Sunteți pe pagina 1din 5

Herberto Helder e o canto como louvor ao amor:

Análise do Poema I de Poemacto


Erasto Santos Cruz1

É difícil definir significados na poética de Herberto Helder. O modo como ele


usa as palavras, a forma como quebra de repente o ritmo dos versos e separa as estrofes,
tudo isso confunde a análise, deixando-nos em um labirinto que parece sem saída,
porém, seus poemas não são para serem analisados como manda a regra. Se usarmos
uma análise mais exterior, dando mais importância ao que está exatamente enunciado,
não seremos capazes de achar significado algum. Para se entender Herberto Helder,
devemos primeiro mergulhar no interior de suas palavras, devemos ir além do que está
escrito, assim como Eduardo Prado Coelho explicita em seu texto Herberto Helder: A
não-separabilidade: “Compreender o discurso poético de Herberto Helder tem a
dificuldade primeira de nos impor o salto para o interior desta rede de espancamentos e
batidas que é a circulação activa de módulos de linguagem. Não é possível compreender
de fora – analiticamente. Mas, quando se vai por dentro, a única compreensão é a dança
da própria inteligibilidade que se faz palavra a palavra – corpo a corpo.” (pag. 323-324).

Tendo as ressalvas acima sido esclarecidas, segue adiante a análise do poema I,


do livro Pomacto, que levará em consideração o canto como louvor ao amor. A análise
deste poema também servirá para se discutir um pouco sobre a poética de Herberto
Helder como um todo.

No poema I de Poemacto, o que mais nos chama atenção é o canto, que aparece
tantas vezes ao longo do poema. A palavra canto pode não se referir a uma canção
propriamente dita, mas também pode se tratar de uma glorificação, uma narração épica,
como na Ilíada, onde os capítulos são divididos por Cantos. Neste aspecto, cantar é
contar atos grandiosos, como a narração da ira de Aquiles, no primeiro Canto da Ilíada:
“Canta-me a cólera – ó deusa – funesta de Aquiles Pelida,...”2. O canto é a expressão
máxima do poeta. É o grito apaixonado ou de ódio, é botar para fora tudo o que se sente.
O canto é um louvor.
1
Doutorando em Estudos Literários e Interculturais na Universidade de Macau
Tradutor Chinês-Português, Mestre em Literatura Portuguesa pela Universidade de São Paulo, Graduado
e Licenciado em Letras - Português/Chinês pela mesma instituição.
2
Homero. Tradução: Nunes, Carlos Alberto. Ilíada. Canto I, pag. 9
1
Na 1ª estrofe, o eu-lírico se mostra muito perturbado e inquieto: “Deito-me,
levanto-me, penso que é enorme cantar,”. É como se algo estivesse retido dentro de si e
tivesse a necessidade de se livrar. Cantar é mostrar: “Uma vara canta branco. / Uma
cidade canta luzes.”. A vara se expressa pela sua cor, o branco; a cidade se mostra
através das suas luzes. Assim como a vara e a cidade, o eu-lírico também quer se
mostrar, mas algo o impede: “Penso agora que é profundo encontrar as mãos. /
Encontrar instrumentos dentro da angústia: / clavicórdios e liras ou alaúdes /
intencionados.”, por isso, procura algum meio para atingir seu objetivo. Nos próximos
quatro versos o motivo do eu-lírico é esclarecido: “Cantar rosáceas de pedra no
nevoeiro. / Cantar o sangrento nevoeiro. / O amor atravessado por um dardo / que
estremece o homem até as bases.”. É o amor frustrado que o sujeito poético quer
expressar, a paixão descontrolada que desnorteia o indivíduo, representada pelo
nevoeiro que sangra, pois nada é visto claramente quando se está completamente
apaixonado. O dardo que atravessa o amor é a ferida sentimental, algo que aconteceu de
errado e culminou na decepção amorosa. É o que faz o homem estremecer e o nevoeiro
sangrar.

