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Ely Moraes Bisso

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7 fl
Coleção Primeiros Passos

Acidentes do Trabalho O que é Empresa


O QUE É
Raimar Richers
Uma forma de violência
A. Cohn, A. Sato, S. Hirano e
U.S.Karsch
O que são Recursos Humanos
SEGURANÇA DO
Flávio R. F. Toledo
Crianças e Adolecentes no
Mercado de Trabalho
O que é Taylorismo
TRABALHO
L. M. Rago e E. F. P. Moreira
Cheywa Spindel
O que é Trabalho
Suzana Albornoz

Leituras Afins — O que é


segurança do trabalho
r
CopyrigJií © by E/y Moraes Bisso, 1990
Nenhuma pane desta publicação pode ser gravada,
armazenada em sistemas eletrônicos, fotocopiada,
reproduzida por meios mecânicos ou outros quaisquer
sem autorização prévia do editor.

ISBN: 85-11-01242-7
Primeira edição, 1990

Preparação de originais: Mercedes de Paula Ferreira


Revisão: Gilberto D'Angelo Braz e Rosemary C. Machado
Capa: Francisco Max de Araújo

AGRADECIMENTOS

Desejo registrar meus sinceros


agradecimentos a todos os colegas
com os quais tive a oportunidade de
compartilhar as experiências descritas
no livro, durante os dez anos de
Rua da Consolação, 2697 trabalho na Divisão de Segurança e
01416 São Paulo SP Medicina do Trabalho da Companhia
Fone (011)280-1222 - Fax 881-9980
Telex: (11) 33271 DBLM BR Paulista de Força e Luz — CPFL
IMPRESSO NO BRASIL
r*
r*

SUMARIO

Apresentação 9
Introdução: A prevenção é um direito! 11
A pré-história da segurança do trabalho 15
Do agricultor ao operário: o homem e
suas condições de trabalho 17
Em defesa do direito à vida 20
E eu com isso? 25
Ora, a lei! 28
Prevenção dá lucro! 30
Acidentes do trabalho: prevenir ou remediar? 33
Acidentes não acontecem, são provocados! 36
A segurança é cara? 42
O trabalho não produz só acidentes 46
O trabalho é meio de vida 48
Nem só de vítimas vive o acidente 53
Anjos da guarda ou policiais? 55
Cipeiros — Os inspetores de quarteirão . 59
Sugestão de em presa prevencionista 61
Segurança do trabalho no Brasil 68
Observações finais 76
Sugestões de leitura ..." 79
Biografia • 80
ê
*

APRESENTAÇÃO

A prevenção de acidentes no Brasil tem


múltiplas facetas.
Apesar de ter sido trazida para o País já
nas décadas de 40/50, através das empresas
multinacionais que aqui vieram instalar-se, até
hoje a segurança do trabalho não é conhecida
por significativa parcela da nossa população.
Além disso, quando conhecida, não é bem en-
tendida e aceita.
Temos hoje um contingente de dezenas
de milhares de profissionais — engenheiros e
técnicos em segurança do trabalho — atuando
nessa área nas médias e grandes empresas.
Esses profissionais representam, certamente,
mais de setenta por cento das pessoas que
10 Ely Moraes B isso

efetivamente se interessam pela prevenção no


Brasil.
Curiosamente, qualquer um de nós pode-
ria perguntar: — Mas quem não se interessa
por prevenção de acidentes do trabalho? Pois
é, todo mundo diz que se interessa; experimen-
te, no entanto, olhar ao seu redor e você vai
verificar que as ações e os fatos desmentem
o discurso. INTRODUÇÃO: A PREVENÇÃO E
As empresas parecem acreditar que a se- UM DIREITO!
gurança do trabalho é cara e atrapalha a pro-
dutividade; os trabalhadores acham que é mais
um pacote de obrigações que devem cumprir. Existe uma frase famosa — "Prevenir aci-
Infelizmente, esses posicionamentos propi- entes é dever de todos" - que sinaliza todo
ciam a ligação do trabalho com os acidentes, *fn
Um processo de conceitos equivocados. O cor-
as lesões e a morte. reto é pensar que a segurança do trabalho é
Este pequeno livro tem a pretensão de um direito inalienável de todo trabalhador. O
desvelar a importância, a beleza e o fascínio trabalhador, do mais especializado ao operário
que a segurança do trabalho possui, desper- mais humilde, tem direito — que não pode ser
tando o interesse das pessoas para a neces- suprimido por ninguém — a um trabalho seguro
sidade de buscarem a ligação existente entre que não ofereça risco à sua vida ou integridade.
o trabalho, a saúde e a vida. A vida, a saúde e a integridade não podem
estar à disposição do empresário, até porque
Ely Moraes Bisso os salários, em geral, mal remuneram os ser-
viços prestados pelo trabalhador. Essa é a base
das ideias que quero expor.
.,„.-

12 Ely Moraes Bísso O que é Segurança do Trabalho 13

Ingressei profissionalmente na área de se- de saúde ocupacional, fez com que rne dispu-
gurança do trabalho em 1976. Recém-formado sesse a expor as ideias e experiências vividas,
em Engenharia Elétrica e em Engenharia de Surgiu assim a ideia deste livro. Pretendo, corn
Segurança do Trabalho e, de certo modo, de- ele, ampliar a discussão de um assunto que,
siludido com a Engenharia em geral, que me além de apaixonante, tem uma importância
pareceu uma ciência preocupada somente com muito grande, ainda não descoberta e consi-
;i produção, esquecendo-se do homem, decidi derada no mundo do trabalho. Pretendo dar a
trabalhar na área de engenharia de segurança você, leitor, a oportunidade de entender a ques-
e, desde logo, achei muito simplista resumir o tão da segurança do trabalho no contexto maior
da história da organização do trabalho, a partir
tratamento das causas dos acidentes de tra- do processo de industrialização mundial.
balho a atos e condições inseguras, o que se
É importante considerar que, para todos
fazia comumente àquela época. Ao longo do
nós, o ser humano acaba sendo quase uma
tempo, procurei sempre obter uma visão abran-
abstração, pois, exceto nos cursos de Antro-
gente do processo. Muitas vezes fui contestado pologia, Psicologia e Estudos Sociais, estuda-
e várias vezes estava efetivamente enganado. mos o ambiente, os minerais, a fauna, a flora,
Atuando em equipe, na Divisão de Segu- as máquinas, a matemática, afísica, a química,
rança e Medicina do Trabalho da CPFL, recorri a biologia etc., mas nunca o homem como ser
a profissionais de outras formações como pe- social e sua integração com isso tudo. Assim,
dagogos, psicólogos, estatísticos e sociólogos, a preservação da vida, da saúde e da integri-
para conseguir efetivamente perceber e enten- dade humana é confiada ao mero instinto de
der todos os ângulos do assunto. Acredito sin- sobrevivência; e sobreviver, para o trabalhador,
ceramente que aprendi muito e que muito ainda algumas vezes significa arriscar a vida na bus-
existe para ser aprendido. ca de um salário que lhe permita acesso aos
A preocupação em continuar aprendendo meios mínimos para permanecer vivo.
e discutindo o assunto, no momento em que Geralmente, a postura dos profissionais
estou afastado de uma atuação direta na área especializados em segurança do trabalho (en-
J
14 Ely Moraes Disso

