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O documento resume os principais pontos do livro "A Invenção do Trabalhismo" sobre a história dos movimentos sociais e sindicais dos trabalhadores no Brasil da República Velha ao Estado Novo. Destaca a importância das ideologias socialistas e anarquistas na organização da classe operária e sua relação conflituosa com o Estado. Explica como os partidos políticos e sindicatos se tornaram arenas de disputa entre diferentes visões sobre a luta dos trabalhadores.
O documento resume os principais pontos do livro "A Invenção do Trabalhismo" sobre a história dos movimentos sociais e sindicais dos trabalhadores no Brasil da República Velha ao Estado Novo. Destaca a importância das ideologias socialistas e anarquistas na organização da classe operária e sua relação conflituosa com o Estado. Explica como os partidos políticos e sindicatos se tornaram arenas de disputa entre diferentes visões sobre a luta dos trabalhadores.
O documento resume os principais pontos do livro "A Invenção do Trabalhismo" sobre a história dos movimentos sociais e sindicais dos trabalhadores no Brasil da República Velha ao Estado Novo. Destaca a importância das ideologias socialistas e anarquistas na organização da classe operária e sua relação conflituosa com o Estado. Explica como os partidos políticos e sindicatos se tornaram arenas de disputa entre diferentes visões sobre a luta dos trabalhadores.
INSTITUTO DE HISTÓRIA PROF. Drª FLÁVIA VERAS DISCIPLINA: TOP. ESP. HISTÓRIA SOCIAL DO TRABALHO
Aluna: Andressa Batista Coelho – DRE: 114022007
Resenha do livro “A Invenção do Trabalhismo” - 3ª edição, FGV, 2005
A obra de Angela de Castro Gomes é um marco na historiografia brasileira que
contribui para a informação e reflexão a respeito das características, complexidades e transformações da classe operária do início da República ao fim do Estado Novo. Mais do que isso, nos fornece material profundo e didático para compreender a relação de cidadania entre trabalhadores e Estado no Brasil republicano. Em sua apresentação, explica que escreveu no contexto pós-redemocratização e buscava entender a participação dos setores populares nas questões centrais da política brasileira. Recusa as análises dicotômicas a respeito dos trabalhadores e o populismo como teoria. A autora resgata as principais perspectivas teóricas acerca dos conceitos de classe e como as organizações de trabalhadores se constituem como atores legítimos, em sua multiplicidade, do cenário político nacional. Cita E. P. Thompson e W. Sewell para demarcar a importância da organização coletiva para construção de práticas associativas e comportamentais que definem uma identidade e um sentimento de pertencimento entre um grupo (de operários, no caso). Põe em perspectiva debates críticos a uma suposta insuficiência da análise marxista, uma vez que reduz as complexidades e diversidades de muitos trabalhadores a um grupo homogêneo, “a classe trabalhadora”, e também críticos a uma lógica utilitarista que diminui a importância dos interesses coletivos, fundamentais para a estruturação de uma identidade social sólida (e vice-versa). Para começar a entender como essa classe operária se constitui, é importante ter em mente que, a partir da Proclamação da República, há um busca por definição do que se trata este novo modelo político, no qual estão envolvidos atores com intenção de suplantar a lógica senhorial do Antigo Regime. Já a partir dos primeiros anos do século XX, irrompe manifestações operárias de aspiração socialista e também propostas anarquistas, que se mobilizam considerando a imprensa como instrumento fundamental para conquistar adesões às associações. Os socialistas viam a República como um horizonte de esperança para superar as agruras que trabalhadores suportavam há séculos: “o sentido da República era abrir as portas da existência” (p. 39). “Construir a identidade do trabalhador era unificar elementos diferenciados em torno de um programa de ação conjunta; promover autoconhecimento e reconhecimento e conquistar status profissional e segurança numa perspectiva social, não apenas econômica” (p. 40). Daí a importância para os trabalhadores, principalmente de influência socialista, de se organizarem em partidos políticos: por associarem a essa organização uma posição de relevância na República e um instrumento eficaz para pleitear mudanças nos regimes