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UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE - ensino a distância ®

11
Fascículo

Gestão Social, Inovação


e Tecnologia Social Carla Pasa Gómez
Carlos Eduardo de Souza Galvão
FUNDAÇÃO DEMÓCRITO ROCHA (FDR)
Presidência
João Dummar Neto
Direção Geral
Marcos Tardin

UNIVERSIDADE ABERTA DO NORDESTE (Uane)


Coordenação Geral
Ana Paula Costa Salmin

CURSO GESTÃO SOCIAL


Concepção e Coordenação Geral
Cliff Villar
Organizadores de Conteúdo
João Martins de Oliveira Neto e
Jeová Torres Silva Júnior
Coordenação Pedagógica
Ana Cristina Pacheco de Araújo Barros
Coordenação Executiva
Rebeca Sabóia
Edição de Design e Projeto Gráfico
Amaurício Cortez
Editoração Eletrônica
Cristiane Frota
Ilustrações
Carlus Campos
Revisão de texto
Daniela Nogueira
Catalogação na Fonte
Kelly Pereira
Gerente de Serviços
Valéria Freitas
Produtora
Thais de Paula

Este fascículo é parte integrante do Curso Gestão Social


composto por 12 fascículos oferecido pela Universidade
Aberta do Nordeste (Uane), em decorrência do contrato
celebrado entre a Secretaria do Trabalho e Desenvolvimento
Social – STDS e a Fundação Demócrito Rocha (FDR), sob o
nº 076/2017.

C975 Curso gestão social / concepção e coordenação geral, Cliff Villar;


organizadores de conteúdo; João Martins de Oliveira Neto
Todos os direitos desta edição reservados à:
e Jeová Torres Silva Júnior. – Fortaleza: Fundação Demócrito
Rocha/UANE/BID/STDS-Ce, 2017.
288. il. color; (Curso em 12 Fascículos)

ISBN 978-85-7529-842-8 Fundação Demócrito Rocha


Av. Aguanambi, 282/A - Joaquim Távora
CEP 60.055-402 - Fortaleza-Ceará
1. Curso – gestão social I. Villar, Cliff. II. Oliveira Neto, João
Tel.: (85) 3255.6180 - 3255.6153
Martins. III. Silva Júnior, Jeová Torres. IV. Título Fax: (85) 3255.6271
fdr.com.br
fundacao@fdr.com.br
CDU 304(813.1) uane@fdr.com.br
sumário
1. Introdução............................................................................................. 244

2. A inovação empresarial e a inovação social................................. 246


2.1 Da tecnologia à inovação social........................................................ 248

3. Gestão social das tecnologias sociais............................................. 253

4. A inovação e a tecnologia social na


promoção do desenvolvimento local.............................................. 255

5. Inovação e Tecnologia Social no


enfrentamento de problemas sociais brasileiros ..........................257
5.1 Inovação e Tecnologia Social na
convivência com o Semiárido............................................................. 260

Síntese do Fascículo................................................................................. 262


Perfil dos Autores..................................................................................262
Referências Bibliográficas..................................................................263

objetivos
1. Reconhecer inovação social e tecnologia social como um campo
ligado à Gestão Social, diferente da inovação e da tecnologia
convencionais.

2. Evidenciar algumas práticas que envolvam o uso de inovação social


e tecnologia social.

3. Entender as possibilidades de políticas e ações de inovação social e


tecnologia social para a mudança social.
Inovações e tecnologias sociais são
aquelas ações, programas, projetos e
produtos que são desenvolvidos por
um conjunto de sujeitos (atores) que
buscam soluções/respostas para si-
tuações insatisfatórias, com vistas
a gerar bem-estar e satisfação para
os indivíduos e coletividade por meio
do atendimento das necessidades so-
ciais (Correia, Oliveira e Gómez, 2016).

As inovações sociais se caracte-


rizam por produtos ou processos que
estão embasados em outra forma de
produzir valor, com menos foco nos
ganhos puramente financeiros e mais
direcionados às demandas e necessi-
dades gerais da sociedade. E é nesse as-
pecto que a IS se distancia da inovação
e tecnologia “puramente” econômica,
ou o que chamamos de tecnologias e
inovações tradicionais de mercado.

Para refletir

1.
O domínio do saber fazer de uma co-
munidade, de uma associação, de um Anualmente milhões
grupo de pessoas, que passa de gera- de toneladas de
ção em geração e vai sendo aprimo- lixo são jogados na
rado, cumpre com o papel de manter natureza sem trata-

Introdução viva a tradição e de resgate da sua


originalidade, além de, na maioria das
mento ou ainda com
tratamento precá-
vezes, ser considerada uma inovação rio. A origem disso
ou tecnologia social. tudo está na falta de
A inovação e tecnologia social (IS), pesquisa e desenvol-
em sua essência, é a construção, uso e vimento de produtos
difusão coletiva dos saberes, que são feitos com novos
capazes de transformar realidades lo- materiais – ambien-
cais. Realidades como o enfrentamen- talmente mais corre-
to à seca, a pobreza, a falta de acesso tos que permitiriam
à educação e ao crédito, a escassez de maior reaproveita-
serviços de saúde e de segurança, den- mento ou reciclagem
tre outras que compõem o dia a dia das dos resíduos e tam-
sociedades ao redor do mundo, mas bém produtos feitos
muito bem marcado no Brasil e em re- para durarem mais.
giões como a nossa.

