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Texto originalmente publicado em:


In: MARI, H. et al.Estruturalismo: memória e repercussões. Rio de Janeiro: Diadorim,
1995, p. 65-78.

Da busca da positividade do significado aos princípios de categorização1

Hugo Mari
PUC Minas

1. Considerações gerais

Qualquer proposta de avaliação de um movimento como o do Estruturalismo


precisa acercar-se de certos cuidados. Um desses cuidados diz respeito à extensão territorial
de alcance do conceito: por razões diversas, é muito diferente falar da sua avaliação na
Antropologia, onde teve uma aplicação intensa, mas localizada, em contraste com sua
avaliação na Lingüística, onde sua aplicação, além de intensa, foi generalizada. Um outro
cuidado a ser mencionado aponta para a necessidade de uma localização ainda maior, no
interior de uma dada disciplina: por exemplo, a avaliação, que pode ser feita, na
Lingüística, para a Fonologia, para a Sintaxe e para a Semântica, certamente, não deve
coincidir em termos de acertos e desacertos. Para áreas diversas e para disciplinas no
interior dessas áreas nem sempre os instrumentos da análise estrutural tiveram o mesmo
alcance, o mesmo sucesso; as dificuldades também são de ordem diversa.

Em nenhuma dessas situações pode-se falar, em termos absolutos, de simplicidade,


de ingenuidade e de reducionismo inerente à Abordagem Estruturalista, julgamento que se
tornou comum na avaliação para alguns de seus desenvolvimentos, embora seja adequado
reconhecer um certo descompasso na abordagem dos objetos de muitas áreas. Com certeza,
a Antropologia conheceu, via Estruturalismo, uma das formas mais sofisticadas de
elaboração - basta ver a estruturação do mito e as relações de parentesco, estas avaliadas a
partir de uma lógica combinatória. Vista, com os olhos de hoje, a abordagem semântica, em
algumas circunstâncias, ressoa risível, em outras, entretanto, acabou se constituindo no

1
Texto para ser apresentado na Mesa-Redonda: A Abordagem Estrutural em Semântica, integrante da
programação do Simpósio Nacional Interdisciplinar - Estruturalismo: Memória e Repercussões, em 21-
03-95 e publicado originalmente em MARI, H. et al. Estruturalismo: Memória e Repercussões.Rio de Janeiro:
Diadorim, 1998, p. 65-78.
2

alicerce para a compreensão de todas as outras abordagens que se seguiram à Semântica


Estrutural, em seu sentido restrito. Como sucesso de época, o Estruturalismo não respeitou
muito fronteiras, o que torna possível esperar que, nessa escalada, e para muitos objetos
aos quais tenha sido aplicado, os efeitos obtidos não tenham sido equivalentes àqueles
derivados de outras aplicações. Disso decorre uma certa animosidade apriorística contra o
Estruturalismo que, antes de materializar objeções sensatas a sua forma analítica de operar
(embora elas existam com fundamento), traduz apenas um pensamento generalizado,
moldado a partir de um certo entendimento superficial de sua concepção.

2. Semântica Estrutural: histórico

Quando voltamos aos fundamentos do Projeto de construção de uma Semântica


Estrutural, na forma como foi inicialmente concebida por Greimas2, constatamos que as
pretensões reivindicadas em termos teóricos não correspondem àquilo que foi desenvolvido
como prática de análise semântica, sobretudo ao longo da década de 70. O produto dessa
discussão, na forma como entre nós foi largamente difundida, encontra-se reproduzido, por
exemplo, em artigos diversos na Revista Vozes e na Revista Littera, e, apesar da sua
relevância acadêmica naquele momento, não reflete grande parte dos postulados básicos
que foram reivindicados em termos teóricos.

