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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

DIREITO CONSTITUCIONAL –
DIREITO MATERIAL
ÍSIS A. MIGUEL

“O Senhor dá força ao seu


povo e o abençoa, dando-lhe tudo o
que é BOM”.
Salmos 29.11

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

DIREITO CONSTITUCIONAL –
DIREITO MATERIAL
ÍSIS A. MIGUEL

SUMÁRIO

1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL ....................................................................................................... 8


1.1 COMPOSIÇÃO .................................................................................................................... 8
1.2 CLASSIFICAÇÃO ................................................................................................................ 8
1.3 ELEMENTOS .................................................................................................................... 12
1.4 EFICÁCIA e APLICABILIDADE das NORMAS CONSTITUCIONAIS ................................. 13
1.5 CONCEPÇÕES ou SENTIDOS DA CONSTITUIÇÃO ........................................................ 14
2 PODER CONSTITUINTE ......................................................................................................... 14
2.1 CONCEITO ....................................................................................................................... 14
2.2 ESPÉCIES ........................................................................................................................ 14
2.3 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO ............................................................................ 15
2.3.1 Natureza Jurídica ........................................................................................................ 15
2.3.2 Titularidade X Exercício .............................................................................................. 15
2.3.3 Poder Constituinte FUNDACIONAL e PÓS-FUNDACIONAL....................................... 16
2.3.4 Poder Constituinte DIFUSO – Georges Burdeau......................................................... 16
2.3.5 Poder Constituinte SUPRANACIONAL ....................................................................... 16
2.4 Características do PCO e do PCD ..................................................................................... 16
2.5 Lei Orgânicas dos Municípios e do DF .............................................................................. 17
2.6 PODER REFORMADOR ................................................................................................... 17
2.6.1 LIMITAÇÕES ao Poder Reformador ........................................................................... 18
2.7 JURISPRUDÊNCIAS ......................................................................................................... 19
3 DA INTERPRETAÇÃO DA NORMA CONSTITUCIONAL......................................................... 21
3.1 HERMENÊUTICA ≠ INTERPRETAÇÃO ............................................................................ 21
3.2 MÉTODOS (ou elementos) CLÁSSICOS........................................................................... 21
3.3 O PÓS-GUERRA: A NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS .............................................. 21
3.4 PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA CONTEMPORÂNEA ................................................. 22
4 NEOCONSTITUCIONALISMO ................................................................................................. 23
5 EMENDAS CONSTITUCIONAIS AVULSAS (ATÉCNICAS) ..................................................... 24

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6 MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL ............................................................................................... 24


7 TEORIA GERAL DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS ............................................................... 25
7.1 DIMENSÕES DOS DIREITOS ........................................................................................... 25
7.2 EFICÁCIA HORIZONTAL E VERTICAL............................................................................. 26
7.3 INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA PARA A JUSTIÇA FEDERAL –
IDC ou FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES ENVOLVENDO DIREITOS HUMANOS ................. 27
8 TRATADOS SOBRE DIREITOS HUMANOS ........................................................................... 27
9 NACIONALIDADE .................................................................................................................... 29
9.1 CONCEITO ....................................................................................................................... 29
9.2 NACIONALIDADE ≠ CIDADANIA ...................................................................................... 29
9.3 Conceitos relacionados ..................................................................................................... 29
9.4 ESPÉCIES DE NACIONALIDADE ..................................................................................... 30
9.5 CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA ................................. 30
9.6 TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE BRASILEIROS ................................................. 30
9.7 BRASILEIROS NATOS (art. 12, I, a, b, c) .......................................................................... 32
9.8 BRASILEIROS NATURALIZADOS (art. 12, II, a, b) ........................................................... 33
9.9 PERDA DA NACIONALIDADE .......................................................................................... 33
10 REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS .......................................................................................... 34
10.1 VISÃO HISTÓRICA ......................................................................................................... 34
10.2 VISÃO GERAL ................................................................................................................ 34
10.2.1 HABEAS CORPUS ................................................................................................... 34
10.2.2 HABEAS DATA ......................................................................................................... 34
10.2.3 MANDADO DE INJUNÇÃO ....................................................................................... 35
10.2.4 AÇÃO POPULAR ...................................................................................................... 36
10.2.5 MANDADO DE SEGURANÇA .................................................................................. 36
11 DIREITOS POLÍTICOS .......................................................................................................... 36
11.1 Manifestações do Sufrágio .............................................................................................. 36
11.1.1 DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS – ativos e passivos .......................................... 37
a) Alistamento eleitoral .................................................................................................. 37
b) Manifestações políticas ATIVAS ................................................................................ 37
c) Manifestações políticas PASSIVAS ........................................................................... 38
11.1.2 DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS ....................................................................... 39
a) Inelegibilidades.......................................................................................................... 39
b) Perda e Suspensão ................................................................................................... 40
11.2 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO ....................................................... 41
11.3 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL .............................................................. 41

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12 PARTIDOS POLÍTICOS ......................................................................................................... 42


13 DIREITOS SOCIAIS ............................................................................................................... 42
13.1 PRINCÍPIOS .................................................................................................................... 43
a) MÍNIMO EXISTENCIAL ................................................................................................ 43
b) RESERVA DO POSSÍVEL ............................................................................................ 43
14 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO ............................................................................................... 44
14.1 FEDERAÇÃO .................................................................................................................. 44
14.1.1 Características da Federação ................................................................................... 44
a) Autonomia ................................................................................................................. 44
b) Federalismo Tricotômico ........................................................................................... 45
c) Repartição de Competências .................................................................................... 45
d) Bicameralismo no Poder Legislativo Central ............................................................. 47
e) Existência de Órgão judicial para resolver eventuais litígios entre os entes da
Federação ........................................................................................................................ 47
f) A forma federativa do Estado brasileiro uma CLÁUSULA PÉTREA ......................... 48
g) Existência de um MECANISMO DE DEFESA para a proteção do Estado ................. 48
15 INTERVENÇÃO FEDERAL E ESTADUAL ............................................................................. 48
15.1 CONCEITO...................................................................................................................... 48
15.2 PRINCÍPIOS .................................................................................................................... 48
15.3 DECRETO INTERVENTIVO ............................................................................................ 49
15.4 A INTERVENÇÃO NA CRFB/88 ...................................................................................... 49
15.5 MODALIDADES DE INTERVENÇÃO .............................................................................. 49
15.6 RI (Representação de Inconstitucionalidade) Interventiva Federal .................................. 50
16 TEORIA DOS PODERES ....................................................................................................... 51
16.1 PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES .............................................................. 51
17 PODER LEGISLATIVO FEDERAL ......................................................................................... 52
18 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS .................................................................................... 52
18.1 CONCEITO...................................................................................................................... 53
18.2 BASE LEGAL .................................................................................................................. 53
18.3 IMUNIDADES MATERIAIS .............................................................................................. 53
18.4 PRERROGATIVA DE FORO FUNCIONAL CRIMINAL .................................................... 53
18.5 IMUNIDADES FORMAIS ................................................................................................. 54
18.6 DEPUTADOS ESTADUAIS e DISTRITAIS ...................................................................... 55
18.9 VEREADORES ................................................................................................................ 55
19 COMISSÕES PARLAMENTARES DE INQUÉRITO ............................................................... 56
19.1 REQUISITOS .................................................................................................................. 56

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19.2 CPI nos ESTADOS e MUNICÍPIOS ................................................................................. 56


19.3 VEDAÇÕES..................................................................................................................... 57
19.4 PODERES ....................................................................................................................... 57
20 SISTEMA INTERNO E EXTERNO DE CONTROLE .............................................................. 58
20.1 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO ............................................................................... 58
20.1.1 Características .......................................................................................................... 58
20.1.2 Composição .............................................................................................................. 59
20.1.3 Funções .................................................................................................................... 59
20.1.4 Jurisprudências ......................................................................................................... 60
20.2 TRIBUNAL DE CONTAS NOS ESTADOS ....................................................................... 61
20.2.1 Jurisprudências ......................................................................................................... 61
20.3 TRIBUNAL DE CONTAS NOS MUNICÍPIOS ................................................................... 62
20.3.1 Jurisprudências ......................................................................................................... 63
21 PODER EXECUTIVO FEDERAL ........................................................................................... 63
21.1 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE ................................................................................. 63
21.2 ALGUMAS PONDERAÇÕES .......................................................................................... 63
21.2.1 Jurisprudência ........................................................................................................... 64
21.3 MANDATO....................................................................................................................... 65
21.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ..................................................... 65
21.5 IMUNIDADES e RESPONSABILIDADES ........................................................................ 66
21.6 IMUNIDADES DE GOVERNADORES E PREFEITOS ..................................................... 67
21.6.1 Prerrogativa de Foro Funcional ................................................................................. 68
21.7JURISPRUDÊNCIA .......................................................................................................... 69
22 PODER JUDICIÁRIO ............................................................................................................. 71
22.1 REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO – ALGUMAS ALTERAÇÕES ................................ 71
22.2 SÚMULA VINCULANTE .................................................................................................. 73
22.2.1 BASE LEGAL ............................................................................................................ 73
22.2.2 EXTENSÃO DOS EFEITOS VINCULANTES ............................................................ 73
22.2.3 REQUISITOS PARA CRIAÇÃO ................................................................................ 73
22.2.4 PROVAÇÃO PARA EDIÇÃO, REVISÃO ou CANCELAMENTO ................................ 73
22.2.5 MODULAÇÃO TEMPORAL....................................................................................... 74
22.2.6 RECLAMAÇÃO ......................................................................................................... 74
22.2.7 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE e SÚMULAS VINCULANTES ............... 75
22.2.8 Principais Súmulas Vinculantes para a prova ............................................................ 75
22.3 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA ............................................................................ 75
22.3.1 BASE LEGAL ............................................................................................................ 75

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22.3.2 COMPOSIÇÃO ......................................................................................................... 75


22.3.3 PRESIDÊNCIA .......................................................................................................... 75
22.3.4 FUNÇÕES ................................................................................................................ 76
22.3.5 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE e CNJ................................................... 76
22.4 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO ..................................................... 76
22.4.1 BASE LEGAL ............................................................................................................ 76
22.4.2 COMPOSIÇÃO ......................................................................................................... 76
22.4.3 PRESIDÊNCIA .......................................................................................................... 76
22.4.4 FUNÇÕES ................................................................................................................ 77
23 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .......................................................................... 77
23.1 TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE .................................. 77
23.1.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES ................................................................................. 77
23.1.2 PARÂMETRO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE ................................ 78
23.1.3 HISTÓRICO .............................................................................................................. 79
a) Direito Comparado .................................................................................................... 79
b) Direito Brasileiro ........................................................................................................ 80
23.2 TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE ......................................................................... 81
23.3 MODALIDADES DE CONTROLE .................................................................................... 83
23.4 QUADRO COMPARATIVO – SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO ............................ 85
23.5 PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO ...................................................................... 87
23.5 EXCEÇÕES à CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO ......................................... 87
23.6 JURISPRUDÊNCIA ......................................................................................................... 89
23.7 PAPEL DO SENADO FEDERAL ..................................................................................... 90
23.7.1 Procedimento (art. 52, X, CRFB/88) .......................................................................... 90
23.7.1 Críticas ao art. 52, X.................................................................................................. 92
23.8 ASPECTOS COMUNS NAS AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO ........................ 93
23.9 DIFERENÇAS NAS AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO ..................................... 96
23.9.1 Controvérsias Judiciais Relevantes - ADC ................................................................ 96
23.9.2 ADO ≠ MI .................................................................................................................. 97
23.9.3 Natureza Residual da ADPF ..................................................................................... 97
23.9.3.1 Conceito de Preceitos Fundamentais ................................................................. 97
23.9.3.2 Hipóteses de Cabimento..................................................................................... 98
23.9.3.3 Princípio da Fungibilidade (para questão discursiva) .......................................... 98
23.10 TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO .............................. 99
23.11 TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA .......................................... 99

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23.12 INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO e a DECLARAÇÃO DE


INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL SEM REDUÇÃO DE TEXTO ................................... 100
23.13 JURISPRUDÊNCIAS ................................................................................................... 100
23.14 CONTROLE CONCENTRADO ESTADUAL ................................................................ 103
24.14.1 Parâmetro do Controle Estadual ........................................................................... 104
24.14.2 Órgão Judicial ....................................................................................................... 104
24.14.2 Objeto da ADI Estadual ......................................................................................... 104
24.14.3 Legitimidade Ativa ................................................................................................. 105
24.14.4 RECURSOS .......................................................................................................... 105
24.14.5 Amicus Curiae ....................................................................................................... 105
24 PROCESSO LEGISLATIVO ................................................................................................. 106
24.1 LEIS ORDINÁRIAS E LEIS COMPLEMENTARES ........................................................ 106
24.2 ATOS DO PROCESSO LEGISLATIVO (PROCEDIMENTO) ......................................... 106
24.3 MEDIDAS PROVISÓRIAS ............................................................................................. 110
24.3.1 MP NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS ....................................................................... 111
24.3.2 LIMITAÇÕES MATERIAIS ...................................................................................... 111
24.3.3 PROCEDIMENTO ................................................................................................... 111
24.3.4 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS MPs ........................................... 113
a) Relevância e urgência ............................................................................................. 113
b) MP e o Controle Concentrado ................................................................................. 113
c) Lei Ordinária de conversão...................................................................................... 114
24.3.5 “CONTRABANDO LEGISLATIVO” .......................................................................... 114
24.3.5.1 Jurisprudência .................................................................................................. 114
24.3.6 PODER DE AGENDA DO CONGRESSO NACIONAL ............................................ 116
24.3.7 MP antes da EC 32/2001 ........................................................................................ 117
24.4 LEI DELEGADA ............................................................................................................. 118
24.4.1 Limitações ............................................................................................................... 118
24.4.2 Modalidades de Delegação ..................................................................................... 118
24.5 RESOLUÇÕES e DECRETOS LEGISLATIVOS ............................................................ 118
25 DEFESA DO ESTADO e das INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS ........................................ 119
25.1 SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS CRISES ................................................................ 119
25.2 DECRETO PRESIDENCIAL .......................................................................................... 119
25.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES...................................................................................... 119
25.4 ATUAÇÃO DO CONSELHO DA REPÚBLICA E DO CONSELHO DA DEFESA NACIONAL
.............................................................................................................................................. 120
25.5 QUADRO COMPARATIVO ............................................................................................ 120

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26 ORDEM ECONÔMICA COMPROMISSÓRIA ....................................................................... 121


26.1 JURISPRUDÊNCIA ....................................................................................................... 122
ART. 5º ..................................................................................................................................... 122
IV e V – MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO RESPONSÁVEL .......................................... 122
VI a VIII – PRINCÍPIO DA LAICIDADE .................................................................................. 123
XI - INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO ................................................................................ 123
XI – INVIOLABILIDADE DO SIGILO DE COMUNICAÇÃO .................................................... 123
a) De Correspondência ................................................................................................... 123
b) Telegráfica .................................................................................................................. 124
c) Dados ......................................................................................................................... 124
d) Telefônica ................................................................................................................... 124
AULA DE TEMAS IMPORTANTES ................................................................................... 124
MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL –PRERROGATIVA DE FORO FUNCIONAL – DO ART. 53,
§1º ......................................................................................................................................... 124
ADI 4439 - STF ..................................................................................................................... 125
ADI 4815 - STF ..................................................................................................................... 125
ADPF 187 - STF .................................................................................................................... 125
ADI 3483 ............................................................................................................................... 125
RECLAMAÇÃO 24284........................................................................................................... 126
MS 34530 .............................................................................................................................. 126
8 Súmulas Vinculantes .......................................................................................................... 126

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1 CONSTITUIÇÃO FEDERAL

1.1 COMPOSIÇÃO

A CRFB foi promulgada no dia 05 de outubro de 1988 e é dividida em 3 partes:


o Preâmbulo (fonte de interpretação);
o Corpo fixo (ou parte dogmática); e
o Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (eficácia exaurida com o
tempo) – são normas de passagem, que vão exaurindo os seus efeitos jurídicos.

Para o STF (ADI 2076), o PREÂMBULO é desprovido de normatividade, NÃO serve de


parâmetro de controle de constitucionalidade das leis, tampouco é de reprodução obrigatória
nas Constituições Estaduais.
NÃO há hierarquia entre as normas do corpo fixo e as do ADCT e ambas servem, em regra,
como parâmetro de controle de constitucionalidade.

Em caso de colisão entre normas do Corpo Fixo da CRFB/88 e do ADCT, aplicar-se-á a norma
mais específica para a situação em concreto.

As normas constitucionais (corpo fixo e ADCT) são divididas em NORMAS


CONSTITUCIONAIS:

Foram promulgadas em 05/10/1988 e são presumidas


ORIGINÁRIAS ABSOLUTAMENTE constitucionais, ou seja, NÃO podem ser
declaradas inconstitucionais.

Foram inseridas ao texto por meio das Emendas e gozam de presunção


DERIVADAS RELATIVA de constitucionalidade, ou seja, estão sujeitas ao controle de
constitucionalidade, podendo ser declaradas inconstitucionais.

1.2 CLASSIFICAÇÃO

CRFB/88:

PROMULGADAS – também chamadas de democráticas ou


populares, porque advêm da vontade do povo, manifestada diretamente
Quanto à ORIGEM ou indiretamente por uma Assembleia Nacional Constituinte. As
Constituições promulgadas são verdadeiras Constituições legítimas que
expressam a vontade do povo. Ex.: 1891, 1934, 1946 e 1988.
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

OUTORGADAS – são impostas, autocráticas e frutos de ato unilateral


de quem está no poder, sem prévia consulta popular. Ex.: 1824, 19371,
1967 e EC 1/692.

PACTUADAS – são as que se originam mediante pacto entre o soberano


e a organização nacional. Ex.: Magna Carta de 12153 da Inglaterra.

CESARISTAS – destacadas por José Afonso da Silva, também


chamadas de bonapartistas, que não seriam nem propriamente
promulgadas e nem outorgadas, pois a participação popular visava
apenas ratificar a vontade do detentor do poder. Ex.: Plebiscitos
napoleônicos e o Plebiscito de Pinochet no Chile.

ESCRITAS (instrumentais ou positivas) – inteiramente codificadas e


sistematizadas em um DOCUMENTO ÚNICO intitulado Constituição.

NÃO ESCRITAS (costumeiras) – possuem muitas vezes documentos


Quanto à FORMA escritos, mas que não estão codificados e sistematizados em um único
texto, possuindo como fonte de constituição os tratados, convenções,
usos e costumes. Ex.: Constituições da Inglaterra, de Israel e de Nova
Zelândia.

SINTÉTICAS (concisas, breves) – tratam, em regra, apenas de matéria


essencialmente constitucional, por isso possuem um número reduzido
de dispositivos. Ex.: Constituição Americana de 1787.
Quanto à
ANALÍTICAS (prolixas) – extrapolam as matérias consideradas
EXTENSÃO
essencialmente constitucionais e versam sobre tantos outros assuntos
que entendam relevantes para o país. Ex.: Constituição Federal de 1988
e Constituição da Índia.

MATERIAIS – são Constituições que consagram como normas


constitucionais todas as leis, tratados, convenções desde que tratem de
assunto essencialmente constitucional (ou materialmente
Quanto ao
constitucional), estejam ou não consagradas em um documento escrito.
CONTEÚDO
Ex.: Constituição de 1824 e Constituição Inglesa.

FORMAIS – sem divisões entre as suas normas, privilegiam a forma, o


estereótipo em privilégio ao conteúdo de seus dispositivos. É claro que

1 1937 - Constituição Polaca.


2 EC 1/69 - na sua forma, pode ser considerada uma reforma; mas, em sua essência, pode ser considerada
uma nova Constituição.
3 Nasceu de um pacto entre o Rei João Sem Terra e os seus súditos.

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se analisa a essência das normas, mas NÃO há distinção hierárquica


alguma entre as normas que estão na Constituição. Esta é um todo
harmônico que não possibilita verdadeiras antinomias entre os
dispositivos. Em regra, as Constituições escritas são também formais.

DOGMÁTICAS (sistemáticas) – são Constituições momentâneas, que


refletem o máximo de ideais políticos predominantes no momento da
elaboração. São Constituições normalmente chamadas pela doutrina de
Quanto ao MODO momentâneas e instáveis. Em regra, são também escritas. Ex.: Todas
DE ELABORAÇÃO as Constituições Brasileiras.

HISTÓRICAS – são construídas e sedimentadas ao longo da vida de um


país, têm compromisso com as tradições e história de um povo, são mais
estáveis e normalmente não escritas. Ex.: Constituição da Inglaterra.

FLEXÍVEIS – quando as normas constitucionais puderem ser alteradas


pelo procedimento simplificado, por um procedimento legislativo comum
ordinário.

ATENÇÃO! Normalmente, as Constituições Flexíveis estão associadas


às não escritas e como no Brasil nunca existiu uma Constituição não
escrita, a rigidez sempre fez parte do Ordenamento Jurídico Brasileiro,
ainda que a Constituição de 1824 tenha sido semirrígida.

SEMIRRÍGIDAS – adotam um modelo HÍBRIDO de alteração, porque


Quanto à parte do texto, normalmente os dispositivos materialmente
ALTERABILIDADE constitucionais, só podem ser alterados por um procedimento mais
rigoroso, enquanto que a parte flexível, formada pelas normas
formalmente constitucionais, pode ser modificada por um procedimento
TEM
ordinário.
DIVERGÊNCIA
Ex.: Constituição de 1824 (em seu art. 178).
DOUTRINÁRIA
RÍGIDAS (DOUTRINA MAJORITÁRIA) – só podem ser alteradas por
um procedimento legislativo mais solene e dificultoso do que o existente
para as demais normas jurídicas e são, em regra, a Constituições
escritas.

A RIGIDEZ CONSTITUCIONAL está associada à hierarquia das


leis, à supremacia formal da Constituição e ao controle de
constitucionalidade.

Sendo imperioso NÃO confundir rigidez com estabilidade.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

SUPERRÍGIDAS (DOUTRINA MINORITÁRIA) – Alexandre de Morais


adota ainda a teoria da super-rigidez constitucional, assim classificando
a CRFB/88, quanto à alterabilidade, em razão de suas cláusulas pétreas
(art. 60º, §4º, CRFB/88).

A doutrina majoritária sustenta que a Constituição de 1988 é rígida e o


coração da rigidez é extraído, inclusive, do art. 60, da CRFB/88. Mas a
doutrina minoritária defende que a CRFB/88 seria super-rígida, porque
as cláusulas pétreas dificultariam ainda mais o processo de mudança da
Constituição.

IMUTÁVEIS – são as Constituições NÃO passíveis de qualquer


modificação.

DIRIGENTES (sociais ou programáticas) – nascem com a evolução


dos Estados Sociais. São textos mais compromissórios e determinam
atuação positiva por parte do Estado na concretização das políticas
públicas. Em regra, são também analíticas e não conseguem produzir
todos os seus efeitos de plano, pois dependem da atuação dos
Quanto à Governantes.
FINALIDADE GARANTIAS (negativas ou liberais) – cuidam apenas daquelas normas
que não poderiam deixar de estar expressas numa Constituição.
Destacam-se no período inicial da consagração dos direitos relativos às
liberdades públicas e políticas nos textos constitucionais, já que
impunham a omissão ou a negativa de ação por parte dos países. São
normalmente sintéticas.

ORTODOXAS – são elaboradas com base em apenas uma ideologia.


São mais duras em relação à liberdade de expressão.
Quanto à
ECLÉTICAS – admitem pluralidade ideológica e são formadas de
IDEOLOGIA
acordo com vários pensamentos antagônicos que acabam se
conciliando.

NORMATIVAS – estão em consonância com a vida do Estado e


Quanto ao
conseguem efetivamente regular a vida política do Estado.
CRITÉRIO
ONTOLÓGICO NOMINATIVAS – NÃO conseguem efetivamente cumprir o papel de
(correspondência ou regular a vida política do Estado, apesar de elaboradas com este intuito.
não com a
SEMÂNTICAS – desde sua elaboração não têm o objetivo de regular a
realidade)
vida política do Estado, limitando-se apenas em dar legitimidade formal

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

aos atuais detentores do poder.

TEM Alguns autores sustentam que a CRFB/88 seria uma Constituição

DIVERGÊNCIA normativa, ou seja, que teria conseguido efetivamente se adequar à

DOUTRINÁRIA realidade. Outros autores, entretanto, sustentam que em verdade ela


seria nominativa (nominalista ou nominal), pois, embora tenha a
finalidade de regular a vida política do Estado, ainda não conseguiu
atingir seu objetivo.

1.3 ELEMENTOS

São as normas que cuidam da estrutura do Estado e as que definem


a forma de exercício e aquisição do poder.
ORGÂNICOS
Na CRFB/88, concentram-se, predominantemente, nos Títulos I (Dos
(organizacionais)
Princípios Fundamentais), III (Da Organização do Estado) e IV (Da
Organização dos Poderes).

Restringem a atuação do poder do Estado e fundamentam o próprio


Estado Democrático de Direito.

Estão representados no Título II, sob a rubrica de Direitos e Garantias


LIMITATIVOS
Fundamentais, dividido em quatro capítulos (Direitos Individuais e
Coletivos, Nacionalidade, Direitos Políticos e Partidos Políticos), o
capítulo II (Direitos Sociais), entretanto, entra na categoria seguinte.

Consubstanciados nas normas de conteúdo social, revelam as


prestações positivas e o compromisso do Estado com a justiça
social. São elementos que dependem da atuação futura do Estado
SOCIOIDEOLÓGICOS para se fazerem reais. São direitos de 2ª geração.

Como exemplos, pode-se citar: os Direitos Sociais (capítulo II do Título


II), os Títulos VII e VIII (respectivamente intitulados de Ordem
Econômica e Financeira e Ordem Social).

Estão consagrados nas normas destinadas a assegurar a solução de


conflitos constitucionais, a rigidez constitucional, a defesa do Estado
DE ESTABILIZAÇÃO e das instituições democráticas.
CONSTITUCIONAL Ex.: arts. 102, I, a (ADI), 34 a 36 (intervenção nos Estados e
Municípios), 60 (processo de emendas à Constituição) e o Título V,
capítulo I (Do Estado de Defesa e do Estado de Sítio).

FORMAIS DE São os que se encontram nas normas que apresentam regras de

12
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

APLICABILIDADE aplicação das Constituições.

Ex.: Preâmbulo, as disposições constitucionais transitórias e o art. 5º,


§1º.

1.4 EFICÁCIA e APLICABILIDADE das NORMAS CONSTITUCIONAIS

NORMAS DE EFICÁCIA PLENA – direta, imediata e


Normas
INTEGRAL, pois NÃO podem sofrer restrições no plano
AUTOAPLICÁVEIS –
infraconstitucional.
produzem efeitos desde
sua criação, não dependem Ex.: art. 1º, 2º, 5º, II, LXVIII a LXXIII (remédios constitucionais).

de atuação futura de seus NORMAS DE EFICÁCIA CONTIDA – direta, imediata e NÃO


governantes, têm incidência INTEGRAL, pois podem sofrer restrições ou condicionamentos
DIRETA (não precisam de futuros por parte do Poder Público.
intermediação legislativa) e
Ex.: arts. 5º, XII e XV, e 93, IX.
IMEDIATA (nascem e
É importante destacar que esse condicionamento pode ser feito
produzem seus efeitos de
por lei, por atos administrativos ou até mesmo por outra norma
plano)
constitucional.

Programáticas – traçam objetivos,


metas ou ideias que deverão ser
delineados pelo Poder Público para
que produzam seus efeitos jurídicos
Norma NÃO NORMAS DE EFICÁCIA
essenciais. Estão vinculadas
AUTOAPLICÁVEL – LIMITADA (ou reduzida)
normalmente aos direitos sociais de
dependem de atuação – produzem efeitos
2ª geração. Ex.: arts. 196, 205 e 211.
futura do Poder Público reduzidos, por
Institutivas (ou organizacionais) –
para que possam produzir dependerem da atuação
criam novos institutos, serviços,
seus efeitos jurídicos. do Poder Público.
órgãos ou entidades que precisam de
legislação futura para que ganhem
vida real. Ex.: arts. 93, 112, 113 e
134, §1º.

Importante destacar que NÃO há hierarquia entre as normas de eficácia plena, contida e
limitada. E todas elas produzem efeitos jurídicos (não existe norma constitucionais sem efeitos
jurídicos, vai variar somente quanto ao grau destes efeitos):

13
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

- Parâmetro de controle de constitucionalidade das leis;


EFICÁCIA NEGATIVA
- Parâmetro para recepção ou não recepção das normas
das Normas
anteriores;
Constitucional
- Fonte de interpretação.

1.5 CONCEPÇÕES ou SENTIDOS DA CONSTITUIÇÃO

Para Karl Schmitt, só é Constituição aquilo que dispuser sobre decisão


política fundamental, o que é materialmente constitucional.
POLÍTICO As normas formalmente constitucionais, inseridas no texto porque
passaram pelo mesmo processo de elaboração da Constituição, cujo
conteúdo não é considerado constitucional, são apenas leis constitucionais.

Ferdinan Lassali defendeu, em “a essência da Constituição”, que a


Constituição é o somatório dos fatores reais do poder. Ou seja, se a
SOCIOLÓGICO
Constituição não manifesta esses fatores reais do poder ela não passa de
mera norma escrita.

Para Kelsen, em “a teoria pura do direito”, a Constituição é norma pura,


JURÍDICO/ independentemente de valores sociológicos, políticos, questões históricas.
NORMATIVO A Constituição se embasa no seu próprio processo de elaboração e a norma
não precisa ser justa ou injusta para ser cumprida.

2 PODER CONSTITUINTE

2.1 CONCEITO

O poder que fundamenta a criação de uma nova Constituição 4 , a reforma desse texto
constitucional5 e, nos Estados Federativos, o poder que legitima a auto-organização por meio de
suas próprias Constituições6, bem como as respectivas reformas aos textos estaduais.

2.2 ESPÉCIES

4 Poder Constituinte Originário;


5 Poder Constituinte Derivado Reformador;
6 Poder Constituinte Derivado Decorrente.

14
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Poder Constituinte Originário (1º grau);


• Poder Constituinte Derivado (2º grau):
o Reformador (art. 60, CRFB/88);
o Decorrente (art. 11, do ADCT) – poder típico das federações.

A reforma da Constituição decorre do poder constituinte derivado ou instituído, que NÃO


dispõe da plenitude do poder constituinte originário e se superpõe ao legislativo originário. Tendo
por objeto de sua atuação a norma constitucional, o poder de reforma, na ampla acepção do
termo, apresenta-se como o constituinte de 2º grau, subordinado ao poder constituinte originário,
que é o responsável pela sua introdução no texto da Constituição e autor das regras que
condicionam o seu aparecimento e disciplinam a sua atividade normativa.

2.3 PODER CONSTITUINTE ORIGINÁRIO

2.3.1 Natureza Jurídica

Que se legitima no processo de criação da Constituição, que não


PODER DE FATO tem embasamento em valores existentes antes da sua criação. Ou
(positivistas) seja, a Constituição se legitima em si mesma e em seu processo
de criação e não nos valores anteriormente existentes.

Acreditam que seja um poder de direito natural, assim a nova


PODER DE DIREITO
Constituição NÃO poderia se afastar dos valores de igualdade e
(jusnaturalistas)
de liberdade anteriores à própria existência humana.

2.3.2 Titularidade X Exercício

CRFB/88, art. 1º, parágrafo único. Todo poder emana do povo, que o
exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos
desta Constituição.