244 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Enquanto as inovações tradicio- piauienses de Oeiras, São Raimundo
nais baseadas na visão de Schumpeter Nonato, Picos e arredores. Ou ainda o
(1985) ocorrem com o foco no merca- projeto da Fundação Casa Grande –
do por meio de um novo produto, pela Memorial do Homem do Kariri de pro-
entrada em um novo mercado, ou uma ver educação e formação de protago-
nova fonte de materiais, ou ainda um nistas da cultura local e que, por meio
novo processo produtivo que irá per- da história, da arte, da comunicação e
mitir que a competitividade de uma do turismo de base comunitária, ilustra
empresa melhore (visão excludente), as uma iniciativa de inovação social.
inovações e tecnologias sociais priori- É nesse caminho que se percebe
zam a inclusão, a melhor distribuição que a inovação e a tecnologia social
da economia, o compartilhamento de promovem a integração dos atores
conhecimentos com a atuação con- locais para o desenvolvimento do seu
junta de diversos atores no processo e território, buscando soluções para
produto resultante disso. aquelas demandas sociais não aten-
É, portanto, esperado que essas didas pelo governo e pelas empresas.
soluções emerjam a partir de um mo- A união de esforços e a definição dos
1. O BEPA – Bureau of European Policy Advisers
vimento de dentro da própria comu- papéis dos diversos atores é um cami- (2010) reconhece que ambos os sentidos das iniciati-
nidade (ou também chamado de ino- nho que pode elevar a inovação social vas são bem-vindos e desmitifica que apenas as ino-
vações e as tecnologias sociais de baixo para cima
vações sociais tipo bottom-up – de a uma política pública, mas não ne-
sejam válidas. Azevedo e Pereira (2013) assim como
baixo para cima), pois se entende que cessariamente deve ser. O importante Costa (2016) apontaram que as iniciativas top-down
os cidadãos que convivem com o pro- é o fortalecimento precisam de uma sinergia com as bottom-up.
blema são os mais qualificados para
apontar soluções.
No entanto, é comum encontrar-
mos inovações sociais que vêm de fora
da comunidade (as de tipo top-down1
– de cima para baixo) que muitas vezes
são trazidas por ONGs, Universidades,
movimentos sociais, associações etc.
Isso porque muitas vezes a comunida-
de não se sente empoderada ou não
possui ferramentas, instrumentos ou
capacidade de articulação para im-
plantar a inovação social.
Encontramos diversos casos no
Brasil e em nossa Região de inova-
ções e tecnologias sociais, a exemplo
do Programa Um Milhão de Cisternas
(P1MC), que nasceu como uma tecnolo-
gia social dentro de uma comunidade e
que se transforma em uma política pú-
blica; o Programa Jovens Radialistas
do Semiárido, que atende as deman-
das de educação, profissionalização,
empoderamento e despertar do sen-
so crítico em jovens dos municípios

gestão social 245


“Mesmo quando a inovação re-
sulta de uma invenção, que tanto
pode ter acontecido autonoma-
mente como em resposta a uma
dada situação de negócio, as duas

2.
ações são, econômica e sociologi-
camente, duas coisas inteiramen-
te diferentes, mesmo quando por
acaso são executadas pela mesma
pessoa. As atitudes pessoais e os
processos sociais que produzem in-

A inovação empresarial e venções e inovações pertencem a


diferentes esferas, e as relações en-

a inovação social tre ambas são muito mais comple-


xas do que pode parecer à primeira
vista” (SCHUMPETER, 1985, p. 84).
A geração de inovação sempre este- dos economistas que estudam a lu-
ve presente na história da humanida- cratividade das organizações. Schumpeter (1985) já destacava a
de gerando soluções para problemas, Há também o entendimento de necessidade de as organizações prati-
principalmente os relacionados às ati- que a inovação está relacionada à in- carem inovações sociais de forma pa-
vidades econômicas. trodução de uma nova solução, que ralela à inovação tecnológica, como
Na visão tradicional da inovação, seja mais eficaz para o usuário, mes- forma de aperfeiçoar a inovação nas
esta ocorre por meio da introdução mo que não seja uma novidade para organizações. Enquanto a inovação
de um novo produto, mediante nova outras pessoas. Entretanto, deve-se empresarial mantinha seu foco no de-
fonte de matérias-primas, a partir fazer uma distinção entre as novida- senvolvimento de produtos, a inova-
da introdução de um novo processo des que possuem viabilidade técnica e ção social atuava em contextos como
produtivo ou por meio da entrada em não possuem viabilidade econômica. emprego, qualificação, segurança so-
um novo mercado consumidor. Essas Essas soluções são apenas inventos di- cial e territórios, atuando como duas
formas de inovar que foram propa- ferenciando-se das inovações em fun- abordagens diferentes, mas com obje-
gadas por Schumpeter (1985) são ção de sua capacidade de reprodução. tivos convergentes (GÓMEZ et al, 2014).
praticadas pelas organizações em- Schumpeter (1985) enfatiza que inova- Para Pol e Ville (2009), a termino-
presariais e são objetos de trabalho ção não é sinônimo de invenção. logia mais correta para as inovações

246 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


que objetivam lucro seriam inovações resultados são difundidos e expandi- Enquanto as inovações
empresariais, que, por sua vez, são dos para uso comunitário que podem empresariais são gerenciadas de
compostas por inovações tecnológi- assumir a forma de um produto – por dentro para fora, as inovações
cas (produtos e serviços melhorados) e exemplo, uma tecnologia. sociais têm na comunidade
inovações organizacionais (mudanças Ou seja, em um extremo está a um dos principais atores
na estratégia, estrutura e rotina), ob- inovação empresarial, que, além de o do processo de inovação.
jetivando a melhoria do desempenho. objetivo principal ser o da competiti- Enquanto nas inovações
Existem divergências de opiniões vidade e do lucro, causa (na maioria empresariais o objetivo é
entre pesquisadores que acreditam das vezes) dano ao meio ambiente; em reter o conhecimento gerado
que a inovação empresarial gera be- contraste com as inovações sociais, pela inovação, impedindo
nefícios não só para o inovador, mas que almejam o bem-estar individual e que outra organização
também para outras partes, como os comunitário desenvolvendo o indiví- tenha acesso à tecnologia,
consumidores e concorrentes. Decorre duo, o seu espaço de vida e seu local devido à competitividade
daí que alguns grupos acadêmicos de trabalho. empresarial, na inovação
acham desnecessário o estudo da ino- Pol e Ville (2009) propuseram um social ocorre simplesmente o
vação social, haja vista a inovação ser modelo que representa a inter-rela- inverso. Busca-se ao máximo
social por si só. ção entre as duas formas de inova- a difusão, que favoreça a
Ao olhar mais minucioso, per- ção, social e empresarial, e a exis- replicação e a expansão
cebe-se que as inovações sociais tência de um campo formado pelas dos resultados para outras
não são, necessariamente, motiva- duas formas de inovação, chamado organizações e comunidades,
das pelo lucro. Como exemplo disso, de bifocal, conforme ilustra a Figura transformando em prática
há as novas ideias em que os seus 1, apresentada a seguir. comum o compartilhamento
de conhecimentos entre
comunidades e organizações por
Figura 1 - As relações entre inovação social e meio dos centros de inovação
social e das redes sociais.
inovação empresarial
Qualidade de vida ou IS ∩ IE
quantidade de vida Novas ideias
geradoras de lucro

