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PSICOPEDAGOGIA E DIVERSIDADE
UIA 1 | CONTEXTUALIZANDO E CONCEITUANDO
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informações e conteúdos protegidos e cuja divulgação é proibida por lei. O uso e/ou reprodução total ou
parcial não autorizado deste conteúdo é proibido e está sujeito às penalidades cabíveis, civil e
criminalmente.
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
Segundo Muller (2000), a Psicopedagogia está relacionada ao modo como a criança aprende, como essa
aprendizagem evolui e se condiciona ao demais fatores de desenvolvimento humano. Ainda, está
relacionada também a como é possível reconhecer e tratar possíveis alterações na aprendizagem
ocasionadas por diversos fatores internos ou externos, promovendo recursos e possibilidades de
aprendizagem que estabeleçam um novo sentido para o sujeito aprendente.
De acordo com Bossa (2011), a Psicopedagogia busca encontrar recursos para minimizar os possíveis
obstáculos apresentados no processo de construção do conhecimento, no desenvolvimento de práticas
educativas e na interação do sujeito com o mundo, considerando as particularidades e a subjetividade do
sujeito decorrentes de seus aspectos biopsicossociais.
Perceba que o sujeito em situação de aprendizagem torna-se público-alvo da Psicopedagogia,
considerando todas as suas dimensões constitutivas: biológica, cultural, histórica, cognitiva e afetiva.
Desse modo, o foco de domínio da área está relacionado com o sujeito que aprende e o que ensina, o
objeto de conhecimento e as dimensões constitutivas dos mesmos. Como as ações atribuídas ao
psicopedagogo perpassam pelos âmbitos comportamentais, simbólicos e de aprendizagem, comuns a
educadores e psicólogos, muitas atividades são compatíveis com as exercidas por profissionais da área
de saúde e educação.
No campo institucional, as atribuições do psicopedagogo têm apresentado maior incidência,
principalmente pelo fato de as ações e as atribuições desse profissional se correlacionarem com as dos
profissionais específicos da área de Educação. Esse cenário não minimiza ou desconsidera a importância
e a crescente presença do psicopedagogo em outros contextos, tais como o empresarial e o clínico.
É importante destacar que o psicopedagogo não atua como psicólogo particular, assim como não exerce
a função de reforço escolar no desenvolvimento de suas atribuições.
Em 1970, foi fundado, em Porto Alegre, o Centro de Estudos Psicopedagógicos, que utilizavam o método
de pedagogia curativa, comum na Europa e direcionado para o atendimento de crianças com
necessidades educacionais especiais.
Em 1979, em São Paulo, foi fundado o curso de Formação Clínica e Institucional em Psicopedagogia, com
um grupo de profissionais educadores, pedagogos e psicólogos, no intuito de buscar novas
metodologias para avaliar e intervir de forma eficaz nos problemas de aprendizagem que surgiam cada
vez nas escolas da época. Assim, surgiram os cursos de especialização em Psicopedagogia na PUC São
Paulo, PUC Rio Grande do Sul e Universidade Estadual do Rio de Janeiro.
Em 1980, foi fundada a Associação Brasileira de Psicopedagogia (ABPp), com a finalidade de desenvolver
e aprimorar a área do conhecimento, bem como no intuito de ampliar a perspectiva de atuação do
profissional psicopedagogo e contribuir na regulamentação da profissão.
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Nesse sentido, percebe-se que a atuação do psicopedagogo se estende aos diversos cenários clínicos e
institucionais. Cabe destacar que – em função da atuação do psicopedagogo ter caráter interdisciplinar e,
portanto, poder atuar nos diversos campos da área de educação e saúde esse profissional – deve ter
maior comprometimento ético com as informações coletadas nos diversos campos de atuação.
conhecimento, desenvolvendo atividades que ampliem a aprendizagem por meio do lúdico, com
utilização de jogos e recursos tecnológicos que despertem o prazer.
