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O Estado Constitucional de
Direito e a Segurança dos
Direitos do Homem
Estado de Direito e direitos
humanos são dois temas
intimamente relacionados. Não
há como dissociar a garantia dos
direitos humanos fundamentais
da Constituição Política do
Estado, até porque não há como
se pensar em direitos humanos
se não for no contexto de um
Estado de Direito.
Estudar o Estado Constitucional
de Direito é o primeiro passo
para a compreensão da maneira
pela qual se busca impor a
segurança dos direitos do
homem, direcionamento que
será dado aos nossos estudos,
sempre com base no conteúdo
da obra de Ferreira Filho (2012),
autor do Livro-Texto desta
disciplina.2
A reivindicação do Estado de
Direito
Como antecessor do Estado de
Direito Contemporâneo, pode-se
apontar o Estado Moderno,
caracterizado pelo Despotismo,
no âmbito do qual prevalecia o
arbítrio do governante,
conhecido como déspota, figura
que exercia o poder sem se
preocupar em respeitar a lei.
O Estado Contemporâneo
nasceu justamente com o
objetivo de criar um governo
com feições opostas ao
despótico, isto é, um governo
em que os detentores do poder
atuassem sempre
fundamentados na lei.
Essas origens remontam ao
Século XIX, primeiro com a
insurgência dos colonos ingleses
contra o Governo Central, que
era conduzido totalmente à
margem da lei, e em seguida
com a consequente Declaração
de Independência dos Estados
Unidos da América, em 4 de
julho de 1776.
As origens do Estado
Contemporâneo estão também
associadas à Revolução Francesa
de 1789, com a mobilização e o
levante da burguesia contra o
Terceiro Estado, em relação ao
qual há o emblemático epsódio
do “Juramento do Jogo de Pela”,
em que ficou muito clara a
indignação da burguesia contra
o Rei déspota, assim como os
anseios por um Estado de
Direito.
O Direito Justo
Não resta dúvida, portanto, de
que o Estado Constitucional de
Direito vincula o Poder Político
ao cumprimento da lei veiculada
no plano do Direito Objetivo.
Esse Direito, também é
consenso, deve ser expressão da
Justiça, isto é, refletir o que é
justo.
E, justo, por sua vez, na
concepção da Revolução
Francesa, prevalente durante o
século XVIII e identificada com o
conteúdo do primeiro capítulo,
vem a ser a lei declarada pelo
Legislador de acordo com a
natureza das coisas.
Esse entendimento, presente no
pensamento de Montesquieu,
não condiz com as concepções
de Rousseau e Sieyès, que serão
expostas adiante.
Ademais, segundo Gonçalves
(2007), as características que
legitimam as leis a comandarem
os homens e a constituírem
expressão do justo são as
seguintes: 1. Generalidade:
aplicação a todos os casos iguais;
2. Impessoalidade: não faz
distinção de pessoas.
O Primado da Constituição, o
Poder Constituinte e a
Coordenação dos Direitos
Fundamentais
Documento fundamental da
Revolução Francesa, a
Declaração Universal dos
Direitos do Homem e do Cidadão
(Dèclaration des Droits de
l’Homme” e du Citoyen, em
francês, 1789), que teve por
principal objeto a enunciação
dos direitos individuais e
coletivos dos homens, dispôs em
seu artigo 16 que: “A sociedade
em que não esteja assegurada a
garantia dos direitos
(fundamentais) nem
estabelecida a separação dos
poderes não tem Constituição”.5
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parcial desta publicação sem o
prévio consentimento, por
escrito, da Anhanguera
Educacional.
A ideia é de que não se pode
dissociar a garantia dos direitos
humanos fundamentais da
constituição política do Estado,
sentido no qual, com a evolução
do Estado contemporâneo, a
declaração de direitos e o pacto
político passaram a constituir
um documento único, chamado
de Constituição.
Assim, direitos humanos
fundamentais e poder político
coexistem sob a égide do
sistema de três Poderes
harmônicos e independentes
entre si, formulado por
Montesquieu, na seguinte
medida:
Poder Legislativo: declara os
direitos humanos fundamentais.
Poder Executivo: responsável
por cumprir e aplicar os direitos
e as leis de forma não
contenciosa (não litigiosa).
Poder Judiciário: responsável
por fazer cumprir e aplicar os
direitos e as leis de forma
contenciosa (quando há litígios).
Fala-se, com isso, na figura do
Estado Constitucional de Direito,
baseado no primado da
Constituição e emanado do
chamado Poder Constituinte.