IS IB IE

Novas ideias geradoras Novas ideias que geram lucro


de melhorias sociais e atendem as necessidades da
sociedade. Ex. internet

IS: Inovações sociais IE: Inovações empresariais IB: Inovações bifocais

FONTE: POL; VILLE (2009, P. 11).

gestão social 247


As inovações bifocais são, por A partir dessa mudança de pa-
Para refletir exemplo, as inovações tecnológicas radigma, a qualidade de vida do in-
que podem estar a serviço de objeti- divíduo não seria medida em função
Quando pensamos vos sociais ou econômicos ou a servi- dos bens ou serviços adquiridos de
em tecnologia e ço de ambos. Muitas tecnologias que modo individual e, sim, agora, pelos
inovação, imedia- surgiram em um setor como o merca- benefícios alcançados pela socieda-
tamente pensamos do, com o tempo, podem passar para de como um todo.
em robôs, internet, outro como o público, exemplo do en-
produtos eletrônicos, sino a distância.
raio laser etc. Agora Com isso, estabelece-se um recor-
pense em forma e te entre as formas de inovação, em que
meio de se fazer as não é a tecnologia que determina se 2.1 Da tecnologia à
coisas. Nos processos uma inovação é social ou empresarial, inovação social
também existem tec- mas sua forma de organização (coo-
nologias e inovações. perativas, associações, organizações Tecnologia, em seu sentido mais am-
A inovação do “como sem fins lucrativos etc.), apropriação plo, significa a aplicação de conhe-
fazer”. Que tecnolo- e a qual objetivo se pretende com ela. cimento técnico e científico em pro-
gias e inovações exis- Assim como as empresas fazem cessos e produtos, que são criados ou
tem na sua região? uso da tecnologia, ou inovação tec- podem ser modificados a partir deste
nológica, para obter lucro, os pro- conhecimento. A tecnologia social
tagonistas sociais se apropriam da tem o propósito de nominar as tec-
inovação tecnológica no processo de nologias com o potencial de incluir
geração e obtenção de benefícios so- pessoas na sociedade.
ciais. A conclusão a que se chegou de As tecnologias são chamadas
muitos trabalhos abordarem a relação “sociais” quando apresentam as con-
inovação social e inovação tecnológi- dições para, a partir de sua implan-
ca é a de que uma gera a outra, sen- tação em determinados contextos,
do que a inovação tecnológica apoia, melhorar a qualidade de vida em
como instrumento, a inovação social. sociedade. Essas soluções devem ter
A relação entre inovação social potencial para gerar efetivas mu-
e inovação tecnológica ultrapassa a danças em diversos campos, como
relação de apropriação da tecnolo- educação, agricultura, saúde, meio
gia para um determinado fim social. ambiente, lazer, entre outros. Além
Acredita-se que a relação tecnos- disso, as tecnologias sociais também
social produz uma mudança de pa- devem atender aos quesitos de sim-
radigma social, na qual a sociedade plicidade, baixo custo, fácil aplicabi-
sairia do paradigma industrial e pas- lidade e geração de impacto social.
saria a um novo paradigma da socie-
dade da informação.

248 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


econômico do pós-guerra, tanto nos
países denominados Primeiro Mundo
quanto nos denominados Terceiro
Mundo. Outra perspectiva é a de que
ela surgiu como uma reação a partir
Inquietações do questionamento em relação ao
acadêmicas acerca dos uso de tecnologias convencionais,
que não seriam o ideal para países
temas inovação social periféricos por causa da inevitável
e tecnologia social dispensa de mão de obra.
são constantemente A preocupação com as questões
relativas à sustentabilidade como a
encontradas no cenário preservação do meio ambiente e de-
acadêmico nacional. senvolvimento e utilização de fontes
alternativas de energia, por exemplo,
Isso porque esses são levaram Schumacher (1979) a abor-
ainda temas que se dar o tema da tecnologia apropriada
sobrepõem em alguns sob a terminologia de intermediária,
como uma combinação de tecnolo-
aspectos apesar dos gias tradicionais com avançadas.
esforços e avanços Diversas outras terminologias fo-
ram adotadas com referência a uma
demonstrados nos função social e contextual da tecnolo-
discursos em torno das gia, como tecnologia suave, tecnologia
ambientalmente saudável, comunitá-
suas características, ria, de baixo custo, da era solar, do ter-
etapas, nuances, ceiro milênio, participatória, progres-
condicionantes, siva, com face humana e outras.
Como características, as tecno-
procedimentos e logias sociais devem:
resultados. •• ser adaptadas a pequenos pro-
dutores e consumidores de baixo poder
econômico;
Há de se considerar ainda que as •• não promover o tipo de controle
inovações sociais são, por natureza, capitalista, segmentar, hierarquizar e
multidimensionais nos seus desafios dominar os trabalhadores;
em atender as demandas sociais dos •• ser orientadas para a satisfação
diversos atores interessados em seus das necessidades humanas;
processos e resultados. •• incentivar o potencial e a cria-
Alguns autores entendem a tec- tividade do produtor direto e dos
nologia social como uma continua- usuários;
ção do movimento conhecido por •• ser capazes de viabilizar econo-
tecnologia apropriada que teve iní- micamente empreendimentos como
cio no século XX na Índia. Atribui-se cooperativas populares, assentamen-
a origem desse movimento à rea- tos de reforma agrária, a agricultura
ção aos padrões de crescimento familiar e pequenas empresas.

gestão social 249


Esse último item reforça a ideia no produto final, a tecnologia so-
que a participação ativa do usuá- cial tem sua atenção voltada para
rio no desenvolvimento da tecnolo- o processo. Isso não significa que
gia social é o divisor de águas entre o produto final não seja importan-
essa e sua antecessora, a tecnolo- te, mas a essência está no processo
gia apropriada. Enquanto a preo- de desenvolvimento da tecnologia.
cupação em torno da tecnologia Esses elementos todos podem ser
apropriada estava concentrada representados na Figura 2, a seguir.

