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Psicopatologia pode ser definida como estudo descritivo dos fenômenos

psíquicos de cunho anormal, exatamente como se apresentam à


experiência imediata, de forma independente dos problemas clínicos.
Estudando os gestos, o comportamento e as expressões dos enfermos
além de relatos e autodescrições feitas pelos mesmos.

Diferencia-se da Psiquiatria por ser uma ciência normativa que estuda e


classifica fenômenos e não como um ramo da clínica médica aplicada sem
objetivar necessariamente tratamento e assistência aos doentes mentais.

Segundo BAUMGART (2006), O termo foi empregado primeiramente por


Ermming Naus, predecessor de Kraeplin, desde 1878 como sinônimo de
“psiquiatria clínica”. Adquire seu atual significado pela obra de Karl
Jaspers publicada em 1913, Psicopatologia Geral (Allgemeine
Psychopatologie

Para Jaspers, a Psicopatologia seria responsável pelo estudo das


manifestações da consciência sejam essas manifestações consideradas
normais ou anormais.

“Aqui todo trabalho se relaciona com um caso particular. Não obstante, para satisfazer
a exigência decorrente dos casos particulares, o psiquiatra lança mão, como
psicopatologista de conceitos e princípios gerais (...) seus limites consistem em jamais
poder reduzir o indivíduo humano a conceitos psicopatológicos”.

A Psicopatologia deve considerar o individuo globalmente atentando


sempre para os padrões de normalidade aonde o indivíduo a ser
questionado está inserido, não se deixando guiar “cegamente” pelos
sintomas. Considerar um sintoma isolado é fazer com que o objetivo
principal de entende-lo (compreender o indivíduo) seja esquecido.

BAUMGART, Amália. Lecciones Introductorias de Psicopatologia. 2ª edição.


Buenos Aires: Eudeba, 2006.

JASPERS, Karl. Psicopatologia Geral – Psicologia compreensiva, explicativa e


fenomenológica. 8ª edição. São Paulo: Atheneu, 2003.

PAIM, Isaías. Curso de Psicopatologia. 11ª edição. rev. e ampl. São Paulo:
EPU, 1993.

