Documente Academic
Documente Profesional
Documente Cultură
JOÃO PESSOA/PB
MAIO/2019
JOYCE FERREIRA SOUZA DA SILVA e THAYANA DOS SANTOS DE DEUS
BANCA EXAMINADORA:
_______________________________________________________________
Professora Orientadora: Dra. Marlene de Melo Barboza Araújo (DSS/UFPB)
_______________________________________________________________
Assistente Social e Mestra Cristina Chaves de Oliveira (EMEF-ARUANDA)
_______________________________________________________________
Professora Dra. Maria das Graças de Miranda Ferreira Silva (DSS/UFPB)
“A Deus pela força singular”.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, sou grata a Deus, aos meus familiares, amigos, aos novos colegas
de jornada da vida acadêmica, em especial a minha colega Joyce pelas lutas
compartilhadas. Agradeço à minha Orientadora Acadêmica a Professora Drª. Marlene de
Melo Barboza Araújo, pela dedicação, incentivo, colaboração intelectual, pela profissional
e pessoa que é, grata por cada orientação.
Em especial, destaco o meu agradecimento aos meus pais, se não fosse por eles,
não seria possível esta conquista. Minha singela homenagem a Paulo Roberto Mendes
(in memoriam).
Gratidão aos profissionais do Hospital do Complexo Hospitalar de Mangabeira
Tarcísio de Miranda Burity, em especial as Assistentes Sociais, e o Coordenador de
Serviço Social Edval Avelino, que partilharam seus conhecimentos profissionais, com
ética e compromisso que vão pra além do compromisso ético-político.
Thayana Santos
Sou muito grata, em primeiro lugar, a Deus, por ter me concedido tantas
bênçãos, e a conclusão deste curso acadêmico é, sem dúvida, uma das provas da
sua fidelidade, misericórdia e do seu amor por mim, pois diante de tantas lutas e
com o coração repleto de alegria, consegui concluir essa grande etapa da minha
Agradeço a minha família, por todo apoio e amparo, que por várias vezes
me motivaram a não desistir e a prosseguir na luta, em especial à minha mãe,
com toda a sua sabedoria e destreza no cuidado para me orientar, no amor ao
me incentivar, ela, que é meu maior, exemplo de força e garra e que me faz seguir
adiante. Agradeço à minha irmã, que com seus puxões de orelha e seus conselhos
Sem dúvidas, minha gratidão à Prof. Dra. Marlene de Melo Barboza Araújo,
que nos acolheu tão bem como supervisora de estágio e nos acompanhou
também nesta orientação de TCC, mostrando-se sempre disposta a orientar não
só nas questões acadêmicas, mas na vida. O seu olhar humanizado como
profissional e como pessoa encanta seus alunos, ela foi nosso amparo, em meio
às dificuldades, sempre nos deu forças para prosseguir com ânimo e sempre
Joyce Ferreira.
RESUMO Commented [J1]: O tamanho e o tipo da letra foram
modificados.
ABSTRACT
The purpose of this study is to understand the problem of domestic violence against
women in the context of Brazilian society, highlighting the legislation and the role of the
Service Social policies in coping. In this direction, in the light of a bibliographical research,
this work focuses on the following objectives: a) to introduce brief theoretical
considerations on the phenomenon of violence against women in the Western world; b)
understand what are the factors that produces and reproduces domestic violence against
women, in particular in Brazilian society; c) to understand or understand the extent to
which the Maria da Penha Law (Law 11340/2006), the Law on Feminicide (Law 13.104 /
2015) and public policies have contributed to prevent and reduce the practice of
domestic violence against women ; d) to emphasize the importance of the professional
intervention of the Social Worker in the protective measures to women in situations of
domestic violence, as well as in the other policies to combat this type of violence. In terms
of methodology, we have as central categories of analysis: gender violence, violence
against women, domestic violence and, from that point on, discuss concepts and
characterization of the different forms of violence of this type of violence against women
within the family. As a theoretical-methodological reference, the critical-dialectical
method was adopted as the horizon of analysis, since it was understood that only this
perspective of analysis allowed us to understand this reality and other phenomena of
social reality in its totality, that is, inserted in a more social reality permeated by
contradictions. As for the methodological procedures, a bibliographical research with an
eminently qualitative approach was developed. The results of the bibliographic research
and other sources of research presented here point to several factors for the production,
reproduction and growth of domestic violence against women, such as: social class
inequalities, gender, race / ethnicity, patriarchal ideology that reproduces daily the
machismo throughout the historical process. Finally, it is concluded that, despite
important advances and achievements in the international legal framework of human
rights, and in Brazilian legislation, especially with the promulgation of the Maria da Penha
Law and the Feminicide Law, on the other hand, research points to intensification of
feminicide in Brazil, Paraíba and João Pessoa, in the year 2018, and also from January to
April 2019, as we verified during the construction of this monographic work.
