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UNIVERSIDADE DO ESTADO DO AMAZONAS

ESAT – ESCOLA SUPERIOR DE ARTES E TURISMO

BACHARELADO EM TEATRO – 1º PERÍODO

IMPROVISAÇÃO TEATRAL

CRÔNICA

ANTONIO NORTON ALMEIDA DO NASCIMENTO

Manaus – AM
2016
O TEATRO DO INVISÍVEL

Eram 7:30 da manhã quando peguei o ônibus e me dirigi à UEA. Não havia
conseguido dormir na noite anterior, pois não parava de pensar que na próxima aula
de Improvisação iríamos experimentar o Teatro do Invisível de Augusto Boal. Esse
teatro é uma coisa bastante curiosa: consiste em os atores encenarem algum
problema social em local público para que as pessoas pensem e reflitam sobre aquilo,
então, os atores devem sair sem revelar que tudo era uma farsa. Já havia visto algo do
tipo na televisão - o programa Fantástico da Rede Globo fizera uma vez, mas no final
das cenas o repórter sempre aparecia com a câmera e revelava que tudo era um
experimento social. Dessa vez seria diferente, nós (alunos de Teatro da UEA) iríamos
para a rua, cada um com seu grupo, temática e local determinado para fazer a cena.
Às 8:00 em ponto entrei na sala Samambaia, onde a professora Vanessa nos
aguardava. Todos estavam muito ansiosos para suas cenas, já eu estava apavorado;
morria de vergonha de fazer algo do tipo em público. E se alguma coisa der errado? E
se eu for preso ou me baterem, sei lá? Pensava eu em todas essas coisas ao mesmo
tempo. Por fim, acalmei-me e esperamos os outros colegas chegarem para podermos
nos locomover do prédio da ESAT até o local da primeira cena, que seria na parada de
ônibus em frente à padaria Nego Bom. A professora nos deu as devidas instruções, nos
dispersamos e fomos todos para lá como se não nos conhecêssemos. A caminho da
parada, chamei minha amiga Dayane.
- Ei, Day... Vamos fingir que somos namorados! – disse, rindo.
- Claro, amor! – ela me deu a mão para eu segurar.
Fomos andando até a Nego Bom e entramos na padaria para fingir que
éramos pessoas qualquer comprando café da manhã, até que nos demos conta que a
cena já estava rolando lá fora na parada. Pagamos a conta do pão de queijo e
Toddynho que havíamos comprado e fomos até lá. A essa altura a cena já estava
dando o que falar. Nosso colega Baroque fazia o papel de um espírita enquanto
Emerson fazia um pastor que pregava na parada – ambos discutiam as divergências de
suas religiões. Várias pessoas se interviram e os outros da turma eram atores coringa,
ou seja, tentavam provocar nas outras pessoas a reflexão sobre aquilo e disfarçavam
que tudo era cena. A discussão chegou a um ponto em que tivemos que encerrar, pois
uma senhora religiosa bravejava na direção de Kelly, nossa colega que intervinha a
favor do espírita e defendia a crença alheia.
- Você é uma endiabrada, vai orar, menina! Não está vendo que só está pondo
mais lenha na fogueira? Eu vou é ligar para a polícia e te denunciar... – dizia a velha,
pegando o celular e discando o 190.
Vanessa deu um jeito de acalmar a todos e logo partimos dali para a próxima
parada onde aconteceria a outra cena. Dessa vez seria sobre intolerância social, duas
meninas mimadas (interpretadas pela Vic e pela Fernanda) iriam destratar um
mendigo pedinte para ver como as pessoas reagiriam. Antes que chegássemos na
próxima parada do Centro, fizemos uma rodinha para debater como tinha sido a
primeira cena. A discussão era se deveríamos ou não divulgar ao final que tudo era
encenação, o que ficou acordado que não iríamos. Encerramos o debate e, enfim,
fomos para a próxima parada.
O sol estava muito quente mesmo! Não sei nem porque eu ainda reclamo do
sol, sendo que isso é normal em Manaus. Andando para a parada próxima ao SEBRAE,
conseguia avistar Angelo atrás da gente; ele estava caracterizado de mendigo e vinha
na nossa direção carregando uma caixa de papelão. Quando todos estávamos
devidamente dispersos no ponto de ônibus, ele chegou pedindo dinheiro.
- Você teria alguma moedinha para me ajudar, por favor? – dizia ele para a
gente e para as pessoas na parada.
Foi quando ele chegou perto da Fernanda e da Vic e elas o destrataram.
Então, tudo começou. Dany interveio pelo mendigo e começou a discutir com as
garotas. O povo ao redor vaiava as duas e os atores coringa colocavam mais lenha na
fogueira. Fiquei realmente impressionado com a atuação de Dany, ela parecia
realmente com raiva. A discussão chegou a um dado momento em que Fernanda disse:
- Sai daqui, neguinha nojenta!
Nesse instante, uma mulher negra que assistia a tudo partiu para cima dela.
