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INTRODUÇÃO
Sua definição tradicional diz que é a “ciência que define princípios ou métodos para a interpretação do
significado dado por um autor específico”.
A hermenêutica tanto admite o significado do texto à época em que foi escrito, quanto seu significado atual,
pois contém os estudos exegético e contextualizado em seu escopo.
Assim, tem-se que é necessário conhecer o significado de tal passagem, aplicá-la em sua vida e então
compartilhar seus ensinamentos.
O objetivo da hermenêutica bíblica é descobrir a intenção do autor, direto (profeta) e indireto (Deus).
Saliente-se que, dentre outros fatores, o significado depende do gênero literário utilizado no texto. Ou seja,
cada tipo de leitura trará suas regras específicas, as quais serão estudadas em tempo oportuno.
Por fim, faz-se necessário enfatizar que o alvo da hermenêutica não é o estudo em sim, mas sim o sermão. Ou
seja, interpreta-se o texto para aplicar corretamente e também transmiti-lo a diante.
O estudo indutivo é no qual se interage diretamente com o texto, a fim de obter conclusões próprias. O
dedutivo, por sua vez, é o estudo pelo qual se interage com a conclusão de outros estudiosos, reformulando
dados.
Ter uma idéia preliminar própria é de suma importância para que a interação com as ferramentas exegéticas se
dê de maneira crítica ao invés de tão somente passiva (repetindo a opinião de terceiros).
Contudo, ambos os estudos são fundamentais para esclarecer a mensagem original pretendida no texto.
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A palavra Bíblia vem do grego “biblos” que significa livros ou rolos. Embora a palavra grega esteja no plural,
tende-se a pensá-la no singular.
A Bíblia, entretanto, é uma coleção de 66 livros, divididos em dois grandes blocos: Antigo Testamento e Novo
Testamento.
O AT possui 39 livros escritos antes do nascimento de Jesus Cristo e o NT consiste em 27 livros, os quais foram
escritos pelos seus primeiros seguidores.
Grande parte do AT foi escrito em hebraico, com apenas alguns trechos em aramaico.
O NT por sua vez foi escrito em grego koiné. Muito embora Jesus Cristo e seus seguidores aparentemente
falassem aramaico, utilizou-se o idioma grego tendo em vista ser mais difundida que aquela.
Saliente-se que muitos dos 66 livros não foram escritos no formato de livros em si, tome-se como exemplo as
cartas de Paulo. Além disso, a Bíblia apresenta vários tipo de gêneros literários (histórias, parábolas, canções,
provérbios, genealogias, leis, evangelhos, epístolas, etc)
A Bíblia caracteriza-se por variedade e unidade, pois foi escrita por cerca de 40 homens, num período
aproximado de 1600 anos, mostrando, contudo, uma única mente formadora, a de Deus.
Outra característica bíblica é o fato de ser tanto histórica quanto contemporânea. É um livro arraigado nas
culturas, nas línguas e nas tradições da antigüidade, mas, ainda assim, poderoso para tocar a vida do leitor
atual.
A Bíblia é igualmente divina e humana, pois fora escrita por homens sob a inspiração de Deus (II Tm 3:16),
conduzidos pelo Espírito Santo (II Pe 1:21).
CÂNON
Como mencionado anteriormente, a Bíblia é uma coleção de livros, os quais foram ajuntados através do
processo canônico.
Os indícios da data da canonização do AT são frágeis. Alguns estudos dizem que o cânon do AT teria sido
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completado em 400 a.C., outros por volta de 300 a.C. e ainda 165 a.C. Contudo, a corrente mais forte é a que
defende a canonização do AT em data não superior a 100 a.C.
Os documentos neo-testamentários foram ajuntados de modo diferente, pois entre os pais apostólicos não
havia nenhuma doutrina com relação ao cânon.
A pressuposição geral é que as tradições apostólicas estão lado a lado com o AT na condição de autoridade
paralela.
Houve vários debates que resultaram em diversos conjuntos de livros. Contudo, no final do século IV e início do
século V, a maioria das igrejas havia chegado a um consenso quanto ao conteúdo do NT.
A Carta de Páscoa de Atanásio (367 d.C.) foi o primeiro testemunho a especificar os 27 livros do NT, a qual foi
ratificada no Concílio de Cartago, em 419.
