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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE LETRAS CLÁSSICAS E VERNÁCULAS
CURSO DE LETRAS
ESTÁGIO SUPERVISIONADO VI E VII
ALUNO: Joao Paulo Lira dos Santos Mat.: 11317078
ALUNO: Paula Rachel Louro Leite Mat.: 11313604

Projeto Didático-Temático
Miséria e Desigualdade nas habitações sociais brasileiras

JOÃO PESSOA
2017
APRESENTAÇÃO

As disciplinas de Estágio Supervisionado VI e VII propõem a elaboração


de um projeto didático-temático a ser aplicado durante 40 horas de regência.
Tal projeto se configura como um elemento importante para a prática docente,
pois trata-se de uma alternativa à criação de aulas, a fim de que se trabalhe
com os conteúdos de forma articulada.
O presente projeto foi baseado na observação feita dos alunos nas aulas
de literatura e língua portuguesa, atentando para as condições físicas da
escola, da sala de aula, do docente, sua formação acadêmica, perspectivas de
abordagem quanto à relação de ensino-aprendizagem de língua materna,
relacionamento com os alunos e deles para com ele, recursos didáticos
utilizados, entre outros.
Além da observação das necessidades do alunado em seu processo de
formação mais ampla, a escolha temática surgiu a partir da exigência da
professora Franciene de que deveríamos seguir a linha cronológica que ela
estaria trabalhando em sala e nos focássemos na escola literária Naturalismo.
Assim, delimitamos uma obra principal do período Naturalista e tivemos
liberdade para elaborarmos a temática social abordada a partir da obra
escolhida. Assim, este projeto didático-temático tem como pretensão trabalhar
conceitos sociais referentes à miséria e à desigualdade social, conto “Casa de
Cômodos” e o romance “O Cortiço”, ambos do autor naturalista Aluísio
Azevedo, como gêneros principais, e charges, quadrinhos, fotografias e vídeos,
como gêneros suporte.
O projeto será realizado na Escola Estadual de Ensino Fundamental e
Médio Compositor Luiz Ramalho, no turno da noite, no Ciclo VI da Modalidade
de Educação de Jovens e Adultos (EJA), que corresponde ao primeiro e
segundo ano do ensino médio.
Atualmente a turma conta com 40 alunos matriculados, mas com cerca
de 10 a 12 alunos que realmente frequentam as aulas, como pudemos
perceber em nosso período de observação. A turma é bem heterogênea em
relação a sexo e faixa etária. Em geral os alunos são tranquilos, participativos e
amigos entre si, porém denotam bastante dificuldade quanto aos assuntos
estudados nas aulas de Língua Portuguesa e Literatura. A professora nos
alertou quanto às dificuldades dos alunos, que apresentam erros primários de
português e baixo nível de interpretação de texto.

