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CDD: 160

AS TEORIAS CARROLLIANAS DAS FALÁCIAS

FRANK THOMAS SAUTTER

Departamento de Filosofia
Universidade Federal de Santa Maria
Santa Maria, RS, Brasil
ftsautter@ufsm.br

Resumo: Exponho e discuto as teorias das falácias em duas obras de Lewis


Carroll: seu manual de lógica O jogo da lógica e a sua obra parcialmente póstuma
Lógica simbólica. Carroll discute as falácias no quadro de uma silogística ampliada
e modificada, marcada pela presença de termos privativos e de uma
interpretação sui generis das proposições universais afirmativas. Além disso,
emprega tanto um método diagramático próprio como uma notação original
por subscritos na discussão das falácias. Discuto, com especial atenção, as
Falácias da Conclusão Defeituosa, recorrendo ao Princípio de Caridade e
propondo um Princípio de Descaridade.

Palavras chave: silogística, termo privativo, pressuposto existencial, diagrama


lógico, princípio de caridade.

CARROLLIAN THEORIES OF FALLACIES

Abstract: I present and discuss the theories of fallacies found in two works by
Lewis Carroll: his logical textbook The game of logic and his partially posthumous
work Symbolic logic. Carroll discusses fallacies within an extended and modified
syllogistic, characterized by the presence of negative terms and a sui generis
interpretation of universal affirmative propositions. Furthermore, he employs
both a diagrammatic method of his own as well an original subscript notation
when discussing fallacies. I discuss with special attention the Fallacies of
Defective Conclusion, employing the Charity Principle while doing so, and
propose an Uncharity Principle.

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, série 4, v. 1, n.1, p. 7-32, jan.-jun. 2015.
8 Frank Thomas Sautter

Keywords: syllogistic, negative term, existential presupposition, logical diagram,


charity principle.

O perfeito lógico poderá aplicar sua destreza a todo e qualquer


tópico do conhecimento humano; em cada um deles ela o ajudará
a obter ideias claras, a ordenar o seu conhecimento, e, o mais
importante, a detectar e deslindar as falácias que encontrará em
cada tópico no qual ele próprio possa estar interessado
(CARROLL, 1977, p. 46)

Lewis Carroll1 (1832-1898), o professor de matemática no Christ


College, em Oxford, viveu o período de transição da lógica aristotélica
para a lógica fregeana. Essa transição ocorreu sob os auspícios da álgebra
da lógica. O próprio Carroll não colocava as suas fichas nos
desenvolvimentos de seus contemporâneos algebristas da lógica; um
exemplo disso é o título (“Lâmpadas novas por velhas”2) e a epígrafe
(“Vem fácil, vai fácil”3) do primeiro capítulo de seu manual de lógica,
intitulado O jogo da lógica (CARROLL, 1887)4. O título é uma clara alusão à
cena de “Aladim e a lâmpada maravilhosa” (BURTON, 1887), na qual o
mágico paradoxalmente troca lâmpadas novas por lâmpadas velhas na
esperança de recuperar a lâmpada maravilhosa, e deve ser interpretada
como um posicionamento de Carroll a favor da “velha” lógica aristotélica
e contra a “nova” álgebra da lógica5; a epígrafe, que também ocorre como

1Ele assinava suas obras de literatura infantil e seus trabalhos de lógica sob esse
pseudônimo, e seus trabalhos de matemática com o seu verdadeiro nome:
Charles Lutwidge Dodgson.
2 “New lamps for old”, no original.
3 “Light come, light go”, no original.
4A referência é à primeira edição pública, pois houve uma edição privada em
1886. Há uma tradução em curso para a língua portuguesa, do presente autor.
5 William Warren Bartley, III, o editor de Symbolic logic, observa que “a alegação
algumas vezes ouvida que Carroll desconhecia as obras de seus contemporâneos
[os algebristas da lógica] é falsa.” (BARTLEY, 1977, p. 30). Bartley cita George
Boole, Augustus De Morgan, William Jevons, John Neville Keynes, Charles
Peirce, Sir William Hamilton, Bernard Bosanquet, entre outros, como autores

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, série 4, v. 1, n.1, p. 7-32, jan.-jun. 2015.
As teorias carrollianas das falácias 9

título do vigésimo capítulo de seu romance experimental Sylvie and Bruno6,


é uma provável alusão ao caráter efêmero da álgebra da lógica 7. Nessa
atmosfera de embate em torno da teoria lógica correta, Carroll
desenvolve a sua própria concepção de lógica, um aperfeiçoamento da
lógica aristotélica, uma silogística ampliada8.
A Teoria das Falácias não é um mero capítulo da lógica
carrolliana, mas é o próprio coração dela. Lewis Carroll concebe a lógica
como uma recreação, útil na detecção de falácias (BRAITHWAITE, 1932).
A seguinte passagem corrobora essa interpretação:

Você acredita que o principal uso da Lógica, na vida real, é o de


deduzir conclusões viáveis [workable], e o de convencer-se que as
conclusões, deduzidas por outras pessoas, estão corretas?
Quisera fosse assim! A sociedade estaria muito menos sujeita ao
pânico e a outras ilusões, e a vida política, sobretudo, seria algo
totalmente diferente, caso a maioria dos argumentos transmitidos
e espalhados pelo mundo fossem corretos! Mas, receio, é
exatamente o contrário. Para cada par de premissas viáveis

cuja obra em lógica Carroll estava familiarizado (CARROLL, 1977, p. 31). O


próprio Carroll menciona uma troca de correspondências com John Venn
acerca de métodos diagramáticos de decisão (CARROLL, 1977, p. 249). Contudo,
Lewis Carroll não estava interessado, ao fazer lógica, em discutir os
fundamentos da matemática, ao contrário da maioria dos autores supracitados.
6CARROLL (1997) é uma tradução parcial dessa obra para a língua portuguesa;
o referido capítulo não se encontra traduzido.
7No referido capítulo Earl afirma que “um argumento não depende, quanto à
sua força lógica, da estatura da criatura que o profere! ” (CARROLL, 1965, p. 499),
e outro personagem reage: “Não argumentaria com qualquer um que tivesse
menos de seis polegadas de estatura! ” (CARROLL, 1965, p. 499).
8Outros lógicos, à época, também desenvolveram silogísticas ampliadas, mas a
contribuição de Lewis Carroll é marcada por originalidade como, por exemplo,
o desenvolvimento de uma técnica de demonstração – o Método de Árvores –
que viria a antecipar em quase 50 anos o amplamente utilizado Método de
Árvores de Refutação (SAUTTER, 2004).

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10 Frank Thomas Sautter

(aquelas que levam a uma conclusão lógica) que você encontra ao


ler um jornal ou uma revista, você provavelmente encontrará cinco
que não levam a conclusão alguma, e mesmo quando as premissas
são viáveis, para cada instância na qual o escritor extrai uma
conclusão correta, há provavelmente dez nas quais ele extrai uma
incorreta. [...] O uso principal que você fará dessa destreza lógica,
que esse jogo pode lhe ensinar, será o de detectar ‘Falácias’ [...]
(CARROLL, 1887, p. 32-33).

Carroll caracteriza uma falácia, de um modo bastante tradicional,


nos seguintes termos:

Qualquer argumento que nos engana, ao aparentemente


demonstrar o que realmente não demonstra, pode ser chamado
de Falácia (derivado do verbo latino fallo, “engano”) [...]
(CARROLL, 1977, p. 129).

As Teorias das Falácias das suas duas obras lógicas – O jogo da


lógica (CARROLL, 1887) e Lógica simbólica (CARROLL, 1977) – diferem,
contudo, quanto à classificação das falácias, e, inclusive, quanto ao
reconhecimento de novos argumentos falaciosos. Por isso, esse trabalho
apresentará a teorização carrolliana das falácias em duas partes. Na
primeira parte examinarei a Teoria das Falácias presente no manual de
lógica O jogo da lógica, e na segunda parte uma versão mais refinada de
Teoria das Falácias presente na obra, parcialmente póstuma, Lógica
simbólica.

I. O jogo da lógica

Você pode se lançar na sua cama de batatas ou na sua cama de


morangos sem que isso cause qualquer prejuízo; você pode
mesmo se lançar da varanda (a menos que se trate de uma casa
nova, construída sob contrato, e sem um mestre de obras) e
sobreviver à temerária iniciativa. Mas, se você se lançar ao seu
destino, assuma as consequências! (CARROLL, 1887, p. 36)

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A Teoria das Falácias de Lewis Carroll está atrelada à Teoria do


Silogismo Categórico, ou seja, ele examina falácias somente com respeito
a silogismos categóricos. Contudo, a Teoria do Silogismo Categórico de
Carroll é uma versão ampliada da versão tradicional9. A principal, embora
não a única diferença em relação à versão tradicional, é a utilização de
termos privativos10. Comentando a recusa de alguns contemporâneos em
utilizar termos privativos, Carroll diz o seguinte:

Eles têm um tipo de pavor nervoso de atributos começando com


uma partícula negativa. Por exemplo, proposições como “Todos
os não-x são y” e “Nenhum x é não-y” são bastante estranhas aos
seus sistemas. E assim, ao excluírem, por puro nervosismo, uma
quantidade grande de formas bastante úteis, eles produziram
regras11 que, embora inteiramente aplicáveis às poucas formas
admitidas, de nada servem quando você leva em consideração
todas as possíveis formas (CARROLL, 1887, p. 36).

