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A adquiriu por usucapião, invocada em 1983, uma servidão de passagem sobre o prédio
agora pertencente a C. Tal como resulta da respectiva escritura de justificação, a servidão é de
“passagem a pé e com carros de bois”.
Tópicos de resolução:
- O registo da aquisição por usucapião tem efeito enunciativo [artigo 5º/n.º 2/a),
Cód.Reg.Predial];
- O registo de constituição de servidões aparentes tem o mesmo efeito [artigo 5º/n.º 2/b),
Cód.Reg.Predial];
Ainda que assim não fosse, esta tinha também sido constituída por usucapião. Por isso,
C nunca poderia invocar o seu desconhecimento. A servidão era-lhe assim oponível.
b) Processualmente, como poderá A reagir?
Tópicos de resolução:
i) recorrer à acção de restituição (artigo 1281º), caso a servidão fosse aparente (artigo
1280º);
c) Suponha que C alega também que Aefectua a passagem utilizando tractores e outra
maquinaria agrícola pesada e não carros de bois. Se porventura o tribunal entender que a
servidão deve permanecer, C pretende, contudo, que a A seja unicamente permitido passar pelo
modo original. Terá fundamento?
Tópicos de resolução:
- E (artigo 1564º) são reguladas pelo respectivo título (no caso, a usucapião). Por isso,
se esta tinha sido constituída como de “passagem a pé e com carros de bois”, não pode o seu
titular efectuar a passagem de outro modo.
- Portanto, para A passar de outra forma torna-se necessário que constitua outra
servidão com o acordo de C.
2.Desde 1994 que A e B são comproprietários de um terreno agrícola com dois hectares.
Para evitar conflitos, decidiram demarcá-lo em dois lotes de um hectare cada, separados por um
muro de pedra.
Em 1999, A construiu uma vivenda no lote que vinha utilizando desde 1994.
Tópicos de resolução:
1º: de ter havido inversão do título da posse de algum deles contra o outro (já
que os comproprietários são possuidores na medida da sua quota e, em simultâneo, são
detentores em relação à quota dos demais);
3º: por fim, de os lotes assim obtidos respeitarem a unidade mínima de cultura, se
tivessem destino agrícola, ou de os consortes terem conseguido autorização de loteamento, se
eles se destinassem à edificação.
b)Bquer aproveitar o muro divisório para nele apoiar um armazém que pretende construir.
Dependerá para o efeito de consentimento de A?
Tópicos de resolução:
- Dado que A e B permanecem em compropriedade até eventualmente invocarem
usucapião, o muro é comum (mas não para efeitos do artigo 1370º porque se aqui pressupõem
prédios pertencentes a distintos donos)
Tópicos de resolução:
Tópicos de resolução:
- O proprietário de raiz é a pessoa em cujo interesse se estabelece a obrigação de
efectuar as reparações impostas ao usufrutuário pelo artigo 1472º. É, portanto, o seu credor.
- Por isso, para D obter este efeito, não pode renunciar pura e simplesmente, porque isso
vale como renúncia abdicativa. Ao invés, deve declarar que renuncia a favor de B como forma
de se desonerar da execução da referida prestação. Se assim fizer, produz a extinção do usufruto
na sua parte (efeito real) e deixa de estar vinculado a proceder às referidas reparações (efeito
obrigacional).
Entretanto, agora pretende construir uma garagem anexa justamente no espaço que
medeia entre a sua vivenda e a estrema com o terreno de Bernardo.
Tópicos de resolução:
b) Para poder utilizar mais facilmente a garagem, convinha-lhe obter acesso para a
mesma através do terreno de Bernardo. Como deverá proceder para o efeito?
Tópicos de resolução:
Das duas, uma: ou António tem comunicação suficiente com a via pública ou não tem.
Em caso afirmativo, para poder constituir uma servidão de passagem, não sendo esta
legal (artigo 1550º, a contrario), depende de contrato a celebrar com António, a menos que (em
função das circunstâncias do caso concreto) pudessem estar reunidos os pressupostos da
usucapião ou da destinação do pai de família (artigo 1547º, n.º 1). Deveria, assim, tentar chegar
a acordo com Bernardo, formalizá-lo por escritura pública ou documento autenticado, e registá-
lo. O efeito do registo tanto poderia ser o consolidativo (artigo 5º, n.º 1, Cód.Reg.Predial) como
o enunciativo [artigo 5º, n.º 2, b), Cód.Reg.Predial] em função, respectivamente, do carácter
não aparente ou aparente da servidão.
Tópicos de resolução:
Nos termos do artigo 1346º, o proprietário de um prédio não pode aí produzir emissões
que, atingindo prédio vizinho, nele causem “prejuízos substanciais”. Em princípio, tal seria o
caso da hipótese.
Trata-se, contudo, de uma limitação legal de vizinhança imposta no interesse particular
(dos vizinhos). Razão pela qual estes, nisso consentindo, podem ficar sujeitos a suportar as
referidas emissões. O único modo, porém, com eficácia real, através do qual a anuência poderia
ser dada, consistiria na constituição de uma servidão (voluntária) de sinal contrário (isto é, que
tivesse por conteúdo a submissão à realização da conduta que ultrapassasse a restrição legal).
Diz-se então que a servidão é desvinculativa.
A faleceu em 2009 e sucedeu-lhe o seu filho C. Este, por escritura datada de 1/1/2010,
constituiu usufruto a favor de D, sobre o mesmo apartamento, o que foi registado em 1/2/2010.
Qual a situação de B e de D?
Tópicos de resolução:
O contrato contido na escritura pública em causa, na data, não estava ainda sujeito a
registo obrigatório. Todavia, a falta de inscrição, na altura ou hoje, implica que os efeitos
jurídicos do facto não registado, produzindo-se, têm carácter precário, na medida em que estão
sujeitos a resolução, caso seja registado um facto incompatível.
De facto, tal acabou por suceder em virtude de D ter inscrito um outro usufruto,
constituído por outro título, de natureza inconciliável como aquele de que B beneficiava.
Nenhum dos actos constitutivos de usufruto é inválido, na medida em que, por via do
princípio da elasticidade, o proprietário não perde os respectivos poderes de uso e de fruição
quando institui o primeiro usufruto. O que certamente sucede é que o acto posterior de
constituição de usufruto (a favor de D) é ineficaz enquanto subsistir a eficácia do primeiro.
Tópicos de resolução:
Tópicos de resolução:
a) O comprador na venda executiva adquire através de um acto que não tem natureza
negocial; assim, será terceiro registaladoptando o conceito amplo e não o será seguindo o
conceito restrito;
Tópicos de resolução:
c) Cabe, assim, discutir se é aplicável (por analogia) a favor dos adquirentes o disposto no
17º/2 ou no 291º;
d) caso algum destes preceitos possa funcionar, o respectivo beneficiário adquire o direito
que pretendia;
e) sendo certo que se isso suceder a favor do C, o D já beneficia de uma aquisição isenta
de vícios (e, portanto, não depende do preenchimento das disposições em causa).
