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Guy VERVAL
Tradução do Francês de
ÍNDICE
Introdução.
I. Disposição da Loja.
a) As Colunas do Templo,
b) As Grandes Luzes,
c) As luzes da Ordem,
e) A Espada,
f) Conseqüências.
a) Primeiro Grau,
b) Segundo Grau.
b) A simbólica do Templo
5) Conclusões.
V. Epílogo.
I. Introdução
O objetivo deste Trabalho é fazer uma apresentação sumária do Rito Escocês
Retificado, bem como de sua mensagem específica, ao longo de seus quatro
graus simbólicos. Lembramos, se é que isso é necessário, que os termos “rito em
quatro graus” não implicam em uma única organização administrativa.
Efetivamente, atualmente, os três primeiros graus, “azuis”, são administrados
exclusivamente pelas Grandes Lojas/Grandes Orientes, enquanto que o quarto
grau, “verde”, depende dos Grandes Priorados nacionais e independentes, da
Ordem dos Cavaleiros Benfeitores da Cidade Santa.
Entretanto, esta divisão administrativa não impede que haja uma continuidade de
conteúdo do primeiro ao quarto grau, pela simples razão de que seus rituais
foram escritos por uma só pessoa, J.B. Willermoz, de 1778 a 1809, e que estes
rituais são a soma de seus conhecimentos e de suas convicções. A este fato se
deve o caráter específico, ou retificado, pelo qual cada grau completa o grau
precedente e anuncia o grau seguinte. Por isso mesmo, o Rito Escocês Retificado
merece a denominação de Rito, mais do que nenhum outro sistema maçônico.
2.
4.
Sistema de Posicionamento do Rito Moderno Francês
5.
Este esquema simples (fig. 1) cria entre os símbolos da Loja laços sutis que levam
a reconhecer neles “estruturas” das quais não é possível separar nenhum
elemento. Estas estruturas “horizontais” intangíveis se articulam sobre “funções”
verticais intercambiáveis.
6.
ato espiritual de criação, que “representa” o gesto primordial do Grande Arquiteto do Universo (P.
De Laey, 1987).
O Rito Escocês Retificado não existiria, em sua forma atual, sem a ação deste
negociante de Lyon que foi um dos Maçons de maior destaque em seu século.
Iniciado em 1750 , Venerável Mestre em 1752, ele criou em 1760 a “Grande Loja
dos Mestres Regulares” de Lyon, da qual foi seu Grão-Mestre e depois Arquivista até à
Revolução.
Ávido de conhecimentos ele coleciona os altos graus, torna-se Rosa-Cruz (1765)
e rejeita com horror os graus de vingança do Cavaleiro Kadosch. Em 1767, ele é
recebido na Ordem dos Eleitos Cohen, criada por Martinez de Pasqually, e cujos
ensinamentos terão sobre o nosso Lyonês influência capital.
Em 1773, ele toma contato com a “Estrita Observância Templária” alemã, sistema
de altos graus criado pelo barão de Hund, e que tinha por objetivo relançar a
Ordem do Templo, extinta no séc. XIV. Esta Obediência exercia também sua
autoridade sobre as Lojas azuis que saíam da órbita inglesa, pela “retificação”, o
que era entendido como uma simples mudança de obediência. Willermoz adotou
as formas da Maçonaria templária alemã na qual introduz mudanças radicais. O
seu objetivo era simples: substituir a Ordem da Estrita Observância, uma
Maçonaria reformada cuja doutrina tinha por base os temas Martinistas cujos fins
reais não eram revelados senão aos corpos superiores dos Grandes Profetas
(reforma de Lyon, 1778).
7.
Os rituais “azuis”
1778
1782
1785
Os rituais “verdes”
1776
Primeira versão do “Escocês Verde”. Este ritual, assaz pequeno, não continha
nenhuma alusão a Santo André nem ao último Painel.
8.
1778
Nova versão, sempre mencionar ainda Santo André nem o último Painel. A jóia
não continha a representação de Santo André. Atualmente esta representação
existe no verso da jóia.
1809
Elaboração final do grau. Introdução de “Santo André”, sem dúvida sob influência
da obra do barão de Tschoudy, fundador do Grau de “Grande Escocês de Santo
André d’Escócia”, atualmente o 29º grau do REAA. O reverso da jóia representa
Santo André crucificado.
a) As Colunas do Templo.
9.
Mas estas inovações têm uma outra conseqüência ! Elas consagram a dicotomia
das Colunas – Tochas S – B – F e as Colunas J e B, que conservam a sua disposição
original.