JUSTIFICATIVA

A partir da necessidade inicial de termos que nos focar em trabalhar o


Naturalismo no Brasil, elencamos o Conto “Casa de Cômodos” como texto
principal do nosso projeto, para leitura em sala de aula, e também será
proposto a leitura completa do romance “O Cortiço”, como uma tarefa de casa
e suporte para as discussões em sala de aula.
Uma das grandes dificuldades que o professor precisa lidar é com a falta
de interesse dos alunos com a leitura e, em se tratando da modalidade de
Ensino de Jovens e Adultos, essa barreira se torna ainda mais difícil de
transpor.
A modalidade EJA traz como desafio uma integração aluno/sociedade
que envolva a prática de linguagem do seu cotidiano, seja pessoal ou
profissional. Os alunos do EJA, em sua maioria, já estão inseridos no mercado
de trabalho, estiveram algum tempo fora de sala de aula, distanciando-se da
rotina de estudos, e já possuem opiniões formadas sobre vários assuntos.
Assim, incentivar o hábito e o gosto pela leitura torna-se um desafio.
Desta forma, é imprescindível o papel do professor guia (SOLÈ, 1998),
que busca garantir o elo entre as construções do aluno e as construções
socialmente estabelecidas. A escolha de textos que possibilitem a identificação
dos alunos com os mesmos, seria um ponto de partida importante para o
professor nesse processo.
Assim, este projeto tem como desafio proporcionar uma metodologia em
sala de aula que contemple temas do cotidiano dos alunos, permitindo a
discussão sobre temas gerais do dia a dia e permitindo-lhes a exposição de
suas opiniões e questionamentos.
Com isto, para impulsionar o desenvolvimento de um perfil leitor entre os
alunos, foi escolhido o gênero conto para leitura compartilhada em sala de
aula. O Conto possui uma estrutura muito próxima do romance, mas com
menor extensão e com foco em um só conflito. Desta forma, a escolha do conto
contribui para a aproximação dos leitores com o gênero romance, que será lido
em casa, permitindo-lhes uma progressão no que se refere ao nível de
extensão de leitura e dificuldade de interpretação.
Ademais, também será utilizado o gênero charge como ponto de partida
para provocar no aluno o interesse pela leitura, partindo de textos curtos e
menos complexos. Além disso, as charges possuem uma característica mais
cômica, auxiliando no processo de “quebrar o gelo” com a turma. Também
serão utilizados quadrinhos, fotografias e documentários, como gêneros
suporte.
Esta aproximação entre os gêneros escolhidos com o cotidiano dos
alunos busca facilitar os trabalhos nos eixos de leitura e análise linguística.
Antunes (2003) argumenta que a leitura confere o poder ao indivíduo de olhar
em volta e perceber o que o circunda, assumindo os diferentes papéis na
construção de uma sociedade que respeite a lógica do bem coletivo e dos
valores humanos.
No que se refere ao eixo de Produção Textual, este projeto englobará
atividades de escrita e reescrita. Dolz, Noverraz e Schnewly (2004) observam
que durante o processo de escrita, cada aluno conseguirá seguir, pelo menos
parcialmente, as instruções dadas. É neste ponto que se faz possível perceber
as capacidades que os alunos já dispõem e as que precisam ser
desenvolvidas. Assim, a atividade de reescrita permitirá que as questões
relativas às características de um gênero sejam abordadas de forma
contextualizada e seja, então, concluída a produção final, onde o aluno
colocará em prática as noções e instrumentos apreendidos durante as aulas.
OBJETIVOS

Objetivo Geral:

 Despertar o interesse pela leitura dos diversos gêneros textuais e


aprimorar as competências de leitura e produção de textos.

Objetivos Específicos:

 Viabilizar o estabelecimento de relações entre gêneros textuais


diversos e a sociedade que circunda o estudante;
 Identificar os discursos sociais nos textos;
 Compreender as características da escola literária naturalista;
 Entender as características do gênero textual conto,
diferenciando-o de outros gêneros narrativos literários;
 Mobilizar a criatividade, motivação e a coerência com a situação
comunicativa;
 Estimular a prática da escrita;
 Associar temas de textos literários a um contexto de produção;
 Permitir que os alunos compreendam e corrijam seus erros
comuns de escrita;
 Aprimorar as competências de leitura e produção de textos
levando em conta os mecanismos de funcionamento da língua;
CONTEÚDOS

 Miséria e desigualdade nas habitações sociais no Brasil;


 Características e contexto histórico e social do período literário
Naturalismo;
 Pesquisa em dicionário;
 Gênero charge;
 Gênero Conto;
 Gênero Romance;
 Gênero Documentário;
 Gênero Fotografia;
 Produção de um texto descritivo;
 Produção de uma carta;
 Produção de uma peça de teatro;
SEQUÊNCIA DIDÁTICA

 Aula 1

- Iniciar a aula apresentando charges sobre as condições das habitações


sociais.
- Discutir rapidamente sobre a importância da linguagem não verbal no gênero
charge.
- Auxiliar na interpretação das charges.
- Iniciar discussão acerca da realidade das habitações encontrada nas charges
comparando com a realidade social dos alunos: “estas charges lembram algum
lugar?”, “vocês conhecem alguma situação parecida com as das charges?”.
- Finalizar a aula solicitando uma reflexão sobre o tema, avisando que este
será retomado na próxima aula.