Titular POVO

• Direto (POVO)
Exercício
• Indireto (Representantes)

Assim, o titular do poder nem sempre se confunde com o seu exercente.

15
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

2.3.3 Poder Constituinte FUNDACIONAL e PÓS-FUNDACIONAL

É o responsável pela fundação da primeira Constituição de um


FUNDACIONAL
determinado Estado. Ex.: Constituição de 1824.

PÓS-FUNDACIONAL É o responsável pela criação das demais Constituições.

2.3.4 Poder Constituinte DIFUSO – Georges Burdeau

= MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL
Formalmente as Constituições somente podem ser modificadas por Emendas
Constitucionais, na forma do art. 60, CRFB/88.
Entretanto, INFORMALMENTE , pode ser também modificada pelo fenômeno da
Mutação Constitucional, à luz de novos fatos, nova realidade, permitindo que a Constituição esteja
sempre conectada com a realidade do País. É uma mudança de sentido ou contexto SEM
alteração formal do dispositivo.

2.3.5 Poder Constituinte SUPRANACIONAL7

O século XX foi marcado por duas grandes e graves guerras mundiais, com o fim da 2ª
Guerra (em 1945), iniciou-se o processo de internacionalização dos direitos humanos. A partir
de então, nós passamos de titulares do poder constituinte apenas no plano interno do país para
titulares de um poder constituinte também externo (fora do Estado), o Poder Supranacional. Assim,
devemos ser respeitados onde quer que nos encontrarmos, pois o indivíduo, após a 2ª Guerra,
passou a ocupar o epicentro do ordenamento jurídico, sendo sujeito de direitos também no plano
internacional.

2.4 Características do PCO e do PCD

PCO PCD

1º grau 2º grau

Inicial Subordinado

Incondicionado (na forma) – não há forma Condicionado – retira fundamento de validade


predefinida da Constituição

7 Acima do Estado.

16
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Ilimitado (quanto ao direito positivo anterior)


Limitado materialmente
Limitado (quanto ao direito natural)

O PCO é ILIMITADO em relação ao direito positivo anterior por não precisar respeitar os limites
traçados na Constituição antiga (a exemplo do ato jurídico perfeito, do direito adquirido e da
coisa julgada), uma vez que cria um novo ordenamento jurídico.

Por outro lado, muitos autores sustentam que o PCO seria LIMITADO em relação ao direito
natural, que diz respeito aos valores superiores à própria existência, os ideais de igualdade, de
liberdade, os valores fundamentais, os quais foram consagrados ao longo dos anos e não
podem ser aniquilados.

2.5 Lei Orgânicas dos Municípios e do DF

LO dos Municípios
LO do DF
(art. 11, parágrafo único, do ADCT e art. 29,
(art. 32, CRFB/88)
da CRFB/88)

Fundamento na CRFB/88 e também na


Fundamento na CRFB/88
Constituição do Estado

O STF disse que tem STATUS DE


A doutrina majoritária diz que tem STATUS CONSTITUIÇÃO ESTADUAL e é
DE LEI e não de Constituição, não sendo, parâmetro do controle de
portanto, parâmetro do controle de constitucionalidade no DF.
constitucionalidade, mas sim do controle de Além disso, a corrente majoritária diz ser
legalidade. manifestação do Poder Constituinte Derivado
Decorrente.

2.6 PODER REFORMADOR

Alterações que a CRFB vai sofrendo ao longo dos anos.


• NÚCLEO – art. 60, CRFB/88;
• MANIFESTAÇÕES:
o Emendas Constitucionais (art. 60);
o Emendas de Revisão (art. 3º, ADCT) – também eram editadas respeitando o art.
60 da CRFB/88, salvo no que diz respeito ao quórum de aprovação, ou seja,
tinham que respeitar as cláusulas pétreas, embora o art. 3º do ADCT seja silente
neste sentido.

17
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

2.6.1 LIMITAÇÕES ao Poder Reformador

Segundo a doutrina majoritária, NÃO há limites temporais ao poder


reformador, ou seja, as emendas constitucionais poderiam ser criadas
no dia seguinte ao da promulgação da CRFB/88.
TEMPORAIS
A única Constituição brasileira na qual existia esta limitação foi a de
1824, que dizia, em seu art. 174, que, nos 4 anos seguintes à sua
outorga, a Constituição não poderia sofrer alterações.

• Intervenção FEDERAL8 (art. 34 a 36);


• Estado de Defesa; e
CIRCUNSTANCIAIS
• Estado de Sítio (art. 136 a 141).
(art. 60, §1º)
Para muitos autores, durante uma intervenção federal, NÃO se poderia
tampouco votar uma proposta de emenda, porque entre o voto e a
consequente promulgação não existe intervalo temporal.
Limitações relacionadas ao processo legislativo de criação das ECs.
• Rol TAXATIVO de legitimados ativos (legitimidade
concorrente – qualquer composição é permitida) – NÃO há iniciativa
popular para propor a PEC;
• Aprovação por MAIORIA QUALIFICADA (3/5) em 2
turnos de votação em cada Casa do Congresso Nacional;
FORMAIS • Promulgada pelas Mesas do CN, com seu respectivo número
(art. 60, I, II, III, §§ 2º, de ordem. Assim, NÃO há sanção ou veto do Presidente da República
3º e 5º) no processo de criação das ECs;
• PEC rejeitada NÃO pode ser objeto de nova proposta na
mesma sessão legislativa – art. 57 – é o período anual de trabalho dos
legisladores (≠ de Legislatura – art. 44, parágrafo único – é o período
de 4 anos de mandato), ou seja, a PEC rejeitada pode ser
reapresentada na mesma legislatura, desde que em sessão legislativa
diferente.

EXPRESSAS (art. 60, §4º) – CLÁUSULAS PÉTREAS – não seja


objeto de deliberação proposta de emenda tendente a abolir:
MATERIAIS
• Forma federativa de Estado - autonomia dos entes (art.
18), impossibilidade de secessão (art. 1º), repartição de

8 Intervenção FEDERAL e não estadual!

18
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

competência (EC 69/12), princípio da imunidade tributária


recíproca entre os entes (ADI 939), a criação do CNJ NÃO
violou o pacto federativo, por ser um órgão nacional (ADI
3367);
• Voto direto, secreto, universal e periódico:
o ≠ Sufrágio – que é a essência dos direitos políticos;
o A transformação do escrutínio secreto em aberto
NÃO violou esta cláusula, uma vez que o voto
protegido é o do eleitor aos seus representantes (art.
55, §2º, EC 76/2013);
o ATENÇÃO! O voto facultativo, se criado, NÃO
viola esta cláusula, visto que o voto obrigatório NÃO
a integra.
• Separação dos Poderes – preserva as funções típicas e
atípicas;
o A criação do CNJ, mais uma vez, não viola a
separação dos poderes, porque, embora aquele seja
órgão do Poder Judiciário, é desprovido de funções
judiciais típicas.
• Direitos e garantias individuais – são os direitos de 1º
dimensão, que envolvem liberdades públicas civis e
políticas; inclui o princípio da anterioridade em matéria
tributária (ADI 939), bem como o princípio da anterioridade
em matéria eleitoral (art. 16);
o Além disso, no âmbito doutrinário, o entendimento
mais importante é de que o inciso IV, do §4º do art.
60 protegeria o princípio da dignidade da pessoa
humana, ou seja, não se limitaria apenas aos direitos
e garantias individuais (de 1ª geração).

IMPLÍCITAS:
• Forma (República) e Sistema (Presidencialismo) de
Governo – após o plebiscito;
• Titularidade do Poder Constituinte – POVO;
• Art. 60 – rigidez constitucional.

2.7 JURISPRUDÊNCIAS

19
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

"Processo de reforma da Constituição estadual – Necessária observância dos requisitos


estabelecidos na CRFB/88 (art. 60, § 1º a § 5º) – Impossibilidade constitucional de o Estado-
membro, em divergência com o modelo inscrito na Lei Fundamental da República, condicionar a
reforma da Constituição estadual à aprovação da respectiva proposta por 4/5 da totalidade dos
membros integrantes da Assembleia Legislativa – Exigência que virtualmente esteriliza o exercício
da função reformadora pelo Poder Legislativo local.
A questão da autonomia dos Estados-membros (CRFB/88, art. 25) – Subordinação jurídica
do poder constituinte decorrente às limitações que o órgão investido de funções constituintes
primárias ou originárias estabeleceu no texto da Constituição da República (...)." (ADI 486, Rel.
Min. Celso de Mello, julgamento em 3-4-1997, Plenário, DJ de 10-11-2006.)

“As mudanças na constituição, decorrentes da "revisão" do art. 3º do ADCT, estão sujeitas


ao controle judicial, diante das "cláusulas pétreas" consignadas no art. 60, § 4º e seus incisos, da
Lei Magna de 1988”. [ADI 981 MC, rel. min. Néri da Silveira, j. 17-12-1994, P, DJ de 5-8-1994.]

“O poder constituinte derivado NÃO é ilimitado, visto que se submete ao processo


consignado no art. 60, § 2º e § 3º, da CRFB/88, bem assim aos limites materiais, circunstanciais e
temporais dos parágrafos 1º, 4º e 5º do aludido artigo. A anterioridade da norma tributária, quando
essa é gravosa, representa uma das garantias fundamentais do contribuinte, traduzindo uma
limitação ao poder impositivo do Estado”. [RE 587.008, rel. min. Dias Toffoli, j. 2-2-2011, P, DJE
de 6-5-2011, com repercussão geral.]

“Não precisa ser reapreciada pela Câmara dos Deputados expressão suprimida pelo
Senado Federal em texto de projeto que, na redação remanescente, aprovada de ambas as Casas
do Congresso, não perdeu sentido normativo.” (ADI 3.367, Rel. Min. Cezar Peluso, julgamento em
13-4-2005, Plenário, DJ de 22-9-2006.)

"O STF admite a legitimidade do parlamentar – e somente do parlamentar – para impetrar


mandado de segurança com a finalidade de coibir atos praticados no processo de aprovação de
lei ou emenda constitucional incompatíveis com disposições constitucionais que disciplinam o
processo legislativo. Precedentes do STF: MS 20.257/DF, Min. Moreira Alves (leading case) (RTJ
99/1031); (MS 24.667-AgR, Rel. Min.Carlos Velloso, julgamento em 4-12-2003, Plenário, DJ de

20
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

23-4-2004.)”

3 DA INTERPRETAÇÃO DA NORMA
CONSTITUCIONAL

3.1 HERMENÊUTICA ≠ INTERPRETAÇÃO

HERMENÊUTICA INTERPRETAÇÃO

É a ciência, o estudo teórico, que extrai dos


símbolos (artigos, parágrafos, incisos e
É a ferramenta utilizada pela a hermenêutica,
alíneas), por meio dos métodos de
usa de métodos (elementos).
interpretação e dos princípios, o sentido mais
próximo ao real.

3.2 MÉTODOS (ou elementos) CLÁSSICOS

Escola de Savigny, 1840:

LITERAL A lei significa o que nela está escrito, sendo o ponto de partida do legislador,
(ou gramatical) mas, na maioria das vezes, não é o seu ponto de chegada.

Trata-se de uma interpretação histórico-evolutiva, haja vista que não leva


HISTÓRICO em consideração apenas a realidade jurídica à época da criação da norma
constitucional, mas também a evolução de seus institutos até os dias atuais.

Determina que a interpretação mais qualificada é aquela que conjuga todas


SISTEMÁTICO as normas constitucionais que versam sobre aquele determinado tema,
evita a interpretação isolada dos dispositivos.

Reconhece que o direito NÃO é um fim em si mesmo, assim os meios


necessários para alcançar as finalidades pretendias também são
TELEOLÓGICO importantes e devem estar em conformidade com o que se espera do
direito. É um método que analisa a “ratio” dos institutos, o que se quis com
a norma constitucional, o seu sentido.

3.3 O PÓS-GUERRA: A NORMATIVIDADE DOS PRINCÍPIOS

Doutrina de Dworkin, Alexy, Canotilho, Paulo Bonavides etc.

21
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

A interpretação constitucional sofreu uma grande mudança no ano de 1945.


Até 1945, o positivismo jurídico sustentava que a norma era a regra, a lei, aplicada mediante
o método da subsunção (um fato ocorria e a lei iria sobre ele incidir), não se defendia a
normatividade dos princípios, os quais só eram aplicados quando as regras (leis) não
conseguissem resolver os conflitos apontados.

ANTES de NORMA = REGRA (lei objetiva, descritiva e concreta)


1945 MÉTODO DA SUBSUNÇÃO

NORMA = REGRA + PRINCÍPIOS (norma de valor - subjetivos, abertos,


DEPOIS
compromisso com a justiça)
de 1945
MÉTODO DA PONDERAÇÃO

3.4 PRINCÍPIOS DA HERMENÊUTICA CONTEMPORÂNEA

• Supremacia da Constituição;
• Unidade Constitucional:
o Normas constitucionais (convivem de forma harmoniosa):
▪ Princípios;
▪ Regras.
• Concordância Prática (harmonização) – o ponto de partida é o princípio da unidade
constitucional, presume-se que as normas não colidem entre si. Entretanto, aqui a visão é mais
dinâmica, otimizando as normas em conflito ao invés de esvaziar o conteúdo de uma delas para a
solução deste, pois o direito que irá prevalecer vai depender muito do caso;
• Efeito integrador (eficácia integradora) – a Constituição é um instrumento comunitário,
de mudança, que interfere na vida das pessoas. Não vai existir em todas as decisões, mas, quando
for possível, é bom que o intérprete o adote.
• Justeza (conformidade funcional) – impõe limites à atuação do intérprete, ou seja, não
se pode violar a Constituição sob o argumento de se estar realizando a interpretação da norma;
• Máxima efetividade das normas constitucionais – deve-se extrair o máximo de
efeitos jurídicos de todas as normas da Constituição, inclusive as programáticas. Isso porque o
caráter programático das normas sociais, por exemplo, não impede o intérprete de dar sua máxima
efetividade, tampouco impede de se reivindicar sua efetivação em juízo, pois todos os direitos
fundamentais geram DIREITOS PÚBLICOS SUBJETIVOS ;
• Presunção de constitucionalidade das leis:
o Normas constitucionais:

22
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

▪ ORIGINÁRIAS – presunção ABSOLUTA de constitucionalidade;


▪ DERIVADAS (ECs) e as normas infraconstitucionais – presunção
RELATIVA de constitucionalidade.
• Interpretação conforme a Constituição – é um princípio da hermenêutica e também
um método de decisão no controle de constitucionalidade (art. 28, parágrafo único, Lei 9868/99).
O intérprete, partindo de uma lei plurissignificativa (até para prestigiar o papel democrático do
processo legislativo), deve adotar a interpretação em conformidade com a Constituição (fixa a
interpretação) e afastar todas as demais formas equivocadas/contrárias à esta;
• Razoabilidade/Proporcionalidade (art. 5º, LIV) – alguns autores dizem que tais
princípios possuem natureza fungível, pois têm valores comuns, ou seja, defendem a
racionalidade, o bom senso, a vedação aos arbítrios e o ideal maior da justiça;
o Razoabilidade (comum law) – nasceu do devido processo legal substantivo do
direito norte-americano no final do século XVIII. Razoável é a decisão
harmônica, que compatibiliza os meios e os fins (decisão equilibrada);
o Proporcionalidade (civil law) – foi desenvolvida pelos europeus no fim da 2º
guerra mundial (século XX):
▪ Princípio da Adequação – adequada é a medida ou a lei capaz de atingir
determinada finalidade;
▪ Princípio da Necessidade – necessária é aquela que, se comparada a
outras tão importantes quanto, restringe o direito em menor escala;
▪ Proporcionalidade em sentido estrito = razoabilidade.
o ATENÇÃO! Deve-se aplica-los quando a lei/ato normativo parecer injusto,
arbitrário.

4 NEOCONSTITUCIONALISMO

Antes da CRFB/88, era a supremacia da lei, desde então é a SUPREMACIA DA


CONSTITUIÇÃO.

Características:
• Constitucionalização do ordenamento jurídico – passou-se a falar dos princípios
processuais à luz da Constituição, da constitucionalização do direito civil, da ordem econômica
compromissória constitucional. Esse novo constitucionalismo prestigia muito os princípios como
fontes das decisões (a normatividade dos princípios);
• Renovação da Teoria das Fontes – prestigiando ainda mais os princípios;
• Uma nova Teoria dos Princípios – analisando os princípios expressos e implícitos que

23
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

estão tão presentes no ordenamento constitucional;


• Desenvolvimento dos direitos fundamentais – busca a efetividade desses direitos;
• Atuação fortalecida do Poder Judiciário;
• Método da Ponderação – é o método de solução dos conflitos envolvendo os princípios
expressos e implícitos.

5 EMENDAS CONSTITUCIONAIS
AVULSAS (ATÉCNICAS)

Uma Emenda Constitucional altera formalmente o texto da Constituição, revoga,


acrescenta, renumera, ou seja, faz alterações formais.
A EMENDA CONSTITUCIONAL AVULSA, por sua vez, é uma norma constitucional
derivada, presumida relativamente constitucional, serve como parâmetro de controle de
constitucionalidade, entretanto, NÃO faz alterações formais no texto da Constituição. Alguns
autores até dizem que não é muito técnica, pois não é o que se espera de uma Emenda
Constitucional.
Ex.: EC 91/2016 (Emenda da Janela Partidária) e EC 67/2010

6 MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL

É o processo INFORMAL de mudança da Constituição, que permite a reanálise do texto


à luz dos novos fatos, da nova realidade, permitindo que aquela esteja sempre em conformidade
com a realidade do País. É uma interpretação evolutiva da Constituição.

Sinônimos:
o Mudança informal da Constituição;
o Transição Constitucional;
o Poder Constituinte Difuso.

NÃO é um processo exclusivo do Poder Judiciário, pode ser feito também pelo Poder
Executivo e pelo Legislativo.
Entretanto, no Brasil, os exemplos de Mutação Constitucional foram decididos pelo STF
(guardião da Constituição), por meio das chamadas “viradas jurisprudenciais”. Ocorre a mutação
quando a Corte muda radicalmente o entendimento sobre um assunto constitucional.

24
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

“Há três situações que legitimam a Mutação Constitucional e a superação de jurisprudência


consolidada:

a) mudança na percepção do direito;

b) modificações na realidade fática;

c) consequência prática negativa de determinada linha de entendimento (...)” (STF, ADI 4764).

LIMITES:
o Cláusulas pétreas;
o Princípios fundamentais (princípio federativa, republicano, da separação dos
poderes, aqueles que caracterizam o Estado brasileiro) etc.

7 TEORIA GERAL DOS DIREITOS


FUNDAMENTAIS

7.1 DIMENSÕES DOS DIREITOS

Inauguram o movimento constitucionalista, fruto dos ideais iluministas do


século XVIII. Os direitos defendidos nessa geração cuidam da proteção das
liberdades públicas, civis e direitos políticos.
1ª DIMENSÃO
Nessa fase, o Estado teria um dever de PRESTAÇÃO NEGATIVA
(abstenção), isto é, um dever de nada fazer, a não ser de respeitar as
Constituições
liberdades do homem.
de 1824 e 1891
Seriam exemplos os direitos: à vida, à liberdade de locomoção, à liberdade
de opinião, à liberdade de expressão, à propriedade, à manifestação, ao voto,
ao devido processo legal.

Sob a inspiração principal do Tratado de Versalhes, de 1919, pelo qual se


definiram as condições de paz entre os Aliados e a Alemanha e a criação da
Organização Internacional do Trabalho (OIT), nasce a denominada segunda
2ª DIMENSÃO
dimensão de direitos fundamentais, que traz proteção aos direitos sociais,
econômicos e culturais, onde do Estado não mais se exige uma abstenção,
Constituição de mas, ao contrário, impõe-se a sua intervenção (PRESTAÇÃO
1934 POSITIVA).
Seriam exemplos os direitos: à saúde, ao trabalho, assistência social, à
educação e dos trabalhadores (olha para os hipossuficientes).

25
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Marcada pelo espírito de fraternidade ou solidariedade entre os povos, com


o fim da 2ª Guerra Mundial, a terceira dimensão representa a evolução dos
direitos fundamentais para avançar e proteger aqueles direitos decorrentes
3ª DIMENSÃO
de uma sociedade já modernamente organizada, que se encontra envolvida
em relações de diversas naturezas, especialmente aquelas relativas à
Constituições industrialização e densa urbanização.
de 1946 a 1988
Seriam exemplos os direitos: ao desenvolvimento, à paz, à comunicação,
à autodeterminação entre os povos e ao meio ambiente ecologicamente
equilibrado (direitos difusos e transindividuais).

OS NOVOS DIREITOS (globalização, pós-modernidade):

4ª DIMENSÃO Avanços tecnológicos, ciência, medicina, Biodireito.

5ª DIMENSÃO Paz mundial.

6ª DIMENSÃO Água potável.

7.2 EFICÁCIA HORIZONTAL E VERTICAL

EFICÁCIA HORIZONTAL EFICÁCIA VERTICAL

Entre particulares Entre Estado e Indivíduo

↔ ↕

Liberdade e autonomia da vontade (art. 5º, II)

NÃO existe autonomia da vontade absoluta, a


liberdade enfrenta limites previstos no
ordenamento jurídico. Assim, os direitos
fundamentais também se aplicam às relações
intersubjetivas, porém a premissa é a
Há supremacia do Interesse Público, mas o
liberdade. Então, os particulares, de início, são
indivíduo pode acionar o Estado quando se
livres para estabelecerem os negócios
sentir lesionado para obter a efetiva reparação.
jurídicos, os seus relacionamentos. Entretanto,
quando houver ofensa direta à Constituição, é
possível que os direitos fundamentais sejam
aplicados para resolver os conflitos,
reequilibrando as relações.

Ex.: relações de trabalho, consumeristas.

26
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

7.3 INCIDENTE DE DESLOCAMENTO DE COMPETÊNCIA PARA A


JUSTIÇA FEDERAL – IDC ou FEDERALIZAÇÃO DOS CRIMES
ENVOLVENDO DIREITOS HUMANOS

Objetivo: deslocar a competência da Polícia Civil para a Polícia Federal, se o caso estiver na
instância policial; ou, ainda, da Justiça Comum Estadual para a Justiça Federal, caso a situação
já esteja em grau de julgamento.

Art. 109, §5º, da CRFB/88 – Instituído pela EC 45/2004, para evitar que o Brasil venha ser
responsabilizado, por instâncias internacionais, pela omissão, negligência, por não conduzir o
inquérito ou fase processual de forma adequada.
O pedido do IDC pode ser feito a qualquer momento, desde o inquérito até o processo,
desde que os requisitos sejam preenchidos.

Requisitos (cumulativos):
o Grave violação de direitos humanos;
o Risco de sanção internacional;
o Negligência ou omissão, seja na fase policial ou na judicial.

É um instrumento do federalismo cooperativo, ou seja, os Estados e a União unem forças


para que as atribuições constitucionais sejam realizadas da forma mais ágil possível.

PGR (chefe do MPU) → STJ

8 TRATADOS SOBRE DIREITOS


HUMANOS

EC 45/2004 – CONSTITUCIONALIZAÇÃO DOS TIDH – acrescentou o §3º ao art. 5º da


CRFB/88.

Ex.: Em 2007, a Convenção Internacional das Pessoas com deficiência e o Protocolo


Facultativo. Em 2008, o CN aprovou de acordo com o art. 5º, §3º, ou seja, com status de
emenda (STATUS CONSTITUCIONAL). Em 2009, o Presidente promulgou o Decreto
6949/09.

Podem ser submetidos ao controle de constitucionalidade e, também, servem como parâmetro


de controle, pois têm status de Constituição.

27
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

ATENÇÃO! Os TIDH aprovados antes da EC 45/2004 e os NÃO incorporados de acordo com


o art. 5º, §3º, têm STATUS SUPRALEGAL (NÃO são parâmetro no controle de
constitucionalidade!).

Ex.: Pacto San José da Costa Rica9 – HC 87585/TO, RE 466343/SP (Info 531)

Súmula Vinculante nº 25. É ilícita a prisão civil de depositário infiel, qualquer que seja a
modalidade do depósito.

Os tratados que versam sobre outros temas, bem como os TIDH incorporados até 1988 (arts.
49, I, e 84, VIII):

• Presidente da República – assina;


• Congresso Nacional – Decreto Legislativo;
• Presidente da República:
o Ratifica;
o Decreto com status de Lei Ordinária Federal (STATUS LEGAL).

DECRETO LEGISLATIVO Nº 261, DE 2015 (*)

Aprova o texto do Tratado de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às


Pessoas Cegas, com Deficiência Visual ou com outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto
Impresso, concluído no âmbito da Organização Mundial da Propriedade Intelectual (OMPI),
celebrado em Marraqueche, em 28 de junho de 2013.

O Congresso Nacional decreta:

Art. 1º Fica aprovado, nos termos do § 3º do art. 5º da Constituição Federal, o texto do Tratado
de Marraqueche para Facilitar o Acesso a Obras Publicadas às Pessoas Cegas, com Deficiência
Visual ou com outras Dificuldades para Ter Acesso ao Texto Impresso, celebrado em
Marraqueche, em 28 de junho de 2013.

Parágrafo único. Ficam sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que
possam resultar em revisão do referido Tratado, bem como quaisquer ajustes complementares
que, nos termos do inciso I do art. 49 da Constituição Federal, acarretem encargos ou
compromissos gravosos ao patrimônio nacional.

Art. 2º Este Decreto Legislativo entra em vigor na data de sua publicação.

Senado Federal, em 25 de novembro de 2015.

9 NÃO revogou o art. 5º, LXVII, houve uma Mutação Constitucional.

28
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Esse decreto legislativo precisa ser submetido ao Presidente para a sua promulgação, por
meio de decreto presidencial. Por isso, até o momento, ele não está disponível com status de
emenda no site oficial do Planalto.

9 NACIONALIDADE

É um direito de primeira geração – Art. 12 da CRFB/88 e Lei 13.445/17.

9.1 CONCEITO

É o vínculo jurídico civil que liga o indivíduo a um certo e determinado Estado, fazendo-o
componente do povo e titular de direitos e de obrigações.

9.2 NACIONALIDADE ≠ CIDADANIA

NACIONALIDADE CIDADANIA

Está relacionada ao vínculo POLÍTICO , cujo


Gera um vínculo CIVIL. credenciamento se dá por meio do título de
eleitor.

9.3 Conceitos relacionados

APÁTRIDA SEM nacionalidade.

Aquele que possui mais de uma nacionalidade.

Dupla nacionalidade ≠ Dupla cidadania – nem todos


POLIPÁTRIDA que possuem mais de uma nacionalidade possuem,
necessariamente, mais de uma cidadania (exercem
direitos políticos em mais de um país).

Assim, nem todo nacional é cidadão, mas TODO CIDADÃO É NACIONAL.

EXCEÇÃO: O português EQUIPARADO a brasileiro naturalizado (art. 12, §1º, da CRFB/88)


poderá, satisfeitos os requisitos do Decreto 3.927/01, equiparar-se ainda a cidadão.

Ou seja, será um cidadão, detentor de direitos políticos no Brasil, estrangeiro, uma vez que
NÃO se naturalizou.

29
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

9.4 ESPÉCIES DE NACIONALIDADE

Nacionalidade é um assunto que interesse ao Estado, ou seja, de acordo com a Soberania


do Estado, a nacionalidade será determinada de acordo com as regras nacionais. A nacionalidade
originária ou derivada decorre da Constituição (art. 12, CRFB/88).

Decorre do NASCIMENTO , chamada também de involuntária, será


ORIGINÁRIA
estabelecida de acordo com critérios sanguíneos, territoriais ou mistos
(primária)
estabelecidos pelo próprio Estado.

DERIVADA Em regra, é obtida pelo PROCESSO DE NATURALIZAÇÃO, é uma


(secundária ou nacionalidade voluntária, devendo o indivíduo manifestar-se nesse
adquirida) sentido (manifestação de vontade).

9.5 CRITÉRIOS DE ATRIBUIÇÃO DE NACIONALIDADE ORIGINÁRIA

IUS SANGUINIS Filho de nacional, independentemente de seu local de nascimento.

Será nacional todo nascido no território do Estado, independentemente


IUS SOLIS
da nacionalidade de seus pais.

IUS SOLIS relativo ou NÃO absoluto.

REGRA GERAL NO BRASIL – nascido no Brasil, brasileiro nato


CRITÉRIO MISTO
será, mas é possível que o indivíduo tenha nascido no exterior e seja
considerado nacional originário.

ATENÇÃO! NÃO se revela possível, no sistema jurídico-constitucional brasileiro, a


aquisição da nacionalidade brasileiro jure matrimoni, vale dizer, como efeito direto e imediato
resultante do casamento civil.

9.6 TRATAMENTO DIFERENCIADO ENTRE BRASILEIROS

Art. 12, §2º, da CRFB/88. A lei NÃO poderá estabelecer distinção entre brasileiros natos e
naturalizados, salvo nos casos previstos nesta Constituição.

Hipóteses TAXATIVAMENTE previstas na CRFB/88 em nome do princípio da igualdade


(art. 12, §2º):

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Ministro do STF;

Presidente e Vice-Presidente da República;

Presidente da Câmara dos Deputados;


CARGOS
Presidente do Senado Federal;
(art. 12, §3º)
Carreira diplomática;

Oficial das Forças Armadas;

Ministro de Estado da Defesa.

FUNÇÃO Os 6 cidadãos brasileiros NATOS que fazem parte do Conselho da


(art. 89, VII) República (não remunerados).

• LI – nenhum brasileiro será extraditado, SALVO o naturalizado,


em caso de crime comum, praticado antes da naturalização, ou de
comprovado envolvimento em tráfico ilícito de entorpecentes e drogas
afins, na forma da lei;
• LII – NÃO será concedida extradição de estrangeiro por crime
político ou de opinião.
EXTRADIÇÃO
(PASSIVA – Brasil “O brasileiro nato, quaisquer que sejam as circunstâncias e a natureza
do delito, NÃO pode ser extraditado, pelo Brasil, a pedido de Governo
recebe o pedido de
estrangeiro, pois a CRFB/88, em cláusula que NÃO comporta exceção,
extradição)
impede, em CARÁTER ABSOLUTO , a efetivação da entrega
(art. 5º, LI e LII) extradicional daquele que é titular, seja pelo critério do jus soli, seja pelo
critério do jus sanguinis, de nacionalidade brasileira primária ou
originária.
Esse privilégio constitucional, que beneficia, sem exceção, o brasileiro
NATO (CRFB/88, art. 5º, LI), NÃO se descaracteriza pelo fato de o
Estado estrangeiro, por lei própria, haver-lhe reconhecido a condição de
titular de nacionalidade originária pertinente a esse mesmo Estado
(CRFB/88, art. 12, §4º, II, a)”.
Art. 222, da CRFB/88. A propriedade de empresa jornalística e de
radiodifusão sonora e de sons e imagens é PRIVATIVA de brasileiros
natos ou naturalizados há mais de dez anos, ou de pessoas jurídicas
constituídas sob as leis brasileiras e que tenham sede no País.

PROPRIEDADE §1º. Em qualquer caso, pelo menos setenta por cento do capital total e
do capital votante das empresas jornalísticas e de radiodifusão sonora e
de sons e imagens deverá pertencer, direta ou indiretamente, a
brasileiros natos ou naturalizados há mais de dez anos, que exercerão
obrigatoriamente a gestão das atividades e estabelecerão o conteúdo da
programação.

