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Função: O direito das sucessões tem a função de dar continuidade ao que foi interrompido pela morte.
É a substituição do sujeito na relação jurídica post mortem.
• Sucessão legítima: aquela que decorre da lei, que enuncia a ordem de vocação hereditária,
presumindo a vontade do autor da herança neste caso não há o exercício da autonomia da
vontade do autor da herança;
• Sucessão testamentária: tem origem em ato de última vontade do morto, que pode ser
expressada por testamento, legado ou codicilo. Há autonomia da vontade por parte do doador
da herança, ainda que limitada pela proteção da legítima.
O direito das sucessões se inicia no artigo 1.784 do CC/2002, pelo qual fica expresso que, com a morte
da pessoa, momento em que é aberta a sucessão, a herança será transmitida, desde logo, aos
herdeiros legítimos e testamentários. Com a morte, a herança transmite-se imediatamente aos
sucessores, independentemente de qualquer dos herdeiros. O ato de aceitação da herança, tem
natureza confirmatória.
Legítima: é a metade dos bens da herança. Esta será calculada sobre o valor dos bens existentes na
abertura da sucessão, abatidas as dívidas e as despesas do funeral, adicionando-se, em seguida, os
bens sujeitos à colação. A legítima é protegida pelo legislador, que não permite, em caso de existência
de herdeiros necessários, que o autor da herança disponha de mais que 50% do seu patrimônio.
Direito à herança: nasce após a morte; é o direito sobre o patrimônio alheio após o falecimento do
seu titular. Tal direito é previsto apenas no plano infraconstitucional
Saisine: é a transmissão automática da herança, por força da lei, com a morte do de cujus aos herdeiros
legítimos e testamenteiros. Tem como objetivo evitar que a herança fique sem dono por longo tempo
até a decisão judicial definitiva. A partir deste momento permite-se a posse e a administração dos
bens, contudo, somente serão transmitidos definitivamente após a partilha. Não é a abertura da
sucessão, mas uma consequência jurídica dela. A saisine não alcança as titularidades personalíssimas,
como o usufruto e preferência.
Local da abertura da sucessão: a regra geral é que seja último local de domicílio do autor da herança.
Contudo, o artigo 48 do CPC/2015 dispõe que se não há domicílio certo, será competente: o foro de
situação dos bens imóveis; havendo bens imóveis em foros diferentes, poderá ser qualquer um desses;
se não houver bens imóveis, poderá ser o foro de qualquer dos bens do espólio, que será aplicado aos
bens móveis.
Aplicação da norma sucessória: será a norma vigente na época do óbito, Súmula 112 – STF
O Dublo Binário do Direito Sucessório
Ter um duplo binário significa que o direito sucessório somente irá “se encaixar” se houver duas
situações/premissas, exceto no caso de situação unipessoal, como a viuvez ou solteirice, nestes casos
não haverá problema.
• Primeira premissa: a pessoa somente poderá ter um relacionamento, não sendo admitido
mais de uma relação. Não importa aqui se é uma relação hétero ou homoafetiva. O importante
é não haver mais de uma.
• Segunda premissa: a relação entre duas pessoas só será admitida se for um casamento ou
uma união estável. O concubinato não é aceito.
• “Terceira” premissa: é necessário que haja a morte de uma das partes.
Repercussão prática do duplo binário: se uma pessoa fica casada por dois anos, separa-se e inicia um
relacionamento com outra pessoa que culmina na configuração da união estável, após a sua morte,
quem será o herdeiro? O duplo binário impede que haja uma solução, pois neste caso há a presença
de três pessoas. O que tem sido feito é a divisão do patrimônio do de cujus como se vivo fosse, fazendo
a meação com a ex-esposa.
• Autor da herança ou de cujus: aquele que faleceu e deixou bens a serem transmitidos;
• Herança: é o patrimônio conjunto deixado pelo de cujus, é a universalidade dos bens deixados.