 Aula 2

- Iniciar a aula retomando a discussão sobre as habitações sociais da aula


anterior: “Na aula passada vimos algumas charges sobre dificuldades sociais,
alguém quer compartilhar algum comentário dentre os muitos que surgiram em
nossa discussão?”.
- Apresentar uma nova leitura: “Agora trouxemos um pequeno conto que trata
de uma habitação social muito comum no Brasil, no final do século XIX, e
vamos realizar uma leitura compartilhada, em voz alta”.

CASA DE CÔMODOS
- Aluísio Azevedo -

Há no Rio de Janeiro, entre os que não trabalham e conseguem sem base


pecuniária fazer pecúlio e até enriquecer, um tipo digno de estudo – é o “dono de
casa de cômodos”; mais curioso e mais completo no gênero que o “dono de casa de
jogo”, pois este ao menos representa o capital da sua banca, suscetível de ir à
glória, ao passo que o outro nenhum capital representa, nem arrisca, ficando, além
de tudo, isento da pecha de mal procedido.
Quase sempre forasteiro, exercia antes um ofício na pátria que deixou para vir
tentar fortuna no Brasil; mas percebendo que aqui a especulação velhaca produz
muito mais do que o trabalho honesto, tratou logo de esconder as ferramentas do
ofício e de fariscar os meios de, sem nada fazer, fazer dinheiro. Foi a um patrício
seu, estabelecido no comércio, pediu e dele obteve uma carta de fiança, alugou um
vasto casarão de dois ou três andares, meteu-se lá dentro, pregou escritos em
todas as janelas; e agora o verás!
Como na Capital Federal há mais quem habite do que onde habitar, começou
logo a entrar-lhe pela casa, à procura de cômodos, uma interminável procissão de
desamparados da sorte e de magros lutadores pela vida, que lhe foram enchendo
surdamente, do primeiro ao último, os numerosos quartos. Mais houvesse, e não
faltariam para os ocupar estudantes pobres, carteiros e praticantes do correio,
repórteres de jornais efêmeros, moços de botequim, operários de todas as
profissões, comparsas e figurantes de teatro, pianistas de contrato por noite,
cantores de igreja, costureiras sem oficina, cigarreiros sem fábrica, barbeiros sem
loja, tipógrafos, guarda-freios, limpa- trilhos, bandeiras de bondes, enfim toda essa
gente, para quem se inventaram os postos mais ingratos na luta pela vida, os mais
precários e os mais arriscados; essa gente que em tempo de paz morre de fome, e
em tempo de guerra dá de comer com a própria carne às bocas de fogo das
baterias inimigas.
Mas, por entre a aflita farandolagem dos ganhadores de pão para a boca,
surge sempre na casa de cômodos um tipo que é o desespero do locador e o
tormento dos locatários. Refiro-me ao poeta boêmio.
O poeta boêmio é para o alugador de cômodos o osso do seu ofício. Sem
emprego, sem rendimentos de nenhuma espécie, sem mesada e sem mobília,
carregado de sonhos, que são os filhos que lhe deu Quimera, sua amante, o poeta
vive da desgraça e da glória de ser poeta, atravessando indiferentemente todos os
andares da miséria, olhos fitos no ideal, aos encontrões com os miseráveis que
sobem e com os miseráveis que descem as longas escadarias do negro e frio
castelo. Seu pé quase descalça não respeita o que topa, nem escolhe o terreno que
pisa, e vai mundo afora, kneippeando pelos simétricos canteiros da burguesia
indignada e pelos relvosos coradouros das lavadeiras em fúria.
Esse é o anjo mau da casa, o terror dos vizinhos, o mal querido de todos os
locatários. Dorme enquanto os outros trabalham e durante a noite conversa com as
estrelas, declamando em voz alta coisas de amor e de fantasia que, ali, só ele e
elas compreendem. Esse nunca paga. Mas que importa o calote de um boêmio, cujo
quarto era um pouco maior que uma sepultura, se os outros inquilinos aí ficam para
ir despejando, todos os meses, na funda algibeira do malandro, os trinta, os
quarenta, os cinqüenta e os cem mil-réis; e se com esse dinheiro pode o alugador
de cômodos pagar o aluguel do prédio, e comer, e beber, e gozar, pondo ainda de
parte o seu pecúlio em que já se abotoa a futura riqueza e talvez a futura comenda?
E assim vai vivendo o esperto forasteiro à barba longa, perna alçada e barriga
farta, enquanto os outros trabalham para ele.
Lá um belo dia de fim de mês, um dos estudantes da casa, tendo devorado a
mesada, atira a canastra pela janela e foge em seguida, abandonando a estreita
cama de ferro, a mesinha e o lavatório; e, como os maus exemplos aproveitam