Figura 2: Aspectos característicos


das tecnologias sociais

1.
Compromisso com a 2.
12. transformação social Espaço de demandas
Construção cidadã e necessidades
do processo
​3.
democrático
Relevância e
11.
eficácia social
Processos
participativos:
planejamento,
acompanhamento
4.
e avaliação
Sustentabilidade
socioambiental e
Tecnologia Social economia
10.
Difusão e Ação
coletiva

5.
Inovação

9.
Diálogos entre 6.
diferentes saberes Organização e
7. sistematização
8.
Acessibilidade e
Processo
apropriação da
pedagógico
tecnologia

FONTE: ADAPTADO DE “TECNOLOGIA SOCIAL E DESENVOLVIMENTO PARTICIPATIVO”. (ITS, 2007, P. 15)

250 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


No Brasil, no início dos anos
2000, o movimento da tecnolo- Para refletir
gia social deu origem a algumas
organizações, como o Instituto Grande atenção é referenciada ao projeto “Semiárido” (REDE, 2015),
Brasileiro de Tecnologia Social (ITS), apresentando vários exemplos de tecnologias sociais aplicadas à
a Fundação Banco do Brasil (FBB) e a Região do Semiárido, tais como:
Rede de Tecnologia Social (RTS). •• Agentes de Desenvolvimento Rural (ADR), que apoiam os agri-
O processo de construção de cultores familiares;
uma tecnologia social deve envol- •• Produção Agroecológica Integrada e Sustentável, que tem
ver o conhecimento de comunidades como premissa o manejo orgânico;
que estão precisando de um deter- •• minifábricas de beneficiamento de castanha de caju;
minado tipo de solução e, por isso, •• bancos comunitários.
os seus integrantes participam do
desenvolvimento das novas formas Para o Projeto denominado “Sistemas de Captação de Água para
de fazer, entendendo que essas no- Produção” (REDE, 2015), são descritas diversas tecnologias sociais,
vas técnicas deverão ser utilizadas tais como:
com o propósito claro da mudança •• barraginhas, que são pequenas barragens construídas com o
social, com capacidade para melho- envolvimento das comunidades, que, além de proporcionar maior
rar a qualidade de vida da comuni- oferta hídrica e consequente melhoria no processo de produção
dade e podendo servir como modelo agrícola, diminuem os danos ambientais;
para outros grupos que apresentem •• cisternas adaptadas para a roça, formadas por uma área de
problemáticas similares. captação, um reservatório de água e um sistema de irrigação;
Dentro dessa perspectiva, a tec- •• barragem subterrânea, que conserva a água de chuva infil-
nologia social seria o resultado da trada no subsolo nas áreas de baixios, fundos de vales e áreas de
ação de um coletivo de produtores escoamento das águas de chuva, mediante uma barragem em pro-
sobre um processo de trabalho que, fundidade cavada até a camada impermeável do solo;
em função de um contexto socioe- •• tanques de pedra, que possibilitam o armazenamento de gran-
conômico e de um acordo social, os des volumes de água captada nos lajedos, aproveitando a inclina-
quais ensejam, no ambiente produ- ção natural neles existentes;
tivo, um controle (autogestionário) e •• barreiro-trincheira, tanques profundos e estreitos, cavados
uma cooperação (de tipo voluntário em subsolo cristalino com um ou mais compartimentos e de mais de
e participativo), permite uma modi- três metros de profundidade, com fundo e parede de pedra (piçarra),
ficação no produto gerado passível que não deixa a água se infiltrar.
de ser apropriada segundo a deci-
são do coletivo (DAGNINO, 2009).

gestão social 251


A melhoria efetiva das condições As relações entre IS e TS apre-
de vida constitui-se em um dos prin- sentam inúmeras semelhanças por
cipais objetivos do desenvolvimento meio do olhar da gestão social e do
de tecnologias sociais. Por essa ra- desenvolvimento sustentável. Uma
zão, OLIVEIRA e SILVA (2012, p. 289) relação que pode ser proposta é a de
afirmam que: complementaridade, ao se observar
as terminologias sob o olhar do de-
“(...) as práticas que envolvem tec- senvolvimento territorial. Percebe-se
nologia social se encontram em sin- que as duas terminologias se aplicam
tonia com a definição de inovação à transformação social.
social que se refere a atividades e A inovação social é utilizada para
serviços inovadores que visam e fazer referência ao conhecimento –
geram mudança social, que se di- intangível, podendo estar incorpora-
fundem predominantemente entre do a pessoas ou equipamentos, tácito
atores que têm como primeiro pro- ou codificado –, que apresenta como
pósito o desenvolvimento social”. principal propósito o aumento da efe-
tividade dos produtos, serviços e tam-
Na mesma linha de raciocínio, bém os processos relacionados à sa-
mas incorporando a tecnologia so- tisfação das necessidades humanas.
cial, surgem os discursos internacio- Neste caso, a inovação social
nais sobre inovação social. pode ser considerada como uma con-
sequência da utilização das tecnolo-
gias sociais (conhecimento tangível).

Pressupostos Básicos Comuns entre IS e TS


•• Satisfação das necessidades humanas;
•• Preservação ambiental integrada ao desenvolvimento
econômico, social e político-institucional;
•• Fortalecimento de empreendimentos coletivos e
geração de renda;
•• Alcance da sustentabilidade nas dimensões social,
ambiental e econômica;
•• Transformação social;
•• Promoção do bem-estar.

FONTE: ADAPTADO DE OLIVEIRA E SILVA (2012, P. 288).

