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Ricardo Vantroba Lazzarin

Sobre a Efetividade da Democracia


Dissertação sobre “Do Contrato Social” e “A Democracia na
América”

Curitiba
2017
Desde a criação do termo democracia (Dēmoskrátos, “poder do povo”) das cidades-estado gregas
na antiguidade até a contemporaneidade, mesmo sofrendo diversas mudanças de significado, a
questão sobre a validade e efetividade de governos democráticos é amplamente debatida.
Autores influentes como Jean-Jacques Rousseau dissertaram sobre as possíveis formas de governo
e criaram novos e variados conceitos para tentar desvendar a melhor e mais efetiva maneira de que
um governo deve ser composto. Pretendo através deste texto analisar o livro “Do Contrato Social”
(1762) de Rousseau e clarificar a sua definição de democracia e também seus elogios e críticas
quanto a governos democráticos ao mesmo tempo que traço comparações com o também francês
Alexis de Tocqueville, que no seu livro intitulado “A Democracia na América” (1835), tentou
analisar a revolução democrática que ocorrera na América e como os governos europeus
caminhavam a um estado de igualdade entre os homens. Por fim, procurarei confrontar estes dois
autores com a ideia de um governo democrático e a sua possível efetividade.
Rousseau começa seu texto com a seguinte proposta: “Quero indagar se pode existir na ordem
civil, alguma regra de administração legítima e segura, tomando os homens como são se as leis
como podem ser”1; torna-se claro com esta abertura o objetivo do autor de procurar regras para a
sociedade que “tomem os homens como são”, para entender esta citação, teremos que nos debruçar
sobre a filosofia deste autor. Rousseau começa tratando da ordem social, isto é, o direito que serve
de base para todos os outros direitos legítimos e que não é, para o autor, originado através da força,
mas sim através de convenções, essas convenções são construídas baseadas na mais antiga, e talvez
única natural, sociedade: a família. Após atingir a capacidade necessária para manter sua própria
conservação, o indivíduo ganha independência e pode escolher não ter mais nenhum tipo de dever
com os seus pais. Esta liberdade é o que Rousseau chamará de consequência da natureza humana e,
assim, temos um dos grandes pilares de sua filosofia política: “O homem nasce livre, e por toda
parte se encontra a ferros”2. Esta posição sobre a natureza do homem o põe em confronto com
autores como Thomas Hobbes e nos servirá também para entendermos suas ideias sobre o governo
e a sociedade.
Enquanto que Tocqueville começa a introdução de sua obra reconhecendo a grande, e talvez
inesperada, igualdade de condições entre os homens nos Estados Unidos e clarificando o objetivo
de seu livro: “Vi a igualdade de condições que […] se aproximava cada dia mais; e essa mesma
democracia, que reinava sobre as sociedades americanas, pareceu-me na Europa avançar mais
rapidamente para o poder”3. Partindo disto, Tocqueville começa a dissecar a política e as formas de
governo europeias, argumentando que todas as sociedades cristianizadas caminhavam cada vez
mais a uma ideia de governo que prega a igualdade entre os homens, começando com o ganho de
poder do clero, que continuou aberto tanto a nobres quanto a plebeus, até a ascensão da burguesia à
posições maiores ou equivalentes do que a nobreza.
Sobre a formação da sociedade, Rousseau defende que houve, e talvez de alguma forma ainda haja,
um pacto social, isto é, uma forma de associação de diversos indivíduos onde suas forças tornam-se
comuns, mas cada membro mantém sua liberdade. As regras deste contrato social são determinadas
apenas pela própria natureza do ato, mas se retirarmos suas especificidades, o pacto social pode ser
reduzido aos seguintes termos: “Cada um de nós põe em comum sua pessoa e todo o seu poder sob
a direção suprema da vontade geral e recebemos, enquanto corpo, cada membro como parte
indivisível do todo”4. Constrói-se, então, um corpo moral e coletivo, o que chamamos de Estado,
chamamos seus membros de povo ou, em sua individualidade, de cidadãos. O conceito
determinante de uma sociedade legítima para Rousseau se baseia, portanto, em sua ideia de vontade
geral e a soberania deve ser apenas o que dita a vontade geral de determinado povo, que deve fazer
com que seus cidadãos obedeçam esta vontade geral e, caso recusem, deverá fazer com que sejam
constrangidos por todos, forçando-os a serem livres, em um sentido de natureza, já que fazer parte
de um contrato social retira sua liberdade natural. Para clarificar melhor estes conceitos, o autor

