que se projeta sobre o passado. Para essa verificação, o juiz vale-se de fatores (ou
elementos) e indícios (ou sintomas) do estado de perigo.
Fatores da periculosidade são os elementos que, atuando sobre o indivíduo, o transformam nesse
ser com probabilidade delinqüir, de ordem externa ou interna, referentes às condições físicas individuais,
morais e culturais, condições físicas do ambiente, de vida familiar ou de vida social.
A reforma penal de 1984 presume a periculosidade dos inimputáveis (CP, art. 97). No caso dos semi-
responsáveis (CP, art. 26, parágrafo único), cuida-se de periculosidade real.
A periculosidade é real quando há de ser reconhecida pelo juiz, como acontece nos casos de semi-
imputabilidade (art. 26, p.ú, CP). Para aplicar uma medida de segurança ao semi-imputável o magistrado
precisa verificar, no caso concreto, a existência de periculosidade.
Art. 97 - Se o agente for inimputável, o juiz determinará sua internação (art. 26). Se, todavia, o fato previsto
como crime for punível com detenção, poderá o juiz submetê-lo a tratamento ambulatorial.
Prazo
§ 1º - A internação, ou tratamento ambulatorial, será por tempo indeterminado, perdurando enquanto não for
averiguada, mediante perícia médica, a cessação de periculosidade. O prazo mínimo deverá ser de 1 (um) a
3 (três) anos
Perícia médica
§ 2º - A perícia médica realizar-se-á ao termo do prazo mínimo fixado e deverá ser repetida de ano em ano,
ou a qualquer tempo, se o determinar o juiz da execução.
§ 3º - A desinternação, ou a liberação, será sempre condicional devendo ser restabelecida a situação anterior
se o agente, antes do decurso de 1 (um) ano, pratica fato indicativo de persistência de sua periculosidade.
§ 4º - Em qualquer fase do tratamento ambulatorial, poderá o juiz determinar a internação do agente, se essa
providência for necessária para fins curativos.
Art. 98 - Na hipótese do parágrafo único do art. 26 deste Código e necessitando o condenado de especial
tratamento curativo, a pena privativa de liberdade pode ser substituída pela internação, ou tratamento
ambulatorial, pelo prazo mínimo de 1 (um) a 3 (três) anos, nos termos do artigo anterior e respectivos §§ 1º a
4º.
Direitos do internado
Art. 99 - O internado será recolhido a estabelecimento dotado de características hospitalares e será submetido
a tratamento.
3.6. A periculosidade como elemento da personalidade (circunstância judicial – art. 59, CP)
HABEAS CORPUS. PORTE ILEGAL DE ARMA DE FOGO DE USO RESTRITO E RESISTÊNCIA. PACIENTE
PRESO EM FLAGRANTE POR PORTAR, EM ÁREA RESIDENCIAL, UMA PISTOLA, CALIBRE 40, COM
NUMERAÇÃO RASPADA E COM CARREGADOR CONTENDO DEZ CARTUCHOS INTACTOS, OPONDO-
SE À EXECUÇÃO DE SUA PRISÃO, DESFERINDO SOCOS E PONTAPÉS CONTRA OS POLICIAIS
MILITARES. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA. INDÍCIOS DE AUTORIA E PROVA DA
MATERIALIDADE. DECISÃO IMPUGNADA ANCORADA EM BASE EMPÍRICA. GRAVIDADE E
PERICULOSIDADE DEMONSTRADAS EM CONCRETO. REITERAÇÃO CRIMINOSA. OCUPAÇÃO LÍCITA
E RESIDÊNCIA FIXA. CIRCUNSTÂNCIAS INSUFICIENTES PARA ENSEJAR A LIBERDADE. ORDEM
DENEGADA.
1. O decisum que indeferiu o pedido de liberdade provisória está devidamente fundamentado na
existência de indícios suficientes de autoria e materialidade, aliado ao requisito da garantia da ordem
pública e aplicação da lei penal, tendo em vista que o paciente é reincidente, pois possui condenação
transitada em julgado por crime de furto qualificado, não fazendo jus, acaso condenado pelo crime
em apreço, à substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direito e nem ao regime
aberto, bem como por sua extensa folha penal, circunstâncias que evidenciam a sua periculosidade e
a sua reiteração criminosa.
2. O paciente demonstra menosprezo à ordem jurídica, à convivência social pacífica e à aplicação da lei penal,
pois, além de reincidente, figura como réu em outras ações penais, inclusive por homicídio, bem como busca
se furtar à aplicação da lei penal, porquanto resistiu à prisão e é réu revel em ação penal em que responde
pelo delito de roubo circunstanciado.
3. A alegação de que o paciente possui ocupação lícita, não comprovada nos autos, e residência fixa, não é
suficiente, por si só, para afastar as circunstâncias ensejadoras da custódia cautelar.
4. Habeas corpus admitido e ordem denegada para manter a prisão cautelar do paciente.
(20090020045713HBC, Relator ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, 2ª Turma Criminal, julgado em
07/05/2009, DJ 03/06/2009 p. 174)
4. Contravenções Penais
4.1. Conceito
O Brasil adota a classificação bipartida das infrações penais. Segundo essa classificação, as infrações
se dividem em crimes e contravenções.
Não há diferença ontológica, de essência, entre crime (ou delito) e contravenção. O mesmo fato pode
ser considerado crime ou contravenção pelo legislador, de acordo com a necessidade da prevenção social.
Não são categorias que se distinguem pela sua natureza, mas realidades que se diversificam pela sua maior
ou menor gravidade. A questão reside na quantidade da infração, e não em sua substância 74. É o chamado
crime-anão.
De acordo com o art. 1º, da LICP: “Considera-se crime a infração penal a que a lei comina pena de
reclusão ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativamente ou cumulativamente com a pena de multa;
contravenção, a infração penal a que a lei comina, isoladamente, pena de prisão simples ou de multa,
ou ambas, alternativamente ou cumulativamente”.
4.2. Peculiaridades
c) Prisão Simples – Art. 5º LCP – Sem rigor penitenciário. Cumprida em estabelecimento especial
ou seção especial de prisão comum, em regime semi-aberto ou aberto.
Não se admite; contravenção (antes) – crime (depois), por falta de previsão legal.
e) Contravenção Culposa – é possível (art. 3º, LCP), embora raro. A doutrina dá como exemplo a
contravenção prevista no art. 26:
Art. 26. Abrir alguém, no exercício de profissão de serralheiro ou oficio análogo, a pedido ou por incumbência
de pessoa de cuja legitimidade não se tenha certificado previamente, fechadura ou qualquer outro aparelho
destinado à defesa de lugar nu objeto:
Pena – prisão simples, de quinze dias a três meses, ou multa, de duzentos mil réis a um conto de réis.
f) Ação Penal – é pública incondicionada (art. 17, LCP). Atenção: Para a contravenção de Vias de
Fato (Art. 21) a jurisprudência entende que a ação é pública mediante representação em face do princípio da
proporcionalidade, pois se para a lesão corporal leve exige-se a representação, com mais propriedade para
as vias de dato.
O STF, na ADI 4424, estabeleceu que a ação penal é pública incondicionada, quando se tratar de
lesões corporais praticadas com violência doméstica, nada falando a respeito das vias de fato. Há
controvérsia, no TJDFT, em relação à natureza dessa ação penal. Confira-se:
g) Delitos de Mera Conduta ou Simples Atividade – A maioria (não todas) das contravenções são
delitos dessa natureza. A lei não exige qualquer resultado naturalístico, contentando-se com a ação ou
omissão do agente. Não sendo relevante o resultado material, há uma ofensa (de dano ou de perigo)
presumida pela lei diante da prática da conduta.
PENAL - PORTE DE ARMA BRANCA. FACA. ARTIGO 19 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS. FATO
ATÍPICO. RECURSO IMPROVIDO.
1- O porte de arma branca constitui fato atípico, visto que não previsto pela Lei das Contravenções
Penais ou pela Lei nº 10.826/2003.
2- O caput do art. 19 do Decreto-Lei 3688/41 estabelece que constitui contravenção trazer consigo
arma fora de casa ou de dependência desta, sem licença da autoridade competente.
3- O tipo contravencional não se esgota na descrição da conduta de trazer consigo arma fora de casa
ou de dependência desta. Soma-se ao tipo o elemento normativo: a inexistência de licença da
autoridade competente, para que se considere preenchido o tipo penal.
4- Não há regulamentação de licença para porte ou uso de armas brancas, assim entendidas as facas.
Se não há norma jurídica que discipline as condições em que o uso de arma branca pode ser admitido,
não há como solicitar autorização para o seu porte, não configurando o porte de arma branca a
contravenção prevista no art. 19 da Lei das Contravenções Penais.
5- Recurso conhecido e improvido. Maioria.(20070111046750APJ, Relator MARIA DE FÁTIMA RAFAEL DE
AGUIAR RAMOS, Primeira Turma Recursal dos Juizados Especiais Cíveis e Criminais do D.F., julgado em
04/11/2008, DJ 11/12/2008 p. 192)
STF – SÚMULA 720 - O ART. 309 DO CÓDIGO DE TRÂNSITO BRASILEIRO, QUE RECLAMA DECORRA
DO FATO PERIGO DE DANO, DERROGOU O ART. 32 DA LEI DAS CONTRAVENÇÕES PENAIS NO
TOCANTE À DIREÇÃO SEM HABILITAÇÃO EM VIAS TERRESTRES.
III. Evidenciado que uma pessoa determinada se encontrou em situação de incômodo e prejuízo,
devido a ações do agente, configura-se, em princípio, a perturbação da tranqüilidade e, não a
perturbação do sossego alheio – figura que prevê prejuízo para número indeterminado de pessoas.
(RHC 11.235/MG, Rel. Ministro GILSON DIPP, QUINTA TURMA, julgado em 02/08/2001, DJ 10/09/2001 p.
400)
m) Art. 65. Molestar alguém ou perturbar-lhe a tranquilidade, por acinte ou por motivo reprovável:
O termo stalking deriva do idioma inglês, no qual a palavra stalk significa perseguir, ato de aproximar-se
silenciosamente (da caça), atacar à espreita. O stalking implica em atos que um determinado sujeito pratica
invadindo a intimidade da vítima, coagindo, marcando presença, exercendo certa influência em seu emocional
e, até mesmo, restringindo sua liberdade. O stalker age de muitas e diversas maneiras, sendo sua conduta
marcada pela característica da repetição, insistência. A vítima se vê coagida por diversos tipos de atitudes de
um stalker como ligações telefônicas, perseguição, mensagens, e-mails, presentes, permanência em locais
de sua rotina, permanência em lugares por onde passa frequentemente, etc. A motivação daquele que
pratica stalking varia, podendo ser por amor, por vingança, inveja, raiva, brincadeira ou qualquer outra causa
subjetiva.
5.1. Conceito
O incidente de execução pode ser considerado como um acontecimento jurídico que ocorre no curso
da execução da pena, ocasionando, por atividade jurisdicional, a sua alteração, redução ou extinção
(MIRABETE, 2007, p. 765).75
Os incidentes de execução são diversos de alguns institutos aplicados ao réu ou ao condenado, como,
por exemplo: a concessão de progressão de regime; a inclusão do condenado no livramento condicional; a
concessão do sursis. Esses institutos se referem ao curso normal da execução.
Dada a natureza das questões incidentes previstas na LEP, elas poderão proporcionar tão somente
a modificação dos rumos da execução, alterando seu curso, reduzir ou até mesmo extinguir a pena ou medida
de segurança submetida à execução (Renato Marcão).
5.2. Espécies
a) Previstos no Título VII da Lei de Execução Penal: conversões, excesso ou desvio e anistia e indulto.
Representam a substituição de uma sanção penal por outra espécie elencada no ordenamento
jurídico pátrio, tendo em vista uma nova realidade que deve ser abarcada, tanto a favor, como em detrimento
75PRADO, Luiz Regis. Coordenação. Execução Penal. São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2009. p.
134.
do condenado. Pode ter caráter liberatório ou detentivo. Por conta dessa característica, quando da
apreciação do incidente, há que se respeitarem os princípios do contraditório e da ampla defesa (art.
5º, LV, CF).
Conversão implica alterar uma pena para outra; difere da transferência de um regime para outro,
dentro da mesma pena.
Com o advento da lei 9.714/98, a conversão se estende às penas privativas de liberdade não superiores a 4
(quatro) anos, restando o caput do artigo 180 da LEP revogado.
Art. 180. A pena privativa de liberdade, não superior a 2 (dois) anos, poderá ser convertida em restritiva de
direitos, desde que:
I - o condenado a esteja cumprindo em regime aberto;
II - tenha sido cumprido pelo menos 1/4 (um quarto) da pena;
III - os antecedentes e a personalidade do condenado indiquem ser a conversão recomendável.
Art. 181. A pena restritiva de direitos será convertida em privativa de liberdade nas hipóteses e na forma do
artigo 45 e seus incisos do Código Penal (art. 44, §§ 4º e 5º - Lei 9.714/98).
§ 1º A pena de prestação de serviços à comunidade será convertida quando o condenado:
a) não for encontrado por estar em lugar incerto e não sabido, ou desatender a intimação por edital;
b) não comparecer, injustificadamente, à entidade ou programa em que deva prestar serviço;
c) recusar-se, injustificadamente, a prestar o serviço que lhe foi imposto;
d) praticar falta grave;
e) sofrer condenação por outro crime à pena privativa de liberdade, cuja execução não tenha sido suspensa.
§ 2º A pena de limitação de fim de semana será convertida quando o condenado não comparecer ao
estabelecimento designado para o cumprimento da pena, recusar-se a exercer a atividade determinada pelo
Juiz ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras "a", "d" e "e" do parágrafo anterior.
§ 3º A pena de interdição temporária de direitos será convertida quando o condenado exercer,
injustificadamente, o direito interditado ou se ocorrer qualquer das hipóteses das letras "a" e "e", do § 1º, deste
artigo.
A pena restritiva de direitos submete a possibilidade de sua manutenção dentro do processo executivo
à satisfação de uma série de condições, de maneira que o desatendimento injustificado a uma delas pode
determinar a sua conversão na pena privativa de liberdade inicialmente aplicada (e que restou substituída).
Como não há previsão legal expressa, a pena de prisão simples não pode ser convertida.
A pena de multa, após o trânsito em julgado da sentença penal condenatória, torna-se dívida de valor,
podendo, assim, ser executada pela Fazenda Pública. Após sua inscrição em dívida ativa, sua execução será
promovida nos moldes da Lei 6.830/80, dependendo a definição de sua competência de qual âmbito foi
exarada, se Federal ou Estadual, ficando a cargo a Fazenda Pública respectiva.
OBS: a pena de multa, de natureza penal, tampouco pode passar da pessoa do condenado (princípio
da responsabilidade pessoal, da pessoalidade ou da intranscendência da pena). Apenas se estivermos diante
de uma responsabilidade não penal, v.g., a obrigação de reparar o dano, é que os herdeiros responderão,
nos limites da força da herança (GRECO, Rogério, 2009, vol. I, p. 79).
Art. 183. Quando, no curso da execução da pena privativa de liberdade, sobrevier doença mental ou
perturbação da saúde mental, o Juiz, de ofício, a requerimento do Ministério Público, da Defensoria Pública
ou da autoridade administrativa, poderá determinar a substituição da pena por medida de segurança.
Art. 184. O tratamento ambulatorial poderá ser convertido em internação se o agente revelar incompatibilidade
com a medida.
Parágrafo único. Nesta hipótese, o prazo mínimo de internação será de 1 (um) ano.
A corrente majoritária entende que a duração da medida de segurança substitutiva deve corresponder
ao prazo da pena corporal imposta (substituída). Isso, em respeito à coisa julgada.
Constatada a real necessidade, deve ser instaurado incidente de insanidade mental no curso da
execução da pena, não sendo possível o reconhecimento em HC.
Art. 185. Haverá excesso ou desvio de execução sempre que algum ato for praticado além dos limites fixados
na sentença, em normas legais ou regulamentares.
Excesso – ocorrerá sempre que na execução da pena ou medida de segurança se constatar algo
que vá além, que exceda ao decidido na sentença ou acórdão submetido à execução, de maneira que o
excesso será sempre prejudicial, gravoso ao executado. O Excesso é quantitativo em relação ao título que
está sendo executado, pois vai além do que deveria. Há desproporcionalidade na execução da sentença.
Ex: submeter o executado a regime mais rigoroso do que aquele a que tem direito em razão do fixado
na sentença ou em decisão que concedeu a progressão; manter em cadeia pública ou estabelecimento
inadequado aquele a que se impôs medida de segurança; submeter o executado a sanção administrativa
além do fixado em lei.
Desvio de execução. Regime fechado. Autorização para comparecimento, sem escolta, a evento religioso.
1. Ao que cumpre pena em regime fechado somente podem ser autorizadas saídas temporárias do
presídio, sem escolta, nos casos previstos nos incisos do art. 120 da Lei de Execução Penal.
2. Verificado o desvio de execução, com a permissão de comparecimento do condenado a evento de
cunho religioso, sem vigilância direta, exclui-se do cômputo da execução o período de afastamento
ilegal. (20010020022413DIV, Relator GETULIO PINHEIRO, 2ª Turma Criminal, julgado em 27/06/2002, DJ
21/08/2002 p. 121)
Fala-se em excesso ou desvio individual ou coletivo, caso ocorra em relação a um único sentenciado
ou a diversos.
Art. 187. Concedida a anistia, o Juiz, de ofício, a requerimento do interessado ou do Ministério Público, por
proposta da autoridade administrativa ou do Conselho Penitenciário, declarará extinta a punibilidade.
Art. 188. O indulto individual poderá ser provocado por petição do condenado, por iniciativa do Ministério
Público, do Conselho Penitenciário, ou da autoridade administrativa.
Art. 189. A petição do indulto, acompanhada dos documentos que a instruírem, será entregue ao Conselho
Penitenciário, para a elaboração de parecer e posterior encaminhamento ao Ministério da Justiça.
Art. 190. O Conselho Penitenciário, à vista dos autos do processo e do prontuário, promoverá as diligências
que entender necessárias e fará, em relatório, a narração do ilícito penal e dos fundamentos da sentença
condenatória, a exposição dos antecedentes do condenado e do procedimento deste depois da prisão,
emitindo seu parecer sobre o mérito do pedido e esclarecendo qualquer formalidade ou circunstâncias
omitidas na petição.
Art. 191. Processada no Ministério da Justiça com documentos e o relatório do Conselho Penitenciário, a
petição será submetida a despacho do Presidente da República, a quem serão presentes os autos do
processo ou a certidão de qualquer de suas peças, se ele o determinar.
Art. 192. Concedido o indulto e anexada aos autos cópia do decreto, o Juiz declarará extinta a pena ou
ajustará a execução aos termos do decreto, no caso de comutação.
Art. 193. Se o sentenciado for beneficiado por indulto coletivo, o Juiz, de ofício, a requerimento do interessado,
do Ministério Público, ou por iniciativa do Conselho Penitenciário ou da autoridade administrativa,
providenciará de acordo com o disposto no artigo anterior.
a) Anistia
É um ato do poder social editado com a finalidade de extinguir o delito, impedindo o exercício da ação
penal, tenha sido ou não intentada, ou tornando sem efeito as condenações que porventura já tenham sido
proferidas por motivos de mesma infração.
A anistia é forma de indulgência soberana, sendo ato privativo do Congresso Nacional, atingindo,
comumente, os crimes políticos, militares ou eleitorais, podendo alcançar, ainda, delito de outra natureza.
Trata-se de causa extintiva da punibilidade, refere-se a fatos delituosos, e não a pessoas, e, apesar de
extinguir todos os efeitos penais atinentes à prática delitiva, não alcança os efeitos civis. A CF e a Lei 8.072/90
vedam a concessão do referido benefício na hipótese de crime hediondo ou a ele equiparado (tortura, tráfico
ilícito de drogas e terrorismo).
- Pode ser concedida antes ou depois da sentença penal condenatória.
- Classifica-se em:
a) parcial: quando exclui determinados fatos, indivíduos, ou grupos ou classes de indivíduos;
b) condicional: quando estabelece cláusulas para a fruição do benefício;
c) geral ou absoluta: não conhece exceção de crimes ou de pessoas, e nem impõe condições
(GRECO, op. Cit., p. 714).
É chamada própria quando concedida antes do trânsito em julgado da sentença; imprópria, quando
depois.
É o ato do Chefe do Poder Executivo pelo qual concede a certo condenado ou a determinados
condenados, por sentença irrevogável, a extinção, diminuição ou a comutação da sua pena. A CF não se
refere ao termo graça (art. 84, XII, CF), substituindo-a pela denominação de indulto, passando, assim, a
doutrina a denominá-la de indulto individual.
A graça é ato privativo do Presidente da República (pode ser delegado – art. 84, p.ú, CF), direcionada
aos crimes comuns, sendo também causa extintiva de punibilidade. A graça só pode ser concedida após a
condenação, sendo marcante tal instituo, por ser medida de caráter individual, já que favorece pessoa
determinada ou pessoas determinadas.
A CF e a Lei 8.072/90 vedam a concessão do referido benefício na hipótese de crime hediondo ou a ele
equiparado (tortura, tráfico ilícito de drogas e terrorismo)
Também constitui ato privativo do Presidente da República (pode ser delegado – art. 84, p.ú, CF),
sendo causa extintiva da punibilidade. É caracterizado por ser medida de caráter coletivo, em que o
Presidente da República edita, anualmente, os decretos concessivos, geralmente no mês de dezembro, e que
beneficia um grupo de sentenciados que preencham os requisitos objetivos e subjetivos ali inseridos.
O indulto pode ser total, propiciando a extinção da pena daqueles que preencham os requisitos legais;
ou ainda parcial, conhecido como comutação de pena, em que há diminuição de parte da reprimenda imposta
ao condenado. O indulto só é concretizado por meio de decisão judicial, na qual o juiz irá apreciar se o
condenado preenche os requisitos exigidos pelo decreto presidencial.
O indulto alcança somente as penas descritas no decreto presidencial, subsistindo os demais efeitos
decorrentes da sentença condenatória, tanto de caráter penal como civil.
HABEAS CORPUS. EXECUÇÃO PENAL. CRIME HEDIONDO. DOENÇA GRAVE. PERÍCIA MÉDICA.
INDULTO HUMANITÁRIO. DECRETO Nº 5.993/2006. QUADRO CLÍNICO QUE NÃO SE ENQUADRA NA
PREVISÃO LEGAL. ORDEM DENEGADA. Em princípio, não tem direito a indulto os condenados por crimes
definidos como hediondo. Inteligência dos artigos 2º, I, da Lei nº 8.072/1990 e 8º, II, do Decreto nº 5.993/2006.
Tal vedação, entretanto, está excepcionada nas hipóteses previstas no inciso VI, artigo 1º do Decreto nº
5.993/2006, que prevê o indulto humanitário, a teor do disposto no parágrafo único do artigo 8º, do mesmo
diploma legal. Para sua concessão, todavia, é mister a comprovação de quatro requisitos simultâneos
previstos na norma: doença grave, irreversível, incapacidade severa com grave limitação e
necessidade de cuidados contínuos. No caso, o réu não faz jus ao benefício, eis que o laudo médico
atesta apenas a incapacidade moderada.(20080020014435HBC, Relator GEORGE LOPES LEITE, 1ª
Turma Criminal, julgado em 17/04/2008, DJ 23/06/2008 p. 117).
EMENTA: I. Prisão processual: direito à progressão do regime de cumprimento de pena privativa de liberdade
ou a livramento condicional (LEP, art. 112, caput e § 2º). A jurisprudência do STF já não reclama o trânsito
em julgado da condenação nem para a concessão do indulto, nem para a progressão de regime de
execução, nem para o livramento condicional (HC 76.524, DJ 29.08.83, Pertence). No caso, o paciente -
submetido à prisão processual, que perdura por mais de 2/3 da pena fixada na condenação, dada a demora
do julgamento de recursos de apelação - tem direito a progressão de regime de execução ou a concessão de
livramento condicional, exigindo-se, contudo, o preenchimento de requisitos subjetivos para a deferimento
dos benefícios. II. Habeas corpus: deferimento, em parte, para que o Juízo das Execuções ou o Juízo de
origem analise, como entender de direito, as condições para eventual progressão de regime ou concessão
de livramento condicional.
(HC 87801, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Primeira Turma, julgado em 02/05/2006, DJ 26-05-
2006 PP-00020 EMENT VOL-02234-02 PP-00358 RT v. 95, n. 853, 2006, p. 509-511)
O Código Penal, no tocante à proteção do bem jurídico saúde, distingue condutas que atingem a
saúde:
a) Individual – A lesão ou perigo de lesão pode atingir várias pessoas, mas elas são determinadas.
Crimes contra a pessoa (Título I). Ex: Art. 132 – Perigo para a vida ou saúde de outrem.
b) Coletiva – O perigo abstrato ou concreto deve apresentar-se a um número indeterminado de
pessoas, sem embargo de vir a ocorrer lesão em uma ou mais pessoas determinas. Indeterminação e
coletividade são elementos distintivos do conjunto de crimes contra a incolumidade pública e, entre eles, os
crimes contra a saúde pública.
Dolo - Nos crimes contra a saúde pública o agente deve ter consciência de que pode criar perigo para
a saúde pública. Não é exigido que tenha esse propósito, uma vez que o fim particular do agente não interessa
para a caracterização do crime. A finalidade, em especial a econômica, é exigida nos crimes dos arts. 272,
§1º-A, art. 273, §§1º e 1º-B, 276, 278, 282, parágrafo único e 284, parágrafo único .
6.1. Epidemia
Epidemia – doença que acomete, em curto espaço de tempo e em determinado lugar, várias pessoas.
Trata-se de crime:
a) Comum – pode ser cometido por qualquer pessoa.
b) Material – exige, para sua consumação, a ocorrência de resultado naturalístico;
Se a intenção do agente for contaminar certa pessoa, poderá responder pelo delito do art. 131 (Perigo de
contágio de moléstia grave). Há, nessas situações, hipótese de concurso formal. Todavia, mesmo que
diversas sejam as mortes causadas, se o agente quis causar epidemia, responderá pela causa de aumento
do § 1º, do art. 267.
Se o fim do agente é matar ou ofender a integridade física ou a saúde de pessoa determinada, responde pelo
delito de homicídio qualificado (art. 121, § 2º, III) ou lesão corporal (art. 129), consumados ou tentados.
Art. 268 - Infringir determinação do poder público, destinada a impedir introdução ou propagação de doença
contagiosa:
Pena - detenção, de um mês a um ano, e multa.
Parágrafo único - A pena é aumentada de um terço, se o agente é funcionário da saúde pública ou exerce a
profissão de médico, farmacêutico, dentista ou enfermeiro.
Trata-se de crime formal (não exige, para sua consumação, resultado naturalístico, consistente em gerar
dano para alguém) e de perigo comum abstrato (aquele que coloca um número indeterminado de pessoas
em perigo, que presumido pela lei).
Consuma-se o delito com a violação à determinação do poder público destinada a impedir introdução ou
propagação de doença contagiosa. Não é necessário que a introdução ou propagação da doença se dê
efetivamente. A tentativa é cabível.
Art. 269 - Deixar o médico de denunciar à autoridade pública doença cuja notificação é compulsória:
Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e multa.
Trata-se de crime próprio (só pode ser cometido pelo médico), de mera conduta, de forma vinculada
e omissivo.
Doença de notificação compulsória é a enfermidade cuja ciência, pelo poder público, é obrigatória.
Trata-se de norma penal em branco, necessitando de complemento para ser compreendida, isto é, torna-se
indispensável conhecer o rol das doenças de que o Estado deseja tomar conhecimento.
Art. 270 - Envenenar água potável, de uso comum ou particular, ou substância alimentícia ou medicinal
destinada a consumo:
Pena - reclusão, de dez a quinze anos.
§ 1º - Está sujeito à mesma pena quem entrega a consumo ou tem em depósito, para o fim de ser distribuída,
a água ou a substância envenenada.
Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Trata-se de crime comum, formal, comissivo (excepcionalmente omissivo impróprio), instantâneo, de perigo
comum abstrato. Admite tentativa na forma plurissubsistente.
Se o que se está envenenando dirige-se a apenas uma família, isto é, somente a determinadas pessoas, é
certo asseverar que não se trata de crime de perigo comum, como o é o crime em questão, mas pode
caracterizar homicídio qualificado (tentativa ou consumado) ou, até mesmo o delito de perigo para a vida ou
saúde de outrem.
Art. 271 - Corromper ou poluir água potável, de uso comum ou particular, tornando-a imprópria para consumo
ou nociva à saúde:
Pena - reclusão, de dois a cinco anos.
Modalidade culposa
O art. 271 do CP foi tacitamente revogado pelo art. 54 da Lei 9.605/1998 (Lei dos Crimes Ambientais) 76
Art. 54. Causar poluição de qualquer natureza em níveis tais que resultem ou possam resultar em danos à
saúde humana, ou que provoquem a mortandade de animais ou a destruição significativa da flora:
Pena - reclusão, de um a quatro anos, e multa.
Art. 272 - Corromper, adulterar, falsificar ou alterar substância ou produto alimentício destinado a consumo,
tornando-o nocivo à saúde ou reduzindo-lhe o valor nutritivo:
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 8 (oito) anos, e multa.
§ 1º-A - Incorre nas penas deste artigo quem fabrica, vende, expõe à venda, importa, tem em depósito para
vender ou, de qualquer forma, distribui ou entrega a consumo a substância alimentícia ou o produto falsificado,
corrompido ou adulterado.
§ 1º - Está sujeito às mesmas penas quem pratica as ações previstas neste artigo em relação a bebidas, com
ou sem teor alcoólico.
Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 2 (dois) anos, e multa.
76PRADO, Luiz Regis. Direito Penal. Parte Especial – Arts. 197 a 288. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009. p. 106.
segundo grau de jurisdição, que pretende seja reformada a sentença absolutória dos réus pelo crime tipificado
no artigo 272, § 1-A, Código Penal, para condená-los na forma do artigo 7º, incisos II ou IX, da Lei n. 8.137/90,
combinado com o artigo 18, § 6º, incisos II e III, da Lei n. 8.078/1990. A acolhida de tal postulação implicaria
em flagrante afronta aos princípios do contraditório, da ampla defesa e do devido processo legal. O réu se
defende dos fatos descritos na denúncia e a nova definição jurídica do crime implicaria evidente prejuízo aos
acusados, eis que os objetos jurídicos tutelados pelas normas em aparente conflito são inteiramente diversos:
um trata da proteção das relações de consumo (Lei 8.137/1990) e o outro é a saúde pública, procedendo-se
ao reexame necessário em virtude da decisão absolutória, sem insurgência específica do órgão acusador em
atuação no primeiro grau de jurisdição.
3 Remessa desprovida.(20040110502179RMO, Relator GEORGE LOPES LEITE, 1ª Turma Criminal, julgado
em 19/03/2009, DJ 16/06/2009 p. 104)
Art. 273 - Falsificar, corromper, adulterar ou alterar produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais:
(Redação dada pela Lei nº 9.677, de 2.7.1998)
Pena - reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa
§ 1º - Nas mesmas penas incorre quem importa, vende, expõe à venda, tem em depósito para vender ou, de
qualquer forma, distribui ou entrega a consumo o produto falsificado, corrompido, adulterado ou alterado.
§ 1º-A - Incluem-se entre os produtos a que se refere este artigo os medicamentos, as matérias-primas, os
insumos farmacêuticos, os cosméticos, os saneantes e os de uso em diagnóstico.
§ 1º-B - Está sujeito às penas deste artigo quem pratica as ações previstas no § 1º em relação a produtos em
qualquer das seguintes condições
I - sem registro, quando exigível, no órgão de vigilância sanitária competente;
II - em desacordo com a fórmula constante do registro previsto no inciso anterior;
III - sem as características de identidade e qualidade admitidas para a sua comercialização;
IV - com redução de seu valor terapêutico ou de sua atividade;
V - de procedência ignorada;
VI - adquiridos de estabelecimento sem licença da autoridade sanitária competente.
Modalidade culposa
§ 2º - Se o crime é culposo:
Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa.
VEM GANHANDO FORÇA NOS MEIOS ACADÊMICOS A TESE DE QUE NEM TODAS AS CONDUTAS
DESCRITAS NO ART. 273 DO CÓDIGO PENAL CONSTITUEM CRIMES HEDIONDOS.
NO CASO DOS AUTOS, NÃO SE ATRIBUI AO PACIENTE A "FALSIFICAÇÃO, CORRUPÇÃO,
ADULTERAÇÃO OU ALTERAÇÃO" DE REMÉDIOS, COMO PREVÊ O ART. 1º, VII-B, DA LEI 8.072/90,
MAS APENAS A "VENDA OU ENTREGA A CONSUMO" (...) DE "PRODUTO DE PROCEDÊNCIA
IGNORADA OU ADQUIRIDO DE ESTABELECIMENTO SEM LICENÇA DA AUTORIDADE SANITÁRIA
COMPETENTE" (ART. 273, § 1º-B, INCISOS V E VI, DO CÓDIGO PENAL). DESTA FORMA, AINDA QUE
O REFERIDO ART. 1º, VII-B, DA LEI 8.072/90, FAÇA EXPRESSA MENÇÃO AO § 1º-B DO ART. 273, DO
CÓDIGO PENAL, A ABRANGÊNCIA DESSA REMISSÃO DEVE SE RESTRINGIR ÀS DEMAIS
HIPÓTESES (INCISOS II, III E IV DO § 1º-B DO ART. 273, DO CÓDIGO PENAL), ISTO É, ÀQUELAS QUE
SE CORRELACIONAM INTIMAMENTE COM O ATO DE "FALSIFICAR, CORROMPER, ADULTERAR OU
ALTERAR" PRODUTO TERAPÊUTICO OU MEDICINAL.
...