Entendo que o peso da crítica levantada contra a Semântica Estrutural justifica-se


mais, portanto, em função daquilo que se procurou dela extrair em termos de estratégias de
análise, da busca de resultados empíricos imediatos, das bizarrices que foram produzidas
em seu nome e menos pelos elementos que integram sua construção teórica. Essas mesmas
críticas foram formuladas também mais em função de uma enfadonha proliferação de
termos técnicos, por uma preocupação taxionômica exagerada com aspectos da significação
e menos pela articulação, pelo alcance conceitual dos seus elementos constitutivos. No
fundo, a crítica mais freqüente acabou por selecionar com mais veemência apenas um
subproduto resultante desse Projeto, deixando, em alguma extensão, intactos os elementos
constitutivos do seu alicerce. Que aspectos dessa construção teórica, então, poderíamos
lembrar por terem servido de sustentação de todo o Projeto de uma Semântica Estrutural ?
Que dificuldades poderíamos associar a essa empreitada teórica?

Para comentar questões como estas, delimitarei três dimensões distintas que
pretendo avaliar no conjunto dos trabalhos que assumiu, numa circunstância histórica
específica, a denominação de Semântica Estrutural. Essa avaliação cobre, portanto: (a) a
base de sua fundamentação conceitual; (b) aspectos do desdobramento da sua prática de
análise empírica; (c) as repercussões de seus postulados básicos na compreensão corrente

2
Reporto-me aqui, especialmente, a duas obras de Greimas, autor que representa, no meu entendimento, um
dos formuladores mais importantes de uma Semântica Estrutural. (GREIMAS, A.J. Semântica Estrutural,
pesquisa e método. São Paulo: Cultrix, 1973. e GREIMAS, A.J. Sobre o Sentido. Petrópolis: Vozes, 1972.).
3

de fatos de sentido. Nem sempre, entretanto, será possível (e econômico) isolar cada uma
dessas etapas,

Além do mais, na seqüência desse texto, pretendo mostrar o esforço da Semântica


Estrutural, contra todo o ceticismo reinante, de buscar a construção de uma racionalidade
para as questões de sentido e as dificuldades enfrentadas nessa tarefa. Assim, aos olhos de
hoje, buscarei avaliar em que medida o Projeto é bem sucedido e em que circunstâncias ele
perde os impulsos iniciais que serviram de base de sustentação. Por que, afinal de contas,
essa abordagem, embora tivesse uma postura conceitual ajustada, em termos da
fundamentação de seus postulados básicos, não alcançou uma relevância teórica desejável ?

2. Semântica Estrutural: racionalidade do So

A Semântica Estrutural, como Projeto original3, tinha pretensões à construção de


um modelo teórico que fosse capaz de responder por uma certa racionalidade do
significado, até então considerado um território impenetrável à formulação teórica.
Enfrentando críticas de uma concepção behaviourista da linguagem que barrava a
possibilidade e a utilidade de qualquer construção teórica sobre a significação, Greimas
busca no sucesso de uma lingüística do significante, desenvolvida desde a Gramática
Comparada até a Fonologia Estrutural, a razão primeira para refutar aqueles que duvidavam
da viabilidade de um modelo teórico para a significação. A justificativa conceitual maior de
buscar nesses dois momentos da História da Lingüística, sobretudo na Fonologia,
argumentos favoráveis ao Projeto em questão, é o fato de eles representarem, no
desenvolvimento das Ciências Humanas, um grau de positividade do conhecimento efetivo.
A orientação na busca de uma convergência com modelos de positividade tornou-se
absolutamente essencial a qualquer padrão de conhecimento. Destacam-se, nesse período,
os trabalhos que especificam, cada vez mais, o caráter de positividade do significante que
consistia no atendimento a dois princípios básicos complementares: de um lado, o
princípio da medida, isto é, os fenômenos são discretos, são recortáveis em dimensões
métricas de espaço-tempo; do outro, o princípio do cálculo, ou seja, tudo pode ser expresso
por regras, por algoritmos que fossem capazes de prover uma explicação precisa dos
fenômenos. Tanto um como outro princípio, certamente, têm (ou tiveram) um modus-
operandi próprio, ajustado às necessidades de uma análise de objetos específicos. Não vou,
entretanto, entrar aqui em detalhes sobre o que representou a prática desses dois princípios
nas dimensões de estudo do significante. Interessa mais mostrar como essas questões foram
transportadas para a abordagem da significação. O que, então, representou, para o Projeto
da Semântica Estrutural, a tentativa de fixar padrões para uma racionalidade do
significado, a partir de procedimentos que asseguravam o caráter de positividade à
construção de objetos teóricos ?