Sabemos que no Rito Moderno Francês a Coluna J é associada à Beleza, a Coluna
B, à Força. No R.’.E.’.R.’. e nos ritos escoceses, em geral, isto não acontece.
12.
Painel do Segundo Grau do R.’.E.’.R.’.
13.
As Grandes Luzes
No Rito Moderno Francês a Loja é iluminada por três luzes fixas de menor
interesse : as janelas dispostas no Oriente, no Meio-dia e no Ocidente e, sobretudo,
por três Grandes Luzes (Sol, Lua e V.’.Mestre ou Estrela Flamejante), representadas pelos
grandes candelabros dispostos em esquadro ao redor do Tapete (SE – SO – NO) e também
pelo candelabro de três ramos colocado sobre o altar do Oriente. Estas luzes têm
significado solsticial, joanino e trinitário (P. Noel, 1983).
Estas três Grandes Luzes são sempre representadas pelas chamas das velas
colocadas nas colunas à volta do Tapete. Como sabemos, estas colunas são
também colunas do Templo.
14.
O candelabro do Oriente mantém, por isso mesmo, um valor trinitário mas, por
outro lado, as respostas acima atribuem uma função trinitária aos Vigilantes ! É
uma inovação em relação ao Rito Moderno Francês, que garantia aos Vigilantes
um significado exclusivamente vétero-testamentário.
R : Ele representa o Venerável Mestre, que ilumina todos os irmãos da Loja como
o Sol ilumina o mundo.
R : Ela representa os Irmãos Vigilantes que, assim com a Lua recebe e reflete a
luz do Sol para nos iluminar durante a noite, também eles recebem e refletem a
luz do Venerável Mestre sobre os irmãos da Loja.
Ora, a Beleza sempre tem sido o símbolo de Hiram Abif, segundo Vigilante da
lendária Loja de Mestre, e a Força simbolizava Hiram de Tiro, o primeiro Vigilante
dessa Loja.
R : Salomão, que recebeu de Deus o dom da Sabedoria; Hiram, rei de Tiro, símbolo da
Força, que forneceu a Salomão as madeiras e os materiais necessários para a construção do
Templo e Hiram Abif, símbolo da Beleza, que projeta e executa os ornamentos que deviam
embelezá-lo. Por outro lado, e isso
17.
As luzes de Ordem
Este poder quaternário do homem permitia que ele pudesse exercer livremente as
quatro faculdades espirituais: pensamento, vontade, ação e operação das quais
ele se serve, aliás, para precipitar a sua queda e criar o seu corpo material atual.
Devido a isso, ele perdeu o seu poder quaternário e de pensante, tornou-se
pensativo.
21.
Por outro lado, existem duas séries de três “Paramentos”: os móveis e os fixos.
Os móveis são o compasso, a trolha e o maço; os fixos são a pedra bruta, a pedra
cúbica e prancheta da Loja. Os últimos são atribuídos respectivamente aos
Aprendizes, aos Companheiros e aos Mestres, como as jóias fixas do Rito
Moderno Francês. Na relação dos móveis, a trolha substitui a Bíblia, que “não é
um emblema e nos ensina a Lei que era conservada no Santuário do Templo”. Esta
frase confirma, ressaltamos, a “dupla inversão retificada” ao situar o Santuário no
Oriente da Loja, colocado onde, no altar do Venerável Mestre, está o Livro
Sagrado.
A Espada
22.
Conseqüências
23.
apresentar mais do que emblemas e símbolos ... além disso, eles se baseiam no
Templo de Jerusalém”.
Lembramos:
24.
Ele faz três viagens em volta do Tapete da Loja, viagens simbólicas dos perigos da
vida profana, que são também uma promessa de um futuro melhor. Ele presta o
Juramento com a mão sobre o Evangelho entre o Esquadro (joelho direito) e o
Compasso (seio esquerdo), após o que recebe a luz dentro do círculo de Espadas
(introdução cavalheiresca ligada às condições sociológicas de antigamente). De
agora em diante ele pode ir ao Oriente pelos três passos em esquadro efetuados
sobre o Tapete (indicando assim que ele entrou na Loja). Após a sua consagração
pelo Venerável Mestre, ele recebe os segredos do grau: sinais, palavras e toques.
Finalmente, ele ouve a leitura da Instrução do seu grau, a qual, antigamente, era
feita em torno da mesa do ágape que fechava a reunião.
