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DEZEMBRO DE 1986
Componentes do pensamento da CEPAL
Política no Contexto
Política de Política Social, Traba- Política de
das Relações Econômi- Política Agrária
Desenvolvimento lhista e de Rendas Curto Prazo
cas Internacionais
Contribuições Teóricas Fundamentais
b) A teoria da deterio-
ração dos termos de b) Critérios de aloca- b) Integração latino- b) Tributação e reforma
trocas — "versão con- ção de recursos americana agrária
tábil" (1949-1950)
c) A teoria da deterioração
dos termos de trocas — c) Planificação do de-
c) Financiamento externo
"versão ciclos" (1949- senvolvimento
1950)
d) A interpretação do
processo de industriali- d) Papel do Estado d) Assistência técnica
zação (1949-1955)
f) Política anticíclica e
f) Reformulação dos
Teóricas
compensatória da dete-
princípios e métodos b) Política social
rioração da relação de
de planejamento
intercâmbio
DEZEMBRO DE 1986
O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
DEZEMBRO DE 1986
O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
DEZEMBRO DE 1986
O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
pridas intra e entre os distintos setores e população ativa, três elementos entram
atividades que realizam a produção ma- em jogo nessa tendência: a dimensão do
terial, para que se absorva totalmente os setor heterogêneo, a inadequação da tec-
aumentos de população ativa e se elimi- nologia e a acumulação de capital.
ne por completo as ocupações de baixa A influência do primeiro elemento é
produtividade. Note que tal paradigma clara: se o setor atrasado abriga uma ele-
está também estreitamente ligado ao con- vada proporção do total da população
ceito de heterogeneidade. Constitui, em ativa, a taxa a que esta última cresce,
última instância, uma expressão e um de- calculada em relação com o emprego no
senvolvimento deste conceito, pois indi- setor moderno, resultará sumamente ele-
vada11.
11
Se em um ano qualquer a
população ativa cresce 3% em
ca as mudanças que deverão ser introdu-
ambos os setores, distribuin- zidas na estrutura produtiva para que se Com relação à tecnologia, deve-se con-
do-se igualmente entre os
mesmos, sua taxa de aumento possa superar sua heterogeneidade. siderar em separado a inadequação da
com relação ao emprego no
setor m oderno será de 6%.
IV. O modelo que acaba de ser des- densidade de capital e a inadequação da
Se o setor atrasado ocupa qua- crito foi apresentado com base em pres- escala. A primeira, que atua sobre a oferta
tro trabalhadores por cada de emprego, origina-se da disparidade
um que o setor moderno em- supostos que lhe impõem uma simplici
prega, neste primeiro ano, tal dade extrema, a fim de tornar visível e entre a densidade de capital das técnicas
tax a se eleva a 1 5 % . Dad o
o valor da relação produto/ de definir com precisão seu caráter es- avançadas e a que prevalece no setor
capital, o esforço de poupança
requerido para ocupar o in- truturalista. Pode o mesmo ser reformu- atrasado. Quanto maior esta disparidade
cremento de população ativa lado em distintos níveis de complexida- — ou, se se quiser, quanto maior o grau
será duas vezes e meia maior
no segundo caso; assim, por de, sem que se perca seu mencionado de heterogeneidade estrutural —, maior
exemplo, sendo esta relação caráter. Assim, por exemplo, é factível será o desemprego tecnológico (bruto e
de 0,4, a taxa de poupança
requerida aumenta de 15 a reconhecer a existência de distintos tipos líquido) provocado pelas atividades mo-
37,5%. dernas que concorrem com a produção
de atividades atrasadas (como as do "se-
tor informal urbano"), ou mesmo consi- preexistente. A inadequação da escala
derar um número muito maior de ativi- mínima de produção ao tamanho dos
dades modernas. Para uma aproximação mercados periféricos obriga a que se dei-
às análises contidas nos documentos da xe capital ocioso e, conseqüentemente,
CEPAL, podem ser consideradas diversas impactua negativamente a demanda de
emprego12.