3
Penso que os parâmetros que definem a estrutura original deste Projeto estão colocados, sobretudo, nos
primeiros capítulos de GREIMAS(1973) op. cit.
4

4. Semântica Estrutural: diferença e binaridade

Quando Foucault avalia os efeitos da Renascença na história do conhecimento4, ele


destaca uma das suas características mais importantes, isto é, a de ter sido capaz de pensar a
diferença. Segundo o autor, até então, a forma predominante de todo o conhecimento se
fazia pela identidade, o que tornava a reflexão sobre os fenômenos de teor essencialista. O
pensamento moderno, e na seqüência o contemporâneo, efetivou essa forma de
conhecimento pela diferença..

Não pretendo desenvolver aqui uma genealogia do Estruturalismo, isso é uma tarefa
muito mais ampla; estou apenas buscando recuperar, com alguma dimensão história, uma
categoria que foi fundamental para todo o pensamento estruturalista e da qual também se
derivou toda a reflexão sobre o sentido . Assim, se a Renascença inaugurou essa reflexão
pela diferença, foi, certamente, o Estruturalismo quem lhe concebeu o estatuto epistêmico
mais preciso. Se em muitas circunstâncias a reflexão analítica se fez por um apelo à
diferença, mas sustentada apenas pela intuição, o Estruturalismo vai tornar muito mais
exigente essa forma de apelo: não basta só a intuição, é preciso disciplinar, no formato de
uma metalinguagem, o modo pelo qual a diferença opera. Esse fato, no meu entendimento,
expressa o maior dilema do Estruturalismo e, por isso mesmo, toda a base de sustentação do
seu edifício. Como reduzir a multiplicidade fenomênica da diferença entre os objetos, que é
infinita, para um sistema finito de relações que seja capaz de expressá-la? Em outras
palavras, se grande parte do conhecimento moderno foi construído a partir de uma
dimensão ontológica da diferença, como transformá-la numa diferença formal, que seja
adequada aos padrões de conhecimento fomentados a partir do Positivismo Lógico ?
Ao buscar determinar procedimentos que possam representar um avanço na questão
levantada, o autor começa por apontar as bases que, por necessidade, devem fundar a
análise da significação. Para se formular um modelo de racionalidade do significado, é
preciso antes equacionar questões que figuram na sua sustentação. A relação entre
percepção e significação é o ponto de partida do autor:

“É com conhecimento de causa que nos propomos a


considerar a percepção como o lugar não-lingüístico onde se situa
a apreensão da significação.” (p. 15)

Assim, situar a percepção como o ponto de partida para alcance da significação parece ter
sido um dos aspectos essenciais para a construção desse modelo. Como, entretanto, domar
essa percepção, dar a ela um rigor formal na metalinguagem ? Que exigências devemos
fazer para que ela seja, de fato, esse liame necessário, a expressão de uma causalidade dos
fatos de sentido ? Mais à frente, o próprio autor completa esse raciocínio, destacando o
papel que caberia à Semântica:

4
FOUCAULT, M. Prosa do Mundo. In: As Palavras e as Coisas. São Paulo: Martins Fontes....
5

“No entanto, a afirmação de que as significações do mundo


humano se situam ao nível da percepção consiste em definir a
exploração no mundo do senso comum, ou, como se diz, no mundo
sensível. A semântica é reconhecida assim abertamente como uma
tentativa de descrição do mundo das qualidades sensíveis.” (p.16)

