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PSICOPATOLOGIA

Psicopatologia é um termo que se refere tanto ao estudo dos estados mentais


patológicos, quanto à manifestação de comportamentos e experiências que podem indicar um
estado mental ou psicológico anormal. O termo é de origem grega; psykhé significa alma e
patologia, estudo das doenças e seus sintomas. Literalmente, seria uma patologia da alma.
A psicopatologia enquanto estudo das anormalidades da vida mental é às vezes
referida como psicopatologia geral, psicologia anormal, psicologia da anormalidade e
psicologia do patológico. É uma visão das patologias mentais fundamentada na
fenomenologia (no sentido de psicologia das manifestações da consciência), em oposição a
uma abordagem estritamente médica de tais patologias, buscando não reduzir o sujeito a
conceitos patológicos, enquadrando-o em padrões baseados em pressupostos e preconceitos.
Karl Jaspers, foi o responsável por tornar a psicopatologia uma ciência autônoma e
independente da psiquiatria, afirmava que o objetivo desta ciência é "sentir, apreender e
refletir sobre o que realmente acontece na alma do homem".
Para Jaspers, a psicopatologia tem por objetivo estudar descritivamente os fenômenos
psíquicos anormais, exatamente como se apresentam à experiência imediata, buscando aquilo
que constitui a experiência vivida pelo enfermo.
A psicopatologia se estabelece através da observação e sistematização de fenômenos
do psiquismo humano e presta a sua indispensável colaboração aos profissionais que
trabalham com saúde mental, em especial os psiquiatras, os psicólogos e os assistentes
sociais, dentre outros.
A psicopatologia está ligada a diversas disciplinas: as psicologias, as psiquiatrias e o
corpo teórico psicanalítico. Dentro da psicologia liga-se com a Psicologia Clínica (dedicada
ao diagnóstico e estudo da personalidade), Psicologia Geral (noções de subjetividade,
intencionalidade, representação, atos voluntários, etc.), e ainda a psicologia ligada as
neurociências.
A psicopatologia deve considerar o indivíduo de forma global baseando - se nos
padrões de normalidade onde o indivíduo a ser questionado está inserido, não guiando - se
apenas pelos sintomas. Considerar o indivíduo isolado faz com que o objetivo principal de
compreendê-lo seja esquecido.
ESQUIZOFRENIA

A esquizofrenia foi descrita no final do século XIX pelo psiquiatra alemão Emil
Kraepelin, o qual inicialmente a chamou de Demência precoce, porque a maioria das pessoas
acometidas eram jovens e exibiam comportamento transgredido e desorganizado, lembrando
portadores da doença de Alzheimer.
No início do século XX Eugen Bleuler, psiquiatra suíço criou o termo esquizofrenia
(esquizo = cindida; frenia = mente), por achar o termo Demência precoce inapropriado. Para
ele a característica principal da doença era a cisão entre o pensamento e a emoção, dando a
impressão de uma personalidade fragmentada e desestruturada, contudo os pacientes não
apresentavam evolução deteriorante como na demência e muitos se recuperavam.
A esquizofrenia é uma psicose grave na qual a perturbação principal se reflete em uma
alteração do juízo, dos processos de pensamento e de afeto inadequado ou embotado. É uma
desorganização da personalidade de caráter grave, às vezes com manifestação de sintomas
psicóticos, afirmada sobre um defeito na interpretação da realidade. As características típicas
são: grande distorção nos processos de pensamento; alterações de afeto; alterações dos limites
do ego; dificuldades nas relações pessoais, delírios de controle, influência, passividade,
alucinações auditivas e outras modalidades. Um dos sinais que por tradição se considera
patognomônico da esquizofrenia é o transtorno e dissociação dos processos de pensamento.
A causa da esquizofrenia é multifatorial e complexa, envolvendo fatores genéticos e
ambientais. Os genes da esquizofrenia são responsáveis por regular etapas importantes do
desenvolvimento cerebral, bem como a produção de neurotransmissores (substâncias
produzidas no cérebro para transmitir impulsos elétricos de um neurônio a outro). Esses genes
seriam ativados por fatores ambientais de risco, desencadeando uma cascata de eventos que
culminariam alterações sutis do desenvolvimento cerebral, caracterizadas principalmente por
um erro na comunicação entre neurônios de diferentes áreas cerebrais.
Contudo, um dos maiores obstáculos na pesquisa genética é a inespecificidade dos
genes relacionados. Alguns são comuns a outros transtornos mentais, como o distúrbio
bipolar, o que sugere que doenças psiquiátricas possam ter uma origem genética comum. O
quadro clínico dependeria, portanto, do número de genes envolvidos em cada pessoa. Isso
parece fazer sentido na diferenciação entre os casos mais graves da esquizofrenia, que teriam
teoricamente maior carga genética em comparação aos quadros mais leves.
Em linhas gerais, o ambiente pode influenciar o adoecimento nas etapas mais precoces
do desenvolvimento cerebral que vai, da gestação à primeira infância. É nesse período que o
cérebro é mais sensível, por estar crescendo com rapidez e depender do ambiente para o
aperfeiçoamento de suas funções. Esta etapa, é aquela em que os genes de regulação do
desenvolvimento estão mais ativos e na presença de variáveis genéticas da esquizofrenia,
podem intervir em processos naturais de desenvolvimento.
A adolescência é um momento delicado, pois o cérebro começa a moldar - se para a
vida adulta. Um processo chamado de poda neuronal, apara as arestas do desenvolvimento, o
qual gera conexões desnecessárias. A esquizofrenia pode estar relacionada a um menor
número de podas, com conexões errôneas entre os neurônios. Fatores ambientais na
adolescência podem influenciar esse processo, desencadeando o primeiro surto da doença.
A tabela abaixo demonstra alguns fatores de risco do ambiente relacionados à
esquizofrenia:

Períodos do Desenvolvimento
Fatores Ambientais de Risco
Cerebral
- Viroses (influenza, rubéola, herpes) na mãe,
particularmente quando ocorrem no segundo trimestre de
gravidez;
- Desnutrição materna;
Período Pré- natal
- Morte do esposo;
- Catástrofes;
- Gravidez indesejada;
- Depressão durante a gravidez.
- Complicações da gravidez (sangramentos, diabetes,
incompatibilidade rH, pré- eclâmpsia);
- Crescimento ou desenvolvimento fetal anormal (baixo
peso ao nascer, prematuridade, malformações congênitas,
Período Neonatal redução do perímetro encefálico);
- Complicações do parto (atonia uterina asfixia/hipóxia
neonatal, parto cesáreo emergencial);
- Interação mãe- criança atípica ou maternagem deficiente;
- Perda precoce de um dos pais.
- Infecções do SNC (meningite, encefalite, sarampo);
Primeira Infância
-Experiências psicológicas negativas;
- Traumas, abuso físico e sexual.

Adolescência - Uso de maconha.

TEORIAS

Algumas teorias tentam explicar as possíveis causas da esquizofrenia, como por


exemplo:

a) Teoria bioquímica - É a mais aceita. As pessoas com esquizofrenia sofrem um


desequilíbrio neuroquímico, isto é, falhas na comunicação celular e senso - percepção.

b) Teoria do fluxo sanguíneo cerebral - Através de técnicas modernas de investigação das


imagens cerebrais, pesquisadores estão descobrindo áreas que são ativadas durante o
processamento de imagens sejam, elas normais ou patológicas. As pessoas com esquizofrenia
parecem ter dificuldade na “coordenação” das atividades entre diferentes áreas cerebrais. Por
exemplo: quando se fala ou pensa, a maior parte das pessoas mostra aumento da atividade nos
lobos frontais e diminuição da atividade de áreas não relacionadas a este foco, como a da
audição. Nos pacientes esquizofrênicos observamos anomalias dessas ativações. A
Tomografia por emissão de pósitrons - (TEP) mede a intensidade da atividade cerebral pelo
fluxo sanguíneo. Uma região cerebral se ativa quando recebe mais aporte sanguíneo, o que
pode ser captado pelo fluxo sanguíneo local. Por enquanto, não se sabe se o déficit do fluxo
sanguíneo em certas áreas, são a causa ou conseqüência da doença.

c) Teoria biológica molecular - Faz relação com a anomalia na formação das células
cerebrais antes do nascimento, na sua formação. O padrão irregular pode direcionar a uma
possível causa pré-natal de esquizofrenia ou indicar fatores predisponentes ao
desenvolvimento da doença.

d) Teoria genética - Demonstra a correlação entre o parentesco e as chances de surgimento


de esquizofrenia. Pessoas sem nenhum parente esquizofrênico têm 1% de chances de
desenvolver a esquizofrenia; pessoas com algum parente distante essa chance aumenta de 3 a
5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com um irmão esquizofrênico as chances
aumentam para aproximadamente 20%, quando o irmão possui o mesmo código genético
(gêmeo idêntico) as chances de o outro irmão vir a ter esquizofrenia são de 50 a 60 %. A
esquizofrenia entre os gêmeos idênticos seria de 100%.

e) Teoria do estresse - O stress não causa a esquizofrenia, mas pode agravar os sintomas.

f) Teoria das drogas – Ainda não existem provas que as drogas lícitas ou ilícitas causem a
esquizofrenia. Elas podem agravar os sintomas de quem já tem a doença. Drogas como
cocaína ou estimulantes podem provocar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia,
entretanto não há evidências que possam comprovar.

g) Teoria causal - É o modelo mais aceito hoje para a causa da esquizofrenia. Reúne fatores
genéticos e ambientais, considerada como modelo estresse - diátese. De acordo com ele, uma
pessoa somente desenvolve a esquizofrenia se houver de um lado uma herança genética e, de
outro, fatores ambientais de risco, capazes de torná-la biologicamente vulnerável para o
transtorno.
Os fatores ambientais atuam em processos do desenvolvimento e maturação cerebral,
ativando genes de susceptibilidade para a esquizofrenia e causando alterações cerebrais sutis,
como a desconexão entre neurônios. Esta é a base para que disfunções cognitivas e sintomas
positivos e negativos da esquizofrenia se desenvolvam.