12
Para simplificar a apresen- opções tecnológicas, eliminando-se o
tação, supôs-se implicitamente
que a tecnologia está dada. pressuposto segundo, que dispõe de so- A acumulação de capital num setor
Quando se tem em conta os
postulados da CEPAL sobre mente uma técnica eficiente, definida por moderno relativamente exíguo traduz-se
o progresso técnico, tal fato
em nada altera o caráter estru-
uma densidade de capital uniforme em na adoção de técnicas de escala excessiva,
turalista da análise cepalina todo o setor moderno. Ao introduzir causando desperdício parcial desse recur-
da tendência ao desemprego. so. Mesmo quando a propensão a poupar
outras possibilidades técnicas, é necessá-
rio somente estabelecer leis de propor- seja elevada, a acumulação gera um ritmo
cionalidade algo mais complexas, que in- insuficiente de aumento da demanda de
diquem como distribuir os recursos entre emprego, se comparada com o ritmo da
as distintas atividades produtivas, ao lon- expansão da oferta. Isto não se deve
go do tempo, e, além disso, quais técnicas somente a fatores demográficos, depende
utilizar em cada uma dessas atividades. fundamentalmente da dimensão do setor
Em outras palavras, o padrão de trans- heterogêneo, que expulsa os incrementos
formação da estrutura produtiva que as- de sua própria população ativa e, além
segura condições de pleno emprego e disso, do uso de técnicas de elevada den-
produtividade normal deverá conter a so- sidade, que produzem desemprego tecno-
lução do problema da seleção de tecnolo- lógico nesse setor.
gia, conjuntamente com os da alocação Confirma-se, então, que, nas análises
intersetorial e intertemporal de recursos. da CEPAL, a tendência ao desemprego é
V. A tendência ao desemprego se ex- atribuída às desproporções na transfor-
plica por contraste com um padrão de re- mação da estrutura produtiva: basicamen-
ferência como o que acaba de ser esbo- te, entre o crescimento do setor moderno
çado. A explicação consiste em mostrar — tendo em conta as atividades que o
que as regras ou leis de proporcionalida- compõem e as técnicas utilizadas —, o
de estabelecidas por esse modelo não se crescimento demográfico e o ritmo de
cumprem e, conseqüentemente, que o de- expulsão de mão-de-obra do vasto setor
semprego crescente está relacionado com atrasado. Vê-se, ainda, que tais despro-
desproporções que surgem durante a porções não são mais que uma manifes-
transformação da estrutura produtiva pe- tação da heterogeneidade peculiar das
riférica. economias periféricas e da dificuldade de
Dado o crescimento da população e da superá-la.
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O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
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O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
explicação da deterioração. Por um lado, impeça qualquer variação dos preços re-
opera a disparidade de elasticidades e o lativos das exportações periféricas, capaz
desequilíbrio externo que tende a gerar. de proporcionar transferências de renda
Mas, se estes fatores são enfocados sob ao exterior. Este modelo possui implica-
o ângulo da estrutura produtiva, observa- ções no que diz respeito à estrutura do
se que neles se reflete sua especialização, comércio exterior que convém destacar
entendida nos dois sentidos já assinalados: em separado.
o caráter primário do setor exportador, Considere-se tal modelo, em primeiro
com uma lenta expansão de sua lugar, sob a perspectiva da preservação
demanda externa e a baixa diversificação do equilíbrio externo. Para obtê-lo, será
do aparato produtivo destinado a necessário certos ritmos adequados e
satisfazer o mercado interno e o modo compatíveis de expansão das exportações
pelo qual o mesmo vai-se ampliando primárias, de manufaturas e da produção
(mediante uma substituição que se rea- industrial substitutiva, destinada ao mer-
liza do simples ao complexo), gerando cado interno. Este modelo parcial exige
uma crescente demanda de bens impor- certas mudanças na estrutura do comér-
tados. Por outro lado, influem a queda cio: que as exportações se diversifiquem,
do nível de produtividade industrial e a incluindo certas porcentagens de manu-
disponibilidade de mão-de-obra, permi- faturados; as importações, mesmo que
tindo que tal diminuição seja compen- totalmente constituídas de bens indus-
sada com menores salários. Em outras triais, devem mudar de composição, no
palavras, atuam fatores que representam, sentido de incorporar proporcionalmente
de maneira simplificada, as condições de mais bens intermediários e de capital e,
heterogeneidade peculiares da estrutura em conseqüência, proporcionalmente me-
produtiva periférica: a existência de ati- nos bens de consumo. Obviamente, tais
vidades de tecnologia atrasada (expres- mudanças supõem que se produzam trans-
sada pela redução da produtividade in- formações complementares na estrutura
dustrial) e o excesso real ou virtual de do comércio do centro e que, subjacente
população ativa (expressado pela flexibi- às mesmas, se verifiquem as mudanças
lidade de oferta de trabalho subjacente correspondentes em sua estrutura pro-
na contração dos salários). dutiva.
