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UNIVERSIDADE FEDERAL DA PARAÍBA

CENTRO DE CIÊNCIA HUMANAS, LETRAS E ARTES


DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL
COORDENAÇÃO DE GRADUAÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL

JOYCE FERREIRA SOUZA DA SILVA e THAYANA DOS SANTOS DE DEUS

DESVELANDO A REALIDADE: violência doméstica contra as mulheres no Brasil,


políticas de enfrentamento e o Serviço Social nesse processo

JOÃO PESSOA/PB
MAIO/2019
JOYCE FERREIRA SOUZA DA SILVA e THAYANA DOS SANTOS DE DEUS

DESVELANDO A REALIDADE: violência doméstica contra as mulheres no Brasil,


políticas de enfrentamento e o Serviço Social nesse processo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


à Coordenação de Graduação em Serviço Social

da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)


como requisito obrigatório para obtenção do

Título de Bacharel em Serviço Social.

Orientadora: Profª Dra. Marlene de Melo


Barboza Araújo.
JOYCE FERREIRA SOUZA DA SILVA e THAYANA DOS SANTOS DE DEUS

DESVELANDO A REALIDADE: violência doméstica contra as mulheres no Brasil,


políticas de enfrentamento e o Serviço Social nesse processo

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado

à Coordenação de Graduação em Serviço Social


da Universidade Federal da Paraíba (UFPB)

como requisito obrigatório para obtenção do


Título de Bacharel em Serviço Social.

APROVADO EM 17/05/ 2019

BANCA EXAMINADORA:

_______________________________________________________________
Professora Orientadora: Dra. Marlene de Melo Barboza Araújo (DSS/UFPB)

_______________________________________________________________
Assistente Social e Mestra Cristina Chaves de Oliveira (EMEF-ARUANDA)

_______________________________________________________________
Professora Dra. Maria das Graças de Miranda Ferreira Silva (DSS/UFPB)
“A Deus pela força singular”.
AGRADECIMENTOS

Primeiramente, sou grata a Deus, aos meus familiares, amigos, aos novos colegas
de jornada da vida acadêmica, em especial a minha colega Joyce pelas lutas
compartilhadas. Agradeço à minha Orientadora Acadêmica a Professora Drª. Marlene de
Melo Barboza Araújo, pela dedicação, incentivo, colaboração intelectual, pela profissional
e pessoa que é, grata por cada orientação.
Em especial, destaco o meu agradecimento aos meus pais, se não fosse por eles,
não seria possível esta conquista. Minha singela homenagem a Paulo Roberto Mendes
(in memoriam).
Gratidão aos profissionais do Hospital do Complexo Hospitalar de Mangabeira
Tarcísio de Miranda Burity, em especial as Assistentes Sociais, e o Coordenador de
Serviço Social Edval Avelino, que partilharam seus conhecimentos profissionais, com
ética e compromisso que vão pra além do compromisso ético-político.

“A mesma rocha que bloqueia o caminho poderá funcionar como um degrau”.


(Osho)

Thayana Santos

Sou muito grata, em primeiro lugar, a Deus, por ter me concedido tantas
bênçãos, e a conclusão deste curso acadêmico é, sem dúvida, uma das provas da

sua fidelidade, misericórdia e do seu amor por mim, pois diante de tantas lutas e
com o coração repleto de alegria, consegui concluir essa grande etapa da minha

vida; a Ele, minha eterna gratidão.

Agradeço a minha família, por todo apoio e amparo, que por várias vezes
me motivaram a não desistir e a prosseguir na luta, em especial à minha mãe,
com toda a sua sabedoria e destreza no cuidado para me orientar, no amor ao

me incentivar, ela, que é meu maior, exemplo de força e garra e que me faz seguir
adiante. Agradeço à minha irmã, que com seus puxões de orelha e seus conselhos

e exemplo de dedicação, sempre acreditou na minha capacidade e me incentivou


nesse processo acadêmico. Gratidão ao meu pai, que com seus conselhos e
dedicação me impulsionou sempre a buscar a minha felicidade e o meu melhor
nos estudos.

Sem dúvidas, minha gratidão à Prof. Dra. Marlene de Melo Barboza Araújo,
que nos acolheu tão bem como supervisora de estágio e nos acompanhou
também nesta orientação de TCC, mostrando-se sempre disposta a orientar não
só nas questões acadêmicas, mas na vida. O seu olhar humanizado como

profissional e como pessoa encanta seus alunos, ela foi nosso amparo, em meio
às dificuldades, sempre nos deu forças para prosseguir com ânimo e sempre

acreditou na nossa capacidade nos conduzindo da melhor forma possível.

Agradeço também a todas as minhas professoras ao longo do curso, que


muito contribuíram no meu aprendizado, aos meus colegas que compartilharam

comigo angústias e felicidades, em especial à minha colega e companheira


Thayana Santos, que esteve comigo desde o estágio e juntas concluímos esse

artigo, estando comigo em diversos desafios que a vida nos colocou.

Minha gratidão também à minha supervisora de estágio Tatiany

Fernandes, que me recebeu com muito carinho e profissionalismo, me ensinando


e contribuindo no meu saber profissional, a Edval Avelino coordenador de Serviço

Social do hospital que disponibilizou o espaço para a efetivação deste período


de estágio e aos demais profissionais do hospital que me acolheram muito bem.

A todos vocês, minha eterna gratidão.

Joyce Ferreira.
RESUMO Commented [J1]: O tamanho e o tipo da letra foram
modificados.

O presente trabalho monográfico de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço


Social da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) tem como objeto de estudo Commented [J2]: Os termos em destaque foram
compreender a problemática da violência doméstica contra as mulheres no contexto da retirados do negrito;
sociedade brasileira, ressaltando a legislação e o papel do Serviço Social nas políticas
públicas de enfrentamento. Nessa direção, à luz de uma pesquisa bibliográfica, o referido
trabalho foca nos seguintes objetivos: a) introduzir breves considerações teóricas em
torno do fenômeno da violência contra as mulheres no mundo ocidental; b) compreender
quais são os fatores que produzem e reproduzem a violência doméstica contra as Commented [J3]: ‘Produzem’ e ‘reproduzem’ foram
mulheres, em particular na sociedade brasileira; c) apreender ou entender em que medida colocadas no plural;
a Lei Maria da Penha (Lei nº 11340/2006), a Lei do Feminicídio (Lei nº 13.104/2015) e as
políticas públicas vêm contribuindo para impedir e reduzir a prática da violência
doméstica contra as mulheres; d) ressaltar a importância da intervenção profissional Commented [J4]: Modificação de “importante” para
da/do Assistente Social nas medidas protetivas às mulheres em situação de violência “importância”
doméstica, assim como nas demais políticas de enfrentamento a essa modalidade de
violência. Em termos metodológicos, tem-se como categorias centrais de análise:
violência de gênero, violência contra as mulheres, violência doméstica e, partir daí,
discutir conceitos e caracterização das diferentes formas de violência dessa modalidade
de violência contra as mulheres no âmbito familiar. Como referencial teórico-
metodológico, adotou-se como horizonte de análise o método crítico-dialético, por
entender que tão somente essa perspectiva de análise nos permiti compreender essa
realidade e outros fenômenos da realidade social em sua totalidade, ou seja, inserida
num contexto mais amplo da realidade social permeada de contradições. Quanto aos
procedimentos metodológicos foi desenvolvida a pesquisa bibliográfica com abordagem
de caráter eminentemente qualitativo. O resultado da pesquisa bibliográfica e outras
fontes de pesquisa aqui apresentadas, apontam vários fatores para produção,
reprodução e crescimento da violência doméstica contra as mulheres, tais como:
desigualdades sociais de classes, gênero, raça/etnia, a ideologia patriarcal que reproduz
cotidianamente o machismo ao longo do processo histórico. Por fim, conclui-se que, não
obstante avanços e conquistas importantes no marco legal internacional dos direitos
humanos, e na legislação brasileira, sobretudo com a promulgação da Lei Maria da Penha
e a Lei do Feminicídio, por outro lado, as pesquisas apontam a intensificação do
feminicídio no Brasil, na Paraíba e João Pessoa, no ano de 2018, e também de janeiro até
abril de 2019, conforme verificamos durante a construção do presente trabalho
monográfico.
Palavras-Chave: Violência de Gênero; Violência Contra as Mulheres; Serviço
Social.

ABSTRACT

The purpose of this study is to understand the problem of domestic violence against
women in the context of Brazilian society, highlighting the legislation and the role of the
Service Social policies in coping. In this direction, in the light of a bibliographical research,
this work focuses on the following objectives: a) to introduce brief theoretical
considerations on the phenomenon of violence against women in the Western world; b)
understand what are the factors that produces and reproduces domestic violence against
women, in particular in Brazilian society; c) to understand or understand the extent to
which the Maria da Penha Law (Law 11340/2006), the Law on Feminicide (Law 13.104 /
2015) and public policies have contributed to prevent and reduce the practice of
domestic violence against women ; d) to emphasize the importance of the professional
intervention of the Social Worker in the protective measures to women in situations of
domestic violence, as well as in the other policies to combat this type of violence. In terms
of methodology, we have as central categories of analysis: gender violence, violence
against women, domestic violence and, from that point on, discuss concepts and
characterization of the different forms of violence of this type of violence against women
within the family. As a theoretical-methodological reference, the critical-dialectical
method was adopted as the horizon of analysis, since it was understood that only this
perspective of analysis allowed us to understand this reality and other phenomena of
social reality in its totality, that is, inserted in a more social reality permeated by
contradictions. As for the methodological procedures, a bibliographical research with an
eminently qualitative approach was developed. The results of the bibliographic research
and other sources of research presented here point to several factors for the production,
reproduction and growth of domestic violence against women, such as: social class
inequalities, gender, race / ethnicity, patriarchal ideology that reproduces daily the
machismo throughout the historical process. Finally, it is concluded that, despite
important advances and achievements in the international legal framework of human
rights, and in Brazilian legislation, especially with the promulgation of the Maria da Penha
Law and the Feminicide Law, on the other hand, research points to intensification of
feminicide in Brazil, Paraíba and João Pessoa, in the year 2018, and also from January to
April 2019, as we verified during the construction of this monographic work.
Key Words: Gender Violence, Violence Against Women, Social Service.

LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 - Mapa Da Violência contra a mulher ............................................................. 43


Gráfico 2 - Série Histórica de CVLI com vítimas do sexo feminino na Paraíba .. 45
LISTA DE SIGLAS
CEDAW - Convenção Para Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Contra a
Mulher
CEJIL - Centro de Justiça e o Direito Internacional
CF - Constituição Federal
CIDH - Comissão Internacional da Mulher
CLADEM - Comitê Latino-Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher
CN - Congresso Nacional
Código Civil Napoleônico - Código Civil Francês
CSW - Comissão sobre a Situação da Mulher
DH - Direitos Humanos
DUDH - Declaração Universal de Direitos Humanos
MF - Movimento Feminista
OAB - Ordem dos Advogados do Brasil
OEA - Organização dos Estados Americanos
OMS - Organização Mundial de Saúde
ONU - Organização das Nações Unidas
ONUBR - Organização das Nações Unidas no Brasil
SUS - Sistema Único de Saúde
DNU - Declaração das Nações Unidas Sobre Eliminação de Violência Contra a Mulher
CIPPT - Convenção Interamericana Para Prevenir e Punir Tortura
CDC - Convenção Sobre os Direitos da Criança
PIDCP - Pacto Internacional dos Direitos Civis e Políticos
PIDESC - Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais
RFB - República Federativa do Brasil
IPEA - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada.

SUMÁRIO

I – INTRODUÇÃO .................................................................................................. 12
II – CAPÍTULO – VIOLÊNCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES NA SOCIEDADE
BRASILEIRA: aspectos histórico-conceituais ......................................................... 15
1. Raízes Históricas sobre o Fenômeno da Violência Contra as Mulheres, com
enfoque na sociedade brasileira .............................................................................................. 16
1.1 Breves considerações em torno do conceito da violência de gênero. .................. 20
1.2 Reflexões e características da violência doméstica e familiar .................................. 22
1.3 Tipificações dos Tipos de Violência Doméstica Contra as mulheres ...................... 23
III- CAPÍTULO- II - MARCO LEGAL INTERNACIONAL DE AFIRMAÇÃO DOS
DIREITOS HUMANOS E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO Á
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES .................................................................... 27
2.1 Afirmações dos Direitos Humanos - A Nível Internacional ....................................... 27
2.2. Marco Legal dos Direitos Humanos no Brasil .............................................................. 31
2.3 Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio: Avanços e Desafios ................................. 36
IV- CAPÍTULO- III - CONHECENDO UM POUCO A REALIDADE: violência
doméstica contra as mulheres, política de enfrentamento e o Serviço Social nas
instituições de atendimento às mulheres em situação de violência............................42
3.1 Realidade da violência no Brasil, Paraíba e João Pessoa com dados e relatos das
vítimas em situação de violência doméstica ........................................................................ 43
3.2 Serviço Social e as mediações para a efetivação dos direitos humanos das vítimas
em situação de violência doméstica e feminicídio ............................................................. 49
3.3 Papel do Serviço Social nas medidas protetivas da Lei Maria da Penha .............. 54
V - Considerações Finais ...................................................................................... 55
VI - REFERÊNCIAS ................................................................................................. 58
12

I – INTRODUÇÃO

O presente Trabalho de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social da


Universidade Federal da Paraíba (UFPB), tem como objeto de estudo compreender a
problemática da violência doméstica contra as mulheres no contexto da sociedade
brasileira, ressaltando a legislação e o papel do Serviço Social nas políticas públicas de
enfrentamento. Assim sendo, à luz da pesquisa bibliográfica, esta monografia foca nos
seguintes objetivos: a) introduzir breves considerações teóricas em torno do fenômeno
da violência contra as mulheres no mundo ocidental; b) compreender quais são os
principais fatores que determinam a existência e redução da violência doméstica contra
as mulheres, em particular na sociedade brasileira; c) apreender ou entender em que
medida a Lei Maria da Penha (Lei nº 11340/2006), a Lei do Feminicídio (Lei nº
13.104/2015) e as políticas púbicas vêm contribuindo para impedir e reduzir a prática da
violência doméstica contra as mulheres; d) ressaltar a importância da intervenção Commented [J5]: Mudança de ‘importante’ para
‘importância’.
profissional da/do Assistente Social nas medidas protetivas às mulheres em situação de
violência doméstica e nas políticas de enfrentamento da violência contra as mulheres.
O interesse em abordar essa temática foi construído em decorrência de vários
fatores, tais como: discussões e reflexões feitas no decorrer do processo formativo,
especialmente nas disciplinas de Cidadania e Direitos Humanos, Questão Social e
Movimentos Sociais. Além disso, outro fator de suma importância pela definição do
objeto de estudo deu-se em razão do acompanhamento da publicação de dados em
relação à violência doméstica contra as mulheres no Brasil, através dos meios de
comunicação (TV e jornais em âmbito nacional e local, no ano de 2018, assim como da
publicação do Atlas e do Mapa da Violência em dezembro 2018. Esses fatores, portanto,
foram definidores para a escolha ou definição do presente objeto de estudo e definição Commented [J6]: Substituição de “pela” por “para a”;

dos objetivos específicos, acima descritos.


