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Introdução
Ouvimos falar muito,quando resolvemos abordar os Yorubás , da
chamada Nagocracia, significando que outros povos da África os quais
igualmente nos constituíram atravs de suas diásporas, não são tratados
com a mesma relev!ncia" #ontudo, o que vemos na verdade, em relação
aos nag$s, e em parte por responsabilidade do estere%tipo da
Nagocracia,  algo que nomeio de Nagonomia"
&ste povo tão importante na nossa formação e que tem sua inegável
marca em nossa constituição cultural e identitária, na maioria das obras a
que a eles se referem, são vistos e observados somente no conte'to
religioso" (alvo raras e'ceç)es como *isrio, +pine, (alami, uma parte
da obra de erger, -bimbola .ande e outros autores da /niversidade de
Ile Ife e outros raros autores,  como se os Yorubás não pudessem ser
ob0eto de estudos em um conte'to hist%rico ou antropol%gico"
Inclusive os mitos dos Ori'ás, normalmente são vistos somente no
conte'to de sua mística, como se não tivessem tambm um papel
civili1at%rio e pedag%gico, que tenham influenciado a sociedades
africanas de onde são originários e muito menos os povos que se
formaram com a contribuição da diáspora Yorubá, como n%s brasileiros"
No sentido de prestar uma pequena contribuição, a fim de combater esta
imagem que reforça o que, a meu ver, chamo de Nagonomia que reali1ei
este livro a partir de um trabalho de e'tensão #ultural
#ultural com o aval
aval do
N2cleo de #ultura &'tensão da 3iblioteca 4unicipal de Osasco e o
#entro #ultural -fricano da 3arra 5unda, em (ão 6aulo"
Ofereço este trabalho aos
aos 788 anos de Ile -'
-' Opo -fon0á em (alvador
(alvador e
mais especificamente
especificamente 9 4ãe (tella , a quem tanto admiro e tive a
oportunidade de visitá:la na ocasião de seus ;8 anos de (anto"
<ive a felicidade de poder presenteá:la, na ocasião, com flores brancas
que simboli1avam Yeman0á e seu
seu pranto na lenda que falava que seu
filho O'ossi teria sido seu 2ltimo e mais querido filho a dei'á:la em busca
de sua pr%pria liberdade" (egundo esta lenda, Yeman0á chorou tanto que
seu pranto e ela mesma se transformaram no mar, que se tornou seu
domínio" Não podemos esquecer que atravs deste mar vieram nossos

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Introdução
Ouvimos falar muito,quando resolvemos abordar os Yorubás , da
chamada Nagocracia, significando que outros povos da África os quais
igualmente nos constituíram atravs de suas diásporas, não são tratados
com a mesma relev!ncia" #ontudo, o que vemos na verdade, em relação
aos nag$s, e em parte por responsabilidade do estere%tipo da
Nagocracia,  algo que nomeio de Nagonomia"
&ste povo tão importante na nossa formação e que tem sua inegável
marca em nossa constituição cultural e identitária, na maioria das obras a
que a eles se referem, são vistos e observados somente no conte'to
religioso" (alvo raras e'ceç)es como *isrio, +pine, (alami, uma parte
da obra de erger, -bimbola .ande e outros autores da /niversidade de
Ile Ife e outros raros autores,  como se os Yorubás não pudessem ser
ob0eto de estudos em um conte'to hist%rico ou antropol%gico"
Inclusive os mitos dos Ori'ás, normalmente são vistos somente no
conte'to de sua mística, como se não tivessem tambm um papel
civili1at%rio e pedag%gico, que tenham influenciado a sociedades
africanas de onde são originários e muito menos os povos que se
formaram com a contribuição da diáspora Yorubá, como n%s brasileiros"
No sentido de prestar uma pequena contribuição, a fim de combater esta
imagem que reforça o que, a meu ver, chamo de Nagonomia que reali1ei
este livro a partir de um trabalho de e'tensão #ultural
#ultural com o aval
aval do
N2cleo de #ultura &'tensão da 3iblioteca 4unicipal de Osasco e o
#entro #ultural -fricano da 3arra 5unda, em (ão 6aulo"
Ofereço este trabalho aos
aos 788 anos de Ile -'
-' Opo -fon0á em (alvador
(alvador e
mais especificamente
especificamente 9 4ãe (tella , a quem tanto admiro e tive a
oportunidade de visitá:la na ocasião de seus ;8 anos de (anto"
<ive a felicidade de poder presenteá:la, na ocasião, com flores brancas
que simboli1avam Yeman0á e seu
seu pranto na lenda que falava que seu
filho O'ossi teria sido seu 2ltimo e mais querido filho a dei'á:la em busca
de sua pr%pria liberdade" (egundo esta lenda, Yeman0á chorou tanto que
seu pranto e ela mesma se transformaram no mar, que se tornou seu
domínio" Não podemos esquecer que atravs deste mar vieram nossos

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ancestrais de diversas diásporas, das quais n%s brasileiros somos filhos"
/ns vieram em busca da liberdade que O'ossi buscava ao dei'ar
Yeman0á, outros tendo sua liberdade privada neste processo, e tendo que
lutar por ela nestas terras de diáspora" - estes não podemos esquecer
que nos ensinaram o quanto vale a afirmação da pr%pria identidade e o
quanto vale o sentido da palavra mem%ria" &sta mem%ria de onde 0amais
será apagado o pranto daquela mãe que foi Yeman0á ao ver seu filho
O'ossi ir ao que para ela era um destino incerto e que foi o mesmo pranto
de tantas mães que perderam seus filhos, nossos ancestrais, nas
diásporas =sobretudo africana>" #ontudo, ao terem atravessado
atravessado estes
mares das lágrimas de Yeman0á nossos ancestrais africanos e outros
chegaram a um novo solo, fi1eram
fi1eram uma nova
nova pátria e adotaram o espírito
espírito
destas novas
novas terras" ?uando
?uando vou ao -fon0á e ve0o
ve0o pelas mãos e pelos
olhos de 4ãe
4ãe (tella, que nossas
nossas tradiç)es ancestrais ainda estão vivas,
ve0o que O'ossi atravessou o mar de lágrimas de nossa mãe Yeman0á e a
reencontrou em algum lugar no Orun =cu> entre África e -mrica atravs
do -' =lei e força vital> que vem do abraço que nos damos entre n%s que
nos dão todos os Ori'ás, de quem n%s brasileiros incorporamos os
arqutipos para viver
viver nosso dia a dia, independentemente
independentemente de
de nossas
nossas
crenças" - todas estas personagens que nos a0udaram a constituirmos
como povo
povo e nação são a quem dedico
dedico este trabalho"
trabalho"
0- O que são Orikis? Uma introdução sobre um dos gêneros da Literatura Oral
Yorubá
1 – Oriki = !o"ação#
Oriki $% antes de tudo% uma das di!ersas tradiç&es literárias da oralidade 'orubá
(ob)eto "entral de estudo de um dos "ursos de e*tensão que ministro na
bibliote"a de Osas"o e no +entro +ultural ,ri"ano de .ão /aulo% dentro de um
dos "ursos do "i"lo de "ultura ari"ana# /ara entendermos melor o que ele
signii"a% assim "omo introdu2ir suas "ara"ter3sti"as% 4re"isamos nos ater aos
4ro!á!eis signii"ados etimol5gi"os da 4ala!ra Oriki#
O !o"ábulo Oriki  $
 $ ormado a 4artir de Ori  ("abeça
 ("abeça e ki  (saudação%
 (saudação% o que nos
le!a a "on"luir que ele re4resenta uma saudação 6 "abeça# sta "on"lusão%
%4ortanto% não elu"ida muito sobre o seu real signii"ado se não esti!ermos

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atentos ao que esta "abeça re4resenta simboli"amente dentro da tradição
"ultural dos 'orubás#
O 4roessor nigeriano .alami (1777 deine Oriki "omo sendo uma e!o"ação% a
4artir do sentido de Oriki   "omo sendo Ori   (origem e ki   (saudação# /ortanto%
esta e*4li"ação nos le!a a "rer que na +abeça se en"ontra realmente a
Origem dos seres segundo os 'orubás#
/odemos assim "on"luir que o Oriki di2 res4eito 6 e!o"ação a nossas origens%
que% simboli"amente% residem em nossa "abeça#

8- Ori% , "abeça "omo uma di!indade#

/ara entendermos melor o que signii"a Oriki   e 4orque esta saudação 6


"abeça "onsiste em uma real e!o"ação% $ ne"essário que entendamos
4rimeiramente o que signii"a o Ori   e que es4aço este "on"eito o"u4a na
m3sti"a e no imaginário 'orubá#
9entro do "on)unto de Odus  da /oesia Sagrada de Ifá   (outro gênero da
literatura oral 'orubá% que agrega em si uma s$rie de 4oemas e lendas m3ti"as
á uma ist5ria que e*4li"a bem isto# sta lenda se en"ontra dentre as lendas
do 4rimeiro Odu (Ejiogbe)  e que trans"re!o abai*o:

O trabalho mais importante de Ejiogbe no céu foi à revela!o de como a


cabea" #ue era em si uma divindade passou a deter um espao permanente
no organismo$ %s divindades foram criadas originalmente sem cabea por #ue
a pr&pria cabea era uma divindade$
O a'o (sacerdote) #ue fe divina!o para a cabea (o Ori) é chamado %mure e
morava no Orun (céu)$ Orunmila convidou %mure para faer adivinha!o sobre
como faer para ter uma fisionomia completa por #ue nenhuma das divindades
tinha cabea até a#uele momento$ O %'o disse a Orunmilá #ue esfregasse
ambas as palmas das m!os rogando ao alto para ter uma cabea$ Ele disse
 para faer sacrifcios com #uatro obis (noes de cola)" panela de barro esponja
e sab!o$ *isse para #ue guardasse as noes de cola em um lugar sagrado
sem parti+las" pois haveria um visitante inconse#,ente #ue posteriormente iria
fa-+lo$ Ori (a cabea) convida também %mure para faer divina!o e foi lhe
dito #ue servisse ao seu anjo guardi!o #uatro noes de cola #ue n!o poderiam
ser compradas e #ue s& comearia a prosperar depois #ue fiesse o sacrifcio$

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*epois de realiar seu pr&prio sacrifcio Orunmilá dei.ou as #uatro noes de
cola em seu lugar consagrado como Ifá disse #ue teria #ue ser feito$ /ouco
depois E.u anunciou no Orun (céu) #ue Orunmilá havia dei.ado as #uatro
noes de cola em seu lugar sagrado e #ue estava procurando uma divindade
 para parti+las$
0ideradas por Ogum" todas as divindades visitaram Orunmilá" uma ap&s outra"
mas ele disse a cada uma delas #ue n!o eram suficientemente forte para parti+
las$ Elas se sentiram destratadas e retiraram se aborrecidas$ %té mesmo Ori.á
1lá (O.alá o deus filho) visitou Orunmilá" porém este o agraciou com noes de
cola melhores diendo #ue as noes de cola em #uest!o n!o estavam
destinadas a serem partidas por ele$ 2omo se sabe" *eus nunca perde a
calma e O.alá aceitou as noes frescas oferecidas por Orunmilá e foi embora$
3inalmente Ori (a cabea) decidiu ir visitar Orunmilá$ 3oi rolando ent!o para a
c4mara de Orunmilá e logo #ue este viu Ori rolando para sua casa" saiu ao seu
encontro para entret-+lo$ Imediatamente Orunmilá pegou um pote de argila"
água" sab!o e esponja e comeou a lavagem de Ori$ %p&s secá+lo" Orunmilá
levou Ori até o seu local sagrado e solicitou #ue partisse as noes de cola$
*epois de agradecer a Orunmilá por seu gesto honroso" Ori reou para
Orunmilá" com as noes de cola para #ue tudo o #ue Orunmilá fiesse tivesse
sucesso e para #ue tudo se realiasse$ Ori tornou a usar as noes de cola para
rear para si mesmo" para ter um local de resid-ncia permanente e muitos
seguidores$ Em seguida Ori rolou para trás e bateu contra as noes de cola
#ue se partiram em uma e.plos!o intensa #ue pode ser ouvida em todos os
lugares do Orun (céu)$ %o ouvir o som das e.plos5es todas as outras
divindades imediatamente compreenderam #ue finalmente as noes de cola
haviam sido partidas$ 6odos ficaram curiosos para saber #uem tinha partido as
noes #ue haviam desafiado a todos" inclusive a *eus$ 7uando E.u anunciou
#ue Ori tinha conseguido todos concordaram #ue Ori era a divindade indicada
 para fa-+lo$
7uase imediatamente ap&s" as m!os" os pés" o corpo" a barriga" o t&ra." o
 pescoo" etc$ #ue até ent!o tinham identidades especficas decidiram viver
com a cabea" lamentando+se por n!o terem percebido antes #ue esta era t!o
importante$ 8untos todos levantaram sobre si a cabea e ali" no lugar sagrado
de Orunmilá a cabea foi coroada como o rei do corpo$ Esta é a ra!o" devido
ao papel desempenhado por Orunmilá em sua sorte" pela #ual a cabea tem
#ue tocar o solo e mostrar respeito e rever-ncia a Orunmilá até os dias de

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hoje$ Esta também é a ra!o pela #ual apesar de ser a mais jovem de todas as
divindades" Orunmilá é a mais importante entre elas$
/ara #ue o filho de Ejiogbe viva muito tempo na terra deve procurar a'os
(sacerdotes) de grande saber e intelig-ncia para preparar um sab!o especial
com o cr4nio de um animal$ Ejiogbe é a divindade padroeira da cabea" por
#ue foi ele #ue no Orun (céu) fe o sacrifcio #ue converteu a cabea em rei do
2orpo$
Ejiogbe provou ser o mais importante Olodu ou ap&stolo de Orunmilá na terra$
 %pesar de originalmente ser um dos mais jovens$ Ele pertence a uma segunda
gera!o de profetas" #ue se ofereceram para vir a este mundo a fim de torná+lo
um lugar melhor para viver$ Ele foi um ap&stolo de Orunmilá muito criativo
tanto #uando estava no Orun (céu) #uanto #uando veio para este mundo
(%i9e)$

, lenda a"ima elu"ida a questão do Ori   ("abeça na m3sti"a e imaginário


Yorubá e nos dá elementos sui"ientes 4ara que 4ossamos introdu2ir
satisatoriamente o "on"eito de Ori #

; – +on"eito de Ori #
<emos uma id$ia deste "on"eito% a 4artir do que nos ala $niste quando "ita
abatund$ La>al da Uni!ersidade de le $ na @ig$ria quando se reere 6
"abeça:
:1a maioria das esculturas africanas tradicionais a cabea é a parte mais
 proeminente por#ue" na vida real" é a parte mais vital do corpo humano$ Ela
contém o cérebro ; morada da sabedoria e da ra!o< os olhos ; a lu #ue
ilumina os passos do homem pelos labirintos da vida< os ouvidos ; com os
#uais o homem escuta e reage aos sons< e a boca+ com #ual ele come e
mantém corpo e alma unidos$ %s outras partes do corpo s!o abreviadas para
enfatiar posi5es subordinadas$ 6!o importante é a cabea em muitas
sociedades africanas #ue ela é adorada como sede da personalidade e destino
do homem$$$ Ori é todo o ase (a.é) #ue uma pessoa tem" e sua sede é na
cabea" é ela #ue" geralmente" vem primeiro ao mundo e abre caminho para
traer o resto do corpo=
O tre"o a"ima nos dá a dimensão% a 4artir do "on"eito est$ti"o% da
im4ortAn"ia que o Ori   assume simboli"amente no imaginário Yorubá# Outro

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4onto im4ortante a se "itar 4ara agregar !alor a este "on"eito se reere a outra
lenda relati!a ao Ori$
.egundo $niste% os as4e"tos da e*4eriên"ia umana são 4redestinados 4ela
es"ola que a2emos de nosso or # .egundo a tradição m3ti"a 'orubá% a45s
sermos modelados 4or O*alá (Orisa 1la% ,)alá $ "on!o"ado "om a tarea de
orne"er o Ori   ("abeça e "ada an"estral nosso "ede as substAn"ias
ne"essárias 4ara a4ereiçoar a orma de nossas "abeças# stas substAn"ias
nos a"om4anam todo o tem4o e são mere"edoras de res4eito e "ulto#
/ortanto% mesmo que ,)alá se trate de um Ori*á% não dei*a de ter suas
dei"iên"ias# B esque"ido e des"uidado e de!ido a isto nem sem4re as
"abeças saem boas# +omo resultado disso a maioria das 4essoas es"olem
4or si mesmas as "abeças sem re"orrerem a ,)alá e a"abam assim 4or
es"oler "abeças ruins e im4restá!eis% assim "omo nos narra $niste# @este
"onte*to% re"orrendo a .alami que nos ala que o Ori  $ nossa Origem% al$m de
nossa sim4les "abeça 3si"a% temos que nosso destino inteiro $ mar"ado 4ela
es"ola desta "abeça e 4ara tanto e*istem rituais e 4ráti"as "omo o ori (que
quer di2er em Yoruba bo Ori % dar de "omer ao Ori  4ara restabele"er o
equil3brio ne"essário nesta nossa "abeça (que nos determina% a 4artir de nossa
origem% o nosso destino# Coltando a $niste% ele nos e*4&e que segundo a
tradição 'orubá% um omem "om uma "abeça bem eita terá um destino de
su"esso% da3 o dito tradi"ional – ,)alá% modelador de "abeça no Orun  ("$u%
molde uma boa 4ara mim# 9esta orma "ada Ori se "onstitui em uma di!indade
4essoal que regula nossas !idas e n5s mesmos es"olemos nosso Ori rere
(bom Ori ou Ori >uruku  (mau Ori# +omo nos "ontinuam e*4ondo $niste e
.alami $ atra!$s do Dogo de á% que Orunmilá re!elará o ti4o de Ori que está
"onos"o e "onseqEentemente este Ori irá de"larar a n5s seus dese)os% sem4re
atra!$s do Dogo de á#
@este "onte*to% torna-se mais "lara a im4ortAn"ia de se e!o"ar o Ori "omo nos
ala .alami#
F - Ori Ode e Ori Inu ("abeças interior e e*terior#
,o nos de4ararmos "om a estrutura do Ori% !emos o quanto "om4le*o torna-se
este "on"eito# +onorme tamb$m nos e*4li"a $niste a 4artir da Obra de
abatunde La>al:

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Ori ode é a denomina!o da cabea fsica e Ori Inu é a cabea interior$ Sendo
#ue a primeira é confiada a Ossain e a Ogum" ou seja" ao saber médico< a
segunda está ligada a Ifá e aos demais Ori.ás" ou seja" ao saber divino$ Ori
ode é #ue se presta para suporte das obriga5es iniciáticas$ Ori inu é a
ess-ncia da personalidade" da alma do homem #ue deriva diretamente de
Olodumare$ ? Ele #uem a coloca no homem" mas #ue" ap&s a morte" % Ele
@etorna$$$ Ori InA é o ser interior ou o ser espiritual do homem e é imortal$ Ori
Ode é a cabea fsica propriamente dita ou filosoficamente" a matéria$ Ela é
Bortal e oposi!o a Ori Inu" #ue foi criado por %jalá" um antigo Ori.á" segundo
as ordens de Olodumare$ % diferena entre as duas pode ser observada neste
6recho do verso de Ifá do Odu OgbetegundaC
 % colina proclama" o vale proclama$
 % consulta a Ifá realiada para a cabea interior 
 % consulta a Ifá realiada para a cabea e.terior 
 % 2abea interior disse #ue era a mais velha
 % 2abea e.terior disse #ue era a mais velha
Invo#ue minha cabea interior 
*e modo #ue a interior n!o estrague a e.terior 
 % interior prev- sucesso para o homem
*e modo #ue o homem pode construir casas
 % cabea interior leva o homem a ter uma esposa$
/elo te.to apresentado" é o Ori Inu #ue controla o Ori Ode$ Isto sugere"
 portanto #ue o sucesso do ser e.terior dependa essencialmente da naturea
din4mica interior do homem$

Cale a2er o 4arêntese de que a reerên"ia ao G % cabea interior leva o homem
a ter uma esposa=   não $ des"one*a% tola ou des4ro4ositada% ainda mais 4or
estarmos tratando de uma so"iedade da Hri"a .ubsaariana% "omo muitas
outras% na qual as relaç&es entre as linagens determinam di!ersas "oisas e
dentre elas as relaç&es de 4oder# sto que )ustii"a a im4ortAn"ia !ital dos
"asamentos e "onseqEentemente de se ter uma es4osa que $ 4ortadora do
!entre que dará seqEên"ia 6 estrutura so"ial das linagens#
I- Ori na est$ti"a Yorubá#
+onorme )á "itei em item anterior% La>al nos e*4&e que na maior 4arte das
es"ulturas ari"anas a "abeça $ a 4arte mais 4roeminente# 9esta orma sua
4ro4or"ionalidade nestas es"ulturas a2 )us 6 sua im4ortAn"ia nos 4lanos 3si"o
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e simb5li"o se retomamos os "on"eitos de +abeça *terior e nterior
res4e"ti!amente#
+ontudo% 4ara entender melor este ato que se relete es4e"ii"amente na
est$ti"a Yorubá% re"orro ao "on"eito de Odara% segundo me e*4li"ou .alami
em aula em 177;% no seu "urso de Yorubá na U./#
@ormalmente% "onorme "one"emos atra!$s da "elebre mJsi"a de +aetano
Celoso% 4odemos tradu2ir Odara  4or belo# /ortanto% .alami nos e*4li"a que
al$m de belo% Odara  tamb$m tra2 o sentido de Jtil# 9esta orma quando os
'orubás se reerem a suas obras de arte "omo Odara% estão se reerindo a algo
que ao mesmo tem4o $ belo e Jtil# sto )ustii"a o ato de que "ertas 4artes do
"or4o se)am re4resentadas "om maior 4roeminên"ia do que outras% 4or
desem4enarem unç&es de maior utilidade 3si"a e simb5li"a do que as
demais# ste ato determina% in"lusi!e% que estas re4resentaç&es 4ossam ser
des4ro4or"ionais em relação ao "or4o umano% e tamb$m ao 4adrão est$ti"o
4redominante na arte grega "lássi"a que se auto-determina!a uma
re4resentação 4ereita da realidade#
.egundo a 4er"e4ção est$ti"a dos 'orubás% uma estátua grega )amais seria
Odara na a"e4ção "om4leta da 4ala!ra e do "on"eito% 4ois os e*em4lares da
arte grega "lássi"a não "olo"am em destaque as 4artes do "or4o de maior
im4ortAn"ia e utilidade !itais 4ara os Yorubás#
9ois e*em4los "laros desta 4er"e4ção est$ti"a que temos são as "one"idas
re4resentaç&es de *u e O*um nos <em4los YorubásK +omeçando 4or *u%
"omo toda estátua 'orubá% tem a "abeça 4roeminente% dentro desta os olos%
os ou!idos% a bo"a% 4$s e mãos grandes e des4ro4or"ionais% assim "omo seu
5rgão re4rodutor ereto# <odos re4resentando as 4ro4orç&es de im4ortAn"ia
que estas 4rin"i4ais unç&es re4resentam no simbolismo Yorubá# @o "aso da
deusa O*um% "omo !emos em suas re4resentaç&es em um de seus tem4los
de Osogbo% nas otograias de /ierre Cerger% al$m da 4roeminên"ia da "abeça%
das mãos e dos 4$s% temos a 4roeminên"ia e des4ro4orção dos seios e do
!entre% (o que $ muito "omum em outras "ulturas ari"anas subsaarianas% que
re4resentam dois lados da maternidade signii"ati!os# Os !entre e seios de
O*um re4resentados de tal orma% em destaque% são Odara em seu sentido
integral% sobretudo 4or serem Jteis a unção re4rodutora essen"ial 4ara a
"ontinuidade desta so"iedade de linagens# ,l$m disso% isto tamb$m se
9
 )ustii"a 4elo ato de que% segundo nos airma o oriki de O*aguian% $ 4elo
!entre% na tradição 'orubá% assim "omo em outras tradiç&es da Hri"a
.ubsaariana%que se e*4ressam nossos sentimentos% quando di2 literalmente%
em l3ngua 'orubá:
O.aguian n!o tem maldade na barriga
(o que Cerger tradu2 4or: O*aguian não $ mau
m resumo% 4er"ebemos atra!$s destas re4resentaç&es de ori*ás que a
4er"e4ção est$ti"a 'orubá se a2 re4resentati!a no que nos liga "om o mundo
sensorial do ,i'e (terra% mundo 3si"o atra!$s da orma enáti"a "om que
"onstr5i nossos 5rgãos de sentido do mundo 3si"o "omo o de audição%
4aladar% !isão% tato e 5rgãos de re4rodução# /or outro lado esta 4roeminên"ia
tamb$m se dá em nossas 4artes do "or4o que nos ligam simboli"amente "om
o mundo intang3!el% "omo a "abeça no sentido de "abeça interior% que na
!erdade 4erten"e a Orunmilá e ao Orun ("$u e 4ara o qual te"emos orikis e
que são o ob)eto "entral neste estudo#
<ipos de Ori@i
.egundo nos mostram is$rio e .alami% e*istem di!ersos ti4os de Oriki e
4odemos enumerá-los# .ão e*em4los de Oriki os:
Oriki Oril$- /ara Linagens (tem relação estreita "om as mar"as a"iais dos
'orubá
Oriki orokini- 4ara 4essoas ilustres
Oriki lu – 4ara "idades
,ki)á- ,nti – Oriki
Oriki Orisa- /ara os Ori*ás
Oriki ,mutorun>a – Oriki indi!idual de nas"imento e nominação (assume
ormas dierentes no "aso de gêmeos% "rianças nas"idas de4ois de gêmeos%
"rianças nas"idas "om "ordão umbili"al enrolado no 4es"oço% ou que o
Orá"ulo 4re!ê que morrerá antes dos 4ais#
,l$m disso% at$ mesmo animais% 4lantas e olas têm seus orikis% 4ois tudo que
têm !ida tem Ori e 4ode ter um Oriki#
Oralidade e Import!ncia da 6alavra dentre os Yorubás"
/ara entender melor a e*4ressão oral e im4ortAn"ia da 4ala!ra entre os
Yorubás $ ne"essário que a4resente o "on"eito de ,*$# (,se#

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,45s e*4li"ar a im4ortAn"ia ritual do ,s$(,*$ entre os Yorubás% .alami% em
sua tese de doutorado% nos deine esse ,s$(,*$ "omo sendo a orça !ital que
se e*4ressa tamb$m em toda 4ala!ra# le nos lembra que o signii"ado
etimol5gi"o da 4ala!ra ase !em de a se (assim se)a% assim se aça e desta
orma "omo a 4ala!ra 4orta o ,se(,*$% ela tem o 4oder de a2er "om o que
está sendo airmado se "on"reti2e#
.e re"orrermos a Cerger% em algumas o"asi&es ele tradu2 a 4ala!ra ,s$ (a*$
4or Lei% o que a2 "om que nos remetamos "om4arati!amente e imediatamente
aos signii"ados de rta (ordem e !a" (!erbo da "ultura sAns"rita% dos quais os
ritos !$di"os de4endem e são eitos 4ara a manutenção da ordem "5smi"a e
na qual a 4ala!ra ("orretamente 4ronun"iada ritualmente em sAns"rito% nos dá
a"esso aos 4lanos sutis da "riação# ,mbos os "on"eitos% a4esar de estarem
4resentes em uma "ultura tão distante da Yorubá% a4resentam alguma
4ro*imidade "om o "on"eito do ,se Yorubá% se)a no seu uni!erso ritual3sti"o%
"omo im4regnado na "arga simb5li"a que a 4ala!ra "arrega 4ara este 4o!o#
Outro elemento que de!emos obser!ar na questão da oralidade e no !alor da
4ala!ra 4ara os 'orubá e as so"iedades da Hri"a subsaariana 4ode ser muito
bem e*4ressa 4or Mam4atê á quando "ita <ierno okar .ali e di2:
:% escrita é uma coisa" o saber outra$ % escrita é fotografia do saber" mas n!o
é o saber em si$ O saber é uma lu #ue e.iste no homem$ % herana de tudo
a#uilo #ue nossos ancestrais vieram a conhecer e #ue se encontra latente em
tudo #ue nos transmitem" assim como o >aobá já e.iste em potencial em sua
semente=
,l$m de nos elu"idar melor o "on"eito de ,s$ (,*$% "omo orça !ital que !em
da an"estralidade e está 4resente tanto na ritual3sti"a quanto na 4ala!ra entre
os 'orubás% esta "itação tamb$m nos a2 "om4reender melor a orça tradiç&es
orais dentre os ari"anos subsaarianos% 4ois a es"rita sendo a4enas uma
otograia do saber% e não sendo o saber em si% esta não se torna uma
"ondição 4ara a transmissão do saber an"estral# is$rio nos ala da
"ara"ter3sti"a lu3da e le*3!el das "ulturas da maior 4arte das so"iedades que
mant$m as tradiç&es orais na Hri"a subsaariana# le nos mostra que em geral
elas se dieren"iam da rigide2 "anNni"a das so"iedades que se desen!ol!eram
a 4artir da es"rita# ste ato nos a)uda a "om4reender o que nos airma
Mam4atê á quando deende que as tradiç&es orais 4redominantes nas

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"ulturas da Hri"a .ubsaariana não re4resentam uma alta de abilidade
destas so"iedades 4ara a es"rita% mas sim uma orma "ara"ter3sti"a de se
e*4ressar# ,lgo 4ara o qual nossa "ultura "lássi"a o"idental geralmente não se
atentou e "riou muitos 4re"on"eitos% esque"endo at$ mesmo o "aráter oral dos
4oemas $4i"os "lássi"os#
@este sentido tamb$m 4odemos% de no!o% "itar "om4arati!amente a ndia e as
tradiç&es .Ans"ritas na qual os 4r54rios te*tos C$di"os 4or muito tem4o oram
4roibidos de ser trans"ritos% 4or 4ortarem em si um "onteJdo demasiadamente
sagrado 4ara dei*arem de ser transmitidos 4ela tradição oral atra!$s das
geraç&es de sa"erdotes#
9a mesma orma% o distan"iamento das tradiç&es de transmissão oral e
sobretudo não ter 4ara quem transmitir o "one"imento an"estral $ um grande
temor dentre os an"iãos e sa"erdotes nas so"iedades subsaarianas% "onorme
nos elu"ida Mam4atê á em seu te*to <radição Ci!a# /ois o saber está na
4ala!ra e não na letra% 4ois a letra $ a4enas uma otograia da 4ala!ra% mas se
não or 4ronun"iada não tra2 o ,s$ (,*$ da 4ala!ra#
Cou mais al$m ainda neste "on"eito% e ouso airmar% segundo esta l5gi"a% que
a obra de arte $ a otograia da arte% e não a arte em si mesma# /ois a 4artir do
momento que e*iste o "on"eito da arte no imaginário do artista% ela )á se a2
!i!a e a obra de arte $ a4enas a otograia deste "on"eito que te!e origem na
sensibilidade do artista# 9entro dos 4ro"essos "riati!os dos te*tos da oralidade
Yoruba isto tamb$m se e*4ressa% "omo !eremos mais a rente quando ormos
alar da estrutura dos Orikis# ntendemos melor isto se nos lembrarmos que
sem o "on"eito de Ori não 4odemos "riar orikis#
Outro 4onto que não se 4ode esque"er% $ que a 4ala!ra entre os Yorubás%
tendo em si o 4rin"34io da orça !ital e da lei an"estral que nos sustenta (,se
ou ,*$% não 4ode admitir a mentira% senão "omo uma transgressão moral# O
que tamb$m Mam4atê á "ita no "aso dos ambara e Pulani em seu <radição
Ci!a% de!ido ao ato da 4r54ria "riação% 4ara estes 4o!os% terem emergido da
/ala!ra do +riador#
/ara ilustrar a rele!An"ia desta transgressão moral que $ a mentira e do
mentiroso "omo transgressor moral no "onte*to do 4oder da 4ala!ra "omo
4ortadora da orça !ital e a lei an"estral do ,se (,*$ entre os Yorubás
4odemos "itar e*em4los de !ersos de orikis de QangN% O*um e Yansã% "omo:
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Ela fura com sua sineta o ventre do mentiroso( Oriki de O*um 4etu
Ele n!o aceita a oferenda do mentiroso (Oriki de Qango em O'o
Ele mata o mentiroso e enfia seu dedo no olho dele (Oriki de *angN ,on)á
Olha brutalmente de soslaio o mentiroso (Oriki de QangN em Osogbo
O mentiroso foge antes mesmo #ue ele lhe dirija a palavra (Oriki de QangN em
Osogbo
Os daomeneanos s!o mentirosos" eles n!o t-m um talism! como o de O9á
(Oriki de O'á
@a ultima "itação temos um e*em4lo ist5ri"o de que esta transgressão moral
4oderia at$ mesmo ser um dos atores legitimariam o dom3nio do reino Yorubá
de O'o sobre o 9aom$ no imaginário dos Yorubás% 4elo ato dos
daomeneanos% ao serem "olo"ados e ta*ados "om a re4utação de mentirosos%
mesmo que i4oteti"amente% seriam% dessa orma% moralmente ineriores aos
'orubá% e 4or isso 4oderiam ser sub)ugados 4ela +oroa do ,lain de O'o#

ABneros da literatura Oral Yoruba"


Coltando a deender que não $ 4elo ato da ausên"ia da 4ala!ra es"rita que
uma so"iedade não 4ode desen!ol!er ri"os gêneros literários $ que e*4ono%
segundo nos enumera .alami% os gêneros da literatura oral 'orubá mais
im4ortantes e que são:
Oriki- !o"ação# Utili2ado 4ara e!o"ar a 4resença e o es43rito (Ori do seu
ob)eto# Um Oriki de Ori*á% 4or e*em4lo% se "orretamente 4ronun"iado% 4ode
a2er "om que um ini"iado entre em transe#
,dura – Oração# B utili2ada 4ara a2er 4edidos aos Ori*ás e di!indades ou
an"estrais% 4ode "onter tre"os de Orikis% "omo o "aso da ,dura(Oração de
QangN % mas diere na orma e na unção de um Oriki#
ba- .audação# Utili2ada 4ara se "olo"ar em 4osição de submissão ao Ori*á%
rei ou an"estral m3ti"o ou de linagem#
Orin – +antigas# Usadas 4ara tra2er á mem5ria e omenagear o ob)eto da
"antiga
Orin sa- +antigas de omenagem aos an"estrais mas"ulinos
Orin e- +antigas em omenagem aos an"estrais emininos
)ala e remo)e – Rrandes /oemas# Reralmente 4ara se 4re4arar 4ara
determinadas ati!idades dentro de o3"ios "onsiderados nobres ou essen"iais

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("omo a "aça no "aso dos )ala% que eram basi"amente 4oemas eitos em
omenagem aos "açadores an"estrais 4ara que tenam uma boa "aça#
sta multi4li"idade de Rêneros nos a2 reletir que enquanto so"iedades da
Hri"a .ubsaariana de tradição literária oral "omo a Yorubá desen!ol!em toda
esta !ariedade% na ormação "lássi"a de edu"adores no rasil e na diás4ora
ainda nos atemos somente ao estudo do 4oema $4i"o das so"iedades da
"ultura "lássi"a grega "omo se osse a Jni"a "a4a2 de nos dar uma id$ia dos
undamentos do er5i na edu"ação# ,gimos "omo se a Hri"a subsaariana não
dissesse res4eito a n5s e 6 nossa "ultura% ignorando toda essa rique2a%
somente 4orque nossa "ultura 4re"on"eituosamente at$ o momento ta*ou
estas so"iedades "omo ágraas% e que% 4ortanto% não tinam nada a "ontribuir
em nossa edu"ação#

Import!ncia da Aenealogia na (ociedade -fricana (ubsaariana"


m so"iedades de linagens "omo a maior 4arte das so"iedades da Hri"a
.ubsaariana% onde o 4a4el do an"estral m3ti"o muitas !e2es $ ob)eto de "ulto%
as genealogias assumem um 4a4el "entral nas relaç&es de 4oder% 4ois quanto
maior a 4ro*imidade "om o an"estral m3ti"o mais leg3tima torna-se a liderança
dentro das so"iedades ari"anas subsaarianas "omo e*4&e +arlos .errano em
suas aulas e no do"umentário o /o!o rasileiro#
lustro abai*o "om a genealogia do ,lain de O'o% que "omo 4odemos !er $
des"endente% 4or linagem real% do an"estral m3ti"o que todos n5s
"one"emos "omo o 9eus QangN% que era neto de Oran'an% o 4rimeiro ,lain
que 4or sua !e2 $ des"endente direto de Odudu>a% o an"estral m3ti"o de todos
os reinos Yorubás#

Aenealogia dos -lafins de OCo =retirada e tradu1ida


diretamente do site oficial do -lafin de OCo>

7" OranmiCan
2. -0a@a D foi destronado
3. Eango D foi deificado como deus do trovão e raio"
4. -0a0a D re :instalado
F" -gan0u

14
G" Hori
;" Oluaso
8. Onigbogi D condu1iu a evacuação de OCo provavelmente no 7Go
sculo "
9. Ofiran D construiu a cidade de (ha@i
10. &guno0u : fundou OCo Igboho
11. Orompoto D especula:se que foi uma mulher
12. -0iboCede :
13. -bipa : 7F;8:7F8
14. Obalo@un : 7F8:7G88
:::Oluodo D
15. -0agbo : 7G88:7GF
16. OdaranJu : 7GF:7GG8
17. Hanran : 7GG8:7GGF
18. KaCin : =6rimeiro -JuCale de I0ebu Ode> 7GFF:7G;8
19. -Cibi : 7G;:7GL8
20. OsiCango : 7GL8:7GL
21. O0igi : 7GL:7;M
22. Abaru : 7;M:7;M
23. -muniJaCe : 7;M:7;
24. Onisile : 7;:7;F8
25. +abisi : 7;F8
26. -Jonbio0u : 7;F8
27. -gbolua0e : =#elebrou o 3ere 5estival> 7;F8:7;;
28. 4a0eogbe : 7;;:7;;F
29. -biodun : =#elebrou o 3ere 5estival> 7;FF:78F
M8"-ole
M7"-debo
32. 4a@u : 78:7M8
33. 4a0otu : =Ilorin tomada pelos 5ulani>
34. -modo : 7M8
35. OlueJu : =?ueda da antiga OCo> 7MM:7M
36. -biodun -tiba : =5undador da -tual OCo, celebrou o 3ere 5estival>
7M;:7FL
15
37. -delu : 7F:7;F
38. -deCemi I : 7;F:7L8F
39. +aJani -gogoi0a : 7L8F:7L77
40. +adigbolu : Kan" 7F, 7L77:Pec" 7L, 7L
41. -deniran -deCemi II : Kan" F, 7LF:(ept" 8, 7LFF
42. 3ello Abadegesin : =+adigbolu II> KulC 8, 7LFG:7LG
43. -deCemi III : =-laafin atual de OCo e #hefe da <erra Yoruba> 7 Kan,
7L;7 at os dias atuais

O griot genealogista e o autor de Ori@is genealogista 


Driot   $ um nome que !êm do ran"ês e que $ atribu3do ao Gtro!adorS das
tradiç&es orais entre os Pulas% ambara e os aribá% "omo nos mostra
Mam4atê á em seu te*to <radição Ci!a # m outras so"iedades da Hri"a
subsaariana% sobretudo dentre os 4o!os sudaneses temos seus
"orres4ondentes# .egundo a obra de Mam4atê á% e*istem !ários ti4os de
Rriots e dentre eles o genealogista que% não raro% !ia)a!a 4or toda Hri"a nas
imediaç&es dos reinos !i2inos% 4ara bus"ar as origens que "onstitu3am as
genealogias das am3lias e a2er seus 4oemas de genealogia (tal qual os Oriki
Orile dos Yorubá que de!eriam ser re"itados e "antados nas "erimNnias
im4ortantes e nos ritos de 4assagem# /ortanto% a!ia outros ti4os de Rriots que
desem4ena!am 4a4$is similares aos bobos da "orte da uro4a% a quem era
4ermitido mentir ou distor"er a !erdade em nome de sua arte que tina a
unção de di!ertir as "ortes e so"iedades "om seus 4oemas% o que
e*"e4"ionalmente não era !isto "omo uma transgressão moral% segundo nos
airma Mam4atê á#
@a tradição Yorubá% mais 4re"isamente no eino de O'o% o 4a4el do griot
genealogista es4e"ii"amente $ desem4enado 4ela igura do ,rokin#

&strutura e 5orma dos Ori@is


is$rio e L$4ine são dois autores que nos demonstram bem "omo se
estruturam orikis e que 4or isso re"omendo ortemente a leitura#
L$4ine% que "ito abai*o% "on"eitua bem su"intamente "omo se estruturam os
Orikis de orma geral quando di2:

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:O Oriki comporta habitualmente tr-s partesC uma enumera!o de
nomes #ue descrevem o status" os apelidos e a apar-ncia da pessoa<
um relato de suas realia5es e de suas faanhas< comentários sobre o
item precedente$ S!o elaborados no decorrer da vida de uma pessoa a
 partir de frases" #ualificativos" apelidos criados por seus
contempor4neos e amigos ntimos$ Os orikis representam assim a
opini!o pAblica sobre uma pessoa= 
+omo 4odemos obser!ar% esta estrutura tri4la $ uma "ara"ter3sti"a da maioria
dos Orikis% "ontudo se obser!amos muitos Orikis de Ori*ás 4odemos !erii"ar
que nem sem4re todas estas três 4artes estão 4resentes ou quando estão nem
sem4re seguem ielmente esta ordem de enumeração% reali2aç&es e
"omentários sobre reali2aç&es#
/ara que obser!emos tal ato trans"re!o abai*o um 4equeno Oriki de O*um
"oletado no Tetu 4or /ierre Cerger:
Binha m!e é bela" muito bela$ ("omentário
2obre de olhos fulgurantes (enumeração
I9alode cuja pele é muito lisa (enumeração
7uando ela sai todo mundo a saAda ("omentário
Binha m!e #ue cria o jogo de a9o e cria o jogador # (reali2ação
B!e" todo mundo está com voc- ("omentário
O filho entregará o dinheiro na sua m!o$ ("omentário
O mais rele!ante% sobretudo% a 4artir deste e*em4lo% $ que 4er"ebamos que as
regras do Oriki não são i*as "omo em um soneto% 4oema 4arnasiano% ou
outros gêneros da literatura o"idental dentro de di!ersas es"olas literárias%
este)am eles em !erso ou 4rosa#
,l$m disso% is$rio nos e*4&e outros elementos rele!antes na orma dos Orikis
"onorme 4odemos !er em sua obra Oriki% Ori*á "omo quando nos ala:
:%s palavras t-m no Oriki uma carga especial$ ma certa densidade
energética$ E coisas podem acontecer a partir de sua simples emiss!o$
7uando recito um Oriki de O9á Fans!" sei #ue ela está me ouvindo ; e #ue" a
depender do meu gesto e da minha fidelidade te.tual pode me abenoar $$$ a
Altima coisa #ue devemos esperar encontrar em um oriki de Ori.á" é o
desenvolvimento l&gico linear de uma idéia ou de um enredo$ Ine.iste a#ui
#ual#uer preocupa!o em tecer uma est&ria ou recontar uma hist&ria$$$$
>olanlé %'é nos di sobre orikis de personagens notáveis #ue :