Esta cerimônia, simples, não era nada mais do que a admissão de um novo
obreiro na fraternidade. Ela não tinha nenhum caráter metafísico ou mesmo
intelectual. Tudo se explica facilmente: o candidato estava vendado ... porque não
tinha ainda prestado o juramento de discrição; ele tinha o seio esquerdo
desnudado ... porque ele devia demonstrar que não era uma mulher e porque
neste lugar se deve aplicar o compasso; os segredos lhe são comunicados ... que
lhe permitem fazer-se reconhecer ...
25.
O Rito Moderno Francês conserva assim um caráter operativo muito marcante! Sua
mensagem pode ser resumida em termos simples: o homem é um artesão da obra
que se realiza no Universo (a Loja) construído pelo Criador do qual as estruturas
simbólicas ilustram a passagem da Antiga para a nova Lei.
Que nos seja permitido lembrar que tudo o que compõe o grau de Companheiro,
em todos os ritos, constitui um afastamento da tradição operativa (salvo, talvez, o
grau de Mestre Instalado).
“Este fraco raio de luz deve ser para vós o testemunho da impossibilidade, em
vosso estado atual, de fixá-lo em todo o seu esplendor”. (pequena luz).
26.
do Primeiro Grau
27.
Esta promessa já estava contida nas palavras “Pesquisa, Perseverança, Sofrimento”
e este é o sentido profundo da expressão enigmática “Adhuc Stat”, inscrito na
coluna quebrada (Fig. 8, acima).
“Destinado a entrar neste templo, nós vos fizemos subir os dois primeiros
degraus, mas como ainda não era o momento certo, a porta permaneceu
fechada!”
“Dignai-te conceder ao nosso zelo um final feliz, para que terminemos o Templo
que nos propusemos construir para a Tua glória” (Oração de abertura dos
trabalhos).
E ainda:
28.
O Segundo Grau
Esta renúncia deve ser conseguida em paralelo com o trabalho na Pedra: “A pedra
sobre a qual deveis trabalhar era bruta e informe. Os próprios Mestres não
podiam reconhecer nela nem os defeitos nem a beleza. Sob a orientação dos
chefes, foste encarregado de limpá-la e de desbastá-la, a fim de que eles
pudessem estimar os verdadeiro valor e determinar a sua utilização” (2ºgrau).
Mais tarde, o Maçom aprenderá que estes instrumentos de trabalho são símbolos
das virtudes cardeais, revelados progressivamente em cada grau.
29.
“Retirai então o véu, meu Irmão, a fim de vos verdes tal como sois. Mas que
vossas deformidades não vos assustem demais e que não percais de vista que, de
um bloco informe e sem beleza, o artista pode fazer uma imagem exata do ser, o
mais perfeito que exista na natureza. Por outro lado, ele não pode executar o que
o mestre-de-obras deseja, se ele não tiver primeiro uma idéia real das perfeições
de seu modelo ...”
Isto lembra a decadência do homem, por suas faltas mergulhado em uma escória
disforme, e é uma exortação ao trabalho de redescoberta da Faísca divina mas
também uma advertência de que sem o Conhecimento, nenhuma realização é
possível.
30.
“Your first word is Jachin and Boaz is answer to it, and grip at the forefinger point.
Your second word is Magboe and bae is the answer to it, and grip at the wrist.
Your third word is Gibboram, Esimberel is the answer, and grip at the elbow, an
grip at the rein of the back”.
Mas, nos sete anos seguintes, vai se produzir uma revolução espetacular, com a
organização final em três graus distintos: Aprendiz, Companheiro e Mestre, o
último sendo agora um grau e não mais uma função. Se o grau de Companheiro
perdeu o seu status de coroamento iniciático, o novo grau de Mestre Maçom não
está mais ligado à direção de uma Loja. Esta nova divisão é definitivamente
consolidada em ‘730, data da publicação de “A Maçonaria Dissecada” de
31.
S. Pritchard, que descreveu o conteúdo das três cerimônias básicas. Como foi feita
esta divisão? Pode-se imaginar o seguinte esquema:
Talvez alguém se surpreenda de que, até aqui, não tenha sido feita nenhuma
menção à lenda hiramítica. A razão é clara! Este mito era desconhecido antes da
“Masonry Dissected” de Pritchard (1730), texto este que contém a primeira versão
desta lenda, muito próxima da conhecida atualmente.
