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Introdução à Engenharia de

Segurança do Trabalho

Brasília-DF.
Elaboração

Paulo Rogério Albuquerque de Oliveira

Produção

Equipe Técnica de Avaliação, Revisão Linguística e Editoração


Sumário

APRESENTAÇÃO.................................................................................................................................. 5

ORGANIZAÇÃO DO CADERNO DE ESTUDOS E PESQUISA..................................................................... 6

INTRODUÇÃO.................................................................................................................................... 8

UNIDADE I
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR.................................................................................. 11

CAPÍTULO 1
UM POUCO DE HISTÓRIA......................................................................................................... 11

CAPÍTULO 2
SEGURANÇA DO TRABALHO NO BRASIL E NO MUNDO............................................................. 19

CAPÍTULO 3
REVOLUÇÃO INDUSTRIAL E LEGISLAÇÃO SOBRE SEGURANÇA DO TRABALHO NO BRASIL........... 25

CAPÍTULO 4
REGULAMENTAÇÃO E ATRIBUIÇÕES DA EST.............................................................................. 35

UNIDADE II
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR................................................................. 38

CAPÍTULO 1
CRFB-1988: ULTRAPASSAGEM DE PARADIGMA......................................................................... 38

CAPÍTULO 2
GERAÇÕES DE SAÚDE DO TRABALHADOR............................................................................... 46

CAPÍTULO 3
AGRAVOS RELACIONADOS AO TRABALHO............................................................................... 53

UNIDADE III
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO....................................................................... 60

CAPÍTULO 1
RISCOS FÍSICOS E QUÍMICOS.................................................................................................. 62

CAPÍTULO 2
RISCOS BIOLÓGICOS, ERGONÔMICOS MECÂNICOS (ACIDENTES).......................................... 68

UNIDADE IV
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)........................................................ 79
CAPÍTULO 1
ACIDENTALIDADE E OBSERVATÓRIO......................................................................................... 79

CAPÍTULO 2
E-SOCIAL................................................................................................................................ 81

CAPÍTULO 3
SERVIÇOS ESPECIALIZADOS E PROGRAMAS DE SAÚDE E SEGURANÇA DO TRABALHADOR........ 92

PARA (NÃO) FINALIZAR.................................................................................................................... 101

REFERÊNCIAS................................................................................................................................. 102
Apresentação

Caro aluno

A proposta editorial deste Caderno de Estudos e Pesquisa reúne elementos que se


entendem necessários para o desenvolvimento do estudo com segurança e qualidade.
Caracteriza-se pela atualidade, dinâmica e pertinência de seu conteúdo, bem como pela
interatividade e modernidade de sua estrutura formal, adequadas à metodologia da
Educação a Distância – EaD.

Pretende-se, com este material, levá-lo à reflexão e à compreensão da pluralidade


dos conhecimentos a serem oferecidos, possibilitando-lhe ampliar conceitos
específicos da área e atuar de forma competente e conscienciosa, como convém
ao profissional que busca a formação continuada para vencer os desafios que a
evolução científico-tecnológica impõe ao mundo contemporâneo.

Elaborou-se a presente publicação com a intenção de torná-la subsídio valioso, de modo


a facilitar sua caminhada na trajetória a ser percorrida tanto na vida pessoal quanto na
profissional. Utilize-a como instrumento para seu sucesso na carreira.

Conselho Editorial

5
Organização do Caderno
de Estudos e Pesquisa

Para facilitar seu estudo, os conteúdos são organizados em unidades, subdivididas em


capítulos, de forma didática, objetiva e coerente. Eles serão abordados por meio de textos
básicos, com questões para reflexão, entre outros recursos editoriais que visam tornar
sua leitura mais agradável. Ao final, serão indicadas, também, fontes de consulta para
aprofundar seus estudos com leituras e pesquisas complementares.

A seguir, apresentamos uma breve descrição dos ícones utilizados na organização dos
Cadernos de Estudos e Pesquisa.

Provocação

Textos que buscam instigar o aluno a refletir sobre determinado assunto antes
mesmo de iniciar sua leitura ou após algum trecho pertinente para o autor
conteudista.

Para refletir

Questões inseridas no decorrer do estudo a fim de que o aluno faça uma pausa e reflita
sobre o conteúdo estudado ou temas que o ajudem em seu raciocínio. É importante
que ele verifique seus conhecimentos, suas experiências e seus sentimentos. As
reflexões são o ponto de partida para a construção de suas conclusões.

Sugestão de estudo complementar

Sugestões de leituras adicionais, filmes e sites para aprofundamento do estudo,


discussões em fóruns ou encontros presenciais quando for o caso.

Atenção

Chamadas para alertar detalhes/tópicos importantes que contribuam para a


síntese/conclusão do assunto abordado.

6
Saiba mais

Informações complementares para elucidar a construção das sínteses/conclusões


sobre o assunto abordado.

Sintetizando

Trecho que busca resumir informações relevantes do conteúdo, facilitando o


entendimento pelo aluno sobre trechos mais complexos.

Para (não) finalizar

Texto integrador, ao final do módulo, que motiva o aluno a continuar a aprendizagem


ou estimula ponderações complementares sobre o módulo estudado.

7
Introdução
Engenheiro de segurança é todo engenheiro ou arquiteto que possui curso de especialização
em Engenharia de Segurança do Trabalho (EST). Atua na gestão da saúde do trabalhador
nas empresas dos mais diversos segmentos, visando reduzir as perdas e danos humanos e
materiais, quanto às máquinas, equipamentos, instalações e ao meio ambiente.

No Brasil, a profissão é regulamentada pela Lei no 7.410, de 27 de novembro de 1985, que


dispôs sobre a especialização, em nível de pós-graduação, de engenheiros e arquitetos,
em engenharia de segurança do trabalho. Regulamentado pelo Decreto no 92.530, de
09 de abril de 1986, pela Resolução CONFEA 359/1995, nos termos definidos pela
Classificação Brasileira de Ocupação (CBO).

Figura 1. Regulamentação, Competência e Atribuições Engenharia de Segurança do Trabalho (EST).

Lei 7.410/1985

Decreto Nº 92.530/1986

Resolução Confea 359/1991

Resolução Confea 1.073/2016

Resolução Confea 473/2016

Resolução Confea 473/2017_Anexo

CBO - 2149-15 -EST

Fonte: próprio autor.

Pela CBO no 2149-15 - Engenheiro de Segurança do Trabalho, descrevem-se as


responsabilidades:

»» assessora empresas industriais e de outro gênero em assuntos relativos


à segurança e higiene do trabalho, examinando locais e condições
de trabalho, instalações em geral e material, métodos e processos de
fabricação adotados pelo trabalhador, para determinar as necessidades
dessas empresas no campo da prevenção de acidentes;

8
»» inspeciona estabelecimentos fabris, comerciais e de outro gênero,
verificando se existem riscos de incêndios, desmoronamentos ou outros
perigos, para fornecer indicações quanto às precauções a serem tomadas;

»» promove a aplicação de dispositivos especiais de segurança, como óculos


de proteção, cintos de segurança, vestuário especial, máscara e outros,
determinando aspectos técnicos funcionais e demais características,
para prevenir ou diminuir a possibilidade de acidentes; Engenheiro de
Segurança do Trabalho - CBO 0-28.40;

»» adapta os recursos técnicos e humanos, estudando a adequação da


máquina ao homem e do homem à máquina, para proporcionar maior
segurança ao trabalhador;

»» executa campanhas educativas sobre prevenção de acidentes,


organizando palestras e divulgações nos meios de comunicação,
distribuindo publicações e outro material informativo, para conscientizar
os trabalhadores e o público, em geral;

»» estuda as ocupações encontradas num estabelecimento fabril, comercial


ou de outro gênero, analisando suas características, para avaliar a
insalubridade ou periculosidade de tarefas ou operações ligadas à
execução do trabalho;

»» realiza estudos sobre acidentes de trabalho e doenças profissionais,


consultando técnicos de diversos campos, bibliografia especializada,
visitando fábricas e outros estabelecimentos, para determinar as causas
desses acidentes e elaborar recomendações de segurança.

O curso está estruturado com a seguinte grade de disciplinas e cargas horárias:

Figura 2. Grade de disciplinas.

Introdução à Engenharia de Segurança do Trabalho - 20


Ergonomia - 30
Gerência de Riscos - 60
Higiene do Trabalho - Riscos Físicos no ambiente de Trabalho - 50
Higiene do Trabalho - Riscos Químicos no ambiente de Trabalho -50
O Ambiente e as Doenças do Trabalho - 50
Proteção Contra Incêndios e Explosões - 60
Administração Aplicada a Engenharia de Segurança do Trabalho - 30
Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e Instalações I - 50
Higiene do Trabalho - Riscos Biológicos no ambiente de Trabalho - 50

9
Psicologia da Engenharia de Segurança do Trabalho - 20
Legislação Aplicada à Engenharia de Segurança do Trabalho - 20
Prevenção e Controle de Riscos em Máquinas, Equipamentos e Instalações II - 30
Proteção do Meio Ambiente - 50
Documentação para a Engenharia de Segurança do Trabalho - 30
Projeto Final: Metodologia da Pesquisa e Monografia - 20
Total: 620h

Fonte: <http://www.posest.com.br/>

Objetivos
»» Contextualizar e apresentar a grade curricular deste curso, com a
introdução das respectivas disciplinas.

»» Inserir o aluno no campo do conhecimento relacionado à EST.

»» Informar sobre as nuances jurídico-político-científicas, relacionadas à EST.

»» Expor os objetivos da EST em alinhamento ao negócio da organização, como


instrumento em prol do meio ambiente saudável (estratégias necessárias).

»» Debater sobre as Responsabilidades do Engenheiro de Segurança do


Trabalho.

»» Informar as atribuições e responsabilidades da EST.

»» Introduzir sobre as responsabilidades civil e penal.

»» Informar sobre as entidades públicas e privadas dedicadas à prevenção


de acidentes.

»» Introduzir sobre definições básicas de Risco e Perigo.

»» Discutir referenciais teóricos da incapacidade laboral e sua tipologia.

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ASPECTOS GERAIS DA UNIDADE I
SAÚDE DO TRABALHADOR

CAPÍTULO 1
Um pouco de história

Os acidentes e doenças relacionadas ao trabalho são antigos e a sua origem está


vinculada ao surgimento do trabalho: ao longo de toda a História, as condições do
ambiente de trabalho têm causado incapacidades e mortes para um grande número de
trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Observe:

»» Na Antiguidade, essa associação foi encontrada em papiros antigos,


no Império Babilônico e em escrituras greco-romanas. Nesse período,
predominava o conceito de fenômenos de origem mágico-religiosa e,
posteriormente, naturalista.

»» No Egito, há registros de 2360 a.C., como o Papiro Seler II e o Anastasi


V, sendo este último conhecido como “Sátira dos Ofícios”, de 1.800
a.C., no qual estão evidenciados problemas relativos à insalubridade,
periculosidade e penosidade dos profissionais à época (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

»» Em 1750 a.C., o código de Hamurabi trazia em seu bojo cerca de 281 artigos
a respeito das relações de trabalho, família, propriedade e escravidão. Um
deles, em especial, tratava da pena de morte ao arquiteto que projetasse
uma casa que desmoronasse e causasse a morte de seus ocupantes.

»» As civilizações greco-romanas não tinham interesse em estudar o trabalho


em si, uma vez que essa área era de competência dos escravos. Entretanto,
houve estudos relevantes, como o tratado de Hipócrates, Sobre os Ares,
Águas e Lugares, no século IV a.C., cujo conteúdo indicava ao médico
a relação entre ambiente e saúde, bem como descreveu um quadro de
intoxicação saturnina em um mineiro. No séc. I a.C., o naturalista romano
Plínio escreve um tratado chamado História Natural, evidenciando

11
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

o aspecto dos trabalhadores expostos a chumbo, mercúrio e poeira


(MATTOS; MÁSCULO, 2011).

»» No período entre o apogeu do Império Romano e o final da Idade Média,


poucos relatos foram encontrados sobre doenças. Porém, nessa época,
foram criadas ordens hospitalares para prestar atendimento a enfermos
(MATTOS; MÁSCULO, 2011).

A sociedade feudal caracterizava-se pela produção de bens e serviços efetuados pelo


trabalho servil e artesanal. Mas qual era a relação de servidão com o acúmulo de capital?
Os camponeses não eram trabalhadores livres e não possuíam direito de propriedade
ou de venda de sua força de trabalho em troca de salário, onde quer que estivessem.
O senhor feudal e o clero exigiam os dízimos e impostos, pouco se importando com o
estado de saúde de seus subalternos. A assistência ao doente ou inválido era arcada
pela família, pois o trabalho e as doenças decorrentes disso não eram objetos de
regulamentação e interferência do Estado (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011). O artesão
era capaz de realizar todas as tarefas do ofício, conhecendo o início e o fim do trabalho,
não o distanciando de seu objeto de atuação, o que ocorrerá na Revolução Industrial.

Após anos, apenas em 1473, Ulrich de Elsborg desenvolveu o estudo sobre vapores
metálicos, em que há o descritivo de sinais e sintomas de envenenamento ocupacional
por monóxido de carbono, chumbo, mercúrio e ácido nítrico, além de sugerir medidas
preventivas (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Até o final do século XV, muitas pesquisas tratavam de doenças causadas por agentes
químicos, como o estudo completo De Re Metallica (George Bauer ou Georgius Agricola,
Inglaterra), que se compõe de: problemas relacionados às atividades de extração e
fundição de prata e ouro; acidentes de trabalho; doenças comuns entre mineiros; e
meios de prevenção (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Já no início do século XVIII, o mundo do trabalho sofreu grandes transformações


com o surgimento de novos estudos pela Europa e, por conseguinte, com as grandes
contribuições para a medicina do trabalho, como a obra De Morbis Artificum Diatriba,
de Bernadino Ramazzini. Em seu estudo, o autor descreveu as doenças, os riscos e as
precauções relacionados a 50 profissões da época. É considerado o pai da medicina do
trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

No final do XVIII e início do século XIX, ocorre na Europa a Revolução Industrial,


inicialmente na Inglaterra, França e Alemanha, tendo como marcos a invenção da
máquina a vapor por James Watts (1784) e a publicação polêmica de Adam Smith da
obra Riqueza das nações (1776), apontando as vantagens econômicas na divisão do
trabalho (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

12
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

Nesse espectro, a forma de fabricação industrial caracterizou-se por:

1. Divisão técnica do trabalho.

2. Uso intensivo de máquinas do dono da empresa.

3. Uso de energia motriz capaz de movimentar um conjunto de máquinas.


A operação das máquinas gerava uma divisão técnica do trabalho
e as atividades passaram a ser parceladas, com tarefas divididas,
exigindo movimentos de partes específicas do corpo do trabalhador
(VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

Com o furor causado pela Revolução Industrial, houve grande aumento da produtividade
e ampliação do consumo de bens pela sociedade em geral, necessitando de mais mão
de obra para conduzir as máquinas. Para isso, foram empregadas mulheres, homens e
crianças (a partir dos 6 anos), em condições de trabalho degradadas, como jornada de
trabalho prolongada, ruído exacerbado, más condições de higiene no local de trabalho,
somando-se a esses aspectos o elevado número de acidentes e adoecimentos (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

A indústria capitalista demandou legiões de trabalhadores e trouxe consigo efeitos


devastadores, como alta frequência de mortes, epidemias e mutilações, contudo,
em função disso, várias leis começaram a ser editadas, principalmente na França e
Inglaterra (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

A situação só se modificou com os movimentos sociais de trabalhadores, que obrigaram


legisladores e políticos a repensar o papel do Estado na regulação das condições de
trabalho nas fábricas. Desta forma, em 1802, foi aprovada a Lei da Preservação da Saúde
e da Moral dos Aprendizes e de Outros Empregados, constituindo-se, portanto, na
primeira legislação de amparo e proteção aos trabalhadores. E aí foi feita uma comissão
de inquérito do parlamento britânico, que estabelecia a jornada diária de trabalho de
12 horas, proibia o trabalho noturno e obrigava a ventilação e lavagem das paredes das
fábricas pelos empregadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

As ações dessa comissão parlamentar resultaram na primeira legislação no campo da


saúde do trabalhador, a Factory Act (Lei das Fábricas), que, apoiada pela sociedade
britânica, obrigou todos os empregadores a proibirem o trabalho noturno para menores
de 18 anos e montarem escolas para menores de 13 anos. Além disso, a idade mínima
para o trabalho passou a ser de 9, e não mais de 6 anos, e o desenvolvimento físico do
trabalhador menor deveria ser avaliado por um médico. No mesmo ano, a Lei Operária
foi aprovada na Alemanha (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

13
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

A Factory Act tomou por base o conselho de Baker, que foi um médico contratado
por um industrial inglês, Robert Derham, em 1830, para estudar a melhor forma
de preservar a saúde dos trabalhadores de sua fábrica. Após seu estudo, Baker
sugeriu que Derham contratasse um médico que visitasse a fábrica diariamente
e estudasse a influência do trabalho na saúde dos trabalhadores – aqui foi criado
o ensaio do primeiro serviço médico industrial do mundo. Quatro anos depois,
Baker foi nomeado inspetor médico do parlamento inglês. A criação da legislação
ocupacional na Inglaterra contou também com a contribuição de Charles Turner
Thackrah, em 1830, quando ele publicou um livro sobre doenças ocupacionais.

Quando os trabalhadores começaram a ser contratados maciçamente pela via salarial,


costumava-se pagá-los por produção, e as jornadas de trabalho eram muito mais longas
do que as atuais – podiam atingir de 16 a 18 horas seguidas – e, comumente, eram
empregadas crianças e mulheres para realizar tarefas árduas, fato gerador de duras
críticas por parte das primeiras associações formadas por trabalhadores (primeiros
sindicatos, por assim dizer). A partir daí, obteve-se a melhoria das condições de trabalho
e o advento das primeiras leis no século XVIII, que se consolidariam especialmente
no século XIX, em alguns países da Europa, como França e Inglaterra, e nos Estados
Unidos da América (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

No auge da Revolução Industrial, muitos artesãos habilitados foram contratados e


mantiveram suas tradições e regras de ofício até a difusão da “organização científica do
trabalho”, por Frederic Taylor, a partir do século XX. Dessas tradições e regras de ofício,
partiram muitos marcos regulatórios que determinariam a organização do trabalho
e cuidados aos riscos profissionais para a saúde do trabalhador (VASCONCELOS;
OLIVEIRA, 2011).

A transição ocorreu com as profundas transformações provocadas pelo taylorismo


e fordismo. O fordismo desencadeou a 2ª Revolução Industrial quando Henry Ford
estabeleceu, em sua montadora de carros nos Estados Unidos, o gerenciamento científico
de Taylor, valorizando todas as formas de intensificação das tarefas e automação
industrial (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011), instituindo a produção em série e o
consumo em massa. Aqui o trabalhador entra como uma equipagem merecedora de
processos de análise seletiva na sua inserção na indústria. Nessa condição, a manutenção
da sua saúde destina-se a evitar o absenteísmo por meio de práticas de medicina,
psicologia, higiene industrial, com vias de não interferir na produtividade e no lucro.

Leia o artigo “Fordismo, taylorismo e toyotismo: apontamentos sobre suas


rupturas e continuidades”, de Érika Batista, disponível em nossa biblioteca virtual.

14
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

A partir do século XX, algumas organizações criaram resoluções e convenções na


tentativa de melhorar as condições de trabalho e atendimento à saúde em todos os
países membros que tivessem aderido às referidas convenções. Estamos falando das
organizações multigovernamentais tais como a ONU e suas afiliadas: OIT (Organização
Internacional do Trabalho) e OMS (Organização Mundial da Saúde) (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

Em 1979, foi retomado o movimento sindical no Brasil, e várias entidades tiveram acesso
às informações das empresas, prontuários, laudos e exames médicos de trabalhadores
para constituir dossiês e instigar a discussão das suas condições de vida e trabalho,
divulgando essas informações na imprensa e estações de rádio e de televisão daquela
época (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

É importante ressaltar que esse movimento deu fruto a uma obra pioneira na integração
das atividades sindicais com a pesquisa em saúde e área jurídica: “De que adoecem e
morrem os trabalhadores”, organizado pelo médico Herval Ribeiro e Francisco Lacaz.
Obras como essa foram fruto de pesquisas organizadas pelos sindicatos para melhoria
de base técnica em defesa dos direitos dos trabalhadores (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Muitos sindicalistas conseguiram espaço com direito a voto nos processos de criação e
retificação das normas regulamentadoras, bem como a participação nos embrionários
Conselhos-Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

O movimento de redemocratização e a abertura cultural e política, aliados ao intercâmbio


entre entidades ambientalistas, pesquisadores, sindicatos e outros intelectuais da época,
resultaram na inserção de leis de proteção ao meio ambiente e saúde do trabalhador na
Constituição Federal de 1988 e em legislações estaduais (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Essa pressão incisiva, fomentada pelos sindicatos sobre os parlamentares e


Administração Pública, foi em sua maioria integrada por categorias de trabalhadores
atreladas diretamente às atividades econômicas com dependência direta dos recursos
naturais, das águas, compostos químicos, além de trabalhadores rurais, sem-terra e
extrativistas (MATTOS; MÁSCULO, 2011). Ora, essas categorias possuíam a real
dimensão dos impactos ambientais e da saúde dessas atividades econômicas.

Você sabia que a implantação da NR 5 começou, de fato, nas plantas industriais


químicas e refinarias de petróleo? Em 1990, multiplicaram-se casos de
contaminação por exposição a compostos químicos, em que as doenças mais
prevalentes apresentadas foram leucemia e outros tipos de cânceres. Na indústria
química, trabalhadores e comunidade em volta desses complexos industriais são
expostas à toxicidade variada dos insumos, produtos e subprodutos efluentes.

15
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Por isso, a preocupação da comunidade veio se somar ao foco ocupacional, e a


noção de perigo foi cada vez mais agregada ao conhecimento dos sindicalistas
sobre os riscos químicos para a saúde humana e ambiental.

Os problemas de saúde ocupacional pioraram com a 2ª Revolução Industrial, advinda


pela descoberta da eletricidade e motor de explosão, culminando no surgimento de
várias obras que tratavam da situação do mundo do trabalho naquela época, como o
livro O Capital, de Karl Marx, que trata principalmente dos mecanismos de acumulação
de capital pelos empregadores por meio da mais-valia, além de descrever a exploração
da mão de obra na Inglaterra. Nesse período, a enfermeira italiana Florence Nightingale
publicou, em 1861, “Notas sobre a enfermagem para as classes trabalhadoras”, tornando-
se pioneira em sua área de atuação.

Diante do quadro preocupante, muitos países do continente europeu aprovaram leis


sobre a reparação de acidentes e doenças profissionais, como a Alemanha (1884),
Inglaterra (1897), França (1898), Portugal (1913) e, no continente americano, os
Estados Unidos (1911) (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

Em 1900, foi criada a Internacional Association for Labour Legislation – embrião


da OIT, que seria formalmente criada após 19 anos. As duas primeiras convenções
internacionais sobre o trabalho, especificamente sobre trabalho noturno das mulheres
e eliminação de fósforo branco da indústria de máquinas, foram originadas em
conferências diplomáticas realizadas em Berna, na Suíça (1905). A medicina do trabalho
foi reconhecida enquanto especialidade somente em 1954.

Os movimentos mundiais pela conscientização do papel fundamental da saúde do


trabalhador foram motivadores para o trabalho em conjunto da OIT e OMS de tal
modo que, na década de 1950 do século passado, uma comissão conjunta foi formada
para tratar da saúde ocupacional, na Suíça, e, desde essa época, o tema tem sido
debatido em vários encontros da Conferência Internacional do Trabalho (MATTOS;
MÁSCULO, 2011).

Na história brasileira colonial e imperial, a mão de obra escrava teve uma importância
central no panorama econômico, perfazendo um total de 400 anos de trabalho escravo.
Diferentemente do que imaginamos, naquela época, surgiu uma prática de medicina do
trabalho dirigida aos escravos com um foco do que hoje seria a zootecnia ou medicina
veterinária: o escravo era considerado mercadoria animal, cujo senhorio era proprietário
de corpo físico, da liberdade e da prole do escravo por toda eternidade.

Considerando a escravidão em larga escala nas Américas, o mercado de escravos


organizou-se de maneira distinta do mercado de força de trabalho desenvolvido no modo

16
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

capitalista industrial. A visibilidade da doença do trabalho se perdia em um mundo de


extrema violência e crueldade, o que se configuraria num massacre moral extremo e
desastre epidêmico (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011). Quando doentes, os escravos
eram tratados por seu valor patrimonial, caso houvesse interesse do proprietário, caso
não sobrevivesse, era substituído por outro hígido.

Segundo Vasconcelos e Oliveira (2011), a medicina do trabalho no Brasil surge como


aquela assistência à saúde dos escravos por meio de práticas de medicina veterinária
aplicadas aos seres humanos em cativeiro. Algumas leis foram promulgadas para
amenizar o sofrimento dos escravos durante o Império, culminando com a Lei Áurea,
em 1888.

Pouco se diferenciava as condições de trabalho no Brasil com aquelas encontradas


na Europa, quando do advento da indústria em território nacional. Com aumento da
atividade fabril, principalmente em São Paulo, os movimentos sociais pressionaram o
Estado à criação de legislação trabalhista em 1917, ainda que rudimentar, e também uma
lei sobre acidentes de trabalho em 1919. Aqui, a Revolução Industrial foi tardia, assim
como em toda América Latina, lá pelos idos dos anos de 1930, tendo-se a promulgação
da Consolidação das Leis do Trabalho (1943), por Getúlio Vargas, como marco principal
do século XX (MATTOS; MÁSCULO, 2011).

A 8ª Conferência Nacional de Saúde e seus desdobramentos na Assembleia Nacional


Constituinte, bem como a criação do Sistema Único de Saúde, advieram dos ideais e bases
teóricas fomentados pela Epidemiologia Social. Ela apresentou avanços tecnológicos
importantes na América Latina, desde o final da década de 1970, tendo grande reflexo
na saúde pública brasileira.

A ênfase no processo de produção estimulou a expansão conceitual da “Saúde


Ocupacional” para “Saúde dos Trabalhadores”, paralela à implantação de políticas
de saúde coerentes com esse novo marco. Em paralelo, a pauta da saúde ambiental
ganhava espaço nas esferas políticas do mundo inteiro. Após a Rio 92, no Brasil, o
campo da saúde ambiental teve uma abertura maior não apenas ao debate específico
sobre o saneamento básico e as doenças infectocontagiosas, mas também ao enfoque
de problemáticas a respeito de agrotóxicos, metais pesados, contaminação das águas
para consumo humano, ambiente urbano, além de outros. Isso representaria os
primeiros passos para o delineamento de uma política de saúde ambiental consistente
(RIGOTTO, 2003).

