Sunteți pe pagina 1din 14

Suicídio de adolescentes: saiba como pais e educadores podem trabalhar a prevenção

Em 10 perguntas e respostas, G1 reúne as principais dúvidas sobre os suicídios. Debate ganhou


destaque depois de dois casos de suicídio entre alunos de um colégio de SP.
Dois casos recentes de suicídio entre alunos de um colégio particular de São Paulo levantaram o
debate sobre as maneiras de lidar com o tema. Como evitar? Existe algum sinal? Como conversar
com meu filho se eu acho que ele está mal? Como conversar se ele é colega de alguém que se
suicidou?
O G1 ouviu psicanalistas, psiquiatras e especialistas no assunto para tentar ajudar pais, professores
e amigos a tratarem do assunto:
1- É normal adolescente ter depressão?
Especialistas explicam que existe um tipo de depressão típica da adolescência, mas que não
necessariamente configura uma doença ou transtorno mental. Ela faz parte dos processos de
mudanças fisiológica e emocional dessa faixa etária, quando as crianças fazem a transição para a
vida adulta e, nesse período, passam pela busca da autonomia no mundo sem o apoio integral de
seus pais, além de experiências de descoberta e conflitos relacionados ao autoconhecimento e à
construção de sua identidade, definição da profissão, exploração da sexualidade etc.
O psicanalista Mário Corso, especialista no atendimento a adolescentes, explica que é justamente
nessa fase que o adolescente entra em contato com o “mal estar da civilização”.
Segundo ele, nessa época da vida as pessoas se dão conta de que o mundo “é um lugar muito sem
utopia, sem esperança", o que pode provocar o desespero. "É uma depressão típica da adolescência,
você se dá conta do peso do mal estar no mundo, e isso varia conforme o ambiente político e
cultural", diz ele, ressaltando que, atualmente, o Brasil e vários países do mundo experimentam
momentos de perspectivas pessimistas.
2- Dá para diferenciar sintomas de depressão e da adolescência?
De acordo com Corso, nem sempre, já que muitos deles são os mesmos.
“Fora alguém dizer que pensa em se matar, todos os sinais são sinais típicos da adolescência: ele está mais irritado,
ganha peso, perde peso, fica apático. Qual é o adolescente que não tem [um desses sintomas]? Alguns suicidas
escondemmuitobem.Nãotemnenhumtermômetroeficaz.”
A chave, segundo os especialistas, é manter um canal de diálogo aberto com os filhos, para que a
observação seja mais eficaz (leia dicas mais abaixo).
3- Todo suicídio é um resultado da depressão?
Não. “O suicídio vem em vários quadros clínicos e às vezes não tem nada a ver com a depressão”,
ressalta Corso.
“Pode ser uma psicose. Nesse caso, o sujeito não édeprimido. E às vezes a depressão é uma defesa contra o suicídio.
Parecequenãotemsentido,mastem."
Segundo o psiquiatra Elton Kanomata, do hospital Albert Einstein, há ainda outros fatores que
podem aumentar a chance de depressão. Um deles é a predisposição genética – independente da
idade. No entanto, só isso, de forma isolada, não deve fazer uma pessoa tentar se matar.
“São questões natas da própria pessoa, questões de personalidade, de afetividade, e outros comportamentos. Uma
somadisso,deumaformabemcomplexa,levaaosuicídio”,disseKanomata.
Alguns grupos de adolescentes também acabam ficando mais vulneráveis a desenvolver um
quadro depressivo por questões sociais. Uma pesquisa publicada em dezembro de 2017analisou a
resposta de 15 mil adolescentes no ensino médio sobre se eles já haviam considerado seriamente
o suicídio, se já haviam planejado se matar ou se já haviam tentado tirar a própria vida.
De acordo com o estudo, 40% dos adolescentes LGBTs consideraram seriamente o suicídio, 35%
planejaram e 25% tentaram se matar, contra 15%, 12% e 6% dos heterossexuais, respectivamente.
A Associação Americana de Psiquiatria já demonstrou que “os riscos associados a qualquer
tratamento coercitivo e violento contra homossexuais incluem depressão, suicídio, ansiedade,
isolamento social e diminuição da capacidade de intimidade.” Atacar as causas sociais, nesse caso,
também é uma forma de prevenção.
4- O suicídio então é resultado do quê?
Os especialistas divergem em relação aos processos que podem levar ao suicídio.
Corso explica que é "uma cilada" ligar todos os casos de suicídio à depressão. "A gente costuma
pensar no suicídio como o ponto mais fundo de uma depressão, como se houvesse um processo
gradual no sujeito, que vai se aproximando de uma depressão e o suicídio", diz ele.
Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga e suicidologista, acredita que o suicídio é o ápice do que ela
chama de "processo de morrência", em que a pessoa "já está se sentindo desgostosa da vida, sem