A lenda seria adotada pelos Maçons franceses não sem antes a modificar e
enriquecer. Publicações francesas dos anos 1745-1755 nos mostram, com efeito, que
se os Aprendizes e os Companheiros recebiam, respectivamente, as
32.
palavra “Jehovah”, a verdadeira e primitiva palavra do Mestre. Era esta palavra que os
maus Companheiros queriam e que causou a funesta sorte de Hiram.
Nos mesmos textos, Salomão ordena a nove Mestres, e não mais a quinze
Companheiros, como afirma Pritchard, que partissem à procura do arquiteto. Por
um feliz acaso, eles descobrem a tumba camuflada sob um ramo de acácia e
decidem, por sua própria iniciativa, trocar a palavra do Mestre, que com toda a
certeza eles conheciam, acreditando que Hiram a tivesse revelado sob ameaça de
tortura. Nesta versão, a Palavra não estava perdida. Ela foi somente substituída, e
compreende-se daí que a antiga palavra seja comunicada ao recipiendário do
3ºgrau, comunicação essa que permanece até hoje uma característica
fundamental do Rito Moderno Francês.
33.
operativa original, até mais do que o atual rito inglês (dito de Emulação) que se afastou,
pelo seu desenvolvimento mais recente, do rito Antigo (P. Noël, 1984).
Os Irmãos que criaram o Rito Escocês Retificado tinham sido iniciados e elevados
segundo a tradição maçônica francesa. Assim, não surpreende que tenham
adotado a versão “Moderna” da lenda hiramítica, adaptando-a a seu projeto mais
vasto. Efetivamente, o discurso retificado é comunicado por etapas, ao longo de
quatro cerimônias sucessivas. O terceiro grau não é mais do que um ponto de
passagem e não o ápice do sistema. Deste modo, faz-se necessário ressaltar o
caráter transitório e incompleto das coisas, conservando o fundo tradicional. As
mudanças no desenrolar da cerimônia, a adaptação da lenda hiramítica e,
finalmente, a apresentação do símbolo chave do grau: o mausoléu (Fig. 9).
34.
Mausoléu do Terceiro Grau do R.’.E.’.R.’.
35.
Esta nova mudança, introduzida na França, amputa uma parte do 3ºgrau e, por si
só, justifica o aparecimento de graus superiores, que serão consagrados à busca e
à descoberta da Palavra Perdida. De fato, o Venerável Mestre se dirige assim aos
novos Mestres:
A expressão é uma exortação à busca da senda iniciática, que está longe de ser
concluída.
Pode-se dizer com mais propriedade que o homem, em seu estado atual, não
passa de um morto-vivo que, apesar disso, mantém no seu âmago a faísca divina,
lembrança de seu Primeiro Estado ?
36.
37.
A mensagem retificada torna-se agora mais clara. O primeiro grau insistia sobre o
estado de fraqueza e de decadência do homem, mas também numa promessa de
redenção ou de reintegração, para empregar uma terminologia mais adequada. O
segundo grau nos mostra que esta integração não pode ser alcançada a não ser
pelo trabalho sobre si próprio, pelo constante dos utensílios maçônicos, imagens
das virtudes cardeais. O terceiro grau, articulação incontornável do sistema, nos
mostra que o processo redentor passa pela experiência iniciática primordial: a
morte e o renascimento para a vida espiritual. Mas este terceiro grau retificado
deixa a mensagem incompleta porque a Palavra está perdida. A obra não ainda
terminada, como o sublinha a instrução dos Mestres:
R : Eu conheço somente duas letras indicativas: “J ... A ...” que estão gravadas
no túmulo”.
O quarto grau, o do Mestre Escocês de Santo André, nos faz viver a descoberta da
Palavra Perdida e nos dá a chave da doutrina do Rito.
Este quarto grau é, sem dúvida, a forma mais elaborada das versões do grau de
“Mestre Escocês”, cuja primeira menção oficial data de 1743 (Regulamentos Gerais
da Grande Loja de França, P. Noël, 1984).
O primeiro deles é o dos graus de vingança (graus dos Eleitos) nos quais se
descreve, com tintas fortes os detalhes macabros da punição dos assassinos de
Hiram.
38.
planície de Canaã. Esta oposição os obriga a conduzir sua obra em meio a uma população
hostil, daí a imagem impressionante do construtor que trabalha com a trolha , tendo ao lado
a espada. Estes temas fundamentais (Zorobabel, a reconstrução do templo e o uso conjunto
da espada e da trolha) estão já presentes na primeira versão impressa do grau de Escocês (O
Perfeito Maçom, 1744).