7.A, proprietário de duas fracções autónomas de um edifício em propriedade horizontal (a
do 1º esquerdo e a do 5º direito), concedeu procuração a B para ele as vender, conferindo-lhe
também poderes para este, querendo, as comprar para si próprio.
Passados quatro anos, ao pedir uma certidão do registo predial, C verificou que ambas as
fracções estavam inscritas em seu nome. Deduzindo ter havido algum lapso da Conservatória
mas pretendendo aproveitar-se da situação, vendeu de imediato a fracção do 5º direito a D.
Tópicos de resolução:
2º) O terceiro estar de boa fé: isto é, o terceiro ter acreditado, sem culpa, na fidelidade
do registo à realidade substantiva. Sendo certo, porém, que o terceiro não está obrigado a
averiguar (nem isso faria qualquer sentido) tal fidelidade. Daí que existindo o registo a favor
daquele de quem o terceiro adquire, se presuma a sua boa fé;
3º) O terceiro actuar investido na expectativa gerada pelo referido registo. Quer isto
dizer que a sua tutela depende de ter praticado actos cuja destruição implique precisamente a
frustração da fé subjacente a essa prática. Na disposição em causa, esses actos deverão
consistir:
4º) Embora não se diga explicitamente, supõe-se também que a deficiência de que padece
a posição do terceiro deriva precisamente dos vícios da posição do seu causante (vícios
relativos ao título de aquisição deste). Ao invés, se existirem vícios específicos do acto de
aquisição a favor do terceiro (ou relativos ao respectivo registo), a sua posição já não poderá
prevalecer pela simples razão de que, em relação a estes vícios, ele não é terceiro;
5º) Por fim, a tutela da expectativa do terceiro depende ainda (n.º 2) do decurso de um
prazo de três anos após a conclusão do acto de que beneficia o terceiro, sem que seja registada
a propositura de acção de declaração de nulidade ou anulação ou sem que seja registado o
"acordo entre as partes acerca da invalidade do negócio" que favorece o seu causante.
QuidJuris?
Tópicos de resolução:
Uma servidão constituída por destinação do pai de família (artigo 1549º CC) tanto pode
ser legal como voluntária, dependendo de saber, caso não tivesse ocorrido este modo de
constituição, se poderia ter sido instituída por via decisão judicial ou administrativa. Não é o
concreto modo constitutivo que qualifica a servidão como legal ou voluntária, mas antes a
susceptibilidade de constituição coerciva; a menos que, em concreto, a servidão tenha sido
efectivamente constituída por uma daquelas vias compulsivas. Assim, em geral, é irrelevante
determinar se o acto de constituição da servidão tem natureza voluntária ou não; e se, tendo-a,
ele assume carácter de negócio jurídico ou não.
As servidões legais podem sempre extinguir-se por desnecessidade, qualquer que tenha
sido o respectivo título constitutivo (n.º 3 do artigo 1569º CC). As voluntárias extinguem-se por
desnecessidade somente quando hajam sido constituídas por usucapião (n.º 2 do artigo 1569º
CC).
Seja como for, todavia, a verdade é que o artigo 18º da Constituição tem em vista apenas
as restrições legais a “Direitos, Liberdades e Garantias” ou a direitos análogos (artigo 17º,
Constituição). Ora, a servidão constituída por destinação do pai de família funda-se, em última
análise, numacto jurídico voluntário de Direito Privado (a falta de declaração em contrário a
que se refere a parte final do artigo 1549º CC) e não certamente numa Lei parlamentar ou num
Decreto-Lei autorizado [artigo 165º, n.º 1, alínea b), e n.ºs 2, 3 e 4, Constituição].
Quem deve ser considerado responsável pelas despesas efectuadas pela A.?
Tópicos de resolução:
A questão básica que aqui se ergue é a relativa à determinação das pessoas obrigadas à
reparação dos danos causados em prédio vizinho por causa de escavações realizadas em prédio
próprio.
Nos termos do n.º 1 do artigo 1348º CC, “o proprietário tem a faculdade de … fazer
escavações, desde que não prive os prédios vizinhos do apoio necessário para evitar
desmoronamentos ou deslocações de terra”. Se, porém, não obstante terem sido tomados os
cuidados indispensáveis, estes prédios sofrerem danos, fica o autor daquelas obrigado a
indemnizar os proprietários confinantes (n.º 2 do artigo 1348º CC). Trata-se de um caso de
responsabilidade objectiva pelo risco (artigo 483º, n.º 2, CC).
Há, de facto, algumas obrigações (as propter rem e as que emergem de ónus reais)
relativamente às quais se pode colocar a questão da sua ambulatoriedade; isto é, a questão da
sua cessão (pelo lado passivo) juntamente com a transmissão do direito real cujo conteúdo
integram. Mesmo aí, no entanto, a regra vai no sentido de não reconhecer semelhante
característica.
Na hipótese do n.º 2 do citado artigo 1348º, contudo, é uma obrigação de indemnizar que
está em causa e não uma obrigação propter rem ou um ónus real.
- excepcionalmente, ambulatórias.
- não funcionais;
Ora, no caso concreto, estas marcas típicas não estão presentes. Mas, acima de tudo,
tratando-se de um caso de responsabilidade civil, esta, como sempre sucede, incide sobre o
autor da conduta geradora do dano e não sobre qualquer outra pessoa (salvos casos de
responsabilidade indirecta – como a do comitente – que, de todo o modo, não sucedem na
hipótese).
Tendo D falecido, o seu herdeiro único, E, está a exigir a C que lhe pague o valor do
prédio em que o lagar foi construído, nos termos do artigo 1340, n.º 1, do Código Civil.
Sabendo que C não quer adquirir o prédio, apesar de, efectivamente, as obras por ele
feitas terem trazido ao prédio um valor maior do que ele tinha antes, diga se C se pode recusar a
adquiri-lo, bem como, se, em tal caso, tem direito a exigir a E alguma compensação pelo valor
da construção.
Tópicos de resolução:
A acessão pressupõe:
– duas coisas;
As duas coisas que acedem podem ser ambas móveis, ou pode ser uma móvel e a outra
imóvel. Assim (artigo 1326º, n.º 2): no primeiro caso, a acessão diz-se mobiliária; no segundo,
imobiliária.
Essas coisas devem unir-se de forma inseparável (daí que na avulsão – artigo 1329º –
não haja acessão, mas se verifique apenas uma aplicação da regra meumest,
quoadexremeasuperest – Celso, D.6.1.41.1). Pressupõe-se, pois, que dessa união resulta uma
(nova) coisa indivisível (artigo 209º).