É o resultado positivo do patrimônio excluindo-se as dívidas. O inventário apurará a herança e
a partilha a dividirá, antes da partilha é um bem indivisível. Por força da lei, será tratada como
bem imóvel, mesmo que composta exclusivamente de bens móveis, artigo 80, II, CC/2002.
• Legado: é a individualização de um ou mais bens por meio do testamento, que deve identificar
o bem e para quem ele irá.
• Herdeiro: pessoa que tem direito à uma cota da herança, como se fosse um condômino em
um condomínio.
• Herdeiro testamentário: aquele que recebe por testamento uma quota da herança. Ex: se o
testamento disser que deixa 10% para determinada pessoa, esta pessoa será herdeira, e não
legatária, visto que não houve individualização do bem.
• Legatário: aquele que tem direito a um bem específico deixado em testamento, sendo tratado
como credor da herança. O legatário possui um direito expectativo, pois seu deito está sob
termo, que no caso é a morte do autor da herança. Neste caso não haverá a aplicação da
saisine, cabendo-lhe apenas a posse indireta e os frutos, até o momento da partilha.
• Inventário: universalidade de bens com vários proprietários, como uma espécie de
condomínio. Será sempre obrigatório, não importando se será judicial ou extrajudicial. Pode
ter três efeitos:
o Positivo: quando houver mais patrimônio do que dívidas;
o Negativo: quando há mais dívidas do que patrimônio;
o Zero: quando não há dívida nem patrimônio, ou quando o patrimônio existente foi
suficiente para o pagamento de todas as dívidas e não sobrou nada.
• Inventariante: é o “síndico” que administrará e representará o “condomínio” do inventário,
ou seja, da herança. Este será nomeado pelo juiz, conforme ordem prevista no artigo 617,
CPC/2015. Após a realização da partilha, a figura do inventariante não mais existirá.
Tipos de Herdeiros
• Herdeiro legítimo ou legal: aquele determinado por lei como sucessor pelo artigo 1.829,
CC/2002;
• Herdeiro necessário: são os ascendentes, descendentes ou cônjuge/companheiro. Eles
possuem direito a uma cota da herança da qual não podem ser privados. Essas pessoas têm
em seu favor a proteção da legítima.
• Herdeiro facultativo: na falta de herdeiros necessários e de testamento que disponha sobre o
destino do espólio, estes serão os herdeiros. Neste caso não há a proteção da legítima,
podendo ser excluídos da herança. É o caso dos colaterais até o quarto grua (irmãos, tios,
sobrinhos, primos, tios-avôs e sobrinhos-netos).
• Herdeiro por representação: é aquele que representará o herdeiro se este vier a falecer antes
da abertura da sucessão, ou seja, é pré-morto ou em caso de ser excluído da sucessão. Esta
hipótese ocorrerá apenas na sucessão legítima e não haverá a aplicação da saisine, uma vez
que o representante não era herdeiro à época da abertura da sucessão.
• Herdeiro por substituição: é aquele que o autor da herança indica no testamento que poderá
receber a herança caso o herdeiro não possa receber. Não há a aplicação da saisine.
• Herdeiro instituído: é também conhecido como herdeiro testamentário. É aquele que se
tornou herdeiro por força da autonomia da vontade do autor da herança que o colocou em
seu testamento. Neste caso, há a aplicação da saisine.
Benefício do inventário: se o resultado do inventário for negativo, ou seja, o resultado da herança for
de dívidas, os herdeiros não possuem a obrigação de pagar. A própria herança deve cobrir suas dívidas,
se não for suficiente, permanecerá sem o pagamento. Consagrado no artigo 1.792, CC/2002.
A administração da herança
Com a abertura da sucessão, forma-se um condomínio eventual pro indiviso em relação aos bens que
integram a herança até o momento da partilha entre os herdeiros. Como consequência há restrições
quanto a disponibilidade do quinhão pertencente a cada um dos herdeiros.