Willermoz, grande colecionador de graus maçônicos, conhecia estes temas. E ele os usou
para elaborar o 4ºgrau de seu rito, exceptuando-se os graus de vingança, dos quais ele tinha
horror, e realiza assim uma síntese das aspirações dos Maçons de sua época. A mesma
fonte levou, mais tarde, o Grande Oriente de França a elaborar o Rito Francês, que superpôs
mais quatros Ordens superiores aos graus azuis: Eleitos, Escocês, Cavaleiro do Oriente e
Príncipe Rosa-Cruz.
A Palavra Reencontrada
39.
O Simbolismo do Templo
Mas a entrada no templo, longe de ser uma apoteose, é seguida, sem demora,
pela morte iniciática, rica de promessas para o futuro, apesar da dissolução do
ser.
Pode-se afirmar que a assimilação Homem-Templo deve ser, por sua vez,
sincrônica (já desenvolvemos este ponto) e diacrônica. Esta concordância
diacrônica é um dos ensinamentos essenciais do 4ºgrau.
Com efeito, durante a cerimônia, são apresentados vários painéis que retratam o
futuro do Templo de Jerusalém. O primeiro Templo construído por Salomão “que
40.
- A perfeição original.
- A degradação.
- A destruição corporal
41.
- A ressurreição futura
“Adão possuía então um verbo poderoso que fazia nascer, ao comando de sua
palavra, segundo sua boa intenção e sua boa vontade espiritual, formas gloriosas
e semelhantes àquelas que apareciam na imaginação do criador”.
Martinez continuava:
“Esta forma gloriosa (do Adão primordial) não é outra coisa senão uma forma de
figura aparente que o espírito concebe e cria segundo o seu desejo e segundo as
ordens que recebe do criador ... Esta forma gloriosa teria sido perpetuada por
Adão pela reprodução de sua posteridade espiritual, mas, entretanto, sem
nenhum princípio de operação material, como nos tem mostrado a natureza,
com o advento e a ressurreição do Cristo e a descida do espírito divino no Templo
de Salomão” (Tratado, pág.44).
Mas esta forma gloriosa foi retirada de Adão devido ao abuso que ele fez de seu
verbo, depois de ter a sua intenção pervertida pelo Maligno. E ele foi punido
precisamente no produto da operação de seu verbo, isto é:
“que em lugar de uma forma gloriosa, ele só obtém de sua operação uma forma
tenebrosa, em tudo oposta à sua”.
Eis aí como, de um glorioso estado corpóreo primeiro, Adão cai num estado
corpóreo material, do qual se torna escravo. Estes dois estados apresentam,
entretanto, uma estreita analogia, porque o segundo não passa da imagem
condensada e figurada do primeiro:
42.
mudança nas leis pelas quais ele se governaria se tivesse permanecido no princípio de
justiça primeiro”.
“O guia que a Loja vos deu para vos conduzir da pedra bruta à pedra polida, e na
qual haveis aprendido a trabalhar, figura esta força ativa e benfeitora que preside à
vossa educação e favorece os vossos esforços. Não torneis os seus sonhos inúteis, usando
com freqüência o Esquadro, o Nível e o Prumo, para fazer desaparecer inteiramente a
pedra bruta, e que vossos Irmãos não vejam mais em vós outra coisa senão uma pedra
polida, digna de participar na construção do Templo em que trabalhais junto com eles”.
Mas esta reintegração está presente de duas maneiras. O segundo painel faz
alusão à fase vétero-testamentária (do Antigo Testamento), à fase da Antiga Lei.
O terceiro painel alude à sua fase neotestamentária (do Novo Testamento)
43.
A jóia do grau é constituída por dois triângulos entrelaçados, tendo em seu centro
a letra H cercada por quatro instrumentos maçônicos (Fig. 10, abaixo).
Face da jóia de Mestre Escocês de Santo André
44.
O seu sentido geral é dado pela instrução:
O triângulo “voltado para cima” (triângulo superior) deve ser identificado com a
lâmina de ouro onde está gravado o tetragrama.
Adicionalmente lembremos: o que acaba de ser dito pode ser aplicado tanto ao
Cristo como ao homem comum (dupla natureza, corpo glorioso ...) o que sugere
que, no espírito dos criadores do Rito, o Cristo converte-se num exemplo porque
assumiu a condição humana até ao fim, sem ser, portanto, qualitativamente
45.
46.
Conclusões
Em seu discurso este grau explicita, de modo bastante alusivo, o ensinamento dos
três primeiros graus. Finalmente descobrimos a admirável coerência da linguagem
simbólica. Com efeito, já ressaltamos em Martinez a teoria dos quatro estados: o
corpo glorioso, o corpo degradado e putrefato, o corpo reintegrado.