252 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


3.
Gestão social das
tecnologias sociais
As discussões acerca do conceito de democráticos e participativos orien-
gestão social iniciaram-se na década tados para a solução das demandas e
de 1990 e, desde então, têm sido obje- necessidades da sociedade civil, pri-
to de estudo e práticas associadas às mando pela irredutibilidade do eco-
políticas públicas sociais, às organi- nômico ao mercantil e pela irredutibi-
zações não governamentais, ao com- lidade do político ao estatal.
bate à pobreza, ao desenvolvimento Para que esta gestão social se
territorial, à gestão participativa e à efetive, é necessário também garan-
responsabilidade social e ambiental tir mecanismos de participação so-
das organizações. Inadvertidamente, cial na atividade gestionária. Tenório
o termo também é compreendido por (2008, p. 41; 48) aponta a necessidade
muitos com o significado de uma ges- da apreensão de dois conceitos para
tão voltada para o social, definindo-se clarificar o modus operandi da ges-
a gestão social, antes de tudo, pela sua tão social: a) cidadania deliberativa;
finalidade. Entretanto, a noção de ges- e b) participação. Para o autor, a prá-
tão social vai além. tica da cidadania deliberativa signi-
Para Tenório (2008, p. 39-40), a fica que “a legitimidade das decisões
gestão social compreende a possibi- deve ter origem em processos de dis-
lidade de uma gestão democrática, cussão, orientados pelos princípios da
participativa, quer na formulação de inclusão, do pluralismo, da igualdade
políticas públicas, quer nas relações participativa, da autonomia e da bem
de caráter produtivo, constituindo-se comum” (TENÓRIO, 2008, p. 41).
em um “espaço privilegiado das rela- Dito de outra forma, a cidada-
ções sociais”, em que todos têm direito nia deliberativa implica uma gestão
à fala sem qualquer tipo de coação. orientada para o diálogo, para o prin-
Outrossim, o conceito de gestão cípio da igualdade e para o respeito
social é entendido como o processo às particularidades de cada ser en-
gerencial dialógico em que a autori- volvido no processo de decisão. Já a
dade decisória é compartilhada en- participação, segundo Demo (apud
tre os participantes da ação. França TENÓRIO, 2008, p. 48), é um proces-
Filho (2008b, p. 28) indica que a ges- so de constante redefinição, de con-
tão social pode ser encontrada no quista, que não é restrita apenas aos
conjunto de processos gestionários interessados ou à comunidade, mas

gestão social 253


a todas as esferas sociais. É também Em contraposição a tal racionali-
uma prática social de troca de ideias. dade, o autor apresenta outra forma
Este modo de gestão participativo e de ação racional, denominada por ele
empoderador da cidadania delibera- como racionalidade substantiva. Nos
tiva é a forma mais relevante do mo- termos de Guerreiro Ramos (1989, p.
delo gestionário das tecnologias so- 134-135), a ação organizacional subs-
ciais, para Silva Júnior (2016). tantiva exibe como características a
Todavia, só a adoção da gestão so- autorrealização, o julgamento ético, a
cial e participativa, como novo modelo valoração do bem-estar social coleti-
de gestão, não modifica as relações so- vo e a autonomia dos participantes no
ciais. Anteriormente, urgem discussões processo gestionário.
sobre os objetivos/fins das práticas De modo prático, esses construtos
gestionárias. A racionalidade pode ser encontram ressonância em um conjun-
conceituada como o conjunto de valo- to de ações, projetos e negócios que ar-
res que norteiam as práticas de cada ser ticulam discussões sobre processos de
humano. Em termos organizacionais, a desenvolvimento humano sustentável,
racionalidade é traduzida como finali- baseados em uma perspectiva sistêmi-
dade perseguida pela organização. ca de articulação socioinstitucional e
França Filho (2008b, p. 31) explica socioprodutiva, socioeconômica e so-
que, no modelo de gestão privada, o cioambiental. Isso pode ser percebido,
escopo da organização traduz-se em mesmo nas tecnologias sociais, quando
termos utilitários – de finalidade eco- estas apresentam como diferencial sig-
nômico-mercantil - tendo por conse- nificativo à busca de uma intervenção
quência a execução de todos os meios territorializada, gerando ações conti-
necessários para alcançar esses fins, nuadas a partir da mobilização de di-
independentemente das consequên- ferentes atores que atuam em torno da
cias sociais e/ou ecológicas da decisão. transformação do território, capazes
Conforme Guerreiro Ramos de representarem soluções para um
(1989, p. 90-92), a racionalidade ins- desenvolvimento includente, sustentá-
trumental concebe uma sociedade vel e sustentado (BAUDOWIN; COLLIN,
centrada no mercado, responsável 2006; CASTELLS, 2007; SILVEIRA, 2006).
pela degradação das relações so- Nessa perspectiva, a busca pelo
ciais, da qualidade de vida, pelo des- desenvolvimento se dá não somente
perdício dos recursos naturais, afo- em torno de fluxos de capital finan-
ra a constituição de espaços sociais ceiro, produtividade e tecnologia, mas
que não correspondem às aspirações considera temas como a valorização
da população. Como características das potencialidades e das identidades
dessa racionalidade, aponta-se o sociais, culturais e ambientais capazes
cálculo utilitário de consequências, de abrir novos caminhos de desenvol-
os fins econômico-mercantis, a ma- vimento local (BAUDOWIN; COLLIN,
ximização dos recursos sem qual- 2006; CASTELLS, 2007; SANTOS;
quer questionamento ético e a medi- SILVEIRA, 2001; SILVEIRA, 2006). É
da de retorno econômico dos êxitos como exemplo evidente da gestão so-
da organização (GUERREIRO RAMOS, cial que surgem e se inserem as expe-
1989, p. 3-14). riências das tecnologias sociais.

254 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


4.
A inovação e a
tecnologia social
na promoção do
desenvolvimento local
Se refletirmos sobre o fato de que o função de um processo histórico de
desenvolvimento de um território, de isolamento devido à não participação
uma localidade, uma nação não se na construção social. Exemplo carac-
mede apenas pelos seus resultados terístico dessa forma de exclusão são
econômico-financeiros, deparamos as pessoas com deficiência e morado-
com a necessidade de compreender res de zona rural.
como podemos avaliar o desenvolvi- Embora possuam direitos garan-
mento local. tidos por lei, como acesso a educação
Vários conjuntos de indicadores e emprego, veem seus direitos não
já foram criados, a exemplo do Índice reconhecidos pela falta de visibilida-
de Desenvolvimento Humano2, ou de de proporcionada pela sociedade em
indicadores de sustentabilidade de geral. As organizações e instituições,
localidades. O que esses indicadores em sua maioria, não estão prepara-
mostram é que a vulnerabilidade, a ex- das para atender a esse público. Não
clusão social e o distanciamento da so- possuem hábitos e rotinas prontos
ciedade de políticas de bem-estar im- para atender a esse grupo de pessoas.
pedem alguns indivíduos de participar Dessa forma, empurram-nas para as
da sociedade de modo pleno ao mesmo margens da sociedade.
tempo em que estes são marginaliza- Essa situação gera cenários nos
dos, em virtude da falta de qualifica- quais as necessidades dos indivíduos
ção, pobreza, oportunidade de educa- ou grupos de excluídos não têm sido
ção, ou resultado da discriminação. atendidas pela atuação isolada do
A exclusão pode se dar por meio mercado ou pelo setor público. Essas
de várias instâncias, como religião, demandas pedem por novas formas de
gênero, sexualidade, questões físi- inovação que contemplem o bem-es-
cas, renda, educação ou idade. Muitas tar e a qualidade de vida das pessoas.
dessas exclusões ocorrem como con- 2. Medido por meio da análise de três subindicadores:
Nesse contexto, em que os meios
renda, longevidade e escolaridade. Para mais infor-
sequências das mudanças pelas quais institucionais não são capazes de mações, consulte o IDH dos municípios brasileiros em
a sociedade vem passando. Outras em atender às demandas sociais, é que http://www.atlasbrasil.org.br/2013/pt/o_atlas/idhm/