Com base na pesquisa bibliográfica, entendemos tratar-se de um fenômeno
social complexo com raízes sócio-históricas de longa duração, que envolve diferentes
campos do conhecimento em termos explicativos, assim como na construção de políticas
de enfrentamento. Por consequência, o presente trabalho monográfico não tem como
13

objetivo o aprofundamento teórico-metodológico em torno dessa temática, mas tão


somente introduzir, de modo sintético, algumas explicações teóricas no sentido de
compreender principais fatores para reprodução e crescimento dessa violência,
enfocando a legislação brasileira e políticas de enfrentamento, inclusive ressaltando a
importância do Serviço Social nos espaços institucionais de atendimento às mulheres em
situação de violência. Assim sendo, em termos de relevância desse trabalho espera-se
contribuir em duas direções: do ponto de vista acadêmico, contribuir com alguns Commented [J7]: Acréscimo de termo para dar maior
coesão à frase.
subsídios teóricos e quantitativos em torno dessa cruel e dura realidade em que estão
submetidas as mulheres e, do ponto de vista social, contribuir com subsídios teórico-
práticos que possam nortear melhor a intervenção do profissional de Serviço Social no
âmbito dos espaços institucionais em que atuam, especialmente no espaço de
atendimento às mulheres em situação de violência doméstica.
Em termos teórico-metodológicos, tem-se como categorias centrais de análise:
violência de gênero, violência contra as mulheres, violência doméstica e, a partir daí,
discutir conceitos e caracterização das diferentes formas de violência dessa modalidade
de violência contra as mulheres no âmbito familiar. Como referencial teórico-
metodológico, adotou-se como horizonte de análise o método crítico-dialético, por
entender que tão somente essa perspectiva de análise nos permite compreender essa
realidade e outros fenômenos da realidade social em sua totalidade, ou seja, inserida
num contexto mais amplo da realidade social permeada de contradições.
Dos procedimentos metodológicos, esse estudo, como dissemos anteriormente,
tem como base de referência a pesquisa bibliográfica. Para tanto, foi realizado o
levantamento do Estado da Arte, concernente ao tema. Na sequência, a leitura de
algumas referências de autores e autoras contemporâneas, no âmbito das ciências
sociais, tais como: Cecília Minayo, Céli Regina Pinto, Cristina Brusschini, Eleonora
Menicucci, da pensadora marxista Heleieth Saffioti, Pierre Bourdieu e Joan Scott. Por fim,
o estudo bibliográfico foi realizado com o intuito de apreender alguns elementos
conceituais em torno das principais categorias de análises acima mencionadas. Em suma,
por tudo que foi dito em termos metodológicos, ressalta-se a perspectiva crítico-
dialética como horizonte de análise com uma abordagem eminentemente qualitativa,
Por fim, seguindo as exigências da estrutura do Trabalho Monográfico de
Conclusão de Curso a nível de Graduação da Universidade Federal da Paraíba (UFPB),
14

este trabalho está dividido da seguinte forma: introdução, três capítulos e as


considerações finais.
No capítulo I, buscamos introduzir uma breve discussão teórica em torno do Commented [J8]: Modificação para a primeira pessoa do
plural, como forma de concordância com a escrita
fenômeno da violência doméstica contra as mulheres, enfocando os seguintes desenvolvida até o presente momento e no sentido de uma
padronização textual.
subtópicos: raízes históricas sobre o fenômeno da violência contra as mulheres; violência
de gênero e violência doméstica; tipos de violência contra as mulheres. O capítulo
seguinte aborda o marco legal internacional dos direitos humanos e a legislação Commented [J9]: Mudança de “aborda-se” para
“aborda”;
brasileira no trato da violência contra as mulheres, enfocando do modo especial a Lei
Maria da Penha e Lei do Feminicídio. No que tange ao terceiro capítulo, apresentamos Commented [J10]: Modificação para a primeira pessoa
do plural, como forma de concordância com a escrita
um panorama geral da violência doméstica contra as mulheres no Brasil e na Paraíba, desenvolvida até o presente momento e no sentido de uma
padronização textual.
tendo como marco temporal o ano de 2018 e os meses de janeiro a abril de 2019. Além
disso, o texto põe foco nas políticas de enfrentamento e a importância do Serviço Social Commented [J11]: Acréscimo para dar maior coesão ao
texto;
nos espaços institucionais de atendimento às mulheres em situação de violência. Nas Commented [J12]: Mudança para dar maior coesão ao
texto;
considerações finais, expomos os principais elementos destacados ao longo do corpo do
presente trabalho nesta monografia.
15

II- CAPÍTULO I

VIOLENCIA DOMÉSTICA CONTRA AS MULHERES NA SOCIEDADE


BRASILEIRA: aspectos histórico-conceituais

A Violência contra as Mulheres é talvez a mais


vergonhosa violação dos direitos humanos. Não conhece
fronteiras geográficas, culturais ou de riqueza. Enquanto
se mantiver, não poderemos afirmar que fizemos
verdadeiros progressos em direção à igualdade, ao
desenvolvimento e à paz.

Kofi Annan1

1
A título de informação, Kofi Allta Annan nasceu em 8 de abril de 1938 em Kumasi, Gana, e foi
um diplomata de Gana. Tornou-se o primeiro negro a ocupar o cargo na ONU - 1ª secretário-
geral da Organização das Nações Unidas, no período de 01 de janeiro de 1997 a janeiro de 2007,
tendo sido laureado com o Nobel da Paz em 2001. Como última nota, informamos ainda, com
muito pesar, que em 18 de agosto de 2018, Kofi Annan faleceu em um hospital de Berna, na
Suíça, aos 80 anos.
16

Conforme dissemos na introdução deste trabalho monográfico de conclusão do


Curso de Graduação em Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), a
violência contra as mulheres não é uma problemática recente ou presente apenas na Commented [J13]: Acréscimo para dar sentido à frase. Na
ausência desse termo, a frase afirma que não há violência
sociedade contemporânea atual. Ao contrário, segundo estudos e pesquisas desse contra as mulheres na sociedade contemporânea.

campo temático, trata-se de um fenômeno histórico-social, complexo e de difícil


enfrentamento. Assim, com base na pesquisa bibliográfica ou nos referenciais teóricos
pesquisados com vistas à realização da presente monografia, entendemos que a
violência contra as mulheres em suas diversas modalidades ou formas de expressão,
como, por exemplo, a violência doméstica, deve ser abordado como um fenômeno
histórico-social que envolve múltiplas determinações profundamente marcadas pelas Commented [J14]: A palavra foi colocada no plural;

desigualdades sociais: de classe, gênero raça/etnia, e também por raízes culturais


advindas da ideologia patriarcal que produz e reproduz cotidianamente a cultura
machista na sociedade, em particular na sociedade brasileira ao longo do processo
histórico.
Dito isto, vamos agora explicitar com maior precisão como será abordada a
temática acima e objeto deste primeiro capítulo. Para dar conta dessa discussão e à luz
de um referencial teórico básico, estruturamos esse capítulo em quatro subtemas
basilares. Inicialmente, vamos nos ater a discutir, de modo sintético, o fenômeno social
da violência doméstica no mundo ocidental, enfocando aspectos histórico-conceituais
situando essa realidade no contexto da sociedade brasileira. Na sequência, tecer breves
considerações em torno da violência de gênero. Posteriormente, pontuar algumas
reflexões e características da violência doméstica e familiar em que estão submetidas as
mulheres. Por fim, ainda com base nos estudos e pesquisas, apresentar tipificações da
violência doméstica ou as diferentes formas de violência contra as mulheres, ocorridas
no âmbito doméstico e familiar.

1. Raízes Históricas sobre o Fenômeno da Violência Contra as Mulheres, com


enfoque na sociedade brasileira
17

Assim, com base na leitura de alguns estudos relacionados a essa temática,


parte-se do pressuposto teórico-metodológico de que a problemática da violência
contra as mulheres não é um fenômeno que se faz presente no contexto atual da
sociedade contemporânea. Ao contrário, segundo algumas autoras/pesquisadoras e
feministas, a exemplo de Cristina Brusschini (1992), Cecília Minayo (1990), Eleonora
Menicucci (1990) e Heleith Saffioti (1992, 1997, 2008), Joan Scott (1990), a violência
contra as mulheres em suas diversas formas de expressão, como a violência doméstica,
é um fenômeno histórico-social complexo e de difícil enfrentamento, visto estar inserido
num contexto histórico-social em âmbito mundial, que envolve múltiplas determinações,
profundamente marcado pelas desigualdades sociais: de classe, gênero raça/etnia.
No caso do Brasil, ainda segundo essas autoras, essas desigualdades constituem
os pilares fundantes da formação da sociedade brasileira. Nesse sentido, entendemos
que, além dos aspectos econômicos, políticos, sociais, raízes culturais ancoradas sob a
ideologia patriarcal são fatores determinantes para a existência e perpetuação da
violência doméstica contra as mulheres na sociedade brasileira, ao longo do processo
histórico.
Tendo em vista um maior aprofundamento teórico ou compreensão dessa
temática, vamos, à luz de uma pesquisa bibliográfica, apresentar algumas explicações
histórico-conceituais em torno do fenômeno da violência doméstica contra as mulheres
no mundo ocidental, contextualizando esse fenômeno na realidade brasileira.
A violência doméstica contra as mulheres tem gênese, segundo Heleieth Saffioti
(2015), à socialização do patriarcado (dominação de poder dos homens, sob as
mulheres); machista, o homem, no processo histórico-social, tido como “machão”,
“provedor”, acha-se no direito de espancar sua esposa. A mulher foi sujeitada Commented [J15]: Houve a substituição de submetida
por “sujeitada” para evitar redundância; assim como
socialmente a um processo de submissão, obediência, contexto da sociedade brasileira. “social” foi retirado logo após “submissão”, para pelo
mesmo motivo de excessiva redundância.
Nesse viés, Pierre Bourdieu (2017), destaca que a mulher foi socialmente submetida para
Commented [J16]: Foi retirado o termo “social”, por
cuidar do lar, da família e principalmente, na reprodução biológica. motivo de redundância.

Ainda nesse âmbito de submissão em que a mulher foi socialmente submetida


ao abordar essa questão, Vanessa Bezerra e Renato Veloso (2015), considera a
compreensão de gênero como consistindo no fio condutor do fenômeno histórico e
social, o qual participa das sociedades estabelecidas, que tem o modo de produção
18

capitalista determinante, à intensificação do papel da mulher na sociedade


contemporânea.
Bourdieu (2017), em seu estudo intitulado: A Dominação Masculina, destaca que Commented [J17]: Títulos de obras devem vir em itálico;

a ordem social da dominação do homem está relacionada à divisão sexual do contrato


de trabalho, o mesmo defende que esta ordem social se encontra ainda nas relações
atribuídas a cada um dos sexos, o qual ao homem foi reservado o lugar de provedor da
família e da vida pública e, às mulheres, restaram o cuidado do lar e da reprodução,
especialmente na visão arcaica de um passado onde as mulheres não tinham
praticamente nenhum tipo de direito que não fosse ligado ao cuidar de seu lar e de seus
maridos.
Tomando como base Saffioti (2015), afinada à interpretação histórico-social da
construção do patriarcado ao autor Bourdieu (2017), os mesmos apresentam uma
concepção de que o patriarcado foi construído socialmente, e que, além disso,
corresponde ainda a divisão social do trabalho (divisão sexual do trabalho), à qual vai
obedecer ao critério do sexo. Nesse mesmo sentido, a autora menciona:

A interpretação patriarcal do ‘patriarcado’ como direito paterno


provocou, paradoxalmente o ocultamento da origem da família na
relação entre maridos e esposa. O fato de que homens e mulheres
fazem parte de um contrato de casamento - um contrato original que
instituiu o casamento e a família - e de que eles são maridos e esposas
antes de serem pais e mães. O direito conjugal está assim submetido
sob o domínio paterno e as discussões sobre o patriarcado giram em
torno do poder (familiar) das mães e dos pais, ocultando, portanto, a
questão social mais ampla referente ao caráter das relações entre
homens e mulheres e à abrangência do direito sexual masculino
(SAFFIOTI apud PATEMAN, 1988, p.49).

Diante do exposto, Saffioti (2015), observa que ideologia patriarcal não se trata
de uma relação privada, mas civil, dá direitos sexuais aos homens sobre as mulheres,
praticamente sem restrição, levando também em consideração o Código Napoleônico
(Código Civil Francês), o qual sequer previa o estupro no casamento como crime,
representando, dessa forma, uma estrutura de dominação masculina tanto no poder
como em relação à subordinação da mulher, quanto relacionado à violência contra a
mesma.
19

Saffioti (2015) enfatiza a ideologia do patriarcado ao que diz respeito à submissão


feminina na sociedade pré-capitalista estar relacionada a desigualdades de direitos
sociais entre os sexos às questões da família, exercendo papel econômico funcional,
fundamental para o desenvolvimento econômico e social. No qual “não se deve atribuir
o preconceito contra a mulher, correlacionando o seu papel, sua posição social na
estrutura de classe, pois a economia não sobreviveria sem o suporte da infraestrutura na
sociedade” (p.?) Commented [J18]: Qual a paginação da citação direta?