sentido, e vai definhando existencialmente".
5- Se um suicídio acontece, de quem é a culpa?
Apesar de a Organização Mundial da Saúde (OMS) dizer que a maioria dos suicídios poderia
ter sido evitada se houvesse tratamento adequado, os especialistas evitam endossar esse discurso
porque ele carrega uma ideia de culpabilidade.
A corretora de seguros Terezinha do Carmo Guedes Máximo, de 45 anos, está no processo de
entender que não tem culpa por perder a filha Marina há pouco mais de um ano. A garota tirou a
própria vida quando tinha 19 anos, em meio a vários meses de tratamento com diversos psiquiatras
e psicólogos. "Ela estava em acompanhamento com dois [psicólogos], não era só um. Fazia até
sessão de hipnose", disse a mãe, que administrava os remédios psiquiátricos de Marina e os
guardava em um local secreto, além de nunca deixar a filha sozinha.
Mesmo assim, Marina dava sinais de que estava melhorando, falava sobre planos para o futuro,
para o carnaval que estava próximo. "Ela estava gostando da terapia, era só questão de tempo para
ficar tudo bem", diz Terezinha. Porém, quando conseguiu ficar a sós durante uma hora, a
adolescente providenciou a própria morte.
"Apartemaisdifíciléreaprenderaviversemapessoa,etercertezaquevocênãoteveculpa.Oquepeganagenteéa
culpa."
6- É possível evitar o suicídio de alguém?
A pergunta não encontra resposta pronta. Os dados da OMS sobre suicídios que podem ser
evitados são baseados em um estudo se debruçou sobre os detalhes de 15 mil suicídios e concluiu
que, em 98% dos casos, a vítima tinha algum transtorno mental, o que indica que a morte poderia
ter sido evitada caso a pessoa recebesse o tratamento adequado.
O problema é que oferecer o tratamento adequado é uma ideia mais fácil de defender do que de
efetivamente colocar em prática. Isso porque cada caso tem sua subjetividade própria, todos
envolvem uma série de fatores e o tratamento, tanto com remédios psiquiátricos quanto com
psicoterapia, leva tempo para surtir efeito.
Karina se dedica ao tema há 25 anos, mas reconhece a dificuldade de lidar com o tema. “Tenho
filhos, sou estudiosa de suicídio, mas não quer dizer que vou conseguir evitar se meu filho quiser
se matar. Gostaria? Sim, mas é complicado”, explicou ela em entrevista ao G1.
“Dáparaprevenirosuicídio,masnãodáparaprever.Prevençãoédiferentedeprevisão.”
7- Se prever um suicídio é impossível, como posso preveni-lo?
Mais uma vez, os especialistas explicam que não existe uma receita pronta nesse caso, mesmo em
se tratando de pessoas a quem assistimos crescer dentro da nossa própria casa. Para Mário Corso,
é uma tarefa desafiadora identificar sinais de que um filho adolescente está sofrendo de uma
angústia ou depressão mais profunda do que as típicas alterações dessa faixa etária.
Karina Fukumitsu diz que é preciso avaliar mudanças de comportamento. E ver se nelas há sinais
de que algo grave e não característico da idade está acontecendo. Um adolescente que veste roupas
de manga comprida e capuz mesmo durante verões quentes não necessariamente está escondendo
algo, mas os pais podem ficar atentos em busca de indícios de automutilação e cortes nos braços,
pernas, barriga ou pescoço, por exemplo.
“É uma necessidade deles também, de encontrarem o estilo próprio. Porém, comece a prestar atenção: Se houver
automutilação,jáéumprocessodequemestápedindosocorro”,disseela.
8- Manter meu filho em casa o protege de incentivos ao suicídio?
Não. Mesmo em casa, os adolescentes podem ter acesso a conteúdos e pessoas pela internet que
valorizam a morte e podem atuar, direta ou indiretamente, como facilitadores do desejo de morrer.
“Tem que se aproximar e dar uma olhadela, qual é o conteúdo que estão jogando, com quem estão
conversando”, recomenda Karina.
Há uma década, um paciente de 16 anos atendido por Mário Corso tirou a própria vida em casa,
depois de pedir auxílio a um fórum na internet sobre métodos eficazes de suicídio. Segundo ele,
hoje em dia o risco que a internet oferece aos depressivos é o mesmo, mas uma melhora é o fato
de cada vez mais pais terem a consciência desse perigo.
“O que mudou agora é o alerta", diz ele, ressaltando ainda que a internet potencializa o bullying.
“As pessoas estão sedando contade que o bullying hoje está pior. Antes era na escola, a pessoa sofria, mas depois ia
paracasa.Agoraelenãopara,nãoparanunca,éuminferno.”
9- Há uma lista de sinais comuns aos quais devo prestar atenção?
Sim. Em seus cursos, Karina compilou, a partir de diversos estudos, quatro listas diferentes de
sinais comportamentais e verbais que podem ser diretos ou indiretos. Veja abaixo:
COMPORTAMENTAIS DIRETOS
 Tentativas de suicídio anteriores

