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30/05/2019 Como os millennials se tornaram a geração do esgotamento

Como os millennials se tornaram a


geração do esgotamento
Eu não conseguia entender por que coisas pequenas e simples da minha lista de tarefas
pareciam tão impossíveis. A resposta é, ao mesmo tempo, mais complexa e mais simples do
que eu imaginava.
publicado 11 de Janeiro de 2019, 4:31 p.m.

Anne Helen Petersen


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"Tentei me cadastrar para as eleições de 2016, mas já havia passado do prazo quando fui atrás",
explicou um homem chamado Tim, de 27 anos, à revista "New York" no ano passado. "Detesto
mandar coisas pelo correio, me dá ansiedade." Tim estava descrevendo os motivos pelos quais ele,
assim como outros 11 millennials [pessoas nascidas nas décadas de 1980 e 1990] entrevistados pela
revista, provavelmente não poderia votar nas eleições de meio de mandato em 2018 nos EUA. "A
quantidade de trabalho não é tão grande assim", continuou. "Preencher um formulário, mandá-lo
pelo correio, ir ao lugar específico em um dia específico. No entanto, cumprir esse tipo de tarefa pode
ser difícil para mim se eu não estiver empolgado."

Tim admitiu que alguns amigos o ajudaram a se cadastrar para votar e que ele planejava fazer com
que isso acontecesse provavelmente a tempo das eleições de meio de mandato. No entanto, sua
justificativa — apesar de ter salientado que sua dificuldade, neste caso, foi parcialmente causada por
seu transtorno de déficit de atenção e hiperatividade — acionou a tendência contemporânea de
criticar a incapacidade dos millennials de completar tarefas aparentemente básicas. "Cresçam", diz a
opinião geral. "A vida não é tão difícil assim." "Então é assim que o mundo acaba", tuitou Matt
https://www.buzzfeed.com/br/annehelenpetersen/millennials-burnout-geracao-esgotamento 1/14
Fuller, repórter do HuffPost que trabalha cobrindo o Congresso Americano. "Não com uma explosão,
30/05/2019 Comoque
mas com um bando de millennials os não
millennials se tornaram
sabem mandar coisasapelo
geração do esgotamento
correio."

Explicações como a de Tim estão no cerne da reputação dos millennials: esta seria uma geração
mimada, folgada, preguiçosa e que não consegue lidar com o "adulting", palavra inventada por
millennials para definir as tarefas de uma vida autossuficiente. Reclamações sobre o "adulting"
realmente costumam soar como pessoas privilegiadas que não conseguem lidar com a realidade,
bem... da vida: que é preciso pagar contas e ir trabalhar; que é preciso comprar comida e cozinhar se
quiser comer; que ações têm consequências. Ser adulto é difícil porque a vida é difícil — ou, como
uma matéria no Bustle diz a seus leitores: "tudo é difícil quando se quer enxergar dessa forma."

Millennials adoram reclamar de outros millennials que lhes dão má fama. Mas, ainda que eu tenha
ficado irritada ao ler como um rapaz de 27 anos tinha ansiedade por causa do correio, eu mesma
estava afundada em um ciclo desenvolvido nos últimos cinco anos que batizei de "paralisia das
incumbências". Eu colocava algo na minha lista de tarefas semanal e deixava aquilo passar de uma
semana para a próxima, me assombrando por meses.

Nenhuma dessas tarefas era tão difícil assim: amolar facas, levar botas ao sapateiro, enviar uma
cópia autografada do meu livro para alguém, marcar uma consulta com a dermatologista, doar livros
para a biblioteca e passar o aspirador no meu carro. Responder alguns poucos e-mails — um de um
amigo querido, outro de um ex-aluno me perguntando como minha vida estava indo — estavam
deixados de lado na minha caixa de entrada pessoal, que uso como uma espécie de lista de afazeres
alternativa, a ponto de começar a chamá-la de "inbox da vergonha".

Não é como se eu estivesse negligenciando o resto da minha vida. Eu estava publicando matérias,
escrevendo dois livros, preparando refeições, executando uma mudança para o outro lado do país,
planejando viagens, pagando meu empréstimo estudantil e me exercitando regularmente. Mas, em
se tratando das coisas banais, de média prioridade e que não tornariam meu trabalho mais fácil ou
melhor, eu as evitava.

Minha vergonha quanto a essas incumbências aumenta a cada dia. Lembro a mim mesma de que
minha mãe estava sempre cumprindo suas tarefas. Ela gostava delas? Não. Mas ela as cumpria.
Então por que eu não conseguia fazer isso, especialmente quando as tarefas eram todas facilmente
completáveis à primeira vista? Percebi que a imensa maioria dessas tarefas tem um denominador
comum: sua principal beneficiária sou eu, mas não de um jeito que melhorará minha vida
drasticamente. Ao que tudo indica, são tarefas de alto esforço e baixa recompensa, e elas me
paralisam — de uma forma não muito diferente da qual se registrar para votar paralisou o millennial
Tim.

Tim e eu não estamos sós nessa paralisia. Meu parceiro O esgotamento não é
ficou tão atordoado com as múltiplas etapas do processo uma aflição
incrivelmente (e propositalmente) confuso de enviar temporária: é a
formulários de reembolso para o seguro para as sessões de condição dos
terapia que, por meses, simplesmente não os enviou — o millennials. É a nossa
que lhe custou mais de 1000 dólares. Outra mulher me temperatura base. É a
disse que tinha um pacote para enviar pelo correio que
nossa música de
estava parado há mais de um ano no canto do seu quarto.
fundo. É o jeito que as
Um amigo admitiu ter um prejuízo de centenas de dólares
coisas são. É a nossa
em roupas que não cabem porque ele não conseguiu
vida.
devolvê-las. A paralisia das incumbências e a ansiedade de
mandar coisas pelos correios são manifestações diferentes da mesma aflição.

Pelos últimos dois anos, rejeitei avisos — de editores, da minha família, de colegas — de que eu
estava à beira do esgotamento [burnout, em inglês]. Na minha cabeça, esgotamento era algo com que
profissionais de ajuda humanitária, advogados altamente influentes ou jornalistas investigativos
lidavam. Era algo que podia ser tratado com uma semana na praia. Eu ainda estava trabalhando,
ainda conseguia realizar outras coisas — óbvio que eu não estava esgotada.

Mas quanto mais eu tentava entender a minha paralisia, mais os parâmetros reais do esgotamento
começavam a se revelar. O esgotamento, os comportamentos e o peso que o acompanham não são,
de fato, algo que possamos curar tirando férias. Ele não se limita a trabalhadores em ambientes
altamente estressantes. E não é uma aflição temporária: é a condição dos millennials. É a nossa
temperatura base. É a nossa música de fundo. É o jeito que as coisas são. É a nossa vida.

