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Foz do Iguaçu/ PR
2019
RESUMO
1
O artigo analisa o processo migratório de brasileiros para o leste paraguaio e sua contribuição
para o aumento demográfico e o desenvolvimento econômico na região de fronteira daquele
país, entre os anos 1950-90. Enfatiza o processo evolutivo das questões migratórias no
Paraguai, motivados pela baixa densidade demográfica e da concentração populacional em
torno da região de Assunção, em decorrência de fatores geográficos, políticos e econômicos.
Para ser construído, este artigo se utilizou da metodologia de revisão bibliográfica do tipo
narrativa.
PALAVRAS CHAVE: Paraguai – Imigrantes – Brasileiros - Demografia
RESUMEN
El artículo hace un análisis del proceso migratorio de brasileños hacia el este paraguayo y su
contribución en el aumento demográfico y el desarrollo económico de aquel país entre los
años 1950-90. Enfatiza el proceso evolutivo de las cuestiones migratorias en Paraguay,
motivados por la baja densidad demográfica, de la concentración poblacional en torno de la
región de Asunción, como consecuencia de factores geográficos, políticos y económicos. Para
ser construido, este artículo se utilizó de la metodología de revisión bibliográfica del tipo
narrativa.
PALABRAS CLAVE: Paraguay – Inmigrantes – Brasileños - Demografía
Introdução
Metodologia
A história paraguaia gira em torno de Assunção. A humilde Casa Forte erguida pelo
capitão Juan de Salazar em 1537, foi convertida em cidade em 1541, por Domingo Irala
(CARDOZO, 1998). De acordo com o CICRED (1974), a cidade de Assunção, na época
colonial, apresentava reduzida população branca e alguns poucos indígenas, que eram
mantidos como serviçais junto aos primeiros contingentes espanhóis que ali se instalaram.
A cidade, eleita pelos espanhóis como centro das conquistas regionais tinha como
função, inicialmente, servir de entreposto para abastecer as expedições que rumavam ao Peru.
Foi nesse cenário que surgiu o embrião, ao redor do qual, por motivos físicos, espirituais,
sociais e biológicos, foram se agrupando os elementos que constituíram a nação paraguaia
(CARDOZO, 1998).
Porém, por não oferecer ouro à Coroa espanhola, e em consequência da descoberta
de rotas mais acessíveis às minas do Peru, Assunção foi perdendo protagonismo. A população
da cidade permaneceu quase inalterada durante décadas. Contava somente com 4.941
habitantes em 1782 (MELIÁ, 2007). Às vésperas de sua independência da Espanha, em 1799,
a Província do Paraguai abrigava em todo seu território apenas 89.597 habitantes (D.G.E.E.C.,
2003).
Durante o período colonial, foram realizados sucessivos esforços para a ocupação e
controle territorial orientadas para a região leste da atual capital, uma vez a oeste haviam
grupos indígenas violentos e as condições geográficas eram inóspitas, o que impedia a
conquista de tais terras. A redução da população do território paraguaio no período colonial
se deve ao fato das constantes e violentas incursões dos “malones chaqueños”, que juntamente
com os mamelucos, atacavam as povoações ao redor de Assunção. Por esse motivo, a
população passou a se confinar na zona controlada de Assunção. Mais tarde, durante o
período de independência, a população ainda se concentrava na Capital e em uma franja
adjacente, onde se encontravam alguns centros populacionais (CICRED, 1974).
A polarização de Assunção, que aglomerava a maior parte da população paraguaia,
deixava a periferia do país vazia. Depois que os jesuítas foram expulsos, no final do século
XVIII, Encarnação, ao sul, surgiu como importante centro de povoamento, pois era ligada à
capital por uma ferrovia, que por sua vez favoreceu o aparecimento de outros povoados, mas
que não subsistiram depois da Guerra da Tríplice Aliança (GAMBETTA e CURY, 2018).
Antes da Guerra, o Paraguai já havia realizado censos demográficos para ter o
número de sua população. É considerado o recenseamento mais completo do período, o
realizado em 1846, pelo bispo Basílio Lopez. Tal censo contou 233.394 habitantes. O
resultado foi contestado, e no mesmo período houve outro levantamento em que contou-se
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promover projetos de ocupação estrangeira, dando prioridade aos imigrantes europeus, mas a
tentativa fracassou, principalmente pela localização mediterrânea do país e pela repercussão
negativa da Guerra na Europa (FLORENTIN, 1998).
Na verdade, eram três as causas da motivada chamada aos estrangeiros: a
necessidade de repor as perdas humanas ocasionadas pela guerra; a urgência em reintegrar
novamente os territórios periféricos; e a falta de alimentos que padecia o Paraguai. Os
imigrantes deveriam ajudar a superar esses problemas. Apesar de ter se tornado uma
prioridade absoluta da economia e da política paraguaia, o apelo à imigração não teve êxito.
Apenas alguns colonos ingleses e alemães chegaram entre 1871 e 1873. A promoção e a
seleção dos imigrantes tinham por meta trazer ao Paraguai pessoas trabalhadoras e
“inteligentes”, que ensinassem o ofício da agricultura moderna aos nativos, para que eles se
tornassem elementos estáveis, úteis ao país. Dava-se prioridade a qualidade e não a
quantidade, a fim de evitar resultados negativos no futuro. O Paraguai buscava na imigração
selecionar principalmente agricultores capacitados, que por sua moral e energia, pudessem
contribuir para melhorar o país. O Estado também condicionava a entrada dos imigrantes a
um capital mínimo, para que pudessem iniciar suas atividades no campo (SOUCHAUD,
2002).
Porém, somente de 1918 a 1948, embora em números modestos, o fluxo de
imigrantes se diversificou e chegaram os primeiros poloneses, russos, menonitas e japoneses.
Instalaram-se principalmente no departamento de Itapúa na fronteira com o Brasil, e no Chaco
Central. Esses imigrantes foram responsáveis pelas primeiras medidas introdutórias de
desenvolvimento, pois aplicaram técnicas que melhoraram o rendimento e a qualidade da
produção agrícola (SOUCHAUD, 2002).
A imigração no Paraguai teve um destino diferente do que ocorria no Brasil,
Argentina e Uruguai. Enquanto esses países acolhiam alguns milhares de europeus, no
Paraguai apenas haviam chegado um punhado deles, se comparado com seus vizinhos. O
Uruguai que tem uma superfície similar à do Paraguai, até o ano de 1920, já tinha recebido
237.675 estrangeiros, enquanto que o Paraguai recebia até a data, somente 22.305
trabalhadores rurais. Essas diferenças assinalam a desvantagem que o Paraguai sofreu com
relação aos seus vizinhos. Tais desvantagens estão refletidas nos contrastes econômicos e
sociais regionais que protagonizaram as migrações europeias no sul do continente
(SOUCHAUD, 2002).
Os imigrantes que povoaram o sul do Brasil foram responsáveis pela introdução de
novas técnicas agrícolas que dinamizaram e desenvolveram as áreas rurais, inclusive as zonas
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de fronteira, onde ocorreu uma vasta ocupação, pois apresentavam um cenário de evolução e
integração, devido ao emprego de novas tecnologias na agricultura. Enquanto isso, do lado
paraguaio da fronteira, a paisagem continuava imutável. Os contrastes que se percebiam de
um lado e outro da divisa internacional eram bem marcantes com relação à política,
demografia e economia.
Até 1943, a região fronteiriça do Paraguai oriental possuía pouca terra arável e baixa
densidade populacional. Em 1950, o Paraguai tinha um total de 1.328.452 habitantes. Em
termos de densidade demográfica, os números representavam 3,3 habitantes por quilômetro
quadrado, dos quais 63% viviam na região central do país. A população estava concentrada
principalmente nos arredores da capital, Assunção, em um território que representava somente
7% do total do país (D.G.E.E.C., 2015).
Os brasileiros foram atraídos ao Paraguai pelo baixo preço de suas terras férteis.
Devido a fraca humanização da fronteira, a região oferecia um grande potencial a ser
explorado. Durante os anos 1960-70, os colonos brasileiros se fixaram principalmente em três
departamentos do extremo oriente paraguaio: Alto Paraná, Canindeyú, e Amambay, Algumas
estatísticas mostram que os brasileiros no Paraguai, em 1962, eram aproximadamente 2.250 e,
em 1972, em torno de 30.000. Por ordem de ocupação, os departamentos mais habitados por
estrangeiros estariam assim relacionados: Canindeyú - 12.028 – Amambay - 10.027; Alto
Paraná - 7.130 (NICKSON,1981). Nos anos 1970, haviam chegado ao Paraguai uns 10% do
total de imigrantes que ocupariam o país nos anos seguintes. Sua expressão numérica não se
podia comparar ao que é hoje, mas já haviam começado a fundar os primeiros núcleos
populacionais e organizar as bases da colônia.
Como se pode observar, o departamento do Alto Paraná era o menos povoado pelos
imigrantes, pelo menos no início da colonização. Mas esse quadro mudou quando foi
terminada a construção da Ponte da Amizade e da Ruta 7, que ligava Cidade Presidente
Stroessner (hoje Cidade do Leste) à Foz do Iguaçu. O objetivo da criação das infraestruturas,
como já foi dito, era abrir um canal de acesso ao território que deveria ser colonizado o que,
como os números mostram, surtiu o efeito desejado. Outra estatística feita entre os anos 1977
e 1981, apontam novos números destacando que a imigração não só continuava, mas
apresentava um importante aumento. Naqueles tempos, o número de imigrantes subiu para
51.363, tendo como novidade o fato de que Itapúa era o novo departamento incluído nas
estatísticas, posicionando-se como segundo colocado na preferência dos brasileiros. A
classificação dos departamentos que mais recebiam imigrantes, assim se constituía naqueles
anos: Alto Paraná: 27.409 – Itapúa: 12.969 – Canindeyú: 6.615 – Amambay: 4.370
(FOGUEL, 1995).
Nota-se que a população estrangeira aumenta no departamento do Alto Paraná, mas
diminui em Amambay e Canindeyú. Existem três fatores que podem explicar este declínio: a
mudança de destino dos novos imigrantes que preferiam instalar-se nos departamentos de
Itapúa e Alto Paraná; o retorno de muitos brasileiros na década de 1980, quando houve o
fenômeno da volta dos chamados brasiguaios; e o movimento interno dos agricultores que
procuravam novas terras. Em menos de uma década, houve uma redefinição quanto ao destino
e a preferência dos imigrantes por instalar-se em outros territórios, que não aqueles
procurados logo no início do fenômeno imigratório. Os departamentos de Amanbay e
Canindeyú, que antes da construção da Ponte da Amizade recebiam a maior parte dos colonos,
por razões de acessibilidade, perderam interesse depois da construção da passarela
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internacional. A Ponte da Amizade facilitou a entrada dos colonos nos departamentos mais
próximos de Foz do Iguaçu e Cidade do Leste, que se destacavam como os principais centros
provedores de máquinas e suplementos agrícolas, que necessitavam os colonos.
A qualidade superior das terras nessa região também contribuiu para que os
imigrantes preferissem instalar-se principalmente em Alto Paraná e Itapúa. Outra causa que
definitivamente fez diminuir a população estrangeira nos departamentos de Amambay e
Canindeyú foi o retorno de milhares de brasileiros que ali residiam na década de 1980.
Voltaram ao Brasil porque tinham problemas de documentação ou econômicos. Segundo
SPRANDEL (2000), cerca de 500 famílias de imigrantes retornaram ao Brasil nesse período.
Para o reordenamento do movimento migratório, também contribuiu a vontade de muitos
colonos de aumentar e melhorar suas propriedades e, por esse motivo, buscavam terras férteis,
porém mais acessíveis ao comércio e aos centros urbanos. Alto Paraná e Itapúa estavam mais
bem servidos de estradas e meios de comunicação, daí a preferência dos colonos por essa
região. O departamento do Alto Paraná seguiu sendo o mais povoado pelos imigrantes, mas na
década de 1990 Canindeyú superou Itapúa. Atualmente a maior concentração de brasileiros
está em Alto Paraná e Canindeyú.
Por motivos políticos e econômicos, a colônia sofreu uma reorganização na década
de 1980, mas mesmo assim os números continuavam a apontar aumento da imigração.
Finalmente o governo paraguaio resolveu fazer um censo populacional no ano de 1992 e, a
partir dessa data, podemos contar com cifras oficiais, apesar de serem pouco exatas. Depois
do censo de 1992, o número de brasileiros residindo no Paraguai subiu para 108.526. Por
departamentos, os colonos estavam assim divididos: Alto Paraná: 43.414 – Canindeyú: 24.234
– Itapúa: 11.184 – Caaguazú: 6.444 – Amambay: 3.503 (D.G.E.E.C., 1992). Os outros 19.747
colonos faltantes para completar a cifra estariam espalhados nos demais departamentos,
principalmente em Concepción e Caazapá.
Estimativas mais recentes da Dirección General de Encuestas y Estadísticas
(D.G.E.E.C.) mostram que o crescimento da população nas áreas rurais tem sido significativo.
Os departamentos com maior densidade demográfica, tradicionalmente povoados por
paraguaios (Asunción, Central e Cordilheira), continuaram a evoluir, mas os departamentos
que mais se destacam por seu crescimento populacional evolutivo são aqueles onde se
instalaram os brasileiros.
Com exceção do departamento do Alto Paraná, nos demais departamentos
colonizados pelos brasileiros, a maioria da população vive na zona rural. Mesmo tendo quase
60% da população vivendo em áreas urbanas, no Alto Paraná grande parte dessa porcentagem
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Alguns estudos feitos por órgãos departamentais e nacionais citam o impacto das
colônias menonitas situadas no Chaco Central, porém não leva em consideração a
superioridade numérica e econômica que representa ao país a colônia de brasileiros na Região
Oriental. Teria o governo paraguaio receio em expor a real importância desses números?
Diante da dificuldade em apresentar estatísticas concretas e confiáveis, pensamos que
somente uma pesquisa de campo exaustiva e detalhada poderia dizer com mais precisão
quantos brasileiros e seus filhos vivem no Paraguai. De momento, os números aqui
apresentados têm como base duas fontes de dados: a do governo, que como já dissemos tenta
dissimular uma realidade, e a referência de alguns autores que estudaram o assunto.
Os números são deveras contraditórios quando comparamos as cifras do censo do
governo com as de algumas publicações, as quais dizem que os brasileiros residentes no
Paraguai seriam 300.000 (FOGUEL, 1995), 400.000 (PEBAYLE, 1994), ou até mesmo
500.000 (SPRANDEL, 2000) Os governos brasileiro e paraguaio concordam que o número de
imigrantes pode chegar a 450.000, e que os 108.526 que apontam o censo, representam
somente o número de documentados. Com relação ao número de filhos dos imigrantes não se
sabe exatamente quantos poderiam ser. Muitas famílias nem sequer registram seus filhos no
Paraguai, por não considerar o país como sua pátria. Outros por questões de segurança
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Referências
FOGUEL, Ramón Bruno. Relaciones interétnicas en el borde este del Paraguay. In:
Práticas de integração na fronteira: Temas para o MERCOSUL. Porto Alegre: UFRGS,
1995.
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