Do ponto de vista cultural-ideológico, é recorrente para diversos autores das


ciências sociais que a ideologia judaico-cristã, ou seja, a igreja Católica e Protestante,
influenciou o papel da mulher na sociedade, colocando-a num papel vulnerável,
reiterando que a mulher deveria ter obediência em tudo ao seu marido, assim
incentivando que a boa mulher diante da sociedade seria a ‘obediente’. Em muitos
momentos, a própria igreja utilizou de passagens bíblicas em busca de fortificar ainda
mais a visão com relação a essa submissão da mulher dentro de um lar, um desses
exemplos pode ser extraído do texto, vejamos:

Vós, mulheres, sujeitai-vos a vossos maridos, como ao Senhor; Porque


o marido é a cabeça da mulher, como também Cristo é a cabeça da
igreja, sendo ele próprio o salvador do corpo. De sorte que, assim como
a igreja está sujeita a Cristo, assim também as mulheres sejam todas
sujeitas ao seu marido (BÍBLIA, Efésios 5: 22,23 e 24, p. 1438, 2015).

No contexto da sociedade capitalista Saffioti (1976), em sua obra intitulada como


A Mulher na Sociedade de Classes destaca que o advento do capitalismo e a posição da
mulher na sociedade no contexto europeu do século XVIII/XIX vai ser determinante para
o papel da mulher inserida no mercado de trabalho, incorporada as novas necessidades
do capital com as modificações sociais no processo de modernização por meio da
industrialização, que apresentou como uma necessidade a existência de mão de obra em
busca de obter cada vez mais lucros, intensificando a exploração do trabalhador, através
do trabalho excedente mais-valia.
[...] As mulheres são colocadas em funções menos prestigiosas na
indústria, desenvolvendo os trabalhos mais repetitivos e fragmentários,
mas também que, mesmo quando o nível profissional do trabalho do
homem e da mulher é o mesmo, esta recebe menor remuneração e é
hierarquizada abaixo daquele. A valorização da força física do homem
serve de justificativa (SAFFIOTI, 1976, p. 24).
20

As mulheres que desempenhavam alguma função fora de casa passaram a sofrer


outro tipo de crime por meio desse desenvolvimento econômico-social, o trabalho nas
indústrias potencializou a exploração do trabalho feminino e infantil, no qual das
mulheres desempenhavam suas funções por baixos salários e carga horárias excedentes,
sem que houvesse nenhum direito garantido. Ainda nesse contexto, a autora observa:

[...] A inferiorização social de que tinha sido alvo a mulher desde séculos
vai oferecer o aproveitamento de imensas massas femininas no
trabalho industrial. As desvantagens sociais de que gozavam os
elementos do sexo feminino permitiam à sociedade capitalista em
formação arrancar das mulheres o máximo de mais-valia absoluta
através, simultaneamente, da intensificação do trabalho, da extensão da
jornada de trabalho e de salários mais baixos que os masculinos, uma
vez que para o processo de acumulação rápida de capital era
insuficiente a mais-valia relativa obtida através do emprego da
tecnologia de então (SAFFIOTI, 1976, p. 19).

Adentramos, assim, no século XXI em relação ao contexto brasileiro da mulher;


os movimentos sociais, a sociedade, lutaram arduamente, conquistaram vários direitos
sociais, tais como: o direito de ser inserida no mercado de trabalho, mas com certo
rebaixamento, desvalorização, sendo a classe trabalhadora mais explorada, mal
remunerada e apresentando disparidade salarial em comparação ao salário dos homens,
além de condições insalubres de trabalho (reforma trabalhista de 2017), que abriu
brechas para a desproteção do trabalhador e condições de trabalho insalubres; mulheres
gestantes, caso necessitem de dispensa por razões de qualquer afastamento, só através
de um laudo médico (KANDA, 2017).
Contudo, compete ressaltar que, com relação às condições de discrepâncias
salariais e chance de crescimento e evolução dentro do ambiente de trabalho, estas
perduram até a contemporaneidade, e se trata de uma luta até hoje presente na
realidade das mulheres brasileiras.

1.1 Breves considerações em torno do conceito da violência de gênero.


21

Do ponto de vista conceitual, de acordo com o sociólogo Luiz Souza (2008), a


violência enquanto fenômeno social se trata de uma categoria ampla, sendo difícil ter
uma única definição diante dos vastos componentes que a definem.
Saffioti (2015) conceitua a violência enquanto fenômeno social como a ruptura
de qualquer forma de integridade da vítima, seja ela a física, psíquica, sexual, ou ainda
moral.
Teixeira e Meneghel (2015), ao avaliarem os atos violentos contra as mulheres,
afirmam que é um meio pelo qual o algoz utiliza como forma de algum tipo de satisfação
própria. As condições para acontecer a violência, seja ela a falta de diálogo ou quaisquer
outros motivos, não desconsideram que a força física é um poder decisório para o
agressor.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (2001), a violência é definida a partir
de ações contra indivíduos, grupos, classes, que resulte em prejuízo físico, espiritual,
emocional, moral, ao indivíduo ou a terceiros; ainda com base em seus dados, a mesma
cita:

A organização Mundial da Saúde (2002), caracteriza a violência como


uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaças, contra
si próprio, contra outra pessoa, ou contra um grupo ou comunidade,
que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte,
dano psicológico, deficiência de desenvolvimento ou privação(p?). Commented [J19]: Paginação do documento?

Tomando como base os ensinamentos de Saffioti (2015), a violência de gênero


está relacionada ao processo pelo qual se dão as desigualdades de gênero, a princípio,
nas práticas de violência, sobretudo, na existência da imagem de dominação de poder
masculino sobre as mulheres nos diversos contextos sociais.
Na mesma linha de abordagem de Saffioti (2015), Bezerra e Veloso (2015)
definem o conceito de gênero como gerado a partir da necessidade de entender como
este é relacionado e é reproduzido da dominação do homem nas suas multiplicidades
históricas e sociais; os autores citam, ainda:

[...] Relação de gênero significa contradição, antagonismo, luta pelo


poder, recusa a considerar que os sistemas dominantes (capitalista,
22

patriarcado), são totalmente determinantes e que práticas sociais


apenas refletem essas determinações. Em resumo, o que é importante
na noção de relação social - definida pelo antagonismo entre grupos
sociais - é a dinâmica que ela introduz, visto que implica introduzir a
contradição, o antagonismo entre grupos sociais no centro de análise.
Trata-se, efetivamente, de uma contradição viva, perpetuamente em
vias de modificação, de recriação (BEZERRA & VELOSO, 2015).

Conforme Saffioti (2015), a violência de gênero está espraiada na sociedade nas


relações políticas, econômicas, domésticas, sociais, porque essa questão de
subordinação da mulher na sociedade está relacionada ao processo histórico-social e
político-ideológico em que a mulher foi submetida no decorrer da vida social.

1.2 Reflexões e características da violência doméstica e familiar

A violência doméstica contra as mulheres é parte integrante da violência de


gênero para Saffioti (2015), a violência contra a mulher se trata de um produto
socialmente construído do próprio processo de socialização do patriarcado machista, no
qual o homem é tido como ‘predador’, ‘machão’, ‘provedor’, julgando-se no direito de
espancar sua mulher. Já a mulher, por sua vez, precisa ser educada, frágil, para submeter-
se a seu marido, aos desejos masculinos, a ser obediente. Tais características irão
assinalá-la aos padrões da sociedade e das religiões na maioria das vezes. Contudo, são
esses pensamentos e culturas enraizadas que vão de encontro ao ideal interesse ao
controle, à manutenção social e à economia da sociedade, que por sua vez deixam as
mulheres cada vez mais submissas e longe de seus direitos.
Nas reflexões de Miller (1999), a violência doméstica contra a mulher ocorre no
seio familiar, dentro de casa, entre os entes mais próximos. Sendo a mulher o alvo
principal entre as vítimas desse tipo de violência, que na maioria das vezes são as mais
vulneráveis em comparação de força física, dentre outros aspectos socioeconômicos.

A violência doméstica é, em geral, o primeiro tipo de violência com a


qual se tem contato, uma vez que acontece no interior da casa ou no
espaço simbólico por esta representado, e se define como qualquer
conduta ou omissão de natureza criminal, reiterada e/ ou intensa ou
não, que inflija sofrimentos psicológicos, físicos, sexuais ou econômicos,
de modo direto ou indireto, a qualquer pessoa que resida
habitualmente no espaço doméstico. Esse tipo de violência se engendra
23

nas relações entre sujeitos que convivem estreitamente, quase sempre


unidos por laços consanguíneos ou por laços afetivos. Na violência
doméstica está implícita a existência de relações de poder, de domínio
e desigualdade entre agressor e vítima. (Teixeira e Meneghel 2015,
p.379).

A violência doméstica contra a mulher, segundo Maria da Penha Fernandes


(2016), tem um ciclo de violência, no qual, a princípio, o agressor detém a plena confiança
da vítima, às vezes financeira e sempre a afetiva. Após a agressão, pede perdão pelo
ocorrido, com intuito de manter o relacionamento, diz que vai mudar, que não
acontecerá mais qualquer tipo de crueldade, que tudo será diferente. A vítima, por sua
vez, acredita nas falácias, e aí ocorre a chamada “lua de mel”, na qual o algoz passa um
período “normal”, sem agressividade, um exemplo deste tipo de caso foi o que aconteceu
com Maria da Penha, onde a vítima nesse período engravidou novamente, como ocorre
com outras mulheres, por acreditar na mudança do esposo, namorado, companheiro.
Para Fernandes (2016), precisa ser debatido e deixado claro que nem em todos
os casos a vítima sobrevive às violências sofridas e consegue chegar a denunciar o
agressor, por isso a conscientização e o incentivo às mulheres que passam por esses
casos se faz tão importante, porque o medo de denunciar, e a cultura enraizada em nossa
sociedade culpabiliza a vítima, o machismo não podem e não devem calar a mulher.

1.3 Tipificações dos Tipos de Violência Doméstica Contra as mulheres

As tipificações dos tipos de violência doméstica e familiar contra a mulher à luz


da lei 11.340/2006: violência física, violência psicológica, violência sexual e a violência
patrimonial.
A violência física é caracterizada como qualquer tipo de violência que agrida a Commented [J20]: O negrito foi substituído pelo itálico
na definição desses tipos;
vítima, seja com tapas, socos, pontapés; a violência psicológica passa às vezes
despercebida pelas próprias vítimas, que nem sempre compreende como um tipo de
violência, são insultos, humilhação, menosprezo, proibir a vítima do seu direito de ir e
vir; violência patrimonial, esse tipo de violência é caracterizado como tomar, destruir os
bens da vítima, sejam documentos, imóveis ou quaisquer bens; violência sexual, essa
violência está relacionada ao algoz querer que a vítima tenha qualquer tipo de relação
24

sexual sem a sua vontade, seja comercializada ou não, coação para não utilização de
métodos contraceptivos, dentre outras; e a violência moral, que é caracterizada por
qualquer atitude que esteja relacionado a difamação, fatos que atentam contra a honra
e reputação de alguém. Como podemos observar por meio do artigo 7º da Lei 11.340/06.

Art.7º.
I- a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua
integridade ou saúde corporal;
II- a violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe
cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe
prejudique e perturbe o pleno desenvolvimentos ou que vise degradar
ou controlar suas ações, comportamentos, crenças, e decisões,
mediante ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação,
isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto,
chantagem, ridicularização, exploração e limitação do direito de ir e vir
ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação.
III- a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a
constranja a presenciar, a manter ou participar de relação sexual não
desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força: que
induza a comercializar ou utilizar, de qualquer método contraceptivo
ou que a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto ou à prostituição,
mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite
ou anule o exercício de seus direitos sexuais e reprodutivos.
IV- a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que
configure retenção, subtração, destruição parcial ou total de seus
objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores
e direitos ou recursos econômicos, incluindo os destinados a satisfazer
suas necessidades;
V- violência moral entendida como qualquer conduta que configure
calúnia, difamação ou injúria (BRASIL, 2006,p?). Commented [J21]: Qual a paginação do documento?

De acordo com Miller (1999), dentre todos os tipos de violência contra a mulher
aqui mencionada, a violência psicológica é a que passa por vezes despercebida no
começo do relacionamento, pelas próprias vítimas, mas que deixa marcas profundas na
alma. De início, esse tipo de violência desabrolha por meio de palavras “sutis”, contudo,
com o passar do tempo, destroem a autoestima, autoconfiança, o respeito da vítima.
Nesse sentido das características da violência sofrida pela mulher em situação de
violência, conforme Miller (1999), em destaque, a mulher, vítima de abuso psicológico
sobrevive num estado de medo constante, sem saber o que lhe espera ao chegar à sua
casa e encontrar o agressor, mas, na maior parte das vezes, a vítima não consegue
romper o relacionamento abusivo.
25

[...] O homem e a mulher são produtos da sua educação, do amor e dos


valores éticos e morais que lhes são ministrados na infância. As
conquistas da mulher ao longo dos anos só serão solidificadas se forem
transmitidos de geração para geração os princípios de uma educação
igualitária, com liberdade de expressão das emoções humanas
(FERNANDES, 2016, p.113).

Nas palavras de Miller (1999), as consequências da violência doméstica para as


vítimas são inúmeras, e nos casos em que o agressor não consegue assassinar a mulher,
rouba dela o sentido da vida, deixando-a cheia de sequelas psicológicas em inúmeros
casos.
À luz do referencial teórico de Miller (1999), para a autora, é muito recorrente o
fato da vítima não conseguir sair desse relacionamento. Nenhuma vítima de violência
fica no relacionamento abusivo porque quer, mas sim, a maioria dessas mulheres fica
primeiro: por dependência econômica total do agressor, esse algoz que a proíbe de
estudar, trabalhar, seguir sua carreira profissional, alegando ciúmes, e por consequência
a mesma fica impossibilitada e sem coragem inicialmente de sair desse relacionamento,
por não ter meios econômicos de suprir a sua própria sobrevivência.
Há, ainda, o fato do medo da solidão, a crença no amor, e o apontamento para si
mesma como causadora de determinados acontecimentos, por ouvir sempre de seu
companheiro que ela é culpada e merece esse sofrimento (MILLER 1999).
A violência doméstica adentra a todas as classes sociais, há pessoas que tem
receio de pedir o divórcio e ficar sozinha, com o psicológico abalado, baixa autoestima,
acredita que não vai arrumar alguém ou medo de como será seu próximo companheiro.