Reencontramos nos três graus simbólicos o esboço deste esquema: a degradação
ressaltada no primeiro, a promessa de reintegração pelo trabalho espiritual no
segundo, a reintegração virtual no terceiro grau (virtual porque parcial e fraca). O
quarto grau explicita esta mensagem, mas de maneira transcendente: a
degradação no 1º painel, a redenção parcial pelo trabalho no 2ºgrau e finalmente
a reintegração real do 3º e, sobretudo do 4º painel. Não se pode deixar de ficar
chocado pela analogia do conteúdo iniciático que permite, desta vez justamente,
afirmar que o grau superior e último explicita o conteúdo dos três primeiros
graus, sem que haja qualquer ruptura qualitativa em seu discurso.
De outro lado, ele transfere em sua versão revisada, uma mensagem com teor
metafísico e espiritual que pretende responder às questões fundamentais do
47.
Pode-se assim concluir que a Maçonaria do R.’.E.’.R.’. não tem muita coisa em
comum com pré Andersoniana. Os materiais de base são mantidos, mas o
acabamento do edifício é radicalmente diferente.
Mas, não nos enganemos, o edifício não é a Revelação Divina. É obra de homens
que conhecemos bem !
48.
A tese mais difundida é simples: a Maçonaria operativa era cristã, por razões
sociológicas evidentes, mas sua transformação em uma organização apontada
como especulativa, veio acompanhada de uma descristianização radical, abrindo a
porta das Lojas a todos, até aos ateus, desde que não fossem estúpidos (tese
sobre as Maçonarias Latinas, insustentável sob todos os aspectos) ou para todos
os crentes, sem distinção de confissão religiosa (posição das Obediências
regulares contemporâneas, entre elas as que trabalham no R.’.E.’.R.’.). As
constituições de Anderson de 1723 seriam o ponto de passagem entre a
Maçonaria operativa “cristã” e a Maçonaria especulativa “não-confessional”.
Esta tese se apóia na análise do primeiro artigo das constituições de 1723, “Sobre
Deus e a Religião”. Estas constituições são, como se sabe, uma compilação das
“Old Charges” (“Antigos Deveres”), documentos usados na Maçonaria operativa
inglesa, que começam por uma invocação à Santa Trindade. Anderson omite esta
invocação e estipula, neste primeiro artigo, que “se considera mais adequado
obrigá-los (os maçons) somente àquela religião com a qual todos os homens
concordam, quer dizer, serem pessoas de bem e leais ...”. Isto é suficiente para
afirmar que os fundadores de 1717 rompiam com uma tradição cristã da
Maçonaria operativa ? Não pensamos assim, porque a leitura atenta de todo o
texto contradiz esta interpretação.
Além disso, a omissão da fórmula trinitária por nosso pastor não é suficiente para
afirmar a adesão à “Religião natural”. Se na Idade Média, todos os textos, inclusive
os profanos, começaram por uma fórmula deste tipo, o mesmo não aconteceu no
século XVIII. O espírito da época tinha mudado! A manutenção da invocação nos
textos maçônicos do século XVII e mesmo no século XVIII (Ver as Constituições de
Roberts de 1722, em P. Noël, 1983) só comprova o conservadorismo inglês.
Mais absurdo ainda é a tese extrema daqueles que pensam que Anderson e seus
amigos romperam com a tradição católica dos Maçons ingleses do século XVII. É o
mesmo que ignorar o lado fundamental da reforma anglicana. Não esqueçamos
que os ingleses sempre permaneceram católicos, mesmo e sobretudo, após
haverem rompido com Roma.
“...A Igreja (anglicana) é tão romana quanto Roma, salvo que 1) ela rejeita
inteiramente o Papa como chefe da Igreja; 2) ele rejeita inteiramente os dogmas
ou doutrinas pelo ou após o Concílio de Trento ... Os serviços religiosos da Igreja
da Inglaterra têm por base a missa, e permaneceram inalterados. Por estas
49.
razões, os Maçons ingleses aceitaram as “Old Charges” (que parecem, aos Maçons
continentais, católicos romanos) porque eles representam a Igreja, tal e qual eles
sempre a conheceram. A lei canônica da Igreja inglesa é a mesma lei canônica,
inalterada, que vigorava em Roma em 1570 ...”