gestão social 255


emergem as inovações e tecnologias •• governança: participação dos •• maior conhecimento mútuo,
sociais. Novas formas de pensar, agir atores sociais envolvidos no processo ampliando a previsibilidade sobre o
e produzir novos conhecimentos, a fim decisório e em reuniões consultivas, comportamento dos agentes, reduzin-
de atender às necessidades sociais que impactam a inovação social em do a possibilidade de comportamen-
nas mais diversas áreas, por meio da um dado território, com oportunida- tos oportunistas e propiciando maior
coesão social e solidariedade entre de de ouvir e de ser ouvidos pelos de- compromisso em relação ao grupo.
todos os envolvidos. mais atores, contribuindo de maneira O desenvolvimento regional está
Um dos fatores de maior importân- significativa para a conservação do mais associado ao capital social do
cia da inovação social para o desenvol- capital social; e que ao econômico ou humano. Para
vimento territorial está relacionado ao •• administração flexível: pos- Putman (2000), o capital social as-
caráter emancipatório da inovação so- sibilidade de adaptação das políti- sume duas formas diferentes: uma
cial frente à situação inicial dos atores cas públicas, normas, regras institu- relacionada aos laços internos no
usuários. Esta, com certeza, é a carac- cionais e culturais a um contexto em interior de um lugar/comunidade; a
terística mais marcante de uma inova- um dado momento, a partir de novos outra decorrente das relações com o
ção social, o empoderamento de grupos aprendizados. exterior, entre lugares e comunida-
excluídos e marginalizados. Para que haja interação entre os des distintas.
Porém cada território possui sua atores em um território, faz-se neces- No mesmo sentido, o processo
dinâmica própria, decorrente de suas sária a presença do capital social. Este de empoderamento de comunidades
características econômicas, sociais, pode ser entendido como um conjunto por meio da inovação social se dá a
políticas, institucionais e culturais, de instituições formais e informais, partir da aquisição de novos conhe-
o que o torna único e com processos normas sociais, hábitos e costumes cimentos, competências e habilida-
também ímpares. que afetam os níveis de confiança, so- des, decorrentes da interação dos
Isso porque quanto maior a coo- lidariedade e confiança em um grupo atores da inovação. Como dito no
peração entre os diversos atores so- ou sistema social. início da seção, esta interação ob-
ciais em um processo de interação so- O capital social propicia: jetiva o bem-estar da comunidade,
cial, maior o nível de inovação social •• maior facilidade de comparti- que passa a uma nova condição de
em um dado território. Doutra forma, lhamento de informações e conheci- emancipação política e social fren-
quanto menor o nível de cooperação mentos bem como custos mais baixos, te a sua condição anterior. Dessa
entre os atores sociais, menor o nível devido a relações de confiança, espí- maneira, o empoderamento é uma
de inovação social. rito cooperativo, referências sociocul- dentre as abordagens, assim como o
O desenvolvimento de inovações turais e objetivos comuns; capital social e inclusão social, que
sociais dentro de um território está •• melhor coordenação de ações de forma implícita ou explicita estão
relacionado a dois fatores ambientais, e maior estabilidade organizacional, relacionados ao desenvolvimento.
que podem contribuir para seu surgi- devido a processos de tomada de de-
mento e sucesso. São eles: cisão coletivos;

256 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


5.
Inovação e Tecnologia
Social no enfrentamento
de problemas sociais
brasileiros
Muitas das inovações sociais se que são desenvolvidas hortas orgâ-
viabilizam dada a formação de redes nicas comunitárias, oficinas e cursos
de cooperação interorganizacionais de assistência técnica, com foco em
e multissetoriais. Estas redes propor- agroecologia, permacultura, seguran-
cionam um maior nível de inovação e ça alimentar e nutricional, agricultura
benefícios sociais aos usuários, à me- orgânica, economia solidária e edu-
dida que aumenta o nível de coopera- cação ambiental, junto às populações
ção entre as organizações. vulneráveis, por meio da educação
Os problemas sociais se diferen- popular (FBB, 2017).
ciam em cada território dado o seu Os participantes têm acesso aos
contexto e o entendimento do que alimentos orgânicos produzidos nas
são problemas sociais que deman- hortas, melhorando a qualidade ali-
dam soluções. No Brasil, as carências mentar e nutricional de toda a família.
sociais são inúmeras, o que se torna Os espaços comunitários das
um campo fértil para as tecnologias hortas são utilizados de forma tera-
e as inovações sociais. pêutica, auxiliando no tratamento
Alguns exemplos de tecnologia de pacientes com problemas psico-
social apoiados pela Fundação Banco lógicos, neurológicos e dependên-
do Brasil são: cias químicas.
O projeto “Agroecologia Urbana A expansão das ações de agricul-
e Segurança Alimentar”, desenvol- tura urbana e periurbana nos moldes
vido no município de Embu (SP), em agroecológicos auxilia no combate às

