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Bruno Galindo*
“A questão que eu desejo enfocar neste livro é a seguinte: pode uma consti-
tuição moderna reconhecer e acomodar a diversidade cultural?”
(Tully: 1995, p. 1).1
* Professor Adjunto da Universidade Federal da Paraíba/UFPB (Graduação, Especialização e Mestrado). Professor Visitante
das Universidades Federais do Rio Grande do Norte/UFRN e de Pernambuco/UFPE e da Associação Caruaruense de Ensino
Superior/ASCES. Doutor em Direito Público pela Universidade Federal de Pernambuco-UFPE/Universidade de Coimbra/Por-
tugal. Advogado.
da cultura como produção das sociedades bida como formação humana direcionada a
humanas, embora esta produção, em últi- um fim. Para Heller o homem, ao cultivar
ma análise, consista na ação dos homens a terra, construir casas, criar obras de arte
sobre a natureza. Todavia, são as relações ou formar-se a si mesmo e aos demais (de
intersubjetivas, e não as relações homem- modo consciente ou inconsciente), é porta-
natureza, que fazem com que ocorra a pro- dor de cultura, possui e cria cultura. A se-
dução cultural de tradições, valores, ide- gunda é aquela em que aparecem reunidas,
ais, costumes e normas de conduta social, como patrimônio cultural ou espírito obje-
dentre as quais o direito se afigura como a tivo, todas as formações humanas emana-
mais relevante para que sejam possíveis as das da conexão de suas vivências, sendo
aludidas relações intersubjetivas em uma indiferente que se tenham projetado fora
sociedade “civilizada”.2 da psique, inserindo-se ou não na natureza
A diferenciação ocorrida com a (Heller: 1998. p. 63-64).
contraposição cultura/natureza a partir da Este último sentido, o de cultura
Ilustração faz surgir a divisão dualista da “objetiva”, parece-nos mais adequado de
ciência com a distinção entre as ciências trabalhar na perspectiva do significado
culturais e as ciências naturais. As primei- contemporâneo mais importante. Como
ras investigam a produção humana na vida afirmamos anteriormente, somente as rela-
em sociedade, ao passo que as segundas se ções entre seres humanos podem produzir
voltam para a investigação dos fenômenos tradições, crenças, costumes e normas, ou
da natureza. Não queremos dizer com isso seja, cultura no sentido objetivo helleriano.
que as ciências da cultura estejam comple- A natureza participa apenas indiretamente
tamente dissociadas da natureza; em verda- neste contexto, sendo privilegiadas para
de, continuam a estas associadas, mas com análise as relações interhumanas. Como o
uma diferenciação teleológica fundamen- sentido subjetivo ainda se refere à idéia de
tal: as ciências da cultura investigam as cultura ligada à relação homem-natureza,
transformações da natureza como expres- neste trabalho utilizaremos o sentido obje-
são e resultado da atividade humana dirigi- tivo de cultura, aliado aos níveis de con-
da a uma finalidade, enquanto nos fenôme- templação da cultura, propostos por Kroe-
nos naturais propriamente ditos, estudados ber e Kluckhohn.
pelas ciências naturais, não ocorre esse Definida a idéia de cultura que per-
telos, independendo, portanto, da vontade meia este ensaio, tratemos de outras defi-
humana (cf. Heller: 1998, p. 59ss.). Daí a nições igualmente importantes. Está em
afirmação de Miguel Reale de que nature- evidência o debate acadêmico sobre o de-
za e cultura seriam intrinsecamente diver- nominado multiculturalismo, notadamen-
sas, sobretudo pelo fato de que o mundo da te nas questões sobre direitos humanos e
natureza não comporta inovações próprias, direitos fundamentais. Torna-se necessário
ao passo que a possibilidade de se estabe- incluirmos aqui uma definição que possa
lecer algo novo é característico do mundo diferenciá-lo em relação ao que chamamos
cultural (Reale: 2000, p. 295).3 de interculturalismo.