OS APÓCRIFOS
Ao tratar do cânon, faz-se necessário mencionar os livros apócrifos (ou deuterocanônicos), os quais, para os
católicos romanos, seriam Tobias, Judite, Sabedorias de Salomão, Eclesiástico, Baruc, Epístola de Jeremias, I e II
Macabeus e alguns trechos de Ester e Daniel.
A igreja ortodoxa aceita a canonicidade dos livros mencionados acrescentando I Esdras e III Macabeus.
O referido material teria sido composto entre 200 a.C. e 100 d.C. apesar de não fazerem parte do AT hebraico,
foram incluídos na tradução grega do AT, conhecida como Septuaginta. Por conta disso, muitos cristãos que
liam essa obra e passaram a considerar os apócrifos como integrantes do AT.
Durante o século XVI reformadores protestantes colocaram em dúvida a condição canônica atribuída aos
apócrifos e voltaram a aceitar a lista hebraica, mais curta.
As Bíblias mais antigas não era divididas em capítulos e versículos. Essas divisões foram feitas para facilitar a
tarefa de citar as Escrituras. Stephen Langton, professor da universidade de Paris e mais tarde arcebispo da
Cantuária, dividiu a Bíblia em capítulos, no ano de 1227. Robert Stephanus, impressor parisiense, acrescentou a
divisão em versículos em 1551. Em 1955, felizmente, estudiosos judeus, passaram a adotar essa divisão.
D. Diniz (1279-1325) teria sido a primeira pessoa a traduzir para a língua portuguesa o texto bíblico. Sendo
grande conhecedor do latim clássico e leitor da Vulgata (versão providenciada por Dâmaso, bispo de Roma, na
segunda metade do século IV), D. Diniz tomou-a como base para sua tradução portuguesa.
Mesmo tendo traduzido apenas os vinte primeiros capítulos de Gênesis, seus esforços muito contribuíram para
tradução da Bíblia em outros idiomas.
Coube a João Ferreira de Almeida a tarefa de traduzir pela primeira vez AT e NT para o português.
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Nascido em 1628, nas proximidades de Lisboa, João Ferreira de Almeida, quando tinha 12 anos de idade,
mudou-se para o sudeste de Ásia. Após viver dois anos na Batávia (atual Jacarta), Indonésia, Almeida partiu
para Málaca (Malásia), e lá, pela leitura de um folheto em espanhol acerca das diferenças da cristandade,
converteu-se do catolicismo à fé evangélica.
Não tinha ele ainda 17 anos de idade (1645) quando iniciou o trabalho de tradução da Bíblia para o português,
mas lamentavelmente perdeu o seu manuscrito e teve que reiniciar a tradução em 1648.
Por conhecer o hebraico e o grego, Almeida pôde utilizar-se dos manuscritos dessas línguas, mas também se
serviu das traduções holandesas, francesa, italiana, espanhola e latina (Vulgata).
Em 1676, João Ferreira de Almeida concluiu a tradução do NT e imediatamente remeteu o manuscrito para ser
impresso na Batávia. Todavia, o lento trabalho de revisão que a obra foi submetida levou Almeida a enviá-la
para ser impressa em Amsterdã, na Holanda. Finalmente, em 1681, surgiu o primeiro NT em português.
A Sociedade Bíblica Brasileira foi responsável pela revisão e tradução das versões de João Ferreira de Almeida
para o português.
REGRAS DE HERMENÊUTICA
As regras não são o processo hermenêutico em si, mas estão presentes em todo ele, pois constituem verdades
que não podem ser recusadas pelo estudante do texto.
Os autores variam muito com relação ao número das regras, mas em suma, todos primam pela mesma
essência.
- II Timóteo 3:16-17
- deixe que a Bíblia seja seu próprio comentário; compare Escritura com Escritura.
REGRA 3: A fé salvadora e o Espírito Santo são necessários para compreender e interpretar bem as Escrituras
- ver as coisas do ponto de vista de Deus é um ministério exercido pelo Espírito Santo.
- I Coríntios 2:9-11
- a experiência atesta a validade da doutrina, então ela deve ser levada às Escrituras para averiguar o que
sucedeu na vida da pessoa.
