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Salvação e Soberania de Deus: A Grande

Comissão como a Expressão da Vontade


Divina
KEN KEATHLEY

Senior Associate Dean


Southeastern Baptist Theological Seminary
Wake Forest, NC

I. INTRODUÇÃO [1]

“…mas aquele que não crê será condenado” – Mc 16:16

Embutida na abordagem de Marcos sobre a Grande Comissão está a expectativa


implícita de que nem todos para os quais o Evangelho foi ofertado o aceitarão, uma
expectativa que a história dá respaldo. A questão em mãos é por que se dá isto. A vontade
salvífica de Deus não é realizada ou Deus não quer que todos sejam salvos?
Parece haver quatro opções. Primeira, universalismo – apesar das presentes
aparências eventualmente todos serão salvos, seja nesta vida ou na próxima. Segundo,
dupla predestinação – Deus não deseja nem jamais desejou a salvação dos reprovados.
Terceiro, Deus tem duas vontades – a vontade revelada e a vontade oculta. As Escrituras,
em passagens como os textos da Grande Comissão, revelam a vontade salvífica universal de
Deus. Mas Deus também tem uma vontade salvífica na qual, por razões conhecidas somente
por ele, ele decretou passar ao largo por muitos. E quarto, Deus de fato tem duas vontades
– uma antecedente e outra consequente. Deus antecedentemente deseja que todos sejam
salvos, mas ele consequentemente deseja que fé seja condição para salvação.
As primeiras duas opções compreendem Deus como tendo apenas uma vontade
enquanto as outras duas percebem duas vontades em Deus. A quarta posição, a visão das
vontades antecedente/consequente tem sido a posição majoritária ao longo da história da
igreja. Porém, teólogos da perspectiva reformada geralmente tem rejeitado as vontades
antecedente/consequente porque ela parece dar a decisão final sobre salvação ao homem
em vez de Deus. Isto, eles contendem, denigre a soberania de Deus e ameaça a graciosa
natureza da salvação enquanto magnifica a escolha humana. Este capítulo examinará as
quatro opções acerca da vontade salvífica de Deus e concluirá que a posição das vontades
antecedente/consequente tem menos dificuldades teológicas e está mais em sintonia com
manter os comandos e instruções da Grande Comissão. O Evangelho é para ser ofertado a
todos; aqueles que creem serão salvos.

Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da


Vontade Divina (II)

II. As Duas Primeiras Opções: Deus Tem Uma Vontade


Aqueles que enfatizam a simplicidade de Deus geralmente argumentam que existe
somente uma vontade em Deus[2]. Esta abordagem geralmente requer que a natureza de
Deus é entendida com um atributo divino como o mote controlador pelo qual todos os outros
atributos são interpretados. Uma teologia que vê a fundamental essência de Deus como
amor será muito diferente de um sistema baseado na suposição da primazia da vontade
divina. Seja baseado no amor ou na volição divinos, a abordagem de uma só vontade tem
dificuldades ao explicar o argumento por detrás de todos os componentes da Grande
Comissão, a saber, que todos devem ouvir o Evangelho mesmo que nem todos creiam.

Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da


Vontade Divina (II-A)