Ao contrário do que muitos pensam, a juíza do Juizado Especializado


em violência Doméstica e Familiar – RO, destacou que os casos de
violência doméstica não se concentram entre as classes menos
favorecidas e entre mulheres com baixa escolaridade. Dos 533 casos,
69,64 % das vítimas tem ensino superior completo, incompleto ou
ensino médio completo. Apenas 29,76% tem o médio incompleto, o
fundamental completo ou incompleto e apenas 0,60% não são
alfabetizadas. CURRUY, 20182 Commented [J22]: Foi criada uma nota de rodapé para
inserir o hiperlink de acesso da matéria; como é necessária
uma data de acesso, foi inserida uma provável data;

2
Link da matéria: https://folhabv.com.br/noticia/Violencia-domestica-esta-presente-
em-todas-as-classes-sociais--diz-juiza/37669 (acesso em: 20/07/2019)
26

A violência Doméstica Familiar atinge a todas as classes sociais, independente de


nível de escolaridade ou classe social. Além de todos esses fatos, a mulher, em muitos
casos, tem receio de sair do relacionamento abusivo em outra especificação; pelo bem-
estar dos filhos, acredita-se que o melhor para o desenvolvimento e futuro do mesmo é
dentro de um lar onde exista pai e mãe, ainda que seja um lar violento (os filhos também
vítimas de violência, tem grande chance de reproduzir esse tipo de violência) (MILLER,
1999).
Outro fato importante e que merece destaque é a nossa sociedade totalmente
machista e cheia de julgamento, onde as mulheres passam a ter vergonha de separar,
preocupada com o que os outros podem pensar, com os julgamentos que os outros
impõem, com medo também de se tornarem mães solteiras, por acreditarem que os
homens são assim, e ainda por receio de não serem compreendidas, dessa maneira, as
vítimas imersas em seu silêncio e medo, sofrem sozinhas, e sentem-se incompreendidas
em meio às suas dores e seus direitos negados (MILLER, 1999).
27

III- CAPÍTULO- II

MARCO LEGAL INTERNACIONAL DE AFIRMAÇÃO DOS DIREITOS


HUMANOS E A LEGISLAÇÃO BRASILEIRA DE ENFRENTAMENTO Á
VIOLÊNCIA CONTRA AS MULHERES

Diante da apresentação dos tipos de violências, abordaremos com breves


comentários sobre o desenvolvimento dos direitos humanos a nível internacional e
nacional, como esses direitos surgiram diante do contexto de violência que perpassava
os países, e como por meio das mudanças e com o passar do tempo, essas mulheres
tiveram a instituição de seus direitos humanos através da Constituição, sendo este um
grande fruto de lutas democráticas ao longo das décadas.
Nessa perspectiva, iremos elencar alguns pontos das violências contra as
mulheres que vão em sentido contrário aos direitos humanos, justamente para trazer Commented [J23]: Modificação do trecho para dar maior
coesão à frase.
mais ênfase sobre o assunto, pois o reconhecimento das mulheres e a garantia dos seus
direitos são deixados de lado por essa sociedade que, por sua vez, acolhe com mais
facilidades os homens do que as mulheres como cidadãs, tendo-se em vista que esta é Commented [J24]: “todas as pessoas” possui sentido
bastante genérico, por tal motivo, de forma a demarcar de
inclusa como sujeito da cidadania e digna de direitos; em sequência, temos o intuito de modo mais incisivo as distinções entre homens e mulheres;

levantar questões e reflexões sobre o sucinto debate com o objetivo de despertar nos
leitores uma curiosidade maior sobre o tema. Commented [J25]: Modificação para maior coesão à
frase;

2.1 Afirmações dos Direitos Humanos - A Nível Internacional

Conforme apresentado anteriormente, a violência contra as mulheres de fato é


um fenômeno que têm raízes históricas, culturais, e que vem atravessando todos os
séculos até a contemporaneidade; dada a sua complexidade, é de difícil solução, porque
envolve diferente sujeitos e formas de enfrentamentos na sociedade. Ao falar sobre essa
temática, é difícil não relatar sobre os direitos humanos e sociais conquistados, assim
como dos mecanismos utilizados com o objetivo de coibir a violência contra a pessoa
humana.
28

Do ponto de vista conceitual acerca do que sejam Direitos Humanos, recorremos,


inicialmente, à compreensão do filósofo e docente Marcone Pequeno (2008), que
descreve estes direitos como sendo fundamentais, uma vez que abarcam a permissão de
valores únicos e essenciais à dignidade humana, compreendendo que a existência do ser
humano, por si só, tem valor absoluto e nada pode ser comparado, menosprezado ou
superiorizado “independente da sua vida particular, ou de posição social” (MARCONE
PEQUENO, 2008, p. 04). Ainda nesse âmbito, o autor afirma que:

Os direitos humanos são aqueles princípios ou valores que permitem a


uma pessoa afirmar sua condição humana e participar plenamente da
vida. Tais direitos fazem com que o indivíduo possa vivenciar
plenamente sua condição biológica, psicológica, econômica, social
cultural e política. Os direitos humanos se aplicam a todos os homens
e servem para proteger a pessoa de tudo que possa negar sua condição
humana. Com isso, eles aparecem como um instrumento de proteção
do sujeito contra todo tipo de violência (PEQUENO, 2008, p.02).

Assim sendo, os direitos humanos se encontram baseados na dignidade humana,


passando por crenças, “diversidades culturais, convicções, hábitos, costumes e
comportamentos próprios às inúmeras sociedades” (p.02). Dessa maneira, nós, enquanto
sociedade, devemos valorizar o direito do outro, respeitar as regras de sociabilidade e
assim, utopicamente ou não, tentar viver em perfeita harmonia, sabendo que todos têm
um lugar próprio e único enquanto seres humanos e cidadãos de direitos.
Ainda com base em Pequeno (2008, p.02), compreende-se como sendo os
direitos humanos:
Os direitos humanos servem, assim, para assegurar ao homem o
exercício da liberdade, a preservação da dignidade e a proteção da sua
existência. Trata-se, portanto, daqueles direitos considerados
fundamentais que tornam os homens iguais independentemente do
sexo, nacionalidade, etnia, classe social, profissão, opção política, crença
religiosa ou convicção moral.

Entre os autores dos diversos campos dos saberes, há o consenso que, com o
pós-guerra, a crise do capitalismo potencializou as expressões das questões sociais e as
latentes expressões que não estão visíveis, que estão em cena.
Segundo a Organização das Nações Unidas - Brasil, “depois da II Guerra Mundial
que devastou a vida de milhares de seres humanos, existiu na comunidade internacional
29

um sentimento de luta pela paz entre os países”. (Ano e paginação?) Assim, a ONU foi Commented [J26]: Faltam o ano e a paginação do
documento;
criada em 1945, com intuito de manter a paz e a segurança internacional entre os países.
A declaração incorporada a um pensamento liberal atende a uma necessidade de
um conflito do pós-guerra com as ameaças dos ideais nazistas do holocausto. De acordo Commented [J27]: “socialistas” foi substituído por
“nazistas”.
com a ONU, em 1948, pela primeira vez no mundo, foi instituído um marco legal,
preparado por diversos países, respeitando as singularidades do indivíduo e suas
culturas, crenças, etnias e nacionalidades.
A Declaração Universal dos Direitos Humanos (10 de dezembro de 1948), foi a
primeira medida internacional que abrange a pluralidade e a proteção universal do
direito humano, em trinta artigos em sua íntegra, da qual destacamos três:

Artigo 1° Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade


e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para
com os outros em espírito de fraternidade.
Artigo 2° Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as
liberdades proclamadas na presente Declaração, sem distinção alguma,
nomeadamente de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de
opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de
nascimento ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita
nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou
internacional do país ou do território da naturalidade da pessoa, seja
esse país ou território independente, sob tutela, autônomo ou sujeito a
alguma limitação de soberania.
Artigo 3° Todo indivíduo tem direito à vida, à liberdade e à segurança
pessoal (DECLARAÇÃO UNIVERSAL DOS DIREITOS HUMANOS, 1948).

A partir da carta de 1948, ainda que as mulheres já tivessem alguns de seus


direitos garantidos, elas não haviam sido contempladas em sua totalidade no campo dos
Direitos Humanos, foi necessário que a Declaração Universal dos Direitos Humanos,
datada em 1948, desse início a um conjunto de documentos, normativas, pactos
internacionais, para que, dessa maneira, cada Estado e Nação que as assinou, se
comprometesse ao marco legal.
Dessa forma, se fez necessário que ocorresse todo esse processo para só então
as mulheres passarem a serem vistas e também incorporadas às demandas e
compreendidas, bem como respeitadas como sujeito de direitos.
30

Nesse sentido, se faz importante ressaltar algumas conquistas com ênfase para
as mulheres, as quais se tornou possível após a Declaração Universal dos Direitos
Humanos de 1948.
Nesse sentido, destacam-se alguns marcos legais internacional para as mulheres,
os quais são: em 7 de novembro de 1967, ocorreu a Declaração sobre a Eliminação da
Discriminação Contra a Mulher, “com o intuito de eliminar toda as formas de
discriminação e promover a igualdade entre os gêneros”; já em 18 de dezembro de 1979,
a Assembleia Geral das Nações Unidas “instituiu a Convenção Para Eliminação de Todas
as Formas de Discriminação Contra a Mulher” tendo em vista as disparidades e
discriminação ocorridas (CEDAW)”; no dia 20 de dezembro de 1993, ocorreu o marco da
Declaração das Nações Unidas, sobre a Eliminação de violência Contra a Mulher, com a
finalidade de: “Reconhecer a urgente necessidade de uma aplicação universal às
mulheres dos direitos e princípios relativos à igualdade, segurança, liberdade,
integridade e dignidade de todos os seres humanos”. Este por sua vez, se tratou do
primeiro artigo com ênfase para a violência contra a mulher, assim como o artigo 18 pela
primeira vez na Convenção de Direitos Humanos que foi responsável por destacar à
mulher e a criança como se tratando de sujeitos de direitos, o qual cita:

Para os fins da presente Declaração, a expressão “violência contra as


mulheres” significa qualquer acto de violência baseado no género do
qual resulte, ou possa resultar, dano ou sofrimento físico, sexual ou
psicológico para as mulheres, incluindo as ameaças de tais actos, a
coacção ou a privação arbitrária de liberdade, que ocorra, quer na vida
pública, quer na vida privada (Art 1. Declaração das Nações Unidas -
Eliminação de Violência Contra a Mulher, 1993).
Os Direitos Humanos das mulheres e das crianças do sexo feminino
constituem uma parte inalienável, integral e indivisível dos Direitos
Humanos universais. A participação plena das mulheres, em condições
de igualdade, na vida política, civil, econômica, social e cultural, aos
níveis nacional, regional e internacional, bem como a erradicação de
todas as formas de discriminação com base no sexo, constituem
objetivos prioritários da comunidade internacional [...]. (Art. 18 das
Nações Unidas - Eliminação de Violência Contra a Mulher de 1993, p?). Commented [J28]: Paginação do documento?

Prosseguindo a discussão, a ONU criou, em 2011 a Organização das

Nações Unidas Mulheres, com a finalidade de acelerar os processos para alcançar


a igualdade de gênero e fortalecer a autonomia das mulheres.
31

Para finalizar esta breve discussão do processo de construção dos Direitos

Humanos do marco legal internacional, é importante ressaltar a importância dos


movimentos sociais, sobretudo do movimento feminista, que entra em sua
efervescência na década de 1960 na Europa e EUA, e apresentam, com eles, forte
influência no processo das construções e conquistas dos direitos civis, políticos e

sociais das mulheres.


Assim sendo, as mulheres tiveram algumas conquistas que significam

avanços históricos, destacando-se: direito à educação; direito ao voto EUA 1919;

ao divórcio; ao anticoncepcional, tornando-se dona de seu corpo e de suas


escolhas; em 1951 a Organização Internacional do Trabalho (OIT), aprova a
igualdade de remuneração entre os trabalhadores (homens e mulheres).

2.2. Marco Legal dos Direitos Humanos no Brasil

Como evidenciado no capítulo anterior de forma conceitual acerca do que


se refere aos direitos humanos a nível internacional, afinado com o pensamento

de Pequeno (2008), ressaltaremos também os ensinamentos de Nazaré (2004),


que retrata acerca da importância dos direitos humanos no Brasil.

Esta discussão sobre Direitos Humanos no país foi consolidada no fim da


década de 1980 pelos processos de redemocratização do país e das primeiras

experiências que surgiram entre os profissionais liberais, universidades e


organizações populares na luta por esses direitos.

Sendo assim, parte-se do processo de inclusão dos direitos humanos


no Brasil, como emergiu esse direito advindo da influência internacional e das

lutas dos movimentos sociais que reivindicaram sobre as séries de torturas que a
população sofreu do período ditatorial e os demais desafios dos direitos que não

eram respeitados pelos governantes e afins, tendo em vista a Constituição Federal


que emergiu os direitos humanos e detém o Estado como provedor do cidadão
à proteção aos direitos humanos.
32

Dentro dessa temática, Benevides (2008, p.24), menciona que:

Os direitos humanos servem, assim, para assegurar ao homem o


exercício da liberdade, a preservação da dignidade e a proteção da sua
existência. Trata-se, portanto, daqueles direitos considerados
fundamentais, que tornam os homens iguais, independentemente do
sexo, nacionalidade, etnia, classe social, profissão, opção política, crença
religiosa ou convicção moral. Eles são essenciais à conquista de uma
vida digna, daí serem considerados fundamentais à nossa existência.
Uma vez que já sabemos o que são os direitos humanos fundamentais,
cabe-nos agora encontrar o sentido daquilo que chamamos de
fundamento de tais direitos.

Diante da compreensão das literaturas, entende-se que os direitos humanos


foram conquistados no Brasil a partir das lutas dos movimentos sociais como um grito
de socorro aos degradantes acontecimentos contra os direitos da população, em
destaque o direito à liberdade de expressão, a partir de tantas agressões físicas e verbais
aos opositores do poder, foram necessárias lutas pela democracia e, em continuidade Commented [J29]: Mudança para o plural;

aos direitos humanos, a fim de pedir ao Estado proteção para a população.