REGRA 5: O propósito primário da Bíblia é mudar vidas, não apenas aumentar conhecimento
- Tiago 1:22-25
- a igreja não determina o que a Bíblia ensina, mas é a Bíblia que determina o que a igreja ensina.
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- recorrer a outro tipo de interpretação pode significar um não desejo de obedecer aquele princípio, e/ou que
ela não se enquadra na tendência teológica adotada pelo leitor.
- questões norteadoras:
d) como se relaciona com a cultura e com o quadro de fundo em que foi escrita?
- colocar-se no cenário do tempo em que o livro foi escrito; sentir com as pessoas envolvidas.
REGRA 11: A revelação é progressiva. Velho e Novo Testamento, no entanto, formam uma unidade
- embora sejam tratados como duas partes, o caráter de ambos os testamentos é único e imutável.
REGRA 12: Fatos ou acontecimentos históricos se tornam símbolos de verdades espirituais somente se as
Escrituras assim os designarem
REGRA 13: Quando parecer que duas doutrinas ensinadas na Bíblia são contraditórias, aceite ambas como
escriturísticas, crendo confiantemente que elas se explicarão dentro de uma unidade mais elevada
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REGRA 14: Ensinamentos implícitos na Palavra podem ser considerados bíblicos quando uma
comparação de passagens correlatas o apóia.
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PROCESSO HERMENÊUTICO
A boa interpretação do texto bíblico inicia-se com a leitura repetitiva do mesmo. Sugere-se quantas leituras se
fizerem necessárias para que o estudante se familiarize com o texto.
Feito isso, o leitor deve ler o livro todo, no qual o texto esteja inserido. Nesta etapa há algumas exceções, como
no caso dos salmos, dos provérbios, parábolas, alegorias, entre outros tipos de texto, os quais serão tratados
separadamente.
1. Estudo do Contexto
2. Estudo da Gramática
3. Estudo da Semântica
4. Estudo da Sintaxe
5. Estudo Histórico- Cultural
6. Análise de Gênero literário
1. CONTEXTO
Esta é a primeira fase do estudo sério da Bíblia: olhar para o contexto mais amplo dentro do qual uma
passagem se encontra. Fora do contexto, as declarações simplesmente não tem significado.
Devem-se observar duas áreas nessa fase: o contexto histórico e o contexto lógico. Dentro da primeira
categoria, estudam-se algumas introduções ao livro bíblico em questão para determinar a qual situação o livro
foi dirigido. Dentro da segunda, usa-se uma abordagem indutiva para compor a forma de desenvolvimento do
pensamento neste livro.
Contexto Histórico
Trata-se do pano de fundo histórico de um livro, cujas informações podem ser coletadas:
As informações coletadas nessas fontes não são verdades definitivas, mas funcionam como um traçado, uma
planta do edifício de interpretação. Quando ele estiver sendo construído, pode-se modificar esses dados.
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Contexto Lógico
Apresenta-se como fator mais básico da interpretação. À medida que se aproxima do centro (vide diagrama
abaixo) a influencia do contexto sobre o significado aumenta.
Dentro do contexto lógico, faz-se necessário o estudo do todo (mapa de um livro), pois é sabido que as partes
não têm significado separadas desse todo.
Na realidade, o processo hermenêutico pode ser assim resumido: primeiro traça-se o mapa de um livro como
um todo e analisa-se o fluxo de pensamento nessa apresentação preliminar. Em seguida, faz-se um estudo
intensivo de cada uma das partes para detectar os detalhes da argumentação. Por fim, retrabalha-se a
seqüencia de pensamentos do todo em relação com as partes. Ou seja, inicia-se com o livro inteiro, passa para
as divisões principais, depois para os parágrafos e, por fim, para as frases específicas.
Feito o mapa do livro, segue-se para o estudo das partes, ou seja, o diagrama do parágrafo. Para tanto,
recomenda-se o uso de Bíblias em traduções mais literais, caso o leitor não conheça os idiomas originais.
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O primeiro passo no diagrama é detectar as orações principais e as orações subordinadas. Saliente-se que
orações são aquelas partes de um período que têm sujeito e predicado. A diferença entre as duas é que a
primeira não depende da outra para ser uma frase, mas a segunda depende.