sempre, um segundo estudante, e um terceiro e um quarto, seguem, como as
famosas pombas de mestre Raimundo Correia, o vôo do companheiro, e cá vão
ficando no pombal as meias cômodas, as estantes americanas e as cadeiras
compradas no belchior.
E outros, e outros inquilinos, atrasados no pagamento do mês vencido, lá se
vão a contragosto não já pela janela, mas pela porta da rua, com uma
descompostura atrás, deixando nas gloriosas mãos do triunfador, como despojo da
luta, os tarecos que constituíam a sua mobília.
Então, o dono da casa de cômodos começa a anunciar “Quartos mobiliados” e
começa a cobrar aos novos hóspedes o duplo do que cobrava aos primitivos. E, ao
fim de algum tempo, aí está o nosso homem pondo de parte, a cada mês, o triplo do
que dantes punha, porque já não aluga aposento sem mobília e sem roupa de
cama.
São sempre os inquilinos quem guarnecem de móveis as hospedarias desse
gênero. Daí a ter o que se chama “Casa de pensão” só vai a um passo, e a coisa
faz-se quase sempre do seguinte modo: – Como o malandro nada mais tem a fazer
durante todo o mês do que cobrar os aluguéis no dia primeiro, enche as horas de
calor a ensinar habilidades ao seu cão ou ao seu papagaio, e nas horas frescas vai
para a calçada da rua cavaquear com os vizinhos.
Entre estes há sempre uma quitandeira de quem o dono da casa de cômodos,
começando por merecer a simpatia, acaba por conquistar a confiança e o amor.
Juntam-se e, quando ela dá por si, está cozinhando e lavando para todos os
hóspedes do eleito do seu coração, sem outros vencimentos além das carícias, que
lhe dá o amado sócio.
Assim chega a empresa ao seu completo desenvolvimento, e o dono da casa
de pensão começa a ganhar em grosso, acumulando forte, sem trabalhar nunca,
nem empregar capital próprio, até que um dia, farto de aturar o Brasil, passa com as
luvas o estabelecimento e retira-se para a pátria, deixando, naturalmente também
com luvas, a quitandeira ao seu substituto.
E, quando algum dos inquilinos fala mais alto no seu quarto, ou quando os
estudantes e as costureiras dão para rir e cantar, acode o locador e ordena que se
calem, gritando que não admite barulhos em “sua casa”.
Sua casa! Ora, eis aí, ao meu ver, uma coisa singularíssima. O aluguel
daquele prédio é pago pelos hóspedes, como é a mesa, o gás, a água e o serviço
dos criados. Tudo que ali está dentro foi comprado pelos locatários e não pelo
locador; ali só há um homem que não trabalha e que não paga o lugar que ocupa,
nem a comida que consome, nem o serviço dos que o servem; e é, no entanto, esse
homem justamente quem só tem ali o direito de dizer que está em sua casa e o
único que grita e manda como verdadeiro dono.
Será legal, mas é injusto e é duro. Se ao menos o especulador tomasse a
responsabilidade do que se passa dentro da “sua casa”, vá, mas nem isso acontece,
porque, quando os inquilinos são vitimados pelos gatunos, ninguém lhes responde
pelo objeto subtraído.
Entrássemos lá agora, neste instante, e espiássemos para dentro de cada
quarto. Neste veríamos um pobre homem a fazer charutos; naquele uma mulher a
coser camisas; mais adiante um artista a desenhar; outro a decorar um papel de
comédia; outro a escrever; outro a consertar relógios; e aqui um estudante às voltas
com uma caveira e um compêndio de medicina; e ali um fotógrafo a preparar
clichês. E, se indagássemos o que fazem os hóspedes ausentes cujos quartos
estão fechados e não garantidos por ninguém, saberíamos que todos eles andam a
ganhar a vida, ao balcão, na rua, nas oficinas, nas secretarias, nas redações das
folhas e nos escritórios de todos os gêneros. Pois bem! Enquanto toda essa gente
moureja, o que faz o locador?
O locador, defronte do seu papagaio, estala os dedos com a mão no ar e,
risonho, babar-se feliz, diz-lhe pela milésima vez: “Papagaio real, para Portugal!
Quem passa meu louro? É o rei que vai à caça!”
Todavia, certo é que dentre toda aquela gente, é ele o único que tem
imputabilidade social no nosso meio.
Será justo? Não sei, mas parece-me que o direito de ter casa de alugar
cômodos ou casa de pensão devia ser conferido pelo governo, como um privilégio
de recompensa, somente aos inválidos da pátria, que já não possam trabalhar, ou
às viúvas dos militares, dos artistas e dos filósofos, que se tenham sacrificado em
nossa honra e morrido na pobreza.
Que diabo! não vale a pena fazer propaganda de imigração para termos belos
malandros que ensinem papagaios a falar!