Cap. 14— COMPORTAMENTO ANORMAL


OBJETIVOS
Após estudar o presente capítulo você deverá ser capaz de:
— conceituar psicopatologia;
— caracterizar as perturbações transitórias e situacionais;
— caracterizar o comportamento neurótico;
— caracterizar o comportamento psicótico;
— traçar um paralelo entre neurose e psicose;
— exemplificar uma das reações neuróticas;
— distinguir as psicoses funcionais das psicoses orgânicas;
— conceituar psicoterapia e citar os principais enfoques psicoterápicos.
PSICOPATOLOGIA
A psicopatologia é o ramo da Psicologia que se ocupa dos fenômenos psíquicos
patológicos e da personalidade desajustada. A psicopatologia estuda o
comportamento anormal, sua gênese, sistomas, dinâmica e as possíveis terapias.
Há muitas manifestações psicopatológicas. Há uma certa unanimidade, mas n se
observa uma única nomenclatura no diagnóstico e trata mento dos desequilíbrios
psíquicos.
Abordaremos aqui apenas três tipos de reações anormais: as perturbações transitórias
e situacionais, as perturbações neuróticas e as perturbações psicóticas.
PERTURBAÇOES TRANSITÓRIAS E SITUACIONAIS
Em geral ao falar-se de anormalidade as pessoas entendem algo dura douro,
permanente. Uma situação insuperável ou que só pode ser supe
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rada após um longo tratamento psicoterápico. De fato as neuroses e psicoses se
enquadram nesse conceito, elas não surgem e desaparecem de um momento para
outro. Mas há perturbações cuja duração é efêmera, permanecem enquanto continuar
a alteração ambiental que as provocou. o caso, como a própria designação deixa
implícito, das per turbações transitórias e situacionais.
Qualquer um de nós, diante de situações traumatizantes pode sofrer um colapso das
defesas e ceder à tensão. O soldado que é enviado para a frente da batalha, a mãe
que perde o esposo e os filhos numa catástro fe, a jovem que é estuprada, todos por
mais normais que sejam, diante dessas situações extremamente adversas podem não
resistir à tensão e sofrer um desequilíbrio. Esta perturbação, passada a causa
provocadora, pode desaparecer por completo ou pode durar por mais tempo,
necessitando o indivíduo uma breve terapia para superá-la.
Os sintomas apresentados nas perturbações transitórias e situacionais são
semelhantes aos sintomas neuróticos e psicóticos.
Apresentamos três circunstâncias que podem provocar perturbações transitórias e
situacionais: as guerras, as catástrofes civis e os ambientes com tensão crônica.
Reações traumáticas ao combate
A excessiva fadiga, a permanente ameaça de morte, a distância de seu país e de seus
familiares são algumas circunstâncias que levam os soldados à reações traumáticas.
Os sintoma mais freqüentes são: desânimo, distração, supersensibilidade,
perturbações do sono, temores e fobias.
Cada dia o soldado enfrenta o inesperado, nada é previsível. Ele é obrigado a matar.
Mesmo tratando-se de supostos “inimigos”, ele está matando seres humanos, jovens
como ele, pais de família ... E enquanto ele mata, seus amigos também morrem, vão
tombando um a um. E ele vai assistindo a tudo, resistindo como um forte, mas pode
chegar o momento em que o peso de tudo isto seja insuportável.
Reações à catástrofes civis
Freqüentemente ocorrem acidentes automobilísticos, quedas de avião, explosões,
incêndios, vendavais, terremotos e assaltos. Tudo isso pode se constituir em situação
traumática provocadora de desequilíbrios. Outras situações que não as catástrofes
civis podem provocar igual terror e choque em suas vítimas. Por exemplo: assalto
sexual, grandes perdas econômicas, morte de um ente querido. Por serem extrema
mente traumatizantes, estas experiências geram descompensação do ego, levando a
um estado de desequilíbrio mais ou menos grave, dependendo das circunstâncias
provocadoras e da personalidade da vítima.
Os principais sintomas são: estado de choque, ansiedade, tensão muscular,
irritabilidade, medo, pânico e apatia. Mais tarde, durante o período de recuperação
podem surgir os pesadelos, as fobias, os senti mentos de culpa e até a depressão
profunda.
Reação à tensão crônica de situação
Até agora apresentamos situações agudas de tensão. Porém há perturbações
transitórias e situacionais provocadas por situações de tensão crônica. A tensão
crônica existe quando o indivíduo permanece por longo tempo num ambiente em que
se sente inseguro, insatisfeito, hostilizado, ameaçado, inadequado. Poderiam servir de
exemplo: o marido que não se sente bem com seu casamento, o funcionário que odeia
seu trabalho, o jovem que se considera oprimido pelo autoritarismo ou superproteção
dos pais, o estudante decepcionado com a carreira escolhi da, o velho que se vê
abandonado por todos, a criança rejeitada pelos pais.
A forma de reagir à tensão crônica do ambiente varia de acordo com a idade e a
personalidade de cada um. A criança rejeitada pode se mostrar muito manhosa, o
adolescente talvez escolha o caminho da rebeldia ou hostilidade, o adulto passa a
sentir fadiga crônica, o velho seja mais impertinente do que o normal.
NEUROSES
Toda generalização pode conter erros, mas comumente o neurótico:
— mostra perturbações cognitivas e emocionais menos severas;
— raramente deixa de estar voltado para seu ambiente; continua mais ou menos em
contato com a realidade;
— tem alguma compreensão da natureza do seu comportamento;
— dificilmente se comporta de maneira perigosa para si ou para os outros,
— raramente exige hospitalização
Sendo a neurose fenômeno da vida humana, não devemos admirar seja complexa,
como qualquer fato vital.
Segundo Freud, deve-se procurar a causa das neuroses na repressão do impulsO
instintivo (libido) por parte do “ego” consciente. A-
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dler vê a causa das neuroses na inferioridade orgânica. Jung as explica como
expressão de gosto ou preconceito da integridade da personalidade que reúne em si
as antíteses. Para Kunkel as neuroses derivam da atitude egoísta do homem que foge
e desanima diante das responsabilidades. Speer coloca-as numa elaboração
defeituosa da experiência. Ringel aponta a essência das neuroses no conflito psíquico
entre tendências conscientes e inconscientes. Niedermeyer e Caruso, talvez por
motivo da variedade co conceito de “neurose”, abstêm-se, propositalmente, de definir-
lhe a essência.
De tal disparidade de pontos de vista, por parte de médicos, psiquiatras e psicólogos
insignes, resulta que seria pelo menos imprudente quem pretendesse reivindicar hoje
como verdadeira a própria e somente a própria definição da essência das neuroses.
No entanto, preferimos a definição dada por S. H. Frazier e A
C. Carr: “Neurose é uma alteração na qual permanece relativamente intacta a
apreciação da realidade”.
Passemos agora a analisar as principais reações neuróticas.
Reação de Ansiedade
O paciente é tomado por sentimentos generalizados e persistentes de intensa angústia
sem causa objetiva. Pode ser considerada um fracas so parcial das defesas do
indivíduo. Alguns sintomas somáticos, ocasionalmente, podem se manifestar, tais
como: palpitações do coração, tre mores, falta de ar, suor, náuseas. Há uma
exagerada e ansiosa preocupação por si mesmo. A ansiedade pode não estar
circunscrita a objetos ou situações específicas.
Reação Fóbica
Como o termo está a indicar, refere-se ao medo, medo patológico. Medo excessivo e
infundado, específico e anormal em relação a algum objeto, condição, situação ou ato.
A fobia é um temor persistente relacionado com um objeto ou situação que
objetivamente não é fonte de perigo. A pessoa fóbica considera geralmente
inexplicável seus temores e todavia experimenta uma forte angústia diante da situação
fóbica.
Com freqüência nas reações fóbicas aparecem as reações fisiológicas comuns à
angústia: transpiração, tremor, respiração acelerada, diarréia, vômitos, “opressão do
peito”, taquicardia e conseqüente aumento da freqüência do pulso. Teoricamente,
qualquer situação ou objeto pode ser o centro de uma fobia. Os mais comuns são as
alturas, os espaços fechados, os subterrâneos, os elevadores, a sujeira, os germes, os
luga
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res abertos, a água, as multidões, as pessoas estranhas, os animais e a escuridão.
“A fobia data, muitas vezes, de uma situação crítica, produtora de intenso medo, que
ocorreu nos primeiros anos da infância. Esta situação foi subseqüentemente
esquecida ou reprimida, e a sua recordação provocaria sentimentos de culpa ou
ansiedade” (Edwards, 1973, p. 35).
Alguns exemplos de fobias: agorafobia (medo de lugares abertos ou públicos),
batofobia (medo das profundidadeS) claustrofobia (medo de lugares fechados),
demofobia (medo das multidões), hidrofobia (medo da água), patofobia (medo de
doença), tanatofobia (medo da morte), etc.
Reação de Conversão
Nesta reação neurótica o paciente sente perturbaçõeS físicas que têm uma base
psicológica. Estas perturbaçõeS podem ser sensoriaiS ou motoraS. Sensoriais
insensibilidade de uma área do corpo, por exemplo, área coberta por uma meia.
Surdez funcional, parcial ou total. Motoras:
paralisia funcional envolvendo um ou vários membros do corpo, mutis mo, que é a
incapacidade total de falar, tremores, tiques.
Reação ObsessivO
A obsessão é uma idéia que constantemente se infiltra nos pensa mentos de uma
pessoa. A compulsão é um ato que se introduz no comportamento. A obsessão é um
pensamento ou idéia fixa que ingressa na consciência sem o controle da vontade. A
compulsão é o ato. As obsessões (idéias) e as compulsões (atos) geralmente
coexistem, de maneira que nem sempre se consegue fazer a diferenciação e ambos
integram o síndrome obsessivo. “As reações obsessivo-compulsivo caracterizam-se
por pensamentos obsessivos e inevitáveis, freqüentemente desagradáveis e
importunoS para a pessoa, e por atos compulsivos irracionais, que decorrem de
impulsos indesejáveis” (Krech e Crutch field, 1971, p. 348). Exemplos de cada dia
podem ser a canção que se gravou na mente e não nos deixa em paz, ou a
compulsãO de retornar para casa para constatar se a porta está bem fechada quando
não existe base real para esperar outra coisa. Quando as obsessões e as compulsões
alcançam um nível de gravidade neurótica, refletem muitas vezes tendências em
conflito dentro da pessoa.
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PSICOSES
Para as casos de comportamento psicótico podemos fazer as seguintes
generalizações:
— o psicótico mostra perturbações cognitivas e emocionais muitos graves;
— pode sofrer alucinações e delírios;
tende a perder a compreensão de seu comportamento;
— pode estar completamente desorientado em seu ambiente;
— geralmente perde o contato com a realidade;
— pode envolver-se em ações extremamente afastadas da realidade e às vezes
perigosas;
— em geral é t incapaz de comportamento social adequado que exige hospitalização
temporária (Krech e Crutchfieid 1971, p. 347).
A psicose é uma forma extrema de desorganizacão da personalidade. “A pessoa
psicótica típica tem delírios e alucinações. Falta-lhe o discernimento da natureza do
seu estado, sente-se desorientada quanto ao tempo, ao lugar e à pessoa e requer
constante supervisão ou internamento numa instituição adequada” (Telford e Sawrey,
1973, p. 471).
“A psicose é uma grave alteração da função psicológica com def i ciência na faculdade
do indivíduo para distinguir, avaliar e apreciar a realidade” (Frazier e Carr, 1973, p.
143).
Na neurose a perturbação é insuficiente para alterar muito ostensivamente o
funcionamento da personalidade
Na psicose a própria personalidade é afetada, de maneira manifesta, mais ou menos
profundamente
As psicoses se dividem em duas categorias:
a) psicoses psicogênicas ou funcionais;
b) psicoses orgânicas.
Trataremos, aqui, ainda que sucintamente, das principais psicoses psicogênicas e
orgânicas.
Psicoses Psicogênicas ou Funcionais
Esquizofrenia
A esquizofrenia é uma psicose grave na qual a perturbação principal se reflete numa
alteração do juízo e dos processos de pensamento. “A esquizofrenia é uma
desorganização da personalidade de caráter grave, às vezes com manifestação de
sintomas psicóticos, afirmada sobre um defeito básico na interpretação da realidade
que só se descobre
com grande perspicácia. As características típicas são: grande distorção nos
processos do pensamento; alterações do afeto; alterações dos limites do ego;
dificuldades nas relações pessoais”. (Frazier e Carr, 1973, p. 117). Um dos sinais que
por tradição se considera patognomônico da esquizofrenia é o transtorno e
dissociação dos processos do pensamento. De nada servem as regras habituais da
lógica. Quase 50% dos enfermos que se encontram nos sanatórios são
esquizofrênicos.
Em função dos sintomas encontramos quatro tipos ou variedades de esquizofrenia.
Esquizofrenia simples: Caracteriza-se por uma apatia emocional, uma completa
carência de ambições, exibe uma desorganização geral da personalidade que se
caracteriza por uma perda gradual de interes se na vida, nas realizações pessoais e
na participação social. Em alguns casos, a indiferença e a irresponsabilidade
conduzem a conflitos com a lei. O começo deste tipo de alteração aparece com
freqüência na adolescência, no momento em que o indivíduo se enfrenta com a
necessidade de efetuar a transição da infância à adaptação social e heretossexual da
vida adulta, com a responsabilidade que a mesma supõe.
Esquizofrenia hebefrênica: Caracteriza-se por ações e linguagem caóticas.
Pensamento desorganizado, afeto superficial e inapropriado, riso insólito conduta e
maneiras tontas e regressivas (meneirismo), freqüentes queixas hipocondríacas,
delírios e alucinações transitórias e pouco organizados. O paciente manifesta uma
desorganização de senti mento, isto é, é capaz de alegrar-se com a morte de um
familiar e entristecer-se quando lhe dizem que goza de boa saúde.
Esquizofrenia catatônica: Caracteriza-se por um comportamento marcadamente
inativo. O paciente pode adotar posições corporais fixas por longos períodos de
tempo. São posições normalmente estranhas e incomuns. “Na mania catatônica, o
paciente representa um perigo real para si próprio e para os outros, enquanto que na
acentuada depressão motora talvez conserve a mais absoluta imobilidade, recusando-
se a comer ou executar os atos mais simples do corpo, necessários à sobre vivência
dos organismos” (Edwards, 1973, p. 355). Esquizofrenia cata- tônica com excitação:
atividade motora excessiva, às vezes violenta. Esquizofrenia catatônica com
retraimento: inibição generalizada, estupor, mutismo, negativismo.
Esquizofrenia paranóide: Caracteriza-se por notáveis deI (nós de perseguição ou de
grandeza, geralmente associados com alucinações. Com freqüência: hostilidade e
agressão e uso de mecanismos de projeção.
Resumindo: A esquizofrenia simples é mais fácil de descrever do que os outros tipos,
de vez que não tem um conjunto bem definido de
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Paraná ia
características. A esquizofrenia hebefrênica é caracterizada por bobice e infantilidade
do pensamento e da ação. A esquizofrenia catatônica é caracterizada ou pelo estupor
e rigidez muscular ou o extremo oposto de excitamento e atividade frenética. A
esquizofreniaparanóia manifes ta-se através de dei (rios e alucinações e,
freqüentemente, de sentimentos de hostilidade.
Psicose Man i’aco-Depressiva
Atualmente, porque no passado n foi assim, o termo maníaco- depressivo deve
empregar-se com referência a uma pessoa que padeceu um ou vários episódios de
depressão ou mania sem causa aparente. “A psicose maníaco-depressiva está em
segundo lugar, entre as psicoses funcionais mais comuns. E responsável por cerca de
10% das admissões em hospitais de doenças mentais. O termo “maníaco-depressiva”
foi introduzido por Kraepelin, que observou que períodos alternados de elação e de
depressão podem ocorrer no mesmo indivíduo, ainda que muitos pacientes mostrem
apenas uma forma. O estado maníaco pode ser leve ou agudo. Ë assinalado por
atividade e excitamento. Os manía cos s cheios de energia, inquietos, barulhentos,
faladores e têm idéias bizarras, uma após a outra. Nos casos hiperagudos, os
pacientes se tor nam selvagens, delirantes e completamente impossíveis de manejar.