genheiro e técnico), fruto da própria filosofia


dos cursos de formação, tem sido a de colocar
como dever, para os trabalhadores, a preven-
ção de acidentes. Entendo que a segurança
do trabalho deve ser vista de forma sistémica
no processo de organização e administração
do trabalho, isto é, a questão deve ser tratada
de todos os ângulos — da empresa, dos téc-
nicos das diversas profissões e dos emprega- A PRE-HISTORIA DA
dos - - e, mais, a segurança deve ser pensada SEGURANÇA DO TRABALHO
desde a concepção e o planejamento de um
projeto até o seu funcionamento. Além disso,
o trabalhador deve ser o centro das atenções
no processo de envolvimento necessário, para O trabalho foi uma atividade incorporada
efetivamente produzir com segurança. à própria existência do ser humano; todavia, a
preocupação em controlar os malefícios cau-
sados ao homem pelo trabalho é bem recente.
Alguns estudiosos dedicaram-se ao as-
sunto a partir de 1500. Dentre eles, podemos
citar George Bauer que, em 1556, publicou um
livro sobre as principais doenças e acidentes
de que eram vítimas os mineiros e fundidores
de ouro e prata. Abordou com destaque uma
doença a que chamou "asma dos mineiros",
causada pelo pó das minas. Hoje, sabe-se que
essa doença tem o nome genérico de pneu-
J
Ely Moraes B is s o

moconiose e que é causada pelo depósito de


poeira nas paredes do pulmão.
Em 1567, Paracelso elaborou uma mono-
grafia sobre a relação entre trabalho e doença,
na qual descreveu as características de doen-
ças típicas de trabalhadores que se utilizavam
de determinados métodos ou substâncias, des-
tacando a intoxicação por mercúrio. DO AGRICULTOR AO OPERÁRIO: O
Posteriormente, em 1700, o médico italia-
no Bernardino Ramazzini, hoje considerado pai HOMEM E SUAS CONDIÇÕES
da Medicina do Trabalho, editou um livro cha- DE TRABALHO
mado: De Morbis Artificum Diatriba, no qual
descrevia com precisão uma série de doenças,
relacionando-as ao exercício de determinadas Condições de trabalho são o conjunto das
profissões. Ramazzini conseguiu esse feito
condições técnicas relativas ao ambiente, ins-
simplesmente porque, ao entrevistar seus pa- talações, máquinas, equipamentos e ferramen-
cientes, perguntava-lhes: — Qual é a sua ocu- tas e, ainda, as relações interpessoais entre
pação? chefes e subordinados e entre colegas, no tra-
Todos esses estudos, entretanto, foram
ignorados durante muito tempo e não produzi- balho.
Enquanto o homem trabalhou em ativida-
ram melhorias nas condições de trabalho até
des agrícolas e pecuárias e mesmo nas oficinas
a era industrial. dos artesãos, as condições de trabalho eram
relativamente boas e os riscos oferecidos à
saúde e integridade eram baixos. A Revolução
Industrial, que se iniciou com o surgimento da
primeira máquina de fiar, por volta de 1760, na
18 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho 19

Inglaterra — de onde se propagou para toda a zesseis horas. Se antes um artesão planejava
Europa e os Estados Unidos da América do seu trabalho em função de suas necessidades,
Norte — provocou grandes mudanças nas con- agora o ritmo de trabalho era ditado pelo capi-
dições de trabalho enfrentadas pelos trabalha- talista e determinado pelo lucro que desejava
dores. obter.
As mudanças nas condições de trabalho A indústria nascente precisava de muita
foram substanciais e abrangeram o ambiente, mão-de-obra. Foram recrutados, então, ho-
as ferramentas, as máquinas e os equipamen- mens e mulheres, jovens e velhos e até mesmo
tos, a jornada, o tipo e a forma de organização crianças. Essas pesssoas totalmente despre-
do trabalho. Na verdade, o surgimento das pri- paradas, colocadas a trabalhar nesses ambien-
meiras máquinas alterou não só a maneira de tes agressivos, começaram a ser vítimas cons-
trabalhar, mas fundamentalmente a forma de tantes de graves acidentes e doenças infecto-
contagiosas.
organização da própria economia. Uma máqui-
na de fiar era muito mais rápida que o melhor
artesão, e a maioria dos artesãos não podia
comprar uma máquina. Surgiu a figura do ca-
pitalista que, vendo a oportunidade de ganhar
dinheiro, comprou a máquina e empregou o
trabalhador. Assim apareceu a relação Capi-
tal-Trabalho.
As fábricas foram instaladas em velhos
galpões, armazéns e estábulos e as primeiras
máquinas utilizadas eram rudimentares. As
condições de iluminação, ventilação e higiene,
portanto, eram ruins, as máquinas perigosas e
a jornada de trabalho chegava a catorze/de-
v
O que é Segurança do Trabalho 21
V ^
cações e lutas sindicais. Foram exatamente es-
sas lutas que permitiram ou desencadearam o
aparecimento de instrumentos, em geral leis,
visando a garantir segurança e proteção ao
trabalhador.
No parlamento britânico, uma comissão de
inquérito conseguiu a aprovação da "Lei da
Saúde e Moral dos Aprendizes", em 1902. Com
EM DEFESA DO DIREITO A VIDA isso, a jornada de trabalho dos menores foi
limitada a 12 horas, proibido o trabalho noturno
e tornada obrigatória a ventilação das fábricas.
Aos olhos do capitalista, desde logo a se- Preocupados em não ter diminuído o seu lucro,
gurança do trabalho mostrou-se uma ameaça os capitalistas opuseram-se fortemente à edi-
aos lucros, pois, além da necessidade de in- ção e ao cumprimento dessa e de muitas outras
vestir em dispositivos que eliminassem ou di- leis posteriores.
minuíssem os riscos do trabalho, exigia a ado- Em 1830, um industrial inglês criou o pri-
ção de procedimentos de trabalho mais cuida- meiro serviço médico de fábrica/visando a cui-
dosos que, em princípio, baixavam o ritmo da dar da saúde das crianças trabalhadoras. A
produção. essa altura, os sindicatos de trabalhadores, le-
O sistema capitalista fez surgirem os sin- galizados desde 1824 na Inglaterra, desenvol-
dicatos de trabalhadores que, através da orga- viam, de um lado, intensa luta por melhores
nização e união, buscavam obter melhores condições de trabalho e, de outro, visavam a
condições de barganha junto ao capital. Os aci- dar assistência aos trabalhadores acidentados
dentes do trabalho e as doenças fizeram com ou doentes, garantindo-lhes cuidados médicos
que a preocupação com a segurança do tra- j e sobrevivência através de indenizações e/ou
balhador passasse a fazer parte das reivindi- j pensões.
V J,
Ely Moraes Bis? 3ue é Segurança do Trabalho ZJ
22

r Essa preocupação assistencial acabou as-


sociando a prevenção de acidentes à ideia de
previdência social, isto é, deslocou o foco da
questão principal — evitar os acidentes —para
a garantia de assistência aos acidentados.
Com esse desvio, os custos dos acidentes do
trabalho acabam sendo pagos pela sociedade,
através dos órgãos de previdência social, so-
cializando prejuízos que deveriam ser assumi-
dos pelos empresários e, em consequência,
desestimulando o investimento na prevenção.
Mesmo assim, a mobilização de trabalhadores,
dos sindicatos e opinião pública fez com que,
a partir de 1840, muitas indústrias passassem
a ter os seus serviços médicos, atuando no
sentido de evitar que os empregados viessem
a adoecer. Isso levou o chamado "médico de
fábrica" a intervir na melhoria das condições
higiénicas da indústria.
Após o término da Segunda Guerra Mun-
dial, em 1945, com a criação da Organização
das Nações Unidas — ONU, surgiram a Orga-
nização Internacional do Trabalho - - OIT e Or-
ganização Mundial de Saúde — OMS, entida-
des que têm defendido, estimulado e apoiado
os direitos dos trabalhadores nos campos da
24 ,ElyMoraes Bh

saúde e segurança no trabalho, com base na


própria Declaração dos Direitos do Homem.
Hoje, quase todos os países industrializa-
dos dispõem de ampla regulamentação legal
e técnico-normativa acerca de condições de
trabalho. Se o disposto nesses instrumentos
fosse de fato observado, os trabalhadores dis-
poriam de ótimas condições de trabalho. Infe-
lizmente, não é o que acontece em geral. E EU COM ISSO?