O que o eu-lírico canta é o próprio desespero: “Cantar o nosso próprio dardo


atirado / ao bicho que atravessa o mundo.”, e o dardo atirado ao próprio desespero faz
sangrar, o “nome que sangra”, deixando um rastro de sofrimento: “Que vai sangrando e
deixando um rastro / pela culminante noite fora.”. E o canto é o “amor obsessivo” e a
“obsessiva solidão cantante”. O sujeito poético expressa sua solidão, causada pelo amor
obsessivo, e o sofrimento causa depressão: “Deito-me, e é enorme, é enorme levantar-
se,”, e este desespero, esta imensa tristeza o cega, é como Homero, o poeta cego de
Ilíada e Odisséia, é como se o dom de cantar viesse da deficiência, da cegueira.

O eu-lírico engrandece as coisas com sua palavra, pois seu simples ato de dizer
torna-as supervalorizadas: “As casas são fabulosas, quando digo: / casas. São fabulosas
/ as mulheres, se comovido digo: / as mulheres.”. E assim como as cortinas “faíscam
como relâmpagos.”, o eu-lírico canta “as mulheres incendiárias”. A palavra
“incendiária” pode ser uma alusão ao desejo, mulheres cheias de desejo. Esta estrofe é
completamente dionísica, pois, por causa do sentimento de solidão, o sujeito poético
entrega-se totalmente a boemia, embriagando-se e “cantando as mulheres incendiárias”.
Sem muita consciência, e sob o efeito do álcool: “Canta a bebida em mim.”, o canto é
totalmente verdadeiro, sincero: “Veridicamente, eu canto no mundo.”.
2
No ato de desespero, o eu-lírico se entrega à sua loucura, ao copo e a bebida que
cantam em sua boca, e com uma atitude totalmente passiva, diz: “Que falem depressa.
Estendam-se / no meu pensamento.”. Ele parece aceitar completamente a influência da
bebida: “Mergulhem a voz na minha / treva como uma garganta.”. É o álcool que o dá
força para falar, que o dá voz. É interessante notarmos a inversão que o poeta faz das
imagens de “treva” e “garganta”. A voz é mergulhada na treva que é como uma
garganta, e não o contrário, que seria mais fácil supor. Este jogo com as imagens é
muito recorrente na poesia de Herberto Helder, pois somente com a linguagem, muitas
vezes, não se é capaz de alcançar o que realmente se queria dizer. Como diz Octavio
Paz no seu texto Imagem do livro Signos em Rotação: “A imagem diz o indizível: as
plumas leves são pedras pesadas. Há que retornar à linguagem para ver como a imagem
pode dizer o que, por natureza, a linguagem parece incapaz de dizer.” (pag. 44). Esta
inversão de comparação intensificava o sentimento do sujeito poético, sua angústia é tão
grande bebe descontroladamente, pois sua garganta é como se fosse um buraco sem
fundo, mergulhado nas trevas, porém, a intensidade é tal, que o que o sujeito poético
tem não e uma garganta, mas sim uma treva que se parece com uma. A voz que é
mergulhada pela bebida é a lembrança da amada, que é a causa da embriaguês, do
desespero que o atormenta: “Porque eu tanto desejaria acordar / dentro da vossa voz
na minha boca.”. A idealização da amada é tanta que ela é comparada coma essência de
uma estrela: “Agora sei que as estrelas são habitadas. / Vossa existência dura e quente /
é a massa de uma estrela.”. A comparação com a estrela também pode demonstrar a
distância do eu-lírico em relação à amada, que se torna inalcançável. E a vontade do
sujeito poético é viver para esta estrela, nos arredores, mantendo-a sempre perto:
“Porque essa estrela canta no sítio / onde vai ser a minha vida.”. A amada é tão
importante que se torna a própria vida do eu-lírico.

Na quinta estrofe, o sujeito poético pede a sua amada que continue a queimar
suas noites em honra ao seu amor. Não importa a motivação da amada, o eu-lírico
continua a idealizá-la mesmo sem ser correspondido, pois “o amor é forte” e está acima
da rejeição, mas o amor também é loucura cujas todas as portas nos conduzem ao seu
interior. Eis o porquê do desespero do sujeito poético, da solidão e embriaguês, do canto
desesperado, pois é a loucura que o domina, o amor sem controle. Nos próximos versos
desta estrofe, cada coisa canta um objeto, e o cantar é a função destas coisas: “As
cadeiras cantam os que estão sentados. / Cantam os espelhos a mocidade / a adjectiva

3
dos que se olham.”, e o sujeito poético, cegado pela loucura que é o amor, canta o
próprio amor, canta na sua loucura desesperada e cega: “Estou inquieto e cego. Canto.”
Mas quem canta o eu-lírico é a morte, pois a função da morte e fazer morrer. A morte
chama pelo eu-lírico. Tudo canta. O ponto alto da estrofe culmina no último verso, que
é o ato de cantar: “É um canto absoluto.”