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diferentemente de outras tradi5es orais " o oriki n!o conta uma est&ria<
apenas delineia um retrato #ue é fre#,entemente incompleto< tal retrato
somente ilumina a#ueles aspectos #ue os contempor4neos julgaram dignos de
nota na vida de um indivduo" e fa isso algumas vees" numa linguagem t!o
sucinta" altamente figurativa e comprimida #ue a tradu!o com fre#,-ncia
apresenta+se um problema= $$$%ntes de desenvolver linearmente um discurso" o
Oriki opera pela justaposi!o de blocos verbais=
is$rio !ai mais al$m% airmando que o Oriki 4ode ser "om4arado e
"om4reendido mesmo "omo um ideograma# /odemos 4er"eber no e*em4lo do
Oriki de O*um a"ima que ele te"e e "onstr5i imagens ao reerir-se a Gmãe de
4ele muito lisaS que G"ria o )ogo de a'o e o )ogadorS e 4ara a qual Go ilo
entrega o dineiro em suas mãosS# .e ti!ermos a imaginação dos 'orubás
4oderemos at$ mesmo !isuali2ar estas "enas enquanto o re"itamos#
stas imagens% tal qual ideogramas% que isoladamente nem sem4re em si
tra2em signii"ados% se )usta4&em 4ara ormar% atra!$s deste "on)unto de
imagens% uma e!o"ação ao Ori*á (no "aso dos Orikis de Ori*ás ou ao ob)eto
que se e2 tema do Oriki em questão# is$rio reorça isto quando airma:
:O gosto pelo grandioso é uma trade mark do g-nero$ Em outras palavras" o
modo de defini!o do objeto" #ue encontramos no oriki" funda+se na
ma.imia!o dos traos da#uilo #ue é representado$ ? a vis!o enfática"
superenfática" das personagens" das coisas" fenGmenos e processos$ %
hipérbole" figura do e.cesso$$$  A estes traços francamente espetaculosos,
extra-ordinários, somam se os rasgos imagéticos$ O galope de imagens
como costuma dier$ S!o imagens amplas e contundentes$$$ a imagerie do oriki
se pauta pelo ins&lito" pelo grandioso e pelo e.travagante=

@ão á m$tri"a nem e*tensão 4r$ deinidos 4ara os Orikis% 4odem ser "urtos
ou muito longos# <udo de4ende do nJmero de imagens que de!em ser
 )usta4ostas (tal qual são os ideogramas aim de tra2er 6 tona e ao mesmo
tem4o "onstruir o "on)unto da igura inal que re4resenta o es43rito do ob)eto a
ser e!o"ado ou saudado#
/ara tanto% obser!amos que os orikis 4odem utili2ar di!ersos re"ursos% 4ois
"omo nos e*em4lii"a Cerger nos Orikis de Ogum ("omo os de outros Ori*ás
4odem ser utili2ados 4ro!$rbios% im4re"aç&es ou at$ mesmo sentenças que

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este)am !i!as no uni!erso simb5li"o e no imaginário da "oleti!idade e que
4ossam ser utili2adas na "onstrução destas imagens que "onstituem o Oriki#

Ori@is de Ori'ás#
,l$m de e*4lorar o "aráter aleg5ri"o e est$ti"o dos orikis% ,>e% em sua obra
nos ala do e*em4lo do Oriki "omo do"umento ist5ri"o#
/ara e*em4lii"ar o que um oriki 4ode tra2er em inormação e em rique2a
simb5li"a em um sim4les !erso% !ou analisar três !ersos de três orikis de
Ori*ás em duas situaç&es que se ini"iam na Hri"a e têm seu 4rosseguimento
na diás4ora ari"ana no rasil:
Oriki de HangGC
:Senhor dos D-meosS
ste sim4les% e a4arentemente des4retensioso !erso do Oriki de QangN% nos
remete a um "on"eito im4ortant3ssimo dentro da maior 4arte das so"iedades
subsaarianas% que $ o "on"eito de geminilidade# @a maior 4arte das
so"iedades da Hri"a .ubsaariana a igura dos gêmeos $ de grande
im4ortAn"ia e sem4re $ um tema "omum "om a qual estas so"iedades lidam
de di!ersas ormas "omo sendo rele!ante em sua estrutura so"ial# ,lguns
4o!os "omo os 'orubás% !êm o nas"imento de Rêmeos "omo algo ben$i"o%
outras 4odem at$ mesmo abandonar um deles#
Os gêmeos simboli2am 4ara as so"iedades subsaarianas tudo o que $ du4lo e
a 4artir do "on"eito de geminilidade desena-se o "on"eito de simetria e
assimetria 4ara estes 4o!os# <anto o du4lo quanto a dualidade da simetria e
assimetria reerem-se de alguma orma "om a relação destes 4o!os "om as
relaç&es de 4oder# 9a3 a questão dos gêmeos estar ligada diretamente ou
indiretamente de orma simb5li"a "om estas relaç&es de 4oder na Hri"a
subsaariana#
.egundo .errano nos e*4Ns em uma de suas aulas na U./ a 4artir de um
!3deo de más"aras de um dos 4o!os de origem bantu de ,ngola% as más"aras
sim$tri"as simboli2a!am de alguma orma relaç&es armNni"as "om o es4iritual
e as más"aras assim$tri"as re4resenta!am a autoridade dos "ees# O que
tal!e2 de orma es4e"ulati!a nos aça a"reditar que as relaç&es de 4oder 4or
inega!elmente tra2erem em si algum grau de o4ressão% são elas mesmas

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assim$tri"as# .egundo .errano% este "on"eito da geminilidade e
"onseqEentemente da simetria e assimetria rela"ionada ao 4oder são uma
"onstante na Hri"a .ubsaariana#
Coltando ao e*em4lo dos Yorubás e de QangN% entendemos melor "omo se
maniesta esta relação do du4lo% da geminilidade e do 4oder% se analisarmos a
simbologia do 4r54rio Os$ (O*$%a"ado 9u4lo que $ a erramenta de QangN#
@ormalmente o Os$ (O*$ $ simboli2ado 4or um ma"ado sim$tri"o de a"e
du4la "om um omem no "entro "omo base% ou "om dois gêmeos (um em
"ada lado abai*o das a"es do ma"ado% moti!o 4elo qual ele $ "amado o
.enor dos Rêmeos# O Ose (O*$ de QangN% e!identemente "arrega em si
tanto os 4rin"34ios da simetria e "omo o da Reminilidade% 4resente no
imaginário dos /o!os subsaarianos# /ortanto% o Os$ (O*$ do .enor dos
Rêmeos re4resenta o 4oder du4lo% mas 4or ser sim$tri"o% 4ode 4assar a id$ia
que este 4oder não $ baseado em relaç&es de o4ressão% mas sim
religiosamente undamentado na base da an"estralidade do er5i m3ti"o
deii"ado% tal "omo QangN o $ realmente# Os gêmeos% ou a simetria do omem
que se en"ontra no "entro do Os$ (o*$ 4ode re4resentar tamb$m o equil3brio
e*istente (ou ideal que de!eria e*istir no 4oder du4lo que se instalou em O'o
entre o os ,lains a 4artir de QangN (que tamb$m tina origem materna em
in!asores dos /o!os @u4e e aribá e a so"iedade Ogboni% que era o "onselo
4o4ular que re4resenta!a o 4oder do 4o!o aut5"tone des"endente somente do
an"estral m3ti"o de le e (Odudu>a#m outro "onte*to% segundo estes
"rit$rios "riados 4elo 4rin"34io da geminilidade e simetria% o Os$ de QangN
simboli"amente tamb$m re4resenta o equil3brio do 4oder du4lo do rei
di!ini2ado 4elo Orun ( ,laain  e a so"iedade Ogboni que re4resenta!a o
4oder terreno (do ,i'e# Outro ato rele!ante $ que o 4r54rio Orani'an (a!N de
QangN e 4rimeiro ,laain tem a 4ele simetri"amente 4intada de bran"o e 4reto%
o que )á 4renun"ia!a este "on"eito de 4oder du4lo de O'o em armonia%
legitimado na igura do 4r54rio an"estral m3ti"o#
<ra2endo 4ara a diás4ora% a 4artir deste "on"eito de 4oder du4lo em armonia
legitimado 4elo 4lano es4iritual que !emos na re4resentação do Ose de
QangN%e 4er"ebemos que a "ru2 "ristã tem o mesmo 4rin"34io de simetria que
se a4ro*ima do Ose e no imaginário do 4o!o 'orubá na diás4ora 4ode ter tido
a mesma "arga simb5li"a# +oin"identemente !emos que% não raro% algumas
20
so"iedades de religião aro brasileira tradi"ionais na aia% têm "ru2es "ristãs
em seu interior e muitas !e2es têm suas origens em irmandades "ristãs de
es"ra!i2ados# (O que não dei*a de ter um 4aralelo "om a re4resentação de
so"iedade de resistên"ia que era a so"iedade Ogboni em terras 'orubás% que
4ode% 4or sua !e2 e sem dJ!ida% ter ins4irado na organi2ação e estrutura
destas irmandades "ristãs de es"ra!i2ados na aia#
Outro ato im4ortante que en"ontramos "om reqEên"ia nos orikis de Ori*á $ a
reerên"ia ao 4reguiçoso (ol$% que $ tratado "omo sendo um transgressor
moral tal qual o mentiroso% "omo nos e*em4los dos !ersos dos Orikis de O*um
4ondá e Logun de
Oriki de O*um 4onda
Ela entra na casa do preguioso e este foge
Oriki de Logun de
O preguioso está satisfeito entre os transeuntes (pois n!o é visto)$
9e qualquer orma% ao estudarmos a dinAmi"a das so"iedades que se ini"iaram
no 4ro"esso de "aça e "oleta% e!oluindo 4ara a agri"ultura e o 4astoreio e mais
tarde tamb$m se tornando urbanas% 4er"ebemos que não á realmente lugar
"onortá!el 4ara o 4reguiçoso na so"iedade 'orubá assim "omo nas
so"iedades da Hri"a .ubsaariana# , estrutura de linagens na qual a
"onstituição da am3lia e onde o trabalo dos mais )o!ens se a2em
im4res"ind3!eis 4ara o sustento dos mais !elos% de sua am3lia e da
estruturação do modo de 4rodução desta so"iedade% não 4ode a"eitar
realmente a igura do 4reguiçoso (que se re"usa a 4rodu2ir# /ortanto não á
outra orma senão transormar esta 4ersonagem em um transgressor moral%
"omo o mentiroso#
@a diás4ora% os muitos senores 4reeriam etnias de es"ra!i2ados% que tinam
desen!ol!ido abilidades es4e"3i"as 4ara su4rir as ne"essidades de 4rodução
de suas so"iedades na Hri"a# Outro ator que a2ia "om que 4reerissem
determinados gru4os $tni"os era )ustamente o quão e!idente era a !alori2ação
do trabalo nas so"iedades de origem dos es"ra!i2ados#
/ortanto% em todas as so"iedades ari"anas subsaarianas que se organi2am
atra!$s de linagens% "omo a dos 'orubás% o trabalo era !alori2ado 4or ser
undamental 6 sobre!i!ên"ia da so"iedade# O que nos e*4li"a% neste "aso% que
ao 4reguiçoso era relegado o 4a4el de transgressor moral#

21
Um dos ob)eti!os de to"ar neste assunto a 4artir dos Orikis% $ )ustamente
"ontribuir 4ara des"onstruir a id$ia no nosso imaginário "oleti!o na"ional que
de!ido 6s nossas origens ari"anas erdadas da $4o"a da es"ra!idão% temos a
tendên"ia a ser um 4o!o indolente# @ão 4odemos negar que esta $ uma
imagem que muitos a2emos de n5s mesmos% mas ao entender melor as
relaç&es de 4rodução dentro das so"iedades da Hri"a .ubsaariana% !emos
que se trata de um mero 4re"on"eito#
ste 4re"on"eito in"lusi!e ser!e 4ara nos "egar ao ato de que ainda nos dias
de o)e% n5s brasileiros trabalamos em m$dia% 4ela +L<% ao menos oito oras
semanais a mais que os euro4eus 4or suas leis trabalistas# ste ato dei*a
ainda mais e!idente que isto que muito de n5s a"eitamos 4assi!amente sobre
n5s mesmos não 4ode ser outra "oisa senão mero 4re"on"eito#
Outro ator que me a2 "olo"ar esta airmação $ que tudo isto e!iden"ia que se
este imaginário 4re"on"eituoso e de bai*a estima atual ser!e aos 4ro45sitos de
algu$m% "ertamente não $ aos 4ro45sitos de quem 4rodu2 em nosso 4a3s% que
$ a imensa maioria#

Ori@is de Aenealogia e de Nominação #


Oriki Oril$ $ o nome dado ao Oriki de linagem que tem uma relação estreita
"om as mar"as a"iais# @a so"iedade Yorubá% ao !er as mar"as a"iais de
algu$m que "ega% todos em um gru4o% se dese)am saudá-lo% re"itam seu Oriki
Oril$% 4ara e!o"ar sua an"estralidade e seus ante4assados% assim "omo nos
e*4li"a .alami em sua tese#
+omo nos ala L$4ine% o oriki de uma pessoa é constitudo durante o decorrer
de sua vida # Vuando nas"e% o Oriki de nominação $ eito durante uma
"erimNnia que 4ode ser "orrela"ionada "om o que na tradição "ristã o"idental
"one"emos "omo batismo# 9urante os ritos de 4assagem são a"res"idos
outros elementos e o oriki $ atuali2ado sendo que assim temos um 4anorama
de eitos% 4ro!$rbios e at$ mesmo im4re"aç&es que e!o"am a 4ersonalidade#
Pa2endo um 4arêntese 4ara tentar e*4li"ar algo que se a4ro*ime de um oriki
de nominação e que a"onte"eu "omigo narro que re"entemente meu oriki
"omeçou a ser eito% 4ois des"obri meu nome de santo a 4artir de uma
oerenda que 4edi 4ara a2er 4ara mina mãe O*um na Hri"a% na o"asião do
Pesti!al de O*um em Osogbo ("idade de O*um#
22
,o a2er a oerenda e O*um ter a"eitado% meu nome de ilo de O*um oi
re!elado 4ara a .a"erdotisa do <em4lo desta 9eusa em Osogbo que alou
4ara meu "orres4ondente na "idade#
Osunemi% 4ortanto $ meu nome no Orun dado 4or O*um e o que "omeça meu
oriki de nominação% 4ois re4resenta a mina 4rimeira titulação a qual e!o"aria
meu Ori# Osunemi $ a "ontração de Osun nie mi (O*um me ama% ou Osun e
mi (O*um me quer e que em outras 4ala!ras tamb$m quer di2er G O ,mor de
O*umS# .egundo a tradição Yorubá este $ um nome e t3tulo que "onstitui mina
identidade e que ini"ia meu oriki de nominação# +ito 4ara dar um e*em4lo#
/odemos deinir o Oriki de nominação e tamb$m o de linagem de uma 4essoa
"omo um ator que a identii"a em uma so"iedade# Rrosso modo% 4odemos
identii"ar o Oriki de nominação% "omo sendo uma !erdadeira "arteira de
identidade% que tem suas inormaç&es registradas% não em um ban"o de dados
de um arqui!o ou "om4utador% mas sim no imaginário "oleti!o de um gru4o e
registrado no Orun#
/or alar em identidade% aço outro 4arêntese im4ortante ao alar de
nominação# eu 4ro45sito ao estudar tradiç&es e ist5ria da Hri"a% não $ a2er
um a!or aos brasileiros de 4ele negra "omo se eles ossem 4ara mim uma
alteridade# eu ob)eti!o $ dar uma 4equena "ontribuição 4ara o resgate de
nossa 4lena identidade na"ional a 4artir do re"one"imento de "ulturas deste
4o!o que !em da Hri"a# ste 4o!o que al$m de nos "onstituir geneti"amente
inde4endente da "or de nossas 4eles (4ois 70W dos brasileiros que não tem a
4ele negra são des"endentes de ari"anos negros "onstitui um ator
im4ortante de nossa e*4ressão na"ional# Vuem 4ode di2er% 4or e*em4lo% que
nosso abraço brasileiro $ dierente ou está distante do abraço dos Ori*ás do
Tetu que en"ostam 4eito "om 4eito 4ra transmitir seu as$ (,*$% 4ois tamb$m
abraçamos 4ra transmitir nossa energia# Vuem 4ode negar que nossa orma de
alar% andar% sorrir% nossa es4ontaneidade que nos dieren"iam dos euro4eus
mais alegres tena sido erdada destes nossos an"estrais ari"anos? Vuem
4ode negar que ao a"eitarmos a dis"riminação !elada de nosso 4a3s aos
brasileiros de 4ele negra em sua as"ensão so"ial% estamos não somente
negando les o direito a sua 4lena "idadania% mas tamb$m nossa 4lena
identidade% querendo a2er 4are"er que se tratam realmente de uma alteridade
e re"usando que somos realmente des"endentes de negros ari"anos se)a
23
geneti"amente ou se)a ao menos em nossa e*4ressão% mesmo que não
tenamos a 4ele negra? Vuem 4ode negar que ao querermos 4are"er uma
"54ia mal eita de euro4eus% re"usamos assumir o que somos realmente?
Vuem 4ode? ,"o que s5 quem 4ode negar a an"estralidade% es"onder o
sorriso% negar o abraço% tro4eçar nos 4r54rios 4assos% ou re"usar a 4reerên"ia
4ela es4ontaneidade% quem quer esque"er o que $ e assim dei*ar de ser
brasileiro 4ra ser uma imitação de estrangeiro% 4ode a2er isto# as sem dJ!ida
este 4re"isará trabalar 4ra transormar o seu Ori#
@ão 4odemos negar que somos ilos da diás4ora ari"ana "omo de outras
diás4oras e massa"res% 4ortanto s5 nos resta tentar re"onstruir e resgatar esta
nossa identidade 4lena a im de a"armos uma 4ro4osta real de 4rogresso
"omum e que não se)a ragmentária ou que sustente e "rie guetos de e*"lusão%
ao in!$s de tentar imitar o que não somos% e 4or isso estudo esta "ultura e
"reio que de!a ser esta uma das moti!aç&es de quem 4or ela se interessa
inde4endentemente de nossas "ores de 4ele#

Neo Ori@is
.egundo is$rio temos e*em4lo de @eo-Orikis em di!ersas mJsi"as de
"om4ositores "omo Rilberto Ril e +aetano Celoso% o que mostra que o gênero
nos inluen"ia at$ o)e e está 4resente em nossa 4o$ti"a oral# Um dos
e*em4los que is$rio nos tra2 de neo-oriki $ a mJsi"a ansã inter4retada 4or
aria etania e que trans"re!o abai*o
ansã (aria etania
+om4osição Rilberto Ril e +aetano Celoso

.enora das nu!ens de "umbo


.enora do mundo dentro de mim
aina dos raios% raina dos raios
aina dos raios% tem4o bom% tem4o ruim
.enora das "u!as de )uno
.enora de tudo dentro de mim
aina dos raios% raina dos raios
aina dos raios% (titulaç&es% a2em 4arte de um Oriki

24
<em4o bom% tem4o ruim
u sou o "$u 4ara as tuas tem4estades
Um "$u 4artido ao meio no meio da tarde
u sou um "$u 4ara as tuas tem4estades ("omentários relati!os aos eitos
9eusa 4agã dos relAm4agos
9as "u!as de todo ano (ais titulaç&es
9entro de mim% dentro de mim

9á 4ra obser!ar "ara"ter3sti"as "laras dos Orikis na mJsi"a de etania% ainda


mais a "onstrução de imagens que ormam o ideograma em nosso imaginário#
+ontudo% al$m do que is$rio nos ala% 4odemos !er em outras musi"as
"ara"ter3sti"as de Orikis# Uma% dentre as quais !e)o um e*em4lo bem "laro $
na mJsi"a aria de Cerdade "om arisa onte (da autoria do baiano
+arlinos ro>n que trans"re!o abai*o a letra#

4aria de erdade

4arisa 4onte

+om4osição: +arlinos ro>n

/ousa-se toda 4aria 


no !aral das 88 adas nuas lourinas
Postes besouro 4aria 
e a aba do /ierrot des"osturou na baina (são claros aqui os feitos e
imagens)

Parinar bem% derramar a "anção


e!irar trens% lou"o mo!er 4ai*ão
@as direç&es% 4rogramado e emoldurado
s4erarei romAnti"o (4reste atenção nas imagens que se ormam nesta
estroe

.ou a 4essoa 4aria 


@a água quente e boa gente tua 4aria 
Coa quem !oa 4aria 

25
e a alma sem4re boa sem4re !ou 6 4aria =preste atenção nos comentários
de reali1aç)es e caracteri1ação do ob0eto do tema da m2sica>

Parinar bem% derramar a "anção


e!irar trens% lou"o mo!er 4ai*ão
@as direç&es% 4rogramado e emoldurado
s4erarei romAnti"o

<ou !itimado no 4roundo 4oço


na 4oça do mundo
do "$u amor !ai "o!er
<ua 4essoa 4aria 
esmo que doa 4aria 
<ua 4essoa 4aria  (mais imagens )usta4ostas

Parinar bem% derramar a "anção


e!irar trens% lou"o mo!er 4ai*ão
@as direç&es% 4rogramado e emoldurado
s4erarei romAnti"o

<ou !itimado no 4roundo 4oço


na 4oça do mundo
do "$u amor !ai "o!er
<ua 4essoa 4aria 
esmo que doa 4aria 
<ua 4essoa 4aria 

+omo !emos% esta mJsi"a de +arlinos ro>n mostra bem "omo se a4resenta
um 4ersonagem em um Oriki % ressalta os seus eitos e não quer
ne"essariamente ter uma seqEên"ia l5gi"a% mas sim "onstruir imagens que
tragam 6 su4er3"ie da 4oesia o es43rito da 4ersonagem# <raços muito
4are"idos "om Orikis de Ori*ás# ,s imagens do Oriki tamb$m "onstroem os
arqu$ti4os dos er5is na mem5ria "oleti!a na tradição Yorubá (que $ tema de
um dos "ursos que ministro #

26
&'ercícios sobre Aenealogias para resgate da mem%ria hist%rica
conforme tradição Oral africana"   (sugestão de ati!idade esultado do
e*er"3"io na ibliote"a de Osas"o e no +entro +ultural ,ri"ano de .ão /aulo#
ni"iamos no "urso de e*tensão na ibliote"a de Osas"o no dia 1F de agosto
de 8010 um rá4ido e*er"3"io sobre Renealogias#
/edi que os 4arti"i4antes es"re!essem em um 4a4el toda a genealogia que
lembrassem e anotassem ao lado qualquer "oisa (4ala!ra% 4ro!$rbio% a4elido
que les !iesse 4rimeiramente 6 mem5ria sobre "ada um destes seus
an"estrais dentro de sua genealogia# Pi2emos de orma "omo se esti!$ssemos
simulando uma 4re4aração 4ara es"re!er um oriki de genealogia (Oriki Oril$#
+ontinuamos no en"ontro seguinte#
,l$m desse e*er"3"io% sugiro uma ati!idade 4ara 4roessores de ist5ria no
ensino undamental que queiram e*er"itar a questão da mem5ria ist5ri"a na
tradição oral ari"ana% a 4artir de um e*er"3"io que se a4ro*ime dos orikis# ,
id$ia $ simular a "onstrução de um neo-oriki de "lasse ou de algu$m da "lasse
mesmo a im de e*er"itar# ste oi tema do trabalo que desen!ol!i na
dis"i4lina de metodologia do ensino de Mist5ria na Pa"uldade de du"ação da
U./# O 4ro"esso se dá em eta4as e que resumo abai*o:
1 – s"ola do tema#
8- Le!antamento das imagens que a2em menção ao tema
;-Le!antamento de <itulação (nomes% a4elidos% "on"eitos sobre o ob)eto do
4oema#
F- Le!antamento de eitos e reali2aç&es do ob)eto do 4oema
I- 4ro!$rbios que se a4li"am ao tema do 4oema
X- "onstrução do 4oema ini"ial "om a 4arti"i4ação de todos
- egistro a "ada 4er3odo 4r$-determinado de no!os a"onte"imentos que se
adi"ionem ao 4oema e transormação disto em orma de imagens#
Z- @o inal do 4er3odo "om4ara-se o 4oema ini"ial ao inal e se 4er"ebem "omo
são registradas as transormaç&es que 4elo sistema de registro ist5ri"o oral e
"omo un"ionam e são im4ortantes os re"ursos de mem5ria neste reeren"ial
"ultural#
 7- <odos lêem o 4oema
10- +ada um di2 o que lembra ou oi mais mar"ante no 4oema e que imagem
mais o mar"ou#
27
11- .ão !erii"adas quais as imagens que mais se ormam e "omo se
rela"ionam entre si#
18- stas imagens são "om4aradas "om otograias#
1;- +ada um tenta desenar a imagem que mais o mar"ou% materiali2ando a
otograia
1F- 9is"ute-se a 4artir disso "omo uma !isão 4ode ser sub)eti!a em relação a
outra e o que orma a !isão do "oleti!o $ uma !isão "omum % e isto que orma o
registro ist5ri"o na mem5ria "oleti!a em uma so"iedade onde a oralidade $
4redominante#
9a3% de4endendo da sala% 4odem se dis"utir !árias "oisasK 4ode se entrar na
temáti"a das lendas e !erii"ar nelas "omo se ormam os mitos% gêneros
literários $4i"os 4o4ulares% ou não% que se "onstroem ortemente a 4artir da
oralidade e que se baseiam ou se basearam ini"ialmente ortemente na
oralidade% et"# (que são ob)etos de outros "ursos que ministro
Coltando a nosso e*er"3"io em Osas"o% teno que les di2er que "omo
resultado% no má*imo% ti!emos reerên"ias de nossos a!5s (que $ o que
"one"emos# O que $ muito 4ou"o se "om4ararmos "om o que !emos "om a
genealogia do ,lain que está nesta 4ubli"ação#  diga se de 4assagem que
normalmente o ,lain tem que saber de mem5ria dos Orikis de grande 4arte
dos outros ,lains 4re"edentes% e que na tradição Yorubá tradi"ional o ideal $
saber 4elo menos a 4artir de sua s$tima geração an"estral#
+om4arando os dois e*em4los% o nosso e o da so"iedade tradi"ional 'oruba%
no "onte*to dos orikis% algo que 4er"ebemos de imediato $ que% sem dJ!ida
estas so"iedades baseiam-se em !alores e*tremamente dierentes# /odemos
di2er que somos esta so"iedade de "onsumo o"idental sem mem5ria e na qual
nem a mem5ria de nossa origem a2 4arte de nossas rique2as ("omo $ eito
nas so"iedades subsaarianas# @ossos !alores de "onsumo não "om4ortam a
tradição# us"a se o no!o 4elo no!o% sem se undamentar na autoridade que
!em da tradição (segundo nos a2 4ensar Manna ,rendt quando lemos seu
te*to sobre autoridade# @esse 3m4eto% "onstru3mos uma identidade que não
lembre que no nosso 4assado somos ilos desta diás4ora e destas tradiç&es%
que a2emos questão de esque"er# 9essa orma nos tornamos sim4les
"onsumidores e "54ias mal eitas desta "i!ili2ação o"idental 4ro!eniente
su4ostamente a4enas do mundo "lássi"o e que o)e se transormou na
28
so"iedade de "onsumo que "one"emos ou ormamos em nosso imaginário
"oleti!o# /ara esta so"iedade a des"oberta de outras an"estralidades e da
irmação da identidade integral do que nos ormou não tem es4aço e não
interessa# /or outro lado% !emos que temos muito a ganar ao 4er"eber esta
no!a so"iedade que não $ ob)eto de estudo de um 4o!o e*5ti"o% "omo 4ara
muitos no meio a"adêmi"o o"idental dos 4a3ses ditos "entrais que são quem
nos orne"em suas reerên"ias sobre estes 4o!os% e que 4elo "ontrário% estas
so"iedades nos di2em res4eito e nos ante"edem em !erdade# 9es"obrimos
muito sobre n5s mesmos ao entrarmos em "ontato "om sua est$ti"a% "ultura e
!alores#
eu ob)eti!o e tamb$m do nJ"leo de *tensão da ibliote"a de Osas"o e do
+entro +ultural ,ri"ano% $ "om este trabalo% dar uma 4equena "ontribuição
4ara que os 4arti"i4antes transormem sua 4er"e4ção e resgatem elementos
que "onstruam sua 4r54ria identidade ao en*ergar a orma "omo esta "ultura
an"estral 4er"ebe sua 4r54ria so"iedade# 9e orma alguma nosso ob)eti!o% e
de quem estuda e mergula na des"oberta de uma no!a "ultura% "omo as
"ulturas ari"anas 4arado*almente ainda são 4ara n5s% de!e ser a4enas alar
bonito 4ara re4rodu2ir o que )á "one"emos e que ormou esta so"iedade
e*"ludente e que se irma na "riação de estere5ti4os de outras so"iedades#
9ar uma 4equena e m3nima "ontribuição 4ara a)udar a transormar e agregar
elementos no!os 6 4er"e4ção de mundo% "ultura e so"iedade dos 4arti"i4antes
e leitores% a im de que "onstruam uma identidade mais "om4leta oi o meu
ob)eti!o 4rin"i4al neste te*to e trabalo#
Osunfemi (Ivan da ilva !oli)

O mito de *u na +i!ili2ação Yorubá a 4artir de seus Orikis#


  :E.u está de pé na entrada=  % "om este !erso do Oriki de *J abro
este artigo 4edindo 4assagem ao .enor do +amino 4ara ini"iar este "i"lo de
te*tos sobre os mitos dos Ori*ás na "i!ili2ação Yorubá a 4artir de seus orikis#
+onorme "oloquei em artigo anterior sobre os Orikis% 4elo sim4les ato
de alarmos dos 'orubás estamos e*4ostos a que digam que estamos deendo
a @ago"ra"ia% e que 4or esse mesmo sim4les ato somos ta*ados de estarmos

29
igualmente deendendo uma su4osta su4rema"ia nagN em relação a outros
4o!os ari"anos subsaarianos#
+ontudo o que re4ito $ que% na !erdade o que !e)o em relação 6
maioria das 4roduç&es reerentes aos Yorubás $ algo que "amo de
@agonomia% 4ois estas 4roduç&es s5 ressaltam a unção m3sti"a dos mitos%
negligen"iando assim as4e"tos so"iol5gi"os% antro4ol5gi"os e ist5ri"os que o
estudo da "ultura deste 4o!o a 4artir de seus mitos 4ode ter#
sto a2 "om que o material que nos dê subs3dios de ato 4ara uma
análise mais a4roundada sobre a "ultura 'orubá se)a% na !erdade% sal!o
4ou"as e*"eç&es% tão es"asso quanto o de qualquer outro 4o!o da Hri"a
subsaariana que tena a)udado a nos "onstituir "omo 4o!o% a n5s brasileiros%
no 4ro"esso de sua diás4ora#
/ara reorçar e elu"idar a questão trago o que es"re!e +am4bell%
quando "itado 4or Qa!ier Duare2 em sua tese de 9outorado sobre 4oemas de
á sobre o ito#
.egundo o que Duare2 obser!a em +am4bell o ito tem quatro grandes
dimens&es que são a m3sti"a% "osmol5gi"a% so"iol5gi"a e 4edag5gi"a#
+am4bell nos ala que :
Os mitos t-m basicamente #uatro fun5es$ % primeira é a fun!o mstica+ e é
isso #ue venho falando" dando conta da maravilha #ue é o universo da
maravilha #ue é voc-" e vivenciando o espanto diante do mistério$ Os mitos
abrem o mundo para a dimens!o do mistério" para a consci-ncia do mistério
#ue subja a todas as formas$ Se isso lhe escapar" voc- n!o terá uma
mitologia$ ($$$) % segunda dimens!o é cosmol&gica" a dimens!o a #ual a
ci-ncia se ocupa ; mostrando #ual a forma do universo" mas faendo+ o de
uma tal maneira #ue o mistério" outra ve se manifesta ($$$) a terceira fun!o é
a sociol&gica ; suporte e valida!o de determinada ordem social$ ($$$) a fun!o
 pedag&gica (ensina)" como viver uma vida humana sob #ual#uer
circunst4ncia$ Os mitos podem ensinar+lhe isso : 
Duare2 ainda nos "on"lui em sua tese elu"idando que a dimensão
m3sti"a $ res4e"ti!a 6 relação entre sagrado e 4roano no uni!erso do mitoK a
"osmol5gi"a reere-se 6s relaç&es de equil3brio "5smi"o das orças 4resentes
no mitoKa so"iol5gi"a% 6 distribuição de 4a4$is so"iais e sua im4ortAn"ia na
deinição do "or4o sa"erdotal e de sua ierarquiaK e a quarta aos
ensinamentos tradi"ionais transmitidos 4elo mito 6s uturas geraç&es#
30
+orroborando "om o que nos elu"ida Duare2% .alami em suas aulas de
+ultura Yorubá na U./ em 177; nos resumia a unção dos Ori*ás Yorubanos
"omo sendo antes de tudo "i!ili2at5ria#
sta !isão de .alami "om4lementa e redeine mais su"intamente as
airmaç&es de +am4bell e Duare2% 4ois segundo a mesma 4odemos "on"luir
que as unç&es so"iol5gi"as e 4edag5gi"as do mito são intr3nse"as 6 sua
unção "i!ili2at5ria#
m sua unção so"iol5gi"a o mito 4ode a)udar a deinir não somente o
"or4o sa"erdotal mas tamb$m toda uma estrutura so"ial de um 4o!o# Dá em
sua unçao 4edag5gi"a 4odemos ter a deinição de um sistema de
ra"ionalidade e "omuni"ação dentre outros sistemas#
Outro autor rele!ante na organi2ação deste estudo que "ito $ .a"ristán
quando nos sugere o sistema La>ton no estudo de "ulturas di!ersas# ste
sistema ala de 7 in!ariantes 4resentes em qualquer "ultura e que são :
a a estrutura so"ial
bsistema e"onNmi"o
"sistema de "omuni"ação
dsistema de ra"ionalidade
esistema te"nol5gi"o
sistema moral
gsistema de "renças
sistema est$ti"o
i sistema de maturação#
<odos no "aso estão ligados ao sistema de "renças )á que utili2aremos
os Orikis dos Ori*ás 4ara esta análise#
, 4artir desta 4ro4osta reorço a ne"essidade de que estudemos os
mitos 'orubás al$m de sua unção m3sti"a# /ois se os estudarmos atra!$s dos
Orikis dos Ori*ás somente nesta dimensão% "onseguiremos somente ter
alguma id$ia do sistema de "renças desta "ultura e negligen"iaremos todo o
resto#
olanl$ ,>e nos 4ro4una em um dos seus trabalos que !3ssemos os
orikis "omo ontes de dados ist5ri"os dentro da dinAmi"a ist5ri"a dos
'orubás% "ontudo% indubita!elmente% 4odemos entender muito sobre todos os

31
t54i"os dos quais nos "ita .a"ristán no sistema de La>ton atra!$s deste
gênero da literatura oral 'orubá#
sto nos 4ossibilita que a 4artir dos orikis nos a4ro4riemos de elementos
que nos a"ilitem a "om4reensão desta "ultura em seu "onte*to so"ial e
antro4ol5gi"o% 4ois este gênero igualmente nos re!ela im4ortantes elementos
de uma "ultura da Hri"a subsaariana que 4or ter di!ersos atores "omuns "om
a maior 4arte de "ulturas de outros 4o!os subsaarianos 4odem nos au*iliar a
que se)amos introdu2idos ao estudo etnol5gi"o destes 4o!os que a)udaram a
nos "onstituir "omo @ação#
/ara melor elu"idar a es"ola de tratar dos mitos 'orubás al$m de sua
dimensão m3sti"a e atra!$s das no!e in!ariantes% neste trabalo% 4odemos
rela"ionar a unção m3sti"a "om o sistema de "renças e em "erta medida "om
o sistema est$ti"oK a unção so"iol5gi"a "om a estrutura so"ial% sistema
e"onNmi"o% sistema de maturação e o sistema moralK e a unção 4edag5gi"a
"om os demais sistemas que são o de "omuni"ação% ra"ionalidade e o
te"nol5gi"o#
m nosso estudo% re"orreremos mais 6s dimens&es so"iol5gi"a e
4edag5gi"a do mito atra!$s dos orikis 4ara mostrar que a4esar de estarmos
utili2ando te*tos reerentes 6 liturgia tradi"ional Yorubá% que têm seu 4a4el
im4ortante na dimensão m3sti"a do mito% não 4odemos negligen"iar sua
inegá!el unção "i!ili2at5ria#

&'u, o (enhor do 4ercado e dos caminhos "


+omo disse anteriormente% o sistema de "omuni"ação se rela"iona ao mito em
seu as4e"to 4edag5gi"o (e em "erta medida tamb$m ao so"iol5gi"o e o mito
de *u% entre outras "oisas está diretamente rela"ionado ao sistema de
"omuni"ação dos 'orubás#
+omo 4odemos obser!ar a 4artir de determinados !ersos dos Orikis de *u
ele está diretamente ligado a este sistema de "omuni"ação% na medida em
que no imaginário tanto dos 'orubás na Hri"a% quanto nos 4a3ses da diás4ora
ele $ asso"iado ao +amino e sendo o 4r54rio .enor do +amino# /odemos
"itar "omo !ersos que e*em4lii"am isso:
E.u está de pé na entrada"

32
Ele está de pé na entrada atrás da dobradia da porta
Ele cultiva o campo no lugar onde o velho pode ir
@ão raro% nas entradas das "asas 'orubás% *u $ simboli2ado de alguma
orma% se)a 4or um monte de terra e um alo (que o rela"iona "om a
se*ualidade e os sentidos ligados a esta que nos a2em "omuni"ar "om o
mundo sensorial% se)a 4or um tridente nos assentamentos nas entradas das
"asas de umbanda e "andombl$ na diás4ora#
m outra dimensão de seu as4e"to de "omuni"ador% *u $ tido "omo o senor
do mer"ado# ,qui o mito 4ende mais 4ara sua unção so"iol5gi"a dentro do
"on)unto de unç&es que ormam a grande unção "i!ili2adora do mito#
,ntes de nos a4roundarmos na relação do mito de *u "om o mer"ado $
im4ortante ressaltar que o a4are"imento deste er"ado nas terras 4r5*imas ao
Rolo do enim remonta a $4o"as anteriores aos 4rimeiros "ontatos "om os
euro4eus "omo nos e*4li"am Cerger e astide no artigo que tratam da
"ontribuição ao estudo dos mer"ados @agNs no ai*o enim# , "egada dos
euro4eus e2 "om que os tradi"ionais bJ2ios ossem substitu3dos 4or dineiro#
@este artigo Cerger nos "ita um relato sobre a !iagem do +e!alier de
ar"ais ao reino de Uidá atra!$s do que es"re!eu o 4adre Labat que 4or sua
!e2 tenta nos des"re!er este er"ado:
:6em eles uma semana de #uatro dias" dos #uais um dia é de feira$$$na
Europa n!o se encontram feiras t!o bem organiadas e policiadas" onde n!o
há nenhuma desordemC cada comerciante e as diversas mercadorias t-m seu
lugar pr&prio" separados uns dos outros" cada #ual em determinado setor
estabelecido de antem!o e sob pena de confisco" n!o podem instalar+se em
outro local #ue n!o o designado<os compradores podem barganhar à
vontade"contanto #ue o faam sem alarde e #ue tudo transcorra sem fraude e
trapaa=
.egundo nos airma Cerger no mesmo artigo% este modelo de mer"ado que
en"ontramos at$ os dias atuais no enim% teria sido 4ro!eniente dos modelos
de O'o e le e e "onseqEentemente instituiç&es "ara"ter3sti"as da "i!ili2ação
Yorubá# Outro ator rele!ante% que nos $ des"rito 4or Cerger% $ que% a4esar de
omens e muleres "onstitu3rem este mer"ado% as muleres "ostumam ser
maioria e que ati!idades nesses mer"ados se di!idem normalmente 4or gênero
(o que estudaremos mais detaladamente em outros artigos mais 6 rente#