Para ter uma atuação eficaz no processo de intervenção e prevenção quanto às dificuldades de
aprendizagem no contexto escolar, é preciso que o psicopedagogo conte com o apoio da escola, dos
docentes, da equipe pedagógica e das famílias. Além disso, é necessário que esse profissional conheça o
cotidiano da criança, o currículo e a proposta avaliativa da escola, a fim de que possa realizar uma
avaliação adequada quanto às necessidades de intervenção no contexto escolar, evitando possíveis
situações de fracasso da criança/adolescente no seu percurso acadêmico.
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a avaliação das possíveis necessidades educativas dos alunos revela-se como um dos
componentes mais críticos da intervenção psicopedagógica não apenas porque os
profissionais da área psicopedagógica (psicólogos, pedagogos e psicopedagogos)
dedicam a tal papel boa parte do seu tempo, mas porque nela se fundamentam as
decisões voltadas à prevenção e, se for o caso, a soluções das possíveis dificuldades dos
alunos e, em última análise, à promoção das melhores condições para o seu
desenvolvimento.
(GUINÉ apud COLL et al., 2004, p. 275)
Perceba que toda intervenção psicopedagógica deve ser precedida por um criterioso
diagnóstico que traça um perfil do sujeito a ser atendido e as suas possibilidades de
relação com o objeto do conhecimento. É importante perceber, quando se faz o
diagnóstico inicial, a priori, três pontos básicos:
Paralelo a essas percepções, o psicopedagogo poderá requisitar a ajuda de outros profissionais para que
o diagnóstico possa ser mais preciso e o atendimento mais eficaz. Essas observações e percepções serão
fundamentais para traçar as estratégias de intervenção psicopedagógica, personalizando essa
intervenção. E esse processo é fundamental, visto que cada sujeito se desenvolve de uma forma diferente
e pode apresentar barreiras diversificadas frente à construção do conhecimento.
Para essa coleta de informações, pode ser necessário realizar observações nos diversos cenários de
vivência, para que seja possível realizar um diagnóstico mais preciso e uma estratégia interventiva eficaz,
considerando a singularidade do sujeito. Os aspectos de interação social com seus pares e com o adulto,
que podem ser observados na sala de aula e nos espaços familiares, podem determinar as estratégias
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interventivas do psicopedagogo. Após as observações será possível levantar hipóteses sobre as causas de
não aprendizagem ou das dificuldades apresentadas e estabelecer as estratégias interventivas a serem
desenvolvidas.
Termina aqui nossa primeira aula desta unidade. Introduzimos conceitos que serão importantes ao longo
desta parte do conteúdo. Continue os estudos desta disciplina e até breve!
Na aula anterior, dialogamos sobre o papel do psicopedagogo nos diferentes contextos de atuação e
identificamos que o objetivo principal dessa área de conhecimento é atuar no processo de aprendizagem
humana.
Nesta aula, teremos como enfoque o diálogo sobre as teorias de desenvolvimento e da aprendizagem e como
essas teorias podem ter influência no processo de ensino. Também perceberemos que alguns processos de
ensino se correlacionam com as etapas de desenvolvimento do sujeito. Veremos que a aprendizagem se torna
significativa quando as práticas de ensino consideram os saberes e conhecimentos prévios do sujeito,
considerando o contexto social e cultural em que se está inserido. Destaca-se que o sujeito precisa enxergar-se
como participante ativo na construção de seu saber, afinal, ao construir seu saber, o sujeito passa também a
ser autor de sua história. Bons estudos!
Vygotsky (1988), por sua vez, trouxe a perspectiva dialética entre desenvolvimento e aprendizagem. Para
o autor, é preciso haver certo nível de desenvolvimento para que algumas aprendizagens sejam
possíveis. De acordo com a teoria de Vygotsky, a aprendizagem ocorre desde o início da vida, e toda nova
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situação de aprendizagem produz algo inteiramente novo no desenvolvimento do sujeito. Perceba que
essa perspectiva traz a concepção de que a aprendizagem antecede o desenvolvimento.
Para Vygotsky, “o processo de desenvolvimento progride sempre de forma mais lenta que o processo de
aprendizagem” (apud PALANGANA, 2015, p. 137). Pode-se identificar, nessa concepção, que os processos
de desenvolvimento não são sinônimos de aprendizagem, muito embora a aprendizagem gere
desenvolvimento.