Do ponto de vista institucional, as questões ambientais, tradicionalmente relacionadas


à saúde no Brasil – numa preocupação quase que exclusiva de instituições voltadas ao
saneamento básico (água, esgoto, lixo etc.) –, estiveram, durante muitos anos, pautadas

17
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

nas propostas do Governo e atreladas a diversos campos internos do aparelho de


Estado, notadamente em alguns ministérios, como o da Saúde e do Interior, secretarias
estaduais e municipais, além de algumas universidades. A partir da década de 1970,
com a piora dos problemas ambientais gerados pelo crescimento industrial, novas
instituições surgiram ou foram criadas, como a Companhia Estadual de Tecnologia
em Saneamento Ambiental (CETESB) e a Fundação Estadual de Engenharia do Meio
Ambiente (FEEMA). Essas instituições contribuíram para o desenvolvimento de ações de
monitoramento e controle da poluição ambiental, sem sequer ter ligação com o sistema
de saúde. Em outra via, a elaboração de novas teorias e abordagens que renovavam esse
aporte institucional estava latente no mundo acadêmico – estando majoritariamente
associado a outras organizações civis no bojo da luta pela redemocratização do país
(TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).

Com o crescimento da saúde do trabalhador, a partir do final da década de 1970, e


durante toda a década de 1980, ficou explícito o elo existente entre essas questões e
o sistema de saúde, abrindo o caminho para a incorporação de uma saúde ambiental
moderna no setor. O período anterior à realização da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento (UNCED), em 1992, no Rio de Janeiro,
também corroborou para aumentar as preocupações com os problemas de saúde
relacionados ao ambiente. Além disso, esse período pode ser caracterizado pelo
crescimento dos movimentos ecológicos – ONGs e outras formas organizadas de luta
da sociedade civil pela preservação do ambiente e da saúde –, que ganharam dia após
dia mais publicidade. Esse desenrolar de fatos históricos concatenados demonstra e
explicita o convencimento do meio político e social a respeito da importância da questão
ambiental em seus desdobramentos para a saúde humana, atingindo todo o planeta
também (TAMBELINNI; CÂMARA, 1998).

O SUS resulta de movimentos inusitados na área de saúde do trabalhador: influencia


a organização da saúde do trabalhador na rede pública como direito universal e dever
do Estado, incorpora princípios institucionais nas legislações estaduais, introduz o
conceito ampliado de saúde do trabalhador – diferente dos conceitos reducionistas
de medicina do trabalho e saúde ocupacional –, e vislumbra a saúde como elemento
central na proteção dos trabalhadores diante das imposições econômicas e sociais dos
processos de trabalho historicamente arraigados (VASCONCELOS; OLIVEIRA, 2011).

Assista aos vídeos disponíveis no HTML:

Módulo 1 - Aspectos Históricos, Formais e Conceituais da EST - PARTE 1

Módulo 1 - Aspectos Históricos, Formais e Conceituais da EST - PARTE 2

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CAPÍTULO 2
Segurança do trabalho no Brasil
e no mundo

Essa evolução expõe o histórico da engenharia de segurança do trabalho e como ela


estava se tornando mais relevante em diferentes setores econômicos. Além disso, faz uma
jornada com os precursores dessa disciplina que a levou a ser formalizada como ciência
e profissão. A começar pela Antiguidade e Idade Média. Os escravos desempenharam
um papel importante nas atividades produtivas do mundo antigo, porque foram eles
que executaram as tarefas mais árduas e arriscadas. Pode-se até dizer que o trabalho
sempre esteve associado à escravidão e ao esforço físico.

Figura 3. Os escravos desempenharam um papel importante nas atividades produtivas do mundo antigo.

Fonte: <http://www.reporteroindustrial.com/temas/Historia-de-la-Seguridad-Industrial+97385?pagina=1>.

O Egito é uma das civilizações do mundo antigo que teve notáveis inovações em saúde
e segurança do trabalhador. Por exemplo, no Egito, arreios, sandálias e andaimes foram
usados como implementos de segurança. Esses dispositivos foram usados pelos escravos
que se dedicaram a construir as pirâmides e esfinges que adornavam a cidade egípcia.

Figura 4. O Egito é uma das civilizações do mundo antigo que teve inovações notáveis na área de segurança e
saúde ocupacional.

Fonte:<http://www.reporteroindustrial.com/temas/Historia-de-la-Seguridad-Industrial+97385?pagina=1>

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

A era dos avanços importantes para os trabalhadores na Grécia ocorreu entre os séculos
VI e IV a.C. onde o trabalho diferenciado foi desenvolvido com a construção da Grande
Acrópole. As maiores contribuições em medicina ocupacional na Grécia foram no
campo do trabalho de minas e de doenças envenenadas. O pai da medicina, Hipócrates
(460-370 a.C) escreveu um tratado sobre as doenças dos mineiros, a quem recomendou
tomar banhos higiênicos para evitar a saturação de chumbo.

384-322 a.C. Aristóteles, filósofo e naturalista grego, também interveio na saúde


ocupacional de seu tempo, porque estudou certas deformações físicas produzidas
pelas atividades ocupacionais, levantando a necessidade de prevenção. Ele também
investigou doenças causadas por envenenamento por chumbo.

62 -113 d.C. Em Roma, a toxicidade do mercúrio foi descrita por Plinio e Galeno,
referindo-se aos perigos do manuseio de enxofre e zinco e enunciou vários padrões
preventivos para trabalhadores em minas de chumbo e mercúrio. Por exemplo, ele
recomendou aos mineiros o uso de respiradores fabricados com a bexiga de animais.
Sendo Roma o berço da lei e da jurisprudência, além das leis de conduta e proteção da
propriedade privada, também foram tomadas medidas legais sobre a saúde, como a
instalação de banheiros públicos e a proteção dos trabalhadores.

130-200 d.C. Outra figura notável de Roma foi Galeno, que depois de Hipócrates é
considerado o médico mais importante do mundo antigo no Ocidente. Galeno estudou as
doenças dos mineiros, curtidores e gladiadores. Também menciona doenças associadas
a vapores de chumbo e doenças respiratórias em trabalhadores de minas.

Renascimento. Na França, as primeiras universidades foram fundadas no século X e as


primeiras leis que protegem os trabalhadores também emergem. Seria nas leis que os
primeiros avanços em direção à formalização da segurança do trabalho fossem suportados.

1413-1417. As “Ordenações da França” são determinadas para garantir a segurança da


classe trabalhadora.

1473. Na Alemanha, um panfleto de Ulrich Ellenbaf é publicado, apontando algumas


doenças ocupacionais. Este seria o primeiro documento impresso sobre segurança e um
dos primeiros textos sobre saúde ocupacional.

Na Renascença, frontispício da era moderna, dois homens - Agrícola e Paracelso -


descrevem em suas obras, doenças ocupacionais e seus respectivos sistemas de proteção,
fazendo importantes contribuições para a higiene ocupacional.

Idade Moderna. Kircher escreve Mundus Subterraneus, no qual ele descreve alguns
sintomas e sinais das doenças dos mineiros, como tosse, dispneia e caquexia.

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

1665: Walter Pope publica transações filosóficas em que ele se refere às doenças dos
mineiros produzidos por envenenamento com mercúrio.

Ramazzini estabeleceu um precedente muito importante no campo da saúde ocupacional,


mas com a indústria nascente do século XVIII, o interesse dos cientistas concentrou-se
nos aspectos técnicos do trabalho primeiro e depois da segurança, para que a saúde
ocupacional passasse por um período de latência até o final do século XIX.

Figura 5. A saúde ocupacional atravessaria um período de dormência até o final do século XIX.

Fonte:<http://www.reporteroindustrial.com/temas/Historia-de-la-Seguridad-Industrial+97385?pagina=1>

Revolução Industrial. 1500 - Século XVIII. As indústrias manuais progrediram, graças à


criação da manivela, às bombas de água e à lançadeira volantes de Kay (teares primitivos).

1736 -1819. James Watt inventa a máquina a vapor, aperfeiçoando os artefatos acima
mencionados e, assim, inicia o processo de mecanização dos sistemas de produção e
transporte.
Figura 6. Locomotiva primitiva - máquina a vapor.

Fonte:<http://www.reporteroindustrial.com/temas/Historia-de-la-Seguridad-Industrial+97385?pagina=1>

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Laboriosamente, os ofícios foram substituídos pela produção em massa. Os agricultores


migrantes não receberam o salário que esperavam, mas foram forçados a trabalhar
em condições subumanas porque não tinham outra opção. Como o número de
migrantes excedeu a capacidade das cidades, a densidade populacional aumentou
e, como resultado, superlotou e proliferaram doenças e epidemias. As condições de
saúde e segurança eram mínimas, em parte por causa do número de trabalhadores,
mas principalmente por causa da falta de uma cultura de segurança eficiente, tanto por
parte dos trabalhadores, quanto por empregadores. Dois terços dos trabalhadores eram
mulheres e crianças que, além de serem exploradas, não dispunham das condições de
segurança necessárias, de modo que muitas crianças e mulheres sofriam ferimentos,
mutilações ou morriam em acidentes trágicos, mas recorrentes.

Devido a esta situação dolorosa, foram introduzidas leis para proteger os trabalhadores.
1778. Na Espanha Carlos III deu o edital de proteção contra acidentes.

1802. O parlamento inglês dá a regulamentação do trabalho nas fábricas que limita o dia
de trabalho e estabelece níveis mínimos de higiene, saúde e educação dos trabalhadores.

Especificamente no campo da EST, cronologicamente se destacam: em 1802, o


parlamento inglês por meio de uma comissão de inquérito, aprovou a 1a Lei de Proteção
aos Trabalhadores: lei de saúde e moral dos aprendizes, estabelecendo limite de 12 horas
de trabalho/dia, proibindo o trabalho noturno. Obrigava os empregadores a lavarem as
paredes das fábricas 2 vezes ao ano e tornava obrigatório a ventilação desses locais. Por
volta de 1831, na Inglaterra, uma Comissão Parlamentar de Inquérito, elaborou um
cuidadoso relatório, que concluía da seguinte forma:

Diante dessa Comissão Parlamentar desfilou longa procissão de


trabalhadores homens e mulheres, meninos e meninas, abobalhados,
doentes, deformados, degradados na sua qualidade humana, cada
um deles é clara evidência de uma vida arruinada. Um quadro vivo
da crueldade humana do homem para com o homem, uma impiedosa
condenação imposta por aqueles que, detendo em suas mãos poder
imenso, abandonam os fracos à capacidade dos fortes.

Avançando, entre 1844 e 1848 a Grã-Bretanha aprova as primeiras leis específicas de


segurança do trabalho e saúde pública. Virando o século há a criação da Organização
Internacional do Trabalho (OIT) em 1919, tendo o Brasil comparecido como membro
fundador.

1828. Robert Owen lança um programa para o melhoramento ambiental, educacional


e moral dos trabalhadores. Dois anos depois, Robert Backer propôs que um médico
fizesse uma visita diária às fábricas.

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

1841. A lei do trabalho para crianças surge.

1844. Leis aparecem que protegem as mulheres. Em Manchester, as máquinas


operavam sem proteção. E não seria até 1877 quando se ordenou colocação de guardas
às máquinas, basicamente o que a NR-12 obriga no Brasil em 1978.

As leis similares já contemplado em 1855 aspectos, tais como a ventilação e de proteção


de túneis em desuso, sinalização, a utilização de pressão e adequado para válvulas de
caldeiras a vapor, e os indicadores de requisitos e travões no caso dos dispositivos de
equipamento de elevação.

Karl Marx (1818-1883) e Frederic Engels (1820-1895), que estavam interessados ​​nos
direitos dos trabalhadores, são os promotores de sindicalização poderia servir como um
canal para melhorar as condições de trabalho, incluindo a segurança. Pode-se dizer isso
além estrutura política das propostas socialistas marxistas e Engels, a transcendência
de suas ideias tem sido inegável reformas trabalhistas na Europa e na América.
Isso é tão que em 4 de maio de 1886 ocorreu a Revolta de Chicago, que culminou com
o estabelecimento justo de 8 horas de trabalho.

1848. Legislação de saúde foi iniciada para a indústria. Dois anos depois, as inspeções
começaram a verificar o cumprimento dos regulamentos, que teriam apoio legal.
O primeiro sistema de extinção de incêndios foi implementado por Frederic Grinnell
em 1850 nos Estados Unidos.

1867. Uma lei que nomeia inspetores em fábricas foi promulgada. 1868. As leis de
compensação dos trabalhadores aparecem. Max von Pettenkofer (1818-1901) fundou o
primeiro Instituto de Higiene em Munique, em 1875.

1874. Inglaterra e França foram os países que lideraram a formalização da saúde e


segurança ocupacional na Europa.

1890. A legislação que protege a sociedade e os trabalhadores contra riscos ocupacionais


é disseminada em todo o mundo.

1911. O estado de Wisconsin aprovou a primeira lei que regula a compensação dos
trabalhadores.

Século XX. Juntamente com todos os avanços técnicos que possibilitaram a passagem
para o século XX com a massificação de energia elétrica ou fontes termodinâmicas em
residências e indústrias, respectivamente. As teorias e concepções de administração
trabalhista também colocam sua parcela no processo de formalização da segurança que
culminou na institucionalização da segurança do trabalho.

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

1918. A Universidade de Harvard foi a primeira casa de estudos superiores que concedeu
o título de pós-graduado em Segurança e Higiene no Trabalho.

Em 1918, a Organização Internacional do Trabalho (OIT) começou a operar. Outro evento


importante foi o Tratado de Versalhes, que em sua XII seção estabeleceu princípios que
a OIT adotaria mais tarde, de modo que em 1921 seu Serviço e Prevenção de Acidentes
foi criado. Ainda neste ano a Escola Americana também aparece com Heinrich,
Simonds, Grimaldi e Birds; que propôs uma abordagem analítica e preventiva aos
acidentes. As primeiras referências sobre danos à audição humana causados pelo ruído
são encontradas no Regimen Sanitatis Salerenitarum, que foi escrito em 1150.

Em 1960, a segurança industrial já é uma ciência e uma profissão, cujas contribuições


para a indústria e o trabalho são valorizadas, eliminando ou minimizando os riscos
ocupacionais, permitindo reduzir os custos econômicos que afetam a produção.

Atualmente, a segurança industrial tem gerado grande interesse por parte de


empresários, trabalhadores e políticos. Em particular, os governos investiram dinheiro
na disseminação de normas de segurança e na inspeção periódica de empresas, fábricas
e indústrias por meio de várias agências de controle.

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Módulo 1 - Aspectos Históricos, Formais e Conceituais da EST - PARTE 3

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CAPÍTULO 3
Revolução Industrial e legislação sobre
segurança do trabalho no Brasil

Em torno de 1760 surge a Revolução Industrial na Inglaterra, com o aparecimento das


máquinas de tecelagem movidas a vapor (tear mecânico). Pode-se dividi-la em 4 fases:

»» 1ª Fase: 1760 a 1830, circunscrita à Inglaterra. Surgiram as primeiras


máquinas movidas a vapor.

»» 2ª Fase: 1830 a 1900, amplia-se para Europa e América, a partir das


novas formas de energia: hidrelétricas e novos combustíveis (gasolina).

»» 3ª Fase: 1900 a 1950 com as várias inovações: energia atômica, meios de


comunicação rápida, produção em massa com o advento dos computadores

»» 4ª Fase: 1950 aos dias atuais, embasada na internet e sua convergência


com o mundo físico.

As figuras seguintes esquematizam tais fases:

Figura 7. Revoluções Industriais.

Revoluções
1ª 2ª 3ª 4ª
Produção manual para Conhecimento acessível em Mudanças profundas em
Característica Manufatura em massa
mecanizada todo planeta toda sociedade
Criação de máquinas a Eletricidade, fontes de Eletrônica, computadores e Convergência entre o mundo
Tecnologia
vapor energia fósseis internet físico, o biológico e digital
Final do século XVIII e início Segunda metade do século Após segunda metade do
Quando Século XXI em curso
do século XIX XIX século XX

Fonte: USP - Universidade de São Paulo. <https://jornal.usp.br/tecnologia/4a-revolucao-industrial-rompe-limites-entre-digital-


fisico-e-biologico/>

A indústria 4.0 (4ª Fase) permite a automação e a integração de todas as etapas


de produção, ao passo que exige trabalhadores críticos, flexíveis, qualificados e,
principalmente, abertos a novos aprendizados. Cenário no qual as ferramentas digitais
trazem novos paradigmas para o setor industrial, os profissionais também precisam

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

mudar e se adaptar. A EST deve se ajustar a este futuro, que já se vislumbra no presente,
com os empregos ante à quarta Revolução Industrial – Indústria 4.0.

Figura 8. Indústria 4.0

4ª Revolução Industrial
1760 a 1840 1850 a 1945 1950 a 2000 Dias atuais
Avanços industriais (química, O período entre pós- guerra
O conceito de Indústria 4.0
Inglaterra das maquinas a elétrica, petróleo, aço) e a virada do milênio foi
foi criado pelos alemães
vapor, que impulsionam o permitem invenções como o marcado por transformações
em 2011. Ele se refere às
crescimento da indústria navio a vapor, a prensa móvel, profundas na produção e pela
chamadas fábricas inteligentes
Fatos têxtil e de ferro. Em 1825 energia elétrica, o telefone, rapidez do desenvolvimento
que reúnem inovações
Históricos o engenheiro George carro e produção em massa de novas tecnologias, que
tecnológicas em automação,
Stepheson, o pai das de bens de consumo. 1906, mudaram a indústria, as
controle e tecnologia da
ferrovias, lança a primeira o brasileiro Alberto Santos economias e a sociedade.
informação para aprimorar os
locomotiva a vapor do mundo Dumont decola com sucesso, Uma das mais importantes foi
processos de manufatura
o avião 14-Bis a internet

Fonte: CNI. <http://www.conexaoramonbarros.com/2016/07/futuro-do-emprego-e-industria-40-sao.html>

Em terras brasileiras, a história da EST seguiu a seguinte cronologia. Já na primeira


carta magna republicana de 1891, logo após declaração de independência em 1889,
teve início a preocupação prevencionista com o Decreto no 1.313/1891 que tratava da
proteção ao trabalho dos menores, que diz (fragmentos grifados):

DECRETO no 1.313, DE 17 DE JANEIRO DE 1891. Estabelece


providências para regularizar o trabalho dos menores empregados nas
fábricas da Capital Federal.

O Generalíssimo Manoel Deodoro da Fonseca, Chefe do Governo


Provisório da República dos Estados Unidos do Brazil, attendendo à
conveniência e necessidade de regularizar o trabalho e as condições
dos menores empregados em avultado número de fábricas existentes
na Capital Federal, a fim de impedir que, com prejuízo próprio e da
prosperidade futura da pátria, sejam sacrificadas milhares de crianças,
Decreta:

[...]

Art. 2o Não serão admitidas ao trabalho effectivo nas fábricas


crianças de um e outro sexo menores de 12 annos, salvo,
a título de aprendizado, nas fábricas de tecidos as que se acharem
comprehendidas entre aquella idade e a de oito annos completos.

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

[...]

Art. 4o Os menores do sexo feminino de 12 a 15 annos e os do sexo


masculino de 12 a 14 só poderão trabalhar no máximo sete horas
por dia, não consecutivas, de modo que nunca exceda de quatro horas
o trabalho contínuo, e os do sexo masculino de 14 a 15 annos até nove
horas, nas mesmas condições. Dos admittidos ao aprendizado nas
fábricas de tecidos só poderão occupar-se durante três horas os de 8 a
10 annos de idade, e durante quatro horas os de 10 a 12 annos, devendo
para ambas as classes ser o tempo de trabalho interrompido por meia
hora no primeiro caso e por uma hora no segundo.

Art. 5o E’ prohibido qualquer trabalho, comprehendido o da limpeza


das officinas, aos domingos e dias de festa nacional, bem assim das 6
horas da tarde às 6 da manhã, em qualquer dia, aos menores de ambos
os sexos até 15 annos.

[...]

Art. 10. Aos menores não poderá ser commettida qualquer operação
que, dada sua inexperiência, os exponha a risco de vida, tais como: a
limpeza e direcção de machinas em movimento, o trabalho ao lado de
volantes, rodas, engrenagens, correias em acção, em summa, qualquer
trabalho que exija da parte delles esforço excessivo.

Art. 11. Não poderão os menores ser empregados em depósito de carvão


vegetal ou animal, em quaisquer manipulações directas sobre fumo,
petróleo, benzina, ácidos corrosivos, preparados de chumbo, sulphureto
de carbono, phosphoros, nitro-glycerina, algodão-polvora, fulminatos,
polvora e outros misteres prejudiciaes, a juizo do inspector.

[...]

Sala das sessões do Governo Provisório, 17 de janeiro de 1891, 3o da


Republica.
Manoel Deodoro da Fonseca.
José Cesario de Faria Alvim.

Em alguns aspectos, essa pioneira normativa ainda parece ser atual às situações laborais
existentes em alguns rincões do Brasil. O Decreto no 3.724, de 15/1/1919, anterior
mesmo a Previdência Social que é de 1923, foi a primeira lei brasileira sobre acidentes
de trabalho. De tão importante, vale à pena transcrevê-la:

DECRETO No 3.724, DE 15 DE JANEIRO DE 1919. Regula as obrigações


resultantes dos accidentes no trabalho. O Presidente da República

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

dos Estados Unidos do Brasil: Faço saber que o Congresso Nacional


decretou e eu sancciono a resolução seguinte:

TITULO I - DOS ACCIDENTES NO TRABALHO

Art. 1o Consideram-se accidentes no trabalho, para os fins da


presente lei: Ia) o produzido por uma causa súbita, violenta, externa e
involuntária no exercício do trabalho, determinado lesões corporaes ou
perturbações funccionaes, que constituam a causa única da morte ou
perda total, ou parcial, permanente ou temporária, da capacidade para
o trabalho; I b) a moléstia contrahida exclusivamente pelo exercício do
trabalho, quando este fôr de natureza a só por si causal-a, e desde que
determine a morte do operário, ou perda total, ou parcial, permanente
ou temporária, da capacidade para o trabalho. 

Art. 2o O accidente, nas condições do artigo anterior, quando occorrido


pelo facto do trabalho ou durante este, obriga o patrão a pagar uma
indemnização ao operário ou a sua família, exceptuados apenas os
casos de força maior ou dolo da própria victima ou de estranhos. 

Art. 3o São considerados operários, para o effeito da indemnização,


todos os indivíduos, de qualquer sexo, maiores ou menores, uma vez que
trabalhem por conta de outrem nos seguintes serviços: construcções,
reparações e demolições de qualquer natureza, como de prédios,
pontes, estradas de ferro e de rodagem, linhas de tramways electricos,
rêdes de esgotos, de illuminação, telegraphicas e telephonicas, bem
como na conservação de todas essas construcções; de transporte carga
e descarga; e nos estabelecimentos industriais e nos trabalhos agrícolas
em que se empreguem motores inanimados. 

[...] 

TITULO II - DA INDEMNIZAÇÃO

Art. 5o A indemnização será calculada segundo a gravidade das


consequências do accidente, as quaes podem ser:      

morte;

a. incapacidade total e permanente para o trabalho;

b. incapacidade total e temporária;

c. incapacidade parcial e permanente;

d. incapacidade parcial e temporária.

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

[...] 

Art. 8o Em caso de incapacidade total e permanente, a indemnização


a ser paga à victima do accidente consistirá em uma somma igual à
do seu salário de três annos. 

[...]

Art. 13. Em todos os casos o patrão é obrigado a prestação


de soccorros médicos e pharmaceuticos, ou sendo necessários,
hospitalares, desde o momento do accidente. 

[...]

Art. 16. As indemnizações a que esta lei obriga serão pagas no logar do
estabelecimento em que occorreu o accidente, sendo que as diárias serão
pagas semanalmente. Em caso de morte, o pagamento aos beneficiários
será feito após a apresentação de todos os documentos necessários, que
serão indicados no regulamento desta lei. 

[...]

§ 1o Não será considerada como consequência do accidente a aggravação


da enfermidade ou a morte provocada por culpa exclusiva da
victima. 

[...]

TITULO III - DA DECLARAÇÃO DO ACCIDENTE

Art. 19. Todo o accidente de trabalho que obrigue o operário a suspender


o serviço ou se ausentar, deverá ser immediatamente communicado
a autoridade policial do logar, pelo patrão, pelo próprio operário, ou
qualquer outro. A autoridade policial comparecerá sem demora ao
logar do accidente e ao em que se encontrar a victima, tomando as
declarações desta, do patrão e das testemunhas, para lavrar o respectivo
auto, indicando o nome, a qualidade, a residência do patrão, o nome, a
qualidade, a residência e o salário da victima, o logar preciso, a hora e
a natureza do accidente, as circumstancias em que se deu e a natureza
dos ferimentos, os nomes e as residências das testemunhas e dos
beneficiários da victima. 

§ 1o No quinto dia, a contar do accidente, deve o patrão enviar a


autoridade policial, que tomou conhecimento do facto, prova de que
fez á victima o fornecimento de soccorros médicos e pharmaceuticos

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UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

ou hospitalares, um attestado médico sobre o estado da victima, as


consequências verificadas ou prováveis do accidente, e a época em que
será possível conhecer-lhe o resultado definitivo.

§ 2o Nesse mesmo dia a autoridade policial remetterá o inquerito, com os


documentos a que se refere o paragrapho anterior, ao juizo competente,
para a instauração do summario. 

[...] 

Art. 30. Revogam-se as disposições em contrário. Rio de Janeiro, 15 de


janeiro de 1919, 98o da Independencia e 31o da República.
DELFIM MOREIRA DA COSTA RIBEIRO
Urbano Santos da Costa Araujo
Antonio de Padua Salles

No Brasil, o marco inicial da Previdência Social, foi a publicação da Lei Eloy Chaves,
Decreto Legislativo 4.682 de 24/1/1923 (BRASIL, 1923), que criou as Caixas de
Aposentadoria e Pensão (CAP), para os empregados das empresas ferroviárias. Durante
a década de 1920, as CAPs foram ampliadas, sendo instituídas, em diversos outros
ramos, como dos portuários, marítimos, etc. As CAP eram organizadas por empresa,
e cada uma possuía sua caixa. No início da era Vargas, na década de 1930, as 183
CAPs existentes foram reunidas, dando origem aos Institutos de Aposentadoria e
Pensão (IAP).