A. Opção Um: Deus É Amor e Seu Amor É Expresso Pela Sua Vontade de
Salvar a Todos
Obviamente, afirmar a vontade universal salvífica de Deus não coloca dificuldades
para aquele que crê que “Deus é amor” (1João 4:8) sumariza a divina essência. Porém, esta
abordagem logicamente requer universalismo ou algo próximo a isto. isto parece ser
verdadeiro não importando a posição acerca da natureza da resposta humana ao Evangelho.
De fato, por causa de como os teólogos reformados entendem a graça trabalhando na
vontade humana, aqueles que afirmam o amor e desejo genuíno de Deus para salvação de
todos tendem a adotar universalismo mesmo mais prontamente que seus contra-partes
arminianos.
Alguns teólogos arminianos se perguntam se seu ponto inicial teológico não necessita
uma eventual conclusão universalista. Em sua abordagem presidencial à Wesleyan
Theological Society, Al Truesdale examina a questão se a doutrina da punição eterna é
compatível com a afirmação que o amor é “o centro definidor de Deus”[3]. Truesdale começa
com a afirmação que amor é “aquele elemento de Deus que governa todo o resto”[4]. Ele
prossegue um argumento de cinco passos que deduz que a doutrina da danação eterna não
é uma opção para o wesleyano consistente e sugere aniquilacionismo ou salvação post-
mortem como alternativas possíveis[5]. Ele conclui admoestando o leitor com uma citação
de Barth, “Na base da eterna vontade de Deus temos que pensar em cada ser humano
[ênfase original], mesmo o mais estranho, o mais vilanesco ou miserável, como um a quem
Jesus Cristo é Irmão e Deus é Pai”[6]. É notável que Truesdale constrói seu argumento na
premissa que a vontade singular de Deus para salvação de todos é a manifestação da
essência simples indivisível de Deus, que é amor.
Existem diversos teólogos arminianos que, como Truesdale, afirmam a vontade
salvífica e amor universais de Deus mas não chegam às mesmas conclusões. E universalismo
não é encontrado somente no arminianismo. Teólogos reformados que argumentam que a
essencial natureza de amor de Deus compele a uma vontade singular para a salvação de
todos também geralmente atingem o universalismo. Thomas Talbott serve como exemplo
primário. Aonde Truesdale tenta fazer um argumento positivo baseado na natureza amorosa
de Deus, Talbott toma a abordagem negativa apresentando o que ele crê que seriam as
consequências de negar a premissa de que Deus semelhantemente deseje a salvação de
todos.
Em um celebrado debate com John Piper que cobria uma série de artigos, Talbott
argumenta que crer no amor universal de Deus combinado com o entendimento reformado
da soteriologia acarretam universalismo[7]. Ele denuncia a doutrina reformada tradicional da
predestinação como “blasfêmia” e “uma manifestação da depravação humana”[8].
De acordo com Talbott, teologia reformada, com suas usuais distinções entre os
decretos e os comandos de Deus, produz algumas consequências bastante desafortunadas
para o caráter de Deus. Deus nos comanda amar nossos inimigos mas falha em amar seus
inimigos. Isto significa que amor não é uma propriedade essencial de Deus. Soteriologia
reformada, argumenta Talbott, presenteia-nos com um Deus que é menos amoroso que
muitos humanos e deixa-nos com a perturbadora noção que devemos amar nossos filhos
mais que Deus o faz. Talbott confessa que ele acha tal Deus difícil de amar, quanto mais de
adorar. Ele afirma:
Se existe um simples amado meu que Deus poderia [ênfase original] redimir mas não
redime – se for o caso de, por exemplo, Deus falhar em amar minha própria filhinha – então
eu não posso pensar em melhor resposta que uma paráfrase de John Suart Mill: `Não
adorarei tal Deus, e se tal Deus pode me mandar pro inferno por não adorá-lo, então para o
inferno irei’. Obviamente, isto significaria simplesmente que eu não sou um dos eleitos, ou,
se eu sou um dos eleitos, que Deus um dia transformará meu coração de tal forma a que eu
seja tão insensível para com os meus amados assim como ele é. [9]
Insensível ou não, Talbott considera calvinismo como sendo sub-cristão. Daqueles que
regozijam em sua eleição, ele afirma, “Acerca disto a atitude deles é bem diferente daquela
do Apóstolo Paulo; e sobre isto, eles ilustram perfeitamente o egoísmo construído bem em
cima do próprio coração da teologia calvinista”[10]. Em uma troca de dizeres, Talbott desafia
Piper perguntando-o como ele reagiria ao conhecimento de que Deus não elegeu um de seus
filhos. Piper replica,
Mas eu não sou ignorante que Deus pode [ênfase original] não ter escolhido meus
filhos para seus filhos. E, mesmo que eu penso que daria minha vida pela salvação deles, se
eles se perdessem para mim, eu não me oporia ao Todo-Poderoso. Ele é Deus. Eu sou só um
homem. O Oleiro tem direitos absolutos sobre o barro. O meu é curvar-se diante de seu
caráter impecável e crer que o Juiz de toda a terra sempre fez e sempre fará o que é
correto[11].
Apesar de seu comprometimento e candura serem impressionantes, Piper parece
conceder o ponto central de que a teologia reformada ensina que Deus pode não amar
nossos filhos o tanto que nós o fazemos.
Talbott argumenta que desde que a teologia reformada ensina que Deus tem a
capacidade de trazer salvação a todos por uma obra monergística de regeneração mas
escolheu não fazer desta forma, então o calvinismo é culpado de uma série de pecados.
 Primeiro, teologia reformada comete blasfêmia – porque atribui qualidades demoníacas a
Deus;
 segundo, egoísmo – porque nos ensina a nos preocupar mais com a nossa eleição que a
alheia; e
 terceiro, rebelião – pois falha em obedecer o comando de amar o próximo como a nós
mesmos [12].
Talbott conclui que a teologia reformada pode ser resgatada apenas se seus aderentes
combinarem as tradicionais doutrinas de eleição incondicional e graça irresistível com uma
afirmação de amor universal divino. O resultado seria o universalismo e isto se encaixa bem
em Talbott [13].
Apesar de um ser arminiano e o outro calvinista, Truesdale e Talbott fazem
argumentos semelhantes. A natureza amorosa de Deus implica que ele tem apenas um
desejo de para a humanidade – a redenção de todos. Suas conclusões excluem
entendimento do alerta de Jesus em Mc 16:16, “aquele que não crê será condenado”, como
referente à punição eterna.

Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da


Vontade Divina (II-B)

