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Oscilação de humor
Pessimismo
Desesperança
Desespero
Desamparo
Intensa raiva
Desejo de vingança
Fazer um testamento
“Vou me matar.”
“Eu sou mesmo um fracassado e inútil. Tudo seria melhor sem mim.”
10- Como agir caso meu filho ou filha apresentar algum desses sinais?
A saída, segundo Mário Corso, é que os pais consigam se manter próximos dos filhos, superando
o obstáculo da construção da autonomia por parte dos adolescentes.
“Os sinais externos, se tu não está ali, tu não vai pegar. Mas uma das tarefas da adolescência é poder se virarsem os
pais. Como tu respeita isso e ao mesmo tempo consegue ficar um pouco perto deles para saber o que está
acontecendo?Éumdesafioquenãotemreceitapronta.”
Quando a situação aparentar a necessidade de intervenção, a recomendação da OMS é que as
pessoas próximas procurem um momento de tranquilidade para conversar com o ou a adolescente
sobre suicídio. O importante, nesse momento, é ouvir com a mente aberta e não oferecer
julgamentos ou opiniões vazias. Só assim a pessoa se sentirá acolhida e a ajuda poderá surtir efeito.
Tanto os psiquiatras quanto os psicólogos poderão ajudar, nas suas respectivas áreas, no
atendimento a esse adolescente. "Os dois [remédio psiquiátrico e psicoterapia] devem andar
juntos", explica Mário Corso.
"O remédio auxilia muito mesmo, em casos graves de depressão e de angústia. Nesses dois pontos
ele faz maravilhas, porque ele te dá condições de o tratamento funcionar. Mas a raiz da depressão
é o comportamento. A causa não é química, mas o efeito é químico. Qualquer neurose tem uma
correspondência cerebral", explica ele.
Para quem não pode pagar por atendimento psicológico ou psiquiátrico, o Sistema Único de Saúde
(SUS) oferece o serviço por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).
Link: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidio-de-adolescentes-saiba-como-pais-e-
educadores-podem-trabalhar-a-prevencao.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=share-
bar-desktop&utm_campaign=share-bar Acesso em: 05/05/18
Suicídios de adolescentes: como entender os motivos e lidar com o fato que preocupa pais e
educadores
Dois casos recentes em SP levaram pais a discutir como tratar o tema com os adolescentes, onde
procurar ajuda e como prevenir.
O que se sabe sobre as relações entre transtornos mentais e as causas dos suicídios.
Reação das escolas após mortes em SP indica caminhos para lidar com o tema.
No Brasil, em 2016, foram registrados 845 suicídios de adolescentes – o número foi 0,7% menor
que em 2015 e representa 8% dos casos de suicídio no país, que naquele ano ficaram em 10.575.
Suicídios no Brasil
Porcentagem de acordo com a faixa etária
Crianças (5 a 9 anos) : 0,04Adolescentes (10 a 19 anos): 8,02Adultos (20 até 59 anos):
74,46Idosos: 17,26Idade ignorada: 0,22
Fonte: Ministério da Saúde
Apesar dos números, a prevenção do suicídio avança. Na década de 1980, estudo nos EUA
afirmavam que essas mortes poderiam ocorrer por imitação. E esse trabalho reforçou a ideia de
que "não podemos falar sobre o assunto". Mais de 30 anos depois, a Organização Mundial da
Saúde vai na direção contrária, dizendo que, sim, precisamos conversar sobre o suicídio.
"Não é proibido falar, só não podemos falar de forma errada. Não podemos glamourizar, nem
ensinar técnicas", diz o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente eleito da Associação
Psiquiátrica da América Latina (APAL).
OS DILEMAS DA IDADE
Se por um lado os adolescentes não são os que mais se matam, por outro a Organização Mundial
da Saúde (OMS) aponta o suicídio como a segunda maior causa de mortes nessa época da vida.