• Art. 1.793, § 2º, CC/2002: não é possível ceder qualquer bem da herança considerado
individualmente;
• Art. 1.793, § 3º, CC/2002: não é possível ceder qualquer bem da herança sem a prévia
autorização do juiz da sucessão;
• Art. 1794, CC/2002: não é possível a cessão de quota hereditária a pessoa estranha à sucessão,
se outro coerdeiro a quiser, tanto por tanto.
Administrador provisório: pelo artigo 615, CPC/ 2015, o administrador provisório representará ativa
e passivamente o espólio, sendo obrigado a trazer ao acervo os frutos que desde a abertura da
sucessão percebeu, tendo direito ao reembolso das despesas necessárias e úteis que fez e responde
pelo dano a que, por dolo ou culpa, der causa. Esta administração perdurará até o compromisso do
inventariante, que irá administrar o inventário, conforme previsto no artigo 1.797, CC/2002. O artigo
traz um rol meramente exemplificativo que consiste na seguinte ordem sucessiva:
Herança jacente: é a herança enquanto se tenta encontrar os herdeiros. Neste momento, os bens,
depois de arrecadados ficarão sob a guarda e administração de um curador até a sua entrega ao
sucessor devidamente habilitado ou a declaração de sua vacância, conforme o artigo 1.819, CC/2002.
Herança vacante: quando ao final do prazo da jacente não se localizam os herdeiros. Neste caso, os
bens arrecadados passarão ao domínio do Município, do Distrito Federal ou da União, a depender de
sua localização. Vale ressaltar que o Estado não é herdeiro, mas um sucessor irregular, não estando
sujeito ao direito de saisine – artigo 1.820, CC/2002. Contudo, esta tem o direito expectativo (art. 130,
CC), uma vez que está sob um direito eventual e, portanto, tem direito a praticar atos conservatórios,
como propor uma ação para afastar uma invasão, evitando usucapião (atos conservatórios).
Credor: sendo declarada a vacância definitiva, é assegurado aos credores o direito de pedir o
pagamento das dívidas reconhecidas, nos limites das forças da herança – artigo 1.821, CC/2002.
Da Vocação Hereditária
Legitimados para suceder: Pelo artigo 1.798, CC/2002, são legitimados para a sucessão aqueles
nascidos ou já concebidos no momento da abertura da sucessão. Tem-se aqui uma grande inovação
em relação ao código de 1916, que não reconhecia a legitimidade do nascituro para suceder. Apesar
disso, o direito apenas irá ser consolidado se o nascituro nascer com vida, quando este adquirirá
personalidade civil. Se nascer morto, será como se nunca tivesse existido. O enunciado 267 do CJF/STJ
inclui também aqueles embriões havidos de técnicas de reprodução assistida.
Vocação na sucessão testamentária: no artigo 1.799, CC/2002, resta explícito que podem ser
chamados a suceder:
• Os filhos, ainda não concebidos de pessoas indicadas pelo testador (prole eventual), desde
que vivas estas ao abrir-se a sucessão: neste caso, os bens da herança serão confiados, após
a liquidação ou partilha, a um curado nomeado pelo juiz. Contudo, se em até 2 anos após a
abertura da sucessão não houver a concepção, os bens caberão aos herdeiros legítimos (artigo
1.800, CC/2002);
• As pessoas jurídicas: somente podem herdar por testamento, não sendo incluídas entre os
legitimados. Neste caso a pessoa jurídica já é existente e constituída;
• As pessoas jurídicas, cuja organização for determinada pelo testador sob a forma de
fundação: o autor da herança pode determinar a criação de uma fundação que irá receber os
bens determinados pela herança.
Quem não pode ser nomeado herdeiro ou legatário: o artigo 1.801, CC/2002 traz as pessoas que não
podem ser nomeadas em testamento. Em caso de nomeação as cláusulas serão nulas, assim como em
casos de simulação com o uso de pessoas interpostas, artigo 1.802, CC/2002.