O conceito de cultura defendido por Principiando pela etimologia, quan-
Heller (“inserção de fins humanos na natu- do fazemos referência a multiculturalismo
reza”) implica na compreensão da cultura e interculturalismo, temos a agregação de
em dois sentidos: como cultura “subjetiva” dois prefixos e um sufixo ao vocábulo cul-
e como cultura “objetiva”. A primeira delas tural, que, por sua vez, é adjetivo derivado
consiste na porção do mundo físico conce- do substantivo “cultura”. O sufixo “ismo”,
comum às duas palavras, provém do grego não somente mereçam respeito (como na
ismós, sendo designativo de crença, escola, perspectiva pluralista), mas um mesmo
sistema, conformação ou origem. O prefi- respeito, pela razão de que para o multi-
xo “multi” tem origem no latim multu, e culturalismo todas as culturas teriam igual
exprime a idéia de muito, de muitas vezes. valor. Tal isonomia axiológica é criticada
Por último, o prefixo “inter”, também de veementemente por Sartori, para quem se
origem latina, denota posição intermédia. é atribuído igual valor a todas as culturas,
Considerando a conexão sintática e isso equivale a um relativismo absoluto
a dimensão semântica dos termos envol- que destrói a noção mesma de valor (“se
vidos e tendo em vista o aspecto léxico, tudo vale, nada vale”) (Miguel: 2001, p. 7;
poderíamos afirmar que multiculturalismo Wrong: 1997, passim).
seria um sistema de compreensão da exis- A referida isonomia axiológica faz
tência de uma multiplicidade de culturas, com que o multiculturalismo possa incor-
ao passo que o interculturalismo denotaria rer no perigo de propiciar a sua própria
a idéia de um sistema entrelaçador de cul- destruição. Ao igualar, por exemplo, uma
turas, estabelecendo necessários influxos cultura fundamentalista a uma cultura plu-
entre elas. ralista e democrática, pode-se permitir a
O termo mais utilizado para designar supressão desta última pela primeira, no
o debate em torno da diversidade cultural que parece correta a crítica de Sartori ao
é multiculturalismo. Sob a bandeira do multiculturalismo (ao menos se entendido
multiculturalismo, erigem-se muitos mo- dessa maneira). O multiculturalismo pode-
vimentos emancipatórios de defesa dos di- ria ser, portanto, autofágico.4
reitos humanos, de defesa da preservação Entretanto, a crítica exarada ao mul-
da diversidade cultural contra a supressão ticulturalismo não pode, como advertem
das identidades culturais pela globaliza- Höffe, Davutoglu e Bidart Campos, resul-
ção e por outros fenômenos (movimentos tar em um universalismo cultural, no sen-
de preservação de tradições, movimentos tido de que uma concepção cultural, por
de preservação das culturas indígenas), ser considerada axiologicamente superior,
de inclusividade social não incorporativa deva ser unilateralmente imposta a popu-
(acesso à cidadania libertária sem destrui- lações com tradições culturais distintas,
ção da cultura diversa – caso da população na medida que um projeto emancipatório
muçulmana na União Européia) etc. (Ea- de diálogo permanente entre culturas di-
gleton: 2001, passim; Habermas: 2002, p. ferentes precisa estar assentado na idéia
107-136; Julios-Campuzano: 2002, p. 18- cosmopolita que denominamos aqui de
21; Santos: 2002, p. 51-55; Boneu: 2002, interculturalismo (cf. Höffe: 2000, p.172;
p. 198-199). Davutoglu: 2004, p. 103; Campos: 2004,
A partir da utilização corrente da p. 331-333).
referida palavra, há uma tendência a com- Interculturalismo significa, mais do
preender o seu significado de duas formas: que a idéia de posição intermédia, a impos-
por um lado, como um fato, uma expressão sibilidade da exclusão cultural, protegendo
que registra a existência de uma multipli- o diálogo entre culturas, somente possível
cidade de culturas; por outro, como um em uma perspectiva aberta e includente. A
valor, implicando uma política de reconhe- nossa preferência por utilizar a expressão
cimento das diversas culturas. Este reco- interculturalismo em vez de multicultura-
nhecimento resultaria, para alguns autores, lismo está fundamentada precisamente na
em uma exigência de que todas as culturas defesa desse diálogo intercultural. Este, a
tudos específicos, o abade francês articula que remontam à histórica resistência ao ab-
mais efetivamente esboços teóricos especi- solutismo, consubstanciada na doutrina da
ficamente constitucionais, particularmente supremacia/soberania do Parlamento, além
criando uma teoria do poder constituinte e da presença de diferenciações teóricas im-
trabalhando as idéias de representação po- portantes para a compreensão do constitu-
lítica e de organização de um controle de cionalismo do Reino Unido, como a distin-
constitucionalidade das leis (Sieyès: 1997, ção entre direito da constituição (law of the
passim; Fayt: 1995, p. 47ss.; Baracho: constitution) e convenções constitucionais
1979, p. 17). (constitutional conventions) (Dicey: 1982,
No trabalho de Sieyès, também se p. cxl; passim; García-Pelayo: 1999, p.