Aristóteles diz que a retórica é “a arte de descobrir os melhores meios possíveis de persuasão em relação a
qualquer assunto”. Ou seja, para o processo hermenêutico, é necessário entender o padrão organizacional do
livro como um todo e os níveis intermediários do parágrafo e das técnicas de composição usadas nesses
parágrafos.
As quatro divisões clássicas de retórica, segundo Cícero, eram as técnicas de invenção, organização, estilo e
memória. O gênero fica na periferia dessas técnicas, pois a crítica retórica, por definição, trata principalmente
do processo de comunicação em si, isto é, das técnicas e dos padrões organizacionais pelos quais se
apresentam os argumentos do autor.
1. Relações de seleção: são as que fazem associação de idéias e fatos com base em alguma afinidade
entre eles. Os rabinos o chamavam de “cordão de pérolas” e costumavam enfileirar textos
messiânicos, um em seguida do outro. Muitas vezes, palavras de efeito fazem o vínculo numa série
aparentemente desorganizada. É isso que se vê em Marcos 9:33-50, uma coletânea de aforismos
ligados à idéia de recompensa e castigo. O trecho se organiza em torno das seguintes palavras de
efeito: “em meu nome” (v. 37-41), “tropeçar” (v. 42-47), “sal” e “fogo” (v. 48-50). Padrões
semelhantes também se acham nas bem-aventuranças (Mateus 5:1-13), na explicação que João dá
sobre seu propósito ao escrever (I João 2:12-14) e nas cartas às sete igrejas (praticamente “cartas-
padrão”) em Apocalipse 2-3. A repetição de uma idéia é o que predomina.
2. Relações de causa e efeito e de solução de problemas: contêm atos que antecedem e conseqüências
advindas desses atos. Por exemplo, em Amós 2:6-16 começa com causa (v. 6), caminha para a
enumeração de pecados (v. 6b-13) e termina com o julgamento (v. 14-16). A relação pergunta-
resposta que Paulo e os profetas usam com bastante freqüência, guarda semelhanças com essa
anterior. Isso se aplica principalmente a Romanos, onde Paulo se vale muitas vezes de perguntas
retóricas (apresentando a perspectiva de seus opositores), seguidas de respostas que refutam as
opiniões erradas. Sob a mesma categoria, inclui-se propósito e resultado ou fundamentação. Também
são respostas à pergunta “por quê?”. O propósito inverte a ordem e informa o resultado esperado,
mas não o resultado propriamente dito. Ambos (propósito e resultado) são muitas vezes de difícil
diferenciação, mas como afirma Walter Liefeld: “Quase sempre, levando-se em conta a providência de
Deus, a distinção não tem muita importância”. Quer se resolva traduzir por “a fim de que” (futuro),
quer por “de modo que” (passado), o destaque está no controle soberano que Deus tem sobre da
situação.
3. Relação de comparação: indica semelhanças ou contrastes entre idéias. Um exemplo bem conhecido
é o contraste entre Adão e Cristo em Romanos 5:12-21. Os dois são identificados em recíproca
solidariedade (observe o emprego de “um só” e “muitos” – v.15) com a humanidade pecadora e com a
humanidade em Cristo.
4. Descrição: ampla categoria que enseja o esclarecimento de um tópico, fato ou pessoa, por meio de
informações complementares. É uma categoria que poderia ser chamada continuação, mas
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diferenciada da repetição pelo fato de “expandir” a discussão em vez de “repeti-la”. É uma técnica que
pode ser vista na elaboração da fuga de Jonas (Jonas 1:3). O princípio de sintetização pode ser
classificado nesta categoria, pois geralmente surge no final de uma descrição extensa para dar
fechamento e apresentar a idéia básica ou resultado. Algo que se assemelha à sintetização é a prática
judaica da “inclusio”, técnica pela qual o autor, quando chega ao fim da discussão, retorna ao
pensamento do início. Assim ele reitera o ponto fundamental que vinha desenvolvendo e amarra a
descrição como uma unidade. Outra técnica da literatura judaica que da destaque a temas de maior
importância é o “quiasmo”, que dispõe as palavras e fatos em seções ou orações paralelas e
sucessivas.