Conforme Sieyés (2009), é no
Poder Constituinte que se
fundamenta a Constituição
como norma hierárquica
superior do sistema jurídico,
ficando superado o pensamento
de que as leis derivam da
natureza das coisas, para se
evoluir, depois das revoluções
do século XVIII, à ideia pactista
de Rousseau de que a lei
constitui expressão da vontade
geral.
E, como expressão da vontade
geral, é da lei que deve vir a
coordenação dos direitos
humanos fundamentais.
A Limitação de Poder e o Estado
de Direito
O modelo de Estado como
instituição regida pelas leis que
exprimem a vontade geral,
concebido 6
pelo pensamento político de
Montesquieu, de Rousseau e de
outros pensadores iluministas,
inspirou os ideiais da Revolução
Francesa de “Liberdade,
Igualdade e Fraternidade”,
norteando a declaração dos
Direitos do Homem e do Cidadão
de 1789.
Considerada o documento que
inaugurou a Primeira Geração de
Direitos Humanos, a declaração
dos Direitos do Homem e do
Cidadão encontra sustentação
em duas pilastras fundamentais,
quais sejam: 1. Separação dos
Poderes em Legislativo,
Executivo e Judiciário. 2.
Garantia dos Direitos Humanos
Fundamentais.
Coerentemente, dois anos
depois da Declaração de 1789,
que representou o pacto social
em torno dos direitos humanos
fundamentais, foi promulgada a
Constituição Francesa de 1791
como Carta Política do Estado e
documento de garantia dos
direitos humanos fundamentais.
A Constituição é o diploma legal
hierarquicamente superior da
ordem jurídica dos Estados
Democráticos de Direito da
atualidade, a exemplo da
Constituição Brasileira de 1988.
Prevalece como norma
fundamental de limitação ao
Poder Político, o que se dá por
meio dos direitos fundamentais
que enuncia.
Os Princípios do Estado de
Direito
É na Constituição que são
veiculados os princípios
fundamentais do Estado de
Direito, enumerados em três por
Ferreira Filho (2012), quais
sejam: Legalidade, Isonomia e
Justicialidade.
Pelo princípio geral da
legalidade, veiculado no inciso II
do artigo 5º da Constituição,
“ninguém será obrigado a fazer
ou deixar de fazer alguma coisa
senão em virtude de lei”.
Especificamente em matéria
criminal, o princípio da Reserva
Legal ou da Legalidade Penal
encontra-se expresso na norma
do artigo 5º, inciso XXXIX da
Constituição, segundo a qual
“não há crime sem lei anterior
que o defina, nem pena sem
prévia cominação legal”. Em
Direito Tributário, voga o
princípio da legalidade
tributária, descrito no artigo
150, inciso I da Constituição
Federal, de acordo com o qual é
vedado às pessoas políticas
“exigir ou aumentar tributo sem
que lei o estabeleça”.
Já o princípio da isonomia,
fundamentado no ideal de
igualdade e intimamente ligado
à abolição de privilégios, tem sua
base veiculada logo no caput do
artigo 5º da Constituição
Federal, cujo enunciado dispõe
que: “Todos são iguais perante a
lei, sem distinção de qualquer
natureza”.
As distinções vedadas pela
Constituição são aquelas
injustificáveis, que tratam de
maneira diferente seres
humanos em condições
absolutamente análogas,
especialmente aquelas que se
baseiam em critérios odiosos,
tais como origem, raça, sexo,
cor, idade, religião etc.
Por outro lado, a isonomia deve
ser material, isto é, para que a
igualdade seja real, admite-se a
existência de tratamentos
jurídicos diferenciados,
justamente para que pessoas
que não estejam na mesma
situação possam ter seus
direitos efetivamente igualados
perante a lei. É o que acontece,
por exemplo, no caso de reserva
de vagas em estacionamentos
para pessoas portadoras de
necessidade especiais, na
determinação de idade mínima
para ingresso na carreira da
Magistratura, entre outras
situações.
Além disso, da mesma forma
que ocorre em relação ao
princípio da legalidade, a
isonomia também é
constitucionalmente tratada de
modo específico quanto a
determinados ramos do Direito.
Por exemplo, o artigo 150, inciso
II da Constituição Federal veicula
o princípio da isonomia
tributária, pelo qual é proibido
“instituir tratamento desigual
entre contribuintes que se
encontrem em situação
equivalente”. E, no campo do
Direito da Família, assegura-se o
tratamento isonômico entre o
casamento e a união estável
(BRASIL, art. 226, § 3º), bem
como entre os filhos havidos
dentro ou fora do casamento, e
também entre os filhos naturais
e os adotivos (BRASIL, art. 227, §
6º).
