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UNIOESTE – UNIVERSIDADE DO OESTE DO PARANÁ – FOZ DO IGUAÇU

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM SOCIEDADE, CULTURA E


FRONTEIRAS – MESTRADO
DISCIPLINA: SOCIEDADE, CULTURA E FRONTEIRAS: FUNDAMENTOS E
ENFOQUES INTERDISCIPLINARES

A CONTRIBUIÇÃO DOS IMIGRANTES BRASILEIROS NO POVOAMENTO DO


LESTE PARAGUAIO

Aluno: Luiz Carlos Gambetta


Professores: Dr. Leandro Baller e Dra. Viviane B. Fernandes

Foz do Iguaçu/ PR
2019
RESUMO
1

O artigo analisa o processo migratório de brasileiros para o leste paraguaio e sua contribuição
para o aumento demográfico e o desenvolvimento econômico na região de fronteira daquele
país, entre os anos 1950-90. Enfatiza o processo evolutivo das questões migratórias no
Paraguai, motivados pela baixa densidade demográfica e da concentração populacional em
torno da região de Assunção, em decorrência de fatores geográficos, políticos e econômicos.
Para ser construído, este artigo se utilizou da metodologia de revisão bibliográfica do tipo
narrativa.
PALAVRAS CHAVE: Paraguai – Imigrantes – Brasileiros - Demografia

RESUMEN

El artículo hace un análisis del proceso migratorio de brasileños hacia el este paraguayo y su
contribución en el aumento demográfico y el desarrollo económico de aquel país entre los
años 1950-90. Enfatiza el proceso evolutivo de las cuestiones migratorias en Paraguay,
motivados por la baja densidad demográfica, de la concentración poblacional en torno de la
región de Asunción, como consecuencia de factores geográficos, políticos y económicos. Para
ser construido, este artículo se utilizó de la metodología de revisión bibliográfica del tipo
narrativa.
PALABRAS CLAVE: Paraguay – Inmigrantes – Brasileños - Demografía

Introdução

As migrações têm sido necessárias para a humanidade desde a antiguidade, quando o


homem se deslocava de um lugar para outro em busca de meios para garantir sua subsistência.
As migrações humanas são fenômenos espetaculares que mudaram o aspecto de muitos
países, influindo em sua composição racial, linguística, cultural, econômica e demográfica.
Por ser assim, se tornaram convenientes ou indesejáveis, mas significativas no sentido de
recompor populações e estimular a economia de certos países.
O Brasil se caracteriza por ser um país de imigrantes, pois recebeu contingentes de
pessoas de diferentes continentes, cuja mistura de raças hoje povoam seu território. Por outro
lado, gerou emigrantes que se estabeleceram, inclusive, em países vizinhos menos
desenvolvidos que o Brasil.
O Paraguai está entre os países que receberam imigrantes brasileiros entre os anos
1950-90. Eram principalmente agricultores que foram à procura de boas terras e novas
2

oportunidades, e se estabeleceram, inicialmente, na faixa fronteiriça com o Brasil. Isso foi


possível em razão de acordos políticos e econômicos entre Brasil e Paraguai, que almejavam a
ocupação e o desenvolvimento de territórios vazios, com a criação de infraestruturas de
conexão entre ambos países. Tal estratégia tinha como objetivo atrair agricultores brasileiros
para os espaços desabitados da fronteira paraguaia.
Desde que se tornou uma República independente (1811), o Paraguai foi um país de
escassa população, fato que se agravou depois da Guerra da Tríplice Aliança (1865-1870),
pois o conflito reduziu de maneira drástica seus habitantes, que antes tampouco eram
numerosos. Apesar das tentativas do governo para aumentar a população e povoar os
territórios periféricos, quase nada mudou até os anos 1950, quando os primeiros imigrantes
brasileiros começaram a ocupar, de maneira lenta, mas progressiva, as terras da faixa
fronteiriça.
É no contexto da migração de brasileiros ao Paraguai (1950-90), que este artigo
evidencia a importância dos imigrantes na recomposição demográfica e econômica do leste
paraguaio.