Key Words: Gender Violence, Violence Against Women, Social Service.
LISTA DE GRÁFICOS
SUMÁRIO
I – INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
II – CAPÍTULO – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES NA SOCIEDADE
BRASILEIRA: aspectos histórico-conceituais ......................................................... 15
1. Raízes Históricas sobre o Fenômeno da Violência Contra as Mulheres, com
enfoque na sociedade brasileira .............................................................................................. 16
1.1 Breves considerações em torno do conceito da violência de gênero. .................. 20
1.2 Reflexões e características da violência doméstica e familiar .................................. 22
1.3 Tipificações dos Tipos de Violência Doméstica Contra as mulheres ...................... 23
III- CAPÍTULO- II - MARCO LEGAL INTERNACIONAL DE AFIRMAÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO Á
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES .................................................................... 27
2.1 Afirmações dos Direitos Humanos - A Nível Internacional ....................................... 27
2.2. Marco Legal dos Direitos Humanos no Brasil .............................................................. 31
2.3 Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio: Avanços e Desafios ................................. 36
IV- CAPÍTULO- III - CONHECENDO UM POUCO A REALIDADE: violência
doméstica contra as mulheres, política de enfrentamento e o Serviço Social nas
instituições de atendimento às mulheres em situação de violência............................42
3.1 Realidade da violência no Brasil, Paraíba e João Pessoa com dados e relatos das
vítimas em situação de violência doméstica ........................................................................ 43
3.2 Serviço Social e as mediações para a efetivação dos direitos humanos das vítimas
em situação de violência doméstica e feminicídio ............................................................. 49
3.3 Papel do Serviço Social nas medidas protetivas da Lei Maria da Penha .............. 54
V - Considerações Finais ...................................................................................... 55
VI - REFERÊNCIAS ................................................................................................. 58
12
I – INTRODUÇÃO
II- CAPÍTULO I
Kofi Annan1
1
A título de informação, Kofi Allta Annan nasceu em 8 de abril de 1938 em Kumasi, Gana, e foi
um diplomata de Gana. Tornou-se o primeiro negro a ocupar o cargo na ONU - 1ª secretário-
geral da Organização das Nações Unidas, no período de 01 de janeiro de 1997 a janeiro de 2007,
tendo sido laureado com o Nobel da Paz em 2001. Como última nota, informamos ainda, com
muito pesar, que em 18 de agosto de 2018, Kofi Annan faleceu em um hospital de Berna, na
Suíça, aos 80 anos.
16
Diante do exposto, Saffioti (2015), observa que ideologia patriarcal não se trata
de uma relação privada, mas civil, dá direitos sexuais aos homens sobre as mulheres,
praticamente sem restrição, levando também em consideração o Código Napoleônico
(Código Civil Francês), o qual sequer previa o estupro no casamento como crime,
representando, dessa forma, uma estrutura de dominação masculina tanto no poder
como em relação à subordinação da mulher, quanto relacionado à violência contra a
mesma.