Os princípios dos Direitos Humanos fazem parte da dignidade humana, afirmados
pela ONUBR (Organização das Nações Unidas no Brasil), e classificam os direitos
humanos como direitos que incluem o direito à vida e à liberdade, à liberdade de opinião
e de expressão, o direito ao trabalho e à educação à saúde, dentre muitos outros.
Evidencia-se que todos merecem estes direitos, no entanto, como já mencionado, para
serem abordados no Brasil como lei os direitos humanos, foi necessário um avanço nas
leis durante o processo de democratização do país e afirmado na Constituição Federal
de 1988.
Esse processo ganhou força no Brasil após grande influência do sistema
internacional abordar os direitos humanos; apenas em 1985, é que o Estado Brasileiro Commented [J30]: Termo adicionado;

passou a autenticar os principais tratados internacionais de direitos humanos. O ápice


inicial do processo de incorporação desses tratados internacionais foi a ratificação, em
1989, da Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos Cruéis, Desumanos ou
Degradantes. A partir disto, inúmeros outros importantes instrumentos internacionais de
proteção dos direitos humanos foram também incorporados pelo Direito Brasileiro, sob
a égide da Constituição Federal de 1988.
33

Esse período de transição foi marcado pelo período histórico da ditadura militar
de 1964, onde várias pessoas foram torturadas e mortas, a população não tinha direito
de opinião e de reivindicação, uma vez que os militares que tinham o poder sobre o
Estado e leis.
Essa fase foi marcada pelo artigo estabelecido como AI-1. Com 11 artigos, o
mesmo dava ao governo militar o poder de modificar a constituição, anular mandatos
legislativos, interromper direitos políticos por 10 anos e demitir, colocar em
disponibilidade ou aposentar compulsoriamente qualquer pessoa que fosse contra a
segurança do país, o regime democrático e a probidade da administração pública, além
de determinar eleições indiretas para a presidência da República.
Tendo em vista esse marco de torturas e desrespeito com a pessoa humana, com
a redemocratização do país, a carta de 1988 foi ratificada pelo Brasil, está descrita: a) a
Convenção Interamericana para Prevenir e Punir a Tortura, em 20 de julho de 1989; b) a
Convenção sobre os Direitos da Criança, em 24 de setembro de 1990; c) o Pacto
Internacional dos Direitos Civis e Políticos, em 24 de janeiro de 1992; d) o Pacto
Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, em 24 de janeiro de 1992; e)
a Convenção Americana de Direitos Humanos, em 25 de setembro de 1992; f) a
Convenção Interamericana para Prevenir, Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher,
em 27 de novembro de 1995.
Comumente, no artigo de Direitos Humanos na Constituição Brasileira de 1988, é
apresentado o Princípio da Dignidade da Pessoa Humana afirmando que a dignidade da Commented [J31]: Foi inserido o itálico e retirado o
negrito;
pessoa humana pode ser considerada como o fundamento último do Estado brasileiro.
Ela é o principal valor para determinar a interpretação e a aplicação da Constituição,
assim como a atuação de todos os poderes públicos que compõem a República
Federativa do Brasil. Em síntese, o Estado existe para garantir e promover a dignidade de
todas as pessoas. É nesse amplo alcance que está à universalidade do princípio da
dignidade humana e dos direitos humanos.
Diante dos estudos pela literatura de Nazaré (2004), observa-se que, à medida
que o Brasil avançou em seus demais aspectos políticos, a grande influência do
neoliberalismo entra em contradição com as classes sociais e seus preceitos. Percebe-se
que a diferença social econômica divide a população em ricos e pobres. Os que
concentram mais poder e riqueza possuem em consequente uma melhor qualidade de
34

vida e tem um diferente acesso à educação, saúde, alimentação, do que o pobre, uma
vez que essas contradições de classes acarretam em contradição de pensamentos
eclodindo numa discussão em que os direitos humanos estão direcionados as pessoas
marginalizadas da sociedade.
Ainda nesse sentido, Nazaré (2014, p.183) nos ensina: “No caso específico dos
direitos humanos, os grandes conglomerados de comunicação insistem em apresentá-
los à sociedade ora como defensores de subversivos, ora como protetores de bandido”.
Esse pensamento surge a partir da ideia do neoliberalismo de distorcer o
princípio dos direitos humanos que, de forma sucinta, é “zelar pela vida de qualquer
indivíduo”, nesse aspecto, surgem os questionamentos de proteção ao cidadão de bem
daquele cidadão que cometeu erros e infringiu determinada lei. É importante destacar
que diante desse cenário de luta e reivindicação pelos direitos humanos, surge o
movimento feminista.
Tomando como base Pinto (2003), a mulher por muito tempo teve um papel
atribuído na sociedade de pessoa frágil, sendo o sexo frágil e dependente do homem,
além disso, passou por obstáculos como a desigualdade de gênero diante da diferença
salarial existente entre o homem e a mulher, os cargos em que as mulheres não
ocupavam no mercado de trabalho, pois eram visualizadas apenas como mulher do lar,
e tantos outros enfrentamentos que as perseguem até os dias de hoje.
Acontece que a luta pelos direitos das mulheres sempre foi algo presente em
nossa sociedade, até os dias atuais, é uma árdua batalha existente diante da sociedade Commented [J32]: “existida” foi substituído por
“existente”;
patriarcal, donde a mulher ficava em casa e o homem que ia trabalhar, vivida em uma
ideologia errônea fixada na sociedade que inseriu a ideia de princípios e valores
adotados pelos indivíduos.
Um dos grandes marcos de tais lutas feministas foi, de acordo com Celi Pinto
(2003, p.381):

A partir desse marco histórico de período ditatorial, as mulheres


ganham forças nessas lutas democráticas e entram na história como
marco de lutas e conquistas, mesmo com a sociedade machista e
patriarcal, foi a partir do movimento feminista, que a mulher teve o
direito ao voto, direito a uso do anticoncepcional, direito a inclusão das
mesmas no mercado de trabalho, porém, ainda é predominante o
pensamento desigual na ideia de gênero, e essas diferenças continuam
sendo motivo de luta para o movimento feminista nos dias atuais. No
35

ano de 1975, a ditadura ainda estava em seu auge, foi nesse momento
que, a partir da declaração da ONU como o “Ano Internacional da
Mulher”, considerado o marco do feminismo no Brasil, o cenário do
movimento se modifica, dando maior visibilidade ao feminismo.
Ocorrera o congresso para comemorar o “Ano Internacional da Mulher”
que visava debater questões como “o papel e o comportamento da
mulher na realidade brasileira”, resultando na criação do Centro de
Desenvolvimento da Mulher Brasileira.

A ideia de ferir com os direitos humanos não se aplica apenas ao “homem” do


sexo masculino, tendo em vista que nossa sociedade é enraizada no contexto patriarcal
machista, as violências contra as mulheres estão pautadas no desrespeito da dignidade
humana, “o drama da violência contra a mulher faz parte do cotidiano das cidades, do
país e do mundo” (TELES et al 2002 p.9).
Não entra em comoção como os demais tipos de violência pelo fato de ser algo
banalizado e visto como algo natural de que a mulher está mesma sujeita a passar por
diversas situações de violência.
Todavia, nos últimos anos, esses fenômenos da violência contra as mulheres são
evidenciados de forma mais constante e rotineira, sendo os agressores os próprios
maridos, namorados, pais e afins, sujeitos que independente da sua classe social tem o
desejo doentio, possessão de manter a mulher como exclusiva deles e quando não veem
a “obediência” das mesmas, esses sujeitos utilizam de diversos meios de violência para
obrigá-las a fazerem o que eles querem.
Nesse sentido, Teles (et al., 2002, p.09):

A violência contra a mulher carrega um estigma como se fosse um sinal


no corpo e na alma da mulher. É como se alguém tivesse determinado
que se nem todas as mulheres foram espancadas ou estupradas ainda,
poderão sê-lo qualquer dia desses.

Sendo assim, observamos que esse tema é tratado com naturalidade, uma vez
que é fruto do preconceito da própria sociedade contra a mulher em muitos casos, como
alguns debates indagam que a violência é fruto das desigualdades sociais e econômicas,
com base nisso, é perceptível que o índice de violência é maior nas periferias, nos
ambientes onde se vive em situação precária, porém, não obstante, foi comprovado por
relatos e depoimentos divulgados na própria mídia que não há classe social para a
violência, sendo assim, iremos apresentar no capítulo 2.4 alguns relatos de vítimas de
36

violência onde o agressor não possuía nenhum vício em álcool ou drogas, ou um


indivíduo pobre, que “justifique” seu ato de violência.

2.3 Lei Maria da Penha e Lei do Feminicídio: Avanços e Desafios

Na sociedade brasileira, ocorreram diversos casos de violência de gênero contra


a mulher, entretanto, ganha repercussão na década de 1970, pela efervescência do
processo de redemocratização que o país passava, a ocorrência da ditadura militar, o
ápice dos movimentos sociais, destacando-se um grupo chamado de “movimento
feminista”.
De acordo com Pinto (2003) conecto a Saffioti (2015), destaca-se um caso que
teve repercussão nacional e internacional, que foi o acontecido com a cantora carioca
Ângela Diniz (assassinada pelo ex companheiro no ano de 1976), no qual a defesa alegou
“legítima defesa da honra (Código Penal de 1940), matou por amor”, e o assassino teve
pena branda e foi liberado, após várias mobilizações sociais, foi possível um “julgamento
justo”.
Ainda segundo Saffioti (2015), o fenômeno da violência doméstica contra a
mulher, fora considerada na sociedade brasileira, como questão privada, sem intervenção
significativa por parte do poder judiciário. Mesmo com a criação da primeira delegacia
da mulher em 1985, entretanto, sem o atendimento adequado às vítimas, pois existiam
entre o atendimento às mesmas um olhar preconceituoso/julgador, de menosprezo, por
vezes culpabilizando a própria vítima pelo ocorrido.
Foi somente a partir da Constituição de 1988 que o Brasil conseguiu avançar em
diversos direitos sociais importantes, à luz por uma paridade social mais justa, após vinte
e um anos de governo militar.
Aprofundando o princípio do marco legal da lei 11.340, conforme Fernandes
(2015), no Brasil, é a partir do resultado das lutas dos movimentos sociais, feministas, da
sociedade, e da própria Maria da Penha Maia Fernandes propositora da Lei Maria da
Penha, que foi possível esse marco legal.
Essa lei, formulada após diversos mobilizações sociais em busca de justiça, institui
que:
37

A Lei Maria da Penha é ainda uma resposta ao legado de impunidade


deixado pela Lei 9.099, de 1995, a qual considerava os crimes de maior
incidência contra as mulheres no âmbito doméstico - a saber, as
ameaças e lesões corporais leves e culposas – como delitos de menor
gravidade, e cuja aplicação pelos Juizados Especiais Criminais
(JECRIMs), nos casos concretos, resultou na banalização da violência
contra as mulheres no país (FERNANDES, p.224).

Nesse sentido, a Lei Maria da Penha foi constituída a partir da esperança e garra
por justiça da farmacêutica Fernandes, não que imaginasse que através da sua luta fosse
possível construir, conquistar, garantir uma lei com medidas para coibir e prevenir à
violência contra a mulher, mas que a princípio o intuito foi por justiça. O ex-marido de
Penha disparou contra ela um tiro que a deixou paraplégica, o crime foi denunciado,
entretanto, passaram dezenove anos e seis meses para o acusado ser preso.
Com base nos fatos descritos por Maria da Penha (2016), em seu livro Sobrevivi
Posso Contar, no qual o objetivo de escrevê-lo foi a notoriedade do ocorrido à vítima e Commented [J33]: Nomes de obras autorais devem vir
em itálico;
que assim, fosse possível justiça. Penha após várias tentativas sem êxito da condenação
de Marcos, conseguiu apoio de algumas organizações não governamentais
internacionais: o Centro de Justiça e o Direito Internacional (CEJIL) e o Comitê Latino Commented [J34]: Modificação para o plural;

Americano e do Caribe para a Defesa dos Direitos da Mulher (CLADEM) que


apresentaram uma denúncia à Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) e
da Organização dos Estados Americanos (OEA). Foi comprovado que o crime ocorrido
com Fernandes não era um caso isolado na realidade brasileira, mas, sim, de impunidade
e violações dos direitos humanos, responsabilizando o Estado pelo ocorrido. “Em virtude
dessa responsabilização, a CIDH/OEA estabeleceu para o caso recomendações de
natureza individual e de políticas públicas para o país” (p. 222).
A lei 11.340/2006 foi sancionada em 07 de agosto de 2006, pelo ex Presidente da
República Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a Lei 11.340/2006. Tem como base central
no seu marco legal à luz da Constituição de 1988, com 46 artigos, cria mecanismos de
coibir e prevenir a violência contra as mulheres no âmbito familiar e doméstico.

[...] A Lei modifica concretamente a resposta que o estado dá à violência


contra as mulheres; rompe com paradigmas tradicionais do Direito; dá
maior ênfase à prevenção, assistência e proteção às mulheres e seus
dependentes em situação de violência, ao mesmo tempo em que
fortalece a óptica representativa na medida necessária, e trata a questão
na perspectiva da integridade, multidisciplinar, complexidade e
38

especificidade, como de fato se demanda que seja abordado o


problema (FERNANDES, p. 229).

Há o consenso entre diversos escritores das ciências humanas, dentre outros, o


avanço que a Lei traz com sua efetividade para sociedade brasileira, sendo considerada
pela ONU, a terceira melhor legislação do mundo. Dentre os 46 artigos de suma
relevância social, destacamos os artigos 2º, 5º e o 6º para breves compreensões, que cita:

Toda mulher, independente de classe, raça, etnia, orientação social,


renda, cultura, nível educacional, idade e religião, goza dos direitos
fundamentais inerentes à pessoa humana, sendo-lhe asseguradas as
oportunidades e facilidades para viver sem violência, preservar sua
saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual e social”
(Art. 2º da Lei 11.340).
I- no âmbito da unidade doméstica, compreendida como o espaço
de convívio permanente de pessoas, com ou sem vínculo familiar,
inclusive as esporadicamente agregadas;
II- no âmbito da família, compreendida como a comunidade
formada por indivíduos que são ou se consideram aparentados, unidos
por laços naturais, por afinidade ou por vontade expressada;
III- em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva
ou tenha convivido com a ofendida, independente de coabitação;
Parágrafo único. As relações pessoais enunciadas neste artigo
independem de orientação sexual (Art. 5º. Lei 11.340).
A violência doméstica familiar contra a mulher constitui uma das formas
de violação dos direitos humanos (Art.6º. Lei 11.340).