Como se pode notar, a explicação do Além das já assinaladas, existem mu-
fenômeno da deterioração e da diferen- danças adicionais que devem ser efetiva-
ciação de rendas constitui, em última ins- das na estrutura do comércio, de forma
tância, um desenvolvimento analítico dos a se evitar a deterioração na relação de
conceitos de especialização e heteroge- preços e, conseqüentemente, conter a
neidade. As desproporções na estrutura tendência à diferenciação de rendas.
produtiva que servem de base a essa ex- Quanto às exportações primárias, é
plicação implicam que ambas subsistem, necessário que elas cresçam em adequa-
ou melhor, implicam que, mesmo em se ção ao aumento da demanda, de modo
produzindo transformações na economia que a relação de seu preço com o das
periférica, permanece a desigualdade no importações não varie, mantendo cons-
que diz respeito ao grau de diversifica- tante o nível da renda real média (me-
ção e de homogeneidade face à estrutura dido em termos de bens industriais) do
produtiva do centro. Em suma, a men- setor que as produz.
cionada interpretação incorpora e desen- As exportações de manufaturas devem
volve as idéias da concepção originária ser elaboradas por uma indústria eficien-
da CEPAL acerca do caráter desigual do te, capaz de produzir em condições de
desenvolvimento do sistema centro-peri- produtividade e salários constantes; este
feria, no seu duplo sentido: desigual- é um requerimento para que o nível de
dade de estruturas e desigualdade de renda média tampouco varie, seja nos
rendas. ramos que destinam sua produção ao
16
Como os preços relativos e
a produtividade do trabalho
V. Como se observou, o modelo des- mercado interno, seja naqueles que ex-
dos dois subsetores que expor- crito neste item consiste num padrão portam. Implicitamente, os aumentos das
tam se supõem constantes, taci-
tamente se admite que as rela- ideal de transformação da estrutura pro- exportações industriais são compatíveis
ções de troca de fator único dutiva, combinando taxas de crescimento com a constância da relação de seu preço
não se alteram. Como a pro-
dutividade da indústria cên- dos distintos setores e ramos da produ- com o das importações 16.
trica também é dada, as rela- ção, de modo que se atinja o pleno em- As considerações anteriores reafirmam
ções de troca de fator duplo
tampouco variam. Trata-se de prego a níveis normais de produtividade, que, para evitar variações dos preços re-
outras formas de expressar
q ue não se p ro d uz p erd as se mantenha o equilíbrio externo e se lativos das exportações e, conseqüente-
nem diferenciação de rendas.
