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te lzo ou pane dete mo pode ser repro por qualquer mei sem auorzae20 ccna do Bator i teat © see coms Artie Compan teubigio de Clcnice Pes Bato Moura, Cons Foes Santa, 2. — Belo Horio: Etora UFMG, 2010 ‘Catlogacio oa publeago: Drso de Panchen Dingo da ites Univers ‘ea dt PMG sobre papel, PRODUGAO GRAFICA, Waren Marlac EDITORA UPMG. Av, Aattinio Catt, {Campus Pampa Tel: AGRADECIMENTOS em Nova York, me Puzzles for Theory” [Alguns Quebra-Cabegas para a Teoria]. Em tomo de uma mesa, alguns textos fundadores da teoria |, sem renunciar a uma abordagem to desse trahalho, e agradeco dantes que o tornaram possivel, Desde a publicagao de La Troisidéme République des Lettres (A Terceira Repiiblica das Letras] (198: haver interrompid« a das Letras. Como descrever foi substituida pela teoria, 3s seguintes, sem que nossa propria tegre? Para romper o fio di ‘crever um outro livro, Les momento em que a hi € como narrar os epi a Jean-Luc Giriboni, que me estimulou a escrevé-lo, assim como a Mare Escola, a André Guyaux, a Patrizia Lombardo e a Sylvie ‘Thorel-Cailleteau, que o releram, 1 foram publicados com os titulos de (Alegoria e Filologial, em Anna Dolfi ¢ ., Retorica e Interpretazione, Roma, Bulzoni, 1994, © “Quelques Remarques Sur la Méthode des Passages Paralitles’ (Algumas Observagdes sobre 0 Método das Passagens Paralelas), Studi di Letteratura Francese, n.22, 1997, assim como tulo V, “Chassez le Style par la [Expulsem © Estilo pela Porta, rrature, 0.105, margo 1997, fragmento do -Beuve e 0 C2 Modern Language Notes, .CX, 1995. CAPITULO | O LEITOR descrevi de um tiingulo siria partindo do centro de gravidade era ocupado pela abordagem expressiva, pelo artista; a abordagem ica, pelo mundo; e a abordagem pragmatica, enfim, pelo piiblico, pela audiéncia, pelos leitores. Os estu um lugar muito varidvel maior clareza, como acontece com 0 autor € com o mundo, nao inte dos dois polos que retinem as f, aS teses so tho radicais quanto em relagdo a ,, naturalmente, elas nao sio indepen- dntes das precedentes. Meu procedimento consistri ainda uma vez em criticé-las e procurar uma saida para essa terceira a em que nos fechamos. A LEITURA FORA DO JOGO Sem remontarmos a muito longe no tempo, a controv sobre a letura opés, por exemplo, o impressionismo e 0 po culo XIX. A critica cientifica Brunet lémica contra o que ela ia smo 2), depois a jomais e revistas. A essa critica que cultiva 0 gosto, procede por simpatia, fala de sua experiéncia, de suas teagdes, segundo a adigio humanista, representada exemplarmente pelos elogios que Montaigne fazia da leitura como cultura do bonnéte homme, a necessidade da distancia, da objetividade, do método. “Para falar francamente”, confessava, entio, Anatole France, “0 citico deveria dizer ' de Shakespeare, a respeito de Racine’” Em contraste com essa primeira leitura de amadores e de ledores, a leitura pretensamente culta, atenta, conforme a expectativa do texto, é uma leitura que se nega ela propria como leitura. Para Brunetiére € Lanson, cada um , trata-se de escapar ao leitor € aos seus caprichos, nao de anular, mas enquadrar suas impressdes pel lina, atingir a objetividade no tratamento da propria obra. “O exercicio da explicacio”, escrevia Lanson, “tem como objetivo e, quando bem praticado, como efeito, criar nos estudantes 0 habito de ler atentamente e interpretar fielmente 0s textos literarios" snhores, eu vou falar de mim, a respeito ‘Uma outra negacio da leitura, baseada em premissas bem diferentes, mas contemporanea, se encontra em Mallarmé, que afirmava em “Quant au Livre” [Quanto ao Livro: “Impersonifi- cado, 0 volume, na medida em que se se separa dele como autor, no pede a abordagem do leitor. Tal, saiba entre os acessérios humanos, ele se realiza sozinho: fato, sendo,”® © livro, a obra, cercados por um ritual mistico, existem por si mesmos, desgar- rados ao mesmo tempo de seu autor € de seu leitor, em sua pureza de objetos auténomos, necessérios ¢ essenciais. Do mesmo modo que a escritura da obra modema nio pretende ser expressiva, sua ra nao reivindica identificacao por parte de ninguém. Apesar da querela sobre a intengio do autor, 0 historicismo Gemetendo a obra a seu contexto original) ¢ 0 formalismo (pedindo a volta ao texto, em sua imanéncia) concordaram durante muito tempo em banir o leitor, cuja exclusto foi mais clara e