Esses institutos eram organizados por categoria profissional. As seguintes categorias


formaram seus IAP: Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Marítimos – IAPM,
Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Comerciários – IAPC, Instituto de
Aposentadoria e Pensão dos Bancários – IAPB, Instituto de Aposentadoria e Pensão
dos Industriários – IAPI, e Instituto de Aposentadoria e Pensão dos Empregados em
Transporte de Carga – IAPTEC. Em 1953, todas às CAPs foram unificadas, por meio
Decreto 34.586 (BRASIL, 1953), surgindo então a Caixa Nacional.

Em 1960, foi criado o Ministério do Trabalho e da Previdência Social, e aprovada a Lei


Orgânica da Previdência Social – LOPS. Em 1967 foi criado o Instituto Nacional de
Previdência Social (INPS), consolidando-se a unificação dos IAP.

Em 1977, foi criado o Sistema Nacional de Previdência e Assistência Social, que


contava com os seguintes órgãos: INPS – Instituto Nacional de Previdência Social,
responsável pela administração dos benefícios; IAPAS Instituto da Administração
Financeira da Previdência Social, responsável pela arrecadação, fiscalização e cobrança
de contribuições; INAMPS – Instituto Nacional de Assistência Médica da Previdência
Social, além da LBA – Legião Brasileira de Assistência, FUNABEM – Fundação Nacional

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ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

do Bem Estar do Menor, CEME – Central de Medicamentos, e DATAPREV – Empresa


de Processamento de Dados da Previdência Social.

1941 – Em 21/4/1941, empresários fundam no Rio de Janeiro a Associação Brasileira


para Prevenção de Acidentes (ABPA). 1943 – CLT foi aprovada pelo Decreto-Lei no
5.452, em 1/5/1943 (entrou em vigor em 10/11/1943). Foi o instrumento jurídico que
viria a ser prática efetiva da prevenção no Brasil.

1944 – Decreto-lei no 7.036 de 10/11/1944 promoveu a “reforma da Lei de Acidentes de


Trabalho” (um desdobramento que contava no capítulo V do Título II da CLT).

Objetivando maior entendimento à matéria e agilizar a implementação dos dispositivos


da CLT referentes à Segurança e Higiene do Trabalho, além de garantir a “Assistência
Médica, hospitalar e farmacêutica” aos acidentados e indenizações por danos pessoais
por acidentes. Este Decreto-lei, em seu artigo 82 criou as CIPAs.

1953 – Decreto-lei no 34.715, de 27/11/1953 instituiu a Semana de Prevenção de


Acidentes do Trabalho (SPAT) a ser realizada na 4a semana de Novembro de cada ano.
Também em 1953 a Portaria 155 regulamenta e organiza as CIPAs e estabelece normas
para seu funcionamento.

1955 – Criada a Portaria 157, de 16/11/1955 para coordenar e uniformizar as atividades


das SPAT. Constando a realização do Congresso anual das CIPA durante a SPAT. O Título
do Congresso passou em 1961 para Congresso Nacional de Prevenção de Acidentes do
Trabalho – CONPAT. A exclusão do CONPAT ocasionou a proliferação de Congressos
e outros eventos.

1960 – A Portaria 319 de 30/12/1960 regulamenta a uso dos EPIs.

1966 – Criada conforme Lei no 5.161 de 21/10/1966 a Fundação Centro Nacional de


Segurança Higiene e Medicina do Trabalho, atual Fundação Jorge Duprat Figueiredo
de Segurança e Medicina do Trabalho, em homenagem ao seu primeiro Presidente.
Hoje mais conhecida como FUNDACENTRO. A criação da FUNDACENTRO foi sem
dúvida um dos grandes feitos na história da segurança do trabalho e partir de ações da
entidade a segurança do trabalho pode avançar de forma significativa.

1967 – A Lei no 5.316 de 14/09/1967 integrou o seguro de acidentes de trabalho na


Previdência Social. Também em 1976 surge a sexta lei de acidentes de trabalho, e
identifica doença profissional e doença do trabalho como sinônimos e os equipara ao
acidente de trabalho.

1972 – Decreto no 7.086 de 25/07/1972, estabeleceu a prioridade da Política do Programa


Nacional de Valorização do Trabalhador (PNVT). Selecionou 10 prioridades, entre elas

31
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

a Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho. A Portaria 3.237 do MTE de 27/07/72


criou os serviços de Segurança, Higiene e Medicina do Trabalho nas empresas. Foi o
“divisor de águas” entre a fase do profissional espontâneo e o legalmente constituído.
Esta portaria criou os cursos de preparação dos profissionais da área. 1974 – Iniciados
enfim, os cursos para formação dos profissionais de Segurança, Higiene e Medicina
do Trabalho.

1977 – A Lei no 6.514 de 22/12/1977 modificou o Capítulo V do Título II da CLT. Convém


ressaltar que essa modificação deu nova cara a CIPA, estabeleceu a obrigatoriedade,
estabilidade, entre outros avanços.

1978 – Criação das Normas Regulamentadoras (NR), aprovadas pela Portaria 3.214
de 8/6/1978 do MTE, aproveitando e ampliando as portarias existentes e Atos
Normativos, adotados até na construção da Hidrelétrica e Itaipu. Na ocasião foram
criadas 28 NRs.

1979 – Em virtude da carência de profissionais para compor o SESMT, a resolução no


262 regulamenta a criação de cursos em caráter prioritário para esses profissionais.

1983 – A Portaria no 33 alterou a Norma Regulamentadora 5 introduzindo nela os riscos


ambientais.

1985 – A Lei no 7410 de 27/11/1985, oficializou a especialização em Engenharia de


Segurança do Trabalho e criou a categoria profissional de Técnico em Segurança
do Trabalho, até então os únicos profissionais prevencionistas não reconhecidos
legalmente. Dava prazo de 120 dias para o MEC os currículos básicos do curso de
especialização em Técnico de Segurança do Trabalho. Mas somente em 1987, por meio
do parecer 632/1987 do MEC, foi estabelecido o curso de formação de TST em vigor.

1986 – A Lei no 7.498/1986 regulamenta as profissões Enfermeiro, Técnico em


Enfermagem, Auxiliar de Enfermagem. 1986 – A Lei no 9.235 de 9/4/1986 regulamentou
a categoria de Técnico de Segurança do Trabalho. Que na década de 1950 eram chamados
de “Inspetores de Segurança”.

Em 1990, a Lei 8.029/1990 criou o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a


partir da junção do INPS com o IAPAS. O INAMPS que prestava assistência médica
a população passou a ser vinculado ao Ministério da Saúde, sendo essa atividade
atualmente desenvolvida pelo Sistema Único de Saúde (SUS). A Constituição de 1998
reuniu as três atividades da seguridade social: saúde, previdência social, e assistência
social. Em 2004, por meio da Medida Provisória 222, depois convertida na Lei no 11.098,
regulamentada pelo Decreto no 5.256, foi criada a Secretaria de Receita Previdenciária,
vinculada ao Ministério da Previdência Social, com atribuições de arrecadar, fiscalizar,

32
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

lançar, e normatizar as atividades pertinentes às receitas previdenciária, ficando o INSS


com atribuição de concessão e pagamento de benefícios aos segurados e dependentes.

1990 – O quadro do SESMT NR 4 é atualizado. O SESMT a partir de então é formado


por: Engenheiro de Segurança do Trabalho; Médico do Trabalho; Enfermeiro do
Trabalho; Auxiliar de Enfermagem do Trabalho; Técnico em Segurança do Trabalho.

1991 – Lei 8.213/1991 estabelece o conceito legal de Acidente de Trabalho e de Trajeto


e nos artigos 19 a 21 e no artigo 22 também estabelece a obrigação da empresa em
comunicar os Acidentes do Trabalho às autoridades competentes. Foi posteriormente
alterado pelo Decreto no 611, de 21 de julho de 1992.

2001 – Entra em vigor a Portaria no 458 de 4 de outubro de 2001, e fica proibido a


partir de então, o trabalho infantil no Brasil.

2003 – Lei 10.666 cria o Fator Acidentário de Prevenção (FAP).

2006 – Lei 11.430 cria o Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP).

2009 – O termo “Ato Inseguro” é retirado do item 1.7 da Norma Regulamentadora 1.


E isso é motivo de comemoração para muitos prevencionistas que reclamam que o termo
retirava em muitas vezes a responsabilidade do empregador. Pois era fácil rotular os
acidentes somente como Ato Inseguro, e isso dificultava encontrar a verdadeira causa.
A medicina do trabalho está pautada principalmente na presença de um serviço médico
dentro das empresas, para monitorar a saúde dos trabalhadores, modelo ainda muito
próximo à sua origem na Revolução Industrial.

2014 – Decreto 8.373 institui o eSocial com eventos e registros de SST.

Cronologicamente, destacam-se:

Figura 9. Cronologia da Legislação no Século XX.

De 1919 a 1988
1919 – Criada a Lei de Acidentes do Trabalho, tornando compulsório o seguro contra o risco profissional.
1920 – Em Tatuapé/SP, surge o primeiro médico de empresa.
1923 – Criação da Caixa de Aposentadorias e Pensões para os empregados das empresas ferroviárias, marco da Previdência Social brasileira.
1930 - Criação do Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio, atual MTb.
1933 – Surgiram os Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAP), entidades de grande porte, abrangendo os trabalhadores agrupados por ramos
de atividades. Tais institutos foram o IAPTEC (para trabalhadores em transporte e cargas), IAPC (para os comerciários), IAPI (industriários), IAPB
(bancários), IAPM (marítimos e portuários) e IPASE (servidores públicos).
1934 – Criada no Ministério do Trabalho, a Inspetoria de Higiene e Segurança do Trabalho que, ao longo dos anos, passou a Departamento de
Segurança e Saúde no Trabalho (DSST), em nível federal, e Superintendência Regional do Trabalho e Emprego (SRTE), em nível estadual.
1943 – Criada a Consolidação das Leis do Trabalho – CLT, que trata de segurança e saúde do trabalho no Título II, Capítulo V do Artigo 154 ao 201.

33
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

1966 – Unificação dos Institutos com a criação do Instituto Nacional de Previdência Social – INPS, atual Instituto Nacional do Seguro Social – INSS.
1966 – Criação da Fundação Jorge Duprat Figueiredo de Segurança e Medicina do Trabalho – FUNDACENTRO, que atua em pesquisa científica e
tecnológica relacionada à segurança e saúde dos trabalhadores.
1972 a 1974 – Programa Nacional de Valorização do Trabalhador.
1978 – Criação das Normas Regulamentadoras Urbanas – NRs (regulamentação da CLT, art. 154 a 201).
1988 – Promulgação da Constituição Federal (art. 7o, inciso XXII) e criação das Normas Regulamentadoras Rurais – NRR.
2003 – Lei 10.666 cria o Fator Acidentário de Prevenção (FAP).
2006 – Lei 11.430 cria o Nexo Técnico Epidemiológico (NTEP).
2014 – Decreto no 8.373 institui o eSocial com eventos e registros de SST.

Fonte: próprio autor.

História da Revolução Industrial. Disponível em: <https://historiadomundo.uol.


com.br/idade-moderna/revolucao-industrial/> Acesso em: 28 out. 2018.

Site relacionado à Revolução Industrial para entender a sua repercussão no mundo


do trabalho. BALBINOT, Camile. CLT: fundamentos ideológico-políticos: fascista
ou liberal-democrática? 2007. Disponível em: https://jus.com.br/artigos/10062/
clt-fundamentos-ideologico-politicos-fascista-ou-liberal-democratica. Acesso
em: 28 out. 2018.

Assista aos vídeos disponíveis no HTML:

Módulo 1 - Aspectos Históricos, Formais e Conceituais da EST - PARTE 4

Módulo 1 - Aspectos Históricos, Formais e Conceituais da EST - PARTE 5

34
CAPÍTULO 4
Regulamentação e atribuições da EST

Percebam a importância de nossas atribuições. Veja posição do STF a respeito


da Ineficácia Absoluta do EPI! O STF estabeleceu duas teses. Depois de ler essa
decisão (ARE 664335), reflita sobre o significado político de nossas práticas e
saberes alçados ao nível do STF: O que isso significa?

Consulte <http://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&doc
ID=7734901>

Atribuições de EST. Confea Resolução 473/2002, última Atualização: 3/1/2017.


Por curiosidade a nossa é: Título 424-01-00 Engenheiro de Segurança do Trabalho
Engenheira de Segurança do Trabalho Eng. Seg. Trab.

Você sabe quais são as atribuições do EST seus significados? Veja Resolução
473/2002 Títulos e Resolução Confea.

As atribuições dos Engenheiros de Segurança do Trabalho, de acordo com Art. 4o da


Resolução 359/1991 do Confea, são as seguintes:

1. Supervisionar, coordenar e orientar os serviços de Engenharia de


Segurança Trabalho.

2. Planejar e desenvolver gerenciamento e controle de riscos.

3. Estudar as condições de segurança dos locais de trabalho e das instalações


e equipamentos.

4. Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos


técnicos e indicar medidas de controle sobre grau de exposição e agentes
agressivos de riscos físicos, químicos e biológicos.

5. Analisar riscos, acidentes e falhas, investigando causas, propondo


medidas preventivas e corretivas e orientando trabalhos estatísticos,
inclusive com respeito a custos.

6. Propor políticas, programas, normas e regulamentos de Segurança do


Trabalho, zelando pela sua observância.

7. Elaborar projetos de sistemas de segurança e assessorar a elaboração de


projetos de obras, instalações e equipamentos, opinando do ponto de
vista da Engenharia de Segurança.

35
UNIDADE I │ ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

8. Estudar instalações, máquinas e equipamentos, identificando seus pontos


de risco e projetando dispositivos de Segurança.

9. Projetar sistemas de proteção contra incêndio, coordenar atividades de


combate a incêndio e de salvamento e elaborar planos para emergência
e catástrofes.

10. Inspecionar locais de trabalho no que se relaciona com a Segurança do


Trabalho, delimitando áreas de periculosidade.

11. Especificar, controlar e fiscalizar sistemas de proteção coletiva e


equipamentos de segurança, inclusive os de proteção individual e os de
proteção contra incêndio, assegurando-se de sua qualidade e eficiência.

12. Opinar e participar da especificação para aquisição de substâncias


e equipamentos cuja manipulação, armazenamento, transporte ou
funcionamento possam apresentar riscos, acompanhando o controle do
recebimento e da expedição.

13. Elaborar planos destinados a criar e desenvolver a prevenção de acidentes,


promovendo a instalação de comissões e assessorando-lhes o funcionamento.

14. Orientar o treinamento específico de segurança do trabalho e assessorar


a elaboração de programas de treinamento geral, no que diz respeito à
Segurança do Trabalho.

15. Acompanhar a execução de obras e serviços decorrentes da adoção de


medidas de segurança, quando a complexidade dos trabalhos a executar
assim o exigir.

16. Colaborar na fixação de requisitos de aptidão para o exercício de funções,


apontando os riscos decorrentes desses exercícios.

17. Propor medidas preventivas no campo de Segurança do Trabalho, em


face do conhecimento da natureza e gravidade das lesões provenientes
do Acidente de Trabalho, incluídas as doenças do trabalho.

18. Informar aos trabalhadores e à comunidade, diretamente ou por meio de


seus representantes, as condições que possam trazer danos à sua integridade.

Consulte a Resolução 359/1991 do Confea e verifique as 18 atribuições do


Engenheiro de Segurança do Trabalho buscando encontrar tuas afinidades!
Procure explicar preliminarmente os significados das peças técnicas envolvidas
a cada uma delas. Por exemplo: no item 4:

36
ASPECTOS GERAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE I

Vistoriar, avaliar, realizar perícias, arbitrar, emitir parecer, laudos


técnicos e indicar medidas de controle sobre grau de exposição
a agentes agressivos de riscos físicos, químicos e biológicos, tais
como poluentes atmosféricos, ruídos, calor, radiação em geral e
pressões anormais, caracterizando as atividades, operações e
locais insalubres e perigosos.

Qual o significado de vistoriar? É diferente de inspecionar? Por força dessa


atribuição (4) o que o EST está apto a desenvolver e ser remunerado por isso?
Quais atribuições só são possíveis praticar se houver base em cálculo diferencial,
bem como o básico da graduação (física, química, cálculo numérico etc.)

37
ASPECTOS
CONSTITUCIONAIS UNIDADE II
DA SAÚDE DO
TRABALHADOR

CAPÍTULO 1
CRFB-1988: ultrapassagem
de paradigma

Aspectos constitucionais da saúde


do trabalhador
Objetiva-se com este trabalho permitir ao leitor uma visão ampla, interligada e sistêmica
do tema em destaque, considerando a evolução das teorias envoltas ao fenômeno saúde-
trabalho-adoecimento e meio ambiente, bem como os aparatos jurídicos e científicos,
multidimensionais e pluridisciplinares, que sustentam esse almejado e complexo bem
social chamado Saúde do Trabalhador.

A Saúde do Trabalhador aqui discutida deve ser entendida como resultado do avanço
social ao representar um conjunto de anseios, direitos e deveres (de quebra de
paradigma), por força da Constituição da República Federativa do Brasil, promulgada
em 1988 — CFRB-88 — assumidos na direção do direito público, no campo da saúde
coletiva, em contraposição aos preceitos obsoletos e restritos da Medicina do Trabalho,
calcados em direito privado, no estreito campo da saúde individual.

Compreende-se o choque causado por essa linha de abordagem — principalmente


àqueles oriundos dos cursos de Engenharia de Segurança do Trabalho; Medicina do
Trabalho; Enfermagem do Trabalho; técnicos e auxiliares técnicos do trabalho —
arraigado ao viés trabalhista, há anos, e incrustado na sociedade brasileira por herança
do Brasil agropastoril, ainda remanescente em alguns setores da economia.

Nesse esforço de concatenação do tema sanitário laboral, esta obra inicia com uma
base comum e universal a qualquer sistema produtivo, aqui chamado de “visões”,
válida como material didático-pedagógico às inúmeras possibilidades acadêmicas, para

38
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

nos capítulos seguintes fazer o acoplamento mais adequado entre algo arcaicamente
chamado de trabalhista (sentido exótico) para um sistema mais elaborado de conexões
sociojurídicas, hodiernamente, vinculado ao campo da dignidade humana (sentido
esotérico), com desdobramentos nos mais variados campos do conhecimento humano.

Nesse sentido, optou-se por adotar esquemas de exemplos-âncoras e cenários hipotéticos


de casos, exatamente para conferir praticidade às argumentações aqui elaboradas.

Da Constituição da República
A Constituição de um Estado emerge de um pacto entre diversificados valores sociais,
ideias, aspirações e interesses diferenciados e até mesmo antagônicos. Conquanto seja
verdade que a Constituição tenha por intuito retratar um consenso fundamental, não
tem ela o condão de aplainar as saliências e reentrâncias do pluralismo e antagonismo
das ideias subjacentes à celebração do referido pacto. Choques de valores sempre
existirão e isso em nada desnatura o Estado Democrático de Direito; ao contrário, faz
florescer e amadurecer a democracia.

A saúde do trabalhador brota desse bojo de conflitos sob o prisma constitucional


do novo ramo de direito público — Direito Sanitário — voltado especificamente à
integridade física e mental do trabalhador, assim entendido o trabalhador sob qualquer
denominação, subordinação ou vinculação, inclusive os desocupados. Por certo o tema
é incipiente, bastante polêmico e ao mesmo tempo auspicioso.

Constitucionalização do Direito Sanitário


A constitucionalização do Direito Sanitário na atual Carta Magna possui duas
características principais: o reconhecimento do direito à saúde como direito fundamental
e a definição dos princípios que regem a política pública da saúde.

A caracterização da saúde como direito fundamental ocorre pela primeira vez na


história constitucional brasileira na Carta Excelsior de 1988. A saúde consta como
um dos direitos sociais reconhecidos no art. 6o, que abre o Capítulo II (“Dos Direitos
Sociais”) do Título II (“Dos Direitos Fundamentais”) da Constituição de 1988; além
disso, o caput do art. 196 define a saúde como “direito de todos e dever do Estado”. Essa
forma de constitucionalização acarreta quatro importantes consequências, a saber:

Não apenas o empregado tem direito à saúde!

O texto constitucional anterior reconhecia em seu art. 165, XV, no Título III, “Da
Ordem Econômica e Social”, o direito à “assistência sanitária, hospitalar e médica
39
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

preventiva”, nos termos da lei. Isso permitia, na legislação infraconstitucional, a


separação entre o sistema de saúde dos segurados da Previdência Social, integrantes
do mercado formal de trabalho, e a maioria da população, que não tinha acesso a
esse sistema. Ou seja, quem tivesse Carteira Profissional — CTPS teria direito aos
serviços de saúde; ao contrário, aqueles que não a tivessem, ficavam à míngua. Com
a definição da saúde como direito fundamental, abre-se o caminho para que todos
os cidadãos brasileiros possam dela usufruir, tendo em vista que a saúde passa a
constituir um direito público subjetivo que é garantido pela existência do Sistema
Único de Saúde (SUS).

Direito à saúde: direito fundamental irreformável

Direito à saúde se insere como cláusula pétrea à Constituição. As chamadas “cláusulas


pétreas” são limites ao poder de reforma da Constituição, já que as matérias por elas
alcançadas não podem ser abolidas, nem mesmo de forma tendencial, por emendas
constitucionais.

A Saúde está disposta, dentre os direitos e garantias individuais, na qualidade de


direito fundamental; portanto, inclui-se na definição de “cláusula pétrea”, de acordo
com o inciso IV do art. 60, § 4o, da CRFB-88. Deve-se observar que na aplicação desse
dispositivo, o intérprete não deve se pautar pelo critério literal, já que o reconhecimento
de todos os direitos fundamentais é uma decisão do poder constituinte que não pode
ser alterada pelo poder reformador.

Direito objetivo à saúde

Direito à saúde como valor: os direitos fundamentais reconhecidos pela Constituição


possuem não apenas uma dimensão subjetiva, atribuindo direitos aos cidadãos, mas
também uma dimensão objetiva, na qual se estabelecem os valores ou bens jurídicos
principais que devem ser objeto de proteção pelo Estado e pela sociedade.

Portanto, mesmo quando não haja violação direta do direito subjetivo à saúde, os
operadores do direito devem verificar se o bem jurídico saúde está sendo afetado por
ações ou omissões dos Poderes Públicos. Isso justifica, por exemplo, a declaração de
inconstitucionalidade da lei ou ato normativo que venha contrariar o direito à saúde.

Regras verticais e horizontais

Direito à saúde e efeitos sobre terceiros: apesar de os direitos fundamentais terem


sido concebidos, na sua origem, como direitos oponíveis ao Estado, admite-se
contemporaneamente que eles também incidem nas relações jurídicas entre particulares.

40
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

Assim, os direitos fundamentais produzem efeitos não apenas na relação Estado-cidadão


(efeitos verticais), mas também na relação cidadão-cidadão (efeitos horizontais ou
efeitos sobre terceiros). Diga-se de passagem, que, nesse âmbito horizontal, tem-se
recrudescido a violação a certos direitos, como ocorre com o direito à privacidade e o
direito à honra.

No campo do direito à saúde, esta noção impõe aos Poderes Públicos a obrigação de
proteger a saúde no âmbito das relações privadas, devendo o legislador estabelecer leis
adequadas a essa proteção e os tribunais interpretar as normas do direito privado de
acordo com a Constituição, inclusive declarando-as inconstitucionais quando violarem
o bem jurídico da saúde.

Alguns exemplos dessa ideia:

I. anulação de cláusulas contratuais dos planos de saúde, tendo em vista o


prejuízo que acarretam à saúde do usuário;

II. intervenção do SUS no âmbito do meio ambiente do trabalho quando não


oferecer condições salubres de trabalho.

Princípios e diretrizes do Direito Sanitário


Em todos os campos do Direito, observa-se a importância dos princípios, que hoje são
consensualmente considerados autênticas normas jurídicas, vinculando os poderes
públicos e os particulares às suas disposições. O Prof. Celso Antônio Bandeira de
Melo enuncia que princípio é, por definição, mandamento nuclear de um sistema,
verdadeiro alicerce dele, disposição fundamental que se irradia sobre diferentes
normas, compondo-lhes o espírito, e servindo de critério para sua exata compreensão
e inteligência, exatamente por definir a lógica e a racionalidade do sistema normativo,
no que lhe confere a tônica e lhe dá sentido harmônico.

Sem esquecer a aplicabilidade de outros princípios constitucionais ao campo do Direito


Sanitário, como os referentes à administração pública (art. 37) e os princípios gerais
da ordem social (art. 193), passamos a examinar os princípios constitucionais da
seguridade social (art. 194) e da saúde (arts. 196 e 198). Todos da CRFB-88.

A análise desses dispositivos demonstra que eles estabelecem as diretrizes que devem
ser observadas pelos Poderes Públicos no cumprimento de suas obrigações. Dessa
forma, os princípios impõem um conjunto de objetivos ao Estado cujo alcance é o vetor
que deve orientar o desenvolvimento das políticas públicas, limitando o campo da
discricionariedade.

41
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Os princípios permitem verificar a constitucionalidade e legalidade materiais das


políticas públicas, tanto no que se refere as suas atividades-fim quanto as suas
atividades-meio. A leitura combinada dos arts. 194, 196 e 198 da CRFB-88 destaca os
seguintes princípios:

»» Universalidade (art. 194, I; art. 196, caput): essa diretriz rompe com a
divisão que existia anteriormente entre os segurados do sistema de
Previdência Social e o resto da população. Como direito de todos, a saúde
não requer nenhum requisito para sua fruição, devendo ser universal e
igualitário o acesso às ações e serviços de saúde, “em todos os níveis de
assistência” (art. 7o, I, da LOS).

»» Caráter democrático e descentralizado da administração, com participação


da comunidade (art. 194, VII; art. 198, I e III): a descentralização é aqui
entendida como uma redistribuição das responsabilidades pelas ações e
serviços de saúde entre os vários níveis de governo, a partir da ideia de
que, quanto mais perto do fato a decisão for tomada, mais chance haverá
de acerto. Deverá haver uma profunda redefinição das atribuições dos
vários níveis de governo, com um nítido reforço do poder municipal no
tocante à saúde.

»» Atendimento integral, com prioridade para as atividades preventivas,


sem prejuízo dos serviços assistenciais (art. 198, II): este princípio
impõe a articulação e continuidade do conjunto das ações e serviços
preventivos e assistenciais ou curativos, em todos os níveis do sistema.
A integralidade implica ainda que os serviços de saúde devem funcionar
atendendo o indivíduo como um ser humano integral, submetido às
mais diferentes situações de vida e de trabalho, que o levam a adoecer
e morrer. O indivíduo deve ser entendido como um ser social, cidadão
que biológica, psicológica e socialmente está sujeito aos riscos inerentes
à vida. Dessa forma, o atendimento deve ser feito para a sua saúde e não
somente para as suas doenças. Isso exige que o atendimento seja feito
também para erradicar as causas e diminuir os riscos, além de tratar
os danos. Isso significa que o SUS deve garantir o acesso a ações de
promoção, que buscam eliminar ou controlar as causas das doenças e
agravos, envolvendo ações também em outras áreas.

