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15 maio 2019
Para a estudante de economia Laressa Teixeira, escolher uma roupa para viajar de avião
vai muito além do conforto ou da praticidade. "É uma necessidade. Se eu estiver bem
vestida, arrumada, as pessoas se sentem mais obrigadas a me tratar bem", diz a jovem
de 22 anos, do Rio de Janeiro.
Negros, os dois chegaram a essas conclusões após experiências que os fazem refletir,
toda vez que saem de casa, sobre qual roupa vão usar.
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Depoimentos como os deles vieram à tona após uma publicação de Laressa no Twitter
que viralizou na rede social. "Quantos chinelos a gente evita por ter a pele (negra)?",
questionou a carioca ao relatar a forma como foi tratada ao embarcar para um
compromisso do trabalho. O motivo, segundo ela, foi o chinelo que usava.
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No dia, segundo a jovem, ela viajou mais despojada porque iria passar no hotel e trocar
de roupa antes do compromisso do trabalho. Em outras ocasiões, quando usou sapatos
ou tênis, houve menos "olhares estranhos e atravessados", conta.
'Não é vaidade'
O pé à mostra também é uma questão para a cientista política Nailah Neves, de 27 anos.
O único lugar para onde ela vai de chinelo é o terreiro.
Durante a faculdade, em Brasília, ela reparava que os colegas de classe, a grande maioria
brancos, iam para a aula de bermuda, short e chinelo. Ela sempre ia de sapatilha, tênis,
calça - e atribuía essa diferença a uma questão de vaidade.
Isso até ela machucar e dedo do pé e precisar ir de chinelo. "Foi o momento que percebi
que não era isso. Os seguranças ficaram me olhando, me senti intimidada. Tive uma
crise de pânico e comecei a chorar", conta.
"Sempre achei que era questão de vaidade, mas não era. São dores do preconceito que
me fizeram agir assim."
Apesar de o tema racismo não ser tão recorrente na casa de Laressa, ela também
passou por ensinamentos semelhantes: precisaria sempre estar impecável em relação à
roupa.
"Meus pais também estão sempre bem vestidos. Mas será que a gente gosta mesmo de
se arrumar ou a vida que nos fez se comportar asssim?"
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Direito de imagem Arquivo Pessoal
Image caption Após ser confundido
com um ladrão, Lucas Cauan mudou a
forma de se vestir
'Cara de ladrão'
O principal medo, segundo Nailah, Laressa e Lucas, é serem acusados de algum crime.
No caso do engenheiro de Sergipe, por ser homem, o cuidado é redobrado. Adepto até
então de bermudas de tactel e camisetas, ele deixou de usar essas peças após passar por
uma situação constrangedora na universidade.
Era noite e Lucas estava atravessando uma passarela em um local escuro. Quando
estava em cima da estrutura, percebeu que as pessoas que vinham na outra direção
começaram a correr. Ele correu junto, mas só até perceber que elas corriam com medo
dele. "Algumas pessoas falaram depois que era frescura minha, disseram que eu nem
tinha 'cara de ladrão', mas isso ficou na minha cabeça", disse.
Foi aí que Lucas resolveu seguir conselhos de colegas e passou a usar apenas calça para
ir à universidade. "Sempre penso que não posso parecer o que as pessoas acham que é
um 'marginal'". Na vida social, o jovem não se veste mais à vontade nem para ir a um bar
com os amigos.
Em lojas e nos shoppings, as estratégias vão além da roupa que está usando: celulares
na mão para mostrar que não vai pegar nada, bolsas próximas ao corpo e evitar
movimentos bruscos.
"Não posso estar de qualquer forma, para não ser confundida com alguém que não teve
o mesmo privilégio que eu e não pôde comprar essas roupas, calçados. Até para ir na
padaria, eu tenho que ir 'perfeita'", conta Nailah.
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Direitos da
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