O estado depressivo, ao contrário, é caracterizado por inatividade e desa lento, muitas
vezes com sentimentos de culpa e preocupação com a morte” (Sargent e Stafford,
1969, p. 232).
Muitas vezes só o aspecto exterior dos depressivos já nos indica al go. Seu semblante
é triste, como se estivessem mergulhados em si mes mos. Parece que choram sem
derramar lágrimas. O enfermo está quieto, abatido. Seus movimentos são inseguros e
torpes, parece como se n se atrevesse a pisar ou assentar-se. Fala pouco e quando o
faz é com voz baixa e monótona. Procura n encontrar-se com seus amigos e os evita
na rua. Veste com descuido e negligência. N expressa suas opiniões. Os enfermos se
consideram perdidos e crêem que ninguém poderá compreendê-los e muito menos
ajudá-los. Repentinamente se tiram a vida, sem que a seu deredor alguém suspeite os
motivos. Os depressivos o são tudo, menos teatrais. Ao contrário, seu sintoma
fundamental é o abatimento angustioso, que o perito diagnostica sem equivocar-se. O
depressivo autêntico está sempre em perigo de um suicídio. A experiência demonstra
como é difícil para um leigo aceitar isto.
A paranóia é uma psicose caracterizada sobretudo por ilusões fixas. Ë um sistema
delirante durável. As ilusões de perseguição e grandeza são mais duradouras e mais
sistematizadas do que na esquizofrenia paranóide. Os ressentimentos são profundos e
o paranóicO procura agredir aqueles que estiveram presentes em seus conflitos. Ë um
tipo perigoso para a sociedade: egocêntrico e destruidor, conhece seus inimigos e
julga que sua grandeza depende da eliminação de pessoas que o prejudicam. “A
verdadeira paranóia é relativamente rara, sendo responsável por apenas cerca de 2%
de casos em hospitais de doenças mentais. Antigamente, todos os pacientes que
tinham delírios eram classificados como paranóicOS; atualmente, os delírios sêo
conhecidos como sendo comuns na esquizofrênia e em outros transtornos” (Sargent e
Stafford, 1969, p. 233).
O paranóico é agressivo, mas n se dá conta de sua agressividade; está sempre se
defendendo e atribui motivos malévolos a quem não lhe aprecia; acredita que o fim
justifica os meios, é incapaz de solicitar carinho, preocupado em defender seus
direitos, não confia em ninguém.
PSICOPATIA
O termo psicopatia se aplica aos indivíduos de comportamento habitualmente anti-
social, que se mostram sempre inquietos, incapazes de extrair algum ensinamento da
experiência passada, nem dos castigos recebidos, assim como incapazes de mostrar
verdadeira fidelidade a uma pessoa, a um grupo ou a um código determinado.
Costumam ser insensíveis e de muito acentuada imaturidade emocional, carentes de
responsabilidade e de juízo lúcido e muito hábeis para racionalizar seu comportamento
a fim de que pareça correto, sensato e justificado.
O uso deste termo é difícil e na prática pode ser substituído por sociopata ou
personalidade sociopótica.
Traços mais significativos do psicopata: notável inteligência, inexistência de
alucinações, ausência de manifestações neuróticas, falta de confiança, falta de
sentimentos de culpabilidade e de vergonha, conduta anti-social, egocentrismo
patológico, incapacidade para amar, perda específica de intuição, irresponsabilidade
nas relações interpessoais, comportamento fantástico e pouco recomendável com
relação à bebida, ameaças de suicídio raramente cumpridas, vida sexual impessoal,
trivial e pouco integrada, incapacidade de seguir qualquer plano de vida manipula os
demais e os utiliza para satisfazer suas próprias conveni
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ências, hábil em simular estados emocionais quando crê que lhe vai ajudar a obter o
que deseja, não experimenta nenhuma das manifestações psicológicas e fisiológicas
da ansiedade ou do medo, embora possa reagir de um modo parecido, quando seu
bem-estar imediato está amea çado, as reações e os castigos imaturos só contam
para ele em abstrato, não exercem efeito algum em seu comportamento imediato, sua
capacidade de discernimento é pobre e sua conduta constuma estar determinada por
impulsos e por necessidades circunstanciais.
Alguns especialistas dividem os psicopatas em dois tipos: os agressivos-predadores e
os passivos-parasitários. Os primeiros são indivíduos que satisfazem suas
conveniências com acentuada agressividade e com uma atuação fria e insensível,
apropriando-se de quanto desejam. Os segundos são psicopatas que obtêm o que
querem praticando sobre os demais uma espécie de “sangria” parasitária que consiste
em aparentar desamparo e necessidade de ajuda e de simpatia infantis.
A maior parte das descrições de psicopatas aludem a seu acentuado egocentrismo, a
sua falta de empatia, a sua incapacidade para travar relações cálidas e afetivas com
os demais, são pessoas que não experimentam sentimentos de culpabilidade nem
remorsos pelo que fizeram. A grande maioria dos autores concorda que as duas
características principais da psicopatia são a incapacidade de amar e a falta do senti
mento de culpabilidade.
Como são egocêntricos e lhes falta a empatia, são incapazes de situar-se no lugar das
demais pessoas, por isto eles manipulam as pessoas como se fossem objetos,
satisfazendo deste modo seus desejos sem preocupar-se em absoluto pelos efeitos
que seus atos possam ter.
Embora muitos psicopatas procedam de famílias divididas e pobres e tenham sido
vítimas de alguma forma de abandono e de rechaço pa ternos, uma das circunstâncias
mais determinantes das psicopatias dos adultos, parece ser a de terem tido um pai
psicopata, alcóolatra ou anti-social. Vários cientistas pensam que o psicopata é
patologicamente incapaz de interpretar um papel e que suas experiências infantis o
leva ram a adquirir uma fachada social.
Psicoses Orgânicas
Abordamos aqui as psicoses orgânicas que também geram comporta mentos
psicóticos e estes estão ligados especificamente ê deterioração do cérebro e do
sistema nervoso.
Demência Senil
A demência senil não está vinculada a nenhuma idade determina da. A enfermidade
começa em alguns aos 40 ou 50 anos e em outros aos 80. Não é verdade que todo o
mundo se torna demente senil ao alcançar certa idade. O sintoma principal dessa
demência, originada pelas alterações que experimenta o cérebro com a idade, é a
perturbação da capacidade de fixação. Deve-se distinguir entre a memória para recor
dações antigas e a fixação das impressões recentes.
Quando diminui a capacidade de fixação, o psiquismo permanece relativamente
intacto. Os enfermos atuam ainda com vivacidade, com vontade de falar, porém não
podem guardar em sua memória o que observam e estão desorientados. A medida
que a enfermidade vai progredindo, o enfermo considera, por exemplo, as pessoas
estranhas como velhos conhecidos, devido a que lhes falta a capacidade de re cordar.
Estão desorientados em sua própria casa, confundem as portas, esquecem tudo em
seguida e enchem as lacunas de sua memória com fantasias, confabu lações, porque
lhes resulta desagradável reconhecer que perderam a recordação do que aconteceu
num período de tempo. As recordações com intensa carga efetiva guardam melhor,
porém tam bém desaparecem pouco a pouco da memória. Mais tarde se transtor nam
também a compreensão e o juízo. Os enfermos vivem só num pas sado longínquo.
Podem dar com exatidão detalhes assombrosos de sua infância. Louvam o passado,
então tudo era formoso, muito melhor do que agora. Para os que os rodeiam é molesta
sua loquacidade; pedan tes e obstinados, dão toda classe de detalhes supérfluos, se
perdem em insignificâncias. Sua falta de vontade é o que prepara o terreno à credu
lidade. Ficam assim abertas todas as possibilidades para enganá-los (herança).
Em seu estado de ânimo notamos a falta de autêntica força afetiva. Quem convive
com um demente senil tem que saber que muitas vezes eles são perigosos.
Progressivamente vão perdendo o domínio de seus atos e se assemelham a crianças
irresponsáveis.
Psicose Alcoólica
O uso excessivo de entorpecentes e álcool gera a chamada psicose alcoólica (delirium
tremens) que “é habitualmente marcada por vio lenta intranquilidade, acompanhada de
alucinações de uma natureza aterradora” (Edwrds, 1973, p. 356).
“O cérebro é o órgão que mais álcool recebe. Isto é devido ao fato de ter o encéfalo
grande quantidade de água. Nas células nervosas,
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Terapia psicanalítica Freudiana:
esse tóxico irá perturbar os fenômenos oxidativos e alterar o ritmo de trabalho de todo
o sistema. Conseqüentemente, o pensamento e o comportamento se mostram com
características anormais” (Dorin, 1972, p. 303).
Arterioesclerose Cerebral
A arteriosclerose cerebral evolui de um modo semelhante à demência senil. Ambas
enfermidas podem encontrar-se no mesmo indivíduo. Nesta, um tratamento psíquico
com habilidade é muito necessário. Sua ação prolongará a vida do enfermo.
O endurecimento dos vasos cerebrais dá lugar a transtornos de ir rigação sangüínea,
os,quais são causa de que partes isoladas do cérebro estejam mal abastecidas de
sangue. A conseqüência natural são os formi gamentos nos braços ou pernas, as pará
lises mais ou menos acentuadas, zumbidos nos ouvidos, transtornos da visão,
perturbações da linguagem em forma de dificuldade ou lentidão da fala.
Estes enfermos são, para o “expert’, mais enfermos do cérebro que enfermos mentais.
Neles se observam quase sempre: dores de cabeça, tonturas, dores na nuca, pressão
na fronte, desmaios, vertigens, suadores e alterações no sono.
PSICOTERAPIA
Conceito
“Terapia é o nome usado para qualquer tentativa de tratar de uma moléstia ou
perturbação. Quase todas as terapias para perturbações do comportamento
empregam técnicas psicológicas e, por isso, são cha madas depsicoterapias” (Morgan,
1977, p. 246).
“Psicoterapia é o conjunto de técnicas de tratamento das perturba çôes de caráter
psicológico, como a psicanálise (Freud), a “learning the rapy” (comportamentistas), a
reflexologia (pavloviana)” (Dorin, 1972, p. 274).
A psicoterapia visa à cura dos comportamentos anormais.
Enfoques Principais
Apresentamos, a seguir, as terapias mais importantes:
“Freud começou a trabalhar com um antigo colega, Josef Breuer, que havia
desenvolvido um tratamento de “falar”. Breuer descobriu que um paciente era
auxiliado, se encorajado, sob a hipnose, a “verba lizar” seus problemas emocionais.
Breuer e Freud denominaram esta técnica de “catarse”, porque parecia purgar o
paciente de “abafamen to” ou de emoções reprimidas. Logo depois de publicarem um
livro, em 1895, chamado de “Studies in Hysteria”, Breuer se afastou da parce ria, e
Freud continuou, mas só.
Freud bem cedo abandonou a hipnose e se concentrou no método verbal da
associação livre. Dizia a seus pacientes para relaxarem, pensa reni a respeito de seus
problemas e dizerem tudo o que lhes viesse à mente. Achou esta técnica superior à
hipnose, porque o paciente per maneceria num estado ativo, cooperativo, enquanto
enfrentava as suas dificuldades.
A psicanálise freudiana é baseada em duas pressuposições ou teorias principais:
Primeiro, todo o acontecimento mental tem uma causa, presumivel mente os
acontecimentos psíquicos que o precederam. Os pensamentos e os sentimentos não
ocorrem “por nenhuma razão”, como as pessoas freqüentemente dizem. Este princípio
de determinismo psíquico está subjacente às investigações de Freud sobre os sonhos,
o esquecimento, os lapsos verbais e outras áreas, previamente rejeitadas, como não
ten do significação.
Segundo,a maior parte da vida mental é antes inconsciente do que consciente, ao
contrário da crença popular. Na verdade, de acordo com a psicanálise, as causas
primárias do comportamento são comumente encontradas nas exigências e impulsos
do Id.
o tratamento psicanalítico pretende liberar a libido de suas fixações impróprias e
fortificar o Ego, até que o paciente possa enfrentar os seus problemas. O analista
chega a compreender os conflitos do paciente, pela associação livre e pela
interpretação dos sonhos. Quando o pacien te é levado ao ponto de tratamento, em
que pode aceitar a interpretaçao, que o analista faz de suas dificuldades, está no
caminho da recuperação” (Sargent e Stafford, 1969, p. 248).
Terapia Centrada no cliente (terapia não-diretiVa de Gari Rogers):
As técnicas diretivas envolvem explanação, direção e controle da vida do paciente e
elas são muito proveitosas em certas situações. Mas os psicoterapêutas têm
observado que nem todos se acham realmente capazes de fazer mudanças
fundamentalmente em seus ajustamentos,
213
212
porque não podem mudar certas coisas em seu ambiente. Para Rogers o papel do
terapeuta é o de compreender o pensamento e o sentimento do cliente e aceitá-lo
completamente. Ele n interpreta, mas freqüentemente traduz ou resume os
sentimentos expressados. O objetivo do terapeuta é o de encorajar o paciente a ser
mais completamente ele mesmo, para organizar a si mesmo, de maneira a atingir a
auto-realização. O terapeuta n resolve problema algum do paciente, mas providencia
uma oportunidade para que ele desenvolva seus próprios métodos de ajustamento. O
indivíduo, n o problema, é o foco, O terapeuta é o orientador; compete ao cliente
assumir a responsabilidade da direção e progresso da própria terapia.
Para Rogers, “o indivíduo, dentro de si mesmo, tem a capacidade e o impulso para
curar-se, bastando-lhe para isto libertar-se das ameaças que obstam à
autocompreensão à auto-aceitação e à auto-realização” (Telford e Sawrey, 1973, p.
473).
Terapia de modificação do comportamento
Este enfoque psicoterápico tem sua fundamentação teórica nos estudos de Pavlov
(condicionamento clássico) Skinner (condicionamento operante) e nas pesquisas
sobre a aprendizagem em geral. Parte do pressuposto que todo o comportamento
(inclusive o anormal) foi a- prendido e portanto, de acordo com as leis da
aprendizagem, pode ser desaprendido.
Como está implícito na denominação, esta terapia tem por objetivo modificar um
comportamento, uma resposta. Seu enfoque se volta para as circunstâncias, as
contingências, as situações específicas que provocam as respostas inapropriadas. As
causas remotas, os conceitos e sentimentos s abandonados em favor de um programa
objetivo de modificação dos comportamentos desajustados.
A essência desta terapia consiste na manipulação do reforço com vistas à aquisição,
eliminação ou substituição de uma resposta. As téc nicas utilizadas s as já conhecidas
pela aprendizagem (condiciona mento clássico, condicionamento operante, moldagem
e outras).
As várias terapias do comportamento tem sido muito bem sucedi das no tratamento de
desvios sexuais, abuso de álcool e drogas e outras perturbações da personalidade.
Terapia médica
por psiquiatras formados em Medicina e que tenham treinamento nessas técnicas. As
duas formas mais comuns de tratamento médico nas perturbações do comportamento
s o choque elétrico e a terapia de drogas” (Morgan, 1977, p. 246).
Terapia ocupado na!
É a psicoterapia em que o paciente executa uma série de tarefas, mormente trabalhos
manuais. O objetivo do tratamento é liberar a pes soa do ambiente em que vive,
reativando e reequilibrando suas atividades. É uma técnica correlata a um tratamento
de maior profundidade.
Terapia de grupo
Existem várias espécies de terapiaS de grupo. A forma tradicional consiste em reunir
um grupo de pacientes e fazer com que conversem entre si sob a orientação de um
terapeuta. O papel do terapeuta é manter a discussão focalizada em certos tópicos
sem que ele mesmo domine a conversação. Os pacientes conversam sobre seus
problemas e os membros do grupo comentam a respeito, assim cada um contribui com
um pouco de suas experiências. O objetivo é ajudar os membros a considerar
situações interpessoais a partir de diferentes pontos de vista.
QUESTÕES
1. O que é psicopatologia?
2. Como se caracteriza o comportamento neurótico?
3. Caracterize o comportamento psicótico.
4. Trace um paralelo entre neurose e psicose.
5. Exemplifique duas reações neuróticas.
6. Qual a diferença entre as psicoses funcionais e as psicoses orgânicas?
7. Dê o conceito de psicoterapia e explique os principais enfoques psicoterápicos.
“As drogas, a cirurgia ou outros meios físicos s recursos empregados para o
tratamento do paciente na terapia médica, mas somente
214
215