5. Mudança de expectativa: relação que inclui muitos tipos de composição. “Seu significado depende de
que o leitor reconheça o emprego inesperado ou incomum de uma palavra, de uma estrutura
sintática, do significado de uma palavra, de uma frase, ou até de um período inteiro” (Nida). Tem
claros pontos de contato com as figuras de linguagem. Contudo, os aparatos da retórica transcendem
figuras como o anacoluto. Clímax e ponto crucial também encontram-se nessa categoria. O primeiro
pode ser visto em narrativas e o outro aparece em epístolas, mas ambos com função semelhante, pois
indicam o ponto crítico ou decisivo do argumento básico de um escritor. E ainda, inclui-se a omissão,
pois sempre que o autor omite de propósito um elemento esperado pelo leitos, isso provoca uma
mudança de expectativa, que impressiona e agrega ênfase.
- Destinatários
- Onde viviam estes
- Tipo de geografia
- Que tipo de gente eram eles
- Quando e onde foi escrito
- Em que circunstâncias ou/ambiente estava o autor
- PORQUÊ foi escrito (motivação)
- Problemas especiais abordados (que ocasionaram o livro)
- O que o autor tinha em mente
- PARA QUE foi escrito (finalidade)
- Quais soluções propostas
(vide quadro “Estudo de Livros” nos anexos desta apostila)
2. GRAMÁTICA
Exegese é o ato de extrair do texto seu significado, em contraste com a eisexege, que é impor ao texto o
significado que se deseja que ele tenha. Trata-se de um processo complexo e constitui o coração da teoria
hermenêutica, cuja tarefa primeira é definir o significado pretendido pelo autor, para depois aplicá-lo na vida
pessoal. É uma tarefa só, e os dois aspectos – significado e significação – não podem ser separados, uma vez
que determinar o significado (o que o texto significava) é algo que já faz a partir das perspectivas ou
significações modernas (o que o texto significa).
A fim de diferenciação, tem-se que a hermenêutica geral está ligada ao significado, enquanto a hermenêutica
aplicada está ligada à significação (o que a passagem bíblica diz para a pessoa).
Inicia-se a análise gramatical com a fixação do texto. Tendo em vista que o estudo hermenêutico deve ser
aplicado no idioma original, esta prática torna-se praticamente impossível, pois hebraico e grego não
apresentam pontuações e, às vezes, nem espaços. Além disso, a Bíblia originalmente não era dividida em
capítulos e versículos.
Assim, faz-se uma adaptação e emprega-se a análise gramatical ao trecho já traduzido. Por isso deve-se tomar
cuidado com a versão/tradução adotada para o estudo.
HEBRAICO BÍBLICO
Língua semítica do nordeste
Raiz de substantivos e verbos contendo de uma a três consoantes; utilizando mudanças
de prefixos e sufixos para indicar seu uso na frase; semelhante ocorre nos tempos verbais
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GREGO BÍBLICO
Comum e coloquial (koiné)
CURIOSIDADES: o melhor grego (mais próximo ao grego ático) é o de Lucas, Tiago e do
autor da carta aos Hebreus. Paulo chega próximo de um grego elegante; e I Pedro
demonstra um grego koiné muito bom. O grego mais rústico encontra-se em II Pedro,
Apocalipse e no Evangelho de João.
3. SEMÂNTICA
Semântica é a determinação do significado da palavra. O significado, por sua vez, é o coração da comunicação.
As palavras fornecem os ingredientes do significado; a gramática e a sintaxe dão a forma.
A análise semântica de um conceito envolve não apenas a sintaxe, mas também os antecedentes históricos-
culturais por trás dos enunciados. A análise pressupõe todo o conjunto de recursos hermenêuticos e faz parte
dele.
1. Significado: é a concretização da intenção do autor, que então se materializa numa estrutura verbal
estável e é colocada em cena para ser compartilhada com os leitores. Uma importante área de
convergência entre os semanticistas é que o significado não é uma propriedade inerente das palavras.
Ao contrario do que as pessoas geralmente pensam, as palavras realmente não carregam significado
em si mesmas. Os dicionários nos dão uma impressão de que as palavras têm conteúdo abstrato por
sua própria natureza, mas o fato é que as palavras são símbolos arbitrários que têm significado apenas
dentro de um contexto. Pode-se definir significado como o conjunto de relações para as quais um
símbolo verbal é um signo e as palavras devem ser entendidas como representação ou símbolo deste
ou daquele significado.
