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[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

TEMA 1: PRISCILLA MENEZES

NOÇÕES GERAIS DA LEI 11.101/05

VISÃO COMPARATIVA: DECRETO 7661/45 E LEI 11.101/05

A estrutura principiológica não mudou nesses dois diplomas. Os objetivos


continuam sendo sanear o mercado, em caso de empresas inviáveis, e garantir a
manutenção de atividades viáveis. Antes, no Decreto 7661/45, a manutenção se dava
por meio da concordata supensiva – que suspendia uma falência já em andamento –
ou da concordata preventiva – que evitava a falência. Como se vê, era como se fosse
um fôlego para ver se o próprio devedor em crise se recuperava, sem qualquer
intervenção do Estado.

Já a Lei 11.101/05 muda tal visão, ao prever o instituto da recuperação judicial,


em que o Estado intervém e cria vários mecanismos para que a atividade se mantenha,
ex. processo judicial de recuperação, participação ativa de credores, meios de
recuperação (art. 50 – rol exemplificativo). Acabou-se com as concordatas suspensiva
e preventiva. A doutrina comenta que tal instituto tem inspiração norte-americana,
com as devidas adaptações.

Além dessa grande mudança, a Lei 11.101/05 tem dois objetivos


macroeconômicos que são: a retomada do desenvolvimento econômico, ou seja, por
meio da recuperação de empresas em crise, dá-se uma impulsionada na economia, e
a luta contra o desemprego, ou seja, garantir a manutenção dos postos de trabalho já
existentes.

Essa lei tem diversos objetivos econômicos:

a) Recuperação de empresas viáveis e liquidação das inviáveis: quando


falamos em princípio da preservação da empresa, isso não significa que
toda e qualquer empresa tem que ser recuperada a qualquer custo. Tanto o
é que, no requerimento de recuperação judicial, deve ser juntado um laudo
de viabilidade econômica. Um empresário insustentável no mercado não
paga seus credores, não respeita os direitos trabalhistas etc. Toda vez que
o inadimplemento começa a subir, os juros aumentam, gerando efeitos
maléficos para o mercado que afetam até o bom pagador (custo Brasil).
b) Proteção dos trabalhadores: há diversos meios de proteger os
trabalhadores. Na recuperação extrajudicial, por exemplo, não é possível
negociar crédito trabalhista (na medida em que não há nenhum órgão
protetivo de seus interesses). Na falência, o trabalhador tem uma
preferência no pagamento de seus créditos (arts. 83, 84 e 151), seja na
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categoria de créditos extraconcursais (o trabalhador recebe as verbas


salariais referentes aos últimos 3 meses trabalhados, limitado a 5 salários-
mínimos por trablhador), seja na categoria de créditos concursais (cada
trabalhador recebe verbas salariais e decorrentes de acidente de trabalho
no limite de 150 salários-mínimos). O que sobrar o trabalhador habilitará
como crédito quirografário.
c) Redução do custo do crédito: se o inadimplemento é menor,
automaticamente há maior segurança para o mercado, pelo que o custo do
crédito pode ser reduzido.
d) Participação ativa dos credores: apesar de muito comemorada, até 2014, a
recuperação judicial não tinha se tornado relevante. Primeiro, por uma
questão de legitimidade ativa, já que só o próprio devedor pode requerê-la.
Segundo, porque o processo de recuperação é caro. Terceiro, porque,
quando da aprovação do plano, o devedor é obrigado a acrescer em seu
nome empresarial a expressão “em recuperação judicial”, publicizando a
situação da empresa. Quarto, a recuperação pode ser convolada em falência
a qualquer tempo. Desde 2014, essa tendência tem mudado um pouco,
principalmente diante da participação dos credores, que podem dar
sugestões, propor alterações no plano etc. O ideal é o credor tenha uma
postura colaborativa, a fim de que não corra o risco de não satisfazer seu
crédito em eventual falência.
e) Desburocratização da recuperação para ME e EPP (art. 70): a recuperação
judicial especial para ME e EPP pode durar até 36 meses (prazo maior que
o da recuperação normal de 24 meses), pode postegar o primeiro
pagamento para 180 dias etc. Em 2014, tivemos alterações legislativas que
criaram uma nova categoria de credores, qual seja a de credores ME e EPP
(vide arts. 26, IV, 41, IV, 83, IV, d).
f) Estímulo à arrematação de bens do falido e do devedor em recuperação:
diante de uma recuperação judicial, é muito comum a chamada alienação
de ativos. No trespasse, em regra, o adquirente também assume o passivo
contabilizado. Contudo, quem adquire bens do falido ou do devedor em
recuperação judicial não sucede nas dívidas (art. 141, II e art. 60, p.ú).

DIREITO INTERTEMPORAL

Para resolver questões de direito intertemporal, aplicamos o art. 192 da Lei


11.101/05, que tem três regras básicas:

1ª. Para os processos iniciados e com falência decretada ainda na vigência do


DL 7661/45: os processos serão concluídos nos termos do DL 7661/45.
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2ª. Para os processos iniciados após 08/06/2015 (vide art. 201), já na vigência
da Lei 11.101/05: seguirão o rito da Lei 11.101/05.

3ª. Para os processos com requerimento de falência sob a égide do DL


7661/45 e decretação da falência já sob a vigência da Lei 11.101/05 ou concordata
deferida sob a égide do DL 7661/45 e convolada em falência já sob a vigência da Lei
11.101/05 (art. 192, §4º): aplica-se até a convolação/decretação da falência o DL
7661/45 e, a partir daí, a Lei 11.101/05. A sentença já precisa observar o art. 99 da
Lei 11.101/05. Isto porque na fase pré-falimentar ainda se está discutindo se cabe a
falência ou não e, para isso, é necessário analisar se os pressupostos para a decretação
da falência estão presentes de acordo com a lei vigente no momento do requerimento
da falência.

PRINCÍPIOS GERAIS DA LEI 11.101/05

1º. Preservação da empresa (art. 47): esse princípio determina que se busque
ao máximo a manutenção das empresas viáveis. Ele é aplicável tanto na falência como
na recuperação judicial.

2º. Maximização dos ativos (art. 75, caput): se aplica tanto na falência como
na recuperação. É muito comum que os PRJ tenham previsão de alienação de bens e,
na falência, a alienação de bens é obrigatória. O princípio da maximização dos ativos
diz que os ativos devem ser vendidos pelo maior valor possível, porque entrando mais
dinheiro, há mais chance do devedor em recuperação judicial se recuperar e do falido
pagar a maior quantidade de credores possível.

3º. Celeridade e economia processual (art. 75, p.ú.): um dos efeitos da


falência é a paralisação das atividades por meio do lacre dos estabelecimentos. Nada
impede que o juiz permita a continuação provisória das atividades, por duas razões:
a) permitir que o falido cumpra com as obrigações assumidas, diminuindo o passivo;
b) evitar deterioriação dos bens do ativo permanente, principalmente no setor
industrial (máquinas, por ex.). Logo, muitas vezes, há o interesse de agilizar o processo
de forma que os bens não se deteriorem e a avaliação não seja ainda pior.

4º. Par conditio creditorium: impõe o tratamento isonômico entre os


credores. O devedor não pode escolher quem ele vai pagar. Ele terá que pagar de
acordo com a ordem legal estabelecida nos arts. 83, 84, 151. Outro exemplo do
princípio da par conditio creditorium é o art. 77 que impõe o vencimento antecipado
das dívidas do falido (traz-se o credor da dívida vincenda para o momento atual).

5º. Universalidade dos bens: um dos efeitos da falência é a indisponibilidade


dos bens do devedor. Ele pode acompanhar o que está sendo feito com esses bens,
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mas não tem mais disposição sobre eles, na medida em que o seu patrimônio como
um todo funciona como garantia de pagamento dos credores (art. 103).

6º. Universalidade de credores: todos os credores do falido serão


contemplados na falência (art. 115). O art. 77 também serve como exemplo da
universalidade de credores, uma vez que traz os credores das dívidas vincendas para
participarem da falência.

7º. Indivisibilidade do juízo da falência: também é chamado de juízo


universal ou de vis attractiva. O juízo da falência atrai as demais ações que envolvem
bens e interesses do falido (art. 76). Considera-se como competente o juízo do local
do principal estabelecimento (art. 3º).

A indivisibilidade, contudo, não é absoluta. Há exceções:

 Ação que demandar quantia ilíquida – prossegue no juízo no qual


estiver se processando (art. 6º, §1º);
 Ações trabalhistas (art. 76, caput) – tramitam na Justiça do Trabalho até
apuração do débito. Consolidado o débito por meio do trânsito em
julgado, sua execução ocorrerá no juízo falimentar.
 Ações fiscais (art. 76, caput) – tramitam na Vara de Fazenda Pública até
a consolidação do débito mediante sentença transitada em julgado.
 Ações não reguladas pela Lei 11.101/05 em que o falido figure como
autor ou litisconsorte ativo (art. 76, caput) – sendo o falido vencedor,
o crédito apurado em seu favor será remetido ao juízo da falência.

PRESSUPOSTOS DA FALÊNCIA

1º. Qualidade de empresário do devedor (art. 1º c.c. arts. 966, caput e


980-A do CC): o conceito de empresário encontra-se no art. 966, caput, do CC, qual
seja aquele que exerce profissionalmente atividade econômica organizada voltada para
a produção ou circulação de bens ou serviços. São características do empresário:
profissionalidade, exercício de empresa, organização, busca de lucro e impessoalidade.

O registro, em geral, não é necessário para caracterizar alguém como


empresário, sendo mera condição de regularidade. Embora o empresário irregular
possa falir, ele não pode pedir recuperação judicial nem homologar a
recuperação extrajudicial (art. 48), bem como não pode pedir a falência de
outro empresário (art. 97, §1º).

A EIRELI empresária, registrada na Junta Comercial, também se sujeita à


falência (por isso, a remissão ao art. 980-A do CC).
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Estão excluídos do conceito de empresário:

 Atividades intelectuais (art. 966, p.ú, do CC): a princípio, profissionais


que exercem atividades científicas, artísticas, literárias, não se sujeitam
à falência, salvo se o exercício da atividade demonstrar elemento de
empresa (diversos médicos que funcionam como um elemento da
engrenagem “hospital” x consultório de médico especialista).
 Sociedades cooperativas (art. 982, p.ú, do CC): diz que, independente
do objeto, as sociedades cooperativas serão sempre sociedades simples
e, portanto, não empresárias, razão pela qual não se sujeitam à falência.
 Atividades rurais (art. 971 e 984 do CC): o registr, em regra, é
meramente declaratório, ou seja, reconhece situação de fato
preexistente. Para aqueles que exercem atividade rural, o registro não é
obrigatório. Eles só serão tratados como empresários se promoverem
o registro na Junta Comercial (natureza constitutiva), caso em que se
sujeitam à falência.

Atenção! Há ainda as exclusões legais do art. 2º da Lei de Falências: empresas


públicas, sociedades de economia mista (são criadas por lei e, pelo princípio da
paridade das formas, só podem ser extintas por lei), sociedades seguradoras,
operadoras de plano de saúde etc. Todas essas têm liquidação regulada por lei especial,
acompanhadas pelo respectivo órgão regulador.

2º. Estado de insolvência do empresário

O que caracteriza o estado de insolvência? Há diversas espécies de crise:


financeira (em regra, decorre de má-administração), econômica (em regra, decorre da
má conjuntura econômica), patrimonial (é quando o ativo é maior que o passivo).
Não existe uma hierarquia entre essas espécies de crise.

O legislador da Lei 11.101/05 adotou um conceito de insolvência jurídica.


Considera-se insolvente o devedor que se enquadrar nas hipóteses dos arts. 94 e 105
(pedido de autofalência).

 Devedor que, sem relevante razão de direito, não paga, no vencimento,


obrigação líquida materializada em título ou título executivo protestado
cuja soma ultrapasse o equivalente a 40 salários-mínimos na data do
pedido de falência – é a hipótese de impontualidade injustificada.
No caso, a soma dos 40 salários-mínimos pode ser obtida pela soma
dos créditos de vários credores. Não necessariamente decorre de crise
econômica, pois, muitas vezes, nesses casos, os devedores fazem o
depósito elisivo para impedir a falência.
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 Devedor que, executado por qualquer quantia líquida, não paga, não
deposita e não nomeia à penhora bens suficientes dentro do prazo legal
– é a hipótese de execução frustrada. Aqui não há um valor mínimo.
 Devedor que pratica atos de falência – é o devedor que pratica condutas
não compatíveis com a situação de devedor, ex. vender bens a preço
vil, doá-los.

3º. Decretação judicial da falência

Questão: A pluralidade de credores seria um quarto requisito?

1ª corrente (Carlos Castro): sim, pois a falência só se justifica como execução


coletiva e não pode ser usada como simples meio de cobrança (STJ, Resp 399.644).

2ª corrente (Waldo Fazzio, Campinho): não, pois a legislação não estabelece


esse pressuposto e tal comprovação seria impossível antes da decretação.

TEMAS 3 E 4: ALEXANDRE ASSUMPÇÃO

FASE PRÉ-FALIMENTAR

CONCEITO

Fase pré-falimentar é aquela fase em que há pedido de falência, mas ainda não
há sentença. Durante esse período, ainda não se produzem os efeitos típicos da
falência, tal qual a arrecadação, a nomeação de administrador judicial, a interrupção
da atividade do empresário.

Obs. Um dos pressupostos da falência no direito brasileiro é que o devedor


ostente a natureza de empresário. O próprio CPC/15 manteve em vigor o capítulo
do processo de insolvência do CPC/73. Também sofre falência quando for o caso o
sócio de responsabilidade ilimitada de sociedade empresária, pois o art. 190 da Lei
11.101/05 o equipara ao devedor empresário. Existem situações, porém, em que há
empresários excluídos da falência por expressa disposição de lei. Exemplo clássico
são as sociedades de economia mista que, apesar de se constituírem como S.A., não
sofrem falência.

LEGITIMIDADE PARA REQUERIMENTO DE FALÊNCIA

A legitimidade ativa está no art. 97 da Lei 11.101//05:

1. Qualquer credor (inciso IV):


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Embora a lei fale em qualquer credor, há uma série de restrições. Em primeiro


lugar, se o devedor estiver em recuperação judicial, o credor pode ou não ter
legitimidade para requerer a falência a depender se o devedor está amparado ou não
pela suspensão de ações e execuções (art. 52, III). Pode ainda acontecer de o devedor
incluir determinado crédito no PRJ e, uma vez aprovado o plano, opera-se a novação
do crédito, ou seja, a antiga obrigação é extinta e a nova será cumprida de acordo com
o PRJ, não sendo possível requerer a falência (art. 59). Se a nova obrigação não for
cumprida, haverá convolação da RJ em falência. Existem, porém, situações em que o
devedor, estando em RJ, poderá ter a falência requerida por um credor. Os credores
que surgirem após o pedido de RJ não ficam impedidos de requerer a falência, isto
porque seus créditos não podem ser inseridos no PRJ (é sempre ex tunc) (art. 49,
caput). Os credores excluídos do efeito da RJ também podem requerer a falência (ex.
crédito decorrente de arrendamento mercantil que, de acordo com o art. 49, §3º, da
Lei 11.101, não pode ter seu crédito incluído no PRJ). Tanto é assim que a pŕopria
Lei 11.101/05 permite que ocorra o pedido de falência no curso da RJ, caso em que
o juízo da RJ torna-se prevento para analisar esse pedido de falência (não há nova
distribuição) (art. 6º, §8º).

Quando não há RJ anterior, não há se falar em qualquer restrição.

Fazenda Pública. Embora o art. 97, IV, da Lei 11.101 se refira a qualquer
credor, o STJ tem posição já consolidada de que a Fazenda Pública não teria interesse
em requerer a falência do devedor, com base no art. 187 do CTN, que diz que a
cobrança judicial do crédito tributário não está sujeito a concurso de credores, nem a
habilitação em falência. Caberia à Fazenda satisfazer seus créditos pelo meio próprio,
qual seja a execução fiscal. Isso não significa que o crédito tributário não se sujeita à
ordem de pagamento de falência (é crédito concursal de terceira classe).

Credor com garantia real. Há uma discussão se o credor com garantia real
pode ou não requerer falência. Para o professor Alexandre, não há como falar que ele
não tem legitimidade, porque tanto o DL 7661/45 lhe conferia legitimidade expressa,
como a Lei 11.101/05 fala em qualquer credor. O DL 7661/45, além de conferir
legitimidade expressa, exigia que o credor renunciasse à sua garantia real. Segundo
Alexandre, essa exigência não se mantém na Lei 11.101/05, pois não há como se
manter em vigor uma disposição já revogada que restringe direitos.

Impontualidade. A impontualidade na falência (art. 94, I e II) não tem a


mesma abrangência que a impontualidade civil, ou seja, do direito das obrigações. A
impontualidade civil é o não pagamento de uma obrigação no modo, tempo e
condição estabelecidos. Logo, o devedor pode estar impontual em relação à obrigação
ilíquida ou líquida, obrigação ajustada verbalmente ou materializada em documento,
obrigação com valor ínfimo, obrigação de dar/fazer/não fazer etc. A impontualidade
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falimentar, diferentemente, é restritiva, porque há uma política legislativa de não atrair


toda e qualquer cobrança para o processo de falência, até mesmo porque o
deferimento da falência implica a cessação da empresa. Impontualidade não é
insolvência, mas sim não pagamento no vencimento sem relevante razão de direito.
É preciso que seja uma obrigação, cumulativamente:

 De dar coisa certa – consiste no pagamento de uma quantia superior a


40 salários mínimos na data do pedido de falência (art. 94, I).
 Líquida;
 Materializada em um título executivo levado a protesto – não basta ser
qualquer documento. Tem que haver um título executivo judicial ou
extrajudicial que tenha sido levado a protesto especial por falta de
pagamento ou para fins de falência (art. 94, §3º).

Nesse caso, há uma presunção relativa da insolvência do devedor a partir


da impontualidade publicamente comprovada pelo protesto. Difere, portanto, do
pedido de autofalência em que a insolvência é confessada pelo próprio devedor.

Obs. Lembre-se ainda que um empresário irregular não pode requerer a


falência de outro empresário, visto que ele tem que provar a regularidade na Junta
Comercial (art. 97, §1º). Em contrapartida, pode ter sua falência decretada. A
irregularidade do empresário não afasta sua legitimidade passiva, mas afasta sua
legitimidade ativa.

2. O próprio devedor, na forma dos arts. 105 e 107 (inciso I)

É o chamado pedido de autofalência, em que o devedor, antecipando-se ao


pedido de qualquer credor, requer a sua própria falência. Nesse caso, o legislador
prevê a necessidade de o devedor provar o seu déficit patrimonial através da
apresentação de documentos contábeis referentes aos últimos 3 anos, especialmente
levantados para instruir o pedido (art. 105, I). Aqui, fala-se em insolvência
confessada. Isso se assemelha bastante com o pedido de RJ em que o devedor irá
expor as causas da sua situação econômica e apresentará os documentos contábeis
exigidos junto com a petição inicial.

Diferentemente, quando a falência é requerida por credor e o devedor é citado,


não faz parte do processo de falência na fase pré-falimentar abrir prazo para a
verificação patrimonial do estado econômico do devedor. Aquela insolvência
presumida não precisa ser comprovada pelo credor. O que ele vai precisar comprovar
é a sua regularidade na forma do art. 97, §1º.

3. O cônjuge sobrevivente, qualquer herdeiro do devedor ou o


inventariante (inciso II)
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Refere-se ao pedido de falência do espólio do empresário individual. Não se


aplica à sociedade empresarial. Pressupõe-se, então, que houve o falecimento do
empresário individual. Nesse caso, há um limite temporal para a decretação de falência
do espólio, qual seja até 1 ano da data da morte do devedor (art. 96, §1º).