Existe em segurança do trabalho a seguin-


te máxima:
"Todos são responsáveis pela prevenção
de acidentes".
Você é capaz de dizer qual é o significado
exato dessa frase? Quem são esses todos?
No meu entendimento, são responsáveis
pela segurança do trabalho:
a) Os poderes constituídos (Executivo, Legis-
lativo e Judiciário).
No Brasil, o Poder Executivo - - Presiden-
te, Governadores, Ministros - - é reponsá-
vel pela promulgação e cumprimento das
leis. Entretanto, é preciso que se diga, não
tem feito cumprir as leis de segurança do
. > aue é Segurança do Trabalho 27
Ely Moraes Bis * 6

sã de insegurança e riscos para si 0 para


trabalho, apesar de termos boas leis. os seus companheiros. Como principal in-
O Poder Legislativo — Senadores, Depu- teressado, deveria "brigar" o tempo todo
tados Federais e Estaduais e Vereadores por seu direito à segurança, mas se perde
— é responsável pela elaboração das leis em meio à luta cotidiana pela sobrevivência.
que podem fazer aumentar ou diminuir o Cada qual tem sua parcela de respon-
interesse das empresas e das pessoas pe- sabilidade, logicamente proporcional ao
lo investimento na prevenção. poder de decisão da posição que ocupa.
O Poder Judiciário — Justiça Cível, Crimi-
nal e do Trabalho — tem a atribuição de
distribuir justiça em reparação ao descum-
primento das leis.
b) Os Empresários e Dirigentes Empresariais
são responsáveis pelas políticas, objetivos
e metas das empresas. Porém, não têm,
em geral, incluído a segurança do trabalho
entre suas prioridades.
c) Os Gerentes, Chefes e Supervisores são
responsáveis por oferecer e fazer com que
se cumpram as condições de segurança
na execução dos trabalhos nas suas
áreas. Quase sempre, esta preocupação
é relegada a segundo piano e o enfoque
único é a produção.
d) O próprio trabalhador, responsável por sua
integridade, deveria estar preocupado em
garantir que o seu trabalho não fosse cau- i
O que é Segurança do Trabalho

so, a segurança no trabalho que, por ser do


interesse de todos, deveria ser facilmente en-
tendida e praticada com base no instinto de
preservação da saúde, acaba virando assunto
para especialista. Em consequência, existe
grande dificuldade para sua assimilação por
parte de empresários, gerentes, dirigentes sin-
dicais, pelos próprios trabalhadores e mesmo
ORA, A LEI! pelos fiscais do ministério público incumbidos
de verificar o seu cumprimento. No Brasil, essa
dificuldade coloca a lei de prevenção de aci-
dentes entre aquelas muitas que não "colam",
A regulamentação legal é o instrumento isto é, aquelas que são total ou quase total-
mais usado para garantir a observação e o mente ignoradas, fator que acaba colaborando
cumprimento de qualquer costume. No caso para que as condições de trabalho sejam ruins.
da segurança do trabalho, o papel da lei é fun-
damental, em especial nos países subdesen-
volvidos. O tema das condições de trabalho
envolve, todavia, uma série de dados técnicos,
que devem ser introduzidos na própria lei ou
em normas técnicas às quais a lei faz referên-
cia.
A presença de dados técnicos na lei cria
mais uma dificuldade para o entendimento da
legislação. A interpretação da lei, normalmente,
requer o concurso de advogados; neste caso,
também o de médicos e engenheiros. Com is-
O que é Segurança do Trabalho 31

ção individual aos seus operários e de"obrigá-


los" a utilizarem tais aparatos. Na realidade, o
empregador nem sempre procura exercer efe-
tivamente o seu poder coercitivo para obrigar
os empregados a usarem os aparatos de se-
gurança e também não educa o trabalhador
para usá-los, pois existe a crença de que atra-
palham a produtividade. De seu lado, o traba-
PREVENÇÃO DÁ LUCRO! lhador percebe a prevenção como mais uma
imposição, mais um dever a cumprir e, obvia-
mente, não se sente motivado a observá-la.
Imposta ao empresário e ao dirigente em- Na verdade, o trabalhador é colocado a
presarial como obrigação legal de proporcionar trabalharem ambientes inadequados, com má-
benefício social, a prevenção de acidentes aca- quinas que oferecem riscos de acidentes, num
ba sendo percebida como um incómodo fardo, trabalho dividido e organizado para torná-lo
de alto custo e sem retorno. Em geral, o em- alienado e infantilizado, pois a organização do
I »i«isnrio prefere fazer com que tenha o mínimo trabalho, tanto na indústria como na área de
custo possível, isto é, gasta o estritamente ne- serviços, ainda aplica plenamente o taylorismo
cessário para cumprir a lei. O empresário, ge- — técnica que procura dividir o trabalho de
ralmente, não consegue perceber o custo da modo a que o trabalhador apenas execute suas
"não segurança", isto é, o quanto gasta ou per- tarefas sem precisar pensar - - e a administra-
de devido às más condições de saúde de seus ção enxerga o homem simplesmente como "os
empregados e aos acidentes de trabalho. recursos humanos" que, somados aos recursos
A prevenção de acidentes é geralmente financeiros e materiais, possibilitam a produ-
entendida pelo empresário como a simples ção. A contribuição que o homem pode dar e
obrigação de distribuir equipamentos de prote- a sua necessidade de realizar-se pessoal e
Ely Moraes B isso

profissionalmente no trabalho são ignoradas.


Dessa maneira, geralmente, o empregado não
tem participação nenhuma na elaboração dos
métodos que serão usados no seu trabalho e,
portanto, também não tem quase nenhum en-
volvimento, motivação ou comprometimento
com ele.
Essa é a situação na maioria absoluta dos
países do Terceiro Mundo, mas têm sido de- ACIDENTES DO TRABALHO:
nunciadas condições subumanas de trabalho PREVENIR OU REMEDIAR?
nas atividades mais brutas, mesmo em países
como Itália e Alemanha.
Um pouco de padrões e controles sobre
Os acidentes de trabalho têm sido defini-
os custos de produção e os não-produtivos que
se associam aos acidentes levaria os empre- dos de diferentes formas, dependendo do pon-
to de vista de quem os define. No Brasil, à luz
sários a tratarem a segurança do trabalho com
da legislação trabalhista e previdenciária, só
maior seriedade, como um investimento neces-
se caracteriza um acidente do trabalho se hou-
sário e rentável. ver lesão pessoal que impeça o trabalhador de
voltar ao trabalho no dia seguinte ao da ocor-
rência.
A lei foi elaborada segundo uma visão eco-
nómica do homem como fator de produção. Se
não houver impedimento para o trabalho, não
ocorreu acidente do trabalho, ainda que tenha
havido lesão. Esta visão é por si degradante.
Mais graves, porém, são seus efeitos colate-
Ely Moraes B isso O que é Segurança do Trabalho

rais: não sendo considerado acidente, o evento


não é analisado; logo, suas causas não são
eliminadas e outro acidente irá ocorrer, poden-
do ter maiores consequências. Além disso, não
irá figurar nas estatísticas da Previdência So-
cial, fazendo parecer que o número de aciden-
tados é menor que o reai.
Do ponto de vista mais racional, além de
humano, a Segurança do Trabalho considera
que acidente do trabalho é a ocorrência impre-
vista e indesejada que interrompe a execução
de um trabalho, trazendo como consequências
desperdício de tempo, perdas materiais e le-
sões pessoais.
Você percebe que por essa definição, de
maior abrangência, a paralisação não progra-
mada de um trabalho por qualquer motivo é
um acidente, independentemente das suas
consequências? Este conceito é importante
porque, ao dar abrangência, obriga a que se
analisem todos os acidentes, procurando suas
causas e formas de eliminá-las, para evitar que
acidentes semelhantes voltem a se repetir. E
a ideia de aprender com o erro, aumentando
a prevenção.
O que é Segurança do Trabalho