expressamente formulada pelos New Griticsamericanos do entreguerras. Eles definiam a obra como uma unidade organica autossuficiente, da qual convinha'praticar uma leitura fechada (close reading), isto é, uma leitura idealmente objetiva, descritiva, atenta aos paradoxos, is ambiguidades, as tensbes, fazendo do poema um sistema fechado e estével, um monumento verbal, de estatuto ontolégico tao distanciado de sua producao € de sua recepeao quanto em Mallarmé. Segundo seu adagio — “Um poema nao 138 deve significar, mas ser” — eles recomendavam a dissecea0 do poema em laboratério para dele retirar as virtuosidades de sentido. Os New Critics denunciavam assim o que eles chamavam de “ilusio afetiva” (affective fallacy), a seus olhos equivalente da ilusio intencional (intentional fallacy) da qual era imperioso paralelamente desprender-se. “A ilusio afetiva", escrevia Winsatt € Beardsley, “é uma confusao entre o poema € seus resultados (© que ele €¢ o que ele faz)."* Porém, um dos fundadores do New Criticism, o fil6sofo I. A. ichards, no ignorava o problema enorme levantado pela leitura ‘empitica nos estudos literdrios. Em seus Principles of Literary Criticism [Principios de Critica Literdrial (1924), ele comegava distinguindo comentarios técnicos tratando do objeto literario, ‘comentirios eriticos tratando da experiéncia literiria e aprovava essa experiéncia a partir do modelo criado por Matthew Amold pela critica vitoriana, fazendo da literatura, enquanto substituto da 10, 0 catecismo moral dt nova sociedacle democritica. Mas, logo depois, Richards adotou um ponto de vista decididamente anti-subjetivista, reforgado posteriormente pelas experiéncias que tentou com a leitura e que foram relatadas em Practical Criticism {Critica Prétical (1929). Durante anos, Richards pediu a seus alunos de Cambridge para “comentar livremente”, de uma semana para outra, alguns poemas que ele Ihes apresentava, sem citar 0 nome do autor. Na semana seguinte, ele dava suas aulas sobre tais poemas, ou melhor, sobre os comentarios dos estudantes sobre 0s poemas, Richards Ihes aconselhava a fazerem leituras sucessivas dos textos dados (em média raramente menos de quatro, € um maximo de doze) e pedia que anotassem por escrito suas reagdes a cada leitura. Os resultados foram de maneira geral pobres, até desastrosos (alias, nés nos perguntamos sobre 0 tipo de perversdo que levou Richards a continuar sua experiencia por tanto tempo); esses resultados se caracterizavam por uma determi- nada quantidade de tragos tipicos: imaturidade, arrogncia, falta de cultura, incompreensio, clichés, preconceitos, sentimentalismo, psicologia popular etc. O conjunto dessas deficiéncias tomava-se um obstéculo ao efeito do poema sobre os leitores. Porém, a0 invés de concluir por um relativismo radical, um ceticismo epistemolgico absoluto em relacao & leitura, Como Faro mais tarde, baseados na mesma evidéncia dessa troca, os adeptos do primado da recepcao (como Stanley Fish, do qual falaremos mais adiante), Richards manteve, contra tudo e todos, a conviecdo de 139 que esses obsticulos poderiam ser eliminados pela educaca Ihes daria acesso a possibilidade de uma compreensi perfeita de um poema, por assim dizer, in vitro, A ma compreensio afirmava Richards, nao sio acidentes mas, a0 ‘urso normal € provavel das coisas na fracassa di lesse estado de fato no © levou, no ica que pesquisasse 0 contrassenso compre- ensio, como a de Heidegger e de Gadamer, cle reafirmou principios de uma letra rigorosa que conga os ems habit aler mais cuidadosamente, a superar culturais, a“respeitara liberdade e a autonomia do poema”.* Em outros termos, na op: emergéncia de uma poética, quando chegaram a at anilises, contentaram-se com um leitor abstrato ou perfeito:limi- itor em suas a performance do leitor concreto, desde que, evidentemente, ele se conforme com o que 6 texto espera dele. O leitor é, entio, uma fungao do texto, como o que Riffatterre denominava o arguilett ‘iente ao qual nenhum leitor real poderia identificar-s de suas faculdades interpretativas limitadas. Em geral, pode-se dizer que, para a teoria literdria — da mesma forma que jextos individuais so julgados secundérios em relacdo 20 em prove: (or competente ou ideal, 0 © texto € que se curva A expectativa do texto, 140 dent tant Assim, a desconfianga em relacao ao leitor é — ou foi durante muito tempo — uma atitude amplamente