Finalmente, o termo
Justicialidade, mais conhecido
como Princípio da
Inafastabilidade da Jurisdição, é
veiculado no inciso XXXV, do
artigo 5º da Constituição, nos
seguintes termos: “a lei não
excluirá da apreciação do Poder
Judiciário lesão ou ameaça a
direito”.
As Três Gerações dos Direitos
Fundamentais
Quando se fala em direitos
humanos e na sua origem na
Declaração de Direitos de 1789,
pode-se pensar que tenha
ocorrido naquele momento o
reconhecimento completo dos
direitos fundamentais.
Todavia, esse ponto da história
remonta apenas à origem desses
direitos, isto é, ao momento em
que foram reconhecidas as
chamadas liberdades públicas,
correspondente à primeira
geração de direitos
fundamentais.
Desse momento em diante, fala-
se em uma evolução histórica
cumulativa, mediante a qual,
gradativamente, novos direitos
foram sendo reconhecidos como
fundamentais e foram agregados
aos já haviam sido
anteriormente reconhecidos, a
começar pela segunda geração,
consubstanciada nos direitos
sociais, econômicos e culturais
(primeira metade do século XX)
e, mais recentemente, a terceira
geração, relativa aos direitos da
solidariedade e que, no plano
global, ainda se encontra em
fase de afirmação.
Constituição: diploma
hierarquicamente superior da
ordem jurídica. Constitui o
veículo normativo de
reconhecimento e garantia dos
direitos humanos fundamentais
e de instituição do sistema
político do Estado.
Déspota: governante típico da
Idade Moderna caracterizado
por exercer o poder segundo o
seu arbítrio, sem que houvesse
preocupação em respeitar o
primado da lei.
Direito Objetivo: é o conjunto
de normas jurídicas obrigatórias
vigentes em um Estado em
determinada época.
Direitos fundamentais: são
direitos humanos de caráter
universal, reconhecidos pelos
Estados Constitucionais de
Direito e garantidos pelos
sistemas jurídicos domésticos e
internacionais.
Estado Constitucional de
Direito: é pessoa política de
direito público soberana sobre
seu povo e território, constituída
sob a égide da Constituição e
submetida aos comandos da lei.
Poder Constituinte: é o poder
fundamentado na vontade geral
e legitimado para o
estabelecimento da ordem
jurídico-constitucional. É do
Poder Constituinte que emana a
Constituição de um Estado
Tema 6: Os Direitos
Fundamentais na Constituição
Brasileira
Os Direitos Fundamentais na
Constituição Brasileira
A declaração de direitos
fundamentais constitui tradição
constitucional brasileira, mas
ganhou novos contornos com a
Constituição Federal de 1988.
Segundo se depreende dos
estudos de Ferreira Filho (2012),
a declaração de direitos
fundamentais constitui traço
comum em todas as
constituições brasileiras, sendo
que, a partir de 1934,
acrescentaram-se os direitos
sociais às liberdades públicas e,
agora, na Constituição de 1988,
acrescentaram-se os direitos da
solidariedade Além disso, o
mesmo jurista enumera três
pontos inovadores no novo texto
constitucional promulgado em
1988:
1. Os direitos fundamentais são
enunciados antes da
estruturação do Estado, o que
representa uma inversão em
relação às constituições
anteriores e marca a
preeminência dos direitos
humanos na visão do Poder
Constituinte.
2. Tratamento dos direitos
fundamentais de primeira e
segunda geração no Título II
(Direitos e Garantias
Fundamentais) na seguinte
sequência: 1º) Direitos
individuais e coletivos; 2º)
Direitos sociais; 3º)
Nacionalidade, direitos políticos
e partidos políticos.
3. A Constituição aponta direitos
fundamentais em outros pontos,
como ocorre com as limitações
ao poder de tributar do capítulo
do Sistema Tributário Nacional
(CF, art. 145 e ss).
A enumeração exemplificativa
do artigo 5º da Constituição
Federal de 1988, os direitos
implícitos e os decorrentes de
tratados internacionais. A
Constituição de 1988 contempla
em seu sistema as três gerações
de direitos humanos, como você
pode ver no Quadro 6.1:Quadro
6.1: Gerações de Direitos
Humanos. Geração de direitos
humanos fundamentais
Dispositivo da CF/1988 em que
os direitos são enunciados 1ª
Geração – Liberdades Públicas
Art. 5º – Direitos Individuais e
Coletivos 2ª Geração – Direitos
Sociais e Econômicos Art. 6º –
Direitos Sociais 3ª Geração –
Direitos da Solidariedade Art.
