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Blade Runner, uma introdução ao


Estoicismo III – Fantasia e Realidade

ALDO DINUCCI6 dias atrás18 min


! " #

Blade Runner 2049, de 2017, é a sequência de Blade Runner, de 1982. Com


direção de Denis Villeneuve e roteiro de Hampton Fancher e Michael Green, a
película tem como protagonista o replicante K (Ryan Gosling), que trabalha
para a polícia encarregado de eliminar outros replicantes foragidos na Terra.
O cenário é distópico como no Blade Runner de 1982: infinitos subúrbios
sombrios e poluídos, escuridão e neón, enormes instalações industriais,
chuva ácida, deterioração e detritos.

Em geral, sequências são somente comerciais e pouco inspiradas. Esta, no


entanto, superou expectativas. O filme trabalha questões relativas ao limite
entre a fantasia e a realidade. O que é o real? O que somos na realidade? Essas
as indagações que permeiam o filme.

Para os estoicos, o contato humano com a realidade é mediado pelos sentidos


e pelo pensamento. Não há acesso à realidade nua e crua. A mediação do dado
concreto da percepção se dá pelo pensamento que automaticamente rotula e
classifica as coisas de acordo com as opiniões e suposições a que assentimos.
Por exemplo, se alguém classificar cães como ‘animais malignos’, essa
opinião será aplicada a toda percepção de cão que lhe sobrevier, todos os cães
parecerão a este indivíduo maldosos, perigosos, suspeitos.

Os estoicos chamavam esta mediação da percepção e do pensamento com o


real de phantasia, termo grego que, como indica um antigo comentador, vem
de phos, luz. A phantasia é, portanto, algo que ilumina a coisa percebida (o
dado sensorial) e a si mesma (a opinião que se tem sobre o dado). Trata-se,
portanto, da apresentação da coisa que nós é feita por nosso organismo.

Aqui já se percebe que a distinção entre fantasia e realidade, para os estoicos,


é tênue. Deleuze, comentando a posição estoica em Lógica do sentido, irá dizer
que não há acesso humano ao real, nossa esfera dos acontecimentos se dá na
superfície dos corpos existentes, não chegando a tocá-los. A percepção que se
tem de uma coisa não tem relação de semelhança com essa coisa, como a
navalha e o corte desferido na carne. Torna-se, portanto, de primeira monta
saber distinguir e interpretar as apresentações, as fantasias: é preciso pelo
corte intuir a navalha: conhecê-la e compreendê-la sem jamais vê-la – eis a
ciência.

E há outro elemento que torna ainda mais precária a distinção entre fantasia
e realidade no estoicismo. Essas coisas que reconhecemos como belas e
sensuais, por exemplo, não o são de fato. O sensual nos é projetado de dentro
de nós mesmos por apropriação (oikeiosis). O amor não é uma coisa, uma
substância, mas a necessidade de se relacionar nos é implantada pela
natureza em nosso ser. Viver ou morrer é totalmente indiferente, mas a
vontade de se agarrar à vida nos é implantada pela natureza. E o mesmo vale
para tudo que desejamos, tememos, louvamos e desprezamos. As coisas por si
mesmas são nada e não tem valor algum (como montanhas de ouro em um
planeta distante), somos nós que dizemos o que elas são para nós e o quanto
elas valem para nós. Em suma, a realidade é, em grande parte, o que
construímos e projetamos a partir de nós mesmos. Daí o sentido do dito de
Marco Aurélio Antonino: Panta hypolepsis, tudo é opinião.

Assim, na película, o androide K se relaciona com sua namorada virtual, Joi


(interpretada pela atriz Ana de Armas). Ela é um programa projetado para
simular um relacionamento amoroso. Ele é um humano artificial no qual se
implantou a necessidade de ter relacionamentos. Ambos têm ciência da
irrealidade de sua realidade, de que tudo na verdade é um jogo e um cenário
construído para satisfazer as necessidades de cada um. De K, de cumprir seu
desejo implantado de se relacionar amorosamente. De Joi, de executar seu
código objeto. A realidade para ambos se dá na sobreposição virtual dessas
projeções, na esfera dos acontecimentos que recebem sentidos (não
necessariamente e mesmo dificilmente similares) a partir das distintas
projeções. São, como está claro, mundos imaginários que jamais se tocam. E a
realidade, o real, está sempre atrás dos cenários. Como nos disse Chico
Buarque:

Luz, quero luz,

Sei que além das cortinas

São palcos azuis

E infinitas cortinas

Com palcos atrás.