Se esta base conceitual ainda se torna genérica pelo teor das categorias que foram postas em
confronto, quando define a primeira noção de estrutura, o autor tornará mais específico o
que pode ser considerado como condições necessárias para a significação. Vejamos, pois,
como o autor articula estas condições:

“Percebemos diferenças e, graças a essa percepção, o


mundo ‘toma forma’ diante de nós, e para nós.
Mas que significa verdadeiramente - no plano lingüístico -
a expressão ‘perceber diferenças’ ?
1. Perceber diferenças quer dizer captar ao menos dois termos-
objetos, como simultaneamente presentes.
2. Perceber diferenças, quer dizer captar a relação entre os
termos, ligá-los de um ou de outro modo.
Daí, a primeira definição, aliás utilizada geralmente, do
conceito de estrutura: presença de dois termos e da relação entre
eles.
Decorrem daí imediatamente duas conseqüências:
1. Um só termo-objeto não comporta significação;
2. A significação pressupõe a existência da relação: é o
aparecimento da relação entre os termos que é a condição
necessária da significação.” (p.28)

Agora temos, então, alguns elementos que nos permitem compreender, de modo mais
específico, o alcance da percepção. Colocada diante de categorias, onde as operações
lingüísticas se tornam menos obscuras, ela começa a ser operacionalizada pelo conceito de
diferença que, por sua vez, requer, ao menos, a presença de dois objetos. Assim, entre dois
pólos percepção, origem do processo, e significação, sua resultante, operam
procedimentos de análise dos signos-objetos, no estilo estruturalista padrão, isto é, a busca
de relações, mediadas pela diferença.

O Estruturalismo buscou contornar esse emaranhado de questões, definindo um


domínio de operação para a diferença, e dela extraindo a concepção de uma racionalidade
binária, onde toda pretensão à validade devesse ser elaborada com base no reagrupamento,
dois-a-dois, dos membros de um conjunto e daí extraída as relações de diferença. Esse
padrão sugerido, a princípio, reduz drasticamente o alcance de sua aplicação, e figura-se
como uma primeira dificuldade a ser rompida no âmbito da significação, onde as estruturas
não são necessariamente binárias.
6

De toda forma, o efeito dessa formulação sobre as questões de sentido resultou


naquilo que passou a constituir nas (primeiras) condições necessárias mas, certamente, não
suficientes para a significação, já que todo o desenvolvimento da Teoria implica
determinar, como primeira condição de significação, a pertinência ou não a um dado
conjunto.5 Fundamentando-se na articulação dessas categorias iniciais (outras serão ainda
especificadas), a Semântica Estrutural cria, assim, as condições iniciais para o
funcionamento de um modelo para análise do significado. É nesse aspecto, portanto, que
reside para mim o valor maior de reconhecimento dessa abordagem. O que, pois, traduz
essas condições iniciais ?

O primeiro destaque característico deste modelo é o fato de que a compreensão de


uma positividade para o significado venha a ser assegurada, em alguma extensão, pela
positividade do significante. Há, assim, um esforço extenso para demonstrar que, em grande
parte, métodos de análise aplicados ao significante podiam ser estendidos a uma análise do
significado.6 Mas é claro, a possibilidade de transposição ficava por conta de uma
aproximação aparente; de início já se depreendia que aquilo que fora até então viável para a
descrição do significante, não era adequado para uma compreensão adequada do
significado. Os procedimentos de desmontagem e de remontagem da cadeia de significantes
mostravam-se apropriados apenas para um certo nível de reflexão sobre o significado:
Greimas observara que as oposições ao nível do significante eram apenas discriminatórias,
e não eram, portanto, suficientes para instaurar uma “estrutura de significação”. Esse
descompasso entre os dois tipos de estrutura pôde ser destacado em função do processo de
análise, baseado em relações binárias que, embora bem sucedido na Fonologia, não era
suficiente para cobrir alguns aspectos da análise do significado. Assim, se o sucesso da
análise do significante pôde ser assegurado pelo reconhecimento de unidades discretas
binárias, isso já não era suficiente para uma análise do significado: o conceito de discreto,
apesar de tão bem sucedido em vários aspectos da linguagem, necessitou ser retrabalhado
de modo específico, quando estava em jogo a significação. Assim, pólos lexicais como seco
x molhado não eram suficientes para dar conta de todo o matiz semântico, representado
pela dimensão semântica [estado de umidade do solo]. Assim, termos médios como úmido,
semi-seco, semi-úmido e termos meta-polares como tórrido, árido, encharcado
concorrem para o recorte dessa dimensão.