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O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
A
cam por contraposição a tais paradigmas,
indagando-se quais desproporções as pro-
vocam. s contribuições cepalinas não
Mas, se ao invés de centrar a atenção negam a existência de distintos
nas tendências, que são objeto direto da tipos de situações de atraso, nas
análise, nos preocuparmos em como ex- sociedades de menor desenvol-
plicá-las — com base nas desproporções vimento, nem mesmo os entraves que os
que acompanham a transformação da es- mesmos representam às mudanças nestas
trutura produtiva —, o alcance das con- mesmas sociedades. Contudo, tais contri-
tribuições teóricas da CEPAL aparece em buições não encaram o subdesenvolvi-
primeiro plano. Com efeito, como pode mento como um mero estado de atraso,
ser observado nos itens anteriores, inde- senão como um processo de transforma-
pendentemente da relevância das tendên- ção a longo prazo da estrutura produtiva
cias mencionadas ou mesmo de sua pró- da periferia (condicionado pelo marco
pria existência 17, as características da es- das relações comerciais com o centro). 17
Uma análise mais detalha
da das contribuições cepalinas
trutura produtiva periférica são ordena- Com efeito, as contribuições que inte- permite demonstrar que, estri-
damente apresentadas em torno de tais gram a interpretação da industrialização tamente, suas hipóteses sobre
o caráter desigual do desen-
tendências, oferecendo uma imagem de periférica (sintetizadas nos itens 3 e 4 volvimento não requerem que
sua transformação e das dificuldades que deste trabalho) mostram que a mesma, se postule a deterioração da
relação de troca de mercado-
a acompanham, bem como do condicio- além de apresentar certas tendências e rias mas, tão-somente, a das
relações de troca de fator
namento exercido pelas relações comer- contradições (como o desemprego e o duplo.
ciais mantidas com os centros 18 . desequilíbrio externo), caracteriza-se por 18
De outro ângulo, as contri-
III. A amplitude desta temática e, determinados padrões de transformação buições da CEPAL se referem
a certos aspectos do desenvol-
sobretudo, o modo de analisá-la fazem estrutural: a conformação do setor ma- vimento das forças produtivas
com que o enfoque cepalino do subde- nufatureiro a partir dos ramos tecnologi- nas economias ditas subdesen-
volvidas, onde o capitalismo
senvolvimento difira significativamente camente mais simples e mais próximos e as técnicas que traz consigo
penetraram com atraso ou de
dos que são desenvolvidos por contraste ao mercado de bens de consumo final; a forma desigual e unilateral-
com modelos de crescimento de inspira- falta de complementariedade intersetorial mente. Entre tais aspectos se
destacam: a dotação de meios
ção neoclássica ou pós-keynesiana, ou da produção que acompanha este tipo de de produção por pessoa ocupa-
da, que condiciona a produ-
com variantes muito simples desses. expansão industrial; a baixa taxa de au- tividade do trabalho; a baixís-
Como se sabe, tais modelos estabele- mento das exportações primárias; o lento sima produtividade nos seto-
res atrasados; a diferenciação
cem a taxa de acumulação de capital e crescimento dos setores modernos frente dos níveis de produtividade
de crescimento da renda necessária para às necessidades de absorção de mão-de- frente às economias capitalis-
tas do centro, mesmo nas ati-
preservar o pleno emprego da força de obra impostas pela imensidão dos setores vidades modernas; os desajus-
tes e incongruências que sur-
trabalho e para manter a utilização plena atrasados; o agravamento deste desajuste, gem intra e entre os distintos
da capacidade instalada, virtuais expres- devido à inadequação de tecnologia ori- setores da produção material,
condicionados pelo tipo de
sões do equilíbrio dinâmico do sistema ginada nos centros ou devido à relativa comércio exterior, e a própria
reiteração do atraso frente ao
econômico. Freqüentemente se deixa de rigidez da estrutura agrária periférica centro, dependente em parte
lado os objetivos específicos e os pressu- etc. Ademais, as várias versões da teoria de tais desajustes.
postos de comportamento próprios deste da deterioração dos termos de trocas
tipo de modelo, deles se deduzindo uma (resumidas no item 5), além de exami-
concepção "estilizada" do crescimento, nar o significado e as causas deste fenô-
extremamente simples, que destaca algu- meno, mostram que, com a expansão in-
ma das condições necessárias para expan- dustrial, a heterogeneidade e a especiali-
dir a renda, em particular o aumento da zação da estrutura produtiva periférica
quantidade de fatores produtivos e de se atenuam, sem que se elimine o atraso
sua produtividade. estrutural com relação ao centro e às dife-
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O PENSAMENTO DA CEPAL: SÍNTESE E CRÍTICA
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