BRAGHIROLLI, Elaine M. BISI, Luiz Antonio. NICOLETTO, Ugo. Psicologia geral. 22ª
Ed. São Paulo: Vozes, 2005.

Prognóstico da esquizofrenia

Paulo R Menezes

Departamento de Medicina Preventiva, Faculdade de Medicina da


Universidade de São Paulo
A investigação do prognóstico da esquizofrenia é
fundamental para a prática clínica, para o planejamento de
serviços de saúde e para a pesquisa científica. A literatura
internacional apresenta um grande número de trabalhos
sobre o prognóstico da esquizofrenia, e é necessário
considerar diversos aspectos metodológicos para que seja
feita uma interpretação adequada dos resultados de cada
estudo específico. Esses aspectos incluem o processo de
seleção dos sujeitos, as definições de prognóstico adotadas
e os procedimentos de avaliação e seguimento.

A seleção da amostra determinará em que extensão os


achados de um estudo particular podem ser generalizados, e
devem ser levados em consideração os critérios diagnósticos
adotados para a inclusão dos sujeitos (critérios mais
restritivos, como o DSM-IV, tendem a selecionar pacientes
com prognóstico menos favorável do que critérios mais
inclusivos), a forma de recrutamento dos mesmos (amostras
de regiões geográficas incluem um espectro maior de
pacientes, em relação ao prognóstico, que amostras de
serviços específicos) e o grau de cronicidade da amostra
investigada (pacientes com longo tempo de doença são
aqueles que já apresentaram prognóstico ruim).

Estudos sobre o curso e prognóstico da esquizofrenia


também diferem quanto ao tipo de seguimento: retrospectivo,
prospectivo ou uma combinação de ambos. Estudos
retrospectivos usam informações já existentes – que nem
sempre são de boa qualidade – ou que podem não estar
disponíveis. Por outro lado, podem ser o único meio de
investigar desfechos em longo prazo da esquizofrenia, como
em um período de 20 ou 30 anos. Estudos prospectivos
fornecem informação de melhor qualidade, mas sua
realização é mais complexa, onerosa e demorada.

Existem amplas variações entre os estudos na duração do


seguimento, com alguns voltados para o prognóstico em
curto prazo, de um a cinco anos,1-5 e outros para o
prognóstico em longo prazo.6-8 Os pacientes esquizofrênicos
tendem a mostrar maior variabilidade na morbidade clínica
durante os primeiros cinco anos de doença e depois disso há
uma tendência à estabilização em seu estado, seja favorável
ou desfavorável.
Dois estudos sobre o prognóstico da esquizofrenia,
organizados pela Organização Mundial de Saúde (OMS),
merecem destaque por suas características metodológicas: o
"International Pilot Study of Schizophrenia" (IPSS)5 e o
"Determinants of Outcome of Severe Mental Disorders"
(Dosmed).2 Ambos apresentaram desenho de coorte
prospectivo, utilizaram amostras com grande número de
pacientes, provenientes de regiões geográficas definidas em
diversos centros em diferentes países, e fizeram as
avaliações por meio de instrumentos padronizados para a
inclusão e para as avaliações de seguimento. Grande parte
do conhecimento atual sobre o prognóstico da esquizofrenia
provém de publicações originadas desses dois estudos.

Dimensões de prognóstico

É possível subdividir o prognóstico da esquizofrenia em


múltiplas dimensões e perspectivas, como psicopatologia,
funcionamento social, uso de serviços psiquiátricos ou
mortalidade, cada uma com sua importância e significado
próprios. Cada componente está só parcialmente
relacionado aos outros e tem diferentes associações com
variáveis preditivas.

Uma proporção substancial de pacientes que têm um


episódio esquizofrênico apresentará sintomas psiquiátricos
contínua ou intermitentemente durante o curso de sua
doença. A tendência atual tem sido considerar os sintomas
positivos (delírios, alucinações, desagregação do
pensamento) e negativos (embotamento afetivo, retraimento
social) separadamente, porque eles podem representar
diferentes dimensões de prognóstico. A ocorrência de
sintomas positivos em pacientes esquizofrênicos após a alta
hospitalar é elevada,3,9-10 com índices variando entre 15% e
75%, dependendo principalmente da proporção de pacientes
com longo tempo de doença na amostra estudada. Observa-
se também variação similar na proporção de pacientes que
apresentam sintomas negativos durante o curso da
doença.3,9

Uma das principais dimensões do prognóstico da


esquizofrenia é o prejuízo no ajustamento social, de tal forma
que o DSM-IV requer a presença dessa característica por
boa parte do curso da doença para que seja feito o
diagnóstico de esquizofrenia. De maneira global, os estudos
mostram que há um curso heterogêneo do funcionamento
social na esquizofrenia, com cerca de 1/3 dos pacientes
funcionando bem, outro 1/3 em um nível intermediário de
ajustamento social e um grupo de tamanho semelhante que
desenvolve graves incapacidades no funcionamento
social.4,11 Na maior parte dos trabalhos, os pacientes que
tiveram sua primeira internação no início do estudo
evoluíram melhor que aqueles com internações psiquiátricas
prévias. Alguns pacientes apresentam flutuações em seu
nível de ajustamento social ao longo do tempo, enquanto
outros permanecem em níveis estáveis de funcionamento. 1,12
De Jong et al11 mostraram que a incapacidade em áreas
especificas de funcionamento social parece desenvolver-se
ao longo de linhas hierárquicas, primeiro aparecendo nos
contatos sociais periféricos, tais como desempenho no
trabalho, e então progredindo em direção a áreas internas do
funcionamento, eventualmente afetando o cuidado pessoal.

Outro aspecto de prognóstico freqüentemente encontrado na


literatura é o número e duração das hospitalizações após a
avaliação inicial. A vantagem de usar esse índice é sua
confiabilidade e fácil obtenção. Estima-se que cerca de 80%
dos pacientes com esquizofrenia são internados em
enfermaria psiquiátrica ao menos uma vez ao longo da vida,
e observa-se uma correlação razoável entre recaída e
retorno à hospitalização. Entretanto, nas últimas três
décadas houve uma mudança no modelo de cuidado aos
pacientes psiquiátricos, com ênfase em uma abordagem
baseada na comunidade e importante diminuição no número
de internações. Muitos pacientes que agora vivem na
comunidade estão gravemente incapacitados, mostram
baixos níveis de funcionamento social e têm sintomas
psicóticos. A admissão hospitalar está mais claramente
influenciada por fatores externos à doença, tais como
políticas de internação e disponibilidade de leitos em
hospitais psiquiátricos. Assim, uma tendência mais recente
tem sido avaliar o risco de readmissão hospitalar usando o
tempo de sobrevivência na comunidade entre duas
hospitalizações consecutivas.13-15

A mortalidade na esquizofrenia é outra dimensão importante


do prognóstico que não pode ser negligenciada. Altas taxas
de mortalidade entre pacientes esquizofrênicos, comparadas
às taxas da população geral, têm sido relatadas, sendo as
taxas de suicídio particularmente altas, cerca de 20 vezes
maiores que as observadas na população geral.16-18 No
passado, essas taxas altas foram atribuídas às condições de
vida precárias encontradas nos asilos, e atualmente parecem
estar associadas com o processo de transferência do
cuidado para a comunidade, onde muitos pacientes não têm
suporte social adequado, como habitação, renda e cuidado
da saúde, e estão mais expostos ao abuso de substâncias.
Os dados sobre mortalidade podem ajudar a identificar
grupos de alto risco, a monitorar mudanças nos modelos de
tratamento e de cuidado ao longo do tempo, a planejar
estratégias de intervenção para prevenir mortes prematuras
e a avaliar sua eficácia.

Um estudo de prognóstico após a hospitalização no


Brasil

No Brasil foi realizada uma investigação para examinar os


desfechos clínico e social, o uso de serviços e a mortalidade
dos pacientes com esquizofrenia, dois anos após terem sido
internados em hospitais psiquiátricos. Outro objetivo foi
estudar quais os fatores preditores desses desfechos. 19-21 O
estudo foi realizado em uma área definida de captação da
cidade de São Paulo e teve um desenho prospectivo, com
um período de seguimento de 2 anos a partir da inclusão dos
pacientes. Foram incluídos indivíduos com psicoses
funcionais não-afetivas consecutivamente internados em
hospitais psiquiátricos. Foram usados instrumentos
padronizados para a avaliação do estado psicopatológico,
dos níveis de ajustamento social e do uso de serviços. A
amostra foi composta por 69 homens e 55 mulheres, com
média de idade de 32,6 anos e duração média da doença de
8,3 anos: 86 sujeitos (69,3%) preencheram critérios do DSM-
III-R para esquizofrenia, 15 (12,1%) foram classificados
como tendo psicose esquizofreniforme e 7 (5,6%) como
esquizoafetivos. Na avaliação global do ajustamento social,
57 sujeitos foram classificados como tendo ajustamento
pobre ou ajustamento muito pobre, e os outros 57 sujeitos
estavam igualmente distribuídos entre as classificações
ajustamento excelente ou muito bom, bom ou razoável.