É hoje indisputável que, por regra, a acessão não faz adquirir a propriedade da coisa
adjunta por mero efeito da união correspondente. Se por outra razão não for, em virtude de a
solução contrária infringir, sem justificação plausível, o princípio “invito beneficium non datur”
(Paulo, D.50.17.69). É de exigir para o efeito, por isso, uma declaração (expressa ou tácita),
proferida pelo beneficiário da acessão, manifestando a vontade de adquirir, acrescida do
pagamento de compensação ou indemnização (quando a ela haja lugar).
A «autorização» em causa somente pode ter, por isso, o sentido de «falta de oposição»,
de «autorização tácita» (ou equivalente), do dono do terreno (ou de quem o aparenta ser)
perante uma actuação do autor da incorporação cognoscível pela “pessoa de normal
diligência”. Tratar-se-á, por exemplo, da autorização explícita ou implícita na tradição de um
lote de terreno para construção efectuada ao abrigo de um contrato-promessa de compra e
venda do mesmo.
11.A 1 de Novembro de 1990, A constituiu, em benefício de B, através de documento
particular, um direito de usufruto vitalício sobre um prédio rústico de grandes dimensões sito em
Trancoso.
B aproveitou tal situação para começar, de imediato, a explorar o prédio em causa, tendo
efectuado benfeitorias no valor de € 10.000,00.
a) Teria A legitimidade para actuar assim, ou poderia B reagir, designadamente por via
judicial, contra tal conduta?
Tópicos de resolução:
O usufruto sobre coisa imóvel deve ser constituído por escritura pública ou por
documento autenticado quando o título seja contratual. Como não sucedeu assim na hipótese, B
não teria qualquer direito de usufruto.
B teria, no entanto, posse (formal) sobre o terreno. A não poderia assim sem mais, uma
vez que não se verificam os requisitos da acçãodirecta, proceder ao despejo daquele.
Para o efeito, B poderia recorrer à acção de restituição da posse nos termos do artigo
1278º.
Tópicos de resolução:
Em Janeiro de 2010, B intenta contra Aacção judicial em que pede seja declarado
adquirido a seu favor o direito de propriedade sobre o prédio com fundamento em usucapião.
Aopõe-se alegando que, por virtude do contrato-promessa, B não pode invocar usucapião.
Tópicos de resolução:
Tendo D morrido, o seu herdeiro único, E, exigiu a C que lhe pagasse o valor do prédio
em que o lagar foi construído.
Sabendo que C não quer adquirir o prédio, diga se ele o pode recusar, bem como, se, em
tal caso, tem direito a exigir de E alguma compensação pelo valor da construção.
Tópicos de resolução:
A ser assim, o consentimento de D não valeria para efeitos do artigo 1340º. O que
significa que se aplicaria à situação o disposto no artigo 1341º.
Por outro lado, é hoje indisputável que, por regra, a acessão não faz adquirir a
propriedade da coisa adjunta por mero efeito da união correspondente. Se por outra razão não
for, em virtude de a solução contrária infringir, sem justificação plausível, o princípio “invito
beneficium non datur”. É de exigir para o efeito, por isso, uma declaração (expressa ou tácita),
proferida pelo beneficiário da acessão, manifestando a vontade de adquirir, acrescida do
pagamento de compensação ou indemnização (quando a ela haja lugar).
– normalmente, a acessão natural produz o seu efeito de forma automática (por exemplo,
o caso previsto no artigo 1320º, n.º 1);
Diga:
Tópicos de resolução:
Por oposição, ante o chamado conceito amplo de terceiro, segundo o qual "terceiros,
para efeitos de registo predial, são todos os que, tendo obtido registo de um direito sobre
determinado prédio, veriam esse direito ser arredado por qualquer facto jurídico anterior não
registado ou registado posteriormente", C já é terceiro registal e, portanto, se tiver promovido a
inscrição da penhora antes de A ter registado a compra, poderá prevalecer desde que consiga
preencher a seu favor os requisitos de protecção enumerados pelo artigo 291º.~
Tópicos de resolução:
Tópicos de resolução:
Ora, isto apenas sucede, e em parte, nas hipóteses previstas nas alíneas a), c) e f) do n.º1
do artigo 8º-B do Cód.Reg.Predial. E mesmo na hipótese da alínea c), o caso é, no fundo, de
registo indirectamente obrigatório (embora num outro sentido da expressão) para as instituições
de crédito: estas devem promover o registo v.g.. da hipoteca a seu favor para, ao mesmo tempo e
acima de tudo, promoverem o registo de aquisição a favor do mutuário/comprador (artigo 8º-
B/n.º 4, Cód.Reg.Predial).
Nos demais casos “a responsabilidade pelo agravamento (para o dobro – artigo 8º-D/n.º
1, Cód.Reg.Predial) do emolumento … recai sobre a entidade que está obrigada a promover o
registo e não sobre aquela que é responsável pelo pagamento do emolumento” (artigo 8º-D/n.º
3, Cód.Reg.Predial), não sobre o beneficiário dos efeitos do facto registável.
Em todos as situações da hipótese, o registo deveria ser promovido por entidade distinta
do respectivo beneficiário: aquela que fosse eleita para formalizar a compra e venda ou o
contrato de constituição da hipoteca; o próprio tribunal, através do agente de execução, no caso
do registo da penhora.
15. Ao passar repetidamente por uma rua de Lisboa, A apercebeu-se que determinada
vivenda se encontrava desabitada. Feitas as devidas averiguações veio a saber que o proprietário
residia no estrangeiro há longos anos e que, provavelmente, não voltaria a Portugal.
Passados três anos e julgando confirmadas as suspeitas de que o proprietário não tornaria,
acrescentou diversas divisões à casa e construiu uma piscina.
QuidIuris?
Tópicos de resolução:
No que toca aos demais caracteres da posse de A, pode concluir-se que ela é não titulada
– porque não a sua aquisição não se funda na existência de um acto jurídico translativo ou
constitutivo de um direito real que, a ser válido, fosse a causa dessa posse – e, logo,
presumivelmente de má fé (artigo 1260º, n.º 2).
Ora, assim sendo, o prazo de usucapião aplicável ao caso seria de vinte anos (artigo
1296º), que, portanto, não estariam ainda cumpridos. A deveria restituir o imóvel embora tivesse
direito a ser compensado por benfeitorias se estas fossem úteis, de acordo com as regras do
enriquecimento sem causa (artigos 1273º).
