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Introdução
Ouvimos falar muito,quando resolvemos abordar os Yorubás , da
chamada Nagocracia, significando que outros povos da África os quais
igualmente nos constituíram atravs de suas diásporas, não são tratados
com a mesma relev!ncia" #ontudo, o que vemos na verdade, em relação
aos nag$s, e em parte por responsabilidade do estere%tipo da
Nagocracia, algo que nomeio de Nagonomia"
&ste povo tão importante na nossa formação e que tem sua inegável
marca em nossa constituição cultural e identitária, na maioria das obras a
que a eles se referem, são vistos e observados somente no conte'to
religioso" (alvo raras e'ceç)es como *isrio, +pine, (alami, uma parte
da obra de erger, -bimbola .ande e outros autores da /niversidade de
Ile Ife e outros raros autores, como se os Yorubás não pudessem ser
ob0eto de estudos em um conte'to hist%rico ou antropol%gico"
Inclusive os mitos dos Ori'ás, normalmente são vistos somente no
conte'to de sua mística, como se não tivessem tambm um papel
civili1at%rio e pedag%gico, que tenham influenciado a sociedades
africanas de onde são originários e muito menos os povos que se
formaram com a contribuição da diáspora Yorubá, como n%s brasileiros"
No sentido de prestar uma pequena contribuição, a fim de combater esta
imagem que reforça o que, a meu ver, chamo de Nagonomia que reali1ei
este livro a partir de um trabalho de e'tensão #ultural
#ultural com o aval
aval do
N2cleo de #ultura &'tensão da 3iblioteca 4unicipal de Osasco e o
#entro #ultural -fricano da 3arra 5unda, em (ão 6aulo"
Ofereço este trabalho aos
aos 788 anos de Ile -'
-' Opo -fon0á em (alvador
(alvador e
mais especificamente
especificamente 9 4ãe (tella , a quem tanto admiro e tive a
oportunidade de visitá:la na ocasião de seus ;8 anos de (anto"
<ive a felicidade de poder presenteá:la, na ocasião, com flores brancas
que simboli1avam Yeman0á e seu
seu pranto na lenda que falava que seu
filho O'ossi teria sido seu 2ltimo e mais querido filho a dei'á:la em busca
de sua pr%pria liberdade" (egundo esta lenda, Yeman0á chorou tanto que
seu pranto e ela mesma se transformaram no mar, que se tornou seu
domínio" Não podemos esquecer que atravs deste mar vieram nossos
2
Introdução
Ouvimos falar muito,quando resolvemos abordar os Yorubás , da
chamada Nagocracia, significando que outros povos da África os quais
igualmente nos constituíram atravs de suas diásporas, não são tratados
com a mesma relev!ncia" #ontudo, o que vemos na verdade, em relação
aos nag$s, e em parte por responsabilidade do estere%tipo da
Nagocracia, algo que nomeio de Nagonomia"
&ste povo tão importante na nossa formação e que tem sua inegável
marca em nossa constituição cultural e identitária, na maioria das obras a
que a eles se referem, são vistos e observados somente no conte'to
religioso" (alvo raras e'ceç)es como *isrio, +pine, (alami, uma parte
da obra de erger, -bimbola .ande e outros autores da /niversidade de
Ile Ife e outros raros autores, como se os Yorubás não pudessem ser
ob0eto de estudos em um conte'to hist%rico ou antropol%gico"
Inclusive os mitos dos Ori'ás, normalmente são vistos somente no
conte'to de sua mística, como se não tivessem tambm um papel
civili1at%rio e pedag%gico, que tenham influenciado a sociedades
africanas de onde são originários e muito menos os povos que se
formaram com a contribuição da diáspora Yorubá, como n%s brasileiros"
No sentido de prestar uma pequena contribuição, a fim de combater esta
imagem que reforça o que, a meu ver, chamo de Nagonomia que reali1ei
este livro a partir de um trabalho de e'tensão #ultural
#ultural com o aval
aval do
N2cleo de #ultura &'tensão da 3iblioteca 4unicipal de Osasco e o
#entro #ultural -fricano da 3arra 5unda, em (ão 6aulo"
Ofereço este trabalho aos
aos 788 anos de Ile -'
-' Opo -fon0á em (alvador
(alvador e
mais especificamente
especificamente 9 4ãe (tella , a quem tanto admiro e tive a
oportunidade de visitá:la na ocasião de seus ;8 anos de (anto"
<ive a felicidade de poder presenteá:la, na ocasião, com flores brancas
que simboli1avam Yeman0á e seu
seu pranto na lenda que falava que seu
filho O'ossi teria sido seu 2ltimo e mais querido filho a dei'á:la em busca
de sua pr%pria liberdade" (egundo esta lenda, Yeman0á chorou tanto que
seu pranto e ela mesma se transformaram no mar, que se tornou seu
domínio" Não podemos esquecer que atravs deste mar vieram nossos
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ancestrais de diversas diásporas, das quais n%s brasileiros somos filhos"
/ns vieram em busca da liberdade que O'ossi buscava ao dei'ar
Yeman0á, outros tendo sua liberdade privada neste processo, e tendo que
lutar por ela nestas terras de diáspora" - estes não podemos esquecer
que nos ensinaram o quanto vale a afirmação da pr%pria identidade e o
quanto vale o sentido da palavra mem%ria" &sta mem%ria de onde 0amais
será apagado o pranto daquela mãe que foi Yeman0á ao ver seu filho
O'ossi ir ao que para ela era um destino incerto e que foi o mesmo pranto
de tantas mães que perderam seus filhos, nossos ancestrais, nas
diásporas =sobretudo africana>" #ontudo, ao terem atravessado
atravessado estes
mares das lágrimas de Yeman0á nossos ancestrais africanos e outros
chegaram a um novo solo, fi1eram
fi1eram uma nova
nova pátria e adotaram o espírito
espírito
destas novas
novas terras" ?uando
?uando vou ao -fon0á e ve0o
ve0o pelas mãos e pelos
olhos de 4ãe
4ãe (tella, que nossas
nossas tradiç)es ancestrais ainda estão vivas,
ve0o que O'ossi atravessou o mar de lágrimas de nossa mãe Yeman0á e a
reencontrou em algum lugar no Orun =cu> entre África e -mrica atravs
do -' =lei e força vital> que vem do abraço que nos damos entre n%s que
nos dão todos os Ori'ás, de quem n%s brasileiros incorporamos os
arqutipos para viver
viver nosso dia a dia, independentemente
independentemente de
de nossas
nossas
crenças" - todas estas personagens que nos a0udaram a constituirmos
como povo
povo e nação são a quem dedico
dedico este trabalho"
trabalho"
0- O que são Orikis? Uma introdução sobre um dos gêneros da Literatura Oral
Yorubá
1 – Oriki = !o"ação#
Oriki $% antes de tudo% uma das di!ersas tradiç&es literárias da oralidade 'orubá
(ob)eto "entral de estudo de um dos "ursos de e*tensão que ministro na
bibliote"a de Osas"o e no +entro +ultural ,ri"ano de .ão /aulo% dentro de um
dos "ursos do "i"lo de "ultura ari"ana# /ara entendermos melor o que ele
signii"a% assim "omo introdu2ir suas "ara"ter3sti"as% 4re"isamos nos ater aos
4ro!á!eis signii"ados etimol5gi"os da 4ala!ra Oriki#
O !o"ábulo Oriki $
$ ormado a 4artir de Ori ("abeça
("abeça e ki (saudação%
(saudação% o que nos
le!a a "on"luir que ele re4resenta uma saudação 6 "abeça# sta "on"lusão%
%4ortanto% não elu"ida muito sobre o seu real signii"ado se não esti!ermos
3
atentos ao que esta "abeça re4resenta simboli"amente dentro da tradição
"ultural dos 'orubás#
O 4roessor nigeriano .alami (1777 deine Oriki "omo sendo uma e!o"ação% a
4artir do sentido de Oriki "omo sendo Ori (origem e ki (saudação# /ortanto%
esta e*4li"ação nos le!a a "rer que na +abeça se en"ontra realmente a
Origem dos seres segundo os 'orubás#
/odemos assim "on"luir que o Oriki di2 res4eito 6 e!o"ação a nossas origens%
que% simboli"amente% residem em nossa "abeça#
4
*epois de realiar seu pr&prio sacrifcio Orunmilá dei.ou as #uatro noes de
cola em seu lugar consagrado como Ifá disse #ue teria #ue ser feito$ /ouco
depois E.u anunciou no Orun (céu) #ue Orunmilá havia dei.ado as #uatro
noes de cola em seu lugar sagrado e #ue estava procurando uma divindade
para parti+las$
0ideradas por Ogum" todas as divindades visitaram Orunmilá" uma ap&s outra"
mas ele disse a cada uma delas #ue n!o eram suficientemente forte para parti+
las$ Elas se sentiram destratadas e retiraram se aborrecidas$ %té mesmo Ori.á
1lá (O.alá o deus filho) visitou Orunmilá" porém este o agraciou com noes de
cola melhores diendo #ue as noes de cola em #uest!o n!o estavam
destinadas a serem partidas por ele$ 2omo se sabe" *eus nunca perde a
calma e O.alá aceitou as noes frescas oferecidas por Orunmilá e foi embora$
3inalmente Ori (a cabea) decidiu ir visitar Orunmilá$ 3oi rolando ent!o para a
c4mara de Orunmilá e logo #ue este viu Ori rolando para sua casa" saiu ao seu
encontro para entret-+lo$ Imediatamente Orunmilá pegou um pote de argila"
água" sab!o e esponja e comeou a lavagem de Ori$ %p&s secá+lo" Orunmilá
levou Ori até o seu local sagrado e solicitou #ue partisse as noes de cola$
*epois de agradecer a Orunmilá por seu gesto honroso" Ori reou para
Orunmilá" com as noes de cola para #ue tudo o #ue Orunmilá fiesse tivesse
sucesso e para #ue tudo se realiasse$ Ori tornou a usar as noes de cola para
rear para si mesmo" para ter um local de resid-ncia permanente e muitos
seguidores$ Em seguida Ori rolou para trás e bateu contra as noes de cola
#ue se partiram em uma e.plos!o intensa #ue pode ser ouvida em todos os
lugares do Orun (céu)$ %o ouvir o som das e.plos5es todas as outras
divindades imediatamente compreenderam #ue finalmente as noes de cola
haviam sido partidas$ 6odos ficaram curiosos para saber #uem tinha partido as
noes #ue haviam desafiado a todos" inclusive a *eus$ 7uando E.u anunciou
#ue Ori tinha conseguido todos concordaram #ue Ori era a divindade indicada
para fa-+lo$
7uase imediatamente ap&s" as m!os" os pés" o corpo" a barriga" o t&ra." o
pescoo" etc$ #ue até ent!o tinham identidades especficas decidiram viver
com a cabea" lamentando+se por n!o terem percebido antes #ue esta era t!o
importante$ 8untos todos levantaram sobre si a cabea e ali" no lugar sagrado
de Orunmilá a cabea foi coroada como o rei do corpo$ Esta é a ra!o" devido
ao papel desempenhado por Orunmilá em sua sorte" pela #ual a cabea tem
#ue tocar o solo e mostrar respeito e rever-ncia a Orunmilá até os dias de
5
hoje$ Esta também é a ra!o pela #ual apesar de ser a mais jovem de todas as
divindades" Orunmilá é a mais importante entre elas$
/ara #ue o filho de Ejiogbe viva muito tempo na terra deve procurar a'os
(sacerdotes) de grande saber e intelig-ncia para preparar um sab!o especial
com o cr4nio de um animal$ Ejiogbe é a divindade padroeira da cabea" por
#ue foi ele #ue no Orun (céu) fe o sacrifcio #ue converteu a cabea em rei do
2orpo$
Ejiogbe provou ser o mais importante Olodu ou ap&stolo de Orunmilá na terra$
%pesar de originalmente ser um dos mais jovens$ Ele pertence a uma segunda
gera!o de profetas" #ue se ofereceram para vir a este mundo a fim de torná+lo
um lugar melhor para viver$ Ele foi um ap&stolo de Orunmilá muito criativo
tanto #uando estava no Orun (céu) #uanto #uando veio para este mundo
(%i9e)$
; – +on"eito de Ori #
<emos uma id$ia deste "on"eito% a 4artir do que nos ala $niste quando "ita
abatund$ La>al da Uni!ersidade de le $ na @ig$ria quando se reere 6
"abeça:
:1a maioria das esculturas africanas tradicionais a cabea é a parte mais
proeminente por#ue" na vida real" é a parte mais vital do corpo humano$ Ela
contém o cérebro ; morada da sabedoria e da ra!o< os olhos ; a lu #ue
ilumina os passos do homem pelos labirintos da vida< os ouvidos ; com os
#uais o homem escuta e reage aos sons< e a boca+ com #ual ele come e
mantém corpo e alma unidos$ %s outras partes do corpo s!o abreviadas para
enfatiar posi5es subordinadas$ 6!o importante é a cabea em muitas
sociedades africanas #ue ela é adorada como sede da personalidade e destino
do homem$$$ Ori é todo o ase (a.é) #ue uma pessoa tem" e sua sede é na
cabea" é ela #ue" geralmente" vem primeiro ao mundo e abre caminho para
traer o resto do corpo=
O tre"o a"ima nos dá a dimensão% a 4artir do "on"eito est$ti"o% da
im4ortAn"ia que o Ori assume simboli"amente no imaginário Yorubá# Outro
6
4onto im4ortante a se "itar 4ara agregar !alor a este "on"eito se reere a outra
lenda relati!a ao Ori$
.egundo $niste% os as4e"tos da e*4eriên"ia umana são 4redestinados 4ela
es"ola que a2emos de nosso or # .egundo a tradição m3ti"a 'orubá% a45s
sermos modelados 4or O*alá (Orisa 1la% ,)alá $ "on!o"ado "om a tarea de
orne"er o Ori ("abeça e "ada an"estral nosso "ede as substAn"ias
ne"essárias 4ara a4ereiçoar a orma de nossas "abeças# stas substAn"ias
nos a"om4anam todo o tem4o e são mere"edoras de res4eito e "ulto#
/ortanto% mesmo que ,)alá se trate de um Ori*á% não dei*a de ter suas
dei"iên"ias# B esque"ido e des"uidado e de!ido a isto nem sem4re as
"abeças saem boas# +omo resultado disso a maioria das 4essoas es"olem
4or si mesmas as "abeças sem re"orrerem a ,)alá e a"abam assim 4or
es"oler "abeças ruins e im4restá!eis% assim "omo nos narra $niste# @este
"onte*to% re"orrendo a .alami que nos ala que o Ori $ nossa Origem% al$m de
nossa sim4les "abeça 3si"a% temos que nosso destino inteiro $ mar"ado 4ela
es"ola desta "abeça e 4ara tanto e*istem rituais e 4ráti"as "omo o ori (que
quer di2er em Yoruba bo Ori % dar de "omer ao Ori 4ara restabele"er o
equil3brio ne"essário nesta nossa "abeça (que nos determina% a 4artir de nossa
origem% o nosso destino# Coltando a $niste% ele nos e*4&e que segundo a
tradição 'orubá% um omem "om uma "abeça bem eita terá um destino de
su"esso% da3 o dito tradi"ional – ,)alá% modelador de "abeça no Orun ("$u%
molde uma boa 4ara mim# 9esta orma "ada Ori se "onstitui em uma di!indade
4essoal que regula nossas !idas e n5s mesmos es"olemos nosso Ori rere
(bom Ori ou Ori >uruku (mau Ori# +omo nos "ontinuam e*4ondo $niste e
.alami $ atra!$s do Dogo de á% que Orunmilá re!elará o ti4o de Ori que está
"onos"o e "onseqEentemente este Ori irá de"larar a n5s seus dese)os% sem4re
atra!$s do Dogo de á#
@este "onte*to% torna-se mais "lara a im4ortAn"ia de se e!o"ar o Ori "omo nos
ala .alami#
F - Ori Ode e Ori Inu ("abeças interior e e*terior#
,o nos de4ararmos "om a estrutura do Ori% !emos o quanto "om4le*o torna-se
este "on"eito# +onorme tamb$m nos e*4li"a $niste a 4artir da Obra de
abatunde La>al:
7
Ori ode é a denomina!o da cabea fsica e Ori Inu é a cabea interior$ Sendo
#ue a primeira é confiada a Ossain e a Ogum" ou seja" ao saber médico< a
segunda está ligada a Ifá e aos demais Ori.ás" ou seja" ao saber divino$ Ori
ode é #ue se presta para suporte das obriga5es iniciáticas$ Ori inu é a
ess-ncia da personalidade" da alma do homem #ue deriva diretamente de
Olodumare$ ? Ele #uem a coloca no homem" mas #ue" ap&s a morte" % Ele
@etorna$$$ Ori InA é o ser interior ou o ser espiritual do homem e é imortal$ Ori
Ode é a cabea fsica propriamente dita ou filosoficamente" a matéria$ Ela é
Bortal e oposi!o a Ori Inu" #ue foi criado por %jalá" um antigo Ori.á" segundo
as ordens de Olodumare$ % diferena entre as duas pode ser observada neste
6recho do verso de Ifá do Odu OgbetegundaC
% colina proclama" o vale proclama$
% consulta a Ifá realiada para a cabea interior
% consulta a Ifá realiada para a cabea e.terior
% 2abea interior disse #ue era a mais velha
% 2abea e.terior disse #ue era a mais velha
Invo#ue minha cabea interior
*e modo #ue a interior n!o estrague a e.terior
% interior prev- sucesso para o homem
*e modo #ue o homem pode construir casas
% cabea interior leva o homem a ter uma esposa$
/elo te.to apresentado" é o Ori Inu #ue controla o Ori Ode$ Isto sugere"
portanto #ue o sucesso do ser e.terior dependa essencialmente da naturea
din4mica interior do homem$
Cale a2er o 4arêntese de que a reerên"ia ao G % cabea interior leva o homem
a ter uma esposa= não $ des"one*a% tola ou des4ro4ositada% ainda mais 4or
estarmos tratando de uma so"iedade da Hri"a .ubsaariana% "omo muitas
outras% na qual as relaç&es entre as linagens determinam di!ersas "oisas e
dentre elas as relaç&es de 4oder# sto que )ustii"a a im4ortAn"ia !ital dos
"asamentos e "onseqEentemente de se ter uma es4osa que $ 4ortadora do
!entre que dará seqEên"ia 6 estrutura so"ial das linagens#
I- Ori na est$ti"a Yorubá#
+onorme )á "itei em item anterior% La>al nos e*4&e que na maior 4arte das
es"ulturas ari"anas a "abeça $ a 4arte mais 4roeminente# 9esta orma sua
4ro4or"ionalidade nestas es"ulturas a2 )us 6 sua im4ortAn"ia nos 4lanos 3si"o
8
e simb5li"o se retomamos os "on"eitos de +abeça *terior e nterior
res4e"ti!amente#
+ontudo% 4ara entender melor este ato que se relete es4e"ii"amente na
est$ti"a Yorubá% re"orro ao "on"eito de Odara% segundo me e*4li"ou .alami
em aula em 177;% no seu "urso de Yorubá na U./#
@ormalmente% "onorme "one"emos atra!$s da "elebre mJsi"a de +aetano
Celoso% 4odemos tradu2ir Odara 4or belo# /ortanto% .alami nos e*4li"a que
al$m de belo% Odara tamb$m tra2 o sentido de Jtil# 9esta orma quando os
'orubás se reerem a suas obras de arte "omo Odara% estão se reerindo a algo
que ao mesmo tem4o $ belo e Jtil# sto )ustii"a o ato de que "ertas 4artes do
"or4o se)am re4resentadas "om maior 4roeminên"ia do que outras% 4or
desem4enarem unç&es de maior utilidade 3si"a e simb5li"a do que as
demais# ste ato determina% in"lusi!e% que estas re4resentaç&es 4ossam ser
des4ro4or"ionais em relação ao "or4o umano% e tamb$m ao 4adrão est$ti"o
4redominante na arte grega "lássi"a que se auto-determina!a uma
re4resentação 4ereita da realidade#
.egundo a 4er"e4ção est$ti"a dos 'orubás% uma estátua grega )amais seria
Odara na a"e4ção "om4leta da 4ala!ra e do "on"eito% 4ois os e*em4lares da
arte grega "lássi"a não "olo"am em destaque as 4artes do "or4o de maior
im4ortAn"ia e utilidade !itais 4ara os Yorubás#
9ois e*em4los "laros desta 4er"e4ção est$ti"a que temos são as "one"idas
re4resentaç&es de *u e O*um nos <em4los YorubásK +omeçando 4or *u%
"omo toda estátua 'orubá% tem a "abeça 4roeminente% dentro desta os olos%
os ou!idos% a bo"a% 4$s e mãos grandes e des4ro4or"ionais% assim "omo seu
5rgão re4rodutor ereto# <odos re4resentando as 4ro4orç&es de im4ortAn"ia
que estas 4rin"i4ais unç&es re4resentam no simbolismo Yorubá# @o "aso da
deusa O*um% "omo !emos em suas re4resentaç&es em um de seus tem4los
de Osogbo% nas otograias de /ierre Cerger% al$m da 4roeminên"ia da "abeça%
das mãos e dos 4$s% temos a 4roeminên"ia e des4ro4orção dos seios e do
!entre% (o que $ muito "omum em outras "ulturas ari"anas subsaarianas% que
re4resentam dois lados da maternidade signii"ati!os# Os !entre e seios de
O*um re4resentados de tal orma% em destaque% são Odara em seu sentido
integral% sobretudo 4or serem Jteis a unção re4rodutora essen"ial 4ara a
"ontinuidade desta so"iedade de linagens# ,l$m disso% isto tamb$m se
9
)ustii"a 4elo ato de que% segundo nos airma o oriki de O*aguian% $ 4elo
!entre% na tradição 'orubá% assim "omo em outras tradiç&es da Hri"a
.ubsaariana%que se e*4ressam nossos sentimentos% quando di2 literalmente%
em l3ngua 'orubá:
O.aguian n!o tem maldade na barriga
(o que Cerger tradu2 4or: O*aguian não $ mau
m resumo% 4er"ebemos atra!$s destas re4resentaç&es de ori*ás que a
4er"e4ção est$ti"a 'orubá se a2 re4resentati!a no que nos liga "om o mundo
sensorial do ,i'e (terra% mundo 3si"o atra!$s da orma enáti"a "om que
"onstr5i nossos 5rgãos de sentido do mundo 3si"o "omo o de audição%
4aladar% !isão% tato e 5rgãos de re4rodução# /or outro lado esta 4roeminên"ia
tamb$m se dá em nossas 4artes do "or4o que nos ligam simboli"amente "om
o mundo intang3!el% "omo a "abeça no sentido de "abeça interior% que na
!erdade 4erten"e a Orunmilá e ao Orun ("$u e 4ara o qual te"emos orikis e
que são o ob)eto "entral neste estudo#
<ipos de Ori@i
.egundo nos mostram is$rio e .alami% e*istem di!ersos ti4os de Oriki e
4odemos enumerá-los# .ão e*em4los de Oriki os:
Oriki Oril$- /ara Linagens (tem relação estreita "om as mar"as a"iais dos
'orubá
Oriki orokini- 4ara 4essoas ilustres
Oriki lu – 4ara "idades
,ki)á- ,nti – Oriki
Oriki Orisa- /ara os Ori*ás
Oriki ,mutorun>a – Oriki indi!idual de nas"imento e nominação (assume
ormas dierentes no "aso de gêmeos% "rianças nas"idas de4ois de gêmeos%
"rianças nas"idas "om "ordão umbili"al enrolado no 4es"oço% ou que o
Orá"ulo 4re!ê que morrerá antes dos 4ais#
,l$m disso% at$ mesmo animais% 4lantas e olas têm seus orikis% 4ois tudo que
têm !ida tem Ori e 4ode ter um Oriki#
Oralidade e Import!ncia da 6alavra dentre os Yorubás"
/ara entender melor a e*4ressão oral e im4ortAn"ia da 4ala!ra entre os
Yorubás $ ne"essário que a4resente o "on"eito de ,*$# (,se#
10
,45s e*4li"ar a im4ortAn"ia ritual do ,s$(,*$ entre os Yorubás% .alami% em
sua tese de doutorado% nos deine esse ,s$(,*$ "omo sendo a orça !ital que
se e*4ressa tamb$m em toda 4ala!ra# le nos lembra que o signii"ado
etimol5gi"o da 4ala!ra ase !em de a se (assim se)a% assim se aça e desta
orma "omo a 4ala!ra 4orta o ,se(,*$% ela tem o 4oder de a2er "om o que
está sendo airmado se "on"reti2e#
.e re"orrermos a Cerger% em algumas o"asi&es ele tradu2 a 4ala!ra ,s$ (a*$
4or Lei% o que a2 "om que nos remetamos "om4arati!amente e imediatamente
aos signii"ados de rta (ordem e !a" (!erbo da "ultura sAns"rita% dos quais os
ritos !$di"os de4endem e são eitos 4ara a manutenção da ordem "5smi"a e
na qual a 4ala!ra ("orretamente 4ronun"iada ritualmente em sAns"rito% nos dá
a"esso aos 4lanos sutis da "riação# ,mbos os "on"eitos% a4esar de estarem
4resentes em uma "ultura tão distante da Yorubá% a4resentam alguma
4ro*imidade "om o "on"eito do ,se Yorubá% se)a no seu uni!erso ritual3sti"o%
"omo im4regnado na "arga simb5li"a que a 4ala!ra "arrega 4ara este 4o!o#
Outro elemento que de!emos obser!ar na questão da oralidade e no !alor da
4ala!ra 4ara os 'orubá e as so"iedades da Hri"a subsaariana 4ode ser muito
bem e*4ressa 4or Mam4atê á quando "ita <ierno okar .ali e di2:
:% escrita é uma coisa" o saber outra$ % escrita é fotografia do saber" mas n!o
é o saber em si$ O saber é uma lu #ue e.iste no homem$ % herana de tudo
a#uilo #ue nossos ancestrais vieram a conhecer e #ue se encontra latente em
tudo #ue nos transmitem" assim como o >aobá já e.iste em potencial em sua
semente=
,l$m de nos elu"idar melor o "on"eito de ,s$ (,*$% "omo orça !ital que !em
da an"estralidade e está 4resente tanto na ritual3sti"a quanto na 4ala!ra entre
os 'orubás% esta "itação tamb$m nos a2 "om4reender melor a orça tradiç&es
orais dentre os ari"anos subsaarianos% 4ois a es"rita sendo a4enas uma
otograia do saber% e não sendo o saber em si% esta não se torna uma
"ondição 4ara a transmissão do saber an"estral# is$rio nos ala da
"ara"ter3sti"a lu3da e le*3!el das "ulturas da maior 4arte das so"iedades que
mant$m as tradiç&es orais na Hri"a subsaariana# le nos mostra que em geral
elas se dieren"iam da rigide2 "anNni"a das so"iedades que se desen!ol!eram
a 4artir da es"rita# ste ato nos a)uda a "om4reender o que nos airma
Mam4atê á quando deende que as tradiç&es orais 4redominantes nas
11
"ulturas da Hri"a .ubsaariana não re4resentam uma alta de abilidade
destas so"iedades 4ara a es"rita% mas sim uma orma "ara"ter3sti"a de se
e*4ressar# ,lgo 4ara o qual nossa "ultura "lássi"a o"idental geralmente não se
atentou e "riou muitos 4re"on"eitos% esque"endo at$ mesmo o "aráter oral dos
4oemas $4i"os "lássi"os#
@este sentido tamb$m 4odemos% de no!o% "itar "om4arati!amente a ndia e as
tradiç&es .Ans"ritas na qual os 4r54rios te*tos C$di"os 4or muito tem4o oram
4roibidos de ser trans"ritos% 4or 4ortarem em si um "onteJdo demasiadamente
sagrado 4ara dei*arem de ser transmitidos 4ela tradição oral atra!$s das
geraç&es de sa"erdotes#
9a mesma orma% o distan"iamento das tradiç&es de transmissão oral e
sobretudo não ter 4ara quem transmitir o "one"imento an"estral $ um grande
temor dentre os an"iãos e sa"erdotes nas so"iedades subsaarianas% "onorme
nos elu"ida Mam4atê á em seu te*to <radição Ci!a# /ois o saber está na
4ala!ra e não na letra% 4ois a letra $ a4enas uma otograia da 4ala!ra% mas se
não or 4ronun"iada não tra2 o ,s$ (,*$ da 4ala!ra#
Cou mais al$m ainda neste "on"eito% e ouso airmar% segundo esta l5gi"a% que
a obra de arte $ a otograia da arte% e não a arte em si mesma# /ois a 4artir do
momento que e*iste o "on"eito da arte no imaginário do artista% ela )á se a2
!i!a e a obra de arte $ a4enas a otograia deste "on"eito que te!e origem na
sensibilidade do artista# 9entro dos 4ro"essos "riati!os dos te*tos da oralidade
Yoruba isto tamb$m se e*4ressa% "omo !eremos mais a rente quando ormos
alar da estrutura dos Orikis# ntendemos melor isto se nos lembrarmos que
sem o "on"eito de Ori não 4odemos "riar orikis#
Outro 4onto que não se 4ode esque"er% $ que a 4ala!ra entre os Yorubás%
tendo em si o 4rin"34io da orça !ital e da lei an"estral que nos sustenta (,se
ou ,*$% não 4ode admitir a mentira% senão "omo uma transgressão moral# O
que tamb$m Mam4atê á "ita no "aso dos ambara e Pulani em seu <radição
Ci!a% de!ido ao ato da 4r54ria "riação% 4ara estes 4o!os% terem emergido da
/ala!ra do +riador#
/ara ilustrar a rele!An"ia desta transgressão moral que $ a mentira e do
mentiroso "omo transgressor moral no "onte*to do 4oder da 4ala!ra "omo
4ortadora da orça !ital e a lei an"estral do ,se (,*$ entre os Yorubás
4odemos "itar e*em4los de !ersos de orikis de QangN% O*um e Yansã% "omo:
12
Ela fura com sua sineta o ventre do mentiroso( Oriki de O*um 4etu
Ele n!o aceita a oferenda do mentiroso (Oriki de Qango em O'o
Ele mata o mentiroso e enfia seu dedo no olho dele (Oriki de *angN ,on)á
Olha brutalmente de soslaio o mentiroso (Oriki de QangN em Osogbo
O mentiroso foge antes mesmo #ue ele lhe dirija a palavra (Oriki de QangN em
Osogbo
Os daomeneanos s!o mentirosos" eles n!o t-m um talism! como o de O9á