225 – Direito ao Meio Ambiente
Portanto, a enumeração de
direitos do artigo 5º é
meramente exemplificativa. E
isso acontece, primeiramente,
porque os direitos e garantias
estão expressos em toda a
Constituição, como é o caso dos
direitos e garantias
fundamentais relativos à
tributação, enunciados no
capítulo constitucional relativo
ao Sistema Tributário Nacional,
entre eles: Capacidade
contributiva (art. 145, § 1º):
sempre que possível os impostos
terão caráter pessoal e serão
graduados de acordo com a
capacidade econômica do
contribuinte.
Legalidade tributária (art. 150,
I): é vedado às pessoas políticas
criar ou aumentar tributos sem
que lei o estabeleça. Isonomia
tributária (art. 150, II): é vedado
instituir tratamento desigual
entre contribuintes em situações
equivalentes. Em segundo lugar,
há direitos e garantias
fundamentais implícitos, que
decorrem do regime e dos
princípios, muitas vezes
estabelecidos no próprio artigo
5º, mas, outras tantas,
decorrentes de outros
dispositivos espalhados por toda
a Constituição. Por exemplo, um
direito fundamental muito
importante, que está implícito
na Constituição, é o direito ao
sigilo.
Embora não esteja expresso e
decorra do direito à privacidade
e à intimidade, previsto no
artigo 5º, inciso X, constitui a
base para outros direitos
fundamentais, como o sigilo da
fonte de informações,
estabelecido no artigo 5º, inciso
XIV e o sigilo da
correspondência e das
comunicações telegráficas, de
dados e das comunicações
telefônicas, objeto do artigo 5º,
inciso XII. Outro princípio que
está implícito e decorre de
diversas normas disseminadas
por todo o texto constitucional é
o princípio da segurança
jurídica, que se fundamenta
tanto no artigo 5º, como ocorre
com a norma que protege o
direito adquirido, o ato jurídico
perfeito e a coisa julgada (CF,
art. 5º, XXXVI), como também,
por exemplo, no artigo 150,
inciso III, da Constituição, que
trata dos princípios da
irretroatividade e da
anterioridade da norma
tributária, segundo os quais é
vedado à União, aos Estados, ao
Distrito Federal e aos Municípios
cobrar tributos: a) em relação a
fatos geradores ocorridos antes
do início da vigência da lei que
os houver instituído ou
aumentado; b) n o mesmo
exercício financeiro em que haja
sido publicada a lei que os
instituiu ou aumentou; c) a ntes
de decorridos noventa dias da
data em que haja sido publicada
a lei que os instituiu ou
aumentou. Em relação aos
direitos sociais e econômicos
não é diferente. O artigo 6º da
Constituição enumera os direitos
sociais, mas há outros deles
implicitamente garantidos em
outros dispositivos
constitucionais, como são os
casos:
- Do direito ao trabalho digno,
decorrente do artigo 7º.
- Do direito à seguridade social
que, conjugando direitos
enunciados no artigo 6º, é
reconhecido com todas as letras
no artigo 194, compreendendo
saúde, previdência e assistência
social.
Outro exemplo é o princípio da
livre iniciativa, que se encontra
enunciado no artigo 170,
parágrafo único da Constituição
Federal, que tem a seguinte
redação: “É assegurado a todos
o livre exercício de qualquer
atividade econômica,
independentemente de
autorização de órgãos públicos,
salvo nos casos previstos em
lei”. Por fim, têm-se os direitos e
garantias fundamentais
decorrentes dos tratados
internacionais sobre direitos
humanos de que o Brasil seja
signatário. Esses tratados, por
dizerem respeito a direitos
humanos fundamentais, podem
ser internalizados com estatura
de normas constitucionais, isto
é, admitidos na ordem jurídica
interna com status de Emendas
Constitucionais, consoante
dispõe expressamente o § 3º do
artigo 5º da Constituição: “Os
tratados e convenções
internacionais sobre direitos
humanos que forem aprovados,
em cada Casa do Congresso
Nacional, em dois turnos, por
três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão
equivalentes às emendas
constitucionais”. Atenção para a
necessidade de ratificação do
tratado mediante quórum
qualificado de 3/5 do Congresso
Nacional, o que significa dizer
que os tratados de direitos
humanos podem ser ratificados
sem estatura constitucional se a
ratificação ocorrer mediante
aprovação de maioria simples do
Congresso. Um exemplo
decorrente de tratado