33
/ara entender melor a dinAmi"a da "ir"ulação das eiras nos quatro dias da
semana 'orubá% nesta instituição do mer"ado nagN% $ ne"essário que
saibamos quais são estes dias#
O 4rimeiro dia $ O)o ,>o % $ literalmente em Yorubá o dia do .egredo e $ 4or
isso dedi"ado a á e *u
O segundo $ O)o Ogum% literalmente dia da luta e Ruerra e dedi"ado a Ogum
O ter"eiro $ O)o Dakuta % literalmente dia da Dustiça e dedi"ado a QangN
 o quarto $ o O)o Obatalá e dedi"ado 4or isso a Obatalá#
.alami em suas aulas de Yorubá ala de um mito da "riação que rela"iona a
maior 4arte destes deuses e nos a)uda a entender melor 4or que são di!ididos
assim#
.egundo nos "onta .alami% quando Olodumare quis "riar o Uni!erso "riou
4rimeiramente quatro di!indades K a 4rimeira seria Ogum que teria a unção de
ensinar os omens os 4rimeiros o3"ios da "aça e da or)a assim "omo
4re4ará-lo 4ara as guerras e todas as ne"essidades do ,i'e (undo e
assumindo assim o 4a4el do grande +i!ili2adorK a segunda seria Obatalá que
no Orun ("$u seria res4onsá!el 4elo senso de religiosidade e tamb$m os
"5digos morais ligados ao Orun dos omensK o ter"eiro seria á que seria o
senor do segredo (a>o do Orá"ulo que traria do Orun as di!indades que
ormariam este orá"ulo no ,i'e% ligando assim "$u e terraK e o quarto e Jltimo
seria *u% que teria "omo unção !igiar a todos os três anteriores 4ara !er se
esta!am a2endo tudo "onorme as regras de Olodumare# ste $ o moti!o 4elo
qual *u era temido 4elos três anteriores% assim "omo 4or todos os sa"erdotes
da religião tradi"ional Yorubá% que se i2erem algo que não esti!er de a"ordo
"om as leis de Olodumare% enrentarão as "onseqEên"ias de seus atos# Qango
se in"or4ora aos quatro dias da semana 4or ser o mito res4onsá!el 4elo "5digo
moral do ,i'e% "omo !eremos "laramente quando estudarmos QangN#
+ontudo% !oltando 6s eiras% elas "ir"ula!am dentro de "ada um dos quatro dias
em uma "idade dierente ormando uma mala que le!a!a as mer"adorias do
@orte ao .ul e do .ul ao @orte% 4ois muitas !e2es os 4r54rios !endedores
tamb$m "om4ra!am outras mer"adorias 4ara !endê-las em outras "idades#
@ão raro as "idades se desen!ol!iam ao redor das eiras% o que nos dei*a bem
"lara a interligação do sistema de "omuni"ação que re4resenta!am e o 4a4el
"entral que tinam nestas estruturas so"iais#
34
/ara melor entender o im4a"to da eira na so"iedade 'orubá $ ne"essário que
entendamos "omo ela estabele"e em so"iedade de nJ"leos uma real rede de
"omuni"ação% "onorme nos alam Cerger e astide:
:% sociedade africana é uma sociedade fechada" composta por famlias
e.tensas e auto centradas" vivendo em nAcleos residenciais" onde se agrupam
aposentos dos diversos nAcleos familiares$ % nuclea!o é tamanha #ue" como
sabemos" as mulheres mesmo ao se casarem continuam muito mais ligadas à
sua famlia de origem #ue à do marido$ Esta caracterstica representa" pois "
uma ameaa de :atomia!o= da sociedade$ /ois ao observarmos o #ue
acontece em territ&rio nagG" relativamente mais urbaniado" notamos #ue as
rela5es de viinhana se estabelecem no interior da aglormera!o familiar"
mais intensas ao cair da tarde" #uando cessam as atividades no campo ou nas
faendas$$$%s confrarias #ue estes povos formam" por estarem ligadas no
 presente e muito mais no passado" as pr&prias famlias uma ve #ue o deus
em #uest!o é um ancestral fundador da linhagem$ % isto junta+se o fato " muito
 provável" da urbania!o ter se dado em conse#,-ncia das feiras #ue
reuniam"no cruamento dos caminhos" várias faendas familiares isoladas no
meio de seus campos$$$a feira representa" ent!o a contrapartida do fechamento
da sociedade africana numa mirade de células independentes" pois permite
através de suas redes entrelaadas uma comunica!o entre os grupos
familiares=
9esta orma% "omo nos elu"idam Cerger e astide% a eira torna-se o lugar
onde 4ortas e )anelas (de "omuni"ação se abrem entre os gru4os% se)am eles
"lAni"os ou inter $tni"os#
,tra!$s das relaç&es de interde4endên"ia que são "riadas entre os di!ersos
gru4os $tni"os ou "lAni"os na eira que% 4or sua !e2% a)udam a estruturar o
sistema e"onNmi"o e de "omuni"ação da "i!ili2ação 'orubá% estes di!ersos
"lãs e etnias que normalmente não se misturam% en*ergam nesta instituição
sua "om4lementaridade% o que a2 da eira o "ontra4eso da guerra% "omo nos
airma Cerger#
B interessante notar que *u "omo o mito que $ o .enor do er"ado e do
+amino e 4ortanto "ria a eira no imaginário dos Yorubás% assumindo assim a
unção de "ontra4eso da guerra e distan"ia-se% desta orma% muito das unç&es
de demNnio que na diás4ora a gre)a o tentou e tenta transormar#

35
sta eira "omo instituição% 4or outro lado% se4ara membros de am3lias e
determina relaç&es de 4rodução segundo gênero ao dar a mobilidade 6 es4osa
!endedora e torna o omem 4rodutor sedentário#
,l$m disso% as eiras tem grande im4ortAn"ia so"ial% 4ois $ o lugar onde o ei
torna 4Jbli"as as de"is&es% as mães a4resentam seus re"$m nas"idos 6
so"iedade% onde a "omunidade toma "one"imento de no!idades de outras
terras#
 , eira tamb$m $ a Jni"a !ia de "ontato entre di!ersos gru4os so"iais% al$m de
ser "entro de inormação e diusão de not3"ias e de diusão de inluên"ias
"ulturais e da moda#
<udo isso ortale"e ainda mais a instituição do er"ado @agN "omo
"om4onente undamental dos sistemas de "omuni"ação e e"onNmi"o da
"i!ili2ação 'orubá tradi"ional e at$ os dias de o)e% "onorme obser!amos na
obra de Cerger e astide#
sto tem rele*os na diás4ora que 4odem nos a2er entender as dinAmi"as de
nossos mer"ados e eiras tradi"ionais% sobretudo os da aia % /ernambu"o%
aranão e mais tarde io de Daneiro quando re"one"emos 4rin"i4almente
a im4ortAn"ia das negras @agNs e de ina na origem destes nossos mer"ados
e eiras#
+omo nos resumem Cerger e astide% o er"ado e a Peira 4ara os @agNs
4odem re4resentar o Dornal e as e!istas% no "onte*to de "i!ili2aç&es que%
estão baseadas na "ultura oral e que não se utili2am da es"rita ( "omo a maior
4arte das "i!ili2aç&es .ubsaarianas% o que dá ainda maior rele!An"ia ao 4a4el
que desem4ena nos sistemas de "omuni"ação destas "i!ili2aç&es# *u% 4or
re4resentar o abridor de "aminos% e que desta orma estabele"e "ontato entre
os di!ersos gru4os so"iais e% "onsequentemente% o en"ontro entre estas suas
"$lulas so"iais % "lAni"as% amiliares% $tni"as e "onrarias religiosas% torna-se o
senor deste mer"ado e re"ebe oerendas das !endedoras antes de ini"iarem
suas ati!idades% "omo tamb$m nos e*4li"am os mesmos autores#
*u $ a"lamado no mer"ado "omo aquele que estabele"e as "omuni"aç&es
que tornam 4oss3!eis as relaç&es de "om$r"io ou ao mesmo tem4o 4ode
dei*ar de estabele"ê-las "omo nos ala os !ersos de Oriki:
Ele torna+se rapidamente senhor da#ueles #ue passam pelo mercado (
quando estabele"e o "ontato que 4ossibilita o "om$r"io e as "omuni"aç&es
36
Ele pode faer com #ue n!o se compre nem se venda nada no mercado até à
noite ( quando interrom4e estas relaç&es de "omuni"ação e "om$r"io
@estes dois !ersos !emos a unção so"iol5gi"a do mito no sentido em que o
sistema de "omuni"ação inluen"ia o sistema e"onNmi"o e que terá
"onseqEên"ias na estrutura so"ial% 4ois "omo !imos anteriormente% $ da
dinAmi"a do sistema de "omuni"ação que se dá no mer"ado )untamente "om
as relaç&es "omer"iais estabele"idas entre os di!ersos agentes que 4or ali
4assam que 4odemos !erii"ar e entender muito da orma "om que esta
so"iedade se estrutura em terras @agNs ( e 4orque não tamb$m na diás4ora#
Dá no !erso de Oriki : Sua m!e o pariu na volta do mercado % !emos a relação
intr3nse"a que *u tem "om esta instituição nagN e "omo não 4ode de orma
alguma ser disso"iada da mesma#
ndo um 4ou"o mais al$m da l5gi"a linear% ra"ional e "artesiana da "ultura
o"idental% se% dentro da dinAmi"a dos Orikis% i2ermos a imagem da mãe que
4ariu de4ois que !oltou do mer"ado e a )usta4ormos e rela"ionarmos 6 imagem
de que este se torna senor daqueles que 4assam 4elo mer"ado e na
sequên"ia "onstruirmos a imagem do mer"ado o dia inteiro sem mo!imento %
temos assim nesta sequên"ia de imagens que se )usta4&em "omo ideogramas
uma ist5ria que tra2 em si um signii"ado simb5li"o no imaginário Yorubá % tal
qual os ideogramas "ineses que isoladamente têm signii"ados em si
mesmos ao se unirem ormam no!os signii"ados#
Outros !ersos de Orikis que lembram a unção 4edag5gi"a do mito e se
rela"ionam ao mer"ado % 4odem ser:
Ele compra sem pagar   (em uma alusão aos que 4ode a"onte"er aos que não
les i2erem oerendas
Ele vai com uma peneira comprar aeite no mercado  ( em uma reerên"ia de
sua 4resença nos que 4assam 4elo mer"ado e das relaç&es que de!em ser
estabele"idas "om estes
omem muito pe#ueno #ue volta com eles do mercado á noite   (em uma
reerên"ia 6 dinAmi"a que se dá% ou idealmente de!e se dar no mer"ado#
ais uma !e2% "om4reendemos melor esta unção atra!$s das imagens que
ormamos a 4artir destes !ersos em nosso imaginário e que )untos "om4&em
um signii"ado que nos remete a esta unção 4edag5gi"a do mito de *u "omo
senor do mer"ado#
37
&'u, O desafio 9 tradição e a (ubversão da Ordem
.egundo alandier% as so"iedades tradi"ionais ari"anas são !istas 4or muitos
antro45logos tradi"ionais e deterministas "omo sendo so"iedades que atra!$s
de sua estrutura m3ti"a mant$m-se em ordem% so"iedades de "onsenso e
"onormidade que não 4ermitem o questionamento de sua autoridade
estabele"ida# .e re4rodu2em ielmente a "ada geração sem !ariaç&es
signii"ati!as em suas estruturas e que al$m de tudo isso se situam ora de
qualquer 4ro"esso de istori"idade#
+onormidade% "onsenso% re4etição e ine*istên"ia de 4ro"essos ist5ri"os são
as "ara"ter3sti"as geralmente a"eitas 4or muitos antro45logos tradi"ionais e
deterministas ao se reerirem 6s .o"iedades da Hri"a .ubsaariana#
@ão 4odemos questionar que "omo as outras so"iedades subsaarianas% na
'orubá% os "on"eitos de senioridade e an"estralidade são "entrais% 4or$m isto
não signii"a que estas so"iedades não "om4ortem em si 4ro"essos e
dinAmi"as que !enam a desestabili2ar esta ordem e que não e*istam nestas
so"iedades "onlitos de !alores e agentes que as "ontestem#
alandier nos ala de F "ategorias de "ontestadores da autoridade nas
so"iedades tradi"ionais subsaarianas e que são:
Os ri!ais – que tentam transgredir as regras estabele"idas 4ara se a4oderar de
um 4oder que les $ re"usado# +omo a e*em4lo dos "açulas que ao dis4utar
4or uma unção ou o3"io mono4oli2ado 4elos mais !elos tornam se
transgressores em uma relação de ri!alidade#
Os 4rodutores – que "ontestam e agem de orma a transgredir as regras
estabele"idas quando as mesmas "riam grandes desigualdades na distribuição
das rique2as que ameaçam o equil3brio so"ial#
Os ino!adores e reormadores religiosos – que atra!$s da tentati!a de uma
no!a relação "om o sagrado% transgridem os "ostumes religiosos !igentes em
bus"a de uma transormação da so"iedade#
Os eiti"eiros e eiti"eiras (sobretudo – na medida em que a eitiçaria re!ela-se
uma orma de arontamento so"ial% onde ela 4ode ser a e*4ressão indireta da
o4osição# O 4ro"esso de instituição de relaç&es que o4eram ao in!erso das
relaç&es "ulturalmente 4res"ritas# la re4orta-se a uma ideologia que se
maniesta "omo a "ontestação so"ial e o "aráter 4roblemáti"o da ordem
estabele"ida#
38
sto 4ode nos a)udar a entender o 4orquê do 4ro"esso de "ombate 6s
eiti"eiras% mesmo na Hri"a Yorubá no "aso da so"iedade de 'a mi Osorongá
e na !isão dos missionários "ristãos euro4eus na Hri"a que ainda nos dias de
o)e "ombatem e "açam os eti"es nas "asas dos ari"anos#
Vuando en"ontramos a relação que o mito de *u tem "om o 4a4el de
transgressor e "om o ato dele estar ligado 6 .e*ualidade% entendemos melor
4orque na diás4ora ele oi rela"ionado erroneamente "om o diabo 4ela gre)a
+at5li"a que oi a mantenedora da ordem estabele"ida naquele momento#
<emos que ter em "onta que nenum ritual se a2 sem *u% na religião 'orubá%
e as eiti"eiras em geral 4ara qualquer "oisa re"orrem a ele% o que rela"iona
diretamente este mito "om o 4a4el de "oad)u!ante na transgressão dos
eiti"eiros#
,o a2ermos as imagens de determinados !ersos de Orikis de *u
"om4reendemos melor "omo ele desem4ena este 4a4el de transgressor em
outras situaç&es#
,o !ermos a imagem do !erso: E.u derruba sal no molho  % "om4reendemos
4ereitamente o 4a4el deste transgressor em uma relação simb5li"a de
ri!alidade ("om quem e2 o molo#
@o Cerso Ele procura briga com alguém e encontra o #ue faer   % tamb$m
!emos a noção de transgressão 4or 4ro"esso de ri!alidade 4resente no mito#
,ssim "omo 4ode ser uma reação de transgressores 4or 4ro"esso dos
4rodutores ou mesmo atitude dos ino!adores religiosos#
Dá nos !ersos: :Se E.u #uiser ele entra em um pas à fora=  e  :% discuss!o
gera a batalha= !emos "ara"ter3sti"as que "abem nos quatro "asos#
Vuando o Oriki a2 a imagem : :Ele olha calmamente derramarem pimenta na
vagina de sua sogra=  quer nos "amar atenção 4ara que a relação de res4eito
que a senioridade im4&e está sendo desaiada atra!$s de uma imagem que
igualmente de!e "ausar grande im4a"to no imaginário de quem ou!e e re"ita o
!erso#
Dá quando di2 : :Ele fa #ue a mulher do @ei n!o cubra a nude de seu corpo=  %
e GEle bate na mulher do rei com um porrete S# <ra2 imagens que transgridem e
desaiam o 4oder estabele"ido do rei% assim "omo questionam a moral da
"orte#

39
9e qualquer orma os !ersos que a meu !er melor deinem *u "omo o
Rrande <ransgressor 4ara os 'orubás são:
GEle fa o torto endireitar  G e GEle fa o direito entortar S
Coltando a +am4bell% en*ergamos nestes !ersos todos uma unção
4edag5gi"a e tamb$m so"iol5gi"a se nos ati!ermos ao que 4odem signii"ar na
des"rição deste 4ro"edimento de transgressão assim "omo o 4a4el so"ial que
o"u4a o transgressor#
ntendemos melor ainda a unção e mesmo a autoridade deste transgressor
e seu 4a4el direto em uma estrutura so"ial e em todos os outros sistemas de
in!ariantes quando ou!imos os !ersos de Orikis que ao se reerirem a *u nos
alam : G Ele reforma >enim=  e G @ei na terra de Jetu G % aludindo a dois reinos
ligados diretamente aos 'orubás#
  sso nos mostra que ao mesmo tem4o que este transgressor a2 o Gtorto
endireitar S quando G @eforma >enimS % 4ode a2er o GO direito entortar S quando
or G @ei na 6erra de Jetu S% o que nos remete aos 4a4eis transormadores que
tanto os administradores "omo os reormistas e transgressores 4odem
desem4enar na estrutura so"ial e todas as outras in!ariantes segundo este
ito#
Pepoimento Q #omo &'u transformou minha mãe em protestante como
minha av%, e porque nunca abandonou meu pai"
Rostaria de a4ro!eitar esta 4arte do te*to 4ara a2er um de4oimento# +reio que
se)a im4ortante na medida em que normalmente 4ela maioria de nossas ontes
serem euro4$ias% estudamos a Hri"a e os ari"anos assim "omo seus mitos%
"omo se ossem um ob)eto de estudo de uma "ultura e*5ti"a que não nos di2
res4eito# sque"emos que 4odem estar 4resentes em nossa "onstituição de
alguma orma e 4or isso aço este de4oimento% e ins4iro nas narrati!as que
temos nos Odus de á nos tan á que tratam de ist5rias de itos% 9euses
e an"estrais# Palo de ist5rias de meus an"estrais e sua relação "om este mito%
e sem4re que 4uder e ti!er algo a di2er ao inal de um te*to assim o arei#

Rostaria de alar de mina a!5 materna% que nas"eu no .ul de inas Rerais%
negra e ila de um omem negro % que 4or sua !e2 oi neta de uma e*-
es"ra!a e ila de uma muler de 4ele "lara des"endente de "ristãos no!os e
negros# /oderia tentar e*4li"ar a religiosidade de mina a!5 4or alguma teoria
40
de a* [eber% e que sua am3lia teria se tornado 4rotestante 4or ra2&es que a
teoria e"onNmi"a de ormação de uma ,meri"a Latina "a4italista e*4li"a# as
"omo quero re"riar um tan a teno que di2er que não ora outro senão *u
que os e2 assim% 4ois ser /rotestante em inas Rerais naquela $4o"a em que
todos eram "at5li"os% era ser um transgressor# eu bisa!N negro di2ia que não
tina nada demais em "omer "arne na se*ta eira santa e que o que im4orta!a
era a relação direta "om aquele que os "riara e não as 5rmulas e "ostumes
so"iais# 9esta orma 4assou 4ara mina a!5 uma relação "om o sagrado
dierente do senso "omum de onde !i!ia# ina bisa!5 "ega!a a se es"onder
dentro de "asa quando os que tinam ome !inam le roubar as galinas no
seu quintal 4ara que estes não se en!ergonassem do que esta!am a2endo%
ao !ê-la% "omo ela mesma disse ao ser questionada 4elos !i2inos que não a
entendiam# *u e2 de mina bisa!5 uma transgressora% 4ois a!ia ugido "om
um omem negro que era ilo de uma e*-es"ra!a de seu 4ai% que ora "riado
"om ela "omo irmão de "riação e a roubou ugindo 4ara outra "idade 4ra
trabalar "omo un"ionário da estrada de erro e assim 4er"orrer os "aminos
de *u (assim "omo ala um !erso de seu oriki # +om esses 4ais que ao
serem 4rotestantes eram tão legitimamente 4rotestantes no es43rito das leis
que Lutero i*ou nos muros% ao "ontestar os abusos da ordem !igente que
"riou uma inquisição e esque"eu-se do 4r54rio "5digo moral##/osso airmar que
*u tamb$m o quis a2er "ontestar 4ara a2er o G 6orto endireitar S# ina a!5
"asou-se "om um omem "at5li"o e te!e duas ilas% uma "omo sua mãe de
4ele bran"a que $ mina mãe e outra de 4ele negra que $ mina tia# *u e2
mina mãe abraçar a bandeira de ,ruanda )unto "om meu 4ai que oi tamb$m
le!ado 4or Ogum 4ra Umbanda# ina a!5% "omo leg3tima 4rotestante 4or
graça de *u e de seus an"estrais ari"anos i"ou muito eli2 ao saber que sua
ila% atra!$s de seus guias a"onsela!a e "ura!a eridas gra!es dos que não
"onseguiam orientação e "ura na so"iedade ormal# /ara ela que !iu meu
bisa!N ser morto em embos"ada 4or não a"eitar 4assi!amente regras e
"ostumes so"iais que 4ara ele não eram rele!antes% não 4odia !er na religião
que erdou de meus bisa!5s moti!os 4ra segregar% dis"riminar% dei*ar de se
inormar% ter qualquer orma de 4re"on"eito% ou a2er o mal em nome do bem e
da ignorAn"ia ou de uma "ul4a que não era de seu 4o!o# la i"ou muito eli2%
4ois% "omo seus 4ais que abraçaram uma religião em nome da transormação
41
da so"iedade% sua ila a2ia magias "om o mesmo 4ro45sito e em uma $4o"a
em que a so"iedade em nossa @ação era algo muito distante do que queriam
os guias da @ação de ,ruanda# ,"o que ela lembrou tamb$m de seus
an"estrais maternos% "ristãos no!os% que ao "egarem em inas tinam que
ler a <orá Dudai"a em segredo% assim "omo di2em na "idade de O*um que
Oduduá a2ia em e"a# /or isso% estes an"estrais tamb$m !inam 6 <erra
a2er suas "uras e dar seus "onselos% "omo os deuses !inam e ainda !em
nos !isitar "om a graça de *u# Dá eu quis seguir a bandeira de muitas
tradiç&es em nome de O*um% á e de Olodumare% 4ois era ilo dos que
seguiam a bandeira de ,ruanda e quando quis dedi"ar a sei!a da mina !ida
e meus atos "omo uma oerenda 4ra mina mãe O*um % ui tra3do 4or
sa"erdotes da religião dos guns que esque"eram que o "aráter ( >á  $ mais
do que dineiro ( o>o  na religião e no "5digo moral de nossos an"estrais
nagNs# ,lgo que muitos sa"erdotes ainda esque"em ou nem sabem# /or isso
*u le!ou mina mãe á religião de seus an"estrais 4rotestantes% a2endo o
direito entortar 4ara que 4re!ale"esse i>á ( o "aráter# Vuando ela !iu que na
religião de seus an"estrais% seus 4r54rios 4rin"34ios mais sagrados eram
"orrom4idos e O>5 (dineiro tamb$m era mais im4ortante que >á ("aráter e
que 4ara isso usa!am a "ul4a da qual sua mãe nun"a a"eitou em nome de
nenuma inter4retação do que le era sagrado desde que seus an"estrais da
Hri"a em nome desta "ul4a oram 4ri!ados da liberdade% ela a abandonou
"om a graça de *u em nome do "ulto aos nossos an"estrais do Oriente#
nquanto aqui >á ( "aráter % or maior que O>o ( dineiro *u a manterá a3%
"omo boa ila de QangN e Yansã que ela $ e sem4re será# 9e qualquer orma
ela i"ou muito eli2 quando meu irmão mais !elo resol!eu abraçar a bandeira
de ,ruanda que ela ainda ama e res4eita em nome de *u e Ogum# /or isso
que guardou e "olo"ou na 4orta (que *u !igia os di2eres b3bli"os de seus
an"estrais 4rotestantes que ouço na !o2 de *u G endito serás quando
entrares e quando sa3resS % 4ois de 4$ na entrada está *u e atrás da
dobradiça da 4orta está *u ostentando estes di2eres# ,ssim "omo meu 4ai%
que mesmo quando quebrou em re!olta% na beira do mar e entregou a sua mãe
Yeman)á todas suas estátuas de *u% na mesma desilusão que te!e ,braão
quando quebrou seus 3dolos% ele aastou "om esta sua re!olta todas ormas
dos Ori*ás de seu "amino% menos *u% que o seguiu em seus "aminos at$
42
o inal da !ida neste ,i'e# Mo)e está muito eli2 no Orun 4or meu rmão mais
!elo resol!eu seguir o "amado de Ogum e abraçar a bandeira de ,ruanda
4ra a4render a "urar eridas no "or4o e nas almas assim "omo ele e mina
mãe a2iam quando nas"emos#<udo isso "om a graça de *u% 4ois "omo di2
seu oriki Ele atirou uma pedra ontem para atingir o pássaro hoje #  $ "om a
graça do .enor do +amino que "ontinuo 4or isso no "amino de !ários
"aminos que o ,i'e me e2 a4rendi2 em nome de á% O*um e Olodumare
atra!$s de todas linagens de meus an"estrais#
Laro'e#

O 4ito de Ogum na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is #


Ogun Ce remo#
+onorme )á alamos no te*to sobre *u % quando Olorun quis "riar a
Mumanidade % "riou 4rimeiramente quatro di!indades e a 4rimeira delas oi
Ogum# le teria a unção de ensinar aos omens a "aça e as artes da or)a e
da guerra% assim "omo tudo o que osse relati!o 6 sua sobre!i!ên"ia no ,i'e#
alandier se reere a Ru% o 9eus da Ruerra dos Pon igualmente "omo um
"i!ili2ador#
B interessante obser!ar que% ao "ontrário da maioria das bases mitol5gi"as
o"identais% Ogum "omo deus da Ruerra% dentre os Yorubás tamb$m assume
4a4el de "i!ili2ador% o que e!iden"ia "laramente que a orma de lidar e os
"onlitos "om outras etnias e "lãs tamb$m a2% 4ara os Yorubás% 4arte do
4ro"esso de "i!ili2ação de orma muito intensa#
+ontudo% "omo 4oderemos obser!ar atra!$s de seus Orikis% al$m da guerra%
Ogum tamb$m $ im4ortante em outros 4ro"essos que "onstituem a "i!ili2ação
Yorubá#
<e"nologia% orte% Ruerra% Ordem% .obre!i!ên"ia e "riação de o3"ios%
Cirilidade e .e*ualidade as"ulina são dom3nios relati!os a Ogum na
"i!ili2ação Yorubá% que obser!amos em seus Orikis e que trataremos
indi!idualmente#

43
Ogum e a 4orte"
@ão raro nos Orikis de Ogum !emos em seus del3rios sanguinários sua relação
"om a morte e "om4reendemos melor quando !emos Odu O'eku e)i 4or
que e*iste esta relação:
<rans"re!o abai*o lenda reerente a isso do Odu O'eku e)i:
:O9eku Beji revelou como Orunmila ensinou a humanidade como proteger+se
de morte prematura$ 7uando o homem foi criado" a morte considerou a nova
criatura como rato favorito para seu alimento$ Ent!o foi a morte a Anica
divindade feli #uando *eus criou o homem$ En#uanto as outras divindades
consideravam os homens seres inferiores criados para servir" a morte os
considerava como provis!o de alimentos$ 1!o obstante" esperou #ue o homem
se multiplicasse para dirigir+se às suas casas e utiliá+los" caprichosamente
como alimento$ 3altavam os meios de defesa" e o homem resignou+se ao
ata#ue incessante da morte$ Os homens n!o tinham a #uem apelar" pois" a
l&gica era #ue" da mesma forma #ue eles acreditavam #ue os animais
inferiores eram feitos para o alimento dos homens" a morte considerava os
homens como sua carne de alimento$ %o compreendermos a filosofia da
e.ist-ncia das plantas e dos animais" #ue foram criados para servir a um
 prop&sito no sistema planetário" n!o devemos nos incomodar indevidamente
com a inevitabilidade da morte$ 2omo nos foram dadas as plantas e animais
inferiores para satisfaer nossos hábitos e desejos favoritos" assim também
estamos à merc- dos mais poderosos deuses$ %p&s ter desempenhado seu
 papel na terra #ue inclui servir os deuses (da podendo e.plicar o papel
simb&lico de sermos alimento dos deuses)$ *eu nos deu o intelecto para nos
defendermos" para #ue nos defendamos da melhor forma possvel " seja
apaiguando " seja lutando$
/orém a morte continuava concentrando o seu olhar sobre a carne humana"
até #ue o homem consulta Orunmila #ue fe adivinha!o de como impedir a
ameaa da morte$ Ele disse #ue n!o havia sacrifcio #ue pudesse desviar a
aten!o da morte sobre o homem$ Sua carne era a Anica coisa #ue podia
saciar seu divino e vora apetite$ 6odos os outros" ratos" pei.es" aves"
caprinos" carneiros e vacas" eram os alimentos preferidos dos sacerdotes dos
deuses$O homem lhe perguntou se havia alguma coisa #ue poderia impedir de
se alimentar com seus alimentos preferidos$ 1o entanto ele disse #ue a melhor
maneira de protegerem de uma divindade era faer sacrifcio com algo #ue ela
 proibia$ Orunmilá em sua fun!o de Eleri Igpin (testemunha da cria!o de

44
*eus) é o Anico #ue sabe o #ue cada uma das divindades probe$ Ent!o
aconselhou aos homens #ue preparassem pur- de inhame ou inhame pilado e
adicionar pe#uenos sei.os$ 6ambém aconselhou a colocar um frango vivo na
casa de E.u e n!o matá+lo$ 7uando a morte se apro.ima de onde estavam os
homens" Orunmilá os aconselhou a comer o inhame esmagado" no #ual eles
colocaram as pedrinhas$ Eles também deveriam amarrar o frango na entrada
da casa de E.u e n!o matá+lo$ 7uando a morte se apro.ima de onde se
encontravam os homens para lanar mais um de seus ata#ues encontrou os
as pedrinhas #ue estavam em suas refei5es$ /rovando das cabaas o #ue os
homens estavam comendo e n!o podendo mastigar" pensou #ue a#ueles #ue
2omiam coisas t!o duras deviam ser aterradoras criaturas capaes de lutar
#uando provocadas$ Embora meditasse sobre o pr&.imo passo #ue daria " a
morte ao ver o frango vivo na frente da casa de E.u bradou seu grito (ku Fee)
$%o ouvir o grito do frango a morte fugiu" pois era proibida de escutar o grito do
frango$ % morte" em seguida" dei.ou os homens em pa e eles agradeceram a
Orunmilá por ter lhes mostrado seu segredo$ 3oi a partir desta data #ue a
morte descobriu outras formas de atingir os homens$ *esde ent!o a morte n!o
 pode mais matar o homem diretamente" por#ue passou a ter medo$ /assando
a apoiar+se em seus irm!os mais agressivos como Ogum" divindade do ferro
#ue mata por acidentes mortais (e pela guerra)" por HangG (*eus do trov!o)
#ue mata por fogo e rel4mpago" Obaluai9e #ue mata por epidemias como
varola e todo tipo de doenas< a divindade da noite #ue mata através de
feitio" etc$ 7uando estas deidades se mostram lentas na busca de alimentos"
o rei da morte utilia doena" sua esposa para encontrar comida para sua
famlia$ Isto aconteceu ap&s o homem descobrir o segredo de como assustar
até mesmo a morte de #uem era presa$ /or isso #uando aparece O9eku Beji
na divina!o para a pessoa" podemos dier #ue a morte a persegue" mas deve
faer um sacrifcio para E.u com pur- de inhame misturando sal e aeite de
dend- carregados com sei.os" e um frango vivo deve ser preso ao santuário
de E.u para assustar a morte$= 

+onorme 4odemos 4er"eber "laramente no Odu a"ima% a relação que os


'orubás têm "om a orte $ "omo algo ine*orá!el# 9esta"o de que o ato de ela
dei*ar de ata"ar diretamente os omens 4ara 4assar a agir atra!$s dos Ori*ás
(Ogum% QangN e Obaluai'e s5 4ode se rela"ionar "om a orma de e!itá-la ou

45
adiá-la% a 4artir do "one"imento dos dom3nios do ito em questão% "omo
sugere o Odu#
9a mesma orma que% no "aso de Ogum% o a"idente ou a guerra 4odem matar
o "one"imento dos segredos do ito de Ogum e at$ mesmo a orma de
e!o"á-lo 4odem% no imaginário dos Yorubás% e!itar que a morte les !ena
4elas mãos de Ogum (a"identes ou guerras#
Cemos "laramente a orma "omo esta morte 4ode agir nos !ersos de oriki:
Ele mata o marido no fogo"
 Ele mata a mulher no lar %
Ele mata as pessoas #ue fogem para fora
Cale a 4ena lembrar mais uma !e2 aqui que o Oriki $ antes de tudo uma
 )usta4osição de imagens que tem o ob)eti!o de e!o"ar o es43rito de seu ob)eto%
4or isso as imagens relati!as 6 morte nos Orikis de Ogum de!em ser ortes e
"ausar antes de tudo im4a"to nos que 4ronun"iam os !ersos% )ustii"ando os
del3rios sanguinários do .enor da Ruerra quando !emos os !ersos de Oriki#
Senhor de Ire" bebe sangue"
6endo água em casa ele se lava com sangue$
6raendo água ele mata sete pessoas #
O oriki assume sua unção "i!ili2at5ria mais e!identemente quando nos a!isa
de 4erigos rela"ionados 6 morte e Ogum% "omo no "aso:
Ogum a2 a "riança matar-se "om o erro (que ela brin"a#
 Ou então:
Ogum é o Ori.á #ue mata as pessoas" a#uele #ue ofende o caador" ofende
Ogum (o que ele!a o !alor do o3"io dos "açadores dentre os demais o3"ios
entre os Yorubás
Outro ator a se ressaltar no que se reere 6 morte e Ogum $ que esta $
ine*orá!el a todos os omens inde4endente de sua 4osição na so"iedade%
"omo nos ala o Odu e !emos isto "laramente nos !ersos de Oriki:
Ele mata a es#uerda e destr&i a es#uerda
Ele mata a direita e destr&i á direita
Ogum n!o poupa ninguém
Ele mata sem falar com ninguém"
Ele mata o ladr!o e mata o dono da coisa roubada"
Ele mata o dono da coisa roubada e mata #uem criticou esta a!o
46
Ele mata sem ra!o na cidade$
Outros !ersos que nos mostram "laramente a questão "i!ili2at5ria na relação
"om a morte% $ quando o Oriki de Ogum nos ala% 4or e*em4lo de "5digos de
se4ultamentos e "ondena a !enda de "or4os 4ara o uso em eitiçaria# Vuando
ala:
Ele mata sem vender o corpo de #uem #uer #ue seja"
Ou quando ala dos "5digos de tratar os "or4os em situação de guerra
Ele mata sem levar o corpo (para vender)
m morto balana a cabea no ombro de #uem o carrega
@este ultimo !erso reorça a ne"essidade de não abandonar "or4os em
"am4os de batala "onstruindo uma imagem orte que no imaginário deste
4o!o terá muito mais eeito do que uma sentença% e que 4or ser imagem
sugere 4or si mesma o que de!e ser eito "om os "or4os dos mortos#
+ontudo a relação de Ogum "om a morte não $ somente nesta questão# Ogum
tamb$m 4ode sal!ar da morte% )ustamente 4or estar intimamente ligado a ela#
Cemos isto "laramente nos !ersos:
Ogum salva a#ueles #ue est!o na imin-ncia de morrer"
Se Ogum curou as pessoas" elas n!o morrem"
,ntes de "on"luir a questão que rela"iona Ogum e a orte% !ou mais al$m% e
4osso mesmo airmar que todas estas imagens% quando a rela"ionamos "om o
tre"o do Odu O'eku e)i que nos ala da inteligên"ia que nos $ dada 4ara
e!itar a morte% ser!em 4ara que este 4o!o 4ossa estabele"er atra!$s de Ogum
o 4a4el que o 4r54rio medo da morte (ine*orá!el de!e desem4enar 4ara que
se e!ite a mesma#
 Ogum un"ionando "omo a igura daquele que 4ode matar a quem quer que
se)a% a2 "om que ao ser in!o"ado% 4ossa at$ mesmo e!itar esta morte
4rematura# sto se torna muito im4ortante em uma so"iedade onde aquele que
morre antes dos 4ais (abiku $ "onsiderado at$ mesmo "omo um transgressor
moral e da ordem natural e "osmol5gi"a#
sta unção de "riador do medo da morte (que 4ode at$ mesmo a2er "om que
os omens e!item ou 4ensem antes de tra!ar guerras e dis4utas$ ne"essária
4ara que mortes 4rematuras se)am e!itadas# sto $ bem e!idente no !erso de
Oriki:
Ele mata para meter medo no homem$
47
,qui sua unção no imaginário "oleti!o i"a bem "lara# /ara "on"luir "om o
4a4el ine*orá!el da morte "omo "onseqEên"ia da ne"essidade de reno!ação
da so"iedade (que Ogum tamb$m re4resenta e que em um 4o!o tradi"ional
"omo o 'orubá% no "onte*to das so"iedades subsaarianas% torna-se ine!itá!el
no 4ro"esso natural de su"essão das linagens% 4odemos "om4reender o que
re4resenta o !erso de Oriki:
Ele mata para #ue o %lase (dono do %.é) diga" %ssim Seja (%.é) #
/ortanto a morte% (sobretudo não 4rematura% $ um 4ro"esso natural na
transormação das so"iedades 'orubás# Ogum $ a4enas um dos mitos que
regulam a relação dos omens "om esta morte e "onseqEentemente 4ro"essos
de transormação que um mito "i!ili2ador 4ode desem4enar neste "onte*to# O
que nos remete diretamente a estrutura so"ial das linagens# , morte que
Ogum a2 "om que a"eitemos não $ senão a 4assagem que 4ermite que os
an"iãos se transormem em ante4assados% 4ortanto% sendo assim um 4ro"esso
natural que regula as relaç&es e estrutura so"ial% o que não quer di2er que se)a
4or isso dese)ada% sobretudo de orma 4rematura# /er"ebemos isto )ustamente
4elo du4lo 4a4el que assume tanto "omo o que redime as 4essoas "om a
morte "omo 4ode re4resentar a 4roteção "ontra a morte 4rematura#

;- Ogum% a sobre!i!ên"ia% os o3"ios e a "i!ili2ação#


+omo o ito "riado 4ara ensinar aos omens a !i!er na terra% e assim assumir
a unção de "i!ili2ador% não $ outro senão Ogum que $ o res4onsá!el 4elos
o3"ios bási"os dentre os 'orubás assim "omo está ligado ao "on"eito de
sobre!i!ên"ia e dessa orma delineia "ertos as4e"tos "entrais dentro da
"i!ili2ação 'orubá#

B muito "lara sua ligação "om o instinto de sobre!i!ên"ia quando ou!imos e


a2emos as imagens dos seguintes !ersos de Oriki:
Ele cultiva a roa #ue seu dono n!o cultiva"
Ele di à pessoa doente #ue se ela morrer tomar!o sua roa$
Ogum senhor do mundo apoio do recém nascido
1!o aceito #ue Ogum venha em v!o
Ogum graas a voc- podemos vender os produtos da roa e da caa
Ogum é toda folha
48
Ogum é toda rai
@estes dois Jltimos !ersos temos uma alusão unç&es "entrais das olas e
ra32es desde os 4er3odos 4redominantes de "aça e "oleta% nas "i!ili2aç&es
subsaarianas% na qual o mito de Ogum se re4resenta "omo "i!ili2ador e o
instinto de sobre!i!ên"ia% mostrando aqui a unção 4edag5gi"a do mito#
Dá nos !ersos a seguir temos uma "lara identii"ação do mito "om o senso de
auto-4reser!ação de unç&es !itais que se rela"ionam diretamente "om a
sobre!i!ên"ia e mostram igualmente sua unção 4edag5gi"a#
Ogum n!o me fira no pé"
Ogum" n!o me fira na m!o
Ogum" n!o feche os caminhos para mim
Ogum n!o me d- mau sono
Ogum" n!o se#ue minha m!o (#ue eu possa trabalhar e n!o seja pobre)
1!o é agradável ter sua casa #ueimada$
O caminho do campo é perigoso
Se adoramos o Ori.á
Sempre teremos dinheiro
Sempre teremos filhos  (o que $ essen"ial em uma so"iedade que se re4rodu2
atra!$s de linagens
1ossos filhinhos n!o ir!o morrer 
1&s ficaremos em pé para o Ori.á
Se virmos Ogum o #ue lhe pediremosK
/ediremos+lhe tudo$
1!o sabemos arrancar o olho ao menos #ue ele seja inutiliado$
,inda ligado a sobre!i!ên"ia e a um "5digo de "om4ortamento ligado a ela% o
mito assume% atra!$s de 4ro!$rbios% sua unção 4edag5gi"a mais "laramente%
"omo no "aso dos !ersos de oriki:
1!o enganem um ao outro como o astucioso
1!o sabemos o #ue o dia de amanh! nos reserva$
Ignoramos o #ue acontecerá amanh!
1!o sabemos se Ogum nos aceitará
Dá se rela"ionando aos o3"ios% Ogum está "laramente ligado 6 suas "riaç&es#
.obretudo aos o3"ios bási"os que ormam a so"iedade 'orubá ini"ialmente e

49
aqueles que se rela"ionam "om a e!olução te"nol5gi"a e o sistema
te"nol5gi"o% mostrando "laramente sua unção so"iol5gi"a#
Cemos nos !ersos de Oriki abai*o e*em4los% "omo:
Ogum abra+me caminho para ir à roa"
O ferreiro se beneficiará mais no mercado do #ue a#uele #ue trabalha na roa
Ogum" ferreiro do céu
Ogum é a en.ada #ue abre a terra
O general n!o fica no mato
L no mato #ue Ogum permanece
@estes e*em4los !emos in"lusi!e que se delineiam dierentes graus de
im4ortAn"ia e at$ mesmo uma ierarquia entre os o3"ios de agri"ultor% erreiro
e "omandante de armas# .imboli2a tamb$m a 4assagem do 4er3odo de "aça e
"oleta 4ara o de agri"ultura e tamb$m 4osteriormente o 4er3odo no qual se
ini"ia a !ida urbana (quando se reere ao erreiro no mer"ado% que $ o es4aço
a 4artir do qual as aglomeraç&es urbanas se "onsolidaram dentre os 'orubás#
Cemos assim os três 4er3odos e sua e!olução assim "omo 4rimeiros o3"ios
surgirem a 4artir do mito de Ogum o que "onsolida sua unção so"iol5gi"a
quando legitima a "riação de "or4os so"iais de erreiros% "açadores%
agri"ultores% "ees de armas na "i!ili2ação Yorubá# .ua unção 4edag5gi"a $
igualmente "onsolidada dentro destes "or4os so"iais quando les sugerem
"om4ortamentos e delimitam seu es4aço 4elo o que !emos nos !ersos de Oriki
a"ima#
Outros 4ontos im4ortantes ligados 6 "i!ili2ação 'orubá em si mesma 4odem
ser 4er"ebidas nos seguintes !ersos de Oriki:
Segredo #ue fa o /as
Vuando alude 6 4r54ria origem do an"estral m3ti"o que det$m o segredo que
orma a nação Yorubá% que se en"ontra "om os an"estrais
Ogum" dono da casa do dinheiro
Cerso que ala da organi2ação monetária do 4a3s em questão% e mostra que
não oi "om a "egada de euro4eus que se ini"ia esta organi2ação
Ogum circuncida o menino e e.cisa a menina$
Ogum dono do homem" dono da mulher 
Cersos que aludem aos ritos de 4assagem tanto 4ara omens e muleres os
quais 4or de4enderem de ob)etos "ortantes% são de dom3nio de Ogum o que o
50
liga simboli"amente "om sua unção na estrutura so"ial e nas relaç&es de
gênero nas di!ersas situaç&es em que se a2em im4ortantes 4ara os 'orubás#
0eopardo #ue vende um saco de ráfia" #ue o compra e #ue ajusta seu preo$
,inda se rela"ionando "om a unção de regulador e "i!ili2ador% em menor grau
mostra "omo estas unç&es têm seus as4e"tos no "om$r"io#
Ele nos pGs no mundo #
Ori.á Onile (senhor da 6erra) #ue possui a terra" Inclino+me
Ele pode abenoar alguém
1!o matamos a cabra para comer 
1!o matamos o carneiro para com-+lo
2ina dos mortos venham comer massa de inhame
ela"ionando-se "om a lenda da "riação que torna de Ogum o "i!ili2ador o que
$ reairmado na titulação de Ogum "omo Ori*á Onile (que estudaremos mais
atentamente nos ori*ás ligados 6 terra% que $ o .enor da <erra em
"ontra4osição ao .enor do Orun (Olorun e $ um "ulto anterior 6 "egada do
an"estral m3ti"o dos 'orubás (Odudu>a# 9essa orma% o mito se rela"iona "om
as origens do "ulto de Onile que deine% 4or sua !e2 e entre outras "oisas% a
noção de 4erten"imento a uma terra e "omo de!em se dar as relaç&es "om
esta terra% a 4artir do "ulto dos mitos Onile#

Ogum, a virilidade e a se'ualidade masculina"