Da mesma forma que se admite o pedido de falência do espólio por qualquer


desses legitimados, também se admite a recuperação judicial do espólio, com base no
art. 48, §1º. Na RJ, não se aplica o limite temporal de 1 ano. Se não for possível a
recuperação judicial, não se pode convolar em falência, pois isso burlaria o prazo de
1 ano do art. 96, §1º. O processo de inventário voltará a correr, pois estava suspenso
na forma do art. 125, e ali serão pagos os credores.

4. O cotista ou acionista do devedor, na forma da lei ou do ato


constitutivo de sociedade (inciso III)

Cotista é o sócio que tem cotas e acionista o sócio que tem ações em qualquer
tipo de sociedade. Eles têm legitimidade para requerer a falência na forma da lei ou do
contrato social.

A LRF não tem nenhum dispositivo estabelecendo as condições em que o


sócio pode requerer a falência da sociedade. Também não existe tal previsão na
legislação societária (Lei 6404, Código Civil etc.). Logo, há uma lacuna na lei.

Nada impede, porém, que o ato constitutivo preveja as condições em que o


sócio possa requerer a falência da sociedade. Se o contrato não tiver tal disposição, o
sócio só poderá requerer a falência da sociedade na qualidade de credor e nas mesmas
condições que os demais credores.

JUÍZO DA FALÊNCIA

Só pode ser requerida a falência no juízo determinado pelo art. 3º, qual seja o
juízo do lugar do principal estabelecimento do devedor, que não é necessariamente o
juízo da sede. O juízo da falência é o mesmo da recuperação judicial e da recuperação
extrajudicial.

Entende-se como principal estabelecimento o lugar onde o devedor centraliza,


prioriza o exercício da sua atividade. O devedor pode ter sede em um local, mas
centralizar suas operações em outro. Na prática, a maioria dos devedores só tem um
estabelecimento e, quando tem mais de um, geralmente, o principal estabelecimento
é a sede. Há uma presunção de que o principal estabelecimento é a sede. Logo,
se não for, caberá ao devedor provar tal fato.
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No caso de falência ou recuperação conjunta de sociedades integrantes de


grupos econômicos, entende-se que o juízo competente seria o do local do centro de
negócios do grupo, ou seja, onde se encontra a gestão daquele referido grupo.

A LRF não admite que o juiz brasileiro decrete a falência de uma sociedade
situada no exterior, porque o critério adotado pelo art. 3º é o territorialista. Ele
diz que o juiz do principal estabelecimento é competente para decretar a falência de
filial situada no Brasil de sociedade estrangeira. A falência da filial situada no Brasil
não acarreta, portanto, a falência da sede ou outra filial situada no exterior.

CITAÇÃO E RESPOSTA DO DEVEDOR

Em regra, somente o devedor empresário individual ou sociedade empresária


serão citados. No caso de o devedor ser sociedade que tenha sócios de
responsabilidade ilimitada, o art. 81 da LRF determina que tais sócios também sejam
citados.

Feita a citação, abre-se prazo para oferecimento de contestação, que é apenas


de 10 dias (art. 98, caput).

Se o devedor for citado, abrem-se 5 possibilidades:

a) Pedido de recuperação judicial (art. 95): nesse caso, o pedido de falência


ficará suspenso, independentemente da vontade do credor, até que o mesmo juízo
aprecie o pedido de recuperação judicial, formulado pelo devedor e instruído com as
respectivas demonstrações contábeis. O credor só pode se insurgir provando que o
devedor não faz jus à recuperação judicial.

b) Inércia: se o devedor se mantiver inerte e não oferecer contestação nem


pedir recuperação judicial, a tendência é que a falência venha a ser decretada, à luz das
alegações do credor na inicial. É como se houvesse uma confissão tácita da falência
por parte do devedor.

c) Pedido de depósito elisivo (art. 98, p.ú): o pedido de depósito elisivo é um


dos principais motivos pelo qual se conclui que a impontualidade não se confunde
com a insolvência. Se o pressuposto da falência for a impontualidade do devedor e
este efetuar o pagamento da quantia reclamada, acrescida de seus acessórios (correção
monetária, juros e honorários advocatícios), o depósito elimina a impontualidade,
razão pela qual a falência não pode ser decretada. O legislador admite a elisão do
pedido de falência com o depósito apenas do crédito reclamado pelo credor, não
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exigindo a solução de todos os débitos do devedor. Trata-se de uma análise


perfunctória/externa.

Atenção! Há um erro na parte final do art. 98 da LRF. Se o juiz julga


procedente a cobrança do crédito (vide redação do art. 11 do DL 7761/45) (e não a
falência), o requerente não pode levantar o valor depositado, pois se instaurará o
concurso de credores.

d) Contestação e depósito: como o devedor apresenta contestação, não


significa necessariamente que o autor irá levantar o valor depositado. O devedor pode
depositar apenas para trancar o processo de falência, mas querer discutir a
legitimidade da cobrança do referido crédito. Aqui o levantamento do depósito
poderá ser feito autor ou pelo devedor conforme análise de mérito do juiz.

e) Apenas contestação: aqui, como não há depósito elisivo e não há pedido de


recuperação judicial, a falência poderá ser decretada.

Obs. O devedor não está obrigado a apresentar contestação e pedido de


recuperação judicial de forma simultânea. Nada impede que, dentro do prazo de 10
dias do art. 95, o devedor peça a recuperação judicial, ainda que já tenha sido oferecida
anteriormente a contestação. Não há falar na hipótese em preclusão consumativa, ao
argumento de que toda a matéria de defesa teria que ser alegada na primeira
oportunidade. Esta ideia está de acordo com o princípio da preservação social da
empresa.

e.1. Com matéria relevante: entende-se por matéria relevante as situações


contidas no art. 96, caput que, uma vez provadas pelo devedor, impedirão a
decretação da falência. Ex. Prescrição quanto à executividade do título (nota
promissória vencida há 4 anos); falsidade do título; nulidade do título (ex. letra de
câmbio sem data de emissão); qualquer fato que extinga ou suspenda a obrigação (ex.
moratória, novação); vício em protesto ou em seu instrumento (ex. o protesto para
fins de falência deve identificar o nome da pessoa que recebeu a intimação, sob pena
de se considerar o protesto viciado, cf. Súmula 361 do STJ); apresentação de pedido
de recuperação judicial; cessação da atividade empresarial há mais de 2 anos.

e.2. Sem matéria relevante: se a contestação não abrange matéria relevante, a


falência poderá ser decretada.

Execução frustrada. O inciso II do art. 94 também se refere a uma


impontualidade, mas no curso da execução. Fala-se em inércia do devedor
executado. No inciso I, não há ainda cobrança judicial contra aquele devedor, pois
o credor maneja diretamente um pedido de falência. No inciso II, o credor manejou
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uma ação de cobrança na qual não obteve a satisfação de seu crédito (o devedor não
pagou, não fez acordo, não nomeou bens à penhora).

Nesse caso, como o credor buscou as vias normais, o legislador entende que
alguns dos requisitos do art. 94, I, não precisam ser exigidos, Continua-se exigindo o
título executivo judicial ou extrajudicial, embora sem limite mínimo de valor de 40
SM e sem necessidade de submissão do título a protesto. Aqui também há uma
presunção de insolvência relativa. Diz-se relativa, pois o devedor poderá no prazo
da contestação realizar o depósito elisivo (art. 98, p.ú).

O credor, na hipótese do art. 94, II, deve provar que manejou uma ação de
execução e que o devedor ficou inerte, razão pela qual o pedido deve ser instruído
com certidão do juízo em que se processa a execução (art. 94, §4º).

Atos de falência. No caso dos atos de falência (art. 94, III), o legislador não
admite depósito com finalidade elisiva (vide art. 98, p.ú, que expressamente suprime
o inciso III). O devedor pode efetuar o depósito, mas isso por si só não evitará a
decretação da falência. Por isso, diz-se que o sistema brasileiro adota um sistema
misto: impontualidade ou outras causas, que nada mais são do que os atos de falência.

Em se tratando de pedido de falência com base no art. 94, III, da LRF, admite-
se a decretação da falência, inclusive, sem que o devedor esteja impontual, ou seja,
antes mesmo do vencimento da prestação.

Todavia, o mais importante dos atos de falência é o que se encontra na alínea


g, qual seja o devedor que “deixa de cumprir, no prazo estabelecido, obrigação assumida no plano
de recuperação judicial”, que nada mais traz do que uma situação de impontualidade. O
pressuposto para sua aplicação é o encerramento da recuperação. Nesse caso, o
professor Alexandre entende que é cabível a realização de depósito elisivo por parte
do devedor a fim de que se impeça a decretação da falência, desde que não haja outro
ato de falência por parte do devedor. É como se fosse um “falso ato de falência”.

É ônus probatório do credor provar a prática pelo devedor de ato de falência,


na forma do art. 94, §5º e, se ele não fizer uma prova robusta, provavelmente a falência
não será decretada.

SENTENÇA DA FALÊNCIA

Essa sentença não é simplesmente declaratória conforme previa o DL


7661/45. Já na vigência deste Decreto, havia uma forte discussão doutrinária entre a
natureza declaratória (Des. Sampaio de Lacerda) e a natureza constitutiva dessa
decisão (Rubens Requião). A Lei 11.101/05 não repetiu a previsão do DL 7661/45,
sendo certo que hoje se entende que é sentença constitutiva.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Embora tenhamos um estado de falência do ponto de vista econômico anterior


à decretação, ele não é simplesmente declarado pela sentença. Afinal, se a sentença
fosse apenas declaratória, dela não adviriam novas situações jurídicas. A sentença que
decreta a falência declara um novo estado de direito – estado de falência – e constitui
situações jurídicas que antes não existiam: a) formação do juízo universal; b)
arrecadação dos bens do falido; c) atuação do administrador judicial; d) inalibitação
para o exercício da empresa.

Importante ainda ressaltar que a sentença de falência não encerra o processo,


mas apenas a fase pré-falimenta, em que ainda não se produz nenhum dos efeitos da
falência. Atenção! Não há previsão de atuação do MP na fase pré-falimentar diante
do veto do art. 4º da LRF (previa a possibilidade de o MP atuar em qualquer fase do
processo). O juiz deve determinar a intimação do MP a partir da sentença que decreta
a falência. Logo, a atuação do MP se dá a partir da fase falimentar propriamente dita
(art. 99, XIII). Diferentemente, no processo de recuperação judicial, a atuação do MP
é prévia à concessão da recuperação. Assim que despachar a petição, o juiz
determinará a intimação do MP (art. 52).

 Da decisão que decreta a falência, cabe agravo de instrumento, uma vez


que, por não encerrar o processo, a decisão será considerada para fins
de recurso uma decisão interlocutória.
 Da decisão que julga improcedente a falência, cabe apelação, uma vez
que tal decisão encerra o processo, assumindo caráter de sentença.

Discute-se o MP teria legitimidade para recorrer da sentença que decreta a


falência ou a julga improcedente. Pela redação da Súmula 99 do STJ, entende-se que
ele não tem legitimidade, pois, muito embora seja custus legis, sua legitimidade está
condicionada a ter atuado como fiscal da lei no processo e, no caso, a LRF não prevê
a atuação do MP na fase pré-falimentar.

Se a sentença denegar o pedido (tendo havido análise e denegação do mérito


falimentar), cabe reparação pelos danos sofridos se for provado o dolo do requerente,
na forma do art. 101. O STJ já se posicionou no sentido de que, se a falência não foi
decretada em razão de depósito elisivo efetuado pelo devedor, não cabe a referida
indenização, pois não há dolo por parte do requerente.

Análise do art. 99 da LRF. A sentença que decreta a falência deve conter:

I. Síntese do pedido (resumo da inicial), identificação do falido


(empresário, sociedade empresária e sócios de responsabilidade
ilimitada) e os nomes dos que forem a esse tempo seus
administradores (somente dos administradores atuais, ou seja, no
momento da decretação da falência, isto porque representam a
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

sociedade falida e são eles que devem cumprir as obrigações do falido


pessoa jurídica, cf. art. 81, §2º).

De acordo com o art. 190, todas as vezes que a LRF se referir a devedor ou
falido, incluem-se os sócios de responsabilidade ilimitada.

II. Fixação do termo legal da falência, sem poder retrotraí-lo por mais de
90 dias contados do pedido de falência, do pedido de recuperação
judicial ou do 1º protesto por falta de pagamento, excluindo-se os
protestos que tenham sido cancelados.

Trata-se do elemento cronológico da falência. Embora a sentença de falência


seja constitutiva (pelos efeitos que gera a partir de sua prolação) e não declaratória,
ela atinge também os atos anteriores praticados pelo devedor (efeito retroativo ou ex
tunc). O legislador, em alguns casos, determinou que alguns atos pretéritos à
decretação da falência sejam atingidos pelos seus efeitos em uma presunção absoluta.
Trata-se de ato vinculado do magistrado. Falar em termo legal, portanto, nada mais é
do que falar na fixação de um termo anterior à sentença em relação ao qual a sentença
produzirá efeitos retroativos.

O juiz, contudo, não tem discricionariedade na fixação do referido termo. Ele


está preso a dois critérios: 1º) máximo de 90 dias para trás; 2º) contados do pedido de
falência ou do pedido de RJ (este critério só pode ser adotado se o devedor pediu RJ)
ou do 1º protesto por falta de pagamento que não tenha sido cancelado (o mais antigo,
ainda que não tenha sido no juízo do principal estabelecimento).

III. Ordem ao falido para que, no prazo máximo de 5 dias, apresente


relação nominal de credores

Essa providência só será aplicada quando a falência for requerida pelo credor.
Isto porque, em sendo requerida pelo próprio devedor, este já terá apresentado a
referida relação junto com a inicial (art. 105).

Se o empresário individual ou o administrador da sociedade empresária falida


não apresentar a referida relação, ele está travando o processo de falência, porque o
processo só segue quando a relação de credores for publicada, permitindo a posterior
verificação dos créditos (art. 99, p.ú). Por isso, a lei entende que o devedor comete
crime de desobediência se, uma vez intimado, não juntar a referida relação (art. 104,
XI e p.ú).

Obs. O sócio não administrador de responsabilidade ilimitada só tem a


obrigação de entregar a relação de seus credores particulares.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

IV. Explicitação do prazo para habilitações de crédito, observado o §1º do


art. 7º da Lei;

Nesse caso, o juiz apenas informa que os credores terão um prazo de 15 dias
para habilitar seus créditos ou apresentar divergências. Não tem caráter decisório.

V. Ordenar a suspensão de todas as ações e execuções contra o falido,


ressalvadas as hipóteses dos §§1º e 2º do art. 6º;

Na falência, a suspensão das ações e execuções não é temporária como ocorre


na RJ (180 dias, a princípio), mas permanente, ou seja, perdurará durante todo o
processo falimentar até seu encerramento.

A suspensão das ações e execuções não é uma faculdade do juiz, mas uma
determinação legal, só não sendo cabível nas exceções previstas na própria lei (quantia
ilíquida, reclamações trabalhistas, execuções fiscais). Obs. Lembrar que as execuções
fiscais estão fora do juízo universal, cf. art. 76, razão pela qual também não têm seu
curso suspenso, embora a LRF seja omissa neste ponto.

VI. Proibição da prática de qualquer ato de disposição ou oneração dos


bens do falido (vide art. 103), submetendo-os preliminarmente à
autorização judicial e do Comitê, se houver, ressalvados os bens cuja
venda faça parte das atividades normais do devedor se autorizada a
continuação provisória;

VII. Determinará as diligências necessárias para salvaguardar os interesses


das partes envolvidas, podendo ordenar a prisão preventiva do falido
ou de seus administradores quando requerida com fundamento em
crime falimentar;

Trata-se de disposição que permite ao juiz determinar as medidas que entender


necessárias ao bom curso da falência, dada sua redação ampla. Caso o juiz ordene a
prisão preventiva do falido, sua competência já se encerra, pois o recebimento da
denúncia e o julgamento da ação penal se processará no juízo criminal (art. 183).

VIII. Ordenará ao registro de empresas que proceda à anotação da falência


no registro do empresário para fins de inabilitação;
X. Determinará a expedição de ofícios aos órgãos e repartições públicas e
outras entidades para informarem a existência de bens em nome do
falido;
XIII. Ordenará a intimação do MP e a comunicação por carta às Fazendas
Públicas federal, estadual e municipal em que o devedor tiver
estabelecimento para que tomem conhecimento da falência.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Os incisos VIII, X e XIII trazem uma publicidade especial da sentença que


decreta a falência, uma vez que, além de ser publicada no D.O. (art. 99, p.ú), deve ser
comunicada à Junta Comercial, às repartições públicas e às Fazendas Públicas.

IX. Nomear o administrador judicial

O administrador judicial na falência é o representante da massa falida. Isso não


ocorre na recuperação judicial, uma vez que nela não há massa falida, de forma que o
próprio devedor se representa. O administrador judicial pode ser pessoa natural ou
jurídica (art. 21).

XI. Pronunciar-se-á a respeito da continuação provisória das atividades do


falido com o administrador judicial ou da lacração dos
estabelecimentos, observado o art. 109;

A continuação do negócio, se deferida, não é recuperação de empresa, pois


nao se recupera atividade falida. É, portanto, necessariamente, uma continuação
provisória até o momento da liquidação da falência, que pode ser determinada pelo
juiz, em sendo conveniente. Quem conduz essa continuação provisória não é o falido,
mas o administrador judicial.

XII. Determinará, quando entender conveniente, a convocação da


assembleia-geral de credores para a constituição de Comitê de
Credores, podendo ainda autorizar a manutenção do Comitê
eventualmente em funcionamento na recuperação judicial quando da
decretação da falência.

O Comitê de Credores é um órgão facultativo tanto na falência como na


recuperação judicial (art. 28). Se o juiz entender que não deve ser convocada
assembleia de credores, os credores, reunido o percentual mínimo de 25% do total
dos créditos da classe, poderão requerer ao juiz a convocação da assembleia a fim de
que se designe os membros do Comitê (art. 36, §2º). Nesse caso, o juiz será obrigado
a convocar a assembleia.

TEMAS 5 E 6: ALEXANDRE ASSUMPÇÃO

EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DA FALÊNCIA

EFEITOS EM RELAÇÃO AOS CREDORES

1º. A decretação da falência sujeita os credores do falido ao concurso de


credores (art. 115 c.c. art. 7º, §1º): é uma aplicação do princípio da universalidade,
segundo o qual os credores deverão satisfazer seus créditos na forma que lei a
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

prescrever, que é a habilitação de seus créditos no concurso de credores no prazo de


15 dias. Não cabe, então, a propositura de ações individuais de cobrança.

Embora o art. 115 fale em “todos os credores”, não se trata de regra absoluta, pois
comporta exceções:

a) a cobrança do crédito tributário não se sujeita à habilitação no processo de


falência, o pagamento se dará fora do processo falimentar, mas observada
a ordem de pagamento da LRF (CTN, art. 187);
b) a cobrança dos créditos relacionados no art. 5º da LRF, que não podem ser
reclamados na falência nem na recuperação judicial:
b.1. Obrigações a título gratuito assumidas pelo devedor (mútuo gratuito,
doação);
b.2. Despesas que os credores fizerem para tomar parte na falência
(deslocamento com viagens, alimentação, contratação com despachante
etc.), salvo custas judiciais decorrentes de litígio com o devedor (que são
créditos extraconcursais à luz do art. 84, IV).

2º. Suspensão das ações e execuções (art. 6º)

O art. 6º determina que, a partir da decretação da falência, as ações e execuções


em face do falido ficam suspensas até o encerramento do processo (não é uma
suspensão temporária como ocorre na recuperação).