SINTOMAS

Os sintomas precoces da esquizofrenia são conhecidos como prodrômicos (do grego


pródromos = precursor), são os que ocorrem meses ou anos antes do primeiro surto. Não são
sintomas específicos da doença e não permitem diagnóstico precoce do transtorno.
Pode ocorrer comportamento hiperativo desde a infância, desatenção e dificuldades de
memória e aprendizado, sintomas de ansiedade como inquietação, somatizações, desânimo,
desinteresse generalizado e humor depressivo. O início do transtorno pode ser confundido
com depressão ou outros transtornos ansiosos como pânico, transtorno obsessivo-compulsivo,
ansiedade generalizada, etc..
Em alguns casos podem ocorrer dúvidas sobre sua existência, explicações filosóficas
sobre coisas simples da vida e uma necessidade permanente de buscar significados podem
deixar a pessoa mais introspectiva e isolada socialmente. É comum antes do primeiro surto
haver dificuldade ou descontinuidade de atividades regulares, como escola, cursos, trabalho
esporte e lazer. Percebe-se também dificuldade para viver relações sociais e familiares.
Algumas pessoas ainda podem desenvolver um comportamento mais arredio ou
indisciplinado, ter momentos de explosão, de raiva ou descontrole emocional diante de
situações em que se esperaria uma postura diferente para resolver os problemas.
Os sintomas positivos estão relacionados ao surto psicótico, o qual se caracteriza por
um estado mental agudo caracterizado por grave desorganização psíquica e fenômenos
delirantes e/ou alucinatórios, com perda de juízo crítico da realidade. A capacidade de perder
a noção do que é real e do que é fantasia, criação da mente da própria pessoa, é um aspecto
muito presente nos quadros agudos da esquizofrenia. A pessoa adoecida pode criar uma
realidade fantasiosa, na qual acredita plenamente a ponto de duvidar da realidade do mundo e
das pessoas ao seu redor. É o que chamamos de delírio. O delírio pode ter diversas temáticas,
inclusive no mesmo surto. As mais comuns são a idéia de estar sendo perseguida por alguém,
de ser observada ou de que as pessoas falam dela ou sabem de tudo que se passa na sua vida.
Outras idéias fantasiosas, como de cunho religioso, místico ou grandioso também podem
ocorrer. Menos frequentemente ocorrem delírios de culpa e de ciúme.
O delírio não é uma criação da pessoa ou motivada por fatores psicológicos ou de
relacionamento. Na esquizofrenia, o delírio surge espontaneamente, invade e domina a
consciência da pessoa, tirando dela a capacidade de lutar e vencer sozinha suas próprias
idéias. É comum ela se sentir amedrontada, ou então, agir com vigor, mas sem um propósito
claro ou racional. O delírio traz consigo uma sensação de sofrimento e fragmentação da
própria personalidade, como se a pessoa perdesse o chão, suas referências básicas, o controle
de sua própria vida.
Outro sintoma positivo é a alucinação. A pessoa pode ouvir e ver coisas que não estão
presentes, como escutar vozes dialogando entre si ou se referendo à própria pessoa,
insultando-a ou ordenando que faça algo. Podem ver vultos ou imagens de pessoas,
personagens de seu delírio, com as quais é capaz de conversar e interagir. Há casos também
de alucinações olfativas (sentir cheiros estranhos), gustativas, táteis (sentir choques ou como
se bichos andassem em seu corpo) e dos órgãos internos (como sentir o coração derretendo,
órgãos apodrecendo).
Assim, como no delírio o paciente não tem nenhum controle sobre as alucinações. Elas
têm igual capacidade de dominar a consciência e influenciar o comportamento. A percepção
de uma alucinação é igual a que ocorre para um objeto real, não sendo possível para o
paciente distinguí-la da realidade.
A pessoa pode ainda acreditar que tem poderes paranormais, como a capacidade de ler
a mente dos outros. O paciente pode fantasiar acerca de familiares, acreditando que eles sejam
impostores ou sósias, ou confundir pessoas estranhas com alguém familiar.
Os sintomas positivos podem não ocorrer com todos os casos de esquizofrenia e,
mesmo quando presentes, podem variar na intensidade e qualidades dos sintomas. Existem
pacientes que não possuem muitos delírios e outros que nunca tiveram alucinações.
Os sintomas positivos estão mais relacionados à fase crônica da esquizofrenia. Embora
possam ocorrer na fase aguda, eles se estendem por mais tempo e predominam a longo prazo.
Esses sintomas são também chamados de deficitários, como referência à deficiência de
algumas funções mentais, como a vontade e a efetividade.
A falta de vontade, de iniciativa ou da persistência em algumas atividades da vida
cotidiana é vista pela maioria dos familiares como sinal de preguiça ou má vontade.
Entretanto, este é um sintoma da esquizofrenia. Em alguns graus variados de intensidade,
pacientes tem dificuldade de iniciativa, demosntram-se desinteressados ou indiferentes aos
desafios e atividades que lhes são propostas. Tendem a escolher atividades mais passivas,
onde não é exigido esforço físico ou cognitivo, como assistir TV, ouvir rádio, ou mesmo
passar grande parte do tempo ocioso. As deficiências da vontade são responsáveis por grande
parte das dificuldades em atividades produtivas, como trabalho e estudos, e sociais,
contribuindo para maior isolamento.
A efetividade compreende a nossa capacidade de demonstrar afetos e sentimentos.
Para isso usamos nossa mímica facial, os gestos, o tom de voz e a nossa empatia. Alguns
pacientes têm dificuldade em expressar e demonstrar seus afetos claramente e isso leva, em
geral, a uma falha de empatia e a uma dificuldade de interação e comunicação social. Isto não
significa que não tenham sentimentos, que não sejam capazes de reagir emocionalmente ao
ambiente e às pessoas. O que está comprometido é a forma de demonstrar seus afetos, mas
não a capacidade de sentir emoções.
A fala, o pensamento e as idéias podem estar lentificados ou desconectados, sem um
encadeamento lógico para quem está ouvindo. Porém, é importante que familiares e amigos
procurem compreender o significado do que está sendo dito, que escutem e acolham a pessoa
com suas diferenças e limitações.
Os sintomas negativos, por serem mais duradouros e interferirem com funções básicas
como vontade e afetividade, acarretam dificuldades sociais e laborativas percebida em muitos
pacientes. É fundamental a compreensão, as tentativas e apóio, dentro de um contexto sócio -
familiar saudável e acolhedor.
A cognição pode estar comprometida na esquizofrenia de diversas formas. As mais
comuns são a falta de atenção e concentração e o prejuízo da memória. Essas alterações
podem ocorrer antes mesmo do primeiro surto e piorar nos primeiros anos do transtorno.
Alguns pacientes têm dificuldades em manter atenção por longo tempo, tornando-se
facilmente distraídos e dispersos. Em uma conversa num ambiente tumultado e ruidoso o
paciente pode não conseguir manter o foco, distraindo-se com estímulos alheios. Isto ocorre
devido à incapacidade de inibir completamente estímulos do ambiente que não sejam
importantes no momento. O comprometimento da atenção também interfere na leitura e
escrita.
Em relação à memória, pode haver dificuldade para buscar lembranças passadas em
momentos oportunos, como quando se está conversando sobre um episódio e o paciente
esquece-se de mencionar fatos importantes relacionados a ele. O aprendizado também pode
estar prejudicado, com maior lentidão para aprender informações novas, que pode ser
atribuído à dificuldade na formação de estratégias para aceleração do aprendizado e por
problemas na fixação do conteúdo.
Existem outros prejuízos da cognição, como pensamento mais concreto, com
dificuldades para abstrair e compreender figuras de linguagem, impulsividade na hora de
tomar decisões, fazendo escolhas erradas, baseadas em decisões imaturas de primeiro
momento, e disfunções executivas, como dificuldade de planejamento das tarefas, não
priorizar as mais simples frente às complexas.
Os sintomas da cognição também interferem na vida social e profissional,
contribuindo para prejuízos em outras áreas de funcionamento da pessoa, como estudo,
trabalho e relacionamentos interpessoais.
Os pacientes com início mais precoce e/ou formas mais graves da esquizofrenia
podem apresentar sinais neurológicos, como tiques faciais, prejuízo dos movimentos mais
finos (o que os torna mais desajeitados ou estabanados), trejeitos e movimentos mais bruscos
e descoordenados, aumento da frequência de piscar os olhos e desorientação direita -
esquerda.
Muitos desses sinais também estão presentes em outros transtornos psiquiátricos e
neurológicos, como o Transtorno de tiques e a Síndrome de Gilles de La Tourette. Portanto, a
presença isolada desses sintomas, sem os demais característicos da esquizofrenia, não deve
sugerir esse diagnóstico.
A explicação para a ocorrência dos sinais neurológicos não é bem conhecida. A
maioria não os apresenta e aqueles que são acometidos, os revelam de maneira tênue e passam
despercebidos por pessoas com menos graus de intimidade. Não existem exames
neurológicos, como eletroencefalografia, tomografia computadorizada ou ressonância
magnética, capazes de diagnosticar a esquizofrenia. As alterações que podem aparecer nesses
exames são inespecíficas e podem ocorrer também em outras doenças psiquiátricas e
neurológicas.
O funcionamento social engloba as capacidades de interação e comunicação social, de
autonomia, da vida laborativa, acadêmica, familiar e afetiva. Enfim, é tudo aquilo que diz
respeito à interação da pessoa com o meio em que vive.
Na esquizofrenia, o funcionamento social pode estar prejudicado pelo conjunto de
sintomas já abordados, como os positivos, negativos e cognitivos. É indiscutível que, no
período de surto (fase aguda), o funcionamento da pessoa fique muito comprometido, pois os
primeiros sintomas de crise psicótica afetam o equilíbrio e a sensatez da pessoa, alteram seu
comportamento e a capacidade de administrar seus sentimentos e relacionamentos, gerando
conflitos. Isso não é exclusividade da esquizofrenia, podendo ocorrer na fase aguda de
qualquer transtorno psiquiátrico. Passada a crise, à medida que a pessoa vai se reestruturando,
ela passa a ter mais condições de avaliar e mudar seu comportamento. Entretanto, na
esquizofrenia, alguns pacientes permanecem com dificuldades sociais mesmo após a fase
aguda. Os sintomas mais impactantes neste período são os negativos e cognitivos, os que mais
interferem com o funcionamento do indivíduo. Alguns ficam com maior dificuldade para
relacionamentos, para fazer novas amizades, tendem a se isolar ou a restringir o convívio à
família. Em casos mais graves, pode haver limitações para coisas mais simples, como ir a um
supermercado ou a um banco, devido a uma inadequação ou inabilidade para agir em
situações sociais, com prejuízos para a autonomia da pessoa.
As capacidades de trabalho e estudo podem ser afetadas, pois dependem da eficiência
cognitiva e social. Muitos pacientes conseguem retornar ao trabalho ou à escola após sua
recuperação, enquanto outros se beneficiam de atividades menos exigentes e estressantes.
Como a esquizofrenia é um transtorno de apresentação heterogênea, incluindo quadros
clínicos muito diferentes, existem pacientes com maior ou menor grau de alteração do
comportamento, que também é variável de acordo com a fase da doença (aguda ou crônica).