percebe os influxos interculturais. Na me- 309-310; Galindo: 2003b, p. 308-310).13
dida da afirmação social dos valores pro- Registre-se que a Constituição britâni-
palados pela célebre revolução, o pensador ca por si só já é profundamente cultural,
francês constrói uma teoria fundamentada sendo muito mais consolidação de tradi-
nos mesmos, ou seja, influenciada pelos ções culturais multisseculares do que obra
valores da cultura iluminista presentes no de legisladores supostamente racionais, o
constitucionalismo de então. Por outro que faz com que a teoria da constituição,
lado, suas idéias influenciam o desdobra- no Reino Unido, também seja igualmente
mento posterior da teoria do poder cons- peculiar e demasiado específica para se
tituinte e, em menor gradação, das demais tornar universalizável.
teorias aludidas. Em relação aos EUA, também se
Entretanto, em termos concretos, so- constrói uma teoria nacional da consti-
mente no final do século XIX é que temos tuição. A originalidade norte-americana
os primeiros esboços de sistematização da se dá em muitos aspectos: antes de tudo,
teoria da constituição, assim mesmo ainda nas idéias expostas no “Federalista”, base
diluídos em teorias do Estado e do direito, da Carta de 1787, e na jurisprudência da
ou ainda, em teorias nacionais da constitui- Suprema Corte, principalmente no famoso
ção. Vejamos. caso Marbury v. Madison (1803), no qual o
Em relação a teorias nacionais da Chief Justice Marshall formula o princípio
constituição, merece referência o constitu- do controle judicial da constitucionalidade
cionalismo anglo-americano. No caso bri- das leis (conhecido como judicial review),
tânico, o exemplo mais conhecido é a obra opondo à idéia britânica de supremacia do
paradigmática do direito constitucional do Parlamento a idéia de supremacia da cons-
Reino Unido, de autoria de Albert Dicey e tituição, cujo defensor terminaria por ser a
intitulada “Introdução ao Estudo do Direito Suprema Corte (Hamilton, Madison & Jay:
da Constituição” (Introduction to the Study 2003, passim; Tocqueville: 1998, p. 170ss.;
of the Law of the Constitution), cuja pri- Saldanha: 2000, p. 65-66; Streck: 2002, p.
meira edição data de 1885. Nestes escritos, 261-272; Vieira: 2002, p. 63-66; Cooley:
o famoso constitucionalista inglês traça as 2002, p. 34-35). Apesar de ainda vincu-
linhas mestras de uma teoria da constitui- lado ao sistema jurídico do common law,
ção britânica, notadamente com a consoli- o direito constitucional norte-americano
dação teórica de uma cultura constitucio- se desenvolve de modo diverso e é cons-
nal muito peculiar, na qual se inclui desde truída uma cultura constitucional própria,
o tratamento dado aos direitos e garantias que tem em Thomas Cooley o seu primei-
individuais expressos nas diversas declara- ro sistematizador a partir de obra publica-
ções de direitos até as regras institucionais da pela primeira vez em 1880 e intitulada
Pelo seu rigor metodológico e pela Estado, incluindo nesta a discussão acer-
explícita proposta de depurar do direito ca da constituição. Porém, ao contrário do
todos os elementos que lhes sejam es- que ocorre na teoria de Kelsen, os pressu-
tranhos, o Mestre de Viena constrói uma postos sócio-políticos se afiguram como
teoria aparentemente dissociada de fato- fundamentais na teoria helleriana, sendo
res histórico-sociológicos momentâneos, explícita nesta a referência cultural. Hel-
chegando a uma doutrina quase matemati- ler, ao propor a síntese dialética do ser e do
zante do direito, ou o que Leibholz afirma, dever ser, da normalidade e da normativi-
uma “geometria do fenômeno jurídico”. A dade, é profundamente influenciado pelos
perspectiva lógico-formal do direito e da acontecimentos culturais das décadas de
constituição de Kelsen faz com que sua te- 20 e 30 do século passado, o que o leva,
oria seja suficientemente abstrata para que como vimos, a criticar veementemente
se coloque como “pura”, estando ausentes tanto a visão kelseniana, como a perspecti-
dela todos os elementos metajurídicos, e va schmittiana (Heller: 1998, p. 23).