“ ... we being only, as Masons, of the Catholic Religion above mention’d; we are
also of all nations, tongues, kindreds and languages, and are resolv’d against all
politicks, as what never yet conduc’d to the welfare of the Lodge, nor ever will.
This charge has always been strictly enjoin’d and observ’d; but especially ever
since the Reformation in Britain, or the dissent and secession of these nations
from the communion of Rome” (Artigo VI, parágrafo 2)
Não podemos dizer melhor! Nosso pastor (Anderson) não hesita em qualificar de
católicos os Maçons ingleses reformados.
Desde o primeiro artigo, que concerne a “Deus e à religião”, é dito que o Maçom “
(must) be good man and true, or man of honour and honesty, by whatever
denomination or persuasions they may be distinguished”. Ora, a palavra
denomination, em Inglês, designa, até hoje, as diferentes seitas ou variantes das
religiões reformadas (Anglicanos, Presbiterianos, Quakers Metodistas ...) Todas
tendo em comum o fato de serem cristãs!
Na história lendária da Ordem (pág. 20), podemos ler: “The Arts and Sciences ...
came to Rome: which thus became the centre of learning ... under August Caesar
(in whose reign was born God’s Messiah, the Great Arquitect of the Church)”.
Frase cristã, sem nenhum equívoco!
50.
Continuando (pág. 28): “Whem the Goths and Vandals ... overran the Roman
Empire ... they utterly destroyed many of the finest edifices as the Asiatic and
African Nations fell under the same calamity by the conquest of the Mahometans,
whose grand design is only to convert the world by fire and sword, instead o
cultivating the Arts and Sciences”.
Tal como escreveu N. Cryer (1984), não se trata de uma linguagem impregnada de
um deísmo tolerante, mas sim da expressão sincera de um cristão. Willermoz, em
suas instruções, nunca se referiu deste modo aos muçulmanos!
Anderson não visava os cristãos do seu tempo, desunidos pelas guerras civis que
ensangüentaram a Inglaterra do século XVII. Ele não tinha por objetivo outra coisa
senão a reunião dos cristãos em Loja, qualquer que fosse a sua “denominação”:
Anglicanos, Presbiterianos, ou Dissidentes. E sabemos que não eram raros os
Judeus nas Lojas inglesas no século XVIII. Além disso, na edição de 1738 das
mesmas Constituições, Anderson confirma suas posições:
"In his 20th year after Augustus, or the vulgar A.D. 34, the Lord Jesus Crhist, aged
36 years, was crucified without the walls of Jerusalém ... and rose again from the
dead on the 3rd day, for the justification of all that believe him". (pag. 42).
Ou ainda (pag. 41), falando do 26º ano ( ? ) do reinado de Augusto: " The word
was made flesh, or the Lord Jesus Christ IMMANUEL (sic) was born, the Great
Architect or Grand Maste of the Christian Church".
51.
Onde se pode encontrar uma primeira etapa do processo de abertura das Lojas
aos não cristãos, é na segunda edição das Constituições (1738). O primeiro artigo
aqui é diferente: “A Mason is obliged by his tenure to observe the moral law, as a
true Noachita”. Esta pequena palavra, “Noachita” (descendente de Noé) abria o
caminho à tolerância recíproca entre Judeus e Cristãos, pois todos respeitam as
Leis de Noé. A “tolerância maçônica” é o resultado de uma longa evolução, que
não ousaríamos afirmar que já ter terminado.
O R.’.E.’.R.’. foi criado no século XVIII, antes que este lento processo fosse bem
sucedido. Ele é assim, naturalmente, impregnado deste cristianismo, mais alusivo
que explícito, sempre limitado pelo desejo de afirmar a complementaridade dos
dois testamentos (bíblicos).
Variante tardia do Rito Francês, o R.’.E.’.R.’. não se afasta das linhas de força de
seu tempo e a “regra maçônica em uso nas Lojas retificadas” não passa por cima
das convicções andersonianas ou das expressões dos primeiros estatutos da
Maçonaria francesa. Mas o R.’.E.’.R.’. enxerta em suas bases cristãs um discurso
metafísico que lhe é estranho. E pode-se perguntar se isto não é algo mais do
que um simples veículo, que conduz à exposição de uma linguagem universal, a
do esoterismo.
Esta questão é menos simples do que parece. Vejamos então os fatos, de que
dispomos, de forma nua e crua.
1) O Rito Moderno Francês, é a fonte maçônica do R.’.E.’.R.’. atual, pela
disposição da Loja, uma ilustração da passagem, ou da articulação da
52.