(Oriki de O'á
@a ultima "itação temos um e*em4lo ist5ri"o de que esta transgressão moral
4oderia at$ mesmo ser um dos atores legitimariam o dom3nio do reino Yorubá
de O'o sobre o 9aom$ no imaginário dos Yorubás% 4elo ato dos
daomeneanos% ao serem "olo"ados e ta*ados "om a re4utação de mentirosos%
mesmo que i4oteti"amente% seriam% dessa orma% moralmente ineriores aos
'orubá% e 4or isso 4oderiam ser sub)ugados 4ela +oroa do ,lain de O'o#
13
("omo a "aça no "aso dos )ala% que eram basi"amente 4oemas eitos em
omenagem aos "açadores an"estrais 4ara que tenam uma boa "aça#
sta multi4li"idade de Rêneros nos a2 reletir que enquanto so"iedades da
Hri"a .ubsaariana de tradição literária oral "omo a Yorubá desen!ol!em toda
esta !ariedade% na ormação "lássi"a de edu"adores no rasil e na diás4ora
ainda nos atemos somente ao estudo do 4oema $4i"o das so"iedades da
"ultura "lássi"a grega "omo se osse a Jni"a "a4a2 de nos dar uma id$ia dos
undamentos do er5i na edu"ação# ,gimos "omo se a Hri"a subsaariana não
dissesse res4eito a n5s e 6 nossa "ultura% ignorando toda essa rique2a%
somente 4orque nossa "ultura 4re"on"eituosamente at$ o momento ta*ou
estas so"iedades "omo ágraas% e que% 4ortanto% não tinam nada a "ontribuir
em nossa edu"ação#
7" OranmiCan
2. -0a@a D foi destronado
3. Eango D foi deificado como deus do trovão e raio"
4. -0a0a D re :instalado
F" -gan0u
14
G" Hori
;" Oluaso
8. Onigbogi D condu1iu a evacuação de OCo provavelmente no 7Go
sculo "
9. Ofiran D construiu a cidade de (ha@i
10. &guno0u : fundou OCo Igboho
11. Orompoto D especula:se que foi uma mulher
12. -0iboCede :
13. -bipa : 7F;8:7F8
14. Obalo@un : 7F8:7G88
:::Oluodo D
15. -0agbo : 7G88:7GF
16. OdaranJu : 7GF:7GG8
17. Hanran : 7GG8:7GGF
18. KaCin : =6rimeiro -JuCale de I0ebu Ode> 7GFF:7G;8
19. -Cibi : 7G;:7GL8
20. OsiCango : 7GL8:7GL
21. O0igi : 7GL:7;M
22. Abaru : 7;M:7;M
23. -muniJaCe : 7;M:7;
24. Onisile : 7;:7;F8
25. +abisi : 7;F8
26. -Jonbio0u : 7;F8
27. -gbolua0e : =#elebrou o 3ere 5estival> 7;F8:7;;
28. 4a0eogbe : 7;;:7;;F
29. -biodun : =#elebrou o 3ere 5estival> 7;FF:78F
M8"-ole
M7"-debo
32. 4a@u : 78:7M8
33. 4a0otu : =Ilorin tomada pelos 5ulani>
34. -modo : 7M8
35. OlueJu : =?ueda da antiga OCo> 7MM:7M
36. -biodun -tiba : =5undador da -tual OCo, celebrou o 3ere 5estival>
7M;:7FL
15
37. -delu : 7F:7;F
38. -deCemi I : 7;F:7L8F
39. +aJani -gogoi0a : 7L8F:7L77
40. +adigbolu : Kan" 7F, 7L77:Pec" 7L, 7L
41. -deniran -deCemi II : Kan" F, 7LF:(ept" 8, 7LFF
42. 3ello Abadegesin : =+adigbolu II> KulC 8, 7LFG:7LG
43. -deCemi III : =-laafin atual de OCo e #hefe da <erra Yoruba> 7 Kan,
7L;7 at os dias atuais
16
:O Oriki comporta habitualmente tr-s partesC uma enumera!o de
nomes #ue descrevem o status" os apelidos e a apar-ncia da pessoa<
um relato de suas realia5es e de suas faanhas< comentários sobre o
item precedente$ S!o elaborados no decorrer da vida de uma pessoa a
partir de frases" #ualificativos" apelidos criados por seus
contempor4neos e amigos ntimos$ Os orikis representam assim a
opini!o pAblica sobre uma pessoa=
+omo 4odemos obser!ar% esta estrutura tri4la $ uma "ara"ter3sti"a da maioria
dos Orikis% "ontudo se obser!amos muitos Orikis de Ori*ás 4odemos !erii"ar
que nem sem4re todas estas três 4artes estão 4resentes ou quando estão nem
sem4re seguem ielmente esta ordem de enumeração% reali2aç&es e
"omentários sobre reali2aç&es#
/ara que obser!emos tal ato trans"re!o abai*o um 4equeno Oriki de O*um
"oletado no Tetu 4or /ierre Cerger:
Binha m!e é bela" muito bela$ ("omentário
2obre de olhos fulgurantes (enumeração
I9alode cuja pele é muito lisa (enumeração
7uando ela sai todo mundo a saAda ("omentário
Binha m!e #ue cria o jogo de a9o e cria o jogador # (reali2ação
B!e" todo mundo está com voc- ("omentário
O filho entregará o dinheiro na sua m!o$ ("omentário
O mais rele!ante% sobretudo% a 4artir deste e*em4lo% $ que 4er"ebamos que as
regras do Oriki não são i*as "omo em um soneto% 4oema 4arnasiano% ou
outros gêneros da literatura o"idental dentro de di!ersas es"olas literárias%
este)am eles em !erso ou 4rosa#
,l$m disso% is$rio nos e*4&e outros elementos rele!antes na orma dos Orikis
"onorme 4odemos !er em sua obra Oriki% Ori*á "omo quando nos ala:
:%s palavras t-m no Oriki uma carga especial$ ma certa densidade
energética$ E coisas podem acontecer a partir de sua simples emiss!o$
7uando recito um Oriki de O9á Fans!" sei #ue ela está me ouvindo ; e #ue" a
depender do meu gesto e da minha fidelidade te.tual pode me abenoar $$$ a
Altima coisa #ue devemos esperar encontrar em um oriki de Ori.á" é o
desenvolvimento l&gico linear de uma idéia ou de um enredo$ Ine.iste a#ui
#ual#uer preocupa!o em tecer uma est&ria ou recontar uma hist&ria$$$$
>olanlé %'é nos di sobre orikis de personagens notáveis #ue :
17
diferentemente de outras tradi5es orais " o oriki n!o conta uma est&ria<
apenas delineia um retrato #ue é fre#,entemente incompleto< tal retrato
somente ilumina a#ueles aspectos #ue os contempor4neos julgaram dignos de
nota na vida de um indivduo" e fa isso algumas vees" numa linguagem t!o
sucinta" altamente figurativa e comprimida #ue a tradu!o com fre#,-ncia
apresenta+se um problema= $$$%ntes de desenvolver linearmente um discurso" o
Oriki opera pela justaposi!o de blocos verbais=
is$rio !ai mais al$m% airmando que o Oriki 4ode ser "om4arado e
"om4reendido mesmo "omo um ideograma# /odemos 4er"eber no e*em4lo do
Oriki de O*um a"ima que ele te"e e "onstr5i imagens ao reerir-se a Gmãe de
4ele muito lisaS que G"ria o )ogo de a'o e o )ogadorS e 4ara a qual Go ilo
entrega o dineiro em suas mãosS# .e ti!ermos a imaginação dos 'orubás
4oderemos at$ mesmo !isuali2ar estas "enas enquanto o re"itamos#
stas imagens% tal qual ideogramas% que isoladamente nem sem4re em si
tra2em signii"ados% se )usta4&em 4ara ormar% atra!$s deste "on)unto de
imagens% uma e!o"ação ao Ori*á (no "aso dos Orikis de Ori*ás ou ao ob)eto
que se e2 tema do Oriki em questão# is$rio reorça isto quando airma:
:O gosto pelo grandioso é uma trade mark do g-nero$ Em outras palavras" o
modo de defini!o do objeto" #ue encontramos no oriki" funda+se na
ma.imia!o dos traos da#uilo #ue é representado$ ? a vis!o enfática"
superenfática" das personagens" das coisas" fenGmenos e processos$ %
hipérbole" figura do e.cesso$$$ A estes traços francamente espetaculosos,
extra-ordinários, somam se os rasgos imagéticos$ O galope de imagens
como costuma dier$ S!o imagens amplas e contundentes$$$ a imagerie do oriki
se pauta pelo ins&lito" pelo grandioso e pelo e.travagante=
@ão á m$tri"a nem e*tensão 4r$ deinidos 4ara os Orikis% 4odem ser "urtos
ou muito longos# <udo de4ende do nJmero de imagens que de!em ser
)usta4ostas (tal qual são os ideogramas aim de tra2er 6 tona e ao mesmo
tem4o "onstruir o "on)unto da igura inal que re4resenta o es43rito do ob)eto a
ser e!o"ado ou saudado#
/ara tanto% obser!amos que os orikis 4odem utili2ar di!ersos re"ursos% 4ois
"omo nos e*em4lii"a Cerger nos Orikis de Ogum ("omo os de outros Ori*ás
4odem ser utili2ados 4ro!$rbios% im4re"aç&es ou at$ mesmo sentenças que
18
este)am !i!as no uni!erso simb5li"o e no imaginário da "oleti!idade e que
4ossam ser utili2adas na "onstrução destas imagens que "onstituem o Oriki#
Ori@is de Ori'ás#
,l$m de e*4lorar o "aráter aleg5ri"o e est$ti"o dos orikis% ,>e% em sua obra
nos ala do e*em4lo do Oriki "omo do"umento ist5ri"o#
/ara e*em4lii"ar o que um oriki 4ode tra2er em inormação e em rique2a
simb5li"a em um sim4les !erso% !ou analisar três !ersos de três orikis de
Ori*ás em duas situaç&es que se ini"iam na Hri"a e têm seu 4rosseguimento
na diás4ora ari"ana no rasil:
Oriki de HangGC
:Senhor dos D-meosS
ste sim4les% e a4arentemente des4retensioso !erso do Oriki de QangN% nos
remete a um "on"eito im4ortant3ssimo dentro da maior 4arte das so"iedades
subsaarianas% que $ o "on"eito de geminilidade# @a maior 4arte das
so"iedades da Hri"a .ubsaariana a igura dos gêmeos $ de grande
im4ortAn"ia e sem4re $ um tema "omum "om a qual estas so"iedades lidam
de di!ersas ormas "omo sendo rele!ante em sua estrutura so"ial# ,lguns
4o!os "omo os 'orubás% !êm o nas"imento de Rêmeos "omo algo ben$i"o%
outras 4odem at$ mesmo abandonar um deles#
Os gêmeos simboli2am 4ara as so"iedades subsaarianas tudo o que $ du4lo e
a 4artir do "on"eito de geminilidade desena-se o "on"eito de simetria e
assimetria 4ara estes 4o!os# <anto o du4lo quanto a dualidade da simetria e
assimetria reerem-se de alguma orma "om a relação destes 4o!os "om as
relaç&es de 4oder# 9a3 a questão dos gêmeos estar ligada diretamente ou
indiretamente de orma simb5li"a "om estas relaç&es de 4oder na Hri"a
subsaariana#
.egundo .errano nos e*4Ns em uma de suas aulas na U./ a 4artir de um
!3deo de más"aras de um dos 4o!os de origem bantu de ,ngola% as más"aras
sim$tri"as simboli2a!am de alguma orma relaç&es armNni"as "om o es4iritual
e as más"aras assim$tri"as re4resenta!am a autoridade dos "ees# O que
tal!e2 de orma es4e"ulati!a nos aça a"reditar que as relaç&es de 4oder 4or
inega!elmente tra2erem em si algum grau de o4ressão% são elas mesmas
19
assim$tri"as# .egundo .errano% este "on"eito da geminilidade e
"onseqEentemente da simetria e assimetria rela"ionada ao 4oder são uma
"onstante na Hri"a .ubsaariana#
Coltando ao e*em4lo dos Yorubás e de QangN% entendemos melor "omo se
maniesta esta relação do du4lo% da geminilidade e do 4oder% se analisarmos a
simbologia do 4r54rio Os$ (O*$%a"ado 9u4lo que $ a erramenta de QangN#
@ormalmente o Os$ (O*$ $ simboli2ado 4or um ma"ado sim$tri"o de a"e
du4la "om um omem no "entro "omo base% ou "om dois gêmeos (um em
"ada lado abai*o das a"es do ma"ado% moti!o 4elo qual ele $ "amado o
.enor dos Rêmeos# O Ose (O*$ de QangN% e!identemente "arrega em si
tanto os 4rin"34ios da simetria e "omo o da Reminilidade% 4resente no
imaginário dos /o!os subsaarianos# /ortanto% o Os$ (O*$ do .enor dos
Rêmeos re4resenta o 4oder du4lo% mas 4or ser sim$tri"o% 4ode 4assar a id$ia
que este 4oder não $ baseado em relaç&es de o4ressão% mas sim
religiosamente undamentado na base da an"estralidade do er5i m3ti"o
deii"ado% tal "omo QangN o $ realmente# Os gêmeos% ou a simetria do omem
que se en"ontra no "entro do Os$ (o*$ 4ode re4resentar tamb$m o equil3brio
e*istente (ou ideal que de!eria e*istir no 4oder du4lo que se instalou em O'o
entre o os ,lains a 4artir de QangN (que tamb$m tina origem materna em
in!asores dos /o!os @u4e e aribá e a so"iedade Ogboni% que era o "onselo
4o4ular que re4resenta!a o 4oder do 4o!o aut5"tone des"endente somente do
an"estral m3ti"o de le e (Odudu>a#m outro "onte*to% segundo estes
"rit$rios "riados 4elo 4rin"34io da geminilidade e simetria% o Os$ de QangN
simboli"amente tamb$m re4resenta o equil3brio do 4oder du4lo do rei
di!ini2ado 4elo Orun ( ,laain e a so"iedade Ogboni que re4resenta!a o
4oder terreno (do ,i'e# Outro ato rele!ante $ que o 4r54rio Orani'an (a!N de
QangN e 4rimeiro ,laain tem a 4ele simetri"amente 4intada de bran"o e 4reto%
o que )á 4renun"ia!a este "on"eito de 4oder du4lo de O'o em armonia%
legitimado na igura do 4r54rio an"estral m3ti"o#
<ra2endo 4ara a diás4ora% a 4artir deste "on"eito de 4oder du4lo em armonia
legitimado 4elo 4lano es4iritual que !emos na re4resentação do Ose de
QangN%e 4er"ebemos que a "ru2 "ristã tem o mesmo 4rin"34io de simetria que
se a4ro*ima do Ose e no imaginário do 4o!o 'orubá na diás4ora 4ode ter tido
a mesma "arga simb5li"a# +oin"identemente !emos que% não raro% algumas
20
so"iedades de religião aro brasileira tradi"ionais na aia% têm "ru2es "ristãs
em seu interior e muitas !e2es têm suas origens em irmandades "ristãs de
es"ra!i2ados# (O que não dei*a de ter um 4aralelo "om a re4resentação de
so"iedade de resistên"ia que era a so"iedade Ogboni em terras 'orubás% que
4ode% 4or sua !e2 e sem dJ!ida% ter ins4irado na organi2ação e estrutura
destas irmandades "ristãs de es"ra!i2ados na aia#
Outro ato im4ortante que en"ontramos "om reqEên"ia nos orikis de Ori*á $ a
reerên"ia ao 4reguiçoso (ol$% que $ tratado "omo sendo um transgressor
moral tal qual o mentiroso% "omo nos e*em4los dos !ersos dos Orikis de O*um
4ondá e Logun de
Oriki de O*um 4onda
Ela entra na casa do preguioso e este foge
Oriki de Logun de
O preguioso está satisfeito entre os transeuntes (pois n!o é visto)$
9e qualquer orma% ao estudarmos a dinAmi"a das so"iedades que se ini"iaram
no 4ro"esso de "aça e "oleta% e!oluindo 4ara a agri"ultura e o 4astoreio e mais
tarde tamb$m se tornando urbanas% 4er"ebemos que não á realmente lugar
"onortá!el 4ara o 4reguiçoso na so"iedade 'orubá assim "omo nas
so"iedades da Hri"a .ubsaariana# , estrutura de linagens na qual a
"onstituição da am3lia e onde o trabalo dos mais )o!ens se a2em
im4res"ind3!eis 4ara o sustento dos mais !elos% de sua am3lia e da
estruturação do modo de 4rodução desta so"iedade% não 4ode a"eitar
realmente a igura do 4reguiçoso (que se re"usa a 4rodu2ir# /ortanto não á
outra orma senão transormar esta 4ersonagem em um transgressor moral%
"omo o mentiroso#
@a diás4ora% os muitos senores 4reeriam etnias de es"ra!i2ados% que tinam
desen!ol!ido abilidades es4e"3i"as 4ara su4rir as ne"essidades de 4rodução
de suas so"iedades na Hri"a# Outro ator que a2ia "om que 4reerissem
determinados gru4os $tni"os era )ustamente o quão e!idente era a !alori2ação
do trabalo nas so"iedades de origem dos es"ra!i2ados#
/ortanto% em todas as so"iedades ari"anas subsaarianas que se organi2am
atra!$s de linagens% "omo a dos 'orubás% o trabalo era !alori2ado 4or ser
undamental 6 sobre!i!ên"ia da so"iedade# O que nos e*4li"a% neste "aso% que
ao 4reguiçoso era relegado o 4a4el de transgressor moral#
21
Um dos ob)eti!os de to"ar neste assunto a 4artir dos Orikis% $ )ustamente
"ontribuir 4ara des"onstruir a id$ia no nosso imaginário "oleti!o na"ional que
de!ido 6s nossas origens ari"anas erdadas da $4o"a da es"ra!idão% temos a
tendên"ia a ser um 4o!o indolente# @ão 4odemos negar que esta $ uma
imagem que muitos a2emos de n5s mesmos% mas ao entender melor as
relaç&es de 4rodução dentro das so"iedades da Hri"a .ubsaariana% !emos
que se trata de um mero 4re"on"eito#
ste 4re"on"eito in"lusi!e ser!e 4ara nos "egar ao ato de que ainda nos dias
de o)e% n5s brasileiros trabalamos em m$dia% 4ela +L<% ao menos oito oras
semanais a mais que os euro4eus 4or suas leis trabalistas# ste ato dei*a
ainda mais e!idente que isto que muito de n5s a"eitamos 4assi!amente sobre
n5s mesmos não 4ode ser outra "oisa senão mero 4re"on"eito#
Outro ator que me a2 "olo"ar esta airmação $ que tudo isto e!iden"ia que se
este imaginário 4re"on"eituoso e de bai*a estima atual ser!e aos 4ro45sitos de
algu$m% "ertamente não $ aos 4ro45sitos de quem 4rodu2 em nosso 4a3s% que
$ a imensa maioria#
Neo Ori@is
.egundo is$rio temos e*em4lo de @eo-Orikis em di!ersas mJsi"as de
"om4ositores "omo Rilberto Ril e +aetano Celoso% o que mostra que o gênero
nos inluen"ia at$ o)e e está 4resente em nossa 4o$ti"a oral# Um dos
e*em4los que is$rio nos tra2 de neo-oriki $ a mJsi"a ansã inter4retada 4or
aria etania e que trans"re!o abai*o
ansã (aria etania
+om4osição Rilberto Ril e +aetano Celoso
24
<em4o bom% tem4o ruim
u sou o "$u 4ara as tuas tem4estades
Um "$u 4artido ao meio no meio da tarde
u sou um "$u 4ara as tuas tem4estades ("omentários relati!os aos eitos
9eusa 4agã dos relAm4agos
9as "u!as de todo ano (ais titulaç&es
9entro de mim% dentro de mim
4aria de erdade
4arisa 4onte
25
e a alma sem4re boa sem4re !ou 6 4aria =preste atenção nos comentários
de reali1aç)es e caracteri1ação do ob0eto do tema da m2sica>
+omo !emos% esta mJsi"a de +arlinos ro>n mostra bem "omo se a4resenta
um 4ersonagem em um Oriki % ressalta os seus eitos e não quer
ne"essariamente ter uma seqEên"ia l5gi"a% mas sim "onstruir imagens que
tragam 6 su4er3"ie da 4oesia o es43rito da 4ersonagem# <raços muito
4are"idos "om Orikis de Ori*ás# ,s imagens do Oriki tamb$m "onstroem os
arqu$ti4os dos er5is na mem5ria "oleti!a na tradição Yorubá (que $ tema de
um dos "ursos que ministro #
26
&'ercícios sobre Aenealogias para resgate da mem%ria hist%rica
conforme tradição Oral africana" (sugestão de ati!idade esultado do
e*er"3"io na ibliote"a de Osas"o e no +entro +ultural ,ri"ano de .ão /aulo#
ni"iamos no "urso de e*tensão na ibliote"a de Osas"o no dia 1F de agosto
de 8010 um rá4ido e*er"3"io sobre Renealogias#
/edi que os 4arti"i4antes es"re!essem em um 4a4el toda a genealogia que
lembrassem e anotassem ao lado qualquer "oisa (4ala!ra% 4ro!$rbio% a4elido
que les !iesse 4rimeiramente 6 mem5ria sobre "ada um destes seus
an"estrais dentro de sua genealogia# Pi2emos de orma "omo se esti!$ssemos
simulando uma 4re4aração 4ara es"re!er um oriki de genealogia (Oriki Oril$#
+ontinuamos no en"ontro seguinte#
,l$m desse e*er"3"io% sugiro uma ati!idade 4ara 4roessores de ist5ria no
ensino undamental que queiram e*er"itar a questão da mem5ria ist5ri"a na
tradição oral ari"ana% a 4artir de um e*er"3"io que se a4ro*ime dos orikis# ,
id$ia $ simular a "onstrução de um neo-oriki de "lasse ou de algu$m da "lasse
mesmo a im de e*er"itar# ste oi tema do trabalo que desen!ol!i na
dis"i4lina de metodologia do ensino de Mist5ria na Pa"uldade de du"ação da
U./# O 4ro"esso se dá em eta4as e que resumo abai*o:
1 – s"ola do tema#
8- Le!antamento das imagens que a2em menção ao tema
;-Le!antamento de <itulação (nomes% a4elidos% "on"eitos sobre o ob)eto do
4oema#
F- Le!antamento de eitos e reali2aç&es do ob)eto do 4oema
I- 4ro!$rbios que se a4li"am ao tema do 4oema
X- "onstrução do 4oema ini"ial "om a 4arti"i4ação de todos
- egistro a "ada 4er3odo 4r$-determinado de no!os a"onte"imentos que se
adi"ionem ao 4oema e transormação disto em orma de imagens#
Z- @o inal do 4er3odo "om4ara-se o 4oema ini"ial ao inal e se 4er"ebem "omo
são registradas as transormaç&es que 4elo sistema de registro ist5ri"o oral e
"omo un"ionam e são im4ortantes os re"ursos de mem5ria neste reeren"ial
"ultural#
7- <odos lêem o 4oema
10- +ada um di2 o que lembra ou oi mais mar"ante no 4oema e que imagem
mais o mar"ou#
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11- .ão !erii"adas quais as imagens que mais se ormam e "omo se
rela"ionam entre si#
18- stas imagens são "om4aradas "om otograias#
1;- +ada um tenta desenar a imagem que mais o mar"ou% materiali2ando a
otograia
1F- 9is"ute-se a 4artir disso "omo uma !isão 4ode ser sub)eti!a em relação a
outra e o que orma a !isão do "oleti!o $ uma !isão "omum % e isto que orma o
registro ist5ri"o na mem5ria "oleti!a em uma so"iedade onde a oralidade $
4redominante#
9a3% de4endendo da sala% 4odem se dis"utir !árias "oisasK 4ode se entrar na
temáti"a das lendas e !erii"ar nelas "omo se ormam os mitos% gêneros
literários $4i"os 4o4ulares% ou não% que se "onstroem ortemente a 4artir da
oralidade e que se baseiam ou se basearam ini"ialmente ortemente na
oralidade% et"# (que são ob)etos de outros "ursos que ministro
Coltando a nosso e*er"3"io em Osas"o% teno que les di2er que "omo
resultado% no má*imo% ti!emos reerên"ias de nossos a!5s (que $ o que
"one"emos# O que $ muito 4ou"o se "om4ararmos "om o que !emos "om a
genealogia do ,lain que está nesta 4ubli"ação# diga se de 4assagem que
normalmente o ,lain tem que saber de mem5ria dos Orikis de grande 4arte
dos outros ,lains 4re"edentes% e que na tradição Yorubá tradi"ional o ideal $
saber 4elo menos a 4artir de sua s$tima geração an"estral#
+om4arando os dois e*em4los% o nosso e o da so"iedade tradi"ional 'oruba%
no "onte*to dos orikis% algo que 4er"ebemos de imediato $ que% sem dJ!ida
estas so"iedades baseiam-se em !alores e*tremamente dierentes# /odemos
di2er que somos esta so"iedade de "onsumo o"idental sem mem5ria e na qual
nem a mem5ria de nossa origem a2 4arte de nossas rique2as ("omo $ eito
nas so"iedades subsaarianas# @ossos !alores de "onsumo não "om4ortam a
tradição# us"a se o no!o 4elo no!o% sem se undamentar na autoridade que
!em da tradição (segundo nos a2 4ensar Manna ,rendt quando lemos seu
te*to sobre autoridade# @esse 3m4eto% "onstru3mos uma identidade que não
lembre que no nosso 4assado somos ilos desta diás4ora e destas tradiç&es%
que a2emos questão de esque"er# 9essa orma nos tornamos sim4les
"onsumidores e "54ias mal eitas desta "i!ili2ação o"idental 4ro!eniente
su4ostamente a4enas do mundo "lássi"o e que o)e se transormou na
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so"iedade de "onsumo que "one"emos ou ormamos em nosso imaginário
"oleti!o# /ara esta so"iedade a des"oberta de outras an"estralidades e da
irmação da identidade integral do que nos ormou não tem es4aço e não
interessa# /or outro lado% !emos que temos muito a ganar ao 4er"eber esta
no!a so"iedade que não $ ob)eto de estudo de um 4o!o e*5ti"o% "omo 4ara
muitos no meio a"adêmi"o o"idental dos 4a3ses ditos "entrais que são quem
nos orne"em suas reerên"ias sobre estes 4o!os% e que 4elo "ontrário% estas
so"iedades nos di2em res4eito e nos ante"edem em !erdade# 9es"obrimos
muito sobre n5s mesmos ao entrarmos em "ontato "om sua est$ti"a% "ultura e
!alores#
eu ob)eti!o e tamb$m do nJ"leo de *tensão da ibliote"a de Osas"o e do
+entro +ultural ,ri"ano% $ "om este trabalo% dar uma 4equena "ontribuição
4ara que os 4arti"i4antes transormem sua 4er"e4ção e resgatem elementos
que "onstruam sua 4r54ria identidade ao en*ergar a orma "omo esta "ultura
an"estral 4er"ebe sua 4r54ria so"iedade# 9e orma alguma nosso ob)eti!o% e
de quem estuda e mergula na des"oberta de uma no!a "ultura% "omo as
"ulturas ari"anas 4arado*almente ainda são 4ara n5s% de!e ser a4enas alar
bonito 4ara re4rodu2ir o que )á "one"emos e que ormou esta so"iedade
e*"ludente e que se irma na "riação de estere5ti4os de outras so"iedades#
9ar uma 4equena e m3nima "ontribuição 4ara a)udar a transormar e agregar
elementos no!os 6 4er"e4ção de mundo% "ultura e so"iedade dos 4arti"i4antes
e leitores% a im de que "onstruam uma identidade mais "om4leta oi o meu
ob)eti!o 4rin"i4al neste te*to e trabalo#
Osunfemi (Ivan da ilva !oli)
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igualmente deendendo uma su4osta su4rema"ia nagN em relação a outros
4o!os ari"anos subsaarianos#
+ontudo o que re4ito $ que% na !erdade o que !e)o em relação 6
maioria das 4roduç&es reerentes aos Yorubás $ algo que "amo de
@agonomia% 4ois estas 4roduç&es s5 ressaltam a unção m3sti"a dos mitos%
negligen"iando assim as4e"tos so"iol5gi"os% antro4ol5gi"os e ist5ri"os que o
estudo da "ultura deste 4o!o a 4artir de seus mitos 4ode ter#
sto a2 "om que o material que nos dê subs3dios de ato 4ara uma
análise mais a4roundada sobre a "ultura 'orubá se)a% na !erdade% sal!o
4ou"as e*"eç&es% tão es"asso quanto o de qualquer outro 4o!o da Hri"a
subsaariana que tena a)udado a nos "onstituir "omo 4o!o% a n5s brasileiros%
no 4ro"esso de sua diás4ora#
/ara reorçar e elu"idar a questão trago o que es"re!e +am4bell%
quando "itado 4or Qa!ier Duare2 em sua tese de 9outorado sobre 4oemas de
á sobre o ito#
.egundo o que Duare2 obser!a em +am4bell o ito tem quatro grandes
dimens&es que são a m3sti"a% "osmol5gi"a% so"iol5gi"a e 4edag5gi"a#
+am4bell nos ala que :
Os mitos t-m basicamente #uatro fun5es$ % primeira é a fun!o mstica+ e é
isso #ue venho falando" dando conta da maravilha #ue é o universo da
maravilha #ue é voc-" e vivenciando o espanto diante do mistério$ Os mitos
abrem o mundo para a dimens!o do mistério" para a consci-ncia do mistério
#ue subja a todas as formas$ Se isso lhe escapar" voc- n!o terá uma
mitologia$ ($$$) % segunda dimens!o é cosmol&gica" a dimens!o a #ual a
ci-ncia se ocupa ; mostrando #ual a forma do universo" mas faendo+ o de
uma tal maneira #ue o mistério" outra ve se manifesta ($$$) a terceira fun!o é
a sociol&gica ; suporte e valida!o de determinada ordem social$ ($$$) a fun!o
pedag&gica (ensina)" como viver uma vida humana sob #ual#uer
circunst4ncia$ Os mitos podem ensinar+lhe isso :
Duare2 ainda nos "on"lui em sua tese elu"idando que a dimensão
m3sti"a $ res4e"ti!a 6 relação entre sagrado e 4roano no uni!erso do mitoK a
"osmol5gi"a reere-se 6s relaç&es de equil3brio "5smi"o das orças 4resentes
no mitoKa so"iol5gi"a% 6 distribuição de 4a4$is so"iais e sua im4ortAn"ia na
deinição do "or4o sa"erdotal e de sua ierarquiaK e a quarta aos
ensinamentos tradi"ionais transmitidos 4elo mito 6s uturas geraç&es#
30
+orroborando "om o que nos elu"ida Duare2% .alami em suas aulas de
+ultura Yorubá na U./ em 177; nos resumia a unção dos Ori*ás Yorubanos
"omo sendo antes de tudo "i!ili2at5ria#
sta !isão de .alami "om4lementa e redeine mais su"intamente as
airmaç&es de +am4bell e Duare2% 4ois segundo a mesma 4odemos "on"luir
que as unç&es so"iol5gi"as e 4edag5gi"as do mito são intr3nse"as 6 sua
unção "i!ili2at5ria#
m sua unção so"iol5gi"a o mito 4ode a)udar a deinir não somente o
"or4o sa"erdotal mas tamb$m toda uma estrutura so"ial de um 4o!o# Dá em
sua unçao 4edag5gi"a 4odemos ter a deinição de um sistema de
ra"ionalidade e "omuni"ação dentre outros sistemas#
Outro autor rele!ante na organi2ação deste estudo que "ito $ .a"ristán
quando nos sugere o sistema La>ton no estudo de "ulturas di!ersas# ste
sistema ala de 7 in!ariantes 4resentes em qualquer "ultura e que são :
a a estrutura so"ial
bsistema e"onNmi"o
"sistema de "omuni"ação
dsistema de ra"ionalidade
esistema te"nol5gi"o
sistema moral
gsistema de "renças
sistema est$ti"o
i sistema de maturação#