A sexta estrofe é cheia de imagens: colina, escada de estrelas, nata, flecha. O


sujeito poético se imagina se metamorfoseando em todas elas, mas o cume de sua
metamorfose é quando seu corpo se torna “Objecto cantante”, que por sua vez, é o
objeto do canto da morte: “Corpo com sua morte que canta.”. Não é possível procurar
um real significado nestas transformações, pois, como explica o próprio Herberto
Helder em seu texto Teoria das cores do livro Os passos em volta, há apenas uma lei
abrangendo tanto o mundo das coisas quanto o da imaginação, a lei da metamorfose.
Tudo se transmuta, não é necessário se saber o porquê, apenas que é assim que acontece.
A imagem da “colina com vozes” e da “escada de estrelas” são subterfúgios para que o
eu-lírico possa ir cada vez mais alto, afim de que seu canto alcance a morada de sua
amada, as estrelas. A “espessa nata cantante” é a essência do poeta, “que canta flecha.”,
ou seja, é um canto certeiro, decisivo, pois a morte está à espreita: “Imagino a minha
voz total da morte.” Tudo no mundo canta, e o canto é o mais importante das coisas:
“Porque tudo canta, e o canto é enorme.”. O canto até mesmo maior que a própria
morte.

Na sétima estrofe o sujeito poético começa a imaginar o toque da morte:


“Imagino a delicadeza. A subtileza. / O toque quase aéreo, quase / aereamente brutal.”.
E as lembranças o machucam muito: “Ser tocado pelas vozes como ser ferido / pelos
dedos, pelos rudes cravos / da planície.”. Mas para o eu-lírico, a morte é acordar, e o
canto é como se fosse uma saída do subterrâneo de seus sofrimentos: “Ser acordado,
acordado. / Porque cantar é o subterrâneo.”. As vozes é que são escadas, pois é através
delas que se alcançará o canto, que, por fim, purificará o corpo: “Imagino que as vozes
são escadas. / Vozes para atingir o canto. / O canto é o meu corpo purificado.”.

E é também através do canto que o eu-lírico alcançará a morte de seu corpo,


“tocada incendiariamente.”. A morte é, na verdade, o próprio amor. Amar cegamente
como o sujeito poético está amando é morrer, é o ápice do amor: “A morte - diz o canto
– é o amor enorme. / É enorme estar cego.”. E, por fim, parece que o eu-lírico
finalmente aceita a morte, pois, no final, tudo é só silêncio: “Reluzir ao alto pelo
4
silêncio dentro. / O silêncio canta alojado na morte.”. Mas, para a nossa surpresa, o
último verso é o mesmo que o primeiro, o poema conclui assim um ciclo, terminando
assim como começou. É o ciclo de sofrimento da paixão, do amor desesperado e não
correspondido. É como se o amor extremo causasse uma enorme sensação de morte, e é
o amor/morte que o sujeito poético louva com seu canto, é a sua epopéia que está sendo
narrada.

Um poema cheio de imagens confusas, trocadilhos de palavras, comparações que


parecem impossíveis a primeira vista. Assim é a linguagem poética de Herberto Helder,
cheia de mistérios à espera de serem desvendados. Basta a cada um de nós, leitores,
mergulhar neste labirinto cheio de armadilhas, e um bom conselho talvez seja: usar
menos a lógica e mais as sensações.

Bibliografia

Helder, Herberto. In: Poesia Toda. Assirio & Alvim. 1ª Edição, 1996.

Helder, Herberto. Teoria das cores, In: Os passos em volta.

Coelho, Eduard Prado. Herberto Helder: A não-separabilidade, In: O Cálculo das


Sombras. Asa Literatura.

Paz, Octavio. A Imagem, In: Signos em Rotação. Perspectiva.

S-ar putea să vă placă și