norma de segurança. Já a condição insegura


é uma condição do ambiente que pode favo-
recer a ocorrência do acidente.
Para falar de causas de acidentes, acho
mais fácil comparar os acidentes do trabalho
às epidemias. A gripe, por exemplo: sua ocor-
rência depende da existência de urn agente (o
vírus), dos hospedeiros (as pessoas) e do am-
ACIDENTES NÃO ACONTECEM, biente favorável. O acidente do trabalho, da
SÃO PROVOCADOS! mesma forma, depende de urn agente, que é
o elemento do ambiente que se manifesta cau-
sando o acidente (máquina, peça, instalação
etc.); do hospedeiro, que é o trabalhador que
Os acidentes do trabalho não acontecem se acidenta e do ambiente, que é o conjunto
por acaso. Geralmente são causados direta- que anteriormente chamamos de condições de
mente pelas condições de trabalho e/ou por trabalho. Além disso, quando pensamos em
atitudes do trabalhador. prevenção de acidentes, devemos considerar
Normalmente, quando se analisa um aci- também as condições básicas de vida do tra-
dente são considerados somente o microam- balhador, tais como moradia, alimentação e
biente e a atitude do trabalhador no instante transportes, que são determinantes fundamen-
da ocorrência. Essa análise simplista pode le- tais para suas condições e atitudes no trabalho.
var à conclusão de que o trabalhador foi o Cada um desses faíores é muito importan-
responsável pelo acidente, porter praticado um te para a prevenção dos acidentes do trabalho,
"ato inseguro", e/ou que houve uma "condição mas vamos ver o que acontece com eies;
insegura" que contribuiu para o acidente acon-
tecer. Por ato inseguro entende-se que o tra- Para o trabalhador do Terceiro Mundo, as
balhador teve uma atitude que contrariou uma condições de vida, isto é, alimentação, sanea-
38 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho 3'

mento,, habitação, transporte e educação em e sugestões do trabalhador que deverá execu-


geral são muito ruins. O trabalhador é mal pago tá-lo.
e por isso mora longe e mal, alimenta-se mal A "solução" para o "conforto e segurança
e dorme pouco. Então já chega ao trabalho em do homem" acaba sendo o uso de equipamen-
más condições físicas, criando uma situação tos de proteção individual - - EPI, Incómodo e
favorável à ocorrência de acidentes. frequentemente incapaz de evitar acidentes,
No tocante aos ambientes, a ausência da esse tipo de equipamento presta-se a evitar as
visão da prevenção como investimento geral- lesões decorrentes do acidente ou simples-
mente faz com que a precariedade seja total, mente a minimizá-las. Por exemplo: em vez de
nas grandes e, especialmente, nas médias/pe- isolar do ambiente uma máquina que emite ruí-
quenas empresas. Isso é ainda mais crítico nos do excessivo, adota-se o uso de protetor au-
países em desenvolvimento, inclusive no Bra- ricular; ou obriga-se o uso de botinas com bi-
sil. Exemplos dessas condições são a iiumina- queira de aço em vez de se adotar um sistema
ção inadequada, a falta de ventilação, instala- transportador que evite a queda de peças. Mui-
ções elétricas expostas, ruído e ausência de tas vezes, os dispositivos de proteção existem
vestiários. e são eficazes, se utilizados. Acontece que seu
A engenharia aplicada ao ambiente de tra- uso ou acionamento exige tanto esforço adi-
balho visa a melhorar a produção, com relação cional do trabalhador, que este simplesmente
à quantidade/qualidade do produto finai, sem o abandona ou o torna inoperante.
preocupação com o homem. Os postos de tra- As relações de trabalho, que têm sido bas-
balho são concebidos para a produção e o pro- tante estudadas e analisadas, são certamente
duto. O homem deve adaptar-se a eies. os pontos nos quais existem as maiores dife-
Os processos de produção são concebi- renças entre os países de capitalismo avança-
dos pela engenharia de processos ou por al- do da Europa e dos EUA e os do Terceiro
guém que certamente não irá executar o tra- Mundo. Enquanto nos primeiros são vividos di-
balho e que, geralmente, não ouve as opiniões ferentes estágios de participação dos empre-
>
40 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho 41

gados na gestão da empresa, no Terceiro Mun- ne um botão. Evidentemente, o trabalhador


do a relação chefe/subordinado é predominan- está instruído e sabe que, para fazer qualquer
temente autoritária, do tipo "manda quem pode operação de reparo ou limpeza na mesa da
e obedece quem tem juízo", criando um péssi- prensa, deve acionar a trava. Acontece que
mo clima de medo e desconfiança. Também são 10:30 h., ele se levantou às 5:00 h. e tomou
as relações entre colegas são enormemente somente uma xícara de café requentado an-
dificultadas pela organização do trabalho, tes de ir para o trabalho. Está se sentindo um
especialmente pela "linha de montagem", que pouco atordoado e pressionado pela cota de
exige concentração e dificulta a conversação. produção que hoje, não sabe por que, não con-
Altas taxas de produtividade/competitividade segue atingir. De repente, uma peça estampa-
fazem com que cada empregado queira supe- da enrosca na mesa e ele coloca a mão para
rar o seu colega aumentando as rivalidades. soltá-la. Espere! A trava... a mesa... o martelo!!!
Em resumo, nosso hospedeiro — o traba- A mão!??
lhador— está geralmente mal alimentado, com Ao analisar o acidente, a sindicância con-
sono e desmotivado em relação ao trabalho. E clui que houve ato inseguro do empregado, que
o hospedeiro ideal para o acidente. Além disso, não travou a prensa. Simples e elementar, po-
trabalha num ambiente pouco seguro ou inse- rém equivocado. Deixa-se de fado toda a aná-
guro, Logof a ocorrência de acidentes do tra- lise das circunstâncias que fizeram com que,
balho torna-se uma questão de tempo. Mais naquele determinado instante, um agente se
cedo ou mais tarde, um agente se manifestará manifestasse, desencadeando o acidente, que
como faíor desencadeante. durante muito tempo teve, e provavelmente
Exemplificando: imagine um equipamento continuará tendo, condições para acontecer.
que tenha um dispositivo de segurança — pode Será que alguém se lembrará de perguntar por
ser uma prensa com trava do seu martelo. Su- que a trava estava tão longe"? Será que per-
ponha que, para ser acionada, a trava exija guntarão como o trabalhador tern dormido e se
que o trabalhador dê a voíta por trás da má- alimentado? Será que essa prensa irá pegar
quina, transponha uma pequena escada e acio- outras mãos?
O que é Segurança do Trabalho 43

podem ser até cem vezes maiores que os cus-


tos diretos.
Alguns exemplos podern ilustrar a ques-
tão:
— Uma empresa tem duas fábricas, uma em
São Paulo/SP e outra em Manaus/AM. Os
trabalhadores da fábrica de Manaus são
significativamente mais produtivos, pois
A SEGURANÇA E CARA? chegam mais dispostos ao trabalho. A ex-
plicação está na distância, menor, entre a
moradia e a fábrica. Morando mais perto,
Não! Produzir com segurança certamente o trabalhador pode dormir mais, gasta me-
exige algum investimento a mais, porém os aci- nos tempo no percurso de ida e volta do
dentes do trabalho têm custos muito altos para trabalho, enfim, tem melhor condição de
a empresa e para a sociedade. Para as em- vida, iogo, produz mais e se acidenta me-
presas, aiém dos custos diretos, geralmente nos.
segurados, decorrentes do atendimento do aci- A solução para as grandes cidades passa
dentado, da quebra da máquina e da perda do tanto por uma ação do Estado para melhorar
produto, existem os custos indiretos, associa- o transporte público, quanto das empresas vi-
dos à diminuição do ritmo de produção peia sando a melhorar o salário e, por conseguinte,
queda do moral dos colegas do acidentado, à as condições de habitação para o trabalhador.
substituição temporária do acidentado, ao trei- — Um trabalhador especializado de uma má-
namento do novo funcionário e a uma série de quina — digamos um torno — acidenta-se.
outras medidas que precisam ser adotadas. Vai ficar sessenta dias afastado. A Previ-