• A pessoa que, a rogo (a pedido), escreveu o testamento, nem o seu cônjuge ou companheiro,
ou os seus ascendentes e irmãos: previsão que visa proteger a legitimidade do testamento;
• As testemunhas do testamento: possui o mesmo objetivo do inciso anterior;
• O concubino do testador casado, salvo se este, sem culpa sua, estiver separado de fato do
cônjuge há mais de cinco anos: a norma objetiva proteger o cônjuge. Contudo, deve-se
ressaltar que a jurisprudência já não entende mais a necessidade do prazo para a configuração
da união estável, além de não haver mais a aplicação de culpa na separação. Assim, entende-
se que esta vedação não será aplicada para a união estável, mas para o caso de haver
concubinato e não houver a separação de fato, o concubino não pode receber legado ou
herança testamentária.
• O tabelião, civil ou militar, ou o comandante ou escrivão, perante quem se fizer, assim como
o que fizer ou aprovar o testamento: da mesma forma que os dois primeiros incisos, visa
proteger a integridade ética do testamento.
• Expressa: feita por declaração escrita do herdeiro, por meio de instrumento público ou
particular, conforme artigo 1.805, CC/2002.
• Tácita: ocorre da realização de atos próprios da qualidade de herdeiro, como começar a
administrar um bem da herança como se seu fosse, ou o próprio pedido de abertura do
inventário e o arrolamento de bens com a regularização processual por meio de nomeação de
advogado. Contudo, conforme o § 1º do artigo 1.805, CC/2002, a realização de atos oficiosos
como o funeral do falecido, os meramente conservatórios ou os de administração e guarda
provisória, não configurarão a aceitação da herança.
• Presumida: se o interessado em que o herdeiro declare a aceitação ou não da herança solicitar
ao juiz que o herdeiro se pronuncie, e não houver pronunciamento, a herança será dada como
aceita, conforme artigo 1.807, CC/2002.
Se o herdeiro falecer antes de declarar se aceita ou não a herança, o poder de manifestação será
transmitido aos seus herdeiros, exceto em caso de vocação adstrita a uma condição suspensiva ainda
não verificada.
Renúncia da herança: pelo artigo 1.806, CC/2002 a renúncia sempre deverá ser expressa, constando
de instrumento público ou termo judicial, ou seja, não há renúncia tácita ou presumida. Contudo, essa
possui duas modalidades.
• Renúncia abdicativa: o herdeiro diz simplesmente que não quer a herança, havendo cessão
pura e simples da parte renunciada a todos os coerdeiros. Neste caso não há incidência de
imposto contra o renunciante;
• Renúncia translativa: o herdeiro cede seus direitos em favor de determinada pessoa. Como
neste caso configura-se um negócio jurídico de transmissão, há a incidência de imposto de
transmissão inter vivos. Neste caso houve a aceitação da parte e depois a doação a outra
pessoa.
É importante ressaltar que não é possível a renúncia ou a aceitação da herança em partes, sob
condição futura ou a termo, pois a herança é um bem único e indivisível, pelo artigo 1.808, CC/2002.
Contudo, aquele que possuir direito à legado e à herança, poderá escolher entre um ou outro se assim
desejar. Ademais, se na mesma herança for chamado para receber mais de um quinhão hereditário,
sob títulos sucessórios diversos, poderá deliberar sobre os que aceita ou renúncia, conforme §§ 1º e
2º, 1.808, CC/2002.
Tanto a renúncia quanto a aceitação são atos irrevogáveis, conforme artigo 1.812, CC/2002. Esta é
mais uma inovação em relação ao código de 1916.
Efeito da renúncia: na sucessão legítima, a parte do renunciante será acrescida à parte dos demais
herdeiros de mesma classe. Se este for o único desta categoria, a parte renunciada será destinada aos
da classe subsequente, conforme artigo 1.810, CC/2002.