Dentre outros sinais pode ocorrer:


Suicídio
As tentativas de suicídio não são raras na esquizofrenia. O suicídio pode ocorrer na fase
aguda ou crônica da doença, devendo o familiar ficar atento a alguns aspectos: se o paciente
fala em se matar, caso refira ouvir vozes ordenando que se fira ou que atente contra a própria
vida, quando ocorre intensa ansiedade ou angústia, se ele se mostra depressivo ou se tem
algum comportamento auto-agressivo ou autodepreciativo. Caso haja intenção ou risco de
suicídio, a equipe responsável deve ser imediatamente avisada.

Agressividade
O comportamento agressivo não deve ser associado à esquizofrenia, pois a maioria dos
pacientes não é agressiva em nenhum momento ao longo do transtorno. Uma minoria pode ter
reações impulsivas e ataques de raiva ou fúria, geralmente nas fases agudas, como no surto,
melhorando significativamente com o tratamento. O familiar deve ter paciência e
compreensão e jamais revidar alguns atos agressivos, sob o risco de haver aumento da
violência e das agressões se tornarem recorrentes ou constantes. Caso seja necessário conter a
pessoa, abraçando-a ou imbilizando-a, explique o motivo de sua atitude e tente acalmá-la até a
chegado do médico.

Manias
Alguns pacientes têm um comportamento mais rígido ou repetitivo, com dificuldades
para mudar determinados padrões. Isso pode variar de hábitos elementares, como relacionados
à higiene, à alimentação e ao vestuário, até hábitos sociais, como rotinas de atividades,
atitudes metódicas ou macanicista. Alguns podem desenvolver rituais e repetições
semelhantes ao transtorno obsessivo-compulsivo (TOC).
O paciente resiste a mudar algumas manias e isto provoca conflitos com a família. Por
outro lado, esses comportamentos não podem ser mudados na base da imposição ou da força,
devendo o familiar ter muito diálogo e paciência.

Solilóquios e risos imotivados


Solilóquios é o termo técnico para quem fala sozinho. Há pacientes que os apresentam
nas fases agudas, quando respondem às alucinações (vozes ou pessoas imaginárias). Outros
têm esse comportamento na fase crônica, falando sozinho ou simplesmente mexendo os lábios
e cochichando.
Os risos imotivados ocorrem quando o paciente ri sem motivo aparente ou fora de um
contexto. Esses sintomas são, na maioria das vezes, automáticos e involuntários, sem que ele
possa controlá-los inteiramente. A irritação de terceiros pode inclusive intensificá-los. O uso e
abuso de drogas lícitas e ilícitas é comum na esquizofrenia. Entre as drogas lícitas, os
tranqüilizantes, o álcool, a cafeína e o cigarro são os mais comuns. Essas substâncias podem
interferir com o metabolismo e a ação terapêutica dos antipsicóticos, medicamentos utilizados
no tratamento da esquizofrenia. No caso do álcool, é crescente o número de pacientes que
desenvolvem o alcoolismo, pelo consumo abusivo e contínuo da substância, o que agrava
muito o prognóstico da esquizofrenia.
No que tange às drogas ilícitas, a maconha e a cocaína são as mais utilizadas, embora
preocupe o crescimento do número de usuários de crack. O ecstasy é mais usado em festas e
de forma recreativa. A maconha parece ter papel desencadeador da psicose, ainda não muito
bem conhecido. Quando associado à esquizofrenia, a dependência química tem um papel
devastador para a doença, aumentando sobremaneira o número de recaídas. Pacientes com
dependência de drogas devem ser levados a tratamentos em centros especializados
paralelamente ao tratamento para a esquizofrenia.

CLASSIFICAÇÃO

A esquizofrenia pode ser classificada em tipos distintos de acordo com a sua


apresentação clínica, em:

Esquizofrenia simples: Caracteriza-se por uma apatia emocional, uma completa carência de
ambições, exibe uma desorganização geral da personalidade que se caracteriza por uma perda
gradual de interesse na vida, nas realizações pessoais e na participação social. Em alguns
casos, a indiferença e a irresponsabilidade conduzem a conflitos com a lei. O começo deste
tipo de alteração aparece com freqüência na adolescência, no momento em que o indivíduo se
enfrenta com a necessidade de efetuar a transição da infância a adaptação social e
heterosexual da vida adulta, com a responsabilidade que mesma supõe.

Esquizofrenia hebefrênica ou desorganizada: Caracteriza-se por ações e linguagem


caóticas. Pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado, riso insólito, conduta e
maneira tontas e agressivas (maneirismo).
Esquizofrenia paranóide: É caracterizada pelo predomínio de sintomas positivos (delírios e
alucinações) sobre os sintomas negativos. Em geral, os pacientes apresentam tramas delirantes
bem estruturadas e alucinações, com alterações de comportamento compatíveis com suas
vivências psíquicas, como inquietação ou agitação psicomotora, comportamento de medo ou
fuga, ausência de juízo crítico, dentre outras. Nesses casos, o paciente melhora dos sintomas
mais agudos com o tratamento, retornando boa parte de suas atividades e relacionamentos,
permanecendo com poucos prejuízos na fase crônica, já que os sintomas negativos estão tão
presentes. Podem ocorrer sintomas cognitivos que dificultam a retomada de algumas
atividades após a fase aguda.

Esquizofrenia catatônica: É o tipo menos comum, caracterizado por sintomas de catatonia


na fase aguda. O paciente pode falar pouco ou simplesmente não falar, ficar com os
movimentos muito lentos ou paralisados numa mesma posição por horas ou dias, recusar a se
alimentar ou ingerir líquidos, interagir pouco ou simplesmente não interagir com ninguém,
embora desperto e de olhos abertos. O tratamento melhora os sintomas de catatonia, podendo
o paciente permanecer com sintomas negativos e cognitivos na fase crônica. Há casos em que,
na fase aguda, pode ocorrer comportamento agitado e repetitivo sem um propósito claro ou
identificável.

Esquizofrenia indiferenciada: Os sintomas positivos e negativos estão presentes, havendo


delírios e alucinações em intensidade semelhante aos sintomas negativos e desorganizados,
classificando-se o tipo como diferenciado. A evolução e o prognóstico nesses casos são muito
variáveis, geralmente pior do que na esquizofrenia paranóide, porém superior ao tipo
hebefrênico.

Esquizofrenia residual: Tipifica quadros mais crônicos, de longos anos de evolução ou que
evoluem rapidamente para um comportamento mais deteriorado, com muitos prejuízos sociais
e para a autonomia da pessoa, afetando sua capacidade de comunicação, inclusive verbal,
gerando passividade ou falta de iniciativa, lentidão psicomotora, monotonia e prejuízos
inclusive para o autocuidado e higiene pessoal.