Carroll utiliza um método diagramático próprio para testar a


validade de silogismos dessa silogística ampliada, um método que se
assemelha aos Diagramas de Venn. Na Fig. 1 encontram-se os diagramas
que comprovam a validade do seguinte silogismo, inválido na silogística
categórica em sua versão tradicional:

9 O “destino”, na epígrafe acima, é uma alusão às distintas decisões teóricas dos


lógicos quanto às possíveis formas argumentativas.
10
Um termo privativo é, para Lewis Carroll, aquele cuja extensão é o
complemento absoluto do correspondente termo afirmativo, ou seja, é aquele
cuja extensão é o complemento, em relação ao universo do discurso, do
correspondente termo afirmativo. Por exemplo, pertence à extensão do termo
privativo “não-x” tudo aquilo que, no universo do discurso, não pertence à
extensão de “x”.
11Lewis Carroll refere-se, aqui, às regras de distribuição e outras regras para a
verificação da validade ou invalidade de silogismos.

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12 Frank Thomas Sautter

Nenhum honesto é trapaceiro.


Nenhum desonesto é leal.
 Nenhum trapaceiro é leal.

Figura 1. (a) é a representação diagramática da premissa “Nenhum m é x”; (b)


é a representação diagramática da premissa “Nenhum m’ é y”, onde m’ é o termo
privativo correspondente ao termo afirmativo m; (c) é o amálgama de (a) e de
(b); (d) é a representação diagramática da conclusão “Nenhum x é y”.

O diagrama (a) da Fig. 1 (um diagrama a três termos, um


diagrama triliteral ou maior, como Lewis Carroll costuma se referir a ele)
representa a verdade de “Nenhum honesto é trapaceiro”, o diagrama (b)
da Fig. 1 representa a verdade de “Nenhum desonesto é trapaceiro”, o
diagrama (c) da Fig. 1 é o amálgama de (a) e de (b), e o diagrama (d) da
Fig. 1 (um diagrama a dois termos, um diagrama biliteral ou menor, como

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Carroll costuma se referir a ele) representa a verdade de “Nenhum


trapaceiro é leal”, obtida da eliminação no diagrama (c) do termo médio
(honesto-desonesto) e da retenção dos dois outros termos (trapaceiro e
leal).
A respeito desse exemplo, CARROLL (1887, p. 35) diz o seguinte:

Se você perguntasse a ele [um lógico que recusa termos


privativos] qual conclusão se segue, ele provavelmente diria:
“Absolutamente nenhuma! Suas premissas atentam contra duas
distintas regras12 e são tão falaciosas quanto podem ser!”

A utilização de termos privativos exige uma redefinição de


silogismo válido. Lewis Carroll o redefine do seguinte modo:
Dadas três proposições do tipo apropriado13, um silogismo
[válido] é aquele em que:
[Claúsula ontológica] Todos os seus seis termos são espécies de
um mesmo gênero.
[Cláusula epistemológica] Cada par de proposições contém um
par de classes codivisionais14.
[Cláusula lógica] As três proposições estão de tal modo
relacionadas que, se as duas primeiras fossem verdadeiras, a terceira seria
verdadeira (CARROLL, 1977, p. 107).
O “tipo apropriado”, na definição acima, refere-se às
proposições categóricas. Por utilizar termos privativos, Lewis Carroll
propõe apenas três tipos básicos de proposição: a universal afirmativa
(“proposição em A”), cuja forma é “Todos os x são y”, a universal
negativa (“proposição em E”), cuja forma é “Nenhum x é y”, e a

12As duas regras distintas são: de duas premissas negativas nada se segue, e o
argumento em questão não é um silogismo, pois não há termo médio.
13 Na sequência examinarei o que Lewis Carroll quer dizer com “tipo
apropriado”.
14Um termo é codivisional consigo mesmo, e um termo afirmativo e seu
correspondente termo privativo são codivisionais.

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14 Frank Thomas Sautter

particular (“proposição em I”), cuja forma é “Algum x é y”. As


proposições particular afirmativa e particular negativa (ambas contêm o
pressuposto existencial) são distinguidas pelo termo predicado y ser
afirmado, naquele caso, e negado, nesse caso. Carroll não pode operar
uma simplificação análoga com as universais, porque, no seu entender, a
universal afirmativa contém pressuposto existencial, mas não a universal
negativa. Para ele a universal afirmativa é uma proposição dupla; na Fig.
2, a universal afirmativa “Todos os x são y” é a conjunção da universal
negativa “Nenhum x é não-y” (diagramaticamente representada por uma
peça vazada) e da particular “Algum x é y” (diagramaticamente
representada por uma peça cheia). Essa peculiaridade da universal
afirmativa afetará, particularmente, a quantidade de falácias de conclusão
defeituosa (ver § I.2).

Figura 2. Representação diagramática da proposição dupla “Todos os x são y”.