<odos no "aso estão ligados ao sistema de "renças )á que utili2aremos
os Orikis dos Ori*ás 4ara esta análise#
, 4artir desta 4ro4osta reorço a ne"essidade de que estudemos os
mitos 'orubás al$m de sua unção m3sti"a# /ois se os estudarmos atra!$s dos
Orikis dos Ori*ás somente nesta dimensão% "onseguiremos somente ter
alguma id$ia do sistema de "renças desta "ultura e negligen"iaremos todo o
resto#
olanl$ ,>e nos 4ro4una em um dos seus trabalos que !3ssemos os
orikis "omo ontes de dados ist5ri"os dentro da dinAmi"a ist5ri"a dos
'orubás% "ontudo% indubita!elmente% 4odemos entender muito sobre todos os
31
t54i"os dos quais nos "ita .a"ristán no sistema de La>ton atra!$s deste
gênero da literatura oral 'orubá#
sto nos 4ossibilita que a 4artir dos orikis nos a4ro4riemos de elementos
que nos a"ilitem a "om4reensão desta "ultura em seu "onte*to so"ial e
antro4ol5gi"o% 4ois este gênero igualmente nos re!ela im4ortantes elementos
de uma "ultura da Hri"a subsaariana que 4or ter di!ersos atores "omuns "om
a maior 4arte de "ulturas de outros 4o!os subsaarianos 4odem nos au*iliar a
que se)amos introdu2idos ao estudo etnol5gi"o destes 4o!os que a)udaram a
nos "onstituir "omo @ação#
/ara melor elu"idar a es"ola de tratar dos mitos 'orubás al$m de sua
dimensão m3sti"a e atra!$s das no!e in!ariantes% neste trabalo% 4odemos
rela"ionar a unção m3sti"a "om o sistema de "renças e em "erta medida "om
o sistema est$ti"oK a unção so"iol5gi"a "om a estrutura so"ial% sistema
e"onNmi"o% sistema de maturação e o sistema moralK e a unção 4edag5gi"a
"om os demais sistemas que são o de "omuni"ação% ra"ionalidade e o
te"nol5gi"o#
m nosso estudo% re"orreremos mais 6s dimens&es so"iol5gi"a e
4edag5gi"a do mito atra!$s dos orikis 4ara mostrar que a4esar de estarmos
utili2ando te*tos reerentes 6 liturgia tradi"ional Yorubá% que têm seu 4a4el
im4ortante na dimensão m3sti"a do mito% não 4odemos negligen"iar sua
inegá!el unção "i!ili2at5ria#
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Ele está de pé na entrada atrás da dobradia da porta
Ele cultiva o campo no lugar onde o velho pode ir
@ão raro% nas entradas das "asas 'orubás% *u $ simboli2ado de alguma
orma% se)a 4or um monte de terra e um alo (que o rela"iona "om a
se*ualidade e os sentidos ligados a esta que nos a2em "omuni"ar "om o
mundo sensorial% se)a 4or um tridente nos assentamentos nas entradas das
"asas de umbanda e "andombl$ na diás4ora#
m outra dimensão de seu as4e"to de "omuni"ador% *u $ tido "omo o senor
do mer"ado# ,qui o mito 4ende mais 4ara sua unção so"iol5gi"a dentro do
"on)unto de unç&es que ormam a grande unção "i!ili2adora do mito#
,ntes de nos a4roundarmos na relação do mito de *u "om o mer"ado $
im4ortante ressaltar que o a4are"imento deste er"ado nas terras 4r5*imas ao
Rolo do enim remonta a $4o"as anteriores aos 4rimeiros "ontatos "om os
euro4eus "omo nos e*4li"am Cerger e astide no artigo que tratam da
"ontribuição ao estudo dos mer"ados @agNs no ai*o enim# , "egada dos
euro4eus e2 "om que os tradi"ionais bJ2ios ossem substitu3dos 4or dineiro#
@este artigo Cerger nos "ita um relato sobre a !iagem do +e!alier de
ar"ais ao reino de Uidá atra!$s do que es"re!eu o 4adre Labat que 4or sua
!e2 tenta nos des"re!er este er"ado:
:6em eles uma semana de #uatro dias" dos #uais um dia é de feira$$$na
Europa n!o se encontram feiras t!o bem organiadas e policiadas" onde n!o
há nenhuma desordemC cada comerciante e as diversas mercadorias t-m seu
lugar pr&prio" separados uns dos outros" cada #ual em determinado setor
estabelecido de antem!o e sob pena de confisco" n!o podem instalar+se em
outro local #ue n!o o designado<os compradores podem barganhar à
vontade"contanto #ue o faam sem alarde e #ue tudo transcorra sem fraude e
trapaa=
.egundo nos airma Cerger no mesmo artigo% este modelo de mer"ado que
en"ontramos at$ os dias atuais no enim% teria sido 4ro!eniente dos modelos
de O'o e le e e "onseqEentemente instituiç&es "ara"ter3sti"as da "i!ili2ação
Yorubá# Outro ator rele!ante% que nos $ des"rito 4or Cerger% $ que% a4esar de
omens e muleres "onstitu3rem este mer"ado% as muleres "ostumam ser
maioria e que ati!idades nesses mer"ados se di!idem normalmente 4or gênero
(o que estudaremos mais detaladamente em outros artigos mais 6 rente#
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/ara entender melor a dinAmi"a da "ir"ulação das eiras nos quatro dias da
semana 'orubá% nesta instituição do mer"ado nagN% $ ne"essário que
saibamos quais são estes dias#
O 4rimeiro dia $ O)o ,>o % $ literalmente em Yorubá o dia do .egredo e $ 4or
isso dedi"ado a á e *u
O segundo $ O)o Ogum% literalmente dia da luta e Ruerra e dedi"ado a Ogum
O ter"eiro $ O)o Dakuta % literalmente dia da Dustiça e dedi"ado a QangN
o quarto $ o O)o Obatalá e dedi"ado 4or isso a Obatalá#
.alami em suas aulas de Yorubá ala de um mito da "riação que rela"iona a
maior 4arte destes deuses e nos a)uda a entender melor 4or que são di!ididos
assim#
.egundo nos "onta .alami% quando Olodumare quis "riar o Uni!erso "riou
4rimeiramente quatro di!indades K a 4rimeira seria Ogum que teria a unção de
ensinar os omens os 4rimeiros o3"ios da "aça e da or)a assim "omo
4re4ará-lo 4ara as guerras e todas as ne"essidades do ,i'e (undo e
assumindo assim o 4a4el do grande +i!ili2adorK a segunda seria Obatalá que
no Orun ("$u seria res4onsá!el 4elo senso de religiosidade e tamb$m os
"5digos morais ligados ao Orun dos omensK o ter"eiro seria á que seria o
senor do segredo (a>o do Orá"ulo que traria do Orun as di!indades que
ormariam este orá"ulo no ,i'e% ligando assim "$u e terraK e o quarto e Jltimo
seria *u% que teria "omo unção !igiar a todos os três anteriores 4ara !er se
esta!am a2endo tudo "onorme as regras de Olodumare# ste $ o moti!o 4elo
qual *u era temido 4elos três anteriores% assim "omo 4or todos os sa"erdotes
da religião tradi"ional Yorubá% que se i2erem algo que não esti!er de a"ordo
"om as leis de Olodumare% enrentarão as "onseqEên"ias de seus atos# Qango
se in"or4ora aos quatro dias da semana 4or ser o mito res4onsá!el 4elo "5digo
moral do ,i'e% "omo !eremos "laramente quando estudarmos QangN#
+ontudo% !oltando 6s eiras% elas "ir"ula!am dentro de "ada um dos quatro dias
em uma "idade dierente ormando uma mala que le!a!a as mer"adorias do
@orte ao .ul e do .ul ao @orte% 4ois muitas !e2es os 4r54rios !endedores
tamb$m "om4ra!am outras mer"adorias 4ara !endê-las em outras "idades#
@ão raro as "idades se desen!ol!iam ao redor das eiras% o que nos dei*a bem
"lara a interligação do sistema de "omuni"ação que re4resenta!am e o 4a4el
"entral que tinam nestas estruturas so"iais#
34
/ara melor entender o im4a"to da eira na so"iedade 'orubá $ ne"essário que
entendamos "omo ela estabele"e em so"iedade de nJ"leos uma real rede de
"omuni"ação% "onorme nos alam Cerger e astide:
:% sociedade africana é uma sociedade fechada" composta por famlias
e.tensas e auto centradas" vivendo em nAcleos residenciais" onde se agrupam
aposentos dos diversos nAcleos familiares$ % nuclea!o é tamanha #ue" como
sabemos" as mulheres mesmo ao se casarem continuam muito mais ligadas à
sua famlia de origem #ue à do marido$ Esta caracterstica representa" pois "
uma ameaa de :atomia!o= da sociedade$ /ois ao observarmos o #ue
acontece em territ&rio nagG" relativamente mais urbaniado" notamos #ue as
rela5es de viinhana se estabelecem no interior da aglormera!o familiar"
mais intensas ao cair da tarde" #uando cessam as atividades no campo ou nas
faendas$$$%s confrarias #ue estes povos formam" por estarem ligadas no
presente e muito mais no passado" as pr&prias famlias uma ve #ue o deus
em #uest!o é um ancestral fundador da linhagem$ % isto junta+se o fato " muito
provável" da urbania!o ter se dado em conse#,-ncia das feiras #ue
reuniam"no cruamento dos caminhos" várias faendas familiares isoladas no
meio de seus campos$$$a feira representa" ent!o a contrapartida do fechamento
da sociedade africana numa mirade de células independentes" pois permite
através de suas redes entrelaadas uma comunica!o entre os grupos
familiares=
9esta orma% "omo nos elu"idam Cerger e astide% a eira torna-se o lugar
onde 4ortas e )anelas (de "omuni"ação se abrem entre os gru4os% se)am eles
"lAni"os ou inter $tni"os#
,tra!$s das relaç&es de interde4endên"ia que são "riadas entre os di!ersos
gru4os $tni"os ou "lAni"os na eira que% 4or sua !e2% a)udam a estruturar o
sistema e"onNmi"o e de "omuni"ação da "i!ili2ação 'orubá% estes di!ersos
"lãs e etnias que normalmente não se misturam% en*ergam nesta instituição
sua "om4lementaridade% o que a2 da eira o "ontra4eso da guerra% "omo nos
airma Cerger#
B interessante notar que *u "omo o mito que $ o .enor do er"ado e do
+amino e 4ortanto "ria a eira no imaginário dos Yorubás% assumindo assim a
unção de "ontra4eso da guerra e distan"ia-se% desta orma% muito das unç&es
de demNnio que na diás4ora a gre)a o tentou e tenta transormar#
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sta eira "omo instituição% 4or outro lado% se4ara membros de am3lias e
determina relaç&es de 4rodução segundo gênero ao dar a mobilidade 6 es4osa
!endedora e torna o omem 4rodutor sedentário#
,l$m disso% as eiras tem grande im4ortAn"ia so"ial% 4ois $ o lugar onde o ei
torna 4Jbli"as as de"is&es% as mães a4resentam seus re"$m nas"idos 6
so"iedade% onde a "omunidade toma "one"imento de no!idades de outras
terras#
, eira tamb$m $ a Jni"a !ia de "ontato entre di!ersos gru4os so"iais% al$m de
ser "entro de inormação e diusão de not3"ias e de diusão de inluên"ias
"ulturais e da moda#
<udo isso ortale"e ainda mais a instituição do er"ado @agN "omo
"om4onente undamental dos sistemas de "omuni"ação e e"onNmi"o da
"i!ili2ação 'orubá tradi"ional e at$ os dias de o)e% "onorme obser!amos na
obra de Cerger e astide#
sto tem rele*os na diás4ora que 4odem nos a2er entender as dinAmi"as de
nossos mer"ados e eiras tradi"ionais% sobretudo os da aia % /ernambu"o%
aranão e mais tarde io de Daneiro quando re"one"emos 4rin"i4almente
a im4ortAn"ia das negras @agNs e de ina na origem destes nossos mer"ados
e eiras#
+omo nos resumem Cerger e astide% o er"ado e a Peira 4ara os @agNs
4odem re4resentar o Dornal e as e!istas% no "onte*to de "i!ili2aç&es que%
estão baseadas na "ultura oral e que não se utili2am da es"rita ( "omo a maior
4arte das "i!ili2aç&es .ubsaarianas% o que dá ainda maior rele!An"ia ao 4a4el
que desem4ena nos sistemas de "omuni"ação destas "i!ili2aç&es# *u% 4or
re4resentar o abridor de "aminos% e que desta orma estabele"e "ontato entre
os di!ersos gru4os so"iais e% "onsequentemente% o en"ontro entre estas suas
"$lulas so"iais % "lAni"as% amiliares% $tni"as e "onrarias religiosas% torna-se o
senor deste mer"ado e re"ebe oerendas das !endedoras antes de ini"iarem
suas ati!idades% "omo tamb$m nos e*4li"am os mesmos autores#
*u $ a"lamado no mer"ado "omo aquele que estabele"e as "omuni"aç&es
que tornam 4oss3!eis as relaç&es de "om$r"io ou ao mesmo tem4o 4ode
dei*ar de estabele"ê-las "omo nos ala os !ersos de Oriki:
Ele torna+se rapidamente senhor da#ueles #ue passam pelo mercado (
quando estabele"e o "ontato que 4ossibilita o "om$r"io e as "omuni"aç&es
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Ele pode faer com #ue n!o se compre nem se venda nada no mercado até à
noite ( quando interrom4e estas relaç&es de "omuni"ação e "om$r"io
@estes dois !ersos !emos a unção so"iol5gi"a do mito no sentido em que o
sistema de "omuni"ação inluen"ia o sistema e"onNmi"o e que terá
"onseqEên"ias na estrutura so"ial% 4ois "omo !imos anteriormente% $ da
dinAmi"a do sistema de "omuni"ação que se dá no mer"ado )untamente "om
as relaç&es "omer"iais estabele"idas entre os di!ersos agentes que 4or ali
4assam que 4odemos !erii"ar e entender muito da orma "om que esta
so"iedade se estrutura em terras @agNs ( e 4orque não tamb$m na diás4ora#
Dá no !erso de Oriki : Sua m!e o pariu na volta do mercado % !emos a relação
intr3nse"a que *u tem "om esta instituição nagN e "omo não 4ode de orma
alguma ser disso"iada da mesma#
ndo um 4ou"o mais al$m da l5gi"a linear% ra"ional e "artesiana da "ultura
o"idental% se% dentro da dinAmi"a dos Orikis% i2ermos a imagem da mãe que
4ariu de4ois que !oltou do mer"ado e a )usta4ormos e rela"ionarmos 6 imagem
de que este se torna senor daqueles que 4assam 4elo mer"ado e na
sequên"ia "onstruirmos a imagem do mer"ado o dia inteiro sem mo!imento %
temos assim nesta sequên"ia de imagens que se )usta4&em "omo ideogramas
uma ist5ria que tra2 em si um signii"ado simb5li"o no imaginário Yorubá % tal
qual os ideogramas "ineses que isoladamente têm signii"ados em si
mesmos ao se unirem ormam no!os signii"ados#
Outros !ersos de Orikis que lembram a unção 4edag5gi"a do mito e se
rela"ionam ao mer"ado % 4odem ser:
Ele compra sem pagar (em uma alusão aos que 4ode a"onte"er aos que não
les i2erem oerendas
Ele vai com uma peneira comprar aeite no mercado ( em uma reerên"ia de
sua 4resença nos que 4assam 4elo mer"ado e das relaç&es que de!em ser
estabele"idas "om estes
omem muito pe#ueno #ue volta com eles do mercado á noite (em uma
reerên"ia 6 dinAmi"a que se dá% ou idealmente de!e se dar no mer"ado#
ais uma !e2% "om4reendemos melor esta unção atra!$s das imagens que
ormamos a 4artir destes !ersos em nosso imaginário e que )untos "om4&em
um signii"ado que nos remete a esta unção 4edag5gi"a do mito de *u "omo
senor do mer"ado#
37
&'u, O desafio 9 tradição e a (ubversão da Ordem
.egundo alandier% as so"iedades tradi"ionais ari"anas são !istas 4or muitos
antro45logos tradi"ionais e deterministas "omo sendo so"iedades que atra!$s
de sua estrutura m3ti"a mant$m-se em ordem% so"iedades de "onsenso e
"onormidade que não 4ermitem o questionamento de sua autoridade
estabele"ida# .e re4rodu2em ielmente a "ada geração sem !ariaç&es
signii"ati!as em suas estruturas e que al$m de tudo isso se situam ora de
qualquer 4ro"esso de istori"idade#
+onormidade% "onsenso% re4etição e ine*istên"ia de 4ro"essos ist5ri"os são
as "ara"ter3sti"as geralmente a"eitas 4or muitos antro45logos tradi"ionais e
deterministas ao se reerirem 6s .o"iedades da Hri"a .ubsaariana#
@ão 4odemos questionar que "omo as outras so"iedades subsaarianas% na
'orubá% os "on"eitos de senioridade e an"estralidade são "entrais% 4or$m isto
não signii"a que estas so"iedades não "om4ortem em si 4ro"essos e
dinAmi"as que !enam a desestabili2ar esta ordem e que não e*istam nestas
so"iedades "onlitos de !alores e agentes que as "ontestem#
alandier nos ala de F "ategorias de "ontestadores da autoridade nas
so"iedades tradi"ionais subsaarianas e que são:
Os ri!ais – que tentam transgredir as regras estabele"idas 4ara se a4oderar de
um 4oder que les $ re"usado# +omo a e*em4lo dos "açulas que ao dis4utar
4or uma unção ou o3"io mono4oli2ado 4elos mais !elos tornam se
transgressores em uma relação de ri!alidade#
Os 4rodutores – que "ontestam e agem de orma a transgredir as regras
estabele"idas quando as mesmas "riam grandes desigualdades na distribuição
das rique2as que ameaçam o equil3brio so"ial#
Os ino!adores e reormadores religiosos – que atra!$s da tentati!a de uma
no!a relação "om o sagrado% transgridem os "ostumes religiosos !igentes em
bus"a de uma transormação da so"iedade#
Os eiti"eiros e eiti"eiras (sobretudo – na medida em que a eitiçaria re!ela-se
uma orma de arontamento so"ial% onde ela 4ode ser a e*4ressão indireta da
o4osição# O 4ro"esso de instituição de relaç&es que o4eram ao in!erso das
relaç&es "ulturalmente 4res"ritas# la re4orta-se a uma ideologia que se
maniesta "omo a "ontestação so"ial e o "aráter 4roblemáti"o da ordem
estabele"ida#
38
sto 4ode nos a)udar a entender o 4orquê do 4ro"esso de "ombate 6s
eiti"eiras% mesmo na Hri"a Yorubá no "aso da so"iedade de 'a mi Osorongá
e na !isão dos missionários "ristãos euro4eus na Hri"a que ainda nos dias de
o)e "ombatem e "açam os eti"es nas "asas dos ari"anos#
Vuando en"ontramos a relação que o mito de *u tem "om o 4a4el de
transgressor e "om o ato dele estar ligado 6 .e*ualidade% entendemos melor
4orque na diás4ora ele oi rela"ionado erroneamente "om o diabo 4ela gre)a
+at5li"a que oi a mantenedora da ordem estabele"ida naquele momento#
<emos que ter em "onta que nenum ritual se a2 sem *u% na religião 'orubá%
e as eiti"eiras em geral 4ara qualquer "oisa re"orrem a ele% o que rela"iona
diretamente este mito "om o 4a4el de "oad)u!ante na transgressão dos
eiti"eiros#
,o a2ermos as imagens de determinados !ersos de Orikis de *u
"om4reendemos melor "omo ele desem4ena este 4a4el de transgressor em
outras situaç&es#
,o !ermos a imagem do !erso: E.u derruba sal no molho % "om4reendemos
4ereitamente o 4a4el deste transgressor em uma relação simb5li"a de
ri!alidade ("om quem e2 o molo#
@o Cerso Ele procura briga com alguém e encontra o #ue faer % tamb$m
!emos a noção de transgressão 4or 4ro"esso de ri!alidade 4resente no mito#
,ssim "omo 4ode ser uma reação de transgressores 4or 4ro"esso dos
4rodutores ou mesmo atitude dos ino!adores religiosos#
Dá nos !ersos: :Se E.u #uiser ele entra em um pas à fora= e :% discuss!o
gera a batalha= !emos "ara"ter3sti"as que "abem nos quatro "asos#
Vuando o Oriki a2 a imagem : :Ele olha calmamente derramarem pimenta na
vagina de sua sogra= quer nos "amar atenção 4ara que a relação de res4eito
que a senioridade im4&e está sendo desaiada atra!$s de uma imagem que
igualmente de!e "ausar grande im4a"to no imaginário de quem ou!e e re"ita o
!erso#
Dá quando di2 : :Ele fa #ue a mulher do @ei n!o cubra a nude de seu corpo= %
e GEle bate na mulher do rei com um porrete S# <ra2 imagens que transgridem e
desaiam o 4oder estabele"ido do rei% assim "omo questionam a moral da
"orte#
39
9e qualquer orma os !ersos que a meu !er melor deinem *u "omo o
Rrande <ransgressor 4ara os 'orubás são:
GEle fa o torto endireitar G e GEle fa o direito entortar S
Coltando a +am4bell% en*ergamos nestes !ersos todos uma unção
4edag5gi"a e tamb$m so"iol5gi"a se nos ati!ermos ao que 4odem signii"ar na
des"rição deste 4ro"edimento de transgressão assim "omo o 4a4el so"ial que
o"u4a o transgressor#
ntendemos melor ainda a unção e mesmo a autoridade deste transgressor
e seu 4a4el direto em uma estrutura so"ial e em todos os outros sistemas de
in!ariantes quando ou!imos os !ersos de Orikis que ao se reerirem a *u nos
alam : G Ele reforma >enim= e G @ei na terra de Jetu G % aludindo a dois reinos
ligados diretamente aos 'orubás#
sso nos mostra que ao mesmo tem4o que este transgressor a2 o Gtorto
endireitar S quando G @eforma >enimS % 4ode a2er o GO direito entortar S quando
or G @ei na 6erra de Jetu S% o que nos remete aos 4a4eis transormadores que
tanto os administradores "omo os reormistas e transgressores 4odem
desem4enar na estrutura so"ial e todas as outras in!ariantes segundo este
ito#
Pepoimento Q #omo &'u transformou minha mãe em protestante como
minha av%, e porque nunca abandonou meu pai"
Rostaria de a4ro!eitar esta 4arte do te*to 4ara a2er um de4oimento# +reio que
se)a im4ortante na medida em que normalmente 4ela maioria de nossas ontes
serem euro4$ias% estudamos a Hri"a e os ari"anos assim "omo seus mitos%
"omo se ossem um ob)eto de estudo de uma "ultura e*5ti"a que não nos di2
res4eito# sque"emos que 4odem estar 4resentes em nossa "onstituição de
alguma orma e 4or isso aço este de4oimento% e ins4iro nas narrati!as que
temos nos Odus de á nos tan á que tratam de ist5rias de itos% 9euses
e an"estrais# Palo de ist5rias de meus an"estrais e sua relação "om este mito%
e sem4re que 4uder e ti!er algo a di2er ao inal de um te*to assim o arei#
Rostaria de alar de mina a!5 materna% que nas"eu no .ul de inas Rerais%
negra e ila de um omem negro % que 4or sua !e2 oi neta de uma e*-
es"ra!a e ila de uma muler de 4ele "lara des"endente de "ristãos no!os e
negros# /oderia tentar e*4li"ar a religiosidade de mina a!5 4or alguma teoria
40
de a* [eber% e que sua am3lia teria se tornado 4rotestante 4or ra2&es que a
teoria e"onNmi"a de ormação de uma ,meri"a Latina "a4italista e*4li"a# as
"omo quero re"riar um tan a teno que di2er que não ora outro senão *u
que os e2 assim% 4ois ser /rotestante em inas Rerais naquela $4o"a em que
todos eram "at5li"os% era ser um transgressor# eu bisa!N negro di2ia que não
tina nada demais em "omer "arne na se*ta eira santa e que o que im4orta!a
era a relação direta "om aquele que os "riara e não as 5rmulas e "ostumes
so"iais# 9esta orma 4assou 4ara mina a!5 uma relação "om o sagrado
dierente do senso "omum de onde !i!ia# ina bisa!5 "ega!a a se es"onder
dentro de "asa quando os que tinam ome !inam le roubar as galinas no
seu quintal 4ara que estes não se en!ergonassem do que esta!am a2endo%
ao !ê-la% "omo ela mesma disse ao ser questionada 4elos !i2inos que não a
entendiam# *u e2 de mina bisa!5 uma transgressora% 4ois a!ia ugido "om
um omem negro que era ilo de uma e*-es"ra!a de seu 4ai% que ora "riado
"om ela "omo irmão de "riação e a roubou ugindo 4ara outra "idade 4ra
trabalar "omo un"ionário da estrada de erro e assim 4er"orrer os "aminos
de *u (assim "omo ala um !erso de seu oriki # +om esses 4ais que ao
serem 4rotestantes eram tão legitimamente 4rotestantes no es43rito das leis
que Lutero i*ou nos muros% ao "ontestar os abusos da ordem !igente que
"riou uma inquisição e esque"eu-se do 4r54rio "5digo moral##/osso airmar que
*u tamb$m o quis a2er "ontestar 4ara a2er o G 6orto endireitar S# ina a!5
"asou-se "om um omem "at5li"o e te!e duas ilas% uma "omo sua mãe de
4ele bran"a que $ mina mãe e outra de 4ele negra que $ mina tia# *u e2
mina mãe abraçar a bandeira de ,ruanda )unto "om meu 4ai que oi tamb$m
le!ado 4or Ogum 4ra Umbanda# ina a!5% "omo leg3tima 4rotestante 4or
graça de *u e de seus an"estrais ari"anos i"ou muito eli2 ao saber que sua
ila% atra!$s de seus guias a"onsela!a e "ura!a eridas gra!es dos que não
"onseguiam orientação e "ura na so"iedade ormal# /ara ela que !iu meu
bisa!N ser morto em embos"ada 4or não a"eitar 4assi!amente regras e
"ostumes so"iais que 4ara ele não eram rele!antes% não 4odia !er na religião
que erdou de meus bisa!5s moti!os 4ra segregar% dis"riminar% dei*ar de se
inormar% ter qualquer orma de 4re"on"eito% ou a2er o mal em nome do bem e
da ignorAn"ia ou de uma "ul4a que não era de seu 4o!o# la i"ou muito eli2%
4ois% "omo seus 4ais que abraçaram uma religião em nome da transormação
41
da so"iedade% sua ila a2ia magias "om o mesmo 4ro45sito e em uma $4o"a
em que a so"iedade em nossa @ação era algo muito distante do que queriam
os guias da @ação de ,ruanda# ,"o que ela lembrou tamb$m de seus
an"estrais maternos% "ristãos no!os% que ao "egarem em inas tinam que
ler a <orá Dudai"a em segredo% assim "omo di2em na "idade de O*um que
Oduduá a2ia em e"a# /or isso% estes an"estrais tamb$m !inam 6 <erra
a2er suas "uras e dar seus "onselos% "omo os deuses !inam e ainda !em
nos !isitar "om a graça de *u# Dá eu quis seguir a bandeira de muitas
tradiç&es em nome de O*um% á e de Olodumare% 4ois era ilo dos que
seguiam a bandeira de ,ruanda e quando quis dedi"ar a sei!a da mina !ida
e meus atos "omo uma oerenda 4ra mina mãe O*um % ui tra3do 4or
sa"erdotes da religião dos guns que esque"eram que o "aráter ( >á $ mais
do que dineiro ( o>o na religião e no "5digo moral de nossos an"estrais
nagNs# ,lgo que muitos sa"erdotes ainda esque"em ou nem sabem# /or isso
*u le!ou mina mãe á religião de seus an"estrais 4rotestantes% a2endo o
direito entortar 4ara que 4re!ale"esse i>á ( o "aráter# Vuando ela !iu que na
religião de seus an"estrais% seus 4r54rios 4rin"34ios mais sagrados eram
"orrom4idos e O>5 (dineiro tamb$m era mais im4ortante que >á ("aráter e
que 4ara isso usa!am a "ul4a da qual sua mãe nun"a a"eitou em nome de
nenuma inter4retação do que le era sagrado desde que seus an"estrais da
Hri"a em nome desta "ul4a oram 4ri!ados da liberdade% ela a abandonou
"om a graça de *u em nome do "ulto aos nossos an"estrais do Oriente#
nquanto aqui >á ( "aráter % or maior que O>o ( dineiro *u a manterá a3%
"omo boa ila de QangN e Yansã que ela $ e sem4re será# 9e qualquer orma
ela i"ou muito eli2 quando meu irmão mais !elo resol!eu abraçar a bandeira
de ,ruanda que ela ainda ama e res4eita em nome de *u e Ogum# /or isso
que guardou e "olo"ou na 4orta (que *u !igia os di2eres b3bli"os de seus
an"estrais 4rotestantes que ouço na !o2 de *u G endito serás quando
entrares e quando sa3resS % 4ois de 4$ na entrada está *u e atrás da
dobradiça da 4orta está *u ostentando estes di2eres# ,ssim "omo meu 4ai%
que mesmo quando quebrou em re!olta% na beira do mar e entregou a sua mãe
Yeman)á todas suas estátuas de *u% na mesma desilusão que te!e ,braão
quando quebrou seus 3dolos% ele aastou "om esta sua re!olta todas ormas
dos Ori*ás de seu "amino% menos *u% que o seguiu em seus "aminos at$
42
o inal da !ida neste ,i'e# Mo)e está muito eli2 no Orun 4or meu rmão mais
!elo resol!eu seguir o "amado de Ogum e abraçar a bandeira de ,ruanda
4ra a4render a "urar eridas no "or4o e nas almas assim "omo ele e mina
mãe a2iam quando nas"emos#<udo isso "om a graça de *u% 4ois "omo di2
seu oriki Ele atirou uma pedra ontem para atingir o pássaro hoje # $ "om a
graça do .enor do +amino que "ontinuo 4or isso no "amino de !ários
"aminos que o ,i'e me e2 a4rendi2 em nome de á% O*um e Olodumare
atra!$s de todas linagens de meus an"estrais#
Laro'e#
43
Ogum e a 4orte"