B. Opção Dois: Deus é Soberano e Isto É Expresso Em Sua Vontade De Salvar


Os Eleitos
Teólogos reformados como Louis Berkhof, Herman Hoeksema e David Engelsma são
chamados de teólogos decretais porque eles veem os decretos eternos como o ponto inicial
para estudar as obras de Deus[14]. Como Truesdale e Talbott, teólogos decretais afirmam
uma única vontade em Deus, mas por causa de eles verem a soberania de Deus como
característica definitiva do ser de Deus, eles chegam em conclusões bastante diferentes do
que aqueles abordados na seção anterior. Teólogos decretais ensinam que Deus, na
eternidade, decretou a salvação de um número seleto e definido. Aqueles escolhidos são os
eleitos enquanto os rejeitados são os reprovados. Esta abordagem de estudar salvação
produz os distintivos da teologia reformada: eleição e reprovação, expiação limitada, graça
irresistível, e fé como evidência em vez de condição para salvação.
Alguns teólogos decretais mantêm que a escolha de salvar alguns e danar outros
como sendo logicamente inicial e primária. Eles veem a decisão de ordenar todos os outros
eventos – a Queda, a Expiação, e por aí vai – como sendo os meios pelos quais Deus cumpre
seu primeiro decreto de eleger e reprovar. Esta posição é chamada supralapsarianismo
porque ela ensina que Deus decretou dupla predestinação “antes da Queda”. É válido
apontar que os reformadores originais – Zwinglio, Lutero e Calvino – eram todos
supralapsarianos.
A maioria dos teólogos decretais subsequentes não seguiu os reformadores no
caminho do supralapsarianismo mas em vez disso optaram pelo infralapsarianismo. Como o
rótulo indica, esta posição mantém que Deus primeiro decretou permitir a Queda e então da
raça humana caída elegeu aqueles que ele salvaria. Infralapsarianismo tenta evitar alguns
dos óbvios dilemas éticos inerentes no supralapsarianismo. No infralapsarianismo Deus não
dana os reprovados antes de sua queda, mas os dana porque são caídos. Nem neste
esquema Deus ativamente ordena a danação dos reprovados. Em vez disso, quando Deus
escolhe um número seleto para salvação, ele simplesmente ignora o restante da
humanidade.
Infralapsarianos não creem que o reprovado é ordenado para o inferno; em vez disso,
eles veem o reprovado como omitido do céu. Infralapsarianos adotam um decreto simples de
eleição, enquanto supralapsarianos ensinam um duplo decreto de eleição e reprovação.
Teólogos geralmente concordam que surpalapsarianismo tenha menos problemas lógicos
enquanto o infralapsarianismo tenha menos problemas morais[15]. Mas no fim, seja supra
ou infra, teologia decretal ensina que Deus tem apenas uma vontade salvífica e que este
intento é salvar apenas seus escolhidos.
Teologia decretal produz um conjunto distintivo de corolários. Primeiro, tal visão de
soberania divina requer uma negação do amor universal de Deus. Teólogos como Hoeksema
e Engelsma não se restringem em declarar o “eterno ódio” de Deus pelos reprovados.
Engelsma declara,
Não é de todo surpreendente que advogados da livre oferta se opoem ao ensino
reformado da reprovação, pois a reprovação é a negação explícita exata da negação que
Deus ama todos os homens, deseja salvar todos os homens, e condicionalmente lhes oferece
salvação. Reprovação estabelece que Deus eternamente odeia alguns homens;
imutavelmente decretara sua danação; e determinara bloquear para eles Cristo, graça, fé, e
salvação. [16]
Segundo, teologia decretal necessita uma reinterpretação dos textos bíblicos que
parecem ensinar que Deus ama toda humanidade e deseja a salvação de todos. Por
exemplo, Francis Turretin (1623-1687), um estudioso reformado e um dos primeiros
proponentes claros do infralapsarianismo, insiste que o amor expresso em João 3:16 “não
pode ser universal para todos e cada um, mas especial para alguns”. Ele se refere a “apenas
aqueles escolhidos deste mundo” [17].
Um teólogo decretal moderno, James White, toma uma abordagem semelhante para
outros textos universais[18]. Ele entende o “todos” de 1Tm 2:4 como significando que Deus
deseja a salvação de “todos os tipos de homens” ou “para todas as classes de homens”.
Semelhantemente, 2Pe 3:9 significa que Deus não deseja que nenhum de nós, i.e., os
eleitos, pereça.
Se Deus ama somente os eleitos, deseja salvação apenas para seus escolhidos, e
providenciou expiação somente para os objetos de seu amor, então um terceiro corolário é
inevitável: não existe oferta genuína do Evangelho. David Engelsma devota um livro inteiro
para a tese que ainda que o Evangelho seja pregado “promiscuamente” a todos, ele é
ofertado apenas aos eleitos. De fato, ele não se preocupa muito com a palavra “oferta”
afinal. Pregar não oferece o Evangelho. Pregar opera como o instrumento pelo qual fé é
ativada no eleito. Os reprovados podem ouvir o Evangelho, mas a mensagem não é para
eles. Engelsma contende que sua posição não é hipercalvinismo, mas calvinismo consistente.
Teologia decretal tem efeitos definidos em como se entende e obedece a Grande
Comissão e há consequências para tal sistema de pregação e missão.
Primeiro, teologia decretal historicamente tem tido o efeito de causar muitos pastores
reformados a restringir quem são os candidatos a ouvir o Evangelho. No século 17 muitos
teólogos escoceses argumentaram que o Evangelho deve ser apresentado
indiscriminadamente apenas a membros da igreja visível [19]. Muitos batistas ingleses do
século 18 contavam as Boas Novas apenas a homens cujas vidas davam evidência de graça
divina [20]. Seguindo o hipercalvinismo de Daniel Parker, muitos batistas americanos do
século 19 rejeitaram o “dever de ter fé”, isto é, a crença que descrentes têm o dever de se
arrepender e crer no Evangelho [21]. Teologia decretal levou estes batistas primitivos
“casca-grossa” a se oporem a todos os métodos de evangelismo, missão, ou convocação.
Esforço evangelístico organizado eram vistos como “disposições forjadas pelo homem” que
presumivelmente faziam a obra de Deus. Mesmo hoje em dia as Igrejas Evangélicas
(Batistas) Padrão rejeitam qualquer responsabilidade de pregar o Evangelho a todos [22].
Segundo, mesmo enquanto a maioria dos teólogos decretais de hoje têm se afastado
das posturas restritivas dos hipercalvinistas anteriores, eles ainda não veem pregação como
um apelo com intenção de persuasão. Para eles, pregação é uma proclamação ou anúncio
que ativa fé nos eleitos. Pregar indistintamente instrui todos, mas a chamada interna do
Espírito é dada somente àqueles que Deus escolheu. Engelsma afirma que diversas coisas no
sermão evangélico típico estarão ausentes de uma mensagem verdadeiramente reformada:
Existe, diversas coisas que não serão encontradas em uma pregação reformada para os não-
convertidos. Pregação reformada não abordará a audiência com a declaração: ‘Deus ama
todos vocês, e Cristo morreu por todos vocês’. Ela não dirá a cada homem: ‘Deus te ama e
tem um maravilhoso plano para sua vida’[23]
Terceiro, como James Daane aponta em sua examinação do efeito da doutrina da
reprovação na pregação, teologia decretal eviscera o Evangelho de seu significado[24]. Para
muitos ouvintes, talvez a maioria, o anúncio é que Deus decidiu permanecer em guerra com
eles e ele tomou eta decisão na eternidade passada. O Evangelho é para ser boas novas,
mas de acordo com a doutrina da reprovação, a mensagem certamente não é nova e não é
necessariamente boa.
Ultimamente, reprovação é um ensino impregável. Pregação é proclamar a verdade
com o propósito de chamar os ouvintes a responder. Daane aponta que isto não pode ser
feito com a doutrina da reprovação; ela é uma mensagem que não tem resposta [25]. O
ensino não se aplica aos eleitos e, para os reprovados, não há resposta ao anúncio de que se
é rejeitado. A doutrina da reprovação declara que não existe chamado interno salvífico para
o não-eleito. Nenhum chamado implica nenhuma resposta e certamente isto implica
nenhuma pregação. Reprovação pode ser contemplada, estudada, e discutida, mas não pode
ser pregada.
Para sumarizar esta seção: se a vontade de Deus é singular, então ou ele deseja a
salvação de todos ou não deseja. Como temos visto, começar com a premissa de uma
vontade salvífica universal poderá levar alguém à fantasia do universalismo. Postular uma
negação de qualquer espécie de vontade salvífica universal poderá levar alguém à gangrena
da reprovação. Por tais razões a maioria dos teólogos, reformados ou não, optaram em vez
disso por uma abordagem de duas vontades.
Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da
Vontade Divina (III)