19
[...] A inferiorização social de que tinha sido alvo a mulher desde séculos
vai oferecer o aproveitamento de imensas massas femininas no
trabalho industrial. As desvantagens sociais de que gozavam os
elementos do sexo feminino permitiam à sociedade capitalista em
formação arrancar das mulheres o máximo de mais-valia absoluta
através, simultaneamente, da intensificação do trabalho, da extensão da
jornada de trabalho e de salários mais baixos que os masculinos, uma
vez que para o processo de acumulação rápida de capital era
insuficiente a mais-valia relativa obtida através do emprego da
tecnologia de então (SAFFIOTI, 1976, p. 19).
sexual sem a sua vontade, seja comercializada ou não, coação para não utilização de
métodos contraceptivos, dentre outras; e a violência moral, que é caracterizada por
qualquer atitude que esteja relacionado a difamação, fatos que atentam contra a honra
e reputação de alguém. Como podemos observar por meio do artigo 7º da Lei 11.340/06.
Art.7º.
I- a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe
cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimentos ou que vise degradar
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças, e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir
ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação.
III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força: que
induza a comercializar ou utilizar, de qualquer método contraceptivo
ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.
IV- a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores
e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades;
V- violência moral entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006,p?). Commented [J21]: Qual a paginação do documento?
De acordo com Miller (1999), dentre todos os tipos de violência contra a mulher
aqui mencionada, a violência psicológica é a que passa por vezes despercebida no
começo do relacionamento, pelas próprias vítimas, mas que deixa marcas profundas na
alma. De início, esse tipo de violência desabrolha por meio de palavras “sutis”, contudo,
com o passar do tempo, destroem a autoestima, autoconfiança, o respeito da vítima.
Nesse sentido das características da violência sofrida pela mulher em situação de
violência, conforme Miller (1999), em destaque, a mulher, vítima de abuso psicológico
sobrevive num estado de medo constante, sem saber o que lhe espera ao chegar à sua
casa e encontrar o agressor, mas, na maior parte das vezes, a vítima não consegue
romper o relacionamento abusivo.
25
2
Link da matéria: https://folhabv.com.br/noticia/Violencia-domestica-esta-presente-
em-todas-as-classes-sociais--diz-juiza/37669 (acesso em: 20/07/2019)
26
III- CAPÍTULO- II
levantar questões e reflexões sobre o sucinto debate com o objetivo de despertar nos
leitores uma curiosidade maior sobre o tema. Commented [J25]: Modificação para maior coesão à
frase;
Entre os autores dos diversos campos dos saberes, há o consenso que, com o
pós-guerra, a crise do capitalismo potencializou as expressões das questões sociais e as
latentes expressões que não estão visíveis, que estão em cena.
Segundo a Organização das Nações Unidas - Brasil, “depois da II Guerra Mundial
que devastou a vida de milhares de seres humanos, existiu na comunidade internacional
29
um sentimento de luta pela paz entre os países”. (Ano e paginação?) Assim, a ONU foi Commented [J26]: Faltam o ano e a paginação do
documento;
criada em 1945, com intuito de manter a paz e a segurança internacional entre os países.
A declaração incorporada a um pensamento liberal atende a uma necessidade de
um conflito do pós-guerra com as ameaças dos ideais nazistas do holocausto. De acordo Commented [J27]: “socialistas” foi substituído por
“nazistas”.
com a ONU, em 1948, pela primeira vez no mundo, foi instituído um marco legal,
preparado por diversos países, respeitando as singularidades do indivíduo e suas
culturas, crenças, etnias e nacionalidades.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 de dezembro de 1948), foi a
primeira medida internacional que abrange a pluralidade e a proteção universal do
direito humano, em trinta artigos em sua íntegra, da qual destacamos três:
Nesse sentido, se faz importante ressaltar algumas conquistas com ênfase para
as mulheres, as quais se tornou possível após a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948.