@ão raro nos Orikis de Ogum !emos em seus del3rios sanguinários sua relação
"om a morte e "om4reendemos melor quando !emos Odu O'eku e)i 4or
que e*iste esta relação:
<rans"re!o abai*o lenda reerente a isso do Odu O'eku e)i:
:O9eku Beji revelou como Orunmila ensinou a humanidade como proteger+se
de morte prematura$ 7uando o homem foi criado" a morte considerou a nova
criatura como rato favorito para seu alimento$ Ent!o foi a morte a Anica
divindade feli #uando *eus criou o homem$ En#uanto as outras divindades
consideravam os homens seres inferiores criados para servir" a morte os
considerava como provis!o de alimentos$ 1!o obstante" esperou #ue o homem
se multiplicasse para dirigir+se às suas casas e utiliá+los" caprichosamente
como alimento$ 3altavam os meios de defesa" e o homem resignou+se ao
ata#ue incessante da morte$ Os homens n!o tinham a #uem apelar" pois" a
l&gica era #ue" da mesma forma #ue eles acreditavam #ue os animais
inferiores eram feitos para o alimento dos homens" a morte considerava os
homens como sua carne de alimento$ %o compreendermos a filosofia da
e.ist-ncia das plantas e dos animais" #ue foram criados para servir a um
prop&sito no sistema planetário" n!o devemos nos incomodar indevidamente
com a inevitabilidade da morte$ 2omo nos foram dadas as plantas e animais
inferiores para satisfaer nossos hábitos e desejos favoritos" assim também
estamos à merc- dos mais poderosos deuses$ %p&s ter desempenhado seu
papel na terra #ue inclui servir os deuses (da podendo e.plicar o papel
simb&lico de sermos alimento dos deuses)$ *eu nos deu o intelecto para nos
defendermos" para #ue nos defendamos da melhor forma possvel " seja
apaiguando " seja lutando$
/orém a morte continuava concentrando o seu olhar sobre a carne humana"
até #ue o homem consulta Orunmila #ue fe adivinha!o de como impedir a
ameaa da morte$ Ele disse #ue n!o havia sacrifcio #ue pudesse desviar a
aten!o da morte sobre o homem$ Sua carne era a Anica coisa #ue podia
saciar seu divino e vora apetite$ 6odos os outros" ratos" pei.es" aves"
caprinos" carneiros e vacas" eram os alimentos preferidos dos sacerdotes dos
deuses$O homem lhe perguntou se havia alguma coisa #ue poderia impedir de
se alimentar com seus alimentos preferidos$ 1o entanto ele disse #ue a melhor
maneira de protegerem de uma divindade era faer sacrifcio com algo #ue ela
proibia$ Orunmilá em sua fun!o de Eleri Igpin (testemunha da cria!o de
44
*eus) é o Anico #ue sabe o #ue cada uma das divindades probe$ Ent!o
aconselhou aos homens #ue preparassem pur- de inhame ou inhame pilado e
adicionar pe#uenos sei.os$ 6ambém aconselhou a colocar um frango vivo na
casa de E.u e n!o matá+lo$ 7uando a morte se apro.ima de onde estavam os
homens" Orunmilá os aconselhou a comer o inhame esmagado" no #ual eles
colocaram as pedrinhas$ Eles também deveriam amarrar o frango na entrada
da casa de E.u e n!o matá+lo$ 7uando a morte se apro.ima de onde se
encontravam os homens para lanar mais um de seus ata#ues encontrou os
as pedrinhas #ue estavam em suas refei5es$ /rovando das cabaas o #ue os
homens estavam comendo e n!o podendo mastigar" pensou #ue a#ueles #ue
2omiam coisas t!o duras deviam ser aterradoras criaturas capaes de lutar
#uando provocadas$ Embora meditasse sobre o pr&.imo passo #ue daria " a
morte ao ver o frango vivo na frente da casa de E.u bradou seu grito (ku Fee)
$%o ouvir o grito do frango a morte fugiu" pois era proibida de escutar o grito do
frango$ % morte" em seguida" dei.ou os homens em pa e eles agradeceram a
Orunmilá por ter lhes mostrado seu segredo$ 3oi a partir desta data #ue a
morte descobriu outras formas de atingir os homens$ *esde ent!o a morte n!o
pode mais matar o homem diretamente" por#ue passou a ter medo$ /assando
a apoiar+se em seus irm!os mais agressivos como Ogum" divindade do ferro
#ue mata por acidentes mortais (e pela guerra)" por HangG (*eus do trov!o)
#ue mata por fogo e rel4mpago" Obaluai9e #ue mata por epidemias como
varola e todo tipo de doenas< a divindade da noite #ue mata através de
feitio" etc$ 7uando estas deidades se mostram lentas na busca de alimentos"
o rei da morte utilia doena" sua esposa para encontrar comida para sua
famlia$ Isto aconteceu ap&s o homem descobrir o segredo de como assustar
até mesmo a morte de #uem era presa$ /or isso #uando aparece O9eku Beji
na divina!o para a pessoa" podemos dier #ue a morte a persegue" mas deve
faer um sacrifcio para E.u com pur- de inhame misturando sal e aeite de
dend- carregados com sei.os" e um frango vivo deve ser preso ao santuário
de E.u para assustar a morte$=
45
adiá-la% a 4artir do "one"imento dos dom3nios do ito em questão% "omo
sugere o Odu#
9a mesma orma que% no "aso de Ogum% o a"idente ou a guerra 4odem matar
o "one"imento dos segredos do ito de Ogum e at$ mesmo a orma de
e!o"á-lo 4odem% no imaginário dos Yorubás% e!itar que a morte les !ena
4elas mãos de Ogum (a"identes ou guerras#
Cemos "laramente a orma "omo esta morte 4ode agir nos !ersos de oriki:
Ele mata o marido no fogo"
Ele mata a mulher no lar %
Ele mata as pessoas #ue fogem para fora
Cale a 4ena lembrar mais uma !e2 aqui que o Oriki $ antes de tudo uma
)usta4osição de imagens que tem o ob)eti!o de e!o"ar o es43rito de seu ob)eto%
4or isso as imagens relati!as 6 morte nos Orikis de Ogum de!em ser ortes e
"ausar antes de tudo im4a"to nos que 4ronun"iam os !ersos% )ustii"ando os
del3rios sanguinários do .enor da Ruerra quando !emos os !ersos de Oriki#
Senhor de Ire" bebe sangue"
6endo água em casa ele se lava com sangue$
6raendo água ele mata sete pessoas #
O oriki assume sua unção "i!ili2at5ria mais e!identemente quando nos a!isa
de 4erigos rela"ionados 6 morte e Ogum% "omo no "aso:
Ogum a2 a "riança matar-se "om o erro (que ela brin"a#
Ou então:
Ogum é o Ori.á #ue mata as pessoas" a#uele #ue ofende o caador" ofende
Ogum (o que ele!a o !alor do o3"io dos "açadores dentre os demais o3"ios
entre os Yorubás
Outro ator a se ressaltar no que se reere 6 morte e Ogum $ que esta $
ine*orá!el a todos os omens inde4endente de sua 4osição na so"iedade%
"omo nos ala o Odu e !emos isto "laramente nos !ersos de Oriki:
Ele mata a es#uerda e destr&i a es#uerda
Ele mata a direita e destr&i á direita
Ogum n!o poupa ninguém
Ele mata sem falar com ninguém"
Ele mata o ladr!o e mata o dono da coisa roubada"
Ele mata o dono da coisa roubada e mata #uem criticou esta a!o
46
Ele mata sem ra!o na cidade$
Outros !ersos que nos mostram "laramente a questão "i!ili2at5ria na relação
"om a morte% $ quando o Oriki de Ogum nos ala% 4or e*em4lo de "5digos de
se4ultamentos e "ondena a !enda de "or4os 4ara o uso em eitiçaria# Vuando
ala:
Ele mata sem vender o corpo de #uem #uer #ue seja"
Ou quando ala dos "5digos de tratar os "or4os em situação de guerra
Ele mata sem levar o corpo (para vender)
m morto balana a cabea no ombro de #uem o carrega
@este ultimo !erso reorça a ne"essidade de não abandonar "or4os em
"am4os de batala "onstruindo uma imagem orte que no imaginário deste
4o!o terá muito mais eeito do que uma sentença% e que 4or ser imagem
sugere 4or si mesma o que de!e ser eito "om os "or4os dos mortos#
+ontudo a relação de Ogum "om a morte não $ somente nesta questão# Ogum
tamb$m 4ode sal!ar da morte% )ustamente 4or estar intimamente ligado a ela#
Cemos isto "laramente nos !ersos:
Ogum salva a#ueles #ue est!o na imin-ncia de morrer"
Se Ogum curou as pessoas" elas n!o morrem"
,ntes de "on"luir a questão que rela"iona Ogum e a orte% !ou mais al$m% e
4osso mesmo airmar que todas estas imagens% quando a rela"ionamos "om o
tre"o do Odu O'eku e)i que nos ala da inteligên"ia que nos $ dada 4ara
e!itar a morte% ser!em 4ara que este 4o!o 4ossa estabele"er atra!$s de Ogum
o 4a4el que o 4r54rio medo da morte (ine*orá!el de!e desem4enar 4ara que
se e!ite a mesma#
Ogum un"ionando "omo a igura daquele que 4ode matar a quem quer que
se)a% a2 "om que ao ser in!o"ado% 4ossa at$ mesmo e!itar esta morte
4rematura# sto se torna muito im4ortante em uma so"iedade onde aquele que
morre antes dos 4ais (abiku $ "onsiderado at$ mesmo "omo um transgressor
moral e da ordem natural e "osmol5gi"a#
sta unção de "riador do medo da morte (que 4ode at$ mesmo a2er "om que
os omens e!item ou 4ensem antes de tra!ar guerras e dis4utas$ ne"essária
4ara que mortes 4rematuras se)am e!itadas# sto $ bem e!idente no !erso de
Oriki:
Ele mata para meter medo no homem$
47
,qui sua unção no imaginário "oleti!o i"a bem "lara# /ara "on"luir "om o
4a4el ine*orá!el da morte "omo "onseqEên"ia da ne"essidade de reno!ação
da so"iedade (que Ogum tamb$m re4resenta e que em um 4o!o tradi"ional
"omo o 'orubá% no "onte*to das so"iedades subsaarianas% torna-se ine!itá!el
no 4ro"esso natural de su"essão das linagens% 4odemos "om4reender o que
re4resenta o !erso de Oriki:
Ele mata para #ue o %lase (dono do %.é) diga" %ssim Seja (%.é) #
/ortanto a morte% (sobretudo não 4rematura% $ um 4ro"esso natural na
transormação das so"iedades 'orubás# Ogum $ a4enas um dos mitos que
regulam a relação dos omens "om esta morte e "onseqEentemente 4ro"essos
de transormação que um mito "i!ili2ador 4ode desem4enar neste "onte*to# O
que nos remete diretamente a estrutura so"ial das linagens# , morte que
Ogum a2 "om que a"eitemos não $ senão a 4assagem que 4ermite que os
an"iãos se transormem em ante4assados% 4ortanto% sendo assim um 4ro"esso
natural que regula as relaç&es e estrutura so"ial% o que não quer di2er que se)a
4or isso dese)ada% sobretudo de orma 4rematura# /er"ebemos isto )ustamente
4elo du4lo 4a4el que assume tanto "omo o que redime as 4essoas "om a
morte "omo 4ode re4resentar a 4roteção "ontra a morte 4rematura#
49
aqueles que se rela"ionam "om a e!olução te"nol5gi"a e o sistema
te"nol5gi"o% mostrando "laramente sua unção so"iol5gi"a#
Cemos nos !ersos de Oriki abai*o e*em4los% "omo:
Ogum abra+me caminho para ir à roa"
O ferreiro se beneficiará mais no mercado do #ue a#uele #ue trabalha na roa
Ogum" ferreiro do céu
Ogum é a en.ada #ue abre a terra
O general n!o fica no mato
L no mato #ue Ogum permanece
@estes e*em4los !emos in"lusi!e que se delineiam dierentes graus de
im4ortAn"ia e at$ mesmo uma ierarquia entre os o3"ios de agri"ultor% erreiro
e "omandante de armas# .imboli2a tamb$m a 4assagem do 4er3odo de "aça e
"oleta 4ara o de agri"ultura e tamb$m 4osteriormente o 4er3odo no qual se
ini"ia a !ida urbana (quando se reere ao erreiro no mer"ado% que $ o es4aço
a 4artir do qual as aglomeraç&es urbanas se "onsolidaram dentre os 'orubás#
Cemos assim os três 4er3odos e sua e!olução assim "omo 4rimeiros o3"ios
surgirem a 4artir do mito de Ogum o que "onsolida sua unção so"iol5gi"a
quando legitima a "riação de "or4os so"iais de erreiros% "açadores%
agri"ultores% "ees de armas na "i!ili2ação Yorubá# .ua unção 4edag5gi"a $
igualmente "onsolidada dentro destes "or4os so"iais quando les sugerem
"om4ortamentos e delimitam seu es4aço 4elo o que !emos nos !ersos de Oriki
a"ima#
Outros 4ontos im4ortantes ligados 6 "i!ili2ação 'orubá em si mesma 4odem
ser 4er"ebidas nos seguintes !ersos de Oriki:
Segredo #ue fa o /as
Vuando alude 6 4r54ria origem do an"estral m3ti"o que det$m o segredo que
orma a nação Yorubá% que se en"ontra "om os an"estrais
Ogum" dono da casa do dinheiro
Cerso que ala da organi2ação monetária do 4a3s em questão% e mostra que
não oi "om a "egada de euro4eus que se ini"ia esta organi2ação
Ogum circuncida o menino e e.cisa a menina$
Ogum dono do homem" dono da mulher
Cersos que aludem aos ritos de 4assagem tanto 4ara omens e muleres os
quais 4or de4enderem de ob)etos "ortantes% são de dom3nio de Ogum o que o
50
liga simboli"amente "om sua unção na estrutura so"ial e nas relaç&es de
gênero nas di!ersas situaç&es em que se a2em im4ortantes 4ara os 'orubás#
0eopardo #ue vende um saco de ráfia" #ue o compra e #ue ajusta seu preo$
,inda se rela"ionando "om a unção de regulador e "i!ili2ador% em menor grau
mostra "omo estas unç&es têm seus as4e"tos no "om$r"io#
Ele nos pGs no mundo #
Ori.á Onile (senhor da 6erra) #ue possui a terra" Inclino+me
Ele pode abenoar alguém
1!o matamos a cabra para comer
1!o matamos o carneiro para com-+lo
2ina dos mortos venham comer massa de inhame
ela"ionando-se "om a lenda da "riação que torna de Ogum o "i!ili2ador o que
$ reairmado na titulação de Ogum "omo Ori*á Onile (que estudaremos mais
atentamente nos ori*ás ligados 6 terra% que $ o .enor da <erra em
"ontra4osição ao .enor do Orun (Olorun e $ um "ulto anterior 6 "egada do
an"estral m3ti"o dos 'orubás (Odudu>a# 9essa orma% o mito se rela"iona "om
as origens do "ulto de Onile que deine% 4or sua !e2 e entre outras "oisas% a
noção de 4erten"imento a uma terra e "omo de!em se dar as relaç&es "om
esta terra% a 4artir do "ulto dos mitos Onile#
Ogum e a tecnologia"
Ogum re4resenta% al$m dos o3"ios% a te"nologia que 4ossibilita a manutenção
e a e!olução destes o3"ios# "omo te"nologia re4resenta 4rimeiramente as
estradas e o senor destas estradas#
B "lara esta relação no !erso de Oriki:
Ogum é o pai do transeunte # (se i2ermos a imagem "omo de!emos nos 4ortar
em relação a esse gênero da oralidade 'orubá% isso se e!iden"ia ainda mais#
<anto no sistema te"nol5gi"o dos 'orubás quanto o das outras so"iedades
subsaarianas% a te"nologia e!olui e a2 e!oluir a so"iedade% e esta e!olução
te"nol5gi"a tamb$m está 4resente no mito de Ogum# Obser!emos isto nos
seguintes !ersos de Oriki:
% en.ada é filha de Ogum
O machado é filho de Ogum
O fuil é filho de Ogum
O fuil tendo sido gerado por ultimo torna+se rei como o leopardo$
Ogum" tr-s ferros t-m ttulos na forja
O ferro da en.ada" o ferro do machado" o ferro do fuil$
+olo"a-se aqui o erreiro "omo um dos res4onsá!eis 4elo 4rogresso
te"nol5gi"o% ao qual de!e sua legitimação de 4a4el so"ial ao mito de Ogum#
Cemos "laramente a e!olução da te"nologia e da unção do erreiro desde a
or)a da en*ada at$ a do u2il% o que e!iden"ia Ogum "omo o mito que 4rodu2
esta e!olução#
9a mesma orma que as ino!aç&es te"nol5gi"as são 4artes da e!olução da
so"iedade% os o3"ios que re"orrem aos erreiros (no "aso dos 'orubás
tamb$m o são e têm grande im4ortAn"ia neste 4ro"esso "omo um todo#
52
/odemos 4er"eber "omo isto un"iona "laramente no imaginário dos 'orubás e
"omo o mito de Ogum se rela"iona "om isto quando "on"reti2amos os !ersos
de Oriki:
Ogum dos barbeiros" come pelo das pessoas"
Ogum dos tatuadores" bebe sangue"
Ogum dos aougueiros" come carne$
<odos os três o3"ios utili2am se de ob)etos de metal% o que os rela"iona
diretamente "om o mito de Ogum e 4or sua !e2 "om a utili2ação dos
4rogressos te"nol5gi"os ligados a este mito#
, te"nologia% assim "omo o mito de Ogum en"ontra-se em di!ersos es4aços e
que 4er"ebemos "laramente nos !ersos de Oriki:
Ogum está na casa"
Ogum está no campo"
Ogum está na alf4ndega #
Ogum e a Auerra #
+omo 9eus da Ruerra% Ogum traça em seus orikis um "5digo de "onduta que
4ode ser 4er"ebido nos seguintes !ersos:
% espada n!o conhece o pescoo do ferreiro
ostrando que os erreiros 4or serem 4rodutores de armas não de!em ser
guerreiros% 4or uma questão estrat$gi"a#
ste "5digo de "onduta tamb$m $ 4er"ebido nos !ersos:
2hefe do ferro" homem ferreiro
Ogum combate com fora
% divers!o de Ogum é a batalha e a briga
Ogum mete muito medo no dia em #ue se encoleria e #ue combate #
#onclusão#
orte% Ruerra% +i!ili2ação e .obre!i!ên"ia% O3"ios% Cirilidade% <e"nologia%
Ordem% todas estas "oisas se interligam neste mito# , morte "omo
"onseqEên"ia natural que mant$m a ordem das linagens e an"estralidadeK a
"i!ili2ação% a sobre!i!ên"ia e os o3"ios legitimados 4elo mito da "riação que
le!am e "ondu2em a te"nologia que em uma l5gi"a 4ositi!ista que ainda
temos% 4ode ter relação "om a guerra 4or ser a guerra uma das res4onsá!eis
53
4elo desen!ol!imento te"nol5gi"o da umanidadeK a !irilidade "omo
legitimadora da manutenção da ordem que det$m em si mesmo o elemento
que transorma e reestrutura a so"iedade atra!$s da Ruerra#
.e !irmos desta orma somente e não "onsiderarmos o mito anterior de *u
"omo "om4lementar neste 4ro"esso de transormação 4odemos estar su)eitos
a uma !isão totalmente 4ar"ial e a uma !ersão Jni"a de uma "i!ili2ação#
/er"ebemos que estas "oisas que em Ogum estão ligadas le!am a um
4ro"esso de transormação% mas que 4elo mito de Ogum estar ligado 6 morte e
6 guerra le!a ine!ita!elmente 6 auto-destruição% ou ao menos a 4ro"essos de
reno!ação atra!$s da destruição 4ar"ial da so"iedade# +laramente
entendemos isto quando rela"ionamos o Ogum da <e"nologia "om o da Ruerra
e da Ordem% (elementos 4elos quais tamb$m tentamos entender a relação na
e!olução de nossas so"iedades o"identais#
Vuando rela"ionamos esta l5gi"a de transormação "om a l5gi"a de
transormação que !emos nos 4ro"essos de transgressão de *u% !emos que
á outras l5gi"as de transormação da so"iedade#
sto se e!iden"ia ainda mais quando analisamos o ato de *u ao mesmo
tem4o ser o transgressor% e o senor do er"ado% que $ o es4aço onde se
en"ontram os "lãs e etnias e no qual 4odem estabele"er relaç&es que
"ontra4&em 6 l5gi"a da guerra#
Vuando alandier nos ala dos quatro ti4os de transgressores das so"iedades
subsaarianas e que !emos serem legitimados nos mito de *u% !emos que
estes 4ro"essos de transormação so"ial atra!$s da transgressão% são uma
alternati!a aos 4ro"essos de "i!ili2ação re4resentados 4or Ogum (e que não
está longe de nossas so"iedades O"identais 4ro4&em e que tem "omo
"onseqEên"ia natural a destruição em algum grau#
O que os 'orubás nos sugerem e 4ro4&em $ que a)a um equil3brio entre as
duas 4ro4ostas# ,ssim% ordem e transgressão têm que ter seus es4aços neste
4ro"esso e!oluti!o so"ial e dessa orma se equilibrar ou se alternar% 4ara que
4ossa assim a!er tanto e!olução quanto 4reser!ação e "ombate aos
4ro"essos de autodestruição que 4odem "om4rometer a sobre!i!ên"ia e
"ontinuidade do desen!ol!imento real da so"iedade em questão#
.omente esta alternAn"ia 4ode garantir uma e!olução de orma sustentá!el%
4ois e!ita que açamos guerras ou !iolên"ias em nome do que "onsideramos
54
ser o bem% sem 4erder o 3m4eto transormador que nos "ondu2 6 e!olução de
nossas so"iedades#
Ogun 'e remo#
Osunemi (!an /oli
55
"andombl$% que 4or sua 4r54ria nature2a $ uma religião nas"ida na diás4ora e
não $ uma "54ia iel ao que "amamos de ile-orisa da Hri"a Yorubá% ou
mesmo o "ulto dos Coduns do 9aom$% onde não e*istem naç&es e nem deram
ne"essariamente origem direta 6s naç&es do "andombl$ da diás4ora% "omo
nos e!iden"ia .alami em suas aulas#
+ontudo tamb$m á o)e uma !ia de mão du4la entre as tradiç&es da ,m$ri"a
e da Hri"a% e muito graças 6 unção de O*ossi na diás4ora% ele se torna
"one"ido e gana orça de "ulto em "idades ari"anas 'orubás onde
normalmente% não osse 4or isso% não de!eria ser "ultuado ou lembrado#
Rraças a seu 4a4el na diás4ora ele $ lembrado em "idades e regi&es que tem
seus mitos da "aça% "omo me e!iden"iam meus "orres4ondentes ari"anos que
me orne"em material de 4esquisa% ao se reerirem a O*ossi (OsoosiK isso
mostra que este 4ro"esso de a"ulturação o"orre tamb$m% de modo não tão
intenso% e em mão du4la% sobretudo 4or se tratarem de 4essoas de outras
"idades 'orubás distantes da inluên"ia "ultural do Tetu#
56
Sentou+se com o irm!o e o tran#,iliou com sua prote!o$
Sempre #ue houvesse necessidade
Ele iria até seu encontro para au.iliá+lo$
Ogum ent!o ensinou O.ossi a caar$
% abrir caminhos pela floresta e matas cerradas
O.ossi aprendeu com o irm!o a nobre arte da caa"
Sem a #ual a vida é muito mais difcil"
Ogum ensinou a O.ossi a cuidar de sua gente$
%gora Ogum podia voltar tran#,ilo para a guerra
Ogum fe de O.ossi o provedor
O.ossi é irm!o de Ogum
Ogum é o grande guerreiro
O.ossi é o grande caador$
sta lenda e*4li"a assim a atribuição do 4a4el de "açador a O*ossi% sobretudo
na diás4ora onde "on!i!e "om o mito de Ogum (que na maior 4arte das
"idades ari"anas 'orubás $ tamb$m o "açador al$m do guerreiro#
Outra lenda im4ortante a se "itar% dentro da "oletAnea de /randi $ a que atribui
a Orunmilá a "oroação de O*ossi "omo ,laketu% que 4ro!a!elmente 4elo
sim4les ato de "itar Orunmilá de!e ter origem na !ersão de algum ese á% ou
tan á de algum dos 8IX Odus do "or4us dos Odus de á#
O.ossi ganha de Orunmilá a cidade do Jetu
2erto dia" Orunmilá precisava de um pássaro raro
/ara faer um feitio de O.um$
Ogum e O.ossi saram em busca da ave pela mata adentro"
1ada encontrando por dias seguidos$
ma manh!" porém" restando+lhes apenas um dia para o feitio"
O.ossi deparou com a ave e percebeu #ue s& lhe restava uma Anica flecha
Birou com precis!o e a atingiu$
7uando voltou para a aldeia"
Orunmilá estava encantado e agradecido com o feito do filho"
Sua determina!o e coragem$
Ofereceu+lhe a cidade do Jetu para governar até sua morte
3aendo dele o Ori.á da caa e das florestas$
elembrando as unç&es do mito segundo +am4bell e rela"ionando "om o
4a4el de O*ossi tanto na diás4ora quanto na região onde seu mito tem maior
inluên"ia na Hri"a% !emos que a unção m3sti"a tal!e2 tena suas
57
4arti"ularidades em "ada um dos "asos% mas se a4ro*imem de alguma orma#
, unção +osmol5gi"a que tem na diás4ora% algumas !e2es $ a que Ogum tem
na maior 4arte do undo Yorubá onde O*ossi não $ "one"ido 4o4ularmente%
o que le atribui 4a4el Jni"o e de maior im4ortAn"ia na diás4ora no "onte*to
do 4anteão de mitos que nossas sen2alas "riaram% a 4artir dos mitos
undadores de "idades de onde !inam os ari"anos da "osta da Ruin$ na
$4o"a "olonial# ,4esar disso% sua unção so"iol5gi"a% na Hri"a% sobretudo no
"onte*to do Tetu e região $ muito mais im4ortante do que na diás4ora% 4ois
seu "ulto "omo di!indade de "idade delinea!a toda uma estrutura de "or4o
so"ial que o rela"iona "om o 4oder do ,laketu# sso não ne"essariamente
o"orre na diás4ora "om a mesma intensidade% se restringirmos o seu 4a4el
so"iol5gi"o 6 "riação do "or4o so"ial de sa"erdotes da nação de "andombl$ do
Tetu o que não se a4ro*ima nem de longe do signii"ado da "onsolidação de
4oder e tradição de um reino ari"ano "omo o Tetu% a4esar da inluên"ia que
esta estrutura da reale2a .agrada ,ri"ana 4ossa ter tra2ido 6 estrutura do
"or4o so"ial de sa"erdotes da @ação do +andombl$ que "one"emos na
diás4ora# sse $ um moti!o 4elo qual de!emos nos ater a seus Orikis 4ara
entendê-lo melor neste "onte*to so"iol5gi"o na Hri"a e não nos "ontentarmos
"om suas lendas 4ara de"odii"ação deste mito# Outro ator que torna
ne"essária a inter4retação de seus orikis $ este mito em sua unção
4edag5gi"a% 4ois na diás4ora temos o desen!ol!imento deste mito em uma
realidade urbana muito dierente da ari"ana# sta realidade ari"ana a2 "om
que a unção 4edag5gi"a do mito de O*ossi tena unç&es mar"adamente
mais 4ragmáti"as e menos simb5li"as na Hri"a e o in!erso disso na diás4ora#
61
B im4ortante ressaltar no!amente
no!amente neste
neste te*to que Logun de $ uma das
!ariaç&es de mito de "açadores# /or isso ligado diretamente a noção de
sobre!i!ên"ia do 4o!o
4o!o 'orubá
'orubá % ,ssim
,ssim "omo Ogum e O*5ssi% este
este mito irradia
4ara o restante das terras
terras 'orubás
'orubás e 4ara a diás4ora
diás4ora a 4artir da região
região de
lesa% onde Cerger "oletou os Orikis reerentes a ele# <amb$m na "idade de
Uidá en"ontramos Orikis 4ara Logun de%
de% "ontudo aqui !in"ulados de
de alguma
orma aos Orikis de O*um# .egundo sobretudo as lendas da diás4ora e
tamb$m os Odus de á da Hri"a% Logun de $ ilo de O*um e O*ossi (ou Ode
% algumas !e2es
!e2es tamb$m de rinl$ e det$m
det$m em si os as4e"tos
as4e"tos emininos de
O*um e as"ulinos de O*ossi
O*ossi o que nos introdu2 em nossos te*tos
te*tos a igura do
mito andr5gino que e*4li"arei detaladamente em te*tos 4osteriores#
Ossaim% Logun de e O*umar$% são três mitos andr5ginos dentro do 4anteão
'orubá (sobretudo na diás4ora% que nos remetem antes de tudo 6 im4ortAn"ia
m3ti"a do du4lo nas relaç&es de 4oder onde estão 4resentes estes mitos em
terras 'orubás# +omo a"abo de di2er% tratarei em detales da questão do mito
andr5gino entre as so"iedades subsaarianas a 4artir do e*em4lo dos 'orubás%
em um 4r5*imo te*to no qual 4ossa e*4lanar "om mais rique2a de detales
estas relaç&es#
/eço 4ara que nos atenamos% 4or enquanto% 4ara o ato de que este mito
re4resenta em si% 4or ser andr5gino% o equil3brio de um 4oder baseado no
du4lo e em elementos mJlti4los no imaginário "oleti!o dos 4o!os onde ele se
estabele"eu "omo 4resente# <odos os Ori*ás du4los ou andr5ginos tem em si
esta unção de tra2er o equil3brio entre 4oderes no que se reere a sua unção
so"iol5gi"a % e 4or que não tamb$m 4edag5gi"a#
Uma de suas lendas% e*tra3da da "oletAnea de /randi % itologia dos Ori*ás
nos demonstra bem esta sua "ara"ter3sti"a de equil3brio#
0ogun Ede nasce de O.um e O.ossi ( Erinle)
m dia O.um conheceu o caador Erinlé (O.ossi)
e por ele se apai.onou perdidamente$
Bas Erinlé n!o #uis saber de O.um$
O.um n!o desistiu e procurou um babala'o
Ele disse #ue Erinle se sentiria atrado
somente pelas mulheres da floresta" nunca pelas do rio$
O.um pagou o babala'o e ar#uitetou um planoC
62
Embebeu seu corpo em mel e rolou pelo ch!o da mata$
%gora sim" disfarada de mulher da mata"
/rocurou de novo seu amor$
Erinlé se apai.onou por ela no momento em #ue a viu$
63
/ara entendermos melor "omo o mito de Logun d$ se insere no imaginário
'orubá $ ne"essário que nos adentremos na análise de alguns !ersos de seus
Orikis ari"anos% 4ois somente a re"itação das lendas que "egaram 6 nossa
