O Antigo Regime tem suas principais características definidas
em uma monarquia absolutista, com economia mercantilista, sociedade estamental e pensamento teocêntrico. Ficou conhecida como a “idade das trevas”, tendo em vista que, nesta época, predominava a Inquisição e os tribunais de Santo Ofício que determinavam as cruéis penas à luz da religião propagada pela Igreja Católica.
O pensamento iluminista, que veio para contestar o Antigo
Regime, tinha sua ideia basilar fundamentando a razão e a ciência como o caminho mais adequado para alcançar a liberdade, a autonomia e a emancipação. Tinha como principais pensadores deste período Voltaire, Locke e Montesquieu.
O pensamento de Voltaire era em sentido contrário às ideias
dos protestantes católicos e Rousseau. Colocava-se contra abuso político, corrupção e desigualdade. Locke criticava o direito divino, defendendo a separação entre a Igreja e o Estado, pregando que os indivíduos deveriam ter seus direitos civis respeitados e preservados. Montesquieu defendia que o campo político deveria ser ocupado pela alta sociedade e que o Estado absolutista era ruim para a sociedade, que precisaria ser dividida em três poderes, sendo estes, executivo, legislativo e judiciário.
Os ideais iluministas de liberdade, fraternidade e igualdade
influenciaram grandes revoluções pelo mundo, tais como a independência das 13 colônias inglesas e inconfidência mineira. O iluminismo culminou ainda na Revolução Francesa de 1789, que incorporou suas ideias, tendo esta sido uma resposta ao absolutismo vigente na França do século XVIII, e, após inúmeros movimentos sociais, como por exemplo, a queda da Bastilha, atribuiu ao povo autonomia e garantiram seus direitos civis.
Cesare Beccaria, 1738 – 1794, foi um grande jurista, filósofo,
economista e literato italiano. Em vida, entregou-se com entusiasmo ao estudo da literatura e da matemática. Em 1764 escreveu sua principal obra, Dos Delitos e das Penas, abraçando os pensamentos dos filósofos Montesquieu, Rousseau, Diderot e Buffon. A obra se insere no movimento filosófico e humanitário da segunda metade do século XVIII. Neste período, era propagada a tese de que as penas constituíam uma espécie de vingança coletiva - essa concepção havia induzido a aplicação de punições de consequências muito superiores e mais terríveis do que os males produzidos pelos delitos. É um clássico e sua leitura é considerada basilar para a compreensão da História do Direito, tendo em vista que apresenta princípios penais que revolucionaram a época sendo que alguns perduram até hoje, os quais serão discorridos a seguir.
Ao tempo de Beccaria, o sistema penal vigente tinha como
característica a ausência de uma tipificação dos delito, ou seja, inexistia a determinação de qual pena seria aplicada a qual delito, o que dispunha aos juízes uma grande margem de arbítrio na aplicação da lei. Arbítrio este, condenado por Beccaria que, por sua vez, propunha o Princípio da Legalidade, ainda que sem intitulá-lo assim.
Dispõe que apenas as leis, elaboradas pelo legislador, podem
fixar as penas aplicadas aos delitos, limitando, desta forma, o poder arbitrário do magistrado que deixaria de extrapolar, sob o pretexto de zelo ou de bem público, os limites legais. Ao juiz, atribuiu-se apenas um “silogismo perfeito”, sem que este tenha que fazer subsunção do fato à norma porque esta função caberia a um terceiro órgão (nítida influência de Montesquieu com sua teoria de separação dos poderes). Com isso, a liberdade individual ficava protegida diante do poder estatal.
Cesare combate a pena de morte por três
razões: ilegitimidade, inutilidade e desnecessidade. Em sua argumentação sobre a ilegitimidade, baseia-se na teoria do Contrato Social, em que o homem cede uma cota de sua liberdade individual para viver em sociedade, entretanto, não poderia renunciar sua vida, tampouco poderia escolher não viver (pune-se o suicídio). Para sustentar a inutilidade e desnecessidade, o autor afirma que “a finalidade da pena não é o de atormentar e afligir a um ser sensível, nem o de desfazer um crime já cometido”. Defende ainda que, a pena deve ter um caráter preventivo de evitar que outros, ou que o mesmo infrator, se encoraje diante da impunidade a praticar outro delito. No mesmo contexto de pena de morte, Beccaria condena ainda a disparidade entre a pena e o crime. Dispõe que se houver a previsão de, por exemplo, pena de morte para delitos de lesividades diferentes, não será feita a distinção entre a gravidade de tais delitos. Oferece a ideia que o freio da criminalidade não seria a crueldade da pena e sim, a certeza de sua aplicação.
O autor atacou a possibilidade que existia, da pena atingir os
descendentes do condenado. Defendeu o Princípio da Personalidade, segundo o qual deve recair a punição apenas sob a pessoa que infringiu a lei. Assim, definiu como “injusta e tirânica” as penas que não eram “meramente pessoais”.
Cesare frisa a ideia de que não deve ser promulgada nenhuma
lei sem força suficiente pra vigorar, evitando assim, leis que se tornariam inúteis. A lei não deve ser mero indicador moral da sociedade, simbolizando as condutas inadequadas, mas deve ter utilidade. A pena tem uma finalidade pré-definida, que é a prevenção geral, e para atingir esse objetivo, é necessário penalizar de forma útil e não meramente cruel. Por fim, Beccaria insiste que a maior parcela da população é cumpridora da lei, portanto, que é enorme a possibilidade de atormentar um inocente ao utilizar a tortura como método de busca. Sustenta em sua argumentação, que o sofrimento imposto não é o caminho para a busca da verdade e que, com ele apenas se comprova a resistência física do que é atormentado. A dor do tormento faz, muitas vezes, com que a pessoa opte pela confissão para libertar-se do sofrimento imediato.