2. Sentido e referência: ter significado é diferente de representar. A teoria referencial do significado faz
relação direta de uma palavra como símbolo e o elemento a que ela se refere. Mas o problema é que
as palavras nem sempre dão nome à realidade que elas representam. Por exemplo, a palavra
santificação, em passagens como Romanos6 ou I Coríntios 1:2, é usada para definir o momento da
justificação, em vez de associá-la ao processo de crescimento espiritual. Ou seja, até termos técnicos
não devem ter primazia sobre o contexto.
3. Lingüística estrutural: a significação de um termo depende se sua função na unidade lingüística maior,
a frase.
4. Contexto: tem função determinante, pois não apenas ajuda a entender o significado, mas ele constrói
o significado.
5. Estrutura profunda: trata-se da interpretação das frases em análise. Por exemplo, no texto de
Hebreus 10:24, 25 (“E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas
obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns
aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia”) a estrutura profunda
seria: “É preciso que vocês continuem examinando uns aos outros por causa do pecado, pois, se não
fizerem isso, ele os enganará e os endurecerá”.
6. Sintaxe e semântica: o primeiro fator que conduz ao significado é a sintaxe, pois faz muita diferença
se a palavra é empregada como substantivo, verbo ou adjetivo. Deve-se sempre perguntar qual a
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contribuição a palavra dá ao significado de todo o enunciado, não apenas indagar o que ela significa
no contexto. Cada palavra usada num enunciado não se constitui em si uma entidade, mas é parte de
uma atividade mais ampla, que tem como fundamento a vida do dia-a-dia. Assim, os atos discursivos
não têm padrão; as regras de hermenêutica precisam ser flexíveis para permitir que a sintaxe fale por
si, para que a linguagem possa jogar seu próprio jogo.
7. Espectro semântico: o campo semântico de uma palavra é a conseqüência do estudo sincrônico, uma
lista de usos da palavra na época em que o texto foi escrito. No AT além da lingüística comparada, os
termos podem ser estudados nos registros judaicos e na literatura rabínbica. Léxicos e concordâncias
são a fonte primária para este trabalho estatístico. As fontes extrabíblicas devem ser empregadas com
cautela, uma vez que o uso de línguas cognatas pode facilmente dar espaço para a falácia etimológica,
mas os paralelos aduzidos de modo adequado podem ajudar muito na compreensão da palavra.
8. Significado conotativo: o emprego dinâmico das palavras num contexto envolve quatro componentes
básicos, a saber, o objeto (o), o evento que se conota (e), a natureza abstrata que se adquire (a) e um
relacionamento que se subentende (r), os quais são usados para definir com mais exatidão o modo
pelo qual determinada palavra é usada em seu contexto e para fornecer uma diretriz para a escolha de
um termo ou frase em equivalência dinâmica na língua receptora.
9. Campo semântico (sinonímia, antonímia e análise componencial): esta divisão tem a ver com o
campo semântico de um conceito, não apenas os vários significados que o termo em si possa ter em
contextos diferentes, mas os outros termos que com ele guardam relação. Isso é o contrário de
espectro semântico (número de significados que determinado termo tinha à época de sua escrita) e
refere-se ao número de palavras e frases usadas em relação a certo conceito no primeiro século. Sem
estudar o campo semântico, não se pode fazer teologia bíblica de um tema. Saliente-se polissemia e
polimorfismo, aquele é o nome dado a um termo com mais de um significado, enquanto este é o
nome dado para a existência de vários símbolos com o mesmo significado. Assim, não se deve
negligenciar os sinônimos, pois são deveras úteis na expansão do termo real escolhido na estrutura.
10. Ambigüidade e duplo significado: o aspecto mais complicado da exegese é a ambigüidade. O leitor
pode ficar confuso, pois nenhum dos significados mais comuns parece se encaixar ou, pior ainda, há
mais de um significado que condiz com o contexto.
Quando em determinado versículo se escolhe um termo que precisa passar por análise semântica, é necessário
(1) definir o espectro semântico (os possíveis significados que a palavra poderia assumir no mundo antigo); em
seguida (2) permitir que o contexto determine o significado que mais se encaixe com a outra mensagem
pretendida pelo autor. Por fim, (3) se o objetivo for fazer um estudo mais profundo da teologia ligada
à palavra, deve-se fazer uma pesquisa no campo semântico para encontrar termos ou expressões que tenham
o mesmo significado, buscando inclusive no livro, no autor ou no Testamento.