Eu fiquei abismado com tudo aquilo que tava acontecendo. Não sabia se ficava alegre
por ver uma moça negra defendendo seu orgulho ou se ficava preocupado pela minha
amiga. A mulher ainda conseguiu dar um puxão de cabelo nela e três tapas, antes das
meninas saírem correndo ali da parada. Quanto ao Angelo, uma senhora que era dona
de um lanche na parada acabou tirando ele dali gentilmente e o ofereceu um salgado e
um suco de graça. Brinquei muito com ele depois a respeito disso dizendo que, de todo
mundo, ele foi o que saiu ganhando na história.
Assim que a briga se dissipou, um a um fomos saindo dali e nos dirigimos para
o ponto de ônibus da sorveteria Glacial, na Av. Getúlio Vargas. Uma das paradas mais
lotadas do centro, eu estava ansioso para ver como a cena do outro grupo iria se
desenrolar ali. Demoramos um pouco para chegar lá, pois era um pouco distante.
Percorremos a avenida pela calçada, observava a sombra das árvores sobre nós.
- Iza, eu acho ruas assim tão lindas, cheias de árvores. Você nunca tinha
andado aqui pelo centro desse jeito, não é? – perguntei a Izabelle, que andava ao meu
lado. Felipe e Dany vinham logo atrás da gente.
- Nunca, amigo. Eu morro de medo de andar sozinha assim, mas tá sendo bem
interessante... – ela me respondeu, observando a movimentação dos carros na rua.
- Ah, é aqui – disse, puxando a todos e atravessando o meio fio na direção da
Glacial.
Chegando lá, a maior parte da turma já se encontrava sentada nas mesas e
cadeiras do espaço. Foi então que a Raquel e o Michael Guerreiro chegaram: saíram de
um taxi e começaram a encenar um marido que tentava agredir a esposa. Não
demorou muito e logo um círculo de pessoas curiosas se amontoou ao nosso redor. A
gritaria era intensa, estava adorando a interpretação de ambos. Foi quando algum cara
deu um soco nas costas do Michael e outros três entraram em formação para agredi-lo
e defender a “moça violentada”. Quando a professora viu que a coisa estava prestes a
ficar feia, ela adentrou o círculo de pessoas e explicou que era tudo um experimento
social dos alunos de Teatro da UEA. Algumas pessoas riram, outras ficaram frustradas,
os homens pediram desculpas porque não sabiam que era tudo mentira. Próximo a
nós, um estudante de uma escola próxima comentou:
- Cara, eu achei muito legal. Tudo parecia tão real, mas eu não iria me meter...
Porque eu acho que se a mulher fica defendendo é porque ela quer apanhar mesmo –
após dizer isso, ele nos parabenizou novamente e foi embora.
Quando me dei conta, a próxima equipe seria a minha. Fiquei muito nervoso e
começou a me dar um tremelique. Tínhamos combinado de fazer dentro do ônibus,
mas devido à situação, preferimos deixar em local público mesmo. Contrariando as
reclamações dos colegas que não queriam andar, saímos da Av. Getúlio Vargas e
fomos direto para o Largo São Sebastião. O tema do meu grupo seria o julgamento de
pessoas pelas roupas que se usa; minha amiga Thalia interpretaria uma garota de
roupas decotadas, Andreza faria uma garota que iria defendê-la e os papéis de
opressores couberam a Dell e eu. Nós nos separamos e todos nos encaminhamos para
o Largo. Chegando lá, Dell e eu tivemos uma surpresa: um ônibus lotado de turistas
acabara de estacionar ali e perto do monumento central havia um cinegrafista da Rede
Amazônica gravando algo. Bateu logo um nervoso.
- Dell, pelo amor do popopó... olha aquilo ali! Até a Rede Amazônica tá aqui.
Não tem como ser aqui não, a gente tem que trocar o lugar! – cutuquei Dell, que
estava muito atordoado olhando o número de pessoas no Largo.
Fomos sentar num banco do outro lado da praça, de frente à Igreja São
Sebastião. Thalia sentou do outro lado, mas ainda no nosso campo de visão. Tentei
alertá-la para fazermos a cena mais para baixo, perto da pizzaria Splash, mas ela não
entendeu meu gesto.
- Mano, vai ter que ser aqui mesmo – disse Dell, nervoso.
- Então seja o que Deus quiser! – respondi, levantando-me.
Atravessamos a praça até os bancos que ficavam de frente à famosa
banquinha do tacacá (que neste caso estava fechada, já que só abre à noite). Nós nos
sentamos num banco de pedra ao lado de uma senhora. Thalia estava alguns bancos
distante lendo um livro e ouvindo música. Observei o local antes de começar a cena. A
alguns metros de nós estavam vários estudantes de colégios do centro; nos bancos de
madeira abaixo das árvores onde batia vento, estavam várias pessoas usando o wifi da