Para os efeitos desta Lei 11.340/2006, configura “violência doméstica e familiar


contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte,
lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial”.
Segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada - IPEA (2016), os
casos de violência contra as mulheres tiveram redução de 10%, após a Lei Maria da
Penha. De acordo com o Ministério Público dos Direitos Humanos 2018, só no primeiro
semestre (2018), houveram mais de 73 mil denúncias de violência contra as mulheres,
pela central 180, comparando com 12 mil denúncias no ano de 2006 (ano que a lei 11.340
foi sancionada).
Para Rachel Moreno, Psicóloga e Coordenadora do Observatório da Mulher, o
que houve foi que através de uma maior punição para o agressor, e com medidas
protetivas para as vítimas: Centros de Referências, Delegacias das Mulheres
39

especializadas, empoderamento feminino, a sociedade “metendo a colher”, foi possível


minimizar os casos de violência contra as mulheres.
Ela cita ainda que: “Antes da Lei, os casos de violência doméstica eram tratados
como crimes de menor poder ofensivo, poderiam ser punidos apenas com a distribuição
de cestas básicas ou multas”.
Do ponto de vista do marco legal da Lei Maria da Penha, destacam-se os avanços
e desafios após a Lei, há inúmeros avanços nos últimos anos, contudo, a violência contra
a mulher está enraizada no machismo e patriarcado, na má construção social no qual a
mulher ocupou por séculos. Os desafios continuam, falta uma formação mais
humanizada por parte do sistema de segurança que acolhe a vítima, levando em
consideração o baixo número de Delegacias e Centros de Referências Especializados. Há
casos em que a vítima não tem um atendimento especializado, sendo hostilizada ou mal
atendida em meio ao seu sofrimento, onde se sente desamparada pelo poder público,
desistindo de realizar a denúncia. São necessários: um Investimento no Orçamento Para Commented [J35]: Acréscimo para dar coesão à frase;

as Políticas Públicas e programas que possam apoiar a inserção das vítimas no mercado
de trabalho (grande parte dessas mulheres, dependem financeiramente de seu
companheiro); sensibilidade da sociedade e meter sim a colher; é importante a vítima
romper o silêncio, só assim poderá sair da situação de violência.
Ainda, elencando-se o marco legal do Brasil, ressalta-se a implementação da Lei
de Feminicídio 13.104/2015, criada com o intuito de punir os crimes cometidos contra a
mulher, pelo simples fato de serem mulheres, sancionou-se, então a Lei do Feminicídio, Commented [J36]: Acréscimo e modificação de trecho
para dar maior coesão e evitar redundância;
“criada a partir de uma recomendação da Comissão Parlamentar Mista de Inquérito sobre
Violência Contra a Mulher (CPMI-VCM)”. No ano de 2013, a Comissão Sobre a Situação
da Mulher (CSW) da Organização das Nações Unidas, recomendou aos Estados para que
reforçassem a legislação nacional para punir assassinatos violentos de mulheres e
meninas em razão do gênero. Conforme o Decreto da Presidência da República de 09 de
março de 2015, enfatiza-se alguns artigos da Lei 13.104/2015:
Art. 2o- Considera-se que há razões de condição de sexo feminino
quando o crime envolve:
I - violência doméstica e familiar;
II - menosprezo ou discriminação à condição de mulher.
Aumento de pena
Art. 7o A pena do feminicídio é aumentada de 1/3 (um terço) até a
metade se o crime for praticado:
I - durante a gestação ou nos 3 (três) meses posteriores ao parto;
40

II - contra pessoa menor de 14 (catorze) anos, maior de 60 (sessenta)


anos ou com deficiência;
III - na presença de descendente ou de ascendente da vítima.”
Qualificado.
Altera o art. 121 do Decreto-Lei no 2.848, de 7 de dezembro de 1940 -
Código Penal, para prever o feminicídio como circunstância
qualificadora do crime de homicídio, e o art. 1 o da Lei no 8.072, de 25
de julho de 1990, para incluir o feminicídio no rol dos crimes hediondos
(LEI do Feminicídio 13.104/2015)

É de notório saber que, mesmo criados alguns mecanismos mencionados


anteriormente no Brasil para coibir a violência de gênero contra a mulher, no ano de
2016 intensificam-se casos de importunação sexual às mulheres, que também é um tipo
de violência, ocorridos nos transportes públicos no Rio de Janeiro e em São Paulo.
Através das denúncias das mulheres, das mobilizações dos movimentos sociais, passou
a ser pauta de luta política pelos representantes dos poderes de debate, após esse
processo, o Congresso Nacional aprovou a Lei 13.718/2018, que legisla crimes contra a
dignidade sexual, tornando o crime a esse respeito com maior gravidade e punição,
incluindo a divulgação de vídeo íntimo sem a permissão da vítima.
Com ênfase, alguns artigos da Lei de Importunação Sexual:

Art. 1º Esta Lei tipifica os crimes de importunação sexual e de


divulgação de cena de estupro, torna pública incondicionada a natureza
da ação penal dos crimes contra a liberdade sexual e dos crimes sexuais
contra vulnerável, estabelece causas de aumento de pena para esses
crimes e define como causas de aumento de pena o estupro coletivo e
o estupro corretivo.
Art. 2º O Decreto-Lei nº 2.848, de 7 de dezembro de 1940 (Código
Penal), passa a vigorar com as seguintes alterações:
Importunação sexual
Art. 215-A. Praticar contra alguém e sem a sua anuência ato libidinoso
com o objetivo de satisfazer a própria lascívia ou a de terceiro:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o ato não constitui crime
mais grave.
Divulgação de cena de estupro ou de cena de estupro de vulnerável, de
cena de sexo ou de pornografia
Art. 218-C. Oferecer, trocar, disponibilizar, transmitir, vender ou expor à
venda, distribuir, publicar ou divulgar, por qualquer meio - inclusive por
meio de comunicação de massa ou sistema de informática ou
telemática -, fotografia, vídeo ou outro registro audiovisual que
contenha cena de estupro ou de estupro de vulnerável ou que faça
apologia ou induza a sua prática, ou, sem o consentimento da vítima,
cena de sexo, nudez ou pornografia:
Pena - reclusão, de 1 (um) a 5 (cinco) anos, se o fato não constitui crime
mais grave.
41

Avanços significativos na sociedade brasileira em relação ao enfrentamento a


violência contra a mulher, contudo, vale ressaltar que o Brasil é o quinto país do mundo
onde mais se matam mulheres. De acordo com o Monitor da Violência 2018, no Brasil
reduziu 6,7% comparação ao ano de 2017, o número de mulheres vítimas de homicídio
doloso (quando a vítima é assassinada intencionalmente), mas o número de feminicídio
cresceu 12% no ano de 2018.
Segundo dados do Portal Correio-PB (2019), no ano de 2017, o estado da Paraíba
ocupou o ranking de 19º estado que mais mata mulheres no Brasil. Na Paraíba, de janeiro
a março, 11 mulheres foram vítimas de violência por dia, mais de mil inquéritos de
violência contra à mulher foram instaurados (1.016), solicitação de medidas protetivas
(1.133). Em janeiro foram totalizadas 385 mp no mês de fevereiro 337 e, em março, foram
totalizados 411 medidas. De janeiro a março, a Central de Atendimento à Mulher (180),
recebeu 17.836 denúncias de violência (G1- PB).
Apesar dos avanços consolidados nos últimos séculos, as mulheres ainda
enfrentam disparidade salarial entre os homens, ser for mulher negra, a discrepância
salarial é ainda maior, mesmo com a paridade de ensino educacional. No cotidiano,
enfrentam o machismo, além disso, a violência contra a mulher seja ela física, psicológica,
patrimonial, sexual ou moral continua fazendo parte da realidade da vida
contemporânea. 13.104/2015, criada com o intuito de punir os crimes cometidos contra
a mulher, pelo simples fato de serem mulher, criou-se a Lei do Feminicídio, “criada a
partir de uma recomendação da Comissão Sobre a Situação da Mulher (CSW) da
Organização das Nações Unidas”, que recomendou aos Estados o reforço à legislação
nacional para punir assassinatos violentos de mulheres e meninas em razão do gênero.
Por fim, após as demandas sociais, por parte do Estado brasileiro, para coibir
qualquer tipo de violência contra a mulher. Nesse mesmo embasamento, a Ordem dos
Advogados do Brasil (OAB) não vai aceitar bacharéis que tenham cometido violência
contra a mulher, pessoa idosa, criança, pessoas com algum tipo de deficiência.
42

IV- CAPÍTULO- III

CONHECENDO UM POUCO REALIDADE: violência doméstica contra as


mulheres, política de enfrentamento e o Serviço Social nas instituições
de atendimento as mulheres em situação de violência

Neste terceiro capítulo, apresentamos um panorama geral da violência doméstica


contra as mulheres no Brasil e na Paraíba, tendo como marco temporal o ano de 2018, e
de janeiro a abril de 2019. Além disso, enfocam-se políticas de enfrentamento e a
importância do Serviço Social nos espaços institucionais de atendimento às mulheres em
situação de violência.
43

3.1 Realidade da violência no Brasil, Paraíba e João Pessoa com dados e


relatos das vítimas em situação da violência doméstica

Como já foi visto no decorrer do artigo, a violência doméstica está espraiada em


toda a sociedade, no Brasil e no grande estado da Paraíba, em especial na cidade de João
Pessoa, pesquisamos algumas reportagens num marco temporal de dezembro de 2018
a abril de 2019; enquanto estávamos redigindo esta monografia, vimos vários casos de
violência contra as mulheres. Esses casos reafirmaram o que já foi mencionado
anteriormente, que a violência doméstica ocorre independente da classe social, da raça,
visto que os crimes ocorridos foram de classes sociais diferentes. Aprofundou ainda mais
a nossa análise e percepção do drástico aumento de vítimas de violência doméstica.
Sendo assim apresentaremos alguns dados que mostram esse índice e reportagens das
vítimas de feminicídio.
A princípio, vamos apresentar o gráfico obtido pelo jornal Rede Brasil,
representando os casos que foram noticiados no Brasil todo atualmente, a respeito da
violência contra as mulheres domésticas no mapa da violência contra a mulher do ano
de 2018, o qual é desenvolvido pela comissão de defesa dos direitos da mulher, vejamos:

Gráfico 1- Mapa Da Violência Contra A Mulher Commented [J37]: Acréscimo de “gráfico 1” e mudança
de tamanho de fonte da letra para 10;
44

São Paulo
Alagoas
Distrito Federal
Rio de Janeiro
Goiás
Bahia
Mato Grosso do Sul
Paraná
Amapá
Pernambuco
Minas Gerais
Rondônia
Casos noticiados pela imprensa brasileira entre jan/nov de 2018

Fonte: Disponível em: https://g1.globo.com/monitor-da-violencia/ Data de acesso:


02/01/2019

Estes dados do gráfico acima foram retirados do mapa da violência contra a


mulher, onde aponta ainda que 58% dos casos de violência contra as mulheres, os
agressores são os próprios companheiros ou ex-companheiros. Esse fato é primordial
que afeta a vida de várias mulheres e elenca dados promissores do perfil dos agressores.
Por meio da análise do mapa, é possível observar o aumento de ocorrência de
vítimas da violência doméstica, onde o estado de São Paulo evidencia o maior índice de
casos relatados representando 1.251 casos, enquanto que na Paraíba, foram registradas
306 ocorrências de violência doméstica, tendo em vista que os agressores eram
companheiros ou esposos das vítimas.
Nesse sentido, e tomando como base a agência Patrícia Galvão, apresentada no
mapa aqui já mencionado, foi observado que:

A maioria das vítimas (83,7%) possui entre 18 e 59 anos de idade, sendo


que a margem que mais concentra a idade das vítimas é entre 24 e 36
anos. Ou seja, são mulheres jovens adultas que vivem relacionamentos
afetivos que desbocam no abuso físico. Cerca de 1,4% das vítimas
tinham menos de 18 anos na época da agressão. Já aquelas com mais
de 60 anos de idade correspondem a 15% das vítimas de violência
doméstica” (PERUGINI et al, 2018, p?). Commented [J38]: Paginação?
45

Os casos mais recorrentes de violência doméstica são aqueles em que os


agressores são os próprios companheiros das vítimas, sendo o marido, namorado, ex
companheiros que não aceitaram o fim do relacionamento e agridem as mulheres.

Esse tipo de violência se correlaciona com o feminicídio que, por unanimidade,


das leituras ele se classifica como matar e agredir a mulher pelo simples fato de ser
mulher, numa questão de gênero, que podemos subdividir em três situações, as quais
são: “feminicídio íntimo”, onde o agressor possui alguma relação afetiva com a vítima
com grau de parentesco, “não íntimo” sendo contrário do íntimo, não tem afetividade
nem grau de parentesco porém ocorre a violência ou abuso sexual e “feminicídio por
conexão” que uma mulher é morta, na tentativa de intervir, que outra mulher seja morta
por um agressor.
Nas palavras de Maria Amélia (et al., 2002, p. 20): Commented [J39]: Quem é Maria Amélia? É Maria
Amélia Teles? Nesse caso, a referência deve vir com o
sobrenome (Teles), e não com o primeiro e segundo nomes;
qual o nome da obra? esta citação não está nas referências
A violência é uma das mais graves formas de discriminação em razão bibliográficas...
de sexo/gênero. Constitui violação dos direitos humanos e das
liberdades essenciais, atingindo a cidadania das mulheres, impedindo-
as de tomar decisões de maneira autônoma e livre, de ir e vir, de
expressar opiniões e desejos, de viver em paz em suas comunidades;
direitos inalienáveis do ser humano.

Diante disso, entendemos que algumas mulheres vivem aprisionadas na


sociedade e vistas pela cultura machista como consistindo em objetos de satisfação dos
homens, bem como são violentadas não só por agressões físicas, mas especialmente por
agressões psicológicas, onde os companheiros são capazes de colocar a mulher em um
papel de inferioridade a eles, assim como em situações de constrangimento e, compete
mencionar, é dever do Estado garantir a segurança pública, sendo inclusa a população
feminina.
Para isso, é necessário uma série de tratamentos psicológicos, sendo importante Commented [J40]: Modificação nesse trecho;

o apoio da família a essa vítima, para que a mesma consiga retomar sua rotina sem
depender do agressor e denunciá-lo após compreender que ela não tem culpa e sim
quem a agrediu.
Em sequência ao estudo, outra reportagem, agora do jornal portal Correio datada
em 05 de fevereiro de 2019, menciona que: “a Paraíba está no ‘top 20’ dos estados que
46

mais matam mulheres”. Observa-se que, entre os meses de janeiro a setembro do ano
passado, 39% dos crimes com mulheres assassinadas não foram elucidados na Paraíba.