No §7º, aplicável apenas à recuperação judicial, temos a previsão de que as


execuções fiscais prosseguem durante a RJ, silenciando quanto à falência. Poderíamos
adotar a conclusão, a contrario senso, de que as execuções fiscais se suspendem com
a falência. Ocorre que essa conclusão é equivocada. Na própria LRF, o art. 76 prevê
que as execuções fiscais não são atraídas para o juízo da falência e, se isso ocorre, a
conclusão óbvia é que elas podem continuar no juízo de origem e podem, inclusive,
ser ajuizadas no juízo da Fazenda Pública após a decretação da falência. Porém,
independentemente dessa interpretação do art. 76, podemos também citar como
fundamento o DL 858/69 que prevê de forma expressa em seu art. 2º que a falência
não suspende as execuções fiscais nem impede que novas ações sejam propostas
contra a massa. A execução fiscal, portanto, é uma exceção à suspensão.

Há ainda outras exceções:

 Ações em que os autores demandarem o pagamento de quantia ilíquida


(art. 6º, §1º) (ex. ações indenizatórias contra o falido por contrafação
de marca) – continuarão tramitando no juízo de origem, sendo possível
o pedido de reserva ao juízo da falência para que se separe uma quantia
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

estimada à satisfação do crédito do autor. Liquidada a indenização, o


credor terá que se habilitar no concurso.
 Reclamações trabalhistas (art. 6º, §2º) – prosseguem somente até a
apuração do crédito no juízo de origem. Não está autorizado o
ajuizamento ou prosseguimento da execução trabalhista. Isto porque,
uma vez apurado, o credor trabalhista tem que habilitar seu crédito na
falência, submetendo-se a ordem de pagamento da LRF. Ressalte-se
que o credor trabalhista também pode pedir a reserva do valor ao juízo
falimentar por meio do juiz trabalhista.

Atenção! Execução fiscal não se suspende. Execução trabalhista se suspende.

O art. 6º, §4º, aplicável a recuperação, prevê que a suspensão dura 180 dias e,
finda esta, é possível ao credor prosseguir ou iniciar as ações para cobrança de seu
crédito. Contudo, se formos analisar a literalidade do art. 6º, caput, quando o legislador
trata da falência, ele não fala em “iniciar”, pelo que seria possível ao credor ajuizar
novas ações, ficando suspensa somente as ações já em curso. Esse entendimento,
contudo, é equivocado. Deve-se fazer uma interpretação sistemática do art. 6º com o
art. 115, para entender que, se o credor tem que submeter às normas da LRF, ele não
pode ajuizar novas ações, mas deverá habilitar o seu crédito na falência, dando-se
tratamento igual a todos os credores (princípio da par conditio creditorium).

3º. Suspensão da prescrição (art. 6º, caput, c.c. art. 157)

Essa suspensão da prescrição diz respeito às pretensões de terceiro em face do


falido (ações de responsabilidade do falido) e não às pretensões do falido em face de
terceiro.

A suspensão da prescrição se inicia com a decretação da falência e se finda


com o trânsito em julgado da decisão que encerra a falência. Como se trata de
suspensão, o prazo voltará a correr de onde parou.

4º. Vencimento antecipado das dívidas do falido e abatimento proporcional


dos juros (art. 77)

O efeito da falência no art. 77 atinge apenas as dívidas do falido e não seus


créditos. Se o falido tem créditos, os devedores do falido não são obrigados a pagar
antecipadamente. O administrador judicial irá cobrar essas dívidas no momento em
que elas vencerem.

Já as dívidas do falido irão vencer antecipadamente, de forma que os credores


poderão habilitar seus créditos em um mesmo momento, independentemente do
vencimento original constante de seus títulos.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Se a dívida assumida pelo falido o foi com juros remuneratórios, eles serão
abatidos na mesma proporção em que o vencimento da dívida foi antecipada.

Há ainda conversão de todos os créditos em moeda estrangeira para a moeda


do país para o câmbio do dia da decretação da falência. Trata-se de efeito de pleno
direito, bastando que se aplique a lei.

5º. Suspensão do direito de retirada e do direito de retenção (art. 116)

A decretação da falência não extingue o direito de retirada do sócio nem o


direito de retenção do credor, mas apenas suspende a possibilidade de seu exercício.

Art. 116, I. Nos casos em que a lei ou o contrato preveja um direito de retenção
e houver falência daquele contra quem é estabelecido tal direito, suspende-se o
exercício do direito de retenção sobre os bens do falido, visto que estes estão sujeitos
à arrecadação, integrando a massa objetiva. Isto significa que o credor não mais
poderá permanecer na posse direta do bem, devendo entregá-lo ao administrador
judicial, em homenagem ao princípio da preservação dos ativos. Se o credor se
recusar, cabe busca e apreensão. O crédito desse credor não é atingido. Ex.
Credores com direito de retenção são pela lei credores com privilégio especial (art. 83,
IV, c). Se a LRF determinasse a extinção do direito de retenção, seriam credores
quirografários, mas não é isso que acontece. Obs. No caso do comissário, mesmo
que ele tenha direito de retenção, ele será credor com privilégio geral na forma do art.
707 do CC c.c. art. 83, V, c, da LRF.

Art. 116, II. Tal dispositivo é uma crítica àqueles que dizem que o sócio não
pode ser obrigado a permanecer na sociedade (ex. no caso daquele que quer sair da
sociedade limitada por quebra de affectio societatis). Durante a falência, o sócio não
pode exercer o direito de retirada e, se já exerceu e foi feita a apuração de haveres, o
pagamento dos haveres ficará suspenso. Nada impede, contudo, que ele negocie suas
cotas ou ações.

6º. Compensação das dívidas do falido (art. 122)

A compensação é uma forma de extinção da obrigação sem pagamento efetivo.


Os requisitos para compensação são os da legislação civil, pois a LRF não traz normas
específicas. A diferença é que não podem ser compensados créditos transferidos após
a decretação da falência, salvo no caso de sucessão por fusão, incorporação, cisão ou
morte, e nem aqueles que foram transferidos quando já havia conhecimento do estado
econômico do devedor ou cuja transferência se operou com dolo ou fraude.

7º. Fluência dos juros na falência (art. 124)


[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Os juros, tanto moratórios como remuneratórios, podem ser cobrados até a


decretação da falência. A partir da decretação da falência, o credor não pode cobrar
juros remuneratórios (já que o vencimento foi antecipado) nem juros moratórios.
Qualquer juro cobrado após a decretação da falência deve ser excluído, podendo
haver impugnação pelo devedor, salvo:

a) Crédito proveniente de debênture – seus juros fluem até a data do


pagamento, mesmo após a decretação da falência;
b) Crédito com garantia real – o credor com garantia real (ex. hipoteca) sofre
uma limitação. Isto é, os juros após a decretação da falência podem ser
pagos, mas apenas pelo valor apurado com a venda judicial do bem.

Existe uma possibilidade em que o credor pode receber juros durante a


falência, qual seja quando o ativo apurado for suficiente para pagar todos os credores,
inclusive os créditos subordinados, e ainda assim, houver sobra para pagar os juros.

8º. Obrigações solidárias (art. 127)

O art. 127 trata do credor por obrigação solidária em que todos os deveres
solidários estão falidos. Nesse caso, o credor tem o direito de se habilitar em todas as
massas pelo valor total do crédito. Qualquer pagamento que receber, total ou parcial,
deverá ser informado pelo credor a outra massa falida.

EFEITOS EM RELAÇÃO AOS CONTRATOS

DELIMITAÇÃO

As normas da LRF só se aplicam aos contratos em que o falido é devedor. A


princípio, sendo o falido o credor, o contrato não se altera.

Nos contratos em que o falido é devedor, existe uma regra para os contratos
bilaterais (art. 117) e outra regra para os contratos unilaterais (art. 118). Ao lado dessas
regras, existem regras especiais para certos contratos nos arts. 119, 120, 121 e 123.

CONTRATOS BILATERAIS (ART. 117)

A grande maioria dos contratos é bilateral quanto aos seus efeitos. A princípio,
os contratos bilaterais não se resolvem com a falência (art. 117) (manutenção
provisória e não compulsória). Contudo, trata-se de regra dispositiva. A lei não impõe
a manutenção de tais contratos. Podem as partes estabelecer a chamada cláusula
resolutiva expressa, ou seja, dizer que o contrato se extingue com a decretação da
falência. Nesse caso, o crédito será habilitado na falência ou se entra com uma ação
para apurar seu valor quando for ilíquido.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Embora os contratos bilaterais, a princípio, se mantenham, cabe ao


administrador judicial avaliar se é do interesse da massa o seu cumprimento, de
forma que se evite o aumento do passivo da massa falida ou se preserve os ativos,
mediante autorização do Comitê. O Comitê sempre terá que ser ouvido. Conclui-
se que a manutenção do contrato bilateral na falência está subordinada a uma
condição, qual seja a manifestação do administrador judicial. A lei não esclarece o que
fazer se houver divergência entre o administrador e o Comitê. Fica o administrador
vinculado à decisão do Comitê ou ele pode recorrer ao juiz caso entenda de modo
diverso? Para Assumpção, o juiz pode entender que a decisão do Comitê é abusiva,
ou sejaa, que não é a que mais preserva os interesses da massa falida e, então, autorizar
ou vedar a manutenção do contrato.

O administrador judicial vai aguardar a interpelação da parte contratual não


falida em até 90 dias da data de sua investidura (termo de posse). Ele terá então prazo
de 10 dias para responder a interpelação. Havendo Comitê, o administrador tem que
pedir autorização. Não existe prazo dentro desses 10 dias para o Comitê se
pronunciar. Logo, dentro desse prazo, ele teria que levar a pretensão do contratante
ao Comitê, verificar a decisão e responder o contratante.

Resposta do administrador judicial à interpelação:

1. Efeitos em relação ao contrato

a) Sim – quando a massa tem interesse em dar prosseguimento à execução do


contrato bilateral, o contrato é mantido.
b) Não – a negativa importa na extinção do contrato (art. 117, §2º).
c) Silêncio – o silêncio importa na extinção do contrato (art. 117, §2º).

2. Efeitos em relação ao crédito

a) Se o contrato for mantido, as prestações a partir da decretação da falência


devem ser adimplidas pela massa (na figura do administrador judicial que a
representa). Consequentemente, esse crédito referente à execução do
contrato será considerado um crédito extraconcursal (art. 84, V). O credor
não precisa se habilitar para receber seu crédito.
b) Se o contrato for extinto, o contratante terá direito à indenização, cujo
valor, apurado em processo ordinário (por ser quantia ilíquida), constituirá
crédito quirografário (art. 117, §2º) (pode pedir a reserva do valor ao juízo
da falência).

CONTRATOS UNILATERAIS (ART. 118)


[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Lembre-se que, se o contrato unilateral importar na realização de uma


obrigação a título gratuito pelo devedor, ele não será abrangido na falência.

A presunção nos contratos unilaterais é que eles se extinguem.

Contudo, se for oneroso, o administrador judicial, mediante autorização do


Comitê, poderá dar prosseguimento a contrato unilateral e realizar o pagamento da
prestação se esse fato reduzir o passivo ou preservar o ativo.

Aqui não há interpelação por parte do contratante. O administrador, sem ser


interpelado, ou seja, por iniciativa própria, reconhece a importância de se manter
determinado contrato e leva tal assunto ao Comitê. Em não havendo iniciativa do
administrador, o contrato será extinto.

Mantido o contrato, o pagamento dessa prestação é um crédito extraconcursal


da parte contratante não falida (art. 84, V).

REGRAS ESPECIAIS

Art. 119. Este dispositivo deixa clara a natureza cogente das regras especiais,
em virtude do vocábulo “prevalecerão”. Portanto, a lei não poderá ser afastada pela
vontade das partes.

I. Venda de mercadorias que estão em trânsito – o vendedor não pode obstar


a entrega das coisas expedidas ao devedor e ainda em trânsito, se o comprador, antes
do requerimento da falência, as tiver revendido sem fraude, à vista das faturas e
conhecimentos de transporte, entregues ou remetidos pelo vendedor. Nada mais é do
que a aplicação do princípio da abstração, segundo o qual, uma vez circulado, o título
se desvincula da sua causa originária. Não pode o vendedor alegar exceções pessoais
ao terceiro de boa-fé que adquiriu a mercadoria, nem se utilizar do stop ad in
transitum (interrupção da entrega). Vide art. 495 do CC (regra geral que prevê que o
vendedor pode sobrestar a tradição, excepcionada pelo art. 119, I, da LRF). Qualquer
cláusula que afaste a proteção desse terceiro não pode lhe ser oposta, prevalecendo a
regra do art. 119, I, da LRF sobre o art. 495 do CC.

II. Venda de coisa composta – coisa composta é aquela quue precisa ser
montada, ser construída (ex. embarcação, armário, computador). Logo, são contratos
de execução sucessiva. Se o vendedor teve sua falência decretada e o administrador
resolveu não continuar o contrato, pode o comprador por a disposição da massa falida
as coisas já recebidas, cabendo indenização por perdas e danos.

III. Venda de coisa móvel ou contratação de serviço – se o devedor não


entregar a coisa ou não continuar o serviço e o administrador judicial não executar o
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

contrato, o crédito será habilitado na classe própria (crédito quirografário). A lei não
autoriza que a massa falida devolva as prestações já pagas de forma imediata. O crédito
terá que ser submetido ao concurso de credores. Não incide na hipótese o CDC

IV. Compra e venda com reserva de domínio – se o contrato não for


cumprido, as partes voltam ao estado anterior, ou seja, a massa devolve as prestações
ao credor e o credor restitui a coisa à massa.

V. Coisa vendida a termo (para entrega futura) e que tenha cotação em bolsa
ou mercado (ex. commodities) – segundo a LRF, se o contrato não for cumprido,
haverá o pagamento de uma compensação. A massa não entregará o bem, mas pagará
a diferença entre a cotação do dia do contrato e a da época da liquidação em bolsa.

VI. Promessa de compra e venda de imóveis – aplicar-se-á a legislação


respectiva (vide DL 58/37, art. 12). O art. 12 diz que, na falência do promitente
comprador, o contrato será executado pelo administrador judicial; trata-se de hipótese
de cumprimento forçado de forma a proteger o vendedor. Aqui não há como haver
uma negativa pelo administrador judicial. Já na falência do promitente vendedor, os
direitos do contrato serão arrecadados e alienados em hasta pública.

VII. Locação – a falência do devedor locador nao resolve o contrato de


locação (manutenção compulsória). Isto significa que o locatário continuará no
imóvel arcando com os alugueis. Já se a falência for do devedor locatário, o
administrador judicial tem a prerrogativa de resolver o contrato por meio de denúncia.

VIII. Obrigações assumidas no âmbito do Sistema Financeiro Nacional em


câmaras de compensação – para evitar uma crise sistêmica nessa área, o legislador
afastou a incidência da LRF não só no art. 119, VIII como também no art. 193.
Aplicar-se-á o regulamento do BACEN aprovado para aquela câmara de
compensação.

IX. Patrimônios de afetação obrigatórios ou facultativos – se o falido instituiu


por lei ou por vontade patrimônio de afetação, os bens que o integram não serão
arrecados, mas permanecerão vinculados à finalidade para o qual o patrimônio foi
instituído. É uma exceção ao princípio da universalidade. Vide Lei 10.931/04.

Art. 120. Contrato de mandato ou comissão. Nesse caso, o legislador


estabelece dois critérios para se analisar o efeito da falência. O primeiro critério é se
o mandato é ad negotia – para o exercício da atividade negocial – ou se é comum –
para a prática de atos da vida comum. O segundo critério é se o falido é mandante ou
mandatário.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

 Se o falido é mandatário e o contrato é de mandato ad negotia – o


contrato de mandato é extinto de forma compulsória;
 Se o falido é mandatário e o contrato é de mandato comum – o contrato
de mandato continua de pleno direito, pois é sobre matéria estranha à
atividade empresarial.
 Se o falido é mandante e o contrato é de mandato ad negotia – aplica-
se o caput do art. 120. O contrato será extinto de forma compulsória.
O mandatário para de exercer o mandato e presta contas ao
administrador judicial.

Atenção! Existe uma regra própria para o mandato ad judicia no art. 120, §1º,
da LRF. Esse mandato continua para evitar preclusão.

Art. 121. Contrato de conta corrente. Há resolução compulsória na data da


decretação da falência, independente de interpelação. Se o saldo da conta corrente for
favorável ao falido, o administrador irá cobrar. Se o saldo for negativo, o credor terá
que habilitar o crédito na falência.

Art. 123. Contrato de sociedade. A falência produz a exclusão de pleno direito


do sócio falido (art. 1.030, p.ú, do CC). Quando a sociedade se resolve em relação ao
sócio (resolução da sociedade em relação a um sócio), o art. 1.031 determina que
sejam apurados os seus haveres. Apurados os haveres do sócio, o valor não vai
para ele. A massa falida arrecadará tais valores. A lei não considera impenhorável
esses haveres. Os haveres serão apurados na forma prevista no contrato ou no
estatuto. Sendo omisso, a forma de apuração será o do balanço especial ou de
determinação (art. 1.031 do CC).

Pode ser que a exclusão do sócio falido leve os sócios a dissolver a sociedade
(por entender que é inviável sua subsistência). Se houver dissolução, não tem apuração
de haveres, mas sim liquidação do patrimônio da sociedade. Nesse caso, primeiro,
serão pagos os credores da sociedade e o que sobrar será arrecadado pela massa falida
do sócio falido.

TEMAS 7 E 8: PABLO ARRUDA

INEFICÁCIA DOS ATOS PRATICADOS PELO DEVEDOR ANTES DA


FALÊNCIA

INTRODUÇÃO

A lógica da revocatória parte da seguinte ideia: o devedor, em situação pré-


falimentar, eventualmente é capaz de praticar determinados atos, intencionais ou não,
a fim de salvar o negócio ou salvar-se a si mesmo.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Revocar não é sinônimo de revogar. Revocar significa trazer de volta. Esse é


objetivo do instituto: trazer de volta à massa falida bens ou direitos que,
indevidamente, deixaram esse patrimônio. É exatamente o oposto do pedido de
restituição que ocorre quando um bem de terceiro foi indevidamente incluído na
massa falida e ele quer restituí-lo. Logo, a revocatória protege a massa e a restituitória
protege o terceiro.

TERMO LEGAL NA FALÊNCIA

Para entender o instituto revocatório, é preciso primeiro entender o que é o


termo legal na falência. A sentença da falência é preponderantemente constitutiva,
pois constitui uma nova situação jurídica de falido, mas além disso possui também
um efeito declaratório, pois reconhece um fato já ocorrido, qual seja o estado de
insolvência do devedor. Agora, desde quando existe esse estado de insolvência?

A ideia do termo legal é estabelecer um marco histórico onde o juizo define


que, a partir dali, aquele devedor estava insolvente. Evidentemente, é impossível saber
com exatidão quando a empresa se tornou efetivamente insolvente. Por isso, o
legislador dá parâmetros para que o juízo, na sentença de falência, defina o início
formal desse estado de insolvência, cf. art. 99, II, da LRF. Logo, é a lei quem define
os critérios de fixação, enquanto o juiz fixa o prazo dentro desses limites.

O juiz não pode retrotrair (contar para trás) o termo legal da falência por
mais de 90 dias contados: (a) do pedido de falência; ou (b) do pedido de recuperação
judicial; ou (c) do 1º protesto por falta de pagamento, salvo aqueles cancelados (isso
significa que o protesto ainda tem que ser válido e eficaz, mas não precisa ser aquele
que ensejou o pedido de falência!). É o limite da fixação do termo legal, podendo o
juiz retrotrair o termo por um prazo menor.

Havendo mais de uma causa, o juiz utiliza como parâmetro a causa


mais remota (embora a lei não proíba em que, havendo dois protestos, o juiz utilize
o mais recente, isso não é razoável, a não ser que justifique a razão pela qual ignora o
protesto mais remoto).

Embora haja posição doutrinária no sentido de que o protesto tem que ser
especial, ou seja, para fins falimentares, o STJ entende que pode ser o protesto
comum.