DIAGNÓSTICO
O diagnóstico da esquizofrenia é feito pelo especialista a partir das manifestações da
doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório que permita confirmar o diagnóstico da
doença. Os exames pedidos pelo clínico servem apenas para excluir outras doenças que
podem apresentar manifestações semelhantes à esquizofrenia e para descartar a possibilidade
do uso abusivo de drogas ou de um distúrbio clínico, neurológico ou endócrino subjacente
que possa apresentar características da psicose.
O diagnóstico é estabelecido baseando-se na história e sintomas do paciente. Para que
o diagnóstico de esquizofrenia seja estabelecido, os sintomas devem persistir por um mínimo
de seis meses e devem estar associados a uma deterioração significativa da atividade
laborativa, escolar ou social. São muito importantes as informações fornecidas pela família,
amigos ou professores, para se estabelecer o momento do início da doença.
O médico deve descartar a possibilidade dos sintomas psicóticos do paciente serem
decorrentes de um distúrbio do humor.

Os critérios diagnósticos para esquizofrenia são:

A - sintomas:
1. Delírios
2. Alucinações
3. Discurso desorganizado
4. Comportamento amplamente desorganizado ou catatônico
5. Sintomas negativos (embotamento afetivo)

Obs: apenas um sintoma do critério A é necessário se os delírios são bizarros ou as


alucinações consistem de vozes que comentam o comportamento ou os pensamentos da
pessoa, ou duas ou mais vozes conversando entre si.

B - Disfunção social/ocupacional:
Quando por determinado tempo desde o início da perturbação, uma ou mais áreas
importantes do funcionamento social estão acentuadamente abaixo do nível alcançado antes
do início dos sintomas. Quando o início dá-se na infância ou adolescência, fracasso em atingir
o nível esperado de aquisição interpessoal, acadêmica ou ocupacional.

C - Sinais contínuos da perturbação por pelo menos seis meses:


O período de seis meses deve incluir pelo menos um mês de sintomas (ou menos, se
tratado com sucesso) que satisfazem o critério A.

D - Exclusão de transtorno esquizoafetivo e transtorno de humor:


São descartados se: (1) nenhum episódio depressivo maior, maníaco ou misto ocorreu
concomitantemente aos sintomas da fase ativa; ou se (2) os episódios de humor ocorreram da
fase ativa, sua duração total foi breve relativamente à duração dos períodos ativos, ativo e
residual.

E - Exclusão de substância / condição médica geral:


A perturbação não se deve aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância ou de
uma condição médica geral.

F – Relação com um transtorno invasivo de desenvolvimento:


Se existe uma história de Transtorno Autista ou um outro Transtorno Invasivo do
Desenvolvimento, o diagnóstico de esquizofrenia é feito apenas se delírios ou alucinações
proeminentes estão presentes por pelo menos um mês.

A exigência normal para um diagnóstico de esquizofrenia é que apresente:


 Sintoma claro ou dois ou mais sintomas se são menos claros, pertencente a
qualquer um dos grupos listados como A e D ou:
 Os sintomas devem estar presentes na maior parte do tempo durante um
período de um mês ou mais.
 Ausência de sintomas depressivos ou maníacos nítidos, a menos que os
sintomas esquizofrênicos tenham precedidos o transtorno afetivo.
 A esquizofrenia não deve ser diagnosticada na presença de doença cerebral
clara ou durante estados de intoxicação ou de abstinência de drogas.

Diagnóstico diferencial.

O diagnóstico de esquizofrenia deve ser considerado como um diagnóstico de


exclusão, sendo muito importante afastar causas orgânicas como:
 Abuso de substâncias como alucinógenos, anfetaminas, cocaína, álcool;
 Intoxicações causadas por medicações prescritas comumente como,
corticosteróides, levodopa, anticolinérgicos;
 Doenças infecciosas, metabólicas e endócrinas
 Processos espansivos cerebrais
 Epilepsia do lobo temporal

Os diagnósticos diferenciais mais importantes em psiquiatria envolvem distúrbios


afetivos, delirantes crônicos e de personalidade.

Outros diagnósticos:

Sintomas psicóticos, como delírios e alucinações, não são exclusivos da esquizofrenia.


Outros distúrbios psiquiátricos, bem como doenças clínicas que acometem o cérebro, podem
apresentar sintomas psicóticos semelhantes à esquizofrenia, como por exemplo:

 Transtorno bipolar do humor (TBH): conhecido antigamente por psicose


maníaco-depressiva. O TBH é caracterizado por um distúrbio primário do
humor, com oscilações entre a depressão e a mania ou hipomania. A mania é
caracterizada por um estado de euforia extrema, com diminuição da
necessidade do sono, aumento da energia e da disposição, ansiedade,
inquietação ou agitação, humor extremamente alegre ou eufórico, idéias e
sentimentos de grandeza, fala acelerada e desorganização do pensamento,
dificuldades de concentração e de memória, perda da autocrítica e, em alguns
casos, delírios e alucinações. A hipomania é um estado maníaco mais leve e
que raramente cursa com sintomas psicóticos. Um paciente com mania pode ter
uma crise psicótica muito semelhante a do esquizofrênico, sendo apenas
possível diferenciá-los pela história passada ou durante a aevolução da doença.
O ponto crucial de diferenciação entre o BTH e a esquizofrenia, é que no TBH
o paciente retorna ao seu nível anterior de funcionamento após a crise, não
ocorrendo, como nos esquizofrênicos, sintomas negativos. Os delírios e
alucinações também melhoram à medida que o humor se normaliza não
ocorrendo sintomas psicóticos nos períodos fora da crise. No TBH são mais
freqüentes espisódios depressivos graves com risco de suicídio.
 Transtorno esquizoafetivo: pode ser considerado um diagnóstico
intermediário entre o TBH e a esquizofrenia, pois tem características comuns a
ambos. Ocorrem alterações do humor semelhantes ao TBH (mania, hipomania
e depressão) e sintomas psicóticos, inclusive sintomas negativos, semelhantes à
esquizofrenia. Em geral, os pacientes são mais preservados em sua autonomia
e vida social do que os esquizofrênicos, embora se perceba claramente
dificuldades impostas por sintomas negativos ou positivos que não remitem
completamente com a melhora do humor, como no TBH.

 Psicose pós-parto: ocorre até seis meses após o parto, sendo mais comum nos
primeiros dias do puerpério. A mulher tem alterações do humor,
principalmente depressão e ansiedade, embora mania também possa ocorrer,
além de sintomas psicóticos, como delírios ou crenças direcionadas ao filho,
alucinações e alterações do comportamento. O quadro pode ser muito
semelhante ao episódio agudo da esquizofrenia e, apesar de possível um
primeiro surto esquizofrênico no pós-parto, o mais comum é que esse episódio
psicótico seja a expressão de um episódio do humor (maníaco ou depressivo),
que mais tarde poderá ser diagnosticado como um TBH. A diferenciação da
esquizofrenia se dá pela ausência dos sintomas negativos ou positivos depois
de sanada a crise.

 Doenças neurológicas: diversas doenças que acometem o cérebro podem


provocar sintomas psicóticos, particularmente quando afetam as regiões
frontais ou temporais do cérebro ou quando exercem um efeito de massa sobre
ele, como no caso dos tumores. Doenças infecciosas, como meningites e
encefalites, isquemias ou hemorragias, como AVC ou aneurismas, tumores do
SNC, doenças desmielinizantes como a esclerose múltipla, traumatismos
cranianos graves e epilepsia, principalmente as do lobo temporal e frontal,
podem cursar com episódios psicóticos com apresentações muito semelhantes
à esquisofrenia. A diferenciação entre esses casos e a esquizofrenia é a partir
do exame físico e neurológico, de exames de imagem, como a tomografia
computadorizada ou ressonância magnética e eletroencefalografia.
TRATAMENTO