»» Regionalização e hierarquização (art. 198, caput): este princípio busca


permitir um conhecimento maior, por parte da rede de serviços do
SUS, dos problemas de saúde da população de uma área delimitada,
favorecendo ações de vigilância epidemiológica, sanitária, controle de

42
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

vetores, educação em saúde, além das ações de atenção ambulatorial e


hospitalar em todos os níveis de complexidade.

Dessa forma, o acesso da população à rede deve dar-se por intermédio dos serviços de
nível primário de atenção, que devem ser e estar qualificados para atender e resolver
os principais problemas que demandam serviços de saúde. Os que não podem ser
resolvidos nesse nível deverão ser referenciados para os serviços de maior complexidade
tecnológica.

Além desses princípios, o já citado art. 7o da Lei no 8.080/1991 enumera outros, a saber:

»» preservação da autonomia das pessoas na defesa de sua integridade


física e moral, o que significa o respeito à capacidade do indivíduo tomar
decisões, inclusive elegendo o procedimento a ser adotado, desde que
eficaz para a preservação da sua saúde ou da comunidade (art. 7o, III);

»» direito à informação, às pessoas assistidas, sobre sua saúde (art. 7o, V);

»» divulgação de informações quanto ao potencial dos serviços de saúde e


sua utilização pelo usuário (art. 7o, VI);

»» utilização da epidemiologia para o estabelecimento de prioridades, a


alocação de recursos e a orientação programática (art. 7o, VII);

»» integração em nível executivo das ações de saúde, meio ambiente e


saneamento básico (art. 7o, X);

»» conjugação dos recursos financeiros, tecnológicos, materiais e humanos


da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios na prestação
de serviços de assistência à saúde da população (art. 7o, XI);

»» capacidade de resolução dos serviços em todos os níveis de assistência,


isto é, capacidade dos serviços de saúde resolverem, no nível de sua
complexidade, os problemas que lhes forem apresentados (art. 7o, XII);

»» organização dos serviços públicos de modo a evitar duplicidade de meios


para fins idênticos (art. 7o, XIII).

Como se pode observar, esses princípios regulam não apenas as prestações de serviços
de saúde, mas também a própria organização do SUS, o qual segue a mesma doutrina e os
mesmos princípios organizativos em todo o território nacional, sob a responsabilidade
das três esferas autônomas de governo: federal, estadual e municipal. Assim, o SUS
não é um serviço ou uma instituição, mas um sistema, que significa um conjunto de
unidades, serviços e ações que interagem para um fim comum.

43
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Princípios e diretrizes do direito à saúde


do trabalhador
Tudo acima exposto se aplica à saúde do trabalhador, pois tudo que vale ao todo vale,
por óbvio, à parte desse mesmo todo. Logo, não há saúde do trabalhador sem o respeito
a esses princípios e diretrizes. Especificamente à saúde do trabalhador, a CRFB-88
pontua alguns direitos fundamentais, a partir dos quais se estrutura a presente obra:

»» Inciso XXVIII do art. 7o: seguro contra acidentes de trabalho (SAT), a


cargo do empregador, sem excluir a indenização a que este está obrigado,
quando incorrer em dolo ou culpa.

»» Inciso XXII do art.7o: redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio
de normas de saúde, higiene e segurança.

»» Inciso XXIII do art.7o: adicional de remuneração para as atividades


penosas, insalubres ou perigosas, na forma da lei.

»» Inciso II do art. 200: Ao Sistema Único de Saúde (SUS) compete, além


de outras atribuições, nos termos da lei: executar as ações de vigilância
sanitária e epidemiológica, bem como as de saúde do trabalhador.

»» Caput do art. 225 — meio ambiente ecologicamente equilibrado, neste


incluso o do Trabalho (VIII, art. 200).

Por conta dos dispositivos acima, fica nítida a ativação de vários ramos do direito,
submetidos a um mesmo tronco da Saúde do Trabalhador, dentro de um bem jurídico
maior: a saúde. Daí a denominação Direito Sanitário.

A ativação dos vários ramos se dá de modo expresso na CRFB-88, a saber:

»» Direito Sanitário: institucionalizando juridicamente a saúde do


trabalhador, inclusive (menção inaugural dessa terminologia) ao atribuir
ao SUS competência ampla e plena, nos termos do inciso II do art. 200.

»» Direito Previdenciário: ao estender compulsoriamente o sustento


financeiro do trabalhador incapacitado para o trabalho, nos termos
colocados no inciso I do art. 201.

»» Direito Tributário: ao determinar o recolhimento compulsório do SAT,


por parte das empresas, nos termos do inciso XXVIII do art. 7o.

»» Direito Ambiental: ao incluir o meio ambiente do trabalho na definição


constitucional dada pelo art. 225 de meio ambiente, nos termos do inciso
VIII do art. 200.
44
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

»» Direito Penal: ao vincular e definir consequência à pessoa do empregador


quando da ocorrência de ato culposo ou doloso, nos termos do inciso
XXVIII do art. 7o.

»» Direito Civil: ao referenciar indenização, por parte do empregador,


quando do acidente do trabalho, nos termos do inciso XXVIII do art. 7o.

»» Direito Trabalhista: ao criar adicional de remuneração para as atividades


penosas, insalubres ou perigosas, nos termos do inciso XXIII do art. 7o.

Para visualização na nova configuração constitucional, apresenta-se a seguir uma


figura que indica a hierarquia e os novos ramos do direito submetidos à nova ordem
constitucional:

Figura 10. Múltiplas dimensões da saúde do trabalhador submetidas à nova ordem constitucional.

Aspectos Constitucionais sobre Saúde do Trabalhador

Direito Privado
Direito Público (Interesse Coletivo) – Alcança Todos os Trabalhadores (Interesse
Individual) –
Alcança apenas
o empregado

Sanitários Previdenciários Tributários Ambientais Penais

Trabalhistas
Cíveis

Fonte: Próprio autor.

45
CAPÍTULO 2
Gerações de saúde do trabalhador

1ª Geração
Pela correria do dia a dia alguns profissionais da área, e mesmos gestores, não se
aperceberam dessa inflexão de vanguarda da sociedade brasileira. Explico: A primeira
geração ideológica nasce em 1919, como precursora da atual Previdência Social,
quando a ordem jurídica brasileira introduz o seguro acidentário mediante o instituto
de compensação financeira acidentária, restrita aos trabalhadores submetidos aos
processos industriais, instituindo obrigatoriedade, por parte da empresa, de sustentar
um Seguro de Acidente do Trabalho a ser pago ao acidentado. Nesse estágio tinha-se
a teoria do risco profissional. Só recebia o seguro quem reclamasse à autoridade
policial. Era caso de polícia. Práticas nesse campo estavam voltadas ao infortúnio
(não à prevenção). O Brasil inaugura obrigatoriedade do seguro privado. Acreditem:
o Brasil já viveu a experiência do SAT privatizado. Isso perdurou até 1967, quando foi
estatizado.

2ª Geração
Essa, que ora se esgota, vem com a estatização do SAT, equilibrado que afasta das
empresas a responsabilização acidentária (segurados e dependentes), transferindo-a
ao Seguro Social (INPS à época) relativamente aos empregados (diga-se de passagem:
só esses são protegidos). Estatiza-se o SAT e institui-se o risco social a partir da Lei
5.316, de 1967. Pelo risco social (princípio da solidariedade) há o pressuposto de que
todos os membros da sociedade (e não exclusivamente o empregado ou a empresa)
devem suportar as contingências sociais que afligem o trabalhador acidentado,
independentemente da existência de culpa da empresa. Em outras palavras, todos pagam
para algumas empresas adoecerem e acidentarem mais, pois sabidamente possuem um
maior potencial acidentário (risco econômico-ambiental), daí o nome de seguro social.
Neste estágio, que durou até o advento do Nexo Técnico Epidemiológico Previdenciário
(2007), prevaleceram as teorias da epiização; do ato inseguro do acidentado (culpa da
vítima); da cartorização de programas PPRA/PCMSO; do viés trabalhista para questões
óbvias de saúde pública; indústria de laudos/ atestados; do falso-negativo (acima
demonstrado na tabela), bem como narrativa ideológica do estado ineficiente por não
dar conta dos milhões ano de acidentados que batem à porta da Previdência Social sem

46
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

explicitar à sociedade brasileira quais são as empresas produtoras desses agravos. Tudo
isso por conta de 1%, 2% e 3% de SAT sobre a folha de salários

Será que privatizado o SAT, as seguradoras cobrariam esse mesmo prêmio de


seguro? Desse caldo surge a mais evidente consequência: o esgotamento dessa
geração. Completo descolamento entre os resultados e as políticas públicas
e privadas baseadas nessas teorias. O ponto de chegada é o seguinte: o atual
sistema jurídico ideológico trabalhista para saúde do trabalhador chegou a um
esgotamento irreversível exatamente por se preocupar com trabalho e não
com o trabalhador. Parece jogo de palavras, mas faz binária diferença, pois a
categoria filosófica do trabalho é puxada pela dimensão econômica como fator
de produção: a preocupação é a produção e não a pessoa humana.

3ª Geração
A terceira geração, consagrada pela Constituição – CRFB-88, tem como símbolo a
instituição do Fator Acidentário de Prevenção (FAP); o Nexo Técnico Epidemiológico
Previdenciário (NTEP) e o eSocial que avançam no sentido da gestão de desempenho.
O empresário infletiu à melhora ambiental de forma sistêmica a partir da percepção
que também, em alguma medida, é vítima e refém de um sistema obsoleto, anacrônico,
monopolista de poder representado pela medicina do trabalho de receita de bolo
(de rolo), apenas para exigir contratação pela NR e fazer ASO (Atestado de Saúde
Ocupacional); e da engenharia de segurança do trabalho para prescrever e comprar
EPI. Essas disciplinas obsoletas (A CRFB-88 as derrogou, colocando no lugar a saúde
do trabalhador baseada em higiene, saúde e segurança no campo ambiental e da saúde
pública), carecem de um choque de ciência para se atualizar, ao passo que o sistema
jurídico padece de mal genético instalado no DNA do trabalhismo segundo o qual é a
empresa que decidirá na mesa de negociação o que deve ser fiscalizado.

A empresa simplesmente não pode esperar essa evolução ou arrebatamento dessas


mazelas. Precisa assumir seu papel social e transformador da sociedade: isso é iniciativa
privada na essência. Produzir bem, bonito, barato precisa agora de mais dois
elementos para completar a quintessência: sem contaminar o meio ambiente e
sem adoecer o trabalhador que nele labora. Essa inflexão corporativa em prol do meio
ambiente equilibrado (controlado) comparece como vetor propulsor de vanguarda,
decorre mais do pragmatismo que da ideologia. Perde menos quem faz gestão.
O discurso ideológico oriundo da tomada de decisão (equilibrar o meio ambiente) vem
a reboque do pragmatismo econômico, que desta feita passa a ser efetivo no tocante
aos resultados ambientais, até então meramente retóricos. Aproveitam-se, portanto,

47
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

as conclusões sobre os cenários de escolha para apontar a decisão de equilibrar o meio


ambiente como a mais inteligente, mais lucrativa, transmissora direta, e honestamente,
à sociedade e aos trabalhadores de efetiva responsabilidade social.

Segue-se o corolário: cenário bom é aquele que há menos riscos (probabilidades)


combinados com baixas perdas (mercadológicas, corporativas, hominais, econômicas,
ambientais, patrimoniais). Eis o desafio da terceira geração da saúde do trabalhador.

Figura 11. Novos referenciais da Saúde do Trabalhador.

NOVOS REFERENCIAIS

Fonte: Próprio autor.

Nesse contexto da 3ª geração, evidencia-se a gestão por desempenho a partir de novos


pilares fundantes de forma que os profissionais egressos das escolas de engenharia
possuam capacidade crítica sobre os processos administrativos relacionados aos
temas Contabilidade, Engenharia, Direito Previdenciário e Tributário; e Medicina,
concatenando-os e integrando-os de modo a permitir racionalização dos papéis de
trabalho, segurança jurídica e compliance dessas empresas quanto à interface veiculada
pelo eSocial, âmbito da SST. A figura seguinte apresenta visão revolucionária alinhada
os preceitos constitucionais que exigem do profissional contemporâneo essa abordagem
de vanguarda, superando em definitivo a 2ª geração obsoleta e anacrônica.

Assista aos vídeos disponíveis no HTML:

Módulo 2 - Aspectos Constitucionais e Gerações da Saúde do Trabalhador -


PARTE 1

Módulo 2 - Aspectos Constitucionais e Gerações da Saúde do Trabalhador -


PARTE 2

48
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

Figura 12. Fluxograma do processos administrativos e contábeis relacionados à gestão por desempenho em
Saúde do Trabalhador.

Fatos Fatos Administrativos Fatos Contábeis Desempenho


Espaço x Tempo Objetos de Domínio Empresarial Objeto dos Princípios Apresentação de Resultados
Geralmente Aceitos

PRECOCA Metas
Metas, ordens,
condicionantes Corporativas

Subordinar à Planos, Controle de


Circularização
MAT exposição Programas, Não
conformidade
Especificações
Registros,
Rastreabilidade
transparência, eSocial
Publicização

Macro Fluxo Contábil do Meio Ambiente do Trabalho


 Governança Corporativa
 Segurança Patrimonial, Hominal e Jurídica
 Novas Práticas e Saberes

Fonte: próprio autor.

Em paralelo comparece a epidemiologia, como área moderna do conhecimento científico,


fundamental para a elaboração de questões que permitiram a incorporação da relação
ambiente-saúde, em termos atuais, no campo da saúde coletiva. Com a introdução das
ciências sociais no campo da epidemiologia, o estudo com foco no indivíduo passou a
ser na coletividade, possibilitando o debate com as categorias “população” ou “grupos
populacionais”. Para tanto, o conhecimento de epidemiologia é crucial para o devido
acompanhamento dos trabalhadores, delineando-se estudos com metodologias
adequadas a resultados palpáveis.

Uma forte aliada da epidemiologia, como ferramenta de análise da associação do


fator de risco ao agravo do trabalho, é a estatística. Ela é importante ferramenta
para constatar a associação de variáveis de causa e efeito e, por conseguinte, a
relação causal.

Os estudos epidemiológicos devem valorizar os sinais e sintomas precoces dos


agravos, uma vez que as ações de saúde nessa fase são mais efetivas e podem evitar
o desenvolvimento completo do agravo. Há muitas incertezas em estimar tanto as
exposições como os efeitos e suas relações (RIGOTTO, 2003). Por outro lado, a reação

49
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

adversa a um contaminante pode assumir várias formas que afloram, desde sinais mais
disponíveis e com a relação custo-benefício de algumas ações (RIGOTTO, 2003).

A consciência da importância da relação do trabalho com a saúde da população


trabalhadora e não trabalhadora cresceu à medida que os profissionais da área de
saúde do trabalhador e afins detiveram o conhecimento das tecnologias e metodologias
para a finalidade de identificar as medidas de prevenção e controle dos fatores de risco
ambientais relacionados às doenças ou a outros agravos (CÂMARA, 2005).

Obsoletismo e Anacronia da EST


Obsoletismos jurídico e científico da Medicina e Engenharia de Segurança do Trabalho.
Quando o constituinte dispõe de modo diverso sobre norma jurídica existente à época
da promulgação da nova Carta Magna, diz-se que a nova Constituição não recepcionou
a ordem jurídica anterior. Isso aconteceu com a CRFB-88 que elegeu as normas de
Higiene, de Saúde e de Segurança como os novos ferramentais para fins de prevenção
dos riscos inerentes ao trabalho, nos termos do inciso XXII do art. 7o. Contrário senso,
quando a nova Carta não trata da matéria, diz-se que o direito anterior foi recepcionado
pela nova ordem.

À época da CRFB-88, a ordem jurídica em vigor sobre a matéria de prevenção laboral


era dada pela Constituição anterior (inciso IX do art. 158 da CRFB-67), regulamentada
pelo Capítulo V da Consolidação das Leis do Trabalho — CLT, que intitula e define
as disciplinas Segurança do Trabalho e Medicina do Trabalho como referenciais que
guiariam as práticas prevencionistas. Guiariam, pois deixaram de guiar.

No confronto direto entre os textos do inciso IX do art. 158 da CRFB-67 (higiene e


segurança do trabalho) e do inciso XXII do art. 7o da CRFB-88 (redução dos riscos
inerentes ao trabalho, por meio de normas de saúde, higiene e segurança), percebe-se
expressa mudança, não apenas textual, mas fortemente política, ideológica e científica.

Na exegese dos textos constitucionais acima, verifica-se o deslocamento sutil da


palavra trabalho que antes qualificava a higiene e segurança, para qualificar depois os
riscos inerentes, denotando específica e óbvia distinção de objetos e significados. Em
acréscimo, houve a inserção da palavra saúde, para a qual foi destacada na Constituição
atual uma seção inteira (art.196 ao art. 200) dada a importância que o tema recebeu,
nele incluso a saúde do trabalhador.

Assim, com o advento da CRFB-88, tem-se uma alteração expressa, de modo que as
disciplinas — Segurança do Trabalho e Medicina do Trabalho — deixaram de operar
efeitos jurídicos como ferramentas, ao tempo que perderam sua instrumentalidade

50
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

para os novos e robustos aportes científicos carreados conjuntamente pelas disciplinas


substitutas: Higiene, Saúde e Segurança.

Se quisesse ser diferente, ou seja, caso o constituinte originário optasse por


recepcionar tais disciplinas em vigor à época, simplesmente bastaria silenciar quanto à
instrumentação do inciso XXII do art. 7o, que poderia ser assim redigido: “redução dos
riscos inerentes ao trabalho” (recepção tácita). Ou expressamente nominá-las, como:
“redução dos riscos inerentes ao trabalho por meio de normas de Medicina do Trabalho
e a Engenharia de Segurança do Trabalho” (recepção expressa), dando sobrevida aos
termos dispostos no Capítulo V da CLT. Claramente não foi essa a decisão do constituinte.

A nova Carta maior confere notável ultrapassagem de paradigmas científicos, jurídicos


e até mesmo político-ideológicos. Quanto à abordagem prevencionista, são dois
momentos, portanto, antes e depois da CRFB-88, a saber:

Antes de 1988, em regime puramente celetista, os conhecimentos edificados pela


Engenharia e Medicina do Trabalho com base em métodos Taylor-Fordistas impunham
a necessidade do operário sadio, com baixo índice de absenteísmo e alta produção;
praticavam a seleção dos mais aptos e ao atendimento in locu daqueles “acometidos”
com vistas ao retorno, sem demora; e principalmente, usavam o trabalhador, como
qualquer outro recurso, como mero fator de produção (daí o termo “do trabalho”,
adjetivando a Medicina e a Engenharia), um objeto, com as matérias-primas e insumos,
dissociado da dignidade humana.

Em resumo, a razão de ser da Medicina do Trabalho e da Engenharia de Segurança


do Trabalho era salvaguardar o fator econômico, trabalho, assegurando a saúde do
trabalho ao processo produtivo, enquanto fração expropriável do capital no novo
sistema, indústria. Isso definitivamente foi superado pela nova ordem.

Sob a égide da CRFB-88, no ordenamento sanitário laboral presente na Lei Orgânica


da Saúde — LOS, dentro do campo dos direitos sociais, tem-se uma conotação dialética
do trabalhador com o meio ambiente do trabalho, e, por conseguinte, com o patrão,
segundo a qual o trabalhador resgata o polo ativo da relação, como sujeito de direitos
(ao menos tenta abandonar a passividade), exigindo e indicando o que deveria ser
mudado seguindo novos princípios e referenciais, tais como: não delegação da saúde;
validação consensual; não monetização do risco; grupo homogêneo de risco e de
vigilância sanitária e epidemiológica, no campo da saúde coletiva.

Nessa fase, há premissas que se impõem no campo da saúde do trabalhador, a saber:

»» possibilidade (necessidade) de mudança dos processos de trabalho e das


condições e dos ambientes de trabalho, em direção à humanização do trabalho;

51
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

»» saúde não delegada ao patrão, nem ao médico;

»» valorização cognitiva e política da “subjetividade operária”;

»» confronto coletivo;

»» luta primordialmente voltada à prevenção e ao saneamento do ambiente


do trabalho;

»» participação sindical como elemento fundamental para a democratização


das instituições sanitárias;

»» busca da compreensão das relações (do nexo) entre o trabalho e a


saúde-doença.

Nesse tocante, caberia uma revisão de atualização curricular nos títulos e na própria grade
programática dos cursos Medicina do Trabalho e Engenharia de Segurança do Trabalho,
dado seus obsoletismos jurídico e científico, pois é sabido e notório que o tema saúde do
trabalhador vai muitíssimo além da seara dessas duas importantes disciplinas.

Pense acerca da Engenharia de Segurança do Trabalho a partir das proposições


aqui sustentadas. Enfocando:

»» O porquê da existência da EST.

»» O papel político da EST para promover a transformação do meio


ambiente do trabalho.

»» Os desafios, as oportunidades e as perspectivas da atuação do


engenheiro de segurança do trabalho no Brasil.

Ao invés de Medicina do Trabalho, por que não usar Medicina Prevencionista do


Meio Ambiente do Trabalho – MPMAT? Engenharia de Segurança do Trabalho,
por que não Engenharia de Prevenção do Meio Ambiente do Trabalho – EPMAT?
Este Caderno coloca essa proposta em discussão, ao menos ao nível dos nobres
leitores.

Conclui-se esse tópico com a definição moderna de EST que assume nova nomenclatura:
Engenharia de Prevenção do Meio Ambiente do Trabalho – EPMAT, assim entendido
o ramo da engenharia responsável por prevenir agravos à saúde (vida) do trabalhador
mediante a arte de aplicar ao meio ambiente do trabalho os conhecimentos científicos
e empíricos necessários à criação segura de sistemas de produção (projetos, plantas,
equipamentos, estruturas, dispositivos, algoritmos, processos e procedimentos)
utilizados para converter energia humana e recursos naturais em produtos e serviços
adequados às vicissitudes humanas.

52
CAPÍTULO 3
Agravos relacionados ao trabalho

Os acidentes do trabalho constituem o maior dos agravos à saúde dos trabalhadores


brasileiros e diferentemente do que o nome sugere, eles não são eventos acidentais
ou fortuitos, mas sim fenômenos socialmente determinados, previsíveis e preveníveis.
Desde 1970, quando começam os registros sistemáticos em âmbito nacional, mais de 30
milhões de acidentes foram comunicados, provocando mais de 100 mil óbitos evitáveis
entre brasileiros jovens e produtivos.

Definição de agravo à saúde do trabalhador


e acidente do trabalho
A definição de agravo é bem ampla e englobadora, vale para toda a população, independe
se há ou não incapacidade vinculada e inclui o acidente do trabalho. Agravo à saúde do
trabalhador, qualquer que seja, é entendido como lesão, doença, transtorno de saúde,
distúrbio, disfunção ou síndrome de evolução aguda, subaguda ou crônica, de natureza
clínica ou subclínica, inclusive morte, independentemente do tempo de latência.

Por sua vez, Acidente do Trabalho é mais restrito e depende dos requisitos colocados pela
lei previdenciária, nos termos dos arts. 19 e 20 da Lei no 8.213/1991. Acidente do trabalho
(art. 19) é o que ocorre pelo exercício do trabalho a serviço da empresa ou pelo exercício
do trabalho do empregado, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que
cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o
trabalho. Ou seja, tem de ter incapacidade e vale apenas aos empregados.

Curiosidade. Se o acidente na mina San José, no Chile, em 5 de agosto de 2010, que


deixou confinado 33 mineiros em um refúgio a 700 metros abaixo da superfície, durante
37 dias, fosse no Brasil, não seria considerado acidente do trabalho exatamente pelo
fato de não ter havido incapacidade para o trabalho. Nesse caso, não se ativaria norma
previdenciária (o INSS não seria obrigado a pagar qualquer espécie de benefício),
cabendo à empresa empregadora dos mineiros pagar salários normalmente. O direito
ativado nesse caso foi o civil de ir-e-vir, jamais o acidentário.

No escopo acidentário (art. 20) estão contidas as doenças profissionais, as do trabalho


e as concausais, bem como aquelas situações outras havidas no local e no horário do
trabalho em consequência de força maior, casos fortuitos, ação de terceiros, entre
outros. A figura seguinte demonstra esses conjuntos e definições legais, bem como que

53
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

no Brasil existe uma sobreposição de três sistemas de notificações (previdenciário,


trabalhista e sanitário). Pela regra previdenciária, no art. 22 da Lei no 8.213/1991 existe o
sistema restrito aos empregadores, o CAT-web (Comunicação de Acidente do Trabalho,
substituído pelo Evento, CAT-S-2210 do eSocial). Pela regra sanitária, o SINAN-Net
(Sistema de Informação de Agravos de Notificação), no âmbito do SUS. O Ministério do
Trabalho se absteve de elaborar um específico e adota o sistema previdenciário (INSS).

Figura 13. Definições legais: conjuntos e subconjuntos do agravo.

Fonte: próprio autor.

Notificação compulsória. As ações que visam à redução dos agravos relacionados ao


trabalho dependem primordialmente de informação, fundamental, portanto, que todo
trabalhador tenha a notificação e registro do seu agravo à saúde. Diz-se compulsória
porque tal notificação deve ser feita, obrigatoriamente, por força da legislação:

I. Pela rede SUS, por força dos arts. 7o e 8o, da Lei no 6.259, de 30 de outubro
de 1975, regulamentado pela Portaria no 104, de 25 de janeiro de 2011, cujo
art. 7o diz: A notificação compulsória é obrigatória a todos os profissionais de
saúde médicos, enfermeiros, odontólogos, médicos veterinários, biólogos,
biomédicos, farmacêuticos e outros no exercício da profissão, bem como os
responsáveis por organizações e estabelecimentos públicos e particulares
de saúde e de ensino, para todo e qualquer usuário do sistema.

II. Pela empresa, por força do art. 22, Lei no 8.213/1991, para o segurado
empregado, trabalhador avulso e segurado especial.
54
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

III. Pela empresa, por força do art. 169 da CLT, para os casos de trabalhador
empregado.

Para Rigotto (2003), a ocorrência de acidentes e doenças ocupacionais é oriunda de


novas tecnologias e novas relações de trabalho. Estas por sua vez trazem novos valores,
novos hábitos e introduzem novos riscos tecnológicos, de natureza física, química,
biológica, mecânica, ergonômica e psíquica, que interferem na saúde humana no
ambiente de trabalho.