Na cabeça de pais e educadores surgem as dúvidas: redes e universo digital, cobranças em casa e
na escola, álcool, drogas, bullying... Não existe um motivo em comum entre todos os casos, mas a
maioria deles está ligada de alguma forma a transtornos mentais, como a depressão. Vale lembrar
que nem sempre a causa do transtorno é um problema de desequilíbrio químico – a saúde mental
de uma pessoa pode ser afetada, por exemplo, pelo consumo excessivo de substâncias como álcool
e drogas. Esse fator afeta todas as faixas etárias, mas entre os adolescentes ele ocorre em cenários
específicos.
De acordo com o psiquiatra Elton Kanomata, do hospital Albert Einstein, um primeiro ponto da
diferença entre os adolescentes e outras faixas etárias é que eles ainda estão concluindo seu
desenvolvimento cerebral.
Suicídio é a segunda maior causa de mortes entre adolescentes, segundo a OMS (Foto:
Frédéric Cirou/AltoPress/PhotoAlto/AFP/Arquivo)
“Toda a parte mental deles está em desenvolvimento. A questão da resiliência e da capacidade de lidar com as
frustraçõespodemnãoestarprontas”,afirma.
O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva corrobora a tese e vai além, lembrando que o cérebro está
em formação até os 22 ou 23 anos de idade.
“Nós estamos expondo esses cérebros em formação a vários tipos de estressores. (...) Isso leva à predisposição do
aparecimentodedoençasmentais,comoadepressão”,diz.
Álcool e drogas
Referência na área, um estudo dos cientistas José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann
publicado há mais de 15 anos no periódico científico "World Psychiatry", do Associação Mundial
de Psiquiatria, até hoje é citado por especialistas – incluindo os entrevistados pelo G1.
Os pesquisadores analisaram os dados de 15 mil pessoas que se mataram em todo o mundo, entre
1959 e 2001. A conclusão: o maior percentual dos casos estava ligado à depressão (35,8%) e, em
segundo lugar, estavam os transtornos decorrentes do abuso de substâncias lícitas, como o álcool
e o cigarro, e também das ilícitas.
Transtornos detectados em suicidas
Dados foram extraídos de pesquisa com mais de 15 mil pacientes
Distúrbios de humor, como a depressão: 35,8Transtornos por abuso de substâncias:
22,4Esquizofrenia: 10,6Distúrbios de personalidade: 11,6Ansiedade: 6,1Outros: 13,5
Fonte: José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann
Em um cérebro totalmente desenvolvido, o excesso dessas substâncias já contribui de uma maneira
negativa, de acordo com os psiquiatras. No caso dos adolescentes, pode ser ainda pior. É um dos
motivos para a proibição da venda pela indústria nesta faixa etária.
“O uso de substâncias é o segundo fator que mais contribui para o suicídio, tanto por uma questão da alteração de
humor devido ao uso, tanto quanto pelo uso agudo que, às vezes, podem levar a uma psicose induzida”, disse
Kanomata.
Há, ainda, a suspeita de que alguns antidepressivos possam influenciar o "impulso" suicida. Não
há um consenso entre especialistas, mas as bulas da maioria dos medicamentos trazem a
informação de que "casos isolados de ideação e comportamentos suicidas foram relatados durante
o tratamento".
Segundo Kanomata, é preciso confirmar se esses casos isolados devido ao consumo de
antidepressivos tinham uma causa direta: tomou remédio e teve uma reação adversa que trouxe o
impulso suicida.
Há também outra hipótese: a ação antidepressiva, de melhorar o humor, leva de duas a quatro
semanas para ter efeito na maioria dos remédios, segundo os psiquiatras. Enquanto isso, a melhoria
da parte física, do vigor do paciente, já ocorre pouco tempo após as primeiras doses.
É neste momento de recuperação do vigor físico, mas não da saúde mental, que os médicos
avaliam que pode ocorrer a tentativa de suicídio. Por isso, é necessário um acompanhamento de
perto, além de tratamento psicoterápico constante na fase em que o remédio ainda não começou a
agir totalmente.