Essa percepção deu novo sentido às minhas dificuldades recentes: por que eu não consigo terminar
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de fazer essas coisas banais? Porque estou esgotada. Por que estou esgotada? Porque internalizei a
ideia de que tenho que trabalhar o tempo todo. Por que internalizei essa ideia? Porque tudo e todo
30/05/2019 Como
mundo na minha vida a reforçou os millennials
— explícita se tornaram
e implicitamente — adesde
geração do esgotamento
a minha infância. A vida
sempre foi difícil, mas muitos millennials não estão equipados para lidar com as formas específicas
nas quais ela se tornou difícil para nós.

E agora? Será que eu deveria meditar mais, negociar mais tempo de folga, delegar tarefas dentro do
meu relacionamento, cuidar de mim mesma e restringir o tempo que passo nas redes sociais? Em
outras palavras, como eu posso me otimizar para cumprir essas tarefas banais e, teoricamente, curar
meu esgotamento? À medida que millennials adentram a casa dos trinta anos, é essa a pergunta que
continuamos a fazer e a fracassar em responder adequadamente. Mas talvez isso aconteça por ser a
pergunta totalmente errada.

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Durante a última década, a palavra "millennials" tem sido usada para descrever ou atribuir o que
há de certo e errado com os jovens, mas, em 2019, os millennials já são adultos há um bom tempo: os
mais jovens têm 22 anos, e os mais velhos, como eu, estão em torno dos 38. Isso exigiu uma
mudança na maneira como as pessoas de dentro e de fora da nossa geração configuram suas críticas.
Não somos mais adolescentes irresponsáveis; somos adultos crescidos, e os desafios que encaramos
não são efêmeros, mas sistêmicos.

Muitos dos comportamentos atribuídos aos millennials são os comportamentos de um grupo


específico, majoritariamente formado por pessoas brancas de classe média nascidas entre 1981 e
1996. Mas mesmo que você seja um millennial que não tenha crescido com privilégios, você sofreu o
impacto das mudanças sociais e culturais que moldaram a geração. Nossos pais — uma mistura de
"boomers" mais novos e membros mais velhos da geração X — nos criaram durante uma época de
relativa estabilidade econômica e política. Assim como nas gerações anteriores, havia uma
expectativa de que a próxima geração teria melhores condições — tanto em termos de saúde como de
finanças — do que sua antecedente.

No entanto, à medida que os millennials chegaram à metade da vida adulta, esse prognóstico se
provou falso. Financeiramente falando, a maioria de nós está bem atrasada em comparação aos
nossos pais quando tinham a mesma idade. Temos muito menos economias, bem menos capital
próprio, bem menos estabilidade e muito mais dívidas estudantis. A "melhor geração" teve a
Depressão e a G.I. Bill (lei de incentivo a veteranos de guerra americanos); os boomers tiveram a era
de ouro do capitalismo; a geração X teve a desregulamentação da economia e a redistribuição de
renda. E os millennials? Temos capital de risco, mas também temos a crise financeira de 2008, o
declínio da classe média, a ascensão dos 1% mais ricos e a deterioração constante dos sindicatos e
dos empregos estáveis e de tempo integral.

À medida que as empresas americanas se tornaram mais eficientes e mais lucrativas, a próxima
geração precisava estar posicionada para competir. Não podíamos simplesmente aparecer com um
diploma e esperar arranjar e manter um emprego que permitisse que nos aposentássemos aos 55.
Em uma mudança acentuada com relação às gerações anteriores, nós, millennials, precisávamos nos
otimizar para sermos os melhores trabalhadores possíveis.

E esse processo começou muito cedo. Em "Kids These Days: Human Capital and the Making of
https://www.buzzfeed.com/br/annehelenpetersen/millennials-burnout-geracao-esgotamento
Millennials" [Crianças de Hoje em Dia: Capital Humano e a Criação dos Millennials, em tradução 3/14
livre], Malcolm Harris descreve a miríade de formas nas quais nossa geração foi treinada, adaptada,
30/05/2019 preparada e otimizada para oComo os de
mercado millennials seprimeiramente
trabalho — tornaram a geração do esgotamento
no ensino fundamental, depois
no médio — desde que éramos crianças muito novas. "A gestão de riscos costumava ser uma prática
administrativa", escreve Harris, "agora é a estratégia predominante na criação dos filhos."
Dependendo da sua idade, essa ideia se aplica ao que os nossos pais nos deixavam fazer ou não
(brincar em brinquedos "perigosos" no parquinho, sair sem celular, dirigir sem um adulto no carro) e
como eles nos permitiram fazer as coisas que fizemos (aprender, explorar, comer, brincar).

Harris aponta práticas que hoje vemos como padrão como uma forma de "otimizar" as brincadeiras
das crianças, uma atitude frequentemente descrita como "criação intensiva". Correr pela vizinhança
virou marcar encontros supervisionados para brincar. Creche desestruturada virou pré-jardim de
infância. Brincadeiras de bairro se transformaram em ligas altamente regulamentadas e organizadas,
com jogos durante o ano todo. A energia não canalizada (diagnosticada como hiperatividade) passou
a ser medicada e disciplinada.

Não tentamos Minha infância no fim dos anos 80 e início dos anos 90 foi
derrubar o sistema, apenas parcialmente definida por essa espécie de
pois não foi assim que otimização e monitoramento parental, sobretudo porque

fomos criados. vivi em uma cidade rural no norte de Idaho (EUA), onde

Tentamos vencê-lo. tais atividades estruturadas eram raras. Passei minhas


férias brincando na (perigosíssima!) gangorra e no
carrossel. Eu usava um capacete para andar de bicicleta e de skate, mas meu irmão e eu éramos as
únicas crianças que conhecíamos que faziam isso. Não fiz estágios no ensino médio ou na faculdade,
porque eles ainda não eram um componente padrão de nenhuma dessas experiências. Fiz aulas de
piano por diversão, não para o meu futuro. Não fiz cursinho pré-vestibular. Fiz a única aula
preparatória disponível para mim e me candidatei a faculdades (no papel, à mão!) com base em
folhetos e matérias curtas em um livro de "Melhores Faculdades".

Mas esse foi o início do fim dessa atitude com relação à criação, ao lazer dos filhos, à seleção para a
faculdade. E não apenas entre pais superprotetores burgueses, estudados e estereotipados: além da
"criação intensiva", os pais de millennials também se caracterizam por comportamentos "justiceiros"
nos quais, conforme a socióloga Linda M. Blum descreve, "a vigilância incansável de uma mãe e a
defesa de seu filho [assume] o imperativo de uma missão moral solitária."

Pesquisas recentes descobriram que os comportamentos "justiceiros" ultrapassam as fronteiras de


raça e classe. Talvez uma família suburbana de classe alta esteja empenhada em fazer seu filho entrar
em uma faculdade de prestígio, enquanto uma mãe na Filadélfia que não teve a chance de fazer
faculdade investe na possibilidade de sua filha ser a primeira da família a entrar para a universidade.
As metas são ligeiramente diferentes, mas a supervisão, a atitude, a avaliação de riscos e a campanha
para fazer aquele filho atingir aquela meta são bem semelhantes.