16. i) O prédio rústico X, sito na freguesia da Pala, com a área de 6.200 m², encontra-se
descrito na Conservatória do Registo Predial sob o n.º 2176/20041213 com inscrição a favor de
A.
ii) O prédio rústico Y, sito também na freguesia da Pala, com a área de 1.739 m²,
encontra-se descrito na Conservatória do Registo Predial sob o nº 00082/130487.
iii) Em parte do prédio mencionado em 1), A tem árvores de fruto e cultiva produtos
agrícolas.
iv) A maior parte do prédio mencionado em 2) destina-se à cultura agrícola.
v) Este prédio confronta do lado sul com o prédio rústico referido em 1).
vi) Por volta do ano de 1976, a mãe e o padrasto de B construíram uma fábrica de blocos
e, para tal, utilizaram uma parcela de terreno referido em 2).
vii) Tal fábrica funcionou ininterruptamente desde o ano mencionado em 6) até ao ano de
2002.
viii) O padrasto e a mãe de B, ainda em vida, fizeram partilhas verbais dos seus bens
pelos dois filhos desta última.
ix) Em consequência de tal, no ano de 1991, foi acordado que o terreno supramencionado
em 2) bem como a fábrica ficariam para B.
x) Desde então, B suporta a limpeza do terreno referido em 2), procede ao seu amanho,
tratando das árvores aí plantadas, das oliveiras e videiras, colhendo os seus frutos que utiliza em
proveito próprio, fazendo ali as suas hortas sazonais, que vai plantando, semeando, cuidando e
colhendo todos os seus frutos.
xi) Tais condutas foram igualmente praticadas desde 1976 até 1991 pela mãe e padrasto
de B.
xii) Em 2010, B vendeu a C (por 300.000,00€) o prédio descrito em 2).
A intentou acção contra B e C pretendendo que lhe seja reconhecido o direito de preferir
na compra e venda referida em 12), nos termos do artigo 1380º, já que ambos os prédios têm área
inferior à unidade mínima de cultura.
QuidJuris?
Tópicos de resolução:
Nos termos do artigo 1380º, o direito (legal) de preferência que através dele se confere
aos proprietários confinantes assemelha-se, no que respeita aos pressupostos da sua atribuição,
àquele que pelo artigo 1409º se outorga aos comproprietários: só existe em caso de venda ou
dação em cumprimento a quem não tenha tal qualidade (“estranho” ou terceiro, neste sentido).
Por isso, caso C tenha adquirido por usucapião, o direito de preferência de A inexistiria.
Essencial é, portanto, saber se os respectivos pressupostos estariam preenchidos a seu favor.
C poderia, nos termos do artigo 1255º, juntar o seu tempo de posse ao de B e ao da mãe
deste dado que aqueles dois adquiriram as respectivas posses derivadamente [em princípio,
mediante entrega da coisa – artigo 1263º, alínea b)]. Assim, o tempo necessário para usucapir
já estaria cumprido.
Tópicos de resolução:
18. D vendeu a E, em 1990, por escritura pública, um terreno agrícola com 5.000 metros
quadrados.
E faleceu e sucedeu-lhe o filho F, o qual continuou a utilizar o dito terreno para fins
agrícolas.
Desde 2005 que F tem o terreno ao abandono. Acontece, porém, que agora chegou ao seu
conhecimento que um dos filhos de D construiu um edifício de três andares no terreno em causa.
QuidJuris?
Tópicos de resolução:
b) QuidJuris se, ao invés, B pretender renunciar ao seu direito para não realizar as
reparações eventualmente exigidas por C?
Tópicos de resolução:
A transmissão do usufruto pode ser proibida através do respectivo título constitutivo por
força do disposto no artigo 1444º CC. O poder de constituir servidões passivas é concedido ao
usufrutuário por via do disposto no artigo 1460º CC (a menos que através do título lhe tenha
sido retirado – artigo 1444º CC). A possibilidade de impor ao titular do prédio serviente a
obrigação de efectuar reparações na passagem resulta do preceituado no artigo 1467º, n.º 4,
CC.
a) Quando B decide abandonar o seu direito, sem mais, dá-se a chamada renúncia
abdicativa. Esta produz a extinção do usufruto [artigo 1469º, n.º 1, alínea d), CC] em favor do
proprietário de raiz e não do credor (C). Consequentemente, não resultando dela qualquer
benefício a favor do proprietário do prédio dominante, B permaneceria vinculado à realização
daquelas obras.
Acontece, porém, que, até ao mês passado, B ainda não tinha procedido à restituição do
apartamento a A.
Em 13/01/2013, A, arrombando a porta do apartamento em causa, mudou-lhe a fechadura
e colocou as pertenças de B na via pública.
Tópicos de resolução:
Supondo B que possa ser havido como possuidor, o que se afigura muito incerto
atendendo aos dados da hipótese, a actuação de A não pode ser considerada como violenta. É
que o conceito de violência, ao ligar-se à coacção moral ou física (artigo 1261º CC), pressupõe
um coagido: e só uma pessoa pode ser coagida, nunca uma coisa. Consequentemente o
procedimento cautelar de restituição provisória da posse (artigo 1279º CC) ficaria excluído.
Restaria ao B (artigo 1281º, n.º 2 CC) recorrer (como fez) à acção de restituição (artigo 1278º
CC) contra o A, mas como este é o proprietário do apartamento, aquele certamente iria ficar
“convencido na questão da titularidade do direito” (artigo 1279º, n.º 1, in fine, CC); por outras
palavras, a acção improcederia.
Tópicos de resolução:
22. B e C herdaram de seu pai um prédio rústico que, há 30 anos, dividiram em dois,
ficando um para B (o prédio x)e outro para C (o prédio y). A divisão foi feita de tal modo que o
acesso ao prédio y implica a passagem pelo prédio x.
Desde a divisão, C, a sua família e as demais pessoas interessadas em aceder ao prédio y
usaram para tanto um caminho existente no prédio x que possibilita a circulação a pé e de
automóvel.
Zangado por C não lhe ter comunicado a venda e dado preferência nela, B vedou a
entrada no caminho que era usado para aceder ao prédio y e pretende impor que, para o fim em
causa, passe a ser usado um outro caminho, cujo piso impossibilita o trânsito de automóveis.
D pretende continuar a usar o caminho que era usado. Tal pretensão será viável?
Tópicos de resolução:
Em princípio, a servidão de passagem constituiu-se (há 30 anos) por contrato desde que
a forma indispensável para o efeito tenha sido observada (escritura pública). Caso contrário, já
teria decorrido tempo suficiente para a considerar instituída por usucapião desde que C ou D a
tenham invocado nos termos do artigo 1287º e desde que ela tivesse carácter aparente (artigo
1548º).
Num caso ou no outro, na falta de acordo, caberá recorrer a tribunal para que este
eventualmente decrete a mutação.
Há três meses, E, sem nada dizer a D, vendeu a F a sua quota no imóvel, estando agora F
a exigir a D a divisão do mesmo.
Diga:
Tópicos de resolução:
a) A norma que concede o poder potestativo de extinguir a comunhão (artigo 1412º) não
tem natureza imperativa; ao invés, admite-se que se estipule cláusula da qual resulte a
proibição, imposta a todos, de fazer a divisão, ainda que temporalmente limitada a um prazo
máximo quinquenal. Permite-se, todavia, a sua renovação, sucessiva e ilimitada, por novos
períodos máximos de cinco anos. Quando esta cláusula não seja unanimemente estipulada,
vinculará apenas aqueles entre os quais foi estabelecida.