diás4ora não dão "onta disso% 4elas mesmas ra2&es a qual tratamos no mito
de O*ossi% que 4or estar !in"ulado 6 "aça 4osteriormente 6 agri"ultura na
Hri"a% se insere muito mais em "onte*tos de "omunidades rurais ligadas 6
"aça e "oleta e agri"ultura do que a so"iedades urbanas# +ontudo no as4e"to
que Logun de se rela"iona "om as so"iedades de "açadores na Hri"a e que
não e*istiram na diás4ora% não teremos idelidade a sua 4lena de"odii"ação se
nos atermos somente as lendas que "egaram 6 diás4ora% onde a realidade do
"ulto dos Ori*ás está muito mais 4r5*ima de uma realidade urbana#
9e qualquer orma% no que se rela"iona "om O*um e as muleres do er"ado
"omo tamb$m ao as4e"to de sobre!i!ên"ia 4resente em O*ossi que são
elementos que têm sua e*tensão realidade urbana% 4odemos nos a4ro*imar da
"om4reensão do signii"ado deste mito sob estes as4e"tos dentro desta
realidade es4e"ii"a# @este as4e"to o mito ari"ano se a4ro*ima de sua unção
na diás4ora#
ni"iando 4or seu as4e"to de guardião do "5digo de onra dos "açadores%
4odemos entender melor esta unção quando a2emos as imagens do !erso
de Oriki de Logun de :m orgulhoso fica descontente #uando o outro está
contente= % o que alude a um "5digo moral que tem seus rele*os tamb$m nos
remo)e e )ala dos "açadores quando se reere a 4o4ular igura do orguloso#
,l$m do alerta 4ara a questão moral do orgulo no sentido negati!o que
4ode !ir a "riar "onlitos em um "or4o so"ial "omo o dos "açadores% este !erso
de Oriki tamb$m se rela"iona "om os ob)eti!os "omuns dos "açadores ( e
agri"ultores em uma em4reitada igualmente em "omum ligada a sua
sobre!i!ên"ia "oleti!a e se a4ro*ima a !ersos que analisamos no Oriki de
O*ossi que tamb$m alude a "om4ortamentos ideais quando e*istem ob)eti!os
"omuns em so"iedades "omo a de "açadores ( que 4or sua !e2 4ode ter uma
l5gi"a muito dierente da dos 4roissionais do mer"ado ou outros o3"ios#
Dá nos !ersos de Oriki de Logun de : Ele destr&i a casa de um outro e depois
cobre sua casa com a#uela #ue destruiu= % temos reerên"ia a 4ro"esso de
o"u4ação de terras e 4ro4riedades ( abandonadas 4elas migraç&es ou não e
"onsequentemente reerên"ia a 4ro!á!eis "onlitos que estas o"u4aç&es que
64
gru4os de agri"ultores ou "açadores 4odem o"asionar% o que )ustii"a a alusão
ao gru4o que anteriormente !i!ia na região que terá em suas "asas antigas a G
cobertura de casas novas S# +ontudo% indo mais al$m deste signii"ado% este
enNmeno a4are"e muito requentemente em di!ersos mitos de Ori*ás de
di!ersas ormas# ,o estudarmos a reale2a sagrada em determinados reinos
Yorubás% !emos que os 4o!os de in!asores se unem aos 4o!os aut5"tones e
se armoni2am a eles# ,o estudar a Mist5ria do Tetu !emos a re"e4ção do
4o!o T4anko ao /o!o Yorubá dando les o seu 4rimeiro ogo% o que signii"a a
atribuição dos 4rimeiros meios sobre!i!ên"ia 4ara ada4tação a no!as terras e
a integração entre aut5"tones e in!asores# ,o estudar o ito de QangN e o
reino de O'o entenderemos isto mais "laramente e teremos mais elementos
4ara nos a4roundar# 9e qualquer orma a imagem que se "onstr5i neste !erso
de Oriki de Logun de alude 6 a"eitação de elementos dos 4o!os aut5"tones
4elos in!asores e a integração simb5li"a dos dois 4elo ato de G destruir a
casa do outro e cobrir a sua casa com a #ue destruiu=$ sto se airma ainda
mais se nos a4ro*imarmos do sentido que a 4ala!ra GcasaS oi tradu2ida% que
em 'orubá $ GOnileS % que em um signii"ado mais 4roundo remete a terra
("asa de nas"imento e ao 4r54rio sentido de 4átria 4ara os 4o!os 'orubás#
sso e!iden"ia ainda mais o ato deste mito andr5gino ter a unção de
equilibrar o 4oder du4lo ( no "aso entre a 4átria do aut5"tone e a 4átria do
in!asor # ntendemos melor isso "omo um 4ro"esso "omum a di!ersos
4o!os subsaarianos e não somente aos 'orubás se estudamos mesmo dentro
dos 'orubás as so"iedades de resistên"ia ormadas 4elos 4o!os aut5"tones e
a sua relação "om as so"iedades de in!asores% e a 4artir disso 4oderemos
entender muito de n5s mesmos na diás4ora em nossos 4ro"essos de
a"ulturação (que será tema mais 4roundamente dis"utido dentro do mito de
QangN#
@o !erso de Oriki de Logun de : Ele dá rapidamente um filho à mulher estéril S
entendemos 4rimeiramente sua relação "om a ertilidade que $ um dom3nio de
sua mãe O*um% e se"undariamente o que 4ode re4resentar uma muler est$ril
em uma so"iedade que se baseia nas linagens e na "$lula amiliar# sso se
torna ainda mais im4ortante se "om4ararmos "om o que !imos em !ersos do
Oriki de O*ossi% e !emos em di!ersos outros Ori*ás que nos e!iden"iam que $
4equeno o es4aço 4ara a sobre!i!ên"ia so"ial ora do "onte*to das linagens#
65
( O que $ "omum a di!ersas so"iedades subsaarianas# sso nos a2 4ensar
que da mesma orma que aquele que não tem 4ais ou am3lia está adado ao
ra"asso so"ial nesta estrutura% aquele que não dá 4rosseguimento 6 linagem
tamb$m estará 4or não ter quem le 4ro!ena quando or um an"ião e não
4uder 4rodu2ir da mesma orma# ,l$m de tudo isso% quebrando o "i"lo de
"ontinuidade dos "lãs que ormam a "omunidade# , 4artir da3 entendemos em
4roundidade que 4ara esta so"iedade( assim "omo a maioria das outras
so"iedades subsaarianas 4ode re4resentar a muler est$ril e a inertilidade em
geral#
9a mesma orma ao "onstruirmos as imagens do !erso de Oriki G le e.pulsa
os males do corpo da#ueles #ue os t-m S !emos que 4ara esta so"iedade e no
"5digo de "açadores e agri"ultores ( e tamb$m% 4orque não na !ida urbana? a
im4ossibilidade de 4rodu2ir de!e ser "ombatida% 4ois tamb$m aeta a estrutura
so"ial e e"onNmi"a e )ustamente um mito ligado 6 sobre!i!ên"ia terá unç&es
de "riar todo um "or4o so"ial de sa"erdotes 4ortadores de uma medi"ina
tradi"ional# (sto não somente nas so"iedades subsaarianas $ "laro% e se torna
mais e!idente 4ara n5s 4or que aqui neste o"idente da so"iedade de "onsumo
tamb$m nossos males do "or4o aetam a nossa estrutura so"ial e e"onNmi"a #
@este mesmo sentido e 4ara "on"luir "om4reendemos atra!$s do !erso de
Oriki de Logun de G O preguioso está contente entre os transeuntes S que
4rimeiramente o 4reguiçoso $ um transgressor moral ( "omo !emos em outras
situaç&es nos Orikis de O*um e O*ossi# +omo !imos no te*to anterior G O que
são Orikis ? G% o 4reguiçoso $ um transgressor moral% 4ois na l5gi"a da
4rodução 4resente nas so"iedades Yorubás ( e de outros 4o!os
subsaarianos de "aça e "oleta e agr3"olas baseiam sua organi2ação so"ial
no sistema de linagens e "lãs% onde as 4essoas em idade adulta tem que
4rodu2ir 4ara seus des"endentes% 4ara si mesmos e as"endentes% o
4reguiçoso não tem um es4aço de "on!i!ên"ia a não ser "omo um
transgressor moral# +omentei in"lusi!e na o"asião que isto tem seus eeitos na
diás4ora 4ois os senores de es"ra!os "ostuma!am 4reerir etnias de
es"ra!os que% al$m de deter t$"ni"as de 4rodução e o3"ios que les
interessassem% e!iden"iassem mais em sua "ultura que eram trabaladores
e que o 4reguiçoso era um transgressor moral ( o que uns 4o!os e!iden"iam
mais e outros menos% mas que o"orre na maioria dos 4o!os subsaarianos que
66
tem suas ra32es nas so"iedades de "aça e "oleta % 4assando 4ela agri"ultura e
4astoreio e de4ois se urbani2ando# sso% re4ito aqui mais uma !e2% a)uda a
desmistii"ar a !isão 4re"on"eituosa que a2emos de n5s mesmos que somos
um 4o!o indolente 4or que temos na ist5ria de nossos 4ro"essos 4roduti!os
a origem do trabalo dos es"ra!os e 4rin"i4almente 4or des"endermos deles#
+ontudo % se nos "entrarmos na questão do Oriki% 4odemos entender 4orque
somente Gentre os transeuntes S o 4reguiçoso 4ode estar "ontente#
6ranseuntes sub-entendem um meio urbano e% "onsequentemente% o Jni"o no
qual o 4reguiçoso 4oderia ser su4ostamente tolerado% 4or esta aglomeração
urbana le "onerir algum anonimato# Dá no mundo dos "oletores% "açadores e
agri"ultores este anonimato não $ 4oss3!el o que e!iden"ia ainda mais o
4a4el desta igura "omo transgressor moral# 9e qualquer orma% o Oriki
assume% nesta rase% uma im4ortante unção so"iol5gi"a ao "olo"ar em
"ontraste nos meios urbanos e rurais o 4a4el desta 4ersonagem que $ o
4reguiçoso# , 4artir disso 4odemos 4er"eber melor a rele!An"ia "om que são
!istos aqueles que se re"usam a 4rodu2ir nos res4e"ti!os sistemas
e"onNmi"os dos ambientes rurais e urbanos 'orubás% assim "omo 4odemos
obser!ar que e*istem dierenças entre estes sistemas em "ada um dos
ambientes# ,o nos indi"ar a obser!ação desta 4ersonagem no meio urbano
tamb$m "omo um transgressor moral% o Oriki assume igualmente sua unção
4edag5gi"a#
'a Osun >a nie >a aba Logun de
Osunemi ( !an /oli #
67
O 4ito de O'umar na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is"
+onorme )á "itamos ao alar de do mito de O*ossi% muitas !e2es di!ersos mitos
de di!ersas "idades de di!ersos 4o!os e tradiç&es dierentes se unem 4ara na
diás4ora dar origem a um s5 mito# O*umar$ $ um desses mitos# Originalmente o
ito de O*umar$ 4ara os Yorubás era uma ada4tação de di!ersos mitos das
tradiç&es Pon e De)e e mais 4ro4riamente ai da ser4ente 9ã#
ste mito $ tra2ido 4ara terras Yorubás do Leste assim "omo os mitos de
Obaluai'e e @anã tal qual "one"emos# @o imaginário "omum da diás4ora%
O*umar$ $ tido "omo o .er andr5gino 4or e*"elên"ia% e trataremos do assunto
"om mais atenção no de"orrer deste te*to 4ara e*4ressar "omo essa relação de
androginia !em signii"ar uma das e*4ress&es do du4lo nas relaç&es de 4oder
na Hri"a .ubsaariana#
/ara introdu2ir este mito "ito uma lenda "one"ida na diás4ora em muitos
+andombl$s de .al!ador e que a4resentam bem "omo os mitos do 9aom$ se
integraram ao 4anteão @agN e "on!ersam de maneira estreita entre si na
diás4ora#
:1ana >uruku era a esposa de Obatalá e ao engravidar vai
consultar o Ifá para saber #ual seria o destino de seu filho$ Ifá lhe revela
#ue o filho #ue 1ana traia no ventre seria t!o belo #uanto o Sol e teria o
poder do Sol (#ue somente seu pai Obatalá tinha entre os Ori.ás)$
>aseada nisso 1ana acredita #ue com o poder do filho #ue carregava no
ventre poderia depor Obatalá do trono e governar através do poder de
seu filho$ %o descobrir os planos de 1ana" Obatalá a desterra grávida
para o p4ntano dos mangues e disse #ue ai seria seu domnio e nesta
podrid!o encontraria seu reino$ 1ana contudo restava esperanosa #ue
seu filho ao ser t!o poderoso como o Sol pudesse lhe traer de volta ao
poder$ *everia se chamar Obaluai9e ( Senhor da 6erra )$ %o nascer " a
criana vem toda coberta de pAstulas de varola e revoltada 1ana a
abandona à beira do Bar para #ue servisse de comida aos caranguejos$
7uando os carangueijos se apro.imarem do menino pelo cheiro de suas
pAstulas" os caranguejos " a criana chora e Femanjá ouve seu choro em
do seu domnio ( o Bar ) e vem em socorro a ele e o salva da Borte$
Femanjá #ue com o desterro de 1ana torna+se a primeira esposa de
68
Obatalá" cria o menino e o ensina #ue sua m!e deveria ser perdoada$ *o
outro lado" 1ana pelo fato de ter abandonado o filho e descrer das
palavras de Ifá é castigada pelo *estino$Ifá lhe prenuncia #ue teria outro
filho$ Este novo filho seria a criatura mais bela já vista e ao mesmo tempo
a mais temida #uando se apro.imasse de sua m!e 1an!$ Este seria seu
castigo por ter duvidado de Ifá$ 1asce ent!o O.umaré #ue era ao mesmo
tempo %rco Mris em seu aspecto masculino e uma cobra em seu aspecto
feminino ( #ue era o Anico aspecto no #ual O.umaré poderia se
apro.imar de sua m!e 1an! )$
1an! sentia grande tristea ao ver o %rco Mris e n!o poder tocá+lo e #ue
sempre #ue se apro.imava dele ele desaparecia e restava somente a
cobra na e.press!o de seu filho O.umaré$
1ana percebe #ue no lodo e na lama tudo renasce e se regenera" pois
#uando bate o sol no mangue formam+se arco+ris pe#uenos #ue eram a
e.press!o de seu filho mais belo e promovia a regenera!o da vida #ue
ali se produia$ Ela compreende ent!o o segredo de seus domnios (o
p4ntano) e a regenera!o #ue ele promovia e resolve ent!o se regenerar
e pedir perd!o a seu filho Obaluai9e por t-+lo abandonado" desistindo de
ve de obter o poder de Obatalá e vai procurar Femanjá$ Femanjá
prepara Obaluai9e para ver sua m!e" #ue já adulto cobria o rosto e corpo
com palhas para #ue n!o vissem seu corpo coberto de pAstulas e n!o o
rejeitassem como sua m!e o rejeitou$ %o ver 1ana" Obaluai9e resiste"
mas a pedido de Femanjá abraa sua m!e 1ana a perdoa e pede #ue ela
nunca mais o abandone$ 1este momento a profecia de Ifá se fa
verdadeira e todas as chagas de Obaluai9e se transformam em lues t!o
fortes como a do sol" #ue fieram com #ue continuasse a cobrir seu
corpo" pois a#uela lu era capa de curar as mais terrveis doenas ou
mesmo conduir ao mundo dos mortos a#ueles #ue deveriam para ele
prosseguir$ Obaluai9e ganha ent!o com sua m!e 1ana o reino dos
Bortos" passa a agir com sua lu para curar ou redimir os homens de
suas dores e torna+se o senhor da 6erra$ O.umaré também perdoa sua
m!e e passa a representar a#uele #ue tem o caminho entre este e o
outro mundo (Orun e %i9e) na e.press!o da 2obra e do %rco+Mris =$
69
+onorme 4odemos notar% O*umar$ nesta lenda da diás4ora tamb$m tem o
4a4el de 4romo!er o equil3brio entre 4oderes atra!$s de seu "aráter du4lo% o que
$ uma inluên"ia indubitá!el do 4a4el de 9ã no 9aom$#
,l$m disso% 4er"ebemos na lenda a so"iali2ação e integração dos 9euses
Yorubás de "idades dierentes assim "omo outros originalmente do 9aom$
"omo se i2essem 4arte de um s5 4anteão# @isso !emos uma "ara"ter3sti"a
muito 4resente na diás4ora e que 4ode nos "ontar muito da ist5ria de "omo as
tradiç&es na diás4ora se re"onstru3ram nos es4aços das sen2alas#
70
ou unidade+ #ue consiste a base de toda organia!o no universo e na
sociedade$$$Ba'u e 0isa e.primem esta uni!o tensional$ Eles s!o associados a
duas séries de atributos e de smbolos contrários e ao mesmo tempo unidos$$$%
associa!o dual se apresenta" ao mesmo tempo" sob seus aspectos positivos (
de complementaridade organiadora) e negativos ( a diferena geradora de
conflitos)$ Sua interven!o é necessária mais insuficiente$$$ma outra figura "
portanto" é responsável pela ordem da cria!o juntamente com Ba'u e 0isa C
*! fora en#uanto pessoa e capa de mAltiplas manifesta5es$ Esta nova
entidade se identifica à ordem vivente" aos agentes de prosperidade " a
continuidade do curso do tempo$ Ela gera o movimento no sentido da ordem
primordial $$$*! é concebida sob forma de divindade andr&gina ao invés de par
de g-meos" diem #ue ele é dois em um$=
@o 4anteão 'orubá que "one"emos na diás4ora% á basi"amente três
di!indades andr5ginas 4rin"i4ais e que são O*umar$% Logun de ("onorme
!imos no ultimo te*to e Ossaim#
+omo nos sugere alandier% este ser andr5gino re4resentado 4or 9ã !em
legitimar e "ontribuir "om a ordem inal das "oisas e do uni!erso% tendo o mito
neste "onte*to% sua unção "osmol5gi"a que a)uda a e*4li"ar o uni!erso e sua
ormação# .egundo nos sugere este autor% na maior 4arte das so"iedades
subsaarianas% a igura do eminino e das di!indades emininas "omo a>u está
rela"ionada 6 desordem e ao "aos# Dá a igura mas"ulina e das di!indades
mas"ulinas "omo Lisa e Ogum está rela"ionada 6 ordem#
m nosso mundo )udai"o "ristão o"idental e tamb$m no islAmi"o% em nosso
imaginário ormado a 4artir destas "i!ili2aç&es a ordem se estabele"e a 4artir do
mas"ulino% o "riador $ um 9eus Momem que% assim "omo nas so"iedades
subsaarianas% assume no mas"ulino o 4a4el da ordem e no eminino o 4a4el da
desordem e do "aos (4odemos tentar a"ar isso no O"idente se nos atermos ao
que oram as eiti"eiras na uro4a na dade $dia% ou se analisamos
miti"amente os 4a4$is de Lilit e !a nas "i!ili2aç&es onde a4are"em na
,ntiguidade% entendemos isto melor# B "omum 4ara n5s% em nossa so"iedade
o"idental% que a"eitemos em nosso imaginário que este mas"ulino% que $ a
Ordem% re4rima a desordem do eminino e estabeleça a ordem do Uni!erso% o
que 4ode nos es"lare"er das !is&es se*istas que temos em nossas estruturas
so"iais# (@ão que na Hri"a .ubsaariana se)a dierente% segundo nos ala
alandier#
71
@a l5gi"a dos Pon do 9aom$ e de grande 4arte das so"iedades subsaarianas%
este ser andr5gino% no "aso na igura de 9ã% a4are"e "omo o regulador da
ordem% 4ois "omo "on"lu3mos ao ler alandier e Cerger% o 4rin"34io do
as"ulino (ordem não "one"e a essên"ia do eminino (desordem e não 4ode
assim estabele"er a Marmonia nem no "onte*to "osmol5gi"o% nem no
so"iol5gi"o ("osmos e so"iedade# sta armonia s5 4ode ser estabele"ida 4or
um ser que tena em si os dois elementos% 4ois Ordem e desordem (
transgressão a2em 4arte do 4a4el "i!ili2at5rio dos itos#
ntendemos melor quando re"orremos aos 4a4$is de Ogum e *u "onorme
!imos anteriormente% que Ordem e transgressão se equilibram e se alternam no
4ro"esso "i!ili2at5rio# 9a mesma orma que o du4lo se equilibra entre ordem e
transgressão% $ ne"essário que mas"ulino e eminino se equilibrem e s5 quem
tem em si os dois 4rin"34ios 4ode 4romo!er este equil3brio#
Pa2endo um 4arêntese% e não querendo a2er uma a4ologia 6 androginia%
a"reditamos que este mito andr5gino 4ossa nos a)udar a e*4li"ar o 4orquê na
diás4ora% no "andombl$% o omosse*ual não $ !isto "omo um transgressor
moral% "ontrariamente ao que 4regam as seitas "ristãs do O"idente# Cemos em
4leno s$"ulo QQ o l3der da gre)a +at5li"a O"idental alar "ontra os
omosse*uais# sta gre)a% 4or sua !e2% $ a mais inluente no delineamento dos
4rin"34ios morais da so"iedade de "onsumo o"idental# O mais 4arado*al em
tudo isso $ que $ )ustamente esta so"iedade "ristã% o"idental e de "onsumo que
"ria os estere5ti4os nos quais as tradiç&es ari"anas e seus rele*os na
diás4ora são atrasados e 4or isso de!em ser "ombatidas# .ão )ustamente estas
igre)as "ristãs ao lado do islã e seus 4roselitismos que a2em "om que o)e na
região Yorubá% não 4ossamos airmar que os omosse*uais nestas regi&es não
se)am transgressores morais% "omo o que a"onte"e "om o "andombl$ na
diás4ora# ntendemos melor atos "omo este se não 4erdemos de !ista que na
diás4ora% as tradiç&es subsaarianas% "omo as 'orubás% eram e ainda são
"onsideradas% em nossa edu"ação% mais "omo atores de resistên"ia da "ultura
de 4o!os es4e"3i"os do que elementos "onstituintes das tradiç&es "ulturais
!igentes em nossos 4a3ses#
m s3ntese% 9ã% ou O*umar$ $ aquele que 4romo!e o equil3brio entre as orças
e 4oderes que regem o "osmos e )ustii"am o mito em sua ordem "osmol5gi"a#
<amb$m "ria um "or4o so"ial na Hri"a% que o alia ao equil3brio entre 4oderes de
72
sa"erdotes e reis% de so"iedades emininas e mas"ulinas e tem um 4a4el
"i!ili2ador#
m Logun de !emos o 4a4el da androginia ligado a sua unção so"iol5gi"a de
equilibrar o "or4o so"ial das muleres "omer"iantes "om o dos "açadores# m
Ossaim !emos o das eiti"eiras "om o do "ulto aos an"estrais (4ois todos
utili2am dos 4re"eitos das olas% onde Ossaim está 4resente# m O*umar$
!emos muito mais um 4oder mas"ulino que )ustii"a a sua unção "osmol5gi"a
atra!$s do ,r"o ris que o rela"iona "om a trans"endên"ia e ao 4oder do Orun
(que "ria um "or4o so"ial de administradores ligados a reale2a em "ontraste
"om seu 4oder eminino da ser4ente (que morde o rabo e dá o mo!imento do
Uni!erso e que o rela"iona "om o mo!imento so"ial das "oisas do ,i'e (que 4or
sua !e2 legitima o "or4o so"ial de organi2aç&es ligadas a o3"ios e ordens de
administração 4o4ular## O ito de QangN em O'o tem um 4a4el similar e que
inluen"iou a maior 4arte dos outros reinos Yorubás e e*4li"aremos melor o
du4lo ao analisarmos este mito% que a4esar de não ser se*ualmente andr5gino
"omo O*umar$% tamb$m :6rana os cabelos como uma moa S "omo di2 seu
Oriki% em uma alusão aos elementos do 4oder eminino que o egulador da
.o"iedade ("omo tamb$m $ QangN em O'o tem que ter em si 4ara 4oder ser
eeti!amente este ito egulador da .o"iedade#
.egundo nos "ita Cerger em te*to de ernard au4oil%
% opini!o vulgar afirma #ue *an %9idok'edo ou *an >ada 'edo( Oshumale
em 1agG ) veicula entre o céu e a 6erra os projéteis de evioso" denominam+na
comumente serpente ( *an) ou fetiche arco Iris$En.ergam nele o deus da
prosperidadeC é o ouro$$$ 1o plano material" seu papel no mundo consiste em
garantir a regularidade das foras produtoras de movimento$ /reside a todos os
deslocamentos da matéria" mas n!o se identifica obrigatoriamente com o #ue é
m&vel$ Se di #ue *an habita o oceano" é por #ue ele representa" para o homem
o má.imo de poder em um movimento ininterrupto$% vida é um desses
movimentos misteriosos" o movimento por e.cel-ncia" #ue *an tem por miss!o
sustentar$
/aul er"ier )á nos dia que :
*an é a fora vital sem a #ual Ba'u e 0isa n!o poderiam ter realiado sua
tarefa$ *an %9ido 'edo" enrolando+se em torno da terra em forma!o"
possibilitou #ue ela se juntasse$ %9ido 'edo tem um duplo aspecto" masculino
e feminino" e é concebido como g-meos$ 6odos os demais *an s!o
73
descendentes deles$ 1o entanto" mais #ue um par" é uno e possui dupla
naturea$ 7uando aparece sob a forma de arco+ris" :o macho é a parte
vermelha e f-mea é a parte aul=$ 8untos sustentam o mundo" enrolados em
espiral em torno da terra" #ue preservam da desintegra!o$$$Se enfra#uecessem
seria o fim do mundo$$$Em sua tarefa de preservar o mundo$ *an é o servidor
niversal$ /or si pr&prio nada fa" mas sem ele nada pode ser feito$=
m ambos os "asos% !emos a unção "osmol5gi"a do mito ortale"endo o
equil3brio entre os du4los 4oderes que se estabele"em entre os di!ersos "or4os
so"iais que ormam a "i!ili2ação Yorubá e que somente o ser andr5gino ou
igualmente du4lo 4ode estabele"er# sto mostra bastante da dinAmi"a "om que
se estabele"em estes "or4os que re"ebem sugest&es destes mitos du4los e que
temos e*em4los bem "laros em so"iedades que se equilibram no 4oder "omo o
O'omesi e Ogboni em O'o#
8- Orikis de O*umar$#
eorçando o que !imos no que se reere á "riação do undo e unção
"osmol5gi"a do mito de O*umar$ temos um "laro e*em4lo quando a2emos a
imagem de :O.umaré permanece no céu #ue ele atravessa com o brao S e G ele
fa a chuva cair na terra S# Vue são !ersos de seus Orikis#
@esta unção de mantenedor da !ida na terra !emos "laramente no !erso de
Oriki# GO pai vem á praa para #ue cresamos e tenhamos longa vida S# @a
unção 4edag5gi"a !emos "laramente a obser!ação G O fogo n!o fa a criana
calar+se= em um dos seus !ersos#
+ontudo% !oltando ao item anterior% "reio que% este mito% no m3nimo% nos a2
reletir se a !isão de nossa so"iedade de "onsumo erdeira da +i!ili2ação
Dudai"o +ristã O"idental na qual um dos elementos% 4ara "ontrolar o outro% o
re4rime% não está se desequilibrando "ada !e2 mais neste 4ro"esso# @ossos
an"estrais que "ultua!am O*umar$ na Hri"a e que temos na diás4ora tal!e2
tenam muito a nos di2er sobre n5s mesmos a 4artir da !isão que insistimos em
"amar de !isão da alteridade#
,ro oboi baba Osumar$#
Osunemi (!an /oli
74
O 4ito de ObaluaiCe na #ivili1ação Yorubá a partir de seus
Ori@is
.egundo nos ala Cerger e a tradição Yorubá% na Hri"a en"ontramos di!ersos
mitos similares que na diás4ora se transormaram na dualidade
Omolu\Obaluai'e# .ak4ata (que oi um rei m3ti"o "one"ido em di!ersas
regi&es das terras 'orubás e do 9aom$% .o44ona% ,'inon% .a4ata% Omolu%
olu%Obaluai'e são nomes "one"idos tanto em terras Yorubás quanto no
9aom$ que designam o .enor da <erra ou a 9i!indade da Car3ola# 9e
qualquer orma os mitos de Obaluai'e (que literalmente quer di2er ei desta
<erra tra2em 4ara as "idades onde $ "ultuado um im4ortante "5digo moral#
Cerger nos narra um en"ontro onde .ak4ata le endereça uma "antiga
segundo ele "eia de ironia:
:Os olhos menores n!o temem os olhos maiores$ m dia o governo recrutou
todos os feiticeiros e os puseram em um trem$ O trem faia igi" igi" igi" partiu
em dire!o a 2otonou$ 0á chegaram na manh! do dia seguinte$ O céu estava
povoado por avi5es e fomos encontrar vários europeus$ %creditamos #ue o
governo iria nos dier palavras importantes" mas em v!o$ Os brancos sentiram
praer em nos olhar e nos fotografar$ %inda hoje vemos um europeu entre n&s$
7uando se vem a um pas" é preciso saber falar sua lngua$Isso ele n!o sabe
faer" mas " ele é curioso de ver$=
Cemos aqui um "urioso en"ontro entre Cerger e .ak4ata e que não dei*a de
ser inluen"iado 4or um "5digo moral# @as "antigas @ukuromean que tem uma
orma senten"iosa !emos mais "laramente isso:
+ Se voc- é rico n!o deve rir dos pobres" pois as pessoas pe#uenas tornam se
grandes$
+7uando se v-m ao mundo n!o temos mulher" autom&vel ou bicicleta$ oc-
n!o trou.e nada para esta vida e assim ninguém conhece o futuro$
+Se o trem descarrilhar as bagagens n!o ser!o salvas
+6odo mundo vai dier #ue canto contra o povo do pas$ enho" no entanto
para dar+lhes conselhos$
+ Bulher #ue n!o fica em casa e corre atrás de um homem" em seguida mais
uma infelicidade$
+1!o se deve correr assim" pegam+se doenas$
+? preciso ficar em casa$
75
+Se voc- se encontrar com a#uele #ue vem de 0onge" é preciso aceitá+lo como
amigo$
+Se voc- se encontrar com alguém de sua casa ou de seu bairro" desconfie
dele$
+/ois o ratinho #ue está em sua casa come seus panos" sua comida e lhe fa o
mal< mas o rato da floresta nada lhe fa$ Ele n!o tem necessidade de voc-$
m 4rimeiro lugar 4er"ebemos "laramente que o ito aqui e*er"e atra!$s
destas "antigas sua unção 4edag5gi"a e delineia "om4ortamentos so"iais o
que 4ode ter um 4a4el se"undário em sua unção so"iol5gi"a# uito "laro $ o
"5digo moral 4resente no mito que tamb$m simboli2a% 4or sua !e2% a
an"estralidade# +omo estamos alando de Hri"a .ubsaariana% esta