Nesse sentido, destacam-se alguns marcos legais internacional para as mulheres,
os quais são: em 7 de novembro de 1967, ocorreu a Declaração sobre a Eliminação da
Discriminação Contra a Mulher, “com o intuito de eliminar toda as formas de
discriminação e promover a igualdade entre os gêneros”; já em 18 de dezembro de 1979,
a Assembleia Geral das Nações Unidas “instituiu a Convenção Para Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Contra a Mulher” tendo em vista as disparidades e
discriminação ocorridas (CEDAW)”; no dia 20 de dezembro de 1993, ocorreu o marco da
Declaração das Nações Unidas, sobre a Eliminação de violência Contra a Mulher, com a
finalidade de: “Reconhecer a urgente necessidade de uma aplicação universal às
mulheres dos direitos e princípios relativos à igualdade, segurança, liberdade,
integridade e dignidade de todos os seres humanos”. Este por sua vez, se tratou do
primeiro artigo com ênfase para a violência contra a mulher, assim como o artigo 18 pela
primeira vez na Convenção de Direitos Humanos que foi responsável por destacar à
mulher e a criança como se tratando de sujeitos de direitos, o qual cita:
lutas dos movimentos sociais que reivindicaram sobre as séries de torturas que a
população sofreu do período ditatorial e os demais desafios dos direitos que não
Esse período de transição foi marcado pelo período histórico da ditadura militar
de 1964, onde várias pessoas foram torturadas e mortas, a população não tinha direito
de opinião e de reivindicação, uma vez que os militares que tinham o poder sobre o
Estado e leis.
Essa fase foi marcada pelo artigo estabelecido como AI-1. Com 11 artigos, o
mesmo dava ao governo militar o poder de modificar a constituição, anular mandatos
legislativos, interromper direitos políticos por 10 anos e demitir, colocar em
disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse contra a
segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública, além
de determinar eleições indiretas para a presidência da República.
Tendo em vista esse marco de torturas e desrespeito com a pessoa humana, com
a redemocratização do país, a carta de 1988 foi ratificada pelo Brasil, está descrita: a) a
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; b) a
Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; c) o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; d) o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; e)
a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; f) a
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
em 27 de novembro de 1995.
Comumente, no artigo de Direitos Humanos na Constituição Brasileira de 1988, é
apresentado o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana afirmando que a dignidade da Commented [J31]: Foi inserido o itálico e retirado o
negrito;
pessoa humana pode ser considerada como o fundamento último do Estado brasileiro.
Ela é o principal valor para determinar a interpretação e a aplicação da Constituição,
assim como a atuação de todos os poderes públicos que compõem a República
Federativa do Brasil. Em síntese, o Estado existe para garantir e promover a dignidade de
todas as pessoas. É nesse amplo alcance que está à universalidade do princípio da
dignidade humana e dos direitos humanos.
Diante dos estudos pela literatura de Nazaré (2004), observa-se que, à medida
que o Brasil avançou em seus demais aspectos políticos, a grande influência do
neoliberalismo entra em contradição com as classes sociais e seus preceitos. Percebe-se
que a diferença social econômica divide a população em ricos e pobres. Os que
concentram mais poder e riqueza possuem em consequente uma melhor qualidade de
34
vida e tem um diferente acesso à educação, saúde, alimentação, do que o pobre, uma
vez que essas contradições de classes acarretam em contradição de pensamentos
eclodindo numa discussão em que os direitos humanos estão direcionados as pessoas
marginalizadas da sociedade.
Ainda nesse sentido, Nazaré (2014, p.183) nos ensina: “No caso específico dos
direitos humanos, os grandes conglomerados de comunicação insistem em apresentá-
los à sociedade ora como defensores de subversivos, ora como protetores de bandido”.
Esse pensamento surge a partir da ideia do neoliberalismo de distorcer o
princípio dos direitos humanos que, de forma sucinta, é “zelar pela vida de qualquer
indivíduo”, nesse aspecto, surgem os questionamentos de proteção ao cidadão de bem
daquele cidadão que cometeu erros e infringiu determinada lei. É importante destacar
que diante desse cenário de luta e reivindicação pelos direitos humanos, surge o
movimento feminista.
Tomando como base Pinto (2003), a mulher por muito tempo teve um papel
atribuído na sociedade de pessoa frágil, sendo o sexo frágil e dependente do homem,
além disso, passou por obstáculos como a desigualdade de gênero diante da diferença
salarial existente entre o homem e a mulher, os cargos em que as mulheres não
ocupavam no mercado de trabalho, pois eram visualizadas apenas como mulher do lar,
e tantos outros enfrentamentos que as perseguem até os dias de hoje.