Obs. Fábio Ulhôa, em seu livro, faz uma breve exposição sobre a teoria das
crises. Primeiro, a empresa passa por uma crise de conjuntura ou econômica, quando
há uma redução dos ativos em razão de situações externas. Depois, segue-se a crise
de caixa, quando falta dinheiro para pagar determinadas dívidas. O protesto é
consequência da crise de caixa, pois o devedor deixa de cumprir suas obrigações. Aqui
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

pode o devedor se valer da recuperação judicial. Por fim, temos a crise de patrimônio,
quando o ativo da empresa é incapaz de solver o passivo, caso em que estará
caracterizada a insolvência do devedor, podendo acarretar em falência.

A discussão acerca da fixação do termo legal não é matéria de defesa da ação


revocatória. Se o devedor não interpôs agravo de instrumento contra a sentença que
fixou o termo legal, a matéria precluiu.

Os critérios de fixação do termo legal da falência não podem ser


revistos na ação revocatória, pois qualquer ilegalidade em sua fixação
deve ser alegada no momento oportuno (art. 22, parágrafo único, do DL
n. 7.661/45 – antiga lei de quebras). Precedente citado: REsp 604.315/SP,
DJe 8/6/2010. (STJ, REsp 623.434/RS, Rel. Min. Luis Felipe Salomão,
julgado em 16/11/2010).

Obs. No DL 7661/45, o termo legal podia ser fixado na sentença ou a


posteriori em decisão interlocutória superveniente. Mesmo que o juiz fixasse na
sentença, ele poderia modificá-lo em sede de liquidação. Agora, é obrigatória a fixação
na sentença, não sendo possível mais nenhuma alteração.

Atente-se que, por se tratar de prazo de natureza material, a retrotração é de


90 dias corridos e não de 90 dias úteis, não se lhe aplicando o art. 219 do NCPC.

Anote-se ter natureza de direito material o prazo referente ao período


suspeito, daí a revogada Lei de Quebras determinar sua contagem de
forma peremptória e contínua (art. 204). (STJ, REsp 604.315).

AÇÃO REVOCATÓRIA: ESPÉCIES

A ação revocatória é um gênero que comporta duas espécies. Pode se dar por
ineficácia de ato (art. 129), que é de análise objetiva, ou por revogação de ato (ou
anulabilidade) (art. 130), que é de análise subjetiva.

Constate-se, porém, que a ineficácia não precisa vir apenas pela via da ação
revocatória (processo incidental), pois ela pode ser reconhecida: (a) de ofício pelo juiz,
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

por meio de decisão interlocutória; (b) por meio de um incidente processual; (c) como
matéria de defesa (ex. a massa falida se defende de uma restituitória, utilizando-se do
argumento da ineficácia do ato).

ATOS INEFICAZES

Art. 129. São ineficazes em relação à massa falida, tenha ou não o


contratante conhecimento do estado de crise econômico-financeira do devedor,
seja ou não intenção de fraudar credores (caráter objetivo da
ineficácia do ato):

Nos casos do art. 129, como a análise é objetiva, há uma presunção absoluta
de que o ato foi praticado em prejuízo da massa falida. Tais atos, se a empresa
estivesse em situação normal, a princípio, não gerariam qualquer problema; contudo,
como os atos são praticados dentro do termo legal ou em outro prazo fixado pelo
legislador, são considerados ineficazes (terceira escada ponteana).

I – pagar dívida não vencida dentro do termo legal, por qualquer meio extintivo
do direito de crédito, ainda que pelo desconto do próprio título;

II – pagar dívida vencida e exigível dentro do termo legal, por modo diverso
do previsto no contrato; (ex. dação em pagamento – o devedor pode estar priorizando
um credor em detrimento de outro, fazendo por via transversa uma liquidação da
massa).

III – constituir direito real de garantia, inclusive a retenção, dentro do termo


legal, por dívida anterior; (ex. o devedor acaba por conferir um privilégio a um crédito
que antes era quirografário).

IV – praticar atos a título gratuito, desde 2 anos antes da decretação da falência;

Atenção! Alguns atrelam à expressão período suspeito da falência ao termo


legal. O correto é enxergar o período suspeito como um gênero, dentro do qual se
incluem duas espécies: o termo legal ou o estágio de 2 anos para alguns casos do art.
129.

V – renunciar herança ou legado, até 2 anos antes da decretação da falência;


(ex. aqui normalmente o devedor renuncia para não entrar na massa e, como volta
para o montante a partilhar, ele goza a parte que lhe caberia na pessoa de um irmão,
por exemplo).

VI – venda ou transferência de estabelecimento feita sem o consentimento


expresso ou o pagamento de todos os credores, a esse tempo existentes, não tendo
restado ao devedor bens suficientes para solver o seu passivo, salvo se não houver
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

oposição de credores, após serem devidamente notificados, judicialmente ou pelo


oficial do registro de títulos e documentos; - tal ato é tido, por si só, como ineficaz,
pelo que não se vincula a nenhum período suspeito (ato atemporal). O trespasse será
sempre tido como ineficaz se praticado nessas condições, à luz do que dispõe os arts.
1144 e 1145 do CC. Isto significa que, para o trespasse ser válido, ou os credores
concordaram, ou os credores foram pagos ou o devedor deixou dinheiro suficiente
para pagá-los. O art. 94, III, c, da LRF classifica o trespasse informal, isto é,
praticado fora dessas condições, como um ato de falência.

VII – os registros de direitos reais e de transferência de propriedade entre


vivos, por título oneroso ou gratuito, ou a averbação relativa a imóveis realizados após
a decretação da falência, salvo se tiver havido prenotação anterior; - aqui, o ato
ineficaz é praticado após a falência. Não pode haver transferência de patrimônio
imobiliário do falido se não houver autorização do juízo. É a aplicação do in dubio
pro massa. Contudo, se antes da falência, já havia sido requerida a averbação, por
meio de prenotação, o ato de registro é eficaz. Claro que nada impede que um
promitente comprador de imóvel, por exemplo, que tenha um contrato anterior com
o falido, mas que não tenha registrado, busque no juízo da falência tal registro.

Se o devedor, antes da decretação da falência, vendeu seu estoque, a massa não


pode pretender, na ação revocatória, trazer de volta o estoque à massa, ao argumento
de se tratar de trespasse do estabelecimento. Isto porque venda isolada de bens nao é
trespasse, mas somente a venda de um conjunto producente, ou seja, da própria
atividade organizada. Logo, não há falar em ato ineficaz nem em ato revogável, caso
não se visualize a intenção fraudulenta (vide STJ, REsp 1.079.781).

Há ainda um caso de ineficácia especial do art. 45, §8º, da Lei 6.404/76


(c.c. arts. 109, V, 137, 136, I a VI e IX, 136-A). É atemporal, pelo que não se submete
a prazo. É uma análise objetiva. Os requisitos são cumulativos.

A S.A. é uma sociedade com intuito pecunia. Nela o direito de recesso é


mitigado e só pode ser exercido na forma da lei (art. 109, V). A lei define quando um
acionista pode exercer direito de recesso no art. 137. O acionista dissidente, que não
concorda com uma aprovação assemblear, de certas matérias pode pedir para se
retirar. Tais matérias se encontram no art. 136, I a VI e IX e no art. 136-A. Ao pedir
pra se retirar, o acionista tem direito ao reembolso. O problema é que não podem os
sócios receber em prejuízo de massa falida. Embora ainda não tenha massa, se a
situação já é de iliquidez, o rembolso está sendo exercido em prejuízo do capital social
(princípio da intangibilidade do capital social). Logo, pode o sócio que foi
reembolsado ser chamado para devolver o dinheiro (revocação), desde que na forma
do art. 45, §8º, da Lei 6.404/76.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Art. 45, §8º. Se, quando ocorrer a falência (ato futuro), já se houver
efetuado (ato passado), à conta do capital social (princípio da
intangibilidade do capital social; se foi pago com reserva de capital,
não cabe revocação), o reembolso dos ex-acionistas, estes não tiverem
sido substituídos (se foi substituído, houve a recomposição do capital
social e não cabe revocação), e a massa não bastar para o
pagamento dos créditos mais antigos (coloca-se na balança o
ativo presente da massa com o passivo à época do reembolso; se
o ativo solve o passivo, não cabe revocação), caberá ação revocatória
para restituição do reembolso pago com redução do capital social, até a
concorrência do que remanescer dessa parte do passivo. A restituição será
havida, na mesma proporção, de todos os acionistas cujas ações tenham sido
reembolsadas.

Atenção! Se o sócio pede pra sair legitimamente, tem um reembolso a receber


e a empresa falir, o seu crédito será habilitado como quirografário e não após os
créditos subordinados (art. 45, §7º, da Lei 6.404/76).

ATOS REVOGÁVEIS

Art. 130. São revogáveis os atos praticados com a intenção de prejudicar


credores, provando-se o conluio fraudulento entre o devedor e o terceiro que
com ele contratar e o efetivo prejuízo sofrido pela massa falida.

Para que se possa falar em revogação do ato, é necessário o tripé: intenção,


conluio e prejuízo. Trata-se de análise subjetiva e que não se vincula a nenhum prazo
específico, a nenhum período suspeito. Afeta o segundo degrau da escada ponteana,
qual seja a validade do ato.

A revogação do ato só é possível por meio de ação revocatória, na medida


em que se precisa apurar a fraude. A defesa tem que ser a mais ampla possível, pois
pode ser até que, dessa ação revocatória, se extraia peças para o MP para a apuração
de eventual crime. Logo, não se aplicam as vias transversas do art. 129, p.ú aos atos
revogáveis.

APARENTE CONFUSÃO ENTRE REVOCATÓRIA E REVOGAÇÃO

Art. 132. A ação revocatória, de que trata o art. 130 desta Lei, deverá
ser proposta pelo administrador judicial, por qualquer credor ou pelo
Ministério Público no prazo de 3 (três) anos contado da decretação da falência.

Para análise desse artigo, lembre-se que revocatória é gênero, que


compreende tanto a revocatória por ineficácia (art. 129), como a revocatória
por revogação (art. 130). Esse artigo somente se aplica à revocatória do art. 130, ou
seja, à revocatória por revogação ou anulabilidade, pois o ato anulável pode
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

convalescer, findo o prazo de 3 anos deste artigo. Ademais, ele fixa legitimidade ativa
de qualquer credor ou do MP para pleitear a revogação do ato. Não se aplica à
revocatória por ineficácia, pois, neste caso, sua declaração pode ser pleiteada em
qualquer prazo, dado o não convalescimento do vício de ineficácia, e por qualquer
interessado, visto que pode ser reconhecida até mesmo de ofício pelo juiz.

Art. 136. Reconhecida a ineficácia (incidentalmente, cf. art. 129, p.ú) ou


julgada procedente a ação revocatória (quer seja por ineficácia ou revogação),
as partes retornarão ao estado anterior, e o contratante de boa-fé terá direito
à restituição dos bens ou valores entregues ao devedor.

Esse artigo se aplica tanto à revocatória por ineficácia como à revocatória por
revogação. Logo, não devemos confundir a revocatória com revogação.

Se um ato que é fraudulento para fins de revogação tiver decorrido de decisão


judicial, o que fazer (ex. devedor que faz nota promissória para um falso credor de
forma que este requeira o pedido de falência e, posteriormente, este faz depósito
elisivo do valor e o credor, ao levantar o valor, devolve ao devedor)? Nesse caso, não
é necessária a propositura de ação rescisória, pois a sentença de procedência da ação
revocatória por revogação terá efeito rescisório e desconstituirá tal decisão. É
possível, inclusive, a desconstituição de uma decisão hierarquicamente superior por
outra que lhe é inferior.

Art. 138. O ato pode ser declarado ineficaz ou revogado, ainda que praticado
com base em decisão judicial, observado o disposto no art. 131 desta Lei.
Parágrafo único. Revogado o ato ou declarada a sua ineficácia, ficará
rescindida a sentença que o motivou.

PROCEDIMENTO DA AÇÃO REVOCATÓRIA

LEGITIMIDADE ATIVA

 Se por ineficácia: qualquer interessado


 Se por revogação: qualquer credor ou MP (art. 132).

LEGITIMIDADE PASSIVA

Todos aqueles que podem ser tocados pelos efeitos da decisão, conforme se
vê do art. 133 da LRF. Trata-se de litisconsórcio necessário, na medida em que o que
se pretende é retomar o bem ou direito para a massa, pelo que deve ser observado o
devido processo legal.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

I – contra todos os que figuraram no ato ou que por efeito dele foram pagos,
garantidos ou beneficiados;

II – contra os terceiros adquirentes, se tiverem conhecimento, ao se criar o


direito, da intenção do devedor de prejudicar os credores; - se tinha conhecimento do
conluio, perde a qualidade de terceiro de boa-fé e, portanto, pode perder o bem ou
direito que foi transferido com o ato.

III – contra os herdeiros ou legatários das pesssoas indicadas nos incisos I e II


do caput deste artigo.

EFEITOS JURÍDICOS DA SENTENÇA DE FALÊNCIA

EFEITOS EM RELAÇÃO AO DEVEDOR

O efeito que a sentença de quebra gera para pessoa jurídica é o de dissolução


(CC, art. 1.087, 1.051, I, 1.044 c.c. LSA, art. 206, II, c). Ele não acarreta a perda da
personalidade jurídica, pois esta permanecerá íntegra até a sua liquidação total, com
apuração do ativo e pagamento do passivo (inteligência do art. 51 e 1.109 do CC c.c.
art. 207 da LSA).

Na fase de liquidação da sociedade, uma vez exaurido o ativo, o juiz declarará


extinta a falência. Pode ocorrer, porém, que nem todos os credores tenham sido
satisfeitos. Nesse caso, o falido permanecerá com a condição de falido durante 5 anos
ou durante 10 anos (se houver condenação em crime falimentar). Se surgir algum
ativo, o credor não satisfeito pode requerer a reabertura do processo falimentar para
que se continue a liquidação.

Findo esse prazo decadencial, o devedor pode formular pedido de declaração


de extinção das obrigações do falido (é uma ação ordinária, distribuída por
dependência ao processo falimentar). O juiz, então, proferirá sentença declaratória da
extinção das obrigações, momento em que haverá a perda da personalidade jurídica
da sociedade (para o STJ, pode declarar a extinção das obrigações com processo de
cobrança de crédito tributário em curso; para o TJRJ, não). Atente-se para o fato de
que a sentença é declaratória, razão pela qual ela retroage à data do pedido. Sendo
assim, se o falido ganha na Mega Sena, por exemplo, no dia em que requereu a
extinção das obrigações, nada poderá ser dele cobrado.

Já para a pessoa física, o efeito é a inabilitação, conforme art. 102 da LRF.

No art. 972, o CC prevê que o empresário individual tem que ser plenamente
capaz e não pode ser legalmente impedido. O art. 102 da LRF diz que a falência do
empresário o torna impedido de exercer a empresa até que ele seja reabilitado.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Quando fala em “empresário”, está se referindo ao “empresário individual”. Logo,


isso significa que, até que seja declarada a extinção das suas obrigações da falência, ele
não poderá exercer empresa na qualidade de empresário individual.

A sociedade ou a EIRELI falidas, diferentemente, são dissolvidas, pelo que


não podem mais praticar seu objeto social, mas somente atos para fins liquidatórios.
Quanto aos sócios, importa diferenciar os sócios de responsabilidade limitada
dos sócios de responsabilidade ilimitada.

Se o sócio for de responsabilidade limitada (ou se tratar de instituidor da


EIRELI), ele não sofrerá, a princípio, os efeitos jurídicos da falência, pelo que a ele
não se aplica nenhuma inabilitação. Ele só será atingido em duas hipóteses: a) ação de
responsabilidade civil do art. 82 da LRF (proposta em até 2 anos após a sentença de
extinção da falência); b) desconsideração da personalidade jurídica (vide Inf. 480, STJ).
Ex. Caso da “Avestruz Master” – como o vício era congênito, ou seja, a sociedade já
foi criada com intuito de emitir títulos de avestruz (como se a atividade fosse de
mercado de capitais e não rural), o Judiciário considerou que todos aqueles que
compraram títulos sabiam da fraude, pelo que não poderiam se eximir de sofrerem os
efeitos da desconsideração, alegando não fazerem parte da gestão da sociedade (foi
aplicada a teoria maior ao invés da teoria menor).

Se o sócio for de responsabilidade ilimitada, a lei o equipara ao devedor e ele


é considerado falido (art. 81 e 190 da LRF). Logo, é alcançado pela sanção de
inabilitação e só poderá voltar a exercer empresa quando forem declaradas extintas as
obrigações do falido. Ele não poderá nem mesmo funcionar como sócio de outra
empresa durante esse período, porque, como tem sua massa falida própria, qualquer
ação ou quota a integrará para a satisfação dos credores que ainda não receberam seu
crédito.

Atenção! A personalidade do falido não se confunde com a massa falida (ente


despersonificado, universalidade de direito). Contudo, após a quebra, o falido não é
mero espectador do processo falimentar, pois pode praticar atos processuais em
defesa de seus interesses, não em nome da massa, que possui representante próprio –
o administrador judicial nomeado –, mas como fiscalizador do processo falimentar
nos termos do art. 103, p.ú, da LRF. O falido, portanto, não vira massa falida. Há
uma separação em duas figuras jurídicas diferentes. (STJ, 4ª Turma, Inf. 447). Ex. Se
a massa é credora de algum valor (o aluguel de um imóvel) e o administrador judicial
não cobra, o devedor falido não pode mover ação de cobrança, mas pode peticionar
ao juízo de falência, informando a inércia do administrador e, talvez, até pedir sua
destituição. Há casos, inclusive, em que a sociedade falida fica em conflito processual
com a massa falida (ex. impugnação da relação de credores).
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Questão boa para concurso: Médicos que são sócios de uma sociedade
simples podem falir? A princípio, a profissão de médico é uma profissão de caráter
intelectual e, portanto, não tem caráter empresarial, se submetendo ao registro no
RCPJ. Pode acontecer, porém, de se provar que há elemento de empresa, quando
então o juiz declarará que o registro no RCPJ não é válido, qualificando a sociedade
como empresária irregular. Se é irregular, pode falir e seus sócios passam a ostentar
responsabilidade ilimitada (sociedade em comum ou de fato), pelo que também
poderão ser declarados falidos.

DEVERES DO FALIDO

Estão previstos no art. 104 da LRF. Se o devedor descumprir qualquer desses


deveres, após intimado pelo juiz a fazê-lo, ele responderá por crime de desobediência.
Na vigência do DL 7661/45, havia previsão de prisão administrativa do falido em
caso de descumprimento de dever (art. 35). Só que, com o advento da CF/88, essas
disposições da prisão administrativa foram consideradas inconstitucionais (Súmula
280, STJ). A despeito disso, hoje existe um tipo penal próprio para aquele que
descumpre dever, qual seja o crime de desobediência (art. 330 do CP). Portanto,
continua sendo possível a prisão, mas não administrativa, e sim penal.

ARRECADAÇÃO

Decretada a falência, devem ser arrecadados todos os bens do falido e não


somente aqueles que estejam em seu poder (art. 108 da LRF). Tem que ser bem
penhorável! Nome empresarial não pode, portanto, ser arrecadado, pois é direito de
personalidade (art. 11 e 52 do CC). Já a marca pode ser arrecadada, pois é bem
imaterial (propriedade industrial). Os bens impenhoráveis não podem ser
arrecadados, como o bem de família.

TEMA 10: SCILIO FAVER

MINISTÉRIO PÚBLICO

O MP, no processo de falência, assume uma função dúplice: ora age como
fiscal da lei no interesse da coletividade formada, ora age como sujeito do processo,
isto é, legitimado, nos casos previstos em lei, para interpor recursos e oferecer ações
incidentais e emitir pareceres para validação de determinados atos processuais.