- Finalizar a aula solicitando aos alunos que releiam o conto em casa, grifando
as palavras que não entenderam.

 Aula 3

- Iniciar a aula questionando aos alunos sobre a leitura do conto em casa e


pedindo que listem em voz alta as palavras “difíceis” que grifaram.
- Anotar no quadro as palavras na medida que os alunos forem listando.
- Solicitar que dois ou três alunos peguem dicionários na biblioteca para que a
turma procure em conjunto os significados das palavras elencadas.
- Durante a pesquisa, atentar para as palavras que são desconhecidas por
terem caído em desuso, por se tratar de um texto antigo.
- Apresentar algumas características do naturalismo com ganchos nos
significados das palavras que surgirem.
- Durante o bate papo, atentar para a fidelidade das descrições do conto, como
característica naturalista, tanto dos personagens quanto do espaço físico.
- Finalizar a aula solicitando que os alunos pesquisem em casa alguns autores
e obras do período naturalista.

 Aula 4

- Iniciar a aula lendo para os alunos o seguinte trecho, extraído do capítulo X


do romance “O Cortiço”:

De cada casulo espipavam homens armados de pau, achas de lenha, varais de


ferro. Um empenho coletivo os agitava agora, a todos, numa solidariedade briosa,
como se ficassem desonrados para sempre se a polícia entrasse ali pela primeira vez.
Enquanto se tratava de uma simples luta entre dois rivais, estava direito! “Jogassem
lá as cristas, que o mais homem ficaria com a mulher!” mas agora tratava-se de
defender a estalagem, a comuna, onde cada um tinha a zelar por alguém ou alguma
coisa querida.
- Não entra! Não entra!
E berros atroadores respondiam às pranchadas, que lá fora se repetiam
ferozes.
A polícia era o grande terror daquela gente, porque, sempre que penetrava em
qualquer estalagem, havia grande estropício; à capa de evitar e punir o jogo e a
bebedeira, os urbanos invadiam os quartos, quebravam o que lá estava, punham
tudo em polvorosa. Era uma questão de ódio velho.
E, enquanto os homens guardavam a entrada do capinzal e sustentavam de
costas o portão da frente, as mulheres, em desordem, rolavam as tinas, arrancavam
jiraus, arrastavam carroças, restos de colchões e sacos de cal, formando às pressas
uma barricada.
As pranchadas multiplicavam-se. O portão rangia, estalava, começava a abrir-
se; ia ceder. Mas a barricada estava feita e todos entrincheirados atrás dela. Os que
entravam de fora por curiosidade não puderam sair e viam-se metidos no
surumbamba. As cercas das hortas voaram A Machona terrível fungara as saias e
empunhava na mão o seu ferro de engomar. A das Dores, que ninguém dava nada
por ela, era uma das mais duras e que parecia mais empenhada na defesa.
Afinal o portão lascou; um grande rombo abriu-se logo; caíram tábuas; e os
quatro primeiros urbanos que se precipitaram dentro foram recebidos a pedradas e
garrafas vazias. Seguiram-se outros. Havia uns vinte. Um saco de cal, despejado
sobre eles, desnorteou-os.
Principiou então o salseiro grosso. Os sabres não podiam alcançar ninguém por
entre a trincheira; ao passo que os projetis, arremessados lá de dentro, desbaratavam
o inimigo. Já o sargento tinha a cabeça partida e duas praças abandonavam o campo,
à falta de ar.
Era impossível invadir aquele baluarte com tão poucos elementos, mas a polícia
teimava, não mais por obrigação que por necessidade pessoal de desforço.
Semelhante resistência os humilhava. Se tivessem espingardas fariam fogo. O único