J
Admite-se hoje que os custos indiretos dos dência vai pagar seu salário e o tratamento
acidentes, que não são cobertos por seguro, médico, isto é, a sociedade vai pagar. A
44 Ely Moraes B isso O que é Segurança do Trabalho 45

empresa terá de colocar outro na função, venção foi revogada e a contribuição passou
mas se não tiver um substituto imediato, a ser uniforme para cada tipo de atividade du-
terá de treinar alguém, a produção irá di- rante um período.
minuir e o custo será da empresa. Existe proposta de nova legislação esta-
Agora pense na situação do Brasil, país belecendo três patamares mínimos de contri-
campeão mundial de acidentes do trabalho. Em buição à Previdência, nos quais as empresas
cada ano, mais de um milhão de trabalhadores seriam enquadradas conformo sua atividade.
acidentam-se no trabalho. O custo que esses Caso seu número de acidentes venha a ser
acidentes representam para a Nação é incon- maior que a média da ativídaclí*» ela passará a
cebível num país com tantas carências. A so- contribuir mais. Se, de um lado, uma medida
lução é estimular o investimento das empresas como essa tenderia a aumentar os cuidados e
em prevenção. investimentos com prevenção, por outro, po-
Outros países, como os EUA, adotaram a deria levar as empresas a esconderem seus
securitização privada dos acidentes do traba- acidentes, deixando de comunicá-los à Previ-
lho. As seguradoras, para estabelecerem o pré- dência.
mio que cada empresa vai pagar de seguro,
inspecionam as suas condições de segurança
e seus índices de acidentes do trabalho. Esse
procedimento obriga e estimula as empresas
a investir na prevenção, para reduzir seus gas-
tos com seguro.
No Brasil, tivemos uma lei que permitia,
às empresas que demonstravam redução sig-
nificativa do seu número de acidentes, uma
redução da taxa de contribuição ao IAPAS. Es-
sa lei que estimulava o investimento na pre-
O que é Segurança do Trabalho

indústria de cimento amianto; a surdez dos tra-


balhadores submetidos a ambientes ruidosos,
e muitas outras.
Uma fórmula encontrada para "pagar" a
saúde do trabalhador é o adicional de insalu-
bridade, prática já abolida em países de capi-
talismo adiantado, mas ainda existente no Bra-
sil. Paga-se um adiciona! de salário para o tra-
O TRABALHO NÃO PRODUZ balhador exercer suas funções
^* em um ambien-
SÓ ACIDENTES te que irá tirar-lhe a saúde.
As doenças profissionais têm. portanto, a
mesma natureza dos acidentes do trabalho e,
para efeito legal, como tais são consideradas.
Além dos acidentes do trabalho, que são
processos que causam lesões imediatas nos
trabalhadores, devemos considerar também
que certas condições ambientais ou atividades
de trabalho irão fazer com que, após algum
tempo, o trabalhador adoeça.
Essas doenças que, comprovadameníe,
são causadas pelo exercício de determinadas
atividades profissionais são chamadas doen-
ças do trabalho. Por exemplo, a silicose, mo-
léstia que causa o endurecimento das paredes
dos pulmões nos trabalhadores da indústria de
cerâmica e porcelana; a tenossinovite dos di-
gitadores; a asbestose nos trabalhadores da
O que é Segurança do Trabalho

Apenas como curiosidade incluo as fórmulas


pelas quais esses números são expressos:

N x 1.000.000
F =
H

O TRABALHO E MEIO DE VIDA D x 1.000.000


G =
H
Uma vez que a prevenção de acidentes
objetiva a vida e a saúde das pessoas, então Onde:
a avaliação de um programa de prevenção de- N - número de acidentados no período consi-
veria ser qualitativa e não quantitativa. Ou seja, derado
eu só poderia dizer que um programa de pre- D - número de dias perdidos ou debitados,de-
venção é um sucesso se não ocorresse ne- vido aos acidentes do trabalho
nhum acidente. Se houvesse um, dois ou qual- H - número de horas/homem efetivamente tra-
quer outro número de acidentes a prevenção balhadas no período
precisaria melhorar.
F - é obtida multiplicando-se N por 1.000.000
Na prática, não é assim. Como sempre, e dividindo por H
foi adotado um enfoque quantitativo e econó-
mico. Considera-se internacionalmente a ava- G - é obtida multiplicando-se D por 1.000.000
liação quantitativa, através da taxa de frequên- e dividindo por H
cia de acidentados com lesão e afastamento O importante é compreender a filosofia im-
do trabalho — F e da taxa de gravidade — G. plícita na adoção desses números. Vejamos:
50 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho

A taxa de frequência estima o número mé- pressão da visão económica do homem. Che-
dio de acidentes que irá ocorrer numa empresa gou-se ao ponto de estabelecer quanto repre-
ou seção em cada milhão de horas de trabalho senta de perda do potencial para a produção
ali realizado. Portanto, equipara os acidentes de um homem a perda de uma falange do dedc
às peças defeituosas que podem ser produzi- mínimo da mão.
das num processo de fabricação. Explicando A partir do cálculo dessas taxas em uma
melhor: é como se considerássemos fato esta- série histórica, podem-se estabelecer as mé-
tístico normal que cada hora de trabalho deva dias de taxas para um dado íipo de indústria
produzir um determinado número de acidentes, ou atividade. Geralmente, as empresas que se
assim corno são admitidas algumas peças de- situam abaixo das médias consideram que têm
feituosas em cada mi! que se fabricam. um bom índice de acidentes. É comum, ainda
Já a taxa de gravidade estima o tempo hoje, ouvir alguém dizer: "Nossos resultados
médio de dias que os trabalhadores deixarão são bons, neste ano ainda não morreu ninguém
de trabalhar devido aos acidentes de trabalho de acidente".
ocorridos, em cada milhão de horas trabalha-
das. Essa taxa estabelece, portanto, que de- Embora o trabalho deva ser considerado
vemos encarar corno fato normal que cada hora meio de vida, não é raro que o trabalhador nele
de trabalho pode produzir um determinado nú- encontre a morte. Existem determinadas ativi-
mero de dias de afastamento do trabalhador, dades cujo potencial de risco é maior para pro-
em consequência de acidentes do trabalho. duzir acidentes com consequências graves em
A taxa de gravidade chega ao requinte de termos de lesões pessoais e mesmo morte.
ter urna tabela padrão internacional ques em Por essa razão, organismos internacionais,
caso de acidente que cause lesão permanente como a Organização Mundial de Saúde
ou morte ao trabalhador, estipula o percentual OMS —, têm-se preocupado em detectar e
de tempo de vida útil de trabalho que é perdido mensurar esses acidentes, por exemplo, atra-
pelo trabalhador. Essa tabela é mais alta ex- vés da taxa de morbidade que é obtida dividín-
52 Ely Moraes Bisso

do-se o número de casos fatais pelo número


total de acidentes de um determinado tipo.