O Jornal Portal Correio teve acesso a uma versão do Anuário da Segurança que
não foi divulgada pela Secretaria de Comunicação do Governo da Paraíba. Diferente da
“versão simplificada” com apenas 30 páginas, divulgada no dia 31 de janeiro, e que traz
apenas números positivos da gestão, o documento agora divulgado tem 132 páginas e
traz uma quantidade bem maior de dados sobre a segurança no estado

Gráfico 2 -Série Histórica de CVLI com vítimas do sexo feminino na Paraíba Commented [J41]: Acréscimo de “gráfico 2”

Fonte: Anuário Brasileiro da Segurança Pública, 2018 (versão “amplificada”)

Com base no relatório, fica evidente que o ano em que mais mulheres foram
mortas foi 2011, com um número de 146 casos. Em 2012 foram contabilizados 139. Na
sequência, os números foram reduzindo, passando para 118 (2013), 104 (2014), e em
2015, voltaram a subir, indo para 113. Depois, os casos reduziram mais uma vez,
registrando 97 em 2016. De janeiro a setembro do ano passado, 39% dos crimes com
47

mulheres assassinadas não foram elucidados na Paraíba, contudo, o relatório divulgado


não evidencia todos os dados do ano de 2018 em nosso estado.

Sendo assim, não podemos estimar que a violência tivesse diminuído, visto que
39% dos casos não foram registrados pelas vítimas e, em 2018, não constaram os dados
de violência dessas mesmas mulheres. Estudos e pesquisas apontam que na maioria dos
casos, isso acontece em razão do medo das mulheres em situação de violência
denunciarem os agressores ou até mesmo aquelas que fazem a denúncia logo após
retiram, pois são ameaçadas.
A respeito do feminicídio, é importante ressaltar que, segundo os estudos e
pesquisas, este crime é subdividido em três etapas, “feminicídio íntimo” que é quando
tem uma relação de afeto ou de parentesco com o agressor, “não íntimo” ao contrário
do íntimo, não há relação de afeto ou parentesco, porém, o crime é caracterizado por ter
violência sexual ou abuso e o “por conexão” quando uma mulher tenta impedir o
agressor de agredir outra mulher e é morta por ele.
Em uma reportagem vista pelo site do globo News, apresentada no dia
08/03/2019 tem o tema: “Dados contra a mulher são a evidência da desigualdade de
gênero no Brasil”. Nessa reportagem, fica evidenciado que a violência contra as
mulheres é decorrente, como dissemos anteriormente, à ideologia patriarcal que
alimenta e reproduz a cultura machista no Brasil. O jornal abordou que, apesar de ter
tido redução de 6,7% no número de homicídios contra as mulheres no período de 2017
- 2018 a violência no geral teve um número de redução de 13% frustrou a expectativa
diante dos dados divulgados, pela pergunta que se faz a respeito de por que que a
violência contra a mulher diminuiu menos do que a violência no geral? Esta resposta está
ligada justamente a preconceito e diferença de gênero de que sofrem as mulheres.
Outro aspecto abordado nesta reportagem refere-se aos avanços legais como: a
lei Maria da Penha, à Lei do Feminicídio e, da mais recente lei de importunação sexual,
em 2018. Esses avanços na legislação brasileira constituem, certamente, um marco
importante pelas lutas das mulheres, porém as políticas públicas para garantir seu
comprimento se mostram frágeis. Permanecendo assim o desafio em garantir que as
mulheres em situação de violência de fato tenham acesso à justiça.
48

Como foi mencionado nas notas introdutórias deste capítulo, vimos alguns casos
de violência contra as mulheres dentre eles está o caso em que o marido matou a esposa
a tiros em motel na Paraíba.

Uma mulher foi morta a tiros pelo marido, na noite desta segunda-feira (15),
em um motel que fica entre a saída de Campina Grande e a cidade de
Queimadas, na BR-104. Após cometer o crime, o homem teria se matado. A
mulher, Dayse Auricea Alves, de 40 anos, é secretária de educação do
município de Boa Vista. (G1 Paraíba, 15-04-2019).

Apresenta-se que o agressor havia chamado a vítima para comemorar seu


aniversário no motel e cometeu o crime, neste caso, o agressor levou a vítima para um
lugar reservado para cometer o crime, essa é uma violência doméstica, pois o marido era
uma pessoa íntima da vítima e mesmo não sendo na sua residência a violência ocorreu
num local privado onde a vítima não tinha como se defender, como diz Pinheiro: Commented [J42]: Aqui, foi retirado o nome e segundo
nome da autora, e mantido apenas seu sobrenome.
Também foi retirada a caixa alta;
Embora dita doméstica, esta muitas vezes, ultrapassa o limite
geográfico da residência, visto que não raro o homem agride a mulher
na via pública, ampliando seu espaço de poder para além do lócus
privado, ou seja, os braços do seu poder vão além dos muros do lar,
estabelecendo seus domínios para o chamado território simbólico
(PINHEIRO, 2012, p. 63).

Ainda durante a digitação desse artigo, foram observados quatro casos de


feminicídios numa mesma semana de maio/2019, este fato se tornou mais enfático,
fazendo-nos analisar a importância do conteúdo dessa temática e tais notícias de
verdadeira barbárie contra as mulheres remetendo-se a um horror de violência que a
população feminina vive. Embora com tantos avanços das diferentes formas de pensar
o machismo ainda é perspicaz na nossa sociedade.
Diante disso, visualiza-se que a violência doméstica está sendo cada vez mais
vista em seus diversos âmbitos de atuação e as vítimas não possuem meios para sua
defesa diante dessas agressões, sendo sujeitas a morrer pelo simples fato de ser mulher
e não está “correspondendo” ao seu companheiro ou ex, da forma em que eles queiram.
O debate desse tema é bastante abrangente, porém, temos o intuito de despertar
a curiosidade sobre o tema e aumentar a curiosidade dos leitores a respeito e fornecer Commented [J43]: “A respeito” foi inserido em
substituição a “sobre o tema”, para evitar repetição de
termos em uma mesma linha;
49

mais informações para que as vítimas possam ter acesso e ganhar força para lutar contra
esses crimes.
No próximo capítulo, iremos abordar sobre a profissão de Serviço Social na
mediação dos direitos humanos das vítimas de violência doméstica e feminicídio.

3.2 Serviço Social e as mediações para a efetivação dos direitos humanos


das vítimas em situação de violência doméstica e feminicídio

Em consequência ao que foi apresentado, iremos abordar sobre os desafios e


atribuições do profissional de Serviço Social, com breves apontamentos sobre a
mediação dos usuários que procuram o serviço, a fim de que seja instruído a esses
indivíduos seus direitos perante o Estado.
Para entendermos um pouco da profissão e suas demandas, é válido dizer que o
Serviço Social atua sobre as expressões da questão social, bem como a fome, violência,
habitação, e ainda inúmeras situações-limites, que são postas como demanda para o
Assistente Social. Para isso, o profissional precisa ter um conhecimento ético-político e
técnico-operativo de maneira que instrua os usuários dos seus direitos.
De acordo com Iamamoto:

Os(as) assistentes sociais atuam nas manifestações mais contundentes


da questão social, tal como se expressam na vida dos indivíduos sociais
de distintos segmentos das classes subalternas em sua relação com o
bloco do poder e nas iniciativas coletivas pela conquista, efetivação e
ampliação dos direitos de cidadania e nas correspondentes políticas
públicas (IAMAMOTO, 2009, p. 06).

Sendo assim, entendemos que a profissão atua nas diferentes demandas da


sociedade em conjunto com as políticas públicas na área de planejamentos e execução
na área da saúde, educação, previdência, habitação, entre outros, porém de forma que
instrua o usuário aos seus direitos.
No espaço da violência contra as mulheres ou em outros espaços ocupacionais,
o assistente social intervém sobre um objeto de trabalho, sendo assim, ele aborda
alguma ação profissional. Para tanto, é preciso que o assistente social tenha
conhecimento da realidade em que atua, a fim de compreender como os sujeitos sociais
50

experimentam e vivenciam as situações sociais. Neste caso, trabalhando com a temática


da violência contra as mulheres, o profissional de Serviço Social precisa aprofundar seu
conhecimento sobre as múltiplas determinações que decorrem da mesma.
Sendo assim, conforme Iamamoto (1999, p.52):

O grande desafio na atualidade é, pois, transitar da bagagem


teórica acumulada ao enraizamento da profissão na realidade,
atribuindo, ao mesmo tempo, uma maior atenção às estratégias e
técnicas do trabalho profissional, em função das particularidades dos
temas que são objetos de estudo e ação do assistente social. Commented [J44]: O recuo foi modificado para 04 cm,
foram retiradas as aspas e o tamanho da fonte da letra
modificado para 10;
Sendo assim, é preciso um embasamento teórico para o enfrentamento das
questões relacionadas, neste caso sobre a violência contra as mulheres, devem ser
mediadas em cada espaço ocupacional profissional e em cada especificidade
institucional.
A profissão é norteada por um código de ética e reconhecida pela sua natureza
analítica e interventiva, o que legitima os assistentes sociais a planejar e construir
respostas profissionais mediatizadas pelas necessidades sociais identificadas e tendo
experiências dos sujeitos que vivem nesta realidade social.
O direcionamento dessas questões é descrito pelo CFESS/CRESS e ABEPSS para
a formação, de acordo com o código de ética da profissão em relação ao atendimento
aos usuários estabelecido no Art. 5º São deveres do/a assistente social nas suas relações
com os/as usuários/as:
a- contribuir para a viabilização da participação efetiva da população
usuária nas decisões institucionais;
b- garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e
consequências das situações apresentadas, respeitando
democraticamente as decisões dos/as usuários/as, mesmo que sejam
contrárias aos valores e às crenças individuais dos/as profissionais,
resguardados os princípios deste Código;
c- democratizar as informações e o acesso aos programas disponíveis
no espaço institucional, como um dos mecanismos indispensáveis à
participação dos/as usuários/as;
d- devolver as informações colhidas nos estudos e pesquisas aos/às
usuários/as, no sentido de que estes possam usá-los para o
fortalecimento dos seus interesses;
e- informar à população usuária sobre a utilização de materiais de
registro audiovisual e pesquisas a elas referentes e a forma de
sistematização dos dados obtidos; 30 Código de Ética
51

f- fornecer à população usuária, quando solicitado, informações


concernentes ao trabalho desenvolvido pelo Serviço Social e as suas
conclusões, resguardado o sigilo profissional;
g- contribuir para a criação de mecanismos que venham
desburocratizar a relação com os/as usuários/as, no sentido de agilizar
e melhorar os serviços prestados;
h- esclarecer aos/às usuários/as, ao iniciar o trabalho, sobre os objetivos
e a amplitude de sua atuação profissional (Ano? Página?) Commented [J45]: Faltam o ano e a página da citação
direta;

Consistindo nestas notas algumas das obrigações do profissional, que está


voltado às necessidades das questões sociais dos cidadãos, esses processos estão
vinculados ao projeto ético-político da profissão que, nas palavras de Yasbeck, o
processo de construção do projeto ético-político envolve:

(...) um conjunto de componentes que necessita se articular: são valores,


saberes, e escolhas teóricas, práticas, ideológicas, políticas, éticas,
normatizações acerca de direitos e deveres, recursos políticos
organizativos, processos de debate, investigação, interlocução crítica
com o movimento da sociedade, da qual a profissão é parte e expressão
(...) (YASBECK, 2004, p.12).

De acordo com esses apontamentos, o projeto ético-político está interligado ao


projeto de mudança na sociedade com caráter ético em defesa dos direitos humanos em
específico na atuação à emancipação humana. Com isso, a atuação do Assistente Social
na saúde busca estratégias que coincidam com a política pública de saúde o (SUS) onde
esse sistema tem o objetivo de garantir o direito à saúde a toda população.
Os centros Especializados de Assistência Social – CREAS é uma unidade pública
onde o Serviço Social atua e tem por referência o atendimento às diversas violações de
direitos, acerca das mulheres vítimas de violência, quando as mesmas procuram esse
serviço, elas são atendidas e recebem um acompanhamento técnico especializado
aplicado por uma equipe multiprofissional que acompanha e direciona as vítimas para
denunciar os agressores e retomar sua rotina, este serviço está articulado ao Poder
Judiciário.
A prefeitura municipal de João Pessoa denomina o Centro de Referência
Especializado de Assistência Social (CREAS) um serviço de âmbito nacional implantado
através da Prefeitura de João Pessoa, por meio da Secretaria de Desenvolvimento Social,
em parceria com o Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome.
52

Consiste de uma a unidade pública estatal que oferta serviços da proteção


especial, especializados e continuados, gratuitamente a famílias e indivíduos em situação
de ameaça ou violação de direitos. Além da oferta de atenção especializada. O CREAS
tem o papel de coordenar e fortalecer a articulação dos serviços com a rede de
assistência social e as demais políticas públicas.
O papel do Assistente Social também redigido no código de ética da profissão e
reafirmado por alguns autores, dizem que é de sua competência alguns instrumentos
para mediar nas questões da violência contra as mulheres, exemplo da visita domiciliar,
reunião com grupo de mulheres, reunião com a equipe multiprofissional que atendem
nos espaços voltados para essas mulheres, documentar e elaborar parecer social e
relatórios, planejar programas, pesquisa, articulação em rede. Tudo isto colabora para
uma mediação e confronto dessa realidade de violência perpetrada às mulheres que
precisam deste apoio para lutar pelos seus direitos.
Os CREAS E CAPS são pontos de apoios para esse atendimento especializado, as
Unidades de saúde que recebem essas mulheres devem encaminhá-las para o CREAS,
que é uma unidade pública estatal responsável pela oferta de orientação e apoio
especializado e continuado aos indivíduos que tem seus direitos violados, neste caso, as
mulheres. E, nos casos de violência e trauma psicológico, encaminha-se a vítima para o
CAPS que, assim como o CREAS, é uma unidade pública estatal que têm profissionais
capacitados na área de psicologia para o apoio emocional, e Assistente Sociais que
trabalham nesse apoio encaminham as vítimas para um tratamento continuado.
Além desses pontos especializados no atendimento às mulheres vítimas de
violência, os hospitais de urgência e emergência que recebem no primeiro momento as
mulheres vítimas das agressões precisam atendê-las de forma humanizada e acolhedora.
É importante ressaltar a observação que tivemos em um determinado hospital de
João Pessoa no período do estágio II obrigatório no segundo semestre de 2018.1 de
Serviço Social pela Universidade Federal da Paraíba. Observamos alguns casos de vítimas
de violência doméstica e, a partir desse caso, visualizamos que o hospital tem um
documento que se chama “ficha de notificação”; esse documento contém algumas
perguntas que servem para adquirir informações a respeito de como aconteceu a
agressão e notificar o ocorrido junto com o prontuário da paciente, o Ministério da saúde
diz que:
53

O preenchimento da Ficha de Notificação contribuirá com maior


disponibilidade de informações que subsidiem a elaboração de
políticas públicas integradas e intersetoriais que efetivamente
promovam a saúde e qualidade de vida. Notificação/Informação são
fundamentos para o 58 planejamento e a execução de ações voltadas
para redução da morbimortalidade decorrente das violências e para
promoção da cultura da paz (BRASÍLIA, 2009, p. 05).

Essa ficha de notificação pode ser preenchida por qualquer profissional da área
da saúde, após o atendimento à paciente, prezando pelo seu bem-estar, embora essa
ficha seja válida até mesmo para constar nos registros o controle dos índices de violência.
A equipe hospitalar que atende a paciente não direciona com a atenção devida, por
causa da própria logística do hospital, que, por ser uma unidade de saúde de urgência e
emergência, a demanda é grande de atendimento, e a dinâmica dos profissionais de
saúde é mais paliativa do que preventiva e auxiliadora. Com isso, percebemos algumas
faltas de informações nesse documento, uma vez que o perfil das usuárias não se pessoas
que vivem em vulnerabilidade e muitas delas não possuem um bom nível de
escolaridade, dificultando assim o preenchimento adequado desse documento.
Nesse aspecto, muitas mulheres saem do atendimento de urgência sem muita
informação do que deve fazer depois, do centro de apoio na qual elas possam ir, a
delegacia da mulher que é especializada no atendimento das mesmas, além de estarem
mais fragilizadas e constrangidas em repetir o fato ocorrido.
Desta forma, percebemos que é preciso uma orientação maior nas possibilidades
de meios de conscientização com os profissionais da saúde, a fim de oferecer um
atendimento diferenciado as vítimas e dá a elas o direito da informação adequada, nisso,
se trabalha o atendimento humanizado, que possibilita às vítimas o entendimento maior
dos seus direitos nessas situações.
Todavia, apesar dos avanços acerca das políticas públicas e debates sobre a
proteção às mulheres vítimas de violência doméstica e feminicídio terem ganhado mais
visibilidade, ainda é frágil a proteção a essas mulheres.
Visto que o Estado que deve garantir essa proteção prevista nos direitos
humanos e na nossa Constituição Federal, a discriminação de gênero ainda é muito forte,
os resquícios do patriarcado e do machismo perduram em nossa sociedade, inclusive
pelo próprio Estado.
54

Os preconceitos contra as mulheres ao longo do processo histórico reforçam a


ideia de submissão destas e distorce os valores das mesmas enaltecendo o homem e Commented [J46]: “Destas” está substituindo
“mulheres”;
diminuindo a mulher. Neste caso o profissional de Serviço Social tem um papel
importante, que é instruir essas mulheres e dar a elas um direito constado na
Constituição Federal de 1988, que assegura a todos o acesso à informação.

3.3 Papel do Serviço Social nas medidas protetivas da Lei Maria da Penha

Como foi visto anteriormente, o Serviço Social atua nas diversas áreas das
questões sociais, a profissão tem um importante papel no atendimento às mulheres
vítimas de violência doméstica, de acordo com o CRESS 2006, as Assistentes sociais
atendem juntamente com as ONG’s, instituições e organizações de apoio às vítimas de
violência doméstica. A profissional atua diretamente na conscientização da mulher sobre
seus direitos, sendo a peça chave do seu meio de mediação entre a usuária e os
mecanismos da legislação que a protege a Lei Maria da Penha, que respalda as mulheres
vítimas de violência.
No entanto, a secretaria especial de políticas para as mulheres, em 2006,
apresenta as novas responsabilidades, atribuições e competência da regulamentação da
lei Maria da Penha.
Da equipe de atendimento multidisciplinar foi sancionado no artigo:

TÍTULO V
DA EQUIPE DE ATENDIMENTO MULTIDISCIPLINAR
Art. 29. Os Juizados de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher que vierem a ser criados poderão contar com uma equipe de
atendimento multidisciplinar, a ser integrada por profissionais
especializados nas áreas psicossocial, jurídica e de saúde.
Art. 30. Compete à equipe de atendimento multidisciplinar, entre
outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local,
fornecer subsídios por escrito ao juiz, ao Ministério Público e à
Defensoria Pública, mediante laudos ou verbalmente em audiência, e
desenvolver trabalhos de orientação, encaminhamento, prevenção e
outras medidas, voltados para a ofendida, o agressor e os familiares,
com especial atenção às crianças e aos adolescentes.
Art. 31. Quando a complexidade do caso exigir avaliação mais
aprofundada, o juiz poderá determinar a manifestação de profissional
especializado, mediante a indicação da equipe de atendimento
multidisciplinar.
55

Art. 32. O Poder Judiciário, na elaboração de sua proposta


orçamentária, poderá prever recursos para a criação e manutenção da
equipe de atendimento multidisciplinar, nos termos da Lei de
Diretrizes Orçamentárias (Nome? Ano? Página?) Commented [J47]: Faltam a referência ao nome, ano e a
página do documento;

Sendo assim, inclui-se o Assistente Social para apoiar as vítimas, embasada com
a lei que as protegem, de maneira que, além do profissional do Serviço Social, é
necessário o aparo legislativo para assegurá-las dos seus direitos a respeito dos
agressores.
Nas palavras de Thiago F. Sant’ Anna:

[...] Daí ser possível afirmar que as/os assistentes sociais podem
operar o arcabouço teórico-metodológico feminista,
entrecruzado ao do Serviço Social, em suas experiências
profissionais na busca por não somente acionar as práticas de
atendimento às mulheres vítimas de violência, mas também a
reunir forças para criticar e afrontar a produção de sentidos
ancorados em um viés machista e misógino[...] (SANT’ANNA,
2018, p.308).

A profissão busca a possibilidade de operar nas situações que lhes são


postas, nesse sentido, a crítica à realidade em virtudes das lutas feministas
posicionam os profissionais para que de maneira ético-política instruam as
mulheres diante do cenário machista e patriarcal a se imporem como cidadãs,
para que seus direitos sejam garantidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tomando como base a pesquisa bibliográfica com vistas à realização do presente


trabalho Monográfico de Conclusão do Curso de Graduação em Serviço Social da
Universidade Federa da Paraíba (UFPB), e, por consequência, as explicações teóricas em
torno do fenômeno da violência doméstica contra as mulheres, objeto de estudo do
presente trabalho, e outras considerações feitas ao longo do corpo deste trabalho,
vamos neste ponto tecer breves considerações finais enfocando aspectos que mais nos
chamaram a atenção, seja do ponto de vista teórico-metodológico, seja no sentido da
56

problematização dessa cruel realidade, infelizmente, ainda presente na sociedade em


geral, em articulação com o contexto da sociedade brasileira.
O primeiro aspecto que mais chamou atenção na pesquisa bibliográfica refere-se
à importância dos movimentos feministas ao longo do processo histórico nas sociedades
do mundo ocidental. A direção política de problematizar as diferentes formas de
violência em que estavam submetidas as mulheres. Vimos, nos estudos e pesquisas, a
violência em razão da ideologia patriarcal que alimenta o machismo.
Outro aspecto merecedor de destaque refere-se à luta política dos movimentos
feministas, que teve sua efervescência na Europa e EUA na década de 1960, no Brasil
ganha força na década de 1970, e teve impactos relevantes na luta dos direitos das
mulheres. O marco nacional em meio dos direitos coletivos e individuais no Brasil
destaca-se a partir do processo de redemocratização, especificamente com a Carta
Cidadã (Constituição de 1988), na qual é uma das mais avançadas no país, ressaltando o
artigo 5º, reconhecendo que todos são iguais perante a lei, sem distinção de raça, cor,
ou quaisquer naturezas, ressaltando a paridade entre homens e mulheres.
Como medida de enfrentamento à violência contra a mulher, o estado brasileiro
foi obrigado por organismos internacionais e nacionais, e através da luta dos
movimentos feministas e dos movimentos sociais, a criar mecanismos para coibir a
violência contra a mulher, em resposta à omissão do Estado no caso Maria da Penha
Maia Fernandes, não somente a Fernandes, mas em resposta a todas as vítimas desse
tipo de violência. Assim, nasce a Lei 11.340/2006, em reparação à Lei 9.099/1995, na qual
a violência doméstica estava elencada a menor poder ofensivo e com penas brandas
como o pagamento de multas, cestas básicas, serviços prestados a órgão públicos,
dentre outros, o que potencializou esse tipo de violência.
A Lei Maria da Penha é, sem dúvida, um dos melhores mecanismos para coibir a
violência contra a mulher, considerada pela Organização das Nações Unidas uma das
três melhores legislações do mundo. Vários avanços foram possíveis, como a redução
dos casos de violência contra as mulheres chegando à diminuição de 10% no ano de
2016, no ano de 2018 redução de 6,7% dos homicídios dolosos. As mulheres passaram
a denunciar mais a partir do momento que foram criadas condições efetivas para essas Commented [J48]: Os termos foram para o plural;

medidas.
57

O papel do Serviço Social na mediação dos direitos das mulheres em situação de


violência é essencial para a mediação dos direitos do público alvo, com base no Código
de Ética da/do Assistente Social, profissionais que têm o papel de atuar nas diferentes
áreas ligadas às políticas públicas sociais, desde a competência de orientar o indivíduo
de identificar recursos e de fazer uso dos mesmos no atendimento e na defesa de seus
direitos. Das atribuições específicas do profissional, elaborar parecer, executar programas
e projetos, planejar, organizar e administrar projetos em Unidade de Serviço Social,
dentre outros.
Esta temática sugere longos debates, porém, trata-se aqui de elencar pontos
teóricos para que possa contribuir sobre a temática, bem como sensibilizar para uma
sociedade igualitária, livre de preconceitos, seja pelo gênero, raça, etnia e ademais. Como
forma de emancipação humana e tentar romper com a cultura machista e patriarcal que
afeta tantas mulheres ao longo dos anos até os dias atuais, em especial a violência contra
as mulheres na questão de gênero e no aspecto familiar e doméstico.
A intensificação dos desmontes do Estado de direito brasileiro, estar
atravessando por vários ataques governamentais, potencializando a reestruturação do
Estado, no governo de linha econômica neoliberal, correspondendo aos interesses de
mercado do capital financeiro internacional e nacional. Decretos assinados sem base
constitucional e sem os critérios pré-estabelecido para essas medidas: a situação
configura grave e urgente necessidade pública. Reforma da Previdência articulada como
a saída da recessão econômica, como consequência para sociedade: incorporando a
intensificação das expressões das questões sociais, desregulamentação das políticas
públicas, flexibilização das relações de trabalho. De acordo com o Dicionário Aurélio,
reforma significa: melhorar, extirpar o mal introduzido em, retificar, corrigir ou conceder,
emendar-se, corrigir-se. Conforme Behring (2008), a contrarreforma em nada tem a ver
em melhorar a atual conjuntura social do país, mas sim atender às necessidades do
mercado financeiro.
Os direitos conquistados das mulheres em destaque estão sofrendo um
retrocesso, visto que o presidente utiliza de argumentos da moral e bons costumes, e
promove, além dos agravos das retiradas de direitos conquistados a duras penas, em
favor da “ordem e progresso” e principalmente em favor do capital financeiro, o corte de
orçamento de 30% à educação superior. Há, também, O intuito também de retirar das Commented [J49]: Acréscimo para dar coesão à frase;
58

grades curriculares as disciplinas de sociologia e filosofia, sendo assim, pretende-se


monopolizar o saber da população.
Desse modo, os debates sobre a violência contra as mulheres e a garantia dos Commented [J50]: “Desse modo”, foi colocado em
substituição a “sendo assim”, para evitar excessiva
direitos dessa minoria precisam adquirir forças nos movimentos sociais de luta para repetição do termo;

romper com essa nova ditadura disfarçada de progresso do país.


Esta temática sugere longos debates de enfrentamentos, que estão longe de
serem esgotados, porém, este trabalho de conclusão de curso tem o intuito de elencar
as principais conquistas sociais em defesa dos direitos das mulheres, e contribuir aos
leitores para a formação acadêmica sobre o desenvolvimento desta temática.

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Janeiro: Editora Vozes, 1976. pois subtítulos não devem vir em negrito

____________________. Gênero Patriarcado Violência. 2. ed. São Paulo: Editora Expressão Commented [J53]: Por ser obra de mesma autora da
Popular, 2015. referência anterior, o nome foi sublinhado;

SOUZA, Luiz. Sociologia da Violência e do Controle Social. Ed. Curitiba: Editora IESDE
Brasil, 2008. Mundo Educação. Disponível
em:<https://mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiageral/era-napoleonica.htm>.
Acessado em 04 mar. 2019.

TEIXEIRA, Elizabeth Fleury; MENEGHEL, Stela N/ Organizadores. Dicionário Feminino


da Infâmia: acolhimento e diagnóstico de mulheres em situação de violência.
22.ed. Rio de Janeiro: Editora Fio Cruz, 2015.

Declaração das Nações Unidas. Sobre a Eliminação da Violência Contra a Mulher.


Disponível em:
<file:///C:/Users/Taiana/Downloads/Declara%C3%A7%C3%A3o%20Sobre%20A%20Elim
ina%C3%A7%C3%A3o%20Da%20Viol%C3%AAncia%20Contra%20As%20Mulheres%20(
1).pdf>. Acessado em 19/03/2019 (fonte não encontrada).

PINHEIRO, Maria Jaqueline Maia. MULHERES ABRIGADAS: Violência conjugal e Commented [J54]: O título foi colocado em negrito;
trajetórias de ida, editora da Universidade Federal Do Ceará – EDUECE – 2012.

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