 Mudanças repentinas de comportamento

 Ameaça de suicídio ou expressão/verbalização de intenso desejo de morrer


 Ter um planejamento para o suicídio

 Sinais observáveis de depressão

 Oscilação de humor

 Pessimismo

 Desesperança

 Desespero

 Desamparo

 Ansiedade, dor psíquica, estresse acentuado

 Problemas associados ao sono (excessivo ou insônia)

 Intensa raiva

 Desejo de vingança

 Sensação de estar preso e sem saída

 Isolamento: família, amigos, eventos sociais

 Mudanças dramáticas de humor

 Falta de sentido para viver

 Aumento do uso de álcool e/ou outras drogas

 Impulsividade e interesse por situações de riscos


COMPORTAMENTAIS INDIRETOS
 Desfazer-se de objetos importantes

 Conclusão de assuntos pendentes

 Fazer um testamento

 Despedir-se de parentes e amigos

 Casos extremos de irritabilidade, culpa e choro

 Fazer carteira de doação de órgãos

 Comprar armas, estocar comprimidos

 Fazer seguro de vida

 Colocar coisas em ordem


 Súbito interesse ou desinteresse em religião

 Fechar a conta corrente


VERBAIS DIRETOS
 “Eu quero morrer.”

 “Gostaria de estar morto.”

 “Vou me matar.”

 “Se isso acontecer novamente, prefiro estar morto.”

 “A morte poderá resolver essa situação.”

 “Se ele não me aceitar de volta, eu me matarei.”

 “Quero sumir. Não aguento mais! Só morrendo mesmo para aguentar.”


VERBAIS INDIRETOS
 “Se isso acontecer novamente, acabarei com tudo.”

 “Eu não consigo aguentar mais isso.”

 “Você sentirá saudades quando eu partir.”

 “Não estarei aqui quando você voltar.”

 “Estou cansado da vida, não quero continuar.”

 “Tudo ficará melhor depois da minha partida.”

 “Não sou mais quem eu era.”

 “Logo você não precisará mais se preocupar comigo.”

 “Ninguém mais precisa de mim.”