estudos literérios, caracterizando tanto o positivismo quanto © formalismo, tanto 0 New Criticism quanto o estrut itor empirico, a ma compreensao, as falhas da leitura, como dos brumas, perturbam todas essas abordage igam respeito ao autor ou ao texto. Dai a tent esses métodos, de ignorar 0 leitor ou, quando reconhecem sua presenca, como € 0 caso de Richards, a tentagao de formular sua propria teoria como uma disciplina da leitura ou uma leitura ‘ores empiricos, A RESISTENCIA DO LEITOR Lanson, apesar de sua teimosia p ficara abalado ‘com 0s argumentos de Proust a favor da leitura, que ele resumia nestes termos: a ‘nunca o livro, mas sempre um ro € misturando-se a ele, © n0ss0, ou o espirito reagindo fa: de um outro leitor. duas conferéneias sobre a 0), em seguida ‘em O Tempo Redescoberto. Aquilo de que nos lembramos, aquilo que marcou nossas leituras da infancia, dizia Proust, afastando-se do moralismo ruskiano, nao € o proprio livro, mas 0 cenirio as impresses que acompanharam nossa der as $0 abbé Prévost nao descreve ‘Manon, cuja aparéncia fisica permanece misteriosa, s6 diz que ela € “encantadora” e “amvel’; contenta-se em Ihe dar “a aparéncia do proprio Amor”, a fim de que cada leitor possa conferir- tracos que seriam para ele os tragos do ideal. Assim, 0 escritor, 6 livro controlam muito pouco Mi visto em si mesmo, O leitor € compreender 0 do livro; ali compreende ele proprio gracas a aterrorizava Lanson, que contava com a € re, maior, independente: seu . Essa tese proustiana tica para corrigir por uma propri inando quase sempre uma modificaca0 ficiveis. Mas as pesquisas contempordneas de Richards com seus ridge nos fazem duvidar que sondagens m elemento permanente e comum de interpre- A significagao, segundo estudantes de C possam levar “a tagio”, algo como 0 sentido em tura, Nesse casi sera uma escritura, da mesma forma que a escritura ra, JA que em O Tempo Redescoberto, a escritura & terior, ea como terior. “O dever e a tarefa os de um traduter”.’ Na deserita como a uma nova trad de um escri tradugao, a polaridade escritura e leitura se esvanesce. Em termos € a texto do autor e 0 polo estético é a r itor. Considerando esta polasidade, é claro que a propria obra pode ser idéntica 20 texto nem 2 sua concretizagio, mas deve lugar ente os dois. Ela deve inevitavelmente ode reduzir-se nem 2 realidade 1, € & dessa vimualidade que situarse em algus ser de catiter vit os pelo texto € relaciona suas diferentes visdes esquemas, ele poe a obra em movimento, ¢ se poe ele proprio ‘gualmente em movimento.§* © sentido é, pois, um efeito experimentado pelo no um objeto definido, preexistente a leitura.Iser an processo combinando, nao sem ecletismo, o modelo fenome- nol6gico com outros, como 0 modelo formalist. Como em Ingarden, texto literirio € caracterizado por sua incompletude ea literatura se realiza na leitura. A literatura tem, pois, uma existéncia dupla e heterogénea. Fla existe independente- mente da leitura, nos textos e nas bibliotecas, em potencial, por assim dizer, mas ela se concretiza somente pela leitura. ‘© objeto literdrio auténtico € a propria interagio do texto com o leitor. o deve ser 0 produto de 08 atos de compreensio ‘goes necessirias 2 eficdcia desse fundem assim numa Gnica situacto, ilo funciona mais; segue-se que o sentido mio € m: ser definido, mas um efeito a ser experimentado."* centre sujeito © objeto lum objeto a © objeto literirio nao € nem o texto objetivo nem a experi- ncia subjetiva, mas o esquema virtual (uma espécie de programa ou de partitura) feito de lacunas, de buracos e de indeterminacdes. Em outros termos, 0 texto instrui e o leitor constrét, Em todo texto 0s pontos de indeterminagio sto numerosos, como falhas, jacunas, que sto reduzidas, suprimidas pela leitura. Barthes “7 pensava igualmente que mesmo a literatura mais realista nao era Suficientemente precisa; no entanto, ele nogio principal decorrente dessas premissas é a de ito, calcada na de autor implicito, que fora introduzida pelo critico americano Wayne Booth em The Rhetoric of Fiction 1A Retérica da Ficcao] (1961). Posicionando-se na época contra o New Gniticism, na querela sobre a intencao do autor (evidentemente ), Booth defendia a tese segundo a qual um autor nunca se retirava totalmente de sua obra, mas deixava nela sempre um substituto que a controlava em sua auséncia: 0 autor impl era uma maneira de recusar 0 he di imp! © autor “constréi da mesma forma que ele constr6i seu segundo eu, itura mais bem sucedica € aquela para a qual os eus construidos, autor e leitor, podem entrar em acordo”.!