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Olavo de Carvalho
Nos últimos anos, a economia americana caiu do primeiro lugar para o sétimo na escala
de competitividade do Fórum Econômico Mundial. O desemprego, que em 2008 não passava
muito de quatro por cento, já está acima de oito, e a criação de novos empregos é cada vez
mais lenta. Comparando números, o colunista Donald Lambro, do Washington Times, conclui
que o desempenho do presente governo americano na área trabalhista é o pior desde a II
Guerra Mundial (veja o link). Em compensação, Obama foi o recordista absoluto na
distribuição de dinheiro do governo não só aos pobres como também aos ricos – incluindo um
vistoso leque de empresas falidas por má administração e fraudes, em geral pertencentes a
seus contribuintes de campanha. Para isso, sobrecarregou o Estado de mais dívidas do que
todos os seus antecessores somados, desde George Washington. É um fracasso colossal, dizem
os analistas econômicos. Mas, os utilitaristas que me perdoem, a racionalidade econômica não
é a motivação última dos atos humanos. O que do ponto de vista econômico parece um
absurdo pode ser politicamente lógico e sensato, ao menos no sentido maquiavélico da coisa.
Um artigo excelente do comentarista Ira Stoll no New York Sun mostra que as melhores
chances de sucesso do candidato democrata nas eleições de novembro repousam
precisamente no descalabro da sua política trabalhista: na primeira gestão Obama, o número
das pessoas que vivem de ajuda governamental começou a superar, pela primeira vez na
história americana, o das que trabalham e pagam impostos. Hoje são 46,7 milhões de
americanos que recebem vale-alimentação, 8,7 milhões de estudantes bolsistas, mais 7,6
milhões de empregados estatais sindicalizados. Total: 63 milhões de obamistas compulsivos.
Quatro milhões acima do número de votos obtidos por John McCain em 2008.
Será especulação psicótica, será “teoria da conspiração” suspeitar que houve alguma
premeditação por trás de um fracasso tão benéfico à pessoa do seu autor? Não, quando se
leva em conta o seguinte fato: o único emprego que Obama teve na vida, o único ramo de
atividade no qual adquiriu alguma experiência, foi o de “organizador comunitário” empenhado
na aplicação da estratégia Cloward-Piven. E essa estratégia consiste, de alto a baixo, na arte de
fomentar o desastre econômico para tirar dele proveitos políticos. Expliquei isso num artigo de
2009 publicado neste mesmo Diário do Comércio. Que pode haver de tão inverossímil em
supor que, na presidência, o homem fez a única coisa que comprovadamente sabe fazer?
Aí reside também a diferença entre ele e o seu modelo brasileiro. Lula, para implantar o
monopólio político da esquerda e corromper a sociedade inteira, teve de manter a economia
funcionando razoavelmente e fazer o possível para cortejar o empresariado, dessensibilizando-
o para tudo o que se passasse fora do círculo de seus interesses mais imediatos.
Outra diferença é a posição dos EUA no cenário internacional, que tinha de ser corroída
mediante cortes no orçamento militar e o favorecimento inicialmente discreto, depois
explícito, às forças inimigas que se levantavam contra governos aliados ou neutros. O
assassinato do embaixador americano na Líbia, sincronizado com manifestações anti-
americanas na Tunísia, no Iêmen, no Irã e no Egito (onde, para cúmulo, os marines que
guardam a embaixada continuam proibidos de portar munição de verdade), é o símbolo
condensado da lógica que orienta toda a política do governo Obama. Essa lógica resume-se na
simples aplicação local do mandamento globalista: enfraquecer os Estados no plano
internacional e fortalecê-los no plano interno. Dito de outro modo: desarmá-los contra seus
inimigos e armá-los contra suas próprias populações, de modo a fazer deles os cães-de-guarda,
ao mesmo tempo dóceis e implacáveis, da nova ordem global. De sob as cascas dos velhos
Leviatãs nacionais começa a erguer-se, majestosamente sinistro, o Leviatã planetário.