III. AS TERCEIRA E QUARTA OPÇÕES: DEUS TEM DUAS VONTADES

A maioria dos teólogos, reformados ou não, reconhece que, nas palavras de John
Piper, “A intenção de Deus não é simples mas complexa”[26], ou se a vontade de Deus é
simples, ela é “fragmentada”[27]. Se o soberano Deus deseja a salvação de todos, provê
redenção suficiente para todos, mas nem todos são eventualmente salvos e mesmo assim a
vontade de Deus é ultimamente efetuada, então a vontade de Deus exibe uma complexidade
que requer um entendimento em fases ou estágios. Teólogos têm empregado um
contingente de categorias para descrever as duas vontades de Deus: a vontade divina de
preceito, comando, ou permissão é geralmente contrastada com sua vontade decretal,
soberana, ou eficaz. A maioria das posições são variações de um dos dois paradigmas: ou a
abordagem das vontades oculta e revelada (opção três), ou a visão das vontades
antecedente e consequente (opção quatro). Geralmente, teólogos reformados optam pelo
paradigma das vontades revelada/oculta, enquanto teólogos não-reformados tomam a
última.

Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da


Vontade Divina (III-A)

A. Opção Três: O Paradigma das Vontades Oculta/Revelada


Em suas discussões acerca da soberania divina e da responsabilidade humana, os
reformadores regularmente apelavam para a posição das vontades oculta/revelada, apesar
de Lutero adotar o conceito mais prontamente que Calvino. Para Lutero, as duas vontades
de Deus são funções das duas maneiras que Deus se relaciona com sua criação. Por um
lado, como deus revelatus, Deus se manifesta a si mesmo em Jesus Cristo. Por outro lado,
Deus como deus absconditus se esconde da criação e desde que nada mais pode ser
conhecido sobre o Deus escondido então nada mais deve ser dito. A vontade revelada de
Deus, i.e., Jesus Cristo, proclama as Boas Novas que Deus graciosamente é por nós. O Deus
escondido, com sua soberana e secreta vontade de eleição e reprovação, permanece
terrivelmente inacessível.
Calvino é menos consistente em seu uso do paradigma das vontades oculta/revelada.
Em obras teológicas tais como sua resposta ao controversialista católico Albert Phigius,
Calvino nega uma oferta universal genuína do Evangelho. Ele estabelece, “É uma ficção
pueril pela qual Phigius interpreta graça como sendo que Deus convida todos os homens à
salvação apesar de serem perdidos em Adão. Pois Paulo claramente distingue os dantes
conhecidos dos outros a quem Deus não se comprouve observar”[28]. Calvino denuncia a
noção que Deus tenha duas vontades como “blasfêmia”[29].
Porém, os comentários de Calvino apresentam uma história diferente. Nestas obras,
ele afirma que 1Tm 2:4, 2Pe 3:9 e Ez 18:23 claramente ensinam que Deus deseja a
salvação de toda humanidade[30]. Calvino aqui apela para a explicação de vontades
oculta/revelada para reconciliar sua interpretação dos textos universais com sua doutrina de
dupla predestinação. Neste assunto pelo menos, alguém pode se perdoar por pensar se
Calvino o teólogo já se encontrou alguma vez com Calvino o exegeta.
Hoje em dia, John Piper argumenta pelo paradigma das vontades oculta/revelada[31].
Ele se afasta de muitos de seus colegas reformados quando aceita que aqueles textos tais
como 1Tm 2:4, 2Pe 3:9 e Ez 18:23 na realidade estão expressando um desejo da parte de
Deus para a salvação de toda a humanidade. Ele reconhece que a exegese reformada
tradicional destes versos convence somente aqueles que já estão persuadidos.
Piper argumenta que Deus genuinamente quer a salvação de todos, mas seu desejo é
vencido pelo desejo ainda maior de ser glorificado [32]. A fim de que sua graça receba a
mais completa expressão de sua glória, é necessário que ele também mostre sua justa ira
contra o pecado. A completa glória de sua graça é propriamente percebida somente quando
vista ao lado de seus santos julgamentos. Alguns foram selecionados por Deus para ser
troféus da graça enquanto outros são escolhidos como exemplos de sua justa danação. Por
que Deus seleciona alguns para salvação enquanto consigna outros à perdição é um mistério
oculto nos conselhos secretos de Deus.
Existem pelo menos seis sérios problemas com a versão oculta/revelada da
explanação das duas vontades. Primeiro, como Carson aponta, muitas vezes teólogos usam
a vontade oculta para negar a vontade revelada [33]. Lutero certamente parecia fazer isto.
Em sua discussao sobre o lamento de Jesus sobre Jerusalé [34], a resposta de Lutero é
apelar para a vontade oculta de Deus.
Aqui, Deus Encarnado afirma: ‘Eu quis e vocês não’. Deus Encarnado, eu repito, foi
enviado com este propósito, querer, dizer, fazer, sofrer, e oferecer-se por todos os homens,
tudo que é necessário para salvação; apesar disso Ele ofende muitos que, sendo
abandonados ou endurecidos pela vontade secreta da Majestade de Deus, não O recebem
assim querendo, falando, fazendo e oferecendo. [35]
Lutero aponta para o Deus revelado em Cristo mas então prontamente nulifica a
mensagem do Salvador apelando ao Deus oculto [36].
Por definição uma vongtade oculta é desconhecida, então como podemos falar sobre