* Haver © complementar a lugar reservado para © re para ocupar ou no. Por exemplo, no inicio de O Pai Goriot livro com uma mao branca, dizendo: Talvez conta do autor, txando-o de exagerado, acusindo-o de poeta. disso: este drama nao € nem uma ficg20, nem um romance. , ele € to verdadeiro que cada um de seus elementos pode ser reconhecido em vocé, em seu coragio talvez, percebida como uma impo ponde ao papel Segundo Iser, © us tencarna todas as predisposigbes necessérias para que a obra literiria cexerga seu efeito — predisposipdes fomecidas, ndo por uma realidade cempirica exterior, mas pelo prdprio texto. Consequentemente, as raizes do Jimplantadas firmemente texto; trat-se de uma construgio e no € em absoluto ‘dentiicavel com nenhum leitor real, Iser descreve um universo literdrio bem controlado, semelhiante a um jogo de papéis programado. O texto pede ao leitor para obedecer &s suas instrugdes: iro mesmo quando os textos parecer ignorur seu receptor potencal ou exchuflo como elemento ativo. Assim, 0 conceito um modelo ao leitor real ‘or real compor o sent (ecimentos, a preencher as uma coeréncia a a imaginar os personagens € 08 aco lacunas das narragoes ¢ descrigdes, a const espera-se que ela leve em considerag fornecidas pelo texto até entio. Essa tarefa & programada pelo , necessariamente, pois uma redutiveis, altemativas sem escolha, integral. Em todo texto, existem intriga contém sempre falhas € no poderia haver re: ‘obsticulos contra os quais a concretizagio se choca obrigatéria definitivamente. Ter, tem um px texto. O texto nunca esti de nossa atencao: instante, 56 percebe um de seus aspectos, mas sagas ai sua memoria, e estabelece um esquema de a natureza € confiabilidade dependem de seu grau de atengao. Mas nunca tem uma visio t em Ingarden, a leitura caminha 20 mesmo tempo para a para tris, reinterpretando Enfim, Iser insiste naquil 6 © conjunto de normas so} normas. Para que a entre o repertério de a (or implicito, € indispensavel. As convencdes que constituem © repertstio sto reorganizadas pelo texto, que desfamiliariza refi 5 pres bela deserigao dei nhosa: como se encontram, se € historicos? Estes se curvam necessariamente as instrugdes do iio se curvam, como detectar suas transgressoes? No A OBRA ABERTA Sob a aparéncia do m: , na verdade, s6 tem como escolha obedecer as instru implicito, pois € o alter ego ou o substituto dele. Eo letor ou desempenhar o papel prescrito para ele pelo leitor implicito ou, enfo, recusar suas 150 na qual se encontravam. Nesse caso, para analisar os text moderos, onde © papel do leitor ito € menos detalhado do que num romance realista, uma descrico nova, mais abe orada, ¢ ela leita c Inegavelmente essa teoria é atraente, talvez até demais. Ela sse de pontos de vista diversos sobre a literatura € ura fenomenologia eo formalismo numa descrigio ¢ dialética, guiada por uma faz parte da estrotura Jeterminagio rel da liberdade). O preocupacio de do texto € da interpretagao do jogo do texto, No fui parecido com u Ao aos modemos. A experiencia descrita por Iser € essencialmente a de um leitor culto, colocado diante dos a0 fetomam certas liberdades correntes no século XVI 6a experiéncia de seus enredos frouxos e de seus personage sem consisténcia, talvez mesmo sem nome, que permite analisar, retrospectivamente, a leitura (normal) dos romances do século XIX e das narativas em geral. A hiptese implicita € que, diante de um romance modemo, cabe ao informado fornecer, com a ajuda de sua meméria litera com que transformar ast um esquema narrativo incom romance realista ou naturalista virtual. Secundariamente, a norma de leitura-pressuposta por Iser é, assim, 0 romance realista do século XIX, como um paradigma do qual toda leitura proviria. Mas s-modlerno, fragmentiirio e desestruturado? Seu comportamento ainda regulado por uma busca de coeréncia baseada no Iser estende, enfim, a nogao de desfamiliarizacao, oriunda do a € hist6ricas. Enquanto os forma tas visavam sobretudo 4 poesia, que alterava principalmente a aria, Iser, pensando no romance moderno m: na 0 valor da experiéncia est ‘mudangas que ela acarreta nos pressupostos realidade. Mas, entio — uma outra re manter pares € formalismo, o tisco