INCONTESTE O ALTO GRAU DE LESIVIDADE DA CONDUTA IMPUTADA AO PACIENTE QUE,
INCLUSIVE, ESTARIA COLOCANDO EM RISCO A VIDA DAQUELES PARA QUEM FOSSE FORNECIDO
O MEDICAMENTO DE PROCEDÊNCIA IGNORADA.(20050020096696HBC, Relator SÉRGIO
BITTENCOURT, 1ª Turma Criminal, julgado em 24/11/2005, DJ 15/02/2006 p. 71)
Para a configuração do crime previsto no art. 273, §§ 1º e 1º B, I, não se exige perícia, bastando a ausência
de registro na ANVISA, obrigatório na hipótese de insumos destinados a fins terapêuticos ou medicinais.
STJ. 5ª Turma. HC 177.972-BA, Rel. Min. Laurita Vaz, julgado em 28/8/2012.
O STJ, por sua Corte Especial, ao apreciar um habeas corpus, decidiu que o preceito secundário do art.
273, § 1º-B, inciso V, do CP é inconstitucional por ofensa aos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade.
O “dizerodireito” trouxe as seguintes considerações a respeito do julgamento:
Inicialmente, o STJ relembrou que é possível que o Poder Judiciário realize o controle de constitucionalidade de
leis penais, inclusive daquelas que estabeleçam penas. Nesse sentido já decidiu o STF:
“(...) mandatos constitucionais de criminalização [...] impõem ao legislador [...] o dever de observância do
princípio da proporcionalidade como proibição de excesso e como proibição de proteção insuficiente. A ideia
é a de que a intervenção estatal por meio do Direito Penal, como ultima ratio, deve ser sempre guiada pelo
princípio da proporcionalidade [...] Abre-se, com isso, a possibilidade do controle da constitucionalidade da
atividade legislativa em matéria penal”.
(STF. 2ª Turma. HC 104410, Rel. Min. Gilmar Mendes, julgado em 06/03/2012)
Resumo dos principais argumentos pelos quais a pena do art. 273, § 1º, B, inciso V, viola os princípios
constitucionais da proporcionalidade e razoabilidade:
• Se for comparado com o crime de tráfico de drogas (notoriamente mais grave e cujo bem jurídico também é
a saúde pública), percebe-se a total falta de razoabilidade do preceito secundário do art. 273, § 1º-B, do CP.
O delito de tráfico de drogas (art. 33 da Lei 11.343/2006) possui pena de 5 a 15 anos de reclusão, sendo
importante lembrar que existe a possibilidade de aplicação do § 4º do mesmo artigo, que trata da figura do
traficante privilegiado, com a redução da pena em 1/6 a 2/3. Com isso, em inúmeros casos, o pequeno
traficante pode receber a pena de 1 ano e 8 meses, que pode ser convertida em pena restritiva de direitos. O
condenado pelo art. 273, § 1º-B, por sua vez, ainda que receba a pena mínima, seria condenado a 10 anos
de reclusão em regime fechado.
• Comparado com o homicídio, a pena mínima do art. 273, § 1º-B é maior que três vezes a pena máxima do
homicídio culposo e corresponde a quase o dobro da pena mínima do homicídio doloso simples.
• Além disso, a pena do art. 273, § 1º-B é cinco vezes maior que a pena mínima da lesão corporal de natureza
grave, sendo também maior que a reprimenda do estupro, do estupro de vulnerável, da extorsão mediante
sequestro. Tais comparações revelam gritante desproporcionalidade no sistema penal.
• O delito do art. 273, § 1º-B é crime de perigo abstrato, ou seja, para a sua consumação não é necessário
provar a ocorrência de efetivo risco. É dispensável que tenha ocorrido dano concreto à saúde do pretenso
usuário do produto. Logo, trata-se de uma reprimenda muito alta para um crime de perigo abstrato.
• Uma outra demonstração de que o legislador penal exagerou no momento da fixação da pena está no fato
de que a conduta de importar medicamento não registrado na ANVISA, considerada criminosa e hedionda
pelo art. 273, § 1º-B, do CP acarreta, no âmbito administrativo, uma mera punição de advertência (arts. 2º,
4º, 8º, IV e 10, IV, Lei 6.437/77). Em outras palavras, no âmbito administrativo a pena recebida é mínima e no
âmbito penal (que deveria ser a ultima ratio), a reprimenda é altíssima.
O STJ entendeu que deverá ser aplicada a pena abstratamente prevista para o tráfico de drogas (art. 33,
caput, da Lei n.° 11.343/2006), qual seja, “reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa”.
Além disso, o STJ entendeu que será possível aplicar para o réu que praticou o art. 273, § 1º-B do CP a causa
de diminuição prevista no § 4º do art. 33 da Lei n.° 11.343/2006.
Trata-se de analogia in bonam partem (em benefício do réu).
Em suma:
O STJ decidiu que é inconstitucional a pena (preceito secundário) do art. 273, § 1º-B, V, do CP
(“reclusão, de 10 (dez) a 15 (quinze) anos, e multa”). Em substituição a ela, deve-se aplicar ao
condenado a pena prevista no caput do art. 33 da Lei n.° 11.343/2006 (Lei de Drogas), com
possibilidade de incidência da causa de diminuição de pena do respectivo § 4º.
STJ. Corte especial. AI no HC 239.363-PR, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 26/2/2015 (Info 559).
Art. 274 - Empregar, no fabrico de produto destinado a consumo, revestimento, gaseificação artificial, matéria
corante, substância aromática, anti-séptica, conservadora ou qualquer outra não expressamente permitida
pela legislação sanitária:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Se o sujeito ativo expuser à venda ou vender mercadoria ou produto alimentício, cujo fabrico haja
desatendido a determinações oficiais quanto ao peso e composição, tratar-se-á de crime contra a economia
popular (art. 2º, III, Lei 1.521/51).
Se o agente vender ou expor à venda mercadoria cuja embalagem, tipo, especificação, peso ou
composição esteja em desacordo com as prescrições legais, ou que não corresponda à respectiva
classificação pratica o delito previsto no art. 7º, II, da Lei 8.137/90 (Crimes contra a ordem tributária,
econômica e contra as relações de consumo)77.
A falsa indicação exteriorizada em folhetos, catálogos, prospectos não tipifica o delito do art. 275, mas
pode, conforme o caso, caracterizar o delito previsto no art. 175 do CP (Fraude no Comércio).
Na hipótese de fazer afirmação falsa ou enganosa, ou omitir informação relevante sobre a natureza,
característica, qualidade, quantidade, segurança, desempenho, durabilidade, preço ou garantia de produtos
ou serviços aplica-se a pena prevista no art. 66 do CDC. No entanto, se o consumidor for realmente induzido
em erro, em virtude da conduta típica descrita sobre a natureza ou qualidade do produto ou serviço,
caracteriza a infração prevista no art. 7º, VII, da Lei 8.137/90 (Princípio da especialidade) 78.
Art. 276 - Vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a consumo
produto nas condições dos arts. 274 e 275.
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 277 - Vender, expor à venda, ter em depósito ou ceder substância destinada à falsificação de produtos
alimentícios, terapêuticos ou medicinais
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, e multa.
Art. 278 - Fabricar, vender, expor à venda, ter em depósito para vender ou, de qualquer forma, entregar a
consumo coisa ou substância nociva à saúde, ainda que não destinada à alimentação ou a fim medicinal:
Pena - detenção, de um a três anos, e multa.
Modalidade culposa
...
Para que se configure o delito é irrelevante o grau de nocividade do produto, que deve ser apreciado
pelo juiz apenas quando da aplicação da pena (art. 59). Essa nocividade refere-se à própria coisa ou
substância, não pode ser considerada nociva em razão do seu mau uso. Nem toda e qualquer coisa ou
substância pode ser considerada nociva.
PENAL - CRIME CONTRA A SAÚDE PÚBLICA - EXPOSIÇÃO À VENDA DE APARELHO NOCIVO À SAÚDE
- PERIGO DA NOCIVIDADE DO PRODUTO NÃO COMPROVADO - ABSOLVIÇÃO - MANUTENÇÃO DA
SENTENÇA. - Concluindo a prova técnica que o aparelho exposto à venda, a não ser que mal ou
incorretamente utilizado, não traz prejuízo a seus usuários, tem-se que não pode ser considerado
como dotado de nocividade, a molde de caracterizar o delito do art. 278 do C. P. . - Absolvição mantida.
Recurso Improvido. Unânime.
(APR1846098, Relator OTÁVIO AUGUSTO, 1ª Turma Criminal, julgado em 02/04/1998, DJ 17/06/1998 p. 20)
Modalidade culposa
Se a intenção é de lesionar ou matar pessoa determinada, será o agente responsabilizado por lesão
corporal (art. 129, CP) ou homicídio (art. 121, CP), consumados ou tentados.
Caso o farmacêutico entenda haver na receita manifesto equívoco por parte do médico, deverá
localizar este último para que corrija expressamente o erro; não o tendo encontrado e sendo urgente a entrega
do medicamento, poderá o farmacêutico corrigir a receita, agindo em estado de necessidade.
Art. 282 - Exercer, ainda que a título gratuito, a profissão de médico, dentista ou farmacêutico, sem
autorização legal ou excedendo-lhe os limites:
Pena - detenção, de seis meses a dois anos.
Parágrafo único - Se o crime é praticado com o fim de lucro, aplica-se também multa.
Se o médico, dentista ou farmacêutico continua a exercer a profissão de que foi suspenso ou privado
por decisão judicial, não estará incurso nas penas do artigo ora analisado, e sim nas do art. 359
(desobediência a decisão judicial sobre perda ou suspensão de direito).
6.15. Charlatanismo
No art. 283 o sujeito ativo deve saber da ineficácia dos meios utilizados. É justamente essa a diferença
que se traça com relação ao delito do art. 282 – exercício ilegal da medicina, arte dentária e farmacêutica –
enquanto o sujeito ativo deste delito acredita no tratamento empregado ou no meio por ele prescrito, o agente
do delito em estudo sabe que o que utiliza é inócuo, totalmente ineficaz.
6.16. Curandeirismo
Forma qualificada
Art. 285 - Aplica-se o disposto no art. 258 aos crimes previstos neste Capítulo, salvo quanto ao definido no
art. 267
Curandeirismo é a atividade desempenhada pela pessoa que promove curas sem ter qualquer título
ou habilitação para tanto, fazendo-o, geralmente, por meio de reza ou emprego de magia79.
...
"A falta de exame de corpo de delito direto não implica em nulidade de processo penal, visto que, nos termos
do art. 158, c/c o art.167, do Código de Processo Penal, pode ele ser suprido pelo indireto, sendo certo, ainda,
que em atenção ao princípio do livre convencimento e do mandamento constitucional que abomina apenas
as provas obtidas por meios ilícitos, não se pode priorizar a perícia como único meio de comprovar a
materialidade de crimes relacionados ao exercício ilegal de profissão da área da saúde.
Embora o curandeirismo seja prática delituosa típica de pessoa rude, sem qualquer conhecimento
técnico-profissional da medicina e que se dedica a prescrever substâncias ou procedimentos com o
fim de curar doenças, não se pode descartar a possibilidade de existência do concurso entre tal crime
e o de exercício ilegal de arte farmacêutica, se o agente também não tem habilitação profissional
específica para exercer tal atividade.
Reconhecida a prática de duas condutas distintas e independentes, não há como se proclamar ilegal
a condenação por cada uma delas, não se mostrando, in casu, ter havido bis in idem ou indevida
atribuição de concurso de crimes, não cabendo, ainda, aplicação da consunção entre os delitos, tanto
mais na estreita via do habeas corpus, por demandar incursão profunda e valorativa em seara fático-
probatória." Habeas corpus denegado.
(HC 36.244/DF, Rel. Ministro JOSÉ ARNALDO DA FONSECA, QUINTA TURMA, julgado em 22/02/2005, DJ
11/04/2005 p. 339)
...
1 - A denúncia não pode ser considerada inepta, se contém a descrição dos fatos criminosos e dispõe acerca
da relevância causal da ação particular dos acusados.
2 - Se os agentes manipulam fórmulas medicamentosas, sem a devida habilitação legal, e da mesma
forma, realizam orações e técnicas esdrúxulas, prometendo curas prodigiosas com o objetivo
primacial de lucro, aplicam-se-lhes os artigos 282 e 284, do Código Penal, nas suas formas
qualificadas, na medida em que o exercício ilegal de profissão e o curandeirismo integram o rol dos
crimes contra a saúde pública, praticados contra número indeterminado de pessoas
incautas.(20000110851232APR, Relator EDSON ALFREDO SMANIOTTO, 1ª Turma Criminal, julgado em
09/10/2003, DJ 03/12/2003 p. 78)
7.1. Conceito – São delitos repugnantes, sórdidos, decorrentes de condutas que, pela forma de execução
ou pela gravidade objetiva dos resultados, causam intensa repulsa 80.
Art. 1º São considerados hediondos os seguintes crimes, todos tipificados no Decreto-Lei no 2.848, de 7 de
dezembro de 1940 - Código Penal, consumados ou tentados:
I - homicídio (art. 121), quando praticado em atividade típica de grupo de extermínio, ainda que cometido por
um só agente, e homicídio qualificado (art. 121, § 2o, I, II, III, IV e V);
IV - extorsão mediante seqüestro e na forma qualificada (art. 159, caput, e §§ lo, 2o e 3o);
VII-B - falsificação, corrupção, adulteração ou alteração de produto destinado a fins terapêuticos ou medicinais
(art. 273, caput e § 1o, § 1o-A e § 1o-B, com a redação dada pela Lei no 9.677, de 2 de julho de 1998).
Parágrafo único. Considera-se também hediondo o crime de genocídio previsto nos arts. 1o, 2o e 3o da Lei
no 2.889, de 1o de outubro de 1956, tentado ou consumado.
Art. 2º Os crimes hediondos, a prática da tortura, o tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins e o
terrorismo são insuscetíveis de:
I - anistia, graça e indulto;
II – fiança.
§ 1o A pena por crime previsto neste artigo será cumprida inicialmente em regime fechado.
§ 2o A progressão de regime, no caso dos condenados aos crimes previstos neste artigo, dar-se-á após o
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se
reincidente.
§ 3o Em caso de sentença condenatória, o juiz decidirá fundamentadamente se o réu poderá apelar em
liberdade.
§ 4o A prisão temporária, sobre a qual dispõe a Lei no 7.960, de 21 de dezembro de 1989, nos crimes
previstos neste artigo, terá o prazo de 30 (trinta) dias, prorrogável por igual período em caso de extrema
e comprovada necessidade.
Art. 3º A União manterá estabelecimentos penais, de segurança máxima, destinados ao cumprimento de
penas impostas a condenados de alta periculosidade, cuja permanência em presídios estaduais ponha em
risco a ordem ou incolumidade pública.
Ainda que a gravidade da infração possa, naturalmente, ser levada em consideração, o juiz deverá, no caso
concreto, verificar se ocorrem quaisquer das hipóteses que autorizam a prisão preventiva (CPP, art. 310, p.ú),
ou seja, a garantia da ordem pública ou da ordem econômica, a conveniência da instrução criminal ou a
necessidade assegurar a aplicação da lei penal (CPP, art. 312). Não estando presentes tais requisitos, o juiz,
fundamentadamente, decidirá, concedendo a liberdade provisória, mediante termo de comparecimento a
todos os atos do processo, sob pena de revogação.
Informativo nº 665
O Plenário, por maioria, deferiu parcialmente habeas corpus — afetado pela 2ª Turma — impetrado em
favor de condenado pela prática do crime descrito no art. 33, caput, c/c o art. 40, III, ambos da Lei
11.343/2006, e determinou que sejam apreciados os requisitos previstos no art. 312 do CPP para que,
se for o caso, seja mantida a segregação cautelar do paciente. Incidentalmente, também por votação
majoritária, declarou a inconstitucionalidade da expressão “e liberdade provisória”, constante do art.
44, caput, da Lei 11.343/2006 (“Os crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e 34 a 37 desta Lei são
inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a
conversão de suas penas em restritivas de direitos”). A defesa sustentava, além da
inconstitucionalidade da vedação abstrata da concessão de liberdade provisória, o excesso de prazo
para o encerramento da instrução criminal no juízo de origem.
(HC 104339, Relator(a): Min. GILMAR MENDES, Tribunal Pleno, julgado em 10/05/2012, ACÓRDÃO
ELETRÔNICO DJe-239 DIVULG 05-12-2012 PUBLIC 06-12-2012)
A pena será cumprida inicialmente em regime fechado e a progressão de regime dar-se-á após o
cumprimento de 2/5 (dois quintos) da pena, se o apenado for primário, e de 3/5 (três quintos), se reincidente.
Súmula Vinculante 26: Para efeito de progressão de regime no cumprimento de pena por crime hediondo, ou
equiparado, o juízo da execução observará a inconstitucionalidade do art. 2º da Lei nº 8.072, de 25 de julho
de 1990, sem prejuízo de avaliar se o condenado preenche, ou não, os requisitos objetivos e subjetivos do
benefício, podendo determinar, para tal fim, de modo fundamentado, a realização de exame criminológico.
Todavia, a gravidade em abstrato e o caráter de hediondez são insuficientes, por si sós, para impedir
o apelo em liberdade, caso não concorram outras causas. Dessa forma, se o réu esteve solto durante a
instrução criminal, não poderá automaticamente, ser determinado seu recolhimento para que possa apelar,
se não houver necessidade, haja vista o princípio da presunção de inocência, cabendo ao magistrado motivar,
nesse sentido, sua decisão. Por outro lado, se o réu for mantido preso durante todo o processo e se
persistirem os requisitos processuais para a custódia cautelar (CPP, art. 312), ao tempo do apelo, deverá
permanecer encarcerado.
O juiz poderá conceder o livramento condicional ao condenado a pena privativa de liberdade igual ou
superior a dois anos, nos casos de condenação por crime hediondo, prática da tortura e terrorismo, se o
apenado tiver cumprido mais de 2/3 (dois terços) da pena e não for reincidente específico em crimes dessa
natureza (CP, art. 83, caput e inciso V), ou seja, se não for reincidente na prática de quaisquer dos crimes
mencionados no art. 1º da Lei 8.072/90, estejam ou não descritos no mesmo tipo de injusto penal.
Em relação aos crimes previstos nos arts. 33, caput e § 1º, e nos arts. 34 a 37, todos da Lei
11.343/2006, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de 2/3 (dois terços) da pena, vedada sua
concessão ao reincidente específico (Lei 11.343/2006, art. 44, p.ú), ou seja, ao reincidente em qualquer
desses delitos apontados no caput do art. 44 da Lei 11.343/2006. A concessão de livramento condicional, no
tráfico de entorpecentes, é, portanto, mais benéfica que a dos demais delitos definidos na lei 8.072/90, haja
vista a menor amplitude do conceito de reincidência específica.
........................................................................
§ 4º Se o crime é cometido por quadrilha ou bando, o co-autor que denunciá-lo à autoridade, facilitando
a libertação do seqüestrado, terá sua pena reduzida de um a dois terços."
Art. 8º Será de três a seis anos de reclusão a pena prevista no art. 288 do Código Penal, quando se tratar de
crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único. O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha,
possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de um a dois terços.
a) Extorsão mediante sequestro - Cuida-se de causa especial de diminuição de pena, estatuída por
medida de política criminal, em favor do delator (coautor ou partícipe) que facilite, efetivamente, a libertação
do sequestrado.
b) Bando ou quadrilha, quando for objetivada por seus membros, especificamente a prática de crimes
hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Aos acusados pela prática de crimes hediondos e equiparados, inclusive pela prática de tráfico ilícito
de drogas, poderá o juiz conceder o perdão judicial e a consequente extinção da punibilidade, desde que,
sendo primários, tenham colaborado efetiva e voluntariamente com a investigação e o processo criminal, e
desde que, da delação, tenha resultado a identificação dos demais coautores ou partícipes da ação criminosa;
a localização da vítima com a sua integridade física preservada; e a recuperação total ou parcial do produto
do crime (Lei 9.807/99, art. 13, caput e incisos I, II e III). Nesse caso, a concessão do perdão judicial levará
em conta a personalidade dos beneficiados e a natureza, circunstâncias, gravidade e repercussão social do
fato criminoso (art. 13, p.ú, Lei 9807/99).
TÍTULO VI
Dos Crimes
CAPÍTULO I
Disposições Gerais
Art. 93. Aplicam-se subsidiariamente, no que couber, as disposições da Lei no 7.347, de 24 de julho de
1985.
Art. 94. Aos crimes previstos nesta Lei, cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 (quatro)
anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei no 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no
que couber, as disposições do Código Penal e do Código de Processo Penal. (Vide ADI 3.096-5 - STF)
Ao julgar essa ADI, o STF entendeu que aplica-se o procedimento previsto na Lei 9.099, que é mais
célere, mas os agentes dos crimes não são beneficiados pelos benefícios como transação penal e
suspensão condicional do processo. O entendimento do STF foi o de que a norma deveria ser aplicada
em favor de seu real destinatário, quais sejam, os idosos, que são mais vulneráveis.
CAPÍTULOII
Dos Crimes em Espécie
Art. 95. Os crimes definidos nesta Lei são de ação penal pública incondicionada, não se lhes aplicando
os arts. 181 e 182 do Código Penal.
Art. 96. Discriminar pessoa idosa, impedindo ou dificultando seu acesso a operações bancárias, aos
meios de transporte, ao direito de contratar ou por qualquer outro meio ou instrumento necessário ao exercício
da cidadania, por motivo de idade:
Pena – reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa.
§ 1o Na mesma pena incorre quem desdenhar, humilhar, menosprezar ou discriminar pessoa idosa, por
qualquer motivo.
§ 2o A pena será aumentada de 1/3 (um terço) se a vítima se encontrar sob os cuidados ou
responsabilidade do agente.
Art. 97. Deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação
de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir,
nesses casos, o socorro de autoridade pública:
Parágrafo único. A pena é aumentada de metade, se da omissão resulta lesão corporal de natureza
grave, e triplicada, se resulta a morte.
Art. 98. Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou
congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado:
Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições
desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-
lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado:
§ 2o Se resulta a morte:
Art. 100. Constitui crime punível com reclusão de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa:
III – recusar, retardar ou dificultar atendimento ou deixar de prestar assistência à saúde, sem justa causa,
a pessoa idosa;
IV – deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida na
ação civil a que alude esta Lei;
V – recusar, retardar ou omitir dados técnicos indispensáveis à propositura da ação civil objeto desta Lei,
quando requisitados pelo Ministério Público.
Art. 101. Deixar de cumprir, retardar ou frustrar, sem justo motivo, a execução de ordem judicial expedida
nas ações em que for parte ou interveniente o idoso:
Art. 102. Apropriar-se de ou desviar bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso,
dando-lhes aplicação diversa da de sua finalidade:
Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
1. Para a conduta de desviar bens do idoso, prevista no art. 102 da Lei n. 10.741/2003, não há necessidade
de prévia posse por parte do agente, restrita à hipótese de apropriação. 2. É evidente que a transferência dos
valores da conta bancária da vítima para a conta pessoal do recorrido, mediante ardil, desviou os bens de
sua finalidade. Não importa aqui perquirir qual era a real destinação desses valores, pois, independente de
qual fosse, foram eles dela desviados, ao serem, por meio de fraude, transferidos para a conta do recorrido.
3. Recurso especial provido para cassar o acórdão proferido nos embargos infringentes e restabelecer a
condenação, nos termos do julgado proferido na apelação.
Se o funcionário do banco recebe o cartão e a senha da idosa para auxiliá-la a sacar um dinheiro do caixa
eletrônico e, ele, aproveitando a oportunidade, transfere quantias para a sua conta pessoal, tal conduta
configura o crime previsto no art. 102 do Estatuto do Idoso. STJ. 6ª Turma. REsp 1.358.865-RS, Rel. Min.
Sebastião Reis Júnior, julgado em 4/9/2014 (Info 547).
Imagine a seguinte situação adaptada: João, estagiário de um banco, era o responsável por auxiliar os clientes
que tivessem dúvidas sobre como usar os caixas eletrônicos localizados na entrada da agência. Determinado
dia uma senhora de 81 anos solicitou a sua ajuda para sacar dinheiro do caixa eletrônico. Como não
conseguia realizar a operação sozinha, ela entregou o cartão magnético e forneceu a sua senha pedindo que
o estagiário sacasse o valor. João fez o saque e entregou à senhora. No entanto, valendo-se da oportunidade,
ele também transferiu 300 reais para a sua conta pessoal. Qual foi o crime praticado por João?
O agente cometeu o delito tipificado no art. 102 do Estatuto do Idoso: Art. 102. Apropriar-se de ou desviar
bens, proventos, pensão ou qualquer outro rendimento do idoso, dando-lhes aplicação diversa da de sua
finalidade: Pena – reclusão de 1 (um) a 4 (quatro) anos e multa.
O autor do delito desviou bens da vítima (2ª figura do art. 102). Para a prática dessa conduta, não há
necessidade que o agente tenha tido prévia posse dos bens. A prévia posse somente é exigida na 1ª figura
do tipo penal (apropriar-se). Quando o agente transferiu os valores da conta bancária da vítima para a sua
conta pessoal ele desviou os bens da idosa, dando-lhes aplicação diversa da sua finalidade. Pouco importa
qual seria a finalidade que a idosa daria aquele dinheiro. Com certeza essa finalidade não era doar o dinheiro
para o agente. Logo, independente de qual fosse o fim a ser empregado, o certo é que o dinheiro foi desviado
dessa finalidade, ao ser, por meio de fraude, transferido para a conta do autor.
Se a vítima não fosse idosa, qual crime teria sido praticado? Se a vítima não fosse idosa, João teria
praticado o crime de furto mediante fraude (art. 155, § 4º, II, do CP).
Atenção: o fato de a senhora ter entregado o cartão para João não faz com que seja estelionato. Isso
porque não foi o cartão que ela perdeu. A vantagem patrimonial obtida pelo agente não foi o cartão,
mas sim o dinheiro. E o dinheiro não foi entregue espontaneamente, tendo sido subtraído. O mais absurdo
disso é que, o Estatuto do Idoso, nesse ponto, acabou deixando os idosos menos protegidos. Isso porque se
a pessoa praticar o crime contra alguém maior de 60 anos receberá uma pena menor (art. 102 do EI) do que
se tivesse cometido contra uma vítima não idosa (art. 155, § 4º, II, do CP).
Art. 103. Negar o acolhimento ou a permanência do idoso, como abrigado, por recusa deste em outorgar
procuração à entidade de atendimento:
Art. 104. Reter o cartão magnético de conta bancária relativa a benefícios, proventos ou pensão do idoso,
bem como qualquer outro documento com objetivo de assegurar recebimento ou ressarcimento de dívida:
Art. 105. Exibir ou veicular, por qualquer meio de comunicação, informações ou imagens depreciativas
ou injuriosas à pessoa do idoso:
Art. 106. Induzir pessoa idosa sem discernimento de seus atos a outorgar procuração para fins de
administração de bens ou deles dispor livremente:
Art. 107. Coagir, de qualquer modo, o idoso a doar, contratar, testar ou outorgar procuração:
Art. 108. Lavrar ato notarial que envolva pessoa idosa sem discernimento de seus atos, sem a devida
representação legal:
Ponto 3: Fontes do Direito Processual Penal. Interpretação da Lei Processual Penal. Eficácia da Lei
Processual no Espaço. Jurisdição. Competência. Imunidades. Denúncia e Queixa. Desaforamento.
Esse tema diz respeito à origem das normas processuais, que pode ser apreciado sob dois ângulos, gerando,
assim, a divisão entre as fontes materiais e as formais do processo penal.
Fontes materiais são as entidades criadoras do direito, sendo, por isso, chamadas também de fontes de
criação ou de produção. No caso do direito processual, o art. 22, I, da Constituição Federal, dispõe que a
legislação sobre o assunto compete privativamente à União, que é, portanto, a fonte material do processo
penal.
O processo criativo da norma se dá pela aprovação do projeto de lei pela Câmara dos Deputados e pelo
Senado Federal, bem como pela respectiva sanção pelo Presidente da República. O art. 22, parágrafo único,
da Constituição Federal estabelece que Lei Complementar poderá autorizar os Estados a legislar sobre
matérias específicas em matéria processual, ao passo que o seu art. 24, IX, estabelece que é concorrente a
competência da União com os Estados e o Distrito Federal para legislar a respeito de procedimentos em
matéria processual. É evidente, entretanto, que a competência dos Estados é residual, no sentido de suprir
omissões ou especificar minúcias procedimentais, posto que a legislação estadual não pode contrariar a
federal, que lhe é superior.
Em suma, a fonte material (criadora) das leis processuais é a União e, subsidiariamente, os Estados e
o Distrito Federal.
Fontes formais são também chamadas de fontes de revelação ou de cognição, e dizem respeito aos meios
pelos quais o direito se exterioriza. Dividem-se em fontes formais imediatas e mediatas.
As fontes formas imediatas são as leis em sentido amplo, abrangendo o texto constitucional, a legislação
infraconstitucional (leis ordinárias, complementares etc.) e os tratados, as convenções e as regras de direito
internacional aprovados pelo Congresso Nacional, bem como as súmulas vinculantes do Supremo Tribunal
Federal. Nos termos do art. 103-A da Constituição Federal, “o Supremo Tribunal Federal poderá, de ofício ou
por provocação, mediante decisão de dois terços de seus membros, após reiteradas decisões sobre matéria
constitucional, aprovar súmula que, a partir de sua publicação na imprensa oficial, terá efeito vinculante em
relação aos demais órgãos do Poder Judiciário e à administração pública direta e indireta, nas esferas federal,
estadual e municipal, bem como proceder à sua revisão ou cancelamento, na forma estabelecida em lei”.
Considerando, pois, o caráter vinculante dessas súmulas perante os demais órgãos do Judiciário e à
Administração, inegável tratar-se de fonte formal imediata, uma vez que, sendo o Supremo Tribunal Federal
o órgão máximo do Poder Judiciário e incumbido do julgamento em última instância, o teor de suas súmulas
vinculantes pode até se sobrepor ao texto legal, lembrando-se que, o descumprimento de tais súmulas
justificará reclamação perante o Supremo que poderá anular o ato administrativo ou cassar a decisão judicial
que as contrarie (art. 103-A, § 1º, da CF).
Fontes formais mediatas são a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito.
Vários são os métodos possíveis para buscar o significado do texto legal. A utilização de um ou outro desses
métodos depende da natureza da dúvida que se coloca em relação ao dispositivo.
A doutrina costuma dividir as formas de interpretação do seguinte modo: a) quanto à origem; b) quanto ao
modo; c) quanto ao resultado.
Hermenêutica quanto à origem diz respeito ao responsável pela interpretação. Pode ser:
a) autêntica: dada pela própria lei que, em algum de seus dispositivos esclarece o significado de outros. Exs.:
os §§ 4º e 5º, do art. 150, do Código Penal, que definem a extensão do conceito de “casa” para os crimes de
violação de domicílio; o § 4º, do art. 180, do mesmo Código, que esclarece que o crime de receptação é
punível ainda que desconhecido ou isento de pena o autor do crime de que proveio a coisa; Muitas vezes é
na Exposição de Motivos da lei que se encontram as explicações do legislador quanto à finalidade para a qual
certo dispositivo foi proposto e aprovado.
b) doutrinária: interpretação feita pelos estudiosos, professores e autores de obras de direito, por meio de
seus livros, artigos jurídicos, palestras, conferências etc.
c) jurisprudencial: interpretação realizada pelos tribunais e juízes em seus julgamentos. Sobressaem-se,
neste aspecto, os julgados dos tribunais superiores (Supremo Tribunal Federal e Superior Tribunal de Justiça),
responsáveis pela interpretação final dos dispositivos constitucionais e da legislação em geral. Com o avanço
da tecnologia e a facilidade de acesso à internet ganharam maior importância em face da rapidez com que se
pode conhecer o inteiro teor desses julgados que, no passado, levavam meses ou anos para chegar aos
compêndios de jurisprudência.
Interpretação quanto ao modo diz respeito ao aspecto considerado pelo intérprete na busca do real significado
da norma, e pode ser:
a) gramatical: leva em conta o sentido literal das palavras contidas no texto legal. No crime de homicídio
privilegiado, por exemplo, diz o art. 121, § 1º, do Código Penal, que o juiz pode diminuir a pena de 1/6 a 1/3,
se o crime for praticado por motivo de relevante valor social ou moral, ou sob o domínio de violenta emoção
logo em seguida a injusta provocação da vítima. A palavra “pode” contida no texto legal faculta ao juiz escolher
o índice de redução (entre 1/6 e 1/3), mas não lhe confere a possibilidade de reconhecer ou afastar o privilégio,
pois isso constitui prerrogativa exclusiva dos jurados nos crimes dolosos contra a vida;
b) teleológica: busca descobrir o significado da norma mediante análise dos fins a que se destina o
dispositivo.
c) histórica: avalia os debates que envolveram a aprovação da norma e os motivos que levaram à
apresentação do projeto que nela culminou. A Exposição de Motivos dos Códigos e das leis é muitas vezes
esclarecedora quanto a este aspecto.
d) sistemática: busca o significado da norma por sua integração com os demais dispositivos de uma mesma
lei ou com o sistema jurídico como um todo.
Quanto ao resultado, a interpretação refere-se ao alcance dado pelo intérprete ao dispositivo fruto da
controvérsia, e pode ser:
a) declarativa: o intérprete conclui que a letra da lei corresponde exatamente àquilo que o legislador pretendia
regulamentar.
b) restritiva: a conclusão a que se chega é de que o texto legal abrangeu mais do que o legislador queria,
de modo que o intérprete reduz o seu alcance no caso concreto.
c) extensiva: o intérprete conclui que o legislador adotou redação cujo alcance fica aquém de sua real
intenção e, por isso, a interpretação será no sentido de que a regra seja também aplicada a outras situações
que guardem semelhança. Ex.: o art. 260 do CPP diz que, se o acusado não atender à notificação para o
interrogatório, a autoridade poderá determinar a sua condução coercitiva. Embora a lei se refira apenas ao
acusado, admite-se, por interpretação extensiva, que seja também determinada a condução coercitiva do
indiciado durante o inquérito policial.
