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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE

DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA

METODOLOGIA E PRÁTICA DE PESQUISA EM PSICOLOGIA I


DOCENTE: EDUARDO LEAL

DISCENTE: PRISCILA SILVA NAVAS

Medicalização do Luto no filme “Todas as Razões para Esquecer”

Insônia, irritação, preguiça e falta de interesse: sintomas relatados pelo Antônio


na primeira sessão com a psiquiatra. Prolongados por mais de uma semana, foram
suficientes para resultar em uma receita de ansiolítico. O protagonista do filme
brasileiro havia sido surpreendido por um término de relacionamento. O rompimento do
vínculo gerado pela separação amorosa também gera um processo de luto, pois “o outro
morre em vida dentro de mim e eu também morro na consciência do outro”. (Caruso,
1981)

Embora o luto cause um afastamento do indivíduo das atividades habituais, não


é considerado patológico e não há a necessidade de um tratamento médico, pois
subtende-se que respeitado o tempo, será superado e interferências, além de
desnecessárias podem ser prejudiciais. Diferencia-se, porém, da melancolia, na qual as
mesmas perturbações são percebidas, mas a autoestima é fortemente afetada. (Freud,
1917)

Os sintomas do luto podem ser confundidos com sintomas da depressão maior.


Apesar de no DSM-5 existir uma observação quanto a esta exceção, limita-se o tempo
de duas semanas, para então ser considerado patológico. Essa determinação reflete o
que Foucault chama de biopoder, pois o conhecimento médico é aplicado nas vidas
como uma forma de discipliná-las. Dessa forma, comportamentos que antes eram
considerados como imorais passam a ser considerados como doença, a exemplo do
alcoolismo. Mas não só isso, o bem-estar passa a ser uma obrigação. (DSM-5, 2013)

A necessidade de produção na sociedade capitalista abaixa a tolerância para


problemas de saúde, sobretudo o mal estar psíquico, pois o sujeito tem de estar bem
para poder produzir. O “imperativo da felicidade” se instaura na sociedade, abrindo
espaço para uma “psiquiatria cosmética” na qual os remédios são utilizados para
intensificar características pessoais que são vistas como desejáveis no mercado de
trabalho. O indíviduo, valorizado por ser capital humano, passa a ser culpabilizado pela
sua própria doença, pois quando está doente, não produz. (Gaudenzi e Ortega, 2012)

Aspectos comuns da vida deixam de ser considerados normais e passam a ser


também regulados pelo saber médico, tais como o nascimento, envelhecimento, morte e,
também o luto, característico da perda. É possível observar esses pontos no filme, pois o
personagem Antônio, atingido pela falta de interesse e pensamentos constantes sobre a
amada cujo sentimento já não é mais recíproco, perde sua eficiência no trabalho.

A partir do momento que ele faz uso dos medicamentos, volta a se sentir bem e
ser produtivo como é desejado. Antônio, não disposto a passar pelo luto natural e
empregar energia psíquica para restabelecer o equilíbrio, aumenta a dose dos remédios
psiquiátricos a fim de não sentir nada. Além disso, tenta desesperadamente substituir o
objeto perdido. Confunde expressões de simpatia com paquera, “rouba” beijos e acaba
afastando a amizade de quem lhe quer bem. (Marcondes, Trierweiler e Cruz, 2006).

Durante uma sessão de terapia, a psiquiatra pergunta a ele o que está sentindo.
Satisfeito, responde que não está sentindo nada. A terapeuta diz que é possível diminuir
a dose para que Antônio volte a sentir e não se torne apático, mas ele afirma que quer
continuar assim e está ótimo. O quadro se mantém dessa forma até que na tentativa de
substituir o objeto para o qual desloca afeto, se depara com o efeito colateral da
impotência. Apenas nesse momento ele muda de ideia e decide encarar a dor e se
restabelecer de maneira natural.

Tanto os efeitos colaterais quanto a dependência dos remédios, fazem possível


uma reflexão acerca da ampliação dos raios da medicina. Illitch critica a ingestão
excessiva de medicamentos pelo âmbito da saúde e do social. De acordo com ele, a
medicina institucionalizada é uma ameaça a saúde, pois além do surgimento de doenças
que ainda não podem ser curadas, causa também uma dependência de prescrições
médicas por parte da população. (Gaudenzi e Ortega, 2012)

Além dos efeitos colaterais, “a medicina moderna retira do sofrimento seu


significado íntimo e pessoal e transforma a dor em problema técnico” através das
chamadas “pílulas da felicidade”. O mal estar comum deixa de ser suportado e são
criadas alternativas farmacêuticas para lidar com os problemas da vida, a fim de estar
sempre bem. A saúde passa a ser um objeto de busca para realização pessoal. O
vocabulário e o poder médico, de acordo com Foucault, passam a ser utilizados como
forma de controle sobre a população. (Gaudenzi e Ortega, 2012)

Na sociedade atual, frequentemente a visão organicista e biológico-anatômica é


sobreposta a subjetividade. (medicalização do mal estar e escuta psicanalítica) No filme
isso é bem retratado em uma cena, na qual durante uma festa Antônio se recusa a ingerir
bebidas alcóolicas. O perguntam o porquê e se está tomando remédios, e ele hesita em
responder, demonstrando a vergonha em admitir que faz uso de remédios psiquiátricos.
Esse juízo de valor quanto a medicação demonstra um certo receio do que vão pensar
dele, um sentido subjetivo em relação ao medicamento. (artigo sobre medicalização do
sofrimento psíquico e subjetividade).