dentre estes poderia ser incluído o elemen- Schmitt e Smend, em posições teóri-
to cultural. cas distintas, são os autores que escrevem
Todavia, as teorias kelsenianas do as primeiras grandes obras especificamen-
Estado, do direito e da constituição tam- te voltadas à análise da constituição no am-
bém são teorias culturais. Todo o pensa- biente germânico.
mento positivista de Kelsen está permeado Diametralmente oposta à idéia de
pela cultura racionalista do ocidente. Não Kelsen, a proposta teórica schmittiana é
se pode olvidar que Kelsen é um neokan- profundamente cultural e contemporânea
tiano e que sua linha doutrinária positivista da época em que é redigida e publicada.
é um desdobramento da tradição raciona- Schmitt inova substancialmente ao pro-
lista cartesiana, com a crença iluminista por uma teoria da constituição de maneira
na razão e a secularização de elementos autônoma em relação à teoria do Estado,
culturais judaico-cristãos (Verdú: 1990, p. rompendo com a tradição presente em
18ss.). autores como Jellinek, Kelsen e Heller.
Por si sós, as características aponta- A Verfassungslehre schmittiana consegue
das demonstram que a teoria kelseniana é estabelecer uma notável sistematização
evidentemente uma teoria cultural. Contu- epistemológica da constituição. Mas, mais
do, dá-se com ela um fenômeno curioso. do que isso, Schmitt desenvolve uma con-
Como afirma Verdú, passando pelo “quie- cepção de constituição que fica conheci-
tismo” político do período imperial e pela da como decisionista. Esta, notadamente
efervescência político-social weimariana, marcada pelo aspecto político-existencial
a teoria pura e toda a sua parafernália não em detrimento do normativo, é produto
se coadunam com a cultura do referido pe- de uma espécie de contracultura consti-
ríodo (Verdú: 1989b, p. 44). Ao contrário tucional, na medida em que Schmitt se
das demais, temos em Kelsen uma teoria coloca como profundo crítico da cultura
cultural, mas ao mesmo tempo uma teoria política demoliberal. A contracultura cons-
distante dos eventos culturalmente impor- titucional que Schmitt intenta construir é
tantes do ambiente político-jurídico do seu produzida a partir de uma cultura política
tempo. insurgente das crises da República de Wei-
Heller também utiliza a mesma me- mar, crises do modelo político demolibe-
todologia de Jellinek e Kelsen no que diz ral, crescentemente rejeitado na época em
respeito à acuidade para com a teoria do que paulatinamente regimes autocráticos
exortações morais realizáveis ao alvedrio Campos. Buenos Aires: Ediar, p. 345-362. BO-
do legislador (e por que não dizer, dos de- NAVIDES, Paulo (1998): Reflexões: Política e
mais poderes também) (Canotilho: 1994, Direito. São Paulo: Malheiros, 3a. ed.
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tantes e próximas resultam na elaboração Coimbra: Quarteto, p. 195-210.
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2002, passim). CAMPOS, German J. Bidart (2004). La Consti-
Como se vê, todas as teorias da cons- tución Que Dura 1853-2003, 1994-2004. ����Bue-
tituição que tomamos aqui como referen- nos Aires: Ediar.
CANOTILHO, José Joaquim Gomes (2002).
ciais são teorias culturais, não só no senti-
Direito Constitucional e Teoria da Constitui-
do de que partem de pressupostos culturais ção. Coimbra: Almedina, 6a. ed.
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lética de influxos recíprocos entre as teo- ____________ (1998). El Derecho Constitu-
rias e as práticas constitucionais. Mas isso cional como un Compromiso Permanentemente
requer um outro ensaio reflexivo. Por ora, Renovado (Entrevista a Eloy García), in: Anua-
rio de Derecho Constitucional y Parlamenta-
ficamos por aqui.
rio, no. 10. Murcia: Asamblea Regional/Uni-
versidad, p. 7-61.