<emos e*em4los em !ersos de Oriki que ariam delirar tanto Preud quanto
outros nomes da 4si"análise e 4si"ologia quanto ao "on"eito de !irilidade de
Ogum# /or sua orma direta e sem rodeios#
Ele olha fi.amente o p-nis das pessoas
Ele penetra com profundidade" toca a base de seu p-nis" talve esteja inativo$
Ele constata #ue seu p-nis n!o está inativo com e.ce!o dos testculos #ue se
esvaiam$
Ogum é viril #
9essa orma% !emos nesta !irilidade de Ogum% ao a2ermos as imagens os
elementos que )ustii"am no imaginário dos 'orubás% na 4resença áli"a deste
mito a igura do mantenedor da ordem "omo normalmente são !istos os mitos
ligados 6 se*ualidade mas"ulina em "ontra4osição ao que 4redomina nos
mitos emininos% segundo nos ala alandier#
51
<rês !ersos de Oriki que o rela"ionam "laramente "om esta manutenção da
ordem são:
Ele fa coisas más na casa do criminoso
Ele esfrega o rosto do criminoso na terra
Se a criancinha n!o pedir licena na escurid!o #uebrará os dentes da frente
Cersos que tamb$m resgatam a questão do medo que este mito im4&e%
sobretudo aos transgressores da ordem#

Ogum e a tecnologia"
Ogum re4resenta% al$m dos o3"ios% a te"nologia que 4ossibilita a manutenção
e a e!olução destes o3"ios#  "omo te"nologia re4resenta 4rimeiramente as
estradas e o senor destas estradas#
B "lara esta relação no !erso de Oriki:
Ogum é o pai do transeunte # (se i2ermos a imagem "omo de!emos nos 4ortar
em relação a esse gênero da oralidade 'orubá% isso se e!iden"ia ainda mais#
<anto no sistema te"nol5gi"o dos 'orubás quanto o das outras so"iedades
subsaarianas% a te"nologia e!olui e a2 e!oluir a so"iedade% e esta e!olução
te"nol5gi"a tamb$m está 4resente no mito de Ogum# Obser!emos isto nos
seguintes !ersos de Oriki:
 % en.ada é filha de Ogum
O machado é filho de Ogum
O fuil é filho de Ogum
O fuil tendo sido gerado por ultimo torna+se rei como o leopardo$
Ogum" tr-s ferros t-m ttulos na forja
O ferro da en.ada" o ferro do machado" o ferro do fuil$
+olo"a-se aqui o erreiro "omo um dos res4onsá!eis 4elo 4rogresso
te"nol5gi"o% ao qual de!e sua legitimação de 4a4el so"ial ao mito de Ogum#
Cemos "laramente a e!olução da te"nologia e da unção do erreiro desde a
or)a da en*ada at$ a do u2il% o que e!iden"ia Ogum "omo o mito que 4rodu2
esta e!olução#
9a mesma orma que as ino!aç&es te"nol5gi"as são 4artes da e!olução da
so"iedade% os o3"ios que re"orrem aos erreiros (no "aso dos 'orubás
tamb$m o são e têm grande im4ortAn"ia neste 4ro"esso "omo um todo#

52
/odemos 4er"eber "omo isto un"iona "laramente no imaginário dos 'orubás e
"omo o mito de Ogum se rela"iona "om isto quando "on"reti2amos os !ersos
de Oriki:
Ogum dos barbeiros" come pelo das pessoas"
Ogum dos tatuadores" bebe sangue"
Ogum dos aougueiros" come carne$
<odos os três o3"ios utili2am se de ob)etos de metal% o que os rela"iona
diretamente "om o mito de Ogum e 4or sua !e2 "om a utili2ação dos
4rogressos te"nol5gi"os ligados a este mito#
, te"nologia% assim "omo o mito de Ogum en"ontra-se em di!ersos es4aços e
que 4er"ebemos "laramente nos !ersos de Oriki:
Ogum está na casa"
Ogum está no campo"
Ogum está na alf4ndega #

Ogum e a Auerra #
+omo 9eus da Ruerra% Ogum traça em seus orikis um "5digo de "onduta que
4ode ser 4er"ebido nos seguintes !ersos:
 % espada n!o conhece o pescoo do ferreiro
ostrando que os erreiros 4or serem 4rodutores de armas não de!em ser
guerreiros% 4or uma questão estrat$gi"a#
ste "5digo de "onduta tamb$m $ 4er"ebido nos !ersos:
2hefe do ferro" homem ferreiro
Ogum combate com fora
 % divers!o de Ogum é a batalha e a briga
Ogum mete muito medo no dia em #ue se encoleria e #ue combate #

#onclusão#
orte% Ruerra% +i!ili2ação e .obre!i!ên"ia% O3"ios% Cirilidade% <e"nologia%
Ordem% todas estas "oisas se interligam neste mito# , morte "omo
"onseqEên"ia natural que mant$m a ordem das linagens e an"estralidadeK a
"i!ili2ação% a sobre!i!ên"ia e os o3"ios legitimados 4elo mito da "riação que
le!am e "ondu2em a te"nologia que em uma l5gi"a 4ositi!ista que ainda
temos% 4ode ter relação "om a guerra 4or ser a guerra uma das res4onsá!eis
53
4elo desen!ol!imento te"nol5gi"o da umanidadeK a !irilidade "omo
legitimadora da manutenção da ordem que det$m em si mesmo o elemento
que transorma e reestrutura a so"iedade atra!$s da Ruerra#
.e !irmos desta orma somente e não "onsiderarmos o mito anterior de *u
"omo "om4lementar neste 4ro"esso de transormação 4odemos estar su)eitos
a uma !isão totalmente 4ar"ial e a uma !ersão Jni"a de uma "i!ili2ação#
/er"ebemos que estas "oisas que em Ogum estão ligadas le!am a um
4ro"esso de transormação% mas que 4elo mito de Ogum estar ligado 6 morte e
6 guerra le!a ine!ita!elmente 6 auto-destruição% ou ao menos a 4ro"essos de
reno!ação atra!$s da destruição 4ar"ial da so"iedade# +laramente
entendemos isto quando rela"ionamos o Ogum da <e"nologia "om o da Ruerra
e da Ordem% (elementos 4elos quais tamb$m tentamos entender a relação na
e!olução de nossas so"iedades o"identais#
Vuando rela"ionamos esta l5gi"a de transormação "om a l5gi"a de
transormação que !emos nos 4ro"essos de transgressão de *u% !emos que
á outras l5gi"as de transormação da so"iedade#
sto se e!iden"ia ainda mais quando analisamos o ato de *u ao mesmo
tem4o ser o transgressor% e o senor do er"ado% que $ o es4aço onde se
en"ontram os "lãs e etnias e no qual 4odem estabele"er relaç&es que
"ontra4&em 6 l5gi"a da guerra#
Vuando alandier nos ala dos quatro ti4os de transgressores das so"iedades
subsaarianas e que !emos serem legitimados nos mito de *u% !emos que
estes 4ro"essos de transormação so"ial atra!$s da transgressão% são uma
alternati!a aos 4ro"essos de "i!ili2ação re4resentados 4or Ogum (e que não
está longe de nossas so"iedades O"identais 4ro4&em e que tem "omo
"onseqEên"ia natural a destruição em algum grau#
O que os 'orubás nos sugerem e 4ro4&em $ que a)a um equil3brio entre as
duas 4ro4ostas# ,ssim% ordem e transgressão têm que ter seus es4aços neste
4ro"esso e!oluti!o so"ial e dessa orma se equilibrar ou se alternar% 4ara que
4ossa assim a!er tanto e!olução quanto 4reser!ação e "ombate aos
4ro"essos de autodestruição que 4odem "om4rometer a sobre!i!ên"ia e
"ontinuidade do desen!ol!imento real da so"iedade em questão#
.omente esta alternAn"ia 4ode garantir uma e!olução de orma sustentá!el%
4ois e!ita que açamos guerras ou !iolên"ias em nome do que "onsideramos
54
ser o bem% sem 4erder o 3m4eto transormador que nos "ondu2 6 e!olução de
nossas so"iedades#
Ogun 'e remo#
Osunemi (!an /oli

O 4ito de O'ossi na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is


,ntes de introdu2ir os "omentários sobre alguns !ersos de Orikis de O*ossi $
im4ortante ressaltar que o 4anteão dos Ori*ás tal qual o "one"emos% $ algo
muito mais da diás4ora do que da tradição 4uramente ari"ana# @ormalmente
na região Yorubá% tradi"ionalmente são "ultuados os Ori*ás rela"ionados "om
o er5i m3ti"o da "idade% ou a di!indade da "idade e os que a ela de alguma
orma se rela"ionam% o que dá em torno de uma m$dia de seis ou sete ori*ás
mais 4resentemente mar"ados em "ada "idade#
Outro ator que não 4odemos esque"er $ que muitas di!indades que
desem4ena!am 4a4eis similares nas dierentes "idades 'orubás% mais%
daomeneanas% )e)es% ta4a% baribá% a"abaram se undindo em um s5 mito na
diás4ora% )á que na 4r54ria Hri"a tro"a!am "ara"ter3sti"as# ,qui geralmente
4re!ale"e a di!indade tal qual os 'orubás denomina!am% mas isso não quer
di2er que não á inluên"ia de outras di!indades de outros 4o!os !i2inos% aos
'orubás na "onstrução desses mitos que temos "omo sendo totalmente
'orubás na diás4ora# O 4r54rio "aráter de a"ulturação muito orte em tradiç&es
subsaarianas benei"ia este enNmeno no "aso na região de toda "amada
"osta da Ruin$% que $ nosso o"o em se tratando dos 'orubás# Ceremos isso
mais a"uradamente ao tratarmos de outros mitos% assim "omo !imos
ra4idamente no te*to GO que são OrikisS no tre"o que trata de Orikis de
Ori*ás#
sso tudo 4ara di2er que o mito que "one"emos "omo O*ossi na diás4ora tem
elementos de mitos "omo o daomeneano de ,ge (senor da "aça e rinl$
(deus da "aça de região Yorubá# O*ossi $ "one"ido "omo sendo um rei
m3ti"o do Tetu% que "omentarei mais quando or alar de seu 4a4el na ist5ria
deste reino Yorubá quando su4ostamente desem4enou as unç&es de
,laketu# ssa unção o torna muito im4ortante no que "one"emos na diás4ora
"omo a nação do Tetu (4ois naç&es "omo "one"emos se reerem ao

55
"andombl$% que 4or sua 4r54ria nature2a $ uma religião nas"ida na diás4ora e
não $ uma "54ia iel ao que "amamos de ile-orisa da Hri"a Yorubá% ou
mesmo o "ulto dos Coduns do 9aom$% onde não e*istem naç&es e nem deram
ne"essariamente origem direta 6s naç&es do "andombl$ da diás4ora% "omo
nos e!iden"ia .alami em suas aulas#
+ontudo tamb$m á o)e uma !ia de mão du4la entre as tradiç&es da ,m$ri"a
e da Hri"a% e muito graças 6 unção de O*ossi na diás4ora% ele se torna
"one"ido e gana orça de "ulto em "idades ari"anas 'orubás onde
normalmente% não osse 4or isso% não de!eria ser "ultuado ou lembrado#
Rraças a seu 4a4el na diás4ora ele $ lembrado em "idades e regi&es que tem
seus mitos da "aça% "omo me e!iden"iam meus "orres4ondentes ari"anos que
me orne"em material de 4esquisa% ao se reerirem a O*ossi (OsoosiK isso
mostra que este 4ro"esso de a"ulturação o"orre tamb$m% de modo não tão
intenso% e em mão du4la% sobretudo 4or se tratarem de 4essoas de outras
"idades 'orubás distantes da inluên"ia "ultural do Tetu#

7 D O'ossi, rei do Hetu e (enhor dos #açadores


9uas 4equenas lendas que e*traio da memorá!el "oletAnea de /randi%
itologia dos Ori*ás sinteti2am bem este 4a4el%
, 4rimeira trata de um as4e"to im4ortante sobretudo na diás4ora onde O*ossi
$ "açador e nos dá "onta de "omo o ito de Ogum ( res4onsá!el 4ela
sobre!i!ên"ia%e na maioria das "idades 'orubás senor da "aça% 4or ter
ensinado ao omem "omo "açar transere este 4a4el 4ara seu irmão O*ossi#
O.ossi é irm!o de Ogum
Ogum tem pelo irm!o afeto especial$
1um dia em #ue voltava da batalha"
Ogum encontrou o irm!o temeroso e sem rea!o"
2ercado de inimigos #ue já haviam destrudo #uase toda a aldeia
E #ue estavam prestes a atingir sua famlia e tomar suas terras
Ogum vinha cansado de outra guerra"
Bas ficou irado e sedento de vingana$
/rocurou dentro de si mais foras para continuar lutando
E partiu na dire!o de inimigos$
2om sua espada de ferro pelejou até o amanhecer$
7uando por fim venceu os invasores"

56
Sentou+se com o irm!o e o tran#,iliou com sua prote!o$
Sempre #ue houvesse necessidade
Ele iria até seu encontro para au.iliá+lo$
Ogum ent!o ensinou O.ossi a caar$
 % abrir caminhos pela floresta e matas cerradas
O.ossi aprendeu com o irm!o a nobre arte da caa"
Sem a #ual a vida é muito mais difcil"
Ogum ensinou a O.ossi a cuidar de sua gente$
 %gora Ogum podia voltar tran#,ilo para a guerra
Ogum fe de O.ossi o provedor 
O.ossi é irm!o de Ogum
Ogum é o grande guerreiro
O.ossi é o grande caador$
sta lenda e*4li"a assim a atribuição do 4a4el de "açador a O*ossi% sobretudo
na diás4ora onde "on!i!e "om o mito de Ogum (que na maior 4arte das
"idades ari"anas 'orubás $ tamb$m o "açador al$m do guerreiro#
Outra lenda im4ortante a se "itar% dentro da "oletAnea de /randi $ a que atribui
a Orunmilá a "oroação de O*ossi "omo ,laketu% que 4ro!a!elmente 4elo
sim4les ato de "itar Orunmilá de!e ter origem na !ersão de algum ese á% ou
tan á de algum dos 8IX Odus do "or4us dos Odus de á#
O.ossi ganha de Orunmilá a cidade do Jetu
2erto dia" Orunmilá precisava de um pássaro raro
/ara faer um feitio de O.um$
Ogum e O.ossi saram em busca da ave pela mata adentro"
1ada encontrando por dias seguidos$
ma manh!" porém" restando+lhes apenas um dia para o feitio"
O.ossi deparou com a ave e percebeu #ue s& lhe restava uma Anica flecha
Birou com precis!o e a atingiu$
7uando voltou para a aldeia"
Orunmilá estava encantado e agradecido com o feito do filho"
Sua determina!o e coragem$
Ofereceu+lhe a cidade do Jetu para governar até sua morte
3aendo dele o Ori.á da caa e das florestas$
elembrando as unç&es do mito segundo +am4bell e rela"ionando "om o
4a4el de O*ossi tanto na diás4ora quanto na região onde seu mito tem maior
inluên"ia na Hri"a% !emos que a unção m3sti"a tal!e2 tena suas

57
4arti"ularidades em "ada um dos "asos% mas se a4ro*imem de alguma orma#
, unção +osmol5gi"a que tem na diás4ora% algumas !e2es $ a que Ogum tem
na maior 4arte do undo Yorubá onde O*ossi não $ "one"ido 4o4ularmente%
o que le atribui 4a4el Jni"o e de maior im4ortAn"ia na diás4ora no "onte*to
do 4anteão de mitos que nossas sen2alas "riaram% a 4artir dos mitos
undadores de "idades de onde !inam os ari"anos da "osta da Ruin$ na
$4o"a "olonial# ,4esar disso% sua unção so"iol5gi"a% na Hri"a% sobretudo no
"onte*to do Tetu e região $ muito mais im4ortante do que na diás4ora% 4ois
seu "ulto "omo di!indade de "idade delinea!a toda uma estrutura de "or4o
so"ial que o rela"iona "om o 4oder do ,laketu# sso não ne"essariamente
o"orre na diás4ora "om a mesma intensidade% se restringirmos o seu 4a4el
so"iol5gi"o 6 "riação do "or4o so"ial de sa"erdotes da nação de "andombl$ do
Tetu o que não se a4ro*ima nem de longe do signii"ado da "onsolidação de
4oder e tradição de um reino ari"ano "omo o Tetu% a4esar da inluên"ia que
esta estrutura da reale2a .agrada ,ri"ana 4ossa ter tra2ido 6 estrutura do
"or4o so"ial de sa"erdotes da @ação do +andombl$ que "one"emos na
diás4ora# sse $ um moti!o 4elo qual de!emos nos ater a seus Orikis 4ara
entendê-lo melor neste "onte*to so"iol5gi"o na Hri"a e não nos "ontentarmos
"om suas lendas 4ara de"odii"ação deste mito# Outro ator que torna
ne"essária a inter4retação de seus orikis $ este mito em sua unção
4edag5gi"a% 4ois na diás4ora temos o desen!ol!imento deste mito em uma
realidade urbana muito dierente da ari"ana# sta realidade ari"ana a2 "om
que a unção 4edag5gi"a do mito de O*ossi tena unç&es mar"adamente
mais 4ragmáti"as e menos simb5li"as na Hri"a e o in!erso disso na diás4ora#

Ori@is de O'ossi, os c%digos de caça e a import!ncia das linhagens para


os caçadores"
/ara entender melor os "5digos dos "açadores de!emos nos a4ro*imar dos
gêneros literários 'orubás do )ala e remo)e que são 4or sua !e2 os "antos e
4oemas de gl5ria e lamento dos "açadores# .ão grandes 4oemas $4i"os que
tratam de todos os as4e"tos das !idas destas 4ersonagens undamentais no
"onte*to da so"iedade 'orubá% onde em muitos reinos% não raro%
desem4enam tamb$m um 4a4el 4ol3ti"o im4ortante nos "onselos# ste 4a4el
torna ainda mais im4ortante e rele!ante o estudo dos remo)e e )ala#
58
<al!e2 )ustamente 4ela rique2a simb5li"a abundante dos remo)e e )ala% os
Orikis de O*ossi não se)am assim tão e*tensos% e 4elo "ontrário "ondensem
em seus !ersos uma s$rie de signii"ados que 4ossam !ir a serem a4li"ados
em di!ersas situaç&es% mas que sobretudo tangem aos signii"ados que se
rela"ionam "om as unç&es so"iol5gi"as e 4edag5gi"as do mito% dei*ando
subentendidas% ou menos e!identes% as suas unç&es m3sti"as e "osmol5gi"as#
Uma das "ara"ter3sti"as dos "açadores $ sua orça% outra $ sua "oragem%
sobretudo se lembramos da origem "omum dos mitos de "açador e guerreiro%
anteriormente 4ro)etada em Ogum# Vuando es"utamos o !erso de Oriki de
Osoosi :Olhar uma infelicidade n!o estraga o olho=   entendemos melor a
sugestão de "oragem 4ara enrentar situaç&es di3"eis que está 4resente tanto
no "5digo dos "açadores% que sem dJ!ida têm suas origens nos "5digos dos
guerreiros# Cemos neste !erso a unção 4edag5gi"a do mito ortemente
4resente% ainda mais se não nos distan"iarmos do ato que Oriki delineia
imagens a serem eitas#
+ontudo% os "açadores% a4esar de se a4ro*imarem dos guerreiros em seu
"5digo de "oragem% tem "ara"ter3sti"as dierentes% e seu ti4o 3si"o ideal 4ode
ser dierente destes guerreiros# ,gilidade 4ara um "açador $ mais im4ortante
que a orça 3si"a no "onte*to do o3"io a se desem4enar# Vuando ou!imos o
!erso de Oriki de Osoosi: GEle n!o é vigoroso" mas é inteligente=   em uma
reerên"ia ao 4r54rio Osoosi% 4odemos entender melor este ideal 3si"o e
mental do "açador em relação ao que temos em relação ao guerreiro# ,qui de
no!o a unção 4edag5gi"a gana es4aço atra!$s de uma sim4les des"rição#
Outro !erso de Oriki de Osoosi que al$m da unção 4edag5gi"a% tamb$m
sugere uma unção so"iol5gi"a atra!$s de uma obser!ação sobre determinado
"om4ortamento so"ial $: :Ele n!o #uer saber #ue o chefe mandou faer um
trabalho comum na casa #uando ele pega sua en.ada para ir à roa$ Se
alguém trabalhar perto dele na roa encontrará o #ue comer= # ,o "onstruirmos
as imagens deste !erso temos "laramente a unção do )ogo de Ordem e
transgressão da Ordem 4resentes nos mitos dos Ori*ás ,laketu (*u e
O*ossi# @o "aso temos o triuno da Ordem sob a sub!ersão da mesma% 4or
estarmos alando de O*ossi% que re4resenta a Ordem neste "onte*to dos
Ori*ás ,laketu (assim "omo seu 4r54rio instrumento% que $ o ar"o% re4resenta
simboli"amente% 4or a4ontar a direção a seguir% em "ontraste ao 4orrete de
59
*u% que destr5i o que se estabele"eu# @estes !ersos temos simboli"amente
que o ob)eti!o "omum de um gru4o (de agri"ultores e "açadores no "aso de!e
ser adotado 4or "ada um "omo um ob)eti!o indi!idual% 4ois somente se o
ob)eti!o "omum or tomado "om a de!ida im4ortAn"ia 4or "ada um dos
integrantes% o gru4o en"ontrará su"esso em sua em4reitada# stes !ersos
"onstroem a imagem do omem que toma este ob)eti!o "oleti!o "omo um
ob)eti!o indi!idual que se rela"iona "om a 4r54ria sobre!i!ên"ia# sto nos a2
entender mais sobre a unção 4edag5gi"a que este mito assume entre esse
4o!o atra!$s da "onstrução deste "5digo de "açadores% (e agri"ultores em
outra ase "onseqEentemente 4osterior ao 4er3odo de "aça e "oleta na qual
esse mito tamb$m se enquadra no "5digo de sobre!i!ên"ia# /odemos assim
!erii"ar o quão im4ortante $ esse mito neste "5digo que ao mesmo tem4o
legitima a im4ortAn"ia da "riação de um "or4o so"ial (de "açadores% e delineia
"om4ortamentos a"eitá!eis 4ara o trabalo em gru4o (em sua unção
4edag5gi"a e o sentido de Ordem que esse Ori*á ,laketu tra2 em seu
signii"ado#
Outros !ersos de Orikis de Osoosi que nos remetem a seu sentido 4ragmáti"o
rela"ionado 6 sobre!i!ên"ia e e!iden"iam o as4e"to 4edag5gi"o do mito são:
:O proprietário da casa conhece o lugar onde a superfcie da terra é seca S e
tamb$m S  % erva é boa no lugar altoS # O 4ro4rietário da "asa se reere
diretamente a Osoosi "omo Ori*á Onile (que !eremos mais a rente em
detales quando ormos estudar Obaluai'e% e que dá o sentido ao que irma
suas bases em um lo"al que será sua morada e "ria o 4r54rio sentido de 4átria#
sso mostra a ne"essidade de se "one"er o lo"al que irá !i!er e saber o
quanto seguro ele $% "omo tamb$m na 4rá*is deste 4o!o saber onde $ Sboa a
ervaS 4ode re4resentar e!itar se en!enenar ou não# (assim "omo na 4rá*is dos
squim5s saber a dierença dos di!ersos ti4os de ne!e que se e*4ressam "om
nomes dierentes 4ode signii"ar !i!er ou morrer# ,mbos os "asos mostram
em situaç&es 4ragmáti"as que as imagens dos !ersos de Oriki ormam o mito
em sua unção 4edag5gi"a# ,qui en"ontramos tamb$m o sistema uma semente
do sistema de ra"ionalidade deste 4o!o#
/ara 4rosseguir dentro das di!ersas unç&es que ormam a grande unção
"i!ili2at5ria de um ito de Ori*á% !emos no !erso de Oriki de Osoosi G 7uando
alguém n!o tem famlia" ninguém chora sua morte="   a im4ortAn"ia das
60
linagens nos "5digos de "açadores% o que não somente 4ara os 'orubás% mas
tamb$m 4ara a maioria das "i!ili2aç&es subsaarianas% assume grande
im4ortAn"ia# ,qui a unção so"iol5gi"a está 4resente de orma muito intensa#
/ois sugere a 4r54ria "onstituição de uma "$lula so"ial ("omo a am3lia "omo
ritualisti"amente undamental no momento da morte# sso simboli2a em si a
ne"essidade de dar "ontinuidade 6 so"iedade atra!$s da ormação da am3lia%
a im4ortAn"ia de a2er 4arte de uma linagem em um "onte*to so"ial ("omo da
maior 4arte das so"iedades subsaarianas# m outra dimensão% alude 6 4r54ria
sobre!i!ên"ia das so"iedades a 4artir das linagens que as ormam% e 4elas
quais se organi2am# 9emonstra que ora desta estrutura de linagens não á a
tradição que mantena !i!o o es43rito daquela "oleti!idade% e não á es4aço
4ara que se desen!ol!a um "or4o so"ial que 4ossa ser des!in"ulado desta
estrutura# sso% em Jltima instAn"ia% 4ode a)udar a e*4li"ar muito da estrutura
so"ial e in"lusi!e a es"ra!idão dom$sti"a em determinadas so"iedades
subsaarianas (o que será tema mais detaladamente dis"utido de outro te*to% e
4resente em outros te*tos de mitos de Ori*ás# @este as4e"to o mito !ai al$m
das estruturas so"iais dos 4er3odos de "aça e "oleta e agr3"ola e se a4li"a
tamb$m ao "onte*to da urbani2ação% que mante!e sua estrutura igualmente
nas linagens que se estrutura!am nestes 4er3odos anteriores nos quais este
mito tem suas unç&es mais
m ais "laramente mar"adas#
/ara "on"luir% !emos no !erso de Oriki de Osoosi: :O alforje está ao nosso lado
como um amigo sincero="   algo que tamb$m está muito 4resente nos )ala e
remo)e% e que rela"ionam diretamente o ito de O*ossi "om o o3"io de
"açador% e não dei*a dJ!idas desta sua relação "om seu "5digo% "onorme
!isto% "omo sendo um dos "5digos que no imaginário "oleti!o deste 4o!o em
seus as4e"tos m3sti"os% "osmol5gi"os% so"iol5gi"os e 4edag5gi"os% "onstituem
sua unção "i!ili2at5ria que o rela"iona diretamente "om a sobre!i!ên"ia#
Oke Oke Osoosi#
Osunemi#

O 4ito de +ogun &de na #ivili1ação Yorubá a partir de seus


Ori@is#
Introdução , +ogun &de 5ilho de O'um e O'%ssi

61
B im4ortante ressaltar no!amente
no!amente neste
neste te*to que Logun de $ uma das
!ariaç&es de mito de "açadores# /or isso ligado diretamente a noção de
sobre!i!ên"ia do 4o!o
4o!o 'orubá
'orubá % ,ssim
,ssim "omo Ogum e O*5ssi% este
este mito irradia
4ara o restante das terras
terras 'orubás
'orubás e 4ara a diás4ora
diás4ora a 4artir da região
região de
lesa% onde Cerger "oletou os Orikis reerentes a ele# <amb$m na "idade de
Uidá en"ontramos Orikis 4ara Logun de%
de% "ontudo aqui !in"ulados de
de alguma
orma aos Orikis de O*um# .egundo sobretudo as lendas da diás4ora e
tamb$m os Odus de á da Hri"a% Logun de $ ilo de O*um e O*ossi (ou Ode
% algumas !e2es
!e2es tamb$m de rinl$ e det$m
det$m em si os as4e"tos
as4e"tos emininos de
O*um e as"ulinos de O*ossi
O*ossi o que nos introdu2 em nossos te*tos
te*tos a igura do
mito andr5gino que e*4li"arei detaladamente em te*tos 4osteriores#
Ossaim% Logun de e O*umar$% são três mitos andr5ginos dentro do 4anteão
'orubá (sobretudo na diás4ora% que nos remetem antes de tudo 6 im4ortAn"ia
m3ti"a do du4lo nas relaç&es de 4oder onde estão 4resentes estes mitos em
terras 'orubás# +omo a"abo de di2er% tratarei em detales da questão do mito
andr5gino entre as so"iedades subsaarianas a 4artir do e*em4lo dos 'orubás%
em um 4r5*imo te*to no qual 4ossa e*4lanar "om mais rique2a de detales
estas relaç&es#
/eço 4ara que nos atenamos% 4or enquanto% 4ara o ato de que este mito
re4resenta em si% 4or ser andr5gino% o equil3brio de um 4oder baseado no
du4lo e em elementos mJlti4los no imaginário "oleti!o dos 4o!os onde ele se
estabele"eu "omo 4resente# <odos os Ori*ás du4los ou andr5ginos tem em si
esta unção de tra2er o equil3brio entre 4oderes no que se reere a sua unção
so"iol5gi"a % e 4or que não tamb$m 4edag5gi"a#
Uma de suas lendas% e*tra3da da "oletAnea de /randi % itologia dos Ori*ás
nos demonstra bem esta sua "ara"ter3sti"a de equil3brio#
0ogun Ede nasce de O.um e O.ossi ( Erinle)
m dia O.um conheceu o caador Erinlé (O.ossi)
e por ele se apai.onou perdidamente$
Bas Erinlé n!o #uis saber de O.um$
O.um n!o desistiu e procurou um babala'o
Ele disse #ue Erinle se sentiria atrado
 somente pelas mulheres da floresta" nunca pelas do rio$
O.um pagou o babala'o e ar#uitetou um planoC

62
Embebeu seu corpo em mel e rolou pelo ch!o da mata$
 %gora sim" disfarada de mulher da mata"
/rocurou de novo seu amor$
Erinlé se apai.onou por ela no momento em #ue a viu$

m dia es#uecendo+se das palavras do babala'o"


O.um Ipondá convidou Erinlé para um banho no rio$
Bas as águas lavaram o mel de seu corpo
E as folhas do disfarce se desprenderam$
Erinlé percebeu imediatamente #ue tinha sido enganado
E abandonou O.um para sempre$
3oi se embora sem olhar para trás$

O.um estava grávida< deu à lu


lu a 0ogun Ede"
0ogun Ede é metade O.um" a metade rio"
E é metade Erinlé" a metade mato$
Suas metades nunca podem se encontrar
Ele habita num tempo o rio
E noutro habita o mato$
2om o ofá" arco e flecha #ue recebeu do pai" ele caa$
1o abebé" o espelho #ue recebeu da m!e " ele se mira$
+omo !emos% o mito de Logun de% 4or se tratar de metade "açador% e
metade ilo do rio% 4ode "riar !3n"ulos e a4ro*imação% 4or e*em4lo% entre o
"or4o so"ial dos
dos "açadores e sa"erdotes dos mitos da "aça e o "or4o so"ial
de muleres l3deres
l3deres do mer"ado
mer"ado ('alodes e sa"erdotisas
sa"erdotisas de mitos dos rios
"omo O*um
O*um o que ratii"a
ratii"a a teoria
teoria do mito andr5gino (ou
(ou dual equilibra
simboli"amente as relaç&es de 4oder dentro do "onte*to da armoni2ação do
du4lo ou mJlti4lo que $ uma "onstante em di!ersas so"iedades subsaarianas#
9essa orma% esse mito% a 4artir de sua unção so"iol5gi"a que 4ode rela"ionar
as so"iedades de "açadores "om as das senoras do er"ado% 4ode ter
grande inluên"ia no sistema e"onNmi"o das "idades 'orubás onde se
estabele"eu ou 4ara onde irradiou sua inluên"ia#

Ori@is de +ogun &de, o c%digo de honra dos caçadores e a fertilidade do


filho de O'um"

63
/ara entendermos melor "omo o mito de Logun d$ se insere no imaginário
'orubá $ ne"essário que nos adentremos na análise de alguns !ersos de seus
Orikis ari"anos% 4ois somente a re"itação das lendas que "egaram 6 nossa
diás4ora não dão "onta disso% 4elas mesmas ra2&es a qual tratamos no mito
de O*ossi% que 4or estar !in"ulado 6 "aça 4osteriormente 6 agri"ultura na
Hri"a% se insere muito mais em "onte*tos de "omunidades rurais ligadas 6
"aça e "oleta e agri"ultura do que a so"iedades urbanas# +ontudo no as4e"to
que Logun de se rela"iona "om as so"iedades de "açadores na Hri"a e que
não e*istiram na diás4ora% não teremos idelidade a sua 4lena de"odii"ação se
nos atermos somente as lendas que "egaram 6 diás4ora% onde a realidade do
"ulto dos Ori*ás está muito mais 4r5*ima de uma realidade urbana#
9e qualquer orma% no que se rela"iona "om O*um e as muleres do er"ado
"omo tamb$m ao as4e"to de sobre!i!ên"ia 4resente em O*ossi que são
elementos que têm sua e*tensão realidade urbana% 4odemos nos a4ro*imar da
"om4reensão do signii"ado deste mito sob estes as4e"tos dentro desta
realidade es4e"ii"a# @este as4e"to o mito ari"ano se a4ro*ima de sua unção
na diás4ora#
ni"iando 4or seu as4e"to de guardião do "5digo de onra dos "açadores%
4odemos entender melor esta unção quando a2emos as imagens do !erso
de Oriki de Logun de :m orgulhoso fica descontente #uando o outro está
contente= % o que alude a um "5digo moral que tem seus rele*os tamb$m nos
remo)e e )ala dos "açadores quando se reere a 4o4ular igura do orguloso#
,l$m do alerta 4ara a questão moral do orgulo no sentido negati!o que
4ode !ir a "riar "onlitos em um "or4o so"ial "omo o dos "açadores% este !erso
de Oriki tamb$m se rela"iona "om os ob)eti!os "omuns dos "açadores ( e
agri"ultores em uma em4reitada igualmente em "omum ligada a sua
sobre!i!ên"ia "oleti!a e se a4ro*ima a !ersos que analisamos no Oriki de
O*ossi que tamb$m alude a "om4ortamentos ideais quando e*istem ob)eti!os
"omuns em so"iedades "omo a de "açadores ( que 4or sua !e2 4ode ter uma
l5gi"a muito dierente da dos 4roissionais do mer"ado ou outros o3"ios#
Dá nos !ersos de Oriki de Logun de : Ele destr&i a casa de um outro e depois
cobre sua casa com a#uela #ue destruiu=   % temos reerên"ia a 4ro"esso de
o"u4ação de terras e 4ro4riedades ( abandonadas 4elas migraç&es ou não e
"onsequentemente reerên"ia a 4ro!á!eis "onlitos que estas o"u4aç&es que
64
gru4os de agri"ultores ou "açadores 4odem o"asionar% o que )ustii"a a alusão
ao gru4o que anteriormente !i!ia na região que terá em suas "asas antigas a G
cobertura de casas novas S# +ontudo% indo mais al$m deste signii"ado% este
enNmeno a4are"e muito requentemente em di!ersos mitos de Ori*ás de
di!ersas ormas# ,o estudarmos a reale2a sagrada em determinados reinos
Yorubás% !emos que os 4o!os de in!asores se unem aos 4o!os aut5"tones e
se armoni2am a eles# ,o estudar a Mist5ria do Tetu !emos a re"e4ção do
4o!o T4anko ao /o!o Yorubá dando les o seu 4rimeiro ogo% o que signii"a a
atribuição dos 4rimeiros meios sobre!i!ên"ia 4ara ada4tação a no!as terras e
a integração entre aut5"tones e in!asores# ,o estudar o ito de QangN e o
reino de O'o entenderemos isto mais "laramente e teremos mais elementos
4ara nos a4roundar# 9e qualquer orma a imagem que se "onstr5i neste !erso
de Oriki de Logun de alude 6 a"eitação de elementos dos 4o!os aut5"tones
4elos in!asores e a integração simb5li"a dos dois 4elo ato de G destruir a
casa do outro e cobrir a sua casa com a #ue destruiu=$   sto se airma ainda
mais se nos a4ro*imarmos do sentido que a 4ala!ra GcasaS oi tradu2ida% que
em 'orubá $ GOnileS % que em um signii"ado mais 4roundo remete a terra
("asa de nas"imento e ao 4r54rio sentido de 4átria 4ara os 4o!os 'orubás#
sso e!iden"ia ainda mais o ato deste mito andr5gino ter a unção de
equilibrar o 4oder du4lo ( no "aso entre a 4átria do aut5"tone e a 4átria do
in!asor # ntendemos melor isso "omo um 4ro"esso "omum a di!ersos
4o!os subsaarianos e não somente aos 'orubás se estudamos mesmo dentro
dos 'orubás as so"iedades de resistên"ia ormadas 4elos 4o!os aut5"tones e
a sua relação "om as so"iedades de in!asores% e a 4artir disso 4oderemos
entender muito de n5s mesmos na diás4ora em nossos 4ro"essos de
a"ulturação (que será tema mais 4roundamente dis"utido dentro do mito de
QangN#
@o !erso de Oriki de Logun de : Ele dá rapidamente um filho à mulher estéril S
entendemos 4rimeiramente sua relação "om a ertilidade que $ um dom3nio de
sua mãe O*um% e se"undariamente o que 4ode re4resentar uma muler est$ril
em uma so"iedade que se baseia nas linagens e na "$lula amiliar# sso se
torna ainda mais im4ortante se "om4ararmos "om o que !imos em !ersos do
Oriki de O*ossi% e !emos em di!ersos outros Ori*ás que nos e!iden"iam que $
4equeno o es4aço 4ara a sobre!i!ên"ia so"ial ora do "onte*to das linagens#
65
( O que $ "omum a di!ersas so"iedades subsaarianas# sso nos a2 4ensar
que da mesma orma que aquele que não tem 4ais ou am3lia está adado ao
ra"asso so"ial nesta estrutura% aquele que não dá 4rosseguimento 6 linagem
tamb$m estará 4or não ter quem le 4ro!ena quando or um an"ião e não
4uder 4rodu2ir da mesma orma# ,l$m de tudo isso% quebrando o "i"lo de
"ontinuidade dos "lãs que ormam a "omunidade# , 4artir da3 entendemos em
4roundidade que 4ara esta so"iedade( assim "omo a maioria das outras
so"iedades subsaarianas 4ode re4resentar a muler est$ril e a inertilidade em
geral#
9a mesma orma ao "onstruirmos as imagens do !erso de Oriki G le e.pulsa
os males do corpo da#ueles #ue os t-m S !emos que 4ara esta so"iedade e no
"5digo de "açadores e agri"ultores ( e tamb$m% 4orque não na !ida urbana? a
im4ossibilidade de 4rodu2ir de!e ser "ombatida% 4ois tamb$m aeta a estrutura
so"ial e e"onNmi"a e )ustamente um mito ligado 6 sobre!i!ên"ia terá unç&es
de "riar todo um "or4o so"ial de sa"erdotes 4ortadores de uma medi"ina
tradi"ional# (sto não somente nas so"iedades subsaarianas $ "laro% e se torna
mais e!idente 4ara n5s 4or que aqui neste o"idente da so"iedade de "onsumo
tamb$m nossos males do "or4o aetam a nossa estrutura so"ial e e"onNmi"a #
@este mesmo sentido e 4ara "on"luir "om4reendemos atra!$s do !erso de
Oriki de Logun de G O preguioso está contente entre os transeuntes S que
4rimeiramente o 4reguiçoso $ um transgressor moral ( "omo !emos em outras
situaç&es nos Orikis de O*um e O*ossi# +omo !imos no te*to anterior G O que
são Orikis ? G% o 4reguiçoso $ um transgressor moral% 4ois na l5gi"a da
4rodução 4resente nas so"iedades Yorubás ( e de outros 4o!os
subsaarianos de "aça e "oleta e agr3"olas baseiam sua organi2ação so"ial
no sistema de linagens e "lãs% onde as 4essoas em idade adulta tem que
4rodu2ir 4ara seus des"endentes% 4ara si mesmos e as"endentes% o
4reguiçoso não tem um es4aço de "on!i!ên"ia a não ser "omo um
transgressor moral# +omentei in"lusi!e na o"asião que isto tem seus eeitos na
diás4ora 4ois os senores de es"ra!os "ostuma!am 4reerir etnias de
es"ra!os que% al$m de deter t$"ni"as de 4rodução e o3"ios que les
interessassem% e!iden"iassem mais em sua "ultura que eram trabaladores
e que o 4reguiçoso era um transgressor moral ( o que uns 4o!os e!iden"iam
mais e outros menos% mas que o"orre na maioria dos 4o!os subsaarianos que
66
tem suas ra32es nas so"iedades de "aça e "oleta % 4assando 4ela agri"ultura e
4astoreio e de4ois se urbani2ando# sso% re4ito aqui mais uma !e2% a)uda a
desmistii"ar a !isão 4re"on"eituosa que a2emos de n5s mesmos que somos
um 4o!o indolente 4or que temos na ist5ria de nossos 4ro"essos 4roduti!os
a origem do trabalo dos es"ra!os e 4rin"i4almente 4or des"endermos deles#
+ontudo % se nos "entrarmos na questão do Oriki% 4odemos entender 4orque
somente Gentre os transeuntes S o 4reguiçoso 4ode estar "ontente#
6ranseuntes sub-entendem um meio urbano e% "onsequentemente% o Jni"o no
qual o 4reguiçoso 4oderia ser su4ostamente tolerado% 4or esta aglomeração
urbana le "onerir algum anonimato# Dá no mundo dos "oletores% "açadores e
agri"ultores este anonimato não $ 4oss3!el o que e!iden"ia ainda mais o
4a4el desta igura "omo transgressor moral# 9e qualquer orma% o Oriki
assume% nesta rase% uma im4ortante unção so"iol5gi"a ao "olo"ar em
"ontraste nos meios urbanos e rurais o 4a4el desta 4ersonagem que $ o
4reguiçoso# , 4artir disso 4odemos 4er"eber melor a rele!An"ia "om que são
!istos aqueles que se re"usam a 4rodu2ir nos res4e"ti!os sistemas
e"onNmi"os dos ambientes rurais e urbanos 'orubás% assim "omo 4odemos
obser!ar que e*istem dierenças entre estes sistemas em "ada um dos
ambientes# ,o nos indi"ar a obser!ação desta 4ersonagem no meio urbano
tamb$m "omo um transgressor moral% o Oriki assume igualmente sua unção
4edag5gi"a#
'a Osun >a nie >a aba Logun de
Osunemi ( !an /oli #

