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DA BIOMASSA DE
TOCOS E RAÍZES
DE FLORESTAS PLANTADAS
RECUPERAÇÃO ENERGÉTICA
DA BIOMASSA DE
TOCOS E RAÍZES
DE FLORESTAS PLANTADAS
2019
©Fundação de Estudos e Pesquisas Agrícolas e Florestais
1ª edição 2019
Tiragem: 200 exemplares
Joel Nogueira
Capa, editoração, diagramação e arte-final
Esta publicação é parte integrante das atividades desenvolvidas no âmbito do Programa de P&D da ANEEL, referente ao
projeto intitulado Recuperação Energética da Biomassa Residual de Tocos de Eucalyptus spp. e de Pinus spp.
Este livro reflete a opinião dos autores baseada nos relatórios produzidos pelas entidades executoras do projeto. As
conclusões e opiniões apresentadas não necessariamente refletem o posicionamento da ANEEL ou de qualquer das
empresas proponentes, parceiras, cooperadas e patrocinadoras deste projeto de pesquisa. As citações de fabricantes,
marcas e modelos não significam recomendação de uso por parte dos autores.
Os textos contidos neste publicação podem ser reproduzidos, armazenados ou transmitidos, desde que, a fonte seja citada.
Todos os direitos estão reservados pelas empresas indicadas.
ORGANIZADORES
SAULO PHILIPE SEBASTIÃO GUERRA
HUMBERTO DE JESUS EUFRADE JUNIOR
PROJETO GRÁFICO
Capa | Editoração | Diagramação | Arte-final
JOEL NOGUEIRA
AUTORES
MARINA FOLETTO
Engenheira Florestal pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (2019). Atua em
pesquisas na área de produção de mudas florestais, mensuração florestal e quantificação da
biomassa em plantios florestais.
Desde que o homem descobriu e dominou o fogo, a floresta, na oferta do seu principal
produto, a madeira, tem sido uma fonte importante de energia para várias das ações da
humanidade. No caso brasileiro, apesar da participação majoritária da madeira de florestas
nativas oriundas de geração naturalmente espontânea, vem ganhando força neste tipo de
aplicação, aquela originária de florestas plantadas.
A silvicultura nacional, baseada em florestas plantadas do gênero Eucalyptus, é
destaque e referência internacional, dada a alta produtividade e qualidade de nossos
produtos e seus derivados, bem como pela preservação e sustentabilidade de toda a cadeia.
Desde a década de 1960, o gênero Eucalyptus, é referência como cultura florestal de
rápido crescimento, com várias de suas espécies altamente adaptadas às condições
climáticas do nosso país. A madeira tem sido direcionada para a geração de vários produtos,
com destaque para sua aplicação direta na geração de calor para diversas finalidades ou
transformado em carvão vegetal, para seu uso como agente termo redutor siderúrgico.
O entendimento das diversas características físicas e químicas da madeira é um
quesito importante a ser considerado, quando do seu emprego para finalidades energética, no
sentido de garantir o máximo em termos de sustentabilidade. Nesse contexto, deve-se incluir
o aproveitamento de tocos e raízes, sobre os quais têm aumentado o interesse para tal
aplicação.
Há que se considerar, no entanto, a existência de poucos relatos na literatura nacional
sobre este assunto, incluindo-se as comparações entre os materiais provenientes tocos e
raízes de Eucalyptus e Pinus, de origem clonal e seminal.
Neste contexto, o Professor Dr. Saulo P. S. Guerra (FCA/UNESP) a convite da Âmbar
Energia, e atendendo as exigências regulatórias da ANEEL, coordenou um grupo de pesquisa
e inovação, em parceria com a Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS) para o
desenvolvimento de pesquisas com foco na caracterização e aproveitamento energético
deste tipo de material, sem deixar de observar as questões ambientais e legais que garantirão
o seu uso sustentável.
Os resultados dos trabalhos são aqui apresentados, num livro que foi gerado graças
aos investimentos proporcionados pela Usina Termelétrica Mário Covas - Âmbar Energia,
considerando o âmbito do programa P&D ANEEL.
São apresentados os resultados de uma enorme gama de avaliações laboratoriais e
exaustivo trabalho de campo, gerando informações inovadoras sobre os tocos e raízes de
Eucalyptus e Pinus, servindo como ponto de partida e referencial para aqueles que atuam
junto ao setor florestal e energético no Brasil.
É com prazer, portanto, que fazemos a apresentação dessa obra, cumprimentando a
todos que contribuíram, de forma direta e indireta, na sua elaboração e pelo sucesso a ser
alcançado.
Boa leitura!
FCA
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRONÔMICAS
FLORENA
FEPAF
SUMÁRIO
6
USO DE REDES NEURAIS ARTIFICIAIS PARA ESTIMAR A BIOMASSA DE TOCOS E
RAÍZES DE ÁRVORES DE EUCALIPTO 80
13
POLÍTICA E LEGISLAÇÃO NO CASO DOS TOCOS E RAÍZES PARA BIOENERGIA 154
GLOSSÁRIO 167
1
HISTÓRICO E DETALHES DO
PROJETO DE P&D ANEEL
HISTÓRICO
A Âmbar Energia Ltda (Âmbar), empresa do Grupo J&F, que exerce atividades de transmissão e
geração de energia elétrica e opera a Usina Termelétrica (UTE) Mário Covas, em Cuiabá, Estado de
Mato Grosso, com potência de 480 MW utilizando gás natural como combustível.
Buscando diversificar as fontes de sua matriz energética, com vistas a novos empreendimentos,
optou-se por avaliar a biomassa residual de tocos e raízes de árvores de Eucalyptus spp e de Pinus spp como
possível fonte de combustível para queima direta.
Tomada a decisão, restava levantar informações das características físico-químicas e do potencial
energético deste tipo de insumo para, posteriormente, iniciar os estudos de viabilidade técnica e econômica de
UTEs a biomassa. Neste momento, constatou-se a escassez de trabalhos científicos consistentes a respeito da
biomassa de tocos e raízes de Eucalyptus spp., ou mesmo de Pinus spp., para espécies destes gêneros e para
as condições edafoclimáticas brasileiras. Isso levou a Âmbar a buscar informações junto às instituições de
pesquisas e universidades e logo percebeu-se que o único caminho seria investir num projeto de pesquisas
para se obter, de maneira dirigida, o conhecimento das características físico-químicas, do poder calorífico e
compreender melhor sobre o comportamento da secagem dos tocos e raízes dos dois gêneros.
Sendo a UTE Mário Covas uma SPE (Sociedade de Propósito Específico) da Âmbar e regulada pela
ANEEL, sujeita-se à obrigatoriedade de atendimento à Lei nº 9.991, de 24 de julho de 2000, com redação
alterada pela Lei nº 10.848, de 15 de março de 2004, que estabelece a obrigatoriedade da aplicação de um
por cento (1 %) da receita operacional líquida (ROL) das empresas do setor elétrico em pesquisa e
desenvolvimento e determina, em seu art. 4º, a distribuição desses recursos da seguinte forma:
I 40 % (quarenta por cento) para o Fundo Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico FNDCT, criado pelo Decreto-Lei no 719, de 31 de julho de 1969, e restabelecido pela Lei
no 8.172, de 18 de janeiro de 1991;
II 40 % (quarenta por cento) para projetos de pesquisa e desenvolvimento, segundo
regulamentos estabelecidos pela Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL;
III 20 % (vinte por cento) para o MME, a fim de custear os estudos e pesquisas de
planejamento da expansão do sistema energético, bem como os de inventário e de viabilidade
necessários ao aproveitamento dos potenciais hidrelétricos.
29
Verificando que havia disponibilidade de recursos do Programa de Pesquisa e Desenvolvimento
P&D, regulado pela ANEEL e face à esta obrigatoriedade, analisou-se os Procedimentos do
Programa de Pesquisa e Desenvolvimento PROP&D e entendeu-se ser possível a sua utilização
para desenvolver um projeto de P&D com esta finalidade.
Consultada, a Agência Nacional de Energia Elétrica - ANEEL, em reunião presencial realizada em
Brasília, na sede, manifestou-se favoravelmente e assim nasceu o Projeto de P&D da Âmbar, com o título de
“Recuperação energética da biomassa residual de tocos de Eucalyptus spp. e de Pinus spp, prevendo
também a utilização de gases de carbonização para geração termelétrica e aproveitamento de recursos da
valorização do carbono. Este projeto foi desenvolvido dentro do tema Fontes alternativas de geração de
energia elétrica, sub-tema Tecnologias para aproveitamento de novos combustíveis em plantas geradoras.
O projeto foi enquadrado na fase de inovação como Pesquisa Básica (PB) e Pesquisa Aplicada
(PA), para desenvolver um novo tipo de produto (material ou substância) a ser utilizado como insumo
biocombustível em UTEs. Neste caso, o produto a ser pesquisado foi descrito, como “Combustível
renovável em estado sólido tocos e raízes de Eucalyptus spp. e de Pinus spp., processados em
cavacos (partículas de madeira) de dimensões padronizadas para a geração de energia elétrica em
uma usina termoelétrica de escala comercial.
O projeto experimental do P&D da Âmbar, que foi planejado e delineado em parceria com a
Faculdade de Ciências Agronômicas - FCA da Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho" -
UNESP, teve como objetivo principal o acompanhamento da marcha de secagem, a caracterização
físico-química e o poder calorífico de tocos e raízes de Eucalyptus spp. e de Pinus spp. para otimização
da cadeia de produção de cavacos de florestas plantadas de rápido crescimento para geração de
energia elétrica. Para alcançar esse objetivo, inicialmente foi analisado o comportamento da umidade
nas pilhas de tocos e raízes estocadas no campo, em condições ambientais. Em paralelo, a partir destas
pilhas de tocos e raízes foram produzidas amostras de cavacos, ao longo do período de duração do
projeto, que foram analisadas em laboratório especializado. Neste caso, estas análises foram realizadas
pelo Laboratório Agroflorestal de Biomassa e Bioenergia - LABB e localizado na FCA/UNESP, câmpus
da Fazenda Experimental Lageado, Botucatu SP.
As atividades de coleta de dados em campo foram realizadas em parte por professores e alunos do
LABB-IPBEN/FCA-UNESP e pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, câmpus de Chapadão do Sul -
UFMS/CPCS. De forma paralela, as equipes desenvolveram estudos envolvendo a quantificação da biomassa
dos resíduos florestais nas plantações, com o enfoque para a biomassa de tocos e raízes, de forma a subsidiar a
análise de produção e produtividade dos povoamentos, a conversão da madeira em energia ou outros
produtos, a ciclagem e balanço de nutrientes no solo e os estudos de absorção e fixação de carbono.
Um dos objetivos específicos deste projeto foi avaliar o potencial de aproveitamento de
metodologias e mecanismos oficiais de valorização das reduções de emissões de CO2 e CH4 (no
âmbito da ONU), como elemento de contribuição para a viabilidade do projeto e, mais além, para
replicação da iniciativa. Conforme os resultados, poderão ser implementados projetos ou programas
de reduções de emissões certificadas. Além disso, esta iniciativa contribui diretamente para que o
Brasil cumpra os compromissos assumidos legalmente pelo país por meio de sua Contribuição
Nacionalmente Determinada (NDC) submetida ao Acordo de Paris. A NDC contempla uma meta de se
alcançar 23 % de participação de fontes renováveis na matriz energética, além da hídrica, inclusive
por meio da biomassa. De outro lado, o país assumiu a meta de reflorestar e restaurar 12 milhões de
hectares até 2030. Ou seja, o projeto aqui proposto pode ajudar no cumprimento das duas metas, e
na exploração da sinergia florestal-energética.
Sendo assim, iniciou-se a etapa de planejamento das atividades, recursos envolvidos,
cronogramas físico e financeiro e resultados esperados. Esta fase foi constituída por uma intensa
pesquisa bibliográfica sobre biomassa de tocos e raízes de Eucalyptus spp. e de Pinus spp., seguida
por uma extensa agenda de reuniões com os principais proprietários de florestas plantadas para
troca de experiências, de modo a ampliar a visão e entendimento dos tema a ser explorado.
Considerando os desafios existentes, certamente este projeto será referencial para definição
de futuros equipamentos e operações florestais, bem como para operações de conversão da
biomassa residual de tocos e raízes de Eucalyptus spp. e de Pinus spp. em bioenergia. Os resultados
encontrados poderão ser estendidos para novas situações que contemplam a qualidade da
biomassa, a logística florestal e o processamento primário dos tocos e raízes de eucalipto e pinus.
O EXPERIMENTO
Os dados utilizados para o desenvolvimento dos capítulos deste livro foram obtidos em diferentes
experimentos e ensaios, em função do gênero florestal de interesse e das variáveis a serem analisadas.
Para facilitar o entendimento, o descritivo do ensaio das análises, realizadas de maio à novembro de
2017, bem como os resultados obtidos para o Pinus spp., se encontra no capítulo 11 desta obra. No caso
das atividades desenvolvidas de novembro de 2017 à novembro de 2018, para o gênero Eucalyptus e
dos procedimentos experimentais utilizados durante o projeto estão detalhados a seguir.
Para o estudo dos tocos e raízes, os mesmos foram provenientes de florestas plantadas de
eucalipto dos clones AEC 0144 (Eucalyptus urophylla), AEC 0224 (Eucalyptus urophylla × Eucalyptus
grandis), VM01 (Eucalyptus urophylla × Eucalyptus camaldulensis) e H77 (Eucalyptus urophylla ×
Eucalyptus grandis), localizadas no município de Ribas do Rio Pardo, Estado do Mato Grosso do Sul.
Segundo a classificação climática de Köppen-Geiger, o clima é tropical do tipo Aw com estação seca
de inverno, temperatura média anual de 21,6 °C e 1230 mm de precipitação.
Os clones foram implantados com espaçamento de 3 × 3 m (ou seja, 1111 árvores ha-1) e, os
tocos e raízes foram arrancados após o corte de florestas de primeira e segunda rotação (Tabela 1).
Tabela 1. Descrição das florestas de Eucalyptus e identificação dos tratamentos utilizados no estudo.
IDADE
TRATAMENTO ESPÉCIE CLONE ROTAÇÃO
(ANOS)
Valores de idades entre parênteses referem a idade em que foi realizada a coleta de dados voltada a quantificação da biomassa.
* Delineamento experimental inteiramente casualizado (4 clones x 2 rotações x 3 frações de biomassa x 4 repetições)
31
ARRANQUIO DOS TOCOS E RAÍZES E SECAGEM DA BIOMASSA
Os tocos e raízes de 325 árvores em cada tratamento foram arrancados com uma pá-
carregadora (Komatsu WA200), e a massa úmida determinada no campo com um dinamômetro
portátil, com capacidade máxima de carga de 600 kg (Figura 1).
Dos 325 tocos e raízes de cada tratamento, 4 deles foram utilizados para amostragem in situ,
logo após o arranquio - momento zero. Os demais foram transportados para o pátio de estocagem,
onde foram empilhados separadamente, por tratamento, ao ar livre e sem cobertura (Figura 2), por um
período de 360 dias. De cada tratamento foram selecionados e separados aleatoriamente 21 tocos,
devidamente identificados, que foram pesados mensalmente para a obtenção da marcha de secagem
da biomassa. Os 300 remanescentes foram utilizados para serem cavaqueados, de 20 em 20 unidades,
a cada mês, a partir do 30º dia. Destes 300 tocos, aos 90, 180 e 360 dias após o arranquio, também
foram retiradas amostras in situ de 4 tocos, antes de serem cavaqueados.
0 X - X
30 - X X
60 - X X
90 X X X
120 - X X
150 - X X
180 X X X
210 - - X
240 - - X
270 - X X
300 - - X
330 - - X
360 X X X
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Na Figura 3, estão ilustradas as arquiteturas dos tocos e raízes nas duas situações contempladas
no estudo, detalhe para a bifurcação dos mesmos nas florestas em sistemas de talhadia (situação B).
A B
Em uma vertente do experimento, os tocos e raízes foram divididos em três frações (Figura 4),
amostragem in situ, e seccionados com o auxílio de motosserra. Isto ocorreu em 4 oportunidades,
no dias 0, 90, 180 e 360 após o seu arranquio. Para cada amostragem in situ foram fracionados 4
tocos e raízes de cada tratamento.
Figura 4. Amostragem dos tocos e raízes das árvores de Eucalyptus. Posição 1 toco
(biomassa acima do solo); Posição 2 coroa da raiz (biomassa abaixo do solo); e
Posição 3 raízes grossas e finas (biomassa abaixo do solo).
1 Toco
2 Coroa
da raiz
3 Raízes
grossas
e finas
De cada fração da biomassa, pelo menos um disco de madeira foi retirado e utilizado para as
análises laboratoriais. Os discos foram cortados em cunhas pelo processo de quarteamento conforme
ilustrado na Figura 5.
As análises químicas elementares e estruturais foram realizadas somente com as amostras in
situ do momento zero.
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CAVAQUEAMENTO DA BIOMASSA DE TOCOS E RAÍZES
Para o estudo dos cavacos provenientes de tocos e raízes que foram arrancados no campo, os
mesmos foram processados em um picador florestal (modelo Forest King, marca Bruno Industrial). Neste
caso, as pilhas de cavacos foram amostradas de acordo com a Figura 6. Foram coletadas 9 amostras de
cavacos por tratamento, que compuseram 4 amostras compostas para determinação de umidade em
estufa, granulometria, impureza mineral e densidade aparente, conforme descrito na Tabela 4.
Para o inventário florestal foram abertas 5 parcelas (500 m² de área cada) em cada um dos oito
tratamentos, a fim de quantificar a produção de biomassa seca. Em cada tratamento foram abatidas
cinco árvores e arrancados os tocos e raízes com retroescavadora, permitindo avaliar a distribuição
da biomassa em diferentes compartimentos das árvores: lenho do fuste comercial, casca do fuste
comercial, copa da árvore, lenho dos tocos e raízes e casca dos tocos e raízes.
Também, foi realizada a cubagem rigorosa em 40 a 50 árvores por tratamento e arrancados
seus tocos e raízes, possibilitando o ajuste de modelos matemáticos para estimativa do volume e da
biomassa seca acima e abaixo do solo, principalmente de tocos e raízes, objeto principal deste
estudo. Todas as análises desta etapa foram realizadas na Universidade Federal de Mato Grosso do
Sul, câmpus de Chapadão do Sul.
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2
ENERGIA RENOVÁVEL E A
BIOMASSA FLORESTAL –
ESTADO DA ARTE
A matriz energética mundial é baseada no consumo de combustíveis fósseis e, estes, por sua
vez, vêm apresentando problemas de ordem social, ambiental e econômica. Com a diminuição da
oferta de combustíveis fósseis e aumento do preço da energia, é necessário que as fontes
alternativas tenham a capacidade de suprir o déficit energético (BRITO, 2007).
Tanto no mercado internacional quanto no nacional, a biomassa é considerada uma das
principais alternativas para a diversificação da matriz energética e a consequente redução da
dependência dos combustíveis fósseis. Dela é possível obter energia elétrica e biocombustíveis,
como o biodiesel e o etanol, cujo consumo é crescente em substituição a derivados de petróleo como
o óleo diesel e a gasolina (ANEEL, 2008).
A biomassa proveniente de plantações florestais surge como uma alternativa para a geração
de energia. Com isso, este capítulo aborda a madeira como energia renovável, tanto no Brasil quanto
no mundo, e o estado da arte em geração de energia a partir da biomassa florestal e biomassa de
resíduos florestais.
As energias renováveis estão hoje estabelecidas em todo o mundo como fontes importantes
de energia. Seu crescimento rápido, particularmente no setor elétrico, é impulsionado por vários
fatores, entre eles a melhora da competitividade dos custos das tecnologias renováveis, iniciativas
de políticas públicas específicas, melhor acesso a financiamento, preocupações ambientais e de
segurança energética, demanda crescente de energia nas economias em desenvolvimento e
emergentes e a necessidade de acesso à energia moderna. Consequentemente, novos mercados
para energia renovável centralizada e distribuída estão surgindo em todas as regiões (REN21, 2018).
Ao repensar sua matriz energética, muitos países têm cada vez mais dado espaço para opções
alternativas aos poluentes combustíveis fósseis para a produção de energia, voltando-se para a
biomassa, energia eólica e solar (EPE, 2017).
De acordo com o Banco Mundial (WORLD BANK, 2017), pode-se notar um aumento absoluto
significativo no consumo de energia renovável no mundo. Porém, quando comparado ao crescimento
geral do consumo energético, percebe-se que esse aumento ainda é modesto. Isso se dá porque
ainda há uma dialética entre uso de energias renováveis tradicionais, como lenha e carvão, que
possui sua relevância do ponto de vista social em regiões em desenvolvimento, mas contrapõe com o
aumento da renda e modernização da economia, e as energias renováveis modernas, que incluem
energia processada de biomassa florestal e agrícola, biocombustíveis para transporte e novas
tecnologias de geração de energia (IEA, 2017).
Enquanto isso, energias renováveis tradicionais figuram como destaques na matriz energética
da África Central e Sul e do Sudeste Asiático, representando respectivamente 70 % e 30 %. Regiões
como a América Latina despontam como pioneiras na utilização de fontes renováveis modernas,
principalmente biomassa moderna e recursos hidrelétricos, que representam já há algum tempo, em
média, 23 % da matriz. Mesmo regiões desenvolvidas, como a Ásia-Pacífico, Europa e América do
Norte, conseguiram alcançar os 10 % de fontes renováveis em sua matriz apenas em 2014. Outra
variável relevante no consumo de energias renováveis é relativa ao destino final. A eletricidade
contribuiu com o aumento de 49 % do uso de energias renováveis entre 2012 e 2014, enquanto a
variável transporte contribuiu apenas com 9 % desse aumento (IEA, 2017).
Nos últimos 30 anos, os governos do mundo todo têm se concentrado na utilização de fontes de
energia renováveis (biomassa). O uso de culturas ou resíduos como um meio eficiente, fonte de energia
econômica, localmente disponível e sustentável, aumentou, trazendo oportunidades para agricultores e
para o governo, ao mesmo tempo em que beneficiou o meio ambiente . As políticas e as economias
internacionais devem assumir compromissos atuais e futuros para fortalecer e diversificar a matriz
energética mundial de forma sustentável a fim de atender as demandas vindouras (PEDROSO et al., 2018).
A participação das energias renováveis na matriz energética brasileira é de 43,2 %, valor muito
acima da média mundial, que é de 14,1 %. Das energias renováveis na matriz brasileira, cerca de 17,4 % é
proveniente de biomassa de cana de açúcar, 11,9 % de hidrelétricas, 8,0 % de lenha e carvão vegetal e
5,8 % de outros recursos, como os resíduos agropecuários e florestais (EPE, 2017).
Os dados mais recentes do (BEN, 2016), ano-base 2016, publicados pela Empresa de Pesquisa
Energética (EPE,2017), apontam para uma crescente alta na participação de energias renováveis, com
um aumento de 54,9 % na participação de energia eólica. Em termos de oferta, houve queda de 6 % de
óleo diesel e um aumento de 9,5 % na oferta de petróleo em relação ao ano anterior, enquanto nota-se
um avanço do uso de energias renováveis na eletricidade para 81,7 % de participação no grid elétrico.
O consumo, por sua vez, teve um recuo global de 0,4 %.
Tratando-se de políticas públicas atuais a respeito do tema de energias renováveis e sendo
implementadas, as mais relevantes e que promovem incentivos positivos são as vinculadas às
discussões climáticas, como a Política Nacional sobre Mudança do Clima, publicada em 2008, e
atualizada em 2013; a Contribuição Nacionalmente Determinada (NDC) do Brasil no contexto do
Acordo de Paris, publicada em 2015 e o documento-base sob consulta da Estratégia Nacional para
Implementação da NDC brasileira (MME, 2013).
O Brasil dispõe atualmente de uma matriz de produção elétrica de origem predominantemente
renovável, onde a fonte hídrica se destaca com participação de 64,8% da oferta interna, as fontes de
biomassa com 8,8 %, eólica 7,5 %, solar 0,6 % e as fontes não renováveis com 18,3%, conforme
dados de fevereiro de 2018 (ANEEL, 2018).
39
No atual contexto das mudanças climáticas e da substituição de recursos fósseis, aumenta-
se a busca por combustíveis alternativos, dentre os quais, a biomassa florestal se destaca por
apresentar vantagens, a princípio, do ponto de vista ambiental (BARRANTES et al., 2016).
Figura 1. Combustíveis de origem madeireira. Fonte: RÖSER et al., (2008) Adaptado pelos autores.
Florestas Florestas de
energéticas curta rotação
Combustíveis
de origem Colheita
madeireira Resíduos florestal
da floresta desbastes
toco
Casca
Biomassa serragem
Resíduos
florestal costaneiras
da indústria
residual licor negro
Construção
Outros demolição
resíduos estruturas de
madeira
41
PROCESSOS DE CONVERSÃO DA BIOMASSA PARA GERAÇÃO DE
ENERGIA ENERGIA ELÉTRICA
Existem muitos tipos de fontes de biomassa que podem ser utilizadas para o atendimento das
demandas energéticas da humanidade. Porém, apesar desta variedade de fontes, as formas de
aproveitamento da energia da biomassa para geração de eletricidade ainda são limitadas, tanto por
fatores de viabilidade econômica dos processos empregados, quando por fatores de maturidade das
tecnologias. Em termos de rotas tecnológicas para a geração termelétrica a partir da biomassa, há
um bom número de possibilidades, sendo que em todas elas estão envolvidos processos de
conversão energética da biomassa em um produto intermediário, que posteriormente é utilizado para
geração de eletricidade (MME:EPE, 2007).