Não foi antes do fim da faculdade que comecei a ver os resultados dessas atitudes na prática. Quatro
anos após minha formatura, os ex-alunos reclamavam que a faculdade estava cheia de nerds:
ninguém mais fazia farra em uma terça-feira! Eu ria das críticas — "essa garotada de hoje em dia,
que babacas, éramos bem mais legais" —, mas só quando retornei ao campus anos mais tarde como
professora que percebi como a orientação educacional desses alunos era fundamentalmente
diferente. Ainda havia rapazes insuportáveis e garotas vaidosas nas repúblicas, mas eles eram bem
mais estudiosos que os meus colegas haviam sido. Eles faltavam a menos aulas. Eles apareciam
religiosamente durante o expediente. Eles mandavam e-mails a qualquer horário. Mas eles também
eram ansiosos pelas notas, paralisados pela ideia de se formarem e regularmente travados por
tarefas que pediam criatividade. Eles haviam sido guiados de perto durante todas as suas vidas e
queriam que eu também os guiasse. Eles estavam, em uma palavra, receosos.

Cada formando se sente receoso quanto ao futuro, mas este era outro nível. Quando a minha turma
deixou as ciências humanas, debandamos para trabalhos temporários: eu trabalhei em um hotel-
fazenda; outra amiga trabalhou como babá durante o verão; outra arranjou serviço em uma fazenda
da Nova Zelândia; outros viraram instrutores de rafting e, depois, instrutores de esqui. Não
achávamos que o nosso primeiro emprego fosse importante; era só um emprego que nos levaria a,
final e tortuosamente, O Emprego.

Mas esses alunos estavam convencidos de que seu primeiro emprego logo após a faculdade não só
determinaria sua trajetória profissional, mas seu valor intrínseco pelo resto de suas vidas. Eu disse a
uma aluna, cujas dezenas de estágios e candidaturas a bolsas não geraram resultados, que ela deveria
se mudar para algum lugar divertido, arranjar qualquer emprego e descobrir quais eram seus
interesses e que tipo de trabalho ela não queria fazer — uma sugestão que a levou aos prantos. "Mas
o que eu vou dizer para os meus pais?", disse. "Eu quero um emprego bacana pelo qual eu seja
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apaixonada!"
Essas expectativas sintetizam o projeto de criação de millennials, no qual estudantes internalizam a
30/05/2019 Comoque
necessidade de achar um emprego os pegue
millennials se tornaram
bem com seus pais a(estável,
geração dopague
que esgotamento
decentemente,
reconhecível como um "bom emprego"), que também impressione seus pares (em uma empresa
"descolada") e realize o que lhes disseram ser o objetivo final de toda essa otimização durante a
infância: trabalhar com aquilo que ama. Independentemente desse trabalho ser o de um esportista
profissional, um gerente de mídias sociais na Patagônia, um programador em uma start-up ou sócio
de uma firma de advocacia, isso parece importar menos do que cumprir todos aqueles critérios.

Ou pelo menos, essa é a teoria. Então o que acontece quando os millennials começam a busca real
por esse santo graal profissional — e começam a "virar adultos" — mas isso não se parece em nada
com o sonho que lhes prometeram?

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Como a maioria dos millennials mais velhos, minha própria trajetória profissional foi
marcada por duas catástrofes financeiras. No início dos anos 2000, quando muitos de nós estávamos
recém entrando na faculdade ou na força de trabalho, a bolha da internet estourou. Os danos
financeiros resultantes não foram tão graves quanto a crise de 2008, mas ela restringiu o mercado de
trabalho e afundou o mercado de ações, o que afetou indiretamente os millennials que estavam
contando com os investimentos dos pais para pagar a faculdade. Quando me formei em ciências
humanas em 2003 e me mudei para Seattle, a cidade ainda tinha um custo acessível, mas a oferta de
emprego qualificado era pouca. Trabalhei como babá, uma colega de quarto trabalhava como
assistente, um amigo recorria a vender o que viria a ser conhecido como empréstimos de alto risco.

Aqueles dois anos como babá foram difíceis — eu sentia um tédio avassalador e ir e voltar do
trabalho levava uma hora — mas, que eu me lembre, foi a última vez em que não me senti esgotada.
Eu tinha um celular, mas nem conseguia mandar mensagens; eu conferia meu e-mail uma vez por
dia em um computador no quarto da minha amiga. Por ter sido empregada por meio de uma agência
de babás, meu contrato incluía plano de saúde, licença médica e folga remunerada. Eu ganhava
32.000 dólares por ano e pagava 500 por mês em aluguel. Eu não tinha dívidas da faculdade e o meu
carro estava pago. Eu não poupava muito, mas tinha dinheiro para ir ao cinema e jantar fora. Eu não
era intelectualmente estimulada, mas era boa no meu trabalho — cuidando de dois bebês — e havia
limites claros entre o meu horário dentro e fora do trabalho.

Então esses dois anos acabaram e a maior parte do meu grupo de amigos começou o êxodo para a
pós-graduação. Nos matriculamos em programas de doutorado, direito, medicina, arquitetura,
mestrados, MBAs. Não foi por termos fome de mais conhecimento. Foi porque tínhamos fome de
empregos estáveis de classe média — e nos haviam dito, corretamente ou não, que esses empregos só
estariam disponíveis se fizéssemos pós-graduação. Assim que entramos na pós-graduação e a
microgeração atrás de nós emergia da faculdade e entrava para o mercado de trabalho, a crise
financeira de 2008 chegou.

A crise afetou todo mundo de alguma forma, mas a forma Nunca achei que o
como afetou os millennials foi seminal, definindo para sistema fosse justo.
sempre a nossa experiência com o mercado de trabalho. Sabia que apenas
Trabalhadores mais experientes e recém-demitidos poucos o venceriam.
preencheram as vagas de empregos menos qualificados e Mas  acreditava que
de nível iniciante, outrora amplamente reservadas para conseguiria me
recém-formados. Não conseguíamos encontrar empregos,
otimizar para me
ou só conseguíamos encontrar trabalhos de meio período,
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empregos sem benefícios ou empregos que na verdade tornar um desses
30/05/2019 eram vários bicos emendadosComo
em umos
sómillennials vencedores.
se tornaram a geração do esgotamento
emprego. Como
resultado, nos mudamos de volta para a casa dos nossos
pais, arranjamos colegas de quarto, voltamos a estudar, tentamos fazer dar certo. Éramos
solucionadores de problemas, no fim das contas — e fomos ensinados que, se trabalhássemos mais
arduamente, tudo daria certo.

Superficialmente, deu certo. A economia se recuperou. A maioria de nós saiu da casa dos pais.
Encontramos empregos. Mas o que não encontramos foi a segurança financeira. Visto que a
educação — pós-graduação, graduação, ensino técnico, online — estava situada como a melhor e
única forma de sobreviver, muitos de nós emergiram desses programas com pagamentos de
empréstimos que as nossas perspectivas para a pós-graduação fracassaram em compensar. A
situação foi ainda mais crítica para quem entrou em uma faculdade particular, onde a dívida média
total por uma formação de quatro anos é de 39.950 dólares e a perspectiva de empregos para pós-
graduados é ainda mais desoladora.