Para Gestalt (apud PALANGANA, 2015), o
desenvolvimento e a aprendizagem são dois processos
independentes que interagem, afetando-se mutuamente,
ou seja, a aprendizagem causa desenvolvimento e o
desenvolvimento causa aprendizagem.
A relação entre esses dois fenômenos (desenvolvimento e
aprendizagem) revelam posturas teórico-metodológicas
distintas e, por vezes, opostas. No entanto, cabe destacar
que a relação entre desenvolvimento e aprendizagem
tem natureza epistemológica, antes de mesmo de
psicológica. Algumas concepções psicológicas priorizam o processo de desenvolvimento em detrimento
da aprendizagem, privilegiando o sujeito, enquanto outras compreendem a relevância do objeto, do
meio físico, social e da experiência, quando o foco está relacionado à aprendizagem.
a aprendizagem teria mais chance de ser efetiva quando pautada nas necessidades da
criança. Primeiro porque o interesse partiria da própria criança [...]. Segundo, porque a
aprendizagem passaria a ser o meio pelo qual a necessidade pode ser satisfeita,
tornando-se necessária.
(PALANGANA, 2015, p. 83-84)
Ausubel et al. (1980) acreditavam que, quanto mais sabemos, mais aprendemos. Aprender de forma
significativa possibilitava ampliar e ressignificar as ideias já adquiridas (conhecimentos prévios) e, com
isso, relacionar e acessar novos conteúdos.
Paulo Freire (1996) também nos traz a perspectiva de que o ato de ensinar exige a troca de
conhecimento e, portanto, a troca de saberes. Para o autor, a aprendizagem se torna efetiva quando os
saberes ensinados são reconstruídos pelos educadores e educandos, tornando-se autônomos,
questionadores e inacabados.
Nesse sentido, de acordo com Fernandes (2011), é necessário considerar a história do sujeito e o papel
dos docentes nas situações favorecedoras da aprendizagem. O conteúdo a ser ensinado deve ser
potencialmente significativo e o estudante deve estar apto a relacionar o novo conteúdo de maneira
consistente e não arbitrária.
Para o autor, a personalidade é a organização dinâmica dos traços no interior do eu, formados a partir
dos genes particulares que herdamos, das existências singulares que suportamos e das percepções
individuais que temos do mundo, capazes de tornar cada indivíduo único em sua maneira de ser e de
desempenhar o seu papel social.
A personalidade é a organização de várias dimensões do humano, é dinâmica, mental e corporal, sofre
influência cultural e é relativamente estável. A estrutura da personalidade, mostra-se essencialmente
dinâmica, podendo ser mutável, sem ser necessariamente instável, e encontra-se em constante
desenvolvimento.
• Self não é propriamente algo que existia, mas algo a que o indivíduo se destina no
seu desenvolvimento interior. Não é apenas o centro profundo da personalidade,
mas também a sua totalidade. O desabrochar do self resulta do reconhecimento
da própria sombra, da resolução dos diversos complexos, da assimilação e da
integração de aspectos parciais e cindidos do psiquismo individual.
TRANSTORNO DE PERSONALIDADE
Os transtornos de personalidade se caracterizam por pessoas que não têm uma maneira absolutamente
comum de viver (do ponto de vista estatístico e comparando com a média das outras pessoas). Essas
alterações, quando permanentes, diferente das alterações patológicas que podem surgir de um
momento para outro, constituem o que poderíamos chamar de transtorno de personalidade.
Geralmente, esses transtornos surgem na infância ou adolescência e tendem a permanecer relativamente
estáveis ao longo da vida do indivíduo. Manifestam um conjunto de comportamentos e reações afetivas
claramente desarmônicos, envolvendo vários aspectos tais como: a afetividade, o controle dos impulsos,
o modo e estilo de relacionamento interpessoais.
Os transtornos de personalidade, embora de modo geral produzam consequências penosas para o
indivíduo, familiares, pessoas mais próximas, não são facilmente modificáveis por meio das experiências
vivenciais e tendem a permanecer estáveis ao longo de toda a vida.