Artigo 1.811, CC/2002: o artigo dispõe sobre ninguém poder suceder o herdeiro renunciante, exceto
se este for o único legítimo da sua classe ou se os demais também tiverem renunciado, neste caso, os
filhos do renunciante poderão vir a sucessão. Isto ocorre pois o herdeiro que renuncia é considerado
como se nunca tivesse sido herdeiro e isso atinge o direito de representação dos seus herdeiros.
Artigo 1.813, CC/2002: o legislador permitiu que, em caso de o herdeiro prejudicar seus credores ao
renunciar a herança, estes poderão aceitá-la por ele, com a autorização do juiz.
Excluídos da sucessão
Uma pessoa pode ser excluída da sucessão por indignidade sucessória ou pela deserdação como pena
civil. Nestes casos há um afastamento do direito por razão de ordem subjetiva pois o autor é
considerado como desprovido de moral para receber a herança em decorrência da prática de algum
ato.
Indignidade sucessória: se dá por simples incidência da norma e por decisão judicial, o que pode atingir
qualquer herdeiro. Neste caso tem-se matéria de sucessão legítima e testamentária, devendo haver
pedido de terceiros interessados ou do MP, com a confirmação em sentença transitada em julgado.
Deserdação: há um ato de última vontade que afasta o herdeiro necessário, sendo imprescritível a
confirmação por sentença. Deve ser expressa no testamento, mas aquele que se beneficiar da
deserdação deve provar a veracidade da causa alegada pelo testador na ação de confirmação da
deserdação. As hipóteses são as mesmas da indignidade, acrescida das hipóteses exclusivas de
deserdação contidas nos artigos 1.962 e 1.963 do CC/2002, e são elas:
Efeitos da deserdação: os efeitos são pessoais, ou seja, aplicam-se apenas a pessoa deserdada, não
sendo transmitida aos seus herdeiros, é como se este morto estivesse antes da abertura da sucessão.
Além disso, não poderá usufruir ou administrar os bens os quais seus sucessores receberão de herança,
conforme artigo 1.816, CC/2002.
Perdão: se o autor da herança quiser, e expressamente determinar por testamento, ou em outro ato
autêntico, poderá aquele que incorreu em atos que determinaram sua exclusão da herança será
admitido a suceder sendo reabilitado, conforme artigo 1.818, CC/2002.
Da Sucessão Legítima
A sucessão legítima visa proteger aqueles que possuem o direito à 50% do patrimônio líquido do autor
da herança e não pode ser disposto em testamento, artigo 1.846, CC/2002.
• Herdeiros necessários:
o Descendentes + cônjuge (com exceções a depender do regime de bens) /
companheiro;
o Ascendentes + cônjuge/companheiro;
o Cônjuge / companheiro sobrevivente;
• Herdeiros facultativos:
o Colaterais até o quarto grau.
Figura do companheiro: o código não traz explícita a figura do companheiro, contudo a doutrina
entende pelo tratamento igualitário entre cônjuge e companheiro. Esse entendimento foi confirmado
pela decisão do STF que declarou a inconstitucionalidade do artigo 1.790 do CC/2002 que trazia
disposto que o companheiro concorria com o colateral.
• Igualdade: pai e mãe recebem a mesma coisa, não há diferença entre as pessoas da mesma
classe;
• Preferência: o mais próximo na linha sucessória tem preferência em relação ao de grau mais
distante. Ex: se há pais e avós vivos, somente os pais receberão a herança.
Sucessão do cônjuge:
Direito real de habitação: é o direito do cônjuge sobrevivente continuar morando no imóvel que servia
de residência para o casal, desde que seja o único dessa natureza a ser inventariado. É “instituto
personae” e independe do regime de bens. É personalíssimo e vitalício. Artigo 1.831, CC/2002.