Dois anos depois, observou-se uma redução pela metade na


proporção de sujeitos apresentando síndrome nuclear
(delírios e alucinações auditivas), e quase 1/4 dos pacientes
não tinham nenhum sintoma psiquiátrico. Apenas a presença
de um baixo nível educacional (menos de 4 anos de
educação formal) e o diagnóstico de esquizofrenia segundo
o DSM-III-R estiveram associados à presença de sintomas
psicóticos na avaliação de seguimento. Um terço dos
pacientes apresentava bom ajustamento social, outro terço
tinha ajustamento intermediário e o último ajustamento
pobre, resultado similar ao observado na avaliação de
inclusão. As áreas de funcionamento social, em que os
pacientes mostraram maiores proporções de melhora em
relação à avaliação índice, foram retraimento social e
cuidado pessoal. As características associadas a um maior
risco de apresentar ajustamento social pobre, dois anos após
a internação, foram maior tempo de duração da doença,
ajustamento social pobre na avaliação inicial e um baixo
nível educacional (menos de 4 anos de educação formal).
Mais de 60% dos pacientes foram reinternados pelo menos
uma vez durante o período de seguimento, e 42%
apresentaram má adesão ao tratamento ambulatorial. A
mortalidade foi 8 vezes maior que o esperado para a
população dessa faixa etária, principalmente devido ao
elevado número observado de suicídios.

O nível educacional esteve associado à presença de


sintomas psicóticos e aos níveis de ajustamento social após
2 anos de seguimento. Com base nos achados do IPSS em
Cali, Colômbia,5 sugere-se que nos países de Terceiro
Mundo os pacientes com níveis educacionais mais altos
poderiam ter um prognóstico pior que os menos
escolarizados, devido às demandas e às expectativas sociais
mais altas sobre os com maior escolaridade. No entanto,
São Paulo é um grande centro urbano, onde as expectativas
sociais e o estresse são provavelmente similares àqueles
encontrados em grandes centros de países industrializados.
Além disso, em países em desenvolvimento, o nível
educacional pode representar uma medida mais apropriada
de estrato social que a renda per capita. É possível também
que, em São Paulo, não adquir o conhecimento educacional
mínimo deixe o indivíduo com poucas habilidades para lidar
com a complexidade de viver em um grande centro urbano
industrializado.

Torna-se claro a partir do presente estudo que também no


Brasil a maioria dos pacientes internados em hospitais
psiquiátricos tem sintomas psicóticos e incapacidade social
dois anos após a internação. Conseqüentemente, têm
necessidades em termos de atenção à saúde e à seguridade
social. Nos países industrializados, as pessoas que sofrem
de esquizofrenia representam um custo muito alto para a
sociedade, em termos diretos e indiretos.22 Elas precisam de
acomodação, renda, cuidado da saúde, reabilitação e
suporte social. Para melhorar sua qualidade, os serviços
comunitários de atenção à saúde mental para pacientes
psiquiátricos graves têm que ser abrangentes e integrados,
facilmente acessíveis, orientados para os usuários e
monitorados rotineiramente.23 Devem cobrir áreas como
resposta à crise, cuidado continuado e a distância, e cuidado
diário, de forma a garantir resposta adequada às demandas
clínicas e de ajustamento social dos pacientes
esquizofrênicos ao longo da evolução da doença.
MENEZES, Paulo R. Prognóstico da esquizofrenia. Rev. Bras. Psiquiatr. [online]. 2000,
vol.22, suppl.1, pp. 18-20. ISSN 1516-4446.

Esquizofrenia
Transtornos relacionados por semelhança ou classificação

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psicoses |

Informações complementares

Como Reconhecer o Começo?

O que é? A Família do Esquizofrênico

Como Começa? Sinais de Boa Recuperação

O Diagnóstico Conselho aos Pais

O Curso Uso das Medicações

O que Causa?

Quando um Filhos tem


Esquizofrenia

Sintomas Positivos e Negativos

O que é?
Apesar da exata origem não estar concluída, as evidências indicam mais e mais fortemente
que a esquizofrenia é um severo transtorno do funcionamento cerebral. A Dra Nancy
Andreasen disse: "As atuais evidências relativas às causas da esquizofrenia são um mosaico:
a única coisa clara é a constituição multifatorial da esquizofrenia. Isso inclui mudanças na
química cerebral, fatores genéticos e mesmo alterações estruturais. A origem viral e traumas
encefálicos não estão descartados. A esquizofrenia é provavelmente um grupo de doenças
relacionadas, algumas causadas por um fator, outras, por outros fatores".
A questão sobre a existência de várias esquizofrenias e não apenas uma única doença não é
um assunto novo. Primeiro, pela diversidade de manifestações como os sub-tipos paranóide,
hebefrênico e catatônico além das formas atípicas, que são conhecidas há décadas. Segundo,
por analogia com outras áreas médicas como o câncer. O câncer para o leigo é uma doença
que pode atingir diferentes órgãos. Na verdade trata-se de várias doenças com manifestação
semelhante. Para cada tipo de câncer há uma causa distinta, um tratamento específico em
chances de cura distintas. São, portanto, várias doenças. Na esquizofrenia talvez seja o
mesmo e o simples fato de tratá-la como uma doença só que atrapalha sua compreensão.
Poucos sabemos sobre essa doença. O máximo que conseguimos foi obter controle dos
sintomas com os antipsicóticos. Nem sua classificação, que é um dos aspectos fundamentais
da pesquisa, foi devidamente concluída. Revisão
Como Começa?
A esquizofrenia pode desenvolver-se gradualmente, tão lentamente que nem o paciente nem
as pessoas próximas percebem que algo vai errado: só quando comportamentos abertamente
desviantes se manifestam. O período entre a normalidade e a doença deflagrada pode levar
meses.
Por outro lado há pacientes que desenvolvem esquizofrenia rapidamente, em questão de
poucas semanas ou mesmo de dias. A pessoa muda seu comportamento e entra no mundo
esquizofrênico, o que geralmente alarma e assusta muito os parentes.
Não há uma regra fixa quanto ao modo de início: tanto pode começar repentinamente e eclodir
numa crise exuberante, como começar lentamente sem apresentar mudanças extraordinárias,
e somente depois de anos surgir uma crise característica.
Geralmente a esquizofrenia começa durante a adolescência ou quando adulto jovem. Os
sintomas aparecem gradualmente ao longo de meses e a família e os amigos que mantêm
contato freqüente podem não notar nada. É mais comum que uma pessoa com contato
espaçado por meses perceba melhor a esquizofrenia desenvolvendo-se. Geralmente os
primeiros sintomas são a dificuldade de concentração, prejudicando o rendimento nos estudos;
estados de tensão de origem desconhecida mesmo pela própria pessoa e insônia e
desinteresse pelas atividades sociais com conseqüente isolamento. A partir de certo momento,
mesmo antes da esquizofrenia ter deflagrado, as pessoas próximas se dão conta de que algo
errado está acontecendo. Nos dias de hoje os pais pensarão que se trata de drogas, os amigos
podem achar que são dúvidas quanto à sexualidade, outros julgarão ser dúvidas existenciais
próprias da idade. Psicoterapia contra a vontade do próprio será indicada e muitas vezes
realizada sem nenhum melhora para o paciente. A permanência da dificuldade de
concentração levará à interrupção dos estudos e perda do trabalho. Aqueles que não sabem o
que está acontecendo, começam a cobrar e até hostilizar o paciente que por sua vez não
entende o que está se passando, sofrendo pela doença incipiente e pelas injustiças impostas
pela família. É comum nessas fases o desleixo com a aparência ou mudanças no visual em
relação ao modo de ser, como a realização de tatuagens, piercing, cortes de cabelo,
indumentárias estranhas e descuido com a higiene pessoal. Desde o surgimento dos hippies e
dos punks essas formas estranhas de se apresentar, deixaram de ser tão estranhas, passando
mesmo a se confundirem com elas. O que contribui ainda mais para o falso julgamento de que
o filho é apenas um "rebelde" ou um "desviante social".
Muitas vezes não há uma fronteira clara entre a fase inicial com comportamento anormal e a
esquizofrenia propriamente dita. A família pode considerar o comportamento como tendo
passado dos limites, mas os mecanismos de defesa dos pais os impede muitas vezes de
verem que o que está acontecendo; não é culpa ou escolha do filho, é uma doença mental, fato
muito mais grave.
A fase inicial pode durar meses enquanto a família espera por uma recuperação do
comportamento. Enquanto o tempo passa os sintomas se aprofundam, o paciente apresenta
uma conversa estranha, irreal, passa a ter experiências diferentes e não usuais o que leva as
pessoas próximas a julgarem ainda mais que o paciente está fazendo uso de drogas ilícitas. É
possível que o paciente já esteja tendo sintomas psicóticos durante algum tempo antes de ser
levado a um médico.
Quando um fato grave acontece não há mais meios de se negar que algo muito errado está
acontecendo, seja por uma atitude fisicamente agressiva, seja por tentativa de suicídio, seja
por manifestar seus sintomas claramente ao afirmar que é Jesus Cristo ou que está recebendo
mensagens do além e falando com os mortos. Nesse ponto a psicose está clara, o diagnóstico
de psicose é inevitável. Nessa fase os pais deixam de sentir raiva do filho e passam a se
culpar, achando que se tivessem agido antes nada disso estaria acontecendo, o que não é
verdade. Infelizmente o tratamento precoce não previne a esquizofrenia, que é uma doença
inexorável. As medicações controlam parcialmente os sintomas: não normalizam o paciente.
Quando isso acontece é por remissão espontânea da doença e por nenhum outro motivo.

O Diagnóstico
Não há um exame que diagnostique precisamente a esquizofrenia, isto depende
exclusivamente dos conhecimentos e da experiência do médico, portanto é comum ver
conflitos de diagnóstico. O diagnóstico é feito pelo conjunto de sintomas que o paciente
apresenta e a história como esses sintomas foram surgindo e se desenvolvendo. Existem
critérios estabelecidos para que o médico tenha um ponto de partida, uma base onde se
sustentar, mas a maneira como o médico encara os sintomas é pessoal. Um médico pode
considerar que uma insônia apresentada não tenha maior importância na composição do
quadro; já outro médico pode considerá-la fundamental. Assim os quadros não muito definidos
ou atípicos podem gerar conflitos de diagnóstico.