31
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

9.7 BRASILEIROS NATOS (art. 12, I, a, b, c)

Hipóteses TAXATIVAS !

a. Os nascidos na RFB, ainda que de pais estrangeiros,


desde que estes NÃO estejam a serviço de seu país;

Critério do IUS SOLI


OBS.: Filho(a) de brasileiro(a) nascido(a) em território nacional
será SEMPRE brasileiro(a) nato(a).

b. Os nascidos no estrangeiro, de pai brasileiro ou mãe


brasileira, desde que qualquer deles esteja a serviço da RFB; Critério do IUS
SANGUINIS

“Esteja a serviço da RFB” = a serviço da Administração Pública +


Direta ou Indireta de qualquer das esferas (federal, estadual, Critério FUNCIONAL
distrital ou municipal).

c. Os nascidos no estrangeiro de pai brasileiro ou de mãe


brasileira, desde que sejam registrados em repartição brasileira
competente ou venham a residir na RFB e optem, em qualquer
tempo, depois de atingida a maioridade, pela nacionalidade
brasileira.
Critério do IUS
SANGUINIS
• Nacionalidade POTESTATIVA – Ação de
+
Confirmação de Nacionalidade perante a Justiça Federal (art.
Registro em repartição
109, X) – Processo de Jurisdição Voluntária – proposta pelo
brasileira
próprio filho, pois a nacionalidade é um direito personalíssimo.
• Art. 95, ADCT; OU

• “Vindo o nascido no estrangeiro, de pai brasileiro ou +


de mãe brasileira, a residir no Brasil, ainda menor, passa a ser
Residência no Brasil +
considerado brasileiro nato (Nacionalidade brasileira
Manifestação de vontade
provisória), sujeita essa nacionalidade à manifestação da
vontade do interessado, mediante a opção, depois de atingida a
maioridade. Atingida a maioridade, enquanto não manifestada a
opção, esta passa a constituir-se em condição suspensiva da
nacionalidade brasileira”.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

9.8 BRASILEIROS NATURALIZADOS (art. 12, II, a, b)

NÃO há naturalização tácita ou por decurso de prazo, aquela depende SEMPRE de


manifestação de vontade.

a. Os que, na forma da lei (art. 65, Lei 13.445/2017),


adquiram a nacionalidade brasileira, exigidas aos originários de
países de língua portuguesa apenas a residência por um ano
ininterrupto e idoneidade moral.

Naturalização
ORDINÁRIA É um ato DISCRICIONÁRIO do Poder Público, ou seja, ainda que
preenchidos os requisitos é possível que se negue a aquisição da
nacionalidade.

O processo de naturalização tramita perante o Ministério da Justiça,


é um processo administrativo.

b. Os estrangeiros de qualquer nacionalidade, residentes na


RFB há mais de quinze anos ininterruptos e sem condenação penal,
Naturalização
desde que requeiram a nacionalidade brasileira.
EXTRAORDINÁRIA
ou QUINZENÁRIA
É um ato VINCULADO , ou seja, preenchidos os requisitos, a
naturalização deve ser deferida – art. 67, Lei 13.445/2017.

Naturalização
c. Arts. 64, III, e 68, da Lei 13.445/2017.
ESPECIAL

Naturalização
d. Arts. 64, IV, e 70, da Lei 13.445/2017.
PROVISÓRIA

9.9 PERDA DA NACIONALIDADE

Hipóteses TAXATIVAS ! Se esgotam na Constituição e NÃO podem ser ampliadas por


legislação infraconstitucional. Será declarada a perda da nacionalidade do brasileiro que (art. 12,
§4º, I e II, da CRFB/88):

I. Brasileiro NATURALIZADO – Somente se pode readquirir a nacionalidade,


tiver cancelada sua naturalização, por neste caso, por meio de uma ação rescisória,
sentença judicial, em virtude de atividade uma vez que foi cancelada por meio de uma Ação
nociva ao interesse nacional (perda- de Cancelamento de Naturalização proposta pelo
SANÇÃO ou PUNIÇÃO); MPF na Justiça Federal de 1º Grau (art. 109, X).

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

II. Brasileiro NATO ou NATURALIZADO – adquirir outra


nacionalidade (perda-MUDANÇA ou ADMINISTRATIVA), SALVO Neste caso, ante a
nos casos: perda, para readquirir
a. de reconhecimento de nacionalidade originária pela lei a nacionalidade
estrangeira; brasileira, basta um
b. de imposição de naturalização, pela norma estrangeira, requerimento
ao brasileiro residente em estado estrangeiro, como condição para administrativo.
permanência em seu território ou para o exercício de direitos civis.

10 REMÉDIOS CONSTITUCIONAIS

10.1 VISÃO HISTÓRICA

Remédio Constitucional Ano de surgimento Regulamentação

HC 1891 No Código Penal

Previstos MSI 1934 Na Lei nº 12.016/2009

na AP 1934 Na Lei nº 4.717/65


CRFB/88 HD 1988 Na Lei nº 9.507/97

MI 1988 Na Lei nº 13.300/2016

MSC 1988 Na Lei nº 12.016/2009

10.2 VISÃO GERAL

10.2.1 HABEAS CORPUS

Tutela a liberdade de ir e vir que esteja ameaçada ou que já tenha sofrido lesão (art. 5º,
XV).
o Base constitucional – Art. 5º, LXVIII;
o Pode ser: preventivo ou repressivo;
o É uma ação GRATUITA (art. 5º, LXXVII).

10.2.2 HABEAS DATA

Tutela a intimidade, a vida privada das pessoas (art. 5º, X) e informações pessoais (art. 5º,

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

XXXIII).
o Base constitucional – Art. 5º, LXXII;

Na CRFB/88, o HD nasceu com a finalidade de conhecer ou retificar dados pessoas.


Entretanto, a Lei 9.507/97 trouxe uma terceira finalidade, a de complementar tais dados.

ATENÇÃO! Na ação de HD proposta, cabe somente uma das possibilidades de pedidos:


conhecer OU retificar OU complementar dados pessoais.

Art. 8º, Lei 9507/97 e Súmula nº 2, do STJ

NÃO cabe HD se NÃO houver recusa da informação por parte da autoridade administrativa.
E o decurso do tempo faz prova da recusa do dado.

O HD é um remédio PERSONALÍSSIMO , somente pode ser autor o titular do dado,


pessoa natural ou pessoa jurídica nacional ou estrangeira.

NÃO cabe HD para acessar dados sobre terceiros, SALVO o herdeiro, que pode acessar
dados do falecido, retificá-los ou complementá-los.

10.2.3 MANDADO DE INJUNÇÃO

MI ≠ ADO

É uma AÇÃO DO CONTROLE


É um REMÉDIO CONSTITUCIONAL.
CONCENTRADO .

Processo OBJETIVO – sem partes, sem lide,


sem pretensão resistida de interesses.
Processo SUBJETIVO – com partes, com
Combate a omissão legislativa de forma
lide, com pretensão resistida de interesses.
abstrata, voltada para a defesa da efetividade
da CRFB/88.

MI Individual – por qualquer pessoa;

MI Coletivo – legitimados no art. 12, Lei Legitimados – art. 103, I a IX, da CRFB/88.
13.300/2016.

Visa defender DIREITO FUNDAMENTAL Visa defender NORMAS


previsto na Constituição dependente de CONSTITUCIONAIS dependentes de
regulação. regulamentação.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

10.2.4 AÇÃO POPULAR

Legitimidade EXCLUSIVA do CIDADÃO (em gozo de seus direitos políticos).


o Base constitucional – art. 5º, LXXIII;
o Súmula nº 365, STF;
o Ação da cidadania, utilizada para defender direitos difusos (coletividades
indeterminadas);
o Se proposta de boa-fé – GRATUITA; Se de má-fé – ONEROSA.

10.2.5 MANDADO DE SEGURANÇA

Possui uma natureza RESIDUAL, pois somente será cabível se não couber nenhuma
outra ação mais específica.
o Direito líquido e certo;
o Prova PRÉ-CONSTITUÍDA (documental).

11 DIREITOS POLÍTICOS

Democracia (Participativa
Regime Político → ou Semidireta)
↓ Art. 1º, parágrafo único,
Soberania Popular da CRFB/88
Tem como base a →

A qual se manifesta por meio dos → Direitos Políticos

11.1 Manifestações do Sufrágio10

Somente outorga o direito de voto àqueles que preencherem certas


Censitário
qualificações econômicas.

Aquele que só outorga o direito de voto àqueles que cumprirem com certas
Capacitário características especiais, notadamente de natureza intelectual. Ex.: as
mulheres não votavam na época das Constituições de 1824 e 1891, a primeira

10SUFRÁGIO é a essência dos direitos políticos, é o direito público subjetivo político que permite que o
indivíduo participe da formação da vontade nacional.

36
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Constituição brasileira a garantir o voto feminino foi a de 1934; enquanto que


somente com a Constituição de 1988 que os analfabetos adquiriram tal direito.

Vigente na Constituição de 1988 (art. 14), NÃO exige para os exercícios do


Universal direito de voto a satisfação de nenhuma condição econômica, profissional ou
intelectual, com as necessárias ponderações.

11.1.1 DIREITOS POLÍTICOS POSITIVOS – ativos e passivos

a) Alistamento eleitoral

Processo INDISPENSÁVEL para ser considerado cidadão no Brasil.

Art. 14, §1º

• Maiores de 16 e menores de 18 anos;


FACULTATIVO • Analfabetos;
• Maiores de 70 anos.

OBRIGATÓRIO • Maiores de 18 e menores de 70 anos.

Art. 14, §2º

• Estrangeiros;
o ATENÇÃO! Português equiparado a brasileiro
INALISTÁVEIS naturalizado que tenha preenchido os requisitos do
Decreto 3927/2001 – equiparado a cidadão.
• Conscritos (aquele que está cumprindo o serviço militar obrigatório).

b) Manifestações políticas ATIVAS

• Projetos de leis podem ser apresentados pelo


povo (1% dos eleitores do país divididos em pelo menos 5
INICIATIVA POPULAR estados brasileiros e o número de eleitores não pode ser
inferior a 0,3% do eleitorado local).

Art. 61, §2º (Lei 9709/98), 27, • NÃO há iniciativa popular para a apresentação de

§4º, e 29, XIII, todos da PEC.

CRFB/88 • Nos Estados, LEI disporá sobre.


• Nos Municípios, tem que ter manifestação de 5%
do eleitorado.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

PLEBISCITO e REFERENDO • PLEBISCITO - manifestação PRÉVIA;


• REFERENDO - manifestação POSTERIOR.

art. 49, XV, da CRFB/88 (e art. • São, no plano federal, convocados pelo
2º, da Lei 9709/98) Congresso Nacional por meio de Decreto Legislativo.

AÇÃO POPULAR

• Somente pode ser proposta pelo CIDADÃO.


Art. 5º, LXXIII, da CRFB/88 e
art. 1º, §3º, da Lei 4717/65

• É uma CLÁUSULA PÉTREA – voto direito,


secreto, universal e periódico.
VOTO
• NÃO há impedimento jurídico a que o VOTO
FACULTATIVO seja estabelecido no país, pois a
Art. 60, §4º, II, da CRFB/88
obrigatoriedade formal de comparecimento às urnas NÃO é
cláusula pétrea.

ACUSAÇÃO POR CRIME DE


RESPONSABILIDADE
CONTRA O PRESIDENTE DA • Atividade privativa do CIDADÃO;
REPÚBLICA • Apresentada perante a Câmara dos Deputados.

Art. 14, Lei 1079/50

c) Manifestações políticas PASSIVAS

São condições de elegibilidade (art. 14, §3º, CRFB/88 – requisitos CUMULATIVOS ):


o Nacionalidade brasileira – natos ou naturalizados;
▪ ATENÇÃO! Art. 12, §3º.
o Pleno exercício dos direitos políticos;
o Alistamento eleitoral;
o Domicílio eleitoral na circunscrição;
o Filiação partidária – segundo a CRFB, NÃO se permite candidatura avulsa (sem
filiação);
o Idade mínima (VI) – comprovada no ato da POSSE , EXCETO o vereador, que
deve comprovar 18 anos no ato de registro da candidatura.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

11.1.2 DIREITOS POLÍTICOS NEGATIVOS

a) Inelegibilidades

Afetam os direitos políticos passivos, ou seja, inelegível é aquele que NÃO pode ser eleito.

• Inalistáveis:
ABSOLUTAS
o Estrangeiros;
o Conscritos.
Art. 14, §4º • Analfabetos.
ROL TAXATIVO
Este rol NÃO pode ser ampliado por legislação infraconstitucional.

• §5º - Titulares de cargos do executivo somente podem se


reelegerem uma única vez consecutivamente11.
o ATENÇÃO! O STF decidiu que o Prefeito reeleito
NÃO pode se candidatar ao cargo de prefeito pelo
mesmo município ou qualquer município próximo
(chamado Prefeito Itinerante), o tribunal entende
que isso comprometeria a democracia.

RELATIVAS
• §6º - DESINCOMPATIBILIZAÇÃO – os titulares de
cargos do executivo que pretenderem concorrer a outro cargo eletivo
Art. 14, §§ 5º, 6º, 7º e
têm que renunciar 6 MESES antes do pleito.

o NÃO há, no entanto, desincompatibilização em caso
de reeleição!

• §7º - INELEGIBILIDADE REFLEXA – atinge familiares


dos titulares de cargos do executivo ou de quem os tenha substituído
nos últimos seis meses anteriores ao pleito (no âmbito do cargo).

§9º - Este rol PODE ser ampliado por legislação infraconstitucional (LC
64/90).
INELEGIBILIDADE REFLEXA (§7º)

Visa evitar o paternalismo familiar no poder, comprometendo o princípio democrático.

Família (art. 226, §3º, da CRFB/88) – cônjuge, companheiro, pais, avós, filhos, netos, irmãos,
sogros, genros, noras, cunhados.

11Tal regra NÃO atinge os Vice-Prefeitos. Além disso, o Titular NÃO pode nem mesmo se candidatar a
Vice na 3ª vez consecutiva.

39
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

SALVO se já titular de mandato eletivo e candidato à REELEIÇÃO.

Súmula Vinculante nº 18. A dissolução da sociedade ou do vínculo conjugal, no curso do


mandato, não afasta a inelegibilidade prevista no §7º do art. 14 da CRFB/88.

ATENÇÃO! Entretanto, NÃO atrai a aplicação do entendimento constante da referida súmula


a extinção do vínculo conjugal pela MORTE de um dos cônjuges.

RENÚNCIA – é uma forma de afastar a inelegibilidade reflexa.

• Se apresentada no 1º mandato – afasta por COMPLETO a inelegibilidade, pois a


família pode concorrer a qualquer cargo naquele território, inclusive ao cargo antes ocupado
pelo renunciante, nesse último caso, no entanto, o familiar eleito NÃO poderá se candidatar à
reeleição.
• Se apresentada no 2º mandato – afasta a inelegibilidade somente em relação aos
demais cargos, NÃO podendo nenhum familiar se candidatar ao cargo antes ocupado pelo
renunciante, pois se teria três mandatos consecutivos com a mesma família no poder.

ATENÇÃO! O STF entendeu ser inelegível para o cargo de prefeito de município resultante
de desmembramento territorial o irmão (a família) do atual chefe do poder executivo do
município-mãe. O regime jurídico das inelegibilidades comporta interpretação construtiva dos
preceitos que lhe compõem a estrutura normativa. O mesmo ocorre em relação ao governador
de novo Estado.

Em todo caso, os familiares dos Vices somente são atingidos pela inelegibilidade se estes
substituírem os titulares nos últimos 6 MESES do mandato.

b) Perda e Suspensão

Afastam os direitos políticos positivos ativos e passivos (NÃO podem votar e nem se
eleger).
É VEDADA a cassação de direitos políticos (retirada sem fundamentação).

• Art. 15, da CRFB/88:

PERDA
SUSPENSÃO
Gera o CANCELAMENTO do título de
PARALIZAÇÃO temporária.
eleitor.

I – Cancelamento da naturalização por


II – Incapacidade civil absoluta (art. 3º, do CC);
sentença transitada em julgado (art. 12, §4º, I);

40
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

III – Condenação criminal transitada em


julgado, enquanto durarem seus efeitos
IV – Recusa de cumprir obrigação a todos
(INDEPENDENTEMENTE da pena – pois
imposta ou prestação alternativa, nos termos
“não é o recolhimento do condenado à prisão
do art. 5º, VIII (escusa/imperativo de
que justifica a suspensão de seus direitos
consciência).
políticos, mas o juízo de reprovabilidade
expresso na condenação”);

Para parte da doutrina, a hipótese do inciso IV


do art. 15, da CRFB/88 é de PERDA, pois o
tema foi tratado dessa forma nas Constituições
anteriores, porém o assunto é polêmico e
alguns doutrinadores também sustentam ser V – Improbidade administrativa nos termos do
hipóteses de SUSPENSÃO , porque, uma art. 37, §4º.
vez cumprida e regularizada a situação, o
indivíduo vai readquirir a possibilidade de
exercer os seus direitos políticos e a legislação
também caminha neste sentido.

11.2 AÇÃO DE IMPUGNAÇÃO DE MANDATO ELETIVO

• Art. 14, §§ 10 e 11, da CRFB/88.

Ação constitucional usada para invalidar a diplomação obtida de forma fraudulenta, com
abuso de poder econômico, com corrupção.
Tramitará em segredo de justiça, respondendo o autor, na forma da lei, se temerária ou de
manifesta má-fé.
É necessário prova PRÉ-CONSTITUÍDA.

ATENÇÃO! A diplomação é a confirmação de que a eleição ocorreu de forma válida, é o


credenciamento para a posse (no ano seguinte). Assim, a AIME pode ser proposta em até 15
dias a DIPLOMAÇÃO.

11.3 PRINCÍPIO DA ANTERIORIDADE ELEITORAL

Art. 16, da CRFB/88 – é considerado CLÁUSULA PÉTREA.

41
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

12 PARTIDOS POLÍTICOS

São pessoas jurídicas de direito privado.


o Art. 17, da CRFB/88
o Lei 9096/95.

§1º - Os partidos políticos têm autonomia para adotar os critérios de escolha e o regime
de suas coligações (grupos de partidos) somente nas eleições MAJORITÁRIAS 12, VEDADA
sua celebração nas eleições proporcionais13. Ou seja, NÃO há coligação partidária para o
sistema proporcional.

EC 97/2017 – art. 2º. A vedação à celebração de coligações nas eleições proporcionais,


prevista no §1º do art. 17 da CRFB/88, aplicar-se-á a partir das eleições de 2020. (Regra de
transição)

ATENÇÃO! Os partidos políticos são legitimados UNIVERSAIS , NÃO precisam


comprovar pertinência temática nas ações (interpretação dada ao art. 103, VIII, da CRFB/88).

§3º - CLÁUSULA DE BARREIRA (Cláusula de Desempenho) – limita o acesso ao fundo


partidário (arts. 38 e 44, da Lei 9096) e à rádio e à televisão – propaganda Eleitoral Gratuita (art.
45, Lei 9096).

EC 97/2017 – art. 3º. Aplicar-se-á a partir das eleições de 2030. (Regra de transição)

O STF decidiu que os parlamentares eleitos pelo SISTEMA PROPORCIONAL


precisam ser fieis a seus partidos. A FIDELIDADE PARTIDÁRIA é, portanto, indispensável
à manutenção do mandato daqueles. Visto que, no sistema proporcional, os votos seguem para
o partido, ao contrário do que ocorre no majoritário, no qual os votos seguem para o parlamentar.
Assim, a troca de partido político, no primeiro caso, gera a PERDA do mandato se sem
justificativa, e seu PARTIDO DE ORIGEM elegerá um sucessor.

13 DIREITOS SOCIAIS

• Direitos de 2º dimensão;
• Primeira Constituição Social no Brasil – 1934;

12 Demais eleições.
13 Eleições de Deputados Federais, Estaduais, Distritais e Vereadores.

42
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Trazem a ideia de igualdade material (real);


• Exigem do Estado prestações positivas;
• As normas sociais têm um conteúdo programático;
• Envolvem necessidades que são ILIMITADAS e, de outro lado, recursos
orçamentários LIMITADOS . Por isso, os olhares estão voltados àqueles que mais precisam do
Estado, os hipossuficientes.

13.1 PRINCÍPIOS

a) MÍNIMO EXISTENCIAL

Está associado ao princípio da dignidade da pessoa humana, ou seja, se não há recursos


que atendam a todos, que tais recurso estejam à disposição daqueles que mais precisam do
Estado.

Dignidade da pessoa humana:


o Princípio implícito – art. 5º, III;
o Fundamento da República – art. 1º, III;
o Cláusula pétrea – art. 60, §4º, IV.

b) RESERVA DO POSSÍVEL

Composto pelo binômio:


o razoabilidade da pretensão deduzida em juízo (individual ou coletiva); e
o disponibilidade financeira do Estado.

ATENÇÃO! ADPF 45 – Ministro Celson de Melo diz que a reserva do possível somente
configura obstáculo à concretização dos direitos sociais se realmente o Estado comprovar de
forma OBJETIVA que NÃO pode reorganizar os recursos para cumprir aquela demanda.

• Art. 23, II, da CRFB/88 – o direito à SAÚDE é de responsabilidade solidária dos entes,
qualquer um deles pode ser demandado – competência comum/cumulativa/paralela.
• O conteúdo programático nas normas que tratam de direitos sociais NÃO impede
a sua concretização, pois TODOS os direitos fundamentais geram direito público subjetivo e
podem e devem ser reivindicados em juízo (art. 5º, XXXV, da CRFB/88).

Assim, o Poder Judiciário pode atuar nas políticas públicas omissas ou prestadas de forma
indevida, desde que se respeite os princípios do mínimo existencial e da reserva do possível e

43
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

a decisão seja razoável, proporcional.

14 ORGANIZAÇÃO DO ESTADO

14.1 FEDERAÇÃO

• Estado Composto;
• Há uma descentralização político-administrativa, o poder NÃO é concentrado nas mãos
da União como era na época do Império (Estado Unitário);
• O Brasil tornou-se um País Federativo no dia 15 de novembro de 1889 – Proclamação
da República.

14.1.1 Características da Federação

a) Autonomia

• Arts. 1º e 18, da CRFB/88.

Os entes que compõem a Federação são todos AUTÔNOMOS e possuem capacidade


de poder político.
Movimento centrífugo e de segregação, diferente do americano (centrípeto e de
agregação).

Entes Federativos:
o União;
o Estados;
o Distrito Federal; e
o Municípios.

Tais entes possuem AUTONOMIA (capacidade de poder político internamente


observada), são Pessoas Jurídicas de Direito Público INTERNO e possuem Tríplice Capacidade:
autogoverno, auto-organização e autoadministração.

≠ Soberania (art. 1º, I, da CRFB/88) – que é o fundamento da República Federativa do Brasil


(Pessoa Jurídica de Direito Público EXTERNO – internacional) e reconhecimento perante o
ordenamento internacional.

44
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

b) Federalismo Tricotômico

Tem três manifestações de poder (local, regional e nacional – Município, Estado/DF e União
respectivamente), em vez de duas, como no federalismo clássico, dual (nacional e regional), norte
americano.

c) Repartição de Competências

Descentralização política, significando que a divisão do poder será realizada através de


repartição constitucional de competência. De acordo com os arts. 21 a 24, 25 e 30, a CRFB
delimitou a esfera de poder interno de cada um dos seus entes.

Se a matéria for de interesse nacional, caberá a competência à


PRINCÍPIO DA União;
PREDOMINÂNCIA DE
Se de interesse regional, ao Estado;
INTERESSES
Se de interesse local, aos Municípios.

• Legislativas;
• Materiais (políticas ou administrativas);
• Tributárias.

Competências MATERIAIS (administrativas):


• Art. 21 – competências EXCLUSIVAS da união;
o ATENÇÃO! Indelegáveis.
• Art. 23 – competências COMUNS (cumulativas ou
paralelas) dos entes: U, E, DF e M.
CLASSIFICAÇÃO DE o Manifestação do Federalismo Cooperativo;
COMPETÊNCIAS o Deve observar a predominância de interesses,
mesmo que qualquer um dos entes possa ser
demandado.

Competências LEGISLATIVAS:
• Art. 22 – competências PRIVATIVAS da União;
o ATENÇÃO! Podem ser delegadas aos Estados
e ao DF por meio de LC.
• Art. 24 – competências CONCORRENTES da União,
dos Estados e do DF;

45
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

o Decorrem do Federalismo Cooperativo;


o União – normas GERAIS ;
o Estados e DF:
▪ normas ESPECÍFICAS ;
▪ competência suplementar dos Estados.

Requisitos para DELEGAÇÃO:


• FORMAL – Lei Complementar Federal;
• MATERIAL – matérias específicas;
• IMPLÍCITO – isonomia federativa (art. 19, III), deve ser
para todos os Estados e o DF.

Art. 25:
• §1º - tem natureza material e legislativa;
PODER RESIDUAL • §2º - se a MP for adotada pelo Estado como norma, ela
DOS ESTADOS NÃO pode tratar de gás canalizado;
• §3º - os Estados, mediante LC, poderão instituir regiões
metropolitanas, aglomerações urbanas, microrregiões.

• Legislar sobre assunto de interesse local;


COMPETÊNCIAS
• Suplementar a legislação federal e estadual no que
MUNICIPAIS
couber – art. 24.

Enunciados importantes
• Súmula Vinculante nº 2 – base legal: art. 22, XX;
• Súmula Vinculante nº 38 – base legal: art. 30, I;
o EXCEÇÃO: o horário de funcionamento dos bancos – competência da
União (STF RE 118363/PR).
• Súmula Vinculante nº 39 – a autonomia do DF é parcialmente mitigada pela União –
art. 21, XIV;
• Súmula Vinculante nº 46 – base legal: art. 22, I;
• Súmula Vinculante nº 49- violaria o princípio da livre iniciativa privada, livre
concorrência. O STF entendeu ser contrário ao interesse local (art. 30, II) e fere os arts. 1º, IV
(livre iniciativa), e 170 (livre concorrência), além de violar os princípios da razoabilidade e
proporcionalidade.

ATENÇÃO! “Definição do tempo máximo de espera de clientes em filas de instituições


bancárias (em cartório). Competência do Município para legislar. Assunto de interesse local.

46
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Ratificação da jurisprudência da Corte” (art. 30, I, da CRFB/88) – Competência também do DF.

União indissolúvel entre os entes da Federação (arts. 1º e 18, §§ 3º


e 4º. Em que pese a secessão seja proibida, é perfeitamente
possível a criação de novos Estados e Municípios.
• §3º - CRIAÇÃO DE NOVO ESTADO
o População diretamente interessada – toda a população
do Estado ou Estados envolvidos;
o Plebiscito (art. 49, XV) – convocado pelo Congresso
Nacional por meio de decreto legislativo (art. 3º, Lei 9709/98);
o Art. 48, VI – precedida da oitiva das respectivas
assembleias legislativas (mera formalidade);
o Lei complementar federal – formaliza a criação do novo
Estado (não há, entretanto, obrigação jurídica na sua criação).
INEXISTÊNCIA DO
DIREITO DE • §4º - CRIAÇÃO DE NOVO MUNICÍPIO
SECESSÃO o A Lei Complementar Federal tem por missão estabelecer
o período em que podem ser criados os municípios;
▪ ADI 3682 – o STF deu 18 meses para o Congresso
Nacional elaborar a LC (em 2007 – e ainda não foi
criada);
▪ Em 2008, a EC 57 acrescentou o art. 96 no ADCT
convalidados os municípios criados até 31/12/2006.
▪ ATENÇÃO! Qualquer município criado a partir de
01 de janeiro de 2007 é INCONSTITUCIONAL .
o Divulgação dos estudos de viabilidade municipal;
o Plebiscito;
o Lei estadual dentro do período determinado na LC.

d) Bicameralismo no Poder Legislativo Central

Com uma das casas representando a vontade do Povo (Câmara dos Deputados) e outra
que representa os Estados e o DF (Senado Federal).

e) Existência de Órgão judicial para resolver eventuais litígios entre os entes da


Federação

Função do STF, na forma do art. 102, I, f.

47
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

ATENÇÃO! Conflitos entre MPU e MPE NÃO é um conflito federativo e, sim institucional,
competindo ao PGR (chefe do MPU) solucioná-los.

f) A forma federativa do Estado brasileiro uma CLÁUSULA PÉTREA

Limite material à reforma constitucional (art. 60, §4º, I).

g) Existência de um MECANISMO DE DEFESA para a proteção do Estado

Intervenção Federal (arts. 34 a 36) – EXCEÇÃO à autonomia.

15 INTERVENÇÃO FEDERAL E
ESTADUAL

15.1 CONCEITO

É o procedimento político administrativo que restringe temporariamente a autonomia do


ente federativo em nome da Federação.

15.2 PRINCÍPIOS

DA NÃO INTERVENÇÃO A autonomia é a regra.

Pautada necessariamente em uma das hipóteses (TAXATIVAS )


dos arts. 34 ou 35, da CRFB/88.
DA NECESSIDADE
Hipóteses que NÃO podem ser ampliadas por legislação
infraconstitucional.

A CRFB NÃO estabelece um prazo específico para a duração da


intervenção, mas esta NÃO pode ser permanente, dessa forma, o
DA TEMPORARIEDADE
Decreto interventivo precisa estabelecer de plano um prazo de
duração máxima da intervenção.

DA A intervenção NÃO legitima a violação de direitos fundamentais. E,


PROPORCIONALIDADE tendo em vista que o Poder Judiciário NÃO ficar suspenso, todo

(da razoabilidade) excesso pode ser levado àquele.

48
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

15.3 DECRETO INTERVENTIVO

No plano federal, é EXCLUSIVO do Presidente da República; no plano estadual, é dos


Governadores; sem possibilidade de delegação (art. 84, X).

LIMITES DO DECRETO INTERVENTIVO (art. 36, §1º, da CRFB/88)

NÃO é sobre o Estado como instituição, abala uma ou mais de suas


Amplitude manifestações de autonomia. Ex.: Intervenção no RJ – na área da segurança
pública.

Prazo Temporário, NÃO existe decreto de intervenção sem prazo.

Condições de execução

Nomeação do Se couber, o Chefe do Executivo decide. É uma pessoa de confiança do


INTERVENTOR Presidente e pode ser uma autoridade civil ou, até mesmo, militar.

Pelo Congresso Nacional ou pela Assembleia Legislativa do Estado, no prazo


Apreciação de 24 horas – atuação a posteriori, NÃO há necessidade de autorização
para o Decreto Interventivo.

ATENÇÃO! Antes de decretar a intervenção, o Presidente precisa ouvir os dois Conselhos


Superiores (o Conselho da República e o da Defesa Nacional – arts. 90, I, e 91, §1º, II,
respectivamente). A oitiva é OBRIGATÓRIA, mas o Presidente NÃO é obrigado a seguir a
opinião dos Conselhos.

15.4 A INTERVENÇÃO NA CRFB/88

• Estados; e
Art. 34 – Intervenção Federal nos:
• DF.

Art. 35 – Intervenção Federal nos: • Municípios de Territórios.

ATENÇÃO! NÃO há Intervenção Federal em Municípios de Estado! Estes sofrem


Intervenção Estadual (art. 35), pois NÃO existe intervenção per saltum no Brasil.

15.5 MODALIDADES DE INTERVENÇÃO

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

INTERVENÇÃO FEDERAL

O Presidente observa as circunstâncias, ouve os dois Conselhos e decreta


a Intervenção de ofício, que estará sujeita à análise e à confirmação do
ESPONTÂNEA
Congresso Nacional.

Modalidades – art. 34, I a III e V, da CRFB/88.