N9 de Acidentes Fatais
TM =
NQ de Acidentes do Tipo

Essa taxa determina a potencialidade de NEM SÓ DE VITIMAS VIVE O


determinado tipo de acidente para causar víti- ACIDENTE
mas fatais e pode servir para direcionar ações
preventivas para atividades mais perigosas. Se
fosse aplicada no Brasil, certamente ficaríamos
assustados com o potencial para causar mortes Você percebeu que as taxas citadas só
dos acidentes nas atividades com eletricidade, consideram os acidentes que afastam a vítima
de transporte e trânsito e da construção civil. do trabalho, portanto, aqueles que causam le-
sões mais graves ao acidentado.
Estudos desenvolvidos por diversos espe-
cialistas, entretanto, demonstram que existe re-
lação entre os acidentes com e sem lesão. O
norte-amerícano H. W. Heinrich, que foi um
grande estudioso do assunto, demonstrou que
para os acidentes do mesrno íipo5 ocorridos em
determinada atividade, a proporção é de 1 aci-
dente com lesão grave, para 29 acidentes com
lesão leve e 300 acidentes sem lesão. Ou seja,
você pode verificar que em 330 acidentes da
54 Ely Moraes Bisso

mesma espécie, somente um causa lesões gra-


ves, sendo pouco provável que isso aconteça
na primeira vez. Por exemplo, na construção
civil, um tijolo pode cair de uma determinada
altura sem atingir ninguém. Isso é um acidente,
embora sem vítima. Essa ocorrência, felizmen- •
te, é mais frequente que a queda do tijolo na
cabeça de um operário. Estudos posteriores
demonstraram relações ainda mais elásticas, S JàJ?
da ordem de 600 acidentes sem lesão para 1
grave.
Daí a necessidade de se analisarem e ca-
dastrarem todos os acidentes, quer tenham ou
não consequências graves, a fim de evitar que Dentro da estrutura das empresas foi cria-
se repitam causando lesões. Infelizmente, nem da uma função para promover a prevenção. A
sempre isso é feito. Segurança do Trabalho é a função que tem por
objetivo garantir a integridade física e menta!
do trabalhador, proporcionando-lhe um am-
biente de trabalho onde os riscos de acidentes
tenham sido eliminados ou controlados e no
qual as condições de trabalho não exijam esfor-
ços excessivos do trabalhador.
A Segurança do Trabalho é uma função
da administração, assim como a produção, a
manutenção, o planejamento, cuja responsa-
bilidade está implícita e diretamente vinculada
ao desempenho de todos os cargos de gerên-
«
56 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho

cia e chefia de quaisquer níveis. Ou seja, cada nais desse serviço são vistos como verdadeiros
gerente/chefe é responsável pela segurança "anjos da guarda" por gerentes e como "poli-
do trabalho da sua área e do seu pessoal. ciais" pelos empregados e acabam assumindo
Acontece que, na prática, geralmente o ge- toda a responsabilidade da prevenção.
rente não assume esse papel, preferindo ado- Na realidade, o SEST deve ter um. papel
tar uma postura do tipo: sou responsável pela de órgão de apoio, de orientação, normalização
produção; prevenção de acidente é lá com o e controle da segurança do trabalho para toda
"pessoal da segurança - - os anjos da guarda". a empresa, tendo como atribuições: a elabora-
Na realidade, essa posição gerência! é facilita- ção das normas de segurança do trabalho, as
da peia empresa que só cobra a produção. São especificações dos dispositivos de segurança,
raríssimas as empresas onde o número de aci- o estudo de problemas de engenharia e higiene
dentes do trabalho é item de avaliação geren- industrial e o desenvolvimento de programas
cial. de treinamento para a prevenção de acidentes.
Outro fator alimentador desse comporta- Nos países mais adiantados, é comum, além
mento gerencial é a postura dos chamados de engenheiros e técnicos em segurança do
"Serviços Especializados em Segurança do trabalho, o SEST dispor ainda de saniíaristas,
Trabalho - - SEST" nas empresas. Esse servi- estatísticos, desenhistas e profissionais de
ço, integrado por engenheiros e técnicos em apoio administrativo.
segurança do trabalho, foi criado nos diversos Para uma abordagem abrangente da pre-
países por razões diversas: exigência legal, venção de acidentes, é importante que o SEST
pressão sindical ou iniciativa da empresa vi- possa ainda dispor da colaboração de profis-
sando a reduzir a taxa de seguro de acidentes sionais como sociólogos, psicólogos, pedago-
feita em seguradoras privadas. Seu papel é o gos e assistentes sociais, ainda que não pre-
de assessorar tecnicamente as gerências para cisem estar lotados no órgão. A presença des-
facilitar a administração da função "prevenção ses profissionais de diferentes disciplinas dan-
de acidentes", mas, muitas vezes, os profissio- do retaguarda à ação do SEST possibilita con-
58 Ely Moraes Bisso

siderar to>dos os aspectos dos interesses em-


presariais e humanos na elaboração e imple-
mentação do programa de segurança do tra-
balho.

CIPEIROS — OS INSPETORES
DE QUARTEIRÃO

Certamente você deve estar pensando


que, finalmente, eu falei da CIPA. Pergunta
com a qual me deparei muitas vezes ao falar
que trabalhava na segurança do trabalho: —
Você é da CIPA? De fato, existe uma grande
confusão, que vou tentar desfazer. A existência
da CIPA também é prevista em lei.
São vários os países que adotam comis-
sões para prevenção de acidentes, inclusive
EUA e França, embora possam variar os no-
mes e as formas de organização. No Brasil, a
CIPA é uma comissão constituída por igual nú-
mero de representantes do empregador e dos
empregados, com o objetivo de promover a
Ely Moraes B isso

prevenção de acidentes. A empresa indica


seus representantes e os empregados elegem
os seus, em votação secreta. Os integrantes
da CIPA continuam exercendo suas funções
normais dentro da empresa.
O papel da Cl PA é auxiliar a administração
na prevenção de acidentes. Entretanto, a mai-
oria das CIPAs tem uma ação que se limita
basicamente à análise de acidentes do trabalho SUGESTÃO DE EMPRESA
ocorridos. PREVENCION1STA
Em experiência na Companhia Paulista de
Força e Luz, foram colocados em discussão,
durante os cursos para treinamento dos inte-
grantes das CIPAs, o papel da CIPA e as ações Para não ficar apenas na crítica empírica,
que elas devem ter para cumprir esse papel. baseado na minha experiência pessoa!, atre-
Num total de vinte e oito CIPAs e mais de seis- vo-me a uma sugestão objetiva de modelo pre-
centos membros, foi unânime a colocação de vencionista.
que o papel da CIPA deve ser educativo e pre- O esquema apresentado na página se-
ventivo, antecipando-se ao acontecimento e à guinte indica os papéis que devem ser desem-
análise de acidentes. penhados pela gerência, pela CIPA e pelo
Isso não é novidade, é para isso que a SEST.
CIPA existe, mas seria muito importante que Para a implantação de um programa de
empresários, sindicatos e empregados adqui- segurança do trabalho, a empresa deve definir
rissem consciência desse papel, o que, sem claramente os seus compromissos e o que de-
dúvida, traria ganhos para todas as partes. seja dos seus empregados, a fim de que o
trabalhador se sinta envolvido e motivado para
a prevenção. Inicialmente, a empresa deve
62 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho 63