praça e percebi um casal de idosos ali (provavelmente turistas também). Respirei
fundo e comecei a interpretar: olhava frequentemente para Thalia e ria dela
debochadamente, cutucando Dell para que ele a olhasse também. Após alguns
instantes ela se levantou e se sentou no banco ao lado do nosso. Levantei-me e me
dirigi a ela:
- Oi, você me conhece? – disse, rispidamente.
Ela me olhou com olhar confuso, ainda de fones de ouvido.
- Dá pra tirar seus fones, por favor? – disse, ao que ela obedeceu – Ótimo!
Agora pode me dizer por que é que você estava encarando a mim e ao meu amigo
dali?
- Eu? Você está louco? – respondeu ela – Eu não encarei vocês!
- Encarou sim, acha que eu sou louco?
- Não, eu não encarei – ela insistia naquilo.
- Você acha mesmo que eu sou idiota? Cara, eu vi você olhando pra gente dali.
Eu me senti muito incomodado, porque odeio gente do seu tipo achando que pode ter
algum tipo de chance comigo.
- Gente do meu tipo? – ela fez uma cara de ofendida – O que você quer dizer?
- Fala sério?! Olha essas roupas que você tá vestindo, sua piriguete! – eu
aumentei o volume da voz. Pela visão periférica, percebi as pessoas nos olhando e se
aproximando.
- Você está me ofendendo! – ela gritou, apontando o dedo na minha cara.
- Deixa a menina em paz, seu ridículo. O que tem a ver a roupa dela? Ela veste
a roupa que ela quiser, não é problema seu! – Andreza apareceu em defesa de Thalia.
Dell levantou-se e veio em meu intermédio.
- Mano, deixa essas duas! Olha só essa roupa dela, deve trabalhar bem como
prostituta. É dinheiro que vocês querem? Tá aqui, ó – ele jogou algumas notas de
dinheiro em cima delas.
Nesse instante, a senhora que estava sentada perto veio em intermédio da
Thalia e começou a defendê-la. Marilta fez seu papel de ator coringa e entrou na
discussão também. De repente, tudo se passou muito rápido: as pessoas começaram a
se amontoar ao nosso redor e se revoltar contra mim. Minha cabeça girava e eu não
sabia o que fazer. Estava deixando o nervosismo me consumir. No momento não
percebi, mas depois os outros me contaram que os guardas do Largo se aproximaram
prontos para me prender ou me bater. Fiquei assustado. Então, abruptamente a
mulher da agência de turismo surgiu. Ela gritou:
- PAREM AÍ VOCÊS DOIS. VOCÊS ESTÃO PRESOS!
Presos? Você é o quê agora? Agente do FBI? Quase dizia isso para ela, quando
a professora interveio antes que a coisa ficasse feia. Ela, então, revelou que tudo não
passava de uma cena de teatro e que o Largo havia sido escolhido para aquele
experimento. Foi aí que as pessoas ficaram com mais raiva ainda.
- Se vocês querem fazer peça por que não vão ali para o Teatro Amazonas? –
gritou um.
- Já tem muita merda acontecendo no mundo e vocês resolvem mostrar mais
merda ainda? Isso que é teatro? – bravejou outro.
- Por isso mesmo fizemos isso, para fazer vocês pensarem sobre os problemas
do cotidiano. Essa era a intenção! – respondeu a professora.
Tudo estaria acabado ali, se não fosse a mulher louca do turismo aparecer e
começar a gritar:
- Isso é coisa de vagabundo. Assustaram meus turistas e eles todos foram
embora, não querem mais ficar aqui! E o dinheiro que eu tô perdendo? Vão fazer
Teatro em outro lugar!
A professora tentou argumentar com a mulher, mas, por fim decidiu que
deveríamos ir logo embora – mesmo que no meu íntimo eu desejasse que ela tivesse
dado uma resposta à altura da mulher, eu achei a decisão muito sábia e sensata. Nesse
momento, quando me dei conta, Thalia já estava a alguns metros de distância fazendo
um discurso sobre empoderamento feminino e violência contra a mulher.
- ISSO É PRA VOCÊS PENSAREM: QUANTAS MULHERES AINDA TEM QUE
SOFRER PRA PERCEBEREM QUE A VIOLÊNCIA CONTRA NÓS, MULHERES, EXISTE? A
MULHER PODE USAR A ROUPA QUE ELA QUISER! – gritou ela, levantando a mão como
uma líder política. Então os alunos de escolas amontoados por ali gritaram e
aplaudiram, em apoio à gente.
Meus olhos ficaram marejados de lágrimas, eu estava orgulhoso. Por fim, tudo
dera bastante certo (mesmo eu achando que a nossa cena não tivesse sido lá essas
coisas). Nos juntamos e fomos nos retirando do Largo. Thalia se aproximou de mim,
dei um abraço nela e um beijo em seu rosto; afastamos-nos de braços dados. Ainda
deu tempo de eu ver a cara de algumas alunas observando aquilo como se estivessem
se perguntando: Mas eles não estavam brigando ainda agora?
Dei um risinho baixo e apenas me deixei levar junto a meus amigos.

O FIM.

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