À medida que continuei a pós-graduação, acumulei cada vez mais dívidas, que racionalizei, como
tantos da minha geração, como o único meio de alcançar a meta final de 1) um "bom" emprego que
2) seria ou soaria bacana e 3) me permitisse correr atrás da minha "paixão". Nesse caso, emprego em
tempo integral como professora permanente de estudos de mídia. No passado, buscar um pós-
doutorado costumava ser um empreendimento livre de dívidas: acadêmicos trabalhavam como
professores assistentes para arcar com sua formação, o que dava conta do custo de vida e abatia o
valor da mensalidade.

Esse modelo começou a mudar nos anos 80, particularmente em universidades públicas dos EUA,
forçadas a compensar de alguma forma os cortes nas verbas repassadas pelo governo. A mão de obra
de um professor assistente era bem mais barata do que a de um professor permanente, portanto as
universidades não só mantiveram os programas de doutorado, mas os expandiram, mesmo tendo
cada vez menos fundos para pagar esses estudantes adequadamente. Ainda assim, milhares de pós-
doutorandos se apegaram à ideia de seguirem a carreira docente e se tornarem professores
permanentes. E quanto mais exigente o mercado acadêmico se tornava, mais arduamente
trabalhávamos. Não tentamos derrubar o sistema, pois não foi assim que fomos criados. Tentamos
vencê-lo.

Nunca achei que o sistema fosse justo. Sabia que apenas poucos o venceriam. Eu simplesmente
acreditava que conseguiria me otimizar para me tornar um desses vencedores. E levei anos para
entender as ramificações reais dessa mentalidade. Trabalhei arduamente na faculdade, mas, como
uma millennial mais velha, as expectativas de trabalho eram moderadas. Gostávamos de dizer que
trabalhávamos muito e nos divertíamos muito — e havia limites claros entre cada uma dessas
atividades. Foi na pós-graduação que aprendi a trabalhar como um millennial, ou seja, o tempo todo.
Meu novo lema era "Tudo o que é bom faz mal, e tudo o que é mau faz bem": as coisas que deveriam
fazer com que eu me sentisse bem (lazer, não trabalhar) faziam com que eu me sentisse mal, pois eu
me sentia culpada por não estar trabalhando; coisas que deveriam ser "más" (trabalhar o tempo
todo) faziam com que eu me sentisse bem, pois eu estava fazendo o que achava que deveria e
precisava para ter sucesso.

Toleramos empresas No meu mestrado, o trabalho dos graduandos certamente


nos maltratando era explorado, mas tínhamos um sindicato e éramos
porque não vemos compensados de forma que era possível terminar o

outra opção. Não nos programa sem dívidas. Nosso plano de saúde era sólido; o

demitimos. tamanho das turmas, gerenciável. Mas tudo mudou no

Internalizamos que meu pós-doutorado no Texas — um Estado que crê no

não estamos nos "direito ao trabalho", onde sindicatos, quando e se


existiam, não tinham poder de barganha. Eu recebia o
esforçando o bastante.
bastante para cobrir um mês de aluguel em Austin, com
E arranjamos um
200 dólares sobrando para todo o resto. Dei aulas para
segundo emprego.
turmas de 60 alunos sozinha. As únicas pessoas do meu
grupo que não precisaram pegar empréstimos tinham parceiros em empregos "de verdade" ou
dinheiro dado pela família; a maioria de nós estava afundada em dívidas pelo privilégio de nos
prepararmos para nenhuma perspectiva de trabalho. Ou continuávamos trabalhando, ou
fracassávamos.

Então fizemos esses empréstimos, com a garantia do governo federal de que, após a graduação,
iríamos prestar serviço no setor público (tal como dar aulas em uma faculdade ou universidade) e, se
pagássemos uma porcentagem da nossa dívida no prazo por 10 anos, o resto seria perdoado. No ano
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passado — o primeiro no qual os formados com direito ao perdão da dívida puderam solicitá-lo —
30/05/2019 Como
apenas 1% das solicitações foram os millennials se tornaram a geração do esgotamento
aceitas.

Quando falamos sobre a dívida estudantil dos millennials, não estamos falando apenas dos
pagamentos que nos impediram de participar de "instituições" americanas como a casa própria ou a
compra de diamantes. Também falamos do custo psicológico de perceber que algo que lhe disseram e
no qual você passou a acreditar que "valeria a pena" — os empréstimos, o trabalho, toda aquela auto-
otimização — não vale nada.

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Uma coisa que faz essa percepção doer ainda mais é ver, on-line, outras pessoas vivendo vidas
aparentemente bacanas, apaixonadas e úteis. Todos nós sabemos que o que vemos no Facebook ou
no Instagram não é "real", mas isso não significa que não nos julgamos em comparação a isso.
Percebo que os millennials têm bem menos inveja de objetos e pertences nas redes sociais do que da
experiência holística nelas representada, o tipo de coisa que faz as pessoas comentarem "eu quero ter
a sua vida". Aquela mistura invejável de lazer e viagem, o acúmulo de animais de estimação e filhos,
os ambientes habitados e os alimentos consumidos não só por parecem desejáveis, mas equilibrados,
satisfeitos e intocados pelo esgotamento.

E apesar do trabalho em si raramente ser retratado, ele sempre está lá. Periodicamente, ele é
fotografado como um espaço divertido e sempre recompensador ou gratificante. Mas, na maioria das
vezes, é disso que você está fugindo: você trabalhou arduamente o bastante para aproveitar a vida.

"Gestão de marca" é O feed nas redes sociais — em especial no Instagram — é,


uma expressão portanto, uma evidência dos frutos do trabalho árduo e

adequada para esse gratificante, e do trabalho em si. As fotos e os vídeos que

trabalho, pois destaca causam mais inveja são aqueles que sugerem que um

o que o eu millennial equilíbrio perfeito (trabalhe muito, divirta-se muito!) foi

se tornou: um produto. alcançado. Mas, claro, para a maioria de nós, esse não é o
caso. Afinal, postar nas redes sociais é uma forma de
narrar nossas próprias vidas: o que dizemos a nós mesmos sobre a nossa vida é. Quando não
sentimos a satisfação que nos disseram que deveríamos obter por um emprego que fosse
"gratificante", equilibrado com uma vida pessoal também "gratificante", a melhor forma de
convencer a si mesmo de estar sentindo isso é demonstrando-o aos outros.