gestão social 257


áreas de riscos, proteção às áreas de Instituto Materno-Infantil de Bogotá, e
mananciais, ampliação de áreas ver- tem sido proposta como uma alterna-
des e da biodiversidade, no aumento tiva ao cuidado neonatal convencio-
da infiltração de águas pluviais no nal para bebês de baixo peso ao nas-
solo, requalificação de áreas degra- cer. Este método é definido pela OMS
dadas, requalificação da paisagem como o cuidado do recém-nascido de
da cidade, reutilização de resíduos baixo peso que, após estabilização ini-
sólidos para estruturas de agricultura cial, é mantido de forma contínua e
urbana, aproveitamento integral de prolongada em contato pele a pele. As
resíduo para produção de composto crianças nascidas pré-termo e/ou com
orgânico etc. baixo peso ao nascer e com quadro es-
Além disso, o envolvimento nas tável apresentam perfil para indicação
atividades desenvolvidas contribui ao Método Mãe Canguru, pois necessi-
para o complemento da renda familiar, tam de proteção térmica, alimentação
tanto pela geração indireta de renda adequada, observação frequente e
devido à redução do gasto mensal com proteção contra infecções.
alimentos como pela geração de tra- O MMC chegou ao Brasil de forma
balho e renda por meio da comercia- top-down, como política de governo
lização dos alimentos produzidos nas proposta pelo Ministério da Saúde em
hortas. O trabalho coletivo desenvol- 1999, a fim de qualificar as interações
vido também contribui para a sociali- sociais no Sistema Único de Saúde
zação e a autonomia do grupo. (SUS), a partir da mudança de valores e
Uma das inovações sociais trazi- participação dos pais. Os primeiros ser-
das ao Brasil por meio da Organização viços no Brasil que aplicaram o MMC,
Mundial da Saúde (OMS) é o Método em 1992, foram o Hospital Guilherme
Mãe Canguru. Esta inovação social foi Álvaro, em Santos, São Paulo, e, em
desenvolvida na Colômbia em 1979, no 1993, o Instituto Materno-Infantil de
Pernambuco (IMIP).
O mais interessante desse caso é
que, apesar de o método apresentar as
suas diretrizes definidas por agentes
externos (a visão “top” do processo),
alcança a comunidade-alvo (a visão
“down” do processo) e passa por mo-
dificações decorrentes da realidade
onde ele está sendo implementado, a
partir da influência de novos atores e
FONTE DAS IMAGENS: HTTP://TECNOLOGIASOCIAL.FBB.ORG.BR/TECNOLOGIASOCIAL/BANCO-DE-TECNOLOGIAS-SO- procedimentos, para que possa fun-
CIAIS/PESQUISAR-TECNOLOGIAS/AGROECOLOGIA-URBANA-E-SEGURANCA-ALIMENTAR.HTM cionar de acordo com o novo contexto.

258 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


Isso significa dizer que uma mes-
ma IS pode se comportar de diferentes
formas: em determinados momentos
ela pode configurar-se como uma ini-
ciativa de inovação social bottom-
-up e, em outros momentos, trans-
formar-se em uma inovação social
tipo top-down, que passa a ser regida
por procedimentos estabelecidos por FONTE : HTTPS://ESTILO.UOL.COM.BR/GRAVIDEZ-E-FI- FONTE: HTTP://WWW.PAPODEMAE.COM.BR/2016/03/14/
agentes externos. LHOS/NOTICIAS/REDACAO/2015/12/31/METODO-MAE- METODO-MAE-CANGURU-O-QUE-E-E-COMO-FAZER-
-CANGURU-AJUDA-NO-DESENVOLVIMENTO-DE-CRIAN- -COM-BEBE-PREMATURO/
A Associação Sociedade do Sol
CAS-COM-POUCO-PESO.HTM
(São Paulo), observando que o Brasil é
um país com alta média de irradiação
solar e bem distribuída ao longo do
ano, bem como com alta temperatu-
ra média ambiente, desenvolveu um
aquecedor solar de baixo custo e com
possibilidades de as pessoas criarem o
seu próprio aquecedor (FBB, 2017) .
De fácil montagem, os usuários
são encorajados a fazê-lo no modo
“faça você mesmo”. O custo baixo (en-
FONTE DAS IMAGENS: HTTP://TECNOLOGIASOCIAL.FBB.ORG.BR/TECNOLOGIASOCIAL/BANCO-DE-TECNOLOGIAS-SO-
tre R$ 100 e R$ 200) se dá devido às
CIAIS/PESQUISAR-TECNOLOGIAS/AQUECEDOR-SOLAR-DE-BAIXO-CUSTO.HTM
simplificações embutida, já que foi
inteiramente construído em material
plástico, dispensando a caixa envoltó-
ria em alumínio e vidro (FBB, 2017).

Para refletir
Esses exemplos
poderiam ser
aplicados à minha
região? O que falta
para aplicarmos esses
conceitos por aqui?

gestão social 259


5.1 Inovação e Tecnologia Social na
convivência com o Semiárido
A convivência com as dificuldades so- pelo biogás, a redução de emissão de estufa presentes no esterco animal,
ciais se espalha pelo mundo todo, mas gás metano e gás carbônico na at- que são o gás metano (CH4) e gás car-
no Semiárido elas se acentuam pela mosfera e a produção de adubo orgâ- bônico (CO2), os quais são acondicio-
acentuada situação climática, que nico e biofertilizante reforçam a im- nados no biodigestor e queimados no
traz consigo inúmeros problemas eco- portância dessa ação (FBB, 2017). fogão. A degradação do meio ambien-
nômicos, sociais e políticos. O biodigestor é uma estratégia efi- te é mais um problema que vem sen-
O enfrentamento desses proble- ciente de redução do desmatamento do reduzido, já que a lenha e o carvão
mas e a constante insistência de que e consequentemente da desertifica- para cozinhar deixam de ser extraídos
é necessário aprender a conviver com ção, além de se caracterizar como uma da vegetação nativa.
a situação climática vêm transfor- ação mitigadora dos efeitos das mu- Com o desuso do fogão à lenha,
mando os territórios áridos nos nove danças climáticas. Ele gera autossufi- há uma melhoria na saúde das pes-
estados brasileiros (AL, BA, CE, PB, PE, ciência energética das famílias para a soas, principalmente das mulheres
PI, SE, RN e MG). preparação de sua alimentação. que assumem a responsabilidade
Vários atores, como associações, Atendendo a famílias do agreste, de cozinhar, que eram afetadas so-
ONGs, fundações e institutos, vêm im- sertão e semiárido de vários estados do frendo com a fumaça causadora de
plantando projetos e programas de Nordeste, o Biodigestor Sertanejo per- problemas respiratórios. Com a reti-
tecnologias e inovações sociais que mite que a alimentação das famílias rada do esterco dos currais, há uma
auxiliam na convivência com a Região. beneficiárias já seja preparada com o melhora na sanidade animal, pois se
Um desses exemplos é o uso do biogás, gerando assim autossu- reduz a quantidade de material ex-
Biodigestor Sertanejo (Pernambuco), ficiência energética para este fim. posto e de moscas (FBB, 2017).
que é uma tecnologia social que pro- Elas não dependem mais da com- Outros exemplos de inovação social
duz biogás a partir de esterco animal, pra do botijão de gás, nem do carvão e amplamente difundida no Semiárido
o qual é utilizado em fogões para a da extração de lenha, já que ele produz são os programas de Formação e
preparação da alimentação familiar. todo o biogás necessário que é utiliza- Mobilização Social de convivência do
A simplicidade de manutenção e ma- do em qualquer fogão a gás comum. Semiárido implantados por meio da
nejo, o baixo custo econômico de ins- Essa tecnologia também evita a Articulação do Semiárido (ASA), ten-
talação, a substituição do gás butano emissão de gases causadores do efeito do como principais projetos o “P1MC