O Curso
Que a esquizofrenia é doença grave ninguém duvida, pois afeta as emoções, o pensamento,
as percepções e o comportamento. Mas o que dizer de uma gravidade que pode não deixar
seqüelas nem ameaçar a vida da pessoa, mas pelo contrário permite o restabelecimento da
normalidade? A gravidade então não está tanto no diagnóstico: está mais no curso da doença.
Classicamente a distinção que Kraepelin fez entre esquizofrenia (demência precoce) e o
transtorno bipolar (psicose cíclica) foi a possibilidade de recuperação dos cicladores, enquanto
os esquizofrênicos se deterioravam e não se recuperavam. Talvez a partir daí criou-se uma
tendência a considerar-se a esquizofrenia irrecuperável. Não resta a menor dúvida de que
muitos casos não se recuperam, mas há exceções e quando eles surgem toda a regra passa a
ser duvidosa, pois se perdem os limites sobre os quais se operava com segurança. Há dois
motivos básicos que justificam a falta de segurança sobre o curso da esquizofrenia:
1- Falta de critérios uniformes nas pesquisas passadas sobre o assunto.
2- Dificuldade de se acompanhar ao longo de vários anos um grupo grande de pacientes.
Faz apenas um pouco mais de 10 anos que se editou pela Organização Mundial de Saúde,
critérios objetivos e claros para a realização do diagnóstico da esquizofrenia. Na versão
anterior, o CID 9, os critérios eram "frouxos" permitindo diferenças consideráveis nos
parâmetros adotados entre os estudos; assim as disparidades de resultados entre eles era
inaceitável terminando com a indefinição a respeito do curso da esquizofrenia. Algumas
psicoses são naturalmente transitórias e únicas na vida de uma pessoa. Se por engano essas
são consideradas como esquizofrênicas gera-se conflito ao se comparar com estudos cujos
critérios exigiam um período mínimo de meses na duração da psicose. Mesmo que durem
muitos anos as psicoses não podem ser confundidas com a personalidade esquizóides. Assim,
devido à falta de rigor na realização dos diagnósticos não podemos ter segurança nos estudos
anteriores ao CID 10 ou ao DSM-III (para os estudos que se basearam nos critérios
americanos); portanto as conclusões desses estudos não podem determinar nossa conduta
atual. Apesar do CID 10 ter criado uma técnica comprovadamente mais confiável e precisa de
se diagnosticar a esquizofrenia o problema não está resolvido. Somente com o tempo e com
mais pesquisas saberemos se os critérios hoje adotados estão corretos, se correspondem à
realidade. Caso no futuro se constate que ainda são insuficientes, as pesquisas feitas com os
critérios do CID 10 também serão desacreditadas. As pesquisas precisam dizer se o que
estamos diagnosticando é uma doença com vários cursos naturais ou se são na verdade várias
doenças cada qual com seu curso próprio. Perante essas dificuldades entendemos por que são
tão almejadas técnicas biológicas, como as de imagem da tomografia por emissão de
pósitrons, para se estudar as esquizofrenias.
Dentre vários estudos publicados na última década sobre o curso da esquizofrenia,
selecionamos um para ilustrar a diversidade de resultados e dificuldade de avaliação. Quanto
mais difíceis de análise um estudo, mais sujeito à falhas e conclusões erradas ele está.
Nesse trabalho foram selecionadas seis pessoas que tinham preenchido, dez anos antes,
critérios para esquizofrenia, sendo que todos alcançaram remissão completa do quadro. Com
esse tipo de estudo torna-se possível verificar se a remissão detectada na época seria
permanente ou uma fase de melhoria antes da cronicidade permanente. Como resultado,
mesmo num grupo tão pequeno, constatou-se vários cursos distintos. Três permaneciam em
remissão completa, um seguia um curso deteriorante contínuo e dois apresentavam flutuações
dos sintomas. Não foram identificadas diferenças clínicas que distinguisse os pacientes. Para
se dizer se o paciente estava com ou sem sintomas psicóticos foi usado um questionário
estruturado de entrevista para todos, acurando, assim, possíveis "defeitos" deixados pela
psicose prévia.
Psychiatry, 61(1):20-34 1998 Spring Torgalsbøen AK; Rund BR
Desse estudo podemos ver que a remissão completa não é garantia de cura. Esse dado
aparentemente banal é importantíssimo no relacionamento com o paciente e sua família por
que 100% deles perguntam se ficarão bem, se voltarão a ser o que eram. No atual momento
nenhum profissional da saúde mental pode afirmar o que acontecerá. Dizer que não vai
melhorar é provocar uma iatrogenia, dizer que vai ficar bom pode ser ilusório o que
posteriormente custará a confiança no profissional.

O que causa?
Sobre a causa da esquizofrenia só sabemos duas coisas: é complexa e multifatorial. O cérebro,
por si, possui um funcionamento extremamente complexo e em grande parte desconhecido.
Essa complexidade aumenta se considerarmos, e temos de considerar, que o funcionamento
do cérebro depende do funcionamento de outras partes do corpo como os vasos sangüíneos, o
metabolismo do fígado, a filtragem do rim, a absorção do intestino, etc. Por fim, se
considerando outras variáveis nada desprezíveis como o ambiente social e familiar, a
complexidade se torna inatingível para os recursos de que dispomos. Provavelmente a
esquizofrenia é resultado disso tudo. Na história da Medicina as doenças foram descobertas
muitas vezes pelos grupos ou atividades de risco. As pessoas que passavam em determinado
local e contraíam doenças comuns àquela região abriam precedentes nas pesquisas. Locais
onde o solo era pobre em iodo, as pessoas adquiriam bócio; locais onde havia certos
mosquitos as pessoas podiam adquirir malária, dengue, febre amarela. Locais infestados por
ratos, adquirir leptospirose. Com a esquizofrenia, nunca se conseguiu identificar fatores de
risco, exceto o parentesco com algum esquizofrênico. Este fato dificulta as investigações
porque não fornece as pistas nas quais os pesquisadores médicos precisam se basear para
pesquisar. Como não há pistas, somos obrigados a escolher um tema que por intuição pode se
relacionar à esquizofrenia e investigá-lo. É isto que tem sido feito.
Teoria Bioquímica
A mais aceita em parte devido ao sucesso das medicações: as pessoas com esquizofrenia
sofrem de um desequilíbrio neuroquímico, portanto falhas na comunicação celular do grupo de
neurônios envolvidos no comportamento, pensamento e senso-percepção.
Teoria do Fluxo Sangüíneo Cerebral
Com as modernas técnicas de investigação das imagens cerebrais (Tomografia por Emissão
de Pósitrons- TEP) os pesquisadores estão descobrindo áreas que são ativadas durante o
processamento de imagens sejam elas normais ou patológicas. As pessoas com esquizofrenia
parecem ter dificuldade na "coordenação" das atividades entre diferentes áreas cerebrais. Por
exemplo, ao se pensar ou falar, a maioria das pessoas mostra aumento da atividade nos lobos
frontais, juntamente a diminuição da atividade de áreas não relacionadas a este foco, como a
da audição. Nos pacientes esquizofrênicos observamos anomalias dessas ativações. Por
exemplo, ativação da área auditiva quando não há sons (possivelmente devido a alucinações
auditivas), ausência de inibição da atividade de áreas fora do foco principal, incapacidade de
ativar como a maioria das pessoas, certas áreas cerebrais.
A TEP mede a intensidade da atividade pelo fluxo sangüíneo: uma região cerebral se ativa,
recebendo mais aporte sangüíneo, o que pode ser captado pelo fluxo sangüíneo local. Ela
mostrou um funcionamento anormal, mas por enquanto não temos a relação de causa e efeito
entre o que as imagens revelam e a doença: ou seja, não sabemos se as anomalias, o déficit
do fluxo sangüíneo em certas áreas, são a causa da doença ou a conseqüência da doença.
Teoria Biológica Molecular
Especula-se a respeito de anomalias no padrão de certas células cerebrais na sua formação
antes do nascimento. Esse padrão irregular pode direcionar para uma possível causa pré-natal
da esquizofrenia ou indicar fatores predisponentes ao desenvolvimento da doença.
Teoria Genética
Talvez essa seja a mais bem demonstrada de todas as teorias. Nas décadas passadas vários
estudos feitos com familiares mostrou uma correlação linear e direta entre o grau de
parentesco e as chances de surgimento da esquizofrenia. Pessoas sem nenhum parente
esquizofrênico têm 1% de chances de virem a desenvolver esquizofrenia; com algum parente
distante essa chance aumenta para 3 a 5%. Com um pai ou mãe aumenta para 10 a 15%, com
um irmão esquizofrênico as chances aumentam para aproximadamente 20%, quando o irmão
possui o mesmo código genético (gêmeo idêntico) as chances de o outro irmão vir a ter
esquizofrenia são de 50 a 60%.A teoria genética, portanto explica em boa parte de onde vem a
doença. Se explicasse tudo, a incidência de esquizofrenia entre os gêmeos idênticos seria de
100%.
Teoria do Estresse
O estresse não causa esquizofrenia, no entanto o estresse pode agravar os sintomas.
Situações extremas como guerras, epidemias, calamidades públicas não fazem com que as
pessoas que passaram por tais situações tenham mais esquizofrenia do que aquelas que não
passaram.
Teoria das Drogas
Não há provas de que drogas lícitas ou ilícitas causem esquizofrenia. Elas podem, contudo,
agravar os sintomas de quem já tem a doença. Certas drogas como cocaína ou estimulantes
podem provocar sintomas semelhantes aos da esquizofrenia, mas não há evidências que
cheguem a causá-la.
Teoria Nutricional
A alimentação balanceada é recomendável a todos, mas não há provas de que a falta de
certas vitaminas desencadeie esquizofrenia nas pessoas predispostas. As técnicas de
tratamento por megadoses de vitaminas não têm fundamento estabelecido por enquanto.
Teoria Viral
A teoria de que a infecção por um vírus conhecido ou desconhecido desencadeie a
esquizofrenia em pessoas predispostas foi muito estudada. Hoje essa teoria vem sendo
abandonada por falta de evidências embora muitos autores continuem considerando-a como
possível fator causal.
Teoria Social
Fatores sociais como desencadeantes da esquizofrenia sempre são levantados, mas pela
impossibilidade de estudá-las pelos métodos hoje disponíveis, nada se pode afirmar a seu
respeito. Toda pesquisa científica precisa isolar a variável em estudo.No caso do ambiente
social não há como fazer isso sem ferir profundamente a ética.

Quando um filho tem Esquizofrenia


...quando um filho tem esquizofrenia, ele sofre e sofre também a família. Num primeiro
movimento, tenta-se esconder a doença por causa do preconceito social. Quando a doença
não passa, os sonhos se desfazem, a preservação da imagem não tem mais sentido porque a
doença é mais grave que o preconceito. A desesperança surge junto com a tristeza e o
sentimento de perda da vida, da perspectiva, do futuro daquele que adoeceu tem que ser
superado. A doença não pede licença: impõe e obriga-nos a mudar de postura diante da vida,
diante da dor. A esquizofrenia não pode ser encarada como uma desgraça: tem que ser vista
como uma barreira natural para nossos planos e desejos pessoais. Quando alguém na família
adquire esquizofrenia é necessário que toda a família mude, se adapte para continuar sendo
feliz apesar da dor. Os artigos científicos não publicam, mas o ser humano é capaz de ser feliz
apesar da doença.
A esquizofrenia é uma doença incapacitante e crônica, que ceifa a juventude e impede o
desenvolvimento natural. Geralmente se inicia no fim da adolescência ou no começo da idade
adulta de forma lenta e gradual. O período de conflitos naturais da adolescência e a lentidão de
seu início confundem as pessoas que estão próximas. Os sintomas podem ser confundidos
com "crises existenciais", "revoltas contra o sistema", "alienação egoísta", uso de drogas, etc.