Acontece que a luta pelos direitos das mulheres sempre foi algo presente em
nossa sociedade, até os dias atuais, é uma árdua batalha existente diante da sociedade Commented [J32]: “existida” foi substituído por
“existente”;
patriarcal, donde a mulher ficava em casa e o homem que ia trabalhar, vivida em uma
ideologia errônea fixada na sociedade que inseriu a ideia de princípios e valores
adotados pelos indivíduos.
Um dos grandes marcos de tais lutas feministas foi, de acordo com Celi Pinto
(2003, p.381):
ano de 1975, a ditadura ainda estava em seu auge, foi nesse momento
que, a partir da declaração da ONU como o “Ano Internacional da
Mulher”, considerado o marco do feminismo no Brasil, o cenário do
movimento se modifica, dando maior visibilidade ao feminismo.
Ocorrera o congresso para comemorar o “Ano Internacional da Mulher”
que visava debater questões como “o papel e o comportamento da
mulher na realidade brasileira”, resultando na criação do Centro de
Desenvolvimento da Mulher Brasileira.
Sendo assim, observamos que esse tema é tratado com naturalidade, uma vez
que é fruto do preconceito da própria sociedade contra a mulher em muitos casos, como
alguns debates indagam que a violência é fruto das desigualdades sociais e econômicas,
com base nisso, é perceptível que o índice de violência é maior nas periferias, nos
ambientes onde se vive em situação precária, porém, não obstante, foi comprovado por
relatos e depoimentos divulgados na própria mídia que não há classe social para a
violência, sendo assim, iremos apresentar no capítulo 2.4 alguns relatos de vítimas de
36
Nesse sentido, a Lei Maria da Penha foi constituída a partir da esperança e garra
por justiça da farmacêutica Fernandes, não que imaginasse que através da sua luta fosse
possível construir, conquistar, garantir uma lei com medidas para coibir e prevenir à
violência contra a mulher, mas que a princípio o intuito foi por justiça. O ex-marido de
Penha disparou contra ela um tiro que a deixou paraplégica, o crime foi denunciado,
entretanto, passaram dezenove anos e seis meses para o acusado ser preso.
Com base nos fatos descritos por Maria da Penha (2016), em seu livro Sobrevivi
Posso Contar, no qual o objetivo de escrevê-lo foi a notoriedade do ocorrido à vítima e Commented [J33]: Nomes de obras autorais devem vir
em itálico;
que assim, fosse possível justiça. Penha após várias tentativas sem êxito da condenação
de Marcos, conseguiu apoio de algumas organizações não governamentais
internacionais: o Centro de Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino Commented [J34]: Modificação para o plural;
as Políticas Públicas e programas que possam apoiar a inserção das vítimas no mercado
de trabalho (grande parte dessas mulheres, dependem financeiramente de seu
companheiro); sensibilidade da sociedade e meter sim a colher; é importante a vítima
romper o silêncio, só assim poderá sair da situação de violência.
Ainda, elencando-se o marco legal do Brasil, ressalta-se a implementação da Lei
de Feminicídio 13.104/2015, criada com o intuito de punir os crimes cometidos contra a
mulher, pelo simples fato de serem mulheres, sancionou-se, então a Lei do Feminicídio, Commented [J36]: Acréscimo e modificação de trecho
para dar maior coesão e evitar redundância;
“criada a partir de uma recomendação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre
Violência Contra a Mulher (CPMI-VCM)”. No ano de 2013, a Comissão Sobre a Situação
da Mulher (CSW) da Organização das Nações Unidas, recomendou aos Estados para que
reforçassem a legislação nacional para punir assassinatos violentos de mulheres e
meninas em razão do gênero. Conforme o Decreto da Presidência da República de 09 de
março de 2015, enfatiza-se alguns artigos da Lei 13.104/2015:
Art. 2o- Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Aumento de pena
Art. 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
40
Gráfico 1- Mapa Da Violência Contra A Mulher Commented [J37]: Acréscimo de “gráfico 1” e mudança
de tamanho de fonte da letra para 10;
44
São Paulo
Alagoas
Distrito Federal
Rio de Janeiro
Goiás
Bahia
Mato Grosso do Sul
Paraná
Amapá
Pernambuco
Minas Gerais
Rondônia
Casos noticiados pela imprensa brasileira entre jan/nov de 2018
o apoio da família a essa vítima, para que a mesma consiga retomar sua rotina sem
depender do agressor e denunciá-lo após compreender que ela não tem culpa e sim
quem a agrediu.