(Chico Buarque, Vida)

Em uma cena em que os dois se abraçam na chuva, Joi lhe diz ‘Estou tão feliz
por estar com você’, e K responde, ‘Você não precisa dizer isso’. Temos
experiências análogas quando alguém que não temos realmente como um
amigo, ou que tememos que não seja realmente um amigo, mas com quem
entretemos por qualquer motivo a encenação de uma relação, nos diz ‘Meu
amigo’, e isso nos fere, porque subitamente percebemos a irrealidade de
nossa realidade, que os atores da peça não são tão convincentes como seriam.
E mesmo assim seguimos adiante, porque… o show tem que continuar. Entre
o real e a fantasia que diferença há? Como nos disse Pessoa:

O poeta é um fingidor

Finge tão completamente

Que chega a fingir que é dor

A dor que deveras sente.

(Fernando Pessoa, Autopsicografia)

K é um androide especial em um sentido, tem estranhas memórias de uma


infância que não poderia ter tido. E essas lembranças são como que
‘confirmadas’ externamente. Ele chega a um lugar que reconhece e lembra-
se de que escondera um brinquedo de madeira em determinada parte. E ele o
acha! Todo tipo de especulação começa a passar por sua cabeça. Será ele um
humano real? Ele comenta o ocorrido com Joi, e esta lhe diz que isso é prova
de sua singularidade:
Joi: Eu sempre te disse. Você é especial. Nascido, não feito. Escondido com cuidado.
Um garoto real agora … Você é importante demais para “K”. Um garoto real
precisa de um nome real. Sua mãe te teria chamado Jo.

Mas, na verdade, como K descobre ao final do filme, suas memórias não lhe
são próprias. Foram-lhe implantadas por motivos alheios à sua pessoa. Ele
era só um meio para um fim que não lhe concernia.

Caminhando pela cidade, após a destruição de Joi, ele se depara com uma
gigantesca projeção holográfica seminua de Joi, uma propaganda de trinta
metros de altura. K a observa, e o holograma percebe-o abaixo de si e, como
anúncio interativo, se dirige a ele:

“”Joi”: Alou, belo rapaz. Que dia dia hein?! Você parece solitário. Posso dar um
jeito nisso.

K tenta, ainda, buscar nos olhos do holograma a mulher que ama. Mas, claro,
não a encontrará, ela não está lá. Quebrando-se esses laços imaginários,
desfaz-se a realidade da fantasia na qual vive. Daí o sentimento de falta de
sentido e irrealidade que se experimenta ao fim de relações intensas. A cena
lembra o encontro do Pequeno Príncipe de Exupéry com as inúmeras rosas de
um jardim na Terra. O príncipe, que amava apenas uma rosa, ao se deparar
com todas aquelas rosas idênticas, lhes diz:

“Sois belas, mas vazias … Não se pode morrer por vós. Um passante qualquer sem
dúvida pensaria que a minha rosa se parece convosco. Ela sozinha é, porém mais
importante que todas vós, pois foi ela quem eu reguei. Foi ela quem eu pus sob a
redoma. Foi ela quem eu abriguei com o pára-vento. Foi nela que eu matei as
larvas (exceto duas ou três por causa das borboletas). Foi ela quem eu escutei
queixar-se ou gabar-se, ou mesmo calar-se algumas vezes. Já que ela é a minha
rosa” (O Pequeno Príncipe, Antoine de Saint-Exupéry)

Mais uma vez, o real se impõe através da projeção e da apropriação. A suposta


singularidade se dá através do foco das projeções. O real é aquilo com que
estabelecemos relações afetivas. O que está para além dessas relações é uma
ameaça a essa realidade, é anti-realidade, não faz sentido, não importa.

Daí que os estoicos não buscarão por princípios morais na exterioridade. A


exterioridade é projeção, é meio e não fim, é, como diz Epicteto, material para
a escolha. Os estoicos buscarão princípios morais em si mesmos, princípios
com os quais a natureza dotou os humanos e que unicamente podem ser
resgatados através de um processo de reflexão. Não há tabelas de valores
morais para serem seguidas, tábuas de mandamentos. Cada humano é o
princípio de sua realidade. Nossas realidades são mundos imaginários nos
limites dos quais às vezes nos esbarramos, às vezes nos entrevemos.

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