No projeto da LRF, o art. 4º previa que o MP deveria ser intimado em todas


as fases do processo falimentar. Este dispositivo, contudo, foi vetado. O que esse veto
representou? Seria um veto para limitar a atuação do MP ou para otimizá-la,
contribuindo para a celeridade do processo falimentar, nos termos do art. 75 da LRF?
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

O veto do art. 4º, segundo entende o STJ, é para otimizar a atuação do MP e dar
concretude à celeridade do processo e não para limitar os seus poderes institucionais.
Logo, ao invés de ser intimado em toda e qualquer ato do processo, o MP deve atuar
no processo falimentar somente nos casos expressamente previstos em lei (STJ, REsp
1230431). Sendo assim, para o STJ, o MP só pode sustentar nulidade do ato
processual por ausência de intimação do MP se a lei expressamente determinava sua
atuação.

Apesar dessa ser a orientação do STJ, nos órgãos ministeriais, não há uma
uniformidade em relação ao tema. Assim que a LRF foi publicada, o MPRJ, por meio
de sua Corregedoria, baixou uma recomendação para estabelecer a necessidade de
intimação do MP em todas as fases do processo, em resistência ao veto do art. 4º da
LRF. Portanto, na prática, há muitos promotores que seguem essa recomendação e,
inclusive, fazem questão de atuar na fase pré-falimentar quando o concurso de
credores sequer foi instalado.

Em nível nacional, porém, o CNMP, em concordância com o entendimento


do STJ, baixou a deliberação n. 16 em que expressamente diz que o MP não deve
atuar em todas as fases do processo falimentar, especialmente a pré-falimentar.

A posição do STJ não acarreta insegurança para a coletividade, pois a LRF


previu atuação do MP em todos os atos que poderiam gerar dano à coletividade.

Tem o MP legitimidade para requerer a falência de um devedor


empresário? Na LRF, a legitimidade ativa para requerimento da falência encontra-se
no art. 97. Esse artigo não prevê o MP como legitimado ativo. Ocorre que a doutrina,
capitaneada por Sérgio Campinho, criou uma hipótese teórica de o MP se enquadrar
como legitimado no art. 97, IV (qualquer credor). Segundo este autor, o MP pode ter
créditos em face de determinado empresário, oriundo do descumprimento de
obrigações firmadas em TAC (ex. multa passível de execução) ou impostas em sede
de ação civil pública. O que se discute, nessa posição, é se essa legitimação é
compatível com a atuação do MP. Não há nenhum exemplo prático disso.

ADMINISTRADOR JUDICIAL

CONCEITO

O administrador judicial é de presença obrigatória em todo e qualquer


processo de falência. Ele é um profissional, de origem privada, que auxilia o juiz na
condução do processo de falência.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

O art. 21 da LRF diz expressamente que tem que ser profissional idôneo,
preferencialmente advogado, economista, administrador de empresas ou contador, ou
ainda pessoa jurídica especializada. Essa lista de profissões não é impositiva.

NOMEAÇÃO

O administrador judicial é nomeado pelo próprio magistrado. A escolha do


administrador pode decorrer de vários fatores, especialmente a relação de confiança
existente entre o magistrado e o administrador.

A nomeação se dará na própria sentença que decreta a falência (art. 99, IX, da
LRF). Caberá ao magistrado também fixar a remuneração que lhe caberá, segundo os
parâmetros previstos no art. 24 da LRF: capacidade de pagamento do devedor, grau
de complexidade do trabalho e o valor praticado no mercado em atividades
semelhantes.

Na falência, o pagamento do administrador judicial é vinculado ao êxito de


venda de ativos. O art. 24, §1º, da LRF, diz que, em qualquer hipótese, o total pago
ao administrador judicial não excederá 5% do valor de venda dos bens da falência.
Quem vai arcar com essa remuneração é a própria massa falida a partir da venda dos
ativos. O §2º determina ainda que se reserve 40% da remuneração fixada para ser paga
somente quando do encerramento da falência, de forma que estimule o administrador
a promover a realização do ativo no tempo mais exíguo possível.

E se a falência envolver poucos ativos de forma a tornar a remuneração do


administrador quase ínfima? No TJRJ, ao invés de nomear um administrador judicial,
nomeia-se um liquidante judicial, que é um servidor público, para exercer tal função.
Como não há uma especialização e nem aparato suficiente, muitas vezes, esses
processos se estendem por anos sem solução.

Esse ano, chegou um caso ao STJ de um requerimento de falência ajuizado


por um banco em face de determinado empreśario. O juiz constatou ser o caso de
empresário com pouco ou quase nenhum ativo. Então, intimou o autor do
requerimento de falência para que este oferecesse caução pagando os honorários do
futuro administrador judicial, com base no art. 82 do CPC/15 (a parte autora deve
antecipar as despesas do processo). O STJ endossou esse posicionamento, ao
entender que a despesa do administrador é despesa do processo e esse ônus se
transportaria para o autor do requerimento em caso de falência pobre (REsp
1526790).

FUNÇÕES

O art. 22 da LRF consolida as funções do administrador judicial.


[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

A principal função de ordem processual do administrador é a assunção da


representação judicial dos processos em que o falido figurava como parte. Os
advogados, portanto, perdem seus mandatos para oficiarem nestes processos.

A falência acarreta a perda da capacidade processual do falido? Não. Ele


pode continuar a intervir no feito como falido, inclusive interpondo recursos quando
a lei lhe autorizar. O que ocorre apenas é uma restrição da capacidade processual e
não sua extinção. O STJ também se manifesta nesse sentido (REsp 1126521).

Existem ainda duas funções muito importantes: arrecadar os ativos e


promover sua venda. São justamente esses atos que são essenciais à satisfação do
maior número de credores possível. Logo, deve o administrador ter uma boa atuação.

SUBSTITUIÇÃO E DESTITUIÇÃO

O administrador judicial pode ser substituído ou destituído de suas funções


pelo mesmo magistrado que o nomeou. As diferenças entre substituição e destituição
se concentram no motivo pelo qual ocorre e na sua consequência.

A substituição pode ocorrer ou porque o administrador renunciou ao seu


cargo ou por um motivo de força maior (ex. virou servidor público, morreu etc.).
Quando ocorre a substituição, a princípio, não há nenhuma consequência negativa
para o administrador, que fará jus a uma remuneração proporcional ao tempo de
serviço prestado (art. 24, §3º, da LRF). Contudo, ele perde o direito à remuneração se
houve renúncia sem relevante razão (o que porventura tiver recebido terá que
devolver) (é o juiz quem define o que é de relevante razão).

Já a destituição está condicionada a uma atuação negativa do administrador


judicial, conforme art. 31 da LRF. Nesse caso, o juiz deve, de ofício ou a requerimento
de qualquer interessado (inclusive o MP), destituir o administrador, desde que se lhe
assegure o contraditório e a ampla defesa (art. 9º do NCPC) e haja motivação do ato
(art. 93, IX, da CF). O administrador destituído não fará jus ao pagamento de sua
remuneração (art. 24, §3º) e ficará impedido de ser nomeado administrador judicial
em qualquer outro processo nos próximos 5 anos (art. 30), sem prejuízo da
responsabilidade civil e criminal.

CREDORES

Os credores atuam no processo de falência na defesa de seus próprios


interesses, uma vez que são afetados diretamente em seus créditos. Eles podem atuar
sob duas formas:
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

 Assembleia-geral de credores: é órgão deliberativo onde os credores


poderão deliberar os rumos do processo de falência. Não se trata,
contudo, de atuação irrestrita, pois somente atuará nos casos
expressamente previstos em lei (art. 35) e as deliberações são tomadas
pela maioria dos créditos presentes (art. 42). Pode haver processo de
falência sem que se realize uma única assembleia-geral (todos os casos
enumerados pela lei são eventuais), pois não é órgão obrigatório.

 Comitê de credores: é um órgão colegiado, formado por representantes


de credores de cada uma das classes de créditos, com fins de fiscalizar
os atos do processo, especialmente a atuação do administrador judicial.
Está previsto no art. 26 da LRF, mas não é órgão obrigatório.
Comumente não existe ante a falta de remuneração ou privilégio para
os membros do comitê. A única previsão que há é o reembolso das
despesas de locomoção. Observe que, na qualidade de fiscais, podem
ser responsabilizados civil ou criminalmente e, inclusive, ser destituídos
na forma do art. 31.

TEMA 11: SCILIO FAVER

VERIFICAÇÃO DE CRÉDITOS

A partir do momento da decretação da falência, os credores, para terem seus


créditos satisfeitos, deverão se submeter ao procedimento previsto na legislação
falimentar (art. 115). É a aplicação não só do princípio da universalidade, como
também do princípio da par conditio creditorum (ou da equidade), que impõe que os
credores sejam tratados de maneira paritária (o que implica o respeito à ordem legal
de pagamento).

O procedimento de verificação de créditos tem como objetivo apurar a


existência, a quantificação e a classificação de determinado crédito. Este
procedimento comporta duas fases: uma fase extrajudicial e uma fase judicial.

1. Fase extrajudicial

1.1. Publicação de edital: A sentença que decreta a falência deve determinar


a publicação de um edital, contendo um resumo da falência, a decisão de quebra e
uma relação inicial de credores (art. 7º, §1º).

1.2. Prazo de 15 dias para habilitações de crédito tempestivas e


divergências: com esta publicação, iniciar-se-á um prazo de 15 dias para que os
credores apresentem habilitações de crédito tempestivas (se não constaram da lista)
ou divergências (se constaram da lista, mas discordarem da quantificação ou
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

classificação do crédito). Não é um prazo processual, pois as habilitações e as


divergências nesse caso serão dirigidas diretamente ao administrador judicial. Logo, o
prazo não é contado em dias úteis e não precisa de advogado. O art. 9º da LRF traz
requisitos tanto para a habilitação como para a divergência (embora a lei só fale em
habilitação):

 Valor do crédito atualizado (correção monetária + juros) até a data da


decretação da falência para fins de inclusão no quadro de credores;
 Origem do crédito: é necessário por expressa previsão legal, ainda que
o credor disponha de título de crédito em que a declinação da origem é
dispensada (STJ, REsp 890518). Princípio da especificidade do art. 9º,
II sobre as demais legislações.
 Documentos comprobatórios do crédito e indicação das demais provas
a serem utilizadas (original ou cópias autenticadas, cf. art. 9º, p.ú);
 Indicação de garantia e especificação do seu objeto etc.

1.3. Prazo de 45 dias para novo edital: findo o prazo para habilitações
tempestivas e divergências, o administrador judicial decidi-las-á e, no prazo de 45 dias,
formará uma nova relação de credores, publicando novo edital ou retificando o
anterior (art. 7º, §2º). Como se trata de ato a ser praticado no processo, pode ser
contado em dias úteis.

2. Fase judicial

2.1. Prazo de 10 dias para impugnação à relação de credores (art. 8º): no


prazo de 10 dias, contados da publicação da relação do art. 7º, §2º, da LRF, o comitê
de credores, qualquer credor, devedor, seus sócios ou o MP poderá impugnar a
relação de credores. A impugnação poderá apresentar alguns fundamentos: ausência
de qualquer crédito (é a chamada habilitação retardatária para quem ainda não consta
da lista) ou discussão quanto à legitimidade, à importância ou à classificação do
crédito (para quem já consta da lista). Não há que se falar em preclusão por não ter
havido manifestação na via administrativa.

Uma vez feita a impugnação, ela segue um rito próprio previsto na LRF. Cada
impugnação será autuada em apartado (art. 13). Distribuída a impugnação, o juiz
intimará os credores que tiveram seus créditos impugnados para contestarem a
impugnação no prazo de 5 dias úteis (art. 11). Transcorrido esse prazo, abre-se prazo
comum de 5 dias para as demais partes se pronunciarem: devedor e comitê de
credores, se houver (art. 12, caput). Por fim, o art. 12, p.ú, determina a vista pelo
administrador judicial também no prazo de 5 dias.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

2.2. Julgamento das impugnações (art. 17): a decisão judicial que decide a
impugnação tem natureza de sentença, mas o recurso cabível é o de agravo de
instrumento no prazo de 15 dias úteis.

Habilitação de crédito retardária. Está prevista no art. 10 da LRF. Se


apresentadas depois da publicação do edital do art. 7º, §1º e antes da homologação do
quadro geral de credores, serão recebidas como impugnação. Logo, da decisão que a
analisa cabe agravo de instrumento. O objeto da habilitação de crédito retardatária é
a inclusão de um crédito que não estava incluído. Ele não se confunde, portanto, com
o objeto da impugnação, que é mais amplo, pois também abrange a possibilidade de
retificação do crédito. Logo, se o credor não retificou o seu crédito no prazo de 10
dias da impugnação, não poderá mais fazê-lo, em virtude da preclusão.

2.3. Homologação do quadro geral de credores

Depois de publicado o quadro geral de credores, é possível a propositura de


ação de retificação do quadro geral de credores por aqueles que não
habilitaram seu crédito (art. 10, §6º, da LRF). Logo, o pedido é tão somente a
inclusão de um crédito não incluído anteriormente. Tal ação seguirá o procedimento
comum do CPC e será decidida por meio de uma sentença, da qual cabe apelação no
prazo de 15 dias úteis. Esta ação poderá ser movida até o encerramento do processo
falimentar. Isso mostra que o objetivo da LRF é trazer o maior número possível de
credores ao processo.

Atenção! Existe um tipo de credor que, embora submetido ao processo de


falência, não se submete ao procedimento de verificação de créditos, qual seja o
credor tributário/credor fiscal, em virtude do art. 187 do CTN. O credor tributário
pode incluir seu crédito no processo falimentar a qualquer tempo até seu
encerramento mediante simples comunicação ao juízo.

TEMA 12: SCILIO FAVER

CLASSIFICAÇÃO DO CRÉDITO

O recebimento do crédito fica condicionado ao volume de dinheiro


arrecadado na falência. Todos os credores ficarão submetidos à eficiência do processo
falimentar em transformar ativos em dinheiro.

Uma vez apurado o ativo, os credores poderão ser pagos, mas para não gerar
confusões, se criou uma ordem legal de preferência, que não pode ser alterada pelo
juiz nem pelos credores. Ela leva em conta a paridade de tratamento pelos credores.

A LRF dividiu os credores em três grandes grupos:


[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

1º. Credores prioritários

1.1. Créditos trabalhistas de natureza estritamente salarial vencidos nos 3 meses


anteriores à decretação da falência no limite de 5 salários mínimos por trabalhador
(art. 151 da LRF) – é o primeiro grupo de credores a receber, na medida em que
visam à própria subsistência do trabalhador. Tão logo haja disponibilidade em caixa,
tais créditos serão pagos.

1.2. Despesas cujo pagamento antecipado seja indispensável à administração


da falência, inclusive no caso de continuação provisória das atividades (art. 150 da
LRF) – aqui a abrangência é por exceção: são todas aquelas despesas que não estão
no art. 84 da LRF (ex. despesas de locomoção do administrador para uma audiência).
Elas serão pagas tão logo haja disponibilidade em caixa.

Majoritariamente, entende-se que as despesas do art. 151 preferem no


pagamento às despesas do art. 150 da LRF, na medida em que aqueles são essenciais
à sobrevivência do trabalhador e atendem à sua própria dignidade. Ricardo Negrão,
contudo, entende que o art. 150 prefere ao art. 151.

1.3. Créditos decorrentes da restituição em dinheiro de um bem (art. 86, p.ú.):


aqueles que pretenderem uma restituição de bem, mas que receberem o equivalente
em dinheiro, terão prioridade em seu pagamento, logo após o art. 151. Então, por que
ele está depois do art. 150? Nada obsta que haja o pagamento antecipado das despesas
com o processo, desde que haja caixa suficiente para se garantir as restituições em
dinheiro. Caso não haja caixa suficiente para garantir as restituições em dinheiro, se
inverte a ordem e estas virão logo após o art. 151.

2º. Créditos extraconcursais (art. 84): o próprio art. 84 estabelece uma


ordem de prioridade no pagamento dos créditos extraconcursais.

 Remunerações devidas ao administrador judicial e seus auxiliares;


 Créditos derivados da legislação do trabalho ou decorrentes de acidente
de trabalho relativos a serviços prestados após a decretação da falência
– é o que ocorre quando há a continuação provisória das atividades do
falido. A própria CLT diz que a falência não impõe a rescisão
automática dos contratos de trabalho. Não existe aqui qualquer
limitação de recebimento. O credor trabalhista receberá na sua
integralidade as verbas que lhe são devidas pelos serviços prestados
após a falência.
 Quantias fornecidas à massa pelos credores – pode ser que alguns
credores tenham que adiantar certas despesas, pelo que serão
ressarcidos na qualidade de credores extraconcursais.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

 Despesas com o ato (e não com a fase) de arrecadação, administração,


realização do ativo e distribuição de seu produto, bem como custas do
processo de falência – não são créditos prioritários do art. 150, mas sim
créditos extraconcursais do art. 84, III. Obs. Não confundir despesas
com remunerações. As despesas com um laudo de avaliação de um
bem, por exemplo, não são créditos extraconcursais, mas sim créditos
prioritários, nos termos do art. 150 do CTN. Os honorários do
avaliador, diferentemente, se enquadram como remuneração devida ao
auxiliar do administrador judicial, pelo que são créditos extraconcursais,
cf. art. 84, I.
 Custas judiciais relativas às ações e execuções em que a massa falida
tenha sido vencida – a LRF admite que a massa falida seja condenada
nas custas judiciais em caso de sucumbência. Custas judiciais não
compreendem os honorários advocatícios, que têm natureza alimentar
e, portanto, devem ser considerados como créditos trabalhistas, na
forma do art. 84, II, segundo entendimento do STJ, sejam eles de
natureza contratual ou sucumbencial.
 Obrigações resultantes de atos jurídicos válidos praticados durante a
recuperação judicial, nos termos do art. 67 desta Lei, ou após a
deccretação da falência, e tributos relativos a fatos geradores ocorridos
após a decretação da falência, respeitada a ordem do art. 83.

3º. Créditos concursais (art. 83):

3.1. Créditos trabalhistas, limitado a 150 salários mínimos por credor, e


decorrentes de acidente de trabalho – obviamente, são aqueles créditos existentes
anteriormente à decretação da falência e que não se enquadram nem no art. 151 nem
no art. 84, II. O que exceder o limite de 150 salários-mínimos será considerado crédito
quirografário, na forma do art. 83, VI, c, da LRF. Registre-se que não há tal limitação
em caso de acidente de trabalho.

3.2. Créditos com garantia real – o crédito que tinha por garantia determinado
bem será pago até o limite do valro do bem. O excedente será considerado crédito
quirografário, na forma do art. 83, VI, b. O art. 83, §1º, dispõe que o valor do bem
não é aquele à época da constituição da garantia para fins do inciso II, mas sim a
importância efetivamente arrecadada com sua venda, ou, em caso de alienação em
bloco, o valor do bem individualmente considerado.

3.3. Créditos tributários – o crédito tributário é satisfeito neste momento em


sua totalidade, salvo as multas tributárias, que se enquadram no art. 83, VII, abaixo
dos créditos quirografários.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

3.4. Créditos com privilégio especial

3.5. Créditos com privilégio geral

3.6. Créditos quirografários

3.7. Créditos subordinados

Art. 124. Contra a massa falida não são exigíveis juros vencidos após a
decretação da falência sejam previstos em lei ou contrato se o ativo apurado não
bastar para o pagamento dos credores subordinados. Como os credores
subordinados são os últimos a receber (art. 83, VIII), isso significa que só serão
exigíveis os juros vencidos após a decretação da falência se todos os credores foram
pagos e eles serão pagos na mesma ordem do art. 83.

Art. 153. Pagos todos os credores, o saldo, se existir, será entregue ao falido.
Este dispositivo comprova que a falência não se confunde com insolvência
econômica. Para ser considerado falido no Brasil, o critério é a insolvência jurídica,
conforme definida no art. 94 da LRF.