Observação: A utilização de um dos métodos interpretativos não exclui os demais, sendo comum que vários
deles sejam levados em conta para se chegar à interpretação ideal do dispositivo controvertido. O caso que
será abaixo analisado bem explica a situação: o Supremo Tribunal Federal ao julgar ação direta de
inconstitucionalidade (ADI 3096) decidiu que o art. 94 do Estatuto do Idoso determina tão somente a adoção
do rito sumaríssimo aos crimes contra pessoas idosas previstos no Estatuto que tenham pena máxima igual
ou inferior a 4 anos e superior a 2, não sendo aplicáveis a tais crimes as medidas despenalizadoras da Lei n.
9.099/95, como, por exemplo, a transação penal.
O art. 94 do Estatuto do Idoso (Lei n. 10.741/2003) tem a seguinte redação: “aos crimes previstos nesta lei,
cuja pena máxima privativa de liberdade não ultrapasse 4 anos, aplica-se o procedimento previsto na Lei
n. 9.099, de 26 de setembro de 1995, e, subsidiariamente, no que couber, as do Código Penal e do Código
de Processo Penal”. A controvérsia se estabeleceu porque referido dispositivo determina a aplicação do
procedimento da Lei n. 9.099/95 aos crimes contra idosos com pena até 4 anos, havendo quem entendesse
que, em razão disso, todos os dispositivos de referida lei deveriam ser aplicados aos crimes contra idosos —
embora a Lei n. 9.099/95 só preveja sua aplicação a crimes que têm pena máxima de 2 anos. A decisão do
Supremo, entretanto, impediu que tal interpretação prevalecesse. Vejamos, então, os métodos interpretativos
que dão suporte à decisão do Supremo, considerando que a Lei n. 9.099/95 claramente divide o rito que trata
das infrações de menor potencial ofensivo em duas partes: a fase preliminar onde estão previstas as medidas
despenalizadoras (seção II — arts. 69 a 76), e a do procedimento sumaríssimo (seção III — arts. 77 a 83).
a) Ao declarar que somente o rito sumaríssimo incide nos crimes contra idosos que tenham pena superior a
2 anos e não superior a 4, o Supremo aplicou a interpretação gramatical, já que o Estatuto do Idoso só
determina a aplicação do procedimento da Lei n. 9.099/95 a tais crimes.
b) A interpretação, embora pareça restritiva, é, em verdade, declarativa, pois o Supremo entendeu que a letra
da lei corresponde exatamente ao que o legislador pretendeu.
c) No que se refere aos fins a que a lei se destina (interpretação teleológica), pode-se dizer que a intenção
do legislador era tornar mais célere o procedimento judicial tendo em vista a especial condição do idoso,
adotando, por isso, o procedimento sumaríssimo. Em hipótese alguma a intenção seria a de permitir que
medidas despenalizadoras tivessem maior alcance justamente quando cometidos crimes de maior gravidade
contra referidas pessoas a quem a lei pretendeu conferir maior proteção, inclusive com a agravação das
penas dos tipos penais.
d) Considerando que o art. 71 do Estatuto prevê que é assegurada prioridade na tramitação dos processos
em que figure como parte ou interveniente pessoa idosa, a interpretação teve também caráter sistemático, no
sentido de que outros dispositivos do mesmo Estatuto deixam claro que a intenção legislativa era apenas a
de tornar mais célere o procedimento e nunca a de beneficiar os infratores.
Ementa
Estabelece o art. 3º do Código que a lei processual admite interpretação extensiva e analógica. A
interpretação extensiva, conforme já mencionado, dá-se quando o texto legal diz menos do que pretendia o
legislador, de modo que o intérprete estende o alcance do dispositivo a esta hipótese não mencionada
expressamente.
O Código de Processo não menciona a possibilidade de interpretação restritiva ou meramente declarativa, na
medida em que é supérflua tal menção por ser óbvia a possibilidade.
A interpretação analógica, por sua vez, mostra-se possível quando, dentro do próprio texto legal, após uma
sequência casuística, o legislador se vale de uma fórmula genérica, que deve ser interpretada de acordo com
os casos anteriores. Ex.: o art. 80 do CPP menciona que o juiz pode determinar a separação de processos
quando as infrações forem cometidas em tempo e local diversos, para não prolongar a prisão de um dos
acusados, pelo excessivo número de réus ou por outro motivo relevante. Esta parte final do dispositivo permite
ao juiz a interpretação analógica.
Art. 1o O processo penal reger-se-á, em todo o território brasileiro, por este Código, ressalvados:
II - as prerrogativas constitucionais do Presidente da República, dos ministros de Estado, nos crimes conexos
com os do Presidente da República, e dos ministros do Supremo Tribunal Federal, nos crimes de
responsabilidade (Constituição, arts. 86, 89, § 2o, e 100);
...
Princípio da Territorialidade (Lex Fori) – Diante da soberania do Estado, todo delito praticado em
território nacional reger-se-á pelas normas processuais penais do Brasil.
As normas de direito penal (direito material), excepcionalmente, podem ser aplicadas fora do território
brasileiro (princípio da extraterritorialidade – art. 7º, I, CP).
Exemplos de não aplicação da lei processual penal brasileira, embora os fatos tenham acontecido no
território brasileiro:
Jurisdição Política do Senado – constitui exceção ao princípio da territorialidade, visto que estabelece
o direito ao julgamento por órgão distinto do Poder Judiciário. Exemplos:
b) Membros dos CNJ e CNMP, Ministros do STF, Advogado Geral da União e Procurador da
República etc.
XXIV – processar e julgar o Governador nos crimes de responsabilidade, bem como adotar as providências
pertinentes, nos termos da legislação federal, quanto ao Vice-Governador e Secretários de Estado, nos crimes
da mesma natureza ou conexos com aqueles; (Inciso com a redação da Emenda à Lei Orgânica nº 44, de
2005.)
2. Jurisdição81
2.1. Conceito
Função estatal dotada de imparcialidade, por meio da qual se aplica a lei ao caso concreto.
É o poder atribuído, exclusivamente ao Estado, que o exerce por meio do Poder Judiciário (Estado-
Juiz), para aplicar o direito ao caso concreto, compondo litígios e resolvendo conflitos82.
2.2. Características
81 PRADO, Luiz Regis, Coordenação. Direito Processual Penal – Parte I. São Paulo: Editora Revista dos
Tribunais, 2009.
82 ALVES, Reinaldo Rossano. Direito Processual Penal. Primeira Linhas. 5ª ed. Brasília: Fortium Editora,
2008. p. 95.
e) imutabilidade – as decisões dos agentes jurisdicionais, que decorrem do exercício da jurisdição,
num determinado momento, se tornam imutáveis (coisa julgada). Uma vez efetivada a prestação jurisdicional
ela não poderá mais ser alterada. Exceção: revisão criminal.
f) pública – a atividade jurisdiconal é, como regra, exclusiva do Poder Judiciário. Exceção: Jurisdição
política pelo Senado Federal.
c) Vocatio – Chamamento – faculdade de chamar à presença do juiz aqueles que sejam necessários
ao regular andamento e instrução do processo.
d) Coercio ou Coercitio – Coação – direito de utilizar medidas coercitivas para garantir a função
jurisdicional.
2.4. Princípios
a) Investidura – a jurisdição somente pode ser exercida por quem dela se ache regularmente
investido.
b) Juiz Natural – segundo esse princípio, com assento no art. 5º, LIII e XXXVII, da CF, “ninguém será
processado, nem sentenciado, senão pela autoridade competente” e “não haverá juízo ou tribunal de
exceção”.
c) Indelegabilidade – a função jurisdicional não pode ser delegada, transferida, a outro órgão.
Exceção: casos de carta precatória e de ordem.
e) Nulla poena sine judicio (Devido Processo Legal) - Art. 5º, LIV, da CF: “ninguém será privado
da liberdade ou de seus bens sem o devido processo legal”. O devido processo legal tem um aspecto formal
(obediência às normas processuais vigentes) e um substancial ou material (substantive due process of law –
as normas devem ser razoáveis, equilibradas, proporcionais).
f) Inafastabilidade – Também com base constitucional, entende-se que a lei não excluirá da
apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito (art. 5º, XXXV, da CF). Decorre desse princípio que
não pode o juiz, a pretexto de lacuna ou obscuridade da lei, recusar-se de proferir decisão.
2.5. Divisões
c) Quanto à graduação: inferior (de primeira instância) e superior (de segunda instância.
d) Quanto à função: comum ou ordinária (todas as causas que não estejam, de forma expressa
destinadas à jurisdição especial): Justiça Federal e Justiças Estaduais ordinárias.
Especial ou extraordinária: Justiça Militar, Justiça Eleitoral, Justiça do Trabalho e Justiça Militares
Estaduais.
3.1. Conceito
A jurisdição, a despeito de ser una, não pode ser exercida ilimitadamente por qualquer juiz. Fixam-
se, legalmente, determinados âmbitos (competências), nos quais pode ser exercido o poder jurisdicional.
Todo juiz exerce, plenamente, a jurisdição, em face de determinados casos para os quais é
competente, à luz de um princípio de divisão de trabalho.
A competência decorre do devido processo legal, encontrando seu berço no princípio do Juiz Natural.
Prescreve a CF que ninguém será processado ou julgado senão pela autoridade competente (art. 5º, LIII),
vedando, ainda, a criação de juízo ou tribunal de exceção (art. 5º, XXXVII).
3.2.1. Competência Absoluta – Quando não se pode modificá-la, segundo o interesse público subjacente,
estabelecido pelo sistema jurídico-processual.
Nesse caso, após iniciar-se o processo, o juiz absolutamente incompetente poderá pronunciar-se, a
qualquer tempo (art. 109 CPP), e todos os atos decisórios serão nulos, salvo os demais atos processuais,
que porventura possam ser aproveitados pelo juiz competente (art. 567 CPP).
A incompetência absoluta pode ser declarada de ofício. Pode ser arguida em matéria preliminar de
qualquer peça processual. Pode ser reconhecida a qualquer tempo, mesmo após o trânsito em julgado. Neste
caso, cumpre lembrar que a coisa julgada só poderá ser rescindida em benefício do réu.
3.2.2. Competência Relativa – Quando é modificável, no caso concreto, pela vontade das partes (art. 73
CPP) ou por determinado fato processual (ex. prevenção).
A competência relativa pode ser prorrogada, isto é, sua extensão, no caso concreto, a juízo que, de
início, é abstratamente incompetente.
Ex: Competência territorial.
A incompetência relativa deve ser suscitada no momento oportuno (em regra, por meio de exceção,
no prazo da defesa - art. 108 CPP).
STJ – Súmula 33: A INCOMPETÊNCIA RELATIVA NÃO PODE SER DECLARADA DE OFÍCIO.
3.3.1. Material:
3.3.2. Funcional – fixada conforme a função exercida pelos órgãos jurisdicionais, é a estabelecida em face
da fase do processo, do objeto do juízo e do grau de jurisdição.
A competência pela prerrogativa de função é gizada em razão da pessoa (ratione personae) tendo
em vista a importância e a dignidade do cargo exercido. Não se trata de proteção individual do agente em
exercício, mas da proteção do interesse público em assegurar a independência e a credibilidade das funções
estatais mais relevantes.
Em razão disso é que os Tribunais, além de exercerem sua competência recursal, revendo as
lides penais decididas em 1ª instância, processam e julgam, originariamente, determinadas ações, em
razão do cargo ocupado pelo agente.
A competência por prerrogativa de função pode ser estabelecida pela CF (é a regra), pelas
Constituições Estaduais (lembrando que a Lei Orgânica do DF não dispõe sobre o Poder Judiciário do DF
que pertence à União), ou pela legislação federal (por exemplo, Lei 11.697/2008 – Lei de Organização
Judiciária do DF). Sendo estabelecido por estes últimos diplomas, o foro especial deve respeitar os limites
traçados pela Constituição Federal, o que se chama de simetria ou paralelismo, sob pena de
inconstitucionalidade. Ou seja, só é constitucional o foro especial de autoridade estadual, distrital ou municipal
previsto exclusivamente em Constituição Estadual ou na Lei Orgânica do DF ou Lei Federal, se a CF deferiu
essa prerrogativa àquela simétrica no nível federal.
Crimes de Responsabilidade – são aqueles definidos na legislação específica (Lei 1.079/50 e art. 4º,
DL 201/67 – crimes de responsabilidade de prefeitos).
... compreendidas, na locução constitucional "crimes comuns", todas as infrações penais (RTJ 33/590
- RTJ 166/785-786), inclusive as de caráter eleitoral (RTJ 63/1 - RTJ 148/689 - RTJ 150/688-689), e, até
mesmo, as de natureza meramente contravencional (RTJ 91/423). (HC 80511, Relator(a): Min. CELSO
DE MELLO, Segunda Turma, julgado em 21/08/2001, DJ 14-09-2001 PP-00049 EMENT VOL-02043-02 PP-
00294)
STF – SÚMULA 704 - NÃO VIOLA AS GARANTIAS DO JUIZ NATURAL, DA AMPLA DEFESA E DO DEVIDO
PROCESSO LEGAL A ATRAÇÃO POR CONTINÊNCIA OU CONEXÃO DO PROCESSO DO CO-RÉU AO
FORO POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO DE UM DOS DENUNCIADOS.
d) Membros do TCU
OBS: O agente político tem foro por prerrogativa de função enquanto estiver exercendo o cargo público. Se
uma pessoa responde a processo criminal e é eleita deputado federal, os autos deverão ser remetidos para
o STF que apreciará eventual recurso. Da mesma forma, se encerrado o mandato ou o exercício do cargo ou
função público, antes de concluído o processo ou julgamento, os autos voltarão à 1ª Instância. Todavia, se o
JULGAMENTO já tiver iniciado, não há deslocamento da competência.
EMENTA Inquérito. Deputado Federal. Julgamento iniciado. Término do mandato eletivo. Prosseguimento
nesta Suprema Corte. Arquivamento. Imunidade parlamentar reconhecida. Precedentes. 1. Uma vez iniciado
o julgamento de Parlamentar nesta Suprema Corte, a superveniência do término do mandato eletivo
não desloca a competência para outra instância. 2. Nos termos do parecer do Ministério Público Federal,
as circunstâncias dos autos revelam a presença da necessária conexão entre os fatos relatados no inquérito
e a condição de parlamentar do investigado, a ensejar o reconhecimento da imunidade material (art. 53 da
Constituição Federal). 3. Inquérito arquivado.
(Inq 2295, Relator(a): Min. SEPÚLVEDA PERTENCE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. MENEZES DIREITO (ART.
38, IV, b, DO RISTF), Tribunal Pleno, julgado em 23/10/2008, DJe-104 DIVULG 04-06-2009 PUBLIC 05-06-
2009 EMENT VOL-02363-01 PP-00184)
...
O princípio do simultaneus processus não é absoluto, uma vez que sua aplicação é expressamente
vedada nos casos descritos no artigo 79 do Código de Processo Penal e meramente facultativa nas hipóteses
do artigo 80. Com efeito, permite o Código de Processo Penal, por seu artigo 80, parte final, a separação
do processo em face de motivo relevante. É o caso dos autos, porque necessária maior celeridade, só
possível com o desmembramento do processo. Atender-se-á ao reclamo social por maior agilidade,
evitando-se eventual prescrição, e ao direito dos acusados, inscrito na Constituição Federal (artigo 5º,
LXXVIII), à razoável duração do processo, assegurada a celeridade viável na sua tramitação.
Ademais, o artigo 80 do Código de Processo Penal não delimita as fases processuais em que é cabível a
separação facultativa dos processos, não havendo, por isso, que se falar em prejuízo dos réus, que terão
todas as oportunidades legais inerentes ao exercício do princípio do contraditório e da ampla defesa em seus
juízos naturais.
EMENTA Penal e Processual Penal. Inquérito. Parlamentar. Deputado federal. Primeira preliminar relativa ao
desmembramento do feito. Existência, no polo passivo da ação, de indiciados que não detêm foro por
prerrogativa de função. Rejeição. Inteligência dos arts. 76 a 78 do Código de Processo Penal. Incidência, na
espécie, da Súmula nº 704/STF. Precedente. Segunda preliminar relativa à arguição de nulidade por vício na
citação de um dos denunciados. Ocorrência. Acolhimento. No mérito, apura-se a eventual prática do crime de
corrupção eleitoral. Art. 299 do Código Eleitoral. Ausência de correlação entre os fatos narrados e os
elementos configuradores do tipo em questão. Falta de justa causa para o exercício da ação penal. Rejeição
da denúncia em relação ao indiciado detentor do foro por prerrogativa de função. Art. 395, inciso III, do Código
de Processo Penal. Envio imediato de cópia da íntegra dos autos ao Juízo de primeiro grau para o
prosseguimento do feito em relação aos demais indiciados, em face do exaurimento da competência da Corte.
1. Ressalvado o entendimento pessoal do redator do acórdão quanto ao ponto, a rejeição da preliminar
relativa ao desmembramento do feito – concernente aos que não detêm foro por prerrogativa de função - está
embasada na jurisprudência da Corte, segundo a qual, “não viola as garantias do juiz natural e da ampla
defesa, elementares do devido processo legal, a atração, por conexão ou continência, do processo do co-réu
ao foro por prerrogativa de função de um dos denunciados, a qual é irrenunciável” (INQ nº 2.424/RJ, Tribunal
Pleno, Relator o Ministro Cezar Peluso, DJe de 26/3/10). Incidência, na espécie, da Súmula nº 704/STF. 2.
Quanto à nulidade por vício na citação de um dos denunciados, Carlos Eduardo Azevedo Miranda, essa se
deu em razão de a contrafé do mandado de citação expedido ter sido assinada por interposta pessoa, sem
qualquer relação devidamente esclarecida com o indiciado. 3. A citação no direito processual penal, por
consistir em ato pessoal, deve ser executada na pessoa do acusado. Nesse sentido, o HC nº 73.269/SP,
Primeira Turma, Relator o Ministro Sydney Sanches, DJe de 1º/3/96. 4. Quanto ao mérito da denúncia, há de
se ressaltar que as condutas nela narradas e o tipo penal incriminador descrito no art. 299 do Código Eleitoral
não se correlacionam, razão pela qual se evidencia a ausência de justa causa para o exercício da ação penal,
o que redunda na sua rejeição, nos moldes do art. 395, inciso III, do Código de Processo Penal. 5. Denúncia
rejeitada em relação ao indiciado detentor do foro por prerrogativa de função. 6. Exaurida a competência desta
Suprema Corte com a rejeição da denúncia em relação ao corréu detentor de foro por prerrogativa de função,
encaminhe-se imediatamente cópia da íntegra dos autos ao juízo de primeiro grau competente para dar
prosseguimento ao feito em relação aos demais indiciados, decidindo como entender de direito. (Inq 2704,
Relator(a): Min. ROSA WEBER, Relator(a) p/ Acórdão: Min. DIAS TOFFOLI, Tribunal Pleno, julgado em
17/10/2012, ACÓRDÃO ELETRÔNICO DJe-038 DIVULG 26-02-2013 PUBLIC 27-02-2013)
- Com o cancelamento da Súmula 394, pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal, ocorrendo a
aposentadoria do magistrado cessa a competência especial por prerrogativa de função, sendo
competente o Juízo singular para a apuração da prática de ilícito penal que teria cometido no exercício
do cargo. (Precedentes do STF e do STJ).(20030020057208INQ, Relator DÁCIO VIEIRA, Conselho
Especial, julgado em 22/03/2005, DJ 14/10/2005 p. 104)
(AP 305 QO-QO, Relator(a): Min. CELSO DE MELLO, Tribunal Pleno, julgado em 12/08/1993, DJ 10-09-
1993 PP-18374 EMENT VOL-01716-01 PP-00001)
-NÃO SE PODE CONCLUIR QUE O JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL SEJA O JUÍZO COMPETENTE PARA
O JULGAMENTO DO DELITO DE INJÚRIA, DELITO REMANESCENTE, PORQUANTO A IMPUTAÇÃO
INICIAL, EM SUA INTEGRALIDADE, REFERE-SE AOS CRIMES DE CALÚNIA, DIFAMAÇÃO E INJÚRIA,
PERFAZENDO-SE COM QUE A SOMA DAS PENAS ABSTRATAS APRESENTEM REPRIMENDA
SUPERIOR A 02 ANOS.
Em matéria penal, a Justiça Especializada é a Militar e a Eleitoral. Justiça Comum: Estadual e Federal.
STJ – SÚMULA 47 - COMPETE A JUSTIÇA MILITAR PROCESSAR E JULGAR CRIME COMETIDO POR
MILITAR CONTRA CIVIL, COM EMPREGO DE ARMA PERTENCENTE A CORPORAÇÃO, MESMO NÃO
ESTANDO EM SERVIÇO.
83OLIVERIA, Eugênio Pacelli. Curso de Processo Penal. 10ª ed. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2008. p. 209
a 228.
STJ – SÚMULA 73 - A UTILIZAÇÃO DE PAPEL MOEDA GROSSEIRAMENTE FALSIFICADO CONFIGURA,
EM TESE, O CRIME DE ESTELIONATO, DA COMPETENCIA DA JUSTIÇA ESTADUAL.
STJ – SÚMULA 104 - COMPETE A JUSTIÇA ESTADUAL O PROCESSO E JULGAMENTO DOS CRIMES
DE FALSIFICAÇÃO E USO DE DOCUMENTO FALSO RELATIVO A ESTABELECIMENTO PARTICULAR
DE ENSINO
STJ – SÚMULA 107 - COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE
ESTELIONATO PRATICADO MEDIANTE FALSIFICAÇÃO DAS GUIAS DE RECOLHIMENTO DAS
CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIARIAS, QUANDO NÃO OCORRENTE LESÃO A AUTARQUIA FEDERAL.
STJ – SÚMULA 122 - COMPETE À JUSTIÇA FEDERAL O PROCESSO E JULGAMENTO UNIFICADO DOS
CRIMES CONEXOS DE COMPETÊNCIA FEDERAL E ESTADUAL, NÃO SE APLICANDO A REGRA DO
ART. 78, II, "A", DO CÓDIGO DE PROCESSO PENAL.
STJ – SÚMULA 140 - COMPETE A JUSTIÇA COMUM ESTADUAL PROCESSAR E JULGAR CRIME EM
QUE O INDIGENA FIGURE COMO AUTOR OU VITIMA.
STJ – SÚMULA 165 - COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL PROCESSAR E JULGAR CRIME DE FALSO
TESTEMUNHO COMETIDO NO PROCESSO TRABALHISTA.
STJ – SÚMULA 172 - COMPETE A JUSTIÇA COMUM PROCESSAR E JULGAR MILITAR POR CRIME DE
ABUSO DE AUTORIDADE, AINDA QUE PRATICADO EM SERVIÇO.
STJ – SÚMULA 192 - COMPETE AO JUIZO DAS EXECUÇÕES PENAIS DO ESTADO A EXECUÇÃO DAS
PENAS IMPOSTAS A SENTENCIADOS PELA JUSTIÇA FEDERAL, MILITAR OU ELEITORAL, QUANDO
RECOLHIDOS A ESTABELECIMENTOS SUJEITOS A ADMINISTRAÇÃO ESTADUAL
STF – SÚMULA 522 - SALVO OCORRÊNCIA DE TRÁFICO PARA O EXTERIOR, QUANDO, ENTÃO, A
COMPETÊNCIA SERÁ DA JUSTIÇA FEDERAL, COMPETE À JUSTIÇA DOS ESTADOS O PROCESSO E
JULGAMENTO DOS CRIMES RELATIVOS A ENTORPECENTES.
STF – SÚMULA 498 -COMPETE À JUSTIÇA DOS ESTADOS, EM AMBAS AS INSTÂNCIAS, O PROCESSO
E O JULGAMENTO DOS CRIMES CONTRA A ECONOMIA POPULAR.
COMUM MILITAR
1ª Instância - Composição e Competência
art. 6º do RITJDFT):
Informativo
Informativo 514/STJ
A Justiça Militar é competente para julgar crime de homicídio praticado por militar em serviço contra militar
reformado. O fato de a vítima do delito ser militar reformado, por si só, não é capaz de afastar a competência
da Justiça especializada. O art. 125, § 4º, da CF preceitua que “compete à Justiça Militar estadual processar
e julgar os crimes militares dos Estados, nos crimes militares definidos em lei e as ações judiciais contra os
atos disciplinares militares, ressalvada a competência do júri quando a vítima for civil”. O CPM, por sua vez,
estabelece em seu art. 9º os crimes considerados militares em tempo de paz, dentre os quais prevê a hipótese
de crime cometido “por militar em serviço ou atuando em razão da função, em comissão de natureza militar,
ou em formatura, ainda que fora do lugar sujeito à administração militar contra militar da reserva, ou
reformado, ou assemelhado, ou civil” (art. 9º, II, c, do CPM). Embora os militares na inatividade sejam
considerados civis para fins de aplicação da lei penal militar, o próprio CPM fixa a competência da Justiça
Militar quando o crime é praticado por militar em serviço contra outro na inatividade. Vale ressaltar que o
parágrafo único do art. 9º do CPM, ao dispor que são da competência da Justiça Comum os crimes nele
previstos quando dolosos contra a vida e cometidos contra civil, não exclui da competência da Justiça Militar
o julgamento dos ilícitos praticados nas circunstâncias especiais descritas nos incisos I, II e III do referido
artigo. Precedente citado: REsp 1.203.098-MG, DJe 1º/12/2011. HC 173.131-RS, Rel. Min. Jorge Mussi,
julgado em 6/12/2012.
Informativo 508/STJ
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA. CRIME COMUM PRATICADO POR POLICIAL MILITAR.
O cometimento de crime comum por policial militar não atrai a competência da Justiça castrense. A
competência da Justiça Militar está exaustivamente listada no art. 9º do CPM e não é firmada apenas pela
condição pessoal de militar do infrator, mas decorre da natureza militar da infração. Precedente citado: CC
49.689-RJ, DJe 7/11/2008. CC 121.328-SP, Rel. Min. Alderita Ramos de Oliveira, julgado em 24/10/2012.
Informativo 508/STJ
A competência da Justiça Federal para processar e julgar ações penais de delitos praticados contra
indígena somente ocorre quando o processo versa sobre questões ligadas à cultura e aos direitos sobre
suas terras. O STF, no RE 419.528, afirmou que a competência da Justiça Federal, fixada no art. 109, XI, da
CF, "só se desata quando a acusação seja de genocídio, ou quando, na ocasião ou motivação de outro
delito de que seja índio o agente ou a vítima, tenha havido disputa sobre direitos indígenas, não bastando
seja aquele imputado a silvícola, nem que este lhe seja vítima e, tampouco, que haja sido praticado dentro
de reserva indígena". Não se verificando a circunstância diferenciadora para atrair a competência da Justiça
Federal, observa-se a Súm. n. 140/STJ. Precedentes citados do STF: RE 419.528-PR, DJ 9/3/2007; RHC
85.737-PE, DJ 30/11/2007; do STJ: CC 101.569-PR, DJe 6/9/2010, e CC 43.328-MS, DJe 21/10/2008. CC
38.517-RS, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 24/10/2012.
Competência Originária:
Competência Competência Originária:
a) os juízes federais da área de sua Originária:
jurisdição pelos crimes comuns, a) crime eleitoral cometido por
excetuados os delitos eleitorais; a) os oficiais-generais das juiz (estadual ou federal);
Forças Armadas nos
2ª Instância - Composição e Competência
crimes militares,
ressalvado os
b) os membros do MPU que não b) crime eleitoral cometido por
Comandantes de Forças
oficiem perante tribunais por crimes membro do MPU que não
e os Ministros Militares do
comuns, excluindo os crimes oficiar perante tribunal (Se
próprio STM, que, nesses
eleitorais. oficiar a competência para
casos, devem ser
qualquer crime é do STJ);
submetidos a julgamento
perante o STF.
Competência Recursal: as causas
penais decididas pelos juízes c) autoridades estaduais com
federais e pelos juízes estaduais no foro perante o Tribunal de
Competência Recursal:
exercício de competência federal. Justiça pela prática de crimes
decisões proferidas pelos
eleitorais.
juízes militares (Conselho
Especial e Permanente)
Competência Recursal –
decisões proferidas pelos
juízes eleitorais.
§ 1o Compete à Justiça Militar o processo e o julgamento dos crimes militares, definidos em lei, praticados
por Oficiais e Praças da Polícia Militar do Distrito Federal e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
§ 2o Os feitos de competência da Justiça Militar serão processados e julgados de acordo com o Decreto-Lei
no 1.002, de 21 de outubro de 1969 – Código de Processo Penal Militar e, no que couber, respeitada a
competência do Tribunal de Justiça, pela Lei de Organização Judiciária Militar (Decreto-Lei no 1.003, de 21
de outubro de 1969).
Art. 37. A Justiça Militar será composta de 1 (uma) Auditoria e dos Conselhos de Justiça, com jurisdição em
todo o Distrito Federal.
Parágrafo único. O cargo de Juiz-Auditor será preenchido por Juiz de Direito da Circunscrição Judiciária de
Brasília, a ele cabendo presidir e relatar todos os processos perante os Conselhos de Justiça.
Art. 39. O Conselho Especial de Justiça Militar será composto por 4 (quatro) Juízes Militares, de patente igual
ou superior à do acusado, e do Juiz-Auditor.
§ 3o Os Juízes Militares do Conselho Permanente de Justiça servirão pelo período de 4 (quatro) meses
consecutivos e só poderão ser de novo sorteados após transcorrido o prazo de 6 (seis) meses, contados da
dissolução do Conselho que tenham integrado.
Art. 40. Cada Juiz Militar do Conselho Especial ou Permanente de Justiça terá um suplente, ambos escolhidos
em sorteio presidido pelo Juiz-Auditor em sessão pública.
§ 1o Os Juízes Militares dos Conselhos Especial e Permanente de Justiça serão sorteados dentre os oficiais
constantes da relação que deverá ser remetida ao Juiz-Auditor pelo Comando-Geral da Polícia Militar do
Distrito Federal e pelo do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal.
I – expedir alvarás, mandados e outros atos, em cumprimento às decisões dos Conselhos ou no exercício de
suas próprias funções;
II – conceder habeas corpus, quando a coação partir de autoridade administrativa ou judiciária militar,
ressalvada a competência do Tribunal de Justiça;
III – exercer supervisão administrativa dos serviços da Auditoria e o poder disciplinar sobre servidores que
nela estejam localizados, respeitada a competência da Corregedoria de Justiça.
Nas infrações de menor potencial ofensivo, cujo processamento se dá conforme a Lei 9.099/95, são
competentes os juízos em que ocorreu a ação (art. 63). Aplica-se, aqui, a Teoria da Ação.
III - A ORIENTAÇÃO BASICA DA LEI E ELEGER SITUAÇÕES QUE MELHOR ATENDAM A FINALIDADE
DO PROCESSO. ESTE BUSCA A VERDADE REAL. A AÇÃO PENAL, ENTÃO, DEVE DESENROLAR-SE
NO LOCAL QUE FACILITE A MELHOR INSTRUÇÃO A FIM DE O JULGAMENTO PROJETAR A MELHOR
DECISÃO.
(CC 8.734/DF, Rel. Ministro ADHEMAR MACIEL, Rel. p/ Acórdão Ministro PEDRO ACIOLI, TERCEIRA
SEÇÃO, julgado em 01/07/1994, DJ 20/03/1995 p. 6079)
b) Tentativa – foro do lugar onde foi praticado o último ato de execução do delito (art. 70, caput, parte
final, CPP).
c) Crime permanente e crime continuado; incerteza quanto ao limite territorial entre duas ou mais
jurisdições85; incerteza quanto à jurisdição por ter sido a infração consumada ou tentada nas divisas de duas
ou mais jurisdições – a competência se firma pela prevenção (arts. 70, § 3º, 71 e 83 CPP).
d) Crimes à distância (ação praticada no Brasil e o resultado produzido no Exterior) – lugar em que
tiver sido praticado, no Brasil, o último ato de execução (Art. 70, § 1º,CPP).
85Jurisdição empregada no sentido de área de atuação de um determinado juízo e não no sentido próprio
(poder estatal de aplicar o Direito ao caso concreto).
e) Crimes à distância em que o último ato de execução for praticado fora do território nacional – juiz
do lugar em que o crime, embora parcialmente, tenha produzido ou devia produzir seu resultado (art. 70, §
2º, CPP).
f) Crimes praticados fora do território brasileiro, se aplicada a lei penal brasileira (extraterritorialidade
– art. 7º do CP) – juízo da Capital do Estado onde houver por último residido o acusado; ou o juízo da Capital
da República, se este nunca tiver residido no Brasil (art. 88, CPP).
1. A fraude do furto não se confunde com a do estelionato, posto que, no primeiro, ela tem por escopo a
redução da vigilância da vítima para que ela não compreenda estar sendo desapossada, enquanto que, no
segundo, ela visa fazer a vítima incidir em erro, entregando o bem de forma espontânea ao agente. 2. Logo,
o saque fraudulento em conta corrente por meio de internet configura o delito de furto mediante
fraude, mas não o de estelionato. 3. O crime de furto mediante fraude se consuma no momento em
que o agente se torna possuidor da res furtiva, isto é, quando o bem sai da esfera de disponibilidade
da vítima, o que ocorreu no local em que se situa a agência bancária que abriga a conta corrente
fraudulentamente atingida. Precedentes.
4. Se ainda não foi oferecida denúncia nos autos, não há que se falar em vinculação do Juiz à capitulação
sugerida no inquérito policial. 5. Agravo Regimental a que se nega provimento. (AgRg no CC 74.225/SP, Rel.
Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
25/06/2008, DJe 04/08/2008)
1 - A consumação do ilícito previsto no art. 241 do Estatuto da Criança e do Adolescente ocorre no ato
de publicação das imagens pedófilo-pornográficas, sendo indiferente a localização do provedor de
acesso à rede mundial de computadores onde tais imagens encontram-se armazenadas, ou a sua
efetiva visualização pelos usuários.
2 - Conflito conhecido para declarar competente o Juízo da Vara Federal Criminal da Seção Judiciária de
Santa Catarina.
(CC 29.886/SP, Rel. Ministra MARIA THEREZA DE ASSIS MOURA, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
12/12/2007, DJ 01/02/2008 p. 427)
Informativo 520/STJ:
DIREITO PROCESSUAL PENAL. COMPETÊNCIA PARA PROCESSAR E JULGAR ACUSADO DE CAPTAR
E ARMAZENAR, EM COMPUTADORES DE ESCOLAS MUNICIPAIS, VÍDEOS PORNOGRÁFICOS,
ORIUNDOS DA INTERNET, ENVOLVENDO CRIANÇAS E ADOLESCENTES.
Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar acusado da prática de conduta criminosa consistente
na captação e armazenamento, em computadores de escolas municipais, de vídeos pornográficos oriundos
da internet, envolvendo crianças e adolescentes. Segundo o art. 109, V, da CF, compete aos juízes federais
processar e julgar “os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a execução
no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou reciprocamente”. Nesse contexto, de
acordo com o entendimento do STJ e do STF, para que ocorra a fixação da competência da Justiça Federal,
não basta que o Brasil seja signatário de tratado ou convenção internacional que preveja o combate a
atividades criminosas dessa natureza, sendo necessário, ainda, que esteja evidenciada a transnacionalidade
do delito. Assim, inexistindo indícios do caráter transnacional da conduta apurada, estabelece-se, nessas
circunstâncias, a competência da Justiça Comum Estadual. CC 103.011-PR, Rel. Min. Assusete Magalhães,
julgado em 13/3/2013.
Informativo 515/STJ
Ainda que os possíveis autores dos fatos criminosos tenham domicílio em localidades distintas do território
nacional, compete ao juízo do local onde teve início a apuração das condutas processar e julgar todos os
supostos responsáveis pela troca de mensagens de conteúdo racista em comunidades de rede social na
internet, salvo quanto a eventuais processos em que já tiver sido proferida sentença. Em situações como
essa, embora cada mensagem constitua crime único, existe conexão probatória entre os processos
instaurados para a apuração das condutas. A circunstância na qual os crimes teriam sido praticados – troca
de mensagens em comunidade virtual – estabelece uma relação de confiança, ainda que precária, entre os
usuários, cujo viés pode facilitar a identificação da autoria. Com efeito, ao ingressar em uma comunidade
virtual, o usuário tem a expectativa de que os demais membros compartilhem da sua opinião. Dessa maneira,
não é incomum que o vínculo estabelecido vá além da mera discussão, propiciando uma autêntica troca de
informações, inclusive pessoais, entre os usuários desse espaço. Ademais, é a forma por meio da qual os
membros interagem na comunidade virtual que cria o nexo entre as mensagens que ali circulam e,
consequentemente, estabelece um liame entre as condutas supostamente ilícitas. Assim, embora a
competência para processar e julgar o crime de racismo praticado por meio da internet se estabeleça de
acordo com o local de onde partiram as manifestações tidas por ofensivas, o modus operandi consistente na
troca de mensagens em comunidade virtual deve ser considerado como apto a caracterizar a conexão
probatória (art. 76, III, do CPP). Portanto, constatada a suposta ocorrência de crimes conexos, a competência
deve ser fixada pela prevenção, em favor do juízo no qual as investigações tiveram início, com ressalva
apenas quanto a eventuais processos em que já tenha sida proferida a sentença. Com efeito, de acordo com
o disposto no art. 82 do CPP, se, “não obstante a conexão ou continência, forem instaurados processos
diferentes, a autoridade de jurisdição prevalente deverá avocar os processos que corram perante os outros
juízes, salvo se já estiverem com sentença definitiva”. Ainda acerca desse ponto, deve ser mencionada a
Súmula 235 do STJ, segundo a qual a “conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi
julgado”. Precedente citado: CC 102.454-RJ, DJe 15/4/2009. CC 116.926-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior,
julgado em 4/2/2013.
Informativo 514/STJ
Compete à Justiça Estadual, e não à Justiça Federal, processar e julgar crime de estelionato cometido por
particular contra particular, ainda que a vítima resida no estrangeiro, na hipótese em que, além de os atos de
execução do suposto crime terem ocorrido no Brasil, não exista qualquer lesão a bens, serviços ou interesses
da União. O fato de a vítima ter residência fora do Brasil não é fator de determinação da competência
jurisdicional, conforme o art. 69 do CPP. CC 125.237-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em
4/2/2013.
Trata-se de foro supletivo, que só é aplicado quando o lugar da infração não for conhecido (art. 72
CPP) (atenção: se o lugar for incerto, resolve-se pela prevenção – art. 72, § 3º CPP). Excetua-se a hipótese
de crime submetido à ação privada, pois neste o querelante pode preferir o foro do domicílio do querelado,
ainda quando conhecido o lugar da infração (Art. 73 CPP).
Art. 74. A competência pela natureza da infração será regulada pelas leis de organização judiciária, salvo
a competência privativa do Tribunal do Júri.
§ 1º Compete ao Tribunal do Júri o julgamento dos crimes previstos nos arts. 121, §§ 1o e 2o, 122, parágrafo
único, 123, 124, 125, 126 e 127 do Código Penal, consumados ou tentados. (Redação dada pela Lei nº 263,
de 23.2.1948)
§ 2o Se, iniciado o processo perante um juiz, houver desclassificação para infração da competência de outro,
a este será remetido o processo, salvo se mais graduada for a jurisdição do primeiro, que, em tal caso, terá
sua competência prorrogada.
§ 3o Se o juiz da pronúncia desclassificar a infração para outra atribuída à competência de juiz singular,
observar-se-á o disposto no art. 410; mas, se a desclassificação for feita pelo próprio Tribunal do Júri, a seu
presidente caberá proferir a sentença (art. 492, § 2o).
Do Tribunal do Júri
Art. 18. Os Tribunais do Júri terão a organização e a competência estabelecidas no Código de Processo
Penal.
Art. 19. Compete ao Juiz-Presidente do Tribunal do Júri:
I – processar os feitos da competência do Tribunal do Júri, ainda que anteriores à propositura da ação penal,
até julgamento final;
II – processar e julgar habeas corpus, quando o crime atribuído ao paciente for da competência do Tribunal
do Júri;
Parágrafo único. Em cada Tribunal do Júri, oficiará, sempre que possível, um Juiz de Direito Substituto, que
terá competência para a instrução dos processos, sem prejuízo de outras atribuições que lhe sejam cometidas
pelo titular da Vara.
Seção II
Da Vara Criminal
I – processar e julgar os feitos criminais da competência do juiz singular, ressalvada a dos juízos
especializados, onde houver;
II – praticar atos anteriores à instauração do processo, deferidos aos juízes de primeiro grau pelas leis
processuais penais.
Seção III
III – baixar atos normativos visando à prevenção, à assistência e à repressão, relacionados com a matéria de
sua competência;
Seção IV
Art. 22. Compete ao Juiz da Vara de Delitos de Trânsito processar e julgar os feitos relativos às infrações
penais previstas na legislação de trânsito, ressalvada a competência de outra Vara em crimes conexos e a
dos Juizados Especiais Criminais.
Seção V
I – a execução das penas e das medidas de segurança e o julgamento dos respectivos incidentes;
III – homologar as multas aplicadas pela autoridade policial nos casos previstos em lei;
Seção VI
Art. 24. Compete ao Juiz da Vara de Execuções das Penas e Medidas Alternativas:
III – o acompanhamento e a avaliação dos resultados das penas e medidas alternativas, articulando, para
esse fim, as ações das instituições, órgãos e setores, externos e internos, envolvidos no programa;
IV – desenvolver contatos e articulações com vistas na busca de parcerias e celebração de convênios e
acordos capazes de ampliar e aprimorar as oportunidades de aplicação e execução das penas e medidas
alternativas;
VI – designar a entidade credenciada para cumprimento da pena ou medida alternativa, em cada caso,
supervisionando e acompanhando seu cumprimento;
VIII – decidir os pedidos de unificação das penas referidas no inciso I do caput deste artigo, bem como julgar
os respectivos incidentes;
Parágrafo único. O Tribunal poderá estabelecer mecanismos de cooperação entre as Varas de Execuções
das Penas e Medidas Alternativas - VEPEMA, Varas de Execuções Penais - VEP, Varas Criminais e Juizados
Especiais Criminais, em matéria de execução e acompanhamento das penas e medidas alternativas.
Art. 44. Compete ao Juiz da Vara do Juizado Especial Criminal a conciliação, o processo e o julgamento das
infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei, bem como o acompanhamento do cumprimento
da transação penal e da suspensão condicional do processo.
1. Lesão corporal culposa praticada na direção de veículo automotor descreve a figura do art. 303 do Código
de Trânsito Brasileiro com pena máxima abstratamente cominada em 2 (dois) anos.
2. Lei nº 10.259/01 e Lei nº 11.313/06 conceituaram os delitos de menor potencial ofensivo, alterando o art.
61 da Lei nº 9.099/95.
3. Competência do Juizado Especial Criminal para conhecer e julgar crimes de menor potencial
ofensivo, cuja pena não ultrapasse 2 (dois) anos, independente de rito especial. Competência
absoluta, fixada em razão da matéria.
4.Conflito conhecido para determinar competente o suscitado, Juízo de Direito do Juizado Especial Cível e
Criminal de Uberlândia – MG.
(CC 93.128/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 25/03/2009, DJe
24/04/2009)
2. Conflito negativo de competência conhecido para declarar o Juízo Suscitante - Juízo de Direito do 3º
Juizado Especial Criminal da Circunscrição Judiciária de Brasília - como competente para processar e julgar
os autos do processo nº 2008.01.1.095896-8.(20090020070924CCP, Relator ROBERVAL CASEMIRO
BELINATI, Câmara Criminal, julgado em 29/06/2009, DJ 03/07/2009 p. 35)
- A Lei nº 11.343/2006 estabeleceu tratamento mais benéfico para o usuário de drogas, estabelecendo penas
que têm por finalidade a reeducação ou tratamento especializado.
- Estabelece a lei, ainda, que será da competência dos Juizados Especiais processar e julgar os
agentes das condutas previstas no artigo 28.
- Conflito julgado procedente, declarando-se competente o Juízo de Direito da 2ª Vara do Juizado Especial
Criminal de Brasília - DF.(20060020135558CCP, Relator SOUZA E ÁVILA, Câmara Criminal, julgado em
12/02/2007, DJ 17/05/2007 p. 234)
Embora prevaleça esse entendimento, Eugênio Pacelli de Oliveira defende que a competência dos
Juizados Especiais Criminais não é em razão da matéria, mas sim em razão do rito ou procedimento (infrações
penais de menor potencial ofensivo), tanto que pode ser modificada por ausência de citação pessoal (art. 66
da Lei 9.099/95); pela complexidade da prova a ser produzida (art. 77, § 2º); e, agora, de modo ainda mais
esclarecedor, nas hipóteses de continência e conexão com outras infrações (art. 60).
O que define a exigência da competência dos Juizados Especiais é muito mais o seu conteúdo de
direito material (penal) que propriamente procedimental. O que não pode, absolutamente, ser afastado do
acusado não é a competência dos Juizados Especiais, mas a possibilidade e a oportunidade de aplicação do
chamado processo consensual, consubstanciado no instituto da transação penal (art. 76) e da atribuição de
efeitos penais à composição civil dos danos causados pela infração de menor potencial ofensivo (art. 74, Lei
9.099/95)86.
a) Resolução 07 - TJDFT
RESOLVE:
Art. 1º Ampliar a competência dos Juizados Especiais Criminais e dos Juizados Especiais de Competência
Geral, com exceção da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília e das regiões administrativas do Núcleo
Bandeirante e Guará, para abranger o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes de
prática de violência doméstica e familiar contra a mulher, de que trata a Lei nº. 11.340, de 7 de agosto de
2006.
Art. 2º Os procedimentos de que cuida a Lei nº. 9.099, de 1995, não se confundem com aqueles fixados pela
Lei nº. 11.340, de 2006, devendo ser aplicados, separadamente, observados os seus respectivos ritos.
Art. 3º Esta resolução entra em vigor na data da sua publicação, revogando-se as disposições em contrário.
Presidente
b) A apelação de sentença proferida em processos que versem sobre violência doméstica e familiar é
de competência das Turmas Criminais do TJDFT: afinal, nada obstante a nomenclatura “Juizados”, não
se trata de infrações penais de menor potencial ofensivo.
Os processos que versam sobre violência doméstica e familiar, apesar de tramitarem na Vara dos
Juizados Especiais, por força do disposto na Resolução nº 07 de 13 de outubro de 2006, não estão
inseridos na competência própria desse juízo. Sendo assim, não podem as Turmas Recursais apreciar
o recurso em tais processos, pois a competência dessa instância recursal, prevista na Lei 9.099/95,
limita-se às decisões proferidas nos processos de competência dos Juizados Especiais.
De outro lado, não poderia o ato normativo deste E. T. J. D. F. ampliar a competência das Turmas Recursais,
a qual está legalmente prevista.
Portanto, as sentenças proferidas nas ações penais que tenham por objeto crimes praticados no
âmbito da violência familiar e doméstica contra a mulher, estão sujeitas a recurso que deve ser julgado
pelo Tribunal de Justiça. Precedentes.
1. Apesar do art. 41 da Lei 11.340/2006 dispor que "aos crimes praticados com violência doméstica e
familiar contra a mulher, independentemente da pena prevista, não se aplica a Lei nº 9.099, de 26 de
setembro de 1995", a expressão "aos crimes" deve ser interpretada de forma a não afastar a intenção
do legislador de punir, de forma mais dura, a conduta de quem comete violência doméstica contra a
mulher, afastando de forma expressa a aplicação da Lei dos Juizados Especiais.
(STJ, CC 102.571/MG, Rel. Ministro JORGE MUSSI, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 13/05/2009, DJe
03/08/2009)
1. Segundo atual posicionamento do Supremo Tribunal Federal, no julgamento da ADI 4424, o art. 41
da Lei 11.340/06 veda a adoção do procedimento previsto na Lei nº 9.099/95 aos crimes praticados
com violência doméstica e familiar contra a mulher. Logo, também está alcançada a proibição de se
aplicar a Lei dos Juizados Especiais a contravenção penal ocorrida no âmbito familiar.
(...)
3. Não há se falar em propositura da transação penal, pois os institutos previstos na Lei 9.099/95 não
são aplicáveis aos delitos (inclusive contravenções) praticados com violência doméstica e familiar
contra a mulher. Precedentes.
4. O pedido de gratuidade da justiça, assim como de isenção das custas processuais, é matéria afeta ao juízo
das execuções penais.
5. Recurso desprovido.
(TJDFT, Acórdão n.821035, 20110610098057APR, Relator: SILVÂNIO BARBOSA DOS SANTOS, 2ª Turma
Criminal, Data de Julgamento: 18/09/2014, Publicado no DJE: 24/09/2014. Pág.: 212)
1. A regra geral de competência do processo penal, de que o juízo competente é o do local onde ocorreu o
delito não é absoluta. 1.1 Principalmente quando se trata de delito de violência doméstica contra a mulher,
como bem destacado no parecer ministerial: "(...) no âmbito da proteção da mulher contra a violência
doméstica, especialmente depois da entrada em vigor da Lei n.º 11.340/06, a melhor interpretação é aquela
que revele o objetivo da norma, e não a gramatical ou literal contido no art. 15 da citada lei, nada obstando
que a competência jurisdicional para processar e julgar ações que versem sobre esse tema, seja fixada
conforme opção da vítima, podendo ser o local de seu domicílio, de sua residência, do lugar do fato do crime
ou do domicílio do agressor. (...)"
2. A peça inicial do processo quando contém a descrição do fato criminoso de forma clara e específica, com
todas as suas circunstâncias, preenchendo dos requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal, não é
inepta.
3. Não há diferença ontológica entre crime e contravenção, de forma que a vedação à aplicação dos
benefícios da Lei 9.099/95 aos crimes praticados com violência doméstica e familiar contra a mulher,
estende-se às contravenções.
(...)
PENAL. VIOLÊNCIA DOMÉSTICA. LEI MARIA DA PENHA. ÂMBITO DE APLICAÇÃO. RELAÇÃO ENTRE
NAMORADOS. COMPETÊNCIA. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E DE VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER.
A agressão ocorrida no contexto da relação entre namorados está inserida no âmbito de abrangência
da Lei 11.340/06 - Lei Maria da Penha, por força do disposto no seu artigo 5º, inciso III, o qual considera
violência doméstica ou familiar qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha
convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.
Recurso provido.
Na verdade, o STJ tem entendido que a análise deve ser casuística. Não se pode ampliar o termo – relação
íntima de afeto – para abarcar um relacionamento passageiro, fugaz ou esporádico. Todavia, verificando-se
nexo de causalidade entre a conduta criminosa e a relação de intimidade existente entre agressor e vítima,
que estaria sendo ameaçada de morte após romper namoro de quase dois anos, deve-se aplicar a Lei
11.340/06 (STJ, CC 100.654, HC 92.875, CC 103.813, HC 181.217, CC 95.057, CC 91.980).
CONFLITO DE COMPETÊNCIA. PENAL. JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL E JUIZ DE DIREITO. CRIME COM
VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR CONTRA MULHER.
CRIME CONTRA HONRA PRATICADO POR IRMÃ DA VÍTIMA. INAPLICABILIDADE DA LEI Nº 11.340/06.
COMPETÊNCIA DO JUIZADO ESPECIAL CRIMINAL.
1. Delito contra honra, envolvendo irmãs, não configura hipótese de incidência da Lei nº 11.340/06,
que tem como objeto a mulher numa perspectiva de gênero e em condições de hipossuficiência ou
inferioridade física e econômica.
2. Sujeito passivo da violência doméstica, objeto da referida lei, é a mulher. Sujeito ativo pode ser tanto o
homem quanto a mulher, desde que fique caracterizado o vínculo de relação doméstica, familiar ou de
afetividade.
2. No caso, havendo apenas desavenças e ofensas entre irmãs, não há qualquer motivação de gênero ou
situação de vulnerabilidade que caracterize situação de relação íntima que possa causar violência doméstica
ou familiar contra a mulher. Não se aplica a Lei nº 11.340/06.
3. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito do Juizado Especial Criminal de Governador
Valadares/MG, o suscitado.
(CC 88.027/MG, Rel. Ministro OG FERNANDES, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 05/12/2008, DJe
18/12/2008)
F) É do Tribunal do Júri a competência para julgar o crime de homicídio qualificado contra mulher, em
situação de violência doméstica, em todas as suas fases
I. O entendimento de que compete ao Juizado Especial Criminal, até a fase da pronúncia, processar
os feitos relativos aos crimes dolosos contra a vida praticados no âmbito doméstico e familiar contra
a mulher, não mais prevalece. Competência do Juízo do Tribunal do Júri constitucionalmente prevista.
II. Todo o processamento dos feitos que envolvam crimes dolosos contra a vida está afeto às Varas do
Tribunal do Júri.
1. É do Tribunal do Júri a competência para julgar o crime de homicídio qualificado contra mulher, em
situação de violência doméstica, em todas as suas fases (CF 5º XXXVIII, LOJDF, art. 19). Precedente
do C. STJ - HC 121.216/DF.
2. Julgou-se procedente o conflito negativo para declarar a competência do Tribunal do Júri e Delitos de
Trânsito do Gama/DF (Juízo suscitado).
1. A Lei de Organização Judiciária do Distrito Federal e dos Territórios (Lei no 11.697/2008) determina,
em seu artigo 19, inciso I, que compete ao Juiz-Presidente do Tribunal do Júri "processar os feitos da
competência do Tribunal do Júri, ainda que anteriores à propositura da ação penal, até julgamento
final". Assim, tratando-se de tentativa de homicídio, ainda que praticado no âmbito doméstico contra
mulher, a competência para o processamento do feito, em sua inteireza, é do Tribunal do Júri.
2. O artigo 424, do Código de Processo Penal, com a nova redação conferida pela Lei nº 11.689/2008,
apenas autoriza a preparação do procedimento para o julgamento do Júri, em juízo diverso, quando a
lei local de organização judiciária assim definir.
3. Conflito de competência conhecido para declarar competente o Juízo Suscitado, o Juízo de Direito do
Tribunal do Júri de Brasília/DF, para processar o feito em todas as suas fases.(20090020071140CCP, Relator
ROBERVAL CASEMIRO BELINATI, Câmara Criminal, julgado em 29/06/2009, DJ 06/07/2009 p. 44)
1.A exegese da Lei 11.340/2006 aplica-se aos atos que resultem em agressão física, sexual,
psicológica, patrimonial ou moral (art. 7º), causada contra mulher, dentro de qualquer relação íntima
de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de
coabitação (art. 5º, III).
2.No caso de atos de violência praticados contra pessoa do sexo masculino, que resultem em crimes
de menor potencial ofensivo, deve o rito da ação penal observar o que prescreve a Lei 9.099/95.
3.Reclamação improvida. (20080020023982RCL, Relator JOÃO EGMONT, 1ª Turma Criminal, julgado em
21/05/2009, DJ 30/06/2009 p. 102)
ATENÇÃO:
1. A Lei n. 11.340/2006, lei posterior e da mesma hierarquia, ao dar nova redação ao § 9º do art. 129,
CPB (agravamento da sanção) não fez distinção alguma em relação ao sujeito ativo; daí porque, neste
particular, não se pode concluir tenha a nova lei violado o princípio constitucional da igualdade entre
homens e mulheres (inciso I do art. 5º, CF).
2. Se não se cuida de infração de menor potencial ofensivo, não há que se falar em competência de Juizado
Especial Criminal.
3. Para conferir efetividade ao art. 33 da Lei n. 11.340/2006, enquanto não criadas as varas especializadas
de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, a Resolução n. 07 do TJDFT ampliou a competência dos
Juizados Especiais Criminais para abranger o processo, o julgamento e a execução das causas decorrentes
da prática de violência doméstica e familiar tão-somente quando a vítima for do sexo feminino.
5. Conflito conhecido para declarar competente o juízo da 1ª Vara Criminal e de Delitos de Trânsito da
Circunscrição Judiciária de Planaltina/DF.
Havendo na Comarca (ou Circunscrição, no caso do DF), mais de um juiz, igualmente competentes,
a precedência da distribuição fixará a competência, conforme o art. 75 do CPP.
3.6.5.1. Conexão
a) Conceito – é o nexo, a dependência recíproca que as coisas e os fatos guardam entre si.
»concursal – duas ou mais infrações praticadas por várias pessoas em concurso. Ex: depredação
de um estádio de futebol e agressão a dirigentes promovida por torcedores integrantes de uma torcida
“organizada”.
»por reciprocidade – duas ou mais infrações, praticadas por várias pessoas, umas contra as outras.
Ex: lesões recíprocas.
»teleológica – Uma infração (ou mais) é praticada para facilitar a concretização de outra(s). Ex: A
invade o domicílio de B para aguardar sua chegada e matá-lo.
»consequencial – Uma infração (ou mais) é praticada para ocultar ou garantir a impunidade de
outra(s). Ex: A mata B, depois de estuprá-la.
III – probatória (ou instrumental) – Quando a prova de uma infração influir na prova de outra. Ex:
Receptação e o crime anterior.
a) Conceito – ocorre quando uma causa está contida na outra, não sendo possível separá-las. Cuida-se da
hipótese de um fato criminoso conter outros, tornando todos em uma unidade indivisível.
b) Classificação
»Cumulação Subjetiva- quando duas ou mais pessoas forem acusadas pela mesma infração, ou
seja, quando houver concurso de pessoas.
»Cumulação Objetiva – nos casos em que houver concurso formal de crimes (art. 70, CP), erro na
execução (art. 73, CP) ou resultado diverso do pretendido com resultado duplo (art. 74). Nesses casos, há
uma única conduta delituosa que gera pluralidade de crimes.
b) Jurisdições da mesma categoria – prevalece o foro do lugar onde houver ocorrido o crime mais grave,
com o maior número de infrações se iguais, do juízo que se tornou prevento. Ex:Uma quadrilha se reuniu em
SP, cometeu latrocínio em Brasília e furto no RJ (conexão intersubjetiva concursal) – Os processos devem
ser julgados em Brasília, pois foi onde ocorreu o crime mais grave (latrocínio).
c) jurisdições de categorias diversas – prevalece a de maior graduação. Por exemplo furto cometido por
um parlamentar em concurso com outra pessoa sem direito a prerrogativa de foro. Prevalece o foro do
parlamentar.
OBS: no caso de crime doloso contra a vida, o corréu com direito a foro especial é julgado neste juízo,
enquanto os demais pelo Tribunal do Júri, pois a norma que dispõe sobre a unidade do processo (art. 79,
CPP) não pode prevalecer sobre a competência do tribunal do júri prevista na CF.
...
...
(HC 32863/PA, Rel. Ministra LAURITA VAZ, QUINTA TURMA, julgado em 08/06/2004, DJ 02/08/2004 p. 449)
1. A norma constitucional de competência, somente excluída por outra da mesma natureza e hierarquia, afasta
a incidência da norma legal que determina a unidade de processo e julgamento em razão da continência.
2. Em caso de co-autoria em crime doloso contra a vida, o privilégio de foro ostentado por um dos agentes,
porque desembargador, não atrai para competência do Superior Tribunal de Justiça o julgamento do outro
envolvido, que deve ser julgado pelo Tribunal do Júri, seu juiz natural. Precedentes do STF e do STJ.
3. O reconhecimento da competência do Tribunal do Júri para processar e julgar a reclamante não prescinde
da prévia desconstituição da competência até então prorrogada e preventa deste Superior Tribunal de Justiça
em decorrência de anterior deferimento de quebra dos sigilos bancário e telefônico dos acusados, que não
podia ser ignorada nem pelo Ministério Público, nem pelo Juízo do primeiro grau, nos seus efeitos jurídico-
processuais.
4. Declaração de nulidade do recebimento do aditamento da denúncia pelo Juízo do primeiro grau, exclusão
da reclamante da condição de investigada no inquérito fluente neste Superior Tribunal de Justiça e de todas
as medidas probatórias jurisdicionais a ela relativas, com declinatória de competência para o Juízo do Júri.
(Rcl 2.125/CE, Rel. Ministro HAMILTON CARVALHIDO, CORTE ESPECIAL, julgado em 03/12/2008, DJe
05/02/2009)
COMPETÊNCIA. CRIME DOLOSO CONTRA A VIDA. ATRACÃO POR CONEXÃO DO CO-RÉU AO FORO
POR PRERROGATIVA DE FUNÇÃO. 1. Tendo em vista que um dos denunciados por crime doloso
contra a vida é desembargador, detentor de foro por prerrogativa de função (CF, art. 105, I, a), todos
os demais co-autores serão processados e julgados perante o Superior Tribunal de Justiça, por força
do princípio da conexão. Incidência da Súmula 704/STF. A competência do Tribunal do Júri é mitigada
pela própria Carta da República. Precedentes. 2. HC indeferido.
(HC 83583, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Segunda Turma, julgado em 20/04/2004, DJ 07-05-2004 PP-
00047 EMENT VOL-02150-02 PP-00280)
NOTA: Os precedentes que deram origem à súmula 704/STF não tratavam de crimes dolosos
contra a vida87.
OBS 2: Crimes comuns estaduais e da justiça federal – prevalece o foro da justiça federal:
STJ – SÚMULA 122 - COMPETE A JUSTIÇA FEDERAL O PROCESSO E JULGAMENTO UNIFICADO DOS
CRIMES CONEXOS DE COMPETENCIA FEDERAL E ESTADUAL, NÃO SE APLICANDO A REGRA DO
ART. 78, II, "A", DO CODIGO DE PROCESSO PENAL.
Excepcionalmente, a conexão e a continência não conduzirão à junção de processos, os quais deverão correr
separadamente.
1. Consta dos autos que os Réus realizaram fraude para obter benefício previdenciário em detrimento do
INSS, sendo as condutas tipificadas no art. 299 do Código Eleitoral e 171, § 3º, do Código Penal, verificando-
se a ocorrência da conexão.
2. Contudo, não pode permanecer a força atrativa da jurisdição especial, pois ocorreria conflito entre normas
constitucionais, o que não é possível em nosso ordenamento jurídico.
3. Na hipótese vertente, não pode persistir a unidade processual, devendo o crime do art. 299 do
Código Eleitoral ser julgado pela Justiça Eleitoral e o crime do art. 171, § 3º, do Código Penal pela
Justiça Comum Federal.
4. Conflito conhecido para declarar competente o Juízo de Direito da 309ª Zona Eleitoral de Três Marias/MG
para o crime de competência eleitoral e competente o Juízo Federal da 9ª Vara da Seção Judiciária do Estado
de Minas Gerais para o crime de competência federal.
(CC 39.357/MG, Rel. Ministra LAURITA VAZ, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em 09/06/2004, DJ 02/08/2004 p.
297)
d) Se um dos acusados for acometido por doença mental após a prática do delito (art. 152, CPP).
Mesmo que o acusado estivesse acometido por doença mental na época da prática do crime, o juiz pode
determinar a separação dos processo para que não seja prejudicada a celeridade do feito, pois o incidente
de insanidade suspende o curso da instrução (art. 149, § 2º, CPP);
e) Quando houver corréu foragido que não possa ser julgado à revelia. Atualmente não se admite o
julgamento à revelia (art. 366, CPP).
OBS: STJ – SÚMULA 235: A conexão não determina a reunião dos processos, se um deles já foi julgado.
3.6.5.5. Conexão ou Continência entre Infrações de Menor Potencial Ofensivo e Outros Crimes
»Havendo concurso material, formal ou continuado de crimes (espécies de conexão), o aumento legal deverá
ser considerado para a caracterização ou não da infração como de menor potencial ofensivo.
2. É pacífica a jurisprudência desta Corte de que, no caso de concurso de crimes, a pena considerada
para fins de fixação da competência do Juizado Especial Criminal será o resultado da soma, no caso
de concurso material, ou a exasperação, na hipótese de concurso formal ou crime continuado, das
penas máximas cominadas aos delitos; destarte, se desse somatório resultar um apenamento superior
a 02 (dois) anos, fica afastada a competência do Juizado Especial.
...
(CC 101.274/PR, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, TERCEIRA SEÇÃO, julgado em
16/02/2009, DJe 20/03/2009)
Havendo conexão ou continência entre infrações de menor potencial ofensivo e outros crimes ocorrerá a
reunião dos processos. Neste caso, ambos os delitos serão julgados no juízo comum ou no júri, conforme o
caso, onde deverão ser aplicados os institutos despenalizadores da transação penal e da composição civil de
danos, em relação à infração de menor potencial ofensivo:
...
4. Com o advento da Lei 11.313/06, fica prorrogada a competência do juízo comum ou do tribunal do
júri para aplicação dos institutos previstos na lei dos juizados especiais criminais em caso de conexão
ou continência.(20050111076163APR, Relator EDSON ALFREDO SMANIOTTO, 1ª Turma Criminal, julgado
em 22/11/2007, DJ 08/02/2008 p. 2436)
Havendo a reunião de processos em razão de conexão ou continência, o juízo do foro prevalecente continua
competente para julgar as demais infrações ainda que absolva o réu ou desclassifique a infração para outra
que não se inclua na sua competência.
a) Ao final da primeira fase do procedimento do júri (sumário de culpa ou judicium accusationis) o juiz
pode proferir 4 tipos de decisões:
»Pronúncia – o juiz reconhece a existência de um crime doloso contra a vida e que há indícios de que
o réu foi o responsável por esse delito;
»Desclassificação – o fato narrado nos autos é diverso de crime doloso contra a vida;
»Absolvição Sumária – o juiz se convence de que o acusado praticou o fato sob o abrigo de uma
excludente de ilicitude.
b) Desclassificação – o juiz do Tribunal do Júri remete os autos a outro juízo (vara criminal ou juizado
especial criminal);
c) Impronúncia (ou Absolvição Sumária) – se impronunciou o réu, que estava sendo acusado também
por outro delito conexo, o juiz deverá aguardar o trânsito em julgado da decisão de impronúncia e, após,
remeter os autos ao juízo competente.
g) Absolvição do agente pelo crime doloso contra a vida pelo Conselho de Sentença – o Conselho de
Sentença apreciará o crime conexo (Se o júri se declarou competente para julgar o crime doloso contra a
vida, julgará, igualmente, o delito conexo).
h) Homicídio doloso praticado por militar contra civil – Crime de competência do Tribunal do Júri.
Havendo desclassificação para lesão corporal, infração de competência da Justiça Militar, deverá o juiz
presidente remeter os autos relativos ao delito desclassificado para Justiça especial, somente julgando o
crime conexo.
4. Imunidades89
4.1. Conceito – é um privilégio de natureza pessoal, desfrutado por alguém em razão do cargo ou da
função exercida, bem como por conta de alguma condição ou circunstância de caráter pessoal 90.
Ex: art. 53, da CF (deputados federais e senadores); deputados estaduais e distritais (art. 27, §1º, CF
– limitada a fatos praticados ou referidos à circunscrição do Estado/DF) e vereadores (art. 29, VIII, CF –
limitada a atos praticados ou referidos à circunscrição do Município). Advogados (Art. 133, CF- Não se aplica
ao crime de calúnia). Juízes (Art. 41 LOMAN). Agentes diplomáticos, bem como os membros de sua família
e servidores da Embaixada.
OBS: Nucci, ao tratar da imunidade penal absoluta contida no art. 181, do CP, a caracteriza como
escusa absolutória, condição negativa de punibilidade, ou causa pessoal de exclusão da pena.
A partir da vigência da EC 35/2001, não mais se exige a autorização (licença) do Congresso Nacional
para o recebimento de ação penal instaurada contra quaisquer de seus membros. O que poderá ocorrer
agora, estando já recebida a denúncia, e desde que se trate de crime comum praticado após a diplomação,
O Presidente da República também goza de imunidade formal, uma vez que, na vigência de sue
mandato, não pode ser processado por atos estranhos ao exercício de suas funções, o que importa verdadeira
suspensão da ação penal até o final do mandato (art. 86, § 4º, CF), bem como a exigência de licença prévia
da Câmara dos Deputados (pelo quorum de dois terços) para o início da ação penal. Para os Governadores
dos Estados e DF, reserva-se o mesmo tratamento destinado ao Chefe do Poder Executivo da União, por
força do princípio federativo. Assim, será necessária a autorização legislativa para o processo e julgamento
da referida autoridade (STF – HC 80.511/MG, Informativo STF 209).