O segundo ponto desse esforço de padronização da análise do significado, em temos


da positividade anunciada como necessária, diz respeito à aplicação do princípio da
medição e do princípio do cálculo. Que expressão operacional a Semântica Estrutural deu
a esses dois princípios?

Inicialmente, podemos dizer que medir implicou considerar que o significado não
era uma totalidade indecomponível (como vimos acima para [estado de umidade do solo]) e
que, portanto, poderia, e do ponto de vista da construção da Teoria deveria, ser lhe
assegurada a forma de um construto teórico, estruturado a partir de uma certa quantidade

5
Na seqüência do texto, Greimas aponta disjunção e conjunção, como relações padrões, regulativas da
aplicação da diferença.
6
Cf. Greimas (1973) op. cit. p. 28 e ss.
7

(variável, mas finita) de semas, que fosse capaz de suprir duas funções básicas, isto é: (a)
definir, na extensão do conjunto universal, as condições de pertinência de um dado signo-
objeto em um dado conjunto particular; ou (b) definir, no interior de um dado domínio
particular, o lugar específico de um signo-objeto. Aqui, então saltamos daquilo que
representa uma condição primeira de caracterização de um complexo de significação, os
semas, para algo que representa duas dimensões específicas a serem viabilizadas através de
combinações possíveis de semas. Podemos dizer que o sema constitui uma primeira escala
de medição do significado, já que a sua função primeira é demonstrar possibilidades de
recorte de uma totalidade provisória. Se é viável, nos padrões da Semântica Estrutural,
atribuir, apesar das dificuldades que são muitas, ao sema um valor operacional na
construção metalingüística do significado, então descartam-se quaisquer hipóteses que
venham fixar o sentido como totalidade.

Passemos, pois, à primeira das duas funções que foram lembradas acima - definir as
condições de pertinência a um dado domínio. A reunião de semas que cobre essa função foi
definida como classema que, antes de representar mera configuração de semas genéricos,
define, no fundo, as condições de pertinência a um dado domínio. O classema, então, não
opera no interior de um domínio, mas apenas fixa condições que devam ser atingidas para o
(re)membramento de elementos-signos. A dimensão que estou assumindo para esse
conceito, nem sempre especificada na Teoria, lembra hoje os critérios iniciais que são
estabelecidos para categorização, como condição primeira para conhecimento de um signo-
objeto. De modo mais específico, conhecer um objeto é ser capaz de categorizá-lo e
categorizar um objeto e ser capaz de definir-lhe um domínio possível de inclusão. Essa
função, lógico-operacional, que podemos estender ao classema, é responsável pelo alcance
primeiro que pode ser atribuído ao princípio do cálculo. Logo, calcular o significado de um
signo-objeto, nessa perspectiva, representa decidir, em razões de critérios formais, a que
domínio um tal signo pertence. Em resumo, pode-se falar aqui de um cálculo, na medida
em que a decisão é tomada, considerando-se a compatibilidade entre a matriz de semas que
define o elemento (que ainda não é um membro) e as condições que definem a pertinência
num conjunto qualquer.