Artigo 94º, Código do Registo Predial: “Do extracto das inscrições constarão
obrigatoriamente as seguintes convenções ou cláusulas acessórias: (…) d) A convenção de
indivisão da compropriedade, quando estipulada no título de constituição ou aquisição”.
Assim, se a cláusula de indivisão não foi registada, ela é inoponível a F que, por isso,
pode exigir de imediato a divisão, no instante em que se torna comproprietário.
D somente pode impedir o exercício desse direito se conseguisse provar que F, não
obstante a falta de registo, conhecia a existência daquela cláusula.
b)D poderia, querendo, intentar acção de preferência nos termos dos artigos 1409º e
1410º. O direito de preferência que se concede através do primeiro, está sujeito, antes de mais, e
como todas as preferências legais, ao regime do artigo 416º. Quer isto dizer que os restantes
consortes, quando um deles decida vender o seu direito “a estranhos”, ou dá-lo em
cumprimento, são titulares de uma pretensão: exigir que este último lhes comunique os
“elementos essenciais” do “projecto de venda” arquitectado com terceiro.
– executando-a, mas não tendo esperado, todavia, pelo termo do prazo que o preferente
dispunha para responder (oito dias, supletivamente – n.º 2 do artigo 416º);
contituir-se-á então, a favor do preferente, um direito real de aquisição que lhe serve de
fundamento para intentar a acção de preferência aqui identificada.
Procedendo a acção, a decisão que vier a ser proferida promove uma substituição de
pessoas na venda ou na dação em cumprimento: sai o “estranho” e entra no seu lugar –
subrroga-se – o preferente. Ou, por outras, palavras, decreta-se, nos mencionados actos, uma
modificação subjectiva do lado do adquirente.
24. A construiu no terreno de B um armazém agrícola com a autorização deste, a qual lhe
conferida em 1990.
Até ao ano passado a situação permaneceu nestes termos. No princípio deste ano, porém,
os herdeiros de B intentaram acção contra A pedindo-lhe a devolução imediata do terreno.
Tópicos de resolução:
– duas coisas;
As duas coisas que acedem podem ser ambas móveis, ou pode ser uma móvel e a outra
imóvel. Assim (artigo 1326º, n.º 2): no primeiro caso, a acessão diz-se mobiliária; no segundo,
imobiliária.
No segundo, não poder estar em causa uma autorização propriamente dita, pois, quando
assim for, devem seguir-se os seus termos, ou seja, aquilo que em concreto tenha sido permitido.
Aliás, se o dono do terreno apenas autoriza outrem a nele incorporar algo, haverá em princípio
constituição (formalmente) inválida de direito de superfície; e é inadmissível que o autor da
incorporação fique, potencialmente, em melhor situação não tendo direito de superfície do que
tendo-o.
Quer isto dizer, como parece mais razoável, que a regra é no sentido de o risco dever
correr por conta de quem beneficia da autorização para implantar e não por conta de quem a
dá. Ou seja: cabe a quem se aventura implantar em solo alheio, considerar a possibilidade de o
respectivo dono derrogar dita autorização, e não há-de ser ao segundo que compete levar em
conta a eventualidade de, ao consentir no implante, estar a conceder ao incorporador o direito
de este (futuramente) invocar acessão.
Assim, A estaria, em princípio, de má fé. Por consequência, tendo o autor da
incorporação actuado de má fé, nos termos do n.º 4 do artigo 1340º, o dono do terreno fica com
a seguinte opção:
– exigir “que o terreno seja restituído ao seu primitivo estado à custa” daquele (mas
dentro dos limites decorrentes do artigo 334º; cf. artigo 829º, n.º 2);
Sobre esse mesmo terreno, C, dono de um terreno contíguo, vinha efectuando passagem
para a via pública desde 1991. Em 2011, invocou usucapião da correspondente servidão de
passagem.
Tópicos de resolução:
O superficiário a prazo não tem direito para além dele e, portanto, não pode constituir
onerações que excedam a duração do seu direito. A contrario poderia pretender-se tirar uma
ilação: seriam susceptíveis de manutenção os direitos constituídos pelo superficiário em
benefício do fundeiro, uma vez que, em rigor, este não é terceiro (ou, ao menos, não é um
terceiro na mesma posição dos demais). O fenómeno da consolidação, porém, bem como a
ocorrência das eventuais excepções impeditivas da sua entrada em funcionamento, desautorizam
semelhante conclusão.
Uma coisa é certa, todavia: a regra nemo plusiuris somente vale no domínio da
aquisição derivada de direitos; por isso, aqueles que tenham sido obtidos por terceiro a título
originário (v.g. por usucapião) manter-se-ão não obstante a extinção do direito de superfície
pelo decurso do respectivo prazo de duração.
Tópicos de resolução:
As servidões legais são aquelas em que o titular do prédio que virá a ser o dominante
beneficia da possibilidade de as estabelecer coercivamente, no exercício de um poder
potestativo constitutivo, através de declaração unilateral da sua vontade e mediante o recurso
ao competente procedimento judicial (acção declarativa constitutiva) ou administrativo. As
servidões voluntárias são todas as demais.
Assim sendo, se a servidão tiver sido constituída por decisão judicial ou por acto
administrativo é certamente legal. Ao invés, se a servidão tiver sido instituída por outro modo
qualquer (basicamente, algum dos enumerados pelo n.º 1 deste artigo), será legal se, não fora
esse concreto acto de constituição, pudesse ter sido coercivamente criada; caso contrário, será
voluntária.
Diga:
Tópicos de resolução:
Pelo sentido negativo da fé pública registal, o terceiro pode partir do princípio segundo
o qual toda a sucessão de factos registáveis foi efectivamente inscrita e que, portanto, tudo o que
devia ser dado a conhecer foi realmente publicitado. É de acordo com este sentido que se
justifica, por exemplo, a protecção conferida ao segundo adquirente na dupla alienação do
(pretenso) mesmo bem.
C não pode obter a realização da penhora sobre o imóvel vendido a B, porque este já é
seu proprietário desde a data da celebração da compra e venda que o favorece (artigo 408º).
Como, todavia, esta não foi inscrita, os seus efeitos são inoponíveis a terceiros registais
em geral (artigo 5º, n.º 1, Código do Registo Predial). Todavia, segundo o entendimento literal
do artigo 5º, nº 4, do Código do Registo Predial (conceito restrito de terceiro registal), o credor
exequente não é terceiro para efeitos do registo. É, por isso, irrelevante que registe a penhora a
seu favor.
Para quem, ao invés, adopte o conceito amplo de terceiro registal, C pode prevalecer
sobre B desde que:
2º) O terceiro (C) esteja de boa fé: isto é, o terceiro tenha acreditado, sem culpa, na
fidelidade do registo à realidade substantiva.