Sintomas Positivos e Negativos


A divisão dos sintomas psicóticos em positivos e negativos tem por finalidade dizer de maneira
objetiva o estado do paciente. Tendo como ponto de referência a normalidade, os sintomas
positivos são aqueles que não deveriam estar presentes como as alucinações, e os negativos
aqueles que deveriam estar presentes mas estão ausentes, como o estado de ânimo, a
capacidade de planejamento e execução, por exemplo. Portanto sintomas positivos não são
bons sinais, nem os sintomas negativos são piores que os positivos.
Positivos
Alucinações - as mais comuns nos esquizofrênicos são as auditivas. O paciente geralmente
ouve vozes depreciativas que o humilham, xingam, ordenam atos que os pacientes reprovam,
ameaçam, conversam entre si falando mal do próprio paciente. Pode ser sempre a mesma voz,
podem ser de várias pessoas podem ser vozes de pessoas conhecidas ou desconhecidas,
podem ser murmúrios e incompreensíveis, ou claras e compreensíveis. Da mesma maneira
que qualquer pessoa se aborrece em ouvir tais coisas, os pacientes também se afligem com o
conteúdo do que ouvem, ainda mais por não conseguirem fugir das vozes. Alucinações visuais
são raras na esquizofrenia, sempre que surgem devem pôr em dúvida o diagnóstico,
favorecendo perturbações orgânicas do cérebro.
Delírios - Os delírios de longe mais comuns na esquizofrenia são os persecutórios. São as
idéias falsas que os pacientes têm de que estão sendo perseguidos, que querem matá-lo ou
fazer-lhe algum mal. Os delírios podem também ser bizarros como achar que está sendo
controlado por extraterrestres que enviam ondas de rádio para o seu cérebro. O delírio de
identidade (achar que é outra pessoa) é a marca típica do doente mental que se considera
Napoleão. No Brasil o mais comum é considerar-se Deus ou Jesus Cristo.
Perturbações do Pensamento - Estes sintomas são difíceis para o leigo identificar: mesmos os
médicos não psiquiatras não conseguem percebê-los, não porque sejam discretos, mas porque
a confusão é tamanha que nem se consegue denominar o que se vê. Há vários tipos de
perturbações do pensamento, o diagnóstico tem que ser preciso porque a conduta é distinta
entre o esquizofrênico que apresenta esse sintoma e um paciente com confusão mental, que
pode ser uma emergência neurológica.
Alteração da sensação do eu - Assim como os delírios, esses sintomas são diferentes de
qualquer coisa que possamos experimentar, exceto em estados mentais patológicos. Os
pacientes com essas alterações dizem que não são elas mesmas, que uma outra entidade
apoderou-se de seu corpo e que já não é ela mesma, ou simplesmente que não existe, que seu
corpo não existe.
Negativos
Falta de motivação e apatia - Esse estado é muito comum, praticamente uma unanimidade nos
pacientes depois que as crises com sintomas positivos cessaram. O paciente não tem vontade
de fazer nada, fica deitado ou vendo TV o tempo todo, freqüentemente a única coisa que faz é
fumar, comer e dormir. Descuida-se da higiene e aparência pessoal. Os pacientes apáticos não
se interessam por nada, nem pelo que costumavam gostar.
Embotamento afetivo - As emoções não são sentidas como antes. Normalmente uma pessoa
se alegra ou se entristece com coisas boas ou ruins respectivamente. Esses pacientes são
incapazes de sentir como antes. Podem até perceber isso racionalmente e relatar aos outros,
mas de forma alguma podem mudar essa situação. A indiferença dos pacientes pode gerar
raiva pela apatia conseqüente, mas os pacientes não têm culpa disso e muitas vezes são
incompreendidos.
Isolamento social - O isolamento é praticamente uma conseqüência dos sintomas acima. Uma
pessoa que não consegue sentir nem se interessar por nada, cujos pensamentos estão
prejudicados e não consegue diferenciar bem o mundo real do irreal não consegue viver
normalmente na sociedade.
Os sintomas negativos não devem ser confundidos com depressão. A depressão é tratável e
costuma responder às medicações, já os sintomas negativos da esquizofrenia não melhoram
com nenhum tipo de antipsicótico. A grande esperança dos novos antipsicóticos de atuarem
sobre os sintomas negativos não se concretizou, contudo esses sintomas podem melhorar
espontaneamente.

Como reconhecer a esquizofrenia ainda no começo?


O reconhecimento precoce da esquizofrenia é uma tarefa difícil porque nenhuma das
alterações é exclusiva da esquizofrenia incipiente; essas alterações são comuns a outras
enfermidades, e também a comportamentos socialmente desviantes mas psicologicamente
normais . Diagnosticar precocemente uma insuficiência cardíaca pode salvar uma vida, já no
caso da esquizofrenia a única vantagem do diagnóstico precoce é poder começar logo um
tratamento, o que por si não implica em recuperação. O diagnóstico precoce é melhor do que o
diagnóstico tardio, pois tardiamente muito sofrimento já foi imposto ao paciente e à sua família,
coisa que talvez o tratamento precoce evite. O diagnóstico é tarefa exclusiva do psiquiatra, mas
se os pais não desconfiam de que uma consulta com este especialista é necessária nada
poderá ser feito até que a situação piore e a busca do profissional seja irremediável. Qualquer
pessoa está sujeita a vir a ter esquizofrenia; a maioria dos casos não apresenta nenhuma
história de parentes com a doença na família. Abaixo estão enumeradas algumas dicas: como
dito acima, nenhuma delas são características mas servem de parâmetro para observação.
 Dificuldade para dormir, alternância do dia pela noite, ficar andando pela casa a noite,
ou mais raramente dormir demais
 Isolamento social, indiferença em relação aos sentimentos dos outros
 Perda das relações sociais que mantinha
 Períodos de hiperatividade e períodos de inatividade
 Dificuldade de concentração chegando a impedir o prosseguimento nos estudos
 Dificuldade de tomar decisões e de resolver problemas comuns
 Preocupações não habituais com ocultismos, esoterismo e religião
 Hostilidade, desconfiança e medos injustificáveis
 Reações exageradas às reprovações dos parentes e amigos
 Deterioração da higiene pessoal
 Viagens ou desejo de viajar para lugares sem nenhuma ligação com a situação pessoal
e sem propósitos específicos
 Envolvimento com escrita excessiva ou desenhos infantis sem um objetivo definido
 Reações emocionais não habituais ou características do indivíduo
 Falta de expressões faciais (Rosto inexpressivo)
 Diminuição marcante do piscar de olhos ou piscar incessantemente
 Sensibilidade excessiva a barulhos e luzes
 Alteração da sensação do tato e do paladar
 Uso estranho das palavras e da construção das frases
 Afirmações irracionais
 Comportamento estranho como recusa em tocar as pessoas, penteados esquisitos,
ameaças de auto-mutilação e ferimentos provocados em si mesmo
 Mudanças na personalidade
 Abandono das atividades usuais
 Incapacidade de expressar prazer, de chorar ou chorar demais injustificadamente, risos
imotivados
 Abuso de álcool ou drogas
 Posturas estranhas
 Recusa em tocar outras pessoas

Nenhum desses sinais por si comprovam doença mental, mas podem indicá-la. Pela faixa
etária esses sinais podem sugerir envolvimento com drogas, personalidade patológica ou
revolta típica da idade. Diferenciar a esquizofrenia do envolvimento com drogas pode ser feito
pela observação da preocupação constante com dinheiro, no caso de envolvimento com
drogas, coisa rara na esquizofrenia. A personalidade patológica não apresenta mudanças no
comportamento, é sempre desviante, desde as tenras idades. Na esquizofrenia incipiente ainda
que lentamente, ocorre uma mudança no curso do comportamento da pessoa, na
personalidade patológica não. Na revolta típica da adolescência sempre haverá um motivo
razoável que justifique o comportamento, principalmente se os pais tiverem muitos conflitos
entre si.

A Família do esquizofrênico
O paciente esquizofrênico sofre intensamente com sua condição e sua família também, não há
como isto ser evitado. Infelizmente os programas político-sociais de reinserção dos doentes
mentais na sociedade simplesmente ignoram o sofrimento e as necessidades da família, que
são enormes. Esta é vista como desestruturada, fria, indiferente ou mesmo hostil ao paciente.
Da mesma forma que o paciente esquizofrênico sofre duas vezes, pela doença e pelo
preconceito, a família também sofre duas vezes, com a doença do filho e com a discriminação
e incompreensão sociais. Num país pobre como o Brasil, a assistência à família do
esquizofrênico tem que ser um programa governamental indispensável, para que se possa
preservar o desempenho social (estudo, trabalho, profissão) dos parentes dos pacientes
esquizofrênicos. O nível de recuperação que se tem com o tratamento da esquizofrenia é muito
baixo; os irmãos saudáveis desses pacientes devem ser amparados para não terem suas vidas
impedidas de se desenvolver por causa da esquizofrenia de um irmão.
A título de reumanização do tratamento dos esquizofrênicos, pretende-se fechar os hospitais
psiquiátricos alocando-os para outros serviços que não incluem atendimento às necessidades
dos parentes dos esquizofrênicos. Como está, esse projeto não apenas piorará a situação do
paciente, como também de sua família. Os problemas que geralmente ocorrem na família dos
esquizofrênicos são os seguintes:

 Pesar... "Sentimos como se tivéssemos perdido nosso filho"


 Ansiedade... "Temos medo de deixá-lo só ou de ferir seus sentimentos"
 Medo... "Ele poderá fazer mal a si mesmo ou a outras pessoas?"
 Vergonha e culpa... "Somos culpados disso? O que os outros pensarão?"
 Sentimento de isolamento... "Ninguém nos compreende"
 Amargura... "Por que isso aconteceu conosco?"
 Depressão... "Não consigo falar nisso sem chorar?"
 Negação da doença... "Isso não pode acontecer na nossa família"
 Negação da gravidade... "Isso daqui a pouco passa"
 Culpa recíproca... "Não fosse por aquele seu parente esquisito..."
 Incapacidade de pensar ou falar de outra coisa que não seja a doença... "Toda nossa
vida gira em torno do nosso filho doente"
 Problemas conjugais... "Minha relação com meu marido tornou-se fria, sinto-me morta
por dentro"
 Separação... "Não agüento mais minha mulher"
 Preocupação em mudar-se... "Talvez se nos mudarmos para outro lugar as coisas
melhorem"
 Cansaço... "Envelheci duas vezes nos últimos anos"
 Esgotamento... "Sinto-me exausto, incapaz de fazer mais nada"
 Preocupação com o futuro... "O que acontecerá quando não estivermos presentes, o
que será dele?"
 Uso excessivo de tranqüilizantes ou álcool... "Hoje faço coisas que nunca tinha feito
antes"
 Isolamento social... "As pessoas até nos procuram, mas não temos como fazer os
programas que nos propõem"
 Constante busca de explicações... "Será que isso aconteceu por algo que fizemos para
ele?"
 Individualização... "Não temos mais vida familiar"
 Ambivalência... "Nós o amamos, mas para ficar assim preferíamos que se fosse..."

