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Como os hippies mudaram a física quântica

Há 40 anos, um grupo de jovens físicos (e hippies) colocava seu futuro profissional


em risco para pesquisar os mistérios da consciência e da natureza. Sem saber, eles
estavam abrindo caminho para a revolução quântica que vem aí.

Nos próximos anos, a física quântica vai invadir nosso dia a dia — mesmo o
daquelas pessoas que não gostam muito do assunto. Não acredita? Então basta
olhar o noticiário. Nos últimos 12 meses, houve novidades em áreas como
encriptação quântica (a Toshiba anunciou que seu sistema já está em fase de
testes), computação quântica (engenheiros da IBM publicaram na revista científica
Nature alguns de seus avanços mais recentes para a construção de um computador
quântico) e até teletransporte quântico (pesquisadores suíços bateram o recorde de
teletransporte usando duas partículas de luz distantes 25 quilômetros entre si). O
que essas novidades não contam é que essa história não remete a grandes empresas
de tecnologia nem a universidades renomadas. Na verdade, ela teve início 40 anos
atrás e envolve um grupo de físicos jovens, ligados na cultura hippie da Califórnia e
interessados em assuntos como filosofia, consciência, religiões orientais e até
poderes paranormais.
Nos anos 1970, surgiu na Califórnia um novo tipo de físico. Eram jovens formados
pelas melhores instituições de ensino dos Estados Unidos e que dominavam os
aspectos mais complexos da disciplina. Com uma diferença: seus valores incluíam
também a boemia e o psicodelismo que varreram o mundo alguns anos antes,
durante a explosão da contracultura. O resultado era um estilo de vida que passava
longe do estereótipo do geek inteligente.

O físico Sean Paul Sirag, por exemplo, abandonou as aulas na Universidade da


Califórnia em Berkeley por anos. Tornou-se um dos seguidores da banda
psicodélica Greatful Dead, ator (convidado a participar da primeira montagem de
Hair) e ávido consumidor de LSD antes de voltar ao campus. O professor de física
Jack Sarfatti, da San Diego State University, era muito amigo de boêmios lendários,
como o poeta beat Greg Corso, frequentava as animadas festas do povo do cinema
(indicou um colega para ser consultor de Spielberg em Contatos imediatos de
terceiro grau) e foi reconhecido por um grande cabalista como “um herdeiro da
tradição”. Colega de Sarfatti na mesma universidade, Fred Alan Wolf era um cético
que começou a mudar de ideia depois de ter uma experiência transcendental
meditando num templo budista no Nepal.

A mais certinha da turma era Elizabeth Rauscher, física nuclear que trabalhava no
prestigiado Laboratório Lawrence Berkeley. Fora do expediente, ela lia sobre
teosofia e praticava meditação, e foi demitida de um grupo de pesquisa porque
militava em iniciativas de ações afirmativas. Além do interesse por temas como
boemia, drogas ou misticismo, havia outro fator que unia o grupo. “Nós, jovens,
acreditávamos que era preciso nos responsabilizarmos pelo que acontecia no
mundo”, conta Elizabeth. “O fator principal era a Guerra do Vietnã. Isso incluía
explorar as coisas por si mesmo, e não se limitar a acreditar no que as pessoas
diziam.”

Em 1975, ela reuniu Sarfatti, Sirag e mais meia dúzia de colegas e deu início a um
grupo de discussão conhecido como Fundamental Fysyks Group (FFG). O grupo
funcionou durante quatro anos nas instalações do Lawrence Berkeley, na cidade de
Berkeley, na Califórnia. A discussão girava em torno da mecânica quântica, a teoria
da física que descreve o comportamento da natureza em escalas muito pequenas,
menores que o átomo, e que foi objeto de grandes debates filosóficos até o início da
Segunda Guerra Mundial. Em especial, a turma do FFG se interessava pelo
fenômeno do entrelaçamento quântico, uma estranha propriedade que faz que
partículas correlacionadas (ou, no termo técnico, entrelaçadas) exibam
comportamentos associados sem que se saiba por que isso acontece.
A possibilidade do entrelaçamento quântico foi sugerida pela primeira vez em 1935,
por Albert Einstein. Ao aventar a ideia, porém, o genial físico ale-mão pretendia
mostrar que se tratava de algo absurdo, pois implicava uma espécie de ação
fantasma a distância envolvendo as -duas partículas. A única conclusão coerente,
ele argumentava, era considerar que, se a mecânica quântica permitia o surgimento
de uma hipótese tão esdrúxula, então só podia estar errada — e era urgente
conceber outra teoria.