deles que conseguiu trepar à barricada rolou de lá abaixo sob uma carga de pau que
teve de ser carregado para a rua pelos companheiros. O Bruno, todo sujo de sangue,
estava agora armado de um refle e o Porfiro, mestre na capoeiragem, tinha na cabeça
uma barretina de urbano.
- Fora os morcegos!
- Fora! Fora!
E, a cada exclamação, tome pedra! tome lenha! tome cal! tome fundo de
garrafa!
Os apitos estridulavam mais e mais fortes.
Nessa ocasião, porém, Nenen gritou, correndo na direção da barricada.
- Acudam aqui! Acudam aqui! Há fogo no número 12. Está saindo fumaça!
- Fogo!
A esse grito um pânico geral apoderou-se dos moradores do cortiço. Um
incêndio lamberia aquelas cem casinhas enquanto o diabo esfrega um olho!
Fez-se logo medonha confusão. Cada qual pensou em salvar o que era seu. E
os policiais, aproveitando o terror dos adversários, avançaram com ímpeto, levando
na frente o que encontravam e penetrando enfim no infernal reduto, a dar
espadeiradas para a direita e para a esquerda, como quem destroça uma boiada. A
multidão atropelava-se, desembestando num alarido. Uns fugiam à prisão; outros
cuidavam em defender a casa. Mas as praças, loucas de cólera, metiam dentro as
portas e iam invadindo e quebrando tudo, sequiosas de vingança.
Nisto, roncou no espaço a trovoada. O vento do norte zuniu mais estridente e
um grande pé-d’água desabou cerrado.

- Perguntar aos alunos que título eles dariam para este romance, a partir do
trecho que leram.
- Anotar os títulos no quadro e apresentar o título original.
- Discutir sobre a proximidade ou não dos títulos dados pelos alunos com o
título original.
- Discutir os significados da palavra “cortiço” e apresentar o autor e contexto
histórico do romance.
- Questionar sobre as pesquisas solicitadas na aula anterior “alguém em sua
pesquisa tinha achado este autor ou este romance?”.
- Perguntar aos alunos que semelhanças eles veem entre o trecho lido nesta
aula e o conto lido anteriormente.
- Finalizar a aula propondo a leitura dos primeiros capítulos d’O cortiço em
casa, para próxima aula (os exemplares podem ser encontrados na biblioteca
da escola).
 Aula 5

- Iniciar a aula questionando sobre a leitura do romance “O Cortiço” em casa:


“vocês leram até que parte?”, “querem compartilhar algo que acharam
interessante?”, “leram alguma parte que lembrou do conto ‘casa de cômodos’
ou das charges?”.
- Fazer observações gerais sobre o romance: “O cortiço, de Aluísio Azevedo,
publicado em 1890 é uma referência para o romance brasileiro”, “apresenta as
transformações urbanas do Rio de Janeiro um ano depois da proclamação da
República e dois anos depois da abolição da escravatura”, “A obra se enquadra
no Naturalismo e tem forte caráter de denúncia”.
- Aproximar as observações dos alunos com as discussões realizadas
anteriormente, sobre as dificuldades da habitação popular.
- Passar o documentário sobre cortiços “Morada invisível: o
viver em cortiços.”:
https://www.youtube.com/watch?v=FLOO_2AJurI
- Realizar uma discussão onde os alunos comparem as realidades sociais
recorrentes nas charges, conto, romance e documentário.
- Questionar sobre a realidade social deles em relação às realidades
vivenciadas.
- Aproximar os problemas de uma habitação popular dos problemas da
população geral da cidade (miséria e pobreza).
- Comparar as realidades dos textos com as apresentadas pelos alunos.
- Finalizar a aula solicitando a continuação da leitura do romance “O Cortiço”
em casa.