Medicamentoso:
Os antipsicóticos, também conhecidos como neurolépticos, são os medicamentos
utilizados no tratamento da esquizofrenia. São assim chamados por possuírem efeito calmante
(neuro = nervo; lepsis = apreensão) e por combaterem sintomas como delírios, alucinações,
comportamento desorganizado e agitado. Eles atuam sobre um neurotransmissor (substância
química responsável pela transmissão dos estímulos entre os neurônios) chamado dopamina,
cujo excesso provoca os sintomas positivos e desorganizados da esquizofrenia. Agem
bloqueando canais receptores de dopamina nos neurônios, eles evitam que o excesso da
substância atinja as células nervosas, reequilibrando o sistema de neurotransmissão. Esse
efeito é essencial para a duração do efeito antipsicótico por longo prazo.
O efeito terapêutico pode demorar de 4 a 8 semanas, embora alguma melhora do
comportamento já possa ser percebida nos primeiros dias de tratamento. É fundamental que
nesse período a medicação seja administrada de forma regular. O tratamento de manutenção
não é menos importante, pois é capaz de evitar futuras recaídas e precisa ser mantido mesmo
que a crise aguda tenha sido contornada. É comum o abandono do tratamento nessa fase, por
acreditar estar curado, o que deixa a pessoa vulnerável a uma nova crise. O médico é o único
capaz de determinar o tempo total de tratamento para cada caso, podendo variar de 1 a 5 anos
ou, em alguns casos, por período indeterminado.
Os primeiros antipsicóticos foram descobertos na década de 50. A clorpomazina
(Amplictil), o primeiro deles, era utilizado como antiemético e sedativo e teve seu efeito
antipsicótico descoberto por acaso quando foi usado em pacientes psiquiátricos. A sua
eficácia representou uma revolução na maneira de tratar os doentes mentais, recebendo a
alcunha de “esvaziadora de hospícios”, pois contribuiu para a desinternação de milhares de
pacientes. Logo depois veio outras substâncias, como o haloperidol (Haldol). Os
antipsicóticos mais antigos são conhecidos como típicos ou de primeira geração, possuem
uma alta afinidade por receptores de dopamina e são muito eficazes no combate à psicose.
Entretanto, a ocorrência de efeitos colaterais duradouros (vulgarmente conhecidos
como impregnação), principalmente do tipo parkinsoniano (tremores, rigidez, lentidão e
apatia) e de discinesias tardias (distúrbios do movimento, contraturas musculares), fez com
que pesquisadores se preocupassem em desenvolver substâncias tão eficazes quanto, porém
melhor toleradas. Surgiram, então, os antipsicóticos de segunda geração ou atípicos.
O primeiro deles foi a clozapina (Leponex), seguido da risperidona (Risperdal) e da
olanzapina (Zyprexa). Eles se diferenciam dos mais antigos por possuírem também efeito
sobre receptores de serotonina e por um bloqueio mais balanceado dos receptores de
dopamina, o que contribui para uma menor incidência de efeitos parkinsonianos. Também são
eficazes no tratamento das psicoses, com ação superior aos típicos nos sintomas negativos e
cognitivos da esquizofrenia.
Os antipsicóticos comercializados no Brasil estão listados na tabela abaixo. Os
medicamentos de referência estão sinalizados com o símbolo ® e os similares com seus
respectivos nome

Classe Substância Nome comercial Apresentações


(via de administração)
Primeira geração Clorpromazina Amplictil ® Comp. 25 e 100mg (oral)
Baixa potência Longactil Gotas 1mg/gt (oral)
Genérico Ampolas 25mg (injetável)
Levome- Neozine ® Comp. 25 e 100mg (oral)
promazina Levozine Gotas 1mg/gt (oral)
Periciazina Neuleptil ® Comp. 10mg (oral)
Gotas 0,25mg/gt (oral)
Tioridazina Melleril ® Comp. 25, 50, 100 e 200mg
(oral)
Líquido 30mg/ml com
dosador em mg (oral)
Primeira geração Haloperidol Haldol ® Comp. 1 e 5mg (oral)
Alta potência Haldol decanoato Gotas 0,1mg/gt
Halo Ampola 5mg (injetável)
Genérico Depot (Haldol Decanoato) –
ampola 50mg (IM)
Flufenazina Flufenan ® Comp. 5 mg (oral)
Depot (Flufenan Depot) –
ampola 25mg (IM)
Pimozida Orap ® Comp. 1 e 4 mg (oral)
Trifluoperazina Stelazine ® Comp. 2 e 5mg (oral)
Sulpirida Dogmatil ® Comp. 50 e 200mg (oral)
Equilid Gotas 1mg/gt
Pipotiazina Piportil L4 ® Depot – ampola 100mg (4ml)
ampola 25mg (1ml)
Zuclopentixol Clopixol ® Comp. 10 e 25mg (oral)
Acuphase – ampola 50mg
(injetável)
Depot – ampola 200mg (IM)
Penfluridol Semap ® Comp. 20mg (oral – 1x por
semana)
Segunda geração Risperidona Risperdal ® Comp. 1, 2, 3 e 4 mg (oral)
Risperdal-Consta Líquido 1mg/ml com dosador
Zargus ® (oral)
Risperidon Depot (Risperdal Consta®) –
Respidon ampola 25mg (IM)
Genérico
Olanzapina Zyprexa ® Comp. 2,5 – 5 – 10mg (oral)
Zyprexa-Zydis Comp. orodispersíveis
Zyprexa IM (Zyprexa-Zydis) 5 e 10mg
(oral)
Ampola 10mg (IM)

Quetiapina Seroquel ® Comp. 25, 100 e 200mg


Seroquel XRO® (oral)
Comp. 50, 200 e 300mg
(oral)
Ziprasidona Geodon ® Cáps. 40 e 80mg (oral)
Geodon IM Ampola 20mg (IM)
Aripiprazol Abilify ® Comp. 10, 15, 20 e 30mg
(oral)
Amissulprida Socian ® Comp. 50 e 200mg (oral)
Clozapina Leponex ® Comp. 25 e 100mg (oral)
Paliperidona Invega ® Comp. 3, 6 e 9mg (oral)
IM = intramuscular

Tranquilizantes:
Os tranqüilizantes ou calmantes, principalmente da classe dos benzodiazepínicos, são
medicacões para ansiedade (efeito ansiolítico) e para insônia (efeito hipnótico). Eles são
vendidos com a receita azul (tipo B) e possuem uma tarja preta na caixa com um aviso do
potencial risco de causarem dependência.
Os mais utilizados no Brasil são: diazepam (Valium), bromazepam (Lexotan),
clonazepam (Rivotril), alprazolam (Frontal), lorazepam (Lorax), cloxazolam (Olcadil),
flunitrazepam (Rohypnol), midazolam (Dormonid) e nitrazepam (Nitrazepol). Existem ainda
hipnóticos que não pertencem à mesma classe dos anteriores e que possuem um menor risco
de causar dependência. Os mais prescritos são o zolpidem (Stilnox) e o zolpiclone (Imovane),
são vendidos com a receita controlada branca e a tarja da caixa é vermelha.
Esses medicamentos podem ser utilizados na esquizofrenia quando ocorre ansiedade
importante, com ou sem sintomas psicossomáticos, como taquicardia, falta de ar, tremores,
sudorese, inquietação motora, nervosismo e ataques de pânico, ou no tratamento da insônia.
Eles não tratam os sintomas positivos ou negativos da esquizofrenia e não possuem ação
antipsicótica.
Os principais efeitos colaterais são: sonolência, relaxamento muscular, lentidão dos
reflexos e do movimento, alterações da marcha, fala arrastada, desinibição do comportamento,
problemas de memória e o potencial de causar dependência física.
O risco de dependência está muitas vezes relacionado ao abuso, quando o paciente
aumenta a dose por conta própria. Como ocorre com o tempo uma tolerância do organismo
aos efeitos do medicamento, o paciente pode necessitar de uma dose maior para obter o
mesmo efeito anterior. Isto não ocorre com os antipsicóticos, que não possuem risco de
dependência física e têm eficácia duradoura.

Estabilizadores de humor:
Os estabilizadores atuam principalmente sobre o humor, sendo indicados em pacientes
com humor exaltado, inadequado ou irritável ou que tenham comportamentos impulsivos e
agressivos. Eles são o principal tratamento do Transtorno Bipolar (TBH), mas podem também
ser úteis como adjuvantes no tratamento da esquizofrenia.
As substâncias com propriedades estabilizadoras do humor são: alguns
anticonvulsivantes, como carbamazepina (Tegretol), ácido valpróico/valproato de sódio
(Depakene, Depakote), oxacarbazepina (Trileptal) e lamotrigina (Lamictal), e o carbonato de
lítio (Carbolitium). Recentemente alguns antipsicóticos de segunda geração ou atípicos foram
aprovados para o tratamento do TBH por também possuírem propriedades estabilizadoras.
Os estabilizadores não possuem ação antipsicótica e, portanto, não são indicados como
terapia isolada na esquizofrenia. A combinação com o antipsicótico pode ter efeito aditivo
sobre o humor e o comportamento.
Os efeitos colaterais variam de acordo com a substância utilizada, mas podem ocorrer
efeitos gastrointestinais, como náuseas e diarréia, tremores, sonolência, tonteira, dentre
outros.
No caso do lítio, é necessário controle dos níveis no sangue para verificar o alcance da
dose terapêutica e para prevenir a intoxicação. É importante que o paciente beba bastante
líquido e se mantenha hidratado.

Antidepressivos:
Os antidepressivos podem ser necessários para o tratamento de quadros depressivos. A
depressão na esquizofrenia é conhecida como “depressão pós-esquizofrênica”, por ocorrer
com maior frequência após a fase aguda de psicose. Alguns pacientes podem ter maior
consciência de sua doença nesse período, predispondo-os mais. O diagnóstico costuma ser
difícil, pois os sintomas depressivos podem ser confundidos com os negativos, mais comuns
na doença.
Os pacientes deprimidos apresentam sintomas negativos mais graves, maior desânimo,
apatia, isolamento e falta de prazer e iniciativa nas atividades habituais. O sentimento
persistente de tristeza é indicativo de depressão e permite a diferenciação com os sintomas
negativos. Podem ocorrer sentimentos de culpa, menos-valia, baixa auto-estima e idéias de
suicídio.
O antidepressivo pode ser associado ao tratamento nesses quadros. Os antipsicóticos
atípicos ou de segunda geração têm efeito antidepressivo pela ação sobre a serotonina, mas
isoladamente podem não ser suficientes para o tratamento da depressão.
A classe de antidepressivos mais utilizada é a dos inibidores seletivos de recaptura de
serotonina (ISRS), da qual fazem parte fluoxetina, paroxetina, sertralina, citalopram,
escitalopram e fluvoxamina. Os efeitos colaterais mais comuns são náuseas, vômitos, diarréia
ou constipação, perda de apetite, emagrecimento e boca seca, dentre outros, que podem
melhorar ou desaparecer após 1 semana de tratamento.
Existem outros tipos de antidepressivos que podem ser prescritos de acordo com as
particularidades de cada caso e seu perfil de ação.
Existe um risco de piora dos sintomas positivos (delírios e alucinações) com o uso dos
antidepressivos e familiares precisam estar alertas, caso isso ocorra, para informar ao médico-
assistente.