CERTO (E ERRADO)

Durante décadas a previsão de Einstein pairou no meio acadêmico como um desafio à espera
de algum valente. Este surgiu na figura de John Clauser, que em 1967 começou a se interessar
pelo tema enquanto fazia doutorado. “Clauser dizia que trabalhar com assuntos ligados aos
aspectos filosóficos da mecânica quântica implicava uma estigmatização intensa”, conta o
físico e historiador da ciência David Kaiser, autor do livro How the Hippies Saved Physics
(“Como os hippies salvaram a física”, em tradução livre), que relata minuciosamente a
aventura do FFG. Clauser não estava exagerando. “Na época, a principal revista de física dos
Estados Unidos se recusava a publicar qualquer artigo sobre esse tema.”

Clauser construiu, em 1972, um aparato capaz de polarizar pares de fótons entrelaçados, e


conseguiu medir essas polarizações. Os resultados mostraram que Einstein estava
curiosamente certo — e errado. Certo em descrever o entrelaçamento e errado ao imaginar
que ele era um erro. Embora se tratasse da primeira verificação experimental de um dos temas
mais polêmicos da física do século 20, quase ninguém se importou com a descoberta. “Quando
foi procurar emprego, Clauser ouviu de outros cientistas que sua pesquisa não era física”,
conta Kaiser. Os resultados, no entanto, atraíram a atenção de Elizabeth, que o convidou para
ser um dos fundadores do FFG.

Buscar uma teoria que explicasse o sig-ni--fi-cado do experimento de Clauser levava os jovens
físicos do FFG a forçar sua criatividade científica ao máximo. O debate incluía ideias como a
possibilidade de comunicação em velocidades maiores que a da luz, a existência de outras
dimensões além das quatro que conhecemos e a influência da consciência humana sobre a
matéria. Mas havia espaço para outros assuntos também. “Até um especialista em óvnis
levamos para par­ticipar de um dos encontros”, conta Elizabeth.
Um ano depois de sua criação, os integrantes do grupo passaram a ser convidados para
participar de discussões abertas também no Instituto Esalen, um paraíso turístico cheio de
incenso, velas e cursos de meditação em meio a uma paisagem própria para uma viagem de
ácido junto à natureza. Os workshops duraram mais de uma década, e atraíram importantes
nomes da física convencional, como o prêmio Nobel Richard Feynman. Para manter
atualizados os que não podiam viajar até a Califórnia, o grupo começou a publicar um
jornalzinho mimeografado com o ambicioso nome de Epistemological Letters (“Cartas
epistemológicas”, em tradução livre), que era enviado a alguns dos principais físicos da época.

Aos poucos, os debates criaram um público atento dentro da academia, que incluía gente
como o norte-americano John Wheeler, célebre por colaborar com Einstein, criar a expressão
“buraco negro” e orientar Richard Feynman, um dos pioneiros da mecânica quântica.
“Wheeler tornou-se um grande amigo. Parte do tempo ele se mostrava muito interessado no
que discutíamos, depois dizia que éramos malucos”, conta Eliza­beth. A difusão dos debates do
FFG gerou resultados.

No final dos anos 1970, um físico francês chamado Alain Aspect ouviu falar do trabalho de
Clauser. Foi até os Estados Unidos, encontrou-se com ele e se propôs a fazer uma segunda
versão dos experimentos, ainda mais sofisticada. Os resultados foram mais uma vez uma
goleada a favor da mecânica quântica, e o experimento de Aspect colocou de vez o
entrelaçamento quântico no mapa da academia. Aspect e Clauser ganharam em 2010 o prêmio
Wolf, considerado uma espécie de prévia do Nobel. “Com certeza, não deve demorar muito
para receberem o Nobel”, afirma Kaiser.

BUDA, SHIVA E TAI CHI CHUAN

Fritjoff Capra também estava perdido na Califórnia em meados dos anos 1970. Austríaco, viveu
nos Estados Unidos na década de 1960, onde se empanturrou de rock, drogas e pesquisas com
raios cósmicos. Estava em Paris quando explodiu maio de 1968, onda de protestos para pedir a
reforma educacional no país. Desempregado, acreditou que poderia ganhar dinheiro
rapidamente se escrevesse uma obra sobre física moderna para leigos. Mas achou que seria
mais original se acrescentasse a ela outros interesses pessoais, como Buda, Shiva, tai chi
chuan, plantas de poder e os paralelos entre tudo isso e as teorias físicas do século 20.

Enquanto escrevia o livro, Capra enviou um capítulo para um físico no Laboratório Lawrence
Berkeley pedindo uma opinião. Desinteressado, esse físico repassou o material para Elizabeth.