internacional, aliás já abordado
em aulas anteriores, é a
proibição da prisão por dívidas,
exceto se for originária de
pensão alimentícia, consagrada
na Convenção. Americana sobre
Direitos Humanos, mais
conhecida como Pacto de São
José da Costa Rica. Outro
exemplo advém de recentíssima
jurisprudência do STF, como se
pode identificar no seguinte
acórdão: A ordem constitucional
brasileira, inaugurada em 1988,
trouxe desde seus escritos
originais a preocupação com a
proteção das pessoas portadoras
de necessidades especiais,
construindo políticas e diretrizes
de inserção nas diversas áreas
sociais e econômicas da
comunidade (trabalho privado,
serviço público, previdência e
assistência social). Estabeleceu,
assim, nos arts. 227, § 2º, e 244,
a necessidade de se conferir
amplo acesso e plena
capacidade de locomoção às
pessoas com deficiência, no que
concerne tanto aos logradouros
públicos, quanto aos veículos de
transporte coletivo,
determinando ao legislador
ordinário a edição de diplomas
que estabeleçam as formas de
construção e modificação desses
espaços e desses meios de
transporte. Na mesma linha
afirmativa, há poucos anos,
incorporou-se ao ordenamento
constitucional a Convenção
Internacional sobre os Direitos
das Pessoas com Deficiência,
primeiro tratado internacional
aprovado pelo rito legislativo
previsto no art. 5º, § 3º, da CF, o
qual foi internalizado por meio
do Decreto presidencial
6.949/2009. O art. 9º da
convenção veio justamente
reforçar o arcabouço de
proteção do direito de
acessibilidade das pessoas com
deficiência. (STF – ADI 903, rel.
min. Dias Toffoli, julgamento em
22-5- 2013, Plenário, DJE de 7-2-
2014).
Aplicabilidade imediata Nos
termos do artigo 5, § 1º da
Constituição Federal, as normas
definidoras dos direitos e
garantias fundamentais têm
aplicação imediata. Entretanto,
fica a crítica de Ferreira Filho
(2012) no sentido de que a
aplicabilidade imediata fica
inviabilizada quando a norma
constitucional veiculadora do
direito ou garantia fundamental
estiver incompleta. Ocorre, por
exemplo, no mandado de
injunção (CF, art. 5º, LXXI), em
que a previsão do remédio
constitucional restringe-se a
enunciar o cabimento quando a
falta de norma regulamentadora
tornar inviável o exercício dos
direitos e liberdades
constitucionais e das
prerrogativas inerentes à
nacionalidade, à soberania e à
cidadania, sem que, contudo,
estabeleça o procedimento
aplicável. Colisão de direitos
Uma possibilidade importante a
se considerar diz respeito à
colisão de direitos fundamentais
enunciados. Não há no texto da
Constituição uma solução pronta
e acabada para a colisão entre
direitos fundamentais, de modo
que, para solução de conflitos
dessa espécie há de se sopesar
qual o direito mais importante,
tarefa que incumbe ao legislador
no momento da elaboração da -
Direito à intimidade e à vida
privada e direito à honra e à
imagem. - Direito à imagem e à
honra e direito de liberdade de
informação e de imprensa. -
Direito à honra e à imagem e
direito à livre manifestação do
pensamento e liberdade de
expressão. - Liberdade e direito
de propriedade. Classificações
dos direitos fundamentais Há
várias classificações doutrinárias
dos direitos fundamentais que
são citadas por Ferreira Filho
(2012). Duas de grande
importância são as classificações
quanto ao objeto e quanto ao
titular. Quanto ao objeto:
liberdades, direitos de crédito,
direitos de situação e direitos
de garantia. Quanto ao titular:
individuais, de grupo, coletivos
e difusos. Cláusulas pétreas
Por fim, em Constituições como
a brasileira, deve-se ressaltar a
existência de normas impassíveis
de modificação, conforme
detalha Roque Carrazza em
comentários sobre a supremacia
constitucional pátria:
A supremacia da Constituição
brasileira também vem
resguardada por sua rigidez.
Pode, é certo, ser emendada,
mas só por meio de um
procedimento especial (art. 60, I
a III e §§ 1º. a 5º.), respeitadas
as cláusulas pétreas (cerne fixo
da Carta Magna, a teor de seu
art. 60, § 4º., I a IV), inclusive as
que consagram direitos do
contribuinte e suas garantias.
Sobremais, nossa Constituição
não pode ser emendada na
vigência de intervenção federal,
estado de defesa ou sítio.
(CARRAZA, 2002, p. 28).