ela? Como podemos utilizar algo desconhecido como fundação teológica? Quem tem o direito
de declarar que a vontade revelada de Deus não é sua vontade definitiva e basear esta
asserção em algo admitidamente desconhecido? Quem ousa nulificar a vontade de Deus? Se
a vontade oculta existe, então poderia ela ser escondida por que Deus não quer que a
abordemos?
Um segundo problema com o paradigma das vontades oculta/revelada é tão sério
quanto o primeiro. Cristo manifesta a vontade revelada de Deus, mas a vontade revelada
nem sempre é efetuada porque ela é suplantada pela vontade oculta de Deus que
permanece escondida no Pai. Isto leva à perturbadora conclusão que Jesus não representa o
Pai como ele realmente é. Em sua discussão sobre as duas vontades em Deus, Lutero deixa
isto bem claro:
Agora, Deus em Sua própria natureza e majestade é para ser deixado de lado; acerca
disso, temos nada a tratar com Ele, nem Ele deseja que lidemos com Ele. Temos que trarat
com Ele como mostrado e vestido em Sua Palavra, pela qual Ele apresenta-Se a nós. [37]
No cenário das vontades oculta/revelada, Cristo não mais revela o Pai.
O segundo problema leva naturalmente a um terceiro. Lutero descrfeve a vontade
secreta de Deus como “macabra” e então insta seu leitor a olhar para Cristo somente[38].
Mas assim como Barth apontou, não se pode ensinar a vontade oculta de Deus e então falar
às pessoas para não pensarem sobre ela[39]. Exortaçõies para não dar atenção ao homem
por detrás da cortina apenas elevam suspeitas e preocupações. A dificuldade que o
paradigma das vontades oculta/revelada apresenta ao ministério pastoral é bem
comentada[40]. Se nossa eleição reside no propósito secreto, então que segurança o Cristo
revelado nos dá? Barth conclui que não olhar Jesus com a devida atençao é olhar para o
desconhecido [41].
Um quarto problema com a solução das vontades oculta/revelada é que ela faz o
pregador parecer hipócrita. Engelsma realça este problema quando ele repreende o pastor
reformado que prega a vontade revelada enquanto silenciosamente adere a uma vontade
oculta.
Você pode agora pregar a todos os homens que Deus os ama com um amor redentivo
e que Cristo morreu por eles para salvá-los de seus pecados, mas ao mesmo tempo sussurra
para si mesmo, ‘Mas ele na realidade salvará apenas alguns de vós e Ele não salvará outros
de acordo com Sua própria vontade soberana’. O que você sussurra para si mesmo torna a
mensagem do amor universal, expiação universal, e desejo universal de salvar, que você
audivelmente proclama, uma fraude. [42]
Se aquilo que sussurramos para nós mesmos torna aquilo que proclamamos uma
fraude, então de fato somos culpados de dissimulação.
Pior ainda, a abordagem das vontades oculta/revelada aparenta tornar Deus um
hipócrita, o que é um quinto problema. Deus universalmente oferece uma salvação que ele
não tem intenção que todos recebam. Soteriologia reformada ensina que Deus é oferecido a
todos, mas graça eficaz é dada apenas aos eleitos[43]. Os limites da salvação são
estabelecidos pela soberana e secreta vontade de Deus. Numerosas vezes – mediante os
profetas, o Salvador, e os apóstolos – Deus publicamente revelou um desejo para a salvação
de Israel enquanto secretamente vê que eles não se arrependerão. Calvino, citando
Agostinho, afirma que desde que nós não sabemos quem são os eleitos e quem são os
reprovados nós devemos desejar a salvação de todos [44]. Shank retruca, “Mas por quê? Se
não é este o desejo de Deus, por que deveria ser o de Calvino? Por que Calvino deseja ser
mais gracioso que Deus?” [45]
O que nos traz à sexta e fundamental objeção ao paradigma das vontades
oculta/revelada: ele falha em encarar os próprios problemas que intende abordar. Ele evita o
próprio dilema que a teologia decretal cria. Peterson, em sua defesa da posição reformada
sobre as duas vontades, afirma: “Deus não salva todos os pecadores, pois ultimamente ele
não intende salvar todos eles. O dom da fé é necessário para salvação, mesmo assim por
razões além de nosso entendimento, o dom da fé não é dado a todos” [46]. Mas então ele
conclui, “Enquanto Deus comanda a todos o arrependimento e não toma prazer na morte do
pecador, nem todos são salvos porque não é a intenção de Deus dar sua graça redentiva a
todos” [47]. Devo ser cândido e confessar que esta citação não tem sentido nenhum para
mim.
Vamos lembrar que não há discórdia sobre responsabilidade humana. Agostinianos,
calvinistas, arminianos e outros cristãos ortodoxos concordam que os perdidos são perdidos
por causa de seus próprios pecados. Mas esta não é a questão em pauta. A questão não é
“Por que os perdidos são perdidos?” mas sim “Por que os perdidos não são salvos?”. O
desagradável, terrível, “profundo, obscuro, imundo segredinho” do calvinismo é que ele
ensina que existe uma e apenas uma resposta à segunda questão, e ela é: Deus não quer
que eles sejam salvos [48]. Outros sistemas teológicos podem ter problemas semelhantes
[49] mas a teologia reformada temn a distinção de fazer desta dificuldade a pedra
fundamental de seu entendimento da salvação.

Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da


Vontade Divina (III-A)

A. Opção Três: O Paradigma das Vontades Oculta/Revelada


Em suas discussões acerca da soberania divina e da responsabilidade humana, os
reformadores regularmente apelavam para a posição das vontades oculta/revelada, apesar
de Lutero adotar o conceito mais prontamente que Calvino. Para Lutero, as duas vontades
de Deus são funções das duas maneiras que Deus se relaciona com sua criação. Por um
lado, como deus revelatus, Deus se manifesta a si mesmo em Jesus Cristo. Por outro lado,
Deus como deus absconditus se esconde da criação e desde que nada mais pode ser
conhecido sobre o Deus escondido então nada mais deve ser dito. A vontade revelada de
Deus, i.e., Jesus Cristo, proclama as Boas Novas que Deus graciosamente é por nós. O Deus
escondido, com sua soberana e secreta vontade de eleição e reprovação, permanece
terrivelmente inacessível.
Calvino é menos consistente em seu uso do paradigma das vontades oculta/revelada.
Em obras teológicas tais como sua resposta ao controversialista católico Albert Phigius,
Calvino nega uma oferta universal genuína do Evangelho. Ele estabelece, “É uma ficção
pueril pela qual Phigius interpreta graça como sendo que Deus convida todos os homens à
salvação apesar de serem perdidos em Adão. Pois Paulo claramente distingue os dantes
conhecidos dos outros a quem Deus não se comprouve observar”[28]. Calvino denuncia a
noção que Deus tenha duas vontades como “blasfêmia”[29].
Porém, os comentários de Calvino apresentam uma história diferente. Nestas obras,
ele afirma que 1Tm 2:4, 2Pe 3:9 e Ez 18:23 claramente ensinam que Deus deseja a
salvação de toda humanidade[30]. Calvino aqui apela para a explicação de vontades
oculta/revelada para reconciliar sua interpretação dos textos universais com sua doutrina de
dupla predestinação. Neste assunto pelo menos, alguém pode se perdoar por pensar se
Calvino o teólogo já se encontrou alguma vez com Calvino o exegeta.
Hoje em dia, John Piper argumenta pelo paradigma das vontades oculta/revelada[31].
Ele se afasta de muitos de seus colegas reformados quando aceita que aqueles textos tais
como 1Tm 2:4, 2Pe 3:9 e Ez 18:23 na realidade estão expressando um desejo da parte de
Deus para a salvação de toda a humanidade. Ele reconhece que a exegese reformada
tradicional destes versos convence somente aqueles que já estão persuadidos.
Piper argumenta que Deus genuinamente quer a salvação de todos, mas seu desejo é
vencido pelo desejo ainda maior de ser glorificado [32]. A fim de que sua graça receba a
mais completa expressão de sua glória, é necessário que ele também mostre sua justa ira
contra o pecado. A completa glória de sua graça é propriamente percebida somente quando
vista ao lado de seus santos julgamentos. Alguns foram selecionados por Deus para ser
troféus da graça enquanto outros são escolhidos como exemplos de sua justa danação. Por
que Deus seleciona alguns para salvação enquanto consigna outros à perdição é um mistério
oculto nos conselhos secretos de Deus.
Existem pelo menos seis sérios problemas com a versão oculta/revelada da
explanação das duas vontades. Primeiro, como Carson aponta, muitas vezes teólogos usam
a vontade oculta para negar a vontade revelada [33]. Lutero certamente parecia fazer isto.
Em sua discussao sobre o lamento de Jesus sobre Jerusalé [34], a resposta de Lutero é
apelar para a vontade oculta de Deus.
Aqui, Deus Encarnado afirma: ‘Eu quis e vocês não’. Deus Encarnado, eu repito, foi
enviado com este propósito, querer, dizer, fazer, sofrer, e oferecer-se por todos os homens,
tudo que é necessário para salvação; apesar disso Ele ofende muitos que, sendo
abandonados ou endurecidos pela vontade secreta da Majestade de Deus, não O recebem
assim querendo, falando, fazendo e oferecendo. [35]
Lutero aponta para o Deus revelado em Cristo mas então prontamente nulifica a
mensagem do Salvador apelando ao Deus oculto [36].
Por definição uma vongtade oculta é desconhecida, então como podemos falar sobre
ela? Como podemos utilizar algo desconhecido como fundação teológica? Quem tem o direito
de declarar que a vontade revelada de Deus não é sua vontade definitiva e basear esta
asserção em algo admitidamente desconhecido? Quem ousa nulificar a vontade de Deus? Se
a vontade oculta existe, então poderia ela ser escondida por que Deus não quer que a
abordemos?
Um segundo problema com o paradigma das vontades oculta/revelada é tão sério
quanto o primeiro. Cristo manifesta a vontade revelada de Deus, mas a vontade revelada