5. Denúncia e Queixa
5.1. Conceito - A denúncia e a queixa são peças acusatórias que dão início ao processo penal. A primeira
instrumentaliza a ação penal pública e a segunda a ação penal privada
OBS: Queixa
b) se não tiver capacidade postulatória, o querelante terá de constituir um advogado para apresentar
a queixa com poderes especiais e mencionar na procuração o fato criminoso e o nome do querelado (art. 44
CPP);
5.2. Requisitos. Além dos requisitos de qualquer petição inicial (por analogia, art. 282, CPC), deve conter
os requisitos do art. 41, CPP:
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias, a
qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a classificação do crime e,
quando necessário, o rol das testemunhas.
Na clássica lição de João Mendes Júnior, a peça acusatória deve conter “não só a ação transitiva,
como a pessoa que a praticou (quis), os meios que empregou (quibus auxiliis), o malefício que produziu (quid),
os motivos que a determinaram a isso (cur), a maneira que a praticou (quomodo), o lugar onde a praticou
(ubi), o tempo (quandu)”91.
A correta delimitação temática, ou imputação do fato criminoso, com todas as suas circunstâncias:
91 ALVES. p. 75.
b) viabiliza a própria aplicação da lei penal, na medida em que permite ao órgão jurisdicional dar ao
fato narrado na acusação a justa e adequada correspondência normativa.
Há precedentes do STJ e do TJDFT, que acolhendo a doutrina de PACELLI, faz a distinção entre
denúncia genérica e geral, aceitando esta última. Em outros chega-se a fazer confusão entre um tipo e outro.
E mais, em alguns precedentes não se faz distinção alguma, aceitando a possibilidade da denúncia genérica
em determinados casos.
A peça acusatória atende, num exame inicial, os requisitos do artigo 41 do Código de Processo Penal,
ensejando o exercício do contraditório e da ampla defesa.
Não se pode confundir denúncia genérica com geral, esta última a que atribui a mesma conduta a
alguns dos denunciados, quando impossível a delimitação dos atos praticados pelos envolvidos,
isoladamente.
Em crimes praticados em co-autoria, não se podendo desde logo particularizar as condutas de cada
um dos agentes, é possível se admitir inicialmente a denúncia genérica, para que no curso da
instrução os fatos sejam esclarecidos.
Para o trancamento da ação penal, medida de exceção, deve restar manifesta, em juízo de cognição sumária
e sem a necessidade de exame valorativo, a ilegalidade descrita na impetração, não apenas possível ou
remotamente provável ilegalidade. Ordem denegada.
1. A denúncia formalmente correta e capaz de ensejar o efetivo exercício da ampla defesa deve individualizar
os atos praticados pelos denunciados e que contribuíram para o resultado criminoso.
2. O simples fato de uma pessoa pertencer à diretoria de uma empresa, por si só, não significa que ela deva
ser responsabilizada pelo crime ali praticado, sob pena de consagração da responsabilidade penal objetiva,
repudiada pelo nosso direito penal.
Precedentes.
3. É possível atribuir a todos os denunciados a prática de uma mesma conduta (denúncia geral), desde
que todos tenham dela participado, porém, é inadmissível a imputação de vários fatos a um acusado
sem demonstrar, nem sequer em tese, sua contribuição (ação ou omissão) para seu resultado, pois
neste caso não se tem uma denúncia geral, mas genérica.
4. Por outro lado, como a denúncia se limitou a afirmar ser o acusado (ora paciente) o “titular” da pessoa
jurídica alvo das negociações fraudulentas, sem, contudo, pormenorizar sua conduta, restou inexistente a
demonstração de sua correlação com os crimes que lhe foram atribuídos.
5. Ordem concedida para declarar a inépcia da denúncia oferecida contra o paciente, bem como a nulidade
dos atos que sucederam seu recebimento.
(HC 117.306/CE, Rel. Ministra JANE SILVA (DESEMBARGADORA CONVOCADA DO TJ/MG), SEXTA
TURMA, julgado em 03/02/2009, DJe 16/02/2009)
1. O trancamento da Ação Penal por inépcia da denúncia só pode ser acolhido quando sua deficiência
impedir a compreensão da acusação e, conseqüentemente, a defesa dos réus, o que não se verifica na
hipótese dos autos, pois a inicial contém a exposição clara dos fatos tidos como delituosos (causar poluição
atmosférica, com danos à saúde da população e poluição por lançamento de resíduos gasosos), a
qualificação dos acusados e a classificação dos crimes, de maneira a permitir a articulação defensiva.
2. Admite-se a denúncia genérica, em casos de crimes com vários agentes e condutas ou que, por
sua própria natureza, devem ser praticados em concurso, quando não se puder, de pronto,
pormenorizar as ações de cada um dos envolvidos, sob pena de inviabilizar a acusação, desde que os
fatos sejam delineados de forma clara, para permitir o amplo exercício do direito de defesa.
Precedentes do STJ.
5. Ordem denegada.
(HC 119.872/RJ, Rel. Ministro NAPOLEÃO NUNES MAIA FILHO, QUINTA TURMA, julgado em 14/05/2009,
DJe 15/06/2009)
I - A peça acusatória deve conter a exposição do fato delituoso em toda a sua essência e com todas as suas
circunstâncias. (HC 73.271/SP, Primeira Turma, Rel. Min. Celso de Mello, DJU de 04/09/1996). Denúncias
genéricas, que não descrevem os fatos na sua devida conformação, não se coadunam com os postulados
básicos do Estado de Direito. (HC 86.000/PE, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJU de 02/02/2007).
A inépcia da denúncia caracteriza situação configuradora de desrespeito estatal ao postulado do devido
processo legal.
II - A despeito de não se exigir a descrição pormenorizada da conduta do agente no crimes societários, isso
não significa que o Parquet possa deixar de estabelecer qualquer vínculo entre o denunciado e o fato a ele
imputado.
III - A simples constatação de figurar o paciente, à época dos fatos, como representante legal da sociedade
empresária não autoriza a persecutio criminis in iudicio por crimes praticados em sua gestão se não restar
comprovado, ainda que com elementos a serem aprofundados no decorrer da instrução criminal, o mínimo
vínculo entre o fato e as sua atuação na qualidade de representante legal da sociedade empresária
(Precedentes desta Corte e do Pretório Excelso).
IV - A denúncia que não descreve de modo adequado e suficiente a conduta de cada um dos denunciados,
sem que com isso se exija a descrição de minúcias, viola os princípios do devido processo legal (CF, art. 5º,
LIV), da ampla defesa, do contraditório (CF, art. 5º, LV) e da dignidade da pessoa humana (CF, art. 1º, III)
(STF: HC 89.105-5/SP, Segunda Turma, Rel. Min. Gilmar Mendes, DJU de 06/11/2006).
V - A denúncia genérica acaba por inverter o ônus da prova, pois a partir da inobservância por parte
do órgão acusador do ônus da descrição mínima da conduta imputada na exordial com a
demonstração da potencial participação do denunciado nos fatos narrados, em última análise
implicaria na incumbência do denunciado em demonstrar a sua não participação nos fatos (STJ: HC
34.364/MG, 6ª Turma, Rel. Min. Hamilton Carvalhido, DJU de 11/09/2006).
VI - Carece totalmente de amparo jurídico, em nosso sistema processual penal, a denominada prescrição
antecipada ou virtual da pena, que tem como referencial condenação hipotética (Precedentes).
(HC 127.903/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, julgado em 05/05/2009, DJe 22/06/2009)
1 - Reconhecida a ausência de intimação das partes e de seus advogados para a sessão de julgamento de
recebimento ou não da denúncia, impõe-se o acolhimento dos embargos declaratórios e a cassação do aresto
embargado.
2 - Intimadas as partes quanto à sessão de julgamento dos embargos de declaração, com a advertência de
que na mesma sessão poderia ser procedido, desde logo, novo julgamento, nada obsta que este seja aviado.
3 - A tipificação do crime de coação no curso do processo (art. 344 do CP) requer a presença de pelo menos
uma das elementares da "violência" ou "grave ameaça", sem o que o fato não constitui o delito em questão.
4 - A narrativa do fato criminoso com todas as suas circunstâncias (art. 41 do CPP) constitui requisito
da peça de acusação, porquanto é direito inafastável do réu conhecer detalhadamente a acusação que
pesa contra si, dado que a denúncia genérica cerceia o direito de defesa do acusado e agride os
princípio constitucionais do contraditório e da ampla defesa, sendo inepta a denúncia que não
descreve claramente a conduta supostamente delituoso, nem esclarece as circunstâncias em que teria
sido perpetrada.
5 - Denúncia não recebida em face de sua inépcia, decorrente da ausência de narrativa do fato
criminoso com todas as suas circunstâncias, notadamente quanto às elementares da "violência ou
grave ameaça".(20000020058479INQ, Relator VASQUEZ CRUXÊN, Conselho Especial, julgado em
16/05/2006, DJ 06/11/2006 p. 70)
5.3. Aditamento
Pode ocorrer tanto para fins de inclusão de co-autores ou partícipes quanto para a inclusão de fatos
novos, desde que oportuno e conveniente.
OBS: Mutatio Libelli – Ocorre quando, encerrada a instrução probatória, o juiz entender cabível nova
definição jurídica do fato, em consequência de prova existente nos autos de elemento ou circunstância da
infração penal não contida na acusação (Art. 384, CPP). Nessa hipótese o juiz baixará o processo a fim de
que o MP possa aditar a denúncia ou queixa, no prazo de 5 dias, reduzindo-se a termo o aditamento, quando
feito oralmente. Após, será ouvida a defesa.
Predomina o entendimento, na doutrina, segundo o qual, a despeito da redação do art. 569 do CPP,
o querelante só pode fazer o aditamento da queixa, para acrescentar alguma circunstância majorante ou
mesmo outro agente (até então desconhecido), dentro do prazo decadencial. O STJ tem entendimento de
que, ajuizada no prazo legal, o aditamento da queixa pode ocorrer mesmo em data posterior à decadência.
Na ação penal exclusivamente privada, o MP poderá aditar a queixa para incluir novas circunstâncias, bem
como incluir outros agentes involuntariamente esquecidos pela vítima (Princípio da Indivisibilidade). Caso o
ofendido não tenha incluído o agente de forma proposital, será o caso de o MP pleitear a declaração da
extinção da punibilidade (renúncia tácita) (Nucci e Mirabete). Parte da doutrina (Capez e Marcellus Pollastri)
defende a impossibilidade de o membro do MP aditar a queixa para incluir outro agente, ainda que
involuntariamente esquecido pelo querelante. Sustentam que, nesse caso, o aditamento deve ser feito pelo
próprio querelante, devendo o Parquet tão somente provocá-lo para isso, sob pena de renúncia e de estar
extinta a punibilidade. Assim, se o querelante não inclui o outro sujeito de forma proposital, deve o órgão
ministerial opinar pelo não recebimento da queixa-crime, em virtude de estar extinta a punibilidade (a renúncia
concedida a um dos agentes do crime se estende aos demais); se a não inclusão se deu involuntariamente,
o MP apenas deve provocar o aditamento da peça acusatória pelo querelante 92.
Na ação penal privada personalíssima, o MP intervém em todos os atos processuais, mas não pode
aditar a queixa.
Na ação penal privada subsidiária da pública, o MP, além de intervir como custos legis, pode aditar a
queixa, repudiá-la ou oferecer denúncia substitutiva.
5.4. Prazos:
a) Denúncia – 15 dias se o réu estiver solto e 5 dias, se preso – Art. 46, CPP.
»Abuso de autoridade – 48 horas após o recebimento da representação (Art. 13, Lei 4.898/1965);
b) Queixa – 6 meses, contados do momento em que o ofendido soube quem é o autor do crime (art.
38, CPP).
5.5. Capitulação
O acusado se defende dos fatos, e não da classificação que faz dele o órgão da acusação. Todavia
o CPP inclui entre os requisitos da denúncia ou queixa a classificação do crime. Tal exigência visa atender:
b) ampla defesa: vedar acusações não lastreadas em convencimento explícito quanto ao direito a ser
aplicado e permitir ao acusado o conhecimento, o mais completo possível, da pretensão punitiva contra ele
instaurada (ainda que inadequada ou incorreta a capitulação).
5.6. Rejeição
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Inépcia – não satisfação das exigências legais apontadas no art. 41 do CPP. Inepta é a acusação
que diminui o exercício da ampla defesa, seja pela insuficiência na descrição dos fatos, seja pela ausência
de identificação precisa de seus autores.
Pressupostos Processuais:
objetivos: citação válida, observância das exigências legais atinentes aos requisitos da denúncia ou
queixa, inexistência de coisa julgada e ausência de litispendência.
Justa Causa – lastro mínimo de prova a demonstrar a viabilidade da pretensão deduzida na denúncia
ou queixa.
5.7. Recurso
b) Recebimento – Não cabe recurso. Dependendo da situação, pode ser impetrado Habeas Corpus.
6. Desaforamento
Art. 427. Se o interesse da ordem pública o reclamar ou houver dúvida sobre a imparcialidade do júri ou
a segurança pessoal do acusado, o Tribunal, a requerimento do Ministério Público, do assistente, do
querelante ou do acusado ou mediante representação do juiz competente, poderá determinar o
desaforamento do julgamento para outra comarca da mesma região, onde não existam aqueles motivos,
preferindo-se as mais próximas.
§ 3o Será ouvido o juiz presidente, quando a medida não tiver sido por ele solicitada
Art. 428. O desaforamento também poderá ser determinado, em razão do comprovado excesso de
serviço, ouvidos o juiz presidente e a parte contrária, se o julgamento não puder ser realizado no prazo de 6
(seis) meses, contado do trânsito em julgado da decisão de pronúncia.
§ 1o Para a contagem do prazo referido neste artigo, não se computará o tempo de adiamentos, diligências
ou incidentes de interesse da defesa.
(HC 96785, Relator(a): Min. EROS GRAU, Segunda Turma, julgado em 25/11/2008, DJe-094 DIVULG 21-
05-2009 PUBLIC 22-05-2009 EMENT VOL-02361-04 PP-00792)
PROCESSUAL PENAL. DESAFORAMENTO DO JÚRI POPULAR. ALEGAÇÃO DE DÚVIDA ACERCA DA
IMPARCIALIDADE DOS JURADOS. AUSENCIA DE PROVAS.
O pedido de desaforamento é medida excepcional que só pode ser concedido diante da prova inequívoca dos
pressupostos taxativamente enumerados no artigo 427 do Código de Processo Penal. A dúvida sobre a
imparcialidade dos membros do Júri deve resultar de fatos efetivamente comprovados ou de outros
elementos de convicção capazes de acarretar tal presunção. Na avaliação de tais circunstâncias as
informações do Juiz Presidente do Júri assumem importância fundamental para sentir e dizer com
isenção da conveniência da medida, que só excepcionalmente é admitida, não se podendo apoiar em
meras alegações ou conjecturas sem suporte probatório idôneo. Pedido de desaforamento
indeferido.(20090020031622DES, Relator GEORGE LOPES LEITE, Câmara Criminal, julgado em
15/06/2009, DJ 03/07/2009 p. 35)
- Para o deferimento do pedido de Desaforamento, necessário que esteja caracterizada ao menos uma das
hipóteses do artigo 424 do CPP.
- Embora o artigo 424 do CPP estabeleça que o Julgamento deva ser realizado na Comarca mais
próxima, in casu, apropriado o desaforamento para a Circunscrição Judiciária de Brasília, a qual conta
com melhor estrutura para garantir que o Julgamento ocorra de acordo com as normas legais,
podendo o Corpo de Jurados atuar com absoluta isenção, assegurando o objetivo maior da realização
imparcial da Justiça, finalidade última do processo.
Informativo 492/STJ
A Turma decidiu que, em caso de desaforamento fundado na dúvida de imparcialidade do corpo de jurados
(art. 427 do CPP), o foro competente para a realização do júri deve ser aquele em que esse risco não
exista. Assim, o deslocamento da competência nesses casos não é geograficamente limitado às comarcas
mais próximas, que são preferíveis às mais distantes. De fato, o desaforamento deve garantir a necessária
imparcialidade do conselho de sentença. Na hipótese, o paciente tem grande influência política na região do
distrito da culpa e é acusado de ser integrante de organização criminosa atuante em várias comarcas do
estado. Nesse contexto, o Min. Relator não enxergou ilegalidade no desaforamento requerido pelo juiz de
primeiro grau, que resultou no deslocamento do feito para a capital do estado. Asseverou, ainda, com base
na doutrina e jurisprudência, que no desaforamento é de enorme relevância a opinião do magistrado que
preside a causa por estar mais próximo da comunidade da qual será formado o corpo de jurados e, por
conseguinte, tem maior aptidão para reconhecer as hipóteses elencadas no art. 427 do CPP. Precedentes
citados: HC 43.888-PR, DJe 20/10/2008; HC 34.574-RJ, DJ 5/11/2007, e HC 134.314-PI, DJe 2/8/2010. HC
219.739-RJ, Rel. Min. Jorge Mussi, julgado em 6/3/2012.
Tratando-se de crime doloso contra a vida de competência da justiça estadual, veda-se o
desaforamento para outro Estado, pois o deslocamento deve se dar para a Comarca mais próxima e sobe a
qual o Tribunal de Justiça exerça jurisdição. No tocante a júri federal é possível o desaforamento para outro
Estado.
1 – Ato administrativo
Atos administrativos: conceito, requisitos, atributos, classificação, espécies. Invalidação dos atos
administrativos.
José dos Santos Carvalho Filho traz conceito semelhante ao abordado acima:
“é a exteriorização da vontade de agentes da Administração Pública ou de
seus delegatários, nesse condição, que, sob o regime de direito público, vise
à produção de efeitos jurídicos, com o fim de atender ao interesse público”.
OBS: Sobre delegação e avocação: “Para evitar distorções no sistema regular dos atos administrativos, é
preciso não perder de vista que tanto a delegação como a avocação devem ser consideradas como figuras
excepcionais, só justificáveis ante os pressupostos que a lei estabelecer. Na verdade, é inegável reconhecer
que ambas subtraem de agentes administrativos funções normais que lhes foram atribuídas. Por esse motivo,
é inválida qualquer delegação ou avocação que, de alguma forma ou por via oblíqua, objetive a supressão
das atribuições do círculo de competência dos administradores públicos” (José dos Santos Carvalho).
-Há ainda a classificação em atos ablatórios ou ablativos, que são aqueles que restringem direitos do
administrado. Ex.: cassação de licença, revogação de ato administrativo, rescisão de contrato administrativo,
declaração de nulidade de ato administrativo.
a) revogação
b) invalidação
c) cassação (forma de retirada do ato
administrativo válido, expedido validamente,
Os eficazes como punição ao destinatário que passou a
extinguem- se comportar de maneira a violar as normas).
se pelo:
2) retirada do ato em d) caducidade (em Dir. Adm., tem 3
razão da prática de outro significados – em matéria de desapropriação,
ato (as formas de de ato adm. e de contrato de concessão. No
retirada dependem da pertinente à caducidade do ato administrativo
manifestação de , é a forma de retirada que se dá porque
vontade da legislação nova impede a permanência da
Administração) situação – ex: autorização para estacionar
veículo em bem público, se o bem é afetado
para construir hospital, não há como subsistir
– obs: o ato adm. tem que ser precário para
admitir extinção por caducidade).
e) contraposição ou derrubada (forma de
retirada que se dá com a expedição de ato
posterior que se contrapõe ao 1º. É residual,
ou seja, será todo caso que não se inclua nos
outros).
4) renúncia (assim como a recusa, depende de manifestação do
Extinção dos particular destinatário do ato. Na renúncia, como é forma de extinção de
atos ato adm. eficazes, ocorre quando o particular abre mão de situação que
administrativos já gozava frente à Administração).
- É a extinção, com efeitos ex nunc (futuro) do ato administrativo válido ou de seu efeitos
válidos, por outro ato administrativo, por ter se tornado inconveniente ou inoportuno.
Limites ao poder de revogar: 1) pode ser irrevogável, se a lei assim estabelecer; 2) atos que
exauriram seus efeitos não podem ser revogados, por pura inutilidade, já que são ex nunc;
3) atos vinculados não podem, já que não cabe juízo de conveniência ou oportunidade (obs:
Revogação já dissemos que o STF admite revogação de licença para construir antes de começada a
obra, o que gera uma exceção à regra) 4) atos enunciativos também não podem ser
revogados, já que os efeitos deles decorrem de lei e não da vontade da administração (ex:
uma certidão de que eu trabalhei na Adm. por “x” anos não pode ser revogada depois); 5)
atos isolados de um procedimento administrativo (ou revoga todo o procedimento ou não
revoga nada, já que são atos que precluem); 6) atos que produziram direitos adquiridos não
podem ser revogados.
Dever de indenizar: existe se houver prejuízo.
Convalidação: Corresponde à expedição de outro ato corrigindo os vícios sanáveis, com efeitos retroativos.
Não há convalidação tácita. Quais os vícios do ato sanáveis? Os de forma e de competência. Mas nem
sempre. Os de competência só podem ser convalidados quando ela poderia ser delegada (para saber isso, é
só ver quando cabe delegação – art. 13, L. 9784/99). Já quanto aos vícios de forma, podem ser convalidados
quando não interfiram na essência do ato.
Espécies de convalidação: ratificação (correção do vício pela mesma autoridade) e confirmação (correção
do vício por autoridade distinta).
Competência para convalidar: A pergunta que se costuma fazer é: só a Administração tem competência
para convalidar ou o Judiciário também pode? Para responder, deve-se, preliminarmente, saber se a
convalidação é ato vinculado ou discricionário. A Lei 9784 parece indicar que a convalidação é ato
discricionário, pois o art. 55 traz as expressões “poderão” e “pela própria Administração”, mas os autores
(sobretudo Weida Zancaner e Celso Antônio) interpretam que “quando a Administração pode convalidar, na
verdade deve convalidar”. Portanto, de regra, a convalidação é ato vinculado, podendo o prejudicado acionar
o Judiciário quando a Adm. não convalidar ato que “poderia” (deveria) convalidar.
A regra é a natureza vinculada da convalidação, podendo o Judiciário convalidar ato que deveria ter sido
convalidado pela Adm., excepcionando a situação de ato discricionário
praticado por agente incompetente, quando a convalidação é ato discricionário.
Efeitos da convalidação: são ex tunc, já que o objetivo é que o ato que padece de vício sanável tenha seus
efeitos preservados. Retroage à data da expedição do ato.
Limites da convalidação: Os limites são: 1) impugnação do ato; 2) decurso do tempo. No 1º caso, ocorre
quando 3º prejudicado impugna o ato. No 2º caso, ocorre quando a Adm. não pode mais anular o ato (regra
do prazo para anular: 5 anos – art. 54, Lei 9784). Ora, se se passou o prazo para anular, não há mais interesse
em convalidar, pois seria inócuo o ato de convalidação.
Já se falou acerca da diferença entre motivo e motivação. A motivação, como se viu, é a explicitação dos
motivos. Prevalece que só os atos previstos no art. 50, da Lei 9784/99, necessitam ser motivados. Então, se
o ato não se encontra previsto no art. 50, da referida lei, não necessita ser motivado.
Art. 50. Os atos administrativos deverão ser motivados, com indicação dos fatos e dos
fundamentos jurídicos, quando: I - neguem, limitem ou afetem direitos ou interesses;
II - imponham ou agravem deveres, encargos ou sanções; III - decidam processos
administrativos de concurso ou seleção pública; IV - dispensem ou declarem a
inexigibilidade de processo licitatório; V - decidam recursos administrativos; VI -
decorram de reexame de ofício; VII - deixem de aplicar jurisprudência firmada sobre a
questão ou discrepem de pareceres, laudos, propostas e relatórios oficiais; VIII -
importem anulação, revogação, suspensão ou convalidação de ato administrativo.
Digamos, porém, que ato fora do rol do art. 50 seja motivado. Nesse caso, a Adm. ficará vinculada à existência
e veracidade do motivo explicitado. Portanto, sendo falso ou inexistente o motivo, o ato será nulo.
Nisto consiste a teoria dos motivos determinantes: desenvolvida no direito francês, baseia-se no princípio de
que o motivo do ato administrativo deve sempre guardar compatibilidade com a situação de fato que gerou a
manifestação da vontade. Segundo Carvalho Santos, a aplicação mais importante desse princípio incide sobre
os atos discricionários, por possuir uma maior amplitude de ação.
LICITAÇÃO
CONCEITO:
É o procedimento administrativo pelo qual uma pessoa governamental, pretendendo alienar, adquirir
ou locar bens, realizar obras ou serviços, outorgar concessões, permissões de obra, serviço ou de uso
exclusivo de bem público, segundo condições por ela estipuladas previamente, convoca interessados na
apresentação de propostas, a fim de selecionar a que se revele mais conveniente em função de parâmetros
antecipadamente estabelecidos e divulgados (Celso Antônio Bandeira de Mello).
A licitação visa alcançar duplo objetivo:
(1) proporcionar às entidades governamentais possibilidades de realizarem o negócio mais
vantajoso (pois a instauração de competição entre os ofertantes preordena-se a isto); e,
(2) assegurar aos administrados ensejo de disputarem a participação nos negócios que as pessoas
governamentais pretendam realizar com os particulares.
Para Maria Sylvia Di Pietro, licitação é o procedimento administrativo pelo qual um ente público,
no exercício da função administrativa, abre a todos os interessados, que se sujeitem às condições fixadas no
instrumento convocatório, a possibilidade de formularem propostas dentre as quais selecionará e aceitará a
mais conveniente para a celebração do contrato.
No direito administrativo a licitação eqüivale a uma oferta dirigida a uma coletividade de pessoas
que preencham os requisitos legais e regulamentares constantes do edital; dentre estas, algumas
apresentarão suas propostas, que eqüivalerão a uma aceitação da oferta de condições por parte da
Administração; a esta cabe escolher a que seja mais conveniente para resguardar o interesse público, dentro
dos requisitos fixados no ato convocatório.
LEGISLAÇÃO SOBRE LICITAÇÃO:
A competência para legislar sobre licitação assiste às quatro ordens de pessoas jurídicas de
capacidade política, isto é: União, Estados, Municípios e Distrito Federal. Entretanto, compete a União editar
“normas gerais” sobre o assunto, conforme prescreve o art. 22, XXVII, da CF.
Na órbita federal, a matéria é regida pela Lei n.º 8.666/93, com as alterações das Leis nº
8.883/94, 9.032/95, 9.648/98, 10973/04, 11079/04 e 11.107/05.
Maria Sylvia Zanella Di Pietro entende que o art. 1º da Lei nº 8.666/93 é inconstitucional, porque
nada deixa para que Estados e Municípios legislarem em matéria de licitação e contrato administrativo (Direito
Administrativo, Atlas, 2004, 17ª ed. p. 302).
Exceções ao âmbito de abrangência da Lei n.º 8.666/93:
a) As licitações relativas a telecomunicações foram colocadas sob a forma de regime próprio pela Lei n.º
9.472/97 que criou a autarquia Agência Nacional de Telecomunicações (ANATEL), salvo na contratação de
obras e serviços de engenharia civil (art. 54, parágrafo único), em que ficou submetida à Lei n.º 8.666/93. Nos
outros casos, a Agência poderá utilizar procedimentos próprios de contratação nas modalidades de consulta
e pregão, os quais serão disciplinados pela própria Agência.
Celso Antonio Bandeira de Mello considera inconstitucionais estas liberações para que as licitações
sejam disciplinadas por regulamentos, porque a licitação é uma aplicação concreta do princípio da igualdade,
o qual, na Constituição, está encartado como um dos direitos e garantias fundamentais. Por força disto, os
cidadãos têm o direito de participar de uma licitação segundo regras estabelecidas por lei.
b) as concessões das atividades de exploração, desenvolvimento e produção de petróleo e de gás natural
serão precedidas de licitação na forma estabelecida na lei da Agência Nacional de Petróleo (ANP). Para Celso
Antonio também incide as inconstitucionalidades acima apontadas.
c) os serviços de radiofusão e de sons e imagens, a teor do artigo 211, da Lei 9.472/97, terão sua outorga
excluída da jurisdição da Agência, permanecendo no âmbito de competências do Executivo.
FINALIDADES:
Duas as finalidades primordiais da licitação:
1º ) a licitação visa proporcionar às pessoas a ela submetidas a obtenção da proposta mais
vantajosa (a que melhor atende os interesse da entidade licitante);
2º ) dar igual oportunidade aos que desejam contratar com essas pessoas.
A primeira finalidade pode ser frustada por vício jurídico ou insatisfação das propostas. É a
licitação fracassada. Em outras oportunidades não ocorre nenhum interessado. Chama-se de licitação
deserta. Na fracassada deve repetir-se o procedimento. Na deserta a Administração pode contratar com quem
se interesse, ou repetir o procedimento (LL, art. 24, V).
PRINCÍPIOS DA LICITAÇÃO:
A Lei 8.666/93, no art. 3º, dispõe que as licitações serão processadas e julgadas na conformidade
dos seguintes princípios: da legalidade, da impessoalidade, da publicidade, da moralidade administrativa, da
vinculação ao instrumento convocatório, do julgamento objetivo, da adjudicação compulsória e o da ampla
defesa.
Princípio da Legalidade: encontra-se no artigo 4º, da Lei, segundo o qual: “Todos quantos
participem da licitação promovida pelos órgãos ou entidades a que se refere o art. 1º têm direito público
subjetivo à fiel observância do pertinente procedimento estabelecido nesta Lei, podendo qualquer cidadão
acompanhar o seu desenvolvimento, desde que não interfira de modo a perturbar ou impedir a realização dos
trabalhos”. Em rigor, podem alegar tal direito não apenas “todos quantos participem da licitação”, mas todos
quantos queiram dela participar e aos quais seja indevidamente negado acesso, por violação dos princípios
e normas que devem presidi-la.
A licitação constitui um procedimento inteiramente vinculado à lei; todas as suas fases estão
rigorosamente disciplinadas na Lei n° 8.666/93.
Princípio da Impessoalidade: encarece a proscrição de quaisquer favoritismos ou
discriminações impertinentes, sublinhando o dever de que, no procedimento licitatório, sejam todos os
licitantes tratados com absoluta neutralidade. Tal princípio não é senão uma forma de designar o princípio da
igualdade de todos perante a administração, devendo a Administração, em suas decisões, pautar-se por
critérios objetivos, sem levar em consideração as condições pessoais do licitante ou as vantagens por ele
oferecidas, salvo as expressamente previstas na lei ou no instrumento convocatório.
Princípio da Igualdade ou da Isonomia: implica o dever não apenas de tratar isonomicamente
todos os que afluírem ao certame, mas também o de ensejar oportunidade de disputá-lo a quaisquer
interessados que, desejando dele participar, podem oferecer as indispensáveis condições de garantia (art.
37, XXI, CF).
No § 1º do art. 3° da Lei 8666/93 está implícito outro princípio da licitação que é o princípio da
competitividade, decorrente do princípio da isonomia, que proíbe que o ato convocatório do certame admita,
preveja, inclua ou tolere cláusulas ou condições capazes de frustrar ou restringir o caráter competitivo do
procedimento licitatório e veda o estabelecimento de preferências ou distinções em razão da naturalidade,
sede ou domicílio dos licitantes, bem como entre empresas brasileiras ou estrangeiras, ou de qualquer outra
circunstância impertinente ou irrelevante para o objeto do contrato.
Estes princípios comportam exceções como a prevista no § 2º do mesmo art. 3º, que estabelece
a preferência, como critério de desempate, aos bens e serviços: (I) produzidos ou prestados por empresas
brasileiras de capital nacional; (II) produzidos no Brasil; e (III) produzidos ou prestados por empresas
brasileiras. O inciso I não tem mais aplicação, porque o conceito de empresa brasileira de capital nacional
desapareceu com a revogação do artigo 171 da Constituição pela Emenda Constitucional n.º 6/95 (inciso I foi
revogado por MP de 2010).
A Lei nº 12.349/2010 acrescentou os §§ 5º a 13 ao art. 3º, basicamente abrindo a possibilidade
de estabelecimento de “margem de preferência para produtos manufaturados e para serviços nacionais que
atendam a normas técnicas brasileiras”, que leve em consideração: I - geração de emprego e renda; II - efeito
na arrecadação de tributos federais, estaduais e municipais; III - desenvolvimento e inovação tecnológica
realizados no País; V - custo adicional dos produtos e serviços; e V - em suas revisões, análise retrospectiva
de resultados.
A margem de preferência, que é extensível aos membros do Mercosul (§10), não pode
ultrapassar o montante de 25% dobre o preço dos produtos manufaturados e serviços estrangeiros (§8º).
Outra novidade é a possibilidade de exigência de medidas de compensação comercial,
industrial, tecnológica ou acesso a condições vantajosas de financiamento (§11), bem como a viabilidade de,
nas licitações que envolvam sistemas de tecnologia de informação, restingi-la aos bens e serviços com
tecnologia desenvolvida no País (§12).
Por fim, determina o §13 que “será divulgada na internet, a cada exercício financeiro, a relação
de empresas favorecidas em decorrência do disposto nos §§ 5o, 7o, 10, 11 e 12 deste artigo, com indicação
do volume de recursos destinados a cada uma delas”.