trabalhistas, tanto de forma imediata quanto a longo prazo. “A compatibilidade entre o movimento republicano e o movimento dos trabalhadores resultaria do fato de os fins últimos da República estarem sendo entendidos como a defesa dos princípios clássicos da igualdade e da fraternidade, o que só se realizaria pela inserção do povo numa ordem econômica e política” (p. 47). Há que se considerar também a influência internacional para a construção dos sentidos da República (França) e dos movimentos operários (Alemanha). A autora reserva os dois primeiros capítulos para expor as influências ideológicas na organização operária nacional. Os partidos políticos, a princípio, se apresentavam como opção aos trabalhadores de diversos segmentos (de operários de fábricas a artistas) que quisessem construir coletivamente propostas comuns que resguardassem os direitos trabalhistas e nacionais. A partir do texto constitucional de 1891, a questão sobre o que é a República se clarifica em função de posições mais bem demarcadas. De um lado, um “republicanismo progressista”, intervencionista, de influência positivista no que diz respeito à busca por um progresso, coesão social e fortalecimento nacional, englobando mais as pautas populares. De outro lado, um republicanismo “liberal na economia e conservador nos costumes”, que inclusive ganharia adeptos monarquistas, e maior respaldo e notabilidade na referida Constituição. A questão é que durante as primeiras duas décadas, os movimentos de trabalhadores organizados serão observados de perto e reprimidos constantemente, sendo o socialismo o maior inimigo dos patrões e do Estado. Essa repressão marca um tensionamento entre os grupos sociais que buscavam evidenciar/disputar seus projetos políticos. Um dos maiores desafios para a execução de objetivos partidários era unificar os interesses em torno de um partido realmente operário e que tivesse chance de elevar seus membros aos cargos eletivos do país. Deste modo, em 1902, é criado, a partir de um Congresso, o Partido Socialista Brasileiro. Fundou-se também o jornal Gazeta Operária, que seria um instrumento para ressaltar a relevância das questões sociais dos trabalhadores. Castro Gomes afirma que o grupo envolvido na construção do jornal era composto por uma espécie de “alta intelectualidade” via de modo pessimista a situação da massa trabalhadora como agentes de sua própria transformação, que atribuíam a um estado de passividade histórico; deste modo, o jornal e seus idealizadores tinham como objetivo conscientizar estes trabalhadores, fomentar uma ideia e propor um caminho. Os principais objetivos eram: atrair correligionários, conquistar algum respeito da opinião pública, se organizar para conseguir representatividade na corrida eleitoral, pleitear a elaboração de uma legislação trabalhista junto ao Estado, apoiar greves e quaisquer manifestações de trabalhadores. Entretanto, devido a complexidades inerentes às organizações políticas, divergências e repressões levaram a um rebaixamento da influência socialista, o que nos leva a outra corrente ideológica de luta operária. Os anarquistas surgem como uma força a ser considerada no movimento operário a partir do I Congresso Operário de 1906, realizado no Rio de Janeiro – um Congresso “que traduziu a disputa existente entre diferentes orientações ideológicas no movimento sindical” (p. 111). Castro Gomes cita duas visões principais sobre os anarquistas: “a primeira delas é que foram os anarquistas que detiveram o monopólio de uma proposta revolucionária de ação coletiva para a classe trabalhadora, surgindo como uma liderança heroica, pura e verdadeira; (…) todas as demais propostas quase desaparecem ou são encaradas como ‘amarelas’ ou reformistas, (…) pois se ligavam aos interesses do patronato e/ou do governo”. (p. 82) A segunda se trata de críticas comunistas às limitações das propostas anarquistas, que argumentavam que o caráter economicista e as razões revolucionárias dos anarquistas o afastavam da atuação política, que os socialistas consideravam como reivindicações necessárias junto ao poder institucional (via atuação junto a partidos políticos). Tão rápido quanto os socialistas, os anarquistas também foram elegidos a inimigos nacionais. A proposta política anarquista demandava ações prol inclusão popular na agenda pública, o que conflitava com o discurso excludente do nacionalismo republicano da