TEMA 12: SCILIO FAVER

ARRECADAÇÃO E ALIENAÇÃO DE ATIVOS

A arrecadação e a alienação dos ativos é atribuição do administrador judicial.


Ao arrecadar qualquer tipo de bem, deve o administrador juntar aos autos um auto
de arrecadação que, além de discriminar o bem (inventário), promoverá a sua
avaliação (art. 22, III, f). Nada impede que, para avaliação, ele conte com a ajuda de
outros profissionais, quando, então, juntará o laudo em 30 dias.

O ato seguinte à arrecadação é a alienação (art. 139). Durante a vigência doDL


7661/45, exigia-se a consolidação do quadro geral de credores para que se realizasse
o ativo. Contudo, na vigência da Lei 11.101/05, a alienação dos ativos é ato contínuo
à arrecadação, que independe da consolidação do quadro geral.

Em se tratando de alienação de ativos, há duas modalidades:

1. Alienações ordinárias: estão previstas em lei como modalidades


preferenciais de alienação do ativo (art. 142 da LRF). Em qualquer uma dessas
modalidades, a alienação poderá ser feita ainda que o preço seja inferior ao da
avaliação, em virtude do que prevê o art. 142, §2º. Evidentemente, isso não pode dar
azo a situações de má-fé e dolo, mas acaba permitindo que se compre bens do falido
a preço vil.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

1.1. Leilão: mais conhecido como praça, marca-se data, hora e local para quem
quiser participar oferecer lances orais para aquisição do bem. Quem oferecer o maior
lance, adquire o bem. Para fazer o leilão, é necessária a presença de um leiloeiro,
porque o art. 142, §3º, da LRF manda aplicar subsidiariamente o disposto no CPC/15,
o que representa um custo extra para a massa falida.

1.2. Propostas fechadas: convenciona-se data, hora e local para que as pessoas
interessadas possam encaminhar para o cartório onde se processa a falência propostas
lacradas com um valor para aquisição do bem. Em outro dia, hora e local, o juiz do
processo marca um ato solene em que os envelopes serão abertos para análise das
propostas. O que oferecer a maior proposta, vence. Aqui não há leiloeiro, com menos
custos para a massa falida. Em compensação, não há aquela disputa por preços.

1.3. Pregão: é um modo de alienação híbrido, porque mistura propostas


fechadas com leilão. Ele é feito em duas fases. Na primeira fase, realizam-se as
propostas fechadas, em que os interessados colocam suas ofertas em envelopes
lacrados que serão abertos pelo juízo na data marcada. Verificando que uma
determinada pessoa ofereceu a maior proposta, o juiz, se existir outras propostas que
oferecem, no mínimo, 90% desse valor, designará um leilão. Nesse leilão, participarão
a proposta vencedora e os demais com propostas de pelo menos 90% do valor, os
quais disputarão o bem, tendo por valor mínimo de lance o da proposta vencedora
na fase dos envelopes.

Quem escolherá a modalidade? O administrador judicial, por meio de


petição, requererá ao juiz a alienação conforme uma dessas modalidades. Obviamente,
o juiz não está vinculado à modalidade requerida pelo administrador.

2. Alienações extraordinárias: como o que se busca na falência é a


maximização do valor dos ativos, a lei não quis restringir as formas de alienação.
Existe, portanto, a possibilidade de se adotar outras modalidades não regulamentadas
na lei (arts. 144 e 145 da LRF).

O art. 145 também permite que os credores, em assembleia-geral, deliberem


sobre outra modalidade, o que demonstra que não é um ato exclusivo do
administrador judicial. O juiz não fica condicionado a homologar o que foi deliberado
pela assembleia-geral, mas isso se configura somente em hipóteses de ilegalidade da
deliberação. Fora isso, a decisão da assembleia será soberana. Quando a deliberação
da assembleia for para adoção de uma modalidade diferente de alienação, aplica-se o
quórum do art. 46, qual seja 2/3 dos créditos presentes.

Participação do MP. O art. 142, §7º, dispõe que, em qualquer modalidade de


alienação, o MP deve ser intimado pessoalmente, sob pena de nulidade. Isso se aplica
somente para as modalidades ordinárias de alienação? Ou para as extraordinárias
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

também? Apesar da localização topográfica do §7º, se o MP tem que ser intimado


para a alienação oficialmente prevista em lei, quanto mais terá que sê-lo em caso de
alienação não oficial, até mesmo porque o artigo fala em “qualquer modalidade”.

ENCERRAMENTO DA FALÊNCIA

Quando todo o ativo tiver sido arrecadado e alienado, passa-se ao momento


de pagamento do passivo. Distribuído o produto da alienação aos credores, conforme
a ordem legal, o administrador judicial prestará as suas contas no prazo de 30 dias
úteis (art. 154). Vai informar quanto arrecadou, quanto vendeu e quanto pagou.

O juiz, então, terá como primeira tarefa julgar as contas do administrador. A


lei estabeleceu que o julgamento das contas se dará por sentença, da qual cabe
apelação (art. 154, §6º). Essa sentença, contudo, ainda não encerra o processo de
falência.

Logo em seguida, o administrador apresentará um relatório final no prazo de


10 dias úteis no qual constará expressamente quais são os credores que não tiveram
seus créditos adimplidos, ou seja, quais obrigações do falido ainda não foram
cumpridas e cuja responsabilidade subsiste (art. 155).

Com base nesse relatório final, o juiz encerrará a falência por meio de outra
sentença (art. 156). Essa sentença consolida, homologa esse relatório final
apresentado pelo administrador. Portanto, o processo de falência se encerra não com
o pagamento de todos os credores, mas sim com a total alienação dos bens
arrecadados, ou seja, com a realização do ativo.

Com a decretação da falência, suspendem-se as ações e execuções contra o


falido. Com o encerramento da falência, as ações e execuções pendentes voltam a
tramitar, bem como o prazo prescricional relativo às obrigações do falido recomeça a
correr a partir do dia em que transitar em julgado a sentença de encerramento da
falência (art. 157).

Logo, conclui-se que o encerramento da falência não acarreta


automaticamente a extinção das obrigações do falido.

EXTINÇÃO DAS OBRIGAÇÕES DO FALIDO

As hipóteses de extinção das obrigações do falido estão previstas no art. 158:

 Pagamento de todos os créditos;


 Pagamento, depois de realizado todo o ativo, de mais de 50% dos
créditos quirografários, sendo facultado ao falido o depósito da quantia
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

que faltar para atingir esse percentual se a liquidação do ativo não foi
suficiente – é como se a lei concedesse um perdão da dívida restante.
 Decurso do prazo de 5 anos, contados do encerramento da falência, se
não há crime falimentar;
 Decurso do prazo de 10 anos, contados do encerramento da falência,
se há crime falimentar.

Obs. 1. Muito se discute a natureza desse prazo, uma vez que seu decurso
importa na extinção das obrigações do falido. Por isso, a doutrina majoritária
considera se tratar de prazo decadencial. Contudo, há quem considere se tratar de
prazo prescricional.

Obs. 2. O crédito tributário não se submete, de acordo com os arts. 186 e 187
do CTN, aos efeitos da falência e sua extinção só é possível com a sua quitação. Logo,
questiona-se se o decurso do prazo de 5 ou 10 anos importaria na extinção das
obrigações tributárias do falido ou dependeria da prova da quitação das obrigações
tributárias. Majoritariamente, incluído aqui o STJ, tem-se entendido ser necessário o
adimplemento do crédito tributário para a extinção completa das obrigações do falido,
ainda que já tenha se operado a prescrição para cobrança do crédito tributário, diante
do fato de que o artigo do CTN fala em “quitação”, o que pressupõe pagamento do
crédito e não qualquer forma de extinção. Esse entendimento do STJ é criticado, uma
vez que, por via transversa, considera imprescritível o crédito tributário.

Se a causa extintiva das obrigações do falido se der após o encerramento da


falência, o falido terá que instaurar um processo autônomo, endereçado ao mesmo
juízo processante da falência, com pedido de extinção das suas obrigações. É a
chamada ação de extinção das obrigações do falido, que será resolvida por meio
de sentença, na forma do art. 159. Se foi antes do encerramento da falência, na mesma
sentença, se encerrará a falência e se declarará extintas as obrigações do falido, cf. art.
159, §3º.

Na sentença que extingue as obrigações do falido, é que teremos a


reabilitação do falido, salvo se pender contra ele condenação criminal, a qual durará
pelo prazo fixado na sentença condenatória criminal. Ele poderá voltar a exercer
atividade empresarial.

Ex. Sociedade empresária cuja falência foi encerrada e cujas obrigações foram
declaradas extintas: a) ainda existe? b) pode voltar a exercer sua atividade?

Sérgio Campinho diz que isso é impossível, uma vez que a falência é causa de
dissolução da sociedade. Portanto, encerrado o processo de falência e extintas suas
obrigações, não há mais personalidade jurídica. Fábio Ulhôa Coelho, por outro lado,
diz que a falência dá início à dissolução, mas a sociedade pode, uma vez extintas suas
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

obrigações, voltar e reverter a sua dissolução, caso em que poderá retornar a exercer
suas atividades. Essa posição do Ulhôa foi acolhida pelo TJSP, AC 0123776-
62.2008.8.26.0000, ao argumento de que a dissolução é um procedimento que pode
ser interrompido quando, extintas as obrigações, a sociedade opta por continuar suas
atividades.

TEMAS 13 E 14: THIAGO CARDOSO NEVES

SISTEMA FINANCEIRO NACIONAL

CONCEITO

O Sistema Financeiro Nacional é um conjunto de instituições, de órgãos e de


regras que visa estruturar e regulamentar a atividade financeira e monetária no país.
Por se tratar de atividade que não atende somente a interesses privados, mas que tem
repercussões públicas, o Estado vai exercer o controle e a fiscalização sobre ela,
especialmente nos termos da Lei 4.595/64.

É legítimo esse controle estatal? Ele é consentânea com o princípio da livre


iniciativa? A atividade financeira, que envolve a negociação do crédito, como regra,
fica a cargo exclusivamente do particular. Contudo, ela tem uma importante função
social. Primeiro, as instituições financeiras são responsáveis pela poupança popular,
ou seja, a guarda do dinheiro público e do dinheiro da população. Segundo, elas são
importantes para o financiamento de outras atividades, na medida em que fornecem
crédito etc. Logo, é justificável o controle do Estado sobre tais instituições por meio
do Banco Central do Brasil (art. 18 da Lei 4.595/64).

COMPOSIÇÃO

O SFN é composto por alguns órgãos (art. 1º da Lei 4.594/64):

I. Conselho Monetário Nacional

É o órgão central do SFN e está diretamente vinculado ao Ministério da


Fazenda. É de sua competência formular a política de moeda e de crédito do País, o
que compreende estabelecer as metas de inflação, os regimes de câmbio, as taxas de
juros etc. A Lei 4.594/64 também prevê outras competências nos seus arts. 3º e 4º.

Obs. Embora a fixação de taxa de juros seja competência do CMN, ele deixa
isso livre para a fixação pelo mercado. Logo, as instituições financeiras poderão
praticar os juros que entenderem convenientes, pois não se submetem à Lei de Usura
(Súmula 578). Registre-se, porém, que o STJ já pacificou o entendimento de que deve
ser respeitada a taxa média do mercado.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

É composto por três figuras: (a) o Ministro da Fazenda, que é o Presidente do


CMN; (b) o Ministro do Planejamento; (c) o Ministro Presidente do BACEN. Desde
a MP 207/2004, o Presidente do BACEN tem status de Ministro de Estado.

II. Banco Central do Brasil

É uma autarquia federal, pessoa jurídica de direito público autônoma, dotada


de personalidade jurídica própria e patrimônio próprio. Quando o BACEN foi criado,
ele o foi para ser uma figura autônoma dentro do SFN. Ele é o principal órgão
fiscalizador das atividades das instituições financeiras. O objetivo da sua autonomia,
portanto, é dar mais dinamicidade às atividades bancárias. Ele deve ser um órgão
técnico no exercício de suas funções, dentre as quais podemos citar: (a) emitir papel
moeda; (b) exercer o controle total do crédito circulante; (c) executar e veicular as
orientações e determinações do CMN; (d) autorizar o funcionamento das instituições
financeiras (art. 10, X, da Lei 4.595/64); (e) fiscalizar a atuação das instituições
financeiras durante toda a sua vida (art. 10, IX e art. 18) etc.

Originariamente, quando foi criado, o BACEN era composto por uma


diretoria de 5 membros com mandato fixo (art. 14, caput e §2º, da Lei 4595/64). Só
que, em 1985, durante o governo Sarney, foi editado o Decreto 91961/85, com força
de lei, o qual alterou a composição da diretoria do BACEN. Hoje, ela é composta
por 9 membros, sendo um deles o presidente, todos eles de livre nomeação e
exoneração pelo Presidente da República. Isso provocou uma grande mudança
quanto à autonomia do BACEN, uma vez que sua direção passou a ficar a cargo,
indiretamente, do Presidente da República. Essa situação se agravou com a MP
207/2004 que transformou o diretor presidente do BACEN em Ministro de Estado,
ou seja, subordinou-o diretamente ao comando da Presidência da República, uma vez
que os Ministros atuam como longa manus desta. O objetivo foi justamente limitar a
atuação do BACEN, politizando ainda mais a economia.

O BACEN é o Banco dos bancos, porque ele não se relaciona com o público
(ninguém tem conta, ninguém toma crédito junto ao BACEN), mas somente com as
demais instituições financeiras públicas e privadas. Em um determinado período,
embora não tivesse relação direta com o público, ao BACEN foi atribuída a função
de guarda dos valores da poupança popular, qual seja quando houve o confisco dos
valores da poupança dos bancos comerciais nos Planos Collor I e II e remessa ao
BACEN. Os valores que foram confiscados depois seriam restituídos
parceladamente, contudo, havia uma defasagem econômica. Surge, portanto, a
discussão de quem seria responsável pelos expurgos inflacionários, ou seja, pela
correção dos valores que estavam depositados, durante esse período.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

O STJ firmou posicionamento no sentido de que até março/1989 (mês da


entrega dos valores ao BACEN: 15/03/1989), a responsabilidade pelos expurgos
inflacionários era dos bancos comerciais. Nos meses seguintes, já seria do BACEN.
Vide AgRg no REsp 785.119.

III. Banco do Brasil

A função principal do BB é de ser agente financeiro do tesouro nacional, isto


é, ele é o Banco da União, recebedor e pagador do governo federal. O BB é uma
sociedade de economia mista, pessoa jurídica de direito privado cuja maioria do capital
votante pertence à União. É o Banco responsável pelo fomento das políticas públicas,
sendo obrigado a manter linhas de crédito para atividades rurais, industriais,
comerciais etc. Conforme queira estimular a atividade, ampliam-se as linhas de crédito
para ela disponíveis. É regulado a partir do art. 19 da Lei 4.595/64.

Os diretores do BB têm que ser pessoas naturais e o presidente é nomeado


pelo Presidente da República (art. 21). Mais uma vez, vê-se a intervenção do governo
federal na atividade econômica, só que, nesse caso, ela é mais do que natural e
necessária.

IV. Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social

É uma empresa pública federal, pessoa jurídica de direito privado, subordinada


ao Ministério da Indústria, Desenvolvimento e Comércio. Por ser uma empresa
pública, todo seu capital é público, pertencente à União. O objetivo do BNDES é o
de concessão de financiamentos a médio e longo prazo, ou seja, é um banco de
investimentos em determinadas atividades relevantes, de maior monta, que reclamem
maiores valores para seu exercício.

V. Demais instituições financeiras públicas e privadas

CONCEITO DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

O art. 17 da Lei 4.595/64 conceitua instituições financeiras como aquelas


pessoas jurídicas de direito público ou de direito privado que têm como atividade
principal ou acessória a coleta, a intermediação ou a aplicação de recursos próprios
ou de terceiros, em moeda nacional ou estrangeira, bem como a custódia de valores
de terceiros.

Na doutrina, há uma pequena divergência sobre qual é de fato a atividade


primordial da instituição financeira. Uma doutrina tradicional, com base nas lições do
italiano Cesare Vivante, encampada no Brasil por Carvalho de Mendonça, sustenta
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

que os bancos são intermediadores do crédito, ou seja, a coleta de recursos de


terceiros para investir e distribuir o crédito.

Já a doutrina mais moderna sustenta que as instituições financeiras são


mobilizadoras do crédito, ou seja, tem como função a circulação e o fomento do
crédito (Fran Martins, Nelson Abraão, José da Silva Pacheco). A intermediação a que
a lei se refere no art. 17 é uma atividade atípica da instituição. Se ela fosse mera
intermediadora, quem depositou o valor para guarda na instituição seria o mutuante
e quem tomou o crédito seria o mutuário. Só que não é isso que ocorre, pois a
instituição financeira faz as suas operações em nome próprio. Ao receber os valores
de terceiro, ela se torna proprietária desses valores. Tanto o é que, se a instituição
financeira vier a incidir em falência, o correntista, por exemplo, é credor quirografário
e não tem direito a pedir a restituição em dinheiro daquele valor, pois não tem a
propriedade sobre aqueles valores e sim um direito de crédito (por isso, é um contrato
de depósito atípico ou irregular, pois transfere propriedade). O STF e o STJ já se
manifestaram no sentido de que viola o direito de propriedade da instituição
financeira a devolução de valores ao correntista durante o regime de intervenção ou
liquidação.

Há ainda outra definição de instituição financeira no art. 1º da Lei 7.492/86,


só que esta é aplicável somente no que dizz respeito aos crimes contra o SFN. A
definição do art. 1º da Lei 7.492/86 se distingue daquela do art. 17 da Lei 4.595/64,
pois, nesta, considera-se instituição financeira aquela que faz a coleta, intermediação
e aplicação de recursos próprios ou de terceiros, enquanto aquela somente fala em
recursos de terceiros. Logo, o conceito da Lei 7.492/86 é mais restrito e, por envolver
crimes contra o SFN, não se pode fazer uma analogia in malam partem e utilizar o
art. 17 da Lei 4.595 na tipificação dos crimes.

Instituições financeiras e instituições bancárias são coisas distintas. Instituição


financeira é gênero do qual são espécies, por excelência, as instituições bancárias, mas
também diversas outras figuras previstas no art. 18, §1º, 1ª parte, da Lei 4.595/64:
sociedades de crédito, financiamento e investimento; caixas econômicas; cooperativas
de crédito; cessões de crédito de cooperativas. As figuras mencionadas no art. 18, §1º,
2ª parte, não são instituições financeiras, mas a elas se estende a aplicação da Lei
4.595/64, de forma equiparada (se sujeitam ao controle do BACEN, devem ter
registro no BACEN).

A LC 105/2001 cuida do sigilo das operações das instituições financeiras (Lei


do Sigilo Bancário). No art. 1º, §1º, há um rol extenso de figuras consideradas
instituições financeiras. Muitas dessas figuras não constam do art. 18, §1º, da Lei
4.595/64, dentre as quais as administradoras de cartão de crédito e as sociedades de
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

arrenedamento mercantil, bem como as empresas de fomento mercantil ou factoring


(art. 1º, §2º, da LC 105).

As administradoras de cartão de crédito, por si só, não são instituições


financeiras. Só que hoje as principais administradoras se constituem como instituições
financeiras para não sofrerem a limitação de juros (Súmula 578).

As sociedades de arrendamento mercantil ou leasing, por uma interpretação


que o STJ faz da Lei 6.099/74 (regime tributário das operações de arrendamento
mercantil), particularmente do art. 1º e 9º, são consideradas como instituições
financeiras.