Na busca por enfrentar esse desafio, tem-se procurado aprofundar a compreensão sobre a relação da
alfabetização com o desenvolvimento do sujeito e ainda aprimorar o processo de alfabetizar letrando,
compreendendo aqui o letramento em uma perspectiva mais ampla, que contempla tanto a da escrita
quanto a matemática. Para tanto, é necessário conceituar o que é letramento e alfabetização, como eles
se relacionam e também como a construção e a representação da escrita está relacionada com o
processo de desenvolvimento do sujeito.
Destaca-se ainda como os estudos sobre a psicomotricidade têm contribuído para o desenvolvimento de
práticas educativas favorecedoras do processo de ensino e para o desenvolvimento e aprendizagem do sujeito.
Diante desse cenário, o psicopedagogo deve ter uma ampla visão sobre os processos de ensino, sobre
como ocorre a aprendizagem e oferecer alternativas para que os docentes e as escolas desenvolvam
estratégias que alcancem as necessidades atuais dos sujeitos em situação de aprendizagem.
entendida como a aquisição do sistema convencional de escrita. Para a autora, alfabetizar letrando é
ensinar a ler e escrever no contexto das práticas sociais da leitura e da escrita.
Para Goulart (2006),
• A criança representa a escrita com um desenho baseado naquilo que se pediu para ela escrever
(fase icônica). Ao ponto que a criança avança em sua percepção de escrita, ela começa a
distinguir o desenhar e o escrever. Ela ainda não percebeu que as palavras estão relacionadas ao
som da palavra, mas começa a fazer hipóteses de representação escrita com traços ainda sem
formato definido (garatuja).
• A criança identifica a relação do som com a representação da palavra. Inicia-se a busca de
diferenciações entre as diferentes escritas. A criança pensa que palavras diferentes, escreve-se
com letras diferentes (pré-silábica). Nesse momento, o educador deve estimular o discente a
compreender a relação do som com a representação gráfica.
• A criança começa a perceber a segmentação da palavra, utilizando quantas letras cada sílaba
tem, mas ainda não faz a relação da letra com o som, ela está em hipótese silábico sem valor
sonoro e, a partir desse período, precisará ser estimulada a perceber que cada letra registra um
som.
• A criança percebe os vários sons contidos nas sílabas. No momento em que a criança começa a
pensar que cada letra constitui uma sílaba, inicia-se a hipótese silábica com valor sonoro.
• a criança progride para o nível alfabético quando escreve uma letra para cada fonema. Quando
esse processo avança para os conhecimentos de convenções ortográficos da língua portuguesa,
a criança atingiu o nível ortográfico, que é a hipótese final de consciência fonológica, de acordo
com a proposta apresentada por Ferreiro (1999).
Em linhas gerais, perceba que, a partir do momento que a criança é inserida no mundo letrado, suas
possibilidades de conhecimento se ampliam e o processo de ensinar e aprender torna-se mais
significativo. Dinâmicas que favoreçam práticas discursivas orais baseadas nas vivências do sujeito,
interligadas com produções escritas e relacionadas com o funcionamento social da escrita, favorecem o
processo de alfabetizar letrando.
A matemática está presente nas brincadeiras, nos jogos e nas suas regras, quando as crianças se
organizam em grupos, quando organizam seus objetos, nas cantigas e em diversas atividades do
cotidiano. Inicialmente, não há a percepção de contagem ou de conceito de número e matemática. Aos
poucos, a criança vai se apropriando dos princípios de numeração e suas relações e propriedades.
Maia e Maranhão (2015) apontam que o domínio de códigos e símbolos são aspectos fundamentais ao
processo de alfabetização matemática.
Para que a educação matemática seja efetiva, é necessário que o professor leve o estudante a
compreender os fatos matemáticos por meio de vivências, que explicite, que apresente possibilidades e
que estimule os sujeitos a justificarem seus próprios raciocínios. Desse modo, poderemos afirmar que o
ensino matemático contribuirá efetivamente para o desenvolvimento do raciocínio lógico.
Conheça mais sobre esse tema lendo os textos disponíveis nos links a
seguir.