Proteção e bolha
Mário Corso, psicanalista de Porto Alegre, concorda que o problema do suicídio na adolescência
é composto de muitos fatores e diz que, além dos itens já bastante mencionados, como a formação
do cérebro, o momento da vida de aprender a viver sem os pais, da pressão por definir uma carreira
e dos hormônios típicos dessa faixa etária, o contexto dessa atual geração de jovens também deve
ser levado em conta.
Pressão da escola pode desencadear transtornos mentais em adolescentes (Foto:
Voisin/Phanie/AFP/Arquivo)
“É na adolescência que o sujeito se dá conta do mundo onde ele vive. Como a infância é cada vez mais protegida, é
umagrandebolha,existeumdegraumuitoaltoentreasaídadainfânciaeachegadanomundoadulto,queacontece
naadolescência.”
Segundo Corso, não é ruim a infância ser um momento de superproteção às crianças, mas um dos
efeitos colaterais é que o adolescente não cria "anticorpos para suportar o mal-estar civilizatório",
especialmente no mundo atual, onde a impressão é de crise generalizada.
"É um lugar muito sem utopia, sem esperança, e assim dá um desespero. É uma depressão típica
da adolescência, você se dá conta do peso do mal-estar no mundo, e isso varia conforme o ambiente
político e cultural."
SUICÍDIO: EM BUSCA DE EXPLICAÇÕES
Para aqueles que perderam alguém, é comum o relato das dificuldades para encontrar uma
"justificativa" para o ato. Eles também apontam que não é fácil identificar transtornos e sinais, até
mesmo com ajuda profissional. “A gente achava que era coisa da adolescência”, conta Terezinha
do Carmo Guedes Máximo, de 45 anos.
Marina, a filha de Terezinha, se matou aos 19 anos, depois passar por diferentes fases desde os 16
anos: houve um período em que a família julgava que a irritação era efeito da Tensão Pré-
Menstrual, as automutilações estavam ligadas a um possível diagnóstico de Boderline. Durante
vários meses, a jovem passou por diversos psiquiatras, foi atendida por dois profissionais
psicoterapeutas e também tomou medicação de forma controlada, além do constante
acompanhamento, para não ficar sozinha.
A família via sinais de melhora e confiava que era "questão de tempo" até ela superasse o quadro
depressivo, mas mesmo assim ela tirou a própria vida. "Ela não quis estar aqui. O desespero dela
era tão grande que ela preferiu ir para alguma coisa que ela não sabe o que era. A parte mais difícil
é reaprender a viver sem a pessoa, e ter certeza de que você não teve culpa", desabafa Terezinha.
O que é um conjunto de dúvidas para os "sobreviventes enlutados" ganha certa clareza para a
ciência atual. A depressão é apontada como o principal transtorno sofrido pelos suicidas, mas isso
não significa que todo depressivo é um suicida em potencial, nem que todo suicida sofria de
depressão.
A solução para isso, segundo Antônio Geraldo da Silva, seria acabar com o preconceito e o medo
de falar de doenças como a depressão. E ampliar o acesso ao tratamento na rede pública. Mas não
somente da depressão: também o alcoolismo, a ansiedade, a esquizofrenia e a Síndrome de
Borderline (caracterizada por instabilidade de humor, de comportamento e de relacionamento).
ESCOLAS APRENDEM O SIGNIFICADO DA POSVENÇÃO
Os casos recentes no Colégio Bandeirantes, em São Paulo, também levaram para as salas de aula
o debate sobre como lidar com um tema que é tabu. E sobre como fazer a posvenção, ou seja, o
trabalho de apoio para quem está em luto e afetado por um suicídio.
Depois dos episódios, o Bandeirantes afirmou em nota que "conta com a assessoria de uma das
maiores especialistas de prevenção ao suicídio do país e, desde o primeiro acontecimento, tem
realizado diversas ações direcionadas aos alunos, bem como à equipe pedagógica e aos
funcionários para lidar com o ocorrido".