1 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1983 (página 22).
2 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1983 (página 22).
3 TOCQUEVILLE, A. A Democracia na América, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2014 (página 7).
4 TOCQUEVILLE, A. A Democracia na América, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2014 (página 33).
ainda afirma que essa vontade geral é também inalienável e sua soberania é indivisível, pois ou ela é
geral ou não o é de forma alguma.
Tocqueville usará, diferentemente, o que ele chama de estado social, isto é, o produto da cultura de
um povo e de suas leis mais primitivas e que, quando este estado passa a existir, é ele mesmo que
será a causa primeira da maioria das leis, costumes e ideias que regem a conduta das nações 5. Para o
autor, a grande diferença da sociedade americana é que ela nasceu eminentemente democrática, sem
o germe da aristocracia inglesa. Há, na América de seu tempo, mais que em qualquer outro país da
época, uma igualdade de riquezas e também de inteligências, já que todos os indivíduos são
forçados a exercer um ofício desde jovens. Não há, como nos países europeus, uma classe que
possua uma inclinação pelos prazeres intelectuais e que transmita esta disponibilidade para seus
herdeiros. As consequências de um estado social que se mantém igualitário desta forma são claras:
ou o povo não tem nenhum direito ou todos os cidadãos possuem direitos iguais. As circunstâncias,
a origem e os costumes dos Estados Unidos lhe permitiram manter a soberania do povo acima de
todo o resto.
Ao chegar ao terceiro livro do “Contrato Social”, Rousseau pretende clarificar o significado da
palavra Governo para, em seguida, distinguir as várias formas de governo, dentre elas a democracia,
que é o que nos interessa neste artigo. Para elucidar o que é o governo, o autor distingue nele dois
móveis: a força, chamada de Poder Executivo e uma parte moral, a vontade, chamada de Poder
Legislativo. Há, porém, o problema de como este poder executivo pode ser exercido e que parte da
sociedade exercerá controle sobre ele. Para Rousseau, é este o emprego geral dos membros do
corpo governamental, como o de um príncipe, magistrados ou até de corpos administrativos. Este
corpo do estado será o único responsável por governar, seguindo sempre a ordem do soberano, que
age segundo a vontade geral. O autor também divide as formas de governo em três, embora afirme
que cada uma se confunde com as outras e não é incomum encontrarmos formas mistas de governo.
A primeira das formas de governo é aquele em que todos os cidadãos particulares também ajam
como magistrados, com o nome de democracia; a segunda, em que todos os magistrados recebem o
seu poder de um único cidadão particular, que representará a soberania do povo, o que o autor
chama de monarquia ou governo real e, por último, aquela em que a soberania é confiada a poucos
magistrados, o que será chamado de aristocracia. Para o autor, no entanto, não há uma forma de
governo que funcione melhor em todos os casos e cada povo funcionará melhor com determinados
tipos de governo, isto normalmente pode ser determinado pela quantidade de cidadãos, pelo
tamanho territorial e a distância da capital com as bordas do país e até o clima da região em que o
país se encontra.
Focando-se na ideia de democracia, Rousseau argumenta que uma democracia de verdade, em seus
termos, jamais existiu e jamais existirá, pois é impossível imaginar um povo que se reúna em
assembleia continuamente para cuidar dos assuntos públicos ou um Estado tão pouco numeroso que
cada cidadão conheça um ao outro sem esforço. Se tratando de efetividade, no entanto, o autor
argumenta que embora a mais efetiva forma de governo é aquela em que o próprio feitor das leis
(poder legislativo) exerça a força (poder executivo), isto, porém, acaba sendo propicioso à
corrupção muito facilmente e é por isso que somos levados a uma maior divisão de tarefas no corpo
governamental. Quando as funções do governo são divididas entre numerosos tribunais, no entanto,
os menos numerosos, por serem mais efetivos, cedo ou tarde adquirem maior autoridade, tornando-
os menos democráticos6. Por último, o autor acrescenta que a democracia é a forma de governo
mais sujeita a guerras civis e agitações internas, “É sobretudo nessa constituição que o cidadão deve
armar-se de força e constância”7.
Voltando à análise de Tocqueville da sociedade americana, vemos que em realidade é o poder da
maioria que governa em nome do povo, isto torna-se um problema primeiramente pela existência de
partidos, um mal necessário dos governos livres, que tentam ou subverter ou agitar a sociedade. Os
motivos dos partidos políticos, para o autor, podem ser divididos em dois: enquanto uns buscam