O jogo da lógica (CARROLL, 1887) classifica as falácias em dois


tipos: falácias das premissas e falácias da conclusão. Por sua vez, as
falácias da conclusão subdividem-se em conclusão defeituosa e
conclusão falaciosa (propriamente dita). Nas três próximas seções
examinarei cada um desses três tipos.

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I.1. Sobre as premissas falaciosas

Você estaria tão seguro [do erro] quanto uma mãe sábia estaria
ao dizer: “Maria, vá até o berçário, veja o que o bebê está fazendo,
e diga a ele para não fazê-lo!” (CARROLL, 1887, p. 33)

A Falácia das Premissas é aquela em que o par de premissas não


é viável, ou seja, o par de premissas não leva a conclusão alguma. A
epígrafe acima propõe uma analogia para entender o que ocorre nas
Falácias das Premissas: a relação de uma pessoa experiente em questões
de lógica com uma pessoa inexperiente em questões de lógica é análoga
à relação de uma mãe com o seu bebê. Uma pessoa experiente em
questões de lógica não precisará perguntar a outra pessoa (menos ainda
a uma pessoa inexperiente em questões de lógica) qual é a conclusão de
um par de premissas inviáveis, assim como uma mãe não precisa sequer
estar na presença do seu bebê para saber que ele está fazendo arte.
Lewis Carroll fornece o seguinte exemplo de Falácia das
Premissas:

Todos os soldados são corajosos.


Algum inglês é corajoso.
 Algum inglês é soldado.

Esse silogismo é uma instância de um modo inválido da segunda


figura. Sua representação diagramática é dada pela Fig. 3. É uma
característica dos métodos diagramáticos que a conclusão não precisa ser
fornecida, pois ela, quando existe, é obtida no curso da representação das
premissas.
A Falácia das Premissas é impossível na lógica fregeana, pois a
própria distinção entre (par de) premissas viáveis e (par de) premissas
inviáveis é alheia à lógica fregeana. Nessa, dada a caracterização de
argumento válido como aquele que preserva verdade, ou aquela em que
não há aumento de informação, sempre é possível obter uma conclusão,
pois, no pior dos casos, sempre se pode concluir uma premissa.

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Aristóteles, por outro lado, define um silogismo (válido) de tal modo que
essa solução extrema é vedada:

O silogismo é uma locução em que, dadas certas proposições,


algo distinto delas resulta necessariamente, pela simples presença
das proposições dadas (ARISTÓTELES, 1977, p. 11).

Figura 3. (a) é a representação diagramática da premissa “Todos os x são m”;


(b) é a representação diagramática da premissa “Algum y é m”; (c) é o amálgama
de (a) e de (b); (d) é a representação diagramática da conclusão (inexistente)!

Uma petição de princípio é, a despeito do seu caráter falacioso,


um argumento válido na lógica fregeana. Isso nos sugere que o locus da
Teoria das Falácias não é a Lógica, mas algum outro departamento, por

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exemplo, a Epistemologia, e que a lógica antiga contém mais elementos


epistemológicos do que seria necessário.

I.2. Sobre a conclusão defeituosa

Talvez você perguntasse à jovem atrás do balcão se ela o deixaria


comer a rosca pela qual o menino pagou [insuficientemente] e
deixou para trás, e ela respondesse: “Não deve!” (CARROLL, 1887,
p. 34)

A Falácia da Conclusão Defeituosa é aquela em que se deriva


uma conclusão mais fraca do que a conclusão forte que se pode
validamente extrair das premissas. Lewis Carroll não diz, com todas as
letras, que se trata realmente de uma falácia. Ele afirma que “ela [a
conclusão obtida] pode ser uma parte15 da conclusão correta e, em um
sentido limitado [as far as it goes], inteiramente correta.” (CARROLL, 1887, p.
34). Contudo, mostrarei mais adiante que se trata realmente de um erro.
CARROLL (1887, p. 34) apresenta o seguinte exemplo de
conclusão defeituosa:

Todos os desinteressados [unselfish] são generosos.


Nenhum avarento [miser] é generoso.
 Nenhum avarento é desinteressado.

O diagrama (a) da Fig. 4 é a representação da primeira premissa,


o diagrama (b) é a representação da segunda premissa, o diagrama (c) é
o amálgama dos dois primeiros, e o diagrama (d) é a representação da
conclusão mais forte autorizada pelas premissas: Todos os
desinteressados são mão-aberta (não-avarentos). De uma proposição
universal afirmativa se deriva uma proposição particular (afirmativa), por

15 “Parte”, aqui, deve ser entendido em sentido mereológico, à medida que a


informação veiculada pela conclusão defeituosa é uma parte do todo de
informação autorizado pelas premissas.

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subalternação, mas, devido à interpretação carrolliana da proposicional


universal afirmativa como uma proposição dupla, também se deriva uma
proposição universal negativa. No exemplo acima, “Todos os
desinteressados são mão-aberta” tem, por consequência lógica, “Algum
desinteressado é mão-aberta” e “Nenhum desinteressado é avarento”.
Dessa, por conversão simples, segue-se que “Nenhum avarento é
desinteressado”.