As sociedades de fomento mercantil ou factoring, embora constem do art. 1º,


§2º, da LC 105, não são consideradas instituições financeiras, porque a atividade de
fomento mercantil não se enquadra como atividade típica de instituição financeira, na
medida em que opera apenas com a compra de crédito e o estabelecimento de
garantias de realização do crédito que adquiriu. Prova disso é que elas não precisam
de autorização do BACEN para funcionar nem se submetem à sua fiscalização.

Assim, podemos concluir que a LC 105, ao incluir tais figuras no rol, o faz
somente para os fins de aplicação daquela lei, ou seja, para que elas se submetem
ao sigilo bancário, sem que isso, por si só, as caracterize como instituições financeiras.

Obs. As operações de desconto e redesconto bancário são operações


privativas de instituição financeira. Ao descontar o cheque, o banco faz apenas um
desconto antecipado daquele valor e não uma compra do crédito. Logo, é uma
operação bancária propriamente dita que não se confunde com a operação de
factoring que é uma mera compra de crédito.

ESPÉCIES DE INSTITUIÇÃO FINANCEIRA

Os bancos de emissão são os responsáveis pela emissão do papel moeda. No


Brasil, só o BACEN faz essa função. Não mantêm relação com o público, mas
somente com outras instituições financeiras.

Os bancos comerciais e de depósito têm a função de receber valores em


depósito e efetuar operações de crédito, ex. Itaú, Bradesco.

Os bancos de investimento são as pessoas jurídicas especializadas na


concessão de financiamento a médio e longo prazo para fomento e desenvolvimento
das atividades econômicas do País, ex. BNDES.

Os bancos de crédito real são aqueles bancos que operam na concessão de


empréstimo somente mediante a instituição de uma garantia real, ex. Banco Cédula.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Os bancos de crédito industrial têm como atividade a concessão de


empréstimo para estímulo das atividades industriais, ex. Banco do Brasil (é obrigado
a ter uma carteira de crédito industrial).

Os bancos de crédito agrícola têm como atividade a concessão de


empréstimo para estímulo das atividades agrícolas.

As casas bancárias são bancos de pequeno porte, previstos no DL 14728/21.

As caixas econômicas exercem uma função social, têm uma atuação mais
voltada para o atendimento das demandas sociais, pois fomentam a poupança
popular, bem como concedem créditos a juros mais baixos, subsidiados pelo governo,
ex. Caixa Econômica Federal.

As cooperativas de crédito são instituições financeiras por força de lei (art.


18, §1º, da Lei 4.595/64), que tem por objetivo estimular a mutualidade, ou seja, as
operações de crédito entre os cooperativados de determinada classe. Isto porque, a
princípio, o art. 25 da Lei 4.595/64 prevê que a instituição financeira tem que se
constituir como S.A. e as cooperativas são previstas no CC como uma espécie de uma
sociedade simples.

Obs. Os consórcios não são instituições financeiras, mas se submetem à


fiscalização do BACEN, em função do advento da Lei n. 8.177/91 (STJ, REsp
552.262), que atribuiu ao BACEN o dever de fiscalizar os consórcios. Antes tal
atribuição competia ao Ministério da Fazenda. Logo, o BACEN só pode ser
responsabilizado por eventual falha na fiscalização a partir da vigência da lei.

REGIMES ESPECIAIS DE SUPERAÇÃO DAS CRISES

INTRODUÇÃO

O art. 2º, I, da LRF, exclui expressamente as instituições financeiras e as figuras


a ela equiparadas do regime da falência. Essa é a regra, uma vez que elas se submetem
a um procedimento extrajudicial que fica a cargo do BACEN.

A Lei 6.024/74 trouxe os regimes de intervenção e liquidação extrajudicial das


instituições financeiras. Há ainda um regime de intervenção mais brando, previsto no
DL 2321/85, qual seja o regime de administração especial temporária (RAET).

Não obstante esses procedimentos legalmente previstos, paira uma grande


controvérsia na doutrina sobre a possibilidade de falência das instituições financeiras.

Uma primeira corrente, defendida por Pontes de Miranda, sustenta que as


instituições financeiras não incidem em nenhuma hipótese em falência, ao argumento
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

de que, como o legislador trouxe procedimentos especiais de superação das crises de


tais instituições, a cargo do BACEN que é um órgão técnico, não seria bom submetê-
las à falência e, consequentemente, à vontade do Poder Judiciário.

Uma segunda corrente, capitaneada por Rubens Requião e Sampaio de


Lacerda, sustenta que a quebra de uma instituição financeira tem repercussões sociais,
que podem representar uma lesão ou ameaça de lesão a direito, de forma que deve ser
possível invocar o art. 5º, XXXV, da CF para submetê-las à apreciação do Poder
Judiciário em processo falimentar.

Adotada essa segunda corrente, como se daria essa falência?

A corrente amplamente majoritária (Sérgio Campinho, Paulo Toledo) entende


que, como regra, a instituição financeira em crise vai se submeter aos procedimentos
especiais; subsidiariamente, se ocorrer algumas das hipóteses previstas nos arts. 12, d
e 21, b, da Lei 6.024/74, o BACEN pode autorizar o interventor ou o liquidante a
requerer a falência em verdadeira hipótese de autofalência (arts. 105 a 107 da LRF).

O professor Haroldo Malheiros Verçosa defende que, como regra, primeiro,


observa-se o procedimento especial e, subsidiariamente, o processo de falência. O que
justifica um procedimento especial é o fato de a crise da instituição financeira ter
repercussões sociais, a demandar a atuação de um órgão técnico como o BACEN.
Contudo, há algumas instituições financeiras de pequena monta, cuja quebra não traz
consequências sociais relevantes, pelo que, nesses casos, não se justifica a atuação de
todo o aparato do BACEN. Qualquer credor poderia, então, requerer a falência da
instituição.

Fábio Ulhôa Coelho entende que, uma vez verificada a situação de crise da
instituição financeira, nos termos do art. 94 da LRF, qualquer credor pode requerer
diretamente a sua falência, independentemente da natureza da instituição financeira e
da redação do art. 2º, I, da LRF.

O art. 45, caput e p.ú, da Lei 4.595/64 exclui a possibilidade de as instituições


financeiras requererem concordata. As pessoas que eram proibidas de requerer
concordata também não fazem jus à recuperação judicial, cf. art. 198 da LRF.

O BACEN (sociedade de economia mista) e a CEF (empresa pública) se


submetem à falência? Não. Aqui há uma dupla exclusão: instituições financeiras (art.
2º, I, da LRF) e empresas estatais (art. 2º, II, da LRF). Como há capital público
investido nessas pessoas, não é de interesse do poder público que elas venham a falir.
Por isso, há de ser aplicado o princípio da supremacia do interesse público. As
instituições financeiras públicas federais também estão excluídas do
procedimento especial de intervenção e liquidação (art. 1º da Lei 6.024). Logo, se
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

entrarem em crise financeira, a União terá que injetar dinheiro para salvar ou, no
máximo, se fará uma liquidação ordinária em que caberá a União pagar aos credores.
Nesses casos, é o Estado que garante a solvência dos créditos. Ademais, as empresas
estatais são criadas mediante prévia autorização legislativa e, logo, para extingui-las,
há de se aplicar o princípio do paralelismo das formas, a demandar autorização
legislativa para tal (e a falência é uma forma de dissolução judicial que não envolve a
atuação do Poder Legislativo, o que caracterizaria violação ao princípio da separação
de poderes). Como último argumento, vimos que normalmente é o chefe do
Executivo federal que nomeia os administradores destas instituições financeiras, já
que funcionam como instrumento da política do governo, com base em uma relação
de confiança. A nomeação de um administrador judicial, no curso do processo
falimentar, para gerir o patrimônio representaria uma ingerência indevida do Poder
Judiciário no Executivo, em ofensa à separação de poderes.

INTERVENÇÃO

CONCEITO

O procedimento de intervenção se inicia no art. 2º da Lei 6.024. Há uma


divergência na doutrina se este procedimento ainda está em vigor, porque o RAET,
trazido pelo DL 2321/85, truxe um procedimento bem similar ao da intervenção, só
que mais simples. Parcela da doutrina (Nelson Abraão) entende que o DL 2321/85
teria revogado a parte da Lei 6.024 que regula a intervenção. Majoritariamente,
contudo, defende-se que a intervenção permanece hígida (Ricardo Negrão).

É uma medida de índole político-administrativa por meio do qual o BACEN,


por meio da figura do interventor, intervém na administração da instituição financeira,
promovendo o afastamento e suspensão dos mandatos dos administradores e dos
membros do conselho fiscal, com o intuito de sanar a situação de crise.

A finalidade da intervenção, portanto, é tentar recuperar a instituição


financeira, já que esta não pode se valer do procedimento de recuperação.

LEGITIMIDADE PASSIVA

Estão sujeitas à intervenção extrajudicial todas as instituições financeiras


privadas e as instituições financeiras públicas não federais. Há outras figuras que
também se submetem a esse procedimento:

(a) Sociedades integrantes do sistema de distribuição de títulos e valores


mobiliários (nesse caso, a intervenção não será promovida pelo BACEN,
mas pela Bolsa de Valores);
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

(b) Outras sociedades que tenham algum vínculo com a instituição financeira
sujeita à intervenção: o BACEN poderá estender essa intervenção, o que
se chama de intervenção por integração de atividade ou por vínculo
de interesse, na forma do art. 51 da Lei 6.024. A integração por atividade
se dará quando a sociedade à qual será estendida a intervenção for devedora
da instituição financeira. Já o vínculo de interesse é verificado quando a
sociedade à qual será estendida a intervenção tiver sócios ou acionistas que
detenham mais de 10% do capital da instituição financeira ou tiver cônjuge
ou parentes de até 2º grau de algum administrador, membro do conselho
fiscal ou sócio controlador da instituição financeira. Se esse vínculo trouxer
algum perigo para a poupança popular ou para o acervo patrimonial da
instituição financeira sob intervenção, poderá o BACEN promover essa
intervenção por extensão.

CAUSAS DE INTERVENÇÃO

As causas de intervenção estão no art. 2º da Lei 6.024. Essas causas são


semelhantes às da liquidação extrajudicial (art. 15). O BACEN é que, no caso
concreto, irá avaliar se o adequado é promover a intervenção ou a liquidação,
conforme a crise seja menos ou mais grave.

 Má-administração que sujeita a risco os credores – segundo a doutrina,


se caracteriza pelo descumprimento da lei ou do estatuto ou pela prática
de atos de falência (art. 94, III, da LRF). Aqui exige-se a caracterização
de um prejuízo para a instituição e de um risco para os seus credores.
 Infrações a dispositivos da legislação bancária não regularizadas após
as determinações do BACEN – aqui está representado um desrespeito
à fiscalização do BACEN, pelo que a intervenção assume um caráter
punitivo. Independe de qualquer prejuízo à instituição financeira e de
qualquer causação de risco aos credores.
 Hipóteses do art. 94, I e II, da LRF, desde que seja possível evitar a
falência – abrange a impontualidade injustificada ou a execução
frustrada nos exatos termos definidos no art. 94, I e II, da LRF, desde
que seja possível recuperar a instituição financeira.

EFEITOS DA INTERVENÇÃO

Estão previstos no art. 6º, 36, §1º, 38 e 50 da Lei 6.024:

 Suspensão da exigibilidade das obrigações vencidas – decretada a


intervenção, os credores não poderão exigir o cumprimento das
obrigações vencidas na pendência do regime.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

 Suspensão da fluência do prazo das obrigações vincendas


anteriormente contratadas – as obrigações contraídas antes da
intervenção ficam com o prazo para vencimento suspenso, de maneira
que não podem ser exigidas. Visa possibilitar que a instituição
financeira continue praticando negócios.
 Inexigibilidade dos depósitos já existentes à data da decretação da
intervenção – os depósitos realizados antes da intervenção, qualquer
que seja sua natureza, não podem ser exigidos.
 Suspensão do mandato dos membros da administração e do conselho
fiscal da sociedade (art. 50) – tal administração ficará a cargo do
interventor.
 Indisponibilidade dos bens dos administradores que exerceram
funções nos 12 meses anteriores à decretação da intervenção (art. 36)
– apuradas as responsabilidades dos administradores, eles irão
responder pelos danos que eventualmente tenham causado, razão pela
qual os bens já ficam desde logo indisponíveis de forma a assegurar a
indenização da instituição financeira lesada. Presume-se que os atos
lesivos foram praticados pelos administradores no período de 1 ano
antes da decretação da intervenção.
 Comunicação da indisponibilidade pelo interventor aos registros
competentes e à Bolsa de Valores (art. 38).

PROCEDIMENTO

A decretação do procedimento de intervenção é feita pelo Banco Central (ou


pelo respectivo órgão fiscalizador, tal qual a Bolsa de Valores, a ANS, n.f. do art. 23
da Lei 9696/98 etc.) de ofício ou a requerimento dos administradores da instituição
investidos de poderes para tanto.

A intervenção não excederá a 6 meses, prorrogável no máximo por igual


período, por meio de decisão do BACEN (art. 4º).

O BACEN, ao decretar a intervenção, nomeia um interventor (art. 5º) que tem


plenos poderes para fazer o levantamento da situação econômico-financeira da
instituição, dentre outras atribuições previstas no art. 9º: promover a arrecadação de
livros e documentos, levantar o balanço geral e inventário de livros, documentos e
bens da sociedade etc.

Com base nessas informações coletadas, o interventor terá o prazo de 60 dias


contados da sua posse para apresentar um relatório (art. 11). Ele pode requerer
autorização do BACEN para prorrogação do prazo. Esse relatório deve conter: (a)
exame da escrituração, da aplicação dos fundos e disponibilidade e da situação
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

econômico-financeira da instituição; (b) indicação comprovada dos atos e omissões


danoso; (c) proposta de providências que lhe pareçam convenientes.

Com esse relatório em mãos, o BACEN tem quatro opções:

 Superação da crise: o BACEN determina o levantamento da


intervenção, ou seja, seu fim.
 Permanência da crise: o BACEN determina o prosseguimento da
intervenção pelo prazo que ainda restar.
 Impossibilidade de sanação da crise: o BACEN determina a liquidação
extrajudicial da instituição financeira.
 Autorização para que o interventor peça a autofalência da instituição:
(a) quando o ativo não for sufiicente para cobrir 50% dos créditos
quirografários; (b) quando for inconveniente a liquidação extrajudicial;
(c) quando a complexidade dos negócios da instituição ou a gravidade
dos fatos aconselhar a medida (art. 12, d).

De qualquer dessas decisões, cabe recurso no prazo de 10 dias, dirigido ao


próprio BACEN.

Cessado o procedimento, o interventor prestará contas ao BACEN, podendo


ser responsabilizado civil e penalmente.

REGIME DE ADMINISTRAÇÃO ESPECIAL TEMPORÁRIA (DL 2321/85)

A legitimação para decretar o RAET é do próprio BACEN. É ele que irá


decidir se opta pelo procedimento de intervenção ou pelo RAET. Este é geralmente
utilizado para situações de crise mais brandas.

O RAET não tem prazo definido em lei. O BACEN é que definirá, ao decretar
o regime, seu prazo máximo que será prorrogável uma única vez no máximo por igual
período.

As causas do RAET estão no art. 1º do DL 2.321 que, inclusive, faz remissão


ao art. 2º da Lei 6.024. Inclui-se ainda:

 Prática reiterada de operações contrárias às diretrizes de política


econômica ou financeira traçadas em lei federal.
 Existência de passivo a descoberto.
 Descumprimento de normas referentes à conta de reservas bancárias
mantida no BACEN;
 Gestão temerária ou fraudulenta de seus administradores.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Aplicam-se os efeitos do art. 6º da Lei 6.024. Contudo, há um efeito distinto:


no RAET, a aplicação do regime leva à perda do mandato dos administradores e dos
membros do conselho fiscal (art. 2º do DL 2321/85). Na intervenção, o que há é mera
suspensão dos mandatos.

TEMAS 15 E 16: SCILIO FAVER

LIQUIDAÇÃO EXTRAJUDICIAL

Quando a instituição financeira estiver em situação de crise, existem algumas


formas administrativas de tentar solucioná-la, por meio dos sistemas de intervenção,
de RAET e de liquidação extrajudicial.

CONCEITO

A liquidação extrajudicial é o procedimento administrativo, liderado pelo


BACEN, com o objetivo de apurar o passivo de uma instituição financeira e liquidar
o seu ativo. É um objetivo muito similar ao da falência, com a diferença de que ocorre
na via administrativa e é liderado pelo órgão fiscalizador e regulamentador das
instituições financeiras, o BACEN.

A liquidação extrajudicial parte da premissa de que a crise instaurada na


instituição financeira chegou a tal ponto que é melhor encerrar com suas atividades,
com a arrecadação do seu ativo e o pagamento do seu passivo, em vez de tentar sanar
a crise. Diferentemente, na intervenção e no RAET, tenta-se sanar a crise instalada,
com um viés recuperatório.

Existe uma previsão na Lei 6.024/74 que permitirá que a liquidação


extrajudicial seja convolada em um processo judicial de falência, que irá seguir o rito
da Lei 11.101/05. Logo, a liquidação extrajudicial pode gerar como
consequência um processo falimentar.

Esse sistema terá aplicação para as instituições financeiras sejam elas privadas
ou públicas não federais (sendo federal, caberá ao Poder Executivo tomar as
providências para sanar a crise ou encerrar as atividades). Esse sistema também se
aplica para as cooperativas de crédito, as sociedades administradoras de consórcio
(hoje, integram o SFN, n.f. do art. 39 da Lei 11.795/08 e, por isso, se submetem à Lei
6.024), as operadoras de plano de saúde (a legislação específica – art. 24, d, da Lei
9.656/98 – remete para o procedimento da Lei 6.024).

Existem outros tipos de atividades que têm procedimentos análogos ao da


liquidação extrajudicial da Lei 6.024, mas com o mesmo objetivo de apuração e
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

realização do ativo e pagamento do passivo (ex. concessionárias de energia elétrica,


sociedades de seguro, entidades de previdência complementar).

HIPÓTESES

As hipóteses estão previstas taxativamente no art. 15 da Lei 6.024/74.


Existem duas formas de se iniciar o procedimento administrativo de liquidação
extrajudicial:

1ª. Instauração de ofício pelo BACEN

a) em razão de ocorrências que comprometam sua situação econômica ou


financeira especialmente quando deixar de satisfazer, com pontualidade, seus
compromissos ou quando se caracterizar qualquer dos motivos que autorizem
a declaração de falência (remissão: art. 94, III, Lei 11.101/05);

O BACEN é quem definirá o que se entende por “impontualidade” para fins


de decretação da liquidação extrajudicial. Entende-se como “motivos que autorizam
a declaração de falência” os chamados atos de falência do art. 94, III, da LRF.

Não se admite em nosso ordenamento requerimentos de falência de


instituições financeiras com base na sua impontualidade. Nem o particular nem outras
instituições nem qualquer interessado poderão se utilizar do disposto no art. 94, I e
II, para pretender a decretação da falência de uma instituição financeira, na medida
em que é necessária a prévia instauração de um procedimento de liquidação
extrajudicial de competência exclusiva do BACEN.

b) quando a administração violar gravemente as normas legais e estatutárias


que disciplinam a atividade da instituição bem como a determinação do
Conselho Monetário Nacional ou do Banco Central do Brasil, no uso de suas
atribuições legais;

Se a instituição financeira age em desacordo com normas previstas em lei, em


seu próprio estatuto ou em regulamentações do CMN e do BACEN, pode o BACEN
entender pela decretação da liquidação extrajudicial.

c) quando a instituição sofrer prejuízo que sujeite a risco anormal seus credores
quirografários;

É um juízo de valor que será feito pelo próprio BACEN. Se ele entender que
a instituição financeira está praticando atos que sujeitam a risco anormal seus credores
quirográfarios, pode dar início à liquidação extrajudicial.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

d) quando, cassada a autorização para funcionar, a instituição não iniciar,


nos 90 (noventa) dias seguintes, sua liquidação ordinária, ou quando, iniciada
esta, verificar o Banco Central do Brasil que a sua morosidade da sua
administração pode acarretar prejuízo para seus credores;

Se a instituição financeira, cassada sua autorização pelo próprio BACEN, não


iniciar seu procedimento de dissolução comum, qual seja a liquidação ordinária, no
prazo de 90 dias, ou verificar morosidade no seu curso, o BACEN está autorizado a
iniciar o procedimento de liquidação extrajudicial. Esse inciso se diferencia das demais
hipóteses, porque, não denota a ocorrência de qualquer crise financeira, mas apenas
o descumprimento de uma obrigação.