Anticolinérgico:
Anticolinérgico é o nome da classe dos medicamentos que agem no cérebro
bloqueando receptores de um neurotransmissor chamado acetilcolina. Dentre outras
indicações, eles reduzem os efeitos de impregnação causados pelos antipsicóticos,
melhorando os efeitos do tipo parkinsoniano, como tremores, rigidez muscular, bradicinesia e
hipersalivação. Os mais utilizados no Brasil são a prometazina (Fenergan) e o biperideno
(Akineton).
É comum a associação dessas substâncias com antipsicóticos, principalmente os de
primeira geração e de alta potência, que causam efeitos de impregnação com maior
frequência. É importante compreender que eles não tratam os sintomas da esquizofrenia, mas
apenas diminuem os efeitos parkinsonianos.
Por outro lado, os anticolinérgicos também possuem efeitos colaterais que podem se
somar aos do antipsicótico. Os mais comuns são: boca seca, prisão de ventre, sonolência
(prometazina), excitação (biperideno), retenção urinária, visão embaçada.
No caso da prometazina, por sua ação sedativa, ela pode ser também utilizada com
esta finalidade.

Efeitos secundários da medicação:

Todos os medicamentos produzem efeitos secundários e a medicação prescrita em


casos de esquizofrenia não é uma exceção. Os efeitos secundários nem sempre são evidentes e
são de menor gravidade que os próprios sintomas da esquizofrenia. Muitos pacientes cometem
o erro de deixar de tomar a medicação quando aparecem estes efeitos.
É muito importante saber diferenciar entre os efeitos secundários da medicação e os
próprios sintomas da esquizofrenia.

Sonolência
Talvez seja difícil levantar-se da cama de manhã, ter vontade de dormir durante o dia,
etc.

Efeitos extrapiramidais ou parkinsonismo

Esses sintomas são assim chamados pela semelhança com os sintomas da Doença de
Parkinson. O paciente que manifesta estes efeitos não sofre de Doença de Parkinsom,
simplesmente a dose da medicação deve de ser melhor ajustada. Esses efeitos se podem
corrigir com medicamentos anti-parkinsonianos, tipo akineton®, artane®.
Os efeitos parkinsonianos se manifestam na forma de movimentos ou posturas
involuntárias: o tremor das mãos, flexões ou fixações dos músculos. Assim sendo, não é raro
que o paciente usando antipsicóticos tenha a boca ou os músculos da face numa postura
entranha, talvez a boca permaneça aberta ou semi-aberta. Também é possível que a língua se
força para um lado, dificultando a fala ou fazendo com que a saliva escorra da boca.

Efeitos anticolinérgicos
Esses efeitos secundários se referem à visão borrada, secura da boca, retenção urinária,
hipotensão arterial.

Alguns benefícios do tratamento medicamentoso:

 Elimina vozes, visões e o falar consigo mesmo


 Elimina as crenças entranhas e falsas (delírios).
 Diminui a tensão e agitação.
 Ajuda a pensar com clareza e a concentrar-se melhor.
 Reduz os medos, a confusão e a insônia.
 Ajuda a falar de forma coerente.
 Ajuda a sentir-se mais feliz, mais expansivo e mais sadio.
 Ajuda a se comportar de forma mais apropriada.
 Os pensamentos hostis, estanhos ou agressivos desaparecem.
 Diminuem muito as recidivas e a necessidade de internação hospitalar
Terapias

O tratamento psicossocial, também conhecido como reabilitação psicossocial, procura


melhorar esses sintomas e resgatar a autonomia, a individualidade e a capacidade de
socialização e relacionamento dessas pessoas, através de oficinas terapêuticas que misturam
arte, leitura, trabalhos manuais, música, dança, teatro, atividades físicas, reflexões e debates
sobre a doença. O programa deve ser individualizado, levando-se em conta o potencial e as
limitações de cada um. O treinamento de habilidades específicas ou o aprendizado de um
ofício também pode e deve ser estimulado, visando uma atividade produtiva ou mesmo um
trabalho no futuro.
No Brasil, esse tratamento é oferecido no serviço público pelos Centros de Atenção
Psicossocial (CAPS) e hospitais-dia de centros e hospitais psiquiátricos. Na iniciativa privada
também existem clínicas especializadas na reabilitação de pacientes psiquiátricos.
Esse dispositivo de tratamento vem contribuindo para a redução das internações psiquiátricas
e dos índices de recaída, já que é possível identificar mais precocemente sintomas agudos e
tratar a crise sem a necessidade de internação hospitalar.
A psicoterapia pode ser oferecida em conjunto com o tratamento psicossocial ou
isoladamente. É um espaço para o paciente falar de suas angústias e dificuldades e buscar
apoio e coragem para enfrentar os desafios. Pode ajudar a melhorar a auto-estima, a aceitar e
compreender melhor sua doença, bem como a monitorar seus próprios sintomas. Ela pode ser
individual ou em grupo. No grupo, o paciente ouve o relato de outras pessoas que passaram
por problemas semelhantes, relativizando suas experiências. As técnicas psicoterápicas mais
utilizadas são a psicodinâmica (psicanálise) e a cognitivo-comportamental.
Uma abordagem mais nova de reabilitação é a que utiliza jogos e tarefas que
estimulam funções cognitivas, como memória, atenção, capacidade executiva e de
planejamento (reabilitação cognitiva). Ela visa aperfeiçoar funções acometidas pela
esquizofrenia e melhorar o desempenho cognitivo global dos pacientes. Pode utilizar técnicas
cognitivo-comportamentais para treinar situações cotidianas, como, por exemplo, ir ao
supermercado fazer compras. Ajuda o paciente a avaliar e monitorar seu próprio
comportamento e desempenho em tarefas do dia-a- dia.
A esquizofrenia já foi caracterizada como a doença com maior percentual de ocupação
de leitos hospitalares no mundo, ganhando das doenças cardiovasculares, segunda colocada.
Desde o advento dos antipsicóticos, a partir dos anos 50, essa realidade vem mudando:
milhares de pacientes deixaram os hospitais e retornaram ao convívio de suas famílias ou
passaram a contar com outros recursos de moradia dentro de sua comunidade

Internação:

A internação continua sendo hoje necessária em alguns casos, mas a grande maioria
não precisa dela para seu tratamento. Internações prolongadas, como as que eram praticadas
antigamente, em que o paciente ficava por meses ou anos internado, mostraram ser
prejudiciais a longo prazo para a doença e seus portadores. A falta de estímulos para uma vida
produtiva, a rotina manicomial, o distanciamento da família, a escassez de relações afetivas,
enfim, o isolamento da sociedade e do mundo, tornavam os pacientes mais retraídos e
apáticos, permitindo que os sintomas negativos da esquizofrenia se cronificassem. O retorno
ao lar ficava mais difícil à medida que o tempo de internação se prolongava. Muitos pacientes
relutavam em deixar os hospitais com medo da realidade distante que encontrariam lá fora.
A hospitalização é necessária quando se esgotam os recursos ambulatoriais para
tratamento e quando o paciente oferece risco à sua vida ou à sua integridade. A internação
visa garantir o início do tratamento, abrandar os sintomas mais agudos e as alterações de
comportamento que estão colocando-o em risco. A duração da internação deve ser a menor
necessária para que as suas motivações sejam controladas. A família deve estar presente a
todo o momento para evitar que esse período signifique uma ruptura nas suas relações, já que,
na maioria dos casos, a internação é cercada de conflitos de ambas as partes.

Eletrochoque:

A eletroconvulsoterapia (ECT), popularmente conhecida como eletrochoque, é um


tratamento antigo na psiquiatria, que antecede o arsenal farmacológico que hoje temos à
disposição para tratar as doenças psiquiátricas. No passado era utilizada indiscriminadamente
para vários transtornos, inclusive de forma errada, como medida punitiva para pacientes com
mau comportamento.
Através do estímulo elétrico, o ECT provoca uma liberação maciça de neurotransmissores no
cérebro, o que melhora o quadro mental do paciente após algumas sessões. Abaixo as
principais indicações:
1) Ausência de resposta aos antipsicóticos diante da gravidade do quadro;
2) Catatonia com riscos à saúde, por inanição, desidratação e outras complicações
médicas;
3) Risco grande de suicídio ou tentativas sucessivas;
4) Gravidez, quando o quadro é grave e há restrições ao uso de antipsicóticos.

O principal efeito colateral é sobre a memória, podendo provocar amnésia durante o


período do tratamento, mas com recuperação posteriormente.