Figura 4. (a) é a representação diagramática da premissa “Todos os x são m”;


(b) é a representação diagramática da premissa “Nenhum y é m”; (c) é o
amálgama de (a) e de (b); (d) é a representação diagramática da conclusão (forte)
“Todos os x são y’ ”.

A silogística tradicional admite situações de enfraquecimento da


conclusão quando as premissas são universais. Nesses casos a conclusão

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também é universal, e pode ser enfraquecida de modo a se obter uma


particular de mesma qualidade. Desse modo, a silogística reconhece os
modos enfraquecidos BARBARI, CELARONT, CESARO, e CAMESTROS, que
são os enfraquecimentos, respectivamente, de BARBARA (1a figura),
CELARENT (1a figura), CESARE (2a figura), e CAMESTRES (2a figura).
SAUTTER (2013) mostrou que BRAMANTIP e CAMENOP, da 4a figura, têm
os mesmos diagramas (em uma silogística que emprega termos
privativos) de BARBARI e de CAMESTROS, respectivamente, e, portanto,
a despeito de não serem reconhecidos como modos enfraquecidos,
também devem ser incluídos entre os modos enfraquecidos.
A silogística carrolliana, devido à interpretação da proposição
universal afirmativa como uma proposição dupla, admite muitos outros
modos enfraquecidos. Por exemplo, na 1a figura, de duas premissas
universais afirmativas se segue uma conclusão universal negativa, o que
contraria a regra da silogística tradicional de que nenhuma conclusão
negativa se segue de premissas afirmativas.
A epígrafe desta seção é uma alusão ao caráter defeituoso da
extração de conclusões mais fracas do que as que são possíveis. Assim
como não se deve comer uma rosquinha pela qual se pagou
insuficientemente (e isso inclui não apenas o pagador, mas qualquer
pessoa), assim também não se deve extrair uma conclusão mais fraca,
quando uma mais forte está disponível. Mas, por que e em que medida
uma conclusão mais fraca é defeituosa? Para responder a essa questão,
examinarei, primeiramente, um princípio bem conhecido na literatura
filosófica: o Princípio de Caridade.
Esse princípio, aplicado a argumentos produzidos no contexto
de uma disputa racional, prescreve que os argumentos do oponente
devem ser interpretados de tal modo que sejam recepcionados como
argumentos válidos, ainda que explicitamente não se apresentem como
tais. Além disso, caso se apresentem como entimemáticos (com premissa
oculta), seu completamento deve ser mínimo, ou seja, devem ser
acrescentadas as premissas as mais fracas que os estabeleçam como
argumentos válidos. Cabe assinalar que, tanto no caso da silogística,
como no caso da lógica proposicional clássica, esse completamento é

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único, de tal sorte que nenhum esclarecimento do oponente é requerido


para a aplicação do princípio.
Em que medida a aplicação do Princípio de Caridade constitui
um ato caridoso? A caridade não está relacionada ao completamento de
argumentos que, sob a ótica daquilo que está explicitado, são inválidos,
porque esse completamento é exigido pelo próprio caráter racional da
disputa, mas está relacionado à minimalidade desse completamento.
Quanto mais forte a premissa utilizada nesse completamento, tanto
maior é o risco de o conjunto de teses sustentadas pelo oponente
mostrar-se como um conjunto inconsistente.
Essa correlação entre a força lógica das teses e o risco de elas
produzirem inconsistências na presença de outras teses também é o
rationale para a rejeição de conclusões defeituosas, ou seja, conclusões
mais fracas do que outras conclusões legítimas.
Para um ator de uma disputa racional é vantajoso extrair de suas
premissas as conclusões legítimas as mais fracas possíveis, pois isso
minimiza os riscos de seu conjunto de teses mostrar-se inconsistente; por
outro lado, para um ator de uma disputa racional é vantajoso extrair das
premissas do seu oponente as conclusões (legítimas) as mais fortes
possíveis, pois isso maximiza as chances de o conjunto de teses do seu
oponente se mostrar inconsistente.
No plano do completamento com premissa opera um Princípio
de Caridade com respeito ao conjunto de teses do oponente, mas no
plano do completamento com conclusão opera um Princípio de
Descaridade.

I.3. Sobre a conclusão falaciosa

Se o escritor tivesse concluído “Todos os avarentos são egoístas”,


isso teria ido além dos seus direitos legítimos, pois afirmaria a
existência de avarentos, que não está contida nas premissas.
(CARROLL, 1887, p. 35)

Suponha que, com respeito ao par de premissas diagramadas nas


Figs. 4(a) e 4(b) (e amalgamadas em 4(c)), obtenha-se, em lugar da
conclusão legítima diagramada em 4(d), a conclusão diagramada na Fig.