 Aula 6

- Iniciar a aula questionando sobre a leitura do romance “O Cortiço” em casa.


- Apresentar algumas fotografias do livro “Cortiços: A Experiência de São
Paulo” e disponibilizar aos alunos o link para a obra completa:
https://sobejantedalei.files.wordpress.com/2016/08/corticos-a-experiencia-de-
sc3a3o-paulo.pdf
- fazer uma leitura das fotografias: “quem está nela”, “você acha que esta
pessoa faz o que da vida?”, “qual a situação do local”, “você viveria ali?”.
- Realizar a leitura compartilhada, em voz alta, do seguinte trecho do romance
“O Cortiço”:

Depois via-se a velha Isabel, isto é, Dona Isabel, porque ali na estalagem lhes
dispensavam todos certa consideração, privilegiada pelas suas maneiras graves de
pessoa que já teve tratamento: uma pobre mulher comida de desgostos. Fora casada
com o dono de uma casa de chapéus, que quebrou e suicidou-se, deixando-lhe uma
filha muito doentinha e fraca, a quem Isabel sacrificou tudo para educar, dando-lhe
mestre até de francês. Tinha uma cara macilenta de velha portuguesa devota, que já
foi gorda, bochechas moles de pelancas rechupadas, que lhe pendiam dos cantos da
boca como saquinhos vazios; fios negros no queixo, olhos castanhos, sempre
chorosos engolidos pelas pálpebras. Puxava em bandos sobre as fontes o escasso
cabelo grisalho untado de óleo de amêndoas doces. Quando saia à rua punha um
eterno vestido de seda preta, achamalotada, cuja saia não fazia rugas, e um xale
encarnado que lhe dava a todo o corpo um feitio piramidal. Da sua passada grandeza
só lhe ficara uma caixa de rapé de ouro, na qual a inconsolável senhora
pitadeava agora, suspirando a cada pitada.
A filha era a flor do cortiço. Chamavam-lhe Pombinha. Bonita, posto que
enfermiça e nervosa ao último ponto; loura, muito pálida, com uns modos de menina
de boa família. A mãe não lhe permitia lavar, nem engomar, mesmo porque o médico
a proibira expressamente.
Tinha o seu noivo, o João da Costa, moço do comércio, estimado do patrão e
dos colegas, com muito futuro, e que a adorava e conhecia desde pequenita; mas
Dona Isabel não queria que o casamento se fizesse já. É que Pombinha, orçando
aliás pelos dezoito anos, não tinha ainda pago à natureza o cruento tributo da
puberdade, apesar do zelo da velha e dos sacrifícios que esta fazia para cumprir à
risca as prescrições do médico e não faltar à filha o menor desvelo. No entanto,
coitadas! daquele casamento dependia a felicidade de ambas, porque o Costa, bem
empregado como se achava em casa de um tio seu, de quem mais tarde havia de ser
sócio, tencionava, logo que mudasse de estado, restituí-las ao seu primitivo círculo
social. A pobre velha desesperava-se com o fato e pedia a Deus, todas as noites,
antes de dormir, que as protegesse e conferisse à filha uma graça tão simples que ele
fazia, sem distinção de merecimento, a quantas raparigas havia pelo mundo; mas, a
despeito de tamanho empenho, por coisa nenhuma desta vida consentiria que a sua
pequena casasse antes de “ser mulher”, como dizia ela. E “que deixassem lá falar o
doutor, entendia que não era decente, nem tinha jeito, dar homem a uma moça que
ainda não fora visitada pelas regras! Não! Antes vê-la solteira toda a vida e ficarem
ambas curtindo para sempre aquele inferno da estalagem!”