A LC 147/2014 acrescentou os § 14 e 15. O primeiro determina que “as preferências definidas
neste artigo e demais normas de licitação e contrato devem privilegiar o tratamento diferenciado e favorecido
às microempresas e empresas de pequeno porte na forma da lei”. “§ 15: As preferencias dispostas neste
artigo prevalecem sobre as demais prefencias estabelecidas na legislação quanto estas forem aplicadas sobre
produtos ou serviços estrangeiros”.93
II - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea "a", do inciso
II do artigo anterior e para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de
um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; (Redação
dada pela Lei nº 9.648, de 1998)
V - quando não acudirem interessados à licitação anterior e esta, justificadamente, não puder ser repetida
sem prejuízo para a Administração, mantidas, neste caso, todas as condições preestabelecidas;
VI - quando a União tiver que intervir no domínio econômico para regular preços ou normalizar o
abastecimento;
VII - quando as propostas apresentadas consignarem preços manifestamente superiores aos praticados no
mercado nacional, ou forem incompatíveis com os fixados pelos órgãos oficiais competentes, casos em que,
observado o parágrafo único do art. 48 desta Lei e, persistindo a situação, será admitida a adjudicação direta
dos bens ou serviços, por valor não superior ao constante do registro de preços, ou dos serviços;
VIII - para a aquisição, por pessoa jurídica de direito público interno, de bens produzidos ou serviços prestados
por órgão ou entidade que integre a Administração Pública e que tenha sido criado para esse fim específico
em data anterior à vigência desta Lei, desde que o preço contratado seja compatível com o praticado no
mercado; (Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
X - para a compra ou locação de imóvel destinado ao atendimento das finalidades precípuas da administração,
cujas necessidades de instalação e localização condicionem a sua escolha, desde que o preço seja
compatível com o valor de mercado, segundo avaliação prévia;(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
XI - na contratação de remanescente de obra, serviço ou fornecimento, em conseqüência de rescisão
contratual, desde que atendida a ordem de classificação da licitação anterior e aceitas as mesmas condições
oferecidas pelo licitante vencedor, inclusive quanto ao preço, devidamente corrigido;
XII - nas compras de hortifrutigranjeiros, pão e outros gêneros perecíveis, no tempo necessário para a
realização dos processos licitatórios correspondentes, realizadas diretamente com base no preço do dia;
(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
XIV - para a aquisição de bens ou serviços nos termos de acordo internacional específico aprovado pelo
Congresso Nacional, quando as condições ofertadas forem manifestamente vantajosas para o Poder Público;
(Redação dada pela Lei nº 8.883, de 1994)
XV - para a aquisição ou restauração de obras de arte e objetos históricos, de autenticidade certificada, desde
que compatíveis ou inerentes às finalidades do órgão ou entidade.
XVI - para a impressão dos diários oficiais, de formulários padronizados de uso da administração, e de edições
técnicas oficiais, bem como para prestação de serviços de informática a pessoa jurídica de direito público
interno, por órgãos ou entidades que integrem a Administração Pública, criados para esse fim
específico;(Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
XVIII - nas compras ou contratações de serviços para o abastecimento de navios, embarcações, unidades
aéreas ou tropas e seus meios de deslocamento quando em estada eventual de curta duração em portos,
aeroportos ou localidades diferentes de suas sedes, por motivo de movimentação operacional ou de
adestramento, quando a exiguidade dos prazos legais puder comprometer a normalidade e os propósitos das
operações e desde que seu valor não exceda ao limite previsto na alínea "a" do inciso II do art. 23 desta Lei:
(Incluído pela Lei nº 8.883, de 1994)
XIX - para as compras de material de uso pelas Forças Armadas, com exceção de materiais de uso pessoal
e administrativo, quando houver necessidade de manter a padronização requerida pela estrutura de apoio
logístico dos meios navais, aéreos e terrestres, mediante parecer de comissão instituída por decreto; (Incluído
pela Lei nº 8.883, de 1994)
XXI - Para a aquisição de bens destinados exclusivamente a pesquisa científica e tecnológica com recursos
concedidos pela CAPES, FINEP, CNPq ou outras instituições de fomento a pesquisa credenciadas pelo CNPq
para esse fim específico. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)
XXII - na contratação de fornecimento ou suprimento de energia elétrica e gás natural com concessionário,
permissionário ou autorizado, segundo as normas da legislação específica; (Incluído pela Lei nº 9.648, de
1998)
XXIII - na contratação realizada por empresa pública ou sociedade de economia mista com suas subsidiárias
e controladas, para a aquisição ou alienação de bens, prestação ou obtenção de serviços, desde que o preço
contratado seja compatível com o praticado no mercado. (Incluído pela Lei nº 9.648, de 1998)
XXIV - para a celebração de contratos de prestação de serviços com as organizações sociais, qualificadas no
âmbito das respectivas esferas de governo, para atividades contempladas no contrato de gestão. (Incluído
pela Lei nº 9.648, de 1998)
XXV - na contratação realizada por Instituição Científica e Tecnológica - ICT ou por agência de fomento
para a transferência de tecnologia e para o licenciamento de direito de uso ou de exploração de criação
protegida. (Incluído pela Lei nº 10.973, de 2004)
XXVI – na celebração de contrato de programa com ente da Federação ou com entidade de sua
administração indireta, para a prestação de serviços públicos de forma associada nos termos do autorizado
em contrato de consórcio público ou em convênio de cooperação. (Incluído pela Lei nº 11.107, de 2005)
XXVIII – para o fornecimento de bens e serviços, produzidos ou prestados no País, que envolvam,
cumulativamente, alta complexidade tecnológica e defesa nacional, mediante parecer de comissão
especialmente designada pela autoridade máxima do órgão. (Incluído pela Lei nº 11.484, de 2007).
XXIX – na aquisição de bens e contratação de serviços para atender aos contingentes militares das
Forças Singulares brasileiras empregadas em operações de paz no exterior, necessariamente justificadas
quanto ao preço e à escolha do fornecedor ou executante e ratificadas pelo Comandante da Força. (Incluído
pela Lei nº 11.783, de 2008).
XXX - na contratação de instituição ou organização, pública ou privada, com ou sem fins lucrativos,
para a prestação de serviços de assistência técnica e extensão rural no âmbito do Programa Nacional de
Assistência Técnica e Extensão Rural na Agricultura Familiar e na Reforma Agrária, instituído por lei
federal. (Incluído pela Lei nº 12.188, de 2.010) Vigência
XXXI - nas contratações visando ao cumprimento do disposto nos arts. 3º, 4º, 5º e 20 da Lei no 10.973,
de 2 de dezembro de 2004, observados os princípios gerais de contratação dela constantes. (Incluído pela
Lei nº 12.349, de 2010)
XXXIII - na contratação de entidades privadas sem fins lucrativos, para a implementação de cisternas
ou outras tecnologias sociais de acesso à água para consumo humano e produção de alimentos, para
beneficiar as famílias rurais de baixa renda atingidas pela seca ou falta regular de água. (Incluído pela Medida
Provisória nº 619, de 2013) (Vide Decreto nº 8.038, de 2013)
§ 1o Os percentuais referidos nos incisos I e II do caput deste artigo serão 20% (vinte por cento) para
compras, obras e serviços contratados por consórcios públicos, sociedade de economia mista, empresa
pública e por autarquia ou fundação qualificadas, na forma da lei, como Agências Executivas. (Incluído pela
Lei nº 12.715, de 2012)
I - para aquisição de materiais, equipamentos, ou gêneros que só possam ser fornecidos por produtor,
empresa ou representante comercial exclusivo, vedada a preferência de marca, devendo a comprovação de
exclusividade ser feita através de atestado fornecido pelo órgão de registro do comércio do local em que se
realizaria a licitação ou a obra ou o serviço, pelo Sindicato, Federação ou Confederação Patronal, ou, ainda,
pelas entidades equivalentes;
II - para a contratação de serviços técnicos enumerados no art. 13 desta Lei, de natureza singular, com
profissionais ou empresas de notória especialização, vedada a inexigibilidade para serviços de publicidade e
divulgação;
III - para contratação de profissional de qualquer setor artístico, diretamente ou através de empresário
exclusivo, desde que consagrado pela crítica especializada ou pela opinião pública.
MODALIDADES DE LICITAÇÃO:
Pela Lei 8.666 (art. 22), são 5 modalidades de licitação:
a) concorrência (§ 1º);
b) tomada de preços (§ 2º);
c) convite (§§ 3º,6º e 7º);
d) concurso (§ 4);
e) leilão.
Fica vedada a criação de outras modalidades de licitação ou a combinação das enumeradas acima
(art. 22, § 8º).
No entanto, a Medida Provisória nº 2.026 criou a modalidade de pregão. Segundo o art. 2º,
"Pregão é a modalidade de licitação para aquisição de bens e serviços comuns, promovida exclusivamente
no âmbito da União, qualquer que seja o valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento
é feita por meio de propostas e lances em sessão pública." Por fim, a Lei n.º 10.250 o fez aplicável a todo o
país.
A Lei n.º 9.472/97, da ANATEL, contemplou a modalidade de pregão e consulta, esta é restrita
à órbita federal, pois a lei que a instituiu não é “norma geral”, mas simples lei federal, limitada à esfera das
agências reguladoras.
O art. 23 indica os critérios de aplicação de uma ou outra dentre as três primeiras modalidades,
de acordo com o valor que a Administração presumivelmente irá despender com a relação jurídica que
normalmente as sucederá. Há patamares de valor aos quais corresponderão estas modalidades distintas,
conforme se trate (I) de obras e serviços de engenharia ou (II) serviços de outra natureza e de compras.
A possibilidade de utilização de leilão também depende do valor pelo qual foi avaliado o bem a
ser vendido (art. 17, §6º).
Atente-se que os valores fixados no art. 23 devem sofrer correção (art. 120).
A concorrência é obrigatória no caso de valores mais elevados; a tomada de preços, tal como o
leilão, é prevista para os negócios de vulto médio e o convite para os de modesta significação econômica. A
Administração pode adotar a modalidade prevista para patamar de valor mais elevado, mas não o inverso
(art. 23, § 4º).
A lei estabelece que no caso de parcelas de uma mesma obra ou serviço ou ainda para obras
ou serviços da mesma natureza e no mesmo local que possam ser realizados conjunta ou
concomitantemente, a modalidade a ser adotada é a que corresponderia ao vulto delas tomas em seu
conjunto, ressalvadas apenas as parcelas de natureza específica cuja execução corresponderia a pessoa ou
empresa de especialidade diversa daquela do executor da obra ou serviço (art. 23, § 5º). Esse parágrafo tem
que ser combinado com o § 2º, do mesmo dispositivo, que admite a execução parcelada de obras, serviços
e compras, mas a cada etapa ou conjunto de etapas deverá ser realizada licitação distinta, preservada a
modalidade pertinente para a execuçào do objeto em licitação.
O Estatuto, ainda, prescreve a ampla publicidade necessária às licitações, devendo os avisos,
contendo os resumos dos editais das concorrências e das tomadas de preços, dos concursos e dos leilões,
embora realizados no local da repartição interessada, serem publicados com antecedência, no mínimo, por
uma vez no DOU ou no DO do Estado ou do DF, conforme o caso, em jornal diário de grande circulação no
Estado e do Município ou da região, quando houver, e outros meios (art. 21). Com exceção do convite, cuja
divulgação se faz por carta e afixação de cópia do instrumento convocatório em local apropriado (art. 22, §
3º).
Entre a divulgação dos editais e a apresentação das propostas (nos casos de concorrência,
tomada de preços e convite) ou a realizaçào do evento (nos casos de leilão e concurso) mediarão prazos
mínimos obrigatórios, variáveis em função da modalidade licitatória. Tais prazos contam-se a partir da última
publicaçào do edital resumido, ou da expedição do convite, ou ainda, da efetiva disponibilidade do edital ou
do convite e respectivos anexos, prevalecendo o que ocorrer mais tarde (art.21, § 3º). São computados em
dias corridos, salvo no caso do convite, em que só se contam os dias úteis, sempre excluído o dia de início e
incluído o de vencimento, mas só se iniciam e se vencem em dia de expediente no órgão ou na entidade
promotora do certame (art. 110 e parágrafo único).
Todos os prazos indicados pela lei para divulgação dos certames licitatórios constituem-se no
mínimo a ser respeitado, podendo fixar prazo maior dependendo da complexidade da licitação.
Qualquer modificação no edital exige divulgação pela mesma forma adotada para o texto original,
começando, a partir daí, nova contagem integral de prazo, excluídas as alterações que não afetem a
formulação das propostas (art. 21, §4º).
1) Concorrência:
É a modalidade licitatória genérica destinada a transações de maior vulto, precedida de ampla
publicidade, à qual podem acorrer quaisquer interessados que preencham as condições estabelecidas.
Do conceito decorrem as características básicas: ampla publicidade e universalidade (possibilidade
de participação de quaisquer interessados, que na fase inicial de habilitação preliminar, comprovem os
requisitos mínimos exigidos no edital).
A concorrência é obrigatória para:
- obras e serviços de engenharia de valor superior a R$ 1.500.000,00 (um milhão e quinhentos mil reais);
- compras e serviços que não sejam de engenharia, de valor superior a R$ 650.000,00 (seiscentos e
cinquenta mil);
- compra e alienação de bens imóveis, qualquer que seja o seu valor, ressalvado o disposto no artigo 19,
que admite concorrência ou leilão para alienação de bens adquiridos em procedimentos judiciais ou
mediante dação em pagamento (art. 23, § 3º);
- concessões de direito real de uso (art. 23, § 3º);
- licitações internacionais, com a ressalva para a tomada de preços e convite, na hipótese do art. 23, § 3º,
ou seja, se não houver fornecedor de bem ou serviço no País a regra será o convite, e havendo cadastro
internacional de fornecedores é facultada a adoção da tomada de preços, nos limites de valor que lhe
correspondem;
- alienação de bens imóveis de valor superior ao previsto no art. 23, II, b (art. 17, § 6º) – R$650.000,00;
- para o registro de preços (art. 15, § 3º, I) ressalvada a possibilidade de utilização do pregão, conforme
artigos 11 e 12 da Lei n.º 10.520/02.
- nos contratos de empreitada integral;
- nas concessões de obra e serviço público (art. 2º, II, da Lei 8987/95);
- nos casos de parcelamento a que alude o art. 23, §5º, sempre que o valor das licitações das parcelas,
tomadas em seu conjunto, atinja o montante previsto para tal modalidade.
Na concorrência deverá transcorrer um prazo normalmente de 30 dias, no mínimo, entre sua
publicidade e a data fixada para recebimento das propostas (art. 21, §2º, II, ‘a’). Será, entretanto, de pelo
menos 45 dias caso o certame se preordene a contrato de empreitada integral ou se for julgado na
conformidade dos ‘tipos’ de melhor técnica ou de técnica e preço (art. 21, §2º, I, ‘b’).
2) Tomada de preços
É destinada a transações de vulto médio, é a modalidade em que a participação na licitação
restringe-se (a) às pessoas previamente inscritas em cadastro administrativo, organizado em função dos
ramos de atividades e potencialidades dos eventuais proponentes e, (b) aos que, atendendo a todas as
condições exigidas para o cadastramento, até o terceiro dia anterior à data fixada para abertura das propostas,
o requeiram e sejam, destarte, qualificados.
Estes cadastros, regulados nos arts. 34 a 37 da lei, são registros dos fornecedores de bens,
executores de obras e serviços que ali se inscreveram, mantidos por órgãos e entidades administrativas que
frequentemente realizam licitações. O registro cadastral deve ser atualizado anualmente; é facultada, contudo,
a utilização de registros cadastrais de outros órgãos ou entidades da Administração Pública.
A pessoa cadastrada recebe um “certificado de registro cadastral”, com validade de um ano, no
máximo, e do qual consta a categoria em que se inclui. Para os participantes que apresentem esse certificado
na tomada de preços, a habilitação é prévia, porque feita no momento da inscrição no registro cadastral,
perante comissão permanente ou especial, de, no mínimo 3 (três) membros, sendo pelo menos 2 (dois)
servidores qualificados pertencentes aos quadros permanentes dos órgãos da Administração responsáveis
pela licitação (art. 51), com mandato de um ano, vedada a recondução (art. 51, § 4º); no caso de obras,
serviços ou aquisição de equipamentos, a comissão para julgamento dos pedidos de inscrição em registro
cadastral, sua alteração ou cancelamento, será integrada por profissionais legalmente habilitados (art. 51, §
2º).
O certificado pode ser aceito em qualquer modalidade de licitação, mesmo na concorrência,
desde que, nesta, seja observada a restrição contida no art. 32, § 2º.
Na tomada de preços deverá correr um prazo normalmente de 15 dias, entre a sua publicação e
a data fixada para recebimento das propostas (art. 21, §2º, III). Será, entretanto, de pelo menos 30 dias se o
certame for julgado na conformidade dos critérios de melhor técnica ou de técnica e preço (art. 21, §2º, I, ‘b’).
A possibilidade de participarem de tomada de preços os interessados que demandem
cadastramento até três dias antes do recebimento das propostas pode interferir com a data originalmente
prevista para isto, ou quando menos, com a data em que normalmente seriam abertos os envelopes que as
contenham. Deveras, se em tal caso for denegado o cadastramento, o interessado terá direito de recorrer
administrativamente, no prazo de 5 (cinco) dias úteis e com efeito suspensivo, que é o que aos recursos
contra inabilitação, a teor do art. 109, § 2º.
A tomada de preços também pode ser adotada nas licitações internacionais, desde que o órgão ou
a entidade disponha de cadastro internacional de fornecedores e sejam observados os limites do artigo 23,
estabelecidos para essa modalidade de licitação; ou o convite, quando não houver fornecedor de bem ou
serviço no país (art. 23, § 3º).
3) Convite:
É a modalidade licitatória cabível perante relações que envolverão os valores mais baixos, na qual
a Administração convoca para a disputa pelo menos três pessoas que operam no ramo pertinente ao objeto,
cadastrados ou não, e afixa em local próprio cópia do instrumento convocatório, estendendo o mesmo convite
aos cadastrados do ramo pertinente ao objeto que hajam manifestado seu interesse até 24 horas antes da
apresentação das propostas.
No convite é de 5 dias úteis, no mínimo, o prazo deflagrado pelo envio da carta-convite ou da efetiva
disponibilidade dela com seus anexos até a data fixada para recebimento das propostas (art. 21, § 2º, IV). É
a única modalidade de licitação em que a lei não exige publicação de edital. Mas para admitir a participação
os outros interessados, o art. 22, § 3º exige que a unidade administrativa afixe, em lugar apropriado, cópia do
instrumento convocatório.
Celso Antonio entende que mesmo os não cadastrados, simetricamente ao disposto em relação à
tomada de preços, terão direito a disputar o convite, se tomando conhecimento dele, requererem o
cadastramento no prazo estabelecido em relação àquela modalidade licitatória (3 dias antes do recebimento
das propostas).
Mesmo que não se atinja o número mínimo de três licitantes, por limitações do mercado ou
desinteresse dos convidados, o certame pode ser realizado, desde que tais circunstâncias sejam justificadas
no processo; caso contrário haveria invalidade e o convite teria de ser repetido (art. 22, § 7º).
Se existirem na praça mais de três interessados, a cada novo convite realizado para objeto idêntico
ou assemelhado deverá ser convidado pelo menos mais um, enquanto existirem cadastrados não convidados
nas últimas licitações (art. 22, § 6º).
Quando por limitações do mercado ou manifesto desinteresse dos convidados, for impossível a
obtenção de número mínimo de licitantes, essas circunstâncias deverão ser devidamente justificadas no
processo, sob pena de repetição do convite (art. 22, § 7º). O simples fato de se apresentarem menos do que
três interessados não é suficiente, por si só, para determinar a repetição do convite. Pelo contrário, será
possível prosseguir-se na licitação se ficar demonstrado o manifesto desinteresse dos licitantes convidados
ou as limitações do mercado. Se houver outros possíveis interessados em condição de atender ao convite,
esse deve ser repetido, com observância do § 6º, do artigo 22.
4) Concurso:
É uma disputa entre quaisquer interessados que possuam a qualificação exigida, para a escolha de
trabalho técnico científico ou artístico, com a instituição de prêmio ou remuneração aos vencedores, conforme
critérios constantes de edital publicado na imprensa oficial (art. 22, § 4º).
É de 45 dias, no mínimo, o prazo, contado a partir da publicação do aviso do edital de concurso até
a data da realização deste evento (art. 21, §2 º, I).
O concurso terá regulamento próprio, acessível aos interessados no local indicado no edital. Seu
julgamento é efetuado por comissão especial integrada por pessoas de reputação ilibada e reconhecido
conhecimento da matéria, sejam ou não servidores públicos (art. 51, §5º).
De acordo com o artigo 52, § 2º, em se tratando de projeto, o vencedor deverá autorizar a
Administração a executá-lo quando julgar conveniente, devendo ser observada também a norma do artigo
111.
5) Leilão:
O leilão é utilizado para a venda de bens móveis inservíveis (art. 22, § 5º), que não têm mais
utilidade, para a Administração ou de produtos legalmente apreendidos ou penhorados, ou para a alienação
de bens imóveis prevista no artigo 19, a quem oferecer o mais lance, igual ou superior ao valor da avaliação.
Pelo artigo 17, § 6º, o leilão é cabível desde que o valor dos bens não supere o estabelecido no artigo 23, II,
b (R$ 650.000,00).
Quando se tratar de bens imóveis, a modalidade de licitação obrigatória é a concorrência (art. 17, I
e art. 23, § 3º) com a ressalva para as hipóteses do artigo 19.
O prazo mínimo desde a publicação do edital do leilão até a data de sua ocorrência é de 15 dias
(art. 21, § 2º, III).
6) Pregão
O pregão é a modalidade de licitação para a aquisição de bens e serviços comuns, assim
considerados, “aqueles cujos padrões de desempenho e qualidade possam ser objetivamente definidos pelo
edital, por meio de especificações usuais no mercado”(art. 1º, parágrafo único, da Lei 10520/02), qualquer
que seja o valor estimado da contratação, em que a disputa pelo fornecimento é feita por meio de propostas
e lances em sessão pública.
Também é possível o pregão quando as compras e serviços comuns forem efetuados pelo sistema
de registro de preços.
O § 1º, do artigo 2º, da Lei 10520/02 permite que o pregão seja realizado por meio de utilização
de recursos de tecnologia de informação, nos termos de regulamentação específica (Decreto n.º 3.697/2000).
A Medida Provisória n.º 2.182/2001 havia instituído o pregão apenas para a União. A Lei
10520/02 não mais restringiu o âmbito desta nova modalidade de licitação.
De acordo com o art. 1º, parágrafo único, do Decreto 3555/00, o pregão se aplica aos fundos
especiais, às autarquias, às fundações, às empresas públicas, às sociedades de economia mista e às demais
entidades controladas direta ou indiretamente pela União.
PROCEDIMENTO DA LICITAÇÃO:
A licitação é um procedimento que exige uma sucessão de atos e fatos da Administração e atos e
fatos do licitante. É mais complexo na concorrência, tendo em vista o maior vulto dos contratos a serem
celebrados; é um pouco menos complexo na tomada de preços, em que o valor dos contratos é médio; e
simplifica-se ainda mais no convite, dado o pequeno valor dos contratos.
O procedimento da licitação fica a cargo de uma comissão, permanente ou especial, composta de,
pelo menos, três membros (art. 51), sendo pelo menos dois deles servidores qualificados pertencentes aos
quadros permanentes dos órgãos da Administração, com exceção do CONVITE, onde se permite,
excepcionalmente que a comissão (não a de registro cadastral) seja substituída por um servidor formalmente
designado pela autoridade competente, desde que se trate de pequena unidade administrativa em que a
exiguidade de pessoal disponível justifique a medida (art. 51, §1º); e no caso de PREGÃO, a licitação é
realizada por um pregoeiro, que é um servidor, que tenha realizado capacitação específica para exercer a
atribuição, do órgão promotor do procedimento, escolhido e designado pela autoridade competente, ficado a
seu cargo a análise da aceitabilidade das propostas e lances, a classificação, a habilitação e a adjudicação
do objeto ao licitante vencedor (art. 3º, IV, da Lei nº 10520/02).
O mandato da Comissão é de até um ano, vedada a recondução da totalidade de seus membros
para a mesma comissão no período subsequente (§ 4º). Os membros da Comissão podem ser substituídos
a qualquer momento.
A Lei 8666/93 estabelece a responsabilidade solidária dos membros da comissão por todos os atos
por ela praticados, salvo se posição individual divergente estiver devidamente fundamentada e registrada em
ata lavrada na reunião em que tiver sido tomada a decisão (§3º).
No caso de CONCURSO, o julgamento deve ser feito por uma comissão especial integrada por
pessoas de reputação ilibada e reconhecido conhecimento da matéria, não havendo necessidade de serem
servidores públicos (art. 51, § 5º); justifica-se a exigência pelo fato de o concurso ser a modalidade de licitação
cabível para a contratação de serviços técnicos, artísticos ou científicos, que exigem conhecimento
especializado por parte da comissão.
A comissão de licitação também tem competência para proceder à inscrição no registro cadastral,
sua alteração ou cancelamento, exigindo-se profissionais legalmente habilitados quando se tratar de obras,
serviços ou aquisição de equipamentos.
O procedimento da licitação se inicia com a abertura do processo administrativo, devidamente e
autuado, protocolado e numerado, contendo a respectiva autorização, a indicação sucinta do seu objeto e do
recurso próprio para a despesa e ao qual serão oportunamente juntados todos os atos da Administração e
dos licitantes, como edital, propostas, atas, pareceres, recursos, etc. (art. 38). Essa fase interna é preparatória
da Segunda (fase externa), ou da licitação propriamente dita. Essa segunda parte destina-se a selecionar a
melhor proposta à celebração do ato ou contrato desejado pela Administração.
Na fase interna da licitação avultam dois temas: o dos requisitos para instaurá-la e o das
vedações.
Procedimento da concorrência
O procedimento da concorrência compreende as seguintes fases: edital, habilitação,
classificação, homologação e adjudicação.
1) Edital
O edital é o ato pelo qual a Administração divulga a abertura da concorrência fixa os requisitos para
participação, define o objeto e as condições básicas do contrato e convida a todos os interessados para que
apresentem suas propostas. Em síntese, é o ato pelo qual a Administração faz uma oferta de contrato a todos
os interessados que atendam às exigências nele estabelecidas.
O edital é a lei da licitação e do contrato, pois o que nele se contiver deve ser rigorosamente
cumprido, sob pena de nulidade; trata-se da aplicação do princípio da vinculação ao instrumento convocatório
(art. 3º).
O artigo 40 estabelece os requisitos que deve observar o edital, alguns deles concernindo ao
próprio procedimento da licitação e outros referentes ao contrato. Na redação do termo do contrato ou
instrumento equivalente, nada pode ser inserido em discordância com o que determina o edital (art. 41).
Publicado o edital, com observância das normas de publicidade já referidas (art. 21), o
interessado que tenha alguma objeção deve argüí-la até o momento da abertura dos envelopes de habilitação,
pois de o art. 41, § 2º, estabelece que “decairá do direito de impugnar os termos do edital de licitação perante
a Administração o licitante que não o fizer até o segundo dia útil que anteceder a abertura dos envelopes de
habilitação em concorrência, a abertura dos envelopes com as propostas em convite, tomadas de preços ou
concurso, ou a realização do leilão, as falhas ou irregularidades que viciaram esse edital, hipótese em que tal
comunicação não terá efeito de recurso”.
A impugnação feita tempestivamente pelo licitante não o impedirá de participar do processo
licitatório até o trânsito em julgado da decisão a ela pertinente (art. 41, § 3º). Embora a lei fale em trânsito em
julgado, refere-se, na verdade à decisão final da própria Administração.
Também ao cidadão é dado o direito de impugnar o edital de licitação por irregularidade na
aplicação da lei, devendo protocolar o pedido até 5 dias úteis antes da data fixada para a abertura dos
envelopes de habilitação, cabendo à Administração julgar e responder à impugnação em até três dias úteis
(art. 41, § 1º). Além de Ter o direito de petição já assegurado no art. 5º, XXXIV, da Constituição, ainda pode
representar ao Tribunal de Contas ou aos órgãos integrantes do sistema de controle interno contra
irregularidades na aplicação da lei (art. 113, § 1º), e ainda pode provocar a iniciativa do Ministério Público
para os fins previstos no artigo 101.
Quando se tratar de concorrência de âmbito internacional, o artigo 42 manda que o edital se
ajuste às diretrizes de política monetária e do comércio exterior e atenda às exigências dos órgãos
competentes.
Segundo Celso Antônio, podem ser mencionados os seguintes vícios ensejadores de nulidade
do edital:
a) indicação defeituosa do objeto ou delimitação incorreta do universo de propostas;
b) impropriedade na delimitação do universo de proponentes;
c) caráter aleatório ou discriminatório dos critérios de avaliação de proponentes e propostas;
d) estabelecimento de trâmites processuais cerceadores da liberdade de fiscalizar a lisura do procedimento.
A relação de vícios apontada não é exaustiva, pois qualquer disposição do edital que contrarie
da legislação acarretará nulidade.
2) Habilitação
A segunda fase é a habilitação, em que há a abertura dos envelopes ‘documentação’ e sua
apreciação (art. 43, I).
Em ato público, a Administração recebe os envelopes contendo a documentação referente à
habilitação dos licitantes e a proposta (art. 43, § 1º).
Nessa fase são abertos os envelopes contendo os documentos exigidos no edital, que devem
ser assinados pelos licitantes presentes e pela Comissão (art. 43, § 2º).
Os documentos exigíveis para a habilitação estão indicados no art. 27, da Lei 8666/93 e somente
pode referir-se à habilitação jurídica, qualificação técnica, qualificação econômico-financeira, regularidade
fiscal e cumprimento do disposto no inciso XXXIII do artigo 7º, da Constituição (“proibição de trabalho noturno,
perigoso ou insalubre a menores de dezoito anos e de qualquer trabalho a menores de dezesseis anos, salvo
sob a condição de aprendiz, a partir dos quatorze anos”).
Pelo artigo 37, XXI, da Constituição, somente poderão ser exigidos documentos referentes à
“qualificação técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações”. Isto não impede
que sejam exigidos documentos relativos à capacidade jurídica, pois a Administração não pode celebrar
contratos com pessoa, física ou jurídica, que não comprove ser titular de direitos e obrigações na ordem civil.
Maria Sylvia entende que a partir da CF/88 não parece mais exigível a documentação relativa à
regularidade jurídico-fiscal, sob o argumento de que não se pode dar à licitação o papel de instrumento de
controle de regularidade fiscal. Para esta autora, a única exigência que tem fundamento constitucional, dentre
as contidas no artigo 29, é a do inciso IV, referente à regularidade perante a seguridade social, exigida pelo
art. 195, § 3º, da CF. Qualquer outra documentação entende que é inexigível no edital.
Também entende que não tem fundamento constitucional a norma relativa ao cumprimento do
disposto no inciso XXXIII, do artigo 7º, da Constituição, por ser exigência que nada tem a ver com a
habilitação. Contudo, esta é de fácil observância, vez que basta que o licitante firme declaração nos termos
do modelo anexo ao Decreto 4358/2002.
Os documentos podem ser apresentados em original, por qualquer processo de cópia
autenticada por cartório competente ou por servidor da Administração, ou publicação em órgão de imprensa
oficial (art. 32).
De acordo com o art. 32, § 1º, a documentação pode ser dispensada, no todo ou em parte, nos
casos de convite, concurso, fornecimento de bens para pronta entrega e leilão.
Em qualquer modalidade de licitação, o certificado de registro cadastral previsto no art. 36, § 1º`,
substitui os documentos necessários à habilitação, quanto às informações disponibilizadas em sistema
informatizado de consulta direta indicado no edital, obrigando-se a parte a declarar, sob as penalidades legais,
a superveniência de fato impeditivo da habilitação (art. 32, §2º). Se a Administração dispuser de informações
necessárias à habilitação poderá exigir a complementação.
O § 3º do art. 32 estabelece que “a documentação referida neste artigo poderá ser substituída
por registro cadastral emitido por órgão ou entidade pública, desde que previsto no edital e o registro tenha
sido feito em obediência ao disposto nesta lei”.
Maria Sylvia esclarece que, aparentemente, há sobreposição entre as normas dos §§2º e 3º,
mas é aparente; o § 2º diz as condições em que o certificado de registro cadastral substitui a documentação;
e o § 3º permite que a Comissão aceite certificados emitidos por outros órgãos ou entidades públicas ( o que
não dispensa o atendimento do §2º), desde que essa possibilidade tenha sido prevista no edital e o certificado
tenha obedecido às normas da Lei 8666/9.
As empresas estrangeiras que não funcionem no país atenderão, nas licitações internacionais,
às exigências pertinentes aos documentos, devendo estes ser autenticados pelos respectivos consulados e
traduzidos por tradutor juramentado; além disso, tais empresas devem Ter representação legal no Brasil com
poderes expressos para receber citação e responder administrativa e judicialmente (art. 32, § 4º). Estas
exigências não se aplicam nas hipóteses previstas no § 6º do mesmo dispositivo.
O artigo 33 contém norma sobre a participação de empresas em consórcio no procedimento da
licitação.
Consórcio não é uma pessoa jurídica, mas associação de empresas que conjugam recursos
humanos, técnicos e materiais para a execução do objeto a ser licitado. Tem ligar quando o vulto,
complexidade ou custo do empreendimento supera ou seria dificultoso para as pessoas isoladamente
consideradas.
Através do consórcio diversas empresas, associando-se mutuamente, podem assumir atividades
e encargos que isoladamente não teriam força econômica e financeira, nem capacidade técnica para
executar. Para participar da licitação devem observar as seguintes normas:
I) comprovação de compromisso, público ou particular, de constituição de consórcio, subscrito pelos
consorciados;
II) indicação da empresa responsável pelo consórcio que deverá atender às condições de liderança,
obrigatoriamente fixadas no edital;
III) apresentação dos documentos exigidos nos artigos 28 a 31 para cada consorciado, admitindo-se,
para efeito de qualificação técnica, o somatório dos quantitativos de cada consorciado, e, para efeito
de qualificação econômico-financeira, o somatórios dos valores de cada consorciado, na proporção
de sua respectiva participação, podendo a Administração estabelecer, para o consórcio um acréscimo
de até 30% (trinta por cento) dos valores exigidos para licitante individual, inexigível este acréscimo
para os consórcios compostos em sua totalidade, por micro e pequenas empresas assim definidas
em lei;
IV) impedimento de participação de empresa consorciada, na mesma licitação através de mais de um
consórcio ou isoladamente
V) responsabilidade solidária dos integrantes pelos atos praticados em consórcio, tanto na fase de
licitação quanto na de execução de contrato.
Para Maria Sylvia a parte do inciso III que possibilita à Administração exigir do consórcio um
acréscimo de até 30% é de constitucionalidade duvidosa, por conflitar com a regra da isonomia, que exige
igualdade de tratamento a todos os licitantes.
Em se tratando de consórcio de empresas brasileiras e estrangeiras, a liderança caberá,
obrigatoriamente, à empresa brasileira (art. 33, § 1º).