67
O 4ito de O'umar na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is"
+onorme )á "itamos ao alar de do mito de O*ossi% muitas !e2es di!ersos mitos
de di!ersas "idades de di!ersos 4o!os e tradiç&es dierentes se unem 4ara na
diás4ora dar origem a um s5 mito# O*umar$ $ um desses mitos# Originalmente o
ito de O*umar$ 4ara os Yorubás era uma ada4tação de di!ersos mitos das
tradiç&es Pon e De)e e mais 4ro4riamente ai da ser4ente 9ã#
ste mito $ tra2ido 4ara terras Yorubás do Leste assim "omo os mitos de
Obaluai'e e @anã tal qual "one"emos# @o imaginário "omum da diás4ora%
O*umar$ $ tido "omo o .er andr5gino 4or e*"elên"ia% e trataremos do assunto
"om mais atenção no de"orrer deste te*to 4ara e*4ressar "omo essa relação de
androginia !em signii"ar uma das e*4ress&es do du4lo nas relaç&es de 4oder
na Hri"a .ubsaariana#
/ara introdu2ir este mito "ito uma lenda "one"ida na diás4ora em muitos
+andombl$s de .al!ador e que a4resentam bem "omo os mitos do 9aom$ se
integraram ao 4anteão @agN e "on!ersam de maneira estreita entre si na
diás4ora#
:1ana >uruku era a esposa de Obatalá e ao engravidar vai
consultar o Ifá para saber #ual seria o destino de seu filho$ Ifá lhe revela
#ue o filho #ue 1ana traia no ventre seria t!o belo #uanto o Sol e teria o
 poder do Sol (#ue somente seu pai Obatalá tinha entre os Ori.ás)$
>aseada nisso 1ana acredita #ue com o poder do filho #ue carregava no
ventre poderia depor Obatalá do trono e governar através do poder de
seu filho$ %o descobrir os planos de 1ana" Obatalá a desterra grávida
 para o p4ntano dos mangues e disse #ue ai seria seu domnio e nesta
 podrid!o encontraria seu reino$ 1ana contudo restava esperanosa #ue
seu filho ao ser t!o poderoso como o Sol pudesse lhe traer de volta ao
 poder$ *everia se chamar Obaluai9e ( Senhor da 6erra )$ %o nascer " a
criana vem toda coberta de pAstulas de varola e revoltada 1ana a
abandona à beira do Bar para #ue servisse de comida aos caranguejos$
7uando os carangueijos se apro.imarem do menino pelo cheiro de suas
 pAstulas" os caranguejos " a criana chora e Femanjá ouve seu choro em
do seu domnio ( o Bar ) e vem em socorro a ele e o salva da Borte$
Femanjá #ue com o desterro de 1ana torna+se a primeira esposa de

68
Obatalá" cria o menino e o ensina #ue sua m!e deveria ser perdoada$ *o
outro lado" 1ana pelo fato de ter abandonado o filho e descrer das
 palavras de Ifá é castigada pelo *estino$Ifá lhe prenuncia #ue teria outro
filho$ Este novo filho seria a criatura mais bela já vista e ao mesmo tempo
a mais temida #uando se apro.imasse de sua m!e 1an!$ Este seria seu
castigo por ter duvidado de Ifá$ 1asce ent!o O.umaré #ue era ao mesmo
tempo %rco Mris em seu aspecto masculino e uma cobra em seu aspecto
feminino ( #ue era o Anico aspecto no #ual O.umaré poderia se
apro.imar de sua m!e 1an! )$
1an! sentia grande tristea ao ver o %rco Mris e n!o poder tocá+lo e #ue
sempre #ue se apro.imava dele ele desaparecia e restava somente a
cobra na e.press!o de seu filho O.umaré$
1ana percebe #ue no lodo e na lama tudo renasce e se regenera" pois
#uando bate o sol no mangue formam+se arco+ris pe#uenos #ue eram a
e.press!o de seu filho mais belo e promovia a regenera!o da vida #ue
ali se produia$ Ela compreende ent!o o segredo de seus domnios (o
 p4ntano) e a regenera!o #ue ele promovia e resolve ent!o se regenerar
e pedir perd!o a seu filho Obaluai9e por t-+lo abandonado" desistindo de
ve de obter o poder de Obatalá e vai procurar Femanjá$ Femanjá
 prepara Obaluai9e para ver sua m!e" #ue já adulto cobria o rosto e corpo
com palhas para #ue n!o vissem seu corpo coberto de pAstulas e n!o o
rejeitassem como sua m!e o rejeitou$ %o ver 1ana" Obaluai9e resiste"
mas a pedido de Femanjá abraa sua m!e 1ana a perdoa e pede #ue ela
nunca mais o abandone$ 1este momento a profecia de Ifá se fa
verdadeira e todas as chagas de Obaluai9e se transformam em lues t!o
fortes como a do sol" #ue fieram com #ue continuasse a cobrir seu
corpo" pois a#uela lu era capa de curar as mais terrveis doenas ou
mesmo conduir ao mundo dos mortos a#ueles #ue deveriam para ele
 prosseguir$ Obaluai9e ganha ent!o com sua m!e 1ana o reino dos
Bortos" passa a agir com sua lu para curar ou redimir os homens de
suas dores e torna+se o senhor da 6erra$ O.umaré também perdoa sua
m!e e passa a representar a#uele #ue tem o caminho entre este e o
outro mundo (Orun e %i9e) na e.press!o da 2obra e do %rco+Mris =$

69
+onorme 4odemos notar% O*umar$ nesta lenda da diás4ora tamb$m tem o
4a4el de 4romo!er o equil3brio entre 4oderes atra!$s de seu "aráter du4lo% o que
$ uma inluên"ia indubitá!el do 4a4el de 9ã no 9aom$#
,l$m disso% 4er"ebemos na lenda a so"iali2ação e integração dos 9euses
Yorubás de "idades dierentes assim "omo outros originalmente do 9aom$
"omo se i2essem 4arte de um s5 4anteão# @isso !emos uma "ara"ter3sti"a
muito 4resente na diás4ora e que 4ode nos "ontar muito da ist5ria de "omo as
tradiç&es na diás4ora se re"onstru3ram nos es4aços das sen2alas#

O'umar, Pã, a serpente arco:íris, o ser andr%gino e o duplo"


#omo nos di2 alandier:
 :%s mitologias africanas em sua maior parte" atribuem um espao privilegiado à
rela!o homensNmulheres e s!o essenciais nas argumenta5es pr&prias destas
mitologias$ % rela!o aparece em ao menos tr-s momentos$ 1as lendas da
cria!o" aonde ela figura como rela!o primordialC liga!o de significa!o e #ue
e.plica esta cria!o$ 1os modelos de interpreta!o #ue revelam por simples
compara!o o fre#,ente recurso ao simbolismo se.ualiado a fim de e.plicar a
ordem do mundo" da constitui!o da :pessoa= e das primeiras obras civiliat&rias
dos homens em sociedade$= 
9essa orma% 4odemos 4er"eber que muitas !e2es% "omo re4rodução destas
relaç&es se estabele"em relaç&es de 4oder# alandier nos e*4li"a melor sobre
o ato% alando )ustamente do 4a4el de 9ã entre os Pon do 9aom$ no "onte*to
da "riação 3ti"a do Uni!erso 4ara este 4o!o:
Os 3on do *aomé$$$$Suas lendas mticas " apresentam n!o uma cria!o Anica e
acabada" mas uma série de cria5es sucessivas$$$% origem se encontra na
divindade %ndr&gina" #ue disp5e de proemin-ncia sobre todas as figuras do
 pante!o daomeneano mesmo #ue ela mesma n!o seja um objeto de culto$6rata+
se de 1ana >uruku" #ue simbolia o comeo absoluto$ %s narra5es mticas a
evocam como origem criadora dos materiais a partir dos #uais o :Bundo= se
constr&i e se ordena$ Este Altima tarefa pertence ao casal Ba'u+ 0isa$ *o #ual
1ana foi o criador$$$% genealogia dos deuses corresponde à das cria5es " do
domnio das foras pelas #uais o universo se mantém em ordem assim como
também os homens$$$Ba'u é a f-mea" 0isa o macho< sua defini!o se lhes
apresenta como g-meos e às vees como uma pessoa de duas faces capa da
auto+fecunda!o$ 7ual#uer #ue seja a interpreta!o" é através de sua uni!o ;

70
ou unidade+ #ue consiste a base de toda organia!o no universo e na
sociedade$$$Ba'u e 0isa e.primem esta uni!o tensional$ Eles s!o associados a
duas séries de atributos e de smbolos contrários e ao mesmo tempo unidos$$$%
associa!o dual se apresenta" ao mesmo tempo" sob seus aspectos positivos (
de complementaridade organiadora) e negativos ( a diferena geradora de
conflitos)$ Sua interven!o é necessária mais insuficiente$$$ma outra figura "
 portanto" é responsável pela ordem da cria!o juntamente com Ba'u e 0isa C
*! fora en#uanto pessoa e capa de mAltiplas manifesta5es$ Esta nova
entidade se identifica à ordem vivente" aos agentes de prosperidade " a
continuidade do curso do tempo$ Ela gera o movimento no sentido da ordem
 primordial $$$*! é concebida sob forma de divindade andr&gina ao invés de par
de g-meos" diem #ue ele é dois em um$=
@o 4anteão 'orubá que "one"emos na diás4ora% á basi"amente três
di!indades andr5ginas 4rin"i4ais e que são O*umar$% Logun de ("onorme
!imos no ultimo te*to e Ossaim#
+omo nos sugere alandier% este ser andr5gino re4resentado 4or 9ã !em
legitimar e "ontribuir "om a ordem inal das "oisas e do uni!erso% tendo o mito
neste "onte*to% sua unção "osmol5gi"a que a)uda a e*4li"ar o uni!erso e sua
ormação# .egundo nos sugere este autor% na maior 4arte das so"iedades
subsaarianas% a igura do eminino e das di!indades emininas "omo a>u está
rela"ionada 6 desordem e ao "aos# Dá a igura mas"ulina e das di!indades
mas"ulinas "omo Lisa e Ogum está rela"ionada 6 ordem#
m nosso mundo )udai"o "ristão o"idental e tamb$m no islAmi"o% em nosso
imaginário ormado a 4artir destas "i!ili2aç&es a ordem se estabele"e a 4artir do
mas"ulino% o "riador $ um 9eus Momem que% assim "omo nas so"iedades
subsaarianas% assume no mas"ulino o 4a4el da ordem e no eminino o 4a4el da
desordem e do "aos (4odemos tentar a"ar isso no O"idente se nos atermos ao
que oram as eiti"eiras na uro4a na dade $dia% ou se analisamos
miti"amente os 4a4$is de Lilit e !a nas "i!ili2aç&es onde a4are"em na
,ntiguidade% entendemos isto melor# B "omum 4ara n5s% em nossa so"iedade
o"idental% que a"eitemos em nosso imaginário que este mas"ulino% que $ a
Ordem% re4rima a desordem do eminino e estabeleça a ordem do Uni!erso% o
que 4ode nos es"lare"er das !is&es se*istas que temos em nossas estruturas
so"iais# (@ão que na Hri"a .ubsaariana se)a dierente% segundo nos ala
alandier#
71
@a l5gi"a dos Pon do 9aom$ e de grande 4arte das so"iedades subsaarianas%
este ser andr5gino% no "aso na igura de 9ã% a4are"e "omo o regulador da
ordem% 4ois "omo "on"lu3mos ao ler alandier e Cerger% o 4rin"34io do
as"ulino (ordem não "one"e a essên"ia do eminino (desordem e não 4ode
assim estabele"er a Marmonia nem no "onte*to "osmol5gi"o% nem no
so"iol5gi"o ("osmos e so"iedade# sta armonia s5 4ode ser estabele"ida 4or
um ser que tena em si os dois elementos% 4ois Ordem e desordem (
transgressão a2em 4arte do 4a4el "i!ili2at5rio dos itos#
ntendemos melor quando re"orremos aos 4a4$is de Ogum e *u "onorme
!imos anteriormente% que Ordem e transgressão se equilibram e se alternam no
4ro"esso "i!ili2at5rio# 9a mesma orma que o du4lo se equilibra entre ordem e
transgressão% $ ne"essário que mas"ulino e eminino se equilibrem e s5 quem
tem em si os dois 4rin"34ios 4ode 4romo!er este equil3brio#
Pa2endo um 4arêntese% e não querendo a2er uma a4ologia 6 androginia%
a"reditamos que este mito andr5gino 4ossa nos a)udar a e*4li"ar o 4orquê na
diás4ora% no "andombl$% o omosse*ual não $ !isto "omo um transgressor
moral% "ontrariamente ao que 4regam as seitas "ristãs do O"idente# Cemos em
4leno s$"ulo QQ o l3der da gre)a +at5li"a O"idental alar "ontra os
omosse*uais# sta gre)a% 4or sua !e2% $ a mais inluente no delineamento dos
4rin"34ios morais da so"iedade de "onsumo o"idental# O mais 4arado*al em
tudo isso $ que $ )ustamente esta so"iedade "ristã% o"idental e de "onsumo que
"ria os estere5ti4os nos quais as tradiç&es ari"anas e seus rele*os na
diás4ora são atrasados e 4or isso de!em ser "ombatidas# .ão )ustamente estas
igre)as "ristãs ao lado do islã e seus 4roselitismos que a2em "om que o)e na
região Yorubá% não 4ossamos airmar que os omosse*uais nestas regi&es não
se)am transgressores morais% "omo o que a"onte"e "om o "andombl$ na
diás4ora# ntendemos melor atos "omo este se não 4erdemos de !ista que na
diás4ora% as tradiç&es subsaarianas% "omo as 'orubás% eram e ainda são
"onsideradas% em nossa edu"ação% mais "omo atores de resistên"ia da "ultura
de 4o!os es4e"3i"os do que elementos "onstituintes das tradiç&es "ulturais
!igentes em nossos 4a3ses#
m s3ntese% 9ã% ou O*umar$ $ aquele que 4romo!e o equil3brio entre as orças
e 4oderes que regem o "osmos e )ustii"am o mito em sua ordem "osmol5gi"a#
<amb$m "ria um "or4o so"ial na Hri"a% que o alia ao equil3brio entre 4oderes de
72
sa"erdotes e reis% de so"iedades emininas e mas"ulinas e tem um 4a4el
"i!ili2ador#
m Logun de !emos o 4a4el da androginia ligado a sua unção so"iol5gi"a de
equilibrar o "or4o so"ial das muleres "omer"iantes "om o dos "açadores# m
Ossaim !emos o das eiti"eiras "om o do "ulto aos an"estrais (4ois todos
utili2am dos 4re"eitos das olas% onde Ossaim está 4resente# m O*umar$
!emos muito mais um 4oder mas"ulino que )ustii"a a sua unção "osmol5gi"a
atra!$s do ,r"o ris que o rela"iona "om a trans"endên"ia e ao 4oder do Orun
(que "ria um "or4o so"ial de administradores ligados a reale2a em "ontraste
"om seu 4oder eminino da ser4ente (que morde o rabo e dá o mo!imento do
Uni!erso e que o rela"iona "om o mo!imento so"ial das "oisas do ,i'e (que 4or
sua !e2 legitima o "or4o so"ial de organi2aç&es ligadas a o3"ios e ordens de
administração 4o4ular## O ito de QangN em O'o tem um 4a4el similar e que
inluen"iou a maior 4arte dos outros reinos Yorubás e e*4li"aremos melor o
du4lo ao analisarmos este mito% que a4esar de não ser se*ualmente andr5gino
"omo O*umar$% tamb$m :6rana os cabelos como uma moa S "omo di2 seu
Oriki% em uma alusão aos elementos do 4oder eminino que o egulador da
.o"iedade ("omo tamb$m $ QangN em O'o tem que ter em si 4ara 4oder ser
eeti!amente este ito egulador da .o"iedade#
.egundo nos "ita Cerger em te*to de ernard au4oil%
 % opini!o vulgar afirma #ue *an %9idok'edo ou *an >ada 'edo( Oshumale
em 1agG ) veicula entre o céu e a 6erra os projéteis de evioso" denominam+na
comumente serpente ( *an) ou fetiche arco Iris$En.ergam nele o deus da
 prosperidadeC é o ouro$$$ 1o plano material" seu papel no mundo consiste em
garantir a regularidade das foras produtoras de movimento$ /reside a todos os
deslocamentos da matéria" mas n!o se identifica obrigatoriamente com o #ue é
m&vel$ Se di #ue *an habita o oceano" é por #ue ele representa" para o homem
o má.imo de poder em um movimento ininterrupto$% vida é um desses
movimentos misteriosos" o movimento por e.cel-ncia" #ue *an tem por miss!o
sustentar$
/aul er"ier )á nos dia que :
*an é a fora vital sem a #ual Ba'u e 0isa n!o poderiam ter realiado sua
tarefa$ *an %9ido 'edo" enrolando+se em torno da terra em forma!o"
 possibilitou #ue ela se juntasse$ %9ido 'edo tem um duplo aspecto" masculino
e feminino" e é concebido como g-meos$ 6odos os demais *an s!o

73
descendentes deles$ 1o entanto" mais #ue um par" é uno e possui dupla
naturea$ 7uando aparece sob a forma de arco+ris" :o macho é a parte
vermelha e f-mea é a parte aul=$ 8untos sustentam o mundo" enrolados em
espiral em torno da terra" #ue preservam da desintegra!o$$$Se enfra#uecessem
seria o fim do mundo$$$Em sua tarefa de preservar o mundo$ *an é o servidor
niversal$ /or si pr&prio nada fa" mas sem ele nada pode ser feito$=
m ambos os "asos% !emos a unção "osmol5gi"a do mito ortale"endo o
equil3brio entre os du4los 4oderes que se estabele"em entre os di!ersos "or4os
so"iais que ormam a "i!ili2ação Yorubá e que somente o ser andr5gino ou
igualmente du4lo 4ode estabele"er# sto mostra bastante da dinAmi"a "om que
se estabele"em estes "or4os que re"ebem sugest&es destes mitos du4los e que
temos e*em4los bem "laros em so"iedades que se equilibram no 4oder "omo o
O'omesi e Ogboni em O'o#

8- Orikis de O*umar$#
eorçando o que !imos no que se reere á "riação do undo e unção
"osmol5gi"a do mito de O*umar$ temos um "laro e*em4lo quando a2emos a
imagem de :O.umaré permanece no céu #ue ele atravessa com o brao S e G ele
fa a chuva cair na terra S# Vue são !ersos de seus Orikis#
@esta unção de mantenedor da !ida na terra !emos "laramente no !erso de
Oriki# GO pai vem á praa para #ue cresamos e tenhamos longa vida S# @a
unção 4edag5gi"a !emos "laramente a obser!ação G O fogo n!o fa a criana
calar+se=  em um dos seus !ersos#
+ontudo% !oltando ao item anterior% "reio que% este mito% no m3nimo% nos a2
reletir se a !isão de nossa so"iedade de "onsumo erdeira da +i!ili2ação
Dudai"o +ristã O"idental na qual um dos elementos% 4ara "ontrolar o outro% o
re4rime% não está se desequilibrando "ada !e2 mais neste 4ro"esso# @ossos
an"estrais que "ultua!am O*umar$ na Hri"a e que temos na diás4ora tal!e2
tenam muito a nos di2er sobre n5s mesmos a 4artir da !isão que insistimos em
"amar de !isão da alteridade#
,ro oboi baba Osumar$#
Osunemi (!an /oli

74
O 4ito de ObaluaiCe na #ivili1ação Yorubá a partir de seus
Ori@is
.egundo nos ala Cerger e a tradição Yorubá% na Hri"a en"ontramos di!ersos
mitos similares que na diás4ora se transormaram na dualidade
Omolu\Obaluai'e# .ak4ata (que oi um rei m3ti"o "one"ido em di!ersas
regi&es das terras 'orubás e do 9aom$% .o44ona% ,'inon% .a4ata% Omolu%
olu%Obaluai'e são nomes "one"idos tanto em terras Yorubás quanto no
9aom$ que designam o .enor da <erra ou a 9i!indade da Car3ola# 9e
qualquer orma os mitos de Obaluai'e (que literalmente quer di2er ei desta
<erra tra2em 4ara as "idades onde $ "ultuado um im4ortante "5digo moral#
Cerger nos narra um en"ontro onde .ak4ata le endereça uma "antiga
segundo ele "eia de ironia:
:Os olhos menores n!o temem os olhos maiores$ m dia o governo recrutou
todos os feiticeiros e os puseram em um trem$ O trem faia igi" igi" igi" partiu
em dire!o a 2otonou$ 0á chegaram na manh! do dia seguinte$ O céu estava
 povoado por avi5es e fomos encontrar vários europeus$ %creditamos #ue o
governo iria nos dier palavras importantes" mas em v!o$ Os brancos sentiram
 praer em nos olhar e nos fotografar$ %inda hoje vemos um europeu entre n&s$
7uando se vem a um pas" é preciso saber falar sua lngua$Isso ele n!o sabe
faer" mas " ele é curioso de ver$=
Cemos aqui um "urioso en"ontro entre Cerger e .ak4ata e que não dei*a de
ser inluen"iado 4or um "5digo moral# @as "antigas @ukuromean que tem uma
orma senten"iosa !emos mais "laramente isso:
+ Se voc- é rico n!o deve rir dos pobres" pois as pessoas pe#uenas tornam se
grandes$
+7uando se v-m ao mundo n!o temos mulher" autom&vel ou bicicleta$ oc-
n!o trou.e nada para esta vida e assim ninguém conhece o futuro$
+Se o trem descarrilhar as bagagens n!o ser!o salvas
+6odo mundo vai dier #ue canto contra o povo do pas$ enho" no entanto
 para dar+lhes conselhos$
+ Bulher #ue n!o fica em casa e corre atrás de um homem" em seguida mais
uma infelicidade$
+1!o se deve correr assim" pegam+se doenas$
+? preciso ficar em casa$

75
+Se voc- se encontrar com a#uele #ue vem de 0onge" é preciso aceitá+lo como
amigo$
+Se voc- se encontrar com alguém de sua casa ou de seu bairro" desconfie
dele$
+/ois o ratinho #ue está em sua casa come seus panos" sua comida e lhe fa o
mal< mas o rato da floresta nada lhe fa$ Ele n!o tem necessidade de voc-$
m 4rimeiro lugar 4er"ebemos "laramente que o ito aqui e*er"e atra!$s
destas "antigas sua unção 4edag5gi"a e delineia "om4ortamentos so"iais o
que 4ode ter um 4a4el se"undário em sua unção so"iol5gi"a# uito "laro $ o
"5digo moral 4resente no mito que tamb$m simboli2a% 4or sua !e2% a
an"estralidade# +omo estamos alando de Hri"a .ubsaariana% esta
an"estralidade le "onere a autoridade de orientar e at$ mesmo ditar um
"5digo moral#

ObaluaiCe, as Poenças e a 4orte #


.egundo !imos quando alamos da relação de Ogum e a orte% no Odu O'eku
e)i dentro do "or4o literário de á% a orte que "onsumia !idas umanas
"omo seu alimento sem e*4li"ação% 4assa a ata"ar os omens atra!$s
somente das Ruerras de Ogum% do ogo de QangN% das magias das eiti"eiras e
das doenças de Obaluai'e% de4ois da oerenda a *u que $ eita "om o intuito
de enganá-la#
Cimos tamb$m na lenda da diás4ora que "ontamos ao alar de O*umar$% que a
orte no "onte*to dos Yorubás 4ode não ter um "aráter somente terr3!el% mas
tamb$m redime os omens# sto a2 "om que a4esar de não ser
ne"essariamente dese)ada% se)a ao menos a"eita se não or "ontra os
4re"eitos naturais#
9a mesma orma que tra2 as doenças% Obaluai'e tamb$m as "ura% e tem uma
relação amb3gua "om as doenças e a morte% 4ois da mesma orma que o 4oder
tem "aráter du4lo nas so"iedades subsaarianas em geral% o binNmio de !ida e
morte% de saJde e doença tem que ter a mesma origem e estarem
entrelaçados% 4ois ambos regulam in"lusi!e as "ondiç&es de !ida das aldeias#
sso a2 "om que tanto a natalidade quanto a mortalidade este)am
rela"ionadas a mitos "om4lementares% quando não ao mesmo mito#

76
9entro dos Orikis de Obaluai'e !emos "laramente as imagens que "onstroem
arqueti4i"amente esta relação da orte e das doenças "om o 4oder nas
relaç&es so"iais e instituiç&es 'orubás#
Vuando ou!imos: :Se eu for e.pulso do pas ele será arruinado=
:*oena 6errvel= 
:Sobre a#ueles #ue s!o responsáveis pelo pas" terrvel doena= 
:Invocamos todos os grandes= 
:1!o falamos com alguém #ue mata e come as pessoas= 
:/aci-ncia" ele parte para a terra de outro=$

, relação de res4eito ao senor da !ar3ola% da orte% das doenças e da <erra


le "onere o 4oder sobre as de"is&es dos "onseleiros% dos soberanos das
"idades onde o mito está 4resente e desem4enam desta orma um 4a4el
indireto em sua estrutura so"iol5gi"a# sto sem alar no "or4o so"ial de
sa"erdotes que qualquer mito "ria dentro do "onte*to da so"iedade Yorubá#

#%digo 4oral nos Ori@is de ObaluaiCe


,l$m da e!idente unção so"iol5gi"a que o mito de Obaluai'e desem4ena na
so"iedade 'orubá atra!$s da autoridade de seus sa"erdotes sobre as quest&es
rela"ionadas 6 medi"ina tradi"ional e ao "ulto aos ante4assados% que 4or sua
!e2 ratii"am e ortale"em a autoridade deste "or4o so"ial% o mito em sua
unção 4edag5gi"a delineia um sistema moral e nos mostra 4arti"ularidades de
seu sistema de ra"ionalidade# ste sistema moral 4resente nos Orikis de
Obaluai'e tamb$m nos desena uma estrutura so"ial e nos dá uma id$ia de
um sistema de "omuni"ação onde atua o "or4o sa"erdotal deste ito atra!$s
de seu sistema de "renças#
Cemos "laramente "omo a autoridade e a ierarquia são re4resentadas
atra!$s das imagens do Oriki e que nos dão id$ia do 4a4el desta autoridade na
estrutura so"ial:
G %ntes #ue o pássaro entre na gaiola deve pedir ao seu superior S
Outro momento no qual a ordem estabele"ida se tradu2 no nosso imaginário
atra!$s de !erso de Oriki $ quando ou!imos:
GO guerreiro n!o tem medo de disparar sua espingarda= 

77
sso se reorça ainda mais e se torna ainda mais "laro e direto quando ou!imos
os !ersos de Oriki:
:olto pra casa= 
Genho prestar contas a voc-= 
G*evemos contar o #ue vimos= 
:3ui saudá+lo= 
 @estes !ersos% al$m da autoridade do Codun ou Ori*á "omo an"estral e que
determina as relaç&es que os 'orubás têm "om esta an"estralidade% !emos
tamb$m a im4ortAn"ia da 4ala!ra !erdadeira dentro desta estrutura so"iol5gi"a%
que 4or estarmos em uma so"iedade oral% tem antes de tudo um !alor
do"umental# m !ersos des4retensiosos "omo estes 4odemos entrar em
"ontato "om 4re"eitos undamentais que rela"ionam o sistema de "omuni"ação
"om o "5digo moral e sistema de ra"ionalidade entre os 'orubás e a maior
4arte das so"iedades subsaarianas#
Obser!emos os !ersosC :O corpo da#uele #ue injuriou o vodun apodrecerá
en#uanto ele ainda estiver vivo$= 
:%#ueles #ue insultam Omolu no caminho do campo= 
:eremos seu cadáver voltar inchado S
Cemos "laramente aqui% mais uma !e2% a relação de res4eito ao Ori*á "omo
an"estral que legitima o seu 4a4el "i!ili2at5rio atra!$s do seu sistema moral#
9e qualquer orma% nem tudo o que !emos e ou!imos em relação 6 Omolu di2
res4eito somente ao "5digo moral que legitima a estrutura so"ial das "idades
onde irradiam seu ito 4ara a diás4ora#
<emos e*em4lo "laro nos !ersos de Oriki abai*o:
Gma en.ada de chumbo n!o pode cavoucar o campo= 
:3aca de cobre n!o pode cortar uma palmeira= 
:Sem lngua a boca n!o serve= 
:%#uele #ue desonra n!o concebe ser desonrado= 
:Bosca debai.o do 0eopardo n!o sente medo do 0eopardo= 
:O fogo #ueima o campo sem #ueimar as folhas secas= 
:Ele cai na estrada e a fecha como uma planta espinhosa= 
:% planta espinhosa fa mancar a#uele #ue entra na cidade= 
:O vento sopra" #uando venta muito prevenir seu marido= 
:% Serpente é bela" mas arrasta seu corpo no ch!o= 
78
@os !ersos anteriores não 4odemos negar que estamos alando de um "5digo
moral% "ontudo nos e*em4los destes !ersos de Oriki% ao "ontrário dos
anteriores% a relação de res4eito ao mito an"estral não se im4&e atra!$s do
medo% ainda que este)amos alando do .enor da orte e doenças#
Cemos indubita!elmente sim4les obser!aç&es a 4artir do quotidiano e $
inegá!el que 4odemos 4er"eber nesses !ersos elementos do sistema de
ra"ionalidade deste 4o!o% assim "omo na maior 4arte dos !ersos o mito
assume sua unção 4edag5gi"a# sto mostra e "om4ro!a que a4esar dos Orikis
serem um elemento litJrgi"o% não 4aram somente a3% e re!elam outras unç&es#
Coltando aos Orikis em si% em sua unção 4edag5gi"a% !emos nos !ersos
abai*o algo que sem dJ!ida legitima o res4eito ao "or4o so"ial que o mito "ria:
:1!o se deve caoar dos adeptos do Ori.á= 
:Se alguém caoar deles" esta pessoa tornar+se+á esposa do Ori.á= 
sto delimita antes de tudo na estrutura so"ial 'orubá% onde de!em se lo"ali2ar
os ade4tos e sa"erdotes do Ori*á em relação ao restante da so"iedade das
"idades da qual irradia este mito#
Obaluai'e tamb$m se rela"iona "om o dineiro% 4ois o senor da orte
tamb$m "ria os erdeiros e legitima o 4oder e"onNmi"o dos que erdam os
bens dos que dei*am de en"abeçar as linagens e são redimidos 4elo senor
da <erra# sto nos mostra 4arte deste sistema e"onNmi"o "riado 4elas
so"iedades de linagens em seus 4ro"essos su"ess5rios#
ste ato $ ilustrado tamb$m nos !ersos de Oriki abai*o#
:Odire recebe dinheiro de um homem importante= 
:Beu pai #ue dana em cima do dinheiro=
9e qualquer orma a orte e as doenças não são !istas "om alegria% a4esar de
serem a"eitas 4elos 'orubás "omo 4arte de seu 4ro"esso de "onstrução
"i!ili2at5ria#
Cemos isto "laramente nos !ersos de Oriki#
:Ele pesa para todo mundo= 
:Ensinem me a me divertir para #ue tudo fi#ue bem S em uma alusão a 4r54ria
lenda que enganou a orte no "or4us dos Odus de á em O'eku e)i%
"onorme !imos no <e*to sobre Ogum#
+ontudo o mito tamb$m tra2 em seus Orikis um "laro 4a4el 4edag5gi"o
quando "onstru3mos as imagens dos !ersos:
79
:1inguém deve sair soinho ao meio dia=
ste !erso nos ala indiretamente dos 4erigos a se sair so2ino ao meio dia e
aumentar o ris"o de "ontrair doenças 4or ser 4i"ado 4or mosquitos "omo o da
malária ou outros# esmo que não a!endo diagn5sti"os m$di"os "onorme
"one"emos em nossa so"iedade% "omo as doenças são atribu3das a
Obaluai'e% intuiti!amente era atribu3da a ele a e4idemia e a ine"ção assim
"omo as ormas de e!itar os "ontágios de doenças tamb$m a ele são
atribu3das tanto na Hri"a "omo na diás4ora#
Pa2endo um 4arêntese neste "aso% $ im4ortant3ssimo que nos atenamos 6
ei"á"ia dos m$todos 4resentes nas bases m3ti"as da Hri"a subsaariana 4ara
que 4ossamos realmente "ombater e4idemias naquele "ontinente% sobretudo
no interior e nas regi&es menos o"identali2adas# ,s "am4anas de "ombate a
e4idemias na Hri"a ("omo a ,9. geralmente são inei"a2es 4ara as regi&es
menos o"identali2adas% 4ois as estas "am4anas geralmente são dire"ionadas
4ara uma realidade urbana 4ara os que se mant$m mais 4r5*imos da
inluên"ia dos antigos "oloni2adores e% "onsequentemente% das regras da
so"iedade de "onsumo o"idental# ,nalisando o e*em4lo de Obaluai'e dentro
da "ultura Yorubá% 4odemos "on"luir que s5 teremos o "ombate ei"a2 a
e4idemias na Hri"a se le!armos em "onta m$todos% medi"inas e mitos
tradi"ionais em armonia "om os m$todos do O"idente# .e o O"idente não
souber introdu2ir estes m$todos res4eitando as "renças lo"ais% dii"ilmente terá
su"esso#
/ara "on"luir este item% ao analisarmos os !ersos de Oriki abai*o 4er"ebemos
o quão oni4resente $ a relação du4la de Cida e orte "omo tamb$m o são as
relaç&es de 4oder dentre os Yorubás#
:Ele fica em casa" manda as pessoas sair e as vigia= 
:%ten!o na casa" aten!o no caminho" venham faer a cerimGnia=$
sto ratii"a% mais uma !e2 sua 4osição "omo an"estral e res4onsá!el 4elo "ulto
destes% uma !e2 que a "asa no "onte*to da "i!ili2ação 'orubá $ a sede das
linagens# O que nos e*4&e elementos im4ortantes em sua estrutura so"ial#

ObaluaiCe e a relação com o Onile"

80
+omo !eremos melor no mito de @anã% antes da "egada de Odudu>a%
"onorme nos ala L$4ine% não se "ultua!a Olorun no que o)e são as terras
Yorubás#
@a !erdade se "ultua!a o Onile (que em Yorubá literalmente quer di2er .enor
da <erra e somente di!ersas !ers&es de @ana e .a4ata (Obaluai'e eram
"one"idas e rela"ionadas desde este 4er3odo ao "ulto 6 terra#
<emos ainda nos dias de o)e resqu3"ios do "ulto ao Onile nas so"iedades
Ogboni das di!ersas "idades Yorubás% que assimilaram este "ulto#
@os dias de o)e o 4a4el de Onile $ atribu3do ainda a @ana% Obaluai'e "omo
nos idos tem4os antes da "egada de Odudu>a% mas tamb$m a Ogum ( 4or
ser o "i!ili2ador e o que liga os omens 6 sobre!i!ên"ia 6 terra e a O*ossi
tamb$m 4or desem4enar as mesmas unç&es#
O Onile em resumo% "omo )á !imos no "aso dos Orikis de Logun de% $ aquele
elemento que designa 4ara o Yorubá o seu sentido de 4átria (o que
dis"utiremos mais detaladamente em te*tos uturos## O Onile 4ara o Yorubá $
onde está assentado seu Ori*á que geralmente $ onde está baseada a "asa de
sua linagem de origem# @ormalmente $ o lugar onde se nas"e#
Obaluai'e% no sentido de .enor da <erra $ o Onile 4or e*"elên"ia#
/ara ilustrar o "on"eito% narro algo que obser!ei quando ui ao al$ Pol"l5ri"o
da aia em uma das !e2es que esti!e em .al!ador#
@a a4resentação do al$ Pol"l5ri"o eram re"riadas danças de Ori*ás e no
momento que Obaluai'e entra% "omeça a bater no "ão e gritar e se "ontor"er
todo 4ara e*4ressar sua dor# /odemos inter4retar% a 4artir desta
re4resentação% que re"ria% muitas !e2es% as maniestaç&es de Obaluai'e em
terreiros da diás4ora e na Hri"a% que Obaluai'e sendo um Ori*á Onile e o
4r54rio senor da <erra% sente em si toda dor da <erra e dos omens# /or isso
os "ura ou os redime "om sua Lu2#
O que 4odemos tamb$m inter4retar da dor de Obaluai'e% o senor da <erra% $
que as rique2as desta <erra% segundo a l5gi"a deste Ori*á Onile% de!em ser!ir
4ara ameni2ar as dores dos Momens que tamb$m $ a dor deste meu 4ai que
sore 4or todos n5s e 4or quem tamb$m resol!i renun"iar a muitas "oisas em
mina !ida 4essoal 4ara trabalar tamb$m em oerenda a ele "ontra o
4re"on"eito ra"ial e se*ismo at$ a ora que ele !ena me redimir de todas as
dores que n5s omens sentimos nesta terra% 4ois estas que tamb$m são dores
81
dos omens% meu 4ai Ori*á Onile e .enor da <erra sem4re as sentirá
 )untamente "onos"o e será sua eterna dor% 6 qual sua <erra "om suas rique2as
de!e ser!ir 4ara "ombater% )untamente "om as @aç&es de seus il os e de!otos
na Hri"a e 4ela diás4ora que tamb$m% "omo ele% sentem a dor do undo#
,toto aba a)unta mi Obaluai'e#
Osunemi

O 4ito de Nanã na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is"

1- ntrodução#

9e!emos ini"iar es"lare"endo que o mito que temos desta di!indade na


diás4ora $ bem dierente do que temos originalmente na Hri"a e ainda nos
dias de o)e#
/ara entendermos melor o que signii"a o ito de @anã em terras ari"anas
de!emos re"orrer ao que !imos bre!emente no ultimo te*to sobre Obaluai'e no
que se reere ao "ulto de Onile#
@ana segundo nos e*4&e L$4ine% era "ultuada% (ou "ultuado em uma região
que ia do atual @3ger at$ o urkina Paso sob di!ersas designaç&es e sob a
$gide de di!ersas lendas e simbolismos dierentes#
m todos os "asos @ana era ligado(a 6 terra# n"ontramos este mito muito
4resente tanto no "onte*to destas "i!ili2aç&es no 4er3odo de "aça e "oleta
quanto no agr3"ola# sto o reairma ainda mais "omo Ori*á Onile e
originalmente ligado a este "ulto e anterior a "egada de Odudu>a a le e#
,inda segundo o que nos "onta L$4ine% e*istem regi&es em terras 'orubás nas
quais a maior 4arte das 9i!indades que "one"emos no 4anteão dos ori*ás na
diás4ora e na maioria das "idades 'orubás $ des"one"ida e s5 se "one"em
e "ultuam Obaluai'e e @ana# sto nos mostra "laramente que se o "ulto de
Olorun não está em todos os lugares da "i!ili2ação Yorubá% o "ulto ao Onile
está% 4or ser mais antigo#
.egundo !imos no te*to sobre O*umar$% quando alandier ala sobre os itos
da "riação entre os Pon% "ita @ana "omo sendo um ser andr5gino%(e 4eço

82
neste momento que re"orramos ao que !imos no mesmo te*to 4ara entender
melor esta questão nas relaç&es do 4oder du4lo na Hri"a#
@a questão do 4oder du4lo @ana estará ligada sem4re ao "or4o so"ial que
"ultua o Onile e% 4ortanto aos administradores e "onselos 4o4ulares mais
distantes do "ulto de Olorun que normalmente estará ligado 6 reale2a#
9esta orma% o "ulto de @ana $ na Hri"a algo que se rela"iona 6 resistên"ia
dos "ultos an"estrais dos antigos aut5"tones anteriores a Odudu>a# Cemos
elementos "laros disso em uma lenda da diás4ora da "oletAnea de /randi que
trans"re!o abai*o:
:1ana probe instrumentos de metal em seu culto$
 % rivalidade de 1ana e Ogum data de tempos
Ogum o ferreiro guerreiro"
Era proprietário de todos os metais$
Eram de Ogum os instrumentos de ferro e ao$
/or isso era t!o considerado entre os ori.ás"
/ois dele todas as outras divindades dependiam$
Sem a licena de Ogum n!o havia sacrifcio<
Sem sacrifcio n!o havia ori.á$
Ogum é o Oluobé" o Senhor da 3aca$
6odos os ori.ás o reverenciavam$
Besmo antes de comer pediam licena a ele
/elo uso da faca" o obé #ue se abatiam os animais
E se preparava a comida sacrificial$
2ontrariada com essa preced-ncia dada a Ogum"
1ana disse #ue n!o precisava de Ogum para nada"
/ois se julgava mais importante do #ue ele$
:7uero ver como vais comer"
Sem a faca para matar os animais=" disse Ogum
Ela usou o desafio e nunca mais usou a faca$
3oi sua decis!o" #ue no futuro"
1enhum de seus seguidores se utiliaria de objetos de metal 
/ara #ual#uer cerimGnia em seu louvor
7ue os sacrifcios feitos a ela
3ossem feitos sem a faca"
Sem precisar da licena de Ogum$= 

83
.e "onsiderarmos que o "ulto a Ogum está ligado ao an"estral Oduduá% que
surge somente a45s sua "egada em terras 'orubás% e que "om ele !imos o
ad!ento da or)a e "onseqEentemente da !ida urbana que segue as so"iedades
agr3"olas e de "aça e "oleta quando 4redomina!a o "ulto de @ana e ao Onile%
entendemos melor o que re4resenta esta resistên"ia de @ana em usar a a"a#
m uma so"iedade na qual a an"estralidade determina relaç&es de 4oder%
!emos neste 4rimeiro e*em4lo mais uma !e2 uma relação du4la entre o 4oder
da an"estralidade que resiste 4ara não 4erder seu lugar e o 4oder da
te"nologia e das no!as
no!as geraç&es que ino!a# <al!e2 ao obser!ar isso
isso teremos
m$todos mais ei"a2es
ei"a2es 4ara estabele"er relaç&es "om esta Hri"a que
res4eitem suas origens 4rimordiais# O mesmo ser!e 4ara n5s ilos de suas
diás4oras que relutamos em en*ergar nesta Hri"a nossas origens an"estrais
somente 4orque grande 4arte de n5s não têm mais a 4ele negra% e neste
4ro"esso negamos muito de que n5s mesmo ainda somos#

Nana, (enhora dos 4ortos" *elação com a doença #


@a maior 4arte das terras na Hri"a onde $ "one"ida% @ana 4or ser
rela"ionada 6 <erra assim "omo Obaluai'e% tamb$m se rela"iona "om os morte
e "om a 9oença#
<amb$m @ana $ re4resentada "omo a orte 4or doenças no Odu O'eku e)i
que !imos no te*to de Ogum
Cemos% em seus Orikis% re4resentaç&es "laras disso% quando ou!imos:
:*ono de uma bengala" n!o dorme e tem sede de sangue= 
:Ele s& poderá comer a massa no dia da festa se tiver matado alguém= 
 sua relação "om a doença e 4roteção aos que 4ade"em de males quando
ou!imos:
:0ouvo a vida e n!o a doena= 
sto tamb$m nos ala da unção so"iol5gi"a do mito atra!$s do "or4o sa"erdotal
ligado 6 medi"ina tradi"ional e que se rela"iona ao mito de @ana#

Nana e a ancestralidade" Origens do mito


/or estar ligada ao "ulto ao Onile e "onorme obser!amos a"ima% @ana está
intrinse"amente ligada 6 an"estralidade% sobretudo a 4artir deste "on"eito
segundo o "ulto ao Onile# sto se e!iden"ia quando ou!imos os !ersos:
84
:/resto homenagem aos ancestrais= 
:Binha m!e estava primeiro em >aribá= 
:enho saudar o Onile (dono da terra) para #ue ele me proteja$=
<emos aqui tamb$m dados ist5ri"os da origem do mito entre algumas "idades
'orubás% 4ro!eniente originalmente da <erra dos aribás% o que "ontribui "om o
que nos di2 L$4ine sobre o ito#
Outro ator im4ortante que não 4odemos dei*ar de ressaltar trata-se da
reerên"ia direta tanto 6 an"estralidade quanto ao Onile que ratii"am a
im4ortAn"ia de seu 4a4el na estrutura desta so"iedade de linagens#
li nagens#