nem sempre é efetuada porque ela é suplantada pela vontade oculta de Deus que
permanece escondida no Pai. Isto leva à perturbadora conclusão que Jesus não representa o
Pai como ele realmente é. Em sua discussão sobre as duas vontades em Deus, Lutero deixa
isto bem claro:
Agora, Deus em Sua própria natureza e majestade é para ser deixado de lado; acerca
disso, temos nada a tratar com Ele, nem Ele deseja que lidemos com Ele. Temos que trarat
com Ele como mostrado e vestido em Sua Palavra, pela qual Ele apresenta-Se a nós. [37]
No cenário das vontades oculta/revelada, Cristo não mais revela o Pai.
O segundo problema leva naturalmente a um terceiro. Lutero descrfeve a vontade
secreta de Deus como “macabra” e então insta seu leitor a olhar para Cristo somente[38].
Mas assim como Barth apontou, não se pode ensinar a vontade oculta de Deus e então falar
às pessoas para não pensarem sobre ela[39]. Exortaçõies para não dar atenção ao homem
por detrás da cortina apenas elevam suspeitas e preocupações. A dificuldade que o
paradigma das vontades oculta/revelada apresenta ao ministério pastoral é bem
comentada[40]. Se nossa eleição reside no propósito secreto, então que segurança o Cristo
revelado nos dá? Barth conclui que não olhar Jesus com a devida atençao é olhar para o
desconhecido [41].
Um quarto problema com a solução das vontades oculta/revelada é que ela faz o
pregador parecer hipócrita. Engelsma realça este problema quando ele repreende o pastor
reformado que prega a vontade revelada enquanto silenciosamente adere a uma vontade
oculta.
Você pode agora pregar a todos os homens que Deus os ama com um amor redentivo
e que Cristo morreu por eles para salvá-los de seus pecados, mas ao mesmo tempo sussurra
para si mesmo, ‘Mas ele na realidade salvará apenas alguns de vós e Ele não salvará outros
de acordo com Sua própria vontade soberana’. O que você sussurra para si mesmo torna a
mensagem do amor universal, expiação universal, e desejo universal de salvar, que você
audivelmente proclama, uma fraude. [42]
Se aquilo que sussurramos para nós mesmos torna aquilo que proclamamos uma
fraude, então de fato somos culpados de dissimulação.
Pior ainda, a abordagem das vontades oculta/revelada aparenta tornar Deus um
hipócrita, o que é um quinto problema. Deus universalmente oferece uma salvação que ele
não tem intenção que todos recebam. Soteriologia reformada ensina que Deus é oferecido a
todos, mas graça eficaz é dada apenas aos eleitos[43]. Os limites da salvação são
estabelecidos pela soberana e secreta vontade de Deus. Numerosas vezes – mediante os
profetas, o Salvador, e os apóstolos – Deus publicamente revelou um desejo para a salvação
de Israel enquanto secretamente vê que eles não se arrependerão. Calvino, citando
Agostinho, afirma que desde que nós não sabemos quem são os eleitos e quem são os
reprovados nós devemos desejar a salvação de todos [44]. Shank retruca, “Mas por quê? Se
não é este o desejo de Deus, por que deveria ser o de Calvino? Por que Calvino deseja ser
mais gracioso que Deus?” [45]
O que nos traz à sexta e fundamental objeção ao paradigma das vontades
oculta/revelada: ele falha em encarar os próprios problemas que intende abordar. Ele evita o
próprio dilema que a teologia decretal cria. Peterson, em sua defesa da posição reformada
sobre as duas vontades, afirma: “Deus não salva todos os pecadores, pois ultimamente ele
não intende salvar todos eles. O dom da fé é necessário para salvação, mesmo assim por
razões além de nosso entendimento, o dom da fé não é dado a todos” [46]. Mas então ele
conclui, “Enquanto Deus comanda a todos o arrependimento e não toma prazer na morte do
pecador, nem todos são salvos porque não é a intenção de Deus dar sua graça redentiva a
todos” [47]. Devo ser cândido e confessar que esta citação não tem sentido nenhum para
mim.
Vamos lembrar que não há discórdia sobre responsabilidade humana. Agostinianos,
calvinistas, arminianos e outros cristãos ortodoxos concordam que os perdidos são perdidos
por causa de seus próprios pecados. Mas esta não é a questão em pauta. A questão não é
“Por que os perdidos são perdidos?” mas sim “Por que os perdidos não são salvos?”. O
desagradável, terrível, “profundo, obscuro, imundo segredinho” do calvinismo é que ele
ensina que existe uma e apenas uma resposta à segunda questão, e ela é: Deus não quer
que eles sejam salvos [48]. Outros sistemas teológicos podem ter problemas semelhantes
[49] mas a teologia reformada temn a distinção de fazer desta dificuldade a pedra
fundamental de seu entendimento da salvação.

Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da


Vontade Divina (III-B)

B. Opção Quatro: O Paradigma das Vontades Antecedente/Consequente


Ao longo da história da igreja tanto as Igrejas Ocidentais quanto as Orientais têm
ensinado que Deus deseja a salvação de todos, mas ele requer a resposta em fé da parte do
ouvinte [50]. Esta abordagem das vontades oculta/revelada não vê conflito entre as duas
vontades de Deus. Deus antecedentemente quer que todos sejam salvos. Mas para aqueles
que se recusam a se arrepender e crer, ele consequentemente deseja que eles sejam
condenados. Desta maneira Deus é compreendido como sendo semelhante a um justo juiz
que deseja que todos vivam mas que relutantemente ordena a execução do assassino [51].
Os desejos antecedente e consequente são diferentes mas não estão em conflito.
A posição das vontades oculta/revelada parece ser o claro ensino da Escritura. Deus
antecedentemente “amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito,” para que
consequentemente “todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna”. Cristo
antecedentemente ordena que o Evangelho seja pregado a toda criatura, mas ele
consequentemente decreta que aquele que não crê seja danado. O paradigma das vontades
antecedente/consequente se ajusta muito bem com a Grande Comissão.
Oden lista quatro características da vontade antecente de Deus [52]. Primeiro, ela é
universal. Salvação é desejada para todos, providenciada para todos, e ofertada a todos.
Esta atitude omnibenevolente incondicional é verdadeiramente antecedente no que ela é
direcionada a toda humanidade antes de sua aceitação ou rejeição. Segundo, a vontade
antecedente é imparcial. Cristo morreu pelos pecados do mundo todo. Amor universal
logicamente requer expiação ilimitada. Terceiro, a vontade de Deus em salvar todos é
sincera. Não existe vontade oculta; nenhum decreto secreto de reprovação. E quarto, a
vontade antecente é uma vontade ordenada. É impossível para o desejo de Deus
permanecer impotente ou não-cumprido. A vontade antecedente de Deus de salvar todos é a
base de suas ações para prover os meios da graça para pecadores mediante Cristo.
A vontade consequente de Deus possui três componentes [53]. Primeiro, ela é
consistente com as qualidades com as quais ele dotou suas criaturas. Humanos estão caídos,
mas ainsda são à imagem de Deus, não obstante. A graça de Deus não é coercitiva e pode
ser recusada. Quando o ouvinte encontra o Evangelho, ele é graciosamente habilitado pelo
Espírito a responder livremente. A decisão do ouvinte de aceitar ou rejeitar o Evangelho é
genuína e apavorantemente dele. Admitidamente, por que alguns rejeitam o Evangelho é um
mistério. Mas no paradigma antecedente/consequente, o mistério da iniquidade reside no
homem e não em Deus.
O segundo aspecto da vontade de Deus segue do primeiro. Se Deus quer que a
salvação seja consequente à nossa escolha, então sua vontade é condicional. Terceiro, a
vontade consequente é justa. A concessão de salvação por Deus para aqueles que creem é
perfeitamente consistente com sua santa natureza por casua da obra propiciatória de Cristo
(Rm 3:21-26). Sua danação de todos que não creem está de completo acordo com sua
justiça. A vontade antecedente é perfeitamente graciosa; a vontade consequente é
perfeitamente justa.
Geralmente, teólogos reformados acham a abordagem das vontades
antecedente/consequente inaceitável. Eles dão um tanto de objeções das quais três figuram
mais proeminentemente. Primeiro, o paradigma das vontades antecedente/consequente
parece tomar a decisão de Deus como sendo contingente à escolha humana. Eles contendem
que esta abordagem sutilmente coloca o homem no trono de Deus. Berkhouwer argumenta
que uma salvação que dependa da decisão do homem torna Deus “impotente e esperançoso”
[54]. Robert Shank replica que Deus pode estar esperançoso, mas ele não é impotente [55].
De fato a lustração de um Deus à espera é um tema rico encontrado ao longo da Bíblia (Is
1:18-20 por exemplo). A abordagem das vontades antecedente/consequente entende Deus
como sendo o soberano Iniciador e opgracioso Consumador da redenção. Se o homem está
para escolher entre céu e inferno, é porque o Senhor da Criação colocou tal escolha diante
dele.
Uma segunda objeção que a abordagem das vontades antecedente/consequente é que
ele aparenta tocar a noção de mérito. Se todos os ouvintes estão igualmente habilitados pela
graça a receber o Evangelho, e uma pessoa aceita a Mensagem enquanto a outra rejeita,
então isto não implica de alguma forma que a primeira pessoa foi mais virtuosa que a
segunda? [56] Esta é uma objeção difícil, mas duas coisas devem ser mantidas em mente.
Primeiro, esta objeção parece ver fé como alguma espécie de obra enquanto a Bíblia
consistentemente contrasta fé de obras (Rm 3:21 – 4:8). Fé, por sua própria natureza, é o
oposto de obras porque é uma admissão de uma completa falta de mérito ou capacidade. O
clemente não incorrem em mérito quando abre suas mãos para receber um presente
gratuito [57]. Segundo, o mistério não é por que alguns creem, mas sim por que nem todos
creem. Isto mais uma vez aponta para o mistério do mal. Não existe mérito em aceitar o
Evangelho mas existe culpa em rejeitá-lo.
Uma terceira objeção feita pelos teólogos reformados é que o paradigma das vontades
antecedente/consequente dá “destaque de orgulho” para o livre arbítrio humano acima da
glória de Deus [58]. John Piper argumenta que as visões das vontades oculta/revelada e
antecedente/consequente são basicamente as mesmas exceto por uma importante diferença
[59]. Ambas as visões contendem que Deus genuinamente deseja a salvação de todos,
ambas as visões mentêm que este desejo é sobrescrito por uma vontade ainda maior, mas
as duas visões discordam em que maior vontade é essa. Piper estabelece que a posição
oculta/revelada vê a maior vontade como sendo um desejo de glorificar a si mesmo
enquanto a posição antecedente/consequente entende a maior vontade como sendo dar a
liberdade de auto-determinação para os homens. Piper conclui que o paradigma
oculto/revelado faz mais justiça à glória de Deus.
Porém, na sua resposta a Piper, Walls e Dongell enfatizam que proponentes da
posição das vontades antecedente/consequente não afirmam uma habilidade humana de
auto-determinação graciosamente habilitada por si só. Em vez disso, a preocupação é em
retratar fielmente o caráter de Deus. Deus coloca o descrente por responsável porque ele
não creu no evangelho. Aqueles condenados por Deus são condenados justamente porque
receber Cristo foi uma escolha genuinamente disponível. Aderir a uma doutrina de auto-
determinação humana não é um fim em si mesmo. Manter a integridade do caráter de Deus
é. Em vez de falhar em magnificar a glória de Deus, a posição das vontades
antecedente/consequente glorifica Deus mantendo que suas deliberações são justas e
consistentes com sua santa natureza [60]. Se a maior maneira para os humanos darem
glória a Deus é escolhendo-o livremente, então a visão das vontades
antecedente/consequente cumpre melhor este objetivo.
Interessantemente, Piper utiliza a analogia do justo juiz para fazer seu caso a favor do
cenário das vontades oculta/revelada [61]. Ele dá a instância específica de quando George
Washington encarou o difícil dilema de ter um de seus oficiais favoritos culpado de um crime
capital. Apesar de sua afeição pelo jovem, Washington deu a ordem para sua execução. A
ilustração de Piper na verdade é um exemplo do paradigma das vontades
antecedente/consequente, pois de acordo com o modelo das vontades oculta/revelada,
Whashington secretamente desejou o crime do oficial e inclinou a vontade do jobvem para
cometer o delito.
Salvação e Soberania de Deus: A Grande Comissão como a Expressão da
Vontade Divina (IV)

IV. CONCLUSÃO
Este artigo considerou quatro opções acerca da voltade salvífica de Deus: Deus tem
uma vontadce que que todos sejam salvos; Deus tem uma vontade que alguns sejam
salvos; Deus tem duas vontades – uma oculta e a outra revelada; e Deus tem duas vontades
– uma antecedente para a salvação de todos e a outra consequente de que fé é condição
para salvação. Nenhuma das quatro posições está livre de dificuldades. Porém, o paradigma
das vontades antecedente/consequente parece ser o que tem os menores problemas
teológicos e ser mais próximo ao testemunho da Escritura.
A Grande Comissão é expressão da vontade divina. Seu desejo é que o mundo inteiro
ouça as Boas Novas tal que aqueles que recebem o Evangelho possam ser salvos.

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