3º) O terceiro (C) investir na confiança gerada pelo referido registo. Quer isto dizer que
a sua tutela depende de ter praticado actos cuja destruição implique frustração de expectativas
assentes precisamente nessa prática. Eles deverão consistir:
4º) Embora não se diga explicitamente, supõe-se, também, que a deficiência de que
padece a posição do terceiro (C) deriva precisamente dos vícios da posição do seu causante
(vícios relativos ao título de aquisição deste). Ao invés, se existirem vícios específicos do acto de
aquisição a favor do terceiro (ou relativos ao respectivo registo), a posição deste já não poderá
prevalecer, pela simples razão de que, em relação a estes vícios, ele já não é terceiro.
5º) Por fim, para as situações que se enquadrem no disposto no artigo 291º, a tutela da
confiança do terceiro depende ainda, especificamente (n.º 2), do decurso de um prazo de três
anos após a conclusão do acto de que beneficia o terceiro, sem que seja registada a propositura
de acção de declaração de nulidade ou anulação ou sem que seja registado o "acordo entre as
partes acerca da invalidade do negócio" que favorece o seu causante.
b) Se o Banco X, pode ir à execução exercer direitos na qualidade de credor
hipotecário.
Tópicos de resolução:
De acordo com o convencionado, o preço seria pago três meses após a conclusão do
contrato. A entregou o automóvel a B no prazo acordado, mas este não pagou o preço.
A pretende agora que C lhe restitua o carro, alegando que o contrato de compra e venda
celebrado com B não foi cumprido.
Esclareça quem é o proprietário do automóvel.
Tópicos de resolução:
- Por outro lado, também em geral, a compra e venda não pode ser resolvida com
fundamento em falta de pagamento do preço (886º), a menos que haja cláusula em sentido
inverso ou haja estipulação de reserva de propriedade
- Assim:
- se houvesse sido estipulado algo em contrário nos termos do artigo 886º, resolvendo A
a compra e venda tornaria a doação em negócio sobre bem alheio e, por isso, nula (956º)
Tópicos de resolução:
- Logo inexistiria o usufruto – na melhor das hipóteses, B teria posse de usufruto (1251º)
- Restar-lhe-ia, por isso, o direito a ser compensado pelas benfeitorias realizadas desde
que elas fossem necessárias ou, pelo menos úteis (1273º)
Tópicos de resolução:
- Tem legitimidade para conceder direito de sobrelevação quem for dono do edifício a
sobrelevar
- Assim, como A é apenas proprietário do solo e B é que tem propriedade sobre o edifício
é ele que pode conferir a C o direito de construir mais três andares – o consentimento de A
somente seria necessário se ele não tivesse dado a B o direito de contruir seis andares
Tópicos de resolução:
- Entendendo-se violência (1261º) em sentido próprio, só há violência sobre pessoa
porque só ela pode ser coagida.
- A visão mais lata leva a confundir esbulho com esbulho violento (“não pode deixar de
se considerar esbulho violento a vedação com estacas de madeira e rede com uma altura de
1,50m executada pelos requeridos como um obstáculo que constrange, de forma reiterada, a
posse dos requerentes, impedindo-os de a exercitar como anteriormente faziam, merecendo, por
conseguinte, tutela possessória cautelar no âmbito do procedimento de restituição provisória de
posse”! – acórdão do STJ de 19/10/2016, Proc. n.º 487/14.4T2STC.E2.S1).
- No caso, não vejo como se pode caracterizar o esbulho como violento. Portanto,
haveria lugar a restituição provisória, mas com processo comum. Não se trataria, pois, de
aplicar o 1279º.
Tópicos de resolução:
c) Antes de tal procedimento ter sido requerido, B vendeu o seu prédio a C. A servidão
subsistiria?
Tópicos de resolução:
Tópicos de resolução:
Tópicos de resolução:
O titular da preferência seria somente o outro comproprietário (1409º), uma vez que ele
não é concedido aos usufrutuários. Nem faria falta, na medida em que os seus direitos
persistiriam independentemente de quem fosse proprietário e de quantos fossem os donos.
Se a venda já, porventura, tivesse sido efectuada, a procedência da respectivaacção
produziria a sub-rogação do preferente no lugar do terceiro comprador.
Tópicos de resolução:
A adquiriu por usucapião, invocada em 1983, uma servidão de passagem sobre o prédio
agora pertencente a C. Tal como resulta da respectiva escritura de justificação, a servidão é de
“passagem a pé e com carros de bois”.
a)Na altura em que foi invocada a usucapião, o proprietário do prédio serviente era B. C
alega agora que quando comprou o terreno, em 2014, desconhecia a existência da
servidão.Decidiu, por isso, impedir A de passar colocando umas pedras no caminho. Terá
fundamento para tanto?
Tópicos de correcção:
- O registo da aquisição por usucapião tem efeito enunciativo [artigo 5º/n.º 2/a),
Cód.Reg.Predial];
- O registo de constituição de servidões aparentes tem o mesmo efeito [artigo 5º/n.º 2/b),
Cód.Reg.Predial];
Ainda que assim não fosse, esta tinha também sido constituída por usucapião. Por isso,
C nunca poderia invocar o seu desconhecimento. A servidão era-lhe assim oponível.
Tópicos de correcção:
i) recorrer à acção de restituição (artigo 1281º), caso a servidão fosse aparente (artigo
1280º);
c) Suponha que C alega também que Aefectua a passagem utilizando tractores e outra
maquinaria agrícola pesada e não carros de bois. Se porventura o tribunal entender que a
servidão deve permanecer, C pretende, contudo, que a A seja unicamente permitido passar pelo
modo original. Terá fundamento?
Tópicos de correcção:
- Portanto, para A passar de outra forma torna-se necessário que constitua outra
servidão com o acordo de C.
33. Desde 1994 que A e B são comproprietários de um terreno agrícola com dois hectares.
Para evitar conflitos, decidiram demarcá-lo em dois lotes de um hectare cada, separados por um
muro de pedra.
Em 1999, A construiu uma vivenda no lote que vinha utilizando desde 1994.
Tópicos de correcção:
3º: por fim, de os lotes assim obtidos respeitarem a unidade mínima de cultura, se
tivessem destino agrícola, ou de os consortes terem conseguido autorização de loteamento, se
eles se destinassem à edificação.
b)B quer aproveitar o muro divisório para nele apoiar um armazém que pretende
construir. Dependerá para o efeito de consentimento de A?
Tópicos de correcção:
Tópicos de correcção:
- A renúncia pura e simples tem carácter abdicativo, determinando em geral a extinção
do direito a que se abdica. É esse o efeito que D obteria se renunciasse.