an"estralidade le "onere a autoridade de orientar e at$ mesmo ditar um
"5digo moral#
76
9entro dos Orikis de Obaluai'e !emos "laramente as imagens que "onstroem
arqueti4i"amente esta relação da orte e das doenças "om o 4oder nas
relaç&es so"iais e instituiç&es 'orubás#
Vuando ou!imos: :Se eu for e.pulso do pas ele será arruinado=
:*oena 6errvel=
:Sobre a#ueles #ue s!o responsáveis pelo pas" terrvel doena=
:Invocamos todos os grandes=
:1!o falamos com alguém #ue mata e come as pessoas=
:/aci-ncia" ele parte para a terra de outro=$
77
sso se reorça ainda mais e se torna ainda mais "laro e direto quando ou!imos
os !ersos de Oriki:
:olto pra casa=
Genho prestar contas a voc-=
G*evemos contar o #ue vimos=
:3ui saudá+lo=
@estes !ersos% al$m da autoridade do Codun ou Ori*á "omo an"estral e que
determina as relaç&es que os 'orubás têm "om esta an"estralidade% !emos
tamb$m a im4ortAn"ia da 4ala!ra !erdadeira dentro desta estrutura so"iol5gi"a%
que 4or estarmos em uma so"iedade oral% tem antes de tudo um !alor
do"umental# m !ersos des4retensiosos "omo estes 4odemos entrar em
"ontato "om 4re"eitos undamentais que rela"ionam o sistema de "omuni"ação
"om o "5digo moral e sistema de ra"ionalidade entre os 'orubás e a maior
4arte das so"iedades subsaarianas#
Obser!emos os !ersosC :O corpo da#uele #ue injuriou o vodun apodrecerá
en#uanto ele ainda estiver vivo$=
:%#ueles #ue insultam Omolu no caminho do campo=
:eremos seu cadáver voltar inchado S
Cemos "laramente aqui% mais uma !e2% a relação de res4eito ao Ori*á "omo
an"estral que legitima o seu 4a4el "i!ili2at5rio atra!$s do seu sistema moral#
9e qualquer orma% nem tudo o que !emos e ou!imos em relação 6 Omolu di2
res4eito somente ao "5digo moral que legitima a estrutura so"ial das "idades
onde irradiam seu ito 4ara a diás4ora#
<emos e*em4lo "laro nos !ersos de Oriki abai*o:
Gma en.ada de chumbo n!o pode cavoucar o campo=
:3aca de cobre n!o pode cortar uma palmeira=
:Sem lngua a boca n!o serve=
:%#uele #ue desonra n!o concebe ser desonrado=
:Bosca debai.o do 0eopardo n!o sente medo do 0eopardo=
:O fogo #ueima o campo sem #ueimar as folhas secas=
:Ele cai na estrada e a fecha como uma planta espinhosa=
:% planta espinhosa fa mancar a#uele #ue entra na cidade=
:O vento sopra" #uando venta muito prevenir seu marido=
:% Serpente é bela" mas arrasta seu corpo no ch!o=
78
@os !ersos anteriores não 4odemos negar que estamos alando de um "5digo
moral% "ontudo nos e*em4los destes !ersos de Oriki% ao "ontrário dos
anteriores% a relação de res4eito ao mito an"estral não se im4&e atra!$s do
medo% ainda que este)amos alando do .enor da orte e doenças#
Cemos indubita!elmente sim4les obser!aç&es a 4artir do quotidiano e $
inegá!el que 4odemos 4er"eber nesses !ersos elementos do sistema de
ra"ionalidade deste 4o!o% assim "omo na maior 4arte dos !ersos o mito
assume sua unção 4edag5gi"a# sto mostra e "om4ro!a que a4esar dos Orikis
serem um elemento litJrgi"o% não 4aram somente a3% e re!elam outras unç&es#
Coltando aos Orikis em si% em sua unção 4edag5gi"a% !emos nos !ersos
abai*o algo que sem dJ!ida legitima o res4eito ao "or4o so"ial que o mito "ria:
:1!o se deve caoar dos adeptos do Ori.á=
:Se alguém caoar deles" esta pessoa tornar+se+á esposa do Ori.á=
sto delimita antes de tudo na estrutura so"ial 'orubá% onde de!em se lo"ali2ar
os ade4tos e sa"erdotes do Ori*á em relação ao restante da so"iedade das
"idades da qual irradia este mito#
Obaluai'e tamb$m se rela"iona "om o dineiro% 4ois o senor da orte
tamb$m "ria os erdeiros e legitima o 4oder e"onNmi"o dos que erdam os
bens dos que dei*am de en"abeçar as linagens e são redimidos 4elo senor
da <erra# sto nos mostra 4arte deste sistema e"onNmi"o "riado 4elas
so"iedades de linagens em seus 4ro"essos su"ess5rios#
ste ato $ ilustrado tamb$m nos !ersos de Oriki abai*o#
:Odire recebe dinheiro de um homem importante=
:Beu pai #ue dana em cima do dinheiro=
9e qualquer orma a orte e as doenças não são !istas "om alegria% a4esar de
serem a"eitas 4elos 'orubás "omo 4arte de seu 4ro"esso de "onstrução
"i!ili2at5ria#
Cemos isto "laramente nos !ersos de Oriki#
:Ele pesa para todo mundo=
:Ensinem me a me divertir para #ue tudo fi#ue bem S em uma alusão a 4r54ria
lenda que enganou a orte no "or4us dos Odus de á em O'eku e)i%
"onorme !imos no <e*to sobre Ogum#
+ontudo o mito tamb$m tra2 em seus Orikis um "laro 4a4el 4edag5gi"o
quando "onstru3mos as imagens dos !ersos:
79
:1inguém deve sair soinho ao meio dia=
ste !erso nos ala indiretamente dos 4erigos a se sair so2ino ao meio dia e
aumentar o ris"o de "ontrair doenças 4or ser 4i"ado 4or mosquitos "omo o da
malária ou outros# esmo que não a!endo diagn5sti"os m$di"os "onorme
"one"emos em nossa so"iedade% "omo as doenças são atribu3das a
Obaluai'e% intuiti!amente era atribu3da a ele a e4idemia e a ine"ção assim
"omo as ormas de e!itar os "ontágios de doenças tamb$m a ele são
atribu3das tanto na Hri"a "omo na diás4ora#
Pa2endo um 4arêntese neste "aso% $ im4ortant3ssimo que nos atenamos 6
ei"á"ia dos m$todos 4resentes nas bases m3ti"as da Hri"a subsaariana 4ara
que 4ossamos realmente "ombater e4idemias naquele "ontinente% sobretudo
no interior e nas regi&es menos o"identali2adas# ,s "am4anas de "ombate a
e4idemias na Hri"a ("omo a ,9. geralmente são inei"a2es 4ara as regi&es
menos o"identali2adas% 4ois as estas "am4anas geralmente são dire"ionadas
4ara uma realidade urbana 4ara os que se mant$m mais 4r5*imos da
inluên"ia dos antigos "oloni2adores e% "onsequentemente% das regras da
so"iedade de "onsumo o"idental# ,nalisando o e*em4lo de Obaluai'e dentro
da "ultura Yorubá% 4odemos "on"luir que s5 teremos o "ombate ei"a2 a
e4idemias na Hri"a se le!armos em "onta m$todos% medi"inas e mitos
tradi"ionais em armonia "om os m$todos do O"idente# .e o O"idente não
souber introdu2ir estes m$todos res4eitando as "renças lo"ais% dii"ilmente terá
su"esso#
/ara "on"luir este item% ao analisarmos os !ersos de Oriki abai*o 4er"ebemos
o quão oni4resente $ a relação du4la de Cida e orte "omo tamb$m o são as
relaç&es de 4oder dentre os Yorubás#
:Ele fica em casa" manda as pessoas sair e as vigia=
:%ten!o na casa" aten!o no caminho" venham faer a cerimGnia=$
sto ratii"a% mais uma !e2 sua 4osição "omo an"estral e res4onsá!el 4elo "ulto
destes% uma !e2 que a "asa no "onte*to da "i!ili2ação 'orubá $ a sede das
linagens# O que nos e*4&e elementos im4ortantes em sua estrutura so"ial#
80
+omo !eremos melor no mito de @anã% antes da "egada de Odudu>a%
"onorme nos ala L$4ine% não se "ultua!a Olorun no que o)e são as terras
Yorubás#
@a !erdade se "ultua!a o Onile (que em Yorubá literalmente quer di2er .enor
da <erra e somente di!ersas !ers&es de @ana e .a4ata (Obaluai'e eram
"one"idas e rela"ionadas desde este 4er3odo ao "ulto 6 terra#
<emos ainda nos dias de o)e resqu3"ios do "ulto ao Onile nas so"iedades
Ogboni das di!ersas "idades Yorubás% que assimilaram este "ulto#
@os dias de o)e o 4a4el de Onile $ atribu3do ainda a @ana% Obaluai'e "omo
nos idos tem4os antes da "egada de Odudu>a% mas tamb$m a Ogum ( 4or
ser o "i!ili2ador e o que liga os omens 6 sobre!i!ên"ia 6 terra e a O*ossi
tamb$m 4or desem4enar as mesmas unç&es#
O Onile em resumo% "omo )á !imos no "aso dos Orikis de Logun de% $ aquele
elemento que designa 4ara o Yorubá o seu sentido de 4átria (o que
dis"utiremos mais detaladamente em te*tos uturos## O Onile 4ara o Yorubá $
onde está assentado seu Ori*á que geralmente $ onde está baseada a "asa de
sua linagem de origem# @ormalmente $ o lugar onde se nas"e#
Obaluai'e% no sentido de .enor da <erra $ o Onile 4or e*"elên"ia#
/ara ilustrar o "on"eito% narro algo que obser!ei quando ui ao al$ Pol"l5ri"o
da aia em uma das !e2es que esti!e em .al!ador#
@a a4resentação do al$ Pol"l5ri"o eram re"riadas danças de Ori*ás e no
momento que Obaluai'e entra% "omeça a bater no "ão e gritar e se "ontor"er
todo 4ara e*4ressar sua dor# /odemos inter4retar% a 4artir desta
re4resentação% que re"ria% muitas !e2es% as maniestaç&es de Obaluai'e em
terreiros da diás4ora e na Hri"a% que Obaluai'e sendo um Ori*á Onile e o
4r54rio senor da <erra% sente em si toda dor da <erra e dos omens# /or isso
os "ura ou os redime "om sua Lu2#
O que 4odemos tamb$m inter4retar da dor de Obaluai'e% o senor da <erra% $
que as rique2as desta <erra% segundo a l5gi"a deste Ori*á Onile% de!em ser!ir
4ara ameni2ar as dores dos Momens que tamb$m $ a dor deste meu 4ai que
sore 4or todos n5s e 4or quem tamb$m resol!i renun"iar a muitas "oisas em
mina !ida 4essoal 4ara trabalar tamb$m em oerenda a ele "ontra o
4re"on"eito ra"ial e se*ismo at$ a ora que ele !ena me redimir de todas as
dores que n5s omens sentimos nesta terra% 4ois estas que tamb$m são dores
81
dos omens% meu 4ai Ori*á Onile e .enor da <erra sem4re as sentirá
)untamente "onos"o e será sua eterna dor% 6 qual sua <erra "om suas rique2as
de!e ser!ir 4ara "ombater% )untamente "om as @aç&es de seus il os e de!otos
na Hri"a e 4ela diás4ora que tamb$m% "omo ele% sentem a dor do undo#
,toto aba a)unta mi Obaluai'e#
Osunemi
1- ntrodução#
82
neste momento que re"orramos ao que !imos no mesmo te*to 4ara entender
melor esta questão nas relaç&es do 4oder du4lo na Hri"a#
@a questão do 4oder du4lo @ana estará ligada sem4re ao "or4o so"ial que
"ultua o Onile e% 4ortanto aos administradores e "onselos 4o4ulares mais
distantes do "ulto de Olorun que normalmente estará ligado 6 reale2a#
9esta orma% o "ulto de @ana $ na Hri"a algo que se rela"iona 6 resistên"ia
dos "ultos an"estrais dos antigos aut5"tones anteriores a Odudu>a# Cemos
elementos "laros disso em uma lenda da diás4ora da "oletAnea de /randi que
trans"re!o abai*o:
:1ana probe instrumentos de metal em seu culto$
% rivalidade de 1ana e Ogum data de tempos
Ogum o ferreiro guerreiro"
Era proprietário de todos os metais$
Eram de Ogum os instrumentos de ferro e ao$
/or isso era t!o considerado entre os ori.ás"
/ois dele todas as outras divindades dependiam$
Sem a licena de Ogum n!o havia sacrifcio<
Sem sacrifcio n!o havia ori.á$
Ogum é o Oluobé" o Senhor da 3aca$
6odos os ori.ás o reverenciavam$
Besmo antes de comer pediam licena a ele
/elo uso da faca" o obé #ue se abatiam os animais
E se preparava a comida sacrificial$
2ontrariada com essa preced-ncia dada a Ogum"
1ana disse #ue n!o precisava de Ogum para nada"
/ois se julgava mais importante do #ue ele$
:7uero ver como vais comer"
Sem a faca para matar os animais=" disse Ogum
Ela usou o desafio e nunca mais usou a faca$
3oi sua decis!o" #ue no futuro"
1enhum de seus seguidores se utiliaria de objetos de metal
/ara #ual#uer cerimGnia em seu louvor
7ue os sacrifcios feitos a ela
3ossem feitos sem a faca"
Sem precisar da licena de Ogum$=
83
.e "onsiderarmos que o "ulto a Ogum está ligado ao an"estral Oduduá% que
surge somente a45s sua "egada em terras 'orubás% e que "om ele !imos o
ad!ento da or)a e "onseqEentemente da !ida urbana que segue as so"iedades
agr3"olas e de "aça e "oleta quando 4redomina!a o "ulto de @ana e ao Onile%
entendemos melor o que re4resenta esta resistên"ia de @ana em usar a a"a#
m uma so"iedade na qual a an"estralidade determina relaç&es de 4oder%
!emos neste 4rimeiro e*em4lo mais uma !e2 uma relação du4la entre o 4oder
da an"estralidade que resiste 4ara não 4erder seu lugar e o 4oder da
te"nologia e das no!as
no!as geraç&es que ino!a# <al!e2 ao obser!ar isso
isso teremos
m$todos mais ei"a2es
ei"a2es 4ara estabele"er relaç&es "om esta Hri"a que
res4eitem suas origens 4rimordiais# O mesmo ser!e 4ara n5s ilos de suas
diás4oras que relutamos em en*ergar nesta Hri"a nossas origens an"estrais
somente 4orque grande 4arte de n5s não têm mais a 4ele negra% e neste
4ro"esso negamos muito de que n5s mesmo ainda somos#
87
Ye'e(mãe Omo(ilo )á(/ei*e ou se)a: ãe que os ilos são 4ei*es% ou
ãe dos /ei*es#
O nome Yeman)á no rasil%e Yema'a em +uba e nas outras ,ntilas % teriam
!indo diretamente do nome Yemo)a#
+ontudo% "onorme )á dissera% nem sem4re o ito de Yeman)á se rela"iona
diretamente "om o ar e% 4ara ilustrar isto% trans"re!o um mito que se reere 6
"idade de O'o ( que não era banada e nem 4r5*ima ao mar que Cerger nos
"ita a 4artir dos relato do /adre audin e outros autores euro4eus:
:Oduduá deu a seu esposo Obatalá um menino e uma menina C %ganju" #ue
significa= lugar inabitado" mato ou floresta= e Femojá( m!e dos pei.es)$
Femojá é a divindade dos rios e preside julgamentos pela água$ ?
representada por uma estátua de mulher" amarela" usa contas auis e um traje
branco$ O culto a %ganju parece ter cado no es#uecimento ou confundiu+se
com o culto prestado á sua m!e" mas di+se #ue ele tem lugar diante do
palácio do rei de O9o"onde o deus era adorado antes" e #ue ainda se chama
Oju %ganju$
Femoja desposou seu irm!o %ganju" do #ual teve um filho" Orungan" #ue
significaria =no alto do céu=$ Seria o ar (entre a terra e o céu)$
Orungan enamorou+se de sua m!e$ Ela n!o #uis dar+lhe ouvidos" mas ele"
aproveitando+se da aus-ncia do pai"a possuiu"0ogo ap&s o ato Femojá fugiu"
torcendo as m!os" lamentando+se perseguida por seu filho$ Ela repeliu com
repugn4ncia todo o consolo #ue ele #ueria dar+lhe$ 1o momento em #ue
Orungan ia apoderar+se dela$ Femojá" caiu de costas no ch!o$ Seu corpo
inchou imediatamente e de seus seios saram cursos dPágua #ue formaram um
lago$ Seu ventre e.plodiu e dele saiu uma série de deusesCQ$ *ada ( deus dos
vegetais)< R$ Sango (deus do trov!o)< $ Ogum (deus do ferro e da guerra)< T$
Olokum ( deus do mar)< U$ Olosa (deusa dos lagos)< V$ O9a (deusa do 1ger)<
W$Osun( deusa do rio Osun)< Oba ( *eusa do @io Oba) < X Orisa Oko ( deus da
agricultura)< QY Osoosi ( deus dos caadores)< QQ Oke ( deus das montanhas)<
%je salunga ( deus das ri#ueas)< Q$ Soppona ( deus da arola)< QT$ Orun ( o
Sol)< QU Osu (a lua)$
1o lugar onde o corpo de Femoja inchou foi erigida uma cidade" Ife ( #ue
significa distens!o" inchao)" a #ual se tornou a cidade Santa dos Forubá$=
Má alguns 4ontos a se "omentar e e*4li"ar na Lenda da +oletAnea de
Cerger#
88
1- ,gan)u $ o nome de um dos 4rimeiros ,lains (reis de O'o% e% 4ortanto%
deii"ado assim "omo QangN e Orani'an# sto )ustii"a seu "ulto diante do
4alá"io do rei de O'o na lenda a"ima#
8 – Olokum a4are"e aqui "omo deus do mar% o que era "omum na maior 4arte
dos reinos Yorubás% sobretudo em O'o# @o rasil% o "ulto de Olokum
4rati"amente não e*iste% mas em +uba resiste e $ "one"ido na .anteria
"omo 9eus do ar#
; – e nesta !ersão $ signii"ada "omo sendo um in"aço# +ontudo em Yorubá
e $ um substanti!o que se orma a 4artir do !erbo e(querer e a qualidade do
querer(e que orma (e e tamb$m designa% em 'orubá% a 4ala!ra ,mor#
.egundo o que nos "onta .alami em suas aulas e tamb$m% 4or esta a"e4ção%
quer di2er algo muito grande e que não tem tamano ( da3 sua 4ro!á!el
"orrelação "om um in"aço# $ $ a "idade Original dos Yorubás% que legitima
a reale2a de todos os outros reinos 'orubás atra!$s do 4oder de seu Ooni ( rei
que $ des"endente direto de Odudu>a ( an"estral m3ti"o de quem todos os
outros reis 'orubás tamb$m des"endem#
B interessante ressaltarmos que mesmo nesta lenda% Yemo)a% não sendo a
raina do ar% $ a mãe dos Ori*ás e este mito nos e*4li"a a "riação do
Uni!erso e a unção +osmol5gi"a deste mito "omo um elemento eminino
res4onsá!el 4ela Rênese do undo% 4ois os deuses re4resenta!am em si os
elementos que tinam "omo dom3nio# @a diás4ora% tamb$m !emos em
"oletAneas de outros autores% Yeman)á 4romo!endo esta Rênese e sendo o
elemento eminino res4onsá!el 4or ela# <emos e*em4los semelantes na
"oletAnea de eginaldo /randi Gitologia dos Ori*ásS que 4ode nos ilustrar
"omo este 4a4el de .enora da Rênese% rela"ionado 6 Yeman)á "egou at$
n5s na diás4ora# Palaremos "om mais rique2a de detales do 4a4el de
Yeman)á "omo lemento Peminino da Rênese quando ormos tratar dos mitos
das ,'abás# Vuando entenderemos melor 4or que le e% que $ a "idade
original dos Yorubás% $ asso"iada 6 deusa Yemo)á e não ao an"estral m3ti"o
Odudu>a#
9e qualquer orma% o que $ um "onsenso $ que tanto Yemo)a% quanto a nossa
Yeman)á% estão ligadas 6s águas% ao 4oder eminino% ao 4oder "riador e 6
Rênese% 6 maternidade% ertilidade e 6 an"estralidade eminina#
89
stas águas que e*4li"am a unção "osmol5gi"a do mito a 4artir de seu 4oder
"riador e de ãe da Rênese% tem seus rele*os no 4oder eminino da
maternidade que )untamente "om o 4a4el eminino da an"estralidade nos
e*4li"am muito da estrutura so"ial que se "onstr5i istori"amente onde este
mito está 4resente# Uma !e2 a4resentados estes elementos 4odemos
"omentá-los em seus Orikis#
93
:2erto dia HangG se transformou em um menino pe#ueno e foi ver o rei
em seu trono$ *isse+lhe #ue lhe cedesse o lugar" pois o rei era ele$ O rei
chamou todo mundo e perguntou e #uem era a#uele menininho #ue o
incomodava$ 1inguém o conhecia$ O rei ordenou a seus servidores #ue o
matassem e o jogassem no rio$ 0evaram+no e" da a pouco" os servidores
voltaram$ %ntes #ue eles chegassem à presena do rei" o menino já estava
diante do trono$ O rei ficou espantado e disseC= 2omoK Ele foi morto pelos
homens e agora voltou$ :Se eu mandar as mulheres matá+lo talve n!o volte=$
O menino ouve essas palavras e pGs se a saltar"a brincar e a operar milagres$
%s mulheres o perseguiram$ Ele viu um grande buraco" saltou por cima dele "
pulou em cima de uma grande árvore e desceu$ Saltou em uma floresta
pr&.ima e encontrou uma árvore de grande porte$ Saltou nela e apareceu
dependurado em um galho" pendendo de uma corda"e morreu$ %s mulheres
voltaram e disseram ao reiC :o menininho enforcou+se=$
O rei disse #ue o milagre n!o poderia ter ocorrido desta forma na cidade e
anunciou a todo mundo #ue iria faer um sacrifcio$ 2omprou o material para o
sacrifcio (como comum em #ual#uer Itan e Ese Ifá dos Odus de Ifá ao #ual
essa lenda se assemelha e deve ter origem certamente)$ Ordenou a seus
servidores #ue cavassem um buraco debai.o do corpo enforcado e #ue nele
jogassem todo o material ad#uirido" ap&s #ue a corda deveria ser cortada$ O
corpo ao cair voltou a ser um menino vivo e todo mundo ficou espantado$ O
menino declarou #ue n!o havia se enforcado (Joso ; ko (o)so em 9orubá)$
3oram ver o rei$ Surpreendido" ele foi verificar se a#uilo era verdade$ %o voltar
o menino estava sentado no trono$ O rei ordenou+lhe #ue cedesse o lugar$ O
menino recusou+se e disse+lhe #ue seu nome era Oba Joso (rei #ue n!o se
enforcou) e #ue ele comera o rei" tomando o seu lugar$=
, lenda a"ima nos tra2 elementos simb5li"os im4ortantes a se obser!ar e que
"om4lementam bem o que !imos em mitos anteriores#
94
bsto nos reorça uma relação de 4oder "om o du4lo no mito 4ois tanto o rei
quanto QangN se rela"ionam desta orma "om o mas"ulino e eminino em sua
su"essão ao 4oder#
"eorça tamb$m o que !imos em O*umar$ que em si mesmo se desdobra
no mas"ulino e eminino que sustentam a ordem do Uni!erso% 4ois não 4ode
a!er "ontrole da ordem do Uni!erso se quem rege não tem em si o 4rin"34io
do +aos e da <ransgressão# sto 4ode a)udar a nos e*4li"ar que o rei "onia 6s
muleres que det$m simboli"amente em si o 4rin"34io da transgressão nas
so"iedades subsaarianas 4ara "ombater aquele que re4resenta!a em si
mesmo o transgressor no "onte*to do ito ( QangN
95
ni"iamos aqui a análise dos Orikis de QangN em seu "aráter "i!ili2at5rio#
+itando L$4ine% alandier% .errano e Cerger e "onorme alamos no item
4re"edente e em outros te*tos anteriores grande 4arte das relaç&es de 4oder
na Hri"a subsaariana $ mar"ada 4elo du4lo em suas mais di!ersas orma e
e*4ress&es# Uma das e*4ress&es mais mar"antes deste du4lo $ simboli2ado
)ustamente na igura dos gêmeos% 4ois baseando me nas aulas de .errano e
em te*tos de alandier os gêmeos têm sem4re um es4aço es4e"ial de
tratamento nas so"iedades de linagens "omo a maior 4arte das subsaarianas#
m algumas so"iedades os gêmeos são se4arados e di2em que 4or !e2es um
deles 4ode ser at$ mesmo sa"rii"ado# @este "aso% o nas"imento de gêmeos
4ode signii"ar 4ara estas so"iedades o desequil3brio das linagens 4ela
im4ossibilidade de determinar relaç&es e o es4aço de quem $ o mais !elo e
quem $ o "açula# Dá outras so"iedades% "omo os 'orubás% !êem os Rêmeos de
orma ben$i"a# sto de!e se dar% muito 4ro!a!elmente 4elo ato de que
gêmeos reorçam% segundo a !isão deste 4o!o% a linagem naquele instante
4elo nas"imento simultAneo que )ustamente "ria dois mais !elos% dois ilos
do meio ou dois "açulas% reorçando a linagem "omo um todo#
, questão $ que os Rêmeos aludem 6 uma orma sim$tri"a e assim
igualmente rela"ionada ao du4lo% na qual baseiam-se simboli"amente relaç&es
de 4oder na maior 4arte da ^ri"a .ubsaariana#
,o analisarmos os Orikis de QangN !emos esta relação "om os Rêmeos e "om
o du4lo nos !ersos:
Senhor dos D-meos #
96
assimetria a relaç&es de 4oder que 4odemos sugerir que tra2endo em si
algum grau de o4ressão são 4or si 4r54rias assim$tri"as#
O O*$ de QangN ao mesmo tem4o que tra2 seus Rêmeos e sua simetria não
4ode ter% segundo estas "ara"ter3sti"as% no imaginário do 4o!o 'orubá outro
signii"ado senão relaç&es de 4oder ( 4or se tratar do ,lain QangN que se
estabele"em de orma armNni"a )ustamente 4or tra2erem em si um signii"ado
es4iritual e m3sti"o ( 4ois não 4odemos esque"er que QangN oi um dos ,lains
deii"ados
Outro ,lain deii"ado teria sido Oran'ian% o a!N de QangN que tamb$m tem
sua relação simb5li"a "om o du4lo em sua re4resentação de um omem
simetri"amente meio negro e meio bran"o#
+ontudo% a questão simb5li"a do du4lo tanto no mito de QangN "omo no de
Orani'an !em legitimar tamb$m alianças entre reinos e 4o!os dierentes#9e
um lado o 4o!o in!asor ou que 4or algum outro moti!o% "omo alianças $ o
elemento no!o e de outro lado o 4o!o aut5"tone% re4resentando em si mesma
esta relação du4la de 4oder#@o "aso de Orani'an que era meio aribá
(elemento no!o e meio Yorubá( aut5"tone e QangN que 4or ser des"endente
de Oran'ian era meio aribá e meio Yorubá e 4or origem materna ilo de uma
raina @u4e (<a4a que tra2 elementos da "orte @u4e 4ara O'o#
stas alianças que tra2iam elementos no!os 4ara a "orte de O'o e
"onseqEentemente iguras e estruturas no!as no 4oder% tinam que se
armoni2ar "om estruturas antigas# ste ato reletia diretamente na "riação
m3ti"a e simb5li"a das di!indades e ob)etos de "ulto o que tamb$m 4odem nos
a)udar a e*4li"ar a 4resença do du4lo tanto no simbolismo de Orani'an quanto
de QangN#
/odemos "on"luir que estes simbolismos do du4lo nestes mitos% 4or sua !e2%
tamb$m são assim rele*os do equil3brio que de!e se estabele"er entre as
estruturas de 4oder dos aut5"tones e dos elementos no!os dos in!asores#
Má% 4ortanto% um outro ato que nos e*4li"a isto dentro do 4r54rio reino de O'o%
e dentre outros reinos Yorubás e que !eremos mais detaladamente no te*to
sobre o reino de O'o quando ormos alar dos reinos Yorubás em uma 4r5*ima
obra# Cimos nos mitos de @anã e Obaluai'e sobre o "ulto do Onile(.enor da
<erra que e*istia anteriormente 6 "egada de Oduduá em le e (o in!asor e
elemento no!o naquele momento% e que @anã e Obaluai'e )á eram "ultuados
97
em toda região que !ai atualmente do urkina Paso ao @iger% sob dierentes
denominaç&es# +om o ad!ento de Oduduá $ introdu2ido o "ulto ao Olorun (
.enor do +$u#
@este "onte*to são "riadas so"iedades de "ulto ao Onile ( .enor da <erra
que% 4or sua !e2 tornam-se um elemento de resistên"ia dos antigos ábitos
dos 4o!os aut5"tones# stas so"iedades 4assam a di!idir o 4oder e unç&es
legais e administrati!as "om as so"iedades ligadas 6 reale2a que legitima!a o
4oder do Olorun (.enor do +$u e 4or sua !e2 a relação dos soberanos "om
o an"estral m3ti"o (Oduduá ou Orani'an no "aso de O'o#
m O'o% "omo na maior 4arte dos reinos Yorubás% o "ulto ao Onile reerente 6
resistên"ia aut5"tone% $ integrado 4or "ees de setores da so"iedade que
re4resenta!am estes aut5"tones 4uramente 'orubás( ou mesmo anteriores a
estes $ regido 4ela so"iedade Ogboni# Dá o +ulto ao Olorun ( reerente 6 "orte
do ,lain que a2 alianças "om elementos no!os se rela"iona a sa"erdotes
!in"ulados ao "onselo do O'omesi (que es"ole e legitima o 4oder do ,lain#
9esta orma a!ia em O'o% um 4oder que di!ide unç&es administrati!as entre
estas duas estruturas% ne"essitando 4ortanto que o equil3brio entre elas osse
re4resentado de alguma orma#
sse 4oder du4lo s5 4oderia ser re4resentado 4or algu$m que ti!esse
igualmente em sua "arga simb5li"a o "on"eito do du4lo# Orani'an "om seu
"or4o simetri"amente di!idido em 4reto e bran"o e QangN que em seu O*$
que tra2 os gêmeos e a simetria são mitos que simboli"amente "ara"teri2am a
armonia entre estes dois 4oderes#
O O*$ de QangN que 4or um lado re4resenta o 4oder da so"iedade Ogboni em
O'o e 4or outro o do O'omesi $ equilibrado em seu "entro 4or QangN que $ o
,lain% "ada um re4resentando um dos gêmeos (o que tal!e2 nos a)ude a
e*4li"ar 4or que os gêmeos são sinal de bom agouro 4ara os 'orubás#
ste O*$% neste mesmo "onte*to re4resenta o equil3brio da so"iedade Ogboni
dos aut5"tones ('orubás no "aso de O'o que resistem em suas tradiç&es e ao
mesmo tem4o in"or4oram no!os elementos das "ortes dos 4o!os "om os
quais a2em alianças (aribás e @u4es no "aso de O'o% ou in!asores no "aso
de outras so"iedades# O O*$ re4resenta assim em sua simetria e geminilidade
o equil3brio que á entre os elementos tradi"ionais e elementos no!os# ,ssim
"omo tamb$m re4resenta o mo!imento de resistên"ia dos elementos
98
tradi"ionais que in"or4oram e re-signii"am elementos no!os dando um