FONTE DAS IMAGENS: HTTP://TECNOLOGIASOCIAL.FBB.ORG.BR/TECNOLOGIASOCIAL/BANCO-DE-TECNOLOGIAS-SOCIAIS/PESQUISAR-TECNOLOGIAS/DETALHAR-TECNOLOGIA-327.HTM

260 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


– Um Milhão de Cisternas” e o “P1+2 – hídrica e de segurança alimentar e
Programa Uma Terra Duas Águas”, que nutricional das famílias e comunida-
envolve as famílias nos processos de des de agricultores familiares.
discussão e implementação de políticas A ASA promove e difunde essas
públicas voltadas para ampliar o aces- inovações sociais voltadas para o
so à água e aos demais meios de produ- semiárido, discutindo e organizan-
ção e direitos básicos, no Semiárido. do novas opções de política pública
O P1MC, lançado em julho de 2003, para ampliar o acesso à água às fa-
tem como objetivo contribuir, por mílias de baixa renda da região, como
meio de um processo educativo, para também ações voltadas para a pro-
a transformação social, visando à dução de alimentos para o autocon-
preservação, ao acesso, ao gerencia- sumo, com vistas à garantia da segu-
mento e à valorização da água como rança e soberania alimentar.
um direito da vida e da cidadania. São muitos mais exemplos de tec-
As cisternas de placas (P1MC), nologias e inovações sociais que vêm
produto final desse projeto, são re- sendo desenvolvidas por aí, como po-
servatórios de captação de água de demos ver em Felix et al (2009). Isso sig-
chuva, com capacidade para arma- nifica dizer que é possível transformar
zenamento de 16 mil litros de água, as situações negativas quando se unem
feitas com placas de cimento pré- esforços e quando se pensa no coletivo.
-moldadas, cuja finalidade é arma- Essas soluções trazem benefícios
zenar água para consumo humano para estas e para as futuras gerações.
das famílias rurais. Aprender a transformar e acreditar em Para refletir
O P1+2 fomenta a implementação sonhos como o de um futuro melhor para
de tecnologias sociais voltadas ao todos nós é o que vimos neste fascículo. Que outros casos
aproveitamento hídrico para a pro- Esperamos que brotem dentro você conhece na
dução de alimentos – cisternas calça- de cada um de vocês um sonho de sua Região que
dão, barreiros-trincheiras, tanques de transformar e que juntos inovem estão mudando a
pedra, infraestruturas que dão supor- para promover o bem-estar coletivo. realidade local?
te para o fortalecimento da estrutura Abraços!

FONTE: HTTP://WWW.DIACONIA.ORG.BR/NOVOSITE/IMG/UPLOA FONTE: HTTP://WWW.ASABRASIL.ORG.BR/IMAGES/CONTEUDO-


DS/121114161516_121108132021_CISTERNA.JPG.JPG -ESTATICO/P1-2/_ANS9298.JPG

gestão social 261


Síntese do Fascículo Perfil dos
Inovar para quem? Inovar em o quê? e qualidade de vida desta e das futu- Autores
Inovar pode ser um produto. Inovar ras gerações. Caminhando de mãos
pode ser um processo. Inovação não dadas com o empoderamento, o as- Carla Pasa Gómez – UFPE
é apenas para cientistas. Inovação sociativismo, o coletivo, o includente, Carla Regina Pasa Gómez – Pesqui-
pode ser de baixo custo. Pode ser as inovações e tecnologias sociais ali- sadora nos temas de inovação social,
acessível a muitos. Ainda mais se ela mentam bancos de experiências que responsabilidade socioambiental em-
for disseminada com esse propósito. mostram que é possível conviver com presarial e sustentabilidade. Profes-
Inovação e tecnologia social po- regiões como a do Semiárido, mas sora do Programa de Pós-Graduação
dem transformar realidades, podem também de contextos diferentes em em Administração da Universidade
promover o desenvolvimento local. que os problemas se repetem. Federal de Pernambuco. Doutora e
Iniciativas que são feitas pela comu- Educação, saúde, meio ambien- mestre em Engenharia de Produção.
nidade para a comunidade, com o te, habitação, mobilidade, geração Bacharel em Administração.
envolvimento de todos os interessa- de emprego e renda são exemplos de carlapasagomez@gmail.com
dos, incluindo aqueles que, de alguma áreas em que o Brasil continua muito
forma, deixam de ser atendidos pelo carente e precisando de esforços que Carlos Eduardo de Souza Galvão – IFMA
mercado ou pelas políticas públicas. aglutinem vários atores. A inovação Pesquisador nos temas de inovação
São ações, projetos, programas e a tecnologia social aglutinam es- social, empreendedorismo social
que visam à melhoria das condições sas iniciativas. e sustentabilidade. Professor do
Instituto Federal do Maranhão no
curso de bacharelado em Administra-
ção e técnico em Logística. Mestre e
bacharel em Administração.
carlos.galvao@ifma.edu.br

262 Fundação Demócrito Rocha | Universidade Aberta do Nordeste


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