O acidente tem o caráter de um evento agudo, que causa lesão corporal ou perturbação
funcional temporária ou permanente, como seria o caso de uma amputação de dedos ou
de uma intoxicação aguda por agrotóxico, ou mesmo dos acidentes ocorridos no trajeto
do trabalhador entre sua residência e o local de trabalho, seguindo ao que se define como:

Todo evento súbito ocorrido no exercício de atividade laboral,


independentemente da situação empregatícia e previdenciária do
trabalhador acidentado, e que acarreta dano à saúde, potencial ou
imediato, provocando lesão corporal ou perturbação funcional que
causa, direta ou indiretamente (concausa) a morte, ou a perda ou
redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho.
Inclui-se ainda o acidente ocorrido em qualquer situação em que o
trabalhador esteja representando os interesses da empresa ou agindo
em defesa de seu patrimônio; assim como aquele ocorrido no trajeto da
residência para o trabalho ou vice-versa (BRASIL, 2006).

Devido ao seu expressivo impacto na morbimortalidade da população, os acidentes


constituem-se em importante problema de saúde pública e objeto prioritário das ações do
SUS, que, em conjunto com outros segmentos dos serviços públicos e da sociedade civil,
devem continuar a buscar formas efetivas para o seu enfrentamento. Entre esses outros
setores dos serviços públicos e sociedade civil, encontramos universidades e institutos
de pesquisa, Ministério Público, Ministério do Trabalho e Emprego e outros correlatos.

São pouco estudadas as sequelas crônicas e de instalação tardia de acidentes


adequadamente reconhecidos como provenientes do trabalho, e aquelas que só
tardiamente são identificadas como relacionadas aos acidentes, inicialmente não são
registradas como do trabalho (BRASIL, 2006).

Em 2011, foram registrados cerca de 700 mil acidentes e doenças do trabalho entre
os trabalhadores assegurados da Previdência Social. Observe que esse número, que já
é alarmante, não inclui os trabalhadores autônomos (contribuintes individuais) e as
empregadas domésticas. Tais eventos provocam enorme impacto social e econômico
sobre a saúde pública no Brasil. Entre esses registros, foram contabilizadas 15.083

55
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

doenças relacionadas ao trabalho. Parte desses acidentes e doenças resultou em


afastamento de 611.576 trabalhadores de suas atividades devido à incapacidade
temporária (309.631 até 15 dias e 301.945 com tempo de afastamento superior a 15
dias), e com incapacidade permanente, contabilizou-se 14.811 trabalhadores. Os óbitos
ocorreram com 2.884 cidadãos (BRASIL, 2013).

Para se ter a real dimensão da importância do tema saúde e segurança do trabalho,


basta observar que no Brasil, em 2011, registrou-se cerca de 1 morte a cada 3 horas,
motivada pelo risco decorrente dos fatores ambientais do trabalho e ainda uma média
de 81 acidentes e doenças do trabalho reconhecidos a cada 1 hora na jornada diária.
Nesse mesmo ano (2011), foi observada uma média de 49 trabalhadores por dia que não
mais retornaram ao trabalho devido à invalidez ou morte (BRASIL, 2013).

Em 2012, ocorreram 423.935 acidentes típicos, índice 0,5% menor que o de 2011 (426.153),
mas 1,6% maior que o de 2010 (417.295); 14.955 doenças apuradas, em 2012, atingiram o
total mais baixo em 20 anos, desde 1993, e acentuam a curva descendente já observada em
2011 (16.839 adoecimentos), 2010 (17.177) e na segunda metade dos anos 2000. Entretanto,
ainda representam números elevados de acidentes, ainda que os sistemas de notificação de
doenças e acidentes de trabalho venham sendo aperfeiçoados (PROTEÇÃO, 2014).

Na classificação proposta por Schilling (1984), segundo a sua relação com o trabalho (nexo
de causalidade), as doenças do trabalho podem ser reunidas em três grupos. A saber:

Quadro 1. Divisão em categorias segundo classificação de Schilling.

Grupos de doenças Exemplos de patologias


Grupo I: doenças em que o trabalho é causa necessária e suficiente; Intoxicações por chumbo devido à exposição a esse agente químico
tipificadas pelas “doenças profissionais” em que o nexo com o trabalho nas atividades de fabricação de baterias; silicose, nas atividades da
é direto. fabricação de cerâmica; e asbestose nas atividades de mineração,
extração e fabricação de cimento amianto.
Grupo II: doenças em que o trabalho pode ser um fator de risco, Doenças osteomusculares relacionadas ao trabalho, à hipertensão
contributivo, mas não necessário, denominadas “doenças do trabalho”, arterial; as neoplasias malignas em determinados grupos ocupacionais
exemplificadas pelas doenças “comuns”, mais frequentes ou mais ou ramos de atividade constituem exemplos típicos.
precoces em determinados grupos ocupacionais e para as quais o nexo
causal é de natureza eminentemente epidemiológica.
Grupo III: doenças em que o trabalho é provocador de um distúrbio Doenças alérgicas de pele e respiratórias, e distúrbios mentais em
latente, ou agravador de doença já estabelecida ou preexistente, ou determinados grupos ocupacionais ou ramos de atividade.
seja, com causa, também denominada “doenças do trabalho”.

Fonte: Schilling, 1984. Apud Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho (2001).

Por sua vez, as doenças relacionadas ao trabalho surgem de modo insidioso, após
manifestação aguda, como as intoxicações por substâncias químicas, a perda da audição,
dermatoses, lesões por esforços repetitivos e incluem, ainda, sofrimento psíquico,
desgaste, doenças crônico-degenerativas e alterações genéticas que podem se manifestar
em câncer ou alterações da reprodução (RIGOTTO, 2003).

56
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

Em 1999, os Ministérios da Saúde e da Previdência Social no Brasil elaboraram uma


lista que discrimina 210 patologias reconhecidas como relacionadas ao trabalho, a
Lei no 3.048 de 1999. Cumprindo também a determinação do art. 6o, §3o, inciso VII,
da Lei no 8.080 (BRASIL, 1990), o Ministério da Saúde elaborou a Lista Brasileira
de Doenças, segundo a Classificação Internacional de Doenças (CID-10), em
que são atribuídos os agentes patogênicos causadores das doenças profissionais ou
do trabalho.

Enquanto norteadora das ações de vigilância compulsória no SUS, incluindo os


agravos relacionados ao trabalho supracitados, a Portaria no 1.271, de 6 de junho de
2014 (BRASIL, 2014), trata da Lista Nacional de Notificação Compulsória de Doenças,
e aquelas de notificação exclusiva das unidades sentinelas do SUS estão previstas na
Portaria no 1.984 (BRASIL, 2014).

Essas normas constituem uma parte do variado leque de acervo criado pelos órgãos
públicos responsáveis pelo monitoramento em SST, direta ou indiretamente, portanto,
é importante frisar os materiais que foram frutos de anos de trabalho do Ministério da
Saúde, tais como: Manual de Doenças Relacionadas ao Trabalho (2001), protocolos de
atendimento e notificação para acidentes graves, fatais e com crianças e adolescentes,
DORT, PAIR, pneumoconioses etc. Esses materiais visam ao atendimento igualitário, em
todo território nacional, a todos os trabalhadores atendidos pelo SUS, compreendendo
os procedimentos entre o primeiro atendimento até a notificação, recomendações e
parâmetros para seu diagnóstico, tratamento e prevenção de incapacidade laboral. Veja
os principais protocolos a seguir.

Quadro 2. Principais protocolos na área de Saúde do Trabalhador.

Principais protocolos em ST
»» Trabalho infantil »» Pneumoconioses
»» Anamnese ocupacional »» Risco químico
»» Acidentes de trabalho graves, fatais »» Câncer relacionado ao trabalho
»» Exposição a material biológico »» Dermatoses ocupacionais
»» Expostos ao chumbo metálico »» Doenças osteomusculares
»» Perda Auditiva Induzida pelo Ruído (PAIR)

Fonte: Próprio autor.

Neste capítulo, pudemos aprender um pouco mais sobre a investigação de agravos


relacionados à saúde do trabalhador, tanto em abordagem coletiva quanto individual, e
a responsabilização dos entes públicos e privados no monitoramento desses agravos –
dados que refletem o impacto direto no nível de saúde da população brasileira (número
de incapacitados, mortes, famílias seguradas etc.).

57
UNIDADE II │ ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR

Reitera-se, ainda, que a notificação compulsória não exime o empregador de emitir o


Comunicado de Acidente de Trabalho (CAT), direcionado principalmente à concessão
do benefício previdenciário daqueles trabalhadores regidos pela Consolidação das Leis
Trabalhistas (CLT). A partir deste ponto, você já se perguntou de que forma é realizado o
monitoramento dos agravos em saúde da imensidão de trabalhadores informais? Se sim,
reflita a respeito da abordagem do profissional de saúde da rede que não consegue visualizar
a determinação do trabalho na saúde do paciente atendido em sua unidade de saúde. Esses
e outros questionamentos poderemos trazer para o nosso cotidiano em busca de respostas.

Notificação compulsória: Comunicação de Acidente do Trabalho - CAT, substituída


pelo Evento, CAT-S-2210 do eSocial).

A CAT é o instrumento de registro dos casos de acidentes de trabalho e doenças


relacionadas ao trabalho, porém de registro limitado, pois compreende apenas os
trabalhadores em regime celetista (CLT), sendo excluídos os empregados domésticos,
servidores públicos, militares, autônomos, grande parte dos trabalhadores rurais e
todos aqueles do mercado informal de trabalho.

O sistema CAT-Web foi determinado pelo § 2o do art. 203 do Regulamento da Previdência


Social, que diz: O Instituto Nacional do Seguro Social, com base principalmente na
comunicação prevista no art. 336, implementará sistema de controle e acompanhamento
de acidentes do trabalho ao atender ao art. 22 da Lei no 8.213/1991.

O fluxo da CAT até seu registro no INSS depende, em grande parte, de ato voluntário do
empregador, do preenchimento do atestado médico contido no item II do formulário
pelo médico que atendeu o acidentado e do seu encaminhamento à agência do INSS da
área de ocorrência do acidente.

O sistema CAT-Web tem um vício de origem que o faz reconhecidamente ineficaz,


em decorrência, principalmente, da sonegação de emissão. Um obstáculo para o
planejamento e a implementação de políticas de prevenção de acidentes do trabalho é
a precária validade destas informações.

Historicamente, por vários motivos e distintas naturezas aqui discutidos, a doença


incapacitante, por mais de 15 dias, teve reduzida a sua vinculação ao trabalho. O sistema
acidentário modelado pelo Legislativo brasileiro em 1967 para a Previdência Social a
partir do risco social tem na CAT a sua fonte primária, cuja sonegação é indiscutível.

A sonegação da CAT está enraizada e demarcada por aspectos políticos, econômicos,


jurídicos e sociais, a seguir relacionados:

O acidente-doença ocupacional é considerado pejorativo, por isso as empresas evitam


que o dado apareça nas estatísticas oficiais.

58
ASPECTOS CONSTITUCIONAIS DA SAÚDE DO TRABALHADOR │ UNIDADE II

Para evitar início do reconhecimento da estabilidade no emprego — que é de um ano de


duração a partir do retorno —, bem como a liberdade de poder despedir o trabalhador a
qualquer tempo.

»» Para não se depositar a contribuição devida de 8% do salário, em conta


do FGTS, correspondente ao período de afastamento.

»» Para não se reconhecer os fatores de riscos de doença ocupacional e, com


isso, não recolher a contribuição específica correspondente ao custeio da
aposentadoria especial para os trabalhadores expostos.

»» A CAT emitida pela empresa é considerada palavra final e inquestionável


sobre o Nexo Técnico Previdenciário — NTP, quando na verdade é
somente um ato administrativo que carece de verificação, investigação e
julgamento a partir de outras evidências; A CAT é tida como ato médico
— o INSS historicamente não aceita CAT sem a seção do atestado médico,
ainda que não esteja na lei, na qual o médico tem palavra final, embora se
saiba do caráter multidisciplinar do tema da saúde do trabalhador.

»» A CAT, sob o prisma do empregador, funciona como confissão de culpa com


consequências penais, cíveis, previdenciárias e trabalhistas. As doenças
do trabalho têm múltiplos fatores etiogênicos que concorrem entre si e
complicam a afirmação do diagnóstico. Agravado pelo não imediatismo
entre a exposição e a doença, no qual a manifestação mórbida (sinal,
sintoma, distúrbio ou doença) ocorre dias, meses, anos, às vezes, vários
contratos de trabalho depois da exposição inicial.

»» O afastamento é ocupacional ou não? Diante da dúvida, é mais confortável,


para a Medicina do Trabalho, afirmar que é não ocupacional — não emitir
a CAT —, isso porque é mais fácil atribuir a causalidade da doença a outros
fatores que não o trabalho, considerando que o trabalho pode ser causa
suficiente, mas não necessária.

Em 2006, foram registrados no Brasil 503.890 acidentes e doenças do trabalho em uma


população de 26.576.068 de pessoas, tendo um coeficiente de incidência correspondente
a 1,89%. No mesmo ano, na Argentina, foram registrados 600.000 acidentes e doenças
do trabalho em uma população segurada de seis milhões de trabalhadores, com um
coeficiente de incidência de 10%.

Os dados oficiais publicados pelo Anuário Estatístico da Previdência Social — AEPS de


1990 a 2005 sugerem a subnotificação dos acidentes do trabalho.

59
FATORES DE RISCOS DO
MEIO AMBIENTE UNIDADE III
DO TRABALHO
O que é risco? Risco é qualquer variável que pode causar danos ou lesões graves
ao trabalhador, inclusive a morte. O exercício da atividade laboral sob condições
inseguras existentes no ambiente de trabalho expõe o trabalhador a riscos que podem
ser classificados em cinco categorias: (I) físicos, (II) químicos, (III) biológicos, (IV)
ergonômicos e (V) mecânicos (ou de acidentes).

Essa classificação é internacional e segue a simbologia dos riscos ambientais que


são empregadas no Mapa de Risco (NR-05 – CIPA): Risco físico: cor verde; Risco
químico: cor vermelha; Risco biológico: cor marrom; Risco ergonômico: cor amarela;
Risco de acidentes: cor azul; Para efeito da Norma Regulamentadora 9 (MTE), em seu
item 9.1.5., consideram-se riscos ambientais os agentes físicos, químicos e biológicos
existentes nos ambientes de trabalho que, em função de sua natureza, concentração ou
intensidade e tempo de exposição, são capazes de causar danos à saúde do trabalhador.

Os riscos ergonômicos são apresentados e discutidos na Norma Regulamentadora


17 (MTE). Os riscos mecânicos, entretanto, estão diluídos em diferentes normas
regulamentadoras, mas pode-se visualizá-los com mais profundidade na Norma
Regulamentadora 18 (MTE), que trata da construção civil.

Deve-se entender que a presença dos agentes físicos, químicos e biológicos no ambiente
pode oferecer riscos potenciais à saúde dos trabalhadores e gerar uma probabilidade de
que eles venham a contrair uma doença. Mas para que isso aconteça devem concorrer
vários fatores:

»» o tempo de exposição do trabalhador;

»» a concentração ou intensidade dos agentes de risco no ambiente laboral;

»» as características do agente de risco;

»» a susceptibilidade individual.

Cada agente de risco tem, no mínimo, uma fonte geradora do risco associada. O espaço
existente entre a fonte do risco e o trabalhador é considerado a sua “trajetória”. Qualquer
medida planejada para controlar a exposição do trabalhador ao risco estará centrada
em, pelo menos, um destes três focos possíveis: (i) na fonte geradora, (ii) na trajetória,
ou (iii) no trabalhador.

60
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

Conceitos ligados a riscos no trabalho. Segurança – “Situação que está livre de


risco ou perigo” Perigo – “Estado ou situação que inspira cuidado e que pode
produzir danos” Risco – “Possibilidade ou probabilidade de um perigo” Lei de
Murphy “Se algo errado tiver de acontecer, não se preocupe, acontecerá da pior
maneira” Lei dinâmica de Murphy “Algo errado, sob pressão, tende a piorar”
Todo o programa de segurança e prevenção somente será avaliado quando
algo falhar. Enquanto não acontecer nenhum acidente ou incidente, sempre
vai parecer que o programa de segurança está perfeito e custando mais do
que deveria.

61
CAPÍTULO 1
Riscos físicos e químicos

Riscos físicos são as diversas formas de energia a que possam estar expostos os
trabalhadores, tais como: ruído, vibrações, pressões anormais, temperaturas extremas,
radiações ionizantes e radiações ionizantes. Ruído (Contínuo e de Impacto). É um
fenômeno físico que indica uma mistura de sons, cujas frequências não seguem uma
lei precisa. Alguns utilizam como sinônimo de barulho, mas este inclui componentes
subjetivos da percepção sonora. É o risco profissional com maior frequência de
reclamações nos ambientes laborais. Pode causar perda auditiva, permanente ou
temporária, e trauma acústico entre outros efeitos possíveis de alterações em quase
todos os órgãos do organismo humano. O ruído de impacto é aquele que se caracteriza
por ser de intensidade muito alta com duração muito pequena, menor que um segundo,
em intervalos maiores que um segundo, como, por exemplo, uma martelada em
superfície metálica e a operação de um bate-estaca. Considera-se ruído contínuo todo
outro tipo de ruído que não seja de impacto.

Uma dica: se o ruído ambiente prejudica a conversa entre dois trabalhadores que estão
dispostos a 1,0 metro de distância, em tom de voz normal, vale a pena solicitar uma
avaliação com equipamentos pois esta intensidade de ruído pode ser danosa à saúde.

Vibração é o movimento, oscilação, balanço de objetos. Apenas uma pequena parcela


das vibrações pode ser detectada pelos órgãos sensoriais humanos (tato e audição).
O organismo humano está sujeito aos efeitos das vibrações quando elas apresentam
valores específicos de amplitude e de frequência. A exposição às vibrações pode
ocorrer de forma direta, quando há contato entre a fonte de vibração e o trabalhador (a
operação de uma britadeira), ou de forma indireta, quando a fonte vibra as instalações
física (o piso por exemplo) e esta vibração é transmitida ao trabalhador. As vibrações
atuam em regiões diferentes do organismo em função das suas características, mas
podem causar: (I) enjoo ou náuseas, (II) afundamento do tórax, (III) problemas
ósteoarticulares ou angioneurológicos (como artrose do cotovelo, necrose dos ossos dos
dedos, deslocamentos anatômicos, problemas nervosos etc.).

Temperaturas Extremas (calor e frio) são as condições térmicas rigorosas em que são
realizadas diversas atividades profissionais, submetendo os colaboradores a sua ação.
Deve-se conhecer a interação térmica entre o organismo humano e o meio ambiente
de trabalho e conhecer, também, os efeitos da exposição a essas temperaturas para que
se possa avaliar e controlar essas interações de forma a proteger o trabalhador de seus
efeitos maléficos. Vale ressaltar que os efeitos da exposição a temperaturas extremas

62
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

são relacionados à atividade física realizada pelo trabalhador, em termos de taxa


de metabolismo.

Com o aumento do calor ambiental, há uma sobrecarga térmica e o organismo reage


para promover aumento da perda de calor por reações fisiológicas. Os principais
mecanismos de defesa do organismo ao calor intenso são: (I) a vasodilatação periférica
que aumenta a temperatura cutânea e diminui o ganho de calor corporal, tanto por
irradiação quanto por condução-convexão, e (II) a sudorese, cuja eficiência está
associada à evaporação do suor gerado. Trabalhadores expostos a ambientes com calor
intenso sofrem de fadiga, erros de percepção e raciocínio e apresentam perturbações
psicológicas. Entre os efeitos da exposição ao calor estão: (I) a insolação, (II) a
prostração térmica ou exaustão do calor, (III) a desidratação, (IV) as câimbras de calor
e (V) o choque térmico. A exposição a frio intenso pode gerar consequências na saúde,
no conforto e na eficiência do trabalhador. A baixa temperatura corporal resulta de
um balanço negativo entre a produção (que diminui) e a perda de calor (que aumenta).
Os principais mecanismos de defesa do organismo ao frio intenso são a vasoconstrição
periférica, a diminuição gradual de todas as atividades fisiológicas e o tremor (cuja
produção de calor é proporcional ao número de contrações musculares).

Os efeitos dependem principalmente da temperatura do ar, da velocidade do ar e


da variação do calor radiante. Com a temperatura do corpo abaixo de 29°C ocorre o
fenômeno da hipotermia que pode evoluir para sonolência e coma. A morte ocorre
quando a temperatura é inferior a 28°C, por falha cardíaca.

Pressão Anormal é definida como qualquer exposição a pressões diferentes da pressão


atmosférica a que os trabalhadores estão normalmente expostos. A pressão acima da
atmosférica é a alta pressão, ou condição hiperbárica, a pressão abaixo da atmosférica
é a baixa pressão, ou condição hiperbárica. A exposição de trabalhadores à condição
hiperbárica é muito mais frequente e mais danosa à saúde humana, com diversos
estudos epidemiológicos e limites estabelecidos. Os efeitos das pressões anormais no
organismo são diversos: (I) ruptura de tecidos (tímpano, alvéolos, vasos, pleura etc.),
(II) irritação nos pulmões, (III) narcose pelo nitrogênio dissolvido no ar comprimido,
(IV) bolhas de nitrogênio nos tecidos (dores nas juntas, suor, palidez, tontura,
inconsciência, paralisias etc.).

Radiação (Ionizante e Não Ionizante) as radiações são uma forma de energia que se
transmite pelo espaço como ondas eletromagnéticas e, em alguns casos, apresenta
também comportamento corpuscular. A absorção da radiação pelo organismo pode gerar
diversas lesões e doenças. A radiação pode ser classificada em dois tipos, pois, ao atingir
o organismo e ser absorvida, pode gerar dois efeitos principais: (I) ionização, oriunda
das radiações ionizantes, e (II) excitação, proveniente das radiações não ionizantes.
63
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

As radiações ionizantes podem ser naturais e artificiais, mas a sua classificação mais
importante é feita em 4 tipos: (I) alfa, (II) beta, (III) gama, e (IV) raios X. Os efeitos
dependem da dose da radiação recebida pelo organismo, mas podem ser divididos
em (I) somáticos (agudos ou crônicos), que ocorrem no organismo atingido, gerando
doenças e danos, não se transmitindo a seus descendentes, e (II) genéticos, que são
mutações ocorridas nos cromossomos ou gens das células germinativas que podem
gerar alterações nas gerações futuras.

Cabe ressaltar que esta classificação é uma tentativa de ordenação de fenômenos muito
complexos e interligados, e que esta divisão pode não ser tão clara em diversos casos. O órgão
normalizador para o exercício das atividades envolvendo radiações ionizantes no Brasil
é a Comissão Nacional de Energia Nuclear – CNEN, com unidades descentralizadas no
país, à qual recomendamos fortemente que seja informada e consultada sobre quaisquer
potenciais fontes de risco de radiações ionizantes. Os diversos tipos de radiações não
ionizantes são classificados conforme o comprimento de onda e a frequência da radiação.
Cabe ressaltar que, com poucas exceções, as radiações são invisíveis e dificilmente
detectáveis pelos sentidos humanos. No caso dos efeitos térmicos provocados, a sensação
de calor pode chegar tarde demais para denunciar o risco, portanto, é obrigatório o uso
de detectores com o acompanhamento de profissionais qualificados.

Uma classificação das radiações não ionizantes as divide em: (I) micro-ondas, (II)
infravermelha, (III) ultravioleta, (IV) maser. Existem, ainda, muitas dúvidas quanto
à extensão real dos efeitos nocivos da exposição à essas radiações, dividindo-os em: (I)
efeitos térmicos, mais aparente, e (II) efeitos não térmicos, geralmente relacionados ao
campo elétrico e magnético. O órgão mais suscetível a um dano por efeito térmico é a
lente ocular.

Riscos químicos são as substâncias, compostos ou produtos que possam penetrar no


organismo pela via respiratória, ou então aqueles que, pela natureza da atividade de
exposição, possam ter contato ou ser absorvido pelo organismo através da pele ou por
ingestão. Portanto, o risco químico está associado à exposição a substâncias, compostos
ou produtos químicos em diferentes concentrações no ambiente na forma de:

»» Gases, substâncias cujo estado natural nas CNTP (Condições Naturais e


Temperatura e Pressão – 25°C, 1 atm) é o gasoso.

»» Vapores, substâncias cujo estado natural nas CNTP é o sólido ou líquido,


mas que devido a uma alteração de temperatura e/ou de pressão se
encontra no estado gasoso.

»» Poeiras, substâncias cujo estado natural nas CNTP é o sólido, em pequenas


partículas (com diâmetros maiores que 1 mícron) resultantes da ruptura

64
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

mecânica de sólidos, seja pelo simples manuseio, seja em consequência


de operações de trituração, moagem, peneiramento, broqueamento,
polimento, detonação etc. Como exemplo citamos poeiras de sílica,
asbesto, de cereais, de carvão, de metais etc.

»» Fumos, substâncias cujo estado natural nas CNTP é o sólido, em partículas


menores que as de poeira (diâmetros menores que 1 mícron), resultantes
da condensação de vapores, geralmente após a volatilização de metais
fundidos e quase sempre acompanhadas de oxidação. Ao contrário das
poeiras, os fumos tendem a flocular. Os fumos podem formar-se pela
volatilização de matérias orgânicas sólidas ou pela reação de substâncias
químicas, como na combinação de ácido clorídrico e amoníaco.

»» Neblinas, substâncias cujo estado natural nas CNTP é o líquido, em


pequenas partículas suspensas resultantes da ruptura mecânica de
líquidos. Névoas, substâncias cujo estado natural nas CNTP é o líquido,
em partículas menores que as de neblinas (diâmetros entre 0,1 e 100
micra), resultantes da condensação de vapores sobre certos núcleos,
ou ocorrências como a nebulização, borbulhento, respingo etc. Como
exemplo podemos citar: névoas de ácido crômio, de ácido sulfúrico e de
tintas pulverizadas.

»» Aerodispersoides, conjunto de substâncias que estão dispersas no ar na


forma sólida, líquida ou gasosa.

Os danos à saúde provenientes da exposição a agentes de risco químico podem ser


classificados em, oito categorias (adaptado de Patty, Engenharia de Ventilação
Industrial): (I) irritantes, (II) asfixiantes (simples e químicos), (III) anestésicos
(narcóticos), (IV) tóxicos sistêmicos, (V) material particulado não tóxicos sistêmicos,
(VI) genotóxicos e mutagênicos, (VII) carcinógenos, e (VIII) embriotoxicose
teratógenos. O tipo de ação fisiológica de um agente tóxico sobre o organismo depende
da concentração na qual está presente.