de se estar de todos os lados, pelo menos tanto, do lado dos antigos quanto do lado dos pés-modernos. ura ‘modemista, por suas referencias ecuménic ‘um papel (ja que se aceitou desempenhé-lo) ao mesmo tempo vre e imposto, e essa reconciliacao do texto com o lei ‘nos que Wa, apesar da aparéncia, dono efetivo do jogo: ele continua a determinar o que é determinado e 0 que nio é. Essa estética da recepeao, apresentada como um avango da teoria literaria, poderia bem nao ter sido, afinal de contas, mais que uma ‘a para salvar 0 autor, conferindo-lhe uma 152 embalagem nova. O © enganava a esse respeito. Ele afirmava que, com a est recepcio de Iser, a teoria literiria havia enfim se encontrado com senso comum (literary theory bas now caught up with common «lo sabe, lembrava Kermode, que 0s leitores para provar que um texto nao esta plenamente determinado. Alias, os professores do as melhores notas aos estudantes que ‘mais — sem, no entanto, fazer contrassensos ou cair lo — da leitura “normal” de um texto, aquela que fazi parte do repertério até entio. No fundo, a estética da recepga nao diz. nada mais do que diria uma observago empirica, atenta, da leitura, e ela poderia bem nao ser sendio uma formalizagao do © que, afinal de contas, j4 nao seria tao mal. Para Kermode, isso era um elogio, mas ha elogios comprometedores, que nao fazem falta. Os partidatios de uma maior liberdade do leitor criticaram, ois, a estética da recepsio por voltar sub-repticiamente ao autor como norma, ou como instancia que define as areas de jogo no texto, e assim sacrificar a teoria pela opinido corrente. Nesse aspecto, Iser foi atacado em particular p lamentou que a pluralidade de sex seja infinita ou ainda que a obra no esteja realmente aberta, mas simplesmente entreaberta. A posicao moderada de Iser, sem dtivida conforme 2o senso comum, que reconhece que as 1ras podem ser diversas (como negar a evidéncia?), mas que ituras possiveis, ou ainda da tese de Michel Charles para quem a obra atual no tem maior peso do que a infinidade das obras virtuais que sua leitura sugere. O HORIZONTE DE EXPECTATIVA (FANTASMA) A da recepcio tem uma primeira vertente, ligada a feniomenologia, interessada no leitor individual, ¢ representada por Iser, mas também uma se} vertente, onde a tOnica recai sobretudo na dimensio coletiva da leitura, Seu fundador e porta-vor 153 ‘mais eminente foi Hans Robert Jauss, que pretendia renovar, gracas ao estudo da leitura, a hist6ria literdria tradicional, condenada Por sua preocupaciio excessiva, senao exclusiva, com os autores. Coloco aqui seu fantasma, pois esta vertente seré abordada no Capitulo VI, que trata da literatura e da hist6ria, mas ela estuda também de perto o valor, a formagio do canone, € © Capitulo VII poderia comporti-la. Essa ubiquidade € aliés sinal de um problema e, como se veri, pode-se fazer-the a mesma critica que se faz 4 teoria de Iser: ser conciliadora, equilibrada, dema- siado abrangente, tendo como consequéncia, por um desvio, a relegitimacao de nossos velhos estudos sem modificd-los muito, contrariamente a0 que pretendia No momento, retenhamos simplesmente que Jauss chama de borizonte de expectativa o que Iser chamava de repertério. © conjunto de convengdes que constitiem a competéncia de uum leitor (ou de uma classe de leitores) num dado momento; 0 sistema de normas que define uma geracao hist6rica O GENERO COMO MODELO DE EITURA Dentre os sete elementos que guardei para descrever teori- camente a literatura, para definir a rece dos pressupostos que todos fazemos a seu respeito, quando falamos de um texto, o género no esti incluido. Porém, a teoria dos géneros é um ramo dos estudos literrios bem desenvolvido, aliés um dos mais dignos de confianga. © género aparece como o principio mais evidente de generalizagao, entre as obras individuais € os universais da literatura, € a Poética de Arist6teles é um esbogo da teoria dos sgeneros. Assim, sua auséncia no conjunto de capitulos deste livro deve ter causado estranhamento. Mas 0 género nao faz parte das questdes fundamentais, inevitiveis, imediatas — "Quem fala? De que? Para quem?" —levantadas tanto pela teoria literiria quanto pelo senso comum, ou entao, se 0 género faz parte dessas questoes, € na dependéncia de uma outra questio elementar. Assim, ha pelo menos dois lugares em que a questao do género poderia ser tratada neste livro: no préximo