O licitante vencedor deverá promover, antes da celebração do contrato, a constituição e o registro
do consórcio, nos termos do compromisso referido no inciso I, do artigo 33 (art. 33, § 1º).
Na fase de habilitação, a Administração Pública, abre, em ato público, os envelopes contendo a
documentação, que deve ser rubricada pelos licitantes presentes e pela Comissão (art. 43, §§ 1º e 2º).
Examinados os documentos, serão considerados habilitados os licitantes que tiverem atendido às exigências
do edital, não sendo permitido, após o ato público de abertura dos envelopes, a apresentação ou substituição
de documentos. Os licitantes que não estiverem com a documentação em ordem são considerados
inabilitados para participar da licitação e recebem de volta, fechado, o envelope contendo sua proposta,
“desde que não tenha havido recurso ou após a sua denegação”(art. 43, inc. II). Quando todos forem
inabilitados, a Administração poderá dar aos licitantes o prazo de oito dias (ou três, no caso de convite), para
que apresente nova documentação (art. 48, § 3º).
Ultrapassada a fase de habilitação e abertas as propostas, não cabe desclassificar o concorrente
por motivo relacionado com a habilitação, salvo em razão de fatos supervenientes ou só conhecidos após o
julgamento (art. 48, § 5º). Após a fase de habilitação, não cabe desistência da proposta, salvo por motivo justo
decorrente de fato superveniente e aceito pela Comissão (art. 43, § 6º).
No caso de consórcio, a habilitação far-se-á com a documentação que lhe corresponde por parte
de cada um dos integrantes do compromisso de consórcio. Para efeito de qualificação técnica, admitir-se-á o
somatório dos quantitativos de cada empresa, ao passo que, para qualificação econômico-financeira, admitir-
se-á o somatório dos valores de cada qual, porém na proporção da respectiva participação.
4) Homologação
O artigo 43, inciso VI, da Lei n.º 8666/93 prevê, como ato final do procedimento, “a deliberação da
autoridade competente quanto à homologação e adjudicação do objeto da licitação”. Tanto a homologação
como a adjudicação são atos que ficam fora da atuação da Comissão e passam a ser de competência da
autoridade superior.
A homologação eqüivale à aprovação do procedimento. A autoridade competente deve verificar
se existe algum vício de ilegalidade, anulando o procedimento ou determinando o seu saneamento, se cabível;
ou, ainda, pode revogar a licitação, por razões de interesse público (Celso Antônio entende que só é possível
a revogação quando houver fato superveniente!). Se o procedimento estiver em ordem, ela o homologará.
5) Adjudicação
É o ato pelo qual a Administração, pela mesma autoridade competente para homologar, atribui ao
vencedor o objeto da licitação. É ato final do procedimento.
Trata-se de ato declaratório que não se confunde com a celebração do contrato, pois, por meio
dele, a Administração proclama que o objeto da licitação é entregue ao vencedor. Depois de praticado esse
ato é que a Administração vai convocá-lo para assinar o contrato.
Trata-se de ato vinculado, já que as únicas hipóteses em que a Administração pode deixar de
efetuar a adjudicação são as de anulação ou revogação do procedimento (art. 49).
Embora a adjudicação seja ato meramente declaratório, segundo Hely Lopes Meirelles, já produz
alguns efeitos: “a) a aquisição do direito de contratar com a Administração nos termos em que o adjudicatário
venceu a licitação; b) a vinculação do adjudicatário a todos os encargos estabelecidos no edital e aos
prometidos na sua proposta; c) a sujeição do adjudicatário às penalidades previstas no edital e a perda de
eventuais garantias oferecidas, se não assinar o contrato no prazo e condições estabelecidas; d) o
impedimento de a Administração contratar o objeto licitado com qualquer outro que não seja o adjudicatário;
e) a liberação dos licitantes vencidos dos encargos da licitação”.
Feita a adjudicação, a Administração convocará o adjudicatário para assinar o contrato, devendo
fazê-lo no prazo de 60 dias da data da entrega das propostas; ultrapassado este prazo, fiam os licitantes
liberados dos compromissos assumidos (art. 64, §3º).
Se o convocado não atender à convocação no prazo estabelecido pela Administração, perderá
o direito à contratação e ficará sujeito às penalidades previstas no artigo 87; o prazo de convocação pode ser
prorrogado uma vez, por igual período, quando solicitado durante seu transcurso pela parte e desde que
ocorra motivo justificado aceito pela Administração (art. 64, § 1º).
Caso o interessado não atenda à convocação, a Administração poderá convocar os licitantes
remanescentes, pela ordem de classificação, para fazê-lo, em igual prazo e nas mesmas condições propostas
pelo primeiro classificado, inclusive quanto aos preços atualizados de conformidade com o ato convocatório;
ou pode revogar a licitação, sem prejuízo de sanção prevista no artigo 87 (art. 64, § 2º).
Os licitantes remanescentes, porém, não são obrigados a aceitar o contrato, já que, se o fizerem,
terão que se sujeitar-se às condições propostas pelo vencedor. Assim, não ficam sujeitos às penalidades
administrativas (art. 81, par. un.).
Procedimento do Concurso:
A Lei n.º 8.666/93 não estabelece o procedimento a ser adotado no concurso, remetendo sua
disciplina a regulamento próprio, específico para cada concurso.
Apenas consta da Lei que o edital deve ser publicado com 45 dias de antecedência (art. 21, §2º, I, a)
e que o regulamento deverá indicar: I – a qualificação exigida dos participantes; II – as diretrizes e a forma de
apresentação do trabalho; III – as condições de realização do concurso e os prêmios a serem concedidos
(art.52, § 1º). No concurso não são utilizados os critérios de julgamento previstos no art. 45, § 1º, conforme
está expresso nesse dispositivo e decorre do próprio conceito contido no artigo 22, § 4º, pelo qual se verifica
que a escolha não leva em conta o preço, já que o vencedor (aquele que apresentar melhor trabalho técnico,
científico ou artístico) receberá remuneração ou prêmio estipulados no edital.
Quando faz um concurso, a Administração não pretende contratar com ninguém, ao menos em
princípio. Quer apenas selecionar um projeto de cunho intelectual, e a seu autor conceder um prêmio ou
determinada remuneração. Com o cumprimento desse ônus pela Administração, a licitação fica encerrada.
Como se trata de seleção de projeto intelectual, a comissão que dirige a licitação deve ser bastante
criteriosa e apta intelectualmente, uma vez que não é difícil perceber que, em face do inevitável subjetivismo
seletivo, pode ser facilitado eventual desvio de finalidade.
Procedimento do Leilão:
Também em relação ao leilão a Lei n.º 8.666/93 não estabelece o procedimento específico, remetendo
a matéria à “legislação pertinente” (art. 53).
Na modalidade de leilão, a Administração pode ter três objetivos:
III) alienar bens imóveis adquiridos em procedimento judicial ou através de dação em pagamento,
como o permite o art. 19 do Estatuto.
Sendo modalidade de licitação utilizada para a alienação de bens móveis, deve observar as normas
do artigo 17, que exige a demonstração do interesse público e a avaliação; esta última exigência é repetida
no artigo 53, § 1º, sendo o valor da avaliação o preço mínimo de arrematação.
O leilão pode ser feito por leiloeiro oficial ou servidor designado pela Administração (art. 53); os bens
serão pagos à vista ou no percentual estabelecido no edital, não inferior a 5%; após a assinatura da ata
lavrada no local do leilão, os bens serão entregues ao arrematante, o qual se obrigará ao pagamento do
Procedimento do Pregão:
Compreende uma fase interna (chama fase preparatória pelo art. 3º, da Lei n.º 10.520), que precede
a abertura do procedimento ao público, e uma fase externa, que se inicia com a publicação do aviso do edital
de convocação.
As normas sobre a fase interna constam do art. 3º da Lei n.º 10.520 e exigem basicamente: justificativa
da necessidade de contratação, definição do objeto do certame, exigências de habilitação, critérios de
aceitação das propostas, sanções por inadimplemento e cláusulas do contrato, inclusive com fixação dos
prazos para fornecimento (inciso I).
Quanto à fase externa, está disciplinada no art. 4º, em 24 incisos que descrevem os vários atos do
procedimento, que compreende basicamente as seguintes fases: edital, julgamento e classificação,
habilitação do licitante vencedor, adjudicação e homologação. Ainda nessa fase, será designado o pregoeiro
e respectiva equipe de apoio, cuja atribuição consiste em receber as propostas e lances, analisar sua
aceitabilidade e sua classificação, fazer a habilitação e adjudicação do objeto da licitação ao vencedor (art. 3,
inc. IV).
São as mesmas fases da concorrência, com a peculiaridade de que o pregão contém uma inversão
nas fases de classificação e inabilitação.
A primeira fase para o público é a de publicação do aviso do edital no correspondente Diário Oficial
ou, se este não houver, em jornal de grande circulação local, com antecedência mínima de 8 dias da entrega
das propostas; é possível também a divulgação por meio eletrônicos (art. 4, inc, I), pela forma a ser objeto de
regulamento; o edital é publicado resumidamente, sob forma de aviso, devendo uma cópia ficar à disposição
de qualquer interessado para fins de consulta; o art. 5º, incisos I a III, veda a exigência de garantia de proposta
e de aquisição do edital pelos licitantes, como condição para participação do certame, bem como a exigência
de pagamento de taxas e emolumentos, salvo os referentes a fornecimento do edital, que não serão
superiores ao custo de sua reprodução gráfica, e aos custos de utilização de recursos de tecnologia da
informação quando for o caso.
A segunda fase é a de julgamento e classificação das propostas, desenrola-se em sessão pública, na
qual são entregues os envelopes contendo a indicação do objeto e do preço oferecidos, procedendo-se a sua
imediata abertura e à verificação da conformidade das propostas com os requisitos constantes do instrumento
convocatório.
O julgamento e a classificação das propostas se fazem pelo critério do menor preço, o que não impede
sejam analisados os prazos máximos para fornecimento, as especificações técnicas e parâmetros mínimos
de desempenho e qualidade definidos no edital (art. 4, XII).
Essa fase apresenta alguma peculiaridade em relação às demais modalidades de licitação, porque
combina proposta escrita com lances verbais; os envelopes contendo as propostas são entregues e abertos
na sessão pública supra-referida; haverá um exame prévio da conformidade das propostas com os requisitos
estabelecidos no edital. Embora a lei não o diga, se não forem atendidos os requisitos do edital pertinentes à
proposta, a conseqüência é a desclassificação. O autor da oferta de valor mais baixo e os das ofertas com
preços até 10% superiores àquela poderão fazer novos lances verbais e sucessivos, até a proclamação do
vencedor (inciso VIII). No entanto, se não houver pelo menos três ofertas nas condições definidas no inciso
VIII, os autores das três melhores propostas poderão oferecer novos lances verbais e sucessivos, quaisquer
que sejam os preços oferecidos (inc. XVI).
A terceira fase é a referente à habilitação do vencedor, que ocorrerá após a classificação das
propostas. Processa-se mediante a abertura do envelopes contendo apenas a documentação do licitante
vencedor.
O licitante pode deixar de apresentar a documentação que já conste do Sistema de Cadastro
Unificado de Fornecedores (Sicaf) e sistemas semelhantes mantidos por Estados, Distrito Federal e
Municípios, assegurado aos demais licitantes o direito de acesso aos dados nele constantes.
Apenas se o primeiro colocado for inabilitado é que o pregoeiro examinará a documentação do
segundo e assim sucessivamente até que um licitante atenda às condições fixadas no instrumento
convocatório.
Declarado o vencedor, qualquer licitante poderá manifestar, imediata e motivadamente, a intenção de
recorrer, sob pena de preclusão desse direito; as razões de recurso devem ser apresentadas no prazo de três
dias, findo os quais os demais licitantes terão igual prazo para apresentar contra-razões (inc. XVIII).
A quarta fase é a adjudicação ao vencedor, que é feita imediatamente após a decisão dos recursos.
Finalmente, a Quinta e última fase é a homologação do procedimento pela autoridade competente.
Findo o procedimento, com a homologação, o vencedor será convocado par assinar o contrato no
prazo fixado no edital, não se aplicando o prazo previsto no artigo 64, § 3º, da Lei n.º 8666/93.. No entanto,
as conseqüências da recusa em assinar o contrato são as estabelecidas no caput do art. 64. Nesse caso,
serão chamados os demais licitantes, pela ordem de classificação (art. 4.º, XVI).
O REGISTRO DE PREÇOS
O “registro de preços “é um procedimento que a Administração pode adotar perante compras
rotineiras de bens padronizados ou mesmo na obtenção de serviços. Neste caso, abre-se um certame
licitatório em que o vencedor, isto é, quem ofereceu a cotação mais baixa, terá seus preços “registrados”.
Quando a promotora do certame necessitar destes bens ou serviços irá obtê-los, sucessivas vezes, se for o
caso, pelo preço cotado e registrado.
A Lei n.º 8666/93 refere-se ao registro de preços, apenas para compras e o trata muito sumariamente,
apesar de recomendá-lo no artigo 15, inciso II.
De acordo com o § 3º do art. 15, o sistema de registro de preços será regulamentado por decreto,
atendidas as peculiaridades regionais, na conformidade das seguintes condições: (I) os preços registrados
serão sempre selecionados através da modalidade concorrência, salvo se se tratar da obtenção de “bens e
serviços comuns”, hipótese na qual dito registro pode ser feito por meio de “pregão, conforme veio a prever o
art. 11 da Lei 10520; (II) será estabelecida prévia estipulação do sistema de controle e de atualização dos
preços registrados; (III) a validade dos registros não excederá um ano.
Qualquer cidadão poderá impugnar preço constante do registro se este for incompatível com o
praticado no mercado (§6º).
A existência de preços registrados não obriga a Administração a firmar contratações que deles
poderão advir, pois poderá servir-se de outros meios de aquisição, respeitada a legislação de licitações,
ficando, entretanto, assegurada ao beneficiário do preço registrado preferência em igualdade de condições
(§4º).
ALIENAÇÃO DE BENS
As alienações de bens, reguladas nos arts. 17 a 19 da Lei 8666, serão sempre precedidas de
justificativa das razões que as presidem e de avaliação do bem a ser alienado, efetuando-se após regular
licitação, ressalvados os casos de dispensa e inexigibilidade.
Se tratar de bem imóvel, a modalidade licitatória é a concorrência pública, admitindo-se, todavia,
o uso do leilão quando sua aquisição haja derivado de procedimentos judiciais ou de dação em pagamento
(art. 19 c/c 22, § 5º). A venda de bens imóveis no caso de Administração direta, das autarquias e das
fundações depende de autorização legislativa.
A alienação de ações para fins de desestatização e alienação de empresas estatais é
especificamente regida pela Lei 9491/97.
ANULAÇÃO DA LICITAÇÃO:
É o desfazimento da licitação por motivo de ilegalidade. Pode ser realizada pela entidade licitante e
pelo Judiciário. A entidade licitante pode fazê-lo de ofício ou provocada por terceiro, mas sempre mediante
parecer escrito e devidamente fundamentado (art. 49, 2ª parte). Deverá obedecer ao princípio do devido
processo legal, com amplo direito de defesa (art. 49, § 3º e art. 109, I, c).
A ilegalidade tanto pode relacionar-se com a legislação competente (CF, leis, regulamentos, ...)
quanto com o instrumento convocatório (edital, carta-convite, ...).
Os efeitos da anulação retroagem ao ato ilegal (ex tunc).
A anulação não gera obrigação de indenizar, salvo no que respeita ao que já tenha sido
executado pelo contratado até a data da fulminação e por outros prejuízos regularmente comprovados,
contanto que o vício invalidador não lhe seja imputável, promovendo-se a responsabilidade de quem lhe deu
causa (art. 49, § 1º, c/c art. 59, parágrafo único).
A anulação pode ser parcial, atingindo determinado ato, como a habilitação ou classificação.
Como desses atos cabe recurso (art. 109, I, a), se a Comissão der provimento, reconhecendo a ilegalidade,
ela deverá invalidar o ato e repeti-lo, agora sem os vícios.
O §2º do artigo acrescenta que a nulidade do procedimento induz a do contrato, ficando a
Administração obrigada a indenizar o contratado pelo que este houver executado até a data em que ela for
declarada e por outros prejuízos regularmente comprovados, contanto que não lhe seja imputável
Segundo Celso Antonio B. de Mello, seguindo orientação de Weida Zancaner, quando a
invalidação ocorrer depois de identificado quem seria seu vencedor na conformidade dos termos
estabelecidos, a indenização acobertará tão-somente a este e, se for o caso, também aqueloutro que teria
obtido vitória não fora pelo vício reconhecido e proclamado pelo promotor do certame. Dando-se a invalidação
antes do conhecimento, todos os que afluíram à disputa e, destarte, foram compelidos a despesas para dela
participarem fazem jus a indenização pelos dispêndios incorridos se atuaram de boa-fé e em nada
concorreram para o vício invalidante. Por derradeiro, afirma o professor paulista que essas soluções somente
terão aplicação se os licitantes estiverem de boa-fé e não concorrerem para o vício propiciatório da
invalidação.
Importante salientar que em qualquer caso de desfazimento do processo licitatório deve ser
assegurado o contraditório e a ampla defesa. No recurso do ato de anulação ou revogação, pode a autoridade
competente atribuir efeito suspensivo, com base no §2º do art. 109.
DOS RECURSOS ADMINISTRATIVOS:
O art. 109 da Lei 8.666 prevê os recursos administrativos cabíveis dos atos decorrentes da licitação
e do contrato. São: recurso, representação e pedido de reconsideração.
O RECURSO deve ser interposto no prazo de 5 dias úteis a contar da intimação do ato ou da
lavratura da ata (109, I), nos casos de: 1) habilitação ou inabilitação; 2) julgamento das propostas; 3) anulação
ou revogação da licitação; 4) indeferimento de inscrição em registro cadastral, sua alteração ou cancelamento;
5) rescisão do contrato, a que se refere o inc. I do art. 78; 6) aplicação de penas de advertência, suspensão
temporária ou multa.
O recurso contra a habilitação e julgamento das propostas tem efeito suspensivo. Os demais
podem ter efeito suspensivo, por decisão motivada da autoridade administrativa (art. 109, § 2º).
Os concorrentes tem direito de impugnar o recurso, no prazo de 5 (cinco) dias (art. 109, § 3º). O
recurso é dirigido à autoridade superior, por intermédio da que praticou o ato recorrido, que poderá
reconsiderá-lo, ou fazer subir, devidamente informado (art. 109, § 4º). O prazo do recurso, e para impugná-
lo, para a modalidade convite, é de 2 (dois) dias (art. 109, § 6º).
A REPRESENTAÇÃO é admitida nos casos de que não caiba recurso, no prazo de 5 (cinco) dias
da intimação da decisão impugnada (art. 109, I), salvo no caso de carta-convite, em que o prazo é de 2 (dois)
dias úteis.
O pedido de RECONSIDERAÇÃO é cabível com relação a ato de Ministro de Estado ou
Secretário Estadual ou Municipal, no caso de aplicação de pena de declaração de inidoneidade para licitar
ou contratar com a Administração e é de 10 (dez) dias úteis da intimação do ato (art. 109, III), também reduzido
a 2 (dois) dias úteis no caso de convite (§6º).
Nenhum prazo de recurso se iniciará ou correrá sem que os autos do processo estejam com
vista franqueada ao interessado.
A intimação dos atos far-se-á, como regra, mediante publicação na imprensa oficial, mas nos
casos de habilitação, inabilitação e julgamento das propostas tal exigência fica dispensada, para fins de
intimação com vistas a recurso, se presentes os prepostos dos licitantes, caso em que poderá ser feita por
comunicação direta aos interessados e lavrada em ata.
Interpostos os recursos, deles serão comunicados os demais licitantes, que poderão impugná-
los também no prazo de 5 (cinco) dias úteis, ou se tratar de convite, no prazo de 2 (dois) dias úteis.
Os recursos serão dirigidos à autoridade superior, por intermédio daquela que praticou o ato, a
qual poderá reconsiderá-lo igualmente no prazo de 5 (cinco) dias úteis ou elevar o recurso, devidamente
informado, para que seja proferida decisão também no prazo de 5 (cinco) dias úteis, sob pena de
responsabilidade.
De acordo com o artigo 110, na contagem dos prazos previstos na Lei n.º 8666/93 excluir-se-á o
dia do início e incluir-se-á o do vencimento, considerando-se os dias consecutivos, salvo quando nela mesma
houver explícita disposição em contrário. Além disso, os prazos só se iniciam e vencem em dia de expediente
na repartição ou órgão.
Note-se que o art. 113, § 1º, permite que qualquer licitante, contratado ou pessoa física ou jurídica
represente ao Tribunal de Contas contra irregularidade na aplicação de suas normas. O preceito amolda-se
ao art. 74, § 2º, da CF/88, segundo o qual “qualquer cidadão, partido político, associação ou sindicato é parte
legítima para, na forma da lei, denunciar irregularidades perante o Tribunal de Contas da União.”
No caso do pregão, o art. 4º, XVIII, da MP 2.182, estabelece que, “declarado o vencedor,
qualquer licitante poderá manifestar imediata e motivadamente a intenção de recorrer, quando lhe será
concedido o prazo de três dias para a apresentação das razões do recurso, ficando os demais licitantes desde
logo intimados para apresentar contra razões em igual número de dias, que começarão a correr do término
do prazo do recorrente, sendo-lhes assegurada a imediata vista dos autos.” O inciso XIX estabelece que o
acolhimento do recurso importará a invalidação qpenas dos atos insuscetíveis de aproveitamento.
Pelo inciso XX do mesmo dispositivo, se o licitante não declarar a intenção de recorrer ou não o
fizer motivadamente, ocorrerá a decadência do direito de recurso e a adjudicação do objeto da licitação pelo
pregoeiro ao vencedor.
(…) se tem no referido regime objeto definido e apto a ser licitado, a servir de parâmetros para
propostas diversas que possam ser objetivamente comparáveis.” (Grupo de Trabalho Copa do Mundo FIFA
2014 da 5ª Coordenação e Revisão do MPF: Nota técnica do MPF ao projeto de lei de conversão da MP 512,
p. 4).
Aspecto positivo da contratação integrada é a vedação quanto a aditivos, a fim de evitar sucessivas
operações tendentes a elevar o custo final da obra.
Como na Lei do Pregão, a Lei do RDC trouxe inversão de fases e a preferência pela realização do
procedimento licitatório pela via eletrônica (art. 13). Assim, a análise da dos documentos de habilitação fica
relegada a momento posterior à análise das propostas (art. 12), havendo a possibilidade, desde que
justificadamente, de que a habilitação anteceda a apresentação das propostas (art. 12, parágrafo único).
Outro ponto inovador da Lei nº 12.462/2011 é previsão do art. 10, que permite seja estabelecida
“remuneração variável vinculada ao desempenho da contratada, com base em metas, padrões de qualidade,
critérios de sustentabilidade ambiental e prazo de entrega definidos no instrumento convocatório e no
contrato”. Cuida-se da possibilidade do pagamento de um bônus subordinado ao atingemento de metas.
Merece menção, ainda, o contrato de eficiência, que tem “por objeto a prestação de serviços, que
pode incluir a realização de obras e o fornecimento de bens, com o objetivo de proporcionar economia ao
contratante, na forma de redução de despesas correntes, sendo o contratado remunerado com base em
percentual da economia gerada” (art. 23, §1º), e leva em conta o maior retorno econômico para o contratante.
Ambas as novidades, contuido, são objetos de críticas por valerem-se de critérios demasiadamente
vagos. Veja-se, a propósito: “A consagração do critério “maior retorno econômico”, conjugado com a criação
de novo tipo contratual – o denominado “contrato de eficiência” - tal como adotado na redação atual do Projeto,
conflita com o princípio constitucional da impessoalidade (art. 37, caput) e a objetividade nas licitações
públicas. Não há delimitação legal sobre o campo de abrangência do denominado “contrato de eficiência”. Tal
como configurado no projeto (art. 25, §1º), qualquer espécie de serviço ou atividade da Administração Pública
poderá ser objeto do aludido contrato” (idem, p. 7).
Recomenda-se a leitura integral da Lei nº 12.462/2011.
CONTRA/TOS ADMINISTRATIVOS
São os contratos públicos, regidos por normas e princípios próprios do direito público, atuando o direito
pública. A liberdade da administração pública está sujeita à limitações de conteúdo e requisitos formais
rígidos, dispondo, em contrapartida, dos privilégios admitidos para fixação e alteração das cláusulas de
interesse público e até mesmo para pôr fim ao contrato em meio de sua execução.
1) CONCEITO: Maria Sylvia define o contrato administrativo como sendo tão-somente "os ajustes que a
Administração, nessa qualidade, celebra com pessoas físicas ou jurídicas, públicas ou privadas, para
a consecução de fins públicos, segundo regime jurídico de direito público".
Hely Lopes Meirelles diz que é o ajuste que a Administração Pública, agindo nessa qualidade, firma
com o particular ou outra entidade administrativa, para a consecução de objetivos de interesse público, nas
condições estabelecidas pela própria Administração.
Celso Antônio, afirma que o contrato administrativo "é um tipo de avença travada entre a
Administração e terceiros, na qual, por força de lei, de cláusulas pactuadas ou do tipo de objeto, a
permanência do vínculo e as condições preestabelecidas assujeitam-se a cambiáveis imposições de
interesse público, ressalvados os interesse patrimoniais do contratante privado".
1ª) Nega a existência do contrato administrativo: (Oswaldo Aranha Bandeira de Mello) pois não
observa o princípio da igualdade entre as partes (visto que a Administração ocupa posição de supremacia
em relação ao particular), o da autonomia da vontade (pois a autoridade administrativa só faz aquilo que a lei
manda e o particular submete-se a cláusulas regulamentares ou de serviço, fixadas unilateralmente pela
administração) e o da força obrigatória das convenções (tendo-se em vista que é desrespeitado no contrato
administrativo, em decorrência da mutabilidade das cláusulas regulamentares, que permite à Administração
fazer alterações unilaterais no contrato. A autoridade administrativa, por estar vinculada ao princípio da
indisponibilidade do interesse público, não poderia sujeitar-se a cláusulas inalteráveis como ocorre no direito
privado), caracterizadores de todos os contratos.
2ª) Acha que todos os contratos celebrados pela administração constituem contratos
administrativos: pois não existe contrato de direito privado envolvendo a Administração, visto que em todos
os acordos de que participa há sempre a interferência do regime jurídico administrativo; quanto à
competência, à forma, ao procedimento, à finalidade, aplica-se sempre o direito público e não o privado. É o
que ocorre nos contratos de compra e venda, locação, comodato, quando celebrados pelo poder público.
3ª) Aceita a existência dos contratos administrativos, como espécie do gênero contrato, com
regime jurídico de Direito Público, derrogatório e exorbitante do Direito Comum: Essa é a posição adotada
pela maioria dos administrativistas brasileiros. Admite a existência de contratos administrativos, com
características próprias que os distinguem do contrato de direito privado. (Celso Antônio)
• Características:
1. participação da administração pública com supremacia de poder,
2. onerosidade: remuneração
3. bilateralidade
4. consensual
5. cláusulas exorbitantes
6. comutatividade
7. intuito personae
Os contratos celebrados pela Administração compreendem, quanto ao regime jurídico, duas modalidades:
1) ATÍPICOS - contratos de direito privado, como a compra e venda, a doação, o comodato, regidos
pelo Código Civil, parcialmente derrogados por normas publicistas;
Maria Sylvia, ao comparar o contrato de Direito Privado com o contrato administrativo, diz que é nas
prerrogativas que radica a maior distinção entre as duas figuras. As prerrogativas se expressam nas
chamadas cláusulas exorbitantes ou de privilégio ou de prerrogativas. A citada autora define as cláusulas
exorbitantes como aquelas que não são comuns ou que seriam ilícitas nos contratos entre particulares, por
encerrarm prerrogativas ou privilégios de uma das partes em relação à outra.
Para Hely Lopes Meirelles as cláusulas exorbitantes são todas as que excedem do direito comum
para consignar uma vantagem ou uma restrição à Administração ou ao contratado. Não seria lícita em um
contrato privado (leonina), mas é absolutamente válida no contrato administrativo.
Celso Antônio diz que a exorbitância ocorre em relação ao Direito Privado e consiste em obrigar
disposições nele inadmissíveis ou incomuns. Subvertem profundamente a noção de contrato encontradiça na
Teoria Geral do Direito.
Com relação às finalidades e procedimentos, todo o contrato tem finalidade pública (se não tiver,
haverá desvio de poder). No que se refere aos procedimentos, devem ser observados os requisitos
previstos em lei, como autorização legislativa (quando for o caso), avaliação, licitação, motivação, indicação
de recursos orçamentários, publicação e, após a sua realização, a aprovação do Tribunal de Contas.
4) DIREITO POSITIVO: Restou expresso no art. 22, inciso XXVII, como matéria de competência privativa
da União: normas gerais de licitação e contratação em todas as modalidades, para as administrações
públicas diretas, autárquicas e fundacionais da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, obedecido o
disposto no art. 37, XXI, e para as empresas públicas e sociedade de economia mista, nos termos do art.
173, §1º, III" .
A Lei 8.666/93, abrange todos os contratos por ela disciplinados sob a denominação de CONTRATOS
ADMINISTRATIVOS. No entanto, na lição de Maria Sylvia, nem todos os contratos disciplinados por ela têm
natureza administrativa, como a compra e venda, alienação e locação de imóvel. Isso porque as normas a
respeito de locação e da compra e venda não derrogam as do Direito Civil. Apenas se estabelecem mais
algumas exigências, como, por exemplo, a indicação de recursos financeiros.
5.1) Alteração e rescisão unilateral: Constitui preceito de ordem pública. não pode a Administração
renunciar à faculdade de exercê-lo. Decorre do princípio da continuidade do serviço público. A rescisão pode
ocorrer tanto por interesse público, como por inadimplência do contratante. Exige-se motivação e ocorrência
de justa causa. É ato vinculado. A variação do interesse público autoriza a alteração do contrato. Celso
Antônio diz que o poder de alteração unilateral tem sua compostura qualificada na lei. É cabível, quando
houver modificação do projeto inicial ou das especificações para melhor adequação técnica, ou quando
necessária a modificação quantitativa de seu objeto. Os acréscimos ou supressões quantitativos não podem
exceder 25% do valor inicial do contrato no caso de obras, serviços ou compra, e de 50% no caso de reformas
de edifícios e equipamentos.
a) Modificações Unilaterais:
b) Modificações bilaterais: Salienta-se que há possibilidade de ser feita alteração bilateral (art. 65, II, Lei
8.666/93), por imposição de circunstâncias supervenientes. Celso Antônio entende que neste caso caberia
alteração acima do percentual do art. 65, § 1 o, se ocorrer verdadeira situação anômala. Com as mesmas
advertências, não pode fugir ao edital, pois frustraria o princípio da obrigatoriedade da licitação. (Ex: quando
conveniente a substituição da garantia, necessária a modificação do regime de cumprimento, ou do modo de
fornecimento, quando necessária a modificação da forma de pagamento em face de circunstância
superveniente * para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente, entre os encargos do
contratado e a retribuição da administração* é permitida supressão superior aos 25% do contrato por acordo
das partes).
5.2) Extinção unilateral do contrato pela Administração: nos dizeres de Celso Antônio, só pode ocorrer
nos casos previsto em lei (art. 58, II, cc. 78 e 79, da Lei 8.666/93), por razões de interesse público, fundado
e justificado, sem falta do contratado, caso em que será indenizado pelos prejuízos que comprovadamente
houver suportado; ou por falta do contratado, ocasião em que se dará a imediata assunção do objeto, com
ocupação e utilização do local, instalações e equipamentos necessário à continuidade da execução do
contrato, podendo se dar também a retenção de créditos até o limite dos prejuízos.
5.3) A exceptio non adimpleti contractus: Hely Lopes Meirelles diz que a exceção de contrato não cumprido
não se aplica aos contratos administrativos, de regra, quando a falta é da Administração. Impede-o o
PRINCÍPIO DA CONTINUIDADE DO SERVIÇO PÚBLICO. Refere o Mestre que o rigor tem sido abrandado
pela doutrina e pela jurisprudência, quando cria para o contratado um encargo extraordinário e insuportável.
Maria Sylvia leciona na mesma linha, de que o particular não pode interromper a execução do
contrato, face à supremacia do interesse público sobre o privado e da continuidade do serviço público, mas
o que ele deve fazer é requerer, administrativa ou judicialmente, a rescisão do contrato e pagamento de
perdas e danos, continuando na execução até ser liberado por ordem administrativa ou judicial. Exemplos
dessa possibilidade: art. 78, inciso XV da Lei 8666/93.
5.4) Equilíbrio Financeiro: a equação financeira originariamente estabelecida não pode ser violada pela AP,
o equilíbrio deve ser mantido durante toda a execução, a fim de que o contratado não venha a sofrer indevida
redução dos lucros normais do empreendimento. Desta decorre o reajustamento de preços e tarifas, para
que não se altere o equilíbrio em prejuízo do contratado, a AP majora o preço.
6) PRAZOS E PRORROGAÇÃO DOS CONTRATOS: A questão dos prazos está regulada no art. 57 e
parágrafo da Lei no 8.666/93. É vedado contrato administrativo com prazo indeterminado. Sua duração fica
adstrita à vigência dos créditos orçamentários. A própria Constituição, no art. 167, § 1 o, diz que não poderá
ser iniciado investimento algum cuja execução ultrapasse um exercício financeiro sem prévia inclusão no
plano plurianual ou em lei que autorize.
A Lei 8.666/93 excepcionou alguns casos, como os projetos previstos no Plano Plurianual e a
prestação de serviços a serem executados de forma continuada, cujo prazo poderá ser prorrogado pelo
mesmo período inicialmente previsto, desde que o edital o tenha previsto.
Giza-se que em matéria de prazo, a Lei 8.666/93 foi alterada pela Lei 8.883/94. O prazo máximo é
de 60 meses (05 anos). Os prazos de início, conclusão e entrega de obras admitem prorrogação sempre
justificada e autorizada pela autoridade competente. Contratos sob invocação de urgência, só pelo prazo de
180 dias.