#%digo 4oral de Nana e provrbios dos Ori@is"


@esta ultima 4arte nos ateremos mais aos as4e"tos do sistema moral e das
unç&es 4edag5gi"as e so"iol5gi"as do mito de @ana#
.egundo no e*4&e olanl$ ,>e em sua obra% os Orikis 4odem nos alar de
atos ist5ri"os e no "aso de dois !ersos de Orikis de @ana !emos% al$m disso%
a sua inluên"ia so"ial assim "omo o dom3nio Yorubá dentre os Pon em dois
!ersos:
:Ori.á #ue impediu o 3on de circuncidar+se S (que 4ode estar rela"ionado "om
sua origem andr5gina entre os Pon
 tamb$m :Ori.á #ue obriga o 3on a falar 1agG S (/ro!a!
(/ro!a!elment
elmente
e em uma
alusão do dom3nio de O'o ao 9aom$ at$ a $4o"a do ei Rlele que ao tra!ar
uma guerra "om O'o in!erte a situação no s$"ulo QQ
@os "asos a"ima !emos "laramente neste "5digo moral a unção so"iol5gi"a
do mito e um 4ou"o da ist5ria da relação entre os Yorubás e os Pon# Cemos
em outros !ersos sua unção 4edag5gi"a% "omo 4or e*em4lo:
:O covarde n!o tem ttulo=
Cerso que nos mostra "laramente que o "o!arde nesta so"iedade $ um
transgressor moral#
:O Onile (dono da casa) mete medo no malfeitor= 
Outro !erso que tamb$m nos mostra "laramente que o maleitor $ tratado
igualmente "omo um transgressor moral nesta so"iedade#
:Ele mata a#uele #ue é mau S
Cerso que nos reorça a transgressão moral do maleitor#
:1!o se pode saber o #ue e.iste dentro de um saco=
85
 ostrando em sua unção 4edag5gi"a que muitas !e2es a "uriosidade 4ode
tra2er 4roblemas#
:1&s o chamamos sem dormir= 
:1!o morrer em casa" n!o morrer viajando= 
Cersos que rela"ionados ao "ulto da .enora dos ortos alam dos
in"on!enientes que a morte em lugares ina4ro4riados 4odem tra2er#
:1ada tirar de um centavo n!o o diminui=
m uma alusão "lara ao "on"eito de e"onomia#

m outros !ersos !emos atores im4ortantes que ins4iram "om4ortamentos e


ao mesmo tem4o des"re!em o mito de @ana% mostrando bastante de sua
unção 4edag5gi"a e delineando um "5digo oral#
:Ele encontrou dinheiro" chefe devagarinho= 
:Eu o primeiro a usar uma espada= 
:3ora para pegar inimigos= 
:Ele n!o te conhece" ele n!o te felicita= 
:ma coisa semeada dentro de casa cresce até o lado de fora= 
:Ele fa tudo= 
:1!o se pode olhar no olho da morte= 
:Sabemos o #ue ele fa" n!o sabemos o por#u-= 
:Ele divide a guerra em dois= (em uma alus!o aos lados de #ue combatem os
inimigos" mas #ue independente do lado tem mortes iguais)
:Ela fa o #ue bem entende= 
:Buito elha=
:Invocamos depressa o Ori.á= 
:1&s o vemos divertir+se e n!o conhecemos os seus hábitos= 
:Ele tem fora sem recorrer a remédios= 
:1&s o olhamos" mas ele n!o desvenda o segredo= 
 :Ele dá alegria para todo mundo= 
:Se alguém for muito bom ele o mata= (no sentido da morte como redentora)
:Ele é solitário" ele é conhecidoS
/ara "on"luir% temos em um !erso de Oriki uma alusão a lenda que temos na
diás4ora e que nos di2:
:Ele mata o carneiro sem utiliar a faca= 
86
Vue nos a2 4ensar em @ana e "onseqEentemente em "omo na nossa
so"iedade de "onsumo e o"idental nos re"usamos ainda em deender
tradiç&es que são tão nossas que erdamos desta diás4ora ari"ana#
.alubá 'a @ana
Osunemi (!an /oli

O 4ito de Yeman0á na #ivili1ação Yorubá a partir de seus


Ori@is"
9e!emos% ao ini"iar alar em Yeman)á% que a4esar de tal!e2 ser ela a
9i!indade Yorubá mais 4o4ular em sua diás4ora no rasil e no imaginário dos
brasileiros de todas as religi&es% grande 4arte dos seus mitos% assim "omo de
outros Ori*ás% oi "onstru3do em terras da diás4ora e não reletem sem4re o
mesmo imaginário m3ti"o entre os ari"anos#
@ão são em todas "idades 'orubás que Yeman)á se rela"iona diretamente
"om o mar% a4esar de estar 4resente na maioria delas#+ontudo está ligada 6s
águas% de alguma orma% na maior 4arte# /ois as águas e suas deusas (e
deuses a2em 4arte da "osmologia de quase todas "idades 'orubás% o que
não quer di2er que todas as águas se)am o ar# <al!e2 e*4liquemos isto 4elo
ato de o mar muitas !e2es não a2er 4arte do "otidiano da maioria das "idades
Yorubás undadas 4elos des"endentes de Odudu>á e as di!indades au*iliares
terem de se ada4tar 6 ierarquia do ito undador da "idade# .egundo a
"osmologia en"abeçada 4or este ito undador% au*iliam nesta "osmologia e
"onsequentemente na ordem so"ial e das instituiç&es destas "idades
"onorme tamb$m me airmam meus "orres4ondentes ari"anos ligados a
"or4os sa"erdotais de tem4los em "idades .agradas da egião Yorubá#
, Yeman)á que "one"emos no rasil% segundo !emos na obra de Cerger%
reJne elementos das di!indades Yorubás Yemo)a% Ye'emo>o e Ye>a ( e
outras di!indades menores ligadas 6s águas das !árias "idades 'orubás que
se en"ontra!am atra!$s de seus ilos da diás4ora% desde a $4o"a da
sen2alas#
Yemo)á% era uma das di!indades 4rin"i4ais da "idade de ,beokutá% onde
"onta-nos Cerger que se situa!a seu 4rin"i4al tem4lo# .egundo o mesmo autor
Yemo)á dentro da l5gi"a aglutinante da l3ngua Yorubá $ a "ontração de

87
Ye'e(mãe Omo(ilo )á(/ei*e ou se)a: ãe que os ilos são 4ei*es% ou
ãe dos /ei*es#
O nome Yeman)á no rasil%e Yema'a em +uba e nas outras ,ntilas % teriam
!indo diretamente do nome Yemo)a#
+ontudo% "onorme )á dissera% nem sem4re o ito de Yeman)á se rela"iona
diretamente "om o ar e% 4ara ilustrar isto% trans"re!o um mito que se reere 6
"idade de O'o ( que não era banada e nem 4r5*ima ao mar que Cerger nos
"ita a 4artir dos relato do /adre audin e outros autores euro4eus:
:Oduduá deu a seu esposo Obatalá um menino e uma menina C %ganju" #ue
significa= lugar inabitado" mato ou floresta= e Femojá( m!e dos pei.es)$
Femojá é a divindade dos rios e preside julgamentos pela água$ ?
representada por uma estátua de mulher" amarela" usa contas auis e um traje
branco$ O culto a %ganju parece ter cado no es#uecimento ou confundiu+se
com o culto prestado á sua m!e" mas di+se #ue ele tem lugar diante do
 palácio do rei de O9o"onde o deus era adorado antes" e #ue ainda se chama
Oju %ganju$
Femoja desposou seu irm!o %ganju" do #ual teve um filho" Orungan" #ue
significaria =no alto do céu=$ Seria o ar (entre a terra e o céu)$
Orungan enamorou+se de sua m!e$ Ela n!o #uis dar+lhe ouvidos" mas ele"
aproveitando+se da aus-ncia do pai"a possuiu"0ogo ap&s o ato Femojá fugiu"
torcendo as m!os" lamentando+se perseguida por seu filho$ Ela repeliu com
repugn4ncia todo o consolo #ue ele #ueria dar+lhe$ 1o momento em #ue
Orungan ia apoderar+se dela$ Femojá" caiu de costas no ch!o$ Seu corpo
inchou imediatamente e de seus seios saram cursos dPágua #ue formaram um
lago$ Seu ventre e.plodiu e dele saiu uma série de deusesCQ$ *ada ( deus dos
vegetais)< R$ Sango (deus do trov!o)< $ Ogum (deus do ferro e da guerra)< T$
Olokum ( deus do mar)< U$ Olosa (deusa dos lagos)< V$ O9a (deusa do 1ger)<
W$Osun( deusa do rio Osun)< Oba ( *eusa do @io Oba) < X Orisa Oko ( deus da
agricultura)< QY Osoosi ( deus dos caadores)< QQ Oke ( deus das montanhas)<
 %je salunga ( deus das ri#ueas)< Q$ Soppona ( deus da arola)< QT$ Orun ( o
Sol)< QU Osu (a lua)$
1o lugar onde o corpo de Femoja inchou foi erigida uma cidade" Ife ( #ue
significa distens!o" inchao)" a #ual se tornou a cidade Santa dos Forubá$=
Má alguns 4ontos a se "omentar e e*4li"ar na Lenda da +oletAnea de
Cerger#

88
1- ,gan)u $ o nome de um dos 4rimeiros ,lains (reis de O'o% e% 4ortanto%
deii"ado assim "omo QangN e Orani'an# sto )ustii"a seu "ulto diante do
4alá"io do rei de O'o na lenda a"ima#
8 – Olokum a4are"e aqui "omo deus do mar% o que era "omum na maior 4arte
dos reinos Yorubás% sobretudo em O'o# @o rasil% o "ulto de Olokum
4rati"amente não e*iste% mas em +uba resiste e $ "one"ido na .anteria
"omo 9eus do ar#
; – e nesta !ersão $ signii"ada "omo sendo um in"aço# +ontudo em Yorubá
e $ um substanti!o que se orma a 4artir do !erbo e(querer e a qualidade do
querer(e que orma (e e tamb$m designa% em 'orubá% a 4ala!ra ,mor#
.egundo o que nos "onta .alami em suas aulas e tamb$m% 4or esta a"e4ção%
quer di2er algo muito grande e que não tem tamano ( da3 sua 4ro!á!el
"orrelação "om um in"aço# $ $ a "idade Original dos Yorubás% que legitima
a reale2a de todos os outros reinos 'orubás atra!$s do 4oder de seu Ooni ( rei
que $ des"endente direto de Odudu>a ( an"estral m3ti"o de quem todos os
outros reis 'orubás tamb$m des"endem#
B interessante ressaltarmos que mesmo nesta lenda% Yemo)a% não sendo a
raina do ar% $ a mãe dos Ori*ás e este mito nos e*4li"a a "riação do
Uni!erso e a unção +osmol5gi"a deste mito "omo um elemento eminino
res4onsá!el 4ela Rênese do undo% 4ois os deuses re4resenta!am em si os
elementos que tinam "omo dom3nio# @a diás4ora% tamb$m !emos em
"oletAneas de outros autores% Yeman)á 4romo!endo esta Rênese e sendo o
elemento eminino res4onsá!el 4or ela# <emos e*em4los semelantes na
"oletAnea de eginaldo /randi Gitologia dos Ori*ásS que 4ode nos ilustrar
"omo este 4a4el de .enora da Rênese% rela"ionado 6 Yeman)á "egou at$
n5s na diás4ora# Palaremos "om mais rique2a de detales do 4a4el de
Yeman)á "omo lemento Peminino da Rênese quando ormos tratar dos mitos
das ,'abás# Vuando entenderemos melor 4or que le e% que $ a "idade
original dos Yorubás% $ asso"iada 6 deusa Yemo)á e não ao an"estral m3ti"o
Odudu>a#
9e qualquer orma% o que $ um "onsenso $ que tanto Yemo)a% quanto a nossa
Yeman)á% estão ligadas 6s águas% ao 4oder eminino% ao 4oder "riador e 6
Rênese% 6 maternidade% ertilidade e 6 an"estralidade eminina#

89
stas águas que e*4li"am a unção "osmol5gi"a do mito a 4artir de seu 4oder
"riador e de ãe da Rênese% tem seus rele*os no 4oder eminino da
maternidade que )untamente "om o 4a4el eminino da an"estralidade nos
e*4li"am muito da estrutura so"ial que se "onstr5i istori"amente onde este
mito está 4resente# Uma !e2 a4resentados estes elementos 4odemos
"omentá-los em seus Orikis#

4aternidade de Yeman0á e -ncestralidade 5eminina em seus Ori@is #


9entro de uma so"iedade que se e*4ressa atra!$s de linagens% a
maternidade e a "ondição de mãe e*4ressam% antes de tudo% segundo esta
!isão% a "ondição de dar "ontinuidade a um determinado "i"lo que mantena
esta ordem e estrutura so"iais# +omo nos e*4&e .errano em suas aulas e
alandier em seus te*tos% a matriar"a a 4artir de uma determinada idade 4assa
a desem4enar um 4a4el im4ortante dentro das estruturas de 4oder
4redominantemente mas"ulinas% nas so"iedades subsaarianas# sta idade que
"onere 6 muler uma determinada antiguidade que a 4ermite 4arti"i4ar das
de"is&es dos "onselos mas"ulinos% $ e*atamente o que !emos re4resentado
no ito de Yeman)á quando esta maniesta sua maternidade adulta#
,o analisarmos os !ersos de Oriki: :@ainha #ue vive nas profundeas das
águas= e G *iante do @ei ela espera altivamente sentada S% !emos no 4rimeiro a
legitimação da unção "osmol5gi"a de seu mito e no segundo a imagem deste
4oder matriar"al% ao a2ermos a imagem da muler alti!a que es4era na rente
do rei# Dá no !erso: :3lauta de mulher #ue ao despertar toca na corte do rei=
!emos mais uma !e2 a imagem da sua igura eminina ligada ao 4oder#
B ine!itá!el alarmos em maternidade e querermos nos desdobrar em suas
im4li"aç&es na so"iedade 'orubá% sem antes "itar que ela não e*iste sem a
ertilidade das mães e a 4r54ria maternidade% ao que Yemo)á tamb$m a4are"e
ligada indubita!elmente nos !ersos de Oriki: : B!e #ue tem os seios Amidos S (
4ois está amamentando e G Ela tem muitos pelos na agina S ( em uma alusão
6 muler $rtil#
Dá quando ou!imos os !ersos: :Bar" dona do mundo #ue cura as pessoas
como um médico= e :elha dona do Bar=   4odemos a2er melor a relação
e*istente entre esta igura da atriar"a% do mito que assume sua unção
"osmol5gi"a atra!$s do ar e que tem seu 4a4el na Rênese e que se
90
desdobra em sua unção so"iol5gi"a quando atra!$s do seu "or4o sa"erdotal
:cura as pessoas como um médico=$
nega!elmente% todos estes !ersos a4arentemente des4retensiosos tamb$m
a2em a imagem da mãe que dá sequên"ia 6 so"iedade de linagens e
mant$m assim !i!a a estrutura so"ial que 4or ela se mant$m#
+ontudo% o 4a4el so"iol5gi"o do mito de Yeman)á !ai muito mais al$m e
4odemos at$ mesmo entender um 4ou"o das relaç&es de 4arentes"o e
alteridade ( "om estranos  4resentes nos te*tos de +laude eillassou*
(,ntro4ologia da s"ra!idão % autor que nos introdu2 que a 4artir destas
relaç&es $ "riada a es"ra!idão linageira na Hri"a .ubsaariana#
@ormalmente% segundo eillassou* era a 4artir da alta "onquista eeti!a de
es4aço nesta estrutura de linagens 4elos estranos que "omeça a es"ra!idão
linageira na Hri"a# +ontudo o mesmo autor% ao mesmo tem4o di2 que nem
sem4re estes estranos esta!am adados a este destino% 4ois a!ia a
4ossibilidade de integração destes 6 esta estrutura so"ial#
/odemos ter uma id$ia de "omo esta integração se da!a na região onde o ito
de Yemo)á irradia!a sua inluên"ia em terras Yorubás quando entendemos
"omo desem4ena!a esta sua unção so"iol5gi"a quando ou!imos os !ersos
de Oriki:
:2riana #ue em grupo #uer ver Femoja= 
:Binha m!e %'o9o é maior do #ue a#uelas #ue t-m roupas=   ( em 4ro!á!el
reerên"ia 6s euro4$ias
:Ela cria as crianas vindas de fora=
GSeu filho será alimentado= 
Cemos literalmente nos !ersos a"ima a "riação da instituição dos agregados
amiliares na Hri"a Yorubá% que "ria a 4artir do mito de Yeman)á% um es4aço
4ara que estes% at$ então estranos% 4enetrem nas estruturas linageiras das
am3lias e en"ontrem seu es4aço#
Má alguns anos me "orres4ondia "om uma amiga que era 4roessora no enim
e des"endente de Yorubás% e ela em "arta me "onta a ist5ria de sua 4r54ria
am3lia% que des"endia de 4essoas da +orte de O'o# +om a Ruerra do Rlele no
s$"ulo QQ seu tatara!N oi es"ra!i2ado 4elo rei do 9aom$ (Rlele e que os Pon
ao in!erterem a ordem de submissão que tinam "om o reino de O'o% ao
es"ra!i2ar a "orte e grande 4arte dos adultos de muitas "idades% abandona!am
91
as "rianças 6 4r54ria sorte% que eram a"olidas 4or am3lias 'orubás e se
torna!am agregadas destas am3lias# .egundo me di2 mina "orres4ondente%
sobretudo nesta ase da es"ra!idão% era "omum que am3lias 'orubás
estabele"idas em "idades do que o)e $ o enim adotassem estes agregados
4ara aumentar a orça de suas linagens e mesmo nas "idades Yorubás que
o)e são da @ig$ria isto a"onte"ia entre as "idades que guerrea!am entre si#
Cemos no Oriki que a instituição dos agregados da am3lia brasileira que di2
res4eito a muitos de n5s% têm ( tamb$m% 4or$m tal!e2 as mais ortes ra32es
na Hri"a# /er"ebemos isto muito bem sobretudo no @ordeste onde a inluên"ia
dos Yorubás $ maior% mas tamb$m no .ul e .udeste# ina 4r54ria a!5 e suas
irmãs (que eram mineiras e negras "uidaram de muitos agregados segundo a
tradição de suas an"estrais# <eno tios que são estas G"rianças de ora G que
Goram alimentadasS% 4or estas ilas e de!otas in"ons"ientes de Yeman)á que
abitam na diás4ora% inde4endentemente de suas religi&es ( 4ois mina 4r54ria
a!5 era 4rotestante% das quais des"endemos em maior 4arte#

#%digo 4oral de YeCemoJo a partir de seus Ori@is #


Outro mito que inluen"iou o que "one"emos "omo sendo nossa Yeman)á% oi
a muler de Obatalá que se "ama Ye'emo>o e que "on!ersa diretamente
"om o mito de Yemo)a% a4esar de estar mais ligada a unção da muler de
Obatalá do que .enora das Hguas#
Cemos neste mito um orte "5digo moral% que inega!elmente está ligado a
Obatalá e seu "ontra4eso no uni!erso eminino#
<emos que na diás4ora Yeman)á $ muler de Obatalá (O*alá#
Paçamos as imagens de Oriki:
:Femo'o fa teu marido pensar em casa= 
:7ue haja dinheiro " #ue haja filhos : 
:7ue haja comércio " #ue haja benefcios= 
:7ue se vá onde as pessoas est!o reunidas= 
:7ue permanecendo em casa haja comida para numerosos filhos= 
:Ela é ciumenta= 
:Ela tem o ciAme da lebre do campo= 
:Ela di #ue voc- é o marido= 
:Ela di #ue eu o pegue e o leve até Ifon= 
92
:Seu marido n!o deve voltar a casa com outra= 
:Ela di #ue a lebre assim o fa no mato= 
:Bulher principal= 
:Ela é digna de seu marido no dia #ue carrega um fardo= 
:@ainha #ue encontra o #ue comer= 
:Ela gosta de ver seu marido com fre#,-ncia=
O mais interessante que obser!amos no ito $ que desena um "5digo 4ara
es4osas baseado em obser!aç&es que !em do sistema de ra"ionalidade deste
4o!o e que tem grande inluên"ia 4elo o que "one"emos ser 4erten"ente ao
mito de Yeman)á na diás4ora#
<al!e2 não 4ossamos negar que !emos muito de muleres que "one"emos
ou mesmo de nossas mães neste mito# uito 4ro!a!elmente 4or esse moti!o
tena se tornado tão 4o4ular e amado entre n5s na diás4ora#
Odo 'a Yemo)a
Osunemi ( !an /oli 

O 4ito de Eang$ na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is


Palar do mito de QangN na +i!ili2ação Yorubá% tal!e2 se)a um 4ou"o "omo alar
em ]eus na itologia Rrega% DJ4iter na itologia omana% ou mesmo Odin
entre os Cikings% sobretudo se nos atemos ao "on"eito do que ele re4resenta
4ara o eino de O'o e o que este reino re4resenta 4ara a +i!ili2ação Yorubá
e 4ara a diás4ora#
O'o in"or4orou e mante!e relaç&es de G!assalagemS e de asso"iação "om
di!ersos outros reinos "idades stado Yorubás ( e não Yorubás% tornando se
o maior reino Yorubá#
, 4r54ria 4ala!ra Yorubá% que designa todo o "on)unto de 4o!os que
"one"emos na diás4ora "omo sendo nagNs !em de uma reerên"ia direta aos
abitantes do reino de O'o#
+omo não 4oderia dei*ar de se re4rodu2ir no ito de QangN temos na lenda
abai*o da egião de .a!$ (no atual enim um e*em4lo simb5li"o desta
e*4ansão de O'o sobre outros reinos ari"anos 'orubás ou não% na igura de
QangN#
, lenda e*tra3da da "oletAnea de Cerger di2 o seguinte:

93
:2erto dia HangG se transformou em um menino pe#ueno e foi ver o rei
em seu trono$ *isse+lhe #ue lhe cedesse o lugar" pois o rei era ele$ O rei
chamou todo mundo e perguntou e #uem era a#uele menininho #ue o
incomodava$ 1inguém o conhecia$ O rei ordenou a seus servidores #ue o
matassem e o jogassem no rio$ 0evaram+no e" da a pouco" os servidores
voltaram$ %ntes #ue eles chegassem à presena do rei" o menino já estava
diante do trono$ O rei ficou espantado e disseC= 2omoK Ele foi morto pelos
homens e agora voltou$ :Se eu mandar as mulheres matá+lo talve n!o volte=$
O menino ouve essas palavras e pGs se a saltar"a brincar e a operar milagres$
 %s mulheres o perseguiram$ Ele viu um grande buraco" saltou por cima dele "
 pulou em cima de uma grande árvore e desceu$ Saltou em uma floresta
 pr&.ima e encontrou uma árvore de grande porte$ Saltou nela e apareceu
dependurado em um galho" pendendo de uma corda"e morreu$ %s mulheres
voltaram e disseram ao reiC :o menininho enforcou+se=$
O rei disse #ue o milagre n!o poderia ter ocorrido desta forma na cidade e
anunciou a todo mundo #ue iria faer um sacrifcio$ 2omprou o material para o
sacrifcio (como comum em #ual#uer Itan e Ese Ifá dos Odus de Ifá ao #ual
essa lenda se assemelha e deve ter origem certamente)$ Ordenou a seus
servidores #ue cavassem um buraco debai.o do corpo enforcado e #ue nele
 jogassem todo o material ad#uirido" ap&s #ue a corda deveria ser cortada$ O
corpo ao cair voltou a ser um menino vivo e todo mundo ficou espantado$ O
menino declarou #ue n!o havia se enforcado (Joso ; ko (o)so em 9orubá)$
3oram ver o rei$ Surpreendido" ele foi verificar se a#uilo era verdade$ %o voltar
o menino estava sentado no trono$ O rei ordenou+lhe #ue cedesse o lugar$ O
menino recusou+se e disse+lhe #ue seu nome era Oba Joso (rei #ue n!o se
enforcou) e #ue ele comera o rei" tomando o seu lugar$= 
, lenda a"ima nos tra2 elementos simb5li"os im4ortantes a se obser!ar e que
"om4lementam bem o que !imos em mitos anteriores#

aO ato de os omens que re4resentam a relação de ordem não "onseguirem


matar o menino que tra2 em si a desordem% 4ortanto as muleres que
re4resentam esta metade 4erigosa e a relação "om o "aos "onseguem
segundo nos mostra alandier em sua obra#

94
bsto nos reorça uma relação de 4oder "om o du4lo no mito 4ois tanto o rei
quanto QangN se rela"ionam desta orma "om o mas"ulino e eminino em sua
su"essão ao 4oder#
"eorça tamb$m o que !imos em O*umar$ que em si mesmo se desdobra
no mas"ulino e eminino que sustentam a ordem do Uni!erso% 4ois não 4ode
a!er "ontrole da ordem do Uni!erso se quem rege não tem em si o 4rin"34io
do +aos e da <ransgressão# sto 4ode a)udar a nos e*4li"ar que o rei "onia 6s
muleres que det$m simboli"amente em si o 4rin"34io da transgressão nas
so"iedades subsaarianas 4ara "ombater aquele que re4resenta!a em si
mesmo o transgressor no "onte*to do ito ( QangN 

d<emos um e*em4lo da "onsolidação do 4oder a 4artir daquele que ao


transgredir e estabele"er assim uma no!a relação "om o 4oder e re-e*4li"ar e
re-signii"ar este no!o 4oder se "onsolida "omo autoridade% 4or mostrar que
tem em si mesmo tanto o 4rin"34io da ordem "omo da transgressão e "aos (
simboli2ado 4elo enrentamento "om omens e muleres# /rin"34ios estes
ne"essários 4ara a armoni2ação das relaç&es e qualidades ne"essárias aos
que se rela"ionam "om o 4oder em grande 4arte das so"iedades
subsaarianas#
9esta orma% ao obser!armos estes 4ontos !emos uma metáora da relação
soberana que se estabele"e entre o reino de O'o e os outros reinos que
mantinam relaç&es de de4endên"ia ou !assalagem% a 4artir da igura de
QangN que era senão uma re4resentação deii"ada do 4r54rio ,lain de O'o#
,ssim% a ist5ria do (não enor"amento de QangN% a 4artir desta !ersão que
a4arentemente at$ o)e !emos de orma des4retensiosa e "omo se ti!esse
a4enas um signii"ado m3sti"o aos que se interessam 4ela liturgia dos ori*ás%
gana no!os signii"ados e nos a)uda a "om4reender "omo se da!am relaç&es
entre reinos na Hri"a .ubsaariana assim "omo 4arte do "on"eito de du4lo
nas relaç&es de 4oder entre estes 4o!os e que tamb$m têm seus eeitos na
diás4ora "omo !eremos no item seguinte

Eang$ , os ABmeos e o 6apel do Puplo nas estruturas de 6oder da África


e seus refle'os na Piáspora"

95
ni"iamos aqui a análise dos Orikis de QangN em seu "aráter "i!ili2at5rio#
+itando L$4ine% alandier% .errano e Cerger e "onorme alamos no item
4re"edente e em outros te*tos anteriores grande 4arte das relaç&es de 4oder
na Hri"a subsaariana $ mar"ada 4elo du4lo em suas mais di!ersas orma e
e*4ress&es# Uma das e*4ress&es mais mar"antes deste du4lo $ simboli2ado
 )ustamente na igura dos gêmeos% 4ois baseando me nas aulas de .errano e
em te*tos de alandier os gêmeos têm sem4re um es4aço es4e"ial de
tratamento nas so"iedades de linagens "omo a maior 4arte das subsaarianas#
m algumas so"iedades os gêmeos são se4arados e di2em que 4or !e2es um
deles 4ode ser at$ mesmo sa"rii"ado# @este "aso% o nas"imento de gêmeos
4ode signii"ar 4ara estas so"iedades o desequil3brio das linagens 4ela
im4ossibilidade de determinar relaç&es e o es4aço de quem $ o mais !elo e
quem $ o "açula# Dá outras so"iedades% "omo os 'orubás% !êem os Rêmeos de
orma ben$i"a# sto de!e se dar% muito 4ro!a!elmente 4elo ato de que
gêmeos reorçam% segundo a !isão deste 4o!o% a linagem naquele instante
4elo nas"imento simultAneo que )ustamente "ria dois mais !elos% dois ilos
do meio ou dois "açulas% reorçando a linagem "omo um todo#
, questão $ que os Rêmeos aludem 6 uma orma sim$tri"a e assim
igualmente rela"ionada ao du4lo% na qual baseiam-se simboli"amente relaç&es
de 4oder na maior 4arte da ^ri"a .ubsaariana#
,o analisarmos os Orikis de QangN !emos esta relação "om os Rêmeos e "om
o du4lo nos !ersos:
Senhor dos D-meos #

Sua divers!o é carregar uma criana

1a cabea de um O.é ele monta e parte$

9e!o e*4li"ar que "onorme !emos na maior 4arte das re4resentaç&es de


O*$s de QangN% sobretudo na Hri"a% eles são sustentados 4or dois gêmeos em
sua base ou um omem simetri"amente 4osi"ionado a base# O que alude
diretamente 6 sua relação "om o du4lo% se)a na igura dos gêmeos ou questão
da simetria dos lados do ma"ado#
+omo !imos anteriormente% segundo nos ala .errano em suas aulas%
geralmente a simetria está ligada a relaç&es armNni"as e es4irituais e a

96
assimetria a relaç&es de 4oder que 4odemos sugerir que tra2endo em si
algum grau de o4ressão são 4or si 4r54rias assim$tri"as#
O O*$ de QangN ao mesmo tem4o que tra2 seus Rêmeos e sua simetria não
4ode ter% segundo estas "ara"ter3sti"as% no imaginário do 4o!o 'orubá outro
signii"ado senão relaç&es de 4oder ( 4or se tratar do ,lain QangN que se
estabele"em de orma armNni"a )ustamente 4or tra2erem em si um signii"ado
es4iritual e m3sti"o ( 4ois não 4odemos esque"er que QangN oi um dos ,lains
deii"ados
Outro ,lain deii"ado teria sido Oran'ian% o a!N de QangN que tamb$m tem
sua relação simb5li"a "om o du4lo em sua re4resentação de um omem
simetri"amente meio negro e meio bran"o#
+ontudo% a questão simb5li"a do du4lo tanto no mito de QangN "omo no de
Orani'an !em legitimar tamb$m alianças entre reinos e 4o!os dierentes#9e
um lado o 4o!o in!asor ou que 4or algum outro moti!o% "omo alianças $ o
elemento no!o e de outro lado o 4o!o aut5"tone% re4resentando em si mesma
esta relação du4la de 4oder#@o "aso de Orani'an que era meio aribá
(elemento no!o e meio Yorubá( aut5"tone e QangN que 4or ser des"endente
de Oran'ian era meio aribá e meio Yorubá e 4or origem materna ilo de uma
raina @u4e (<a4a que tra2 elementos da "orte @u4e 4ara O'o#
stas alianças que tra2iam elementos no!os 4ara a "orte de O'o e
"onseqEentemente iguras e estruturas no!as no 4oder% tinam que se
armoni2ar "om estruturas antigas# ste ato reletia diretamente na "riação
m3ti"a e simb5li"a das di!indades e ob)etos de "ulto o que tamb$m 4odem nos
a)udar a e*4li"ar a 4resença do du4lo tanto no simbolismo de Orani'an quanto
de QangN#
/odemos "on"luir que estes simbolismos do du4lo nestes mitos% 4or sua !e2%
tamb$m são assim rele*os do equil3brio que de!e se estabele"er entre as
estruturas de 4oder dos aut5"tones e dos elementos no!os dos in!asores#
Má% 4ortanto% um outro ato que nos e*4li"a isto dentro do 4r54rio reino de O'o%
e dentre outros reinos Yorubás e que !eremos mais detaladamente no te*to
sobre o reino de O'o quando ormos alar dos reinos Yorubás em uma 4r5*ima
obra# Cimos nos mitos de @anã e Obaluai'e sobre o "ulto do Onile(.enor da
<erra que e*istia anteriormente 6 "egada de Oduduá em le e (o in!asor e
elemento no!o naquele momento% e que @anã e Obaluai'e )á eram "ultuados
97
em toda região que !ai atualmente do urkina Paso ao @iger% sob dierentes
denominaç&es# +om o ad!ento de Oduduá $ introdu2ido o "ulto ao Olorun (
.enor do +$u#
@este "onte*to são "riadas so"iedades de "ulto ao Onile ( .enor da <erra
que% 4or sua !e2 tornam-se um elemento de resistên"ia dos antigos ábitos
dos 4o!os aut5"tones# stas so"iedades 4assam a di!idir o 4oder e unç&es
legais e administrati!as "om as so"iedades ligadas 6 reale2a que legitima!a o
4oder do Olorun (.enor do +$u e 4or sua !e2 a relação dos soberanos "om
o an"estral m3ti"o (Oduduá ou Orani'an no "aso de O'o#
m O'o% "omo na maior 4arte dos reinos Yorubás% o "ulto ao Onile reerente 6
resistên"ia aut5"tone% $ integrado 4or "ees de setores da so"iedade que
re4resenta!am estes aut5"tones 4uramente 'orubás( ou mesmo anteriores a
estes $ regido 4ela so"iedade Ogboni# Dá o +ulto ao Olorun ( reerente 6 "orte
do ,lain que a2 alianças "om elementos no!os se rela"iona a sa"erdotes
!in"ulados ao "onselo do O'omesi (que es"ole e legitima o 4oder do ,lain#
9esta orma a!ia em O'o% um 4oder que di!ide unç&es administrati!as entre
estas duas estruturas% ne"essitando 4ortanto que o equil3brio entre elas osse
re4resentado de alguma orma#
sse 4oder du4lo s5 4oderia ser re4resentado 4or algu$m que ti!esse
igualmente em sua "arga simb5li"a o "on"eito do du4lo# Orani'an "om seu
"or4o simetri"amente di!idido em 4reto e bran"o e QangN que em seu O*$
que tra2 os gêmeos e a simetria são mitos que simboli"amente "ara"teri2am a
armonia entre estes dois 4oderes#
O O*$ de QangN que 4or um lado re4resenta o 4oder da so"iedade Ogboni em
O'o e 4or outro o do O'omesi $ equilibrado em seu "entro 4or QangN que $ o
,lain% "ada um re4resentando um dos gêmeos (o que tal!e2 nos a)ude a
e*4li"ar 4or que os gêmeos são sinal de bom agouro 4ara os 'orubás#
ste O*$% neste mesmo "onte*to re4resenta o equil3brio da so"iedade Ogboni
dos aut5"tones ('orubás no "aso de O'o que resistem em suas tradiç&es e ao
mesmo tem4o in"or4oram no!os elementos das "ortes dos 4o!os "om os
quais a2em alianças (aribás e @u4es no "aso de O'o% ou in!asores no "aso
de outras so"iedades# O O*$ re4resenta assim em sua simetria e geminilidade
o equil3brio que á entre os elementos tradi"ionais e elementos no!os# ,ssim
"omo tamb$m re4resenta o mo!imento de resistên"ia dos elementos
98
tradi"ionais que in"or4oram e re-signii"am elementos no!os dando um
sentido de transormação destas so"iedades subsaarianas# +omo nos ratii"a
alandier em sua obra !emos neste mais um e*em4lo de que estas
so"iedades subsaarianas% não $ 4or serem tradi"ionais não se transormam e
não "riam um sentido de istori"idade e não têm 4or isso uma dinAmi"a de
transormação so"ial# , Obra de alandier e este e*em4lo questionam o que
4ensa!am muitos antro45logos deterministas do in3"io do s$"ulo QQ ( +omo o
4r54rio Le!' .trauss sobre as so"iedades G 4rimiti!asS e tradi"ionais ao
"lassii"á-las "omo a-ist5ri"as# .em dJ!ida% esta "lassii"ação mesmo que
não diretamente 4ro4ositada% ser!ia e era "on!eniente aos 4ro45sitos
"oloniais e 4orque não di2er que ainda ser!em aos 4ro45sitos neo-
"oloni2adores e o"identali2antes do +a4ital e da 4adroni2ação de uma
so"iedade de "onsumo %"onorme nos ins4ira a airmar 9ilma de ello .il!a a
4artir de sua obra na e*4eriên"ia !i!ida "om os i)ag5s na Ruin$ issau#
esistir% manter o tradi"ional e% ao mesmo tem4o a"oler% assimilar e re-
signii"ar o no!o% este $ um 4ro"esso que guia a transormação e dá um
sentido de istori"idade a muitas so"iedades subsaarianas tradi"ionais e que
temos na 4r54ria diás4ora "omo G4rimiti!asS em um sentido 4e)orati!o# ste
mo!imento de transormação que !emos nestas so"iedades 4ode querer
tamb$m di2er muito de n5s mesmos na diás4ora em nossas dinAmi"as de
transormação de nossa so"iedade brasileira ( e mesmo latino ameri"ana nos
4a3ses onde o"orreram a diás4ora ari"ana% sobretudo no que ela se dieren"ia
da euro4$ia em relação 6 manutenção de suas tradiç&es# .em dJ!ida os
euro4eus (e alo tamb$m 4or e*4eriên"ia 4r54ria são muito mais resistentes
no a"olimento e assimilação e re-signii"ação das alteridades e do no!o do
que n5s no rasil e estas so"iedades ari"anas tradi"ionais#Cemos e*em4lo
"laro disto quando "om4aramos as dierenças nos tratamentos e a"olimento
que n5s e eles demos e damos a maior 4arte dos nossos imigrantes
estrangeiros atra!$s da ist5ria dos Jltimos s$"ulos at$ os dias de o)e# sto%
inde4endentemente da su4osta origem que di2emos ter% nos a4ro*ima% ao
menos neste as4e"to mar"adamente 4resente em nossa "ultura% muito mais
destas so"iedades subsaarianas G4rimiti!asS que muitos de n5s insistimos em
es"onder do que das euro4$ias que grande 4arte de n5s insistimos em
ressaltar em nossas origens# O mais im4ortante de qualquer orma $ que essa
99
"ara"ter3sti"a $ um traço que inega!elmente% 4or ser "omum a nossos es43rito
na"ional% nos une "omo 4o!o inde4endentemente de nossa "or de 4ele ou
su4ostas origens euro4$ias 4resentes em nossos sobrenomes#
/ara a)udar a ratii"ar isso em um 4ro"esso ist5ri"o da diás4ora no rasil%
4odemos !oltar ao simbolismo do O*$ de QangN% e do 4r54rio QangN no
"on"eito de resistên"ia de elementos tradi"ionais e assimilação e re-
signii"ação de no!os elementos nesta nossa diás4ora#
.egundo nos mostram os estudos sobre os +andombl$s da aia% a maioria
deles se rela"ionam diretamente a rmandades +ristãs e um deles o que eu
reqEento em .al!ador que $ dedi"ado a QangN in"lusi!e mant$m uma "ru2 em
seus dom3nios e se "ama originalmente .o"iedade da +ru2 .anta do le de
O4o ,on)á#
,nalisando a +ru2 e o O*$K +risto e QangN !emos que segundo a leitura
simb5li"a dentro da dinAmi"a das so"iedades subsaarianas% "omo a 'orubá% os
dois "arregam em si signii"ados simb5li"os similares% e remetem a relaç&es
du4las de 4oder em três as4e"tos:
a) <anto a "ru2 quanto o O*$ são sim$tri"os e tem as relaç&es de
4oder do du4lo assim rela"ionadas ao equil3brio e armonia dos
4oderes 4romo!ido es4iritual que $ que a simetria signii"a no
uni!erso da maior 4arte das so"iedades subsaarianas#

b) <anto o O*$ (em algumas re4resentaç&es quanto a +ru2 tem uma


igura umana lo"ali2ada no seu "entro simetri"amente di!idida% o
que remete no!amente ao du4lo atra!$s da simetria#

c) <anto o QangN "omo +risto tem as4e"tos% não se*ualmente% mas


a4arentemente andr5ginos# /ois na leitura dos 4o!os subsaarianos%
ao mesmo tem4o que no Oriki de QangN ele Gtrança os "abelos
"omo uma moçaS % +risto tem os "abelos longos G"omo os de uma
moçaS# sso nos remete no!amente ao "on"eito de du4lo (no "aso
entre o mas"ulino e eminino que os mitos e s3mbolos ligados ao
4oder 4ortam em si em grande 4arte das tradiç&es dos 4o!os
subsaarianos "onorme nos ala alandier#

100
, 4artir disto% se analisarmos as relaç&es dos es"ra!i2ados "om as irmandades
"ristãs% !emos que segundo a !isão da gre)a na $4o"a% muitas somente
ser!iam a4arentemente de a"ada 4ara en"obertar os "ultos tradi"ionais de
resistên"ia dos ari"anos# +ontudo% se le!armos em "onta que os elementos
simb5li"os que aquela "ru2 e aquele +risto re4resenta!am se a4ro*ima!am em
signii"ado 4ara os ari"anos% "omo sendo relaç&es de 4oder entre o tradi"ional
e o no!o que de!eriam no!amente se armoni2ar e re-signii"ar a 4artir de seu
signii"ado es4iritual% 4oderemos entender mais a"ilmente "ertas "oisas "omo
4or e*em4lo:
aa "riação do +andombl$ tal qual o $ no rasil% 4ois a religião muitas
!e2es tra2 no!os signii"ados e s3mbolos e a di!isão em @aç&es $ um
ato que nas"e no rasil# O 4r54rio nome "andombl$ nas"e no rasil (
4ois na Hri"a o "ulto aos Ori*ás $ "amado de le Orisa e
su4ostamente não !em nem do Yorubá% mas de outra l3ngua de rai2
bantu e quer di2er : Tando bele - ater <ambor# O 4anteão de Ori*ás tal
qual o "one"emos no rasil $ algo que nas"e nas sen2alas% 4ois na
maioria das "idades ari"anas "ultuam-se em m$dia normalmente I ou
X Ori*ás somente 4or "idade e todos se alinam em ierarquia ao Ori*á
ou di!indade rela"ionada ao an"estral m3ti"o daquela "idade# sto não
a"onte"e no rasil% 4or isso a4esar do +andombl$ ser a e*4ressão mais
4r5*ima da 4ure2a ari"ana% ela $ uma e*4ressão brasileira% mas que
mant$m o es43rito ari"ano 'orubá da resistên"ia de elementos
tradi"ionais ( no "ulto aos Ori*ás% in"or4oração e re-signii"ação de
elementos no!os "omo as naç&es e o 4anteão tal qual ele o $ na
diás4ora#
b o su"esso da a"eitação do sin"retismo dentre os es"ra!i2ados% que
signii"a em "erta medida a manutenção de uma tradição e a a"eitação
e in"or4oração de elementos no!os#
" a "riação da Umbanda% )á em um segundo mo!imento de assimilação
e re-signii"ação na qual a tradição ini"ial que resiste $ quem 4romo!e e
4ossibilita este mo!imento# , tradição que resiste no "aso $
re4resentada 4ela "entralidade que o"u4a o 4anteão de Ori*ás ari"anos
no "onte*to litJrgi"o da Umbanda# Dá o elemento no!o !em da
in"or4oração de 4ersonagens que nossa elite "ultural "one"e somente
101
a 4artir das leituras de Ruimarães osa e Dorge ,mado% alguns outros
autores romAnti"os e modernistas da segunda ase que geralmente são
leituras obrigat5rias quando !ão 4restar !estibular# stes elementos
no!os da no!a <erra são:

- os +abo"los% que remetem aos rituais da 4a)elança%

- Os 4retos Celos que não são da no!a <erra mas remetem aos
"ultos aos an"estrais 4r54rios de regi&es antu (geralmente a maioria
destes 4retos !elos se denominam "omo sendo do +ongo ou de
,ngola% 4ou"os da região da Ruin$# , maioria deles se di2 "at5li"a e
geralmente "arregam terços e s3mbolos que aludem deuses da
nature2a "omo os inqui"es% )á indi"ando um 4ro"esso anterior de
assimilação do no!o em um +ongo que assimilou o "ristianismo desde o
s$"ulo QC #

- Os boiadeiros que simboli2am em nosso 4ro"esso ist5ri"o


muito do nosso 4ro"esso de mestiçagem na "oloni2ação do interior de
nosso 4a3s#

- Os "iganos : que não 4odemos esque"er que esta!am entre os


4rimeiros desterrados 4ara o rasil# Má "omunidades "iganas no
re"Nn"a!o baiano que remontam do s$"ulo QC e !ieram "om os
4rimeiros desterrados%e 4or isso tem "om nossa @ação uma relação
an"estral o que legitma que se)am assimilados 4ela Umbanda% assim
"omo todos os demais anteriores#

- á outros gru4os "omo os baianos e baianas que


e!entualmente não 4oderiam dei*ar de altar uma !e2 que o o"o da
diás4ora 'ourbá $ a aia% que a4are"em% muita !e2es% "omo mestiços#

m geral 4odemos notar na Umbanda elementos ortes tanto de nossa


mestiçagem quanto de nossos elementos an"estrais que nos "onstituem "omo
4o!o e que "om4&em esta mestiçagem# Ora% an"estralidade e mestiçagem
não dei*am de ser e*4ress&es que re"riam esta dinAmi"a de transormação
so"ial ari"ana que !emos desde o reino de O'o em QangN e em seu
simbolismo de relação "om o du4lo# , relação "om a an"estralidade

102
re4resentando a resistên"ia da so"iedade tradi"ional e% no "aso de O'o%
aut5"tone e a mestiçagem a in"or4oração do no!o que ao se misturar
tamb$m se re-signii"a e orma o que n5s somos# /or isso% temos a tendên"ia
de di2er que a Umbanda $ a Jni"a religião 4uramente brasileira% 4or
re4resentar este nosso es43rito "om idelidade#
O que não 4odemos esque"er $ que se !emos estas "ara"ter3sti"as em nosso
es43rito% $ que na !erdade esse 4ro"esso no es43rito "oleti!o brasileiro que nos
a2 a"oler % a"eitar e re-signii"ar o no!o tem inega!elmente suas origens em
nossos an"estrais da Hri"a .ubsaariana#
9essa orma% mais uma !e2 ins4irado 4ela obra de 9ilma de elo .il!a% 4ela
!i!ên"ia 4essoal e mina 4r54ria as"endên"ia ari"ana não 4osso dei*ar de
airmar que 4erdemos muito em não desen!ol!ermos uma !isão 4r54ria sobre
estes 4o!os nossos an"estrais ari"anos que !emos 4elos olos dos que os
têm "omo e*5ti"os# sso se dá sobretudo 4or que esta !isão geralmente "omo
o a2 na 4r54ria Hri"a% marginali2a o tradi"ional e G 4rimiti!oS # 9essa orma o
"i"lo de transormação destas so"iedades subsaarianas% "omo a 'orubá% que
ne"essita manter sua base tradi"ional 4ara assimilar e re- signii"ar o no!o% se
!ê !iolada% desmantelada e destru3da#sto 4ode e*4li"ar muito do ra"asso das
instituiç&es administrati!as ari"anas que se aastam de seu "i"lo natural de
transormação re"usando a 4r54ria nature2a 4or a"reditar que esta se)a um
atraso e bus"ando modelos euro4eus que re4resentem esta so"iedade de
"onsumo o"idental e Gdesen!ol!idaS ( O que n5s na diás4ora tamb$m temos
que reletir se não o a2emos% sobretudo a 4artir da elite do nosso meio
a"adêmi"o% que ainda reluta em ao menos re"one"er esta origem em n5s a
"omeçar 4or si mesma#
9a mesma orma que ao não nos re"one"ermos em nossas origens nestas
so"iedades G4rimiti!asS (sobretudo n5s do meio a"adêmi"o brasileiro%dei*amos
de ser autenti"amente n5s mesmos% abrindo es4aço 4ara a ragmentação
so"ial e identitária que aasta nossa so"iedade não somente do ideal de
igualdade mas tamb$m da sustentabilidade e"onNmi"a% 4ois o que
obser!amos a 4artir dos 4a3ses desen!ol!idos que tentamos imitar e do que
!i!emos o)e $ que dii"ilmente so"iedades que não a4ostem no im de
grandes dis4aridades 4oderão se tornar realmente sustentá!eis
e"onomi"amente# ,4esar de que "on"ordarmos e a"armos lindo quando o
103
antro45logo ran"ês ale em amoso e bem re4utado do"umentário% sobre
nossa matri2 aro que% G somente estas so"iedades 4rimiti!as 4oderão sal!ar o
omem "ontem4orAneoS# .o"iedades estas que 4ara ele são tão e*5ti"as e
que a4esar de nos terem a)udado a ormar !emos igualmente "omo sendo
e*5ti"as#
 Aonde estão perdidos os nossos "#meos , en$or dos "#meos%
 Aonde está nosso Oxé en$or do Oxé %

"#meos e Oxé que trarão equil&'rio e igualdade para nossa ação


nesta diáspora%

iga nos pai *ang+

!recisamos reencontrá-los em nossos antepassados da mãe


 frica

 Ancestrais que mesmo quando não podemos encontrar na origem


de sangue ou na cor da pele,

ão podemos negar em nossa expressão,

!or mais que queiramos escond#-los

 Assim como outrora nossos Orixás se escondiam atrás dos


antos,

. que não deixavam por isso de serem nossos euses e ancestrais


das terras que viemos nesta diáspora#

!ai *ang+, !ermita que não escondamos mais nossas verdadeiras


faces de n/s mesmos

 Osunemi#

Eang$ e a relação com os Isl!micos e #ristãos


@este item dis"orreremos a 4artir de !ersos de Orikis de QangN da Hri"a%
sobre a relação da religião tradi"ional Yorubá e outras tradiç&es religiosas
"omo o slã e o +ristianismo#

104
/ara entender a relação "om o +ristianismo ne"essitamos em 4rimeiro lugar
alar da relação "om o slã#
.egundo o que di2em alguns estudiosos% o ito da relação do 4r54rio Oduduá
"om o rei de e"a e a uga dele da ,rábia 4assando 4ela @Jbia e se
estabele"endo em terras Yorubás% $ um mito "onstru3do# nde4endentemente
do 4osi"ionamento destes estudiosos e os que sustentam a !era"idade deste
mito% o que não 4odemos esque"er $ que ele re4resenta de qualquer orma
uma relação entre o slã e a religião tradi"ional Yorubá#
@a tradução 4ara o nglês de uma s$rie de Odus de á% dentro da Obra a
9i!ination /oetr' de ,bimbola [ande "onirmamos em Otura e)i esta
relação% 4ois este Odu trata )ustamente da 4enetração do slã em terras
Yorubás em determinados tre"os#
Cemos nos Orikis de QangN alguns !est3gios desta relação#
Vuando ou!imos os !ersos:

Ele realia a cerimGnia para o muulmano$

Ele batia novamente o muulmano

Ele fa a ablu!o no lugar onde cai a chuva$

Ele sobe no pil!o para faer a ablu!o dos muulmanos$

/randi% em sua memorá!el "oletAnea itologia dos Ori*ás% tra2 algumas


lendas que alam da relação de QangN "om os malês# Uma delas ala de uma
guerra entre QangN e os malês e o ato de QangN dei*ar de "omer "arne de
4or"o em res4eito aos malês#
Ou!i )á reerên"ias a lendas 4are"idas de 4essoas na diás4ora# Má alguns
anos atrás% esti!e no ,on)á onde ui !isitar a saudosa mãe 4equena do +entro
'a Reorgette e na o"asião ser!iam "arne de 4or"o a 4artir de um ritual que
ora eito 4ara *u# Pui "on!idado 4or ela a 4artilar da reeição e re"usei 4or
ser al$rgi"o a "arne de 4or"o# 'a Reorgette me disse que se isto o"orria $ 4or
que eu tina sangue de ,la4ini e que não 4oderia "omer "arne de 4or"o e
nem beber ál"ool 4or "ausa disso% 4ois QangN me 4roibia 4ela mina
an"estralidade% 4edi mais detales e ela me "onta a seguinte !ersão da lenda:

105
: HangG #ueria a pa ( e o respeito) com os mal-s" por isso dei.ou de
comer carne de porco para mostrar #ue respeitava a tradi!o deste
 povo$ Bandava até mesmo um dos seus sacerdotes do culto dos
ancestrais e de seu conselho ( o %lapini #ue é do conselho do O9omesi)
 para rear com os mal-s ( muulmanos ) na tradi!o destes e celebrar
a pa conseguida" sendo #ue este sacerdote também como HangG
deveria evitar a carne de porco assim como seus descendentes=

'a Reorgette não sabia% mas se)a 4or ainidade ou rai2 an"estral des"endo
de am3lia de ,la4ini do reino de O'o ( .e)a 4elo o que ala!a mina a!5 da
am3lia de meu a!N materno ou se)a 4ela adoção simb5li"a de uma am3lia
ari"ana que tamb$m des"endia de linagens ,la4inis de O'o% da qual de
estrano 4assei a 4arente 4or ainidade# 9e4ois desta lenda me interessei em
estudar mais sobre o slã e as tradiç&es muçulmanas#
Origem amiliar a 4arte% esta lenda e*4li"a e dá sentido ao que !emos no Oriki
sobre a relação de QangN "om os malês#
Dá 4assando 6 relação "om os "ristãos% entendemos melor in"lusi!e ao ler a
relação do slã "om +risto des"rita sobretudo nos !ersos  e F8 a X0 da .ura
; ( a <ribo de Omran do ,l"orão que o trata "omo um en!iado e que
re"omendo a leitura#
@o Oriki de QangN !emos um !erso que ala bem disso quando
des"re!e:

Ele pega o domingo com os crist!os

Cemos at$ aqui nos !ersos de Oriki muito 4resentes o es43rito de a"ulturação
e in"or4oração de elementos no!os a 4artir do tradi"ional do qual tratamos no
item 4re"edente# sta !isão de tolerAn"ia e a"eitação da di!ersidade% tal!e2
a)ude a e*4li"ar muito do que !emos no rasil e mais es4e"ii"amente na
aia ( onde a 4resença 'orubá está mais mar"adamente 4resente#
9e qualquer orma% tamb$m !emos na relação de QangN "om as alteridades
traços de "onlito que 4odem mar"ar 4er3odos ist5ri"os de resistên"ia quando
ou!imos os !ersos de Oriki :
Ele possua as pessoas antes da chegada dos europeus$

2om seu brado ele persegue o crist!o  (em uma alusão ao tro!ão

106
Ele mata o europeu sem ser culpado  (em uma alusão ao raio 

Ele mata o europeu e destr&i seu autom&vel  (em uma alusão ao raio

Eang$ ,a 4orte e seu c%digo de Auerra


.egundo um dos tan a do odu O'eku e)i que !imos no te*to sobre Ogum%
QangN tamb$m se rela"iona "om a orte% 4ois mata atra!$s do ogo e do raio#
+ontudo% "omo nos "onta .alami% dentre os Yorubás não $ bem !ista a morte
de um ilo antes de seu 4ais% 4ois desorgani2a a ordem natural de e!olução
das linagens# Má a "rença que o es43rito do ilo morto antes dos 4ais i"a
!agando e não entra no Orun% o que torna indese)ada a morte dos ilos antes
da dos 4ais#
m alusão a isto !emos o seguinte !erso de Oriki de QangN:

Ele mata o pai e p5e em cima do filho

m relação 6 orte% á tamb$m a unção "i!ili2at5ria e 4edag5gi"a do


Oriki quando ad!erte no seguinte !erso:

 %fastar+se da cobra cuja cabea ainda n!o se cortou #

,l$m da relação "om a morte% !emos nos Orikis de QangN uma relação direta
"om um "5digo de guerra#
Cemos isto "laramente ao ou!irmos o !erso de Oriki:
Ele sente pena do pai de seis filhos e dei.a um deles vivo$

,o re"omendar que um dos ilos de uma determinada linagem 4ermaneça


!i!o dentro de uma "omunidade "om qual oi tra!ado um "onlito 4ermite que
aquela linagem se re"om4ona e que aquela estrutura dentro do "on)unto de
linagens que ormam esta "omunidade se re"onstitua% 4ois "omo sabemos
determinados o3"ios são dom3nio es4e"3i"o de "ertas linagens na maioria
das so"iedades subsaarianas#
Cemos tamb$m em outro !erso de Oriki abai*o uma unção 4edag5gi"a em
relação 6 guerra e notamos que se "onstitui em uma !erdadeira instrução:
 %#uele #ue foi à guerra e usa a roupa do ancestral leproso se lavará
com uma infus!o de folhas$

107
Dá o !erso : :Ele fa voto de longa vida a todos os guerreiros=  " mostra
"laramente a relação de QangN "om a guerra #
,ssim "omo o !erso de Oriki: 6endo fechado a porta com uma perna ele luta
contra a cidade inteira"  tamb$m !ai no mesmo sentido#

Eang$ e o mentiroso como transgressor moral


+onorme )á tratamos
tratamos anteriormente no 4rimeiro
4rimeiro te*to% o mentiroso na
so"iedade Yorubá% assim "omo em grande 4arte das so"iedades subsaarianas%
subsaarianas%
$ um transgressor oral#
sto se e*4li"a
e*4li"a 4elo ato de estas
estas so"iedades se basearem na tradição Oral%
onde a 4ala!ra assume !alor
!alor do"umental
do"umental e a mentira
mentira ameaça dessa orma
orma o
bom andamento das relaç&es% se)am elas "omer"iais ou as demais relaç&es
so"iais#
O mito de QangN assume uma unção 4edag5gi"a dentro de sua unção
"i!ili2at5ria ao "ondenar a mentira e ratii"ar o 4a4el de mentiroso "omo
transgressor moral na so"iedade 'orubá:
Cemos e*em4los disto em abundAn"ia
abundAn"ia em !ersos seus Orikis e que "ito alguns
abai*o 4ara que 4er"ebam esta unção 4edag5gi"a que o mito de QangN
assume em 4erseguir
4erseguir o mentiroso
mentiroso que sem
sem dJ!ida se torna um
um transgressor
transgressor
moral nesta so"iedade
so"iedade 4or ameaçar
ameaçar a armonia em suas relaç&es
relaç&es internas e
"om o e*terior:
: Ele fende secamente o muro do mentiroso= 

:Ele mata o mentiroso e enfia o seu dedo no olho dele= 

:Ele olha brutalmente de soslaio o mentiroso= 

:Beu senhor #ue fa fugir à#uele #ue tem ra!o= 

: O mentiroso foge antes mesmo #ue ele lhe dirija a palavra= 

:Ele se recusa a aceitar a oferenda do mentiroso= 

:Se ele se encarregar das oferendas o mentiroso n!o as trará= 

:Ele prefere a#uele #ue di a verdade do #ue a#uele #ue a recusa= 

:O mentiroso foge
foge antes mesmo
mesmo #ue ele fale= 

108
:Ele toca fogo na casa do mentiroso= 

:Ele entra por detrás na casa do mentiroso" o mentiroso foge" HangG


corre atrás dele= 

Cemos que o mentiroso "omo transgressor moral não $ uma e*"lusi!idade dos
'orubás# ,o
,o lermos o <radição Ci!a de Mam4atê á% entendemos melor
"omo un"iona esta dinAmi"a entre os 4o!os subsaarianos% sobretudo da
região da Ruin$#

#%digo 4oral de Eang$


<al!e2 o as4e"to mais im4ortante do ito de QangN se)a sua unção
4edag5gi"a e mais 4re"isamente o que en"ontramos "omo se estabele"endo
"omo um !erdadeiro "5digo oral#
Cemos traços ortemente mar"ados deste "5digo moral em !ersos de todos os
Orikis dedi"ados
dedi"ados a QangN% que mostram muito do sistema de ra"ionalidade
al$m do sistema moral
moral e de "renças# /odemos
/odemos at$ arris"ar a di2er que muitos
destes !ersos
!ersos dialogam de alguma
alguma orma "om o "5digo moral dos malês que e
outros 4o!os
4o!os !i2inos islami2ados%estes
islami2ados%estes baseados em as4e"tos
as4e"tos legalistas
legalistas do
,l"orão#
/odemos "egar a esta "on"lusão 4elos as4e"tos que se a4ro*imam das
"ara"ter3sti"as do
do legalismo "orAni"o
"orAni"o em grande 4arte dos !ersos
!ersos de Oriki
Oriki de
QangN que !eremos a seguir#
,o en"ontrar as4e"tos deste "5digo oral nestes elementos da Oralidade
Yorubá% desmistii"amos o que muitos de n5s temos em nosso imaginário de
que as religi&es de rai2 ari"ana
ari"ana não 4ossam "onstituir nenum "5digo
"5digo $ti"o
ou sistema moral# ,liás% se isto a"onte"e % ser!e a interesses que não são
nossos em nosso resgate identitário% 4ois !emos muito de n5s mesmos
enquanto brasileiros neste "5digo#
Cemos uma relação de
de im4osição de res4eito a 4artir deste
deste "5digo
"5digo moral%
baseado em um
um sistema de ra"ionalidade
ra"ionalidade nos seguintes !ersos:
!ersos:
:Se um antlope entrar na casa a cabra sentirá medo= 

:Se HangG entrar na casa=

:6odos Ori.ás sentir!o medo : 

109
ste "5digo oral tamb$m se rela"iona "om a 4ala!ra "orreta ( sobretudo em
um "onte*to de so"iedade
so"iedade oral onde esta 4ala!ra
4ala!ra assume "aráter
"aráter do"umental%
"om a im4ar"ialidade e senso de )ustiça# ,o a2ermos as imagens dos !ersos
Oriki abai*o 4oderemos 4er"eber a unção 4edag5gi"a destes elementos do
mito "laramente:
:1!o se pode pronunciar uma impreca!o #ual#uer contra um cachorro
#ual#uer para #ue ele morra= 

:Ele é imparcial= 

:Sua palavra torna+ se bem estar : 

: /ai #ue afirma o #ue é justo= 

:7ue n!o digamos coisas estApidas=

:1!o me culpe
culpe #ue minha
minha palavra seja correta= 

:Senhor do conhecimento" olho brilhante=

:Ele mata a#uele


a#uele #ue e.agera
e.agera e fecha sua porta= 

:%lguém #ue n!o é inteligente" #ue n!o pensa em nada=

m seu "5digo oral QangN tamb$m !em a estabele"er relaç&es de "oniança


aos l3deres da linagem assim "omo ele se 4osi"iona%
4osi"iona% "olo"ando
"olo"ando mais uma
!e2 sua unção 4edag5gi"a#
Cemos isto "laramente nos !ersos de Oriki:
: O cachorro possudo por alguém permanece na casa do dono e n!o
conhece suas inten5es= 

:O carneiro n!o conhece as inten5es e #uem lhe dá farelo para comer= 

:*a mesma
mesma forma n&s caminhamos
caminhamos com HangG e n!o conhecemos
conhecemos
suas inten5es= 

:7uem é apressado n!o será levado hoje á presena de Olukoso= 

:Beu cora!o n!o está perdido" partirei com HangG= 

:@ei #ue se apodera deste e da#uele= 

110
:? difcil estar em sua companhia= 

:Ele di #ue para o proprietário" tudo acabou= 

:Ogum e HangG n!o revelam fundamento algum= 

:Ele enfrenta a#uilo #ue nos mete medo= 

:Ele derrama todo mundo na forja= 

:Beu senhor a forja torna+se leito dos grandes= 

:O #ue faemos no mundo n!o passa de fumaa" o fogo está com


 HangG " o ancestral= 

:Z#uele #ue respeita o segredo meu senhor facilitará as coisas= 

:2om HangG n!o se brinca= 

:m amigo fiel é raro : 

:Orgulhoso lavrador" #ue usa um turbante ao voltar da roa=

:Ele reAne as pessoas mesmo sem ter álcool= 

:2om m!o comprida tira seu filho da armadilha= 

,o estabele"er estas relaç&es de "oniança "om o l3der re4resentado 4or


QangN no "on)unto de seu "5digo moral% tamb$m in"ita a que se estabeleçam
relaç&es de "oniança entre as 4essoas da "omunidade% entre a linagens% o
que "onsolida uma estrutura so"ial% e dita relaç&es entre dierentes "or4os
so"iais de uma "omunidade#
/or alar em "omunidade% !emos no "5digo oral de QangN a 4artir de alguns
!ersos de oriki% o sentido do bem 4Jbli"o e o res4eito e "uidado que de!e-se
ter 4elo o que $ de toda "omunidade# /er"ebemos isto nos !ersos:
:1!o e.iste ninguém #ue possa destruir minha boa fortuna (destino)" 1!o
destruir minha boa fortuna" minha boa fortuna a voc- pertence= 
/ara entendermos melor o sentido dos !ersos a"ima% de!emos nos ater ao
ato de que Cerger tradu2 Ori (+abeça que determina o 9estino e que !imos

111
em detale no 4rimeiro te*to "omo boa ortuna# m outras 4ala!ras o !erso
tamb$m ala em :1!o destruir o meu destino" meu destino a voc- pertence=$
sto al$m do sentido da "oisa 4Jbli"a% !ai mais al$m 4ois ala do ideal de
equil3brio que de!e a!er entre os dierentes elementos que "onstituem uma
"omunidade aludindo a im4ortAn"ia do 4a4el que os elementos de uma
linagem tem em relação a outros de outras linagens % 4ara que ela se
mantena#
Outro ator im4ortante a se e*4li"ar dentro do "5digo oral de QangN $ a
relação entre rique2as (ola % "aráter (i>á e dineiro (o>o # @o "5digo dos
babala>os o "on"eito de i>á ("aráter $ realmente muito im4ortante e não á
real ola (rique2a que se orme somente de o>o(dineiro# <oda rique2a $
ormada tamb$m 4or i>á ("aráter e onra# .em i>á ("aráter não 4ode a!er
ola (rique2a e este "on"eito no "5digo dos babala>os está 4resente tamb$m
no "5digo moral dos 'orubás#
Outros !ersos mostram atos "uriosos que tamb$m aludem a um "5digo moral
ou a um modo de obser!ação da so"iedade es4e"3i"o ou uma unção
4edag5gi"a "omo% 4or e*em4lo% quando a2emos as imagens dos !ersos de
Oriki:
:Ele pega uma criana teimosa e a amarra como um carneiro= 
:Beu senhor #ue fa marido e mulher lutarem juntos= 
:%prendi #ue ao acordar n!o veio : 
:*everá pagar uma multa= 
:% chuva molha o louco sem lavá+lo=
:Ele ri e n!o grita : 
/ara "on"luir esta 4arte termino "om !ersos de Oriki que me i2eram largar
tudo 4ara lutar "ontra a e*4loração se*ual inantil na aia em oerenda a
meus an"estrais da "orte do reino de O'o ( de QangN e que são:
:%lguém #ue balana os braos com ostenta!o provoca ciAmes= 
:Se uma pessoa importante tem dinheiro provoca ciAmes= 
:Se alguém fa seu penis funcionar" provoca ciAmes= 
:Ele n!o é como a criana #ue jamais teve rela5es= 
:Ou como alguém #ue envelheceu= 
:% vagina #ue n!o é suficientemente formada n!o pode reunir+se ao p-nis= 

112
  nega!elmente "i!ili2at5ria e 4edag5gi"a a unção do mito aqui assume um
!alores "ontra a 4edoilia neste "5digo moral de QangN# ,l$m disso nos
mostram um "laro sistema de ra"ionalidade# /er"ebemos "laramente que
a4esar de temos "omo 4rimiti!o este "5digo moral $ e*tremamente soisti"ado
e elaborado#
sto tudo nos a2 reletir que se !emos instituiç&es e so"iedades ari"anas que
se "orrom4em e degradam% esta degradação está muito longe do que os
"5digos morais originários da 4r54ria Hri"a% "omo este% 4regam% e se isto
a"onte"e $ muito mais 4ela inluên"ia e modo "omo o o"idente estabele"e
relaç&es "om a Hri"a# /or isso ouso a airmar que o resgate dos "5digos
an"estrais 4oderá a)udar muito mais a Hri"a a resgatar a dignidade de suas
instituiç&es do que sua o"identali2ação e "ristiani2ação % que ser!e aos
4ro45sitos da im4osição de "ultura de "onsumo o"idental#
Rostaria sin"eramente que a 4artir disso relitamos que tamb$m nossas
instituiç&es na diás4ora% 4or tentarem igualmente nos querer a2er "om que
nos adeqEemos a esta so"iedade de "onsumo o"idental ( euro4$ia% bran"a e
"ristã e nos aastam de "5digos morais "omo este de nossos an"estrais que
dessa orma igualmente nos "onstituem e 4or isso tamb$m se tornam
instituiç&es que tendem a se degradar e "orrom4er# nstituiç&es estas que não
reletem nossa identidade integral e que 4or isso !emos "omo se ossem
instituiç&es de uma alteridade e não nossas realmente o que nos torna em
4arte estrangeiros em nossa 4r54ria nação#
Ta>o kabi'esi l Oba baba .ango ### ba aba .ango
Osunemi

O 4ito de Yansã na #ivli1ação Yorubá a partir de seus Ori@is


Yansã $ um dos ori*ás mais 4o4ulares no rasil% o que não o"orre em toda a
diás4ora# Má !árias tentati!as 4ara e*4li"ar o signii"ado do nome Yansã%
4or$m os dois mais "one"idos são 'a (osan (ãe da @oite e 'a esan
(mãe dos no!e % sendo que estes no!e 4odem ser ilos ou "$us# Má uma
lenda da "oletAnea de Cerger que ala sobre esta 4ro!á!el relação de Yansã
"om a noite:
/or #ue O9á se chama Fans!K
O.um é a mulher de HangG

113
O9á já está velha" vai ao encontro de HangG e o acha muito belo$ *i #ue #uer
se casar com ele $ HangG replica #ue ela é velha demais$
Ela responde #ue sabe #ue é velha" mas #ue está decidida a desposá+lo$
 HangG di lhe ent!o #ue ela vá buscar seus pertences e volte" e ele se tornará
seu marido$
*epois #ue eles se instalam" O9á n!o #uer #ue HangG saia com outras
mulheres$ *i lhe #ue desde o dia #ue ela nasceu e até sua morte pertence a
ele e morrerá no mesmo dia #ue ele$
 HangG di a si mesmoC : % velha #ue chegou esta noite juntou o amor das
outras mulheres em seu cora!o$ ? por isso #ue a chamam de m!e da noite"
I9a (o)san$ 1o dia em #ue HangG voltou para sua terra Fans! acompanhou+o$
O'á $ tamb$m o nome do io @3ger e em O'o L$4ine nos narra que Yansã
na !erdade era ila do Laguna ( membro da "orte de O'o res4onsá!el 4elas
relaç&es "om outros 4o!os e que "asa-se "om QangN#
Yansã $ o arqu$ti4o da muler guerreira e entendemos muito sobre o 4a4el
das so"iedades emininas e das muleres no "om$r"io a 4artir deste mito#
+omo nos "olo"a alandier% sobre a muler "omo metade 4erigosa e a
in!ersão de 4a4$is entre omens e muleres% entendemos muito ao estudar o
arqu$ti4o deste mito#

-spectos #ivili1at%rios dos Ori@is de Yansã


/ara melor entender o mito de Yansã 4odemos !er nas imagens de seus
orikis muito de seu 4a4el "i!ili2at5rio% se)a na unção so"iol5gi"a ou 4edag5gi"a
deste mito#
/er"ebemos elementos sobre a in!ersão de 4a4$is que as muleres de uma
determinada idade desem4enam no imaginário "oleti!o ao ou!irmos o !erso
de Oriki:
O9á é a Anica #ue pode agarrar os chifres de bAfalo$

ste !erso tamb$m alude a uma lenda na qual Yansã se !estia de animal 4ara
"açar e alimentar seus no!e ilos#
Outros !ersos que aludem a este status de 4oder eminino são:
Bulher corajosa #ue carrega uma espada$

Ela é chefe durante o dia

114
ste Jltimo nos ala do 4oder eminino desem4enado 4elas !endedoras do
mer"ado e sua "ee (a 'alode#
Outro ator im4ortante a se ressaltar $ o 4a4el do mentiroso "omo transgressor
moral que tamb$m 4er"ebemos muito ortemente mar"ados nos Orikis de O'á%
quando ala:
Os daomeneanos s!o mentirosos" n!o tem em casa um talism! como o
de O9á#

2om o polegar ela estraalha os intestinos do mentiroso$

Ela bate a cabea do mentiroso com toda fora$

+ontudo tamb$m en"ontramos atores "i!ili2at5rios nos Orikis de O'á% "omo


4or e*em4lo quando a2emos as imagens do !erso:
1!o ande ao sol" ao entardecer volte para casa$

Cemos neste !erso uma "lara 4re!enção intuiti!a em relação ao mosquito da


malária que "ostuma ata"ar mais in"identemente no inal da tarde o que nos
mostra uma unção "laramente "i!ili2at5ria deste mito#
/ara "on"luir !emos outros traços do 4a4el das !endedoras do er"ado
inluen"iadas 4elo mito de Yansã% nos seguintes !ersos:
2arregue+me nas costas e n!o me ponha no ch!o" mulher de HangG$

7uem n!o sabe #ue O9á é mais importante e poderosa #ue o marido$

O9á morre corajosamente com seu marido ( tamb$m em alusão 6 lenda


que ala da morte de QangN e Yansã#

- Reroína -fricana QO -rqutipo da mulher guerreira na civili1ação


Yorubá e na nossa sociedade 3rasileira at os dias atuais"
.em dJ!ida% os mitos Yorubás são mais mar"adamente 4resentes no rasil
no @ordeste% mas tem sua inluên"ia tamb$m de!ido migraç&es% nas maiores
"idades do .udeste brasileiro#
m suas aulas de Yorubá % .ikiru .alami % ala!a da unção "i!ili2at5ria dos
Ori*ás# @o "aso de Yansã temos a legitimação do 4a4el da 'alode% que era a
igura eminina que 4arti"i4a!a da so"iedade Ogboni em O'o e outras "idades
Yorubás#

115
, 'alode era a "ee das !endedoras do mer"ado e tida 4or sua 4osição "omo
uma muler que tina o mesmo 4oder dos "ees mas"ulinos# /ara simboli2ar
seu 4oder% Yansã a4are"ia "omo o 4a4el da guerreira# Outro ator que tamb$m
legitima!a o 4a4el de Yansã "omo uma ero3na era sua ligação "om a
sobre!i!ên"ia e o ato das muleres terem que "açar e guerrear em
determinadas o"asi&es 4ara sustentar seus ilos#
Cerger em sua "oletAnea nos ala de uma lenda que "one"i em terreiros de
.al!ador da seguinte orma:
:Fans! era casada com HangG " porém tinha nove outros filhos e se disfarava
de bAfalo para caar para alimentar estes outros nove filhos$ HangG descobre
e desafia Fans! #ue irada o ataca e ele a detém com um prato de acarajés
#ue a fa desistir de atacá+lo= 

Cemos em outros !ersos de Oriki esta orça de Yansã:


1ada de mentiras para ti= "

=Bulher da caa="

:Bulher da guerra= 

"=Oiá encantada" atrevida #ue vai à morte com seu marido="

=7ue espécie de pessoa é OiáK="=Onde ela está o fogo aflora" Oiá" teus
inimigos te viram e espavoridos fugiram="

=6emo somente a ti= 

"=Esfrega na terra a testa do mentiroso="

:%tiva e altiva Oiá="

=Senhora do templo="

:Senhora do /ensar="

 :Ori.á #ue abraou se amor terra adentro="

 :2om o dedo tira a tripa do inimigo="

:0igeira mulher guerreira="

116
:Oiá #ue cuida das crianas="

 :Drande guerreira="

:Bulher suave como o sol #ue se vai= 

" : mulher revolta como vendaval="

 : *ona do vento da vida="

:%#uela #ue luta nas alturas="

 : 7ue doma a dor da miséria="

 :7ue doma a dor do vaio="

 :7ue doma a dor da desonra="

 :7ue doma a dor da tristea="

 :>ela na briga" altiva Oiá="

:3echa o caminho dos inimigos="

 :*eusa #ue fecha as veredas do perigo="

 :7uem n!o sabe #ue Oiá é mais #ue o maridoK= 

" :Oiá é mais #ue o alarido de HangG=$ (.endo estes Jltimos !ersos uma
reerên"ia 6 in!ersão do 4oder de gênero "omum em di!ersas
so"iedades ari"anas sub-saarianas% sobretudo de4ois de uma
determinada idade% "omo nos ala alandier

Itan Ifa D #omo o 4ito de Yansã nos alimentou na Inf!ncia"


O que mais dese)o ressaltar "omo sendo im4ortante dentre todos esses mitos
de di!indades ero3nas% $ que eles ins4ira!am "om4ortamentos dentre as
muleres 'orubás em suas regi&es na Hri"a e mais ortemente se so"iali2ando
entre es"ra!os de dierentes "idades estado ou reinos 'orubás durante a
diás4ora 4ara a ,m$ri"a%# e at$ mesmo ouso di2er que ins4iraram e tal!e2
mesmo ainda indiretamente ins4irem "om4ortamentos nas brasileiras mesmo

117
as não negras% inde4endentemente de suas religi&es que se es4elam em
suas an"estrais ari"anas 4or estes mitos estarem ainda 4resentes no
imaginário do nosso 4o!o sobretudo nas regi&es "itadas anteriormente #
Ouso a dar o 4r54rio e*em4lo de quem des"endo% 4elo o que teno registro% á
mais de "in"o geraç&es tem muleres "om a mesma bra!ura destas ero3nas
ari"anas#
esmo no meu "aso que )á á duas geraç&es normalmente nos "olo"a no
"enso "omo bran"os% mas que somos des"endentes de muleres negras
!indas destas sen2alas onde eram "ultuados estes mitos#
ina a!5 que tina a 4ele negra e% diga-se de 4assagem% era e!ang$li"a e
não tina nada em sua edu"ação religiosa da tradição ari"ana% não tina um
"om4ortamento dierente de suas an"estrais ari"anas que se ins4ira!am nos
mitos de ansã 4ra tra2er "omida 4ara seus ilos !estida de bJalo que !em a
ser uma metáora 4ara a "ondição de "açadoras e 4ode ser uma metáora 4ra
sua "ondição de o4erária em 4lenos anos F0% quando se !iu !iJ!a "om duas
ilas em uma so"iedade da!a "ada !e2 menos es4aço 4ra a muler% ainda
mais em sua situação#
Outro momento no qual renas"eu em mina am3lia a bra!ura deste mesmo
mito oi no momento em que meu 4r54rio 4ai não "onsegue mais se re"olo"ar
de!ido 6 sua idade e mina mãe% "omo grande 4er"entual das am3lias
brasileiras assume as unç&es de "ee de am3lia# .omente quando entrei em
"ontato "om o uni!erso dos mitos das ero3nas ari"anas $ que !im a
"om4reender sua "oragem e orça% assim "omo a de muitas muleres
brasileiras% negras ou não% que são "ees de am3lia#
@o "aso de mina mãe a inluên"ia deste mito torna-se ainda mais e!idente%
4ois ela $ ligada a tradição do "andombl$ e na $4o"a que morá!amos em
.al!ador e que te!e que desem4enar as unç&es de "ee de am3lia % abre
um "om$r"io e oere"e este "om$r"io 6 Yansã% e de!ido a isto seu "om$r"io
"arrega!a o nome da Ori*á )ustamente na "idade em que á a maior ta*a de
muleres "ees de am3lia do rasil e onde $ inegá!el a inluên"ia deste mito
assim "omo outros no imaginário "oleti!o de!ido 6 4redominAn"ia da rai2
'orubá nesta região#
/osso di2er% na mina 4osição mas"ulina% que esse mito% da muler guerreira%
ada4tado 6 o4erária e "ee de am3lia % segundo a 4ossibilidade de ada4tação
118
dos mitos ari"anos 4ara a realidade atual% "onorme nos airma ,ntonio is$rio
%$ que oi res4onsá!el 4or nossa subsistên"ia% 4elo menos nas duas Jltimas
geraç&es de mina am3lia# /osso airmar assim que 4elo menos nestas
geraç&es Yansã "ontinuou se !estindo de bJalo 4ra "açar e alimentar seus
ilos atra!$s destas bra!as muleres% inde4endente de suas 4osiç&es
religiosas#
,mbas% "omo dissera% são e oram muleres que se "olo"am na 4ele de bJalo
4ara tra2er "omida aos ilos e se o)e sobre!i!emos em mina am3lia a
muitas "rises e dii"uldades% não sei o que teria sido de n5s "omo ilos se não
ossem esses mitos ins4iradores de ero3nas ari"anas que inluen"iassem nos
brasileiros e inluen"iem nossas muleres negras ou bran"as# _ bom ressaltar
que essa $ uma inluên"ia de "ara"ter3sti"as bem dierentes da 4osição
submissa das muleres na tradição "lássi"a% sobretudo a grega ( no qual 9iana
ou as ama2onas eram uma realidade distante 4ra atenienses e es4artanas
que determinou e ainda determina a 4osição egemNni"a dos omens em
nossa so"iedade#
/osso di2er% em meu "aso 4arti"ular e tal!e2 no de muitos brasileiros de
regi&es "itadas% que este mito da ero3na negra que 4resen"iei e omentou
mina subsistên"ia na inAn"ia está muito mais 4r5*imo de meu 4ro"esso
edu"ati!o e de "onstituição "omo "idadão do que o distante e abstrato
"on"eito da ,r$t$ grega % que ti!e "ontato na mina ormação de edu"ador e
"eguei a obser!ar suas origens e usos na edu"ação o"idental em !isitas a
4a3ses do mar geu "omo na bibliote"a do Beso ( atualmente na <urquia% e
que !e)o nesta mesma distAn"ia ist5ri"a#
@ão teno a 4retensão de des4re2ar o mito do er5i grego ou "lássi"o% 4ois
a4esar de na mina origem 4aterna ter as"endên"ias italiana e grega%
reairmo que o mito da ero3na ari"ana está muito mais 4r5*imo e 4resente em
mina ormação edu"a"ional% a4esar de totalmente ignorado 4ela edu"ação
ormal% do que o mito do er5i grego e "lássi"o #
m suma% o que dese)o e!iden"iar em meu de4oimento $ que ao estudarmos
somente os mitos e er5is da antiguidade "lássi"a euro4$ia e ignorarmos
assim os mitos e er5is (mas sobretudo ero3nas ari"anos estamos
inega!elmente nos remetendo a um 4assado muito mais distante e abstrato
4ois os mitos "lássi"os estão á 4elo menos 8000 anos de distAn"ia de nossa
119
realidade ist5ri"a e mitos ari"anos al$m de estarem mais 4r5*imos
"ronologi"amente e 4or isso mais 4r5*imos no nosso imaginário na"ional%
ainda se mant$m !i!os em seus "ultos% moti!o 4elo qual ao in!$s de serem
"olo"ados "omo tendo somente sua unção religiosa% de!em ter re"one"ida
sua unção !i!a e 4resente no imaginário na"ional#
, grande maioria dos brasileiros inde4endentemente de suas religi&es%
sobretudo nos estados que "itei% têm alguma reerên"ia do que são estas
ero3nas 'orubás% graças ao ato de seus "ultos religiosos ainda estarem
4resentes em nossa so"iedade o que não de!e in!alidar% mas sim reorçar%
 )untamente "om a base an"estral des"endente de ari"anos de Z7W de nossa
4o4ulação% o 4a4el que estes mitos de ero3nas ainda e*er"em no imaginário
na"ional e o 4a4el que tem na edu"ação e ormação de n5s brasileiros#

sto não a"onte"e da mesma orma "om o mito do er5i grego ou "lássi"o ou
os mitos dos deuses elêni"os ou romanos que tamb$m ti!eram suas
origens em bases religiosas% mas que quando estudamos em edu"ação estas
bases religiosas são disso"iadas de sua origem e estudamos somente a 4artir
do seu 4onto de !ista mitol5gi"o#
+ontudo de!o "olo"ar que e*istem di!ersas dierenças not5rias entre as
ormas "omo os mitos dos deuses elêni"os e do er5i "lássi"o e dos mitos
e er5is e ero3nas ari"anas % "omo no "aso dos 'orubás e "ito a mais
rele!ante que $ que no "aso da maioria dos mitos ari"anos% "omo os 'orubás%
estes mitos têm sua origem em um an"estral m3ti"o res4onsá!el 4ela undação
da "idade estado e 4or sua !e2 do "lã em questão e que 4or sua !e2 está
ligado a um an"estral m3ti"o que $ o as"endente m3ti"o de todos os "lãs de
uma mesma etnia% o que )á não a"onte"e "om o er5i e o mito dos grandes
$4i"os "lássi"os% 4ois neste "aso não á ne"essariamente ligação de suas
origens na an"estralidade dos 4o!os que os "ultua!am ou "ria!am#
9entro da lina de ra"io"3nio que utili2o at$ agora neste te*to isto se torna
ainda mais rele!ante 4ara )ustii"ar 4orque 4arti"ularmente me sinto muito mais
4r5*imo ao "on"eito de deesa da onra da ero3na 'orubá do que a aret$ do
er5i grego# sto se dá )ustamente 4or que no "aso da ero3na 'orubá% 4elo seu
mito ter origem direta em nossa an"estralidade m3ti"a ari"ana e 4elo ato de
que 4ara a ero3na 'orubá este "on"eito de onra está mais ligado 6
120
sobre!i!ên"ia de seus des"endentes e a 4artir disso a atores de "onstituição
da "i!ili2ação#(ari"ana e não 4odemos negar que brasileira tamb$m de!ido 6
diás4ora deste 4o!o 4elo mundo no 4er3odo da es"ra!idão#
9e!ido a tudo isso deendo a 4osição de que temos direito ao a"esso a nossa
4lena identidade "ultural inde4endente de interesses de "lasses ou "ulturas
dominantes que toda !e2 que se ala em outras origens que não as euro4$ias
ou "lássi"as insiste em dar menos im4ortAn"ia a estes atos ou at$ mesmo não
re"one"er#
Pa2 se ne"essário onrar estas ero3nas que são nossas mães% muleres%
edu"adoras brasileiras% que mere"em ter re"one"ida sua base mitol5gi"a#