Sucessão Testamentária
Testamento: é um negócio jurídico que envolve a manifestação de última vontade em que se dispõe
de patrimônio ou aspectos não patrimoniais, para depois da morte do autor, sendo submetido à
função social; pode ser revogado a qualquer tempo. Suas principais características são:
• Caráter personalíssimo: somente o testador pode fazer o testamento, não pode ser feito em
conjunto ou por outra pessoa;
• Unilateral: apesar de ser unilateral, exige-se a aceitação do beneficiário, se não for aceito,
caducará;
• Solene: precisa seguir as formalidades, devendo ser por escrito, exceto no caso de militar
nuncupativo; se não cumprir as formalidades ele será nulo;
• Gratuito: o testador não será beneficiado; e não poderá exigir qualquer remuneração ou
contraprestação de quem aceita, inclusive não é permitida a imposição de um encargo pois
este retira o caráter de gratuidade;
• Revogável: pode ser revogado a qualquer tempo, contudo, não poderá anular cláusula que
disponha sobre direito indisponível (ex: reconhecimento de paternidade). Além disso, não
pode conter cláusula que impeça sua revogação (cláusula derrogativa); o testamento válido
será o último testamento feito; poderá ser total ou parcial.
Capacidade: toda pessoa capaz e acima de 16 anos pode fazer um testamento dispondo seus bens
para depois de sua morte, desde que resguarde a legítima (a legítima não poderá ser incluída no
testamento). Artigo 1.857, CC/2002.
Nulidade do testamento: o testamento será nulo em caso de nomeação de herdeiro ou legatário sob
condição captatória (disponha de algo em benefício do testador ou de um terceiro); nomeação de
pessoa incerta; favorecimento de pessoa incerta, cuja nomeação seja conferida a terceiro; conferir a
terceiro fixação do valor do legado ou da cota hereditária; em favor de pessoas indicadas nos artigos
1.801 e 1802, CC/20052.
Testamento “inter vivos” – partilha em vida: não é testamento, mas sim um tipo de doação. Apesar
disso, se a doação for destinada àquele que seria herdeiro legítimo, poderá ser considerado uma
antecipação da herança. É a partilha em vida prevista no artigo 2.018, CC/2018, não podendo, porém,
prejudicar os demais herdeiros necessários, deve preservar a legítima.
Pacto de Corvina: vedado pelo artigo 426 do CC/2002. Não pode ser objeto de contrato a herança de
pessoa viva. Ou seja, não se pode fazer qualquer negócio contando com o que teoricamente se
receberá como herança. Isto comprova que a herança tem importância para o proprietário.
Codicilo
Conceito: constitui uma disposição testamentária de pequena monta ou extensão; trata-se de ato de
última vontade simplificado, para o qual a lei não exige tanta solenidade em razão de ser o seu objeto
considerado de menor importância patrimonial para o falecido e para os herdeiros, mas com valor
sentimental; se o codicilo abarcar mais de 10% do patrimônio líquido do testador, deve-se afastá-lo
como tal, e ser olhado como testamento; o codicilo poderá coexistir com o testamento e um poderá
revogar disposições do outro – artigo 1.881, CC/2002
• Conteúdo: o autor poderá versar sobre o seu enterro, sobre esmolas de pouca monta a certas
e determinadas pessoas, ou, indeterminadamente, aos pobres de certo lugar, assim como
legar móveis, roupas ou joias, de pouco valor, de seu uso pessoal. É possível também nomear
ou substituir testamenteiros por meio e fazer disposição sobre a celebração de uma missa ou
culto em nome do falecido, além de ser viável fazer o perdão do herdeiro indigno;
• Requisitos: deve ser feito mediante escrito particular, datado e assinado, não sendo
necessária a presença de testemunhas.
Da Colação
Conceito: a colação é obrigatoriedade de informar uma transferência dos bens da herança pelo de
cujus, em vida, aos seus descendentes. Para a apuração da quota entre os herdeiros legítimos, o valor
da colação deve ser informado, sob pena de sonegação, conforme artigo 2.002, CC/2002.
Bens dispensados da colação: pelo artigo 2.005, CC/2002, está dispensado da colação aqueles bens
que sairão da parte disponível dos bens do doador, ou seja, aqueles que não compuserem a legítima.