GERÊNCIA/ ASSESSORIA SEST


CHEFIA '
1) Considera fundamental propiciar todas as
NORMALIZA-
ÇÃO/ORIENTAÇÃO ORIENTAR, condições de conforto e segurança do tra-
ADMINISTRAR NORMALIZAR, balho aos empregados.
A SEGURANÇA APOIO/INFORMA- EDUCAR PARA 2) Nenhum trabalho deverá ser executado
DO TRABALHO ÇÃO SEGURANÇA DO
antes que tenham sido tomadas as medi-
TRABALHO
das de segurança.
3) A função "segurança do trabalho" é urna
atribuição gerencial de todos os cargos de
.0
,0 chefia/gerência.
4) Cabe ao Serviço de Segurança do Traba-
CIPA lho estabelecer as normas e procedimen-
tos específicos de segurança de cada tra-
FISCALIZACÁO/DENÚNCIA (EMPRESA) balho executado na empresa.
EDUCAÇÃO/MOTIVAÇÃO (EMPREGADOS)
5) Nenhum novo equipamento, material ou
procedimento poderá ser colocado em uso
na empresa sem que o Serviço de Segu-
rança do Trabalho tenha liberado sua uti-
estabelecer as políticas que definem o compro- lização.
misso que efetivamente deseja assumir com Em seguida, a empresa precisa estabele-
seus empregados em relação à segurança do cer as metas, ou seja, os resultados a serem
trabalho. alcançados dentro de determinados prazos. O
A título de exemplo, enunciamos algumas estabelecimento de metas é sempre um assun-
linhas básicas que podem ser adotadas como to polémico. Normalmente é adotado como ob-
políticas: jetivo permanente de segurança do trabalho o
A empresa faz saber a todos os seus em- índice zero de acidente, ou seja, o objetivo é
pregados que: não haver acidente. Entretanto, esse é um ob-
Ely Moraes Disso O que é Segurança do Trabalho

jetivo quase utópico, só sendo logrado em pe-


ríodos relativamente curtos ^de tempo. Logo,
torna-se também frustrante. É, então, mais pro-
dutivo para a empresa e gratificante para as
pessoas estabelecer metas quantitativas de
acidentes do trabalho que possam ser reduzi-
das sucessivamente a cada período.
Finalmente, em função dessas metas, a
empresa estabelecerá seus planos de trabalho
com envolvimento de cada área, acompanhan-
do os resultados e tendo as metas como refe-
rência. Além disso, é preciso considerar que
muitas outras áreas na empresa influem dire-
tamente na segurança dos trabalhadores: as
engenharias de normas e padrões, de projetos,
de materiais, de processo, de controle de qua-
lidade, de manutenção, o treinamento e o ser-
viço de Medicina do Trabalho, assistência so-
cial etc.
O SEST deve realizar um trabalho de apro-
ximação em relação a todas essas áreas, pro-
curando garantir assim que as normas, pa-
drões, projetos, instalações, máquinas, equi-
pamentos, materiais, processos e métodos de
treinamento incorporem, desde a sua concep-
ção, os requisitos de segurança. Dessa forma,
66 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho

podem ser evitadas as adaptações e a dupli- As empresas geralmente dispõem tam-


cidade de documentos normativos (técnicos e bém de um serviço de Medicina do Trabalho.
de segurança) para cada trabalho, isso é muito Assim como o SEST, o serviço de medicina
importante, não só pelo aspecto prático, mas tem por objetivo garantir condições de vida e
porque, se houver dois documentos, o traba- saúde para o trabalhador. A diferença aparece
lhador provavelmente será cobrado só quanto na forma de agir: a medicina busca a manu-
ao aspecto técnico. tenção da saúde, e a segurança, a preservação
A prevenção de acidentes será um suces- da integridade.
so se o "homem da normalização" considerar Por essas razões, os dois serviços devem
que a norma/padrão será usada por alguém na atuar de forma conjunta ou, ao menos, conca-
tenada, o que permitirá estabelecer muitas re-
elaboração de projetos; se quem projeta lem-
lações de causa e efeito entre condições de
brar que o projeto será usado na construção;
saúde do homem e condições de trabalho, que
se quem constrói estiver atento ao fato de que propiciarão melhores condições de vida ao tra-
alguém deverá operar o equipamento e fazer balhador.
sua manutenção.
A melhor maneira de garantir que isso
aconteça é fazer um trabalho conjunto, ouvin-
do-se as sugestões dos trabalhadores de forma
a possibilitar que a norma incorpore os proce-
dimentos já consagrados pela prática. Ao soli-
citar sugestões ao próprio trabalhador, é pos-
sível incorporar aos procedimentos normaliza-
dos os macetes que ele descobriu na prática
do dia-a-dia, além de obter maior envolvimento
e, conseqúentemente, motivação do trabalha-
dor para cumprir o que for estabelecido.
O que é Segurança do Trabalho

A ideia de importar máquinas, equipamen-


tos e procedimentos firmou-se no costume e
se mantém até hoje, fazendo com que nosso
trabalhador tenha de enfrentar equipamentos
e processos de produção que não levam em
conta seu biótipo, isto é, sua altura, peso, ta-
manho de pernas, braços, mãos etc. Você, cer-
tamente, pode imaginar as dificuldades de um
SEGURANÇA DO TRABALHO operário de 1,60m de altura trabalhando nurn
NO BRASIL equipamento construído para um alemão de
1,85m. Por exemplo: ao visitar uma grande fun-
dição, vi um certo acúmulo de areia diante de
No Brasil, a industrialização começou no um forno. Perguntei se era ali que as peças
início deste século, mas a nossa revolução in- eram retiradas dos moldes de areia. O gerente
dustrial ocorreu a partir da década de 1940, que me acompanhava informou que não, que
com a criação da Companhia Siderúrgica Na- aquela areia tinha sido depositada ali pelos tra-
cional e, depois, com a indústria automobilística balhadores, pois de outra forma não poderiam
(anos 50). Nossas primeiras indústrias foram alcançar as peças e a porta do forno.
instaladas nas mesmas condições precárias O Brasil, no final dos anos 60 e início dos
que citei anteriormente e ainda com uma agra- anos 70, era considerado "campeão mundial
vante: as máquinas que instalamos eram equi- de acidentes do trabalho". Aliás, é bom que se
pamentos desgastados e obsoletos que, suca- diga, hoje nossos índices de acidentes não são
teadas ou substituídas pelos europeus e nor- muito menores, mas o assunto foi esquecido.
te-americanos por outras mais produtivas e me- Então, visando a diminuir o número de aciden-
nos perigosas, foram compradas e importadas tes, foram instituídos por lei e tornados obriga-
pelas indústrias que aqui se instalaram. tórios nas empresas os Serviços Especializa-
70 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho

dos em Segurança e Medicina do Trabalho — do serviço especializado, tido como desperdí-


SESMT—, integrados por médicos do trabalho, cio de dinheiro.
enfermeiros do trabalho, auxiliares de enferma- É muito comum empresas contratarem en-
gem do trabalho, engenheiros de segurança genheiros e técnicos em segurança do trabalho
do trabalho e técnicos em segurança do tra- apenas para cumprir a lei, atribuindo-lhes, no
balho. A lei, em função do grau de risco de entanto, as mais variadas funções como, por
acidentes e do número de empregados de cada exemplo, manutenção, segurança patrimonial,
empresa, determina quais e quantos desses serviços gerais etc. Diante de um mercado de
profissionais terá o SESMT de cada empresa. trabalho selvagem, os profissionais submetem-
A lei previu, ainda, a formação desses pro- se ao esquema, ignorando, na maioria das ve-
fissionais em caráter de urgência. Então, pro- zes, estarem sujeitos a processos criminais em
fissionais com formação plena nas respectivas casos de acidentes do trabalho.
áreas faziam a complementação específica em Igualmente frequente, a existência de CI-
cursos de especialização ministrados pelas PAs fantasmas, que só existem no papel, para
escolas de nível técnico e universidades, em "cumprir a lei". Essa situação ocorre porque
convénio com a Fundacentro — Fundação Jor- geralmente a administração da empresa vê a
ge Duprat de Figueiredo de Segurança e Me- CIPA como um incómodo colegiado que só
dicina do Trabalho. Vale registrar que a atuação causa gastos, perda de tempo e diminui a pro-
da Fundacentro permitiu bom progresso técni- dução. De seu lado, os empregados também
co na área da segurança do trabalho. não reclamam a existência da CIPA, pois a
Além da constituição dos SESMT, a legis- vêem como um órgão punitivo e manipulador
lação regulamentou a existência das CIPAs e de acordo com os interesses da empresa.
uma série de outras obrigações em termos de No início dos anos 80, alguns sindicatos
prevenção de acidentes. A obrigatoriedade le- de trabalhadores, principalmente dos metalúr-
gal acabou acentuando a visão negativa que gicos e químicos, perceberam que poderiam
o empresário tem da segurança do trabalho e utilizar as CIPAs para alavancar algumas de
72 Ely Moraes Bisso O que é Segurança do Trabalho