capitulo, e a propésito do estilo, pois a origem hist6rica da nogio de estilo é a de genus dicendi — esboco nudimentar de uma classificag2o genérica do principio da triparticio classica dos estilos (simples, médio, elevado) — ou aqui mesmo, a propésito do leitor como modelo de recepgio, componente do repertério ou do horizonte de expectativa © gnero, como taxinomia, permite ao profissional classificar as obras, mas sua pertinénci como um esquema de recepgio, uma competéncia do leitor, confirmada e/ou contestada por todo texto novo num processo dinamico. A constatagao dessa afinidade entre género e recepco leva a corrigir a visio convencional que se tem do género, como estrutura cuja realizagao € 0 texto enquanto lingua subjacente 0 texto considerado como fala, Na realidade, para as teotias que adotam 0 ponto de vista do leitor, € 0 proprio texto que € perce- ido como uma lingua (uma parttura, um programa), em oposigao a sua concretizagao na leitura, considerada como uma fala. Mesmo quando um teérico dos géneros, por exemplo, Brunetiére, que foi vivamente criticado por isso, apresenta a relagao do género com a obra, a partir do modelo dual, espécie e individuo, suas ises mostram que ele adota na realidade um ponto de vista ist6rico. Pensou-se que ele acreditava na subsisténcia do género, exterior a8 obras, em razto desta dleclaragao: “Como todas as coisas desse mundo, eles nao nascem sendo para morrer.”® Mas tratava-se de uma imagem viva. Como critico, ele adota realmente, sempre, o ponto de vista da leitura, © 0 género desempenha em suas andlises um papel de mediaga0 entre a obra e 0 piiblico — incluindo af 0 autor —, como o horizonte de expectativa. Inversamente, 0 género € o horizonte do desequilibrio, da distancia produzida por toda grande obra nova: “Tanto por ela prépria quanto por seu contexto, uma obra literdria se explica por aquelas que a precederam e aquelas que a sucederam’, declarava Brunetiére, em seu verbete “Critica”, de A Grande Enciclopédia® Assim, Brunetiére opunha a evolucio ‘genética, como historia da recepeio, a ret6rica (explicar a obra por ela mesma) e a histéri ic4-la por seu contexto), Assim revisto, o género toma-se realmente uma categoria legi- tima da recepcao. A concretizagio que toda leitura realiza 6, pois, inseparivel das imposigdes de género, isto é, as convengdes hist6ricas proprias 20 género, 20 qual o leitor imagina que o texto pertence, Ihe permitem selecionar e limitar, dentre os recursos oferecidos pelo texto, aqueles que sua leitura atualizard. O género, como cédigo literario, conjunto de normas, de regras do jogo, informa o leitor sobre a maneira pela qual ele deverd abordar o texto, assegurando 155 desta forma a sua compreensao. Nesse sentido, o modelo de toda teoria dos géneros € a triparicao cl dlistinguia assim trés modos — sublime, trigico ¢ grotesco —que 0 repert6rio fundams neros elementares, conforme foss o melhor, pior que ele. Essas duas trades se baseiam na polaridade da tragédia ¢ da ia forma elementar de ialquer distin¢ao genérica, como antecipacio feita pelo leitor € que regula seu investimento no texto. Assim, a estética da recepelo — mas é ainda o que a torna demasiado convencional aos olhos de seus detratores mais radicais — no seria outra coisa senio 0 tiltimo avatar de uma reflexao bem antiga sobre 08 génetos literarios. A LEITURA SEM AMARRAS © leitor implicito de Iser se definia como um compromisso entre o senso comum e a teori cles préprios, se situavam a meio caminho entre o real © @ vanguarda. Questionando novamente © poder d ©, consequente- iatura do autor, libertando sempre mais das imposigées relacionadas & sua inscrigio no texto, as teorias da smo nunca no texto. Posteriormente, foi a propria dicotomia texto ¢ leitor que foi contestada, e seus dois termos amalgamados na nocao englobadora de “comunidade " que designava os sistemas € instituig6es de autoridade, e engendrava ao mesmo tempo textos fexto, antes que os dois se apagassem diante de uma entidade sem a qual nem um nem outro existiriam e da q Paralelamente. Acreditar em sua diferenga, na autonomia 156 de um e de outro, seria ainda assim pedir demais a uma teoria cada vez mais negativa. Observou-se esse mesmo radicalismo nos adversirios da ilusio intencional ¢ da ilusdo referencia; estes questionam toda posicao enfim “infalsificavel”, pois tiva da “sh comegara por atacar 0 texto como objeto