Para muitos millennials, a presença nas redes sociais — no LinkedIn, Instagram, Facebook ou
Twitter — também se tornou parte integral de obter e manter um emprego. O exemplo mais "puro" é
o influenciador de redes sociais, cuja fonte inteira de renda é representar e mediar o seu eu online.
No entanto, as redes sociais também são o meio por meio do qual muitos "profissionais do
conhecimento" — ou seja, profissionais que manuseiam, processam ou geram significado a partir da
informação — promovem a si mesmos. Jornalistas usam o Twitter para saber sobre outras notícias,
mas também o usam para desenvolver uma marca pessoal e seguidores que possam ser aproveitados;
as pessoas usam o LinkedIn não só para currículos e contatos, mas para publicar artigos que atestem
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sua personalidade (sua marca!) como gestoras ou empreendedoras. Os millennials não são os únicos
que fazem isso, mas somos aqueles que aperfeiçoaram e, portanto, estabeleceram os padrões para
30/05/2019 aqueles que o fazem. Como os millennials se tornaram a geração do esgotamento

"Gestão de marca" é uma expressão adequada para esse trabalho, pois destaca o que o eu millennial
se tornou: um produto. E, assim como na infância, o trabalho de otimizar essa marca obscureceu
quaisquer distinções restantes entre trabalho e lazer. Não há tempo "fora do expediente" quando a
qualquer hora é possível documentar suas experiências de acordo com a sua marca ou tuitar suas
observações de acordo com a sua marca. O surgimento dos smartphones tornou esses
comportamentos mais fáceis e, portanto, mais disseminados, mais padronizados. No início do
Facebook, você tinha que tirar fotos com a sua câmera digital, descarregá-las no seu computador e
postá-las em álbuns. Agora, seu celular é uma câmera sofisticada, sempre pronta para documentar
cada componente da sua vida — em fotos facilmente manipuladas, em vídeos curtos, em atualizações
constantes para o Instagram Stories — e para facilitar o trabalho de representar o eu para consumo
público.

"Virar adulto" é Mas o celular também é uma amarra ao local de trabalho


completar sua lista de "real". O e-mail e o Slack fazem com que funcionários
tarefas — só que ela estejam sempre acessíveis, sempre prontos para o

nunca acaba. trabalho, mesmo depois de terem deixado o local de


trabalho físico e os limites tradicionais do expediente de
trabalho pago. Tentativas de desencorajar o trabalho fora do horário saem pela culatra, já que os
millennials tendem a vê-las não como uma permissão para parar de trabalhar, mas um meio de se
distinguir ainda mais, estando disponíveis mesmo assim.

"Somos incentivados a traçar estratégias para encontrar lugares, horários e funções nas quais
possamos ser efetivamente postos para trabalhar", escreve Harris, o autor de "Kids These Days". "A
eficiência é o nosso propósito existencial, e somos uma geração de ferramentas finamente polidas,
moldadas desde que somos embriões para sermos máquinas implacáveis de produção."

No entanto, conforme o sociólogo Arne L. Kalleberg aponta, essa eficiência deveria ter nos dado mais
segurança no trabalho, salários maiores, talvez até mesmo mais lazer. Em suma, empregos
melhores.

Ainda assim, quanto mais trabalhamos, quanto mais eficientes provamos ser, piores nossos
trabalhos se tornam: salários menores, benefícios piores, menos estabilidade no emprego. Nossa
eficiência não acabou com a estagnação dos salários; nossa persistência não nos fez mais
importantes. Pelo contrário, nosso comprometimento em trabalhar, independentemente do quanto
somos explorados, simplesmente incentivou e facilitou nossa exploração. Toleramos empresas nos
maltratando porque não vemos outra opção. Não nos demitimos. Internalizamos que não estamos
nos esforçando o bastante. E arranjamos um segundo emprego.

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Toda essa otimização — na infância, na faculdade, online — culminou na condição predominante
30/05/2019 Como os millennials
entre os millennials, independentemente de classe, se tornaram
raça ou lugar:aogeração do esgotamento
esgotamento [burnout]. O
"esgotamento" foi reconhecido pela primeira vez como diagnóstico psicológico em 1974, aplicado
pelo psicólogo Herbert Freundenberger para casos de "colapso físico ou mental causado pelo excesso
de trabalho ou estresse". O esgotamento está em uma categoria substancialmente diferente da
exaustão, apesar de estar relacionado. Exaustão significa chegar ao ponto no qual não se pode ir
além; esgotamento significa alcançar esse ponto e se forçar a continuar, seja por dias, semanas ou
anos.

O que é pior, o sentimento de conquista que se segue a uma tarefa cansativa — passar na prova final!
Terminar o projeto enorme do trabalho! — nunca chega. "A exaustão vivenciada no esgotamento
combina uma ânsia intensa por esse estágio de finalização com o senso atormentador de que ele não
poderá ser alcançado, de que sempre há alguma exigência, ansiedade ou distração que não pode ser
silenciada", escreve Josh Cohen, psicanalista especializado em esgotamento. "Você se sente esgotado
quando exauriu todos os seus recursos internos, contudo, ainda não consegue se libertar da
compulsão nervosa de prosseguir independentemente disso."

Em seus escritos sobre o esgotamento, Cohen é cuidadoso ao observar que ele tem antecedentes: o
"desânimo melancólico com o mundo", como ele descreve, é observado no livro de Eclesiastes,
diagnosticado por Hipócrates e endêmico da Renascença, um sintoma da desorientação com a
sensação de "mudança implacável". No fim do século 19, "neurastenia", ou exaustão nervosa, afligia
pacientes esgotados pelo "ritmo e pela pressão da vida industrial moderna". Porém, o esgotamento
difere em sua intensidade e prevalência: não é uma aflição vivenciada por relativamente poucas
pessoas e que evidencia os aspectos mais sombrios de um mundo em mutação. Ele é, cada vez mais, e
especialmente entre os millennials, a condição contemporânea.

Pessoas emendando um trabalho no comércio com um cronograma imprevisível enquanto dirigem


para o Uber e procuram uma creche sofrem de esgotamento. Funcionários de start-ups com refeições
sofisticadas fornecidas por um buffet, serviço de lavanderia grátis e trajetos de 70 minutos entre casa
e trabalho sofrem de esgotamento. Acadêmicos dando aulas para quatro turmas adjuntas e
sobrevivendo com vale-refeição enquanto tentam publicar sua pesquisa em uma última tentativa de
obter um emprego permanente sofrem de esgotamento. Artistas gráficos autônomos trabalhando em
seu próprio horário sem plano de saúde ou férias remuneradas sofrem de esgotamento.

Uma das formas de se pensar na mecânica do esgotamento millennial é examinando de perto vários
objetos e indústrias que nossa geração supostamente "matou". "Matamos" os diamantes porque
estamos nos casando mais tarde (ou nem casamos) e é raro que um parceiro tenha a estabilidade
financeira para pagar por um anel de noivado de diamante. Estamos matando as antiguidades,
optando por mobília industrializada — não porque odiamos os objetos antigos dos nossos avós, mas
porque estamos procurando emprego estável em todo o país e carregar móveis velhos e louças frágeis
custa dinheiro que não temos.

Mesmo as tendências que os millennials popularizaram — como a moda esportiva casual — apelam à
nossa auto-otimização. Calças para ioga podem parecer desleixadas para a sua mãe, mas são
eficientes: você pode sair de uma aula na academia para uma reunião no Skype, ou para ir pegar as
crianças na saída da escola sem interrupções. Usamos serviços de entrega e de compras online
porque o tempo que eles poupam nos permitem trabalhar mais.