Em sequência ao estudo, outra reportagem, agora do jornal portal Correio datada
em 05 de fevereiro de 2019, menciona que: “a Paraíba está no ‘top 20’ dos estados que
46
mais matam mulheres”. Observa-se que, entre os meses de janeiro a setembro do ano
passado, 39% dos crimes com mulheres assassinadas não foram elucidados na Paraíba.
O Jornal Portal Correio teve acesso a uma versão do Anuário da Segurança que
não foi divulgada pela Secretaria de Comunicação do Governo da Paraíba. Diferente da
“versão simplificada” com apenas 30 páginas, divulgada no dia 31 de janeiro, e que traz
apenas números positivos da gestão, o documento agora divulgado tem 132 páginas e
traz uma quantidade bem maior de dados sobre a segurança no estado
Gráfico 2 -Série Histórica de CVLI com vítimas do sexo feminino na Paraíba Commented [J41]: Acréscimo de “gráfico 2”
Com base no relatório, fica evidente que o ano em que mais mulheres foram
mortas foi 2011, com um número de 146 casos. Em 2012 foram contabilizados 139. Na
sequência, os números foram reduzindo, passando para 118 (2013), 104 (2014), e em
2015, voltaram a subir, indo para 113. Depois, os casos reduziram mais uma vez,
registrando 97 em 2016. De janeiro a setembro do ano passado, 39% dos crimes com
47
Sendo assim, não podemos estimar que a violência tivesse diminuído, visto que
39% dos casos não foram registrados pelas vítimas e, em 2018, não constaram os dados
de violência dessas mesmas mulheres. Estudos e pesquisas apontam que na maioria dos
casos, isso acontece em razão do medo das mulheres em situação de violência
denunciarem os agressores ou até mesmo aquelas que fazem a denúncia logo após
retiram, pois são ameaçadas.
A respeito do feminicídio, é importante ressaltar que, segundo os estudos e
pesquisas, este crime é subdividido em três etapas, “feminicídio íntimo” que é quando
tem uma relação de afeto ou de parentesco com o agressor, “não íntimo” ao contrário
do íntimo, não há relação de afeto ou parentesco, porém, o crime é caracterizado por ter
violência sexual ou abuso e o “por conexão” quando uma mulher tenta impedir o
agressor de agredir outra mulher e é morta por ele.
Em uma reportagem vista pelo site do globo News, apresentada no dia
08/03/2019 tem o tema: “Dados contra a mulher são a evidência da desigualdade de
gênero no Brasil”. Nessa reportagem, fica evidenciado que a violência contra as
mulheres é decorrente, como dissemos anteriormente, à ideologia patriarcal que
alimenta e reproduz a cultura machista no Brasil. O jornal abordou que, apesar de ter
tido redução de 6,7% no número de homicídios contra as mulheres no período de 2017
- 2018 a violência no geral teve um número de redução de 13% frustrou a expectativa
diante dos dados divulgados, pela pergunta que se faz a respeito de por que que a
violência contra a mulher diminuiu menos do que a violência no geral? Esta resposta está
ligada justamente a preconceito e diferença de gênero de que sofrem as mulheres.
Outro aspecto abordado nesta reportagem refere-se aos avanços legais como: a
lei Maria da Penha, à Lei do Feminicídio e, da mais recente lei de importunação sexual,
em 2018. Esses avanços na legislação brasileira constituem, certamente, um marco
importante pelas lutas das mulheres, porém as políticas públicas para garantir seu
comprimento se mostram frágeis. Permanecendo assim o desafio em garantir que as
mulheres em situação de violência de fato tenham acesso à justiça.