Além dos pressupostos materiais do art. 34, é necessário que um


procedimento ocorra (pressupostos formais).

IV – (art. 36, I) solicitação (pede) do legislativo ou do


14
executivo coacto ou impedido ou de requisição
(ordena) do STF se a coação for contra o judiciário.

VI:

1ª parte (“prover a execução de lei federal”, art. 36,


PROVOCADA Modalidades
III) – de provimento, pelo STF; de REPRESENTAÇÃO DO
art. 34, IV, VI e
PGR.
VII
2ª parte (“ordem ou decisão judicial”, art. 36, II) –
requisição do STF, do STJ ou TSE.

VII – Princípios Constitucionais Sensíveis – os quais são


normas de observância obrigatória nas Constituição
Estaduais – REPRESENTAÇÃO DO PGR.

Em qualquer caso (espontânea ou provocada), a Intervenção somente pode ser determinada


pelo Chefe do Poder Executivo.

INTERVENÇÃO ESTADUAL

ESPONTÂNEA Modalidades – art. 35, I a III, da CRFB/88.

RI – Interventiva Estadual – apresentada pelo PGJ ao TJ do Estado.


PROVOCADA
Modalidades – art. 35, IV, da CRFB/88.

15.6 RI (Representação de Inconstitucionalidade) Interventiva Federal

• É apreciada pelo STF.


• Também chamada de ADI-Interventiva Federal (surgiu em 1934, primeira ação de
controle concentrado).
• Art. 36, III, da CRFB/88 e Lei 12.562/11.

14 Se o Presidente não cumprir a requisição, responde por crime de responsabilidade (art. 85).

50
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Descumprimento de Lei Federal;


Hipóteses:
• Violação aos princípios sensíveis.

É uma ação do controle concentrado de constitucionalidade, que, diferente das demais


ações, tem a finalidade de resolver um conflito real, federativo, e serve como procedimento
necessário para uma eventual intervenção federal nas hipóteses supracitadas.

Então, pode-se dizer, segundo boa parte da doutrina, que a ADI-Interventiva Federal é uma
ação do controle concentrado CONCRETO de constitucionalidade, a análise eventual
feita sobre uma lei é uma análise incidental, e não principal.

Ainda, diferentemente das demais ações de controle, as quais podem ser propostas pelos
legitimados enumerados no art. 103, I a IX, a RI-Interventiva Federal somente pode ser proposta
pelo PGR.
A Lei diz que a petição inicial deve conter a indicação do princípio constitucional violado ou,
no caso de recusa à execução de Lei Federal, as disposições federais que foram violadas, a
indicação do ato que serviu como base para uma das duas violações.
Comporta o cabimento de medida de urgência – art. 5º, Lei 12.562/11 – o STF por decisão
da MAIORIA ABSOLUTA de seus membros poderá deferir.

16 TEORIA DOS PODERES

16.1 PRINCÍPIO DA SEPARAÇÃO DOS PODERES

• “Freios e Contrapesos”.
• É CLÁUSULA PÉTREA (art. 60, §4º, III)

• Independentes – atividades típicas (próprias);


Art. 2º, CRFB
• Harmônicos – atividades atípicas (impróprias).

• Exerce a atividade legiferante e a Fiscalização contábil,


PODER LEGISLATIVO
orçamentária e financeira das contas Públicas (art. 70, da CRFB/88);

PODER JUDICIÁRIO • Exerce as atividades jurisdicionais;

PODER EXECUTIVO • Exerce as atividades administrativas.

51
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

17 PODER LEGISLATIVO FEDERAL

• Federal é BICAMERAL (bicameralismo é uma das características da Federação).

CONGRESSO NACIONAL

É presidido pelo Presidente do Senado Federal (art. 57, §5º).

CÂMARA DOS DEPUTADOS SENADO FEDERAL

Representantes do POVO Representantes dos ESTADOS e do DF

Art. 14, §3º - brasileiro Art. 14, §3º - brasileiro

Presidente – brasileiro NATO Presidente – brasileiro NATO

Idade mínima – 21 anos Idade mínima – 35 anos

8 a 70 deputados por Estado (proporcional ao


número de habitantes) – 513 deputados
3 senadores por Estado – 81 senadores
atualmente

Art. 45, §2º - Territórios: 4 deputados

4 anos de mandato (1 legislatura) 8 anos de mandato (2 legislaturas)

≠ Sessão Legislativa – art. 57.

• Primeiro período legislativo – 02/02 a 17/07 (sessão ordinária);


o 18/07 a 31/07 – recesso (sessão extraordinária, se houver – art. 57, §6).
• Segundo período legislativo – 01/08 a 22/12 (sessão ordinária);
o 23/12 a 01/02 (art. 57, §4º) – recesso (sessão extraordinária, se houver – art. 57, §6).

Sistema PROPORCIONAL (voto dirigido ao Sistema MAJORITÁRIO (simples ou


partido) comum – votos dirigidos ao candidato).

ASSIMÉTRICO de fato – pois há muitas diferenças entre as regiões, entre


O
os Estados, a saúde pública, a educação, as oportunidades de emprego etc.
FEDERALISMO
BRASILEIRO É
SIMÉTRICO de direito – pois se apresenta de forma equilibrada com 3
senadores para cada Estado e para o DF.

18 ESTATUTO DOS CONGRESSISTAS

52
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

18.1 CONCEITO

É o conjunto das imunidades, inviolabilidades e prerrogativas que garantem a liberdade e


independência funcional.

18.2 BASE LEGAL

• Art. 53, CRFB/88.


NÃO podem ser objeto de RENÚNCIA, pois pertencem ao cargo e NÃO ao parlamentar
que está temporariamente ocupando aquela função.

ATENÇÃO! Os suplentes de parlamentares NÃO gozam de imunidades e prerrogativas,


somente aqueles que estiverem exercendo a titularidade do cargo.

18.3 IMUNIDADES MATERIAIS

• Art. 53, caput, da CRFB/88.


• Também chamadas de Inviolabilidade Parlamentar;
• Inviolabilidade da palavra, da manifestação livre;

Os Deputados e Senadores são invioláveis, civil e penalmente, por quaisquer:

o Opiniões;
o Palavras; De conteúdo político, mesmo fora do plenário.
o Votos.

NÃO protege, no entanto, atos da vida privada.

18.4 PRERROGATIVA DE FORO FUNCIONAL CRIMINAL

• Art. 53, §1º, da CRFB/88.

Deputados e Senadores, desde a EXPEDIÇÃO DO DIPLOMA (antes da posse), serão


submetidos a julgamento perante o STF.

Algumas considerações:

53
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

O crime é julgado pela justiça comum, mas, APÓS a diplomação,


Crime praticado ANTES o processo é remetido ao STF – havendo o fim do mandato,
da diplomação todavia, sem que haja o julgamento definitivo da demanda, esta
retornará à Justiça Comum.

Crime praticado APÓS a Processo inicia-se diretamente no STF – igualmente, findo o


diplomação mandato, o processo é remetido à Justiça Comum.

ATENÇÃO! Desde 2001, o STF NÃO precisa de autorização da Casa Legislativa a qual
pertence o parlamentar para iniciar o processo contra este.

• REGRA – DA ATUALIDADE DO MANDATO, ou seja, o parlamentar somente tem


prerrogativa durante o mandato eletivo.
o Em 1999, a Súmula nº 394 do STF foi cancelada.
o ATENÇÃO! A RENÚNCIA ao mandato oferecida após a conclusão da
instrução processual penal NÃO afasta a competência do STF.
• CRIMES DOLOSOS CONTRA A VIDA – prerrogativa de foro funcional prevista na
CRFB/88 afasta a competência do Júri – julgados, portanto, pelo STF.
• Súmula nº 704, STF – conexão ao foro por prerrogativa.

18.5 IMUNIDADES FORMAIS

• Desde a diplomação, o parlamentar somente pode ser preso em

Quanto à flagrante por crime INAFIANÇÁVEL (art. 5º, XLII a XLIV). Situação em que os

PRISÃO autos serão encaminhados, em até 24 horas, à Casa respectiva, a qual decidirá
sobre a prisão por maioria dos votos de seus membros.
• O entendimento do STF é de que, além da prisão em flagrante por
Art. 53, §2º
crime inafiançável, o parlamentar também pode ser preso em razão de sentença
condenatória criminal transitada em julgado.

• A imunidade formal processual pode SUSPENDER o andamento de


Quanto ao processo por crime ocorrido APÓS 15 a diplomação por iniciativa de partido
PROCESSO político (não precisa ser o do parlamentar acusado) representado na Casa

respectiva e pelo voto da maioria de seus membros, tal pedido será apreciado
Art. 53, §§ no prazo improrrogável de 45 dias do seu recebimento pela Mesa Diretora.

3º a 5º • A sustação do processo SUSPENDE também a PRESCRIÇÃO,


enquanto durar o mandato.

15 Se o crime foi cometido antes, tal imunidade quanto ao processo não se aplica.

54
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Assim, o STF NÃO precisa mais de autorização para iniciar o


processo, mas este pode ser SUSPENSO.
o ATENÇÃO! Quando iniciar o processo, o STF tem que dar
ciência à Casa respectiva.

18.6 DEPUTADOS ESTADUAIS e DISTRITAIS

• Art. 27, §1º e 32, §3º, da CRFB/88.


• Gozam de:
o Imunidade material (art. 53, caput);
o Imunidade formal quanto à prisão e ao processo (art. 53, §§ 2º a 5º);
o Quanto à prerrogativa de foro, o entendimento é de que os Deputados
Estaduais e Distritais serão julgados pelo TJ, em regra. Entretanto, o STF aplica
a Súmula nº 702:
▪ Crime comum = TJ;
▪ Crime eleitoral = TRE;
▪ Crime federal = TRF.

18.9 VEREADORES

• Art. 29, VIII, da CRFB/88.


• Gozam de Imunidade Material (opiniões, palavras e votos) no exercício do mandato e
somente na circunscrição do Município.
• NÃO têm, no entanto, Imunidade Formal nem quanto à prisão nem quanto ao processo
e NÃO é possível que a Constituição do Estado imunidade formal para os Vereadores, pois lei
sobre prisão e processo é matéria de competência da União.
• Quanto à prerrogativa de foro, a Constituição Estadual pode criar uma regra para
julgamento dos Vereadores perante o TJ. Todavia, no caso de crimes dolosos contra a via a
competência do Tribunal do Júri prevalece (Súmula Vinculante 45 do STF).

ATENÇÃO!

• NÃO há SUSPENSÃO de IMUNIDADE PARLAMENTAR durante o ESTADO


DE DEFESA.
• Durante o ESTADO DE SÍTIO, por sua vez, a suspensão dependerá do voto de 2/3
dos membros da Casa respectiva e, nos casos de atos praticados fora do CN, que sejam
incompatíveis com a execução da medida.

55
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• ATENÇÃO! Art. 56, I – a visão jurisprudencial é a de que, se afastado do cargo


exercendo uma função de confiança, o Parlamentar terá as imunidades materiais e formais
SUSPENSAS, mas, como não deixou de ser parlamentar, a PRERROGATIVA DE FORO
FUNCIONAL é mantida.

19 COMISSÕES PARLAMENTARES
DE INQUÉRITO

• Art. 58, §3º, da CRFB/88.


• Lei 1.579/52 (alterada pela Lei 13.367/2016).

Características:
• Temporária;
• Pode ser criada no âmbito da CD ou do SF ou, ainda, ser mista (CPMI);
• Tem a função típica de fiscalizar (do Poder Legislativo), e, em que pese a CRFB/88 diga
que a CPI terá poderes de investigação próprios das autoridades judiciais, a CPI NÃO exerce
atividade jurisdicional, não julga.

19.1 REQUISITOS

• 1/3 da Câmara ou 1/3 do Senado ou, ainda, mista (CPMI);


• Aberta para apurar fato determinado, mas nada impede que novos fatos relacionados
ao principal surjam;
• Aberta por prazo certo, sendo permitidas prorrogações de forma fundamentada, NÃO
ultrapassando, entretanto, a legislatura na qual a CPI foi aberta.

19.2 CPI nos ESTADOS e MUNICÍPIOS

Em nome do PRINCÍPIO FEDERATIVO , a CPI Estadual apura as irregularidades no


Estado respectivo; a Municipal, no âmbito do Município; e a Federal, na própria União, NÃO é
possível violação ao Pacto Federativo.
Em prol do DIREITO DAS MINORIAS , o STF declarou a inconstitucionalidade da lei que
exigia a manifestação da maioria absoluta do plenário da Casa Legislativa sobre as assinaturas
de 1/3 dos Deputados Estaduais com o fim de abrir uma CPI Estadual. Bastando, assim, as
assinaturas (ADI 3619).

56
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Aliás, em observância ao PRINCÍPIO DA SIMETRIA, a abertura de CPI no âmbito


municipal e estadual deve observar os mesmos requisitos previstos na CRFB (plano federal).

19.3 VEDAÇÕES

• Em nome do Princípio da Reserva Constitucional de Jurisdição:


o a CPI NÃO pode decretar a violação de domicílio (art. 5º, XI), sendo necessária
uma ordem judicial para tanto;
o NÃO pode também decretar interceptação telefônica (art. 5º, XII);
o NÃO pode determinar a suspensão ou a dissolução das atividades de uma
associação (art. 5º, XIX);
• NÃO pode expedir mandado de prisão com relação a fatos pretéritos, podendo ocorrer
somente a prisão em flagrante (art. 5º, LXI), a qual NÃO é privilégio da CPI;
• Segundo a jurisprudência do STF, a CPI também NÃO pode determinar a constrição
(penhora, sequestro etc.) de bens dos investigados;
o ATENÇÃO! A CPI NÃO possui poderes de cautela, mas o Presidente daquela
pode solicitar ao Juiz.
• NÃO pode impedir que o investigado deixe uma localidade ou seja impedido de deixar
o país;
• NÃO pode convocar magistrados para que estes respondam questões que tenha a ver
com o exercício da atividade jurisdicional (pois seria uma interferência no Princípio da Separação
de Poderes), somente sobre questões administrativas;
• NÃO pode impedir a presença do advogado (art. 3º, §2º, Lei 1579/52);
• A CPI NÃO pode determinar a condução coercitiva de testemunha – a intimação desta
será solicitada ao juiz criminal da localidade (art. 3º, §1º, Lei 1579/52).

Todas as decisões da CPI devem ser devidamente fundamentadas e devem partir do


PRINCÍPIO DA COLEGIALIDADE, ou seja, as decisões precisam ser tomadas pela maioria
dos membros da Comissão.

19.4 PODERES

• Determinar, por ato próprio (maioria de seus membros), a quebra de sigilo bancário,
fiscal e telefônico (o que está documentado a respeito da conversa telefônica) dos investigados.
o ≠ Interceptação telefônica – captação da conversa.
• Pode pedir auxílio ao Tribunal de Contas – fiscalização contábil, orçamentária, financeira

57
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

etc.;
• Pode convocar autoridades para depor, para participar da Comissão (art. 50, CRFB/88);
• Pode transportar-se a qualquer localidade que se faça necessária para tomar
depoimento, realizar a investigação (tem mobilidade no plano interno do País);
• Pode colher provas, ter acesso a documentos sigilos (mantendo, claro, o sigilo em
relação a terceiros);
• Os parlamentares, ao participarem de uma CPI, continuam tendo imunidade material.

O STF tem reconhecido o direito ao silêncio (privilégio contra a autoincriminação) tanto para os
investigados quanto para as testemunhas.

E, como quem preside uma CPI, no plano federal, é um Deputado ou um Senador, os mandados
de segurança, habeas corpus, impetrados contra atos das CPIs federais são julgados pelo STF
(art. 102, I, d, CRFB/88).

NÃO há número máximo de CPIs, desde que todas tenham sido criadas seguindo os requisitos.

A CPI, se for o caso, levará o relatório (final) ao Ministério Público OU à Advocacia Geral da
União, que decidirá sobre o ajuizamento ou não de uma Ação (Civil, Penal) (art. 6-A).

20 SISTEMA INTERNO E EXTERNO


DE CONTROLE

• Interno – art. 74, da CRFB/88 (autofiscalização);


• Externo – art. 70, da CRFB/88 – atividade típica do Poder Legislativo.

20.1 TRIBUNAL DE CONTAS DA UNIÃO

Auxilia o Congresso Nacional no exercício da atividade típica de fiscalizar do Poder


Legislativo (titular).
O TCU nasceu em 1891.

20.1.1 Características

• Art. 73 – tem sede no DF e jurisdição ADMINISTRATIVA em todo território nacional;


o Administrativa:
▪ Uma vez que NÃO é órgão do Poder Judiciário;
▪ Aliás, NÃO é órgão de nenhum dos poderes, é apenas um órgão que

58
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

presta auxílio ao Poder Legislativo na fiscalização contábil e financeira.


• É, assim, um órgão AUTÔNOMO e INDEPENDENTE .

20.1.2 Composição

• Art. 73, §§ 1º e 2º, da CRFB/88.

ATENÇÃO! O Ministério Público que atua junto ao TCU NÃO faz parte da estrutura clássica
do parquet, é uma carreira própria, com concurso próprio.

20.1.3 Funções

Principais – art. 71, I, II, V, VIII, §§ 1º a 4º

I – NÃO julga as contas do Presidente da República – apenas apresenta um parecer (art. 49,
IX – Compete ao CN);

• Por simetria – é o órgão legislativo correspondente que julga as contas dos Chefes
do Poder Executivo.

II – Julga as contas de todos os demais administradores de dinheiro público, inclusive das


Sociedades de Economia Mista e das Empresas Públicas;

V – Fiscalizar as contas nacionais das empresas supranacionais de cujo capital social a União
participe;

VIII – aplicar sanções, multa – a qual, se não for paga administrativamente, será cobrada
judicialmente pelo órgão de representação judicial que defende o ente respectivo em juízo, ou
seja, a ação de cobrança somente pode ser proposta pelo ente público beneficiário da
condenação do Tribunal de Contas.

§3º - título executivo EXTRAJUDICIAL;

§§ 1º e 2º - “o TCU, embora não tenha poder para anular ou sustar contratos administrativos,
tem competência, conforme o art. 71, IX, pode determinar à autoridade administrativa que
promova a anulação do contrato e, se for o caso, da licitação de que se originou”.

§4º - Compete ao Congresso Nacional fiscalizar o TCU.

ATENÇÃO! As alterações e o projetos da Lei Orgânica do TCU é promovida por este (art.
96) – caso contrário haverá vício de iniciativa.

Além dos poderes explícitos, o TCU também possui poderes implícitos relacionados aos que
estão no art. 71 da CRFB/88. Ex.: eventual determinação de suspensão de uma obra irregular.

59
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

A Corte de Contas NÃO pode, por ato próprio, determinar a quebra do sigilo bancário, fiscal
dos investigados.

Súmula nº 347, STF – o Tribunal de Contas, no exercício de suas atribuições, pode apreciar a
constitucionalidade das leis e dos atos do poder público. Assim, o TC pode rejeitar contas com
base em lei declarada inconstitucional – Controle REPRESSIVO, POLÍTICO e CONCRETO
(incidental).

20.1.4 Jurisprudências

O TCU, embora não tenha poder para anular ou sustar contratos administrativos, tem
competência, conforme o art. 71, IX, para determinar à autoridade administrativa que promova a
anulação do contrato e, se for o caso, da licitação de que se originou. [MS 23.550, rel. p/ o ac. min.
Sepúlveda Pertence, j. 4-4-2002, P, DJ de 31-10-2001] = MS 26.000, rel. min. Dias Toffoli, j. 16-
10-2012, 1ª T, DJE de 14-11-2012

(...) a atribuição de poderes explícitos, ao Tribunal de Contas, tais como enunciados no art.
71 da Lei Fundamental da República, supõe que se lhe reconheça, ainda que por implicitude, a
titularidade de meios destinados a viabilizar a adoção de medidas cautelares vocacionadas a
conferir real efetividade às suas deliberações finais, permitindo, assim, que se neutralizem
situações de lesividade, atual ou iminente, ao erário público. Impende considerar, no ponto, em
ordem a legitimar esse entendimento, a formulação que se fez em torno dos poderes implícitos,
cuja doutrina, construída pela Suprema Corte dos Estados Unidos da América, no célebre
caso McCulloch v. Maryland (1819), enfatiza que a outorga de competência expressa a
determinado órgão estatal importa em deferimento implícito, a esse mesmo órgão, dos meios
necessários à integral realização dos fins que lhe foram atribuídos. (...)É por isso que entendo
revestir-se de integral legitimidade constitucional a atribuição de índole cautelar, que, reconhecida
com apoio na teoria dos poderes implícitos, permite, ao TCU, adotar as medidas necessárias ao
fiel cumprimento de suas funções institucionais e ao pleno exercício das competências que lhe
foram outorgadas, diretamente, pela própria Constituição da República. [MS 24.510, rel. min. Ellen
Gracie, voto do min. Celso de Mello, j. 19-11-2003, P, DJ de 19-3-2004.] Vide MS 33.092, rel. min.
Gilmar Mendes, j. 24-3-2015, 2ª T, DJE de 17-8-2015

A LC 105, de 10-1-2001, não conferiu ao TCU poderes para determinar a quebra do sigilo
bancário de dados constantes do Banco Central do Brasil. O legislador conferiu esses poderes ao
Poder Judiciário (art. 3º), ao Poder Legislativo Federal (art. 4º), bem como às CPIs, após prévia

60
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

aprovação do pedido pelo plenário da Câmara dos Deputados, do Senado Federal ou do plenário
de suas respectivas CPIs (§§ 1º e 2º do art. 4º). Embora as atividades do TCU, por sua natureza,
verificação de contas e até mesmo o julgamento das contas das pessoas enumeradas no art. 71,
II, da CRFB/88, justifiquem a eventual quebra de sigilo, não houve essa determinação na lei
específica que tratou do tema, não cabendo a interpretação extensiva, mormente porque há
princípio constitucional que protege a intimidade e a vida privada, art. 5º, X, da CRFB/88, no qual
está inserida a garantia ao sigilo bancário. [MS 22.801, rel. min. Menezes Direito, j. 17-12-2007, P,
DJE de 14-3-2008.] = MS 22.934, rel. min. Joaquim Barbosa, j. 17-4-2012, 2ª T, DJE de 9-5-2012

Em caso de multa imposta por Tribunal de Contas estadual a responsáveis por


irregularidades no uso de bens públicos, a ação de cobrança somente pode ser proposta pelo ente
público beneficiário da condenação do Tribunal de Contas. [RE 510.034 AgR, rel. min. Eros Grau,
j. 24-6-2008, 2ª T, DJE de 15-8-2008.] = AI 765.470 AgR, rel. min. Rosa Weber, j. 18-12-2012, 1ª
T, DJE de 19-2-2013

O tribunal de contas está obrigado, por expressa determinação constitucional (CRFB/88,


art. 71, § 4º), aplicável ao plano local (CRFB/88, art. 75), a encaminhar ao Poder Legislativo a que
se acha institucionalmente vinculado tanto relatórios trimestrais quanto anuais de suas próprias
atividades, pois tais relatórios, além de permitirem o exame parlamentar do desempenho, pela
Corte de Contas, de suas atribuições fiscalizadoras, também se destinam a expor ao Legislativo a
situação das finanças públicas administradas pelos órgãos e entidades governamentais, em ordem
a conferir um grau de maior eficácia ao exercício, pela instituição parlamentar, do seu poder de
controle externo. [ADI 687, rel. min. Celso de Mello, j. 2-2-1995, P, DJ de 10-2-2006.]

20.2 TRIBUNAL DE CONTAS NOS ESTADOS

• Art. 75, da CRFB/88 – norma de OBSERVÂNCIA OBRIGATÓRIA no plano dos


Estados;
• É OBRIGATÓRIO que todo Estado tenha um TCE próprio;
• As normas do TCU aplicam-se por simetria aos TCEs.
o TCU – 9 conselheiros;
o TCE – 7 conselheiros (Súmula 653 do STF).

20.2.1 Jurisprudências

61
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Constituição do Estado do Tocantins. EC 16/2006, que (...) atribuiu à Assembleia


Legislativa a competência para sustar não apena os contratos, mas também as licitações eventuais
casos de dispensa e inexigibilidade de licitação (...). A CRFB/88 é clara ao determinar, em seu art.
75, que as normas constitucionais que conformam o modelo federal de organização do TCU são
de observância compulsória pelas Constituições dos Estados-membros. (...) A CRFB/88 dispõe
que apenas no caso de contratos o ato de sustação será adotado diretamente pelo Congresso
Nacional (art. 71, § 1º, CRFB/1988). Ação julgada procedente. [ADI 3.715, rel. min. Gilmar Mendes,
j. 21-8-2014, P, DJE de 30-10-2014.]

Tribunal de contas dos Estados: competência: observância compulsória do modelo federal:


inconstitucionalidade de subtração ao tribunal de contas da competência do julgamento das contas
da Mesa da assembleia legislativa – compreendidas na previsão do art. 71, II, da CRFB/88, para
submetê-las ao regime do art. 71, c/c art. 49, IX, que é exclusivo da prestação de contas do chefe
do Poder Executivo. [ADI 849, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 11-2-1999, P, DJ de 23-4-1999.]

O Plenário, em julgamento conjunto, deferiu medidas acauteladoras para suspender a


eficácia dos artigos 1º a 9º e 11 a 20 da LC 666/2015 do Estado de Santa Catarina. A norma dispõe
sobre competência e organização do Tribunal de Contas estadual, bem assim sobre a estrutura
do Ministério Público atuante junto àquele órgão. O Colegiado assinalou que o projeto de lei,
apresentado pelo Tribunal de Contas, fora submetido à Assembleia Legislativa estadual, que
incluíra 19 artigos a versar sobre objetos distintos do veiculado no único dispositivo constante do
texto original. Não se tratara de simples emenda, mas de inclusão e de supressão de preceitos
relacionados a questões estranhas à contida na proposição inicial, a configurar aparente vício de
iniciativa. ADI 5442 MC/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 17.3.2016.

20.3 TRIBUNAL DE CONTAS NOS MUNICÍPIOS

A CRFB/88 PROIBIU que os municípios criassem suas Cortes de Contas próprias (art.
31, §4º). No Brasil, só existem dois TCMs – RJ e SP (criados ANTES da CRFB/88).
A fiscalização do Município é feita, portanto, pelas Câmaras Municipais com o auxílio do
TCE do respectivo Estado OU o próprio Estado cria um Tribunal de Contas dos Municípios para
auxiliar as Câmaras Municipais.

TRIBUNAL DE CONTAS DOS MUNICÍPIOS ≠ TRIBUNAL DE CONTAS MUNICIPAL –


TCM
• ÓRGÃO ESTADUAL (criado pelo
(PROIBIDO )

62
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Estado), pois a vedação atinge somente os


municípios, os Estados podem criar!

ATENÇÃO!

• Nos Municípios, a Corte de Contas NÃO julga as contas do Prefeito, mas o parecer
emitido por aquela somente deixará de prevalecer por voto de 2/3 dos membros da Câmara
Municipal.
• Prerrogativa de Foro:
o Art. 102, I, c – compete ao STF processar e julgar os membros do TCU;
o Art. 105, I, a – compete ao STJ processar e julgar os conselheiros dos TCEs
e os membros dos Conselhos ou Tribunais de Contas dos Municípios.

20.3.1 Jurisprudências

Para os fins do art. 1º, inciso I, alínea “g”, da Lei Complementar 64, de 18 de maio de 1990,
alterado pela Lei Complementar 135, de 4 de junho de 2010, a apreciação das contas de prefeitos,
tanto as de governo quanto as de gestão, será exercida pelas Câmaras Municipais, com o auxílio
dos Tribunais de Contas competentes, cujo parecer prévio somente deixará de prevalecer por
decisão de 2/3 dos vereadores. Essa a tese fixada por decisão majoritária do Plenário em
conclusão de julgamento de recurso extraordinário no qual se discutia a definição do órgão
competente par julgaras contas do chefe do Poder Executivo que age na qualidade de ordenador
de despesas — v. Informativos 833 e 834. Vencidos os Ministros Luiz Fux e Rosa Weber. RE
848826/DF, rel. orig. Min. Roberto Barroso, red. p/ o acórdão Min. Ricardo Lewandowski,
17.8.2016. (RE-848826)

21 PODER EXECUTIVO FEDERAL

21.1 CONDIÇÕES DE ELEGIBILIDADE

• Art. 14, §3º, da CRFB/88;


• Presidente e Vice-Presidente:
o Brasileiro NATO;
o 35 anos.

21.2 ALGUMAS PONDERAÇÕES

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Art. 76 – Princípio Presidencialista – a forma e o sistema de governo são, para muitos


autores, limites materiais implícitos ao Poder Reformador.

• Art. 77 – NÃO se admite candidatura autônoma, assim, a eleição do Presidente


importará a do Vice com ele registrado (ambos fazem parte da mesma chapa eleitoral).
o §2º - Sistema MAJORITÁRIO de maioria absoluta ou de dois turnos (é o
sistema adotado também nas eleições de Governador de Estado e do DF e de
Prefeitos de municípios com mais de 200 mil eleitores – art. 29, II, da CRFB/88).
▪ Em municípios menores (com menos de 200 mil eleitores) NÃO tem 2º
turno e vence aquele que obtiver o maior número de votos no 1º turno.

• NÃO existe rol de sucessores do Presidente da República, a única autoridade apta a


sucedê-lo é o Vice (a vacância gera a sucessão). Existe, no entanto, um rol de substitutos:
o Vice-Presidente;
o Presidente da Câmara;
o Presidente do Senado;
o Presidente do Supremo.

• Art. 81 – VACÂNCIA de Presidente e Vice ocorreu:


▪ no 1º biênio – terão eleições DIRETAS 90 DIAS depois de aberta a
última vaga;
▪ no 2º biênio (§1º) – eleições INDIRETAS 30 DIAS depois de aberta a
última vaga – eleitos pelos membros do Congresso Nacional.
o ATENÇÃO! Em qualquer caso, os eleitos vão apenas cumprir o mandato de
seus antecessores (§2º).

• Art. 83 – é norma de observância OBRIGATÓRIA nos Estados e Municípios.


o “Afronta os princípios constitucionais da harmonia e independência entre os
Poderes e da liberdade de locomoção norma estadual que exige prévia licença
da Assembleia Legislativa para que o Governador e o Vice-Governador possam
ausentar-se do país por qualquer prazo. Espécie de autorização que, segundo
o modelo federal, somente se justifica quando o afastamento exceder a quinze
dias. Aplicação do princípio da simetria”.

21.2.1 Jurisprudência

NOVO: O Tribunal referendou parcialmente medida cautelar deferida em arguição de

64
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

descumprimento de preceito fundamental para assentar que os substitutos eventuais do presidente


da República a que se refere o art. 80 da Constituição Federal, caso ostentem a posição de réus
criminais perante o Supremo Tribunal Federal, ficarão impossibilitados de exercer o ofício de
presidente da República e, por maioria, negou referendo à liminar, no ponto em que ela estendia
a determinação de afastamento imediato desses mesmos substitutos eventuais do presidente da
República em relação aos cargos de chefia e direção por eles titularizados em suas respectivas
Casas. (...)
Ressaltou que a cláusula inscrita no art. 86, § 1º, da Constituição Federal torna claro o
sentido de intencionalidade do constituinte, que quis impor ao presidente da República o
afastamento cautelar (e temporário) do desempenho do mandato presidencial, considerada, em
essência, a exigência de preservação da respeitabilidade das instituições republicanas, que
constitui, na verdade, o núcleo que informa e conforma esse processo de suspensão preventiva.
Por isso, os substitutos eventuais do presidente da República, se tornados réus criminais perante
o Supremo Tribunal Federal, não poderiam ser convocados para o desempenho transitório do
ofício presidencial, pois não teria sentido que, ostentando a condição formal de acusados em juízo
penal, viessem a dispor de maior poder jurídico, ou de maior aptidão, que o próprio chefe do Poder
Executivo da União, titular do mandato presidencial. Por consequência, os agentes públicos que
detêm as titularidades funcionais que os habilitam, constitucionalmente, a substituir o chefe do
Poder Executivo da União em caráter eventual, caso tornados réus criminais perante esta Corte,
não ficariam afastados, ipso facto, dos cargos de direção que exercem na Câmara dos Deputados,
no Senado Federal e no Supremo Tribunal Federal. Na realidade, apenas sofreriam interdição para
o exercício do ofício de presidente da República. [ADPF 402 MC-REF, rel. min. Marco Aurélio, j.
7-12-2016, P, Informativo 850.]