década de 1920 (p. 85). Os anarquistas rejeitavam o autoritarismo que acreditavam ser intrínseco ao modelo de disciplina e restrição das organizações tradicionais liberais e socialistas. Acreditavam na solidariedade espontânea e horizontal dos grupos coletivos, sem a supervisão de qualquer poder hierárquico, como Estado ou Igreja. No capítulo III, a autora traça um panorama do legado das doutrinas expostas anteriormente e do seu futuro, além de expor outras políticas de Estado que intervém na dinâmica do trabalho no Brasil. A conclusão é que no início da década de 1920 houve um declínio da influência anarquista no movimento operário devido ao fortalecimento de setores nacionalistas tradicionais/conservadores da elite política junto a líderes da igreja. Nota-se, desde os capítulos I e II, que a greve como instrumento de reivindicação de transformações sociais nunca foi unanimidade no movimento operário, mas a partir de 1920 essa tática resultou em repressões mais intensas da polícia, encarceramento sistemático e desgaste junto a base. A questão da imigração é citada pela autora como um ponto fundamental para entender um aspecto do nacionalismo enfatizado pós-Primeira Guerra, que selecionaria inimigos estrangeiros, dentre eles os portugueses e anarquistas, a serem expurgados/punidos como forma de valorizar todos as particularidades da cultura e etnicidade nacional – isso coadunava ao pretexto político de perseguir inimigos que confrontavam as narrativas oficiais do Estado. Os anarquistas rejeitavam um sindicalismo reformista, cujas mudanças requerem a anuência patronal, que precisa recorrer à política parlamentar para buscar colaborações, sindicalismo do qual os socialistas se nutriam. De qualquer modo, os primeiros anos da década de 1920 ficou marcado por uma tentativa de união de diferentes matizes ideológicas em prol de um projeto de luta operária, que a princípio fracassou por conflitos/divergências internas, e posteriormente se deu o surgimento do Partido Comunista do Brasil, em 1922, que já passava a situação de ilegalidade em 1923, devido ao estado de sítio causado pelo levante tenentista. Outra tentativa de lidar com as questões operárias nesse período foi a organização de modelos sindicalistas cooperativistas, que buscavam acordos com os detentores do capital, e se opunham ao sindicalismo anarquista, mais radical. Após a extinção do estado de sítio, os comunistas voltam a se organizar em meados da década de 1920 para adentrar ao cenário político, instruindo militantes para convencer “ao pé do ouvido” outros trabalhadores nas fábricas de aderir ao PCB, construindo candidaturas para disputar espaços institucionais na Câmara dos Deputados e realizando Congressos. A partir da década de 1930, entretanto, tiveram que lidar com uma nova modalidade de violência repressora, com uma nova lei de sindicalização imposta pela Junta Governativa em 1931. O Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio “consagrava o princípio da unidade de definia o sindicato como órgão consultivo e de colaboração com o poder público; o decreto trazia as associações operárias para a órbita do Estado e vedava aos sindicatos a propaganda de ideologias políticas ou religiosas (…)” (p. 163). Entre 1931 e 1933, houve resistência por parte dos movimentos operários (por um sindicato independente) e houve planos do Ministério de cooptar e criar mais sindicatos que se submetessem à política governamental, criando mecanismos ‘sedutores’ e de controle para angariar mais adesões dos trabalhadores ao sindicalismo ‘oficial’, como carteiras de trabalho e órgãos de justiça oficiais que “protegiam” os direitos dos operários. Em 1934, noas regras são estabelecidas para o sindicalismo, a contragosto do Estado mas em acordo com o patronato e as Igrejas. O acirramento de disputas políticas entre grupos de comunistas e de aspiração fascista recrudesceram a repressão estatal, que passaria a tratar a questão social como questão de polícia e os conflitos ideológicos como ameaças à Segurança Nacional. O Estado elege um novo inimigo interno: os comunistas. A bibliografia historiográfica que estuda Estado e classe no Brasil costuma consagrar a seguinte perspectiva de que “(…) O pacto social assim montado pós-1930 traduzia-se em um acordo que trocava os benefícios da legislação social por obediência política (com uma lógica profundamente material e individual), uma vez que