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Hipótesis Cultural, Comparada con la Tesis de do lato, como a totalidade dos objetos, desde os
Paul Schrecker sobre “la Estructura de la Civi- “físicos” até os “ideais”), há uma espécie de re-
lización”, in: Revista de Estudios Políticos, no. alidade que não comporta inovações (é o mundo
66. Madrid: Centro de Estudios Constituciona- da natureza) enquanto outra há que se singulari-
les, p. 7-65. za pela possibilidade de nela se instaurar algo
________ (1990). El Orden Normativista Puro novo, e é o mundo da cultura. (...) No fundo, a
(Supuestos Culturales y Políticos en la Obra de natureza, por mais que contínua e indefinidamen-
Hans Kelsen), in: Revista de Estudios Políticos, te se transforme, sempre se repete, no sentido de
no. 68. Madrid: Centro de Estudios Constitu- que toda transformação se subordina às suas leis
cionales, p. 7-93. imanentes, ainda que, em certos casos, opere o
_______ (1993a). La Constitución Abierta y “princípio de indeterminação” de Heisenberg.
sus “Enemigos”. Madrid: Universidad Com- Já no plano cultural, acrescenta-se algo à natu-
plutense/Beramar. reza com sistemática inserção do valor alterando
VIEIRA, Oscar Vilhena (2002). Supremo Tri- o sentido dos eventos. Daí poder-se dizer que a
bunal Federal – Jurisprudência Política. São natureza não foge à sua imanente programação,
Paulo: Malheiros, 2a. ed. admitida como um pressuposto de sua cognosci-
VILANOVA, Lourival (2003): Escritos Ju- bilidade positiva. O pressuposto da cognoscibili-
rídicos e Filosóficos, vol. 1. São Paulo: Axis dade da cultura é, ao contrário, o poder de ino-
Mundi/IBET. vação sintetizante e simbolizante (nomotético)
WEILL, Rivka (2003). Dicey was not Diceyan, do espírito” (Reale: 2000, p. 295-296 – grifos do
in: Cambridge Law Journal, no. 62 (2). Cam- autor; cf. tb. Vilanova: 2003b, p. 282ss.).
bridge: University Press, p. 474-494. 4
Marcela Basterra ainda adverte para as cul-
WINETROBE, Barry K. (2004). Scottish De- turas de intolerância, como, por exemplo, os
volution: Aspirations and Reality in Multi-layer segmentos do islamismo que queiram realizar
Governance, in: The Changing Constitution. a extirpação do clitóris feminino, assim como a
Oxford: University Press, 5a. ed., p. 173-194. ultradireita francesa e seus discursos xenófobos
WRONG, Dennis H. (1997). Cultural Relativism excludentes do reconhecimento da diversidade
as Ideology, in: Critical Review II, no. 2. New cultural (Basterra: 2003, p. 346-347).
Haven: Critical Review Foundation, p. 291-300. 5
“A definição de intercultura presente em qual-
ZAMAGNI, Stefano (2002). Migrations, Multi- quer dicionário moderno faz realçar logo uma
culturality and Politics of Identity, in: The Eu- idéia fundamental: a ‘de partilha de cultura’,
ropean Union Review, vol. 7, no. 2. �����������
Pavia: Cen-
‘de idéias ou formas de encarar o mundo e os
tro Studi sulle Comunità Europee, p. 7-42.
outros’” (Canotilho: 2002, p. 1411 – grifos do
autor).
NOTAS 6
Com a entrada de dez novos Estados na União
1
No original: “The question I wish to address in Européia em maio de 2004, o problema da di-
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a modern cons- versidade se complexifica, considerando que a
titution recognize and accommodate cultural homogeneidade que propiciou a desintegração
diversity?”. de Estados como o tchecoslovaco, desmembra-
2
Por algum tempo, os conceitos de cultura e do em Eslováquia e República Tcheca, volta
civilização aproximaram-se, notadamente no a ser diluída na diversidade européia oriental,
iluminismo francês, diferentemente do que visto que mesmo Estados etnicamente mais ho-
ocorre com a idéia de civilização contraposta mogêneos, como Hungria e Polônia, precisam
à de barbárie. Sobre este debate, cf. Eagleton: trabalhar interculturalmente as suas dificulda-
2001, p. 22-23. des de adaptação à realidade heterogênea do
3
Nas palavras do Mestre da USP: “A distinção ente supraestatal do qual participarão (cf. Bas-
entre natureza e cultura tem, penso eu, outra ra- ta: 2000, p. 51ss.; Serrano: 1999, passim; No-
zão e alcance, resultando da verificação, feita no gueras: 1999, passim; Suárez: 2003, passim).
plano ontognoseológico, de que há um domínio 7
É importante observar, todavia, que o federa-
da realidade (tomada essa palavra em seu senti- lismo tem se caracterizado nos EUA e em outros