É por isso que a crítica fundamental que se faz sobre os millennials — que somos preguiçosos e
mimados — é tão frustrante. Trabalhamos tanto que descobrimos como não perder nosso tempo
fazendo refeições e somos chamados de mimados por pedir pagamento e benefícios justos – como
trabalhar em casa (para podermos viver em cidades com custo de vida acessível), ter um plano de
saúde adequado ou um plano de previdência (para teoricamente podermos parar de trabalhar em
algum momento antes do dia da nossa morte). Somos chamados de chorões por falarmos
francamente sobre o quanto trabalhamos e como estamos exaustos. No entanto, como trabalhar
demais por menos dinheiro nem sempre é visível — porque procurar emprego agora significa
vasculhar o LinkedIn, porque "hora extra" agora significa responder e-mails na cama — o alcance do
nosso trabalho tende a ser ignorado ou menosprezado.

A questão sobre o trabalho americano, no fim das contas, é A recomendação mais


que somos treinados para apagá-lo. A ansiedade é comum é "cuidar de si
medicada; o esgotamento é tratado com terapia que tem se mesma". Use uma
tornado lentamente normalizada, mas ainda suavemente máscara facial! Faça
estigmatizada. (Afinal, tempo fazendo terapia é tempo em ioga! Use seu
que você poderia estar trabalhando.) Ninguém diria à aplicativo de
https://www.buzzfeed.com/br/annehelenpetersen/millennials-burnout-geracao-esgotamento 9/14
minha avó que fazer manteiga e lavar roupas à mão não
era trabalho. No entanto, planejar uma semana de meditação! Mas muitos
30/05/2019 refeições saudáveis para umaComo
famíliaos
demillennials dos cuidados pessoais
se tornaram a geração do esgotamento
quatro pessoas,
pensar na lista de compras, encontrar tempo para ir ao não são cuidados: são
mercado, preparar todas essas refeições e lavar a louça uma indústria de 11
enquanto se tem um emprego em tempo integral? Isso não bilhões de dólares,
é trabalho, é apenas ser mãe. cujo objetivo não é
O esgotamento millennial costuma funcionar de forma aliviar o ciclo de
diferente entre mulheres e, particularmente, mulheres esgotamento, mas
heterossexuais com famílias. Parte disso tem a ver com o oferecer mais meios
que é conhecido como "segunda jornada" — a ideia de que de auto-otimização.
mulheres que trabalham fora realizam o trabalho de um
emprego e depois vão para casa e realizam o trabalho de dona de casa. (Um estudo recente descobriu
que mães que trabalham fora passam o mesmo tempo cuidando dos filhos do que as mães que
ficavam em casa em 1975.) Pode-se pensar que, quando as mulheres trabalham fora, o serviço
doméstico diminui ou é dividido igualmente entre ambos os parceiros. Mas a socióloga Judy
Wajcman descobriu que, em casais heterossexuais, esse simplesmente não era o caso: no geral, faz-se
menos trabalho doméstico, mas o trabalho que resta ainda recai, na maior parte, sobre a mulher.

O trabalho que causa esgotamento não é apenas guardar os pratos ou dobrar as roupas lavadas —
tarefas que podem ser prontamente distribuídas entre o resto da família. Tem mais a ver com o que a
cartunista francesa Emma chama de "carga mental", isto é, a situação em que uma pessoa na família
— geralmente uma mulher — assume uma função comparável à de "gerente de projeto de
administração doméstica". A gerente não completa tarefas, simplesmente; ela mantém o cronograma
inteiro da casa em mente. Ela lembra de comprar papel higiênico porque ele vai acabar em quatro
dias. No fim das contas, ela é responsável pela saúde da família, por cuidar do lar e de seu próprio
corpo, por manter uma vida sexual, por cultivar um laço afetivo com os filhos, por supervisionar o
cuidado dos pais idosos, por garantir que as contas sejam pagas, que os vizinhos sejam
cumprimentados, que os cartões de Natal sejam enviados, que as férias sejam planejadas com seis
meses de antecedência, que as milhas aéreas não estejam vencidas e que o cachorro esteja se
exercitando.

Mulheres têm me dito que choraram ao ler o cartum de Emma, que viralizou várias vezes: elas nunca
haviam visto o trabalho específico que realizavam descrito, muito menos reconhecido. E, das
millennials, agora se espera que esse trabalho doméstico preencha um número infindável de
aspirações: passeios têm que ser "experiências", a comida tem que ser saudável, caseira e divertida,
corpos têm que ser esculpidos, rugas devem ser minimizadas, roupas têm que ser bonitas e da moda,
o sono tem que ser regulado, os relacionamentos têm que ser saudáveis, as notícias têm que ser lidas
e processadas e os filhos têm que receber atenção e ter sucesso. A criação millennial é, como define
uma matéria recente no "The New York Times", implacável.

A mídia que nos cerca — tanto as sociais como as grandes mídias, desde o novo programa da Marie
Kondo na Netflix à economia dos influenciadores de estilo de vida — nos diz que nossos espaços
pessoais precisam ser tão otimizados como nosso eu e a nossa carreira. O resultado final não é só
fadiga, mas um esgotamento envolvente que nos segue dentro e fora de casa. A recomendação mais
comum é "cuidar de si mesma". Use uma máscara facial! Faça ioga! Use seu aplicativo de meditação!
Mas muitos dos cuidados pessoais não são cuidados: são uma indústria de 11 bilhões de dólares, cujo
objetivo não é aliviar o ciclo de esgotamento, mas oferecer mais meios de auto-otimização. Pelo
menos em sua iteração contemporânea e mercantilizada, os cuidados pessoais não são soluções: são
exaustivos.

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30/05/2019 Como os millennials se tornaram a geração do esgotamento

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"O millennial moderno, na maior parte, vê a vida adulta como uma série de ações, em vez de um
estado do ser", explica uma matéria no Elite Daily. "Tornar-se adulto, portanto, vira um verbo."
"Virar adulto é completar sua lista de afazeres — mas tudo entra para a lista, e ela nunca termina.

"Estou tendo muita dificuldade para encontrar a magia do Natal neste anos", uma mulher em um
grupo do Facebook focado em cuidados pessoais escreveu recentemente. "Tenho dois filhinhos (de 2
anos e 6 meses) e, apesar de termos nos divertido lendo livros sobre o Natal, cantando, andando pela
vizinhança para olhar as luzes, eu sinto na maior parte que é só uma lista de afazeres sobreposta à
minha lista já sobrecarregada. Me sinto tão esgotada. Comiseração ou conselho?"

Essa é uma das expressões mais inefáveis e frustrantes do esgotamento: ele pega coisas que deveriam
ser prazerosas e as reduz a uma lista de tarefas, entremeadas com outras obrigações que deveriam
ser fácil ou zelosamente cumpridas. O resultado final é que tudo, de celebrações de casamento a
cadastros para votações, torna-se manchado por ressentimento, ansiedade e evasão. Talvez minha
incapacidade de levar as facas para amolar seja menos uma questão de ser preguiçosa e mais de ser
boa demais, por tempo demais, em ser uma millennial.