A nova codificação trouxe mudanças significativas em relação à anterior, podendo ser citado:
• Foro competente: O CPC/15 deixa claro que a competência será a do local de domicílio
do autor da herança, podendo ser diferente apenas em caso de não haver a determinação do
local de domicílio do de cujus. Em compensação, o CPC/73 dizia ser competente tanto o local
de domicílio do autor da herança como também o local de situação dos bens ou o local do
óbito do autor.
• Abertura do inventário: O CPC/73 trazia a possibilidade de o juiz abrir o inventário de ofício.
Porém atualmente, o CPC/15 restringe a possibilidade apenas aos legitimidade ou
interessados patrimonialmente na herança.
• Menor inventariante: o CPC/15 passou a permitir que o menor, herdeiro, desde que
representado ou assistido, possa ser inventariante, o que não era possível pela codificação
anterior.
Planejamento Sucessório
Conceito: conjunto de atos que visa operar a transferência e a manutenção organizada e estável do
patrimônio do disponente em favor dos seus sucessores. Significa organizar o processo de transição
do patrimônio, afim que que não seja um processo longo e custoso.
• Regime de bens: primeiro aspecto a ser observado para o planejamento sucessório, pois este
poderá influir no direito sucessório do cônjuge sobrevivente, quando concorrendo com
descendentes do falecido.
• Direito Societário: irá influir no planejamento sucessório pois, desde que atendidas as
prescrições legais, e não se configurando fraude ou abuso, afigura-se lícita a constituição de
determinadas pessoas jurídicas, quer seja para assegurar interesses no âmbito sucessório.
• Partilha em vida: Nada impede, pois, que, em vida, o sujeito efetive a doação de seus bens
mantendo em seu próprio favor, ou não, a reserva do usufruto sobre esses bens. O doador
poderá, independentemente de anuência expressa dos demais herdeiros, alienar
gratuitamente bens do seu patrimônio, desde que reserve uma renda mínima para a sua
sobrevivência digna, efetuar “partilha em vida”, referida no art. 2.018, CC/2002. Contudo, tal
partilha deve ser feita com cautela, pois, caso o ato de disposição ultrapasse a metade
disponível, poderá resultar na invalidade.
Conceito: o inventário é o procedimento obrigatório para a atribuição legal dos bens aos sucessores
do falecido, mesmo em caso de partilha extrajudicial; é quase como um condomínio necessário, mas
neste caso, tem-se uma universalidade de bens com vários titulares; é o meio pelo qual se promove a
efetiva transferência da herança para respectivos herdeiros, embora, no plano jurídico (e fictício), a
transmissão do acervo se opere no exato instante do falecimento.
• Arrolamento sumário (artigos 659 a 633, CPC/2015): as partes avaliam, por si só, os bens. Isto
NÃO ocorre no inventário extrajudicial;
• Arrolamento comum (artigos 664 e seguintes, CPC/2015): é possível de acordo com o valor
(inferior ou igual a mil salários-mínimos – artigo 664, CPC/2015);
Espólio: conjunto de bens formado com a morte de alguém, que constitui um ente despersonalizado
Inventariante: inventariante é o administrador do espólio enquanto não ocorre a partilha; age com
um mandato legal, após a devida nomeação pelo juiz na ordem do artigo 617, CPC/15; contudo poderá
ser contratado, pois o inventariante deve ser aquele que tem mais aptidão/conhecimento (eficiência)
e que consiga levar o “melhor clima de paz”, para que não sejam criados microlitígios dentro do
inventário.
Formas de Inventário:
Adjudicação: O inventário também poderá ter como desfecho a adjudicação; ainda que em regra, o
inventário seja um condomínio, quando há um único herdeiro far-se-á a adjudicação e este herdeiro
será denominado herdeiro universal; neste caso não há partilha.
Local de abertura do inventário: o inventário será aberto sempre no último domicílio do falecido – art.
1.785, CC/2002.