Reflexões sobre: alfabetização, letramento e numeramento matemático
http://tinyurl.com/y749bylq
Letramento em matemática no Programme for International Student
Assessment (Pisa):
http://tinyurl.com/y7hfbnfn
2.2.3. PSICOMOTRICIDADE
Para a Associação Brasileira de Psicomotricidade, a Psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de
estudo o sujeito através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo.
A psicomotricidade é um campo transdisciplinar que investiga as relações e influências entre o psiquismo
e a motricidade, preconizando o desenvolvimento das habilidades sociais, emocionais e cognitivos do
sujeito.
A educação psicomotora, para ser efetiva, necessita que as funções motoras, perceptivas, afetivas e
sociomotoras sejam utilizadas de modo que a criança possa explorar o ambiente, ter percepção sobre si
mesma e o ambiente que a cerca. O desenvolvimento do esquema corporal é um elemento que contribui
para a formação da personalidade da criança.
Quando uma criança apresenta dificuldades de aprendizagem, é importante um olhar atento também
para o desenvolvimento psicomotor desse sujeito. Atrasos ou fragilidades no desenvolvimento motor
podem acarretar em prejuízos no processo de aquisição da linguagem oral, escrita e matemática. As
habilidades necessárias para a efetivação do processo de alfabetização e letramento requer alguns
princípios baseados no desenvolvimento psicomotor, por exemplo: a dinâmica de exploração manual,
movimentação ocular; lateralidade; dimensão espacial; linearidade, entre outras.
Estimular atividades corporais, proporcionando vivências que estimulem a motricidade fina, o ritmo e a
oferta de brincadeiras e jogos que possibilitem maior percepção sobre o próprio corpo, o outro e meio
em que está inserido auxiliam na construção de uma aprendizagem mais significativa.
Nesse contexto, o psicopedagogo pode atuar na perspectiva da psicomotricidade relacional,
contribuindo para que a criança supere limites, medos e frustações. A psicomotricidade relacional tem o
objetivo de auxiliar a criança a aprender a lidar com suas dificuldades de aprendizagem, relacionais e
sociais entre seus pares e os adultos, de forma lúdica e corporal.
Cabe considerar que o psicopedagogo será o profissional que entende que a criança precisa desenvolver
os aspectos motores por meio do ambiente físico, descobrir os valores de cada espaço e o seu significado
para se perceber nele.
Termina aqui nossa aula. Ficou com alguma dúvida? Retorne ao conteúdo ou busque esclarecimentos no
Fórum de Dúvidas. Senão, passe para a aula seguinte. Até lá.
Você acredita que a origem do termo “direitos humanos” se refere a processos universais? Ou considera que
são direitos construídos historicamente? Vamos refletir sobre essa origem na terceira aula da disciplina
Psicopedagogia e Diversidade.
Por isso, preparamos um material que vai te mostrar que os direitos humanos, mesmo tratando de direitos
que fazem referência a todos os homens/mulheres, são advindos de processos históricos, extremamente
influenciados por questões culturais, econômicas, sociais etc.
Para Paulo Bonavides (2008), os direitos fundamentais podem ser categorizados “gerações de direitos”.
Expressão que também vem sendo chamada de “dimensões de direitos”, para refutar a ideia de
substituição. Vejamos a proposta de Paulo Bonavides sobre as cinco gerações de direitos humanos:
Para saber mais sobre as gerações dos Direitos humanos, leia o artigo “A
quinta geração de Direitos Fundamentais”, de Paulo Bonavides,
disponível no link a seguir.
http://tinyurl.com/y8pjqo27
Antes de tratarmos sobre as revoluções proletárias, devemos retomar a importante transição do Estado
absoluto ao Estado liberal e as contradições que marcaram cada uma dessas épocas. Citando alguns dos
importantes marcos históricos dos direitos dos trabalhadores, temos:
• Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão da França (26 de agosto de 1789): Documento
utilizado pela Assembleia Nacional Constituinte francesa como referência para a criação de uma
nova constituição para o país, a qual ficou pronta no ano de 1791. Defendia a liberdade, o fim do
absolutismo e seus privilégios, extinção da divisão da sociedade em classes baseadas na origem
e, enfim, considerava todos em cidadãos iguais perante às leis.