“Afronta os princípios constitucionais da harmonia e independência entre os Poderes e da


liberdade de locomoção norma estadual que exige prévia licença da Assembleia Legislativa para
que o governador e o vice-governador possam ausentar-se do País por qualquer prazo. Espécie
de autorização que, segundo o modelo federal, somente se justifica quando o afastamento exceder
a quinze dias. Aplicação do princípio da simetria”. [ADI 738, rel. min. Maurício Corrêa, j. 13-11-
2002, P, DJ de 7-2-2003.]

21.3 MANDATO

De 4 anos (uma legislatura) permitida uma reeleição.

21.4 ATRIBUIÇÕES DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Acumula as atribuições de Chefe de Governo e de Estado, ou seja, governa no plano


interno e representa o Estado nas relações internacionais.
o ATENÇÃO! Governadores e Prefeitos são apenas chefes de Governo.
• Art. 84, parágrafo único – atribuições do Presidente que podem ser delegadas aos
Ministros de Estado, PGR e AGU:
o VI – Decreto autônomo;
o XII – concessão de indulto;
o XXV (1ª parte) – prover cargos públicos federais.

21.5 IMUNIDADES e RESPONSABILIDADES

• São IRRENUNCIÁVEIS , pois pertencem ao cargo e não àquele que está ocupando
temporariamente o mandato.

Do Presidente da República:

• Quanto à PRISÃO (art. 86, §3º);


o prisão somente com sentença condenatória;
IMUNIDADE FORMAIS
• Quanto ao PROCESSO (art. 86, caput);
o Juízo de Admissibilidade: 2/3 da CD (art. 51, I).

• Crime COMUM (crimes do: CP, Leis extravagantes, crimes


eleitorais) – STF;
• Crime de RESPONSABILIDADE – Senado Federal
o Condenação é o Impeachment;
o São infrações político-administrativas;
o Art. 85, da CRFB/88;
o Lei 1.079/50
PRERROGATIVA DE
ATENÇÃO! ADPF 378 – se a Câmara dos Deputados, por 2/3,
FORO FUNCIONAL
aceitar a acusação contra o Presidente → passa ao SF, que a
submeterá a mais um juízo de admissibilidade (maioria SIMPLES),
antes de se tornar um tribunal de julgamento do Presidente.
• TRIBUNAL POLÍTICO DE JULGAMENTO – consequências:
o art. 86, §§ 1º e 2º - Presidente fica afastado de
suas funções (até 180 dias);
o art. 52, parágrafo único – sanções cumulativas:
▪ perda do cargo;

66
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

▪ inabilitação por 8 anos para o exercício de


cargo, emprego ou função pública.

Dessa forma, ao SF compete decidir (por maioria simples) se recebe


ou não a denúncia cujo prosseguimento foi autorizado pelo CD.
• Se REJEITAR, haverá o arquivamento do pedido.
• Se RECEBER, será iniciado o impeachment propriamente
dito (fase processual), com a produção de provas e, ao final, o SF
votará pela absolvição ou condenação do Presidente.

ATENÇÃO! Art. 68, Lei 1079/50 – estabelece que é possível


fracionar as votações a respeito das sanções.
Resolução nº 35/2016, art. 2º – o Senado Federal decidiu “Art. 2º
Em consequência do disposto no artigo anterior, é imposta à
Senhora Dilma Vana Rousseff, nos termos do art. 52, parágrafo
único, da Constituição Federal, a sanção de perda do cargo de
Presidente da República, sem prejuízo das demais sanções judicias
cabíveis, nos termos da sentença lavrada nos autos da Denúncia nº
1, de 2016, que passa a fazer parte desta Resolução”.
• É o CIDADÃO que apresenta, junto à CD, acusação contra o
Presidente por Crime de Responsabilidade (art. 14, Lei 1079/50).
• E compete à CD realizar o juízo de admissibilidade, tanto
nos crimes comuns quanto nos de responsabilidade.
• ATENÇÃO! O STF NÃO é obrigado a instaurar o processo
criminal após a autorização da CD, aquele avaliará de acordo com
seu regimento, fará uma análise técnica e jurídica para verificar se
instaurará o processo ou não.

• O STF somente julgará o Presidente por crime comum que


tenha relação com o exercício de suas funções presidenciais (art.
86, caput e §4º).
CLÁUSULA DE Assim, se um cidadão comete um crime comum, é processado na
IRRESPONSABILIDADE Justiça Comum e passa a ser Presidente, o processo NÃO será
PENAL RELATIVA remetido ao STF, uma vez que aquele crime NÃO tem relação com
as atribuições do cargo ocupado. O que causará a paralização do
processo, que retornará findo o mandato.
Súmula Vinculante nº 46 – quem elabora leis sobre crimes de
responsabilidade é a UNIÃO.

21.6 IMUNIDADES DE GOVERNADORES E PREFEITOS

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

ATENÇÃO! A Imunidade Formal quanto à prisão (art. 86, §3º) é EXCLUSIVA do


Presidente da República.

• NÃO gozam da Imunidade Formal quanto à prisão, podem ser presos como pessoas
comuns;
• Igualmente, a Imunidade Formal quanto ao processo também NÃO se estende aos
Governadores e Prefeitos.

Até maio/2017, de acordo com a jurisprudência, o juízo de admissibilidade realizado pela


Câmara dos Deputados se estendia aos Governadores e Prefeitos. Entretanto, desde então,
através de uma virada jurisprudencial (chamada Mutação Constitucional), o STF deu uma
nova interpretação, não mais aplicando o juízo de admissibilidade às autoridades citadas.

Assim, os órgãos de julgamento NÃO dependem de autorização de órgão legislativo algum,


pois o Supremo entendeu que, durante muitos anos, a aplicação dessa cláusula nos planos
estadual e municipal só fez crescer a impunidade, porque, por composições políticas, as Casas
Legislativas acabavam não autorizando o julgamento do Governador ou do Prefeito.

Então, o STF fez uma virada jurisprudencial, à luz do Princípio Republicando, que determina
que os governantes devem ser responsabilizados pelos seus atos, e desde então (maio/2017)
o entendimento é de que a imunidade formal quanto ao processo, que prevê o juízo de
admissibilidade da Câmara dos Deputados é EXCLUSIVA do Presidente da República.

21.6.1 Prerrogativa de Foro Funcional

GOVERNADORES PREFEITOS

Art. 29, X – Prefeitos, por crimes COMUNS,


são julgados pelo TJ (acaba ficando com a
competência residual);

Art. 105, I, a – Governadores, por crimes


COMUNS, são julgados pelo STJ; Súmula nº 702, STF:

- Se praticar um crime eleitoral, será julgado


pelo TRE;

- Se praticar um crime federal, pelo TRF.

ATENÇÃO! Aplica-se mesmo em caso de crimes dolosos contra a vida, uma vez que
prerrogativa de foro funcional prevista na CRFB/88 afasta a competência do Tribunal do Júri.

Art. 78, §3º, da Lei 1079/50 - Por crimes de


Por crimes de RESPONSABILIDADE,
RESPONSABILIDADE, os Governadores

68
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serão julgados por um TRIBUNAL segundo o STF, em regra, os Prefeitos são


DIFERENCIADO . julgado pela Câmara Municipal.

ATENÇÃO! Em qualquer caso, os crimes podem estar ou não relacionados com o exercício
das funções, pois a Cláusula da Irresponsabilidade Penal Relativa (art. 86, §4º) NÃO se aplica,
sendo EXCLUSIVA do Presidente da República.

Tendo como fundamentos o princípio republicando, que determina a responsabilidade dos


Governantes e pelo fato de exercerem funções diferentes, haja vista que o Presidente da
República, além da função de Chefe de Governo, também é Chefe de Estado.

21.7 JURISPRUDÊNCIA

Não há necessidade de prévia autorização da assembleia legislativa para o recebimento


de denúncia ou queixa e instauração de ação penal contra governador de Estado, por crime
comum, cabendo ao Superior Tribunal de Justiça (STJ), no ato de recebimento ou no curso do
processo, dispor, fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive
afastamento do cargo.
Com base nessa orientação, o Plenário, em conclusão e por maioria, julgou parcialmente
procedente pedido formulado em ação direta para:
a) dar interpretação conforme ao art. 92, § 1º, I, da Constituição do Estado de Minas Gerais
para consignar não haver necessidade de autorização prévia de assembleia legislativa para o
recebimento de denúncia e a instauração de ação penal contra governador de Estado, por crime
comum, cabendo ao STJ, no ato de recebimento da denúncia ou no curso do processo, dispor,
fundamentadamente, sobre a aplicação de medidas cautelares penais, inclusive afastamento do
cargo; e
b) julgar improcedente o pedido de declaração de inconstitucionalidade da expressão “ou
queixa” do art. 92, § 1º, I, da Constituição do Estado de Minas Gerais — ver Informativos 851 e
855. O referido dispositivo prevê que o governador será submetido a processo e julgamento
perante o STJ nos crimes comuns e será suspenso de suas funções, na hipótese desses crimes,
se recebida a denúncia ou a queixa pelo STJ. Preliminarmente, o Colegiado, por maioria, conheceu
da ação. Vencidos os ministros Dias Toffoli, Ricardo Lewandowski, Marco Aurélio e Celso de Mello.
No mérito, prevaleceu o voto do ministro Edson Fachin (relator), reajustado nesta sessão com os
acréscimos do voto do ministro Roberto Barroso no sentido do afastamento do cargo não se dar
de forma automática.
O relator afirmou a necessidade de superar os precedentes da Corte na dimensão de uma
redenção republicana e cumprir a promessa do art. 1º, “caput”, da Constituição Federal (CRFB/88),
diante dos reiterados e vergonhosos casos de negligência deliberada pelas assembleias
legislativas estaduais, que têm sistematicamente se negado a deferir o processamento de

69
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

governadores.

ARGUMENTOS

Asseverou ser refutável a referida autorização prévia em razão de:

a) ausência de previsão expressa e inexistência de simetria;

b) ofensa ao princípio republicano (CRFB/88, art. 1º, “caput”);

c) ofensa à separação de poderes (CRFB/88, art. 2º, “caput”) e à competência privativa


da União (CRFB/88, art. 22, I); e

d) ofensa à igualdade (CRFB/88, art. 5º, “caput”) – devem ser julgados como pessoas
comuns, pelo menos com relação à essa cláusula.

Esclareceu não haver na CRFB/88 previsão expressa da exigência de autorização prévia


de assembleia legislativa para o processamento e julgamento de governador por crimes comuns
perante o STJ. Dessa forma, inexiste fundamento normativo-constitucional expresso que faculte
aos Estados-membros fazerem essa exigência em suas Constituições estaduais.
Não há, também, simetria a ser observada pelos Estados-membros. No ponto, o relator
considerou que, se o princípio democrático que constitui nossa República (CRFB/88, art. 1º,
“caput”) se fundamenta e se concretiza no respeito ao voto popular e à eleição direta dos
representantes do povo, qualquer previsão de afastamento do presidente da República é medida
excepcional e, como tal, é sempre prevista de forma expressa e taxativa, sem exceções. O
afastamento do presidente da República é medida excepcional, e, no caso de crime comum, seu
processamento e julgamento devem ser precedidos de autorização da Câmara dos Deputados
(CRFB/88, arts. 51, I; e 86, “caput” e § 1º, I).

Essa exigência foi expressamente prevista apenas para presidente da República, vice-
presidente e ministros de Estado. Essa é uma decorrência das características e competências que
moldam e constituem o cargo de presidente da República, mas que não se observam no cargo de
governador. Diante disso, verifica-se a extensão indevida de uma previsão excepcional válida para
o presidente da República, porém inexistente e inaplicável a governador. Sendo a exceção prevista
de forma expressa, não pode ser transladada como se fosse regra ou como se estivesse
cumprindo a suposta exigência de simetria para governador. As eventuais previsões em
Constituições estaduais representam, a despeito de se fundamentarem em suposto respeito à
Constituição Federal, ofensa e usurpação das regras constitucionais. Segundo o relator, afastado
o argumento de suposta obediência à simetria, a consequência da exigência de autorização prévia
de assembleia legislativa para processamento e julgamento de governador por crime comum
perante o STJ é o congelamento de qualquer tentativa de apuração judicial das eventuais

70
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

responsabilizações dos governadores por cometimento de crime comum. Essa previsão afronta a
responsividade exigida dos gestores públicos, o que viola o princípio republicano do Estado.
A exigência viola, ainda, a separação de poderes, pois estabelece condição não prevista
pela CRFB/88 para o exercício da jurisdição pelo Poder Judiciário. Assim, o STJ fica impedido de
exercer suas competências e funções até a autorização prévia do Poder Legislativo estadual. Esse
tipo de restrição é sempre excepcional e deve estar expresso na CRFB/88. Além disso, a previsão
do estabelecimento de condição de procedibilidade para o exercício da jurisdição penal pelo STJ
consiste em norma processual, matéria de competência privativa da União (CRFB/88, art. 22, I),
portanto impossível de ser prevista pelas Constituições estaduais.
O relator afirmou que estabelecer essa condição de procedibilidade equivale a alçar um
sujeito à condição de desigual, supostamente superior por ocupar relevante cargo de
representação. No entanto, tal posição deveria ser, antes de tudo, a de servidor público.
A autorização prévia de assembleias estaduais para o processamento e julgamento de
governador por crime comum perante o STJ é, portanto, afronta cristalina à cláusula geral de
igualdade estabelecida na CRFB/88. Destacou que a Emenda Constitucional (EC) 35/2001 alterou
a redação do art. 53, § 1º, da CRFB/88 e aboliu a exigência de autorização prévia das casas
legislativas para o processamento e julgamento de deputados federais e estaduais. O mesmo
entendimento de valorização da igualdade e “accountability” dos representantes do povo deve ser
aplicado aos governadores, sem as exigências prévias que consubstanciam privilégios e restrições
não autorizados pela CRFB/88. Por fim, sustentou inexistir inconstitucionalidade na expressão “ou
queixa”, por considerá-la coerente com o disposto no art. 105, I, “a”, da CRFB/88. Explicou que a
CRFB/88 não fez nenhuma distinção ao se referir a “crimes comuns”, ou seja, não fez diferenciação
entre crimes de ação penal pública ou crimes de ação penal privada. Da mesma forma, a
Constituição do Estado de Minas Gerais previu o afastamento do governador no caso de
recebimento de denúncia ou queixa. Nesta assentada, o ministro Roberto Barroso esclareceu
acompanhar o relator, e o ministro Marco Aurélio esclareceu, ultrapassada a preliminar de
admissibilidade da ação, também acompanhar o relator. Vencidos os ministros Dias Toffoli e Celso
de Mello, que julgaram improcedente a ação, na linha da jurisprudência até então prevalecente na
Corte no sentido de considerar legítimas as normas de Constituições estaduais que subordinam a
deflagração formal de um processo acusatório contra o governador a um juízo político da
assembleia legislativa local”. ADI 5540/MG, rel. Min. Edson Fachin, julgamento em 3.5.2017. (ADI-
5540).

22 PODER JUDICIÁRIO

22.1 REFORMA DO PODER JUDICIÁRIO – ALGUMAS ALTERAÇÕES

71
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

EMENDA CONSTITUCIONAL 45/2004:


• a todos, no âmbito judicial e administrativo, são assegurados a razoável duração
processo e os meios que garantam a celeridade de sua tramitação (art. 5º, LXXVIII);
o Já estava implícita no art. 5º, XXXV, e a EC 45/2004 tornou-a explícita.
• a possibilidade de se criarem varas especializadas para a solução das questões agrárias
(art. 126);
• a “constitucionalização” dos tratados e convenções internacionais sobre direitos
humanos desde que aprovados pelo quórum qualificado das emendas constitucionais (art. 5º, §
3º);
o ATENÇÃO! Aplicar sempre os limites do art. 60, CRFB/88.
• a submissão do Brasil à jurisdição do Tribunal Penal Internacional a cuja criação tenha
manifestado adesão (art. 5º, § 4º);
o Decreto 4388/2002 – o Brasil incorporou o Estatuto de Roma (TPI – criado em
1998, mas somente entrou em vigor em 2002).
▪ Julga (jurisdição penal):
• Genocídio;
• Crimes contra a humanidade;
• Crimes de guerra;
• Crimes de agressão.
• a federalização de crimes contra direitos humanos, objetivando o deslocamento de
competência para a Justiça Federal (art. 109, V-A e § 5º - PGR faz pedido perante o STJ);
o objetivos principais:
▪ evitar que o Brasil venha a ser responsabilizado por Órgãos
Internacionais por não ter investigado ou processado corretamente;
▪ garantir os direitos da vítima e de seus familiares e de promover a
Justiça.
• ampliação de algumas regras mínimas a serem observadas na Elaboração do Estatuto
da Magistratura, todas no sentido de se dar maior produtividade e transparência à prestação
jurisdicional, na busca da efetividade do processo (art. 93);
• ampliação da garantia de imparcialidade dos órgãos jurisdicionais (art. 95, § parágrafo
único, IV e V);

Implementou ainda três institutos imprescindíveis:

• Súmula Vinculante;
• Conselho Nacional de Justiça;
• Conselho Nacional do Ministério Público.

72
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

22.2 SÚMULA VINCULANTE

• Somente pode ser criada pelo STF.

22.2.1 BASE LEGAL

• Base constitucional - Art. 103-A, CRFB/88;


• Base infraconstitucional – Lei 11.417/06.

22.2.2 EXTENSÃO DOS EFEITOS VINCULANTES

Estendem-se a TODOS os órgãos do Poder Judiciário e da Administração Pública Direta e


Indireta, nas esferas federal, estadual e municipal.

NÃO se estende, no entanto, à Função Legiferante (Legislativa) do estado e nem ao Plenário


do STF, no sentido de que, a qualquer tempo, pode ocorrer a revisão ou cancelamento do
enunciado vinculante.

22.2.3 REQUISITOS PARA CRIAÇÃO

• É preciso que a matéria constitucional esteja sedimentada, tendo em vista que a Súmula
Vinculante foi criada para uniformizar o entendimento;
• Necessidade de controvérsias judiciais ou administrativas (atuais) sobre a matéria;
• Quórum de 2/3 dos Ministros (8, no mínimo).

22.2.4 PROVAÇÃO PARA EDIÇÃO, REVISÃO ou CANCELAMENTO

Legitimados para provocar a CRIAÇÃO, REVISÃO ou CANCELAMENTO de Súmula

De ofício;

Mediante provocação:

• Legitimados do art. 103, I a IX;


• Legitimados do art. 3º, Lei 11.417/06:
STF
o Defensor Público Geral da União;
o Todos os Tribunais brasileiros

PGR (art. 2º, §2º, da Lei 11.417/06) – nas propostas que NÃO houver
formulado, manifestar-se-á previamente, atuando com custos legis (fiscal da

73
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

lei).

Amicus Curiae (art. 3º, §2º, da Lei 11.417/2006) – o relator poderá admitir,
por decisão irrecorrível, a manifestação de terceiros na questão, nos termos
do Regimento Interno do STF.

NÃO há legitimação popular, então o amicus curiae veio suprir o esse déficit
democrático, ou seja, é o instrumento indispensável para democratizar o
debate constitucional a respeito da Súmula Vinculante.

Ex.: associação, organização coletiva, ONG etc. que tenha representatividade


acerca do tema, que tenha algo a contribuir.

Municípios – NÃO estão representados pelo seu Executivo ou Legislativo


com a finalidade de provocar diretamente o Supremo para editar, revisar ou
cancelar uma Súmula Vinculante.

Porém, a Lei 11.417/2006, em seu art. 3º, §1º, traz a previsão de uma
incidental de Súmula Vinculante em processo no qual seja parte.

O STF decidiu que, para ser convencido da necessidade de revisão ou cancelamento da


Súmula Vinculante, é preciso que um desses três requisitos ocorram:

o O requerente demonstrar que a própria jurisprudência do Supremo já superou


a Súmula vinculante;
o A Súmula foi superada pela Lei;
o A Súmula tornou-se incongruente com os fatos.

22.2.5 MODULAÇÃO TEMPORAL

Em regra, a Súmula irá produzir efeitos a partir de sua edição, mas é possível que haja
uma modulação dos efeitos por 2/3 do Ministros (art. 4º, da Lei 11.417/2006), tendo em vista:
o Razões de segurança jurídica; ou
o Excepcional interesse público.

22.2.6 RECLAMAÇÃO

• Art. 7º, Lei 11.417/2006


A Súmula Vinculante é de observância OBRIGATÓRIA por todos os órgãos do Poder
Judiciário e da Administração Pública direta e indireta (em todas as esferas). Então:
• da decisão judicial que contrariar, negar vigência ou aplicar indevidamente a Súmula
Vinculante caberá RECLAMAÇÃO AO STF ;

74
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• da decisão administrativa que contrariar, negar vigência ou aplicar indevidamente a


Súmula Vinculante caberá, após o esgotamento das vias administrativas, RECLAMAÇÃO AO
STF.

22.2.7 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE e SÚMULAS VINCULANTES

O STF já decidiu que as Súmulas Vinculantes NÃO podem ser objeto de nenhuma das
ações de controle concentrado de constitucionalidade, porque, se houver a necessidade de revisão
ou cancelamento de súmula, é possível que os legitimados ativos façam um requerimento
administrativo ao próprio STF

22.2.8 Principais Súmulas Vinculantes para a prova

(ATENÇÃO! LER TODAS AS SÚMULAS VINCULANTES SEM EXCEÇÃO).

2, 5, 10 a 14, 18, 25, 33, 38, 39, 44 a 46, 49, 54

22.3 CONSELHO NACIONAL DE JUSTIÇA

• Órgão do Poder Judiciário, mas DESPROVIDO de atividade jurisdicional;


• Tem sede em Brasília;
• Foi criado para reforçar a fiscalização administrativa, financeira e disciplinar dos órgãos
do Poder Judiciário, exceto o STF.

22.3.1 BASE LEGAL

• Base constitucional - Art. 103-B, CRFB/88;


• Base infraconstitucional – Lei 11.364/2006.

22.3.2 COMPOSIÇÃO

Art. 103-B, I a XIII, da CRFB/88 – composição mista/híbrida (magistrados, de outros


poderes e cidadãos).

22.3.3 PRESIDÊNCIA

É o presidente do STF (art. 103-B, §1º, CRFB/88).

75
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

ATENÇÃO! É perfeitamente possível que os cidadãos levem ao CNJ reclamações contra


juízes, desembargadores etc. (art. 103-B, §7º, CRFB/88), em razão do direito de petição (art. 5º,
XXXIV, CRFB/88), que permite essa comunicação com as autoridades, com os órgãos oficiais.

22.3.4 FUNÇÕES

Art. 103-B, §4º, CRFB/88 – ROL EXEMPLIFICATIVO .

O STF já decidiu que as Resoluções do CNJ são atos normativos primários e podem ser objeto
de ações controle concentrado de constitucionalidade.

22.3.5 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE e CNJ

Durante muitos anos, o STF entendeu que o CNJ NÃO podia realizar controle incidental de
constitucionalidade nos processos administrativos sob a sua análise.

Houve uma virada de jurisprudência e o entendimento, hoje, é o de que o CNJ pode sim
realizar esse controle incidental, afastando leis e atos violadores da Constituição no julgamento
dos processos administrativos colocados sob sua análise.

22.4 CONSELHO NACIONAL DO MINISTÉRIO PÚBLICO

• NÃO é órgão do Ministério Público (rol do art. 128, CRFB/88);


• Criado para reforçar a fiscalização administrativa e financeira dos Órgãos do MP.

22.4.1 BASE LEGAL

• Base constitucional - Art. 130-A, CRFB/88.

22.4.2 COMPOSIÇÃO

Art. 130-A, da CRFB/88 – composição mista/híbrida (membros do MP, juízes, advogados


e cidadãos).

22.4.3 PRESIDÊNCIA

Está nas mãos do PGR.

76
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

22.4.4 FUNÇÕES

Art. 130-A, §2º, CRFB/88 – ROL EXEMPLIFICATIVO .

ATENÇÃO!
Art. 102, I, r, CRFB/88 – é competência do STF julgar as ações contra o CNJ e contra o CNMP:

• Habeas corpus;
• Habeas data;
• Mandados de segurança; e
• Mandados de injunção.

As demais ações são ajuizadas perante a Justiça Federal de 1º Grau.

23 CONTROLE DE
CONSTITUCIONALIDADE

23.1 TEORIA GERAL DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

23.1.1 PRINCÍPIOS NORTEADORES

A Constituição está no topo da hierarquia das leis, norma de


hierarquia máxima no país.

É uma norma superior no ponto de vista material (conteúdo),


porque trata dos assuntos mais importantes do país, das normas
relacionadas à estrutura do Brasil, a sua forma de estado, forma
de governo, como se dá a separação de poderes, a repartição de
SUPREMACIA DA
competências, os direitos e garantias individuais etc. Além disso,
CONSTITUIÇÃO
é superior também com relação à forma, é dela que as demais
leis elaboradas no país retiram fundamento jurídico de validade.

ESCALONAMENTO HIERÁRQUICO NORMATIVO.

A Constituição Federal ocupa ápice da pirâmide do


ordenamento normativo (consubstancia-se em seu fundamento
de validade), assim as normas que NÃO estiverem de acordo

77
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

com a Constituição serão INCONSTITUCIONAIS (ausência de


fundamento de validade na Lei Fundamental).

É preciso manter um equilíbrio no ordenamento jurídico brasileiro,

UNIDADE DO assim as leis produzidas no país NÃO podem estar em

ORDENAMENTO desconformidade com a Lei Maior.


JURÍDICO A Constituição é um todo orgânico (NÃO há norma inferiores e
superiores).

PRINCÍPIO DA SEGURANÇA JURÍDICA

As leis e os atos normativos editados pelo Poder Público são


protegidos pelo o PRINCÍPIO DA PRESUNÇÃO DE
CONSTITUCIONALIDADE DAS LEIS .
As leis e os atos normativos são válidos até que sejam declarados
inconstitucionais pelo órgão competente (PRESUNÇÃO
RELATIVA).

A inconstitucionalidade das leis é medida EXCEPCIONAL .


PRESUNÇÃO DE
Deve-se primeiro compatibilizá-la com o texto constitucional
CONSTITUCIONALIDADE
(interpretação).
DAS LEIS – ADI 815
Presunção RELATIVA de Constitucionalidade:

• Normas infraconstitucionais;
• Normas Constitucionais DERIVADAS (ECs).

Presunção ABSOLUTA de Constitucionalidade (ADI 815):

• Normas Constitucionais ORIGINÁRIAS (tanto do corpo


da constituição quanto do ADCT).

Ou seja, NÃO se declara a inconstitucionalidade de normas


constitucionais originárias (promulgadas em 05/10/1988).
Art. 1º, III, CRFB/88 – é um dos fundamentos da RFB, assim, ao
DIGNIDADE DA PESSOA
se preservar a Constituição, está-se preservando também todos
HUMANA
os direitos e garantias fundamentais.

23.1.2 PARÂMETRO DO CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE

As leis e emendas produzidas no país podem ser declaradas inconstitucionais caso violem
o que?

78
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

BLOCO DE CONSTITUCIONALIDADE

(STF adotou a Teoria Francesa) – é o parâmetro de constitucionalidade.

Composição do Bloco de Constitucionalidade:

• Texto-base: arts. 1º a 250, CRFB/88 – o texto constitucional é parâmetro básico;


• ADCT, NÃO exaurida – compreende a parte normativa da Constituição (normas exauridas
– NÃO possuem mais normatividade);
o ATENÇÃO! Assim, na visão doutrinária, as normas do ADCT somente
podem ser parâmetro de constitucionalidade quando não tiverem exaurido os
seus efeitos.
• Tratados Internacionais de Direitos Humanos (emendas) – aprovados com quórum
qualificado, por possuírem status constitucional;
• Princípios Constitucionais Implícitos – têm força normativa. Ex.: razoabilidade.

OBS.: O PREÂMBULO (ADI 2076):

• NÃO tem força normativa (NÃO possui imperatividade e NEM normatividade), é


apenas fonte de interpretação, podendo ser citado nas decisões do STF. Domínio da política;
• NÃO é parâmetro no controle de constitucionalidade;
• NÃO é de observância obrigatória nas Constituições Estaduais.

23.1.3 HISTÓRICO

O Direito Brasileiro NÃO criou nem o sistema difuso nem o concentrado

a) Direito Comparado

O mecanismo de constitucionalidade das normas constitucionais


pelo Poder Judiciário é uma construção do constitucionalismo norte-
Fato histórico
americano. EUA (1803) – assentou as bases e estabeleceu a
relevante do MODELO
sistematização do controle difuso judicial (judicial review – revisão
DIFUSO
judicial). LEADING CASE : Marbury vs. Madison, relatado pelo
(aberto)
Presidente da Suprema Corte norte-americana John Marshall.
Primeira vez que foi discutida a constitucionalidade da lei, em
Caso Marbury vs. análise do art. 6º, da Constituição Norte Americana. Tripé:
Madson, 1803, EUA • Leis e atos não podem violar a Constituição;

• Se violarem serão nulas de pleno direito;

79
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Cabe ao Judiciário realizar essa fiscalização em defesa


da Constituição.

Fato histórico
relevante do MODELO Controle de constitucionalidade em abstrato, surgiu na Áustria, em
CONCENTRADO 1920, pela criação de Hans Kelsen, era exercido pelo Poder
(reservado ou fechado) Judiciário, um Tribunal ou uma Corte Constitucional.

CONSTITUIÇÃO É realizado pela Corte Constitucional do País.


AUSTRÍACA, 1920

Adotado pelo Brasil, que tem tanto o modelo difuso quanto o


MODELO MISTO
concentrado.

b) Direito Brasileiro

CONSTITUIÇÃO DE 1824

Não fez referência ao controle de constitucionalidade. Teoria do Poder moderador.

A Constituição Imperial dava competência ao Poder Legislativo para fiscalizar seus próprios atos
e aferir a compatibilidade com a Constituição.

CONSTITUIÇÃO DE 1891 (PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO A APRESENTAR O


CONTROLE DIFUSO)

Influenciada pela Constituição dos EUA.

Incorporou o SISTEMA DIFUSO (aberto) – QUALQUER juiz ou Tribunal diante de um caso


concreto pode reconhecer a inconstitucionalidade da lei.

CONSTITUIÇÃO DE 1934 (PRIMEIRA CONSTITUIÇÃO A AGREGAR UMA AÇÃO NO


CONTROLE CONCENTRADO)

Tem inspiração na Constituição Alemã.

Manteve o CONTROLE DIFUSO .