No caso de compras, obras e serviços, a Administração poderá exigir que o contratante preste
garantias: caução em dinheiro, fiança bancária, as quais não poderão exceder de 5% do valor do contrato.
Condição inafastável para a eficácia dos contratos (Lei 8.666, art. 61, §1o) é a publicação resumida
do instrumento, assim como dos aditamentos, no diário Oficial, no prazo não excedente de 20 dias, contados
da data da assinatura.
Ver art. 55, Lei 8.666/93: objeto, regime de execução; preço e condições de pagamento; prazos
contratuais; especificação dos recursos orçamentários; etc.
Controle do Contrato art. 67 LL. À AP incumbem a realização de obras públicas e prestação de serviços
à coletividade, há de ter a correspondente prerrogativa de controlar os seus contratos e de adequá-los às
exigências do momento, supervisionando, acompanhando e fiscalizando a sua execução ou nela intervindo.
A AP tem o poder de fiscalizar detalhadamente, acompanhar a execução. Não é faculdade, é obrigação. Há
possibilidade, inclusive, de intervenção. Quando se suspeita da existência de justa causa para rescisão, mas
não tem nada concreto. Há irregularidades, pode intervir. Intervenção é uma medida extrema, em que se
tomam as rédeas da empresa concessionária, gerindo-a. Não é penalidade, é meio de apuração. Isso não
retira ao particular a autonomia da execução dentro das cláusulas avençadas, nem lhe retira a
responsabilidade.
Interpretação do CA as normas que regem são as de D. Público, suplementares pelos Princípios da TGC
e D. Privado. O objeto da contratação é sempre o atendimento do interesse público. As cláusulas dos CA
gozam de presunção de legitimidade, só elidível por prova em contrário. A interpretação das cláusulas do
contrato de atribuição deverá ser sempre restritiva das vantagens outorgadas ao particular, para não haver
discriminação.
Cláusulas EssenciaisNo CA há cláusulas essenciais (se faltar, há nulidade), que fixam o objeto do ajuste
e estabelecem condições fundamentais para a sua execução. As acessórias apenas complementam a
vontade das partes para melhor entendimento do contrato.
- garantias oferecidas
Garantias As leis adm. facultam à AP a exigência de garantia a fim de assegurar a execução do contrato.
Só pode ser pedida ao licitante vencedor (ele escolhe – art. 56 e parágrafos). Pode ser a caução, seguro-
garantia, fiança bancária, seguro de pessoas, bens ou compromisso de entrega de material ou equipamento.
10) EXECUÇÃO DO CONTRATO ADMINISTRATIVO:É a realização do objeto do contrato e suas
implicações. Na execução do contrato administrativo, como na do contrato particular, a cada obrigação do
particular corresponde um direito da AP e vice-versa. A AP tem o direito de exercer suas prerrogativas sem
ingerência do Judiciário. O principal direito do contratado é receber o preço, nos contratos de colaboração ou
de prestação, nos contratos de atribuição, bem como equilíbrio financeiro, e de pedir perdas e danos, no caso
de rescisão unilateral. Nos contratos de colaboração, as obrigações da AP reduzem-se ao pagamento do
preço, e do contratado, no cumprimento da obrigação. A AP deve entregar o local da obra ou serviço na
espécie e em condições que permitam ao contratado a regular execução do pactuado. O particular deve
observar as normas técnicas, empregar material adequado (quantitativa e qualitativamente – é obrigatória a
licitação do acréscimo, se não houver motivo para dispensa), execução pessoal do objeto, etc. A execução é
“intuitu personae”, tendo em vista a pessoa que venceu o procedimento licitatório, pois tem idoneidade
jurídica, técnica e financeira. Não são permitidas as sub-contratações não autorizadas pela AP (art. 72).
Independente de cláusula, o contratado é responsável pelos encargos trabalhistas, previdenciários, fiscais e
comerciais decorrentes da execução do contrato – art. 71 §1º .
Pode INTERDITAR, que é paralisar a obra ou serviço que venha sendo feita em desconformidade com o
direção da execução, controlando o pessoal, material, etc. – quando houver justa causa, pelo grave
descumprimento do contrato ou ocorrência de fatos estranhos que ponham em risco a execução. Evita a
descontinuidade do serviço público. Havendo inadimplemento, a AP pode descontar multa e reter caução,
sem necessidade de ordem judicial, só se houver resistência (arts. 86 a 88). A entrega e recebimento do
objeto do contrato constituem o final da execução. O recebimento pode ser provisório ou definitivo (arts.73 a
76). Não exonera o contratado pela solidez da obra, por cinco anos, nos termos do art. 1245 CC.
Hely alinhava as causas justificadoras da inexecução do contrato, ocasião em que o contratante fica
liberado dos encargos originários, podendo o ajuste ser revisto ou rescindido. São elas: força maior, caso
fortuito, fato do príncipe, fato da administração e interferências imprevistas.
1) Força maior e caso fortuito: são eventos que, por sua imprevisibilidade e inevitabilidade, criam
para o contratado impossibilidade intransponível para a normal execução do ajuste. Força maior é o evento
humano; Caso fortuito é o evento da natureza. A inflação brasileira, por exemplo, que já podia ser considerada
crônica, não se abriga nas hipóteses, conforme inúmeros julgados. O fundamental é que o acontecimento
traga o impedimento absoluto para o cumprimento da obrigação. A parte pode invocar a situação para eximir-
se da mora ou obter a rescisão do ajuste. Pode render ensejo à prorrogação (art. 57, §1 o, Lei. 8.666/93). Deve
haver relação de causalidade.
2) Fato do Príncipe: é toda a determinação estatal, positiva ou negativa, geral e imprevisível, que
onera substancialmente a execução do contrato. Deve ser intolerável e impeditiva da execução do ajuste. O
fundamento é o de que a administração não pode causar a ruína de seus contratados. Caracteriza-se
por um ato geral do Poder Público, que só reflexamente atinge o ajuste. Ex: proibição de importar insumos
necessário para o cumprimento do contrato.
4) Fato da Administração: Define Hely como sendo toda a ação ou omissão do Poder Público que,
incidindo direta e especificamente sobre o contrato, retarda ou impede a sua execução. Equipara-se à força
maior e produz efeitos excludentes da responsabilidade do particular pela inexecução do ajuste. Por exemplo,
quando a Administração, tendo contratado a realização de obra, não providencia as desapropriações; em
caso de reformas, não providencia a oportuna mudança da repartição ou retirada de materiais. Hely cita,
ainda, o caso de a Administração atrasar por um período os pagamentos. Nesses casos, o contratante pode
pedir a rescisão do contrato, amigável ou judicialmente; o que não pode é paralisar sumariamente.
A Lei 8.666/93 previu uma hipótese objetiva para o particular saber se pode ou não suspender a
execução do contrato. Está contida no art. 78, XV --- constitui motivo para rescisão contrato o atraso superior
a 90 dias dos pagamentos pela Administração. No art. 78, XVI, está previsto outro fato da Administração: a
não liberação, no prazo contratual, pela Administração, da área ou local objeto de realização de obra. É a
aplicação da cláusula "exceptio non adimpleti contractus", somente admitida, no âmbito dos contratos
administrativos, nessas hipóteses.
Sobre o equilíbrio econômico financeiro e o dever de boa fé da Administração, é Celso Antônio que,
citando Gordillo, afirma que o particular contratante procura a satisfação de uma pretensão econômica,
cabendo-lhe, para fazer jus a ela, cumprir com rigor e inteira lealdade as obrigações assumidas. Desde que
as atenda como deve, incumbe ao Poder Público respeitar, às completas, a equação econômico-financeira
avençada, a ser entendida com significado real e não apenas nominal. Descabe à Administração
menosprezar este direito. Não lhe assiste, por intuitos meramente patrimoniais, subtrair densidade ou o
verdadeiro alcance do equilíbrio econômico-financeiro. O contratante privado não pode buscar qualquer
proveito econômico adicional excedente do equilíbrio originário tratado, isto é, não previsto --- que seja
auferível em detrimento e às expensas da Administração. Nesta categoria se compreendem tanto a execução
com materiais inferiores aos supostos na avença, quanto a realizada por processos menos dispendiosos.
Além da rescisão do contrato, a inexecução pode gerar outras conseqüências, como a
responsabilidade civil, administrativa, suspensão provisória e declaração de inidoneidade. A
Responsabilidade Civil impõe-se para reparação do dano patrimonial. Só pode ser excepcionada pela
ocorrência de causa justificadora da inexecução, vez que a culpa fundamenta a responsabilidade civil. A
Responsabilidade Administrativa dá-se pela infringência de norma da AP ou do próprio contrato. As
sanções administrativas (advertência, multa, interdição de atividade, suspensão provisória e declaração de
inidoneidade) são aplicáveis diretamente pela AP mediante procedimento interno que faculta a defesa ao
infrator.
Suspensão Provisória – do direito de participar de licitação ou contratar com a AP. Esta para os
que culposamente prejudicaram a licitação ou execução do contrato. Declaração de Inidoneidade
– é a penalidade aplicada por faltas graves do contratado inadimplente para impedir que continue
contratando com AP (ver art. 87, parágrafo único). É sanção administrativa genérica, caracterizado
pelo dolo ou reiteração de falhas graves. Não se pune o erro com declaração de inidoneidade.
Admite-se o cancelamento desta se afastada a diretoria, a equipe ou o profissional responsável
pelas falhas (art. 87 §3º e art. 97).
Revisão do contrato: Pode ocorrer por interesse da própria AP ou pela superveniência de fatos novos que
tornam inexeqüível o ajuste inicial, impondo uma recomposição dos preços ajustados, além do reajuste
prefixado. Decorre da Teoria da Imprevisão.
Rescisão do contrato: É o desfazimento do contrato durante a sua execução por inadimplência de uma das
partes, ou pela superveniência de eventos que impeçam ou dificultem a execução ou tornem-na inconveniente,
ou ainda de pleno direito. Rescisão administrativa é a efetivada por ato unilateral da AP, por inadimplência do
contrato ou interesse público. É vinculada aos seus motivos ensejadores. É cabível indenização. Rescisão
amigável é a que se realiza por mútuo acordo das partes, para extinção do contrato e acerto dos direitos dos
distratantes. Normalmente é sem culpa. Rescisão Judicial é a decretada pelo Poder Judiciário em ação
proposta pela parte que tiver direito à extinção do contrato. Pode ser obtida pelo particular, sendo obrigatória
para este e facultativa para a AP. A Lei, no art. 78, XIII a XVII, admite 5 casos para o pedido de rescisão do
contratado. A ação é de rito ordinário, admitindo cumulação de pedidos. Também pode se dar através de Ação
Civil Pública ou Mandado de Segurança. A rescisão de pleno direito verificar-se-á independente de
manifestação de vontade de qualquer das partes, necessitando apenas do fato extintivo:
Falecimento do contratado;
Perecimento do objeto.
Não há, nesta modalidade, necessidade de ato formal de rescisão nem de decreto judicial.
1) Concessão de Serviços Públicos: (matéria já abordada acima). A carta de 88, no art. 21, XII, indica os
serviços que são privativos da União e que ela pode explorar diretamente ou mediante autorização,
concessão ou permissão ampliando o rol da carta anterior. O art. 25, §2 o, outorga aos Estados a exploração
dos serviços de gás canalizado. A concessão pode ser para empresa particular ou outorgada a empresa
estatal. Características da concessão: a) só existe concessão de serviço público quando se trata de serviço
próprio do estado; b) o poder concedente só transfere a execução, continuando titular do serviço; c) a
concessão tem de ser feita através de licitação (art. 175, CF) sempre; d) o concessionário executa o serviço
em seu próprio nome e corre os riscos do empreendimento; e) a tarifa tem a natureza de preço público e é
fixada pelo poder concedente. A política tarifária será objeto de lei; f) a responsabilidade por danos causados
pela concessionária é objetiva (art. 37, § 6o, CF); g) encampação é a rescisão unilateral da concessão, antes
do término do prazo. Retomada da execução do serviço pelo poder concedente quando a concessão se
mostrar contrária ao interesse público. A indenização deve ser prévia. Necessária a existência de lei que
autorize a encampação. Produz efeitos ex tunc; h) a rescisão unilateral, por motivo de inadimplemento é
denominada de caducidade ou decadência. Não cabe indenização ao particular e estará ele sujeito às
penalidades previstas (art. 78, da Lei 8.666/93). No cumprimento irregular, é suficiente a imperícia,
imprudência ou negligência. Deve ser grave e o contratado deve mostrar-se inabilitado para a execução. Na
lentidão, o contratado deve ser previamente advertido. O inc. IV configura a violação do personalismo do
contrato (o contrato administrativo é intuitu personae). No caso da associação com terceiros, a lei quer evitar
procedimentos fraudatórios da competição licitatória. A insolvência do contratado e a falência acarretam a
rescisão do contrato, pois não tem mais idoneidade financeira.
Concessão x Permissão: Importa distinguir as duas figuras. A permissão não tem natureza contratual. É ato
unilateral, discricionário e precário, mas depende de licitação (art. 175, CF). Seu objeto é a execução de
serviço público, continuando a titularidade com o Poder Público. O permissionário sujeita-se às condições
estabelecidas pela Administração. Como ato precário, pode ser alterado ou revogado a qualquer momento,
por motivo de interesse público. As permissões com prazo desnaturam o instituto e a revogação antes do
prazo sujeita a Administração à indenização.
Celso Antônio, sobre as permissões a prazo certo, diz que seu uso entre nós tem sido desnaturado.
Têm surgido leis que prevêem outorga de permissão para serviços cujo desempenho implica
investimento de considerável monta (p.ex: transporte rodoviário coletivo). Em sendo precária a
permissão, o permissionário fica em situação de instabilidade perigosa, pois os valores econômicos
em jogo são de grande monta. É bem de ver que o uso da permissão em tais casos incentiva a
corrupção, porque, de um lado, enseja pressões indevidas, fáceis de se fazer sobre quem não tenha
garantia nenhuma de segurança quanto à permanência do vínculo e, de outro, porque o sujeito que
não é assistido por direito algum recorre a quaisquer meios para obter o que não se quer lhe dar de
direito.
2) Concessão de obra pública: É o contrato administrativo pelo qual o poder público transfere a outrem a
execução de uma obra, para que a execute por sua conta e risco, mediante remuneração paga pelo
administrado, pelo prazo e condições estabelecidos no contrato. Ex.: construção de estrada com direito de
cobrar pedágio. Hoje se reconhece a existência desse contrato, como modalidade autônoma em relação a
concessão de serviço público. Isto ocorre principalmente na medida em que se aceita a possibilidade de que
o concessionário seja retribuído, não por meio de exploração de obra, após sua conclusão, mas por meio de
contribuição de melhoria. Em qualquer caso, não é a administração que remunera o concessionário pela
construção da obra; serão os futuros usuários, por meio de contribuição de melhoria ou por meio de tarifas
fixadas pelo poder concedente. A vantagem desse tipo de contrato é a possibilidade que tem a Administração
Pública de realizar obras e prestar serviços sem dispêndio de capital.
4) Permissão de Uso: é o ato administrativo unilateral, discricionário e precário, gratuito ou oneroso, pelo
qual a Administração Pública faculta a utilização privativa de bem público, para fins de interesse público. Pode
recair sobre bens públicos de qualquer espécie. Maria Sylvia ensina, quanto à licitação, que não é, em regra,
necessária, a não ser que leis específicas sobre deteminadas matérias o exijam, como ocorre no caso da
permissão para instalação de bancas nas feiras livres. É verdade que a Lei 8.666/93, no art. 2o, inclui a
permissão entre os ajustes que, quando contratados com terceiros, serão necessariamente precedidos de
licitação. Tem-se, no entanto, que entender a norma em seus devidos termos. Em primeiro lugar, deve-se
atentar para o fato de que a Constiuição Federal, no art. 175, parágrafo único, I, refere-se a permissão de
serviço público como contrato; talvez por isso se justifique a norma do art. 2 o da Lei 8.666/93. Em segundo
lugar, deve-se considerar também que este dispositivo, ao mencionar os vários tipos de ajustes em que a
licitação é obrigatória, acrescenta a expressão quando contratados com terceiros, o que faz supor a
existência de um contrato. Além disso, a permissão de uso, embora seja ato unilateral, portanto excluído da
abrangência do art. 2o, às vezes assume a forma contratual, com características iguais ou semelhantes à
concessão de uso; é o que ocorre na permissão qualificada, com prazo estabelecido. Neste caso, a licitação
torna-se obrigatória.
4.1) Autorização de uso: é o ato administrativo unilateral e discricionário, pelo qual a administração
consente, a título precário, que o particular se utilize de bem público com exclusividade. A utilização
não é conferida com vistas à utilidade pública, mas no interesse privado do utente. Aliás, essa é uma
das características que distingue a autorização da permissão e da concessão. Dispensa licitação e
autorização legislativa e não cria para o usuário um dever de utilização, mas simples faculdade. A
fixação de prazo tira à autorização o caráter de precariedade, conferindo ao uso privativo certo grau
de estabilidade; vincula a Administração à obediência do prazo e cria, para o particular, direito
público subjetivo ao exercício da utilização até o termo final previamente fixado; em conseqüência,
se razões de interesse público obrigarem à revogação extemporânea, ficará o poder público na
contingência de ter de pagar indenização ao particular, para compensar o sacrifício de seu direito.
Manifesta é a inconveniência de estipulação de prazo nas autorizações.
5) Contratos de obra pública e de prestação de serviços: Lei 8.666/93, art. 6o, I e II, define o que é obra
e o que é serviço. Em caso de notória especialização, pode ser contratado sem licitação. Ver art. 25, II, Lei
das Licitações. Os contratos de obra pública podem ser feitos sob empreitada. Ver art. 6o, VIII, Lei 8.666/93.
6) Empreitada: Está prevista na Lei das Licitações, no caso de ser partícipe a Administração, estão presentes
as cláusulas exorbitantes. Perante terceiros, a responsabilidade é do Estado, por força do art. 37, §6o, da CF.
7) Administração Contratada: a lei não prevê mais essa modalidade. O administrador não suporta os vícios
do empreendimento, que correm por conta da Administração.
I – os que atualmente lhe pertencem, que vier a adquirir ou lhe forem atribuídos;
Art. 47. Os bens do Distrito Federal declarados inservíveis em processo regular poderão ser
alienados, mediante licitação, cabendo doação somente nos casos que a lei especificar.
§ 1º Os bens imóveis do Distrito Federal só poderão ser objeto de alienação, aforamento, comodato
ou cessão de uso, em virtude de lei, concedendo-se preferência à cessão de uso sobre a venda ou doação.
§ 2º Todos os bens do Distrito Federal deverão ser cadastrados com a identificação respectiva.
Art. 48. O uso de bens do Distrito Federal por terceiros poderá ser feito mediante concessão
administrativa de uso, permissão ou autorização, conforme o caso e o interesse público, na forma da lei.
Art. 49. A aquisição por compra ou permuta, bem como a alienação dos bens imóveis do Distrito
Federal dependerão de prévia avaliação e autorização da Câmara Legislativa, subordinada à comprovação
da existência de interesse público e à observância da legislação pertinente à licitação.
Art. 50. O Governador encaminhará, anualmente, à Câmara Legislativa relatório do qual conste a
identificação dos bens do Distrito Federal objeto de concessão ou permissão de uso no exercício, assim como
sua destinação e beneficiário.
Art. 51. Os bens do Distrito Federal destinar-se-ão prioritariamente ao uso público, respeitadas as
normas de proteção ao meio ambiente, ao patrimônio histórico, cultural, arquitetônico e paisagístico, e
garantido o interesse social.
§ 2º A desafetação, por lei específica, só será admitida em caso de comprovado interesse público,
após ampla audiência à população interessada.
§ 3º O Distrito Federal utilizará seus bens dominiais como instrumento para a realização de políticas
de ocupação ordenada do território.
Art. 52. Cabe ao Poder Executivo a administração dos bens do Distrito Federal, ressalvado à
Câmara Legislativa administrar aqueles utilizados em seus serviços e sob sua guarda.
Princípios administrativos são os valores, diretrizes e mandamentos mais amplos que orientam os agentes
públicos quando da elaboração das leis administrativas, direcionando, igualmente, a atuação da
Administração Pública e condicionando a validade de todos os atos por ela praticados.
Ainda que não previstos de forma expressa na lei, devem ser respeitados pela Administração Pública pois
sintetizam idéias fundamentais sobre as quais serão emanados os comandos legais do Direito Administração
e o seu desrespeito gera a anulação do ato administrativo viciado. Aplicam-se tanto à Administração Pública
extroversa quanto à introversa97.
Princípios Implícitos, por sua vez, são aqueles que não constam expressamente em uma norma jurídica geral,
sendo fruto de elaboração doutrinária e jurisprudencial. Podem decorrer de um ou mais princípios expressos
ou porque tem somente suas aplicações taxativamente previstas em normas jurídicas de caráter geral.
Também podem possuir caráter constitucional ou legal, conforme sua posição no ordenamento jurídico. Como
exemplos clássicos, mencionam-se os princípios da razoabilidade (decorrente do devido processo legal) e
segurança jurídica (decorrente do respeito ao direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada).
Erro comum em provas de concurso é ter como verdadeira a frase que afirma que: “Princípios implícitos são
aqueles não previstos em lei”. Tal afirmação está errada! É importante ter em mente que mesmo os
princípios implícitos possuem previsão legal, apenas não estão colocados de forma expressa, sendo
necessário ao intérprete percebê-lo diante das garantias por ele fornecidas ou dos direitos por ele protegidos.
Um outro ponto que merece destaque é a discussão acerca da existência de hierarquia entre os princípios
administrativos constitucionais e legais ou entre os princípios explícitos e os implícitos. Embora seja bastante
sabido que a hierarquia das normas é essencial à manutenção de uma ordem jurídica, sobretudo diante dos
ensinamentos clássicos de Hans Kelsen, cuja norma hipotética fundamental fornece o fundamento de
validade de todas as normas por ela baseadas, em matéria principiológica tal regra não se aplica de forma
semelhante.
A existência de princípios supostamente contraditórios não caracterizam antinomias e, por esta razão, não se
resolvem por meio dos critérios normalmente aplicáveis às normas legais, quais sejam, o da hierarquia,
especialidade e cronologia. Isto se dá porque não se fala em conflito de princípios, mas de colisão, que
somente se resolve com o método da ponderação na análise do caso concreto. Fica aqui recomendado o
excelente artigo sobre o tema publicado pelo Juiz Federal Dr. George Marmelstein no site do jus navigandi,
em que sintetiza o tema com a seguinte frase:
97Segundo Barney Bichara, procurador do Estado de Minas Gerais e professor de Direito Administrativo do Praetorium, os conceitos de Administração
Pública introversa e extroversa passaram a ser exigidos em concursos públicos, motivo pelo qual é válida a análise dos temas de Direito Administrativo
sob ambas as óticas. A Administração extroversa expressa a relação entre Poder Público e administrados. Baseia-se, assim, nos princípios da Supremacia
do Interesse Público e da Indisponibilidade do Interesse Público. A Administração Pública introversa, por sua vez, é a atuação administrativa voltada
para o interior da Administração; são as relações com seus próprios órgãos e agentes. A Administração Pública introversa é instrumental em relação à
extroversa; aquela viabiliza esta.
98http://jus2.uol.com.br/doutrina/texto.asp?id=2625
Assim, o entendimento majoritário é de que não há hierarquia entre princípios, seja entre os constitucionais e
legais, seja entre os explícitos e os implícitos.
Por fim, antes de ingressar nos princípios administrativos em espécie, vale trazer à tona a importante decisão
tomada pelo STF na edição da súmula vinculante nº 13. Além da inegável importância do teor da referida
súmula, que julgou a questão do nepotismo, vedando-o em toda a esfera da Administração Pública, o mais
importante desse julgamento foi a exaração, por parte do nosso Tribunal Constitucional, do entendimento de
que os princípios da Administração previstos no art. 37 da Constituição Federal possuem aplicabilidade
imediata.
Esse princípio pode ser analisado de duas formas, ambas bastante exigidas em concurso.
Seu conhecimento prático é de fundamental valia, pois bem se sabe que, no sistema inglês adotado no Brasil,
o Poder Judiciário pode apreciar qualquer ato administrativo, no que concerne à legalidade. Ampliado-se o
conceito de legalidade, amplia-se também a competência do Poder Judiciário para atuar, sendo-lhe permitido
apreciar atos discricionários, quando em desacordo com o ordenamento jurídico.
Ademais, foi exigido na segunda fase do concurso de Procurador do Município de Natal agora em 2008. Quem
sabia passou!
Assim, nesta ótica o princípio da legalidade possui uma conotação negativa, revelando a mais pura expressão
do princípio da autonomia da vontade.
2.2.4 Legalidade na perspectiva pública
É o princípio da legalidade analisado sob a ótica da Administração Pública. Segundo esta perspectiva, a
Administração Pública só pode atuar mediante expressa previsão legal, estando impedida de agir, portanto,
sempre que não houver norma legal que lhe outorgue competência para tanto. Possui, logo, uma conotação
positiva, uma vez que a administração somente pode agir quando a lei autoriza ou determina.
Para quem gosta de ficar atento a termos novos, cada vez mais tem sido visto a legalidade na perspectiva
pública como sinônimo de “função cogente”, pois a Administração só age com fundamento na lei.
Tal vértice é exigido em concursos públicos, na maioria das vezes, sob a forma de questionamento acerca da
remoção de ofício.
Aqui, vale destacar que não se pode afirmar que a reserva de vagas para deficientes ou a limitação de idade
em concursos, por exemplo, violem o princípio da isonomia. Em casos tais, deverá o agente buscar ponderar
a isonomia com os princípio da legalidade e, sobretudo, da razoabilidade, analisando, no caso concreto, se
as exigências são razoáveis ou não.
Primeiramente, a maior casca de banana é colocar a publicidade como condição de validade, quando não
tem nada a ver com isso. A validade se relaciona ao respeito dos elementos do ato administrativo
(Competência, Finalidade, Forma, Motivo e Objeto), enquanto que a eficácia diz respeito à produção de efeitos
jurídicos.
Em segundo plano, a publicidade não é condição de eficácia de todos os atos administrativos, mas apenas
daqueles gerais e de efeitos externos (aqueles que visam a produção de efeitos para fora da Administração)
ou dos que oneram o patrimônio público.
A publicidade não significa publicar oficialmente; essa é apenas uma das formas de produção dos efeitos do
ato administrativo. Também existem outras formas de dar publicidade: através de sites oficiais, de rádio,
televisão, da divulgação do orçamento participativo, fixação na sede do prédio público, etc.
O princípio da Publicidade, por fim, não é absoluto. Segundo o art. 5º, incisos XXXIII e LX da Constituição
Federal, os atos poderão ser sigilosos quando imprescindível à segurança da sociedade e do Estado, ou
quando a defesa da intimidade ou o interesse social o exigirem, mas sempre com base na lei.
Observação que pode ser pedida em concurso é a exigência da Lei 9.051/95 de que o requerimento para
obtenção de certidões perante a Administração Pública deve conter as razões do pedido e a sua finalidade.
Já decidiu nossa jurisprudência no sentido de que a ausência de fundamentação ao pedido é causa de não
concessão da certidão, senão vejamos:
A burocracia sempre foi característica marcante da Administração Pública Brasileira, o que a tornava
dispendiosa e demorada. O fundamento era simples: quanto mais procedimentos, maior seria a
impessoalidade. Entretanto, esse modelo que visava a forma e o procedimento tornou a prestação da
atividade administrativa lenta e ineficaz, fazendo surgir a necessidade de uma Administração diferenciada,
Gerencial.
O modelo fracassado devia ser substituído por outro, focado em resultados e qualidades eficientes, tanto na
Administração introversa, como na extroversa. Não significou, todavia, abandonar a forma e os
procedimentos, mas privilegiar a qualidade e a eficiência, sobretudo porque o Poder Público também deveria
considerar outros princípios constitucionais, e não somente o da eficiência.
Assim, o princípio da eficiência inaugurou um novo modelo de administração pública no Brasil, ainda
perseguida pela maior parte dos setores públicos: a Administração Gerencial.
A teoria mais adequada é a de Celso Antônio Bandeira de Melo, para quem a despeito de proporcionalidade
ser uma faceta da razoabilidade, é preciso verificá-las separadamente para melhor compreensão. Pela
Razoabilidade, a Administração Pública estaria impedida de agir de forma anormal, sob argumento de cumprir
lei, ou seja, o Estado deve exercer atividade administrativa com sensatez. A Proporcionalidade seria a simples
adequação entre meios utilizados e fins propostos. Seria desdobramento da razoabilidade.
Como exemplos decorrentes desse princípio citam-se: 1) os atributos dos atos administrativos, a exemplo da
presunção de legitimidade e veracidade, da auto-executoriedade e da imperatividade; 2) as cláusulas
exorbitantes dos contratos administrativos, a exemplo dos poderes de alteração unilateral do contrato e de
rescisão unilateral do contrato; 3) as diversas formas de intervenção do Estado na propriedade privada, dentre
as quais a desapropriação, a servidão administrativa, o tombamento, a requisição administrativa, a ocupação
temporária e as limitações administrativas.
A doutrina majoritária e o STF defendem que, na súmula 473, ao se determinar a anulação de atos quando
eivados de vícios, haverá produção de efeitos ex tunc. Excepcionalmente, contudo, o STF entendeu ocorrer
anulação de atos administrativos sem efeitos ex tunc, no caso da nomeação, no final da década de 90, de
vários servidores públicos, sem prévio concurso. Vinte anos após a nomeação, o Tribunal de Contas da União
verificou tais irregularidades e pretendeu invalidar os atos, anulando nomeações e eventuais aposentadorias.
Contudo, o STF concordou com a anulação, mas determinou que seus efeitos seriam ex nunc, aplicando a
teoria do fato consumado (servidores que trabalharam na Administração Público receberam remuneração por
isso e não precisariam devolver valor algum). Nessa hipótese, a autotutela estatal encontrou limites na
segurança jurídica.
Mais uma vez, para quem gosta de termos não usuais, em esfera federal, esse controle se chama supervisão
ministerial, previsto no art. 19, do DL 200/67:
Servidor público tem direito de greve restrito, para que se garanta a continuidade;
Restrição à aplicação cláusula exceptio non adimpleti contractus: ; o particular não pode alegá-la
nos contratos firmados com a Administração Pública;
Encampação (extinção da concessão por razões interesse público, precedida de lei e prévia
indenização);
São hipóteses de interrupção da prestação do serviço, sem ofensa ao princípio da continuidade (art. 6º, § 3º,
lei nº 8.987/95):
OBS.: (1) Não se admite a interrupção quando a própria Administração está inadimplente. A concessionária
deverá utilizar meios ordinários de cobrança.
(2) Não haverá interrupção, se estiver em jogo direito à vida, mesmo tendo havido inadimplemento. Ex.:
paciente dependente de respirador artificial não pode ter interrompido o fornecimento de energia elétrica.
Pela ampla defesa, deve-se assegurar à parte todos os meios de defesa postos no ordenamento jurídico. E
embora a Súmula 343 do STJ determinasse ser obrigatória a presença de advogado em todas as fases do
processo administrativo disciplinar, a fim de garantir o direito à ampla defesa, a súmula vinculante nº 5 do STF
dispõe que não ofende a ampla defesa a ausência de advogado em processo administrativo disciplinar. Assim,
a súmula do STJ não é mais aplicável.
Pelo contraditório (ou Princípio da paridade das armas) devem ser garantidos às partes direitos iguais, para
assegurar o equilíbrio na relação, permitindo-se que possa opor, validamente, a uma pretensão contrária.
Vale trazer o seguinte questionamento: A Administração, na iminência de ver um imóvel desabar em um local
com muitas pessoas em volta, pode ordenar a demolição do mesmo sem ouvir antes o seu proprietário? A
resposta é positiva. Na hipótese ocorrerá o que a doutrina denomina de “Contraditório Diferido”, permitindo
que a Administração Pública possa agir, diante da situação emergencial colocada a sua frente.
Posteriormente, será promovida a notificação do proprietário do imóvel demolido para oferecer sua
manifestação, ocasião em que se verificará as formas de indenização ou de sua punição, conforme o caso.
Por fim, o Devido Processo Legal expõe que a parte não pode sofrer restrições, imposições, sem a
observância prévia de todos os procedimentos legalmente previstos para a prática do ato.
Importante questionamento reside na motivação ser obrigatória ou facultativa. Para a doutrina moderna, a
motivação é dever da Administração Pública democrática, afinal o povo tem direito de conhecer as razões do
ato administrativo. A própria Lei nº 9784/99, no art. 2º, parágrafo único, VII, determina que a motivação é
“critério a que Administração deve obedecer”. Contudo, no art. 50 do mesmo diploma, a motivação só se
mostra obrigatória nos casos por ela previstos, verbis:
Para a lei, portanto, em outros casos que não sejam os do art. 50, a motivação é facultativa.
A doutrina não vem acompanhando essa posição. Para ela, a motivação deve ser obrigatória,
independentemente de previsão legal.
É princípio implícito decorrente dos institutos do direito adquirido, ato jurídico perfeito e coisa julgada.
Discute-se, ainda, se coisa julgada administrativa (qualidade de imutabilidade de uma decisão administrativa
no âmbito estatal) pode ser novamente discutida no Poder Judiciário quando suscitado pela própria
Administração, prolatora do ato questionado. Para essa situação existem duas correntes:
1) Não é possível que a Administração entre com ação perante o Judiciário para rever um ato
praticado por si própria. Fundamento: o poder de autotutela da Administração tem limitação
no próprio princípio da segurança jurídica.
2) É possível que a Administração entre com ação perante o Judiciário para rever um ato
praticado por si própria. Fundamento: Sistema inglês adotado no Brasil (inafastabilidade da
jurisdição), segundo a qual não será excluída de apreciação do judiciário qualquer lesão ou
ameaça a direito. Pelo STJ, essa teoria tem predominado.
Ainda com relação à coisa julgada administrativa, o princípio prega que o Estado, ao interpretar lei
administrativa, não pode dar interpretação com aplicação retroativa. Pode, assim, haver mudança de
interpretação, mas sem ferir a segurança jurídica.