Nessa direção, não serão objeto
de apreciação as propostas, seja
de quem for a iniciativa,
tendentes à abolição da forma
federativa de Estado, do voto
direto, secreto, universal e
periódico, da separação dos
Poderes e dos direitos e
garantias individuais (CF, art. 60,
§ 4º). E, portanto, entre as
cláusulas pétreas, estão os
direitos e garantias individuais
explícitos e implícitos na
Constituição.
Liberdades: são poderes de
fazer (ações), tais como o direito
de ir e vir, ou não fazer
(omissões), a exemplo do direito
do preso permanecer calado
(FERREIRA FILHO, 2012, p. 128).
Direitos de crédito: são direitos
de reclamar alguma coisa, em
geral, contraprestações positivas
do Estado, a exemplo dos
direitos à saúde, educação,
trabalho e segurança (FERREIRA
FILHO, 2012, p. 128).
Direitos de situação: são direitos
de exigir um status, uma
situação a ser preservada ou
restabelecida, como são os
direitos ao meio ambiente sadio,
à paz e à autodeterminação dos
povos (FERREIRA FILHO, 2012, p.
128).
Direitos de garantia: são
garantias instrumentais, que
constituem poderes de mobilizar
o Estado, em especial o Poder
Judiciário em defesa de outros
direitos, tais como o mandado
de segurança e o habeas corpus,
ou garantias-limites, que são
poderes de exigir que não se
faça algo, a exemplo dos direitos
de não sofrer censura, de não
ser expropriado sem justa
indenização (FERREIRA FILHO,
2012, p. 128).
Direitos individuais: aquele cujo
titular é um ser humano, um
indivíduo, uma pessoa física, ou
mesmo uma pessoa jurídica
(FERREIRA FILHO, 2012, p. 128).
Direitos de grupo: conceituados
no artigo 81, parágrafo único,
inciso III, do Código de Defesa do
Consumidor com a denominação
de direitos individuais
homogêneos, constituem uma
agregação de direitos individuais
que possuem origem comum
(FERREIRA FILHO, 2012, p. 128).
Direitos coletivos: conceituados
no artigo 81, parágrafo único,
inciso II, do Código de Defesa do
Consumidor, são direitos de que
o titular é uma coletividade
(povo, categoria, classe etc.),
vinculados entre si por uma
relação jurídica básica (FERREIRA
FILHO, 2012, p. 128).
Direitos difusos: conceituados
no artigo 81, parágrafo único,
inciso I, do Código de Defesa do
Consumidor, são direitos
transindividuais de natureza
indivisível, de que sejam
titulares pessoas indeterminadas
e ligadas por circunstâncias de
fato, ou seja, direitos sem
individualização, reconhecidos a
uma série indeterminada de
pessoas (FERREIRA FILHO, 2012,
p. 128). São os casos do direito
ao meio ambiente sadio e de
alguns direitos do consumidor.
Tema 7: O Sistema Judiciário de
Garantias e os Remédios
Constitucionais
O Sistema Judiciário de
Garantias e os Remédios
Constitucionais
Independência do Poder
Judiciário
Sabe-se que, existindo uma lide
ou litígio e havendo provocação
pelas partes, incumbe ao Poder
Judiciário atuar na defesa dos
direitos humanos fundamentais,
mediante a atividade chamada
de prestação jurisdicional, no
âmbito de um processo, cujo
ponto culminante é uma
sentença consubstanciada na
decisão final do processo. Mas,
para que o Poder Judiciário
possa desempenhar essa função
livre de pressões e interferências
dos outros poderes, a
Constituição confere-lhe uma
independência, de caráter
institucional, por meio de
normas que asseguram a esse
Poder autonomia administrativa
e financeira (CF, art. 99),
estabelecendo, ainda, que os
tribunais elaborarão suas
propostas orçamentárias dentro
dos limites estipulados
conjuntamente com os demais
Poderes na lei de diretrizes
orçamentárias (CF, art. 99, § 1º).
Ocorre que apenas conferir
autonomia ao Poder Judiciário
como instituição não seria
suficiente para uma efetiva
independência do Poder. Por
essa razão, a Constituição
Federal também veicula normas
que visam à garantia da
Independência e Imparcialidade
de seus agentes, que são os
Magistrados, juízes de primeira
instância e membros de
Tribunais. Essas garantias da
Magistratura estão asseguradas
nos incisos I a III do artigo 95,
sendo elas a vitaliciedade, a
inamovibilidade e a
irredutibilidade de subsídio.