Prazo: o processo de inventário e de partilha deve ser instaurado dentro de 2 (dois) meses, a contar
da abertura da sucessão, ultimando-se nos 12 (doze) meses subsequentes, podendo o juiz prorrogar
esses prazos, de ofício ou a requerimento de parte – artigo 611, CPC/2015.
Alienação dos bens: não é permitido alienar bens sem autorização judicial; para alienar deverá solicitar
ao juiz comprovando que os bens perderão o valor ou padecerão com o decurso do tempo do
inventário.
Petição de Herança
Conceito: é a demanda que visa a incluir um herdeiro na herança mesmo após a sua divisão; pelo artigo
1.824, CC/2002, pode o herdeiro, em ação de petição de herança, demandar o reconhecimento de seu
direito sucessório, para obter a restituição da herança, ou de parte dela, contra quem, na qualidade
de herdeiro, ou mesmo sem título, a possua. Ex: é o caso de um filho não reconhecido que pretende o
seu reconhecimento posterior e inclusão na herança; poderá compreender todos os bens hereditários
– artigo 1.825 CC/2002.
• Objeto: declaração judicial de condição de herdeiro + obtenção de posse e propriedade dos
bens da herança (em todo ou em parte) que se encontram sob poder de outrem;
• Legitimidade ativa: a ação deve ser demandada por herdeiro legítimo ou testamentário;
• Legitimidade passiva: aquele que está na posse da herança, incluindo os terceiros que não são
herdeiros, mas que detenham a posse de bem da herança (incluindo o Poder Público), o que
demonstra o caráter real da ação de petição de herança – artigo 1.827 CC/2002.
• Prazo: o STJ entende que existe o prazo prescricional de 10 anos contados a partir do
reconhecimento da qualidade de herdeiro; contudo, a doutrina vem entendendo pela
imprescritibilidade da petição de herança, uma vez que não se trata de uma pretensão
condenatória, mas uma ação com caráter reivindicatório, assim não teria prazo;
• Efeitos: a partilha torna-se ineficaz em relação ao autor da petição da herança (não anula a
partilha inteira) e o possuidor da herança fica obrigado a restituir os bens ao novo herdeiro;
• Responsabilidade do possuidor: se de boa-fé, este não poderá ser responsabilizado pelo
eventual prejuízo causado ao autor da ação; possui a responsabilidade de restituir o bem e
poderá ser responsabilizado pelos prejuízos pois a partir do conhecimento e a não entrega dos
bens, estará na posse de má-fé.
Ação de sonegados: espécie de petição de herança de natureza especial, o herdeiro não pode sonegar
e tem que proceder a declaração dos bens que se encontram com ele. Parte da premissa de que um
bem deveria estar na herança para ser partilhado e, assim, uma das penas é a perda sobre o bem
daquele que sonega o bem.
Ocorrência: artigo 1.851, CC/2002 - ocorre quando uma pessoa recebe no lugar de outra que
originalmente figuraria como herdeiro; é uma figura específica da sucessão legítima, mas é possível
que o testador coloque no testamento quem vai ser o substituto na eventual hipótese de o herdeiro
não querer ou não puder receber a vantagem – artigo 1.947, CC/2002.
• Regra geral: ocorrerá sempre em linha descendente, nunca ascendente – artigo 1.852.
CC/2002;
o Exceção: é possível ocorrer na linha transversal, nos casos dos filhos de irmãos do
falecido, quando com irmãos deste concorrerem – artigo 1.853, CC/2002;
• Pressupostos:
o Pré-morte do representado em relação à abertura da sucessão do autor da herança
(exceto no caso de representação de indignos e deserdados);
o Relação de descendência entre o representante e o representado (ou a exceção do do
sobrinho na linha transversal);
o Inexistência de quebra da continuidade parental;
o Estabelecimento de concorrência entre diferentes graus de descendência (se todos os
filhos são pré-mortos, os netos não sucedem por representação, mas por direito
próprio).
• Tributo: a incidência tributária é única em relação ao quinhão do representado, pois não há
dupla transmissão.