sentido de transormação destas so"iedades subsaarianas# +omo nos ratii"a
alandier em sua obra !emos neste mais um e*em4lo de que estas
so"iedades subsaarianas% não $ 4or serem tradi"ionais não se transormam e
não "riam um sentido de istori"idade e não têm 4or isso uma dinAmi"a de
transormação so"ial# , Obra de alandier e este e*em4lo questionam o que
4ensa!am muitos antro45logos deterministas do in3"io do s$"ulo QQ ( +omo o
4r54rio Le!' .trauss sobre as so"iedades G 4rimiti!asS e tradi"ionais ao
"lassii"á-las "omo a-ist5ri"as# .em dJ!ida% esta "lassii"ação mesmo que
não diretamente 4ro4ositada% ser!ia e era "on!eniente aos 4ro45sitos
"oloniais e 4orque não di2er que ainda ser!em aos 4ro45sitos neo-
"oloni2adores e o"identali2antes do +a4ital e da 4adroni2ação de uma
so"iedade de "onsumo %"onorme nos ins4ira a airmar 9ilma de ello .il!a a
4artir de sua obra na e*4eriên"ia !i!ida "om os i)ag5s na Ruin$ issau#
esistir% manter o tradi"ional e% ao mesmo tem4o a"oler% assimilar e re-
signii"ar o no!o% este $ um 4ro"esso que guia a transormação e dá um
sentido de istori"idade a muitas so"iedades subsaarianas tradi"ionais e que
temos na 4r54ria diás4ora "omo G4rimiti!asS em um sentido 4e)orati!o# ste
mo!imento de transormação que !emos nestas so"iedades 4ode querer
tamb$m di2er muito de n5s mesmos na diás4ora em nossas dinAmi"as de
transormação de nossa so"iedade brasileira ( e mesmo latino ameri"ana nos
4a3ses onde o"orreram a diás4ora ari"ana% sobretudo no que ela se dieren"ia
da euro4$ia em relação 6 manutenção de suas tradiç&es# .em dJ!ida os
euro4eus (e alo tamb$m 4or e*4eriên"ia 4r54ria são muito mais resistentes
no a"olimento e assimilação e re-signii"ação das alteridades e do no!o do
que n5s no rasil e estas so"iedades ari"anas tradi"ionais#Cemos e*em4lo
"laro disto quando "om4aramos as dierenças nos tratamentos e a"olimento
que n5s e eles demos e damos a maior 4arte dos nossos imigrantes
estrangeiros atra!$s da ist5ria dos Jltimos s$"ulos at$ os dias de o)e# sto%
inde4endentemente da su4osta origem que di2emos ter% nos a4ro*ima% ao
menos neste as4e"to mar"adamente 4resente em nossa "ultura% muito mais
destas so"iedades subsaarianas G4rimiti!asS que muitos de n5s insistimos em
es"onder do que das euro4$ias que grande 4arte de n5s insistimos em
ressaltar em nossas origens# O mais im4ortante de qualquer orma $ que essa
99
"ara"ter3sti"a $ um traço que inega!elmente% 4or ser "omum a nossos es43rito
na"ional% nos une "omo 4o!o inde4endentemente de nossa "or de 4ele ou
su4ostas origens euro4$ias 4resentes em nossos sobrenomes#
/ara a)udar a ratii"ar isso em um 4ro"esso ist5ri"o da diás4ora no rasil%
4odemos !oltar ao simbolismo do O*$ de QangN% e do 4r54rio QangN no
"on"eito de resistên"ia de elementos tradi"ionais e assimilação e re-
signii"ação de no!os elementos nesta nossa diás4ora#
.egundo nos mostram os estudos sobre os +andombl$s da aia% a maioria
deles se rela"ionam diretamente a rmandades +ristãs e um deles o que eu
reqEento em .al!ador que $ dedi"ado a QangN in"lusi!e mant$m uma "ru2 em
seus dom3nios e se "ama originalmente .o"iedade da +ru2 .anta do le de
O4o ,on)á#
,nalisando a +ru2 e o O*$K +risto e QangN !emos que segundo a leitura
simb5li"a dentro da dinAmi"a das so"iedades subsaarianas% "omo a 'orubá% os
dois "arregam em si signii"ados simb5li"os similares% e remetem a relaç&es
du4las de 4oder em três as4e"tos:
a) <anto a "ru2 quanto o O*$ são sim$tri"os e tem as relaç&es de
4oder do du4lo assim rela"ionadas ao equil3brio e armonia dos
4oderes 4romo!ido es4iritual que $ que a simetria signii"a no
uni!erso da maior 4arte das so"iedades subsaarianas#
100
, 4artir disto% se analisarmos as relaç&es dos es"ra!i2ados "om as irmandades
"ristãs% !emos que segundo a !isão da gre)a na $4o"a% muitas somente
ser!iam a4arentemente de a"ada 4ara en"obertar os "ultos tradi"ionais de
resistên"ia dos ari"anos# +ontudo% se le!armos em "onta que os elementos
simb5li"os que aquela "ru2 e aquele +risto re4resenta!am se a4ro*ima!am em
signii"ado 4ara os ari"anos% "omo sendo relaç&es de 4oder entre o tradi"ional
e o no!o que de!eriam no!amente se armoni2ar e re-signii"ar a 4artir de seu
signii"ado es4iritual% 4oderemos entender mais a"ilmente "ertas "oisas "omo
4or e*em4lo:
aa "riação do +andombl$ tal qual o $ no rasil% 4ois a religião muitas
!e2es tra2 no!os signii"ados e s3mbolos e a di!isão em @aç&es $ um
ato que nas"e no rasil# O 4r54rio nome "andombl$ nas"e no rasil (
4ois na Hri"a o "ulto aos Ori*ás $ "amado de le Orisa e
su4ostamente não !em nem do Yorubá% mas de outra l3ngua de rai2
bantu e quer di2er : Tando bele - ater <ambor# O 4anteão de Ori*ás tal
qual o "one"emos no rasil $ algo que nas"e nas sen2alas% 4ois na
maioria das "idades ari"anas "ultuam-se em m$dia normalmente I ou
X Ori*ás somente 4or "idade e todos se alinam em ierarquia ao Ori*á
ou di!indade rela"ionada ao an"estral m3ti"o daquela "idade# sto não
a"onte"e no rasil% 4or isso a4esar do +andombl$ ser a e*4ressão mais
4r5*ima da 4ure2a ari"ana% ela $ uma e*4ressão brasileira% mas que
mant$m o es43rito ari"ano 'orubá da resistên"ia de elementos
tradi"ionais ( no "ulto aos Ori*ás% in"or4oração e re-signii"ação de
elementos no!os "omo as naç&es e o 4anteão tal qual ele o $ na
diás4ora#
b o su"esso da a"eitação do sin"retismo dentre os es"ra!i2ados% que
signii"a em "erta medida a manutenção de uma tradição e a a"eitação
e in"or4oração de elementos no!os#
" a "riação da Umbanda% )á em um segundo mo!imento de assimilação
e re-signii"ação na qual a tradição ini"ial que resiste $ quem 4romo!e e
4ossibilita este mo!imento# , tradição que resiste no "aso $
re4resentada 4ela "entralidade que o"u4a o 4anteão de Ori*ás ari"anos
no "onte*to litJrgi"o da Umbanda# Dá o elemento no!o !em da
in"or4oração de 4ersonagens que nossa elite "ultural "one"e somente
101
a 4artir das leituras de Ruimarães osa e Dorge ,mado% alguns outros
autores romAnti"os e modernistas da segunda ase que geralmente são
leituras obrigat5rias quando !ão 4restar !estibular# stes elementos
no!os da no!a <erra são:
- Os 4retos Celos que não são da no!a <erra mas remetem aos
"ultos aos an"estrais 4r54rios de regi&es antu (geralmente a maioria
destes 4retos !elos se denominam "omo sendo do +ongo ou de
,ngola% 4ou"os da região da Ruin$# , maioria deles se di2 "at5li"a e
geralmente "arregam terços e s3mbolos que aludem deuses da
nature2a "omo os inqui"es% )á indi"ando um 4ro"esso anterior de
assimilação do no!o em um +ongo que assimilou o "ristianismo desde o
s$"ulo QC #
102
re4resentando a resistên"ia da so"iedade tradi"ional e% no "aso de O'o%
aut5"tone e a mestiçagem a in"or4oração do no!o que ao se misturar
tamb$m se re-signii"a e orma o que n5s somos# /or isso% temos a tendên"ia
de di2er que a Umbanda $ a Jni"a religião 4uramente brasileira% 4or
re4resentar este nosso es43rito "om idelidade#
O que não 4odemos esque"er $ que se !emos estas "ara"ter3sti"as em nosso
es43rito% $ que na !erdade esse 4ro"esso no es43rito "oleti!o brasileiro que nos
a2 a"oler % a"eitar e re-signii"ar o no!o tem inega!elmente suas origens em
nossos an"estrais da Hri"a .ubsaariana#
9essa orma% mais uma !e2 ins4irado 4ela obra de 9ilma de elo .il!a% 4ela
!i!ên"ia 4essoal e mina 4r54ria as"endên"ia ari"ana não 4osso dei*ar de
airmar que 4erdemos muito em não desen!ol!ermos uma !isão 4r54ria sobre
estes 4o!os nossos an"estrais ari"anos que !emos 4elos olos dos que os
têm "omo e*5ti"os# sso se dá sobretudo 4or que esta !isão geralmente "omo
o a2 na 4r54ria Hri"a% marginali2a o tradi"ional e G 4rimiti!oS # 9essa orma o
"i"lo de transormação destas so"iedades subsaarianas% "omo a 'orubá% que
ne"essita manter sua base tradi"ional 4ara assimilar e re- signii"ar o no!o% se
!ê !iolada% desmantelada e destru3da#sto 4ode e*4li"ar muito do ra"asso das
instituiç&es administrati!as ari"anas que se aastam de seu "i"lo natural de
transormação re"usando a 4r54ria nature2a 4or a"reditar que esta se)a um
atraso e bus"ando modelos euro4eus que re4resentem esta so"iedade de
"onsumo o"idental e Gdesen!ol!idaS ( O que n5s na diás4ora tamb$m temos
que reletir se não o a2emos% sobretudo a 4artir da elite do nosso meio
a"adêmi"o% que ainda reluta em ao menos re"one"er esta origem em n5s a
"omeçar 4or si mesma#
9a mesma orma que ao não nos re"one"ermos em nossas origens nestas
so"iedades G4rimiti!asS (sobretudo n5s do meio a"adêmi"o brasileiro%dei*amos
de ser autenti"amente n5s mesmos% abrindo es4aço 4ara a ragmentação
so"ial e identitária que aasta nossa so"iedade não somente do ideal de
igualdade mas tamb$m da sustentabilidade e"onNmi"a% 4ois o que
obser!amos a 4artir dos 4a3ses desen!ol!idos que tentamos imitar e do que
!i!emos o)e $ que dii"ilmente so"iedades que não a4ostem no im de
grandes dis4aridades 4oderão se tornar realmente sustentá!eis
e"onomi"amente# ,4esar de que "on"ordarmos e a"armos lindo quando o
103
antro45logo ran"ês ale em amoso e bem re4utado do"umentário% sobre
nossa matri2 aro que% G somente estas so"iedades 4rimiti!as 4oderão sal!ar o
omem "ontem4orAneoS# .o"iedades estas que 4ara ele são tão e*5ti"as e
que a4esar de nos terem a)udado a ormar !emos igualmente "omo sendo
e*5ti"as#
Aonde estão perdidos os nossos "#meos , en$or dos "#meos%
Aonde está nosso Oxé en$or do Oxé %
Osunemi#
104
/ara entender a relação "om o +ristianismo ne"essitamos em 4rimeiro lugar
alar da relação "om o slã#
.egundo o que di2em alguns estudiosos% o ito da relação do 4r54rio Oduduá
"om o rei de e"a e a uga dele da ,rábia 4assando 4ela @Jbia e se
estabele"endo em terras Yorubás% $ um mito "onstru3do# nde4endentemente
do 4osi"ionamento destes estudiosos e os que sustentam a !era"idade deste
mito% o que não 4odemos esque"er $ que ele re4resenta de qualquer orma
uma relação entre o slã e a religião tradi"ional Yorubá#
@a tradução 4ara o nglês de uma s$rie de Odus de á% dentro da Obra a
9i!ination /oetr' de ,bimbola [ande "onirmamos em Otura e)i esta
relação% 4ois este Odu trata )ustamente da 4enetração do slã em terras
Yorubás em determinados tre"os#
Cemos nos Orikis de QangN alguns !est3gios desta relação#
Vuando ou!imos os !ersos:
105
: HangG #ueria a pa ( e o respeito) com os mal-s" por isso dei.ou de
comer carne de porco para mostrar #ue respeitava a tradi!o deste
povo$ Bandava até mesmo um dos seus sacerdotes do culto dos
ancestrais e de seu conselho ( o %lapini #ue é do conselho do O9omesi)
para rear com os mal-s ( muulmanos ) na tradi!o destes e celebrar
a pa conseguida" sendo #ue este sacerdote também como HangG
deveria evitar a carne de porco assim como seus descendentes=
'a Reorgette não sabia% mas se)a 4or ainidade ou rai2 an"estral des"endo
de am3lia de ,la4ini do reino de O'o ( .e)a 4elo o que ala!a mina a!5 da
am3lia de meu a!N materno ou se)a 4ela adoção simb5li"a de uma am3lia
ari"ana que tamb$m des"endia de linagens ,la4inis de O'o% da qual de
estrano 4assei a 4arente 4or ainidade# 9e4ois desta lenda me interessei em
estudar mais sobre o slã e as tradiç&es muçulmanas#
Origem amiliar a 4arte% esta lenda e*4li"a e dá sentido ao que !emos no Oriki
sobre a relação de QangN "om os malês#
Dá 4assando 6 relação "om os "ristãos% entendemos melor in"lusi!e ao ler a
relação do slã "om +risto des"rita sobretudo nos !ersos e F8 a X0 da .ura
; ( a <ribo de Omran do ,l"orão que o trata "omo um en!iado e que
re"omendo a leitura#
@o Oriki de QangN !emos um !erso que ala bem disso quando
des"re!e:
Cemos at$ aqui nos !ersos de Oriki muito 4resentes o es43rito de a"ulturação
e in"or4oração de elementos no!os a 4artir do tradi"ional do qual tratamos no
item 4re"edente# sta !isão de tolerAn"ia e a"eitação da di!ersidade% tal!e2
a)ude a e*4li"ar muito do que !emos no rasil e mais es4e"ii"amente na
aia ( onde a 4resença 'orubá está mais mar"adamente 4resente#
9e qualquer orma% tamb$m !emos na relação de QangN "om as alteridades
traços de "onlito que 4odem mar"ar 4er3odos ist5ri"os de resistên"ia quando
ou!imos os !ersos de Oriki :
Ele possua as pessoas antes da chegada dos europeus$
2om seu brado ele persegue o crist!o (em uma alusão ao tro!ão
106
Ele mata o europeu sem ser culpado (em uma alusão ao raio
,l$m da relação "om a morte% !emos nos Orikis de QangN uma relação direta
"om um "5digo de guerra#
Cemos isto "laramente ao ou!irmos o !erso de Oriki:
Ele sente pena do pai de seis filhos e dei.a um deles vivo$
107
Dá o !erso : :Ele fa voto de longa vida a todos os guerreiros= " mostra
"laramente a relação de QangN "om a guerra #
,ssim "omo o !erso de Oriki: 6endo fechado a porta com uma perna ele luta
contra a cidade inteira" tamb$m !ai no mesmo sentido#
:Ele prefere a#uele #ue di a verdade do #ue a#uele #ue a recusa=
:O mentiroso foge
foge antes mesmo
mesmo #ue ele fale=
108
:Ele toca fogo na casa do mentiroso=
Cemos que o mentiroso "omo transgressor moral não $ uma e*"lusi!idade dos
'orubás# ,o
,o lermos o <radição Ci!a de Mam4atê á% entendemos melor
"omo un"iona esta dinAmi"a entre os 4o!os subsaarianos% sobretudo da
região da Ruin$#
109
ste "5digo oral tamb$m se rela"iona "om a 4ala!ra "orreta ( sobretudo em
um "onte*to de so"iedade
so"iedade oral onde esta 4ala!ra
4ala!ra assume "aráter
"aráter do"umental%
"om a im4ar"ialidade e senso de )ustiça# ,o a2ermos as imagens dos !ersos
Oriki abai*o 4oderemos 4er"eber a unção 4edag5gi"a destes elementos do
mito "laramente:
:1!o se pode pronunciar uma impreca!o #ual#uer contra um cachorro
#ual#uer para #ue ele morra=
:Ele é imparcial=
:1!o me culpe
culpe #ue minha
minha palavra seja correta=
:*a mesma
mesma forma n&s caminhamos
caminhamos com HangG e n!o conhecemos
conhecemos
suas inten5es=
110
:? difcil estar em sua companhia=
111
em detale no 4rimeiro te*to "omo boa ortuna# m outras 4ala!ras o !erso
tamb$m ala em :1!o destruir o meu destino" meu destino a voc- pertence=$
sto al$m do sentido da "oisa 4Jbli"a% !ai mais al$m 4ois ala do ideal de
equil3brio que de!e a!er entre os dierentes elementos que "onstituem uma
"omunidade aludindo a im4ortAn"ia do 4a4el que os elementos de uma
linagem tem em relação a outros de outras linagens % 4ara que ela se
mantena#
Outro ator im4ortante a se e*4li"ar dentro do "5digo oral de QangN $ a
relação entre rique2as (ola % "aráter (i>á e dineiro (o>o # @o "5digo dos
babala>os o "on"eito de i>á ("aráter $ realmente muito im4ortante e não á
real ola (rique2a que se orme somente de o>o(dineiro# <oda rique2a $
ormada tamb$m 4or i>á ("aráter e onra# .em i>á ("aráter não 4ode a!er
ola (rique2a e este "on"eito no "5digo dos babala>os está 4resente tamb$m
no "5digo moral dos 'orubás#
Outros !ersos mostram atos "uriosos que tamb$m aludem a um "5digo moral
ou a um modo de obser!ação da so"iedade es4e"3i"o ou uma unção
4edag5gi"a "omo% 4or e*em4lo% quando a2emos as imagens dos !ersos de
Oriki:
:Ele pega uma criana teimosa e a amarra como um carneiro=
:Beu senhor #ue fa marido e mulher lutarem juntos=
:%prendi #ue ao acordar n!o veio :
:*everá pagar uma multa=
:% chuva molha o louco sem lavá+lo=
:Ele ri e n!o grita :
/ara "on"luir esta 4arte termino "om !ersos de Oriki que me i2eram largar
tudo 4ara lutar "ontra a e*4loração se*ual inantil na aia em oerenda a
meus an"estrais da "orte do reino de O'o ( de QangN e que são:
:%lguém #ue balana os braos com ostenta!o provoca ciAmes=
:Se uma pessoa importante tem dinheiro provoca ciAmes=
:Se alguém fa seu penis funcionar" provoca ciAmes=
:Ele n!o é como a criana #ue jamais teve rela5es=
:Ou como alguém #ue envelheceu=
:% vagina #ue n!o é suficientemente formada n!o pode reunir+se ao p-nis=
112
nega!elmente "i!ili2at5ria e 4edag5gi"a a unção do mito aqui assume um
!alores "ontra a 4edoilia neste "5digo moral de QangN# ,l$m disso nos
mostram um "laro sistema de ra"ionalidade# /er"ebemos "laramente que
a4esar de temos "omo 4rimiti!o este "5digo moral $ e*tremamente soisti"ado
e elaborado#
sto tudo nos a2 reletir que se !emos instituiç&es e so"iedades ari"anas que
se "orrom4em e degradam% esta degradação está muito longe do que os
"5digos morais originários da 4r54ria Hri"a% "omo este% 4regam% e se isto
a"onte"e $ muito mais 4ela inluên"ia e modo "omo o o"idente estabele"e
relaç&es "om a Hri"a# /or isso ouso a airmar que o resgate dos "5digos
an"estrais 4oderá a)udar muito mais a Hri"a a resgatar a dignidade de suas
instituiç&es do que sua o"identali2ação e "ristiani2ação % que ser!e aos
4ro45sitos da im4osição de "ultura de "onsumo o"idental#
Rostaria sin"eramente que a 4artir disso relitamos que tamb$m nossas
instituiç&es na diás4ora% 4or tentarem igualmente nos querer a2er "om que
nos adeqEemos a esta so"iedade de "onsumo o"idental ( euro4$ia% bran"a e
"ristã e nos aastam de "5digos morais "omo este de nossos an"estrais que
dessa orma igualmente nos "onstituem e 4or isso tamb$m se tornam
instituiç&es que tendem a se degradar e "orrom4er# nstituiç&es estas que não
reletem nossa identidade integral e que 4or isso !emos "omo se ossem
instituiç&es de uma alteridade e não nossas realmente o que nos torna em
4arte estrangeiros em nossa 4r54ria nação#
Ta>o kabi'esi l Oba baba .ango ### ba aba .ango
Osunemi
113
O9á já está velha" vai ao encontro de HangG e o acha muito belo$ *i #ue #uer
se casar com ele $ HangG replica #ue ela é velha demais$
Ela responde #ue sabe #ue é velha" mas #ue está decidida a desposá+lo$
HangG di lhe ent!o #ue ela vá buscar seus pertences e volte" e ele se tornará
seu marido$
*epois #ue eles se instalam" O9á n!o #uer #ue HangG saia com outras
mulheres$ *i lhe #ue desde o dia #ue ela nasceu e até sua morte pertence a
ele e morrerá no mesmo dia #ue ele$
HangG di a si mesmoC : % velha #ue chegou esta noite juntou o amor das
outras mulheres em seu cora!o$ ? por isso #ue a chamam de m!e da noite"
I9a (o)san$ 1o dia em #ue HangG voltou para sua terra Fans! acompanhou+o$
O'á $ tamb$m o nome do io @3ger e em O'o L$4ine nos narra que Yansã
na !erdade era ila do Laguna ( membro da "orte de O'o res4onsá!el 4elas
relaç&es "om outros 4o!os e que "asa-se "om QangN#
Yansã $ o arqu$ti4o da muler guerreira e entendemos muito sobre o 4a4el
das so"iedades emininas e das muleres no "om$r"io a 4artir deste mito#
+omo nos "olo"a alandier% sobre a muler "omo metade 4erigosa e a
in!ersão de 4a4$is entre omens e muleres% entendemos muito ao estudar o
arqu$ti4o deste mito#
ste !erso tamb$m alude a uma lenda na qual Yansã se !estia de animal 4ara
"açar e alimentar seus no!e ilos#
Outros !ersos que aludem a este status de 4oder eminino são:
Bulher corajosa #ue carrega uma espada$
114
ste Jltimo nos ala do 4oder eminino desem4enado 4elas !endedoras do
mer"ado e sua "ee (a 'alode#
Outro ator im4ortante a se ressaltar $ o 4a4el do mentiroso "omo transgressor
moral que tamb$m 4er"ebemos muito ortemente mar"ados nos Orikis de O'á%
quando ala:
Os daomeneanos s!o mentirosos" n!o tem em casa um talism! como o
de O9á#
7uem n!o sabe #ue O9á é mais importante e poderosa #ue o marido$
115
, 'alode era a "ee das !endedoras do mer"ado e tida 4or sua 4osição "omo
uma muler que tina o mesmo 4oder dos "ees mas"ulinos# /ara simboli2ar
seu 4oder% Yansã a4are"ia "omo o 4a4el da guerreira# Outro ator que tamb$m
legitima!a o 4a4el de Yansã "omo uma ero3na era sua ligação "om a
sobre!i!ên"ia e o ato das muleres terem que "açar e guerrear em
determinadas o"asi&es 4ara sustentar seus ilos#
Cerger em sua "oletAnea nos ala de uma lenda que "one"i em terreiros de
.al!ador da seguinte orma:
:Fans! era casada com HangG " porém tinha nove outros filhos e se disfarava
de bAfalo para caar para alimentar estes outros nove filhos$ HangG descobre
e desafia Fans! #ue irada o ataca e ele a detém com um prato de acarajés
#ue a fa desistir de atacá+lo=
=Bulher da caa="
:Bulher da guerra=
=7ue espécie de pessoa é OiáK="=Onde ela está o fogo aflora" Oiá" teus
inimigos te viram e espavoridos fugiram="
=Senhora do templo="
:Senhora do /ensar="
116
:Oiá #ue cuida das crianas="
:Drande guerreira="
" :Oiá é mais #ue o alarido de HangG=$ (.endo estes Jltimos !ersos uma
reerên"ia 6 in!ersão do 4oder de gênero "omum em di!ersas
so"iedades ari"anas sub-saarianas% sobretudo de4ois de uma
determinada idade% "omo nos ala alandier
117
as não negras% inde4endentemente de suas religi&es que se es4elam em
suas an"estrais ari"anas 4or estes mitos estarem ainda 4resentes no
imaginário do nosso 4o!o sobretudo nas regi&es "itadas anteriormente #
Ouso a dar o 4r54rio e*em4lo de quem des"endo% 4elo o que teno registro% á
mais de "in"o geraç&es tem muleres "om a mesma bra!ura destas ero3nas
ari"anas#
esmo no meu "aso que )á á duas geraç&es normalmente nos "olo"a no
"enso "omo bran"os% mas que somos des"endentes de muleres negras
!indas destas sen2alas onde eram "ultuados estes mitos#
ina a!5 que tina a 4ele negra e% diga-se de 4assagem% era e!ang$li"a e
não tina nada em sua edu"ação religiosa da tradição ari"ana% não tina um
"om4ortamento dierente de suas an"estrais ari"anas que se ins4ira!am nos
mitos de ansã 4ra tra2er "omida 4ara seus ilos !estida de bJalo que !em a
ser uma metáora 4ara a "ondição de "açadoras e 4ode ser uma metáora 4ra
sua "ondição de o4erária em 4lenos anos F0% quando se !iu !iJ!a "om duas
ilas em uma so"iedade da!a "ada !e2 menos es4aço 4ra a muler% ainda
mais em sua situação#
Outro momento no qual renas"eu em mina am3lia a bra!ura deste mesmo
mito oi no momento em que meu 4r54rio 4ai não "onsegue mais se re"olo"ar
de!ido 6 sua idade e mina mãe% "omo grande 4er"entual das am3lias
brasileiras assume as unç&es de "ee de am3lia# .omente quando entrei em
"ontato "om o uni!erso dos mitos das ero3nas ari"anas $ que !im a
"om4reender sua "oragem e orça% assim "omo a de muitas muleres
brasileiras% negras ou não% que são "ees de am3lia#
@o "aso de mina mãe a inluên"ia deste mito torna-se ainda mais e!idente%
4ois ela $ ligada a tradição do "andombl$ e na $4o"a que morá!amos em
.al!ador e que te!e que desem4enar as unç&es de "ee de am3lia % abre
um "om$r"io e oere"e este "om$r"io 6 Yansã% e de!ido a isto seu "om$r"io
"arrega!a o nome da Ori*á )ustamente na "idade em que á a maior ta*a de
muleres "ees de am3lia do rasil e onde $ inegá!el a inluên"ia deste mito
assim "omo outros no imaginário "oleti!o de!ido 6 4redominAn"ia da rai2
'orubá nesta região#
/osso di2er% na mina 4osição mas"ulina% que esse mito% da muler guerreira%
ada4tado 6 o4erária e "ee de am3lia % segundo a 4ossibilidade de ada4tação
118
dos mitos ari"anos 4ara a realidade atual% "onorme nos airma ,ntonio is$rio
%$ que oi res4onsá!el 4or nossa subsistên"ia% 4elo menos nas duas Jltimas
geraç&es de mina am3lia# /osso airmar assim que 4elo menos nestas
geraç&es Yansã "ontinuou se !estindo de bJalo 4ra "açar e alimentar seus
ilos atra!$s destas bra!as muleres% inde4endente de suas 4osiç&es
religiosas#
,mbas% "omo dissera% são e oram muleres que se "olo"am na 4ele de bJalo
4ara tra2er "omida aos ilos e se o)e sobre!i!emos em mina am3lia a
muitas "rises e dii"uldades% não sei o que teria sido de n5s "omo ilos se não
ossem esses mitos ins4iradores de ero3nas ari"anas que inluen"iassem nos
brasileiros e inluen"iem nossas muleres negras ou bran"as# _ bom ressaltar
que essa $ uma inluên"ia de "ara"ter3sti"as bem dierentes da 4osição
submissa das muleres na tradição "lássi"a% sobretudo a grega ( no qual 9iana
ou as ama2onas eram uma realidade distante 4ra atenienses e es4artanas
que determinou e ainda determina a 4osição egemNni"a dos omens em
nossa so"iedade#
/osso di2er% em meu "aso 4arti"ular e tal!e2 no de muitos brasileiros de
regi&es "itadas% que este mito da ero3na negra que 4resen"iei e omentou
mina subsistên"ia na inAn"ia está muito mais 4r5*imo de meu 4ro"esso
edu"ati!o e de "onstituição "omo "idadão do que o distante e abstrato
"on"eito da ,r$t$ grega % que ti!e "ontato na mina ormação de edu"ador e
"eguei a obser!ar suas origens e usos na edu"ação o"idental em !isitas a
4a3ses do mar geu "omo na bibliote"a do Beso ( atualmente na <urquia% e
que !e)o nesta mesma distAn"ia ist5ri"a#
@ão teno a 4retensão de des4re2ar o mito do er5i grego ou "lássi"o% 4ois
a4esar de na mina origem 4aterna ter as"endên"ias italiana e grega%
reairmo que o mito da ero3na ari"ana está muito mais 4r5*imo e 4resente em
mina ormação edu"a"ional% a4esar de totalmente ignorado 4ela edu"ação
ormal% do que o mito do er5i grego e "lássi"o #
m suma% o que dese)o e!iden"iar em meu de4oimento $ que ao estudarmos
somente os mitos e er5is da antiguidade "lássi"a euro4$ia e ignorarmos
assim os mitos e er5is (mas sobretudo ero3nas ari"anos estamos
inega!elmente nos remetendo a um 4assado muito mais distante e abstrato
4ois os mitos "lássi"os estão á 4elo menos 8000 anos de distAn"ia de nossa
119
realidade ist5ri"a e mitos ari"anos al$m de estarem mais 4r5*imos
"ronologi"amente e 4or isso mais 4r5*imos no nosso imaginário na"ional%
ainda se mant$m !i!os em seus "ultos% moti!o 4elo qual ao in!$s de serem
"olo"ados "omo tendo somente sua unção religiosa% de!em ter re"one"ida
sua unção !i!a e 4resente no imaginário na"ional#
, grande maioria dos brasileiros inde4endentemente de suas religi&es%
sobretudo nos estados que "itei% têm alguma reerên"ia do que são estas
ero3nas 'orubás% graças ao ato de seus "ultos religiosos ainda estarem
4resentes em nossa so"iedade o que não de!e in!alidar% mas sim reorçar%
)untamente "om a base an"estral des"endente de ari"anos de Z7W de nossa