 “Eu sou mesmo um fracassado e inútil. Tudo seria melhor sem mim.”
10- Como agir caso meu filho ou filha apresentar algum desses sinais?
A saída, segundo Mário Corso, é que os pais consigam se manter próximos dos filhos, superando
o obstáculo da construção da autonomia por parte dos adolescentes.
“Os sinais externos, se tu não está ali, tu não vai pegar. Mas uma das tarefas da adolescência é poder se virarsem os
pais. Como tu respeita isso e ao mesmo tempo consegue ficar um pouco perto deles para saber o que está
acontecendo?Éumdesafioquenãotemreceitapronta.”
Quando a situação aparentar a necessidade de intervenção, a recomendação da OMS é que as
pessoas próximas procurem um momento de tranquilidade para conversar com o ou a adolescente
sobre suicídio. O importante, nesse momento, é ouvir com a mente aberta e não oferecer
julgamentos ou opiniões vazias. Só assim a pessoa se sentirá acolhida e a ajuda poderá surtir efeito.
Tanto os psiquiatras quanto os psicólogos poderão ajudar, nas suas respectivas áreas, no
atendimento a esse adolescente. "Os dois [remédio psiquiátrico e psicoterapia] devem andar
juntos", explica Mário Corso.
"O remédio auxilia muito mesmo, em casos graves de depressão e de angústia. Nesses dois pontos
ele faz maravilhas, porque ele te dá condições de o tratamento funcionar. Mas a raiz da depressão
é o comportamento. A causa não é química, mas o efeito é químico. Qualquer neurose tem uma
correspondência cerebral", explica ele.
Para quem não pode pagar por atendimento psicológico ou psiquiátrico, o Sistema Único de Saúde
(SUS) oferece o serviço por meio dos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS).

Link: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidio-de-adolescentes-saiba-como-pais-e-
educadores-podem-trabalhar-a-prevencao.ghtml?utm_source=facebook&utm_medium=share-
bar-desktop&utm_campaign=share-bar Acesso em: 05/05/18
Suicídios de adolescentes: como entender os motivos e lidar com o fato que preocupa pais e
educadores
Dois casos recentes em SP levaram pais a discutir como tratar o tema com os adolescentes, onde
procurar ajuda e como prevenir.

Por Ana Carolina Moreno, Carolina Dantas e Monique Oliveira, G1


27/04/2018 06h01 Atualizado 27/04/2018 16h02
Suicídio: existe algum sinal? Como prevenir e conversar com meu filho sobre o tema?
Dois casos de suicídio que aconteceram neste mês entre alunos de um mesmo colégio particular
de São Paulo ganharam destaque, levando muitos pais e professores a se questionarem sobre
como lidar com o tema: há questões especiais às quais é preciso estar atento, já que adolescentes
enfrentam dilemas próprios relacionados ao amadurecimento e ao futuro?
O G1 buscou estatísticas oficiais, ouviu especialistas de diversas áreas e pais de jovens que
tiraram a própria vida para tentar traçar um panorama sobre o que a ciência sabe sobre o
tema, como prevenir e qual o nível de risco quando o foco são os adolescentes.
Você vai ver nesta reportagem mais sobre:
 Números de suicídios no Brasil: 10.575 casos em 2016.
 Adolescentes: faixa etária tem dilemas específicos aos quais os pais devem ficar ligados.

 O que se sabe sobre as relações entre transtornos mentais e as causas dos suicídios.