48
Como foi mencionado nas notas introdutórias deste capítulo, vimos alguns casos
de violência contra as mulheres dentre eles está o caso em que o marido matou a esposa
a tiros em motel na Paraíba.
Uma mulher foi morta a tiros pelo marido, na noite desta segunda-feira (15),
em um motel que fica entre a saída de Campina Grande e a cidade de
Queimadas, na BR-104. Após cometer o crime, o homem teria se matado. A
mulher, Dayse Auricea Alves, de 40 anos, é secretária de educação do
município de Boa Vista. (G1 Paraíba, 15-04-2019).
mais informações para que as vítimas possam ter acesso e ganhar força para lutar contra
esses crimes.
No próximo capítulo, iremos abordar sobre a profissão de Serviço Social na
mediação dos direitos humanos das vítimas de violência doméstica e feminicídio.
Essa ficha de notificação pode ser preenchida por qualquer profissional da área
da saúde, após o atendimento à paciente, prezando pelo seu bem-estar, embora essa
ficha seja válida até mesmo para constar nos registros o controle dos índices de violência.
A equipe hospitalar que atende a paciente não direciona com a atenção devida, por
causa da própria logística do hospital, que, por ser uma unidade de saúde de urgência e
emergência, a demanda é grande de atendimento, e a dinâmica dos profissionais de
saúde é mais paliativa do que preventiva e auxiliadora. Com isso, percebemos algumas
faltas de informações nesse documento, uma vez que o perfil das usuárias não se pessoas
que vivem em vulnerabilidade e muitas delas não possuem um bom nível de
escolaridade, dificultando assim o preenchimento adequado desse documento.
Nesse aspecto, muitas mulheres saem do atendimento de urgência sem muita
informação do que deve fazer depois, do centro de apoio na qual elas possam ir, a
delegacia da mulher que é especializada no atendimento das mesmas, além de estarem
mais fragilizadas e constrangidas em repetir o fato ocorrido.
Desta forma, percebemos que é preciso uma orientação maior nas possibilidades
de meios de conscientização com os profissionais da saúde, a fim de oferecer um
atendimento diferenciado as vítimas e dá a elas o direito da informação adequada, nisso,
se trabalha o atendimento humanizado, que possibilita às vítimas o entendimento maior
dos seus direitos nessas situações.
Todavia, apesar dos avanços acerca das políticas públicas e debates sobre a
proteção às mulheres vítimas de violência doméstica e feminicídio terem ganhado mais
visibilidade, ainda é frágil a proteção a essas mulheres.
Visto que o Estado que deve garantir essa proteção prevista nos direitos
humanos e na nossa Constituição Federal, a discriminação de gênero ainda é muito forte,
os resquícios do patriarcado e do machismo perduram em nossa sociedade, inclusive
pelo próprio Estado.
54
3.3 Papel do Serviço Social nas medidas protetivas da Lei Maria da Penha
Como foi visto anteriormente, o Serviço Social atua nas diversas áreas das
questões sociais, a profissão tem um importante papel no atendimento às mulheres
vítimas de violência doméstica, de acordo com o CRESS 2006, as Assistentes sociais
atendem juntamente com as ONG’s, instituições e organizações de apoio às vítimas de
violência doméstica. A profissional atua diretamente na conscientização da mulher sobre
seus direitos, sendo a peça chave do seu meio de mediação entre a usuária e os
mecanismos da legislação que a protege a Lei Maria da Penha, que respalda as mulheres
vítimas de violência.
No entanto, a secretaria especial de políticas para as mulheres, em 2006,
apresenta as novas responsabilidades, atribuições e competência da regulamentação da
lei Maria da Penha.
Da equipe de atendimento multidisciplinar foi sancionado no artigo:
TÍTULO V
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de
atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre
outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local,
fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à
Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e
outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares,
com especial atenção às crianças e aos adolescentes.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais
aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissional
especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento
multidisciplinar.
55
Sendo assim, inclui-se o Assistente Social para apoiar as vítimas, embasada com
a lei que as protegem, de maneira que, além do profissional do Serviço Social, é
necessário o aparo legislativo para assegurá-las dos seus direitos a respeito dos
agressores.