Informações importantes

Os portadores de esquizofrenia, pelas características da própria doença, passam a


maior parte de seu tempo com suas famílias, principalmente seus pais e irmãos. As pessoas
diretamente ligadas a eles também sofrem com os desgastes provocados pelo transtorno.
A esquizofrenia pode interferir nas relações familiares, provocar sentimentos
negativos, como raiva, medo e angústia, pela sensação de impotência que os sintomas trazem.
Algumas reações comuns entre os familiares, particularmente no início da doença, quando
tomam conhecimento do diagnóstico, são:

 Negação ou subestimação: sentimento de incredulidade ou de irrealidade,


como se aquilo não estivesse acontecendo ou como se fosse um pesadelo do
qual se poderia acordar a qualquer momento. O familiar pode criar fantasias
acerca da doença, duvidar ou questionar seus sintomas, acreditar numa cura
miraculosa ou achar que o problema é menor e não deve gerar preocupações.
 Sentimento de culpa: procurar responsabilizar alguém ou a si próprio, buscar
um culpado para a doença.
 Sentimento de revolta: agir com raiva diante do paciente ou de outro familiar,
por não aceitar a doença.
 Superproteção: acreditar que a doença vai deixar o paciente incapacitado e
dependente, desenvolvendo formas de controle e cerceamento que irão tolir a
liberdade e limitar a autonomia da pessoa.

O familiar precisa de tempo e de informação para mudar seus sentimentos, refletir


sobre suas convicções e perder os preconceitos. Aprender a lidar com os sintomas vem a
partir da vivência cotidiana, que precisa de reflexão e reavaliação constantes. Nossas atitudes
podem ser determinantes para o futuro da pessoa que sofre de esquizofrenia. Atitudes
positivas contribuirão para uma melhor recuperação, um futuro mais promissor, com menores
índices de recaída, maiores possibilidades para se trabalhar a autonomia e melhorar a
qualidade de vida e dos relacionamentos. Atitudes negativas desgastam as relações,
impossibilitam a recuperação plena e estão associadas a um maior número de recaídas e a uma
evolução mais grave da esquizofrenia.
Os familiares e pessoas próximas precisam dedicar um tempo ao conhecimento
dos aspectos da doença, como forma de compreender melhor seu familiar e amigo, refletir
sobre suas atitudes, mudar padrões errados de comportamento e reduzir o grau de estresse,
buscando solucionar da melhor forma os conflitos do dia-a-dia. Essa nova maneira de encarar
a esquizofrenia vai se reverter em benefícios para si, aliviando o sofrimento e o impacto
causados pelo adoecimento e, sobretudo, melhorando a convivência e o ambiente familiar.

Padrões emocionais:
Os principais padrões emocionais encontrados em familiares de
esquizofrênicos são detalhados a seguir. Um mesmo familiar pode apresentar mais de um
padrão.

 Hipercrítica - atitude crítica em relação ao paciente, cobrando atividades,


tarefas e resultados com um nível elevado, muitas vezes, incompatível resultando
quase sempre em seu fracasso. O familiar pode se tornar demasiadamente crítico
também em relação aos sintomas e comportamentos provenientes da doença e que
o paciente tem dificuldade de controlar.
 Hostilidade - atitude hostil e de briga, com discussões e desavenças
frequentes, que pode evoluir em alguns casos, para agressividade verbal e
física de ambas as partes.

 Permissividade - atitude permissiva, descompromissada ou indiferente, que,


em geral, revela a pouca disponibilidade do familiar de se envolver com o
paciente, não se importando com coisas boas ou negativas relacionadas a ele.

 Superproteção - atitude superprotetora, preocupação demasiada, tendência a


tomar a frente do paciente nas decisões e atividades que lhe cabem,
restringindo sua liberdade e autonomia. Pode ocorrer controle excessivo,
gerando discussões e desentendimentos entre o controlador e o paciente,
evoluindo para um clima hostil.

 Superenvolvimento afetivo - alguns familiares anulam-se, deixam de reservar


um tempo para si, para atividades sociais e de lazer, passando a cuidar
exclusivamente do paciente. Podem desenvolver quadros afetivos que variam
da estafa à ansiedade e depressão. Sacrificam muito o seu lado pessoal e
deixam transparecer sua frustração e cansaço, passando a impressão de que o
paciente é um estorvo ou culpado por seu sofrimento.

É importante que o familiar identifique se alguns dos padrões característicos estão


ocorrendo e reflita sobre suas atitudes e sentimentos. Uma recomendação geral é que cada um
possa dedicar parte de seu tempo às atividades que proporcione prazer, uma válvula de escape
para o estresse. Ter um período sozinho, para se cuidar, fazer atividades físicas, ter uma
leitura agradável ou para relaxar e refletir sobre si mesmo. Buscar atividades sociais e de lazer
que incluam o paciente também ajuda a aliviar as tensões e a reaproximar as pessoas.
Conversar, trocar idéias e experiências, buscar soluções em conjunto e dividir melhor a
sobrecarga, buscando a união de todos para enfrentar as dificuldades do dia-a-dia.

Terapia e psicoeducação:

A terapia de família na esquizofrenia é um dos tratamentos complementares de maior


eficácia, com repercussão direta no estado clínico do paciente
O modelo de terapia que mais tem se mostrado eficaz na esquizofrenia é o da
psicoeducação de família, que acrescenta à terapia informações sobre a doença. Oferecer
conhecimento teórico é imprescindível para ajudar o familiar a compreender melhor seu
paciente, reavaliando julgamentos e atitudes. Esta importante etapa educativa o prepara para a
etapa seguinte, a terapia propriamente.
A terapia pode ser individual (com um ou mais membros de uma mesma família) ou
em grupo (várias famílias). Ela analisa as situações práticas do dia-a-dia e como cada um lida
com os conflitos e soluciona os problemas, propondo uma reflexão. Ela pode recorrer a
qualquer momento à etapa educativa para corrigir equívocos que porventura persistirem. Essa
reflexão é essencial para que o familiar esteja mais receptivo a novas maneiras de lidar com o
estresse e adquira maior habilidade no manejo e na solução das situações, reduzindo assim a
sobrecarga e melhorando a qualidade do relacionamento familiar.

Proteger das recaídas:

A pessoa acometida pela esquizofrenia tem uma maior vulnerabilidade ao estresse, ou


seja, é menos tolerante e reage mal quando em situações de sobrecarga emocional, que
requeiram maior equilíbrio mental. Isso explica, por exemplo, porque um ambiente familiar
negativo pode ser tão danoso à estabilidade ou porque muitos pacientes entram em crise em
momentos de perigo, trauma ou estresse.
Essa dificuldade está relacionada à capacidade individual de processar informações do
meio e de planejar saídas ou soluções para uma determinada situação. A sensação de estar
perdido ou paralisado diante de algo provoca uma reação que desestabiliza a pessoa e a torna
ainda mais vulnerável ao ambiente, gerando medo, desconfiança e deixando-a em estado de
alerta.
A contrapartida comportamental disso é um maior isolamento, retraimento emocional,
necessidade de estar atento a tudo, menor necessidade de sono e avaliações deturpadas da
realidade, características que antecedem a crise. Identificar esses sintomas é essencial para
uma intervenção precoce, evitando-se um novo surto da doença.
Da mesma forma, zelar pelo ambiente do paciente, reduzindo o estresse e fatores que
possam gerar instabilidade, é fundamental na prevenção de recaídas.

Os principais fatores de proteção contra recaídas são:

 Todas as formas de tratamento: médico, psicoterápico, psicossocial e de família.


 Tolerância pessoal ao estresse.
 Ambiente social e familiar em harmonia.

Os fatores de risco para a recaída são:

A própria doença: gravidade das alterações neuroquímicas (níveis de dopamina),


intensidade dos sintomas, disfunção cognitiva e dificuldade de processamento das
informações do ambiente.
 Personalidade difícil.
 Ambiente social e familiar estressante ou superestimulante.
 Eventos de vida traumáticos ou estressantes.

Os fatores de proteção devem ser maiores do que os de risco para que a doença
permaneça estabilizada. Todos os fatores de proteção podem ser aperfeiçoados com o
tratamento: a tolerância pessoal pode ser reforçada através da psicoterapia e dos
medicamentos; o ambiente social pode ser readequado através do tratamento psicossocial e de
família, levando-se em conta as potencialidades e fragilidades de cada um; o ambiente
familiar pode melhorar com a orientação ou terapia de família.
Já entre os fatores de risco, apenas o ambiente social e familiar são passíveis de
mudança. As características da própria doença, como os níveis de dopamina, a gravidade dos
sintomas e da disfunção cognitiva podem não ser completamente neutralizados com os
tratamentos. Por isso existem pacientes mais graves e que respondem pior ao tratamento do
que outros. A personalidade é mais resistente à psicoterapia e pacientes mais difíceis não
aderem bem a esse tratamento.
Portanto, o enfoque no tratamento médico, psicoterápico, psicossocial e de família são
os recursos hoje disponíveis, que podem manter o paciente bem por longo tempo, ajudando na
sua recuperação e na superação dos obstáculos.

Trabalho:

O trabalho deve ter num primeiro momento um propósito ocupacional. O paciente


deve ser estimulado dentro de suas potencialidades, com o cuidado de se evitar a
superestimulação ou a sobrecarga de responsabilidades e demandas que possam desestruturá-
lo. Ele pode ser gradativamente encorajado a assumir novas responsabilidades à medida que
se mostrar mais seguro e confortável em sua função.
Alguns podem necessitar de um trabalho assistido, ou seja, sob supervisão de alguém
que possa assumir responsabilidades que o paciente demonstra não suportar. Esta proteção
visa evitar que o trabalho se transforme num potencial risco de recaída, por exceder as
capacidades de enfrentamento por parte do paciente, gerando mais angústia e estresse.