5 TOCQUEVILLE, A. A Democracia na América, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2014 (página 55).
6 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1983 (página 84).
7 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1983 (página 85).
restringir o uso do poder público, outros buscam ampliá-lo. Há ainda o problema da liberdade de
imprensa, a imprensa torna-se não só modificadora de leis, mas também uma moldadora de
costumes. É impossível, no entanto, manter uma sociedade livre sem manter a imprensa livre,
mesmo que esta liberdade seja a origem de vários males sociais, pois é preferível que ela seja livre
do que se mantenha um extremo controle sobre ela. Entre os bens de uma imprensa livre e
desregulada, como aquela que existia na América, no entanto, está a de fazer circular a vida política
em todo o território do país, entre os males, porém estão a formação de uma influência irresistível
contra determinadas opiniões públicas, o que acaba formando e fazendo arraigar cada vez mais
preconceitos através do orgulho e da convicção. Existe, para o autor, um Império Moral da
Maioria, que se baseia na ideia de que há mais luzes e sabedoria em muitos homens reunidos do
que num só, seguindo a mesma ideia de igualdade de inteligências discutida anteriormente. As
consequências desse estado de coisas são, segundo Tocqueville, funestas e perigosas para o futuro8
e nos ajuda a entender vários dos problemas comuns a todos os tipos de governos democráticos. Em
primeiro lugar, o poder legislativo de democracias é instável, a todo momento sofre mudanças, pois
é determinado sempre pelos seus legisladores que mudam a todo instante, esta onipotência da
maioria tratada pelo autor também ajuda esta desestabilização: sendo a opinião da maioria a única
força importante para a legislatura, o momento em que o público desviam seus olhos de alguma
questão, ela é abandonada e esquecida completamente. Como exemplo, o autor cita o
empreendimento de alguns homens religiosos para melhorar o estado das prisões: o público
primariamente se comoveu e a regeneração de criminosos tornou-se obra popular e a construção de
novas prisões focadas nessa reforma foi fortemente suportada pelo povo, mas as prisões antigas
tornaram-se ainda mais insalubres do que antes. Em pouco tempo, no entanto, o público desviou seu
olhar e a vigilância quanto a esta questão cessou, levando a um relaxamento quanto a essa nova
reforma e, por fim, pôde-se encontrar masmorras que recordavam barbáries da Idade Média
convivendo com novas prisões que, sem recurso ou atenção, tentavam ir contra esse tipo de
regresso9.
Diferentemente de Rousseau, Tocqueville acredita que não hajam governos mistos, pois sempre
nas sociedades um princípio de ação domina os demais e o maior problema da democracia
americana é a constituição de uma tirania da maioria, onde o desejo da maioria torna-se o princípio
dominante do estado social. Essa composição governamental faz muito pouco para impedir
injustiças contra homens ou partidos políticos, o injustiçado que não pode recorrer à opinião
pública, não poderá apelar ao poder legislativo, que a representa e nem ao poder executivo, que é
nomeado por esta mesma maioria, este tipo de efeito será ampliado ainda mais através da imprensa
livre e desregulada. Por último, Tocqueville chega a uma conclusão muito parecida à de Rousseau:
os governos democráticos não caem em anarquia ou perecem por por carecer de força e de recursos,
mas, ao contrário, “[…] creio que o é quase sempre o abuso de sua força e o mau uso de seus
recursos que o fazem perecer. A Anarquia nasce quase sempre da tirania ou da inabilidade do poder
democrático, não da sua impotência”10. Para o autor, se algo fará a liberdade ser perdida e o
governo entrar em caos nesse novo estado democrático americano, será por culpa da onipotência
dada à maioria, que levará ao despotismo e à anarquia.
Ao final do livro terceiro do “Contrato Social”, Rousseau trata da inclinação natural de toda forma
de governo à degeneração. Para o autor, o corpo governamental é como o corpo de um homem, que
com o tempo tende a se degenerar e, por fim, morrer; “Se Esparta e Roma pereceram, que Estado
poderá durar para sempre?”11. Quando falamos da efetividade de um governo, portanto, buscaremos
apenas a forma mais estável e capaz de durar mais tempo. O que leva à morte do corpo político,
para Rousseau é a perda de autoridade da soberania:

“O poder legislativo é o coração do

8 TOCQUEVILLE, A. A Democracia na América, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2014 (página 292).
9 TOCQUEVILLE, A. A Democracia na América, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2014 (página 294).
10 TOCQUEVILLE, A. A Democracia na América, São Paulo, Editora Martins Fontes, 2014 (página 304).
11 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1983 (página 102).
Estado; o poder executivo, o cérebro que dá
movimento a todas as partes. O cérebro pode
paralisar-se e o indivíduo continuar a viver. Um
homem torna-se imbecil e vive, mas, desde que o
coração deixa de funcionar, o animal morre.”12

Em uma possível conclusão, podemos analisar como que, para estes autores, não há
necessariamente um valor intrínseco à democracia, embora para Tocqueville todas as sociedades
que buscam igualdade entre os homens caminhará em direção a ela. Para Rousseau, principalmente,
vemos como o que importa em um governo é a sua legitimidade, isto é, em qual ponto ele consegue
se manter obedecendo a vontade geral do povo em específico. É importante notar que ambos os
autores enxergam diversos problemas na democracia que, embora possam ser amenizados, sempre
representarão uma ameaça à estabilidade do governo. A conclusão de Rousseau de que qualquer
forma de governo não convém a qualquer país é uma que podemos aplicar até nos dias de hoje,
talvez governos amplamente democráticos não devam ser instaurados em regiões, culturas e países
em que ela será mal usada e deveríamos prezar mais pela estabilidade e a liberdade que cada
governo oferece aos seus cidadãos, mesmo que se trate de uma aristocracia ou governos reais. Se
Tocqueville estiver certo, incentivando cada vez mais a liberdade e a igualdade entre os homens,
todos estes governos caminharão em direção à democracia.
Quanto à efetividade de governos democráticos, podemos enxergar diversos paralelos com os
governos contemporâneos, que, com o maior aumento de magistrados e com um corpo
governamental muito grande, acaba perdendo sempre mais efetividade através de delegações sem
fim, chegando ao ponto em que, em alguns países, forma-se uma classe política aristocrática que
controlará o governo por si própria.

12 ROUSSEAU, J. J. Do Contrato Social, São Paulo, Editora Abril Cultural, 1983 (página 103).
BIBLIOGRAFIA
TOCQUEVILLE, Alexis De. A Democracia na América, Leis e Costumes.
Editora Martins Fontes, São Paulo, 2014. Tradução de Eduardo Brandão.

ROUSSEAU, Jean-Jacques. Do Contrato Social ou Princípios do Direito Político.


Editora Abril Cultural, São Paulo, 1983. Tradução de Lourdes Santos Machado.

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