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5. Não se trata de uma conclusão defeituosa, porque a existência de um


x que não é um y não é afirmada, mas se trata de uma conclusão falaciosa,
porque a existência de um y que não é um x é afirmada.

Figura 5. Representação diagramática de “Todos os avarentos são egoístas


(não-desinteressados)”, ou, em símbolos, “Todos os y são x’ ”.

Na conclusão defeituosa se peca por falta, na conclusão falaciosa


se peca por excesso. Na lógica, como na moral, a medida exata, nem mais
nem menos, é a medida da virtude.

II. Lógica simbólica

A obra Symbolic logic (Carroll, 1977) é parcialmente póstuma: sua


primeira parte – Elementar – foi publicada em vida, enquanto que sua
segunda parte – Avançada – é póstuma. Nas duas partes há material
referente à teorização de Lewis Carroll sobre as falácias: em ambos os
casos ele propõe uma classificação de pares de premissas inviáveis, ou
seja, pares de premissas que não levam a conclusão alguma. Portanto,
nessa obra, Carroll propõe uma subclassificação para as Falácias das
Premissas.
A compreensão da classificação proposta depende do domínio
da terminologia e notação idiossincráticas de Carroll. Os seguintes
esclarecimentos terminológicos e notacionais são imprescindíveis:

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1. Definição de “eliminado” e de “retido”: tendo em conta a


definição de par codivisional de termos, apresentada na
introdução à Parte I deste trabalho, Lewis Carroll caracteriza
esses termos técnicos do seguinte modo: “[...] o par de
termos codivisionais nas premissas são chamados
Eliminados [Eliminands], e os outros dois [pares de termos
codivisionais] são Retidos [Retinends]” (CARROLL, 1977, p.
107). Carroll, aqui, encontra um modo de distinguir, por um
lado, termo médio, e, por outro lado, os termos da
conclusão, ao operar com termos privativos.

2. CARROLL (1977, p. 69) fornece uma classificação para as


proposições de tal modo a distinguir “entidades” de
“nulidades”. “Entidades” são aquelas que asserem a
realidade e “nulidades” são aquelas que asserem irrealidade.

3. CARROLL (1977, p. 119) também fornece uma notação por


subscritos16, de tal sorte que:

a. x1 é a notação para a proposição “Algumas coisas


existentes17 têm o atributo x”, ou seja, é uma entidade
1.

16 Essa notação por subscritos estabelece o vínculo de Lewis Carroll com a


tradição algébrica de sua época, pois a mesma notação pode ser utilizada
relativamente a uma lógica de termos como a uma lógica de proposições.
Contudo, os contatos cessam nesse ponto, pois o foco de atenção nos
desenvolvimentos lógicos de Lewis Carroll não recai sobre questões de
fundamentos da matemática.
17 A classe “coisas existentes” é o sujeito de proposições de existência,
proposições da forma “Algumas coisas existentes são x” ou “Nenhuma coisa
existente é x”; proposições de existência opõem-se a proposições de relação,
proposições da forma “Algum x é y”, “Nenhum x é y” e “Todos os x são y”, em
que “x” não está pela classe “coisas existentes” (Carroll, 1977, p. 69ss.).

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b. xy1 é a notação para a proposição particular (afirmativa)


“Algum x é y”. ou seja, uma entidade. A proposição
particular negativa “Algum x não é y” é anotada xy’1 .

c. x0 é a notação para a proposição “Nenhuma coisa


existente é x”, ou seja, uma nulidade.

d. xy0 é a notação para a proposição universal negativa


“Nenhum x é y”, ou seja, uma nulidade.

e. † é a notação para a conjunção.

f. A proposição universal afirmativa “Todos os x são y” é


uma proposição dupla, e corresponde a x1 † xy’0 ou,
abreviadamente, x1y’0 (CARROLL, 1977, p. 121).

Na próxima seção apresentarei as Falácias das Premissas que são


efáveis por diagramas e na última seção apresentarei as Falácias das
Premissas que são inefáveis por diagramas. Estas, embora não efáveis
por diagramas, são efáveis pela notação de subscritos, desde que se
introduza um símbolo para a disjunção (inclusiva). No momento
oportuno eu o farei.