Rostar3a antes de tudo de que o re"one"imento da base mitol5gi"a ari"ana%


4elo menos em nossa edu"ação% 4ossa in"enti!ar% neste 4a3s mis"igenado%
que esta mesma mis"igenação se)a um ator a mais 4ara que lutemos 4elo
4leno a"esso a nossa identidade "ultural integral% ao "ontrário do que as
 )ustii"ati!as que o argumento da mis"igenação tem ser!ido nos Jltimos
tem4os% que $ disarçar as grandes dierenças so"iais entre "lasses#
ste te*to quer mostrar 4ela deesa de nossas bases m3ti"as e an"estrais
ari"anas% inde4endentemente de nossas "ores de 4ele% que n5s brasileiros%
 )ustamente 4or nossa origem mis"igenada% n5s e nossa so"iedade ao
utili2armos o "rit$rio de "or de 4ele 4ara dis"riminar% ou sim4lesmente 4ara
a"eitar a dis"riminação !elada em nosso 4a3s% estamos indo "ontra não
somente o 4rin"34io de igualdade que restringe 6s !3timas de dis"riminação o
4leno direito de e*er"3"io 6 sua "idadania% mas estamos tamb$m dessa orma
in"orrendo no erro de negar nossa 4r54ria 4lena identidade e e*4ressão "omo
brasileiros% a qual a matri2 ari"ana se a2 tão ou at$ mesmo mais im4ortante
que a euro4$ia e 4or isso não 4odemos negligen"iar sua base m3tol5gi"a#<oda
muler brasileira sabe de quem estamos alando se a dissermos que "ria seus
ilos "omo uma guerreira ari"ana( mesmo que não a"eitem Yansã em suas
religi&es# /or outro lado% 4ou"os 4ais brasileiros ( 4ais ou mães  sabem de
4ronto do que estamos alando se dissermos a eles que "riaram seus ilos
"omo o 4ai romano ou "om a aret$ e onra do er5i grego# .endo que esta
ero3na ari"ana está muito mais 4resente no nosso imaginário do que os
er5is gregos ou o 4ai romano# @ão 4odemos negligen"iar isto#
121
.omente desta orma nossas origens ari"anas ganarão es4aço atra!$s do
re"one"imento em 4$ de igualdade entre as bases mitol5gi"as de nossas
ra32es ari"anas e euro4$ias do es4aço do er5i e da ero3na#  $ )ustamente
no "am4o de base da edu"ação que 4oderemos "omeçar a "ombater
eeti!amente tanto o ra"ismo e o se*ismo que se "om4ro!am atra!$s dos
dados estat3sti"os que em 4leno s$"ulo QQ mais de 180 anos de4ois da
,bolição da s"ra!atura ainda se mostram em nosso 4a3s#
4arre' 'a Deun mi O'á
Osunemi

O 4ito de O'um na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is


O ito de O*um irradia 4ara o restante das "idades Yorubás assim "omo 4ara
a diás4ora a 4artir da "idade de Osogbo# Uma das !ers&es que tra2 o
signii"ado do nome da "idade e que !em do "or4o de Odus de á nos di2 o
seguinte% segundo nos narra Cerger:
: % festa anual das oferendas a O.um realiada e" Osogbo" na 1igéria" é uma
reatualia!o do pacto #ue o primeiro rei local contraiu com o rioC
0aro o antepassado do atual rei" ap&s prolongadas atribula5es" procurando
um lugar favorável onde pudesse instalar+se com seu povo" chegou perto do
rio Osun onde a água corria permanentemente$ Segundo se conta" um dias
mais tarde uma das suas filhas desapareceu nas águas #uando se banhava
no rio e" passado algum tempo " delas saiu" esplendidamente vestida$ *eclarou
a seus pais #ue fora admiravelmente recebida e tratada pela divindade #ue ali
morava$
0aro foi faer oferendas de agradecimento ao rio$ Buitos pei.es" mensageiros
da divindade" em sinal de aceita!o" vieram comer o #ue o rei jogou na água$
m pei.e de grande tamanho veio nadar perto do lugar onde ele se encontrava
e cuspiu água$
0aro recolheu esta água em uma cabaa e bebeu+a" celebrando assim o pacto
de aliana com o rio$ Em seguida estendeu as m!os e o grande pei.e saltou
nelas$Ele assume o ttulo de %taojá" contra!o da frase 9oruba : a le'o gba
eja=" a#uele #ue estende as m!os e pega o pei.e$ Ele declara C Osun gbo : " ou
seja " Osun está em estado de maturidade" suas águas sempre ser!o
abundantes$ *a origina+se o nome da cidade de Osogbo #ue é dedicada a
Osun$ : 

122
O*um tamb$m $ "ultuada em di!ersas outras "idades 'orubás% a 4artir de seu
mito ter irradiado a 4artir de Osogbo#
.egundo di!ersos mitos oi muler de QangN% Ogum% O*5ssi% Orunmilá e $
mãe de Logun de% o que na Hri"a tem di!ersas !ers&es os mitos de
asso"iação desta Ori*á "om estes deuses de4endendo da região em que se
en"ontrem e da inluên"ia destes Ori*ás no 4anteão regional# sto tem rele*os
na diás4ora onde O*um $ asso"iada a todos eles#
@a Umbanda no .udeste O*um $ sin"reti2ada "om @ossa .enora ,4are"ida%
4adroeira do rasilK na aia "om @ossa .enora da +on"eição% 4adroeira da
aiaK em +uba "om @ossa .enora da +aridade do +obre% /adroeira de
+uba#
O ato destes sin"retismos que asso"iam O*um 6 imagem de 4adroeira em
di!ersas lo"alidades 4odem estar muito 4ro!a!elmente ligados aos seus
as4e"tos ligados 6 maternidade#

-spectos #ivili1at%rios dos Ori@is de O'um


*istem !ários as4e"tos "i!ili2at5rios nos Orikis de O*um# .ele"ionei abai*o os
!ersos onde isto se e!iden"ia mais mar"adamente:
I9alode muito gorda #ue fende as vagas$
I9alode cuja pele é muito lisa$
*iste no !erso a"ima uma alusão 6 igura da 'alode# 'alode em 'orubá quer
di2er : 'a ( mãe  l ( da  ode ("orte ou 4raça em reerên"ia ao mer"ado# ,
'alode $ a lider das muleres no mer"ado e que 4or isso desem4ena 4a4el
"entral nas relaç&es "om os omens da so"iedade Ogboni e das so"iedades
ligadas 6s reale2as# <em um 4a4el de destaque entre as muleres% 4or isso e
tamb$m 4or sua idade que a torna% "omo nos ala alandier das so"iedades
subsaarianas% a4ta a desem4enar 4a4eis de de"isão que seriam normalmente
mas"ulinos# O*um tamb$m $ "amada de 'alode% assim "omo Yansã# ,4esar
de serem mitos "om "ara"ter3sti"as bem di!ersas% O*um e Yansã dentro de
suas "ara"ter3sti"as 4r54rias tamb$m nos alam de as4e"tos do 4oder eminino
nas so"iedades 'orubás% ambas re4resentando esta metade 4erigosa da qual
nos ala alandier#

123
@os !ersos abai*o !emos uma reerên"ia ao 4a4el que as muleres têm no
desen!ol!imento da medi"ina tradi"ional% assumindo o 4a4el de sa"erdotisas (
sobretudo de O*um  :
Ela fa por #ual#uer um o #ue o médico n!o fa$
Ori.á #ue cura doena com água fria
Se ela cura a criana ela n!o apresenta honorários ao pai$
B!e" venha a me ajudar a ter um filho ( uma alusão 6 ertilidade deste mito
tamb$m e o que ele im4li"a no 4rosseguimento da so"iedade de linagens
I9abale fa coisas secretas e fa remédios$
la tem rem$dios gratuitos e dá de beber mel 6s "rianças
Dá ao "onstruirmos as imagens dos !ersos abai*o !emos suas unç&es de
edu"adora % se)a "omo mãe ou "omo muler#
Ela di à cabea má para #ue se torne boa
Bulher descontente no dia #ue seu filho briga
Ela segue a#uele #ue tem filhos sem o dei.ar 
Ela recusa a falta de respeito
Ela permanece na galeria da casa e ensina às crianas as lnguas e tudo
a#uilo #ue elas n!o sabem (em uma alus!o direta ao papel da mulher como
educadora representada por esse mito)
Ela desvenda com as pessoas de onde vem a maldade
 % m!o da criana é suave$
O.um é suave$
*ona do cobre apodera+se tran#uilamente das crianas ( por seu
conhecimento)
Ela conserta a cabea má das pessoas$
2om as m!os compridas ela tira seu filho da armadilha$
Ela chega e a perturba!o se acalma
Ologun Ede" a#uele #ue tem medo n!o pode tornar+se uma pessoa importante
(em uma sentena e instru!o direta a seus filhos)$
O.um age com calma
Binha m!e #ue cria o jogo de a9o e cria o jogador
O filho entregará o dinheiro em sua m!o
*ei.em a criana rodear meu corpo com as m!os
 % m!o da criana é suave
124
O.um é suave$
Cemos no e*em4lo dos Orikis de O*um a"ima% reerên"ia ao 4a4el da muler
"omo du"adora ins4irada 4or este mito# , unção 4edag5gi"a aqui $ inegá!el#
O 4a4el da mãe% 4rotetora% edu"adora e ero3na "ontida no ito está
inega!elmente 4resente# /odemos in"lusi!e !er nossas mestras e mães na
diás4ora desem4enando seus 4a4$is de edu"adoras muito mais 4resentes
neste e*em4lo e nestas rases de O*um % do que nos "on"eitos abstratos e
distantes dos er5is gregos ou 4ais romanos que !emos em nossa ormação
de edu"adores no rasil% mesmo em uni!ersidades tidas "omo de elite da
edu"ação#
,l$m destes atores que se reerem 6 unção 4edag5gi"a do ito% 4odemos
4er"eber "laramente a unção so"iol5gi"a que estes "or4os so"iais de G
edu"adoras G mães de am3lia tem ao se ormarem nos seios das linagens#
@o tem4lo de O*um em Osogbo a unção de edu"ar as no!as e no!os
ini"iados $ das .a"erdotisas e di Osun e se baseiam muito no que !emos
nestes Orikis#
,t$ mesmo no !erso :Osun lava suas j&ias de cobre e n!o lava
suficientemente seus filhos= % !emos uma unção 4edag5gi"a# Vuando esti!e no
gito % !i um "om4ortamento 4are"ido e que in"lusi!e me lembrou este !erso
de Oriki% e ao 4erguntar 4ara as "am4onesas da região de Lu*or% 4or que não
2ela!am e 4are"iam des"uidar de seus ilos% ti!e a res4osta : : E.cesso de
 elo n!o educa= # Lembrei in"lusi!e dos "lássi"os sobre du"ação de
ousseau ao ou!ir isto% 4ois deendia de alguma orma esta 4arti"ularidade
nos 4o!os ind3genas da ,m$ri"a#
O*um está ligada tamb$m% de alguma orma ao sistema e"onNmi"o quando
alude 6 a"umulação de rique2as e ao 4r54rio ato de e"onomi2ar "onorme
!emos nos !ersos de Oriki abai*o#
:Ela cavouca areia para nela guardar dinheiro= 
:Ela cavouca a areia para nela recolher dinheiro= ( Em alus!o direta à
necessidade de economiar)
O.um dona das profundeas da ri#uea
Ela tem muito dinheiro e sua palavra é suave
Ela se apropria do feriado" ela se apropria da ri#uea

125
? uma freguesa dos mercadores de cobre ( pois o cobre #ue era o metal mais
nobre dentre os 9orubás" e n!o o ouro)
Ela fica em casa e estende a m!o às ri#ueas (em relação direta "om
4roiss&es emininas sobretudo ligadas ao artesanato desen!ol!idas nas
"asas
 % grande ri#uea agrada
Ela come #uiabo caro sem pedir fiado
Ela dana nas profundeas da ri#uea
Ela é elagante e tem dinheiro para divertir+se
Ela manda coinhar sopa de #uiabo e n!o fica endividada
O.um inclino+me
Ela é dona do ouro$
<al!e2 esse dom3nio de 4arte do mundo inan"eiro e sistema e"onNmi"o que
alude 6 4r54ria unção das 'alodes e !endedoras do mer"ado 4ossa e*4li"ar%
 )untamente "om o que nos ala alandier sobre momentos de in!ersão de
4a4$is% momentos nos quais as muleres tornam se realmente esta metade
4erigosa# @os !ersos de Oriki abai*o !emos "laramente "omo o mito assume
este 4a4el ins4irando este "or4o so"ial de !endedoras do er"ado e 'alodes
que geralmente tamb$m se organi2a!am em so"iedades emininas ligadas 6
magia# Cemos resqu3"io disto nos terreiros de "andombl$ do rasil na diás4ora
onde as muleres desem4enam 4a4el im4ortant3ssimo tal qual as 'alodes%
que no "onte*to ari"ano% 4or serem "ees das muleres do mer"ado tinam
a"esso a todas mer"adorias ne"essárias 4ara a "one"ção das oerendas e
ob)etos ne"essários 4ara a magia assim "omo nos airmam Cerger e astide#
stas muleres da diás4ora das quais des"endemos% sem dJ!ida% são
erdeiras destes "or4os so"iais de !endedoras e sa"erdotisas ari"anas
inluen"iadas 4or este mito#
sto se torna bem "laro% assim "omo a im4ortAn"ia dos 4a4$is emininos
desem4enados 4or elas% quando !emos os !ersos de Oriki abai*o:
B!e de %disa Olosun " n!o se es#uea de mim
1!o e.iste lugar onde n!o se conhea O.um poderosa como o rei
Ela dana e pega a coroa" ela dana sem pedir
Se a mulher está no caminho " o homem foge
Ela recebe o mensageiro do rei sem lhe prestar rever-ncias
126
Ela entra na casa do preguioso e este foge ( em clara men!o do preguioso
como transgressor moral conforme vimos em te.tos anteriores)
*esperta e age como alguém famoso
Ela tem um ttulo e viaja
? raro uma mulher coroada
Ela caminha com uma postura altiva
 %joelhem para as mulheres"
 %s mulheres s!o a intelig-ncia da 6erra
O homem n!o pode faer nada sem a mulher 
m grande poder foi concedido a todas mulheres através de ti"
1!o abusem as mulheres deste poder"
Sen!o lhes será retirado$
Itan Ifá: #omo minha mãe O'um nos educa ainda ho0e na diáspora"
e0o nas minhas mestras , muito mais do que os pedagogos da Arcia ou
de her%is de epopias clássicas ou o pai romano"
e0o mulheres, que ficam na galeria da casa e ensinam para as crianças
as línguas que elas não sabem"
e0o mulheres que querem tornar cabeças ruins e más em cabeças boas
?ue descobrem com as pessoas de onde vBm a maldade e a opressão
?ue nos di1em que se tivermos medo dificilmente nos tornaremos
pessoas importantes"
e0o educadoras que seguem aqueles que tem filhos sem os dei'ar
quando educam estas crianças"
e0o mulheres descontentes nos dias em que seus filhos brigam ou são
in0ustiçados"
e0o aquelas que com seu conhecimento de educadoras tiram seus
alunos das armadilhas da ignor!ncia, como se fossem seus pr%prios
filhos"
e0o mulheres mãe e educadoras que agem com calma, que pela pai'ão
ao saber acalmam as perturbaç)es de espírito dos que buscam o
conhecimento"
e0o mulheres que com sua sabedoria criam o 0ogo da vida e atravs de
seus ventres dão a lu1 aos 0ogadores"

127
4ulheres que administram lares pois seus filhos dão o dinheiro em suas
mãos dos dois lados desta diáspora"
4ulheres que di1em que a mão da criança  doce e que dei'am a criança
que 0amais morre em n%s rodear seu corpo com as mãos "
4ulheres que são a doçura de nossa inteligBncia"
& alm do que vemos em seus versos de Ori@i, mãe O'um
e0o mulheres que sobretudo recusam a falta de respeito "
O mesmo respeito que buscamos como filhos desta nação e s%
conseguiremos quando dei'armos de negar nossas verdadeiras origens
dos ventres de nossas mães Negras de África"
Ore CeCeo ICa Ori mi Osun""" &mi nife o ICa Ori mi S Ife -se Ja""" &mi
Osunfemi ni"
Osunfemi
O 4ito de Obatalá na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is
Obatalá $ o "ee do 4anteão de Ori*ás na diás4ora% 4or$m na Hri"a se
desdobra em uma s$rie de mitos e "om lendas di!ersas em "ada uma das
"idades onde se a4resenta# uitas !e2es está ligado 6 Origem da "riação# @a
maioria das "idades sem4re á alguma lenda que o rela"ione a isso#
<rans"re!o abai*o uma lenda da "idade de ,beokuta 4resente na obra de
$niste:
: 1o comeo de tudo" #uando Obatalá criou a 6erra e todos seus atributos" ele
fe a distribui!o de todas as partes para todo o povo" cabendo a El a regi!o
mais árida coberta de pedras$ %li em %beokutá " ergue sua faenda cujo
terreno era mais rochedo do #ue solo fértil para a planta!o$ %pesar de tudo
em contrário" as terras de Obatalá eram as #ue mais produiam colheitas de
todos os tipos$ 2hovesse ou n!o" a produ!o da colehira era superior às
demais$
Esta situa!o causou um descontentamento entre os demais habitantes " #ue
 passaram a inveja+lo e cobiar suas terras$ Es#ueciam #uem era Obatalá e o
#ue havia feito por todos$ /assaram a observar os passos de Obatalá e
tomaram conhecimento de #ue ele precisava contratar um escravo$ E isso foi
feito$ Seu nome era %to'odá" #ue desde o princpio demonstrou ser muito
eficiente" dando muita satisfa!o a Obatalá$ %p&s algum tempo o escravo
 pediu a Obatalá um pedao de terra para seu cultivo$ *e bom grado lhe foi
dado o #ue pedia$ Em poucos dias" %to'odá transformou a terra em boa área

128
de cultivo" construindo ali uma pe#uena cabana$ Isso impressionou Obatalá"
#ue nele depositou toda sua confiana$
Ocorre #ue %to'odá n!o tinha bons prop&sitos$ Seu desejo real era matat
Obatalá $ E assim ar#uitetou um plano$ Observou #ue no caminho ngreme #ue
levava até a sua cabana havia muitas pedras grandes #ue poderia#m
facilemente ser empurradas" causando seu rolamento montanha bai.o para
esmagar Obatalá$
 %lguns dias mais tarde Obatala seguia sua caminhada habitual em visita às
suas terras$ *o topo de uma montanha" %to'odá observava$ % habitual roupa
branca de Obatalá destacava+se no fundo verde de suas planta5es$ 7uando
 %to'odá estava certo #ue n!o haveria sada para Obatalá " subitamente deu
um empurr!o na maior das pedras $ % pedra comeou a rolar e se dirigiu com
toda velocidade para onde estava Obatalá" o #ual" paralisado pela surpresa"
n!o pGde escapar$ 3oi atingido em cheio e seu corpo partiu+se em muitos
 pedaos" ficando espalhado por toda parte$
 % notcia correu$ Obatalá havia sido destrudo por homens invejosos$ E.A foi
um dos #ue receberam a notcia$ Seguiu rápido até %beokutá para verificar o
ocorrido$ Seguiu depois para o Orun relatando a tragédia a Olodumaré " #ue
designou Orunmilá para encontrar as partes do corpo de Obatalá e tra-+las de
volta$ Orunmilá seguiu para o local imediatamente$ %p&s um certo tempo a
lamentar o fato" e.ecutou um ritual #ue tornou possvel achar todos os
 pedaos espalhados do corpo$ Ele recolheu num grande igbá e levou a Iranje"
antiga cidade de Obatalá" onde depositou uma por!o de pedaos #ue
 possibilitou fa-+lo renascer no Orun$ O restante espalhou : por todo o mundo="
faendo com #ue fossem surgindo novas divindades" ent!o denominadas
Ori.ás ( Orisa ) #ue sintetia a contra!o da fras Ohun ti a ri sa ; : O #ue foi
achado e juntado=" alusiva ao fato do recolhimento dos pedaos do corpo de
Obatalá$
2omo outras divindades surgidas do corpo de Obatalá passaram a ter seus
nomes derivados dele" tornou+se ent!o necessário destacar seu nome como
Orisa 1la ; O grande Ori.á ; #ue representa ai a soma de todos os Ori.ás
 juntos$ : 
Cemos nesta lenda uma semelança muito grande "om o mito do
esquarte)amento de Os3ris e a distribuição dos 4edaços do "or4o 4elo gito#
<amb$m a re"onstituição do "or4o de Os3ris 4or sis está ligada 6 gênese dos
deuses eg34"ios# @ão 4odemos di2er que á uma inluên"ia direta% "ontudo

129
4odemos di2er que são ambos mitos ari"anos que "on!ersam entre si atra!$s
dos s$"ulos#
-spectos #ivili1at%rios e #%digo 4oral nos Ori@is de Obatalá
*istem di!ersos as4e"tos "i!ili2at5rios 4resentes nos Orikis de Obatalá
e dentre estes as4e"tos á um !erdadeiro "5digo oral que se e*4li"ita
atra!$s dos !ersos de seus di!ersos Orikis#
Obatalá $ tido "omo o 4ro!edor e res4onsá!el 4ela distribuição dos re"ursos
em di!ersas o"asi&es% "omo 4or e*em4lo:
Obatalá" dono da coisa sagrada %
Ele dá a #uem tem e toma de #uem nada tem ( em uma alusão aos im4ostos
que se re"olem em a!or do rei % o que nos ala algo do sistema e"onNmi"o
nesta "i!ili2ação#
Se ele tem o #ue comer ele nos dá o #ue comer
( em uma alusão ao 4a4el 4ro!edor desem4enado 4or este mito o que nos
ala bastante do 4a4el dos 4atriar"as e da unção sedentária dos omens "omo
agri"ultores e "açadores em "ontra4osição 6s muleres !endedoras do
mer"ado
O dia em #ue plantamos alegremente o milhete
O dia em #ue protegemos o milhete dos pássaros
Se retornarmos com o milhete
2hegaremos a Ifon
(@estes !ersos !emos uma alusão no!amente ao 4a4el do trabalo no
"onte*to da agri"ultura e a ligação deste mito "om esta unção
1&s vestimos as pessoas maltrapilhas
3aemos com #ue a roupa seja abundante
O #ue o Ori.á pega da 6erra n!o basta
 % massa de inhame é o pai do segredo ( em uma alusão ao alimento "omo
sustento da so"iedade e o 4a4el do agri"ultor
Ele pega duentos punhados de massa e espera para #ue a criana se
satisfaa$
Ele pega mil punhados de massa e mantém+se paciente
stes !ersos a"ima aludem no!amente a unção de 4ro!edor e sugerem
"om4ortamentos 4ara as nobre2as e res4onsá!eis 4elos go!ernos das

130
"idades# m algumas tradiç&es 'orubás os reis de!em se !estir da orma mais
sim4les e se torna res4onsá!el 4ela 4ro!isão dos re"ursos 4ara seu 4o!o#
Ele di #ue para guerrear pega um pil!o
Uma reerên"ia ao trabalo em "ontra4osição 6 guerra% o que a!ali2a a
4osição deste mito "omo um dos res4onsá!eis 4ela manutenção da /a2 entre
os Yorubás
,t$ aqui 4er"ebemos "laramente a unção 4edag5gi"a do mito de orma mais
e*4l3"ita e sua unção so"iol5gi"a de orma im4l3"ita 4elos "or4os so"iais que
ele !em a legitimar#
@os !ersos abai*o temos e*em4lo da titulação 4r54ria dos Orikis#
Obatalá
*ono de um ala ( manto) todo branco$
3amoso na %ssembléia
Obatalá" pai de Orunmilá
/ai de Orunmilá
Duerreiro cuja baraba embelea a boca$
( Cemos "laramente que a autoridade da ama na assembl$ia $ legitimada 4ela
4osição 4atriar"al
Ele fa com #ue toda mulher estéril se torne fecunda
Cemos neste !erso uma reêrên"ia ao 4rolongamento das linagens e sua
unção so"iol5gi"a e 4edag5gi"a#
1!o se pode recusar a#uilo #ue nos oferece para comer #
.obre este !erso "omento algo que a"onte"eu "omigo no gito# sta!a em um
Nnibus entre o +airo e o .inai e me sentei ao lado de um nJbio # le me
oere"e bola"as 4ara "omer e eu re"uso# le mesmo dei*a de "omer o que
me oere"era # /ergunto a um eg34"io ao "egar ao .inai o 4or que daquilo%
4orque aquele meu amigo dei*ara ele mesmo de "omer a 4artir da mina
re"usa e ele me e*4li"a que dentre os nJbios á o "ostume de se G <em de
"omer% dar de "omerS e se ou!er uma re"usa% quem oere"e o alimento não
4ode "omer na rente de quem re"usou 4ara não "onstrangê-lo% 4ois não $ de
bom tom G re"usar algo que nos $ dado 4ara "omerS#
+laro que as duas tradiç&es % ( nJbia e 'orubá  tem uma longa distAn"ia entre
si% e le!ando em "onta que a lenda de que Oduduá teria 4assado 4ela @ubia
4ara se estabele"er em le $ tena sido "onstru3da 4or ra2&es da
131
islami2ação 'orubá % !emos que tal!e2 não a)a um 4aralelo direto entre as
duas tradiç&es# +ontudo o que não 4odemos negar $ que a4esar de distantes
estas tradiç&es ari"anas "on!ersam entre si% "omo "on!ersam as tradiç&es de
todos os 4o!os sudaneses% o que 4ode !ir a signii"ar% dentre outras "oisas% a
uma remota origem "omum% senão ao menos uma tro"a de inluên"ias entre
estes 4o!os sudaneses do leste e oeste% de!ido tal!e2 mesmo a 4ro!á!eis
migraç&es e as rotas de "om$r"io que ai se estabele"eram dentro e ora do
"onte*to da e*4ansão do slã#
,l$m disso% sem dJ!ida% este ato nos e!o"a uma unção 4edag5gi"a do mito
que !ai muito al$m da liturgia e nos esboça 4adroni2ação de "om4ortamentos
dentro desta "i!ili2ação assim "omo "ostumes so"ialmente a"eitos#
Dá nos !ersos de Oriki de Obatalá :
  :3ilho de minha famlia por afinidade n!o é meu filho : e  :2onhecemos as
coisas com as #uais nascemos=" mostram "laramente a relação que !imos
anteriormente nos orikis de Yeman)á sobre os 4arentes e estranos dos
quais nos ala eillassou* em sua obra ,ntro4ologia da s"ra!idão# +ontudo
aqui !emos o outro lado% não aquele no qual estes estranos se ada4tam 6s
linagens e estabele"em assim no!as relaç&es de 4arentes"o# ,qui !emos as
situaç&es nos quais estes agregados são de alguma orma im4edidos a
desem4enar 4a4eis que somente as relaç&es "onsangE3neas 4ermitem#
Cemos aqui o estabele"imento de um limite% 4resente em muitas so"iedades
subsaarianas 4ara estes estranos% que mesmo quando tidos "omo 4arentes
4or determinadas tradiç&es não dei*am de ser estranos em outras
determinadas situaç&es% sobretudo dentro da linagem 4atriar"al# O que 4ode
o"orrer 4or e*em4lo senão na tradição dos "ees de am3lia omens
quando determinam os 4a4$is su"ess5rios% nos quais os estranos são% neste
"onte*to% sumariamente e*"lusos#
sto 4ode tamb$m nos alar muito da es"ra!idão dom$sti"a entre di!ersos
4o!os subsaarianos% quando% "omo nos ala eillassou*% estes estranos não
se in"or4oram 6s linagens "omo agregados % "riando um "or4o so"ial 6 4arte
!ulnerá!el muitas !e2es 6 es"ra!i2ação% mesmo antes do "i"lo "omer"ial que a
,ri"a estabele"era "om o O"idente a 4artir do s$"ulo QC#
 interessante que obser!emos o 4a4el so"iol5gi"o do mito aqui que legitima
4osiç&es ierárqui"as dentre os gru4os e "ega mesmo a e*4li"ar o
132
surgimento de no!os "or4os so"iais de estranos e no!os 4arentes dentro
desta so"iedade em sua dinAmi"a# ,o e*4li"ar a !ersão 4atriar"al dos
agregados% entendemos muito de n5s mesmos na diás4ora e do
"om4ortamento de nossos an"estrais na adoção de seus agregados ( que era
algo muito mais inega!elmente !oltado 6 unção materna% o que tal!e2
e*4lique tamb$m a im4ortAn"ia da unção 4edag5gi"a da mãe e da muler nas
so"iedades subsaarianas e em nossa diás4ora#
@os !ersos de Oriki de Obatalá o maleitor a4are"e sem4re "omo um
transgressor moral% 4or isso alem do 4reguiçoso e do mentiroso % o maleitor $
o ter"eiro elemento indese)á!el nesta so"iedade% que muitas !e2es nossos
meios a"adêmi"os e sobretudo religiosos se re"usam a re"one"er seu
"5digo moral e $ti"o "omo undamental ou ao menos e*istente# ( +omo )á ou!i
de di!ersos 4roessores uni!ersitários e sa"erdotes religiosos sobretudo
"ristãos # +ontudo isto se in!alida ao ou!irmos os !ersos de Oriki:
Ele derrama rapidamente fora do alcance do malfeitor 
Ele inutilia completamente o olho do malfeitor
Ele ap&ia a#uele #ue di a verdade
/oderoso au.iliar dos homens na terra
@ei 8usto como a m!o de Ifá(do destino)
O.aguian n!o tem maldade na barriga   ( em uma reerên"ia aos intestinos
"omo 5rgão sens3!el onde "on"entramos nossos sentimentos % o que $ muito
"omum em di!ersas so"iedades subsaarianas
/alavra #ue transforma miséria em alegria" ao despertar ele pisoteia a#ui$
Se ele prejudica" ele repara ( em uma clara fun!o pedag&gica do mito )
@ei #ue tra ao mundo sem es#uecer$
Ele esfrega a nádega do malfeitor como alguém #ue esfrega um saco de
estopa$
 % morte e.pulsa a guerra sem fugir 
Ele é paciente e n!o se encoleria ( em clara fun!o pedag&gica do mito)
Ele tem felicidade e boa disposi!o
Ele #ueima os abcessos ( em clara fun!o pedag&gica e civiliat&ria)
Cemos um as4e"to ligado 6 androginia simb5li"a dos l3deres em um !erso de
Oriki de Obatalá quando ou!imos :
Oduá é o Barido" Oduá é a mulher$
133
sto nos alude ao 4rin"34io que a armonia !erdadeira s5 se "onsegue quando
temos o dom3nio dos dois 4rin"34ios segundo di!ersas tradiç&es subsaarianas
e que !imos nos mitos de O*umar$ e QangN mais detaladamente#
Cemos outros as4e"tos "i!ili2at5rios e "laramente delineadores de um "5digo
moral nos seguintes !ersos de Oriki de Obatalá:
A) Os 4rimeiros ligados ao alimentoC
O fac!o pega a massa de inhame e usa como roupa
 % massa de inhame é pai do segredo
7ue joguemos na boca a bola de massa de inhame
Ligada a redenção ou ao 4oder dos l3deres e "ees de linagem ou
religiosos
Ele mata no pátio a#uele #ue n!o é iniciado e desperta para #ue ele oua
as palavras
/alavra #ue muito mata
Ele é dono da lei e assume o comando
Ele desperta e cria duentos hábitos
Sua atividade na terra n!o tem limites
@edondo como o terreno do mercado
Ele cria as pessoas  ( em "lara unção 4edag5gi"a
" Ligada a "5digos de "om4ortamento:
1!o se pode ter duas cabeas ( dois destinos ou duas opini5es diferentes
sobre o mesmo assunto)$
ejam meu marido" #ue constr&i a casa e a abandona para viajar 
Beu marido fa o #ue ele #uer 
 % mulher n!o pode fornicar com o cavalo
1!o se deve matar o camale!o ( s3mbolo da di!ersidade e multi4li"idade do
Uni!erso 4ara os 'orubás% ligado 6 "riação do mundo e a O*alá 
2usparada de mulher ciumenta n!o racha a parede
 %lguém ciumento n!o pode rachar a parede cuspindo
Ele n!o conta em casa o #ue viu
Se ele prejudica" ele repara
Cemos na bele2a deste "5digo moral algo muito ri"o e que a4esar de
4are"er sim4les% $ na realidade um dos guias de uma so"iedade dias45ri"a
que nos ormou# nquanto nos aastarmos destas realidades e "5digos
134
morais negando estudá-los e !ê-os "omo "oisas e*5ti"as% estaremos
tratando grande 4arte do que nos ormou e nos 4erten"e "omo uma
!erdadeira alteridade#
  6ai que cria as pessoas e nos criou independentemente de nossas
tradiç)es, a0ude:nos a que não tornemos nossos parentes ancestrais
em estranhos
&pa 3aba Osa OgiCan Asé 0a'a Osa Olufon
Osunfemi

O 4ito de Oduduá na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is


Oduduá e a Origem dos Yorubás
Oduduá $ im4ortante no 4anteão dos 'orubás% 4ois $ o 4r54rio an"estral m3ti"o
deste 4o!o# ,ntes do ad!ento de Oduduá outros "ultos eram "orrentes em
terras 'orubás% assim "omo outras tradiç&es# 9e qualquer orma estas
tradiç&es resistem "om a "riação da .o"iedade Ogboni em le e e outras
"idades Yorubás# Mo)e a so"iedade Ogboni está ligada a uma determinada
so"iedade se"reta de babala>os e tem um 4a4el mais am4lo do que
desem4enou no 4assado% "onorme nos delineia a 4r54ria sugestão de
obser!ação das dinAmi"as de e!olução so"ial de di!ersos 4o!os subsaarianos
"omo tratamos anteriormente#
9e qualquer orma Oduduá tra2 no!os "on"eitos e tradiç&es# Uma das lendas
que "ontam a origem de Oduduá e que trans"re!o abai*o da obra de $niste%
nos ala de sua relação "om o surgimento do slã# Uma 4esquisadora que tem
seu o"o em ,ri"a% uma !e2 me airmou que esta lenda $ um mito "onstru3do
de!ido a inluên"ia do islã em terras 'orubás% outros nigerianos me airmaram
que esta era a origem de Oduduá ( dentre eles 'orubás islAmi"os in"lusi!e# 9e
qualquer orma% esta lenda simboli2a a "on!ersa entre estas tradiç&es% e nos
ala muito das relaç&es amb3guas e*istentes entre as religi&es tradi"ionais

135
ari"anas e o islã% não s5 entre os 'orubás mas tamb$m em outras
so"iedades sudanesas subsaarianas#
,bai*o o mito:

0amurudu" um dos reis de Beca" tinha como filhos Oduduá e os reis


Dogobiri e Juka'a" duas tribos da regi!o de ausa$ Oduduá era o
 prncipe herdeiro" #ue se mantinha com a idéia de modificar os
costumes religioso" introduindo na grande mes#uita formas de dolos
criados por %sara" o seu sacerdote e faedor das imagens$ %sara tinha
um filho chamado >raima" #ue fora educado como adepto do
maometismo e contrário às idéias do pai$ /ela influ-ncia de Oduduá"
um mandado real foi e.pedido" ordenando #ue todos os homens
fossem caar durante tr-s dias" antes da comemora!o anual das
festividades levadas a efeito em honra d#ueles deuses$

 %proveitando+se da aus-ncia de todos os homens" >raima invade a


mes#uita e destr&i todas as imagens$ 1o retorno de Oduduá foi
constatada a ocorr-ncia e uma investiga!o foi feita$ >raima comeou a
 provocar Oduduá" diendoC : /erguntem ao grande dolo #uem fe issoK
Ele sabe falarK Imediatamente foi dada a ordem para ele ser #ueimado
vivo pela afronta cometida$ 0enha e panelas de aeite foram traidas$
Isso foi o sinal para o incio de uma guerra civil$ 2ada uma das partes
era possuidora de muitos adeptos" mas os maometanos levaram
vantagem$ O rei 0amurudu foi assassinado" e todos seus filhos e
seguidores pr&.imos foram e.pulsos da cidade$ Os reis de Dogobiri e
de Juka'a seguiram para o Oeste e Oduduá tomou caminho do
0este" viajando por XY dias" atravessando a regi!o do Egito e seguindo
 para o Sul" pr&.imo ao local onde viria a ser fundada a cidade de Ile Ife$
Oduduá e os filhos juraram &dio mortal e vingana pela morte do pai$
6empos depois" a tentativa de vingana será comandada por
Oranmi9an de forma infrutfera" mas com a vantagem de" durante esta
e.pedi!o ser fundada a cidade de O9o" #ue viria a faer frente em
 prestgio a cidade de Ile Ife$ 7uando Oduduá saiu da %rábia" levou
consigo duas imagens de divindades$ O rei #ue assumiu o poder
resolveu enviar um e.ercito para destruir Oduduá e submeter os
demais à escravid!o$ 3oram" porém" vencidos" e dentre a pilhagem
assegurada pelos vitoriosos havia uma c&pia do %lcor!o$ Bais tarde

136
isso foi guardado num templo " venerado e cultuado como rel#uia
sagrada pelas gera5es seguintes" com o nome de [d" significando
fundamento ou algo sagrado$ Entre a#ueles #ue formavam a comitiva
de Oduduá estavamC Orunmilá" Oluorogbo" Obameri" Oreluere" Obasin"
Obagede" Ogun %lagada" Obamakin" Oba 'inni %je" Erisile" Elesije"
Olose" %lajo" Esilade" Olokun e Orisateko$= 

+onorme !imos no mito de *u% um dos transgressores que "onere


mo!imento ist5ri"o 6s so"iedades subsaarianas $ o reormista religioso#
Oduduá assume esta unção de reormista religioso tanto na sa3da de e"a (
em alusão á relação "om o slã quanto na "egada a le $ ( "om o ad!ento
da so"iedade Ogboni que traça um mo!imento de resistên"ia 6s no!as
tradiç&es# Cemos nomes im4ortantes na "omiti!a de Oduduá ( "omo Orunmila
e Olokun % os deuses do destino e do mar # Outro ator im4ortante $ a relação
de Oranm'ian "om o ato e a undação de O'o ( o que nos a2 lembrar da
relação legalista do "5digo moral de QangN% neto de Oranm'ian# .em dJ!ida
o que temos aqui e que airmo mais uma !e2 e o diálogo entre as tradiç&es
islAmi"as e tradi"ionais# @o "aso dos 4o!os aut5"tones de le e ressaltamos
o ato de que a .o"iedade Ogboni 2elou 4elas tradiç&es originas% o que
reairma% "omo !imos no te*to de QangN o mo!imento de esistên"ia das
tradiç&es originais que in"or4oram e re-signii"am outras tradiç&es no!as (
"omo !emos "laramente no "aso da de"laração do li!ro sagrado dos islAmi"os
"omo algo sagrado a4esar de não "ultuado o que sem dJ!ida a2 "om que
!enamos a entender muito de nossos 4ro"essos de a"ulturação na diás4ora#

-spectos #ivili1at%rios dos Ori@is de Oduduá"


n"ontramos "laras reerên"ias "i!ili2at5rias nos Orikis de Oduduá# stas
reerên"ias se a4ro*imam muito do que !emos nos Orikis de Obatalá #
Cemos a unção do 4ro!edor em:
 %lguém #ue n!o me dei.a morrer de fome
7ue n!o dei.a o devedor vir a mim
*o benfeitor e sábio emC
Ele fa o bem " ele n!o fa o mal"
Ele combate o fogo e vence o fogo
Ele combate o Sol e vence o Sol 
137
iolenta batalha no céu
O senhor do mundo tudo sabe
9e qualquer orma este mito tamb$m se rela"iona "om a unção administrati!a
4atriar"al% a4esar de algumas !e2es se rela"ionar "om uma igura eminina#
ntendemos% a 4artir desta dualidade do eminino e mas"ulino em Oduduá
tamb$m as relaç&es de 4oder e!o"adas 4ela igura do ser andr5gino em
di!ersas so"iedades subsaarianas#
 A1a nife o .gun 1a 'a'a Odudu1a  Ife Ase 1a#
Osunfemi

!rincipais autores utili2ados( a quem particularmente


agradeço e recomendo o con3unto de suas o'ras)
4osé 0eniste, 5arlos errano( aulas) , "eorges 0alandier,
6oger 0astide, !ierre 7erger, i8iru alami, 0a'atunde 9a1al ,
 A'im'ola :ande, 5laude 9épine, Antonio 6isério, 0olanlé
 A1é, 6eginaldo !randi, 4osep$ 5amp'ell, "imeno acristán,
ilma de ;elo ilva, 5laude ;eillassoux, I3o Ifamara3o, *avier
4uare2, <ampate 0a#
ibliograia#( +om4leta
ABIMBOLA, Wande, Ifa Divination Poet!, "e# $o%, "o% P&'(i)*e) , 1971
 ++++++++++++++ Ifa an -/o)ition of Ifa Litea! o/&), I'adan, Ofod nive)it!
Pe))
AW-, Bo(an(. Pai)e Poe) a) i)toia( Data t*e -a/(e of t*e $o&'a Oi%i,
Afia 44.
BABA"D-, La#a(  *e Livin Dead). Afia , 1977
BALA"DI-:, ;eoe) Ant*o/oLoi<&e), Pai). Pe))e) nive)itaie) de =ane,
1971.
 +++++++++++++++++ >oio(oie At&e((e de (?Afi<&e "oie, Pai), Pe))e)
nive)itaie) de =ane, 1971

138
BA>ID-, :oe@ -:;-:, Piee. onti'&iCo ao -)t&do do) Meado) "a) no
Baio Beni. o&/io. 1981
B-"I>-, Eo). O&n , Ai!e O -nonto de doi) M&ndo) .:io de Eaneio. Betand do
Ba)i( , 1997
AMPB-LL , Eo)e/*. O Pode do Mito. >Co Pa&(o . Pa((a) At*ena . 1999
 ++++++++++++++++, -( eoe de Mi( aa). Mio. =- , 1999
=A"D-F, Antonio  A e/an)Co da -)ita na Afia e na Aeia Latina. :io de
Eaneio . PaG e ea . 1994.
AMPA- BA, Aado&,A adiCo iva, e i)tHia ;ea( da Afia I. Metodo(oia
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