Em entrevista ao G1, Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga contratada pelo colégio, afirma que
os dois casos só têm em comum o fato de envolverem a mesma escola, e diz que não houve
"suicídio por contágio". Mesmo assim, os acontecimentos fizeram com que a procura de pais pelas
palestras sobre o assunto, oferecidas por ela, tenha sido mais que o dobro do esperado. "Em 20
minutos esgotamos todas as vagas", disse ela.
Dedicada ao estudo do suicídio há nove anos, Karina explica que família e escola têm papéis
diferentes e complementares na formação dos adolescentes. Segundo Karina, o professor alertar
os pais quando um aluno começa a apresentar mudança de comportamento, humor ou rendimento
acadêmico é um dos exemplos de integração que ajuda na prevenção.
Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere, afirma, porém, que a formação dos educadores e
inclusive dos psicólogos que atuam nas escolas ainda não contempla os conhecimentos necessários
para o trabalho de prevenção ao suicídio. Ela afirma que o Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo aborda o suicídio em uma de suas disciplinas, mas que o tema é abordado com mais
frequência em palestras pontuais. "E eu não conheço nenhuma faculdade de pedagogia que tenha
disciplina de prevenção e posvenção de suicídio."
Por isso, segundo ela, a demanda pelos serviços de organizações dedicadas especificamente ao
assunto cresce sempre que um caso atinge uma escola, ou quando o suicídio invade a opinião
pública, como ocorreu com o "Desafio da Baleia Azul" e com a série "Treze razões porquê".
Nas escolas, Karina Fukumitsu afirma que um protocolo de posvenção deve ser implantado
quando um caso de suicídio entre os estudantes é registrado, mesmo que o fato não ocorra dentro
da instituição. O trabalho, segundo ela, deve ser feito tanto com os colegas da sala do estudante
quanto com os demais alunos da escola, além dos professores e funcionários.
Em vez de aulas normais, a primeira etapa é reunir os colegas em uma roda de conversa, para
escutar o que cada um está sentindo.
"Elesprecisamlidarcomoesvaziamento,inclusivedacarteiradapessoa.Àsvezes,quandoumapessoasemata,elase
tornamaispresentedoqueeraantes.Éuma'presençaausente'queacontecedepoisdosuicídio."
Na hora da conversa, é importante não deslegitimar o sentimento de cada um, ressalta Karina. "O
que costumo falar é que está todo mundo em carne viva. A gente vai recolher esses escombros e
criar estratégias unidos, porque é isso que faz diferença: estar junto nessa situação."
Karen Scavacini, do Vita Alere, lembra que, por causa da faixa etária, o suicídio entre adolescentes
é especialmente sensível porque, para muitos, será o primeiro luto. Por isso, após um primeiro
momento de trabalho em grupo, os professores, orientadores e demais profissionais da escola
devem manter a atenção para identificar os estudantes mais vulneráveis e alertar os pais, para que
eles possam oferecer auxílio individualizado.
No entanto, Karina ressalta que não é o caso de se falar em "suicídio por contágio".
"Nãoéqueosuicídiodeumapessoavaiinduzirosuicídiodooutro.Osuicídiodeumapessoadaescola(...)podeatingir
umapessoaquejáestávulnerávelepropensaasematar”,explica.
Para ela, cada caso é o ápice de um processo interno de alguém que já está “definhando
existencialmente”.
O psicanalista Mário Corso completa dizendo que, se um adolescente se mata, a escola deve falar
sobre suicídio, mas sem romantizá-lo. “Depois que se suicidou, parece que ele tinha uma
mensagem, fica uma leitura a posteriori para o caso. A gente fica tomado nessa ideia do suicida
como herói romântico. Mas viver é que é difícil. Heroísmo é sobreviver, é ficar no mundo e ajudar
os outros, não ir embora.”
Link: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidios-de-adolescentes-como-
entender-os-motivos-e-lidar-com-o-fato-que-preocupa-pais-e-educadores.ghtml Acesso
em: 05/05/18.