Metodologia

A metodologia utilizada nessa pesquisa foi a narrativa. Estabelecemos,


deliberadamente, uma linha histórica sobre o processo de povoamento do Paraguai desde sua
colonização, com a intenção de explicar as causas de sua escassa população e a conveniência
de atrair imigrantes brasileiros para povoar territórios vazios na fronteira. Para tal, nos
apoiamos em publicações dos historiadores paraguaios CARDOZO (1998) e FLORENTIN
(1998); do sociólogo FOGEL (1995); dos estudos sobre a população paraguaia realizados pelo
CICREDI (1974) e; das estatísticas censitárias do governo, publicadas pelo DGEEC (2015).

1. Assunção: arcabouço da nação paraguaia

Os fatores naturais sempre influenciaram de alguma maneira na construção


territorial, no povoamento e na economia dos países. O Paraguai é um exemplo de que o
insulamento e o condicionamento a uma única via de comunicação, o rio Paraguai, isolou sua
população e restringiu a ocupação de seu território aos arredores de Assunção, durante a
colonização e até depois de sua independência, em 1811.
3

A história paraguaia gira em torno de Assunção. A humilde Casa Forte erguida pelo
capitão Juan de Salazar em 1537, foi convertida em cidade em 1541, por Domingo Irala
(CARDOZO, 1998). De acordo com o CICRED (1974), a cidade de Assunção, na época
colonial, apresentava reduzida população branca e alguns poucos indígenas, que eram
mantidos como serviçais junto aos primeiros contingentes espanhóis que ali se instalaram.
A cidade, eleita pelos espanhóis como centro das conquistas regionais tinha como
função, inicialmente, servir de entreposto para abastecer as expedições que rumavam ao Peru.
Foi nesse cenário que surgiu o embrião, ao redor do qual, por motivos físicos, espirituais,
sociais e biológicos, foram se agrupando os elementos que constituíram a nação paraguaia
(CARDOZO, 1998).
Porém, por não oferecer ouro à Coroa espanhola, e em consequência da descoberta
de rotas mais acessíveis às minas do Peru, Assunção foi perdendo protagonismo. A população
da cidade permaneceu quase inalterada durante décadas. Contava somente com 4.941
habitantes em 1782 (MELIÁ, 2007). Às vésperas de sua independência da Espanha, em 1799,
a Província do Paraguai abrigava em todo seu território apenas 89.597 habitantes (D.G.E.E.C.,
2003).
Durante o período colonial, foram realizados sucessivos esforços para a ocupação e
controle territorial orientadas para a região leste da atual capital, uma vez a oeste haviam
grupos indígenas violentos e as condições geográficas eram inóspitas, o que impedia a
conquista de tais terras. A redução da população do território paraguaio no período colonial
se deve ao fato das constantes e violentas incursões dos “malones chaqueños”, que juntamente
com os mamelucos, atacavam as povoações ao redor de Assunção. Por esse motivo, a
população passou a se confinar na zona controlada de Assunção. Mais tarde, durante o
período de independência, a população ainda se concentrava na Capital e em uma franja
adjacente, onde se encontravam alguns centros populacionais (CICRED, 1974).
A polarização de Assunção, que aglomerava a maior parte da população paraguaia,
deixava a periferia do país vazia. Depois que os jesuítas foram expulsos, no final do século
XVIII, Encarnação, ao sul, surgiu como importante centro de povoamento, pois era ligada à
capital por uma ferrovia, que por sua vez favoreceu o aparecimento de outros povoados, mas
que não subsistiram depois da Guerra da Tríplice Aliança (GAMBETTA e CURY, 2018).
Antes da Guerra, o Paraguai já havia realizado censos demográficos para ter o
número de sua população. É considerado o recenseamento mais completo do período, o
realizado em 1846, pelo bispo Basílio Lopez. Tal censo contou 233.394 habitantes. O
resultado foi contestado, e no mesmo período houve outro levantamento em que contou-se
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aproximadamente 300.000 habitantes. Em 1865, em nova contagem da população, V. Ayala


Queirolo, calculou 600.000 habitantes (CICRED, 1974).

2. A necessidade de atrair imigrantes para repovoar o Paraguai após a Guerra

Após a Guerra da Tríplice Aliança, o número da população paraguaia reduziu


drasticamente. O impacto demográfico causado pela Guerra, tem sido objeto de debates entre
historiadores paraguaios. As porcentagens das perdas vão desde 10% até 70% da população.
Em todo caso, a verdade parece estar entre os dois extremos. Provavelmente, 50% dos
paraguaios perderam a vida no conflito (FLORENTIN, 1998). Devido as dificuldades de viver
no país, destruído pelo conflito, milhares de paraguaios migraram principalmente para a
Argentina. Outros países como a Bolívia, Uruguai e Chile, além do Brasil, igualmente
receberam paraguaios.
A Tabela 1 mostra a estrutura populacional no pós-guerra.

Tabela 1 – População do Paraguai por grupo de idade e sexo, 1886/1887


Grupos de Idade Homen Mulheres
s
Menos de 5 anos 20.324 20.982
5 a 9 anos 18.127 18.186
10 a 14 anos 9.975 10.069
15 a 20 anos 10.641 13.478
21 a 30 anos 22.586 31.900
31 a 40 anos 6.420 18.697
41 a 50 anos 3.497 12.124
51 a 70 anos 2.652 9.284
Acima de 71 646 2.290
anos
TOTAL 94.868 137.010
Fonte: Anuário Estadístico de la Republica del Paraguay. CICRED, 1974.

Nota-se que o total de mulheres entre 15 e 50 anos superava, deveras, o número de


homens. A relação entre população feminina e masculina seria de 3 mulheres para cada
homem. O impacto demográfico provocado pela Guerra, obrigou o governo paraguaio a
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promover projetos de ocupação estrangeira, dando prioridade aos imigrantes europeus, mas a
tentativa fracassou, principalmente pela localização mediterrânea do país e pela repercussão
negativa da Guerra na Europa (FLORENTIN, 1998).
Na verdade, eram três as causas da motivada chamada aos estrangeiros: a
necessidade de repor as perdas humanas ocasionadas pela guerra; a urgência em reintegrar
novamente os territórios periféricos; e a falta de alimentos que padecia o Paraguai. Os
imigrantes deveriam ajudar a superar esses problemas. Apesar de ter se tornado uma
prioridade absoluta da economia e da política paraguaia, o apelo à imigração não teve êxito.
Apenas alguns colonos ingleses e alemães chegaram entre 1871 e 1873. A promoção e a
seleção dos imigrantes tinham por meta trazer ao Paraguai pessoas trabalhadoras e
“inteligentes”, que ensinassem o ofício da agricultura moderna aos nativos, para que eles se
tornassem elementos estáveis, úteis ao país. Dava-se prioridade a qualidade e não a
quantidade, a fim de evitar resultados negativos no futuro. O Paraguai buscava na imigração
selecionar principalmente agricultores capacitados, que por sua moral e energia, pudessem
contribuir para melhorar o país. O Estado também condicionava a entrada dos imigrantes a
um capital mínimo, para que pudessem iniciar suas atividades no campo (SOUCHAUD,
2002).
Porém, somente de 1918 a 1948, embora em números modestos, o fluxo de
imigrantes se diversificou e chegaram os primeiros poloneses, russos, menonitas e japoneses.
Instalaram-se principalmente no departamento de Itapúa na fronteira com o Brasil, e no Chaco
Central. Esses imigrantes foram responsáveis pelas primeiras medidas introdutórias de
desenvolvimento, pois aplicaram técnicas que melhoraram o rendimento e a qualidade da
produção agrícola (SOUCHAUD, 2002).
A imigração no Paraguai teve um destino diferente do que ocorria no Brasil,
Argentina e Uruguai. Enquanto esses países acolhiam alguns milhares de europeus, no
Paraguai apenas haviam chegado um punhado deles, se comparado com seus vizinhos. O
Uruguai que tem uma superfície similar à do Paraguai, até o ano de 1920, já tinha recebido
237.675 estrangeiros, enquanto que o Paraguai recebia até a data, somente 22.305
trabalhadores rurais. Essas diferenças assinalam a desvantagem que o Paraguai sofreu com
relação aos seus vizinhos. Tais desvantagens estão refletidas nos contrastes econômicos e
sociais regionais que protagonizaram as migrações europeias no sul do continente
(SOUCHAUD, 2002).
Os imigrantes que povoaram o sul do Brasil foram responsáveis pela introdução de
novas técnicas agrícolas que dinamizaram e desenvolveram as áreas rurais, inclusive as zonas
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de fronteira, onde ocorreu uma vasta ocupação, pois apresentavam um cenário de evolução e
integração, devido ao emprego de novas tecnologias na agricultura. Enquanto isso, do lado
paraguaio da fronteira, a paisagem continuava imutável. Os contrastes que se percebiam de
um lado e outro da divisa internacional eram bem marcantes com relação à política,
demografia e economia.
Até 1943, a região fronteiriça do Paraguai oriental possuía pouca terra arável e baixa
densidade populacional. Em 1950, o Paraguai tinha um total de 1.328.452 habitantes. Em
termos de densidade demográfica, os números representavam 3,3 habitantes por quilômetro
quadrado, dos quais 63% viviam na região central do país. A população estava concentrada
principalmente nos arredores da capital, Assunção, em um território que representava somente
7% do total do país (D.G.E.E.C., 2015).

Figura 1: Paraguai: densidade demográfica por departamento em 1962.

Fonte: D.G.E.E.C., Censo de Población y Viviendas, 1992.

O recenseamento de 1962 apontava que, apesar da população paraguaia estar


concentrada em uma pequena porção do seu território, 65% das pessoas viviam em pequenas
propriedades rurais que não passavam de cinco hectares. Esses pequenos agricultores
dedicavam-se a cultura familiar de subsistência. O excedente produzido quando
comercializado, apenas ajudava na manutenção dos lares. Apesar de possuir grandes porções
7

de terras agricultáveis, o Paraguai praticava uma atividade agrícola fraca e deficitária do


ponto de vista tecnológico, por isso não apresentava grandes rendimentos. A erva-mate era a
maior fonte de ingressos do país. O cultivo da erva-mate era de manejo rudimentar, não exigia
técnicas de plantio nem cuidados especiais. Dessa forma, o Paraguai era caracterizado por ser
um país agrícola quase sem agricultura (D.G.E.E.C., 2015).
Em 1954, o general Stroessner assumiu o governo do Paraguai, onde imperava um
modelo de sociedade rural arcaico. Stroessner iniciou uma nova etapa na economia do país.
Criou o programa Crescimento para Fora, que pretendia modernizar a economia local. Os
principais objetivos eram a colonização da Região Oriental, e a mecanização da agricultura,
pois o Paraguai era pouco produtivo: a agricultura era de subsistência, a indústria e o
comércio precários e havia pouca integração econômica com os países vizinhos (WAGNER,
1990).
A estratégia de Stroessner foi, primeiramente, viabilizar extensas áreas de terra
improdutivas para cultivos, na fronteira com o Brasil (CPMI, 2006).
Por outro lado, durante as décadas de 1950 e 1960, foi posta em prática no Brasil
uma nova e contundente doutrina geopolítica que considerava favorável a aproximação nas
relações com os países vizinhos. Desse modo, foi traçado um plano para o desenvolvimento
das fronteiras, que pretendia explorar seu potencial de desenvolvimento, assim como do
centro do território brasileiro (LAINO, 1977). A fronteira fazia parte da estratégia de
construção do desenvolvimento econômico e político, que tinha como lema integrar para não
entregar. Ou seja, a preocupação era ocupar, desenvolver e integrar os espaços vazios do
interior e das zonas fronteiriças, para evitar que outros o fizessem (MEIRA MATTOS, 1990).
Nesse sentido, os interesses geopolíticos do Brasil e Paraguai com relação a
ocupação das fronteiras convergiam. Para promover a imigração de brasileiros, Stroessner
intensificou suas relações com o Brasil a fim de criar infraestruturas que atraíssem os colonos
para as áreas de expansão agrícola.
A migração de brasileiros tomou proporções maiores com a construção da Represa
de Itaipu, da Ponte da Amizade, e da Ruta 7, que liga Cidade do Leste à Assunção;
importantes infraestruturas construídas entre os anos 1965 e 1982, que facilitaram a
penetração dos brasileiros no interior paraguaio.

3. A distribuição dos imigrantes brasileiros no Paraguai


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Os brasileiros foram atraídos ao Paraguai pelo baixo preço de suas terras férteis.
Devido a fraca humanização da fronteira, a região oferecia um grande potencial a ser
explorado. Durante os anos 1960-70, os colonos brasileiros se fixaram principalmente em três
departamentos do extremo oriente paraguaio: Alto Paraná, Canindeyú, e Amambay, Algumas
estatísticas mostram que os brasileiros no Paraguai, em 1962, eram aproximadamente 2.250 e,
em 1972, em torno de 30.000. Por ordem de ocupação, os departamentos mais habitados por
estrangeiros estariam assim relacionados: Canindeyú - 12.028 – Amambay - 10.027; Alto
Paraná - 7.130 (NICKSON,1981). Nos anos 1970, haviam chegado ao Paraguai uns 10% do
total de imigrantes que ocupariam o país nos anos seguintes. Sua expressão numérica não se
podia comparar ao que é hoje, mas já haviam começado a fundar os primeiros núcleos
populacionais e organizar as bases da colônia.
Como se pode observar, o departamento do Alto Paraná era o menos povoado pelos
imigrantes, pelo menos no início da colonização. Mas esse quadro mudou quando foi
terminada a construção da Ponte da Amizade e da Ruta 7, que ligava Cidade Presidente
Stroessner (hoje Cidade do Leste) à Foz do Iguaçu. O objetivo da criação das infraestruturas,
como já foi dito, era abrir um canal de acesso ao território que deveria ser colonizado o que,
como os números mostram, surtiu o efeito desejado. Outra estatística feita entre os anos 1977
e 1981, apontam novos números destacando que a imigração não só continuava, mas
apresentava um importante aumento. Naqueles tempos, o número de imigrantes subiu para
51.363, tendo como novidade o fato de que Itapúa era o novo departamento incluído nas
estatísticas, posicionando-se como segundo colocado na preferência dos brasileiros. A
classificação dos departamentos que mais recebiam imigrantes, assim se constituía naqueles
anos: Alto Paraná: 27.409 – Itapúa: 12.969 – Canindeyú: 6.615 – Amambay: 4.370
(FOGUEL, 1995).
Nota-se que a população estrangeira aumenta no departamento do Alto Paraná, mas
diminui em Amambay e Canindeyú. Existem três fatores que podem explicar este declínio: a
mudança de destino dos novos imigrantes que preferiam instalar-se nos departamentos de
Itapúa e Alto Paraná; o retorno de muitos brasileiros na década de 1980, quando houve o
fenômeno da volta dos chamados brasiguaios; e o movimento interno dos agricultores que
procuravam novas terras. Em menos de uma década, houve uma redefinição quanto ao destino
e a preferência dos imigrantes por instalar-se em outros territórios, que não aqueles
procurados logo no início do fenômeno imigratório. Os departamentos de Amanbay e
Canindeyú, que antes da construção da Ponte da Amizade recebiam a maior parte dos colonos,
por razões de acessibilidade, perderam interesse depois da construção da passarela
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internacional. A Ponte da Amizade facilitou a entrada dos colonos nos departamentos mais
próximos de Foz do Iguaçu e Cidade do Leste, que se destacavam como os principais centros
provedores de máquinas e suplementos agrícolas, que necessitavam os colonos.
A qualidade superior das terras nessa região também contribuiu para que os
imigrantes preferissem instalar-se principalmente em Alto Paraná e Itapúa. Outra causa que
definitivamente fez diminuir a população estrangeira nos departamentos de Amambay e
Canindeyú foi o retorno de milhares de brasileiros que ali residiam na década de 1980.
Voltaram ao Brasil porque tinham problemas de documentação ou econômicos. Segundo
SPRANDEL (2000), cerca de 500 famílias de imigrantes retornaram ao Brasil nesse período.
Para o reordenamento do movimento migratório, também contribuiu a vontade de muitos
colonos de aumentar e melhorar suas propriedades e, por esse motivo, buscavam terras férteis,
porém mais acessíveis ao comércio e aos centros urbanos. Alto Paraná e Itapúa estavam mais
bem servidos de estradas e meios de comunicação, daí a preferência dos colonos por essa
região. O departamento do Alto Paraná seguiu sendo o mais povoado pelos imigrantes, mas na
década de 1990 Canindeyú superou Itapúa. Atualmente a maior concentração de brasileiros
está em Alto Paraná e Canindeyú.
Por motivos políticos e econômicos, a colônia sofreu uma reorganização na década
de 1980, mas mesmo assim os números continuavam a apontar aumento da imigração.
Finalmente o governo paraguaio resolveu fazer um censo populacional no ano de 1992 e, a
partir dessa data, podemos contar com cifras oficiais, apesar de serem pouco exatas. Depois
do censo de 1992, o número de brasileiros residindo no Paraguai subiu para 108.526. Por
departamentos, os colonos estavam assim divididos: Alto Paraná: 43.414 – Canindeyú: 24.234
– Itapúa: 11.184 – Caaguazú: 6.444 – Amambay: 3.503 (D.G.E.E.C., 1992). Os outros 19.747
colonos faltantes para completar a cifra estariam espalhados nos demais departamentos,
principalmente em Concepción e Caazapá.
Estimativas mais recentes da Dirección General de Encuestas y Estadísticas
(D.G.E.E.C.) mostram que o crescimento da população nas áreas rurais tem sido significativo.
Os departamentos com maior densidade demográfica, tradicionalmente povoados por
paraguaios (Asunción, Central e Cordilheira), continuaram a evoluir, mas os departamentos
que mais se destacam por seu crescimento populacional evolutivo são aqueles onde se
instalaram os brasileiros.
Com exceção do departamento do Alto Paraná, nos demais departamentos
colonizados pelos brasileiros, a maioria da população vive na zona rural. Mesmo tendo quase
60% da população vivendo em áreas urbanas, no Alto Paraná grande parte dessa porcentagem
10

é constituída de brasileiros residentes em pequenas cidades, no interior do departamento. Dos


362.242 habitantes urbanos do departamento, 140.000 vivia na capital, Cidade do Leste, em
1994 (D.G.E.E.C., 1992). Os restantes 222.000 moradores urbanos estavam distribuídos em
pequenas cidades nas áreas rurais, das quais muitas são habitadas quase que exclusivamente
por brasileiros. O município de Los Cedrales é um exemplo que ilustra bem o caso. A
localidade está situada a uns 30 quilômetros da fronteira com o Brasil, e dos seus 18.700
(MUNICIPALIDAD DE LOS CEDRALES, 2002) habitantes, pelo menos 70% são
brasileiros, sendo que no núcleo urbano eles chegam a somar 80% do total dos moradores.
Casos como este, se repetem em inúmeras cidades nos departamentos onde os brasileiros são
a maioria da população, chegando a atingir 80 e até 90% do total dos habitantes.
O governo paraguaio não fornece detalhes dessas cifras e nos relatórios do
D.G.E.E.C., os estrangeiros nem sequer são distinguidos por sua nacionalidade. Essa atitude
demonstra certa tendência em ocultar a presença massiva dos brasileiros nos departamentos
situados na fronteira com o Brasil e nos demais departamentos.
A figura 1 mostra a abrangência dos colonos brasileiros em território paraguaio,
apesar de que para os órgãos governamentais, e do Censo, eles não conformam número
expressivo de estrangeiros, por outro lado, é considerado uma invasão pelos próprios
camponeses paraguaios.

Figura 2: Mapa da “invasão” brasileira no Paraguai.


11

Fonte: GODOY, 2014.

Alguns estudos feitos por órgãos departamentais e nacionais citam o impacto das
colônias menonitas situadas no Chaco Central, porém não leva em consideração a
superioridade numérica e econômica que representa ao país a colônia de brasileiros na Região
Oriental. Teria o governo paraguaio receio em expor a real importância desses números?
Diante da dificuldade em apresentar estatísticas concretas e confiáveis, pensamos que
somente uma pesquisa de campo exaustiva e detalhada poderia dizer com mais precisão
quantos brasileiros e seus filhos vivem no Paraguai. De momento, os números aqui
apresentados têm como base duas fontes de dados: a do governo, que como já dissemos tenta
dissimular uma realidade, e a referência de alguns autores que estudaram o assunto.
Os números são deveras contraditórios quando comparamos as cifras do censo do
governo com as de algumas publicações, as quais dizem que os brasileiros residentes no
Paraguai seriam 300.000 (FOGUEL, 1995), 400.000 (PEBAYLE, 1994), ou até mesmo
500.000 (SPRANDEL, 2000) Os governos brasileiro e paraguaio concordam que o número de
imigrantes pode chegar a 450.000, e que os 108.526 que apontam o censo, representam
somente o número de documentados. Com relação ao número de filhos dos imigrantes não se
sabe exatamente quantos poderiam ser. Muitas famílias nem sequer registram seus filhos no
Paraguai, por não considerar o país como sua pátria. Outros por questões de segurança
12

registram os filhos no Brasil e no Paraguai. Determinar quantos são os filhos de brasileiros


que possam ser paraguaios é quase impossível. Poder-se-ia chegar a uma porcentagem
aproximada fazendo uma investigação de porta em porta nas localidades onde predominam os
brasileiros.
Como foi dito, é difícil determinar com exatidão quantos são os imigrantes e seus
descendentes no Paraguai. Além das dificuldades encontradas, se somam outras, como
aqueles dados que não aparecem nas estatísticas, como é o caso de brasileiros que possuem
terras no Paraguai, mas que não residem no país. Não obstante, apesar de serem pouco exatos
e confiáveis, os dados são reveladores e deixam claros as tendências dos fluxos migratórios.
As estatísticas apontam que a imigração no Paraguai passou de 223.160 pessoas em
1972, para 1.221.101 em 1992. Esses números representavam, na época, 9,47%, e 29,4% do
total da população do país, respectivamente. Em volume, são cinco vezes mais imigrantes em
apenas duas décadas, sendo que a população do país passou de 2.357.955 habitantes em 1972,
para 4.152.588 habitantes em 1992 (PALAU, 1995).
Ao comparar a evolução da população absoluta com relação a dos imigrantes,
percebemos que o aumento da população paraguaia foi de 76%, enquanto que o volume de
imigrantes subiu 288%. Do total desses imigrantes, acredita-se que 60% sejam brasileiros. Os
demais são árabes e asiáticos que controlam o comércio na área de fronteira; os menonitas que
se estabeleceram no Chaco Central, e os argentinos que se concentram principalmente em
Assunção e Itapúa. Partindo do princípio que a população paraguaia em 1992 era de
4.152.588 indivíduos, e que os estrangeiros somavam quase 30% desse total, sendo que, dessa
soma, 60% são brasileiros, chegaríamos facilmente a um número de 700.000. De 1972 a 2002,
houve um crescimento no número de brasileiros em território paraguaio. De lá para cá se
passaram mais de quatro décadas. Quantos seriam hoje os imigrantes, seus filhos e netos?
Diante de tais números a única conclusão que se pode chegar é que seja qual for o total de
brasileiros existentes no Paraguai, eles são muito importantes não só por sua expressividade
demográfica, mas muito mais pelas mudanças que provocaram no país.

Figura 3: Paraguai: evolução demográfica por departamento: 1972 e 1982


13

Fonte: D.G.E.E.C. Anuário Estadístico, 2003.

Figura 4: Paraguai: evolução demográfica por departamento: 1992 e 2015

Fonte: D.G.E.E.C. Anuário Estadístico, 2015.


Considerações finais

A fronteira leste paraguaia, emersa em florestas desde a colonização, sofreu um


processo de radicais transformações econômicas e demográficas a partir dos anos 1950 e,
14

especialmente durante os anos de 1980, período em que recebeu milhares de imigrantes


agricultores, provenientes do sul do Brasil.
A ocupação dos territórios fronteiriços por brasileiros foi possível por que as bases da
economia paraguaia eram fracas para impulsionar o desenvolvimento dessas regiões, antes e
depois da colonização. O isolamento imposto pela geografia e a concentração da população ao
redor de Assunção, no centro do país, constituem fatores que impediram a ocupação das terras
periféricas.
Porém, outros fatos históricos igualmente contribuíram para o esvaziamento das
fronteiras, como a Guerra da Tríplice Aliança e as políticas migratórias mal dirigidas pelos
governos do pós-guerra. A guerra não só dizimou a população do Paraguai, como desmantelou
o prodigioso sistema agrário, base principal de sua economia, relativamente autônoma, como
deixou vastos territórios livres para futuras conquistas migratórias.
Por outro lado, analisar a dinâmica populacional do Paraguai antes e depois da
chegado dos brasileiros, não só revela que os imigrantes dinamizaram a economia,
consequência da modernização da agricultura, como mostra efeitos sem precedentes de um
impressionante aumento demográfico, capaz de incorporar os territórios periféricos, antes
isolados do resto do país.

Referências

CARDOZO, Efraín. El Paraguay colonial. Editora El Lector, Asunción, 1998.

Censo Nacional de Población y Viviendas. Asunción: D.G.E.E.C., 1992.

CICRED. Comité Internacional para la Coordinación de las Investigaciones Nacionales en


Demografía. La Población del Paraguay, 1974. Disponível em:
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