só os trabalhadores legalmente sindicalizados podiam ter acesso aos direitos do trabalho, sinônimo da condição de cidadania em um regime político autoritário como o brasileiro” (p. 178), porém, essa lógica será contestada pela autora. O capítulo IV é muito importante para entender um dos pontos-chave do livro e a hipótese da autora, citada na apresentação. “O Estado tomou do discurso articulado pelas lideranças da classe trabalhadora elementos-chave de sua autoimagem e os investiu de novo significado em outro contexto discursivo” (p. 24). Ou seja, a construção da identidade operária brasileira vem sendo feita desde a Proclamação da República, por meio de diversas disputas políticas, e a narrativa do Estado buscou mobilizar as conquistas e demandas operárias à lógica de reciprocidade, que não fazia da classe operária submissa, mas consciente de um pacto social da qual obtinham benefícios pelos quais lutaram. Era uma relação complexa e ambígua. A Revolução de 30 e Estado Novo trarão propostas para efetivar uma reconstrução definitiva da imagem nacional e a superação da República Velha, utilizando do Departamento de Imprensa e Propaganda (principalmente via radiofusão, que possuía grande impacto e penetração) para “buscar sua legitimidade, incursionar por sua origem” (p. 190), ou seja, legitimar signos da identidade nacional, pautas históricas dos brasileiros, e reconhecer sua relevância oficialmente. O Estado Novo imputava ao Estado, sobretudo à figura de Vargas, a onisciência que “concedia direitos e prerrogativas”, tal como foi, segundo a narrativa governamental, a ampliação dos direitos dos trabalhadores, relegando ao segundo plano e à mediocridade a luta sindical independente (p. 221). O trabalhismo foi uma política ideológica do Estado Novo para capturar a classe trabalhadora para seu projeto de integração e “cidadania regulada”. Trabalhavam para conformar a identidade do trabalhador com a do brasileiro e o tornavam objeto das políticas públicas, sobretudo através do esforço de unir interesses sindicais com interesses do Estado, em busca de uma maior “disciplinarização” da população trabalhadora (p. 237). Se o Estado quer apresentar o cidadão trabalhador como a face exemplar do país, o controle ultrapassa a esfera profissional e se insere na vida privada do trabalhador, de modo que sua vida pessoal entre em consonância com a vida pública. Isso resulta, também, em uma preocupação nacional em suster esses trabalhadores física e psicologicamente, construindo políticas intervencionistas que amparassem as necessidades básicas desses cidadãos, como educação e saúde. A lógica nacionalista também implicava restrições às políticas de imigração. “A partir de 1942 o Estado brasileiro se esforçou para implementar seu projeto de organização sindical corporativista” (p. 254), que efetivou não apenas as preocupações em manter os trabalhadores sob a égide do governo, mas transformar seguidores em líderes entusiastas das propostas do poder oficial. Tanto o trabalhismo quando o corporativismo estariam presentes na vida político-partidária do país nas próximas décadas com maior ou menor intensidade, até o golpe de 1964. A criação do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) em 1945 ocorre com a preocupação de angariar o máximo de apoio à política governista (basicamente, o Ministério do Trabalho de Vargas) para os trabalhadores, ainda que aceitando termos da democracia liberal. “Finalizando”, a autora entende que a incorporação dos trabalhadores na vida política do país teve dois momentos: um na Primeira República, no qual a direção do processo esteve nas mãos dos trabalhadores, com o objetivo de construir uma identidade republicana para o operariado com o intuito de alicerçar uma classe operária forte e solidária; o outro momento foi após a década de 1930, o movimento trabalhista sofreu forte influência estatal, a partir da qual os critérios de cidadania eram atrelados às políticas governamentais (evento sintomático na América Latina). Entretanto, este segundo não se valia puramente do autoritarismo e da submissão, mas era reconhecido por organizações de trabalhadores, que associava-se às propostas do Estado. Há que se debater o quanto a lógica de reciprocidade das demandas e valores dos trabalhadores com o Estado pode ser entendida como espontânea dentro do regime da época.
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