auténomo, espacial e formal, quando na realidade ele s6 existe no interior de uma experiéncia temporal Como Iser e Jauss, Fish denunciou, pois, a iusto da objet € da autonomia do texto. Mas, influenciando logo seus colegas, destruindo as defesas que cercavam o leitor, ou as rédeas de que se ‘muniam, ele acabou por reivindicar para a Assim, ele transferiu Para o leitor toda a significagio, e redefiniu a literatura, no mais como um objeto, fosse ele virtual, mas como “o que acontece Acentuando a temporalidade da compreensio, ", pretendia set “uma anilise da resposta progressiva do leitor as palavras que se sucedem no tempo". Essa atitude, porém, logo Ihe parece ainda fazer concesses demais ao Insistir na leitura como expe- realmente conceber-se em dois ando um tesiduo culpado de inten- Fa vista como o resultado da inten¢! Programou — nesse caso f, Resse caso este permanec tudo que se fez foi subs vezes formulada contra Eco € c tr0s partiditios do agao de um terceiro termo entre a intengao disse, um sofisma que nao resolve de maneira alguma a aporia, Para eliminar esse resto de intencionalismo dissimulado numa apologia do leitor, evitando cair naquilo que os New Critics o fetiva’, to vergonhosa quanto a depois de ter substituido idade do texto pela autoridade do leitor, julgou necessério reduzir as trés a autoridade das 17 “comunidades interpretativas”, Seu livro de 1980, Is There a Text in This Class?IH um texto nesta classe’), coletinea de arti década precedente, cai or seu movimento niilista, a grandeza e 2 da recepcao: depois de conceder poder ac objetividade do texto, depois de ter declarado a do leitor € sustentado o principio de uma a propria dualidade do texto e do leitor que € recusada e, assim, a possibilidade de sua interagao. A tese final — absoluta, indiscutivel — dramatiza ainda as conclusdes da hermenéutica informaclo ou competente € 20 A}0 do autor e vice-versa, porque rar um ou outro € especficar as condicdes contempordneas de ‘enunciagao, identficar a comunidade daqueles que compartilham as mesmas estratégia interpreativas, tomando-se membro dela Fish acentua com razo que 0 “leitor informad na obra da maioria dos te6ricos da o preservar a comunidade ideal Perpetua, pois, uma concepgao roman- indo a hipétese de um leitor competente que saberia reconhecer as estratégias do texto, , a prova da e logica se deve ao fato de que a ser apresentadas como se devessem ser resolvidas, e nao 9. Ora, essas dificuldades ni tura e independentes del: mas fendmenos que resultam de nossos atos de leitura e de nossas 158 estratégias interpretativas, Fish recusa-se a © postulado do lugar-comum da precedéncia mitua da hipstese e da observacio, complementara do todo e da parte, que continua a justificar, a seu ver, as hermenéuticas modemas. Jé que 0 preexistente que possa controlar sua resposta: 0s textos Si0 as leituras que nés fazemos deles; nds escrevemos os poemas que lemos. Assim, o formalismo € a teoria da recepci6 nao teriam feito senao manter a mesma atitude a forma da experiencia tura da inteng! ‘mesma coisa; simultaneamente, e a questo da prioridade e da independéncia no €, pois, colocada, Levanta-se uma outra questo: 0 que € que as Em outros termos, se a intengio, a forma e a experiéncia do 10 simplesmente diferentes maneiras de se refere (diferentes ppontos de vista sobre) a0 mesmo ato interpretative, de qual esse ato seria uma interp Os formalistas pretendem que fos (patterns) sa0 acessiveis independentemente da interpretagdo € anteriormente a ela, mas esses motivos variam em fungao dos procedimentos que 0s criam: eles sio constituidos pelo ato interpretativo que os observa. Toda hierarquia na estrutura que une autor, texto € leitor 6, pois, desconstruida, ¢ essa triade se funde numa simul- taneidade. Intengao, forma e recepcio so trés nomes da mesma devem ser absorvidas pela autoridade superior da comunidade de que dependem: As significagbes nto sto propriedades nem de textos fixos e esti- ss € independentes, mas de comunidades rpretativas, esponsiveis a0 mesmo tempo pelas aividades dos res e dos textos que essas atividades produzem.® Essas comunidades interpretativas, como 0 repertério de Iser ‘ou o horizonte de expectativa de Jauss, so conjuntos de normas itura, nem ao texto que resulta da leitura: com 0 jogo da norma e do desvio, toda subjetividade € doravante abolida. Nas comunidades interpretativas, 0 formalismo &, pois, anulado, da mesma forma que a teoria da recepg2o como projeto alternativo: nao existe mais dilema entre particarios do texto defensores do leitor, jf que essas duas nogdes no sto perce- bidas como concorrentes ¢ sio relativamente independentes.”