Vejamos agora a segunda função que foi especificada acima: definir, no interior de
um dado conjunto, o lugar específico de um determinado membro. Trata-se, certamente, de
uma tarefa muito mais complexa de ser decidida, principalmente, quando o interior de um
conjunto já não é mais constituído de sub-conjuntos com fronteiras muito nítidas. Uma
tarefa dessa natureza atribuiríamos ao semema que, antes mesmo de representar apenas um
feixe de semas específicos, constitui um critério de determinação do lugar de um membro
num dado conjunto. Penso ser essa uma tarefa mais onerosa no caminho da Semântica
Estrutural, a de construção do semema, da qual certamente decorrem os maiores problemas
com análises que foram desenvolvidas e para as quais não temos ainda soluções
disponíveis. O que representam as dificuldades associadas ao semema?

A verificação primeira, que evidencia um certo descompasso entre a fixação do


classema e a do semema, embora sendo ambos conceitos relativos a um domínio de
aplicação, é o fato de ser mais simples prover definições para classes genéricas, do que
8

definições para sub-classes de classes, ou para sub-classe de sub-classe, ou para membros


de classe ou, ainda, para membros de subclasses. Enfim, quanto mais avançamos na escala
de classe para membro, tanto mais complexa torna a tarefa de prover definições. Se definir
classe já é uma tarefa de extrema dificuldade, quando possível7, definir membros ou sub-
grupos de membros pode ser inviável. O consolo que resta aqui é o fato de que a
linguagem, como princípio de generalização, torna-se um tanto indiferente à preocupação
com a designação de indivíduos: em nenhuma língua, a rigor, encontramos palavras para
designar objetos singulares. Quando precisamos fazê-lo recorremos a processos lingüísticos
que nos permitem tal expressão, os quais podem ser recursivamente acionados.

Mas as razões teóricas que podem ser mostradas em torno das dificuldades no trato
com o semema decorrem de uma deficiência séria na construção das categorias
metalingüisticas da Semântica Estrutural. A ausência de um quadro teórico, representativo
do conjunto de categorias, transforma os procedimentos de construção do semema como
absolutamente ad hoc, pois não há qualquer critério fixo que determine: (a) um quadro
geral de categorias, a partir do qual possamos derivar e fundamentar as aplicações do
semema; (b) um critério de determinação do limite de semas e (c) um perfil de orientação
para a formulação dos semas componentes8.

Esses problemas anotados acabaram por se responsabilizar, na minha compreensão,


por aquilo que havia de mais vulnerável no Projeto: as soluções propostas pelas inúmeras
análises desenvolvidas acabam por retratar parte da fragilidade de um quadro teórico ainda
montado sobre categorias que se esfacelavam de uma abordagem para a outra. As soluções,
além de provisórias, costumavam ser marcadas por um artificialismo em torno da
necessidade de se buscar diferenças. Se o semema é o lugar de demarcação da diferença,
esta, então, precisa ser assinalada a qualquer preço. E o preço pago costumava ser uma
prática reiterada de artificialismos, inconseqüentes no seu poder explicativo.

5. Semântica Estrutural: entre avanços e impasses

Um comentário orientado para a temática, contida nessa Mesa-Redonda, obriga-me


a voltar para dois aspectos que orientaram a reflexão acima: primeiro, apontar os esquemas
teóricos que representam um avanço nessa reflexão conceitual sobre o sentido, bem como
as dificuldades remanescentes; segundo, mencionar (já que uma avaliação mais específica
já é de domínio geral) uma certa prática de análise, levantando dificuldades e acertos que
estiveram presentes nesta abordagem.

7
Na Filosofia Analítica Norte-Americana, principalmente autores como Kripke e Putnam criticaram
abertamente esse tipo de procedimento de análise, chegando a afirmar que espécies naturais não possuem
definições analíticas.
8
Destaco essas dificuldades aqui, associando-as ao semema, mas é claro que a crítica vale também para o
classema.
9

Quanto à adequação em termos das pretensões teóricas do modelo, seria importante


reafirmar dois pontos. Primeiro, a aproximação buscada entre percepção e significação, isto
é, uma conjunção de critérios, de categorias, de procedimentos reflexivos através dos quais
a Semântica Estrutural procurou fugir ao trivial de uma concepção deformada das questões
de sentido, ao mesmo tempo que tentou fundamentar o escopo da sua construção teórico-
formal. Nesse particular, diria que esta abordagem representou um avanço representativo na
compreensão do sentido, antecipando-se a uma série de problemas que são hoje discutidos,
através dos procedimentos de categorização ou de princípios de cognição. É preciso,
todavia, demarcar distâncias: não penso que Greimas supunha essa questão como de
natureza orgânica, nos moldes em que hoje ela é admitida.