Inseriu a CLÁUSULA RESERVA DE PLENÁRIO – controle de constitucionalidade


somente poderia ser realizado pela maioria ABSOLUTA dos membros do Tribunal.

Criou a REPRESENTAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE INTERVENTIVA


FEDERAL.

Competência do SENADO para suspender a execução de uma norma.

80
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

CONSTITUIÇÃO DE 1937

Tem origem na Constituição Polonesa.

Manteve o CONTROLE DIFUSO .

O Presidente passou a ter poderes de submeter novamente ao Parlamento a lei já declarada


inconstitucional.

CONSTITUIÇÃO DE 1946

Voltaram as características de 1934.

Criou-se a ADI de competência originária do STF (Lenza).

EMENDA CONSTITUCIONAL 16/65

Introduzido no CONTROLE ABSTRATO das normas.

Criou-se o controle de constitucionalidade ESTADUAL.

Criou a Representação de Inconstitucionalidade (que, em 1988, passou a ser chamada de


AÇÃO DIRETA DE INCONSTITUCIONALIDADE).

CONSTITUIÇÃO DE 1967/69

NÃO trouxe inovações – manteve o CONTROLE DIFUSO e ABSTRATO .

CONSTITUIÇÃO DE 1988

Ampliação do rol de legitimados da ADI, quebrando o monopólio do Procurador-Geral da


República, para um rol de 9 legitimados.

Criou a ARGUIÇÃO DE DESCUMPRIMENTO DE PRECEITO FUNDAMENTAL


(ADPF) – residual.

Introdução da INCONSTITUCIONALIDADE POR OMISSÃO (ADO) e do Mandado de


Injunção (MI).

23.2 TIPOS DE INCONSTITUCIONALIDADE

FORMAL (nomodinâmica) MATERIAL (nomoestática)

Para parte da doutrina (MAJORITÁRIA), é A norma viola outras normas da Constituição,


dividida em:
viola um dos princípios, uma das regras.
• SUBJETIVA – é aquela em que o vício
É a inconstitucionalidade que recai sobre o
da norma recai sobre o ato da iniciativa do
CONTEÚDO da norma, embora tenha sido
processo legislativo ou sobre alguma regra de
elaborada de forma correta.
competência.

81
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

o Ex.: Violação: ao art. 61, §1º – Nomoestática – ideia de substância, estático.


matéria cuja iniciativa é
reservada ao Presidente da
República; ao art. 60, I a III – rol
de legitimados ativos que
podem, com exclusividade,
apresentar PEC; aos arts. 21 a
24, 30 – competências dos
Entes Federativos.
• OBJETIVA – aquela que recai sobre o
rito, procedimento, sobre os demais atos do
processo legislativo (votação, discussões,
emendas etc.), posteriores à iniciativa.
o Ex.: violação: ao art. 64 –
projetos de leis começam a
tramitar na Câmara dos
Deputados; ao art. 69 – LC é
aprovada por maioria absoluta.

Para outra parte da doutrina, é dividida em:


• ORGÂNICA – decorre da inobservância
da competência legislativa;
• PROPRIAMENTE DITA – recai sobre o
próprio processo legislativo de criação da
norma.

Quando o descumprimento da Constituição


está no seu PROCESSO DE ELABORAÇÃO e
não no seu conteúdo, sendo compatível em
relação a este.

TOTAL PARCIAL

Quando somente PARTE da lei contraria a


Constituição.

Princípio da Parcelaridade – uma norma só


Quando TODA a lei contraria a Constituição. pode ser declarada inconstitucional naquilo
que ela for realmente inconstitucional,
podendo a irregularidade recair sobre apenas
uma palavra ou trecho da norma.

82
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

≠ de Veto, que NÃO pode recair sobre apenas


uma palavra ou expressão (art. 66).

POR AÇÃO POR OMISSÃO

Decorre da INÉRCIA LEGISLATIVA


Quando o desrespeito à Constituição resulta
(conduta OMISSIVA) na regulamentação das
de uma CONDUTA COMISSIVA, positiva,
normas constitucionais de eficácia
praticada por algum órgão estatal.
limitada. IMPEDE o exercício de direito.
Pode ser total ou parcial.
Pode ser total ou parcial.
Ex.: lei em desacordo com a Constituição.
Ex.: regulamentação do direito de greve.

SUPERVENIENTE
ORIGINÁRIA
(NÃO adotada no Brasil)

Aqui, a inconstitucionalidade se manifesta


É a inconstitucionalidade que acompanha a
posterior à criação da norma, seja pela
norma desde a sua criação, ou seja, a norma
alteração da CRFB/88, por meio de uma EC,
já foi promulgada incompatível com a
seja pela substituição da CRFB/88, através do
Constituição.
Poder Constituinte Originário.

ATENÇÃO! Para o STF, NÃO EXISTE Inconstitucionalidade Superveniente.


Aquele entende que se a lei for incompatível com a nova constituição ou com a alteração da
então vigente, a norma será NÃO RECEPCIONADA (que gera a REVOGAÇÃO), e não
considerada inconstitucional.

23.3 MODALIDADES DE CONTROLE

Quanto ao MOMENTO

Quando a fiscalização da validade da norma incidir sobre o PROJETO


DE LEIS e PROPOSTA DE EMENDAS .

REGRA: O controle preventivo de constitucionalidade normalmente é


POLÍTICO (feito pelo Legislativo e pelo Executivo), no processo de
PREVENTIVO
elaboração das normas.
(a priori)
Ex.: Parecer da CCJ (cujo papel principal é o de verificar se o projeto foi
elaborado de acordo com a Constituição) e o Veto jurídico ou formal do
Presidente da República.

83
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

EXCEÇÃO: CONTROLE PREVENTIVO JUDICIAL


Ex.: MS impetrado por Parlamentar (Deputado Federal ou Senador –
únicos legitimados), no STF, para proteger o “devido processo
legislativo” (única exceção) – o parlamentar, portanto, tem direito líquido
e certo de somente participar de um processo legislativo compatível com
a Constituição.

Esse MS somente vai tramitar enquanto o parlamentar for parlamentar e


enquanto o processo legislativo estiver em andamento, ou seja, se o
parlamentar perder o cargo ou falecer durante o mandato, o MS será
EXTINTO sem resolução de mérito.
Fruto de uma construção jurisprudencial – exemplo de CONTROLE
PREVENTIVO JUDICIAL DIFUSO CONCRETO INCIDENTAL:

• Difuso – o STF não é provocado como órgão de jurisdição


constitucional, aquele atua porque é quem julga MS contra ato de Mesa
de Casa Legislativa. Então, o STF é provocado como órgão competente
para julgamento do MS;
• Concreto – porque é julgado no bojo de uma situação concreta,
o Parlamentar quer resolver aquele conflito;
• Incidental – pois a análise acerca do projeto é feita no bojo da
fundamentação da peça e da decisão do STF.

MS 32033 (Info. 711):

• projetos de leis (ordinárias, complementares) podem ser


analisados nesse mandado de segurança por vício de forma (violação
ao devido processo legislativo);
• mas a PEC pode ser analisada tanto sob o ângulo formal quanto
material (art. 60, §4º).

A fiscalização de validade incide sobre a NORMA PRONTA (leis) e


EMENDAS.
REPRESSIVO
A norma já foi inserida no ordenamento jurídico.
(a posteriori,
REGRA: O controle repressivo é geralmente JUDICIAL, através dos
sucessivo)
sistemas difuso e concentrado.

Ex.: ADI, que somente pode ter por objeto lei vigente.

84
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

EXCEÇÃO: CONTROLE REPRESSIVO POLÍTICO


Ex.:

• Art. 62, §5º, §9º - Quando o Congresso rejeita uma Medida


Provisória já vigente por julgá-la inconstitucional;
• Art. 49, V - Sustação pelo Congresso Nacional de leis delegadas
ou de decretos regulamentares (quanto a estes últimos, trata-se, em
verdade, de um controle de legalidade, uma vez que o controle é feito
em relação à lei que regulamenta a edição do decreto e não em relação
à Constituição. Entretanto, não deixa de ser um controle político
repressivo).
• Súmula 473, STF – autotutela – a Administração Pública pode
revogar os próprios atos válidos por conveniência e oportunidade OU
anulá-los quando eivados de ilegalidade.
• Súmula 347, STF – permite que o Tribunal de Contas, no
julgamento das contas, possa afastar leis inconstitucionais (controle feito
no caso concreto).

Quanto ao ÓRGÃO

JUDICIAL ou
O controle é realizado pelo PODER JUDICIÁRIO .
JURISDICIONAL

O controle é realizado por um órgão que NÃO integra o Poder


Judiciário (Legislativo e Executivo).
POLÍTICO
Ex.: Controle realizado pelas Comissões de Constituição e Justiça e
o veto do chefe do Poder Executivo a projeto de lei.

O controle é realizado em parte pelo Poder Judiciário, em parte por


MISTO
outro órgão.

23.4 QUADRO COMPARATIVO – SISTEMA DIFUSO E CONCENTRADO

SISTEMA DIFUSO SISTEMA CONCENTRADO

(aberto) (fechado ou reservado)

Direito Norte Americano ou Direito Europeu ou Austríaco

ORIGEM Estadunidense (1920 – Hans Kelsen)


(1803 – Marbury vs. Madson)

85
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

A primeira Constituição brasileira a

A primeira Constituição brasileira a apresentar o sistema concentrado

apresentar o sistema difuso foi a de foi a de 1934 (Representação de

1891. Inconstitucionalidade Interventiva).

STF
(em âmbito federal, quando o
ÓRGÃO parâmetro é a CRFB/88)
Qualquer Juiz ou Tribunal
COMPETENTE

Em relação à Constituição Estadual,


é o TJ.

Autor, réu, terceiro interessado,


LEGITIMIDADE Os legitimados do art. 103, I a IX, da
Ministério Público, Juiz/Tribunal de
ATIVA CRFB/88 (ROL TAXATIVO )
ofício (partes interessadas)

Via incidental, de defesa, de exceção

A análise sobre a constitucionalidade


Via direta, principal, de ação (ADI,
FORMA de uma norma é feita na via
ADC, ADO e ADPF)
incidental, na fundamentação
jurídica.

NÃO há objeto delimitado: qualquer


norma primária (extraída da
Cada ação possui seu objeto
OBJETO CRFB/88), secundária (extraída da
próprio.
lei), federal, estadual, distrital,
municipal, pré ou pós-constitucional.

Em regra: INTER PARTES Em regra: ERGA OMNES

E, também, Vinculantes – que


atingem os órgãos do Poder

EFEITOS Judiciário e da Administração


EXCEÇÃO: Papel do Senado Pública Direta e Indireta, nos
SUBJETIVOS
Federal* âmbitos: federal, estadual, distrital e
municipal. NÃO atingem o Poder
Legiferante do Estado e nem o
plenário do STF.

86
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

23.5 PRINCÍPIO DA RESERVA DE PLENÁRIO

Surgiu na Constituição de 1934.

Art. 97, CRFB/88. Somente pelo voto da MAIORIA ABSOLUTA de seus


membros ou dos membros do respectivo ÓRGÃO ESPECIAL poderão
os tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou ato normativo do
Poder Público.

Fundamentos principiológicos (visa defender):


o O princípio da Presunção de Constitucionalidade das Leis;
o O princípio da Colegialidade.

TRIBUNAL = PLENO

PLENÁRIO Decisões principais

Quando o Tribunal tem mais de 25 julgadores, pode ser criado o órgão

ÓRGÃO especial, que pode ter no MÍNIMO 11 e no MÁXIMO 25 membros (art.


ESPECIAL 93, XI, CRFB/88)

Nasceu para facilitar os julgamentos nos tribunais mais numerosos.

Câmaras, Sessões, Turmas etc.

ÓRGÃOS ÓRGÃOS FRACIONÁRIOS NÃO podem declarar


FRACIONÁRIOS inconstitucionalidade de uma lei ou ato normativo, somente a formação
plenária do Tribunal OU pelo órgão especial criado.

23.5 EXCEÇÕES à CLÁUSULA DE RESERVA DE PLENÁRIO

Art. 948, do CPC. Arguida, em controle difuso, a inconstitucionalidade de


lei ou de ato normativo do poder público, o relator, após ouvir o Ministério
Público e as partes, submeterá a questão à turma ou à câmara à qual
competir o conhecimento do processo.
Art. 949, do CPC. Se a arguição for:
I - Rejeitada, prosseguirá o julgamento;
II - Acolhida, a questão será submetida ao plenário do tribunal ou ao seu
órgão especial, onde houver (cumpre o art. 97, da CRFB/88).
Parágrafo único. Os órgãos fracionários dos tribunais não submeterão ao

87
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

plenário ou ao órgão especial a arguição de inconstitucionalidade quando


já houver pronunciamento destes ou do plenário do Supremo Tribunal
Federal sobre a questão.

a) Se a arguição de inconstitucionalidade for REJEITADA, consequentemente, a norma


será aplicada normalmente, e, nesse caso, NÃO há reserva de plenário para aplicação da norma,
para declarar a sua constitucionalidade (art. 949, I, CPC);
b) Quando o Plenário ou o Órgão Especial do Tribunal já tiver se manifestado sobre a
constitucionalidade ou inconstitucionalidade da lei (art. 949, parágrafo único, CPC);
c) Quando o Plenário do STF já tiver se manifestado sobre a constitucionalidade ou
inconstitucionalidade da lei (art. 949, parágrafo único, CPC).

RESUMO

Se entender que a Lei é CONSTITUCIONAL – aplicará a Lei e decidirá o


mérito, uma vez que NÃO há reserva de plenário para declarar a
constitucionalidade da norma.

Se entender que a Lei é INCONSTITUCIONAL – precisará, em regra,


promover uma cisão constitucional de competência e remeterá ao
Tribunal, seja pelo seu Pleno ou Órgão Especial, apenas a questão da
inconstitucionalidade.
ÓRGÃO
Nesse caso, o processo ficará SUSPENSO, o Órgão Especial ou o Pleno se
FRACIONÁRIO
reunirá para decidir pela constitucionalidade ou não da Lei, lavrará um
acórdão, que voltará para o Órgão Fracionário. Este, então, passa a decidir
o mérito com base no que foi decidido.

EXCEÇÃO: Se entender que a Lei é INCONSTITUCIONAL , mas há


precedente, NÃO há cisão funcional de competência, NÃO há
necessidade de remessa ao Órgão Especial do Tribunal, porque a análise já
foi feita em outro processo (art. 949, parágrafo único, CPC).

Súmula Vinculante nº 10 do STF: VIOLA a cláusula de reserva de


plenário (CRFB/88, art. 97) a decisão de órgão fracionário de tribunal que,
embora não declare expressamente a inconstitucionalidade de lei ou ato
normativo do Poder Público, afasta sua incidência, no todo ou em parte.

Ou seja, o Órgão Fracionário NÃO pode nem declarar a inconstitucionalidade da lei nem
deixar de aplicá-la por entender que é inconstitucional sem que esteja devidamente apoiado em

88
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

uma decisão anterior do próprio Tribunal ou do STF.

NÃO HÁ RESERVA DE PLENÁRIO:

O Juiz de 1º Grau julga (exercer sua atividade jurisdicional) sozinho,


Em caso de Juiz ele NÃO precisa consultar os demais membros do Tribunal.
Singular; Portanto, no bojo da fundamentação jurídica, ele pode, sozinho,
entender que a Lei é inconstitucional.

Em caso de Turmas A Turma Recursal, embora seja um órgão colegiado, NÃO tem status
Recursais de de Tribunal, pois é formada por Juízes de 1º Grau.
Juizados Especiais; E a regra da reserva de plenário somente se aplica a Tribunais.
Quando o juízo for A Reserva de Plenário é necessária quando há uma efetiva declaração
pela ilegalidade da de INCONSTITUCIONALIDADE e NÃO para declarar a ilegalidade
norma; das normas secundárias.
Em nosso país, uma norma pré-constitucional (de 1920, por exemplo)
Quando for pela não
declarada incompatível materialmente com a Constituição NÃO será
recepção da lei.
declarada inconstitucional, será, no entanto, REVOGADA.

23.6 JURISPRUDÊNCIA

Inconstitucionalidade de lei e decisão monocrática - 2


É possível o julgamento de recurso extraordinário por decisão monocrática do relator nas
hipóteses oriundas de ação de controle concentrado de constitucionalidade em âmbito estadual
de dispositivo de reprodução obrigatória, quando a decisão impugnada refletir pacífica
jurisprudência do STF sobre o tema. Com base nessa orientação, por maioria, o Plenário
recebeu os embargos de declaração como agravo regimental e a este negou provimento. Na
espécie, tratava-se de declaratórios opostos de decisão monocrática proferida pelo Ministro Dias
Toffoli (CPC, art. 557, § 1º, a), na qual assentada — com fundamento na jurisprudência
consolidada da Corte — a inconstitucionalidade de lei que dispõe sobre a criação de cargos em
comissão para funções que não exigissem o requisito da confiança para o seu preenchimento. Na
mencionada decisão, o relator destacara que os cargos, consoante a norma impugnada, deveriam
ser ocupados por pessoas determinadas conforme a descrição nela constante — v. Informativo
707. Em acréscimo, o Ministro Teori Zavascki, tendo em conta a natureza objetiva do recurso
extraordinário nesses casos, destacou que o procedimento se justificaria pelas mesmas razões
que autorizariam a dispensa da cláusula da reserva de plenário (CPC, art. 481, parágrafo único),
invocáveis por analogia. Observou, também, que a análise pelo órgão colegiado não estaria
excluída, pois poderia ser provocada por recurso interno. Vencido o Ministro Marco Aurélio quanto
à conversão e ao mérito. Destacava impossibilidade de o relator, monocraticamente, julgar o tema
de fundo de processo objetivo a envolver controvérsia constitucional. RE 376440 ED/DF, rel. Min.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Dias Toffoli, 18.9.2014. (RE-376440). (Informativo 759)

Houve na ocasião, a dispensa da cláusula da reserva de plenário, ao passo que o relator julgou
sozinho, por decisão monocrática, a inconstitucionalidade de uma norma respaldado por uma
decisão do colegiado do STF em um processo anterior, em que se discutiu a mesma norma.
Está-se diante de uma espécie de uma “exceção dentro de uma exceção”, visto que a exceção
do art. 949, parágrafo único, do CPC, permite que um órgão fracionário, apoiado em precedente
do colegiado, pudesse afastar a constitucionalidade da Lei, enquanto que o caso narrado
permitiu que uma decisão monocrática pudesse declarar uma lei inconstitucional, quando
apoiada em uma decisão anterior do Supremo.

ATENÇÃO!
“...Não afronta o Enunciado 10 da Súmula Vinculante, nem a regra do art. 97 da
Constituição Federal, o ato da autoridade judiciária que deixa de aplicar a norma infraconstitucional
por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida
mediante a sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição”. (STF, Rcl
24284/SP)

Neste caso, houve a não aplicação da lei, entretanto o motivo NÃO foi a inconstitucionalidade,
mas sim ausência de subsunção aos fatos, ou seja, a lei não foi aplicada por não ser a norma
adequada àquele caso concreto.

23.7 PAPEL DO SENADO FEDERAL

CRFB/88, art. 52, X. Compete PRIVATIVAMENTE ao SENADO


FEDERAL:
X – Suspender a execução, no todo ou em parte, de lei declarada
inconstitucional por decisão DEFINITIVA do STF.

Esse papel do Senado Federal acompanha o constitucionalismo brasileiro desde 1934.

23.7.1 Procedimento (art. 52, X, CRFB/88)

• Só tem aplicação no CONTROLE DIFUSO .

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

O STF (seja em sede de HC, MS, RE etc. – analisando um caso concreto) – decide,
incidentalmente, que a Lei é INCONSTITUCIONAL.

Essa decisão vale para as partes, mas o STF, por força do art. 178, de seu Regimento, é
OBRIGADO a comunicar o Senado Federal dessa decisão.

O Senado Federal, por sua vez, PODERÁ emitir uma RESOLUÇÃO , com base no art. 52, X,
CRFB/88, dando efeito ERGA OMNES à decisão do Supremo.

• O SENADO NÃO está obrigado (PODER DISCRICIONÁRIO – conveniência e


oportunidade), tampouco tem prazo para editar a RESOLUÇÃO suspendendo a execução da lei
para toda a sociedade.
o Tal RESOLUÇÃO se sujeita ao controle de constitucionalidade (formal e
material).
• É ATO POLÍTICO ;
• Uma vez criada a RESOLUÇÃO para fins de SUSPENSÃO da norma, NÃO é
possível voltar atrás, pois violaria o Princípio da Segurança Jurídica.
o Nesse caso, restam prejudicados os demais julgamentos que tenham como
objeto o ato normativo em questão.
• NÃO se pode ampliar, restringir ou modificar a decisão do STF – tem que ser nos exatos
limites – no “todo” ou “em parte”.

Nos casos de:

• Ilegalidade; ou
NÃO SE APLICA • Não-recepção.
o art. 52, X: Nesses casos, o STF NÃO é obrigado a comunicar sua decisão ao
Senado Federal. Se não há declaração de inconstitucionalidade, NÃO há
atuação do Senado Federal.

EFEITO TEMPORAL (tema controvertido na doutrina)

Tem sido prestigiado em prova que a SUSPENSÃO da execução da Lei pelo Senado Federal
gera seus efeitos dali para frente, ou seja, EX NUNC.

Divergência entre autores ex nunc (Bandeira de Melo) e ex tunc (Gilmar Mendes e Barroso).

Administração Pública Direta e Indireta – os efeitos são EX TUNC (Dec. 2.346/97, art. 1º).

É preciso destacar que o tema é controvertido, mas se tem adotado, em regra, que os efeitos

91
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

são ex nunc, muito embora alguns doutrinadores sustentem ser ex tunc, por sustentarem que o
Brasil adota, em regra, a teoria da nulidade (lei inconstitucional é nula de pleno direito),
retroagido os efeitos de sua suspensão até o momento da criação da norma.

23.7.1 Críticas ao art. 52, X

Tal dispositivo surgiu em 1934 e, à época, o controle do Senado surgiu para dar efeito mais
amplos às decisões do STF, que não produziam efeitos maiores, porque se tinha a predominância
do controle difuso.
Com a Constituição de 1988, nitidamente, houve o prestígio do controle concentrado,
ampliando o número de ações, de legitimados ativos. E muitas decisões importantes com efeitos
erga omnes são dadas pelo Supremo no próprio controle concentrado.
Então, para alguns doutrinadores e alguns Ministros do STF, o art. 52, X, teria se tornado
obsoleto, uma figura anacrônica, desnecessária, já que o STF tem tanto poder no controle
concentrado que se torna desnecessária essa atuação do Senado Federal no controle difuso.

Ex.: O STF julgou o HC 82.959/SP, no qual decidiu pela inconstitucionalidade incidental do art.
2º, da Lei de Crimes Hediondos (Lei 8.072/90) – parte em que proibia a progressão de regime
de cumprimento de pena nos crimes hediondos.

Sabe-se que, no controle difuso, em regra, os efeitos são inter partes, mas é possível a produção
de efeitos erga omnes caso o Senado Federal, na forma do art. 52, X, crie uma Resolução.

A Defensoria Pública do Estado do Acre, sabendo dessa decisão do STF sobre o HC de São
Paulo, tentou a extensão dessa decisão para a progressão de regime de alguns presos no
estado.

Só que o Juiz da Vara de Execuções disse não ser obrigado a cumprir o que o STF decidiu no
HC citado, porque a decisão valeu apenas para as partes, uma vez que NÃO há Resolução do
Senado suspendendo a lei para todos.

Em face dessa decisão, a DPE do Acre apresentou uma Reclamação (RCL 4335/AC)
justificando que o Juiz da Vara de Execuções teria, supostamente, violado a decisão do Tribunal
no HC 82.959.

Os Ministros Eros Grau e Gilmar Mendes, em conjunto, defenderam uma tese chamada
abstrativização (abstratização ou objetivização) do controle difuso, pela qual TODAS as
decisões do STF, no controle difuso ou no concentrado, produziriam efeitos ERGA OMNES, e
a Resolução do Senado serviria apenas para dar mera publicidade às decisões do Supremo
que já produziriam esses efeitos em relação a todos sem a Resolução. Ou seja, os Ministros
defenderam que o controle difuso teria sofrido as influências do abstrato (concentrado).

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Os Ministros chegaram a alegar que o art. 52, X, da CRFB/88 teria sofrido uma Mutação
Constitucional¸ uma releitura ao longo dos tempos.

Essa Reclamação só foi concluída em 2014 e essa tese sustentada pelos Ministros NÃO foi a
vencedora. O Tribunal deu provimento à Reclamação, mas sob o fundamento de que ela teria
violado a Súmula Vinculante nº 26 (que nasceu depois).

O Ministro Teori Zavaski sustentou que já se tem muitas decisões do Supremo com efeitos mais
amplos: todas as decisões do controle concentrado, a possibilidade de criação de Súmula
Vinculante, o instituto da repercussão geral em Recurso Extraordinário.

Ou seja, já se tem recursos na Constituição de extensão da eficácia subjetiva das decisões da


Corte, então, defendeu a manutenção do art. 52, X, da CRFB/88.

A Teoria da Abstrativização continua presente no País. Em uma recente decisão em controle


concentrado de constitucionalidade sobre a proibição de comercialização do amianto, por ser
uma substância cancerígena. Portanto, o tema voltou à baila no STF, mas, por se estar diante
do controle concentrado, que por si só gera o efeito erga omnes, o Tribunal não precisou
enfrentar o art. 52, X.

Entretanto, a teoria NÃO é uma realidade, é apenas uma tendência.

A Teoria da Abstrativização é uma tendência sustenta por alguns Ministros do STF, que
defendem que o art. 52, X, da CRFB/88 teria sofrido uma mutação constitucional, que todas as
decisões do Tribunal, no controle difuso ou concentrado, produziriam efeitos erga omnes e, além
disso, que o Senado, no controle difuso, editaria uma Resolução meramente para dar
publicidade à decisão do STF.

23.8 ASPECTOS COMUNS NAS AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO

Surgiu com a EC 16/65 – era denominada


ADI Representação de Inconstitucionalidade.
ADI, ADC e ADO – são regidas,
Em 1988, passou a ser denominada ADI.
no plano infraconstitucional, pela
Nasceu pela EC 3/93 – já sob a hedge da
ADC Lei 9.868/99.
CRFB/88.

ADO
Surgiram em 1988. ADPF – base infraconstitucional
ADPF
na Lei 9.882/99

Todas formam um processo OBJETIVO, sem partes, sem lide, sem pretensão resistida de

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

interesses, é um processo voltado à defesa da supremacia da Constituição.

ADI, ADC, ADO e ADPF

Legitimados – art. 103, I a IX, da CRFB/88.

• Legitimados ESPECIAIS – IV, V, IX – precisam comprovar


LEGITIMIDADE
pertinência temática16;
ATIVA
• Legitimados UNIVERSAIS – I a III, VI a VIII – NÃO precisam
comprovar pertinência.

JURISPRUDÊNCIA:

- Partidos Políticos (VIII) – é legitimado UNIVERSAL principalmente pelo que diz o art. 17,
da CRFB.

• NÃO precisa comprovar pertinência temática.


• Precisa de ADVOGADO para propositura dessas ações.
• Precisa ter representação no Congresso Nacional – basta, em uma das Casas, ter
um Deputado ou Senador.
• Segundo entendimento do Supremo, o momento de averiguação sobre a existência
ou não da representação política no CN é na propositura da ação, portanto, a perda
superveniente da representação política do Partido, no curso do feito, NÃO gera a
extinção da ação sem decisão de mérito.
• Os Partidos Políticos só podem ajuizar as ações concentrado federal através do seu
DIRETÓRIO NACIONAL , os diretórios regionais ou locais NÃO podem ajuizar as
ações do controle concentrado.

- Confederação Sindical (IX – 1ª parte) – é formada por três federações, na forma do art. 535,
da CLT.

• Precisa comprovar PERTINÊNCIA TEMÁTICA – legitimado ESPECIAL.


• Precisa de ADVOGADO para propositura dessas ações.
• Segundo o entendimento do STF, nem os sindicatos nem as federações sindicais
podem ajuizar as ações do controle concentrado de constitucionalidade. No plano
sindical, a legitimidade é unicamente da Confederação.

- Entidade de Classe de âmbito Nacional (IX – 2ª parte) – é aquela que representa interesses
de uma determinada categoria econômica ou profissional.

• Precisa comprovar PERTINÊNCIA TEMÁTICA – legitimado ESPECIAL.

16É a relação de harmonia que deve existir entre o objeto da ação e o interesse da classe, do grupo, da
categoria, daquela população.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Precisa de ADVOGADO para propositura dessas ações.


• Segundo o STF, o que comprova o âmbito nacional da Entidade é a satisfação do
requisito do art. 8º, da Lei 9096/95 – representação em pelo menos 9 estados da
Federação.

CABIMENTO
A tutela de urgência pode ser deferida em todas as ações do controle
DE MEDIDA DE
concentrado de constitucionalidade e tem NATUREZA LIMINAR .
URGÊNCIA

Não há desistência porque todas as ações do controle concentrado de


NÃO HÁ constitucionalidade visam defender a supremacia da Constituição. Assim,
DESISTÊNCIA uma vez ajuizadas, o STF já está autorizado a seguir em frente em defesa
da Constituição Federal.

Amigo da corte (amigo da boa decisão).

Até o advento do CPC atual, a jurisprudência do Supremo entendia que o Amicus Curiae
NÃO podia ser uma pessoa natural, deveria, portanto, ser uma pessoa jurídica,
associação, ONG, partido político etc.

Ou seja, um órgão de representação coletiva que levaria ao Tribunal as suas percepções


sobre o tema através de memorias, perícias, estatísticas, e, se o Ministro Relator
AMICUS CURIAE

permitisse, de sustentação oral no julgamento da ação.

É uma figura extremamente importante para legitimar socialmente as decisões do STF.

A Corte sempre entendeu que o Amicus Curiae NÃO era um terceiro interessado
propriamente dito, mas sim um terceiro especial, aquele que teria vindo colaborar. E o
objetivo sempre foi o de dar uma maior pluralidade ao debate sobre matérias importantes.

O CPC/2015 incluiu o Amicus Curiae no título sob a rubrica “intervenção de terceiros”


(art. 138, CPC).

Permite que seja pessoa natural ou jurídica, pode, inclusive, opor embargos de
declaração.

Assim, de acordo com a jurisprudência do STF, o Amicus Curiae somente pode ser uma
pessoa jurídica e trata-se de um terceiro especial, e não um terceiro interessado em sentido
formal, além disso, NÃO pode opor embargos de declaração.

Para o CPC, entretanto, em seu art. 138, o Amicus Curiae pode ser tanto pessoa natural quanto
jurídica, enquadra-se no título intervenção de terceiros e pode interpor embargos de declaração.

MODULAÇÃO Art. 27, Lei 9.868/99 e art. 11, Lei 9882/99


TEMPORAL Quando o STF declara a inconstitucionalidade de uma lei, por exemplo, a
DOS EFEITOS regra geral é que essa decisão gere a nulidade (nula de pleno direito),

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

DA DECISÃO retroagindo à data da sua edição. Porém, muitas vezes, as leis demoram
muito tempo até que sejam declaradas inconstitucionais, enquanto isso vão
produzindo seus efeitos.

Assim, se o Supremo usar a nulidade em todos os casos poderá produzir


efeitos catastróficos para o país, destruindo relações jurídicas que o tempo
já consolidou.