 Reação das escolas após mortes em SP indica caminhos para lidar com o tema.
No Brasil, em 2016, foram registrados 845 suicídios de adolescentes – o número foi 0,7% menor
que em 2015 e representa 8% dos casos de suicídio no país, que naquele ano ficaram em 10.575.
Suicídios no Brasil
Porcentagem de acordo com a faixa etária
Crianças (5 a 9 anos) : 0,04Adolescentes (10 a 19 anos): 8,02Adultos (20 até 59 anos):
74,46Idosos: 17,26Idade ignorada: 0,22
Fonte: Ministério da Saúde
Apesar dos números, a prevenção do suicídio avança. Na década de 1980, estudo nos EUA
afirmavam que essas mortes poderiam ocorrer por imitação. E esse trabalho reforçou a ideia de
que "não podemos falar sobre o assunto". Mais de 30 anos depois, a Organização Mundial da
Saúde vai na direção contrária, dizendo que, sim, precisamos conversar sobre o suicídio.
"Não é proibido falar, só não podemos falar de forma errada. Não podemos glamourizar, nem
ensinar técnicas", diz o psiquiatra Antônio Geraldo da Silva, presidente eleito da Associação
Psiquiátrica da América Latina (APAL).
OS DILEMAS DA IDADE
Se por um lado os adolescentes não são os que mais se matam, por outro a Organização Mundial
da Saúde (OMS) aponta o suicídio como a segunda maior causa de mortes nessa época da vida.
Na cabeça de pais e educadores surgem as dúvidas: redes e universo digital, cobranças em casa e
na escola, álcool, drogas, bullying... Não existe um motivo em comum entre todos os casos, mas a
maioria deles está ligada de alguma forma a transtornos mentais, como a depressão. Vale lembrar
que nem sempre a causa do transtorno é um problema de desequilíbrio químico – a saúde mental
de uma pessoa pode ser afetada, por exemplo, pelo consumo excessivo de substâncias como álcool
e drogas. Esse fator afeta todas as faixas etárias, mas entre os adolescentes ele ocorre em cenários
específicos.
De acordo com o psiquiatra Elton Kanomata, do hospital Albert Einstein, um primeiro ponto da
diferença entre os adolescentes e outras faixas etárias é que eles ainda estão concluindo seu
desenvolvimento cerebral.
Suicídio é a segunda maior causa de mortes entre adolescentes, segundo a OMS (Foto:
Frédéric Cirou/AltoPress/PhotoAlto/AFP/Arquivo)
“Toda a parte mental deles está em desenvolvimento. A questão da resiliência e da capacidade de lidar com as
frustraçõespodemnãoestarprontas”,afirma.
O psiquiatra Antônio Geraldo da Silva corrobora a tese e vai além, lembrando que o cérebro está
em formação até os 22 ou 23 anos de idade.
“Nós estamos expondo esses cérebros em formação a vários tipos de estressores. (...) Isso leva à predisposição do
aparecimentodedoençasmentais,comoadepressão”,diz.
Álcool e drogas
Referência na área, um estudo dos cientistas José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann
publicado há mais de 15 anos no periódico científico "World Psychiatry", do Associação Mundial
de Psiquiatria, até hoje é citado por especialistas – incluindo os entrevistados pelo G1.
Os pesquisadores analisaram os dados de 15 mil pessoas que se mataram em todo o mundo, entre
1959 e 2001. A conclusão: o maior percentual dos casos estava ligado à depressão (35,8%) e, em
segundo lugar, estavam os transtornos decorrentes do abuso de substâncias lícitas, como o álcool
e o cigarro, e também das ilícitas.
Transtornos detectados em suicidas
Dados foram extraídos de pesquisa com mais de 15 mil pacientes
Distúrbios de humor, como a depressão: 35,8Transtornos por abuso de substâncias:
22,4Esquizofrenia: 10,6Distúrbios de personalidade: 11,6Ansiedade: 6,1Outros: 13,5
Fonte: José Manoel Bertolote e Alexandra Fleischmann
Em um cérebro totalmente desenvolvido, o excesso dessas substâncias já contribui de uma maneira
negativa, de acordo com os psiquiatras. No caso dos adolescentes, pode ser ainda pior. É um dos
motivos para a proibição da venda pela indústria nesta faixa etária.
“O uso de substâncias é o segundo fator que mais contribui para o suicídio, tanto por uma questão da alteração de
humor devido ao uso, tanto quanto pelo uso agudo que, às vezes, podem levar a uma psicose induzida”, disse
Kanomata.
Há, ainda, a suspeita de que alguns antidepressivos possam influenciar o "impulso" suicida. Não
há um consenso entre especialistas, mas as bulas da maioria dos medicamentos trazem a