Tópicos de correcção:
- Por isso, para D obter este efeito, não pode renunciar pura e simplesmente, porque isso
vale como renúncia abdicativa. Ao invés, deve declarar que renuncia a favor de B como forma
de se desonerar da execução da referida prestação. Se assim fizer, produz a extinção do usufruto
na sua parte (efeito real) e deixa de estar vinculado a proceder às referidas reparações (efeito
obrigacional).
Em 02/03/1996 concedeu, sobre ele, direito de superfície a favor de B por cinquenta anos.
Este instalou aí, conforme o respectivo contrato de constituição, um posto de abastecimento de
combustíveis.
Através de uma escritura denominada “Cessão do direito de superfície”, B transmitiu a C
o direito de superfície sobre o referido prédio, pelo preço de € 500.000 e pelo prazo que medeia
entre 10/05/2008 e 30/06/2019.
Tópicos de correcção:
A lei optou por limitar a intervenção dos particulares, na criação de direitos reais, às
hipóteses nela própria previstas. Quer dizer: a lei não se limitou a enunciar e a descrever certos
modelos de direitos reais; excluiu também a possibilidade de, designadamente através de
negócio jurídico, se criarem modelos nela não previstos. Nisto consiste a taxatividade.
Esta ideia, que sem dúvida está subjacente ao disposto no artigo 1306º, n.º 1, nele não
encontra, todavia, fácil apoio literal.
Neste preceito distinguem-se, formalmente, as figuras parcelares do direito de
propriedade das restrições a ele impostas. Ora, isto faz logo surgir a dúvida acerca do seu
domínio de aplicação: atingirá também a criação de figuras parcelares de outros direitos reais
ou a imposição de restrições aos mesmos? Dúvida que, no entanto, tem sido claramente
resolvida, por quem tem encarado a questão, no sentido afirmativo.
Considerando que, para o titular do direito atingido pela constituição da figura parcelar
ou da restrição, qualquer uma das duas implica uma limitação ao exercício do seu direito, não
pode ser atendendo ao seu «lado» que a distinção há-de fazer-se. Deve, ao contrário, atender-se
à posição em que terceiro fica eventualmente investido por força da sua constituição.
Assim, a figura parcelar supõe que ao titular de determinado direito real se tenha
imposto uma limitação ao seu exercício através da atribuição a terceiro de um direito subjectivo
real relativo à mesma coisa – somente este direito pode representar, em sentido figurado, uma
«parcela» daquele. Inversamente, a restrição supõe que tal limitação não é o efeito da
atribuição a terceiro de qualquer direito real sobre a coisa; o que significa, além do mais, que
esta se destaca daquela por exclusão de partes.
Certo é, no entanto, que a atribuição de eficácia real (ou seja, de oponibilidade erga
omnes) ao facto constitutivo de uma figura parcelar ou de uma restrição depende de assim
estarem previstas na lei. O que é sempre, dada a inexistência de uma «listagem» legal, um
problema da natureza qualificativa.
Tópicos de correcção:
O cânon superficiário, estando próximo de representar uma figura de ónus real, não o é,
contudo.
Tal como a obrigação propter rem, o ónus real é igualmente um elemento acessório do
conteúdo do direito real em que negativamente se inscreve. Mas, ao contrário da obrigação
propter rem, é também um elemento puramente acidental. Na verdade, enquanto aquela se
caracteriza, ao menos tipicamente, pela funcionalidade, o ónus real representa apenas (mais)
um encargo sobre a propriedade que, para além do benefício que atribui ao respectivo credor,
não tem qualquer utilidade específica. Daí que a lei o admita tão limitadamente, submetendo-o a
um «numerus clausus». Aliás, do ponto de vista da taxatividade, o ónus real surge até como
socialmente inconveniente, pelo duro encargo que pode implicar. Na realidade, no ónus real não
está só implícita a oponibilidade erga omnes – isto é, a possibilidade de o cumprimento da
obrigação correspondente poder ser exigido a quem quer que seja o titular do direito onerado.
Para além disso, e ao contrário da regra a que a obrigação propter rem se submete, está
pressuposto que o devedor não pode limitar a responsabilidade às obrigações que se venceram
na sua titularidade.
Qual a razão que leva a dizer que o adquirente do direito atingido pelo ónus real se não
pode livrar das obrigações vencidas antes desse direito ingressar na sua titularidade? Não há,
de facto, uma adstrição do adquirente àquelas obrigações, já que a lei não determina qualquer
transmissão, cessão, sub-rogação, etc., automática. Todavia, como é o próprio (valor de troca
do) direito onerado que responde pelo eventual inadimplemento das obrigações emergentes do
ónus, o respectivo adquirente está numa situação idêntica à de qualquer terceiro que adquira
bens onerados com alguma garantia real (hipoteca, consignação de rendimentos, etc.). Isto é,
não estando pessoalmente vinculado a cumprir a obrigação assegurada, se, no entanto, não
satisfizer o interesse do credor, sujeita-se à execução que este venha eventualmente a mover.
O ónus real supõe, pois, que o direito real em cujo conteúdo se integra esteja a garantir
o cumprimento das obrigações dele emergentes; só assim se pode considerar o ónus como exre,
ou seja, como "adstringindo" a própria coisa.
Quando é que verifica esta responsabilidade exre? Por vezes, é a própria lei que
explicitamente estabelece um privilégio creditório ou uma hipoteca legal sobre o direito atingido
pelo ónus real: é o que sucede, por exemplo, com a contribuição predial (artigo 122º, n.º 1,
Código do Imposto Municipal sobre Imóveis; artigo 744º, n.º 1) ou com a prestação a que o
titular do direito real de habitação periódica se encontra submetido perante quem administre o
empreendimento turístico respectivo (artigo 23º, n.º 1, Decreto-Lei n.º 275/93, de 5 de Agosto);
o mesmo sucede na hipótese da chamada propriedade plural sobre empreendimentos turísticos
nos termos do artigo 56º, n.ºs 1 e 7 do Decreto-Lei n.º 39/2008 de 7 de Março. Outras vezes isso
resulta implicitamente da letra da lei: é o que acontece v.g. nas situações previstas pelos artigos
959º, n.º 1, e 2018º.
Ora, nada resultando do artigo 1530.º que permita inferir que o direito do superficiário
responde exre pelo inadimplemento do cânon, pode asseverar-se não estar ele dotado das
marcas distintivas próprias do ónus real. Não obstante isso, por se tratar de uma obrigação do
superficiário, como tal susceptível de inscrição no registo predial [artigo 95º, n.º 1, alínea b),
Código do Registo Predial], pode, nesta medida, tornar-se eficaz (oponível) perante os
sucessivos adquirentes do direito de superfície, vinculando-os ao respectivo cumprimento a
partir da data da aquisição.
36. Entre 2008 e 2010, A, artista plástico, teve acesso privilegiado às instalações da
Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa em virtude de ter sido contratado para, a
partir de cadáveres, desenhar modelos anatómicos a utilizar no treino de cirurgiões. Em 2009, A
retirou da faculdade uma série de partes de cadáveres. Com cerca de quarenta (incluindo três
cabeças humanas, parte de um cérebro, seis braços, dez pernas ou pés, e três torsos) criou
diversas esculturas que foram, depois, exibidas numa galeria de arte.