“Já havia lido obras religiosas orientais, como os vedas e os upanixades. Achei o texto muito
interessante e consegui que Capra viesse para nosso laboratório como pesquisador visitante”,
conta ela. Capra tornou-se membro fundador do FFG, e o livro, O tao da física, foi publicado no
mesmo ano em que o grupo iniciou suas atividades. O austríaco era um ativo participante das
reuniões, assim como dos workshops em Esalen. Mas o que lhe valeu o status de membro mais
famoso do grupo foi o surpreendente desempenho de seu livro. Em um ano, a tiragem inicial
de 20 mil exemplares se esgotou nos Estados Unidos e na Inglaterra. Hoje acumula 43 edições
em 23 idiomas.
Um rastro de obras semelhantes veio em seguida, e hoje o chamado “misticismo quântico” é
uma indústria que movimenta milhões em vídeos, filmes e workshops. Um dos membros
originais do FFG, Fred Alan Wolf, é um dos nomes quentes dessa cena. “Não acho que Capra
inventou o misticismo quântico, pois ele não foi o primeiro a propor aqueles paralelos. Mas ele
soube adaptá-los à contracultura, e isso fez o livro acontecer”, analisa Kaiser.

HIPPIES FINANCIADOS PELA CIA

Outro grupo de interessados nas ideias do FFG era formado por estudiosos de parapsicologia.
No início dos anos 1970, dois físicos, Russell Targ e Hall Puthoff, estudavam indivíduos que
afirmavam possuir um dom paranormal conhecido como visão remota, que é a suposta
capacidade de enxergar na própria mente cenas e situações distantes. Dentre eles estava o
paranormal israelense Uri Geller, conhecido por entortar colheres com a força da mente, que
foi submetido a testes em condições controladas. Os resultados foram publicados na revista
Nature, mas receberam uma saraivada de críticas. O trabalho de Targ e Puthoff atraiu o
interesse de um consórcio de agências de inteligência dos Estados Unidos, entre elas a CIA e o
exército. Logo o governo norte-americano estava investindo dezenas de milhões de dólares no
estudo da espionagem com visão remota, num programa ultrassecreto que durou uma
década.

Antes mesmo que os resultados com Geller fossem publicados, a notícia dos experimentos
chegou a Jack Sarfatti, um jovem físico nova-iorquino que havia se mudado para a Califórnia.
Ele entrou em contato com Targ e Puthoff e foi convidado a conhecer o laboratório. Lá,
recebeu um pedido para ajudar na realização de testes semelhantes na Europa, para onde
Geller estava se encaminhando numa viagem de negócios. Sarfatti concordou, e em 1974
entrou num laboratório inglês ao lado do físico mundialmente famoso David Bohm e do
escritor de ficção científica Arthur C. Clarke para realizar experimentos de laboratório com
Geller.

Elizabeth também foi bater à porta de Puthoff e Targ. Apareceu sem ser convidada, e quase foi
posta para fora. Ao final da conversa, começou a explanar suas conjecturas sobre como a física
quântica poderia ajudar a explicar a visão remota. Foi o suficiente para que a dupla de físicos
mudasse de ideia e a contratasse como consultora, encarregada de tentar explicar
conceitualmente os resultados que eles obtinham nos experimentos. No ano seguinte,
Elizabeth criava o FFG. “Os testes com Geller também contribuíram para a fundação do
grupo”, diz ela. “Tudo aquilo era parte de uma operação de espionagem paranormal custeada
pela CIA”, disse Sarfatti a GALILEU. “Isso foi confirmado por um funcionário graduado da
agência.”

Durante dois meses em 1975, Sarfatti, Elizabeth e outros membros do grupo dedicaram-se a
fazer análises dos experimentos de visão remota. “Analisei estatisticamente 80 experimentos
de várias maneiras e encontrei resultados positivos significativos”, diz Elizabeth. Já Sarfatti
posteriormente escreveu uma nota dizendo que retirava suas afirmações positivas sobre a
suposta paranormalidade de Geller. “Na época, muita gente me pressionou para que fizesse
aquilo, mas hoje voltei atrás na retratação”, diz Sarfatti. “A maior parte dos cientistas
estabelecidos era hostil ao que fazíamos naquele momento, e muitos ainda são. Se pudessem,
me queimariam na fogueira por causa de algumas ideias que propus”, diz.
O FFG durou apenas quatro anos, mas Kaiser enxerga três fatores que o grupo deixou como
legado para a comunidade de físicos. O primeiro foi a reabertura para a especulação teórica
sobre a mecânica quântica com o máximo de criatividade, algo que havia sido posto de lado
após a Segunda Guerra Mundial. O segundo foi a recuperação do interesse pelo tema do
entrelaçamento quântico. Por fim, o chamado teorema de não clonagem, que é a base da
encriptação quântica. “E fizeram tudo isso procurando manter-se alegres e aproveitando cada
minuto do percurso”, diz Kaiser. E, claro, curtindo o barato de um pouco de ácido entre um
estudo e outro.

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