Entretanto, os referidos documentos e movimentos históricos também representavam as artimanhas da
classe burguesa e não resolveram as desigualdades, o que tornou necessária a intervenção do Estado
para controle social.
Nessa perspectiva de construção histórica dos direitos humanos, diversos estudiosos relatam que os
movimentos sociais que lutaram por melhores condições de vida foram advindos de dois importantes
grupos sociais: primeiro, dos movimentos dos trabalhadores e, depois, dos movimentos feministas.
No entanto, precisamos mediar um pouco essa afirmativa, em especial, no que diz respeito ao
movimento dos trabalhadores. Afinal, a luta por melhores condições existiu e foi intensa, mas os donos
dos meios de produção (também conhecidos como burgueses) foram concedendo direitos para manter
o controle da situação social e também aumentar o público consumidor dos produtos por eles mesmos
elaborados em meio ao contexto das revoltas proletárias.
A presente Declaração Universal dos Direitos Humanos como o ideal comum a ser
atingido por todos os povos e todas as nações, com o objetivo de que cada indivíduo e
cada órgão da sociedade, tendo sempre em mente esta Declaração, se esforce, através
do ensino e da educação, por promover o respeito a esses direitos e liberdades, e, pela
adoção de medidas progressivas de caráter nacional e internacional, por assegurar o seu
reconhecimento e a sua observância universal e efetiva, tanto entre os povos dos
próprios Estados-Membros, quanto entre os povos dos territórios sob sua jurisdição.
(ONU, 1948)
Em diversos contextos, muitos já ouviram o conhecido Artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos
Humanos, a saber: “Todas as pessoas nascem livres e iguais em dignidade e direitos. São dotadas de
razão e consciência e devem agir em relação umas às outras com espírito de fraternidade” (ONU, 1948).
Esse importante documento é organizado em 30 artigos que versam sobre diferentes direitos ditos
fundamentais.
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Frei Beto, um importante defensor dos direitos humanos no Brasil, criou uma versão popular da
Declaração universal dos Direitos humanos. Vejamos que texto encantador:
Ninguém pode ser torturado ou linchado. Todos somos iguais perante a lei.
Ninguém pode ser arbitrariamente preso ou privado do direito de defesa.
Toda pessoa é inocente até que a justiça, baseada na lei, prove a contrário.
Todos temos liberdade de pensar, de nos manifestar, de nos reunir e de crer.
Todos temos direito ao amor e aos frutos do amor.
Todos temos o dever de respeitar e proteger os direitos da comunidade.
Todos temos o dever de lutar pela conquista e ampliação destes direitos.
Fonte: http://tinyurl.com/y9p2a3r3
Assim, a educação é reconhecida como um direito público subjetivo, que deve ser garantida e acessada
por todos como uma forma de acesso à cidadania e à preparação para a vida social e o mundo do
trabalho. Esse bem público é regulado também por diversos outros instrumentos legais, a exemplo da Lei
de Diretrizes de Bases da Educação Brasileira, ou LDB (Lei nº 9.394, de 20 de dezembro de 1996), e do
Plano Nacional de Educação.
Para saber mais sobre o direito à educação, leia o artigo de Jamil Cury,
disponível a seguir.
http://tinyurl.com/yc3refeq
No entanto, a LDB estabelece que não basta ter acesso à escola, temos que garantir o direito à
permanência do estudante. Após a década de 1970, houve um movimento pela popularização do acesso
à educação, quando de fato a escola pública passou a atender às classes sociais mais populares e
vulneráveis.
O problema é que a ampliação do acesso à educação não veio acompanhado de padrões mínimos de
qualidade de ensino e de aprendizagem. Assim, a partir do momento que um número maior de
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estudantes passa a ter acesso a esse direito, a qualidade do serviço público prestado decai e as classes
sociais mais elevadas se dirigem para a educação privada.