Por exemplo, um vapor, numa determinada concentração, pode exercer sua principal
ação como anestésico, enquanto que uma menor concentração do mesmo vapor pode,
sem efeito anestésico, danificar o sistema nervoso, o sistema hematopoético, ou algum
órgão visceral. Por esse motivo, é impossível, frequentemente, colocar-se um agente
tóxico numa única classe.

Irritantes são substâncias que produzem inflamação nos tecidos vivos quando entram
em contato direto são corrosivos vesicantes em sua ação. Têm essencialmente o mesmo
efeito sobre homens e animais, e o fator concentração é mais importante que o fator

65
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

tempo de exposição. Os irritantes primários concentram a sua ação irritante (amônia,


cloro, ozônio, gases lacrimogênios etc.) enquanto os secundários possuem o efeito
irritante e têm uma ação tóxica generalizada sobre o organismo (gás sulfídrico).

Asfixiantes exercem sua ação interferindo com a oxidação dos tecidos. Podem ser
divididos em simples e químicos. Os simples são gases inertes que agem por diluição do
oxigênio atmosférico: Dióxido de carbono, etano, hélio, hidrogênio, metano, nitrogênio,
óxido nitroso. Os químicos impedem o transporte de oxigênio pelo sangue: Monóxido
de carbono, cianogênio, cianeto de hidrogênio, nitrobenzeno, sulfeto de hidrogênio.

Anestésicos (Narcóticos). Sua principal ação é a anestésica, sem sérios efeitos sistêmicos,
tendo ação sobre o Sistema Nervoso Central (SNC). Alguns passam para a corrente
sanguínea e, daí, para os demais órgãos. Podem penetrar pela pele. São exemplos de
anestésicos: hidrocarbonetos acetilênicos, hidrocarbonetos oleofínicos, éter etílico,
hidrocarbonetos parafínicos, cetonas alifáticas, álcoois alifáticas.

Tóxicos Sistêmicos – Incluem: (I) materiais que causam danos a um ou mais órgãos
viscerais: a maioria dos hidrocarbonetos halogenados; (II) materiais que causam
danos ao sistema hematopoético: benzeno, fenóis , e em certo grau, otolueno, xilol e
naftaleno; (III) materiais que causam danos ao sistema nervoso: dissulfeto de carbono,
álcool metílico, tiofeno; (IV) não metais tóxicos inorgânicos: compostos de arsênio,
fósforo, selênio, enxofre e fluoretos.

Material Particulado Não Tóxico Sistêmico: produzem doenças em local específico do


organismo, como:(I) poeiras que produzem fibrose: sílica, asbesto; (II) poeiras inertes:
carborundo, carvão; e (III) poeiras que causam reações alérgicas: pólen, madeira,
resinas e outras poeiras orgânicas. Existem substâncias que causam danos unicamente
aos pulmões, incluindo aquelas que não causam nenhum tipo de ação irritante, tais
como poeiras de asbesto, causadoras da fibrose. As poeiras que fazem parte desse grupo
podem se tornar mais nocivas se contaminadas com bactérias ou fungos alergênicos,
microtoxinas ou pólens.

Agentes Genotóxicos e Mutagênicos são substâncias que podem causar dano material
genético e podem, também, ser mutagênicas. Os mutagênicos podem causar mutações.
Uma mutação é considerada como sendo qualquer modificação relativamente estável
no material genético, DNA (Ácido Desoxirribonucleico). Muitas das substâncias
mutagênicas também podem dar origem ao câncer (carcinógenos).

Carcinógenos: são substâncias que podem produzir câncer, que é uma doença resultante
do desenvolvimento de um tumor maligno e de sua invasão em tecidos vizinhos.
Um tumor (neoplasma) caracteriza-se pelo crescimento do tecido, formando um grupo

66
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

de células anormais no organismo. Um tumor maligno é composto de células que se


dividem e se dispersam através do organismo. Um tumor benigno é aquele localizado
e que não invade os tecidos vizinhos nem produz câncer.

Agente Embriotóxicos e Teratógenos são substâncias capazes de induzir efeitos adversos


na progênie durante o primeiro estágio da gravidez, ou seja, entre a concepção e a fase
fetal. Os teratógenos são substâncias que, em doses que não apresentem toxicidade
materna, podem causar danos não hereditários na progênie. Estes danos podem
levar ao aborto. Após o nascimento, esses danos são denominados de más formações
congênitas.

67
CAPÍTULO 2
Riscos biológicos, ergonômicos
mecânicos (acidentes)

Riscos biológicos, consideram-se agentes biológicos as bactérias, fungos, bacilos,


parasitas, protozoários, vírus, entre outros. Entretanto, devido à dificuldade de
monitoramento e de avaliação, dificilmente foca-se o trabalho de prevenção nos agentes,
mas sim nas atividades que, potencialmente, expõem os trabalhadores à ação nociva
de micro-organismos. Portanto, o risco biológico está associado à exposição a locais,
substâncias, compostos ou produtos com a presença de micro-organismos patogênicos
em geral. Geralmente, o senso comum associa o risco biológico a 3 situações: (I) o
contato com pacientes e/ou ambientes com doenças contagiosas, (II) a presença de
esgotos sanitários, e (III) o contato com lixo. Entretanto, exceto na primeira situação,
na qual o risco é real e deve ser evitado, o risco biológico na segunda e terceira só
é evidente para os profissionais que trabalham em alguma etapa dos sistemas de
esgotamento sanitário e dos serviços de limpeza urbana.

A existência de sanitários e áreas de disposição temporária dos resíduos sólidos não


representa, por si só, riscos de contaminação biológica. Na maioria das situações, a
concorrência de 3 fatores simples podem conferir a estes locais condições satisfatórias
de salubridade ambiental: (I) a manutenção e a limpeza adequadas desses locais, (II) a
possibilidade de exposição destes locais à iluminação natural (o sol é um dos melhores
bactericidas que existem devido à ação dos raios UVA), e (iii) a existência de mecanismos
de ventilação natural. As exposições ocupacionais a materiais biológicos potencialmente
contaminados representam um sério risco aos profissionais da área da saúde.
Os ferimentos com agulhas e materiais perfuro cortantes, em geral, são considerados
extremamente perigosos por serem potencialmente capazes de transmitir mais de vinte
tipos de patógenos diferentes, sendo os vírus da Imunodeficiência Humana (HIV), da
Hepatite B e da Hepatite C os agentes infecciosos mais comumente envolvidos.

Segundo a Resolução no 5/1993 do Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA),


infectantes perfurocortantes são seringas, agulhas, escalpes, ampolas, vidros de um
modo em geral ou, qualquer material pontiagudo ou que contenham fios de corte
capazes de causar perfurações ou cortes. Segundo a mesma Resolução, infectantes não
perfurocortantes são os materiais que contenham sangue ou fluidos corpóreos. No caso
das farmácias e drogarias são os algodões com sangue. O risco de trabalhadores da
área da saúde adquirir patógenos veiculados pelo sangue já está bem documentado.
Os acidentes com perfurocortantes persistem como principal forma de transmissão de

68
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

patógenos veiculados pelo sangue aos profissionais de saúde, contaminando acima de


25% dos acidentados com portadores do antígeno da hepatite B. Os trabalhadores de
enfermagem são, geralmente, os mais atingidos pelos acidentes ocupacionais envolvendo
material perfurocortante infectante. Os acidentes na área de saúde geralmente ocorrem
em três situações: (I) durante a limpeza, (II) autoinoculação durante o trabalho ou (III)
inoculação por outro profissional.

O sangue, qualquer fluido orgânico contendo sangue, secreção vaginal, sêmen e tecidos,
são materiais biológicos envolvidos na transmissão do vírus HIV. Os líquidos de
serosas (peritoneal, pleural, pericárdico), líquido amniótico, líquor, líquido articular
e saliva (em ambientes odontológicos), são materiais de risco indeterminado para a
transmissão do vírus. Exposições a esses e outros materiais potencialmente infectantes
que não o sangue ou material biológico contaminado com sangue devem ser avaliadas
de forma individual.

Em geral, esses materiais são considerados como de baixo risco para transmissão
ocupacional do HIV. Cabe esclarecer que a exposição a agentes biológicos ocorre em
número muito mais expressivo em ambientes que utilizam sistemas de condicionamento
de ar, naquilo que a Organização Mundial de Saúde – OMS define com Síndrome do
Edifício Doente – SED.

A Síndrome do Edifício Doente refere-se à relação entre causa e efeito das condições
ambientais observadas em áreas internas, com reduzida renovação de ar, e os vários
níveis de agressão à saúde de seus ocupantes por meio de fontes poluentes de origem
física, química e/ou microbiológica. Um edifício pode ser considerado “doente” quando
cerca de 20% de seus ocupantes apresentam sintomas transitórios associados ao tempo
de permanência em seu interior, que tendem a desaparecer após curtos períodos de
afastamento. Em alguns casos, a simples saída do local já é suficiente para que os
sintomas desapareçam.

Os principais sintomas relacionados a SED são: (I) irritação dos olhos, nariz, pele e
garganta, (II) dores de cabeça, (III) fadiga, (IV) falta de concentração, e (V) náuseas.
Outros fatores associados à Síndrome do Edifício Doente são a elevação da taxa de
absenteísmo e a redução na produtividade e na qualidade de vida do trabalhador.
Dessa forma, a qualidade do ar de ambientes interiores assumiu importante papel
não só em questões relativas à Saúde Pública, como também, no que diz respeito à
Saúde Ocupacional. No Brasil, em 1998, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária
– ANVISA, órgão regulamentador do sistema de saúde, publicou a Portaria no 3.523,
estabelecendo, para todos os ambientes climatizados artificialmente de uso público e
coletivo, a obrigatoriedade de elaborar e manter um plano de manutenção, operação e
controle dos sistemas de condicionamento de ar – PMOC.
69
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

O PMOC estabelece, no mínimo, uma limpeza anual de todo o sistema e uma consequente
avaliação da qualidade do ar no ambiente. A Anvisa publicou em 2000, a Resolução no
176, contendo parâmetros biológicos, químicos e físicos por meio dos quais é possível
avaliar a qualidade do ar interior. Atualmente, a Anvisa trabalha na definição de
critérios para ambientes climatizados com fins especiais, como as salas de cirurgia e
Unidades de Tratamento Intensivo de hospitais, onde o risco de contaminação pode
ser fatal para pessoas com organismo debilitado.

Os danos à saúde provenientes da exposição a agentes de risco biológico podem ser


de diferentes classes, dependendo de quais são os micro-organismos presentes no
ambiente. Tanto para os agentes de riscos químicos quanto para os agentes de riscos
biológicos há três formas de penetração no corpo humano: (I) absorção, (II) inalação,
e (III) ingestão. Da mesma forma que os agentes físicos e químicos, a melhor atuação
para a prevenção sempre é, prioritariamente, na fonte e/ou na trajetória, no sentido de
se evitar que o risco chegue ao trabalhador, situação que impõe o uso de equipamentos
de proteção individual – EPI, cuja eficiência e eficácia são, via de regra, discutíveis.

»» Absorção, o contaminante, ao entrar em contato com a pele, órgão de


maior superfície do corpo humano, pode ser absorvido causando diversas
formas de alergias, ulcerações, dermatoses e outras doenças ocupacionais
que atingem esse tecido.

»» Inalação. O trato respiratório é a via mais importante pela qual os


agentes biológicos e químicos entram no organismo. A grande maioria
das intoxicações ocupacionais que afetam a estrutura interna do corpo é
ocasionada por se respirar substâncias contidas no ar. Essas substâncias
podem ficar retidas nos pulmões ou outras partes do trato respiratório e
podem afetar esse sistema, ou passar através dos pulmões a outras partes
do organismo, levadas pelas células fagocitárias. A relativa enorme
superfície do pulmão (90 m2 de superfície total e 70 m2 de superfície
alveolar), em conjunto com a superfície capilar (140 m2), com seu fluxo
sanguíneo contínuo, exerce uma ação extraordinária de absorção de
determinadas substâncias presentes no ar inspirado.

»» Ingestão. A intoxicação por essa via é mais comum para os agentes biológicos
e menos comum para os químicos. A frequência e o grau de contato com os
agentes tóxicos depositados nas mãos, alimentos e cigarros é muito menor
que na inalação, por isso, somente substâncias altamente tóxicas como
o chumbo, o arsênico e o mercúrio podem causar preocupações nesse
sentido. Cabe ressaltar que a porção que se deposita na parte superior do
trato respiratório é arrastada para cima pela ação ciliar, e é posteriormente

70
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

engolida, ingressando no organismo. O trato gastrointestinal pode ser


visto como um tubo através do corpo, começando na boca e terminando
no ânus. Apesar de estarem dentro do organismo, seus conteúdos estão
essencialmente externos aos fluídos do corpo (sangue e linfa). Por isso,
os agentes tóxicos no trato gastrointestinal podem produzir um efeito na
superfície da mucosa que o reveste sendo absorvidos através dessa mucosa
do trato gastrointestinal. A absorção de um tóxico pelo sangue, através
do trato gastrointestinal é baixa. Os alimentos e líquidos misturados
com o tóxico contribuem para diluí-lo e reduzem a sua absorção, devido
à formação de material insolúvel. O intestino possui certa seletividade
que tende a impedir a assimilação de substâncias, ou limitar a quantidade
absorvida. Depois de ser absorvido pela corrente sanguínea, o material
tóxico vai diretamente ao fígado, que, metabolicamente altera, degrada e
torna inócua a maior parte das substâncias.

Riscos ergonômicos. A ergonomia é a ciência que estuda a relação entre o homem e


o seu ambiente de trabalho, visando o conforto. Segundo a Associação Internacional
de Ergonomia (International Ergonomics Association – IEA, 2000) ergonomia é “a
disciplina científica relacionada ao entendimento das interações entre seres humanos
e outros elementos de um sistema, e também é a profissão que aplica teoria, princípios,
dados e métodos para projetar a fim de otimizar o bem-estar humano e o desempenho
geral de um sistema”. A Associação Internacional de Ergonomia divide a ergonomia
em três domínios de especialização. São eles: (I) ergonomia física, (II) ergonomia
cognitiva e (III) ergonomia organizacional.

A Ergonomia Física lida com as respostas do corpo humano à carga física e psicológica.
Tópicos relevantes incluem manipulação de materiais (peso), arranjo físico de estações
de trabalho, demandas do trabalho e fatores tais como repetição, vibração, força e postura
estática, relacionada com lesões musculoesqueléticas (lesão por esforço repetitivo).

A Ergonomia Cognitiva, também conhecida engenharia psicológica, refere-se


aos processos mentais, tais como percepção, atenção, cognição, controle motor e
armazenamento e recuperação de memória, como eles afetam as interações entre seres
humanos e outros elementos de um sistema. Tópicos relevantes incluem carga mental
de trabalho, vigilância, tomada de decisão, desempenho de habilidades, erro humano,
interação humano-computador e treinamento.

A Ergonomia Organizacional, ou macroergonomia, está relacionada com a otimização


dos sistemas sociotécnicos, incluindo sua estrutura organizacional, políticas e processos.
Tópicos relevantes incluem trabalho em turnos, programação de trabalho, satisfação
no trabalho, teoria motivacional, supervisão, trabalho em equipe, trabalho à distância
71
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

e ética. A ergonomia pode ser também considerada como o estudo dos aspectos do
trabalho e sua relação com o conforto e bem-estar do trabalhador. Está mais ligada às
posturas, movimentos e ritmo determinados pela atividade e conteúdo dessa atividade,
nos seus aspectos físicos e mentais.

A ergonomia intervém, analisando o trabalho, as posturas adotadas pelo trabalhador,


sua movimentação e seu ritmo que de modo geral são determinados por outros fatores
organizacionais. O objetivo principal da ergonomia é dar condições de trabalho para
que haja maior conforto e bem-estar do operador a partir da análise da atividade. As
melhorias ergonômicas se referem a vários aspectos do trabalho, tais como: cadeiras,
mesas, bancadas; o planejamento e localização de dispositivos e materiais de trabalho;
a quantidade, qualidade e localização da iluminação; indicações sobre melhorias na
organização da atividade, incluindo o planejamento de novos dispositivos de trabalho
ou modificação nos existentes e alteração no ritmo de sequenciamento de várias tarefas
desempenhadas pelo operador. Entre os danos causados pela exposição aos riscos
ergonômicos merecem destaque as DORT — Distúrbios Osteomusculares Relacionados
ao Trabalho (que englobam as Lesões por Esforços Repetitivos – LER).

As DORT abrangem diversas patologias, sendo as mais conhecidas a tenossinovite,


a tendinite e a bursite. Há muitas definições para as DORT. Porém, o conceito
básico é o de alterações e sintomas de diversos níveis de intensidade nas estruturas
osteomusculares (tendões, sinovias, articulações, nervos, músculos), além de alteração
do sistema modulador da dor. Esse quadro clínico é decorrente do excesso de uso do
sistema osteomuscular no trabalho. Apenas um fator isolado não é determinante para
a ocorrência de DORT, mas sim uma combinação deles associados à sua frequência,
intensidade e duração.

Postura. As posturas fixas são um fator de risco principalmente em trabalhos sedentários.


No entanto, trabalhos mais dinâmicos, com posturas extremas de tronco como, por
exemplo, abaixar-se e virar-se de lado, também são identificados como fatores de risco.
As más posturas de extremidades superiores também se constituem como fatores de
risco, tais como: desvios dos punhos, braços torcidos e elevação do ombro. Todos esses
desvios são influenciados por uma série de fatores ocupacionais e individuais, incluindo
a característica do mobiliário e do posto de trabalho.

Movimento e força. Estes dois fatores estão correlacionados ao aparecimento de DORT


nas mãos e punhos. A combinação de forças elevadas e alta repetitividade aumenta
a magnitude da lesão mais do que qualquer uma delas isoladamente. Movimentos
repetidos podem danificar diretamente os tendões através do frequente alongamento
e flexão dos músculos. A força exercida durante a realização dos movimentos é outro
determinante das lesões, como por exemplo, no levantamento, carregamento e
72
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

utilização de ferramentas pesadas; a força necessária para cortar objetos muito duros,
a utilização de parafusadoras e furadeiras.

Conteúdo de trabalho e fatores psicológicos: a relação entre trabalho e a saúde é


afetada pela organização do trabalho e fatores psicológicos relacionados ao trabalho,
podendo contribuir para o aparecimento de disfunções músculoesqueléticas. É possível
se estabelecer a relação entre o trabalho, o estresse e o sistema músculoesquelético.

Características individuais: o tipo de musculatura e as características individuais


parecem manter uma relação com a incidência dos problemas. Portanto, as mulheres
parecem ser mais suscetíveis que os homens aos problemas derivados da exposição a
riscos ergonômicos. A distribuição de tarefas por sexo e, consequentemente, a carga do
trabalho, determinam o aparecimento de problemas e estão intimamente ligados às
características individuais.

Riscos mecânicos ou riscos de acidentes. Os tipos de acidentes mais comuns que ocorrem
na realização do trabalho são: (I) queda, (II) choque elétrico, (III) soterramento,
(IV) choque mecânico, (V) cortes e perfurações, (VI) queimaduras, (VII) animais
peçonhentos, (viii) acidentes de trânsito, (IX) incêndio e explosão. Os riscos de acidentes
se caracterizam pela possibilidade de lesão imediata ao trabalhador exposto. A pior
exposição a risco de acidentes ocorre quando ele estiver em situação de risco grave
(passível de causar lesão grave, incapacitante ou fatal) e iminente (passível de atingir
o trabalhador a qualquer momento). As quedas podem ocorrer em mesmo nível ou em
níveis diferentes. As quedas em mesmo nível ocorrem, geralmente, por imperfeições ou
irregularidades nos pisos, ou pela existência de materiais que os tornam escorregadios.

As quedas em níveis diferentes são consideradas aquelas ocorridas partir de 2 metros


de altura, e são, ainda hoje, a principal causa dos acidentes fatais no Brasil. As
quedas de níveis diferentes ocorrem pela falta de proteções coletivas (guarda-corpos,
barreiras etc.) somada à ausência de equipamentos de proteção individual (cinto tipo
paraquedista). O choque elétrico é a reação do organismo à passagem da corrente
elétrica e pode ocorrer pelo manuseio de máquinas e equipamentos ou pelo contato
com instalações energizadas.

Os choques são a segunda maior causa dos acidentes fatais no Brasil. Os riscos de
acidentes dos empregados que trabalham com eletricidade, em qualquer das etapas de
geração, transmissão, distribuição e consumo de energia elétrica, constam da Norma
Regulamentadora 10 (MTb). Os efeitos do choque elétrico sobre o organismo humano
podem ser: (I) tetanização dos músculos, na qual a corrente elétrica se sobrepõe
aos estímulos cerebrais, e a vítima perde o controle sobre esses músculos que terão
uma contração enquanto o choque continuar, (II) parada respiratória, consequente

73
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

da tetanização dos músculos responsáveis pela respiração, (III) queimaduras, com


tendência a serem profundas e de difícil cicatrização, e (IV) fibrilação ventricular, que
é um tipo de arritmia cardíaca, a qual acontece quando não existe sincronicidade na
contração das fibras musculares cardíacas (miocárdio) dos ventrículos, desta maneira
não existe uma contração efetiva, levando a uma consequente parada cardiorrespiratória
e circulatória.

O soterramento ocorre quando uma grande quantidade de material cobre um trabalhador e


é a terceira maior causa dos acidentes fatais no Brasil. Geralmente, o senso comum leva
a crer que os soterramentos só ocorrem em grandes profundidades, entretanto, eles são
muito mais comuns na escavação de valas e nos trabalhos realizados próximos a taludes
instáveis. Com o deslizamento dos materiais, o trabalhador cai, com o seu corpo saindo
da posição vertical para a posição horizontal, e sua cabeça passa de uma altura de 1,5m
para 0,30m, possibilitando a sua cobertura por completo. O choque mecânico ocorre
devido a batidas do trabalhador: (I) contra objetos fixos, (II) ocorridas por objetos em
movimento, (III) pela queda de objetos de níveis mais altos. O transporte de materiais
com comprimento elevado e os locais com pé-direito baixo estão entre as principais
causas das batidas.

As quedas de objeto só ocorrem com a concorrência de dos fatores: (I) o objeto não estar
preso a nenhuma estrutura (estar solto, sem cordas ou correntes) e (II) não existirem
anteparos que detenham a queda do objeto em sua trajetória. A prensagem é um tipo
específico de choque mecânico que ocorre pela compressão do corpo (ou de partes do
corpo) pela ação de dois objetos móveis ou de um objeto móvel e outro fixo.

Atenção especial deve ser dada aos mecanismos com alta rotação (milhares de rpm) que
tem a característica de prender cabelos compridos e roupas frouxas e puxar a vítima
(ou partes de seu corpo) para a consequente prensagem. Os cortes e perfurações são
os acidentes de trabalho mais comuns e são consequência do manuseio de materiais
e/ou de equipamentos perfuro cortantes. Os cortes deixam a pele aberta e devem ser
fechados para evitar infecções. Os arranhões machucam apenas a camada superficial
da pele, podem doer mais do que o corte, mas cicatrizam rápido. As perfurações podem
ser profundas e devem ser deixadas abertas para não infectarem. As queimaduras
são lesões em determinada parte do organismo, desencadeadas pelo contato com um
agente externo. Dependendo desse agente, as queimaduras podem ser classificadas em
queimaduras térmicas, elétricas e químicas.

As queimaduras térmicas são aquelas causadas pelo contato com superfícies em


temperaturas extremas (calor ou frio) e são as mais frequentes. As queimaduras são
classificadas de acordo com a extensão e profundidade da lesão. A gravidade depende
mais da extensão do que da profundidade. Uma queimadura de primeiro ou segundo
74
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

grau em todo o corpo é mais grave do que uma queimadura de terceiro grau de pequena
extensão. Saber diferenciar a queimadura é muito importante para que os primeiros
cuidados sejam efetuados corretamente. As queimaduras de primeiro grau são as mais
superficiais e caracterizam-se por deixar a pele avermelhada (hiperemiada), inchada
(edemaciada), e extremamente dolorida.

Uma exposição prolongada ao sol pode desencadear este tipo de lesão. Não se formam
bolhas e a pele não se desprende. Na evolução não surgem cicatrizes, mas elas podem
deixar a pele um pouco escura no início, tendendo a se resolver por completo com o tempo.
As queimaduras de segundo grau têm uma profundidade intermediária, ocorrendo
uma destruição maior da epiderme e derme, e caracterizam-se pelo aparecimento da
bolha (flictena) que é a manifestação externa de um descolamento dermoepidérmico.
A recuperação dos tecidos é mais lenta e pode deixar cicatrizes e manchas claras ou
escuras. As queimaduras de terceiro grau caracterizam-se pelo aparecimento de uma
zona de morte tecidual (necrose), há uma destruição total de todas as camadas da pele,
e o local pode ficar esbranquiçado ou carbonizado (escuro).

A dor é geralmente pequena, pois a queimadura é tão profunda que chega a danificar as
terminações nervosas da pele. Pode ser muito grave e até fatal dependendo da porcentagem
de área corporal afetada. Na evolução, sempre deixam cicatrizes podendo necessitar
de tratamento cirúrgico e fisioterápico posterior para retirada de lesões e aderências
que afetem a movimentação. Algumas cicatrizes podem ser foco de carcinomas de pele
tardiamente e por isso o acompanhamento destas lesões é fundamental.

Os animais peçonhentos são aqueles que possuem glândulas de veneno que se


comunicam com dentes ocos, ou ferrões, ou aguilhões, por onde o veneno passa
ativamente. Portanto, peçonhentos são os animais que injetam veneno com facilidade e
de maneira ativa: serpentes, aranhas, escorpiões, lacraias, abelhas, vespas, maribondos
e arraias. Os animais venenosos são aqueles que produzem veneno, mas não possuem
um aparelho inoculador (dentes, ferrões), provocando envenenamento passivo por
contato (taturana), por compressão (sapo) ou por ingestão (peixe baiacu). Na década
de 1980, ocorreu a falta generalizada de soros antiofídicos no Brasil. A falência do
sistema de produção de antivenenos desencadeou uma insatisfação nacional que
levou o Ministério da Saúde a implantar o Programa Nacional de Ofidismo em 1986, a
partir do qual os acidentes ofídicos passaram a ser de notificação obrigatória no país.
Os dados de escorpionismo e araneísmo passam a ser coletados a partir de 1988.