Há algumas formas de encarar esse problema da paralisia. Essa é uma das


Muitas das tarefas que os millennials consideram expressões mais
paralisantes são aquelas que são impossíveis de otimizar inefáveis e frustrantes
para serem mais eficientes, ou porque elas continuam do esgotamento: ele
teimosamente analógicas (correios) ou porque as pega coisas que
empresas otimizaram a si mesmas e a sua mão de obra deveriam ser
para tornar a experiência o mais árdua possível para o
prazerosas e as reduz
usuário (qualquer coisa a ver com seguro, contas ou
a uma lista de tarefas.
registrar uma queixa). Às vezes, as ineficiências fazem
parte do objetivo: quanto mais difícil for pedir um reembolso, menos provável é que você o faça. O
mesmo ocorre com devoluções.

Outras tarefas tornam-se difíceis por haver opções demais, e o que veio a ser conhecido como "fadiga
de decisão". Já mudei muito de cidade por causa da minha carreira e sempre odiei o processo de
encontrar novos médicos, dentistas e dermatologistas. Encontrar um médico — e não qualquer
médico, mas um que aceite o seu convênio e que aceite novos pacientes — pode parecer uma tarefa
fácil, mas a quantidade de opções pode ser paralisante sem as recomendações de amigos e parentes,
que são uma opção limitada quando se muda para uma cidade totalmente nova.

Outras tarefas são, bem, chatas. Já as fiz vezes demais. A recompensa por completá-las é pequena
demais. O tédio com a monotonia do trabalho tende a ser associado com trabalho braçal e/ou de
linha de produção, mas está amplamente presente entre os "profissionais do conhecimento".
Conforme Caroline Beaton, que escreveu extensivamente sobre millennials e trabalho, aponta, o
crescimento do "setor do conhecimento" simplesmente tem "mudado a mídia da monotonia do
maquinário pesado para a tecnologia digital. (...) Nos habituamos às tarefas altamente intensas, mas
previsíveis, da força de trabalho moderna. Como o estímulo não muda, acabamos deixando de ser
estimulados. A consequência é dupla. Primeiramente, como uma espécie de tortura chinesa, cada
coisa idêntica torna-se cada vez mais desagradável. Como defesa, nos tornamos cada vez mais
apáticos."

Minha recusa a responder uma mensagem carinhosa no Facebook é, portanto, sintomática do


número enorme de pedidos pela minha atenção online: pedidos para ler um artigo, pedidos para
divulgar meu próprio trabalho, pedidos para interagir sagazmente ou me defender de trolls ou curtir
a foto do bebê de um parente.

Para ser clara, nenhuma dessas explicações, a meu ver, me eximem. Elas não parecem motivos
ótimos ou racionais para evitar fazer coisas que eu sei, abstratamente, que eu quero ou preciso fazer.
No entanto, decisões estúpidas e irracionais são um sintoma do esgotamento. Tomamos parte em
comportamentos autodestrutivos ou nos refugiamos na evasão como forma de sairmos da esteira
https://www.buzzfeed.com/br/annehelenpetersen/millennials-burnout-geracao-esgotamento 11/14
rolante da nossa lista de afazeres. O que ajuda a explicar uma das reclamações sobre os hábitos de
trabalho dos millennials: eles chegam atrasados, faltam a turnos, não aparecem mais no trabalho.
30/05/2019 Como
Claro que algumas pessoas que os millennials
se comportam assimsepodem
tornaram a geraçãonão
simplesmente do esgotamento
saber como abaixar a
cabeça e trabalhar. Mas é bem mais provável que elas sejam ruins no trabalho por trabalharem muito
— especialmente quando trabalham em um contexto de precariedade financeira.

Estamos Nos anos recentes, pesquisas científicas demonstraram a


profundamente "imensa carga cognitiva" sobre aqueles que estão

endividados, financeiramente instáveis. Viver na pobreza equivale a

trabalhando por mais perder 13 pontos de QI. Milhões de millennials americanos

horas e em mais vivem na pobreza; outros milhões beiram a linha,

empregos por um sobrevivendo, mas por pouco, geralmente trabalhando em

pagamento menor e empregos incertos, com nada que sobre para ter uma
segurança que alivie essa carga cognitiva. Ser pobre é ter
menos estabilidade,
muito pouco espaço mental para tomar decisões, "boas" ou
com dificuldades para
ruins — como genitor, trabalhador, parceiro, cidadão.
alcançar o mesmo
Quanto mais estável a nossa vida, maior é a probabilidade
padrão de vida dos
de tomarmos decisões que a tornem ainda mais estável.
nossos pais, operando
em precariedade Estabilidade não é uma palavra que usamos para descrever
psicológica e física – a vida americana contemporânea. E, dependendo da sua
tudo isso enquanto religião, status de imigração, etnia e identidade sexual, é
nos dizem que basta bem provável que a eleição de Donald Trump tenha
trabalhar mais para tornado o seu futuro, segurança e empregabilidade menos
que a meritocracia estáveis. A cobertura de condições preexistentes por parte

prevaleça e dos planos de saúde parece sempre ser uma dúvida e/ou

comecemos a em perigo, assim como os direitos reprodutivos das

prosperar. mulheres. A guerra contra a Coreia do Norte aproxima-se.


Nunca reconhecemos as redes sociais e os smartphones
como mais tóxicos e mais necessários. Nossa principal preocupação com o mercado incrivelmente
volátil de ações é como seu temperamento afeta nosso emprego no dia a dia. O planeta está
morrendo. A democracia está seriamente ameaçada. Os adultos americanos relatam estar 39% mais
ansiosos do que há um ano, e o que é a ansiedade senão a condição de tentar viver sob essas
condições?

Especialistas passam muito tempo dizendo que "Isso não é normal", mas a única maneira de
conseguirmos sobreviver no dia a dia é normalizando os eventos, as ameaças, a avalanche de
informações, os custos e o que se espera de nós. O esgotamento não é um lugar que visitamos e do
qual retornamos; é nossa residência permanente.

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30/05/2019 Como os millennials se tornaram a geração do esgotamento
Em seus escritos sobre o esgotamento, o psicanalista Cohen descreve um cliente que veio até
ele com esgotamento extremo: ele era o típico filho millennial, otimizado para o desempenho
perfeito, o que compensou quando ele conseguiu um emprego no banco. Ele havia feito tudo certo e
continuava a fazer tudo certo no seu emprego. Uma manhã, ele acordou, desligou o despertador,
virou de lado e se recusou a ir para o trabalho. Ele nunca mais foi trabalhar. Ele ficou "intrigado ao
descobrir que ser demitido do emprego não o incomodou".