informação de que "casos isolados de ideação e comportamentos suicidas foram relatados durante
o tratamento".
Segundo Kanomata, é preciso confirmar se esses casos isolados devido ao consumo de
antidepressivos tinham uma causa direta: tomou remédio e teve uma reação adversa que trouxe o
impulso suicida.
Há também outra hipótese: a ação antidepressiva, de melhorar o humor, leva de duas a quatro
semanas para ter efeito na maioria dos remédios, segundo os psiquiatras. Enquanto isso, a melhoria
da parte física, do vigor do paciente, já ocorre pouco tempo após as primeiras doses.
É neste momento de recuperação do vigor físico, mas não da saúde mental, que os médicos
avaliam que pode ocorrer a tentativa de suicídio. Por isso, é necessário um acompanhamento de
perto, além de tratamento psicoterápico constante na fase em que o remédio ainda não começou a
agir totalmente.
Proteção e bolha
Mário Corso, psicanalista de Porto Alegre, concorda que o problema do suicídio na adolescência
é composto de muitos fatores e diz que, além dos itens já bastante mencionados, como a formação
do cérebro, o momento da vida de aprender a viver sem os pais, da pressão por definir uma carreira
e dos hormônios típicos dessa faixa etária, o contexto dessa atual geração de jovens também deve
ser levado em conta.
Pressão da escola pode desencadear transtornos mentais em adolescentes (Foto:
Voisin/Phanie/AFP/Arquivo)
“É na adolescência que o sujeito se dá conta do mundo onde ele vive. Como a infância é cada vez mais protegida, é
umagrandebolha,existeumdegraumuitoaltoentreasaídadainfânciaeachegadanomundoadulto,queacontece
naadolescência.”
Segundo Corso, não é ruim a infância ser um momento de superproteção às crianças, mas um dos
efeitos colaterais é que o adolescente não cria "anticorpos para suportar o mal-estar civilizatório",
especialmente no mundo atual, onde a impressão é de crise generalizada.
"É um lugar muito sem utopia, sem esperança, e assim dá um desespero. É uma depressão típica
da adolescência, você se dá conta do peso do mal-estar no mundo, e isso varia conforme o ambiente
político e cultural."
SUICÍDIO: EM BUSCA DE EXPLICAÇÕES
Para aqueles que perderam alguém, é comum o relato das dificuldades para encontrar uma
"justificativa" para o ato. Eles também apontam que não é fácil identificar transtornos e sinais, até
mesmo com ajuda profissional. “A gente achava que era coisa da adolescência”, conta Terezinha
do Carmo Guedes Máximo, de 45 anos.
Marina, a filha de Terezinha, se matou aos 19 anos, depois passar por diferentes fases desde os 16
anos: houve um período em que a família julgava que a irritação era efeito da Tensão Pré-
Menstrual, as automutilações estavam ligadas a um possível diagnóstico de Boderline. Durante
vários meses, a jovem passou por diversos psiquiatras, foi atendida por dois profissionais
psicoterapeutas e também tomou medicação de forma controlada, além do constante
acompanhamento, para não ficar sozinha.
A família via sinais de melhora e confiava que era "questão de tempo" até ela superasse o quadro
depressivo, mas mesmo assim ela tirou a própria vida. "Ela não quis estar aqui. O desespero dela
era tão grande que ela preferiu ir para alguma coisa que ela não sabe o que era. A parte mais difícil
é reaprender a viver sem a pessoa, e ter certeza de que você não teve culpa", desabafa Terezinha.
O que é um conjunto de dúvidas para os "sobreviventes enlutados" ganha certa clareza para a
ciência atual. A depressão é apontada como o principal transtorno sofrido pelos suicidas, mas isso
não significa que todo depressivo é um suicida em potencial, nem que todo suicida sofria de
depressão.
A solução para isso, segundo Antônio Geraldo da Silva, seria acabar com o preconceito e o medo
de falar de doenças como a depressão. E ampliar o acesso ao tratamento na rede pública. Mas não
somente da depressão: também o alcoolismo, a ansiedade, a esquizofrenia e a Síndrome de
Borderline (caracterizada por instabilidade de humor, de comportamento e de relacionamento).
ESCOLAS APRENDEM O SIGNIFICADO DA POSVENÇÃO
Os casos recentes no Colégio Bandeirantes, em São Paulo, também levaram para as salas de aula
o debate sobre como lidar com um tema que é tabu. E sobre como fazer a posvenção, ou seja, o