Sinais de boa recuperação


Tem sido observado que certos pacientes se recuperam mais freqüentemente do que outros.
Nesse grupo foi identificado um grupo de características que pode servir como parâmetro,
referência para boa recuperação. Esses sintomas não servem como garantia, mas aumentam
as chances dessas pessoas de se recuperarem. Os sinais são os seguintes:

 Capacidade de sentir e expressar emoções (alegria, excitação, tristeza, desespero,


etc.)
 Não apresentar sentimentos de grandiosidade.
 Apresentar alucinações (mais freqüentemente auditivas)
 Aparência de perplexidade no episódio agudo
 Não se isolar; não apresentar distúrbios do pensamento
 Idéias de perseguição e conduta de desconfiança também são sinais de bom
prognóstico

Não há unanimidade quanto a esses sintomas, sempre haverá quem conteste a afirmação de
que indicam bom prognóstico. Sintomas catatônicos (imobilidade ou excitação excessiva) e
confusão mental apesar de aparentarem maior gravidade podem se resolver mais rapidamente
deixando a pessoa sem problemas.
Um sinal importante de boa recuperação é a idade de início, quanto mais tarde mais chances
de recuperação. A idade comum de início da esquizofrenia é o fim da adolescência e início da
idade adulta podendo começar até aproximadamente 45 anos. Casos raros se dão após essa
idade ou na infância.
As pessoas que sofreram traumatismos cranianos no nascimento ou ao longo da vida, assim
como aquelas que sofreram infecções encefálicas.

Conselho aos pais

 Aprendam a reconhecer os sintomas iniciais, que possam indicar uma possível recaída
antes do quadro completo se instalar.
 Procurar atendimento médico logo, sem adiamentos.
 Procurar aprender sobre a doença para melhor entender o filho em suas necessidades.
 Estabelecer expectativas realistas para a condição individual do filho doente.
 Observar e aprender para melhor poder relatar os sintomas.
 Saber respeitar seus próprios limites: você não poderá ajudar adequadamente
enquanto estiver precisando de ajuda.
 Tentar o máximo possível estabelecer uma relação amistosa, com um objetivo e
finalidade estabelecidos.
 Estimular parentes e amigos de seu filho a estabelecerem uma relação saudável.
 Comunicar-se de forma clara e objetiva, sem usar meias-palavras ou deixar
mensagens subentendidas.
 Principalmente: ter um ambiente emocionalmente estável em casa. Expressões hostis
mesmo que não direcionadas para a pessoa doente afetam e prejudicam o
esquizofrênico. Não exercer cobranças sobre ele. Expressar as emoções tanto
positivas (alegria) quanto as negativas (raiva) sempre com moderação.

Princípios para uso das medicações


Os remédios são a única alternativa para tratar a esquizofrenia, outras formas de terapia
complementam, mas não substituem as medicações. Há, contudo, uma natural resistência ao
uso delas e isso é apenas uma conseqüência da forma como se entende a doença. Se
encararmos a medicação como algo estranho ao corpo a aversão se dará inevitavelmente, mas
se encararmos as medicação como substâncias reguladoras de atividades cerebrais
desequilibradas, podemos vê-las como amigas. O paciente não tem nenhuma culpa por uma
parte do cérebro estar desregulado, mas pode usar o lado saudável (o bom senso) para tomar
a decisão de se tratar. As medicações, portanto, só fazem ajustar o que estava desajustado.
Infelizmente no caso da esquizofrenia não conhecemos medicações que realizem essa tarefa
completamente, restabelecendo a normalidade do paciente. Mas por enquanto temos uma
ajuda parcial. Meia dor é menos ruim que uma dor completa.

Última Atualização: 8-10-2004


Ref. Bibliograf: Liv 01 Liv 09 Liv 02 Liv 04 Eur. Psychiatry 2001: 16, 90-8
Relapse Prevention in Schizophrenia
J Bergiannaki Eur. Psychiatry 2001: 16, 90-8
Hospital Physician 2001; 50: 21-28
New Hope in Pharmacotherapy for Schizophrenia
Leonardo Cortese
A esquizofrenia é uma doença mental crônica que se manifesta na adolescência ou início
da idade adulta. Sua freqüência na população em geral é da ordem de 1 para cada 100
pessoas, havendo cerca de 40 casos novos para cada 100.000 habitantes por ano. No
Brasil estima-se que há cerca de 1,6 milhão de esquizofrênicos; a cada ano cerca de
50.000 pessoas manifestam a doença pela primeira vez. Ela atinge em igual proporção
homens e mulheres, em geral inicia-se mais cedo no homem, por volta dos 20-25 anos
de idade, e na mulher, por volta dos 25-30 anos.

Quais os sintomas?

A esquizofrenia apresenta várias manifestações, afetando diversas áreas do


funcionamento psíquico. Os principais sintomas são:

1. delírios: são idéias falsas, das quais o paciente tem convicção absoluta. Por exemplo,
ele se acha perseguido ou observado por câmeras escondidas, acredita que os vizinhos
ou as pessoas que passam na rua querem lhe fazer mal.

2. alucinações: são percepções falsas dos órgãos dos sentidos. As alucinações mais
comuns na esquizofrenia são as auditivas, em forma de vozes. O paciente ouve vozes
que falam sobre ele, ou que acompanham suas atividades com comentários. Muitas
vezes essas vozes dão ordens de como agir em determinada circunstancia. Outras
formas de alucinação, como visuais, táteis ou olfativas podem ocorrer também na
esquizofrenia.

3. alterações do pensamento: as idéias podem se tornar confusas, desorganizadas ou


desconexas, tornando o discurso do paciente difícil de compreender. Muitas vezes o
paciente tem a convicção de que seus pensamentos podem ser lidos por outras pessoas,
ou que pensamentos são roubados de sua mente ou inseridos nela.

4. alterações da afetividade: muitos pacientes tem uma perda da capacidade de reagir


emocionalmente às circunstancias, ficando indiferente e sem expressão afetiva. Outras
vezes o paciente apresenta reações afetivas que são incongruentes, inadequadas em
relação ao contexto em que se encontra. Torna-se pueril e se comporta de modo
excêntrico ou indiferente ao ambiente que o cerca.

5. diminuição da motivação: o paciente perde a vontade, fica desanimado e apático, não


sendo mais capaz de enfrentar as tarefas do dia a dia. Quase não conversa, fica isolado
e retraído socialmente.

Outros sintomas, como dificuldade de concentração, alterações da motricidade,


desconfiança excessiva, indiferença, podem aparecer na esquizofrenia. Dependendo da
maneira como os sintomas se agrupam, é possível caracterizar os diferentes subtipos da
doença. A esquizofrenia evolui geralmente em episódios agudos onde aparecem os
vários sintomas acima descritos, principalmente delírios e alucinações, intercalados por
períodos de remissão, com poucos sintomas manifestos.

Qual é a causa da esquizofrenia?

Não se sabe quais são as causas da esquizofrenia. A hereditariedade tem uma


importância relativa, sabe-se que parentes de primeiro grau de um esquizofrênico tem
chance maior de desenvolver a doença do que as pessoas em geral. Por outro lado, não
se sabe o modo de transmissão genética da esquizofrenia. Fatores ambientais (p. ex.,
complicações da gravidez e do parto, infecções, entre outros) que possam alterar o
desenvolvimento do sistema nervoso no período de gestação parecem ter importância na
doença. Estudos feitos com métodos modernos de imagem, como tomografia
computadorizada e ressonância magnética mostram que alguns pacientes tem pequenas
alterações cerebrais, com diminuição discreta do tamanho de algumas áreas do cérebro.
Alterações bioquímicas dos neurotransmissores cerebrais, particularmente da dopamina,
parecem estar implicados na doença.

Como se diagnostica a esquizofrenia?

O diagnóstico da esquizofrenia é feito pelo especialista a partir das manifestações da


doença. Não há nenhum tipo de exame de laboratório (exame de sangue, raio X,
tomografia, eletroencefalograma etc.) que permita confirmar o diagnóstico da doença.
Muitas vezes o clínico solicita exames, mas estes servem apenas para excluir outras
doenças que podem apresentar manifestações semelhantes à esquizofrenia.

Como se trata a esquizofrenia?

O tratamento da esquizofrenia visa ao controle dos sintomas e a reintegração do


paciente. O tratamento da esquizofrenia requer duas abordagens: medicamentosa e
psicossocial. O tratamento medicamentoso é feito com remédios chamados
antipsicóticos ou neurolépticos. Eles são utilizados na fase aguda da doença para aliviar
os sintomas psicóticos, e também nos períodos entre as crises, para prevenir novas
recaídas. A maioria dos pacientes precisa utilizar a medicação ininterruptamente para
não ter novas crises. Assim o paciente deve submeter-se a avaliações médicas
periódicas; o médico procura manter a medicação na menor dose possível para evitar
recaídas e evitar eventuais efeitos colaterais. As abordagens psicossociais são
necessárias para promover a reintegração do paciente à família e à sociedade. Devido
ao fato de que alguns sintomas (principalmente apatia, desinteresse, isolamento social e
outros) podem persistir mesmo após as crises, é necessário um planejamento
individualizado de reabilitação do paciente. Os pacientes necessitam em geral de
psicoterapia, terapia ocupacional, e outros procedimentos que visem ajudá-lo a lidar com
mais facilidade com as dificuldades do dia a dia.

Como os familiares podem colaborar com o paciente?

Os familiares são aliados importantíssimos no tratamento e na reintegração do paciente.


é importante que estejam orientados quanto à doença esquizofrenia para que possam
compreender os sintomas e as atitudes do paciente, evitando interpretações errôneas.
As atitudes inadequadas dos familiares podem muitas vezes colaborar para a piora
clínica do mesmo. O impacto inicial da noticia de que alguém da família tem
esquizofrenia é bastante doloroso. Como a esquizofrenia é uma doença pouco conhecida
e sujeita a muita desinformação as pessoas se sentem perplexas e confusas.
Freqüentemente, diante das atitudes excêntricas dos pacientes, os familiares reagem
também com atitudes inadequadas, perpetuando um circulo vicioso difícil de ser rompido.
Atitudes hostis, criticas e superproteção prejudicam o paciente, apoio e compreensão
são necessários para que ele possa ter uma vida independente e conviva
satisfatoriamente com a doença.

Última Atualização: setembro/2010

Prof. Dr. Mario Rodrigues Louzã Neto


Saúde Mental, Psiquiatria e Psicanálise

http://www.saudemental.net/o_que_e_esquizofrenia.htm

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