II.1. Sem a contraditória da universal afirmativa

Na Fig. 6 estão representados diagramaticamente os amálgamas


dos pares de premissas pertencentes ao grupo daquelas que Lewis
CARROLL (1977, p. 130) denomina “Falácias de iguais eliminados cuja
existência não é asserida. O diagrama (a) representa o par “Nenhum x é
m” e “Nenhum y é m”, ou, em notação por subscritos, xm0 † ym0. O
diagrama (b) representa o par “Todos os x são m’ ” e “Nenhum y é m”,
ou, em notação por subscritos, x1m0 † ym0. O diagrama (c) representa o
par “Nenhum x é m” e “Todos os y são m’ ”, ou, em notação por

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, série 4, v. 1, n.1, p. 7-32, jan.-jun. 2015.
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subscritos, xm0 † y1m0. O diagrama (d) representa o par “Todos os x são


m’ ” e “Todos os y são m’ ”, ou, em notação por subscritos, x1m0 † y1m0.
Observe que o diagrama (a) constitui o núcleo de tal grupo de
falácias. Além disso, a caracterização do grupo – “iguais eliminados cuja
existência não é asserida” – deve ser entendida a partir da notação por
subscritos, caso contrário não se entende como, por exemplo, ela pode
ser aplicada ao par “Todos os x são m’ ” e “Nenhum y é m”, que, em
linguagem coloquial, têm distintos eliminados. A ausência de asserção de
existência refere-se, por seu turno, ao subscrito “0”, na notação por
subscritos, e está vinculada aos eliminados.
Na parte póstuma de Symbolic logic, CARROLL (1977, p. 263)
caracteriza as falácias desse grupo como aquelas em que as premissas são
universais e os termos médios são semelhantes.
Ele exemplifica as falácias desse grupo com o seguinte par de
premissas: “Todos os leões são selvagens” e “Todos os tigres são
selvagens”, ou seja, um par cujo diagrama é dado pela Fig. 6(d)
(CARROLL, 1977, p. 263).

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As teorias carrollianas das falácias 25

Figura 6. Falácia de iguais eliminados cuja existência não é asserida (premissas


universais, termos médios semelhantes).

Na Fig. 7 estão representados diagramaticamente os amálgamas


dos pares de premissas pertencentes ao grupo daquelas que Lewis
CARROLL (1977, p. 130-1) denomina “Falácias de distintos eliminados
com uma premissa-entidade”. O diagrama (a) representa o par “Nenhum
x é m” e “Algum y é m’ ”, ou, em notação por subscritos, xm0 † ym’1. O
diagrama (b) representa o par “Todos os x são m’ ” e “Algum y é m’ ”,
ou, em notação por subscritos, x1m0 † ym’1. O diagrama (c) representa o
par “Todos os m são x’ ” e “Algum y é m’ ”, ou, em notação por
subscritos, m1x0 † ym’1.
Tal como no grupo anterior, há um núcleo constituído pelo
diagrama (a). Além disso, a caracterização do grupo – “distintos

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eliminados com uma premissa-entidade” – também remete à notação por


subscritos. “Premissa-entidade” é, em cada caso, a proposição particular.
Na parte póstuma de Symbolic logic, CARROLL (1977, p. 263)
caracteriza as falácias desse grupo como aquelas em que as premissas são
universal e particular, uma de cada tipo, e os termos médios são
dessemelhantes.
Ele exemplifica as falácias desse grupo com o seguinte par de
premissas: “Nenhum judeu é honesto”18 e “Algum pobre não é judeu”,
ou seja, um par cujo diagrama é dado pela Fig. 7(a) (CARROLL, 1977, p.
263).

Figura 7. Falácia de distintos eliminados com uma premissa-entidade


(premissas universal e particular, termos médios dessemelhantes).

18Também o manual O jogo da lógica contém diversos exemplos a respeito de


judeus, sugerindo uma atitude antissemita da parte de Lewis Carroll. Optei por
manter os exemplos apresentados por ele, por se tratar de um trabalho ao menos
parcialmente histórico.

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Na Fig. 8 estão representados diagramaticamente os amálgamas


dos pares de premissas pertencentes ao grupo daquelas que CARROLL
(1977, p. 131) denomina “Falácias das duas premissas-entidade”. O
diagrama (a) representa o par “Algum x é m” e “Algum y é m”, ou, em
notação por subscritos, xm1 † ym1. O diagrama (b) representa o par
“Algum x é m” e “Algum y é m’ ”, ou, em notação por subscritos, xm1 †
ym’1.

Figura 8. Falácia das duas premissas-entidade (premissas particulares).

A caracterização do grupo – “premissas-entidade” – remete ao


fato de que as premissas são particulares; na parte póstuma de Symbolic
logic, CARROLL (1977, p. 263) caracteriza as falácias desse grupo
exatamente desse modo, ou seja, como aquelas em que as premissas são
particulares.
Ele exemplifica as falácias desse grupo com o seguinte par de
premissas: “Algum judeu é honesto” e “Algum judeu é pobre”, ou seja,
um par cujo diagrama é dado por 8(a), por conversão simples das duas
premissas (CARROLL, 1977, p. 263).
O último grupo de falácias envolve a contraditória da proposição
universal afirmativa.