O outro personagem o responde dizendo que já tomou antidepressivos e


iniciam uma conversa sobre nomes de remédios e efeitos colaterais, o protagonista
envergonhando e o colega bem empolgado com o assunto. O anfitrião da festa chama
Antônio para fazer outra coisa e o retira da situação desconfortável. Essa cena faz uma
sátira quando a banalização de remédios psiquiátricos e uma reflexão acerca do
preconceito até mesmo por parte dos usuários.

Para uma melhora do mal estar psicológico se fazem necessárias mudanças de


hábitos e sentimentos, pois modo de vida se articula com a saúde mental. Levando isso
em consideração, apenas tratar a dor que se apresenta como um sintoma e não resolver o
problema que o gera, ocasionaria outro sintoma. (Vera, 2017)

A partir da festa e da relação com o anfitrião, Antônio passa a construir novos


hábitos. Conversa sobre o término de relacionamento e sobre como as memórias com
Sofia, sua ex-namorada, o afetam. No relato, ele demonstra o quanto a idealiza, pois
sempre que lembra dela, as cenas que se passam em sua cabeça parecem um “comercial
de margarina com lavanda”. Ele continuava relembrando apenas os bons momentos,
tornando mais difícil lidar com a dor do rompimento.
Nesse momento, o personagem começa a passar pelo trabalho de luto ao qual
se recusava. Embora doloroso, findado o processo no qual “cada uma das lembranças e
expectativas pelas quais a libido estava conectada ao objeto é enfocada, superinvestida,
e nelas ocorre a dissolução da libido”, a pessoa passa a ser livre novamente, se
desprendendo desse sentimento e superando a dor. (Freud, 1917)

Antônio procura por Sofia novamente para conversar, sem aceitar que ela
realmente queria terminar com ele. Induzido por uma amiga dela que o término tinha
sido dado por uma demonstração de falta de interesse dele na pessoa amada, ele tenta
convencer a ex disso, desejando que ela entenda o motivo do fim e volte atrás na
decisão. A conversa termina em uma discussão séria.

Depois do ocorrido, ele começa a desvalorizar a ex parceira e manifestar a sua


raiva. Além disso, deixa os remédios e passa a cuidar melhor de si mesmo, fazendo
atividades físicas, cozinhando, etc. A companhia do vizinho (anfitrião da festa
mencionada) o ajuda a seguir em frente. Dessa forma, o personagem volta a redirecionar
o afeto que deslocava a Sofia a si mesmo, aceitando que o objeto não está mais
disponível.

A raiva a Sofia aparece em ligações. Antônio, movido pelo sentimento de falta,


grava recados durante a madrugada com uma mescla de hostilidade e saudade. Nessa
hora, “um certo grau de depreciação de qualquer pessoa ou coisa querida a que se
renunciou é provavelmente inevitável” (Marcondes, Trierweiler e Cruz, 2006) Ele deixa
de idealizá-la e começa a se recuperar. A relação com o outro, nesse caso Deco, o
vizinho, é fundamental.

Além da companhia, a escuta se torna uma alternativa ao uso de medicação. A


partir da fala é que ele passa a aceitar a perda, não precisando mais substituir
imediatamente o objeto perdido, passando efetivamente pelo luto. Pensamentos
positivos, investimento em si mesmo aumentando a autoestima, bem como a distração
com outras coisas, foram atitudes positivas importantes para a superação. (sentimentos
predominantes)

Por fim, podemos concluir que o contato com o outro é causa de mal estar
inevitável, mas é também a partir do contato com o outro e não do isolamento que
podemos nos recuperar da dor da perda. (Freud, 1930) Também é importante afirmar
que em diversos casos o uso de medicamentos é de fato necessário, e a objeção feita é
aqui é contra o excesso, pois é inadmissível que processos psíquicos sejam
desnaturalizados e vistos como puramente biológicos. Sendo assim, concluímos que o
reconhecimento da subjetividade e mudança do modo de vida são fundamentais para a
cura do sintoma e a escuta psicanalítica é uma alternativa a medicalização.

Referências

FREUD, S. [1914-1916] Luto e Melancolia. Ed. Standard brasileira das Obras


Psicológicas Completas de S. Freud. Vol. XIV. Rio de Janeiro: Imago, 1996.

CARUSO, Igor. A separação dos amantes - uma fenomenologia da morte. 2.


ed. São Paulo: Cortez/Diadorim, 1981.

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Diagnostic and Statistical


Manual of Mental Disorders, Fifth Edition (DSM-V). Arlington, VA: American
Psychiatric Association, 2013.

GAUDENZI, Paula; ORTEGA, Francisco. O estatuto da medicalização e as


interpretações de Ivan Illich e Michel Foucault como ferramentas conceituais para o
estudo da desmedicalização.​ Interface (Botucatu)​, Botucatu , v. 16, n. 40, p. 21-34,
Mar. 2012 . Available from
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http://dx.doi.org/10.1590/S1414-32832012005000020.

_____. ​Nascimento da Biopolítica.​ Curso no Collège de France (1978-1979).


São Paulo: Martins Fontes, 2008.

TODAS as razões para esquecer. Direção de Pedro Coutinho. São Paulo:


Globo Filmes, 2018. 1 DVD (91 min.), son., color.

MARCONDES, Mariana Valença; TRIERWEILER, Michele; CRUZ, Roberto


Moraes. Sentimentos predominantes após o término de um relacionamento amoroso.
Psicol. cienc. prof., Brasília , v. 26, n. 1, p. 94-105, 2006 . Available from
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1414-98932006000100009&
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http://dx.doi.org/10.1590/S1414-98932006000100009.

VERA, Mariana dos Reis. A medicalização do sofrimento psíquico: uma


análise sob a perspectiva da teoria da subjetividade. 2017. 104 f. Dissertação (Mestrado)
– Faculdade de Ciências da Educação e Saúde, Centro Universitário de Brasília,
Brasília, 2017.

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