Além disso, também com o
objetivo de garantir a
independência e a
imparcialidade, o parágrafo
único do mesmo artigo 95 da
Constituição Federal estabelece
algumas vedações aos juízes: I -
exercer, ainda que em
disponibilidade, outro cargo ou
função, salvo uma de magistério;
II - receber, a qualquer título ou
pretexto, custas ou participação
em processo; III - dedicar-se à
atividade políticopartidária; IV -
receber, a qualquer título ou
pretexto, auxílios ou
contribuições de pessoas físicas,
entidades públicas ou privadas,
ressalvadas as exceções
previstas em lei; V - exercer a
advocacia no juízo ou tribunal do
qual se afastou, antes de
decorridos três anos do
afastamento do cargo por
aposentadoria ou exoneração.
Princípios básicos do processo e
limites da tutela jurisdicional.
Não obstante a importância da
independência e do papel
desempenhado pelo Poder
Judiciário, é necessário que
existam limites à atuação desse
Poder, com vistas a se assegurar
o equilíbrio e harmonia entre os
poderes, evitando-se que o
Judiciário seja um Poder acima
dos outros. Esses são impostos,
sobretudo, por meio de
princípios constitucionais do
processo, que são direitos e
garantias individuais
consagrados, principalmente, no
artigo 5º da Constituição
Federal, o que os eleva à
estatura de verdadeiros direitos
humanos fundamentais.Entre os
princípios processuais, cabe
destacar, primeiramente, os
princípios gerais, que são
aqueles aplicáveis a toda e
qualquer espécie de processo.
São eles:
• Juiz Natural (art. 5º XXXVIII c/
c art. 5º LX): proíbe a existência
de tribunais de exceção e de
juízes ad hoc, devendo todas as
competências judiciárias
encontrar-se previamente
estabelecidas em lei.
• Contraditório (art. 5º, LV):
compreende o direito de uma
das partes se contrapor a
qualquer manifestação ou
juntada de documento da parte
contrária, guardando correlação
com citação, oitiva de ambas as
partes para o juiz decidir, direito
de manifestação sobre atos e
provas da parte contrária.
• Ampla defesa (art. 5º, LV):
todos os meios de defesa
previstos em lei devem ser
dados às partes.
• Vedação à prova ilícita (art.
5º, LVI): proibição de provas
obtidas por meio ilícitos.
• Publicidade dos atos
processuais (art. 5º, LX), salvo
defesa de intimidade ou
interesse social.
• Motivação (art. 93, IX):
obrigação de motivar as decisões
judiciais.
• Isonomia processual: decorre
do princípio geral da isonomia e
impõe ao Poder Judiciário dar
tratamento igual às partes e ao
juiz atuar com imparcialidade. E,
especificamente no campo dos
direitos humanos fundamentais,
adquirem grande relevância os
princípios processuais penais,
consubstanciados em normas
pelas quais a Constituição
Federal:
• Estabelece a presunção de
inocência (art. 5º, LVII).
• Condiciona a prisão à ordem
da autoridade competente (art.
5º, LXI), exceto no caso de
flagrante delito.
• Veda a incomunicabilidade do
preso (art. 5º, LXIII).
• Reconhece o direito à
liberdade provisória, com ou
sem fiança (art. 5º, LXVI).
• Assegura ao preso o respeito à
integridade física e moral (art.
5º. XLIX).
• Mantém o júri para o
julgamento dos crimes dolosos
contra a vida (art. 5º. XXXVIII).
• Reafirma o princípio da
individualização das penas (art.
5º XLVI).
• Proíbe certas penas, quais
sejam: pena de morte, salvo
guerra, a de caráter perpétuo, a
de trabalhos forçados, a de
banimento e as cruéis.
• Dá ao preso o direito de ser
informado sobre seus direitos
inclusive o de ficar calado (art. 5º
LXIII).
• Reconhece ao preso o direito a
advogado (art. 5º, LXIII).
• Manda que seja a prisão ilegal
imediatamente relaxada (art.
5º, LXV).
Controle de
Constitucionalidade.
Como já exposto em aulas
anteriores, o Poder Judiciário
exerce a competência para o
controle de constitucionalidade
pelas vias de ação (ações diretas)
e de exceção (controle
difuso).Nesse ponto, é
importante destacar o papel do
Supremo Tribunal Federal, corte
competente para:
• Processar e julgar as ações de
constitucionalidade, consoante
disposto nos artigos 36, III, 102e
103 da Constituição Federal
(controle concentrado, abstrato
ou via de ação).
• Julgar, mediante recurso
extraordinário, as causas
decididas em única ou última
instância, quando a decisão
recorrida: a) contrariar
dispositivo desta Constituição; b)
declarar a inconstitucionalidade
de tratado ou lei federal; c)
julgar válida lei ou ato de
governo local contestado em
face desta Constituição. d) julgar
válida lei local contestada em
face de lei federal (CF, art. 102,
III).