Antiga para a Nova Lei. Este Rito está então totalmente de acordo com a
Maçonaria Operativa e com as Constituições de Anderson (acabamos de ver isso).
Mas esta mensagem é mais alusiva que explícita, uma vez que ela deve ser
apreendida pelos olhos do espírito!
53.
De agora em diante, a posição do Rito Escocês Retificado torna-se clara. Ele tem
referências cristãs e se refere aos valores cristãos, mas eles estão colocados fora
de toda a ortodoxia eclesiástica e constituem de fato uma heresia que, em outros
tempos, teria levado à fogueira.
54.
Mas esta dupla posição, a submissão formal aos valores antigos, e o desejo de
abertura e de realização pessoal, deviam conduzi-los a uma atitude mais que
ambígua. No concerto dos ritos maçônicos do século XVIII, todos cristãos desde
Anderson, o R.’.E.’.R.’. ocupa um lugar de combate, porque só ele ousa colocar a
questão religiosa do lugar do homem no mundo cristão.
E, o pior, ele ousa trazer uma resposta para esta questão, resposta essa que,
longe de esvaziar a pessoa do Cristo, o integra nos termos inaceitáveis para toda
a Igreja constituída.
Por um surpreendente retorno da história, esta resposta, por sua referência ao
Cristo, torna-se, atualmente, a própria razão da desconfiança que o R.’.E.’.R.’.
suscita no seio das Maçonarias regulares (e irregulares também).
Esta situação difícil pode parecer injusta sob muitos aspectos. O que não impede
que (esta situação) não possa ser analisada com a serenidade de uma reflexão
realmente maçônica.
55.
Mas que fique claro para todos que esta abertura não pode, de maneira alguma,
colocar em risco a organização e a essência do rito. De fato, as Lojas retificadas
belgas estão abertas aos não cristãos, de acordo com a Constituição da Grande
Loja Regular da Bélgica. Mas esta abertura deve ser bem compreendida.
Ela não pode significar a eliminação das referências cristãs do ritual, sob o
pretexto de que poderiam ferir a consciência da alguns. Este processo é o mesmo
seguido pelos Maçons ingleses do século XIX quando decidiram
“desconfessionalizar” a Maçonaria. Isto levou a Maçonaria azul inglesa a deixar de
fazer referências aos valores vétero-testamentários (do Antigo Testamento) e, por
isso mesmo, quer se queira quer não, levando-a a privilegiar um mundo
intelectual que continha maior inspiração cristã do que judia! Esta rejeição de
todo o valor cristão levaria, para dar um exemplo no campo da Arte, à rejeição da
Missa em Si de J.S.Bach e à destruição da basílica de Vézelay. É difícil
compreender que uma mensagem espiritual ou estética possa ser realmente
(talvez principalmente) apreciada e amada, se nela não vemos nenhum
constrangimento doutrinário ?
Entretanto, a atitude britânica, por mais legítima que ela seja, assinaria a sentença
de morte do R.’.E.’.R.’., o que é suficiente para isolá-lo.
56.
Mas nesta informação, que eles devem prestar, os Maçons retificados deverão
sempre se colocar no plano esotérico porque o esoterismo é só Um, que aproxima
da Verdade e que transcende todos os exoterismos particulares. Limitar-se ao
domínio esotérico permite deixar de se preocupar com as confissões de fé
exotéricas . Mas permanecerá sempre imperioso descartar os que limitam a busca
do conhecimento baseado em um particularismo religioso (afirmação que, aliás,
se aplica a todos os ritos).
Epílogo
2) A introdução em seu aspecto ritual de uma mensagem que leva em conta a totalidade
do futuro humano. Esta mensagem, de forma cristã, transcende toda a religião organizada
porque visa ao essencial, ao principal, sem nenhum tipo de direção (ou controle)
eclesiástica.
3) A ligação a uma idéia cristã que, por ser a da Maçonaria original, não pode ser
condenada pelas Igrejas, sobretudo pela Igreja romana, porque se fundamenta no
esoterismo cristão, esoterismo esse cuja existência é negada precisamente pela Igreja.! E
este esoterismo cristão, desde que esotérico, é aceitável por todo o homem de boa fé, tenha
ele, ou não, qualquer vínculo exotérico.
Tudo isto não é isento de falhas (o R.’.E.’.R.’. é obra humana) nem de grandezas.
Estas qualidades são suficientes para que o R.’.E.’.R.’. mantenha um lugar
singular, mas não privilegiado, no concerto dos ritos maçônicos.
24 de janeiro de 1987