A partir da centralização do controle desses acidentes no Ministério da Saúde foi


verificada uma melhoria no registro de casos de envenenamentos provocados por
animais peçonhentos. Esta melhoria pode também ser observada com o decréscimo do
número de óbitos por acidentes com animais peçonhentos a partir de 1986, registrados
75
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

pelo Sistema de Informações de Mortalidade – SIM. No Brasil existem pelo menos quatro
sistemas de informação que tratam do registro de acidentes por animais peçonhentos:
o Sistema Nacional de Informações Tóxico-Farmacológicas – SINITOX, o Sistema
Nacional de Agravos de Notificação – SINAN, o Sistema de Internação Hospitalar –
SIH/SUS, e o Sistema de Informação de Mortalidade – SIM. Cada um desses sistemas
possui características próprias, pois foram criados para atender demandas diferentes,
e ao invés de se completarem, podem até se contradizer em alguns casos.

Acidente de trânsito pode ser definido como todo evento danoso que envolva o veículo,
a via, o homem e/ou animais e, para caracterizar-se, é necessária a presença de dois
desses fatores. Os principais fatores que concorrem para a ocorrência dos acidentes
de trânsito são: (I) o veículo (em condições inadequadas de manutenção), (II) a via
(em estado de conservação inadequado), (III) o motorista (negligente, imprudente ou
imperito), e (IV) a sinalização do trânsito (inexistente ou inadequada). Os acidentes
de trabalho, devidos ao trânsito, estão, em sua maioria, associados aos acidentes de
trajeto, exceção feita aos profissionais do setor de transportes. Deve se incluir também
os acidentes que ocorrem no interior das empresas, relacionados à movimentação de
máquinas (tratores, empilhadeiras etc.).

O fogo é um fenômeno físico e químico que resulta da rápida combinação de um comburente


com um combustível e é caracterizado pela emissão de calor, luz e, geralmente, chamas.
O incêndio pode ser definido como “a propagação rápida e descontrolada do fogo”, outra
definição é “a presença de fogo em local não desejado e capaz de provocar danos a vida
humana (quedas, queimaduras e intoxicações por fumaça), além de prejuízos materiais”.

Para ocorrer o fogo são necessários 4 componentes, conhecidos como Tetraedro do Fogo:
(I) Combustível, que é o material oxidável (sólido, líquido ou gasoso) capaz de reagir
com o comburente (em geral o oxigênio) numa reação de combustão; (II) Comburente,
que é o material gasoso que pode reagir com um combustível, produzindo a combustão,
em incêndios geralmente é o oxigênio atmosférico (O2); (III) Agente ígneo, ou fonte
de calor, que é o responsável pelo início do processo de combustão, introduzindo na
mistura combustível/comburente, a energia mínima inicial necessária; e (IV) Reação
em cadeia, que é o processo de sustentabilidade da combustão, pela presença de radicais
livres, que são formados durante o processo de queima do combustível.

Eliminando-se um dos 4 elementos do tetraedro do fogo, a combustão terminará e,


consequentemente, o foco de incêndio será extinto. Há, portanto, quatro procedimentos
básicos para se combater o fogo:
I. o resfriamento, que é o mais comum e o mais utilizado pelos Corpos de
Bombeiros Militares no Brasil, com a utilização da água em abundância
para resfriar os materiais em combustão até a extinção das chamas;

76
FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO │ UNIDADE III

II. o abafamento, baseado na retirada do comburente do ambiente para se


obter a extinção, (com menos de 13% de O2 o fogo apaga!) fato que pode
ser obtido pelo insuflamento de gases não comburentes que deslocam o
oxigênio (de preferência inertes) como o gás carbônico;

III. a retirada do material combustível do ambiente, afastando ou eliminando


a substância que está sendo queimada, procedimento esse de difícil
execução; geralmente se retiram os materiais que ainda não inflamaram
e se espera que o fogo consuma os materiais combustíveis existentes em
um ambiente até a sua “extinção”; e

IV. pode-se interromper a reação em cadeia, com o insuflamento ou


lançamento de substâncias que atuam como inibidores da reação química.
A propagação do fogo pode ocorrer de 3 formas:

›› condução, que é a propagação do calor por meio do contato de


moléculas de duas ou mais substâncias com temperaturas diferentes,
ou seja, é necessário o contato entre dois materiais sólidos ou líquidos;

›› convecção, que é um processo de transporte de massa caracterizado


pelo movimento de um fluido devido à sua diferença de densidade,
esse é o meio mais comum de propagação de um incêndio predial pela
convecção dos gases aquecidos; e

›› irradiação, que é a radiação eletromagnética (ondas caloríficas)


emitida por um corpo, aumentando a temperatura de um segundo
corpo que pode absorvê-la, ou seja, os dois corpos têm entre si um
intercâmbio de energia. Em um sistema de proteção contra incêndios
prediais, deve-se prever mecanismos nos edifícios que possibilitem a
interrupção dessas 3 formas de propagação do fogo.

Os incêndios podem ser classificados em: (I) Classe A, que ocorre em materiais sólidos
que queimam em profundidade e deixam resíduos (madeira, papel, tecido etc.); (II)
Classe B, em líquidos inflamáveis, os quais queimam somente em superfície e têm a
característica de propagar rapidamente o fogo quando transbordam (gasolina, acetona,
gás de cozinha – GLP – etc.); (III) Classe C, em materiais elétricos energizados, cujo
contato com água pode piorar a situação e aumentar a propagação, além de causar
acidentes; e (IV) Classe D, que são os metais pirofóricos, geralmente encontrados em
indústrias específicas, como a automobilística (raspa de zinco, limalhas de magnésio
etc), cujo contato com a água pode gerar até explosões.

A Explosão é um processo caracterizado pelo súbito aumento de volume e grande


liberação de energia, o qual, geralmente, gera altas temperaturas e produção de gases.

77
UNIDADE III │ FATORES DE RISCOS DO MEIO AMBIENTE DO TRABALHO

Uma explosão provoca ondas de pressão ao redor do local onde ocorre. Explosões são
classificadas de acordo com essas ondas de choque: (I) deflagração, em caso de ondas
subsônicas, e (II) detonação, em caso de ondas supersônicas. A propagação das ondas
é diferente entre elas: (I) na detonação a onda propaga-se longitudinalmente, (II) na
deflagração a onda vai tomar toda a superfície do explosivo e dirigir-se para o interior.

Os explosivos artificiais mais comuns são os explosivos químicos, que se decompõem


através de violentas reações de oxidação e produzem grandes quantidades de gás e
calor (dinamite, nitroglicerina, nitrocelulose, pólvora negra etc.). Entretanto, é
importante assinalar que as poeiras de qualquer substância que possa ser mantida em
combustão, quando se coloca fogo, explodirá sob as circunstâncias certas. A explosão
de poeiras ocorre sob duas condições: (I) a poeira deve ser fina o suficiente para pegar
fogo facilmente, e (II) a poeira deve estar em suspensão, misturada à quantidade certa
de ar.

Locais com muita poeira explosiva geralmente geram duas explosões subsequentes: (I)
a primeira é pequena e ocorrerá em algum ponto da nuvem de poeira formada, no local
onde a mistura for adequada, (II) como consequência dessa primeira explosão, mais
poeira é suspensa no ambiente, ocorrendo a segunda explosão, maior e mais perigosa.
Os efeitos das explosões dividem-se em: fisiológicos, térmicos e mecânicos. Os efeitos
fisiológicos são os que afetam os indivíduos ao nível de olhos, tímpanos, pulmões,
coração etc. Os efeitos térmicos provêm do aumento de temperatura provocado pela
liberação de energia. Os efeitos mecânicos traduzem-se na deslocação de materiais, por
arrastamento ou por destruição.

<https://www.youtube.com/watch?v=WmX0vK_pvKs>

<https://www.youtube.com/watch?v=Agf55dox78k>

<http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=216110
&caixaBusca=N>

78
ACESSO A DADOS E
ESCRITURAÇÃO FISCAL UNIDADE IV
SOBRE SST (ESOCIAL)

CAPÍTULO 1
Acidentalidade e observatório

Consideram-se acidentes do trabalho todas as situações abaixo elencadas pela Tabela


24 do eSocial, conforme figura que consolida todas possibilidades elencadas pelos
art. 19 a 21 da Lei no 8.213/1991.

Tabela 1. Codificação de Acidente Trabalho - Tabela 24 do eSocial.

Lesão corporal que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho, desde que não
1.0.01
enquadrada em nenhum dos demais códigos.
Perturbação funcional que cause a morte ou a perda ou redução, permanente ou temporária, da capacidade para o trabalho, desde
1.0.02
que não enquadrada em nenhum dos demais códigos.
Doença profissional, assim entendida a produzida ou desencadeada pelo exercício do trabalho peculiar a determinada atividade e
2.0.01 constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, desde que não enquadrada em nenhum
dos demais códigos.
Doença do trabalho, assim entendida a adquirida ou desencadeada em função de condições especiais em que o trabalho é realizado
2.0.02 e com ele se relacione diretamente, constante da respectiva relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social, desde
que não enquadrada em nenhum dos demais códigos.
2.0.03 Doença proveniente de contaminação acidental do empregado no exercício de sua atividade.
Doença endêmica adquirida por segurado habitante de região em que ela se desenvolva quando resultante de exposição ou contato
2.0.04
direto determinado pela natureza do trabalho.
Doença profissional ou do trabalho não incluída na relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social quando
2.0.05
resultante das condições especiais em que o trabalho é executado e com ele se relaciona diretamente.
Doença profissional ou do trabalho enquadrada na relação elaborada pelo Ministério do Trabalho e Previdência Social relativa nexo
2.0.06
técnico epidemiológico previdenciário - NTEP.
Acidente ligado ao trabalho que, embora não tenha sido a causa única, haja contribuído diretamente para a morte do segurado, para
3.0.01
redução ou perda da sua capacidade para o trabalho, ou produzido lesão que exija atenção médica para a sua recuperação.
Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de ato de agressão, sabotagem ou terrorismo
3.0.02
praticado por terceiro ou companheiro de trabalho.
Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de ofensa física intencional, inclusive de terceiro,
3.0.03
por motivo de disputa relacionada ao trabalho.
Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de ato de imprudência, de negligência ou de
3.0.04
imperícia de terceiro ou de companheiro de trabalho.
3.0.05 Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de ato de pessoa privada do uso da razão.
Acidente sofrido pelo segurado no local e no horário do trabalho, em consequência de desabamento, inundação, incêndio e outros
3.0.06
casos fortuitos ou decorrentes de força maior.

79
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho na execução de ordem ou na realização de serviço sob
3.0.07
a autoridade da empresa.
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho na prestação espontânea de qualquer serviço à empresa
3.0.08
para lhe evitar prejuízo ou proporcionar proveito.
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho em viagem a serviço da empresa, inclusive para estudo
3.0.09 quando financiada por esta dentro de seus planos para melhor capacitação da mão de obra, independentemente do meio de
locomoção utilizado, inclusive veículo de propriedade do segurado.
Acidente sofrido pelo segurado ainda que fora do local e horário de trabalho no percurso da residência para o local de trabalho ou
3.0.10
deste para aquela, qualquer que seja o meio de locomoção, inclusive veículo de propriedade do segurado.
Acidente sofrido pelo segurado nos períodos destinados a refeição ou descanso, ou por ocasião da satisfação de outras necessidades
3.0.11
fisiológicas, no local do trabalho ou durante este.
4.0.01 Suspeita de doenças profissionais ou do trabalho produzidas pelas condições especiais de trabalho, nos termos do art. 169 da CLT.
Constatação de ocorrência ou agravamento de doenças profissionais, através de exames médicos que incluam os definidos na NR
07; ou sendo verificadas alterações que revelem qualquer tipo de disfunção de órgão ou sistema biológico, através dos exames
4.0.02
constantes dos Quadros I (apenas aqueles com interpretação SC) e II, e do item 7.4.2.3 desta NR, mesmo sem sintomatologia,
caberá ao médico-coordenador ou encarregado

Fonte: Manual eSocial.2018. <https://portal.esocial.gov.br/manuais/mos-v-2-4-02-publicada-cg.pdf>

Note-se a grande lista de possibilidades acidentárias (diretas ou equiparadas).


De forma que na prática, para se analisar com mais profundidade a casuística é
necessário acessar dados dos CNPJ e observá-los acessando site governamentais,
tais como:

»» <http://www.previdencia.gov.br/saude-e-seguranca-do-trabalhador/
acidentalidade-por-cnpj/>

»» <https://observatoriosst.mpt.mp.br/>

Acesse esses sites e faça experimentos consultivos, como se você fosse o


responsável por uma perícia, estudo ou avaliação ambiental.

80
CAPÍTULO 2
E-SOCIAL

O dia a dia das pessoas é regulamentado por normas e princípios advindos da


Constituição da República Federativa do Brasil (CRFB), que define a organização
administrativa, financeira e política do Estado concomitantemente com os direitos e
deveres do cidadão. Ela tem entre as suas características a generalidade, ou seja, ela é
aplicada genericamente à sociedade e a todos os cidadãos e a ninguém é dado o direito
de desconhecê-la como também de desobedecê-la, para que não sofra sanções, pelo
descumprimento das obrigações das normas.

Para conferir a efetividade ao mandamento constitucional do dever do Estado e direito


de todos, a Saúde do Trabalhador deve ser custeada por todos e em especial pelas
empresas, no tocante ao seguro acidentário, expressamente definido na Carta Magna,
para cujo cometimento depende diretamente do complexo e amplíssimo Sistema
Tributário Nacional por ela engendrado e estabelecido.

Em alinhamento com essa lógica, discorre-se a seguir acerca da tributação sobre meio
ambiente de trabalho, especificamente as contribuições sociais incidentes sobre a folha
de pagamento com destaque àquelas relacionadas ao Seguro Acidente do Trabalho
– SAT e seus derivativos Financiamento da Aposentadoria Especial – FAE e Fator
Acidentário de Prevenção – FAP. Nesse bojo, se possibilita uma correta interpretação
sobre documentação fiscal, dentre elas a Guia de Recolhimento do Fundo de Garantia do
Tempo de Serviço – GFIP e a Escrituração Digital Fiscal – Social (eSocial) como obrigações
acessórias iniciação nuclear à prevenção, dado que o tributo constitui verdadeira alavanca
argumentativa e impositiva à melhora das condições do meio ambiente do trabalho.

O tributo como verdadeiro instrumento de transformação social. De pronto, registre-se


que toda vez que aparecer neste caderno qualquer alusão à GFIP, deve-se considerar
como relacionada ao eSocial, pois este substituirá aquela, conforme cronograma de
implementação do eSocial.

A ideia do eSocial é unificar a forma de prestação das informações trabalhistas,


previdenciárias, fiscais e tributárias relativas à contratação e utilização de mão de
obra onerosa, com ou sem vínculo empregatício. Essas informações constarão de
um repositório nacional e ficarão disponíveis aos órgãos participantes do projeto
para apuração, fiscalização e estudos para produção de políticas públicas nas áreas
relacionadas, além de possibilitar um maior controle social por parte de todos os atores
das relações de trabalho.

81
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

São três objetivos básicos do eSocial, a saber: 1) viabilizar a garantia de direitos


previdenciários e trabalhistas aos trabalhadores brasileiros; 2) simplificar o cumprimento
de obrigações; e 3) aprimorar a qualidade de informações das relações de trabalho,
previdenciárias e fiscais.

Quanto ao primeiro objetivo, pode-se entender como viabilizar a garantia de direitos


dos trabalhadores a efetiva e confiável prestação das informações trabalhistas por
parte dos empregadores, em tempo hábil, pois sem elas não tem como o poder público
identificar, analisar e garantir qualquer benefício a que fez jus o empregado na sua
longa e árdua vida laborativa.

Um exemplo bastante comum e de fácil entendimento é a situação vexatória pela


qual passam vários segurados da Previdência Social que procuram o INSS e pleiteiam
a prestação de algum benefício ou serviço e descobrem que seus dados não foram
enviados pelos seus patrões ou foram enviados de forma errada. A resposta “você não
tem direito” recai sobre o INSS que recebe e se atribui indevidamente a culpa, quando
na verdade tal negativa é de exclusiva responsabilidade do patrão por não envio ou
envio incorreto.

Já com relação ao segundo objetivo, os principais ganhadores serão as empresas,


pois deixarão de cumprir diversas obrigações acessórias atuais e que demandam
bastante tempo para utilizar uma única ferramenta capaz de absorver todas as
informações necessárias. O Livro de Registro de Empregados, a GFIP, o CAGED, o
Perfil Profissiográfico Previdenciário (PPP), Atestado de Saúde Ocupacional (ASO) e
a Comunicação de Acidente do Trabalho (CAT) são exemplos de obrigações que serão
substituídas pelo eSocial.

Vale lembrar que só perceberá essa facilidade de imediato a empresa que já cumpre à
risca com suas obrigações perante o Estado, pois instituição desorganizada terá que se
adaptar à legislação que vige há bastante tempo. É isso mesmo, o eSocial surgiu sem
criar qualquer tipo de obrigação, apenas para exigi-las de forma unificada e digital.

Por fim, o terceiro objetivo tem a ver com a qualidade das informações, já que,
atualmente, muitas delas são repassadas pelas empresas de forma incorreta ou até
mesmo incompleta. Um exemplo característico é a GFIP, em que algumas não têm
todos os seus campos preenchidos, sendo deixados em branco; em outros casos o
empregador coloca o número do CNAE constante de uma lista desatualizada do Decreto
no 3.048/1999, resultando em uma equivocada arrecadação do Seguro de Acidente do
Trabalho – SAT. Este material foi estruturado para permitir ao cursista uma visão geral
do sistema tributário nacional, com ênfase ao meio ambiente do trabalho, concatenando
a documentação fiscal pertinente.

82
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

Existem três espécies de tributos relacionados ao meio ambiente do trabalho com efeitos
fiscais e parafiscais que estão no cerne desta disciplina: Seguro Acidente do Trabalho – SAT
e seus derivativos: Financiamento da Aposentadoria Especial – FAE e Fator Acidentário
de Prevenção - FAP. Nesse tópico faz-se um apanhado conceitual dessas espécies,
concatenando-os à GFIP (eSocial) no bojo da documentação fiscal, conforme figura a seguir.

Figura 14. Esquema com tributos relacionados ao meio ambiente do trabalho: SAT, FAE e FAP.

Fator Acidentário de Prevenção - FAP (Dosador Financiamento da Aposentadoria Especial -


Seguro Acidente do Trabalho - SAT
do SAT) FAE (Adicional do SAT)

Fonte: próprio autor

Seguro Acidente do Trabalho – SAT


Inicialmente explicite-se que a CRFB-88 expressamente criou o seguro contra acidente do
trabalho1 e Lei no 8.212/1991, art. 22 ao disciplinar a matéria definiu: os contornos dessa
exação ao incluí-la no rol das contribuições previdenciárias patronais, a base de cálculo, a
gradação e alíquotas a partir do Grau de Incidência de Incapacitante Laboral decorrente
dos Riscos Ambientais do Trabalho (GIILDRAT), entre outros elementos. O GIILDRAT,
portanto, é efetivação material dada por lei ao instituto jurídico criado pela CRFB,
constitucionalmente nominado por SAT, como espécie de tributo com natureza jurídica
de imposto. SAT não se confunde com GIILDRAT, pois este gradua e instrumentaliza
aquele. No contexto histórico, o SAT evoluiu conforme cronologia apresentada a seguir:

Tabela 2. Cronologia do Seguro Acidente do Trabalho no Brasil.

Histórico do Seguro contra Acidente do Trabalho - Brasil


Decreto 3.724 Decreto 24.637 Decreto-Lei 293 Lei 6.367 de
CRFB-1988 EC 20 de 1998
de 1919 de 1943 de 1967 1967
Marco inicial Contratação de Possibilidade do Possibilidade do
regulatório. seguro ou realização seguro até então Operação do Operação do seguro ser operado
Pagamento de de depósito privado ser operado seguro exclusiva seguro exclusiva concorrentemente entre
indenização pelo para garantia de concorrentemente pelo INPS pelo INPS INSS e seguradoras
empregador indenização pelo INPS mediante LC.

Fonte: próprio autor.

1 Inciso XXVIII do Art. 7 - seguro contra acidentes de trabalho (SAT), a cargo do empregador, sem excluir a indenização a que
este está obrigado, quando incorrer em dolo ou culpa.

83
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

A matéria acidentária quanto aos benefícios é regulada pela Lei no 8.213/1991


que disciplina o funcionamento do Regime Geral de Previdência Social (RGPS),
compreendendo diversas prestações, inclusive em razão de eventos decorrentes de
acidente do trabalho (art. 18, caput). Já o custeio do SAT consta no art. 22, II, da Lei no
8.212/1991. Os benefícios acidentários têm fontes de recursos respectivas, assim como
as prestações previdenciárias em geral possuem custeio próprio.

Figura 15. Esquema com fontes custeio do SAT.

SAT – FONTES DE CUSTEIO

Remuneração

Base de Cálculo

Receita Bruta

Fonte: próprio autor.

Tabela 3. Esquema de Custeio do SAT.

Lei no 8.212, de 1991


Dispõe sobre a organização da Seguridade Social, institui Plano de Custeio, e dá outras providências.
Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: 
II - Para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei no 8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do
grau de incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou
creditadas, no decorrer do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: (Redação dada pela Lei no 9.732, de 1998).
a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve;
b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado médio;
c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante esse risco seja considerado grave.

Fato Gerador Base de Cálculo Alíquota

Pagar ou creditar Valor da Remuneração 1%, 2% ou 3%


remuneração mensal paga ou creditada 6%, 9% ou 12%

Fonte: próprio autor.

O SAT possui peculiaridades, quais sejam:

I. Presta-se a um custeio para as incapacidades consumadas acidentárias


(SAT estrito senso).

II. Constitui um subsistema do RGPS, pois possui administração tributária,


regras, contribuintes, beneficiários, benefícios e custeios próprios que de
per si o qualificam como autônomo.

84
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

III. Instrumenta-se pela presunção dinâmica de risco coletivo atribuído a um


grupo homogêneo de exposição sintetizado pela Classificação Nacional de
Atividade Econômica – CNAE cujos patamares definidores de alíquotas
são produzidos pela epidemiologia acidentária das empresas do mesmo
segmento.

IV. Serve como ferramenta de melhoria do meio ambiente do trabalho ao


passo que funciona como externalidade positiva por intermédio do FAP
por distinguir à empresa (CNPJ) um risco individual em comparação ao
risco coletivo dado pelo CNAE ao qual pertence.

V. Embasa o acréscimo, a si mesmo, relativo ao FAE que custeia a aposentadoria


precoce por tempo de contribuição, decorrente de condições especiais
do meio ambiente do trabalho (Aposentadoria Especial) segundo a qual
não há incapacidade consumada, mas sim uma compensação social para
atividades, que pelos riscos intrínsecos e inalienáveis, deveriam ser banidas.
Tal banimento não acontece por uma imposição social de levar a holocausto
alguns, dada a inexorável imolação a que são submetidos os trabalhadores
dessa atividade para o bem maior da coletividade. Parece cruel, mas é
disso que se trata. Sacrificam-se alguns em benefício de todos. Até que essa
sociedade entenda de modo diverso e extinga tais atividades, a exemplo que
aconteceu a escravidão (do ponto de vista social) ou aquelas que faziam uso
de organoclorados (do ponto de vista biológico).

Dessas peculiaridades, se depreende que o SAT possui natureza fiscal, arrecadatória,


adstrito ao orçamento da seguridade social, sob a égide constitucional, tratado de modo
inespecífico e geral. É a Lei 8.212/1991 que define seus contornos materiais, subjetivos,
obrigacionais e quantitativos da matriz de incidência tributária.

Assim, a alíquota do SAT não pode ser outra por CNAE, que não 1%, 2% e 3%, definidas
pelo art. 22, II da Lei no 8.212/1991, todavia é o poder executivo federal, via decreto, que
estabelece o GIILDRAT de cada CNAE. Essa alocação de risco coletivo é que é dinâmica
em função dos RR desses CNAE apurados periodicamente.

Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade


Social, além do disposto no art. 23, é de:

[...]

II - para o financiamento do benefício previsto nos arts. 57 e 58 da Lei no


8.213, de 24 de julho de 1991, e daqueles concedidos em razão do grau de
incidência de incapacidade laborativa decorrente dos riscos ambientais do

85
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

trabalho, sobre o total das remunerações pagas ou creditadas, no decorrer


do mês, aos segurados empregados e trabalhadores avulsos: (grifado)

a) 1% (um por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante


o risco de acidentes do trabalho seja considerado leve; (grifado)

b) 2% (dois por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante


esse risco seja considerado médio;

c) 3% (três por cento) para as empresas em cuja atividade preponderante


esse risco seja considerado grave.

Apesar de serem fundamentos distintos, tem-se um pelo outro, GIILDRAT termina


sendo expresso em 1%, 2% e 3% ao invés de leve, médio ou grave! Isso foi induzido pelo
próprio governo via diplomas legais publicados. O anexo V na versão original de 1999
aprovada pelo Dec. 3048, trazia a redação coerente à lei, indicando expressamente no
cabeçalho do Anexo V a Relação De Atividades Preponderantes e Correspondentes
Graus de Risco (Conforme a Classificação Nacional de Atividades Econômicas - CNAE):

»» Grau 1, Corresponde Ao Risco Leve - Alíquota 1,00%.

»» Grau 2, Corresponde Ao Risco Médio - Alíquota 2,00%.

»» Grau 3, Corresponde Ao Risco Grave - Alíquota 3,00%.

Eventos de saúde e segurança do trabalhador


Antes de adentrar às questões específicas sobre SST, a título de introdução, é bom que
se diga que o eSocial é um projeto do governo federal, instituído pelo Decreto no 8.373,
de 11 de dezembro de 2014, que tem por objetivo desenvolver um sistema de coleta
de informações trabalhistas, previdenciárias e tributárias, armazenando-as em um
Ambiente Nacional Virtual, a fim de possibilitar aos órgãos participantes do projeto, na
medida da pertinência temática de cada um, a utilização de tais informações para fins
trabalhistas, previdenciários, fiscais e para a apuração de tributos e da contribuição para
o FGTS. O eSocial estabelece a forma com que passam a ser prestadas as informações
trabalhistas, previdenciárias, tributárias e fiscais relativas à contratação e utilização de
mão de obra onerosa, com ou sem vínculo empregatício, e de produção rural. Portanto,
não se trata de uma nova obrigação tributária acessória, mas uma nova forma de
cumprir obrigações trabalhistas, previdenciárias e tributárias já existentes. Com isso,
ele não altera as legislações específicas de cada área, mas apenas cria uma forma única
e mais simplificada de atendê-las. São princípios do eSocial:

»» dar maior efetividade à fruição dos direitos fundamentais trabalhistas e


previdenciários dos trabalhadores;
86
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

»» racionalizar e simplificar o cumprimento de obrigações previstas na


legislação pátria de cada matéria;

»» eliminar a redundância nas informações prestadas pelas pessoas físicas e


jurídicas obrigadas;

»» aprimorar a qualidade das informações referentes às relações de trabalho,


previdenciárias e fiscais;

»» conferir tratamento diferenciado às microempresas – ME, e empresas de


pequeno porte – EPP.