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II.2. Com a contraditória da universal afirmativa

A proposição universal afirmativa é, para Lewis Carroll, uma


proposição dupla: “Todos os x são y” é a conjunção da proposição
universal negativa “Nenhum x é y’ ” e da proposição particular “Algum
x é y”. A contraditória é, nesse caso, a disjunção da proposição particular
“Algum x é y’ ” e da proposição universal negativa “Nenhum x é y”. Essa
contraditória está representada diagramaticamente na Fig. 9(b), mediante
o emprego de dois diagramas. Não há modo de representá-la em um
único diagrama, a não ser que novos elementos gráficos, não fornecidos
por Carroll, sejam inventados.
Lewis Carroll, naqueles silogismos constituídos pela
contraditória da proposição universal afirmativa, abandona o emprego
de diagramas, e utiliza apenas a notação por subscritos. Ele emprega o
símbolo “§” para expressar a disjunção, e uma vez que a proposição
universal afirmativa “Todos os x são y” é representada na notação por
subscritos como x1y’0, ou seja, x1 † xy’0, tem-se que a sua contraditória
corresponde a x0 § xy’1. Essa contraditória, CARROLL (1977, p. 256) a
abrevia x0y’1, e ela está representada diagramaticamente na Fig. 9(a),
mediante o emprego de dois diagramas.

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Figura 9. A contraditória da universal afirmativa carrolliana “Todos os x são y”:


(a) a expressão carrolliana e (b) a expressão precisa. O signo “” denota a
disjunção. Embora logicamente equivalentes, a expressão (b) é mais precisa do
que a expressão (a) porque utiliza menor quantidade de elementos gráficos.

O grupo de falácias constituídas por contraditória de uma


proposição universal afirmativa abarca as falácias que correspondem ao
par de premissas “Nenhum x é m” e “Nem todos os y são m”, ou, em
notação por subscritos, xm0 e y0m’1 (CARROLL, 1977, p. 262), e a
exemplifica com o seguinte par de premissas: “Nenhum judeu é
honesto” e “Nem todos os comerciantes são judeus” (CARROLL, 1977,
p. 263).
Ele também abarca as falácias que correspondem ao par de
premissas “Nenhum x é m” e “Nem todos os m’ são y”, ou, em notação
por subscritos, xm0 e m’0y1 (CARROLL, 1977, p. 262), e a exemplifica com

Cad. Hist. Fil. Ci., Campinas, série 4, v. 1, n.1, p. 7-32, jan.-jun. 2015.
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o seguinte par de premissas: “Nenhum judeu é desonesto” e “Nem todos


os desonestos são pobres” (CARROLL, 1977, p. 263).
Essas falácias ele também as denomina “falácias de premissa
universal e não-todo, e termos médios dessemelhantes” (CARROLL,
1977, p. 263).

III. Considerações finais

Se tivéssemos que acomodar as Teorias Carrollianas das Falácias


às modernas Teorias das Falácias, elas comporiam as chamadas falácias
formais, tais como a Falácia da Afirmação do Consequente ou a Falácia
da Negação do Antecedente, pois nenhum apelo a elementos extra-
lógicos é realizado. Contudo, isso não significa que aspectos lógicos
muito distintos não sejam invocados em diferentes tipos de falácias: por
exemplo, as Falácias da Conclusão Defeituosa apelam para características
da dinâmica da argumentação às quais não é necessário apelar em outros
tipos de falácias.
Lewis Carroll limitou-se, enquanto autor de obras de lógica, ao
exame estritamente lógico de argumentos defeituosos. Outros aspectos
invocados no exame de argumentos defeituosos, tais como a conjugação
de retor e auditório, a persuasão, a catalogação dos topoi, etc., embora
constituam complementos para uma completa e adequada avaliação, são
reservados a outras disciplinas da argumentação, e não à lógica (ver, por
exemplo, EPSTEIN, 2002). Nisso ele se mostrou um verdadeiro
aristotélico.

Submetido: 08.11.2013; Revisado: 17.11.2014; Aceito: 06.05.2014

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Referências bibliográficas

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BURTON, R.F. (org.) (1887). Alaeddin; or, the wonderful lamp. In:
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London: Burton Club, p. 49-191. Trad. Richard F. Burton, a partir
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partir do relato do maronita Youhenna Diab.
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o português em elaboração: O jogo da lógica. Trad. Frank Thomas
Sautter. London: College Publications.
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–––––– (1977). Symbolic logic. Editado, com anotações e uma introdução,
por William Warren Bartley, III. New York: Clarkson N. Potter.
Orig.: Part I: Elementary, 1896; Part II: Advanced, publicado
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–––––– (1997). Algumas aventuras de Sílvia e Bruno. Trad. Sérgio Medeiros.
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EPSTEIN, Richard L. (2002). Five ways of saying “therefore”: arguments, proofs,
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árvores de refutação. In: SAUTTER, F. T. & FEITOSA, Hércules de
Araújo (orgs.). Lógica: teoria, aplicações e reflexões. Coleção CLE, v.
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