* A distingao entre sujeito € objeto, dltimo refiigio do idealismo, nao é ‘mais considerada pertinente, ou foi afastada, jé que texto e leitor se dissolvem em sistemas discursivos, que nao refletem a realidade, mas sao responsiveis pela realidade, tanto a dos textos quanto 4 dos leitores. O leitor é um outro texto, como Barthes na época sugerira, mas a ldgica é levada a um grau mais alto, e aquilo que chamamos ainda de literatura, conservando, sem diivida, por um vestigio humanista, e apesar de todas as desilusdes tesricas, uma dimensao da individualidade dos textos, dos autores ¢ dos leitores, nao resiste mais. Para resolver as antinomias levantadas pela introdugio do leitor nos estudos literirios, seria suficiente anular a literatura, Posto que nenhuma definigao desta seja plena- ‘mente satisfat6ria, por que nao adotar essa solucao definitiva? DEPOIS DO LEITOR © destino que teve 0 leitor na teoria literiria é exemplar. Ignorado pela filologia durante muito tempo, depois pelo New Criticism, formalismo e estruturalismo, mantido a distancia como ‘um empecilho, em nome da “ilusio afetiva’, o leitor, pelo seu retomo 2 cena liteririajuntamente com 0 autor ¢ 0 texto (ou entre, u contra 0 autor ¢ 0 texto), destraiu a possibilidade de confron- taco, sua aktemativa tomou-se esterilizante. Mas a valorizagio do leitor levantou uma questio insolivel no ambito da légica bindria favorita dos literatos: a da liberdade vigiada, de sua autoridade relativa diante dos rivais. Depois que a atengio ao texto contestar a autonomia € a supremacia do autor, a importincia conferida 2 leitura abalou o fechamento e a autonomia do texto. Da mesma forma que a contestagao da “ilusio intencional” e da uso afetiva”, teve uma virtude critica inegavel nos estudos iterérios. Numerosos trabalhos, inspirados na fenomenologia ou na estética da recepeo, que levaram em considerag2o a leitura e outros elementos literdrios, comprovam esse fato. Mas, uma vez ocupado esse lugar, foi como se os adeptos do leitor quisessem, por sua vez, excluir todos os seus concorrentes. O autor € 0 texto — finalmente, o proprio leitor — revelaram-se impossiveis de serem excluidos das exigéncias dos te6ricos da recepglo. Uma maneira infalivel de calar as objecdes era desqualifica-los teori- camente. 4 distingao entre o autor, 0 texto e 0 leitor tornou-se fridvel em Eco ou em Barthes, até que Fish, magistralmente, descartou-se dos trés de uma s6 vez. Na realidade, o primado do leitor levanta tantos problemas quanto, anteriormente, o do autor © 0 do texto, € sua perda, Parece impossivel a teoria preservar o equilibrio entre os elementos da literatura, Como se a prova da pritica no fosse mais necessiria, a radicalizagao te6rica parece muitas vezes uma fuga para frente, para evitar as Gificuldades, que — Fish lembrava — no devem sua existéncia sendo a “comunidade interpretat a teoria leva as vezes a pensar na gnose, numa ciéncia suprema, desprovida de todo objeto empitico. que as faz surgir. Por isso Uma vez mais, entre as duas teses extremas que tm a seu favor uma certa consisténcia tedrica, mas que sto claramente exacerbadas e insustentaveis — a autoridade do autor e do texto permite instituir um discurso objetivo (positivista ou formal) sobre a literatura, ¢ a autoridade do leitor, instituir um discurs subjetivo —, todas as posigdes medianas parecem frigeis ¢ dif ceis de ser defendidas. £ sempre mais facil argumentar a favor de doutrinas desmedidas e, afinal de contas, nao deixamos de nos confrontar com a alternativa de Lanson e de Proust. Mas, na pritica, vivemos (e lemos) no espago existente entre os dois. A ia da leitura, como toda experiéncia humana, € fatal- ambigua, dividida: entre compre- ender ¢ amar, entre a filologia e a alegoria, entre a liberdade e imposigao, entre a atengio ao outro e a preocupasao consigo mesmo. A situacio mediana repugna aos verdadeiros tedricos da literatura. Mas, como dizia Montaigne, na “Apologie de Raymond Sebond” [Apologia de Raymond Sebondk: “é uma grande temeri- dade perder-vos vés mesmos para perder um outro.” 161

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