Atenção! Se o BACEN tem a função de fiscalizar a atuação das instituições


financeiras, quando ele percebe a ocorrência de alguma dessas hipóteses, ele tem o
poder-dever de decretar a liquidação extrajudicial, zelando pela segurança do SFN.

2ª. Instauração em razão de requerimento dos administradores da instituição


financeira (se o estatuto lhes conferir essa competência) ou em razão de proposta do
interventor (sempre será competência exclusiva do BACEN instaurar o
procedimento)

Nesta hipótese, haverá um requerimento ou uma proposta que serão


analisados e decididos pelo BACEN, na forma do art. 15, §1º. Trata-se de decisão
exclusiva e irrecorrível.

EFEITOS

Apesar de ser um procedimento extrajudicial, a sua decretação gera diversos


efeitos, inclusive de ordem processual, por força de lei. Por ter o mesmo objetivo de
um processo falimentar, os efeitos serão parecidos com o da falência.

Os efeitos estão exemplificativamente previstos no art. 18 da Lei 6.024/74:

1º. Suspensão das ações e execuções iniciadas sobre direitos e interesses


relativos ao acervo da entidade liquidanda, não podendo ser intentada quaisquer
outras ações e execuções enquanto durar a liquidação;

A 1ª parte dessa regra é muito parecida com a do art. 6º da Lei 11.101/05.


Ocorre que, no processo falimentar, há algumas ressalvas (ex. quantia ilíquida,
reclamação trabalhista, execução fiscal etc.), porque a continuação dessas ações não
gera nenhum prejuízo financeiro imediato à massa falida, pois o direito material ainda
está sendo discutido. Na Lei 6.024, o art. 18, a, não faz qualquer ressalva.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Porém, a jurisprudência o fez, com base no art. 34 da Lei 6.024 (determina


a aplicação subsidiária da Lei 11.101/05) e no art. 197 da Lei 11.101/05 (determina a
sua aplicação subsidiária ao procedimento de liquidação extrajudicial, no que couber).
Logo, mesmo na liquidação extrajudicial, se admite a continuação das ações já
iniciadas e ressalvadas pela LRF até a apuração de seu crédito (STJ, REsp 387.400).

Ainda dentro desse efeito, interessantes são as posições da jurisprudência


sobre as ações de execução fiscal. As execuções fiscais se suspendem pela
decretação da liquidação extrajudicial? O STJ já se posicionou de duas maneiras
diferentes. Não há uma posição consolidada. Em um primeiro precedente da década
de 90, o STJ havia dito que as execuções fiscais não são suspensas pela decretação da
liquidação extrajudicial, sob o argumento de que na legislação específica que regula a
execução fiscal – Lei 6.038 – não está prevista essa causa de suspensão (princípio da
especificidade do procedimento) (STJ, REsp 977.980). Não haveria sequer a
necessidade de se remeter o valor apurado com a venda do bem penhorado para o
acervo liquidando. Em 2015, porém, o STJ adotou uma solução diversa, pela
suspensão das execuções fiscais, pois, uma vez instaurada a liquidação extrajudicial,
estaria instalada uma universalidade a que todos os credores, inclusive o Fisco, têm
que se submeter (STJ, REsp 1555346).

A 2ª parte do art. 18, a, da Lei 6.024 impede que sejam ajuizadas novas ações
ou execuções. Há uma precipitação do legislador, pois haverá um momento em que,
durante o procedimento de liquidação, se abrirá oportunidade para que alguns
credores possam promover ações ou execuções em face da instituição financeira (art.
27 da Lei) ou até mesmo continuar nas ações ou execuções suspensas.

2º. Vencimento antecipado das obrigações da liquidanda – é igual ao efeito do


art. 77 da Lei 11.101/05.

3º. Não atendimento das cláusulas penais dos contratos unilaterais vencidos
em virtude da decretação da liquidação extrajudicial – esta alínea abrange dois efeitos:
(a) vencimento dos contratos unilaterais, ou seja, se impõe a rescisão dos contratos
unilaterais, não havendo que se indagar pela sua continuação; (b) não atendimento
das cláusulas penais, ou seja, a instituição financeira está exonerada de eventuais
multas decorrentes da rescisão do contrato.

4º. Não fluência de juros, mesmo que estipulados contra a massa, enquanto
não integralmente pago o passivo – é a mesma previsão contida no art. 124 da Lei
11.101/05, ou seja, não se admite fluência de juros desde a decretação da liquidação
extrajudicial até o pagamento de todos os outros credores, seguida a mesma ordem
do art. 83 da Lei 11.101/05, devido à sua aplicação subsidiária (art. 34 da Lei 6.024 e
197 da Lei 11.101/05). Aplicam-se também as exceções do art. 124.
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5º. Interrupção da prescrição – diferencia-se do art. 6º da Lei 11.101/05, que


prevê a suspensão da prescrição. A princípio, a prescrição só começará a contar do
zero quando do encerramento da liquidação extrajudicial. Contudo,
excepcionalmente, para os credores que se encaixaram na hipótese do art. 27 da Lei
6.024, a prescrição se reiniciará em momento anterior.

6º. Não reclamação de correção monetária de quaisquer dívidas passivas, nem


de penas pecuniárias por infração de leis penais ou administrativas.

A não exigibilidade da correção monetária significa dizer que, após a


decretação da liquidação extrajudicial, não se promove a atualização do crédito
(previsão análoga ao do art. 9º, §2º, da Lei 11.101/05). Acontece que essa
inexigibilidade foi revogada pelo art. 46 do ADCT, que permite a fluência da correção
monetária até a data do efetivo pagamento, mesmo que a liquidação extrajudicial seja
convolada em falência. Logo, o art. 46 do ADCT excepciona tanto a Lei 6.024 como
a Lei 11.101/05.

Já a não exigibilidade de penas pecuniárias por infração de leis penais ou


administrativas permanece em vigor. Difere da Lei 11.101/05, em que tais penas são
exigíveis, inclusive ingressando na classificação dos créditos no art. 83, VII.

Há ainda três outros efeitos que não estão no art. 18 da Lei 6.024:

7º. Destituição dos administradores da instituição financeira (art. 50) – a


decretação da liquidação extrajudicial ocasionará a perda do mandato dos
administradores.

8º. Indisponibilidade de bens (art. 36) – os administradores das instituições


financeiras, atuais e os que estavam no exercício das funções nos 12 meses anteriores
à decretação da liquidação (art. 36, §1º), sofrem a indisponibilidade de seus bens até a
apuração de suas responsabilidades, ou seja, não podem deles dispor nem onerar,
ainda que possam permanecer na sua posse. Além dos administradores, os
controladores da instituição financeira, atuais e os que estavam no exercício das
funções nos 12 meses anteriores, também terão seus bens indisponíveis, por força do
art. 2º da Lei 9.447.

9º. Restrição da locomoção (art. 37) – os abrangidos pela indisponibilidade de


que trata o art. 36 (tanto administradores como controladores) não poderão se
ausentar do foro (ou seja, do Município) da intervenção, da liquidação extrajudicial e
da falência, sem prévia e expressa autorização do BACEN. Excepciona-se, portanto,
o art. 104, III, da LRF quando a liquidação for convolada em falência, na medida em
que este só exige “comunicação”.
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PROCEDIMENTO

Verificando uma das hipóteses do art. 15 da Lei 6.024, o BACEN instaura o


procedimento da liquidação extrajudicial.

Instaurado o procedimento, o art. 20 determina a aplicação dos arts. 8º ao 11


da Lei 6.024 (procedimento da intervenção). Será nomeado um liquidante que,
como primeira medida, terá que promover a arrecadação e realizar o relatório, em
que constará as causas determinantes da crise, os bens encontrados etc.

À vista desse relatório, o liquidante poderá pedir ao BACEN que (art. 21):

a) Continuação do processo de liquidação extrajudicial com a apuração de


créditos (sistema parecido com a verificação de créditos da falência) ou;

b) Autorização para pedir a falência da instituição financeira em juízo quando


o valor do ativo não for suficiente para cobrir pelo menos a metade do valor dos
créditos quirografários ou quando houver fundados indícios de crimes falimentares –
se acolhido tal pedido, encerra-se a liquidação extrajudicial e dá-se início à falência,
observado a partir daí o rito da Lei 11.101. A própria LRF manda, no art. 197,
aplicarmos as suas normas enquanto não há legislação específica sobre o tema.

No fim das contas, não é correto dizer que instituição financeira não pode
falir. Ela pode, mas somente na hipótese expressamente prevista em lei, ou seja, na
forma do art. 21, b, da Lei 11.101.
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Prosseguindo-se na liquidação extrajudicial, passa-se à fase de apuração de


créditos (art. 22). Com a publicação do edital, os credores, salvo os credores por
depósito ou por letras de câmbio de aceite da instituição financeira
(dispensados da formalidade), são chamados a apresentar as suas declarações de
crédito, no prazo fixado pelo liquidante, sendo o mínimo de 20 dias e o máximo de
40 dias (art. 22, §1º).

Essas declarações de crédito também serão julgadas individualmente pelo


próprio liquidante, que decidirá acerca da legitimidade, valor e classificação do crédito
(art. 23). Cada um dos credores deverá ser notificado por escrito dessa decisão (art.
24). Uma vez notificados, terão o prazo de 10 dias para recorrer ao BACEN (é recurso
administrativo).

Independentemente do julgamento do recurso pelo BACEN, o liquidante


formará um quadro geral de credores e fará publicar novo edital (art. 25). Publicado
o QGC, os credores poderão apresentar impugnação no prazo de 10 dias (art. 25,
p.ú), na forma do art. 26. Essa impugnação também será encaminhada para o
BACEN. Portanto, é uma opção do credor recorrer ao BACEN no momento do art.
24 ou no do art. 26.

Julgados todos os recursos pelo BACEN, há uma nova definição de quais são
os credores. O art. 27 dispõe que aqueles credores que se julgaram prejudicados pelo
não provimento do recurso interposto (art. 24) ou pela decisão proferida na
impugnação (art. 26) poderão prosseguir nas ações que tenham sido suspensas, na
forma do art. 18, ou propor as que couberem, dando ciência do fato ao liquidante
para que este reserve fundos suficientes à eventual satisfação dos respectivos pedidos.
Exige-se que o credor tenha atuado na fase de apuração dos créditos por meio
da interposição de recurso – art. 24 – ou impugnação – art. 26 – e não tenha
tido êxito para que ele possa seguir as vias judiciais. Trata-se de um bônus, na
medida em que a decisão final quanto ao crédito, nesse caso, não será do BACEN,
mas do Judiciário.

Atenção! O fato de o credor poder ajuizar a ação ou continuar a ação já


iniciada não significa que ele receberá antes em detrimento da ordem legal de
pagamento. Ele poderá mover a ação para discutir o crédito, mas não para recebê-
lo de forma efetiva, em homenagem ao princípio da paridade dos credores. O
recebimento efetivo do crédito se dará conforme uma ordem legal de pagamento que,
na ausência de disposição específica da Lei 6.024, é aquela prevista no art. 83 da Lei
11.101/05, por conta de sua aplicação subsidiária (art. 34 da Lei 6.024 c.c. art. 197 da
Lei 11.101/05).
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Para esses credores enquadrados no art. 27, existe um prazo decadencial de


30 dias contados da publicação do segundo edital (art. 26, §4º) para que inicie ou
continue a ação. Se não exercer o direito no prazo, não poderá mais discutir o crédito
no Judiciário e terá que concorrer na liquidação extrajudicial com o crédito que já
havia sido definido no segundo edital.

Depois de apurados os créditos, o ativo será liquidado e, posteriormente, se


pagarão os credores, na forma prevista na Lei 11.101/05.

APURAÇÃO DE RESPONSABILIDADES

NATUREZA DA RESPONSABILIDADE

Dificilmente, uma instituição financeira se submeterá a esses regimes especiais


de superação de crise por conta de uma insolvência econômica, porque isso
provavelmente representaria um colapso de todo o SFN. Em regra, tais regimes são
decretados em razão de alguma conduta comissiva ou omissiva de seus
administradores. Por isso, importante verificar a natureza da responsabilidade dos
administradores.

Existia muita dúvida quanto a isso em razão da redação dos arts. 39 e 40 da


Lei 6.024/74 que regula a responsabilidade dos administradores e dos membros de
conselho fiscal nesses regimes especiais.

Art. 39. Os administradores e membros do Conselho Fiscal de


instituições financeiras responderão, a qualquer tempo, salvo
prescrição extintiva, pelos que tiverem praticado ou omissões em que
houverem incorrido.

Pela redação do art. 39, poderíamos extrair a existência de uma


responsabilidade subjetiva, na medida em que restringe a responsabilidade desses
indivíduos às ações ou omissões em que tenham incorrido.

Art. 40. Os administradores de instituições financeiras respondem


solidariamente pelas obrigações por elas assumidas durante sua
gestão, até que se cumpram.

O art. 40 fala de uma responsabilidade solidária, pelo que se começou a discutir


se estaria a tratar de uma responsabilidade subjetiva ou objetiva.

Esta dúvida já está pacificada no STJ que entende se tratar de uma


responsabilidade subjetiva, uma vez que a solidariedade do art. 40 não pode ser
entendida como responsabilidade objetiva. Logo, a responsabilidade solidária dos
administradores da respectiva gestão, prevista no art. 40, só será verificada na medida
da culpabilidade do agente, ou seja, conforme tenha incorrido para a prática do ato.
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

Ainda que haja presunção de solidariedade, não se dispensa a prova da culpa do agente
(REsp 962.265). Como na maioria dos casos, se constatou que os administradores
realmente agiam em detrimento da instituição, o STJ estabeleceu a possibilidade de
inversão do ônus da prova, cabendo, então, ao administrador a prova de que não
agiu com culpa.

Também é necessário analisar a responsabilidade dos controladores da


S.A., ou seja, aqueles que, apesar de despidos da administração, têm poder de controle
sobre as decisões tomadas. Sua responsabilidade está prevista na Lei 9.447/97.

Em seu art. 1º, a Lei 9.447/97 afirma que a responsabilidade dos controladores
é solidária, fazendo remissão ao art. 15 do Decreto-Lei 2321/87. Tal dispositivo diz
que a responsabilidade é objetiva, independentemente da apuração de dolo ou culpa.
Isso é aplicado na intervenção, no RAET e na liquidação extrajudicial.

O art. 15 do DL 2321 fala ainda de outras pessoas que ostentam


responsabilidade objetiva, quais sejam ex-administradores da instituição, sendo
este também o entendimento do STJ (responsabilidade solidária e objetiva).

Pessoas Indivíduo
Administradores Responsabilidade
solidária e subjetiva (com
inversão do ônus da
prova)
Controladores Responsabilidade
solidária e objetiva
Ex-administradores Responsabilidade
solidária e objetiva

INQUÉRITO ADMINISTRATIVO

A apuração da existência dessa responsabilidade se faz primeiramente na via


administrativa por meio de um inquérito administrativo instaurado pelo BACEN.
Decretada a intervenção, a liquidação extrajudicial, a falência (ou o RAET, com base
no DL 2321), o BACEN instaurará inquérito para apurar as responsabilidades dos
administradores, membros do conselho fiscal, controladores e ex-administradores,
n.f. do art. 41. Trata-se de instauração automática e obrigatória em quaisquer
desses regimes.

O art. 42 estabelece que o BACEN ter que abrir prazo para defesa dos
investigados, assegurado, portanto, o contraditório e a ampla defesa.

Após a defesa, o inquérito chegará a alguma conclusão, por meio de uma


decisão administrativa do BACEN. Essa decisão pode apurar:
[DIREITO EMPRESARIAL] EMERJ - CPV

a) Inexistência de qualquer responsabilidade (art. 44) – nesse caso, o inquérito


será arquivado no próprio BACEN (intervenção, liquidação e RAET) ou
enviado ao juízo para apensamento (falência).
b) Existência de responsabilidade de pelo menos um dos envolvidos – é
quando o inquérito conclui que há prejuízos causados pelas pessoas
mencionadas (nexo de causalidade).

Caso se apure a existência de alguma responsabilidade, o art. 45 diz que o


inquérito será remetido pelo BACEN ao juiz da falência (quando será apensado no
processo que já existe) ou ao que for competente para decretá-la (quando será
distribuído para o juízo falimentar do local do principal estabelecimento), ou seja,
haverá uma judicialização da apuração.

O juiz, então, fará vista ao órgão do MP para que este, em 8 dias, requeira por
arresto a indisponibilidade dos bens dos ex-administradores que não haviam sido
atingidos pelo art. 36 (conforme necessário para a efetivação da responsabilidade),
sob pena de responsabilidade funcional. Registre-se que os administradores em gestão
e os dos 12 meses anteriores à decretação do regime especial já estavam com seus
bens indisponíveis por conta do art. 36. Isso também se aplica aos controladores por
conta da Lei 9.447.

Feito o arresto, os bens serão depositados em mão do interventor, do


liquidante ou do administrador judicial (art. 45, §2º).

AÇÃO DE RESPONSABILIDADE (ART. 46)

A responsabilidade dos ex-administradores terá que ser apurada em ação


própria, proposta no juízo da falência ou no que for para ela competente. Ela será
distribuída para o mesmo juízo que estava cuidando do inquérito e determinou o
arresto. Essa ação de responsabilidade deve ser proposta nos seguintes prazos:

a) Se o legitimado é o MP – 30 dias a contar da realização do arresto, sob


pena de responsabilidade e preclusão da sua iniciativa. Trata-se de
legitimidade ordinária.
b) Se o legitimado é o credor – 15 dias a contar do fim do prazo de legitimação
do MP. Trata-se de legitimação secundária.

Se findo esses prazos, ninguém mover a ação, são levantados o arresto e a


indisponibilidade (art. 46, p.ú).

Ocorre que a redação do art. 46, p.ú, se comparada com a redação do art. 48,
cria uma verdadeira contradição. Esta questão foi resolvida. A Lei 9.447, no seu art.
7º, dispõe que o MP não fica restrito às hipóteses do art. 46, p.ú. Tanto é que o
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encerramento do procedimento não vai importar em perda de legitimidade e de


interesse de agir do MP para propor ação de responsabilidade dos administradores.

O STJ definiu duas situações:

a) MP tem legitimidade, a qualquer tempo, para propor ação de


responsabilidade – prevalece, nesse conflito de normas, o art. 7º da Lei
9.447, por ser posterior ao art. 46, p.ú, da Lei 6.024 (REsp 444.948);
b) Desde que ainda estejam presentes prejuízos para a coletividade –
exige-se prejuízo à coletividade para que se observe o princípio da actio
nata, segundo o qual a pretensão nasce para o indivíduo a partir do
momento em que seu direito é lesado (ideia de interesse de agir) (REsp
252.917). Entende-se que, após a extinção das obrigações da entidade
liquidanda, não mais se fala em prejuízo à coletividade.

O STJ disse ainda que a legitimação secundária/substitutiva dos credores do


art. 46, p.ú, não se sustenta diante do princípio da actio nata. Se os credores também
foram lesados, é possível a eles propor ação de responsabilidade enquanto o prejuízo
se verifique em verdadeira legitimação ordinária (REsp 973.467, Rel. Luiz Fux).

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