Na versão cinematográfica dessa história, esse homem se muda para uma ilha para redescobrir a
vida boa, ou descobre que ele adora carpintaria e abre uma oficina. Mas é esse tipo de solução
fantasiosa que faz com que o esgotamento millennial seja tão arraigado. Não se cura o esgotamento
tirando férias. Não é algo que se cure por meio de "hacks", como inbox zero, ou usando um aplicativo
de meditação por cinco minutos durante a manhã, ou preparando refeições antecipadamente para
toda a família no domingo, ou começando um diário em tópicos. Não é algo que se cure lendo um
livro sobre como"se desf*der" Não é algo que se cure com férias, ou um livro de colorir para adultos,
ou "cozinhar contra a ansiedade" ou a técnica Pomodoro.

O problema do esgotamento holístico, que tudo consome, é que não há solução para ele. Não é
possível otimizá-lo para que termine mais rápido. Não dá para sentir que ele está vindo que nem um
resfriado e começar a tomar a versão contra esgotamento de um antigripal. A melhor maneira de
tratá-lo é, em primeiro lugar, reconhecê-lo pelo que é — não um mal-estar passageiro, mas uma
doença crônica — e entender suas raízes e seus parâmetros. É por isso que as pessoas com quem
conversei se sentiram tão aliviadas lendo o cartum da "carga mental" e porque ler o livro de Harris
me trouxe a sensação de catarse: eles não justificam o motivo pelo qual nos comportamos e nos
sentimos dessa forma. Elas apenas descrevem essas sensações e comportamentos — e os sistemas
maiores do capitalismo e do patriarcado que contribuem para eles — com precisão.

Descrever o esgotamento dos millennials é reconhecer a multiplicidade da nossa realidade ao mesmo


tempo em que reconhecemos nosso status quo. Estamos profundamente endividados, trabalhando
por mais horas e em mais empregos por um pagamento menor e menos estabilidade, com
dificuldades para alcançar o mesmo padrão de vida dos nossos pais, operando em precariedade
psicológica e física – tudo isso enquanto nos dizem que basta trabalhar mais para que a meritocracia
prevaleça e comecemos a prosperar. A cenoura pendurada na nossa frente é o sonho de que a lista de
tarefas irá acabar, ou pelo menos se tornar bem mais gerenciável.

No entanto, a ação individual não é suficiente. As escolhas pessoais sozinhas não impedirão o
planeta de morrer ou o Facebook de violar nossa privacidade. Para fazer isso, é preciso uma
mudança de paradigmas. O que ajuda a explicar por que tantos millennials se identificam cada vez
mais com o socialismo democrático e estão abraçando sindicatos: estamos começando a entender
qual é o nosso mal, e não é algo que um tratamento para a pele ou uma mesa no escritório com
esteira possa consertar.

Até ou em vez que uma derrubada revolucionária do Nossa capacidade de


sistema capitalista aconteça, como podemos diminuir ou nos esgotarmos e
prevenir — em vez de estancar temporariamente — o continuarmos
esgotamento? A mudança pode vir da legislação, da ação trabalhando é o nosso
coletiva ou do ativismo feminista contínuo, mas é loucura maior valor.
imaginar que ela virá das próprias empresas. Nossa
capacidade de nos esgotarmos e continuarmos trabalhando é o nosso maior valor.

Ao escrever esta matéria, eu estava orquestrando uma mudança, planejando uma viagem, pegando
receitas de remédios, levando meu cachorro para caminhar, tentando me exercitar, preparando o
jantar, tentando participar de conversas do trabalho no Slack, postando fotos nas redes sociais e
lendo notícias. Eu estava acordando às 6 da manhã para escrever, embalando caixas durante o
almoço, movendo pilhas de lenha na hora da janta, indo dormir às 9. Eu estava na esteira rolante da
lista de tarefas: uma coisa após a outra. No entanto, ao terminar esta matéria, eu sinto algo que não
sentia há muito tempo: catarse. Eu me sinto ótima. Sinto alguma coisa que é algo que eu não sentia
ao completar uma tarefa faz tempo.

Ainda há coisas a enfrentar depois disso. Mas, pela primeira vez, estou vendo a mim mesma, os
parâmetros do meu trabalho e as causas do meu esgotamento claramente. Não parece ser o fundo do
poço. Não parece ser desesperador. Não é um problema que eu possa resolver, mas é uma realidade
que eu posso reconhecer, um paradigma através do qual posso entender minhas ações.

Ao escrever sobre a condição de estar desabrigado, o psicólogo Devon Price diz que "preguiça", pelo
https://www.buzzfeed.com/br/annehelenpetersen/millennials-burnout-geracao-esgotamento 13/14
menos na forma como a maioria de nós a concebe em geral, simplesmente não existe. "Se o
comportamento de uma pessoa não faz sentido para você", ele escreve, "é porque está lhe faltando
30/05/2019 Como
alguma parte do contexto dela. os millennials
Simples assim." Meusecomportamento
tornaram a geração do sentido
não fazia esgotamento
para mim
porque parte do meu contexto estava faltando: o esgotamento. Eu tinha vergonha demais de admitir
que era o que eu estava sentindo. Eu me achava forte demais para sucumbir a ele. Eu havia limitado
minha definição de esgotamento para excluir meus próprios comportamentos e sintomas. Mas eu
estava errada.

Acho que tenho algumas respostas para as perguntas específicas que me fizeram começar a escrever
este ensaio. As suas provavelmente são ligeira ou substancialmente diferentes. Não tenho um plano
de ação além de ser mais sincera comigo mesma – sobre o que eu estou e não estou fazendo e por
que – e tentar me desembaraçar dessa ideia de que tudo o que é bom faz mal e tudo o que é ruim faz
bem. Isso não é uma tarefa a ser cumprida, um item da lista de tarefas, ou mesmo uma resolução de
Ano Novo. É uma maneira de pensar na vida e em qual alegria e significado podemos tirar dela não
apenas pela otimização, mas a vivenciando. O que é outra maneira de dizer: esse é o verdadeiro
trabalho da vida. ●

VEJA TAMBÉM:

Como é o esgotamento da geração millennial para  pessoas diferentes


Anne Helen Petersen · Jan. 21, 2019

 limites que todos deveríamos traçar em 


Andrea Bonior, PhD · Jan. 8, 2019

A tradução deste post (original em inglês) foi editada por Luísa Pessoa.

Anne Helen Petersen is a senior culture writer for BuzzFeed News and is based in Missoula, Montana.
Contact Anne Helen Petersen at anne.helen.petersen@buzzfeed.com.

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rafamarah 4 months ago

Tudo que é bom faz mal? Tudo que é ruim faz bem? Cada um sabe pra si o que é bom e ruim. Ela
falou que trabalhar é ruim e ter lazer é bom. Isso é verdade pra ela. Claro que nas condições dos
millenials de emprego, muitas horas extras e baixo salário, isso se tornou ruim. Mas trabalhar não é
ruim em si. Nem lazer significa algo bom se não for saudável.

https://www.buzzfeed.com/br/annehelenpetersen/millennials-burnout-geracao-esgotamento 14/14

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