4. SINTAXE
O campo semântico do termo sintaxe apresenta ao mesmo tempo uma conotação restrita e outra ampla. No
sentido restrito, refere-se à relação entre as palavras de uma frase, sendo praticamente igual à gramática. Num
sentido mais amplo, a sintaxe refere-se a todas as inter-relações dentro da frase como meio de determinar o
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significado da unidade como um todo. Neste aspecto a sintaxe inclui padrões de composição, gramática e
semântica. Os três aspectos da exegese podem ser usados juntos (estrutura, gramática, estudo lexical).
A gramática tem a ver com a relação entre palavras e locuções individuais, portanto é a base para o segundo
estágio da análise sintática. A semântica analisa as relações semiotáticas entre os significados da palavra na
estrutura de superfície mais geral e, deste modo, fornece a base final da análise sintática. Há um fio comum em
todos os aspectos da exegese, ou seja, a estrutura.
A sintaxe é essencialmente estrutural. Ela reúne os vários aspectos da tarefa hermenêutica e capacita o leitor a
mergulhar nas profundidades do texto bíblico, numa tentativa de recuperar a mensagem dada por Deus.
Figuras de linguagem
Tradicionalmente, expressões figuradas têm sido discutidas dentro da hermenêutica especial, que costuma
incluir tópicos como linguagem (metáfora, símile), gênero (profecia, parábola) e teologia. As figuras de
linguagem, no entanto, contém aspectos tanto gramaticais quanto semânticos e, portanto, o lugar apropriado
para sua discussão é dentro da divisão de análise semântica.
As expressões figuradas associam um conceito a uma representação pictórica ou análoga do seu significado, a
fim de enriquecer o enunciado.
Figuras de som
Figuras de construção
elementos do período.
“ E sob as ondas ritmadas e sob as nuvens e os ventos e sob as pontes e sob o
sarcasmo e sob a gosma e sob o vômito (...)”
e) silepse: consiste na concordância não com o que vem expresso, mas com o que
se subentende, com o que está implícito. A silepse pode ser:
• De gênero
Vossa Excelência está preocupado.
• De número
Os Lusíadas glorificou nossa literatura.
• De pessoa
“O que me parece inexplicável é que os brasileiros persistamos em comer essa
coisinha verde e mole que se derrete na boca.”
Figuras de pensamento
Figuras de palavras
Geografia
Política
Economia
Força militar e guerra
Práticas culturais (costumes familiares, costumes materiais, costumes do cotidiano, esportes e
recreação, música e arte, antropologia cultural)
Costumes religiosos
Qualquer comunicação acontece quando uma fonte envia uma mensagem a um receptor. Deus, a fonte
suprema, fala por meio dos autores humanos das Escrituras (a fonte imediata) dentro das diversas culturas do
seu tempo. Os receptores da mensagem a interpretam do interior de outras culturas. Portanto, a tarefa do
receptor na estrutura cultural contemporânea é captar a estrutura total dentro da qual o autor sagrado se
comunicou e transferir a mensagem para o seu próprio tempo. O processo se torna um prelúdio necessário à
aplicação do texto nas situações de hoje.
Significado textual
Princípios profundos
Aplicação / Contextualização
O pano de fundo cultural não somente aprofunda a compreensão do texto original, mas também oferece uma
ponte para o atual significado do texto.
6. ANÁLISE DE GÊNERO
O gênero funciona como uma valiosa conexão entre o texto e o leitor, por isso não pode ser negligenciado no
processo de interpretação. Se um leitor supões que os Evangelhos contém ficção em lugar de história
(compreendendo a narrativa de Lázaro e o homem rico em Lucas como uma parábola, não um evento real), a
sua interpretação irá diferenciar de forma radical. À medida que o leitor estuda o texto particular e limita as
possibilidades de identificação do gênero adequado ao qual o texto pertence, suas expectativas são pouco a
pouco definidas.
Os gêneros apresentados diferenciam de autos para autor, contudo, elegeu-se a classificação de Grant R.
Osborn (A Espiral Hermenêutica) para fins de estudo acadêmico: