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Teoria da ArgurP-entação
1
Tradução ··
. - Clar1dio Molz ·· - ·
Foto de capa:
Ca111ila Mes1z11itt1
Editor:
Amouio D1111icl Abreu
Produção:
Kleber Kolin
Edito ração:
ETCetern Editorn de li>"ros e Revistas Ltda.
Fo11es: (011) 3815-3504 / 3826-4945 / Fa.-c (011) 3826-7770
etcctera@etceteraeditora.com.br
Günther. Klaus
Teoria da argumentação no direito e na moral: justificação e aplicação/
Klaus Günther ; tradução Cláudio Molz ; introdução à edição brasileira
Luiz Moreira. - São Paulo : Landy Editora, 2004.
i: 04-2893 CDD-170
lodices para catálogo sistemático:
1. ttica : Filosofia 170 . !
.,
Direitos reservados para a língua portuguesa
1
LANDY
11.
.1 Landy Livraria Editora e Distribuidora Ltda.
' Alamedafaú, 1.791-tel.c fax: {11) 30~1-4169 (tronco-chave)
CEP 01420-002 - São Paulo, SP, Brasil
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1
landy@landy.com.br
www.landy.com.br
i 2004
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1
1
PRIMEIRA PARTE:
i .
O PROBLEMA DA APLICAÇÃO NA ÉTICA' DO DISCURSO ••••••.••••• 33
i
1 •
6. A apl. _ do prmc1p10
1caçao . . . moral ................. ~'....................................... . 101
SEGUNDA PARTE:
O PROBLEMA DA APLICAÇÃO DE NORMAS NO DESENVOLVIMENTO
DA CONSCIE.NCIA MORAL ................................................-·-··---- ... 121.
TERCEIRA PARTE:
ARGUMENTAÇÕES DE ADEQUAÇÃO NA MORAL ••:........................ 299
1. O problema da colisão: normas prima fade e normas definitivas..... 305
2. Argumentações de adequação como procedimento experimental e
processo moral de aprendizagem....................................................... 323
3. Elementos de uma lógica da argumentação de adequação................. 335
3.1 Descrição completa da situação............................................... 336
3.2 Coerência das normas .................................................. ,........... · 349
QUARTA PARTE:
ARGUMENTAÇÕES DE ADEQUAÇÃO NO DIREITO........................ 359
·.1
INTRODUÇÃO À EDIÇÃO BRASILEIRA
1
i .
Luiz Moreiré
,-
e sua exigência de concreção.
- -
Assim, como cabe às normas morais a tarefa de justificação por
~ ~
meio do critério de generalização das pretensões assumidas, cabei ual-
mente às normas jurídicas a missão de concre ão. Tal concreção é
re zada tendo em vista a superação da dicotomia entre norma e fato,
ou em termos habermasianos, entre facticidade e validade.
Embora Klaus Günther tenha uma ligação acadêmica estreita com
Jürgen Habermas, e tenha participado do grupo de pesquisa, financia-
do pelo Programa Leibniz da Comunidade Alemã de Pesquisa, que
resultou em Direito e Democracia: entre factiddade e validade, 2 ~
rof>rlamente uma corres ondência estreita entre as teses deste livr e
as defendidas por Habermas. Ao contrário, ünther defende a tese de
~ ----------.L
2. HABERlV!AS, Jürgen. No Brasil este livro foi traduzido pelo professor Flávio Beno
Siebeneichler e editado pela Editora Tempo Brasileiro em 1997. No original:
Faletizitiit 11nd G1/t11ng. Beitriige Z!'r Disle11rstb1ori1 áes Ruhts 11nd dts demo/erati1'hen
RlchJJlaats. Frankfurt/M.: Suhrkamp, 1994.
ue não é possível afastar-se da razão prática. Tese, aliás, radicalmente
contr~tia às articuladas por abermas.em 1992, e que vem afumada
pereml;'toriaµiente no prefácio, segundo parágrafo, na obra que ora se
apresef}tà: "!;-lesse sentido, ~este li~ é a de que não é possível
abdicar da razão prática". 3 -- _.,
~rma$'.j~d\cas·diretamente
. ------------------
Q.;. que !sto significa? Ora, Günther deduz a racionalidade das
. das_E~m~s mor~s, confõfme a estrutura
prescn~vact~ razão prática. Habermas :não deduz -a ~dade das no r-
mas~jdi~s. da moralida~~ tampo~de uma estr~fua prescritiva.
a priori, própria à razão prática. Conforme as teses postuladas a partir
de 19n, a p.rescritividade a posteriori parece inerente à formulação
haberntasiana da racionalidade comunicativa.•
Estas du~ posturas, por antagônicas, não são triviais. Delas resulta
uma articulaçãp diferente do modo pelo qual o Direito s~ legitima.~
Günthei: entr~ justificação e a licação encontra-se a especificidade da
~~por ~eio da generalização da pre-
tensão dç aceiq.bilidade de suas premissas, cabe a tarefa: de fundamentar
as norm~s
...... _ ~ondu~a. Ao DireitoJ por mciõ'da aplicaçã;;- a tarefade
.... de_...____
efetividade dos Q_adrões de conduta.
--- ____... ---...... --
- -
--
Desde já se evidencia, para Günther, neste trabalho, ~-
--
dência normativa do-Direito em·relação. ,..... Habermas, ao
à moral. Para
contrário, não haveõâtãf"depeodênciâõ.ormativa, mas uma relação de
!
_____
_____...;.__-..
co-originariedade normativa e de complementaridade funcional entrs:
.....
~-
...___
-
- ~ .-. -~ --
1 ~ ..
-
Paí sucederia, para Günther, a: vinculação deste livro à prescriti-
, 1 ' •p • ''• - - '~
vidade decorrente da razão prática. '.Umâ ti~dição que, de Aristóteles
f
a Kant, fo~tnlll~_ orien_taçÕ~s. p~r~· ~s o:~d11tas, segupdo premissas pre-
. viamente estabelecidas. Evidentemtrnte, a proposta de Günt!i~r_!J.ão_ .
.. .. --· se vincula à·ética eudairriônica·iristotélicã;_.~õda-~~ç;~-·;·prindpio
1
!~~
preende-se o rincípio moral "U" como procedimento dialó ·co
a postenori. Neste caso espec1 1co, a ettca o discurso não confunde
~ .
a
universalização, como critério, com a pretensão de que o próprio crit4riq
seja ele mesmo universal. Por isso, não é o princípio "U" que legitima
·~ ~ a norma. Como ética vinculada à razão prática, a ética do discurso
i ·~
avalia os critérios normativos com os quais a sociedade proclam~ o
estritamente bom, desejável. Somente em um discurso úblico, reali-
\."
i~ 'j zado conforme "~teremo~aJ.'::tifica~o ?aq~ue a socieda~e
~ ~ ~a como normativo.
..,... ';!' ' ~ntre a universalização como critério crítico
~ ~
'lie a pretensão de que o próprio critério seja ele mesmo universalizável
depreende-se da distinção entre éticas formais e éticas materi"a.is. Uma
coisa é oferecer um critério de universalização das tomadas públicas
i ·
~ de decisão; outra é oferecer a própria decisão. Nesse caso, o critério de
~ ~ universalização compreende-se como critério avaliativo daquilo que a
-~ \Jj sociedade entendeu como valor. O que a ética do discurso não pode
'~
~
. ~
.
'~
.'~ ~ s. Cf. HABERMAS, Jürgen. Con.uiinda 111oral e agir m11111nirativo. Tradução de Guido An-
~ \~
tónio de Almeida. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1989. À p. 147 é dada a seguinte
.
versão ao pánápio "U": ''Toda norma válida tem que preencher a condição de que
as conseqüências e efeitos colaterais que previsivelmente resultem de sua observàn-
i ~ ~ cia 11ni11tr1al, para a satisfação dos interesses de todo individuo, possam ser aceitas sem
'
12 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
fazer ~ produzir a própria decisão. Ao. contrário, as éticas materiais
oferecem o próprio valor; é o conteúdo mesmo que é universalizável.
Assim, pretende-s~ produzir valorés, modos de vida válidos em toda
parte e lugar.
Porque a ética do discurso6 rejeita' a possibilidade de oferecer a
:1 própria decisão para processos interativos, há a distinção entre ques-
tões de valo;- e questões de justiça,.entre a,xioma e norma. 7 Neste as-
pecto, é necessário esclarecer um ponto freqüentemente olvidado. Por
-- 'I; ~.
- - - -
meio do conceito "mundo dá vida" introduz-se tal distinção. Com.,.
~gualrnente o mundo da vida~ valorações e2PeCÍfi:!s de ca<;!_a
eedade, aquilo que é considera~ melhor e !:?m, e a estrutura ng_r-
.,...-
.;;
9. ALBERT, Hans. Traktat iiber hitirthe Virn11nft. Tübingen: Mohr Sicbcck, 1991.
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-- - ------ --·- - . - - -----. ------ . ·- -- --i:.:
14 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
o cirmlo lógico, recorre-se permanentemente às mesmas proposições
não demons~adas, a fim de permitir a utilização das mesmas fases
recorrentes como ~olução para todâs as pe:rguntas e deduções; com a
terceira objeção, a Ífterrupçào dogmática do processo de fundamentação, cria-se
um recurso l:iaseado na autoridade do arguanento ou na arbitrariedade
de certas prapussa~ para se pôr fim à perq~ção.
---
·I
10. ROUANET, Sérgio Paulo. "Ética discursiva~ ética iluminista". ln: Mal-estar na modernidade,
p. 223-224: ''A estratégia da contradição P~rl"ormativa não tem apenas o fim polêmico
de desativu os argumentos do adversário, ~as o de identificar os pressupostos neces-
sários de toda a argumentação. São aquele11 que não podem ser negados sem contra-·
dição. Sua inevitabilidade é demonstrada ~elo fato de que todo aquele que os rejeita
é obrigado a utilizar, em sua argu~entaçàl::>., estes mesmos pressupostos."
-
~niversal de todos 7)°s e;.;olvidos. 11 Em virtude de o conheci-
mento dos participaqtes er\1 discursos ser limitado e o tempo finito, a
dimensão de justifica.i;:ão n~cessita da dimensão de aplicação.
Por seu turno, a aplicação diz respeito à adequabilidade. Para que
se de;rmine Sê'ãigo é ou não adequado, éne~sário que b;Ja concre-
- -
ção. É a aplicação que determina se uma norma é ou não adequada. 12
A adequabilidade de uma norma deverá ser aferlêla mediante
de todas as características da situação, bem como a consideração de_
-~ o exame
-
- - - - _..
- --·
bilidade refere-se, portanto, à sua relação com a situação e a todas as
....!!Orm_.E:-!:_9.Ue possam a ela se· reportar. E>· discurso· de aplicaçãõSe carac'-.
..
,_..........
-
teriza pela tentativa de considêtãrioda.r a.r caracteristica.r de uma situação •-·.
em relação a todas a.r normas que possam _remeter~se a elas.~-:-____ _
;ato é alcançado EJedi!?te o concei~ de !!_erêncià e tem.1'º1:......~e
a constitui ão de um sentido de imparcialidade à a licaW.A aplicação
será imparcial quando coerentemente realizar a adequação entre todas as
características e todas as normas envolvidas em 'cada caso.
11. Neste ponto, Günther incorpora, à sua tese, dois dos mais importantes ~~:~~:;:-~~~:;;:; 1-
__ ··•· -, ::
da ética do discurso: o princípio ''U" e o princípi() ''P"'. ()
Priricíe!o "I?'.' P?!~~-_a~~~-------------1
seguinte formulação: "Só podem reclamar validez as normas que encontrem.(ou ~- _ _ _ __ •
possam encontrar) o :1_sse~timento d_e t()dos_ o~ _<;()nce~_l"~g()_!~nquan_t() p~~Pan.tcs-~- - ·- · _ -· ::_,--~F
de um Discurso prático." Cf. HABERMAS, J. Consciência moral e agir comunicativo, - -- ·· [
p. 116, bem como HABERMAS,J. Direito 1 Demomidd. mtrefadiaámú 1 'validad1. Traâu-·- ·- ·- ·-· .·
çào de Rávio Beno Siebeneichler. Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, tomo I, 1997, :: _
p. 142: "São válidas as normas racionais às quais todos os possíveis atingidos pode~."•·_:'. - í-
riam dar o seu assentimento, na qualidade de participantes de discursos racionais".-"'·-~-,; t'
12. Sobre o processo hermenêutico de aplicação das normas, como possibilidade con~_,_.~---- ' · -
ereta de formulação de juízos de adequabilidade, cf. OLlVEIRA, Eugênio Pacclli .,.•- -.---
de. Pro<esso 1 h11'11teni11ti'a na tutela penal dor áireitor fundamenlair. Belo Horizonte:--:: - -
Dei Rey, 2004. . __ _ .. __ _
;.,1-' :·
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1
1.
II.
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nham ig:l.lalmente um ..Efil2el importante, mas são diferentes daqqelas
que se podem alegar para a validade de uma norma. -· . · . -
- -- -------- ---- ----- -----·------· ----~ ---~--··-~----- -- -----'---.- - ---·- -- ·--- --- --------------
PREFACIO ~·
Ll
Em uma sitúação que implica ação, essas razões têm a ver com a
opção por características relevantes da situação. Se dei.""<:armos de con-
siderar um aspecto essencial da situação, ou não ~de-
ua amente, po era aver unportantes conse üências morais. Não
será possível evitá-las examinando os fatos considerados quanto à sua
veracidade e a norma sugerida quanto à sua correção. Este fato pode
ser melhor compreendido por meio de um exemplo do próprio Kant
e que, na bibliografia kantiana, é reiteradamente apresentado.
Quem delatar um inocente aos seus cruéis perseguidores, por não
querer ser culpado de uma mentira, desviará o foco de si e eliminará
todos os aspectos dessa situação que não se relacionam à sua intenção
de mentir. Essa intenção é o único fato relevante pelo qual ele opta.
A respeito desta opção não é possível argumentar que a situação defi-
nida que lhe corresponde (eu quero mentir) contivesse afirmações de
fatos inverídicos. 2 Da mesma forma, a respeito das outras afirm~ções
factuais (o perseguido é inocente, os perseguidores são cruéis) seria
possível argumentar se elas são verídicas. No entanto, dessa poss,ibili-
dade não resultaria nada que contribuísse para a questão, se consipera-
mos todos os fatos relevantes (que externamos por afirmações façtuais
verídicas) ou se a seleção feita também for adequada. Da mesmll for-
ma, concordando-se que a norma sugerida é digna de ser reconhecida
(tu não deves mentirQ e, simultaneamente, assentindo-se acerca da sua
·.·.~
2. Para simplificar, incluo, nesse exemplo, a intenção de mentir entre os fatos que po~
dcm ser objetivados, desconsiderando relacionar posturas subjetivas com o conceito
de mundo subjetivo.
·.·.~
--------
rido acima, fica evidente que não se trata de um problema marginal da
-------
.
w.....V
.. . . . .. .. -
.
..
quais são as afirmações verídicas, em ffi:eÍo aos fatos e às normas de
ação, que poderiam ser consideradas válidas. Em outras circunstâncias,
.
..
·.',
porém - seja lá por que razões e motivos - atuamos de forma "imo- :
ral" porque deixamos de perceber determinados aspectos da situação,
enganamo-nos na avaliação ou desvalorizamos o peso das proibições
ou de detertl1Ír\ados mandamentos, dignos de serem reconhecidos,
ambos vistos em relação à norma a qual acabamos de fato seguindo ~-
na respectiva siµiação. Acusações ou cóticas desse tipo não querem; ;,:..-
dizer que eu tenha intencionalmente falhado na avaliação dos fat~s ou no · · · · -- ·
aquilatar das nofmas, Esta acusasão se .aplica a quem simula.ter.atWi-____ · _:_
do de forma moral, quando, na verdade, seguiu os seus próprios inte~ -
;:
.:· resses, enganando a outros. Ele está em condições de avaliar os fatos e
·- ---·-···~---- --·---·-------
• ··PREFACIO 23
ponderar as normas relevantes corretamente, mas, ainda assim, age de
modo diferente. É mais rovável que aquelas acusações se refiram à
-
· falta de cuidado ao considerar fatos relevantes, a ausencia de sensibili-
"-" ~ ____...
dade às ~ias especiais e a uma percepção insuficiente q~to
--
à forma de a · em vista da situa ão especial. Desse modo, evidente-
mente, só chegamos a mencionar diversos predicados de disposição
que podem ser resumidos sob o conceito da faculdade de julgar. Po-
rém, os predicados avaliativos, ou normativos ao menos, como a ava-
liação correta/errada, a ponderação correta/errada, bem como as com-
parações normativas ou avalia tivas, fazem, além disso, parecer plausív~
a suposição de que os atos mencionados, ao menos até um certo ponto,
são acessíveis a um julgamento racional.
Seria sem sentido utilizar expressões desse tipo se não houvesse
a possibilidade de um entendimento a respeito do seu significado.
Não faltam sugestões de como este significado deveria ser con-
ceituado. Tradicionalmente, entendem-se os atos de escolher caracte-
rísticas relevantes da situação como expressão do uso da faculdade de
julgar, cuja conseqüência é não se conseguir determinar critérios ra-
cionais para o julgamento. No caso, duas reações a esse problema se
contrapõem, em cada uma delas a faculdade de julgar ocupa um lugar
diferente na escala de valores:
·'
4. Quanto a isso, cf. agora o esboço abrangente de WOLF, Ursula. Das Prablem du
morali1dien Solkn1 (O problema da obrigatoriedade mocú). Bcrlim/Now Yorlc 1984.
1.
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: 1 . 1
ele, ou se· a, ual é a concepção de vida boa que ele, em conjunto com :
outros, almeja alcançar. Portanto, as caractensticas a Sltuação de-
ntes ara uma escolha pru ente da ação são aquelas ade uada aó
_çgn~ de vida b2.ª· Assim, t aCUJ.<!!de ~ ju gar é compreen~a
~mo a utilização da prud~a, aprendida ao se ensaia~em as dispo-
sições (virtudes) corretas. O ue é correto dependerá da situa ão. 5 1
5. GADAMER, Hans-Georg. Wahrheit 11nJ Method4 [Verdade e método]. Tübingcn: 4a. ed.,
1960, p. 296.
6. Cf. p. ex. FOOT, Philippa. "Moral Bcliefs" [Crenças morais]. ln: Virtues anJ Vias
[VlrtUdes e vícios]. Oxford: BasilBlackwcll, 1978, p. 110ss (e 121).
7. Esse passo é exigido coerentemente por Wellmer. Cf. WELLMER, Albrccht. Ethik
·' 11nd Dialog [Ética e Diálogo]. Frankfurt/M., 1986, p. 135ss. Voltarei a este assunto
mais abaixo (Primeira Parte, item 5). ·
y
versalização da norma ou da máxima que decorre a possibilidade de .,
seu cumprimento, não sendo permitido depender da respectiva situa- ;i
1O. Na sua transformação oco-aristotélica de Kant, Wellmer procura amenizar esse pro-
blema, interpretando o imperativo categórico rigorosamente como um princípio
negatório da moral, cuja única finalidade seria proibir máximas de atuação que não
fossem passiveis de universalização. Como essa critica a Kant tem por meta de-
monstrar que é supérfluo exigir um princípio consensual de fundamentação e,
assim, reverter o processo de discinção entre fundamentação e aplicação, voltarei ao
assunto mais abaixo (cf. Primeira Parte, item 5). WE.LLMER, ibid., p. 26ss.
\
e) Diante dessa alternativa é fácil de se entender porque se incluir mais ·
uma terceira "resposta" ao problema de determinar com maior preci-
são a faculdade de julgar. ~stêmicas ra$_caliz~ a ~eri~
de contin • cia, invertendo com isso questionamento: ·á,. não. se trata
de saber como uma a ão orientada or normas seria possível, a esar
da contin ência e da indefinição, sobre a condição de estruturas
,,
..:::.:::.:;;.:=--~:.:::..:::.:;.~~:::.?:::..:....::;:;:.r:.c.:;::::z:=-:~..;;J"""""-..O:ªs. Agora, mver-
samente, a resolução normati e, dentro desta, em especial a resolu-
ção moral de sitµações conting ntes e indefinidas aparecem como uma
estratégia inadequada para a ºdade, justamente pela diferença en-
compelida à mudança. 13 Em vez disso,
·--
11. Cf. a enérgica apresentação d se aspccto cm BuBNER, Rüdiger. Geschi&htprozµr1 11nJ
Handlt1ng1norm1n [Processos stóricos e normas de ação]. Frankfurt/M.: 1984, p. 35ss.
12. Poderia ser comparado ao ponto de vista da finitude'', de Gadamer (GADAMER.
Wahrheit [Verdade], ibid., p. 4), pelo qual naturaknente só se opta a fim de recuperar
a segurança na consaen histórica dos efeitos.
13. Cf. exemplarmente apenas: UHMANN, Niklas. Sozja/1 Sys/11111- Gruntlrüs einerallg1111tinen
Theori1 (Sistemas sociais - boço de uma teoria geral]. Frankfurt/M.: 1984, p. 599; e
ÔkalotJ.rch1 Komm11nikatio [Comunicação ecológica]. Opladen: 1986, p. 259ss.
........... ?_ ·-··- ..
/l. ,,.110 PR.EFÃCIO 29
teorias sistêmicas fazem conexão com um conceito ue ·á no começo
da era moderna, estava espr e or zação - o conceito de
~ - que opera para cançar certas metas e que f~i defiq.itiva-
mente depurado, pelas teorias sistêmicas, de conotações tanto de boa
vida como da consecução do poder e, também, de um esquema de
fins e meios, relacionado a açõ~s intencionais. Vistos a partir da pers-
pectiva do observador, os sistemas sociais se formam por me~o de
sele ão t ·ta ent~e possibilidades indeterminadas e se esta iljzam,
reforçando estas se eções or meio de estruturas. 14 A fim de e~~r
reproduzi-las em diferentes situa ões ~n
dngenc1a mediante a "tem orização da sua com lexidade". 15
Os seus próprios elementos só consistem de eventos (atos de
conscientização, atuações e informações) que, a qualquer momento,
precisarão relacionar-se de forma nova e diversa, a fim de que o sis-
tema tenha continuidade e determinação. Se sistemas sociais obtive-
~
rem êxito em desenvolver estruturas que possam tratar eventos e.o o
informações (ligan o, por exemplo, a seleção de eventos com codifica-
.....__
~ .,
·;~
.:-{ 17. Ibid., p. 76ss.
l
.. ~ ···- - ·-- ·- -- ------ - ----------~-
---------- ----- ----- ---- --- - -- -
j , PREFACIO 31
:~
r">.. ·,t) \ ~ ,,;J-~
V- ci--t.'{ .Jl v
/1 .
aristotélicas de solução deram provas da sua insuficiência por se refe-
rirem às normas morais, integran~tas na concepção de uma vida
boa, a qual não mais consegue reystir à pressão da contingência de
situações de aplicação. Já teorias· sistêmicas resistem a ess3:_pressão
para, em se uida, absorvereri'i-na a ponto de tor~üêrflua a cone-
xão do problema com uma atuação moral. Para mostrar que a.solução
racional a questão da aplicação é possível, ao menos até um c\etermi-
nado grau, teremos que empreender dois passos. Primeirame~te pre-
cisamos mostrar que uma distinção entre a fundamentação e a aplica-
ção de normas morais é possível e faz sentido. Para isso, recorrei:mos
à ética do discurso, uma vez que ela contém a formulação mals clara
de uma ética cognitivista, na qual a validade de normas morais d~pende
da qualidade da fundamentação. Entrementes, foi a ética do ~scurso
que se confrontou de forma mais contundente com a objeção ~e con-
siderar de modo insuficiente a. respectiva situação especial. Te~emos,
ainda, de enfrentar objeções negando que faça qualquer sentid& per se
defender tal distinção. '
Se for bem-sucedida a delimitação da fundamentação e da .iplica-
ção (primeira e segunda partes), examinaremos posteriormente, em
!
um outro passo (terceira parte), se há como explicitar critérios'racio-
nais para a aplicação de normas. Como as reflexões preliminares de-
monstraram, não basta manter na indeterminação esta explicitação,
sob a alegação abstrata que remete para alguma faculdade de julgar.
Durante a tentativa de distiõguir entre fundamentação e aplicação,
ficará evidente que todo o projeto de uma ética cognitivista dependerá
de que ela não só consiga sugerir um procedimento capaz de avaliar
boas razões para as normas, que sejam de obrigatoriedade geral, mas
também que saiba se pronunciar sobre a aplicação de tais normas em
situações concretas. Só depois de termos explicitado tais critérios,
poderemos, conforme o sistema jurídico, atacar o problema, se a inde-
. terminação estrutural de situações de aplicação não condenar todo o
empreendimento ao fracasso (quarta parte).
-~ .
·. O proble~a da
aplicação na
!
ética do discurso
.
'
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1
1
P A R T" E
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~ . ·-- -- -···-· - -·
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-- - - --·- - ---- ·-----------~- -- --~-------
1 .
No PRESENTE CAP!TULO fundamentaremos a tese de que, na ação mo-
• 1
, s • ,, .•:. __ - •.••
1 um pouco mais simples do princí io· semântico moral, tal como suge-
.ri o, entre outros, por Hare. No caso, a relação entre fundamentação
7ãpikaçã;j'ã' se torna te~ática, porque ~sen;!ntic~ de .e_o-
tencial universalização pressupõe ue a· hi 'tese de norma possa se.r
aplicada em situa ões ue sejam diferentes, mas suficienteme te se-
-----
melhantes. Depois desse primeiro passo, explicitado sob 1, abordarei
o princípio mpral "U", que parece até exigir
'
um.t referência a situa-
ções de aplica,ção, $,e é que faz parte das condições de uma norma
válida considerar as "conseqüências e os efeitos secundários, que pro-
vavelmente rescltarão do cumprimento ',geral ... ".
As dificuldades de compreensão dessa relação de aplicação apre-
1
)
'i
-~
..,
...-J'
o.-:
. i·
1. Fundamentação e aplicação sob a
pressuposição de utn princípio
semântico de. p9tencial
i
-~
universalização
i
o RECONHECIMENTO
. -
DE QUE NÃO HÁ NORMA que não contenha referêri-
,~··
~onal alguma, _gor mais têf!!:!.e que_;;~" é indiscutí~, ~-
- -· .i
quer norma moral se caracteriza por ser "impregnada de caso". Ao '
------ - - - - .. . ·• -·. !
considerá-la, podemos pensar nas análises de Hare a respeito da dife- l
rença entre os componentes descritivos e os componentes prescriti- ·I
vos de significado de uma norma moraP oµ, no discurso de Wellmer, · f
a respeito do inevitável "índice situacional" de qualquer norm~.4 Não I
há como esquecer reconhecimentos hermenêuticos quanto ao fato de .i
-~
o
que normas dependem da situação,5 que, no existencialismo, che- 1
-----·- -·-··----···-------..:.......---
1
i
I·
'
7. HARE. Moral Thinking [PeO:samento moral], ibid., P: 41; "Universalisierbarkeit"
[Universalização Potencial]. ln: Semínar: Spracht 11ná Ethik [Seminário: linguagem e
ética]. Frankfurt/M.: cd. Grcwcndorf, G. & Meggle, G., 1974, p. 198 ss (p. 204, ---
208 ss, 214). .
......._ - ..-. -,
de aritemão, a fundamentação de uma norma ao caso presente e aqs .
.
....
20. Cf, p. ex. HARE. Frriheit und Virnunft [Libw:lade e razão], p. 111. Somente a decisão
sobre se queremos uma hipótese de norma sob condições alteradas sem
autocontradição é que não pode ser hipotética, uma vez que, de outro modo, pode-
riamas conseguir nos evadit da prescritividade do "dever" (cf. ibid., p. 127).
-
tivesse uma importância pequena.
De qualquer modo, a interpretação semântica que Hare dá ao
~ignificado de "deveria" não leva ao abandono
. -
da distinção entre fim-
~· Ela não nos demonstra o quê teríamos de
fazer, em determinada situação, se tivéssemos de selecionar as carac- /
terísticas relevantes que precisamos relacionar com uma norma ade-.
quada à situação. Só quando hipoteticamente formularmos uma norma
com o auxílio do princípio da universalização potencial, poderemos
examinar se ela é moralmente válida.
.
-~;
--
era liga~ a uma c~aração ~sas situações e ca~terísticas
-------- -
relevantes são as conseqüências e os efeitos colaterais que, possivel-
~ente, a aplicação de uma norma sugerida o era ter em rela ão à
'
---------
característica de um critério. Apontar méramente par;-características
situacionais ainda não justifica per 1e uma ação, a não ser no caso em
que possa fundar-se em uma norma, para a qual aqueles dados e; aque-
las características sejam relevantes.
A propriedade de ser base de ação não é auto-evidente nos qados.
Ela só lhes é própria desde que a ação resulte de uma norma, junta-
mente com as características situacionais. Se nos utilizarmos do_;.§.:--
quema de ar mentação de Toulmin, conseguiremos esclarecê-lo. Se-
gundo esse esquema, denonúnaremos de "C" (do inglês conc/111ion
[conclusão]) a ação carente de justificativa; os dados relevantes e as
características situacionais, de "O" (do inglês data [dados]); e a norma
de ação, de "\Y/" (do inglês warrant [justificativa)). Para a justificação de
uma ação, obtém-se o seguinte esquema simples:29
\..&-~\ ~~ \
D e\~
T. ·'"'~
w~--.{~t~·
28. Ibidem.
29. TOULMIN,Stepheo. DerGebra11ch vo11Argume11ttn [O uso de argumentos]. Kronberg/
Ts: 1975, p. 90.
31. ~bidem, p. 90, bem como: TOULMIN, Stephen E.; RIEKE, Richard & JANIK, Allan.
.An IntrotÍll&tion into Rearoning [Uma introdução à argumentação}. Nova York e Lon-
dres: Macmillan, 1979, p. 324. Cf. também BAIER, Kurt. Der Standpunkt Jtr Moral
[O ponto de vista da moral}. Düsseldorf: 1974, p. 94; e SINGER, Mateus George.
Verallgtmtintr1111g in tkr Etbik [Generalização na ética). Frankfurt/M.: 1975, p. 65.
32. ALEXY, Robert. Thtorit tkrjuriJtiJc&n Argumentation [feoria da argumentação jurídica}.
Frankfurt/M.: 1978, p. 116.
33. No caso de uma reconstrução lógica mais precisa, seria naturalmente necessário
acrescentar que, referindo-se a Fx, trata-se tanto de uma condição suficiente quanto
de uma condição necessária para a obrigatoried~de de Gx.
de D para C, mas também W terá de ser aplicável a D e ser aplicado
comtamente a D. Entretanto, esse problema de aplicação deve ser distin-
guido da qu<;stão de se, em vista de diversos outros dados e diversas
caracteristic~ situacionais, a passage~ de D para C é adequada e se
acaso não M ainda outras regras concl1:1sivas que podem ser aplicadas a
outras cara~risticas situacionais (ou às mesmas de uma outra maneira) e
que, por iss~~ nessa situação, levam a hma outra conclusão que even-
tualmente tei;ia de ser preferida à original. Quando Toulmin formula .
que, em ar~mentações, deveríamos cc~osttar que é adequado e. legiti-
mo o passo, a partir desses dados, que servem como ponto de partida,
em direção à afirmação original ou à co~clusão",34 neste caso o sentido
dessa assertiva pode referir-se a ambas ~ coisas. Porém, conforme acom-
panhamos Toulmin, a sua proposta de reconstrução para a lógica argu-
i
.)
mentativa nãp contribui em nada para o problema de aplicação no seu
sentido mais amplo, que se refere não à aplicação correta de uma nor-
ma, mas à aplicação da norma correta (apropriada).35 -
i
3. Duas versões do 1
princípio de uniyersalização
i
'
1
• 1 .
·:;
-portância diferenciada -----
fica claro que aplicar a norma em diversas situações possui uma im-
ara --
os outrõS"sinais caractcristicos da situa-
ção. Se por mim for isolado o elemento que é o ieto _ mentira e se
- . ..~
t;Ís!tuaç~o_ for ·a.plk_ada à p~<'.)ib1ç~()-de ~<:J:ltir,_ o. fa~~-~e~ c_°-tÍ~~qü~n~
cias para a sorte do inocentemente perseguido. Ora, parece· que· são
exigências desse tipo que são observadas e pressupostas por "U", ao
serem formuladas as "conseqüências e os efeitos colaterais da obser-
vância de uma norma". E, ao serem formuladas, deixa-~e consciente-
mente_ em aberto a pergunta sobre o status que a relação entre a aplica-
ção de uma norma e as conseqüentes ocorrências necessitam: se serão
45. RAWLS, John. Eine Tbtorit der Gtrtcblighit [Uma teoria da justiça]. Frankfurt/M.:
1979, p. 148 ss e 159 ss.
1 ·'
..
. . ~,\~·
. e" (!>'
Na verdade, se aceitarmos essa interpretaçã,I extensiva de "U",
ficará solucionado o problema da aplicação. Se lstendermos o exem-
plo da mentira torna-se claro que os meus~
temente erseguido se orientam automaticamente na direção de dar
prioridade ao dever de salvar a minha vida/sobre
.::..----. .
o dever de--..:_.,,-
opser-
vara proibição de mentir. 46 Ao articular o/meu interesse - que será,
-
neste caso, afastar as conseqüências e os,:efeitos colaterais da aplica-
- - I :·;
.,
ção da proibição de mentir - com uma ~~nstelação de sinais car~cte i
rísticos a mim atribuídos pelo papel do inocentemente perseguido,
reivindico a validade de uma outra nbrma que, nesta situação, ~eria
·p;eferlvel ~e mentir:-Tal interesse também poderi~ ;er
aceito sem constrangimento por todos como de interesse con}um,
de modo que ~validade da .12.roi~e mentir teria de ser recu~a
:;::: ser pro;ila com a restri<?,,o (a ser· formulada em termos univer,;ais)
~
de que, no caso do eerseguido inocentemente, fosse dada prioriqade
~ ',,;
-------
forte" de "U":
-------
evidentes. No entanto, ao deduzirmos a versão forte de ''U", de novo
'
"""- --
conseqüências e aqueles efeitos colaterais que previsivelmente resultarem
-
da observância geral da norma. Com isso, "U" ostenta um indício que
..__-.,
faz com que a sua aplicação fique condicionada ao estado do conheci-
mento no presente momento. Este indício também tem conseqüências
para ~ de validade estabelecido para J[': o interesse com!:!!!} .
de todos os afetados. Só serão considerados aqueles interesses que pre-
~elrnente forem afetados pelas conseqüências e pelos efeitos cola- .
terais da aplicação de uma norma.
Até a circunstância de que os nossos interesses possam mudar
de forma inimaginável faz parte do indício do tempo e do conheci-
mento de "U". Se pudéssemos ter uma previsão de todos os interesses
possivelmente afetados, em todas as situações de aplicação, pelos efei-
tos da aplicação de uma norma, não disporíamos apenas de um saber
-- - ---
.. 66 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
infinito a respeito do mundo objetivo e social, mas também seríamos
~s. Por isso, só poderemos fazer valer os
nossos interesses, tanto na forma quanto na extensão, conforme os
interpretarmos no motpento atual. 47 Entretanto, não há nenhuma res-
trição quanto a admitir pessoas, pois cada um, cujo interesse for previ-
sivelmente tocado pela aplicação de uma norma, poderá participar no
procedimento do exam~ de validade.48 ~lema cog_nitivo, s.ue con-
siste na impossibilidade que os afetados têm de conseguir prever to-
das as situações de aplic~ão, assim como o 4esenvolvimento dos seus
interesses, :ião lhes res~ ;!. direito de su_!!.meter à análise aqu_..tlas
~svantagens ou vantijens que_E.oM.am ser previstas. Por isso, apesar
r
do indício tempo:ral e c.ogoitivo, ainda faz sentido falar~
~a normt.,.A no!;; ~ue for justificada segu:iW'U", representa_iEo
.·..i•.
____...,___.. -
observância puderem ser aceitos por todos, sob as mesmas circuns-
____...........
-
Uma norma é'v:ilida se as conseqüências e os efeitos colaterais de sua
~------~-
--
------------- -
tâncias, conforme os interesses de cada um, individualmente.
!
·
'
;-
'
47. HABERMAS. "Diskursethik" [Ética do discurso], ~ 78; e "Wahrhcitsthcoricn" rreorla
da verdade], op. cit., p. 173.
48. E ele mesmo deverá ter a legitimação para avaliar se os seus interesses serão previsi-
velmente afetados. •.
os perseguidos.inocentemente só conseguem ser preservados da mor-
te por enforcamento por meio de uma mentira faz arte das nossas
~e é, f>Or~~sível que pondere~os as conse-
üências e os efeitos colaterais de uma aplicação geral da roibição de
men . erão di erentes as situaçoes em que um médico diagnostica a
~
.'j
aplicação de "U" evita tematizar se nessa situação é correto aplic;ar ·•:
vância geral" de tal forma que ela preenche o sentido do termo "regra",
de modo a obsei;var também, nas situações em que ela seja aplic:ável, a
mesma regra. E~te aspecto do significado de "observância geral" não
se perde em vista da introdução de um indício temporal e cognitivo,
mas acaba se transformando em mera suposição. Em virtude disto,
podemos antecipar diversas situações possíveis de aplicação e exami-
nar suas conseq~ênci~ e seus efeitos colaterais. Portanto, os nossos
interesses são te~a de ~plicação da versão mais fraca de ''U", confor-
me eles sejam afetado~ pela norma, proposta como regra, que será
observada em todas as situações de possível aplicação. Assim, _sm
''U" .E._ão é lici~ pcrgun~ se é correto aJ?licar uma norma em uma
~o, como ela teria de ser aplicada, etc., mas apenas questionar .as.
cons~üências que preyisivelmente resultariam para os nossos inte..,
r;;;;s;caso ela fosse aplicada em cada uma das situações. Portanto, a
.,
:;
-----
~e se refere apenas~ q~stão se, como regr_a, a norma está dent,{
~ QQ.ssos interesses co~ns.
j ..
Mas se por meio da versão fraca de ''U" consegui!mos resgatai
_q
1 apenas parcialmente a pretensão de que uma norma· seja válida· em
todas as situações, o sentido de imparcialidade permanece parciahnente
esgotado. Segundo a versão forte de '.'U", embora a idéia de imparcia-
lidade abranja tanto a validade quanto a adequação, se ambas não pu-
derem ser tematizadas em uma única representação, então necessita-
remos, conseqüentemente, de um princípio a mais que, em
cada lima das
situações, obrigue-~os a examinar se a pretensão .da r~~ ::-"~e~ _o~s~rvad~ _ .
em toda situação a que for aplicável.,., de fato também tem a SllQ razão -
--i . ':··'
de ser. Como na versão fraca de C<U", desvF-ecemos essa questão, não _ ...
temos de respondê-la para todas as -situações· de àplicação ·simúltanea:. -
•.;..:~--.
'.
L---~~--~----..:.~~~~~~~~~~~~--~ ·t
-~
forma que conseguiremos amortecer o risco que surge, na versão mais
:~
.
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:~
senão que as diferentes interpretações de uma situação devem ser te-
matizadas, pois teríamos de_ orientar as nossas ações por uma norma: ..
.,.
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que pode não apenas ser considerada válida~ nias justificadamente tain-
bém adequada. Durante o processo é que ~os envolveremos com es-
sas interpretações, comparando. entre -Si-interesses qué concorrem e
colidem com expectativas normativas, a fim de formar aquela norma·
em vista das circunstâncias especiais do caso isolado, da qual pode-
mos reivindicar como a adequada. Só após darmos este passo, pode-
remos sair do horizonte da situação especial e examinarmos. se, em ·
vista das circunstâncias, a norma adequada realmente é válida, isto_ é,. _ _______
se as conseqüências e os efeitos colaterais da observância geral podem
71
o PROBLEMA DA APLICAÇÃO NA ancA DO DISCURSO I <
·.
ser aceitos pot todos e cada um individualmer:te. ~~~m~s
dois assos poderão ser resumidos em um só. E bem verdade que esta
hipótese parece óbvia, já que se poderia formular "U" de tal forma
que, em uma situação especial, nos seja exigido considerar conjunta-
mente os efeitos da observância geral de uma norma e os interesses de
cada um, individualmente.
Entretanto, por meio dessa versão o sentido universal-recíproco
de "U" deL'<aria de ser claro, porque ela confunde a tensão entre a
situação particular e os interesses dos que concretamente participam
dela, com a previsível conseqüência da aplicação geral de uma p.orma
em diferentes situações para os interesses de cada um.
A versão mais fraca de "U" parte de uma proposta já selecionada
de n~, p~olocá-la em uma perspectiva situacional geneniµzante
e relacioná-la com os interesses vittuais de todos. Por isso, esta yersão
deve ser complementada por um discurso de aplicação _gue realce ~
~va especíttca da si~ão e a reG"cione com os interesses dos
outros como ~soas c~ncretas. Em situações de aplicação, ain~ão
se trata da capacidade de universalização de interesses afetados, mas,
inicialmente, apenas do seu descobrimento e da relevância situacio-
nal. Reserva-se à aplicação de "U", na versão mais forte, se o interesse
representado na norma contextualmente adequada é realmente legíti-
mo e se, portanto, pode ser aceito por todos em conjunto. Unicamente
~do os dois tipos de argume!!!._açãoyrática es~tare~
mente o sentido completo de imparcialidade e as fundamentações re-
laciona as a interesses epen erem mutuamente de l2licações rela-
._...-.,__.. ------ oW
. cionadas a esses interesses, com rovar-se-:i que a aplicação de normas
'--'""'" -----
em situações faz parte da razão prática. ?videnteaiente nesse E_Onto
.
ainda teremos de examinar a objeção cética de que, mesmo em uma
--
--
..._,_-- <Z --...._ ,_-
49. Cf., quanto a isso, a impressionante descrição das estruturas da situação, cm SARTRE.
Das Sein 11nd tlaJ Nichtr [O ser e o nada). Hambutgo: 1980, p. 610 ss.
_ 50. Esse argumento também é usado por TIJGENDHAT, Ernst. "Kann man aus der
Etfabrung moralisch lcrnen?" (Será possível aprender moralmente da experiência?).
ln: Probkmt der Ethil: [Problemas da ética]. Stuttgart 1984, p. 102 ss. _
51. Ibidem, p. 87 ss..
52. Cf., quanto ao que sc~c, HABERMAS, "Diskurscthik" (Ética do discurso], op. cit.
pa.rnm.
--- - ---------- -----~-------- -------------------
concordância das razões ue odem ser alega as f>ara a ·ustificação
-=----....---:-· .
.....______
da norma. O sentido de validade da norma consiste, portanto, de um
reconhecimento desta por todos, a saber, como participantes de um
discurso prático. Nesse sentido, em lugar de se falar de validade fácti-
ca, se~pre_ se. menciona a ~d~de "contrafáctica": Hab7r~~stin
gue tres ruve1s de pressupos1çoes de argumentaçao, q~ a um
discurso, orientação para essa contrafacticidade. 53
Em analogia aos cânones aristotélicos - lógico, dialético e retóri-
co - Habermas distingue o nível lógico dos produtos dos níveis dialé-
ticos dos procedimentos e dos níveis retóricos dos processos. Sob o
aspecto do produto, ~nta_s:Ões servemj?ara a geraxãO de taZQes
_:onsistent~com a~uma p~e~nsão de validade pode ser r~a
tada ou rechaçada. Disso fazem parte regras lógicas e semânticas, como
; auserí"cia de có'ntradição, consistência semântica na aplicação ~e um
predicado e identidade de significado na aplicação de um termq entre
falante e ouvinte. / :Si'í~"~"'° il1J J;. FJc-._ ·
~pocedimenf!!J llf8U!!lentaç~s são processos de ente~to
nos quais, sob co eciais de interação, os participantes in-
gressam em um discurso buscando cooperativamente a ver de. Dis-
so faz parte a pressuposição de que estejam desonerados da p~essão
de agir e de ter experiência, bem como de se reconhecerem mutua-
mente como participantes com iguais direitos. ~verdade é possibilit,a-
da por regras, como fran ueza ou reconhecimento da ;-- artição de
~Como proce.r.ro, afinal, argumentações bus-
cam alcançar um consenso racionalmente motivado entre os partici-
pantes. Devem reinar condições gerais de simetria que excluam qual-
quer coação, exceto a do melhor argumento. Estas condições podem
ser reconstruídas em regras que determinam a participação geral de
todos os interlocutores competentes, com chances iguais de expres-
são, percepção e aproveitamento desses direitos. Estes três níveis ou
aspectos da argumentação são representados por "U", dentro de dis~
cursos práticos, nas respectivas diferentes maneiras, de modo que "U"
53. Cf., quanto ao que segue, ibidem, p. 97 ss; HABERMAS, TAC I, p. 47 ss. .i~
j
-::.
-- ----·- - -- - ---·-·-····-- - ...... .;~ -
'.~·:.
76 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
possa ser transformado no princípio da ética do discurso (D), segun-
do o qual uma norma .só será v~da, qiJando cada um a aceitar (ou
possa aceitá-là) "como participante d~ um. discurso prático".s.4
Este esboço breve das pressuposições de ar~entação de dis-
cursos práticos pretende servir para reconduzir à questão sobre se
discursos em contextos de aplicação são ossíveis. A resposta depende
de como se eva entender o sentido da pretensão de ;validade de uma
expressão normativa. A localização da sua análise, em reflexões na
teoria dos atos de fala, aponta para a relação interpessoal estabelecida
através da força ilocucionária de uma expressão performativa.55 É para
a legitimidade. desta relação que a pretensão de validade se orienta,
isto é, para o seu reconhecimento por intermédio de interlocutores ou
pessoas competentes. Por isso, o discurso prático está aberto para
qualquer um. ,.
No entaqto, ao realizar esta interpretação nos defrontamos com
uma outra vatjante do problema, com a qual já nos debatemos ao
avaliar a expre~são "pbservância geral" na análise de "U". Se as nor-
mas pretendem ter vflidade para mais de uma situação - o que, con-
forme Wittgenstein, já sé dá pela sua propriedade de regra - é de se
perguntar se a pretensão de validade se refere não só ao reconheci-
mento por todos os virtuais participantes do discurso, mas também a
todas as circunstâncias em que a norma for aplicável. Em outra for-
mulação: será que o reconhecimento de uma norma como válida, para
cada participante, não significa que ele considera adequada a sua ob-
servância em todas as circunstâncias em que esta seja aplicável?
A interpretação de "U" condicionou a aprovação dessa suposição à
·pressuposição de que podemos prever cada uma das situações de apli-
cação, com todos os sinais característicos relevantes para os nossos
interesses presentes .e futuros. For·isso; '·~" foi·provido -Com -um fadi-__ _
.• ' • . . •. • • - ... - - • • ..____.-.... r<p ...
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80 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
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5. $er~ possível _substituir 1
discmsqs de fundamentação
- 1
_;'
-----
a sua "reconstrução falibilista"65 da ética do discurso: que:stões da
-
justiça de normas ~e referem a procedimentos -:--:----
do consenso argumenta-
tivo a respeito da validade de normas j~rídicas, e precisam ser sepa-
radas da questão moral, em relação às condições de qualificar uma
forma de ação correta. Para ambos os problemas, "U" não se presta à
solução, uma v~z que opera com pressupostos da teoria consensual
que suprimem o momento da facticidade em prol de condições idea-
lizantes, situandp-se na decisão a respeito de normas jurídicas ou na
interpretação adequada da minha vont,ade em dado contexto. Por
isso, ~r emenda, à sua interpretação critica do princípio da
universalização ''.U", uma crítica porme~orizada da teoria consensual
da verdade. 66 Nela, ele visa, sobretudo, ';comprovar a falsidade ou a
. ~ ~--.--~--~----~~-
falta de sentido n;i combinação da verdade (se~ndo Habermas, tam-
.
.{
semânticas. Se um consenso é racional, deve ser passível de ser cÔns-
'
tatado, independentemente de sua veracidade, porque aquilo que son-
sideramos verdadeiro poderá mudar, ainda que as condições para a
existência de um consenso sejam cumpridas. Trata-se apenas de ,um
tipo de aparência dialética na perspectiva interna dos participantes,
para os quais racionalidade consensual e verdade coincidem.70 As cpn-
~
• . 1
-
...__.~-:-':'-'.:---_;.~----~----,,.;.,.,":"":"'':"""":=-~-:
da aplicação correta (a.dequada) de uma norma correta (válida). Esta não
...... __....,,_
é uma manifestação em favor de um "dó""'giila do pressupÕSto'', já que,
ao ser aplicada no.s sinais característicos da situação, a validade fáctica .
da norma é relativizada, ao ser fundamentada nos interesses d,e todos
os implicados. ~o não ~ nà existência .de normas
. que sejam aplicadas, mas em um~minadagos~a a~oritária dil!i1te
~~ito _ie v~dad_;je norma! e ~ um~~ilidade d~e
diante de sinais característicos de um contexto-de ªI'licação: I:>iferen-
._.. ~ ____....__~.__,..;..------
·;;:
tâncias. Por isso, na versão fraca, ''U" não pode ser entendido como ·'
um princípio que nos manda "agir de tal forma que, como se o nosso
juízo fosse sempre livremente hipotético, agiríamos de fato sob condi-
ções ideais de entendimento e de ação".86 Nesta modalidade, devería-
mos aplicar "U" apenas se dispuséssemos de tempo ilimitado e de
conhecimento infinito. Como deveremos agir em situações reais, não . 1
90. Cf., quanto a isso, ZIMMERMANN, ibidem, p. 325, invocando a Dummet e 'I\Jgendhar.
A respeito da crítica, cf. HABERMAS, Entgegnung [Resposta], ibidem.
91. Isso não exclui que a estrutura de modos de vida precisa "vir ao encontro de" uma
moral universalista. HABERMAS. "Über Moralitãt und Sittlichkcit - Was macht cine
Lcbcnsform 'rational'?" [Sobre moralidade e eticidade - O que torna uma forma de
viver "racional"?]. ln: Rationafitiil [Racionalidade]. Frankfurt/M.: cd. H. Schnãdclbach,
1984, p. 218 ss (p. 228). -
------~-·---
também ocorrerá à luz de normas que pleiteiam a validade universal
no sentido universal-recíproco e no sentido aplicativo.
Isso pode ser comprovado pelo próprio exemplo de Wellmer a
respeito da mudança de modelos interpretativos coletivos, sob a in-
fluência de novas experiências e sob a pressão da luta por reconheci-
mento.92 Que novas experiências 9l possam submeter à revisão um
tratamento desigual, que até então era tido como justificado, não pres-
supõe apenas uma mudança fáctica de perspectlvas habituais e de prá-
-----
ticas usuais. Processos coletivos de a rendizagem moral necessitam
'-... - -
de um princípio que obrigue normativamente a considerar novas ex-
eneadas e a modificar as concepções morais ue até 'então eram. - n
si
consideradas justtficaveis.
.--
Este rindpio não ode ser outro senão o da imparcialidade, e
isso tanto no sentido univérsal-recíproco como também no sentido r1!
aplicativo. Deve haver um ônus argumentativo para aquele que, ape- p~
--
virtude do ~ -
Õcoródas, ccm9 também contribui para a produção de mudanças, em
inerente constrangimento à aplicação autocorreti.va, consi-
derados tod~ os sinâis ~acterístiêosêío contexto. Porém, para isso,
primeiramente será necessário que o pleito universalista seja um dado
le
existente, a fim de que grupos, que até então eram tratados de forma
)·
ia
iu
tá Quando Wellmcr constata: ·~ normas positivas, assim podccíamos dizer, impõem
s- que se atue cm uma determinada direção" (WEUMER, ibidem, p. 32), isso se aplica
to não só a deveres positivos, mas a princípios. univctsalmentc ·válidos _cm si - eles .
m podem, cm situações de aplicação, C~Jidir COm OUtrOS prinCÍpios: SCm T1C por isso SC
.s- tornem inválidos. Cf., quanto à rcspcctiva disrinção entre princípios e regras,
io DWORKIN, Ronald. BiJrgermht1 mutgmommen [Direitos civis tomados a sério]. Frank-
m furt/M.: 1984, p. 64 ss; ALEXY, Robert Theorie. Jer GnmJnrhtt ffcoria dos direitos
de fundamentais]. Baden-Baden: 1985, p. 71 ss; bem como abaixo, parte 3 e 4.
:e- 95. TUGENDHAT, Morafisches Llrntn [Aprendizagem moral], ibidem; FRANKENBERG,
:e- Gúnter & RôDEL, Ulrich. Von átr Vollesso11veríinitiit ZJ1111 Mináerheit1n1ch11tz. [Da
:L. soberania do povo à proteção de minorias]. Frankfun/M.: 1981, p. 20 ss; EDER,.
tll, Klaus. Gmhicht1 ais úrnproz.eul [História como processo de aprendizagem?].
Frankfurt/M.: 1985.
Çs>nio ficou~do.1.. é possível a_EEesentar al~s argumen-
tos lau ' is ara admitir ue o contraste entre norma~ e modos
de agir de Wellmer esteja mal " osto". Ambos fazem parte d.o con-
texto cultural, social e biográfico em que se experiment~ qualquer
circunstância de ação.
, A "perspectiva normativa" somente destaca o aspeqo da po-
tencial universalização em vista dos interesses de todos, <!nquanto
que a "perspectiva de ação" se refere à aplicação adequaq11 de nor-
mas válidas em contextos. A distinção de Wellmer desfa~ essa re-
lação, separando-a, e reserva perguntas de justiça para normas, e
perguntas de moral para modos de agir. O que lhe imprrrta nem
s~quer parecem ser as diferenciações análogas entre norm~ e modo
de agir, direito e moral, bem como fundamentação e aplicação, mas
si~ a reabilitação de uma ética da boa vida diante de uml\, ética da
in1parcialidade e da justiça.
96. Cf., quanto ao que segue, HABERMAS. "D~kursethik" [Ética do disCUISo], pauim, ·
bem como "Moralbewusstsein" [Consciência moral}, op. cit., p. 130 ss.
-~-- - - --------- ---- ----·---·------ ._-. ·---.
·-·---·---·~:..._
a) Juízos morais devem ser fundamentáveis, significando q~e podem
ser-c-~mpreendidos em contraposição ao ceticismo. É verd~de que o
ceticismo de modo neQhum nega·a duplicidade de estágios dos fe-
nômenos morais, no entanto, tira disso a conclusão oposta d~ que não
faz sentido falar 111oral111t11/e a respeito do segundo estágio d~ valores
morais, porque ele estaria apenas re,·elando a multiplicidade de diver-
sas inclinações, interesses ou decisões existenciais. Em contr~posição
a isso, éticas "cognitivistas" tentam evidenciar que, nesse segi_mdo es-
tágio, há como indicar razões pró-correção de um juízo m?ral que
representam mais do que comunicações privadas sobre condições
emocionais ou de observações empíricas.
e:
b) Cada norma moral deve, com 'ustificativas, ser aceita or todos os o
afetados.
._-...._..
Também em relação ·a esse sinal caracteóstico há urna
"",
con- q
traposição explicativa: o relativismo igualmente não contesta que haja í n
i
um tipo de segundo estágio de ponderações morais, entretant~ simul- i r:
tan.eamente, assevera que ponderações desse tipo só poderiam· funda- j
1 d
mentar a validade de um juízo moral para uma determinada cultura ou 1 ç
- . ~
i
épqca. Contrariamente a isso, éticas "universalistas" insisterr\ que a 1
d
validade moral se endereçaria sempre a todos e não se restringiria a
determinados modos de vida ou a determinados círculos de pessoas.
l
1
1
n
c
l
li
c) Afinal, ~juízo moral_poder~er válido tão-somente por t~ d·.
í
~terminado conteú~. A contraposição das diversas éticas "ma- i
S'
i
teriais" nega a possibilidade desse sinal característico, uma vez que no
i
i'
"s
segundo estágio das ponderações morais estaríamos novamente nos 1 'Q"'
envolvendo apenas com definições de conteúdo moral. Ambos os es- 1 ti
1 --....
tágios se distinguiriam somente no segundo estágio, conforme os con- 1 n
teúdos fossem providos de sinais característicos especiais adicionais 1
1 ..[l
que torhariam supérflua a pergunta relativa a um ainda possível tercei-
1 .9
ro estágio: um modo de vida que tivesse uma caracterização ontologi-
camente especial, um a priori de valor, uma propriedade natural espe- 11
-d
cial do ser humano ou qualidades especiais do caráter de alguns seres /,
humanos. Contrariamente, éticas "formais" contestam que, per se, no
segundo estágio, tratem-se de questões do modo bom ou mau de vida,
dos valores específicos ou não específicos, da verdadeira natureza do 9
l
entre questões de fundamentação e de aplicação.
O juízo sobre a validade de uma norma ou de um modo d~ ação,
que fazemos baseados em um "princípio moral de um mundo d~ vida",
nesse caso, sempre incluiria um juízo sobre a adequação da norma de s
agir, porque o próprio princípio moral é adequado ao mundo djl vida, i
dentro do qual ele é aplicado. Portanto, o moralmente correto não seria 1
l
uma questão de fundamentação por meio da aplicação de um princí- i
pio moral a uma norma moral, que fosse dependente de um mundo 1s
da vida, mas uma questão de interpretação adequada do respectivo ·~
modo de vida em dada circunstância. Por isso, na sua perspectiva, ~
Wellmer traduz o imperativo categórico corretamente ao mudar a sua, ~j
formulação, transformando-o na pergunta sobre se o modo de agir, 1~
carente de universalização, poderia tornar-se uma "prática generaliza-
da''. Esta pergunta, porém, nós a formulamos dentro de um modo de
l
vida, portanto, no mesmo nível em que construímos o modo de agir. 1!
Se uma ação poderia, assim, ser generalizada, depende então apenas ! .
do horizonte da nossa prática comum. O limite desse horizonte, a
~
1•
nossa forma de viver, seria, então, também o limite de uni-V-ersalização !
potencial. Como nunca assumimos uma perspectiva fora dh nossa res-
- -
pectiva visão de mundo, falar da possibilidade de unificar utn1 modo de 1
agir com uma prática generalizada dei."<a per .re de ter sentido, uma vez
que exatamente esse falar exige-nos a criação de um distácciamento
L
Da mesma forma, contra todas as éticas que queriam adotar "ra-.
(
zões determinantes, prápcas e materiais" da educação, da constituição
civil, da felicidade, do moral sense., da potencial concretização ou da
vontade divina, e integrá-las no princípio da eticidade, ele levantava a (
objeção de que é verdade que "tqdo o querer deve ter também um
objeto e, conseqüentemente, uma matéria, mas que essa( ... ) por isso
(
mesmo não (é) a razão determinante nem a condição da máxima"Y~J
Entretanto, \Vellmer torna as condições casuais de um modo de vida (
~lement~ co~es do p1iE._êípio m~, o qual de;e-ri-;-ter as coo- . \
I
dições de. cada u~ dos próprios modos de vida mais uma vez por
.t
98. Ê dessa forma ..., a partir de bases totalmente diferentes - que Ernst Vollrath inter, ·'
pre_ta prática política como problema da "fundação e conservação da unificação c!e -~· --·-··'1
uma porção de seres humanos". Correspondentemente, tmt.'1-Se sobretudo do pros-
seguimento dessa unificação por ação política sob a direção da capacidade de julgar.
VOLLRATH, Ernst. Dit &ko1utr11klion der poliliJ<hfll Urteilskruft [A reconstrução da
capacidade política de julgar]. Stuttgart: 1977, p. 74 ti parsÍ/11.
99. KANT. "Über dcn Gemeinspruch: Das mag in der Thcoric cichtig sein, taugt aber
nicht für die Praxis" [Sobre o dito comum: Isso pode estar certo na teocia, mas não .
serve para a pr:itica]. ln: lt'i·rke (Obras]. ibidem, v. 6, p. 127 ss (A 206, p. 129). __
100. KANT. Kritik der praktischen Vernunft [Crítica da razão prática]. ln: 1r;,.1ee [Obras],
ibidem, v. 4, A 60 (p. 145).
J
objeto de julgamento. ~ já não existiria diferença alguma
entre as duas perguntas seguintes: como vamos "aplicar" uma _norma
dentro da nossa prática costumeira, ou executar uma ação, e se, com
esta norma ou com esta ação, podemos prosseguir a nossa prática.
Aplica ão e fundame tação de normas são, de fato, intercambiáveis.
Utilizar a posição de Kant contra a de \\'ellmer, para disso tirar
proveito, obdamente encerra o perigo de se chegar a um outro ex-
tremo e, finalmente, a um dilema. É o próprio \'\'ellmer que ~erma
nentemente adverte contra as distorções das nossas intuiçõÇs mo-
rais que podem ser provocadas, ao reconstruí-las, adotando-se da
perspectiva kantiana também o rigorismo como conseqüência.
A nítida distinção entre um princípio e normas morais de pr}meiro
estágio leva, então, diretamente.ª uma "ética de dois mundos". que, a
fim de sustentar tal separação, precisa operar com duas sup~sições
duvidosas. Mesmo sem compartilhar as premissas kantianas ..\ie um
abismo entre subjetividade empírica e inteligível, toda pessqa que
estiyer interessada desinibidamente na reconstrução das suaS:-intui-
ções morais terá dificuldades de supor que o princípio moral ;1ão se
refira à forma de vida em que crescemos, agimos· e nos enten~emos
com os demais. Caso não compartilhemos a assimilação do princípio
moral de Wellmer em um "princípio moral de um modo de vida",
deveremos indicar recisamente qual a diferenç~ a unidade entre
..Encípio jpOral e fo~ de vi~r.
Assim, novamente estamos expostos ao problema da distinção
~ ------~~~
entre a a lica ão do rincípio moral a normas morais e a aplicacão de
normas morais a situações. '"-:..,. ~ "'-~ 1... aJ..·c<t: ~
~
Será somente a partir da nossa forma de viver que nós conseguire-
mos obter acesso às condições de formação de um juízo imparcial.
Disto resulta duas conse_qüências:
i,
1
. -----------
a filosofia não leva nenhuma vantagem' sobre as ciências, certamente
~--~~~~--~~~~
não quanto à infalibilid~e de um acesso privilegiado à verda~.
APesar de a ·t;;rmaçào espontânea
• .• !
d~rie de alia"rismos não ser fa.
1
101. HABERMAS. Mctaphysik nach Kant [Metafisica após Kant]. ln: CRAMER, K. et ai.
(cd.). Thtorit tltr S11/jtktil>itôt [Teoria da subjetividade). Frankfurt/M.: Henrich- ·
Festschrift, cd. comemorativa, 1987, p. 425 ss (429).
~
_Por isso, a ética do discurso tem a possibilidade de reformular o
prin<:if>io moral de tal modo que o direito de pleitear validade próp~
só caberá àquela ~que obtiver a anuência de tod~ os imE!ica-
dos, como articipantes de um discurso prático.
Ainda assim, as nossas formas de viver não se resumem a um
discurso prático - o aguilhão do dever permanecerá. É verdade que o
----
nadas com a sitµação Pistórica justamente desse princípio (U/h), isto é,
. . .
po princípio 'U'. como princípio de açào de discursos reais - K. G." . 111;
Desse modo, a próptia aplicação do\ princípio moral, relacionada à
história, torna-se mai1> uma vez um caso e~ que o princípio moral
precisa ser apliqtdo, jµstamente, comó princípio da responsabilidade,
pelas conseqüêqcias ~dvindas da apli~ação do prir7cípio moral "U".
No entanto, a qbriga~ão, de responsabilidade ética, de reconstruir as
condições de imputabilidade de aplicar a ética do discurso em formas
l de viver já não pode mais -significar a re~tauração do universal concreto,
1 no sentido de uma realidade raciona! compreendida. Ao contrário,
~
l segundo Apel, somente é possível refl~tir de forma negativa sobre os
1 impedimentos à aplicação do princípio moral a instituições morais de .
j um determinado modo de vida. A experiência desses impedimentos é
l
105. APEL, Karl-Otto. "Kant, Hegel und das aktuelle Problem der normativen
Gtundlagen von Moral und Recht" [Kant, Hegel e o problema atual dos princípios
normativos de mota! e direito). ln: HENRlCH, Dieter (ed.). Ka111 oder Hegel? [Kant
ou Hegel?]. Stuttgart: 1983 (Stuttgru:ter Hegel-Kongress, 1981), p. 597 ss e p. 623.
106. APEL. S11bJlc111tielle Sittlirhluil [Eticidade substancial], ibidem, p. 223 ss.
107. APEL. S11bJ/a11tidle Sittlkhluit [Eticidade substancial], ibidem, p. 236.
. ~ 'lv
:r r
) .J ~ que inevita,-elffiente precisam ser presumidos como cum ridos, ara
'.~~,,~~ ~~ argumentar de forma séria, ao ~ado do orincípio moral "U'', resulta
~
: { ~ um " rincí io de com lementaçào moral-estratégico (E) para fµnda-
"-·'
~.
:) -~ ~ .~ética da re~onsa bili dade",·~ ( I" que co~na
b" ação raçigm!_l
~
1"" 1
~ pragmática com ação comunicativa, de tal modo que discursos ráti-
. ~
"' 1 ~ cos possam tornar-se reais.
'}-~ ~ ~imputabilid.M!s..Q_pró_pi;!_o Apel ~ostulou um
;j'
lj }-
;r ~~tério de aplic~ão S!:'!e faz pa~~ .s!.,a adequaç~o. EJil si-
tuações de conflito moral, chamamos uma ação de imputfrel q4ando
~ 'l ela não for só moralmente devida, mas, diante da situação especial em
j ~ que o comprometido se encontra, também pode ser cumprida por ele_
·"'-· l O juízo a respeito da imputabilidade de· uma ação pressupõe, por~nto,
a consideração das circunstâncias especiais da situação de ação, 'iuan-
to à sua importância para a disposição individual da pessoa que estiver
obrigada a agir_ ~putabilidade é adequação subjeti,.va. Normalmente i
aceitamos a desculpa de uma pessoa que, impossibilitado de executar l
uma ação que nós esperávamos dela, apela a uma situação que era l
especial para ela. 1 '~J ~pel ~o relaciona o critério de impu-
~ituações isoladas, nas 9.!:ais uma norma moral é ~licável, j
~formas de vic!!!_ e à sua res.ç>nstr~ão histótjgt. Para Apel, em
analogia à coloquialidade, a imputabilidade visa às condições "subjeti-
vas" de um modo especial de vida, à autocompreensão cultural, me-
diada pela tradição, e aos atos concretos de solidariedade dos seus
membros, mas relativos à aplicabilidade do próprio princípio moral.
Apel diferencia esse problema expressamente da questão da aplica-
ção adequada de normas moralmente fundamentadas em situações
isoladas. O próprio princípio moral não pode ser aplicado a formas
de viver do mesmo modo como normas morais são aplicadas a si-
tuações. Ou o princípio moral pós-convencional se tornaria uma
norma convencional (confusão entre segundo e primeiro estágio),
--·--- --·- -----·- ---·-···-----· -----·------ ---- ----- -····-· ·-----· •... ·-- -··--·----- ---------·---------· -
Com isso, realizá-se uma racionalização do mundo da vida, que é moral
e própria da situação. A aplicação do princípio moral torna-se mais
ri
1
1
uma ,·ez, objetiva e cronologicamente, procedimental. Cm processo
de moralização desse tipo, altamente complexo, que no contexto qua-
se já não se consegue ter controle, evidentemente depende de duas
fortes pressuposições: por um lado, necessita da descoberta sensível,
criativa e ino,·adora de novos sinais característicos da situação, que até
então foram desconsiderados e que, por meio do princípio da plena
consideração de todos os sinais característicos de uma situação, pode-
rão ser inseridos no processo de fundamentação consensual e de apli-
cação coerente. Isto pressupõe uma alta capacidade de integração da
semântica cultural, uma relativa indefinição das orientações normati-
vas existentes e uma alta tolerância a concepções individuais de vida
boa diante de interpretações concorrentes. Por outro lado, uma apli-
cação imparcial também pressupõe que a idéia da imparcialidade, ao
menos implicitamente, tenha sido reconhecida e seja parcialmente
eficaz como regra de argumentação em uma forma de viver. Se esta
pressuposição não for cumprida, estaremos lidando exclusivamente
com o problema, destacado por Apel, da aplicação do princípio fl!O-
ral em uma forma de viver. Assim, no caminho da aplicação imparcial
em direção a uma sucessiva moralização e racionalização de um modo
de vida que inclua cada vez mais contextos, as formas de viver preci-
sam ao menos "se juntarem" 111 à idéia de fundamentação imparcial e
aplicação de normas.
Contudo, esse problema de aplicação provavelffiente será menos
dramático do que Apel o apresenta. No caso das condições gerais
idealizadas de argumentação, das quais é possível derivar o princípio
moral, conforme se trata de reconhecimentos reconstrutivos falíveis,
esses reconhecimentos também deveriam ser acessíveis a partir de um
modo de vida, se, ao menos em princípio, nele existirem ainda outras
formas de interação que não sejam formas de violência. Nesse caso, a
111. HABERMAS. "Über Moralitãt und Sittlichkeit - Was macht eine Lebensform
racional?" [Sobre moralidade e eticidade - O que torna uma forma de viver
"racional"?]. ln: Rationalitiit [Racionalidade). Frankfurt/~[.: ed. H. Schnãdelbach,
1984, p. 218 ss a p. 228.
i, --
···--·
!
- - -----------------------'----------------
O PROBLEMA DA APLICAÇÃO NA ~TICA DO DISCUll.SO 119
1i
1
1
1
r
i
SEGUNDA
1
1
1
O problema da
aplic4çã;o de normas no
desenvolvimento da
consciência moral
P A R T E
- --· - ·- -·-·- ---·--·------- ----- _..:_ ______ ---~--·------··-~--------------·- --·-------- ----- -------- -
l
í
1
·---
e a2licação e para ;t tentativa de introduzi-laj?or meio de uma inter-
- .
pretação extensiv<(_do princíeio de imparcialidade. O debate em tor-
~ :. '•
!1º das ob~ões ~ Wellmer compõe-se da recusa à possibilidade ~e,
.em si!.-.E',romover u~na dirtinçã0 desse tipo, apresentando-nos a alter-
nativa que ermite dispensá-la. Ela consistia em retroceder a intera-
~cretas em comunidades particulares e a formas de vida dife-
.~ciadas,.Para confiar a seleção da norma, simultaneamente adequada
e vá.fula no horizonte de um modo de vida, à ponderação prudente
.~ próQrio momento. ,Rejeitamos essa alternativa, porque ela, como
ele admite explicitamente,. vincula-se necessariamente à desistência
~e p~os ~niversalistas. Essa desistência é necessária, se, segundo
Wellmer, restringirmos o que é inerente à capacidad~ de veracidad~
à sentenças assertivas ou empíricas, e a negarmos·à sentença~ nor~ ..
mativas e prátic;s. Nesse casó, ser~fn~s ~onfr6nt~d~s nas ações não ....
com pleitos: de. validade carecedores de' fondameni:aÇão, mas. conÍ.
diversas possibilidades de .interpre.tação, '.às ..quais,~.em;p.tocessos·:de-····:--c~
esclarecimento, teremos de selecionar a adequada, a fim de prosse-
guir com a prátic:a habitual. . .
Assim, questões de validade somente podem ser respondidas de
forma circunstancial - e apenas negativamente - como questões de
adequação, uma vez que ambas são argüidas dentro do hori2'.onte de.
um modo de vida ou de uma prática comum.
--------------·-------------------'----·-;---··--·-----------------~- ·----------·-
r!
É essa alternativa que a seguir adotarei indiretamente como pon-
to de partida para mostrar que, com a su~ra~o de uma étjca 1a wa i
!
-~ependente de um modo de vida, a distinção entre funáa~ !
ção e aE!icaç_ão é ine,;t~el. Assim, deYeria ficar claro que os benefí-
cios resultantes de uma ética situacional, em fayor do problema de !'
adequação de ações e normas morais a circunstâncias, no estágio de i
uma ética universalista, não precisam ser abandonados em \"irtude da
separação entre fundamentação e aplicação, mas,perse, é apenas nçsse
caso que eles são valorizados, porque : idéia de imearcialidade exige a
consideração de todos os sinais característicos da circunstância, e não
apenas dos relevantes, ~rn um restrito horizonte de interpretaçãd de 1
urna norma vàlida. Com esse intuito, devemos mostrar o modo Belo
qual, em interações concretas, é determinada a relação entre norínas
morais' e situacionais, e também càrno é que, somente a partir da uni-
versalização de perspectivas comunicativamente inter-relacionadas,
surge ttm status de regras e normas, independente de situação, e, fihal-
mente,- como alterações no stat11s de validade de uma norma, de tipos
vinculados a contextos para tipos universalistas, combinam-se inter-
namente com alterações da modalidade de aplicação de normas. •
g_uase n~se consegue mais ter uma visão geral sobre ~ua:nti
·- _______.. ___..
as proposições iniciais de Piaget, combinando os estágios morais com
___.....----=~-----
-
da -
relações sociais de dignificação unilateTal ou mútua. Por isso, a teoria
----------
adoção de perspectiva oferece, para as ~----
reflexões seguintes, um pano
de fundo útil, porque explica o surgimento de normas a partir de es-
truturas simbólicas, as quais, por sua vez, procedem de entrelaçamen-
tos de perspectivas generalizadas que abrangem várias situações.
1. DURKHE!M, Emile. Über die Trihmg der soz.ia/m Arbeit [Sobre a divisão do trabalho
social]. Frankfurt/M.: 1977, p. 324 ss Ed. fr.: De la dil'isio11 d11 lrnt•nil. 8. cd. Paris:
Presses Universitaires de France, 1967.
2. Ibidem, p. 297 e p. 300.
divisão de trábalho, não pode dispensar totalmente uma consciência
~oletiva. 3 i::ra Durkheim, oyroblema fundamental da~
f
1
1
3. Ibidem, p. 213; R. KÔNIG , R. "Emile Durkheim". In: Kasler, Dirk (ed.). Klastiker
· des sozjologis<"hm Dwke11s [Clássicos do pensamento sociológico). München: 1976, v. 1,
p. 312 ss (323).
4. KÓNIG, ibidem, p. 325; MÜLLER, Hans-Peter. "Gesellschaft, Moral und
Individualismus. Emile Durkheims Moraltheorie" [Sociedade, moral e individua-
lismo. A teoria moral de Emile Durkheim). ln: Bertram, H. (ed.). Gml!s,hajt/i,her
Zu•a1tg 1111d 111on1/isíhe A11tono1J1ie [Coação social e autonomia moral). Frankfurt/M.:
1986, p. 71 s.
5. DURKHEIM, ibidem, p. 324 ss.
6. Ibidem, p. 156, 170, 171.
--
1 •j
~recisa vestir-se em cada circunstância, os gestos que pret~
fazer e!as fórmulas que necessita pronunciar estão fixadas até nos 'de-
~·(1.; A fixação específica e a ritualização das ações em êonte~'tos
não permitem nem alterações, nen: a conformação de diferenças indi-
,·iduaisl concedendo apenas mobilidade limitada.
Consoante a interpretação naturalista de Durkheim, essa situação
só se modifica por meio de crescente entrehtçamento mútuo e au-
mento da população (densidade e volume da sociedade). A obrigat;:ão
de se ~specializar, iniciada nesse ponto, e a luta pela sobrevivêntia,
que se É\Cirra, produzem diferenças 1 ~ que não podem mais ser centtal-
1{1ente fncorporadas, nem integradas em uma consciência coletiva, c6n-
forme condições tipicamente iguais de sentimentos. O fundamento d:
homogeneidade da consciência coletiva se diferencia de "um sistema
de funções diferentes e especiais, que unificam determinadas relações". 15
.A divisão do trabalho tem o efeito e depende) de uma solidaried e
que não unifica o igual com o igual, mas coloca o diferente em uma
relação complementar e fomentadora com o diterente. Trata~
fu:lariedade orgânica. 1" Gozarãc;° de prioridade aquelas regras morais e
jurídicas que forem passíveis de mudança e que, portanto, não depen-
dam em tão forte grau da consciência coletiva, como as regras rígidas
do direito penal, as quais, munidas de religiosidade, perderão a sua
--
O primad_g_da sanção pa~ para as formas restitutivas, com as
quais a cooperaçãq,~ essencial para a vida das di,·ersas unidades espe-
~aliz~s~de pr9s~. Corr;;rond~ntemente,. ~rima~o da in-
tegraçao de uma sociedade muda de normas penais repressivas Era
-
e .---:--
........ -
Qurkheim mostra como a consciência co etiva se torna mrus fraca e
~recisª' e o conceito de Deus mais geral e indeterminado, a fim de --
conceder mais espaço à iniciativa do indivíduo e "ao jogo de forças".' 9
O mundo objetivo e social, o qual, na cons.ciência coletiva, ainda estava.
-
texto objetivo e social, uma individualidade. A correspondência entre
a indeterminação de normas universalistas e a sua aplicação desimpe-
dida por indivíduos livres é o que possibilita, para Durkheim, que çsse
fator colateral pareça tão elucidativo. A liberdade consiste não ap~nas
na sua emancipação da consciência coletiva, mas se constitui tamb~m,
por si só, na livre utilização das lacunas na aplicação deixadas em aber-
to pelas regras indeterminadas da consciência coletiva, universalmen-
te raciqnalizada. Portanto, a consciência coletiva corresponde às dife-
, ~
p.
· 23. Ibidem, 338.
24. "Prepar.1-te para cumprir de modo útil uma: determinada profissão" :(Ibidem, p. 83). ·
25. Ibidem, p. 344 e Prefácio da 2. ed., p. 39 ss. . · · · . .
- _., __ ·-- -- •
26. •· KôNIG; ibidem, p; 325,--·- .. ------·· - .. ---·
•••.-••··-·--------~---,-·M••
_______________________________.:.....__-·-------------------·-·---------·---· --·
O PROBLEMA DA APLICAÇÃO DE NORMAS NO DESENVOLVIMENTO... 13:'
r
1
1
·l.
. .\ da consciênciá coletiva só · ~ confi e-
-~imredida" pelo pdivíduo, mas antes é colhida pela formação de ins-
gue~n-am
tituiç_ões _gue, ainda inteiramente o indidd~1_$.g
quadram-n~o, no2rocesso de divisão do trabalho das funções
?~ela oferta de orienta_ções e_wecíficas.
Sob o título "contingência dupla", abordarei ainda mais detalha-
damente essa alternati,·a para a análise do problema de aplicação, a que
já aludi preliminarmente. Para esta finalidade, em debate nesse contex-
to, bastará restringir-nos à descrição de Durkheim da indetermin~ção
como fator colateral da divisão do trabalho. A aplicação "desimpedi-
da" rompe o automatismo da observância das regras, característico do
--.... -
estado da solidariedade mecânica, entre outros. Indeterminacão e au-
toridade decrescente da validade da norma estão em uma correlação
..
~
aspectos. Por não dependerem das circunstâncias, regras indetermina-
das cons~~em admitir v~ornando-se, por sua vez, mutáv~is e
possibilitando alterações ou, ao menos, não as im edindo.
Teremos in 'cios suficientes que nos levarão à reconstrução do
problema de aplicação no desenvolvimento moral, se isolarmos essas
conotações, separarmos o problema da aplicação de fatores externos -
como densidade crescente e volume maior da sociedade - e, simulta-
neamente, ainda o pusermos em correlação com processos horizon-
tais de diferenciação social e integração por meio de associações in-
termediárias. Somente mais tarde nos ocuparemos do fato de que,
diante da indeterminação, já não existe mais "nada firme". Podemos
formular agora a nossa hipótese mais claramente, no sentido de uma
moral universalista confrontada com um problema específico de apli-
cação, tendo sua origem justamente na mudança de estruturas con-
cretistas para estruturas universalistas. Tentativas, como a realizada
por Wellmer, de suprimir novamente a distinção entre fundamentação
e aplicação deviam, conseqüentemente, ser acompanhadas, como ad-
mitido expressamente por ele, da renúncia a pleitos universalistas.
29. MEAD. Ibidem. Sobre a história do surgimento Ja .obra. de Mcad, cf. JOAS, Hans.
Pmktisroe /lltm11/Jjrkliritiil llntersubjctividadt: prática). Frankfurt: 1980.
f) !> Q I') P, 1 J: r. I ' n' 'n f T ,- .\ r \ fl '"'! r ' ' '" r ' ' • •• • ·
r
l!
Por isso, é fa~ilmente compreensível que recorramos ao seu modelo i
f
interacionista para explicar mais detalhadamente em que ponto do 1
1
desem·ohimento da consciência moral o problema de aplicação surgirá, i
no sentido em que o estamos entendendo aqui. Mead adota expressa-
mente a perspectiva interna para aferir a reconstrução a poste1id1i de
significados e rnlidades intersubjeti\·os.
Por isso, ~urso a seguir, iniciarei com a teoria de 1\Ig_d so-
bre o surgimento de significados em situações sociais (capítulo 1), pois
é por meio dela que é possível esclarecer como a relação coll1 um
outro concreto obriga a uma abstração de sinais característicos irola-
dos em uma situação, na qual a antecipação de expectativas de ~om
-
-----------
portamento pode ser o seu ponto de partida. Esse movimento de'abs-
-~ainda não está relacionado_ com normas isoladas, mas, de forma
geral, apenas com significados idênticos. A sua aplicação adequada na
~
situação isolada se tornará um problema quando houver significados
independentes. Por isso, no segundo capítulo do excurso, recorrerei
!s análises_je Witt.,g_ens~flã ~toda observ~ncia de regras, a fim
de elucidar a relação interna entre generalidade semântica e intersub-
jetividade social. Wittgenstein compreende a intersubjetividade da
observância de reg;;;,de antemão: de tal modo que eh; implique uma
aplicação adequada. Observância de regras é por efe caracterizada como
prática comum ou "habituação". Com isso, a aplicação de uma regra
permanece vinculada a um campo limitado de situações controladas,
comum aos participantes de tal jogo lingüístico.
Nem a teoria de Mead a respeito da gênese do significado, como
também as análises de Wittgenstein sobre a observância de regras
podem ser relacionadas, imediatamente, com normas morais. Entre-
tanto, uma vez que os autores não analisam convenções de significa-
dos de modo puramente semântico, mas como resultado de üfu pro-
cesso social (Mead: adoção de perspectiva; Wittgenstein: relação
professor-aluno como situação exemplar de um adestramento para a
observância de regras, imanente ao jogo lingüístico), os seus argu-
mentos, quanto à observância de regras adequada à situação, também
são relevantes para o nosso tema. Isso fica especialmente claro no
fato de Mead emendar o esboço de uma ética universalista diretamen-
te na explicação da aplicação de símbolos, idênticos ao significado,
-
tram. Em virtude desse genético remanescente autoritário, foram ar-
.
roladas objeções contra o caráter pretensamente repressivo de éticas
30. Quanto à carncterizaçào da "situação moral", cf. JOAS, ibidem, p: 132 s; quanto à
relação entre o modelo da adoção de papéis e a ética universalista, ibidem, p. 134.
r
universalistas, às quais me dedicarei no capítulo 4. Nesse caso, ~ atri-
buto "pretensamente" poderá justificar-se, por um lado, se for possí-
vel fazer ver que essas objeções referem-se a uma confusão entre a
dimensão de fundamentação e a dimensão de aplicação, e, por outro
lado, que uma fundamentação uni,-ersal de modo nenhum preci~a in-
cluir uma aplicação autoritária e rígida de normas. Nesse passo, ,~olta
remos mais uma vez ao argumento de \\ellmer de que um "problema
de aplicação", no sentido aqui pretendido, somente se apresentaria no
nível convencional de fundamentação de normas.
Excttrsh:
O surgimento da tegra e o seu
• . '- ! ••
cumpt1f11ento em processos sociais
O processo que Mead, nos dois primeiro~ capítulos da sua obra, sem-
l , 1
pre descreve em diversas variações, e que cada vez mais detalhada-
mente analisa nas suas pressuposições e ~onseqüências, é a passagem
da mera reação a gestos para a ação sigruficativa "autoperceptível"
(selbsfJi•abrneb111bal). 31 Mead combina esse ~rocesso com uma multiplici-
dade de motivos, como o processo de hominização e de socialização
ontogenética, com a elaboração de símbolos lingüísticos, com o surgi~
mento da consciência e da autoconsciência,'· bem como com as institui~
.. - ............. - -
ções sociais.] á que não pretendo oferecer uma interpretação propria~ ..
mente minha de,Mead, vou, a seguir, proceder de mod~ seletivo, de·
forma que seja impossível fazer justiça com os .propósit.Oífmeaêliaiiõs. ··~
-
vos e expressivos ela aelibção de símbolos. o "símbolo significante"
-
(sig11!Jica11t !Jlllbo~, qµe para ele representa plenamente a linguagem, como
~a de um animal, opossui um significado para o perseguidor e
o~_para o caça~?!"
Por ora, ainda descpnsiderarei esse entrelaçamento entre ques-
tões de teoria da si&IDfica~ão e da ação e, ;ipoiado em :rviead, delinearei,
em termos típicos i9eais, o processo de abstração que leva a uma cons-
ciência de regra invariável quanto à situaÇão.
A mera adoção da postura do segUndo indivíduo por parte do
primeiro ainda permanece especificamente situacional e vinculada aos
dispositivos concretos dos participantes. Naturalmente, gela mera an-
~o, o ~C?_Soncede ~o antecipada de alt<;E, o stat11s da ante-
~dade em vista da ocorrência da ação~ que acontecerá mais tarde,
bem como o status de fictício em vista das modalidades concretas e o
"se" do esperado evento. Será dado um p~sso além do contexto quan-
do, segundo circunstâncias dadas, o ego não apenas prognosticar sim-
-
~mente a r~ção de alter, mas referir·se à intereretaçào por part_e .
~alter do~gestos de eg<_?: 'ti.esta constelação, ego pressupõe a me~ma
relação com o gesto pretendido em alter como se fosse em si mesmo.
Passará a compreender a ·reação ·de· ruter ·oomo·1'espGSta:a um .prece-
dente ato de inte~pretação e a esperar que; em relação a ele, alter ~do
te o mesmo comportamento que ego assumiria em relação a ele. _2!
~ indivíd~s interpretam_? ges!? do mesmo mo~; ele tem para
ambos o mesmo significado. Claro que para o estabelecimento de um
~uam, como sempre, sendo relevantes os si-
nais situacionais característicos. No entanto, a partir desse momento,
-··---- - -- -- - -- - . - - ·- ··-·--· --·-- -
·-----~·-----··.,- -·--- -· - ···---·-···--·--·-- -·· - ---· . --
--~---·---
\~:t·
{1 ~·eles ~erào selecionados segundo a mesma classe de sinais característi-
,~ cos, ~om igual significado. Caso se ~tenda 3ue !! siwficado de um
'} ~ão seja apenas fixado hic et 111111c~ntre as Eessoas 'W~"B" - o
~'- que, de qualquer form;:-não seria pos~h·el sem uma compreensão do
·-{ "sigrVficado" universal -, ele necessita ter o significado idêntico em
·~
di,·er;;as circunstâncias. Com isso, surgiu entre ego e alter um "tercei:.
ro mundo" de significados, ao qual eles conjuntamente, em situ~ções,
podem referir-~'O ~linguagem parece transmitir é um -;;~n
to de símbolos que respondem a um certo conteúdo, mensurav~~:
ment~ idêntico na experiência de diferentes indivíduos. ~se eri::ten-
de que haja comunicação, o símbolo recisa significar a mesma coisa
ara todos os indiv1duos envolvidos": ~1
------ -------
torna possível a existência ou o aparecimento dessa situação ou de_?se
...~to, _rorpe ~arte do mecanismo 12or mª9 do s.ual essa situação
ou esse objeto é criado".36 Com isso, inversamente, está colocado o
~~-------:...-~~--~
problema de aplicar corretamente, na situação concreta, os sinais ca-
racterísticos ~e situação que foram abstraídos da multiplicidade de
sinais característicos isolados, generalizados e condensados para se-
rem símbolos com significado.
aL
t
.x I····"
indefinidamente ·ampliada;40 ----------- ...-1--- -·-··--····------- ___ . . . . . --- ~--- ·--------- __ _,______ ---··
....__.. . __, I":"' i
~ -
cante": Quando aplicarmos· um símbolo em diferentes situações do
-
mesmQ modo, isto é, com o mesmo significado, a interpretação da
~se retenrá "igualmente" ~ tod-;;; os potenciais inté~o
SíiübôI9." O síriiliolo é simultan~1ente independente de situação e
Tmpe5s'9al: "É essencial para a comunicação que o símbolo desperte .l
l
clentro pa própria pessoa o que desperta no outro indivíduo. Ele pre-
cisa ter aquele tipo de universalidade para qualquer pessoa que se en- 1
contrar na mesma situação."~'
-
.
mesma regra em diversas situações; devem particiE!lr d2._ me~mo
~-
jogo
·---
lingüístico para poder avaliar se o respectivo outro observa, e.m si_tlJ.a-~ -·--.
ções diferentes, a mesma regra. es pq::cisam sair do seu'-pipel de-:-" -- ---
observadores de.~ comporta,inento alheio e tornar~se páí:-::~--.: ··
. ticipantes de uma mesma prática. Portanto, da observância-de-regra-'-·-_·-.
série matemática: "As passagens, em si, já estão todas feitas'', quer dizer,
já não tenho escolha. A regra, uma vez marcada por um determinado
significado, traça as fulhas da sua observância por todo o espaço. Mas,
~fato fosse o-;so, ~que é que me adiantaria?'" 1 O cntério para a
~rreção da aplic3!? estaria n~próE_ria r~. O modelo poderá, por
isso, resumir-se à breve fórmula: "A regra regula a sua observância".51
A explicação pormenorizada desse modelo leva, no entanto, a
dificuldades. Ness!! casq, ou se pressuporia as circunstâncias inter-
nas conhecidas, "i{llage11s" e "vozes", que nos dizem como se. deve
aplicar a regra, 5·; ou· seria possível mencionar regras de aplicação, para as
quais, por sua vez, deveria haver regras de aplicação ad infinit11n1. 5 ~
Além disso, seria preciso explicar o fenômeno existente em algumas
situações, nas quais diferentes aplicações são corretas, como naque-
las em que, ao se iniciar uma série de algarismos, permitem-se dife-
rentes possibilidades de continuação. D~ o cético chega a uma con-
seqüência radical: se não há regra de aplicação e se diferentes aplicações
podem es_tar corretas, será possível combinar qualquer ação ~om un;ia
regra. Assim, por conseguinte, também não fará sentido distinguir entre
aplicação "correta" e "equivocada". o ceticismo de regr~ afirma q~e
.,_ -- ' -- ..__ - -
.
·I
1
i
50. WITIGENSTEIN, ibidem, §§ 232 ss, p. 136.
51. WITIGENSTEIN, ibidem,§ 219, p. 134.
52. KEMMERLING, ibidem, p. 106. · . ·" · :
53. WITIGENSTEIN, §§ 140 (p. 90). 222 (p. 134). : _. -·
54. Ibidem, § 84, p. 67 ; cf. também Kant, que com esse argumento fundamenta a ·
necessidade da faculdade de julgar: Kritik der reinen Ver11111ift [Critica da razão pura].
ln: Wcischedel (ed.). ibidem, v. II, A 133, p. 184.
.!
1
- ---· - - - -- - ____________:_ ___
- ..:..~- .. -·1 ·
..:.._ ________________.
1
"nenhum modo de comportar-se é uma infração à regra: qualquer
comportamento é observância à regra." 55
r
1
A resolução de \\ºittgenstein dessa antinomia entre pla.tonismo
de regra e ceticismo de regra se baseia em uma não dramatização da 1
relação entre regra e situação. A tentati,·a de atribuir a um dos lados, 1
ou a ambos em conjunto, o ptimado na decisão de qual dos dois de,·e
valer como aplicação correta de uma regra, deixa de considerar um
elemento importante e produz, desse modo, de nm·o a mesma antino-
mia. No§ 198 das "Im·estigações Filosóficas", \'{'ittgenstein focaliza
todos os argumentos essenciais: "i\Ias como uma regra me ensinarã o
~
1
nue devo fazer 11esta situacão?"
~
Essa era a pergunta final do e_latonismo de regra que s~-~ '
-~rancâ de ~ a PE.Õpria regr~ o seu significado, f~e
_dizer o ue se deveria fazer em cada situação. O cético, ao contrário!
resumia as suas experiências da seguinte forma: "Seja o que for que e4
faça, será sempre possível combiná-lo com a regra por meio de algu-
ma interpretação".
Com· essas duas manifestações está caracterizada a antinomia,
\'{'ittgenstein passa, então, a refutar o ceticismo: "Não, não é assim
que deveria ter sido dito. Mas assim: junto com o interpretado, cada
interpretação fica suspensa no ar; ela não pode utilizar-se do inter-
pretado como apoio. As interpretações não determinam, por si só, a
interpretação".
~anto nos limitarmo~nificado isolado da regi:a~
- maneceremos no mundo platônico com meras interpreta ões. Ape-
nas alinhamos uma interpretação após a outra quantitativamente.
A questão nem sequer é a compatibilidade indistinta entre regra
"Portanto, seja o qüe for o que eu faça, será compatirel com a regra?''
' solução que dá uma designação à peça de ligação que faltava entre
regra e situação:
..:...---- ---...
reagir de um detertpinado modo a esses sinais, logo reajo."
--
ações? Qual é a liga_çào existente? - Ora, talvez essa: ti.ti adestrado para
-----------~-.-~--~~~----~~~~--~
Mas com isso apenas indicaste uma relação câus:iÇso explicastê comÕ--~----.-.-----.~
aconteceu para que nos orientássemos segundo o indicador de cami•
nho; não, não sei em que consiste, em si, esse.observar-o-sinal. Não;
'7,
.Y
essa resposta, sem dúvida que \Vitt enstein não escapou totalm~
do cético. Se observar uma regra for igualmente apenas uma parte
~va de uma prática social, como outras atividades, e~tão e~sa
prática é, por sua vez, contingente. Também conseguiremos imaginar
outras habituações. "Dar ordens, perguntar, narrar, conversar faz~m
parte da nossa história natural como caminhar, comer, beber, jogar.'.'6 1
Entretaqto, essa objeção cética pára diante do limite dado pela práxis.
Dentro da instituição, o fato se restringe a um apnon· intersubjetivo, ao
qual qualquer um que quiser participar do jogo lingüíst.ico deverá re-
conhecer. "Faz parte do 'modo de vida' que nós não lidemos 'arbitra-
riamente' com regras 'arbitrárias'."6l
É por isso que também não pode haver critérios independentes
para uma aplicação correta ou equivocada, mas apenas critérios que
sejam praticados dentro de um modo de vida ou~ -
no de ação comum, quando "N.' ava ·a se "B" agiu em conformidade
58. Cf. a respeito também o§ 199 que segue em PbiloraphiJ<ht U11tem"h1111ge11 [Investiga-
ções filosóficas], de Wittgenstein, p. 117.
59. Ibidem,§§ 202, p. 128, 206, p. 129.
60. Ibidem,§ 219, p. 134; FOGELIN, Robert). W'it1gt11rtti11. London, Henley e Boston:
Routledge and Kegan Paul, 1976, p. 141.
61. WITIGENSTEIN, ibidem,§ 25, p. 30.
62. KEMMERLING, ibidem, p. 115, nota 15, p. 124 s; FOGELIN, ibidem, p. 144 s.
----- ---- ----------- -- -- --- ----- --- ----------···-- -.,-- -·-·-·- - ----- -----·- -
"9\ p.,...,f"\rtt t"'-' ,\ f' • • nt fr ' r \ f'! ......,,.. ·1r-T'.I ' ' •"' "'" r . r r r .. ·•·r'l,•••r•1r-,•-r,~,
em tema de um jogo Lingüístico. Na ossibilidade de criticar uma a li-
caçào e.quirncada se eddenda não só o e el amento de significa-
~lidade, mas os J:.'.'lrticipantes, ~exercer _;ssa crítica, pod~m
transfo(má-b também em terna. Cma crítica intersubjetiva de apliea-
ções equirncadas de uma regra só é possh·el quando os participan-fes
tecem mutuamente a expectatiYa de que a sua respeccin1 ação, em uma
cjrcunstância, possa ,-aler como aplicação intersubjeti•·amente corr~ta
de um:negra. No caso de um dissenso, poderá ser im-ocada essa h-
pectativíl bilateral de modo que a crítica
sej;1 repetida por muito tcmpo, até que um dos participantcs cumpra as
exRectatiY::ts de reconhecimento do outro, que ambos obtenham um
consenso fundamentado por posicionamentos críticos e estejam segu-
ros ·de que R (a regm te111<1tiz.ad,1- 1':. G.) ,·alha para eles de modo inter-
subjetiYo. Isto quer dizer: ter um significado idêntico."''
Então, o que tu, portanto, dizes é que será a concordância do~ seres
humanos que decidirá o ~ue é correto e o que é equivocado?' - Corre-
to e equivocado é-aquilo"que seres humanos diz.e11r, e na /í11g11a os seres
humanos concordam. Isso não é uma concordância das opiniões, mas
do modo de vida.611
----------
preestabelecida em certas situações de aplicação. Se obserdncia de
-
regras for uma prática, a concordincia não de\"e referir-se apenas à
~ - ~ara Wittgenstein, ambas as coiS'as
._--..
-----
social. A razão pab a iónriabilidade de situa<.2_o deve, portanto, ser
-----..... ......... ----~~~~~~~----~~~~~~...:....-
.buscada na neces'$idade de intersubjetividade. Independência de si~
tuação é o "preçq" que 'precisamos pagar para poder referir-nos uns
aos outros por m~io de significados, sem que, em cada situação, ne-
cessitemos tematizar de novo todos os sinais característicos de uma
situação e todas a$ disposições individuais dos participantes. Simulta-
neamente, a reconstrução prática de Mead esclarece, no entanto, que
~amos consid~rar a ªElicaçào int~olos de iden~
~ignificado simpre diante do_pano~fund';; de uma abstraç~o
seletiva de sinais c~racteri.sticos relevantes em situações. Ora, é justa-
mente essa seleção que, sob o aspecto da aplicação situcionalmente
adequada de símbolos, poderá tornar-se problemática e carecedora de
justificação, e o será em relação a todos os outros sinais característicos
da situação e às diferentes perspectivas dos participantes.
---- --
As análises de Wittgenstein nos levaram outra vez ao problema
da aplicação, cujo resultado é 9ue o problema da aplicação~-
~ente ade~o pode ser resolvido pelo entendimento ei;i
torno da identidade do significado. A decisão a respeito da adequa-
ção situacional de uma a licação não .. ode ser baseada nem na iden~
~ - ~ -
tidade da regra nem na situação, muito menos em ambas, mas, sim;··
......
apenas em uma prática interativa. A concordância dos participantes -·-·--
''
·-·
156 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
í
l
!
1
2. Esboço de Mead
de u,ma ética universalista
como método de formaç,ão
construtiva qe hipóteses adequadas
)+
e comportamenço no y_Úal ambos, ele e el~s, esti1·erem em·oh·idos.-·1
~ ! i 1
------
.das expectativas do outro ede colocá-las em uma relação estruturada._
~ .......__...-;
ara a espera, que afeta tanto as próprias expectatins, uanto a,s da
.~erida~ncretamente p~. Em j~os ~ou de com1?e-
tiçào l\ criança deve estar em condições "de tomar a atitude de al-
uer outro em·oh·ido nesse jo o",75 ara ue assa arriei ar. Essas
expect;ativas múltiplas de outros participantes só podem ser organi-
zadas ~e modo socialmente generalizado. Elas assumem a form~ de
regrasde jogo que, diante dos concretos interesses alternantey de
todos os participantes, são neutras e se reportam a essas expectat,ivas
apenas sob o aspecto da conformidade ou da divergência. Na~ral
j rnente, elas representam simultaneamente a vontade comum de todos
os participantes em um jogo. No entanto, os papéis dos partic~<l\ltes
~s. Por isso, uma infração à reg;; viola não-;(;~
os int~resses da alteridade concretamente pessoal, mas decepciona
.simultaneamente as expectativas e todos os articipantes, repre:itn-
~a. t
D~ssa forma, alcança-se a eerse_ectiva de ...uma terceira posição
-..._.. ~ .
neutra,· a partir da qual ego consegue avaliar não só a sua própria
perspectiva, mas também a de alter. _Conforme essa terceira posição
~render do co~e um jogo e ":presentar o interesseJ:?-
~
se adensa, tornando-se ________
~, no ual a criança estiver crescendo, a ers ectiva
_____
..-......uma perspectiva de um 'outro__.~neralizado"
(ge~eralized otheiJ .76 Ela começa a determinar não só as fases isoladas do
jogo, mas a biografia da criança, bem como o seu comportamento
social. Em complemento a isso, a criança, que Vai se tornando adulta,
começa a elaborar uma autoconsciência consistente. No momento em
~
~um indivíduo orienta as suas aç~rmas generalizadas,~,
~ artir da ers ectiva danorma, a oder ser substituído or outro.
Já não se orientará exclusivamente pelas ex ectativas da alteridade con-
77. HABERi\L\S. I:.JCll. ibidem, bem como Piaget, 'JU<! não se apàia cm i\Iead, mas sim
em.Durkhcim: Deis 11wvl1:rrhr l'11<'tf /)(1i111Viulr 10 jufao moral na criançaj. l'rnnkfurt/
i\I.: 1981.
73. Cf. a respeito, sob o aspecto sociopsicológico: EDELSTEIN, Wolfgang & KEUER,
Monika. "Perspektivitãt und Interpretation. Zur Entwicklung des sozialen
Vcrstehcns" [Perspectividade e interpretação. Sobre o descm·olvimento da com-
preensão sociaij. ln: (ed.). Pmpektü•i/iit 1111d lnterpretc1lin11 [Perspectividade e inter-
pretaçàoj. Frankfurt/~[.: 1982, p. 9 ss (27), bem como: GELILEN, Dieter. "Soziales
Handcln und Perspektivenübemahme" [Ação social e adoção de perspectiva]. ln:
Pmpek!im117be111t1h111e 1111d Jozjc1!u Ha11de/11, Te;...te Zflr 10'-ic1!-kog11itire11 E11111-ick/1mg [Ado-
ção de perspectiva e ação social. Textos sobre o desenvolvimento sociocognith·o).
Frankfurt/M.: 1982, p. 24 ss (53).
79. HABERMAS, TAC II, p. 59; EDELSTEIN & KELLER. ibidem, p. 26.
80. MEAD, ibidem, p. 157 s. Quanto à tese de Mead, a respeito da continuidade entre
aucoconsciênda infantil e processos de pensamento abstrato, cf. JOAS, ibidem,
p. 110; quanto à passagem do conceito do "outro generalizado" (.gt11er11/iZ!d utbei'),
para a ética universalista, cf. ibidem, p. 118.
_..____ .
to sentido, ~~trutura da i:t:rsonalidade de_:1m homem."'
-
em, assume a postura i.los membros-da comunidadt:. Essa, em um cer-
__ _______
"~:Um:" 'é: â. rela[ão. éxtertí~ da "re~pósta"· (re.rjíonse) ã:s--pósturas de ..
Na· ...._ Íntem~, ;;~ -con~- -
outros; as quais- ó . se![.adõtã por antecipaÇão. ..... rela{ào
~·o ~·mim~epresenta a situação-so:f!l,·à qual·o-se!fcomo-"eu"--·-
-
lidade especial em que o "eu" reage a "mim". Por outro lado, "eu"
-. .,. - - - f • •· .. • .... - . • ·_ ,.,.,,.--. • ~.~
'- -----
relac1onarnento interno entre "eu" e "mim", individualmente os pon-
---
_,!9S de vis~evantes reeresentam di~as perspectivas em relago
~
-
que a ética pode aportar para o indi,·íduo. É da maior importância
~ -
definir uais s~o esses interesses em uma situação articular. É neces-
sário ser capa~ de ca"nsideri-los de modo imparcial.''5
r-- -
1
170 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
imparcial de uma hipótese, estabelece inicialmente a tarefa cie desco-
brir os interesses dos afetados para, antes de mais nada, formular
uma norma situaÇionalmente adeqtiada. Na ;:gdade, 1Iead até re_su-
~asso da formul:içào exe_lícita de norma: "Você não ~ta
belecer antecipadamente refil!'lS fixas _guanto ao que simplesmente
~r feito. Você ode descobrir uais são os valores em·oh-idos
,10 problema factual e agir racionalmente em relação a eles".'ri Essa
r-- .,.
1 O PROBLEMA DA APl.!CACÃO DE NORMtl' NO flF'FNVO!VIMENTO
',,
entender o iincípio da imparcialidade no sentido aplicativo, ~ tal
.'modo ue exigisse a consideraçao inteira e adequada de todos os si-
nais caractenstlcos a s1tuaçao e aplicação, con ere a cada no_i:.ma
\'álida o stat11s de uma 1pótese que precisa ser ponderada na sua rela-
.cão com to os os emais sinais característicos da situação. E possível,
------ --
nesse sentido, compreender ----------~~--~----~-'--
também a idéia de 1Iead de que cada for-
mação de hipótese em uma situação é, simultaneamente, uma recons-
trução da "comurúdade" no seu todo.
Agora temos condição de descrever com maior precisão as di-
mensões do problema de aplicação. As normas são aplicadas em situa-
1e são defirúdas socialmente pelos interesses dos articipantes
que estão representados em valores, padrões ou reo-ras. Em coqside-
ração a todos os aspectos desse .modo relevante em uma situação ' é
. que uma hipótese imparcial de norma precisa ser formada. A impar-
i _e,dade exige, naturab:~_nte, não só uma fon~ç~ót~~
j .~_almente ad<:_g_uada, q~ se refira ~ as diferenças de uma ~-
. tuação, mas - e 1fead omite esse aspecto - também uma validade
~ai da hipótese normativa para virtualmente tod.Q§ 2.,S part~
I
172
. ---
problemas, que mais tarde volta~ nos ocupar mais detalhadamente:
nhecimento ~e, ;i.o menos, H~gel ha,-ia descrito como sendo de vida
....___-----· ~
-------
discurso". Entretanto, com isso, chegamos no nível da mlidade un.iver-
-'-:::------,.-~-----
sal de normas morais. Com a questão a respeito da fundamentabilidade
do pleito de validade universal, ultrapassamos o primeiro estágio do
esquema de argumentação, de Toulmin, dentro do qual, todo tempo,
1
f'\ PR0Rff'~·f.·' n,, ,,011r.,r ..1n '"'" ~'"~~,~ ... "'" f"\l"'.'"r.~r''r'l''''~tr.:-..rTí\
3. A diferenciação entre
fun~amentação e aplicação
no estágio pós-convencional da
co1:1sciênçia moral (Piaget e I(ohlberg)
'
1
.\ f , {)
t .1 .
\ \1) li.{ iU .
J,/J-<cl
~J> t1.J CP·µ . . ,
( oN- Qu~1s SÃO AS CONSEQOf,NCIAS QUE, para a aplicação de uma norma, re~
sclta~ânci~deq~ a sua validade já não é pres;upõS"ta
~discutivelmente, mas passa a depender do "E.niverso do discurso"?
A!:._é agora vínhamos supondo que as normas relevantes para uma si-
nmção fossem pressupostas pela comunidade ou que nela se tivessem
cristalizado, evoluindo pela via da adoção da perspectiva generalizada.
Conseqüentemente, ~díamos con.:_entrar-n~s no pro~a de cc:._mo
~....a..._s...:d~a;..;.d;.;;a..;...s_s_ão_a;;p_li...;.c_ad...:a...:s_a...:d::.e~qLu:...a..::d:.:.am.:;;;,;;e~n.:..te_em..-..u_m~a-s.......
itt~o
munitariamente interpretada. Ao final do capitulo precedente, porém,
~ . .
evidenciou-se que uma formação de hipó~ese qut.fosse situacional-
mente adequada, imp~rcial e m~ral, só seria possível caso todo.r os as~
pectos normativos, que em uma situação sejam interessantes, pudes- -
sem ser considerados. ·Isso pressupõe-que. não -há ""."alidade" üe a-
~licação de uma determinada norma prescreva sem considerar as
~stâ~ias _speciais da situação.POrtanto, as relações de inter;ção
já devem estar a tal ponto "descentradas" que a consideração de to-
dos os sinais característicos da situação não está, de antemão, restrita_
pela obrigação de observar uma determinada norma, imposta autori-
- - -, -- -
tariamente. Além disso, tínhamos exter~ado a suspeita de que uma
--- -------- -- - - -------------- - ------ - __.. ___ -·-- -------· --- ----·-· -- - -- _____ _. ____ ---- ---- - - ; - -·--- -- ----· ---·- ---
desconexão cÍa rnlidade normativa de determinadas situações de apli-
cação só poderia ocorrer quando o pleito de validade tornar-se plena-
mente independente -de contexto, e não mais se referisse a uma çomu-
nidade historicamente contingente, mas a todos os sujeitos aptos à
r
.,
•
f
1
101. PIAGET,jean. Ibidem.
102. f..:OHLBERG, L1wrence. "Stufe und Sc9uenz: Sozialisation untcr dcm Aspckt der
t
kognith·en Entwicklung" (Estágio e sc:9üência: Sociali7.açào sob o aspecto do de-
senvolvimento cognitivo). ln: Z11r ko:y1ilirr11 Et1tll'Íík/11ng dtt Killdes !Sobre o desen-
11
1
volvimento cognitivo da criança). Frankfurt/!\!.: 1974, p. 7 ss; "l.\loral Stagcs and
Moralization: The Cognitive Devdopmcntal Approach" [Estágio morais e
moralização: A abordagem cognitivo-desenvolvimental]. ln: EU<!]S 011 Moml
1
Dmlop111tnl [Ensaios sobre dcsenvolvimerito moral]. ln: The Psycbolo!J of Moral
Dcvclopment [A psicologia do descm'Olvimento moral]. San Francisco: Harpcr and (
i
Row, 1984, v. II, p. 170 ss.
i
-l·!
176 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
.
r
.
1
108. Ibidem, p. 65.
109. Ibidem, p. 121, 210 s, 213, etc. l
178 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
l
A objetivação da regra se evidencia em uma heteronomia do de-
\·er, no ,·erbalismo e em uma concepçào objetiva da responsabilidade.
Essa relação com as regras e as situações de aplicação começará
a desfazer-se somente quando crescer a cooperação entre os parcei-
ros de brincadeiras. O estágio de "mútua estima" 11 " pressupõe rela-
----~-""-~~----~--~-
çõ es de interação,. simétricas, nas quais a criança aprende tanto a dis-
tinouir-se
b
das demais, quanto a referir-se a elas. .O. .próprio ideal da
__....__
.__ - -
distingue três estágios no desenvolvimento do conceito de justiça; da·
~
recedência da autoridade diante ifa Tgualêiade, do igualitarismo e. da ·- ' y'
------- -----------
eqüi ade. Eqüidade é •
1- não é uma regra, pela qual é reciso tratar de modo igual, mas a ró-
~~déia da~oopera~o, e111!gue as co~ais só podem_!.er de~-
~f\\:I"
~
~
--
º
e normas. Para essa suposição, só recebemos indicações de Piaget.
motivo qe Pia~t não ter passado disso pode estar relacionado com
~tringir-se à observância de brincadeiras infantis. -
formaçao, a justlhcação e a aplicação de regras de jogo ocorrem
no mesmo contexto, entre os mesmos participantes, em um horizonte
116. Ibidem, p. 88 -$; GIUIGAN, Càrol. Die andtn St1i11111e [A outra voz]. München/
Zürich: 1984, p. 18 s.
à sus eita de ser o indício de uma postura que ainda continua sendo
autoritária e im uí a de fetichismo de re ras. Possivelmente, o com-
p exo modelo de Kohlberg nos possa dar informações sobre a estru-
tura ~ fu11ção de um segundo estágio desse tipo e a sua importância
para o problema de aplicação.
-
184 TEORIA DÁ ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL
j
1
-
manece desconsiderado: a adequação situacional qa n.oi:ma. Com a·
universalização da validade, a norma se desvincula, nesse segundo es-
~-;u cont~de si~ções ..:...on~, de relações e. de comu-
nidades. As fundam~tações precisam concentrar.:se em ·questões de
validade e clirigir-se ao fórum de uma comunidade de ·comunicação
universal. As regras, segundo as quais a validade se determina, são
~as de ~ceclime~~rto p~ todos, no guãl exdusi':1~n- ·
-~elação de~onhecimento recíproco é rele~. Nesse procedi-
mento só podem ser tematizadas aquelas questões que interessam a
todos, pois a vali de de e ser e dere ada a todos..
.......... ..,
i 1
relativamente tosco, que nesse afã foi tomado como base, resultante
de relações sociais assimétricas e de uma moral autônoma, baseada
em relações sociais simétricas, ambas definidas por estima recíproca.
Observou-se a co-variação de três sinais ~aracterísticos: do juízo mo-
ral e das suas razões, bem como das perspectivas sociais.
Em adesão a Piaget, Kohlberg distingue três estágios princi ais
no desenvolvimento do juízo mora :
ijstágio pré-convencio!!al
II. Est~o convencional
III. Estágio pó'7-'convencional ou orientado por princípios 117
- ----- ~
a
Para distinÇão provisória gostai:íarnos de mencionar -ãs breves·. . -
caracterizações com que Kohlberg descreveu, em um estudo-anterior, .
a base do juízo moral para cada um desses três estágios: ·
117. KOHLBERG. Mon1/ Sta.ges [Estágios morais), ibidem. p. 177; St1!ft 1111d Seq11enz.
[Estágio e seqüéncia], ibidem, p. 60. Quanto à critica a Piagct, cf. ibidem. p. 72.
(120) Ibidem, p. 177. Sobre isso, ver Selman, Robert, The Growth of
Interpersonal Understanding. Developmental and Clinical Analyses (New York:
Academic Press, 1980).
.
social, utilidade social, direitos humanos direitos subjetivos.
cons1 erada moralmente correta a observància de regras e
normas que ou possam ser justificadas por um contrato social ou
correspondam à utilidade social. Independentemente disso, há alguns
di~eitos absolutos, como vida ou liberdade, que ninguém poderá_ vio-
lar. Condizentemente, as razões para a ação moral se baseiam em
firmar espontaneamente o contrato social ou reconhecer a utilidade
social da observância das regras. A perspectiva sociomoral se refere
ao indivíduo provido de determinados direitos e constituindo um fim
em si mesmo, que em procedimentos se une com outros a respeito de
determinadas normas.
··-·--. -·--,.
- ' . -
·--.--·----------'-~-·~..,...----,..--,-,,....--~-·
123. Idem. "Six Stages of Justice Judgment" (Seis estágios de decisão judicial]. ln:.,
Eu•!YJ 011 Moral Dertlop111mt [Ensaios de desen.volvimento moral], ibidem, Appendix : .
~rn. . .
------·---·------------------------
--·-- ...
O PROBLEMA DA APLICAÇÃO DE NORMAS NO DESENVOLVIMENTO... l95
eqüidade e da·igualdade. Na tabela a seguir, compararei paralelamen-.
r
te os resultados das obsen·ações referentes à "igualdade" e à "eqüi- 1
dade" com os estágios morais e as perspectivas sociomorais. 1 :~ 1
124. Cf. ibidem, p. 624 ss e a tabela, reproduzida acima, na p. 167, com os seis estágios
morais da obra de KOHLBERG. i'tloral Slclges, p. 174 ss.
125. Empreendi uma tentativa de reconstruir, nesse sentido, o desenvolvimento do con-
ceito de igualdade em: "Verrechtlichung durch Gleichbehandlung?" [Promoção da
juridicidade por meio do tratamento igual?]. In: GRÔBL, Evclyn (ed.). Thetna:
rJ,,g/eithheit, Gm/ls,hafts· 1111d Soz/alpolitiuhe Te.-.:te Bc111d 4 [Tema: Desigualdade, textos
sociais e sociopolíticos]. Linz: 1986, p. 51 ss.
126. DWORKIN. Bürgemd1tr (Direitos políticos], ibidem, p. 14.
---------
cedimentos necessitam, por sua vez, legitimar-se diante do fór~m des-
ses direitos undamentais, e não mais apenas entro do contexto parti-
cular de uma determinada sociedade. Isso, porém, não se aplica somente
à fundamentação de normas e de procedimentos, mas igualmente à sua
aplicação. Tão logo a aplicação de uma norma fundamentada ameaçar,
em uma situação especial, violar direitos desse tipo, ela necessitará ser
;
re\ista, para este caso, ou revogada. Já não será somente a ap~o
igual de uma norma a todos os des~ários que gãi=ãn'tirá a i aldade
l
l; e aE!!.cação do direito), contudo serão a erópria norma e a sua aplica-
ção que deverão proteger ou promover os dir~ de todos~ssa
a eraçao no senti o do principio de 1gu dade é marcante para·· muitas
normas constitucionais modernas, as quais adotaram entre os seus di-
reitos fundamentais e humanos o direito ao tratamento igual. 13 ~~
dade e iaualdade se destacam, ortanto como fun ões distintas do
~io de iguais direitos fundamentais e ~manos, o~ qu~s
colocam sob reservas especiais tanto a fundamentaçãcr quantp tam-
.Qém a aplic~ão de ~mas. O significa o específico da eqüidad~ pode,
por sua vez, ser explicitado diante do pano de fundo da perspectiva
sociomoral, característica para o estágio 5. Supera-se, com ela, Qponto
de vista rígido de um outro generalizado. É como se ela retomasse a
perspectiva centrada na pessoa, do estágio 3, a fim de contrapô-la à
perspectiva da norma no estágio 4. Mas essa impressão não confere
com a realidade. Será apenas no nível pós-convencional que cada um
_poderá ~onhec.Klo como millVI~ autônomõ,~s
seus contingentes vínculos concretos com outras pessoas. A perspecti-
va antenor à sociedade (/mor to socie!J) universa a a visão de mundo
moral, centrada na pessoa, do primeiro estágio do nível convencional,
em favor de cada indivíduo isolado. "O ponto de vista individual, assu-
mido no nível pós-convencional, pode, no entanto, ser universal; trata-
se do ponto de vista de q11alq11er indiJ>íd110 racional." 133
132. Cf. para o debate alemão, em especial, durante os anos 1920, LEIBHOLZ, Gerhard.
Die Glekhheit l'Or de111 Gmtz. [A igualdade diante da lei]. 2. ed. Munique e Berlim:
1959, p. 76. O que se evidencia nele com clareza é que a regra da igualdade é
interpretada, no sentido cronológico, a11tt1 da lei. Cf. ibidem, p. 35.
133. KOHLBERG. A.foral Stages [Est.o\gios morais), p. 178.
-----
'êiãr""Conta de circunstân;;s e.s~ciais em uma situação apenas -como
.
l 36. De uma outr:i pcrspcctiva, wb o aspecto da diferenciação funcional de ~istemas
sociais parciais, Luhmann chega ao mesmo resultado: "Se desistirmos de pressupor
pontos de vista fixos na natureza ou em uma ordem de valores, que ditassem
normati"amente n que terá de ser tratado como igual e desigual, o sentido desse
esquema deverá ser encontr:ido na própria orientação comparativa. E o sentido se
e\•idenciará, então, no e.rq11e111a ig11t1! - duit,11<1/ q11e ttrre "º"'º 11111 nq11r11u1 de <"an1cte11stict1
deter111i11,1dt1 pdt1 perg1111ta pm· 11111a ra:;jio SJ!}icimte. Juscamente o esvaziamento da tese da
igualdade - de que ela não contém nenhuma indicação daquilo que de\·e ser tratado
como igual e desigual - é que lhe confere a sua função especifica: a fundamentação
suficiente de qualquer tratamento distinth·o". Ll'Hi\IANN. Gr1111drubtt ,i/s l!tstit11tio11
[Direitos fundamentais como instituição]. Berlim: 1986, 3' ed., p. 169. Também
Leib,holz interpreta a tese da igualdade no sentido de uma proibição de arbitrarieda-
de, que deveria ser usada negatoriamente: "O próprio conceito de arbitrariedade
11cio pode ser deji11ido de Jim11t1 111ateiit1!111t11fe i11rq11Íl'O<'t1, nem pode ser limitado formal-
mente por um critério. 'Direito arbitrário' é, simultaneamente, 'direito incorreto', e
se distingue daquele apenas de modo meramente quantitativo, no sentido de que,
em si, para<? ato de Estado (preceito jurídico, sentença e ato administrativo), não
po<le ser simplesmente aprescnta<la nenhuma razão ou; ao menos, quanto ao que
mais importa, só uma razão insensata; e 'sensato·, por sua vez, niio pode ser defini-
do, de uma vez por todas, de modo permanente, assim como tampouco pode ser
definido o interesse público ou o bem comum para sempre." LEIBHOLZ, ibidem,
p. 87 (Herv Leibhol7.). Essa determinação do princípio de igualdade entrou como
"proibição <le arbitrariedade" na jurisprudência do Tribunal de Consricuiç:io Fede-
ral Cf. a documentação comprobatória em GUBELT. Rdn. 11 e 18 a respeito do are.
3. ln: VON MÜNCH, GG-K. 1981, 2ª ed., v. 1.
137. KOHLBERG. ]11stiff ]11dgme11t [Decisão judicial], p. 638. Quanto ao princípio de dife-
renciação, cf. RAWI..S, ibidem, p. 96, 104.
situação excepcional, porque a perspectiva soc:iomoral restringe a se-
~terísticos relevantes. àquilo ::iue for importante .rara
a relação com a alteridade pessoalmente concreta, ou para a perspec-
ti\·a fixada de um outro generalizado. Apen~s com a passagem para o
ní\·el pós-convencíonal, o modo, já que os sinais característicos rele-
rnnres são apreciados, des,·incula-se do esquematismo de uma norma
a ser aplicada. Esse aspecto fica mais evidente no estágio 5, quando
direitos absolutos poderão bloquear a aplicação de uma norma legíti-
ma. Isso não significa necessariamente que essa norma se torne invá-
lida ou ilegítima, rrias
, apenas que em um caso especial os direitos indi-
viduais são afetadqs e podem ser violados por uma aplicação da norma
e pelas conseqüên~ias daí resultantes. Entretanto, também nesse está-
gio, a seleção de siPoais característicos relevantes dentro de uma hierar-
quia permanece m:i.is aberta e menos determinada ("liberdade", "vida"),
porém como ponto de vista de relevância de princípios ou direitos
fundamentais firm~ment~ predeterminados. É verdade que desse modo
é possível aprecia~ uma' grande quantidade de. sinais característicos
situacionais especi~is, embora ainda não exista nenhum procedimento
para a alteração de direitos e princípios existentes em situações con-
cretas ou para a criação de novos. ~xação, que Kohlberg atri~o 1·
estágio 5, constitui-se do contrato social ~e todos os sujeitos morais ,
-----
celebraram- -entre
-----
si, uma vez, hi~eticamente. Ele determina o espa- 11
~ue há folga para possíveis mudanças. Um out~o problema!
característico para esse estágio em situações de ~licação é a colisão~
- 1
de direitos ou _erincípios em casos isolados, portanto, não per se, mas \
~s. -E verdade que as colisõe;-;;,ão destroem a validade de um \ (1'
~· mas a busca por ponderações e coerências adequadas é um - / \'"1'.J
problema que, para esse _estágio da consciência de mor;u, "é de difícil -- / l -
solução". 138 Uma solução ressu orla a capacidade de poder m;us um~ f
v~ .de ~é:liteitos .e prinê:ípiC>s ·e.._ sob a observância-de· todas jlS /- -- -
circunstâncias relevantes, formar uma hipótese normativa adequada,!
~ 1, J--~ - \
"rt
___
J
,l v-v'a vt-"' • ;,~
·f·,ytr )J ,;( -
138. Cf. a descrição da perspectiva social do estágio 5, na tabela dos estágios de moral,
de KOHLBERG. More1/ S1,iges [Estágios morais], p. 175. Maiores detafücs a respeito
do problema de colisão, abaixo, terct:ira parte.
·,.;
1
Yirtualmente relevantt; em uma situaçào específica, que já não é mais
;:;ssh·el construir umà-relaçao anali~ca entre uma norma, válida para
rodas as pessoas, e outra, adequada a uma :>ituaçào especial. É ~-erda-
1
------
A INTRODUÇÃO DA DIFERENÇ~ entre fundamentação imparcial e aplica-.
.~
,ção de normas, no copceito~ .:
moral do estágio 6, não tem apenas im- -------
.e,ortância marginal. Is~o poqe ser esclarecido por meio de um prõbie-
ma que eu já havia menclon.ado no primeiro esboço, dé modo ··
rudimentar, de dois tipos de aplicação distintos. O estágio 1 deveria,
entre outros, ser definido pela característica de que a validade e a ade-
quação de uma norma se referem ao mesmo contexto particular.
Apoiando-nos em Kohlberg, podemos agora descrever esse contexto
particular de modo mais preciso por meio das perspectiv-as sociomo-
rais do estágio da consciência moral convencional. Trata-se respecti-
vamente de um sistema de vínculos concretos; com as_ corresponcl,e11-.
tes expectativas redprocas, ou de uma comunidade concreta; no se~tido .-:-~: -_:: :· ::... _
do "outro generalizado" (generalized othei'j. -Em ambos os estágios é --·-
possível combinar as ponderações.de fondamc;:riJ~Ç~()__çg~---a~~valia~ão -~----=-~--
do caso isolado em um processo. A reciprocidade concreta, que pre- ___
valecia no estágio 3, obtém os sinais característicos relevantes, de modo
imediato, da perspectiva da alteridade concretamente ·pessoal e das_
expectativas de papéis que estruturam essa perspectiva (''O. que faria _
você no lugar dele/dela?'); no estágio 4, a reciprocidade é socialmente
generalizada e inclui, como relevantes na ponderação _de validade,
----·-· --··-- ------- - · - · · - - - - - - - ·--- ------
-.·
T
-
141. Ibidem.
-· . -------------
ser observada em estudos de longa duração em jovens na passagem
para a idade adulta ou no início dela. Depois de ter sido alcançada uma
T
1
~· orientada por princípios, no sentido do c1uinto <~io
do modelo de Kohlberg, al_guns sujeitos "sob investigação cientifica
~m, ae9s --um-d.eterminado pe;ríodo; a orientar-se por critérios
~
rela~istas_QJJ. contextuali~s. Eles ~saran1 sobretudo argum~ntos re-
-
lacionados com as circunstâncias sitpacio11ais especiais e as n_ecessida-
des dos diretamente afetados, ou m6strar~m. no seu todo, uma consi-
der::í,·el insegurança ao ª'·aliarem moralmtnte conflitos con~retos de
atuação. Uma vez que constituem antes características dos es~ágios 4 e
3, em parte até 2, esses fenômenos dificilrpente poderiam compa- ser
tibilizados com o modelo de deseq.rolviq,1ento, concebido col'l10 se-
qi.it!ncia irreversível de estágios, reado si~o, por isso, desighados de
regressões isoladas. Norma Haan, ~arol <:;Jilligan e John l\tf .i\forphy,
baseados em material novo e critérios de investigação aperfeiçoados,
opuseram-se a essa interpretação n~ tent<\tiva de ver, nessas posturas
1
' u
i<LiS~··IA
·1 9s autores distinguem exRressamente esse "relativismo cont~-
tual" da ,·ersão tradi~ional do relati-\·islllo, segundo ~ -9!:1ª1 h;Ld.iversas
,_
,' soluções corretas para cada problema moral, sem ue seja ossível de-
-
' cidir-se de~ndamentada por apenas uma del!!§ (11111/tiplicity). ~-
te disso, o "relativismo contextual" ermite uma diferenciado entre
-~ções mel ores e e_iores, ~não segundo um critério objetivo,
E:_las segundo o critério ~depende situacionalmente do "melhor ajus-
!:" 0_:1 da "adeguação". l\Iesmo essa versão do relativismo não conse-
gue afastar um resto de genuína insegurança que persiste na decisão,
motivo pelo qual a opção pela solução adequada, em última instância,
está na responsabilidade de cada um individualmente. Insegurança na
solução de conflitos morais é a primeira experiência que leva à relativi-
1
zação da "certeza adolescente" normativista. 145 É possível interpretá-
la como um indicador para um desenvolvimento progressivo da cons-
ciência moral, quando ela vier acompanhada de uma consideração mais
completa de outros sinais característicos situacionais do que nos está- 1
gios anteriores. A percepção mais precisa de diferentes aspectos, a sen- 11
144. i\ll1RPHY, John Michael & GlLLIGAN, Carol. "Moral Development in Late
A<lolescence an<l Adulthood: a Critique and Reconstrucrion of l\:ohlberg's
Theorr" [Desenvolvimento moral no fim da adolescência e na fase: adulta: Uma
critica e reconstrução da teoria de I...:ohlberg). ln: H11111n11 Derelop111e111. 1980, v. 23,
p. 77-104 (p. 83).
145. Ibidem, p. 99.
-
como das conseqüências previsíveis que teria uma decisão pelo se!f
dos diretamente afetados. A moral interpessoal, pois, de mo~:lo al-
~m favorece e~soluções -----~---:
que se originam de fantasias difusas ,a
respeito do amalgamento do se!f e de outros, ou de necessidades de
~onia 9!:!_e temem o conflito. A diferenci~~ão entre se!f e ó~
tros, porém, tampouco é inversamente descrita como resultado de
um processo de individuação, em cujo percurso conflituoso sujeitos
morais, que vão se tornando autônomos, distanciam-se um do ou-
tro. Ao contrário, o reconhecimento de uina diferença entre se!f e o,s
outros faz parte das condições nec:essárias para viabilizar os relacio-
namentos, assim como inversamente são apenas esses relacionamen-
tos que proporcionam a formação de um se!f diferenciado. As expe-
riências específicas, nas quais se baseia a ~oral interpessoal,
reportam-se, por isso, de novo à relação de proximidade e distância
nos conflitos da vida e dos relacionamentos, como Carol Gilligan as
pesquisou exemplarmente nas decisões de mulher;; sobre o abor-
to.152 Ela sugere a distinção de três fases, das quais â primeira se
caracteriza~ pre~cupaçao dormnante a respetto d~i mesma,>
para uem tu o sera mor ente om, desde que omente os ró-
pr1os planos de vida ou nao os pre1u ue. A segunda começa com a
= t r a d u z i d o na ireoc'üpação eiclu7i'va por
si mesma, as consequencias ofensivas, ligadas a isso, diante de ou-
tros e os perigos de uma instrumentalização do outro para a conti-
nuidade dos relacionamentos. A reação a essa ercepção pode ini-
cialmente consistir em uma moral de auto-sacrificio, segundo a u
a mulher desiste de satisfazer as suas róprias necessida es a fim de
-
tar-se-~anceamento entre· egoísmo ·e respo~abilidade por
outrem. Esse processo colhe a sua dinâmica estruturante do exame,
. ' .
sempre mais abrangente, do contexto, do qual a própria pessoa, os
outros e a sua respectiva relação concreta são constituídos. A àepen-
dência factual entre si é interpretada normativamente: "Essa ética,
que dá provas' de um conhecimento cumulativo de relações huma-
nas, desenvolve-se em torno "de um reconhecimento central, qual
seja, de que al~ernaqamente a própria pessoa e os outros dependem
um do outro." 153
A orientação d?s participantes em fenômenos contextuais tem
como conseqüência uma específica alteração do tema tratado nas
controvérsias morais. A resolução de um conflito no âmbito de uma
moral interpessoal se concentra menos em aspectos condiciona/mente
relevantes do que em um modo de agir sugerido. O "se" ou o "por
quê" fica em segundo plano; um direito geral, que fosse válido inde-
pendentemente de uma situação concreta e pudesse fundamentar
um determinado modo .de agir, parece menos importante para en-
contrar uma s~lução em comum. Em yez disso, serão considerados
sobretudo fatores modais e finais. O "como" de um modo de agir e a
. opção por aquele modo, que entre a~ diversas possibilidades será
adequado ao contexto, parece ser mais importante, sob o ponto de
vista do objetivo comum de prosseguif com um relacionamento, de
modificá-lo ou de dissolvê-lo sem prej!lízo evitável para si pr:óprio e
para os. outros. 154 1
1
~ 1
1 \.--. - - - -
planos de vida dos afetados, que estão vinculaaos entre si e que
~
-.
1
155. KOHLBERG. "The Currcnt Formulation of the Theory, with Charles Levine and
Alexandra Hewer" [A formulação corrente da teoria, com Charles Levine e Alexan-
dra Hewer]. ln: Em!Js On Moral De1Jt!ap111ent [Ensaios sobre desenvolvimento mo-
ral], ibidem, p. 212 ss (227 ss).
156. Ibidem, p. 229.
157. Ibidem, p. 232.
158. Idem. "Synopses and Detailed Replies to Critics, with Charles Levinc and Alexan-
dra Hewcr" [Sinopses e réplicas detalhadas a críticas, como Charles Lcvine e Ale-
xandra Hewer]. ln: fus<!JS On lvloml Deutlopmtnf [Ensaios sobre desenvolvimento
moral], ibidem, p. 320 ss (356).
159. Habermas. "Gerechtigkcit und Solidaritãt. Eine Stellungnahme zur Disk"Ussion über
'Stufe 6"' Uustiça e solidariedade. Um posicionamento quanto à discussão sobre
"estágio 6'1- ln: W. Edclstein, W. & Nunner-Wlllkler, G. (ed.). Z11r Buti11t11111ng tkr
Moral Philosaphirth4 11ná 1ozfalwimn1tbaft/ich4 Beitrãgr Z!'r Moralfaruh11ng [Sobrt a tktmlfi.
na;ào da moral Contribuições filosóficas e sociológicas para a pesquisa da rnora!l
Frankfurt/M.: 1986, p. 291 ss.
Já que são 5alhadas por seres vivos -:- que são individuados por meio - ··
-· . 1
. . -----
de socialização -para a vulnerabilidade, as normas morais necessitam ..... ------ .
J---~
solucionar ao mesmo tempo duas tarefas:~ realce à in~ ..
dos indivíduos, exigindo estima uniform~ diante da dignidade de cada
--------. . :
---
comum. ·
N o entanto, a solidariedade discursiva já não pode ser '\!Ü1culada
a contextos particulares e reciprocidades concretas. Em discforsos só
é possível prosseguir com o modo de vida como um todo, mas não
descobrir o que seria bom para uma relação concreta ou para as ne-
cessidades e os planos de vida de cada um individualmente. A conse-
qüência disso é um corte rigoroso entre questões de justiça e de boa
~[,O ~cípi6 da solid~efaz parte~ apen$ quando
se re ere às condições gerais de uma boa vida. Ele precisa proporcio-
nar a auto-realização individual e os vínculos concretamente recípro-
cos como tais, garantindo as relações de reconhecimento intersubje-
tivo. Todavia não consegue estabelecer de modo genericamente
obrigatório o que é uma vida feliz, tampouco o que é um modo de
V1 a bem sucedido. "Estão in u1 os aqueles aspectos estruturais da
160. Idem. "Moralitãt und Sittlichkcit. Trcffcn Hcgcls Einwãnde gegcn Kant auch auf
dic Diskurseth.ik zu?" (Moralidade e cticidadc. Será que as objeções de Hegel
contra Kant também se aplicam à ética do discurso?]. ln: W. Kuhlmann, W. (ed.),
ibidem, p. 16 ss (21).
161. Idem. Gerr,htigkeit Uustiça], ibidem, p. 314.
--- -
constitutivas ,E_ai~ uma, moral de justiça universalista. Os problemas da
vida real, de Gilligan e Haan, especialmente destacados dos: dilemas
hipotéticos de Xohlberg, decompõem-se, portanto, em dois aspec..;
tos: conforme os conflitos de relacionamento e decisões de plano de
vida também se referirem a um tipo de•questão, que deveria serres~
pondida por tpdos ge modo igual, sendo, portanto, genuinamente
moral - eles podem ser avaliados também segundo princípios morais
do estágio 6. q
outi;p aspecto trata da• feµcidade dos participantes,
Neste caso, exclusivamente, podem existir decisões prudentes e con~
sid.eradas que ~ejam ínais ou menos adeqÍiadas, para as quais não é
mais possível encontrar princípios generalizáveis.
;1 ':- •
·· 162. Ibidem, p. 306, 315; idem. Moralitãt [Moralidaàe], ibidem, p. 26 _ss; idem. Dühmthik
·· · [Ética do c!iSCu!so], ibidem, p:·i 14 si ~to ao debate direto com Gilligan, Hãân e
Murphy, cf. idem. Moralbt1J111j/tsein [Consciência de moral], ibidem,'p. 187 ss.
. 163. Idem. Dühlmthilc (Ética do discurso], ibidem; Moralbt11111jltsein [Consci~cia moral],
ibidem. Quanto às conseqüências teórico-morais dessa atribuição, cf. p autor.
"Vorlãufige Überlcgungcn zu cincr Theorie der prozeduralen Applikation" [Refle-
xões preliminares quanto a uma teoria da aplicação procedimental]. ln:
BRÜGGEMEIER, G. / JOERGES, C. Workshop Z!' &nZ!J>ftn tks po1ti11t1111f11fioni1ti.«hm
Rechts .[Workshop a respeito do direito pós-intervencionista]. z~ntrum für .
europãische Rcchtspolitik Materialicn 4. Bremen: 1984, p. 74 ss.
-
~m~re~lução do ~nflito. Uma moral que, como critério de validade,
~
utilizar a concordância fundamentada de todos os afetados, precisará . ·
substituir a mera aplicação de princípios predeterminados, a qual ape<
nas confere se as mesmas condições de aplicação estão dadas por,:·
uma aplicação imediata do "ponto de vista moral" a cada caso isola::;
do. Entretanto, o "ponto de vista moral" não poderá terminar- como'•·
Wellmer o afirma..,... na linha do horizonte de uma prática de sistema de·_
convivência, contudo deve poder estender o particularismo de cada-·_,,,
-~~-
166 •. KOHLBERG & BOYD, DWIGHT R & LEVINE, Charles. "Die Wiederkehr der
·. . sechstcn Stufc: Gcrechtigkcit, Wohlwollen und 'der Standpunkt der Moral" [O re-
.torno do sc.'ttO estágio: Justiça, benevolcncia e o ponto de vista moral}. ln: Edelstein,
W. & Nunner-Winklcr, G. (ed.), ibidem, p. 205 ss (236).
:t67. Idem. Synupsu (Sinopses], p. 368. A respeito do construtivismo de Rawls, cf. RAWI.S,
"Kantian Constructivism in Moral Thcory (John Dcwcy Lccturcs)" [Construtivismo
kantiano na teoria de moral (Prcleções John Dcwey)]. In: The ]011rnal of Philosopl!J 77
[O Jornal de Filosofia 77], 1980, p. 515 ss. ·
----
de vida mostre boa vontade com o princípio moral em si. As~im, estão
interrelac1onadas entre si a aplicação de um princípio mor~!, em um
modo de vida e a aplicação de princípios universalistas a ~ituações
concretas. Em segundo lugar, será possível apenas resolver; colisões
elftre princípios de justiça e orientações da vida bo.'l no nfvel pós-
~ ~~~~~-~--:-~--:-.,..~~~-
~o n venci o n al de modo universalista, p~a. Uma
seqüência hierárquica diferente reverteria de novo a distinção entre
moralidade e eticidade. Em terceiro lugar, será possível unicamente
conceber a a~~ão de prins!Eios univers~e
-~s-conven~nal, como umProcesso de formação cons-
trutiva de hipótese. Normas que só forem válidas convencionalmente,
deverão ser, em qualquer situação, aplicadas independentemente de
outros pontos de vista. Em oposição a isso,~-
encional da aplicação de norma pressupõe que em qual uer situ ão
...:-. -" .. :
~ão ser aplicados diversos princípios, que colidem en~os ":: ..
·.~~ :,..__.,.•t;
uais (b) são entrelaçados com determinadas concepções da vida boa .
~~ ,,._ ..,
~.:....
I
Ao proteger pessoas contra os perigos de uma análise, ensina-se-lhes a -·
impor firmemente seja lá o que a regra prescrita de condda possa ser,
em um dado momento, em uma dada sociedade. As pesso~ acabam se
''• - ' --- - --- ~ - - ---- - :
______ ____ /_________ _____ _
,
179
nansatz in der Ethik), Ursula Wolf se reporta à tese de Elisabeth 1 1 ·
Anscombe e Philippa Foot a respeito de o pleito de obrigatoriedade ~ 1 :
do dever moral ser um resquício religioso. 180 Éticas desse tipo colo- -~~ ~
cam no lugar de um princípio de fundamentação de normas um con- ~ ~ '\
textualismo naturalista, que avalia teleologicamente a qualidade moral . ~ \)'
de uma ação, perguntando se ela contribui para a concretização d~ ~~ ;
1~~·
176. HEGEL. "Der Geist des Christenrums und sein Schicksal" [O espírito do cristianis- ~ ~~ "
mo e o seu'dcstino]. ln: Wtrke (Obras]. Moldenhauer & Michel (ed.). Frankfurt/lVL: ":l' ~
1971, v. r, p. 323. . . . . . . .. -~ ._~ ~
177. Cf. a respeito. GÜNTHER, K. "Dialekclk der Aufk.lfu:ung -Ui- dêr Idêe-dcr. FÍ:eiheit:' ~. ::r
Zur Kritik dcs Frciheitsbegriffs bei Adorno" (Dialética do Iluminismo na idéia da tt ~
liberdade. Sobre a crítica do conceito de liberdade em Adorno]. ln: Ztitsthrift jiir ?, ,~
philosophisç/M Fomhung 39 [Revista para pesquisa filosófica], 1985, p. 229 ss. ~- '>
178. Cf. a respeito HONNETH, Axel. Kritile dtr Matht. &jltxionsstuftn tintr lerilifthtn ~ ~.iil:. tJ\
Gtstllscheftslhtorit [Crítica do poder. Estágios de reflexão de uma teoria social criti- !
<·f; :~ =~~';~':'..~~ ·l
··-·t+l·· .
uma concepçio de vida boa. Além da possibilidade de exigências so-
ciais merecedoras de reconhecimento, o problema propriarpente mo-
ral apresenta-se na pergunta: "que princípios para eu agir. diante de
outras pessoas correspondem à minha própria concepçfo de vida
boa?". 181 A importància do dever moral não resulta do cor,nprometi-
mento recíproco diante de outros, mas do comprometimepto diante
de mim mesmo. Somente por esse caminho é que um impe<rativo ex-
terno se transforma em um compromisso moral auto-imposto, ou seja,
imposto por minha própria concepção a respeito do tipo de ser hu-
~ano que eu quero ser. Após essa proposta, para que os comprome-
timentos normativos e os pleitos de validade sejam mais uma vez sus-
pensos em uma eticidade da vida boa, dependerá do que será entendido
por uma concepção da vida boa, se é que não se pretende reintroduzir
uma antropologia metafisica. Wolf distingue um primeiro nível de al-
vos - considerados valiosos, subjetivamente ou dentro de uma comu-
nidade - de um segundo, no qual a pergunta sobre a vida boà aparece
"e.orno a pergunta que se faz pela interpretação da situação eíeistencial
do ser humano e, resultando dali, como a busca pelo modo:holístico
de existência." 182 É possível caracterizar isso somente como ~'um tipo
dç empreendimento estético". 183 Anscombe e Foot sugerem, em seu
lugar, uma interpretação empirista daquilo que seja bom para nós (to-
dos). O predicado "bom" é interpretado de modo coerentemente des-
critivo e empresta o seu sentido da psicologia. Se dispusermos de uma
compreensão psicologicamente adequada do ser humano, também
saberemos o que, em um sentido teleológico, é necessário para ser um
ser humano. 184 "E esse 'ser humano', com equipamento de virtudes
completo, é a 'norma', assim como, por exemplo, é a norma o 'ser
humano' que possui todos os dentes. Mas, nesse sentido, a norma dei-
xou de ter mais ou menos o mesmo sentido de 'lei'." 185 Por isso, não
há vácuo lógico entre "fatos" lfacts) e "valores" (values). 186
_, .. ,,.
"'
- .;.
~-· .- . .. .. :
-'~ ~<. ·- ("\ ppnRff:'"' f\' 1rirrr:\rln r-~ ,.,.....,.....,,,.. ..,,,....., •-,~~····· ,., •. ,,
-~ .
- ----_...;:'---
lei da natureza. 191 Isso implica não só a concepção hipotética segundo
___...
~oderia _suerer qu~dos observas~m essa má.'\.Írna c~mo
. ~-
~ (inclusive diante de mim mesmo), ~as também q_ue _da~
!e!icada do mesmo modo em todas as situaç~oáveis. E verda-
de que Kant acentuou que essa comparação se referia meramente a
-·.:.;
forma da lei e não deveria ser considerada como um motivo de deter-
minação da vontade. Essa função caberia à própria ·liberdade, e eu
.,",: i: .:·.;., . apenas posso reconhecer se ela coincide com a liberdade na forma de
··:t: ·~ ..·
uma máxima análoga à lei da natureza. Contudo se entendermos o
motivo de modo tal que a analogia com a lei da natureza seja adequada
191. KANT. Kritik der praktisthm vérmmft [Crítica da razão prática], ibidem, adenda 122
ss (p. 188 ss), adenda 74 ss (p. 156 ss).
----------
aplicação deveria ser fácil. 193
uma norma que, tomada por si mesma, pode ser aceita por todos, se
for aplicada em uma situação que é mais complexa do que a quantidade
de sinais relevantes característicos situacionais, pressuposta pela pró-
pria norma. O próprio princípio moral não fixa o grau de especificidade
de uma norma; até mesmo um modo de agir em uma situação poderá
ser universalizado. É verdade que essa abertura do princípio moral
para o conteúdo de uma norma (o qual naturalmente somente é gene-
ralizado como um conteúdo hipoteticamente proposto e, con10 tal exa-
minado em relação à sua compatibilidade com os interesses de todos)
garante que nenhum conteúdo fique excluído ·a limine. Entretanto, o
princípio não nos fornece critérios sobre o que respectivamente deve-
ríamos entender a respeito da adequação do conteúdo de uma norma. '" ~._{'
i
Se é isso que ocorre, então a regra derivada :la aplicação do imperati- -
1 •
~._{'
-----
--· ___ :,:, ,_'
".:
. :------------·---------· ---- - _.___._____ ---- .. ----·- __ _____,. -- . -- ··-- -- ···--- -- ... - -····----
aqui e agora: No mesmo contexto, no qual essa decisão "tiver valida-
~bém será "aplicada"; é, portanto, desde_ logo, adequada.
O discurso de validade e 11plicação é, nesse caso, apenas rpetafórico.
Esse estágio corresponde mais ao modelo de influência cau~al unilate-
ral do que ao de reciprocidade mútua. No segundo caso, já ~xiste uma
perspectiva social conjunta generalizada, objetiva e tempora4,'nente. To-
davia ela ainda permanece vinculada a contextos concretos c,!e referên-
cia, nos quais se constituirão compromissos de lealdade entre os parti-
f
cipantes. A validade de tais compromissos dependerá do espectivo
contexto particular de referência, isto é, do sistema de papéi~, ao quais
alter e ego puderem atribuir às suas expectativas comuns. 9 mesmo
contexto particular de referência determinará também a ~dequação
das expectativas conjuntas de papéis e os recíprocos comt;romissos
especiais de lealdade. No essencial, as situações em que o ~stema de
papéis for atualizado rotineiramente, serão forns; sabe-se a9tecipada-
mente o que é que importa e quais são os sinais característiços unica-
mente relevantes. Circunstâncias extraordinárias em uma sitpação im-
prevista ou na pessoa de um participante (por exemplo, conflitos de
lealdade) são vistas como ameaça ou como caso de exceção, em que se
farão valer as circunstâncias atenuantes. No mais, os sinais cahéterísti-
cos especiais continuam sendo irrelevantes.
Em um segf!ndo estágio, a perspectiva, compartilhada em conjun-
~/ter, já é tão alta~te generalizada que cada um dos do~
~ do respectivo contexto de referência e observar esse c~
texto a partir de uma terceira · ão ex lícita neutra. Ego e alter se
referem a uma perspectiva comum, a partir da qual poderão supor
alternadamente que também o respectivo outro vá ocupá-la perante si
mesmo e perante o outro. Esse tipo de mudança socialmente genera~
lizada de perspectiva já está implicitamente contido em sistemas sim-
ples de papéis. Contudo, será possível, unicamente nesse estágio, dis-
tanciar mais .uma vez o contexto de referência. Os modelos de
comportamento se desvinculam de interações concretas e tornam-se
neutros em relação às pessoas atuantes ou afetadas. Trata-se do está-
gio de sistemas de normas explicitamente formuladas. É óbvio que
essa neutralidade não vai ao ponto de cada um poder referir-se a uma
norma virtualmente conjunta. O seu contexto ainda não excede um
se pretendesse que essas normas tivessem validade __e_ara lodos, elas .>J ·~
de;eriam tornar-se necessariamente indeterminadas~~ez g;:;_ a
-:'."'-
...•, ...,: ~ ·-.
~me!_exidade de diferentes situações de ~cação e a ~oz altera-
.ção de constelações isoladas de sinais característicos não -eram mais
previsíveis, como ainda eram dentro do horizonte fechado Çle um seg-
mentoS"ocial. Com a universalidade da fundamenta ão, também a apli-
cação é "liberada", pressupon o uma individualidade autônoma que
.Eincípios gerais aplicam de modo situacionalmente es~É pos-
sível que também na sua gênese lógica esse processo seja reconstruí-
do: com a desvalorização da validade particular e contextualmente re-
lacionada da norma, a seleção de sinais característicos relevantes não é
mais predeterminada, tampouco fixada antes da aplicação de uma
norma. A restrição das perspectivas se refere à percepção da situação
isolada. A partir desse momento, todos os sinais característicos que,
segundo uma pluralidade de pontos de vista normativos, carecedores
de jústificação, puderem ser identificados como relevantes, poderão
ser examinados. á ue validade não garante automaticamente mais
~o, essa adequação de uma norm._!. em W!lª situacão E~ª
e_rimeiramente ser estabelecida s~ consideração de todos.JlS-SÍP.ai~.
~rac~ticos relevantes. Uma vez que, inversamente, também uma
norma adequada já não é válida somente por isso, fundamentação e
Excurso
"F_hró11esis" come~ exemplo de
aplicação contextualinente vinculada
1. A TEORIA ARISTOTÉLICA
' .
Em uma investigação a. respeito do unperativo categórico, de Kant,
como critério do ético, Otfried Hõffe chamou a atenção para•a é:ontri-
2_uição de 15.._ant para que a ética não se , resuma amna dedução e aná-
lise da lei moral como um princí io da generalização de quaisquer
--
-------------- .~~:----!...-~~:::;;--~~~-:--:-.:'.-...~~~~~
.modos de agir e de uais uer regras. 199 Ao contrário, e e teria destaca-
do~ especial de regras como objeto do imperativo categórico:
máX.imas, ou seja, regras de diferenciada graduação de generalização,
~ais o próprio agente determina a sua vontade, em dife-
~tes situ~ç§_es. Enquanto Kant em geral se contenta em caracterizar
máximas como J:.rincípios da vontade subjetiva,200 já que nesse sentido
basta, para o ji.µzo a respeito da atuação moralmente correta, que uma
_m~m~ d~_~ç~~-s~j~-~a.~-:_~~,_!:§ffe as ~reta_c.9!Po 12rinc~,
199. HOFFE, Otfried. "Kants kategorischer Imperativ ais Kritcrium dcs Sittlichen"
[O imperativo categórico de Kant como critério do ético]. In: Ethik 11nd Politik..
. Grundmodtllt und -prob!tmt der praJ:lis,htn Philosophic [Ética e política. Modelos e
problemas básicos da filosofia prática]. Frankfurt/M.: 1979, p. 94 ss. Cf. também
BUBNER.. Ibidem, p. 245 s.
200. Ibidem. p. 297 e p. 300.
- - - - ·- - - - - · -----------------
---·--·--------------~~---·
:v:':
-~ ;
nos quais se expressa "o tipo de ser humano que alguem pretende
ser".lot Com isso, Hõffe dirige o olhar para o problema em vista do
qual Hegel e .Mead viram a lei moral de Kant ruir. Inicialmente, deve-
mos dispor de um conjunto de máximas para a nossa ação, em diver-
sos âmbitos situacionais, antes de podermos perguntar-nps se a ação
concretamente pretendida é também moralmente justific~da segundo
\ a máxima em que se basear. ~-se em duas
.eartes, se levarmos a sério o problema de um tipo de ciência de máxi-
mas: a fundamentação ou dedução da pró ria lei moral e :o seu anco-
ramento subjetivo a au__!_onomia da vontade~or um lad-;;:-bem como
-----....... ------ -
a legitimação morãí de máximas éticas e a sua aplicação em situações
-
concretas, por outro. Hõffe acrescenta que a aplicação ~e máximas
.-. ._,__........
éticas careceria, no entanto, da ajuda de "uma faculdade (ética) de jul-
-
~totelicament~ceria da hrónesis, que é"uma 'tarefa
ético-hermenêutica', pela qual Kant, por diversos motivos, ri mito pouco . ·~ '
se interessou".102
Com a distinção entre princípio moral, como princípip de funda-
mentação para máximas, e um "saber de contorno ou sab.~r de base"
de máximas para ação ética em distintas situações, a qual nq caso espe-
cial isolado precisa ser concretizada, Hõffe diferencia, no sentido aqui
sugerido, fundamentação de aplicação de normas (subjetivas como
máximas)_:?t>3 Entretanto, essa diferenciação tem uma conseqüência
diferente para Hõffe e para nós. Se no caso de máximas se tratar do
tipo de ser humano que quisermos ser, importará sobretudo a inter-
pretação adequada do contexto ético, no qual crescemos e transitamos
socialmente. Nesse caso, porém, a aplicação desse tipo de má.."Ómas
continua vinculada exclusivamente ao respectivo contexto. Ela não se
20 l. Ibidem, p. 213; R. KÕNIG, R. & DURKHE!i\I, Emile. ln: Kãsler, Dirk (ed.): Klauiker
des soziologischm De11ken1 (Clássicos do pensamento sociológico]. München: 197 6,
v. !, p. 312 ss (323).
202. KÔNIG. Ibidem, p. 325; MÜLLER, Hans-Petcr. "Gmllscha}, Moral 11nd lnditid11a/irm111.
Emile D11rkheim1 Morallheorie" [Sociedade, moral e individualismo. A teoria de moral
de Emile Durkhem]. ln: Bertram, H. (ed.). Gm/lschaftlfrher z1,.ang 11nd n1oralisch1
Autonomie [Coação social e autonomia mocal]. Frankfurt/~I.: 1986, p. 71 ss.
203. HôFFE. Kants kafttfJrischer lmperati11 [O imperativo categórico de Kant], p. 95.
:1~. L,(:,,. cionais que forem relevantes para a consecução dessa meta.
··&~:{~~;···
. -~
'"'~ '-~.:
de
....
"'"""" -
torná-las um hábito - Aristóteles explica etimologicamente a origem
-
ethos a partir do costume, do habitual e dotTadicional. 2 u Sob a
condução da parte anímica racional, torna-se possível conseguirmos,
por meiO de experiências em situações!isoladas, realizar o nosso po-
tencial de aspiração e as nossas paixões! Obtemos virtudes apenas no
1
212. BIEN, Günther. "Aristotelische Ethik und Kantische l\foraltheorie" [Ética aristotélica
e teoria moral kantiana]. In: Freib11rger Univenitatsbldtter (Folhetos da Universidade
de Freiburg] 73. 1981, p. 57 ss (67).
213. ARISTÓTELES. Eth. Nic., II 1106b 20. Utilizo nesse ponto a tradução de Olof
Gigon, uma vez que ela expressa mais precisamente as determinações circunstanci-
ais peristáticas do que a de DIRLMEIER. Aristoteles, Die Niko111cichi.rche Ethik [Aristóteles,
Ética a Nicômaco]. 2. ed., Gigon, Olof (trad. e ed.). München: 1975, p. 90.
214. Cf. também ARISTÓTELES. Eth. Nic., II 1109b 28 (p. 42); III 11 lla 3 (p. 47);
IV l 120a 25 (p. 71); IV 1126a 9 (p. 86 s). Quanto ao significado das peristases no
pensamento grego, cf. AUERBACH, Erich. Mimesis. 6. ed., Bem: 1977, p. 8. Quanto
à sua função no esquema discursivo da retórica antiga, especialmente para o discur-
so forense (como parte da narrativa, antes da. apresentação da prova propriamente
dita, a próthesis), Fuhrmann, Manfred. Die antike Rhetorik. München e Zürich: 1984,
p. 87. A doutrina do sfafu1 conhece sete perútaser. "Pessoas, ações, o tempo, o lugar,
o motivo, o modo, os meios - quis, quid, ub1; q11ibus auxiúls, cur, quomodo, quando
[quem, o que, onde, com quais recursos, por que, como, quando)". Ibidem, p. 99.
Uma recepçào interessante da teoria das peristases ocorreu na etnometodologia: cf.
GARFINKEL, Harold & SACKS, Harvey. "Über formale Strukturen praktischer
Handlungen" [Sobre estruturas formais de ações práticas]. ln: WEINGARTEN et al
(ed.). Ethnomtthodo/tJgie [Etnometodologia]. Frankfurt/M.: 1976, p. 130 ss (1S5).
-de de todas as metas, a qual não opta ela mesma, mas é, sim, predeter-
minada pela constituição ontológica do ser humano e_pela orientaçã<?,
que se tornou habitual, no· sentidQ.._da~ g:incretizaç§es setorialmente
..____......
~s.:
~
i - . . .. ' ..
215. ARISTÓTELES. Eth. Nk., III llla 18 (p. 47).:,--: 0
..
216. Aristóteles distingue essa ação, como prátíd.,'âo produzidpôíem),'que tcm'à sua··
finalidade fora de si. SCHNÃDELBACH. N1oaristotelis1111tt [Neoaristotelismo), ibidem,
~~ . . .
......
-
-
da vida boa e o sintetiza com os sinais característicos relevantes no
-----
Se"ntido do result~do de Qonderaçgo Qrudente: da ação. "O reconhe-
...___
-
. - -·
cimento étiço, no entanto, não é orientado apenas na direção do geral
(ton kathólotJ), ao s:ontrário, ele precisa ver com clareza também nos
casos isolados (tà kat' hékasta), pois o seu saber é ação; a ação, entre-
tanto, referi:-se ··.
a ,casos
.
isolados."
.
219
Somente a avaliação correta das
.....__. -
perístases de uma circunstância, que a ação modaliza adequadamente,
~ ~ ! .
~á à op~ã~correta daquilo que aqui e agora é bom para nós. O
próprio Aristótelés traw o parâle1o entre a prudência na economia e
na gestão dq Esta~o, que não podem ser reduzidas a um saber nomo-
lógico geral, mas carecem da estimativa correta de condições concre-
tas de ação. Essa postura básica não se adquire pela aplicação de um
saber, porém por meio da experiência (e111peiria) em situações isoladas
de atuação:"O reconhecimento ético (ao contrário) se voltará para o
elemento isol~do, que afinal é dado, do qual não existe conhecimento .
científi~o, mas percepção (aísthesis)"no - portanto, voltar-se-á para
aquela realidade factual, que para mim for relevante, e isso acontecerá a
cada u~ dos seus sinais característicos. ·Phrónesis c.omeça, por isso, ·
com o aconselhamento prudente a respeito dos diversos aspectos de
uma situação. No "estágio do procurar e do calcular",221 diversas possi-- --- --·
bilidades, que podem levat a uma atliação boa, situationalmente
·-·~~~J ;,:~*~~
.;·.z.:·~~-
.
sa natureza, como seres dotados
- _
___
linguagem ou de racionalidade. Se fizermos o ·que corresponde à nos-
)"--
de razão e de linguagem, ,alcançare-
'
- -
mos a nossa felicidade. As virtudes éticas são concretizacões setorial-
____..,
mente específicas dessa aspira-ªº• as quais brotam das experiências
~no decorr;-da nossa vida:fuermos em cada uma das situações à
procura da felicidade. Elas mesmas são, portanto, um produto da ex-
periência e não predeterminadas estaticamente. Com elas nos torna-
remos conscientes daquelas vantagens que devemos desenvolver na
,:~ ~;~:I1~. nossa natureza, a fim de poder viver bem em diversas situações. So-
:··::·:~i ·êtE . mente nésse caso farão com que o te/os ein uma situação concreta seja
;::,:~ ~lii<·:. . estabelecido de modo correto.. Aprender a aspirar em cada caso isola-
...,,..~ ~b!,~-- ~por aq~ que será bom_para nÓ§.. no entanto, também pressue§>:
•. :·-~·?:-e"kft•·t;~,' '
·-'.~ .t;-::"'- gue saibamos o ue, em cada caso, nas circunstâncias dadas, será bom
. ...,. __
.-~·~Jfi:;~~r:.
-····~. . ~-.;._.------.......:.:.-..-----------------'~---
p_:_ra nós. _Teremos nos aproximado da ~oss~ perfeição não apenas
.:=~~ ··'''!i~· quandov1vermos, casualmente, de maneira virtuosa, mas conforme
·i:.."' · · uma decisão consciente e refletida. Para tanto, necessitaremos do
l -------
para o te/os. Todavia essa capacidade é inclusive um produto da expe-
riência conosco mesmos, em diversas situacões. Podemos utilizar a
,
~pacidade de ponderar o~ fins e os meios ~bém contra a
· nossa natureza e-empre ·-la para as irações nocivas . Ela"7e torn~á
entendimento ético apenas se contribuir para o aperfeiçoamento da
nossa natureza, como seres dotados de linguagem e racionalidade, ou
seja, se ela se orientar conforme os fins indicados pela~ virtudes, espe-
cificando-os em cada um dos casos, de tal modo que sonsigamos rea-
lizar a vida boa por meios adequados. Tanto entendirne1~to ético quanto
virtudes éticas são requeridos, para que consigamos rrfoldar as nossas
~
potencialidades naturais, de um modo que lhes convêm, em um pro-
cesso de habituação, pautado por experiências.
Elas são dependentes reciprocamente, a fim de nos aproximar-
mos da condição de perfeição. Desse modo, Aristótele~clui "gue
,ij!np.ossível constituir-se em um ser humano valioso, no verdad~
~entida....(éticoh._sem entendimento éticQ, e que não se pode ter enten-
dimento ético sem a excelência de caráter''.227 Ambas as potenciilida-
des precisam "tornar-se, por crescimento natural", uma unidade, no
decurso do processo de habituação que transforma a nossa natureza
informe em uma segunda natureza, que seja refletida e eticamente
donúnada. 228 O dilema encontra a sua solução, portanto, por meio de
uma determinação genética da reciprocidade entre entendimento ético
e virtude ética.
Se, em cada caso isolado, virtudes éticas e entendimento ético
possibilitarem somente decisões corretas como uma unidade, a ques-
tão da relação entre fundamentação e aplicação se torna supérflua.
O saber geral a respeito do que seja bom para nós, que adqtúrimos
pelas virtudes éticas, não poderá ser separado das ~xperiências que ·:·j~~: ·,"-:~~..~-'·
tivermos em situações concretas. Ele obtém a sua validade da circuns-
·-··· t~.....~
-,~:"~ :-=:~:.;; .
."-.•:~,,-:- ... '
.-~--'.~~! ~:~:.t·,.
tância estabelecida. como postura básica e, dessa forma, está predeter-
minado. A ética nada mais empreende senão explicitar o implícito nessa ..-;:~i '.:;~2.0~-...
. - .
229. SCHNADELBACH, Neoaristotrlinmu [Neoaristotelismo], ibidem, p. 50. · -
230. Cf. TIJGENDHAT. Selb1tb111111jt1ein 11nd Stlb1tbestimm11ng [Autoconsciência e autode-
terminação]. Frankfurt/M.: 1979, p. 178; GADAMER.- "Heideggers Rückgang auf~
die Griechen" [O retorno de Heidegger aos gregos]. ln: Tb1orit der S11bjektivitiit
{Htnrfrh-Futschrijl') [reorla da subjetividade (Edição comemorativa para Hcnrich)],
ibidem, p. 397 ss (408) .
..-.... l"'T' .., !"" • ..... ' ' ,.,. ' ' n l ,,... ' • ':" ,... -- •- • • ,-.
;c,; \ ,__·'-;.',. .,- - )
l \1 • -\ -~•.../'-'
·~. J..'- . 1,,)J... :-
.,\) .:,~"
. " i-..1'-~,.V..1
1
' Individualmente. Em uma passagem famosa da Polítiq1, Aristóteles
\Jll. acrescent~ a essa const~taçào .ª de~ç~~r h':!!lli!,~º como um
~,ser que vIVe em comurudade (zoo11 olit1ko11). 231 '
~
, ~s e as _Eletas dos indivíduos são, portanto, idênticos_aos
_fins da pó~ os fins da pólis reJ?resentam o supremo bem, almejável
pelos indivíduos. 234 Portanto, o contexto em que ocorre a aquisição
~ricas - a meta da vida boa se desdobra e a respectiva
situação concreta de ação é determinada segundo as suas perístases
231. ARISTÓTELES. Politik [Política]. Rolfes, E. (trad.). Bien, G.(lntr.). Hamburg: 1981,
4' cd.; Ed. grega: Ari1toteli1 Politiía, post Fr. Susemihlium recognovit O. Immisch
[A Política de Aristóteles, revisão de O. Immisch, depois de Fr. Susemihlius]. Lipsiae
[Leipzig]: 1909, 1253a 3.
232. Ibidem, 1253a 14. ·--~· ..
233. Idem. Eth. Nic., 1 1097b 9 (p. 13), 1094a 26 (p. 6).
234. Ibidem, 1094b 7 (p. 6).
.r-
238. Ibidem.
239. Ibidem, p. 118.
240. Ibidem, p. 120.
éticas, pelas quais fomos formados, original e ingenuamente. A filoso-
fia prática formula essa reflexão conceitualmente e fornÇce, com isso,
a fundamentação do eticamente correto. Ela não se dist(!.ncia das ins-
tituições tradicionais, todavia as esclarece e as interpreta 1:omo aquelas
que são a origem e a finalidade da prática humana comp aperfeiçoa-
mento da vida. Ela se refere a uma vida que se tornou ;•a substância
das instituições éticas" dentro de uma pólis. 241
O procedimento dessa ética é caracterizado por Ritter como
"método hermenêutico". 242 Enquanto ele pretende descrc;.ver com isso
o procedimento adequado de teorias éticas e políticas, or~entadas pelo
critério da auto-realização livre do ser humano como un} ser racional
e institucionalmente vinculado, Gadamer explicita o senpdo especifi-
camente moral desse procedimento. Para ele, o próprio µiétodo her-
menêutico, relacionado com ~m ethos habitual de convivência, torna-
se filosofia prática. 243 •
244. Idem. "Über die Mõglichkeit einer philosophischen Ethik" [Sobre as possibilidades -
de uma ética filosófica]. In: Kleint philoiophisdu s,hriften [Pequenos escritos filosófi-
cos]. Tübingen: 1976, v. I, p. 179 ss (184, 181). -
245. Ibidem. Cf. t:unbêm, quase com a mesma formulação: Wahrheit 11nd Methode [Verdade -
e método], ibidem, p. 296.
246. Idem. Über tfie Miig/i(h/eeit [Sobre a possibilidade], ibidem, p. 186.
• :1
-- ------
que se colocaria o problema aristotélico de aplicação, mesmo se partir-
~
mos de um princí io de imparcialidade, justamente como o é o im e-
~- Nem mesmo o que em cada caso fosse imparcial,
assim poderíamos tentar mostrar, será possível derivar simplesmente
do principio, mas exigirá uma faculdade situacionalmente relacionada
e não-dedutiva de julgar. 250
247. Ibidem, p. 87. Nesse ponto, fica especialmente evidente a recepção da crítica de
Hegel a Kant.
248. Ibidem.
249. TUGENDHAT. "Antike und moderne Ethik" (Antiguidade e ética moderna]. In:
Probletnt der Ethik (Problemas da ética]. Stuttgart: 1984, p. 33 ss (43).
250. Ibidem, p. 40. Na sua segunda preleção: "Três preleçõcs sobre problemas da ética"
(ibidem, p. 87 ss), Tugendhat deu maior precisão a esse argumento. Retornarei ao
assunto na Terceira Parte.
251. Ibidem, p. 40 s.
252. Ibidem, p. 41.
...
., .
- --
de reconstrução transcendental do bem sunremo como critério racio-
.
nal de eticidade concreta: ''A síntese original do apriori com o a posteriori
-
da realid~oncret;da vida".254 Como fora evidenciado na sua ex-
plicação do conceito kantiano de máximas, Hõffe constrói a sua
versão de uma concepção de ética, orientada, segundo Aristóteles, em
dois estágios: como princípio de fundamentação de eticidade legítima
e como procedimento de aplicação e prosseguimento dessa eticidade
em cada uma das situações.
-,· .. ,
Sem ser de modo algum comprometedor e ainda estar desonerado .. .;.;·:'• ,;;,.:.,.,
i
1
i
Integrar um ethos é menos um press?posto hermenêutico do que
prático da ética.
É preciso ter aµtonomia no conhecimento prático de etiçidade e
dispor da respectiva. experiência para conseguir receber orientação de
uma reflexão pe filqsofia moral. Isso terá conseqüências para a inter-
pretação da ph.rónesis; ela é uma forma de sab:er pré-filosófico, o qual só
. será expressaqiente :tematizado e levado à conscientização por meio
da ética, com? filo~.ofia prática. "Enquanto o saber pré-filosófico, a
prudência (ph1pnesis) 1 reconhece como, no âmbito pessoal, econômico
e político, devi! ser exercida uma ação que concretamente faça sentido,
essa phrónesis não consegue tornar sua essência - como prudência e,
em si, os elemento~ e os princípios da ação ética - transparente." 256
Enquanto a prudência, no caso isolado, determina apenas os meios
adequados, a ética tematiza aquele elemento que só com~ fim é prede-
terminado para a prudência. As virtudes, como concretizações do fim
supremo, que não será meio para nenhum outro fim, serão examina-
das quanto à fundamentabilidade racional para o ser humano racional,
o lógon échon [aquele que tem palavra]. O ethos de eticidade concreta é
distanciado, de modo metódico e intersubjetivamente controlado, de
uma ciência ética de princípios. Uma vez que a ética coloca o indiví-
duo em condições de, consciente e refletidamente, sair das aspira-
-,· .. , ções originais da sua ação e almejar pela meta da vida boa, de modo
. .;..,;':'•
_ ,;;..:·,.,
espontâneo e com conhecimento das circunstâncias concretas, ela
-·::::?.. possibilita uma distância crítica "frente a si, à sua ação factual e ao
'··.-~!
<'·=~$··
-··--..:""" seu ethos facttial". 257 A concepção de Ritter a respeito do método
·:·.~_:::.y
262. Quem não tem nenhuma dificuldade com isso, devido aos seus pressupostos
ontoteológicos, é VOEGELIN, Eric. Aira1111tens. Z11r T!Morie der Gu,/Jiçhte 111td Polilik
[Anámnesis. Sobre a teoria da história e política]. München: 1966, p. 130 ss.
I
Jv<-<. f C:...<. (....~ e,·
1
situação. Segundo Wiggins, isso se evidencia no fato de que o silogis-
mo prático conven~erá, ao relacionarmos um ponto de vista normati-
vo que fizer parte da nossa concepção de umá vida boa, por meio da
situação conçrcta. Assim, Wiggins introduz, ao lado do critério da
integralidade, um tipo de critério de adequação:
.
Quanto m,aior for o conjunto de considerações, ao selecionar-se um
determinai:io sinjtl característico, mais comincente será o silogismo.
Não há, porém, c;,~tério formal, por meio do qual seja possível compa-
rar os pleitos de silogismos em competição. À proporção que o' silo-
gismo for :surgingo em um determinado contexto, a premissa maior
será avaliaÇa não pela sua aceitabilidade incondicional, nem por abran-
. :
ger mais cqnsiderações que as concorrentes, mas pela sua adequação à
situação. q silogi~mo será adequado para ~ situação, se e apenas se as
circunstânçias, que possam restringi-lo ou qualificá-lo e derrotar a sua
aplicabilid~de a Uflla determinada conjun~ra, não prevalecerem em
um contex~o prático desse silogismo. 270
270. Ibidem.
271. Ibidem, p. 234. Cf. acima. p. 178 s, 192 ss.
proposição súperior poderá ser ampliada no sen..tido .da _concepç~o da
vida boa, q~e o agente persegue. O sentido de "integralidade" e "ade-
quação" mudará somente quando essa concepção for desvalorizada,
no sentido de se escolher um ponto de vista entre outros que, no
momento da formação imparcial de juízo, terão de ser con~emplados.
As virtudes, nesse caso, já não serão pressuposições de qráter para
uma vida bem-sucedida em comunidades particulares, toda~i.a apenas
pontos de vista normativos que serão incluídos em uma hipótese ade-
quada de norma, cujo pleito de validade deverá poder ser aceito por
todos os afetados.
l
~sideração de tod~ os Slila.ts característíêos relevantes, enq~to
~for "ex!JênCià'?iúo dlscurso de tunêfamentação,·care~e
=a n~~ração ~v=ili'~
277. Ibidem, p. 13. Apenas à margem queremos mais uma vez registrar a surpreendente---··· · ·-· ·-~~-· · 1
proximidade de uma teoria de sistemas sociais. Ct., por exemplo, a conseqüência :. ·: i
que Luhmann tira do fato de diferenciação funcional em· socicdades -cómplexas:'------'~ f
''Nas estratégias de auto-representação individual, nas considerações delicadamente .. : -- ..... --.. · i
perspicazes e sentimentalmente neutras da civilização da expectativa, na confiança !
no valor fictício de satisfação do dinheiro, na indiferença serena diante da multidão !
de decisões estatais a respeito de problemas e na sensibilidade de todas essas postu- i
ras frente a perturbações críticas, as quais questionam a capacidade funcional dos. 1
sistemas, prenuncia-se um comportamento inovador do ser humano em relação ao 1
mundo, cuja interpretação coloca a filosofia diante de novas tarefas" (Grundmhtt ais j
Instif11tion [Direitos fundamentais como instituição], ibidem, p. 216).
'1
o-PR~BLEMA DA APLrc~çA~ o-~ ~o~~-A~-N-; ~E~~-~~ol_v[M-;NTo~.-íis·------i
;·
A generalidade, em q1.1e os "pontos de vista de possíy~is O!:Jtros
estão p'resentes", 278 é a generalidade de um evento de tradição inter-
subjetivamente compartilhado. O sentido para o correto ·constitui
comunidade. Na palavra selecionada corretamente nos d~paramos
com o normativamente correto. Na seqüência dessa tradiçãa, retórica,
Gadamer descreve o sentido comum não a partir da sua ~strutura
formal, implicitamente orientada pela idéia da potencial g~:ieraliza
ção, contudo a partir da coercitividade dos seus conteúdos: "Sensus
communis não é, em primeira linha, uma capacidade formal, w,p poten-
cial mútuo, que precisa ser exercitado, mas abrange sempre Ul[la sínte-
se de juízos e critérios de julgamento que o determinam em te;rmos de
conteúdo."279 A coercitividade desses critérios é deterrnin~da pelo
motivo moral da faculdade de jul~ar:
...___...,_ - -------
o "ser da obra de arte" não pode ser sepaiado-da "contlt!kêôcia das ~ :'.: -
con~es de acesso" de todos o~arttcipantes do erocesso de }?!.~:-~~~:.._ ~
siução, de reerodução e re~28 !_4
COmE!eensão da obra de llttc:i,::~c__:-:::::
por isso, apenas um caso exemplar da autocompreensão a partir_do ___:.__:~.--
ponto de vista da finitude, como fica evidente, de forma avassaladora,::_' ':-: ' :.'.e .
na experiê~cla d~ tr~édia;·- ·-e-----~-~=- -~-·:-:: ____________________-_________
~ -
dade, sob circunstâncias concretas, com a minha-t?rópria, a funde,
....
ossivelmente, alterar a dele ou a minha, ou ponderá-las. Aplicarei a
minha interpretação de necessidade como hipótese de norma à res-
pectiva situação, e devo ampliar a minha interpretação süp.adonal
por (todos) aqueles pontos de vista que decorrem da interpretação
de necessidade do outro concretamente pessoal. Quando c}adamer
constata, ao paralelizar a experiência hermenêutica com a interpes-
soal, que a "abertura para o outro, portanto, inclui o reconhe.dmento
de que devo aceitar dentro de mim que algo valha contra mim, mes-
mo não existindo um outro, que o pudesse impor contra mim", 295
está incluindo justamente essa distinção. Em situações de aplicação,
nas quais o outro é apenas o "ponto de vista", não se trata do outro
"fazer valer" algo contra mim, mas de eu considerar os diferentes
pontos de vista ou os sinais acterísti e evantes da situação, ou
";, . ··_
seia, "deixar valer contra mim (ou contra a minha interpretação situ- _:;;, ·. ':
acional de necessidade)". Isso acontece independente do papel que
o outro assuma diante de mim, em uma postura performativa, exi-
gindo o reconhecimento de um pleito de validade. É a partir do méu
próprio motivo interior que sou obrigado a considerar todos os si-
nais característicos da situação, porque a idéia da imparcialidade, no
sentido aplicativo, obriga-me a colocar sob ponderação não só as
·•
mos visto, entend~eito do Objeto, e não. COioC:l!;Se na Po-
;iç°ão de um outro e r;apitular'°";;s'"'7uas experiências vivenciais. D~s~ .
-~·:, . _
:;;, ·. ':
_
-
perdido a sua indubitável validade?
"""" ..----.... ----
299. Quanto à crítica contra essa função exemplar, cf. NEUMANN, Ulfried. "Ncuere
Schriften zur Rechtsphilosophie und Rechtstheorie" (Escritos mais recentes sobre a
filosofia do direito e a teoria jurídica]. ln: Philosaphürhe &mtfsçha11. 1981, p. 189 ss
(197 ss). Cf. a exposição detalhada das controvérsias a respeito da função exem-
plar em FRÔMMEL, M. Die &ZfPlion der H1rm1111111ik bti Karl Lmnz. 1111áJosef Emr
[A recepção da hermenêutica cm Karl Laccnz e Josef Esser]. Ebelsbach, 1981,
p. 97 ss. Frommel chega à conclusão de que à aplicação jurídica cabe a "função de
modc:lo", se ela for restrita ao problema da referência aplicacional de textos legais
(Ibidem, p. 1OS).
. ·~ .
300. BERNSTEIN. Ibidem, p. 157. Cf. a respeito também a carta de Gadamcr a Bernstein,
ibidem, p. 261 ss.
301. GADAMER.. Wahrhtzi [Verdade], p. 296.
ip~:~
/f7 e""
hermenêutico se _,réduz a fazer valer o sentido da imparcialidade na
aplicação. ~onceito que;_,Gac!_amer re~tou para esse método,
contra o ilumifusmo, perd;(; seu pleito de validade e se "tõ?n'a elemen-
~ de form-;ção co~trutivade hipótese. "Em stpreCàncéit~ di-
-
.:___..-. - - .-
;er um}iiíz;'qüe se emite a:;es do exame defiriíttvoêfe todos os-cle-
mentos objetivamente determinantes."302 Só conseguiremos descobrir
quais são todos os elementos objetivamente determinantes em uma
-
situação, se orientarmos a aplicação dos nossos preconceitos pelos
critérios da integralidade e da adequação, que garantem imparcialidade.
O reconhecimento de tradição, preconceito, autoridade e eticidade,
'Sob esse ãSpeeto, nãctâ ma.ts s1gruficaffiqile o recoohecrmcnto do car"'}..
ter distinto de possíveis mterpretações em uma situação concreta. Só
que nesse caso o saber ético é relevante. Ele já não conseguirá funda-
mentai a sua validade a partir de si mesmo, contudo tão-som_ente em
discursos de fundamentação.
A crítica contra a assimilação de ndamentação e aplica ão; or
isso, não pode levar também, em dire -o o os ta, a que o prob.Iema de
cação, por sua vez, seja de novo reduzido. Bõhler chamou a aten-
... ção sobretudo para a diferença~enêutiêãqüe há entre a interpre-
tação de textos transmitidos pela tradição e a aplicação de pormas
hierarquicamente predeterminadas:
!':
'
i
1
1
Afgwnentações de
adçqµação na moral
p A R T E
:1·
;.
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'·!:
. ••:'
. . .:;.; .e
,·:;.
'·,.•
O. DEBATE TROUXE ATIS AGORA, sobretudo, dois resultados: sob condi- :
d;
ções de um princípio !Jloral universal, do tipo do princípio ~niver
salização , a idéia 'a.a imparciill"dade se subdivide em ~~
~e ~d~ntáção ~acionalmente depen ente e um discurso de
aplicação que eftarnitja todos os sinais· característicos de um'"'ãsitüã-
~i;ão niçistrou-se inevitável devido ao desenvolvimento
Fc;ruaeE.._a~:iÍ Eorque, na passagem ao nível convenci~al
~..E.ós-co~enci<:f13 a vali_iade e a ~equaÇã~d~ormas, entte-
cruzadas em uin contexto particular de perspectivas comuns, não
'conse~ mais õbttr s~ntação. Uma validade que estivesse relà-
. cionada à alternância universal recíproca de perspectivas não mais
intentaria oferecer garantia para que a norma válida se adequasse ao
caso isolado. Por isso, a aplicação se torna "livre", no sentido de que
ela deve contemplar todos os contextos que forem relevantes em
uma situação. Conseqüei:J.temente, surge, ao lado do sentido univer-
sal recíproco, um sentido aplicativo de imparcialidade, com o qual
. designamos a consideração adequada de todos os sinais característi-
cos especiais .de uma situação.
A imparcialidade. da aplicação de normas será, portinto, aValiada
· por ~tério difer~atiüld~ntaçâo rmpáÍciali.:..ainda que
razao prática. Resta refletlr sobre como esses
---:-:-~----:-....;;...~~.---.,..~~~
. critérios podem ser escritos de modo mais preciso. As caracteriza-
ções provisórias, que demos até agora, ainda não permitem descober-
tas mais exatas. Dos pontos de vista relevantes de uma situação, haVía-
previamente determ.iLlada. Para poder pleitear àdequaç.ão, deve ser
possível relacionar esses pontos de vista coerentemente com a 'situa-
ção. Uma hi ótese de norma só poderá ser designada como ade uada
se for com atível com todos os outros aspectos normativos da situa-
~ Enquanto não lhe for atribuído esse predicado, será considerada
apenas como um ponto de vista entre outros, cuja inter-relação d~verá
ser avaliada em vista da situação.
Um problema típico, em que a relação de aplicação unilat'!ral e
adeq~empre debatida, é a colisão de normas em
~·Este problema é e~s
fins, porque o prinápio da aplicação imparcial obriga sistematican).ente
a que, em situações cone.retas, provoquem-se_ colisões de nor~as. 1
Ser obrigado a examinar todos os aspectos de uma situação le~ ne-
- cessariamente à colisao e normas, porque inio ente todos o;,s as-
pectos somente po erão ser relevantes em perspectivas distiptas.
A resolução de uma colisão dependerá da existência de regras que
estabeleçam, entre as normas em colisão, uma espécie de relaçãl) de
consideração. Esse tipo de regras é costumeiramente debati.do s9b o
título de "ponderação", se bem que re~as de ponderação não são as
únicas ue possibilitam um relacionamento. Entretanto, enquanto não.
se definirem critérios segundo os quais seja possível avaliar o peso
relativo de uma norma, incluída em um procedimento de ponderação,
o problema da potencial construção de hipóteses adequadas de nor-
mas ainda não estará resolvido com a sua reconstrução. Neste ponto,
a teoria da argumentação não nos fará avançar.
A seguir, quero tentar, por diversos passos, aproximar-me da
tarefa de descreve as ar entações de ade uação. Primeiramente,
pretendo debater diversas propostas de descrição do problema da
~
.,~~4!1:
.,:.o,\ .. .
-~· .:.-~
~ '
.....,.
' . . *: .
.,..•-.
"/~~i~ --·
1. Para o caso de parecer que esse ponto de abordagem foi escolhido arbitra.riamente, . 'Í·· .
. '·~
gostariamos de lembrar mJ1is uma vez o esboço de uma ética universalista, de Mead:
o problema da colisão é motivo para superar a ética de ~ "Mcad ~faaza pr:Üici-
"P"a1mcntcque õpêocedlliiento ac autocontrole do imperativo categórico seja limita-
do naquele ponto cm que não se trata da determinação do próprio dever, mas da
resolução de uma colisão de deveres ou, antes, da determinação do caminho cons-
trutivo de corresponder ao dever" QOAS, Ibidem, p. 122 s).
_._-;.:.
1. Q problema da colisão:
normas prima facie e normas definitivas .
: '1
~
edo de agir em tima deter~da siW.açã~~eçã~ ~ ,btos..!:le~ . '
vantes que pudessem oferecer uma razão a favor ou contra m modo .
de a , e a pon eração entre as razões favoráveis e con ' ·~s. :·
Se retomarmos o esquema de oulmin, poderemos ca{acterizar :
as reflexões requeridas no primeiro nível, de tal modo que silecione-
mos os dados relevantes em uma situação, visando a divers~s regras
conclusivas pertinentes. Pela referência a uma regra conclu~iva, da-
dos se convertem em razões para uma ação. Baier não res~ge o ·.
tipo de regra.conclusiva a regras estritamente normativas, mas admi- ; .
te qualquer convicção que ajude a fundamentá-la. Q;f ois ~ selec!o-
. narmos os fatos relevantes, poderemos ponderar entre as razões a
favor e contra. Para tanto, necessitaremos e "princípios de superio-
__...,_........
ridade" - de um tipo de razões que prevaleça sobre outro tipo (por
exemplo, razões morais predominam sobre razões de interesse pró-
prio) - ou de "regras de seqüência hierárquica" dentro·ae determina-
do tipo de razões. 4 Este tipo de regras será incorporado a partir do
nosso "contexto social'',5 e poderemos examiná-las, por sua vez,
novamente quanto à sua correção. A adequação do resultado da pon-
deração dependerá essencialmente "da correção e da integralidade
-
do primeiro passo":6 a seleção dos fatos. A diferença entre os dois ·· ··
níveis se expressará em dois tipos de razões correspondentes: razões
--.- ~ - -
.:. mente, enquanto que normas absolutas, ou normas 'efetivas", im-
:'.~ ~um co~omisso ~ agor~ na situação concreta. A consta-
__.
. tação de "1): (X) tem uma obrigação prima Jacie de fazer (A)" não
~ -acarretaria.""2): (X) -tem· Um.a-óbrigàçãcí de-
fazer (A)", poís uma em
"" "G
.~· t ,lc. J.e._,;,:,.;;;. ~,.j; .... ...._.:_ .:./ ~pc·l1> v<..... ~ ,·~ ~,.,..._.,...,,,,,_ .-...
·J.~pu." .p1,·ca~~,., ;(44fa.<.><J..i.,... ~&... -Wh..:4.'14 da P-'"s"'"'f"'.. ~'T'w .
e, ,.ç,<7> d~""
1
.,--. .. r . ·{ t
u ·" ~c.t.~.·.., a-..,.,.-f,..,,; • =--';> lc:f . .... ~ pc.d...u.c ~ ~ ~}., , .. "".' 7
.. p([c.c.t<> ,-- · • '°'/,,
• p ....tfc."í.,;.,;. U.VF~. cl•.s f ....,(j;1i.>lc..u.<.J-
ue rocedemos cqm est cláusula ceterú paribus [mantendo-se i ais {l
as de ais coisas em discursos de fundarnentaçao, .es o rará os seus i;...c.~J
verdadeiros efeitos ·a.e_enás em discursos de ae2cação. ~E <t. •
••
17. Com isso, estamos retomando o reconhecimento, formulado por Kohlberg para o
sexto estágio, de que já não será a igualdade que carecerá de fundamentação, mas,
sim, o tratamento desigual que acompanha cada tratamento igual Cf. acima, p. 162 ss.
<, _v.,J F'~ I (
lf'-l("'- ,
~
/-'{
sentido de corrigji a sua proposta original de norma ou a ponderação,
a fim de enconttar uma norma adequada. -
Portan~será no discurso de aplicação que encon~remos OJ>r0-
--
blema de colis'ãõ:"A'sriormas válidas sob circunstâncias inalteradas
poderão colidir ao examinarmos todas as circunstâncias de uma
ção. No discurso de fundamentação constataremos tão-someqte que,
' situa-
18. Adaptando um termo que Hintikka emprestou da lógica modal, podeciamos relacio-
1: nar a fundamentação da validade de uma norma sob circunstâncias inalteradas com
um "mundo deonticarnente perfeito", no qual o cumprimento da obrigação carecedora
de fundamentação é possível juntamente com o cumprimento de todas as demais
obrigações que fizerem parte do rcspcctivo mundo ideal deôntico. Diante disso, no
mundo efetivo, colisões são possíveis. CE: HINTIKKA, Jaakko. "Some Main Problems
of Deontic Logic" [Alguns problemas princip:üs de lógica deônticaJ. ln: HILPINNEN, _
R. (ed.). Deonti' Logic: InfrotÚldory and S,J1te111ati' Reatlingr [Lógica deôntica: Leituras
introdutórias e sistemáticas]. Dordrecht: D. Reide~ 1970, p. 59 ss (70 ss, 87 ss). A
diferença consiste cm que, no mundo perfeito deôntico, no caso da relação de obriga-
ção entre (p) e (q), trata-se de uma implicação material: p ? O q (ibidem, p. 78); en-
quanto que, no mundo efetivo, só existe uma relação deôntica entre (p) e (q): O (p? q).
// (vJ>'° J.'\L
todas as circunstânciÍs, também será válida sob circunstâncias inalte-
radas. ~ormlque for adequada :..,_m (51), poderá ser válida para
S1, SZ, ... Sn, capb não se)am acresêidas circunstânêias Ierevan~
~s. PortantÓ, para cÔpstatar se estamos obrigados a fazer o que é
~uado, d~vemÓs operar com a suposição hipotética de que aquelas
circunstânf~s sobre as quais ba_seamos ~ nosso juízo ~e adequação
permanecerao as. fllCSm~s em diversas situações. Com isso, estamos . _
•... mudandJ do disci.p:so de aplicação para o de fundamentaç~<?· ~ /vM"' :.,<,Jh .
\,JI' t:.J;_..xy defendeu a q.istinção entre o caráter é.rima facie e o caráter
\ definitivo de norrilas cqmo uma distinção da estrutura de normas e
••... ~caráter c~rcitivo. A proposta-;m a sua força d?p~suasão, J
'::~etud;, no futo dé"qtle ~elaciona esta distinção com a respec-
• tiva estrutura diferente de ·rincí ios e re s. 19 Segundo essa propos-
ta, prin~ios só contê~ ordens primajzcJ! ou razões prima focie, ~
quànto que regras pr!:.§..crevem uma ação de modo definitiv~ A
;)nseqüêricia dessa classificação de estruturas de normas é que prin-
---~·· cípios poderão ser restritos por meio d~ regras ou princípios em coli-
. . são; regras, ao contrário, deverão ser marcadas, no caso de colisão,
~ - >
·~~' com uma cláusula de exceção, QU então re2erem uma d~ão ares-
. eito de gual delas deverá ou não ser válida.
Cl[;J.,..,;,;,
I
elftó!t-:V..o e'W-tA..{)lojt·c..o .,
L;,,d,f<-"";,,-21-.-I-b-id-em-,-p. 75. do.. J..,-1-t cr,,.,{,,,•<>(a /
22. Ibidem, p. 7 6.
23. Idem. fuçhtsprinzjp [Prinápio do Direito], ibidem, p. 81, n. 96, referindo-se ao con-
ceito de programa condicional de Luhmann.
24. Idem. Gnmdruh14 [Direitos fundamenta.is], p. n ss.
e:,;:
._g
.t
-f~" localizada por Alexy na estrutura da norma, poderá ser reconstruída b.--
_':~~; . ) ~do mais adequado em ~ndiç~s de conversação, sob as quais l
~
nos posicionamÕs díante êfe compromissos em determinada situação. Jt
_- Nesse caso, a diferença consistiria mais em tratarmos de uma norma
J
n
como regra, à medida que a aplicarmos sem considerar os sinais ca-
~sticos desiguais da situaçã~!. ou como princí~o, à medi.da q_ue a
_ .mtlirnmos...Q!.ediante o exame de todas as circun~as (efetivas e _
juódicas) em determinada situação. Os dife.rentes. mo.dos d.e tratamento
se originam, portanto, do fato de que, no caso da aplicação da regra, as
1r restrições institucionais e ponderações de ~deq~Ção ficaffi' êxdUídâS' e,- ----- -- --
!
------
precede o outro. 28
\l
adequação de um princípio resultará da determinação da relação fren- ~
te a todos os demais prinópios aplicáveis na situação, e das condições
efetivas, das quais a concretização do princípio dependerá. Obviamente,
Ale:icy não indica critérios, segundo os quais fosse possível avaliar a \.k
~guaé_o de um enunci;lo~erência. Entretanto, o conceito de (
estrutura de norma já restringe os pontos de vista a serem examina-
.dos, ao se estabelecerem princípios que, como mandamentos de oti-
mização, visam, de modo otimizado quanto .às possibilidades efetivas
e jurídicas, concretizar um estado. A lei de ponderação define o tipo
-i'
31. Ibidem, p. 146.
32. Ibidem, p. 149 s, 152.
33. Ibidem, p. 80. Trata-se, portanto, de colisões per aççitfenr [por acidente] e não ptr 11.
).}'\::, o 'i.3 '-, ·~ ~:, 'Jl ~~"'""' ~V'-·:..r-.J5. \ -
>l't. , J.t l ... Vi~~ 'i:f"\ /,~· '~..} \
~~ ~f~ ~ ~'-.! \\}'" ~
. ~ :.~~ de relação segúndo graus de importância e de restrição, qe modo que \
~~ . ~ é possível indicar cada caso que necessita de fundamentação.'.
~. ~ . ~tivo 12elo gual este tip~ ~e .argt!me~tação de adequ~ção se-
~ \j _na exi&_enc1a da estrutura d~s pnnc1p1os cononua n~buloso. S?mente
~ i se "evidenciará" que determinadas normas exigem argwnenta~ões de
'li j adequação em situações de aplicação. A exigência de aplicar uma nor-
~ 1
ma em função das suas possibilidades efetivas e normativas 'Gurídi-
~
~~
·J cas), em uma situação, poderá, entretanto, ser feita a cada norma. Aplicá-
~- ~ la, considerando ou não as circunstâncias especiais de uma situação,
:% ] não dependerá da própria norma. Alexy se vê diante da necessidade
~ "'~ ~ mandamentos em um único;. o mandamento "vin~u
i ~ lado com o sentido deontológico de uma norma (você deve fater p) e
· " ~ue prescreve um determinado. modo de aplicação (com ou sem
~ ~ ~ração das circunstâncias: você· precisa fazer p). No entanto,
~ ~ surge, nésse caso, a dificuldade de encontrar critérios que perinitam
(~ uma deci~ão,clara,,de sa~e.r qu~~ dos ~odos de aplic~ção seria~ devi- . :..
~ { do e se nao e poss1vel disttngmr 111eqwvocamente, assun como em um ;,~:
~ sistemaJurídico ~entre normas de direito fundamental e re~ ····
·~ ~ntações jurídicas simgles. 34 Por isso, parece-me mais eleilleQtar "
'l separar o modo de aplicação de uma norma do seu conteúdo deonto-
..._ ·~ lógico. ~e a nossa hlpótese a respeito da seearação de fundamentação
~ --
~-
----
e aplic~ão no est~o pós-convencional do desenvolvimento moral
.estiver c eta
~~-~--~-:-~7.'"'~-------~~--~~:-7'~
de a licar-se uma norma, consideran~
_ do-se todas as circunstâncias, valerá ara cada norma, em virtude do
rincí io de aplicação imparcial. Isso não exclui que, em razão de se
~~
~ exigir fundamentação, determ111adas normas sejam mantidas artificial-
-... mente no nível convencional, com a conseqüência de alterações de
-<,.i"-
ro . de adequaçao
regras por motivos - somente serem poss1ve1s
, . em casos
t:J ~, ex~epcionais ou requererem um juízo ~e validade.
34. Por isso essa objeção só cm parte atinge a proposta de Alcxy. Ele se refere a normas
de direito fundamental e a simples regras juridicas. Mesmo assim, a objeção, que é
da ordem da teoria de moral e foi aqui aduzida, terá conscqüênciu na teoria do
direito, uma vez que a distinção entre princípios e regras deverá ser vinculada a
pressuposiçõcs procedimentais. Cf. detalhes a respeito, abaixo, na quarta parte.
;_
l
318 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAI.
1
Esclareça-se que argumentações de adequação não terão de ser
;,· restritas à aplicação de princípios no exemplo, dado pelo próprio
: Alexy, da chamada redução teleológica, ao se a.plicarem regras jqrídi-
··- cas.3s Nesse caso, 11orm~s jurídicas são relacionadas com uma deter-
minada finalidade~ COIT\Ó a vontade do legislador-, com uma fi.nali-
. dade de proteção ou corri um bem jurídico, sendo, na perspectiva desta
relação de fins e meios, restritas ou ampliadas no seu âmbito de aplica-
.. · ção.36 Nesse ponto, a no~ma é também relacionada com outras possi-
~; bitidades normativas etri uma situação. Entretanto, Alexy acrescenta
: ·. que a introdução ijnplíc~ta de exceções em ..urna regra pressupõe que
::; poderia ser desconsider:ido um principio que, expressamente, ordena
·: .!.!-ºlicação defi.nitlva de' regras: por exemplo, o principio segundo o
~--.• qual as regras que tenham sido estabelecidas por autoridade deverão
== ~ ser o~ervadas.
37
No entinto, este princípio, em geral componente de
. ......... .
:; . um sistema jurídicp .,s.omb o p;i?cípio de segurança jurídica, só P?derá
ser explicado a pa!!lr da~ condições institucionais especiais de um sis-
~-- tema jurídico. Baséada nesse princípio, a admissibilidade de argumen-
. tações de adequaç~o, etl\ caso de aplicação de simples leis, poderá ser
,_ -restrita, porque es~e tipq de ponderação poderá manter-se reservado
..·. ' ; .
·· · a uma outra instiniição, <:orno o legislador político. Nesse caso~ dis-
tim;:ão entre princípios e regras não é uma distinção do conceito e ;/-
norma, mas das condições da ação, so as uais as normas são a lica-
...._ Este ato, porém, não exclui que cada norma, per se, possa ser
das.
aplicada de tal modo que todos os sinais característicos efetivos e nor-
mativos de uma situação sejam exanúnados; Provavelmente, esse será
um desenvolvimento inevitável em sociedades complexas, justamente
no caso daquelas normas que, no âmbito do possível, aparentemente .
constituem "declarações" definitivas.·
-~., _ ··~-
~ . - • • • • "' • • - ' ~ ,• ~ ~ • ...., - ..... ~ ....... ~ • ,- T n •T ' ' ' r") n " T ~,"
·:.l'
Diante ·disso, seria possível perguntar se e como .aquelas regras'·~
definitivas, resultado de um procedimento de ponderação "- em tei;,~·\
mos de direito fundamental - distinguem-se conceituai.mente das de- ~
1
41. Essa crícica deveria ser possível, ao menos, no estágio mais elevado do modelo de
quatro estágios, sugerido por Alexy, que é o discurso geral prático. Entretanto, A!exy
não afirma tal possibilidade nesse ponto. Cf. ALEXY. Gn111druht1 (Direitos funda-
mentais], p. 498 ss.
42. Ibidem, pp. 98 s; MEXY. &chtsprinzip (Principio do direito), p. 61, n. 19. Quanto à
mistura de valores constitucionais com imperativos funcionai~, cf. DENNINGER.
Erhard. "Verfassungsrcchtliche Schlüsselbegriffe" [Conceitos-chave do Direito Cons-
titucional). ln: Fest1chriftfiir R WaJJermann [Obra comemorativa para R. Wassermann]. ·
Neuwied e Darmstadt: 1985, p. 279 ss (295). Cf., quanto à crítica contra o pensa-
mento de ponderação, na forma de conceitos de valor, também: FRANKENBERG/
RôDEL. Ibidem, p. 230: "Os representantes da ponderação de bens ficaram deven-
do, além disso, urna fundamentação conclusiva sobre como interesses privados e
públicos - como direitos individuais, liberdade política e capacidade funcional do
poder estatal - poderiam tornar-se comensuráveis e ponderáveis entre si, sem que já
se supusesse subrepticiamcnte a precedência de um bem jurídico sobre o outro".
43. Nesse sentido, PATZIG, Günther. "Der katcgorische Impcrativ in der Ethik-
Diskussion der Gegenwart" [O imperativo categórico no debate atual a respeito da
ética]. ln: Tat1a•hen, Normen, SãtZ! (Fatos, normas, enunciados]. Stuttgart: 1980,
p. 154 ss (170). Patzig sugeriu fazer com que o primeiro estágio de ponderação de
interesses, cm uma situação, fosse distinto do segundo estágio de fundamentação
universal. Ainda retornarei ao tema da adequação de interpretações de necessidade e
dos problemas de uma interpretação utilitarista, mais abaixo, neste capítulo.
Uma vez que qualquçr situa1ão nova será, de alguma forma, distinta
em relação a qualquer 'situaçãp anterior, a questão que surge de imediato
será se as diferenças são relevantes pira a apreciação, moral ou outra,
:!essa_.nova situação. Se forem relevantes, os princípios, com os quais
em situações passadas aprendemos a lidar, poderão não ser apropriados
para a situação nova. Conseqüentemente, surgirá a seguinte questão:
como decidiremos se eles são apropriados? Esta questão geralmente
se impõe nos casos em que há um conflito entre princípios conhecidos,
ou seja, nos casos em que, devido às circunstâncias, nós não podemos
observar a ambos. Entretanto, se isto ocorre nesses casos, poderá ocor-
rer em qualquer circunstância, e será tão-somente preguiça intelectual
fingir que não é assim.47
~
" ~. s i ,.µ- tv"'w J)o.. F ·o.Y°' ·\"o
A ~o~• / , \.cJ\f'J. .,A"''
-.
t,f:J
S" ªª"'
Jl.l" '
f'...i •
' t> y-" ,..... .J .
omo obrigatório, mesmo quando estive&os no lugar do afetado.
'-º',,,_cJ>
- --
princípios J:.rimajacie, g_or issQ, levam a colisões,
;,__.......- . -
.. :.e.o,;que um d~rin_:!Eios seleciona determin_!?os sin;µs cara~s
. ricos ~a situação como relevantes or exemplo, que umapromessa foi
feita),~o seleciona ~tros sinais deter~ados (tlor exemplo,
· que não mostrar as faãifdades ao m~ ami o o desapo~aria ama;ga-
mentt: . O problema será determinar qual destes 'Pricí iós deveria ser
a_plica~do para ser · de prescrição ara esta situaçào esp~cífica. 49
: ~-e~ a. ''cta.uof.~º~ e<fH~: "'< crd,
·'" ~~to critico Essa a per~~ q~e se en:ontre ~ma ~ºt '
• ma es ecifica e adequadã em alto grau a s1tuaçaq, e u$: ela se a uruve - ·
s~ada (~emanticamente), à me a que for cpmp~ada com outras
;_itu3.,Ões~antes (geralmente com aquelas·em ~e eu me encon-
tro no lu~ e o outro se encontra no meu lugar). Principias
críticos "podem ser totalmente específicos, não omitindo nenhum si-
nal característico de um ato do qual se pudesse alegar ser relevante". 50
Nesse estágio, portanto, poderemos contemplar todos os sinais carac-
\~~t terísticos de uma situação. Hare personalizou esse ideal como um
I~
"arcanjo" moral que compreende imediatamente, em cada situação,
todas as circunstâncias relevantes.
Ao ser confrontado com uma situação nova, ele será capaz de captar
-.~::~2 J~: .
-·-·'.~.._ U•~· logo todas as suas propriedades, inclusive as conseqüências de atua-
~':.'.~.
.~::.·
.·~.>.::.· ções alternativas, moldando um principio universal (talvez um princípio
·-.~·
....-~;· altamente especifico) que possa aceitar para ele atuar nessa situação,
independente do papel que ele mesmo ocupará nele. 51
49. Ibidem, p. 41 s.
50. Ibidem, p. 43.
51. Ibidem, p. 44.
Corno antitipo, Hare modela a '~prole" que fica dependente de·-'
que se lhe .forneçam prir{dpios prima fade que aplicará em cada situa-)
çào nova; de modo não específico e sem examinar as circun~tâncias ;
especiais. A definição do tipo ideal pelo qual nos orientaremos perma-
necerá uma decisão contingencial. Não conseguiremos corresponde~ ;:
a nenhum daqueles dois tipos ideais personificados, s~ja pela~ restri- ;;~
ções da condição humana, em especial, seja pelas condições da exigüi~·- .~:
dade de tempo e do conhecimento incompleto (nem o tempo, tam-
pouco a capacidade).52 Mesmo se nos decidirmos pelo papel da "prole", ..
dependeremos, ao menos em situações de conflito, de um e~forço·_ L~
mínimo do pensamento critico para aos decidir, afinal, por utp.a das ):
normas conflitantes. O fato de nunca poder, realmente, desempenhar. --
o papel do arcanjo, entretanto, nã!J excluirá a possibilidade de poder- ~:
mos, em cada situação, contemplar relevantes circunstâncias que não· ·'
podem ser abrangidas pelos princípios prima fade.
Para as nossas finalidades, será decisivo que Hare tenha inµ-odu-
-;,-'·
de dos quais te
riência "permantÍc:e puramente teórico". 57 Efeitos práticos, em virtu-
hvicção moral expressa na tese superior poderia mudar,
não são per ·'dos por esse esquema.58 O modelo de ponderação, é
.... - ---
55. TIJGENDHAT. Kann man a111 der Erfahrung moraliiíh lernen? [Será possível aprender 2-..:.=-- ··::::-:.-
moralmente com a experiência?], ibidem, p. 91. · . ----.- ____:__ ~~----
56. Ibidem, p. 97. Isso implicaria a conseqüência rigi;rista, lamentada pelos críticos de : :e.: __ _
Kant. Cf. quanto aos problemas de uma participação imediata de normas isoladas,-~-~
no sentido deontológico do imperativo categórico: SINGER. Ibidem, p. 264; PATZIG. __ -_: __ :_ __ ~- __
Ibidem, p.166.
57. Ibidem, p. 98. . . .. ....
58. Continua sendo polêmico, como era antes, se a simples "aplicação" não mudaÍia à .
norma. Teorias semânticas se restringem à fundamentação de regra~ do uso de pala~ _ -·. · _
vras. Diferentemente, teorias hermenêuticas afirmam que a norma só se realiza pro:-~·-·--·-·---·
priamente como norma de decisão com e por meio de uma interpretação situacionaL · · ·· ··
Uma alteração de normas, de modo trivial, dentro e por meio do esquema dedutivo, ·
obviamente, é impossível
.. ------··---·---- --~----··------ ---
verdade, permite examinar diversas normas, isto é, em principio, todas
....__ ~ -----~~~~
as aplicáveis em uma situa ão, mas não conse e inaicar um critério
pelo qu o procedím:ento de eonderação poderia orientar-se. Este
-;;odelõ, conseqüentemente, é cabível tão-somente, ·
... à medida que, no juízo moral a ser formado, nenhuma das normas
pertinentes deva ser prescindida, porém todas devem ser consideradas.
Entretanto, a idéia de ponderação conduz a um equívoco, porque uma
) ponderação pressupõe uma medida em comum ou um ponto de refe-
~a únic~>, a partir d;qual se d~ tomar uma decisão a respeito da
/
-
vigência necessária a....f_ada norma. 59
Ibidem, p. 102.
Cf. também ibidem, p. 103: "O princípio moral que torna possível um processo de
aprendizagem desse tipo não pode ser aleatório, porque só uma manifestação.
normativa que plcitear adequação e, eventualmente, imparcialidade poderá ser
desautorizada por aspectos que deixaram de ser contemplados"..
;
contudo, um juízo de imparcialidade que se refere a todos os ~fetados
deve si~ficar algo diferente de um juízo de adequação. Istq se evi- ·_/
dencia na estrutura, descrita por Tugendhat, do processo de aprendi-
zagem moral como conseqüência da "autodestrutividade" dq princí-
pio da imparcialidade. A adequação, no sentido da consideràção de
todos os sinais característicos relevantes, será violada caso se ·'amplie,
conforme essas novas experiências, o âmbito fenomênico, as~im de-.
nominado por Tugendhat, do nosso conhecimento a respeito: de um
objeto, e caso a permanência do juízo original exclu~ a recepção do ,:',;
conhecimento alterado. Caso contrário, o princípio da imparc{alidade ...
é violado como princípio de fundamentação se o interesse de \lm afe- •
tado houver sido desconsiderado ou recusado sem razão.
--------------
tuacional e, finalmente, a deficiente consideração daqueles sinais · a-
. racterísticos situacionais que, para a aplicação de outras normas, são
. .
· · relevantes. Na seqüência disso, proporei a introdução ·de um.segundo
estágio de argumentação, no qual se tratará da coerência das normas e
variantes de ~ignificado aplicadas em determinada situação.
·- -----------------~-
-·----------------------
3.1 DESCRIÇÃO COMPLETA DA SITUAÇÃO
64. Cf. acima, p. 41 s., bem como TOULMIN. &aroning [Argumentação], ibidem, 1979, .·
p. 85 s., 323 s.; cf. também SINGER. Ibidem, p. 65.
65. ALE.TI. Theorit tkrj11ristú,htn Argwntnlation [feoria da argumentação jurídica], ibidem, .·
p. 234 s.
336 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO D!RF.JTn F N'~ " " ' " '
Os dados rçlcvaQtes dizem:
(Dl) Ontem você não disse a Smlth que iria à sua festa.
-
outros dados relevantes da descrição situacional.
---...__..... ---~----~~~-
....... ---.__....... -
ou estabelecerão ostular) a identidad e · ºficação dos termos
----
situacional e da norma para a conclusão final, na g_ual elas consta&rão
.
---~ - --
utilizados em (D) e f0</). 72 Como regras, elas. são, por sua vez, cai;.ece-
i._oras de fundamentago. Se elas apenas explicitarem um uso leaj.cal,
,.
. .
.~ s1tuaaonal da reg;a.
- ______.., -
~ém ~qui será possível tematizar não só a validade, mas ainda a ade-
j
' . 71. ALEXY. Ibidem, p. 280.
72. ZIMMERMANN, Horst "Rechtsanwcndung ais Rechtsfortbildung" [Aplicação do
Direito como desenvolvimento do Direito). ln: KOCH, Hans-Joachim (ed.). J11ri1tirdie
Methodenkhrt 111t1/ anafytirrht Phi/osophit [Sistema de métodos jurídicos e filosofia
analítica]. Kronberg/Ts.: 1976, p. 70 ss (76); ALEXY. Ibidem, p. 289; KOCH, Hans-
Joachim & RÜSSMANN, Helmut. Ibidem, p. 15.
73. ALEXY. Ibidem, p. 283.
74. Ibidem, p. 285 ss.
1Al
Uma regra seráfundamentada desde que contenha sinais caracterís-
ticos como os que ocorrem na descrição da realidade factual; se válida
e generalizável segundo diversas formas de justificação externa. Entre-
' tematizar a decisão selecionado-
tanto, a fundamentação já não poderá
ra, pressuposta como efetivada, uma vez que se trata tão-somente de
estabelecer, de modo independente da situação, um significado. Nisso,
porém, não se distingue a tarefa de justificar a adequação situacional de
uma fürnção de significado em relação a outras variantes de signit;icado
da tarefa de justificar a adequação situacional de uma norma em rela-·
ção a outras normas aplicáveis. Os articipantes da argL11!!entação ape-
nas poderão decidir se aquilo que (Prop) havia dito a Smith fora uma
~nfirmaÇão o-;;-a enas o arranjo de um encorttro' casual, se
a.legarem mais sinais característicos.que escrevam a ocorrência, e rela-
ãÕnãrém os sinais característicos introduzidos adicionalmente na ar-
-~com ilienção diferenciada do termo "pr~--;ssa". Hare
-áeScre:eu ~nto para diversas normas apríd.veis êm uma
situação como "procedendo por adivinhação" (.promding l?J guesswork).
Na Teoria do Direito En ºsch cunhou para isso a desi a ão "diri · o
~á e para cál..entre o prec~ sup~ e a realidade factual ~,f.
vida". 79 Nesse caso, para a imparcialidade da aplicação da norma, será .
~sivo que todas as variantes de significado sejam relacionadas ~
~os os sinais~aracterísticos da descrição da situaçã~ 80
79. ENGISCH, Karl. Logisçhe Studien ZJlr Gmtz.esanwendJlng, SifZJing1berii:hte der Heidelberger
Akademie der Wimn1íhaften [Estudos lógicos sobre a aplicação da lei: Relatórios das .
sessões da Academia das Ciências de Heidelberg]. Heidelberg: 1963, 3ª. ed., p. 15..• :
Engisch distingue entre "subordinação" dos sinais característicos sob um conceito e_·.,
a "subsunção" da realidade factual sob os sinais característicos interpretados. O con-' .'_~:
ccito designa casos e grupas de casos, de modo que, em relação à "aplicação", trata-.... ·
se de "dar nomes aos casos e aos grupos de casos, para os quais a lei foi c:uMada, :
que, pela interpretação, precisam lhe ser submetidos e aos quais o caso concreto, que ·:
está sendo submetido à decisão, precisa, subsumindo-se, ser equiparado" (Ibidem, p•.
· 29). CE. também ENGISCH. Die -Idee der Konkretisienmg in Recht und Rechtswi.Isen1chaft. · :,
11n1erer Z,it, Abhand/11ngen der Heidelberger Akademie der Wissenschafien [A idéia da ,.,.
concretização no direito e nas ciências jurídicas do nosso tempo: Tratados da Aca-
demia das Ciências de Hcidelberg]. Heidelberg: 1968, 2ª. ed., p. 155.
80. Cf a respeito também HRUSCHKA, Joachim. Die Konstitution tÚJ &chtsjalles [A cons- ·
tituição do caso jurídico]. Berlim: 1965, p. 41 s; HASSEMER, Wmfried. Tatbeltand und
Typ111 [Realidade factual e tipo]. Kõln/Berlim/Bonn/München: 1968, p. 55;
LÜOERSSEN, K!aus. Erfahnmg aú &,h1sq11e//1 [E.'<pcriência como fonte do direito].
Frankfurt/M.: 1972, p. 97.
t'- . do se situa, nesse caso, de novo sob a_p_er~ta-guia: "Por que est;s
_,. ..
·dados e não outros?", isto é, também no'caso de contestarmos uma
:-........_
".. afirmação ~e _rele~ân~a com_º argumento de qu~inal característi-
'·· co da descnçao s1tuac1onal nao Je enquadra, ou se enqU<tdra de outra
~. dona! ampliada.
;.:j :. Que também aqui, para
t ·
-~;. maneira, no termo da norma, Áeveremos recorrer à des'cii~o situa-
1
~
aplicação imparcial, faz-se mister nova )
t'·'mente uma descrição com eta da situação, evidencia-se no caso de .
.'.·possibilidades alternativas u concorrentes de significado. Se o indiví- $~Wlí1
·~ duo "a" for compatível anto com a intenção (ml), quanto com o VMC4{0#~
"'propósito (m2) do ter "T'', talvez fosse necessário uma descrição J-rf'~.
<' ·ampliada da situação .ue resultasse em sinais característicos adicio- ftk~#b.
L~ais, cuja consideraç~, na intenção "T'', levaria a uma alteração de .{,ltt-(
'..significado - por exémplo, que arranjos de encontros casuais deve-{);U/~
- ~- riam ser considerad~s promessas, quando não houver impedimentos {)J,(cwé,-J?·
: graves. Apen~s de~bis de exercitarmos diversas possibilidades de sig-
1
v?;·
: nificado em uma ~ru_ação, poderemos examinar se uma norma como ~/;u ~ 1
~"promessas dev~ip ser observadas" também ~everi_a s~~ reco!l?~_cid~.~~(l{c~-- _·
:_como generica.rnknte válida mesmo quando os sinais característicos ,()Ci.o 1
•da expressão "alranjo de i:im encontro casual" forem inerentes às pro--.tll-I/(;/~
priedades de uina ação, à qual o predicado "é uma promessa" será { tÍ )
aplicado de mido correto quanto ao significado. Este passo de argu- r"' _
j
. mentação é · erente da formulação de uma descrição situacional, que
ectivo sinal característico, e da justificação de unia fixa-
cado, de cuja extensão o sinal característico faz parte.
'- Alexy, Koch e Rüssmann enquadraram essas operações no "con-
\í ~ ,3 texto de descobrimento" (context of discovery). 81 Isso é condizente, já
~ ·~ que a validade de uma regra de uso lexical independe dos processos
r~ 1g ~
~ i que levaram a uma füação de significado. A norma é válida indepen-
dentemente de "se" e "como" o seu significado foi esgotado em uma
1~ ~ situação. 9 elemento carecedor de justificação da decisão seleciona-
.;
1
~ -~ dora vinculada a isso, porém, consiste em que ~stamos obrigados, em
l {~ discursos. práticos, a ex~rcitar integralm~e as.::ftante~o!!íveis .::.m
~ uma__..situa~ se não pretendermos infringir o princip!__o da aplicação
~ ~Para isso, necessitaremos de uma descrição situacional com-
. pleta - mesmo quando esta descrição muitas vezes seja tão-somente
descoberta ao determinarmos a extensão das possíveis variantes.
Justamente porque uma seleção desse sinal característico da rea- ..... f;~~;
!idade factual, e não daquele outro sinal, sempre se vincula à deter- ··<"' <~
minação de um significado, esta decisão selecionadora deverá ser r~
justificada considerando-se todos os outros sinais -característicos si- _;fs1 ::.~~-
tuacionais. Que, além da validade, também importa a aplicação ade- . -~~ ·~:
quada de uma regra de uso lexical, será encoberto pela analogia en~ · e·.,,; ·- .·-
tre a aplicação sema~ticamente correta dos termos da norma e a
aplicação correta da norma.
81. ALE.TI. Ibidem, p. 281 s; KOCH, Hans-Joachim & RÜSSMANNN, Helmut Ibidem,
p. 118.
82. KOCH, Hans-Joachim & RÜSSMANN, Helmut. Ibidem, p. 145.
de aplicação. A adequação da aplicação de uma n.orma seria dada,
sob essa pressuposição, ~e o.s termos nela contidos pudessem ser
aplicados aos objetos que p~ssuírem a respectiva propriedade. Não
obstante, parece ser ques\ionável se as situações de aplicação c~rre
ta dos ter~os contidos em uma norma são idênticas às situações da
aplicação adequada de uma norma. 83
Como resultado, poqemos
...__.. '
assegurar que o significado de uma
norma, ou a~o que se prete~a dizer com as "circunstâncias inalte-
~, ds.._modo ne!lhum .~stá estabelecido. M~s vezes o sigajfi~do
1fe~~rimeiro ser fJxadg.)2gr meio de uma regra de uso lexical, a qstl,
or sua vez deverá !jer fw>damentada. Porém, só saberemos quais são
~ados relevántes na situação. Em virtude disso, o principio da
aplicação imparcial de norma afirma que, neste caso, a norma deverá
ser aplicada depois de esgotadas todas as possibilidades de significados
que puderem ser obtidos em uma descrição situacional completa.
~ descrição situ!.cional não de!:_rá apenas ser completa, no seg;-
tido de que os sinais característicos sejam descritos de tal modo ue
coincidam com os sinais característicos da norma. ém disso, deve-
iao ser contemplãdas diversas variantes ossí:veis e diversos raus .al-
ente _g_enéncos na escrição do mesmo sinal característico siwa-
~- Também aqui um erro pode gerar uma aplicação imparcial da
norma. Do primeiro grupo fazem parte os casos nos quais diversas
descrições são aplicáveis ao mesmo sinal característico situacional.
O fato de o médico não ter dito, ao paciente desenganado, a verdade a
respeito da sua situação poderá ser descrito como uma mentira ou
como um tratamento ternamente indulgente. Fazem parte do segun-
do grupo os casos nos quais diferentes graus de abstração têm como ·
conseqüênci~: normas mutuamente excludentes.84
;.: .. 83. Uma fundamentação dessa dúvida pressuporia uma análise pormenorizada da teo-
ria semântica de significado, que não pode ser realizada aqui. Cf., a respeito, ape-
nas a observação de HABERMAS, Entgegnung [Réplica], ibidem, "de que já o enten-
dimento de termos lingüísticos exige a orientação por pleitos de validade" (p. 359)
e TAC I, p. 400.
84. Cf. a respeito TOULMIN et al. Ibidem, p. 323 ss; KRIELE, Martin. Theorie áer
&ch/Jgewinnung [feoria da apuração do direito], 2. ed., Berlim: 1976, p. 163, 198.
. ~º
,,
(r:A..(_c17
r: OA-<q rl c;.d 5
'J<'sr•·"""o.
(3) O terceiro caso de uma aplicação inade uada da norma se baseia
i almente em uma escnção incompleta da situação cuja conse~üên
cia é uma decisão selecionadora parcial. Refere-se àquilo que até ~gora
temai:izamos sob o título de colisão de normas. Se o oponent\! for
capaz de mostrar que, ao mesmo sinal característico ou a outros s_inais
característicos da mesma situação, outras normas podem ser aplica-
das, o proponente deverá fundamentar explicando por que os ~inais
característicos situacionais selecionados por ele são relevantes erp re-
lação a todos os demais. (Op) poderia objetar: "Por que se basefa ex-·
clusivamente no fato de que você prometeu a ~. ~
';;°ão n~ f~ue o seu amigo Jones se c:!!.,COntr;'em uma emerg~cia
......_. . .
~?" Neste exemplo se evidencia especialmente como a sel~ção
dos dados já determina o transcurso_ a seguir; à medida que um conflito
de regras ·existente nessa situação é mascarado, "nós - na prática - já
prejulgamos as questões éticas envolvidas".85 Se eu fundamentar o
juízo: "Eu deveria aceitar o convite de Smith", referindo-me ao sinal
característico situacional de ter dado a Smith uma palavra confirmada,
e justificar.a passagem com. a afirmativa de.que se devem cumprir
promessas, já não haverá mais ponto de partida para aproveitar os
demais sinais característicos da situação. Aqui, fica evidente que a sele-
ção das razões se baseia em uma decisão seletiva de determinados
sinais característicos de uma descrição situacional. O caráter seletivo
desta afirmação de relevância somente se evidenciará quando a perti-
nência de determinados sinais característicos for contestada, sob a in-
dicação de outros sinais distintivos.
A referência a um determinado sinal peculiar situacional é, por-
tanto, nesse caso, também uma linha singular de argumentação ca-
recedora de justificação. Com a afirmação de relevância especifica-
se um sinal característico situacional (ou uma quantidade de sinais
peculiares) com significância normativa, ou seja, ele é introduzido
na quantidade de razões que justificam uma ação. Como'será que
essa decisão selecionadora poderá ser justificada? Apontar para uma
-ti·~~.
86. WIEI.AND, Wolfgang. "Praxis und Urtcilskraft" [Prática e faculdade de julgar]. ln:
Zeitschrift jiir philosqphische Fomh11ng [Revista para pesquisa filosófica], 1974, p. 17 ss
(32 s). Cf. também LAMORE, Charles. "Mora!Judgmcnt" Ouizo moral]. ln: Re11ieJJ1 of
Metaphysia 35 [Revista de metafisica], 1981, pp. 275 ss (287). Cf. nesse contexto,
mais uma vez, os argumentos do relativismo contextual, acima, p. 176 ss:
87. LAMORE. Ibidem, p. 280. Lamore, entretanto, irttroduz, como pressuposição para a
·,;
i\ seleção adequada, propriedades de caráter aristotélico; cf. ibidem, p. 287.
92. CE também GERT, Bernard. "Moral Thcory and Applicd Echics" (Teoria moral e .. ,
ética aplicada]. ln: The Monut 67 [O monist], 1984, p. 532 ss (p. 536 s).
_ 93. BAIER. D.,- Standp11nkl der Moral [O ponto de vista da moral), p. 1OS.
94. AI.EXY. Grundrechtt [Direitos fundamentais), p. 152.
f'
ft .:e.
i>
/' ._:ais critérios materiais implícitos. Se se pretende que exista adequaÇão
na consideração êfe to s os sinais característicos situacionais, o m"iio-
.~e consideração não poderá, por sua vez, ser determinado por. meio.
d; critérios ~oais.
-<«'4~ ./ As condições de adequaç~o não devem prejudicar a validade de:.
- •
!
a teoria que subsiste por si mesma.95 .Y-.,.~ ~~--~
A~.;~;
-.>; -~>' 96. KANT. "Kritik der reinen Vernunft" [Crítica da razão pura]. In: Werke (Obras], ibidem,
.•. "· . v. II, A 133, p.184. É nessa circunstância que Schnãdclbach baseia a sua critica contra
-~ ~:_ ~~::;:~!:r~~:::~:~-~:~;:e:;:o:~~a:~:~t:~:t~:~:;o~;:!'
·..:~: '-.~;:_ regras a priori para a aplicação de regras que fazem parte da racionalidade?".·
. ~- ·- SCHNADELBACH. "Bemerkungen überRationalitãt und Sprache" [Obsérwçõcs· ---· ·
:?_r.t. ;.·
- Parª morativa Apcl)J. Fr:Ínkfürt/M.:1982, p. 347..ss (355). Porque a língua estaria
"'::~~ :t .. .. submetida a um processo de mudanças históricas, a racionalidade não poderia set
1
·~.;i ;. _t_.,:..:··· representada plenamente ·em regras (ibidem;p: 356). Relacionado com um princípio
.:."':.· :.:;.z·
.. moral reconstruído de modo formal-pcagmático - que, como regra de argumenta-
· ··:~:- -~:=:· ção, funciona cm discursos práticos - o problema, apontado por Schnãdelbach se
""· .,-,. lcv:u: um pouco adiante a razão, como aqui tentamos mostrar.
_-:.-:;·
i
_-----~'t _9_7~-=~-~ide~~-=~~~eirupruçh (Dito comum]. A 2~-~~~~-~7~- _ ---- ____ -- __
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•11'"1 \IY•~I u-·---, ......., 'e.-,.-----...,,._._· J
P-v.F~ =~ \) s • co~~"'......c..~ ..... o.c:..L;;.,.._.c:JJ "
~ V~ L...<.k .-....1>-~c.'...~"·"-~c.C., ,..1.,u...,_i,.;:
.._
.....
~ -
A tentativa feita até agui - de descrever a lógica das argumenta-
ções ~adequação - admite apenas um critério formal. Evidenciou-
~ ~
-
ção de relevância com que uma determinada quantidade de sinais
característicos situacionais é selecionada e marcada como normativa- -
JEente si~cati~ ésta linha _;!e argumentação pressupõe a possibili-
dade de justificar a decisão de relevância à luz de uma descrição inte-
~~-::':'.:~';":'~~,_.,::-=~~~~:-::i::"::":'-::'.':':"!":"'.::".:".L:'~::-:-=-~
,,gr::1 dâ situação. ~ontos ãe vista, sooos quais poderemos amJ!ar
e completar uma descrição da circunstância, entram em questão ou-
_tras normas.Je diversas variantes de significados de uma norma, d~
s.uais,...e_or sua vez, cada uma.id..!:_ntifica c:IÍVersos sinais característicos
~~ormativamente significativos. Se esta descrição da
ló ·ca de argumentações de adequação for correta, será possível apli-
car uma norma, consi eraodo-se to as as arcunstâncias, justamente
~e esta for passível~ ser SQ.mpatibiliza com a ap~a
~demais normas em uma situação e com todas as vari-
~ ----
antes de significados possíveis em uma circunstância. O critério for- -·
~
mal para aiil2êfuação, por isso, poderá ser apenas a coerência da norma:--
~m todas as demais normas e todas as variantes de significado aplicá-
yeis em uma situação.
Mesmo neste ponto será possível perguntar qual é o critério
que orienta a coerência. Para ver até que ponto o critério de coerên:.
eia poderá ser formalmente especificado, será recomendável cogitar
. . ~ f/jc~;;;:~~/c4 o .. (.,.,.~
a que tipo de normas, em uma sttuaç o, uma norma pnma Jacze é -4""iul,
relacionada. Somente poderão ser co ideradas em colisão aquelas dt.;.,,,,..
normas que igualmente forem válidas. Em todos os outros casos, a &6 •
precedência inconteste seria das nor as prima facie. Acrescentando ,;~ ..
esta propriedade, será possível formfs, como primeiro critério de <.ó,
!~""
coerência, o seguinte: J ~c:/t<.
I. Uma norma (l':!x) será ade ua na/situa ão (Sx) se ela forco ~~ç;,c.-n{;...~ (
vel com todas as outras variantes n) de significado a licáveis em
(Sx) e com todas as normas (Nn); se a validade de cada uma das
-=-
variantes de significado e de cada a das normas puder ser justifica-
da em um discurso de fundamenta ão.
A desvantagem desse critéri é que nunca saberemos que nor-
mas em uma situação serão, em gum momento, passíveis de ju~tifi
cação em um discurso de fund
- -
tação. Além disso, deveríamos dis-
....,
or de uina ca acidade de im · a ão normativ7""in°fuiita que nos
possibilitasse antecipar cada norma virtualmente universalizável e apli-
cável à respectiva situação. Isso constituiria uma outra variante da ver-
são forte do princípio (U). Teria éomo base a utopia de uma adequa-
ção integral entre situação é norma. No entanto, ao fazer uma decisão
de relevância, sempre recorremos a normas comprovadamente váli-
das. Conseqüentemente, poderemos referir-nos sempre àquelas nor-
mas válidas que façam parte de um respectivo - o nosso - modo de
vida. Em vista disso, será possível formular, como segundo critério de
coerência, o seguinte:
,,.',.
normas que são válidas e fazem parte de um modo de vida. Como .... ii
jl• expresso no esquema de argumentação de Toulmin, argumentações )i;~
--~:~~--~
J,
...·1 356 TEORIA DA ARGUMENTAÇÃO NO DIREITO E NA MORAL - -.
de adequação se referem apenas à relação entre (C)- (D) - (W); razões
que se referem à sustentação da validade. de: W (B) não têm importân-
cia nesse nível. Conseqüentemente, ·o critério ·de coerência somente
poderá ser utilizado, de modo a fazer sentido, no primeiro nível~
quanto a validade depende da possível universalização da norma di!!!-
~ evidências apresentadas para ~ sua observância geral (B)._~ ade;.
pação se orienta.E_or ser a norma aplicável em todas as suas varil!1tes
~ significados e em rd.:ção a todas as demais normas aplic~vei~a
uma descrição integral da situação. O critério de coerência tão-somente
~ l ' ·
i
98. T.;,orias· da coerência desse tipo são defendidas por RAWLS, John. "Ein
Entscheidungsverfahren für die normative Ethik" [Um procedimento de decisão
para a ética normativa). ln: BIRNBACHER, D. & HOERSTER, N. (ed.). Texn ZJlr
Ethile. [Textos sobre ética], 4. ed, 1982, p. 124 ss; FEINBERG,Joel Justice, "Fairness
and Rationality" Uustiça, eqüidade e racionalidade]. In: The Yale Law ]011mal 81 [O
jornal de Direito de Yale], 1971, p. 1004 ss (1019 ss); DANIELS, Norman. ''Wide
Reflective Equilibrium and Theory Acceptance in Etlties" [Equilfüiio reflexivo am-
plo e aceitação de teoria em ética]. ln: The ]011mal of Philosupl?J [O jornal de filosofia].
1979, p. 256 ss; l\,!AC OR.MICK, Neil. "Coherence in Lega!Justification" [Coerência
m 'ustificação leg . ln: Theone der Normen eoria s normas]. Futsc n 11r O.
Weinberger <lição comemorativa para O. Weinberger). KRAWIETZ, W. et aL (ed.).
Berlim: 1984, p. 36 ss. Essas teorias de coerência têm em comum o fato de que o
critério de coerência serve para justificar a validade. Mais abaixo, abordarei ainda a
tcrsão de uma teoria de coerência de Dworkin. . .
Afinal, ~da permanece sem resposta a pergunta: em vista de
que nós deveríamos construir uma relação coerente dentro qe uma
quantidade de normas ~plicáveis? Nesse ponto, praticamente não será
mais possível especificar o critério de adequação com recursos' exclu-
sivamente formais. A única meta que poderia ser mencionada consiste
em dimensionar a compatibilidade de acordo com a norma q~e me-
lhor possa ser justificada em relação a todas as demais normas ~plicá
veis em uma circunstância. Como essa justificação não se ref<;tre s0:
mente à decisão da seleção, todavia à reciprocidade universal d.e uma
norma, ela tem um sentido que independe da validade. Para coí'.istruir
uma justificação desse tipo, necessitaremos de uma· teoria implícita
que estabeleça uma relação interna de justificação entre normas váli-
das de um modo de vida que n . - desordenadas...So_mos sem-
pre postos diante de a tarefa construtiy..a em cada situação de con-
fronto com constelações de sinais característicos imprevistos.
~ c~ que precisa ser harmoniosamente almejada, não expressa
~ qualquer ordem transitiva predeterminada, mas deve ser estabeleçhla
t_~ -.:E:1 relas;ão ao caso. Isso não exdui·o fato de que existem "p:u7'd!gmas"
que estabelecem uais sinais característicos em uma situação são nor-
mativamente relevantes. A razão prática disporá os elementos desses
~~~--~~------
sinais, por um lado, sob o pleito da integralidade, e por outro, sob o
pleito da validade. Conseqüentemente, eles são alteráveis pela crítica
da validade de cada uma das normas, bem como pela sucessiva am-
pliação da descrição situacional. Nesse sentido, poderíamos denomi-
ná-los de "esquemas", em que exceções empíricas, concepções da vida
boa, normas válidas e descrições situacionais mais ou menos padroni-
zadas são coerentemente vinculadas entre si. De tal tipo de ordem
transitiva - que, a qualquer momento, poderá ser modificada por dis- ·
cursos de fundamentação e de aplicação - faz parte, com a quantidade
respectivamente dada de normas válidas, uma determinada esquema-
tização de possíveis situações de·aplicação, descrições estruturadas da
situação e combinações de sinais característicos situacionais.
Argu~nentações de
adequação no Direito
p A R T E
- - ;~~\~~~~~-
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rj) ;'st,'<1-1 ~ ~"·p? ~U ,·u;. dur,U:-'V.M.°'4 ~~=
A/.of: y ~r'-C( Fe..0 CA...C\ f-<-<. q_ Le-u-,
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tfc..ftdadc (l~f/S {;,,.~} • ad'2'j'lt<CfUJ ( ~Üc{~ l
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~,,..,.._fl~.v... ~ Co~ C..:ec . .JM._}--<r- o:-r ~
. . w~·~~ ~ ~e&.> &--1 o.S p-e de;
5;/c,act~if.A-a.4 ~~~
Qf.JlsTi<t.L-~ dJ~ca~,,,_. - ) ( !f,,biv...1.a~ ·•
(f!t,l·çfq.t{,:.~ f.~F)a.W ~ T .
*
~<H ç.(l f"<r<.<.< ,~-
1~ Vc.C-:ç(aç@ ~ I ~ ÜU<~f
HERFRIED MOLLE~ na sua investigação a respeito do conceito de ra- \
zão de Estado, cita uma definição breve, sem maior explicação, de
Christoph Besold, do ano de 1614: Ratio politica quam mmc vocant de
Statu (olim aequitas et epieikeia) transgreditur legibus, scripto vel vocepromulga-
tae; /iteram, sed non sensum etftnem. 1 [A razão política, que agora chamam
de Estado (outrora, eqilidade e epiquéia) infringe as leis, (tenham elas
sido) promulgadas por escrito ou oralmente; (entretanto, ela o faz)
quanto à letra, mas não quanto ao sentido, nem quanto à finalidade].
Como será que razão de Estado e eqilidade tornaram-se sinônimos no
entendimento dos contemporâneos? A citação permite supor que a
possibilidade de suspender, em nome da ~qilidade, leis predetermina-
das convencionalmente tenha sido vista como característica comum.
Neste caso, eqüidade teria sido um dos conceitos precursores do prin-
cipio fundamental da razão de Estado, o. "príncipe liberado das leis"
(pn'nceps legibus so/utus). Se a razão de Estado invade a função da eqüida-
de, naturalmente alteram-se as metas. O objetivo já não será realizar o
Direito natural, correspondendo à natureza do assunto, contra a l~i
geral que, no detalhe, é insuficiente, contudo importará fazer com que
o Direito, no seu todo, esteja a serviço dos objetivos do Estado. A
equiparação de eqüidade e razão de Estado está, portanto, no início da ·
positivação - isto é, da alteração aleatória - do Direito. A referência à
eqilidade, além disso, fornece o motivo decisivo: porque a eqilidade
·-
gundo o ess.uema de estágios, proE?sto por Kóhlberg, demonstrou
~uma idéia de i~ade e eqüidade encontra o seu limite na "mora-
lidade do sistema social" (sodal.!Jsfem'.r moraliry),;radicado no contexto
-
~munitário. Os estágios pós-convencionais 5 e 6 romperam o es~
ma rígido, vinculado a normas predeterminadas, de regra e exceção. O
estágio 6 poderia ser reconstruído de modo a tornar póssível nele dis-
~ade -
e eqüidade, porque, nesse mo~ento, cada diferença
- ,~__!.-:.:,_;..~~~~...:.=~-=-~
tm uma situação poderá tornar-suonto de partida para construir
.!:111ª norma adequada e universalmente fundamentável. Se a definição
de Besold da razão de Estado, citada acima, somente de forma apro-
ximada puder ser considerada representativa para o entendimento
6. Cf. a respeito do que segue HABERMAS. "Wie ist Legitimitãt durch Legalitãt
mõglich?" [Como legitimidade será possível por meio de legalidade?]. In: Kritir'he
Justiz 1987 Oustiça cótica], p. 1 ss. Uma delimitação semelhante à sugerida aqui já foi
empreendida por LÜDERSEN. "Rccht, Strafrccht und Sozialmoral" [Direito, direito
penal e moral social]. In: Kriminalpolitik auf verr,hlungmen Wegen [Política criminal cm
caminhos tortuosos]. Frankfurt/M.: 1981, p. 39 ss. Segundo esse intento, subsiste
uma diferença essencial entre direito e moral, no sentido de "que, para as regras que
interessam,, não existem as mesmas possibilidades de consenso e de que se admita
uma congruência mais ou menos forte entre: consenso e validade. Ao aumentar a
congruência, aumentará também a probabilidade de que (também) se trate de moral;
ao diminuir a congruência, de que se trate (só) de direito; entretanto, ... cm algum
ponto (dependendo da consciência histórica) a parte de consenso se tornará tão
minima que a delimitação cm relação ao poder será atingida" (p. 63 ss). Em lugar de
uma fundamentação conforme o grau de participação cm consenso, aqui se propõe
uma fundamentação moral. Cf. também a orientação abrangente cm GEDDERT,
Hcinrich. &dit und Moral [Direito e moral]. Berlim: 1984.
1. Razões da ética do discurso para a
diferenciação entre Direito e Moral
~#
CoM Q PRIJlCfPio í.Y),~4idade de normas de~nderá de g_ue as coç.-
~qü~cias ~os efeitos colaterais da sua observância, sob circuns~
~erada...§..e_ari os itjteresses de cada um individualmente, sejas
~ eor tod.2§ os imE!Jcados conjll_!!!amen~ Esse princípio moral
somente poderá ser· aplicado como regra de argumentação em discur-
sos, nos quais a potencial generalização dos interesses se expressa na
aceitabilidade das razões, apresentadas por participantes de direitos
iguais. A aceitabilidade de boas razões não implica, entretanto, motivo
algum para efetivamente observar a norma fundamentada nesse sen-
tido. Razões, racionalmente aceitáveis, possuem, em virtude do seu
pleito de obrigatoriedade, uma relevância imediata para a orientação
efetiva da ação, não podendo, porém, produzir, a partir da sua própria
capacidade, uma orientação correspondente à ação. Quem, ao agir,
,,,;:":~.
ú ..,,
orientar-se de modo diferente simplesmente não possui boas razões.
·· Se discursos de aplicação, segundo a tese aqui debatida, fizerem
'pãrte da razão. prâtica, o problema da motivação subsiste, de modo
semelhante, tanto para a observância de normas válidas, quanto para a
concretização de preceitos adequados de normas singulares. Em dis-
cursos de fundamentação e de aplicação, poderemos descobrir o que
devemos fazer aqui e agora. Eles, no entanto, não garantem que aquilo
que devemos fazer também se torne o que efetivamente queremos
fazer nessa situação.
Uma ética cognitivista não necessitaria preocupar-se enormemente
com o problema da motivação, se no fato de não se observarem nor-
mas válidas e adequadas não estivesse contida, por sua vez, uma viola-
ção do princípio de reciprocidade universal. O critério de validade,
estabelecido com o princípio moral (U), vincula expressamente a vali-
dade de uma norma com a pressuposição da sua observância geral.
~itabilidade d~ razões apresentadas _j)elos participantes ~
~stá, portanto, sob a resolutiva condição de '!!:e tar.!!._bém a nor-
~tivam~te observada por todos.
Se o ego providenciar o cumpriment~ dessa condição, excetuan-
do-se do dever de observar efetivamente a norma, ele destrói a reci-
procidade da validade. Com isso,. é suspensa a condição, segundo a
qual alter, por sua vez, havia assentido ao dever de observar efetiva-
mente a norma. Porém, uma vez que, nesse momento, somente boas
razões não conseguem impedir o surgimento da condição de diss'olu-
ção, de alter apenas se poderá demandar o dever de efetivamente' ob-
servar a norma, caso ele consiga estabilizar a expectativa de que o ego,
além de ser motivado a cumprir a condição de reciprocidade por en- -
tendimento racional, também o seja por influência empírica. Portânto,
de alter apenas se poderá demandar a observância de uma norma vá-
lida e situacionalmente adequada sob a condição de que, caso seja
necessário por meio de recursos que produzam empiricamente uma
decisão, ele possa postular que ego observe a norma. O único sentido
desse "direito" consiste em tornar possível a validade efetiva do prin-
cípio de reciprocidade. Somente sob essas estritas pressuposições é
que a equiparação kantiana entre Direito e prerrogativa de mútua co-
ação é fundamentada. 7 ~to con_gitui uma relação entre o§JJarti~
clpantes ~ais do discurso cuja demanda mútua seja a obset.vância .
;-fetiva de normas válidas. Com isso, reconhecem-se, reciQrocamente;, -~:
,com~ "suEtosJ:e dire~"·
form~ste_ErocessÕde~sórlõ:
O fato de que normas jurídicas são ·fundamentadas e aplicadas
em discursos institucionalizados, segundo esses cenários, em nada ll}Uda
o seu
-
pleito
. ·-
por
-··
validade
··-·- ·-···-·
··~·
e adequação
.. -·- -·
siruacional. Esse pleito s6. será
-··------~------1-------~----------- ----~----/·---------------· -··
restrito à medida que os discursos_ satisfaçam 9uas condiçõ)s:<por um
lado, requerem-se recursos de poder - de novo org~~Ós segundo
8. LOCKE, John. Zwei Abhandl1111gen iiber die Regimmg [Dois tratados sobre o governo],
1 2. Abhandbmg [2º Tratado]. Scuttgut: 1978, p. 66 e 98.
1
r.:gscurso prático~a sob ca.ngi~..ões d~exjgi,!idaçk_ de tem_po_ e
~ conhecimento incom~to. ·
A l~timidade dos re;ultados de tais discursos restritos c!epen-
derá das possíveis argumentações que neles forem admitidas e por
meio aas quais se consiga destacar eficientemente as razões. Seguindo
a distinção, sugerida aqui, entre fundamentação e aplicação, estas ra-
zões devem se referir à consideração de todos os interesses, no caso
da argumentação a respeito da validade de uma norma, e ao exame de
todos os sinais característicos situacionais, no caso da argumentação a
respeito da adequação de uma norma. Como a aplicação desses diver-
sos tipos de razões será institucionalizada de modo otimizado, ela de-
penderá de experiências históricas.
No debate sobre a distinção de Alexy entre regras e princípios, já
. foi apontado que, em casos previsíveis, o legislador poderá também
decidir a respeito da adequação situacional de uma norma. Todavia,
mesmo sob a pressuposição de um direito positivo aleatoriamente
alterável, deverá ser feita, à argumentação jurídica, a exigência de que
a manifestação normativa, anunciada como veredicto, seja "racional-
mente fundamentada no contexto da ordem jurídica vigente" .1 Como °
as reflexões a respeito de uma lógica da argumentação de adequação
demonstraram, importará, nos casos de normas indeterminadas e de
colisões de normas, a consideração imparcial de todos os sinais carac-
terísticos situacionais. A se~, d~terei inic:Lalmente aguela..e_osi~o,
~nclusão, !.E_artt;dafuíta de efetividade empírica de ~oas razões
!! da _precariedade de decisões de ~nflitos de ação sob concfu;ões de
-----
Direito, de antemão, seEdo a sua função de estabilização da ex~-
~tiva geral. tJessa perseectiva, arg;imentações de adequaçã~ somente
ossuem o valor de contribuir com recursos retóricos ara se conse-
guir ~or decis~es. Justamente no caso normas indeterminadas e
de colisões de normas, porém, é que se evidenciará que argumenta-
ções de adequação imparciais são inevitá eis. A seguir, pretendo abor-
dar algumas propostas quanto à sua r onstrução, de acordo com a
Teoria do Direi~o. C9ncluindo, deb terei a teoria da Integriry, de
Dworkin, como ~xem lo de uma teo a da coerência de fundamenta-
~ão :_:pli~o juri~:is.
1;
~.
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l.· .,. '
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,, ·.·
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~ '., .
2. Q cpnceito jurídico da
teqria do sistema
----
todos os sinais característicos de uma situação.
....__.. . .
Esse modelo opera com uma premissa implícita, que questiona-
mos agora. Supúnhamos que seria possível coordenar, tendo como
medi11m o entendimento lingüístico, todas as perspectivas entre si, de
tal modo que os interesses de todos os afetados e todos os sinais ca-
racterísticos de uma situação pudessem ser tematizados. A coordena-
ção das ações por normas poderá ser de novo, como medi11m do dis-
curso prático, objeto de entendimento lingüístico sob condições ideais,
..:.., porque uma língua gramaticalmente diferenciada em detalhes sempre
produz também, com significados comuns, vinculações ilocucionárias
que, no caso de conflito, poderão ser tematizadas sob um determinado
pleito de validade. A idéia da imparcialidade, que nessa tematização
. funci~n~ como. regra de aÍ:gumentaÇ:io, contém si.níultaneàinente·um
princípio da aplicação adequada de normas válidas sob a considera-
ção de todos os contextos relevantes.
Do ponto de vista de uma descrição situacional sob perspectivas
de dupla contingência, porém, o estabelecimento interativo - a funda-
mentação e a aplicação adequada dos elementos comuns, produtores
de coordenação - não aparece como um problema de entendimento
mútuo, mas como um problema de estabilidade. Na coordenação de
ações em situações se- trata menos de um conhecimento comum di:
significados idênticos, tematizável discursivamente, do que de condi-
ções externas para estabelecer, prosseguir e interromper a comunic~
ção, porque as perspectivas de ego e de alter, sob a pressuposição de
alterações rápidas e de conhecimento incompleto, não podem ser aprci-
sentadas de maneira plenamente transparente. Contextos de ação po-
dem ser estilizados de tal modo que a possibilidade de uma interação
entre alter e ego aparece como um evento extremamente improvável.
Para torná-lo mais provável, precisam ser cumpridas pressuposições
m:jis complexas, que não poderão ser calculadas nem mesmo pd'r
meio de doutrinas de prudência_desprovidas de moralidade. Aliá~,
elas em si escapam de um controle Úitencional. Se não há elemento~
comuns entre ego e alter, ego já dispõe o seu comportamento consi-
derando p fato de que o comportamento de alter não é previsível ~
vice-versã. Nesse caso, é altamente improvável que em si uma ação
ocorra, porque cada indivíduo fica esperandô pelas preliminares d~
orientação que o respectivo outro lhe poderia dar, a fim de reduzir a
quantidaqe de eventos de comportamento imprevisíveis. Um dementb
em comum que, a seguir, possibilitasse uma comunicação baseada
em expectativas recíprocas, só poderá desenvolver-se "pelas costas"
dos participantes. No momento que o ego já não puder mais calcular
sozinho as c~ntingências do seu contexto não-social, caso em que a
sua ação dêpenderá da contingência de um alter orientad~ segundo
as contingências comportamentais de ego, a situação se tornará in-
controlável para as ações intencionais. Com essa insegurança na pos-
sibilidade de prognosticar o comportamento, fica perturbada a com-
plementaridade das expectativas, assim denominada por Parson. _Ego
não conseguirá orientar as suas ações por alter e vice-versa 12 enquan-
to, de um modo que não lhes é transparente, ambos se orientarem
segundo metas arbitrariamente selecionadas. Isso somente se tornará
possível quando as expectativas forem generalizadas e, com isso,
12. PARSONS, Talcott; SHILS, Edward A. et ai. Towará a General Theory of A'tion
[Em direção a uma teoria geral da ação]. Cambridge/Mass.: Harvard UP, 1954, p. 15.
A!
escolhidas independentcmep.te de uma situação indefinida e contin-
gencial de seleção. C~mprit:nento e decepção de expectativas pode-
---=-· ~
rão, nesse caso, ser nj.edidds sezundo um critério generalizado s.ue ~ -~. J
~go e alter_s..ompar~m: ' ~~
~~
Há uma contingência dupl:i inerente à interação. Por um lado, as grati-
ficações de ego são contingenciais quanto à sua seleção entre as alter- ~}
nativas disporúveis. ~Ias, eq1 contraposição, a reação de alter será con-
"· :.
~ ~'\,,.
t·~ ·~a·~
tingencial quanto à seleção de ego, e resultará de uma seleção
·. ;.
complementar por rarte dr; alter. Devido a essa contingência dupla, a
comunicação, que é '1=ondiç~o prévia para padrões culturais, não pode- ~ ~
,l
~~;··.
'
,i
~ tramitar decees_ões, ~lecionando po~elodep50- ()
cedimentos institucionalizados um consenso genericamente su os
e_sis guais, como programa e ecisao, pode~er 12.9stos em u~a
forma !Eta ao reconhecimentÕ.Já que todas as três dimensões da ge-
neralização poderão variar entre si, apenas poderão ser destacadas como
direito aquelas expectativas que houverem sido selecionadas com base
nos mecanismos de generalização compatíveis. "A estas expectativas
normativas de comportamento, generalizadas de modo congruente·
nesse sentido, designamos como Direito de um sistema social. O Di-
reito produz congruência seletiva e forma, desse modo, uma estrutura
de sistemas sociais". 23
22. Ibidem, p. 92 s.
23. Ibidem, p. 99: Essa caracteàzação é utilizada por Luhrnann, nesse ponto e também
anteriormente, como determinação das funções do sistema jurídico. Cf. LUHMANN.
"Dic Einhcit des Rechtssystcms" [A unidade do sistema jurídico]. In: Rlçhtrthtori1
[feoria do Direito], 1983, p. 129 ss (147 s.).
. ll.AL_l lf/\ .
O Direito positivo é, para Luhmann, aquela forma 'uri -~·
.. :•.
~ -
çlor, enquanto que a jurisPE,udência deverá cuidar da tramitaç_ão das
;-;
çlecepções em situações de aplica~o. Assim, a mu~abilidade e a estabi-
-
lização de expectativas de comporumen3,g.. p6á~rão ser combinadas,
de modo a possibilitar uma adaB~ª~®-flexível às alternantes circuns- :-·.;.: ...
;v.'<C(,~«
b Co A função de uma estrutura não pressupõe constância absoluta, mas
~~k ~~ apenas exige que a estrutura, nas situações organizadas por ela, não
~-Y~
Ye , seja problematizada. Combina perfeitamente com isso que ela se tor-
~ j;<-C<.
"ct,. d ~ ne, em outras situações (em outros momentos, para outros papéis ou
-ç-
~~ pessoas), o tema da decisão; que seja, portanto, variável. Nesse caso,
~- -;r:~c/
CÍ::>~ '<!:> apenas exigir-se-á um limite claramente reconhecível, firmemente ins-
s0 r titucionalizado, que separe estas situações. 24
e,~ /
·~·
··'.'.
podem contemplar circunstâncias contingenciais de modo mais rápi-
do e adequado. Decisões jurídicas estão tão-wmetite sob o princípio
da decisão igual de casos iguais, 25 garantido por meio de um consis-
tente catálogo dogm,ático de decisões. '
Sob a órbita de desenvolvimentos mais recentes na teoria geral
do sistema, Luhmatin ainda radicalizou es.ta distinção entre aspectos
cognitivos e normativos do sistema jurídico. O Direito aparece com9
~rmatiV-amente fechado e CQ,gnitivamente aber.!Q. 26 ~
~ naquela sua função que não pode ser substituída, controlad_,!,
~da por um outro sistema: a decisão a respeito da licitude e
iQ__citude ~ht und Vnrec.h!). ~decisão ele pode marcar~
~ ., ._
guer _ç_oisa, desde gue, ao fazê-lo, atenha-SJ:.. tão-somente aos próprios
-
.·<·.;
...........
ESS1:!E._OStos in~rn~s. Apenas nesse momento é que ele se reproduz,
de evento em eventQ, como um sistema autônomo. A redução da fun-
ção norma~va do [,)ireittj à licitude e ilicitude (Recht und Unrecht)
per.mite simultane34pcnte uma grande abertura para as ocorrê~cias
aleatórias do ambie.p.te geral. O que importa não é propriamente a
qüalidade ·dessas oc;orrêntjas, mas tão-somente se as .condições de
desencadeamento ir\terna~ do sistema foram satisfeitas para atribuir o
.,o
valor positivo ou negativo. sistema jurídico é, desse modo, capaz ge
aprender dentrQ_Qos limites do seu fechamento normatiX°:
l
.
·.! 3 Luhmann, por isso, admite apenas duas possibilidades de posi-
~ ~ cionamento do sistema jurídico em relação a mudanças no seu meio
'J. ~ ambiente, de tal modo que ele mesmo consiga mudar: na dimensão .do
. ~·~ código, por meio da introdução de um terceiro valor que amplie o
~ j esquematismo binário original e funcione como um chamado "valor
.~ ~ de rejeição". Desse modo, EOdemo.:._ relacionar os ,!;Ói:ggos de div~r
~-......:., s..Q!_Sistemas parciais entre si, sem precis~tar a reseectiva co~fi
~ cação; esta codificação será recusada or meio do respectivo "v.µor
à_ ,__de reje~o". Com isso, o código, representado pelo terceiro valor, --~ ..
(_ pode ser:'simultaneamente, considerado e desconsiderado; $t~
~ de um terceiro elemento que é, ao mesmo tempo, incluído e excluí!io: ·
"Rejeita-se ... a qualidade de mténo (a função de código) dos códigoi de
outros sistemas para o próprio sistema, não a relevância dos seus valo-
rel'. 30 Com isso, será possível refletir sobre a perspectiva de outros
códigos no sistema, sem propriamente observar o código estranho.
Desse modo, a "policontextualidade da sociedade" consegue ser re-
.....__........ -
presentada no sistema parcial.31 A desvantagem da triplice valoração,
,_..........
porém, consiste em que a decisão entre os próprios valores lici~e/
--
~ti unrech~ ficará, respectivamente em relação ao terceiro
.....___._ - J
valor, mais uma vez agÚiictando. Com isso, ressurge o paradoxo qu.~
precisava ser evitado, a fim de se refutar a questão de o Direito intro-
duzir licitude e ilicitude (recht 11nd unrech~.
Como alternativa, permanece, conseqüentemente, apenas a pos-
sibilidade de tomar como ponto de partida o problema da própria
eliminação do paradoxo e resolvê-lo por meio de mais uma diferenci-
ação interna, depois de esgotadas as diferenciações externas (Direito
natural), ameaçando o sistema à desdiferenciação. Esta tarefa é atribu-
ída por Luhmann aos programas que decidem a respeito da aplicação
correta do código. A diferenciação estrutural, ainda preferida na Soci-
ologia do Direito, entre legislação e jurisprudência se destaca, diante
da complexidade da sociedade, como alta exigência (überforde~. Luh-
mann parece dar uma direção enviesada à diferenciação entre código
"-"'
-
ta pode-se dizer: o có<!!go binário pe!f!Ianece intacto. Como ante-
riormente, será preciso decidir entre licitude e ilicitude (&cht 1md
--.
Unrecht). Tertium non datur ~o há UJllª terceira alt~ativa]. Con~do,
os programas que orientam essas decisões e restringem as condições
.... --
--
~
da sua correção (e pretendem, com isso, torná-las passív:eis de ex-
pectativa e decisão) êº submetidos _!é~udanç:s - seja na direção
----
~erminação, ~a na dir2o de mud.!!1.E, rápidas e freqüeq.tes
das suas determinações - como se importasse atribuir às situações
.,
alternantes controles maiores sobre o processo decisorio (em
tempo em que, de qualquer modo, não se c9nsegue olhar coni'certeza-
. ···-
um --
--
para o futuro). 33 --- - -----------··--------
34. Ibidem.
35. Ibidem, p. 195.
36. LUHMANN. &chtssozjololfe [Sociologia do Direito], p. 87 s.
37. LUHMANN. Codierung [Codificação], p. 197 s.
--~'
--~
. .;_ --··
•'"._.
ções qu~tam a cada um dos sistemas parciais o CQ!ltrole sR-
bre si mesmo, de um modo reciprocamente compatível. Também nes-
_.......
se ponto a função decisória centrada no código constitui o cerne da
minuciosa diferenciação funcional do sistema jurídico que, no entanto,
está exposta à reserva de uma decisão programática que precisa ser
situacionalmente flexível.1 tarefa erecária do sistema jurídico consis,,te
~gar, re~vam~nte, ~suas u"rte"tyenções controladoras às co\1-
~ da possibilid~e de autocontrole relativo dos siste,mas parciajs.
~do,~jurídico executa a obra paradoxal de provid~n
ciar, em virtude da sua autodire ão reflexivamente controlada, a con-
~ção da cap~dade de controle dos ..fil.stemas parei~~· Isto e~o-:
_
.. briga - -
a_considerar os aspectos de uma situação segundo os critérios .,,de
~
---
. ~s congruent~nt~ generalizáveis. Protegem-se estas expectati-
_ ___ ___ _
~ ,..-.. ~
vas seleaonadas contra possíveis decepções por meiõda Cõnces ão
da __,_ualidade ...._ ..._ _.
de dever coattvo.
~
2rocesso de g_eng__alização e abst{a-..
~
~ -- -
ção de uma norma como principio no momento em que ~essásse::~;t,'.~
... ~
mos em um processo argumentativo, que nos obrigaria a examinat/'.
todo~s 'SUlarScaracteristic;;; de uma si~ e a ponderar os ponto~~;.,
de vi~'"";;orm~ rele~es. No que d:lzi:espeito a aplicação dÍ!-~'..
normas como regras é justamente disto que não se trata. A descriçã~f~:
.... -:!"·'
s!2 sistema~dico de ~uhmann, ~mbinação de pr~1.;;:
,!:?ndicio~o b~ária, foi moldada à aplicação de no;:s~?~
:_omo r~ có~ defini~. ·.·e
'A.
Não obstante,.li~via-sc constatado que, na aplicação de normas,
a suspensão de ~rguqientações de adequação só se justificaria à_ pro-
porção que se tratasse de 4ecisões inequívocas; condicionadas i exi-
güidade de tem."po e qe conpecimento inco.mpleto, porque, caso. con-
trário, não poderia ser garan~da uma observância equilibrada de normas
fundamentadas em cada situação, a cada momento e por determinada
pessoa. Esta restriçãq, natt\ralmente, está sob uma premissa especial:
de que se deliberará :a respeito da adequação de normas em outro
ponto. Depois de se l}aver desvinculado a fusão convencional de vali-
dade e adequação, a cexclu~ão das argumentações de adequação so-
mente poderia ser juiitificacJa transferindo-a à responsabilidade do le-
• •!.
~ -
f~ ção de normas. A po_sitivação de normas juridi~s deve ser institucio-
~ e.rocedimentot_que correspondam às regças de discu11os
~
~ -
da poss:bilidade de se fundamentar moralmente os eroced.imentos para
criá-lo. Na sua função de código, eie é autônomo e, na sua pro rama-
______.-....- -· ~
~ '-e-n1d:-e-d1 o1 1..:.egi-s.,..._,...o-r-,_o.::_.q_u_,...,~p-o'-r...-s_u_a-:v::-e-z-,""':s:-u1b-:m--:-et:-:e:->-m-e-'di';":.-;d-a-s à
função de có go jurídico. A aplicação de normas é restrita ao exam~
~-
cognitivo da existência das ressuposi ões internamente reesta e- -- -
-
lecidas. gumentações de adequação não são admissíveis, porque
seriam esfaceladas pelo esquema de programação condicional.
~o negar, na dimensão da codificação, a e_otencial fundamenta-
5ão da distinç~ líci~o (m~endo-a, contu~ comoex-
pectativa, de modo que surgem paradoxos que precisam ser interna'-
mente dissimulados) e ao excluir, na dimensão da programação, ~
aplicação adequada de regras condicionais, Luhmann faz parecer que e,>
sistema jurídico é autônomo. Condicionamento e esquematização bi,-
~ -
nária só realizam, "como sistema, o processamento simultâneo de as:·
pectos normativos e cognitivos de sentido". 45 É'ntretanto,_!le mesm~
Teubner observam que esta descrição do siste1'.i'iã"jurídico é incapaz d~
~ompreeQcrer os problemas ~ como romover, nos termos da formaj . '·-~' .\(\..
45. LUHMANN. Dit Einhtit der &rhtJqsttms (A unidade do sistema jliridico], ibidem,
p. 143. Com maior precisão cm: Coditrtmg [Codificação], p. 196: Argumentação no
Direito seria indispensável, "porque a complementaridade de codificação e progra-·
mação produz uma ordem autopoiitUa auto-substitutiva".
46. Quanto à categoria da "procedimentalização do Direito", cf. Wiethõlter, que, com ,.r"
....:::--
.
47. HART, H. L. A. Der Begriff der &chtr [O conceito de Direito], ibidem, p. 178.
48. Ibidem.
49. Ibidem, p. 176, 183 ss. Cf. a respeito BAKER, G. P. "Defeasibility and Meaning"
(Anulabilidade e significado). ln: HACKER, P. M. S. & RAZ,J. (ed.). Law, Moralig and
Socit!:J, E11'!J1 in Honourof H. LA. Hart (Direito, moralidade e sociedade: Ensaios
cm homenagem a H. L. A. Hart). Oxford: Clarendon Press, 1979, p. 26 ss (32).
50. ENGISCH. Logische Studien [Estudos lógicos], ibidem, p. 15. A respeito da definição
alternante de norma e realidade objetiva, cf. sobretudo KAUFMANN, Arthur. Analogie
11nd "Nalur der Sache". Zugleich ein Beitrag z.ur Lthre vom Typut [Analogia e "natureza do
fato". Simultaneamente, uma contribuição para a doutrina do tipo], 2 ed., Heidelberg:
1982, p. 42: "Mas como será que o 'sentido da lei' muda, se o texto literal continua
sendo o mesmo? Isso se deve, única e exclusivamente, à especificidade do caso,
porque esse 'sentido da lei' nem sequer consta apenas na lei, mas igualmente na
concreta realidade objetiva da convivência, para a qual se destina a lei. Na verdade, a
'interpretação objetiva' da lei, por conseguinte, nem mesmo é apenas interpretação
da lei, mas aquele complexo processo analógico: 'dedutivo-indutivo', aquele olhar
que corre para lá e para cá entre a lei e a realidade objetiva ... Só por causa dessa
analogicidade, dessa 'polaridade' de realidade objetiva da convivência e realidade
objetiva da lei, é que o Direito está vivo,cresce e tem a estrutura histórica do ser." -
Hassemer ampliou esta imagem no sentido de uma progressão "em forma de espi-
ral", alternando indução e dedução. Com isso, focaliza-se o processo do esgotamento
de uma norma em diversas situações: "Ambos os fatores do processo de interpreta·
ção, tipificação dos fatos e realidade objetiva, sequer se determinam mutuamente,
ou o fazem no mesmo nível hermenêutico, todavia virias vezes e, a cada urna delas,
em um outro nível 'mais elevado'" (HASSEMER. Tathutand 11nd TypllI [Tipificação
dos fatos e tipo], p. 108).
·-·~J_;_ --
mentações da adequação, exigem-se regras de uso lexical para garantir
:.•.-.
a justificação externa de uma decisão jurídica. No entanto, a sua justi-
ficação externa não consegue justificar a seleção vinculada a uma de-
terminação de significado de sinais característicos situacionais, a partir
de uma descrição situacional integral. s_:om argurrientos externos, cor;no
a vontade ·stóric do le ·slador, apenas se fundamenta uma regra
que contenha o sinal característico situacional e que elimina to o~ os
demais aspectos. Desse modo, ~relação com os obje~os do legisla-
dor blstórico, por exemplo, somente será necessária caso se trate da
~da~e da respectiva re_g:_a no contex~dica !,_m
. ~or. A tese da hermenêutica do circulo inevitável visa, entretanto,
2._.ais racional, o~ja, aquela que servirá ao interesse geraj__ou, no caso . .~·f·'''
de interesses de grupos, ao iôteresSê relativamente mais importante".55
., - .....;...~ --- . -----
52. HASSEMER. Tatbestand 11ndTypus [Tipificação dos fatos e tipo], ibidem, p. 35 s, 102 ss.
53. KRIELE, Martin. Thtorie der &ch1Jgtwinn11ng [Teoria da obtenção do direito], 2. ed.,
Berlim: 1976, p. 198 e 326 ss.
54. Ibidem, p. 163, 198, 200.
55. Ibidem, p. 200; cE também ESSER. Vorvemãndnir Quizo antecipado), ibidem, p. 75 s.
ibidem, p. 79 ss [90 ss]). Com isso, provavelmente, tcr-se"á-acertado, em boa· medi- ·_ ,_~-i~ \V:t
da, aquilo que se oculta por trás da expressão carregada ideologicamente a respeito
do 'objeto'. Entretanto, questiona-se se, para isso, necessita-se de um critério
<~~~ -~:r~~
;··;7~ :;t
empírico de validade. Caso se admitir apenas um "reconhecimento caracterizado
pela possibilidade de verificação empírica de tópicos" {LÜDERSSEN, Klaus.
"Dialektik, Topik und 'konkrctcs Ordnungsdcnkcn' in der Jurisprudcnz" [Dialética,
tópica e "pensamento concreto de ordem" nas ciências juédicas]. ln: LÜDERSSEN,
Klaus. kriminalpolitik asif 11eTJch/11ngenen Wegen (Política criminal cm caminhos tortu-
osos]. Frankfurt/M.: 1981, p. 115 ss [127]), a outra metade, o conteúdo normativo
daquele tópico, continua sem explicação.
r
61. ESSER. Ibidem, p. 18.2, 81.
62. Ibidem, p. 287. A sen'1elhançd com o conceito da "consciência dos efeitos na histó-
ria", de Gadamcr, é evidente, apesar do aparecimento da primeira edição já cm 1956.
Mais tarde, motivos explicitamente hermenêuticos foram adotados por Esser em:
Vorverstãndnú und Methodenwahl in der &íhtsfindung [Juízo antecipado e seleção de
método na busca do direito], ibidem, p. 150, etc.: ''Justamente no ponto em que a lei
não considera, ou já não considera, adequadamente determinados interesses, o obje;
to de reconhecimento será aquele horizonte de expedativa que pode ser designado de
'legitimo', no sentido pré-positivo, por comparação com C."Cpectativas reconhecidas
em outro lugar, seja em um contexto jurídico abrangente, seja por uma consciência
social de justiça ou injustiça da atualidade. Com a busca por analogias ou por refe~
rências dogmáticas conclusivas, nos quais será possível inserir ou enquadrar de modo
:-~~~~ ii~= argumentativo a proteção jurídica cm pauta de modo construtivo, inicia-se o traba-
.·.~~·:iiL ·::~-·
- ·~-~~-
lho de juristas, apresentado pela doutrina do método como busca do Direito, o qual,
.-- .. ~.
··-~4.:-r't-
-~~
"''t-·-
~ .-~
entretanto, pressupõe. a base daquela avaliação pré-positiva do problema e a·
dignificação de interesses em uma determinada direção". A respeito da graduaLfor-.
mação histórica do chamado "pensamento orgânico" _na dogmática e a respeito do
declínio, provocado dessa forma, de métodos empíricos, indutivo-generalizantes, cf.
HERBERGER, Maximilian. Dogmatik. Zur Gesíbirhte 110n Begriff und Methode in Mediz.in
und ]urisprudenz. [Dogmática: Sobre a história do conceito e do método na medicina
e nas ciências jurídicas]. Frankfw:t/M.: 1981, p. 389 ss.
63. A respeito da forma de Esser assumir a hermenêutica, cf: FROMMEL, Monika. Di1
&z.eption der Hemreneutik bei Karl Larenz.11nd f 01ef Emr (A rcccpçào hermenêutica cm
Karl Larenz e Josef Esser]. Ebclsbach:-1981. 64 ESSER. GruntÚatz. (Principio],·
p. 304.
instância, graças ao estágio histórico de uma civilização ética que
cultiva o Direito. É verdade que, com isso, atribui-se aos princíp'ios a
função argumentativa de transformar sinais característicos, até en-
tão desconsiderados, em Direito. Não obstante, o seu status está vin-
culado às formas existentes do Direito e da vida; estas formas é que
determinarão, junto ao aplicador do Direito, o juízo antecipado,' li-
gado à história dos ;feitos. 64 Entretanto, se entendermos princípios,
no modo aqui sugerido, como expressão de um procedimento argu-
mentativo que possibilita uma consideração imparcial de todos 'os
sinais característicos situacionais, o seu sentido muda; neste ca:?o,
passam a servir para justificar coerentemente aquelas normas e as
suas variantes de significado que podem ser relacionadas com uma
descrição situacional integral.
~ pressup§_e o ideal de um juiz ~e examina, e~
~
caso isolado, todas as""7i"ormas aplicáveis e as vari;;:tes de significado
__....,)
~ -
em um contexto coerente de justificação para corresponder a uma
descrição integral da situação. Esse contexto de justificação não con-
'Seguiria sustentar-se a si prÓprio, mas avançaria até aqueles princípios
morais que legitimam a ordem jurídica e a comunidade política no seu
todo - e, em cada caso em que a constelação dos sinais característicos
-
mudasse, ele teria de mudar também. Dworkin designou um procedi-
menta semelhante de produ ão de uma teoria política coerel:).te.
-
.. (·'
.
·· ...-=r1
. s. ~
-~-~
'-..~::~
-:~::~:~~. :~{-
•:
6
~ de adegua~o". :; ~gu~ent~ princfpiológicos se distinguem de_!;.e~ ~ \
gras p_or .E?~em s~r sop"fsado_; en~e si. ape;:as:;,: dime~são de p~ :;
,.deraçao..... sem perder a sua validade, enquanto regras so podem se ~"
j
aplicadas na forma~ uma decisão de "tudo ou nada". Dworkin descre-
, veu em detalhes cor?o ar~entos principiológicos podem tornar-se
efetivos em casos djfíceis: Eles têm a sua função na justificação de
decisões jurídicas, cqm as 8.uais os direitos são atribuídos ou negados.
~a vez que um princípio nunca é relevante isoladamente, o que im-
porta é a compatibilidade dos princípios e dos objetivos. ~m
~azes de se integrar em uma teoria política ~ral e adequada, ll.ª
qual seja possível justificar cada elemento. A ·vontade do legislador e
os princípios do Dir~ito consuetudinário funcionarão como ponte entre
a teoria geral e os direitos concretos. 2,~z ~cisará.,;stabelecer uma
relação coerente entre a sua decisão e a teoria política geral, passando
~
. 'J:
ii~ precedentes, aos quais princípios possam ser vinculados.
;.: ;:, ;:. f;. van~em da teoria de Dworkin consiste em explicar a i@a
-3i i.
· '·'.; ''~ ·
"rf; .,.
~~ração img_arcial de todos os...sinais característicos r.15-
levan_.tts de uma situaçã12. Ela não se restringe à interpretação da lei.
Q.juiz, ao "interpretar a lei, confirma:.:.:.; em uma determinada f~-
·'•ff ;.;~. 1!!.ulaÇão l~,_erincípios e argymentos objetivos gue 1 diariJ.e das r_rs-
E_~ilidades do legislador, fornecem a melhor ju~ficação dessa\
~".68 l~so,
_lºr ·tffe~·F
MA •.u~ T
4C{ "ô
. J ~ l.r,Hf4.:UP
-
princípios e objetivos (virtualmente todos).. Entre eles estão, ao lado
do legislador, a Constituição e o Direito escrito, ao lado do Direito
consuetudinário, os casos precedentes, o "tecido sem costuras"69
(outros ·éasos prec~ent;s e leis escritas), bem como os erros. 70 Ateo-
ria, que, com isso, d~-ejava-se formular, descreve, no caso ideal, uma
quantidade de princípios "que harmoniza entre si todas as disposições
existentes do Direito escrito e os casos precedentes".71 A justificação
deve "sei'. convincente e acertada. Se a justificação que ele constrÓi
fizer distinções arbitrárias e desenvolver princípios não convincente~,
ela nem 13equer poderá ser co~siderada justificação".72 Isso significil
que será possível derrubá-la, apont:lµldo para aspectos que deixararú
de ser co,nsiderados. '
Co~1 esta obrigação de inserir argumentos principiológicos eru
uma interpretação coerente, as ponderações que vão além de uma re;. -~~~~ ~\·
gra conc~eta recebem o seu "apoio insti.tucional".7j A conseqüênci!
_, .~:--i~. i:~::.
6
<.. .;.
74. Ibidem, p. 193 ss, 202. Ale."'<}' levanta dúvidas contra esse tipo de ~'holismo jurídico'.'
(&chtsprinzjp (Princípio jurídico], ibidem, p. 86), que lembraria o disCUISo sobre a
unidade da ordem jurídica e da ordem constitucional como principio de interpreta-
~
ção para direitos fundamentais. Entretanto, a Dworkin _não importa apenas a <;ge-
_rência de uma sr.dem 11rcdeterminada objeclvamente, mas a consideração .igual de
todos ;Qs portadores de dir-eito~/Somcnte dessa eiígência é que resulta o manda-
mento da coerência, e não das''";ecessidades institucic;rnais de estabilização de uma
ordem de valores autônom 'As manifestações de Dworkin sobre esse ponto obvia-
mente não são muito dar Elas devem ser especificadas, fazendo-se com que, mais
uma vez, a fundamenta e a aplicação de direitos sejam relacionadas com discur-
sos. Cf., a respeito, as dicações no fim desta seção.
75. DWORI<IN. Law~ E 'ri [O império da la]. Cambridge/Mass./London: The Belknap /
• 1986.
76.
77. .
AJ-1(, ,
~o. ~Ji-i
,.A)OJ (
o
OcJ ' - IJ [~C( i{<r . .. .
.. cun· o ()Jllª ·
/ ,RGUMF.NTACOFS l)F ADF.()H.•r~n N() l)T!lFTT() !lfl7
_ p e..t ~c/q ~ '- &a~"/ O~ 1
.
(n.r>fº"'o.a ~1:/....,_,.;,i./o.-Uq ~c,.!.vc.. eC..o ~ pu-_vu.vÍ;'vov, .u.r ~e., ·./•
,,,µ 'r''víÚFJ-{q ..Ucn ~e!~ .-u..<..ú:h<:,, ~ -v..-ae; ~?O~!
a, e excluímos, de caso em caso, decisões arbitrárias ou caprichos.
As ·m como o indivíduo se esforça- para viver de modo coerente; a ,_
com "dade política está obrigada a ·ustificar coerentemente cada w!ia ~~?:
das suas. cisões, à luz dos rincí ios aceitas por ela, e de não agir em ~ ~
casos i~ais ~
78
ndo.princí i~s ~fer~nt~s: ~ste idealj.~ i:;tegnry, pqr-
tanto, nao diz re e1to aos direitos individuais, nem aos argumentps
il:
~ ·~- ..• ·
principioló~cos que . . re~entam, contudo ~ere_-se ao ~o.do co%~ -i~ ~ .:;
uma comurudade políaca a com eles na le slaçao e na 1unspruden-~> l.:_ \ ...
~Porque direitos não podem r aplicados isoladamente,_tam~ -$l' .·•
podem ser restritos a um círculo de ssoas privile ·adas eles exige1,n, 1 ~ :t, :,.
em cada decisão a respeito de normas jurídicas, um exame coerente. ·A ~ f •; ,. '
obriga ão interna que o princípio de coerência desenvolve faz cÕrÜ :~ ;'.' .·.
que todas as pessoas de uma comucidade olític~o {:;'-
~doi;,: de direi_!;?s iguais, isto é, com igual consideração e respeito, ~.
conseqüentemente isto não impede que o Direito ocupe seu lugar no ~ ··
~istema de co~deração. Dworkin distingue entre um princl- ·~:·".~.:. :.'_;..·
~egnctade êr~to de legislar e do ato jurisdicional. Em ambas •
.~:~ l;
as esferas, destaca-se, cada vez de um modo específico, o mandamento
do tratamento não arbitrário: no ato legiferante, ele funciona como ~~:;:'"'
um princípio "que demanda, daqueles que criam a lei por meio do
Legislativo, que em princípio mantenham aquela lei coerente" .79 É só
à primeira vista que isso dá a impressão de ser trivial. O mandamento
da coerência inclui todos os argumentos principiológicos, dos quais
uma comunidade política obtém a sua legitimidade. Em caso de qual-
quer tratamento arbitrário que violar um dos princípios pleiteados por
motivos legítimos, a própria legitimidade estará em jogo.
Uma legislação que recria um determinado direito sem examinar
........ - ~ - - ...:::i.
:_ sua coe~cia com o~oSdi;eito~!-~m que pers$Ue determinaQçs
,:>bjetiv~cos de modo a fazer acordos arbitrários que conduzep.
ao privilégio de uma pÕsição)undíca, nao trata a todos com i~al c n-
sideração e respeito. or isso, em um tipo e experimento ideal,
78. A comunidade política deve, portanto, ser concebida como uma "comunidade per-
sonificada", da qual se possa ter a expectativa de integridade de caráter (Ibidem,
p. 167 ss.).
79. Ibidem, p. 167.
'';
:,:·.:
1
de integridade presume que cada pessoa tenha canto valor quan. to qual-
quer. outra, que cada uma deva ser tracada com igual consideração, se-
gundo uma concepção coerente q:ianto ao que isso signific~. 81
>
Assim como no caso da legislação, um princípio ou um objetivo
político não poderá impor-se deixando de lado outros direitos, tam-
bém o principie of integrity ln adjudication [princípio de integridade em
adjudicação]~ que casos ig1;!ais sejam tratados de modo i~ não
~ vista de uma norma isolada ou de um determinado casoJ?rece~n- . ._p.
l_e, mas conforme uma quantidade coerente de prinç!Eios que4 em úl-
. cima análise, deverá ser com atibilizada com a mo-ráI política da co-
---·
muru a e. Também nesse ponto ele funciona em si como um princípio
de relacionamento que, apontando para além da aplicação de uma
determinada regra isolada, realiza-o em um contexto coerente que
examina virtualmente todos os direitos relevantes e J:*incípios. Uma
comunidade política trata dos seus membros de modo desleal quand1"
aplica as regras e os princípios estabelecidos de um modo que, mesn:tb
consistente, sej~-de- fato arbitrário. Opleito por tratamento igüal se·
estende a todos os direitos e princípios, cujos bordos forem abertos
para princípios políticos e morais fundamentais de uma comunidade.
··.;.·
requer dos nossos juízes, à medida que isso for possíve~ que tratem do
,.?Osso presente sistema de padrões públicos como de ~ sistema que
expressa e respeita ;:_m conjunto coerente de princípios, e isso de tal
~ue interpretem esses padrões para encontrar padrões impü-
citos sob os padrões expücitos.82
~
~
síve demonstrar qi;;-e relaÇões recíprocas de reconhecimento não são
excluídas por um conceitó universalista de justiça, mas pressupostas.89
l_Iabermas fez a coine!,ementaridade....wtte justiça e solidariedad~ re- ~
,ElOntar à viol~ilid~de dC: seres vivos que, somente pelo__:_aminho...,da ~
·!
socialização, conseguem tornar-se indivíduos.9() Dworkin cons ói o
.. seu modelo da com~ a~ regida por e._rincípios (principled communz!'J)
a partir de um entendimento semelhante: ,, ~
'~ '-.\
Insiste em que as pesso~ são membros de uma genuína comunidade ~ ~
política somente ~uando aceitam que os seus destinos estão fortemen- j'
\J ~
te vinculados, no ~enrido de serem governadas por princípios comuns, ~
não simplesment~ por re;gras forjadas em um acordo político.91 'v·
89.cr=~'"'"" -/ - ~
.i
90. HABERMAS. Moraú'tã4IoralidadeJ, ibidem, p. 21.
,, . .·. ·. . ..
91. DWORKIN. Empitj(p. 211. •
DWO'lClN~,;,~~
39
1 .
Por isso, um conceito intersubjetivo do Direito também incre-
menta o descobrimento de direitos. 93 A conseqüência disso é que di-
reitos em colisão somente poderão ser harmonizados preservando-se
a coerência, isto é, ponderando-se os princípios que os representam.
O princípio da integri!J poderá, conseqüentemente,
-
porção de princípios como direitos. Esse tipo de tratamento igual
produz, sistematicamente, dif-erettÇas e colisões. A estrutura que pro-
- -
duz estas colisões e leva a considerar as diferenças é, no entanto, a
........
-
estrutura de ~ntaçÕes de ad~uação..};J como procuraI_!!,,OS
..descrever
w __ acima.
.. ·~:-
,_ ; '.~
93. E recai, desse modo, sob a crítica de multiplicar pleitos aleatoriamente. Cf. GEHLEN,
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como LUHMANN. Rechtuoziologii [Sociologia do Direito], ibidem, p. 246; e
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e voluptuosidade ilimitadas" que são satisfeitas por atribuição de mais direitos sub-
jetivos. O conceito de "sujeito" funciona, neste caso, como "fórmula de inclusão
par excelknce", cf. LUHMANN. "Wic ist sm:ialc Ordnung mõglich?" [Como é possí-
vel uma ordem social?]. In: LUHMANN. Ibidem, p. 195 ss (239).
94. DWORKIN. Biirgurech", p. 62.
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