O segundo ponto, complementar ao primeiro, aponta para a necessidade de incluir,


no corpo da Teoria em construção, formas de controle sobre a percepção (ou sobre a
intuição). A primeira tarefa associada a esse desafio, como vimos, foi o de procurar dar à
Semântica uma feição de ciência positiva, isto é, uma metalinguagem onde o seu objeto de
estudo fosse sensível à medição, ao cálculo. Admitiria, então, que essa pretensão teve um
impacto importante, na medida em que mostrou a necessidade de se buscar, para uma
análise do significado, padrões de análise mais rigorosos e eficazes. Acrescentaria, ainda
mais, sua análise, apesar de todos os problemas que podem ser arrolados, ganhou um
alcance que não conhecíamos; passamos a ter um grau de compreensão das questões de
sentido que até então não tínhamos; encerramos um capítulo na história da lingüística de
que fatos de sentido deveriam ser unicamente catalogados através de tropos, de figuras de
estilo etc.

Ao submeter os objetos semânticos a esse critério avaliativo, a Semântica Estrutural


precisou propor conceitos que pudessem dar conta de uma dimensão de sentido, que estava
sendo posta em jogo. Por exemplo, a idéia de que a (de)composicionalidade compreendia
combinações de fatores de natureza distinta, com peso distinto na compreensão do
significado, propiciou a criação de conceitos como classema, semema, virtuema. Assim, se
estes termos já não descrevem fatos no estágio atual da Semântica, nem por isso podemos
descartar as funções que a eles foram associadas: estas permanecem como relevantes para
qualquer reflexão nesse campo. Logo, não vejo, no estágio atual do conhecimento sobre
questões de sentido, como se pode recusar a intervenção desses conceitos, na medida em
que caminhamos para uma abordagem inspirada, cada vez mais, em princípios de
categorização. A Semântica Estrutural está longe de corporificar os padrões dos processos
que apontam para a categorização, mas não se contrapõe a eles, já que a essência dos seus
fundamentos foi montada com base nesses princípios, como já comentamos

Quanto à questão relativa às análises que foram desenvolvidas, a partir da


formulação da Semântica Estrutural é importante reconhecer três níveis diferenciados (mas
não diferentes): semiótico, literário e lingüístico. Aqui gostaria de me restringir ao nível
lingüístico, pois todo o comentário já desenvolvido toca mais de perto a um “contorno
lingüístico” da Teoria.
10

Penso que a maior dificuldade aqui posta diz respeito ao manuseio de certos
instrumentos de análise que a Teoria propiciou, sem demarcar um certo grau de sua
operacionalidade. Por exemplo, a busca da diferença na tentativa de fixação do semema,
como já o vimos, levou a análise a certos exageros descritivos e acabou por ser pouco
produtiva. como instrumento de revisão da Teoria. Fez-se muita coisa, em termos de
análise empírica, mas elas, no conjunto, não foram corretivas para aspectos da Teoria que
precisavam ser ajustados. O defeito aqui decorre também da inexistência de um quadro
preliminar de categorias que pudessem funcionar nessa análise. Muitas vezes, não se tratou
de pôr à prova uma Teoria em construção (pelo menos não é possível percebê-lo em várias
circunstâncias), mas antes permitiu-se que cada um justificasse sua análise de forma
improvisada, ad hoc e voluntarista. Quando agimos assim, estamos de novo abrindo o
território para o domínio de uma intuição sobre a qual não conseguimos fazer com que os
nossos instrumentos de análise sejam capazes de operar.