Isso deve ser feito como forma de atuação consciente e propositiva em diversos espaços e tempos da
educação nacional. Sejamos conscientes do que já alçamos como nação, a exemplo da quase total
universalização do ensino fundamental, mas que ainda não garantimos o pleno direito a uma educação
pública de qualidade para todos.
Termina aqui nossa terceira aula da disciplina Psicopedagogia e Diversidade. Falamos de importantes
documentos e acontecimentos históricos importantes ao tema direitos humanos. Continue os estudos desta
disciplina e até breve!
Será que hoje o Brasil ainda pode ser considerado um país excludente? As leis de cotas para estudantes de
escola pública e afrodescendentes diminuem a desigualdade econômica e social? O ensino da história afro-
brasileira e indígena na educação básica, obrigatório desde 2008, com a Lei nº 11.645, de 10 março de 2008,
garante a formação de alunos críticos e conscientes
em relação à formação social do Brasil?
Na quarta aula da disciplina Psicopedagogia e
Diversidade, vamos refletir sobre essas perguntas,
compreender processos de exclusão e inclusão da
nossa história e estratégias de enfrentamento à
discriminação social e econômica. Bons estudos!
Uma primeira leitura percebe essa música como a defesa do trabalhador, que contribui com o
desenvolvimento nacional. Em um segundo momento, avançamos para identificar o contexto de
repressão do governo de Getulio Vargas (1930-1945), que investiu intensamente na censura e cooptação
de compositores negros e pobres do Rio Janeiro para a difusão de uma ideia específica de povo
brasileiro. Nesse contexto, a população moradora dos morros e favelas cariocas, desassistidos em suas
necessidades de saúde e educação, ouvia a explicação de que sua condição era fruto da falta de trabalho
e não de uma exclusão social e ausência de políticas públicas.
Nesse movimento, é importante estarmos atentos para as lutas por direitos sociais, as organizações para
defesa de grupos em situações de violência e as estratégias do Estado na realização de seu governo.
“Casa Grande e Senzala” é título do livro de Gilberto Freyre, publicado em 1933. É considerado um marco
nas teorias sobre a formação nacional. A partir dessa obra, a cultura e a população africana escravizada
no Brasil assumiram um espaço cada vez mais marcante na historiografia brasileira. Gilberto Freyre foi
responsável por buscar uma explicação para a relação entre as famílias brancas, aristocráticas, moradoras
da casa grande, e os habitantes da senzala, pessoas de diferentes partes da África, com línguas, tradições
e origens variadas, que buscaram ultrapassar os limites da violência da escravidão e sobreviver nesse
novo território para onde foram levados.
Essa ideia foi assim resumida por Fernando Henrique Cardoso na introdução da edição do livro de 2006:
O sistema econômico e social simbolizado pela imagem da Casa Grande e Senzala ruiu lentamente no
Brasil com o fim da escravidão, a falência da exploração do açúcar e as novas configurações familiares.
Esse processo foi resultado de lutas mobilizadas pela população negra, por mudanças na economia e na
política nacional.
Agora vamos refletir um pouco sobre o lugar dos afrodescendentes – e também brasileiros – nessa
sociedade que não mais está dividida entre casa grande versus senzala, mas que mantém tensões e
conflitos oriundos desses lugares.
Azevedo (2004) chama atenção para a relação entre aspectos econômicos e sociais que pautam a vida
dos brasileiros identificados como afrodescendentes. Além do preconceito em relação à imagem –
explicitado em ações policiais seletivas, por exemplo – há ainda uma segregação em áreas pobres da
cidade, carente de serviços e infraestrutura pública.
Pensar o lugar dessa população nos ajuda a compreender a permanência de relações sociais que se
reproduzem desde o patriarcado analisado por Gilberto Freyre (2006) e as mudanças fruto de
mobilizações e conquistas.
O curta metragem Xadrez das Cores traz uma bela reflexão sobre esse
tema. Assista-o por meio do link a seguir.
http://tinyurl.com/y8urhyza
No século XXI, outros fatores que não foram previstos por Marx são incorporados nessa discussão, como
a globalização, o lugar da cultura, as oscilações econômicas e alianças entre Estado e capital.