Relacionamentos:
Um aspecto importante para a autonomia dos portadores de esquizofrenia é a
capacidade de se relacionarem com outras pessoas, ampliando assim seu ciclo social. A
timidez, a introspecção, o isolamento e a inibição social que alguns apresentam dificultam a
formação de novas amizades e de relacionamentos afetivos, que poderiam ajudar no resgate
da motivação e do prazer para novas atividades
O tratamento psicossocial e a psicoterapia podem oferecer ferramentas para ampliar
relacionamentos e para aperfeiçoar o comportamento social, ajudando o paciente a ter uma
melhor autocrítica e a monitorar (e corrigir) seus próprios hábitos e atitudes. Entretanto, a
família não deve se furtar a levar o paciente aos eventos sociais, ajudando-o no treinamento
contínuo desse aprendizado e resgatando o prazer da convivência em comunidade.

Lazer:
O lazer é tão importante quanto às demais atividades rotineiras do paciente. Aula de
artes, atividades físicas, oficinas lúdicas, terapias, enfim, a maior parte das atividades
propostas aos pacientes tem caráter terapêutico. Embora possam ser prazerosas, não
substituem os momentos de lazer.

Dificuldades sexuais
Poucas vezes se encontram citadas como efeitos secundários dessa medicação.
Também pode ser provável que os sintomas sexuais se devam a sintomas da depressão que a
vezes acompanha a esquizofrenia.

PROGNÓSTICO

O prognóstico da esquizofrenia é tão variável quanto à própria doença. Existem


pacientes que têm apenas uma crise, que retomam suas atividades e que permanecem com
sintomas que pouco interferem com sua vida. Há outros que perdem mais com a crise e têm
maior dificuldade para retomar seus compromissos e são mais dependentes de supervisão e
apoio. E existem aqueles com um curso mais grave, muitas recaídas e menor autonomia.
A ciência ainda não descobriu todas as explicações para essas diferenças. Sabe-se que
um maior número de recaídas compromete muito a evolução e as possibilidades de
recuperação a longo prazo. Para cada crise, estima-se que o paciente leve de 6 a 12 meses para
recuperar o nível anterior de funcionamento. Portanto, a prevenção de recaídas, através de um
tratamento regular e abrangente que contemple as esferas bio-psico-sociais do indivíduo e de
sua família, é fundamental.
Atualmente as possibilidades de recuperação são enormes. Os recursos que dispomos
para tratamento são muito superiores aos existentes há vinte ou trinta anos atrás. A
esquizofrenia precisa perder o estigma de doença degenerativa, em que a pessoa vai perdendo
aos poucos sua vitalidade. Pelo contrário, é possível recuperar muitas funções adoecidas pela
doença. Ainda que não exista uma cura, é possível tratá-la a ponto de estabilizar e preparar a
pessoa para uma vida ativa e plena. Tudo depende da esperança e da energia que conseguimos
reunir em torno do paciente para ajudá-lo a encarar este desafio.
A curto prazo (um ano), o prognóstico de esquizofrenia está intimamente relacionado
ao grau de adesão ao tratamento medicamentoso por parte do indivíduo. Sem o tratamento
medicamentoso, 70 a 80% dos indivíduos que apresentaram um episódio esquizofrênico
apresentarão recaídas nos doze meses seguintes e apresentarão um episódio subseqüente. Os
medicamentos utilizados continuamente podem reduzir a taxa de recaídas para
aproximadamente 30%. A longo prazo, o prognóstico de esquizofrenia varia. Em geral, um
terço dos indivíduos apresenta uma melhoria significativa e duradoura; um terço apresenta
alguma melhoria com recaídas intermitentes e uma incapacidade residual e um terço apresenta
uma invalidez grave e permanente.
Os fatores associados a um bom prognóstico incluem o início súbito da doença, o
início mais tardio da doença, um bom nível de habilidades e de realizações antes de ficarem
doentes, e o subtipo paranóide ou sem déficit da doença. Os fatores associados a um mau
prognóstico incluem o início precoce da doença, o mau desenvolvimento social e profissional
prévio, uma história familiar de esquizofrenia e o subtipo hebefrênico ou com déficit da
doença. Em média, a esquizofrenia reduz a expectativa de vida em aproximadamente 10 anos.

Os sinais de boa recuperação da esquizofrenia são:

 Capacidade de sentir e expressar emoções como: alegria, excitação,


desespero, etc..
 Não apresentar sentimentos de grandiosidade
 Apresentar alucinações (mais frequentemente auditivas)
 Aparência de perplexidade no episódio agudo
 Não se isolar; não apresentar distúrbios do pensamento
 Idéias de perseguição e conduta de desconfiança também são sinais de
bom prognóstico

CONCLUSÃO:

A esquizofrenia, como uma doença psicopatológica, apresenta-se como uma


desorganização da personalidade de caráter grave, às vezes com manifestação de sintomas
psicóticos, afirmada sobre um defeito na interpretação da realidade. As características típicas
são: grande distorção nos processos de pensamento; alterações de afeto; alterações dos limites
do ego; dificuldades nas relações pessoais, delírios de controle, influência, passividade,
alucinações auditivas e outras modalidades.

No âmbito jurídico o portador de esquizofrenia é considerado inimputável, pois não é


considerado culpado por um delito cometido devido não possuir discernimento completo para
a prática dos atos da vida civil, sendo que, imputabilidade é a capacidade de culpabilidade e
esta culpabilidade estaria intimamente ligada à noção de certo e errado, mais do que à noção
de controle voluntário dos impulsos.

De acordo com o artigo 26 do Código Penal :

Art. 26- É isento de pena o agente que, por doença mental ou desenvolvimento mental
incompleto ou retardado, era, ao tempo da ação ou da omissão, inteiramente incapaz de
entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento.
Parágrafo único- A pena pode ser reduzida de um a dois terços, se o agente, em virtude
de perturbação da saúde mental ou por desenvolvimento mental incompleto ou retardado não
era inteiramente capaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com
esse
entendimento.

A imputabilidade está condicionada a dois fatores essenciais: o juízo de realidade e a


volição (vontade). O primeiro diz respeito ao conhecimento do indivíduo em relação aos
valores de lícito e ilícito atribuídos aos objetos e ações pela sociedade, assim como à noção de
que seu comportamento é reprovado diante do Código Penal, ou seja, esse critério presume a
consciência e conhecimento da ilicitude do ato pelo agente. Quanto à vontade do agente,
corresponde ao ato voluntário do infrator diante da ação, isto é, a intenção do indivíduo em
cometer o ato.

Para que inimputabilidade seja atestada, deve ser comprovada por laudos periciais feitos por
psiquiatras e psicólogos forenses. Em caso de laudo positivo é o individuo encaminhado para
internação em instituição especializada, ou tratamento em ambulatório.
De acordo o Código Penal, o tratamento do delinqüente inimputável ou semi-imputável
deverá ser feito em hospital de custódia e tratamento, nos casos em que é necessária
internação do paciente ou, em não havendo essa necessidade, o tratamento deverá ser
ambulatorial, na qual a pessoa terá assistência médica, devendo comparecer durante o dia em
local próprio ao atendimento.

Análises periciais embasadas nos critérios da psiquiatria forense devem ser feitas para
que seja detectado um estado de insanidade mental no indivíduo que possa ter levado à prática
do delito sem conhecimento da gravidade deste.O exame pericial em psiquiatria é composto
pelo exame indirecto, exame directo, história pessoal e familiar, exame clínico e
psicopatológico, avaliação psicológica, discussões e conclusões.

No exame clínico e psicopatológico são verificadas as seguintes dimensões: “comportamento,


discurso, humor, idéias delirantes, alucinações e ilusões, traços de personalidade, orientação
auto e alopsiquica, memória, concentração e atenção, inteligência e pensamento,
conhecimentos gerais”.

Assim, não é suficiente determinar se o indivíduo era portador de doença mental ou


desenvolvimento incompleto ou retardado, ao tempo da ação ou da omissão. É necessário que
falte ao individuo a capacidade de entender o caráter criminoso do fato ou de determinar-se de
acordo com esse entendimento.
REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA:

HTTP://www.saudemental.net/o_que_e_esquizofrenia.htm. Acesso em: outubro/2011


HTTP://www.psicqueweb.com.br. Acesso em: outubro/2011
HTTP://www.manualmerck.com.br/pacientes. Acesso em: outubro/2011
HTTP://www.artigos.psicologado.com/psicopatologia. Acesso em: outubro/2011
JASPERS, Karl. Psicologia geral – Psicologia compreensiva, explicativa e fenomenológica. 8
edição. São Paulo: Atheneu, 2003.
PAIM, Isaías. Curso de Psicopatologia. 11 edição.rev. e ampl. São Paulo: EPU, 1993.
BRAGHIROLLI, Elaine M. Bisi, Luiz Antonio. NICOLETTO, Ugo. Psicologia geral. 22
edição Ed. São Paulo: Vozes, 2005.
cit in Costa, Temas de Medicina Legal, 1998, p. 2003

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