Ministério Público, Advocacia e
Defensoria Pública.
Muito bem esclarecida a função
do Poder Judiciário na proteção
aos direitos humanos
fundamentais, cumpre ressaltar
que a missão constitucional de
proteção a esses direitos
também foi conferida a
instituições sólidas e não menos
independentes para
representação técnica e defesas
dos interesses dos cidadãos em
juízo, papéis desempenhados
pela Advocacia, as Defensorias
Públicas e o Ministério Público.
Nesse ponto, é fundamental dar
ênfase ao relevante papel
exercido pelo Ministério Público
(CF, art. 127), entidade
autônoma, inclusive com
mandato garantido ao seu
Chefe, o Procurador-Geral (CF,
art. 128). O Ministério Público,
por meio dos Procuradores e
Promotores de Justiça, é
responsável por exercer várias
funções relacionadas à defesa
dos direitos fundamentais, com
destaque para as atribuições de:
• Promover o inquérito civil e a
ação civil pública, para proteção
do patrimônio público e social,
do meio ambiente e de outros
interesses difusos e coletivos
(CF, art. 129, III).
• Promover as ações de
inconstitucionalidade (CF, art.
129, IV). Por fim, também
exercendo papel fundamental na
defesa dos direitos humanos de
determinadas pessoas, não se
pode deixar de falar da
Advocacia e dos Defensores
Públicos, conforme disposto nos
artigos 133 e 134 da
Constituição Federal:
“Art. 133: O advogado é
indispensável à administração da
justiça, sendo inviolável por seus
atos e manifestações no
exercício da profissão, nos
limites da lei”.
“Art. 134: A defensoria Pública é
instituição essencial à função
jurisdicional do Estado,
incumbindo-lhe a orientação
jurídica e a defesa, em todos os
graus, dos necessitados, na
forma do art. 5º, LXXIV”.
É preciso dizer, portanto, que
Advocacia, Defensoria Pública e
Ministério Público são funções e
entidades sem as quais não seria
possível assegurar o acesso ao
Poder Judiciário, imprescindível,
muitas vezes, à garantia dos
direitos humanos.
Remédios constitucionais.
Esse sistema judiciário de
garantias viabiliza a proteção aos
direitos humanos fundamentais
não apenas em face de atos
legislativos, como também
contra violações perpetradas
pela Administração Pública, mais
precisamente pelo Poder
Executivo, que exerce atividade
administrativa típica, e pelos
Poderes Legislativo e o próprio
Judiciário, quando no exercício
de atividade administrativa em
caráter atípico.
Além de se realizar por meio de
ações comuns, ajuizáveis para a
defesa de quaisquer direitos, a
garantia dos direitos humanos
fundamentais pelo Poder
Judiciário também se efetiva por
meio de ações especiais, os
chamados remédios
constitucionais ou writs, na
terminologia da matriz norte
americana em relação a essas
ações especiais para a defesas
de direitos fundamentais.
Inamovibilidade: garantia da
magistratura consubstanciada
no direito do juiz permanecer na
unidade judiciária de lotação,
salvo por motivo de interesse
público em decisão por maioria
absoluta do respectivo tribunal
ou do Conselho Nacional de
Justiça (CF, art. 95, II c/c 93, VIII).
Irredutibilidade do subsídio:
garantia de que a remuneração
do juiz, uma parcela única
denominada subsídio, não
poderá sofrer redução,
observados os limites
constitucionais.
Lide: na clássica concepção do
processualista italiano Francesco
Carnelutti, é um conflito de
interesses caracterizado por
uma pretensão resistida.
Processo: processo é relação
jurídica que se instaura pela
provocação do Estado-juiz,
mediante o exercício do direito
de ação, tornando-se completa
com a convocação do réu para
dela participar, pelo ato da
citação (CONRADO, 2003). É no
âmbito do processo que o juiz
promove a prestação
jurisdicional.
Sentença: sentença é o ato pelo
qual o juiz põe fim a processo. A
sentença pode ser com
resolução de mérito, quando a
decisão do juiz resolve o litígio,
ou sem julgamento de mérito,
quando o juiz encerra o feito por
questões processuais, sem que
se pronuncie a respeito da lide.
Vitaliciedade: garantia adquirida
pelo juiz após dois anos de
efetivo exercício, segundo a qual
somente poderá perder o cargo
por sentença judicial transitado
em julgado.
Tema 8: A Proteção
Internacional dos Direitos
Humanos