Nas palavras de Thiago F. Sant’ Anna:
[...] Daí ser possível afirmar que as/os assistentes sociais podem
operar o arcabouço teórico-metodológico feminista,
entrecruzado ao do Serviço Social, em suas experiências
profissionais na busca por não somente acionar as práticas de
atendimento às mulheres vítimas de violência, mas também a
reunir forças para criticar e afrontar a produção de sentidos
ancorados em um viés machista e misógino[...] (SANT’ANNA,
2018, p.308).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
medidas.
57
REFERÊNCIAS
FERNANDES, Maria da Penha Maia. Sobrevivi Posso Contar. 2. ed. Fortaleza: Editora
Armazém da Cultura, 2016.
G1 PARAÍBA. “Ela sabe que eu estou certo”, diz preso por agredir mulher e deixar
vítima 03 dias desacordada, na PB. Paraíba, 2019. Disponível em:
<https://g1.globo.com/pb/paraiba/noticia/2019/03/25/ela-sabe-que-estou-certo-diz-
preso-por-agredir-mulher-e-deixar-vitima-3-dias-desacordada-na-pb.ghtml> Acesso
em 15 abr. 2019.
O GLOBO. Mulheres sauditas agora recebem SMS para saberem que maridos se
divorciaram. 2019. Disponível em: <https://oglobo.globo.com/mundo/mulheres-
sauditas-agora-recebem-sms-para-saberem-que-maridos-se-divorciaram-23350709>.
Acessado em 17 abr. 2019.
MIGUEL, Luiz Felipe; BIROLI, Flávia. Feminismo e Política. 1. ed. São Paulo: Editora
Boitempo, 2014.
NETTO, José Paulo. Ditadura e serviço social: uma análise do serviço social no Brasil
pós – 64. 17º Ed. Editora Cortez. 2015. Disponível em: <
http://www.cortezeditora.com/Algumas_paginas/Ditadura_e_servico_social.pdf> Acesso
em 13 mar. 2019.
PERUGINI, Ana. Mapa de violência contra a mulher 2018. Brasília, DF. 2019.
Disponível em:< https://pt.org.br/wp-content/uploads/2019/02/mapa-da-
violencia_pagina-cmulher-compactado.pdf> Acesso em 10 abr. 2019.
PINTO, Céli. Regina Jardim. Uma História do feminismo no Brasil. 1.ed. São Paulo:
Editora Fundação Perseu Abramo, 2003.
REDE BRASIL.Lei Maria da Penha reduz, mas violência contra a mulher está longe do
fim. 2016. Disponível em: <https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2016/03/em-
quase-dez-anos-lei-maria-da-penha-contribuiu-para-reduzir-a-violencia-contra-a-
mulher-418.html>. Acessado em 20 mar. 2019.
61
REDE BRASIL. Estudo revela 68 mil casos de violência contra a mulher em 2018.
2019. Disponível em:< https://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2019/03/estudo-
revela-68-mil-casos-de-violencia-contra-a-mulher-noticiados-em-2018> Acesso em 18
abr. 2019.
SAFFIOTI, Heleieth. A Luta na Sociedade de classes: Mito e Realidades. ed. Rio de Commented [J52]: Foi retirado o negrito desse trecho,
Janeiro: Editora Vozes, 1976. pois subtítulos não devem vir em negrito
____________________. Gênero Patriarcado Violência. 2. ed. São Paulo: Editora Expressão Commented [J53]: Por ser obra de mesma autora da
Popular, 2015. referência anterior, o nome foi sublinhado;
SOUZA, Luiz. Sociologia da Violência e do Controle Social. Ed. Curitiba: Editora IESDE
Brasil, 2008. Mundo Educação. Disponível
em:<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/era-napoleonica.htm>.
Acessado em 04 mar. 2019.
PINHEIRO, Maria Jaqueline Maia. MULHERES ABRIGADAS: Violência conjugal e Commented [J54]: O título foi colocado em negrito;
trajetórias de ida, editora da Universidade Federal Do Ceará – EDUECE – 2012.