A Modulação temporal dos efeitos da decisão vem justamente para evitar


essa insegurança jurídica, possibilitando a declaração de
inconstitucionalidade sem pronúncia de nulidade por 2/3 dos Membros do
STF, podendo adotar:

• Os efeitos ex nunc, ou seja, entender que a lei, apesar de ser


inconstitucional, somente deixará de produzir efeitos da decisão para frente;
• Os efeitos prospectivos ou pro futuro, ou seja, determinando uma
data na qual a lei deixará de produzir efeitos.

• Erga Omnes – para todos;


EFEITOS • Vinculantes – para todos os órgãos do Poder Judiciário e da
ERGA OMNES Administração Pública Direta e Indireta das esferas federal, estadual, distrital
e e municipal.
VINCULANTES
ATENÇÃO! Os efeitos vinculantes NÃO atingem o Função Legiferante do
Estado nem o Plenário do STF.

23.9 DIFERENÇAS NAS AÇÕES DE CONTROLE CONCENTRADO

ADI ADC ADO ADPF

Combate lei ou Combate a


Confirma a
ato normativo OMISSÃO É uma ação
constitucionalidade
FEDERAL ou NORMATIVA, RESIDUAL do
de lei ou ato
Cabimento ESTADUAL a inefetividade controle
normativo
que viole a das normas concentrado
FEDERAL
Constituição constitucionais (art. 102, §1º)
(art. 102, I, a)
(art. 102, I, a) (art. 103, §2º)

23.9.1 Controvérsias Judiciais Relevantes - ADC

A ADC tem uma exigência:

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

o O autor deve comprovar a existência de controvérsias judiciais relevantes a


respeito da lei objeto da ação (art. 14, III, da Lei 9.868/99).

O Supremo NÃO fixou o número de decisões, nem a Lei 9.868 traz essa informação claramente,
mas aquele entendeu que o autor precisa convencer que há um volume expressivo de decisões
controvertidas que realmente legitimem a necessidade da ação declaratória.

23.9.2 ADO ≠ MI

ADO MI

Nasceu para combater em abstrato a Combate a OMISSÃO NORMATIVA que


inefetividade das NORMAS está prejudicando a vida de alguém ou
CONSTITUCIONAIS . coletividades determinadas no caso concreto.

Natureza jurídica: é uma AÇÃO DO Natureza jurídica: é um REMÉDIO


CONTROLE CONCENTRADO que cria CONSTITUCIONAL que cria um processo
um processo objetivo, sem partes, lide e subjetivo, com partes, lide e pretensão
pretensão resistida de interesses. resistida de interesses.

23.9.3 Natureza Residual da ADPF

Surgiu em 1988, por meio de uma norma de eficácia LIMITADA (art. 102, §1º, CRFB/88),
que somente foi regulamentada em 1999, pela Lei 9.882/99.
É RESIDUAL (art. 4º, §1º, Lei 9882/99) – pois somente pode ser proposta quando NÃO
houver nenhum outro meio eficaz para sanar a lesividade.

DUPLA VIOLAÇÃO – No julgamento da ADPF nº 100, o STF entendeu o seguinte:

Se uma Lei Municipal violar, ao mesmo tempo, a Constituição do Estado – em uma norma de
observância obrigatória ao modelo federal – e, consequentemente, a Constituição Federal, a
ação cabível para impugnar essa lei é a Representação de Inconstitucionalidade (art. 125,
§2º, CRFB/88), RI-Estadual, também chamada de ADI-Estadual, perante o TJ, e NÃO a ADPF.

O Supremo somente analisará a questão se o acórdão do TJ violar a Constituição, através de


Recurso Extraordinário.

23.9.3.1 Conceito de Preceitos Fundamentais

São preceitos fundamentais:

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

o arts. 1º a 4º - Princípios Fundamentais;


o arts. 5º a 17 – Direitos e Garantias Fundamentais;
o art. 34, VII – Princípios Sensíveis;
o art. 37, caput – Princípios da Administração Pública;
o art. 60, §4º - Cláusulas Pétreas.
ROL EXEMPLIFICATIVO

23.9.3.2 Hipóteses de Cabimento

O objeto da ADPF é o mais amplo possível:


• Lei municipal (Lei Orgânica de Município entra aqui);
• Lei distrital (de natureza municipal);
• Normas pré-constitucionais;
• Atos normativos secundários (normas infralegais), ex.: portarias, decretos
regulamentares, circulares, autos de infração etc.;
• Decisões judiciais SEM trânsito em julgado.

NÃO pode ser objeto de ADPF:

• Decisões judiciais transitadas em julgado;


• Veto do Presidente da República no processo legislativo;
• Projetos de Lei e Propostas de EC (cabe apenas Controle Repressivo Político de
Constitucionalidade);
• Súmulas Vinculantes.

23.9.3.3 Princípio da Fungibilidade (para questão discursiva)

ADPF de forma errônea – requisitos da ADI presentes.


Ex.: ADPFs 132 e 178, que tratavam da união homoafetiva foram conhecidas como ADI
4.277.

ADPF e Conhecimento como ADI. Tendo em conta o caráter subsidiário da arguição de


descumprimento de preceito fundamental - ADPF, consubstanciado no § 1º do art. 4º da Lei
9.882/99, o Tribunal resolveu questão de ordem no sentido de conhecer, como ação direta de
inconstitucionalidade - ADI, a ADPF ajuizada pelo Governador do Estado do Maranhão, em que
se impugna a Portaria 156/2005, editada pela Secretária Executiva de Estado da Fazenda do
Pará, que estabeleceu, para fins de arrecadação do ICMS, novo boletim de preços mínimos de
mercado para os produtos que elenca em seu anexo único.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Entendeu-se demonstrada a impossibilidade de se conhecer da ação como ADPF, em razão da


existência de outro meio eficaz para impugnação da norma, qual seja, a ADI, porquanto o objeto
do pedido principal é a declaração de inconstitucionalidade de preceito autônomo por ofensa a
dispositivos constitucionais, restando observados os demais requisitos necessários à
propositura da ação direta. Precedente citado: ADI 349 MC/DF (DJU de 24.9.90).

ADPF 72 QO/PA, rel. Min. Ellen Gracie, 1º.6.2005. (ADPF-72)

23.10 TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE POR ARRASTAMENTO

(Por Atração, sequencial ou por Reverberação Normativa).

O PRINCÍPIO DA CORRELAÇÃO (congruência ou adstrição) determina que o Juiz


está limitado ao que a parte pediu, não podendo julgar nem além nem aquém daquilo que foi
solicitado.
Tal princípio aplica-se ao processo objetivo, mas não de forma absoluta, pois é
perfeitamente possível que o STF, em nome da economia processual, da segurança jurídica e
da supremacia da Constituição (bases da aplicação deste instituto), declare a
inconstitucionalidade do dispositivo que foi impugnado na peça inicial bem como de outros que
com aquele se relacionem.

Assim, a Teoria da Inconstitucionalidade por Arrastamento flexibiliza o princípio da


correlação, permitindo que o STF declare a inconstitucionalidade de dispositivos não
impugnados na petição inicial, mas com eles relacionados, em nome dos princípios da
supremacia da Constituição, da economia processual e da segurança jurídica.

O STF está VINCULADO ao pedido, mas quando entre o dispositivo a ser declarado e
outros houver relação íntima, ele pode declarar a inconstitucionalidade destes conjuntamente.

23.11 TEORIA DA INCONSTITUCIONALIDADE PROGRESSIVA

• Art. 68, CPP – norma “ainda constitucional” – Info. 272 (RE 341.717) – está em processo
de inconstitucionalidade progressiva.
o No dia que todas as Defensorias Públicas do país forem criadas e estiverem em
pleno funcionamento, este dispositivo deixará de produzir os seus efeitos;
o Mas, enquanto isso, esse papel compete ao Ministério Público.
Na prática, quanto ao exemplo citado, onde existir Defensoria Pública, esta ajuíza a ação;
onde não existir, o próprio MP o faz.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

O STF mostra que o direito é movimento, ou seja, uma norma pode ser considerada
constitucional hoje e está passando por um processo de inconstitucionalidade progressiva.

Nessa decisão, portanto, o STF fixou a possibilidade de um estágio transitório entre a plena
constitucionalidade de uma lei e a sua absoluta inconstitucionalidade.

23.12 INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO e a


DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL SEM
REDUÇÃO DE TEXTO

INTERPRETAÇÃO CONFORME À CONSTITUIÇÃO

É, ao mesmo tempo, uma técnica de decisão do controle de constitucionalidade e um princípio


da hermenêutica constitucional.

Essa técnica recai sobre uma norma plurissignificativa, ou seja, uma norma repleta de
interpretações.

Para sua adoção, é preciso que pelo menos uma das interpretações da norma esteja em
conformidade com a Constituição.

Se não houver interpretação compatível com Constituição, a lei será declarada inconstitucional.

Entretanto, se pelo menos uma das interpretações da norma estiver em conformidade com a
Constituição, o Supremo a fixará como forma de interpretar aquela lei e determinará que todas
as demais interpretações são equivocadas.

DECLARAÇÃO DE INCONSTITUCIONALIDADE PARCIAL SEM REDUÇÃO DE TEXTO

Esta é uma técnica que recai sobre uma norma que na forma em que está escrita é considerada
inconstitucional, mas basta o STF afastar essa interpretação da lei para que ela seja mantida
no ordenamento jurídico brasileiro.

Na interpretação conforme, o Supremo fixa exatamente a única forma como aquela norma
deve ser interpretada.

Na declaração de inconstitucionalidade parcial sem redução de texto, o Supremo fixa


exatamente a forma como a norma NÃO deve ser interpretada, mantendo aquela em vigor sem
esta interpretação.

23.13 JURISPRUDÊNCIAS

ADPF: fungibilidade e erro grosseiro


O Plenário desproveu agravo regimental em arguição de descumprimento de preceito

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fundamental, na qual se discutia a inconstitucionalidade por omissão relativa à Lei 12.865/2013.


O Tribunal, de início, reconheceu a possibilidade de conversão da arguição de
descumprimento de preceito fundamental em ação direta quando imprópria a primeira, e vice-
versa, se satisfeitos os requisitos para a formalização do instrumento substituto. Afirmou que
dúvida razoável sobre o caráter autônomo de atos infralegais impugnados, como decretos,
resoluções e portarias, e alteração superveniente da norma constitucional dita violada legitimariam
a Corte a adotar a fungibilidade em uma direção ou em outra, a depender do quadro normativo
envolvido. Ressaltou, porém, que essa excepcionalidade não estaria presente na espécie.
O recorrente incorrera naquilo que a doutrina processual denominaria de erro grosseiro ao
escolher o instrumento formalizado, ante a falta de elementos, considerados os preceitos legais
impugnados, que pudessem viabilizar a arguição.
No caso, ainda que a arguição de descumprimento de preceito fundamental tivesse sido
objeto de dissenso no STF quanto à extensão da cláusula da subsidiariedade, nunca houvera
dúvida no tocante à inadequação da medida quando o ato pudesse ser atacado mediante ação
direta de inconstitucionalidade.
Por se tratar de impugnação de lei ordinária federal pós-constitucional, propor a arguição
em vez de ação direta, longe de envolver dúvida objetiva, encerraria incontestável erro grosseiro,
por configurar atuação contrária ao disposto no § 1º do art. 4º da Lei 9.882/1999. Os Ministros
Roberto Barroso, Gilmar Mendes e Cármen Lúcia negaram provimento ao agravo por outro
fundamento.
Consideraram que o requerente, Sindicato Nacional das Empresas de Medicina de Grupo,
por não ser uma confederação sindical, não preencheria o requisito da legitimação ativa “ad
causam”.
ADPF 314 AgR/DF, rel. Min. Marco Aurélio, 11.12.2014. (ADPF-314)

Os legitimados para propor arguição de descumprimento de preceito fundamental se


encontram definidos, em numerus clausus, no art. 103 da Constituição da República, nos termos
do disposto no art. 2º, I, da Lei 9.882/1999.
Impossibilidade de ampliação do rol exaustivo inscrito na CRFB/88. Idoneidade da decisão
de não conhecimento da arguição de descumprimento de preceito fundamental.
[ADPF 75 AgR, rel. min. Ricardo Lewandowski, j. 3-5-2006, P, DJ de 2-6-2006.]

ATENÇÃO! NÃO há entidade municipal apta a ajuizar as ações do controle concentrado


federal. A CRFB/88 NÃO autoriza o Prefeito, a Câmara Municipal ou o próprio Município.

Também NÃO há legitimidade popular.

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A Associação Nacional dos Magistrados Estaduais (ANAMAGES) não tem legitimidade


para propor ação direta de inconstitucionalidade contra norma de interesse de toda a magistratura.
É legítima, todavia, para a propositura de ação direta contra norma de interesse da magistratura
de determinado Estado-membro da Federação. [ADI 4.462 MC, rel. min. Cármen Lúcia, j. 29-6-
2011, P, DJE de 16-11-2011.]

Embora seja nacional, a ANAMAGES deve-se restringir a defender os interesses dos


Magistrados Estaduais, que é seu objetivo.

Ação direta de inconstitucionalidade. Ausência de legitimidade ativa de central sindical


(CUT). [ADI 1.442, rel. min. Celso de Mello, j. 3-11-2004, P, DJ de 29-4-2005.]

O STF entendeu que a CUT (Central Única dos Trabalhadores) NÃO entra no conceito nem de
Confederação Sindical nem de Entidade de Classe de âmbito nacional. Mesmo entendimento
em relação à UNE (União Nacional dos Estudantes).

Durante uma época (até mais ou menos 2005), o STF entendeu que as Entidades de Classe de
2º Grau (as chamadas Associações de Associações) NÃO poderiam ser autoras das ações do
controle concentrado.

Mas houve uma virada de jurisprudência, e o entendimento hoje é o de que:

O Supremo permite que as Associações de Associações (Entidades de Classe de 2º Grau)


sejam autoras das ações do controle concentrado, desde que sejam compostas por entidades
HOMOGÊNEAS .

Ação direta de inconstitucionalidade: legitimação ativa: "entidade de classe de âmbito


nacional": compreensão da "associação de associações" de classe: revisão da jurisprudência do
Supremo Tribunal. O conceito de entidade de classe é dado pelo objetivo institucional classista,
pouco importando que a eles diretamente se filiem os membros da respectiva categoria social ou
agremiações que os congreguem, com a mesma finalidade, em âmbito territorial mais restrito. É
entidade de classe de âmbito nacional – como tal legitimada à propositura da ação direta de
inconstitucionalidade.
(CRFB/88, art. 103, IX) – aquela na qual se congregam associações regionais
correspondentes a cada unidade da Federação, a fim de perseguirem, em todo o País, o mesmo
objetivo institucional de defesa dos interesses de uma determinada classe. Nesse sentido, altera

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o Supremo Tribunal sua jurisprudência, de modo a admitir a legitimação das "associações de


associações de classe", de âmbito nacional, para a ação direta de inconstitucionalidade. [ADI 3.153
AgR, rel. min. Sepúlveda Pertence, j. 12-8-2004, P, DJ de 9-9-2005.] = ADI 2.797 e ADI 2.860, rel.
min. Sepúlveda Pertence, j. 15-9-2005, P, DJ de 19-12-2006

Partido político. Legitimidade ativa. Aferição no momento da sua propositura. Perda


superveniente de representação parlamentar. Não desqualificação para permanecer no polo ativo
da relação processual. Objetividade e indisponibilidade da ação. [ADI 2.618 AgR-AgR, rel. min.
Gilmar Mendes, j. 12-8-2004, P, DJ de 31-3-2006.] = ADI 2.427, rel. min. Eros Grau, j. 30-8-2006,
P, DJ de 10-11-2006

Ilegitimidade ativa ad causam de diretório regional ou executiva regional. Firmou a


jurisprudência desta Corte o entendimento de que o partido político, para ajuizar ação direta de
inconstitucionalidade perante o STF, deve estar representado por seu diretório nacional, ainda
que o ato impugnado tenha sua amplitude normativa limitada ao Estado ou Município do qual se
originou. [ADI 1.528 QO, rel. min. Ellen Gracie, j. 24-5-2000, P, DJ de 23-8-2002.]

Partido político. Ação direta. Legitimidade ativa. Inexigibilidade do vínculo de pertinência


temática. Os partidos políticos, desde que possuam representação no Congresso Nacional,
podem, em sede de controle abstrato, arguir, perante o STF, a inconstitucionalidade de atos
normativos federais, estaduais ou distritais, independentemente de seu conteúdo material, eis que
não incide sobre as agremiações partidárias a restrição jurisprudencial derivada do vínculo de
pertinência temática. [ADI 1.407 MC, rel. min. Celso de Mello, j. 7-3-1996, P, DJ de 24-11-2000.]

A representação partidária perante o STF, nas ações diretas, constitui prerrogativa jurídico-
processual do diretório nacional do partido político, que é – ressalvada deliberação em contrário
dos estatutos partidários – o órgão de direção e de ação dessas entidades no plano nacional. [ADI
779 AgR, rel. min. Celso de Mello, j. 8-10-1992, P, DJ de 11-3-1994.]

23.14 CONTROLE CONCENTRADO ESTADUAL

Da mesma forma que a CRFB/88, a Constituição Estadual representa a autonomia do


Estado-membro, sua força política.

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• Art. 11, do ADCT

As Constituições Estaduais precisam ser protegidas também, pois é uma defesa à


autonomia do próprio estado.

Controle Concentrado Estadual – art. 125, §2º, da CRFB/88 – é norma de observância


obrigatória no plano dos Estados, ou seja, todos os estados brasileiros possuem a sua
representação de inconstitucionalidade, também chamada de ADI Estadual.

24.14.1 Parâmetro do Controle Estadual

É a Constituição do Estado.

ATENÇÃO! Muitas normas das Constituições Estaduais simplesmente reproduzem o modelo


federal. Essas normas de observância obrigatória também servem como parâmetro de controle
de constitucionalidade? SIM! Toda a Constituição do Estado serve como parâmetro!

24.14.2 Órgão Judicial

É o TJ do respectivo estado que irá realizar o controle.

O TJ protege a Constituição Estadual, NÃO realiza o controle concentrado abstrato/subjetivo


com base na Constituição Federal, pois isso configuraria usurpação da competência do
Supremo.

24.14.2 Objeto da ADI Estadual

• Lei estadual ou municipal que violar a Constituição Estadual.

ATENÇÃO! A Constituição Federal somente se refere a uma única ação, à Representação de


Inconstitucionalidade (ADI Estadual), nesse sentido, a ADC, ADO e ADF também podem ser
instituídas no âmbito dos Estados? SIM, pelo princípio da simetria!

Entretanto, conforme jurisprudência do STF, todas essas ações precisam ter como parâmetro a
Constituição Estadual e como órgão competência para a realização do controle, o TJ.

Assim, a ADI Estadual é OBRIGATÓRIA e as demais são FACULTATIVAS .

É a própria Constituição Estadual que irá instituir essas ações ou uma emenda à Constituição
do estado.

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ATENÇÃO! Se uma mesma lei estadual violar ao mesmo tempo uma Constituição Estadual e
a Constituição Federal, o que fazer?

• No plano estadual, tem-se a RI (art. 125, §2º, da CRFB/88);


• No plano federal, tem-se a ADI (art. 102, I, a, da CRFB/88).

As duas ações podem ser propostas, porém o recebimento da ação federal SUSPENDE o
julgamento da ação estadual.

Se a ação federal for julgada procedente, a ação estadual será julgada extinta sem decisão de
mérito, vez que perdeu o objeto.

Contudo, se o Supremo negar provimento à ADI, confirmando que a lei estadual é, em


consequência, constitucional, nada impede, eventualmente, que o TJ venha futuramente
declarar a sua inconstitucionalidade.

ATENÇÃO! Lei orgânica do Distrito Federal tem status de Constituição Estadual e pode,
portanto, ser parâmetro de controle concentrado no DF.

24.14.3 Legitimidade Ativa

A CRFB/88 diz que é VEDADA a atribuição da legitimidade à apenas um órgão ou autoridade.


Nesse sentido, os Estados são livres para estabelecer exatamente os legitimados ativos, uma
vez que NÃO precisam seguir o modelo federal (art. 103, da CRFB/88), que NÃO é norma de
observância obrigatória neste ponto, NÃO sendo necessário tampouco correspondência ao
modelo citado.

24.14.4 RECURSOS

ATENÇÃO! Muitos Tribunais aplicam, por analogia, a Lei 9868/99, uma vez que não há lei
específica disciplinando a ADI Estadual.

Todavia, o art. 26, do diploma legal supracitado, NÃO tem aplicabilidade no âmbito estadual,
porque, diferentemente das ações federais que geram decisões irrecorríveis, o acórdão do TJ
no Controle Concentrado Estadual, caso viole a CRFB/88, poderá ser objeto de um Recurso
Extraordinário.

24.14.5 Amicus Curiae

Da mesma forma que no plano federal existe a figura do AMICUS CURIAE , no plano

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estadual, o Supremo já estabeleceu que deve existir também, para democratizar o debate
constitucional.

24 PROCESSO LEGISLATIVO

24.1 LEIS ORDINÁRIAS E LEIS COMPLEMENTARES

LEI COMPLEMENTAR LEI ORDINÁRIA

A CRFB/88 indica EXPRESSAMENTE


quando determinado tema deverá ser legislado
Quando a CRFB/88 NADA falar, será LO
por LC. Ex.: Art. 14, §9º, da CRFB/88 resultou
(natureza residual). Ex.: art. 5º, XII, XXXII
na LC 135/10 (Lei da Ficha Limpa); art. 22,
parágrafo único; art. 93, caput.

A LO tem quórum de aprovação de MAIORIA


A LC tem quórum de aprovação de MAIORIA
RELATIVA ou simples (leva em
ABSOLUTA (leva em consideração o
consideração o número de presentes, pouco
número total de membros, pouco importando a
importando o total de membros) – art. 47,
quantidade de presentes) – art. 69, CRFB/88.
CRFB/88.

OBS.: 02 tipos de quóruns:

• Quórum de INSTALAÇÃO – é a quantidade mínima de presentes para que seja


possível o início de votação. SEMPRE será de MAIORIA ABSOLUTA (tanto para LC quanto
para LO).
• Quórum de APROVAÇÃO – é a quantidade de votos para a aprovação de uma
proposta.
o LC – maioria ABSOLUTA;
o LO – maioria RELATIVA.

OBS.: NÃO existe hierarquia entre LC e LO, segundo entendimento majoritário, porque elas
retiram fundamento de validade do mesmo diploma normativa, que é a Constituição Federal.

24.2 ATOS DO PROCESSO LEGISLATIVO (PROCEDIMENTO)

1º - INICIATIVA – consiste na própria apresentação do projeto.

Pode ser:

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• Privativa ou reservada – projetos que somente podem ser apresentados por


autoridades determinas, órgãos específicos, e, se apresentados por outros, serão considerados
inconstitucionais por vício de iniciativa. Ex.: art. 61, §1º; art. 93, caput.
• Concorrente ou popular – residual. Ex.: art. 61, caput.
o Com relação à iniciativa popular, o art. 61, §2º, e a Lei 9.709/98 trazem os
requisitos

REGRA – O projeto de lei é encaminhado para o Congresso Nacional e


sua apreciação terá início na Câmara dos Deputados.

EXCEÇÃO – O Senado Federal será a casa iniciadora quando o projeto


de lei nascer no interior do próprio Senado, ou seja, quando a iniciativa for
de um Senador ou de uma Comissão de Senadores.

Sendo a iniciativa de uma Comissão Mista (de Senadores e Deputados),


haverá uma alternância, uma vez a casa iniciadora será a Câmara e outra
o Senado Federal.

2º - DISCUSSÃO E EMENDAS

Na Casa iniciadora, terá, primeiramente, uma ampla etapa de


DISCUSSÃO.
O projeto passará pelas comissões relacionadas à matéria, pela CCJ para
a constitucionalidade ser analisada.

Casa Iniciadora A CCJ realiza um verdadeiro controle preventivo político de


constitucionalidade, dando um parecer sobre a compatibilidade ou não
daquele projeto para com a Constituição.

Art. 58, §2º, I, da CRFB/88 – o parecer da Comissão é muito importante,


mas pode ser derrubado por recurso de um décimo dos membros da
Casa. Sendo, portanto, possível a aprovação de uma lei que tenha recebido
parecer negativo de uma Comissão, uma vez que este parecer pode ser
afastado pelo Plenário da Casa.

EMENDAS – art. 63, I e II.


I – Os projetos de iniciativa privativa do Presidente podem sofrer alterações,
porém, segundo a doutrina, essas alterações não podem ser significativas,
no sentido de mudar radicalmente o projeto.

Então, as alterações nos projetos de iniciativa privativa do Presidente


NÃO podem mudar o sentido do projeto e, também, NÃO podem acarretar
o aumento de despesas (EXCEÇÃO: art. 166, §3º e 4º).

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3º - VOTAÇÃO

Na fase de VOTAÇÃO , os deputados votarão com o quórum de maioria


simples (LO – art. 47) ou de maioria absoluta (LC – art. 69), em apenas um
turno de votação.

Se o projeto não for aprovado, será arquivado.

Caso rejeitado, o projeto não poderá ser reapresentado na mesma Sessão


Legislativa, SALVO mediante proposta da MAIORIA ABSOLUTA dos
membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional – PRINCÍPIO
DA IRREPETIBILIDADE (art. 67 – NÃO se aplica às MPs e nem às
PEC).

Sendo o Projeto aprovado pela Câmara, será então encaminhado para o


Senado Federal, que funcionará, neste caso, como casa revisora, ou seja,
irá REVISAR todo o procedimento feito por aquela. Assim, serão repetidas
todas as etapas de: discussão e votação.

EXCEÇÃO: A Câmara dos Deputados será a casa revisora nas hipóteses


em que o Senado Federal for a casa iniciadora.

Se o projeto não for aprovado, será arquivado.

Caso rejeitado, o projeto não poderá ser reapresentado na mesma Sessão


Legislativa, SALVO mediante proposta da MAIORIA ABSOLUTA dos
membros de qualquer das Casas do Congresso Nacional – Princípio da
Casa Revisora
Irrepetibilidade (art. 67 – NÃO se aplica às MPs e nem às PEC).

Se aprovado SEM nenhuma mudança, o projeto será aprovado e seguirá


para o Chefe do Poder Executivo.

Porém, se o Senado Federal aprovar a projeto COM alterações:

• Se as alterações forem REDACIONAIS (de forma) – segue para


o Chefe do Poder Executivo;
• Se as alterações forem SUBSTANCIAIS (de conteúdo) – volta
para deliberação na Casa Iniciadora, que pode aprovar essas alterações
(somente as alterações) ou rejeitá-las (NÃO pode fazer novas alterações),
e depois o projeto seguirá para o Chefe do Poder Executivo.

4º - SANÇÃO ou VETO – EXCLUSIVOS do Chefe do Poder Executivo

Presidente da O Presidente tem 15 dias úteis, a partir do momento que receber o projeto
República aprovado pela Câmara e pelo Senado, para SANCIONAR (tácita ou

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expressamente) ou VETAR (somente de forma expressa) o Projeto de Lei


– art. 66, da CRFB/88.

Se permanecer em silêncio durante o prazo, a consequência será a


sanção (tácita/implícita), pois NÃO é possível vetar tacitamente, devendo
ser fundamentado.

Motivos para o veto¸ Presidente entende que o projeto de lei é:

• VETO JURÍDICO ou FORMAL – Inconstitucional (Fundamentação


Jurídica – CONTROLE PREVENTIVO POLÍTICO ); ou
• VETO POLÍTICO ou MATERIAL – Contrário ao interesse público
(Fundamentação Política).

Podendo haver simultaneamente os dois tipos de vetos.


O Veto PODE ser PARCIAL, recaindo, entretanto, sobre o conteúdo
completo de um artigo, parágrafo, inciso ou alínea, jamais de uma palavra
ou pedaço da frase. Ou seja, somente é possível vetar partes com sentido
completo, NÃO possibilitando alteração da norma.

No VETO, o Presidente da República encaminhará as razões do veto (art.


66), no prazo de 48 horas, para o Presidente do Senado Federal, o qual
irá designar uma Sessão Conjunta, no prazo máximo de 30 dias, na qual
será decidido sobre a manutenção (arquiva o projeto) ou rejeição do veto
(vai para a próxima etapa: PROMULGAÇÃO).

Na Sessão Conjunta, o voto é aberto e de maioria absoluta para rejeição


do veto (em sessão conjunta, os votos são contados individualmente, sendo
a maioria em cada uma das Casas).

Se o Congresso NÃO cumprir o prazo de 30 dias, terá sua pauta (não inclui
as pautas individuais das duas casas do Congresso) trancada até que seja
decidido sobre, parando a tramitação de TODOS os atos daquele, sem
exceções, ou seja, até mesmo os atos com prazo ficam parados.

ATENÇÃO! A sanção pelo Presidente da República NÃO convalida


vício algum no processo legislativo, nem mesmo o vício de iniciativa.

• IRRETRATÁVEL;
• SEMPRE EXPRESSO;
O VETO é: • SUPERÁVEL pela derrubada do CN (art. 66);
• pode ser TOTAL ou PARCIAL;
• pode ser POLÍTICO ou JURÍDICO.

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5º - PROMULGAÇÃO

PROMULGAÇÃO – É um ato formal, uma solenidade, que tem dois


propósitos:
• Reconhecer oficialmente a existência da lei;
• Notificar os destinatários (cidadão) acerca da elaboração da lei.

Há dois caminhos para se chegar à promulgação da lei:

• Sanção do projeto de lei pelo Presidente da República;


Presidente da • Rejeição do veto, se for o caso, na Sessão Conjunta.
República
Mesmo neste último caso, é o Presidente da República que promulga a
lei, no prazo de 48 horas (do momento que ele sancionou ou do momento
que ele recebeu o veto rejeitado), NÃO podendo se negar a fazê-lo.
Caso NÃO promulgue a lei dentro do prazo estabelecido, o Presidente do
Senado deverá fazê-lo dentro do prazo de 48 horas. Igualmente, NÃO o
fazendo, passa para o Vice-Presidente do Senado, o quanto antes (não
tem prazo na CRFB/88).

6º - PUBLICAÇÃO

PUBLICAÇÃO Com a sua PUBLICAÇÃO , a Lei entra em vigor de imediato, se não


NO DIÁRIO houver vacatio legis.
OFICIAL É o ato que dá notoriedade à norma.

ATENÇÃO! NÃO há prazo na tramitação de lei.

EXCEÇÃO: PROCESSO LEGISLATIVO SUMÁRIO (art. 64, §§ 1º a 4º) – Regime de urgência


– quando a iniciativa do projeto de lei partir do Presidente da República, este poderá solicitar tal
regime. Se aceito, o prazo será de:

• 45 dias – na Casa Iniciadora;


• 45 dias – na Casa Revisora;
• 10 dias – na Casa Iniciadora, quando houver alterações a serem analisadas.

Se os prazos do Regime de Urgência NÃO forem cumpridos, haverá o trancamento da pauta


da casa respectiva (pauta individual). Durante o trancamento, somente os atos que possuem
prazo são votados e o restante fica parado.

ATENÇÃO! Esse processo NÃO se aplica aos Projetos de Códigos (§4º).

24.3 MEDIDAS PROVISÓRIAS

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• A Medida Provisória é uma espécie normativa primária, pois é extraída diretamente da


Constituição. A MP é uma inversão do processo legislativo. O Presidente da República cria a
norma e depois ela é aprovada ou não pelo Congresso Nacional.
• Tem FORÇA DE LEI (ordinária), pois tem força legislativa, mas NÃO É LEI .