A prestação das informações pelo eSocial substituirá, na forma disciplinada pelos


órgãos ou entidades partícipes, o procedimento do envio das mesmas informações por
meio de diversas declarações, formulários, termos e documentos relativos às relações
de trabalho. As informações referentes a períodos anteriores à implantação do eSocial
devem ser enviadas pelos sistemas utilizados à época. A recepção dos eventos pelo
eSocial não significa o reconhecimento da legalidade dos fatos neles informados. Deve-se
enxergar os eventos e tabelas do eSocial de forma alinhada e sequenciada considerando
a ordem de acontecimentos dos fatos administrativos. Para ilustrar, faz-se um esquema
conforme figura a seguir.

Figura 16. Fluxograma eSocial para SST.

Fonte: Próprio autor.

87
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

De modo direto ou indireto, são definidos como eventos de Saúde e Segurança do


Trabalhador – SST os abaixo elencados:

1. S-1000 – Informações do Empregador/Contribuinte/Órgão Público.


2. S-1005 – Tabela de Estabelecimentos, Obras ou Unidades de Órgãos
Públicos.
3. S-1010 – Tabela de Rubricas.
4. S-1060 – Tabela de Ambientes de Trabalho.
5. S-1065 – Tabela de Equipamentos de Proteção.
6. S-1200 – Remuneração de trabalhador vinculado ao Regime Geral de
Previdência Social.
7. S-1210 – Pagamentos de Rendimentos do Trabalho.
8. S-2200 – Cadastramento Inicial do Vínculo e Admissão/Ingresso de
Trabalhador.
9. S-2210 – Comunicação de Acidente de Trabalho.
10. S-2220 – Monitoramento da Saúde do Trabalhador.
11. S-2230 – Afastamento Temporário.
12. S-2240 – Condições Ambientais do Trabalho – Fatores de Risco.
13. S-2245 – Treinamentos e Capacitações.
14. S-5001 – Informações das contribuições sociais consolidadas por
trabalhador.
15. S-5011 – Informações das contribuições sociais consolidadas por
contribuinte.

Há tabelas relacionadas à SST que servem de fonte para alimentação dos códigos aos
eventos acima, são elas:

1. Tabela 02 – Financiamento da Aposentadoria Especial e Redução do


Tempo de Contribuição.
2. Tabela 03 – Natureza das Rubricas da Folha de Pagamento.
3. Tabela 04 – Códigos e Alíquotas de FPAS/Terceiros.
4. Tabela 13 – Parte do corpo atingida.
5. Tabela 14 – Agente Causador do Acidente de Trabalho.
6. Tabela 15 – Agente Causador / Situação Geradora de Doença Profissional.

88
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

7. Tabela 16 – Situação Geradora do Acidente de Trabalho.


8. Tabela 17 – Descrição da Natureza da Lesão.
9. Tabela 18 – Motivos de Afastamento.
10. Tabela 23 – Fatores de Riscos do Meio Ambiente do Trabalho.
11. Tabela 24 – Codificação de Acidente de Trabalho.
12. Tabela 27 – Procedimentos Diagnósticos.
13. Tabela 28 – Atividades Periculosas, Insalubres e/ou Especiais.
14. Tabela 29 – Treinamentos, Capacitações e Exercícios Simulados.
15. Tabela 30 – Programas, Planos e Documentos.

Fluxos e eventos relacionados à SST no eSocial


São 15 eventos e 15 tabelas que se relacionam com SST, que direta ou indiretamente
são utilizados para compor o conjunto de evidências relacionado ao meio ambiente
do trabalho e a saúde do trabalhador. As figuras seguintes esquematizam os fluxos e
eventos relacionados à SST no eSocial.

Figura 17. Fluxograma eSocial para SST.

S-1000 - Informações do empregador

S-1005 – Tabela de Estabelecimentos Marcadores Ambientais e Biológicos.


Engenharia (Reconhecimento, Avaliação,
Cálculo e Medidas de Prevenção)
Medicina e Enfermagem (Instrumental
S-2200 – Cadastramento Inicial do Vínculo
e Admissão por trabalhador Epidemiológico, Diagnóstico,
Encaminhamento e Monitoramento
Biológico.

S-2210 - Comunicação de
Acidente de Trabalho S-2299
(Desligam
ento)

S-2220 - Monitoramento
da Saúde do Trabalhador

S-2230 - Afastamento Temporário

Fonte: Próprio autor.

89
Figura 18. Fluxograma e Interseções no eSocial para SST.
Tabela 23 - Fatores
de Riscos do Meio S-2245 - Treinamentos
Ambiente do e Capacitações
Para Todos e Cada Um dos NIT
Trabalho
Tabela 29 - Treinamentos
Capacitações S-2240 é o mais importante evento em SST. Registra
Informações: de identificação do empregador (S-1000 e S-
S-1060 1005)), do Trabalhador (Tabela 1) e do Vínculo (S-2200);
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

(Tabela de Ambientes de Trabalho) Ambiente de trabalho (S-1060), atividades desempenhadas


Descrição dos ambientes da empresa e exposição a fatores de risco; Informação da atividade
e dos riscos neles existentes perigosa, insalubre ou especial desempenhada (Tabela 28);
Fator de risco ao qual o trabalhador está exposto (Tabela
23); Informa EPI e EPC (S-1065); Responsável pelos
registros ambientais (CREA, COREN e CRM); e, Observações
relativas a registros ambientais (Campo Texto). Finalmente
declara se há insalubridade, periculosidade e
Tabela 28 -
Atividades Tabela 30 - aposentadoria especial.
Periculosas Programas Planos
Tabela 24 - Insalubres e e Documentos
Codificação de Especiais
Acidente de
Trabalho
S-1065 - Tabela de
Equipamentos de
Proteção S-5001 – Consolidado por trabalhador. Totalização da base de cálculo (Salário de Contribuição) da
contribuição previdenciária. Retorna DCTF do FAE de 6%, 9% ou 12% em 15 20 ou 25 anos.
S-5011 – Consolidado por Contribuinte. Totalização da base de cálculo por categoria de
trabalhador, por lotação tributária e por estabelecimento
Fonte: Próprio Autor

90
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

Você já ouviu falar em eSocial? O que tem a ver com EST?

»» <https://www.youtube.com/watch?v=NnzuNCgO7yE&t=2032s>

»» <https://enit.trabalho.gov.br/portal/index.php/esocial-ponto-a-ponto>

91
CAPÍTULO 3
Serviços especializados e programas
de saúde e segurança do trabalhador

Serviços Especializados em Medicina do


Trabalho (SESMT) e sua relação com a
Engenharia de Segurança do Trabalho
Os Serviços Especializados em Medicina do Trabalho (SESMT), são um grupo de
profissionais habilitados a exercer a segurança em medicina do trabalho, técnica e
legalmente, de modo a garantir a integridade física e psíquica dos trabalhadores, de
caráter obrigatório em empresas públicas e privadas, órgãos públicos da administração
direta e indireta e dos poderes Legislativo e Judiciário que possuam empregados regidos
pela Consolidação da Lei do Trabalho, estabelecendo as responsabilidades da empresa
e dos trabalhadores quanto às normas de SST. Reitera-se que todos aqueles programas
afetos à SST (PPRA e PCMSO, por exemplo) estão sob a responsabilidade dessa equipe,
bem como de outros grupos de trabalhadores que contribuem para o monitoramento
dos riscos no trabalhão, tais como CIPA, sindicatos etc. Os SESMT estão regulamentados
conforme dispositivo da Lei no 6.514/1977 e Portaria no 3.214/1978, e especificado na
Norma Regulamentadora NR-4.

Conforme o art. no 157 da CLT (BRASIL, 1943), cabe às empresas:

»» Cumprir e fazer cumprir as normas de segurança e medicina do trabalho.

»» Instruir os empregados, por meio de ordens de serviço, quanto às precauções


a tomar no sentido de evitar acidentes do trabalho e doenças ocupacionais.

»» Adotar as medidas que lhes sejam determinadas pelos órgãos competentes.

»» Facilitar o exercício da fiscalização pela autoridade competente.

O art. 158 da CLT (BRASIL, 1943), estabelece as responsabilidades dos empregados:

»» Observar as normas de segurança e medicina do trabalho, bem como as


instruções dadas pelo empregador.

»» Colaborar com a empresa na aplicação das leis sobre segurança e medicina


do trabalho.

»» Usar corretamente o EPI quando necessário.

92
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

Quanto ao dimensionamento dos SESMT, eles estão vinculados à graduação do risco


da atividade principal e ao número total de empregados do estabelecimento. Para que o
funcionamento dos SESMT atinja seus objetivos, é necessário que a política vise à segurança
e à saúde do trabalhador, seja bem definida e garantida pelo apoio da administração e
pela conscientização de cada trabalhador da empresa em todos os níveis hierárquicos.

Atribuições dos SESMT resumem-se em:

»» Aplicar os conhecimentos de Engenharia de Segurança e Medicina


do Trabalho no ambiente de trabalho e a todos os seus componentes,
inclusive máquinas e equipamentos, de modo a reduzir até controlar os
riscos ali existentes à saúde do trabalhador.

»» Exigir a utilização pelos trabalhadores de equipamentos de proteção


individual (EPI), quando esgotados todos os meios conhecidos para a
eliminação do risco como determina a NR 6 e se mesmo assim houver sua
persistência, e desde que a concentração, a intensidade ou característica
do agente assim o exijam.

»» Colaborar, quando solicitado, nos projetos e na implantação de novas


instalações físicas e tecnológicas da empresa.

»» Responsabilizar-se, tecnicamente, pela orientação quanto ao


cumprimento do disposto nas NRs aplicáveis às atividades executadas
pelos trabalhadores das empresa e/ou estabelecimentos.

»» Manter permanente relacionamento com a CIPA, valendo-se ao máximo


de suas observações, além de apoiá-la, treiná-la e atendê-la, conforme
dispõe a NR 5.

»» Promover a realização de atividades de conscientização, educação e


orientação dos trabalhadores para a prevenção de acidentes do trabalho e
doenças ocupacionais, tanto por meio de campanhas quanto de programas
de duração permanente (treinamentos).

»» Esclarecer e conscientizar os empregados sobre acidentes do trabalho e


doenças ocupacionais, estimulando-os em favor da prevenção.

»» Analisar e registrar em documentos específicos todos os acidentes


ocorridos na empresa ou estabelecimento e todos os casos de doença
ocupacional, descrevendo a história e as características do acidente
e/ou da doença ocupacional, os fatores ambientais, as características do
agente e as condições dos indivíduos portadores de doença ocupacional
ou do acidentado.

93
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

»» As atividades dos profissionais integrantes dos SESMT são essencialmente


prevencionistas, embora não seja vedado o atendimento de emergência,
quando se tornar necessário. A elaboração de planos de controle de
efeitos de catástrofes, a disponibilidade de meios que visem ao combate
a incêndios e ao salvamento e a de imediata atenção à vítima de qualquer
outro tipo de acidente estão incluídas em suas atividades.

Programa de Prevenção de Riscos Ambientais


(PPRA)
Atualmente, este programa é regulamentado pela NR 9 do Ministério do Trabalho (MTE),
e versa sobre a obrigatoriedade da elaboração e implementação por parte de todos os
empregadores e instituições que admitam trabalhadores como empregados, focando a
preservação da saúde e integridade deles, por meio da antecipação, reconhecimento,
avaliação e controle da ocorrência de riscos ambientais presentes ou que venham a
existir no ambiente de trabalho, em consideração à proteção do meio ambiente e dos
recursos naturais; sua revisão é atualizada a cada ano.

É fundamental a verificação da existência dos aspectos estruturais no documento base


do PPRA, que dentre todos os legalmente estabelecidos, cabe especial atenção para
os seguintes:

»» Discussão do documento base com os empregados (CIPA).

»» Descrição de todos os riscos potenciais existentes em todos ambientes


de trabalho, internos ou externos e em todas as atividades realizadas na
empresa (trabalhadores próprios ou de empresa contratadas).

»» Realização de avaliações ambientais quantitativas dos riscos ambientais


levantados (radiação, calor, ruído, produtos químicos, agentes biológicos,
entre outros), contendo descrição de metodologia adotada nas avaliações,
resultados das avaliações, limites de tolerância estabelecidos na NR 15
e medidas de controle sugeridas, devendo ser assinado por profissional
legalmente habilitado.

»» Descrição das medidas de controle coletivas adotadas.

»» Cronograma das ações a serem adotadas no período de vigência do


programa.

O PPRA deve estar articulado com os demais documentos de saúde e segurança do


trabalho (SST), como PCMSO, Programa de Conservação Auditiva e o PCMAT (em

94
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

caso de construção de linhas elétricas, obras civis de apoio a estruturas, prediais), e


inclusive com todos os documentos relativos ao sistema de gestão em SST adotado
pela empresa.

Programa de Controle Médico em Saúde


Ocupacional (PCMSO)
É fundamental que o Programa de Controle Médico em Saúde Ocupacional (PCMSO)
seja elaborado e planejado anualmente com base em um preciso reconhecimento e
avaliação dos riscos presentes em cada ambiente de trabalho, em conformidade com os
riscos levantados e avaliados no Programa de Prevenção de Riscos Ambientais (PPRA),
no Programa de Condições e Meio Ambiente de Trabalho na Indústria da Construção
(PCMAT), bem como em outros documentos de saúde e segurança e, inclusive, no mapa
de riscos desenvolvido pela Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (CIPA). Seu
objetivo é promover e preservar a saúde do conjunto de trabalhadores, considerando
as questões incidentes sobre o indivíduo e a coletividade, além de ter o caráter de
prevenção, rastreamento e diagnóstico precoce dos agravos à saúde relacionados ao
trabalho, inclusive os de natureza subclínica.

Esse programa constitui-se num dos elementos de saúde e segurança do trabalho


(SST), da empresa e não pode prescindir de total engajamento e correspondência com
o sistema de gestão adotado na empresa, se houver, integrando-o tanto na fase de
planejamento de ações quanto na fase de monitoração dos resultados das medidas de
controle implementadas.

Além da avaliação individual periódica de cada trabalhador envolvido, tem o caráter de


um estudo de corte, longitudinal, em que a medicina do trabalho tem a oportunidade
de acompanhar determinada população de trabalhadores ao longo de sua vida laboral,
estudando o possível aparecimento de sintomas ou patologias, a partir da exposição
conhecida a fatores agressores – riscos químicos, físicos e biológicos, de acidente e
ergonômicos. Em relação a isso, temos os fatores:

»» De ordem psicossocial, relacionados à presença do risco de vida no


trabalho, o estresse associado a tais riscos, grande exigência cognitiva e
de atenção, necessidade de condicionamento psíquico e emocional para
execução dessas tarefas, entre outros fatores estressores.

»» De natureza biomecânica, relacionados às atividades em posturas pouco


fisiológicas e inadequadas, com exigências extremas de condicionamento
físico.

95
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

»» De natureza organizacional, relacionados às tarefas planejadas sem


critérios de respeito aos limites técnicos e humanos, levando a premência
de tempo, atendimento emergencial, pressão produtiva.

O controle médico deverá incluir:

»» Avaliações clínicas cuidadosas, admissionais e periódicas, com ênfase em


aspectos neurológicos e ósteomúsculoligamentares de modo geral.

»» Avaliação de aspectos físicos do trabalhador pertinentes a outros riscos


levantados, incluindo ruído, calor ambiente e exposição a produtos
químicos.

»» Avaliação psicológica voltada para o tipo de atividade a desenvolver.

»» Avaliação de acuidade visual (trabalho a distância e com percepção de


detalhes).

Exames complementares poderão ser solicitados, a critério médico, conforme cada caso.
Ainda, ações preventivas para situações especiais devem ser previstas, como vacinação
contra tétano e hepatite, influenza, no caso de atividades com riscos biológicos,
Programas de Conservação da Voz e ou Auditiva, Qualidade de Vida no Trabalho,
Acompanhamento de Doentes Crônicos, entre outros.

Comissão Interna de Prevenção de Acidentes


(CIPA)
Conforme determina a NR 5, as empresas privadas, públicas, sociedades de economia
mista, órgãos da administração direta e indireta, instituições beneficentes, associações
recreativas, cooperativas, bem como outras instituições que admitam trabalhadores
como empregados, devem constituir CIPA por estabelecimento e mantê-la em regular
funcionamento.

A CIPA tem como objetivo prevenir acidentes e doenças decorrentes do trabalho, de


forma a tornar compatível permanentemente o trabalho com a preservação da vida e a
promoção da saúde do trabalhador. O empregador deverá garantir que seus empregados
indicados tenham a representação necessária para a discussão e o encaminhamento
das soluções de questões de segurança e saúde no trabalhado analisados pela Comissão
(BARSANO, 2014).

A empresa designará entre seus representantes o presidente da CIPA, e o vice-


presidente será escolhido entre os representantes dos empregados titulares. Serão

96
ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

indicados, em comum acordo, um secretário e seu substituto entre os componentes,


ou não, da comissão, necessitando, nesse caso, da concordância do empregador
(BARSANO, 2014).

Atribuições da CIPA:

»» Identificar os riscos do processo de trabalho e elaborar o mapa de riscos


com a participação do maior número de trabalhadores, com assessoria
dos SESMT, onde houver.

»» Elaborar plano de trabalho que possibilite a ação preventiva na solução


de problemas de segurança e saúde no trabalho.

»» Participar da implementação e do controle da qualidade das medidas de


prevenção necessárias, bem como da avaliação das prioridades de ação
nos locais de trabalho.

»» Realizar, periodicamente, verificações nos ambientes e condições de


trabalho, visando à identificação de situações que tragam riscos para a
segurança e saúde dos trabalhadores.

»» Realizar, a cada reunião, avaliação do cumprimento das metas fixadas em


seu plano de trabalho e discutir as situações de risco identificadas.

»» Divulgar aos trabalhadores informações relativas à segurança e saúde no


trabalho.

»» Participar, com os SESMT, onde houver, das discussões promovidas


pelo empregador para avaliar os impactos de alterações no ambiente e
processo de trabalho relacionado à segurança e saúde dos trabalhadores.

»» Requerer aos SESMT, quando houver, ou ao empregador a paralisação


de máquina ou setor em que considere haver risco grave e iminente à
segurança e saúde dos trabalhadores.

»» Colaborar no desenvolvimento e implementação do PCMSO e PPRA e de


outros programas relacionados à segurança e saúde no trabalho.

»» Divulgar e promover o cumprimento das Normas Regulamentadoras,


bem como cláusulas de acordos e convenções coletivas de trabalho,
relativas à segurança e saúde no trabalho.

»» Participar, em conjunto com os SESMT, onde houver, ou com o


empregador da análise das causas das doenças e acidentes de trabalho e
propor medidas de solução dos problemas identificados.

97
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

»» Requisitar ao empregador e analisar as informações sobre questões que


tenham interferido na segurança e saúde dos trabalhadores.

»» Requisitar à empresa as cópias das CATs emitidas.

»» Promover, anualmente, em conjunto com os SESMT, onde houver, a


Semana Interna de Prevenção de Acidentes do Trabalho (SIPAT).

»» Participar, anualmente, em conjunto com a empresa, de campanhas de


prevenção da Aids.

A CIPA terá reuniões ordinárias mensais, de acordo com calendário preestabelecido,


e extraordinárias sempre que houver denúncia de situação de risco grave e iminente
que determine aplicação de medidas corretivas de emergência, acidente do trabalho
grave ou fatal e solicitação expressa de uma das representações (BARSANO, 2014).
O treinamento dos integrantes da CIPA será antes da posse, promovido pela empresa,
para titulares e suplentes, no prazo máximo de 30 dias contados da data da posse.

Sob a responsabilidade da CIPA está a elaboração do mapa de risco. Esse instrumento


é a representação gráfica do mapeamento de riscos ambientais, por meio de círculos
de cores e tamanhos proporcionalmente diferentes (riscos pequeno, médio e grande),
definida a partir do levantamento dos riscos presentes nos locais de trabalho, sentidos
e/ou observados pelos próprios trabalhadores, de acordo com a sua sensibilidade. Fora
os riscos, é elaborado sobre o leiaute da empresa, devendo ficar afixado em local visível
a todos os trabalhadores.

Participação e controle social


A participação na perspectiva do controle social no Sistema Único de Saúde (SUS), foi
um dos eixos dos debates da VIII Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986,
e é tida como um dos princípios fomentadores da reformulação do sistema nacional
de saúde e como via imprescindível para a sua democratização. Essa participação foi
instituída pela Lei no 8.142/1990 dentro do SUS, por meio de seus Conselhos de Saúde
e de diversas modalidades como conselho nacional, estadual, municipal. Esses conselhos
têm composição paritária entre os representantes dos usuários que congregam setores
organizados da sociedade civil e dos demais segmentos (gestores públicos, filantrópicos e
privados e trabalhadores da saúde), e que objetivam o controle social (CORREIA, 2000).

Na saúde do trabalhador, área de práticas eminentemente intersetoriais, a Lei no


8.142/1990 previu, desde 1990, a criação e funcionamento das Comissões Intersetoriais
de Saúde do Trabalhador (CIST) como assessoras dos conselhos de saúde. No SUS, o
controle social é efetivado pela Rede Nacional de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador

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ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL) │ UNIDADE IV

(RENAST), por meio do controle direto das ações do Centro de Referência em Saúde do
Trabalhador (CEREST), pela participação efetiva de organização de trabalhadores na
definição de prioridades de intervenção, na implementação da política de ST e aplicação
de recursos disponíveis segundo a realidade do setor produtivo local. As CISTs foram
criadas para elaborar normas técnicas e parâmetros de qualidade em SST, a fim de
implementar políticas relativas às condições de trabalho e o seu controle.

O objetivo dessa comissão é participar em conjunto com entidades representativas de


empregados e empregadores, instituições da sociedade civil e órgãos públicos, direta
e indiretamente responsáveis pela preservação da saúde. Sua composição não segue a
paridade do Conselho de Saúde, porém ela deve ser a mais representativa possível dos
trabalhadores, tendo na sua composição técnicos da área de ST.

A população pode recorrer a outros mecanismos de garantia dos direitos sociais para
além dos conselhos e conferências de saúde, em especial, o direito à saúde, por exemplo,
o Ministério Público, a Comissão de Seguridade Social e/ou da Saúde do Congresso
Nacional, das Assembleias Legislativas e das Câmaras de Vereadores, a Promotoria
dos Direitos do Consumidor (Procon), os conselhos profissionais etc. A denúncia por
intermédio dos meios de comunicação como rádios, jornais, televisão e internet também
é forte instrumento de pressão na defesa dos direitos (CORREIA, 2000). É importante
reiterar a importância dos sindicatos representativos de categorias profissionais no
processo de construção da saúde do trabalhador no Brasil.

O sindicato é uma associação de direito privado, criado por decisão de seus membros,
com o objetivo de representar, promover e defender, de forma permanente, os direitos
e interesses da categoria profissional ou econômica, em especial, podendo ser de
empregados, empregadores ou profissionais liberais. Eles fizeram parte de toda a
evolução da política trabalhista no nosso país em defesa dos direitos dos trabalhadores.
E até hoje, via acordos ou dissídios coletivos, conselhos deliberativos etc., garantem
melhores condições de trabalho e saúde para sua classe.

A Constituição Federal de 1988 prevê, enquanto função dos sindicatos, a defesa de


direitos e interesses coletivos ou individuais de uma categoria, tanto em questões
judiciais quanto em questões administrativas (art. 8o, III) e a atuação nas negociações
coletivas de trabalho (art. 8o, VI). No art. 513 da CLT (BRASIL, 1943), dispondo das
seguintes prerrogativas:

a. Delegação, judicial e administrativa, dos interesses gerais e individuais


da categoria ora representada.

b. A celebração de acordos ou convenções coletivas.

99
UNIDADE IV │ ACESSO A DADOS E ESCRITURAÇÃO FISCAL SOBRE SST (ESOCIAL)

c. Eleger seus representantes.

d. Cooperar com o Estado, como órgãos técnicos e consultivos, em temas


relacionados à categoria representada.

e. Impor contribuições aos participantes da categoria representada. Além


da assistência jurídica, muitos sindicatos detêm uma estrutura de
saúde de profissionais que orientam os trabalhadores filiados em caso
de acidentes, contribuindo, desta forma, para a vigilância em saúde do
trabalhador.

Você percebeu os principais sujeitos envolvidos no monitoramento da saúde dos


trabalhadores em uma organização? Não podemos nos esquecer de que existem
outros atores nessa relação, como os órgãos ambientais, a Vigilância Sanitária,
ONGs, instituições públicas de ensino, entre outros. Para complementar a leitura
desta unidade, leia na íntegra as NRs 4, 5, 7, 9 e 17.

100
Para (Não) Finalizar

O incremento do setor produtivo no Brasil aponta para uma crescente demanda por
engenheiros de segurança. Nesse contexto, o negócio de construção civil, demanda
inicial do profissional de engenharia de segurança, tem sido ampliado, haja vista as
empresas cada vez mais entenderem que a gestão dos riscos inerentes ao seu processo
produtivo cria uma equação positiva financeiramente para a empresa, aumentando
sua competitividade frente ao mercado interno e externo, principalmente quando
comparado aos produtos vindos da China. O papel do Engenheiro de Segurança teve
uma percepção durante muito tempo de um profissional descartável, que existia no
quadro das empresas somente para cumprir determinante legal, tanto o é que na
publicação do Regime Jurídico Único dos Servidores Públicos Civis Federais, esse
profissional foi excluído, assim como a necessidade de se estabelecer um Serviço
Especializado de Segurança e Medicina do Trabalho – SESMT. Tal visão tem mudado
fortemente, apresentando uma demanda cada vez maior por parte das empresas para
esse profissional, haja vista consolidar a imagem de que o engenheiro de segurança
ultrapassa as suas responsabilidades frente à legislação vigente, atuando de forma efetiva
na melhoria dos processos e condições de trabalho, aumentando a competitividade da
empresa. Enfim, espera-se com esta disciplina ter contribuído para a comunidade de
segurança ocupacional, com empreendedores interessados em investir no ramo de
construção civil e, consequentemente, com o desenvolvimento do setor imobiliário
do Brasil.

101
Referências
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