suas reivindicações relativas às condições de Em 1978, o Ministério do Trabalho editou


trabalho. Começaram, então, a estimular os um conjunto de normas legais abrangendo qua-
empregados a se candidatarem às CIPAs e se todos os aspectos da segurança e medicina
também a tentar eleger os delegados sindicais do trabalho. O acatamento desse conjunto de
como representantes dos empregados nas CI- leis pelas empresas tornaria o Brasil um dos
PAs. campeões mundiais de prevencionismo, mas,
Essa iniciativa foi prontamente combatida infelizmente, mais uma vez, a lei ficou quase
que totalmente ignorada,
pelos patrões, que solicitaram que as chefias
indicassem candidatos e forçassem sua elei- Em consequência, acabamos observando
ção; mesmo assim, os sindicatos obtiveram êxi- total desrespeito aos trabalhadores, o que pode
to parcial na ação. Isso tornou algumas CIPAs ser ilustrado pelos exemplos;
muito mais atuantes e coerentes com o objetivo — Certa feita, ouvi o seguinte diálogo entre
de sua existência. Para os patrões, porém, elas um mestre de obras e um engenheiro: -
se tornaram incómodos maiores, pois os sin- Doutor, mas e se cair um pedreiro na bar-
dicatos começaram a utilizar as CIPAs para a ragem durante a concretagem? — Ora,
mobilização dos trabalhadores. mestre, continue concretando, não vai per-
der o concreto. Peão é para consumo da
A organização sindicai também criou o seu
obra.
órgão técnico na área de segurança e saúde,
o DIESAT Departamento íntersindical de — Os "surfistas" da Centra! do Brasil: traba-
Estudos e Pesquisas de Saúde e dos Ambien- lhadores que vão para o trabalho viajando
tes de Trabalho - -, que tem procurado fazer pendurados no teto ou nas janelas e portas
avançar a técnica e também a divulgação de dos trens.
informações e educação aos trabalhadores. In- Os operadores das "máquinas periquito",
felizmente, suas dificuldades de recursos são usadas na extração das fibras de rami, per-
grandes e ainda muito poucos os sindicatos dem seus dedos, mãos e braços nessas
associados. operações. Pela primeira vez essas rná-
74 Ely Moraes BLsso O que é Segurança do Trabalho

quinas foram denunciadas em 1978 e foi mente preocupar-se em despertar a consciên-


um escândalo nacional. Muito se falou e cia dos trabalhadores para essa luta. Existe a
nada se fez. Na campanha eleitoral de necessidade de que o trabalhador exija sua
1989, para presidente da república, essas segurança, em respeito a sua vida, aos seus
máquinas voltaram a ser denunciadas. familiares, aos colegas e à própria sociedade.
Os casos do "pó da china" no Rio de Ja-
neiro, do césio 137 em Goiânia, das bata-
tas envenenadas por mercúrio no interior
de São Paulo e tantos outros.
O trabalhador brasileiro não tem ainda
consciência do seu direito à segurança do tra-
balho. Nosso trabalhador ainda luta peia mera
sobrevivência, que para eSe significa produzir
o suficiente para sustentar a si e a sua família,
arriscando a vida no trabalho, se necessário.
Na sua teoria de motivação, Abraham
Maslow afirmou que o homem só busca segu-
rança quando suas necessidades básicas ou
fisiológicas já estão razoavelmente satisfeitas.
Isso talvez possa explicar por que, mesmo nas
pautas de reivindicações das negociações co-
íetivas, não aparecem, em gera!, itens relativos
à segurança do trabalho e à saúde do traba-
lhador em geral.
Esse talvez seja nosso grande desafio. Os
sindicatos de trabalhadores precisam efetiva-
O que é Segurança do Trabalho

profissional unicamente de atividades per-


tinentes à prevenção de acidentes.
As CIPAs e seus componentes devem real-
mente desempenhar o papel de comité de
cooperação com a administração na preven-
ção de acidentes, em vez de continuar sim-
plesmente analisando responsabilidades
dos acidentes de trabalho ocorridos.
OBSERVAÇÕES FINAIS Todas as atividades da empresa devem
ser pensadas em relação ao processo e
ao produto e não somente em relação à
Acredito firmemente, caro leitor, que tere- produção e ao lucro.
mos um país melhor se todos se conscientiza- O homem não pode continuar a ser visto
rem de que: como simples recurso de produção. É pre-
ciso dar ao trabalhador a oportunidade de
A segurança do trabalho, em cada empre- contribuir na formulação do seu trabalho,
sa, precisa ser realmente praticada como tendo em vista não só a sua segurança
função administrativa de responsabilidade mas também a sua realização como pro-
da gerência e chefia de cada área. fissional e como pessoa.
Os Serviços Especializados em Seguran- Os sindicatos de trabalhadores devem
ça do Trabalho devem assumir sua função preocupar-se em despertar a consciência
de apoio e atuar preventivamente como dos trabalhadores para o seu direito à vida,
órgãos normativos, orientadores e educa- com qualidade.
dores. O trabalhador precisa sentir efetivamente
— Aos profissionais especializados (enge- que a segurança do trabalho é seu direito
nheiro ou técnico) cabe o desempenho inalienável.
Ely Moraes Bisso
N
•Quando isso acontecer, ocorrerão grandes
mudanças nas instalações industriais, nos am-
bientes e nos processos de produção em gerai.
O empregado saberá exigir e a empresa lhe
dará condições sequras e confortáveis de tra-
3 C?

balho.
O esquema abaixo ilustra a nossa visão
do sistema de trabalho com segurança:
SUGESTÕES DE LEITURA
CONDICOE
EMPRESÁRIO SEGURAS DE
PROGRESSISTA TRABALHO
Para o leitor que pretenda aprofundar-se nos aspectos técnicos
da prevenção, recomendo consultar as apostilas dos cursos de forma-
ção de Técnico e Engenheiro de Segurança do Trabalho, da Funda-
centro; o Manual de Supervisor de Segurança do Trabalho, da Asso-
SINDICATOS ciação Brasileira para Prevenção de Acidentes — ABPA; Norma Bra-
GERÊNCIA
NTERESSADOS sileira — Cadastro de Acidentes da ABNT; e Técnicas de Segurança
ENVOLVIDA
do Trabalho, de Leonídio Francisco Ribeiro Filho.
Se você quer saber um pouco mais sobre a organização e as
SEGURANÇA
condições de trabalho, poderá ier: A Loucura do Trabalho, de Chrisío-
NO
TRABALHO phe Depurs, Editora Oboré; A Saúde nas Fábricas, de Giovanni
Beriinger; História da Riqueza do Homem, de Leo Hubermann; e
SEST Cabeça de Turco, de Gunter Waiíraff, Editora Giobo.
SUPERVISÃO
COMPETENTE
PREPARADA

Caro leitor:
As opiniões expressas nesíe livro são as do autor,
TRABALHADOR CIPA podem não ser as suas. Caso você ache que vaie a
HABILITADO
E MOTIVADO
ATUANTE pena escrever um outro livro sobre o mesmo tema,
nós estamos dispostos a estudar sua publicação
com o mesmo título como "segunda visão".

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