Assim que for publicada no Diário Oficial da União, a Medida Provisória tem força de lei e deve
ser observada por todos.

• NÃO pode dispor sobre matéria de Lei Complementar.


• EC 32/2001

Embora seja uma norma primária, a MP é PRECÁRIA, pois somente produzirá efeitos por um
prazo determinado.

24.3.1 MP NOS ESTADOS E MUNICÍPIOS

O entendimento do STF é o de que, em nome de sua autonomia, capacidade de auto-


organização, Estados e Municípios PODEM estabelecer a Medida Provisória como norma, mas é
uma FACULDADE e não uma obrigação jurídica.

ATENÇÃO! Se a MP for instituída no plano Estadual – precisará respeitar a limitação material


do art. 25, §2º, da CRFB/88.

24.3.2 LIMITAÇÕES MATERIAIS

Limitações Materiais EXPRESSAS

• Art. 62, §1º, da CRFB/88;


• Art. 246 da CRFB/88;
• Art. 73, do ADCT.

Limitações Materiais IMPLÍCITAS

(em nome do princípio da separação e harmonia entre os Poderes)

• Arts. 49, 51 e 52, da CRFB/88.

24.3.3 PROCEDIMENTO

Só pode ser criada se comprovados 02 requisitos cumulativos (art. 62, caput):


• Relevância (quanto ao assunto/matéria);

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• Urgência (quanto ao momento).

É editada pelo PRESIDENTE DA REPÚBLICA (função atípica) e depois analisada


pelo CONGRESSO NACIONAL.
Toda análise de MP OBRIGATORIAMENTE se inicia na Câmara dos Deputados – art.
62, §8º (casa iniciadora).

Antes de ser encaminhada para o Plenário da Câmara dos Deputados, caberá à COMISSÃO
MISTA de Deputados e Senadores examinar a MP e sobre ela emitir parecer. Aí sim será
encaminhada para apreciação em sessão separada pelo Plenário de cada Casa (art. 62, §9º).

O processo de conversão da MP em Lei segue o rito do processo legislativo comum.

PRAZO (art. 62, §§ 3º, 4º e 7º) – 60 DIAS para as duas casas do Congresso Nacional
converterem ou não a MP em lei (começando pela Câmara dos Deputados), prorrogável uma única
vez (prorrogação imediata).
Prazo máximo: 60 dias + 60 (prorrogação) = 120 dias.
NÃO tem prazo mínimo. Se a MP foi criada hoje, a Câmara pode começar a votar ela hoje.

PEGADINHA! A MP tem vigência por no máximo 120 dias? NÃO! Pois, durante os períodos
de recesso do Congresso Nacional, este prazo é SUSPENSO , mas a MP continua vigente,
ou seja, o prazo de vigência será superior a 120 dias se contar com o recesso.

Medida Provisória rejeitada ou que tenha perdido sua eficácia por decurso de prazo somente
poderá ser reeditada na Sessão Legislativa seguinte, SEM EXCEÇÃO (art. 62, §10) – do
contrário, abalaria a segurança jurídica.

Se NÃO for analisada ou se REJEITADA, ela perderá a eficácia e vigência, com efeitos
EX NUNC (não retroativos).
Entretanto, a Constituição diz que os efeitos dessa decisão de rejeição podem ser EX
TUNC – retroativos à data de edição da MP (art. 62, §§ 3º e 11) - o Congresso Nacional deverá
editar um DECRETO LEGISLATIVO que regulará as relações jurídicas que foram praticadas
durante a vigência da MP, em até 60 DIAS (é como se a MP nunca tivesse existido).
Se o CN NÃO fizer o Decreto Legislativo em 60 dias, as relações jurídicas decorrentes da
MP são consideradas válidas (como se fosse uma aceitação tácita, continuarão a ser regidas pela
MP). Não confunda isso com conversão da MP em lei!

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

OBS.: NÃO há possibilidade da MP ser convertida automaticamente em lei SEM ser


analisada pelo Congresso Nacional.

Se analisada e aprovada, SEM alteração, NÃO haverá sanção ou veto pelo Presidente
da República, e a MP é convertida em LEI ORDINÁRIA de imediato.

ATENÇÃO! Se o Congresso aprovar a MP COM ALTERAÇÕES (art. 62, §12), esta deixa de
ser uma MP e passa a ser um PROJETO DE LEI ORDINÁRIA (Projeto de Lei de Conversão),
seguindo para sanção ou veto presidencial.

Porém, o texto original da MP alterada permanecerá em vigor até que seja sancionado ou
vetado o Projeto de Lei de Conversão.

24.3.4 CONTROLE DE CONSTITUCIONALIDADE DAS MPs

a) Relevância e urgência

Durante um bom tempo, o Supremo entendia que relevância e urgência eram conceitos
jurídicos indeterminados e cabia ao Chefe do Poder Executivo defini-los.
EXCEPCIONALMENTE , é possível o controle judicial dos requisitos de relevância e
urgência, são requisitos mais objetivos. A relevância tem a ver com a matéria em si e a urgência,
com a justificativa de ter se adotado uma MP por não ter tempo de esperar o processo legislativo
comum.

É possível que uma MP seja declarada inconstitucional por NÃO ter atendido os dois
pressupostos essenciais: relevância e urgência. Estar-se-ia diante de um vício de forma, pois
são requisitos que devem ser observados para fins de edição de medida provisória.

Ou seja, a MP será declarada inconstitucional por vício de forma.

b) MP e o Controle Concentrado

A MP pode ser objeto tanto no controle difuso quanto no concentrado.

No difuso, NÃO interessa se ela mudar de status, se ela se tornar uma lei ordinária ou
se for rejeitada.

Entretanto, no controle concentrado, se objeto de uma ADI, por exemplo, o objeto da


ação é a própria declaração de inconstitucionalidade da norma, assim, se ela mudar de status
normativo, fará diferença no andamento da ação.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

• Se no curso da ADI, a MP for convertida em LO SEM alterações ou COM alterações


NÃO substanciais – a ação continuará a tramitar, não haverá prejuízo ao regular
prosseguimento do feito.

Nesse caso, o autor deverá promover um aditamento à ADI e informará que ajuizou a
ação em face de uma medida provisória, mas que fora convertida em lei (informa a mudança
do objeto).

Se no curso da ADI, a MP for REJEITADA ou convertida em LO COM alterações


substanciais – a ação PERDE o objeto e será julgada EXTINTA sem decisão de mérito.

c) Lei Ordinária de conversão

A Lei Ordinária de Conversão convalida os vícios existentes na Medida Provisória? NÃO!

O STF entende que a lei ordinária NÃO convalida os vícios existentes na MP de origem.

24.3.5 “CONTRABANDO LEGISLATIVO”

“Contrabando legislativo” é, por exemplo, quando uma MP versa sobre um assunto “x” e o
Congresso Nacional, no seu processo de conversão em lei ordinária, inclui nessa MP matérias que
não tem nada a ver com o assunto “x” tratado.
NÃO É PERMITIDO!

24.3.5.1 Jurisprudência

1. Medida provisória: emenda parlamentar e “contrabando legislativo”


O Plenário, por maioria, julgou improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada em
face dos arts. 113 a 126 da Lei 12.249/2010, incluídos por emenda parlamentar em projeto de
conversão de medida provisória em lei. Os dispositivos impugnados: a) alteram os limites das
unidades de conservação federais Floresta Nacional do Bom Futuro, Parque Nacional Mapinguari
e Estação Ecológica de Cuniã; b) autorizam a União a doar ao Estado de Rondônia imóveis rurais
de sua propriedade inseridos na área desafetada da Floresta Nacional do Bom Futuro, sob
condição de que em parte dela sejam criadas uma área de proteção ambiental e uma floresta
estadual; c) determinam sejam doadas ao Instituto Chico Mendes de Conservação da
Biodiversidade (ICMBio), pelos órgãos e pelas entidades federais que as detenham, as terras
da União contidas nos novos limites do Parque Nacional Mapinguari e da Estação Ecológica
de Cuniã; e d) declaram de utilidade pública, para fins de desapropriação pelo ICMBio, os imóveis
rurais privados existentes nas áreas de ampliação do Parque Nacional Mapinguari e da Estação

114
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Ecológica de Cuniã.
Porém, a medida provisória que originou a lei em questão contemplava, originalmente,
matérias distintas das tratadas nos citados artigos. O Colegiado reportou-se ao decidido na ADI
5.127/DF (DJE de 11.5.2016), no sentido de ser incompatível com a Constituição CRFB/88
apresentar emendas sem relação de pertinência temática com a medida provisória submetida à
apreciação.
Asseverou que a prática de inserção, mediante emenda parlamentar, no processo
legislativo de conversão de medida provisória em lei, de matérias de conteúdo temático estranho
ao objeto originário da medida provisória viola a Constituição, notadamente o princípio democrático
e o devido processo legislativo (CRFB/88, arts. 1º, “caput” e parágrafo único, 2º, “caput”, e 5º,
“caput” e LIV).
Entretanto, nos termos do citado precedente, deliberou pela manutenção dos atos
normativos atacados, por conta do princípio da segurança jurídica. Naquele caso, o Plenário
manteve hígidas todas as leis de conversão fruto dessa prática promulgadas até a data do
julgamento, ocorrido em 15.10.2015.
A ministra Rosa Weber (relatora), com ressalva de seu entendimento pessoal, endossou a
orientação quanto aos efeitos prospectivos daquela decisão. Vencido o ministro Marco Aurélio,
que julgava a ação procedente. ADI 5012/DF, rel. Min. Rosa Weber, julgamento em 16.3.2017.
(ADI-5012)

2. Medida provisória: emenda parlamentar e “contrabando legislativo”


É incompatível com a Constituição a apresentação de emendas sem relação de pertinência
temática com medida provisória submetida a sua apreciação. Essa a conclusão do Plenário —
com efeitos “ex nunc” e imediata cientificação do Poder Legislativo — que, por maioria, julgou
improcedente pedido formulado em ação direta ajuizada em face do art. 76 da Lei 12.249/2010,
inserido mediante emenda parlamentar em projeto de conversão de medida provisória em lei, a
versar sobre objeto distinto daquele originalmente veiculado no texto apresentado à conversão.
O dispositivo impugnado regula o exercício e a fiscalização da profissão contábil, ao passo
que a Medida Provisória 472/2009, convertida na lei em comento, contemplava, originalmente,
matérias educacionais, fiscais, tributárias e outras.
O Colegiado assinalou que as regras formais do processo legislativo seriam construídas
mediante escolhas fundamentais da comunidade nos momentos constituintes, de modo a canalizar
os futuros julgamentos políticos e tomadas de decisão. Equacionou que a questão constitucional
em foco diria respeito a dois aspectos relevantes:
a) necessidade de lei específica para restringir o exercício de profissão; e b) possibilidade
de, em processo legislativo de conversão de medida provisória em lei, ser apresentada emenda
parlamentar com conteúdo temático distinto daquele objeto da medida provisória. No que se refere

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

à suposta exigência de lei específica (CRFB/88, art. 5º, XIII), o texto constitucional seria claro ao
estabelecer o direito fundamental ao livre exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão,
trazendo a possibilidade de que lei estabeleça qualificações e exigências para o exercício desse
direito fundamental. Assim, a liberdade profissional, em que pese seja direito individual de
liberdade, impondo ao Estado um dever, em princípio, de abstenção, não fora outorgada sem
limites.
Não obstante, qualquer limitação legal somente poderia fixar exigências e limitações que
guardassem nexo lógico com as funções e atividades a serem desempenhadas, sob pena de vício
de inconstitucionalidade por violação ao princípio da igualdade. Destacou que essa restrição ao
direito fundamental ao exercício de qualquer trabalho, ofício ou profissão consistiria em restrição
legal qualificada.
Nesse sentido, a Constituição não se limitaria a exigir que eventual restrição ao âmbito de
proteção de determinado direito fosse apenas prevista em lei, mas também estabeleceria as
condições especiais, os fins a serem perseguidos pela limitação. No caso, a reserva legal
qualificada fora satisfeita pela Lei 12.249/2010, tendo em vista que a matéria de seu art. 76 tem
por finalidade não a mera restrição ao direito fundamental de livre exercício da profissão de
contador, mas a imposição de qualificações para que o exercício desse direito, no âmbito da
profissão contábil, seja mais adequadamente realizado. A necessidade de lei formal para o
estabelecimento de qualificações para o exercício profissional deveria, portanto, observar as
regras de competência legislativa e não poderia impedir o exercício da profissão. Ao contrário,
deveria antes servir para assegurar à sociedade que determinados profissionais, em especial os
liberais, fossem efetiva e adequadamente qualificados para exercer uma específica atividade.
No ponto, a Lei 12.249/2010 estabelece, em seu art. 76, a exigência de determinadas
qualificações a serem cumpridas para o regular exercício da profissão de contador. Inova ao fixar
essas exigências e ainda estabelece uma regra de transição àqueles que exerçam o ofício de
técnicos em contabilidade. O Tribunal assentou que estariam cumpridos os requisitos formais e
materiais impostos constitucionalmente.
Destacou, por outro lado, que o processo legislativo de conversão de medida provisória,
não obstante ser peculiar e de tramitação mais célere, consistiria em espécie constitucionalmente
prevista, sem restrição quanto à matéria versada na lei impugnada.
Assim, não implicaria inconstitucionalidade o simples fato de a lei haver resultado de projeto
de conversão de medida provisória. ADI 5127/DF, rel. orig. Min. Rosa Weber, red. p/ o acórdão
Min. Edson Fachin, 15.10.2015. (ADI-5127)

24.3.6 PODER DE AGENDA DO CONGRESSO NACIONAL

Art. 62, §6º - prazo para pressionar o Congresso Nacional a logo deliberar sobre a Medida
Provisória, para tentar, em defesa da segurança jurídica, já determinar se a MP seria convertida

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

ou rejeitada.

Se, até o 45º dia, NÃO tiver sido analisada, entrará em REGIME DE URGÊNCIA (tudo é
parado até que se analise a MP), suspendendo as demais deliberações da pauta da Casa em
que se encontrar (trancamento da pauta).

Reinterpretando o art. 62, §6º, a Câmara dos Deputados estabeleceu que o trancamento de
pauta da MP somente se daria com relação aos projetos de leis ordinárias, até porque a MP tem
força de lei ordinária.

O Tribunal, por maioria e nos termos do voto do Ministro Celso de Mello (Relator), indeferiu
o mandado de segurança e deu, ao § 6º do art. 62 da Constituição, na redação resultante da EC
32/2001, interpretação conforme à Constituição, para, sem redução de texto, restringir-lhe a
exegese, em ordem a que, afastada qualquer outra possibilidade interpretativa, seja fixado
entendimento de que o regime de urgência previsto em tal dispositivo constitucional – que impõe
o sobrestamento das deliberações legislativas das Casas do Congresso Nacional – refere-se, tão
somente, àquelas matérias que se mostram passíveis de regramento por medida provisória,
excluídos, em consequência, do bloqueio imposto pelo mencionado § 6º do art. 62 da Lei
Fundamental, as propostas de emenda à Constituição e os projetos de lei complementar,
de decreto legislativo, de resolução e, até mesmo, tratando-se de projetos de lei ordinária,
aqueles que veiculem temas pré-excluídos do âmbito de incidência das medidas provisórias
(CRFB/88, art. 62, § 1º, I, II e IV).
Vencido o Ministro Marco Aurélio. Impedido o Ministro Dias Toffoli. Ausente o Ministro
Ricardo Lewandowski, participando do Seminário de Verão 2017, na Faculdade de Direito da
Universidade de Coimbra, em Portugal. Presidiu o julgamento a Ministra Cármen Lúcia. Plenário,
29.6.2017. (STF, MS 27931)

24.3.7 MP antes da EC 32/2001

Regra de direito intertemporal:


Art. 2º, da EC 32/2001. As medidas provisórias editadas em data anterior
à da publicação desta emenda continuam em vigor até que medida
provisória ulterior as revogue explicitamente ou até deliberação definitiva
do Congresso Nacional.

Súmula Vinculante nº 54. A medida provisória não apreciada pelo


congresso nacional podia, até a Emenda Constitucional 32/2001, ser
reeditada dentro do seu prazo de eficácia de trinta dias, mantidos os efeitos
de lei desde a primeira edição.

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

24.4 LEI DELEGADA

É editada pelo Presidente da República, que deverá solicitar a delegação do Congresso


Nacional.
Natureza jurídica – É um ato normativo primário, pois é extraída diretamente da
Constituição.

24.4.1 Limitações

Art. 68, §1º - Limitações materiais

24.4.2 Modalidades de Delegação

Delegação SEM retorno – quando o CN autoriza o Presidente


Delegação TÍPICA
criar a lei delegada, respeitando os limites, sem apreciar o
(própria)
projeto da lei delegada.

Delegação ATÍPICA
Art. 68, §3º - delegação COM retorno.
(imprópria)

Em qualquer caso, é necessário respeitar o art. 68, §2º - resolução do CN estabelecerá o


conteúdo e os termos de seu exercício.

Art. 49, V – CONTROLE REPRESSIVO POLÍTICO DE CONSTITUCIONALIDADE.

24.5 RESOLUÇÕES e DECRETOS LEGISLATIVOS

São normas primárias, extraídas diretamente da Constituição.

RESOLUÇÕES

São, via de regra, UNICAMERAIS , pois tratam das matérias que a Constituição reservou à
Câmara dos Deputados (art. 51) e ao Senado Federal (art. 52), isoladamente.

EXCEÇÃO: Resolução BICAMERAL (art. 68, §2º).

DECRETO LEGISLATIVO

É, por excelência, BICAMERAL, pois trata das matérias que o constituinte reservou ao
Congresso Nacional (art. 49).

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NÃO há sanção ou veto do Presidente da República no processo de elaboração de Decretos


Legislativos e Resoluções, tendo por fundamento o princípio da separação de poderes.

25 DEFESA DO ESTADO e das


INSTITUIÇÕES DEMOCRÁTICAS

O Estado de Defesa e Estado de Sítio são situações chamadas de LEGALIDADE


EXTRAORDINÁRIA, são situações excepcionais, de crise, de estados de exceção.

25.1 SISTEMA CONSTITUCIONAL DAS CRISES

Segundo José Afonso da Silva, é aquele que tem por objeto as situações de crise, seja
um abalo institucional ou abalo ao país. E tem por objetivo recuperar/restaurar a normalidade
institucional.

25.2 DECRETO PRESIDENCIAL

O Estado de Defesa e o Estado de Sítio serão objetos de um DECRETO


PRESIDENCIAL (art. 84, X), o qual NÃO pode ser objeto de delegação.

25.3 PRINCÍPIOS NORTEADORES

DA É preciso realmente respaldar o Estado de Defesa ou o de Sítio numa


NECESSIDADE situação real, em que os fatos justifiquem a edição do decreto presidencial.

DA Toda medida de exceção é temporária, pois a regra é a normalidade e


TEMPORARIEDADE não a situação de crise.

O Estado de Defesa e o Estado de Sítio legitimam eventuais


restrições a certos direitos fundamentais, então essas restrições
DA
devem ser realmente necessárias e proporcionais aos fatos.
PROPORCIONALIDADE
NÃO há supressão de direito fundamental durante tais situações
excepcionais.

DA DIGNIDADE DA Como fundamento da RFB, NÃO é possível que a dignidade da pessoa

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

PESSOA HUMANA humana seja desconsiderada, ainda que em uma situação de crise.

25.4 ATUAÇÃO DO CONSELHO DA REPÚBLICA E DO CONSELHO DA


DEFESA NACIONAL

São órgãos de consulta do Presidente e atuam (se manifestam) ANTES do decreto


presidencial determinando o Estado de Defesa ou de Sítio.
A oitiva destes órgãos é OBRIGATÓRIA.
o Conselho da República (art. 90, I);
o Conselho da Defesa Nacional (art. 91, §1º, II)
Entretanto, o Presidente da República NÃO é obrigado a seguir as opiniões dos referidos
órgãos (pareceres NÃO vinculantes), embora seja obrigado a ouvi-los.

NÃO é possível votar ou promulgar Emendas Constitucionais durante o Estado de Defesa e o


Estado de Sítio, bem como durante Intervenção Federal (limitação circunstancial).

25.5 QUADRO COMPARATIVO

ESTADO DE DEFESA ESTADO DE SÍTIO

Art. 136, caput Art. 137, I e II

NÃO há limitação espacial, podendo ter, até


Decretado em locais restritos e determinados
mesmo, abrangência nacional

NÃO há autorização do Congresso Nacional,


Há autorização do Congresso Nacional (arts.
a atuação deste é posterior (arts. 136, §§ 4º a
137, caput, e 49, IV)
7º e 49, IV)

Art. 140 – existe um CONTROLE POLÍTICO CONCOMITANTE

• Art. 137, I – prazo (art. 138, §1º, primeira


parte) – NÃO superior a 30 dias, admitindo
inúmeras prorrogações;
Prazo (art. 136, §2º) – não superior a 30 dias, • Art. 137, II – prazo (art. 138, §1º, segunda
admitindo uma prorrogação parte) – NÃO há prazo específico na
Constituição para a duração do Estado de Sítio
na situação de guerra ou agressão armada
estrangeira, mas deve-se estabelecer um

120
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

prazo no Decreto Presidencial.

Direitos fundamentais que podem sofrer


eventuais relativizações (na hipótese do art.
137, I) – art. 139.

Direitos fundamentais que podem sofrer


NÃO há menção na CRFB/88 sobre as
eventuais relativizações - art. 136, §1º, I e II, e
medidas que podem ser tomadas na hipótese
§3º
do art. 137, II. Nesse caso, qualquer medida
pode ser tomada, desde que necessária,
proporcional e respeite a dignidade da pessoa
humana.

26 ORDEM ECONÔMICA
COMPROMISSÓRIA

O Brasil faz uma opção por uma ordem econômica capitalista, aquela que, a princípio, quem
deve tomar as decisões sobre os bens, os serviços, os valores, é a iniciativa privada, a empresa,
geridas pela lei da oferta e da procura. Ou seja, inicialmente, as decisões sobre a economia devem
ser tomadas nesse ambiente de liberdade privada. Só que a Constituição, ao mesmo tempo que
adota essa ordem econômica capitalista, também traz um viés social muito importante.

Art. 1º, IV Os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa.

Desenvolvimento nacional é o somatório do desenvolvimento econômico, da


circulação de riquezas, da busca pelo lucro e o desenvolvimento social, ou seja,
as pessoas precisam ter uma qualidade de vida adequada, o trabalhador precisa
ser respeitado, é preciso que as pessoas tenham dignidade.

Então, quando a Lei Maior enuncia que um dos objetivos é o desenvolvimento


Art. 3º, II e III
nacional, é porque estar-se precisando somar as forças do desenvolvimento
econômico sem descuidar do lado social.

Além de erradicar a pobreza e a marginalização e reduzir as desigualdades


sociais, para que efetivamente se tenha uma justiça social e uma vida mais
digna para todas as pessoas.

Traz os princípios que regem essa ordem econômica chamada de


Art. 170
compromissória, porque está preocupada com o social e valoriza a justiça

121
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

social do trabalhador, do trabalho.

26.1 JURISPRUDÊNCIA

É certo que a ordem econômica na Constituição de 1988 define opção por um sistema no
qual joga um papel primordial a livre iniciativa. Essa circunstância não legitima, no entanto, a
assertiva de que o Estado só intervirá na economia em situações excepcionais. Mais do que
simples instrumento de governo, a nossa Constituição enuncia diretrizes, programas e fins a serem
realizados pelo Estado e pela sociedade. Postula um plano de ação global normativo para o Estado
e para a sociedade, informado pelos preceitos veiculados pelos seus arts. 1º, 3º e 170. A livre
iniciativa é expressão de liberdade titulada não apenas pela empresa, mas também pelo trabalho.
Por isso a Constituição, ao contemplá-la, cogita também da "iniciativa do Estado"; não a privilegia,
portanto, como bem pertinente apenas à empresa. Se de um lado a Constituição assegura a livre
iniciativa, de outro determina ao Estado a adoção de todas as providências tendentes a garantir o
efetivo exercício do direito à educação, à cultura e ao desporto (arts. 23, V, 205, 208, 215 e 217, §
3º, da Constituição). Na composição entre esses princípios e regras há de ser preservado o
interesse da coletividade, interesse público primário. O direito ao acesso à cultura, ao es porte
e ao lazer são meios de complementar a formação dos estudantes.
[ADI 1.950, rel. min. Eros Grau, j. 3-11-2005, P, DJ de 2-6-2006.]

Em face da atual Constituição, para conciliar o fundamento da livre iniciativa e do princípio


da livre concorrência com os da defesa do consumidor e da redução das desigualdades sociais,
em conformidade com os ditames da justiça social, pode o Estado, por via legislativa, regular a
política de preços de bens e de serviços, abusivo que é o poder econômico que visa ao aumento
arbitrário dos lucros.
(ADI 319 QO, rel. min. Moreira Alves, j. 3-3-1993, P, DJ de 30-4-1993.)

O Estado atua preventiva e repressivamente, ao passo que dá licenças ambientas, para


defender o meio ambiente, pode fazer tabelamento de preços etc., tudo para tentar evitar que a
defesa do lucro se sobreponha aos valores constitucionais que são inegociáveis.

ART. 5º

IV e V – MANIFESTAÇÃO DE PENSAMENTO RESPONSÁVEL

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DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

Preventiva VEDAÇÃO ao anonimato

Repressiva Ampla reparabilidade

VI a VIII – PRINCÍPIO DA LAICIDADE

O Estado Brasileiro é laico, leigo ou não-confessional, ou seja, NÃO há religião oficial,


entretanto, o sentimento religioso é incentivado pela Constituição.

ATENÇÃO! Recentemente, o STF entendeu que o ensino confessional, com dogmas


religiosos específicos, nas escolas públicas NÃO viola a laicidade, tendo em vista que a
matrícula é FACULTATIVA (art. 210, §1º, da CRFB/88). Ou seja, o que assegura a laicidade
do Estado é a matrícula facultativa.

XI - INVIOLABILIDADE DO DOMICÍLIO

Preserva a intimidade, a vida privada.

SALVO:

Flagrante delito

Desastre A QUALQUER HORA (dia/noite)

Prestar socorro

DURANTE O DIA (enquanto houver luz solar)


Determinação JUDICIAL
STF – durante a noite para instalar equipamento de
(Princípio da Reserva
escuta ambiental em escritório de advocacia. Prova
Constitucional de Jurisdição)
LÍCITA somente neste caso.

XI – INVIOLABILIDADE DO SIGILO DE COMUNICAÇÃO

A Constituição Federal protege o sigilo de comunicação. As comunicações que têm


proteção são: correspondência, telegráfica, de dados e telefônica.

a) De Correspondência

• Quem pode violar? O Juiz e o Diretor de Presídio.


O Juiz de Direito e o Diretor de Presídio podem violar o sigilo de correspondência. O STF

123
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

já decidiu que o Diretor de Presídio pode, SEM autorização judicial, violar a correspondência dos
presos.

b) Telegráfica

= DADOS.

c) Dados

Dados é e-mail, SMS, WhatsApp.

• Quem pode violar? O Juiz, CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito), Plenário da


Câmara dos Deputados e do Senado Federal.

OBS.: Conta de telefone entra em sigilo de dados.

d) Telefônica

Intercepção telefônica (“grampo”).


É mais invasiva. Consegue descobrir o teor da conversa. Por ser um método mais invasivo,
somente quem pode violar é o Juiz de Direito (reserva de jurisdição).

Somente o Juiz pode determinar a violação da comunicação telefônica (nos termos da


lei) em dois casos:

• Investigação de crime;
• Instruir ação penal.

AULA DE TEMAS IMPORTANTES

MUTAÇÃO CONSTITUCIONAL –PRERROGATIVA DE FORO FUNCIONAL


– DO ART. 53, §1º

O art. 53, §1º - prevê a prerrogativa de foro funcional


Falar o posicionamento
Por fim, em recente decisão, o STF decidiu restringir a prerrogativa de foro funcional

124
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

ADI 4439 - STF

Constitucionalidade do ensino religioso confessional, como disciplina facultativa.


(RECENTE!)
Art. 5º, VI, VII e VIII
Art. 210, §1º - afirma que o ensino religioso é de matricula facultativa.

ADI 4815 - STF

Autorização para biografias


O STF entendeu que não há autorização para a biografia, pois esta é um gênero literário.
Uma autorização feriria a liberdade de manifestação,

Art. 5º, IV, V, IX e X


Art. 220, §1º

Ponderação da liberdade
Mas o abuso de direito sempre poderá ser reprimido, puníveis.

ADPF 187 - STF

“Marcha da Maconha”
Art. 287, do CP
Art. 5º, XVI

A marcha da maconha NÃO viola a Constituição.

ADI 3483

O Plenário julgou procedente pedido formulado em ação direta para declarar a


inconstitucionalidade da Lei 7.716/2001, do Estado do Maranhão.
A norma estabelece prioridade na tramitação processual, em qualquer instância, para as
causas que tenham, como parte, mulher vítima de violência doméstica. O Tribunal esclareceu que
a competência para normatizar tema processual seria da União e, por isso, a lei estadual
impugnada teria afrontado o art. 22, I, da CRFB/88.
ADI 3483/MA, rel. Min. Dias Toffoli, 3.4.2014. (ADI-3483)
(Informativo 741, Plenário)

125
DIREITO CONSTITUCIONAL – DIREITO MATERIAL | Isis Miguel

RECLAMAÇÃO 24284

“...Não afronta o Enunciado 10 da Súmula Vinculante, nem a regra do art. 97 da


Constituição Federal, o ato da autoridade judiciária que deixa de aplicar a norma infraconstitucional
por entender não haver subsunção aos fatos ou, ainda, que a incidência normativa seja resolvida
mediante a sua mesma interpretação, sem potencial ofensa direta à Constituição”. (STF, Rcl
24284/SP)

MS 34530

Controle preventivo judicial de constitucionalidade


MS impetrado pelo Parlamentar – somente enquanto este for parlamentar e o processo
legislativo estiver correndo.

Projeto de Lei – ângulo formal


Emenda – formal e material
“Ex positis, defiro a medida liminar inaudita altera parte para suspender, na forma do art.
7º, III, da Lei nº 12.016/2009 e do art. 203, § 1º, do Regimento Interno deste Supremo Tribunal
Federal, os efeitos dos atos praticados no bojo do processo legislativo referente ao Projeto de Lei
(PL) nº 4.850/2016, determinando, por consequência:
(i) o retorno do Projeto de Lei da Câmara nº 80/2016, em tramitação no Senado Federal, à
Casa de origem e (ii) que a Câmara dos Deputados autue o anteprojeto de lei anticorrupção
encaminhado àquela Casa legislativa com as assinaturas de 2.028.263 (dois milhões, vinte e oito
mil e duzentos e sessenta e três) eleitores, como Projeto de Iniciativa Popular, observando o rito
correlato previsto no seu Regimento Interno, consoante os artigos 14, III, e 61, § 2º, da
Constituição. Destaco, ainda, que ficam sem efeito quaisquer atos, pretéritos ou supervenientes,
praticados pelo Poder Legislativo em contrariedade à presente decisão.” (MS 34.530, STF)

8 Súmulas Vinculantes

33 – Resultado de várias decisões de mandado de injunção que questionavam a ausência


de regulamentação do art. 40, §4º, III -

44 – Somente por lei, Princípio da legalidade, art. 5º, II c/c art. 37, caput, da CRFB/88.

54 – MP – trata da parte intertemporal, EC 32/2001, 62, §10, da CRFB/88.

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