Para a quarta aula da disciplina Psicopedagogia e Diversidade, vamos pensar na classe social como um
conceito que nos ajuda a compreender a importância e a força das mobilizações coletivas e de
organizações institucionais.
Que tal abrir essa discussão com uma leitura ficcional? Mário de
Andrade escreveu, entre 1934 e 1942 o conto “Primeiro de Maio”, que
narra as expectativas e o dia de um carregador de malas da Praça de
Luz, São Paulo, no feriado do trabalhador. Seu personagem deseja
juntar-se aos seus, em grupo, bradar e comemorar o feriado, mas
encontra uma rua vazia, situações que reforçam sua condição social
precarizada e evidenciam a fraqueza do indivíduo isolado.
http://tinyurl.com/y7kpknsk
Não se trata de um benefício ou uma vantagem, mas sim de reconhecimento de que algo foi
previamente despojado.
As cotas para ingresso em universidade, trabalho, bolsas de permanência de estudo são exemplos de
ações afirmativas praticadas no Brasil, especialmente desde a participação do governo na III Conferência
Mundial de Combate ao Racismo, Discriminação Racial, Xenofobia e Intolerância Correlata, realizada em
Durban, na África do Sul, de 31 de agosto a 7 de setembro de 2001. De acordo com Sousa e Portes (2011),
foi no contexto do debate sobre as discriminações raciais e o mito da ausência de preconceito nacional
que o Estado brasileiro finalmente começa a pensar sobre políticas públicas afirmativas.
Vamos lembrar desse assunto agora, refletindo sobre a força e a importância dos movimentos sociais.
Os movimentos sociais são praticados por grupos que identificam a necessidade de sua mobilização para
garantir direitos e saírem da situação de excluídos. Outro exemplo importante para nossa discussão é o
da comunidade indígena brasileira. Essa população, espalhada por todo o território nacional, com
características e culturas próprias, tem se unido com frequência na luta pela demarcação de terras.
Um exemplo dessa ação foi promovido pela comunidade Guarani Yvyrupa, localizada no entorno da
cidade de São Paulo, que, em 2013, fechou a rodovia dos Bandeirantes e lançou um manifesto sobre sua
situação de exclusão e alijamento do direito da terra.
No caso do acesso às universidades, podemos usar diferentes medidas para responder a essas perguntas.
A Universidade Federal do Paraná (UFPR), por exemplo, divulgou uma pesquisa que demonstra o
rendimento dos cotistas em notas e andamento do curso como equivalentes aos não cotistas,
desmistificando o senso comum de que os alunos beneficiados por políticas afirmativas são inferiores aos
demais.
Nessa perspectiva, proponho pensarmos sobre a mobilização dos estudantes secundaristas, realizada em
2016 em diferentes estados.
A partir da apresentação de uma política pública – a reforma do Ensino Médio defendida na então PEC
241 –, alunos de escolas públicas se uniram em protesto. Esses jovens perceberam nessa medida uma
ameaça aos seus direitos e a reiteração de desigualdades sociais entre ricos e pobres.
Ainda que essa mobilização social promovida pelos secundaristas não tenha evitado a aprovação da
referida reforma, sua organização e discussão sobre seus direitos chamaram atenção para a força do
coletivo estudantil e de seu aprendizado.
Nesse contexto, a escola assume também a responsabilidade por agir de forma a evitar desigualdades –
em ações afirmativas, de respeito às diferenças – e na difusão de conhecimentos e práticas que
combatam formas de discriminação.
Termina aqui nossa quarta aula desta unidade. Refletimos sobre os processos de exclusão e inclusão da nossa
história e estratégias de enfrentamento à discriminação social e econômica. Continue seus estudos e até
breve!
REFERÊNCIAS
AUSUBEL, D. P.; NOVAK, J. D.; HANESIAN, H. Psicologia Educacional. 2. ed. Rio de Janeiro: Interamericana, 1980.
AZEVEDO, Célia Maria Marinho. Cota racial e Estado: abolição do racismo ou direitos de raça? Cadernos
de Pesquisa. São Paulo, v. 34, n. 121 jan./abr. 2004.
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