Existem muitos caminhos para a utilização da biomassa na geração de energia elétrica, alguns
desses caminhos têm melhores condições de viabilidade técnica e econômica que outros, porém
pesquisas e investimentos estão sendo feitos e isso pode gerar frutos no futuro. Dentre os principais
processos de conversão da biomassa em processos energéticos e seu aproveitamento, podemos
citar a combustão direta, gaseificação, pirólise, digestão anaeróbica, fermentação e a
transesterificação (NASCIMENTO; ALVES, 2016).
Para geração de energia elétrica a partir da biomassa, existem vários tipos de tecnologias
empregadas, porém, todas elas estimam-se a conversão de matéria orgânica em um produto mediador
que é utilizado em uma máquina móvel, fazendo com que esta máquina gere energia mecânica
movendo-se o gerador de energia elétrica. De maneira geral, todas as tecnologias existentes são
aplicadas em processo de co-geração. Esse sistema de cogeração permite produzir sincronicamente
energia e calor e assim configurar estes sistemas à forma mais coerente para a utilização de
combustíveis (CEMIG, 2012). A seguir (Figura 2) está apresentado um esquema de geração elétrica a
partir da biomassa.
Gerador
Filtro
Chaminé
Turbina
Caldeira de Vapor
água quente
Biomassa
Tubulação
de ar quente
Água
Cinzas
Fonte: THE BIOMASS PLANT (2017) modificado pelo autor.
Por fim, o investimento em energias renováveis tende cada vez mais como uma oportunidade de
negócios. Quando falamos sobre as tendências do mercado de energias renováveis, estamos nos
referindo a inovação, de ligar novas tecnologias, produtos, processos e serviços a esse mercado. Ainda
há muito o que fazer no Brasil para desenvolver esse setor de forma consistente e sustentável, pois é um
processo relativamente lento se comparado a outros países, como a Alemanha, Austrália, França e
Japão.
REFERÊNCIAS
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ANEEL, Agência Nacional de Energia Elétrica. Atlas de energia elétrica do Brasil / Agência Nacional de
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finalidades energéticas no Brasil: caso de Itapeva. 2016. 182 f. Dissertação (Mestrado em Engenharia
Mecânica e de Materiais) - Universidade Tecnológica Federal do Paraná, Curitiba, 2016.
BJÖHEDEN, R., 2006. Drivers atrás do desenvolvimento de energia florestal na Suécia. Biomassa
Bioenergia 30, 289. 2006.
BRITO, J. O. O uso energético da madeira. Estud. av. São Paulo, v. 21, n. 59, p. 185-193, abril de 2007.
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CEMIG - Companhia Energética de Minas Gerais. Alternativas energéticas: Uma visão da Cemig. Belo
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ELOY, E. et al. Age and tree spacing and their effects on energy properties of Ateleia glazioviana. Ciência
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A conjuntura energética e econômica enfrentada pelo Brasil nos últimos anos fez da biomassa
florestal uma fonte energética com grande potencial para expansão. Análises iniciais, realizadas em
pequena escala, apontaram que a biomassa dos tocos e raízes de eucalipto e pinus, processados
sob a forma de cavacos, pode ser aproveitada e a sua utilização como combustível para a geração de
energia termelétrica é viável. No entanto, tal aproveitamento requer uma cadeia produtiva mais
eficiente, buscando redução dos custos para viabilizar uma usina termelétrica (UTE), ficando clara a
necessidade de avançar em busca de novas tecnologias, equipamentos e processos para executar
as diversas operações ao longo da rota de produção desta biomassa, desde o arranquio do solo e
transporte até o consumidor final. Em paralelo, diagnosticar as características dos tocos e raízes de
eucalipto e de pinus é fundamental para embasar o planejamento operacional e logístico das rotas.
Adicionalmente, avaliar novas formas de utilização energética, tais como a pirólise e gaseificação da
biomassa e processos para aproveitar gás de síntese recuperado nas unidades de produção de
carvão, entre outras, é mais que premente. Estudos mais recentes indicam a necessidade de
aumentar a participação de fontes renováveis na matriz energética brasileira. Essa tendência está
atrelada à segurança e robustez que as características técnicas associadas a essas usinas
proporcionam ao Sistema Interligado Nacional.
De acordo com Innocente (2011), existem diversas rotas tecnológicas para o aproveitamento
energético da biomassa, contudo, todas envolvem a transformação da biomassa, por meio de
processos termoquímico (combustão, gaseificação, pirólise, liquefação e transesterificação), com ou
sem processos físicos de secagem, classificação, compressão, corte ou quebra etc., bioquímicos e
físico-químicos (digestão anaeróbia e fermentação), em um produto intermediário, que por fim, será
usado na geração de energia.
45
Figura 1. Apresenta os principais processos de conversão da biomassa em energéticos.
BIOMASSA
Metanol,
Turbina Turbina e motor Refino e Motor
a gás, ciclo hidrogênio,
a gás
Transesterificação
a vapor combinado gás de síntese tratamento
ENERGIA
CALOR COMBUSTÍVEIS
ELÉTRICA
A combustão direta é considerada por muitos autores como um processo muito ineficiente.
Outro problema da combustão direta está relacionado à sua alta umidade e a baixa densidade
energética do combustível, o que dificulta o seu armazenamento e transporte. Para fins energéticos, a
combustão direta ocorre essencialmente em caldeiras para a geração de vapor (GERMEK, 2005).
Consoante Machin (2015), a utilização da biomassa como combustível apresenta algumas
vantagens ambientais e socioeconômicas, sendo uma fonte renovável, pouco poluente e, que não
emite dióxido de carbono (de acordo com o ciclo natural de carbono neutro). As cinzas oriundas dos
processos de conversão termoquímica da biomassa são menos agressivas para o ambiente e
verifica-se uma menor corrosão dos equipamentos (caldeiras, fornos, etc).
A pirólise, ou carbonização, é o mais simples e mais antigo processo de conversão da
biomassa em outro combustível com melhor qualidade e conteúdo energético. O principal produto
final é o carvão, que tem uma densidade energética duas vezes maior que aquela do material de
origem e queima em temperaturas muito mais elevadas. Além de gás combustível, a pirólise produz
alcatrão e ácido piro-lenhoso (ANEEL, 2005). No capítulo 12 deste compêndio os autores tratam a
pirólise como rota de aproveitamento da biomassa de tocos e raízes de eucaliptos clonais.
Resíduos compostos principalmente de biomassa, são os resíduos utilizados nestes
processos e que se encontram prontamente disponíveis, como por exemplo, os resíduos de madeira
(BHATTACHARYA et al., 1999; SUN et al., 2009; SHETH; BABU, 2010). As biomassas florestais são
muito influenciadas por três fatores vitais para se entender seu valor energético (FOELKEL, 2016):
Teor de umidade;
Densidade aparente ou densidade a granel (em base de peso absolutamente seco por
unidade de volume;
Densidade energética, que é resultante do poder calorífico útil e da densidade a granel do
combustível.
O aproveitamento da madeira proveniente dos tocos e raízes de eucalipto e de pinus, na forma
de cavacos, obtidos por processamento mecânico, com dimensões padronizadas, para geração de
energia, requer uma cadeia produtiva eficiente nas diversas etapas que a compõem: arranquio,
baldeio, estocagem, cavaqueamento, peneiramento, transporte e sistemas de conversão. Todavia, o
entendimento do comportamento da umidade dos tocos e raízes é fundamental no planejamento
logístico desta cadeia (GUERRA, 2017).
O PCU (poder calorífico útil) também é um parâmetro importante neste planejamento, na
definição do melhor momento para o cavaqueamento dos tocos e raízes, peneirar e transportar os
cavacos até o pátio da UTE. No Brasil, os efeitos da umidade em tocos e raízes de eucalipto e de
pinus, a caracterização das propriedades físico-químicas desta nova fonte de biomassa e a sua
utilização como fonte primária de energia em processos de conversão termoquímica ainda não foram
mensurados em condições operacionais.
O estabelecimento das curvas e taxas de secagem da madeira, estocada na forma de tocos e
raízes ou cavacos, ao longo do tempo possibilita (a) redução dos custos das etapas de
cavaqueamento, transporte e estocagem da biomassa; (b) determinação da quantidade de
biomassa necessária para suprir a demanda da unidade de conversão, considerando as diferentes
estações do ano; (c) adaptações nos equipamentos e rotas logísticas já existentes para sua utilização
na produção desta biomassa residual, em condições brasileiras e, (d) determinação de uma solução
logística otimizada para definir qual a melhor via de aproveitamento dos cavacos de madeira, no
menor custo possível.
Independentemente da rota tecnológica adotada para o aproveitamento energético da
biomassa com a finalidade de se produzir energia, seja por processos termoquímico, bioquímicos ou
físico-químicos, implica na sua transformação em um produto intermediário (cavaco) que, por fim,
será usado na geração de energia, com ou sem reprocessamento para adequação e padronização
das partículas de madeira. Assim sendo, neste capítulo discorreremos exclusivamente sobre as rotas
de produção de cavacos, a partir de tocos e raízes de eucaliptos e de pinus, que atendam às
características desejadas para as diferentes tecnologias de conversão de biomassa em energia,
acima citadas, lembrando que estas rotas devem ser o menos impactantes possível ao meio
ambiente e, ao mesmo tempo, que sejam sustentáveis e economicamente viáveis.
O sistema menos impactante e menos oneroso deve ser estudado e definido caso a caso,
levando em consideração as peculiaridades de cada cenário. Isto é importante para viabilizar e
consolidar a utilização dos cavacos de tocos e raízes de eucalipto e pinus como uma nova fonte
energética. Os resultados poderão ser replicados para novas situações, sempre que possível,
conciliando logística florestal e qualidade da biomassa, buscando uma solução otimizada para o
aproveitamento energético da biomassa residual.
Para definirmos a rota de produção de cavacos, a partir de tocos e raízes de Eucalyptus spp. e
47
de Pinus spp., devemos considerar as diferenças morfológicas entre os sistemas radiculares de cada
espécie, a idade das árvores, a rotação, o manejo florestal, o tipo de solo, a topografia, o regime de
chuvas, etc. Para cada situação, uma rota deve ser estudada e definida. As opções de equipamentos e
ferramentas apropriadas para cada fase operacional devem ser compatíveis com as necessidades de
produção e os investimentos devem ser adequados ao perfil das empresas envolvidas nos processos.
A silvicultura brasileira se tornou mais sustentável a partir anos 80 com a abolição da queima,
como forma de limpeza do terreno, que culminou com a adoção do cultivo mínimo do solo, quebrando
paradigmas e levando ao desenvolvimento de equipamentos e sistemas operacionais compatíveis
com a nova realidade. Com a técnica do cultivo mínimo observouse a recuperação da qualidade do
solo, conservando seus atributos estruturais e funcionais dentro de limites normais e em equilíbrios
dinâmicos a longo prazo (GONÇALVES, 2004, citado por BUSCARATO, 2007).
Com o cultivo mínimo, avanços têm sido obtidos no sentido de manter ou recuperar a boa
qualidade do solo, de modo a conservar seus atributos estruturais e funcionais, dentro de limites
normais a longo prazo. Nessa condição, o solo consegue sustentar a produção biológica, prover água
limpa para os mananciais e funcionar como um tampão ambiental, por exemplo, atenuando e
degradando compostos nocivos ao meio ambiente (DORAN et al., 1996; NAMBIAR, 1999). Assim, o
cultivo mínimo tem recebido progressivamente mais destaque, sobretudo, no planejamento e na
gestão de uso dos recursos edáficos, hídricos e biológicos. Com isso, novos desafios têm surgido no
sentido de disponibilizar inovações tecnológicas cada vez menos agressivas ao ambiente, o que tem
requerido maior conhecimento e aplicação de princípios e processos ecológicos (GONÇALVES,
2004).
Em áreas com reflorestamento, a biomassa que recobre o solo após a colheita aos 7 anos, é da
ordem de 34 a 44 Mg ha-1 de matéria seca, composto pela serapilheira (20 a 30 Mg ha-1) e a copa mais o
ponteiro das árvores com diâmetro menor que 5 cm (14 Mg ha-1). No capítulo 4 deste compêndio, os
autores encontraram biomassa da copa (galhos, folhas e ponteiro) variando de 9,6 a 20,7 Mg ha-1, com
média de 14,3 Mg ha-1. Este material de alta relação carbono/nitrogênio tem período de permanência
prolongado e serve como protetor do solo, age diretamente na manutenção da umidade, atua como
barreira física das plantas invasoras e altera sensivelmente a microbiologia do solo (ZEN et al., 1995).
Segundo Lemos (2006), a técnica do cultivo mínimo possui os seguintes benefícios: redução
da erosão, maior conservação da umidade no solo, redução da reinfestação de plantas invasoras,
menor intervenção operacional nas áreas, redução do impacto sobre os organismos do solo. Porém,
acarretou problemas ao manejo florestal em função do acúmulo de resíduos e tocos remanescentes.
Dentro das rotas de aproveitamento da biomassa residual de tocos e raízes, o arranquio é, de
longe, a operação mais importante sob todos os pontos de vistas, quer sejam ambientais ou
econômicos ou até mesmo de ordem operacional, pois ela poderá desencadear uma série de
consequências danosas ao meio ambiente, causar transtorno para as operações seguintes, inclusive
pelo excesso de contaminação pelo solo, dificultar as operações subsequentes para o replantio da
área com novas florestas, custos incompatíveis com o processo, etc. Em outras palavras, o arranquio
dos tocos e raízes é uma operação sensível e onerosa, demandando muita atenção dos gestores na
seleção dos equipamentos a serem utilizados, pois poderão resultar em custos ou consequências
que inviabilizarão o uso dessa fonte de biomassa.
Atualmente o arranquio dos tocos é realizado com escavadoras equipadas com implementos
destocadores, tais como as conchas, unhas e pinças hidráulicas, que causam, em maior ou menor
grau, distúrbios ou movimentação excessiva do solo. Além destas, utilizadas somente para arrancar
tocos e raízes, há uma outra categoria de pinças que os arrancam e cortam, reduzindo volume e a
contaminação excessiva pelo solo.
Faz-se necessário o desenvolvimento de equipamentos que atendam às necessidades
operacionais causando o mínimo possível de distúrbios ou movimentação excessiva do solo.
As serras-copo acopladas em tratores agrícolas ou escavadoras são uma boa opção quando
se trata de causar pouco distúrbio ao solo, pois sua ação é bem pontual, e normalmente, fica apenas
um pequeno buraco no solo, do tamanho do seu diâmetro, de 35 cm. Mas há serras-copo de
diferentes diâmetros, a serem selecionadas de acordo com o diâmetro dos tocos e raízes a serem
arrancados. A qualidade da biomassa produzida é muito boa, pois aproveita-se apenas os tocos e as
coroas das raízes, que têm maiores peso, densidade básica e poder calorífico que o restante das
raízes grossas e finas e são pouco contaminadas pelo solo.
Os pequenos buracos e o remanescente de raízes não atrapalham as operações
subsequentes do processo, nem mesmo as operações silviculturais por ocasião do replantio das
áreas. A desvantagem do uso da serra-copo é o seu baixo rendimento operacional, mas tem a
vantagem de ser um investimento relativamente reduzido, pois seu custo é baixo e os tratores
agrícolas e as escavadoras utilizados são de baixa potência quando comparado com os outros
implementos. Há uma boa oportunidade para melhorias desta operação, principalmente na adoção
de tecnologias que localizem os tocos e direcionem os movimentos em sua direção
automaticamente, reduzindo tempo e otimizando a sua produtividade.
De fato, sabemos que ainda há muito a ser melhorado e que as máquinas precisam ser
especialmente desenhadas para esse tipo de operação. Também é certo que arrancando um a um
não se atinge rendimentos operacionais satisfatórios. Alguns trabalhos indicam que é possível
arrancar de maneira contínua e movimentando o mínimo de solo, apenas no alinhamento dos tocos,
podendo utilizar posteriormente o antigo alinhamento para o plantio das mudas da nova plantação.
Essa eliminação, feita por meio do corte das raízes laterais e das pivotantes a determinada
profundidade, deixa o toco à flor do solo facilitando sua retirada do local.
Atualmente existem vários modelos de destocadores contínuos no mercado, a grande maioria
aplicados na erradicação de pomares. Especificamente para arrancar tocos e raízes de eucaliptos e
pinus de forma contínua, em linha, disponível no mercado, há um modelo de destocador de arrasto,
com rodas dentadas como ferramenta para o arranquio, que funciona muito bem para arrancar tocos
de pinus mas pouco testado e, portanto, não comprovadamente eficiente para o arranquio de tocos
de eucaliptos. Este modelo, por ser importado, tem um valor de aquisição muito alto, o que o torna
pouco acessível para o mercado brasileiro.
PRODUTIVIDADE
49
Uma desvantagem deste equipamento é que ele não trabalha sobre a serrapilheira e resíduos de
colheita e, por isso, necessita de limpeza prévia do terreno, demandando uma operação a mais, e,
portanto, mais tempo de operação e custos. Mesmo trabalhando em área limpa, pelo fato de arrancar o
toco com praticamente todas as raízes, ficando no solo apenas aquelas que se arrebentam, ocorre o
embuchamento de forma muito frequente, exigindo manobras de marcha-ré para desembuchar o
equipamento, reduzindo sua produtividade.
A segunda opção seria um modelo de subsolador-destocador que, embora muito bem testado e
comprovado, ainda não está disponível no mercado. O seu desenvolvimento chegou à cabeça de série
mas, ainda não entrou em linha de produção. Foi desenvolvido para o arranquio de tocos de eucaliptos e
de pinus ou de quaisquer outras espécies florestais plantadas que, ao mesmo tempo, subsola a área e a
deixa pronta para receber um novo plantio, logo após a remoção dos referidos tocos para fora do talhão.
Esta condição é uma das vantagens deste implemento, uma vez que elimina uma operação, a
subsolagem, de custo considerado alto, reduz o intervalo entre a destoca e o replantio da área, bastando
uma adubação na linha de plantio, rápida e barata, utilizando-se um trator de baixa potência para, na
sequência, plantar.
Este equipamento retira o toco, a coroa da raiz e as partes mais grossas das raízes, deixando as
mais finas e as radicelas permanecerem no solo. Isto é muito interessante pelo lado da sustentabilidade e
do balanço de carbono no solo.
Pelas características da operação, os tocos e as raízes ficam mais limpos e, se comparados a
outros métodos de destoca, o nível de contaminação é bem menor.
Um detalhe muito importante a ser considerado e evidenciado é que consegue trabalhar em áreas
com a presença dos resíduos das colheitas, como pontas e galhos, sem necessidade de limpeza prévia
para atingir seu objetivo, que é o arranquio dos tocos. Seus dois discos recortados e com aletas laterais,
dispostos à frente das duas hastes, se encarregam de cortar todo o material existente, evitando o
embuchamento e eliminando a necessidade de manobras de marcha-ré para desembuchar, ganhando
um tempo precioso para sua produtividade.
PRODUTIVIDADE
Em relação ao arranquio dos tocos e raízes, uma boa opção é a possibilidade de arrancar a árvore
inteira, com um cabeçote sacador de árvores. Isto é possível, desejável e recomendado quando se sabe,
de antemão, que a plantação a ser colhida será, no todo ou em parte, destocada. Basta substituir o
cabeçote de corte por um cabeçote sacador acoplado na escavadora. Neste caso, serão arrastadas as
árvores inteiras para as margens das estradas e tocos separados durante o traçamento com garra-
traçadora ou cabeçote processador. Quando se encerrar o arraste das árvores o talhão estará
totalmente livre de tocos e raízes grossas e liberados para as operações silviculturais subsequentes,
reduzindo o intervalo de tempo entre a colheita e o replantio da área, além de economizar operações de
destoca e baldeio de tocos. Nas margens das estradas os tocos e raízes ficarão disponibilizados ao
longo das bordas dos talhões, juntamente com a ponta fina das árvores, que poderão ser cavaqueadas
simultaneamente, aumentando a quantidade de resíduos para serem queimados.
Outra tarefa que pode parecer fácil ou corriqueira é a retirada dos tocos e raízes para fora do
talhão, onde serão cavaqueados ou carregados e levados para algum pátio de estocagem ou de
processamento, dependendo do fim a que se destina a biomassa. Pode-se agrupá-los para facilitar o
baldeio ou transbordo ou mesmo para cavaqueá-los no interior do talhão. Há várias opções de
equipamentos para executar esta tarefa de agrupamento. Pode-se orientar um amontoamento em
pequena escala durante o arranquio, desde que executados por escavadora com pinças, direcionando
vários tocos para o mesmo local. Posteriormente, basta carregá-los nos equipamentos de baldeio ou
transbordo com gruas ou pás apropriadas. Caso os tocos e raízes não sejam amontoados durante o
arranquio, devem ser agrupados posteriormente e, neste caso, pode-se fazer isto de três formas:
Escavadoras com gruas amontoando os tocos.
Trator sobre esteiras ou pá-carregadoras com ancinho, enleirando ou amontoando os tocos.
Enleirando os tocos com ancinhos rotativos.
O uso do ancinho para o enleiramento melhora esta limpeza, uma vez que os tocos e raízes, e
mesmo a serapilheira e as pontas e galhos são revolvidos várias vezes até que se formem as leiras. Isto
ajuda a bater e soltar o solo das raízes e separa as folhas e pequenos galhos, incorporando-os nos 7 a 10
cm superficiais do terreno, melhorando a sua qualidade pela incorporação da matéria orgânica.
Com este sistema de enleiramento, melhora o nível de aproveitamento da biomassa residual,
pois agrega as pontas e galhos aos tocos e raízes.
PRODUTIVIDADE
51
O baldeio ou transbordo dos tocos e raízes para as bordas dos talhões podem ser feitos com
vários tipos de equipamentos, normalmente utilizados para o transbordo de cana ou mesmo aqueles
utilizados para o baldeio de madeira, estes, com algumas adaptações.
Várias são as opções de equipamentos para cavaqueamento de tocos e raízes no campo,
sendo mais comuns os trituradores a martelos. Há várias opções no mercado, tanto nacionais quanto
importadas. Cada uma delas têm suas vantagens e desvantagens e cabe aos gestores decidirem a
que melhor atende às suas necessidades, tanto de produção quanto de qualidade do produto, bem
como a análise de custo x benefícios, pay-back, etc.
Em geral, as raízes secam facilmente pela alta área de exposição, sendo que o teor de umidade
de cepas varia entre 35 a 45 %. Como inconveniente principal está a presença intensa de terra, areia e
pedras, além de serapilheira. Tudo isso precisa ser removido para que a biomassa possa ser de boa
qualidade para queima. Mesmo em condições de excelente limpeza, essa biomassa ainda leva mais
de 2 % de cinzas, além do teor intrínseco de cinzas do material vegetal (FOELKEL, 2016).
A limpeza para remoção de terra e areia é feita concomitantemente à classificação dos
cavacos, através de peneiras, antes do transporte. Existem diferentes tipos de peneiras para se
executar esta operação, podendo ser rotativas ou vibratórias, sendo estas menos utilizadas. Da
mesma forma que os picadores, as peneiras devem ter os mesmos critérios de seleção de qual
equipamento adotar para o sistema de limpeza e classificação dos cavacos de tocos e raízes, para
que as características desejadas pelo consumidor final sejam atendidas.
A última etapa do processo produtivo é o transporte dos cavacos. O ideal é que o carregamento
seja feito diretamente da esteira de saída da peneira rotativa para dentro das carrocerias dos
caminhões. Há várias composições de conjuntos rodoviários para o transporte de cavacos,
especialmente desenvolvidos para este fim. Tem carrocerias com piso fixo ou móvel, com tampas
laterais ou traseiras, etc. O grande trunfo sempre é a melhor solução para combinar o peso com o
volume da carga, para otimizar o frete, reduzindo seu custo. O ideal é que se possa estocar os tocos e
raízes no campo por um período adequado para que a umidade seja reduzida a menos de 35 %, que é
o teor máximo para que não se perca muita energia para eliminar água durante a combustão na
caldeira da UTE. Este período de estocagem também favorece a redução da contaminação da
biomassa pelo efeito das chuvas e da movimentação do material para a alimentação dos picadores e
no peneiramento, visto que o solo perde sua aderência por estar mais seco, desprendendo se mais
facilmente dos cavacos.
Quando se transporta cavacos, a capacidade de carga, em peso de biomassa, é 78 % maior do
que as cargas de tocos e raízes. Isto reflete muito fortemente no esforço logístico e no custo do frete, e
reforça a opção por se produzir os cavacos diretamente no campo e não no pátio das UTEs.
Segue, a título de ilustração, uma tabela comparativa entre uma composição com capacidade
de carga de 36 toneladas para o transporte de tocos e raízes versus transporte de cavacos, conforme
dados de várias pesagens.
Aproveitamento da capacidade 36 % 64 %
53
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55
resultantes da exploração da floresta e que não tem utilização definida, tais como casca, galhos,
folhas, ponteiro, árvores muito finas, doentes ou mortas, assim como tocos e raízes (SOUZA, 2010;
EUFRADE-JUNIOR et al., 2016, SCHEPASCHENKO et al., 2017, CASSELLI et al., 2018).
A biomassa dos resíduos florestais pode ser utilizada em diferentes vias de aproveitamento
para geração de energia, como ilustrado na Figura 1. Diversos autores têm reportado o uso de tocos e
raízes como fontes alternativas de energia renovável frente aos combustíveis fósseis (HYVÖNEN et
al., 2016; ORTIZ et al., 2016).
Figura 1. Vias de aproveitamento da biomassa florestal. Fonte: Forest Energy Portal (2018).
Rotação 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª
Idade (anos) 6,8 13,6 6,6 9,5 6,3 12,7 14,5 13,5
DAP (cm) 17,8 14,6 18,8 13,7 16,7 13,4 20,6 16,4
Altura (m) 23,5 23,7 24,1 18,3 19,9 17,9 27,9 19,2
Área basal 25,25 30,16 26,58 16,55 23,67 26,76 34,80 24,32
(m² ha-1)
Em cada clone/rotação foram abatidas cinco árvores e arrancados os tocos e raízes com
retroescavadora, sendo sua biomassa seca obtida pelo método gravimétrico. A biomassa úmida de
cada árvore foi quantificada separadamente nos compartimentos: lenho do fuste comercial (BLF);
casca do fuste comercial (BCF); copa da árvore, incluindo ponteiro (a partir do diâmetro comercial de
5 cm), galhos e folhas (BC); lenho de toco e raízes (BLTR); e casca de toco e raízes (BCTR). Amostras
de cada compartimento foram secas em estufa a 105 ± 5º C (até a obtenção de massa seca
constante), permitindo determinar a relação entre massa seca e massa úmida e, consequentemente,
a biomassa seca dos compartimentos (Figura 2).
A biomassa seca total da árvore (BT) foi obtida pelo somatório da biomassa dos
compartimentos. A distribuição da biomassa seca nos compartimentos, em porcentagem, foi obtida
pela divisão da biomassa de cada compartimento pela BT. Todas as análises foram realizadas na
Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, câmpus de Chapadão do Sul.
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Figura 2. Processo adotado para quantificação da biomassa em diferentes compartimentos
de árvores de eucalipto.
A biomassa seca total por árvore variou de 172,8 a 419,9 kg (média de 257,8 kg árvore-1) para os
clones/rotações (Figura 3). Essa biomassa, em média, está distribuída em: 58,1 % no lenho do fuste;
6,4 % na casca do fuste; 7,6 % na copa; 25,9 % no lenho de tocos e raízes; e 2,0 % na casca de tocos
e raízes, totalizando 41,9 % nos compartimentos que normalmente são considerados como resíduos
florestais. Assim, os compartimentos aéreos representam 72,1 % da biomassa seca total e os tocos e
raízes 27,9 %.
Figura 3. Total de biomassa seca por árvore e sua distribuição em compartimentos das
árvores de quatro clones de eucalipto em primeira e segunda rotação, em Ribas do
Rio Pardo/MS. A1 = AEC 0144 - 1º Rotação; A2 = AEC 0144 - 2º Rotação; B1 = AEC
0224 - 1º Rotação; B2 = AEC 0224 - 2º Rotação; C1 = VM01 - 1º Rotação; C2 =
VM01 - 2º Rotação; D1 = H77 - 1º Rotação; D2 = H77 - 2º Rotação.
59
A distribuição da biomassa seca variou entre os clones e as rotações de cultivo (Figura 3). No
clone AEC 0144, a primeira e segunda rotação apresentaram distribuições semelhantes, com média
de 19,1 % da biomassa total alocada em toco e raízes. Para os clones AEC 0224, VM01 e H77 houve
aumento da fração da biomassa em toco e raízes, partindo de uma média de 22,7 % na primeira
rotação para 39,0 % na segunda rotação. Para os compartimentos casca do fuste, copa e casca de
toco e raízes não ocorreram padrões definidos de distribuição da biomassa para os clones e rotações.
Quando considerada apenas a biomassa seca de toco e raízes, em ambas as rotações, a maior
parte da biomassa encontra-se na coroa da raiz (67,3 %). As raízes grossas e finas representam em
média 25,8 %, enquanto o toco representa 6,9 % da biomassa. Na segunda rotação ocorre o
aumento da fração de biomassa representada pela coroa da raiz e redução da fração de raízes
grossas e finas (Figura 4).
Toco Toco
7,6 % 6,2 %
Coroa Coroa
da raiz da raiz
63,8 % 70,8 %
O uso comercial dos tocos e raízes decorre da utilização da fração acima do solo (o toco
propriamente dito) e fração abaixo do solo, principalmente das raízes que integram o toco (coroa da
raiz). Durante a operação de arranquio mecanizado de toco e raízes, uma grande parte das raízes
finas pode ser desprendida das raízes mais grossas e ficar retida no solo, variando em função do
equipamento utilizado. Dessa forma, o potencial de exploração e utilização da biomassa de toco e
raízes é de, no mínimo, 71,4 % na primeira rotação e 77,0 % na segunda rotação.
AEC 0144 1ª 0,906 0,094 0,123 1,123 0,257 0,018 0,275 1,397
AEC 0144 2ª 0,873 0,127 0,132 1,132 0,239 0,020 0,259 1,391
AEC 224 1ª 0,893 0,107 0,071 1,071 0,254 0,022 0,276 1,347
AEC 224 2ª 0,896 0,104 0,162 1,162 0,718 0,059 0,777 1,939
AEC 0144 0,889 0,111 0,127 1,127 0,248 0,019 0,267 1,394
AEC 224 0,894 0,106 0,116 1,116 0,486 0,041 0,527 1,643
Média geral 0,901 0,099 0,121 1,121 0,440 0,034 0,474 1,595
Em que: BLF = biomassa do lenho do fuste; BCF = biomassa da casca do fuste; BC = biomassa da
copa; BA = biomassa aérea; BLTR = biomassa do lenho de toco e raízes; BCTR = biomassa da casca
de toco e raízes; BTR = biomassa de toco e raízes (lenho + casca); BT = biomassa total da árvore.
61
A partir dos fatores de conversão obtidos foi possível estimar a biomassa seca de diferentes
compartimentos das árvores, através da multiplicação da biomassa seca do fuste (lenho + casca) pelo
fator de conversão do compartimento de interesse, conforme o exemplo a seguir:
Exemplo: Considerando que uma árvore do clone AEC 0144, cultivada na primeira rotação,
possui biomassa seca do fuste (lenho + casca) igual a 135 kg, a biomassa dos diferentes
compartimentos podem ser estimadas conforme abaixo:
A produção de biomassa seca (Mg ha-1) foi quantificada a partir do inventário florestal realizado
em cinco parcelas (±500 m² de área cada) mensuradas em cada clone/rotação (Tabela 1). A biomassa
do fuste comercial foi obtida pelo método volumétrico, com a multiplicação do volume comercial do
fuste com casca (obtido por equações volumétricas específicas) pela densidade básica média do
fuste, determinada para cada clone e rotação (Figura 5). A biomassa dos demais compartimentos foi
obtida considerando os fatores de conversão apresentados nos tópicos anteriores.
Figura 5.
Densidade básica média do lenho do fuste de quatro clones de eucalipto cultivados
em primeira e segunda rotação.
0,56
0,52
0,6
0,50
0,51
0,50
Densidade básica (g cm-³)
0,47
0,44
0,42
0,4
0,2
0,0
1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª
AEC 0144 AEC 0224 VM01 H77
Clone/Rotação
O incremento médio anual (IMA) da biomassa de cada compartimento (Mg ha-1 ano-1) foi obtido pela
divisão de sua biomassa pela idade do povoamento. Nos povoamentos de segunda rotação, utilizou-se a
idade de condução da rebrota para os compartimentos aéreos e a idade da plantação para toco e raízes,
uma vez que estes permaneceram se desenvolvendo na área após a realização do primeiro corte.
A produção de biomassa seca total nas plantações variou de 115,3 a 301,3 Mg ha-1, proporcionando a
produtividade média (IMA) de 27,2 Mg ha-1 ano-1 (20,8 a 33,0 Mg ha-1 ano-1) (Figura 6). Desse total, os
compartimentos normalmente denominados como resíduos florestais correspondem a 9,7 Mg ha-1 ano-1
(7,2 a 11,7 Mg ha-1ano-1). Dentre estes, o lenho de toco e raízes apresentam o maior IMA (5,0 Mg ha-1ano-1),
seguido da copa (2,4 Mg ha-1 ano-1), casca do fuste (2,0 Mg ha-1 ano-1) e casca de toco e raízes (0,4 Mg ha-1
ano-1).
63
Figura 6. Produção e incremento médio anual (IMA) de biomassa seca de quatro clones de
eucalipto cultivados em primeira e segunda rotação, no município de Ribas do Rio
Pardo/MS. BC = biomassa da copa; BCF = biomassa da casca do fuste; BLF =
biomassa do lenho do fuste; BLTR = biomassa do lenho de toco e raízes; BCTR =
biomassa da casca de toco e raízes.
No entanto, a produtividade desses resíduos pode variar em função de diversos fatores, entre eles
o material genético e a rotação de cultivo. O clone VM01 apresentou o maior IMA de toco e raízes em
ambas as rotações. Apenas o clone AEC 0144 apresentou redução acentuada do IMA desse
compartimento na segunda rotação, o que indica que nessa rotação esse clone alocou baixa quantidade
de biomassa nas raízes, priorizando a alocação de biomassa nos compartimentos aéreos (Figura 6).
Em relação às rotações de cultivo, não houve um padrão de comportamento para o IMA de toco e
raízes, mesmo a biomassa total sendo geralmente maior nas plantações de segunda rotação.
Apesar das variações existentes na alocação e produtividade da biomassa de resíduos florestais,
o seu aproveitamento proporciona o aumento da produção de matéria-prima por unidade de área, o que
pode gerar maior receita para produtores florestais. A quantidade de resíduos florestais produzida está
intimamente relacionada à finalidade da plantação e das vias de aproveitamento da biomassa que
podem ser adotadas pelas empresas florestais.
A Tabela 3 apresenta estimativas do ganho na produção de biomassa por unidade de área,
considerando diferentes vias de aproveitamento dos resíduos florestais, definidas com base na
possibilidade de sua utilização para diferentes finalidades. Esses ganhos foram calculados utilizando
como referência a colheita do fuste comercial sem casca, comumente adotada nas empresas florestais
para produção de celulose.
Tabela 3. Variação do ganho na produção de biomassa seca por unidade de área (%) ao
utilizar diferentes vias de aproveitamento dos resíduos florestais em relação à
colheita do fuste comercial sem casca, em plantações de eucalipto de primeira e
segunda rotação.
1ª 2ª
65
Os ganhos na produção de biomassa, considerando as diferentes alternativas para o
aproveitamento dos resíduos florestais, variaram de 8,5 % a 69,4 % na primeira rotação e de 9,3 % a
116,5 % na segunda rotação. Portanto, o aproveitamento dos resíduos florestais constituem em uma
alternativa eficiente para aumentar a produção de biomassa, sem a necessidade de investir no plantio
de novas áreas.
Contudo, os ganhos na produção de biomassa são influenciados pelos clones e rotações
utilizados, que apresentam distribuição variável da biomassa entre os compartimentos. Por exemplo, o
clone VM01 apresenta menores frações de casca do fuste e maiores frações de toco e raízes, enquanto
o clone AEC 0144 apresenta menor fração de resíduos, não havendo diferenças entre as rotações.
Assim, a distribuição da biomassa nos compartimentos das árvores em cada situação de manejo em
particular é uma variável importante na decisão de quais resíduos podem ser aproveitados.
Dentre as vias de aproveitamento, os maiores ganhos na produtividade de biomassa são obtidos
naquelas em que ocorrem o aproveitamento de toco e raízes. Isso está de acordo com alguns autores
que reportaram o uso de tocos e raízes de árvores como fontes alternativas de energia renovável
(HYVÖNEN et al., 2016; ORTIZ et al., 2016) e sugerem que sua colheita em larga escala se tornará
rotineira e estratégica a longo prazo para a bioenergia (VASAITIS et al., 2008). No caso do
aproveitamento de tocos e raízes também há benefícios na reforma do povoamento, pois facilita o
preparo do solo e o realinhamento em novos plantios (WALMSLEY; GODBOLD, 2009).
Apesar do uso dos resíduos florestais proporcionar ganhos consideráveis na produção de
biomassa por unidade de área, a sua incorporação como fonte de matéria prima nos processos
produtivos das empresas depende da análise de uma série de fatores de ordem técnica e operacional,
econômica e ambiental. Dentre estes, destaca-se a necessidade de investimentos e adaptações em
máquinas e equipamentos para seu arranquio e aproveitamento no processo produtivo, custos de
produção e rendimento do produto final, exportação e reposição de nutrientes na área de cultivo.
REFERÊNCIAS
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climate, spacing and genetics on clonal Eucalyptus plantations across Brazil and Uruguay. Forest Ecology
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EUFRADE JUNIOR, H. J.; MELO, R. X.; SARTORI, M. M. P.; GUERRA, S. P. S.; BALLARIN, A. W. Sustainable
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15-21, 2016.
FOREST ENERGY PORTAL. Illustrations for your presentations and publications. COST- European
Cooperation in Science and Technology, IEA Bioenergy Task 43 and Metsäenergia project. Disponível em:
<http://www.forestenergy.org/pages/images/>. Acesso em: 21 maio 2018.
HYVÖNEN, R. et al. Effects of stump harvesting on soil C and N stocks and vegetation 813 years after clear-
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IBÁ. Relatório 2017. Indústria brasileira de árvores, Brasília: IBÁ; 2017. 78p.
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SALVADOR, S. M.; SCHUMACHER, M. V.; VIERA, M.; STAHL, J.; CONSENSA, C. B. Biomassa e estoque de
nutrientes em plantios clonais de Eucalyptus saligna Smith em diferentes idades. Scientia Forestalis, v.44,
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SCHEPASCHENKO, D.; et al. A dataset of forest biomass structure for Eurasia. Scientific Data, v.4,
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SMYTH, C.; KURZ, W.; RAMPLEY, G.; LAMPRIERE, T. C.; SCHWAB, O. Climate change mitigation potential
of local use of harvest residues for bioenergy in Canada. GCB Bioenergy, v. 9, p. 817832, 2017.
VASAITIS, R.; STENLID, J.; THOMSEN, I. M.; BARKLUND, P.; DAHLBERG, A. Stump removal to control root
rot in Forest Stands. A literature study. Silva Fennica, v. 42, p. 457-483, 2008.
VAZ JUNIOR, S. Análise química da biomassa. Brasília, DF: Embrapa Agroenergia, 2015. 196 p.
WALMSLEY, J. D.; GODBOLD, D. L. Stump Harvesting for Bioenergy A Review of the Environmental
Impacts. Forestry, v. 83, p. 17-38, 2009.
67
5
EQUAÇÕES ALOMÉTRICAS PARA
A BIOMASSA DE TOCOS E RAÍZES
DE EUCALIPTO EM PLANTIOS DE
PRIMEIRA E SEGUNDA ROTAÇÃO
biomassa (variável de difícil obtenção) em função de variáveis de fácil obtenção (diâmetro e altura).
Segundo Batista et al. (2014), a biomassa lenhosa de uma árvore depende de seu diâmetro, altura,
forma e densidade básica. Assim, em florestas onde as árvores possuem certa homogeneidade na
forma e na densidade básica, como nas plantações florestais com espécies de eucalipto e pinus, a
biomassa lenhosa pode ser predita com base no diâmetro e na altura total.
As equações alométricas podem ser utilizadas para determinação da biomassa de diferentes
compartimentos das árvores. Contudo, a maioria dos estudos com modelos alométricos abordam
apenas a estimativa da biomassa aérea, sendo escassas equações para a biomassa de toco e raízes,
como as desenvolvidas por Razakamanarivo et al. (2012). Isso ocorre devido à dificuldade em quantificar
a biomassa contida nas raízes das árvores, pois as metodologias utilizadas para tal finalidade são difíceis
de serem executadas e demandam grande quantidade de tempo e mão de obra, tornando a atividade
bastante onerosa (CAIRNS, 1997).
Apesar de praticamente não serem empregadas nos levantamentos florestais atuais, as
equações alométricas adequadas para estimar a biomassa de tocos e raízes podem se tornar
rotineiras nessas atividades. No passado, os tocos eram rebaixados e destruídos, sendo a sua
biomassa incorporada no solo. Atualmente, os tocos e raízes tornaram-se uma fonte significativa de
biomassa para a geração de calor e energia (GOMINHO et al., 2012), despertando o interesse de
várias empresas em seu aproveitamento (FOELKEL, 2014). Além disso, a fração tocos e raízes
representa cerca de 20 % a 40 % da biomassa total em plantações de eucalipto (33,3 a 86,9 Mg ha-1)
(ver Capítulo 4) e sua utilização pode proporcionar ganhos consideráveis na produção de biomassa
por unidade de área.
Diante do exposto, este capítulo apresenta equações alométricas para estimar a biomassa de
tocos e raízes de árvores de eucalipto cultivadas em primeira e segunda rotação, de forma a subsidiar
o melhor aproveitamento desse importante recurso florestal.
69
(1)
(2)
(3)
Em que: DAPeq = diâmetro a altura do peito equivalente; n = número de fustes por cepa; DAP= i
diâmetro a altura do peito do i-ésimo fuste da cepa; HL = altura de Lorey; gi = área seccional do i-ésimo
fuste da cepa; Hi = altura total do i-ésimo fuste da cepa.
Para obtenção da BTR, primeiramente, as árvores foram abatidas e seus tocos e raízes foram
arrancados com auxílio de retroescavadora. Em seguida, os mesmos foram pesados com auxílio de
um dinamômetro para obter sua biomassa úmida (Figura 1). A biomassa seca foi obtida através da
multiplicação da biomassa úmida pela razão entre massa seca e massa úmida, obtida em amostras
de tocos e raízes coletadas em cinco árvores-amostras (Tabela 1).
Figura 1. Processo adotado para mensuração da parte aérea e obtenção da biomassa úmida
de árvores de eucalipto.
Tabela 1. Razão entre massa seca e massa úmida em amostras de toco e raízes de quatro
clones de eucalipto cultivados em primeira e segunda rotação.
VM01 1ª 0,50
VM01 2ª 0,53
H77 1ª 0,52
H77 2ª 0,49
Nessas cinco árvores-amostras, também foram retiradas amostras do fuste para a obtenção da
densidade básica média (Db) da madeira de cada clone e rotação. As características de cada uma das
variáveis obtidas em cada clone e rotação, são apresentadas na Figura 2. Todas as análises de laboratório
foram realizadas na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul, câmpus de Chapadão do Sul.
71
Figura 2. Boxplot das variáveis utilizadas no desenvolvimento das equações alométricas. Em
que: BTR = Biomassa seca de toco e raízes; D = diâmetro a altura do peito (DAP) nas
plantações de primeira rotação e DAP equivalente nas plantações de segunda
rotação; H = altura total nas plantações de primeira rotação e altura de Lorey nas
plantações de segunda rotação; Db = densidade básica da madeira do fuste; A1 =
ACE 0144 em primeira rotação; A2 = AEC 0144 em segunda rotação; B1 = AEC 0224
em primeira rotação; B2 = AEC 0224 em segunda rotação; C1 = VM01 em primeira
rotação; C2 = VM01 em segunda rotação; D1 = H77 em primeira rotação; D2 = H77
em segunda rotação.
Como a fração da biomassa de toco e raízes na árvore é bastante influenciada pela rotação de
cultivo (ver Capítulo 4), decidiu-se por desenvolver inicialmente uma equação alométrica generalista
para cada rotação, envolvendo simultaneamente os dados de todos os clones. Antes da construção
dos modelos, foi analisada a correlação da BTR (variável dependente, a ser ser estimada) com as
demais variáveis obtidas (variáveis independentes, preditoras). Em ambas as rotações, o diâmetro
(DAP ou DAPeq) é a variável que apresenta maior correlação com a BTR (Figura 3). Em relação à
altura, na segunda rotação, apesar de significativa, a HL apresentou correlação fraca com a BTR. A
boa correlação entre BTR e Db, em ambas as rotações, indica que essa variável pode ser útil em
situações em que se busca uma equação generalista para estimar a BTR de diferentes
espécies/clones cultivadas em uma mesma rotação.
1ª ROTAÇÃO 2ª ROTAÇÃO
De forma geral, também verifica-se que as relações entre as variáveis preditoras e a BTR são não-
lineares em ambas as rotações (Figura 3). Portanto, inicialmente foram ajustados modelos não-lineares,
cujas expressões matemáticas estão apresentadas abaixo. Antes do ajuste, os dados de cada clone e
rotação foram divididos, de forma aleatória, em dois subconjuntos. O primeiro foi destinado para o ajuste
dos modelos (75%) e o segundo para a validação das equações obtidas (25%).
(4)
(5)
Em que: BTRR1 e BTRR2 = Biomassa seca de tocos e raízes (kg) na primeira e segunda rotação,
respectivamente; DAP = diâmetro a altura do peito (cm); DAPeq = DAP equivalente (cm); H = altura
total (m); HL = Altura de Lorey (m); Db = densidade básica da madeira (g cm-³); ε= erro aleatório.
Para a primeira rotação, todos os coeficientes (βi) foram significativos (p<0,0046), indicando
que as variáveis independentes utilizadas no modelo são adequadas para explicar a variação da
BTR. Contudo, na segunda rotação o efeito de HL não foi significativo (p=0,4640), o que pode ser
explicado pela baixa correlação verificada entre essa variável e a BTR (Figura 3). Portanto, para a
segunda rotação, a variável HL foi eliminada do modelo e realizado um novo ajuste, conforme
expressão 6. Assim, todas as variáveis explicativas presentes no modelo, contribuíram de forma
significativa para explicar a variação da BTR (p < 0,0001).
73
(6)
1ª ROTAÇÃO 2ª ROTAÇÃO
A inclusão da variável Db nos modelos permite estimar valores diferentes de BTR para árvores de
clones que possuem as mesmas dimensões do fuste, tornando os modelos mais generalistas. Porém, o
boxplot dos resíduos para os clones separadamente, em cada rotação, indica que pode ocorrer
tendências nas estimativas de BTR (super ou subestimar) em algumas situações específicas (Figura 5).
Nos clones AEC 0224 e AEC 0144 houve tendência em superestimar a BTR na primeira e na segunda
rotação, respectivamente, enquanto que subestimativas ocorreram no AEC 0224 de segunda rotação.
Figura 5. Boxplot dos resíduos das estimativas de biomassa de toco e raízes para cada
clone, em primeira e segunda rotação. Em que: A = AEC 0144; B = AEC 0224; C =
VM01; D = H77.
1ª ROTAÇÃO 2ª ROTAÇÃO
Uma alternativa para a redução dessas tendenciosidades é o ajuste de modelos para cada
situação específica (modelos locais). Portanto, foram ajustados modelos que utilizam apenas o diâmetro
e a altura como variáveis independentes para cada clone/rotação. Quando alguma dessas variáveis não
apresentaram efeito significativo na estimativa de BTR, foram eliminadas do modelo, sendo realizado
um novo ajuste. Para os clones de primeira rotação, ajustou-se o modelo da expressão 7 e para os de
segunda rotação, ajustou-se o da expressão 8.
(7)
(8)
O ajuste dos modelos para cada clone/rotação mostrou ser uma alternativa favorável para
melhoria das estimativas de BTR (Figura 6). Além de melhorar ou manter as estatísticas de ajuste
semelhantes aos modelos generalistas (ajuste e validação), houve melhora da distribuição dos resíduos,
que não apresentaram tendenciosidades nas estimativas. Esse comportamento também ocorreu para
aquelas situações que apresentaram tendenciosidades nos modelos generalistas. Os valores de Syx% se
mantiveram relativamente altos, o que também pode ser explicado pela alta variabilidade natural da BTR
verificada dentro dos próprios clones em cada rotação (coeficiente de variação de 25,3% a 46,8%).
75
Figura 6.
Ajuste e validação dos modelos locais para estimativa da biomassa de toco e raízes
(BTR). Informações em preto referem-se ao ajuste dos modelos e em vermelho à
validação das equações. DAP = diâmetro a altura do peito; DAPeq = DAP
equivalente; H = altura total; HL = altura de Lorey; Db = densidade básica da
madeira; r = correlação; Syx% = erro padrão.
1ª ROTAÇÃO 2ª ROTAÇÃO
Apesar dos valores de Syx% serem superiores aos comumente adotados nos inventários
florestais de plantações homogêneas (10 %), as equações obtidas (generalistas e locais) podem ser
consideradas satisfatórias para estimativa de BTR. Dessa forma, com a utilização das equações
apresentadas, as estimativas de BTR podem ser obtidas de forma confiável e prática nos inventários
florestais de plantações de eucalipto.
Em plantações de primeira rotação a BTR pode ser estimada a partir das variáveis DAP, H e
Db, enquanto que em plantações de segunda rotação, necessita-se de DAPeq e Db. O DAPeq é
facilmente calculado na etapa de processamento de dados, necessitando apenas das medidas de
DAP de cada fuste separadamente. Como a Db do fuste de uma árvore é determinada por métodos
destrutivos, torna-se necessária a obtenção dessa variável em algumas árvores-amostras, ou então,
adotar valores médios disponíveis na literatura para cada espécie/clone. Ainda pode-se adotar os
modelos locais, que não necessitam dessa variável.
Para a maioria dos clones/rotações, apenas o diâmetro (DAP ou DAPeq) seria suficiente para obter as
estimativas confiáveis. Do ponto de vista prático, isso é muito importante, pois o diâmetro é a variável mais
facilmente obtida e comumente utilizada nos inventários florestais, não acarretando em custos consideráveis
para a obtenção das estimativas de BTR.
A seguir, são apresentados exemplos práticos da aplicação das equações generalistas e locais
para estimar a BTR do clone VM01 em primeira e segunda rotação. Nos exemplos foram utilizados
dados médios verificados em campo em cada rotação, sendo possível observar que as estimativas
obtidas são consistentes com os valores reais de BTR (Figura 2).
77
Exemplo 3: Em uma plantação do clone VM01, conduzido em segunda rotação,
com densidade básica da madeira de 0,51 g cm-³, foram mensurados dois fustes
provenientes da rebrota de uma mesma cepa. As medidas obtidas nestes fustes são:
Fuste 1: DAP = 15,1 cm; H = 21,0 m; Fuste 2: DAP = 9,2 cm; H = 19,1 m. Nessa situação,
primeiramente calcula-se o DAPeq, com posterior aplicação da equação generalista da
segunda rotação:
REFERÊNCIAS
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arvoredos e florestas. São Paulo: Oficina de Textos, 2014.
CAIRNS, M. A. et al. Root biomass allocation in the world's upland forests. Oecologia, v. 111, n. 1, p. 1-11, 1997.
FOELKEL, C. O problema dos tocos residuais das florestas plantadas de Eucaliptos. Eucalyptus
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GOMINHO, J. et al. Chemical and fuel properties of stumps biomass from Eucalyptus globulus plantations.
Industrial crops and products, v. 39, p. 12-16, 2012.
SOMOGYI, Z. et al. Indirect methods of large-scale forest biomass estimation. European Journal of Forest
Research, v 126, p. 197207, 2007.
79
6
USO DE REDES NEURAIS
ARTIFICIAIS PARA ESTIMAR A
BIOMASSA DE TOCOS E RAÍZES
DE ÁRVORES DE EUCALIPTO
As Redes Neurais Artificiais (RNAs) são modelos inspirados no cérebro humano, que emulam
uma rede de neurônios biológicos. O cérebro humano é capaz de processar informações complexas e
não-lineares de forma muito superior à de qualquer máquina. Neste sentido, as RNAs são capazes de
processar rapidamente uma grande quantidade de dados e de reconhecer padrões com base em sua
auto-aprendizagem (HAYKIN, 2009).
Uma RNA é constituída de unidades de processamento denominadas neurônios ou nós,
conectados entre si com diferentes pesos, em função das respostas adquiridas durante o treinamento
da rede. O primeiro modelo de neurônio artificial foi proposto em 1943 por Warren McCulloch e Walter
Pitts (MCCULLOCH; PITTS, 1943). Contudo, devido às particularidades do modelo, o neurônio
artificial de McCulloch e Pitts só conseguia obter solução para problemas linearmente separáveis. A
partir dos trabalhos de McCulloch e Pitts, outros modelos mais dinâmicos foram desenvolvidos, como
por exemplo, o Perceptron Multicamadas (MLP), no ano de 1986. Devido à inclusão de camadas
ocultas no modelo, as redes MLP apresentam ótima eficiência para solucionar problemas complexos.
Por apresentarem estrutura não-linear, as RNAs conseguem alta eficiência trabalhando com
variáveis complexas. Além da não-linearidade, essa abordagem tem como vantagens a
adaptatividade, a generalização e a tolerância a falhas (HAYKIN, 2009). Tais características fazem com
que as RNAs produzam modelos preditivos frequentemente superiores aos das técnicas estatísticas
convencionais, como os modelos de regressão. A metodologia de regressão requer suposições sobre
a variação e distribuição de dados, que nem sempre são válidas. Diferentemente da análise de
regressão e de alguns outros modelos estatísticos, as RNAs não requerem hipóteses sobre a
distribuição das variáveis (ZANG et al., 2009). Além disso, as RNAs não exigem ausência de
multicolinearidade dos dados, o que também pode contribuir para a maior eficiência desta técnica
quando comparada aos modelos de regressão.
O uso de RNAs na ciência florestal brasileira é recente, contudo, tem sido cada vez mais
frequente a aplicação desta técnica na modelagem florestal para estimar diversos parâmetros, como
crescimento e produção florestal, volume de madeira, biomassa aérea, relação hipsométrica, funções
de afilamento e classificação da capacidade produtiva. Binoti et al. (2014) utilizaram RNAs para
projeção da distribuição diamétrica em povoamentos equiâneos. Esses autores constataram que as
RNAs apresentaram resultados mais acurados quando comparadas a modelos normalmente usados
no setor florestal. Ao avaliar a modelagem por regressão não-linear e por RNAs para a predição da
altura de árvores de eucaliptos, Vendruscolo et al. (2015) verificaram que as redes apresentam alto
potencial para tal utilização, além de apresentar como vantagem adicional a possibilidade de
inserção de variáveis categóricas no treino.
Bhering et al. (2015) também constataram a superioridade das RNAs ao comparar essa abordagem
com modelos de regressão na predição do volume de madeira de 140 famílias de meios-irmãos de
eucalipto. De acordo com os autores, as RNAs contribuem para o aumento da precisão na medição do
volume de eucalipto e automatização do processo de inventário florestal, uma vez que reduz,
significativamente, o custo e tempo despendidos durante o inventário florestal.
Apesar das diversas aplicações no setor florestal, a metodologia de redes neurais ainda não foi
utilizada para estimativa da biomassa de toco e raízes em plantações florestais. Esse componente da
biomassa vem despertando o interesse de algumas empresas em seu aproveitamento, principalmente para
fins energéticos. Neste sentido, este capítulo avaliou o uso de redes neurais artificiais para gerar estimativas
da biomassa seca de toco e raízes de árvores de eucalipto.
81
• Db = Densidade básica de cada clone/rotação;
• Clone = variável categórica formada pelos clones AEC 0144, AEC 0224, VM01 e H77,
representados pelas letras A, B, C e D, respectivamente;
• Rot = variável categórica formada pela primeira e segunda rotação de cultivo, representadas
por R1 e R2, respectivamente.
O treinamento das RNAs foi realizado com auxílio da ferramenta Intelligent Problem Solver, do
programa Statistica 7.0. Foram treinadas 1000 redes do tipo MLP com uma camada intermediária,
contendo no máximo dez neurônios. Foi utilizado o algoritmo de treinamento Back Propagation e a
otimização da arquitetura da rede foi realizada com base na opção Balance error against diversity, que
proporciona maior homocedasticidade dos resíduos. As camadas intermediária e de saída foram
ativadas pela função logística.
A fim de verificar a capacidade da rede em realizar predições, as cinco redes de melhor
desempenho no treinamento foram aplicadas em dados não utilizados no treinamento (dados de
validação). A seleção da RNA de melhor desempenho para estimativa de BTR, no treinamento e
validação, foi realizada com base no coeficiente de determinação (R²), no erro padrão da estimativa
em porcentagem (Syx%), análise gráfica dos valores observados x estimados e distribuição dos
resíduos.
Figura 1. Arquitetura das redes neurais artificiais (RNAs) de melhor desempenho para estimar
a biomassa de tocos e raízes de árvores de eucalipto.
Treinamento Validação
Em que: Rot = rotação; D = diâmetro a altura do peito (DAP) para a primeira rotação e DAP
equivalente para a segunda rotação; H = altura total para a primeira rotação e altura de Lorey para a
segunda rotação; Db = densidade básica da madeira do fuste; (1), (2), (3), (4) e (5) = ordem dos pesos das
variáveis de entrada em cada rede; R² = coeficiente de determinação; Syx% erro padrão, em
porcentagem.
De forma geral, as RNAs apresentaram desempenho semelhante nas etapas de treinamento e
validação. No treinamento, os valores de R² foram superiores a 0,86, os de Syx% inferiores a 24,8% e
não houve tendenciosidades nas estimativas de BTR (Tabela 1 e Figura 2). Apesar do desempenho
ligeiramente superior da RNA5 no treinamento, na validação esta apresentou o pior desempenho
entre as redes. Por outro lado, a RNA1, que foi inferior às demais no treinamento, apresentou o melhor
desempenho na validação, proporcionando estimativas não tendenciosas.
83
Figura 2. Análise gráfica das estimativas de biomassa de tocos e raízes (BTR) de árvores de
eucalipto, obtidas no treinamento e validação de redes neurais artificiais (RNAs).
REFERÊNCIAS
BHERING, L. L. et al. Application of neural networks to predict volume in eucalyptus. Crop Breeding and
Applied Biotechnology, v. 15, n. 3, p. 125-131, 2015.
BINOTI, M. L. M. DA S. et al. Utilização de redes neurais artificiais para a projeção da distribuição diamétrica
de povoamento equiâneos. Revista Árvore, v. 38, n. 4, p. 747-754, 2014.
HAYKIN, S. S. et al. Neural networks and learning machines. Upper Saddle River: Pearson, 2009.
LEAL, F. A. et al. Redes neurais artificiais na estimativa de volume em um plantio de eucalipto em função de
fotografias hemisféricas e número de árvores. Revista Brasileira de Biometria, v. 33, n. 2, p. 233-249, 2015.
MCCULLOCH, W. S.; PITTS, W. A logical calculus of the ideas immanent in nervous activity. The bulletin of
mathematical biophysics, v. 5, n. 4, p. 115-133, 1943.
VENDRUSCOLO, D. G. S. et al. Estimativa da altura de eucalipto por meio de regressão não linear e redes
neurais artificiais. Revista Brasileira de Biometria, v. 33, n. 4, p. 556-569, 2015.
ZHANG, J. Q. et al. Prediction of soybean growth and development using artificial neural network and
statistical models. Acta Agronomica Sinica, v. 35, n. 2, p. 341-347, 2009.
85
77
7
SECAGEM, UMIDADE E
DENSIDADE DE TOCOS E
RAÍZES DE EUCALIPTO
A umidade da madeira é uma característica cuja determinação é muito importante, uma vez
que esta interfere em diversos aspectos no seu processamento. Encontra-se na literatura três tipos
mais frequentes de denominação: umidade, teor de água e, a que tem se tornado mais frequente, teor
de umidade. Esta última, apesar de ser cada vez mais utilizada, será evitada aqui, uma vez que há
entendimento de que umidade e teor sejam substantivos que caracterizam uma relação de
proporção, fazendo da expressão uma redundância.
A umidade é determinada em porcentagem e, por isso, existe outro ponto a ser considerado
com relação à referência usada na determinação deste percentual. A umidade pode ser determinada
em base úmida ou base seca (sendo a base seca a mais utilizada na literatura). A UBS (umidade em
base seca) e a UBU (umidade em base úmida) representam a mesma grandeza, a quantidade de água
contida na madeira, mas têm valores numéricos diferentes. Isso acontece porque este percentual é
determinado pelo método gravimétrico, ou seja, relaciona-se o peso da água existente na madeira
com o peso da madeira. A diferença entre os métodos está no fato de a UBS relacionar o peso da
água contida na madeira com o peso da madeira seca e a UBU relacionar o peso da água contida na
madeira com o peso da madeira úmida. No caso da UBS, é possível encontrar valores de umidade
acima de 100 %, uma vez que o peso da água contida na madeira pode ser maior que o próprio peso
da madeira.
O uso de umidade em base seca é mais comum na literatura, mas muitos instrumentos de
medição executam a leitura em base úmida, portanto, ao caracterizar um material é fundamental
informar o método pelo qual se obteve sua umidade, uma vez que condições idênticas podem gerar
valores numéricos muito diferentes para UBU e UBS e, consequentemente, levar a erros de
(1)
Onde:
UBS = Umidade em base seca (%)
PU = Peso da amostra de madeira úmida
PS = Peso da amostra de madeira seca
A umidade em base úmida (UBU) pode ser determinada pela Equação (2):
(2)
Onde:
UBU = Umidade em base úmida (%)
PU = Peso da amostra de madeira úmida
PS = Peso da amostra de madeira seca
Também, pode-se fazer a conversão de UBS para UBU utilizando-se da Equação (3) ou
Equação (4):
(3)
(4)
Onde:
UBU = Umidade em base úmida (%)
UBS = Umidade em base seca (%)
Neste capítulo, todos os valores de umidade são apresentados em base úmida (UBU).
UMIDADE NA MADEIRA
A madeira é um material orgânico complexo e não homogêneo, o que a faz ser higroscópica,
podendo ter sua umidade alterada com a simples variação da umidade relativa do ar (SILVA;
OLIVEIRA, 2003).
Existem dois tipos de água na madeira:
1) Água de capilaridade (água livre) localizada nos vasos, meatos, canais e lúmen das células,
79
87
podendo ser facilmente retirada. Quando toda a água de capilaridade é retirada da madeira,
remanescendo apenas a água de adesão (por exemplo: na secagem da madeira no campo), diz-se
que a madeira atinge o seu ponto de saturação das fibras (PSF) (SHMULSKY; JONES, 2011).
Normalmente, o ponto de saturação das fibras varia entre 22 % e 23 % de umidade em base úmida,
dependendo da espécie (MENEZES et al., 2014).
2) Água de adesão ou higroscópica (água presa), que é ligada às fibras da madeira. A retirada
da água higroscópica é mais difícil e mais lenta, sendo necessária a utilização de energia no processo
de secagem (SHMULSKY; JONES, 2011).
Outra característica importante a ser considerada sobre a umidade na madeira é que a perda de
água, seja ela ao ar ou em estufa, não acontece de forma homogênea, ou seja, até se atingir a umidade de
equilíbrio ou a secagem total, a umidade será maior quanto mais interno estiver o tecido analisado,
portanto, no caso de amostragem, deve-se fazê-la em pontos estratégicos que venham a representar o
todo.
No caso de florestas plantadas, seja para uso na produção de celulose ou na geração de energia, o
primeiro momento em que a umidade deve ser considerada é entre o processo de corte e o de
transporte, período conhecido como tempo pós corte, em que se deixa o fuste de eucalipto secando no
campo vários dias, antes de levá-lo à fábrica ou à caldeira. Este tempo, obviamente, tem influência direta
na umidade da madeira e é importante para o processo de produção, já que esta espera faz com que o
eucalipto que se encontra com umidades (UBU) normalmente acima de 60 % no momento do corte
chegue a umidades entre 29 e 35 %, não só facilitando e tornando mais barato o transporte, mas também
alcançando valores de umidade praticados para a queima da biomassa em caldeira, já que, nesta
situação, o material libera maior energia.
A relação entre o poder calorífico e a umidade é bastante intuitiva, pois sabe-se que, independentemente
de qual seja o material, os mais úmidos têm mais dificuldade para entrar em combustão. Como exemplos
práticos desta propriedade, Souza (2012) relatou ganhos energéticos de aproximadamente 100 %, indo de
aproximadamente 1500 kcal kg-1 para 3000 kcal kg-1, para costaneiras de Pinus taeda, quando sua umidade foi
de 58 % para 29 % (UBU). Outro exemplo prático, feito por Sturion (1990), descreveu o incremento energético
de 130 %, indo de aproximadamente 1300 kcal kg-1 para 3000 kcal kg-1, nas umidades de 52 % e 30 %,
respectivamente, para a madeira de bracatinga.
Até o momento da edição deste livro, não foi encontrado algum artigo que descrevesse a relação
entre a liberação de energia e a umidade especificamente para o eucalipto. É consensual que a madeira
se comportará de forma parecida para as diversas espécies e pode-se utilizar uma equação comum a
todas as espécies de árvore para calcular, a partir do poder calorífico superior, a energia útil liberada na
queima, que é aquela que desconsidera tanto a energia necessária para evaporar a água de formação
quanto as águas de capilaridade e adesão. Estes autores partem do pensamento de que a energia usada
para evaporação está relacionada à quantidade de água e não às propriedades da madeira e, portanto,
poderia se admitir uma equação geral (ver Capítulo 8) para determinação do poder calorífico útil.
SECAGEM
Os tocos e raízes de eucalipto podem ser usados para geração de energia térmica, assim como as
demais madeiras. Estes tocos e raízes, também, têm de ser secados antes da queima, sejam eles
arrancados logo após a colheita ou não, haja vista que, neste último caso, os tocos e raízes podem estar
úmidos mesmo depois de um longo período após o corte.
A secagem dos tocos e raízes e a precipitação pluviométrica, avaliados por 360 dias, podem
ser observados na Figura 1, e foram obtidos pela determinação da umidade dos cavacos de
eucalipto, amostrados conforme descrito no Capítulo 1.
Figura 1. Umidade média (%) de tocos e raízes de eucalipto secos ao ar nos diferentes dias
de estocagem e precipitação pluviométrica (mm), segundo rotação e clone. Barras
verticais representam os erros-padrões das médias.
H77
AEC 0144
81
89
AEC 0224
VM01
em que,
ŷ é a perda de massa de água estimada; α e β são os parâmetros estimados. Foi utilizado o
procedimento nlin (do Programa estatístico SAS Free Statistical Software, SAS University Edition.
Posteriormente, foram ajustados modelos lineares generalizados com a distribuição gama e função
de ligação logarítmica (NELDER; WEDDERBURN, 1972) para os parâmetros β do modelo anterior,
tendo como fatores clone e rotação.
Os parâmetros β médios dos modelos de cada tratamento estão representados na Tabela 1.
Médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas nas linhas, ou mesmas letras minúsculas nas
colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey Kramer (p<0,05).
Na primeira rotação, os clones AEC 0224 e AEC 0144 não diferiram estatisticamente entre si, e
possuem maior perda de água em relação aos clones H77 e VM01. Por outro lado, na segunda
rotação, observamos outro padrão de perda de água. O clone AEC 0224 difere estatisticamente dos
outros clones por possuir maior perda de água.
Apesar da maior perda de massa de água apresentada pelos clones, deve-se considerar que
isto pode ter acontecido pelo fato de esses clones se encontrarem com maior umidade inicial,
momento em que o material perde água mais rapidamente para o ambiente.
83
91
DENSIDADE DA MADEIRA E ENERGIA
Densidade, também chamada de massa específica, é a relação existente entre massa e volume
de um corpo, e sua unidade no SI é o kg m-³, no entanto é comum encontrar outras unidades em
artigos científicos e na literatura em geral. Na madeira usada para geração de energia, fica explícita a
importância de se ter conhecimento desta propriedade, já que a quantidade de energia presente é
dada em função de sua massa. Isso significa que um material com maior densidade terá maior massa
e, consequentemente, energia por unidade de volume.
Sobre a densidade da madeira, Englerth (1966) afirmou se tratar de um termo que seria
praticamente sinônimo de sua qualidade quando se pensa em questões estruturais, e não seria
exagero colocar esta propriedade entre as mais importantes, também, para fins energéticos, pois,
sabendo-se que o poder calorífico é dado em função da massa do material e que a energia por
unidade de massa varia pouco para as diferentes espécies, mas que a densidade tem grande
variação, pode-se concluir que, em se tratando de volume, o maior determinante da variação de
quantidade de energia na madeira será sua densidade, em outras palavras, ela pode ser considerada
o principal fator natural relacionado à concentração de energia no material.
A densidade da madeira é uma propriedade que apresenta variações em função da idade,
povoamento e, até mesmo, da posição dentro de uma mesma planta (REZENDE; SAGLIETTI;
GUERRINI, 1995).
Quanto à idade, sabe-se que quanto mais velha for a árvore, maior será sua densidade. Pereira
e Araújo (1990), por exemplo, encontraram densidade básica média de 430 kgm-³ para Eucalyptus
globulus com um ano de idade, enquanto Tomazello (1987) encontrou valores de 480 kg m-³ para a
mesma espécie com 10 anos de idade. Para Eucalyptus grandis, Ferreira (1972) encontrou variações
de 80 kg m-³ entre amostras de onze e dezesseis anos de idade, indo de 479 kg m-³ nos mais jovens,
até 559 kg m-³ nos indivíduos mais velhos.
Já dentro da planta, existem variações em todos os sentidos. Muitas variáveis podem influenciar nas
diferenças de densidade dentro de uma mesma árvore, fazendo com que um indivíduo possa ter
características que são difíceis de serem interpretadas.
Existem relatos na literatura que afirmam que a densidade em algumas espécies de eucalipto
tende a decrescer no sentido base topo ou apresentar diferenças não significativas (OLIVEIRA;
HELLMEISTER; TOMAZELLO FILHO, 2005).
Em contraponto, outros trabalhos afirmam que certas espécies de eucalipto apresentam
acréscimo da densidade do sentido da base para o topo e têm um valor médio que, simplificando o
entendimento de algumas equações, varia de 95 % a 114 % da densidade medida no DAP (diâmetro à
altura do peito) (FERREIRA, 1972).
Um fator importante a ser considerado antes de se entender a forma como se obtém as
densidades da madeira é o fenômeno da retração.
Em umidades abaixo do ponto de saturação das fibras, a madeira retrai ou expande ao sofrer
alteração em sua umidade (OLIVEIRA et al., 2010). Embora esta retração muitas vezes não seja
percebida tão facilmente a olho nu, ela é muito expressiva. Pode-se tomar como exemplo o próprio
estudo de Oliveira et al. (2010), que avaliaram sete espécies de eucalipto e relata retrações
volumétricas que variam de 15,9 % a 27,2 % quando totalmente secos, ou o de Batista et al. (2010),
que avaliaram três espécies de eucalipto e observaram variações que vão de 12,9 % a 20,2 % de
retração na mesma situação.
O eucalipto, de forma geral, tem uma madeira densa e sabe-se que a retração aumenta com o
aumento da densidade (KOLLMANN; COTE, 1968).
DENSIDADE APARENTE
(5)
Onde:
DA = Densidade aparente
MU = Massa na umidade em que a amostra se encontra
VU = Volume na umidade em que a amostra se encontra
DENSIDADE BÁSICA
A densidade básica também consiste na obtenção da relação entre massa e volume da amostra,
mas difere-se da aparente por considerar o volume da amostra saturada e a massa da matéria seca. O
volume saturado geralmente é obtido deixando-se a amostra submersa em água por vários dias, até que
esta atinja seu máximo volume. A densidade básica pode ser obtida pela Equação (6):
(6)
Onde:
DB = Densidade básica
MS = Massa da amostra seca
VSat = Volume da amostra saturada
Neste trabalho, os valores apresentados para os tocos e raízes de eucalipto são todos de
densidade básica.
85
93
DENSIDADE NOS TOCOS E RAÍZES DE EUCALIPTO
Tabela 2. Densidades médias ponderadas por massa (kg m-³), dos tocos e raízes, segundo
rotação e clone. Erro padrão da média entre parênteses.
1a Rotação 2a Rotação
Médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas nas linhas, ou mesmas letras minúsculas nas colunas, não
diferem estatisticamente pelo teste de Tukey Kramer (p<0,05).
Considerando a densidade ponderada dos tocos e raízes, o material que concentrou mais massa na
primeira rotação foi o H77, e na segunda rotação foi o VM01, ambos diferindo estatisticamente dos demais.
Entre primeira e segunda rotações, foi possível perceber um decréscimo estatisticamente
significativo na densidade básica dos tocos e raízes do clone H77 e AEC 0224 e um acréscimo no
clone AEC 0144. Para o clone VM01, não houve diferença estatística entre as rotações.
Os valores de densidade e a secagem observada tiveram comportamento muito semelhante ao
da madeira do fuste, encontrados na literatura. A julgar pelas propriedades estudadas neste capítulo,
não há objeções ao uso desta biomassa para fins energéticos.
REFERÊNCIAS
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três espécies de eucalyptus. Ciência Florestal, [s. l.], v. 20, n. 4, p. 665674, 2010.
GOMINHO, J.; LOURENÇO, A.; MIRANDA, I.; PEREIRA, H. Chemical and fuel properties of stumps biomass
from Eucalyptus globulus plantations. Industrial Crops and Products, [s. l.], v. 39, n. 1, p. 1216, 2012.
Disponível em: <https://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/S0926669012000611>. Acesso em: 12 jan. 2019.
KOLLMANN, F.; COTE, W. A. Principles of wood science and technology I - Solid wood. [s.l: s.n.].
MENEZES, W. M. De; SANTINI, E. J.; SOUZA, J. T. De; GATTO, D. A.; HASELEIN, C. R. Modificação térmica
nas propriedades físicas da madeira. Ciência Rural, [s. l.], v. 44, n. 6, p. 10191024, 2014.
NELDER, J. A; WEDDERBURN, R. W. Generalized linear models. Journal of the Royal Statistical Society
Series A, 135 (3): 370384, 1972. doi:10.2307/2344614.
OLIVEIRA, J. T. D. S.; HELLMEISTER, J. C.; TOMAZELLO FILHO, M. Variation of the moisture content and
specific gravity in the wood of seven Eucalypt species. Revista Árvore, [s. l.], v. 29, n. 1, p. 115127, 2005.
OLIVEIRA, J. T. S.; TOMAZELLO FILHO, M.; FIEDLER, N. C. Avaliação da retratibilidade da madeira de sete
espécies de Eucalyptus. Revista Árvore, [s. l.], v. 34, n. 5, p. 929936, 2010.
PEREIRA, H.; ARAÚJO, C. Raw-material quality of fast grown Eucalyptus globulus during the first year. IAWA
Bulletin, Leiden, [s. l.], v. 11, n. 4, p. 421427, 1990.
REZENDE, M. A.; SAGLIETTI, J. R. C.; GUERRINI, I. A. Estudo das interrelações entre massa específica,
retratibilidade e umidade da madeira do Pinus caribaea var. hondurensis aos 8 anos de idade. IPEF, [s. l.], v.
1, n. 48/49, p. 133141, 1995.
SHMULSKY, R.; JONES, P. D. Forest products and wood science : an introduction. [s.l.] : Wiley-Blackwell, 2011.
SOUZA, M. M.; SILVA, D. A.; ROCHADELLI, R.; SANTOS, R. C. Estimativa de poder calorífico e
caracterização para uso energético de resíduos da colheita e do processamento de pinus taeda. Floresta, [s.
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WESTFALL, P. H.; TOBIAS, R. D.; ROM, D.; WOLFINGER, R. D.; HOCHBERG, Y. Multiple Comparisons and
Multiple Tests Using the SAS System, Cary, NC: SAS Institute Inc., 1999.
95
87
8
PODER CALORÍFICO DOS
TOCOS E RAÍZES DE FLORESTAS
PLANTADAS DE EUCALIPTO
PODER CALORÍFICO
A utilização da biomassa florestal, sendo residual ou não, deve estar associada com o
conhecimento e entendimento de seu potencial produtivo, densidade básica e poder calorífico
superior, que é uma das propriedades energéticas mais importantes.
A composição química imediata (teores de umidade, cinzas, carbono fixo e materiais voláteis)
e o poder calorífico são balizadores para classificar as melhores fontes de energia (MONEDERO et al.,
2016, EUFRADE-JUNIOR et al., 2018).
O poder calorífico superior de qualquer material é definido como a quantidade de energia
liberada na forma de calor durante a combustão completa de uma unidade de massa do combustível
(CORTEZ et al., 2008). Considerando o Sistema Internacional de Unidades (SI), o poder calorífico de
combustíveis sólidos é expresso em joules por grama ou quilojoules por quilograma, embora, também,
seja utilizada tradicionalmente a caloria por grama ou quilocaloria por quilograma (QUIRINO, 2002).
O conteúdo energético é imprescindível para aumentar a eficiência nos sistemas de
conversão. No geral, são encontrados valores médios de poder calorífico superior da ordem de 14 a
21 MJ kg-1 (3343 a 5015 kcal kg-1) para diversas biomassas (DEMIRBAS, 2004). Para a madeira, o
poder calorífico superior médio é de 18,8 MJ kg-1 (4490 kcal kg-1) (KOLLMANN; CÔTÉ, 1968).
97
91
Algumas propriedades da madeira podem influenciar o valor do poder calorífico. A massa
específica e a umidade são os principais fatores, sendo que, quanto maior a umidade, maior será a
quantidade de energia necessária para evaporação da água, e, consequentemente, menor será a
produção de calor por unidade de massa .
A análise do Poder Calorífico Superior (PCS) de um material proporciona informação para o
cálculo do Poder Calorífico Inferior (PCI) e Poder Calorífico Útil (PCU). O PCS em termos de pesquisa é o
mais usual, pois durante a queima da madeira, esta produz água em forma de vapor, obtida a partir da
oxidação do hidrogênio do combustível. Essa água de formação condensa, liberando calor. O PCS leva
em consideração esse calor liberado pela condensação da água de formação, é por isso que o valor do
PCS será sempre mais elevado que o PCI e PCU.
Os valores do poder calorífico estão diretamente condicionados um ao outro, ou seja, para o
cálculo do PCI, é necessário ter o valor de PCS, bem como para calcular o PCU, necessita-se o valor
do PCI e o valor de umidade da biomassa (GATTO et al., 2003; TELMO; LOUSADA, 2011).
Segundo a Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR 11956 (1990), conceitua-se poder
calorífico superior (PCS) como: Calor produzido pela combustão da quantidade unitária de um sólido
ou líquido combustível, quando queimado a volume constante em uma bomba calorimétrica, sob
condições específicas tais, que toda água resultante esteja no estado líquido.
O poder calorífico da madeira está relacionado à quantidade de energia liberada (kcal) por
unidade de massa (kg) da matéria, quando submetida ao processo de combustão (SANTOS, 2012).
No caso da madeira, esta é constituída por hidrogênio, que no processo de combustão resulta, além
de outros compostos, na formação de água na forma gasosa, a qual, se for condensada, irá liberar o
calor de condensação. Quando se incluir o calor de condensação da água, o chamado calor latente
de vapor d'água, esse será chamado de Poder Calorífico Superior (PCS).
Na Tabela 1 estão apresentados os valores de PCS e propriedades da composição química
imediata utilizadas na escolha da biomassa para combustão. Vale ressaltar que para comparação
energética entre diferentes biocombustíveis e biomassas, deve-se considerar ainda o teor de lignina e
extrativos.
Tabela 1.
Análise imediata e poder calorífico para diversas fontes de biomassa para energia.
Resultados apresentados com valores médios seguido pelo desvio padrão.
Para os tocos de Eucalyptus globulus aos 24 anos de idade em diversos locais de Portugal,
Gominho et al. (2012) reportaram os valores médios de densidade básica - 630 kg m-3, teor de cinzas -
0,6 %, materiais voláteis - 81,1%, carbono fixo - 18,3 % e PCS - 18,9 MJ kg-1 (4514 kcal kg-1). Para as
florestas plantadas de eucalipto no Brasil, as informações acerca a qualidade e potencial energético
de tocos e raízes ainda são limitadas.
Para o poder calorífico inferior (PCI), a Associação Brasileira de Normas Técnicas NBR
11956 (1990) traz a seguinte definição: Calor produzido pela combustão da quantidade unitária de
um sólido ou líquido combustível, quando queimado a volume constante em uma bomba
calorimétrica, sob condições específicas tais, que toda água resultante esteja no estado de vapor.
O PCI é calculado a partir do PCS, sendo a energia efetivamente disponível por unidade de
massa de combustível após deduzir as perdas com a evaporação da água, ou seja, considera o teor
de umidade a que se encontra o material combustível. O poder calorífico inferior (PCI) pode ser
calculado a partir da Equação 1:
99
91
PCI = PCS - 600 × (9 x H/100) (1)
Onde:
PCI = poder calorífico inferior (kcal kg-1);
PCS = poder calorífico superior (kcal kg-1);
H = teor de hidrogênio (%)
O poder calorífico útil (PCU) é calculado com base no poder calorífico superior (PCS) e a
umidade da madeira (BRITO, 1993), sendo este definido pela quantidade de calor liberado pela
queima, considerando que a água resultante do processo esteja no estado gasoso. A umidade é um
dos principais fatores que reduzem a energia disponível para os processos energéticos, pois quanto
maior a umidade, maior a quantidade de energia necessária para a evaporação da água (GATTO et. al,
2003).
Deve-se lembrar que existe a água de capilaridade, que está livre no lúmen das células e nos
vasos, sendo de fácil remoção e; existe a água de adesão que está presente nas fibras da madeira, de
difícil remoção. Segundo Lima (2008) o ponto de saturação das fibras está entre 22 e 30 %, sendo
necessário, portanto, o gasto energético para a secagem da biomassa.
O poder calorífico útil (PCU) pode ser calculados a partir da Equação (2):
Onde:
PCI = poder calorífico inferior (kcal kg-1);
PCU = poder calorífico útil (kcal kg-1);
u = umidade do material - base úmida (%)
O PCS dos tocos e raízes foram determinados em 4 momentos durante os 360 dias de
estocagem e, estão apresentados nas Tabelas 2 a 4. Na prática, o PCU indica o valor real que poderá
ser obtido na combustão da biomassa e foi calculado com base na umidade dos materiais, descritos
na Tabela 5.
Tabela 2. Poder calorífico superior em MJ kg-1 e em kcal kg-1 entre parênteses para a
biomassa de tocos e raízes das florestas de eucalipto estudadas.
AEC 0144 1ª 17,2 (4120) 17,8 (4247) 17,3 (4133) 17,5 (4180)
AEC 0144 2ª 17,6 (4197) 18,0 (4310) 17,2 (4116) 17,5 (4177)
AEC 0224 1ª 17,6 (4209) 18,0 (4293) 17,4 (4147) 17,6 (4206)
AEC 0224 2ª 17,6 (4199) 17,9 (4270) 17,5 (4171) 17,6 (4215)
Tabela 3. Poder calorífico inferior em MJ kg-1 e em kcal kg-1 entre parênteses para a
biomassa de tocos e raízes das florestas de eucalipto estudadas.
AEC 0144 1ª 15,8 (3796) 16,4 (3923) 15,9 (3809) 16,1 (3856)
AEC 0144 2ª 16,2 (3873) 16,6 (3986) 15,8 (3792) 16,1 (3853)
AEC 0224 1ª 16,2 (3885) 16,6 (3969) 16,0 (3823) 16,3 (3882)
AEC 0224 2ª 16,2 (3875) 16,5 (3946) 16,1 (3847) 16,3 (3891)
101
91
Tabela 4. Poder calorífico útil (PCU) em MJ kg-1 e em kcal kg-1 entre parênteses para a
biomassa de tocos e raízes das florestas de eucalipto estudadas.
AEC 0144 1ª 5,5 (1325) 8,2 (1971) 10,3 (2466) 13,5 (3214)
AEC 0144 2ª 7,0 (1678) 8,7 (2089) 9,8 (2353) 13,2 (3141)
AEC 0224 1ª 6,6 (1587) 8,6 (2064) 9,7 (2307) 13,5 (3228)
AEC 0224 2ª 5,6 (1331) 7,3 (1745) 9,9 (2358) 13,3 (3175)
Tabela 5. Umidade (base úmida) da biomassa de tocos e raízes das florestas durante a
estocagem no campo.
O PCU aumentou com o tempo de estocagem, sendo esta, uma etapa muito importante para o
aproveitamento da biomassa residual de eucalipto. O estudo sugere que o uso de tocos e raízes,
para aproveitamento energético, deve acontecer a partir de 90 dias de estocagem, sendo que os
maiores valores de PCU foram encontrados aos 360 dias.
O efeito da estocagem e do clone no PCS foi apresentado na Tabela 6. Observa-se que o PCS
foi estatisticamente maior aos 90 dias de estocagem quando comparado com os outros períodos.
Tabela 6. Poder calorífico superior (PCS) em MJ kg-1 e o erro padrão da média (entre
parênteses) da biomassa de tocos e raízes das florestas durante a estocagem
no campo.
1ª Rotação
2ª Rotação
Médias acompanhadas das mesmas letras minúsculas na coluna (comparação entre os clones) e as mesmas
letras maiúsculas na linha (comparação entre os dias de estocagem) não diferem estatisticamente a 5% de
significância.
103
91
No geral, os valores de PCS do clone H77 manejado na primeira rotação foram maiores
quando comparado com os outros clones. Entretanto, na segunda rotação, este comportamento não
se repete, sendo que os quatro clones avaliados apresentaram, estatisticamente, o mesmo valor de
PCS.
De forma geral, durante o período avaliado, 360 dias, também, não houve rebaixamento do
PCS para os clones, independentemente da rotação.
Para fins de otimização operacional, os tocos e raízes apresentaram umidade abaixo de 35 %
(base úmida) aos 180 dias após arranquio, e pode aumentar em quase 100 % o PCU quando
comparado à biomassa recém-arrancada.
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INTRODUÇÃO
Uma prática que vem sendo utilizada na silvicultura nacional é a disposição de resíduos da
colheita florestal no campo, propiciando alguns benefícios, como estoque e disponibilidade de
nutrientes, conservação das propriedades físicas e mecânicas do solo. Contudo, o aumento da
demanda de biomassa para suprir as exigências do mercado energético, passou a ser parâmetro
importante para a tomada de decisão da utilização e aproveitamento desses resíduos. Existem,
contudo, alguns pontos importantes que podem ser analisados, como o efeito sobre a produtividade
do solo para futuras culturas, efeitos climáticos locais e globais, impactos na biodiversidade e a
sustentabilidade.
Dos resíduos florestais provenientes da colheita, os tocos e raízes remanescentes, por
apresentarem maior volume de biomassa, merecem atenção no tocante à pesquisa. O
conhecimento da composição química desses resíduos é importante para a caracterização dessa
biomassa e identificação de potenciais usos, inclusive fins energéticos.
DELINEAMENTO EXPERIMENTAL
107
Tabela 1. Propriedades químicas estudadas para caracterização química da madeira de tocos e
raízes de eucalipto e as respectivas metodologias adotadas para as determinações.
C, H, O, N, e S* Método Pregl-Dumas
Na análise estatística das características químicas imediatas, tendo como fatores clone,
rotação e tempo estocagem, e na análise estatística das características químicas estruturais e
características químicas elementares, tendo como fatores clone e rotação, foram ajustados modelos
lineares generalizados com a distribuição gama e função de ligação logarítmica (NELDER;
WEDDERBURN, 1972). Foi utilizado o procedimento genmod do Programa estatístico SAS Free
Statistical Software, SAS University Edition e para comparações entre tratamentos foi utilizado foi o
teste de Tukey-Kramer (WESTFALL et al., 1999).
Quando se tem por objetivo a utilização energética da biomassa, é importante salientar a íntima
relação do valor calorífico com os teores elementares de carbono, hidrogênio e oxigênio,
principalmente, mas também nitrogênio e enxofre. Diversos autores indicam ainda que as razões
entre os teores desses elementos químicos podem ser interessantes na avaliação energética da
biomassa, afirmando que proporções elevadas de oxigênio, em comparação com o carbono, geralmente
reduzem o potencial calorífico da biomassa, bem como altos teores de umidade, cinzas e nitrogênio
(DEMIRBAS, 2006; BRAND, 2010; YIN, 2011; CHOI; SUDIARTO; RENGGAMAN, 2014; VELÁZQUEZ-
MARTÍ et al., 2014).
Médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas nas linhas ou mesmas letras minúsculas nas colunas, não
diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer (p<0,05). Erro padrão da média entre parênteses.
109
Na Tabela 3 podem ser observadas as concentrações médias de fósforo (g kg-1), boro (mg kg-1),
cobre (mg kg-1) e cloro (%), que apresentam efeito estatístico significativo do fator clone.
O cobre (mg kg-1), além do efeito estatístico significativo do fator clone, apresentou também
efeito estatístico significativo do fator rotação, revelando valores médios de 3,56 mg kg-1 e 3,85 mg kg-1
para a segunda rotação. Os erros padrões das médias foram, respectivamente, 0,09 e 0,14 mg kg-1.
Elemento Clone
Médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas nas linhas não diferem estatisticamente pelo
teste de Tukey-Kramer (p<0,05), para os elementos. Erro padrão da média entre parênteses.
Tabela 4.
Médias e desvio padrão entre parêntesis, da concentração dos elementos químicos
carbono, hidrogênio, oxigênio, nitrogênio, enxofre e cloro da biomassa de tocos e
raízes comparadas à biomassa do fuste de clones comerciais de eucalipto com
idade entre 6 e 14 anos no Brasil em comparação à concentração média dos
mesmos elementos da biomassa de toco e raízes de Eucalyptus globulus de idade
entre 24 e 42 anos para fins energéticos.
* biomassa do fuste e biomassa de tocos e raízes de clones comerciais de eucalipto com idade entre 6 e 14 anos
cultivados no Brasil (dados do presente estudo).
** biomassa de tocos e raízes de E. globulus com idade entre 24 e 42 anos cultivados em Portugal (média
seguida de desvio padrão) (GOMINHO et al., 2012).
111
A análise estatística revelou interação tripla significativa (p < 0,05) entre os fatores
considerados (estocagem, clone e rotação). Dessa forma, foi estudada a interação dupla entre
estocagem e clone, segundo os níveis do fator rotação.
Os resultados da concentração média de materiais voláteis (%) da biomassa de tocos e raízes de
eucalipto analisada após 0, 90, 180 e 360 dias de estocagem em campo, considerando separadamente
as rotações, estão apresentados na Tabela 5.
Tabela 5.
Concentração média de materiais voláteis (%) presentes na biomassa de tocos e
raízes de quatro clones comerciais de eucalipto estocados durante o período de
até 360 dias (erro padrão da média entre parêntesis), considerando primeira e
segunda rotações separadamente.
0 90 180 360
Considerando cada uma das rotações separadamente, médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas
nas linhas ou mesmas letras minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer
(p<0,05). Erro padrão da média entre parênteses.
0 90 180 360
Considerando cada uma das rotações separadamente, médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas
nas linhas ou mesmas letras minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer
(p<0,05). Erro padrão da média entre parênteses.
113
O clone AEC 0224, comparado aos demais clones analisados neste estudo, apresentou os
maiores valores médios da concentração de cinzas na biomassa, tanto para primeira quanto para
segunda rotação.
Na primeira rotação os menores valores da concentração de cinzas foi encontrado aos 180
dias de estocagem para os clones estudados com exceção do clone H77, que apresentou o menor
valor médio em 360 dias de estocagem.
Na segunda rotação, cada clone apresentou uma tendência diferente de comportamento para
a variável ao longo dos tempos analisados de estocagem.
A concentração de carbono fixo é representada pela biomassa remanescente após a liberação
da matéria volátil, excluindo o teor de cinzas e umidade. Isso difere do teor máximo de carbono da
amostra de biomassa, uma vez que uma parte do carbono é liberada na forma de hidrocarbonetos
com a matéria volátil. Maiores concentrações de carbono fixo indicam maior tempo de residência da
biomassa no processo de combustão (VASSILEV et al., 2010; SINGH; MAHANTA; BORA, 2017).
As concentrações médias de carbono fixo na biomassa de toco e raízes de eucalipto, na
estocagem 0, 90, 180 e 360 dias, considerando separadamente as rotações estão apresentados na
Tabela 7.
Tabela 7. Concentrações médias de carbono fixo (%) da biomassa de tocos e raízes de quatro
clones comerciais de eucalipto estocados durante o período de até 360 dias (erro padrão
da média entre parênteses), considerando primeira e segunda rotações separadamente.
0 90 180 360
Considerando cada uma das rotações separadamente, médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas
nas linhas ou mesmas letras minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer
(p<0,05). Erro padrão da média entre parênteses.
A biomassa de tocos e raízes de eucalipto apresenta a composição da parede celular das fibras
basicamente formada por celulose, hemiceluloses, ambos polímeros de polissacarídeos chamados de
holocelulose, e lignina, essencialmente moléculas aromáticas e fenólicas.
As estruturas de natureza aromática apresentam maior estabilidade molecular, como é o caso da lignina
e de alguns grupos de extrativos, consequentemente maior resistência à degradação térmica, além de
apresentar menor grau de oxidação quando comparado aos polissacarídeos, portanto, representa um
importante papel na decomposição térmica da madeira, evidenciando que a composição estrutural
da biomassa é extremamente importante para sua análise energética (VASSILEV et al., 2010;
SILVA et al., 2014; VAZ JÚNIOR, 2015; SINGH; MAHANTA; BORA, 2017; WANG; HOWARD, 2018).
As concentrações médias de lignina insolúvel, extrativos totais e holocelulose presentes na
biomassa de tocos e raízes de eucalipto em primeira e segunda rotação estão apresentados nas
Figuras 1, 2 e 3, respectivamente.
Figura 1. Concentração média de lignina insolúvel (%) da biomassa de tocos e raízes, segundo
clone e rotação. Médias acompanhadas de mesmas letras minúsculas em cada clone
não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer (p<0,05). Médias
acompanhadas de mesmas letras maiúsculas em cada rotação não diferem
estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer (p<0,05).
115
A primeira rotação apresentou maiores valores estatisticamente significativos da
concentração de lignina insolúvel comparada à segunda rotação para os clones AEC 0144 e
AEC 0224. Os clones H77 e VM01 não apresentaram diferença entre as rotações. Não houve
diferença entre os quatro clones analisados para cada rotação, com exceção do clone VM01 na
primeira rotação que apresentou menor média comparado aos demais clones também de primeira
rotação.
Figura 2. Concentração média de extrativos totais (%) da biomassa de tocos e raízes, segundo
clone e rotação. Médias acompanhadas de mesmas letras minúsculas em cada clone
não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer (p<0,05). Médias
acompanhadas de mesmas letras maiúsculas em cada rotação não diferem
estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer (p<0,05).
Médias acompanhadas de mesmas letras minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de
Tukey-Kramer (p<0,05).
117
A biomassa de tocos e raízes apresentou, estatisticamente, maior concentração de lignina
insolúvel e extrativos totais e menor concentração de holocelulose quando comparada à biomassa do
fuste da mesma plantação comercial de clones de eucalipto.
Além da composição química estrutural da madeira, foi avaliada a solubilidade da biomassa
dos tocos e raízes em hidróxido de sódio (NaOH) 1%. Esta metodologia pode indicar o grau de
decomposição causada por fungos ou o grau da degradação gerado em consequência do calor, da
luz, da oxidação etc. Essa solução alcalina remove extrativos e carboidratos de baixa massa
molecular, que consistem, principalmente, em algumas hemiceluloses e celulose degradadas (ABNT,
2010).
Os valores de solubilidade em NaOH 1% analisados em cada clone e rotação, durante o
período de estocagem de até 360 dias, estão apresentados na Tabela 9.
0 90 180 360
H77 1ª 26,99 aA 20,16 aC 20,58 aBC 21,21 aB
(0,07) (0,12) (0,09) (0,30)
Considerando cada uma das rotações separadamente, médias acompanhadas de mesmas letras maiúsculas
nas linhas ou mesmas letras minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de Tukey-Kramer
(p<0,05). Erro padrão da média entre parênteses.
Tabela 10. Solubilidade em NaOH 1% média de tocos e raízes e fuste de árvores de eucalipto
provenientes de plantações comerciais do Brasil.
18,3 b
Tocos e raízes (0,63)
21,1 a
Fuste
(0,52)
Médias acompanhadas de mesmas letras minúsculas nas colunas, não diferem estatisticamente pelo teste de
Tukey-Kramer (p<0,05). Erro padrão da média entre parênteses.
119
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A biomassa dos clones analisados não diferiram, nem mesmo entre rotações, quanto à
concentração elementar de carbono e oxigênio, equiparando-os neste quesito sob o ponto de vista
energético.
O clone AEC 0144 apresentou os maiores valores de concentração elementar de hidrogênio,
tanto para primeira quanto para segunda rotação, o que pode influenciar o resultado das
propriedades poder calorífico inferior e útil.
A concentração de cloro na biomassa de toco e raízes dos clones H77 e AEC 0144 foi menor
quando em comparação aos demais clones.
Para as propriedades químicas imediatas, o clone H77 e o clone VM01 na segunda rotação
apresentaram maiores concentrações de carbono fixo, o que é um indício de um bom potencial
energético.
O clone AEC 0224 apresentou a maior concentração de cinzas, resultando em maior
quantidade de resíduos da queima dessa biomassa.
Estruturalmente, a concentração de lignina insolúvel apresentou-se, no geral, constante entre
as biomassas de tocos e raízes dos diferentes clones e rotações e a concentração de extrativos totais
foi relativamente maior na primeira rotação em comparação à segunda rotação.
A biomassa de tocos e raízes apresentou maior concentração de lignina insolúvel e extrativos
comparada à biomassa do fuste das árvores, indicando seu potencial para geração de energia.
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O uso da biomassa florestal como fonte de energia tem sido estimulado devido a aspectos
ambientais e econômicos. Pelo lado ambiental, existe a necessidade de se mitigar as emissões de
gases do efeito estufa, reduzir o consumo de fontes não renováveis e proteger as florestas nativas
(FAO, 2011; PAYN et al., 2015). Do ponto de vista econômico, fatores como as fortes oscilações nos
preços dos combustíveis fósseis, a busca por maior segurança energética e o desenvolvimento
tecnológico da exploração de recursos renováveis têm incentivado a geração de energia a partir da
biomassa florestal oriunda de florestas plantadas (SANTOS; COLODETTE; QUEIROZ, 2013; ZHANG;
STENGER; HAROU, 2015).
A matriz energética brasileira é considerada limpa pelo uso intensivo das fontes de energia
renováveis. Enquanto o Brasil produziu, em 2017, 42,9 % de sua energia proveniente de fontes
renováveis (incluindo hidroeletricidade), o mundo produziu 24,3 % no mesmo ano. Mesmo com a
importância atual da biomassa, esta fonte de energia pode se tornar ainda mais promissora quando
somada aos resíduos das atividades de base florestal, neste caso, em particular, o uso de tocos e
raízes das florestas, para a geração de energia (BP ENERGY ECONOMICS, 2018; MME, 2018).
Existem questões importantes relacionadas às cinzas da biomassa residual florestal, com
destaque para a quantidade produzida, o efeito durante sua formação, bem como destinação
adequada e sustentável. As cinzas podem ser definidas como partículas finas que se levantam junto
com os gases gerados pela combustão, que são capturados nas chaminés, geralmente por filtros
hidrostáticos, antes que sejam liberados para o ambiente (CACURO; WALDMAN, 2015).
As cinzas da biomassa de tocos e raízes de espécies florestais podem ter composições
variadas, dependendo do material utilizado e dos parâmetros do processo de combustão, como a
temperatura, o tempo de queima e porcentagem de umidade do material, além de fatores externos ao
processo de combustão, como o tipo de solo, biomassa, método de colheita, etc. Além disso, o
mesmo tipo de biomassa pode apresentar diferenças nas suas características devido a fatores de
crescimento e produção, como por exemplo o clima, o armazenamento e a sua origem geográfica,
definindo assim as cinzas como um material heterogêneo, tanto em sua composição química, quanto
em sua morfologia, com partículas de diferentes formas e tamanhos (GATTO et al., 2003).
A cinza resultante da combustão de biomassa representa entre 0,2 % a 20 % do material,
123
dependendo do tipo e origem da biomassa. As cinzas de biomassa são maioritariamente constituídas
por cálcio, magnésio, potássio, fósforo, sódio, manganês e enxofre, enquanto que são deficientes em
nitrogênio (WENZL, 1970; INSAM; KNAPP, 2011).
Procurando identificar e quantificar os elementos que constituem as cinzas resíduo da
combustão completa de tocos e raízes de clones de eucaliptos foi realizada análise de
espectroscopia de raios X por dispersão em energia (EDS) no Laboratório CCDPN-LIEC, do Instituto
de Química de Araraquara da Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (UNESP).
Comparativamente, realizou-se o levantamento dos mesmos elementos presentes no fuste de
indivíduos representantes dos mesmo materiais. Foram identificados 13 elementos químicos mais
frequentes constituindo a cinza, cujos valores médios, tanto da biomassa de tocos e raízes quanto da
biomassa do fuste, dos quatro clones e duas rotações estudados seguem apresentados na Tabela 1.
Biomassa de tocos
Elemento Sigla e raízes Biomassa do fuste
36,18 b 42,37 a
Oxigênio (%) O (1,72) (0,95)
28,56 b 36,40 a
Cálcio (%) Ca (2,34) (2,22)
7,43 a 4,07 b
Potássio (%) K (0,60) (0,98)
5,63 a 6,83 a
Magnésio (%) Mg (0,55) (0,57)
4,73 a 1,57 b
Fósforo (%) P (0,62) (0,20)
4,53 a 1,34 b
Sódio (%) Na (0,71) (0,26)
3,26 a 1,98 a
Manganês Mn (0,58) (0,41)
2,91 a 1,53 b
Alumínio Al (0,35) (0,35)
Médias acompanhadas de letras minúsculas (comparação em linha - biomassa de tocos e biomassa do fuste) e erro
padrão da média (entre parênteses). Letras diferentes diferem estatisticamente a 5% de significância pelo teste de Tukey.
Figura 1. Imagem de cinza de tocos e raízes de eucalipto indicando cenosfera (a) capturada
por microscopia eletrônica de alta resolução com feixe de elétrons secundários e
analisada por espectroscopia de raios X por dispersão em energia (EDS).
Indicando a presença dos elementos oxigênio e alumínio (b).
a b
Outras estruturas com formatos distintos são encontradas nas cinzas de biomassa,
podendo apresentar morfologia e composição química também distintas. Utilizando a técnica da
obtenção de imagem por elétrons retroespalhados (que detectam diferenças de compostos
químicos no material analisado identificados por diferentes tons de cinza na imagem final), dois
pontos com tons de cinzas diferentes foram selecionados para realização do EDS, revelando que
não há diferença qualitativa entre esses pontos, pois os mesmos elementos são encontrados nas
duas regiões, o que se observa é a diferença quantitativa entre esses elementos, conforme
identificado nos gráficos de EDS (Figura 2).
125
Figura 2. Imagem de microscopia eletrônica de alta resolução com elétrons retroespalhados
e análise de EDS sobre dois pontos quimicamente distintos das cinzas de tocos e
raízes de eucaliptos.
2
x
1
x
2
Considerando o fato de que em diferentes estruturas das cinzas são comumente identificados
os mesmos elementos predominantes, apresentando apenas particularidades no que tange à
quantificação desses elementos, analisando regiões maiores, amostrando áreas constantes
(consequentemente volumes muito aproximados), com maior conteúdo de cinzas, considerou-se
possível realizar a qualificação e quantificação do conteúdo elementar das cinzas (Figura 3).
127
Tabela 2. Total de cada elemento (kg ha-1 ano-1) extraído do solo na forma de cinza da
biomassa de tocos e raízes de quatro clones de eucalipto em duas rotações.
Rotação elemento 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª
nas cinzas
IMA (Mg ha-1 ano-1) 5,2 3,0 6,0 4,9 6,4 7,3 5,1 5,2
Teor de cinzas (%) 0,513 0,520 1,437 0,782 0,923 0,678 0,738 1,070
Cinzas (kg ha-1 ano-1) 26,7 15,6 86,2 38,3 59,1 49,5 37,7 55,6
O (kg ha-1 ano-1) 36,18 9,64 5,65 31,18 13,87 21,37 17,90 13,62 20,13
Ca (kg ha-1 ano-1) 28,56 7,61 4,46 24,62 10,95 16,87 14,13 10,75 15,89
K (kg ha-1 ano-1) 7,43 1,98 1,16 6,40 2,85 4,39 3,68 2,80 4,13
Mg (kg ha-1 ano-1) 5,63 1,50 0,88 4,85 2,16 3,33 2,79 2,12 3,13
P (kg ha-1 ano-1) 4,73 1,26 0,74 4,08 1,81 2,79 2,34 1,78 2,63
Na (kg ha-1 ano-1) 4,53 1,21 0,71 3,90 1,74 2,68 2,24 1,71 2,52
Mn (kg ha-1 ano-1) 3,27 0,87 0,51 2,82 1,25 1,93 1,62 1,23 1,82
Al (kg ha-1 ano-1) 2,91 0,78 0,45 2,51 1,12 1,72 1,44 1,10 1,62
S (kg ha-1 ano-1) 2,45 0,65 0,38 2,11 0,94 1,45 1,21 0,92 1,36
Fe (kg ha-1 ano-1) 2,14 0,57 0,33 1,84 0,82 1,26 1,06 0,81 1,19
Si (kg ha-1 ano-1) 2,00 0,53 0,31 1,72 0,77 1,18 0,99 0,75 1,11
Ti (kg ha-1 ano-1) 0,120 0,032 0,019 0,103 0,046 0,071 0,059 0,045 0,067
Cl (kg ha-1 ano-1) 0,050 0,013 0,008 0,043 0,019 0,030 0,025 0,019 0,028
Tabela 3. Total de cada elemento (kg ha-1 ano-1) extraído do solo na forma de cinza da
biomassa do fuste de quatro clones de eucalipto em duas rotações.
Rotação elemento 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª 1ª 2ª
nas cinzas
IMA (Mg ha-1 ano-1) 19,1 26,5 21,5 19,2 16,8 20,8 14,9 17,1
Teor de cinzas (%) 0,395 0,476 0,390 0,602 0,400 0,410 0,136 0,343
Cinzas (kg ha-1 ano-1) 75,5 126,1 83,8 115,7 67,3 85,3 20,3 58,7
O (kg ha-1 ano-1) 42,37 31,99 53,43 35,49 49,01 28,51 36,13 8,59 24,87
Ca (kg ha-1 ano-1) 36,40 27,48 45,90 30,49 42,11 24,49 31,04 7,38 21,37
K (kg ha-1 ano-1) 4,07 3,07 5,13 3,41 4,71 2,74 3,47 0,82 2,39
Mg (kg ha-1 ano-1) 6,83 5,16 8,61 5,72 7,90 4,60 5,82 1,38 4,01
P (kg ha-1 ano-1) 1,57 1,19 1,98 1,32 1,82 1,06 1,34 0,32 0,92
Na (kg ha-1 ano-1) 1,35 1,02 1,70 1,13 1,56 0,91 1,15 0,27 0,79
Mn (kg ha-1 ano-1) 1,98 1,50 2,50 1,66 2,29 1,33 1,69 0,40 1,16
Al (kg ha-1 ano-1) 1,53 1,16 1,93 1,28 1,77 1,03 1,30 0,31 0,90
S (kg ha-1 ano-1) 0,71 0,54 0,90 0,59 0,82 0,48 0,61 0,14 0,42
Fe (kg ha-1 ano-1) 1,53 1,16 1,93 1,28 1,77 1,03 1,30 0,31 0,90
Si (kg ha-1 ano-1) 1,40 1,06 1,77 1,17 1,62 0,94 1,19 0,28 0,82
Ti (kg ha-1 ano-1) 0,100 0,076 0,126 0,084 0,116 0,067 0,085 0,020 0,059
Cl (kg ha-1 ano-1) 0,150 0,113 0,189 0,126 0,174 0,101 0,128 0,030 0,088
129
Figura 4.
Relação entre a quantidade de cinzas exportada por hectare por ano (kg ha-1 ano-1)
da biomassa de tocos e fuste e da biomassa de fuste.
Os clones AEC 0224 e VM01 na primeira rotação e H77 na segunda rotação apresentam
quantidade de cinza exportada por hectare por ano aproximadamente iguais (próximo de 100 %
originadas tanto da biomassa de tocos e raízes quanto da biomassa do fuste. A biomassa do clone
H77 na primeira rotação apresentou quase duas vezes mais massa de cinzas na biomassa de tocos e
raízes em comparação à biomassa do fuste (186 %). Os clones que apresentaram menor relação (12 %,
33 %, 35 % e 58 %) são, respectivamente, os clones AEC 0144 na segunda rotação, AEC 0224 na
segunda rotação, AEC 0144 na primeira rotação e VM01 na segunda rotação.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A massa de cada elemento analisado (oxigênio, cálcio, potássio, magnésio, fósforo, sódio,
manganês, alumínio, enxofre, ferro, silício, titânio e cálcio) exportada nas cinzas da biomassa de tocos e
raízes e da biomassa de fuste por unidade de área por ano é uma informação que pode nortear discussões e
auxiliar tomadas de decisões, ao final de todo processo natural ou industrial da utilização da floresta, do
que, onde e como pode ser efetivamente realizado ou descartado ou até reaproveitado nas cinzas
dessas biomassas.
As características similares entre as cinzas da biomassa de tocos e raízes e da biomassa de fuste
indicam que a destinação do resíduo pode ser similar, ou seja, o que é tecnicamente indicado e na prática
executado com respeito às cinzas da biomassa do fuste, que é biomassa amplamente utilizada
comercialmente, também pode ser realizado com as cinzas da biomassa de tocos e raízes.
A análise e o estudo das propriedades químicas são muito importantes para o desenvolvimento de
processos de utilização e descarte da biomassa de tocos e raízes. As cinzas provenientes da queima de
biomassa de tocos e raízes, assim como as cinzas provenientes da queima do fuste, apresentam
similaridades em sua caracterização elementar tanto qualitativa quanto quantitativamente.
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A Âmbar Energia Ltda, empresa do Grupo J&F, que exerce atividades de geração e transmissão
de energia elétrica, iniciou em Abril de 2017 um Projeto de P&D no âmbito da ANEEL (Agência
Nacional de Energia Elétrica), com o objetivo de estudar as características físico-químicas e o
potencial energético da biomassa residual de florestas clonais de eucalipto, focando,
exclusivamente, nos tocos e raízes, cujos resultados estão bem colocados neste documento.
Considerando que grandes extensões de áreas estão ocupadas por florestas plantadas de Pinus
spp., principalmente nas regiões Sul e Sudeste do Brasil, e dado o desconhecimento da
potencialidade energética dos tocos e raízes das espécies desse gênero e, não encontrando
informações consistentes na literatura com referência a estudos realizados no Brasil, definiu-se que
também seria importante conhecer as características físico-químicas e o potencial energético dos
tocos e raízes desse gênero, visando seu uso para queima direta, em forma de cavacos, para geração
de calor e energia elétrica.
Assim, estabeleceu-se a necessidade de realizar um estudo, nos moldes que se estaria
estudando, exaustivamente, com tocos e raízes de Eucalyptus spp. mas, face à falta de recursos
orçamentários do P&D, optou-se por realizar apenas um ensaio de caráter exploratório, com o objetivo
de obter tais informações, estabelecendo a marcha de secagem e avaliando o grau de deterioração da
madeira de tocos e raízes de Pinus taeda, estocados em condições de campo, fundamentais para
avaliação da sua aptidão como fonte primária de energia em processos termoquímicos.
Com este objetivo, de obter informações técnicas sobre a biomassa de tocos e raízes de Pinus
taeda, para analisar a viabilidade de implantação de uma usina termelétrica, foi autorizado pela Klabin
S.A. o arranquio dos tocos e raízes cujas análises físico-químicas foram realizadas no laboratório do
Instituto Senai de Tecnologia em Celulose e Papel (ISTCP), do SENAI - Serviço Nacional de
Aprendizagem Industrial - Departamento Regional do Paraná, Unidade de Telêmaco Borba.
A Klabin S.A. disponibilizou uma área que atendia aos fins estabelecidos e que, ao mesmo tempo,
por ter características representativas do padrão de manejo das suas florestas de Pinus taeda.
A área de amostragem foi um talhão comercial de Pinus taeda, recém-colhido (menos de um
mês), com espaçamento de 3,0 x 3,0 m, relevo suavemente ondulado, latossolo vermelho, corte raso
no 14º ano pós-plantio, sem desbastes intermediários. Para o arranquio dos tocos e raízes foi
descartada uma bordadura dupla para evitar a coleta de indivíduos maiores, diferentes do interior dos
133
talhões, com intuito de não comprometer a amostragem.
Foram arrancados 190 tocos e raízes, separados em dois lotes amostrais, conforme descrição
abaixo:
Bloco 01: 50 tocos e raízes, estocados em condições de campo, que foram pesados no dia
do arranquio e, depois, a cada 30 dias, até o 180º dia após o arranquio. Foram 7 pesagens dos
mesmos tocos e raízes, com a finalidade de se estabelecer a marcha de secagem.
Bloco 02: 140 tocos e raízes, separados em 7 lotes com 20 tocos e raízes cada, que foram
cavaqueados, sendo o primeiro no momento zero - 1º dia após o arranquio - e os demais a cada 30
dias. Em todos os lotes foram coletadas duas amostras compostas. Os lotes não sofreram nenhum
tipo de tratamento (limpeza, lavagem, agitação, etc.) até o momento em que foram cavaqueados,
ficando expostos às condições ambientais durante todo o período.
O arranquio foi realizado com uma escavadora hidráulica de 20 toneladas, com concha padrão
para escavação, o que resultou num maior grau de contaminação dos tocos e raízes, com maior
aderência de solo, que pode ter acarretado em distorções nos resultados das análises laboratoriais.
Ressalta-se que esta contaminação prejudica a operação de cavaqueamento em função da sua alta
abrasividade, acelera o desgaste das ferramentas (facas ou martelos, dependendo do modelo do
equipamento utilizado), bem como aumenta a necessidade de manutenções, além de tornar
obrigatório o peneiramento dos cavacos antes do seu uso em caldeiras. Desta forma, são
apresentados os resultados das análises físico-químicas dos cavacos, conforme relatórios emitidos
pelo ISTCP.
RESULTADOS
A primeira amostra de cavaco, no momento zero, foi produzida com um picador móvel
fabricado pela CBI e as demais amostras foram realizadas em um picador fixo, marca Planalto. No
momento zero, também, foram produzidas amostras de cavacos com o picador fixo para efeito de
comparação de granulometria dos mesmos, apresentado na Tabela 1 e, ainda, para determinação da
análise imediata e elementar da madeira.
Os resultados da análise imediata revelaram o teor de carbono fixo - 17,40 %, teor de materiais
voláteis - 81,53 % e de cinzas - 1,07 %. Para a análise elementar da madeira observou-se o teor de
carbono (C) - 32,03 %, hidrogênio (H) - 7,67 % e oxigênio (O) - 52,95 %.
Ø 45 mm 23,38 % 10,70 %
Ø 7 mm 0,66 % 1,80 %
Ø 3 mm 0,29 % 0,56 %
Estes dados têm um efeito ilustrativo, pois na prática pode-se regular os equipamentos de tal
modo que atendam as especificações granulométricas desejadas para os cavacos a serem
produzidos, considerando o tipo de caldeira, por exemplo.
Neste ensaio a densidade básica da madeira de tocos e raízes de Pinus taeda foi de 0,29 g cm-³.
Ainda, foi avaliada a densidade aparente do cavaco pois é um fator impactante no transporte do
material e pode ser influenciada pela queda do teor de extrativos e solubilidade em hidróxido de
sódio, que representa perda de massa do material por volatilização, no caso de extrativos e por
degradação microbiológica (mineralização da matéria orgânica). Pelos resultados apresentados na
Tabela 2, observou-se que aos 60 dias ocorreu um incremento na densidade aparente do material.
No caso das análises de umidade, verificou-se uma variação de 30 a 70 %, porém, a tendência
é entrar em equilíbrio com o ambiente e é esperada a redução da umidade no material com o passar
do tempo. No entanto, por influência do meio (precipitação pluviométrica, principalmente), pode
ocorrer aumentos pontuais na umidade, como observado na Tabela 2, mas que, cessada a condição,
retorna ao patamar anterior de umidade.
Dias
Densidade
aparente 0,180 0,170 0,200 0,160 0,147 0,135 0,134
(g cm- ³)
Quanto maior o tempo de estocagem dos tocos e raízes no campo, sujeitos às intempéries,
maior é a sua degradação. Mesmo com a redução de umidade, supõe-se que a população de
microrganismos ainda permaneça grande e, como consequência, pode causar este aumento da
degradação da matéria orgânica. Conforme a Tabela 3, o leve aumento no teor de cinzas no 180º dia
pode ter sido influenciado pela amostragem ou mesmo pelas condições do meio de estocagem em
função das condições climáticas, como se constatou no aumento da umidade dos cavacos.
As variações dos teores de cinzas da queima da madeira podem ser atribuídas à incorporação
de porções de solo (materiais inorgânicos) aos cavacos. Para este ensaio, confirmou-se a
contaminação dos tocos e raízes durante o manuseio, e os diferentes teores de cinzas observados
deve-se aos diferentes graus de contaminação das amostras. Com o passar do tempo observou-se
uma certa redução da contaminação, provavelmente, em função das chuvas, que de uma certa forma
podem ter lavado os materiais.
135
Tabela 3. Resultados das análises de solubilidade, extrativos totais e cinzas dos cavacos.
Dias
Solubilidade em água
quente (%) 6,42 ND ND ND ND ND ND
Solubilidade em hidróxido de
sódio 1% (%) ND 9,93 10,47 17,23 10,16 11,82 13,29
Cinzas (%)
1,07 1,54 1,55 0,62 0,51 0,45 0,92
PODER CALORÍFICO
Considerando as variações intrínsecas dos materiais envolvidos, fica evidente que há uma
tendência de incremento no poder calorífico útil ao longo do tempo, estando diretamente
relacionado à redução da umidade. Entretanto, após um determinado período, esta tendência pode
se reverter para a redução do poder calorífico, muito provavelmente devido à ação de
microrganismos que degradam a matéria prima e também à redução de extrativos, que volatilizam
com o passar do tempo.
De modo geral, os tocos e raízes de Pinus taeda analisados podem ser utilizados para geração
de energia, pois possuem poder calorífico superior na ordem de 4600 kcal kg-1 semelhante a energia
fornecida por madeiras de Eucalyptus citriodora e Eucalyptus cloeziana. Sabe-se que para melhor
rendimento energético, a umidade da madeira deve estar abaixo de 25 %, o que ocorreu após 90
dias da amostragem.
Na Tabela 4, alguns pontos fora da linearidade da variável, podem ser creditados às possíveis
condições das amostragens, tais como diferenças entre indivíduos, umidade atmosférica,
exposição a intempéries e ao grau de contaminação das amostras pelo solo.
Realizou-se uma série de pesagens de tocos e raízes armazenados separadamente para este
fim (Bloco 01 - 07 lotes), com as quais pode-se entender um pouco do comportamento da secagem
deste tipo de biomassa, quando armazenada em condições de campo, conforme apresentado na
Tabela 5.
Dias
137
CONSIDERAÇÕES SOBRE LOGÍSTICA DE TRANSPORTE DE
CAVACOS
Pode-se utilizar o PCS, PCI ou PCU como base para os cálculos que definirão o melhor momento
para cavaquear os tocos e raízes e transportá-los para o local de consumo. O transporte sempre deve
ocorrer após o peneiramento dos cavacos, essencial para reduzir o grau de impureza mineral.
Independentemente de outras características da biomassa, são importantes para estes cálculos, de
PCI e de PCU, os teores de hidrogênio e de umidade.
Ademais, a densidade básica da madeira dos tocos e raízes (Db) e a densidade aparente dos
cavacos (Da) que, em combinação com a umidade de cavacos, são informações básicas para se
quantificar o peso seco do metro cúbico de cavaco. Obtido este, calcula-se o poder calorífico útil
(PCU) contido em metro cúbico (MJ m-3) e daí se calcula o PCU por tonelada de cavaco, base seca,
conforme a Tabela 6.
Dias
Db 0,29 ND ND ND ND ND ND
(g cm-3)
PCS
4523 4397 4428 4628 4547 4896 4619
(kcal kg-1)
PCI
17,6 17,1 17,2 18,0 17,7 19,1 18,0
(MJ kg-1)
PCI
4203 4084 4108 4299 4227 4562 4299
(kcal kg-1)
PCU
9,4 8,8 9,4 13,4 13,5 14,9 11,5
(MJ kg-1)
PCU
2245 2101 2245 3200 3224 3558 2746
(kcal kg-1)
Tabela 7. Peso seco calculado e conteúdo energético das cargas conforme o volume a ser
transportado.
Dias
-1 -1
m³ carga t carga
Conforme os dados apresentados, para tocos e raízes de Pinus taeda, nas condições em que
foi realizado o ensaio exploratório, o tempo ideal de estocagem no campo foi de 90 dias, quando se
observa o maior conteúdo de energia por viagem e, consequentemente, tem-se o menor custo de
frete por unidade de energia, independente do tamanho do veículo utilizado.
139
12
PIRÓLISE DE TOCOS E RAÍZES
DE EUCALIPTO
Processo
Pirólise
Tecnologia
Leito Fluidizado
Carvão
Biomassa Ácidos Orgânicos Produtos para
Padronizado de
Padronizada Biodegradáveis Comercialização
Alta Performance
Líquida (BPL) (BOA)
(CAP)
141
ACONDICIONAMENTO E CARACTERIZAÇÃO DA BIOMASSA
As primeiras operações realizadas com os tocos e raízes de dois clones de eucalipto (AEC 0144
e VM01), cultivados em segunda rotação, foram: secagem, trituração, moagem e armazenamento,
com o intuito de garantir parâmetros fluidodinâmicos no reator de pirólise compatíveis com o diâmetro
da areia utilizada como composto inerte no leito.
Algumas características dos clones foram determinadas após as operações unitárias, e estão
descritas na Tabela 1.
Os tocos e raízes de ambos os clones foram pirolisados em planta piloto da BIOWARE modelo
SIVOBI-P-30 (Figura 2).
143
A unidade de pirólise contínua possui capacidade de processar 30 kg h-1. Uma vez
acondicionada e armazenada a amostra, a mesma é alimentada de forma manual ao silo, que na parte
interior apresenta um agitador e no fundo a rosca alimentadora que injeta a amostra no reator de
pirólise na parte superior da areia usada como leito.
O início da operação consiste no aquecimento da areia mediante resistência elétrica. A areia
quente é fluidizada com ar proveniente de um ventilador centrífugo até conseguir perfis de temperatura
próximos a 500 ºC em regime estacionário. Após, inicia-se a alimentação da biomassa sendo sua vazão
e a de ar ajustadas de forma planejadas, a fim de manter a temperatura no reator constante.
No interior do reator de pirólise a amostra é transformada em gases (CO, CO 2, CH4, N2, etc.),
vapores (água, ácidos, compostos fenólicos) e sólidos (carvão + cinzas), que são arrastados do
reator. O primeiro equipamento de separação é o ciclone, projetado para separar os sólidos (carvão +
cinzas) dos vapores e gases.
Os gases e vapores da pirólise passam por um trocador de calor, por contato indireto com
água, onde parte dos vapores condensam e separam-se pela parte inferior do equipamento. Os
líquidos separados (fração leve) ao escoarem pelo corpo do trocador entram em contato com os
vapores e gases da pirólise reduzindo a temperatura por contato direto. Os vapores não separados
no trocador de calor são sugados por uma centrífuga que separa as neblinas por efeito combinado de
coalescência e impacto. Os gases restantes são queimados na câmara de combustão e
lançadosjogados ao meio ambiente pela chaminé (MESA-PÉREZ, et al., 2006).
As condições experimentais para a produção das amostras de bio-óleo leve (BOL),
pesado (BOP) e carvão foram:
Temperatura no reator: 450 a 550 °C;
Tempo de residência das partículas: 1,5 a 2,5 segundos; e
Relação ar/biomassa: 0,75 Nm³ (ar) / kg (biomassa).
Os rendimentos dos produtos da pirólise dos clones (base úmida da biomassa alimentada no
reator) estão apresentados na Tabela 2.
Produtos da pirólise Teste 450 °C Teste 550 ºC Teste 450 ºC Teste 550 ºC
O rendimento dos gases foi determinado por diferença, considerando as perdas no processo
associadas às incrustações de material nas paredes de equipamentos e tubulações, as quais não são
quantificadas.
Ao aumentar a temperatura da pirólise, favoreceu a produção de gases e a diminuição dos
rendimentos líquidos.
A fração líquida da pirólise de biomassa pode ser classificada como: fração aquosa (não
combustível) e fração viscosa (combustível). A proporção em massa de cada fração depende da
composição química da biomassa. Quando o teor de celulose é alto se favorece a fração aquosa não
combustível. A fração combustível é favorecida por altos teores de lignina.
CARVÃO
Os resultados das análises físico-químicas realizadas nos carvões obtidos em cada um dos
clones são apresentados na Tabela 3.
Carbono fixo
(%) b.s 47,68 48,70 46,85 55,44
Poder calorífico
5.623 6.120 5.516 5.892
inferior (kcal kg-1)
Durante a pirólise, as cinzas se concentram no carvão na proporção de, aproximadamente, 5 vezes o seu valor
inicial na biomassa. Na medida em que o teor de cinzas aumenta, a qualidade do carvão para uso combustível
fica comprometida, sendo assim, indicada a aplicação do carvão como condicionador de solo. (MESA-PÉREZ
et al., 2009).
145
BIO-ÓLEO
Poder calorífico
4.580 4.660 4.365 4.833
inferior (kcal kg-1)
Índice de acidez
160 330 246 133
(mg KOH g-1)
Densidade
1.314 1.380 1.342 1.310
(kg m-³)
Viscosidade
95,0 238,4 171,3 243,5
cP (40 °C)
Tabela 5. Principais compostos do BOP a 450 °C e 550 °C para o clone AEC 0144.
AEC 0144
450 °C 550 °C
Compostos % Compostos %
10,17 10,81
Furfural Phenol, 2,6-dimethoxy (Seringol)
1,2,4-Trimethoxybenzene
Phenol, 2,6-dimethoxy (Seringol) 7,80 8,88
(Pseudocumeno)
3,5-Dimethoxy-4-hydroxytoluene
9,08 Phenol, 2-methoxy (Guaiacol) 8,16
(Seringol)
Phenol, 2,6-dimethoxy-4-
7,78 2(5H)-Furanone 7,42
(2-propenyl)
VM01
450 °C 550 °C
Composto % Compostos %
147
O bio-óleo é composto majoritariamente por metoxi-fenol, substância de caráter ácido
derivado da lignina. O levoglucosano é um produto obtido em clones com maior teor de celulose,
sendo uma substância obtida em processos de pirólise a baixas temperaturas (400 450 °C).
EXTRATO ÁCIDO
O BOL tem baixo teor de carbono e alto teor de oxigênio o que remete a um baixo PCI. Essas
características limitam seu uso de forma integral como combustível, todavia, a separação do extrato
ácido e da água via destilação permite aumentar o rendimento do BOP e por consequência o PCI.
A seguir, na Tabela 7, estão apresentados os valores das análises físico-químicas do extrato
ácido para cada um dos clones. Os principais compostos encontrados no extrato ácido são
apresentados nas Tabelas 8 e 9.
Índice de acidez
102 400 162 186
(mg KOH g-1)
Densidade
1.077 1.136 1.090 1.103
(kg m-³)
AEC 0144
450 °C 550 °C
Compostos % Compostos %
VM01
450 °C 550 °C
Compostos % Compostos %
149
O conhecimento da composição química do extrato ácido permite o isolamento de compostos
químicos de alto valor agregado, tais como: siringol, guaiacol, levoglucosano, entre outros usados na
indústria de alimentos, agricultura e cosméticos. O uso combustível dos produtos da pirólise é a pior
opção econômica, porém é o mercado com maior potencial na atualidade. A abertura do mercado para
insumos químicos terá de ser aprimorada para garantir taxas de retorno mais interessantes nos
investimentos e competitividade da tecnologia em relação aos derivados de petróleo.
GASES
A seguir, na Tabela 10, são apresentadas as análises da composição química e PCI dos gases
da pirólise para os clones AEC 0144 e VM01.
O alto teor de nitrogênio dos gases para todos os clones é justificado por se tratar da pirólise
oxidativa. Embora o PCI não seja alto, caracterizando um gás pobre, o seu uso para processos de
secagem da biomassa é interessante já que o mesmo contém aproximadamente 30 % da energia
primária da biomassa.
Na Tabela 11 são explicitados os valores de energia primária dos AEC 0144 e VM01 e dos
produtos combustíveis após a pirólise.
Tabela 11. Energia primária em 1 tonelada por clone e dos produtos da pirólise.
Na Tabela 12, estão as porcentagens da energia útil retida no bio-óleo e carvão da pirólise. A
diferença de energia não quantificada corresponde com a energia dos gases da pirólise.
151
A partir da determinação da energia primária, os resultados para as duas temperaturas de trabalho
para o AEC 0144 são bem próximos, 30 % da energia primária preservada no carvão e 30 % no bio-óleo.
Para o VM01, para o carvão 32 % e aproximadamente 35 % para o bio-óleo. Recuperando um total de
aproximadamente 60 % da energia primária contida na biomassa para o AEC 0144 e 70 % para o VM01.
CONCLUSÕES
REFERÊNCIAS
BRIDGWATER, A. V. Upgrading biomass fast pyrolysis liquids. Environ. Prog. Sustainable Energy, v. 31, n.
2, p. 261-268. doi:10.1002/ep.11635. 2012.
Diebold, J. P. and Czernik, S. Additives to Lower and Stabilize the Viscosity of Pyrolysis Oils During Storage.
Energy and Fuels, v.11, n. 5, p. 1081-1091. DOI: 10.1021/ef9700339. 1997.
Mesa-Pérez J.M. et al. 2006. Transformações químicas dos componentes da biomassa. In: CORTEZ, L A. B.
(Org.). Tecnologias de Conversão de biomassa. 2 ed. Campinas: Editora da Unicamp. 2006.
MESA-PÉREZ J. M et al. Aplicação dos Produtos da Pirólise Rápida de Biomassa como Fertilizante Natural.
In. LAPIDO- LOUREIRO, F. E.; MELAMED, R; FIGUEIREDO NETO, J. Fertilizantes: Agroindústria e
sustentabilidade. Rio de Janeiro: Editora CETEM, 2009.
Oasmaa A. et al. Norms, standards, and legislation for fast pyrolysis bio-oils from lignocellulosic biomass.
Energy Fuels. V. 29, p. 2471-2484, 2015. DOI: 10.1021/acs.energyfuels.5b00026. 2015.
153
13
POLÍTICA E LEGISLAÇÃO NO
CASO DOS TOCOS E RAÍZES
PARA BIOENERGIA
Em função deste cenário introdutório e preliminar, serão abordados alguns temas deste
processo a fim de se proporcionar uma visão panorâmica das possibilidades legais, dentro do escopo
das necessidades do setor bioenergético, em termos das regulamentações e diretrizes quanto ao
tratamento adequado, de modo especial, das cinzas de tocos e raízes.
No ano de 1968 foi fundado o Clube de Roma com o propósito de se discutir mundialmente, em
consequência de diversas questões sociais, econômicas e ambientais trazidas após o período da
Revolução Industrial, temas tais como política, economia internacional, ambiente e desenvolvimento.
Iniciava-se, assim, a reorientação da ação humana não mais sob a ótica do crescimento
econômico propriamente dito, mas sim, daquilo que um pouco mais adiante acabou se configurando
como desenvolvimento sustentável.
Isso porque, nos idos de 1972, o Clube de Roma encomendou junto ao Instituto de Tecnologia
de Massachusetts (MIT) um documento intitulado Os Limites do Crescimento (também conhecido
como Relatório do Clube de Roma ou Relatório Meadows).
Já o termo desenvolvimento sustentável foi definido no Relatório Brundtland (ou,
alternativamente, Nosso Futuro Comum), a partir da realização da Conferência de Estocolmo sobre o
Ambiente Humano, em 1972, realizado pela Organização das Nações Unidas, como sendo o
desenvolvimento que satisfaz as necessidades presentes, sem comprometer a capacidade das
gerações futuras de suprir as suas próprias necessidades.
Além de se introduzir o conceito de sustentabilidade ao processo de desenvolvimento da
sociedade e da economia, a questão da energia também foi, a partir desta época, introduzida. Isto
porque, o Relatório da Comissão Brundtland relacionou diversas medidas a serem implementadas
por países desenvolvidos e em desenvolvimento, tais como: (i) garantia de recursos básicos (água,
alimentos, energia) a longo prazo; (ii) preservação da biodiversidade e dos ecossistemas, e; (iii)
diminuição do consumo de energia e desenvolvimento de tecnologias com uso de fontes energéticas
renováveis.
Em 1992, ou seja, 20 anos após a Conferência de Estocolmo, ocorreu, na cidade do Rio de
Janeiro, Brasil, a segunda Conferência Mundial para o Meio Ambiente e Desenvolvimento - ECO-92,
no qual importantes documentos internacionais foram firmados, como: Agenda 21; Convenção da
Biodiversidade; Convenção da Desertificação; Convenção sobre Mudança do Clima; Declaração
para a Administração Sustentável das Florestas; Declaração do Rio sobre Ambiente e
Desenvolvimento, e; Carta da Terra.
A Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima UNFCCC (Convenção
das Mudanças Climáticas ou Convenção do Clima) introduziu, a partir da ECO-92, a preocupação
mundial com os efeitos ambientais decorrentes da emissão dos gases do efeito estufa (GEE) na
atmosfera e, com isto, acarretar possíveis alterações e impactos no sistema climático.
Um maior refinamento dos compromissos dos países desenvolvidos e em desenvolvimento,
decorrentes da Convenção do Clima, foi produzido por intermédio do Protocolo de Kyoto, realizado
na cidade de mesmo nome, no Japão, no ano de 1997, quando por ocasião da 3ª Conferência das
Partes (COP-3).
155
O Protocolo de Kyoto formatou um cronograma de redução de emissões de GEE, por parte
dos países desenvolvidos (industrializados). Para tanto, 55 países que conjuntamente fossem
responsáveis por ao menos 55 % das emissões de GEE deveriam ratificar o protocolo. Apesar dos
Estados Unidos não terem ratificado, o protocolo de Kyoto entrou em vigor em fevereiro de 2005.
Após Kyoto, do ponto de vista das mudanças climáticas propriamente ditas, uma das
conferências mais importantes foi a de Durban, África do Sul, em 2011, visto o propósito de se
discutir se o protocolo de Kyoto deveria ou não ser renovado. O evento, evitando de certa forma
entrar no mérito da renovação ou não do referido documento, acabou por formular as bases de um
acordo sobre o controle da poluição que deveria ser ratificado 4 anos depois.
Em conjunto, lançou-se naquela ocasião o Fundo Verde do Clima, com recursos da ordem de
US$ 100 bilhões, com vistas a suportar iniciativas de combate às mudanças climáticas mundiais.
De toda sorte, da reunião sobre o Protocolo de Kyoto sucederam-se outras conferências
sobre as mudanças climáticas, sendo a mais recente a de Katowice/Polônia (dezembro 2018), sendo
que a COP-24 (Polônia), se propõe a implementar um plano de ação com respeito aos
compromissos do Acordo de Paris (este firmado em 2015, em substituição aos compromissos do
Protocolo de Kyoto).
A relação do setor florestal, em seu aspecto geral, e dos tocos e raízes de florestas plantadas
para uso energético, em específico, com o efeito estufa decorre, inicialmente, do fato de que o
principal GEE (gás carbônico ou CO²) pode ser capturado pelas plantas por meio da fotossíntese
sendo, dessa forma, retirado da atmosfera e transformado em biomassa.
Se for possível estabelecer uma garantia, por meio de mecanismos de verificação e
certificação, de que houve um real acúmulo de biomassa, por iniciativa do homem, retirando /
sequestrando o CO² da atmosfera (dentro do conceito de compensação de emissões), também
haveriam interessados em comprar essa garantia (principalmente os países industrializados)
(CONTRATOS, 2000; MANFRINATO, 2000).
Neste mesmo sentido, se houvesse a substituição das fontes energéticas (combustíveis
fósseis por fontes renováveis), também haveria um mercado potencial para comercialização de
créditos de carbono em decorrência desta substituição energética.
Para melhor se compreender esta proposta seria interessante, preliminarmente, apresentar
uma resenha do desenvolvimento histórico do mercado de sequestro de carbono e, para tanto,
poder-se-ia recorrer a autores tais como Costa (1998).
De acordo com o autor, durante Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e
Desenvolvimento (UNCED), em julho de 1992, no Rio de Janeiro, a qual contou com a participação de
155 nações, foi assinada a Convenção das Nações Unidas sobre Mudanças Climáticas (UN-FCC), a
qual resultou em um compromisso voluntário dos países do Anexo 1 (países industrializados) de
redução de suas emissões de GEE aos níveis de 1990 até o ano 2000.
Conforme o autor, a caracterização de créditos de CO² como commodities transacionáveis
ainda não teria ocorrido nesta época (isto porque o usuário final dos créditos ainda tinha que investir
diretamente no seu processo de produção). O modelo de investimento também não era ainda
adequadamente desenvolvido (centrado em projetos individuais e demandando um envolvimento do
investidor desde o início até o fim do projeto).
Afirma Costa (1998) que, além disso, os investimentos (ou seus créditos) tinham pouca
liquidez, além dos aspectos técnicos (restrição de serviços profissionais especializados,
necessidade de auxílio acadêmico ou de ONG's) quanto à identificação de projetos, escolha de
parceiros, definição de necessidades de infraestrutura e treinamento, negociações com autoridades
locais, análise científica, quantificação e monitoramento de fluxos e estoques de carbono) e
econômicos envolvidos (custo de desenvolvimento do projeto).
Evidentemente que este tipo de relação comercial gerou insatisfação entre as partes
envolvidas. Este fato, aliado à incerteza quanto à possibilidade de transferência de créditos, reduziu a
atratividade de investimento das empresas no setor.
Como se não bastasse, os países do então Grupo dos 77 (G77) também demonstraram
insatisfação (havia a suspeita de que, através de pequenos investimentos em países em
desenvolvimento, os países industrializados tentassem evitar reduzir suas emissões de GEE na
fonte). Ainda, havia a percepção de que os países industrializados estavam comprando as melhores
oportunidades de redução das emissões (durante a fase em que os países em desenvolvimento não
tinham compromissos de redução das emissões de GEE).
Nesta mesma ocasião, o preço médio pago por créditos estava baixo, não incluindo nenhum
lucro para as empresas que implantam os projetos (inexistia um incentivo comercial para que países
em desenvolvimento participassem deste mercado).
Durante a 1ª Conferência das Partes - CoP-1 (1994), no bojo dos eventos sobre Mudanças
Climáticas, a insatisfação de modo geral redundou na recusa formal do mecanismo de
Implementação Conjunta. Como alternativa, adotou-se, na forma de projeto piloto, as chamadas
Atividades Implementadas Conjuntamente (com o propósito de transferir os créditos de carbono
entre países desenvolvidos e em desenvolvimento). Mais uma vez, devido à falta de incentivos
efetivos ao investidor, os resultados foram aquém dos desejados (COSTA, 1998).
Em dezembro de 1997, durante a Terceira Conferência das Partes do Clima (CoP-3), em Kyoto,
prosseguiu-se na discussão ocorrida durante a CoP-2 (Berlim/1995), sobre um acordo quanto aos
compromissos obrigatórios de redução / sequestro de emissões de GEE (decorrentes da criação de
novos impostos sobre emissões de GEE, cotas de emissões, etc.), em função dos custos elevados
que seriam acarretados aos países industrializados.
Em Kyoto, de acordo com Costa (2000), teria se dado o reconhecimento mais concreto das
atividades florestais (plantio e/ou bom manejo de florestas) como uma opção para redução das
concentrações de GEE atmosférico.
Estes países poderiam se valer, de modo a cumprir o referido compromisso, dos chamados
Mecanismos de Flexibilização previstos no protocolo de Kyoto:
1. Comércio de Cotas de Emissões (que permite a transferência internacional de cotas de
emissão de GEE entre países do Anexo 1);
2. Implementação Conjunta (incluindo-se, agora, somente empresas ou países do Anexo 1),
onde permite-se que dois ou mais países apresentem em conjunto seu balanço de emissão de GEE
(um país podendo se aproveitar da redução obtida pelo outro); e
3. Mecanismo de Desenvolvimento Limpo - CDM (semelhante ao mecanismo de
Implementação Conjunta, mas que permite a participação de países em desenvolvimento).
O Mecanismo de Implementação Conjunta, conforme depreende-se de Washington Novaes,
citado em WEBER (2000), poderia reduzir os financiamentos de projetos em países em
desenvolvimento.
Através do Mecanismo de Desenvolvimento Limpo (CDM) um país com meta de redução de
emissões prevista pela Convenção, poderia celebrar contratos de investimentos num país em
desenvolvimento (no qual o custo marginal de redução de emissões seja menor).
157
O CDM (ou MDL) permitiria que os países industrializados, maiores emissores de CO²,
comprassem carbono fixado nas florestas do terceiro mundo (tais florestas não poderiam ser
desmatadas para fins de retenção do carbono em folhas, tronco e raízes).
Assim, um país desenvolvido que não reduzisse sua emissão de gases poderia comprar
certificados (CDM) em quantidade suficiente para atingir a sua meta (evitando a redução do nível de
sua atividade econômica), conforme depreende-se de autores tais como Novaes (2000).
De qualquer forma, segundo Costa (2000), relativamente ao contexto florestal ainda
permanecem algumas dúvidas:
(i) se as florestas naturais e demais que poderiam vir a ser contabilizadas para fins de sequestro
de carbono em suas fases de crescimento;
(ii) se poderia haver compensação financeira para quem conserve suas florestas naturais, as
chamadas florestas em pé (alguns imaginam que isto poderia anular o próprio protocolo de Kyoto); e
(iii) se as áreas desflorestadas até 1990 (ou mesmo posteriores a esta data), ao se submeterem
ao reflorestamento, poderiam se beneficiar dos mecanismos financeiros para fins de sequestro do
carbono (inclusive no que concerne aos países industrializados).
Ao conceito de florestas em pé, dentro deste contexto, veio se somar, conforme adiante se
verificará, o conceito de REDD (Reducing Emissions from Deforestation and Forest Degradation /
Redução das Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal), dentro do escopo da redução
das emissões de GEE, bem como de evitar prejuízos à floresta e aos seus respectivos serviços
ambientais. O REDD representa uma evolução do conceito de "Redução Compensada de Emissões"
(RCE), surgido na COP-9, em Milão/Itália, em 2003. Isto porque, em termos das RCE´s, países em
desenvolvimento detentores de florestas tropicais que conseguissem promover reduções das suas
emissões nacionais oriundas de desmatamento receberiam compensação financeira internacional
correspondente às emissões evitadas .
O conceito REDD evoluiu, durante a COP-13, em Bali/Indonésia, em 2007, para REDD+, pois,
passou-se a considerar não somente o desmatamento evitado, como também, as ações visando a
conservação florestal, o manejo florestal sustentável e o aumento dos estoques de carbono em áreas
de floresta. Durante a COP-15, em Copenhague/Dinamarca, em 2009, o termo REDD+ foi reforçado e
associado à mobilização de recursos financeiros por parte dos países desenvolvidos, por intermédio
de iniciativas tais como o programa das Nações Unidas (UM-REDD), o programa Parceria de
Carbono Florestal (FCPF), do Banco Mundial, bem como projetos próprios tanto de governos
nacionais quanto do setor privado.
Desta feita, um projeto florestal REDD+ deve prever incentivos positivos de maneira com que
os países em desenvolvimento possam implementar iniciativas visando a mitigação das mudanças
climáticas por meio das seguintes estratégias: Redução das emissões derivadas de desmatamento e
degradação das florestas; Aumento das reservas florestais de carbono; Gestão sustentável das
florestas, e; Conservação florestal.
Uma discussão sobre o uso energético dos tocos e raízes de eucalipto sob o prisma da
sustentabilidade poderia contar com várias abordagens e englobar as mais diversas facetas sociais,
econômicas, ambientais e, por que não, culturais, políticas e legais. Todavia optou-se, aqui, por
discutir o uso dos tocos e raízes de eucalipto para produção de bioenergia sob o enfoque de dois
temas contundentes e contemporâneos, quais sejam, os biocombustíveis florestais e o Acordo de
Paris.
No entanto, a devida atenção deve ser dada, por razões mais do que óbvias, em tempos de
mudanças climáticas, em termos da vinculação direta, explícita, lógica e, imaginamos nós,
inquestionável, entre tocos, energia, biocombustíveis florestais e Acordo de Paris1.
Tal documento estabelece um conjunto de decisões para dar efeito ao acordo e que
contemplam ações ambientais em termos de mitigação, adaptação, perdas e danos, finanças,
transferência e desenvolvimento de tecnologia, desenvolvimento de capacidades, transparência de
ação e apoio, balanço global e facilitação da implementação e cumprimento².
Primeiramente, conforme se é possível conceitualmente se depreender, por exemplo, do
disposto no PL 1.291 de 2015, que dispõe sobre a Política Nacional de Biocombustíveis Florestais e
dá outras providências, os tocos e raízes são considerados fontes alternativas para produção de
biocombustíveis florestais, quais sejam, lenha, carvão vegetal, briquetes, licor negro, etanol
celulósico, entre outros, considerados fontes estratégicas e renováveis de bioenergia.
Em segundo lugar, os tocos e raízes, enquanto fonte alternativa para produção de biocombustíveis
florestais podem, do ponto de vista de uma abordagem sustentável, ser interpretado à luz dos
principais aspectos contemplados nos compromissos assumidos pelos países Partes (países
desenvolvidos Partes, países em desenvolvimento Partes, países subdesenvolvidos Partes e países
insulares em desenvolvimento Partes) no acordo de Paris e, consequentemente, pelo Brasil, visto ser
um dos países Partes do referido acordo³ .
A vertente da sustentabilidade dos tocos e raízes de eucalipto para fins energéticos, dada sua
interface com a questão dos biocombustíveis florestais, é possível ser desenvolvida com base, portanto,
em diversos pressupostos dos documentos Adoção do Acordo de Paris e Acordo de Paris.
O documento Adoção do Acordo de Paris, em específico, referindo-se inclusive ao
documento Transformando Nosso Mundo: a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável,
reconhece que as mudanças climáticas representam uma ameaça urgente e potencialmente
irreversível para as sociedades humanas e para o planeta e, portanto, requer a mais ampla
cooperação possível de todos os países e sua participação numa resposta internacional eficaz e
apropriada, com vistas a acelerar a redução das emissões globais de gases de efeito estufa.
Destaca, adicionalmente, que serão necessárias reduções profundas nas emissões globais, a
fim de alcançar o objetivo final da Convenção (com respeito ao que entende-se que os tocos e
raízes, em sendo fonte alternativa para a produção de biocombustíveis florestais, poderiam
perfeitamente contribuir e, com isto, endossar seu caráter de sustentabilidade) e, ainda, por cima,
perfeitamente compatível com a questão de urgência (temporal) no combate às mudanças
climáticas.
1
Ou, mais precisamente, Acordo de Paris sob a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudanças do Clima.
² Quase todo o rol de ações ambientais dizem respeito à contribuição, em termos sustentáveis, do uso energético dos tocos ao efetivo,
satisfatório e adequado cumprimento do Acordo de Paris.
³ Não se poderia olvidar, em termos dos compromissos ambientais (sustentáveis) do acordo de Paris, dos parceiros não Partes, incluindo-se os
da sociedade civil, do setor privado, das instituições financeiras, das cidades e de outras autoridades subnacionais, além de voluntários,
iniciativas e coalizões, aos quais o acordo de Paris se reporta.
159
Mas não é só. O uso energético, especialmente em se considerando as vantagens relativas e
comparativas, no Brasil, das florestas plantadas, e de seus subprodutos (em especial os tocos e
raízes), contribui para o atendimento de outros relevantes pressupostos dos documentos Adoção
do Acordo de Paris e Acordo de Paris, quais sejam:
i) o acesso universal à energia sustentável em países em desenvolvimento por meio da
implantação reforçada das energias renováveis;
ii) contribuição significativa para a redução no custo dos futuros esforços de mitigação e
adaptação;
iii) resposta eficaz e progressiva à ameaça urgente da mudança climática com base nos
melhores conhecimentos científicos disponíveis;
iv) necessidades específicas e circunstâncias especiais dos países em desenvolvimento
Partes;
v) aumentar a capacidade de adaptar-se aos impactos adversos das mudanças climáticas e
fomentar a resiliência ao clima e o desenvolvimento de baixas emissões de gases de efeito estufa, de
uma forma que não ameace a produção de alimentos;
vi) busca por medidas domésticas de mitigação, visando alcançar os objetivos de tais
contribuições;
vi) acelerar, encorajar e possibilitar a inovação é fundamental para uma resposta eficaz, global
e de longo prazo às mudanças climáticas e para promover o crescimento econômico e o
desenvolvimento sustentável.
Vale ressaltar, que o desenvolvimento de mercados de bioenergia pode trazer benefícios
econômicos como, por exemplo, a criação de mercados de biomassa residual, pode promover a
melhoria da viabilidade econômica de processos do manejo como o desbaste e a colheita, incentivar
a implantação silvicultural em áreas degradadas ou inutilizadas, a geração de emprego na produção
de biomassa, colheita, transporte e conversão em bioenergia, e, em última instância, fornecer
energia mais limpa com preço acessível (RÖSER et al., 2010).
Em paralelo, acredita-se que o uso energético dos tocos e raízes, principalmente se estiver
inserido num necessário, adequado, consistente e integrado corpo normativo⁴, contribui
incisivamente para a consecução do artigo 4, do Acordo de Paris: atingir um pico global das
emissões de gases de efeito estufa o mais rápido possível, reconhecendo que o pico levará mais
tempo para países em desenvolvimento Partes, e para realizar reduções rápidas, posteriormente, de
acordo com o melhor conhecimento científico disponível, de modo a alcançar um equilíbrio entre as
emissões antrópicas por fontes e remoções por sumidouros de gases de efeito estufa na segunda
metade deste século, com base na igualdade e no contexto do desenvolvimento sustentável e os
esforços para erradicar a pobreza.
Além do que, todo o rol de conhecimento gerado a partir do uso energético dos tocos e raízes
pode encontrar respaldo no disposto no parágrafo 2º, do artigo 6, do Acordo de Paris: as Partes
devem, ao se engajar voluntariamente em abordagens cooperativas que envolvem a utilização dos
resultados de mitigação transferidos internacionalmente visando as contribuições nacionalmente
determinadas, promover o desenvolvimento sustentável e assegurar a integridade ambiental e a
transparência, incluindo em termos de governança. Ainda que, de acordo com o parágrafo 3º, do
⁴Até porque, conforme dispõe o parágrafo 2º, do artigo 5, do Acordo de Paris, as Partes são encorajadas a tomar medidas para implementar e apoiar,
incluindo por meio de pagamentos baseados em resultados, o quadro existente tal como estabelecido na orientação relacionada e nas decisões já
acordadas no âmbito da Convenção para: abordagens políticas e incentivos positivos para as atividades relacionadas à redução das emissões a partir
do desmatamento e da degradação florestal, e o papel da conservação, do manejo sustentável de florestas e do reforço dos estoques de carbono das
florestas nos países em desenvolvimento; e abordagens políticas alternativas, como abordagens conjuntas de mitigação e adaptação para a gestão
integral e sustentável das florestas, reafirmando a importância de incentivar, conforme apropriado, os benefícios não vinculados ao carbono
associados com tais abordagens.
161
A recepção do uso energético de tocos e raízes, tanto na questão dos biocombustíveis
florestais como da bioenergia, junto ao Acordo de Paris tem uma leitura de sustentabilidade
econômica bastante interessante. Isto porque, por exemplo, recorrendo-se ao disposto nos
parágrafos 1 e 2, do artigo 9, do Acordo de Paris, os Países desenvolvidos Partes devem fornecer
recursos financeiros para auxiliar os países em desenvolvimento Partes no que diz respeito tanto à
mitigação quanto à adaptação na continuação das suas obrigações no âmbito da Convenção e
outras Partes são encorajadas a fornecer ou continuar fornecendo tal apoio voluntariamente.
Ainda dentro desta leitura, naturalmente que sopesadas as condições sociais, econômicas e
ambientais específicas do Brasil, enquanto país Parte em desenvolvimento, de acordo com o
parágrafo 4, deste mesmo artigo, o fornecimento de recursos financeiros ampliados deve ter como
objetivo alcançar um equilíbrio entre adaptação e mitigação, levando em conta estratégias lideradas
nacionalmente, e as prioridades e necessidades dos países em desenvolvimento Partes,
especialmente aqueles que são particularmente vulneráveis aos efeitos adversos das mudanças
climáticas e possuem restrições significativas de capacidade, tal como os países menos
desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento, considerando a necessidade
de recursos públicos e recursos subsidiados para a adaptação.
De outro lado, o documento Adoção do Acordo de Paris, aborda um pouco mais
especificamente a sustentabilidade econômica do uso energético dos tocos e raízes. Neste sentido,
estabelece-se que recursos financeiros⁸ previstos para os países em desenvolvimento deverão
reforçar a implementação das suas políticas, estratégias, regulamentos e planos de ação e suas
ações sobre a mudança do clima no que diz respeito tanto à mitigação quanto à adaptação para
contribuir para a realização do propósito do Acordo.
Ainda no âmbito do documento Adoção do Acordo de Paris, para efeitos da viabilidade
econômica do uso de tocos para fins energéticos em especial, se reconhecem as alternativas
financeiras associadas às fontes públicas e privadas, bilaterais e multilaterais, tais como o Fundo
Verde para o Clima e o Fundo Global para o Meio Ambiente, as entidades encarregadas da operação
do Mecanismo Financeiro da Convenção, bem como o Fundo dos Países Menos Desenvolvidos e o
Fundo Especial para as Mudanças Climáticas, administrado pelo Fundo Global para o Meio
Ambiente, além de fontes alternativas, em conformidade com as decisões pertinentes da
Conferência das Partes⁹.
Uma maneira de descarbonizar a economia global é acelerar o desenvolvimento da
bioeconomia.
A biomassa continuará a contribuir para o setor de energia renovável, com ênfase crescente em
como o mundo em desenvolvimento utilizaria as opções avançadas de bioenergia/biocombustíveis
para fazer a transição de usos mais tradicionais da biomassa. Embora a eletricidade "verde" ajude a
descarbonizar o transporte em ambientes urbanos, os biocombustíveis são a opção mais provável
para descarbonizar o transporte em longa distância (ex., aviação, transporte marítimo, ferroviário,
caminhões de longa distância).
A sessão avaliará o potencial futuro de uma bioeconomia baseada na floresta, avaliando como
a cadeia de suprimentos tradicional que é primariamente focada nos produtos florestais tradicionais
(ex., celulose, papel, madeira serrada) no mundo desenvolvido e energia de baixa qualidade no
mundo em desenvolvimento, pode ser expandida para ajudar a descarbonizar os setores globais de
energia e transporte.
⁸Ainda que, apesar da meta quantificada coletiva alcançar (piso) a cifra de US$ 100 bilhões/ano, condicionados às necessidades e prioridades
dos países em desenvolvimento, à configuração da importância dos recursos financeiros adequados e previsíveis e ao pagamento baseado em
resultados, conforme dispõe o documento Adoção do Acordo de Paris.
⁹O documento Adoção do Acordo de Paris estabelece que o Fundo de Adaptação também pode servir ao cumprimento do Acordo.
Uma abordagem das questões da utilização dos tocos de árvores para fins de uso na energia e
as cinzas produzidas após este aproveitamento energético é algo amplo e, de certa forma, complexo.
Amplo e complexo em face da profusão de normas e regulamentos ambientais existentes, mas ao
mesmo tempo, e paradoxalmente, em razão da inexistência, ao que tudo indica, de um aparato legal
próprio e específico a este respeito.
De toda sorte, buscando uma objetividade, alguns elementos normativos devem ser
imperiosamente abordados dentro da pretensão de abordar os tocos para energia e as cinzas dentro
do seu eventual enquadramento no seguinte escopo legal: i) a Política Nacional sobre Mudança do
Clima e ii) a Política Nacional de Resíduos Sólidos.
E esta abordagem deve ser feita sob a ótica da legislação federal (tendo em vista que o tema é
de amplitude nacional), mas também, inclusive para efeitos comparativos e referenciais.
O tema da utilização dos tocos e raízes para fins energéticos, bem como das cinzas
decorrentes desta finalidade deve ser enfrentado, num primeiro momento, a partir do disposto na Lei
n. 12.187, de 29 de dezembro de 2009, que institui a Política Nacional sobre Mudança do Clima
PNMC e dá outras providências.
Em face disso, o uso de tocos e raízes para fins energéticos, conforme preconizado na referida
lei federal, pode ser considerado, tendo em vista os seus inegáveis efeitos em termos de substituição
energética do uso de combustíveis fósseis, e mesmo hidrelétricos uma iniciativa para reduzir a
vulnerabilidade dos sistemas naturais e humanos frente aos efeitos atuais e esperados da mudança
do clima. Trata-se, portanto, de uma medida de mitigação.
O uso energético dos tocos e raízes como medida mitigadora dos efeitos adversos da emissão
dos gases de efeito estufa fica mais claro quando se observa, objetivamente, o próprio conceito de
mitigação tal qual disposto na referida lei: mudanças e substituições tecnológicas que reduzam o
uso de recursos e as emissões por unidade de produção, bem como a implementação de medidas
que reduzam as emissões de gases de efeito estufa e aumentem os sumidouros.
Ademais, o uso energético dos tocos e raízes deve ser encarado dentro do imperativo legal da
tomada de medidas para minimizar as causas identificadas da mudança climática com origem
antrópica no território nacional, uma vez considerado que haja consenso por parte dos meios
científicos e técnicos preocupados no estudo dos fenômenos envolvidos , inclusive dentro do
escopo do estímulo ao desenvolvimento do Mercado Brasileiro de Redução de Emissões MBRE.
É de um entendimento particular que o uso de tocos e raízes para fins energéticos,
considerando o atual estágio que esse processo se encontra, contempla uma das principais diretrizes
da PNMC, qual seja, a promoção e o desenvolvimento de pesquisas científico-tecnológicas e a
difusão de tecnologias, processos e práticas orientados a mitigar a mudança do clima por meio da
redução de emissões antrópicas por fontes.
A PNMC preconiza, para fins do desenvolvimento do uso dos tocos e raízes para fins
energéticos, a viabilização de medidas fiscais e tributárias, alíquotas diferenciadas, isenções,
compensações, incentivos, linhas de crédito e financiamento, dentre outros instrumentos
econômicos e financeiros tais quais previstos nos incisos VI a XI, do artigo 6º, da referida lei.
163
AS CINZAS DECORRENTES DO PROCESSO DE USO DOS TOCOS E
RAÍZES PARA FINS ENERGÉTICOS SEGUNDO A POLÍTICA NACIONAL DE
RESÍDUOS SÓLIDOS
As cinzas que se apresentam ao final do processo de queima dos tocos e raízes para uso em
energia podem ser, por seu turno, interpretadas dentro do contexto da Lei n. 12.305, de 2 de agosto
de 2010, que institui a Política Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS).
Para tanto, seria pertinente, inicialmente, conceituar-se o termo resíduos sólidos, no
contexto do presente capítulo, como material, substância, objeto ou bem descartado resultante de
atividades humanas em sociedade, a cuja destinação final se procede, se propõe proceder ou se
está obrigado a proceder, nos estados sólido ou semissólido, bem como gases contidos em
recipientes e líquidos cujas particularidades tornem inviável o seu lançamento na rede pública de
esgotos ou em corpos d'água, ou exijam para isso soluções técnica ou economicamente inviáveis
em face da melhor tecnologia disponível.
A biomassa florestal de tocos e raízes deve ser considerada como resíduos
agrossilvopastoris, ou seja, aqueles gerados nas atividades agropecuárias e silviculturais, incluídos
os relacionados a insumos utilizados nessas atividades.
Além disso, as cinzas dos tocos podem ser consideradas como resíduos não perigosos, ou
seja, aqueles não enquadrados numa condição com características de inflamabilidade,
corrosividade, reatividade, toxicidade, patogenicidade, carcinogenicidade, teratogenicidade e
mutagenicidade, não apresentando, portanto, significativo risco à saúde pública ou à qualidade
ambiental, de acordo com lei, regulamento ou norma técnica.
Isto posto, considera-se que as cinzas decorrentes do processo de queima dos tocos e raízes
para fins energéticos, em termos de sua disposição final, não podem vir a configurar uma área
contaminada, ou seja, um local onde há contaminação causada pela disposição, regular ou
irregular, de quaisquer substâncias ou resíduos.
Muito pelo contrário, com respeito às cinzas dos tocos deverá haver, imperiosamente, a sua
disposição final ambientalmente adequada ou, em outras palavras, a destinação de resíduos que
inclui a reutilização, a reciclagem, a compostagem, a recuperação e o aproveitamento energético ou
outras destinações admitidas pelos órgãos competentes do Sisnama, do SNVS e do Suasa, entre
elas a disposição final, observando normas operacionais específicas de modo a evitar danos ou
riscos à saúde pública, à segurança e a minimizar os impactos ambientais adversos.
A disposição final ambientalmente adequada das cinzas dos tocos e raízes de uso energético
deve estar atrelada a um gestão integrada de resíduos sólidos, num sentido da conformação não
somente de um gerenciamento de resíduos sólidos (conjunto de ações exercidas, direta ou
indiretamente, nas etapas de coleta, transporte, transbordo, tratamento e destinação final
ambientalmente adequada dos resíduos sólidos e disposição final ambientalmente adequada dos
rejeitos, de acordo com plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos ou com plano de
gerenciamento de resíduos sólidos), como também, e principalmente, de uma gestão integrada de
resíduos sólidos (conjunto de ações voltadas para a busca de soluções para os resíduos sólidos, de
forma a considerar as dimensões política, econômica, ambiental, cultural e social, com controle
social e sob a premissa do desenvolvimento sustentável).
Entende-se, dentro do contexto desta gestão integrada de resíduos sólidos, que as cinzas
dos tocos devem ser adequadamente tratadas segundo as distintas modalidades de resíduos
sólidos preconizados na PNRS, quais sejam: reciclagem; rejeitos, e; reutilização.
Nesse sentido caberia mencionar, inclusive, que a reciclagem das cinzas da madeira é
realizada em países europeus, e é normalmente citada como uma medida para manter a fertilidade do
solo após a retirada de nutrientes, como também para agir como agente desacidificante do solo onde
há poluição atmosférica. Países como a Suécia e a Lituânia possuem recomendações detalhadas
acerca da reciclagem das cinzas de madeira (NATIONAL BOARD OF FORESTRY, 2002; OZOLINCIUS
et al., 2005 apud RÖSER et al., 2010).
No caso da reciclagem das cinzas para utilização como fertilizante, algumas características
devem ser consideradas, tais como: a necessidade quanto à fertilização; a metodologia para
padronização da qualidade da cinza da madeira (amostragem e análise química); a dosagem e taxa de
aplicação; a necessidade de compensação adicional com nitrogênio; os requisitos para a qualidade
da cinza da madeira, e; o endurecimento e seus métodos (RÖSER et al., 2010).
De toda sorte, para efeitos da gestão integrada das cinzas dos tocos e raízes no caso do Brasil,
deverá ser contemplado um dos principais objetivos da Política Nacional de Resíduos Sólidos, qual
seja, contemplar-se, por ordem de prioridade decrescente, a sequência da não geração, redução,
reutilização, reciclagem e tratamento dos resíduos sólidos, bem como disposição final
ambientalmente adequada dos rejeitos.
Este sequenciamento deve se orientar, preponderantemente, por uma consecução do
princípio da ecoeficiência, por intermédio da compatibilização entre o fornecimento, a preços
competitivos, de bens e serviços qualificados que satisfaçam as necessidades humanas, tragam
qualidade de vida e a redução do impacto ambiental, e do consumo de recursos naturais a um nível,
no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada do planeta.
Acredita-se, imaginando que o processo vinculado à destinação final ambientalmente
adequada das cinzas dos tocos e raízes tal qual até aqui desenvolvida, principalmente naquilo que diz
respeito a sua não geração, redução, reutilização e, eventualmente, reciclagem, pode dispor-se, em
termos de uma gestão ambiental satisfatória conforme àquilo que a PNRS preconiza em termos de
Planos de Resíduos Sólidos, em especial, o Plano Nacional e os Planos Estaduais de Resíduos
Sólidos, bem como os Planos Municipais de Gestão Integrada de Resíduos Sólidos.
É possível vislumbrar-se, enfim, vários cenários e potencialidades na questão da utilização das
cinzas de madeira, sendo imprescindível então, que haja o fomento de novas pesquisas para que
essa atividade se estruture de maneira sustentável no Brasil.
165
REFERÊNCIAS
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Disponível em: http://www.mme.gov.br/documents/10584/1139101/1_-_art._1x_Lei_9478.pdf/206de1b2-
a92d-470d-bba8-2dd529eff98c. Acesso em: 09 jan. 2019.
COSTA, P. M. Breve história da evolução dos mercados de carbono. Revista Silvicultura. Sociedade
Brasileira de Silvicultura. São Paulo. N. 76. Set./Dez. 1998. 24-33.19
MANFRINATO, W. Mudanças climáticas - ações e perspectivas para o novo milênio. Revista World Watch
(www.worldwatch.org.br). Julho/Agosto de 2000.
NOVAES, W. O clima no reino da contradição. O Estado de São Paulo. 07.07.2000. A-2.
NATIONAL BOARD OF FORESTRY. Recommendations for the extraction of forest fuel and compensation
fertilising. 300. ed. Jönköping: Publishing Company. 29 p. 2002.
ONUBR. Adoção do Acordo de Paris. Conferência das Partes. Vigésima primeira sessão. Paris, 30 de
novembro a 11 de dezembro de 2015. Disponível em:https://nacoesunidas.org/acordodeparis/. Acesso: 20
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ONUBR. Acordo de Paris. Conferência das Partes. Vigésima primeira sessão. Paris, 30 de novembro a 11 de
dezembro de 2015. Disponível em:<https://nacoesunidas.org/acordodeparis/>. Acesso: 20 dez 2018.
ORTIZ, C. A. et al. Time-dependent global warming impact of tree stump bioenergy in Sweden. Forest
Ecology And Management, [s.l.], v. 371, p. 5-14, jul. 2016.
RÖSER, D. et al (Ed.). Sustainable Use of Forest Biomass for Energy: A Synthesis with Focus on the Baltic and
Nordic Region. Dordrecht: Springer, 255 p. Managing Forest Ecosystems, Vol. 12. 2010.
ARRANQUIO
BIORREFINARIA
Ato ou efeito de retirar completamente uma planta do
solo. Refinarias modernas que podem produzir vapor,
energia e novos bioprodutos.
167
CEPA DAP
Parte do fuste remanescente após o corte de uma Diâmetro à altura do peito. Convencionalmente, nos
árvore, de onde se originam brotações que formam levantamentos florestais o diâmetro do fuste é
novos fustes em uma nova rotação de cultivo. medido na altura de 1,3 m do nível do solo.
COMBUSTÃO
EXTRAÇÃO
Processo de conversão térmica, queima direta da
biomassa para geração de calor. (1): operação da exploração florestal muito
diversificada, tanto nos meios como nas técnicas
utilizadas. Consiste na transferência do material
COMBUSTÍVEL FÓSSIL lenhoso do local de abate até ao carregadouro. (2):
Fonte de energia não renovável, portanto, finita, retirada e/ ou coleta de qualquer material, orgânico
originada da ação do tempo sobre restos orgânicos, ou inorgânico, de um ecossistema.
tais como, petróleo, carvão mineral e gás natural.
Alto potencial de gerar danos ambientais
EXTRATIVOS OU SUBSTÂNCIAS VOLÁTEIS
0 a 10 % da composição da madeira.
COMPARTIMENTOS DE BIOMASSA
São substâncias que não fazem parte da
São as diferentes partes da árvore que acumulam constituição celular da madeira, definem cor, cheiro,
biomassa. Têm-se os compartimentos aéreos, resistência da madeira aos insetos, etc... São
como fuste, galhos, folhas e casca, e os solúveis em água ou solventes orgânicos.
compartimentos subterrâneos, como raízes
grossas e raízes finas.
FONTES RENOVÁVEIS DE ENERGIA
São aquelas cuja reposição pela natureza é bem
mais rápida que sua utilização energética.
LICOR NEGRO
PRODUÇÃO
Resíduo líquido da polpação de celulose.
É o acúmulo total de uma variável de interesse
(volume, biomassa, etc) até um determinado tempo.
LIGNINA
20 a 30% da composição da madeira.
PRODUTIVIDADE
A lignina é uma macromolécula tridimensional
É a produção acumulada por unidade de área em um
amorfa encontrada nas plantas terrestres, associada
determinado período de tempo, ou seja, é a taxa
à celulose na parede celular cuja função é de conferir
m é d i a d o a u m e n t o d a p ro d u ç ã o d e s d e a
rigidez, impermeabilidade e resistência a ataques
implantação do povoamento até uma idade
microbiológicos e mecânicos aos tecidos vegetais.
particular.
MÉTODO GRAVIMÉTRICO
RAIZ PRINCIPAL
A biomassa é obtida com base nas medidas de
Conhecida como zona de ramificação, se refere a
massa verde ou massa úmida da árvore ou de
região mais velha da raiz, e que pode ser facilmente
seus componentes e do teor de umidade
reconhecida pelo seu aspecto escurecido e rugoso.
determinado em amostras. A massa úmida é obtida
Nessa região são formadas as raízes laterais.
no campo, após o corte da árvore. O teor de umidade
é determinado em amostras, considerando sua
massa úmida nas condições de campo e sua massa
seca obtida em laboratório. Esse método é aplicável
a qualquer componente da árvore.
169
RAIZ SECUNDÁRIA OU LATERAL UMIDADE EM BASE SECA
O crescimento secundário da raiz consiste na A umidade em base seca é a razão entre a massa de
formação de tecidos vasculares do câmbio vascular água e a massa seca de uma amostra.
e da periderme, a partir do felogênio. As raízes da
maioria das monocotiledôneas, geralmente, não
apresentam crescimento secundário. UMIDADE EM BASE ÚMIDA
A umidade em base úmida é a razão entre a massa
de água e a massa total (água + massa seca) de uma
RESÍDUOS INDUSTRIAIS
amostra.
Os gerados nos processos produtivos e instalações
industriais.
UTE
Usina termelétrica.
RESÍDUOS MADEIREIROS
Restos de colheita florestal ou do processamento
primário da madeira, tais como: pó de serra,
costaneiras, aparas, maravalha e etc.
SUSTENTABILIDADE
É a capacidade de sustentação ou conservação de
um processo ou sistema. A sustentabilidade é
baseada no tripé econômico, social e ambiental.
TOCO
Parte do fuste deixada após a exploração.
UNIDADES
% Porcentagem
ºC Grau Celsius
cal Calorias 1 cal = 4,184 J
cm Centímetro
g Grama
g cm-3 Gramas por centímetro cúbico
g kg-1 Gramas por quilograma de massa seca
Gcal Gigacaloria 1 Gcal = 1 x 10⁹ calorias
h Hora
ha Hectare 10.000 m²
J Joule 1 watt x segundo
kcal Quilocalorias 1.000 calorias
kcal kg-1 Quilocalorias por quilograma
kg Quilograma 1.000 gramas
kg h-1 Quilograma por hora
kg ha-1 ano-1 Quilograma por hectare por ano
kg m-3 Quilogramas por metro cúbico
kWh Quilowatt-hora é a medida da energia elétrica consumida por um
aparelho. 1 Wh equivale a 3.600 joules. Outros múltiplos de Watt-hora
são: MWh equivale a 1.000.000 Wh ou 3,6×10⁹ joules.
kmol Quilomol
M Metro - 1 m = 100 cm
-1
m² ha Metros quadrados por hectare. Representa a área basal de plantios florestais.
m³ ha-1 Metros cúbicos por hectare. Representa o volume sólido de
madeira nos plantios florestais.
mg Miligrama
-1
mg kg Miligrama por kilograma
Mg Megagrama 1 Mg = 1000 kg = 1 t
Mg ha-1 Megagramas por hectare. Representa a produção de biomassa por hectare.
Mg ha-1 ano-1 Megagramas por hectare por ano. Representa a produtividade média de
biomassa.
171
MJ kg-1 Megajoule por quilograma
Mm Milímetro
MW O megawatt, consiste numa unidade da grandeza física de potência.
No sistema internacional de unidades (SI), a potência vem expressa em
watts, isto é, 1 MW = W x 1.000.000.
DA BIOMASSA DE
TOCOS E RAÍZES
DE FLORESTAS PLANTADAS