Tópicos de correcção:
Se a personalidade do ser humano cessa com a sua morte (artigo 68.º, Cód.Civil), e
tendo em conta que, juridicamente, o que não for pessoa só pode ser objeto (de direitos), o
cadáver há de ter a natureza de res. Só assim se explica que, por exemplo, se possa doar, para
estudo, às faculdades de medicina. Não sendo havido como coisa e, como tal, não sendo objeto
de propriedade, a que título terão estas instituições o direito de o dissecar? Conceber-se-á a
concessão de um poder de transformação ao abrigo de algum outro direito que não o de
propriedade? O entendimento contrário parece assentar sobretudo em razões de ordem
sobretudo religiosa, padecendo, por isso, de algum irrealismo. Tornará necessário idealizar
alguma outra espécie de soberania plena sobre um objeto apenas para nela incluir o cadáver.
Devido, porém, ao respeito pela dignidade da pessoa que no corpo agora sem vida antes
existiu, a sua simples equivalência às demais coisas é inaceitável. É res, embora com estatuto
especialíssimo.
A ser assim, pode o cadáver, como qualquer outra coisa, ser adquirido por outrem
mediante os actos normais de aquisição da propriedade. Entre eles, a especificação. Nos termos
do artigo 1336.º do Cód.Civil, a specificatio é o modo de aquisição da propriedade, a favor,
consoante o caso, do dono da matéria-prima ou do especificador, que resulta da transformação
de coisa móvel alheia por força de trabalho próprio, sem consentimento do proprietário
daquela. Diz-se especificador justamente aquele a quem esse trabalho for imputável. Tendo ele
atuado de boa-fé (ou seja, ignorando estar a lesar o direito de outrem) ao conferir nova forma à
matéria-prima alheia, torna-se necessário distinguir consoante o que valha mais: o trabalho ou
a coisa transformada. “Se o valor da especificação não exceder o da matéria”, a coisa
pertencerá ao dono desta se assim o pretender. Na hipótese inversa, ela caberá ao
especificador. Em qualquer caso, “o que ficar com a coisa é obrigado a indemnizar o outro do
valor que lhe pertencer”.
Aplicando estas ideias às partes do corpo humano que dele hajam sido apartadas e que
tenham sido objeto de alguma transfiguração atribuível à habilidade e à competência alheia,
teríamos que o quid que se obteve através da transformação operada (as esculturas, no caso)
passaria a pertencer ao escultor (A) se a parcela de valor económico atribuível ao trabalho
fosse de importância superior ao das partes não manipuladas dos cadáveres empregados. Em
qualquer outra hipótese – incluindo a de má-fé do especificador (A) – as referidas partes de
cadáveres continuariam a pertencer à Faculdade de Medicina. Ela poderia, por isso, reivindicá-
las.
37. A é dono do prédio urbano composto de casa de habitação de r/chão, 1.º andar, águas
furtadas e quintal, com superfície coberta de 64,5 m², sito na Rua das Flores, n.º 3, em Vizela.
B é dono do prédio urbano composto por casa de três pisos para habitação, anexo e pátio,
com superfície coberta de 96,75 m², sito na Rua das Flores, n.º 5, em Vizela.
Os dois prédios confinam a sul e a nascente.
Encontra-se aberta uma janela na parede sul do edifício de A que confina com um saguão
existente no prédio de B. Tem 69 cm. de largura por 82 cm. de altura. A abertura foi realizada há
cerca de cem anos quando se construiu o r/chão da edificação existente no prédio de A. De início,
contudo, ela tinha grades.
Algures em 2009, B emparedou a referida janela com tijolo, tendo colocado em parte do
seu vão dois tijolos de vidro translúcido.
QuidJuris?
Tópicos de correcção:
Quer isto dizer, portanto, que aquele que construir o pode fazer até às estremas do seu
prédio (salvaguardando-se, evidentemente, as distâncias impostas por planos urbanísticos, onde
existam; deve ter-se especialmente em conta o PDM – Plano Director Municipal). Acontece,
porém, que, quando assim seja, o construtor não poderá, em princípio, manter quaisquer
aberturas dirigidas ao prédio vizinho.
A este propósito, a regra geral está contida no artigo 1360.º CC: no essencial, proíbem-
se as aberturas situadas a menos de metro e meio do prédio vizinho que permitam devassá-lo.
As janelas gradadas (artigo 1364.º CC) são aberturas que não possibilitam, ou
possibilitam em medida mínima, a indiscrição visual sobre o vizinho que as deve suportar.
Entende-se que o devassamento, nestas circunstâncias, é tolerável desde que tais aberturas se
façam dentro dos parâmetros fixados. Tudo o que exceda tais limites e dimensões cairá no
âmbito do artigo 1360.º CC. O vizinho eventualmente afectado por tais aberturas legalmente
toleráveis, se a elas não quiser sujeitar-se, tem bom remédio: vedá-las, com qualquer obra ou
plantação própria (n.º 1, in fine). Ao invés, tratando-se das aberturas a que se refere o artigo
1360.º, e caso possam ser mantidas a distância inferior ao interstício legal por força da
constituição de servidão (desvinculativa) "de vistas", o vizinho atingido só poderá
(eventualmente) construir se o fizer em altura reduzida, não perturbando, em todo o caso, a
obtenção de luz e de ar pelo titular da servidão, ou então se respeitar uma distância mínima de
metro e meio entre as ditas aberturas e a nova construção (artigo 1362º, n.º 2; salvaguardando-
se, naturalmente, qualquer cláusula negocial de conteúdo diverso).
Por força do estabelecimento desta servidão, fica o prédio serviente (n.º 2) adstrito,
como se disse, a não levantar construção ou plantação susceptível de impossibilitar ou estorvar
a obtenção de luz e ar pelo prédio dominante; para o efeito, deve observar uma distância
mínima de metro e meio entre a mencionada construção ou plantação e a janela, porta, varanda,
terraço, eirado ou obra semelhante que beneficie da servidão.
Como inexiste título aquisitivo da servidão a favor de A (artigo 1259.º CC) e como, por
isso, a respectiva posse se presumiria de má-fé (artigo 1260.º CC), a questão que cumpria
resolver seria a seguinte: por se considerar que a remoção das grades marcaria o início da
posse de servidão, restaria saber se tal sucedeu há mais de vinte anos (artigo 1294.º CC). Em
caso afirmativo, A poderia invocar usucapião da servidão de luz e ar a que se refere o artigo
1362.º. Caso contrário, estaria impedido. Na primeira hipótese, A poderia acudir à acção de
reivindicação (artigos 1311.º/1315.ª CC) para exigir que a parede entretanto construída por B
fosse demolida.