trabalho de apoio para quem está em luto e afetado por um suicídio.
Depois dos episódios, o Bandeirantes afirmou em nota que "conta com a assessoria de uma das
maiores especialistas de prevenção ao suicídio do país e, desde o primeiro acontecimento, tem
realizado diversas ações direcionadas aos alunos, bem como à equipe pedagógica e aos
funcionários para lidar com o ocorrido".
Em entrevista ao G1, Karina Okajima Fukumitsu, psicóloga contratada pelo colégio, afirma que
os dois casos só têm em comum o fato de envolverem a mesma escola, e diz que não houve
"suicídio por contágio". Mesmo assim, os acontecimentos fizeram com que a procura de pais pelas
palestras sobre o assunto, oferecidas por ela, tenha sido mais que o dobro do esperado. "Em 20
minutos esgotamos todas as vagas", disse ela.
Dedicada ao estudo do suicídio há nove anos, Karina explica que família e escola têm papéis
diferentes e complementares na formação dos adolescentes. Segundo Karina, o professor alertar
os pais quando um aluno começa a apresentar mudança de comportamento, humor ou rendimento
acadêmico é um dos exemplos de integração que ajuda na prevenção.
Karen Scavacini, do Instituto Vita Alere, afirma, porém, que a formação dos educadores e
inclusive dos psicólogos que atuam nas escolas ainda não contempla os conhecimentos necessários
para o trabalho de prevenção ao suicídio. Ela afirma que o Instituto de Psicologia da Universidade
de São Paulo aborda o suicídio em uma de suas disciplinas, mas que o tema é abordado com mais
frequência em palestras pontuais. "E eu não conheço nenhuma faculdade de pedagogia que tenha
disciplina de prevenção e posvenção de suicídio."
Por isso, segundo ela, a demanda pelos serviços de organizações dedicadas especificamente ao
assunto cresce sempre que um caso atinge uma escola, ou quando o suicídio invade a opinião
pública, como ocorreu com o "Desafio da Baleia Azul" e com a série "Treze razões porquê".
Nas escolas, Karina Fukumitsu afirma que um protocolo de posvenção deve ser implantado
quando um caso de suicídio entre os estudantes é registrado, mesmo que o fato não ocorra dentro
da instituição. O trabalho, segundo ela, deve ser feito tanto com os colegas da sala do estudante
quanto com os demais alunos da escola, além dos professores e funcionários.
Em vez de aulas normais, a primeira etapa é reunir os colegas em uma roda de conversa, para
escutar o que cada um está sentindo.
"Elesprecisamlidarcomoesvaziamento,inclusivedacarteiradapessoa.Àsvezes,quandoumapessoasemata,elase
tornamaispresentedoqueeraantes.Éuma'presençaausente'queacontecedepoisdosuicídio."
Na hora da conversa, é importante não deslegitimar o sentimento de cada um, ressalta Karina. "O
que costumo falar é que está todo mundo em carne viva. A gente vai recolher esses escombros e
criar estratégias unidos, porque é isso que faz diferença: estar junto nessa situação."
Karen Scavacini, do Vita Alere, lembra que, por causa da faixa etária, o suicídio entre adolescentes
é especialmente sensível porque, para muitos, será o primeiro luto. Por isso, após um primeiro
momento de trabalho em grupo, os professores, orientadores e demais profissionais da escola
devem manter a atenção para identificar os estudantes mais vulneráveis e alertar os pais, para que
eles possam oferecer auxílio individualizado.
No entanto, Karina ressalta que não é o caso de se falar em "suicídio por contágio".
"Nãoéqueosuicídiodeumapessoavaiinduzirosuicídiodooutro.Osuicídiodeumapessoadaescola(...)podeatingir
umapessoaquejáestávulnerávelepropensaasematar”,explica.
Para ela, cada caso é o ápice de um processo interno de alguém que já está “definhando
existencialmente”.
O psicanalista Mário Corso completa dizendo que, se um adolescente se mata, a escola deve falar
sobre suicídio, mas sem romantizá-lo. “Depois que se suicidou, parece que ele tinha uma
mensagem, fica uma leitura a posteriori para o caso. A gente fica tomado nessa ideia do suicida
como herói romântico. Mas viver é que é difícil. Heroísmo é sobreviver, é ficar no mundo e ajudar
os outros, não ir embora.”

Link: https://g1.globo.com/ciencia-e-saude/noticia/suicidios-de-adolescentes-como-
entender-os-motivos-e-lidar-com-o-fato-que-preocupa-pais-e-educadores.ghtml Acesso
em: 05/05/18.

S-ar putea să vă placă și