Em síntese, a Semântica Estrutural não chega a se configurar como uma Teoria


Semântica em sentido próprio, falta-lhe, na versão analisada, uma clareza maior sobre a
natureza das categorias de análise, bem como de sua articulação de forma sistemática. Nem
por isso, entretanto, ela deixou de contribuir para aquilo que representou uma evolução na
forma de conceber as questões relativas à significação nas línguas naturais.

6. Conclusão

O matemático norte-americano Kleene, nos primeiros momentos da história do


computador, descreveu as condições básicas para que um problema qualquer fosse
transformado numa função computável, isto é, processável mecanicamente. Para o autor,
somente os problemas que admitissem, para um número finito de etapas de resolução,
apenas as respostas SIM e NÃO (depois convertidas para linguagem de máquina em 1 e 0)
eram passíveis de serem transformados numa função computável. A adequação de uma tal
proposta se verifica pelo fato de que, até hoje, ela está em vigor na construção das
linguagens de máquina. Além disso, a história tem mostrado que um problema, por mais
complexo que seja, é sempre passível de ser resolvido pela obtenção, em cada estágio da
sua solução, de respostas binárias. O número de etapas, que tende a se expandir frente à
complexidade de um problema, se torna supérfluo pela velocidade da máquina. Não se
trata aqui de supor Kleene um representante do Estruturalismo para linguagens de
máquinas, mas antes de tornar evidente a proximidade da sua formulação com a abordagem
estruturalista em algumas áreas. De toda forma, sendo estruturalista ou não, o autor situa-se
dentro a que estamos chamando de uma racionalidade binária.

Diante dos fatos lembrados ao longo desse texto, poderíamos, portanto, assegurar
que o Estruturalismo, no tocante às questões semânticas, ao contrário do que possa parecer
para muitos, foi, a seu tempo, uma forma de pensamento bastante refinada, o que, em
momento algum, deva ser assumido como garantia de aplicação adequada dos seus
princípios de análise. As distorções existiram e em escala, muitas vezes, significativa. Na
11

base das dificuldades vinculadas a procedimentos de análise, sobretudo, encontra-se talvez


uma justificativa para o descompasso entre o grau de complexidade de certos objetos
teóricos e a disponibilidade de procedimentos de análise. Greimas, nos primeiros capítulos
do seu Semântica Estrutural, confronta princípios formulados para a análise fonólogica e
sua extensão para uma análise da estrutura da significação. A conclusão que se extrai da
avaliação do autor é que os instrumentos de análise, exercitados numa abordagem
fonológica, precisariam ser reformulados para uma avaliação de estruturas de significação,
certamente um território com um grau de complexidade maior.

Enfim, o teor de refinamento do Estruturalismo se deve menos à possibilidade de


isolamento do conceito de estrutura que, embora saliente no interior da sua formulação,
tem uma extensão maior do que ele próprio; uma abordagem estrutural (ao menos em
oposição a uma abordagem fenomênica, ou essencialista, ou funcional) não precisa
necessariamente ser identificada com o Estruturalismo. As abordagens semânticas recentes
têm todas uma feição estrutural, mas isso não as vincula ao Estruturalismo. Igualmente, e
como já o vimos, ele não pode ser pensado a partir de meras alusões ao trabalho com a
diferença, afinal, ela também tem uma extensão maior. Raciocínio semelhante, com base no
exemplo de Kleene, acima comentado, pode ser feito para o conceito de binário. O
refinamento da abordagem estruturalista decorre, portanto, do modo pelo qual se fazem
convergir essas três categorias. Ou seja, a elaboração estruturalista depende do modo pelo
qual se reduz o conceito de diferença a uma dimensão formal (operação decisiva na análise
do significado), como fazê-la operar numa relação binária (uma dificuldade posta para a
análise do significado) e traz, como conseqüência, uma especificação do conceito de
estrutura, pensada, então, a partir da convergência desses fatores precedentes. Nada disso,
pois, destoa por completo de aspectos que associamos hoje à compreensão do sentido.

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