4o4ulação% o 4a4el que estes mitos de ero3nas ainda e*er"em no imaginário
na"ional e o 4a4el que tem na edu"ação e ormação de n5s brasileiros#
sto não a"onte"e da mesma orma "om o mito do er5i grego ou "lássi"o ou
os mitos dos deuses elêni"os ou romanos que tamb$m ti!eram suas
origens em bases religiosas% mas que quando estudamos em edu"ação estas
bases religiosas são disso"iadas de sua origem e estudamos somente a 4artir
do seu 4onto de !ista mitol5gi"o#
+ontudo de!o "olo"ar que e*istem di!ersas dierenças not5rias entre as
ormas "omo os mitos dos deuses elêni"os e do er5i "lássi"o e dos mitos
e er5is e ero3nas ari"anas % "omo no "aso dos 'orubás e "ito a mais
rele!ante que $ que no "aso da maioria dos mitos ari"anos% "omo os 'orubás%
estes mitos têm sua origem em um an"estral m3ti"o res4onsá!el 4ela undação
da "idade estado e 4or sua !e2 do "lã em questão e que 4or sua !e2 está
ligado a um an"estral m3ti"o que $ o as"endente m3ti"o de todos os "lãs de
uma mesma etnia% o que )á não a"onte"e "om o er5i e o mito dos grandes
$4i"os "lássi"os% 4ois neste "aso não á ne"essariamente ligação de suas
origens na an"estralidade dos 4o!os que os "ultua!am ou "ria!am#
9entro da lina de ra"io"3nio que utili2o at$ agora neste te*to isto se torna
ainda mais rele!ante 4ara )ustii"ar 4orque 4arti"ularmente me sinto muito mais
4r5*imo ao "on"eito de deesa da onra da ero3na 'orubá do que a aret$ do
er5i grego# sto se dá )ustamente 4or que no "aso da ero3na 'orubá% 4elo seu
mito ter origem direta em nossa an"estralidade m3ti"a ari"ana e 4elo ato de
que 4ara a ero3na 'orubá este "on"eito de onra está mais ligado 6
120
sobre!i!ên"ia de seus des"endentes e a 4artir disso a atores de "onstituição
da "i!ili2ação#(ari"ana e não 4odemos negar que brasileira tamb$m de!ido 6
diás4ora deste 4o!o 4elo mundo no 4er3odo da es"ra!idão#
9e!ido a tudo isso deendo a 4osição de que temos direito ao a"esso a nossa
4lena identidade "ultural inde4endente de interesses de "lasses ou "ulturas
dominantes que toda !e2 que se ala em outras origens que não as euro4$ias
ou "lássi"as insiste em dar menos im4ortAn"ia a estes atos ou at$ mesmo não
re"one"er#
Pa2 se ne"essário onrar estas ero3nas que são nossas mães% muleres%
edu"adoras brasileiras% que mere"em ter re"one"ida sua base mitol5gi"a#
122
O*um tamb$m $ "ultuada em di!ersas outras "idades 'orubás% a 4artir de seu
mito ter irradiado a 4artir de Osogbo#
.egundo di!ersos mitos oi muler de QangN% Ogum% O*5ssi% Orunmilá e $
mãe de Logun de% o que na Hri"a tem di!ersas !ers&es os mitos de
asso"iação desta Ori*á "om estes deuses de4endendo da região em que se
en"ontrem e da inluên"ia destes Ori*ás no 4anteão regional# sto tem rele*os
na diás4ora onde O*um $ asso"iada a todos eles#
@a Umbanda no .udeste O*um $ sin"reti2ada "om @ossa .enora ,4are"ida%
4adroeira do rasilK na aia "om @ossa .enora da +on"eição% 4adroeira da
aiaK em +uba "om @ossa .enora da +aridade do +obre% /adroeira de
+uba#
O ato destes sin"retismos que asso"iam O*um 6 imagem de 4adroeira em
di!ersas lo"alidades 4odem estar muito 4ro!a!elmente ligados aos seus
as4e"tos ligados 6 maternidade#
123
@os !ersos abai*o !emos uma reerên"ia ao 4a4el que as muleres têm no
desen!ol!imento da medi"ina tradi"ional% assumindo o 4a4el de sa"erdotisas (
sobretudo de O*um :
Ela fa por #ual#uer um o #ue o médico n!o fa$
Ori.á #ue cura doena com água fria
Se ela cura a criana ela n!o apresenta honorários ao pai$
B!e" venha a me ajudar a ter um filho ( uma alusão 6 ertilidade deste mito
tamb$m e o que ele im4li"a no 4rosseguimento da so"iedade de linagens
I9abale fa coisas secretas e fa remédios$
la tem rem$dios gratuitos e dá de beber mel 6s "rianças
Dá ao "onstruirmos as imagens dos !ersos abai*o !emos suas unç&es de
edu"adora % se)a "omo mãe ou "omo muler#
Ela di à cabea má para #ue se torne boa
Bulher descontente no dia #ue seu filho briga
Ela segue a#uele #ue tem filhos sem o dei.ar
Ela recusa a falta de respeito
Ela permanece na galeria da casa e ensina às crianas as lnguas e tudo
a#uilo #ue elas n!o sabem (em uma alus!o direta ao papel da mulher como
educadora representada por esse mito)
Ela desvenda com as pessoas de onde vem a maldade
% m!o da criana é suave$
O.um é suave$
*ona do cobre apodera+se tran#uilamente das crianas ( por seu
conhecimento)
Ela conserta a cabea má das pessoas$
2om as m!os compridas ela tira seu filho da armadilha$
Ela chega e a perturba!o se acalma
Ologun Ede" a#uele #ue tem medo n!o pode tornar+se uma pessoa importante
(em uma sentena e instru!o direta a seus filhos)$
O.um age com calma
Binha m!e #ue cria o jogo de a9o e cria o jogador
O filho entregará o dinheiro em sua m!o
*ei.em a criana rodear meu corpo com as m!os
% m!o da criana é suave
124
O.um é suave$
Cemos no e*em4lo dos Orikis de O*um a"ima% reerên"ia ao 4a4el da muler
"omo du"adora ins4irada 4or este mito# , unção 4edag5gi"a aqui $ inegá!el#
O 4a4el da mãe% 4rotetora% edu"adora e ero3na "ontida no ito está
inega!elmente 4resente# /odemos in"lusi!e !er nossas mestras e mães na
diás4ora desem4enando seus 4a4$is de edu"adoras muito mais 4resentes
neste e*em4lo e nestas rases de O*um % do que nos "on"eitos abstratos e
distantes dos er5is gregos ou 4ais romanos que !emos em nossa ormação
de edu"adores no rasil% mesmo em uni!ersidades tidas "omo de elite da
edu"ação#
,l$m destes atores que se reerem 6 unção 4edag5gi"a do ito% 4odemos
4er"eber "laramente a unção so"iol5gi"a que estes "or4os so"iais de G
edu"adoras G mães de am3lia tem ao se ormarem nos seios das linagens#
@o tem4lo de O*um em Osogbo a unção de edu"ar as no!as e no!os
ini"iados $ das .a"erdotisas e di Osun e se baseiam muito no que !emos
nestes Orikis#
,t$ mesmo no !erso :Osun lava suas j&ias de cobre e n!o lava
suficientemente seus filhos= % !emos uma unção 4edag5gi"a# Vuando esti!e no
gito % !i um "om4ortamento 4are"ido e que in"lusi!e me lembrou este !erso
de Oriki% e ao 4erguntar 4ara as "am4onesas da região de Lu*or% 4or que não
2ela!am e 4are"iam des"uidar de seus ilos% ti!e a res4osta : : E.cesso de
elo n!o educa= # Lembrei in"lusi!e dos "lássi"os sobre du"ação de
ousseau ao ou!ir isto% 4ois deendia de alguma orma esta 4arti"ularidade
nos 4o!os ind3genas da ,m$ri"a#
O*um está ligada tamb$m% de alguma orma ao sistema e"onNmi"o quando
alude 6 a"umulação de rique2as e ao 4r54rio ato de e"onomi2ar "onorme
!emos nos !ersos de Oriki abai*o#
:Ela cavouca areia para nela guardar dinheiro=
:Ela cavouca a areia para nela recolher dinheiro= ( Em alus!o direta à
necessidade de economiar)
O.um dona das profundeas da ri#uea
Ela tem muito dinheiro e sua palavra é suave
Ela se apropria do feriado" ela se apropria da ri#uea
125
? uma freguesa dos mercadores de cobre ( pois o cobre #ue era o metal mais
nobre dentre os 9orubás" e n!o o ouro)
Ela fica em casa e estende a m!o às ri#ueas (em relação direta "om
4roiss&es emininas sobretudo ligadas ao artesanato desen!ol!idas nas
"asas
% grande ri#uea agrada
Ela come #uiabo caro sem pedir fiado
Ela dana nas profundeas da ri#uea
Ela é elagante e tem dinheiro para divertir+se
Ela manda coinhar sopa de #uiabo e n!o fica endividada
O.um inclino+me
Ela é dona do ouro$
<al!e2 esse dom3nio de 4arte do mundo inan"eiro e sistema e"onNmi"o que
alude 6 4r54ria unção das 'alodes e !endedoras do mer"ado 4ossa e*4li"ar%
)untamente "om o que nos ala alandier sobre momentos de in!ersão de
4a4$is% momentos nos quais as muleres tornam se realmente esta metade
4erigosa# @os !ersos de Oriki abai*o !emos "laramente "omo o mito assume
este 4a4el ins4irando este "or4o so"ial de !endedoras do er"ado e 'alodes
que geralmente tamb$m se organi2a!am em so"iedades emininas ligadas 6
magia# Cemos resqu3"io disto nos terreiros de "andombl$ do rasil na diás4ora
onde as muleres desem4enam 4a4el im4ortant3ssimo tal qual as 'alodes%
que no "onte*to ari"ano% 4or serem "ees das muleres do mer"ado tinam
a"esso a todas mer"adorias ne"essárias 4ara a "one"ção das oerendas e
ob)etos ne"essários 4ara a magia assim "omo nos airmam Cerger e astide#
stas muleres da diás4ora das quais des"endemos% sem dJ!ida% são
erdeiras destes "or4os so"iais de !endedoras e sa"erdotisas ari"anas
inluen"iadas 4or este mito#
sto se torna bem "laro% assim "omo a im4ortAn"ia dos 4a4$is emininos
desem4enados 4or elas% quando !emos os !ersos de Oriki abai*o:
B!e de %disa Olosun " n!o se es#uea de mim
1!o e.iste lugar onde n!o se conhea O.um poderosa como o rei
Ela dana e pega a coroa" ela dana sem pedir
Se a mulher está no caminho " o homem foge
Ela recebe o mensageiro do rei sem lhe prestar rever-ncias
126
Ela entra na casa do preguioso e este foge ( em clara men!o do preguioso
como transgressor moral conforme vimos em te.tos anteriores)
*esperta e age como alguém famoso
Ela tem um ttulo e viaja
? raro uma mulher coroada
Ela caminha com uma postura altiva
%joelhem para as mulheres"
%s mulheres s!o a intelig-ncia da 6erra
O homem n!o pode faer nada sem a mulher
m grande poder foi concedido a todas mulheres através de ti"
1!o abusem as mulheres deste poder"
Sen!o lhes será retirado$
Itan Ifá: #omo minha mãe O'um nos educa ainda ho0e na diáspora"
e0o nas minhas mestras , muito mais do que os pedagogos da Arcia ou
de her%is de epopias clássicas ou o pai romano"
e0o mulheres, que ficam na galeria da casa e ensinam para as crianças
as línguas que elas não sabem"
e0o mulheres que querem tornar cabeças ruins e más em cabeças boas
?ue descobrem com as pessoas de onde vBm a maldade e a opressão
?ue nos di1em que se tivermos medo dificilmente nos tornaremos
pessoas importantes"
e0o educadoras que seguem aqueles que tem filhos sem os dei'ar
quando educam estas crianças"
e0o mulheres descontentes nos dias em que seus filhos brigam ou são
in0ustiçados"
e0o aquelas que com seu conhecimento de educadoras tiram seus
alunos das armadilhas da ignor!ncia, como se fossem seus pr%prios
filhos"
e0o mulheres mãe e educadoras que agem com calma, que pela pai'ão
ao saber acalmam as perturbaç)es de espírito dos que buscam o
conhecimento"
e0o mulheres que com sua sabedoria criam o 0ogo da vida e atravs de
seus ventres dão a lu1 aos 0ogadores"
127
4ulheres que administram lares pois seus filhos dão o dinheiro em suas
mãos dos dois lados desta diáspora"
4ulheres que di1em que a mão da criança doce e que dei'am a criança
que 0amais morre em n%s rodear seu corpo com as mãos "
4ulheres que são a doçura de nossa inteligBncia"
& alm do que vemos em seus versos de Ori@i, mãe O'um
e0o mulheres que sobretudo recusam a falta de respeito "
O mesmo respeito que buscamos como filhos desta nação e s%
conseguiremos quando dei'armos de negar nossas verdadeiras origens
dos ventres de nossas mães Negras de África"
Ore CeCeo ICa Ori mi Osun""" &mi nife o ICa Ori mi S Ife -se Ja""" &mi
Osunfemi ni"
Osunfemi
O 4ito de Obatalá na #ivili1ação Yorubá a partir de seus Ori@is
Obatalá $ o "ee do 4anteão de Ori*ás na diás4ora% 4or$m na Hri"a se
desdobra em uma s$rie de mitos e "om lendas di!ersas em "ada uma das
"idades onde se a4resenta# uitas !e2es está ligado 6 Origem da "riação# @a
maioria das "idades sem4re á alguma lenda que o rela"ione a isso#
<rans"re!o abai*o uma lenda da "idade de ,beokuta 4resente na obra de
$niste:
: 1o comeo de tudo" #uando Obatalá criou a 6erra e todos seus atributos" ele
fe a distribui!o de todas as partes para todo o povo" cabendo a El a regi!o
mais árida coberta de pedras$ %li em %beokutá " ergue sua faenda cujo
terreno era mais rochedo do #ue solo fértil para a planta!o$ %pesar de tudo
em contrário" as terras de Obatalá eram as #ue mais produiam colheitas de
todos os tipos$ 2hovesse ou n!o" a produ!o da colehira era superior às
demais$
Esta situa!o causou um descontentamento entre os demais habitantes " #ue
passaram a inveja+lo e cobiar suas terras$ Es#ueciam #uem era Obatalá e o
#ue havia feito por todos$ /assaram a observar os passos de Obatalá e
tomaram conhecimento de #ue ele precisava contratar um escravo$ E isso foi
feito$ Seu nome era %to'odá" #ue desde o princpio demonstrou ser muito
eficiente" dando muita satisfa!o a Obatalá$ %p&s algum tempo o escravo
pediu a Obatalá um pedao de terra para seu cultivo$ *e bom grado lhe foi
dado o #ue pedia$ Em poucos dias" %to'odá transformou a terra em boa área
128
de cultivo" construindo ali uma pe#uena cabana$ Isso impressionou Obatalá"
#ue nele depositou toda sua confiana$
Ocorre #ue %to'odá n!o tinha bons prop&sitos$ Seu desejo real era matat
Obatalá $ E assim ar#uitetou um plano$ Observou #ue no caminho ngreme #ue
levava até a sua cabana havia muitas pedras grandes #ue poderia#m
facilemente ser empurradas" causando seu rolamento montanha bai.o para
esmagar Obatalá$
%lguns dias mais tarde Obatala seguia sua caminhada habitual em visita às
suas terras$ *o topo de uma montanha" %to'odá observava$ % habitual roupa
branca de Obatalá destacava+se no fundo verde de suas planta5es$ 7uando
%to'odá estava certo #ue n!o haveria sada para Obatalá " subitamente deu
um empurr!o na maior das pedras $ % pedra comeou a rolar e se dirigiu com
toda velocidade para onde estava Obatalá" o #ual" paralisado pela surpresa"
n!o pGde escapar$ 3oi atingido em cheio e seu corpo partiu+se em muitos
pedaos" ficando espalhado por toda parte$
% notcia correu$ Obatalá havia sido destrudo por homens invejosos$ E.A foi
um dos #ue receberam a notcia$ Seguiu rápido até %beokutá para verificar o
ocorrido$ Seguiu depois para o Orun relatando a tragédia a Olodumaré " #ue
designou Orunmilá para encontrar as partes do corpo de Obatalá e tra-+las de
volta$ Orunmilá seguiu para o local imediatamente$ %p&s um certo tempo a
lamentar o fato" e.ecutou um ritual #ue tornou possvel achar todos os
pedaos espalhados do corpo$ Ele recolheu num grande igbá e levou a Iranje"
antiga cidade de Obatalá" onde depositou uma por!o de pedaos #ue
possibilitou fa-+lo renascer no Orun$ O restante espalhou : por todo o mundo="
faendo com #ue fossem surgindo novas divindades" ent!o denominadas
Ori.ás ( Orisa ) #ue sintetia a contra!o da fras Ohun ti a ri sa ; : O #ue foi
achado e juntado=" alusiva ao fato do recolhimento dos pedaos do corpo de
Obatalá$
2omo outras divindades surgidas do corpo de Obatalá passaram a ter seus
nomes derivados dele" tornou+se ent!o necessário destacar seu nome como
Orisa 1la ; O grande Ori.á ; #ue representa ai a soma de todos os Ori.ás
juntos$ :
Cemos nesta lenda uma semelança muito grande "om o mito do
esquarte)amento de Os3ris e a distribuição dos 4edaços do "or4o 4elo gito#
<amb$m a re"onstituição do "or4o de Os3ris 4or sis está ligada 6 gênese dos
deuses eg34"ios# @ão 4odemos di2er que á uma inluên"ia direta% "ontudo
129
4odemos di2er que são ambos mitos ari"anos que "on!ersam entre si atra!$s
dos s$"ulos#
-spectos #ivili1at%rios e #%digo 4oral nos Ori@is de Obatalá
*istem di!ersos as4e"tos "i!ili2at5rios 4resentes nos Orikis de Obatalá
e dentre estes as4e"tos á um !erdadeiro "5digo oral que se e*4li"ita
atra!$s dos !ersos de seus di!ersos Orikis#
Obatalá $ tido "omo o 4ro!edor e res4onsá!el 4ela distribuição dos re"ursos
em di!ersas o"asi&es% "omo 4or e*em4lo:
Obatalá" dono da coisa sagrada %
Ele dá a #uem tem e toma de #uem nada tem ( em uma alusão aos im4ostos
que se re"olem em a!or do rei % o que nos ala algo do sistema e"onNmi"o
nesta "i!ili2ação#
Se ele tem o #ue comer ele nos dá o #ue comer
( em uma alusão ao 4a4el 4ro!edor desem4enado 4or este mito o que nos
ala bastante do 4a4el dos 4atriar"as e da unção sedentária dos omens "omo
agri"ultores e "açadores em "ontra4osição 6s muleres !endedoras do
mer"ado
O dia em #ue plantamos alegremente o milhete
O dia em #ue protegemos o milhete dos pássaros
Se retornarmos com o milhete
2hegaremos a Ifon
(@estes !ersos !emos uma alusão no!amente ao 4a4el do trabalo no
"onte*to da agri"ultura e a ligação deste mito "om esta unção
1&s vestimos as pessoas maltrapilhas
3aemos com #ue a roupa seja abundante
O #ue o Ori.á pega da 6erra n!o basta
% massa de inhame é o pai do segredo ( em uma alusão ao alimento "omo
sustento da so"iedade e o 4a4el do agri"ultor
Ele pega duentos punhados de massa e espera para #ue a criana se
satisfaa$
Ele pega mil punhados de massa e mantém+se paciente
stes !ersos a"ima aludem no!amente a unção de 4ro!edor e sugerem
"om4ortamentos 4ara as nobre2as e res4onsá!eis 4elos go!ernos das
130
"idades# m algumas tradiç&es 'orubás os reis de!em se !estir da orma mais
sim4les e se torna res4onsá!el 4ela 4ro!isão dos re"ursos 4ara seu 4o!o#
Ele di #ue para guerrear pega um pil!o
Uma reerên"ia ao trabalo em "ontra4osição 6 guerra% o que a!ali2a a
4osição deste mito "omo um dos res4onsá!eis 4ela manutenção da /a2 entre
os Yorubás
,t$ aqui 4er"ebemos "laramente a unção 4edag5gi"a do mito de orma mais
e*4l3"ita e sua unção so"iol5gi"a de orma im4l3"ita 4elos "or4os so"iais que
ele !em a legitimar#
@os !ersos abai*o temos e*em4lo da titulação 4r54ria dos Orikis#
Obatalá
*ono de um ala ( manto) todo branco$
3amoso na %ssembléia
Obatalá" pai de Orunmilá
/ai de Orunmilá
Duerreiro cuja baraba embelea a boca$
( Cemos "laramente que a autoridade da ama na assembl$ia $ legitimada 4ela
4osição 4atriar"al
Ele fa com #ue toda mulher estéril se torne fecunda
Cemos neste !erso uma reêrên"ia ao 4rolongamento das linagens e sua
unção so"iol5gi"a e 4edag5gi"a#
1!o se pode recusar a#uilo #ue nos oferece para comer #
.obre este !erso "omento algo que a"onte"eu "omigo no gito# sta!a em um
Nnibus entre o +airo e o .inai e me sentei ao lado de um nJbio # le me
oere"e bola"as 4ara "omer e eu re"uso# le mesmo dei*a de "omer o que
me oere"era # /ergunto a um eg34"io ao "egar ao .inai o 4or que daquilo%
4orque aquele meu amigo dei*ara ele mesmo de "omer a 4artir da mina
re"usa e ele me e*4li"a que dentre os nJbios á o "ostume de se G <em de
"omer% dar de "omerS e se ou!er uma re"usa% quem oere"e o alimento não
4ode "omer na rente de quem re"usou 4ara não "onstrangê-lo% 4ois não $ de
bom tom G re"usar algo que nos $ dado 4ara "omerS#
+laro que as duas tradiç&es % ( nJbia e 'orubá tem uma longa distAn"ia entre
si% e le!ando em "onta que a lenda de que Oduduá teria 4assado 4ela @ubia
4ara se estabele"er em le $ tena sido "onstru3da 4or ra2&es da
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islami2ação 'orubá % !emos que tal!e2 não a)a um 4aralelo direto entre as
duas tradiç&es# +ontudo o que não 4odemos negar $ que a4esar de distantes
estas tradiç&es ari"anas "on!ersam entre si% "omo "on!ersam as tradiç&es de
todos os 4o!os sudaneses% o que 4ode !ir a signii"ar% dentre outras "oisas% a
uma remota origem "omum% senão ao menos uma tro"a de inluên"ias entre
estes 4o!os sudaneses do leste e oeste% de!ido tal!e2 mesmo a 4ro!á!eis
migraç&es e as rotas de "om$r"io que ai se estabele"eram dentro e ora do
"onte*to da e*4ansão do slã#
,l$m disso% sem dJ!ida% este ato nos e!o"a uma unção 4edag5gi"a do mito
que !ai muito al$m da liturgia e nos esboça 4adroni2ação de "om4ortamentos
dentro desta "i!ili2ação assim "omo "ostumes so"ialmente a"eitos#
Dá nos !ersos de Oriki de Obatalá :
:3ilho de minha famlia por afinidade n!o é meu filho : e :2onhecemos as
coisas com as #uais nascemos=" mostram "laramente a relação que !imos
anteriormente nos orikis de Yeman)á sobre os 4arentes e estranos dos
quais nos ala eillassou* em sua obra ,ntro4ologia da s"ra!idão# +ontudo
aqui !emos o outro lado% não aquele no qual estes estranos se ada4tam 6s
linagens e estabele"em assim no!as relaç&es de 4arentes"o# ,qui !emos as
situaç&es nos quais estes agregados são de alguma orma im4edidos a
desem4enar 4a4eis que somente as relaç&es "onsangE3neas 4ermitem#
Cemos aqui o estabele"imento de um limite% 4resente em muitas so"iedades
subsaarianas 4ara estes estranos% que mesmo quando tidos "omo 4arentes
4or determinadas tradiç&es não dei*am de ser estranos em outras
determinadas situaç&es% sobretudo dentro da linagem 4atriar"al# O que 4ode
o"orrer 4or e*em4lo senão na tradição dos "ees de am3lia omens
quando determinam os 4a4$is su"ess5rios% nos quais os estranos são% neste
"onte*to% sumariamente e*"lusos#
sto 4ode tamb$m nos alar muito da es"ra!idão dom$sti"a entre di!ersos
4o!os subsaarianos% quando% "omo nos ala eillassou*% estes estranos não
se in"or4oram 6s linagens "omo agregados % "riando um "or4o so"ial 6 4arte
!ulnerá!el muitas !e2es 6 es"ra!i2ação% mesmo antes do "i"lo "omer"ial que a
,ri"a estabele"era "om o O"idente a 4artir do s$"ulo QC#
interessante que obser!emos o 4a4el so"iol5gi"o do mito aqui que legitima
4osiç&es ierárqui"as dentre os gru4os e "ega mesmo a e*4li"ar o
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surgimento de no!os "or4os so"iais de estranos e no!os 4arentes dentro
desta so"iedade em sua dinAmi"a# ,o e*4li"ar a !ersão 4atriar"al dos
agregados% entendemos muito de n5s mesmos na diás4ora e do
"om4ortamento de nossos an"estrais na adoção de seus agregados ( que era
algo muito mais inega!elmente !oltado 6 unção materna% o que tal!e2
e*4lique tamb$m a im4ortAn"ia da unção 4edag5gi"a da mãe e da muler nas
so"iedades subsaarianas e em nossa diás4ora#
@os !ersos de Oriki de Obatalá o maleitor a4are"e sem4re "omo um
transgressor moral% 4or isso alem do 4reguiçoso e do mentiroso % o maleitor $
o ter"eiro elemento indese)á!el nesta so"iedade% que muitas !e2es nossos
meios a"adêmi"os e sobretudo religiosos se re"usam a re"one"er seu
"5digo moral e $ti"o "omo undamental ou ao menos e*istente# ( +omo )á ou!i
de di!ersos 4roessores uni!ersitários e sa"erdotes religiosos sobretudo
"ristãos # +ontudo isto se in!alida ao ou!irmos os !ersos de Oriki:
Ele derrama rapidamente fora do alcance do malfeitor
Ele inutilia completamente o olho do malfeitor
Ele ap&ia a#uele #ue di a verdade
/oderoso au.iliar dos homens na terra
@ei 8usto como a m!o de Ifá(do destino)
O.aguian n!o tem maldade na barriga ( em uma reerên"ia aos intestinos
"omo 5rgão sens3!el onde "on"entramos nossos sentimentos % o que $ muito
"omum em di!ersas so"iedades subsaarianas
/alavra #ue transforma miséria em alegria" ao despertar ele pisoteia a#ui$
Se ele prejudica" ele repara ( em uma clara fun!o pedag&gica do mito )
@ei #ue tra ao mundo sem es#uecer$
Ele esfrega a nádega do malfeitor como alguém #ue esfrega um saco de
estopa$
% morte e.pulsa a guerra sem fugir
Ele é paciente e n!o se encoleria ( em clara fun!o pedag&gica do mito)
Ele tem felicidade e boa disposi!o
Ele #ueima os abcessos ( em clara fun!o pedag&gica e civiliat&ria)
Cemos um as4e"to ligado 6 androginia simb5li"a dos l3deres em um !erso de
Oriki de Obatalá quando ou!imos :
Oduá é o Barido" Oduá é a mulher$
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sto nos alude ao 4rin"34io que a armonia !erdadeira s5 se "onsegue quando
temos o dom3nio dos dois 4rin"34ios segundo di!ersas tradiç&es subsaarianas
e que !imos nos mitos de O*umar$ e QangN mais detaladamente#
Cemos outros as4e"tos "i!ili2at5rios e "laramente delineadores de um "5digo
moral nos seguintes !ersos de Oriki de Obatalá:
A) Os 4rimeiros ligados ao alimentoC
O fac!o pega a massa de inhame e usa como roupa
% massa de inhame é pai do segredo
7ue joguemos na boca a bola de massa de inhame
Ligada a redenção ou ao 4oder dos l3deres e "ees de linagem ou
religiosos
Ele mata no pátio a#uele #ue n!o é iniciado e desperta para #ue ele oua
as palavras
/alavra #ue muito mata
Ele é dono da lei e assume o comando
Ele desperta e cria duentos hábitos
Sua atividade na terra n!o tem limites
@edondo como o terreno do mercado
Ele cria as pessoas ( em "lara unção 4edag5gi"a
" Ligada a "5digos de "om4ortamento:
1!o se pode ter duas cabeas ( dois destinos ou duas opini5es diferentes
sobre o mesmo assunto)$
ejam meu marido" #ue constr&i a casa e a abandona para viajar
Beu marido fa o #ue ele #uer
% mulher n!o pode fornicar com o cavalo
1!o se deve matar o camale!o ( s3mbolo da di!ersidade e multi4li"idade do
Uni!erso 4ara os 'orubás% ligado 6 "riação do mundo e a O*alá
2usparada de mulher ciumenta n!o racha a parede
%lguém ciumento n!o pode rachar a parede cuspindo
Ele n!o conta em casa o #ue viu
Se ele prejudica" ele repara
Cemos na bele2a deste "5digo moral algo muito ri"o e que a4esar de
4are"er sim4les% $ na realidade um dos guias de uma so"iedade dias45ri"a
que nos ormou# nquanto nos aastarmos destas realidades e "5digos
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morais negando estudá-los e !ê-os "omo "oisas e*5ti"as% estaremos
tratando grande 4arte do que nos ormou e nos 4erten"e "omo uma
!erdadeira alteridade#
6ai que cria as pessoas e nos criou independentemente de nossas
tradiç)es, a0ude:nos a que não tornemos nossos parentes ancestrais
em estranhos
&pa 3aba Osa OgiCan Asé 0a'a Osa Olufon
Osunfemi
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ari"anas e o islã% não s5 entre os 'orubás mas tamb$m em outras
so"iedades sudanesas subsaarianas#
,bai*o o mito:
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isso foi guardado num templo " venerado e cultuado como rel#uia
sagrada pelas gera5es seguintes" com o nome de [d" significando
fundamento ou algo sagrado$ Entre a#ueles #ue formavam a comitiva
de Oduduá estavamC Orunmilá" Oluorogbo" Obameri" Oreluere" Obasin"
Obagede" Ogun %lagada" Obamakin" Oba 'inni %je" Erisile" Elesije"
Olose" %lajo" Esilade" Olokun e Orisateko$=
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