- A partir das descrições lidas dos personagens do romance e das descrições


geradas em sala sobre os personagens das fotografias, solicitar a produção de
um texto descritivo: “Agora, gostaríamos que vocês criassem um personagem
para morar no cortiço”.
- Finalizar a aula recebendo as produções ou pedindo que finalizem em casa e
tragam na próxima aula.
 Aula 7

- Iniciar a aula recolhendo os textos produzidos pelos alunos na aula anterior.


- Redistribuir os textos entre eles, trocando os autores, e pedindo que façam
uma leitura silenciosa do texto do colega.
- Solicitar que alguns alunos se prontifiquem a ler o texto em voz alta,
compartilhando com todos.
- Atentar para as características de um texto descritivo durante as leituras,
usando exemplos dos textos dos alunos para ilustrar: “Predomínio de
substantivos e adjetivos”, “utilização da enumeração e comparação”, “presença
de verbos de ligação”, “verbos no passado ou presente”, e relembrar os
conceitos que os alunos apresentem dificuldades.
- Observar que as descrições podem ser subjetivas e objetivas, assim pode-se
descrever não apenas pessoas, mas também lugares.
- Solicitar aos alunos que comecem a apresentar características do Cortiço que
o personagem que eles criaram moram e escrever no quadro, elaborando um
texto coletivo.
- Aproveitar este momento para resgatar as discussões sociais a partir das
descrições do Cortiço que os alunos fizerem.
- Aproximar as questões das dificuldades da habitação popular com as
dificuldades que todos temos no dia a dia, como esgotos a céu aberto, falta de
segurança, miséria, etc.
- Finalizar a aula pedindo que retomem a leitura do romance “O cortiço” em
casa, para a próxima aula.

 Aula 8

- Iniciar a aula questionando sobre a leitura do romance “O Cortiço” em casa.


- Retomar as discussões sociais debatidas na última aula, aproximando da
leitura que os alunos estão fazendo do romance, aproveitando o momento para
que tirem as dúvidas sobre a leitura.
- A partir da retomada das discussões, propor aos alunos uma produção textual
em dupla: “Diante de tanta dificuldade que passamos no nosso dia a dia, e
lembrando dos exemplos dados por vocês mesmos nestas últimas aulas, que
tal escrevermos uma carta para uma autoridade, reclamando estes
problemas?”.
- Auxiliar na produção textual dos alunos e orientá-los quanto à escolha da
autoridade competente, de acordo com o problema social que forem abordar.
- Finalizar a aula recolhendo as cartas produzidas e solicitando a retomada da
leitura do romance “O Cortiço” em casa.

 Aula 9

- Iniciar a aula entregando aos alunos as produções textuais da aula anterior,


com as devidas correções.
- Solicitar a reescrita da carta, observando as correções e permitindo que
adicionem algo mais, se necessário.
- Acompanhar a reescrita, passando certo tempo com cada dupla e sanando
todas as dúvidas.
- Finalizar a aula recolhendo os textos reescritos e solicitando a finalização da
leitura do romance “O Cortiço” em casa.

 Aula 10

- Iniciar a aula questionando sobre a leitura do romance “O Cortiço” em casa,


tirando dúvidas e orientando nas interpretações.
- Solicitar que os alunos se unam e elaborem uma peça, baseada na leitura d’O
Cortiço, salientando que eles estão livres para escolher algum recorte da
história que mais os agradou para representar ou criar alguma situação nova,
com novos personagens.

 Aula 11

- Apresentação da peça no pátio do colégio.


REFERÊNCIAS

ANTUNES, Irandé. Assumindo a dimensão interacional da linguagem.


In:_______. Aula de Português: Encontro e Interação. São Paulo: Parábola
Editorial, 2003, p. 39-66.

DOLZ, Joaquim; NOVERRAZ, Michéle; SCHNEUWLY, Bernard. Seqüências


didáticas para o oral e a escrita: apresentação de um procedimento. In:
SCHNEUWLY, B; DOLZ, J. Gêneros orais e escritos na escola. Tradução de
Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas, SP: Mercado das Letras,
2004, p. 95-128.

SOLÉ, Isabel. O ensino de estratégias de compreensão leitora. In: _________.


Estratégias de leitura. Porto Alegre: ArtMed, 1998, pp. 67-87.

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